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A falta e a formação do sujeito sartreano.

Sartre busca através de sua ontologia radicalizar as noções que temos de


consciência e suas relações com o mundo. Para o autor nossa existência é precedente de
nossa essência. Somos seres acidentais e contingentes que não ultrapassam a barreira da
busca por um Eu, busca essa que se faz através de uma falta fundamental que habita o
seio da consciência e a impede de preenche-la.

- Crítica a Kant ( a inversão do Eu penso)

A estratégia argumentativa de Sartre começa por pôr em questão a tese dos que
afirmam a presença formal do Eu na consciência. Parte-se, para isso, da famosa frase
kantiana: “O Eu Penso deve poder acompanhar todas as minhas representações” (Kant,
2010: 131). Segundo a interpretação que Sartre faz dessa máxima não se pode concluir
dela, a não ser que forcemos o pensamento kantiano, que o “Eu Penso” acompanhe, de
fato, todos os nossos “estados de consciência”, nem que ele realize a síntese da nossa
experiência. Dito de outro modo, o problema crítico é de direito e não de fato. Contudo,
há outra interpretação que pretende realizar aquilo que em Kant era apenas uma condição
de possibilidade lógica. Seus representantes se localizam no neokantismo, no
empiriocriticismo e no intelectualismo de Brochard. Essa concepção se perguntaria pela
“consciência transcendental”, concebendo-a como um inconsciente; para tal
interpretação, ainda, a consciência transcendental constituiria a consciência empírica. A
reação de Sartre a essa “leitura forçada” do pensamento kantiano é imediata: Kant não se
preocupou com o modo de constituição de fato da consciência empírica. Para ele, a
consciência transcendental é apenas “o conjunto das condições necessárias para a
existência de uma consciência empírica” (SARTRE, 1994: 44).

- Crítica a Husserl

O sujeito não alcança qualquer possiblidade de formas pré-determinadas,


tornando-o fundante de sua própria falta. Há um confronto com teorias anteriores
proposto pelo autor criticando em especial Husserl no âmbito da intencionalidade. Sartre
se utiliza constantemente da proposta husserliana da intencionalidade para fundamentar
sua fenomenologia, anulando as representações do mundo, pois estamos em um contato
direto e intencional com as coisas. A consciência e o mundo são dados de uma vez só, ou
seja, se temos consciência do objeto necessariamente temos consciência de que temos
consciência do objeto, concluindo então que só há o que dizer sobre mundo por que há
uma consciência e vice-versa. “(...) a consciência se reporta em direção ao objeto, ela não
é nada sem o objeto, sem esse polo de visada.” (COOREBYTER, 2003, p. 23), fazendo
dela sempre uma consciência de algo. Durante a obra A Transcendência do Ego Sartre
nos traz à tona seu descontentamento com a mudança de postura que Husserl toma na
obra Idéias para uma Fenomenologia Pura e para uma Filosofia Fenomenológica. O Ego
transcendental husserliano - esfera normativa que atua fora desse fluxo concreto dos
vividos – não poderia surgir a partir da intencionalidade compreendida por Sartre.
Podemos responder sem hesitar: a concepção fenomenológica da consciência torna
totalmente inútil o papel unificante e individualizante do Eu. É, ao contrário, a
consciência que torna possível a unidade e a personalidade do meu Eu. O Eu
transcendental não tem, portanto, razão de ser. (SARTRE, 1994, p48). Conclui-se então
que o mecanismo intencional da consciência exclui toda forma interioridade do bojo dela.
Lhe falta essência, conteúdo e até mesmo lhe falta um Eu.

- A falta como fundante do sujeito/ Liberdade

O conceito de falta pode ser encontrado na proposta sartreana como algo que
está no cerne da estrutura do sujeito. Sua ontologia propõe que somos um movimento
ininterrupto de transcendência em direção aos objetos do mundo. Tamanha negatividade
imposta pela falta essencial dá ao sujeito a liberdade de preencher seu vazio da forma que
ele deseja, “O homem é fundamentalmente desejo de ser e a existência deste desejo não
deve ser estabelecida por uma indução empírica; ela resulta de uma descrição a priori do
ser do para-si, já que o desejo é falta e que o para-si é o ser que é para si mesmo sua
própria falta de ser” (SARTRE, 1997, p. 610) . Vemos então um sujeito totalmente negado
em si; a consciência sartreana se apresenta enquanto nada, sem nenhuma forma de
essencialismo que possa defini-la.
Tal condição é irrefletida, ou seja, sua estrutura original é o nada que habita a
consciência e é através dele que ela, permeada por sua falta de essência, manifesta seu
desejo como liberdade. Ela é abertura para que se pergunte por si e nada mais. O nada
não existe previamente ou posteriormente ao ser – ele divide simultaneamente o ser. Sem
nenhuma forma de pré-determinação do sujeito, tomamos a existência como acidental e
contingente, não podendo ultrapassar a diferença de si em relação ao mundo.
“A consciência é um ser para o qual, em seu próprio ser, está em questão o seu ser enquanto este ser
implica outro ser que não si mesmo.” (SARTRE, 1997, pg. 35)

- Intersubjetividade e dialética do senhor escravo em Hegel

A relação de dominação que aparece na dialética da servidão hegeliana, ou na


dialética da relação conflituosa entre consciências n’ O Ser e o Nada, coloca a claro que
o processo de subjetivação, a tão sonhada autarquia grega ou a autonomia iluminista, só
são possíveis porque há uma negação dialética no processo de reconhecimento, tanto em
Hegel quanto em Sartre.
Mas, mesmo nas proximidades, as diferenças mantêm-se. Hegel resolve essas
diferenças, que sempre se mantém na contradição, numa síntese superior, em um terceiro
termo, a dialética, que a diferença entre a diferença e a igualdade é suprimida. Sartre não
faz uso de tal expediente: sua dialética não chega a um terceiro termo. O projeto é sempre
negado e é na negação que a consciência encontra sua força para continuar a tentar tornar-
se algo, mesmo que esse algo não seja alcançável.

