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Outubro de 2016

Ano 1 - Nº 1

História e Literatura M. Fernanda de Sousa Tomé

O precursor da globalização
A língua em foco
Sons da língua
portuguesa: nosso
convite à construção
colaborativa

Estudos Interculturais
Vozes da África: uma
experiência solidária
em Moçambique

Política Educativa Formação de Professores

Tecnologias
Educacionais

Ensino de PLE
ESCUELA NORMAL SUPERIOR EN LENGUAS VIVAS
“Sofía Broquen de Spangenberg”
Juncal 3201, C1425AYQ, Ciudad Autónoma de Buenos
Aiires

AUTORIDADES INSTITUCIONAIS
Prof. Liliana García Domínguez (Reitora)
Prof. Cynthia Fridman (Regente de Nível Superior)

ORGANIZAÇÃO
Prof. Carla Panto
Prof. Ignacio Spina
Prof. Graciela Vidal

Revista LuSofia
Ano 1, Nº 1
Outubro, 2016
Ao leitor

LICENCIAMENTO
A revista LuSofia é um projeto construído
com a colaboração da comunidade de
estudantes e professores de PLE.

Todos os conteúdos são distribuídos sob


licença Creative Commons e podem ser
utilizados com as seguintes condições:
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organização, por favor, escreva para:
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Sumário
Outubro de 2016
Ano 1 - Nº 1

História e Literatura
Pág. 23

O precursor da globalização | M. Fernanda de Sousa Tomé

Institucional
LuSofia em palavras Pág. 6

das autoridades: Prefácio à 1ª Edição


Liliana García Domínguez & Cynthia Fridman

A língua em foco

Sons da língua portuguesa:


nosso convite à construção colaborativa
Proposta da equipe de LuSofia: construção de um mapa
colaborativo dos sotaques da Língua Portuguesa.
Pág. 7

Estudos interculturais
Vozes da África:
uma experiência solidária em Moçambique
Entrevista de Graciela Vidal a Brenda Dalton, uma mulher que
viajou a Moçambique para ajudar pessoas portadoras de VIH.
Pág. 33
Pág. 8
Uma doce armadilha Formação docente
Alzira Probo - Licenciada em História (UFP) e Professora em PLE (ENS LV
"Sofía Spangenberg”) conta sua experiência estudando sua língua materna, o português,
de um ponto de vista diferente: como língua estrangeira.

Avaliação das aprendizagens: proposta para um debate


Na opinião de María Laura Iopolo, estudante da ENS LV “Sofía Spangenberg”,
uma série de reflexões sobre os imaginários sociais e educativos da avaliação –
habitualmente confundida com acreditação -, os seus verdadeiros propósitos e
sua importância nos processos de ensino e aprendizagem.
Pág. 10

Ensino de PLE Pág. 14

Do livro à televisão: Relatos de uma experiência didática com o


romance “Uólace e João Victor”
Projeto realizado por Maria Castro Azevedo e Mariel Tronca com estudantes de
PLE (nível B2) empregando o romance “Uólace e João Victor” de Rosa Amanda
Strausz e o seriado “Cidade dos Homens” -baseado no mesmo livro- para a
abordagem da compreensão e produção de textos em português.

Tecnologias
Pág. 19
Educacionais
Innovación tecnológica para el diálogo intercultural en la clase
de portugués lengua extranjera
Liliana Roxana Rubín e Geruza Queiroz - professoras da cidade de Salta
compartilham reflexões sobre o emprego de recursos digitais para a promoção
das competências interculturais no ensino de português língua estrangeira.

História e Literatura Pág. 27

25 de abril: Mitos redentores e esplendor português. A filiação


de Viriato em tempos de Troika
Romina Alves, Psicóloga e Professora em PLE, analisa os mitos redentores no
imaginário social português e o reflexo das produções sócio-históricas na
idiossincrasia dos portugueses, a partir de uma análise do período
compreendido entre a revolução dos cravos (1974) e a atualidade.

Vídeo-resenha "As Esganadas" - Jô Soares Pág. 31

Vídeo-resenha do romance “As Esganadas” realizada por


Luciana Ribeiro, estudante da ENSLV “Sofía Spangenberg”.
Institucional

LuSofia em palavras das autoridades


Prefácio à 1ª edição da revista
Liliana García Dominguez, Rectora
Cynthia Fridman, Regente Nivel Terciario

E
l mayor propósito del nivel terciario de la ocasiones atrapados por un sistema que nos exige
ENS en Lenguas Vivas “Sofía E. Broquen cada vez más. Es aquí donde el rol del equipo de
de Spangenberg” es construir una visión de trabajo proactivo como el de nuestros
institución educativa como organización que enseña coordinadores de Lusofia juega un papel
y aprende mediante la creación de espacios para fundamental al empoderarnos a alumnos y docentes
analizar hechos, situaciones problemáticas y por igual con el ejemplo de un proceso creativo
propuestas de cambio. exitoso y de gran calidad en contextos que distan
Este cambio, generado desde el corazón mucho de la perfección.
institucional, pretende encaminar a todos sus Como miembros de un equipo de conducción
miembros hacia distintos trayectos de crecimiento y que busca involucrar a todos los actores
desarrollo, y crear un clima institucionales de forma real
institucional que abra nuevas y desarrollar una escucha
vías de diálogo para detallada de cada situación
encauzar nuestras carreras. problemática, estamos
Es en este contexto que llega convencidas de que la
la propuesta de LuSofia, la mejora sostenida es posible y
revista institucional de los se construye día a día,
Profesorados de Portugués teniendo siempre presente
que tenemos el orgullo de esa pasión que nos alentó a
presentar hoy. recorrer el maravilloso
Con su trabajo, los profesores Ignacio Spina, camino de enseñar y aprender, sobre todo en los
Carla Panto y Graciela Vidal - los coordinadores de momentos más difíciles.
nuestra revista- contagian la pasión necesaria para Solo nos resta volver a felicitar a nuestros
motivar a los actuales y futuros profesores a docentes por este proyecto que hoy ve la luz, y
convertirse en líderes multiplicadores y gestores de festejar la concreción de un nuevo sueño, en un
un trabajo profesional de calidad, capaces momento en que vamos rumbo a cumplir 60 años
de empoderarse de este nuevo concepto para – a brindando educación pública de calidad.
su vez- liderar cada uno su tarea específica en pos “Para construir una cultura en la que el pasado
de continuar desarrollando y defendiendo una sea útil y no coactivo, tenemos que ubicar el futuro
mejora sostenida de la educación. entre nosotros, como algo que está aquí listo para
Hugo Assmann considera que “la educación es que lo ayudemos y lo protejamos antes de que
hoy la más avanzada tarea social liberadora”. Sin nazca, porque de lo contrario será demasiado
embargo, muchos educadores nos sentimos en tarde.” Margaret Mead.

Equipo de conducción de la ENS en Lengua Vivas SB de Spangenberg

6 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


A língua em foco

Sons da língua portuguesa:


Nosso convite à construção colaborativa
Equipe da Revista LuSofia

J
á reparou quantos sons definem a
língua portuguesa? Com o objeto
de desenvolver uma contribuição à
comunidade de profissionais e
estudantes de português, a revista LuSofia
convida a colaborar na construção do mapa
de sotaques e dialetos a partir de materiais
audiovisuais livres disponíveis na web.

O propósito deste projeto é construir um


mapa colaborativo que permita conhecer
diferentes sotaques e dialetos da língua
portuguesa a partir de materiais multimídia
disponíveis na internet.

Para participar, procure na web um


vídeo ou áudio e preencha o
formulário para que ele seja
incorporado no mapa. Também é
Colabore! possível enviar um áudio próprio.

Formulário: https://goo.gl/EER43n

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 7


Formação de Professores

Uma doce armadilha


Alzira Probo

"As palavras só têm sentido se nos ajudam a


ver melhor o mundo. Aprendemos palavras
para melhorar os olhos” - Rubem Alves*

E
m 1980, decidi estudar Licenciatura em onde formei minha família como tantas
História porque desejava compreender a correligionárias. Estas mudanças me levaram a
evolução do povo brasileiro, e apoiar aos repensar a vida profissional e fazer uma nova
movimentos que lutavam contra o regime militar carreira: o curso de formação de professores de
instalado no Brasil desde 1964. Pensava fazer português. Assim, em 2010, ingressei na ENS
algo através da docência ou no campo da Sofia Spangenberg com a firme intenção de
pesquisa. exercer a docência para “ensinar meu idioma e
divulgar a cultura do meu país”. Nem por um
A democracia chegou em 1983, priorizei novas segundo imaginei que essa decisão me conduzia
reivindicações, e embarquei para a Argentina a uma doce armadilha.
A preparação para a docência de Português como
Língua Estrangeira (PLE) foi uma experiência Pensei que seria um processo muito simples e
renovadora em todos os sentidos. Apesar de que fácil. No entanto, constituiu-se em uma
não me propus, originalmente, em várias ocasiões aprendizagem que superou minhas expectativas
deixei a condição de aluna para inserir-me a este como estudante, transformou-me pessoalmente e
mesmo espaço como uma observadora foi um verdadeiro campo de observação para
das dúvidas, dos desafios e das perspectivas dos minha profissão já que podia ver nas dificuldades
meus colegas hispanofalantes, e mais ainda, para dos colegas e nas estratégias dos professores
compreender as estratégias usadas pelos meu futuro campo de ação.
professores, na sua maioria argentinos, ao
explicar algo que para um brasileiro é natural.

