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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

APRENDENDO
ESTUDAR
TEOLOGIA

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

APRENDENDO
ESTUDAR
TEOLOGIA

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

CONTEÚDO

CAPÍTULO 01 .................................................................................................................... 6

A CONTRIBUIÇÃO DA MITOLOGIA PARA A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO


TEOLÓGICO .................................................................................................................... 6

A. TEOLOGIA .......................................................................................................................... 6
B. O QUE É UM MITO? ........................................................................................................... 7
C. TEOGONIAS ....................................................................................................................... 8
D. O MITO SEGUNDO RODOLF BULTMANN ..................................................................... 10

CAPÍTULO 02 .................................................................................................................. 12

A NATUREZA DA TEOLOGIA ........................................................................................ 12

A. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12
B. DEFINIÇÕES DE TEOLOGIA ........................................................................................... 12
C. QUATRO CATEGORIAS DE TEOLOGIA......................................................................... 12
D. COMO NASCE CONCRETAMENTE A TEOLOGIA ........................................................ 15

CAPÍTULO 03 .................................................................................................................. 16

TEOLOGIA E CIÊNCIA ................................................................................................... 16

A. CONCEITO DE CIÊNCIA .................................................................................................. 16


B. CARACTERÍSTICAS DA CIÊNCIA................................................................................... 17
C. VISÃO DO PROBLEMA .................................................................................................... 20
D. ASPECTOS SISTEMÁTICOS DO PROBLEMA ............................................................... 21
E. A RELAÇÃO DA TEOLOGIA COM A FILOSOFIA E AS DEMAIS CIÊNCIAS ................ 24

CAPÍTULO 04 .................................................................................................................. 28

O CONHECIMENTO TEOLÓGICO E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO....................... 28

A. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 28
B. POSIÇÃO DOS TEÓLOGOS ............................................................................................ 28
C. POSSÍVEL IDENTIDADE DO OBJETO MATERIAL ........................................................ 29
D. DIVERSIDADE DE PRINCÍPIOS ...................................................................................... 30
E. DIVERSIDADE DE PRINCÍPIOS SUBJETIVOS OPERATIVOS ..................................... 31
F. DIVERSIDADE DOS PRINCÍPIOS OU FUNDAMENTOS OBJETIVOS.......................... 32
G. PASSOS DO CONHECIMENTO TEOLÓGICO................................................................ 33

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H. A FÉ RELIGIOSA E TENDÊNCIA VOLITIVA ................................................................... 34


I. A FÉ E A SABEDORIA MÁXIMA PARA OS CRENTES .................................................. 36

CAPÍTULO 05 .................................................................................................................. 38

O PROBLEMA DO MÉTODO TEOLÓGICO ................................................................... 38

A. PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM................................................................... 38
B. POSTURA PEDAGÓGICA ................................................................................................ 38
C. METODOLOGIA ................................................................................................................ 39

CAPÍTULO 06 .................................................................................................................. 42

A TEOLOGIA E SEUS MÉTODOS ................................................................................. 42

A. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 42
B. A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA......................................................................................... 44
C. ESPECIALIZAÇÕES E MÉTODOS .................................................................................. 45
D. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 53

CAPÍTULO 07 .................................................................................................................. 56

O CARÁTER CIENTÍFICO DA TEOLOGIA ..................................................................... 56

A. CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................ 56
B. A QUESTÃO HISTÓRICA ................................................................................................. 61
C. QUE TIPO DE CIÊNCIA É A TEOLOGIA? ....................................................................... 64
D. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 71

CAPÍTULO 08 .................................................................................................................. 72

COMO ESTUDAR TEOLOGIA ....................................................................................... 72

A. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 72

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 92

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CAPÍTULO 01

A CONTRIBUIÇÃO DA MITOLOGIA PARA A


EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO TEOLÓGICO

A. TEOLOGIA

Teologia, em geral, é qualquer estudo, discurso ou pregação que trate


de Deus ou das coisas divinas. Foi nesse sentido generalíssimo que
essa palavra foi entendida pelo grande erudito romano Marco Terêncio
Varrão (séc. I a. C.), cuja distinção de três teologias foi transmitida por
Santo Agostinho: Teologia mítica ou fabulosa; Teologia natural ou
física; e Teologia civil.

Mas, antes de estudar qualquer tema teológico, é preciso,


primeiramente, investigar sua origem na história da mitologia grega,
pois, do contrário, jamais teremos um entendimento preciso do que
realmente quer significar teologia hoje. Se analisarmos os fatos
históricos e mitológicos, donde a teologia emergiu todo o seu labor
epistemológico, então, teremos uma compreensão científica do
verdadeiro sentido acadêmico e sociológico da ciência que trata a
verdade baseada no critério da razão.

A filosofia nasceu realizando uma transformação gradual sobre os


mitos gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos? É nesse
cenário que nasce a teologia como forma epistemológica subjetiva da
tentativa de perceber a presença de Deus na agenda da política

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religiosa do ser humano.

B. O QUE É UM MITO?

Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos


astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da
água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte,
dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).

A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo


mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo
mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar).

Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Por que tem


autoridade? Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses,
que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele
veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa
transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra – o mito – é sagrada porque vem
de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável.

Como o mito narra a origem do mundo e de tudo que nele existe? De


três maneiras principais:

1. O PAI E A MÃE DAS COISAS E DOS SERES

Encontramos o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo


que existe decorre de relações sexuais entre forças divinas
pessoais. Essas relações geram os demais deuses; os titãs (seres
semi-humanos e semidivinos), os heróis (filhos de um deus com
uma humana e de uma deusa com um humano), os humanos, os
metais, as plantas, as qualidades, como quente-frio, seco-úmido,
claro-escuro, bom-mau, justo-injusto, belo-feio, certo-errado, etc.

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A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto é, narrativa


da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por outros
seres, que são seus pais ou antepassados.

2. RIVALIDADE ENTRE OS DEUSES

Encontramos uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que


faz surgir alguma coisa no mundo. Nesse caso, o mito narra ou
uma guerra entre as forças divinas ou uma aliança entre elas para
provocar alguma COISA NO MUNDO DOS HOMENS.

O poeta Homero, na Ilíada, epopeia que narra a guerra de Tróia,


explica por que, em certas batalhas, os troianos eram vitoriosos e,
em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam
divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro.

3. RECOMPENSAS OU CASTIGOS DOS DEUSES

Encontramos as recompensas ou os castigos que os deuses dão a


quem lhes obedece ou a quem lhes desobedece, respectivamente
(Pandora, de Odilon Redon. Da “Caixa de Pandora” saíram todos
os males do mundo, segundo a mitologia grega).

C. TEOGONIAS

Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de
lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que
governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a
origem do mundo são genealogias, diz- se que são cosmogonias e
teogonias.

A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao

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(engendrar, gerar, fazer nascer e crescer) e do substantivo genos


(nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie).

Teogonia é uma palavra composta de gonia e theos, que, em


grego, significa: as coisas divinas, os seres divinos, os deuses. A
teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus
pais e antepassados.

Além da acepção geral de “narrativa”, na qual essa palavra é usada, p.


ex., na Poética de Aristóteles, do ponto de vista histórico é possível
distinguir três significados do termo:

1. NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA

O Mito é considerado um produto inferior ou deformado da


atividade intelectual.

2. PARA A SEGUNDA CONCEPÇÃO DE MITO

Esta é uma forma autônoma de pensamento e de vida. Nesse


sentido, a validade e a função do Mito não são secundárias e
subordinadas em relação ao conhecimento racional, mas
originárias e primárias, situando-se num plano diferente do plano
do intelecto, mas dotado de igual dignidade.

3. A TERCEIRA CONCEPÇÃO DE MITO

Consiste na moderna teoria sociológica que se pode atribuir


principalmente a Fraser e a Malinowski. Este último vê no Mito a
justificação retrospectiva dos elementos fundamentais que
constituem a cultura de um grupo.

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D. O MITO SEGUNDO RODOLF BULTMANN

Na obra do autor este termo recebeu um significado especial,


importante para a interpretação que esse autor faz ao Cristianismo:
“Mito é a forma de representação em que aquilo que não é mundano,
que é divino, é representado como mundano, humano, o além como o
aquém, em que, p. ex., a transcendência de Deus é pensada como
distância espacial. Em consequência DESSA REPRESENTAÇÃO, O
CULTO É ENTENDIDO COMO UMA AÇÃO NA QUAL OS MEIOS
MATERIAIS TRANSMITEM FORÇAS IMATERIAIS”. Nesse sentido, é
óbvio que a palavra mito não tem o sentido moderno, “em que não
significa nada mais do que Ideologia (Kerygma und Mythos, I, 1951, p.
22, n. 2). Cf. Miegge, L. Evangelho e il mito, Milão, 1956.

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CAPÍTULO 02

A NATUREZA DA TEOLOGIA

A. INTRODUÇÃO

Se a ciência natural se preocupa com os fatos e leis da natureza, a


teologia se preocupa com os fatos e princípios da Bíblia. Se o objetivo
de uma é organizar e sistematizar os fatos do mundo externo, bem
como averiguar as leis pelas quais eles são determinados; o objetivo
da outra é sistematizar os fatos da Bíblia e averiguar os princípios ou
verdades gerais que esses fatos envolvem.

B. DEFINIÇÕES DE TEOLOGIA

Às vezes a palavra se restringe a seu significado etimológico, “um


discurso concernente a Deus”. Orfeu e Homero eram chamados de
teólogos entre os gregos, porque seus poemas tratavam a natureza dos
deuses. Aristóteles classificou as ciências sob os títulos de física,
matemática e teologia, isto é, aquela que se ocupa da natureza, aquela
que se ocupa dos números e da quantidade, e aquela que se ocupa de
Deus.

C. QUATRO CATEGORIAS DE TEOLOGIA

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Em sentido mais especificamente histórico-filosófico, é possível


distinguir: 1º Teologia Metafísica; 2º Teologia Natural; 3º Teologia
Revelada; 4º Teologia Negativa.

1. TEOLOGIA METAFÍSICA

Aristóteles chamou sua “ciência primeira”, a metafísica, de


Teologia: entendeu-a ao mesmo tempo como ciência do ser
enquanto ser (ou seja, da substância) e como ciência da
substância eterna, imóvel e separada (ou seja, de Deus). Desse
ponto de vista, os neoplatônicos muitas vezes chamaram os
filósofos – inclusive os físicos e os materialistas – de teólogos,
porquanto eles se ocupavam (como diz Proclo) dos “princípios
primeiríssimos das coisas subsistentes por si mesmas”.

2. TEOLOGIA NATURAL

O segundo conceito de Teologia é, portanto, o de teologia natural,


que se distingue do anterior só pelo fato de compreender uma
parte da metafísica, e não a sua totalidade; mais precisamente a
parte que tem por objeto as coisas divinas. Teologia Natural é a
ciência de Deus, na medida em que pode ser conhecido sem fé, e
a considerava fundamento da filosofia prática, da Teologia e da
Teologia Revelada.

Por sua vez, a Teologia transcendental pode ser cosmoteologia, se


deduzir a existência de Deus da experiência em geral, ou
ontoteologia, se deduzir sua experiência a partir de conceitos, sem
recorrer à experiência. Finalmente, a teologia natural pode ser
física, se remontar aos atributos de Deus partindo da ordem e da
constituição do mundo, ou teologia moral, se considerar Deus

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como o princípio da ordem e da perfeição moral.

3. TEOLOGIA REVELADA

A Teologia Revelada ou Sagrada extrai seus princípios da


revelação. A primeira formulação explícita desse conceito é,
provavelmente, tomista: Tomás de Aquino afirma que “a sagrada
doutrina é ciência porque parte de princípios conhecidos através
da luz de uma ciência superior, que é a ciência de Deus e dos
bem- aventurados”.

4. TEOLOGIA NEGATIVA

O conceito da Teologia Negativa surgiu e propagou-se no


misticismo. A distinção entre Teologia positiva ou afirmativa (que
parte de Deus em direção ao finito por meio da determinação dos
atributos ou nomes de Deus) e Teologia negativa (que parte do
finito em direção a Deus e o considera acima de todos os
predicados ou nomes com os quais possa ser designado)
encontra-se nos tratados do Pseudo-Dionísio, o Areopagita, mas
sua fonte está nos textos neoplatônicos, para os quais deus está
acima de todas as determinações finitas e próprio do ser. Pode-se
considerar manifestação dessa Teologia – revivida através da
experiência de Kierkeggard – a chamada teologia da crise de K.
Barth, salvo pelo fato de esta não consistir na negação dos
atributos finitos de Deus, mas em considerar a relação entre o
homem e Deus como a negação de todas as possibilidades
humanas (crise) que se reduziriam a meras impossibilidades, de tal
modo que só dessa negação nasceria uma possibilidade de
salvação, cuja origem não é mais humana, porém divina.

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D. COMO NASCE CONCRETAMENTE A TEOLOGIA

A teologia nasce do coração da própria fé. É, na definição felicíssima


de Santo Anselmo, “a fé que ama saber”. Igualmente o amor, que
nasce da fé, deseja saber as razões por que ama. Tal é a dupla fonte
objetiva da teologia.

Quanto á fonte subjetiva da teologia, é o próprio espírito humano


que “deseja naturalmente conhecer” (Aristóteles), e disso não estão
excluídas as coisas da fé.

Toda a pessoa de fé, na medida em que procura entender o porquê


daquilo que crê, é, a seu modo e à sua medida, “teóloga”.

A fé é fonte, objeto e fim da teologia. De fato, a fé compreende:

1) Um elemento cognitivo: é a fé-palavra;

2) Um elemento afetivo; é a fé-experiência;

3) Um elemento ativo: a fé-prática.

A Teologia, enquanto ciência superior é por natureza responsável pela


pesquisa e aplicação dos resultados verificados na praxiológica da
produção de conhecimentos novos e originais. A Teologia para ser
ciência de fato e de direito, deve voltar-se a pesquisa propriamente dita,
e não apenas a confecção de artigos de fé.

Não sabemos a razão pela qual os primeiros “teólogos ou


investigadores da natureza” pararam suas produções epistemológicas,
mas uma coisa é certa: teologia sem a presença de uma mente
inquiridora, científica ou mesmo filosófica, jamais poderá avançar em
termos de novas descobertas ou “revelações”. Tentar fazer teologia
somente no âmbito da fé é o mesmo que navegar contra as regras do
mar.

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CAPÍTULO 03

TEOLOGIA E CIÊNCIA

A. CONCEITO DE CIÊNCIA

A palavra ciência pode ser assumida em duas acepções: em sentido


amplo, ciência significa simplesmente conhecimento, como na
expressão tomar ciência ou daquilo; em sentido restrito, ciência não
significa um conhecimento qualquer, e sim um conhecimento que não
só apreende ou registra fatos, mas os demonstra pelas suas causas
determinadas ou constitutivas.

Conhecimento que inclua, em qualquer forma ou medida, uma garantia


da própria validade. A limitação expressa pelas palavras “em qualquer
forma ou medida” é aqui incluída para tornar a definição aplicável à
Ciência moderna, que não tem pretensões de absoluto. Mas, segundo
o conceito tradicional, a Ciência inclui garantia absoluta de validade,
sendo, portanto, como conhecimento, o grau máximo da certeza. O
oposto da Ciência é a opinião, caracterizada pela falta de garantia
acerca de sua validade. As diferentes concepções de Ciência podem
ser distinguidas conforme a garantia de validade que se lhes atribui.
Essa garantia pode consistir:

1) Na demonstração;

2) Na descrição;

3) Na corrigibilidade.

