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Tema 06
Gênero e Identidades
Tema 06
Gênero e Identidades
seções
Como citar este material:
SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e Sociedade:
Gênero e Identidades. Caderno de Atividades.
Valinhos: Anhanguera Educacional, 2017.
S e ç õ e s
CONTEÚDOSEHABILIDADES
LEITURAOBRIGATÓRIA
AGORAÉASUAVEZ
LINKSIMPORTANTES GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS
FINALIZANDO GABARITO
Tema 06
Gênero e Identidades
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CONTEÚDOSEHABILIDADES
Prezado aluno, neste caderno abordaremos questões relacionadas aos estudos de gênero.
Como você deve ter observado, ao longo da apresentação de cada temática cara ao estudo
da relação entre família e sociedade, também acompanhamos diferentes contextos sociais
e históricos em que os autores e as obras estudados se inserem e também acompanhamos
o diálogo que estabelecem entre si e com autores de outras áreas de conhecimento.
Com este curso, buscamos fornecer arcabouços teóricos das ciências sociais a partir dos
quais você possa fazer suas próprias questões para situações e discursos que envolvem
família e sociedade. Também buscamos que você desenvolva capacidades necessárias
a um estudante, reconhecendo que teorias e autores dialogam com seu tempo e com
os campos de conhecimento de onde falam e investigando por si próprio as informações
relacionadas aos contextos em que autores e teorias se inserem. O desenvolvimento dessa
capacidade de contextualizar discursos será fundamental para compreensão do que são
os estudos de gênero e do impacto que tais estudos tiveram para a forma como podemos
pensar família e sociedade.
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CONTEÚDOSEHABILIDADES
Nosso objetivo, ao apresentar a temática de gênero, é que você possa refletir a família a
partir do olhar desses autores e dessas teorias. Além disso, quando falamos em identidades
de gênero, impreterivelmente estamos trazendo diferentes contribuições para pensar as
relações sociais na sociedade contemporânea. Atente para esses pontos ao longo dos
estudos propostos por este caderno.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Gênero e identidades
Convite à leitura
Convidamos você para pensar em gênero a partir de conceitos das ciências sociais, neste
curso, porque consideramos que as teorias de gênero e as questões de gênero trazem
contribuições fundamentais para pensar a família na sociedade contemporânea.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Por fim, trabalharemos gênero e educação a partir do que apresentamos neste caderno
e a partir do que vimos em outras aulas, em que discutimos educação e processos de
socialização. Aprendemos a sermos seres sociais, aprendemos as regras a partir das quais
agiremos e viveremos em sociedade. Como aprendemos papéis de gênero? Como esse
aprendizado é feito na educação escolar? Trabalharemos, nessa última parte do curso,
questões como essas.
Antes de tudo, você sabe o que é gênero? Há muita confusão e polêmica em torno do
termo “gênero”. Confusão semelhante encontramos quando falamos em classes sociais.
São temáticas que tocam em questões sociais delicadas e que envolvem assimetrias,
relações de poder, violências e, talvez por isso, sejam difíceis de serem trabalhadas no
cotidiano de nossas conversas. No entanto, você aprendeu nesse curso que é preciso
separar os sentidos acadêmicos que as palavras assumem dos sentidos dados a elas
pelo senso comum quando queremos analisar fatos e situações com olhares das ciências
sociais. Quando trabalhamos com conceitos como o de classe social ou o de gênero, o
correto é irmos até dicionários da área de conhecimento em que estão sendo utilizados
para compreender o que significam nas obras em que os encontramos. Portanto, para
aprender o olhar sociológico, antropológico, político ou filosófico que embasa o uso da
palavra “gênero” nas obras dos autores que estamos estudando, é preciso ir até elas e não
em dicionários de línguas.
Apesar de não devermos definir um conceito acadêmico pelo sentido comum de uma palavra,
comecemos a pensar em gênero a partir da língua. Sim, as línguas e linguagens também
podem ser observadas a partir de nossos óculos sociológicos, políticos e antropológicos.
