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Por que nossa educação superior pública deve permanecer gratuita?

Fez barulho um working paper recentemente publicado pelo Banco Mundial sob
o título “Um Ajuste Justo: Análise da eficiência e equidade do gasto público no
Brasil”. Das 160 páginas do relatório sobre despesas estatais, chamou atenção
um pequeno trecho que foi apenas noticiado, mas não reproduzido.

As notícias diziam que o Banco Mundial recomendava o fim da universidade


pública e gratuita, sendo a gratuidade mantida apenas para os estudantes
parte dos 40% mais pobres da população.

De fato, o trecho do relatório (p. 138) diz o seguinte:

“Uma opção para aumentar os recursos das universidades federais sem


sobrecarregar o orçamento seria a introdução de tarifas escolares. Isso é
justificável, pois o ensino superior oferece altos retornos individuais aos
estudantes e, com base em dados atuais, o acesso privilegia fortemente
estudantes de famílias mais ricas. Paralelamente, é necessário facilitar o
acesso a mecanismos de financiamento para estudantes que não possam
pagar as mensalidades. Felizmente, o Brasil já possui o programa FIES, que
oferece empréstimos estudantis para viabilizar o acesso a universidades
privadas. O mesmo sistema deveria ser expandido para financiar o acesso a
universidades federais. A ampliação do FIES para incluir universidades federais
poderia ser combinada ao fornecimento de bolsas de estudos gratuitas
para os estudantes dos 40% mais pobres da população, por meio do
programa PROUNI. Juntas, essas medidas melhorariam a equidade do sistema
e gerariam uma economia para o orçamento federal de aproximadamente 0,5%
do PIB.”

A lógica faz sentido.


2.

O pensamento por trás da afirmação, de matiz microeconômica, responde ao


ensejo institucionalista de eliminar os “custos sociais” e os “pesos mortos”
criados por “externalidades” sub-tarifadas.

É um fato inquestionável que a mesma educação gratuita para alunos ricos e


pobres beneficia os primeiros – afinal, eles teriam condições de bancar seus
estudos, e mesmo assim disfrutam de uma educação gratuita, a mesma que se
oferece ao aluno pobre.

Na prática, a situação é ainda pior. A maior parte do alunado pobre sequer


desfruta da educação superior gratuita, em razão da deficiência ou da
incompletude de sua formação prévia; é esta a grande parte do corpo discente
das instituições privadas, bancada por meio do FIES, PROUNI, ou apenas por
muito suor para pagar a mensalidade universitária.

No fim, o aluno pobre mal consegue acessar o sistema superior de educação


gratuito e aquele que consegue não possui nenhuma vantagem competitiva
com o aluno rico que se gradua na mesma instituição.

A lógica, de fato, é boa e leva o órgão a concluir pela adoção de “tarifas


escolares” no ensino superior que hoje conhecemos como público e gratuito.

Mas o Banco Mundial está errado.

Não está errado na previsão de economia do PIB que a medida proposta traria.

Está errado em acreditar que essa é uma política pública “eficiente”. O grande
problema do mote da eficiência – que rege as 160 páginas do complexo
relatório – é seu aspecto reducionista. Olha apenas para a alocação
microeconômica dos recursos, e não é capaz de desvendar os quadros
políticos que perpassam as “alocações de recursos”.

Afinal, por que o ensino superior público, no Brasil, é gratuito?

A pergunta ainda mais adequada talvez seja: ao bancar o ensino gratuito, o


que o Estado está, de fato, pagando?

Para o Banco Mundial, trata-se apenas de indivíduos (não é culpa do órgão, ele
se submete aos dogmas econômicos neoclássicos), de modo que o Estado
estaria pagando pela formação individual de uma série de pessoas. Por se
beneficiarem, individualmente, dessa formação, seria justo (e eficiente),
precificar essa “externalidade” que é positiva para quem dela desfruta, mas que
gera distorções (entre o aluno pobre e o rico, e entre os alunos e o resto da
sociedade, que arca com tudo isso).

A visão microeconômica dá detalhes sobre as pequenas dinâmicas de custos


na educação superior pública – funciona como uma lente de zoom. Mas, para
vermos o quadro todo, precisamos de uma lente mais larga, uma grande
3.

angular que amplie o cenário e nos leve a pensar por que o Estado mantém
esse custoso controle da educação superior.

