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CATALOGAGAO NA FONTE ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE EDUCACAOIUNICAMP Bibliotecario: Gildenir Carolino Santos - CRB-85447 Bock, Silvio Duarte, IB6310 Orientagao profssional : avaliagdo de uma proposta de ‘trabalho na abordagem sicio-hist6rica / Silvio Duarte Bock. — Campinas, SP: [sin], 2001. Orientador : Sérgio Anténio da Silva Leite. Dissertacao (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educagao. 1. Orientagao profissional. 2. Orientago vocacional 3. Adolescéncia. |. Leite, Sérgio AntGnio da Siva. Il, Universidade| Estadual de Campinas. Faculdade de Educagéo. Il. Titulo, aos homens e os sujeitos que o sustentam” ainda esté para ser feita, 25 anos apés ser proposta. 3.3) Teorias para além da critica A perspectiva das teorias para além da critica € superar a dicotomia entre o individuo ¢ sociedade apontada anteriormente. £ por isto que se propde uma nova abordagem denominada “Sécio-Histérica”, aceitando as formulagSes desenvolvidas pelas teorias criticas mas apontando que ¢ necessério um avango na compreenstio da relagdo individuo-sociedade, de forma dialética e no idealista ou liberal; isto é, deve-se ‘caminhar para a compreensio do individuo como ator e a0 mesmo tempo autor de sua individualidade, que no deve e no pode ser confundida com individualismo. © proximo item serd dedicado 4 apresentago das concepgdes da Abordagem Sécio-Histérica. 3.3.1) A abordagem sécio-historica A abordagem sécio-histérica aceita a demincia que os teéricos, denominados cxiticos, fazem a respeito da abordagem tradicional. A dentincia referida aponta que a teoria liberal entende que a ordem econdmica e social est pronta ¢ acabada, “...6 apenas © lugar onde as escolhas se realizam. A sociedade coloca obsticulos e desafios que devem ser ultrapassados pelos individuos. Aqueles que conseguirem serio os veneedores, serfio os bem-sucedidos. Realizar uma boa escolha profissional é um pré- requisito para que isto ocorra. Assim, ao invés de proceder uma anilise de como a sociedade esti estruturada, desenvolve-se a anilise do individuo para que ele bem se adapte a esta ordem, sem jamais questiond-la”, (Bock, S., 1995, p.68) ‘A abordagem sécio-histérica, da mesma maneira que a perspectiva critica, questiona a forma de aproximago dos individuos com as ocupagdes através do modelo de perfis, nfio por negar individuo, mas por negar a concepgao liberal de individuo. Por isso, faz-se necessirio construir outra formulagdio que explique esta aproximagio. Da mesma forma que a perspectiva critica, a abordagem sécio-historica entende que as profissdes ocupagdes nao so perenes e imutéveis, a2 ‘A abordagem sécio-histérica trabalha com a idéia da multideterminagao do humano. Combate-se a concepeo do ser humano natural ou abstrato. “As propriedades que fazem do homem um ser particular, que fazem deste animal um ser humano, so um suporte biolégico especifico, 0 trabalho e os instrumentos , a linguagem, as relagdes sociais ¢ uma subjetividade caracterizada pela consciéncia e identidade, pelos sentimentos emogdes ¢ pelo inconsciente. Com isto queremos dizer que o ser humano € determinado por todos esses elementos. Ele € multideterminado.” (Bock, A.; Furtado; Teixeira, 1999) Em 1989, 0 autor desta pesquisa, afirmava que 0 individuo “..6 © nfo € a0 mesmo tempo reflexo da sociedade, da mesma forma ele é ¢ no é ao mesmo tempo autnomo em relagio a ela. Relativamente & questo da escolha, também poderiamos dizer que 0 individuo escolhe © nao escolhe (sua profissdo ou ocupagio) ao mesmo tempo”. (Bock, S., 1989, p.16). Mas, hoje, compreende que hé uma ceria incorreso na afirmagao por manter de forma ainda dissociada a sociedade e o individuo. Mas, mesmo assim, para fins didéticos, manter-se-4 a afirmago porque provoca a reflex ¢ assinala claramente a diferenga dessa abordagem com as teorias tradicionais e criticas. Quando se diz que 0 individuo escolhe € no escolhe sua profissiio a0 mesmo tempo, est se ‘tratando da questiio da liberdade de escolha. De acordo com a classe social de origem do individuo, ele tem mais ou menos liberdade para decidir, mas que, no entanto, sempre seré multideterminada, Assim, para as pessoas