Ao estudar língua portuguesa, você deve ter entrado em contato com palavras que são do
gênero feminino e do gênero masculino. Seu professor ou professora do ensino básico deve
ter lhe ensinado que, mesmo quando temos dúvidas sobre o gênero da palavra, podemos
tirá-la colocando um artigo feminino ou um artigo masculino que o explicita. Mas, você sabia
que há línguas em que temos, além do gênero masculino e do gênero feminino, outros
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LEITURAOBRIGATÓRIA
gêneros possíveis? A própria língua latina, da qual a língua portuguesa é derivada, tinha o
gênero “neutro”, associado a seres inanimados.
A língua, como bem notaram os antropólogos do começo do século XX, é um bom objeto
para estudo de uma sociedade ou de uma cultura. E, como bem observaram os autores da
segunda metade do século XX, a língua nos evidencia as assimetrias e formas de dominação
que podemos encontrar em diferentes sociedades. Não é por acaso que os estudos sobre
gênero recorram ao estruturalismo para discutirem criticamente a forma como imediatamente
relacionamos a ideia de masculino e feminino à dicotomia biológica entre os sexos (macho e
fêmea). Mas, além deles, uma das principais contribuições para a constituição dos estudos
de gênero como um campo acadêmico que perpassa trabalhos sociológicos, políticos,
antropológicos e filosóficos, tivemos as contribuições das autoras feministas.
Os estudos sobre a relação entre gênero e sociedade devem muito aos trabalhos de
historiadoras, filósofas, artistas e autoras feministas, que foram as primeiras a questionar
os papéis destinados às mulheres na sociedade de classes, na sociedade do trabalho,
na sociedade da ciência. Do mesmo modo como trabalhamos em aulas anteriores ao
apresentarmos o contexto de formação do pensamento antropológico, sociológico e político,
quando falamos em estudos de gênero também é importante citar o arcabouço teórico com o
qual essas autoras estão dialogando, já que conceitos e teorias conversam com sua época.
O feminismo enquanto movimento político, do mesmo modo que o marxismo não pode
ser confundido com a obra de Marx, não pode ser confundido com os estudos feministas
sobre a sociedade, a cultura, a sexualidade e os gêneros. Apesar dos movimentos sociais
e políticos conversarem com o universo acadêmico e fornecerem dados e objetos para a
análise da vida social, é necessário compreender essa diferença, sobretudo quando falamos
em estudos de gênero. Há uma concordância entre o incômodo que está por trás daquela
que chamamos de primeira onda feminista e o incômodo que está por trás das críticas
feministas aos autores que inspiraram as primeiras críticas feministas: as assimetrias entre
homens e mulheres na sociedade.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Não é por acaso que os primeiros textos que criticam o lugar da mulher na vida social
coincidam com movimentos políticos e sociais como o das sufragistas, que lutavam pelo
direito de voto das mulheres em diferentes localidades do mundo, como Nova Zelândia,
EUA, Portugal, Reino Unido.
Mas, afinal, qual a relação entre esse contexto e os estudos de gênero? As primeiras críticas
feministas abrem espaço para uma discussão importante sobre o papel da mulher em uma
sociedade cujo poder político estava na mão dos homens. Uma leitura histórica da dominação,
como a que foi feita pelas sufragistas, carregava consigo duas ideias muito importantes:
1) A sociedade se funda não somente na divisão social do trabalho, mas em uma divisão
sexual do trabalho. Homens tomam para si o poder de decidir sobre política, economia,
moral, enquanto às mulheres é destinado o trabalho de criação e educação dos filhos e o
trabalho doméstico.
A ideia de que, historicamente, às mulheres foi destinada a vida doméstica e aos homens
foi destinada a vida política embasava tanto o nascente movimento político organizado por
mulheres que demandavam direito ao voto, quanto o argumento acadêmico que criticava
a ideia de que os papéis destinados a homens e mulheres estavam ligados à sua natureza
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LEITURAOBRIGATÓRIA
diferente. Mulheres e crianças serviram como mão de obra no campo e nas fábricas ao
longo da história, portanto, o argumento de que a vida doméstica lhes seria preferencial
por sua natureza frágil, por exemplo, não se sustentava. As primeiras críticas acadêmicas
ao patriarcado viriam pela crítica à exploração do trabalho doméstico e à desigualdade
dos direitos públicos e privados de homens e mulheres no final do XIX e começo do XX.
No Brasil, por exemplo, mulheres não podiam ter bens em seus nomes até a reforma do
primeiro código civil.
