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vee aie 0e\ REVISTA DA LINGUA E DA CULTURA GALEGAS DE ASTURIAS _As eleeciois de xuno.|> He mosaterra ‘As variantes do tipo Len '€ chios 22_AFREITA Namero 14 MUSEUS DE ANTROPOLOGIA, PATRIMONIO CULTURAL E DESENVOLVIMENTO Prof. Xerardo Pereiro Pérez Universidade de Tras-os-Montes e Alto Douro Extensdo de Miranda do Douro I. MUSEUS DE ANTROPOLOGIA Vivemos hoje uma época na qual o pere- cedoiro, o usar edeitar no lixo, - a fugacidade - convivem paradoxalmente com um esforco por conservar que se vive com enorme paixao, afectivamente, emotivamente. Neste cendri 0s museus sao um exemplo da cultura da permanencia numa época de fugacidade' na qual vivemos, é por isso ¢ outros motivos que os museus esto chamadosa ser um dos cen- tros da vida cultural mais importantes do presente e do futuro, Necessitamos museus pelo profundo sen- tido humano que tenta conservar parte da nossa meméria colectiva, perpetuando-nos culturalmente de alguma maneira, e trans- mitindo 4s novas geracdes os valores funda- mentais do nosso patriménio. Mas nao 86 porisso,o museu cumpre uma fun¢ao social imprescindivel, que éa de interpretar os nos- sos modos de vida eos dos outros, num mun- | do cada vez mais multicultural. E por isso que se o museu néo existisse teriamos que inventa-lo. Maso que é que éum museu? Pois bem, a origem etimologica da palavra "museu" deri- va do latim “museum" edo grego “mouseion” que quer dizer ‘o lugar das musas’,este sen- tido converte ao museu em um lugar de ins- piracao, sentido que devemos ter sempre como referéncia com o objectivo de revitalizar ere-alimentar constantemente este. Por outro lado, a definicao tradicionalista de museu converte a este numa instituicao que colecciona, preserva, expoe € interpreta produtos da actividade humana e do mundo natural: objectos, artefactos e especimenes*, Ainda hoje o museu’ é entendidoem muitos casos como um lugar para objectos em desu- so dentro de um tempo de ‘eterno presente’ Mas esta conceicao de museu-armazéme de museu-vitrina (altar dos museus tradicio- nais) tem mudado muito nos ultimos tem- Decembro de 1999 pos para um museu dial6gico, interactivo participativo. Se centramos a nossa atengao nos mu- seus de antropologia, etnol6gicos ou etno- grafieos -com preferencia para o de museu de antropologia-, e aos quais os antrop6lo- gos sempre estiveram ligados, a primeira questao a resolver 6 a da propria definicao do muscu de antropologia. Geralmente o muséu de antropologia foi pensado como aquele museu que antepoe 0 interesse cultural ao cronolégico na apre- sentagao das obras e objectos, muitas vezes ligados ao conceito de “artes ¢ tradigoes popu- lares’, O museu de antropologia comecou sendo um “gabinete de curiosidades” quenos séculos XVI e XVII reuniam artefactos de povos e civilizagdes consideradas “primiti- vas". Este precedente do interesse pela coleceao de objectos foi o inicio de todos os museus em todas as culturas. Mas no século XIX aconteceu uma mudanga fundamental, omuseu antropol6- gico* converteu-se numa instituigao dedica- MUSEUS DE ANTROPOLOGIA : AFREITA 23 da 4 recolha e apresentacao ao ptiblico de elementos do passado, um passado que ser- via ao nacionalismo para certificar a anti- guidade das nagées,e atestara cumprida his- toria dos povos. Esta mudanea foi protagonizada por uma burguesia que pro- curava uma ‘pintura dos costumes popula- res" para definir as identidades nacionais, esta procura consistiu numa busca do “auten- tico’, o ‘rural’, o “camponés’, o “popular”, ‘o tradicional’, o "que se perde’ etc.,e tratava de definira identidade cultural das nagoes. Esta identidade nao era procurada na propria bur- guesia e nos meios urbanos, por serem con- siderados menos “auténticos” e menos defi- nidores da identidade cultural diferencial que procuravam, ainda que o seu peso politico fora maior do que aqueles grupos sociais que escolhiam como definidores da identidade comum. No s. XX, a museulogia antropolégica experimentou varias mudangas*, que pode- mos avaliar a partir da seguinte tipologia orientadora: 24 APREITA MUSEUS DE ANTROPOLOGIA Namero 14 1. GABINETES DE CURIOSIDADES ~ Colecgao de materials exsticos guardados em arcas especiais. ~ Foram a origem de muttos museus de