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Análise Psicológica (1997), 2 (XV): 195-205

Introdução às abordagens fenomenológica


e existencial em psicopatologia (II): As
abordagens existenciais

JOSÉ A. CARVALHO TEIXEIRA (*)

As abordagens existenciais em Psicopatolo- lógica (empírico-fenomenológica) dos modos e


gia, tal como as abordagens fenomenológicas, formas da existência perturbada, tomando como
não se constituem como uma posição unificada e ponto de partida as categorias diagnósticas da
incluem vários pontos de vista. Fundamentam-se Psicopatologia.
primordialmente na procura do significado da A segunda, desinteressando-se da análise me-
existência desenvolvida nas obras filosóficas de tafísica ou ontológica do ser, centrou-se na
S. Kierkegaard (1813-1855), F. Nietzsche (1844- análise da existência concreta (não do ser, mas
-1900), M. Heidegger (1899-1976) e J.-P. Sartre sim do seu-mundo) tomando como ponto de
(1905-1980), cujos temas essenciais foram a an- partida, não as categorias da Psicopatologia,
gústia, a razão/desrazão, a morte, a liberdade, a mas a existência total com o objectivo de trazer à
autenticidade e os valores (Olson,1962). claridade as escolhas que o Homem faz para se
A analítica do Dasein de Heidegger, enquanto tornar uma pessoa (o quem) e que Sartre desen-
clarificação filosófica da estrutura transcendental volveu em obras como «Baudelaire», «O Idiota
ou apriorística do ser-no-mundo, e a psicanálise da Família», «Flaubert» e «Saint Genet, Come-
existencial de Sartre na qual o Homem aparece diante e Mártir», entre outras. As suas concep-
como hermeneuta do seu-mundo através da sua ções inspiraram Martín Santos, Rollo May, R.
própria história e através do seu projecto exis- Laing e D. Cooper, entre outros.
tencial, aparecem como os dois pilares principais Por vezes existe certa confusão entre o pensa-
das abordagens existenciais. mento fenomenológico e as abordagens existen-
A primeira constitui o suporte fundamental da ciais em Psicopatologia. Tal facto resulta essen-
Daseinanalyse introduzida por L. Binswanger e cialmente da tradução da designação Daseinana-
continuada por M. Boss como análise psicopato- lyse – utilizado para denominar o método desen-
volvido por Binswanger no quadro de uma abor-
dagem fenomenológica – por análise existencial
(*) Instituto Superior de Psicologia Aplicada. (Ionescu, 1991). Como referem Boss e Condreau
Coordenador do Grupo de Estudos de Psicologia e (1975), esta tradução envolve concepções muito
Psicopatologia Fenomenológicas e Existenciais. diversas e uma série de métodos terapêuticos

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que, por vezes, estão em oposição entre si. Neste através do qual se projecta o ser. O Homem é
artigo reserva-se a designação análise existencial apenas o que ele projecta para si, negando os
na acepção de análise do projecto existencial, seus condicionamentos, lançando-se para a
inspirada nas concepções de Sartre. frente de si mesmo e realizando-se na direcção
do futuro. Quem se projecta no mundo é o
Em artigo publicado anteriormente (Teixeira, sujeito que constrói a sua história (vida), dotado
1993) identificaram-se pontos de convergência de uma consciência projectante. O projecto apa-
nas abordagens fenomenológicas e existenciais e rece como o nexo estruturador da existência.
introduziram-se as correntes principais da psico- Deste modo, o Homem não é uma totalidade,
patologia fenomenológica: fenomenologia acabada e determinada, mas sim uma processo
descritiva e compreensiva de K. Jaspers, feno- incompleto de totalização. Deste ponto de vista,
menologia genético – estrutural de E. Minsko- todas as manifestações do comportamento huma-
wski e a psicopatologia fenomenológico – exis- no seriam expressões do projecto existencial,
tencial (Daseinanalyse) de L. Binswanger. Pre- projecto fundamental de autocriação e constru-
tende-se agora promover uma introdução às ção do seu próprio destino.
abordagens propriamente existenciais em Psico- Em Sartre destaca-se também a ameaça que a
patologia. presença do outro constitui para a minha exis-
tência, porque dotado da mesma liberdade: o que
eu faço aparece ao outro como objecto. Ou seja:
1. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS o meu processo incessante de totalização é cons-
tantemente congelado pelo outro que, objecti-
A análise do Dasein de L. Binswanger repre- vando-me, reduz-me a uma totalidade acabada
sentou uma espécie de «casamento» entre a filo- na qual se perde a condição de sujeito e se passa
sofia existencial de Heidegger e a metodologia a ser-para-o-outro, na condição de objecto.
psicanalítica de Freud, tomando como ponto de Assim, as relações interpessoais aparecem como
partida as categorias diagnósticas da Psicopato- relações essencialmente conflituais («o Inferno
logia e não o Homem na sua totalidade, com são os outros»), vistas como eternos lugares de
uma preocupação essencialmente onto(pato)ló- alienação e de eliminação de mim enquanto hori-
gica e psiquiátrica. Assentou na ideia de que o zonte de possibilidades e de projecto de futuro.
patológico seria o que se afastaria da estrutura O Homem é assim colocado perante os con-
apriorística do ser (dos existenciais temporali- dicionamentos do seu passado e as acções dos
dade, espacialidade, etc.) e se tornou estrutura outros. Ambos o aprisionam, mas o sujeito deve
existencial modificada. É análise da existência sempre tentar superar esta situação, projectando-
(DaSEIN), do sujeito transcendental, e não do -se para além dela, trancendendo-a e transcen-
existente (DAsein). dendo-se. Assim, é nele próprio que reside a
Para Sartre é do existente (DAsein) mesmo transcendência. Esta realidade humana só po-
que se trata. A psicanálise existencial é a análise deria ser apreendida pela lógica dialéctica que
do existente, de como se estrutura o seu-mundo abrange duas componentes: regressiva e progres-
particular, concreto (Villegas, 1994). É análise siva.
do Homem como ser, cuja existência precede a A componente regressiva é a que descreve e
essência. A vida não é determinada nem ante- analisa a situação e define o leque de possibilida-
cedida de nenhuma realidade ideal, pelo que a des dentro da qual o projecto se forma e se ex-
existência é contingente e gratuita. Deste modo, pressa. A componente progressiva é a que capta
o Homem fica obrigado a inventar a sua própria a conduta e as suas obras como superação da
vida, com uma responsabilidade total e irredu- situação e manifestação do projecto.
tível. Mesmo que não queira tem que escolher:
não escolher já é, em si mesmo, uma escolha. Não é possível, no âmbito deste artigo, abor-
O ser do Homem é uma carência de ser (um dar exaustivamente os fundamentos filosóficos
nada), uma ausência. Assim sendo, existir (ex- das abordagens existenciais em Psicopatologia.
-istir), no sentido de estar fora de si mesmo, é No entanto, é desejável introduzir, de forma ne-
pro-jecto, é «estar adiante»: espaço temporal cessariamente breve, alguns temas do existencia-