O incômodo sobre a assimetria entre os sexos que orienta a reflexão de autoras como
Simone de Beauvoir (1908-1986), nesse segundo momento, é a ideia de que o único
papel das mulheres na vida social, no casamento, na vida doméstica, é a reprodução e a
educação dos filhos. A mulher seria esse ser frágil cujas ações no mundo estariam voltadas
única e exclusivamente para a busca de um parceiro sexual e romântico, no imaginário que,
segundo essas autoras, domina o conhecimento médico no XIX e no XX.
Um dos principais livros de Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo (1949), se inicia com uma
longa análise com argumentos que desconstroem os pontos de vista biológico, psicanalítico
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LEITURAOBRIGATÓRIA
e marxista no que se refere à inferioridade biológica, psíquica, histórica da mulher em
relação ao homem. A famosa frase “não se nasce mulher, torna-se mulher” presente no
referido livro é uma expressão da mudança de perspectiva trazida pelas contribuições
da época para pensar gêneros. Na natureza, encontramos espécies que se reproduzem
assexuadamente, espécies que mudam de sexo ao longo da vida, espécies hermafroditas
e inclusive encontramos espécies que não usam o ato sexual só para reprodução. Para a
autora, o argumento de que mulheres são meros instrumentos para reprodução da espécie
não se sustenta. Para autoras e autores da antropologia que se dedicaram ao estudo de
diferentes povos e culturas, essa ideia também não se sustenta.
Comportamentos e ideias sobre o que é ser homem e o que é ser mulher são aprendidos no
seio de uma sociedade e de uma cultura. E essa é uma das principais contribuições para os
estudos de gênero porque, até então, mulher e homem soavam como sinônimos de macho
e fêmea. As questões sobre sexualidade e orientação sexual passam a fazer parte das
discussões acadêmicas e isso abre espaço para uma análise da história da construção dos
discursos que sustentam a relação direta que fazemos entre sexo biológico e as categorias
de gênero “mulher” e “homem”. Autores e autoras começam a se questionar sobre o porquê
de nossa sociedade fazer tal identificação entre homem/macho ou mulher/fêmea. A ciência,
o discurso médico e o biológico passam a ser objeto, nesse momento, da história, da filosofia
e das ciências sociais.
Uma das contribuições pioneiras, nesse campo, é a do filósofo e historiador da ciência francês
Michel Foucault (1926-1984). Foucault trabalha com um método de análise da sociedade da
ciência e do trabalho diferente dos que foram utilizados pelos autores acompanhados nesse
curso até então. Para o autor, quando nos propomos a compreender a modernidade e suas
formas de sociabilidade, é necessário investigar a gênese de discursos e de instituições.
Foucault estabelece um olhar bastante crítico à ideia de que a sociedade contemporânea
compartilha formas mais humanizadas, menos “bárbaras” de organização política, social,
cultural. O autor é um grande crítico das instituições modernas e das formas de poder
subjacentes a elas. Sua principal contribuição para os estudos de gênero está nos três
tomos que compõem sua reconhecida obra História da sexualidade.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
normais, vemos uma valorização da heterossexualidade e da família como essa unidade
voltada para a reprodução. A identificação entre caracteres sexuais e gênero também é
um fato histórico, como analisa o autor. Algo comum aos manuais médicos amplamente
estudados pelo autor, é uma intensa preocupação com a definição da anatomia corporal
normal e anormal. Nessa definição também entram os órgãos sexuais. Hoje sabemos que
parte da população nasce intersexual, segundo os manuais médicos. A preocupação com o
sexo do bebê é um exemplo de como sua identidade está relacionada com sua sexualidade.
Que pontos metodológicos e teóricos importantes esses exemplos trazem para os estudos
sociológicos, políticos, antropológicos de gênero contemporâneos? Primeiramente, que
historicamente foi se construindo um discurso em que os sujeitos se identificam pelos
seus caracteres sexuais. Segundo, que a definição da normalidade ou da anormalidade
dos corpos femininos e masculinos é histórica. Terceiro, que há uma quantidade grande
de variantes físicas, fisiológicas, genéticas que não se encaixam no que é considerado
normal ao masculino e ao feminino. Tais variantes foram marginalizadas, bem como foram
marginalizados os sujeitos que não se identificam com os gêneros mulher ou homem, seja
pelo seu corpo, seja pela sua orientação sexual. Para Foucault, a repressão das sexualidades
anormais e dos gêneros considerados anormais, o controle e a adequação dos corpos
intersexuais pelo conhecimento médico são exemplos da forma como o poder se expressa
nas relações de gênero.
