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NESTA EDIÇÃO

SIMBRAVISA Nº 30 ! Fevereiro de 2005


Os debates
Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos
energéticos do Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361
encontro em
Caldas Novas w w w. e n s p . f i o c r u z . b r / r a d i s

CARTÃO SUS
Sistema ainda tem que superar muitas
barreiras para dar bons resultados

SÚMULA: SP PROÍBE AMIANTO | TOQUES: ORÇAMENTOS MINGUADOS


Esta página é um espaço aberto à teoria
e à prática da Comunicação em Saúde

A rede contra a Aids


E les são muitos. Formam uma rede solidária
e responsável na divulgação de informa-
ções sobre as DST (doenças sexualmente
transmissíveis) e a Aids. Oferecem também ori-
entação e ajuda a soropositivos e doentes, adul-
tos ou crianças. Abaixo, uma pequena relação
de sites da internet sobre DST/Aids. Cada um
deles indica, por sua vez, outras páginas úteis.

Endereços
! www.agenciaaids.com.br
! www.adolesite.aids.gov.br
! www.abcdaids.com.br
! www.aids.gov.br
! www.imediata.com/infoaids
! www.fiocruz.br/piafi
! www.usp.br/nepaids
! www.gaparp.org.br
! www.giv.org.br
! www.projetoreviver.org.br
! www.fiquevivo.org

Nesta página vale tudo: análises de


campanhas de saúde nas mídias, co-
mentários sobre as mais recentes te-
ses acadêmicas, mosaico de experi-
ências exitosas (e também de
experiências “hesitosas”) da práti-
ca dos serviços e dos usos da comu-
nicação, fotos, textos, diagramas.
editorial
Nº 30 — Fevereiro de 2005

O Cartão e a complexidade
S empre tive uma resistência conser-
vadora e preconceituosa em rela-
ção ao Cartão SUS. Primeiro, porque,
confiabilidade e continuidade na as-
sistência aos usuários. Talvez por esta
razão, e pelo melhor controle de gas-
Comunicação em Saúde
! A rede contra a Aids 2
superado o tempo em que se exigia car- tos, tanta gente defenda que se avan-
teira de trabalho ou de institutos de ce no projeto. As desconfianças em
previdência para o acesso à rede públi- relação ao cartão e as estratégias para Editorial
ca de saúde, temo que cartões, núme- superá-las foram o ponto de partida ! O Cartão e a complexidade 3
ros ou senhas venham a se tornar obs- para entrevistar gestores, sanitaristas
táculo à universalidade do atendimento. e usuários em nossa matéria de capa.
Segundo, porque a infra-estrutura e o Confira também a bem-sucedida implan- Cartas 4
suporte tecnológico necessários para tação do Cartão SUS em Aracaju.
a manutenção do sistema, após sua im- Outro destaque desta edição é a
plantação com recursos federais, são cobertura do 2º Simbravisa, realizado
inexistentes ou dispendiosos demais em Caldas Novas (GO) sob a inspiração Súmula 5
para inúmeras unidades. E as prioritárias da poetisa Cora Coralina e do pensa-
humanização e qualidade do sistema ga- dor francês Edgard Morin. A crescente
nhariam mais com investimento nos pro- legião dos construtores da nova Vigi- Toques da Redação 7
fissionais e na ampliação das estratégi- lância Sanitária no país defendeu o
as de integralidade e atenção básica. controle político e ético sobre as ati-
Por fim, num país em que é tão fácil vidades científicas e o envolvimento da
violar o painel de votação do Senado sociedade com a Vigilância Sanitária.
quanto vender dados confidenciais, as Foi um encontro de muitas bandeiras:
informações clínicas sobre os cidadãos por mais verbas e menos desperdício
Cartão Nacional de Saúde
podem chegar às mãos de emprega- na Saúde, solidariedade às 800 vítimas
dores, planos de saúde e segurado- do Césio 137, acessibilidade para usuá- ! Você ainda vai ter um 8
ras. Principalmente se considerarmos rios, redes de informação e conheci- ! O exemplo que vem de Aracaju 11
que a quase totalidade dos governos mento, desenvolvimento sustentável e
desta República tem representado os humano, justiça ambiental, prevenção
interesses dessas corporações. Mas, de riscos. Além de abrigar crítica à de-
como diz Cláudia Risso, do Datasus, é sigualdade econômica, à supressão de
preciso superar os preconceitos, e a direitos e à globalização excludente, o
Radis abre este debate. encontro possibilitou debate sobre o 2º Simbravisa
Não há dúvida sobre os benefíci- desafio da complexidade do conheci- ! Dilemas e desafios da vigilância
os que um prontuário eletrônico — mento e do aprender a ouvir o outro. sanitária 12
estágio final de implantação do Car-
! Dois momentos femininos 16
tão — traria à organização e à eficiên- Rogério Lannes Rocha
cia do sistema de saúde e à agilidade, Coordenador do Radis

Educação para a cidadania


! Eles sacudiram a poeira 17
car
rttu
umm

Serviço 18

Pós-Tudo
! O controle necessário 19

Capa e ilustrações Aristides Dutra


Fotos Hélio Nogueira
RADIS 30 ! FEV/2005
[ 4 ]

C AR
RTTA S

H ANSENÍASE E SOFRIMENTO D ECODIFICAÇÃO DE MENSAGENS


Aviso ao leitor
P arabenizo toda a equipe da Radis
pela excelente matéria sobre
hanseníase (Radis nº 27). Informações
R ecebi a Radis nº 27, e adorei a
página da Comunicação em Saú-
de, com a professora Inesita Araújo.
A partir de agora você
pode atualizar seus dados
sobre a etiologia, os sintomas, o tra- A propósito, falei sobre este tema, cadastrais pela internet.
tamento, as perguntas mais freqüen- decodificação de mensagens na saú- Acesse www.ensp.fiocruz.br/radis —
tes e, principalmente, o alerta sobre de pública, em aula na pós-gradua- escolha a opção “Assinaturas” e in-
o preconceito que sofre o hanseniano ção em Saúde Pública da Universida- forme seu código de assinante (que
são importantíssimas para o conheci- de São Camilo. Precisa dizer que vou consta da etiqueta).
mento da população em geral. levar a revista na próxima aula para A senha para o primeiro aces-
Estou cursando o 7º período de falar sobre a importância deste tema? so é 9999, que você pode alterar
Enfermagem, e devido à disciplina Saú- Nessa turma tenho alunos médicos, posteriormente.
de Pública II tive a oportunidade de veterinários, enfermeiros, assisten-
participar do Projeto de Revitalização tes sociais, biólogas, dentistas,
das Colônias de Portadores de webdesigners etc. Em comum, so- M UNDO AMPLIADO
Hanseníase, desenvolvido pela Secre- mente o fato de trabalharem em saú-
taria de Saúde do Ceará. Aqui existem
duas colônias, uma em Maracanaú e
outra em Redenção — a Colônia de
de pública, a maior parte no interior
do Estado do Rio.
! Aparecida de Luca, Rio de Janeiro, RJ
S ou estudante de Enfermagem em
nível técnico pela Cruz Vermelha
em Nova Iguaçu (RJ). Há muito venho
Antônio Diogo, que já visitamos. Quan- acompanhando as publicações da
do fizemos as entrevistas para coleta MAIS HUMANIZAÇÃO Radis. Para mim é tudo muito novo,
de dados sobre os moradores perce- uma nova etapa de minha vida tem se
bemos o sofrimento deles, na maioria
ex-portadores. Falam sobre o que já
viveram, pedem a melhoria da assistên-
S ou estudante de Serviço Social e
faço estágio na área da saúde. Te-
nho muito interesse nessa temática:
aberto: a cada dia me apaixono pela
saúde, por cada palavra, cada linha,
cada matéria. Leio e releio, não can-
cia e a redução do preconceito que minha monografia de conclusão de so nunca. Só tenho a agradecer por
ainda hoje está presente. curso é sobre a humanização do aten- uma revista que tem ampliado o meu
Agradeço por escreverem sobre as- dimento e das relações no âmbito da mundo com tamanho conhecimento.
suntos cada vez mais atuais na área da saúde pública, e a revista é de suma ! Simone Silva do Nascimento,
saúde. Pois, pelo que observamos, a meta importância para a minha aprendizagem. Nilópolis, RJ
para 2005 está longe de ser alcançada. ! Marcela Garcia de Lima, Juiz de
! Izabel Kariny, Fortaleza Fora, MG C IDADÃO E CONSELHEIRO

expediente
G ostaria de parabenizá-los pela ex-
celente publicação, que em mui-
to vem me ajudando como cidadão e
como conselheiro municipal de Saú-
Subcoordenação Justa Helena Franco de, agora privilegiado como assinan-
Edição Marinilda Carvalho te desta maravilhosa revista por ter
Reportagem Jesuan Xavier (subeditor),
Katia Machado e Wagner sido delegado da 12ª CNS.
Vasconcelos (Brasília/Direb) ! Carlos Alberto Alves dos Santos, Va-
Arte Aristides Dutra (subeditor) e lente, BA
Hélio Nogueira
RADIS é uma publicação impressa e online Documentação Jorge Ricardo Pereira NA COMUNIDADE
da Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo e Laïs Tavares
Programa RADIS (Reunião, Análise e Secretaria e Administração Onésimo
Difusão de Informação sobre Saúde),
da Escola Nacional de Saúde Pública
Sergio Arouca (Ensp).
Gouvêa, Fábio Renato Lucas e
Cícero Carneiro
Informática Osvaldo José Filho
C onheci a revista Radis, e este ma-
terial me ajuda no curso de es-
pecialização em Saúde Coletiva. Como
Endereço trabalho na rede pública, a revista é
Periodicidade mensal
Tiragem 43 mil exemplares Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos
Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361 discutida com meus colegas e até com
Assinatura grátis a comunidade. Bom trabalho!
(sujeita à ampliação do cadastro)
Tel. (21) 3882-9118
Fax (21) 3882-9119 ! Cristina Johnsson Campos, Curitiba
Presidente da Fiocruz Paulo Buss E-Mail radis@ensp.fiocruz.br
Diretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho
Site www.ensp.fiocruz.br/radis
PROGRAMA RADIS Impressão
Coordenação Rogério Lannes Rocha Ediouro Gráfica e Editora SA
O Centro Comunitário, Social e Cul-
tural da Trindade tem uma bi-
blioteca que é fonte de consulta
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos
pode ser livremente utilizado e reproduzido em qual- veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo de para professores e estudantes. A
quer meio de comunicação impresso, radiofônico, nossas publicações que enviem para o Radis um exem-
televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos plar da publicação em que a menção ocorre, as refe- Radis é uma revista importante e
créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon- rências da reprodução ou a URL da Web. necessária a qualquer entidade que
RADIS 30 ! FEV/2005
[ 5 ]

atenda ao público, como a nossa.


