Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
e Apoio Matricial
DE EDUCAÇÃO
PERMANENTE
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA
UNIDADE 2
Gestão da clínica
Nesta unidade, daremos continuidade ao nosso estudo abordando o olhar sobre a família
na perspectiva da clínica ampliada e apresentaremos algumas ferramentas de gestão da
clínica que auxiliam na abordagem familiar.
Como foi falado na Unidade 1, nem sempre será possível ou necessário realizar uma abor-
dagem ampliada de forma detalhada. Da mesma forma, não é necessário em todos os casos
envolver a família; em alguns é preferível inclusive preservar a individualidade. Abordagens
com familiares geralmente são utilizadas em casos mais complexos, que justificariam essa
ampliação. Famílias que precisam de intervenção como um todo são propensas a públicos
para projetos terapêuticos singulares. Na gestão da clínica, busca-se com um conjunto de
ferramentas identificar:
• Intervenções domiciliares.
• A equipe deve ter um conceito ampliado e inclusivo de família, considerando a complexidade dos
mais diversos arranjos.
Clínica ampliada e apoio matricial
Clínica ampliada 3
• Valorizar a experiência da família ao longo do tempo, ou seja, sua história pregressa, atual e pers-
pectivas futuras, na hora de pensar o cuidado.
• Compreender que a família enquanto um sistema é afetada pela mudança de qualquer um de seus
membros e, por isso, é necessário pensar em todos os membros no momento de uma intervenção.
• Levar em conta o contexto social e cultural da família na facilitação de suas relações com a comunidade.
Nem sempre é simples para uma equipe desenvolver essas capacidades, até mesmo porque
esse tipo de abordagem não é comum na graduação em saúde. Como falamos na Unidade
1, o modelo da clínica tradicional que orienta as formações em saúde preconiza a aborda-
gem individual biológica.
Para Soares, Pagani e Oliveira (2005), ao trabalharmos com famílias é importante reconhecer
que existem múltiplas estruturas familiares com formas diferentes de ser família e que estas
construíram características específicas por intermédio do tempo e do contexto no qual estão
inseridas, seja geográfico, social ou cultural. Deve-se buscar o alinhamento entre os conheci-
mentos científicos e tecnológicos com as habilidades de observação, comunicação, empatia
e intervenção, bem como superar as contradições “família pensada versus família vivida” e
“família estruturada versus família desestruturada”. Procura-se atuar com uma visão inclusiva.
Segundo Gomes e Pereira (2005), existem representações de família real e a sonhada, seja
a própria, seja a do outro. Cada pessoa tem sua própria representação de família. Essas
representações estão ligadas a concepções e opiniões, sentimentos e emoções, expectativas
correspondidas ou não correspondidas. Assim, ela não é concreta, mas construída a partir
de elementos da realidade — mesmo assim é o fundamento da sociedade.
Assim, a classificação de famílias que apresentaremos não define quem são as famílias,
mas constitui elementos que auxiliam os trabalhadores de saúde a avaliarem alguns aspec-
Clínica ampliada e apoio matricial
Gestão da clínica 4
tos da família na perspectiva de entender sua conformação e como esta influencia no pro-
cesso de saúde e doença de cada indivíduo para facilitar a aplicação das ferramentas de
abordagem familiar.
I. Quanto à estrutura
Família nuclear: caracterizada por uma só união entre adultos e um só nível de descendên-
cia, ou seja, pais e filhos.
Família unitária: algumas correntes consideram as pessoas que vivem só enquanto família.
Família homoafetiva: formada por indivíduos do mesmo sexo, filhos adotados ou biológi-
cos de um dos dois.
Família reconstruída: famílias formadas por duas famílias que sofreram rupturas anterio-
res e uniram pais com filhos de outras relações.
Primeiramente, vamos lembrar que não existem famílias perfeitas nem famílias sem pro-
blemas. O que auxilia o olhar da equipe no momento de pensar a funcionalidade da família
é justamente a sua capacidade de lidar com os problemas. Na classificação da função das
famílias, geralmente buscamos identificar como seus membros se relacionam entre si e com
o mundo e sua capacidade de resolver os problemas do dia a dia. Lembremos que as disfun-
ções e a funcionalidade não são estáticas, elas podem ser transitórias devido às situações
da vida, tais como doença, desemprego, catástrofes, morte etc. Apresentaremos três classi-
ficações quanto à função:
Família funcional: uma família é considerada funcional quando apresenta maior unidade
entre os membros, comunicação clara e uma maior capacidade de negociação entre eles e
os assuntos do dia a dia. É verificada uma demonstração de afetividade entre os membros
Clínica ampliada e apoio matricial
Gestão da clínica 5
com maior intimidade pessoal e capacidade de brincar. Essa família geralmente consegue
resolver os problemas do cotidiano, e é notória a aliança entre os membros; evidencia-se
uma relação forte com a parte estendida da família (tios, avós, primos).
