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Marcelo da S. D´Avila
RA: 431.100-7
Orientador: Professor Adriano Conceição Abílio
UNIFMU / 2003
Marcelo da S. D´Avila
São Paulo
2003
Banca Examinadora:
Orientador: ______________________________
Argüidor: ______________________________
Argüidor: ______________________________
Ao meu irmão Paulo Algarve que
nunca me faltou e que sempre
acreditou no meu esforço.
Às minhas amigas Cibele Costa e
Juliana Perpétuo, por toda
dedicação e amizade nestes cinco
anos.
Agradeço ao Professor Orientador
Adriano Conceição Abílio pela
dedicação, paciência e
principalmente pela enorme
capacidade de transmitir todo seu
conhecimento aos seus alunos.
SINOPSE
delito. Faz parte deste trabalho, uma entrevista com vítima de atentado violento ao
pudor, bem como entrevista com autor do referido delito praticado contra menores
de idade.
SUMÁRIO
Introdução..................................................................................................................09
Capítulo 1 – Estupro..................................................................................................10
• 1.1 Generalidades...........................................................................................10
• 1.2 Conceito....................................................................................................11
• 1.12.1 Pena.....................................................................................................28
• 2.1 Generalidades...........................................................................................30
• 2.2 Conceito....................................................................................................31
• 4.1.2 Entrevista...............................................................................................53
Conclusão..................................................................................................................56
Bibliografia.................................................................................................................58
"[…] Eu tinha 5 anos… eu vivi tanto sem poder entender o
que se passava: entretanto, eu acreditava que eram
monstros no meio da noite. Depois de algum tempo, eu
cresci um pouco e eu descobri que era meu pai. Depois,
eu cresci com medo. Medo de que qualquer um viesse a
saber. Medo de ser deformada fisicamente. Medo de ficar
grávida. E medo da idéia de que se um dia eu contasse a
vocês, minhas colegas…Eu seria rejeitada, porque eu
seria considerada uma viciada, um ser bizarro, horrível e
sujo, que viveu uma m. impensável. “. (Viviane Clarac).
Introdução
norma penal incriminadora, surgido com a Lei dos Crimes Hediondos e o estatuto da
Criança e do Adolescente.
próximas agem contra o menor, resguardado pelo silêncio da família, que em muitas
vezes encobre o crime praticado. Buscará uma análise do problema para entender o
que é a pedofilia.
Estatuto da Criança e dos respectivos artigos 213, 214 e 224 do Código Penal no
1.1 Generalidades
violência contra a mulher no marco conceitual dos direitos humanos. Nesse sentido,
de 1993, no artigo 18 de sua Declaração, reconheceu que: "Os direitos humanos das
pessoa humana e devem ser eliminadas […] Os direitos humanos das mulheres
devem ser parte integrante das atividades das Nações Unidas […], que devem incluir
reprodução um dos mais fortes e tendo sido criado pela natureza para promover a
pelo pudor, corretivo à sofreguidão e arbítrio de Eros”.2 Exerce ele uma ação
costumes, atendendo aos critérios ético-sociais vigentes para evitar fatos que
Título VI, que trata dos crimes contra os costumes, estão definidos os crimes contra
a liberdade sexual.3”.
1.2 Conceito
grave ameaça”. O Estupro, primeiro dos crimes contra a liberdade sexual, é definido
no artigo 213 do Código Penal, alterado com relação à pena, pelo artigo 5° da Lei n°
carnais4.
Define Julio Fabbrini Mirabete5, que “o artigo 263 da Lei 8069, de 13-07-90
quatro a dez anos. Entretanto, com o advento da Lei n° 8.072, de 25-07-90, que
3
Neste sentido: STJ: Resp 20.726-9 – SP DJU de 1-6-92, p. 8060; TJSP; RT 381/340;
MONTEIRO, Antônio Lopes. Crimes Hediondos. São Paulo: Saraiva, 1991. p.45, nota 26; BOIATI,
Orides. Crimes Hediondos contra menores de 14 anos. RT 666/401-2; DELMANTO, Celso.
Código Penal anotado. São Paulo: Renovar, 1991, p. 349 e 352. Contra: SHOLZ, Leônidas
Ribeiro. Crimes sexuais contra menores e as incoerências da Lei. Livro de Estudos Jurídicos, v.3,
p. 234-7; FRANCO, Alberto Silva. Crimes Hediondos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991. p.
128-33
4
Mirabete, Julio Fabbrini. Ob. Cit. p.411.
5
Ob. Cit. p.412.
elevou a pena do estupro básico para reclusão, de seis a dez anos, no artigo 6°,
aquele dispositivo restou revogado por ser incompatível com este (artigo 2°, § 1°, da
LICC), não sendo possível punir-se com a pena menos severa o delito quando
691/303, 375, 692/268, 697/339). Pondo fim a qualquer dúvida, a Lei n° 9.291, de 4-
6-96, revogou expressamente o parágrafo único do artigo 231, que havia sido
acrescentado pelo artigo 263 da Lei 8.069 (ECA). A lei 8.072 também definiu o
estupro como crime hediondo (artigo 1°). Posteriormente, essa classificação foi
confirmada pelo artigo 1°, da Lei 8.930, de 6-9-94, que deu nova redação ao artigo
1° da Lei 8072/90. Assim, o autor desse delito não pode ser beneficiado com a
anistia a graça ou o indulto (art. 2º, I), não tem direito à fiança e à liberdade
provisória (artigo 2°, II), deverá cumprir a pena integralmente em regime fechado
(artigo 2°, § 1°), sua prisão temporária pode durar 30 dias, prazo prorrogável por
apelar em liberdade, podendo ser negado o benefício ainda que seja ele primário e
sujeitos, onde somente o homem poderá ser sujeito ativo e somente a mulher
poderá figurar como sujeito passivo deste crime. Existem divergências doutrinárias a
Para alguns autores: Em face do dever conjugal, não haveria crime se o marido
Para outros autores: Por sua vez, ensinam que, caso a negativa da mulher se apóie
em motivo justo, haverá crime. Como exemplos de motivos justos, podemos citar:
• A mulher que pode negar-se ao ato sexual também por razões morais, como,
por exemplo, saber que o marido teve, pouco antes e no mesmo dia, relações
Damásio entende “que o marido pode ser sujeito ativo do crime de estupro
contra a própria esposa, pois, embora com o casamento surja o direito de manter
relacionamento sexual, tal direito não autoriza o marido a forçar ao ato sexual,
empregando contra ela violência física ou moral, que caracteriza o delito de estupro.”
