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Curso sobre Inquisição – Pe Paulo Ricardo

Aula 1

A Inquisição em seu contexto

Para entender o que foi realmente a Inquisição, é preciso que "entremos" no período
histórico da Baixa Idade Média e conheçamos o contexto em que ela surgiu. Por que
era necessário criar um tribunal para julgar "crimes contra a fé"? O que estava
acontecendo na Europa que demandava a intervenção direta dos bispos e religiosos da
Igreja?

É o que vamos responder nesta aula de nosso curso sobre a Inquisição.

Um remédio. – A palavra Inquisição vem do termo latino inquisitio, que quer dizer
"investigação". Trata-se de uma instituição da Igreja Católica, criada para julgar católicos
suspeitos de pecados contra a fé.

A Inquisição funcionou como um remédio para o "sistema imunológico" da Igreja: na


linha da analogia do Apóstolo, que compara a Igreja a um corpo místico (cf. 1 Cor 12,
12s), é possível dizer que ela, como organismo, também possui um sistema de defesa. No
decorrer dos tempos, esse mecanismo sempre esteve suscetível a falhas, i) seja por
excesso – como acontecia nos séculos XI e XII, por conta da heresia cátara –, ii) seja por
falta de ação – como acontece hoje, quando a Igreja é incapaz de identificar o seu inimigo
e agir efetivamente contra ele.

Antes que os tribunais inquisitórios fossem instaurados, o "sistema imunológico" da


Igreja experimentava a primeira situação: infectado por uma doença autoimune,
começava a interpretar até mesmo os membros de seu corpo como inimigos e acabava
destruindo-os por engano. À época, de fato, a sociedade começou a reagir contra as
heresias de forma muito desordenada – com linchamentos e arruaças, por exemplo – e
pessoas inocentes acabavam pagando o preço por isso. Então, em sua sabedoria, a Igreja
decidiu criar uma instituição para deter e controlar esse fenômeno social.

Isso não justifica todas as arbitrariedades cometidas nessa época, nem canoniza todas as
pessoas envolvidas nos julgamentos da Inquisição. Importa reconhecer que, embora
tenha sido boa para deter a violência e cumprir com a justiça, muitos abusos ocorreram
durante a existência da Inquisição. A própria Igreja levou um tempo para descobrir qual
era o melhor método para lidar com os hereges, errando antes, por exemplo, no episódio
da Cruzada Albigense (1209-1229), e enfrentando dificuldades depois, para gerenciar a
instituição que ela mesma havia criado.

Contexto social. – Na Idade Média, a religião não era uma realidade privada, como
encara hoje a modernidade.

Quando caiu o Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., e os povos bárbaros invadiram
a Europa, a Igreja Católica foi a única instituição a conservar o patrimônio da Antiguidade.
Foi ela que, acrescentando a isso a sabedoria do Evangelho, converteu os bárbaros com a
sua pregação e trouxe para perto de si os reis e nobres do continente. À época da
coroação de Carlos Magno como Imperador do Ocidente, no Natal de 800, no entanto, os
monarcas não eram uma instituição forte como no absolutismo: seu poder era reduzido
face a outros cargos nobiliárquicos importantes – ducados, marquesados, condados,
viscondados, baronatos etc. – e eles sobreviviam à custa de constantes alianças políticas.
Os senhores feudais, por sua vez, firmavam pactos de vassalagem com os seus inferiores.

Nesse sistema, a figura do rei não era o membro mais forte da articulação. O que unia as
pessoas não era um Estado absoluto, nem o idioma que falavam – já que ainda não
existia unidade linguística –, mas a sua identidade religiosa. A fé católica era, pois, a força
constitutiva da unidade social.

A ameaça cátara. – É nesse ambiente profundamente religioso que surge a heresia cátara
– cujo conteúdo se parece muito com a gnose dos primeiros séculos e com
o maniqueísmo contra o qual lutou Santo Agostinho. Através da rota de comércio do
Primeiro Império Búlgaro, os bogomilos ("deus querido", no idioma eslávico) se
alastraram pela Europa, fixando-se em regiões comercialmente ricas, como o sul da
França e o norte da Itália.

Concebendo dois deuses – um bom, criador do espírito, e outro mau, que criou a matéria
–, os cátaros (do grego "καθαρός", que quer dizer "puros") condenavam tudo o que
estivesse ligado à carne [1]: desde os alimentos para o próprio sustento, passando pelas
riquezas materiais, até as próprias relações sexuais.

Diante de um clero luxurioso, mal formado e corrompido [2], o discurso desses ascetas
aparentemente virtuosos era muito sedutor. Os verdadeiros cátaros, chamados de
"perfeitos", comiam muito pouco, eram pobres e celibatários e, por conta de sua vida
austera, tinham o rosto magro e macilento. Sua vida, diametralmente oposta à dos
clérigos católicos, começou a atrair muitas pessoas.

A grande massa de hereges, no entanto, não vivia como os "puros". Para se salvar, ela
recorria a um sacramento [3], chamado de consolamentum. Depois de uma vida inteira
no vício contra a natureza – praticando a masturbação, o coito interrompido e até
mesmo o aborto, a fim de não gerar mais indivíduos para este mundo material –, os
cátaros "se redimiam" às portas da morte por meio desse rito e, para que não voltassem
a pecar, se abstinham de comida e bebida, numa prática suicida chamada de endura.

As consequências práticas da doutrina cátara eram terríveis: com a baixa taxa de


natalidade e morte precoce dos "puros", a população na Europa começou a diminuir
drasticamente. Estatisticamente falando, é sabido, pelas fontes primárias, que morreram
muito mais pessoas vítimas da endura que das fogueiras da Inquisição. Contrários a
qualquer espécie de juramento, os cátaros também atingiam a própria medula do
organismo social e político da Idade Média, formado por várias alianças e pactos de
suserania e vassalagem.

Não fosse o bastante, os cátaros não se identificavam como tais: funcionavam como
uma igreja dentro da própria Igreja, parasitando a hierarquia católica desde dentro.

A reação. – Em 1022, o segundo rei da dinasPa capePana, Roberto, o Piedoso († 1031),


queimou na fogueira doze cônegos adeptos da heresia cátara. Um deles era confessor da
rainha e a tinha aconselhado a abster-se dos atos conjugais com o seu marido. Como se
pode perceber, a iniciativa de caça aos hereges foi tomada pelos próprios senhores
feudais. A Igreja em si, enquanto hierarquia, não tinha tomado iniciativa ainda.

Uma fonte primária relata que, em 1114, feitos alguns prisioneiros na região de Soissons,
na França, os bispos se reuniram para decidir o que fazer com relação aos hereges.
Enquanto o concílio acontecia em Beauvais, no entanto, o povo decidiu fazer justiça com
as próprias mãos:

"Então, nós fomos ao Concílio de Beauvais para consultar os bispos sobre o que deveria
ser feito. Mas, neste ínterim, o povo fiel, temendo fraqueza por parte do clero, assaltou a
prisão, arrebatou os prisioneiros, colocou-os na fogueira, do lado de fora da cidade, e
reduziu-os a cinzas." [4]

Esse tipo de comportamento por parte da população da Idade Média era uma reação ao
caos social provocado pela heresia cátara. Era, porém, uma prova de que, de fato, o
"sistema imunológico" da Igreja se encontrava "enlouquecido" e era preciso dar equilíbrio
às coisas. Foi a partir disso que se instituiu a Inquisição, a fim de julgar, com prudência,
justiça e humanidade, os casos de heresia que afligiam a sociedade medieval. Como o
Estado não tinha instrumental teológico para proceder a tais investigações, foi a Igreja a
responsável por cuidar desse processo.