antropologia, Ex: 0 dorei Francisco Ida Franga (1494-1547) 2. MUSEUS DE HISTORIA NATURAL ~ Aprincipios do s.XX comecam a exibir humanos como uma ‘espécie mais dos ecossistemas. ~ Aantropologiafisica esta ligada a antropologla cultural ~ Consideram os humanos como um animal mais. ~ Escolhem humanos que cles denominam “primitives” (eriticado ‘por antropélogos e musedlogos por considerar isto racista e xen6fobo), Bxs:Museu de Historia Natural de New York, Museu Smithsoniam de Washington, Museu Nacional de Etnologia (Madrid). }. MUSEUS DE ARTES EXOTICAS A partir dos anos 20 do s, XX uma série de museus exibem pecas como se de obras dearte setratase, sem ter em conta omoco de vida ou sociedade que representa. ~ Presentagao de “arte primitivo” ~ Formalismo estética de pecas dearte africana [ex:dos Dogon do Mali. Ex: Colecgbes do Museu Etnologico de Barcelona. 4, MUSEUS INTERDISCIPLINARES ~ Dedicadosa historia. tecnologia ea cultura de um terrttérto conereto. Exibem permanentemente testemunhos materiais da vidaeo ‘trabalho campones (indumentaria, objectos familiares, mobillario, ete) Exs: Museus Locals. 5, MUSEUS PARA AS CRIANCAS = Fenémenorecente, ~ Museus como instrumentos educativos para as criangas. ~ Ensinama cultura propria ea dos outros. Educam na convivéncia ena tolerancia necessrias para viver em sociedades pacificas. Ex: Museu Horniman’s (London) (1969), Museu Etnologico de Barcelona (1973) 6, MUSEUS DE LUGAR REAL ~ Construides em zonas de conflito social (querra, marginacéo,... = Formados por objectos quotidianos alusivos aos conflitos. Ex:Musen do Campo de Concentragao de Mauthausen (Alemantha), Museu da Ilha de Staten (New York) 7. MUSEUS AO ARLIVRE ~ Reconstruem in situ actividades artesianas e industriais com pessoas reais quealitrabalham. ~ Oprimeiro fol oNordiska Museet (Estocolmo, 1891)8, EBCOMUSEUS-Ligados. politica francesa de desenvolvimento Iniclada no 1983, ~ Duas sos linhas de trabalho basicas:a cultura deuma regiao ou territ6rio determinado, ca producio ecoldgica de uma comunidade. Decembro de 1999 Portanto, depois de observar esta tipologia de museus de antropologta, acho que pode- riamos sintetizar esta definindo trés para- digmas basicos: O primeiro poderia ser definido como museu etnogréfico classico’, que se carac- teriza por ser fechado, de espaco cavernal, de objectos, dearmazém e laboratorio, ‘de pare- des’, com maior atengao ao passado, e tam- ‘bém por pensar no visitante como um espec- tador passivo. (O segundo é uma ideia renovada, omuseu de sitio, ao ar libre ou ecomuseu, que se caracteriza por ser aberto, da povoacao, do territorio, da identidade e da testemunha, “sem paredes’, e com maior aten¢ao aos valo- res do presente. Neste segundo paradigma de museu, visitante converte-se em activo, habitante e participante. Recentemente, ante a crise da represen- tagao museulogica ea desapari¢ao da fron- teira entre o museavel € o nado musedvel, comeca-sea falar ea por em pratica um ter- celro paracigma, representado pelos “museus de ruptura ¢ dialogia”, nos quais o publico nao é um simples visitante ou intruso, porém um participant mais do didlogo, que parti- cipa da aventura e da imaginacao, dos senti- dos e das interaccdes. Ja nao importa tantoa apresentacéo por tipos como a interactivi- dade em um proceso de descobrimento guia- do, Neste ultimo tipo de museus o museu é Para as pessoas endo para os objectos. Pode ser também considerado um muscu de ideias endo propriamente um museu de objectos. Portanto, estamos ante trés paradigmas da ideia de museu de antropologia, € assim que do “museu edificio”, mudou-se ao “museu territ6rio" promovido por uma “nova museu- logia’, e destes dois tipos ao “museu dialogi- co’; ainda que em realidade temos que des- MUSEUS DE ANTROPOLOGIA AFREITA 25 tacar que convivem sincronicamente, e que este esquema ndo deve ser entendido como fruto de um proceso evolutivo linear e numa tinica direceao. Il. PATRIMONIO CULTURAL O patriménio € um conceito que signifi- caaquela heranca moral e material dos nos- sos antepassados, portanto é aquilo que garante a continuidade e subsisténcia de uma sociedade. Mas é inviavel que nos obri- guem a viver exactamente como os nossos. antepassados, e € por isso que do passado escolhemos umas coisas e deturpamos outras. E nesta dinamica legitimamos uns elementos que sao representativos da nossa identidade. Por tanto o fundamental na ideia de patriménio cultural é o seu caracter sim- bélico, a sua capacidade para representar uma identidade’, o que implica uma cons- trucao sociocultural de referentes simbéli- cos que se convertem e activam por parte das administracées, os poderes politicos ou tam- bem os contra-poderes. patriménio cultural tem dois niveles fundamentals: 1°. O primeiro faz referencia a0 trabalho de campo, investigacao e interpre- tacao do mesmo, necessarios para um bom conhecimento cultural. 