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B. CARACTERÍSTICAS DA CIÊNCIA

1. CONHECIMENTO PELAS CAUSAS

Conhece cientificamente quem é capaz de demonstrar os porquês


de determinado enunciado. “Vere scire, per causas scire”, dizia
Bacon, repetindo, aliás, Aristóteles, que, vinte séculos antes, já
definiria ciência como “cognitio rei per causam protlpter quam res
est, et quod ejus causa, et no contigit aliter se habere” (I Analytica
Posteriore, c. 2).

2. PROFUNDIDADE E GENERALIDADE DE SUAS CONDIÇÕES

O conhecimento é o modo mais íntimo e profundo de se atingir o


real. A ciência generaliza porque atinge a constituição íntima e a
causa comum a todos os fenômenos da mesma espécie. A
validade universal dos enunciados científicos confere à ciência a
prerrogativa de fazer prognósticos seguros.

3. FINALIDADE TEÓRICA E PRÁTICA

Enquanto a ciência satisfaz este profundo desejo de conhecer,


realiza sua finalidade teórica. Da pesquisa fundamental, da
descoberta da verdade, decorrem inúmeras consequências
práticas no domínio da natureza, no prognóstico e no controle dos
eventos, nos avanços tecnológicos, em suam, na melhoria das
condições da vida humana.

4. OBJETO FORMAL

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Não é o objeto material que caracteriza a ciência; na verdade, o


mesmo objeto material pode ser atingido por diferentes modos de
conhecer. Assim é que o objeto material “homem” pode ser
atingido pela poesia, pela filosofia, pela teologia e, também pelas
ciências, tais como a psicologia, a Biologia e a Sociologia. O que
caracteriza a ciência é seu objeto formal, isto é, a maneira peculiar,
o aspecto, ou ângulo sob o qual atinge seu objeto material. O
modo específico de a ciência atingir seu objeto é o controle
experimental das causas reais próximas.

A ciência tem por objeto material realidades físicas, sua pesquisa é


instrumentada, seu objetivo é manifestar a evidência dos fatos e
não das ideias.

5. MÉTODO E CONTROLE

O problema do método será objeto de um estudo à parte. Nós o


mencionamos aqui apenas como uma das características da
ciência, tão importante que alguns autores chegam a definir ciência
exatamente em função do método. Enquanto o conhecimento
vulgar é ametódico, o método constitui a via real de acesso da
mente humana nos processos da pesquisa científica.

A filosofia usa o método racional de caráter eminentemente


dedutivo. Em contraposição à Filosofia, a ciência caracteriza-se
pelo emprego do método experimental, essencialmente indutivo.
Neste sentido pode-se dizer que a ciência é uma investigação
rigorosamente metódica e controlada, nem será outra a razão da
confiança nas conclusões científicas.

6. EXATIDÃO

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Essa exatidão característica da ciência, relativa às suas


conclusões, decorre da possibilidade de se demonstrar, por via de
experimentação ou evidencia dos fatos objetivos, observáveis e
controláveis, o mérito de seus enunciados.

7. ASPECTO SOCIAL

O motivo da pesquisa deve ser o de beneficiar o homem na


condição de agente racional de seu meio ambiente. Cumpre ainda
observar que a ciência é uma instituição social. Os cientistas são
membros de uma sociedade intelectual universal consagrada à
procura da verdade e à melhoria das condições de vida da
Humanidade. Sem o aspecto social da pesquisa científica o
homem deixa de significa na busca pela verdade e o sentido de
viver.

Antes de entendermos o problema da teologia como ciência,


devemos procurar, antes de qualquer fundamentação
epistemológica fundamentar a pesquisa teórica da teologia na
época da idade medieval, onde surge no cenário da pesquisa
teológica certo interesse pela busca de um sentido mais objetivo
da fé.

A primeira forma de teologia medieval, que floresceu até o século


XII, foi a chamada teologia monástica.

A segunda forma de teologia medieval pode ser chamada urbana.


Ela nasce quando, a partir do século XII, acentua-se o declínio do
mundo feudal e aparecem as primeiras sociedades urbanas com o
desenvolvimento das cidades, primeiro na Itália, depois na
Europa norte-ocidental. A teologia perde, então, seu caráter
alegórico e se torna uma teologia científica, porque o homem

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

medieval passa a confrontar-se com a realidade imediata que


começa a desafiá-lo em termos de trabalho e de organização da
sociedade, deixando de ser vivida como alegoria de uma outra
realidade. É nesse momento que tem lugar a entrada de Aristóteles
no Ocidente. Os teólogos medievais passam a traduzir o conteúdo
da teologia simbólica para as categorias científicas aristotélicas.

Abordamos aqui o problema começando por uma rápida visão


histórica e passando, logo em seguida, a uma abordagem
sistemática do problema.

C. VISÃO DO PROBLEMA

Num sentido muito amplo e geral, o encontro da teologia com a ciência


grega se dá já muito cedo na época patrística. Pelo menos desde
Orígenes se começa no cristianismo a tentativa de elaboração da
teologia segundo o modelo da ciência grega como uma forma de
conhecimento rigoroso do objeto, conforme o modelo de uma
“episteme”. O que não significa que a busca de fazer da teologia cristã
uma ciência seja característica da patrística como ela o será da teologia
da alta escolástica. De fato, a questão da teologia como ciência e do
caráter científico da teologia foi colocada expressamente apenas na
alta escolástica a partir de Tomás de Aquino (Método Aristotélico).

A questão do caráter científico da teologia ou da relação entre teologia


e as ciências está longe de ser uma questão simples. Ela depende, ao
menos em parte, do próprio sentido de ciência, que não é um conceito
estático, mas um conceito que evolui na história. Temos aqui o que
chamamos de relativismo epistemológico.

O problema da teologia como ciência evolui da visão metafísico-


estática da teologia medieval para uma visão muito mais dinâmica

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

existencial de nosso tempo.

O valor do conhecimento reside, pois, aos seguintes fatores:

1) Busca e aquisição de informações para solução de problemas


experimentais e vivenciais;

2) aplicação dos conhecimentos obtidos para promover o


progresso material e espiritual do homem e da sociedade;

3) fonte de invenções e criações técnico- científicas capazes de


beneficiar a vida humana.

Por conseguinte, o conhecimento científico, além de ater-se aos fatos,


é: analítico, comunicável, verificável, organizado e sistemático. É
explicativo, constrói e aplica teorias e depende de investigações
metódicas.

D. ASPECTOS SISTEMÁTICOS DO PROBLEMA

1. TEOLOGIA COMO SABER RACIONAL

A teologia terá de recorrer inevitavelmente aos instrumentos que o


mundo com o seu saber e a sua cultura coloca à disposição do
teólogo para que a sua teologia se torne um serviço eficaz ao
mundo. Essa foi a maneira de proceder de todos os grandes
cristãos. Bastaria lembrar aqui o primeiro grande teólogo da Igreja
Oriental, Orígenes, que serviu-se da filosofia e das ciências de seu
tempo para realizar seu trabalho de teólogo. Não se faz teologia
sem o diálogo com a cultura de cada época.

É nesse contato e diálogo do teólogo com a cultura de seu tempo


que se vê a importância da teologia como ciência. Para a teologia
alcançar uma racionalidade que fique próxima da racionalidade

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

científica, mesmo se o saber racional da teologia tem de conservar


sempre a especificidade que lhe vem da Revelação e da fé, não é
uma questão de vaidade do teólogo mas uma questão vital.

A teologia não pode isolar-se do mundo da cultura sem correr o


risco de ser uma teologia estéril que não produz frutos para a
evangelização do mundo.

Ser ciência da fé não significa para o teólogo de hoje


superioridade, mas, antes, a consciência de que só a teologia que
coloca os problemas do mundo à luz da Revelação e da fé pode
ajudar o homem e o mundo de cada época a encontrar o caminho
de seu destino último.

Uma teologia autossuficiente nunca entrará em diálogo com as


ciências.

2. TEOLOGIA COMO SABEDORIA

Os Estoicos entendiam a sabedoria como a maior das virtudes e


da sabedoria surgia a coragem, o autocontrole e a justiça.

Ora, o teólogo, à maneira de um sábio arquiteto que ordena tudo


para a construção do edifício, ele tem um saber que está acima
dos demais saberes humanos por ser uma forma de participação
no próprio saber divino.

É claro que a época moderna mudou profundamente a relação da


teologia para com as demais ciências.

Nenhum teólogo, hoje, pensa em colocar em dúvida a autonomia


das ciências humanas em seu respectivo campo de investigação,
ainda que essa autonomia não possa ser absoluta no sentido de
que as ciências humanas estariam isentas de qualquer instância

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

de natureza religiosa ou ética fora das próprias ciências. Uma


autonomia absoluta das ciências humanas e ética que regem a
vida do homem como um todo é incompatível com a fé cristã.

Na medida em que se acentuou numa linha demasiadamente


estrita o caráter científico da teologia, os teólogos deixaram de
falar da teologia como sabedoria como se esse aspecto da teologia
tivesse sido superado pelo rigor científico da teologia.

3. TEOLOGIA COMO SABER POPULAR

Se dissermos que a sabedoria não pode enclausurar-se num saber


racional, mas tem de ser sempre uma forma de sabedoria cristã, e
que a compreensão da Palavra de Deus e da fé provem não
apenas do esforço humano de entender a fé e a Palavra de Deus e
da fé provem não apenas para os teólogos.

O caráter acadêmico e especializa do teólogo nunca deve perder


de vista seu último objetivo que é servir a todo o Povo de Deus. A
teologia está sempre numa tensão entre a especificação
acadêmica que é condição que é condição de seu progresso e o
objetivo eclesial que é a condição de permanecer como
compromisso com o Povo de Deus.

É claro que o Povo simples não é capaz de fazer teologia num


nível de reflexão que esteja acima de sua compreensão simples da
fé. A fé da comunidade cristã é pré-acadêmica, pois não é capaz
de produzir uma teologia científica ou rigorosa pelo fato de não
possuir instrumentos básicos ou necessários a tal compreensão.

Evidentemente, essa teologia popular não é reflexão metódica,


especializada ou acadêmica, sobre a fé da Igreja. O que não
significa que ela estaria em oposição à teologia feita num nível

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

profissional e especializado.

De fato, a teologia não é apenas teologia deste ou daquele


teólogo, mas também teologia da Igreja, e a última razão por que a
Igreja faz sua teologia não é a especialização acadêmica e a
ciência, mas sua missão soteriológica. Esse é o objetivo em função
da qual a teologia existe como ciência. Será que a teologia
praticada nos laboratórios acadêmicos de nossos seminários é
capaz de produzir elementos epistemológicos a altura de uma
pesquisa científica?

Poderíamos afinal perguntar onde estaria a principal utilidade para


a Igreja e a sua teologia de uma teologia popular.

E. A RELAÇÃO DA TEOLOGIA COM A FILOSOFIA E AS DEMAIS


CIÊNCIAS

A teologia representa o saber mais elevado, a ciência soberana, a


sabedoria absoluta. Sua excelência provém do fato de que considera a
realidade absoluta que é Deus, objeto máximo do pensar humano e
objeto derradeiro do mundo.

O lugar da teologia entre as ciências, e por consequência na “casa das


ciências”, a Universidade, se justifica por isso: o ser parcial, que cada
ciência tematiza, remete finalmente a um fundamento e sentido
absoluto. Assim, toda ciência do condicional permanece aberta à
ciência do Incondicional. Por sua parte, a teologia estará aberta às
demais ciências, pois precisa delas para se construir como discurso
concreto.

Para realizar sua tarefa, a inteligência da fé, a teologia, lança mão dos
vários recursos do saber humano. Todas as ciências são consideradas
por ela como instrumentos, ou melhor, como mediações (os medievais

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

falavam em “servas”) no sentido de compreender mais plenamente as


realidades da fé.

A relação da teologia com as ciências não é de tipo ditatorial, mas


democrático. Ou seja, a teologia serve-se dos recursos das ciências,
respeitando sempre sua autonomia específica, mas também
reservando-se o direito, que lhe dá a transcendência da fé sobre toda
forma de razão, de criticar as pretensões pseudofilosóficas da fé sobre
toda forma de razão, de criticar as pretensões pseudofilosóficas ou
pseudoteológicas da chamada “razão moderna”.

Como feito de retorno, a razão da fé, isso é, a teologia, também recebe


dos outros saberes uma válida contribuição crítica: eles ajudam a
purificar, aprofundar e provocar a razão teológica.

A teologia utiliza a filosofia e as ciências seguindo dois critérios


básicos:

1) Assunção do que é positivo, a saber: os elementos bons e


verdadeiros, enfim, tudo o que se compatibiliza com a fé;

2) Rejeição do que é negativo, ou seja: tudo o que é mau, falso, e


que não pode se harmonizar com o conteúdo da fé revelada.

As duas mediações teóricas a que recorre a teologia são a mediação


filosófica e a mediação das ciências.

Enquanto resposta humana à proposta divina, a fé pressupõe sempre


uma filosofia, como postura da existência de buscar o sentido radical à
vida. Nesse sentido, a filosofia é intrínseca à fé e tem um lugar
estrutural na teologia.

A teologia não precisa necessariamente incorporar uma filosofia


enquanto este ou aquele sistema, especialmente hoje em que a
filosofia se encontra numa situação de grande pluralismo e de estrema
fragmentação. Mas precisa, sim, de um espírito ou postura filosófica

25
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

realmente assumida e rigorosa.

A função geral da filosofia na teologia é refletir o fundo ontológico dos


conceitos teológicos. Como a graça supõe a natureza, assim a razão
teológica supõe o trabalho da razão filosófica.

26
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

27
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

CAPÍTULO 04

O CONHECIMENTO TEOLÓGICO E O
CONHECIMENTO CIENTÍFICO

A. INTRODUÇÃO

Existem no Brasil, nas Américas, na Europa e no mundo inteiro


celebres Institutos e Faculdades de Teologia, com suas publicações e
professores de reconhecida autoridade. Reina, por outro lado, a maior
obscuridade, para leigos nesta matéria, sobre a natureza do modo de
conhecer teológico. Não deveríamos, pois, omitir referencia ao
conhecimento teológico nesta nossa introdução aos diversos modos
de conhecer.

B. POSIÇÃO DOS TEÓLOGOS

Encontra-se em Tomás de Aquino o mais celebre teólogo de todos os


tempos - inúmeras passagens em que estabelece confronto entre o
conhecimento teológico e o conhecimento filosófico ou cientifico.
Parece muito apropriada para o inicio da presente analise a passagem
da Summa contra gentiles onde o Doutor de Aquino assim escreve: “Se
algumas coisas são igualmente consideradas pelo filosofo e pelo fiel a
respeito das criaturas, filosofo e fiel são guiados por princípios diversos.
Na verdade, o filosofo (ou o cientista) tira seu argumento das próprias
causas das coisas, enquanto que o fiel o toma da causa primeira, a
saber, porque assim foi divinamente revelado; ou porque isto reverte

28
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

para a glória de Deus; ou porque o poder de Deus e infinito. Por isso


mesmo também ela (a doutrina da fé) deve ser considerada sabedoria
máxima, porque pensa a partir da causa mais elevada. E, por isso, a
filosofia humana serve a ela (it teologia do fiel) como o inferior ao
superior (...). E dai decorre que uma e outra doutrina se
conduzem em ordem diversa. Pois, na doutrina da filosofia (e da
ciência) que considera as criaturas em si e a partir delas conduz ao
conhecimento de Deus, a primeira consideração versa a respeito das
criaturas e a última versa a respeito de Deus. Na doutrina da fé, porem,
que não considera as criaturas a não ser enquanto referidas a Deus,
primeiro esta a consideração a respeito de Deus e só depois a
consideração a respeito das criaturas. E desta maneira a doutrina da fé
e mais perfeita porque mais semelhante ao conhecimento divino
que se conhece a si mesmo e em si intui todas as coisas (Summa
contra gentiles, editio leonina, Romae, Desclee-Herder, Iiber 11. cap. V.
1934- Tradução do autor do referido texto latino)."