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lismo que podem ser relevantes para sua melhor Homem poderia assumir livremente, mas sim um
compreensão: a angústia, a morte, a liberdade, o limite que ele pode encontrar em qualquer altura
projecto e os valores. do desenvolvimento dos seus projectos pessoais,
«uma sempre possível aniquilação dos meus
1.1. A angústia possíveis que está fora das minhas possibilida-
des» (Sartre, 1943).
Do ponto de vista existencial a angústia apa- Para Kierkegaard (1935), a angústia é a luta
rece em relação com o sentimento de ter sido do Homem, enquanto pessoa viva, contra o não-
lançado no mundo e sentir-se obrigado a fazer ser. O medo que aparece na experiência de an-
escolhas, nomeadamente em relação às quais gústia não viria da ameaça de morte em si
nem sempre se conhecem antecipadamente todas mesma mas sim do seu conflito ambivalente em
as consequências. É essencialmente angústia relação a essa ameaça. Ou seja, do facto de po-
que aparece diante da necessidade de escolher der sentir-se tentado a ceder a essa ameaça.
(Olson, 1962). É ela que aparece quando temos
que tomar decisões importantes na nossa vida, 1.3. A liberdade
quando tomamos consciência que temos sempre
que decidir por nós próprios, que nada nem nin- Para Sartre a motivação real e decisiva do
guém pode decidir por nós, mas que também comportamento humano é um projecto original
está ligada à liberdade e à autonomia da escolha livremente escolhido no momento da criação do
da sua própria história. seu próprio mundo. Para ele, a hereditariedade, a
Sartre não dedicou na sua obra tanta atenção à educação, o ambiente e os aspectos fisiológicos e
angústia e ao desespero como fizeram Kierke- constitucionais nada explicariam. Pelo contrário,
gaard e G. Marcel. No entanto, foi ele que des- a única causa genuína do comportamento hu-
tacou a angústia como a resultante do facto do mano seria o seu projecto fundamental e indivi-
Homem ter que fazer as suas escolhas sem dual de ser, projecto que seria uma escolha e não
conhecer antes qual será o seu valor. um estado, uma determinação de si próprio, livre
e consciente.
1.2. A morte É neste âmbito que surge a liberdade, que
permitiria ao Homem escolher um projecto que
Para Heidegger, a consciência da própria mor- exprime a totalidade do seu movimento para ser,
te produziria directamente individualidade, pelo a sua relação original consigo próprio, o mundo
facto de destacar o Homem da banalidade da e os outros, patente na sua conduta.
vida de todos os dias e evidenciar o seu carácter Ser livre é fazer escolhas concretas e toda a
de ser-para-a-morte. liberdade é uma liberdade situada na realidade
Uma decisão resoluta do Homem em assumir objectiva, situada no campo da facticidade, na
a sua própria finitude permitiria atenuar o medo qual podem residir obstáculos. Assim, o Homem
que o pensar na morte inspira e, ao mesmo ao agir a sua liberdade sofre com as circunstân-
tempo, introduzir modificações profundas no cias adversas mas faz um esforço para realizar o
seu ser, causadas pelo necessidade constante de seu projecto no mundo, comprometido com uma
autotranscendência. A morte aparece assim co- situação. Não se trata de uma liberdade de obten-
mo a última possibilidade, como o acto final de ção mas sim de uma liberdade de eleição, na
todos os actos de autotranscendência. qual o Homem pode determinar-se a querer por
No entanto, para Sartre a consciência da mor- si mesmo, com autonomia da escolha.
te teria efeitos mais indirectos sobre a indivi- O Homem é livre porque existe um mundo
dualidade que, do seu ponto de vista, estaria que resiste à sua liberdade mediante uma facti-
mais relacionada com a autenticidade das esco- cidade feita do lugar que ocupa no mundo, do
lhas. A consciência da morte influenciaria a indi- seu corpo, do seu passado imutável e da exis-
vidualidade do Homem na medida em que o con- tência dos outros. A liberdade só existe em fun-
duz a escolher sem ter em conta valores conven- ção do em-si, mas a situação só existe em função
cionais ou inautênticos. Para ele a morte não da liberdade, o que quer dizer que não há uma
aparece como uma possibilidade pessoal que o coisa sem a outra. O Homem não escolhe a sua

