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Civilização Tupi-Guarani/Sociedade

Os Índios do tronco tupi moravam em grandes cabanas comunitárias feitas de troncos e


folhas de palmeira. Dentro de cada cabana, chamada oka, moravam várias famílias, sem
que houvesse divisórias entre as famílias. Cada família possuía seu próprio fogo e
diversas redes de dormir confeccionadas com fibras vegetais, cipós e algodão. No centro
da cabana, morava o chefe da cabana.

Índios apiacás em Mato Grosso, no Brasil

As cabanas eram montadas em sistema de mutirão (palavra que se originou do tupi


moti'rõ, que significava um trabalho em conjunto visando a ajudar uma pessoa. Em
troca, essa pessoa retribuía com a realização de uma festa coletiva[5]) e eram dispostas
ao redor de uma praça central chamada okara. O conjunto das cabanas ao redor de uma
praça constituía uma aldeia, chamada de taba. Várias aldeias formavam uma nação.

Os tupis se dividiam em várias nações, que guerreavam constantemente entre si ou


contra tribos não tupis, os chamados tapuia ("estrangeiros" ou "inimigos" em tupi).
Mesmo dentro de uma mesma nação, no entanto, eram comuns as desavenças e
conflitos militares. Exemplos de nações tupis são os tamoios (um ramo dos
tupinambás), os tupinambás, os potiguares, os guaranis (subdivididos atualmente em
caiouás, nhandevas e embiás), os carijós (antiga designação para os guaranis que
habitavam o litoral. Atualmente, chamados mbyás ou embiás), os temiminós, os
tupiniquins, os tabajaras, os caetés, os avá-canoeiros, os maués, os apiacás, os
camaiurás, os xetás, os guajajaras, os parintintins, os jurunas, os cinta-largas, os
mundurucus, os assurinis, entre outros.

Nas guerras, as principais armas utilizadas eram o arco e flecha e o porrete (a


ibirapema, também chamada taca'pe[6] ou tangapema), confeccionada com madeira de
pau-ferro[7] (Caesalpinia ferrea), moldada no formato de um remo com bordas
cortantes, ornamentada com pinturas, penas e borlas de algodão e que era utilizada para
partir o crânio dos inimigos com um só golpe. Também era ocasionalmente utilizado
um escudo feito de pele de anta (Tapirus terrestris) ou de casca de árvore[8]. Nos
frequentes ataques a outras tribos, enfeitavam-se com penas vermelhas, como forma de
se distinguirem da tribo atacada[9].

Não se tem registro de que os tupis da costa brasileira tivessem desenvolvido alguma
técnica de luta sem armas. Porém os atuais índios camaiurás, que habitam o Parque do
Xingu, no estado brasileiro do Mato Grosso, praticam uma luta chamada huka-huka em
suas festas, luta esta que é semelhante à luta livre olímpica, ao judô, ao sumô e ao jiu-
jítsu. A luta tem por objetivo encostar as costas do adversário no chão e é uma
demonstração da virilidade dos lutadores. A luta também serve como um elemento de
confraternização entre as demais tribos do Parque do Xingu que também a praticam. O
nome da luta é uma referência aos gritos dos lutadores no início da luta ("ru, ra, ru, ra"),
que procuram imitar o urro da onça-pintada[10].

Em tempos de guerra ou de calamidade, os índios obedeciam a um chefe: o


morubixaba, também chamado tuixaua. Porém, em tempos de paz, quem tinha maior
autoridade era o pajé (Em tupi, paîé. O acento circunflexo determina uma vogal átona.),
líder espiritual que comandava as festividades do dia a dia, curava os doentes com ervas
e rituais sagrados e orientava as pessoas. O pajé também podia ser chamado de karai.

Representação de chefes tupis no livro "História Verdadeira e Descrição de uma Terra


de Selvagens...", de Hans Staden, de 1557. O da esquerda carrega o típico porrete tupi
adornado para a guerra, o ibirapema (literalmente, "madeira angulosa"). O da direita
segura arco e flechas[11].