princípio caracterizar-se á o crime de estupro, desde que ela tenha justa causa a
negativa”.6
embora sendo este um crime próprio, a mulher pode figurar como partícipe7 bem
que a mulher pode responder pelo crime de estupro, como partícipe, por mandato,
instigação ou auxílio – STJ – RHC 3020-8 – Rel. José Cândido – DJU, de 21.3.94,
p.5500. – Em sendo o crime de estupro catalogado como sendo crime próprio, pois
pressupõe no autor uma particular condição ou qualidade pessoal, nada impede que
a mulher seja partícipe deste delito contra a liberdade sexual – TJTM – HC – Rel.
exigindo qualquer qualidade especial para que seja vítima de estupro e não
6
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. Ed. Saraiva V.3. – 1999. p. 96.
7
FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui; JÚNIOR, José Silva; NINNO, Wilson; FELTRIN, Sebastião Oscar;
BETANHO,Luiz Carlos; GUASTINI, Vicente Celso da Rocha. Código Penal e sua interpretação
Jurisprudencial. 6. Ed. São Paulo. Ed. Revista dos Tribunais -1997.
8
JESUS, Damásio E. de. Ob. Cit. P. 96.
1.6 Dos elementos objetivos do tipo
demonstre resistência, tente evitar o ato desejado pelo agente, não bastando
estuprador por exaustão de suas forças, nem a que sucumbe ao medo, evitando a
prática de qualquer ato externo de resistência. Importa é que não haja adesão da
“O uso da violência pode ser física (vis absoluta) que impera o uso de força
9
JESUS, Damásio E. de. Ob. Cit. p. 97.
A violência moral (vis compulsiva) por sua vez, se caracteriza pela ameaça. É a
promessa de causar à mulher dano determinado e grave. Deve ser séria e realizável,
capaz de produzir na vítima o temor que a leve a ceder. É necessário pois, que se
capaz ou não de levá-la, pelo medo, a ceder. É preciso que a ameaça seja grave e
que o mal prometido seja idôneo para obter o efeito moral desejado, que o dano
prometido seja considerável de tal forma que a vítima, para evitar o sacrifício do bem
ameaçado, ofereça sua própria honra, abdicando do seu direito de dispor do próprio
corpo. A ameaça pode ser direta, quando exercida contra a própria vítima, ou
ligada a ofendida, fazendo com que esta ceda para evitar a concretização de tal
ameaça. É a hipótese da mãe que cede aos instintos do agente que ameaça matar-
lhe o filho.
O mal ameaçado pode ser justo ou injusto. O agente pode ter até o dever de
causar o mal, mas, se utilizar tal dever para viciar a vontade da vítima e obter-lhe os
dever legal de prender uma mulher que encontre em flagrante delito, ao invés de
fazê-lo, a ameaça de prisão, caso ele não se entregue aos seus desejos.”10
conjunção carnal mediante a violência ou a grave ameaça. Tal elemento subjetivo irá
10
JESUS, Damásio E. de. Ob. Cit. p. 97 e 98.
poderão ser os mesmos e somente a intenção do agente, o chamado dolo específico
(aquele que resulta da intenção direta do agente) fará a distinção entre as duas
figuras. O agente tem que ter a intenção de constranger a mulher até obter a
conjunção carnal.
Jesus).”.11
11
Ob. Cit. p. 98.
de absoluta incapacidade física, em razão da tenra idade da vítima - Condenação
condições do art. 224 do CP, de acordo com o art. 9º da lei nº. 8.072/90, que dispôs
especialmente a pena:
• Quando ela não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.
12
Ob. Cit. p.416.
Trata-se de violência presumida, ficta ou indutiva, onde o legislador presume a
violência, tendo em vista as circunstâncias concretas dentro das quais a vítima não
Nos casos de estupro a pena deve ser agravada de metade, nos termos do
art. 1º. Da Lei nº. 8.072/90, que dispôs sobre os delitos hediondos. Na primeira
violência, uma vez que não será “maior de 14 anos”. A idade da vítima prova-se pela
certidão de nascimento. Em sua falta, a prova pode ser feita por qualquer outro
meio. O registro de nascimento posterior ao crime pode ser infirmado por outras
relativa, cedendo na hipótese de o agente incidir em erro quanto à idade desta, erro
apresentada pela vítima, aparência de maior idade pelo aspecto físico, etc.
alínea “a”, do CP, sendo presumida a violência, uma vez que o dolo eventual só
causa, oferecer resistência. Pouco importa que a causa seja obra do agente ou não.
de duas ou mais pessoas (art. 226, I). Os sujeitos ativos podem ser co-autores ou
velar por sua integridade, ou, em virtude de relações extradomésticas, ter condições
não poder casar-se por qualquer causa (já ser casada, ser parente do agente, ter
sanções penais. Segundo Damásio, “o artigo 263 da Lei n° 8.069, de 13-7-1990, que
único ao artigo 213 do Código Penal, agravando a pena quando cometido o estupro
porém, que a Lei n°. 8072, de 25 de julho do mesmo ano, que classificou e
6°, criou uma causa de aumento de pena (artigo 9°), exasperando-a de metade
quando praticado o crime contra a pessoa que se encontra nas condições do artigo
224 do Código Penal, alcançando a hipótese de vítima que ”não é maior de quatorze
pudor contra menor de catorze anos de idade são aplicáveis os parágrafos únicos
13
Ob. Cit. p. 2923.