Novas possibilidades de análise que são abertas por essa abordagem. Elas coincidem,
como no caso da primeira onda feminista, com movimentos sociais que buscam visibilidade
das diferentes identidades de gênero até então proscritas e marginalizadas. A busca por
direitos e pelo reconhecimento das identidades de gênero são questões sociais, culturais
e políticas de gênero que inspiram os estudos contemporâneos sobre gênero. Falaremos
sobre eles a seguir.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Identidade e gênero
Os estudos de Foucault são um marco nos estudos sobre gênero, como pudemos notar.
Mas há outros ainda muito importantes que devemos mencionar, sobretudo quando falamos
em identidades de gênero. Falar em identidades de gênero, antes de qualquer coisa, é
falar sobre como se formam identidades em uma sociedade que marginaliza gêneros,
sexualidades e orientações sexuais. Além disso, falar em identidades de gênero é falar
em pessoas que se reconhecem a partir de marcadores sociais de diferença e que se
colocam socialmente como parte de grupos específicos. A temática deve muito, portanto,
ao estudo da sociedade da ciência, do Estado, do trabalho e das classes, mas também
traz consigo novas questões sobre poder e relações sociais quando nos propomos a olhar
para demandas identitárias que extrapolam a produção de conhecimento científico, que
extrapolam as classes e as questões políticas e jurídicas das instituições que compõem os
Estados nacionais. A temática da identidade de gênero perpassa o Estado, a lei, a cultura,
a produção de conhecimento, as classes e, ao mesmo tempo, independe desses temas
porque traz problemas e objetos próprios a ela. Que objetos e problemas são esses?
Historiadoras como Joan Scott (1941- ) se perguntam por que as mulheres foram alijadas
dos livros de história e por que os homens são considerados centrais na construção dos
estudos históricos. Antropólogas como Gayle Rubin (1941- ) dedicam-se ao estudo das
sexualidades consideradas como desviantes dentro do discurso médico e psicanalítico.
Cientistas e filósofas como Donna Haraway (1944- ) se questionam sobre a construção do
imaginário científico que identifica corpos e gênero na contemporaneidade. Pierre Bourdieu
(1930-2002) tece críticas ao estruturalismo francês, que não abordou os meandros do
poder simbólico e da violência de gênero em seus estudos sobre parentesco e cultura.
Marilyn Strathern (1941- ) questiona a forma como os estudos antropológicos lidaram com
a temática do parentesco, da reprodução, das trocas. Para ela, tais estudos tomaram como
universal a noção culturalmente e socialmente construída de que os sujeitos se identificam
primordialmente pelo seu papel de gênero na rede de parentesco ou de trocas.
Podemos citar também os estudos contemporâneos de Judith Butler, que partem de uma
leitura filosófica sobre o sujeito enquanto um ser que se constitui nos atos para dizer que
gênero é antes de tudo um comportamento e formas de agir em sociedade que algo fixo
ou natural. Para essa autora, vivemos em uma sociedade heteronormativa, ou seja, uma
sociedade que tende a excluir pessoas que compartilham orientações sexuais diferentes da
heterossexual e, consequentemente, tendem a excluir grupos de pessoas que se identificam
também com gêneros considerados “desviantes”.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Seja lidando com dados culturais que trazem novas questões sobre gênero, como é o caso
das antropólogas que criticam os estudos clássicos sobre parentesco, seja lidando com
as demandas sociais, políticas e culturais dos grupos e pessoas que se identificam com
categorias de gênero distintas de homem e mulher, todos esses autores estão buscando
aparatos teóricos e conceitos que comporão o que hoje reconhecemos como estudos de
gênero. Podemos dizer, sem dúvida, que o campo de estudos de gênero teve de trazer
novos olhares para as relações sociais, para a cultura e para a política porque conceitos
clássicos e teorias clássicas não davam conta de explicar as demandas sociais, culturais
e políticas em torno da temática de gênero observadas na sociedade contemporânea. Um
bom exemplo dessa limitação está expresso na própria noção de identidade de gênero.