Os tupis plantavam milho (abati[12]), mandioca (mãdi'og)[13], batata-doce, cará


(ka'rá)[14], abóbora, algodão, amendoim (mãdu'bi, mãdu'i[15]), pimenta, feijão
(komandá[16]) e tabaco (petyma[17]). Utilizavam o sistema da coivara, ou queimada, para
preparar o terreno para o plantio. Após diversas queimadas e plantios consecutivos, o
solo ficava empobrecido, obrigando a tribo a se deslocar em busca de terrenos mais
férteis. Isto explica, em parte, o seminomadismo dos tupis.

Plantação de amendoim

Outra explicação para o seu seminomadismo seria o mito tupi da "terra sem males",
difundido pelos pajés, segundo os quais existiria um paraíso terrestre, um lar ancestral,
que seria um dia alcançado pelos índios em sua peregrinação através da América do Sul.
Devido a suas constantes migrações através da América do Sul, os índios tupis foram
chamados pelos estudiosos de "os fenícios da América", numa analogia com o famoso
povo comerciante da Ásia Ocidental da antiguidade[18].

Os tupis complementavam sua dieta com caça, pesca e coleta de frutos e raízes. Da
mesma forma que a agricultura, estas atividades, com o tempo, esgotavam os recursos
de uma área, obrigando a tribo a migrar para novas áreas. Os únicos animais de corte
que os índios tupis conseguiram domesticar foram os patos-do-mato (Cairina
moschata)[19]. Os índios carijós, que habitavam o litoral brasileiro entre Cananeia e a
lagoa dos Patos, também eram chamados de "índios patos" pelos europeus, por
conservarem grande quantidade de aves em suas aldeias.[20]

Cajueiro com frutos. "Caju" vem do tupi aka´yu.[21]

Gravura de 1558 de André Thevet retratando índios tamoios colhendo caju


Pato-do-mato (Cairina moschata)

As mulheres encarregavam-se de coletar frutas, preparar utensílios domésticos e cuidar


das plantações e dos filhos, enquanto que os homens caçavam, pescavam, limpavam o
terreno para o plantio e protegiam a tribo. Os tupis não usavam roupas. Limitavam-se a
pintar o corpo com tinta vermelha de urucum e preta de jenipapo, tanto para adorno
quanto para proteção contra o sol e os insetos. Utilizavam-se de adornos feitos de penas,
conchas, ossos e fibras vegetais, como cocares, capuzes, ligas para os braços e as
pernas, colares, pingentes que eram enfiados nos lábios e nas orelhas e capas.
Tradicionalmente, os índios tupis se preocupam com o corte de cabelo, pois ele
identifica a tribo à qual pertence o indivíduo.

A base da alimentação era a farinha de mandioca, que era preparada a partir da ralação
das raízes de mandioca com o auxílio de língua de pirarucu (Arapaima gigas) ou de um
pedaço de madeira com pedras pontiagudas incrustradas. Antes de ralada, a raiz de
mandioca era deixada de molho durante três dias em um rio, para soltar a casca e
fermentar. A mandioca ralada era então espremida em um trançado de palha chamado
tipiti (do tupi tipi, "espremer" e ti, "água") para remover todo o líquido. Do líquido
esbranquiçado, era extraído o polvilho, ou seja, o amido da mandioca, através do
processo de decantação[22]. Já a massa seca era torrada, resultando na farinha de
mandioca.