A análise, ainda que breve, deste texto de Tomás de Aquino,


considerado no contexto de toda sua obra, particularmente da primeira
parte de sal Summa theologica, oferecerá perfeito entendimento sobre
o conceito que fazem do conhecimento teológico os autores cristãos
católicos.

C. POSSÍVEL IDENTIDADE DO OBJETO MATERIAL

Em primeiro lugar, o objeto material de estudo da Teologia e da


Filosofia ou da ciência e o mesmo, ou pode ser o mesmo "se algumas
coisas são igualmente consideradas pelo filosofo e pelo fiel a respeito
das criaturas...". A Teologia e a Filosofia ou as ciências não se
distinguem, pelo objeto de estudo, que e ou pode ser o mesmo. Alias,
tornaram-se celebres na História as controvérsias entre teólogos e

29
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

cientistas, por exemplo, quanto a teoria da evolução das espécies e


particularmente do Homem. Os teólogos firmavam suas posições
baseados nos ensinamentos dos textos bíblicos, enquanto os cientistas
enveredavam, em suas pesquisas, a procura de fatos concretos
capazes de comprovar suas hipóteses. Não caberia aqui 'uma
exposição de tais contendas que chegaram a inflamar os ânimos;
cumpre apenas observar que semelhantes conflitos forçaram os
teólogos e escriturista a interpretarem com maior largueza os textos
bíblicos e contribuíram também para iniciar a divulgação da seriedade e
do prestigio da ciência junto as camadas mais religiosas e menos
cultas. E pode-se afirmar que, em nossos dias, a preocupação dos
teólogos em reestudar suas doutrinas para não cair em contradição
com as conclusões científicas e bem maiores que a dos cientistas em
pressupor dogmas religiosos.

D. DIVERSIDADE DE PRINCÍPIOS

Em segundo lugar, consta do texto em estudo a distinção entre


Teologia e Filosofia ou ciência em função dos "princípios diversos" que
guiam filósofos e teólogos "em ordem diversa". Tanto a Teologia como
a Filosofia e as ciências tem ou podem ter o mesmo objeto de estudo,
como, por exemplo, a origem do mundo, das espécies ou do Homem.
Entretanto, "filósofo e fiel são guiados por princípios diversos". Este
elemento especificativo do conhecimento teológico merecera, pois,
especial consideração.

Se perguntarmos quais os "princípios diversos" que distinguem a


conduta cientifica da conduta teológica, a resposta de Tomás de Aquino
e dos teólogos em geral desdobrar-se-á em duas considerações, a
saber: diversidade de princípios operativos e diversidade de fontes
objetivas.

30
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

E. DIVERSIDADE DE PRINCÍPIOS SUBJETIVOS OPERATIVOS

Os princípios subjetivos operativos que guiam o filósofo ou o cientista


são os sentidos corporais e a inteligência ou a razão natural;
diversamente acontece com o teólogo ou com o fiel que operam com
sua razão iluminada, ilustrada, elevada pelo dom sobrenatural e
gratuito da fé, conforme ensina a própria teologia. A fé eleva a razão a
uma ordem superior e divina de conhecimento: " ... a doutrina da fé e
mais perfeita, porque mais semelhante ao conhecimento divino que se
conhece a si mesmo e em si intui todas as outras coisas", escreve
Tomás de Aquino ..

Assim como a visão vulgar das coisas pode ser elevada pelo estudo a
ordem superior de visão cientifica das coisas, assim também a visão
racional, natural e humana pode ser elevada a ordem superior e divina.
A vista humana, por exemplo, pode aumentar centenas de vezes sua
capacidade de ver, mediante instrumentos e lentes especiais; além
disso, a vista do homem vulgar ou leigo vê apenas uma ferida onde os
olhos do especialista, de certa forma elevados a uma ordem superior
pela ciência, veem determinada ferida, suas causas, seu estado atual
de evolução, bem como o regime e antídotos indicados para sua cura.
A ciência, pois, eleva a capacidade natural e humana de ver e de
conhecer; assim, também, ensina a Teologia, o dom da fé confere luz
especial a mente humana, de tal maneira que, onde o filosofo ou
cientista vê apenas um homem, o fiel, o crente, com sua mente
iluminada pela fé, consegue ver um Deus; e onde o cientista ou filosofo
vê um texto semelhante a inúmeros outros textos, o fiel, o crente, vê
fulgores da palavra divina; e ao aceitar os textos sagrados como
expressão da mente ou da ciência divina, o fiel abraça "a doutrina da fé
que e mais perfeita, porque mais semelhante ao conhecimento divino",

31
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

escreve Tomás de Aquino na passagem acima transcrita.

Assim, os princípios operativos, que guiam o fiel e o filósofo ou


cientista, são diferentes; no caso do filosofo ou cientista, age a razão
natural; no caso do fiel, o principio operativo que aceita o dogma
religioso não e a razão natural mas a razão elevada, ilustrada,
iluminada pelo dom gratuito da fé. Além desta diversidade de princípios
operativos, subjetivos por sua própria natureza, resta analisar
a diversidade dos fundamentos ou princípios objetivos que diferenciam
a Teologia em relação à Filosofia.

F. DIVERSIDADE DOS PRINCÍPIOS OU FUNDAMENTOS OBJETIVOS

O fundamento do conhecimento científico consiste na evidencia dos


fatos observados e controlados experimentalmente; o fundamento do
conhecimento filosófico e de seus enunciados consiste na evidencia
lógica; nesses dois modos de conhecer, a evidência deve resultar da
pesquisa dos fatos ou da analise dos conteúdos dos enunciados. No
caso do conhecimento teológico, o fiel não se detém na pesquisa dos
fatos ou na analise dos conteúdos dos dogmas a procura de evidencia,
como escreve Tomás de Aquino: "Na verdade, o filósofo tira seu
argumento das próprias causas das coisas, enquanto que o fiel o toma
da causa primeira, a saber, porque assim foi divinamente revelado".
Esse detalhe do fundamento do conhecimento teológico ou do motivo
que leva o fiel a aceitar como verdade inconteste o dogma da fé
merece exposição mais cuidadosa, do que resultara a estrutura
fundamental do conhecimento teológico.

Se perguntarmos ao teólogo, ou ao fiel cristão esclarecido, por que


admite que o Homem seja dotado de alma espiritual, imortal, que não
resulta da evolução da matéria e que não e transmitida pelos pais aos

32
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

seus filhos, ele só terá uma resposta: - Porque tal verdade consta dos
textos bíblicos, que são a palavra de Deus, isto é, a comunicação da
verdade que Deus tem em sua mente e comunica aos homens.

G. PASSOS DO CONHECIMENTO TEOLÓGICO

1) Deus existe.

2) Deus tem ciência infinita.

3) Deus tem poder infinito e, portanto, tem o poder de se comunicar


com os homens, fazendo-os participantes de seus próprios
conhecimentos.

4) Entre as diversas maneiras de se comunicar com os homens poderia


escolher a revelação direta a cada um, ou então, a revelação direta
a alguns profetas e hagiógrafos que se comunicariam depois com
outros homens, falando e escrevendo sob inspiração divina.

5) Deus falou de fato aos profetas e, pelos profetas, a todo o seu povo
e pelo seu Filho Jesus Cristo a toda a Humanidade.

6) O que Deus falou, ou parte do que Deus falou, está escrito nos
textos das escrituras sagradas do antigo e novo testamentos
vulgarmente denominados Bíblia.

7) Os textos bíblicos são autênticos, não foram adulterados, e são


suficientemente claros e explícitos para que possamos entender hoje
quanto foi escrito a dois, quatro ou mais milênios.

8) Se tudo o que está na Bíblia encerra a própria ciência divina


comunicada por Deus aos homens; se Deus merece todo credito e
exige que os homens recebam sua palavra e aceitem como
condição de salvação, e natural que não se procure a evidencia dos
conteúdos da revelação divina, mas que se aceite o dogma "porque

33
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

assim foi divinamente revelado".

Não parece existir outro esquema que melhor caracterize a estrutura do


conhecimento teológico, ou seja, a estrutura da aceitação do dogma
como verdade inconteste. Realmente, se Deus existe, se revelou aos
homens uma parcela de seus conhecimentos, se esta revelação foi
transcrita fielmente e integralmente preservada de corruptelas nos
textos sagrados da Bíblia, e evidente que tudo o que está claramente
contido na Bíblia deve ser aceito como expressão da verdade divina, e,
como diz Tomás de Aquino, o fiel conhece através da verdade com que
Deus conhece a si e a todas as coisas em si. Incumbe, entretanto, ao
teólogo, provar que Deus existe, que de fato falou aos homens, que os
textos bíblicos foram escritos sob inspiração divina, que este ou
aquele ensinamento se encontram claramente contidos nos textos
sagrados.

H. A FÉ RELIGIOSA E TENDÊNCIA VOLITIVA

Se a fé religiosa não estivesse mais próxima às tendências volitivas do


que os processos racionais, não cremos que existisse fé sobre a face
da Terra; nem se explicaria como ela floresce entre incultos e pode
definhar na alma de filósofos e de teólogos. Diríamos, pois, que a
estrutura do conhecimento teológico, que muito pesquisamos para
tentar estabelecer, não tem o menor sentido para o crente, nem a
menor validade para o sábio. A fé religiosa e um fato que nem a
teologia ou a ciência do fato religioso podem explicar ou justificar
cabalmente. A fé religiosa e de ordem místico-intuitiva e não de ordem
racional-analítica. Vamos transcrever significativa passagem de
Johannes Hessem a esse respeito:

"Finalmente, pode mostrar-se, sem dificuldade, que as supostas

34
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

demonstrações metafísicas puramente racionais, na realidade, nascem


de uma atitude religiosa, de forma que se pode dizer com Scheler que
tais raciocínios e demonstrações não servem de base it religião, antes,
pelo contrario, baseiam-se na religião. Isto explica o fato psicológico,
incompreensível de outra forma, de que as provas da existência de
Deus, tidas como rigorosas, só impressionem os que já são crentes e
se encontram em atitude religiosa, fracassando justamente com
aqueles que estão em atitude puramente racional e critica. Esta
psicologia peculiar das provas da existência de Deus lança uma clara
luz sobre o seu caráter lógico e epistemológico."

"Perante todos os seus intentos para confundir a religião com a


Filosofia, a fé com o saber - continua Hessem - temos de insistir com
toda a energia em que a religião e uma esfera de valor completamente
autônoma. Não repousa em outra esfera de valor, mas descansa
integralmente sobre bases próprias. Não tem o fundamento da sua
validade na Filosofia, nem na Metafísica, mas em si própria, na certeza
imediata peculiar do conhecimento religioso. o reconhecimento
da autonomia epistemológica da religião depende, pois, de que se
admita um conhecimento religioso especial. Quando, ao tratar do
problema da intuição, pusemos em evidencia este conhecimento, que
se caracterizou mais concretamente como um conhecimento imediato
intuitivo da religião, assentamos a base teórica da autonomia da
religião, que afirmamos e defendemos agora."

E continua Hessem citando agora Scheler em seu Do eterno no


homem: Como poderá a religião de entre todas as disposi9i5es e
potencias do espírito humano aquela que, subjetivamente, tem raízes
mais profundas, assentar sobre uma base mais firme que sobre si
mesma, sobre a sua essência?" - 2 HESSEM, op. cit. , p. 197-198.

35
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

I. A FÉ E A SABEDORIA MÁXIMA PARA OS CRENTES

Na suposição de que os textos bíblicos correspondem à palavra de


Deus, isto e, ao conhecimento que o próprio Deus tem de si mesmo e
de todas as coisas, a Teologia é a rainha das ciências, e a Filosofia sua
serva, como escreveu Tomás de Aquino: a doutrina da fé "deve ser
considerada sabedoria máxima, porque pensa a partir da causa mais
elevada; e por isso a Filosofia humana serve a ela (a Teologia) como o
inferior ao superior". Em todo o período chamado Patrístico e durante a
Idade Media, ou mesmo ate no período Moderno inaugurado no século
XVII, a Filosofia e as ciências foram mesmo reduzidas a condição de
servas da Teologia. Nos primórdios do Cristianismo, particularmente, o
desassombro dos mártires que selaram com a própria vida seu
testemunho de fidelidade ao dogma prova o grau de certeza que o
conhecimento teológico, ou a adesão à doutrina religiosa, pode gerar.
Tais fatos históricos provam a indiscutível força da fé.

Cumpre finalmente observar que, do ponto de vista cultural, há enorme


diferença entre o conhecimento teol6gico dos mestres em teologia e as
convicções religiosas puras dos crentes fervorosos, da mesma forma
que são muito diferentes o modo do conhecimento cientifico do cientista
e a fé popular nas conclusões das ciências.

36
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

37
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

CAPÍTULO 05

O PROBLEMA DO MÉTODO TEOLÓGICO

A. PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

E improcedente conceber a curso acadêmico de teologia como grande


supermercado do saber religioso cristão, onde os mais diversos
produtos são postas a disposição do consumidor, ou como um espaço
de bombardeamento de informações sobre a tábula rasa da mente do
aluno. Como todo curso acadêmico, a teologia exige competência e
metodologia, tanto do professor como do aluno. Ensino e
aprendizagem, dois lados de uma mesma moeda, estrada de mão
dupla, envolvem uma serie de procedimentos, recursos e atitudes.

B. POSTURA PEDAGÓGICA

O processo ensino-aprendizagem postula a articulação de dupla


perspectiva pedagógica: socialização do conhecimento e construção do
conhecimento. O professor de teologia fez um longo caminho de
acumulação e reelaboração do saber teológico, que lhe custou tempo e
investimento pessoal. Agora, exerce a função de oferecer chaves de
intelecção, explicações, sínteses, conteúdo central, que o aluno levaria
muito tempo para conseguir aprender sozinho ou dificilmente alcançaria
par si. O professor reparte e propõe a conteúdo elaborado, no setor da
teologia que lhe corresponde. Como os passarinhos para seus filhotes,

38
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

ele seleciona e distribui, já triturado, o alimento para seus alunos.

A segunda perspectiva completa a primeira: o aluno constrói o


conhecimento, tal como afirma corretamente Piaget. Qualquer saber
humano e assimilado e engendrado a partir das estruturas cognitivas
da pessoa que deseja aprendê-lo. O aluno tem parte ativa na
aprendizagem, ao receber e reelaborar os dados, confrontando-os com
as experiências de sua vida pessoal e pastoral, e enriquecendo-os com
outras leituras.

São posturas pedagógicas extremas e contra produtivas o monologo do


professor e a aprendizagem ativa, realizada somente pelo aluno. No
primeiro caso, o mestre toma-se o único protagonista do processo,
reduzindo seus alunos a meros repetidores. No segundo, promovem-
se demasiadas atividades para os alunos, como trabalhos de grupo e
leituras de textos, sem a contribuição qualificada do mestre. Como
faltam critérios iluminadores, a aula se reduz a um festival de
"achismos" ("eu acho que", "me parece que"), pratica estéril, como o
cachorro que corre em tomo do próprio rabo, sem levar a aquisição de
novos conhecimentos. Em ambos os casos, compromete-se o processo
de aprendizagem.

C. METODOLOGIA

Como o nome indica, método é o caminho (em grego: "hodos") através


do qual se pretende realizar o ensino-aprendizagem. Cada disciplina ou
área de estudo possui seu método adequado. Entram em questão, em
proporções distintas, os seguintes componentes: explicitação do
professor, trabalho de assimilação do aluno (pessoal e/ou em grupo),
enriquecimento por meio de outras leituras, síntese e extrapolação.