-Condutas de assimilação
-A linguagem
-O Amor
-O masoquismo
-Condutas de apropriação
-A indiferença
-O Sadismo
-O ódio

- A angústia

Há nesta condição um peso ontológico negativo. A consciência reflexiva nota-se


nesse constante abismo do nada, sua negatividade salta aos olhos e ela se nota enquanto
falta. Notar tal condição intransponível torna a consciência angustiada. Sartre nos mostra
que a angústia é a forma pela qual a liberdade tem de apontar a consciência a condição à
qual está presa. Ou como o próprio autor define: “(...)a angústia é o modo de ser da
liberdade como consciência de ser, é na angústia que a liberdade está em seu ser
colocando-se a si mesma em questão” (SARTRE, 1997, p.72).

O sujeito angustiado busca livrar-se de seu fado existencial dando a si uma


designação que não lhe pertence. Mentido para si mesmo e para o mundo, agindo de má-
fé consigo como se representasse um papel teatral. Como se o sujeito agisse perante uma
gama de padrões, pré-estipulados por ele mesmo, na tentativa de tornar-se em-si. Uma
representação de uma função, como ser garçom, chefe ou até mesmo ser “o problema do
relacionamento”. “O ato primeiro da má-fé é para fugir do que não se pode fugir, fugir
do que se é. Ora, o próprio sujeito revela à má-fé uma desagregação íntima no seio do ser,
e essa desagregação é o que ela almeja ser.” (SARTRE, 1997, p.118).

- A má-fé

A má-fé caracteriza pela tentativa infrutífera de escapar a falta. Diferentemente da


mentira dada por um mentiroso que está ciente de que está enganando alguém e um
enganado, que é totalmente alheio ao conteúdo real que deveria se apresentar a ele; a má-
fé é uma conduta em que mente para si mesma, tentando dar a sua falta um objeto. O
sujeito que se embasa na má-fé como uma de suas possibilidades está fadado a falhar,
pois atua tanto o papel de mentiroso e de enganado. Nesta conduta verificasse que há uma
identificação entre a condição faltosa e a busca por si. Tal movimento de transcendência
o sujeito visa uma gama de possibilidades para si, tendo que escolher o que considera
para si o melhor, sofrendo com a intemperes de suas escolhas, criando uma embata entre
fazer-se e ser. Na conduta de má-fé o sujeito abre mão de sua busca para cessar-se em um
ser final paradoxal. Tomemos como exemplo a expressão “sou um cara angustiado”, ao
assumir tal postura, abro mão de superar tal conduta, dando a mim um critério de
“angustiado” que não consigo transpor. Tento ser a causa e o efeito de minha própria
determinação, ou como dissemos anteriormente, o enganado e o enganador juntos no
mesmo sujeito.
Sartre nos alerta ao risco que essa conduta carrega em si, pois ela aponta para algo
que não somos, aponta para uma solução que não desemboca numa resolução da angústia
e não ultrapassa a falta que carregamos. De maneira que “Se a má-fé é possível, deve-se
a que constitui a ameaça imediata e permanente de todo projeto do ser humano, ao fato
de a consciência esconder em seu ser um permanente risco de má-fé. E a origem desse
risco é que a consciência, ao mesmo tempo e em seu ser, é o que não é e não é o que
é”.(SARTRE, 1997, p.118)

- Psicanalise existencial

Contudo, ao fugir da angústia pela má-fé, o sujeito mergulha em uma atmosfera de


erro a partir da qual a condição humana perde o acesso autêntico a si mesma, pois existe
mergulhada nessa nuvem de engano de si a partir da qual tem uma experiência equivocada
de compreensão de si e do mundo. Essa nuvem de mentira pode ser, contudo, dissipada
para longe do indivíduo, e é no intento de facilitar essa purificação do horizonte de acesso
ao mundo e à própria condição humana que Sartre elabora, nas últimas partes de O Ser e
o Nada, as bases de uma psicanálise existencial. Antes de iniciar a descrição teórica dessa
empreitada sartreana, é incontornavelmente necessário frisar que nenhum procedimento
psicanalítico, psicológico, científico ou de qualquer ordem será capaz de produzir a
transformação que é a assunção autêntica da liberdade pelo sujeito. O que a psicanálise
existencial produzirá é o contexto a partir do qual a liberdade poderá ser assumida. A
assunção, como qualquer ato individual, é necessariamente um ato livre e de
responsabilidade única e inalienável do sujeito.

BORNHEIM, G. Sartre - Metafísica e existencialismo. São Paulo, perspectiva, 2007.


COOREBYTER., Vincent. “Introduction”, in: SARTRE, Jean-Paul. La transcendance de
l’Ego et autres textes phénoménologiques. Paris: Vrin, 2003.
SARTRE J.P. A Transcendência do Ego. Tradução de Pedro M. S. Alves. Lisboa:
Edições Colibri, 1994.
_______. O Ser e o Nada. Petrópolis: Vozes, 1997.
SILVA, FL. A transcendência do ego. Subjetividade e narrabilidade em Sartre. v.
27, n. 88, p. 165-182. Belo Horizonte: Síntese (Belo Horizonte), 2000.

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