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DOSSIÊ
ENSINO SUPERIOR NOS BRICS1
Simon Schwartzman*
Este artigo analisa a expansão do ensino superior nos países chamados BRICS. A aspiração crescente pelo
ensino superior obriga os governos a gerir os custos de funcionamento desse sistema. As respostas de cada
país variam com sua história, cultura e regime político. Todos eles enfrentam problemas semelhantes, como
escassez de recursos e o poder político de atores do sistema de ensino superior e fora dele. Cinco dilemas se
apresentam aos países: 1) expansão, igualdade de acesso e diversificação das matrículas, taxas de participa-
ção, o número e os tipos de instituições; 2) limitações financeiras; 3) regulação do ensino superior privado;
4) como fazer com que as instituições de ensino superior prestem mais contas a seus alunos, funcionários
e à sociedade como um todo; e 5) qualidade e relevância social da aprendizagem e pesquisa em instituições
de ensino superior. Utilizando dados e evidências das pesquisas mais recentes, o artigo mostra respostas
comuns, com algumas exceções em cada caso: diversificação institucional; políticas de ação afirmativa;
crescimento das matrículas nas ciências sociais, humanidades, profissões sociais e Educação; pouco suces-
so nas políticas de internacionalização.
Palavras-chave: Ensino Superior. BRICS. Igualdade de acesso. Financiamento ensino superior. Qualidade
ensino superior.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792015000200003 267
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ve, 1979; Van Vught, 2008). Elas aspiravam nheiro público e o privado não estavam sendo
não só aos diplomas, mas também ao mercado desperdiçados em uma pirâmide de grandes
de privilégios profissionais associados a suas dimensões. Eles tiveram também de lidar com
qualificações formais, e consideravam o aces- o poder político e a influência de acadêmicos,
so ao ensino superior como um direito a ser estudantes e funcionários públicos, muitas ve-
provido pelos governos, se possível de forma zes organizados em sindicatos e associações
gratuita. Em sociedades marcadas por cliva- e com fortes ligações com governos locais,
gens culturais, étnicas e linguísticas, a busca partidos políticos e movimentos sociais. Em
pelo acesso ao ensino superior, muitas vezes, todos os países, os governos oscilaram entre
tomou a forma de demandas por compensação conceder mais autonomia às universidades,
cultural e étnica ou apoio especial para corri- ou submetê-las a controles mais rígidos; entre
gir as clivagens históricas tantas vezes relacio- pressioná-las a buscar recursos no mercado,
nadas com o acesso desigual às oportunidades ou fornecer-lhes mais recursos públicos; entre
de educação. atribuir a todas as mesmas funções, ou sele-
A combinação entre o otimismo cres- cionar algumas instituições para missões mais
cente, a crença generalizada na importância da elevadas com mais recursos públicos; entre
educação e a atuação das instituições de coo- exigir delas uma ligação mais forte com o sis-
peração internacional explica por que a expan- tema produtivo, ou permitir que elas próprias
são do ensino superior se tornou um fenômeno definam seus objetivos e orientações de ensi-
universal, embora com tempos e intensidades no e pesquisa. É possível resumir os dilemas
diferentes, e levando a diferentes respostas. de política pública em cinco grandes temas:
Nenhum governo poderia atender a to- 1) como lidar com a expansão, a igualdade de
das essas aspirações, não só por causa de seu acesso e a diversificação das matrículas, as
crescimento e custos ilimitados, mas também taxas de participação, o número e os tipos de
porque a educação é, em grande medida, um instituições; 2) como lidar com as limitações
bem “posicional”, no sentido de que as vanta- financeiras, particularmente em períodos de
gens de alguns dependem de sua posição rela- estagnação ou declínio econômico; 3) como re-
tiva na hierarquia educacional em relação aos gular o crescente mercado de ensino superior
outros (Hollis, 1982; Brown, 2003). Embora a privado; 4) como fazer com que as instituições
posição social, os benefícios e oportunidades de ensino superior prestem mais contas a seus
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te, mineração etc.), muitas vezes subordinadas va associada a várias tentativas de introduzir
aos ministérios setoriais correspondentes; uni- mecanismos de garantia de qualidade e de au-
versidades setoriais regionais, ligadas às suas mentar o papel do governo central na condu-
respectivas instituições nacionais; e universi- ção do setor do ensino superior. As novas me-
dades mais tradicionais, destinadas a formar didas incluíram uma diferenciação nítida en-
as elites políticas locais e os professores. Em tre as instituições federais e locais, a criação de
termos comparativos, o tamanho do setor de um exame de entrada unificado para o ensino
ensino superior soviético não era muito dife- superior em áreas específicas, e fundos compe-
rente do existente nos países desenvolvidos do titivos para pesquisa e instituições inovadoras.