das classes mais privilegiadas, ha determinacdo social: portanto, no se trata de liberdade absoluta. Da mesma forma, para 0s individuos das classes subalternas, ha possibilidade de intervengGo sobre sua trajetéria: portanto, nio hé determinagdo social absoluta. Na perspectiva sécio-hist6rica no se reconhece como meramente ideologica a possibilidade de escolha das classes subaltemas. Ao contrério, entende-se que nisto reside a possibilidade de mudanga, de alteragio histérica, ao reconhecer que 0s individuos podem, de certo modo, intervir sobre as condigdes sociais, através de agdes pessoais e/ou coletivas. Nao se pretende, com isto, resgatar a concepedo liberal de homem; da mesma forma, no se assume que se superario todas os obstaculos colocados pela realidade por mera vontade pessoal, mas que as pessoas podem Iutar para mudar as condigdes em que vivem, tanto individual quanto coletivamente. 4B desafio deste trabalho constitui-se na construgao de uma abordagem na érea da Orientagao Profissional que entenda o individuo em sua relago com a sociedade, superando visdes que 0 colocam como mero reflexo da sociedade ou como totalmente auténomo em relago a ela. A abordagem sécio-historica aponta caminhos para entender © individuo na sua relagZo com a sociedade de forma dindmica e dialética. ‘Vygotsky, © principal representante desta abordagem, "... tem como um dos seus pressupostos basicos a idéia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relagio com o outro social. A cultura toma-se parte da natureza humana num proceso histérico que, a0 longo do desenvolvimento da espécie e do individuo, molda o funcionamento psicolégico do homem.” (Oliveira, 1992, p.24). Desta forma, nfio hé ruptura do individuo com a sociedade e nem a anulago do individuo enquanto ser singular. Falando sobre a génese das fiangdes psicolégicas superiores, Vygotsky afirma que: “Mesmo sendo, na personalidade, transformadas em processos psicoldgicos, elas permanecem ‘quasi’-sociais. O individual, o pessoal ~ no ¢ ‘contra’, mas uma forma superior de sociabilidade”. (2000, p.27) “Para nés é a personalidade social = 0 conjunto de relagdes sociais, encarnado no individuo (fungbes psicolégicas, construidas pela estrutura social)...” que define o que é o homem (Vygotsky 2000, p.33). Portanto, para a abordagem sécio-historica no ha conflito entre a sociedade e 0 individuo. O autor usa a expresso personalidade social para significar que as fungGes superiores resultam da intemnalizagio do social: 0 que era inter-subjetivo passa as ser intra-subjetivo, sendo este proceso mediado pela linguagem. © conceito de zona desenvolvimento proximal de Vygotsky explica como ocorre © desenvolvimento intra-subjetivo. “..0 que caracteriza 0 desenvolvimento proximal é a capacidade que emerge e cresce de modo partithado. Com seu refinamento ¢ intemalizagio, transforma-se em desenvolvimento consolidado, abrindo novas possibilidades de fungdes emergentes” (Gées, 2000, p.24). Para Gées (2000) uma boa aprendizagem € aquela que nfo s6 consolida mas, fundamentalmente, cria outras zonas de desenvolvimento proximais de forma sucessiva. (p.24) No mesmo sentido encontram-se outros autores que assinalam que a identidade construfda no seio das relagSes sociais. Para Ciampa (1987), “..Cada individuo encarna 44 as relagSes sociais, configurando uma identidade pessoal. Uma histéria de vida. Um projeto de vida. Uma vida-que-nem-sempre-é-vivida, no emaranhado das relagdes sociais.” (p.127) A identidade ¢ metamorfose € esta concepgiio ser a base do entendimento da escolha profissional: 0 individuo modifica-se permanentemente, constréi sua identidade constantemente, nfo ¢ e nunca estard acabada sua forma final. Como diz poeticamente Guimaries Rosa: “O importante ¢ bonito do mundo é isto: que as pessoas nio esto sempre iguais, ainda no foram terminadas — mas que elas vio sempre mudando. Afinam ou desafinam”. (1983, p.20) Ciampa (1987) afirma que “...Interiorizamos aquilo que os outros nos atribuem de tal forma que se toma algo nosso. A tendéncia é nés nos predicarmos coisas que os outros nos atribuem. Até certa fase esta relago é transparente e muito efetiva; depois de algum tempo, torna-se mais seletiva, mais velada (e mais