dos artigos 213 e 214 do CP, instituídos pela Lei 8.069/90, ou artigo 9° da Lei n°.
em vigor?
pudor contra vítima menor de catorze anos de idade, são aplicáveis os parágrafos
únicos dos artigos 213 e 214 do Código Penal, criados pelo artigo 263 do estatuto da
reclusão de quatro a dez anos; ao segundo, reclusão de três a nove anos. Para esta
Adolescente na parte que criou a qualificadora nos tipos dos crimes dos artigos 213
Câm., rel. Dês. Gentil Leite, j. em 17-6-1991; ACrim 107.879, 3ª Câm. Férias, rel.
Dês. Carlos Bueno, j. em 30-7-1991; TJSP, ACrim 124.894, RT, 692:268 (“in verbis”:
art. 6.º da Lei 8.072/90 -- Norma que revogou disposição contida na Lei 8.069/90 (Estatuto
metade estabelecido pelo art. 9.º da Lei 8.072/90 -- Inadmissibilidade -- Dispositivo que
Paulo, Revistados Tribunais, 1991, artigo 6°, n. 5.00; Paulo José da Costa, Curso de Direito
Penal, são Paulo, Saraiva, 1991, v.3. p.3 e 5. Na jurisprudência: TJSP, ACrim 107.879, JTJ,
136:450; ACrim 112.748, JTJ 135:422; ACrim 115.403, JTJ, 135:454; ACrim 121.635, v.v. do
que ainda não alcançou catorze anos de idade são aplicáveis os artigos 213 e 214
do Código Penal, c/c o artigo 9° da Lei n°. 8.072/90 (penas aumentadas de metade).
De acordo com essa orientação, o artigo 9° da Lei 8.072/90 revogou o artigo 263 do
do legislador, RT, 667:388-9; Celso Delmanto, Código Penal comentado, Rio de Janeiro,
Renovar, 1991, p.349 (posição de Roberto Delmanto); Orides Boiati, Crimes hediondos
contra menores de catorze anos, RT, 666:401-2. Nesse sentido na Jurisprudência: STJ
Resp 20.829, 5ª Turma, DJU, 8 set. 1992, p. 17114; Resp 31.607, 5ª Turma, DJU, 3 maio
1993, p. 7807; STJ, Resp 40.557, 5ª Turma DJU, 28 de fev. 1994, p. 2912; TJSP, ACrim
Damásio entende que os artigos 213 e 214 do Código Penal, que descrevem
14
JESUS, Damásio E. de, 1935 – Código Penal anotado - Damásio E. de Jesus. – 10. ed. Ver. E atual.
– São Paulo: Saraiva 2000, p.699.
daqueles crimes quando cometidos contra vítima menor de catorze anos de idade,
foi derrogado pelo, art.9° da Lei n° 8.072/90, que dispôs sobre os delitos hediondos.
Para efeito de revogação da lei deve ser observado o princípio de que posterior é a
da entrada em vigor (Sabdulli, Novíssimo Digesto Italiano, 1963, v.9. p.647, citado por
Silva Franco, Crimes Hediondos, 1. ed., São Paulo, Revistas dos Tribunais, 1991, p. 131 -2).
Por isto, ensina Dias Marques, citado por Silva Franco, “de duas Leis, uma das quais
foi promulgada primeiro entra em vigor depois e entra em vigor depois, e a outra que
foi promulgada depois e entra em vigor primeiro, será esta que, em caso de
p.264; Silva Franco, Crimes Hediondos, 1. ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1991,
p.132). No caso, a Lei n°. 8.069 foi promulgada primeiro e entrou em vigor depois,
enquanto a Lei n° 8.072, foi promulgada depois e entrou em vigor primeiro. Logo, a
Lei n° 8.072 deve prevalecer sobre a Lei n.8069. Adotada a tese adversa, no sentido
idade são aplicáveis os discutidos parágrafos únicos dos artigos 213 e 214 do
Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 1991, p. 349). Com efeito, a
pena mínima cominada no caput do art. 231, que prevê a forma simples de estupro,
mínimo, de seis anos de reclusão; quando, entretanto, viesse a ser praticado contra
pena do crime realizado contra menor seria mais leve do que a imposta ao autor do
fato cometido contra vítima maior. Essa orientação contraria o sistema do Código
delito contra criança (artigos 61, II, “h”, 121 § 4°, 122, parágrafo único, 126,
parágrafo único, 129, § 7°, 136, § 3°, 215, parágrafo único, 216, parágrafo único,
definitivamente o réu por estupro contra vítima maior, aplicada a pena no mínimo,
ocorreria em oito anos. Como afirmou o Des. Ivan Marques, no voto vencido
senso que se une uma Lei que pretendia penalizar mais gravemente o agressor de
Constitui, sem dúvida, como afirmou Silva Franco, “uma incoerência e, sob certo
enfoque, até um estímulo, a punição mais benéfica para o autor do delito de estupro
será necessário aceitar suas conseqüências lógicas. Uma delas foi notada por
anos são considerados crimes hediondos. Não o seriam, entretanto, adotada a tese
15
FRANCO, Alberto Silva. Crimes hediondos, 1. ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1991, p. 132,
III.