Ocidente: 4.900 estudantes por 100 mil habi- As instituições também foram estimuladas a
tantes, em 1990, em comparação com 4.000, trabalhar em conjunto com empresas públi-
no Canadá, 3.400, na Finlândia, 3.500 no Rei- cas e privadas do setor produtivo, a introduzir
no Unido e 5.000 nos Estados Unidos (Dados práticas gerenciais empresariais e a procurar
do Instituto de Estatística da UNESCO). fontes adicionais de recursos, além dos prove-
Na década de 1980, esse arranjo com- nientes de fontes governamentais. Nos últimos
plexo já estava desgastado, devido a falhas do anos, o governo evoluiu para a criação de um
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de minorias nos exames das universidades na- do moderno no país. Em 1950, a Índia tinha
cionais (Sautman, 1998; Postiglione, 1999).43 apenas 200 mil pessoas com ensino superior,
Ainda que essas políticas resultem em bene- para uma população de cerca de 400 milhões
fícios para os estudantes de grupos minoritá- de pessoas. Em 1970, as matrículas mais que
rios que, de outra forma, não teriam chance de triplicaram, chegando a 2 milhões, atingindo
ingressar no ensino superior, eles continuam cerca de 9 milhões em 2000 e 22 milhões em
sub-representados nesse nível de ensino. 2012. A taxa de escolarização bruta, de 18,8%,
Quanto à qualidade do ensino superior, ainda é pequena em termos comparativos, mas
há uma percepção de que os cientistas e pro- é um dos maiores sistemas de ensino superior
fissionais chineses são bem treinados, mas do mundo, com cerca de 35 mil instituições
que lhes faltariam iniciativa e criatividade, o de todos os tipos. Cerca de 20% dos alunos de
que é atribuído tanto à tradição confucionista, graduação fazem cursos de engenharia, com o
que prioriza a autoridade e a disciplina sobre restante nas artes, profissões sociais e de en-
o pensamento crítico e independente, como à sino, entre outros (India’s University Grants
tendência para a especialização estrita, herdada Committee, 2013).
da visão funcionalista do ensino superior
que ainda prevalece no país, como resul-
tado da influência soviética inicial (Zha;
Hayhoe). É difícil, todavia, dizer até que
ponto isso é verdade.
ÍNDIA
áreas rurais, cerca de 30% ainda é analfabeta, Enquanto, na China, a maioria dos pri-
e o país nunca passou por períodos de indus- vilégios sociais tradicionais associados à edu-
trialização e de urbanização intensos como cação foi eliminada com a Guerra Civil e a Re-
os que, por exemplo, mudaram a China tão volução Cultural, na Índia, as desigualdades
profundamente nas últimas décadas. No vas- sociais relacionadas com riqueza, etnia, casta
to subcontinente indiano, o Império Britânico e sexo se mantiveram após a independência
criou uma grande burocracia administrativa e e tornaram-se centrais para todas as políticas
ofereceu às elites indianas oportunidades de de ensino superior que foram apresentadas
estudar em universidades britânicas. Essas eli- ou implementadas pelos governos democráti-
tes foram depois responsáveis pelo movimento cos desde então. Ao mesmo tempo, como em
de independência e pela organização do Esta- outros lugares, o governo precisou lidar com
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Como observado por Sautman, admissões preferenciais a proliferação de instituições, a limitação de
são praticadas principalmente por instituições para as mi-
norias. Embora muitas instituições, predominantemente recursos e problemas de garantia da qualida-
Han, de ensino superior também participem de ação afir- de, em um ambiente político extremamente
mativa, a maioria das admissões preferenciais dificilmen-
te, ou nunca, diminuem as oportunidades dos estudantes complicado, marcado por uma oposição ativa
Han, uma vez que o ensino superior como um todo conti-
nua a se expandir (Sautman, Barry, 1998 p. 106). e estados fortes e autônomos.