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situação, mas pode escolher a sua atitude em paráveis, pelo que os sentimentos de frustração,
relação à sua situação e, também, o que faz com insegurança e dor seriam inerentes à condição
ela. A liberdade só encontra no mundo as limi- humana. Esses sentimentos seriam geradores de
tações que ela mesmo colocou, estabelecendo os valores que, com aquela proveniência, seriam os
obstáculos com os quais se vai defrontar. Assim, únicos suportes que o Homem teria para continu-
apenas a liberdade pode limitar a liberdade e o ar a sua caminhada.
Homem fica prisioneiro dela, condenado a ser Assim, esses valores teriam todos a mesma
livre (Sartre, 1943). A liberdade aparece como proveniência: a consciência de tragédia inerente
um facto contingente que nasce com o ser, que à condição humana, que se manifesta na angústia
não pode escolher não ser livre, como também e no sofrimento.
não pode escolher ser livre. Ao mesmo tempo, teriam todos a mesma fun-
ção e uma mesma característica. A sua função
1.4. O projecto seria a de libertar dos medos e das frustrações da
vida de todos e do tédio, enquanto que a sua ca-
Com Sartre apareceu o conceito de projecto racterística comum seria a sua intensidade.
fundamental, enquanto coerência interna da ma- Genericamente, esses valores seriam a liber-
neira de ser de cada pessoa, que emergiria con- dade de escolha, a dignidade individual, o amor
temporaneamente a todas as suas condutas, re- e a criatividade, embora os diferentes autores
flectindo uma escolha originária (Perdigão, não estejam todos de acordo quanto à sua impor-
1995). De acordo com ele, todas as manifesta- tância relativa (Olson, 1962).
ções da vida humana (acções, emoções, senti-
mentos, discurso) seriam diferentes expressões
do projecto que, sendo dotado de certa perma- 2. ASPECTOS GERAIS DAS ABORDAGENS
nência, não é necessariamente imutável. EXISTENCIAIS EM PSICOPATOLOGIA
O projecto emerge de um desejo abstracto de
ser, na medida em que para agir o Homem tem As abordagens existenciais em psicologia e
que estabelecer projectos: decidir, entre as coisas psicopatologia implicam a consideração prévia
que podem ser feitas, as que ele irá fazer. de quatro princípios fundamentais (Brennan,
A estrutura da existência do Homem é narra- 1994):
tiva, a narrativa que ele faz sobre si próprio, que
constitui a sua história. Tomando como ponto de - A pessoa é conceptualizada como um indi-
partida essa narrativa seria possível analisar o víduo que existe como um ser-no-mundo, o
seu projecto existencial, a chave organizadora da que quer dizer que a existência de cada pes-
sua existência, a escolha originária que faz de si soa é única e reflecte percepções, atitudes e
mesmo em situação, escolha livre que se identi- valores individuais
fica com o seu destino e que envolve as suas - O indivíduo é considerado como resultado
construções pessoais duradouras e significativas do seu desenvolvimento pessoal, pelo que a
ao nível dos sentimentos, dos compromissos e da sua experiência psicológica individual é a
realização de si. chave para a compreensão da sua existência
Abriu assim caminho para uma perspectiva - O indivíduo move-se numa trajectória vital
que não tem interesse directamente psicopatoló- na qual luta contra a despersonalização da
gico, mas sim terapêutico (Villegas, 1994): a sua existência que pode ser levada a cabo
análise da existência como expressão de um pela sociedade, que o pode conduzir à alie-
projecto concreto, permite confrontar aberta- nação e à solidão
mente este projecto para assumi-lo e re-elaborá- - O indivíduo (o ser) está sempre em situa-
-lo, na linha da autorrealização. ção (no-mundo), o que limita as suas res-
postas possíveis, implica uma liberdade
1.5. Os valores situada e escolhas em situação
- O método fenomenológico é o método de
Os pontos de vista existenciais referem que a investigação que permite conhecer a expe-
vida de cada homem é marcada por perdas irre- riência individual.