complicada).” (p.131) Assim, © ser humano desenvolve suas habilidades, sua personalidade, suas atitudes na relago com 0 outro ¢ esta relagdio est mediada pela sociedade. Furtado, estudando as dimenstes subjetivas da realidade, entende a constituigo da subjetividade individual como “... um proceso singular que surge na complexa unidade dialética entre sujeito e meio atual, definido pelas agées ¢ através das quais a hist6ria pessoal e a do meio em que estes se desenvolvem confluem a uma nova unidade que, ao mesmo tempo, apresenta uma configuragio subjetiva e uma configuragio objetiva. A constituigdo subjetiva do real e sua construgo por parte do sujeito sto processos simultineos que se interrelacionam, mas que no sto dirigidos pela intencionalidade do sujeito, que no ¢ mais do que um momento neste complexo processo. E assim como o social se subjetiva para converter-se em algo relevante para 0 desenvolvimento do individuo, 0 subjetivo permanentemente se objetiva ao converter-se em parte da realidade social, com o qual se redefine constantemente como processo cultural.” (Furtado, 1998, p.58) Partindo do pensamento de Marx de que “...Nao é a consciéneia que determina a vida, mas a vida que determina a consciéncia” (Marx e Engels, citados por Bock, 1999, p23), Ana Bock (1999) arrola cinco pontos que especificam a abordagem sécio- historica: 45 1) “Nao existe natureza humana” - A idéia de natureza humana coloca o ‘homem como um ser em potencial que se realizaré na cultura, ele teria uma esséncia que precisa ser desabrochada, desenvolvida ou atualizada, “Toda a determinago social do homem fica oculta sob essas idéias ¢ conceitos, que se tornam representagdes ilusorias; parte da realidade, determinante do objeto. Faz-se, assim ideologia” (Bock, A., 1999, p.27) Ana Bock (1999) cita Charlot que afirma assertivamente que a “natureza humana nfo existe e propde a substituigaéo definitiva do termo pela idéia de condigao ‘humana”(p.27) 2) “Bxiste condigao humana”- Nenhum aspecto do homem é pré-concebido na idéia da “condigtio humana”. “Nao ha nada em termos de habilidades, faculdades, valores, aptiddes ou tendéncias que nasgam com o ser humano. As condigSes biolégicas heredititias do homem sto a sustentasio de um desenvolvimento sécio-histérico, que Ihe imprimira possibilidades, habilidades, aptiddes, valores e tendéncias historicamente conquistados pela humanidade e que se encontram condensados nas formas culturais desenvolvidas pelos homens em sociedade.” (Bock, A., 1999, p.28) 3) “O homem é um ser ativo, social ¢ histérico” - E através do trabalho que 0 ser humano mostra-se ativo, ao buscar sua sobrevivéncia. Ele faz isto com outros seres hhumanos, 0 que Ihe dé a caracteristica social. A forma de exercicio do trabalho é histérica, isto é, 0 modo de produzir e relacionar-se com a natureza € com os outros ocorre de acordo com 0 modo de produgo de cada periodo. 4) “O homem é criado pelo préprio homem” ~ “No conjunto de relagées sociais, mediadas pela linguagem, o individuo vai desenvolvendo sua consciéneia. Com © desenvolvimento da consciéncia, o homem sabe seu mundo, sabe-se no mundo, antecede as coisas do seu mundo, partilha-as com os outros, troca, constrbi e reproduz significados. Quando atua sobre 0 mundo, relacionando-se, apropria-se da cultura adquire linguagem; apropria-se dos significados e constréi um sentido pessoal para suas vivéncias. Tem, assim, todas as condigdes para atuar com os outros, criar e elaborar 46 significados. © homem se faz homem ao mesmo tempo que constréi seu mundo”. (Bock, ‘A, 1999, p.32). 5) “O homem conereto é objeto da Psicologia” — “O individuo s6 pode ser compreendido em sua singularidade, quando inserido na totalidade social e histérica que determina e dé sentido & sua singularidade”. (Bock, A., 1999, p.34) ‘Numa perspectiva sécio-histérica, 0 conceito de vocagio pode ser expresso da seguinte maneira: a vocagdo do ser humano é exatamente ndo ter outras vocagdes. Isto 6, ele nasce determinado biologicamente para nenhuma atividade especifica. Um abelha, esta sim, nasce determinada geneticamente para fazer mel: atraida pelo perfume das plantas, ela recolhe o nectar que reage com uma enzima dentro de seu corpo que transforma