Um costume disseminado amplamente entre as tribos tupis (e entre todos os demais


povos da América pré-colombiana) era o canibalismo, que consistia no sacrifício ritual
de um prisioneiro de uma tribo inimiga, seguido do consumo de sua carne por todos os
membros da tribo (exceto pelo carrasco, que se retirava para uma rede e ficava em
recolhimento ritual por um certo período). A carne que não era imediatamente
consumida era defumada ("moqueada") na grelha e guardada para consumo posterior. O
canibalismo era movido por três objetivos: primeiro, a vingança contra os inimigos da
tribo[23]; segundo, adquirir as qualidades positivas do inimigo ingerido, pois os tupis
acreditavam que adquiriam as qualidades do indivíduo ingerido. Por este motivo, os
tupis evitavam ingerir a carne de animais lentos, como a preguiça e procuravam ingerir
a carne de animais velozes, como o veado. Em terceiro, o matador ganhava fama e
reputação: quanto mais se matassem inimigos, mais se era respeitado dentro da
comunidade[24]. Especula-se, também, se a ausência de criação de animais de corte
(excetuando-se os patos-do-mato, que já haviam sido domesticados) na cultura
tradicional dos povos tupis possa ter contribuído para o canibalismo, dada a dificuldade
relativa de se obter fontes animais de proteína através da caça e da pesca.
Os tupis tinham um grande conhecimento das propriedades das plantas. Usavam, por
exemplo, o tabaco (Nicotiana tabacum) em suas cerimônias religiosas, através de
cigarros primitivos feitos com folhas de palmeiras, charutos, cachimbos, rapé ou
mascando suas folhas. Era através do fumo que os pajés conseguiam se contactar com o
mundo espiritual, os deuses, os mortos e fazer previsões sobre o futuro. Fabricavam
também uma bebida inebriante a partir das raízes da jurema (Mimosa hostilis), o
chamada "vinho de jurema". Usavam sementes de urucum (Bixa orellana) e jenipapo
(Jenipa americana) para produzir tinta vermelha e preta, respectivamente, para pintar a
pele. Conheciam também ervas de efeitos estimulantes, como a erva-mate (Ilex
paraguariensis) utilizada pelos índios guaranis e o guaraná (Paulinia cupana) utilizado
pelos índios maués. E ainda o timbó, designação genérica de várias espécies de plantas
com propriedades sedativas que eram utilizadas para pesca. Os índios guaranis utilizam,
até hoje, os efeitos alucinógenos da casca do mulungu (Erythrina uerna), que os leva a
outras dimensões espirituais[25].

Desde antes da chegada dos europeus, os tupis já possuíam conhecimentos rudimentares


de astronomia, sendo capazes de identificar vários corpos celestes, relacionando-os a
figuras mitológicas e a ocorrências meteorológicas, da agricultura e da natureza, como
chuvas, época de plantio, colheita e época de pesca[26].

A música tinha um papel muito importante em suas cerimônias religiosas. Usavam


instrumentos de sopro (feitos muitas vezes de ossos humanos) e chocalhos feitos de
cabaça oca com sementes secas em seu interior. Esses chocalhos eram chamados de
maracás e tinham um importante papel religioso. Segundo o mercenário alemão Hans
Staden, os tupis adoravam os maracás como se eles fossem deuses[27].

Cerâmica guarani

Para guardar os alimentos, utilizavam-se de cabaças e cestas de origem vegetal e de


cerâmicas. Consumiam uma bebida fermentada à base de mandioca, milho e frutas
chamada kaûim. Para o seu preparo, as mulheres coziam e mastigavam os ingredientes,
o que auxiliava no seu processo de fermentação. Os índios produziam grandes
quantidades dessa bebida, a qual era consumida principalmente nas festas, durante as
quais os índios se embriagavam com a bebida[28].

Vários mitos explicavam a origem das coisas[29]. Um mito muito difundido era o de
Sumé, Tumé ou Maíra, homem branco barbado que caminhava sobre as águas, deixava
rastros na pedra e que teria ensinado muitas coisas aos índios. Os jesuítas identificaram
esse mito como sendo São Tomé. O nome Maíra foi utilizado pelos povos de língua
tupi para denominar os franceses, pois eles acreditaram que os franceses eram
semelhantes ao Maíra mitológico. Este mito de um "herói civilizador", que teria
passado conhecimentos fundamentais aos índios, é comum entre praticamente todas as
culturas indígenas. Entre os guaranis, o nome desse herói civilizador é Nhanderequeí[30]
e, entre os mundurucus, seu nome é Karú-Sakaibê[31].
Também conheciam os mitos de Jurupari (literalmente, o "boca torta": îuru, boca +
apar, torta.[32] Era o culto mais difundido entre os índios sul-americanos. Jurupari era
um legislador, que difundia a disciplina e vigor entre os índios, proibindo, por exemplo,
o adultério. Filho do sol, era um culto exclusivamente masculino. Veio a ser combatido
pelos padres católicos, que passaram a associá-lo à figura do diabo cristão),[33] Tupã (o
trovão. Um deus sem muita importância entre os tupis, o nome Tupã foi,
posteriormente, utilizado pelos padres jesuítas para se referir ao Deus cristão),[33] Rudá
(o amor), Kûarasy (o sol), Îasy (a lua), Îara (a mulher que atraía os homens para o
fundo dos rios), Curupira (menino com os pés voltados para trás que protegia as matas
contra os caçadores, montado em um porco-do-mato. Também chamado de caipora,
caapora ou caiçara.), Boitatá (a cobra de fogo. Provavelmente, um mito baseado no
fenômeno natural do fogo fátuo, que é a combustão espontânea de metano em
pântanos.), Muiraquitã (amuleto de pedra dado por uma tribo composta exclusivamente
por mulheres aos homens que tinham relações sexuais com elas), Nhanderu (o criador
do mundo. Traduzido literalmente do guarani, significa nosso pai.)[34], Tamandaré
(homem que teria sobrevivido a um dilúvio subindo no topo de uma grande palmeira)[35]
etc. Os povos tupis eram conhecidos entre os índios pela seu grande grau de
misticismo[36].