Algumas disciplinas, por exigir maior capacidade de especulação ou

39
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

utilizar instrumental teórico complexo e desconhecido pelos alunos,


necessitam de maior intervenção do professor. Por exemplo: a
problemática do "sobrenatural" na teologia da graça ou as noções
jurídicas básicas para o direito canônico. Outras disciplinas requerem
mais tempo de leitura de enriquecimento por parte dos alunos, como
Historia da Igreja. Outras, enfim, podem ser mais produtivas se ha
orientação para estudo pessoal ou em grupo, como os evangelhos e
outros livros bíblicos. Importa ao professor, neste caso, recolher o
trabalho realizado pelos alunos, e acrescentar o que julgar necessário.
Outras disciplinas; sobretudo as mais praticas como a moral, se
enriquecem mais se o aluno tem olhar atento a pastoral, dai
trazendo contribuições para a discussão em sala de aula.

O aluno que pretende trilhar o caminho de aprendizagem deve, antes


de tudo, organizar-se pessoalmente. E necessário estruturar um horário
de estudo e levá-lo a sério. Grande parte dos estudantes de teologia,
seminaristas e religiosos corre o risco de não aproveitar o tempo de
que dispõem. Comparados com muitos leigos de sua idade, que
estudam, trabalham e se engajam na pastoral, dispõem de melhores
condições e invejável infraestrutura.

Dada a situação deplorável da escola publica no Brasil, apesar de


terem estudado três anos de filosofia, muitos alunos apresentam
dificuldades para ler, escrever, pensar e expressar-se oralmente. Sobre
base pouco consistente, a carga enorme de informa96es perde-se
como água de tempestade sobre solo argiloso e batido. Penetra pouco!
No curso de filosofia deveria desenvolver as qualidades da
aprendizagem e expressão, a partir do nível real dos alunos, alargando
o diâmetro do gargalo estreito de seus conhecimentos e capacidades
linguísticas.

Outros fatores contribuem para o sucesso do ensino-aprendizagem.

40
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

Da parte dos professores, requer-se primariamente dosagem do


conteúdo conforme o nível da classe, esfor90 de integração entre
disciplinas e avalia9ao peri6dica. Da parte do aluno, esperam-se
postura pessoal de curiosidade e interesse pelo estudo, agu9amento da
sensibilidade e amplia9ao da capacidade de reflexão tanto sobre a
prática como sobre os conteúdos especulativos.

41
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

CAPÍTULO 06

A TEOLOGIA E SEUS MÉTODOS

A. INTRODUÇÃO

Perto do fim do seu ministério na Galileia, Jesus pergunta a seus


discípulos: "Quem dizem os homens que eu sou?" (Mc 8.27). Os
discípulos não têm muita certeza. Eles tinham ouvido falar do reino de
Deus e dizer que Deus estava próximo. Eles o tinham visto aproximar-
se do estrangeiro, consolar os aflitos e oprimidos e curar os doentes.
Haviam-no observado desafiar a presunção e a rigidez das autoridades
religiosas, e sentiam em si mesmos uma nova esperança e a
proximidade de Deus na presença de Jesus. Apesar de tudo, porém,
não sabem como responder essa pergunta.

Finalmente Pedro, usando uma imagem da tradição religiosa do seu


tempo, responde, "Tu és o Messias". Na imaginação judia, plasmada
especialmente pela tradição profética, o Messias devia ser o ungido de
Deus, o esperado filho de Davi que traria a salvação de Deus, renovaria
a vida religiosa do povo e estabeleceria uma nova ordem de justiça,
paz e moralidade. Respondendo desse modo, Pedro expressava sua fé
pessoal em Jesus. Mas, ao manifestar essa fé pessoal através de
palavras, ele também fazia uma declaração teológica.

O que é teologia? Para muitos, infelizmente, teologia é uma disciplina


misteriosa e estranha que fala de Deus numa linguagem bem distante
da experiência humana comum. Ela parece abstrata e está cheia de
palavras a um tempo familiares e difíceis de definir, palavras como fé,

42
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

justificação, redenção, graça, salvação, revelação, escatologia, espírito,


e assim por diante. Para outros, a teologia é um conjunto de sistemas e
escolas: protestante ou católicas, tomista ou calvinista, barthiana ou
rahneriana; teologia romana, teologia da libertação ou teologia
feminista. A teologia parece complexa porque faz eco a muitas
diferentes vozes e preocupações.

Oculta sob essas vozes e preocupações, porém, a teologia trata de


nossa experiência de Deus, especialmente de nossa experiência de
Deus enquanto membros de uma comunidade de fé. Ela e o esforço
para compreender e interpretar a experiência em linguagem e símbolo.
Nas palavras de Anselmo (1109), a teologia é fides quaerens
intellectum, a fé que procura compreender.

Com esta ênfase voltada à fé, a teologia e bem diferente dos estudos
religiosos ou da história das religiões. Essas disciplinas estudam uma
tradição religiosa ou a fé desde uma perspectiva externa, como um
observador distanciado e objetivo. Fazer teologia, por outro lado, é
tentar dar expressão à fé pessoal desde uma perspectiva interna,
estando dentro de uma tradição religiosa específica. Naturalmente,
pode-se "ensinar” teologia ou ter um grande conhecimento sobre uma
tradição teológica particular. Mas para realmente "fazer” teologia é
necessária a fé, que estabelece a ponte para Deus. Ou como
expressou o papa João Paulo I um pouco antes de morrer, “Os
teólogos falam muito sobre Deus. Eu gostaria de saber com que
frequência eles falam com Deus”.

Assim, a fé não pode estar ausente da tarefa da teologia. Karl Rahner,


o teólogo católico mais importante do século XX, dizia que a teologia é
a reflexão científica e sistemática da Igreja sobre sua fé. Essa visão e
útil porque destaca que ao mesmo tempo em que é uma ciência, a
teologia é também uma tarefa da Igreja.

43
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

Mas ha uma tensão implícita aqui na relação entre teologia como


ciência e teologia como tarefa da Igreja. Como ciência, a teologia exige
certa liberdade para realizar suas pesquisas e seguir as evidências até
às últimas consequências. Como tarefa da Igreja, ela procura
salvaguardar a fé confiada à igreja e proclamada por seus membros.
Na sequência, analisaremos esses dois aspectos da teologia.

B. A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA

Para Rahner, teologia é "a explanação e explicação consciente e


metodológica da relação divina recebida e apreendida na fé”. Assim, a
teologia pode ser chamada de "ciência da fé". Como o objeto da
teologia e a revelação divina, isto é, a auto-manifestação de Deus em
Jesus Cristo, a teologia não é um empreendimento meramente
subjetivo.

Primeiro, conquanto haja um elemento subjetivo ligado a nossa


experiência de fé individual, essa experiência e sempre compartilhada
porque recebida por uma comunidade e transmitida historicamente
por essa comunidade através das escrituras sagradas e da tradição
cristã.

Além disso, como auto-manifestação histórica de Deus em Jesus


Cristo, essa experiência de fé implica um elemento conceitual, isto é,
pode-se expressá-la em linguagem e em proposições ou conceitos. A
tarefa da teologia é articular os elementos conceituais implícitos na fé
cristã, mesmo que a formulação linguística se revele limitada e
suscetível de expressão mais adequada. Quem é Deus? Como
conhecemos a Deus? O que sabemos a respeito de Jesus e de seus
ensinamentos? Em sua tarefa de articular a experiência de fé cristã em
linguagem e conceitos, a teologia recorre à metodologia e à crítica.

44
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

C. ESPECIALIZAÇÕES E MÉTODOS

Como ciência, a teologia realiza suas pesquisas de acordo com


determinadas metodologias. Como as ciências físicas ou sociais têm
suas próprias especialidades ou linhas de pesquisa e métodos, assim
também a teologia tem certo numero de especialidades e adota
diferentes métodos em sua tarefa de interpretação da fé cristã.
Algumas especialidades pesquisam as fontes bíblicas, históricas e
doutrinarias do ensinamento cristão. Algumas são construtivas,
enquanto sistematizam uma compreensão cristã de Deus, de Cristo, da
Igreja, das doutrinas, e assim por diante. Outras são pastorais ou
práticas, isto é, voltam-se para uma vida e conduta cristãs, para a
oração e para o culto.

A divisão nas especialidades nem sempre é rígida. A teologia moral,


por exemplo, precisa tanto do vigor do teólogo sistemático quanta da
sensibilidade do teólogo dedicado a pastoral. Reconhecendo que as
divisões aqui adotadas são um tanto arbitrárias, analisaremos
brevemente os temas e métodos da teologia bíblica, histórica,
sistemática e moral, e também de diversas disciplinas afins.

1. TEOLOGIA BÍBLICA

A tarefa da teologia bíblica é recuperar o sentido histórico do texto


bíblico, o sentido pretendido pelo autor (às vezes conhecido como
sentido literal ou histórico do texto). Enquanto o fundamentalista
identifica o sentido do texto com o sentido literal das palavras, o
teólogo bíblico ou exegeta procura descobrir o sentido pretendido
pelo autor. Assim, enquanto o primeiro vê a história do dilúvio em
Gênesis 6-9 como o relato de um evento histórico real, o segundo

45
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

o considera um mito ou história que ilustra o poder destrutivo do


pecado. Para chegar ao sentido histórico do texto, o teólogo bíblico
adota diversos métodos de pesquisa históricos e literários:

a. A crítica histórica investiga o contexto histórico em que o texto


foi produzido, sua Sitz im Leben ou situação vital. Nesse
aspecto, diversas ciências históricas – história, arqueologia,
antropologia, linguística comparativa, e assim por diante, são de
grande valia para o exegeta.

b. A crítica da forma é uma ciência literária que procura identificar


as varias formas literárias presentes na Bíblia e chegar à origem
de formas específicas, passando pelos diversos níveis da
tradição, com o objetivo de descobrir sua situação vital original.
Uma forma literária é um tipo ou espécie de literatura. As duas
formas literárias básicas são a prosa e a poesia. As formas
poéticas do Antigo Testamento incluem poemas épicos, líricos e
didáticos, hinos de louvor e lamentações. As formas prosaicas
abrangem narrativas, como mitos populares, lendas patriarcais,
sagas nacionais romanceadas, relatos históricos de cortes reais,
e também c6digos legais, provérbios, oráculos proféticos,
contos, histórias de amor e visões apocalípticas.

c. A crítica da fonte procura identificar os materiais sobre os


quais um autor pode ter se baseado. Por exemplo, o evangelho
de Marcos é fonte para grande parte dos evangelhos de Mateus
e Lucas.

d. A crítica da redação é a ciência literária que procura descobrir


a teologia específica e o ponto de vista de um autor, analisando
como esse autor modifica uma tradição recebida, estrutura uma
obra ou enfatiza temas específicos. Assim, no relato das
pregações de Jesus, Marcos e Lucas usam o termo "reino" ou

46
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

"reino de Deus", Mateus geralmente adota “reino do céu” e João


emprega com mais frequência a expressão "vida eterna".

e. A crítica textual procura determinar o texto ou a versão original


de uma obra literária. Ele foi inicialmente escrito em hebraico ou
em grego? Em que ponto um determinado evangelho terminava
originariamente? Tanto o evangelho de Marcos como o de João
contém apêndices que foram acrescentados em data posterior.

2. TEOLOGIA HISTÓRICA

A teologia histórica estuda o desenvolvimento da fé da Igreja e a


tradição teológica em diferentes períodos da história. Entre as
especializações da teologia histórica, temos, por exemplo, os
períodos da patrística, o estudo da teologia dos pais da Igreja nos
cinco ou seis primeiros séculos, da teologia medieval, da Reforma,
do século XIX, e assim por diante. Uma boa teologia histórica é
capaz de mostrar a diferença entre o desenvolvimento autêntico da
tradição da Igreja e as expressões particulares, historicamente
condicionadas, de uma doutrina, sacramento ou ofício que talvez
precisem ser repensadas.

Frequentemente, ao desvendar a prática eclesial de uma época


passada, o historiador oferece à Igreja do presente uma
perspectiva nova e em geral libertadora. Como era entendida a
Ceia no período dos pais da Igreja, na Idade Media ou na
Reforma? Que fatores históricos influenciariam o surgimento de
uma determinada doutrina? Por exemplo, como se desenvolveu o
dogma da infalibilidade papal? A palavra infalibilidade não era
usada até o século XIII e a infalibilidade papal só foi definida no
Concílio Vaticano I, em 1870.

47
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

3. TEOLOGIA SISTEMÁTICA

A teologia sistemática se empenha em compreender as doutrinas


básicas da fé e em mostrar como elas se relacionam entre si. Em
seus Method in Theology, Bernard Tonergan faz distinção entre as
tarefas da teologia doutrinaria (ou dogmática) e da teologia
sistemática. As doutrinas dizem respeito a afirmações claras de
realidades religiosas. A teologia sistemática procura compreender
as realidades religiosas proclamadas pelas doutrinas. Entre suas
varias especializações podem-se relacionar a doutrina de Deus, a
cristologia, a eclesiologia ou doutrina da Igreja, a antropologia
bíblica ou doutrina do homem, e assim por diante.

A teologia sistemática é construtiva enquanto procura reexpressar


a fé e a doutrina da Igreja numa linguagem e idioma
contemporâneos. Ao assim proceder, ela geralmente examina uma
dada questão em termos de seus fundamentos bíblicos, de
envolvimento histórico, expressão no ensinamento do magistério e
na visão de teólogos contemporâneos. Nessa tarefa, a teologia
sistemática adota a maioria dos diferentes métodos e
especialidades teológicas.

4. TEOLOGIA MORAL

A teologia moral se dedica ao estudo dos valores que integram a


vida cristã, ao mesmo tempo em que identifica os comportamentos
que divergem desses valores. Ela se constitui assim numa espécie
ética teológica, compreendendo as dimensões pessoal e social. A
pergunta básica da teologia moral é: como são tomadas as
decisões morais e que orientações a Escritura e a tradição cristã

48
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

nos oferecem nesse contexto?

A ética social procura aplicar o Evangelho e os ensinamentos


sociais da Igreja nas áreas da justiça social, dos direitos humanos
e das relações internacionais. Ela destaca a dignidade da pessoa
humana como criada a imagem de Deus, a subordinação dos
sistemas econômicos ao bem comum, o princípio da
subsidiariedade, a prioridade do trabalho sobre o capital, o direito
de todos à participação nos bens de uma sociedade, o direito
limitado a propriedade privada.

5. TEOLOGIA PASTORAL E DISCIPLINAS AFINS

Conquanto, como diz Rahner, teologia seja em última análise


pastoral, a teologia pastoral ou prática se dedica a servir e a formar
a comunidade cristã através da pregação, do culto, do
aconselhamento, da educação religiosa e do serviço. Com a ajuda
de várias disciplinas afins, ela se dirige mais diretamente a vida e à
práticas cristãs.

Espiritualidade é um termo que descreve uma visão particular da


vida cristã e o modo de vivê-la, e é uma disciplina para o
discipulado.

A teologia litúrgica trata do culto da Igreja. Ela procura fazer com


que as ações da Igreja expressem mais eficazmente o sentido da
vida cristã em Cristo como comunidade no Espírito, através do
estudo da história, da estrutura e dos rituais da liturgia.

6. A TEOLOGIA COMO DISCIPLINA CRÍTICA

Como outras ciências, a teologia é uma disciplina crítica, e como

49
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

tal são múltiplas as suas tarefas. Uma dessas e discriminar


expressões oficiais da fé da Igreja, suas doutrinas, daquilo que é
crença popular e opinião teológica. Crenças são expressões
teológicas da fé cristã que podem ou não ser ensinamento oficial
da Igreja. Doutrinas são crenças que se tornam ensinamentos
oficiais, em geral por serem enunciadas por autoridades teológicas.