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Complementarmente, surge o estar compro- - O que são os fenómenos psicopatológicos
metido com a tarefa, sempre inacabada, de - O paciente como ser-no-mundo.
descoberta, de posicionamento e de dar sentido à
sua própria existência, constantemente questio- 2.1. O que são os fenómenos psicopatológicos
nado por si mesmo, pelos outros e pelo mundo.
O indivíduo não tem escolha a não ser a de Não é possível individualizar uma posição
actuar e encontrar significados nas suas próprias teórica comum às variadas e multifacetadas
acções, considerando que as acções são limitadas abordagens existenciais. No entanto, a posição
pelas circunstâncias e que quando ele se implica, teórica predominante é a que relaciona os fenó-
escolhendo, não conhece as consequências disso. menos psicopatológicos com a estranheza e o
Apesar disto, está inevitavelmente comprome- afastamento do indivíduo em relação a si mes-
tido nas suas tarefas vitais, pelas quais é irrevo- mo. Isto é, os fenómenos psicopatológicos são
gavelmente responsável, ao mesmo tempo que relacionados com inautenticidade e alienação de
está em constante relação com os outros, relação si.
existencial que é encontro (estar-com) que As perturbações (psicopatologia) teriam
implica (Teixeira, 1996): a presença (de estar- relação com o fracasso do indivíduo em relacio-
-por-si), a reciprocidade (enquanto troca ou es- nar-se de forma significativa consigo mesmo,
tar-para-o-outro, comportamento mútuo de co- com o seu mundo interno («Eingenwelt»). Sem o
-relação), o cuidado (acolhendo o outro na sua si-mesmo (inautenticidade), o sujeito não pode-
esfera vital) e, ainda, o laço emocional entre um ria experimentar o ser-no-mundo, a existência.
eu e um tu que criam um nós, mas que deixa o Incapaz de aceder ao seu mundo interno, seria
outro ser como é. também incapaz de aceder ao mundo interno dos
As abordagens existenciais são abordagens
outros, pelo que não lhe seria possível o encon-
compreensivas, que não estão interessadas em
tro (estar-com) nem as interacções significativas.
relações de tipo causa-efeito mas sim em enten-
Teria lugar assim uma redução importante da
der o como, a totalidade da existência.
experiência, com bloqueio do desenvolvimento
Isto quer dizer que as abordagens existenciais
pessoal. Finalmente, surgiria a angústia relacio-
em Psicopatologia tentam contextualizar os esta-
nada com o afastamento de si-mesmo e o vazio
dos psicopatológicos na totalidade da existência.
O seu ponto de partida não podem ser, portanto, associado à falta de sentido.
as categorias da Psicopatologia (as categorias
diagnósticas que imobilizam e encerram o indi- 2.2. O paciente como ser-no-mundo
víduo no seu passado e no seu presente) mas sim
o existente, a totalidade da sua existência. Neste A conceptualização do paciente como um
aspecto diferenciam-se radicalmente das concep- ser-no-mundo é central nas abordagens existen-
ções da Daseinanalyse de Binswanger, para o ciais em Psicopatologia, quer dizer que a sua
qual o ponto de partida são os estados psico- existência é única e que também a ele, enquanto
patológicos, para evidenciar neles a inflexão existente, aplicam-se-lhe os princípios acima
dos existenciais, da dimensão ontológica do mencionados, que caracterizam a psicologia
Dasein. existencial. O ser-no-mundo descobre-se nos
Nas abordagens existenciais, a psicopatologia mundos simultâneos que são o meio ambiente
(o perturbar-se) aparece assim como uma possi- («Umwelt»), o mundo das interrelações com os
bilidade humana universal e os estados psicopa- outros («Mitwelt») e o mundo interno, da relação
tológicos como fenómenos biográficos, relativi- consigo mesmo («Eigenwelt»), o mundo próprio.
zando-se assim a diferenciação entre normal e É neste quadro que o paciente, o Homem pertur-
patológico e evidenciando-se neles um signifi- bado, aparece como ser-no-mundo, visto tal co-
cado que se relaciona com o ser-no-mundo. mo ele é, a descobrir quer como ser humano quer
como ser-no-mundo. Para o Homem perturbado,
Dois aspectos essenciais merecem atenção tal como para o Homem não-perturbado, as
para caracterizarmos devidamente este tipo de questões são exactamente as mesmas: quem sou
abordagens: eu como ser-no-mundo? qual é a minha identi-