Delmanto, Código Penal comentado). Com razão, uma vez que o artigo 1° da Lei
Hediondos, faz referência aos tipos simples do caput dos artigos 213 e 214 e às
parágrafos únicos dos artigos 213 e 214 do Código Penal. Projetada a distinção a
vítimas adultas, aplicar-se o artigo 8°, caput, da Lei n°. 8.072, com a pena de
reclusão, de três a seis anos, tendo em vista que o delito do artigo 213, quando
contra menores de catorze anos de idade, de acordo com a tese adversa, não se
aplicaria o artigo 8° da Lei 0.072, uma vez que o delito do artigo 213 do Código
Penal, quando cometido contra vítima dessa idade, não seria considerado hediondo
(a Lei n°. 8.072 não se refere ao parágrafo único do artigo 213). Incidiria o artigo 288
do Código Penal, que prevê pena menor de um a três anos de reclusão. A adoção
seguintes hipóteses:
1ª) Estupro contra vítima adulta: Trata-se de crime hediondo, apenado no mínimo
com seis anos de reclusão, não sendo permitidos indulto, graça, liberdade provisória,
2ª) Estupro contra vítima de treze anos de idade: Não seria crime hediondo,
Constituição Federal de 1988, que , em seu artigo 227, parágrafo 4°, determina a
punição severa dos abusos e violência sexual contra menores. O artigo 1° da Lei n°
9.281, de 4 de junho de 1996, revogou os parágrafos únicos dos artigos 213 e 214
ao pudor, “desde que os atos libidinosos praticados não sejam daqueles que
precedem ao coito normal”18. Assim, o coito anal, praticado com a mesma vítima,
com o estupro, não podendo ser absorvido por este. Já na hipótese de lesões
integrantes que são da violência real. O mesmo se diga das simples vias de fato.
reforma penal de 1984, contudo, não há mais essa questão, uma vez que o art. 71,
16
Ob. Cit. p.700.
17
JESUS, Damásio E. de. Ob. Cit. p.697 a 700.
18
JESUS, Damásio E. de. Ob. Cit. p. 101
parágrafo único, do CP expressamente admite a continuação na hipótese em que os
uma senhora casada de lhe causar mal grave, a constranja à conjunção carnal.
1.12.1 Pena
estupro:
(223, caput);
226);
agravada de metade, nos termos do art 9º da Lei nº. 8.072/90, que dispôs
19
JESUS, Damásio E. de. Ob. Cit. p. 100.
1.12.2 Ação Penal
Existem, todavia, duas exceções, contidas nos parágrafos 1º. E 2º do art. 225 do
CP:
2.1 Generalidades
porém, que a Lei n° 8.072, de 25 de julho do mesmo ano, ao dispor sobre os crimes
criou uma causa de aumento de pena (artigo 9°), exasperando-a de metade quando
praticado o delito contra vítima que se encontra nas condições do artigo 224 do
Código Penal, alcançando a hipótese de que a vítima que “não é maior de catorze
ser considerado revogado. Neste sentido: Orides Boiati, Crimes Hediondos contra
menores de catorze anos, RT, 666:401 e 402; Roberto Delmanto, A pressa em punir e os
atropelos do legislador, RT, 667:388-9. No sentido de que o parágrafo único do artigo 214
não foi revogado: Alberto Silva Franco, Crimes Hediondos, 1. ed., São Paulo, Revista dos
Tribunais, 1991, artigo 6°, n. 6.00; TJSP, ACrim 107.879, rel. Des. Carlos Bueno, 3ª Câm.
De Férias, em 30-7-1991; ACrim 105.609, 3ª Câm. Em 17-6-1991, rel. Des. Gentil Leite.
únicos dos artigos 213 e 214 do Código Penal. Trata-se de revogação expressa. Os
Penal, com a pena alterada pelo artigo 6° da Lei n° 8.072, de 25-7-90, como
que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena – reclusão,
crime hediondo, o que posteriormente foi confirmado pelo artigo 1° da Lei n° 8.930
de 6-9.94, que deu nova redação ao artigo 1° da Lei 8.072/90, não podendo
portanto, o autor deste delito, ser beneficiado com anistia, graça ou indulto (artigo 2°,
I), não tendo direito à fiança e à liberdade provisória (art. 2°, II), devendo cumprir a
pena integralmente em regime fechado (artigo 2°, § 1°), sua prisão pode se estender
por trinta dias, prorrogáveis por mais trinta, em caso de extrema e comprovada
Define Damásio20 que “qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime.
Diferentemente do estupro, onde apenas o homem pode ser agente do delito, por se
poderá ser sujeito ativo. Tanto o homem quanto a mulher, por outro lado podem ser
Basta que ofenda o pudor médio e tenha conotação sexual para que se constitua o
delito.”
com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Define Fragoso21 o
ato libidinoso como “toda ação atentatória ao pudor, praticada com propósito lascivo
ou luxurioso”.
Não é necessário que o contato físico. Ato libidinoso é o que visa ao prazer
sexual. É todo aquele que visa o desafogo, a concupiscência, como por exemplo,
20
Ob. Cit. p. 101.
21
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – parte especial. 4. ed. São Paulo. Ed.
