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Convite a Filosofia. CHAUI, Marilena.

Introdução

- Processo filosófico dentro do cotidiano, reflexos do que pensamos e falamos.

- Diferenciação entre o erro e a mentira. Sendo o erro uma ilusão ou um erro involuntário
enquanto que a segundo seria marcado como uma decisão voluntária.

- Objetividade é marcada como uma atitude imparcial que alcança as coisas tais como são
verdadeiramente, enquanto a subjetividade é uma parcial e pessoa ditada por sentimentos
variados.

- Distanciar-se do cotidiano, interrogar-se a si mesmo, desejar conhecer melhor suas crenças e


pré-conceitos e analisar de forma crítica e reflexiva é uma atitude filosófica.

- O que é filosofia? A decisão de não aceitar como óbvia e evidente as coisas, as ideias, os
fatos, valores e comportamentos.

- Primeira característica da filosofia é dizer não ao senso comum. A segunda característica é


indagar-se sobre o que, como, onde, quando, quem, por que de determinado algo. Assim
começa a se pensar criticamente.

- Para Sócrates a filosofia começa ao admitir que nada sei, para Platão ela se inicia a partir da
admiração e para Aristóteles a partir do espanto (é um afastar-se e olhar para o mundo como
se fosse a primeira vez, um afastamento que possibilita uma visão crítica como um toda da
realidade).

- Características da atitude filosófica: questionar qual é a realidade ou a natureza da coisa;


indagar qual é a estrutura e quais as relações que constituem uma coisa (sua relação de acesso
a esse algo); perguntar a sobre a motivação que originou tal coisa.

- Reflexão filosófica significa o movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno


a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo
interrogando a si mesmo. A reflexão se baseia em 3 conjuntos de perguntas: quais os motivos,
as razões e as causas para pensarmos o que pensamos? Qual é o conteúdo ou o sentido do que
pensamos? Qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos?

- Platão definia a filosofia como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos
seres humanos.

- Descartes dizia que a filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as


coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a
invenção das técnicas e das artes.

- Kant afirmou que a filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o
que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana.
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Unidade I: Capítulo 1 – Origem da Filosofia

- Pitágoras de Samos é considerado o formulador da palavra “filosofia”, afirmando que


somente pela filosofia o homem seria capaz de alcançar a sabedoria plena e completa que
pertence aos deuses.

- O filósofo não seria movido por interesses comerciais (o saber não é uma propriedade sua,
como algo que pode ser comprado e vendido no mercado), não é movido pelo desejo de
competição (não faz das ideias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer
competidores), mas é pelo desejo de observar, contemplar, avaliar as coisas, as ações e a vida;
pelo desejo de saber. A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está
diante de nós para ser contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê-la.

- Para Pitágoras o pensamento alcança a realidade em sua estrutura matemática, enquanto


nossos sentidos ou nossa percepção alcançam o modo como a estrutura matemática da
natureza aparece para nós, sob a forma de qualidades opostas.

- A filosofia grega deixa alguns legados para o pensamento ocidental europeu: a ideia de que
a natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais; a ideia de que as leis
necessárias e universais da natureza podem ser plenamente conhecidas pelo nosso
pensamento; a ideia de nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e normas
universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o verdadeiro do falso, ou seja, o
nosso pensamento é lógico e segue leis lógicas de funcionamento; a ideia de que toda prática
humana (ação moral, politica, artística, social, técnica) dependem da vontade livre, da
deliberação e da discussão de nossa escolha passional ou emocional, ou racional; a ideia de
que os acontecimentos naturais e humanos são necessários ao seguir um padrão de regras e
leis naturais e humanas, mas também podem ser contingente e acidentais, quando dependem
de escolhas e deliberações dos homens em condições determinadas; a ideia de que o homem,
por natureza aspira ao conhecimento verdadeiro, à felicidade, à justiça.

- A filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo
secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, poderia
ser conhecida por todos através da razão, que é a mesma em e para todos.

Unidade I: Capítulo 2 – Nascimento da filosofia

-“Não há coisa alguma que persista em todo o universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma
imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio... o
que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova...”
Metamorfoses, do poeta romano Ovídio.

- Porque as coisas estão em constantes mudanças, porque tudo flui para o seu estado oposto?

- De acordo com historiadores da filosofia, a filosofia teria surgido com Tales de Mileto no
fim do século VII e início do VI a.c.
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- Como formulação de conteúdo, observa que a filosofia posta diante de uma cosmologia.
Originária da formação entre as palavras “cosmo” (mundo ordenado e organizado) e “logia”
(que vinda de “logos” representa o pensamento racional, discurso racional, conhecimento).
Assim, a filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo e da natureza.

- Para alguns historiados houve certas influências externas (adquiridas através do contato
comercial com outras civilizações orientais) e influências internas (considerada como o
milagre grego, pois demonstra um progresso conceitual e estrutural sem interferências
externas, passagem de um pensamento voltado para o campo e a terra para um pensamento
voltado para o comércio e a comunicação politica e comercial de algo) que possibilitaram a
Grécia a desenvolver a Filosofia, como uma ação em busca de um conhecimento (além do
estado mítico) mais crítico da realidade.

- No século XIX, observa o pensamento de que o surgimento da filosofia não tende


exclusivamente a um ou outro, mas a ambos. Embora de forma única, pois todas as
influências recebidas externamente sofreram alterações internas por parte dos gregos (mitos e
conceitos orientais eram ocidentalizados para o pensamento e mito grego). Assim, como os
gregos passaram a cientificar cada processo do cotidiano, com a finalidade de melhor a
sistema de vida, seja social, religiosa ou política (com a criação da “Polis” representando os
aspectos conceituais de uma cidade organizada em decisões tomadas a partir de discussões
debatidas entre seus cidadãos em um espaço aberto e público).

- A filosofia nasce realizando uma transformação gradual sobre os mitos gregos ou nasce por
uma ruptura radical com os mitos?

- Mas, o que é mitos? Um mito é a narrativa sobre a origem de alguma coisa, vem do termo
“mythos” que deriva do verbo “mytheyo” (contar ou narrar algo a outro) e do verbo “mytheo”
(conversar, anunciar, designar). Para os gregos Mito é um discurso pronunciado ou proferido
para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que a narra;
é uma narrativa feita em público, baseada na autoridade e confiabilidade do narrador. E essa
autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu
a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.

- No mito podemos encontrar: uma narração genealógica (contanto a origem de algo), uma
narração de alianças e rivalidades entre os deuses (o possibilitou a criação de algo), uma
narração que demonstra os aspectos compensatórios ou punitivos de uma ação.

- Cosmogonia é formada pela palavra “gonia” que vem do verbo “gennao” (gerar e fazer
nascer), do substantivo “genos” (nascimento, gênese) e representa geração ou nascimento a
partir da concepção sexual. E “Cosmos” que representa o mundo organizado. Desta forma
temos a cosmogonia como a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo a parit
de forças geradoras divinas.

- Teogonia seria a narrativa de origem dos deuses, a partir de seus pais e antepassados.

- No fim do século XIX e início do XX, diz-se que a filosofia nasce como um uma ruptura
radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo
Ocidente.
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- A partir dos meados do XXI, quando estudos mostraram a importância dos mitos para a
organização sócio-cultural das sociedades e como os mitos se encontram fortemente
entranhados em nossa sociedade. Assim a filosofia nasceu vagarosa e gradualmente, do
interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles.

- Hoje os estudiosos afirmam que a filosofia ao perceber a limitação da narração mítica a foi
reformulando e a racionalizando, transformando-a em outra coisa inteiramente nova e
diferente.

- As diferenças entre mito e filosofia, podem ser descritas da seguinte forma: o mito pretendia
voltar-se ao passado imemorial e fabuloso, para onde tudo ainda não havia de existir como
existe no presente, já a filosofia busca por uma totalidade temporal indo do presente ao
passado e futuro para perceber como as coisas são como são. O mito explica a origem das
coisas através da genealogia e rivalidade, já a filosofia explica a produção nas coisas por
elementos e causas naturais e impessoais. O mito não se importa com a contradição e o
incompreensível, vistos como parte essencial de uma narrativa, a filosofia não admite
contradições e incompreensões, exige uma explicação lógica e racional.

- Fatores históricos que possibilitaram o surgimento da filosofia: viagens marítimas permitiu


que os gregos entrassem em contato com outros povos, mitos e deuses que passou a exigir
uma explicação sobre sua origem, uma explicação que não poderia ser mais dada pela atual
estrutura do mito. Invenção do calendário, possibilitou observar os eventos do cotidiano com
maior racionalização, ao invés de serem explicados por vias míticas (natural e cíclico ao invés
do divino e incompreensível). Invenção da moeda, permitindo a formulação de uma
generalização de valores monetários. Surgimento da vida urbana e da classe de comerciantes
tira o foco do campo e da classe aristocrática proprietária de terra, o que possibilitou um
patrocínio e um estímulo às artes, técnicas e conhecimento. Invenção da escrita alfabética. A
invenção da política.

- A invenção da politica permite o desenvolvimento da ideia de lei como expressão da


vontade coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela
definirá suas relações internas (os aspectos legislativos da Polis). O surgimento do espaço
público que requer um novo tipo de discurso e palavreado diferente do que era proferido pelo
mito. A política estimulo um pensamento e um discurso que se mostram públicos e não
formulados por seitas secretas, a ideia de um pensamento que possa ser compreendido e
discutido, comunicado e transmitido com maior facilidade.

- O pensamento filosófico nascente possui os seguintes traços: tendência à racionalidade.


Tendência a oferecer respostas conclusivas aos problemas, mas somente após sua solução ser
colocada em análise, crítica e discussão. A filosofia não aceita contradição, pois isso indica
erro e falsidade. Cada problema demanda uma solução única e específica, não deve analisar
um problema com explicações pré-estabelecidas. Tendência a generalização, uma explicação
teria validade para muitas coisas diferentes, pois sob a variação percebida pelo órgão dos
sentidos o pensamento descobre semelhanças e diferenças.
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Unidade I: Capítulo 3 – Campos da investigação filosófica

- Períodos da filosofia grega: Período Pré-socrático (VII – V a.C.) onde se ocupa com a
origem do mundo e as caudas das transformações da natureza. Período Socrático (V – IV
a.C.) onde se investiga as questões humanas, como a ética, política e as técnicas. Período
Sistemático (IV – III a.C.) onde se busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a
cosmologia e a antropologia demonstrando que tudo pode ser objeto de conhecimento
filosófico. Período Helenístico (III a.C. – VI d.C.) se ocupa com a questão da ética, do
conhecimento humano e das relações entre o homem e a natureza e de ambos com Deus.

- Período Pré-socrático – principais filósofos: Filósofos da Escola Jônica (Tales, Anaxímenes


e Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso). Escola Itálica (Pitágoras de Samos, Filolau e
Árquitas de Tarento). Escola Eleata (Parmênides e Senão de Eléia). Escola da Pluralidade
(Empédocles de Agrigento, Demócrito de Abdera).

- Período Pré-socrático – Características: Explicação racional e sistemática sobre a origem,


ordem e transformação da natureza a qual o homem está inserido, e desta forma também
explicar a origem a as mudanças dos seres humanos. “Nada vem do nada e nada volta ao
nada” (tanto o mundo quanto a natureza são eternos, tudo há de se transformar em outra sem
jamais desaparecer). O fundo eterno, perene e imortal de onde tudo nasce e para onde tudo
volta é invisível, sendo acessado somente pelo pensamento. O fundo eterno, perene, imortal e
imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna é o elemento primordial da natureza,
a “physis” (é a natureza eterna e em perene transformação). A physis, mesmo sendo
imperecível, dá origem a todas as coisas mortais e físicas. Todos os seres gerados, a partir da
physis são, além de mortais, seres em contínua transformação, mudando de qualidade e de
quantidade.

- Essa mudança, nascer, morrer, mudar de qualidade e quantidade, chama-se “movimento” e o


mundo está em permanente movimento. E o movimento do mundo chama-se “devir”. Devir é
a passagem contínua de uma coisa ao seu estado contrário e essa passagem não é caótica, mas
obedece a leis determinadas pela physis ou pelo princípio fundamental do mundo.

- Diferentes filósofos escolheram diferentes physis para afirmar qual era o princípio eterno e
imutável que está na origem da natureza e de suas transformações. Tales escolheu a água ou
úmido, Anaximandro o ilimitado sem qualidades definidas, Anaxímenes o ar ou o frio,
Heráclito o fogo, Leucipo e Demócrito os átomos.

- Período Socrático. Percebemos uma evolução histórica com o destaque a cidade de Atenas,
ao sistema comercial, econômico, social e urbano (durante a aristocracia o padrão de
educação era firmado por Homero e Hesíodo em suas obras Ilíada, Odisseia e Teogania, ao
estabelecer que o homem ideal seria o guerreiro bom e belo, mas agora o sistema mudava e
homem ideal seria aquele de eloquência, possuidor de um belo convincente discurso) , assim
como o desenvolvimento de um novo sistema de governo (democracia ateniense). Surgimento
da figura do cidadão, como um ser humano que tinha voz e participação na Polis.

- Surgimento, por necessidade, de uma nova educação estabelecendo como padrão ideal a
formação do bom orador, o que sabia falar perante o público e persuadir os outros na política.
Para educar essa nova geração surgiu os Sofistas (Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini
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e Isócrates de Atenas) que diziam que o ensinamento dos filósofos cosmologistas estava
repleto de erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida Polis. Sofistas se
apresentavam como mestres da oratória ou da retórica, ensinando aos jovens a arte da
persuasão, onde poderiam defender qualquer opinião, assim como ser contrário a essa mesma
opinião, com o simples objetivo de poder escolher qual melhor usar durante uma discussão e
assim ganhar o debate.

- Sócrates foi contra os Sofistas afirmando que estes não possuíam amor pela sabedoria e nem
respeito pela verdade, pois defendiam qualquer ideia à medida que lhe fosse vantajoso.
Assim, corrompiam o espírito dos jovens fazendo com que o erro e mentira tivessem o mesmo
valor que a verdade.

- Sócrates propunha que antes de querer conhecer a natureza, antes de querer persuadir o
outro, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo (“conhece-te a ti
mesmo”). Um conhecimento do homem para o homem e de si como o homem que é. Sócrates
fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam e que
julgavam a conhecer. Suas perguntas deixavam o interlocutor embaraçado, irritado, curioso,
pois percebia que não conhecia o que achava conhecer, e nem Sócrates sabia lhes responder o
que ele mesmo perguntava.

- Para Sócrates o começo da filosofia se dá a partir do conhecimento da própria ignorância.


Ele procurava a definição daquilo que uma coisa, ideia e valor é verdadeiramente, a essência,
o conceito e não meramente a opinião ou os exemplos que se possa ter ou formar sobre algo.

- A opinião varia de pessoa a pessoa, lugar a lugar, época a época, é instável, mutável e
preferencial. Já o conceito é uma verdade intemporal, universal e necessária de algo.