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cluídas. A percentagem de reserva varia entre e Acreditação (Stella, 2002) e uma rede extre-
os Estados, de acordo com a presença desses mamente complexa de instituições de políti-
grupos. Além das cotas, o governo oferece bol- cas públicas, muitas vezes com sobreposição
sas de estudo, albergues especiais, refeições, de responsabilidades. Segundo a descrição de
empréstimos de livros e outros benefícios ex- Triolokekar e Embleton, a Índia tem 13 órgãos
clusivamente para os estudantes provenientes de regulação profissional e vocacional, além
de castas e grupos excluídos, de forma a es- do Conselho Indiano de Educação Técnica e
timular a participação (Joshi). Como em toda do Comitê de Financiamento para as univer-
parte, o tema de ações afirmativas gera con- sidades. O grande número de órgãos, muitas
trovérsia. Para os críticos do sistema, o aces- vezes se reportando a outros ministérios (ou
so ao ensino superior e, particularmente, às seja, não ao Ministério do Desenvolvimento
instituições de alta qualidade e prestígio, deve de Recursos Humanos, responsável pelo ensi-
depender do desempenho anterior no ensino no superior), contribui para uma estrutura de
secundário e, nessa lógica, o governo deveria regulamentação extremamente complexa, que
investir mais na melhoria da educação geral e impossibilita o desenvolvimento de uma polí-
secundária, permitindo que o setor de ensino tica coesa e coerente para o setor. Os manda-
superior seja mais competitivo e meritocrático. tos desses órgãos reguladores são abrangentes
Isso, em certa medida, está sendo feito, embora e permitem o controle de todos os aspectos da
a qualidade da educação, em geral, ainda deixe governança institucional – financeiros, admi-
muito a desejar. Além disso, na Índia, dada a nistrativos e acadêmicos. O resultado é uma
natureza discriminatória do sistema de castas falta de liberdade acadêmica e de autonomia
e o isolamento cultural de tribos minoritárias, institucional, já que muitas atividades, como a
só a melhoria da educação básica não seria su- contratação de professores e administradores, a
ficiente para proporcionar igualdade de acesso definição de salários e honorários, currículo e
ao ensino superior a pessoas pertencentes a es- testes, dentre outros aspectos, são centralizados
ses grupos excluídos. Há estudos que mostram e padronizados por esses órgãos reguladores
que as políticas de ação afirmativa criaram, de Para a Índia, a questão da internacionali-
fato, oportunidades de acesso ao ensino supe- zação não é nova, dado o seu passado como co-
rior que não existiriam de outra forma, embora lônia britânica. A maioria de suas instituições
também se reconheça que a maioria dos bene- é organizada de acordo com o modelo inglês,
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ficiários das políticas afirmativas seja consti- além de o inglês ser a língua oficial adotada no
tuída por membros dos estratos mais altos das ensino superior. Por adotar o inglês, algumas
castas e das tribos excluídas (Weisskopf, 2004). práticas – como a instalação de instituições de
Por outra parte, não há reservas de gênero, e as ensino superior estrangeiras, a exportação de
disparidades existentes, que são grandes, estão diferentes tipos de serviços para o mundo in-
relacionadas a características culturais profun- teiro (incluindo os do extremamente bem suce-
das da cultura indiana, que podem variar de dido setor de TICs) e o envio de pesquisadores
uma região para outra. indianos para estudar e trabalhar no exterior e
A Índia, embora conte com algumas ins- depois voltar – tornam-se relativamente mais
tituições de alta qualidade, como atestam os fáceis que em outros países.
importantes resultados obtidos pelo país em No entanto, apenas algumas centenas de
diferentes campos da ciência e da tecnologia de milhares de indianos têm o inglês como língua
ponta, tem um sistema de ensino superior cuja nativa. O hindi, com seus diferentes dialetos,
qualidade é, em geral, considerada baixa. Para é falado por 40% da população, e os demais
lidar com esse problema, o país estabeleceu, falam mais de 1.600 línguas, 12 das quais com
em 1994, um Conselho Nacional de Avaliação mais de 10 milhões de falantes. O domínio
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adequado de inglês, fortemente relacionado à Índia está à deriva ou seguindo uma direção.
cultura familiar e ao acesso à educação básica Trilokekar e Embleton argumentam que
de boa qualidade, é um grande diferencial na
[...] um exame mais atento da política de ensino su-
sociedade indiana hoje e um forte determinan- perior na Índia ao longo dos últimos cinco anos, ou
te de quem tem acesso à melhor educação e mais, não confirmaria os argumentos de Tilak (Ti-
aos melhores empregos. lak, 2010) de que há um vácuo na política de ensino
O passado colonial e o acesso à língua superior na Índia, ou de que a característica distinti-
inglesa ajudam a explicar também o grande va da política indiana seja na verdade a ausência de
uma perspectiva política clara, coerente, explícita e
número de indianos educados que vão estudar
de longo prazo.