Forense. 1980. p.20-21
Define Damásio22, “constranger é obrigar, forçar, exigindo-se o dissenso da
lubricamente com tal destreza que não consegue detê-lo. A hipótese é de presunção
de violência (violência ficta), nos termos do art. 224, c, do CP, pois a vítima, em
Ato libidinoso é o que visa ao prazer sexual. É todo aquele que serve de
conjunção carnal, ou seja, diferente da cópula normal obtida mediante violência, que
ser ofensivo ao pudor coletivo, contrastando com o sentimento de moral médio, sob
o ponto de vista sexual. Além disso, subjetivamente, deve ter por finalidade a
ato praticado. Basta que o ato ofenda o pudor do homem médio, independentemente
capacidade psíquica, seja por extrema depravação moral. Aliás, caso se firmasse
22
Ob. Cit. p. 102.
impediria o seu reconhecimento quando se tratasse de criança inocente ou de
suficiente, pois, que o pudor médio, pouco importando que a vítima consiga, ou não,
anal, o coito inter femora, a fellatio in ore. Outros, porém, não se revestem dessa
objetividade, e somente a análise das circunstâncias do fato é que nos poderá levar
libidinoso diverso da conjunção carnal ou permitir que com ela se pratique tal ato.
forma abrange a participação ativa da vítima, quando ela é quem pratica o ato
que com ela se pratique ato libidinoso, mediante violência ou grave ameaça. É a
atitude passiva da vítima, que se submete aos caprichos de seu agressor, inibida
23
Ob. Cit. p. 103.
sua vontade em razão da violência empregada, de tal forma que a iniciativa cabe
vítima no ato incriminado, ou seja, que haja um contato físico ou corpóreo com o
vítima. Sem a sua participação ativa ou passiva não se pode falar em prática de ato
libidinoso. Pouco importa, por outro lado, que o ofendido esteja vestido ou despido.
Pratica o crime do art. 214 do CP aquele que despe uma jovem e lhe apalpa os
mesma forma pratica o crime aquele que, com o emprego de violência ou grave
ameaça, acaricia as partes pudendas de uma jovem por sobre o seu vestido.
crime. Pode ser levada a praticá-lo com terceiro (ou a permitir que o pratique) ou
constrange a vítima a assistir atos libidinoso praticados por terceiros. Não havendo a
24
Ob. Cit. p. 103.
Dependendo das circunstâncias do caso concreto estaremos diante da prática do
por palavras, alei se refere a ato libidinoso, o que exclui os escritos e as palavras. O
beijo lascivo, por sua vez, se constitui em atentado violento ao pudor, quando
formas de beijo casto e respeitoso aplicado nas faces, ou mesmo o “beijo roubado”,
questão, quando se trata do beijo lascivo nos lábios, aplicado à força, que revela
agente que surpreende uma mulher nua e o constrange a permanecer sem roupas,
para que possa contemplá-la, comete o crime, pois, mediante violência ou grave
ameaça, constrange a vítima a permitir que com ela se pratique ato libidinoso
25
Ob. Cit. p. 104.
acordo com tal entendimento, não praticaria o crime de atentado violento ao pudor
agir. Para que se configure o delito, entende Damásio não há necessidade de que
esteja presente uma finalidade especial, qual seja, a de satisfazer a própria libido, na
quer na hipótese do sujeito que age apenas para satisfazer seu instinto sexual,
do ato libidinoso (RT 504:314, 540:268). Bento de Faria26 entende que é perfeitamente
admissível a tentativa de atentado violento ao pudor27 (RT 707:295 – “in verbis”: TJSP -
da satisfação de sua lascívia, vez que surpreendido pela fuga da vítima e intervenção do pai
prosseguir, por causas alheias a sua vontade, frustrando portanto a prática do ato
libidinoso, só há que se falar em tentativa (RT 607:284 – “in verbis”: TJSP - ATENTADO
sobre a vítima -- Ato libidinoso almejado pelo acusado não conseguido por haver aquela
escapado de seu domínio -- Condenação mantida - Inteligência dos artigos. 214 e 14, II
26
FARIA, Bento de. Código Penal brasileiro comentado. Rio de Janeiro. Record. 1959 v.6. p.26
27
Nesse sentido: HUNGRIA, FRAGOSO. Comentários. Ob. Cit.v.8, p.131-133; NORONHA, E.
Magalhães. Direito Penal. 15 ed. São Paulo. Saraiva. 1964. v.3, p.174-175; e FRAGOSO. Lições. Ob.
Cit. V.3, p.9; e MIRANDA, Darcy de Arruda. Do atentado violento ao pudor. Justitia 39/91
Art. 224 – Presume-se a violência, se a vítima:
ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;
pudor. Em se tratando das lesões corporais leves, estas são absorvidas pelo
atentado violento ao pudor. Com o ato obsceno, pode haver concurso formal. A
diferença entre estes dois crimes, atentado violento ao pudor e estupro, está que no
o agente após a prática de coito normal, obriga a vítima a praticar o coito anal.
Quanto o atentado for constituído de vários atos que, por si, já são libidinosos, não
única.
reclusão, de seis a dez anos. Nos termos do art. 223, se da violência resultar lesão
corporal grave, a pena será de oito a doze anos de reclusão, e, se resultar morte, de
de metade, nos termos do art. 9° da Lei n° 8.072, que dispôs sobre os delitos
hediondos. A Ação Penal é privada, à exceção das hipóteses elencadas no art 225,
§ 1° do CP.28 .
3. Conceito de Pedofilia
Este distúrbio ocorre na maioria dos casos em homens de personalidade tímida, que
28
JESUS, Damásio E. de. Ob. Cit. p. 104.