! Pereira da Silva, São Gonçalo, RJ
SÚMULA
C ONTEÚDO ESSENCIAL

S ou enfermeira do município de
Jacarezinho, no Paraná, e estou
como coordenadora do Programa Saú-
OS GORDOS E OS DESNUTRIDOS
de 2003 em 48.470 domicílios de áre-
as urbanas e rurais de todo o país, e
o critério do peso baseou-se na rela-
de da Família, com nove equipes e ção peso/altura, ou Índice de Massa
uma equipe de Saúde Bucal. Tive aces- Corpórea, da OMS.
so a esta revista pela nossa secretá- Em discurso no Palácio do Pla-
ria de Saúde, que me mostrou a re- nalto no dia 20/12, o presidente Luiz
portagem sobre a Farmácia Popular Inácio Lula da Silva contestou os da-
no Rio de Janeiro (Radis 25). Esse é dos da pesquisa do IBGE. Segundo ele,
um dos nossos sonhos aqui no muni- o número de desnutridos deve ser
cípio. A revista é encantadora, de lei- maior, porque as pessoas “têm vergo-
tura fácil e acessível, e para nós, do nha de dizer que passam fome”.
Programa Saúde da família, uma gran-
de ferramenta nas ações de saúde.
! Silvia Souza de Assis Juliano, A VANÇA A PROIBIÇÃO DO AMIANTO
Jacarezinho, PR

R ADIS SUSPENSA D esde 1º de janeiro estão proibi-


das no estado de São Paulo a
importação, a venda e a fabricação

D eixei de receber a revista Radis


no meu endereço. O que hou-
ve? Gostaria de continuar recebendo.
de produtos que contenham amian-
to (Radis nº 29). O Boletim da Fapesp
de 20/12 (www.agencia.fapesp.br)
! Valdemar de Almeida Rodrigues, anunciou que uma fibra cerâmica se-
Brasília, DF gura e econômica, produzida a partir
da escória líquida do alto-forno da si-
Caro Valdemar, vamos verificar e
corrigir. O que se via nas ruas foi confirma-
do pelos números do IBGE: 38,6
milhões de brasileiros adultos estão
derurgia, pode ser mais uma alterna-
tiva na produção de caixas d’água,
pisos e telhas. A novidade foi desen-
R ADIS NO P LANETA V IVO acima do peso, ou seja, 40% da po- volvida em São Carlos (SP) por pes-
pulação – graças a hábitos alimenta- quisadores do Centro Multidisciplinar

S ou funcionário da Secretaria Mu-


nicipal de Saúde de Americana (SP)
e atuo no Núcleo de Controle de
res recentes e nada saudáveis — que
incluem mais alimentos industriali-
zados, mais açúcares e gorduras. Por
para o Desenvolvimento de Materiais
Cerâmicos, uma instituição de pesqui-
sa da Fapesp.
Zoonoses; atualmente, gerencio o Pro- conta disso, neste grupo 10,5 mi- Outra alternativa, também em
grama Nacional de Controle da Dengue lhões são obesos. Em 1974/1975, processo de patenteamento, vem
(PNCD). Tive contato com a Radis por apenas 16% da população estavam do grupo de Construções Rurais
meio de um amigo, médico-veterinário. acima do peso. A má notícia veio e Ambiência da Faculdade de
Além de contribuir com o controle da entre os dados da segunda parte da Zootecnia e Engenharia de Alimen-
dengue em meu município, também sou Pesquisa de Orçamentos Familiares tos da USP, em Pirassununga: é um
responsável pelo jornal Planeta Vivo, 2002-2003, feita pelo IBGE para o novo tipo de telha de fibra vege-
um suplemento informativo que desen- Ministério da Saúde. tal, retirada da bananeira, do sisal
volvi para a Unidade de Vigilância em A pesquisa informou também que ou do eucalipto.
Saúde, da qual faço parte. Portanto, diminuiu a desnutrição. Em 1974/1975,
os assuntos pautados nesta conceitu- 7,2% da população masculina e 10,2%
ada revista também são de grande uti- da população feminina sofriam com a A NTIINFLAMATÓRIOS EM XEQUE
lidade para que eu possa acrescentar falta de peso. Em 1989, 3,8% e 5,8%;
um conteúdo melhor às matérias do
Planeta Vivo, bem como ilustrar alguns
artigos que me são enviados pelos fun-
em 2002/2003, essas taxas estavam em
2,8% e 5,2%. A imprensa deitou e ro-
lou na interpretação sensacionalista
O jornal The New York Times anun-
ciou que o laboratório america-
no Pfizer decidiu suspender a propa-
cionários da Secretaria de Saúde. dos números: “Brasil tem mais gordos ganda do antiinflamatório Celebrex
! Amauri de Souza, Santa Bárbara do que desnutridos”, bradou um jor- (Celebra, no Brasil). À semelhança do
D’Oeste, SP nal. Mas não houve destaque para a Vioxx, recolhido em todo o mundo
desigualdade social: as famílias mais no ano passado, um estudo com do-
ricas (renda mensal acima de R$ 4 mil) entes de câncer indicou que o re-
NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA gastam R$ 662,72 com comida — qua- médio aumenta os riscos cardíacos. A
A Radis solicita que a correspondên- tro vezes mais que o gasto das famíli- decisão foi tomada de comum acor-
cia dos leitores para publicação (car- as pobres (renda mensal até R$ 400). do com a FDA, agência que controla
ta, e-mail ou fax) contenha identifi- A outra má notícia é que o con- alimentos e medicamentos nos Esta-
cação completa do remetente: nome, sumo de frutas, legumes e hortaliças dos Unidos. A Pfizer, que gastou US$ 71
endereço e telefone. Por questões de continua baixo, bem inferior às reco- milhões na propaganda do Celebrex
espaço, o texto pode ser resumido. mendações da OMS. A pesquisa foi em 2004, não pretende retirar o re-
realizada entre julho de 2002 e junho médio do mercado americano, que
RADIS 30 ! FEV/2005
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registrou vendas de US$ 50 bilhões. sinada por Ginés González García


Mas a FDA não descartou essa possi- (Argentina), Humberto Costa (Bra- A GRICULTURA FAMILIAR COM PESO
bilidade. Dias depois, a agência fez sil), Julio Velázquez (Paraguai), NO PIB
alerta sobre os riscos para o coração Conrado Bonilla (Uruguai) e Pedro
de outra droga, o naproxen (nomes
comerciais de Aleve, Naprosyn,
Anaprox, Naprelan).
García Aspillaga (Chile).
L evantamento da Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas (Fipe-SP)
revelou que em 2003 a agricultura fa-
C ALENDÁRIO DA S AÚDE miliar respondeu por 10,1% do Produ-
to Interno Bruto, que soma todas as
OS FEITOS DE 2004 riquezas do Brasil. A pesquisa, enco-
mendada pelo Ministério do Desenvol-

A clonagem de embriões humanos


pelo pesquisador sul-coreano Woo
San Hwang e sua equipe foi conside-
vimento Agrário, constatou que o PIB
do setor cresceu R$ 13,4 bilhões no
ano retrasado (9,37% a mais em rela-
rado o terceiro maior feito científi- ção a 2002). Foi a primeira vez que o
co de 2004 pela revista Science. Para governo federal mediu o impacto eco-
a Science, este trabalho foi o pri-
meiro a demonstrar que essas téc-
nicas funcionam com células-tron-
A Organização Pan-Americana de Saú-
de (Opas/OMS, www.opas.org.br)
divulgou o calendário de eventos para
nômico da atividade de agricultores
familiares.
As cadeias produtivas com maior
co. Para a revista, o maior feito foi 2005. Algumas datas: crescimento são as de leite, aves e
a constatação de que houve água 24 de março — Dia Mundial da suínos. No total, a agricultura familiar
em Marte no passado, a partir de Tuberculose movimentou, em 2003, um terço do PIB
indícios colhidos por robôs da 7 de abril — Dia Mundial da Saúde do agronegócio (formado pela agricul-
Nasa; o segundo foi a descoberta 7-14 de abril — Semana da Saúde tura e a pecuária familiar e patronal).
na Indonésia de fósseis de uma es- nas Américas Para compor o estudo, a Fipe consi-
pécie de hominídeos com 90 cen- 24-30 de abril — Semana de Vacina- derou como atividade familiar a reali-
tímetros de altura. ção das Américas zada em propriedades com até qua-
Seguem-se estudos físicos, astro- 19-28 de maio — Assembléia Mundial tro módulos rurais e dois empregados
físicos, genéticos e sobre a água. O da Saúde e analisou e atualizou os dados do
nono maior feito científico de 2004, 31 de maio — Dia Mundial sem Tabaco Censo Agropecuário de 1995/1996, in-
para a Science, foram as 92 parcerias 14 de junho — Dia Mundial do formou o Palácio do Planalto.
público-privadas criadas para produ- Doador de Sangue
zir, testar e distribuir nos países po- 1-7 de agosto — Semana Mundial do
bres medicamentos de combate a Aleitamento Materno M ENOS A EDES NO VERÃO
doenças como malária, tuberculose 25 de setembro — Dia Mundial do
e Aids. O destaque negativo foram os
cortes de orçamento para a pesqui-
sa na Europa e os limites ideológicos
Coração
1º de outubro — Dia Internacional
dos Idosos
O secretário de Vigilância em Saú-
de do Ministério da Saúde,
Jarbas Barbosa, anunciou que a po-
impostos nos EUA. 10 de outubro — Dia Mundial da pulação do mosquito transmissor da
Saúde Mental dengue, o aedes aegypti, foi reduzi-
1º de dezembro — Dia Mundial da Aids da em 2004, em comparação à de
M ERCOSUL CRITICA PATENTES 2003. Segundo levantamento do Índi-
ce Rápido do Aedes Aegypti, 43,4%

A ssinada pelos ministros da Saúde


de cinco países — Brasil, Argenti-
BUTÃO, A N T I TA B A G I S TA R A D I C A L das áreas avaliadas apresentaram Ín-
dice de Infestação Predial (IIP) abai-
na, Paraguai, Uruguai e Chile —, de-
claração distribuída na Cúpula do
Mercosul em Ouro Preto (MG), em
O pequeno reino do Butão, ao pé
do Himalaia, no centro da Ásia,
foi o primeiro país do mundo a proi-
xo de 1%, percentual que indica o
menor risco de transmissão da den-
gue. Em 2003, este percentual che-
dezembro de 2004, criticou o mo- bir o comércio de tabaco — a venda gou a 34,6%.
nopólio de patentes, política que agora equivale a tráfico. Fumar em
influencia diretamente o gasto da local público também está proibido,
população em saúde e o custo dos só é permitido em casa. O cidadão D ESEJO DE COMPRAR É DOENÇA
programas oficiais dos países, infor- pode comprar cigarros em países vi-
mou a Agência Ansa. Os ministros pe-
diram ações conjuntas dos países do
Mercosul “para garantir a suprema-
zinhos (Índia e China), mas pagará
100% de imposto de importação. Ape-
nas 1% da população (1,9 milhão de
O desejo excessivo de comprar, o
endividamento pelo excesso de
compras e o sofrimento psicológico
cia do bem público sobre os inte- habitantes) fuma no Butão. provocado pelo descontrole desse tipo
resses privados, diante do impacto Na Itália, a lei que proibiu o de comportamento podem indicar uma
significativo das patentes de remé- fumo em lugares fechados a partir dependência comportamental de con-
dios sobre o custo dos programas de janeiro vem provocando revolta sumo. A opinião foi dada pelo psiquia-
sanitários oficiais”. A advertência entre os donos de bares e restau- tra do Hospital das Clínicas de São Pau-
deu-se no momento em que os Es- rantes: a multa é de US$ 2.900 para lo Hermano Tavares, em entrevista à
tados Unidos pressionam os países quem não informar às autoridades Radio Nacional divulgada pela Agência
andinos e centro-americanos à mu- sobre fregueses que estiverem fu- Brasil. Essas três características eviden-
dança de suas leis de patentes, para mando. O ministério italiano da saú- ciam o consumo sem controle, ou do-
que ganhem acesso a tratados de de afirma que 26,6% da população ença do consumo. Fundador do núcleo
livre comércio. A declaração foi as- adulta italiana fumam. que estuda a doença no Hospital das
RADIS 30 ! FEV/2005
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Clínicas, Tavares disse que o comprar


compulsivo atinge todas as classes so-
ciais e todas as faixas etárias.