Importa dizer que, antes que a Inquisição pontifícia fosse finalmente criada, os Papas
tentaram de vários modos solucionar a questão: primeiro, enviando pregadores às
regiões mais problemáticas, a fim de dissuadir os hereges e convertê-los; depois, por
meio da Cruzada Albigense, quando o sul da França foi assolado por um conflito violento,
no qual o norte do país se envolveu com intenções nada religiosas. Só mais tarde o
tribunal do Santo Ofício foi definitivamente instalado – e é sobre os seus métodos e
punições, considerados por muitos estudiosos como um verdadeiro progresso jurídico,
que se falará especificamente na próxima aula.

Referências

1. Veja-se como São Francisco de Assis († 1226), com seu amor pelas criaturas, é exatamente o oposto da
heresia cátara, como que um antídoto mandado por Deus para fazer brilhar diante do mundo a verdade
católica.

2. O século X, do qual a sociedade medieval tinha acabado de sair, foi apelidado de "saeculum obscurum", por
conta dos terríveis pontificados que se sucederam nesse período. O Papa João XII, por exemplo, eleito por
jogos políticos, realizava banquetes e orgias em pleno Palácio de Latrão. Eram recorrentes também a
"questão das investiduras leigas" – quando o poder secular interferia indevidamente na nomeação dos
bispos – e a questão da simonia – pela qual pessoas compravam para si ou para outrem os cargos
eclesiásticos.

3. Já que a matéria era rejeitada pelos cátaros, todos os sacramentos católicos – enquanto "se requerem
realidades sensíveis para os sacramentos" (Suma Teológica, III, q. 60, a. 4) – foram negados por eles. O
sacramento da Eucaristia, por exemplo, pelo qual o próprio Deus se nos torna presente nas espécies do pão
e do vinho, era o mais absurdo e inconcebível de todos.

4. PETERS, Edward. Heresy and Authority in Medieval Europe. Philadelphia: University of Pennsylvania Press,
1980. p. 74.

Bibliografia

AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. Lorena: Cléofas, 2009. 304p.

BARBER, Malcolm. The Cathars: Dualist Heretics in Languedoc in the High Middle Ages. New York:
Routledge, 2000. 304p.

BORROMEO, Agostino (a cura di). L'Inquisizione. Atti del Simposio Internazionale. Città del Vaticano:
Biblioteca Apostolica Vaticana, 2003. 786p.

DUMONT, Jean. L'Eglise au risque de l'histoire. Criterion, 1981. 413p.

PETERS, Edward. Heresy and Authority in Medieval Europe. Philadelphia: University of Pennsylvania Press,
1980. 312p.

PETERS, Edward. Inquisition. University of California Press, 1989. 368p.


Aula 2

A Inquisição Medieval
Uma Igreja em reascensão. – Quando começou a Idade Média, a Igreja foi a única
instituição a permanecer de pé diante da derrocada do Império Romano e subsequente
invasão dos bárbaros. O renascimento carolíngio tentou trazer de volta a cultura antiga e
cristianizar a Europa, mas a invasão dos vikings, ainda durante o reinado de Carlos
Magno, freou todos os seus esforços civilizatórios. No auge da decadência medieval, o
século X, chamado também de "século de ferro" ou "século obscuro", viu o trono do
Apóstolo Pedro ser vendido a homens luxuriosos e indignos, regentes de um clero laxo e
dissoluto.

Na virada do milênio, enfim, a situação eclesiástica começou a mudar de figura. Além da


purificação moral e intelectual no seio da própria Igreja – agraciada com a a fundação das
escolas monásticas e a reforma religiosa de Cluny –, o poder religioso começou a se ver
livre das amarras do braço secular. É emblemático, nesse sentido, o episódio da
peregrinação do Rei Henrique IV a Canossa, para reconciliar-se com o Papa São Gregório
VII: apesar de seus pecados e conflitos posteriores com a Igreja, o monarca germânico se
prostrava diante do poder das chaves (cf. Mt 16, 19) e da supremacia espiritual do
sucessor de São Pedro.

Enquanto pelejava com a própria reconstrução, no entanto, a Igreja se deparou com uma
nova ameaça: o crescimento e disseminação da seita albigense (da palavra "Albi", cidade
da França na qual se originou a heresia cátara). Herdeiros dos gnósticos da Antiguidade,
os cátaros começaram a influenciar áreas bem desenvolvidas comercialmente, usando a
ignorância do povo para falsear a fé verdadeira e fazendo ruir o tecido social e político da
Europa medieval.

Bernardo e Domingos pregam aos hereges. – Como reação ao crescimento albigense, no


fim do século XI e alvorecer do século XII, a própria população começou a agir contra os
hereges, como foi visto na primeira aula [1].

Na verdade, a expansão dessa heresia pegou toda a cristandade de surpresa. Diz a


respeito o padre Shannon que, "por estranho que possa parecer, a própria Igreja no
Ocidente tinha pouca experiência em tratar com seitas heréticas grandes e organizadas"
[2]. Heresias, de fato, sempre existiram; mas o catarismo, com sua estrutura bem
montada – que se infiltrava na Igreja e chegava a constituir um "clero" paralelo –, era
uma novidade.
Assim, para resolver a questão, a Igreja começou como que às apalpadelas. Iniciou com o
que São João Crisóstomo mais vivamente recomenda em tempos de crise: o
"aconselhamento pela palavra" [3].

Com um clero secular em sua grande parte corrupto e mal formado, os primeiros
enviados a pregar aos hereges foram os monges, muito embora a sua mobilidade fosse
limitada por conta de seu estado de vida. São Bernardo de Claraval († 1153), por
exemplo, em muitos dos seus famosos sermões sobre o Cântico dos Cânticos [4],
procurou convencer os cátaros da falsidade de sua doutrina e da verdade da fé católica.
Mesmo a sua grande santidade e eloquência, porém, não obtiveram êxito para debelar
de vez os sectários albigenses.

No condado de Provence, ao sul da França, impressionava não tanto a opulência


eclesiástica – na região, chegava a haver bispos em dificuldades financeiras –, mas a
adesão em massa de senhores feudais à heresia cátara. Foi então que Deus suscitou o
grande padre espanhol São Domingos de Gusmão († 1221), cuja Ordem dos Pregadores,
unindo a contemplação da Verdade à pregação da fé [5], foi muito importante na
conversão dos albigenses da região.