8 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


Lembro-me perplexa, mais de uma vez nas fonética que entravam em choque com a
primeiras aulas, frente as dúvidas dos colegas variação linguística representada nas salas de aulas
argentinos sobre o “e” e o “o” aberto ou por mim e algumas colegas brasileiras. E que dizer
fechado, as dificuldades dos processos da colocação pronominal? Estrutura gramatical tão
de nasalização, sonorização e etc.; Também, distante da língua falada pelo brasileiro.
recordo a inconformidade com as regras de

Alzira Probo é Licenciada Licenciada em História pela Universidade Federal


do Piauí e Professora de Português como Língua Estrangeira pela Escuela
Normal Superior en Lenguas Vivas “Sofía Broquen de Spangenberg”.

Estava desvendando minha pró- ao ver como nos foi imposta a tipo de escola queria trabalhar,
pria língua, num verdadeiro labo- língua, a cultura, a religião como que abordagem queria exercer
ratório de emoções que me levou ao assistir o filme: “A mis- como futura professora de PLE, e
a resignificar o Português. Essa são”. Deixei atrás o orgulho pela que a bancarização é autoritária e
mania de falar tão diferente da língua com o que ingressei ao Pro- antidemocrática. E estes também
escrita, que produz tanta dor de fessorado e descobri novas razões foram momentos de profunda
cabeça aos brasileiros e mais para compreender minha identi- significatividade para minha
ainda aos estrangeiros, neste dade. Aprendi a escutar a análise formação profissional.
âmbito reflexivo me fez criar da Historia Brasileira feita por ter-
novos sentidos em vários aspec- ceiros, e nessas circunstâncias, Experimentei a educação como
tos junto aos meus colegas e aprendi a ver o idioma como uma uma ponte para minha trans-
professores. expressão estrangeira ao territó- formação pessoal. Reciclei,
rio, atualmente, chamado Brasil. lentamente, minhas antigas
No marco teórico da intenções revolucionárias.
História e da Cultura fui E só então percebi que
reassumindo este idioma
“Estava desvendando minha própria tinha sido vítima de uma
também como resultado língua, num verdadeiro laboratório doce armadilha da vida.
de uma construção Ao decidir fazer esta
política-cultural e socio- de emoções que me levou carreira para “ensinar
econômica. Refleti como minha língua e cultura”,
poderia haver sido
a resignificar o Português.” jamais imaginei que me
diferente. Que em lugar esperava também
de Português, hoje, poderíamos Ao compartilhar biografias escola- participar de um processo que
falar a Língua Geral, o Guarani, res, em uma das Oficinas de práti- implicou aprender a sentir, a ouvir,
algum dos dialetos de uma das cas pedagógicas, observei que a escutar, a olhar, toda minha
tantas nações africanas, por muitos dos meus colegas argenti- história de forma distinta. Ainda
exemplo o Iorubá dos Malês, ou - nos estudaram os ciclos anteriores há muito para aprender, e mais
porque não, crioulo como em em plena Ditadura Militar. Compa- ainda por construir. Contudo estu-
outras nações. rei os processos vividos aqui e lá; dar foi uma decisão da que não
os destinos atravessados, uma vez só não me arrependo, como tam-
Revisei conceitos estruturados mais, pelas potências estrangei- bém tem sido motivo de cresci-
desde minha infância, com ras e as consequências nas práti- mento, ressignificação e novos
momentos de profunda angústia cas escolares. Refleti sobre que compromissos em minha vida.

*Alves, Rubem. Ostra Feliz não faz pérola. São Paulo. Editora Planeta do Brasil. 2008. p. 105.

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 9


Avaliação das aprendizagens:
proposta para um debate
María Laura Iopolo

S emana passada, conversando com minha


filha, contou-me que teve uma aula de
Didática onde a professora, em roda de
conversa, propôs para a turma que expressasse a
primeira ideia que aparecia nas suas cabeças sobre o
conceito “exame”; palavras que ela ia escrevendo no
quadro preto. Disse-me que ao finalizar com as ideias
que todos os alunos transmitiram, o resultado foi
assombrosamente aflitivo e desalentador. Resultou
mais ou menos assim: medo, dor de barriga, estresse,
preocupação, palpitações, vergonha, ansiedade, fugir,
inquietação, apreensão, dentre outros, mas sempre
relacionados ao desconforto que sentiram ante a
situação de serem examinados.

Tendo em vista que alguns pedagogos consideram que avaliar é “Avaliar é identificar
identificar necessidades para a melhora continua, com o propósito de
obter um processo de ensino-aprendizagem de sucesso, por que não necessidades para a
conseguirmos que os alunos sintam frente a tal situação uma sensação melhora contínua
de confiança, possibilidade, melhora, enriquecimento, evolução?
com o propósito de
Conforme Cipriano Carlos Luckesi, reconhecido pedagogo brasileiro,
especializado em avaliação de aprendizagem, “provas e exames são
obter um processo de
apenas instrumentos de classificação e seleção, que não contribuem ensino-aprendizagem
para a qualidade do aprendizado nem para o acesso de todos ao
sistema de ensino”. Evidentemente, o tema dá para o debate e é
de sucesso.”
controvertido demais.

10 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


Certamente, algumas conceições É necessário que o professor seja, não chegam à internaliza-
sobre avaliação ficaram considere a avaliação como uma ção dos conhecimentos, não
obsoletas e é inconcebível que, ferramenta para diagnosticar de conseguem levá-los à prática, à
na atualidade, não saibamos forma contínua o desenvolvi- vida quotidiana deles, ficando,
transmitir para os nossos mento do processo de ensino- portanto, sem razão nem sentido
estudantes o sentido aprendizagem, para empregar as o propósito de educar.
transcendental que a avaliação intervenções necessárias com o
tem no processo de ensino- conjunto dos integrantes do pro- Considero que a prática de ensi-
aprendizagem. cesso, em função dos objetivos nar, avaliar e aprender são con-
planejados. ceitos diferentes, mas intima-
mente associados, e necessitam
Assim, avaliar é, sobretudo, um ser executados com esmero os
“Avaliar não é trabalho de reflexão permanente dois primeiros, para chegar a ter
que os professores devermos sucesso no último, daí a impor-
simplesmente botar um fazer, e que está em relação às tância da boa formação do pro-
metas e objetivos que desejar- fessor para fortalecer o processo.
número para o aluno.”
mos concretizar.
Deste modo, o professor passa a
Certamente, se avaliar é simples- ser um facilitador das aprendiza-
Na maioria dos casos, o sistema
mente qualificar, é possível que a gens mediante a adaptação das
educativo leva os professores a
aprendizagem do aluno acabe atividades de ensino-aprendiza-
se limitar somente a qualificação,
sendo memorístico e não signifi- gem, propiciando a
mensurando os resultados
cativo. O aluno vai “aprender” retroalimentação, e compro-
obtidos pelos alunos para acabar
(?), mas de forma mecânica, vando continuamente o apren-
atestando uma nota. Mas, avaliar
memorística. Nesse sentido, é dido pelos alunos.
não é simplesmente botar um
interessante o conceito que co-
número para o aluno.
loca o Professor David Perkins, A avaliação, por tanto, é um
com seus sinos de alarme, quem processo no qual se identificam
utiliza os conceitos de conheci- as necessidades dos alunos com
Além do mais, não se pode
perder de vista, que nem o fim de servir do guia para
tomar decisões, solucionar
somente deve-se focar o assunto
para o papel do aluno, mas do
“Avaliar é um trabalho de problemas y promover a
compreensão dos fenómenos
professor. É necessário que o reflexão permanente” implicados.
educador seja consciente que se
deve avaliar um processo, que é
mento frágil ou esquecido, Na atualidade, que tanto se dis-
reflexo dos conhecimentos que o
inerte, ingênuo e ritual, para cute o valor ou não da
aluno adquiriu. Nesse processo
intervêm os métodos de ensino, explicar que os alunos não desaprovação, seria proveitoso
conseguem lembrar o aprendido refletir sobre o real objeto da
os recursos utilizados, a
com o passo do tempo, avaliação. Se o leitor conseguir
motivação ou predisposição do
esquecem os conhecimentos fazer isso, este artigo haverá
professor, o contexto, a família.
Porém, sempre o culpado acaba transmitidos ao momento de atingido seu propósito.
sendo o aluno. utilizá-los, ou relacioná-los, ou

María Laura Iopolo é estudante do curso de formação de Professores


de Português como Língua Estrangeira pela Escuela Normal Superior
en Lenguas Vivas “Sofía Broquen de Spangenberg”.

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 11


Política educativa

Está sendo aplicada mesmo a lei de


ensino de idioma português em todas
as escolas argentinas?
Analía Coria

A lei argentina 26.468 (2008) estabelece a obrigatoriedade da


inclusão de uma oferta de ensino de português língua estrangeira
em todas as escolas de ensino médio do país. Nesta coluna, Analía
Coria, estudante da ENS LV “Sofía B. Spangenberg”, convida ao
debate sobre o adiamento de sua implementação.

E
u iniciei os estudos em um professorado No artigo N°3 da lei 23.468 estabelece que: “A
de português, com muito entusiamo e proposta curricular para o ensino de idioma
sabendo, com certeza, que íamos português será de caráter optativo para os
conseguir trabalho após concluído o estudantes”. Estou convencida que os alunos em
período de estudos. Porém, já com anos percorridos sua maioria escolherão o inglês. Conclusão baseada
e com a maioria das disciplinas aprovadas, estou em minha experiência em sala de aula com alunos
com mais dúvidas do que certezas de que a lei seja adolescentes e que surgem das conversações que
implementada nas escolas e assim os docentes mantenho com eles.
possam trabalhar com plenitude. Será que foi Compreendo então que professores de português
esquecida a lei 26.468 de ensino de idioma não serão precisados, por conseguinte não serão
português para todas as escolas argentinas? chamados.