- Período Socrático – características: A filosofia se volta para questões humanas no plano das
ações, do comportamento, ideias, crenças, valores, das questões morais e políticas. O ponto de
partida é a confiança no pensamento ou no homem como um ser racional. Preocupação em
estabelecer parâmetros e procedimentos que garantam o encontro com a verdade. A filosofia
está voltada para a definição das virtudes morais e políticas, tendo como objetivo central de
suas investigações a moral e a politica, ou seja, as ideias e práticas que norteiam os
comportamentos dos seres humanos tanto como indivíduos como quanto cidadãos. Cabe a
Filosofia encontrar a definição, conceito ou essência dessas virtudes para além da
multiplicidade de opiniões contrárias e diferentes.A filosofia distinguiu a opinião e as imagens
das coisas que temos a partir dos nossos sentidos da Ideia, essência intima, invisível e
verdadeira da coisa que só pode ser alcançada pelo pensamento. Pela reflexão do pensamento
o espírito humano pode alcançar a verdade invisível, imutável, universal e necessária. A
opinião, percepção e imagem sensorial são consideradas falsas, contraditórias, mutáveis e
inconsistentes, devendo tão logo abandonadas. Os sofistas aceitam a validade das opiniões e
das percepções sensoriais, já Sócrates e Platão as consideram como fonte de erro, formas
imperfeita de conhecimento que nunca alcançam a verdade plena da realidade.

- Mito da Caverna. O que é a caverna? O mundo. As sombras? As coisas materiais que


percebemos. O prisioneiro que se liberta? Filósofo. A luz exterior do sol? A luz da verdade. O
mundo exterior? O mundo das ideias verdadeiras. Qual o instrumento que libertará o filósofo
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e com a qual ele deseja libertar os demais? A dialética. O que é a visão do mundo real
iluminado? A filosofia. Porque zombam e matam o prisioneiro que retorna? Porque imaginam
que o mundo sensível é o mundo real e o único e verdadeiro.

- Período Sistemático: filósofo – Aristóteles.

- Período Sistemático e a filosofia de Aristóteles apresentam uma enciclopédia de todo o saber


que foi produzido e acumulado pelos gregos em todos os ramos do conhecimento. Aristóteles
afirmava que antes de um conhecimento constituir seu objeto e seu campo de investigação,
seus procedimentos, demonstração e de prova, deve antes conhecer as leis gerais que
governam o pensamento, independente do conteúdo. E o estudo de tais leis se dá pela Lógica.
A lógica, nesse caso, viria a ser um instrumento para a ciência.

- Campos do conhecimento filosófico segundo Aristóteles: ciências produtivas estudam a


práticas produtivas ou as técnicas, ou seja, as ações humanas cuja finalidade é a produção de
um objeto (arquitetura, economia, pintura, oratória, arte da guerra, medicina). Ciências
práticas estudam as práticas humanas enquanto ações que tem nelas mesmas seu próprio fim
(ética e política). Ciências teoréticas, contemplativas ou teóricas estudam as coisas que são
independentes dos homens e de suas ações, uma contemplação da verdade.

- Dentro da ciência teórica, temos: a ciência das coisas naturais submetidas ao devir (física,
biologia, psicologia), ciência das coisas naturais que não estão submetidas ao devir
(matemática e astronomia), ciência da realidade pura, o próprio ser ou substância daquilo que
existe (metafísica), ciência teórica das coisas divinas que são a causa e a finalidade de tudo o
que existe na natureza e no homem (teologia).

- A partir de Aristóteles foi estabelecido, no século XIX, os 3 campos de investigação


filosófica: Ontologia (o conhecimento da realidade última de todos os seres, ou da essência de
toda realidade), o do conhecimento das ações humanas ou dos valores e das finalidades da
ação humana (ética, vida política e moral), o do conhecimento da capacidade humana de
conhecer, o conhecimento do próprio pensamento em exercício (lógica que oferece as leis
gerais do pensamento, a teoria do conhecimento que oferece os procedimentos pelos quais
conhecemos, as ciências propriamente ditas e a epistemologia que oferece o conhecimento do
conhecimento científico).

- Período Helenístico. Com o declínio grego os filósofos começam a ver o mundo como sua
cidade, e estes como cidadãos do mundo, passa a ser pensada uma filosofia cosmopolita.
Nesse período há uma preocupação com a ética, física, teologia e religião. E há 4 grandes
sistemas que viriam a ser a base do pensamento cristão: estoicismo, epicurismo, ceticismo e
neoplatonismo.
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Unidade I: Capítulo 4 – Principais períodos da história da filosofia

- Filosofia Antiga (VI a.C. ao VI d.C.): pré-socrático, período socrático, período sistemático e
período helenístico.

- Filosofia Patrística (I ao VII), iniciada com os apóstolos intelectuais Paulo e João com o
objetivo de conciliar o cristianismo com o pensamento filosófico greco-romano, teve como
principais pensadores: Orígenes, Santo Ambrósio, Santo Agostinho e Boécio.

- Introduziu idéias antes desconhecidas pelos gregos: idéia de criação do mundo, de pecado
original, de Deus como trindade uma, de encarnação e morte de Deus, de juízo final e
ressurreição dos mortos. Com Santo Agostinho e Boécio introduz a idéia de “homem
interior”, da consciência moral e do livre-arbítrio pelo qual o homem se torna responsável
pela existência do mal no mundo.

- O pensamento desse período é marcado pela formação de dogmas, no qual os padres para
impor a idéia cristã a transformarão em uma verdade revelada por Deus. Dessa forma o
grande tema da filosofia patrística é o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar razão e
fé.

- Alguns julgavam que fé e a razão eram irreconciliáveis, sendo a fé superior à razão. Outros
julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão a fé. E os que julgavam razão e fé
irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento
e não devem se misturar.

- Filosofia Medieval (VII ao XIV) teve influência do pensamento de Platão (ditado por
Plotino), Aristóteles (traduzido pelos árabes Avicena e Averróis) e de Santo Agostinho para
pensar os problemas levantados no período patrístico e o Problema dos Universais. Como
principais teólogos temos: Erigéna, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto
Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, Avicena, Averróis, Yeudah.

- Surge a filosofia cristã (a teologia) para debater sobre a prova da existência de Deus e da
alma, a demonstração racional da existência do infinito criador e do espírito humano imortal.

- O método de análise desenvolvido nesse período é a disputa, onde apresentava-se uma tese e
esta deveria ser ou não refutada ou defendida por argumentos retirados da Bíblia, de
Aristóteles, de Platão ou de Santo Agostinho. Assim uma idéia era considerada verdadeira
dependendo da sua aproximação com a fonte escolhida, o que gera o princípio da autoridade,
isto é, uma idéia é considerada verdadeira se for baseada nos argumentos de uma autoridade
reconhecida.

- Filosofia da Renascença (XIV ao XVII). É marcada pela descoberta das obras de Platão,
desconhecidas na Idade Média, assim como pelas obras de Aristóteles e de outros pensadores
gregos e romanos. Nesse período se destacam: Dante, Giordano Bruno, Maquiavel,
Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Nicolau de Cusa.

- Segue-se em 3 linhas de pensamento: A idéia proveniente de Platão e neoplatônicos que


destacava a natureza como um grande ser vivo sendo o homem uma parte desta, o que lhe
possibilita agir sobre a natureza através da magia natural (alquimia e astrologia), pois o
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mundo é construído por vínculos e ligações secretas entre as coisas. O pensamento vindo dos
pensadores florentinos que valorizavam a vida ativa, isto é, a política. E a idéia que propunha
o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto através do conhecimento
(antropologia, magia, alquimia) quanto através da política (ideal republicano), das técnicas
(medicina, engenharia, navegação) e das artes (pintura, literatura, teatro).

- Filosofia Moderna ou Racionalismo Clássico (XVII ao XVIII). Principais pensadores:


Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Locke, Newton,
Berkeley.

- Marcado por 3 grandes mudanças intelectuais: a filosofia deve começar seu pensamento a
partir do Sujeito do conhecimento, questionando a capacidade do intelecto humano em
conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos, é uma volta ao pensar a sobre si mesmo,
estabelecendo quem é o Sujeito do conhecimento, o intelecto no interior da alma que se
diferencia das demais essências naturais e externas. Mudança no Objeto do conhecimento,
para os modernos as coisas exteriores (natureza, vida social e política) podem ser conhecidas
desde que sejam consideradas representações, idéias e conceitos formulados pelo Sujeito do
conhecimento. A partir desse pensamento, observa-se uma mudança na concepção da
realidade vista como um sistema de causalidades racionais e rigorosas que podem ser
conhecidas e transformadas pelo homem. Nasce assim a idéia de experimentação e de
tecnologia (como conhecimento teórico que orienta as intervenções práticas) e o ideal de que
o homem poderá dominar tecnicamente a natureza e a sociedade.

- Predomina assim a idéia de domínio do homem, através de conquistas científicas e técnicas,


de toda realidade.

- Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (XVIII ao XIX). Podemos destacar os pensadores:


Hume, Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte, Schelling (embora esse último
também seja considerado um filósofo do Romantismo).

- Seguindo os padrões do iluminismo afirma que: pela razão o homem pode conquistar a
liberdade e a felicidade social e política; a razão é capaz de evolução e progresso e o homem é
capaz de libertar-se dos pré-conceitos religiosos, sociais, culturais e morais graças à arte,
ciência e à moral; o aperfeiçoamento da razão se faz medida pelo progresso da civilização; há
diferença entre natureza e civilização (de um lado temos a natureza, um reino das relações
necessárias de causa e efeito ou das leis naturais universais e imutáveis, e de outro temos a
civilização, como um reino da liberdade e da finalidade proposta pela vontade livre do homem
perante seu aperfeiçoamento moral, técnico e político).

- Filosofia Contemporânea (XIX - XXI).

Unidade I: Capítulo 5 – Aspectos da Filosofia Contemporânea

- Conceito de “seres históricos” de Hegel.

- Noção de que o progresso esta ligado ao desenvolvimento da ciência do filósofo Augusto


Comte.
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- Noção de que cada um possui sua própria história ao invés de se presentificar numa história
universal, como se fosse mais uma etapa em uma história linear e progressiva da civilização.
Assim a idéia de progresso passa a ser criticada, pois a vê como uma desculpa para legitimar
o colonialismo e o imperialismo, assim como a idéia de progresso da ciência passa a ser vista
como um erro de análise ao mostrar que cada civilização e cada tempo possuem uma sua
própria ciência, e que esse valor científico muda com a mudança para outra civilização, tempo
ou localidade.

- Escola da Frankfurt elaborou a Teoria Crítica a distinguindo em duas formas de razão. A


razão instrumental é a razão técnico-científica que faz das ciências e das técnicas não um
meio de liberação dos seres humanos, mas um meio de intimidação, medo terror e desespero.
A razão crítica é a que analisa e interpreta os limites e os perigos do pensamento instrumental
e afirma que as mudanças sociais, políticas e culturais só se realizarão verdadeiramente se
tiverem como finalidade a emancipação do gênero humano e não as idéias de controle e
domínio técnico-científico sobre a natureza, sociedade e cultura.

- Noção de cultura como algo próprio e específico do ser humano, pois os animais são seres
naturais enquanto que o homem um ser cultural. A natureza é governada por leis necessárias
de causa e efeito, já a cultura é um exercício da liberdade.

- Criação coletiva de idéias, símbolos e valores pelos quais uma sociedade define para si
mesma o bom e o mai, o belo e o feio, o justo e o injusto, sagrado e profano, tempo e espaço.
A cultura se manifesta como vida social, como criação das obras de pensamento e de arte,
como vida religiosa e política.

- No século XX se afirma que a história é descontínua, logo a de se falar que não existe A
cultura, mas culturas diferentes, e que a pluralidade de culturas e as diferenças entre elas não
se devem à nação. Pois a idéia de nação é uma idéia cultural e não a causa das diferenças
culturais.

- Marx, no final do XIX voltado para a economia e a política, e Freud, início do XX voltado
para as perturbações e eventos psíquicos, puseram em questão um otimismo racionalista (que
estipulava a chegada de uma maioridade da razão dentro do processo filosófico).

- Marx descobriu que temos a ilusão de estarmos pensando e agindo com nossa própria cabeça
e por nossa própria vontade, racional e livremente, de acordo com nosso entendimento e
liberdade, porque desconhecemos o poder invisível que nos força a agir e a pensar como
agimos e pensamos. Esse poder social ele o conceituou como “ideologia”.

- Freud mostrou que os seres humanos têm a ilusão de que tudo quanto pensam, fazem,
sentem e desejam estaria sob o controle de nossa consciência porque desconhecemos a
existência de uma força invisível que atua sobre nossa consciência sem que ela saiba. Essa
força psíquico-social ele conceituou como “inconsciente”.

- O homem é inteiramente livre ou condicionado pela sua situação histórica e psíquica?

- A filosofia no XIX tendeu a manter uma noção de infinitude (natureza e Deus como
elementos infinitos e eternos). Já o XX tendeu a dar maior importância ao finito, ao que surge
e desaparece, ao que possui fronteiras e limites. Essa corrente finita é conceituada como
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existencialismo, responsável por definir o homem como um ser-para-a-morte, um ser que sabe
que termina e que precisa encontrar em si mesmo o sentido de sua existência. E para se chegar
a esse encontro de sua própria finitude, para muitos pensadores, o homem deveria se
presentificar na arte ou na política revolucionária.

- Filosofia da diferença, tem um interesse menos pelas semelhanças e identidades e muito


mais pela singularidade e particularismo.

- Kant afirmou que a metafísica, filosofia que afirmava que o homem em sua razão poderia
conhecer as coisas tais como são em si mesmas, não esta correta. Pois, somente podem-se
conhecer tais coisas e essências em si mesmas através da estrutura interna e universal de nossa
razão. Deixando-se de ser metafísica a filosofia tornou-se o conhecimento das condições de
possibilidade do conhecimento verdadeiro enquanto conhecimento. Tornou-se uma Teoria do
Conhecimento, ou uma teoria sobre a capacidade e possibilidade humana de conhecer. E
tornou-se uma ética, um estudo sobre as condições de possibilidades da ação moral enquanto
realizada pela liberdade e dever.

- Augusto Comte afirma que a filosofia seria apenas uma reflexão sobre o significado do
trabalho científico, uma análise e uma interpretação dos procedimentos ou das metodologias
usadas pelas ciências e uma avaliação dos resultados científicos. A filosofia torna-se uma
Teoria das Ciências ou Epistemologia.

- O interesse pela consciência reflexiva ou pelo Sujeito do conhecimento deu surgimento a


Fenomenologia iniciada com Edmund Husserl.

- Ontologia ou Metafísica: conhecimento dos princípios e fundamentados últimos de toda


realidade e seres.

- Lógica: conhecimento das formas e regras gerais do pensamento correto e verdadeiro,


independente do conteúdo.

- Epistemologia: análise crítica das ciências, tanto das ciências exatas quanto das humanas.

- Teoria do Conhecimento: ou estudo das diferentes modalidades de conhecimento humano, o


conhecimento sensorial ou sensação e percepção; memória e imaginação; conhecimento
intelectual; idéia de verdade e falsidade; ilusão e realidade; formas de conhecer o espaço e
tempo.

- Ética: estudo dos valores morais (virtudes), da relação entre vontade e paixão, vontade e
razão, liberdade, responsabilidade.

- Filosofia Política: estudo sobre a natureza e o poder da autoridade; idéia de direito, lei,
justiça, dominação, violência.

- Filosofia da História: estudo sobre a dimensão temporal da existência humana como


existência sócio-política e cultural.

- Estética: estudo sobre das formas de arte, do trabalho artístico; idéia de obra de arte e
criação.
12

- Filosofia da Linguagem: a linguagem como manifestação da humanidade do homem, signos,


significações, comunicação, passagem da linguagem oral para escrita.

- História da Filosofia: estudo dos diferentes períodos da filosofia, de grupos filosóficos


segundos os temas e problemas abordados; relação entre o pensamento filosófico e as
condições econômicas, políticas, sociais e culturais de uma sociedade.

- Unidade IV: Capítulo 1 – Preocupação com o conhecimento

- Os gregos indagavam: por que as coisas existem? O que é o mundo? Qual a origem da
natureza e quais as causas de sua transformação? O que é o Ser?