e permanecem no exterior. Em 2012, havia 200
mil alunos indianos no ensino superior no ex- Na opinião de Trilokekar e Embleton,
terior, dos quais 103 mil nos Estados Unidos,54 embora o campo do ensino superior seja ine-
o maior número do mundo depois da China. vitavelmente controverso e sujeito a interesses
Esse grupo é apenas uma pequena parte da conflitantes e, muitas vezes, a políticas con-
enorme diáspora indiana, que pende fortemen- traditórias, especialmente numa sociedade
te no sentido de pessoas altamente qualifica- democrática, há, porém, um senso de direção,
das.65 Segundo um relatório recente, marcado pela crescente centralidade de con-
ceitos como economia do conhecimento, com-
O número de imigrantes indianos, especialmente
daqueles com qualificação, tem aumentado progres- petitividade econômica e preocupações com
sivamente. Em 2010, a Índia registrou 11,4 milhões as necessidades do mercado de trabalho, o que
de saídas: o segundo maior número de emigrantes, racionaliza iniciativas de políticas específicas,
depois do México, com 11,9 milhões. Em termos ab- tais como a promoção da inovação, autonomia,
solutos, a Índia é um dos principais fornecedores
privatização e investimento em universidades
de pessoal qualificado para os mercados interna-
de nível internacional.
cionais. O capital humano qualificado do país no
exterior é muito variado e abrange quase todos os Uma visão mais negativa, expressa por
campos de atividade, embora haja uma prevalência D. Kapur e B. P. Mehta (2004), é de que o en-
de TI e do setor médico. A Índia também é um dos sino superior da Índia está pendendo para a
principais fornecedores de uma das fontes primá- privatização, não como uma política delibera-
rias de capital humano qualificado, isto é, de estu-
da, mas em consequência do colapso político e
dantes. Junto com a China, é o principal exportador
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com a legislação do apartheid, mas também ao favorecer apenas o “topo” da população negra,
desenvolvimento de políticas de redução do e correndo o risco de tornar as credenciais de
desequilíbrio entre brancos e negros no acesso raça e identidade mais importantes que o mé-
ao ensino superior, principalmente nas insti- rito e a competência comprovados (Alexander,
tuições com mais recursos e de mais prestígio. 2006).
Também foi preciso colocar mais recursos nas Entre 1995 e 2012, o ensino superior na
universidades negras, antes negligenciadas, o África do Sul aumentou de 500 mil para 900
que exigiu mais recursos alocados ao ensino mil, um crescimento pequeno, se comparado
superior. Finalmente, embora o governo esti- com o ocorrido no Brasil, na Índia ou na Chi-
vesse firmemente convencido da importância na. A taxa de participação é atualmente esti-
do planejamento e da centralização governa- mada em 17,7% do grupo etário relevante, lon-
mental, também houve fortes reivindicações ge da expectativa oficial de 1995 de que atingi-
da sociedade sul-africana por uma maior des- ria 30% em dez anos. Resumindo as principais
centralização e a abertura para o jogo das for- tendências, Kirti Menon, observa que, “[...]
ças de mercado não só no setor empresarial, entre 1994 e 2010, houve um crescimento de
mas também no ensino superior. 200% de estudantes africanos. Apesar do cres-
Uma das primeiras medidas do novo cimento, a taxa de participação de estudantes
governo foi estabelecer um Departamento Na- africanos foi de 12% em 2011”, e conclui que
cional de Educação unificado, colocando as “o ritmo de crescimento da educação superior
universidades sob uma mesma jurisdição e em relação ao crescimento da população, no
eliminando as barreiras raciais. Mas isso não grupo etário de 18 a 24 anos, não está de modo
significou que a segregação real tenha desa- algum sincronizado. É claro que seria necessá-
parecido. Instituições predominantemente rio um investimento maciço no ensino supe-
brancas, como Stellenbosch, Cidade do Cabo rior para sustentar o crescimento, embora não
e Rhodes, se mantiveram majoritariamente seja evidente que os fluxos de entrada prove-
brancas, enquanto que alguns poucos brancos nientes do sistema escolar produziriam os re-
matricularam-se em instituições tradicional- sultados requeridos” (Menon).
mente negras. Havia razões cul-
turais e geográficas para isso, mas
a mais importante foi que o fim
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em programas de educação à distância, ofere- ção aumentou a partir de 1994. Além disso, es-
cidos, em sua maioria, pela Universidade da timou-se que entre um oitavo e um quinto dos
África do Sul, que ostenta um corpo discen- sul-africanos com educação de terceiro grau
te de 350 mil alunos. As taxas de graduação residem atualmente no exterior.
