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Lopes, D. S.
Grupo de Pesquisa em Transmissão e Distribuição
Universidade Federal de Pernambuco
Recife, Brasil
ee.diegolopes@gmail.com
Resumo—Este trabalho propõe estudar o comportamento resistência às condições de poluição e melhor performance
dinâmico da distribuição de potencial ao longo da cadeia de elétrica.
um isolador polimérico sob condições de descargas parciais em Os materiais poliméricos ainda estão em constante evolução
diferentes setores, através da adequação do modelo elétrico da
cadeia de isoladores cerâmicos, já consolidado. Essa análise é feita e necessitam de investimentos, apesar da grande aceitação do
através de simulações, em que aplica-se o modelo utilizando a mercado de componentes elétricos. Como o uso se sobressaiu
plataforma MATLAB/Simulink® . Para a obtenção do parâmetro ao seu conhecimento, a descoberta de técnicas de ensaio e
fundamental do modelo, a capacitância própria de cada aleta da monitoramento apresentam-se como prioridade, pelo menos
cadeia polimérica, utiliza-se o software COMSOL Multiphysics® . para aquelas áreas do setor elétrico que se envolvem com
Os resultados obtidos por meio de simulações mostram gra-
ficamente o comportamento da distribuição de potencial ao esses materiais em operação [2]. Assim, estudos e pesquisas
longo do isolador polimérico para descargas parciais em três relacionados ao desenvolvimento de técnicas confiáveis de di-
diferentes setores. No estudo evidenciou-se variações significativas agnóstico em equipamentos se fazem necessárias para garantir
das tensões nas aletas do isolador polimérico. a confiabilidade do sistema elétrico.
Index Terms—Descarga parcial, distribuição de potencial Nesse contexto, a variação dinâmica da tensão ao longo do
elétrico, isolador polimérico, medição de capacitância, método
isolador polimérico, quando de descargas superficiais incom-
dos elementos finitos.
pletas ou internas parciais, pode constituir em uma ferramenta
para se inferir quanto a possı́vel degradação do material
I. I NTRODUÇ ÃO isolante. O desafio relacionado a essa avaliação se constitui na
principal motivação para a busca das adequações nos modelos
Os sistemas de isolamento elétrico vêm passando por grande tradicionais utilizados para cadeias cerâmicas. O refinamento
progresso nas últimas décadas. Com a evolução da engenharia das aplicações permitirá, certamente, o preenchimento de uma
de materiais, surgem a cada dia compostos novos que podem importante lacuna associada à dificuldade de localização de
ser utilizados em sistemas de isolamento. Apesar de trazerem unidades poliméricas defeituosas [3].
novas caracterı́sticas benéficas aos sistemas de isolamento, a Atualmente, amplos programas de simulação, como o
aplicação de novos materiais também pode acarretar em novas COMSOL Multiphysics® que auxilia a obter soluções de
fragilidades ou deficiências, as quais muitas vezes não são cor- simulação integradas baseadas principalmente no Método dos
retamente detectadas ou diagnosticadas com as metodologias Elementos Finitos (MEF), e como o MATLAB/Simulink®
já consolidas para os equipamentos anteriormente empregados. que simula e permite análise de sistemas dinâmicos de vários
Dentre dessa vasta gama de conhecimento que é a área dos domı́nios, propiciam analisar fenômenos envolvendo várias
meios isolantes, pode-se destacar como solução promissora fı́sicas.
os materiais poliméricos. A proliferação desses materiais per- Neste Artigo, a abordagem da simulação usando o MEF
mitiu desenvolver uma tecnologia concorrente aos isoladores com o software COMSOL Multiphysics® é usada para calcular
cerâmicos e de vidro, largamente utilizados para os vários o parâmetro capacitância de componentes de alta tensão,
nı́veis de tensão e tipos de aplicação nos sistemas elétricos como as aletas de um isolador polimérico. E a abordagem
de potência [1]. Tais produtos conferem ao material inúmeras da simulação usando o MATLAB/Simulink® propõe analisar o
vantagens em relação aos equipamentos tradicionais de vi- comportamento da distribuição de potencial ao longo da cadeia
dro ou cerâmicas, como por exemplo: baixo peso, alta re- polimérica sob condições de descargas parciais em diferentes
sistência mecânica, melhor resistência ao vandalismo, melhor setores.
II. O BJETIVOS
Com o objetivo de desenvolver novas técnicas de di-
agnósticos em isoladores poliméricos, é de fundamental im-
Fig. 2. Representação gráfica do isolador polimérico (extensão .dwg).
portância o conhecimento dos parâmetros elétricos do isolador.