No estabelecimento educativo onde ainda sou Também se estabelece que será progressiva a
aluna, eu já tinha perguntado a alguns professores inclusão do ensino do idioma. Percebo a esta altura
se possuem novidades a respeito de colégios que dos fatos que, não temos nenhuma parte da lei que
precisem professores de português, más não está sendo aplicada.
consegui respostas favoráveis. Ninguém sabe nada Estou vendo também que no estabelecimento
do assunto. Procurei em internet, fui a muitos educativo, onde ainda sou aluna, ano a ano desce a
colégios de província procurando estabelecimentos matrícula de alunos que iniciam seus estudos de
e ainda ninguém sabe com certeza quando português. Aliás, alguns outros já desistiram de
incorporarão essa disciplina. Algumas o ensinam estudar por possuir outras obrigações ou
mas, muitas delas não precisam incorporar mais simplesmente, desiludidos começam outra carreira.
professores.

12 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


Analía Coria é estudante do curso de formação de Professores de
Português como Língua Estrangeira pela Escuela Normal Superior en
Lenguas Vivas “Sofía Broquen de Spangenberg”.

Este ano, no período de a estudantes que chegam com falta de limpeza nos salões de
inscrições, só quatro alunos muitas dúvidas para seu futuro aula, ou nos banheiros, por
foram cadastrados. É uma profissional. exemplo, ou pela falta de
situação triste para a instituição cadeiras, mesas e todas a
educativa se a taxa de alunos Para acrescentar mais uma ferramentas necessárias para dar
registrados continua descendo. Informação, quando estava aula de maneira certa?
Em conversa com muitas de criando esta coluna de opinião
minhas colegas, elas também fiquei surpresa quando li uma Ou, pior ainda, habituar-me à
concordam com o que acabo de notícia da província de Misiones, “eterna” falta de orçamento na
expor. onde alguns professores de educação? Além disso, por que é
português reclamavam, na praça que os alunos tendo a
Eu sei perfeitamente que os principal, a implementação da lei possibilidade de conhecer uma
porquês de tais decisões de 23.468 e a consequente criação outra cultura, muito próxima,
desistimento são pessoais, e que de trabalho. decidem continuar escolhendo o
existem outras razões na qual idioma inglês para se formar?
uma pessoa deixa seus estudos. Sem dúvidas, a colocação em Por que é que se continua
Infelizmente a situação do motivando o ensino do
país não ajuda, estamos idioma inglês em
envolvidos numa detrimento de um outro
problemática social difícil e idioma igualmente
que sem dúvidas acabam enriquecedor? E por último,
atingindo todos os degraus por que é que na
de nossa engrenagem atualidade não existe
social e a educação é incentivos para atrair, por
sempre a primeira em ser um lado e reter por outro
prejudicada. os estudantes ou possíveis
estudantes de português?
Também não vejo maior
preocupação de parte de Considero que todo o que
ninguém para que a lei 24.468 vigência da lei citada aqui exprimo é apenas a ponta
seja colocada em ação. possibilitaria a ocupação de de um iceberg que deveria ser
professores, que na atualidade analisado, porque acho que
Além disso, percebo com mais não conseguem trabalho fixo. todos têm a ver com minha
preocupação, que são cada vez Estou me perguntando, aliás de primeira interrogação.
menos os alunos de português minha ladainha, por que é que,
que desistem sem acabar os nesse país não conseguimos Considero, então, que não é só
estudos e que ninguém ofereça solucionar jamais os problemas suficiente a simples elaboração
uma ajuda sequer para reter relacionados a questões de uma lei, também é preciso
esses quase professores, pelo educativas? Será que devemos colocá-la em prática nos prazos
contrário vejo às vezes muitas pensar então, que nem precisem estabelecidos. Ou será então,
pedras no caminho. consideração a nível que vai ficar só no meu desejo e
São muitas as perguntas, e as governamental? Devo pensar a lei, mais próxima ao
respostas oferecidas são em me acostumar de maneira tal esquecimento?
incapazes de dar soluções certas como também fui acostumada à
Outubro 2016 | Revista LuSofia | 13
Ensino de PLE

Do livro à televisão:
Relatos de uma experiência didática
com o romance “Uólace e João Victor”
Maria Castro Azevedo e Mariel Tronca

O presente artigo tem o intuito de compartilhar com os leitores da Revista o percurso teórico, a
proposta metodológica e algumas considerações surgidas no contexto educativo do Curso de
Formação de Professores de Português de Ensino Médio e Superior na Oficina de Redação
Acadêmica da Escola Normal de Lenguas Vivas Sofía B. de Spangerberg, do GCBA.

O nome do nosso projeto é: “A interface entre heterogênea (de 14 a 31 anos). A duração deste
texto escrito e texto oral do livro Uólace e João trabalho foi de três meses, as abordagens
Victor”, da autora Rosa Amanda Strausz, o qual utilizadas foram: abordagem comunicativa e
consiste na descrição de uma aula de PLE no interação social. Além do livro assistimos um
contexto de um instituto particular situado na episódio da primeira temporada da série “Cidade
cidade de San Antonio de Padua, na Grande dos Homens”, exibido pela Rede TV Globo no ano
Buenos Aires, para uma turma de 10 (dez) alunos 2002, intitulado “Uólace e João Vitor”, baseada no
que cursam o segundo nível de português B2, que livro homônimo, que é um material que representa
corresponde ao Marco Comum Europeu de a história do mesmo, integrando o estímulo visual
Referência para línguas. A faixa etária da turma é ao auditivo.

14 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


Para o desenho de nossas aulas consideramos diversos fatores, tais
como: público alvo, escolha de materiais que sejam autênticos,
enriquecedores e significativos (Ausubel, 1978), que objetivos
almejamos alcançar e que abordagem se adéqua melhor à turma. Esta
planificação inicial teórica, não é estática, provavelmente durante o
desenvolvimento das aulas seja preciso fazer algumas mudanças devido
à influência da interação e relação professor / aluno / material, gerando
um feedback que vai nortear o professor a fazer os ajustes necessários
em base a sua experiência e vivência.

É preciso que o docente reflita sobre o ensino-aprendizagem, tenha


consciência das diversas abordagens ou métodos teóricos, sabendo
aproveitar o melhor de cada um e que também tenha na devida conta
que ele deverá ser o encarregado de assumir o papel de orientador,
mantendo um ambiente agradável, estimulando a participação,
intercâmbio de opiniões e trabalho em grupo. Sobre este tipo de
abordagem podemos citar às autoras Rosana Lopes Messias e
Mariângela Braga Norte que dizem:

“O ensino comunicativo de LE é aquele que organiza as


experiências de aprender em termos de atividades/tarefas
de real interesse e/ou necessidade do aluno para que ele
se capacite a usar a língua alvo para realizar ações de
verdade na interação com outros falantes-usuários dessa
língua" (ALMEIDA FILHO, 1993, citado por MESSIAS e
BRAGA NORTE, 2013, pág. 11).

Nosso objetivo principal foi nos focar na leitura como forma de


desenvolver a compreensão e a fala, aplicando os pressupostos da
“Teoria atos da fala” do filósofo britânico John Austin (1955), que afirma
que dizer é transmitir informações, mas é também uma forma de agir
sobre o interlocutor e sobre o mundo circundante. Através do texto
escrito e do oral acreditamos que se pode conseguir que o aluno seja
capaz de desenvolver com mais facilidade e no tempo esperado a
competência da fala. Mas para isso tivemos que passar por várias fases.

Sequência Didática
 Ler a novela.
 Questionário (compreensão do texto).
 Assistir o episódio da minissérie homônima.
 Debate de forma grupal e individual.
 Elaborar quadro comparativo de semelhanças e diferenças dos dois personagens principais.
 Comentar que coisas apareceram na novela que não apareceram na minissérie e vice-versa.
 Elaboração do resumo.
 Responder perguntas com respostas pessoais.
 Transformar a narrativa em diálogos.


O livro está dividido em 12 partes e cada parte da história foi resumida em forma de desenho.
 Gravaram os diálogos onde interpretaram os personagens principais e secundários.

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 15


P rimeiramente, o texto foi lido pela desenhos, e finalmente gravaram os diálogos onde
professora em conjunto com os alunos que interpretaram os personagens principais e
alternaram com ela as tomadas de turno secundários. Nesta fase o professor tentou garantir
na leitura, desta forma começou-se por trabalhar a o sentido do texto, criando o contexto da leitura,
fonética e a entonação da língua. A compreensão que segundo Souchon:
do texto foi trabalhada a partir de perguntas
retiradas do próprio livro. Depois de fazer uma A leitura é uma atividade social marcada histórica e
primeira leitura do texto, assistiram ao vídeo da culturalmente e que a relação desses indivíduos com
série para em seguida fazer uma atividade na qual essa leitura seja uma relação pessoal e cultural ao
tiveram que elaborar um quadro comparativo de mesmo tempo. (SOUCHON, 1997, 17, citado por
PASQUALE et al., 2004, pág. 24). [Tradução nossa].
semelhanças e diferenças entre os dois
personagens principais Uólace e João Victor.
A exibição da série na L2 sem legendas e com
falantes nativos apresentadas aos alunos
Para realizar essas atividades o aprendiz deverá
possibilitava não só que eles apreciassem o
processar toda essa informação que lhe foi
contexto sociocultural e histórico dos protagonistas,
apresentada em forma de texto e audiovisual, que
mas também a pronúncia correta, o que foi um
segundo a teoria do linguista holandês Teun Van
eficaz recurso de aprendizagem. Esta abordagem a
Dijk, o aluno inicialmente deve interpretar
partir de textos contextualizados é importante
globalmente o tema do texto e assim poder extrair
porque o aluno deixa a gramática relegada para
as ideias e conceitos mais importantes, filtrando as
segundo plano e aprende por imitação pensando na
informações não importantes, na maneira de
L1, e não traduzindo. Com relação a este tema
elaborar um resumo que mantenha o sentido do
podemos nos referir ao linguista norte-americano
texto original, esta reconstrução abstrata se chama
Stephen Krashen[1], que assegura que as pessoas
macroestrutura e para elaborá-la o educando vai
devem aprender uma língua estrangeira da mesma
utilizar as macroregras linguísticas de compreensão
forma que as crianças aprendem a falar desde que
e produção, que são:
nascem, isto é, de forma natural.