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dade? de onde é que eu venho? como é que dução, alguns contributos específicos que permi-
posso encontrar-me ou aceitar-me? tem pôr em evidência aspectos geralmente consi-
O Homem perturbado encontra-se frequente- derados importantes.
mente num impasse em relação a certos pro- A selecção que se faz, certamente discutível,
jectos e modos de ser: não consegue realizá-los tem por finalidade principal dar a conhecer au-
nem consegue abandoná-los. Está assim limitado tores importantes e servir de guia para aprofun-
na sua tarefa de decoberta, de posicionamento e damentos ulteriores.
de dar sentido à sua própria existência. É aqui
que podemos afirmar a qualidade existencial de 3.1. Rollo May e a psicologia existencial
limitação da própria perturbação.
Esse impasse tem carácter de emprisionamen- Este psicólogo foi o autor que mais contri-
to, de enclausuramento ou de perda de liberdade, buiu, de forma sistemática e persistente, para a
na medida em que afasta o Homem perturbado divulgação das abordagens existenciais nas suas
da liberdade de ser e de vir-a-ser e pode distan- aplicações à psicologia, psicopatologia e psicote-
ciá-lo da sua responsabilidade existencial de en- rapias nos Estados Unidos da América, consi-
contrar e desenvolver alternativas. Essa perda de derando que o existencialismo pode desempe-
liberdade é, essencialmente, perda da liberdade nhar papel importante numa sociedade em crise
de escolha, da possibilidade de fazer uma es- (Spiegelberg, 1972).
colha e de se comprometer com uma decisão, Em 1950 publicou um livro intitulado The
compromisso que faz referência à sua respon- Meaning of Anxiety, em parte baseado na sua
sabilidade e posicionamento activo perante o experiência pessoal de doença e no qual, essen-
mundo, conferindo à experiência uma dimensão cialmente a partir dos conceito de angústia de
de superficialidade, vazio e falta de sentido. Kierkegaard, considerou a negação da morte, en-
quanto negação de uma parte da realidade da
Auto-aprisionado, o Homem perturbado afas- existência humana, como sendo também uma
ta-se de si mesmo e das suas possibilidades de perda da vida. Assim, destacou a necessidade de
auto-afirmação, distancia-se do seu projecto e um confronto directo com o problema da morte
dos seus valores profundos, enclausurado em no interior da sua própria consciência, o que en-
relações com os outros tematizadas pelo passa- volve ansiedade, aceitação da sua própria morta-
do. Daqui pode resultar o défice da experiência lidade e, também, uma mudança da relação com
vivida e o deixar de experimentar a sua existên- o tempo na qual se acentua a necessidade de
cia como uma realidade. Assim, as abordagens viver plenamente cada minuto da vida.
existenciais consideram indispensável a luta Em Man’s Search for Himself (1953), Rollo
contra essa perda do seu-mundo, essa solidão e May caracterizou a solidão e a ansiedade, mas
alienação, e colocam acento tónico na necessi- também a perda de valores e a perda da cons-
dade de facilitar ao paciente o encontro com o ciência de si, num trabalho que é geralmente
seu-mundo, mas encontro que só pode ocorrer considerado como ainda pré-existencialista.
no estar-com, não afastando-o dos outros. Em 1954 publicou Existence, uma colectânea
A já mencionada consideração da psicopatolo- de trabalhos de autores europeus com a finali-
gia como um fenómeno biográfico é a caracte- dade de divulgação, mas é realmente com os
rística essencial da interpretação fenomenológi- seus ensaios The Origins and Significance of the
co-antropológica da perturbação mental e impli- Existential Movement in Psychology e Contribu-
ca um contexto e uma continuidade de sentido, tions of Existential Psychotherapy, publicados
uma organização significativa. no livro Psychology and the Human Dilemma
(1967), que entra definitivamente no campo
existencial ao trabalhar temas como ser e não-
3. ALGUNS CONTRIBUTOS ESPECÍFICOS ser, ser-no-mundo, ansiedade como sentimento
relacionado com a possibilidade de não-ser,
Dada a natureza heterogénea e multiforme das tempo e história e o dilema do Homem que é a
abordagens existenciais em Psicopatologia opta- sua capacidade para se experimentar como
se por destacar, ainda que sob a forma de intro- sujeito e como objecto ao mesmo tempo.