Hoje parece muito distante um momento histórico em que as mulheres não podiam ter bens
ou votar, quando, na verdade, o voto e outros direitos civis são conquistas recentes das
mulheres. Nos cabe, como observadores das causas e consequências sociais de questões
identitárias relativas a gênero, observar e respeitar demandas como a revisão de direitos
civis para uniões homoafetivas, por exemplo.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Para finalizar nossa aula e nosso curso, falaremos sobre as identidades pessoais de gênero.
Como a sociedade e a cultura atuam no processo de socialização quando pensamos em
gênero? Pensemos nisso.
Gênero e educação
1) Como estamos formando esses sujeitos para lidarem com a diversidade das identidades
de gênero;
2) Como a sociedade em que esses sujeitos estão sendo formados lida com a diversidade
das identidades de gênero.
A segunda questão foi respondida por autores como Foucault, Butler, Scott: a sociedade
em que vivemos tende a marginalizar identidades que desviem do modelo normativo que
identifica homem com macho e mulher com fêmea. A primeira precisa ser trabalhada
com maior atenção, se nossa intenção é analisar a relação entre educação e identidades
de gênero. Ao falarmos sobre identidades de gênero assumidas pelas pessoas frente a
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LEITURAOBRIGATÓRIA
diferentes interlocutores em uma sociedade plural e assimétrica, é essencial refletir as
pressões sociais que, de um modo ou de outro, agem sobre elas desde antes de nascerem.
Antes mesmo de uma criança nascer, pais, tios, avós costumam pensar em duas
possibilidades para a identidade da criança que está sendo gerada: menino ou menina.
Pais precisam saber que cor de roupas comprar, que tipo de brinquedos comprar, como
vão decorar o quarto do bebê. Quando vão a lojas de brinquedos, encontram seções com
itens para meninos e seções com itens para meninas. Rosa e azul são como códigos que
definem “coisas de menina” e “coisas de menino”, não é mesmo?
Recentemente o canal público britânico BBC fez um experimento simples que nos explica
essas pressões para definição tão precoce da identidade de gênero de nossas crianças e
que também explica a forma como incorporamos as assimetrias relacionadas aos papéis
de gênero sem nem mesmo pensarmos sobre elas. Os organizadores do experimento
colocaram roupas de meninos em meninas e vice-versa. Em seguida, convidaram adultos
que não conheciam as crianças para brincar com elas. A primeira pessoa imediatamente
oferece à criança vestida com um vestido rosa uma boneca e bichos de pelúcia. E outra
oferece brinquedos que ensinam sobre noção de espaço e sobre números para a criança
vestida com roupas azuis, de menino. Quem trabalha com crianças muito pequenas sabe
que a qualidade dos estímulos oferecidos a elas será crucial para a formação de suas
habilidades cognitivas. Brinquedos que ensinam sobre números, que ensinam sobre noção
de espaço e de tempo ou a resolver pequenos problemas são essenciais para a formação
de habilidades necessárias para o aprendizado de matemática, por exemplo. Sabendo que
homens são maioria em carreiras que requerem esse tipo de conhecimento, você pode ter
uma ideia dos propósitos desse experimento.
Ao longo de nossa educação escolar, ouvimos à exaustão que meninos são bons em
matemática e esportes e meninas são boas em línguas ou em artes. Também é comum
que professores e até colegas associem esse tipo de diferença à biologia ou à natureza das
diferenças sexuais entre meninos e meninas. No entanto, a formação do córtex cerebral, da
nossa coordenação motora grossa e da nossa coordenação motora fina se dá muito antes
do desenvolvimento de órgãos sexuais ou de picos hormonais que diferenciarão nossos
corpos. Nós educamos corpos e cérebros das crianças para que assumam, por exemplo,
que mecânica e construção são trabalhos masculinos e que cuidar e educar são trabalhos
femininos.
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Imagine agora um cenário onde uma criança ou um adolescente que está em plena formação
de sua identidade descobre-se intersexual. Pense em um outro cenário, ainda, onde uma
criança ou um adolescente descobre que sua orientação sexual não é considerada adequada
para o gênero que pais, tios, avós, colegas de escola identificam para seu sexo biológico.