3.1 A definição de pedofilia pelo DSM
pré-púbere (geralmente com 13 anos ou menos). O indivíduo com Pedofilia deve ter
16 anos ou mais e ser pelo menos 5 anos mais velho que a criança. Para indivíduos
precisa, cabendo exercer o julgamento clínico, pois é preciso levar em conta tanto a
Pedofilia geralmente relatam uma atração por crianças de uma determinada faixa
etária. Alguns preferem meninos, outros sentem maior atração por meninas, e outros
são excitados tanto por meninos quanto por meninas. Os indivíduos que sentem
vezes sentem atração por adultos (Tipo Não-Exclusivo). Os indivíduos com Pedofilia
que atuam segundo seus anseios podem limitar sua atividade a despir e observar a
criança com seus dedos, objetos estranhos ou pênis, utilizando variados graus de
29
Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Norte-Americana de Psiquiatria (F.64.4 –
302.2),
força para tal. Essas atividades são geralmente explicadas com desculpas ou
racionalizações de que possuem "valor educativo" para a criança, de que esta obtém
limitar suas atividades a seus próprios filhos, filhos adotivos ou parentes, ou vitimar
criança para evitar a revelação de seus atos. Outros, particularmente aqueles que
com uma mulher que tenha uma criança atraente, traficar crianças com outros
indivíduos com Pedofilia ou, em casos raros, adotar crianças de países não-
A seguir, passo a relatar a entrevista com uma mulher30, que foi vítima de
A entrevista a seguir relatada foi realizada com uma mulher, vítima de abusos
fato. Sofreu abusos reiteradamente na sua infância, praticadas por um primo e sob
30
A mulher entrevistada hoje tem 35 anos é jornalista e separada de fato. O nome da entrevistada
não foi mencionado para resguardá-la.
Entrevistador: Você se considera uma vítima de abuso sexual?
V: Acho que uns 7 ou 8 anos.talvez 9. Não lembro a idade exata. Algumas coisas eu
V: Sim, sempre foram praticados pela mesma pessoa. Uma pessoa da família. Um
E: Você consegue se lembrar qual a idade que este primo tinha quando
V: Uns vinte anos mais velho. Ele era casado e tinha uma filha bebê. Lembro-me
E: Os abusos aconteciam em locais diferentes? Qual era este (s) local (is)?
V: Quase sempre na garagem da casa. Uma vez no carro. Depois desse dia nunca
V: Não lembro exatamente de quanto tempo aconteceu, mas acho que pelo menos
por um ano. Tinha duas férias no ano, mas houve um período em que ficava muito
nos finais de semana. Acho que no ano seguinte, não fui mais.
E: Você tem idéia de quantas vezes foi molestada?
V: Lembro bem que a primeira vez, aconteceu na garagem da casa. Fiquei um mês
na minha tia e acho que nesse período, aconteceu quase todos os dias.
V: Essa minha tia, ficou afastada da minha família por quase dez anos. Sempre
ouvia falar dela, como a tia rica, que minha avó não gostava, porque fazia "coisas
erradas". Depois fiquei sabendo que essas coisas erradas eram abortos. Quando
minha avó adoeceu, elas voltaram a conversar, e eu, fiquei encantada com tudo.
Uma tia rica, uma casa linda. Adorava ir a casa dela, só que ia e voltava à tarde.
Meu pai ia buscar. A primeira vez em que fiquei uma semana, começou. Minha tia
havia saído, e a esposa dele também. Ambas haviam saído para ir ao médico, com a
ficavam na área de serviço, perto da garagem. A casa era um sobrado e nos fundos,
tinha uma escada que levava a uma outra casa, onde ele morava com a esposa e a
filha, e outra escada, que levava para a garagem. Meu tio, era representante de
bugigangas, roupas, brinquedos, presilhas de cabelo, essas coisas. Toda vez que
estava brincando com os papagaios, quando meu primo me chamou. Pediu que eu
descesse na garagem. Achei que fosse pra pegar algo. Pensei que meu tio estava
lá.
Foi nesse dia que ele começou. Eu estava de vestidinho. Mesmo tendo 7 ou 8
Bom, como disse, tinha corpinho de mocinha, mas era uma criança. Não tinha
a menor idéia do que era aquilo. Ainda sinto nojo, quando lembro daquele dia. Ele
me puxou e eu achei que era brincadeira. Comecei a rir, até perceber que ele
estava esquisito. Ele não soltava meu braço. Ele me puxou e abriu os botões do
meu vestido. Começou a passar a mãos nos meus seios, que eram pequenos,
quase nem tinha. Eu não conseguia me soltar. Eu comecei a chorar e pedi que ele
me largasse, mas ele amarrou uma fita na minha boca e mandou eu ficar quieta.
Passou a mão nas minhas coxas e puxou minha calcinha. Começou a passar a mão
minha vagina, mas não introduziu o dedo. Ele estava de calça comprida e abriu o
zíper. Foi à primeira vez que eu vi um pênis. Não sabia nem o que era aquilo. Nunca
havia visto um pênis ereto. Segurou meus dois braços e mandou eu colocar a boca,
sem morder. Ficou introduzindo em minha boca até ejacular. Eu vomitei. Ele
passava a mão no meu corpo e me acariciava. Ele fez aquilo umas 3 vezes naquele
dia. A primeira foi na boca, a outra na minha mão e a terceira foi nas minhas pernas.
Aquele gosto me deixou enjoada e eu vomitei muito. Depois ele disse para eu não
V: Eu subi as escadas e fui sentar ao lado dos papagaios. Não chorava mais, mas
estava muito assustada e minha boca estava doendo muito. Ele disse que se eu
contasse pra alguém, minha tia ia ficar sem falar com minha avó de novo. Meu braço
estava doendo também, doendo muito. Minha tia chegou umas duas horas depois.
V: Acho que sim. No início acho que não, mas naquela semana, acho que ela
acabou ficando sabendo. Não no primeiro dia, mas nos outros. Naquele dia, à noite,
comecei a jantar mas passei mal. Não conseguia beber nem água que eu vomitava.
Meu braço ficou com marcas. No dia seguinte, minhas coxas também estavam
forçou a fazer sexo oral. Minha tia viu a as marcas nos meus braços, e nem
perguntou. Acho que terceiro ou quarto dia, ela já estava desconfiada, porque ela
fazia de tudo pra eu ficar sozinha com ele. Eu sempre ia com ela no supermercado
pão de açúcar. Daquele dia em diante, ela ia toda tarde ao mercado, quando a
esposa dele saia. Aí ela me deixava sozinha com ele. Eu quase implorava para ir
junto, mas ela não deixava. Num desses dias da semana, ele veio no quarto à noite.