É comum crenças populares serem confundidas com doutrinas da


Igreja. Por exemplo, muitos católicos ainda acreditam no limbo
como o lugar para onde vão as crianças que morrem sem batismo,
embora a existência desse lugar não seja um ensinamento oficial
ou uma doutrina da Igreja. Essa crença entrou na história cristã
como opinião teológica, uma alternativa apresentada por teólogos
na Idade Média para contrapor a visão bastante rígida de
Agostinho de que as crianças não batizadas eram condenadas.

Outra tarefa crítica da teologia é reinterpretar a linguagem da Igreja


para que aquela possa refletir sempre adequadamente a fé “que
esta tem por missão expressar”. Toda expressão da revelação é
historicamente condicionada, e, portanto limitada. O termo
"expressão da revelação" inclui a Sagrada Escritura, credos,
dogmas, doutrinas e ensinamentos. A instrução expõe quatro
fatores que podem limitar as expressões da revelação:

a. A força expressiva da linguagem dos tempos. Ou seja, a


linguagem que comunica com pertinência numa época pode
não ter o mesmo êxito em outra. Por exemplo, termos como
Reino de Deus, graça ou justo talvez precisem ser retraduzidos
para diferentes épocas e culturas.

b. O conhecimento limitado dos tempos. Assim, uma expressão


de fé pode ser verdadeira, mas incompleta, necessitando de
mais explicações.

50
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

c. As condições específicas que motivaram a definição ou


afirmação. Para compreender uma determinada afirmação é
essencial conhecer o contexto histórico que levou a sua
formulação.

d. As conceitualizações (ou categorias de pensamento)


mutáveis do tempo. Por exemplo, a linguagem da
transubstanciação no século XIII serviu para expressar uma
realidade de uma época em relação à Igreja; mas o mesmo
pensamento pode ser expresso numa linguagem diferente numa
cultura que não pensa mais segundo as categorias filosóficas
de substância e acidente; do mesmo modo, o conceito
monárquico da Igreja no século XIX é inadequado para
compreender a Igreja.

7. A TEOLOGIA COMO TAREFA DA IGREJA

A teologia esta sempre a serviço da fé cristã. Como um esforço


para articular a fé, a teologia sempre uma tarefa da comunidade
que crê, a Igreja. Tanto teólogos profissionais quanto lideres
cristão participam dessa atividade teológica, embora de formas
diferentes.
Os pastores têm autoridade em virtude de sua função que os
capacita a falar pela Igreja.

Os teólogos falam de dentro da Igreja, não por ela. Eles também


têm autoridade, conferida pelo conhecimento que possuem. Eles
precisam fazer mais do que ajudar a difundir a fé cristã. Sua função
e assegurar que a linguagem e proclamação da Igreja sejam
atualizadas. Cabe a eles reexaminar constantemente a tradição da
Igreja para dar-lhe condições de lançar sua luz sobre novas

51
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

questões. Eles precisam de liberdade para questionar expressões


tradicionais da fé cristã - mesmo formulações doutrinárias - para
livrá-las de limitações historicamente condicionadas e para torná-
las inteligíveis em contextos históricos novos.

8. CRITÉRIOS PARA AFIRMAÇÕES TEOLÓGICAS

Como avaliar a adequação de uma determinada afirmação


teológica? Os teólogos seguem vários critérios que refletem a
natureza da teologia tanto como ciência quanto como tarefa da
Igreja. Entre os mais importantes estão os seguintes:

a. Ela é coerente com a verdade bíblica? A Bíblia, como


expressão escrita da experiência de fé de Israel e da
comunidade cristã primitiva, continua sendo a expressão
normativa da fé cristã: Toda expressão teológica da fé cristã
precisa ser coerente com o testemunho bíblico. Entretanto, este
critério da coerência reconhece que alguns temas atuais não
são tratados pela Bíblia e também que outras questões
complexas não podem ser respondidas simplesmente
recorrendo a um texto específico.

b. Ela encontra respaldo na história da Igreja? Uma afirmação


teológica de fé que contradiz as doutrinas bíblicas seria pelo
menos questionável, se não claramente inadequada.

c. É coerente com a fé cristã? A fé também chega a expressão no


sensus fidelium, ou senso dos fiéis. O sensus fidelium diz
respeito àquilo que o cristão acredita.

d. É coerente com o conhecimento científico? Uma sentença


teológica não pode ser "provada" de acordo com os métodos
das ciências físicas ou sociais. Mas uma boa teologia precisa

52
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

pelo menos ser coerente com o conteúdo de outras fontes de


conhecimento. Por exemplo, não é preciso haver conflito entre a
teoria da evolução, entendida como uma hipótese bem
fundamentada, e a doutrina bíblica da criação. Esta se refere a
crença de que Deus é o autor último da criação, enquanto a
primeira aborda cientificamente a questão do modo como a
criação hipoteticamente aconteceu.

Alguns fenômenos, como os milagres, não podem ser


explicados em termos científicos. Antes de considerá-los
contradições as "leis" da natureza, porém, faz mais sentido
admitir que, em algumas circunstâncias, causas desconhecidas,
mas ainda pertencentes à esfera do nosso mundo, podem estar
em ação.

e. Ela se dirige às preocupações das pessoas contemporâneas?


Este critério se refere mais à eficácia de uma afirmação
teo1ógica do que a sua verdade. Mas bem é importante. Uma
afirmação teológica que não tem relevância para a vida do povo
cristão, mesmo se verdadeira, não será uma expressão eficaz
da fé da comunidade.

D. CONCLUSÕES

A fé cristã é expressa de muitas maneiras, numa vida de dedicação e


serviço aos outros, na oração e no culto, na música, arquitetura e nas
Sagradas Escrituras. A teologia é o esforço para expressar a fé cristã
em linguagem.

A teologia é tanto uma disciplina crítica, uma ciência, quanto uma ação
do cristianismo. Cabe a ela salvaguardar o dom inestimável da auto-
revelação de Deus em Jesus e ao mesmo tempo assegurar que a

53
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

linguagem cristã para proclamar esse dom permaneça inteligível em


diferentes culturas e em novos contextos históricos.

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

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APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

CAPÍTULO 07

O CARÁTER CIENTÍFICO DA TEOLOGIA

A. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A desmistificação da figura do cientista parece ser uma das mudanças


mais extraordinárias no que diz respeito ao tratamento da filosofia da
ciência nos últimos tempos. Isto sem negar a persistência da herança
positivista com todo seu aparato de fórmulas calcado na presunção de
que os enunciados, sempre claros e precisos, conduzem a conclusões
não menos precisas. Parece ser meio caricaturesco, mas podemos
afirmar que, aos poucos, esvai-se a ideia da onipotência do homem da
ciência. Este, durante muito tempo, ascendeu a condição de mito e, por
isso mesmo, esses ares de todo-poderoso davam-lhe o direito de
sobrepor-se ao homem comum. Contudo, ao que parece, esses tempos
já se foram e o que deles restaram foram apenas algumas sombras.
Triunfou o questionamento do mito, pois este pode ser perigoso quer na
indução do comportamento, quer na barreira à fluência espontânea do
pensamento.

Também, hoje, é duramente contestada a visão de que a ciência


representaria a expressão máxima do racionalismo, sem qualquer
influencia das emoções. A posição kantiana que via nas paixões os
"cancros da razão pura" já não é mais abraçada com unhas e dentes e
a argumentação de Comte que falava dos três estágios do pensamento

56
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

humano, sendo o mais primitivo povoado de magos e sacerdotes e, o


último, por cientistas e sábios não encontra defensores de pulso. As
atitudes quase infalibilistas deram lugar a posturas críticas e modestas,
onde há o reconhecimento de que as leis não são absolutas, nem
andamos por caminhos irreversíveis. O orgulho positivista começa a
ruir e as conclusões mais abertas têm o seu lugar. Admite-se com mais
facilidade que a metodologia, com todo seu rigor acadêmico e
ostensivo instrumental de analise, não nos garante a posse de
verdades definitivas ou formulações irretocáveis. Assim como não se
postula a princípio de que a ciência é formulada a partir de elementos
exclusivamente racionais. Ou seja, não se pode esquecer de que as
hipóteses de trabalho, trilhas que se abrem na busca da verdade, não
obstante a magnificência da formulação científica, comportam, por
outro lado, uma dimensão de fé. Valham-nos, aqui, as palavras de Max
Planck: a ciência também exige espíritos crentes. Qualquer pessoa que
se tenha dedicado seriamente a tarefas científicas de qualquer classe
dá-se conta de que na porta do templo da ciência estão escritas estas
palavras: "É necessário ter fé". Esta e uma qualidade da qual os
cientistas não podem prescindir.

Conforme o autor acima citado, na atividade cientifica, há um móvel


fundamental que, através de um ato de fé, ordena a busca do
discernimento. Aliás, a afirmação de Goblot que o espírito científico "é
feito de qualidades extra-intelectuais, notadamente de qualidades
morais” não é menos sugestiva. Tal afirmação parte da asserção de
que o espírito científico não é obra de gênios ou espíritos excepcionais.
A ciência é uma atividade da qual se ocupam homens comuns imersos
na problemática do cotidiano e não deuses infalíveis que emitem
enunciados e controlam resultados. O cientista é humano como todos
os mortais e a que Goblot coloca como exigências são exatamente as

57
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

qualidades morais ao alcance do ser humano, as quais valem a pena


recordar.

1) Primeiramente, o amor à verdade. A mediocridade, que se apresenta


como incapacidade intelectual, muitas vezes, reduz-se apenas a
uma atitude de resignação diante da ignorância exatamente porque
falta aquilo que chamaríamos amor à verdade. Esta qualidade é a
mola propulsora da busca, não o alicerce para sustentar afirmações
infalíveis e de validade universal.

2) Em segundo lugar, Goblot aponta a solidez e o vigor de espírito. Tais


qualidades, embora comportem um caráter de precisão, este é
decorrente, para não fugir ao contexto, das virtudes humanas e não
da irretocabilidade dos princípios objetivamente formulados.

3) Em terceiro lugar, a penetração e a profundeza. É o reconhecimento


de que, enquanto o espírito superficial se contenta com o pouco, o
espírito penetrante proporciona o desembaraço no plano das
sutilezas claramente distinguíveis. O espírito de profundidade, por
sua vez, não teme avançar, não obstante as desvantagens de
eventual obscuridade.

4) Finalmente, Goblot menciona a força e a finura. Para se servir da


velha distinção aristotélica, são virtudes que poderiam ser
classificadas como intelectuais porque conduzem diretamente "ao
ato essencial da inteligência, que é o discernimento". A força e a
finura são companheiras inseparáveis. A primeira, sem a segunda,
pode transformar-se em grosseria e a segunda sem a primeira não
pode subsistir, pois a finura exige firmeza e segurança.

Em se falando especificamente das ciências chamadas humanas, o


sentido de precisão não pode ser levado ao nível das certezas
absolutas que porventura venham nortear suas conclusões, tornando-

58
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

as intocáveis. O próprio surgimento de uma diversidade de escolas no


âmbito de tais ciências evidencia tal fato. Não obstante essas escolas
se manifestarem concordes nos pontos considerados básicos, elas não
deixam de ostentar acentuadas divergências. E esse pluralismo é
salutar, demonstrando que as ciências humanas caminham por canais
provisórios, tecendo e mostrando seus enunciados de forma aberta,
especialmente diante da complexidade dos eventos. A multiplicidade de
enfoques bem presentes na abordagem sociológica, filosófica,
econômica e psicológica atenta que ninguém é dona da verdade
definitiva. Há distâncias a se percorrer e é preciso que o respeito exista
entre as diversas correntes, possibilitando o rastreamento honesto das
conclusões perseguidas. E evidente que isto não significa a
contestação da precisão conceitual de tais abordagens, nem a duvida
da legitimidade científica de tais disciplinas. É o sincero
reconhecimento da limitação que lhe é própria.

Também é bom lembrar que, a partir de K. Popper, a objetividade


científica vem sendo duramente questionada. Mesmo um cientista do
porte de Jacques Monod, com seu inegável pendor para a ortodoxia em
termos de abordagem científica não ousa assumir a defesa de tal
objetividade. A objetividade, porem, nos obriga a reconhecer o caráter
teleonômico dos seres vivos, a admitir que em suas estruturas e
performances, eles realizam e perseguem um projeto. Portanto, existe
aí, pelo menos aparentemente, uma profunda contradição
epistemológica.

São as palavras de Enzo Pacci, que transcrevemos a seguir, em


comentário a conhecida obra de Husserl, Crise das Ciências Europeias,
parecem ser apropriadas para encerrar estas considerações iniciais:
verdadeiro não é só a fático, objetivamente comprovável; verdadeira é
a ideia da racionalidade de que vive toda a ciência e que dá um sentido

59
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

à vida. A verdade não esta em sua objetivação, mas, ao lado da


objetivação, no movimento racional que transcende toda expressão
parcial precisamente ao enaltece-Ia a momento racional infinito, a um
"significado". A crise se deve à pretensão de realizar a verdade no
fática, à pretensão de reduzir o significado a objetividade da expressão.

É dentro deste espírito que pretendemos discutir o caráter científico da


teologia. Deve-se reconhecer que, às vezes, o discurso teológico tem
caído numa espécie de pragmática eclesiástica e seu caráter científico
se dilui porque o discurso se tom a servo das finalidades imediatas da
fé. Em todas as épocas surgem os que acham que o trabalho da
teologia deve ser feito a "serviço das denominações cristãs". Contudo
essa não é a posição esposada por um discurso teológico sério. Se o
mesmo se esgotar como prática da Igreja, seu construto teórico
enfraquece. Embora seja necessário manter-se atento para não cair
nas discussões acadêmicas estéreis, tecidas numa gramática e sintaxe
reservadas para iniciados, e necessário formalizar a linguagem
teológica, dando-lhe uma estrutura que revele certa racionalidade
lógica. É nisto que se fundamenta o estatuto científico da teologia.
Admitir que a mesma seja um constante alimentar-se da prática da fé é
desconhecer os reclamos da teologia a partir de uma elaboração séria.

Ao se abordar a questão pretendida, e imprescindível, ainda que de


forma sumaria, tentar rastrear os aspectos históricos que a
fundamentam. Sem entrar na discussão da famosa tese de Harnack
sobre a helenização do cristianismo, não podemos deixar de julgá-la
estimulante, pois não há teologia sem diálogo com a cultura. Sem se
comprometer diretamente com uma determinada forma de filosofia, a
teologia passa necessariamente a utilizar a linguagem e os recursos
intelectuais de uma dada cultura. Portanto, há um nexo que não pode
ser ignorado e, por isso mesmo, esta revisão é importante.

60
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

B. A QUESTÃO HISTÓRICA

A história da teologia começa com os escritos do Novo Testamento e


passa a integrar, logo a seguir, a contribuição dos Pais da Igreja. Daí a
pergunta instigante: porque o Cristianismo, em vez de desenvolver-se
como religião popular, à semelhança de outras seitas judaicas da
época, tornou-se, num período surpreendentemente breve, uma religião
culta, com uma teologia altamente desenvolvida? E, de fato, no século
terceiro, em Alexandria, a teologia cristã já apresentava uma forma
teórica e uma argumentação consistente, capazes de confrontar-se
com os grandes sistemas da filosofia grega da época.