Originalmente, os tupis praticavam a poligamia. Quanto mais mulheres tivesse um


homem, maior era seu status dentro da tribo. Com a chegada dos missionários jesuítas,
no entanto, este costume foi combatido e substituído pela monogamia. Assim como o
costume de andarem nus, que foi sendo deixado de lado não só pela ação dos jesuítas,
mas pela influência da cultura europeia.

Os tupis costumavam capturar filhotes de animais selvagens como papagaios, araras,


pacas, macacos e várias espécies de pássaros para transformá-los em animais de
estimação ou para retirar suas penas, que eram usadas para ornamentação[37].

Os guaranis possuíam um sistema primitivo de correio, o parejhara (equivalente ao


termo tupi antigo paresar, "convidar para festa"),[38] que consistia na troca de
informações e produtos entre os viajantes que chegavam às aldeias e os moradores das
aldeias. Este sistema ajudava na manutenção da coesão cultural dos guaranis, dispersos
pela América do Sul. Este correio se utilizava também de um antigo caminho gramado,
o Peabiru, que ligava o litoral brasileiro à Cordilheira dos Andes através dos atuais
territórios do estado brasileiro do Paraná, do Paraguai e da Bolívia. O Peabiru era muito
utilizado pelos tupis e guaranis para manter contato com o império inca, que era
reverenciado como uma civilização superior, capaz de ensinar muitas coisas, como, por
exemplo, técnicas de construção civil e variedades de milho. Pesquisadores sugerem
que este correio seja uma demonstração da influência cultural inca, pois os antigos incas
se notabilizaram por possuir um eficiente sistema de mensageiros corredores que
percorriam todo o império inca, ajudando na sua administração.

Existe mesmo a hipótese de que o Peabiru tenha sido uma criação inca, visando à
ampliação do império Inca até o oceano Atlântico, projeto este que teria sido
posteriormente abandonado. Os próprios tupis e guaranis creditam a construção do
Peabiru ao ancestral civilizador Sumé. Como prova do intenso intercâmbio entre os
tupis do litoral brasileiro e os incas, existem pelo menos dois registros históricos
interessantes: um deles se refere a um machado de bronze que foi observado pelos
navegadores portugueses em poder dos tupis, machado este que deveria ser proveniente
dos incas ou de navegadores europeus, pois os tupis não conheciam a metalurgia. O
outro registro é sobre a presença do vocábulo tupi pindá ("anzol") sendo utilizado pelos
incas. Este vocábulo, que foi criado pelos tupis para nomear os anzóis que eles
obtiveram dos navegadores portugueses, teria percorrido o Peabiru até chegar ao
território inca[39].

Para marcar a passagem dos anos, os tupis tomavam, como base, a frutificação dos
cajueiros, que se dá nos meses de dezembro e janeiro. Em cada safra de caju, guardava-
se uma castanha de caju em um pote. A contagem das castanhas dentro do pote indicava
a idade dos indivíduos. O período da safra de caju também marcava as chamadas
"guerras do caju", quando tribos tapuias do interior atacavam os cajuais tupis do litoral,
disputando a posse da fruta.

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