2°. O segundo faz referencia a sua activacao e gestio, pelo qual a implicacao do antrop6logo aplicado (bem naadministracao, no turismo cultural, etc.) ¢ muito importante para a aplicacao de pro- Jectos de activacao patrimonial, como por exemplo um museu antropolégico. No primeiro nivel pocemos perguntarmos © que faz de original o antropélogo na sua abordagem do patriménio cultural? Pois bem, desde o ponto de vista da abordagem teéri- ca, econdicionando assim a sua pratica pro- fissional, o antropélogo® parte do principio 26_AFREITA de que o patriménio € sinénimo de cultura, algo no qual é especialista por ser 0 seu objec- to e problematica central de estudo, Fronte aos neofolcloristas, aos que s6 Ihes interessa a recuperagao da maioria dos aspectos cul- turais do passado aos que créem em proces so de perda, e aos musedlogos tradicionals, que pretendem musealizar objectos no seu centro museistico, os antropélogos definem 0 patrim6nio como uma construgao socio- cultural desde o presente que representa 0 imaterial e material da cultura, a mudanga eadiversidade humanas, ¢ por isso que deve- mos estudar a diversidade cultural com o objectivo de observar a diversidade de res- postas humanas aos problemas da vida. Nesta perspectiva 0 patrimonio cultural é pensado como algo nao dotado de valor em si mesmo, porém, cada grupo humano ads- creve devalor e significado aos seus bens cul- turals, e esses valores e significados mudam ao longo do tempo, mas baixo certo modelo te6rico® podemos esquematizar estes em: 1. O valor histérico radica na rememo- racdo que esse elemento faz de uma época, na estimulagao da nossa meméria sobre 0 passado, um tempo distinto da nossa vida quotidiana. A aparente permanéncia da sua forma original, tal e como nasceu é uma lei- tura comum reconstruida com o pensamen- to,a palavra ou a imagem. 2. Ovalor estético ou artistico ¢ outra pre- tensao de valor objectivo; mas na procura de uma definigao do “bonito”, muitas vezes esta categoria est unida ao “tt 3, O valor de antiguidade é ao contrario uma pretensaio de valor subjectivo, que salien- tao desfrute, o sabor do antigo eda vivencia, # este um valor do velho, do mais idoso. Por nao necessitar de especiais conhecimentos hist6ricos, ¢ este um valor mais democrat!- MUSEUS DE ANTROPOLOGIA Namero 14 co. Um bom exemplo da expressao deste valor 0 denominado “fachadismo’. 4, Ovalor de actualidade ou contempora- neidade salienta a utilidade dos elementos do patriménio cultural, para servir as neces- sidades do presente. O segundo nivel, do qual falei, entende patriménio como recurso e como factor de incentivo do desenvolvimento, o que nos obri- ga a perguntar-nos se devemos conservar tudo, algo?, parte? que conservar? Isto impli- ca pensar na seleccao de elementos a con- servar, a esquecer (para um saudavel esque- cimento) ea revitalizar. Ill, DESENVOLVIMENTO Se pensamos os museus de antropologia como um discurso criado a partir de ele- mentos do patriménio cultural postos em valor, revalorizados ou submetidos a um pro- cesso de patrimonializacao, estamos salien- tando s6 uma parte do sentido dos museus antropolégicos, que € o de serem meios de ‘comunicacdo com contetidos que incidem nos modos de vida dos grupos humanos e nas construgées da identidade que estes gru- pos fazem. Outro dos sentidos € 0 de ser um recurso de dinamizacao socio-econémica e cultural, isto obriga a pensar os museus de antropo- logia como uma estratégia de desenvolvi- mento integral, que é aquele que apresenta um objectivo basico: a melhora do bem-estar ea qualidade de vida por meio da valorizagéo dos recursos endogenos Esses recursos end6genos sao em pri- meiro