- Vindo do conceito grego de coisas existentes, o ente, o ser de algo. O Ser possibilitou o
surgimento da ontologia, conhecimento ou saber sobre o Ser. Assim é considerado que os
primeiros filósofos não possuíam uma preocupação com o conhecimento enquanto
conhecimento, não indagam se podemos ou não conhecer o Ser, mas partiam da pressuposição
de que podemos conhecer, pois a verdade, sendo “aletheia” (presença e manifestação das
coisas para os sentidos e pensamento) significa presenciar o Ser manifestado e presente para
nós, logo o podemos conhecer.

- Heráclito de Éfeso considerava a natureza (mundo e realidade) como um “fluxo perpétuo”, o


escoamento contínuo dos seres em mudança perpétua. “Não podemos nos banhar duas vezes
no mesmo rio, porque as águas nunca são as mesmas e nós nunca somo os mesmos”.

- Para Heráclito tudo deve se transformar em seu contrário. A realidade é a harmonia dos
contrários que não cessam de se transformar uns nos outros e se tudo não para de ser o seu
oposto, como explicar que a nossa percepção nos ofereça as coisas como se fossem estáveis,
duradoras e permanentes? Aqui há de se perceber que existe o conhecimento oferecido pelos
nossos sentidos e o conhecimento que é alcançado pelo nosso pensamento. O sentido oferece
a imagem da estabilidade e nosso pensamento alcança a verdade como mudança contínua.

- Parmênides, contrário a Heráclito, dizia que só podemos pensar sobre aquilo que permanece
sempre idêntico a si mesmo, pois o pensamento não é capaz de pensar sobre coisas que são e
que não-são, ou que são contrárias a si mesma. Afinal conhecer é alcançar o idêntico e
imutável. O sentido fornece a imagem do mundo em incessante mudança, onde nada
permanece idêntico a si, desta forma pensar é dizer o que um ser é em sua identidade
profunda e permanente. Logo, devemos perceber as constantes e impensáveis mudanças e
pensar identidades imutáveis.

- Demócrito desenvolveu o conceito de “atomismo”, a realidade é constituída por átomos que


somente o pensamento possui acesso. Que em grego representa aquilo que não pode ser
cortado ou dividido, a menor partícula indivisível de todas as coisas. Assim os seres surgem
por composição dos átomos, transformam-se por novos arranjos e morrem por separação
desses átomos.

- Sofistas, diante da pluralidade e do antagonismo das filosofias anteriores, ou dos conflitos


entre as várias ontologias, concluíram que não podemos conhecer o Ser, mas só podemos ter
13

uma opinião subjetiva sobre a realidade. Por esse motivo existiria a linguagem, como
possibilidade de relacionamento entre o homem, para persuadir o outro de suas próprias idéias
e verdades. Para eles a verdade é uma questão de opinião e de persuasão, logo a linguagem é
mais importante do que a percepção e o pensamento.

- Sócrates afirmava que a verdade pode ser conhecida, mas primeiro devemos afastar as
ilusões dos sentidos, das palavras e das opiniões e alcançar a verdade apenas pelo
pensamento. Os sentidos nos dão as aparências das coisas e as palavras as meras opiniões,
conhecer é passar da aparência à essência, da opinião ao conceito, do ponto de vista individual
à idéia universal.

- Platão distingue 4 formas de conhecimento: crença, opinião, raciocínio e intuição. Os dois


primeiros devem ser afastados da filosofia, pois são conhecimentos ilusórios ou das
aparências (como os prisioneiros do Mito da Caverna), e somente os últimos dois devem ser
considerados válidos. Platão afirma que o primeiro conhecimento puramente intelectual e
perfeito é a matemática, cujas idéias nada devem aos órgãos dos sentidos e não se reduzem a
meras opiniões subjetivas. Assim temos o conhecimento sensível (crença e opinião) e o
conhecimento intelectual (raciocínio e intuição), afirmando que somente pelo segundo que se
pode alcançar a essência, a idéia, o Ser e a verdade das coisas, pois o conhecimento sensível
alcançaria somente a aparência das coisas.

- Aristóteles distingue 7 formas de conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória,


raciocínio e intuição. O conhecimento seria formado e enriquecido por acumulações de
informações trazidas por todos os graus de conhecimento, de modo que em lugar de uma
ruptura entre o sensível e o intelectual Aristóteles estabelece uma continuidade. A única
separação se dá entre os 6 primeiros e o último, a intuição que é considerada inteiramente
intelectual, pois este lida com os objetos que só podem ser trabalhados no pensamento puro.

- Princípios gerais do conhecimento verdadeiro segundo os gregos: fontes de conhecimento


(sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio e intuição intelectual),
distinção entre conhecimento sensível e intelectual, papel da linguagem no conhecimento,
diferença entre saber e opinião, entre aparência e essência, definição dos princípios do
pensamento verdadeiro (identidade, não-contradição, terceiro excluído), da forma do
conhecimento (idéias, conceitos e juízo) e dos procedimentos para alcançar o conhecimento
verdadeiro (indução, dedução, intuição), distinção dos campos do conhecimento verdadeiro
(teorético, referente aos seres que apenas podemos contemplar e observar sem interferência,
prático, referente às ações ético-políticas e econômica, e técnico, referente à produção humana
e sua intervenção na natureza).

- Perspectiva cristã introduziu algumas distinções que romperam com a ideia grega de
participação harmoniosa entre o nosso intelecto (nosso ser) e a verdade (natureza), o
cristianismo fez a distinção entre fé e razão, verdade revelada e verdade racional, matéria e
espírito, corpo e alma, afirmou que erro e ilusão são parte da natureza humana.

- Novos problemas propostos pelo cristianismo: é possível conhecer a verdade, sendo seres
imperfeitos como somos? Sendo nossa matéria Supla (matéria e espírito) como nossa
14

inteligência pode conhecer o que é diferente dela? Como o finito humano pode conhecer a
verdade (infinira e divina)?

- Os gregos se perguntavam: como é possível o erro ou a ilusão? Como é possível ver o que
não é, dizer o que não é, pensar o que não é? Já para os modernos viam que a verdade
depende da revelação e da vontade divina, e se nosso intelecto foi pervertido pela nossa
vontade pecadora, como podemos conhecer a verdade? Se a verdade depender da fé, como
nossa razão poderá conhecê-la?

- Santo Agostinho trouxe a idéia de cada ser humano é uma pessoa (idéia originalmente vinda
com o direito romano), que define a pessoa como um sujeito de direitos e deveres, Se somos
pessoas, somos responsáveis pelos nossos atos e pensamentos. Nossa pessoa é nossa
consciência que é a nossa alma dotada de vontade, imaginação, memória e inteligência.

- A primeira tarefa que os modernos se deram foi de separar a fé da razão, onde cada uma foi
destinada a um conhecimento diferente. A segunda tarefa foi explicar como a alma-
consciência, embora diferente dos corpos, pode conhecê-los. A terceira tarefa foi a de explicar
como a razão e o pensamento podem tornar-se mais fortes do que a vontade e controlá-la para
que evite o erro.

- Teoria do conhecimento volta-se para a relação entre o pensamento e as coisas, a


consciência (interior) e a realidade (exterior), o entendimento e a realidade; em suma, o
Sujeito e o Objeto do conhecimento.

- Os gregos indagavam: como o erro é possível? Os modernos perguntavam: como a verdade


é possível? Para os gregos, a verdade era “aletheia”, para os modernos “veritas”. Para os
modernos trata-se de compreender e explicar como os relatos mentais (nossas idéias)
correspondem ao que se passa verdadeiramente na realidade. Mesmo com essa diferença os
modernos retornam ao pensamento grego, começa o exame da questão com as opiniões
contrárias e ilusórias para ultrapassá-las em direção à verdade.

- Bacon elaborou a teoria “Crítica dos Ídolos”, para ele existem 4 tipos de imagens que
formam opiniões cristalizadas e preconceiros que impossibilitam o conhecimento da verdade.
Ídolo da Caverna (opiniões que se formam em nós por erros e defeitos de nossos sentidos).
Ídolos do Fórum (opiniões que se formam em nós como conseqüência da linguagem e de
nossas relações com os outros). Ídolos do Teatro (são opiniões formadas em nós em
decorrência dos poderes das autoridades que impõem seus pontos de vistas os transformando
em decretos e leis inquestionáveis). Ídolos da Tribo (são as opiniões que se formam em nós
em decorrência de nossa natureza humana, são ídolos próprios da espécie humana e só podem
ser vencidos se houver uma reforma na própria natureza humana).

- “Dúvida Metódica” de Descartes. Procedimento pelo qual o Sujeito do conhecimento,


analisando cada um de seus conhecimentos, conhece e avalia as fontes e as cauãs de cada um,
a forma e o conteúdo de cada um, a falsidade e a verdade de cada um e encontra meios de se
livrar de tudo que seja duvidoso perante o pensamento. Ao mesmo tempo, o pensamento
oferece um conjunto de regras que deverão ser obedecidas para que um conhecimento seja
considerado como verdadeiro. Para Descartes o conhecimento sensível é a causa de todo erro
e deve ser afastado, o conhecimento verdadeiro é puramente intelectual.
15

- Para Descartes a origem do erro se encontra em duas atitudes: prevenção, que é a facilidade
com que nosso espírito se deixa levar pelas opiniões e idéias alheias, sem se preocupar em
verificar se são ou não verdadeiras, são opiniões que se cristalizam em nós sob a forma de
pré-conceitos e que escravizam nosso pensamento. Precipitação, que é a facilidade e a
velocidade com que nossa vontade nos faz emitir juízos sobre as coisas antes de verificarmos
se nossas idéias são ou não verdadeiras.

- Locke é o iniciador da Teoria do Conhecimento propriamente dita, pois se propõe a analisar


cada uma das formas de conhecimento. Seu pensamento se assemelha com o de Aristóteles ao
considerar o conhecimento como aquilo que se realiza por graus contínuos, partindo da
sensação até chegar nas idéias. Diferente de Platão e Descartes que afastam a experiência
sensível do conhecimento verdadeiro, que é puramente intelectual.

- Racionalismo (Platão e Descartes), a fonte do conhecimento verdadeiro é a razão operando


por si mesma, sem o auxílio da experiência sensível e controlando a própria experiência
sensível.

- Empirismo (Aristóteles e Locke), a fonte de todo e qualquer conhecimento é a experiência


sensível, responsável pelas idéias da razão e controlando o trabalho da própria razão.

- Com a Teoria do Conhecimento vemos o Sujeito do conhecimento (racional e consciente) se


tornar Objeto de si mesmo. Um processo de uma reflexão filosófica.

- Do ponto de vista psicológico a consciência é o sentimento de nossa própria identidade: é o


Eu, um fluxo temporal de estados corporais e mentais, que retém o passado na memória,
recebe o presente pela atenção e espera o futuro pela imaginação e pelo pensamento. O Eu é o
centro ou a unidade de todos os estados psíquicos.

- Eu ou consciência psicológica é formada por nossas vivências, pela maneira como sentimos
e compreendemos o que se passa no nosso corpo e a nossa volta. É a maneira individual e
própria com que cada um de nós percebe, imagina, lembra, opina, deseja, sente e toma
posição diante das coisas e dos outros.

- Do ponto de vista ético e moral, a consciência é a espontaneidade livre e racional, para


escolher, deliberar e agir conforme à liberdade, os direitos alheios e ao dever. É a capacidade
de compreender e interpretar sua situação e sua condição (física, mental, social, cultural,
histórica), viver na companhia de outros segundo as normas e os valores morais definidos por
sua sociedade.

- Do ponto de vista político, a consciência é o cidadão, tanto o indivíduo situado no tecido das
relações sociais, como o portador de direitos e deveres, relacionando-se com as esferas
públicas do poder e das leis, quanto o membro de uma classe social, definido por sua situação
e posição.

- Tanto a consciência política quanto a moral se formam pelas relações entre as vivências do
Eu e os valores e as instituições de sua sociedade ou cultura. São as maneiras pelas quais nos
relacionamos com o outro por meio de comportamentos e práticas determinadas pelos códigos
morais e políticos. O Eu é uma vivência e uma experiência que se realiza por comportamentos
16

- Do ponto de vista da Teoria do Conhecimento, a consciência é uma atividade sensível e


intelectual dotada de poder de análise, síntese e representação. É o Sujeito. Reconhecendo-se
diferente dos Objetos, pois cria e descobre significações, sentidos, idéias, juízos e teorias. É
dotado de conhecer a si mesmo e conhecer o mundo como um Sujeito percebedor.

- Consciência reflexiva ou Sujeito do conhecimento forma-se como atividade de análise e


síntese, de representação e significação voltadas para a explicação, descrição e interpretação
da realidade e da consciência (psíquica, moral e política).

- Ao contrário do Eu, o Sujeito do conhecimento não é uma vivência individual, mas aspira à
universalidade, à capacidade de conhecimento que seja idêntica em todos os seres humanos e
com validade para todos os seres humanos, em todos os tempos e lugares.

- A percepção de cores, de seres espaciais e temporais se realiza em mim não apenas segundo
minhas vivências psicológicas individuais, mas também segundo leis, normas, princípios de
estruturação e organização das coisas, que são as mesmas para todos os sujeitos percebedores.
É com essa estruturação e organização que lida o Sujeito. A vivência é singular (minha). O
conhecimento é universal (nosso e de todos).

- Graus de consciência: consciência passiva (temos uma vage e confusa percepção de nós
mesmos e do que se passa a nossa volta, um momento que precede o sono ou despertar, a
infância ou velhice). Consciência vivida, mas não reflexiva (a consciência afetiva e
egocêntrica, percebendo os outros e as coisas apenas a partir de nossos sentimentos com
relação a eles, não conseguimos separar o eu e o outro, o eu e as coisas). Consciência ativa e
reflexiva (reconhece a diferença entre o interior e o exterior, entre si e o outro, entre si e as
coisas, é nesse grau que percebemos a existência do Eu, Pessoa, Cidadão e Sujeito).
Consciência intelectual ou intencional (ou “consciência de” algo ou alguma coisa, perceber é
perceber alguma coisa, nesse caso a consciência realiza atos de perceber, imaginar, pensar ou
refletir visando a conteúdos ou significações, como o que é percebido, imaginado, pensado ou
refletido).

Unidade IV: Capítulo 2 – Percepção.

- Conhecimento sensível também é chamado de conhecimento empírico ou experiência


sensível e suas principais formas são a sensação e a percepção.

- Sensação é o que nos dá as qualidades exteriores e interiores, as qualidades dos objetos e os


efeitos internos dessas qualidades sobre nós. A sensação é uma reação corporal imediata a um
estímulo ou excitação externa, sem que seja possível distinguir, no ato da sensação, o
estímulo exterior e o sentimento interno. As sensações só se originam sob a forma de
percepções, ou seja, de síntese de sensações.

- Para os empiristas, a sensação e a percepção dependem das coisas exteriores, são causadas
por estímulos externos que agem sobre nossos sentidos e sobre nosso sistema nervoso,
recebendo uma resposta que parte de nosso cérebro, volta a percorrer nossos sistema nervoso
e chaga aos nossos sentidos sob a forma de uma sensação (cor, sabor, odor) ou de uma
associação de sensações numa percepção (vejo um objeto vermelho, sinto o sabor da carne).
17

Cada sensação é independente das outras e cabe à percepção unificá-las e organizá-las em


síntese.

- O conhecimento é obtido por soma e associação das sensações na percepção e tal soma e
associação dependem da freqüência, da repetição e sucessão dos estímulos externos e de
nossos hábitos.