T RANSPLANTES : MILHARES AINDA


ESPERAM

O Brasil fechou 2004 com cerca de


11 mil transplantes realizados —
número 27,2% acima do registrado em
tação da 01/03 acabou ficando para
este ano.
E como fica o orçamento da saú-
2003. Apesar disso, o Sistema Único de? A proposta encaminhada ao Con-
de Saúde ainda tem mais de 62 mil RET-SUS COM NOVO SITE — Já está gresso pelo Executivo previa R$
pessoas na fila aguardando por ór- no ar o novo site da RET-SUS 39.278.219.462,00; a proposta do
gãos. De acordo com o ministro da (www.retsus.epsjv.fiocruz.br/), a relator setorial da saúde na Comissão
Saúde, Humberto Costa, a meta do rede criada pelo Ministério da Saú- Mista de Orçamento foi maiorzinha,
governo é zerar, até 2007, pelo me- de para integrar as escolas técni- de R$ 40.437.164.778,00. O relator-
nos a espera por córnea (Radis nº 23). cas do SUS e fortalecer a educação geral do orçamento subiu para R$
“As campanhas de doação têm um profissional em saúde. Engloba 34 es- 40.526.621.514,00 — valor afinal apro-
papel muito importante na captação colas estaduais, duas municipais e vado pelo Plenário do Congresso em
de órgãos”, disse. Segundo matéria uma federal, todas voltadas para a 29/12/04. Em meados de janeiro, tor-
publicada no Jornal do Commercio em formação de trabalhadores de nível cia-se para que o presidente Lula não
15/12, o estado de São Paulo liderava o médio em saúde. O site foi lançado vetasse este “plus” ao sancionar a Lei
ranking de transplantes, com 3.869 pro- em dezembro na 2ª Reunião Anual Orçamentária.
cedimentos até outubro de 2004. O da Rede de Escolas Técnicas do A Secretaria Executiva do Conse-
segundo lugar, Minas Gerais, vinha bem SUS, em Natal. lho Nacional de Secretários de Saúde
atrás: 929 transplantes. (Conass) fez estudo detalhado segun-
ORÇAMENTOS MINGUADOS — Ao apro- do o qual o montante destinado ao
var no fim da tarde de 29/12/2004 o Ministério da Saúde no Orçamento da
D EU A LOUCA NO E STADO DO R IO Orçamento da União para 2005, o União precisaria ser complementado
Congresso tinha aumentado em R$ 9,5 em pelo menos R$ 3,5 bilhões e alguns

O cidadão do Estado do Rio tem an-


dado às voltas com tentativas se-
guidas de interferência dos poderes
bilhões os recursos destinados aos in-
vestimentos em infra-estrutura. Quem
pôde acompanhar pela TV as sessões
quebrados. A íntegra do texto está no
site do Radis (www.ensp.fiocruz/radis/
30-web-01.html).
em sua vida confessional ou privada. da Comissão Mista do Orçamento, no
Primeiro o governo do estado intro- apagar das luzes do ano, ficou cho-
duziu o ensino de religião no currí- cado não apenas com o clima de im-
culo das escolas — contrariando pais, proviso no tratamento de matéria tão
alunos, professores e defensores em grave, que estava no parlamento des-
geral da separação igreja-Estado. De- de 1º de setembro, mas também com
pois chocou a comunidade científi- as manobras que retiraram recursos
ca com a decisão de ensinar o substanciais de áreas-chave.
criacionismo que, em resumo, atribui Por exemplo, Ciência e Tecno-
a um criador a origem do universo. logia: dos R$ 200 milhões pedidos para A TORCIDA DA OLIMPÍADA — Os 36
Por fim, um deputado estadual, cha- o CNPq, alcançaram-se R$ 55 milhões, participantes selecionados na Eta-
mado Edino Fonseca, do PSC, apre- tudo para bolsas, e isso após muitas pa Regional da 2ª Olimpíada Brasi-
sentou projeto prevendo “tratamen- marchas e contramarchas nas nego- leira da Saúde e do Meio Ambiente
to” — com dinheiro público — para ciações. Nenhum centavo para fo- (www.olimpiada.fiocruz.br/) já entra-
homossexuais arrependidos. mento à pesquisa básica. “É como ram em fase de torcida. O resultado
O projeto já tinha sido aprovado se não estivéssemos vivendo em ple- da Etapa Nacional está bem próximo:
nas comissões de Constituição e Justi- no século 21”, comentou o editor entre 4 e 8 de abril, quando os pri-
ça e de Saúde da Assembléia, e passa- do Jornal da Ciência, José Monserrat meiros colocados, por categoria e
ria no plenário se não fosse a grita da Filho. Não surpreende que a ciência modalidade, estarão automaticamen-
imprensa, porque a bancada do gover- de balcão continue à grande... e te classificados para concorrerem ao
no estava disposta a votar a favor para como condenar? Julgamento Nacional, que destacará
não perder os votos dos evangélicos, A área da saúde até ganhou um o 1º, o 2º e o 3º lugares.
informou o Jornal do Brasil. Felizmen- bilhãozinho a mais no Orçamento de A Olimpíada Brasileira da Saúde
te, no dia 9/12, a Assembléia rejeitou a 2005, mas continua bem longe do vo- e do Meio Ambiente, competição de
proposição, por 30 votos a 6. “Escapou lume de recursos previsto na Cons- caráter educativo que dá ênfase a
por pouco”, respirou aliviado o depu- tituição de 88 (30% do orçamento trabalhos criativos e inéditos, é inici-
tado Carlos Minc (PT). da seguridade social), e distante até ativa da Fiocruz, da Associação Brasi-
do que estabelece a PLP 01/03 que, leira de Pós-Graduação em Saúde
complementando a Emenda Consti- Coletiva (Abrasco) e do Instituto Bra-
SÚMULA é produzida a partir do acom- tucional nº 29, obriga a União a des- sileiro de Meio Ambiente e Recursos
panhamento crítico do que é divulgado tinar 10% das receitas correntes Naturais (Ibama), e conta com a par-
na mídia impressa e eletrônica. brutas a ações e serviços de saúde ticipação de uma ampla rede de ins-
(Radis nº 28). Como se temia, a vo- tituições espalhadas pelo país.
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[ 8 ]

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Você ainda vai ter um


O esboço do projeto começou a ser riscado em 1996, mas
Wagner Vasconcelos*
erros sem conta em sua condução impediram que os avan-

U
ços esperados de fato se materializassem.
nidades de saúde sem filas, atendimento rápido, Como foi entendido pelos idealizadores, o cartão re-
marcação de consultas e exames sem demora, presentaria um avanço para o sistema público de saúde.
sem estresse, em dias e horários certos. Eficiência Ele parte da idéia de que, com a identificação de todos os
na distribuição de medicamentos, gastos sob con- usuários do SUS, seja traçado seu perfil, e também o dos
trole, automedicação reduzida. Histórico médico do paci- serviços de saúde prestados. Isso aceleraria e melhoraria o
ente na mão do profissional que o atende, acompanhamen- atendimento do SUS, que, todos concordamos, deixa mui-
to criterioso e detalhado, resultados positivos no tratamento. to a desejar.
Parece um sonho, e ainda é na grande maioria das E como funciona o cartão? Ao procurar uma unidade
cidades. Para seus defensores, o Cartão Nacional de Saú- de saúde, o usuário é identificado quando seu cartão é
de, ou Cartão SUS, pode contribuir para a concretização passado no Terminal de Atendimento em Saúde, ou TAS,
mais rápida desse processo. Pois a filosofia e a prática pelo atendente da unidade. O sistema informa logo se o
do cartão, parece, finalmente começam a ser retoma- usuário é da cidade ou se vem de fora. No ambulatório,
das. A palavra é essa, retomadas. Afinal, lá se vão 15 anos novamente o cartão é passado no TAS, para a marcação de
da criação do Sistema Único de Saúde, sem que o prome- consulta especializada ou exames de laboratório. O usuá-
tido cartão tenha chegado às mãos de todos os brasileiros. rio saberá em poucos minutos dia e hora dos procedimen-
tos. Acabariam, assim, as insuportáveis filas da senha, da
ficha, do atendimento.
“O cartão facilita o acesso do cidadão aos servi-
ços de saúde em todos os aspectos”, diz Pedro
Benevenuto, diretor do Departamento de Infor-
mação e Informática do SUS (Datasus), que
deu entrevista à Radis em Brasília. De
acordo com ele, isso acontece porque
onde o sistema funciona não se faz mais
preenchimento manual de fichas. É tudo
online, ou seja, digitado e atualizado
instantaneamente pelo sistema. Segun-
do Pedro, “isso facilita e racionaliza o flu-
xo das pessoas”, que normalmente procu-
ram uma unidade para consulta, dali vão
a outra unidade para remédios, a outra
para exames. “As reconsultas serão evi-
tadas”, garante Pedro. Para o sistema de
saúde, há a vantagem da segurança: como
as faturas estarão online, não serão mais
recebidos documentos preenchidos manu-
FOTOS: ARISTIDES DUTRA

almente e eventualmente fraudados (sistemas


online estão também sujeitos a fraude, é lógico,
mas espera-se do SUS a devida salvaguarda de se-
gurança — assunto, aliás, para muitas matérias).
Pedro Benevenuto esclarece que o cartão em si
não é o mais importante, mas o Número de Identificação
Social (NIS), impresso no cartão. Com isso, pode-se sonhar
para o futuro com um prontuário único do usuário disponível
em qualquer lugar do Brasil em que ele seja atendido. O NIS é
gerado pela Caixa Econômica Federal (CEF), que unificou to-
dos os cadastros sociais do governo.
Esse cadastro é originalmente feito pelos municípios, que
fazem a demanda dos cartões ao Ministério da Saúde quando
superam os 60% de habitantes cadastrados. Cabe também ao
gestor municipal distribuir os cartões quando chegam do MS.
Pedro estima em 80 milhões o número de cartões já distribu-
ídos até janeiro de 2005.
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Parece simples, mas já deu erra- UM PROCESSO comprometida pela própria concep-
do. Por exemplo, em Vitória, uma das EM CONSTRUÇÃO ção do cartão, que não é clara. “Falta
44 cidades escolhidas para testar o car- O Cartão SUS foi criado em 1996, e definir a função, a abrangência, um
tão no projeto-piloto do MS. em 1999 os trabalhos começaram a ser to- projeto de informatização”, diz. Uma
cados. Hoje, segundo Pedro Benevenuto, das funções do cartão seria garantir
EXPECTATIVA FRUSTRADA todos os municípios estão aptos a ca- o financiamento adequado dos pólos
Em Vitória, a terceira capital mais dastrar os cidadãos. Isso não signifi- de referência, como o de Aracaju (ver
antiga do país, hoje com 300 mil habi- ca, porém, que todos o estejam fa- página 11), no atendimento a usuári-
tantes, o projeto-piloto pouco avan- zendo. “O secretário municipal de os do interior, assegurando o cumpri-
çou. Segundo Maria Celeste Ribeiro Saúde e o prefeito têm de chamar a mento de princípios do SUS como
Pupa, coordenadora do Núcleo de si o cadastramento”, diz. “Alguns integralidade e universalidade. “Mas
Planejamento Setorial da Secretaria gestores pegam isso como compromis- isso está associado a uma grande rede
Municipal de Saúde, houve demora na so social e fazem. Outros, não”. informatizada, que não existe”, lamen-
elaboração dos cartões. A usuária do O morador de Vitória ta. “O que existe é muito
SUS Margareth Corrêa Miranda, por sentiu na carne. E também fragmentado, lembra até a
exemplo, cadastrou a família toda, mas os do entorno do Distrito irrigação do Nordeste”.