lugar humanos, as pessoas sao algo que se esquece geralmente nas definicoes e nas praticas de desenvolvimento, ou s6 repre- sentam meros agentes passivos que aceitam oqueé imposto desde fora ¢ desde cima, jus- Decembro de 1999 tificado por mentes ilustradas que exercem um paternalismo barato, Em segundo lugar o desenvolvimento nao €s6 local ou territorial, porém é global e inte- gral, pois o endogeno e local esta interligado com 0 exégeno € o global aos quais também afectae dos quais muitas vezes depende, bas- tapensar no turismo cultural" como forma de ligacao entre o local e 0 global. Baixo esta perspectiva é necessario pensar nos museus de antropologia como um motor de desen- volvimento em varios sentidos: social, cultu- ral, educativo, Itidico, cooperativo, politico, ecologico, mas também econémico, pols 0 1 Fernandez de Rota, J.A. (1996: "La cultura de la permanencia en ta era de la fugacidad", em | Revista de Antropologia Social n?5,p.45ess. 2 Osestatutos doICOM(Intema- | ional Council of Museums, constituido em Paris no ano | 1946, e que edita a revista ‘Muscum| definiamnosanos 60 | © museu como: “A palavra museu designa a todo estabele- cimento permanente, adminis- tradoembeneficiodoimteresse | geral para conservar, estudar, fazer valer por meios diversos e, | sobre tudo, expor para deleltee educagao do pablico um con- | Junto deelementosdevalorcul- | tural colecgbes de objectos artis- licos, historicos, clentificos € | tecnicos, jardinsbotdnicosez00- | ogleos e aquarios. As bibliote- cas puiblicas e os centros de arquivos que mantém salas de exposigao de maneira perma- | g nente, serao assimilados aos musens" (Tirado de Alonso Fernandez, 11993): Museologia. introdu. | 22. clén a ta teoria y prévctica det | muiseo. Madrid: Istmo), 21-40. 13, 3 Castro Seixas, P. (1997): “Patri ménio, Museu e Dialogia”, em MUSEUS DE ANTROPOLOGIA ‘Trabathos de Antropologia e Etnologia, vol. XXXVI (1-2), pp. Osmuseusdeantropologia mais. / antigos de Europa sao os | seguintes: 0 Museu de Leyden (1831), 0 Museu de Berlim | (1873),0 Museu Pitt Rivers, de Oxford (1874), o Museu do Home, de Paris (1878) e o Fri | landamuseet a Sorgenfri, de | Copenhagem, (1890). Tirado de: -Llopart, D. (1994): "Patrimoni etnologie versus | museus etnoligics", em Aixa n® 6. Revista Anual del Museu Etnolégic del Montseny, La | Gabella, p.9. Liopart, D. (1994): “Patrimoni etnolgie versus museus etnolé- gics", em Aixa n® 6. Revista ‘Anual de! Museu Btnologte del Montseny, La Gabella, pp. 10- (Ob. Cit. Nota (9). Prats, LL(1997}: Antropologta y airimonio. Barcelona: Ariel, p. Prats, Ll (1999) “Introducion”, ‘emPrats i Canals, LL. eIniestai Gonzalez, M. (coords, El Patré monto Btnolégico, VI Congreso} AFREITA 27 consumo cultural gerado directa e indirec- tamente pode servir para redistribuira rique- za entre os diversos sectores. E por isto que muito serlamente todos devemos pensar na rentabilidade a longo prazo que pode dar a criacao de museus de antropologia. Enten- do esta rentabilidade nao s6 medivel econo- micamente, sendo também socio-cultural- mente, porque um grupo humano culto, capaz de compreender-sea si proprio eaos outros, um grupo capaz de afrontar melhor os pro- blemas que o futuro nos coloca, ¢ isso nao tem um preco que possa serem mercanti- licado. de Antropologia. Tenerife: Fede- racion de Asoclaciones de Antro- ppologia del Estado Espanol. Aso- ‘lacion Canaria de Antropologia. pp-7-12. Rieg A(1987, or. 1903}: eulto moderno a los monumentos. Madrid: Visor. 10 Rodriguez Gonzalez, R. (1998) "La Escala Local del Desarrollo, Defintcton y Aspectos Teoricos em Revista de Desenvolvimen- toEcondmicon® 1, pp. 5-15. | 11 ICOMOS (1976): Carta de Turis ‘mo Cultural. Paris: ICOMOS. Este documento define o turis- mo cultural como um facto social, humano, econémico € cultural irreversivel. 0 turismo cultural € uma forma de turis- mo que tem porabjecto central o conhecimento demonumentes, | sitios histéricos e artisticos ou qualquer elemento do patrimé- nio cultural, Exerce um efelto ppositivo sobreestos porque con- tribul para a sua conservagao, ‘mas também corremos riscos de provocar efeltos negativos que evem ser evitados pormelo da educagdo ede medidas politicas coneretas,

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