- Para os intelectualistas, a sensação e a percepção dependem do Sujeito do conhecimento e a


coisa exterior é apenas a ocasião para que tenhamos a sensação ou a percepção. Nesse caso, o
Sujeito é ativo e a coisa externa é passiva, ou seja, sentir e perceber são fenômenos que
dependem da capacidade do Sujeito para decompor um objeto em suas qualidades simples (a
sensação) e de recompor o objeto como um todo, dando-lhe organização e interpretação
(percepção).

- Para os empiristas, a sensação conduz à percepção como uma síntese passiva, que depende
do objeto exterior. Para os intelectualistas, a sensação conduz à percepção como síntese ativa,
que depende da atividade do entendimento.

- Para os empiristas, as idéias são provenientes das percepções. Para os intelectualistas, a


sensação e a perceção são sempre confusas e devem ser abandonadas quando o pensamento
formula as idéias puras.

- Fenomenologia de Husserl e a Psicologia das Formas ou Teoria da Gestalt, ambas


mostravam: contra o empirismo, que a sensação não é reflexo pontual ou uma resposta físico-
fisiológica a um estímulo externo também pontual; contra o intelectualismo, que a percepção
não é uma atividade sintética feita pelo pensamento sobre as sensações; contra o empirismo e
o intelectualismo, que não há diferença entre sensação e percepção.

- Tanto para os empiristas quantos para os intelectualistas percebiam que a sensação era uma
relação de causa e efeito entre pontos das coisas e pontos de nosso corpo, As coisas seriam
como mosaico de qualidades isoladas justapostas assim como nosso aparelho sensorial. Por
isso, a percepção era considerada uma atividade que somava ou juntava as partes numa síntese
que seria o objeto percebido.

- A Fenomenologia e a Gestalt mostram que não há diferença entre sensação e percepção


porque nunca temos sensações parciais, pontuais ou elementares, sensações separadas de cada
qualidade, que depois o espírito juntaria e organizaria como percepção de um único objeto.
Sentimos e percebemos formas, totalidades estruturadas dotadas de sentido ou de significação.

- A percepção possui as seguintes características: é o conhecimento sensorial de


configurações ou de totalidades organizadas e dotadas se sentidos e não uma soma de
sensações elementares. É o conhecimento de um Sujeito corporal, perceber as condições de
nosso corpo é tão importante quanto a situação e as condições dos objetos percebidos. É
sempre uma experiência dotada de significações, o que é percebido é dotado de sentido que
tem sentindo em nossa história. O próprio mundo exterior se encontra organizado em formas e
estruturas complexas dotadas de sentido e estas são inseparáveis do Sujeito da percepção. A
percepção é assim uma relação do Sujeito com o mundo exterior e não uma reação físico-
fisiológica de um Sujeito físico-fisiológico a um conjunto de estímulos externos (como
18

suporia o empirista) e nem uma idéia formulada pelo Sujeito (como o intelectualista). O
mundo percebido é um mundo em que há uma comunicação entre o nosso corpo e os corpos
dos outros sujeitos e objetos. A percepção depende das coisas e de nosso corpo, depende do
mundo e de nossos sentidos, logo, é mais apropriado falar em “campo perceptivo” para
indicar que se trata de uma relação complexa entre o corpo-Sujeito e o corpo-Objeto. A
percepção envolve toda nossa personalidade, história pessoa, afetividade, desejo, ou seja, a
percepção é uma maneira fundamental de os seres humanos estarem no mundo. A percepção
envolve nossa vida social, significado e valores de coisas percebidas. A percepção nos oferece
um acesso ao mundo dos objetos práticos e instrumentais, uma ação para a arte. A percepção
é uma forma de se ter idéias sensíveis ou significações perceptivas. A percepção está sujeita a
uma forma especial de erro: a ilusão.

- A Teoria do Conhecimento, sobre o papel da percepção, afirma: nas teorias empiristas, a


percepção é a única fonte de conhecimento, o que leva Hume a colocar que todo
conhecimento é percepção e que existem dois tipos de percepção, as impressões (sensação,
emoção e paixão) e as idéias (imagens das impressões). Nas teorias racionalistas
intelectualistas, a percepção é considerada não muito confiável para o conhecimento porque
depende das condições particulares de quem percebe e está propensa ao erro da ilusão, pois
freqüentemente a imagem percebida não corresponde a realidade. Na teoria fenomenológica
do conhecimento, a percepção é considerada originária e parte principal do conhecimento
humano, mas nesse caso a percepção se realiza por perspectivas, uma vez que não se pode
perceber de uma só vez o objeto, mas somente partes dele de cada vez.

- Pelo intelecto compreendemos uma idéia de uma só vez e por inteiro, captamos sua
totalidade sem precisar analisar cada uma de suas faces. Na percepção, nunca poderemos ver,
de uma só vez, as seis faces de um cubo, pois “perceber” um cubo significa nunca vê-lo de
uma só vez por inteiro. Ao contrário, se há de perceber as 6 faces todas presentes e
simultaneamente.

- Não há ilusão na percepção; perceber é diferente de pensar e não uma forma interior e
deformada do pensamento. A percepção não é causada pelos objetos sobre nós, nem é causada
pelo nosso corpo sobre as coisas: é a relação entre elas e nós e nós e elas; uma relação
possível porque elas são corpos e nós também somos corporais.

Unidade IV: Capítulo 3 – Memória

- Memória é evocação do passado, a capacidade humana de reter e guardar o tempo que se foi,
salvando-o da perda total. A lembrança conserva aquilo que se foi. Para Marcel Proust a
memória é a garantia de nossa própria identidade, o “Eu” que reúne tudo o que fomos e
fizemos a tudo que somos e fazemos.

- Como consciência da diferença temporal a memória é uma forma de percepção interna


chamada “introspecção”, cujo objeto é interior ao Sujeito do conhecimento: as coisas passadas
19

lembradas, o próprio passado do Sujeito e o passado registrado por outros em narrativas orais
e escritas.

- Em nossa sociedade a memória é valorizada e desvalorizada. É valorizada com a


multiplicação dos meios de registros e gravação dos fatos, acontecimentos e pessoas (PC,
filmes, livros, instituições, museu, arquivos). É desvalorizada por que não é considerada uma
capacidade essencial para o conhecimento, pois podemos usar máquinas para tais registros e
porque a publicidade e a propaganda fazer preferir o “novo”, o “moderno”, a “última moda”,
a busca pelo sempre novo.

- A memória é uma utilização do passado ou a presentificação do passado, é o registro do


presente para que permaneça como lembrança.

- Lembrança, é o que escolhemos afetiva, sentimental e valorativamente para lembrar.

- Elementos que influenciam na memória: aspectos físico-fisiológicos e a significação do fato.

- Bergson distingue dois tipos de memória: Memória-hábito é um automatismo psíquico que


adquirimos pela repetição contínua de alguma coisa, a simples fixação mental conseguida à
força de repetir a mesma coisa (andar de bicicleta). Memória-pura ou propriamente dita é a
que não precisa de repetição para conservar uma lembrança, pelo contrário, é a que guarda
alguma coisa por seu significado especial, afetivo, valorativo ou de conhecimento.

- Seis tipos de memória: memória perceptiva ou reconhecimento (permite reconhecer as


coisas, pessoas, lugares); memória-hábito (adquirida pela repetição de algo); memória-fluxo-
de-duração-pessoal (lembrança de coisas significativas, seja do ponto de vista afetivo ou do
conhecimento); memória social ou histórica (fixada por nossa sociedade através dos mitos e
registros fundadores), memória biológica da espécie (gravada no código genético das
diferentes espécies); memória artificial das máquinas (baseada na estrutura simplificada do
cérebro humano).

- As 4 primeiras memórias são consideradas parte da consciência individual e coletiva, a 5º


inconsciente é puramente física, a última é técnica.

- Do ponto de vista da Teoria do Conhecimento a memória possui as seguintes funções:


retenção de um dado da percepção, da experiência ou do conhecimento adquirido.
Reconhecimento e produção do dado percebido ou conhecido numa imagem que possibilita a
relação entre o já conhecido e o novo conhecimento. Recordação ou reminiscência de alguma
coisa. Capacidade para evocar o passado a partir do tempo presente.

- Na Metafísica de Aristóteles encontramos: “É da memória que os homens derivam a


experiência, pois as recordações repetidas da mesma coisa produzem o efeito duma única
experiência.”

- Afasia: Quando perdemos a capacidade para lembrar palavras ou construir frases.

- Apraxia: quando perdemos a capacidade para lembrar e realizar gestos e ações.


20

Unidade IV: Capítulo 4 – Imaginação.

- Imaginação pode ser tomada como algo positivo, cuja falta é criticada; como uma fuga da
realidade, ou como uma suposição sobre algo. Mas, em ambos os casos podemos ver a
imaginação como sendo referida ao inexistente, como algo provido de graus e como uma
elaboração mental de algo que possível de existir, mesmo que não exista nesse primeiro
momento.

- A tradição filosófica sempre viu a imaginação como uma reprodutora, considerada como um
resíduo do objeto percebido que permanece retido em nossa consciência, um rastro deicado
pela percepção.

- Os empiristas falam das imagens como reflexos mentais das percepções ou das impressões
cujos traços foram gravados no cérebro. Desse ponto de vista, a imagem e a lembrança
difeririam apenas porque a primeira é atual e a segunda é passada.

- Os intelectualistas consideram a imaginação como uma forma enfraquecida da percepção e,


por considerarem a percepção a principal causa de nossos erros (ilusões e deformações da
realidade), também julgam a imaginação como fonte de engano e erro. Tornando-a
meramente reprodutora.

- Imaginação diretamente reprodutora da percepção no campo do conhecimento e


indiretamente reprodutora no campo da fantasia. Para a tradição filosófica imaginação seria
um sinônimo de percepção, embora possamos questionar, se assim fosse: confundiríamos
percepção com imagem, perceber com imaginar, confundir nossa imaginação e percepção
com a de outro.

- Raramente uma imagem condiz e corresponde materialmente à coisa imaginada. As imagens


são irreais quando comparadas ao que é imaginado através delas. Um quadro é real enquanto
quadro percebido, mas irreal se comparado à paisagem da qual é imagem. E por ser irreal que
a imagem torna presentifica algo ausente, seja porque esse algo existe e não se encontra onde
estamos, seja porque é inexistente. No primeiro caso, a imagem ou o análogo é testemunha
irreal de alguma coisa existente; no segundo, é a criação de uma realidade imaginária, ou seja,
de algo que existe apenas em imagem ou como imagem.

- De acordo com a Fenomenologia existe uma “consciência imaginativa”, uma forma de


consciência diferente da percepção e da memória, tendo como ato o imaginar e como
conteúdo o imaginário ou o Objeto-imagem. A imaginação é a capacidade da consciência para
fazer surgir os objetos imaginários ou Objeto-imagem, para abrir-se ao tempo futuro, ao
campo de possibilidades.

- Modalidades de imaginação: imaginação reprodutora propriamente dita (imaginação que


toma suas imagens da percepção e da memória), imaginação evocadora (presentifica o ausente
por meio de imagens com forte tonalidade afetiva), imaginação irrealizadora (torna ausente o
presente e nos coloca vivendo numa outra realidade que é só nossa, possui uma tonalidade
mágica), imaginação fabuladora (de caráter social ou coletivo, cria os mitos e as ledas pelos
quais uma sociedade imaginam sua própria origem, morte e realidade, possui uma tonalidade
religiosa), imaginação criadora (inventa ou cria o novo nas artes, nas ciências, nas técnicas e
21

filosofia, combinam-se elementos afetivos, intelectuais e culturais que preparam as condições


para que algo novo seja criado e que só existia, primeiramente, como imagem).

- Do ponto de Vista da Teoria do Conhecimento a imaginação possui duas faces: a de auxiliar


precioso para o conhecimento da verdade e a de perigo imenso para o conhecimento
verdadeiro.

- Imagem pode ser negadora, na qual os cientistas podem negar ou recusar as teorias já
existentes. E antecipadora, onde o cientista pode antever o significado completo de sua
própria pesquisa, mesmo que esta ainda esteja em andamento, desta forma a imaginação
orienta o pensamento.

- Imaginário desvia nossa atenção da realidade, serve para nos dar compensações ilusórias
para as desgraças de nossas vidas ou de nossa sociedade, ou usado como forma de ocultar a
verdade. O imaginário reprodutor bloqueia nosso conhecimento porque apenas reproduz nossa
realidade, mas dando a ela aspectos sedutores, mágicos e embelezados, cheios de sonhos que
já parecem realizados e que reforçam nosso presente como algo inquestionável e inelutável. É
um imaginário de explicações feiras e acabadas, justificador do mundo tal como ele parece
ser. Quando esse imaginário é social, chama-se “Ideologia”.

Unidade IV: Capítulo 5 – Linguagem.

- Aristóteles, em sua obra “Política”, afirma que somente o homem é um animal político, ou
seja, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem. Os outros animais possuem
voz e com ela exprimem dor e prazer, mas o homem possui a palavra (logos) e, com ela,
exprime o bom e o mau, o justo e o injusto. Exprimir e possuir em comum esses valores é o
que torna possível a vida social e política e, dela, somente os homens são capazes.

- A linguagem é o “instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus


sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o instrumento graças ao
qual ele influência e é influenciado, a base mais profunda da sociedade humana... É o
recurso último e indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias em que o espírito
luta contra a existência, e quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na meditação
do pensador”. Hjelmslev.

- Hjelmslev diz que a linguagem está sempre à nossa volta, sempre pronta a envolver nosso
pensamento e sentimento, acompanha-nos em nossa vida. Ela não é um simples
acompanhamento do pensamento, mas sim um fio profundamente tecido na trama do
pensamento, é o tesouro da memória e a consciência vigilante transmitida de geração à
geração.

- Platão, em Fedro, afirma que a linguagem é “pharmakon” (remédio, veneno e cosmético).


Ou seja, a linguagem pode ser medicamento ou remédio para o conhecimento, pois, pelo
diálogo e pela comunicação, conseguimos descobrir nossa ignorância e aprender com os
outros. Pode ser veneno, quando, pela sedução das palavras, nos faz aceitar, fascinados, o que
vimos ou lemos, sem que indaguemos se tais palavras são verdadeiras ou falsas. Ou
cosmético, a maquiagem ou máscara para dissimular ou ocultar a verdade sob as palavras.
22

- A linguagem pode adotar a força do mito, e adotar um poder encantatório, com a capacidade
de reunir o sagrado com o profano, seja através de lendas de Deuses ou homens. Ela assume
um poder contrário, um poder que a torna tabu, palavras que não podem ser ditas, pois se o
forem só trarão desgraça (palavra-tabu existe no contexto social, político, cultural e religioso).
Independente de acreditarmos ou não nas palavras míticas ou tabu, é o poder que atribuímos à
linguagem, um poder que decorre do fato de que as palavras são núcleos, sínteses ou feixes de
significações, símbolos e valores que determinam o modo como interpretamos as forças
divinas, naturais, sociais, políticas e suas relações conosco.

- A linguagem é natural ao homem (existe por natureza) ou é uma convenção social? Se a


linguagem for natural, as palavras possuem um sentido próprio e necessário; se for
convencional, são decisões consensuais da sociedade e, nesse caso, são arbitrárias, isto é, a
sociedade poderia ter escolhido outras para designar as coisas.

- A “linguagem” como capacidade de expressão do ser humano é natural, o homem nasce com
uma aparelhagem física, anatômica, nervosa e cerebral que lhe permite se expressar pela
palavra. Mas, a “língua” é convencional, surge como condição histórica, geográfica,
econômica, política determinada, ou seja, é um fato cultural. Uma vez constituída uma língua,
ela se torna uma estrutura ou um sistema dotado de necessidades internas, passando a
funcionar como se fosse algo natural, como algo que possui suas próprias leis e princípios,
independente dos Sujeitos falantes que a empregam.