Crianças que se identificam com gêneros marginalizados ou que desde bebês passam por
cirurgias corretivas porque nasceram com caracteres sexuais ambíguos sentem o peso da
forma como uma sociedade heteronormativa as educa. Se às mulheres nossa sociedade
ensina que são naturalmente más motoristas ou más cientistas, às crianças transexuais,
homossexuais, intersexuais nossa sociedade ensina que nasceram inadequadas.
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LINKSIMPORTANTES
“Quem é Joan Scott?”, produzido pelo canal Leitura ObrigaHistória.
Neste pequeno vídeo, temos uma pequena introdução sobre a biografia de uma das autoras
cuja obra nos ajudou a construir essa aula. Como vimos em nossa aula anterior, biografias
são ferramentas interessantes para as ciências sociais porque, ao mesmo tempo em que
nos apresentam o contexto social, político, econômico e histórico a partir dos quais os
autores falam, elas nos apresentam dados sobre a atuação desses autores nos campos
acadêmicos com os quais seus trabalhos dialogam. No caso de Joan Scott, essa relação
entre sociedade, produção e de conhecimento e biografia se torna ainda mais importante
quando estudamos relações de gênero, já que a autora dedicou-se a estudar como as
mulheres foram minimizadas enquanto autoras e atoras no processo histórico.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=z9avUiQLNukDisponível>. Acesso em:
9 out. 2017.
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LINKSIMPORTANTES
“Geledes”, uma fonte interessante de pesquisa sobre questões de gênero
Geledes (Instituto da Mulher Negra) é uma organização que visa a combater o racismo,
a violência contra a mulher, o sexismo e a homofobia. O instituto atua em várias frentes,
como educação, direitos humanos, políticas públicas e mantém um site com colunas,
notícias, editoriais que abordam as temáticas defendidas pelo projeto. Há uma área do
site destinada especificamente a notícias sobre questões de gênero que vale a pena ser
explorada, sobretudo porque traz leituras dos agentes sociais que muitas vezes não têm
voz em outros veículos de informação ou em outras mídias.
Disponível em: <https://www.geledes.org.br/questoes-de-genero/>. Acesso em: 9 out. 2017.
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AGORAÉASUAVEZ
Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
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AGORAÉASUAVEZ
d) As feministas consideravam que para Questão 5:
falar sobre mulheres não era necessário
Associe os autores a seus objetos de pesqui-
falar sobre homens.
sa ou a conceitos utilizados em suas obras:
e) As feministas americanas utilizavam o A - Marilyn Strathern
termo “gênero” como sinônimo de “sexo”.
B - Joan Scott
C - Michel Foucault
D – Pierre Bourdieu
E – Judith Butler
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FINALIZANDO
Em nossa última aula do curso, falamos sobre questões de gênero. Acompanhamos a relação
entre o desenvolvimento de um campo acadêmico de estudos de gênero nas ciências sociais e
movimentos políticos que buscavam, inicialmente, igualdade de direitos entre homens e mulheres
e, mais tarde, reconhecimento de outras identidades de gênero possíveis.
Há ponto de concordância entre as áreas que formam as ciências sociais: é para a vida social
que temos de olhar quando queremos falar sobre o homem ou sobre a sociedade, e não para
nossos desejos ou valores pessoais. Com este curso, esperamos que você tenha compreendido
que as ciências sociais pensam a partir de conceitos e métodos. Esperamos que você, desde já,
desenvolva um olhar analítico e comece a olhar para família e para sociedade a partir deles.
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GLOSSÁRIO
Identidade cultural: O conceito de identidade cultural talvez seja um dos conceitos mais
complexos e que mais tenha mudado ao longo dos estudos das ciências sociais. Isso
porque, para falar sobre as especificidades da identidade compartilhada por um grupo,
é necessário definir o que é cultura e o conceito de Cultura vem sendo revisado ao longo
de todo o século XX e no início do século XXI. Quando falamos em identidades culturais,
é sempre importante fazer referência ao contexto teórico em que a ideia de cultura ou a
de identidade se inserem. Em termos gerais, podemos afirmar que identidades culturais
são definidas pelos grupos de pessoas que compartilham comportamentos, patrimônios
simbólicos e valores. Esses comportamentos, patrimônios, valores são acionados em
momentos históricos específicos em que o grupo se coloca como distinto de outro grupo.