Família com disfunção moderada: trata-se de famílias que convivem em uma aglutina-
ção, cuja comunicação às vezes não é clara, de forma a gerar conflitos. Nela não há tanta
demonstração de afetividade, mas ainda está presente, e a capacidade de brincar entre os
membros é reduzida. A sensação de distância interpessoal é notada, e a relação entre os
membros é complexa, ao ponto de dificultar a resolução de problemas do dia a dia, poden-
do gerar cortes parciais de relacionamento entre eles e destes com a família estendida.
Família com disfunção grave: uma família, para ser considerada com uma disfunção gra-
ve, deverá apresentar desagregação de seus membros; regras caóticas ou inexistentes de
convivência; inexistência de negociação para resolução dos problemas; comunicação distor-
cida; afetividade negativa, agressiva ou ausente; incapacidade para resolução de problemas;
cisão entre membros e corte emocional com família estendida.
Para Oliveira et al. (1999 apud FERNANDES; CURRA, 2006), ciclo de vida é uma série de even-
tos previsíveis que ocorrem como resultado das mudanças na organização da família. É um
processo evolutivo que cumpre a família no curso dos anos por meio da passagem de uma
fase a outra da vida.
Vamos assistir a uma animação para compreendermos melhor o ciclo de vida familiar da
classe média. Acesse o Vídeo 1 no AVASUS.
Vídeo 1
Vamos agora estudar, neste módulo, genograma e ecomapa. Vamos começar com genogra-
ma, observando o texto a seguir:
Genograma
O que é o genograma?
O genograma é uma representação gráfica de, no mínimo, três gerações de uma mesma
família. Essa representação é utilizada como método diagnóstico e intervenção terapêutica.
Possibilita a visualização de fatos significativos da família, seus acontecimentos e como vêm
se comportando por meio do ciclo de vida.
Ele se constitui enquanto mapa relacional da família, no qual se pode analisar estrutura, com-
posição, funcionalidade, situações de risco, problemas de saúde e padrões de vulnerabilidade.
Por ser prático e de fácil execução, o genograma é tido como uma importante ferramenta
para avaliação da família e seus padrões de relacionamento ao longo do tempo.
É importante saber que, por meio do genograma, a equipe terá elementos que a auxiliarão
a identificar os fatores de estresse no contexto familiar, estabelecer correlações entre esses
fatores e o processo saúde-doença, correlacionar as informações biomédicas e psicossociais
e identificar padrões transgeracionais de doenças ou transtornos mentais. É uma importan-
te ferramenta para a primeira fase de construção do Projeto Terapêutico Singular de um
sujeito, família ou grupo social.
Símbolos do Genograma
Homem Mulher Sexo indefinido Pessoa índice
Relacionamentos
Distante Conflituoso Rompimento Muito estreito
Triangulação Coalizão
Vídeo 2
O que é ecomapa?
O ecomapa é instrumento de avaliação familiar bastante útil no mapeamento de redes,
apoios sociais e ligações da família com a comunidade. Costuma ser utilizado em associação
ao genograma, tanto para fins diagnósticos quanto em planejamento de ações em saúde.
Ambos os instrumentos retratam graficamente constituição e dinâmicas relacionais de um
grupo social, com foco na família. Enquanto o genograma identifica as relações dentro do
sistema multigeracional familiar, o ecomapa representa as interações da família com pes-
soas, instituições ou grupos sociais em determinado momento. Esse instrumento conecta
as circunstâncias ao meio ambiente e auxilia na identificação dos padrões organizacionais
familiares (BRASIL, 2014, p.77).
• Serviços de saúde
• Trabalho
Durante a construção do ecomapa, o profissional deve coletar dados com o próprio paciente,
familiares e membros da Equipe de Saúde, em especial com o agente comunitário de saúde.
Muitas vezes, não é possível captar a complexidade das relações de uma família a partir de
um único relato ou sob a perspectiva de um indivíduo isoladamente. Nesse sentido, a dis-
cussão prévia do caso entre NASF e ESF com os dados provenientes do prontuário auxiliam
bastante na “filtragem” das informações obtidas. O genograma e o ecomapa podem contri-
buir para a aquisição de informações sobre a família, mas sua utilização deve estar aliada a
conhecimentos técnico-científicos, habilidades de observação e comunicação, além da sensi-
bilidade e do bom senso (BRASIL, 2014).
Afonso Trabalho
Afonso tem com seu trabalho uma relação forte, à qual ele
dedica uma quantidade moderada de energia e percebe
receber muito apoio.
Filhos Escola
Vídeo 3
Acesse a biblioteca da unidade! Lá, você verá mais textos para aprofundamento das discus-
sões desta unidade.