- A linguagem pode surgir pela imitação do som (onomatopéia), por imitação de gesto
(pantomima), por necessidade (fome, proteção) e por emoção (medo, surpresa, alegria).

- Uma linguagem se constitui quando passa dos meios de expressão aos de significação, ou
quando passa do expressivo ao significativo. Um gesto ou um grito exprimem medo; palavras,
frase e enunciados significam o que é sentir medo, dão conteúdo ao medo.

- Linguagem é um sistema de signos ou sinais usados para indicar coisas, para a comunicação
entre pessoas e a expressão de idéias, valores e sentimentos. Uma definição que pode trazer
certos problemas, pois afirma que a linguagem é um sistema de sinais regido por leis próprias
com função indicativa ou denotativa (na qual os signos que indicam à coisas que indicam),
possui uma função comunicativa (por meio das palavras entramos em contato, em diálogo,
com outro) e conotativa (a linguagem exprime pensamento, sentimento e valor, possuindo
uma função de conhecimento e de expressão, onde uma mesma expressão pode exprimir
sentidos e significados diferentes dependendo do Sujeito e do emprego).

- Para os empiristas, a linguagem é um conjunto de imagens corporais e mentais formadas por


associação e repetição e que constituem imagens verbais (palavras). O conjunto de imagens
corporais é formado por dois tipos: motoras (são as que adquirirmos quando aprendemos a
articular sons e letras, no processo de fala e escrita, graças a mecanismos anatômicos e
fisiológicos). E sensoriais (as que adquirimos através dos nossos sentidos, da fisiologia do
sistema nervoso e cerebral). Há ainda a imagem verbal que é aprendida por associação, em
função da freqüência e repetição dos sinais externos que estimulam nossa capacidade motriz e
sensorial. A palavra ou imagem verbal é uma síntese de imagens motoras e sensoriais
armazenadas em nosso cérebro.
23

- Os intelectualistas, porém apresentam uma concepção muito diferente. Embora aceitem que
a possibilidade para falar, ouvir, escrever e ler esteja em nosso corpo (anatomia e fisiologia),
afirmam que a capacidade para a linguagem é um fato do pensamento ou de nossa
consciência. A linguagem é apenas uma tradução auditiva, oral, gráfica ou visível de nosso
pensamento e de nosso sentimento. A linguagem é um instrumento do pensamento para
exprimir conceitos e símbolos, para transmitir e comunicar idéias abstratas e valores. A
palavra é a representação de um pensamento, de uma idéia ou valor, sendo produzida pelo
Sujeito pensante que usa os sons e as letras com essa finalidade.

- Dois pontos se assemelham no pensamento dos empiristas e os intelectualistas: ambas


consideram a linguagem como sendo fundamentalmente indicativa ou denotativa (o signo
lingüístico ou a palavra serve apenas para indicar algo), e ambas consideram a linguagem
como instrumento como um instrumento de representação das coisas e das idéias (a palavra só
possui uma função ou uso instrumental representativo).

- Alguns pensamentos tentam “purificar” a linguagem (positivismo lógico é ex. de um desses


pensamentos) distinguindo-a em duas linguagens: a linguagem natural (usada todos os dias e
que é imprecisa e confusa com elementos afetivos e imaginativos) e a linguagem lógica
(purificada e formalizada, com enunciados sem conteúdos e avaliadores, uma linguagem
científica e filosófica inspirada na matemática e física).

- Crítica ao empirista: alguns psicólogos afirmaram que os empiristas estavam enganados e


que a linguagem não é um mero conjunto de imagens verbais, mas é inseparável de uma visão
global da realidade e inseparável do pensamento.

- Crítica ao intelectualista: Merleau Ponty afirma que não pensamos sem palavras, não há
pensamento antes e fora da linguagem, as palavras não traduzem pensamentos, mas os
envolvem e os englobam. É justamente por isso que a criança aprende a falar e a pensar ao
mesmo tempo, pois, para ela uma coisa se torna conhecida e pensável ao receber um nome.

- A partir do XX uma nova concepção da linguagem apareceu e apontou essas características:


a linguagem é constituída pela distinção entre língua e fala ou palavra (a língua é uma
instituição social e um sistema existente a partir de regras e princípios próprios, enquanto que
a fala ou palavra é um ato individual de uso da língua, tendo uma existência subjetiva por ser
o modo como os Sujeitos falantes se apropriam da língua e a empregam). A língua é uma
totalidade dotada de sentido, no qual o todo confere sentido às partes (as partes não existem
isoladas nem somadas, mas apenas pela posição e função que o todo da língua lhes dá, e seu
sentido vem dessa posição e função, já os signos são os elementos da língua, são valores e não
coisas ou entidades, isto é são o que valem por sua posição e por sua diferença com relação
aos demais signos). Numa língua distinguem-se signos/significante e significados: o signo é o
elemento verbal material da língua, enquanto o significado é o conteúdo ou sentido imaterial
veiculado pelos signos; o significante é uma cadeia ou um grupo organizado de signos
(palavras, frase, orações). A relação dos signos e significantes com as coisas é convencional e
arbitrária, mas, uma vez constituída a língua como sistema de relação entre signo/significante
e significado esta se torna uma relação necessária a todos os falantes da língua. A língua é
uma estrutura constituída por diferenças internas. A língua é um código (conjunto de regras
que permitem produzir informação e comunicação) que se realiza através de mensagens, a
24

fala ou palavra dos Sujeitos que vinculam informação e possibilitam uma comunicação de
modo específico e particular. O Sujeito falante possui a capacidade de saber usa a língua
(competência) e a de pessoalmente saber usar a língua (performance). A língua se realiza em
duas dimensões: a sincronia (o estado atual da língua tomado na simultaniedade), e a
diacronia (a língua vista sucessivamente, através de suas mudanças no tempo ou de sua
história). A língua é inconsistente, nós falamos sem ter consciência de sua estrutura, de suas
regras, princípios, funções e diferenças internas.

- O símbolo é um análogo e não um efeito da coisa indicada, representada ou exprimida. O


símbolo verbal ou palavra me reenvia a coisa que não palavras: coisas materiais, idéias,
pessoas, valores, seres inexistentes. A linguagem é simbólica e, pelas palavras nos coloca em
relação com o ausente. A linguagem inseparável da imaginação.

- A grande preocupação da Filosofia da Linguagem é saber se as palavras realmente dizem as


coisas tais como são? Se descrevem e explicam verdadeiramente a realidade?

- Relação binária da linguagem: signo verbal <-> coisa indicada (realidade) ou


signo verbal <-> idéia, conceito e valor (pensamento).

- A linguagem refere-se ao mundo através das significações e por isso podemos relacionar-nos
com a realidade através das palavras. A linguagem relaciona-se com sentidos já existentes e
cria sentidos novos e por isso podemos relacionar-nos com o pensamento através das
palavras. A linguagem exprime e descobre significados e por isso podemos nos comunicar e
nos relacionar com os outros. A linguagem tem o poder de suscitar significações, de evocar
recordações, de imaginar o novo e o inexistente, por isso a literatura é possível.

- A palavra têm sentido e cria sentido. Como escreve Merleau-Ponty: “A palavra, longe de ser
um simples signo dos objetos e das significações, habita as coisas e veicula significações.
Naquele que fala, a palavra não traduz um pensamento já feito, mas o realiza. E aquele que
escuta recebe, pela palavra, o próprio pensamento.”

- A linguagem simbólica opera por analogias (semelhanças entre palavras e sons, entre
palavras e coisas) e por metáforas, realizando-se principalmente pela imaginação. A
linguagem conceitual procura evitar a analogia e a metáfora, esforçando-se para da às
palavras um sentido direto e não figurativo, operando de forma conotativa, mas sem ser
imaginativa.

- A linguagem simbólica é fortemente emotiva e afetiva, oferece sínteses imediatas, oferece


palavras polissêmicas e carregadas de múltiplos sentidos simultâneos e diferentes, leva-nos
para dentro dela em seu apelo emotivo e afetivo, nos permite conhecer o mundo criando outro
análogo ao nosso, privilegia a memória e a imaginação.

- A linguagem conceitual procura falar das emoções e afetos sem se confundir com eles e sem
se realizar por meio deles; procede por desconstrução analítica e reconstrução sintética dos
objetos; procura diminuir ao máximo a polissemia e a conotação buscando o sentido próprio
de cada palavra; busca convencer-nos e persuadir-nos por meio de argumentos e raciocínio;
busca dizer o nosso mundo, decifrando seu sentido e ultrapassando sua aparência; busca dizer
nosso presente, fala do necessário, determinando suas causas ou motivos e razões.
25

- A linguagem é constituída por fatores: físicos, socioculturais, psicológicos e lingüísticos.

- De acordo com a Fenomenologia a linguagem não é um mecanismo psicomotor (físico e


psicológico). A linguagem não é simples relação binária entre signo e coisas, signo e ideia,
mas é uma relação ternária, na qual os signos são símbolos que vinculam significações. A
linguagem não traduz pensamento, mas participa ativamente da formação e formulação de
idéias e valores. A linguagem é uma forma de nossa experiência total de seres que vivem no
mundo e com outros, é a dimensão de nossa existência. A linguagem, como a percepção e a
imaginação pode ser remédio, veneno e máscara, pode bloquear nosso conhecimento e pode
produzir desconhecimento (mentira e desinformação). A linguagem cria, interpreta e decifra
significações, podendo fazê-lo miticamente ou logicamente, magicamente ou racionalmente,
simbolicamente ou conceitualmente.

Unidade IV: Capítulo 6 – Pensamento.

- O pensamento é o passeio da alma, o pensamento é como o nosso espírito parece sair de


dentro de si mesmo e percorrer o mundo para conhecê-lo. O pensamento é essa curiosa
atividade na qual saímos de nós mesmos sem sairmos de nosso interior. Pensar é a maneira
pela qual sair de si e entrar em si são uma só e mesma coisa, como um vôo sem sair do lugar.

- “Penso, logo existo” de Descartes e “o homem é como um caniço pensante” de Pascal


marcarm o pensar e o pensamento como a própria essência da natureza humana.

- Na origem das palavras “pensamento” e “pensar” descobrimos que procedem de um verbo


latino “pendere” que significa: ficar em suspensão, estar ou ficar pendente ou pendurado,
suspender, pesar, pegar, examinar, avaliar, ponderar, compensar, recompensar, equilibrar.

- Pensar, portanto é suspender o julgamento (até formar uma idéia ou opinião), pesar
(comparar idéias, opiniões), avaliar (julgar o valor de uma idéia como verdadeira ou falsa,
como justa ou injusta). “Pensare” se caracteriza como uma atividade sobre idéias, opiniões,
juízos e pontos de vistas já existentes do que como criação ou produção de uma idéia.

- “Cogitare” significa: considerar atentamente e meditar, vem do verbo “agere” (empurrar


para diante de ri) e também do verbo “agitare” (empurrar para frente com força). Pensar,
enquanto “cogitare” é colocar diante de si alguma coisa para considerá-la com atenção.

- “intelligere” bem de “inter” (entre) e “legere” (colher, reunir as palavras com os olhos),
logo, “intelligere” significa: escolher entre, reunir entre vários, apanhar, aprender,
compreender, ler entre, conhecer e entender.

- Pensar e pensamento sempre significam palavras que exigem atenção: pesar, avaliar,
equilibrar, colocar diante de si para considerar, reunir, colher. O pensamento é uma atividade
pela qual a consciência ou a inteligência coloca algo diante de si para atentamente considerar,
avaliar, pesar, compreender, ler por dentro e entender.

- O pensamento PE a consciência ou a inteligência saindo de si (“passeando”) para ir


colhendo, reunindo os dados oferecidos pela experiência, pela percepção, pela imaginação,
26

pela memória, pela linguagem e voltando a si para considerá-los atentamente, colocá-los


diante de si, observá-los intelectualmente e retirando deles conclusões, formulando idéias,
conceitos, juízos, valores e raciocínios.

- A psicologia costuma definir a inteligência por sua função, considerando-a uma atividade de
adaptação ao ambiente, através do estabelecimento de relações entre meios e fins para a
solução de um problema ou de uma dificuldade. Essa definição concebe a inteligência como
uma atividade eminentemente prática e distingue de duas outras que também possuem
finalidade adaptativa e relacionam meios e fins: instinto (comportamento inato) e hábito
(comportamento automático e adquirido).

- A inteligência difere do instinto e do hábito por sua flexibilidade, pela capacidade de


encontrar novos meios para um novo fim, ou de adaptar meios existentes para uma nova
finalidade, pela possibilidade de enfrentar de maneira diferente situações novas e inventar
novas soluções para elas, pela capacidade de escolher entre vários meios possíveis e entre
vários fins possíveis. Nesse nível prático, a inteligência é capaz de criar instrumentos, de dar
uma função nova e um sentido novo a coisas que já existem, para que sirvam de novos meios
e fins.

- O exercício da inteligência como pensamento é inseparável da linguagem, pois a linguagem


é o que nos permite estabelecer relações, concebê-las e compreendê-las. A inteligência
humana, enquanto atividade mental e de linguagem, pode ser definida como a capacidade para
enfrentar ou colocar diante de si problemas práticos e teóricos, para os quais encontra, elabora
ou concebe soluções, seja pela criação de instrumentos práticos (técnicas), seja pela criação de
significações (idéias e conceitos).

- A inteligência colhe informações da realidade a nossa volta e os converte em conceitos e


juízo de valores pelo raciocínio (indução e dedução), pela análise e síntese.

- Conceito ou uma idéia é uma rede de significações que nos oferece: sentido interno e
essencial daquilo a que se refere; nexos causais ou as relações necessárias entre seus
elementos. O conceito ou idéia nos oferece a essência-significação necessária de alguma
coisa, sua origem, sua causa, conseqüência, efeito, modo de ser e agir.

- Um conjunto de juízos constitui uma teoria quando: estabelece-se com clareza um campo de
objetivos e procedimentos para conhecê-lo e enunciá-lo; organizam-se e ordenam-se os
conceitos; articulam-se e demonstram-se os juízos, verificando seu acordo com regras e
princípios de racionalidade e demonstração.

- Usar um método é seguir regular e ordenadamente um caminho através do qual uma cerda
finalidade ou certo objetivo é alcançado. No caso do conhecimento, é o caminho ordenado
que o pensamento segue por meio de um conjunto de regras e procedimentos racionais, com
três finalidades: conduzir à descoberta de uma verdade até então desconhecida, permitir a
demonstração e a prova de uma verdade já conhecida, permitir a verificação de
conhecimentos para averiguar se são ou não verdadeiros.

- Platão considerava que o melhor caminho para o conhecimento verdadeiro era o que
permitia ao pensamento libertar-se do conhecimento sensível (crenças, opiniões), isto é, das
27

imagens e aparências das coisas. Atribuía esse papel liberador à discussão racional sob a
forma de diálogo (dialética).

- Aristóteles considerou a dialética de Platão inadequada ao pensamento, pois, tal


procedimento lida com meras opiniões prováveis, não oferecendo qualquer garantia de que
tenhamos superado o conflito de opiniões e alcançado a essência verdadeira da coisa
investigada. Por esse motivo, definiu o procedimento filosófico-científico como um método
demonstrativo que se realiza por meio de silogismos. O silogismo é um conjunto de três
juízos ou proposições que permitem obter uma conclusão verdadeira. Trata-0se de um método
dedutivo no qual, de duas premissas deduz-se uma conclusão: (1) Todos os homens são
mortais. (2) Sócrates é homem. (3) Logo, Sócrates é mortal.