Historicamente, é muito difícil de explicar, de modo satisfatório, visto


que, em todo problema de origens, há pontos obscuros. Entretanto, o
certo é que a pregação cristã primitiva não se contentou em apenas um
"anúncio", mas transformou-se num ensinamento enraizado em duas
tradições didáticas de grande riqueza, a saber, a tradição rabínica (com
sua apurada técnica de exegese e interpretação das Escrituras) e a
tradição das escolas greco-romanas. Entre os primeiros cristãos
convertidos figuravam judeus provenientes não apenas das camadas
populares da Palestina, mas gente de formação helênica, através da
tradição de suas cidades de origem. Isto explica, em parte, o
embasamento teórico sólido que o cristianismo recebeu desde o início.

Na Idade Media, a questão pode ser recolocada dentro da Escolástica,


tanto no período que antecede a redescoberta de Aristóteles no
Ocidente, como no momento que a sucede. No primeiro caso, teríamos
o percurso intelectual de Anselmo que, despido das exigências
metodológicas e epistemológicas, apresenta certo rigor metodológico
na construção da teologia como ciência. Sintetizado na expressão
fides quaerens intellectum, seu programa procura reconhecer a unidade

61
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

orgânica e complexa entre a fé e a razão, elementos que se


interpenetram sem que qualquer deles seja diminuído. Daí as provas
cosmológicas e ontológicas da existência de Deus, respectivamente no
Monologium e no Proslogium. Ainda neste primeiro período não se
pode esquecer a contribuição de Pedro Abelardo, conhecido pela sua
obra lógica, onde a abertura ainda que incipiente a Aristóteles, em
paralelo com a constante influência de Boecio, procura dar à
especulação teológica uma exigência crítica e metodológica. Buscando
as "similitudes" da razão humana, propõe algo que seja verossímil e
próximo da razão, sem ser contrário à crença no sagrado. A
preocupação básica, nesta tarefa, seria a busca do intellectus fidei
como timbre da razão cristã.

Em Tomás de Aquino encontramos uma opção mais original, dada a


sua identificação com o pensamento aristotélico. Se seus
predecessores conservaram a dualidade platônica da ciência e da
sabedoria, o Doctor Angelicus procura constituir uma teologia como
ciência de Deus, tomando o conceito "ciência" no sentido aristotélico,
ou seja, um saber que procede de princípios (conhecidos) para
conclusões (a conhecer) por via da demonstração. Diferentemente da
tradição que se funda em Agostinho, na qual a ciência ocupa um papel
subordinado em relação à sabedoria, a opção de Tomás de Aquino e
mais audaciosa, ou seja, procura fazer da teologia um saber principal
mente especulativo, inteiramente voltado para a contemplação da
verdade primeira, que é Deus. Há, assim, a superação da oposição
agostiniana entre superior (conhecimento de Deus) e razão inferior
(conhecimento das coisas). A teologia, como ciência da fé, assume,
numa unidade superior, as funções da "ciência" e da "sabedoria". Com
o advento da Reforma, uma nova questão se instaura. Lutero rejeita a
sabedoria teológica formulada por Tomás de Aquino, ou seja, aquela

62
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

sabedoria que crê poder manifestar continuidade entre o conhecimento


natural de Deus e o conhecimento revelado por Jesus Cristo. Se a
tradição patrística e medieval da sempre à passagem de Rm 1.19-20
uma interpretação com base no conhecimento natural de Deus e das
criaturas, Lutero supõe tal consideração um absurdo. Se a Escolástica
fundava-se neste texto para sublinhar a movimento que vai do mundo
para Deus, usando como instrumental a metafísica grega, Lutero
considera impossível conhecer a essência de Deus a partir de suas
criaturas. O verdadeiro teólogo não é "teólogo da glória" (que conhece
a Deus a partir da criação), mas o “teólogo da cruz” (que conhece a
Deus que se apresenta ao mundo na paixão e na cruz). Como Moises
diante da sarça ardente, o verdadeiro teólogo vê a Deus apenas pelas
costas. Deus se revela a partir daquilo que é loucura e escândalo para
a razão. O Deus abscôndito na Paixão é o mesmo Deus que se revela.
E o homem, que não pode contemplar a Deus face a face (Deus
nudus), pode conhecer a Deus velado e desveIado, ao mesmo tempo,
na humanidade de Cristo (Deus indutus). A "teologia da cruz" designa
um conhecimento indireto de Deus.

Entretanto, não se pode entender Lutero como alguém que se interpõe


"contra o método", defendendo a teologia como um pensamento difuso,
uma justaposição de fórmulas simples destituídas de rigor na
amarração das mesmas. Foi na própria tradição luterana que, há
alguns anos atrás, a questão da teologia como ciência foi retomada. E,
mais recentemente, W. Pannenberg consagrou uma volumosa obra à
discussão do assunto, evidenciando o fato incontestável de que a
filosofia da ciência, hoje, ocupa um lugar privilegiado nas discussões
acadêmicas. E tal fato nos obriga a repensar o tema, servindo-nos das
luzes lançadas sobre o mesmo.

Mas, que relevância poderia representar tal discussão para a América

63
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

Latina e, particularmente, para o Brasil, com suas marcas peculiares de


pensamento e formas próprias de se fazer teologia? Não estaremos
entrando para o lado estéril de uma discussão acadêmica mais
apropriada para a Europa ou para qualquer parte do Primeiro Mundo?

Acreditamos que a discussão tem alguma pertinência para o nosso


contexto. Primeiro, para valorizar o discurso teológico como um todo.
Afinal, não devemos fazer da reflexão teológica um conjunto requintado
de frases de efeito ou jargões assinaladamente retóricos. O discurso
teológico tem suas regras que devem ser explicitadas, lutando para
obter os contornos da identidade científica. Em segundo lugar, a
recente reflexão teológica latino-americana, abundante no que tange o
número de suas publicações, esta se preocupando, ultimamente, com a
elaboração de uma metodologia que bem justifique a sua
existência no panorama do pensamento contemporâneo. Como dizia
A. Gesche, "a partir de um certo momento, um discurso científico deve
se dotar com suas regras e seus protocolos, ou então não é nada". Em
outras palavras, nossa reflexão deve buscar sua teoria, sua
epistemologia, firmando as regras de um novo método teológico, afim
de que os que trabalham a questão evitem solecismos, apropriando-se
de gramática própria.

C. QUE TIPO DE CIÊNCIA É A TEOLOGIA?

A discussão do estatuto científico da teologia deve estar atenta ao que


se refere a seu ponto de partida. Se compararmos o conceito que um
físico tem de ciência com aquilo que um historiador entende por tal,
chegaremos a conclusão que há uma notável distância entre um e
outro. A metodologia seguida por um é diferente da metodologia
seguida por outro, e o resultado obtido por ambos não é o mesmo. As
ciências ditas exatas tratam de objetos que podem ser dissecados ou

64
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

analisados pelo instrumental do cientista. O mesmo não se da com a


teologia. Esta se nos apresenta como um "vir a ser" que faz parte do
“fluxo existencial e não dos resíduos que permanecem”. Logo, seu
objeto se coloca sempre à frente, exigindo um compromisso
interminável. É mais um responso, um atendimento a uma vocação,
não atitudes arranjadas, premeditadas. É resposta, não proposta.

O perigo, portanto, está na tentativa de enquadrar a teologia de forma


forçada, no campo das demais ciências. E isto, como observou
Maraschin, pode confundir teologia com "ciência da religião", bem como
outras disciplinas afins que Aulen faz questão de ressaltar suas
diferenças.

Estabelecer aparatos científicos para a teologia sem levar em conta sua


natureza é mais do que simplesmente quebrar sua fluência. É matá-la,
por mais forte que seja esta expressão. É superficializar aquilo que
brota das profundezas. É racionalizar verdades que nos chegam
envolvidas pela paixão e pelo sabor da existência, enquanto dons de
Deus. Formalizá-la, apenas para que o discurso teológico ganhe uma
identidade precisa no mundo das ciências, é gelar sua candência e
quebrar o ritmo que lhe é próprio, fazendo com que a melodia se aliene
de si mesmo já no seu nascedouro.

Mas, o que daria, realmente, um caráter científico à teologia? De forma


simples e rápida, dividiremos em dois níveis nossa resposta.

1) A teologia é uma ciência porque tem seu objeto de estudo


definido. É Deus, conforme seu sentido etimológico: Theo-logia. É
evidente que tal objeto é estudado apenas indiretamente, em termos
de consequência. Ou seja, sua preocupação é determinar as
mudanças que acontecem no homem a partir de seu encontro com
Deus. Nesse caso, a investigação da realidade chamada fé cristã
não se dá pelo aprisionamento do objeto para uma dissecação

65
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

objetiva. Trata-se do envolvimento do teólogo no fluxo da própria


vida, deixando de lado determinados preconceitos em relação à
subjetividade. Usando os termos de J. Maraschin, diríamos que a
teologia se faz "com paixão e ímpeto”. E, assim, todos os obstáculos
a priori à investigação são removidos. Não se trata de trabalhar com
realidades demonstráveis, mas com variáveis que envolvem o
sujeito num amplexo quente, o que possibilita a fertilização do
próprio pensamento teológico.

A existência do objeto da teologia ninguém pode negar. Mesmo as


mentes escravas do positivismo científico hão de reconhecer a
legitimidade desse objeto. Embora se situe na esfera do
imponderável, das realidades inefáveis, onde o aspecto fático não se
mostra palpável, o objeto existe. E isto, por certo, garante o caráter
científico da teologia.

O objeto da teologia é o Deus revelado e encarnado em Jesus


Cristo, em consequência do que nos é permitido uma vida de fé
experimentada na comunidade. É claro que isto nos leva a afirmar
que o objeto da teologia não é apenas Deus revelado em termos
essencialistas, mas tudo o que é contemplado ou enfocado a partir
de Deus. Aliás, esta questão não é nova. Já foi tocada por Tomás de
Aquino. Do que se infere que a tarefa teológica é falar também da
política, da economia, da educação, desde que o enfoque não seja o
exclusivo das respectivas disciplinas e, sim, o teológico, ou seja, a
luz de Deus. Daí a razão de serem abordados, hoje, temas
seculares pela teologia com propriedade, uma vez que não se perca
o horizonte que lhe é peculiar. Nascida da fé, a teologia deve
sempre regressar à fé, na busca de sua realimentação e lucidez.

2) A teologia é uma ciência porque tem o seu método próprio.


Aqui, devemos fazer, inicialmente, uma separação necessária. Uma

66
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

coisa é a teologia enquanto teoria, enquanto construção do discurso


e outra coisa é o método utilizado para se alcançar tal objetivo. Já
Aristóteles havia observado que “importa saber como cada coisa se
deve aceitar, pois é absurdo procurar ao mesmo tempo a ciência e o
método da ciência”. Isto não quer dizer que teoria e método são
elementos irreconciliáveis ou tão pouco ininteligíveis. Pelo contrário,
são realidades complementares e inteligíveis: para se elaborar a
teoria o concurso do método é indispensável, desde que haja
esforço e dedicação.

Para ser teólogo não basta ser piedoso. É necessário ser


suficientemente sábio, saber trabalhar os dados, coordenar as
realidades variáveis constatadas a partir de um método. Nesse
sentido, a teologia é, em principio, especulativa. Contudo, não faz da
especulação sua atividade última, visto que pretende desembocar
numa praxis de amor e fidelidade a Deus, a serviço do cristianismo.
Teologia erudita é bem formulada, discurso inteligente é bem
articulado, mas que não inclua o compromisso com o mundo - tudo
isso toma-se apenas um belo arranjo lógico de frases bonitas,
prestando, não raras vezes, excelente serviço aos poderes, mas não
é digno de ser chamado teologia. A teologia pretende ser o discurso
acerca de Deus para a promoção do homem e não uma teoria
impecavelmente articulada, mas cuja finalidade e encontrada
narcisicamente em si mesma, enquanto discurso.

Portanto, a teologia tem às suas regras. Há um método que norteia sua


elaboração. Não se trata de saber intuitivo, em forma de confissão, que
se coloca no papel. Nem uma apreensão oracular a partir de situações
exóticas que se sobrepõem a realidade. Trata-se de um labor intenso
do teólogo à medida que trabalha dados, pondera seus valores,
compara sua importância e projeta seu discurso através de linguagem

67
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

própria.

Por certo, uma das grandes riquezas, hoje, do método teológico é o


diálogo interdisciplinar. Antigamente, a articulação da teologia se dava,
de forma exclusiva, com a filosofia. Esta era, na verdade, sua
roupagem. Tal fato deu origem à teologia clássica que, por sua vez,
caracterizou-se pela produção de textos densos e extensos vasados
numa linguagem um tanto árida e presa sempre a um sistema aceito
aprioristicamente. Foi a época em que foram escritas os diversos
tratados teológicos.

Hoje, como a fé é vivida dentro de uma realidade mais complexa, toma-


se indispensável o auxílio de outras disciplinas. (Elas ajudam
decodificar a realidade envolvida em sua complexidade) e, ao mesmo
tempo, propiciam uma formação crítica ao teólogo. É importante, pois,
que este tenha uma segura orientação da sociologia, da antropologia,
da economia, da política a fim de trabalhar com segurança a realidade.
Evidentemente, não se espera que o teólogo seja um especialista
em tais campos, mas que supere aquele estágio empírico, moralizante,
ingênuo e utópico, alcançando uma perspectiva mais crítica.

Não se trata propriamente de politizar a teologia ou de socializar a fé.


Trata- se de trabalhar teologicamente as questões políticas e os
problemas levantados pelas ciências sociais de uma forma geral, com
a finalidade de enriquecer o discurso e capacitá-lo para diagnosticar
realidades problemáticas de nossa sociedade. Os Pais da Igreja
falavam em dois modos legítimos de se fazer teologia: uma voltada
para pagãos (pro-paganis) e outra, voltada para os cristãos (pro-
christianis). Esta primeira perspectiva, evidentemente, não busca a fé
dos ouvintes, mas o real sentido que pode emergir dos desencontros
do mundo, das interrogações e angústias do homem. A outra, por sua
vez, parte da riqueza do pensamento cristão, da exuberância da

68
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

tradição teológica e procura um discurso que acentue a verdadeira


identidade cristã. Destarte, é estabelecida a diferença entre a Igreja e o
mundo. E o que o teólogo supõe ser o ideal é o diálogo entre essas
duas formas de se fazer teologia: o que descrevemos são tipos ideais;
na realidade cada teólogo realiza a seu modo os dois momentos;
ninguém é tão tradicionalista que não tenha assumir ou conviver com o
ritual de uma sociedade moderna, como ninguém é tão progressista
que tenha que aceitar sua própria história, que vem de um passado e
só isso existe no presente. Sábio foi o Senhor que, resumindo a
verdadeira tarefa do pensar cristão, nos disse: “Disse-lhes ele: Por isso
todo escriba (teólogo) instruído a respeito do reino dos céus é
semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e
velhas”. (Mt 13.52).

Em outras palavras, a teologia não pode romper com sua própria


pertinência sob pena de transformar-se numa sociologia ou numa
politicologia. Deve esforçar-se para buscar sua gramática própria, sem
o que perderá sua identidade ou, então, no mínimo, apresentará um
discurso muito carregado de inconsistência epistemológica e marcado
por uma sintaxe desconhecida.

Nossa tarefa, aqui, não é entrar nos pormenores do método teológico


em si, apontando o mecanismo de funcionamento do mesmo.
Limitamo-nos a defender o estatuto científico da teologia. Contudo,
citaremos, para concluir, duas contribuições, no seu âmbito específico,
poderão fornecer às bases da metodologia teológica.

Em nível da linguagem teológica, lembramos a contribuição de J.


