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Educação e Sociologia Émile Durkheim

Ronaldo Rodrigues Moises

O objetivo do presente trabalho é estabelecer considerações sobre o percurso


epistemológico que definiu o método sociológico proposto por Émile Durkheim
tomando como principal referência seu período histórico de produção intelectual, virada
dos séculos XIX-XX, focando, principalmente, sua obra Educação e Sociologia1.

David Émile Durkheim nasceu na França em 1858 e faleceu no ano de 1917.


Considerado o criador da sociologia, fundamentou-se na concepção de ciência
positivista de August Comte (1798-1857) para a análise com critérios científicos dos
fenômenos sociais compondo com Karl Marx e Max Weber o tripé basilar da sociologia
clássica.

Durkheim viveu um período histórico de singular efervescência, - a transição do


final do século XIX para o início do século XX. O período apresentou aquecimento e
primeira grande crise do sistema capitalista, grande processo de urbanização, conflitos
entre potências mundiais pela busca de novos mercados, crises econômicas de
dimensões sem precedentes e a primeira guerra mundial que culminaria com a morte de
milhões de pessoas dentre as quais seu filho.

A vivência de momentos críticos da história mundial provocou em Durkheim o


entendimento de que todo o fruto do não desenvolvimento social advém de uma
desordem moral que não se inclina a um sentimento de disciplina e obediência ao
Estado, ou seja, devotamento ao interesse individual em detrimento do coletivo.
Conforme Lucena (2010, p.6), sintetizando o pensamento durkheiminiano sobre
obediência social, - O homem precisa ser disciplinado por uma força superior,
autoritária e amável, isto é, digna de ser amada. Esta força que, ao mesmo tempo impõe-
se e atrai, só pode ser a própria sociedade.
Intelectual de origem liberal francesa, Durkheim teve como foco a investigação
e entendimento da totalidade social como um organismo composto por um coletivo
organizado que, para sua manutenção e constituição, dispunha de mecanismos

1
Durkheim trabalha mais explicitamente seu método científico em “As Regras do Método Sociológico”,
todavia, buscamos nesse trabalho enfatizar a preocupação durkheiminiana com a educação por
compreendermos, assim como o autor, o importante papel que esta possui na formação das diferentes
sociedades em especial das sociedades modernas.
coercitivos que denominou fatos sociais, ou seja, conjunto de regras, normas e valores
de origem externa ao homem.

Durkheim produziu diferentes obras que merecem destaque - Da divisão do


trabalho social (1893), As regras do método sociológico (1895), O Suicídio (1897).
Em sua obra póstuma Educação e sociologia publicada pela primeira vez em 1922, o
autor compreende a educação como recurso, eminentemente, social e de rico potencial
civilizatório definindo-a como:

[...] ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não
estão maturas para a vida social. Ela tem como objetivo suscitar e
desenvolver na criança um certo número de estados físicos,
intelectuais e morais exigidos tanto pelo conjunto da sociedade
política quanto pelo meio específico ao qual ela está destinada em
particular. (DURKHEIM, 2011, p.54).

A assertiva de Durkheim evidencia-nos seu posicionamento sobre o caráter de


legado atribuído às gerações anteriores para aquelas futuras, mediante a educação como
instrumento de solidificação de fatos sociais. Um maior aprofundamento evidencia,
também, a compreensão de evolução histórica observada pelo autor que compreende
que cada período histórico pressupõe uma necessidade educacional que lhe é particular
bem como seus ideais liberais2 ao entender diferentes educações para diferentes funções
sociais.
Outro elemento fortemente observado em sua obra é a concepção de dois seres
ou consciências – o ser individual que se refere a nossas ideias, sentimentos, e o ser
social que representa o coletivo das ideias dos grupos os quais fazemos parte, a saber: as
crenças religiosas, tradições nacionais dentre outras. Em relação ao ser social, Durkheim
dá forte destaque, pois considera (a ciência, a religião, as moralidades e linguagens) o
diferencial condicionante sem o qual o homem não seria humano, mas tão somente
animal.
O entendimento da criança, por parte do autor, como uma tábula quase-rasa
reconhecendo tão somente os legados de ordem biológica reforça bem o quão
importante é a educação no processo de formação do homem enquanto ser social. Seu
posicionamento pedagógico, entretanto, inviabiliza uma proposta de educação
2
Importante aqui frisarmos que ao mesmo tempo que Durkheim concebe diferentes formações para
distintos papéis sociais, critica o individualismo pois o mesmo enfraqueceria a proposta de organização
social através da solidariedade orgânica que estaria ameaçada.
emancipadora e revolucionária reforçando, acima de tudo, a disciplina a serviço do
perfeito funcionamento social. De forte inclinação positivista, matriz epistemológica a
qual seu pensamento em muito se fundamentou, Durkheim reforçava uma perspectiva
dicotômica (corpo e mente) muito presente em governos de posicionamentos ditatoriais
como o nazismo e fascismo, pois, segundo o autor: [...] o pensamento só pode se
desenvolver ao se desprender do movimento, recolhendo-se em si mesmo e desviando o
sujeito da ação exterior para que ele mergulhe por completo em sua própria mente
(p.44).
Esclarecendo sua visão de educação, Durkheim critica Kant e James Mill com
suas visões de perfeição formativa, pois advoga que isso é impossível e inviável em
virtude das diferentes tarefas e papéis sociais com suas necessidades de “homens de
sensação e de ação.”
No desafio de promover uma educação de significativo valor social, fica patente
a necessidade do diálogo da filosofia, da sociologia, da pedagogia (esta amparada na
ciência da educação) e da psicologia, uma vez que compreender as estruturas orgânicas
e a evolução gradual do indivíduo possibilitará maiores possibilidades de êxito ao
educador que tem a obrigação de “governar a atenção da criança”.
A visão de Durkheim sobre a educação também postula a necessidade de
diferenças formativas para que ocorra um adequado funcionamento da máquina social, o
que privilegia o equilíbrio do Estado. Isso nos permite afirmar que sua proposta de
formação humana não advoga a favor de uma prática revolucionária com objetivo de
revolta e superação do aparelho estatal com extinção da estratificação por meio de
classes sociais tal como defende Marx e Engels, mas, ao contrário, a manutenção de
forma consensual de um status quo com diferentes funções não enveredando para a
análise axiológica de formação.
Propõe uma visão moralizante por meio de uma educação laica e racionalista
como é característica do liberalismo francês substituindo a função outrora delegada à
religião. Sua proposta de educação se norteia por um ideal funcionalista uma vez que foi
fruto, em grande parte, de sua carreira docente tanto da sociologia quanto da pedagogia
em diferentes universidades.
Durkheim valoriza o posicionamento do Estado que deve ser o gerenciador de
um núcleo de educação comum, cujo objetivo maior deve ser a harmonia do
funcionamento da sociedade. Em cada período, segundo o autor, existe um regulador o
qual os interesses individuais devem-se submeter correndo o risco caso da negativa de
serem marginalizados. A ideia de um poder estatal que age como ser demiurgo 3 é
apresentada pelo sociólogo em diferentes sociedades desde as pólis gregas até as nações
mais modernas.
O ordenamento evolutivo da história da educação deixa clara a percepção de
Durkheim em relação a construção social baseado em experiências anteriores de outras
civilizações. Uma maneira clara para a formulação de sua compreensão histórica das
organizações sociais passadas e existentes, à luz do positivismo, foi considerar os fatos
históricos como coisas, administrando uma certa neutralidade e distanciamento na
análise dos contextos, conforme pode ser observado na citação a seguir:

É coisa, com efeito, tudo o que é dado, tudo o que se oferece ou,
melhor, se impõe à observação. Tratar fenômenos como coisas é tratá-
los na qualidade de data que constituem o ponto de partida da ciência.
Os fenômenos sociais apresentam incontestavelmente esse caráter.[...]
É preciso portanto considerar os fenômenos sociais em si mesmos,
separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-
los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se
apresentam a nós. (DURKHEIM, 1978, P.23)

Diante do exposto, fica compreensível que o método de investigação sociológica


proposto por Durkheim pressupõe que todo objeto social investigado deva ser
considerado, inicialmente, à luz de sua existência e de seu tempo como um fato social
que está posto. Em seguida, este deve ser categorizado em relação a uma importância no
contexto social levando em consideração sua realidade e até mesmo comparado com
outras circunstâncias e tempos históricos.
Em relação à educação, conforme anteriormente exposto, vale a mesma proposta
investigativa, assim como o entendimento de formação humana cumulativa, isto é,
transmitida entre gerações como fruto de reflexões do homem em diferentes períodos,
seja por meio da tradição oral, pintura, textos ou outras ferramentas.
Ainda sobre o papel da educação 4, o sociólogo francês reconhece o importante
papel familiar, todavia, nega o senso comum de sua exclusividade, pois compreende que
ao Estado, como responsável pelo equilíbrio social, compete a maior responsabilidade
3
Termo utilizado por Platão (428- 348 a.C) com um entendimento de entidade superior ou divina
responsável pela elaboração e organização do mundo.
4
Quando discorre sobre a natureza e método da pedagogia (capítulo 2 da obra Educação e Sociologia),
Durkheim atesta a existência de confusão entre os termos educação e pedagogia ao considera-los
sinônimos quando de fato não são. “A educação é a ação exercida nas crianças pelos pais e professores.
[...] A pedagogia é algo completamente diferente. Ela consiste não em ação mas sim em teorias. Estas
teorias explicitam as maneiras de conceber a educação, e não de praticá-la, (p.75).
na educação das pessoas com abertura de possibilidades para iniciativas individuais
(como escolas privadas), pois, também, contribuem para o desenvolvimento nacional,
potencialmente, mais inovadoras desde que respondendo aos interesses e regras do
Estado.
Reconhecendo o poder da educação como recurso social, Durkheim, por vezes,
enaltece o importante papel do professor como autoridade moral destacando, ainda, a
necessidade da coerência procedimental na condição desse processo, existindo uma
grande distância entre o indivíduo desde seu nascimento até sua formação útil à
sociedade uma vez que:

[...] quando a educação se mostra paciente e contínua e não busca


sucessos imediatos e aparentes, mas se dá calmamente em um sentido
bem determinado, sem se deixar desviar por incidentes exteriores e
circunstâncias fortuitas, ela dispõe de todos os meios necessários para
marcar almas profundamente.[...] Isto significa que a autoridade moral
é a principal qualidade do educador, pois é através desta autoridade
contida que o dever é dever. (DURKHEIM, 2011, P. 70,71).

A conclusão a que chegamos, diante dos postulados do sociólogo Durkheim, é


que este foi um intelectual que, com grande habilidade, utilizou de maneira harmônica a
educação, a pedagogia e a sociologia dentro de uma proposta de melhoria social a
serviço do Estado. Embora aplique uma proposta de consenso que conceba diferentes
papéis sociais sem questionar a exploração do trabalhador, a luta de classes ou as
desigualdades tem o mérito de, por meio de seu discurso coerente e simples, mas não
simplório, atingir diferentes camadas sociais e governos. Durkheim, algumas vezes, foi
incompreendido em suas proposições nacionalistas como ocorreu com sua leitura
equivocada realizada durante distintos governos ditatoriais.

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

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