- O Sujeito do conhecimento descobre-se como uma consciência que parece não poder contar
com o auxílio do mundo para guiá-lo, desconfia do conhecimento sensível e do conhecimento
herdado. Conta apenas com seu próprio pensamento, isolado com suas percepções, ideias, sua
solidão torna indispensável um método que possa guiar o pensamento em direção ao
conhecimento verdadeiro e distingui-lo do falso. Eis que Descartes escreve o “Discurso do
Método” (delimitando que o método oferece segurança ao pensamento; economiza esforço
inútil; permite alcançar todos os conhecimentos possíveis para o entendimento humano).

- Francis Bacon definiu o método como um modo seguro e certo de aplicar razão à
experiência, de aplicar o pensamento lógico aos dados oferecidos pelo conhecimento sensível.

- A partir da Fenomenologia de Husserl e com o Estruturalismo, considera-se que cada campo


do conhecimento deva ter seu método próprio (diferente de Descartes que buscou um método
que fosse universal), determinado pela natureza do Objeto, pela forma como o Sujeito do
conhecimento pode aproximar-se desse Objeto e pelo conceito de verdade que cada esfera do
conhecimento define para si própria.

- Método dedutivo (Objetos que existem idealmente em nosso pensamento); indutivo (próprio
das ciências naturais que observam seu Objeto e realizam experimentos); compreensão e
interpretação (analisa o ser histórico-cultural que produz instituições e o sentido delas);
axiomático (das ciências exatas); experimental e hipotético (das ciências naturais, baseando-se
na experimentação e observação); compreensivo-interpretativo (das ciências humanas, tendo
como Objetivo as significações ou sentidos do comportamento e práticas produzidas pelo ser
humano).

- Dentro da filosofia encontramos vários métodos, mas todos possuem em comum os


seguintes traços: reflexivo (auto-análise e autoconhecimento do pensamento); crítico
(investiga os fundamentos e as condições da possibilidade do conhecimento); descritivo
(descreve a essência de cada campo); interpretativo (busca forma da linguagem e
significações ou os sentidos dos objetos).

- Atualmente observa-se que o pensamento mítico pertence ao campo do pensamento


simbólico e da linguagem simbólica, que coexistem com o campo do pensamento e da
linguagem conceitual. A presença simultânea do conceitual e do mítico decorre do modo
como a imaginação social transforma em mito aquilo que o pensamento conceitual elabora
nas ciências e na filosofia.
28

- Para Lévi-Strauss o mito e o rito não são lendas nem fabulações, mas uma organização da
realidade a partir da experiência sensível enquanto tal. O mito reúne elementos heterogêneos,
fazendo-os agirem um sobre o outro, organiza a realidade através de um sentido análogo e
metafórico e estabelece a relação entre o Ser natural e o Ser humano.

- O mito possui uma função explicativa (o presente é explicado por alguma ação passada cujo
efeito perdura no tempo); função organizadora (o mito organiza as relações sociais de modo a
legitimar e garantir a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões);
função compensatória (o mito narra uma situação passada, que é a negação do presente e
serve tanto para compensar os humanos de alguma perda como para garantir-lhes que um erro
passado foi corrigido no presente, de modo a oferecer uma visão estabilizada e regularizada
da natureza e da vida social).

- Diferente do pensamento mítico, há o pensamento conceitual que promove uma articulação


lógica entre os elementos heterogêneos. Um conceito ou idéia não é uma imagem nem um
símbolo, mas uma descrição e uma explicação da essência ou natureza da própria coisa. Um
conceito ou idéia não são substitutos (metafóricos ou análogos) para as coisas, mas a
compreensão intelectual delas. Um conceito ou idéia não são formas de participação ou de
relação do nosso espírito com outra realidade, mas resultado de uma análise ou de uma síntese
dos dados da realidade ou do próprio pensamento. Um juízo e um raciocínio não permanecem
no nível da experiência, nem organizam a experiência nela mesma, mas a sintetizam em
relações racionais que a tornam compreensível do ponto de vista lógico. Um juízo e um
raciocínio buscam as causas universais e necessárias pelas quais uma realidade é tal como é.
Um juízo e um raciocínio estudam e investigam a diferença entre nossas vivências subjetivas,
pessoas e coletivas e os conhecimentos gerais e objetivos. O pensamento lógico submete seus
procedimentos a métodos, regras de verificação e de generalização dos conhecimentos
adquiridos de modo que um conhecimento novo não pode simplesmente acrescentar-se ao
anterior, mas só se junto a ele se obedecer a certas regras e princípios intelectuais.

- O pensamento lógico opera de acordo com princípios de identidade, contradição, terceiro


excluído, razão eficiente, causalidade. Pensamento cosmogônico narra a origem da natureza
através de genealogias divinas. O pensamento cosmológico explicava a origem da natureza
pela existência de um ou mais elementos naturais (terra, fogo, ar, água) que, por sua força
interna natural, se transformavam, dando origem a todas as coisas e homens.

- Para Aristóteles existem 4 causas principais que geram o movimento (mudança qualitativa,
quantitativa, locativa e geração). A Causa material é a matéria de que alguma coisa é feita
(madeira). A Causa formal é a forma que alguma coisa possui e que a individualiza e a
diferencia das outras (a madeira transformada em mesa). Causa motriz ou eficiente é aquilo
que faz uma matéria receber uma forma determinada (o artesão que transforma madeira em
mesa). Causa final é o motivo ou finalidade para a qual a coisa existe, se transforma e se
realiza (qual a finalidade de ter transformado a madeira em mesa).
29

Unidade IV: Capítulo 7 – Consciência pode conhecer tudo?

- Copérnico provou que a Terra não estava no centro do Universo e que o homem não era o
centro do mundo. Darwin provou que o homem descende de um primata, que são apenas um
elo na evolução das espécies. Freud mostrou que a consciência é a menor parte e a mais fraca
de nossa vida psíquica.

- Freud criou a análise da vida psíquica, ou Psicanálise, cujo objetivo central era o estudo do
inconsciente e cuja finalidade era a cura de neuroses e psicoses, tendo como método a
interpretação e como instrumento a linguagem (verbal e corporal).

- Para Freud a vida psíquica se divide em. Id (“localizado” no inconsciente) que é formado
por impulsos orgânicos, instintos e desejos inconscientes, o que foi chamado de “pulsão”.
Estas são regidas pelo princípio do prazer que exige satisfação imediata. O Id é a energia dos
instintos e dos desejos em busca da realização desse princípio do prazer, é a libido, é a pulsão
sexual, a sexualidade que busca por encontrar a satisfação na totalidade do corpo. Para Freud
a sexualidade possui 3 fases que se dividem entre os primeiros meses de vida até os 6 anos:
fase oral (quando o desejo e o prazer se localizam na boca e na ingestão de alimentos), fase
anal (quando o desejo se localiza nas excreções e fezes, onde o se sujar é o objeto do prazer),
e a fase fálica ou genital (quando o desejo se localiza no órgão genital, é aqui que surge o
“complexo de Édipo”).

- Super-ego (“localizado” no inconsciente) é a censura das pulsões que a sociedade e a cultura


impõem ao Id, impedindo-o de satisfazer plenamente seus instintos e desejos. É a repressão,
particularmente a sexual, manifestando-se indiretamente à consciência como moral, como um
conjunto de interdições e deveres que estabelecem o “Eu ideal” a pessoa de boa e virtuosa
moral. O Super-ego desenvolve-se entre os 6 e 7 anos até o início da adolescência (período
considerado como período de latência). Nesse período se forma a personalidade moral e social
de maneira que quando a sexualidade voltar a surgir, ela virá sob a tutela do Super-ego.

- Ego (“localizado” na consciência) é a angústia de se viver entre o imoral e destrutivo Id, o


controlador moral e social do Super-ego e a grandiosa realidade. O Ego-eu, à consciência,
possui uma dupla função: recalcar o Id, satisfazendo o Super-ego, e satisfazer o Id, limitando
o poderio do Super-ego. A vida consciente normal é o equilíbrio encontrado pela consciência
para realizar sua dupla função. A loucura (neurose e psicose) é a incapacidade do ego para
realizar sua dupla função, seja porque o Id ou o Super-ego são excessivamente fortes, ou o
Ego que é fraco.

- Acredita-se que a consciência possua dois níveis: nível do conteúdo manifesto (o que é
pronunciado, esquecido, o imaginário consciente) e o conteúdo latente (que é o conteúdo
inconsciente real e oculto, os desejos sexuais).

- Para Freud na Sublimação os desejos inconscientes são transformados em outra coisa,


exprimem pela criação de outra coisa: as obras de arte, a filosofia, a técnica. É pela realização
das obras e coisas afins que o sublime de forma em corpo. Porém, assim como a loucura é a
impossibilidade do ego para realizar sua dupla função, a Sublimação pode não ser alcançada
e, desta forma, surge uma “perversão social” ou coletiva, uma loucura social ou coletiva
(nazismo é um exemplo de perversão coletiva).
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- Feuerbach afirma que quando o homem buscou a explicação de sua origem e a finalidade do
mundo, este acabou por se projetar fora de si um ser superior dotado das qualidades que
julgava serem as melhores (inteligência, vontade livre, bondade, justiça, beleza), mas as
fazem surgir de forma superlativa (tornando o esse ser algo divino, onisciente e onipresente).
Pouco a pouco, os humanos se esquecem que foram os criadores desse ser e passam a
acreditar no inverso, que esse ser foi quem os criou e os governa. Passam a adorá-lo, prestar-
lhe culto e a temê-lo, não se reconhecem nesse Outro, que lhe é superior. Os homens se
alienam.

- Alienação é o fenômeno pelo qual o homem cria ou produz alguma coisa, dá independência
a essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma, deixam-se governar por ela
como se ela tivesse poder em si e por si mesma.

- Marx desenvolveu a “alienação social” buscando compreender as causas pelas quais o


homem ignora que é criador da sociedade, da política, da cultura e um agente histórico.
Buscou compreender por que o homem acredita que a sociedade não foi instituída por ele,
mas por vontade e obra de Deus, da Natureza ou da Razão, ao invés de perceber que ele
próprio, em condições históricas determinadas, criou tais instituições sociais.

- A partir desse pensamento Marx estipulou a construção da instituição humana da seguinte


forma. Na luta pela sobrevivência o homem se agrupou para melhor explorar a natureza
através da divisão de tarefa, a partir dessa divisão surgiu a primeira instituição: a família. As
famílias passaram a viver, a trabalhar e trocar produtos entre si, surge assim a segunda
instituição: a troca, o comércio que possibilita o enriquecimento de alguns e o
empobrecimento de outros. Surge a terceira instituição: o trabalho servil. Com uma
demarcação econômica estabelecida, surge a necessidade para uma demarcação política que
legitime a posição de determina família, surge a quarta instituição: o poder político, de onde
virá o Estado e com ele vem a quinta instituição: a religião como uma forma de manutenção
social. E para manter a ordem surge a sexta e última instituição para a manutenção da divisão
e da ordem: a guerra.

- Para Marx alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas


em que vivemos, produzidas pela ação humana igualmente limitada. Há uma dupla alienação:
de um lado, o homem não se reconhece como agente, como autor da vida social com suas
instituições, mas por outro lado e ao mesmo tempo, julga-se indivíduo plenamente livre,
capaz de mudar sua vida individual quando e como quiser, apesar da instituição social e
histórica. No primeiro momento não percebe que institui a sociedade e no segundo momento
ignora que a sociedade instituída determina seu pensamento e ação.

- Formas de alienação. Alienação social na qual o homem não se reconhece como produtor da
instituição sociopolítica e oscila entre duas atitudes: aceita passivamente tudo que existe ou se
rebela individualmente. Alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem como
produtores, nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Alienação intelectual
é resultante da separação social entre trabalho material (o que produz através da habilidade
manual as mercadorias) e o trabalho intelectual (o que produz através do conhecimento as
idéias), a alienação intelectual se divide entre: os que esquecem ou ignoram que suas ideias
estão ligadas às opiniões da classe a que pertencem e mesmo assim buscam aplicá-las a um
31

modelo universal e válido a todos; aqueles que esquecem ou ignoram que as idéias são
produzidas por eles e passam a acreditar que elas se encontram gravadas na realidade;
esquecem ou ignoram a origem social das idéias e seu próprio trabalho para criá-las,
acreditam que as idéias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam.

- O senso comum e social é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a realidade feita
pelos pensadores da sociedade que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista
da classe a que pertencem. Esta elaboração intelectual incorporada pelo senso comum é a
“ideologia”. A principal função da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e
políticas, dar-lhes aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos.

- Como procede a ideologia para obter esse fantástico resultado? Em primeiro, opera por
inversão, coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estas últimas em efeitos. Ela
opera como o inconsciente: este fabrica imagens e sintomas; aquela fabrica idéias e falsas
causalidades. A segunda maneira de operar de ideologia é a produção do imaginário social
através da imaginação reprodutora da realidade e das normas e regras de conduta
comportamental. A terceira é pelo silêncio, um imaginário social se parece com uma frase
onde nem tudo é dito, nem tudo pode ser dito, porque se tudo fosse dito a frase perderia
acoerência.

- Diz que a ideologia se assemelha ao inconsciente freudiano. Devido ao fato de que adotamos
crenças, opiniões e idéias sem saber de onde vieram, sem prensar em suas causas e motivos,
sem avaliar se são ou não coerentes e verdadeiras. Ideologia e inconsciente operam através da
imaginação e do silencia, realizando-se indiretamente perante a consciência. O inconsciente e
a ideologia não são deliberações voluntárias. O inconsciente precisa de imagens, sonhos, atos
falhos, sintomas e sublimação para manifestar-se e ao mesmo tempo esconder-se da
consciência, já a ideologia precisa das idéias-imagens, da inversão de cauãs e efeitos, do
silêncio para manifestar os interesses de uma classe, e esconde-los das demais.
32

Introdução ao Pensamento Filosófico.

Capítulo 1: Aproximação à Filosofia. Agostinho José Soares.

O que é Filosofia?

- “Um movimento filosófico só merece este nome na medida em que ... no trabalho de
elaboração de um pensamento superior ao senso comum e cientificamente coerente, jamais se
esquece de pensar em contato com os ‘simples’ e, melhor dizendo, encontra nesse contato a
fonte dos problemas que devem ser estudados e resolvidos...” Antonio Gramsci.

- A filosofia pode ser: orientação aos princípios e normas que regem uma entidade sócio-
política, religiosa ou cultural. Um estudo para assuntos abstratos, aquilo que não pode ser
percebido pelos sentidos e que não é concreto. Uma ida ao Objeto que se busca conhecer e
refletir sobre sua essência, o que tornaria a filosofia um método, um instrumento, como
técnica. Refletir sobre a totalidade das coisas a partir de problemas nosso, individual e
coletivamente, problemas que englobam o Ser como um todo.

- O que tem sido filosofar no Brasil? Devido ao pensamento colonial o pensamento que se
segue no Brasil é uma filosofia mimética, de uma história da filosofia mais do que uma
filosofia brasileira que pense sua realidade. Aqui, pela história social e política se evita esse
pensar a realidade e os problemas de transformação que podem vir em decorrência desse ato.
Logo, se pensa uma filosofia estranha e estrangeira, geográfica (vindo de outro país) e
temporalmente (vinda de outro tempo).