Identidades culturais são relacionais, ou seja, são construídas na relação entre pessoas
e grupos que acionam diferentes aspectos da vida cultural nos momentos em que são
colocados em relação uns com os outros. O reconhecimento de demandas identitárias
coletivas tem sido bastante discutido por autores da sociologia e das ciências políticas
também, na contemporaneidade, já que envolvem novas questões sobre diversidade em
uma sociedade globalizada.
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GLOSSÁRIO
do discurso dos grupos que se organizam e mantêm relações sociais em torno de identidades
de gênero, não é adequado falar em “opção sexual” ou em “preferências sexuais”, já que
muitas políticas e práticas repressivas têm feito uso da ideia de “opção” para normatização e
cura de sujeitos que se identificam com identidades de gênero marginalizadas socialmente
e culturalmente.
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GLOSSÁRIO
Categorias de gênero: Categorias de gênero são categorias utilizadas para fazer
referência a identidades de gênero. Assim como em outras situações em que trabalhamos
com identidades, nos deparamos com termos utilizados pelos grupos ou pelos indivíduos
para se referirem à identidade e, muitas vezes, esses termos diferem dos que são utilizados
pelas instituições sociais, políticas ou acadêmicas que estão trabalhando com essas
populações. No caso das categorias identitárias e marcadores de diferença utilizados pelos
grupos que se organizam em torno de identidades de gênero, o ideal é observarmos como
tais categorias são utilizadas pelos sujeitos que fazem parte dos grupos e nos referirmos
a elas quando estivermos falando diretamente com essas populações. Chamamos as
categorias utilizadas pelos sujeitos que se reconhecem como parte de um grupo identitário
de categorias empíricas. Há outros momentos em que nos depararemos com categorias de
gênero que nem sempre partem dos termos utilizados pelos sujeitos para falarem sobre si
próprios, mas são utilizadas por instituições que estão trabalhando com essas populações.
Chamamos essas últimas categorias de analíticas. É o que acontece, por exemplo, quando
o censo define opções de “raça” para identificação estatística da população ou quando um
site de uma rede social define opções como “homem”, “mulher” e “outros” para identificação
de gênero. É preciso tomar muito cuidado quando estamos trabalhando com categorias de
gênero, porque o senso comum pode utilizar termos pejorativos, como é o caso da palavra
“homossexualismo”, que se refere à “homossexualidade” como uma doença.
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GABARITO
Questão 1
Questão 2
Questão 3
Questão 4
Resposta correta: B
a) Na verdade, é o oposto.
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GABARITO
b) Correta. Quando falavam em relações de gênero, as feministas também se referiam à
maneira como o machismo afeta os homens.
e) Na verdade, é o oposto.
Questão 5
Resposta correta: A – 5; B – 4; C – 3; D – 1; E – 2.
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REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina: a condição feminina e a violência simbóli-
ca. Rio de Janeiro: BestBolso, 2014.
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. O corpo edu-
cado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade V1: A vontade de saber. São Paulo: Paz e
Terra, 2014.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade V2: O uso dos saberes. São Paulo: Paz e
Terra, 2014.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade V3: O cuidado de si. São Paulo: Paz e Terra,
2014.
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REFERÊNCIAS
PISCITELLI, Adriana. Nas fronteiras do natural: gênero e parentesco. Estudos feministas,
p. 305-321, 1998.
SCOTT, Joan Wallack. Prefácio a gender and politics of history. Cadernos Pagu, Campi-
nas, n. 3, p. 11-27, 1994.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para os estudos históricos. Educação e Realida-
de, v. 16, n. 2, p. 5-22, 1990.
Sem autor, Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu, 2017. Disponível em: <https://www.
pagu.unicamp.br/>. Acesso em: 9 out. 2017.
Precisamos falar com os homens? Onu Mulheres, Papo de Homem, 16 fev. 2017,
50:59 min, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=jyKxmACaS5Q>. Acesso em: 9 out. 2017.
Quem é Joan Scott? Canal Leitura ObrigaHistória, não informa, 14 de fev. 2017,
4:12 min, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=z9avUiQLNukDisponível>. Acesso em: 9 out. 2017.
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