Soluções insuficientes. – Só a pregação, porém, não bastava. O Papa Lúcio III († 1185), no
Sínodo de Verona, condenou os cátaros e:

"todos aqueles que, a propósito do sacramento do corpo e do sangue do Senhor, da


confissão dos pecados, do matrimônio ou dos outros sacramentos eclesiásticos não
temem pensar ou ensinar diferentemente daquilo que prega e observa a santa Igreja
Romana; e, de modo geral, todos aqueles que a mesma Igreja romana, ou, nas suas
dioceses, os respectivos bispos com o conselho dos clérigos, ou os próprios clérigos, em
caso de sede vacante, com o conselho, se necessário, dos bispos vizinhos, têm julgado
hereges." [6]

Em um esforço com o monarca germânico Frederico Barba-Roxa († 1190), o mesmo


Pontífice instituiu, por meio de vários decretos, a chamada Inquisição episcopal, que
pretendia extirpar as heresias através da visita dos Ordinários locais às suas dioceses. O
plano, infelizmente, não saiu do papel.

Quando Pierre de Castelnau, um legado pontifício de Inocêncio III († 1216) – o Papa do IV


Concílio de Latrão [7] –, foi assassinado no dia 14 de janeiro de 1208, a história ganhou
um novo rumo. O suspeito do crime, o conde Raimundo VI, de Toulouse († 1222), era
acusado também de favorecer e acobertar os albigenses – um fenômeno comum na
região meridional da França.
Frente a esse problema, então, o Papa respondeu com uma iniciativa controversa:
a Cruzada Albigense (1209-1229). Impulsionados pela garantia de indulgência plenária, os
senhores do norte da França armaram os seus exércitos e partiram ao sul da França para
combater os cátaros. As boas intenções de Inocêncio, porém, não foram correspondidas
pelos cruzados, que cometeram saques e atrocidades durante uma guerra que se
arrastou por anos a fio. Certas cifras sobre esse episódio histórico são evidentemente
exageradas, mas isso não torna a ação do Papa menos questionável: há quem sustente,
de fato, que ele cometeu um erro gravíssimo, enquanto outros afirmam que ele não
tinha outra opção, senão convocar a dita Cruzada.

A Inquisição no seu mundo. – Finalmente, fracassada a Cruzada, instituiu-se a Inquisição.


O Papa Honório III, sucessor de Inocêncio, logo estabeleceu a pena de morte para os
hereges e os tribunais começaram a adotá-la, além do uso da tortura. A pergunta é: como
entender que uma instituição eclesiástica condenasse as pessoas desse modo?

Para compreender isso, é preciso mergulhar fundo no universo medieval e no contexto


em que se deu a Inquisição. No século XII, o direito estava passando por um processo de
revitalização, seja no âmbito civil, seja no âmbito religioso. Vale lembrar que as invasões
bárbaras haviam levado a Europa a uma verdadeira desordem cultural e práticas terríveis
de tortura e execução se difundiram mui rapidamente pelo continente. Era recorrente,
por exemplo – ainda que fosse condenada por vários Papas [8] –, a prática da ordália,
pela qual uma pessoa suspeita de cometer algum crime era submetida a forças da
natureza, "obrigando" uma espécie de "juízo de Deus".

Antes dos tribunais do Santo Ofício, de fato, o processo de investigação dos crimes era
muito rudimentar. Não havendo direito processual, os juízes dos tribunais civis emitiam
sentenças baseadas tão somente em seu arbítrio, sem a necessidade de provas
contundentes para condenar um réu. A tortura e a pena de morte eram largamente
utilizadas como métodos de punição.

Diante desse quadro, a Inquisição, dando às pessoas o direito de defesa e julgando-as


com cautela, respeito e prudência, representou um verdadeiro progresso humano e
jurídico em seu tempo. É claro que, comparados com o direito moderno, os tribunais
eclesiásticos da época eram absurdos. Mas, olhando para o que era o direito antes e
examinando com sinceridade o contexto medieval, a Inquisição significou realmente uma
evolução. Não sem motivo vários homens ligados a essa instituição foram sabiamente
canonizados pela Igreja, como o márPr e taumaturgo São Pedro de Verona († 1252) e o
eminente canonista São Raimundo de Peñafort († 1275).
Perfil e métodos de um inquisidor. – O famoso inquisidor Bernardo Guy (Bernardus
Guidonis, em laPm) († 1331) descreve assim o perfil de um bom inquisidor:

"Ele deve ser diligente e fervoroso em seu zelo pela verdade religiosa, pela salvação das
almas e pela extirpação da heresia. Deve portar-se diante de situações difíceis e
desconfortáveis de modo a nunca perder o controle de si com acessos de raiva ou de
ódio; nem deve, por outro lado, se render à letargia e à languidão, já que tal torpor
exaure a força de um administrador. O inquisidor deve ser constante e perseverante nos
perigos e adversidades, até a morte. Deve estar disposto a sofrer pela causa da justiça,
nem se precipitando imprudentemente, nem se retraindo vergonhosamente de medo, já
que tal covardia debilita a estabilidade moral. Mesmo permanecendo inflexível às
súplicas e lisonjas dos pecadores, não deve endurecer o seu coração a ponto de repelir
apelos de concessão ou mitigar penitências de acordo com as circunstâncias que
sugerirem o lugar e o tempo, já que tal procedimento cheira mais a crueldade." [9]

Resta claro que um inquisidor deveria ser virtuoso e meticuloso em seu proceder. As
palavras de Bernardo Guy delineiam um belo modelo de justiça também para os juízes e
magistrados do nosso século.

Quais eram, porém, os procedimentos desses homens?

Os inquisidores procediam da seguinte forma: ao chegar a uma região, proclamavam um


"tempo de graça" e ficavam ali por vários dias, expondo às pessoas a fé católica. Importa
recordar que, nessa época, ainda não havia seminários. Sem uma formação teológica
profunda, não era de se duvidar que muitos clérigos estivessem ouvindo a doutrina da
Igreja pela primeira vez. A primeira etapa do processo consistia, portanto, na persuasão.
Nesse período, aconteciam várias conversões, já que muitos dos inquisidores, formados
na escola dominicana, pregavam com sabedoria e eloquência.

Colocado diante da verdadeira fé, um grande número de pessoas se apresentava aos


frades, assumia os seus erros, pedia uma penitência e voltava para o seio da Igreja. Os
próprios membros mais "puros" do clero cátaro confessavam a sua heresia, embora não
quisessem ceder. Também eram recolhidas denúncias e acusações, as quais eram
devidamente averiguadas e julgadas diante de um grupo de testemunhas. Ainda assim, o
número de condenações era muito baixo. Bernardo Guy, por exemplo, dos mil casos que
julgou, só proferiu 40 condenações, das quais muitas se reduziam a penitências.