Macroregras de compreensão: “são aquelas que Queremos deixar em claro que esta sequência
permitem elaborar a macroestrutura de um texto didática funcionou no caso do idioma português,
escrito, tirando do mesmo as informações mais por ser uma língua transparente com o espanhol.
importantes”. (VAN DIJK, citado AUGUSTO, 2012,. 3).

A história do livro escolhido transcorre na cidade do


Macroregras de produção: São aquelas que permitem Rio de Janeiro, os protagonistas são dois garotos
desenvolver uma macroestrutura memorizada para que possuem realidades de vida bem distintas, o
construir um texto novo. Que seria o caso de fazer primeiro Uólace vive na realidade da favela carioca,
uma pergunta onde sua devida resposta seja pessoal,
convivendo com a fome, carência de contenção
a qual permitirá ao aluno construir um novo texto.
familiar, falta de oportunidade para escolarizar-se, é
(VAN DIJK, citado por AUGUSTO, 2012, pág. 3).
sofredor do preconceito do racismo, arraigado na
sociedade que tende a criminalizar a pobreza. Já o
Depois de os alunos dominarem o vocabulário e
segundo João Victor pertence à classe média, mora
compreenderem bem a trama da série, veio o
no centro da cidade, estuda em uma escola
desafio de transformar a narrativa em diálogo. Esta
particular e tem as necessidades básicas para sua
etapa envolveu a produção de resenha crítica que é
sobrevivência, como contenção familiar,
uma atividade que aprimora a redação de textos e o
alimentação e vestuário sendo atendidas. A pesar
enriquecimento de vocabulário, além de promover o
de esses garotos pertencerem a mundos
desenvolvimento do pensamento crítico e uma
divergentes, suas histórias se entrelaçam por terem
análise textual mais apurada. O texto está dividido
sonhos em comum, próprios de todo adolescente,
em doze partes e os alunos fizeram uma atividade
tais como o desejo de comer hambúrguer de
em que a história foi resumida em forma de
lanchonete e de ter o tênis de grife, que encarna o

16 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


ideário consumista que alcança diversas classes
sociais e despertam o desejo pelas mesmas coisas. Aplicamos o conceito da Competência Comunicativa,
Portanto, a leitura deste livro está relacionada com proposta pelo sócio linguista americano Dell Hymes
o mundo real do aluno, a qual resulta uma (1979), a importância deste conceito foi ressaltada
aprendizagem significativa (Ausubel, 1978). pelas professoras K. D. Maciel e I. Hartl da UFRJ no
seguinte trecho:
Em relação a estes desejos em comum, vemos
abaixo quatro fragmentos do livro “Uólace e João O conceito de competência comunicativa de
Victor” da autora Rosa Amanda Strausz que dizem: Hymes (1979) vai nortear a visão funcional de
ensino/aprendizagem. A língua serve para
João Victor- Café com leite e pão com manteiga? expressar funções, tais como, informar, pedir,
- Eu queria um hambúrguer com batata frita. cumprimentar entre outras. A competência
- Hambúrguer? comunicativa pressupõe competências, tais como:
- Espanta-se minha mãe. linguística, estratégica, discursiva e
- Era só o que faltava. Não alimenta nada e faz mal. sociolinguística. A visão destes teóricos incluindo-
(STRAUSZ, 2003, pág. 12). se, aí também Wilkins (1979) e contribuições da
pragmática – atos de fala (Austin, 1990) dá origem
Uólace:- Café com leite e pão com manteiga? - à abordagem comunicativa no ensino de línguas; a
Desanimo. O homem já está com a mão no bolso. forma está em segundo plano, o foco está no uso,
Pára e me olha, meio invocado. na comunicação. O conteúdo programático visa
- O que é que tem de errado com isso? Não estou funções e noções.
pagando um lanche para você?- Mas não dava para A visão mais recente no ensino/aprendizagem de
ser um hambúrguer? línguas é a interacional. A língua, os enunciados,
- Dava nada! Hambúrguer é muito caro. Além disso, que são sempre dialógicos, constroem as relações
não é bom para a saúde. (Ibidem, pág. 13). pessoais e as identidades sociais. Esta visão
incorpora a funcionalidade, mas dá um passo bem
João Victor: - Por culpa do ”H” tirei 5 (cinco) na adiante, pois acredita que o conhecimento seja
prova. Minha mãe vai me matar. Zé Luís e Lucas construído na interação social. Daí a ênfase aos
também entraram pelo cano. Saímos os três pela procedimentos, à relação estabelecida entre
calçada, xingando o ”H” e olhando as vitrines. De professor, aluno e materiais. Acreditamos que
repente, uma aparição. O tênis mais deslumbrante alguns métodos comunicativos mais recentes de
já fabricado no mundo reluz na vitrine da sapataria. alguma forma incorporam esta noção de
Parece até que tem imã. Eu, Zé Luís e Lucas, dialogismo, da construção do conhecimento
grudamos o nariz no vidro. (Ibidem, pág. 18). através das enunciações dialógicas (Bakhtin,
1992). (D. MACIEL e HARTL, 2003, pág. 2).
Uólace: - Deve ter alguma coisa muito interessante
naquela vitrine. Vamos ver o que é. [...] Cachorrão É necessário frisar também que leitura é cultura e
Duplex já acorda anta. E quando resolve atacar, é para a transmissão da mesma, não se trata apenas
mais anta ainda. [...] Agora mesmo está vidrado no de contar histórias, escutá-las e logo repeti-las
tênis do filhinho-de-papai mais gordo e besta. [...] mecanicamente, senão que a mesma consiste em
Vamos entrar pelo cano se tentar ganhar o tênis na que o ouvinte possa enriquecê-la perante a
marra. Catuco Cachorrão Duplex: Vambora, acho contribuição que vai estabelecer pelos vínculos
que tá sujando. Nessa hora, a bola-de-banha do
criados neste processo, sendo então que é a própria
papai faz uma cara de quem não têm medo de
história contada a que cria as relações interpessoais
nada, de quem pode comprar o mundo com cheque
e diz que vai comprar o tênis amanhã. (Ibidem, e esse foi um dos nossos objetivos neste projeto,
pág.24, 26, 31). que era além de fazer com que o aluno
desenvolvesse a fala através de textos, que ele
Salientamos também que para trabalhar este tema também pudesse relacioná-lo com suas experiências
adotamos uma abordagem dinâmica sobre o ensino de vida. (Ausubel, 1978).
de PLE, além de nos basear em vários teóricos
importantes e em nossa própria experiência como Para concluir, a ideia fundamental deste artigo
professoras, tanto nas escolas de ensino médio, nos sobre o ensino de PLE para aprendizes do nível B2,
terciários como nos cursos de idioma. que já contam com um conhecimento prévio, é

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 17


ressaltar que pudemos aplicar uma abordagem da turma. Os materiais trabalhados foram pensados
contextualizada e comunicativa. Um fator com o intuito de que os alunos pudessem relacioná-
importante foi apresentar o material (o livro) de los com seu contexto social ou experiências
maneira que os alunos tivessem um primeiro vivenciadas. A escolha de trabalhar o livro de
contato de forma escrita, começando a fase da “Uólace e João Victor” e a exibição da minissérie
leitura em conjunto com a professora e a homônima foi justamente para este fim, ou seja,
compreensão do mesmo em contexto. Esta etapa apresentá-los a história que relata a vida de dois
de compreensão gerou múltiplas interpretações personagens reais, que vivem na atualidade de uma
individuais, as quais foram debatidas entre todos, grande cidade, suas classes sociais são totalmente
criando uma interação que enriqueceu o opostas, embora tenham desejos e sonhos em
desenvolvimento da fala que afiançou o grupo e comum, como todos os jovens inseridos na cultura
também encorajou aqueles alunos mais tímidos a ocidental consumista, independentemente da classe
participarem e a se soltarem mais. Depois de social que possuam. Esta forma de ver as coisas
terminar de ler o livro tiraram as dúvidas sobre o como elas realmente são, através de um material
vocabulário, para finalmente assistir ao vídeo da autêntico e não adaptado, produziu um input
série como reforço e para completar a compreensão significativo e atraiu o interesse do aprendiz,
do texto e assim puderam ter uma visão do facilitando o ensino / aprendizagem, pois o mesmo
contexto sociocultural e histórico e também estava relacionado ao seu entorno.
melhoraram a pronúncia. Nesta segunda fase
trabalharam as atividades que têm a ver com as Em relação aos métodos utilizados, nós aplicamos
macroproduções, já que as atividades de aqueles que mais se adaptaram à turma, usamos a
macrocompreensão foram trabalhadas quando abordagem comunicativa e a interação social, e
leram o livro. também nos baseamos em vários teóricos
nomeados para realizar nossa planificação. Sempre
Logicamente o ensino de LE não é uma ciência mantendo como foco principal no aluno e na sua
exata, para isto o professor deverá adaptar estes aprendizagem.
conceitos segundo o nível, contexto social e cultural