involuntariamente ou naturalmente aquela substncia, que serd depositada na colméia, em mel. Sendo radical na compreensio do termo, pode-se dizer que este animal tem um “chamado interno” que o obriga a realizar tal atividade para sua propria sobrevivéncia € de sua espécie - a abelha tem vocagao (pode-se atribuir aqui sentido bioldgico ou até, caso haja £8, religioso) para produzir mel; esta vocagao no ¢ fruto de escolhas, mas sim determinismo da natureza. ser humano nfo tem nada em seu corpo que o obrigue a realizar determinada tarefa. Se olharmos para os primeiros humanos, encontraremos um animal acuado na caverna e que sai esporadicamente para encontrar alimento. Ele muito frégil: nfo tem pélos suficientes para se proteger das mudangas climéticas, no tem asas para voar, no vive em baixo da agua, nfo tem muita forga (comparado com os outros animais), no tem velocidade, nao tem tamanho, couraga, veneno, presas € nem produz. naturalmente seu proprio alimento. Poderiamos dizer que ele teria poucas chances de sobreviver. Entretanto, nio s6 sobrevive, mas coloca a natureza, que no primeiro momento the era absolutamente hostil, a seu servigo. E como ele pode fazer isso? O que tem de bioldgico fem seu corpo que the permite realizar 0 caminho da fragilidade para a dominagio? Exatamente seu carter pouco especifico. le desenvolve um cérebro maior (em relago a0 seu corpo) e méos livres para manipular. Sao estes dois elementos morfoldgicos que, como ponto de partida, diferenciam os seres humanos de quaisquer outros animais. A 47 partir destes clementos morfolégicos primeiros, ele constréi instrumentos para facilitar sua sobrevivéncia e os aperfeicoa constantemente. Por que vive em sociedade com ‘outros que também tém cérebros ¢ mos, todos podem aprender. E nesta relago com a natureza e com 0s outros que o ser humano cresce, desenvolve-se ¢ adquire habilidades. Como pode ser compreendido 0 processo de individuagdo neste contexto? Vygostky chama de “‘internalizado a reconstrugdo intema de uma operagio externa”(1994, p.75) . Para 0 autor, o processo de internalizagto consiste numa série de transformagdes: “a) Uma operagio que inicialmente representa uma atividade externa reconstruida e comega a ocorrer intemamente. ... b) Um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. ... c) A transformagdo de um processo interpessoal num processo intrapessoal é 0 resultado de uma longa série de eventos corridos ao longo do desenvolvimento” (Vygotsky, 1994, p.75). Assim, para o autor, “A intemnalizagio das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui 0 aspecto caracteristico da psicologia humana; é a base do salto quantitativo da psicologia animal para a psicologia humana”. (Vygotsky, 1994, p.76) ‘A linguagem assume fundamental importdncia nesta intemnalizagdo, A “..,relago entre © pensamento ¢ a palavra ndo é uma coisa mas um processo, um movimento continuo de vaivém do pensamento para a palavra, e vice-versa... O pensamento nao simplesmente expresso em palavras: é por meio delas que ele passa a existir.” (Vygotsky, 1993, p.108) “O pensamento e a linguagem, ... sio a chave para a compreenstio da natureza da consciéncia humana. As palavras desempenham um papel central nio s6 no desenvolvimento do pensamento, mas também na evolugdo histérica da consciéncia como um todo. Uma palavra ¢ um microcosmo da consciéncia humana.” (Vygotsky, 1993, p.132) Aguiar e Bock (1995) discutem a fungaio da Orientago Profissional segundo a visio da Psicologia em bases sécio-histéricas. Consideram-na como uma intervengéo para a promogio da saiide, superando 0 conceito de prevengio que, segundo as autoras, ainda tem como referéncia a doenga, a patologia, que deveria ser prevenida. “Promover saide significa compreender e trabalhar com o individuo a partir de suas relagdes sociais; significa trabalhar estas relagdes construindo uma compreensio sobre clas ¢ a sua transformagéo necesséria. Promover satide significa trabalhar para ampliar a 48 consciéncia que o individuo possui sobre a realidade que o cerca, instumentando-o para agir, no sentido de transformar e resolver todas as dificuldades que essa realidade Ihe apresenta.” (p.12) 49

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