Geralmente, eram entregues ao poder civil e condenados à pena capital somente


os reincidentes, isto é, pessoas que voltavam à heresia, mesmo depois de um tempo de
penitência. O fundamento para essa praxe era retirado das próprias Sagradas Escrituras
(cf. Tt 3, 10-11: "Após advertir um herege pela primeira e segunda vez, evita-o sabendo
que é um pervertido"), as quais Santo Tomás comentava do seguinte modo:

"A respeito dos heréticos, há duas coisas a considerar: uma da parte deles e outra da
parte da Igreja. Da parte deles, há um pecado pelo qual mereceram não somente serem
excluídos da Igreja pela excomunhão, mas também do mundo pela morte. É muito mais
grave corromper a fé, que é vida da alma, do que falsificar o dinheiro, que serve à vida
temporal. Ora, se os falsificadores de moeda ou outros malfeitores logo são justamente
condenados à morte pelos príncipes seculares, com maior razão os heréticos desde que
sejam convencidos de heresia, podem não só ser excomungados, mas justamente serem
condenados à morte."
"Do lado da Igreja, ao contrário, ela usa de misericórdia em vista da conversão dos que
erram. Por isso, ela não condena imediatamente, mas só 'depois da primeira e segunda
advertência', como ensina o Apóstolo. Se, porém, depois disso, o herege permanece
ainda pertinaz, a Igreja, não esperando mais que ele se converta, provê à salvação dos
outros, separando-o dela por uma sentença de excomunhão; e ulteriormente ela o
abandona ao juízo secular para que seja excluído do mundo pela morte." [10]

Embora pareça estranho ao homem moderno um discurso desse gênero, os tribunais da


Igreja eram realmente brandos e misericordiosos, se comparados aos excessos da justiça
civil. Tanto é verdade que,

"Lendo os autos dos processos inquisitoriais, mais de uma vez encontramos bandidos
comuns que, surpreendidos pela polícia no ato de violação, de roubo, de assalto à mão
armada, rapidamente inventavam uma motivação religiosa para explicar o seu
procedimento. Por quê? Simplesmente para cair na esfera da justiça da Inquisição e não
da justiça civil ou temporal. Pois a justiça inquisitorial garantia pelo menos uma
investigação, em vez da pena de fogueira imediata, a qual – como a pena de morte ou o
decepamento da mão – não foi absolutamente invenção dos inquisidores." [11]

Olhando para os fatos, pois, a Inquisição medieval foi realmente um grande avanço na
sua época. Certas realidades – como a pena capital e o uso, ainda que mitigado, da
tortura – retratam os limites da época, mas não tiram o mérito da Igreja em conformar o
direito barbárico do primeiro milênio à consciência do Evangelho, ainda que de modo
lento e gradual.
Referências

1. Cf. PETERS, Edward. Heresy and Authority in Medieval Europe. Philadelphia: University of Pennsylvania
Press, 1980. p. 74.

2. SHANNON, Albert C.. The Medieval Inquisition. Michael Glazier/Liturgical Press, 1991. p. 44.

3. De Sacerdotio, IV, 3 (PG 48, 665).

4. Cf. Sermones super Cantica Canticorum (PL 183, 785-1198).

5. Cf. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 188, a. 6: "Assim como é maior iluminar do que
simplesmente brilhar, maior é dar aos outros o que foi contemplado do que simplesmente contemplar."

6. Denzinger-Hünermann, 761.

7. Cf. Denzinger-Hünnermann, 800-820.

8. Cf., v.g., Denzinger-Hünnermann, 670, 695.

9. SHANNON, Albert C.. The Medieval Inquisition. Michael Glazier/Liturgical Press, 1991. p. 71.

10. Suma Teológica, II-II, q. 11, a. 3

11. KONIK, Roman. Inquisição: Mito e realidade histórica. [Setembro, 2006]. Catolicismo.

Bibliografia

BARBER, Malcolm. The Cathars: Dualist Heretics in Languedoc in the High Middle Ages. New York:
Routledge, 2000. 304p.

CARDINI, Franco. L'Inquisizione. Firenze, Giunti, 1999. 62p.

DENZINGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo:
Paulinas/Edições Loyola, 2007. 1467p.

JARRETT, Bede. Life of St. Dominic. Image, 1995. 160p.

KONIK, Roman. Inquisição: Mito e realidade histórica. [Setembro, 2006]. Catolicismo.

PETERS, Edward. Heresy and Authority in Medieval Europe. Philadelphia: University of Pennsylvania Press,
1980. 312p.

PETERS, Edward. Torture. Expanded Edition. University of Pennsylvania Press, 1996. 304p.

SHANNON, Albert C.. The Medieval Inquisition. Michael Glazier/Liturgical Press, 1991. 182p.

VIDMAR, John, O.P.. 101 Questions and Answers on the Crusades and the Inquisition: Disputed
Questions. Paulist Press, 2013. 128p.
Aula 3
A Inquisição Espanhola e Romana
A Espanha na Idade Média. – A partir de 711, a Península Ibérica foi alvo da expansão
muçulmana. O Reino Visigótico da Hispânia caiu ante a espada dos cavaleiros de Alá,
restando cristã apenas uma pequena porção ao norte da região.

Ainda assim, conviviam juntos na península católicos, judeus e muçulmanos. O


relacionamento entre as três religiões monoteístas era admirável, se se levam em conta
os padrões de então. Uma constituição do Papa Inocêncio III, de 1199, dizia que os judeus
"não devem ser duramente oprimidos pelos crentes" e ordenava, entre outras coisas,
"que nenhum cristão os force com violência a procurar, de má vontade ou contra a
vontade, o batismo" e que "nenhum cristão, sem sentença da autoridade territorial, ouse
de modo indigno ofender as suas pessoas, ou subtrair com violência os seus bens" [1].

Havia, é certo, muitos preconceitos e conflitos. Colocados os devidos limites, porém, os


três grupos se relacionavam relativamente bem. Quando, por exemplo, também durante
o reinado de Inocêncio, o IV Concílio de Latrão estabeleceu certos cânones relativos aos
judeus, entre os quais havia a recomendação de que eles "se diferenciassem dos cristãos
no modo de vestir" [2], os ibéricos não aceitaram tal imposição. A convergência de
culturas chegou a criar na Espanha um certo "relativismo", justificando uma posição
cínica de muitos em matéria religiosa. Vendo os embates entre cristãos, judeus e
muçulmanos, os pagãos zombavam de todos numa tentativa cômoda de distanciar-se do
envolvimento com Deus.

Onda de antissemitismo. – Os judeus que viviam na Península Ibérica residiam em


bairros reservados, deviam pagar taxas ao governo e não podiam ser nomeados para
cargos públicos [3], mas se destacavam na sociedade, sobretudo, pelo exercício de duas
profissões: a medicina e o comércio. Como a usura era condenada pela moral católica,
ficava para eles a responsabilidade pelo mundo dos negócios.

O domínio financeiro dos judeus, no entanto, começou a gerar problemas. O próprio


Concílio Lateranense cuidou do assunto, no século XIII, quando denunciou a avarezapor
parte dos judeus e tomou certas medidas para coibir os seus exageros: "Se os judeus, sob
qualquer pretexto, extorquirem dos cristãos altas e excessivas taxas, sejam retirados do
convívio com eles, até que reparem convenientemente o prejuízo imoderado que lhes
causaram" [4].

A onda de antissemitismo se agravou com a peste negra, em meados do século XIV. A


culpa pela epidemia que dizimou milhões de pessoas na Europa foi lançada sobre os
judeus. Ignorando a origem real da doença – a peste bubônica é transmitida por ratos
infectados –, a população europeia acreditava que os judeus teriam envenenado as
fontes de água para matar os cristãos. Embora tal disparate nunca tivesse sido ensinado
oficialmente pelo Magistério da Igreja, muitos pregadores na região da Espanha
infelizmente endossaram esse discurso, criando, em 1391, um verdadeiro clima de
histeria social. Como consequência, adeptos do judaísmo começaram a ser mortos. Para
escaparem da perseguição, muitos se viam obrigados a abdicar a sua religião, receber
forçosamente o Batismo e se tornarem cristãos.