Desse modo, torna-se primordial analisar o modelo elétrico
Tabela I
equivalente de uma cadeia polimérica o qual possa ser utili- E SPECIFICAÇ ÕES DO ISOLADOR POLIM ÉRICO
zado em simulações para análise do comportamento transitório
da tensão na mesma. O foco deste trabalho é a adequação do Número de saias 25
modelo elétrico utilizado para cadeias de isoladores cerâmicos Comprimento (mm) 1020
para uma cadeia de isoladores poliméricos. Posteriormente, Distância de escoamento (mm) 2821.7
uma série de simulações foram realizadas para determinar o
Tensão nominal (kV) 69
comportamento da distribuição de potencial, sob condições
de descargas parciais em diferentes trechos. Em especial, é
destacada a variação de tensão nas aletas próximas a estrutura.
desenho em 3 dimensões (3D). A seguir, importa-se o desenho
A. Objetivos Especı́ficos obtido para o software COMSOL Multiphysics® . A Figura 3
1) obtenção dos parâmetros do modelo proposto a partir de representa a geometria das aletas.
simulação computacional;
2) aplicação do modelo elétrico do isolador cerâmico, já
consolidado, em uma cadeia de isoladores poliméricos;
3) analisar o comportamento dinâmico da cadeia de isola-
dores poliméricos quando submetido a descargas parci-
ais.
III. M ATERIAIS E M ÉTODOS
Com o intuito de estudar o comportamento dinâmico, da
tensão, no isolador polimérico sob descargas parciais a par-
tir do modelo elétrico da cadeia de capacitores com dupla
concatenação, como mostrado na Figura 1
Tabela III
R ESULTADO OBTIDO A PARTIR DAS SIMULAÇ ÕES NO COMSOL
M ULTIPHYSICS®
Capacitância
Aleta maior 76.41 pF
Aleta menor 63.65 pF
Fig. 4. Definição dos materiais do isolador (bastão de fibra de vidro). B. Implementação no MATLAB/Simulink®
O modelo elétrico do dielétrico é representado por um
resistor em paralelo com um capacitor. Associando-o à cadeia
de capacitores com dupla concatenação, configura-se o circuito
equivalente de um isolador. Implementa-se então, esse modelo
elétrico no MATLAB/Simulink® , apresentado nas Figuras 6 e
7, exibindo o lado terra (considerando estrutura aterrada) e o
lado fase, respectivamente. Pelo fato do modelo elétrico do
isolador polimérico, estudado, envolver expressiva quantidade
de componentes resistivos e capacitivos, as imagens da figura
4 estão focadas nas regiões dos potencias fase e terra, sendo o
primeiro representando o lado condutor e o segundo o lado da
estrutura aterrada, com o objetivo de facilitar a visualização.
Com o intuito de mostrar o comportamento do modelo
do isolador para várias situações, desde condições normais
de funcionamento até curto circuitos em alguns setores, são
simuladas descargas parciais em três regiões. Para então,
Fig. 5. Definição dos materiais do isolador (polı́mero). analisar o comportamento da distribuição de potencial. Os
parâmetros usados para simulação estão exibidos na tabela
3) Definição das Condições de Contorno: As condições de IV. As capacitância das aletas do isolador polimérico já foram
contorno são fundamentais para a resolução do problema em encontradas na tabela III. A aleta maior está representada por
MEF. De maneira simplificada, pode-se dizer que consiste em aletas ı́mpares e a menor pelas pares como ilustrado nas figuras
estabelecer contornos que possuem o valor de uma determi- 6 e 7.
nada grandeza conhecida, neste caso, tem-se uma condição A distribuição de tensão ao longo de uma cadeia de isolado-
de contorno de Dirichlet. Através da determinação dessas res é afetada tanto pela distância do isolador até a torre, quanto
condições é que o problema pode ser solucionado. Para os dois a distância do isolador ao solo. Pois as capacitâncias mútuas
casos simulados, um para a aleta maior e outro para a aleta (c), isolador/terra, e (k), isolador/condutor dependem dessas
menor, neste estudo aplicam-se duas condições de Dirichlet, distâncias. Para as simulações realizadas, essas capacitâncias
onde definiu-se contornos, no desenho, com determinados e a resistência citadas na tabela IV estão conforme [6], o qual
nı́veis de potencial conhecidos. Uma delas é a superfı́cie aplica o modelo de dupla concatenação em uma cadeia de
superior da aleta, na qual está presente um contorno com o isoladores convencionais em suas análises.
enquanto as 4 aletas mais próximas ao ponto de fixação
absorvem apenas 12%; a tensão ao longo do isolador tem
um comportamento não simétrico. É notável que a unidade
menos estressada é a aleta 9 e a mais a aleta 25. Também
é oportuno mencionar que as aletas conjugadas dividem o
potencial elétrico de forma simétrica.
Fig. 12. Tensões obtidas nas aletas do circuito da Figura 10 (aleta 1 a 6). Fig. 14. Variação de tensão em todas aletas (curto 24 e 25).