têm sido muito baixas, e a maioria dos estu- Para muitos que não deixaram o país,
dantes matricula-se em cursos voltados para uma alternativa foi estudar em uma instituição
profissões sociais, mais acessíveis financeira privada. Como no Brasil, a maior parte do en-
e academicamente, especialmente para estu- sino superior privado na África do Sul tem fins
dantes que provêm de famílias pobres e menos lucrativos. Resumindo uma extensa análise do
instruídas. O investimento público no ensino setor privado do país, Daniel C. Levy (2003)
superior não se alterou significativamente no ressalta que
período. Há um crescente debate no país so-
[...] as instituições privadas comercialmente bem
bre a fórmula de financiamento utilizada pelo
sucedidas colocam os estudantes no cerne. Os alu-
governo para apoiar as instituições de ensino
nos são consumidores com poder de escolha e di-
superior, bem como sobre as mensalidades co- nheiro na carteira. Administradores e proprietários
bradas dos alunos pelas universidades, com dirigem as instituições para atrair os alunos e, cla-
uma crescente demanda por ensino superior ro, para ganhar dinheiro através da eficiência. Isso
gratuito (Wangenge-Ouma, 2012). deixa os professores, contratados em tempo parcial,
mas, em tese, com valiosa experiência prática, sem
Como em outros países em desenvol-
o poder que costumam ter nas universidades clássi-
vimento, o ensino superior privado também
cas. O seu papel é em, grande medida, se adaptar ao
cresceu na África do Sul nos últimos anos, currículo e a outras práticas institucionais. A Áfri-
embora não na mesma proporção do seu cres- ca do Sul não é líder mundial no ensino superior
cimento no Brasil ou na Índia. Citando fontes privado, no sentido de que outros países tenham
diferentes, Michael Cross mostra que procurado imitar seu exemplo. Mas fica perto da
vanguarda das tendências globais em um ensino su-
[...] o número de escolas particulares aumentou de perior privado comercial que enfatiza os lucros e a
518 em 1994 para cerca de 1.500 em 2001, e mais orientação prática.
de 100 mil estudantes matricularam-se em 145 ins-
tituições privadas de ensino superior, em 2004. O
mercado de prestadores de serviços privados está
concentrado principalmente em educação e forma- BRASIL
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Enquanto o governo federal se movia len- Brasil tem cerca de 6 milhões de estudantes no ensi-
tamente para criar suas próprias universidades no superior, 72% dos quais no setor privado.
públicas, alguns estados e grupos privados to- A primeira tentativa do governo fede-
maram a iniciativa. O Estado de São Paulo, que ral de estabelecer uma política para o ensino
concentra a maior parte da riqueza gerada pe- superior ocorreu na década de 1930, com o
las plantações de café e as primeiras indústrias, ambicioso projeto de criar uma Universidade
criou suas próprias escolas de Engenharia, Me- Nacional, na capital federal, Rio de Janeiro,
dicina, Agricultura e outras, já no final do sécu- que poderia se tornar o modelo a ser replica-
lo XIX, e organizou a primeira universidade do do nos outros estados (Schwartzman; Bomeny
país em 1934, trazendo professores da Europa et al., 2000). Depois de Segunda Guerra Mun-
para ensinar e fazer pesquisa em ciências na- dial, com a nova onda de crescimento econô-
turais e sociais. A Igreja Católica, que já estava mico e urbanização, o governo federal incor-
envolvida no ensino básico e secundário, criou porou várias pequenas universidades criadas
a sua primeira universidade na década de 1940 por governos estaduais e municipais nos anos
e, em muitos estados, as comunidades locais se anteriores (exceto São Paulo) e criou uma rede
organizaram para estabelecer suas próprias es- de universidades federais, que, junto com a
colas de Direito, Medicina e Engenharia. Como expansão do setor privado, foi responsável
mostra Clarissa Baeta Neves, pela primeira onda de expansão. Essas uni-
O Brasil passou por duas ondas de expansão das
versidades deviam seguir o modelo organiza-
matrículas. O primeiro período de crescimento sig- cional criado inicialmente pela Universidade
nificativo ocorreu a partir de meados da década de Federal do Rio de Janeiro, que logo se tornou
1960 até o início da década de 1980. As matrícu- apenas uma entre outras Universidades Fede-
las, em 1960, totalizavam apenas 93 mil estudantes, rais. Esse modelo consistia, principalmente,
55,9% dos quais em instituições públicas. Em 1970,
de uma coleção de escolas profissionais nas
as matrículas saltaram para 425.478 alunos. Desse
total, 49% estavam no setor público. Já em 1975, o
áreas tradicionais de Direito, Engenharia, Me-
número de matrículas foi de 1.072.548 estudantes, dicina, Arquitetura, Odontologia e outras, e de
cerca de 62% deles no setor privado. Atualmente, o Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, que
deveriam preparar os professo-
res para o ensino secundário e
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que davam aulas algumas horas por semana e ter percebido que a demanda por ensino supe-
obtinham a maior parte de sua renda em suas rior no Brasil estava prestes a explodir e não po-
carreiras profissionais. Nas instituições públi- deria ser atendida pelas poucas instituições pú-
cas, no entanto, eles se tornaram funcionários blicas e caras que existiam. A solução foi limi-
públicos e, gradualmente, se organizaram para tar o acesso às universidades públicas por meio
exigir igualdade de remuneração e outros be- de exames de admissão muito competitivos, e
nefícios trabalhistas. permitir que o setor privado se expandisse sem
A segunda reforma ocorreu em 1968, em muito controle.