Cristãos-novos. – Diante desse problema, a Igreja se apressou em remediar a situação,


declarando como inválidos os batismos recebidos sob tais circunstâncias. Afinal, a Igreja
sempre reconheceu que os infiéis "de modo algum são compelidos à fé para crer, pois
crer é ato da vontade" [5]. Assim, em um esforço conjunto com o poder civil,
estabeleceu-se que os judeus convertidos compulsoriamente podiam voltar à sua religião
sem que nada fosse feito contra eles.

Estranhamente, porém, milhares de judeus que se tinham feito católicos permaneceram


como tais. Uns, i) porque se tinham convertido verdadeiramente; outros, ii) porque
temiam, por sua infidelidade, não serem recebidos de volta no judaísmo; outros ainda, iii)
porque temiam que a perseguição voltasse a pesar sobre as suas cabeças.

O fato é que, depois de algumas gerações, mesmo os marranos – é dizer, os judeus


"convertidos à força" ao catolicismo – começaram a viver com convicção a fé cristã.
Também chamadas de "cristãos-novos", essas pessoas viviam uma espécie
de inculturação. Ao mesmo tempo em que criam nas verdades católicas, viviam nos
guetos judaicos e mantinham muitos hábitos de sua antiga religião, como o vestuário e a
alimentação. Isso era um incômodo muito grande para os líderes da religião judaica, que
começaram a ver os seus adeptos se "desviarem" pelo testemunho e pregação dos
cristãos-novos. Na famosa Disputatio de Tortosa (1314-1315), por exemplo, o famoso
judeu converPdo Jerônimo de Santa Fé († 1430) – juntamente com São Vicente Ferrer (†
1419) – foi tão convincente em seus argumentos que centenas de judeus se dirigiram ao
seio da Igreja em decorrência desse debate.

Mas não eram apenas os rabinos que se importunavam com o fenômeno dos cristãos-
novos. Os outros católicos também não viam com bons olhos o orgulho e a arrogância
com que esses convertidos falavam de sua origem e ascendência judaicas, o que gerava
uma boa dose de ciúmes por parte dos "velhos cristãos".

Os Reis Católicos. – Assim se encontrava a Península Ibérica quando Fernando e Isabel,


cognominados Reis Católicos, passaram a governar a região. Vale lembrar que foi
justamente sob o governo dos dois monarcas que se concluiu a
chamada Reconquista (1492) e se deu a definitiva unificação da Espanha. Até então, o
território espanhol não passava de um punhado de reinos menores e independentes
entre si. Também foram Fernando e Isabel que enviaram à América a expedição de
Cristóvão Colombo († 1506), com o claríssimo propósito de levar a fé católica aos povos
alienígenas.

Durante o reinado dos dois, os problemas relacionados aos "cristãos-novos" se


acentuaram, principalmente com o crescimento do proselitismo religioso. Não demoraria
muito para que a Espanha, na sequência de vários impérios de toda a Europa, também
decretasse a retirada em massa do povo da Antiga Aliança. Influenciado por Tomás de
Torquemada († 1498) e com o objePvo manifesto de preservar a fé católica, a qual se
encontrava ameaçada pelos judeus, Fernando de Aragão, então, expulsou-os
definitivamente de seus domínios, em 1492, por meio do Decreto de Alhambra. Pelas
estimativas de Henry Kamen, saíram da região algo em torno de 40 mil sefarditas – como
eram chamados os judeus da região ibérica –, que se fixaram no norte da África, Oriente
Médio e sudeste da Europa.

Mas, será que a totalidade dos judeus havia saído da Espanha? Todos os chamados
"cristãos-novos" eram verdadeiramente cristãos? Foi com vistas a examinar a ortodoxia
desses novos cristãos que o Estado espanhol instaurou a Inquisição em seu território.
Esta, portanto, punia não a prática da religião judaica em si, mas as falsas conversões ao
catolicismo.

Um tribunal do Estado. – Cumpre dizer, em primeiro lugar, que, por mais que tenha sido
o caso histórico mais espinhoso, a Inquisição Espanhola não foi a "máquina de moer
carne humana" que muitos escritores desonestos descrevem. Em 250 anos de existência,
esse organismo do Estado espanhol decretou por volta de 3 mil sentenças de morte [6] –
uma estimativa incomparavelmente distante, por exemplo, da registrada pelos regimes
comunistas do século XX, que, num período muito mais curto, executaram milhões de
pessoas. Embora fosse um aparato mais civil que religioso – os tribunais eram do Estado e
os juízes eram eclesiásticos –, a Inquisição Espanhola nem de longe se equiparou às
narrativas mirabolantes inventadas mais tarde pelos anticlericais.

O procedimento inquisitorial aqui era basicamente o mesmo que se via na Inquisição


medieval. Os pregadores – normalmente, dominicanos – se apresentavam em uma
região, proclamavam um "tempo de graça" e partiam ao exame das delações e acusações
que as pessoas apresentavam. Bem tranquilamente, é possível dizer que o quadro geral
dos tribunais era este: interrogatórios moderados, investigadores prudentes e um
número consideravelmente discreto de condenações sumárias. Dos bancos dos juízes,
chegaram a sair dois santos canonizados: São Pedro de Arbués († 1485) e São Turíbio de
Mongrovejo († 1606).
Foram homens como esses que, detendo a "doença autoimune" da sociedade, souberam
agir, com misericórdia e justiça, para o bem da Igreja e da própria comunidade civil. É
verdade que, em comparação com a Inquisição medieval, claramente justificada pela
ameaça que representava a heresia cátara, o tribunal que se instaurou na Espanha –
juntamente com toda a querela em relação aos judeus – pareceu ferir o cristianismo em
sua raiz mais pura. Os Papas da época chegaram a condenar o que se dava em território
espanhol. Mas, em pleno século XV, com a ascensão dos Estados nacionais, os monarcas
absolutistas pouco ligavam para as advertências e conselhos da Igreja. O cripto-judaísmo
era um entrave à unificação espanhola e os reis estavam dispostos a usar as armas que
tinham para detê-lo. O Papa já não exercia mais o poder que tinha na Idade Média.

Breve introdução à Inquisição Romana. – Nos Estados Pontifícios, a Inquisição foi


instaurada principalmente para deter o fenômeno do protestantismo. Diferentemente do
que aconteceu na Espanha, a Inquisição Romana estava totalmente nas mãos do poder
eclesiástico. Como consequência, foi um tribunal muito mais brando, com um número de
condenações muito menor que o da Inquisição Espanhola. O exame do Santo Ofício em
território italiano é uma ocasião para estudar os julgamentos mais famosos da Inquisição,
como são os processos de Galileu Galilei († 1642) e de Giordano Bruno († 1600). Veremos
isso na próxima aula.

Referências

1. Denzinger-Hünermann, n. 772.

2. Concilium Lateranense IV (1215), n. 68.

3. Ibidem, n. 69.

4. Ibidem, n. 67.

5. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 10, a. 8.

6. PETERS, Edward. Inquisition. University of California Press, 1989. p. 87.

Recomendações

KAMEN, Henry. The Spanish Inquisition: A Historical Revision. 4. ed. Yale University Press, 2014. 512p.