Afinal é isso que o Estado paga ao bancar a gratuidade das suas instituições
de ensino superior: o controle.

As universidades públicas no Brasil constituem um verdadeiro “monopólio”, ou,


ao menos, um forte agente na “economia” das cabeças pensantes e da
produção de conhecimento.

Ao manter a gratuidade, a um custo altíssimo, é verdade, o Estado consegue


afastar outros “players” interessados em controlar as universidades por meio do
gargalo financeiro, da dependência econômica.

Enquanto o Estado garantir autonomia às universidades, a manutenção da


gratuidade significa o máximo de liberdade de pesquisa dentro das instituições
superiores.

Sabemos todos que, na prática, a liberdade de pesquisa sofre muitas


limitações de pequenos jogos políticos e burocráticos, mas isso não se
compara, nem de longe, com a limitação que sofreria se dependesse
economicamente de agentes múltiplos, os quais são incapazes de manter um
mínimo compromisso com a liberdade de cátedra.

Mesmo durante a Ditadura Militar, nossa estrutura pública de ensino superior


conseguiu manter vivas diversas tradições liberais (de esquerda e de direita),
por exemplo. Isso significa que um dos maiores méritos da nossa burocracia
tem sido, no Século XX, a manutenção de boas estruturas de financiamento
universitário – estruturas que ajudaram professores e alunos a não alienar sua
parcela produtiva por razões econômicas.

Se o financiamento da educação superior vier dos alunos, ou seja, se a renda


universitária for de fato vinculada ao “serviço prestado”, o alunado pagante
torna-se verdadeiro credor do sistema de ensino superior.

Claro, o nome das instituições é muito forte e certamente não deve ruir face à
pressão de pequenos grupos econômicos. Mas não existe placa forte o
suficiente quando se precisa pagar as contas.

No momento em que o alunado (rico) se torna o mantenedor, ele pode usar seu
poder econômico para exercer poder político na Universidade, e é nesse
instante que a liberdade acadêmica se esvai, matando um projeto de
resistência do livre pensamento.

O fato de nossa política pública de educação superior ser “inclusiva” apenas


intensifica a situação. Por inclusiva entenda-se: as melhores universidades
públicas do Brasil são enormes em números, tanto de professores, quanto de
alunos e funcionários.
4.

Nunca foi parte da política educacional brasileira criar uma Ivy League – o
círculo formado pela nata das universidades estadunidenses, como Yale,
Harvard e Columbia. São universidades enxutas, com turmas pequenas, e alto
rendimento.

A USP e as grandes federais abarcam uma quantidade grande de alunos, em


grandes turmas, em grandes salas, para acelerar a profissionalização em
nosso país continental. Ao mesmo tempo, a seleção rigorosa de professores
mantém uma tradição de boa pesquisa para além dos intuitos
profissionalizantes, o que ajuda a conservar nossas instituições menos afetas a
políticas de governo massificadas.

Certamente, estou jogando luz no que nosso sistema possui de bom, mas não
é por desconhecer os inúmeros defeitos da nossa educação superior gratuita –
é apenas para mostrar o que perderíamos ao jogar o controle financeiro das
nossas universidades nas mãos de credores privados.

Por fim, é preciso dizer que a orientação do Banco Central não precisaria ser
de todo rechaçada.

Já que alunos ricos estudam nas instituições públicas, por que não os
taxamos? A medida pode ser justa, desde que desvinculada do orçamento
universitário, ou seja, desde que o orçamento seja sempre garantido pelo
Estado e o que for cobrado – apenas dos ricos – constitua receita extra, a ser
investida na própria universidade.

Meu sexto sentido – nada além disso – insiste em me dizer que, ainda assim,
correríamos o risco da tentação de “desonerar” o Estado vinculando a receita
universitária ao que vier a ser angariado do alunado pagante. Talvez.

Justamente por isso, continuo achando melhor que a receita universitária seja
pública e que usemos nossa criatividade para desenvolver outras formas de
financiamento da educação pública, sem colocar em risco nossa tão cara
liberdade acadêmica.

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