um clima muito diferente. O Brasil estava, en- O resultado da reforma de 1968 foi que o
tão, sob um regime militar, e a capital já mu- ensino superior brasileiro se tornou, no papel,
dada para Brasília. Nos anos anteriores, os es- unificado sob o modelo único da universidade
tudantes universitários haviam participado de de pesquisa norte-americana, mas, na prática,
organizações de esquerda, e o governo decidiu altamente estratificado. Algumas universi-
que as universidades brasileiras deviam ser mo- dades chegaram mais perto do modelo ideal,
dernizadas. Com a ajuda de consultores norte mantendo a qualidade de suas escolas pro-
-americanos (Atcon, 1966), o governo decidiu fissionais e, particularmente após o final dos
transformar as universidades brasileiras segun- anos 1970, criando programas de pós-gradua-
do o modelo americano, substituindo as antigas ção de boa qualidade no campo das ciências
cátedras por departamentos acadêmicos, per- naturais e sociais. Esse grupo inclui algumas
mitindo que os alunos estudassem por créditos universidades federais e também as univer-
em vez de seguir sequências rígidas de cursos, sidades estaduais de São Paulo, que são mais
criando escolas de pós-graduação e exigindo bem dotadas financeiramente, permaneceram
dos professores que tivessem um diploma de independentes, mas adotaram o mesmo mode-
doutorado, combinando pesquisa e ensino. lo. Também inclui, pelo menos, uma institui-
Um erro evidente da reforma foi tomar ção privada, a Pontifícia Universidade Católica
como modelo a universidade de pesquisa nor- do Rio de Janeiro, que, por um tempo, contou
te-americana, em vez de espelhar-se nas facul- com apoio federal para seus programas de pós-
dades comunitárias (community colleges) ou graduação e pesquisa. O segundo nível inclui
numa combinação de ambas. Sob o novo sis- a maioria das universidades federais e também
tema, os estudantes continuaram ingressando universidades estaduais que nunca foram ca-
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melhor no nível do ensino secundário, geral- tituições de base comunitária, mas não era a
mente de famílias mais ricas e com recursos realidade da maioria das instituições que sur-
para colocá-los em boas escolas particulares e giram desde os anos 1980 (Levy, 1986). O go-
pagar por cursos de treinamento, conseguem verno decidiu reconhecer esse fato e permitir
ter acesso às carreiras de maior prestígio nas que as instituições de ensino superior se de-
melhores universidades públicas onde não pa- clarassem com fins lucrativos, tornando-se,
gam mensalidades. Os estudantes mais pobres, portanto, sujeitas à tributação, ao mesmo tem-
oriundos principalmente de escolas públicas po em que exigiu que aquelas que permane-
de baixa qualidade e, muitas vezes, tendo de ceram sem fins lucrativos demonstrassem sua
trabalhar durante o dia, só conseguem entrar natureza filantrópica. A consequência dessa
nos cursos noturnos no setor privado, ou, no legislação foi que o setor privado passou a con-
máximo, nos cursos menos competitivos em solidar-se em grandes conglomerados empre-
universidades públicas, em áreas como educa- sariais, seja através da compra de instituições
ção e serviço social. menores ou da criação de novas. Alguns desses
Como mostra Maria Helena Magalhães conglomerados tornaram-se empresas públicas
Castro, a desconexão entre a legislação e a rea- com ações na bolsa de valores, atraíram grandes
lidade criou um problema de regulação e de investidores nacionais e internacionais e ado-
garantia de qualidade que nunca conseguiu taram modernas tecnologias de gestão e ensino
ser resolvido. Desde os anos 1990, o Ministé- para reduzir seus custos e padronizar seus pro-
rio da Educação tem tentado fazer com que o dutos. Hoje, cerca de cinco dessas corporações
setor privado cumpra os requisitos formais do detêm cerca de 20% das matrículas do ensino
modelo de universidade de pesquisa, exigindo superior no Brasil. Elas são suficientemente po-
que tenha professores em tempo integral, com derosas para fazer lobby no Congresso e nego-
diplomas de pós-graduação e que faça pesqui- ciar com o Ministério da Educação para tornar
sa, exigências às quais a maioria não consegue sua regulamentação mais flexível e, se necessá-
atender (Castro, Maria Helena Magalhães). O rio, podem processar o Ministério.