Da mesma forma como ocorreu para caso da descarga corpo único. Entretanto, esse pode ser modelado eletricamente
parcial na aleta 25, verifica-se uma redistribuição da tensão da mesma forma que um isolador convencional (vidro ou
entre as aletas fora do setor de descarga parcial, visivelmente cerâmico), ou seja, o isolador polimérico pode ser considerado
cada aleta é um pouco mais estressada. como um conjunto de unidades isolantes em série, visto que
3) Curto nas Aletas 25, 24 e 23: Da mesma forma, como as simulações realizadas retratam que o comportamento da
nos casos anteriores, analisando a variação de tensão para essa distribuição de potencial produz resultados equivalentes.
condição de curto, ou seja, curto-circuitando as aletas 23, 24 A partir deste trabalho, pode-se verificar que o desenvolvi-
e 25, tem-se a variação de tensão nas aletas, como mostra a mento de uma técnica de diagnóstico a partir da análise da
figura 15. variação da tensão ao longo da cadeia de isoladores é promis-
sor. Tal indicativo representa que variações significativas das
tensões nas aletas devem ser interpretadas como danos que
estão progressivamente ocorrendo na unidade isolante.
A ocorrência de descargas parciais, representada por curtos
circuitos, nos sistemas isolantes dos equipamentos de alta
tensão é um sintoma de sua fragilidade na suportabilidade
dielétrica. Em caso de deterioração do material ser contı́nua
poderá provocar danos severos ao isolamento, modificando
suas propriedades dielétricas e, consequentemente, ao sistema
elétrico interligado a ele. Assim, dependendo da intensidade
das descargas parciais, a vida útil do material poderá ser
reduzida drasticamente. Inclusive, um dos objetivos a que
Fig. 15. Variação de tensão em todas aletas (curto 23 ,24 e 25).
se propõe a medição dessas descargas é o de contribuir na
determinação da relação entre as suas grandezas e a expecta-
Nesse caso, a descarga parcial espraia-se nas aletas 25,
tiva de vida útil do dielétrico e, se possı́vel, definir a duração
24 e 23. Verifica-se um acréscimo de 3550 V na aleta 23,
mı́nima dos equipamentos antes que seja necessária alguma
crescimento de 71% de tensão.
intervenção [8].
Com o intuito de resumir o comportamento dinâmico do
potencial elétrico ao longo da cadeia do isolador polimérico R EFER ÊNCIAS
para as condições simuladas, curto na aleta 25, curto nas aletas [1] QUEIRÓS, J. P. M, Análise comparativa do comportamento dielétrico
25 e 24, curto nas aletas 25, 24 e 23. A tabela V mostra os dos isoladores compósitos com isoladores em materiais convencionais.
registros dessas três diferentes situações. 2013. 136 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de
Computadores) – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,
Porto.
Tabela V [2] MENDONÇA, P. L. Diagnóstico de falhas elétricas e mecânicas em
VARIAÇ ÃO DE TENS ÃO NAS ALETAS EM VOLT (V) isoladores compósitos de classe de tensão de 69 kV através de radio-
grafia computadorizada. 2013. 96 f. Dissertação (Mestrado em Materiais
Análise Setor do curto e Fabricação) – CTG, Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
da Aleta Aleta 25 Aletas 25, 24 Aletas 25, 24 e 23 [3] Ferreira, V. A. L. Adequação de modelo elétrico de cadeias de isola-
dores polimérico a partir de modelos aplicados a isoladores cerâmicos.
Ale1 24 60 100
Trabalho de conclusão de curso em engenharia elétrica. UFPE. 2017.
Ale2 28 77 121 [4] BEZERRA, J. M. B. et al. Avaliação de sensor de ultra-som como
Ale3 29 75 115 técnica preditiva na manutenção de subestações e linhas de transmissão
Ale4 37 93 150 e distribuição. Revista Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel, Brası́lia,
... ... ... ... p. 107–109, 2009.
Ale21 620 1510 2410 [5] ZHAO, T.; COMBER, M. G. Calculation of electric field and potential
Ale22 900 2180 3520 distribution along nonceramic insulators considering the effects of con-
Ale23 910 2200 - ductors and transmission towers. IEEE Transactions on Power Delivery,
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[6] PENA, A. R.; WU, C.; CHENG, T. Analysis of a high voltage active
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V. C ONCLUS ÃO [7] PROJECT-EHV. EHV Transmission Line Reference Book. Nova Iorque,
NY, EUA.: [s.n.], 1968.
Diferente do isolador de vidro composto por várias uni- [8] KAWAKATSU, W. M. .Descargas parciais em barras estatóricas de
dades isolantes, o isolador polimérico é fabricado como um hidrogeradores: modelagem por guia de onda e análise de um acoplador.
Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal do Pará, 2009.