FOTO: WAGNER VASCONCELOS


o cartão não chegou: “A prefeitura dis- Federal, exemplo das duas Pedro confirma: “O pro-
tribuiu formulários nas associações de atitudes: enquanto alguns jeto de girar o prontuário
moradores e nas unidades de saúde estão em ritmo avançado, eletrônico nacional existe,
para que a população fizesse o cadas- como Pirenópolis (GO), que mas é coisa para o futuro”.
tro”, conta. “Fiz o meu há uns três já cadastrou 80% da popu- Os sistemas hoje são muni-
anos, mas nada recebi”. lação, Mimoso de Goiás não cipais, e não há uma rede
O sistema começou a ser implan- passou dos 3,9%. “Não se nacional de transmissão de
tado em 2000, quando foram criados pode forçar a barra, o se- dados entre estados e mu-
três cadastros específicos: o dos usu- cretário pode dizer que não interes- nicípios. O tamanho do país e da po-
ários do SUS, com a geração de um sa e pronto”, resume Pedro. “Mas ele pulação complicam, sem falar nas gran-
número único de identificação; o das vai passar a se interessar porque, des diferenças de capacidade técnica
unidades de saúde; e o dos profissi- como todos os nossos sistemas vão ser das regiões. Quando pronta, no en-
onais que executam procedimentos identificados pelo cartão, ele vai ter tanto, essa rede beneficiará o cida-
no sistema. de aumentar o cadastro para rece- dão. Pedro dá o exemplo de um mo-
Foram cadastradas em Vitória ber a fatura”. Se dói no bolso funcio- rador do Rio de Janeiro que visite os
304.686 pessoas: 295.181 usuários (dos na... Já é assim nos procedimentos parentes em Manaus e adoeça por lá.
sete municípios da Grande Vitória) e de alta complexidade, cujo pagamen- A unidade de saúde manauense terá
9.505 profissionais. Deste total, o MS to só pode ser repassado se o paci- acesso a um banco de dados com to-
devolveu 162.968 cartões — 8.890 de- ente estiver cadastrado. “Teremos das as informações do pacien-
les com erros de informa- uma certa obrigatoriedade, te: origem, tratamentos e
ção. Vitória ainda enfren- para que o cadastramento internações anteriores, medica-
tou outros problemas. “O seja retomado”, diz Pedro. mentos usados e o que mais aju-
treinamento da Hypercom, “Começamos com os proce- dar na avaliação. Os municípios
empresa contratada para dimentos de alta complexi- podem produzir seus próprios
implantação na Região Su- dade, vamos passar agora, cartões, desde que obedeçam aos pa-
deste, não capacitou os neste início de ano, a to- drões do MS para que sejam lidos em
profissionais no uso das das as internações”. qualquer lugar do país.
potencialidades do siste- Isso não significa, como A meta de 110 milhões de cadas-
ma”, diz Celeste. “Com a temem muitos críticos, que tros em 2004 foi atingida, diz Pedro.
saída do profissional treina- o usuário só seja atendido Para ele, entretanto, atingir a totali-
do para operar o servidor, não se po- se apresentar seu cartão, o que ame- dade da população é difícil. “Eu se-
dia atualizar a versão do sistema ou açaria o princípio do SUS da univer- ria muito pretensioso em falar no
as tabelas do cadastro”. Além de tudo, salidade, pelo qual a saúde é direito cadastramento realmente de todos os
faltou suporte técnico do MS. Agora, de todos. “Independentemente do brasileiros por duas coisas: primeiro,
o Datasus desenvolve um projeto de cartão, há municípios que negam porque há casas em que nunca se en-
absorção técnico-operacional do que atendimento não só à população de tra para fazer cadastro e pessoas que
hoje é de domínio da Hypercom, para outras cidades, mas até à população nunca entram em contato com o SUS;
fazer andar o processo em Vitória. local, e não vai ser o cartão ou a a outra é que o cadastramento é feito
De qualquer modo, 154.228 capixa- inexistência dele que mudará isso”, ar- por gestores municipais, que nem sem-
bas receberam seu cartão. A professora gumenta Alcindo Ferla, médico que an- pre o fazem”.
de Educação Física Nelza de Souza Miranda, tecedeu Pedro Benevenuto no Datasus
por exemplo, não tem queixas das (2003- 2004. “Vai ter de ser o Ministério OS TEMORES DOS CRÍTICOS
duas vezes em que precisou dele. “Fui Público, a delegacia de polícia. O prin- Alguns críticos argumentam que a
muito bem-atendida”, diz. Nelza, ca- cípio constitucional da universalidade exigência do cartão pode ferir o princí-
dastrada desde 2001, só recorreu ao tem mais força moral e prática do que pio da universalidade. Pedro Benevenuto
cartão no ano passado. “Em duas oca- eventualmente um documento que de- ressalta que o cartão não é condi-
siões de emergência”. Mas ressalva: nuncie a identidade”. ção para atendimento, “nunca foi e
“Do mesmo jeito que hoje funciona, ama- Para o sanitarista Gastão Wagner nunca será”. Qualquer pessoa pode
nhã pode degringolar. Sabe como são as de Sousa Campos, que até novembro ser atendida sem o cartão. “E
coisas no Brasil, né?” Por isso, continua de 2004 era secretário-executivo do quemnunca se cadastrou será auto-
pagando um plano de saúde. “Preciso MS, o nó do cartão está no “gasto gran- maticamente cadastrado assim que
ter segurança”. de com eficácia pequena” — eficácia chegar à unidade que procurar”.
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Outra questão que vem retar- lo das informações. “O caixa do ban- diz. “Não podemos, por medo da que-
dando a aceitação do cartão é o te- co apenas perde o emprego. O médi- bra de privacidade, deixar de apoiar
mor da quebra de sigilo das informa- co, na quebra do sigilo, perde o re- melhorias no atendimento do SUS: te-
ções do usuário, que poderiam chegar gistro profissional”. mos é que gerar esquemas de segu-
ao empregador do portador do car- O deputado federal Rafael rança que tornem o uso do cartão
tão, a planos e seguradoras de saú- Guerra (PSDB-MG), que preside a seguro”. Para Cláudia, a nova gestão
de. Pedro garante que os dados não Frente Parlamentar de Saúde, diz do cartão fez bem em interromper
ficam armazenados no cartão. O que que as pessoas preocupadas com o tudo para tomar as rédeas da situa-
o cartão permite — e somente a pro- cartão são de certa forma as que ção, priorizando o cadastramento e
fissionais credenciados pelo sistema lucram com o caos atual na saúde. a abertura da caixa-preta.
— é o acesso a bancos de dados com Para ele, o cartão criará normas de Para ela, uma visão mais madura,
informações sobre o paciente. No compensação tanto entre municípi- sem maniqueísmos, ajudaria: a hora é
cartão só está armazenada a identi- os como entre municípios e esta- boa para um debate que defina os
ficação da pessoa. dos, e até mesmo entre o sistema conteúdos do futuro prontuário ele-
Alcindo Ferla não vê na questão público e a iniciativa privada. Assim, trônico nacional e suas estratégias de
um bicho de sete cabeças. “Não te- se o SUS atende a um usuário com segurança. A própria Cláudia sofre
mos um risco maior, porque o acesso plano de saúde, pode cobrar do pla- com as indefinições. Pressionada por
às informações do cartão é similar ao no os procedimentos. “As operado- pesquisadores de todo o país para que
da conta bancária”. O cartão do usuá- ras de saúde é que devem temer o libere, por exemplo, informações so-
rio alimenta o sistema de informação, sucesso do Cartão SUS”, afirma. bre internações do SUS com a iden-
e para recuperar essa informação é “Isso tudo é preocupação para tificação do paciente, para cruza-
preciso o cartão e a senha do profis- o futuro, quando o cartão for uma mento de dados essenciais a estudos
sional, detalha ele. “Outro recurso, realidade”, diz Gastão Wagner. “O acadêmicos de saúde pública — e ela
que a gente não enxerga, é que qual- Banco do Brasil informatizou toda a sente isso na pele, pois é mestranda
quer acesso fica documentado, com sua rede, cada cliente tem seu car- da Fiocruz —, hesita: nome de paci-
o nome de quem acessou, seu regis- tão, e nem por isso um entra na con- ente é informação confidencial. “E
tro e horário do acesso”, lembra. Por ta do outro, entra?” Pensa assim tam- se vazar?”, pergunta. No formato atu-
fim, o acesso é hierarquizado. A se- bém Luiz Odorico Monteiro de al, só têm acesso a nomes, além do
nha do recepcionista permite ver Andrade, secretário de Saúde de For- Datasus, a Secretaria de Atenção à
apenas cadastro, endereço, nome de taleza e presidente do Conselho Naci- Saúde e o Departamento Nacional de
parentes. “Mas não permite ver a in- onal de Secretários Municipais de Saú- Auditoria do SUS (Denasus). Com o
formação clínica”, garante. “Já com de, o Conasems: “Temos primeiro que cartão, os pesquisadores poderão
o prontuário de papel, o recepcio- dar escala ao cartão no Brasil”. cruzar dados com o NIS do usuário.
nista, ao pegar o endereço, pega a A analista de sistemas Cláudia “Do jeito que é hoje, como saber
informação clínica toda”. Além Risso Lima, responsável pela gerên- quem vazou, quem assume o risco? Já
disso, na área da saúde, ao cia de disseminação de informações estamos discutindo isso no Ministé-
contrário da rede bancária, do Datasus, propõe que se superem rio da Saúde, e precisamos ampliar o
temos outros mecanismos de os preconceitos. “Não dá mais para debate.”
segurança, lembra ele. As pro- dizer que o cartão é feio porque co-
fissões da área da saúde têm meçou mal, porque alguém levou di- * Colaboraram Kátia Machado e
como atributo ético preservar o sigi- nheiro, porque houve desperdício”, Marinilda Carvalho

O tropeço tecnológico
G astão Wagner conta que pas-
sou seus dois anos no ministério
cobrando definições — da gestão an-
licitação. Duas empresas ganharam, fi-
cando uma delas com dois lotes. “Foi
uma encomenda malfeita”, diz Pedro.
ta U$ 500. “Inviável”, diz Gastão
Wagner. Uma unidade básica de saú-
de precisa, em média, de 20 TAS. Ao
terior e da atual do cartão SUS. O O erro principal: o Datasus não parti- todo, o Brasil já enterrou R$ 180 mi-
projeto-piloto com 44 cidades cus- cipou do processo. “Compramos os sis- lhões no sistema. “Tem mais: o MS e
tou uma fortuna, e não superou bar- temas de duas multinacionais, teori- o Datasus não tinham domínio do sis-
reiras primárias, como a da informa- camente integrados, que formariam a tema, nem como instalava nem como
tização. “Já tínhamos o modelo da rede de cartões para o Brasil inteiro”. rodava”, aponta Pedro.
rede bancária, que é eficaz e nem Mas cada empresa fez seu pró- Agora, o MS está em processo
é tão caro”, diz Gastão. O que deu prio sistema, e um não falava com o de absorção da tecnologia dessas
então errado? outro, as regiões não se comunica- empresas. “Estamos fazendo um es-
Na realidade, vários desacertos vam. Pior: os sistemas só rodam nas forço enorme para trazer essa
marcaram os primeiros movimentos máquinas das próprias empresas. “En- tecnologia — um software que é de
para a criação do cartão. Pedro tão, para rodar o sistema no Nordes- propriedade do Ministério da Saúde
Benevenuto conta que, no fim dos anos te fomos obrigados a comprar má- por contrato — para o Datasus”.
90, o MS abriu licitação para a cons- quinas da empresa que fez o sistema Gastão Wagner resume: “Não havia
trução do sistema. para o Nordeste”. Além do prejuízo mesmo como fazer um contrato cla-
Para isso, dividiu o país em três técnico, os desacertos custaram uma ro, porque o governo não sabia o que
regiões, Sudeste/Sul, Centro-Oeste/ montanha de dinheiro ao governo. queria. Por isso é necessário antes
Norte e Nordeste, em três lotes de Um TAS sozinho, segundo Pedro, cus- de tudo definir o que se quer.”
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O exemplo que vem de Aracaju


atribuída a técnicos. “Mas isso já está
sendo resolvido pela secretaria”, diz
Emerson: um caderno com os códigos
dos procedimentos está sendo prepa-
rado, e uma a leitora de código de bar-
ras processará os números.

