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|Introdução|
|Preâmbulo|
A memória nos dará esta ilusão: o que passou não está totalmente inacessível, pois
é possível fazê-lo reviver graças à lembrança. Pag. 15
Buñuel dizia que era preciso perder a memória, ainda que parcialmente, para se dar
conta de que é ela que “constitui a nossa vida”. (apud CANDAU, 2011, p. 15)
[...] Isca Chiva, ao definir identidade como “capacidade que cada um tem de
permanecer consciente de sua vida através das mudanças, crises e rupturas”,
enraíza igualmente a identidade em um processo memorial. (apud CANDAU, 2011,
p. 16)
[...] se a memoria vem antes, a demanda identitária pode vir reativá-la. Pag. 18
|Conceitos preliminares|
[...] memória de baixo nível [...] O habitus como experiência incorporada é uma
presença do passado – ou no passado –, “e não a memória do passado”. A
protomemória, de fato, é uma memória “imperceptível”, que ocorre sem tomada de
consciência. Pag. 23
[...] metamemória [...] por um lado, a representação que cada indivíduo faz de sua
própria memória, o conhecimento que tem dela e, de outro, o que diz dela,
dimensões que remetem ao “modo de afiliação de um indivíduo a seu passado” e
igualmente, como observa Michael Lamek e Paul Antze (apud CANDAU, 2011, p.
23), a construção explícita de identidade [...] memória reivindicada, ostensiva. Pag.
23
[...] no que ser refere ao indivíduo, identidade pode ser um estado [...] uma
representação [...] e um conceito. Pag. 25
Entendo por “retóricas holistas” o emprego de termos, expressões, figuras que visam
designar conjuntos supostamente estáveis, duráveis e homogêneos, conjuntos que
são conceituados como outra coisa que a simples soma das partes e tidos como
agregadores de elementos considerados, por natureza ou convenção, como
isomorfos. Pag. 29
Quando vários informantes afirmam recordar como eles acreditam que os outros
recordam, a única coisa atestada é a metamemória coletiva, ou seja, eles acreditam
se recordar da mesma maneira que os outros recordam. Pag. 34
Por isso, num primeiro momento, deve-se fazer a distinção entre o dizer que há uma
memoria coletiva é realmente acreditar que ela exista, ou seja, existe no plano
discursivo, mas não no concreto. A realidade dessa memoria, por outro lado, parece
poder ser deduzida da existência de atos de memoria coletiva, existência facilmente
verificável com a ajuda de dados empíricos: comemorações, construções de
museus, mitos, narrativas, passeios dominicais em cemitério etc. Pag. 35
É quase certo, observa Leach (apud CANDAU, 2011, p. 36), “que dois observadores
não compartilhem jamais a mesma experiência”. Pag. 36
“Explicar a cultura é explicar [...] por que e como certas ideias se contagiam.”
(Sperber apud CANDAU, 2011, p. 37)
[...] se as representações públicas distribuídas são sempre transformadas em
representações mentais inacessíveis, o grau de pertinência das retóricas holistas
como suposta descrição do compartilhamento de representações será sempre
impossível de ser avaliado. Pag. 37
|A totalização existencial|
Roger C. Schanck (apud CANDAU, 2011, p. 71) sustenta que o fato de contar uma
história não é apenas uma simples repetição, mas um real atoo de criação: “é o
processo de criação mesmo da história que cria a estrutura mnemônica que conterá
a essência dessa história para o resto de nossa vida. Falar é recordar”. Pag. 71
A memória longa ignora a cronologia rigorosa da História e suas datas precisas que
balizam o fluxo do tempo. Pag. 87
[...] a consciência do passado não é a consciência da duração; e se nos lembrarmos
de acontecimentos passados, não temos a memória da sua dinâmica temporal, do
fluxo do tempo cuja percepção, como sabemos, é extremamente variável em função
da densidade dos acontecimentos. Pag. 87-88
|A medida do tempo|
O presente real é rico de uma “memória de ação”, ao passo que o tempo real
encerra uma ação sem memória. Pag. 94
|O campo do memorável|
Ora, observa Marcel Detienne (apud CANDAU, 2011, p. 95), o memorável, “longe de
ser o passado registrado ou um conjunto de arquivos, é um saber no presente,
operando por reinterpretações, mas cujas variações incessantes não são
perceptíveis no interior da tradição falada”. Pag. 95
[...] observa Jacky Bouju (apud CANDAU, 2011, p. 97), o presente de cada geração
consiste em algumas circunstâncias, em vincular-se não ao passado em geral, mas
em certos acontecimentos que se relacionam com a origem do grupo e que como
tal, constituem os fundamentos históricos locais de sua identidade política atual.
Pag. 97
|A memória dos acontecimentos|
|A exteriorização da memória|
|A transmissão profusa|
|Receber|
A necessidade de recordar é, portanto, real, mesmo que apenas para que não nos
tornemos seres “pobres e vazios”. Mas, na realidade, mais do que necessidade de
memória, o que parece existir é uma necessidade metamemorial, ou seja, uma
necessidade da ideia de memória que se manifesta sob múltiplas modalidades nas
sociedades modernas. Essa necessidade é indissociável da busca pelo
esquecimento, que ocorre concomitante ao lembrar. Pag. 126
|A memória geracional|
A memória geracional é também uma memória de fundação que tem seu lugar no
jogo identitário. Pag. 142
|Prosopopeia|
|Comemorar|
[...] quando os sentidos das comemorações parecem esgotar-se, é preciso talvez ver
nisso o sinal de uma crise identitária. Pag. 149
[...] essa memória deixa traços compartilhados por muito tempo por aqueles que
sofreram ou cujos parentes ou amigos tenham sofrido, modificando profundamente
suas personalidades. Pag. 151
[...] a memória da tragédia é muitas vezes pesada demais para carregar [...] Pag.
155
|Lugar de memória e lugar de amnésia|
Poder-se-ia, aliás, dizer a mesma coisa dos lugares de amnésia, ou seja, os lugares
onde somente o esquecimento trabalhou, dado que a lembrança era muito pesada
para ser carregada. Pag. 157
[...] toda perda de arquivos é vivido como a perda de si próprio. Pag. 160
|Memórias agonísticas|
[...] pressentido por Halbwachs (apud CANDAU, 2011, p. 184), “quando a memória
de uma sequência de acontecimentos não tem mais um grupo como suporte, [...]
quando ela se dispersa em alguns espíritos individuais, perdidos nas sociedades
novas nas quais esses fatos não interessam mais porque são decididamente
exteriores a elas...”. Pag. 184
[...] obcecados pela perda, queremos tudo transmitir sem hierarquia nem
discernimento. Pag. 190
[...] toda memória petrificada tende ao fechamento em si. Porque se quer autorizada,
não está disponível para as interpretações sucessivas que caracterizam toda
memória viva e já não assegura o trabalho que, no decorrer das gerações, seleciona
o que é admitido pelo grupo e o que deve ser rejeitado. Por essa razão, as chances
de que venha ser compartilhada se reduzem consideravelmente. Pag. 191
|CONCLUSÃO|