Ministério da Educação também desenvolveu Na década de 1990, as tentativas do Mi-
uma avaliação engenhosa para estudantes de nistério da Educação de aumentar o controle
graduação em diferentes áreas (Schwartzman, sobre as universidades federais, tornando-as
2010), e usou esses resultados, juntamente responsáveis pelo uso de seus recursos, e so-
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Censos, pergunta como os entrevistados defi- e preparo, e não conseguem enfrentar o novo
nem sua “cor” – branco, preto, pardo ou amare- fluxo de estudantes e professores contratados
lo, essa última dividida em brasileiros nativos com condições de trabalho que não correspon-
e orientais. Na Pesquisa Nacional por Amostra dem aos padrões anteriores. Os defensores da
de Domicílios do IBGE de 2012, 46,2% se defi- ação afirmativa sustentam que o desempenho
niram como brancos, 45% como pardos, 7,9% desses estudantes, uma vez admitidos, é seme-
como pretos, 0,6%, como amarelos (orientais) lhante ou até melhor que o dos admitidos pe-
e 0,3% como indígenas. Aqueles que se dizem los caminhos convencionais. Os críticos, por
brancos ou amarelos são, em média, mais ricos outro lado, argumentam que os cursos estão
e mais escolarizados que aqueles que se auto- sendo forçados a baixar seus padrões acadêmi-
definem como pretos, pardos indígenas, dife- cos, e que o uso oficial da raça na política pú-
renças que estão mais fortemente relacionadas blica vai contra os princípios constitucionais
com suas origens sociais e regiões de residên- contra a discriminação, não obstante o parecer
cia, que com a ascendência biológica (Parra; da Suprema Corte. Argumentam também que a
Amado et al., 2003). melhor política para aumentar o acesso ao en-
Em 2012, o Supremo Tribunal Federal sino superior de estudantes oriundos de famí-
declarou que as cotas raciais eram constitu- lias de baixa renda, que não podem conseguir
cionais; no mesmo ano, o Congresso aprovou uma boa qualidade de ensino secundário, se-
a legislação que exige que 50% das vagas em ria fornecer-lhes apoio acadêmico e financeiro
universidades públicas sejam reservadas a es- para que possam estudar em tempo integral
tudantes oriundos de escolas públicas, dando e abrir mais alternativas de ensino técnico e
preferência a não brancos. Além disso, entre profissional, que é muito limitado no Brasil e
2008 e 2011, o número de admissões nas Uni- quase inexistente nas universidades federais.
versidades Federais aumentou 50%, sem, con- Outra crítica é que, com toda a ênfase
tudo, alterar muito a predominância numérica colocada sobre a questão popular de acesso,
esmagadora do setor privado. o governo tem negligenciado as questões da
Os impactos dessas políticas recentes qualidade acadêmica, e não segue a linha de
ainda estão sendo debatidos. Há queixas, por outros países, que estão investindo pesada-
parte das universidades federais, de que foram mente em suas melhores universidades, para
forçadas a se expandir sem recursos suficientes alcançar a excelência acadêmica internacio-
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o setor privado nesse cenário. Para a maioria sociais, das humanidades e das profissões so-
dos países, a educação privada só pode existir ciais, bem como em Educação, em vez de Ciên-
com instituições filantrópicas sem fins lucra- cia, Tecnologia e Engenharia. Até certo ponto,
tivos, um entendimento que faz sentido para essa tendência corresponde ao fato de que,
as instituições religiosas ou comunitárias, mas com exceção da China, o setor industrial está
não quando a oferta de educação superior se diminuindo de tamanho, enquanto o setor de
transforma em um empreendimento empresa- serviços, incluindo educação e saúde, mostra
rial. Em todos os países, os governos tentam um crescimento constante. Mas também refle-
regular e impor padrões de qualidade para as te o fato de que muitos estudantes que chegam
instituições privadas, mas sem muito sucesso, e têm acesso ao ensino superior são prejudica-
e tanto o Brasil como a África do Sul aceitam dos por uma escolaridade muito fraca, e não
que o ensino superior possa ser fornecido com conseguem seguir as exigências acadêmicas
fins de lucro. Isso levou à criação de empresas das profissões de base científica.