- A filosofia já no seu começo, na antiguidade grega, preocupava-se com os princípios


primeiros de nossa existência e da realidade total. O refletir do homem sobre essas questões o
tornava “filósofo”, amigo do saber. “Esgota-se a realidade no transcorrer do tempo ou
permanece alfo ale, do fluxo temporal? É real isso que vem-a-ser ou isso que é?Esconde-se
aqui a existência profunda do porque da vida” Michele Federico Sciacca.

- Para Paulo Freire “uma das características do homem é que somente ele é homem. Somente
ele é capaz de tomar distancia frente ao mundo. Objetivando ou admirando os homens são
capazes de agir sobre a realidade objetivada. É precisamente isto a ‘práxis humana’, a
unidade indissolúvel entre minha ação e minha reflexão sobre o mundo”

Reflexão filosófica: criticidade, radicalidade e totalidade.

- “A filosofia é uma atividade humana indispensável, visto que a essência da coisa, a


estrutura da realidade... não se manifesta direta e indiretamente. Nesse sentido, a filosofia
pode ser caracterizada como um esforço sistemático e crítico que visa captar a coisa em si, a
estrutura oculta da coisa, descobrir o modo de ser do existente”. Karel Kosik

- Em outras palavras, todo filosofar, como processo, tem origem no senso comum e se dirige a
uma filosofia, e contrariamente, toda filosofia tende a se tornar senso comum de um ambiente,
ainda que restrito.

- Uma das características da filosofia é a crítica. Criticar é ter o cuidado de saber estabelecer
critérios. Ter critério é possuir uma norma para decidir o que é verdadeiro ou falso, o que se
33

deve ou não fazer. Criticar seria estabelecer critérios nos quais o objeto do conhecimento se
coloque em ponto de crise para, então, poder divisá-lo como afirmação e negação.

- Outra característica da filosofia é a Radicalidade. A reflexão filosófica deve buscar as


origens da questão estudada, é necessário que essa reflexão seja radical, ou seja, que ela
busque a raiz, a origem, os fundamentos. A reflexão filosófica é como uma raiz de uma planta
que busca a origem na profundidade.

- “Outra das idéias categóricas que distinguem a consciência superior da realidade é o


atributo da totalidade. Queremos com esta noção designar o caráter próprio dessa
consciência de considerar sempre o real como multiplicidade interiormente estruturada”.
Álvaro Vieira Pinto

- Se o real deve ser considerado estruturalmente como uma multiplicidade, não podemos
abstrair aspectos da realidade, não podemos fazer cortes no real para compreendê-lo e sim
devemos mantê-lo no contexto próprio que possibilite a compreensão das relações existentes.
A filosofia está interessada na reflexão sobre a totalidade, e a abrangência de suas questões
transcende o científico.

- Então quando é que fazemos filosofia ou quando é que fazemos uma reflexão filosófica?
Será quando a nossa reflexão for radical (buscar a origem do problema), crítica (colocar o
Objeto do conhecimento em um ponto de crise) e total (inserir o objeto de nossa reflexão no
contexto do qual é conteúdo).

Filosofia e Ideologia

- Em sua origem a ideologia (de acordo com Antonio Destutt Tracy, o primeiro a formular tal
conceito) é o verdadeiro método de conhecimento do homem, limitando-se a indicar as
origens, os limites e o grau de exatidão desse conhecimento. Como o conhecimento se realiza
por meio de ideias, a ciência fundamental deverá ser a ciência das idéias.

- Dentro da visão marxista, que á a visão que utiliza-se dentro da filosofia a ideologia é antes
de mais nada um instrumento de dominação que é utilizado para que seja mantida a
dominação. Portanto, só é possível existir dominação onde exista classes sociais antagônicas
(exemplo dos índios), onde classes possuam ou não os meios técnicos e coletivos de
produção. A classe dominante utiliza os meios possíveis e disponíveis (moral, jurídico,
pedagógico, religioso, ...) para que esta dominação aconteça e permaneça. Entretanto, essa
dominação se faz de forma “não-violenta”, isto é, toda a violência da opressão de uma classe
sobre a outra não poderia aparecer, pois geraria revolta. Por esse motivo a ideologia carrega
um caráter dissimulador que impede que a classe oprimida identifique o aspecto violento da
dominação. A idéia de igualdade dos homens perante a justiça é um universal ideológico, que
permite à classe dominante manter a opressão sobre outra classe que acredita na justiça que
foi criada e serve os dominadores. Desta forma, a ideologia necessita de “lacunas” para
sobreviver, espaços não-preenchidos entre a prática ideológica e a referencia cultural (idéia)
que a justifica. A partir do momento que esses espaços são preenchidos a coerência entre a
idéia e a prática desaparece.
34

Capítulo 2: Correntes filosóficas contemporâneas. Carlos Bussola, Aloísio Krohling,


Karel Frans Van Den Bergen, Adwalter Antonio Carnielli.

Humanismo e as idéias da Renascença

- Humanismo (1400-1509) promove uma redescoberta de valores da razão e do sentimento


humano firmados mediante o trabalho e dinheiro ganho, permitindo que o homem se torne
independente do poder do Imperador e do Papa.

- Se descobre na Renascença que com a pesquisa, trabalho e dinheiro pode-se chegar ao poder
detido pelo Imperador e Papa. E esse novo modo de ver os domínios da natureza, como algo
que pode ser pesquisado e explorado ao máximo, levou o homem da Renascença a concluir
que a ciência só pode ser experimental, empírica, portanto, ela não possui valor metafísico,
isto é: ela não leva nem a conclusões filosóficas nem teológicas, ela é o que é: experimental,
empírica, provisória, imediata. Abre-se a porta ao imanentismo (sistema de pensamento
fundado sobre a imanência, que é uma filosofia que sustenta que a causa do universo é
intrínseca ao próprio universo; a transcendência coloca a causa do universo em Algo que está
fora dele).

- Forma-se uma mentalidade imanentista que podemos traduzir como segue: Deus está no
mundo; na matéria; este mundo é Deus; ou ainda: eu sou Deus; não há outro Deus lá em cima
ou aqui em baixo. Nisto se resume quer o pensamento idealista, que o positivista, materialista,
existencialista da contemporaneidade.

- Leonardo DaVinci foi um dos primeiros a questionar a autoridade religiosa e civil no campo
científico, com efeito ele reconhecia apenas uma autoridade: a pesquisa.

Idealismo

- Conhecer é aperceber-se de algo que existe fora de nós e enquadrá-lo numa idéia que de
antemão possuímos. É nesse processo que se insere o idealismo. Idealismos é a doutrina
filosófica que na sua aproximação da realidade, coloca em primeiro lugar, o conhecimento
desta realidade, ou seja, o modo como se processa esse conhecimento na consciência de quem
conhecer e somente em segundo lugar a realidade que é conhecida.

- No conhecimento o realismos salienta, em primeiro lugar, a caneta real, quanto que o


idealismo a idéia de caneta.

- Pitágoras insere o conceito de mundo sensível e mundo inteligível, entendendo por mundo
sensível o mundo das coisas reais percebidas pelos sentidos e por mundo inteligível tudo
aquilo que é percebido pela inteligência. Platão aceita essa divisão, completando-a com a
teoria das idéias ou essências eternas e imutáveis que se refletem no mundo cambiante dos
fenômenos.

- Aristóteles em “Tratado da Alma” distingue dois tipos de conhecimento: um vem do exterior


pelas sensações e o outro se realiza pelo interior pelo pensamento e reflexão. Na formação co
pensamento ele admite 3 operações fundamentais: a sensação, a imaginação e a concepção, e
prova categoricamente que a imaginação não é nem sensação nem concepção. Corrigindo
Pitágoras e Platão, afirma que a imaginação e a concepção não devem ser confundidas, que o
35

mundo inteligível só existe dentro de nós, em nosso pensamento, presentificando-se mediante


imagens criadas pelo intelecto a partir de elemento do mundo exterior que transmitido pelos
sentidos. Este mundo inteligível consta de imagens simples ou compostas, formadas a partir
de diferentes graus de abstração.

- O conceito de “imperativo categórico” de Kant é o reflexo da Realidade Universal espiritual


(mundo inteligível), como se fosse o eco do Absoluto que ressoa dentro do homem.

- Kant afirma que o estudo crítico do funcionamento do funcionamento do intelecto (razão)


independentemente de seu conteúdo cognitivo é puro. Na “Crítica da razão pura” Kant afirma
que a realidade objetiva realmente existe fora do sujeito cognoscente (espírito), mas uma
grande parte de cada objeto conhecido é criado pelas nossas formas de percepção e
compreensão, ou seja: conhecemos o objeto que está lá fora, não em seu ser íntimo, e sim
como ele é transformado em idéia dentro de nós. O que ele é, antes de ser transformado em
idéia por nós, é impossível saber.

- Não há conhecimento sem a operação do intelecto, sem a idéia que é o resultado da operação
do intelecto. Ora, essa idéia é muito mais importante, para mim, do que a realidade que ela
representa, pois, para o meu conhecimento, a realidade depende da idéia que dela faço. E
desta forma Kant estabelece a base do idealismo moderno.

- Fichte parte da teorização do eu puro e chega a um idealismo subjetivo concebendo o


mundo, a natureza e os seres como criação inconsciente do eu puro. Entre as muitas
realidades, o Estado é a suprema realização do eu puro; portanto acima do Estado não existe
nada, nem Deus. Aliás, Fichte concebe Deus como algo exclusivamente identificado com a
ordem real do mundo objetivo.

- Schelling, como um idealista, identifica a realidade universal com o eu absoluto, numa


forma romântica e mística, encontramo-nos num idealismo objetivo em que o sujeito
cognoscente (espírito) e mundo objetivo (natureza) são a mesma coisa, constituindo uma
identidade que é a realidade absoluta.

- Hegel afirma que o absoluto não é o sujeito separado do objeto, como entendia Schelling,
mas a síntese dialética do sujeito (pensamento) e do objeto (ser). Se a essência da realidade é
a razão, então a razão é a realidade, ou seja, se o real é racional, então o racional é real. Logo,
Hegel entende que a idéia é cheia de conteúdo: é a idéia do real, E para provar que essa
síntese constitui o Absoluto (o Deus hegeliano) Hegel formulou a lógica, que é uma análise
não do método de raciocinar, mas dos conceitos empregados no raciocínio (as categorias
estipuladas por Kant).

- Segundo a lógica hegeliana o mundo real é essencialmente um mundo potencial, em


contínua mudança, e portanto um mundo aberto para o infinito, pois não á limites para a
potencialidade. Se a experiência de Kant (quando se refere à realidade do agora) é limitada, a
de Hegel (quando se refere à potencialidade absoluta) é infinita.

- Processo dialético de Hegel, temos o modo de ser do agora (tese); o possível modo de ser
diferente (antítese); o real e novo modo de ser do amanha (síntese). São as 3 fase do processo
dialético: a ideia em si (tese); a idéia fora de si no mundo e na natureza (antítese); a idéia por
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si, produto desta evolução: o espírito (síntese). Mas essa síntese não representa o processo
evolutivo final, pois o processo é cíclico e infinito. Ou seja, a tese á a afirmação, a antítese é a
negação da primeira, e a síntese é o resultado da dialética do sim e do não, isto é, dos
contrários.

- O espírito se apresenta num tríplice aspecto: o espírito subjetivo que é o indivíduo, a pessoa
humana. O espírito objetivo que é a sociedade. E o espírito absoluto que é a idéia universal, o
Deus hegeliano. Dentro dessa linha de pensamento é certo falar em processo de governo
absoluto, em estado absolutista.

- O que é idealismo? É uma doutrina filosófica que afirma que somente podemos conhecer
com certeza nossas idéias, ou seja, o mundo interior da nossa consciência, o mundo da
subjetividade.

Materialismo

- Para o idealismo a mesa não é real, mas uma cópia ou representação da ideia original de
mesa. Primeiro vem a idéia, depois a concretização, A concepção das idéias precede sua
realização concreta. Já a corrente do materialismo defende a matéria, o real, como prioritário.

- Materialismo antigo. Jônicos afirmavam que o fenômeno precisa, antes de tudo, ser
explicado pela observação da própria realidade, isto é, a matéria, o centro ou a substancia de
tudo. A escola de Mileto (Thales, Anaximandro e Anaxímenes) ensinava que os elementos
(água, terra, ar, fogo) eram os componentes primários de todos os fenômenos da natureza.
Heráclito afirma que não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, estabelecendo uma visão
dialética da natureza. Aristóteles busca uma conciliação entre o Materialismo antigo e o
idealismo, criando a escola realista (“nada entra na mente humana se não passar primeiro
pelos cinco sentidos”.

- Empirismo inglês ou materialismo clássico. Contexto histórico: Renascimento, nova


concepção de natureza, heliocêntrismo, a ciência fundada na razão e experiência, exploração
das colônias, mercantilismo, Estados Nacionais, Reforma Protestante, fim do Império
Medieval, empirismo e racionalismo, a filosofia sai de uma ciência do ser (ontologia) e se
torna ciência do pensar e do conhecer (gnosiologia).

- Francis Bacon baseia todo conhecimento no método experimental, a fonte de todo


conhecimento. Acentua o método indutivo, que parte do particular e do contingente para se
chegar ao universal e para tal devemos, primeiramente, nos libertar dos 4 ídolos 1 para depois
observar e partir para a experimentação (parte construtiva).

- Thomas Hobbes. Fundamenta-se na física de Galileu, afirmando que tudo no universo


sucede naturalmente, segundo leis naturais e a alma não existe. A realidade é apenas corpórea,
e o movimento explica as mudanças da natureza. A sensação é a origem de todo o

1
Ídolo da Caverna (opiniões que se formam em nós por erros e defeitos de nossos sentidos). Ídolos do Fórum
(opiniões que se formam em nós como conseqüência da linguagem e de nossas relações com os outros). Ídolos
do Teatro (são opiniões formadas em nós em decorrência dos poderes das autoridades que impõem seus pontos
de vistas os transformando em decretos e leis inquestionáveis). Ídolos da Tribo (são as opiniões que se formam
em nós em decorrência de nossa natureza humana, são ídolos próprios da espécie humana e só podem ser
vencidos se houver uma reforma na própria natureza humana)
37

conhecimento e dela derivam as formas e a própria razão. “O homem é lobo do próprio


homem”.

- Locke. Luta contra o idealismo e a vertente das idéias inatas, afirmando que a verdade nasce
do método experimental, onde as únicas formas de experimentar seriam a sensação e a
reflexão.

- David Hume. Afirma que o mundo é um feixe de percepção e a religião é produto da


superstição e magia.

- Materialismo histórico-dialético promulgado por Marx e Engels. Em primeiro lugar vem a


natureza, depois o homem que a transforma pelo trabalho. Marx afirma que não é a
consciência dos homens que determina seu ser, mas ao contrário, é o ser social que determina
sua consciência. O materialismo histórico afirma que o primeiro fato histórico é a produção.
A consciência é produto das condições históricas e socioeconômicas.

- O materialismo dialético aceita a evolução, mas entendida como mudanças quantitativas que
se acumulam e criam função interna, rompendo o equilíbrio e trazendo mudanças qualitativas.
Nada evolui sem conflito interno e não existe nada estático ou fixo. Tudo esta sujeito a uma
evolução dialética.

- Divisão de trabalho provida por Marx.

- Lefébre afirma que devemos reconhecer a Hegel este mérito: ter produzido a noção de
práxis. Nele tudo nasce da práxis, tudo é produzido pela prática teórica, todos os momentos da
sociedade civil e política. Também a história é produção e produzida. E se para Hegel o
conhecimento é o elemento teórico dominante da prática, é precisamente assim que se define
o conceito de prática teórica.