Mcquarrie. Embora originária de ambiente anglo-americano e de trazer
consigo diversas limitações, a pertinência da obra é interessante,
especialmente por três motivos. Primeiro, pelo referencial filosófico com
que tematiza a linguagem, servindo-se da contribuição monumental de

69
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

Wittgenstein. Segundo, pela análise do trabalho de teólogos do porte


de Bultmann, Barth e Tillich, cujo legado não pode ser esquecido pela
geração atual. Terceiro, pela digressão que faz sobre a relação entre
teologia e empirismo lógico (filosofia analítica da linguagem),
mostrando as possibilidades de dialogo entre ambas. Além disso, o
autor trata, nos últimos capítulos, dois tipos fundamentais de discurso
teológico e de sua relação com outros tipos, destacando a busca de
uma lógica mais ou menos comum a todos os tipos de discurso
teológico. Com relação à problemática latino-americana, levando-se em
consideração as coordenadas concretas que permeiam o fazer teologia
nos países latino-americanos, citamos o trabalho já mencionado de C.
Boff, basicamente um "discurso de método" da Teologia da Libertação.
Trata-se de texto denso que poderíamos considerar uma verdadeira
“epistemologia teológica". É uma “teoria da teoria” realizada com
exímia acribia, expondo de maneira clara os princípios teóricos da
nova gramática teológica. A metodologia de Boff, aplicada à Teologia
da Libertação, divide-se em três partes. A primeira fala da mediação
sócio-analítica pela qual a teologia assimila a contribuição das ciências
do social (Boff prefere a expressão em sua forma substantiva). A
segunda fala da mediação hermenêutica, que transforma os dados
escolhidos em produto teológico. A terceira tenta captar a influência da
praxis sobre a teoria teológica. Em outras palavras, que relação existe
entre o engajamento social do teólogo e sua prática teológica e vice-
versa.

É de grande relevo a advertência que C. Boff deixa transparecer com


relação ao perigo da epistemocracia, ou seja, o governo do método que
pode gerar uma verdadeira escravidão. Pelo senso comum sabemos
que dominar as regras do jogo não significa jogar bem. Técnicos e
juízes de futebol, conhecedores profundos das regras e das estratégias

70
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

do referido esporte não são os maiores jogadores do mundo. Por outro


lado, se o jogador, deixando de lado a habilidade que lhe e peculiar,
ficasse preocupado servilmente com as regras do bem jogar, acabaria,
fatalmente, jogando mal. Seria uma preocupação paralisante. Desse
modo, a extrema valorização do método pode produzir um efeito
negativo de duplo sentido: uma inibição na capacidade produtiva e uma
arma para que os reacionários possam destruir o próprio discurso pela
ineficácia do método.

D. CONCLUSÃO

O entusiasmo na defesa do estatuto científico da teologia deve ter


como elemento moderador à certeza de que tal estatuto não é o toque
fundamental de sua credibilidade na tematização dos diversos assuntos
relativos a Deus, à Igreja e a fé. O caráter científico do discurso
teológico bem como a sua metodologia não podem nos oferecer o aval
de que estamos tratando de uma fórmula infalível ou de um "catecismo"
que, gerando perguntas, garanta a respectiva resposta. Não há
cânones absolutos na linguagem teológica, embora devamos
empenhar-nos em defender seu caráter científico. É bom lembrar que
este, por sua vez, não pode ser guindado à condição de uma espécie
de “chama universitária” ou uma “perfumaria acadêmica”. É um
instrumento que pode ser útil enquanto instrumento. Passou disso, será
manifestação "idólatra" que nada tem a contribuir para a teologia.

71
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

CAPÍTULO 08

COMO ESTUDAR TEOLOGIA

A. INTRODUÇÃO

Daremos aqui algumas indicações para o estudo concreto da teologia.


Essas indicações devem ser tomadas de modo flexível, a título de
simples sugestões.

Valemo-nos aqui de algumas regras importantes de todo trabalho


científico, regras que são explicitadas por uma disciplina particular: a
metodologia do trabalho científico, mas que aqui são apresentadas no
interesse do estudo teológico:

Abordaremos a seguir quatro processos de aprendizado:

1. AULA MAGISTRAL

Sua importância - Nada, nem o estudo particular, nem o


computador e nem o vídeo podem substituir uma aula magistral
desenvolvida ao vivo. E isso por muitos motivos:

a. A aula magistral oferece um conhecimento orgânico de um


tema. O autodidata, privado de mestre, contrai este defeito:
adquire apenas um conhecimento fragmentário, pouco
harmônico, sem ver a relação entre o importante e o secundário.
Um aluno que se inicia numa ciência qualquer e como alguém
que penetra pela primeira vez numa floresta: precisa de um
guia. E isso vale especialmente para a teologia, que tem quase

72
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

dois mil anos de produção, e mais ainda para o estudo da


religião em geral, que e um dos saberes mais antigos e
complexos da humanidade;

b. A aula magistral mostra também ao vivo como se aborda


concretamente um tema, como se desenvolve e como se
encontram soluções. Nisso joga muito a personalidade do
professor. Quando esse e um verdadeiro mestre deixa marcas
no aluno, como as de um pai sobre o filho. O professor mexe
com moventes profundos, de tipo afetivo e existencial,
presentes na alma do aluno, moventes pré-intelectuais, que
condicionam toda a sua ulterior orientação intelectual;

c. Uma aula magistral tem maior eficácia, isto é, ela grava os


conhecimentos de maneira mais forte que quaisquer outros
recursos pedagógicos. Isso porque ela mobiliza varias
faculdades ao mesmo tempo: não só o pensar (como faz um
livro), nem só o ouvir (como um radio) e nem só o ver (como um
vídeo ou a TV). Na aula as três coisas operam. E se a aula é
dinâmica e participada, entra um quarto elemento: a ação. Aí
então se vê, se ouve, se pensa e se trabalha. É notável a
diferença que existe entre uma aula viva e sua mera transcrição,
sua gravação ou mesmo sua filmagem.

2. PARTICIPAÇÃO NA CLASSE

É importante que a aula magistral seja participativa. A tradição


pedagógica latino-americana marcada pelo "método Paulo Freire"
e pela metodologia do trabalho de base em geral, e extremamente
sensível à ideia de participação.

A participação em aula não é algo de exterior ao próprio ato do

73
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

conhecimento. Não é mero expediente didático ou simples


concessão pedagógica. A participação faz parte intrínseca de todo
a conhecer. Saber e construir. E isso vale mais ainda do conhecer
teológico, que se faz no contexto do dialogus salutis e que solicita,
par isso, a reação ativa do ouvinte, considerado sempre sujeito e
parceiro da Palavra.

Certo, o iniciante em teologia precisa "receber", antes de se por


investigá-la e a criar. Mas receptividade não e passividade. É
também certo tipo de atividade, ainda que mais fino e profundo.
Pois o "recipiente humano" sempre recebe assimilando,
reprocessando, recriando. É fá-lo a partir de sua personalidade, de
suas matrizes culturais próprias e inclusive de sua "teologia
espontânea". Ele precisa reconhecer, confrontar e mesmo
enriquecer tudo o que ouve e integra, partindo de suas
interrogações e experiências. Todo processo de aprendizado é de
certo modo seletivo, crítico e criativo. Um professor que não leva
em conta isso não e verdadeiro mestre.

Portanto, o professor deve equilibrar bem os dois momentos:

a. O momento da socialização do saber teológico, no qual o aluno


ouve e assimila o conteúdo central da matéria, as chaves
interpretativas e a síntese dos dados. Note-se, como dissemos,
que nisso já se da uma participação ativa do aluno, segundo a
máxima latina: "Tudo o que se recebe, é recebido ao
modo do recipiente";

b. O momento da construção do saber teológico, quando o


estudante não só assimila e reelabora os dados, mas os
enriquece com sua leitura pessoal e com a discussão de grupo,
e confronta esses dados com sua prática.

74
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

Ademais, o objetivo principal da aula magistral não e a


"aprendizagem acumulativa", mas a "aprendizagem exemplar". Por
outras palavras, não se trata de encher a cabeça dos alunos de
dados, mas sim de fazê-lo assimilar regras. O importante não e
tanto aprender teologias quanto aprender a teologizar. O problema
não é a quantidade, mas a qualidade. É aqui, em particular, que
se situa a pertinência do curso de Metodologia teológica.

Sem duvida, é indispensável possuir pessoalmente um mínimo de


dados - os elementos básicos, como diremos logo à frente. No
mais, o que mais importa é despertar no estudante o gosto e mais
ainda o hábito do estudo, para que ele, depois, por própria conta,
busque as informações de que precisa. É por isso que se insiste
hoje na "formação permanente”. E é também para isso que
existem os cursos de "atualização”.

3. ANOTAÇÕES DE AULA

Na medida do possível, é recomendável seguir um texto-base para


as aulas. Contudo, nenhum manual dispensa o trabalho pessoal do
aluno através de anotações pessoais, leituras complementares,
pesquisa, etc.

O que anotar? Não tudo o que se ensina em classe, mas as


coisas importantes, assim como as interessantes (uma
comparação, um exemplo ou uma criação).

Como anotar: Eis algumas sugestões:

a. Resumir as ideias expostas, usando um código próprio de


abreviação;

b. Conservar o quanto possível a ordem da exposição, para o que


ajuda muito numerar: 1, 2, 3...; ou a, b, c...;

75
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

c. Destacar, sublinhando, os termos ou as fases mais importantes;

d. Anotar também as questões ou as observações pessoais que


surgem na cabeça durante a exposição do professor.

4. DINÂMICAS DE UMA AULA PARTICIPATIVA

Há dinâmicas mais informais e outras mais formais. Durante a aula


convém que o professor proponha dinâmicas informais ou leves
que envolvam os alunos: um depoimento, um caso ou uma
pergunta.

Sobre as perguntas, convém distinguir as de esclarecimento ou de


compreensão em torno do tema que está sendo exposto; e as
perguntas crítica, que visam aprofundar o assunto.

Mas há dinâmicas formais, mais arrumadas, como:

a. O cochicho. É um zunzum que se cria em grupinhos de 2 ou de


3, para discutir uma pergunta precisa por 2 ou 3 minutos. Existe
também a técnica chamada 6/6: grupos de 6 discutindo 6
minutos. O tempo e o modo dependem sempre da natureza da
questão a se discutir. Terminado o tempo, põe-se no quadro
negro o resultado do cochicho, abre-se a discussão e por fim o
professor faz a chamada "amarração";

b. O grupo de estudo ou circulo de debate. É a dinâmica mais


comum. Um grupo de umas 6 a 7 pessoas discutem uma
pergunta, um tema, um caso, ou um problema concreto. Depois,
em plenário, apresentam as conclusões possivelmente de modo
criativo através de encenações, poesias, cartazes, etc. Segue-
se o debate aberto e - como sempre - a "amarração" do
animador;

76
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

c. O painel ou simpósio. 4 ou 5 pessoas expõem seu


pensamento sobre um tema a partir de ângulos distintos.
Seguem-se perguntas de esclarecimento ou de aprofundamento
da parte da classe. O professor fecha, comentando o dito e
explicitando as conclusões. A mesa-redonda e uma espécie de
painel, mas onde um tema e debatido inicialmente entre os
membros de um grupo, entrando os presentes num segundo
momento;

d. O congresso. Consiste em reservar um tempo intensivo (um


dia inteiro, um fim de semana ou uma semana toda) ao estudo
de uma temática teo1ógica específica. Aí entram conferencias,
grupos de estudo e plenárias.

5. ESTUDO INDIVIDUAL

Todo estudo supõe duas fases: a primeira, a aprendizagem; e a


segunda, a pesquisa. A aprendizagem vale especialmente para o
estudo fundamental; e a pesquisa, para o estudo especializado.

A aprendizagem consiste em assimilar e mesmo memorizar as


informações de base ou os dados elementares de uma disciplina,
como, por ex., datas, eventos e personagens históricos ou regras
técnicas. Esse é o momento receptivo de um saber, embora -
insistimos – não passivo, porque sempre re-criativo em nível
pessoal.

Já o momento da pesquisa implica em, a partir dos dados


fundamentais de uma ciência, investigar outros dados, fazer-lhes a
crítica e criar novas propostas explicativas. Esse e o papel da
pesquisa, dos seminários e das teses. É o momento criativo.

Nada mais deslocado, para quem se inicia numa disciplina, do que

77
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

a pretensão de se arvorar em crítico e criador. Precisa antes, com


toda a humildade, apreender os fundamentos da nova disciplina.
S6 depois e que poderá criticar com base e criar sem
arbitrariedade.

Analisemos agora concretamente como se da o estudo pessoal


fundamental, isto é, aquele relativo ao aprendizado dos
fundamentos e dos resultados seguros de um saber. Mais à frente
trataremos do estudo especializado, quando falarmos da pesquisa.

Pois bem, em que consiste o estudo fundamental? Consiste em


leituras, apontaremos e memorização.

a. Leitura

Nesse pomo, o importante não e ler muito, mas selecionar: ler


poucos livros, mas bons. Os franceses recomendam: Non pás
lire, mais élire (não ler, mas escolher).

Como saber se um livro vale a pena? Por recomendação de um


entendido, que pode ser o professor mesmo, pela leitura de
uma recensão ou pela indicação de um entendido. Mas existe
também um caminho pessoal: folheando o livro. É a leitura de
reconhecimento ou pré-leitura.

Leitura de reconhecimento - Embora possa ser um hobby (o


preferido de Marx), folhear um livro supõe certa técnica. Como
folhear com proveito um livro e saber se vale a pena lê-lo e
eventualmente comprá-lo? Valham aqui as seguintes
sugestões:

a) Dar uma olhada no frontispício - a pagina interna onde estão


registrados os dados indicativos do livro: título, subtítulo, autor,
edições, editora, cidade, data. Já por aí se pode ter alguma
ideia do livro. Assim: - pelo nome do autor, pode-se ter alguma

78
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

ideia do "peso" da obra;

- pelo subtítulo, de que tema trata de modo mais explícito;

- pelas edições, se o livro foi muito lido;

- pela editora, se e "de nível", recomendando o livro, ou ao


contrario; e assim ppr diante;

b) Passar para o índice. Ver como a matéria é detalhada e como


e estruturada. Por aí já se tem uma síntese, ainda que
extremamente condensada do conteúdo. Poder-se-á sentir se
são levantados os principais problemas; se o tratamento e
concreto ou pratico; se e bem ordenado, etc.;

c) Ir para a introdução e depois para a conclusão, lendo pelo


menos alguns de seus parágrafos, para perceber como o autor
aborda o assunto, seu estilo, seu vigor;

d) Enfim, se houver tempo, dar uma folheada à-toa no livro,


parando num ou noutro parágrafo. Às vezes acham-se assim
algumas ideias que despertam a curiosidade e levam a ler o
livro. Não desprezar esse método intuitivo, pois a intuição por
vezes e mais certeira que a razão.

Não precisa dizer ainda que a biblioteca deve ir-se tomando,


para o aluno que quer realmente progredir, um lugar familiar.
Depois de uma visita introdutória, guiada pelo bibliotecário ou
por um professor, o estudante deve ir-se habituando a se situar
dentro da biblioteca: como consultar os fichários, qual o lugar
das grandes enciclopédias, das principais coleções, das revistas
e assim por diante.

b. Dois tipos de leitura

Existem basicamente dois tipos de leitura: a interpretativa e a

79
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

crítica.

A leitura interpretativa busca saber apenas o que o autor disse


ou quis dizer, sem tomar posição pessoal frente ao texto e ao
mérito de suas afirmações. Trata-se aqui na verdade de um
exercício de hermenêutica textual. E chamada também "leitura
de compreensão". Ela e decisiva para a teologia, máxime para a
Escritura, mas também para as autoridades teológicas em geral.