De madrugada, acho. Estava muito silêncio. Ele não acendeu a luz e disse para eu
ficar quieta, de boca fechada. Para eu nem abrir a boca para chorar. Minha boca
estava machucada, porque ele forçava muito na minha boca, e ficou machucada do
lado. Naquela noite, ele puxou meu pijama e colocou a boca em mim. Colocou a
língua na minha vagina e ficou muito tempo fazendo isso, até ejacular na mão dele
mesmo. Quando ele acabou, colocou meu pijama e foi embora. Deste dia em diante
eu não conseguia mais dormir. Nos dias que se passavam, o restante da semana,
eu fiquei muito assustada e não consegui mais dormir. Ficava na sala com meu tio
até ele ir dormir e depois acabava dormindo na sala, de medo. Acabou a semana, e
no domingo meu pai foi me buscar. Minha mãe percebeu as marcas roxas no meu
braço e perguntou, mas minha tia disse que eu havia machucado no bosque. Toda
vez que minha mãe ia à minha tia, eu ficava com medo. Em várias vezes, minha tia,
quando chegávamos no sábado, ela pedia para minha mãe me deixar na casa dela,
pra ajudar a tomar conta das crianças. Ela deixava e recomeçava meu tormento. Era
sempre igual. Ele não introduzia o pênis mas ficava me beijando e agarrando. Ele
sempre me obrigava a fazer sexo oral nele. E quando conseguia entrar no quarto,
tirava meu pijama e colocava a boca em mim. Às vezes introduzia a língua. Quando
chegaram as férias do final de ano, minha mãe me mandou pra lá. Eram 15 dias. A
primeira semana foi um tormento. No primeiro dia estávamos na cozinha, e ele disse
que ia ao supermercado buscar as compras. Minha tia mandou eu ir junto. Era uma
levou pra um lugar no meio de um canavial. Foi logo abrindo o zíper e colocando o
pênis na minha boca. Ficou passando a mão nos meus seios e falando na minha
orelha. Nunca vou esquecer aquela voz nojenta. Um bafo quente. Falou que meus
seios estavam crescendo e que eu estava mais bonita. Enfiava o pênis na minha
boca e gemia igual um porco. Eu ficava cada vez mais assustada. Nesse dia ele
ejaculou na minha boca 3 vezes. Naquela noite ele entrou no quarto de novo, só que
eu comecei a chorar e meu tio ouviu. Ele abriu a porta do quarto dele e meu primo
pulou a janela. No resto da primeira semana, ele me forçou a fazer sexo oral e no
sábado, entrou no banheiro quando eu estava tomando banho. Eu estava nua. Ele
No domingo, minha avó foi na minha tia e eu pedi pra ela me levar embora.
Ela perguntou porque eu estava assustada e eu não falei nada, só pedi pra ela me
levar embora. Fiquei mais uns 3 dias, e na ultima vez que ele fez isso, ele ejaculou
na minha barriga. Eu o empurrei e sai correndo. Meu vestido estava rasgado e meu
tio viu. Mas ninguém falou nada. No dia seguinte minha avó voltou e eu disse que ia
embora.
Quando cheguei em casa minha mãe viu as marcas roxas nas minhas pernas.
Eu falei que tinha caído, mas acho que ela percebeu e nunca mais fui passar as
V: As marcas nos braços, era de tenta força que ele fazia pra me segurar. As
marcas nas coxas, era dele forçar o penis na minha perna. Ele foi o único. Acho que
E: Estes abusos, em alguma época da sua vida, foram relatados para alguém
minha avó, que acredito ter desconfiado, pois depois daquele dia, nunca mais minha
terrível, sempre passei as férias em minha casa, não querendo mais viajar para a
casa de nenhum parente. Só saía com minha avó, que eu via como minha protetora,
pois ela havia me tirado de lá. Veio a fase da adolescência e eu continuei muito
fechada. Era a garota mais alegre da turma, mas quando se tratava de namorar, eu
gelava. Somente na fase adulta, vim a entender que não era eu a errada e sim ele.
Fiz terapia e sessões com um psicólogo, há pouco tempo, menos de um ano. Tudo o
que aconteceu influenciou em tudo na minha vida. Acho que consegui me libertar de
tudo isso há menos de um ano. Tudo o que aconteceu influenciou na minha vida,
incluindo a sexual. Na adolescência, sempre fui uma das meninas mais alegres e
caia fora. Mesmo que eu estivesse apaixonada, acabava por não deixar rolar nada.
V: Não, as marcas vão existir para sempre, pois não dá pra esquecer. Mesmo que
eu queira, depois de terapia. Isso ajudou no sentido de ver que não era eu quem
estava errada e sim ele. Convivo melhor com isso tudo, mas as seqüelas não vão
Namorava, mas quando os meninos tentavam quer coisa, mesmo que um simples
"passar de mão", isso me afastava e o namoro durava pouco. Eu era a única menina
da turma, que Não namorava firme, era mais a conselheira, a amiga dos meninos.
pior, pois todas as garotas da turma já haviam transado, menos eu. Namorava, mas
quando o namoro começava a ficar sério, já me dava medo. Quando o cara tentava
algo então, até minha paixão acabava. O pior de tudo, era que eu sentia vontade,
mas o medo não deixava. Eu mesma acabei descobrindo, aos poucos, meu corpo.
