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Não se tem registro de que os tupis da costa brasileira tivessem desenvolvido alguma
técnica de luta sem armas. Porém os atuais índios camaiurás, que habitam o Parque do
Xingu, no estado brasileiro do Mato Grosso, praticam uma luta chamada huka-huka em
suas festas, luta esta que é semelhante à luta livre olímpica, ao judô, ao sumô e ao jiu-
jítsu. A luta tem por objetivo encostar as costas do adversário no chão e é uma
demonstração da virilidade dos lutadores. A luta também serve como um elemento de
confraternização entre as demais tribos do Parque do Xingu que também a praticam. O
nome da luta é uma referência aos gritos dos lutadores no início da luta ("ru, ra, ru, ra"),
que procuram imitar o urro da onça-pintada[10].
Plantação de amendoim
Outra explicação para o seu seminomadismo seria o mito tupi da "terra sem males",
difundido pelos pajés, segundo os quais existiria um paraíso terrestre, um lar ancestral,
que seria um dia alcançado pelos índios em sua peregrinação através da América do Sul.
Devido a suas constantes migrações através da América do Sul, os índios tupis foram
chamados pelos estudiosos de "os fenícios da América", numa analogia com o famoso
povo comerciante da Ásia Ocidental da antiguidade[18].
Os tupis complementavam sua dieta com caça, pesca e coleta de frutos e raízes. Da
mesma forma que a agricultura, estas atividades, com o tempo, esgotavam os recursos
de uma área, obrigando a tribo a migrar para novas áreas. Os únicos animais de corte
que os índios tupis conseguiram domesticar foram os patos-do-mato (Cairina
moschata)[19]. Os índios carijós, que habitavam o litoral brasileiro entre Cananeia e a
lagoa dos Patos, também eram chamados de "índios patos" pelos europeus, por
conservarem grande quantidade de aves em suas aldeias.[20]
A base da alimentação era a farinha de mandioca, que era preparada a partir da ralação
das raízes de mandioca com o auxílio de língua de pirarucu (Arapaima gigas) ou de um
pedaço de madeira com pedras pontiagudas incrustradas. Antes de ralada, a raiz de
mandioca era deixada de molho durante três dias em um rio, para soltar a casca e
fermentar. A mandioca ralada era então espremida em um trançado de palha chamado
tipiti (do tupi tipi, "espremer" e ti, "água") para remover todo o líquido. Do líquido
esbranquiçado, era extraído o polvilho, ou seja, o amido da mandioca, através do
processo de decantação[22]. Já a massa seca era torrada, resultando na farinha de
mandioca.
Cerâmica guarani
Vários mitos explicavam a origem das coisas[29]. Um mito muito difundido era o de
Sumé, Tumé ou Maíra, homem branco barbado que caminhava sobre as águas, deixava
rastros na pedra e que teria ensinado muitas coisas aos índios. Os jesuítas identificaram
esse mito como sendo São Tomé. O nome Maíra foi utilizado pelos povos de língua
tupi para denominar os franceses, pois eles acreditaram que os franceses eram
semelhantes ao Maíra mitológico. Este mito de um "herói civilizador", que teria
passado conhecimentos fundamentais aos índios, é comum entre praticamente todas as
culturas indígenas. Entre os guaranis, o nome desse herói civilizador é Nhanderequeí[30]
e, entre os mundurucus, seu nome é Karú-Sakaibê[31].
Também conheciam os mitos de Jurupari (literalmente, o "boca torta": îuru, boca +
apar, torta.[32] Era o culto mais difundido entre os índios sul-americanos. Jurupari era
um legislador, que difundia a disciplina e vigor entre os índios, proibindo, por exemplo,
o adultério. Filho do sol, era um culto exclusivamente masculino. Veio a ser combatido
pelos padres católicos, que passaram a associá-lo à figura do diabo cristão),[33] Tupã (o
trovão. Um deus sem muita importância entre os tupis, o nome Tupã foi,
posteriormente, utilizado pelos padres jesuítas para se referir ao Deus cristão),[33] Rudá
(o amor), Kûarasy (o sol), Îasy (a lua), Îara (a mulher que atraía os homens para o
fundo dos rios), Curupira (menino com os pés voltados para trás que protegia as matas
contra os caçadores, montado em um porco-do-mato. Também chamado de caipora,
caapora ou caiçara.), Boitatá (a cobra de fogo. Provavelmente, um mito baseado no
fenômeno natural do fogo fátuo, que é a combustão espontânea de metano em
pântanos.), Muiraquitã (amuleto de pedra dado por uma tribo composta exclusivamente
por mulheres aos homens que tinham relações sexuais com elas), Nhanderu (o criador
do mundo. Traduzido literalmente do guarani, significa nosso pai.)[34], Tamandaré
(homem que teria sobrevivido a um dilúvio subindo no topo de uma grande palmeira)[35]
etc. Os povos tupis eram conhecidos entre os índios pela seu grande grau de
misticismo[36].
Existe mesmo a hipótese de que o Peabiru tenha sido uma criação inca, visando à
ampliação do império Inca até o oceano Atlântico, projeto este que teria sido
posteriormente abandonado. Os próprios tupis e guaranis creditam a construção do
Peabiru ao ancestral civilizador Sumé. Como prova do intenso intercâmbio entre os
tupis do litoral brasileiro e os incas, existem pelo menos dois registros históricos
interessantes: um deles se refere a um machado de bronze que foi observado pelos
navegadores portugueses em poder dos tupis, machado este que deveria ser proveniente
dos incas ou de navegadores europeus, pois os tupis não conheciam a metalurgia. O
outro registro é sobre a presença do vocábulo tupi pindá ("anzol") sendo utilizado pelos
incas. Este vocábulo, que foi criado pelos tupis para nomear os anzóis que eles
obtiveram dos navegadores portugueses, teria percorrido o Peabiru até chegar ao
território inca[39].
Para marcar a passagem dos anos, os tupis tomavam, como base, a frutificação dos
cajueiros, que se dá nos meses de dezembro e janeiro. Em cada safra de caju, guardava-
se uma castanha de caju em um pote. A contagem das castanhas dentro do pote indicava
a idade dos indivíduos. O período da safra de caju também marcava as chamadas
"guerras do caju", quando tribos tapuias do interior atacavam os cajuais tupis do litoral,
disputando a posse da fruta.