Referências bibliográficas
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disponível em: http://pt.slideshare.net/cesarahdz/exposicion- abordagens de ensino de línguas estrangeiras e processos de
canchola Data de consulta: 18/09/15, 8:20 horas. ensino / aprendizagem - (UFRJ) FD7 (2003), dis em:
www.apario.com.br/forumdeutsch/revistas/.../ForumDeutschtodo
AUSTIN, John L., How to do Things with words, New York: s.pdf Data de acesso: 25/09/15, 15:37 horas.
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2009. disponível em:
http://www.sdkrashen.com/content/books/principles_and_practic SITE YouTube.br, vídeo da série “Uólace e João Victor”, disp. em:
e.pdf Data de consulta: 19/06/16, 14:30 horas. https://www.youtube.com/watch?v=8YKODqXtHBk Data de
consulta: 10/09/15, 15:00 horas.
KRASHEN, D. Stephen, Principles and Practice in second language
acquisition, University of Southern California (Internet Edition), SOUCHON, M., La lecture-compréhension de textes: aspects
2009, pág.10. théoriques et didactiques, in Revue de la SAPFESU Número
Especial, Bs.As, 1997, citado por PASQUALE et al., Leer en lengua
LOPES MESSIAS, Rosana; BRAGA NORTE, Mariângela; et al., extranjera: estrategias lectoras y situaciones de lectura, 2004).
Língua Inglesa Coleção, temas de formação volume 4, UNESP -
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, disponível em: STRAUSZ, Rosa Amanda, Uólace e João Victor, Editora:
http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/unesp/179739/3/un OBJETIVA, Edição: 1, São Paulo, 2003. Documento disponível em
esp-nead meio eletrônico.
redefor_ebook_coltemasform_linguainglesa_v4_audiodesc_20141
113.pdf Data de consulta: 30/10/15.

18 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


Tecnologias Educacionais

Innovación tecnológica para el


diálogo intercultural en la clase de
portugués lengua extranjera
Liliana Roxana Rubín & Geruza Queiroz Coutinho

Liliana Roxana Rubín e Geruza Queiroz - professoras da cidade de Salta, Argentina -


compartilham sua contribuição teórico-prática sobre a implementação de diversos recursos TIC e
ferramentas digitais interativas para a promoção das competências interculturais no ensino de PLE.

(Artigo em espanhol)

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 19


C
uando empezamos a social y transformación de del/de la docente. Sin embargo,
aprender una nueva prácticas educativas. Los nuevos cuando se piensa de manera
lengua no solo materiales permiten y hasta flexible desde esa misma
consideramos la formación de fomentan tales acciones. Es la concepción de acción pedagógica,
hábitos lingüísticos y la adquisición digiculturalidad que pone en la posibilidad de aprender fuera
de estructuras gramaticales. práctica iniciativas educativas del aula se potencia, avanza al
Salimos al encuentro de una interculturales a través de las TIC. aula extendida y desde esta
realidad que nos resulta diferente, En este universo, lo virtual ayuda perspectiva, podemos asumir y
y que, para comprenderla, es a enseñar, aprender y ejercitar la transmitir un pensamiento que los
necesario entender y aprender las En nuestro quehacer educativo, profesores y profesoras
normas que regulan la interacción la interculturalidad en el aula compartimos: sabemos cómo
social del país cuya lengua conlleva al debate; en sí misma la empezamos una clase, pero no
estudiamos. Así es necesario llevar interculturalidad es transitoria e sabemos cómo va a terminar…
la cultura al aula, lugar en el que imprevisible. Siempre es Es nuestra tarea el intervenir,
los aprendientes se enfrentarán, movimiento. Por ello no se sabe en el aula, para facilitar las
durante su proceso de cómo puede terminar una clase diversas acciones pedagógicas.
aprendizaje, a situaciones que no donde se hace apuesta a lo Por esa razón pensamos en la
pueden analizar ni interpretar intercultural y esta perspectiva necesidad de poner- por medio de
desde sus propias pautas de solicita planes de clase flexibles. otros recursos- en evidencia los
comportamiento. Es por ello que hablamos de aspectos culturales relativos a la
La experiencia creativa lengua que se des-cubre,
instala el diálogo y, con ello, como una forma a través de
la integración y convivencia la cual, al tener contacto con
enriquecida entre culturas. lo nuevo, el aprendiente
Las relaciones interculturales pueda, también ser
no son un concepto acabado, Ferramenta gratuita para realizar consciente de su propia
más bien se caracterizan por mapas conceituais. Download. cultura y, por consiguiente,
un devenir pautado en adquirir comprensión y
acción pedagógica, una acción que
debates que desembocan en el respeto por las diferencias.
se consustancia en la interacción,
respeto a la diversidad y el El complejo entorno tecnológico
solicitando revisar la noción de
enriquecimiento mutuo. Sin que caracteriza hoy a nuestras
planificación.
embargo su condición polifónica sociedades ha creado hábitos y
De este modo requiere
hace que sea una suma de prácticas culturales absolutamente
preparación docente y
experiencias marcada por novedosas y que no se podían
predisposición para dejar que la
tensiones. Como docentes de PLE, imaginar hace quince o veinte
vida misma entre en el aula; aquí
somos conscientes de la años[1].
no vale tanto la organización
importancia de materializar Cuando hablamos del material
previa de los datos de la lengua ya
acciones con el uso de recursos didáctico a utilizar en la enseñanza
que la lengua fluye, es la
tecnológicos y reflexionar sobre del PLE debemos seleccionar
viabilizadora del debate.
las potencialidades de las TIC aquellos que propicien la
Ratificando el binomio lengua-
como medios de enseñanza, lo enseñanza de la LE dentro de la
cultura.
que requiere el diseño de recursos perspectiva intercultural. Así
Tal enfoque solicita un
didácticos y prácticas pedagógicas emplearemos materiales
redimensionamiento de la noción
que fomenten el diálogo producidos en otros soportes-
de recurso didáctico y materiales
intercultural. audiovisuales, software didáctico,
de apoyo, materiales que deben
Tal diálogo cuando instalado en hipertextos, conformando un
ser maleables permitiendo que la
los espacios educativos con verdadero conjunto multimedial.
acción pedagógica se concrete
intervención pedagógica incitan al En función de un plan abierto -
más allá de la presencia física
diseño de proyectos de impronta que más bien podemos pensar

20 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


como un guión - los objetivos diálogo intercultural y de la CmapsTols-, los blogs o bitácoras,
vinculados al desafío de trabajar la argumentación a favor de lo herramientas en línea
interculturalidad deben estar plural. como VoiceThread . En esta
plasmados en el material Hablamos de planes flexibles, selección que mencionamos, se
pedagógico y sus diferentes quizás sea interesante hablar de destacan solo algunas de las
soportes, trabajado en diferentes guión. Inclusive quizás es herramientas y recursos
reiterativo hablar de disponibles y que deberán ser
un guión abierto, pensadas en función de si la clase
pero no es así cuando se desarrollará en una instancia
se trata de aulas presencial, mediada por TIC, y/o
Ferramenta online para realizar virtuales, ya que ellas en un entorno virtual.
paineis digitais. Entrar. requieren más que un Las TIC en este caso ayudan a
ensamblado de que la enseñanza de una LE sea
momentos del proceso de recursos disponibilizados en favorecida por un tratamiento
aprendizaje. En función de eso se repositorios virtuales. Amerita un interdisciplinario. Permitiendo una
piensa la forma de interacción de trabajo pedagógico realizado por acción pedagógica que extiende el
los alumnos y de los profesores un contenidista[3] y aquí el guión vínculo del aprendizaje hacia
con él. Sin embargo, trabajar en abierto del que hablamos también afuera del aula, las aplicaciones
Internet supone que el medio en es un guión articulado. vinculadas a las imágenes
el que se desarrolla el proceso de Debemos considerar que el (creación de tarjetas, presentación
aprendizaje/enseñanza es encuentro en la virtualidad es de fotos de objetos de arte
diferente. No existe un espacio asincrónico. Puede ser sincrónico propios o de otros y realización de
físico; el alumno interacciona cuando coinciden estudiantes y collages en soportes digitales,
mayormente de manera individual tutores pero, al solicitarse ver una presentación de diapositivas con
con los materiales; si se propone película o escuchar una canción, o fotos de artistas, entre otras
un trabajo en parejas o en grupo, cuando se deja en el foro una posibilidades) amplían
tenemos que pensar en la ruptura consigna para reflexionar sobre posibilidades para ese guión
de la coordenada temporal. Para una práctica cultural, tales abierto o articulado que venimos
poder superar estos problemas, es actividades requieren tiempo de planteando.
necesaria una profunda reflexión reflexión. Y los tiempos son Con la tecnología jugando a fa-
sobre cómo deben ser diferentes para cada
presentados los materiales y atañe aprendiente. Por ello
principalmente al equipo didáctico, un guión demasiado
que deberá buscar los medios para abierto no siempre se Ferramenta online para fazer
transmitir sus ideas al equipo adapta a acciones debates orais a partir de um ou
técnico antes de la pedagógicas marcadas vários slides. Entrar.
implementación de los materiales. por la virtualidad, y es
Es necesaria una comunicación necesario repensar las consignas y vor, la presencia de textos no
ágil y fluida entre ambos equipos. adaptarlas para ir trabajando la verbales auténticos en las situacio-
Y hacemos el ejercicio de interculturalidad, que ahora es nes de aprendizaje se potencia en
pensar una existencia hipotética digitoculturalidad. otros materiales. Específicamente
de un entorno virtual de Para desarrollar las acciones vemos como positivo tal potencial
aprendizaje. En ese entorno el pedagógicas y lograr el en lo que concierne a la ense-
equipo didáctico creará los aprendizaje al utilizar las TIC ñanza-aprendizaje del Portugués
materiales y transmitirá las mediante una selección de como LE, permitiendo problemati-
especificaciones necesarias para herramientas tecnológicas que zar las representaciones sobre las
su implementación al equipo acerquen a los aprendientes a culturas lusófonas, especialmente
técnico[2]. Ambos equipos, desde formas de aprendizaje más sobre el país vecino - Brasil[4].
sus quehaceres diferenciados, interactivos, como lo son: el audio Creemos que la presentación
trabajan para plasmar aquí educativo, los murales digitales - de imágenes, favorecida por TIC,
situaciones favorecedoras del Padlet -, los mapas conceptuales - potencia el juego argumentativo
Outubro 2016 | Revista LuSofia | 21
en las aulas tradicionales o exten- producción pensada para tal fin. agradecimiento. Anhelando que el
didas. Y el ejercicio argumentativo Representa la narrativa y el es- aprendizaje sea significativo, sea
da impulso al debate intercultu- fuerzo por comprender un texto aprendizaje de hecho, buscamos
ral. Asimismo destacamos que que no está escrito. Por las estar presente con un ejercicio de
debatir es una opción de la educa- posibilidades de reproducción se amabilidad, de propensión a la
ción dialógica y puede ser llevada vuelve un recurso interesante para convivencia, enfatizando con la
en situaciones de aprendizaje no el aprendizaje de una lengua, iniciativa de la grabación que el
simultáneas entre los actores de la explorando matices fonéticos y aprendizaje de un determinado
argumentación; cabe al docente cadencias rítmicas. Diseñamos una grupo de estudiantes es único,
generar o aprovechar las situacio- actividad y un material de nuestra mereciendo esa producción de
nes para ese diálogo. autoría, algo que los estudiantes material particularizada y en clave
El audio educativo, grabado con reciben positivamente, tal vez por de diálogo con demandas y carac-
finalidad pedagógica, presenta una curiosidad o tal vez como gesto de terísticas del grupo.