viagem. Esfriei na hora e ele acabou achando que eu não gostava dele. Estávamos
de aliança comprada e tudo. Daí em diante, não namorei mais ninguém sério. Era
sair, beijar e só. Acabei me casando com alguém que não amava o suficiente, mas
que se mostrou carinhoso e meio "pai". Não forçava nada, deixou as coisas
todo o resto da minha vida. Não dá pra mudar o que aconteceu. Passei minha
infância meio que trancada em casa, com medo de tudo. Na adolescência, fiz muitos
amigos, e por ser uma menina bonita, bastava algum menino dizer que me achava
bonita, e eu já ficava em pânico. Sempre ouvia do "primo", nas horas em que ele me
agarrava, que eu era linda. Ele sempre dizia no meu ouvido, que eu era perfeita,
essas coisas. Acabei por ligar isso a todos os elogios que recebi. Hoje, já não acho
que sexo seja algo que machuca. Pelo contrário. Mas algumas "cantadas" que ouço
por aí, me lembram o crápula. Acho que se isso não tivesse acontecido, muita coisa
poderia ter sido diferente. Sou uma pessoa fria em tudo. Quando alguém fala comigo
não respondem. É como se não estivesse acontecendo comigo. Acho que se isso
não tivesse acontecido, não teria me fechado tanto. Talvez, não tivesse jogado parte
E: Você ainda encontra o agressor? Tem contato? Como é a vida desta pessoa
hoje?
V: Bom, ele é meu primo. Por mais que tente não ver, às vezes o encontro. Trato
friamente. Acho que ele tem ciência do que me fez. Ele tem uma vida aparentemente
normal. Separou-se da primeira esposa, e já teve outras três. Tem um filho com
cada uma, sendo que das duas primeiras, são meninas. Tenho pouco contato,
porque ele, infelizmente, é meu primo. Há algum tempo, tornou-se alcoólatra. Pediu
minha ajuda, e como sou espírita, não pude recusar. Acabei por interná-lo em uma
clinica de alcoólatras, onde ficou por 8 meses. Saiu a algum tempo e arrumei um
trabalho na prefeitura para ele. Tornou-se evangélico, e hoje, está com cirrose
hepática. Não sinto pena nenhuma. Não o visito, não ligo pra saber se está melhor
ou não, simplesmente, risquei essa pessoa da minha vida. Ajudei-o, como ajudaria
qualquer estranho. Mas confesso que às vezes, ainda sonho com tudo aquilo e
acordo revoltada. Acho que não há análise, não há terapia que pague isso tudo.
O ator Joel da Silva Gonçalves, de 27 anos, pai de dois filhos, uma menina de
como passou a ser chamado pela Polícia, o homem que violentou sexualmente doze
mulheres em Campinas desde o mês de abril de 2002. Entre as vítimas estão duas
denúncias anônimas, Gonçalves foi reconhecido na DDM por sete vítimas. Ele tinha
a prisão preventiva decretada pela Justiça em Santos, litoral paulista, por estupro.
Ao ser preso, o ator estava acompanhado pela mulher e os dois filhos. Ele dirigia a
Kombi, bege, ano 79. Gonçalves admitiu que atacou três vítimas. "Posso provar que
diferentes", disse.
Campinas às 10h30. Ela reagiu e lutou com o estuprador mordendo uma das mãos.
Como reação, a menina foi atingida com socos na boca e teve pelo menos cinco
sexo oral e anal. A menina passou por duas cirurgias, uma para correção do canal
"Sete vítimas reconheceram sem sombra de dúvidas esse homem como autor do
estupro. Estamos tentando localizar duas que não registraram queixa e outras duas
não foram achadas em casa", disse a delegada Maria Cecília. A policial afirmou que
sua prisão preventiva. Segundo a delegada, Gonçalves disse que a arma utilizada
para intimidar as vítimas era um brinquedo que ele trocou por doces com uma
brinquedo não foi achada. Gonçalves é ator mímico, trabalha com teatro mudo, e
fazia até palestras em escolas sobre seu trabalho. Ele faz o papel do "sombra" em
festas e eventos nas ruas – segue pessoas e imita seus gestos e já participou de
Depois fui tentei ajudá-la. As duas outras moças fizeram por que quiseram. Não
cheguei a tocar nela. Eu somente quis fazer uma brincadeira", disse Gonçalves .
A delegada Maria Cecília disse que outras vítimas deverão ser convocadas para
4.1.2 Entrevista:
E: E a menina de 11 anos?
A: Eu não fiz nada. Ela se assustou e correu, depois de morder minha mão. Mas eu
ela.
E: Dentro da perua?
A: É, eu ia fazer a maquiagem.
E: A menina disse que não lembra de muita coisa, só que você fez carinho
nela.
E: Ela não ficou quieta, por isso você a amarrou com o vestidinho?
A: Não, não amarrei. É que ela não conseguia ficar com as mãos paradas.
A: Sim, amarrei.
A: Não me lembro.
A: Só nas pernas..
A: As pernas.
E: Você chegou a fazer sexo com ela?
A: Na boca.
A: Na parte de traz..
E: No bumbum?
A: É
E: Dentro ou fora?
A: Nos dois.
imprensa, que havia sido forçado a confessar. Durante a entrevista31, ele se mostrou
31
A entrevista foi realizada pela jornalista Regina Lopes e publicada no Jornal “Correio Popular”, da
Cidade de Campinas, São Paulo.
Conclusão
pudor, cometido contra menores é notável que o mais comum são agressores com
cometidas por pais ou parentes próximos, parece não ser vista como algo tão grave.
Parentes não têm consciência do enorme prejuízo que tais agressões trarão ao
tamanho da gravidade penal gerada por tais atos. Acreditam que são problemas
familiares que podem ser resolvidos no âmbito familiar, ou, como na sua grande
procurando mostrar à sociedade, o perigo que estão correndo suas crianças, que
• FARIA, Bento de. Código Penal brasileiro comentado. Rio de Janeiro. Record.
1959 v.6.
Tribunais, 1991.
• FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui; JÚNIOR, José Silva; NINNO, Wilson;
• MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 17 ed. São Paulo. Ed.