HOMZA, Lu Ann. The Spanish Inquisition: An Anthology of Sources. Hackett Publishing Co, 2006. 320p.

DUMONT, Jean. La incomparable Isabel, la católica. Ediciones Encuentro, 2012. 246p.

JAVIERRE, José María. Isabel, la Católica, el enigma de una reina. Ediciones Sígueme, 2010. 861p.

PETERS, Edward. Inquisition. University of California Press, 1989. 368p.


Aula 4

Julgamentos famosos da Inquisição


Em meio a uma infinidade de números e estatísticas, personagens emblemáticas também
foram invesPgadas pela Inquisição. Foram os casos de Santa Joana d'Arc († 1431),
Giordano Bruno († 1600), Galileu Galilei († 1642) e do português pe. António Vieira (†
1697).

A donzela de Orléans. – Joana d'Arc foi escolhida por Deus para desempenhar o papel de
verdadeira protagonista na famosa Guerra dos Cem Anos (1337-1453), que se deu entre
Inglaterra e França. Em questão estavam o domínio de alguns territórios gálicos e a
sucessão do trono real francês.

Ainda adolescente, Joana recebe de São Miguel Arcanjo a missão de liderar as tropas
dos Armagnac contra os ingleses e os Bourguignons, e de conduzir o filho de Carlos VI e
legítimo herdeiro do trono à coroa real. Diante do jovem príncipe – o qual ela teria
prodigiosamente reconhecido, não obstante o seu disfarce –, Joana manifesta o seu
mandato divino. Depois de interrogada pelos teólogos da corte e comprovadas a sua fé e
idoneidade, o Delfim francês decide confiar na donzela.

Portando armadura de soldado – que a afasta do assédio masculino e a ajuda a guardar a


sua castidade –, Joana guia o exército francês até a reconquista da estratégica cidade de
Orléans, em 1429. Depois, leva o Delfim até a Catedral de Reims, onde ele é coroado
como Rei Carlos VII da França.

Mesmo tendo cumprido a sua missão, porém, Joana foi capturada pelos inimigos, em
1430. Levada ao tribunal da Inquisição e condenada em um processo totalmente inválido,
na diocese de Rouen, ela foi morta, em 30 de maio de 1431, com breves 19 anos de
idade. Ainda no século XV, o Papa Calisto III reviu o processo de Joana d'Arc e reconheceu
a sua nulidade, seja in procedendo, seja in iudicando. A reabilitação total de Joana só
terminou no século XX, quando a mártir foi beatificada por São Pio X, em 1909,
canonizada pelo Papa Bento XV, em 1920, e proclamada padroeira da França, em 1922.

Na história da Inquisição, portanto, constam santos dos dois lados: pessoas que
procederam com prudência e justiça em seu dever de inquiridores – como foi São
Roberto Belarmino († 1621), que parPcipou no processo de Galileu – e pessoas de virtude
que foram condenadas injustamente – caso da valorosa Santa Joana d'Arc. A sua história
mostra que, ao mesmo tempo em que considera os fatos dentro de seu contexto
histórico, a Igreja também não é ingênua a ponto de canonizar tudo o que foi feito pelo
Santo Ofício. Ela está disposta, ainda que seja com dor, a reconhecer as culpas de seus
filhos.
O herege Giordano Bruno. – Apresentado por algumas pessoas como "mártir da ciência",
a história de Giordano Bruno não é nada fácil. O italiano ingressou na Ordem dos
Pregadores muito cedo, mas, por conta de suas ideias heréticas, acabou expulso da vida
religiosa. Giordano era adepto de uma heresia chamada hermetismo, que combinava
crenças pagãs antigas com práticas de magia e alquimia. Para ele, a Igreja Católica deveria
abandonar a Revelação – Giordano Bruno, além de panteísta e crítico ferrenho do clero,
negava todo o depósito da Fé, desde a Trindade até a própria virgindade de Maria
Santíssima – para aderir a essas ideias.

Da Itália, Giordano saiu em peregrinação por vários países da Europa. Tendo vivido na
França, na Suíça, na Inglaterra e na Alemanha, conseguiu apoio para publicar muitas de
suas obras, mas, imerso num estado como que de "suicídio inconsciente", foi expulso de
vários lugares, até voltar ao seu país natal e fixar-se na cidade de Veneza. Aí, denunciado
pelo professor que o contratou, ele foi parar nas mãos da Inquisição Romana, a qual fez
de tudo, durante 8 longos anos de processo, para livrar o contumaz da morte. Giordano
Bruno, no entanto, era irredutível. Não abjurando de nenhuma de suas ideias – as quais
nada tinham de científicas, diga-se de passagem –, ele foi queimado na fogueira, no ano
de 1600.

O caso Galileu. – Indubitavelmente, o processo que julgou Galileu Galilei foi o mais
famoso de toda a história da Inquisição, de tal modo que São João Paulo II pediu que uma
comissão interdisciplinar fizesse um estudo aprofundado sobre a questão, analisando as
controvérsias exegéticas, teológicas e científicas por trás do seu caso. No fim, essa
comissão – que contava com eminentes prelados da Igreja, como o Cardeal Carlo Maria
MarPni († 2012) e o Cardeal Roger Etchegaray – chegou às conclusões que seguem.

Primeiro, Galileu realmente defendeu o heliocentrismo de Nicolau Copérnico († 1543),


mas não apresentou nenhuma prova científica que respaldasse o seu sistema. Para
sustentá-lo, ele recorria ao fenômeno das marés, que, na verdade, não tinha nada que
ver com o movimento do planeta, senão com a gravitação da Lua ao redor da Terra. O
argumento definitivo que comprovou a teoria heliocêntrica – pelo menos em sua
afirmação de que a Terra girava em torno do Sol – só surgiu 150 anos depois de Galileu.

Diante da obstinação do astrônomo em defender como certo o que não passava de teoria
– e graças ao seu temperamento forte, que o fez granjear inimigos –, os seus oponentes
entregaram-no ao Santo Ofício. Vale destacar também que a posição de Galileu criava
problemas com a interpretação das Escrituras (questão pungente durante os anos pós-
Reforma): a Igreja entendia, a partir de uma passagem do livro de Josué (10, 13), que diz
que "o sol se deteve", que era o Sol que se movimentava ao redor da Terra. Como não
havia respaldo científico para as afirmações de Galileu, então, ele permaneceu em
silêncio.
Quando, porém, um amigo seu, o Cardeal Maffeo Barberini, assumiu o sólio pontifício,
com o nome de Urbano VIII, Galileu começou novamente a propagar as suas ideias. Desta
vez, nem uma advertência do Papa fez com que ele se calasse. No livro Dialogo sopra i
due massimi sistemi del mondo ["Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo"],
de 1632, ele assinou a sua sentença. O astrônomo colocava na boca de Simplício, a
personagem mais idiota da obra, a tese do Papa Urbano VIII, a saber: a de que o
heliocentrismo não passava de uma teoria. Denunciado novamente à Inquisição, Galileu
foi julgado por São Roberto Belarmino, que pôs um fim à história. O cardeal deixava bem
claro que, enquanto não fossem mostradas provas contundentes da teoria heliocêntrica,
era melhor que fosse tratada como simples hipótese, já que criava um aparente
problema com a exegese de alguns trechos bíblicos. Para o santo, estava bem claro que a
fé e a ciência não se podem contradizer, já que o Deus que Se revela nas Sagradas
Escrituras é o mesmo que Se revela nas verdades acessíveis pela luz da razão. Enquanto
não houvesse respaldo para a teoria de Galileu, porém, era melhor que ele deixasse de
difundi-la.