COM HORA MARCADA


O sistema funciona da seguinte

FOTO: WAGNER VASCONCELOS


forma: se o paciente precisa de um
especialista ou de exames, o profissi-
onal de saúde digita essa requisição
no TAS, que leva as informações ao
setor de regulação. Esse setor, na
sede da Secretaria Municipal de Saú-
de, lá na Rua Sergipe, no bairro de
A dona-de-casa Rosevânia e o médico Francisco: atendimento “descomplicado”
Siqueira Campos, é composto por seis
terminais de computadores, operados
pelos chamados médicos-reguladores.
cartão desses”. Ela pensava tratar-se Os reguladores filtram as requi-

P ara conferir o funcionamento do


sistema, a Radis desembarcou numa
das primeiras cidades planejadas do Bra-
de um plano de saúde particular.
A adesão ao cartão não foi imedia-
ta: as pessoas não viam nele benefícios
sições que lhes chegam dos 920 TAS
das unidades da capital. Avaliam tan-
to a real necessidade dos procedi-
sil, Aracaju, que comemorou em 2004 diretos. “No começo, o cartão era bom mentos quanto a urgência do caso,
seu 150º aniversário de fundação. Com apenas para o gestor”, conta Sândala. para definir prioridades. Verificam as
460 mil habitantes, integra desde 2000 “Para o usuário, não havia agilização filas de pacientes, os procedimentos
o projeto-piloto do Cartão SUS. Os re- do atendimento”. Muitas campanhas e os dias de vagas disponíveis. Feito
sultados lá são considerados os mais de esclarecimento depois, a realida- esse cruzamento de dados, as infor-
avançados: acabaram, por exemplo, as de é outra: quem não têm o cartão mações retornam ao médico, lá na uni-
dificuldades de marcação de consul- trata de se cadastrar para recebê-lo. dade, e são repassadas ao pa-
tas. Não que o cartão tenha multipli- Em dezembro, 430 mil pessoas em ciente, que vai para casa
cado vagas e horários nas unidades, mas Aracaju já tinha o cartão. Desse to- sabendo o dia e, acredite, até
organizou o processo. E quem antes tal, 250 mil contam com os cartões a hora em que será atendido.
procurava sempre o grande hospital definitivos, com tarja magnética. Os “Antes, tudo era feito ma-
sabe hoje que deve buscar assistência demais usam cartões provisórios, que nualmente, o que tornava o
no posto perto de casa. Com exceção, obriga o profissional de saúde a digitar processo muito demorado”, diz o mé-
claro, dos casos graves. os dados do paciente. Desde janei- dico-regulador Sérgio Carvalho. “Ago-
A capital de Sergipe chegou à ro, porém, a secretaria vem substitu- ra, podemos realizá-lo em até três mi-
condição de município-piloto por ter indo os cartões: mesmo provisórios, nutos”. A estudante Ana Paula Oliveira
conseguido logo cadastrar mais de 60% os novos têm tarja magnética, e não Santos, 17 anos, que numa sexta-feira
da população. Depois, um batalhão de é preciso digitar mais nada. à tarde levou a irmã Nair (que cortou
220 pessoas saiu em campo e, hoje, 95% Muitos médicos, segundo Sândala, a mão ao brincar com uma faca de co-
dos aracajuanos estão no sistema. também reagiram à idéia. Alguns alega- zinha), de 13 anos, à Unidade Onésimo
O primeiro posto a receber o TAS vam não ser função deles marcar pro- Pinto, conta que o cartão facilitou sua
foi a Unidade Básica de Saúde da Fa- cedimentos. Outros reclamavam do vida. “Agora é tudo muito mais rápido
mília Onésimo Pinto, no Jardim Cente- esforço de digitar e do risco da LER e a gente não perde tempo”, diz.
nário, zona norte da cidade. Virou uma (lesão por esforço repetitivo). “Mas A dona-de-casa Rosevânia Dias,
espécie de cobaia do funcionamento hoje isso está acabando”, diz Sândala, grávida de sete meses do primeiro fi-
do sistema. Atualmente, há 920 TAS em que percebe maior adesão ao siste- lho, está feliz com o atendimento
Aracaju, 780 nas unidades públicas (42 ma. Por telefone, o presidente do Sin- “descomplicado”. “Antes, todo mun-
básicas, três especializadas e quatro dicato dos Médicos de Sergipe, Emer- do esperava muito, agora, não”, afir-
de pronto-atendimento) e o restante son Ferreira Costa, confirma as ma. O médico que a atendia, Francis-
nas instituições prestadoras de servi- queixas. Mas ressalva que a catego- co Guedes Barreto, é entusiasta do
ço do SUS. ria não critica a filosofia do programa, cartão: trabalha com eles há dois anos.
e sim a operacionalização do TAS: o “É natural que coisas novas tragam re-
AS PRIMEIRAS REAÇÕES processador do sistema é muito lento, ações, mas se o médico resistir ao car-
Sândala Teles de Oliveira, técni- o que atrasa a consulta em 15 minutos. tão acaba transferindo essa rejeição
ca do Cartão SUS da Secretaria Mu- O mobiliário das unidades, que não têm ao usuário”. Na recepção, a marcadora
nicipal de Saúde, lembra da reação cadeiras e mesas adequadas, também. de regulação Miriam Fonseca Santos,
das pessoas às primeiras notícias so- Em dezembro, de 40 a 60 médicos sus- que atende entre 100 e 200 usuários
bre o cartão. Uma senhora, por exem- penderam o uso do equipamento, mas por dia, diz, satisfeita: “Acabou-se a
plo, ficou feliz da vida: “Finalmente, atendiam normalmente a população. O história de trabalhar com fichas para
depois de tantos anos, consegui um sindicato sugere que a digitação seja marcar consultas”. (W.V.)
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2 º S I M B R A V IIS
SA

Dilemas e desafios
da vigilância sanitária

No simpósio, a presença constante de Cora Coralina: no painel, seus versos traduzidos em várias línguas

novembro, do 1º Simpósio Pan-Ameri- dos em forma de pôster e 125, oral-


Jesuan Xavier e Wagner Vasconcelos
cano de Vigilância Sanitária e do 2º mente. Para a presidente do simpósio,

E
Simpósio Brasileiro de Vigilância Sani- Vera Lúcia Edais Pepe, esses núme-
m 1987, o Brasil foi sacudido tária — o Simbravisa. Reunidos na ros “demarcam a vigilância sanitária
pela notícia de um acidente cidade turística de Caldas Novas, a como um importante espaço da saú-
radiativo que fez centenas de 160 quilômetros de Goiânia, famo- de coletiva no Brasil”.
vítimas em Goiânia, capital de sa por suas águas termais, E por falar em núme-
Goiás. O caso do Césio 137 ganhou 1.600 profissionais compa- ros, uma das mesas (“Pro-
todas as manchetes, alarmou a popu- receram, o dobro do pri- dução e reprodução de
lação e ressaltou a importância de meiro evento, em 2002. conhecimentos em vigilân-
uma área específica do campo da saú- Promovido pela Associ- cia sanitária) divulgou dados
de: a vigilância sanitária. Dezessete ação Brasileira de Pós-Gra- do Censo Nacional dos Tra-
anos depois, integrantes dessa área duação em Saúde Coletiva balhadores em Vigilância
de todo o Brasil voltaram ao estado (Abrasco), o Simbravisa Sanitária, realizado entre
em que as conseqüências da “luz atraiu gente de todos os 2000 e 2004: são 32.135 os
azul” (como o césio ficou conheci- estados e de cinco países, profissionais da área. Dos
do) ainda se fazem presentes. O ob- para quatro conferências, que têm formação superi-
jetivo, desta vez, não era analisar o nove mesas-redondas, 27 comunica- or, 18% são médicos-veterinários, 12%,
material que alterou a vida dos ções coordenadas, 24 painéis e 969 farmacêuticos e 9%, enfermeiros. O
goianos, mas participar, de 21 a 24 de trabalhos, dos quais 844 apresenta- número de trabalhadores com algum
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tipo de pós-graduação (mestrado, na complexa relação entre produção Os primeiros e entusiasmados