Para este tipo de leitura em geral, valem as regras


hermenêuticas como:

- esclarecer as palavras ou conceitos difíceis;

- explicitar os pressupostos ou os subentendidos do autor;

- por o texto no seu contexto social e cultural;

- identificar a ideia central e a partir dela outras, a começar


pelas mais importantes.

Já a leitura crítica examina a solidez das ideias expostas,


pronunciando-se sobre elas, pondo-as sob o juízo da verdade.
Isso não épura hermenêutica, mas sim reflexão crítico-analítica.
Como se percebe, esta leitura supõe a leitura interpretativa.
Pois não se pode ligeiramente criticar um autor sem antes tê-lo
compreendido bem. E isso é lógico, além de ser justo, embora
muitos se esqueçam disso.

A leitura crítica não se dobra facilmente a regras


preestabelecidas. E é natural. Todavia, na analise crítica de um
texto, são de valia indicações como as seguintes:

- julgar os pressupostos de um texto, ou seja, captar o que está


nas entrelinhas;

- provar a consistência da argumentação, sua coerência, seu

80
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

rigor lógico;

- relacionar o texto o com seu contexto: o cultural, para


descobrir suas influencias ou então sua originalidade;

- confrontar as teorias do autor em análise com as de outros


autores;

- discutir as consequências concretas de uma teoria no campo


pastoral ou social (em relação ao poder, aos pobres, etc.).

c. Apontamentos de leitura

Leitura sem caneta repute perda de tempo. Quer dizer: é


preciso tomar nota do que se lê; fazer uma leitura por assim
dizer "armada".

Se o livro é pessoal, podem-se fazer anotações e sinais no


próprio livro; ou então far-se-ão anotações a parte: em caderno,
em folhas soltas ou em fichas.

O que anotar:

- Resumos de ideias importantes, interessantes ou úteis;

- Frases expressivas, a citar literalmente e com precisão;

- Ideias pessoais que a leitura do livro suscitou: críticas,


comentários ou ideias novas.

Como devem ser as anotações? Devem ter o quanto possível,


as qualidades indicadas nestes quatro "c"s: curtas, claras,
corretas e completas.

Toda anotação deve registrar corretamente a fonte, isto e, a


publicação de onde proveio. Não é este o lugar de entrar nos
inúmeros detalhes de como referir uma citação, tanto mais que
existe mais de um sistema de citação. A regra geral é guardar a
homogeneidade: citar sempre da mesma forma, sem variações.

81
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

Indiquemos, aqui, por grosso, como se podem fazer as citações


mais comuns, que são respectivamente as de um livro e as de
um artigo de revista.

Para um livro, põem-se em geral, separando-as com vírgula as


seguintes referências:

1) o nome do autor (o sobrenome em geral em maiúscula e o


nome abreviado);

2) o nome do livro, sublinhado (ou em negrito, ou ainda em


itálico);

3) o subtítulo, não sublinhado;

4) a coleção onde saiu (mas não é indispensável);

5) a editora (podendo deixar fora a palavra "editora" ou


"edições" ou abreviar por Ed.);

6) o lugar (traduzindo os nomes de cidade que tem tradução em


português);

7) a data;

8) o número de edições;

9) lugar do livro onde se encontra a referencia (paginas ou


colunas).

Para artigo de revista, dão-se, também intercaladas por vírgula,


as indicações seguintes:

1) nome do autor;

2) nome do artigo, entre aspas;

3) número do volume (ou da revista);

4) ano, entre parênteses;

5) páginas onde se encontra o artigo ou a citação.

82
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

Digamos também algo sobre o resumo de uma leitura. Essa é


uma tarefa elementar em qualquer estudo. O chamado
"fichamento" é uma técnica específica de resumo. Já a
"esquematização" é um resumo digamos "esquelético" de um
texto, ou seja, sua representação gráfica e visual.

Como resumir: Eis duas regras sumárias:

a) Captar a tese central do texto;

b) Identificar os pontos mais importantes, dando-lhes uma


ordem lógica, possivelmente numerando-os: 1,2,3...

d. Memorização

Essa atividade, central no passado, hoje perdeu muito de sua


importância, pois estão à mão bons substitutos da memória
humana: a "memória de papel”, contida nos livros,
especialmente nas enciclopédias; e a “memória eletrônica”, a do
computador, que pode armazenar uma infinidade de dados e
restituí-Ios com facilidade. Isso faz com que a “decoreba" de
uma vez, particularmente para os exames, perca muito de sua
importância hoje.

Mas a memória humana é ainda necessária, especialmente


para reter as informações de base ou vitais, como indicamos.
Por isso mesmo, certa memorização é indispensável, sobretudo
nos primeiros anos de estudo de uma disciplina.

Aqui vão algumas indicações para o método de memorizar:

1) Compreender o texto que se quer memorizar;

2) Resumi-lo ou esquematizá-lo;

3) Dividí-Io em partes;

4) Memorizá-lo a partir de unidades menores e crescendo ate as

83
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

maiores. Mas nada ajuda melhor a memorizar do que a


repetição e mais ainda a familiarização. Além disso, saiba-se
que quanto mais faculdades se usam. Mais a coisa se grava na
memória: visualizar, ouvir, dizer, cantar, fazer, dançar, etc.

6. TRABALHO DE GRUPO, ESPECIALMENTE O SEMINÁRIO

Abordamos agora o estudo de uma questão em regime de


"mutirão". Deve- se evitar aqui dois erros: seja concentrar a tarefa
numa só pessoa ou em poucas, seja trabalhar o tema de forma
independente, justapondo em seguida as partes. Antes, nesse
ponto, convém seguir a dinâmica: "separado-junto/separado-junto".
Expliquemos:

- separado: cada um deve se inteirar da totalidade do tema, lendo,


antes, todo o texto a ser trabalhado;

-junto: reúne-se o grupo para discutir a divisão das tarefas, se por


partes, por perspectivas ou de outro modo;

-separado: cada um trabalha a parte que lhe toca;

- junto: põe-se em comum a parte trabalhada, esclarecendo algum


ponto ainda obscuro e discutindo a harmonização entre as varias
partes.

Feito isso, confia-se a alguém a tarefa da redação final. Se o


trabalho tiver de ser apresentado, e preciso ainda preparar juntos o
modo da apresentação.

Quanto ao seminário propriamente dito, esse objetiva o


aprofundamento de um tema, seja por obra de uma pessoa ou de
um grupo. Supõe o conhecimento prévio das bases do assunto em
discussão. Por isso mesmo, um seminário nunca pode se limitar às

84
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

generalidades ou aos lugares-comuns.

O seminário consta de dois momentos: o estudo propriamente dito


e a apresentação.

Quanto ao estudo, pode-se usar, de modo flexível, a dinâmica da


pesquisa, de que falaremos logo abaixo. Além disso, se o
seminário couber a um grupo, este deve observar a dinâmica do
trabalho em grupo exposta acima.

Quanto à apresentação, consiste na exposição oral do tema


estudado. Demos, agora, algumas indicações úteis para ser bem
sucedida.

a. Apresentação de um tema

Para a exposição de um seminário (mas isso vale para qualquer


exposição: aula, conferência, palestra, discurso ou sermão),
convém levar em conta os seguintes momentos:

1. Introdução. Essa deve motivar os ouvintes. Para isso,


recorrer a uma citação, a um fato, a uma tese problemática,
enfim, a algo que chame a atenção:

2. Tese central. Enuncia-se o que se tem realmente a dizer,


sem maiores rodeios;

3. Desenvolvimento. Expõem sucessivamente as partes da


tese ou as subpartes da tese ou as subteses, seguindo uma
ordem lógica, se possível numerando: 1,2, 3 ... Cuide-se em
“calçar” as próprias ideias com algum exemplo, imagem ou
citação;

4. Conclusão. Fecha-se normalmente o discurso com uma


síntese, com uma interrogação ou mesmo com uma frase de
efeito.

85
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

No caso do seminário, à explanação segue-se o debate aberto


e por fim a conclusão (pelos professores ou pelo responsável do
seminário).

b. Sugestões para uma apresentação

Eis algumas indicações úteis para uma exposição qualquer:

- no caso de se dispor do texto por extenso, não ficar só lendo,


mas explicá-lo de modo mais solto;

- usar recursos didáticos: quadro-negro, esquemas, cartazes,


faixas, projeções, etc.

- explicar as palavras difíceis e os termos técnicos mais raros;

- cuidar também do tom de voz: que essa seja audível e


expressiva.

c. Papel do animador

O coordenador do seminário, normalmente o professor (mas


pode ser também o responsável do seminário), deve atuar como
um animador, estimulando a participação, fazendo
oportunamente resumos, relançando o debate, passando a
palavra e assim par diante. Ele deve se manter na média áurea
entre o “moderador”, que determina a direção da discussão,
condicionando todo a processo de discussão, e a "assessor
técnico", que só intervém quando solicitado.

Essas observações valem para qualquer responsável de um


trabalho em grupo ou de uma assembleia.

7. PESQUISA E DISSERTAÇÃO

O trabalho de pesquisa ou investigação, que pode ser mais ou


menos extensa, tem geralmente duas fases: a investigação

86
APRENDENDO ESTUDAR TEOLOGIA

propriamente dita e a da elaboração (a qual segue às vezes a


apresentação).

A pesquisa pode ser feita em cima de livros: e a pesquisa teórica;


ou em cima da realidade: e a pesquisa de campo. Mas pode
também haver pesquisa que combina as duas coisas.

a. Fase de investigação

Para essa fase, e bom levar em conta o seguinte percurso:

1. Escolher a assunto. Este deve ter pelo menos duas


qualidades: ser importante e ser interessante: importante,
porque a transcendência da teologia e a urgência pastoral do
povo o exigem; interessante porque aquele que vai pesquisar
deve sentir-se envolvido, como que "mordido" por seu tema,
caso contrário, não levara a efeito o trabalho ou não o fará de
modo satisfatório.

O assunto a se escolher pode ser de tipo positivo, como estudar


um autor (o que é sempre mais fácil); ou de tipo teórico, como
abordar uma problemática específica (e isso é mais desafiador).

É preciso, em seguida, delimitar bem o assunto a investigar.

Do ponto de vista material (ou do conteúdo), o assunto não


pode ser nem por demais estreito e nem por demais largo. A
medida dependera do porte da tarefa a se realizar: conferencia,
artigo, monografia, tese de mestrado ou de doutorado. Agora,
do ponto de vista formal (ou da perspectiva), e preciso que o
tema seja circunscrito do modo menos gene rico possível.

Se os contornos, quer materiais, quer formais, são por demais


vaporosos, corre-se o risco de ler, no curso da pesquisa, uma
infinidade de coisas inúteis, porque periféricas e impertinentes.
Ao contrario, apertando ao máximo o tema, não há maiores

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problemas se, em seguida, for preciso ampliá-lo. Mas haverá


certamente problemas quando se abriu demais o leque temático
e não se sabe como centrá-lo. Esse cuidado e importante,
sobretudo para os que devem apresentar um projeto de
trabalho, seja ele uma tese ou não.

2. Colher o material bibliográfico. Para isso pode-se começar


por consultar um manual, um dicionário ou um estudo
especializado, que sempre dão alguma bibliografia básica.

3. Fazer a leitura, acompanhada da fichagem. Para uma


primeira abordagem do tema, e bom proceder a alguns estudos
exploratórios a partir de obras gerais: um dicionário, uma
enciclopédia ou uma obra geral sobre o assumo. O que aí se
aprende se pode logo anotar através de resumos e esquemas.

A partir dessa primeira visão geral, elaborar um esquema


provisório, em que se ordenem, de forma mais ou menos lógica,
os primeiros conhecimentos obtidos. O esquema deve ser
flexível, de modo que possa mudar em função do
desenvolvimento da pr6pria pesquisa. Nessa linha, o esquema
do "ver, julgar e agir" tem-se mostrado bastante pratico.

Em seguida, abordar os estudos específicos, constantes da


bibliografia, isto e, as obras de aprofundamento, fazendo
sempre anotações.

b. Fase de elaboração

Quando a pesquisa pessoal, em seu todo ou em parte, tiver


atingido um bom nível de acumulação e de amadurecimento (e
isso se sente inclusive psicologicamente), então esta na hora de
passar a elaboração.

Esta pode se socorrer do seguinte processo:

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1. Organizar o material coletado. Como primeiro momento,


juntar de modo sumario as ideias, sem ainda obrigar-se a
ordená-las de forma precisa, mas procedendo como quem
ajunta material para fazer uma casa. Depois, analisar estas
ideias através do confronto recíproco e eventualmente
complementá-las através de uma pesquisa ulterior. É aqui que o
sistema de fichas revela sua funcionalidade, pois permite
ordenar e reordenar sucessivamente as fichas em função de
uma estrutura lógica que vai se delineando.

Da analise do material recolhido, surgira o esquema definitivo,


com sua lógica própria. Este devera ter:

- um começo: a parte introdutória;

- um meio: a parte central, o carpo do trabalho, subdividido em


partes menores;

- e um fim: a parte conclusiva.

2. Desenvolver as ideias numa primeira redação e assim


sucessivamente, ate se chegar à redação definitiva. Não é
necessário começar a elaboração pelo começo lógico. Pode-se
iniciar pela parte em que a pessoa se sente mais segura, ou
seja, mais amadurecida intelectualmente ou mais sintonizada
psicologicamente.

Na redação, cuidar particularmente do seguinte: valer-se de


distinções para desembaraçar problemáticas confusas e para
esclarecer conceitos centrais, pois "sapienti est distinguere" (e
próprio do sábio distinguir); qualificar as próprias opiniões,
usando precisões tais como: provavelmente, talvez, parece, e
evidente, diz-se, etc.; estar atento a complementaridade dos
pontos de vista ("de um lado... , do outro...") e ao

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balanceamento dos juízos ("apesar de ... , contudo ... ").

3. Enfim, fazer as complementações: escrever a conclusão, a


introdução, colocar a bibliografia, os eventuais apêndices e os
índices.

c. Sugestões para a redação:

Eis aqui algumas "dicas" para o momento redacional:

- Dar aos capítulos títulos expressivos, além de precisos;

- Apor vários subtítulos no interior de cada capítulo;

- Evitar parágrafos demasiadameme longos;

- Usar frases breves, com, no máximo, duas subordinadas;

- Assinalar as devidas ênfases, por sublinhamentos, com letras


em itálico ou em negrito;

- Explicar os termos técnicos e as palavras difíceis;

- Usar uma linguagem simples e clara, e tirando o pedamismo e


a afetação;

- Não ter medo de usar esquemas explicativos;

- Evitar afirmações banais e lugares-comuns;

- Colocar no rodapé tudo o que pesa no corpo do texto, mas


que se mostra útil ou interessante para compreender uma
afirmação ou situá-la;

- Evitar, no corpo do texto, digressões que afastem do tema;

- Usar ganchos literários que manifestem as conexões lógicas:


porque, efetivamente, assim, então, além disso, ora, etc.;

- Não abusar dos seguintes recursos literários: maiúsculas,


abreviações, três pontos, ponto de exclamação, estrangeirismos
e o preguiçoso “etc”.

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BIBLIOGRAFIA

BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. Série I – Experiência de

Deus e Justiça, n. 6. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, Coleção

Teologia e Libertação. RUIZ, João Álvaro. Metodologia Científica: guia

para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1996.

LIBANIO, J. B.; MURAD, Afonso. Introdução à Teologia: perfil,

enfoques, tarefas. São Paulo: Loyola, 1996.

RAUSCH, Thomas P. (org). Introdução à teologia. São Paulo: Paulus,

2004. Coleção Teologia Hoje.

MARASCHIN, Jaci (org). Teologia sob limite. São Paulo: Aste, 1992.

DOS SANTOS, ROBERTO, Teologia Para Pensar. Goiânia: Karis ,

2000.

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