Ainda que a contragosto, então, Galileu permaneceu em silêncio obsequioso e foi


condenado ao cárcere domiciliar, até o fim da vida. Ao contrário do que dizem muitos, o
físico não foi queimado na fogueira.

Uma tese recente joga uma nova luz no caso Galileu, sustentando que a sua adesão ao
heliocentrismo foi, na verdade, a mais branda das acusações que pesavam contra ele [1].
O fato de o astrônomo insinuar que as qualidades dos objetos estavam antes no sujeito
que conhece que nos objetos propriamente ditos, parecia, a muitos teólogos, um
problema para o dogma da transubstanciação. Uma controvérsia nessa seara seria muito
pior para Galileu. Responder somente à acusação de copernicanismo foi, portanto, a
opção de Urbano VIII para "poupar" Galileu de uma retaliação mais severa por parte da
Igreja.

Sobre o padre António Vieira. – Contra António Vieira, o famoso pregador lusitano,
pesavam as acusações de messianismo e milenarismo.

Vieira era adepto de uma lenda ligada ao príncipe Dom Sebastião de Portugal († 1578),
morto durante uma guerra contra os muçulmanos, no norte do Marrocos. Com o seu
desaparecimento, o trono português ficou vacante e as disputas em torno do sucessor de
Sebastião acabaram dando origem à União Ibérica (1580-1640), em cujo intervalo a
Lusitânia permaneceu submissa aos reis espanhóis. A situação política desconfortável
criou nos portugueses um sentimento de insatisfação e, ao mesmo tempo, a esperança
de que D. Sebastião regressaria para devolver a Portugal a sua soberania.

Com o fim da União Ibérica, assumiu o trono português Dom João IV († 1656), fundador
da dinastia de Bragança, o qual substituiu D. Sebastião nas fantasias messiânicas de
António Vieira. De fato, após a morte do rei, o padre teria vislumbrado a sua ressurreição.
Em seu novo reinado, haveria um tempo de paz na terra, sem doenças, nem males, nem
guerras. Essas teses foram escritas em seus livros Clavis Prophetarum ["Chave dos
Profetas"], Esperanças de Portugal, o Quinto Império do Mundo e História do Futuro.

Foi esse o objeto do julgamento do pe. António Vieira, enquanto esteve em Roma. O
sacerdote recebeu algumas punições brandas e, depois, tendo ele próprio feito sua
defesa diante dos inquisidores, voltou reabilitado a Portugal e ao Brasil.

Referências

1. Cf. ARTIGAS, Mariano; MARTÍNEZ, Rafael; SHEA, William R. Nueva luz en el caso Galileo. In:
Anuario de Historia de la Iglesia (Facultad de Teología, Universidad de Navarra), 12 (2003), pp.
159-179.

Bibliografia

AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. Lorena: Cléofas, 2009. 304p.

ARTIGAS, Mariano; MARTÍNEZ, Rafael; SHEA, William R. Nueva luz en el caso Galileo. In: Anuario
de Historia de la Iglesia (Facultad de Teología, Universidad de Navarra), 12 (2003), pp. 159-179.

GONZAGA, João Bernardino Garcia. A Inquisição em seu mundo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1993.
247p.

PETERS, Edward. Inquisition. University of California Press, 1989. 368p.

Aula 5
A Lenda negra da Inquisição
Com o fim da ditadura de Francisco Franco († 1975) na Espanha e a abertura dos arquivos
do Estado espanhol, iniciou-se um processo de redescoberta da Inquisição, a partir de
suas fontes primárias. Autores como Edward Peters e Henry Kamen, já apresentados
aqui, saíram em busca de documentos originais e chegaram à conclusão de que os
tribunais da Inquisição – seja a medieval, seja a espanhola, ainda que esta mereça alguns
pontos de interrogação – evitaram milhares de mortes. Onde quer que fosse implantada,
a fama da Inquisição era a de ser um tribunal prudente e moderado, sendo que, muitas
vezes, a instituição era inclusive criticada, pelos nobres e pelo povo, por sua excessiva
brandura e complacência.

No século XIX, porém, a visão popular da Inquisição já era bem diferente. Uma novela
gótica intitulada The Monk ["O Monge"], de autoria de Maghew Gregory Lewis († 1818),
dava conta de um interrogatório inquisitorial tenebroso, que acontecia dentro de uma
sala escura, com cortinas cerradas, homens encapuzados, velas acesas, instrumentos de
tortura à mostra e, ao fundo, um grande crucifixo. E, embora nada disso correspondesse
de fato à verdade histórica, foi a imagem que predominou por muito tempo a respeito
dos tribunais do Santo Ofício. Como aconteceu uma mudança tão radical de mentalidade,
com o passar dos anos? Como pôde ser que uma instituição, considerada justa em seu
tempo e, por vezes, até leniente, fosse tratada com tanto rigor e calúnias pelos séculos
posteriores?

Uma lenda criada por protestantes... – O mito da Inquisição surgiu com o


protestantismo. No afã de dar uma origem mais antiga à sua recém-inventada religião,
MarPnho Lutero († 1546), João Calvino († 1564) e os reformadores e historiadores
protestantes subsequentes começaram a recontar a história do cristianismo. Nessa nova
leitura dos acontecimentos, o Império Romano teria aparelhado a religião dos primeiros
Apóstolos, fazendo da Igreja de Roma o braço direito do Imperador, que matava e
perseguia os verdadeiros cristãos. Entre a queda do Império Romano e a Reforma, os
assim chamados "verdadeiros" cristãos teriam subsistido nas personagens heréticas
punidas e excomungadas pela Igreja Católica. Assim, cátaros, valdenses e hussitas – ainda
que suas crenças pouco ou nada tivessem que ver com o corpo doutrinário protestante –
foram elevados à condição de heróis, tendo seus nomes catalogados em martirológios
produzidos pelos calvinistas.

Também foi a partir da literatura protestante que se passou a enxergar os múltiplos


tribunais inquisitoriais como uma unidade. Todos eles passaram a ser denominados,
simplesmente, como "a Inquisição". Para se ter uma ideia de como era o preconceito dos
protestantes, basta lançar um olhar à Inglaterra e a como a história tratou
diferentemente duas rainhas, filhas de Henrique VIII. Maria, a Católica († 1558), filha de
Catarina de Aragão, restaurou o catolicismo no país e perseguiu os protestantes – a
perseguição, porém, não foi nada espantosa para os parâmetros da época. Quando Isabel
(† 1603), filha de Ana Bolena, assumiu o trono, porém, ela promoveu uma perseguição
sistemática aos católicos, punindo como traidores da Coroa todos os que fossem fiéis ao
Papa. Milhares de católicos foram mortos simplesmente pelo fato de serem católicos,
havendo inclusive priest hunters ("caçadores de padres"). Mesmo diante dessa
desproporção, foi Maria, e não a sua meia-irmã, quem recebeu dos historiadores a
alcunha de "sanguinária".