200
Os trabalhos de Rollo May tiveram influência Para Maslow a autorrealização aparece como
significativa em vários autores norte-americanos um processo natural do ser humano e a psicopa-
dos quais se destacam J. Scher, A. Van Kaam, A. tologia surge associada ao seu défice. Este, re-
Maslow e J. Bugental, entre outros sultaria de obstáculos à autorrealização prove-
nientes do contexto social que pode forçar o
3.2. I. Yalom e a angústia gerada pelos con- indivíduo a abandonar o desenvolvimento da sua
flitos existenciais personalidade única, para aceitar papéis sociais
inadequados e convencionalismos paralisantes.
No seu livro Existential Psychotherapy (1980),
I. Yalom desenvolveu uma concepção própria na 3.4. V. Frankl, o vazio existencial e a neurose
qual a psicopatologia emerge da falência das existencial
estratégias utilizadas pelo sujeito no confronto
com a angústia que deriva do que chamou os Foi essencialmente V. Frankl o introdutor da
conflitos existenciais. logoterapia, quem caracterizou as duas etapas da
Um conflito existencial é, para este autor, um falta de sentido para a vida (Frankl, 1969, 1963):
conflito que emana do confronto do indivíduo o vazio existencial e a neurose existencial.
com as preocupações essenciais da existência, O vazio existencial, que também chamou de
preocupações que fazem parte da existência do frustração existencial, caracteriza-se por um
ser-no-mundo: a morte (existência/finitude), a li- estado de aborrecimento, apatia e inutilidade no
berdade (autonomia/dependência), a solidão qual o indivíduo carece de direcção e questiona a
(isolamento/sociabilidade) e a falta de sentido finalidade de todas as actividades da sua vida.
para a vida (projecto/sem sentido para a vida). A Por vezes, queixa-se de vazio, uma forma de
psicodinâmica existencial refere-se aos medos e descontentamento vago quando termina as
motivações geradas por qualquer uma delas, que actividades da semana, dando-se conta que não
pode surgir em relação com a situação existen- há nada que deseje fazer.
cial do Homem. A neurose existencial corresponderia a uma
Yalom identifica as diferentes estratégias uti- fase mais avançada, na qual para além dos
lizadas no confronto com a angústia emergente sentimentos explícitos de falta de sentido para a
dos conflitos existenciais e, na sua falência, vida, o indivíduo desenvolve outros sintomas
refere-se aos quadros psicopatológicos daí resul- neuróticos. Esta neurose existencial (ou noogé-
tantes. nica), essencialmente formada por sintomas que
preenchem o vazio existencial, poderia assumir
3.3. A. Maslow e a autorrealização qualquer modalidade da psicopatologia neuró-
tica.
Em Toward A Psychology of Being (1962), A.
Maslow discutiu o conceito de autorrealização, 3.5. S. Maddi, o aventureirismo, o niilismo e a
considerando que o indivíduo tem no seu interior vegetabilidade
uma propensão natural para o desenvolvimento e
para a unidade da sua personalidade, um conjun- S. Maddi considerou que uma proporção
to único de características e um impulso auto- importante da psicopatologia actual resultaria da
mático para exprimi-las. Do seu ponto de vista, carência da sentido para a vida e descreveu três
uma vez satisfeitas as motivações básicas (fisio- modalidades de «doença existencial» (Maddi,
lógicas), o indivíduo trata de tentar satisfazer as 1979, 1967), designação que, em si mesma, não
suas necessidades superiores: segurança, amor, parece muito adequada: aventureirismo, niilismo
pertença, identidade e auto-estima. Uma vez sa- e vegetabilidade.
tisfeitas estas, tenderá a consagrar-se à tarefa da O aventureirismo caracteriza-se por uma
sua autorrealização, integrada numa série de atracção poderosa para procurar e entregar-se a
necessidades de conhecimento (sabedoria, causas dramáticas e importantes, num activismo
conhecimento interno ou insight) e estéticas compulsivo e indiscriminado que se destinaria a
(coerência, integração, beleza, meditação, criati- lutar contra o sentimento de falta de significado,
vidade e harmonia). aborrecimento e vazio existencial, em que qual-