A modo de conclusión…
Las TIC favorecen positivamente la propuesta de de su utilización. Las TIC solicitan flexibilidad en sus
guion abierto y articulado para las clases de usos, pero permiten potenciar el diálogo entre los
enseñanza de LE. Al tratar lo intercultural, las TIC actores del proceso de enseñanza aprendizaje,
se muestran como un recurso propulsor del debate, todos los que aprenden, incluso docentes. En un clic
y eso es una apuesta que va en contra de la idea conocemos, debatimos y reflexionamos. La
generalizada que las tecnologías nos deshumanizan. virtualidad nos ayuda a llegar a la aceptación de la
En verdad es el diálogo que nos humaniza y la diferencia. Y nos ayuda también a rever, reforzar y
utilización de las TIC en pro del diálogo es perfeccionar “métodos tradicionales” de enseñanza-
bienvenida. Un abanico de experiencias se ofrece al aprendizaje. Es parte del juego de aceptación
docente y un planeamiento rígido juega en contra mutua.

Bibliografía
Duque de la Torre, A y col. La creación de materiales para la - Buenos Aires: Santillana, 2010. Consultado en
enseñanza de lenguas extranjeras en Internet. ASELE. Actas XII http://www.unsam.edu.ar/escuelas/humanidades/actividades/la
(2001) Consultado en: tapi/docs/Dussel-Quevedo.pdf
http://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/asele/pdf/12/
12_0459.pdf [2] Duque de la Torre, A y col. LA CREACIÓN DE MATERIALES
PARA LA ENSEÑANZA DE LENGUAS EXTRANJERAS EN
Dussel, Inés VI Foro Latinoamericano de Educación; Educación INTERNET. ASELE. Actas XII (2001) Consultado en:
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digital / Inés Dussel y Luis Alberto Quevedo. - 1a ed. - Buenos 12_0459.pdf
Aires: Santillana, 2010. Consultado en:
http://www.unsam.edu.ar/escuelas/humanidades/actividades/la [3] Especialista en la disciplina y como experto en el dominio
tapi/docs/Dussel-Quevedo.pdf del área, su función principal consiste en la selección de los
contenidos, recursos y actividades que incluirá el material que
Júdice, N. O ensino da língua e da cultura do Brasil para escriba y no siempre coincide con la figura del tutor, con quien
estrangeiros: pesquisas e ações. Niterói: Intertexto, 2005 trabaja, para transformar una suma de recursos en un
pensamiento entramado en pro del aprendizaje.
[1] Dussel, Inés VI Foro Latinoamericano de Educación;
Educación y nuevas tecnologías: los desafíos pedagógicos ante [4] Júdice, N. O ensino da língua e da cultura do Brasil para
el mundo digital / Inés Dussel y Luis Alberto Quevedo. - 1a ed. estrangeiros: pesquisas e ações. Niterói: Intertexto, 2005.

22 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


História e Literatura

María Fernanda de Sousa Tomé


"El cielo de Belén" - Por: Guillermo Vidal
Clique aqui para descarregar e ler informações do desenho.

A
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
nalisar o fenómeno da globalização, nos novos tempos
Deus quis que a terra fosse toda uma,
históricos, tornou-se uma questão essencial para a Que o mar unisse, já não separasse.
construçã o e para a interpretação das identidades individuais, Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
colectivas, nacionais, regionais, etc. O sujeito moderno vai
confrontando-se no contacto permanente com variadas formas e E a orla branca foi de ilha em continente,
práticas culturais. Essas práticas ligadas, inicialmente a um Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
tempo e a um espaço, sofreram transformações, deslocamentos E viu-se a terra inteira, de repente,
e renovações. Os fluxos culturais que as novas formas de Surgir, redonda, do azul profundo [1].
comunicação e as imagens da mídia apresentam, são de uma
incontestabilidade e de um impacto nas nossas identidades, que permanentemente promovem debates.
Espaço e tempo colocam-se como variáveis e dimensões relativas, e essa relatividade arrasta com eles, as
identidades fortemente ligadas a um território e a uma narrativa histórica.

Alguns teóricos argumentam que o efeito geral desses processos globais tem sido o de enfraquecer ou
solapar formas nacionais de identidade cultural. Eles argumentam que existem evidências de um
afrouxamento de fortes identificações com a cultura nacional e um reforçamento de outros laços e
lealdades culturais (Hall, 2000, p.73)

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 23


Esta questão, que parece especialmente ligada à deveríamos falar em culturas híbridas, plurais e
modernidade tecnológica, ao séculos XX e XXI e às sincréticas. Em geral, são todos conceitos ligados
possibilidades de interconexão do planeta através ao processo de contactos, de imposição e de
das redes sociais, da circulação de homens, bens, difusão cultural, aliás, de carácter compulsório, na
serviços, tecnologia, produtos, etc, não é privativa maioria das vezes. Seguindo essa linha, ao analisar
destes tempos. Na verdade, na história mundial, o Portugal como agente colonizador, no início da
antecedente histórico da expansão portuguesa, é modernidade, poder-se-iam detalhar questões da
claramente um desses fenómenos. Nessa sua especificidade colonial, salientar as suas
perspectiva, o presente artigo tentará reflectir sobre peculiaridades, reflexionar sobre o papel da língua.
essa primeira globalização instalada na Contudo, este breve trabalho é um início de reflexão
modernidade dos séculos XV e XVI, a escala na procura de expor o lugar de Portugal como
planetária, isto é, a globalização do mundo primeiro operador do processo de interculturalidade
inaugurada por Portugal. global.

Não é possível, hoje, considerar culturas De maneira sucinta, apresentar-se-ão algumas


homogéneas, nem puras (Homi Bhabba, 1994, 21), referências ao percurso das ligações
intercontinentais que foram desenhadas como uma
urdidura pelos navios de origem lusitana que do
“El cielo de Belén” (Guillermo Vidal,
2016) é uma imagem livre! Você Japão até ao Brasil traçavam estradas no mar não
pode usá-la em suas aulas ou para só carregadas de mercadorias. Portugal foi a
seus materiais didáticos. potência pioneira a lançar-se na expansão
Acesse no seguinte padlet para ultramarina e aliás, como coloca Boaventura Sousa
comentar suas impressões pessoais: Santos “a que manteve por mais tempo seu
https://goo.gl/DT7WER império” (2006, p. 237).

24 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


Segundo Isabel Castro Henriques, Portugal tornou- objectivos políticos e religiosos. As margens do
se um protagonista “chave” no prelúdio da Atlântico, a africana e a americana, com diversas
globalização conhecida nos nossos dias e da origens e culturas, tiveram diferentes modelos de
“construção do mundo contemporâneo” (Henriques, colonização, e essa situação torna evidente as
2004, p.103). Os portugueses foram os actuais características do pós-colonialismo de
responsáveis dessa inicial transformação na história origem portuguesa.
da humanidade e os criadores dum tempo moderno,
em que várias culturas começaram a se entrelaçar e O império colonial cujo epicentro simbólico estava
atravessar no contexto do empreendimento no alto-mar do Atlântico Sul, após a Restauração no
mercantil iniciado no século XV. Esta autora assinala século XVII, estabelece dois modelos, enquanto na
a importância do oceano Atlântico nesta empresa. A margem ocidental instaura uma sociedade colonial,
universalidade que adquiriu o espaço atlântico, na margem oriental do Atlântico, instala feitorias e
apesar de sua matriz de origem económica, atingiu pequenos núcleos, funcionando apenas,
dimensões políticas, sociais e religiosas que inicialmente, como passagem para o império do
transformaram o mundo através da transferência de Oriente. Mais tarde, a África, tornar-se um agente
humanidades, modelos e culturas. passivo e fornecedor de mão-de-obra para América.