que proporcionam educação padronizada e de Finalmente, as questões da internacio-
baixo custo a milhões de estudantes aos quais nalização têm estado muito presentes no de-
as instituições públicas não conseguem aten- bate sobre o ensino superior nos BRICS, mas
der. O setor privado é muito grande na Índia e os resultados não são muito notáveis. Apesar
no Brasil, mas muito menor na Rússia, China dos esforços, nenhum país conseguiu elevar
e África do Sul. as suas principais instituições às primeiras po-
Para lidar com a diversidade social dos sições nos rankings internacionais, embora a
estudantes, China, Índia, África do Sul e Brasil China possa estar caminhando mais fortemen-
têm desenvolvido políticas de ação afirmativa te nessa direção. China e Índia têm o maior
para facilitar o acesso ao ensino superior de número de estudantes e pessoas de nível uni-
pessoas que provêm de segmentos mais po- versitário que estudam e vivem no exterior, e
bres ou são minorias étnicas. A Rússia herdou são, até certo ponto, beneficiadas pelo conhe-
da União Soviética uma história complexa e, cimento trazido por aqueles que retornam e
por vezes, contraditória de políticas relativas também pelo estabelecimento de redes empre-
a suas minorias nacionais, linguísticas e reli- sariais e acadêmicas entre residentes no país
giosas, mas atualmente não existe uma política e aqueles no exterior. A África do Sul também
nacional de ação afirmativa no ensino superior tem um número considerável de estudantes e
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cuidadoso, enquanto que, nos outros países, Sociology, v. 103, n. 2, p. 391-428, 1997.
os governos estão, no máximo, tentando dirigir Froumin, Isak; Kouzminov, Yaroslav. Supply and
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e gerenciar uma tendência mundial que está SCHWARTZMAN, S; PILLAY, P; PINHEIRO, R. (Ed.).
Higher education in the Brics countries: investigating the
acontecendo independentemente de suas pró- pact between higher education and society. Springer, 2015.
prias iniciativas. É verdade que alguns países, Gerber, T. P.; Schaefer, D. R. Horizontal stratification
of higher education in Russia:strends, gender differences,
e China em particular, mais do que outros, são and labor market outcomes. Sociology of Education, v. 77,
capazes de influenciar essa tendência, mas, n. 1, p. 32-59, 2004. ISSN 0038-0407.
mesmo assim, a expansão do ensino superior Giordano, Alfonso; Terranova, Giuseppe. The Indian
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DEMAND AND PUBLIC POLICIES FOR HIGHER DEMANDE ET POLITIQUES PUBLIQUES POUR
EDUCATION IN BRICS L’ENSEIGNEMENT SUPÉRIEUR AUX BRICS
This article analyzes the expansion of higher Cet article analyse l’expansion de l’enseignement
education in so-called BRICS countries. The supérieur dans les pays dits BRICS. L’aspiration
growing aspiration for higher education obliges croissante de l’enseignement supérieur oblige les
governments to manage the operational costs of gouvernements à gérer les coûts de fonctionnement
this system. The answers from each country varied de ce système. Les réponses de chaque pays varient
with its history, culture and political regime. They avec son histoire, la culture et le régime politique. Ils
all faced similar problems as lack of resources and sont tous confrontés à des problèmes similaires tels
political power of actors in the higher education que le manque de ressources et le pouvoir politique
system and beyond. Five dilemmas appeared to des acteurs du système de l’enseignement supérieur.
all countries: (1) expansion, equal access and Cinq dilemmes se présentent aux pays: (1) l’expansion,
diversification of enrollment, participation rates, l’égalité d’accès et, les taux de participation, le
the number and types of institutions; (2) financial nombre et les types d’institutions; (2) des contraintes
constraints; (3) regulation of the private higher financières; (3) la réglementation de l’enseignement
education; (4) how to make higher education supérieur privé; (4) la façon de rendre transparentes
institutions to provide more accountable to their les institutions de l’enseignement supérieur; et (5) la
students, employees and society as a whole; and qualité et la pertinence sociale de l’apprentissage et de
(5) quality and social relevance of learning and la recherche dans les établissements d’enseignement
research in higher education institutions. Using supérieur. En utilisant les données des recherches
data and evidence of the latest research, the article les plus récentes, l’article montre des réponses
shows common responses, with some exceptions in communes, avec quelques exceptions dans chaque
each case. Institutional diversification; affirmative cas. Diversification institutionnelle; politiques de
action; growth of enrollments in the social sciences, discrimination positive; la croissance des inscriptions
humanities, social professions and education; little dans les sciences humaines, les professions sociales
success in internationalization policies. et l’éducation; peu de succès dans les politiques
d’internationalisation.
Keywords: Higher Education. BRICS. Equal access. Mots-clés: L’enseignement supérieur. BRICS.
Financing higher education. Quality of higher L’égalité d’accès. Le financement de l’enseignement
education. supérieur. Qualité de l’enseignement supérieur.
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