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quer tipo de causa ou actividade serve. Aparece Considerou que um indivíduo basicamente
associado a uma oscilação entre aborrecimento/ seguro do ponto de vista ontológico enfrentará
/exaltação e indolência/decisão – desafio. Pode todos os riscos da vida, de natureza social, ética,
ligar-se a psicopatologia afectiva, borderline e espiritual e biológica, com um sentimento firme
de abuso de substâncias. da sua própria realidade e identidade, assim
O niilismo caracteriza-se por uma tendência como a dos outros. Apresenta o que chama de
activa e profunda a desacreditar as actividades segurança ontológica primária, enquanto posição
que os outros levam a cabo por acreditarem que básica existencial que é construída no decurso do
são significativas, já que o indivíduo considera desenvolvimento e que permite ao indivíduo
que nada é significativo, uma espécie de anti- sentir o seu próprio ser como real, vivo e com-
significado, no qual transmite desgosto, raiva e pleto, diferenciado do resto do mundo, possuidor
desespero. Nada é o que parece ser: o amor não é de consistência interna, substancialidade,
altruísta mas sim egoísta; a filantropia é uma autenticidade e valor, espacialmente co-exten-
forma de expiar culpas; as crianças não são ino- sivo com o corpo, de tal maneira que a sua iden-
centes; os dirigentes estão enlouquecidos pelo tidade e autonomia não são questionadas. Neste
poder, etc. O indivíduo aparece empenhado em caso, as circunstâncias mais comuns da vida
demonstrar a futilidade em acreditar que alguma não se constituem como ameaçadoras e as rela-
coisa tenha sentido. Pode ligar-se a psicopa- ções interpessoais são potencialmente gratifi-
tologia obsessiva e paranóide. cantes. Pelo contrário, se existe insegurança on-
A vegetabilidade é o grau mais avançado da tológica o indivíduo terá que se absorver na pro-
falta de finalidades em que o indivíduo mostra- cura de meios para tentar ser real, preservar a sua
se sem objectivos e apático, com incapacidade identidade e impedor a perda do seu próprio self.
persistente para acreditar na utilidade e no valor Laing diferenciou três modalidades de ansie-
das tarefas e actividades. Não consegue imaginar dade relacionadas com a insegurança ontológica:
nada que valha a pena e o estado emocional é
aborrecimento intenso, com inércia e indife- - Absorção, na medida em que a sua incer-
rença. Pode ligar-se a psicopatologia depressiva teza prévia relativiza a estabilidade da sua
e esquizofrénica. autonomia e identidade o faz temer perder
a sua identidade na relação com o outro. O
medo da perda do seu ser pela absorção na
3.6. R. Laing, e a insegurança ontológica
outra pessoa (engulfment) leva ao isola-
Ronald Laing tem sido também um dos mento
principais divulgadores do pensamento existen- - Implosão, enquanto medo da invasão da
cialista no campo da psicopatologia e da psiquia- realidade. Apesar de se sentir vazio e an-
tria, acentuando a importância da análise feno- seie para que o vazio venha a ser preenchi-
menológica do mundo do paciente, inicialmente do, o indivíduo teme que isso venha a
influenciado por Kierkegaard, Jaspers, Heideg- acontecer, pelo que qualquer contacto com
ger, Sartre, Binswanger e Tillich (Spiegelberg, a realidade é experimentada como uma
1972), mas decididamente interessado, junta- ameaça, porque é sentida como uma reali-
mente com D. Cooper, na filosofia existencialista dade implosiva e persecutória
de Sartre que, inclusivamente, num prefácio, - Petrificação, entendida como medo de de
manifestou o seu apoio às concepções eviden- transformar ou ser transformado de pessoa
ciadas na abordagem das perturbações mentais. viva em algo morto, num robot, num autó-
A partir da compreensão de indivíduos com mato, sem autonomia pessoal, um objecto
psicopatologia esquizofrénica, R. Laing intro- sem subjectividade, afogado, invadido ou
duziu o conceito de insegurança ontológica congelado pelo outro.
como uma ansiedade relacionada a aconteci-
mentos que se associam ao que chamou afoga- 3.7. D. Cooper e a situação esquizofrénica
mento (engulfment) da sua própria identidade,
de implosão provocada por um mundo invasivo Para D. Cooper, como de resto para R. Laing,
ou de petrificação (Laing, 1965). a génese, as manifestações e a solução terapêu-