Para um certo número de historiadores, a história A clara subordinação ao Brasil, fez com que a África
moderna começaria entre os séculos XV e XVI vivesse séculos de exploração e sumição. É evidente
quando europeus e mais particularmente os que a colónia americana era o centro do esquema
portugueses, começaram a aventurar-se no colonial português, baseado no latifúndio, na
Atlântico, perdendo a costa de vista, afrontando o
monocultura e na produção para o mercado
mar livre enfim das barreiras terrestres. (Castro
externo, o trabalho escravo completava essa
Henriques, 2004, p.107)
tetralogia inabalável. Dessa maneira, o homem
torna-se um bem semovente fundamental e a mais
Assim, o mar conforma, simbolicamente, o palco da
importante “mercadoria” que a África fornecia. A
modernidade pelo seu papel de viabilizador-veículo
complementaridade entre as colónias era de
de contacto de culturas longínquas, diferenciadas e
carácter, marcadamente, desigual, como assinala
desconhecidas. Nesse contexto, surge a escravidão
Luiz Felipe de Alencastro (2000).
como componente estrutural de toda a empresa
colonizadora que inaugurou o mundo moderno no
séc. XV e o Atlântico é o mar não só das viagens e Nessa era global, surgiu uma maciça miscigenação
intercontinental entre a América, a África, a Europa
das descobertas, mas sim do tráfico, das trocas e
e a Ásia. Contudo, é o continente americano o
da criação de sociedades diferenciadas com
paradigmas diferentes aos conhecidos. Nessa maior berço desse processo universal único, e
construção, o oceano Atlântico funcionou como nomeadamente, o Brasil é o exemplo de criação
espaço aglutinante-difusor-derivador dum mundo duma humanidade nova. Para Boaventura de Sousa
Santos, a indecidibilidade do colonialismo português
novo que transferia homens, animais, plantas,
costumes, crenças, etc. a escala mundial. reflecte a presença de infinitas manifestações de
interacção e da existência de um regime de
A primeira experiência colonial, no início da interindentidades (Cf. 2006, p.238). Este autor
detalha os processos de cafrealização, assimilação,
expansão marítima, praticada pelos portugueses no
oceano Índico, de carácter pontual e mercantil, i.e., miscigenação que são claramente “manifestações
da porosidade dos regimes identitários dos
fundamentalmente económica, transladou-se, mais
tarde, para o oceano Atlântico de maneira portugueses” (Santos. 2006, p. 236)
aprofundada, diversa e persistente, reforçando os

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 25


Assim, o Brasil, é um exemplo desse “jogo de operações, de influências e de mudanças que os
espelhos” ao dizer de Sousa Santos, pois conforma portugueses iniciaram no nosso planeta.
uma nação cuja identidade plural é única na
América e no mundo. Apesar de estar muito longe Finalmente, e retomando as ideias ligadas à
duma democracia racial como alguns brasileiros globalização do mundo actual, o maior valor da
preconizam; a mestiçagem racial e cultural, expansão portuguesa é pensar que pela primeira
caldeada na colónia, criou uma sociedade “semi vez existiu uma verdadeira interpenetração de
integrada”, na qual a miscigenação fez surgir uma culturas, e as variáveis de espaço e tempo foram
cultura nova, com elementos inclusivos dos três distorcidas pela presença de humanidades
continentes banhados pelo Atlântico, porém, é diferentes e de trocas recíprocas, ao mesmo tempo
importante destacar que a cultura autóctone foi e em várias regiões do globo. A interculturalidade é
amplamente superada pelas forâneas. evidente nas marcas deixadas pelos portugueses no
mundo, porém, também eles sofreram mudanças
Poder-se-ia avançar no século XIX e XX, também culturais significativas, fazendo surgir novas
seguir entrelaçando a África e o Brasil, a Europa e a sociedades e comunidades, produtos de sínteses e
Ásia, detalhar os mecanismos atrozes de imposição de interacções. Com e apesar da liderança
cultural, explicitar as formas de exploração eurocêntrica, das assimetrias, das especificidades,
económica e sobretudo analisar a eficácia da muito do desconhecido começou a se desvendar, a
instituição escravocrata que traspassa o processo ser dito e o diferente e o outro “surgiram ...”
todo. Contudo, o objectivo do presente artigo foi profusamente e de maneira global “...do azul
focalizar no aspecto da teia de contactos, de profundo”.

Referências
[1]
Duas estrofes do terceiro poema, “O Infante” da Segunda Parte Mar Portuguêz da obra épica de Fernando
Pessoa, MENSAGEM. O infante D. Henrique representa a figura chave na expansão ultramarina, como iniciador
e sonhador de um Império, o único imperador que tem deveras/ o globo mundo em sua mão.

[2]
Os conceitos de este artigo são elaborados a partir dos trabalhos realizados no Curso à distância do IC:
Estudos Pós-coloniais: Atlânticos Sul, 1.ª edição- 2008- 2009

Bibliografia
Bhabha, Homi K., El lugar de la Cultura, Buenos Pessoa, Fernando, Mensagem- Poemas Esotéricos,
Aires, Ed. Manantial, 2002 Ed, Crítica, José Augusto Seabra, coord. 2° ed.,
Madrid, 1996.
Cuche, Denys, A Noção da Cultura nas Ciências
Sociais, Bauru-SP, EDUSC, 1999 Santos, Boaventura de Sousa, “Entre Próspero e
Caliban: colonialismo, pós colonialismo e inter-
Hall, Stuart, A Identidade Cultural na Pós- identidade” in Boaventura de Sousa Santos, A
Modernidade, Rio de Janeiro, DP&A Editora, 2009 Gramática do tempo: Para uma nova cultura
política, Vol. 4, Porto, Ed. Afrontamento, 2006
Henriques, Isabel Castro, os pilares da diferença-
relações portugal-áfrica, Casal de Cambra,
Caleidoscópio Ed., 2004

26 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


25 de abril:
Mitos redentores e esplendor português. A filiação de
Viriato em tempos de Troika
Romina Alves

“...E os que esperam ainda nas naus romãnticas


lusíadas parados no Rossio
filhos de Viriato pálidos e desarmados
falam em D. Sebastião à mesa dos cafés
os que não se afogaram nas águas atlânticas
frustrados habitantes dum navio
que nunca foi além dos sonhos adiados
marinheiros de agosto que molham no mar os pés...” [1]

Introdução

O
seguinte trabalho visa oferecer uma português outorga a determinadas figuras e
reflexão sobre o período histórico evocações enquanto construtoras do sentido de
decorrente entre a revolução de 25 de identidade do povo e do sentimento nacional.
abril de 1974 e a atualidade da sociedade “Levantai hoje de novo o esplendor de Portugal!”
portuguesa, propondo como eixo de análise os ordena a pátria canção que evoca a voz daqueles
mitos redentores presentes no imaginário social egrégios avós fundadores, num “hoje” que
português e o reflexo destas produções sócio- desvenda um tempo sem tempo, um tempo 0, um
históricas na idiossincrasia do povo e no devir tempo mítico de esplendores, lutas e sucessos, que
histórico do país. Neste sentido, é importante investe diferentes figuras ou processos à maneira
salientar que o conceito escolhido como elemento dum verdadeiro imperativo de redenção.
norteador e articulador irá ser o proposto por
Febvre, a saber: a noção de mentalidade. Assim, pensa-se que o Sebastião de ontem se
Considera-se que este contributo vindo da escola encarna nas expectativas de todo um país diante
dos Annales é de muito valor para compreender os da força revolucionária e libertária daquele 25 de
fenômenos que vão além dos fatores materiais dos abril ou perante a adesão aos ditados da UE,
processos históricos, permitindo uma captação da evidenciando uma maneira particularíssima de agir,
configuração de ideias próprias de cada momento pensar e sentir que permite refletir as
em particular (Robertazzi, s/d; Duby, 1992). Neste singularidades dum Portugal que, ainda em tempos
sentido é que convém lançar mão da de Troika, anda errante à procura duma tal “Vila
preponderância das construções míticas em cada Morena” que ampare os “sonhos adiados” desses
cultura e, particularmente, no sentido que o povo filhos de Viriato[1] que compõe a pátria lusitana.

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 27


grande crise econômico-financeira se apresentava nos discursos de
Os mitos redentores e o 25 de
(Ferreira, s/d; Vasconcelos e muitos setores da sociedade
abril: Entre as trevas da Sousa & Monteiro, 2010). expondo, de forma aparentemente
paradoxal, “tanto a crença
memória e a utopia lusitana É considerando esta situação de messiânica na transformação
No dia 25 de abril de 1974 ocorreu profunda crise e operada pelo momento mágico
em Portugal a revolução que levou descontentamento do povo, tão representado pelo 25 de Abril
o país à libertação dum regime bem refletida em filmes como como a convicção de que se
ditatorial que permaneceu 40 Capitães de Abril, que a ideia de tornava necessário investir nessa
anos. Ferreira (s/d) coloca que revolução e queda do regime construção do novo,
nesse momento a sensação geral advém no imaginário do povo designadamente por via da
de alívio percorreu a sociedade, português como uma utopia transformação da educação, parte
pois o estado se desembaraçava libertária que passa a ter uma integrante de uma assumida
dum regime ditatorial que levava o correspondência nos modos de «revolução cultural»”.
país ao beco sem saída das agir e na estética de diferentes
guerras pelas colônias de além- áreas da atividade das pessoas Considerando estes contributos e
mar. Este movimento como, por exemplo, na publicidade o valor dos mitos fundamentais na
revolucionário estruturação da
acontecia num cenário idiossincrasia dum povo
internacional marcado é que se pode pensar
pelo declínio de um na hipótese da
Ocidente atingido pela existência dum
inflação e pela retração fenômeno de
do poder americano investimento do
(Vasconcelos e Sousa & processo revolucionário
Monteiro, 2010). a modo de redenção,
salvação duma forma
O povo vivia sob a de opressão na qual o
opressão dum governo corpo era o que
que impunha medidas pagava[3], pagava com
de censura e o sometimento, com o
perseguição através da adiamento de projetos
criação de diferentes de futuro e, às vezes,
corporações como, por exemplo, a e nas expressões culturais[2]. com a morte no campo de
PIDE (Polícia Internacional e de A respeito das transformações batalha, algures, nalguma terra
Defesa do Estado). Por outro lado, culturais e educativas acontecidas colonial em conflito. Daí que
o empenho que existia em manter a partir da revolução de 25 de depois daquele abril a sociedade
os conflictos na África e noutras abril, Pintassilgo (2014) coloca que portuguesa passara a agir sob a
colônias fazia com que os recursos aquele período pode ser ilusão dum esplendor renovador e
econômicos sofressem uma considerado como uma autêntica levantara a partir da voz do povo e
significativa retração juntamente vivência de utopia que permitiu, da ação conjunta dessa voz que,
com os recursos humanos das no campo da educação, um pelo menos naquele dia, mais
forças armadas e o alto índice de verdadeiro laboratório de ordenou conforme indicava um
migrações produzidas durante experiências pedagógicas. Este dos emblemas de revolução, a
esse período, fatos que faziam autor salienta que o ambicioso saber: a canção de Zeca Afonso
com que se mantivesse uma projeto de construir uma “Grândola Vila Morena”.
sociedade nova, um homem novo