- Para Marx não há história sem historicidade. Existe a história da natureza e a história do
homem que estão intimamente entrelaçadas. E se percebe o que é o indivíduo a partir das
condições materiais de sua produção.

- A produção dos bens materiais é a causa da evolução social. As forças produtivas são
conjunto dos meios de produção criados pela sociedade e os homens que produzem os bens
materiais. Em contato com a natureza, o homem procura tirar dela o que lhe é útil. O homem
(tese) nega a natureza (antítese) e a transforma com os objetos de trabalho (ferramentas ou
instrumentos). Assim, as forças produtivas são objetos de trabalho e os instrumentos usados
pelo homem, que são os meios de produção. O homem, através do seu trabalho criador,
transforma a natureza dialeticamente, tornando-a cultura e história.

- Conceito de Modo de produção (Marx) é um conceito teórico, uma totalidade social,


formada pela estrutura econômica, jurídico-política (Estado) e pela estrutura ideológica. O
fator econômico é determinante. E se o modo de produção é uma totalidade social abstrata, o
conceito de formação social é uma totalidade social concreta historicamente determinada.

- Para Marx, a história da sociedade á a historia do desenvolvimento da produção e das


relações de produção (os que produzem, os que vendem, os que consomem dentro de uma
relação entre patrão e empregado).
38

- Na obra “A origem do capital e a acumulação primitiva” Marx afirma que o “dinheiro


converte-se em capital, o capital em fonte de mais-valia, e a mais-valia transformas-se em
capital adicional... A ordem econômica capitalista saiu das entranhas da ordem econômica
feudal. A dissolução de uma produziu os elementos constitutivos de outra”.

- A produção é social, mas a apropriação dos produtos pertence aos donos dos meios de
produção e é privada. Aí aparece o lucro e a concorrência capitalista.

Positivismo

- Nascido a partir de uma reação ao Idealismo de Hegel, buscou uma exigência e um maior
respeito para com a experiência e os dados positivos. Augusto Comte (1798-7857) iniciou
uma campanha contra a filosofia e propôs, como seu substituto, uma coletânea de ciências
cuja ramificação deveria esgotar todo saber humano. Seu lema era: nada de pura especulação,
e sim sistematização e metodologia das ciências. Com isso promoveu uma catalogação de
todas os fenômenos investigando-lhes as cauãs e descobrindo-lhes leis,

- Para Comte a história da civilização pode ser dividida em três grandes fases ou épocas. A
primeira, a Fase Teológica ou mitológica, da antiguidade, em que domina a fantasia do povo e
os mitos; ela se apresenta como uma fase de maior abstração e menos complexidade, pois nela
não existem as divisões e subdivisões das ciências modernas, tudo é explicado abstratamente
mediante uma mitologia religiosa.

- Segunda, Fase Metafísica, da Idade Média quando o pensamento abstrato é reduzido ao


domínio da filosofia. A filosofia que surge numa tentativa de explicar racionalmente, portanto
abstratamente, o mundo e os fenômenos.

- Terceira, Fase Positiva, dos tempos modernos, tudo é explicado com a pesquisa científica e
com leis então descobertas. Positivo é aquilo que é real, que pode ser provado cientificamente.
A ciência se torna uma palavra mágica; é o novo mito que sobrevive até hoje no culto dos
valores matérias, visíveis, tangíveis, com descaso e até desprezo pelos valores invisíveis e
intangíveis.

- Conseqüência do Positivismo de Comte: Democracia Moderna (concepção política em que a


soberania á atribuída ao povo, o qual se manifesta mediante o sufrágio popular onde a
quantidade numérica e material se sobrepõe à qualidade, com efeito, o voto de um analfabeto
vale tanto quanto o de um cientista). Liberalismo (sustenta a liberdade completa do
indivíduo). Socialismo (coloca na atividade econômica o centro da vida humana, e na
produção de bens materiais o fim da sociedade).

- Formação da religião positivista é o culto à humanidade. Nessa religião Deus é o “Grande


Ser”, que é o conjunto de todos os homens passados, presentes e futuros; “O Grande Fetiche”
é a terra, onde vive a humanidade; “O Grande Meio” é o espaço em que os homens e a terra
são colocados. Na religião positivista existia o culto público, privado, pregações, calendário,
missões.

- Princípios do Positivismo: a única fonte da verdade é a experiência; a observação dos fatos é


o começo de toda ciência; o conjunto, a soma de todos esses conhecimentos científicos
constitui a filosofia; pelo fato de nós não podermos conhecer nada além da experiência,
39

qualquer especulação abstrata, qualquer metafísica, em suma qualquer filosofia é-nos


impossível; tudo se reduz ao fenômeno material; esses fenômenos materiais estão
determinados por leus fixas (determinismo); para sairmos desse determinismo, é necessário
conhecer essas leis, é necessária a pesquisa científica, a única que nos permite conhecer as leis
da natureza.

- O Positivismo chegou no Brasil através de Tobias Barreto (1839-1889) e Sílvio Romero


(1815-1914). Com Benjamin Constant (1833-1891) se firma a Escola Positivista do EJ
tomando um aspecto mais prático, interpretando a realidade nacional numa reflexão política e
social com importantes repercussões no campo educacional. Características: oposição à
escravidão e luta abolicionista; aculturação e elevação da raça escrava; republicanismo;
pacifismo; valorização da ordem; incorporação do proletariado na sociedade moderna;
separação do poder temporal e espiritual.

- Como se pode constatar, o Positivismo prende o homem ao domínio do material. Não há


elevação espiritual. Nem mesmo a introdução de uma religião conseguiu espiritualizar o
homem.

Neopositivismo

- “Círculo de Viena” composto por nomes como Bertrand Russel (1872-1970), Ludwing
Wittegenstein (1889-1951), Karl Popper (1902-1994) e outros que fundaram uma sociedade
cuja finalidade era o estudo e o conhecimento científico e seus métodos.

- A doutrina neopositivista possui as características. É verdadeiro somente aquilo que pode ser
verificado pela experiência, pelos sentidos, pela pesquisa, tudo o mais é um enunciado
filosófico. Os princípios lógicos e matemáticos, embora alcançados imediatamente por
intuição, sem a necessidade de verificação científica, são aceitos pelos neopositivistas, sendo
que alguns desses princípios lógicos são: “o todo é maior do que a parte”; “duas quantidades
iguais a uma terceira são iguais entre si”. A ciência começa pela avaliação dos fenômenos e só
poderá ser chamado de científico aquilo que for deles deduzido, logo, a lógica da pesquisa
científica é a indutiva, ou seja, aquela que parte do particular para o universal. A filosofia
tradicional não tem sentido, PIS suas conclusões são abstratas, e portanto desligadas dos
fenômenos particulares da realidade. A nova filosofia, isto é, o neopositivismo deve somente
examinar e esclarecer a linguagem científica para eliminar os falsos problemas e dizer o que é
exprimível ou não na ciência.

- Para alcançar o conhecimento científico os neopositivistas afirmam: a necessidade de uma


declarada atitude antifilosófica e antimetafísica; uma investigação empírica e absoluta; a
expressão das verdade científicas pela linguagem da lógica e da logística; matematização de
todas as ciências.

Existencialismo

- Kierkegaard questiona o que é mais importante a idéia ou o objeto que a torna real? No caso
da humanidade, é mais importante a idéia do homem, ou o homem que realiza esta idéia,
permitindo-lhe em sua existência humana, que a evolua? Para kierkegaard, o que vale, em
primeiro lugar, é o fato de existir: de estar vivo.
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- Há uma direção à existência, à existência daquilo que existe, descuidando propositadamente,


de qualquer noção abstrata. Um conceito que foi levantado pelos seus principais pensadores:
Kierkegaard (1813-1855), Karl Jasper (1883-1969), Heidegger (1899-1855), Gabriel Marcel
(1888-1973), Sartre (1905-1980).

- Com efeito, nós atribuímos existência às coisas, mas na realidade elas existem, saem de seu
modo parado e inverte de ser, somente quando a nossa consciência lhes atribui sentido. De
outra forma elas simplesmente “estão” lá fora. Gabriel Marcel escreveu: “Pensar uma coisa
como existente significa pensar em si próprio como percebendo-a; não se pode falar de
existência salvo a propósito de objetos dados numa relação imediata com uma consciência.

- O que significa existir? Contrariamente àquilo que todos imaginam, existir para os
existencialistas, não é sinônimo de ser. Quando você diz “sou algo” evidencia uma condição
típica de todo Ser. Mas quando diz “estou alguma coisa” (estou realizando agora a condição
de algo), você quer dar a entender que acabou de passar de uma potencialidade para uma
realidade; que você toma consciência que está se realizando como algo. Ou seja, escolhe
existir como algo, um processo de escolha totalmente livre.

- Em primeiro lugar “sou”, mas depois que me aproximar do ideal que escolhi eu “existo”
(estou) como realização dele. Por conseguinte, jamais existirei se eu não escolher, de
antemão, a forma, a modalidade, a essência que pretendo ser. Logo, tal essência é posterior à
existência, pois para escolher é preciso existir.

- O existencialista faz suas próprias regras (morais, sociais e religiosas) e assim não admite
qualquer norma que lhe seja imposta.

Fenomenologia

- Paul Ricoeur determina que a fenomenologia nasceu no momento em que colocando entre
parênteses, provisória ou definitivamente, a questão do ser, trata-se como um problema
autônomo a maneira de aparecer das coisas.

- Conceito de “método fenomenológico”, de acordo com Bochenski, é o processo do


conhecimento especial baseado na contemplação espiritual do objeto.

- Conceito de “voltar para as próprias coisas” em Husserl representa uma revalorização, um


voltar para aquele mundo que precede ao conhecimento do qual o conhecimento fala sempre.

- A fenomenologia não é apenas mais um método, mas outra atmosfera em que as


aproximações entre consciência e realidade se estabelecem. Afastamos do empirismo sem nos
incorporarmos no idealismo neoplatônico ou neokantiano, tampouco nas do psicologismo. A
fenomenologia deu um impulso notável para a compreensão do homem como totalidade.

- É impossível pensar o Sujeito e o mundo como separados um do outro. Assim é apresentada


a palavra “recontre”, por ser impossível haver um encontro sem que alguma coisa seja
encontrada.
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- Numa tentativa de localizar a fenomenologia numa corrente filosófica vê-se que de um lado
há o racionalismo estimulado por Galiei e que se estende até Kant e além dele, e encontramos
o empirismo iniciado por Bacon, desembocando no positivismo e cientificismo.

- O racionalismo tem a pretensão de conseguir elucidar toda a realidade da experiência com a


razão científica. Ele coloca em posição à “doxa” (opinião), a opinião infundada da experiência
pré-científica, a “epistéme” que é o conhecimento científico considerado válido e universal.
Este racionalismo aceita a possibilidade, em princípio, de conhecimento total. O empirismo
por sua vez, deriva todo o conhecimento da experiência dos sentidos. Para ele, nosso
conhecimento não tem influencia sobre o mundo; absorve de modo passivo as estruturas de
uma realidade como existência objetiva. O mundo se descobre diante do sujeito conhecedor
em elementos separados, fatos, que podem ser conhecidos como formas de aparência
encontradas de um mundo encontrado.

- A fenomenologia procura transpassar na sua atitude filosófica a unilateralidade das duas


correntes. Nem racionalismo nem o empirismo, segundo ela, dão conta da realidade plena da
existência humana. Existe uma íntima conexão entre o mundo de nossa experiência e o
homem que vive esta experiência, Para o pensamento fenomenológico não existe mundo sem
sujeito, tampouco sujeito sem mundo. Não é possível pensar o humano independente do
mundo. Não se fecha em si mesmo. É um sair de si mesmo. Conceito de “intencionalidade”.

- Para Husserl o fenômeno esta penetrado de “logos” no pensamento; o “logos” se expõe, mas
só no fenômeno. Só desta maneira que se faz fenomenologia. Pois uma vez que o fenômeno é
acessível a todos, o logos, ou o pensamento racional também o é. Desta maneira chegar-se-ia
a uma filosofia que seria uma ciência rigorosa. Isso representa o conceito de “princípio
principal”.

- Todas as coisas se apresentam, “se dão a nós” como vivências de consciência. Essas
vivências de consciência, porém, não são tratadas como simples fatos psicológicos; mas é
descrita em relação ao seu objeto: toda consciência é consciência de alguma coisa, só é
consciência enquanto dirigida para um objeto; esta “direção” neste contexto chama-se
intenção, a intencionalidade da consciência.

- Trata-se de colocar entre parêntese a realidade tal como é concebida pelo senso comum,
como se existisse independentemente de todo o ato de consciência. “Redução
fenomenológica”. A consciência desta maneira coloca-se como transcendental e condição de
aparição desse mundo e doadora de seu sentido. Em contraposição com Descartes, portanto,
após a devida “redução” não resta apenas o “eu penso”, mas o “eu penso e objeto do
pensamento”.

Estruturalismo

- O estruturalismo parte da observação de que todo conceito, num dado sistema é determinado
por todos os outros conceitos do mesmo sistema, e nada significa por si próprio. O conceito
estrutura só se torna equívoco quando integrado no sistema, na estrutura de que faz parte e
onde tem lugar definido. Estamos, portanto, diante de uma prioridade da estrutura como total
sobre as partes que compõem esse total.
42

- Para os estruturalistas trata-se de alcançar a realidade de esquemas concretos com validade


geral crescente ou através de modelos que dão expressão ou descrição daquela realidade. A
estrutura, portanto, não é uma “abstração”, isto é, um conceito universal derivado de
características puramente individuais, mas um objeto de estudo concreto e autônomo,
abstraído, se quiser, das realidades mais complicadas, e assim, tornado mais acessível para
nós. Uma estrutura é realizada em formas diferenciadas umas das outras.

- O estruturalismo praticamente “fixa” seu objeto, coloca-se como fora do tempo. O sistema
determina os acontecimentos. Essa posição acarreta uma aproximação própria das ciências
humanas em geral, A tendência normal desta maneira de pensar é: diminuição da realidade só
Sujeito humano; tratamento do pensamento como um dado impessoal; valorização do
inconsciente sobre o consciente (o inconsciente seria estruturado como uma espécie de
linguagem objetiva e científica); tratamento da liberdade como uma ilusão.

Filosofia no século XIX no Brasil

- Corrente espiritualista: composta por todos aqueles que combatiam o materialismo


mecanicista que vinha da Alemanha e França e queriam preservar o patrimônio espiritual e
religioso do povo brasileiro. Afirmavam, sem muito conhecimento de causa, a existência de
Deus, a criação do mundo, a imortalidade da alma humana, liberdade da vontade, dos valores
morais e religiosos cristãos, como contraposição à entrada do materialismo evolucionista.

- Corrente positivista: divulgava no Brasil o pensamento de Augusto Comte (1798-1857),


fundador do positivismo francês. Muitos brasileiros se entusiasmaram pelos ideais positivistas
provenientes da França, a tal ponto que se formou dois grupos positivistas: os ortodoxos (que
aceitavam integralmente a doutrina filosófica-religiosa de Comte afirmando que a filosofia e a
religião eram inseparáveis) e os dissidentes (que aceitavam somente a parte filosófica de
Comte afirmando que a filosofia deve e é separada de qualquer religião).

- Corrente materialista: é constituída por aqueles que se deixaram dominar pelas idéias
materialistas francesas e alemãs. Trata-se de um materialismo mecanicista muito divulgado
pela Europa no XIX e para qual tudo se explica pelo movimento, posição e combinação de
partículas que constituem a matéria. Ainda ensina o materialista mecanicista que tudo na
natureza está determinado. Há mais uma ligação com o pensamento do grego Demócrito do
que com Marx e seu materialismo dialético e histórico.

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