202
tica da esquizofrenia remetem todas elas para o análise do mundo do outro, ou seja, na sua
sistema de interacções sociais que no conjunto experiência do mundo da vida ou «Lebenswelt».
da sociedade e, de forma crítica, no âmbito da Nesta experiência, que é uma experiência
família (Cooper, 1972), configuram o projecto de fenomenológica, existe uma procura constante
loucura. para encontrar uma ordem e continuidade das
No quadro da relação precoce da mãe com o vivências pessoais, cuja estrutura assume a
bebé, os actos da mãe promovem a pouco e forma narrativa, porque o ser humano é tempo e
pouco um campo de práxis, com possibilidades o tempo humano é história, sendo esta uma
de reciprocidade. Este começo de acção que elaboração de temas ao longo da biografia
afecta o outro, ou começo da pessoa, é conside- pessoal. Assim, M. Villegas refere que a estru-
rado um segundo nascimento, um nascimento tura da existência é narrativa e que, tomando
existencial que inaugura uma relação dialéctica como ponto de partida a narrativa do sujeito
entre pessoas. Se ocorrer um fracasso na criação seria possível analisar o seu projecto existencial.
do campo de acção recíproca, a criança não ace- O projecto existencial, ao projectar-se em
de a uma das condições necessárias à realização diferentes modalidades fenoménicas, estabelece
da sua autonomia pessoal e a esquizofrenia po- conexões de sentido entre as vivências passadas,
derá surgir como a própria configuração da situa- presentes e futuras,estabelece uma continuidade
ção social que se vai construindo: uma situação compreensível (coerência). É intencionalidade
de crise microssocial na qual os actos e a expe- da consciência que unifica as dimensões afecti-
riência do indivíduo são invalidados pelos outros vas, cognitivas e comportamentais – relacionais.
por razões familiares que, finalmente fazem com Essa continuidade compreensível está presente
que ele seja eleito e identificado como doente no discurso.
mental e, em seguida, confirmada a sua iden-
tidade de esquizofrénico pelos técnicos de saúde M. Villegas, considerando que as diferentes
mental. Reagindo contra a situação, o indivíduo modalidades fenoménicas expressivas (lingua-
assume comportamentos com conotações de gem), reactivas (emoções), activas (comporta-
irracionalidade e de violência. A loucura aparece mentos) e interactivas (relações) poderiam meta-
assim como um projecto frustrado de libertação. foricamente ser vistas como textos, propôs reler
A solução terá que passar sempre pela desa- a própria existência como um texto que é um
lienação, isto é, pela restituição ao indivíduo de objecto (facticidade) que remete para um dis-
um horizonte de possibilidades e de acções curso que é um projecto (possibilidade ou inten-
responsáveis, quer mediante a criação de uma ção de significar). Para tanto, considerou que o
situação controlada de modificação das inter- sujeito tem um projecto que se manifesta em
acções familiares quer mediante a criação de todos os textos que produz, pelo que estes po-
comunidades terapêuticas em que as relações in- deriam ser os mediadores que conduziriam ao lu-
terpessoais sejam livres da violência aberta ou gar da cosntrução do seu-mundo, o discurso
dissimulada que caracterizava o ambiente fami- (dis-curso é o que corre através de, o que atra-
liar e social onde se desenvolveu. vessa), enquanto representação mental do mundo
das vivências pessoais.
3.8. M. Villegas e a hermenêutica do discurso A metodologia que é proposta tem natureza
em psicopatologia compreensiva (Villegas, 1993, 1992 e 1991): é
uma hermenêutica do discurso, da intencionali-
A partir dos pressupostos da psicanálise exis- dade significante, enraizada na análise de textos,
tencial de Sartre, M. Villegas (1994) considerou considerando que é o sujeito quem fala e não os
que se tornava necessário desenvolver um mé- textos, e que não se trata de conhecer o mundo
todo de análise existencial que se suportasse nu- projectado mas sim de aceder ao como o sujeito
ma técnica que permitisse a investigação, no- se projecta no mundo, com unidade, coerência e
meadamente em psicopatologia. continuidade, condicionado pela facticidade mas
O ponto de partida é que o ser não é anali- gerindo a sua liberdade de escolha de várias pos-
sável mas sim o seu-mundo, a existência concre- sibilidades. Ou seja, como estrutura o seu-mun-
ta. A dimensão analítica fundamenta-se na do. A técnica utilizada é a análise semântica tex-

203
tual, centrada na redundância (conteúdos) e na têm dimensão transcendental e finalidade de
coerência (relações estruturais) e que permite autorrealização (tal como foi formulada por A.
aceder às relações de conteúdo e à extracção de Maslow), focalizando essencialmente na dimen-
significados. são das crenças. Podem aqui incluir-se a Logote-
Especificamente enquanto abordagem existen- rapia de V. Frankl, bem como várias técnicas
cial em Psicopatologia pode ter interesse signi- orientais (meditação Zen/Yoga, por exemplo)
ficativo para investigar se existem características tão em voga nos Estados Unidos
comuns na estruturação do discurso de sujeitos
que apresentam o mesmo tipo de perturbação - Terapias Existenciais
(psicopatologia), nomeadamente para identificar Com as influências do existencialismo feno-
a existência duma modalidade específica de menológico europeu de Heidegger e de Sartre,
fracasso do projecto existencial. Ao mesmo tem- tomam por objecto a existência, têm dimensão
po, pode permitir também aceder às caracterís- histórica e a sua finalidade é a mudança e a
ticas que permitam diferenciar modalidades
autonomia pessoal. Utilizando uma metodologia
diferentes de estruturação do discurso relacio-
hermenêutica, focalizam nos constructos pes-
nadas com diferentes estados psicopatológicos.
soais. Incluem essencialmente a Daseinanalyse
de Binswanger e a Análise Existencial de Sartre.
4. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS

BIBLIOGRAFIA
Apesar deste artigo, tal como o anterior
(Carvalho Teixeira, 1993), ter como finalidade
Brennan, J. F. (1994). History and systems of psycho-
essencial fazer uma introdução às abordagens logy. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice Hall.
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forma muito sucinta, as abordagens que apare- Psiquiatria Clínica, 9 (1), 33-43.
cem em Psicoterapia que, só por si, justificariam Carvalho Teixeira, J. A. (1993). Introdução às aborda-
outros trabalhos de revisão. gens fenomenológica e existencial em psicopato-
Tal como Martín-Santos (1964) e Villegas logia (I): A psicopatologia fenomenológica.
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(1994), consideramos uma diferenciação muito
Carvalho Teixeira, J. A. (1994). Fenomenologia, exis-
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