doutorado e pós-doutorado) saltou de e consumo. E que essa é uma área aplausos da noite de abertura do
22,6% em 2000 para 37% em 2004. séria demais para ser deixada apenas evento foram direcionados ao secre-
No discurso de abertura, Vera nas mãos do Estado regulador. “Ela tário estadual de Saúde de Goiás,
lembrou que o tema do evento, “Vi- também é um problema dos cidadãos Fernando Passos Cupertino de Barros.
gilância sanitária: consciência e vida”, e precisa ir ao encontro deles”. Depois de dizer que o SUS é um mo-
inspirado no pensador francês Edgar delo ímpar de inclusão social e que
Morin, remete à ambivalência dos efei- DESAFIOS uma de suas utopias mais belas é ser
tos da ciência, que “não são simples Pa r a o v i c e - p r e s i d e n t e d a um sistema público gratuito que aten-
nem para o melhor nem para o pior”. Abrasco, Júlio Miller Neto, que par- de a todos por meio de ações de saú-
O desenvolvimento da ciência e da ticipou da mesa de abertura, a vi- de integrais, ele cobrou do parlamen-
técnica, para Morin, não provoca gilância sanitária é uma área to maiores verbas para a área. De
apenas processos emancipatórios, amadurecida e consolidada, cujo prin- acordo com o secretário, o SUS é
mas também novos processos de ma- cipal desafio é atuar no controle de subfinanciado, e Fernando reforçou
nipulação do homem pelo homem, o riscos. Ele aproveitou para dividir com o coro dos que pedem um acréscimo
que levanta a questão do necessário os participantes seu contentamento de R$ 3,5 bilhões ao orçamento de
controle político e ético sobre as pelos 25 anos da Abrasco, completa- 2005, de R$ 39,2 bilhões.
atividades científicas, “nos remete à dos em 19 de novembro, fa- O secretário citou da-
responsabilidade do investigar peran- lando da criação da associ- dos do Banco Mundial se-
te a sociedade quando se trata de ação e do envolvimento gundo os quais o Brasil apa-
ciência e de seus efeitos”, disse ela. dela nos principais momen- rece na 33ª posição entre
As 11 salas do complexo de con- tos da história da saúde os 35 países do continente
venções em que se realizou o pública brasileira. americano quando o assun-
Simbravisa ficaram lotadas na maioria O próprio surgimento to é percentual de gastos
dos debates, desde a cerimônia de da Abrasco, de acordo com totais do governo em saú-
abertura: as 1.400 cadeiras do audi- Júlio, reflete um momento de — ranking obviamente li-
tório principal foram totalmente ocu- importante, em meio à luta derado pelos Estados Uni-
padas pelos participantes. pela abertura política bra- dos. Ficamos à frente
O grande foco do Simbravisa, sileira. Além disso, participou ativa- apenas do Paraguai e da Republicana
segundo Vera Pepe, era “aprofundar mente do movimento da reforma sa- Dominicana. O secretário afirmou
a discussão de alguns aspectos que nitária e da convocação da 8ª que, no Brasil, o sistema é financiado
relacionam a ciência e o desenvolvi- Conferência Nacional de Saúde, rea- em sua maior parte por estados e
mento científico-tecnológico, com lizada em 1986, na qual se discutiu a municípios, e não pela União. “Não
suas implicações no pensar, no agir e saúde como direito universal. “A se faz saúde sem recursos. Precisa-
na forma de organização da vigilância Abrasco se sente vitoriosa quando mos compartilhar responsabilidade”,
sanitária e suas interfaces com a so- avalia seu papel e na ajuda que dá à disse ele, muito aplaudido.
ciedade”. No encerramento de seu delimitação do campo da saúde cole- O diretor-presidente da Anvisa,
discurso, Vera disse que a vigilância tiva, que baliza as transformações da Cláudio Maierovich, representando o
sanitária deve ser o fiel da balança saúde brasileira”, afirmou. ministro da Saúde, Humberto Costa, disse

Cerca de 1.600 sanitaristas passaram pelas 11 salas do Centro de Convenções nos quatro dias do evento
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[ 14 ]

e disseminaríamos conhecimentos ori-


ginais quando os existentes não permi-
tirem a tomada de decisões”.

EXAMES EM EXCESSO
Na sala 2, Nelson Rodrigues dos
Santos, o Nelsão, diretor do Depar-
tamento de Programas da Secretaria
de Gestão Participativa do MS, e
Celina Maria Turchi Martelli, do Insti-
tuto de Patologia Tropical da Univer-
sidade Federal de Goiás, participaram
da mesa-redonda “Sociedade e saú-
de”. Nelsão falou sobre a importân-
cia da atuação da vigilância sanitária
na proteção à saúde, cuja dimensão
nem todos os gestores alcançam. O
Brasil é campeão mundial de aciden-
tes de trabalho, lembrou, e “temos
excesso de compras de medicamen-
Sala lotada e atenção nos debates sobre “Etica, saúde e vigilância sanitária”
tos”. Da mesma forma, o país exage-
ra na quantidade de exames clínicos
que os recursos para a saúde devem vida de cem anos”, diz um verso. requisitados, muitos deles invasivos.
ser objeto de reflexão constante de Vicência depois improvisou e disse: Citou como exemplo o levantamen-
todos e que o modelo brasileiro ainda é “Ainda bem que a vigilância sanitária to realizado num hospital de São Pau-
baseado no desperdício. “Não podemos não passou por lá”. A platéia a aplau- lo: metade dos exames requisitados
perder isso de vista”, disse. E ressalvou diu de pé por minutos. era desnecessária. “Esse congestio-
que o simpósio não era campo apropri- namento de exames, requisições e
ado para pedir recursos, ignorando uma DESIGUALDADE E VIGILÂNCIA internações gera desperdício”. Para
tradição dos encontros da Saúde. Na Sala 2, no painel “Ciência e Nelsão, o SUS vem amadurecendo a
Vigilância Sanitária”, na segunda-fei- cada ano, mas sua melhoria exige que
HOMENAGENS E EMOÇÃO ra, dia 22, debateram o secretário seja retomada a mobilização que o
A poeta Cora Coralina e a lem- municipal de Saúde de São Paulo, tornou realidade.
brança do acidente com o Césio 137 Gonzalo Vecina Neto, que já foi pre- Nelsão destacou a importância
foram responsáveis pelos momentos sidente da Anvisa, e o professor da atenção básica em saúde, que re-
de maior emoção na abertura. Tido Jairnilson Paim do Instituto de Saúde solve 80% dos casos nos países desen-
como o segundo maior acidente Coletiva da Universidade Federal da volvidos -— lá, a quantidade de médi-
radiativo do mundo (o primeiro foi o Bahia. Gonzalo traçou um paralelo cos especialistas é menor do que a
da usina de Chernobyl, na ex-União entre desigualdade social e vigilân- de generalistas, que são até mais bem
Soviética, em 1986), o caso do Césio cia sanitária. Para ele, não adianta remunerados. A atenção básica no
deixou um rastro de 800 vítimas, mui- ter medicamentos eficazes Brasil, segundo Nelsão, pre-
tas das quais sofrem seus efeitos até e seguros, se grande parte cisa ter recursos dobrados.
hoje. Por isso, um minuto de silêncio da população não tem Esse impacto seria capaz de
foi prestado em sua homenagem, en- acesso a eles. “Querendo fazer a atenção básica dar
quanto dois telões mostravam imagens ou não, vigilância sanitária grande salto e duplicar seu
da menina Leide das Neves, uma das tem íntima relação com alcance em cinco anos.
primeiras vítimas, que se tornou sím- condição econômica”. No painel “Vigilância
bolo do acidente. O secretário propôs sanitária e desenvolvimen-
Depois, a superintendente da algumas ações para redução to sustentável”, na super-
Vigilância Sanitária e Ambiental de dessa exclusão, entre elas lotada Sala 10, o diretor da
Goiás, Maria Cecília Martins Brito, a colaboração internacio- Escola Nacional de Saúde
entregou uma placa à presidente da nal, a troca de informações entre Pública Sérgio Arouca (Ensp/
Associação das Vítimas do Césio 137, países. “Pensar na cooperação inter- Fiocruz), Antônio Ivo de Carvalho,
Isaura Rita Silva Batista. nacional não só em termos de blocos lembrou que a vigilância sanitária,
Nas homenagens a Cora Coralina, econômicos, mas também em ciência que vem se sofisticando, é fruto do
morta há 19 anos, o grupo de teatro e tecnologia”. Para ele, a Anvisa tem SUS e um resgate do Estado no
Verso e Prosa interpretou o poema que ter papel mais pró-ativo na arti- enfrentamento dos riscos à saúde.
Vida de Cora Coralina. A filha de Cora, culação com outros setores da soci- “Está até ganhando inimigos”, brin-
Vicência Brêtas Tahan, foi chamada edade e do governo. “Como o Minis- cou ele. “Saúde não é só aquilo que
ao palco e, bem-humorada, pediu li- tério da Cultura, a Fazenda etc”. está relacionado à cura de doenças.
cença para ler um dos poemas da mãe Jairnilson defendeu o fortaleci- Deve ser compreendida também como
que julgava ter relação com o tema mento da idéia de criação de uma recurso para a vida”. O que se liga,
do evento: O velho do mercado. O rede de centros colaboradores para por sua vez, à idéia de desenvolvimen-
texto fala da rotina do mercado pú- expansão das bases de produção, re- to sustentável como reação ao mo-
blico da Cidade de Goiás, conhecida produção, difusão e utilização de co- delo de desenvolvimento que acabou
como Goiás Velho, terra natal da po- nhecimento científico para a vigilância reduzido a crescimento econômico,
eta. “Quem come do mercado tem sanitária. “Dessa forma, produziríamos e que prosperou sem limites ao uso
RADIS 30 ! FEV/2005
[ 15 ]

de recursos, numa relação parasitá- critério de cientistas, tecnocratas, Fernando Lèfreve, que se intitulou
ria com a natureza. políticos e empresários”. Para ela, a “um pedagogo em conflito com a pro-
Para Antônio Ivo, é preciso que sociedade tem o direito de fiscalizar fissão”, enfatizou “o resgate do ou-
do campo da saúde partam estratégias as mudanças da área científica. “Me- tro no campo sanitário”. Para ele, é
de atualização do contrato social in- didas de controle são necessárias, as preciso acabar com a espécie de im-
ternacional que gerem políticas não só tecnologias precisam ser monitoradas posição das pessoas da área da saú-
de saúde, mas também de indústria, de pelos órgãos reguladores e pelo con- de sobre as que não o são. E deu um
comércio internacional, de meio ambi- trole social”, afirmou. exemplo: ao ser perguntado o que
ente, de desenvolvimento econômico No painel “Estabelecimentos de estava sentindo, um homem respon-
capazes de produzir a virtude sanitá- Saúde: a importância da vigilância sani- deu que só o médico dele sabia. “O
ria, para que não continuem objetivo tária de eventos adversos à saúde”, na outro deve deixar de ser sombra e
da vigilância, da fiscalização. Sala 2, o diretor-presidente da Anvisa, passar a ter autonomia: nós, do cam-
Marcelo Firpo Porto, também da Cláudio Maierovitch, destacou a expe- po sanitário, ainda temos dificuldade
Ensp/Fiocruz, abordou a vertente “da riência dos hospitais-senti- em entender o outro como
vigilância do risco à promoção da saú- nela, rede de alta comple- ser autônomo e respeitá-lo
de e da justiça ambiental”. Ele lem- xidade formada basicamente como um igual”.
brou que, ao mesmo tempo em que por hospitais universitários O último dia do evento
inovações tecnológicas geram rique- (80%). Seu trabalho é focado não desfez o ânimo dos par-
zas importantes, novos riscos na hemovigilância, na farmaco- ticipantes do Simbravisa, que
ocupacionais e ambientais podem vigilância, na tecnovigilância quase lotaram o auditório
estar sendo criados. A questão que e na vigilância de saneantes principal para a última con-
se impõe no momento, segundo ele, de uso hospitalar. Segundo ferência central: “Regulação
é: “Desenvolvimento para que, para ele, é a experiência mais rica e desenvolvimento: desafio
quem, a qual preço, pago por quem?” da Anvisa. “A rede olha pela do equilíbrio entre interes-
Os riscos ambientais são problemas detecção das enfermidades”. A profes- ses sanitários e econômicos”, do re-
complexos que envolvem aspectos sora Ediná Alves Costa, do Instituto de presentante da Organização Pan-Ame-
multidimensionais, afirmou Marcelo, e Saúde Coletiva da UFBA, criticou o am- ricana de Saúde (Opas), Luis Augusto
não podem ser analisados a partir de biente nos serviços de saúde do país, Cassanha Galvão, que também falou
um paradigma isolado. O papel da po- “marcado por silêncios consentidos a sobre desenvolvimento sustentável e
pulação na prevenção de riscos é fun- respeito de acidentes e erros”. segurança humana. O que esse desen-
damental. “Os modelos de desenvolvi- Na Sala 2, a mesa-redonda “Ética, volvimento pode fazer para não com-
mento e a forma como as sociedades saúde e vigilância sanitária” reuniu Gui- prometer o ambiente para as futuras
percebem e regulam os riscos gerados lherme Franco Neto, da Secretaria de gerações?, perguntou.
por esses modelos é que vão propiciar Vigilância Sanitária de Minas, Fermin Cassanha enumerou as três “per-
processos mais sustentáveis”. Roland Schramm, da Ensp/Fiocruz, e nas” do desenvolvimento sustentável:
Geraldo Lucchesi, assessor par- Fernando Lèfrevre, da Faculdade de econômica, ambiental e social (que
lamentar da Câmara dos Deputados, Saúde Pública da USP. inclui saúde e educação, entre ou-
defendeu um pensamento mais global Guilherme Franco defendeu re- tras áreas). Para ele, os fundamentos
e complexo por parte da vigilância lações mais claras da saúde com ou- da primeira “perna” estão bem de-
sanitária. “Não dá para fechar os olhos tros setores, na busca do desenvolvi- senvolvidos. A segunda cresceu nos
e agir apenas tecnicamente nesse mento humano. A área de saúde nunca países ricos, mas a terceira, apontou,
momento em que os desafios são mui- se preocupou, por exemplo, com as tem na saúde “o osso mais duro de
to maiores”, disse ele. A vigilância sa- concessões de licenças ambientais, roer”. Ele ressaltou a necessidade de
nitária deve despertar para as ques- que trazem conseqüências à saúde e se fazer do setor saúde um aliado no
tões ambientais. “Os municípios, à qualidade de vida da população. Já desenvolvimento ambiental.
carentes na área da saúde, estão ain-
da mais carentes no que se refere ao
meio ambiente”. Falta de capacitação
de gestores e de interlocução com Radis adverte
os estados e com a União foram al- Transtorno mental é problema de saúde pública: estudo feito
guns dos problemas apontados por ele, na Itália mostra que os distúrbios mentais estão associados a
acrescentando que apenas 22% dos 870 mil suicídios anuais (3 mortes a cada 2 minutos).
municípios têm conselhos municipais
de meio ambiente.