...endossada pelos inimigos da Coroa Espanhola... – No século XVI, auge das Grandes
Navegações, a Espanha era a nação mais rica e desenvolvida do planeta. Em tal condição,
o país não deixava de ter seus inimigos, aos quais era muito vantajoso fomentar uma
"leyenda negra" em torno da Inquisição, que, como já vimos, assumiu algumas
peculiaridades em território espanhol. Nos próprios países católicos, havia a imagem de
uma Espanha atrasada e violenta – impressão agravada pelo fato de o Papa mesmo ter
tentado, em vão, conter o tribunal instituído pela Coroa Espanhola.
...e aperfeiçoada pelos iluministas. – Nos anos 1700, a lenda se aperfeiçoou com a
ascensão do Iluminismo. Os pensadores dessa época começaram a ler a história a partir
de seu culto idolátrico à deusa da razão: houve a Idade Antiga, na qual surgiram grandes
filósofos e refulgiu o pensamento racional; um milênio depois, veio a Idade Moderna, a
qual eles inauguraram; e, no meio disso, existiu um período de trevas e obscurantismo, o
qual eles denominaram, maliciosamente, de Idade Média. Nesse intervalo, situava-se "a
Inquisição" – nos passos dos protestantes, os iluministas continuaram a tratá-la como
uma unidade –, responsável por punir as pessoas que ousassem pensar diferentemente
da fé da Igreja.

O filósofo francês Voltaire († 1778), famoso por seu ódio ao catolicismo, foi também
grande propagador da lenda negra relacionada à Inquisição. Em seu famoso Candide,
algumas passagens são dedicadas a alimentar uma visão fantasiosa e pitoresca do
tribunal e dos conhecidos autos-de-fé. Na mesma época, com a publicação de um
"manual de inquisidor" falso – do qual foram intencionalmente omitidos os conselhos de
justiça e prudência, constando apenas trechos relacionados à tortura e à pena de morte –
, o ódio de Voltaire – assim como o dos demais pensadores iluministas – só cresceu mais.
Grande parte de seus esforços se concentrava em destruir a imagem da Igreja, do Papa e
da monarquia francesa, preparando o terreno para a Revolução de 1789.

Fortalecendo o mito. – Criado o mito da Inquisição, a literatura ficou responsável por dar-
lhe os últimos retoques, principalmente por meio das novelas góticas do período
romântico.

É desta época o livro Don Karlos ["Dom Carlos"], do autor alemão Friedrich Schiller (†
1805), que pinta a figura de Dom Carlos de Espanha († 1568), filho de Filipe II, como um
príncipe jovem e aventureiro, apaixonado por sua madrasta, Isabel de Valois. Ao mesmo
tempo em que procurava concretizar esse seu "amor impossível", o Príncipe das Astúrias
teria se rebelado contra o seu pai, porque este queria implantar a Inquisição nos Países
Baixos. O mito de Dom Carlos libertador e inimigo da Inquisição cruel foi adaptado para a
ópera por Giuseppe Verdi († 1901) – os fatos reais, porém, passavam longe dessas
fantasias.

Do século XIX, o conto The Pit and the Pendulum ["O Poço e o Pêndulo"], de Edgar Allan
Poe († 1849), descreve, do começo ao fim, os sofrimentos de um réu nas mãos da
Inquisição Espanhola. Ao fim da história, chega o exército francês para trazer-lhe a
liberdade.

O historiador Henry Charles Lea († 1909), escreveu um livro sobre a Inquisição,


intitulado A History of the Inquisition of the Middle Ages ["Uma História da Inquisição na
Idade Média"], mas também não se conseguiu desvencilhar dos preconceitos anticlericais
que foram embutidos, ao largo dos anos, nos documentos históricos sobre o assunto. De
fato, lendo os eventos a partir de distorções e de juízos errôneos de valor, foram muitos
os historiadores que caíram no engodo da "leyenda negra", não conseguindo apreciar a
Inquisição a partir de seu verdadeiro contexto histórico.

Conclusão. – Alguém se poderia perguntar qual o sentido de inventar uma caricatura da


Inquisição e, no fim das contas, da própria Igreja Católica.

A resposta está no ódio do homem moderno à religião. A história do Santo Ofício – bem
como de toda a era medieval – mostra como não é possível governar um povo sem Deus.
Quando Ele é destronado, funda-se a religião do próprio homem, que passa a ser a
medida de todas as coisas. Em termos práticos, portanto, não há "Estado laico". Tirado
Deus do centro de gravidade, é o ser humano quem assume o seu lugar,
institucionalizando a idolatria de si próprio.

A Igreja Católica não advoga que a religião deva ser imposta pelo Estado a toda a
população. Ela tem consciência de que "crer é ato da vontade" e de que não se pode
obrigar ninguém a aceitar a fé pelo uso da força. Contudo, em seu impulso missionário,
ela não pode deixar de irradiar a luz de Cristo para toda a sociedade, especialmente para
os chefes do povo. A aceitação do Evangelho, por si só, poria limites ao poder dos
príncipes, que, submissos ao Todo-Poderoso, teriam as suas pretensões de domínio
convenientemente moderadas.

Infelizmente, já no fim da Idade Média, os conflitos entre a Igreja e os Impérios,


juntamente com o fortalecimento dos Estados nacionais, fariam os imperadores cada vez
mais rebeldes ao Evangelho e ao primado espiritual de Pedro (cf. Mt 16, 18s), usando o
reinado político simplesmente como meio de subjugar as nações. O agigantamento do
Estado chegou ao seu ápice no século passado, com a elevação de ideologias neo-pagãs,
cujos líderes eram alçados à qualidade de semideuses. É emblemático que, em países
oficial e declaradamente ateus, a irreligiosidade tenha assumido traços tão
marcadamente religiosos, com a crença no materialismo, o culto à personalidade dos
líderes, a ostentação de símbolos e a criação de ritos repletos de uma certa aura mística.

Hoje – pergunta-se –, seria necessário reinstaurar a Inquisição? Na verdade, essa


instituição não é necessária por si mesma. Tornou-se necessária, em seu tempo, para
conter a ingerência do poder estatal sobre assuntos religiosos. (Os príncipes seculares
não têm competência para julgar matéria religiosa e, quando se aventuram nessa seara,
as coisas se desencaminham – tome-se por exemplo a Inquisição Espanhola.)
Absolutamente necessário, ao invés, é que o Evangelho reine nos corações, para que,
então, Nosso Senhor Jesus Cristo possa reinar na sociedade, nos Estados e na assembleia
das nações. A Igreja Católica não quer o poder político. Algumas personagens podem até
se desvairar e ser acometidas por essa cobiça. A missão fundamental da Esposa de Cristo,
porém, é salvar as almas, converter os espíritos dos governantes e torná-los pessoas
tementes a Deus. Foi assim que ela construiu a Civilização Ocidental – e é também esse o
caminho para restaurá-la.
Bibliografia

o KAMEN, Henry. The Spanish Inquisition: A Historical Revision. 4. ed. Yale University Press,
2014. 512p.
o PETERS, Edward. Inquisition. University of California Press, 1989. 368p

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