HOSPITAIS-SENTINELA
No terceiro dia do evento, a
mesa “Vigilância sanitária e alternati-
vas tecnológicas” reuniu na Sala 3
dois nomes da Fiocruz, a pesquisa-
dora Lia Giraldo da Silva Augusto e
o coordenador do Projeto Inova-
ção, José da Rocha Carvalheiro. Lia
disse que faltam estudos sobre con-
seqüências e impactos das novas
tecnologias na sociedade. “As inova-
ções tecnológicas não podem ficar a
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[ 16 ]

No caso do outro conceito, o pectativa de vida. Para isso, há vári- possíveis soluções sugeriu limites no
da segurança humana, não basta as estratégias: mobilização social, acesso, elevação de preços e con-
apenas o controle de conflitos, políticas públicas e advocacia, ou a tenção da publicidade. Há que se
guerras e segurança pública: é mais defesa das questões da saúde como tomar cuidado também, alertou, com
abrangente, está ligado ao desenvol- direito fundamental do cidadão. Ele o chamado comércio eletrônico, para
vimento amplo do indivíduo, que sa- alertou que avanços só aconte- o qual não há regulamentação. “Sai
tisfaça suas necessidades básicas, li- cem se houver compartilhamento de tudo na internet, sem controle
vrando-o de medos, violência e fome. da sociedade. algum”. Portanto, é preciso reforçar
A saúde, lembrou, colabora para o Entre os problemas de saúde a educação do consumidor, e aí de-
desenvolvimento sustentável e para comuns aos países das Américas, Luis vem entrar de forma intensa a esco-
a segurança quando consegue tra- Cassanha apontou o tabaco, as bebi- la, os meios de comunicação e os
duzir suas ações em aumento da ex- das e determinados alimentos. Como programas governamentais.

Dois momentos femininos


se costuma chamar de “apelo à parti-
cipação da comunidade”, disse que os
exemplos bem-sucedidos são “peque-
nas histórias contadas em meio a um
mar de dramas sociais”, e que o alívio
que esses programas podem trazer
nem sequer compensam perdas e da-
nos dos mais pobres, “e nem chegam
perto de suas verdadeiras causas”.
A professora apontou depois sua
metralhadora verbal ao FMI, para
quem as condições sociais na América
Latina são o “preço necessário” do
crescimento. “O que a modernidade
nos trouxe foi a superposição per-
Laura Tavares Soares versa de antigas situações de desi- Maria Cecília Minayo
gualdade e miséria com uma nova
pobreza”, resumiu. Para ela, as re-
formas constitucionais no Brasil re- sociedade principalmente no século

D uas mulheres conquistaram o pú-


blico de maneira especial no
Simbravisa: a enfermeira-sanitarista
duziram ou eliminaram direitos con-
quistados ao longo de décadas e
consagrados na Constituição de 1988.
20. Maria Cecília pediu aos governantes
que passem a ter o hábito de ouvir os
trabalhadores antes de tomar deci-
Laura Tavares Soares (filha da econo- “O não-cumprimento dos preceitos sões. “A nova visão do mundo abomina
mista Maria da Conceição Tavares), da seguridade social é um dos mais o autoritarismo, a ordem pela ordem
professora da UFRJ e doutora em Eco- graves retrocessos sofridos no cam- e a centralização das coisas e das de-
nomia do Setor Público, e a socióloga po da política social no Brasil”. cisões”. Para uma vigilância sanitária
e antropóloga Maria Cecília Minayo, da Para ela, “temos a obrigação de consistente, por exemplo, há a neces-
Ensp/Fiocruz. pensar alguma perspectiva de futu- sidade de se consultar a todos que
Laura levou a platéia ao delírio em ro que comece a ser construída no trabalham na área, ponderou. “Não se
diversos trechos de sua fala. Foi avi- presente. Como diria Cora Coralina, pode simplesmente impor de cima para
sando logo que o objetivo da confe- ‘realizar a profilaxia futura dos er- baixo, como às vezes vemos lá em
rência era chamar atenção para a con- ros do presente’”. Brasília”. Foi ovacionada.
tinuidade de idéias e propostas que, Na conferência mais concorrida do A conferencista citou alguns de-
travestidas de “modernas”, têm provo- evento, a socióloga e antropóloga Ma- safios da “gestão científica complexa”
cado mais retrocesso do que avanço na ria Cecília Minayo, da Ensp/Fiocruz, foi do setor saúde. Para ela, é necessário
América Latina. Sobre a “renovação da também muito aplaudida ao falar sobre assumir as mudanças como matéria-pri-
globalização excludente”, ela afirmou a complexidade do conhecimento. “Não ma de reordenamentos e auto-organi-
que “o conservadorismo no social se deveríamos ver o mundo como uma re- zação. “Temos que cuidar simultanea-
expressa na aceitação da existência do alidade objetiva, controlável e unívoca”, mente das potencialidades e dos
fenômeno da pobreza como inevitável”. numa visão em que identifica ilusões do obstáculos, das homogeneidades e das
Criticou a idéia de que a inter- conhecimento racionalista. “O que ve- singularidades”. E lembrou que, para
venção do Estado na economia é mos hoje é uma supervalorização da construirmos uma vigilância sanitária
“pouco recomendável” e a naturali- razão e o menosprezo das emoções e que realmente satisfaça a sociedade,
dade como é vista a mercantilização intuições”, criticou. é preciso cuidar do bem-estar dos en-
dos serviços sociais. “As pessoas de- “Aí do país que não investir em volvidos. “Cuidar dos investigadores e
vem pagar pelos serviços para que ciência e tecnologia: está fadado a gestores para que tenham satisfação
estes sejam valorizados, e quem não ser dependente no caminho da no trabalho, qualidade, eficácia, com-
puder pagar deve comprovar sua globalização”, comentou, sobre a in- promisso e visão de aprendizagem per-
pobreza”, exemplificou. Sobre o que fluência das mudanças ocorridas na manente na sua atuação”.
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[ 17 ]

EDUC A ÇÃ
ÇÃOO P AR A A CID
PAR CIDAAD ANIA
DANIA

Eles sacudiram a poeira


Em 2004 o programa formou 123

FOTOS: ARISTIDES DUTRA


servidores. Como o clímax do processo
é a formatura, a
Radis foi conferir
a solenidade do
dia 17 de dezem-
bro, quando se
diplomaram 31
trabalhadores. A
Turma Paulo Buss
concluiu o ensi-
no médio, inicia-
do em março de
2003. Nela, o alu-
no mais novo tinha 28 anos e o mais
velho, 72. A coordenadora do pro-
grama, Inês Siqueira, resumiu: “Está
sendo uma experiência maravilhosa
trabalhar com pessoas que, por di-
versos motivos, tiveram de deixar de
estudar”.
A emoção era grande para ora-
dores, parentes, professores. Maria de
Orgulho na festa de formatura: alunos de 28 a 72 anos concluíram o Ensino Médio Fátima Fernandes, a oradora oficial
da turma, com a voz embargada agra-
A partir das preocupações da re- deceu o apoio da família e da comis-
Jesuan Xavier forma sanitária, que pedem uma vi- são organizadora do curso. Délcio

O
são integral do homem, a Fiocruz co- Freitas da Silva, um dos apresentado-
lhe em volta: seu colega de meçou a se fazer essas perguntas. res da cerimônia, contou, orgulho-
trabalho sentado aí ao lado Afinal, capacitação profissional em so: “Muitas vezes tivemos de ouvir:
tem mestrado? E o outro, saúde não se resume à qua- `Mas vocês vão voltar a es-
tem doutorado? Isso é mui- lificação de ponta. Aprimo- tudar depois de velhos?´ A
to bom para a saúde pública! Olhe rar os conhecimentos do resposta estava na ponta da
mais além: o colega lá adiante já com- trabalhador da saúde e va- língua. `Vamos sim!´”
pletou o Ensino Médio? Ou nem tem lorizar sua educação for- “Vemos no rosto de
o Fundamental? mal também é democrati- cada um a recuperação da
zar o acesso à informação auto-estima, e isso não tem
em saúde, uma das priori- preço, tanto para a institui-
dades da reforma. ção como para a vida pes-
Por isso, foi criado há soal do trabalhador”, disse
quatro anos um projeto de Inês. No início do progra-
formação no Ensino Fundamental e ma, muitos servidores a procuravam
Médio de servidores e prestadores com vergonha. “Na entrevista preli-
de serviço, dando-lhes oportunida- minar, diziam, sem graça: mas eu não
de de concluir os estudos na pró- sei nem escrever...”
pria instituição. Presente à solenidade, o presi-
Trata-se do Programa de Educa- dente da Fiocruz, Paulo Buss, elogiou
ção de Jovens e Adultos, em parce- os servidores-estudantes. “É realmen-
ria com a Secretaria Estadual de Edu- te muita coragem, levantar, sacudir a
cação, que já tinha experiência na poeira e retomar os estudos depois
área. As aulas teóricas, no horário de de tanto tempo”.
expediente, são ministradas no pré- O programa já abriu novas inscri-
dio da Expansão do Campus da Fiocruz, ções para 2005, tanto do ensino mé-
mas há muitas atividades externas. No dio como do fundamental. “A inten-
currículo, Matemática, Português, ção é que até 2008 todos os servidores
Física, Química, História, Filosofia, da Fiocruz tenham formação pelo me-
Diploma na mão, capelo ao alto Artes, noções de Arquitetura. nos básica”, afirmou Buss.
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[ 18 ]

SE R
RVVIÇO

EVENTOS os participantes conheçam as políticas candidatos devem ser indicados por


de humanização desenvolvidas pelo go- suas instituições de origem entre 2 de
6º C ONGRESSO N ACIONAL verno do estado de São Paulo. maio e 3 de junho. Vagas limitadas.
DA R EDE U NIDA Data 15 de março a 26 de abril de 2005 Local: Centro de Criação de Animais
Local USP — São Paulo (SP) de Laboratório (Cecal-Fiocruz)

O evento co-
memora os
20 anos da Rede
Mais informações
Tel. (11) 3066-7706
Site www.fsp.usp.br
Mais informações
Tel. (21) 4389-4390
E-mail rosilene@cecal.fiocruz.br
Unida com pro-
fessores, profissi- PUBLICAÇÕES
onais, alunos e F EIRA DE C IÊNCIA , T ECNOLOGIA
comunidade E I NOVAÇÃO Lançamento – CICT/Fiocruz
para troca de
experiências no
modelo de ensi-
no e atenção à
R ealizada pela Globaltech, a feira
tem como objetivo socializar o
conhecimento científico-tecnológico
Promoção da saúde e
prevenção do HIV/
Aids no município do
saúde. Inscrição de trabalhos: até e estimular a ciência, além de forta- Rio de Janeiro: uma
21/2 (icarorede@superig.com.br). lecer a cooperação nacional e inter- metodologia de avali-
Data 2 a 5 de julho de 2005 nacional. O evento será dividido em ação para políticas pú-
Local Campus Pampulha da Universi- cinco espaços centrais: Negócios blicas e estratégias de
dade Federal de Minas Gerais Tecnológicos, Espaço Capacitar, Espa- comunicação apresen-
Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha ço para inventores: Mostra de C&T, ta o relatório da pes-
CEP 31270-901 — Belo Horizonte — MG Espaço Entretenimento e Espaço quisa coordenada por Janine Cardoso
Mais informações Promocional. A proposta é fazer com e Inesita de Araújo, do Centro de In-
Tel. (31) 3222-7266 que o público reflita sobre assuntos formação Científica e Tecnológica
Site www.ufmg.br/redeunida relacionados às áreas de genética, bi- (CICT), da Fiocruz, realizada entre fe-
oquímica, química, telecomunica- vereiro de 2002 e julho de 2003, na ci-
ções, agronegócios e alimentação. dade do Rio de Janeiro. Na primeira
41º C ONGRESSO DA S OCIEDADE Data 17 a 22 de maio de 2005 parte do relatório são expostos o pro-
DE M EDICINA T ROPICAL Local Porto Alegre (RS) jeto e os contextos que levaram à sua
Mais informações elaboração e justificaram as escolhas

O evento, organizado pela Socie-


dade de Medicina Tropical,
reunirá professores, pesquisadores e
Tel. (51) 3218-4900 e 3218-6304
E-mail globaltech@rbs.com.br
teóricas e metodológicas da pesquisa.
A segunda parte analisa os resultados,
apresenta as conclusões e oferece al-
profissionais de saúde envolvidos com CURSOS gumas recomendações a formuladores
conhecimento, diagnóstico, tratamen- e gestores de políticas de comunica-
to, prevenção e controle dos agravos D ESENVOLVIMENTO P ROFISSIONAL ção para prevenção do HIV/Aids.
mais prevalentes na região dos trópi- EM B IOSSEGURANÇA Mais informações
cos. Entre os temas em debate, des- E-mail especialização@cict.fiocruz.br
tacam-se: doenças virais, micoses
sistêmicas, zoonoses, parasitoses, con-
trole vetorial, imunologia e vacinas e
V oltado para profissionais de nível
médio que exerçam atividades de
ensino, pesquisa, desenvolvimento
CONCURSO

medicina tropical. tecnológico, produção e controle de P RÊMIO Q UILOMBOLA


Data 6 a 10 de março de 2005 qualidade no campo de saúde envol-
Local Florianópolis (SC)
Mais informações
Tel. (48) 246-4388
vendo os riscos laboratoriais especí-
ficos. As inscrições poderão ser fei-
tas entre 11 de abril e 13 de maio, na
A Associação Brasileira de Antropo-
logia (ABA) e o Ministério do De-
senvolvimento Agrário estão selecionan-
Site www.medtropfloripa2005.com.br secretaria da Escola Politécnica de do trabalhos de antropólogos sobre
Saúde Joaquim Venâncio (Fiocruz/RJ). territórios quilombolas (regularização
Mais informações fundiária, movimentos sociais, gênero
W ORKSHOP DE É TICA Tel. (21) 3865-9797 e economia e etnodesenvolvimento),
E H UMANIZAÇÃO NA USP E-mail sescolar@fiocruz.br para premiação, no valor total de R$
30 mil, em duas categorias: Apoio à Pes-

I niciativa da Faculdade de Saúde Pú-


blica (FSP) da Universidade de São
Paulo, o evento discutirá fundamentos
A PERFEIÇOAMENTO TÉCNICO EM
CRIAÇÃO DE ANIMAIS DE LABORATÓRIO
quisa e Ensaio Inédito. Da primeira
podem participar alunos de progra-
mas de pós-graduação reconhecidos
e conceitos de “ética” e “huma- pela Capes; da segunda, antropólo-
nização” nos serviços de saúde, relaci-
onando-os aos princípios e às diretri-
zes organizativas para o SUS e a Política
P ara profissionais de nível superior
que trabalham na criação/manu-
tenção e experimentação de animais
gos associados à ABA.
Inscrições até 15/3
Mais informações
Nacional de Humanização do SUS de laboratório, em instituições de en- Telefone (48) 331-8209
(Humaniza SUS). A idéia é permitir que sino e pesquisa da América Latina. Os E-mail aba@abant.org.br
RADIS 30 ! FEV/2005
[ 19 ]

PÓS-TUDO

O controle necessário
“simples” Ácido Acetilsalicílico
Álvaro Nascimento * — aquele que não deve ser to-
mado em casos de suspeita de

U m publicitário analisou (O Globo,


16/12) a propaganda de medica-
mentos, a partir da proibição, pela
dengue — pode causar anemi-
as, hemorragia,
angina, arritmias,
Anvisa, da afixação de cartazes nas falência conges-
farmácias. Ao criticar a proibição, ele tiva, úlcera e he-
alertou para o “controle da mídia”, patotoxicidade. Já
que o fez recordar da ditadura. a “inócua” Dipirona
Como jornalista que resistiu à pode causar alterações
censura desde os anos 70, tecnologista hematológicas, doenças
da Fiocruz que trabalha com infor- cardiovasculares, dor de ca-
mação em saúde e tendo me debru- beça, náusea, vômito, bron-
çado sobre o impacto da propaganda coespasmo e erupção cutânea.
de medicamentos no Brasil, gostaria Aliás, a dipirona teve sua co-
de dizer que algumas colocações fei- mercialização suspensa em vá-
tas ferem a lógica e outras, os fatos. rios países e em outros o seu
Ao criticar, com razão, o sistema uso é restrito às unidades hos-
de saúde, o autor elege o “difícil acesso pitalares. O Paracetamol, uti-
a médicos qualificados” como uma das lizado como analgésico e
causas da automedicação. Mas, em vez antitérmico, pode causar ane-
de propor soluções, ele fere a lógica e mias, hemólise, hemorragia gás-
defende uma prática que só faz elevar trica, falência renal, nefropatia e asma. “Este é um país que vai pra frente”, far-
o fluxo de pacientes aos postos e hospi- Isto é fato científico comprova- tamente usados pela ditadura brasilei-
tais: o uso incorreto de medicamentos. do. Assim como é fato que várias dro- ra, demonstram que, como o medica-
O Sistema Nacional de Informa- gas não podem ser tomadas por dia- mento, a propaganda pode servir para
ção Toxicológica da Fiocruz (www.cict. béticos, hipertensos, crianças, idosos o bem e para o mal.
fiocruz.br/intoxicacoeshumanas) mos- e portadores de doenças crônicas. Es- A outra observação diz respeito
tra que há oito anos os medicamentos tas faixas populacionais estão entre as à afirmação de que “ao oferecer aos
são a principal causa de intoxicação que se intoxicam após terem tomado jornais e aos outros meios de comu-
humana registrada no SUS. Em um ano, um medicamento “receitado” pela pu- nicação de massa recursos de fontes
foram 20.534 casos (56 casos por dia). blicidade ou por algum apresentador plurais e independentes, a propagan-
A cada 25 minutos há uma intoxicação de rádio ou TV. da se torna indispensável ao processo
por medicamento. E se alguma crítica O texto diz que a proibição agri- político republicano”. Meu reparo é
pode ser feita a este sistema, é a de de a “liberdade de expressão”. Que que a informação disseminada pela
que ele peca justo pela subnotificação, liberdade? A de anunciar produtos propaganda de medicamentos nada
o que indica que estes números são sabidamente perigosos usando frases tem de independente, muito me-
ainda mais alarmantes. como “este medicamento caiu do céu” nos ela é plural. O que a caracte-
Ao defender a propaganda de me- ou “mãe que sabe das coisas, dá riza, como define o filósofo e jurista
dicamentos, o texto minimiza seu ris- biotônico para seu filho?” Pois o mer- italiano Norberto Bobbio, é a simpli-
co, afirmando que “o que se anuncia cado publicitário de medicamentos ficação, saturação, parcialidade e
são aqueles medicamentos de baixo gasta parte importante dos R$ 17 bi- unilateralidade, elementos incompa-
custo e uso disseminado, pois “busca- lhões do faturamento anual da indús- tíveis com um bem precioso como o
se, com o anúncio, a preferência do tria farmacêutica no Brasil (cerca do medicamento, que exige justo o
comprador por uma ou outra marca, de dobro da lucratividade da Petrobrás) oposto para que se torne um veículo
produtos de fórmula conhecida e livre tentando convencer a sociedade a con- efetivo de prevenção, promoção e re-
comercialização, como é o caso dos anal- sumir estes produtos como se eles não cuperação da saúde, e não em um
gésicos, dos xaropes, dos fortificantes”. oferecessem risco. agente agressor ao indivíduo.
Um publicitário, como um jorna- O texto ainda afirma que “aliada
lista, não é obrigado a entender e acom- do jornalismo impresso, a propaganda é A íntegra da dissertação de mestrado do
panhar os avanços da farmacologia. Mas um dos mais importantes instrumentos autor sobre o tema pode ser lida em
quando se defende a propaganda de da liberdade e dos grandes avanços po- www.ensp.fiocruz/radis/30-web-02.html
produtos perigosos com a bandeira da líticos e sociais dos tempos modernos”.
“liberdade de expressão” é essencial Há evidente exagero na afirmação, tan- * Jornalista e tecnologista da Fiocruz; tex-
levar em conta o que em todo o mundo tos são os exemplos onde a propaganda to publicado em O Globo de 30/12/2004
se considera um risco sanitário. Medica- se prestou a papéis condenáveis. A pro- em resposta ao artigo “O controle da
mentos apelidados de “anódinos” ou paganda de cigarros, a experiência da mídia”, de Roberto Dualibi (http://
“inócuos” intoxicam e matam. Pesqui- dupla Goebels-Hitler na Alemanha e os intranet.ensp.fiocruz.br/visa/
sas farmacológicas comprovam que um slogans de “Brasil. Ame-o ou deixe-o” e opiniao_integra.cfm?opiniao=144)

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