28 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


(CEE), passando a ser membro de tomara. É importante lembrar que
E depois de abril... A primavera
facto só em 1 de janeiro de 1986. a Troika é composta de três
lusitana e os tempos de pós- Esta adesão irá ser vivida pelo elementos, a saber: a Comissão
povo como uma espécie de europeia, o Banco Central Europeu
revolução nacionalismo mystico, reforçando (BCE) e o Fundo Monetário
O periodo da pós-revolução se as tendências messiânicas que Internacional (FMI), estas
caracterizou por firmar o princípio foram expostas com anterioridade. organizações impõem ao país uma
do Estado de Direito, da soberania Em diferentes artigos que falam a série de sugestões que
nacional e das liberdades de respeito do momento da adesão empurraram a população a
expressão ou de reunião do país à CEE, nota-se o grande situações de urgência econômica,
(Vasconcelos e Sousa & Monteiro, depósito de fé naquela ação e na produzindo uma série de respostas
2010). Conforme estes autores, a expressão dalgumas figuras da que acordaram no imaginário
maior singularidade deste trecho política que consideram àquele coletivo evocações daquela
de tempo foi o estabelecimento de momento de adesaõ como sendo utópica Grândola Vila Morena[6].
instituições que tornaram possível “Um dos dias mais marcantes da
à oposição, através de eleições história portuguesa[4]“. Estes Neste cenário, começaram a surgir
abertas a todos os cidadãos gestos lembram as colocações que em Portugal movimentos que,
adultos. O exercício livre da fizera Pessoa (2011) a respeito do como consequência da crise de
cidadania reforçava a utopia nomeado conceito de nacionalismo legitimidade que atinge o país,
lusitana da primavera pós- mystico, espécie de sentimento pretendem através da ação
revolucionária consolidando a nacional com acento messiânico. coletiva gerar respostas de
democracia. Quanto às guerras “O messianismo, para além das resistência. Esse ciclo de ação
coloniais, no ano 75 declarou-se a várias contingências históricas, é a coletiva teve o seu acontecimento
independência das colônias esperança na intervenção divina fundacional na manifestação da
africanas aos movimentos que porá termo ao mal da Geração à Rasca e a sua
independentistas dos humanidade” (Ribeiro, s/d; Uribe expressão mais recente nos
correspondentes países. Esta & Sepúlveda, s/d). protestos convocados pelo grupo
conjuntura trouxe uma série de Que se Lixe a Troika, a partir de
efeitos na economia portuguesa 2011 (Soeiro, 2014).
gerando, com o decorrer das
União Europeia: Desde a ilusão
décadas, novos redentora aos tempos de Troika É possível perceber, neste tipo de
descontentamentos e uma Uma matéria do PCP (Partido ações, uma certa continuidade das
regressão do país em termos Comunista Português) que expõe hipotéticas tendências redentoras
financeiros que o obrigaram a os resultados de 30 anos de presentes nas produções do povo.
pensar em novas medidas adesão à CEE permite pensar na De certa forma a criação e
(Vasconcelos & Monteiro, 2010). queda estrepitosa da ilusão recriação de expectativas na
redentora que representara o que própria força de vontade e na
noutros tempos, e ainda hoje, se evocação de estratégias doutrora
considerara como uma das ações úteis denotam a pregnáncia de
mais importantes da história uma mentalidade singular de
portuguesa[5]. A marcha de transcendência primordial na
Portugal sob as indicações de constituição identitária, pelo
organismos internacionais de menos isto é o que lhe ocorre a
crédito e o endividamento do país quem assiste a comovente
acarretaram ajustes e o imagem de todo um povo perante
Como consequencia do 25 de abril enfraquecimento do poder o leme da própria ação sob a
e do impacto que as guerras econômico do povo. A operatória invocação da magia desses hinos
tiveram na economia portuguesa, da Troika aprofundou o mal-estar que noutros tempos encheram de
em 1977 Portugal apresenta a sua na população como consequência cravos as ruas[7].
candidatura de adesão à das medidas que esta trilogia
Comunidade Económica Europeia
Outubro 2016 | Revista LuSofia | 29
Conclusão
As produções coletivas são de imensa importância responder “na minha língua jaz a minha história e
para compreendermos os processos socio- nesta jazemos todos como peças de um ontem que
históricos, pois permitem uma aproximação ao se reproduz num hoje“. Neste sentido, pensa-se na
âmago dos sedimentos culturais e idiossincráticos importância da reflexão a respeito da questão
de um povo. Neste sentido, o objetivo da presente estrutural das mitologias nacionais e nas
proposta se orientou a inquirir aqueles elementos mentalidades, visto que estes elementos permitem
que se consideram constitutivos e próprios da desvendar os sentidos latentes nas escolhas de um
mentalidade lusa. povo. No caso analisado, o caso das elaborações
míticas de cariz redentor e a sua relação com o
Os mitos fundamentais de cada cultura norteiam os decorrer histórico, político e social do povo
modos de agir, pensar e sentir daquelas pessoas português, nota-se como em cada situação de
que partilham traços identitários e um determinado viragem opera algo daquela ilusão mystica descrita
imaginário social-histórico-cultural, a força destas por Pessoa e elucidada pela noção de
construções não conhece de fronteiras temporais mentalidade. Considerando essa tendência
ou geográficas, trasvasa qualquer distância e redentora enfática nos diversos acontecimentos e
habita nessas construções próprias do humano e processos só resta esperar que dalguma vez “a
veiculizadas na máxima expressão de um povo, na sombra duma azinheira” sem edade ofereça
sua língua. “Minha pátria é a minha língua” afirma sossego as ilusões de tantos “marinheiros de
Pessoa, a quem desde o presente poder-se-lhe-ia agosto que molham no mar os pés”.

Bibliografia citada e consultada / Referências


Álvaro, R.; Domingues, J. (1990). “A novo corpus”. Consultado em [2] Material fornecido pelo
Visão Messiânica do Advento da https://www.brown.edu/Departments documentário disponível na RTP.
República” em Revista Portuguesa de /Portuguese_Brazilian_Studies/ejph/p http://www.rtp.pt/play/p1537/estetica
Filosofia. T. 46, Fasc. 4, Filosofia em essoaplural/Issue1/PDF/I1A03.pdf. -propaganda-e-utopia-no-portugal-do-
Portugal, pp. 479-512. Consultado Acesso em 29/6/2015. 25-de-abril
em:http://www.jstor.org/stable/40336
005?seq=1#page_scan_tab_contents. Pintassilgo, J. (2014). A Educação em [3] Referência à canção “O corpo é
Acesso em: 24/6/2015. tempos de Revolução (nos 40 anos da que paga“ de Antonio Variações.
Revolução do 25 de Abril de 1974 em https://www.youtube.com/watch?v=R
Ferreira, M. (s/d). História de Portugal). Espacio, Tiempo y 8DrXK8WS4k
Portugal. Consultado em: http://ieslvf. Educación, 1(2), pp. 13-19. doi:
caba.infd.edu.ar/aula/archivos/_86/Fe http://dx.doi.org/10.14516/ete.2014.0 [4] http://www.noticiasaominuto.com
rreira%20Do%20golpe%20de%20est 01.002.000 /economia/387837/adesao-de-
ado%20a%20Revolucao.pdf. Acesso portugal-a-uniao-europeia-foi-dia-
em: /7/2015. Soeiro, José. (2014). Da Geração à marcante
Rasca ao Que se Lixe a Troika:
Pessoa, F. (2011). Sebastianismo e Portugal no novo ciclo internacional [5] http://www.pcp.pt/30-anos-da
Quinto Império. Edição, introdução e de protesto. Sociologia, 28, 55-79. -assinatura-do-tratado-de-adesao-cee
notas de Jorge Uribe e Pedro Recuperado em 06 de julho de 2015,
Sepúlveda. Lisboa: Ática. de http://www.scielo.mec.pt/scielo.p [6]https://www.youtube.com/watch?v
hp?script=sci_arttext&pid=S0872- =BwXkqHRkUpk
Robertazzi, M. ; Pertierra, L. (s/d).
“Psicología Social Historica”. Ficha de Vasconcelos e Sousa, B. ; Monteiro, [7] Refere-se às conhecidas
cátedra. G. (2010). História de Portugal. manifestações contra a Troika levadas
Lisboa: A esfera dos livros. à frente com considerável
Uribe, J. ; Sepúlveda, P. (s/d). [1] O grande herói da Tribo Lusitana. periodicidade no Terreiro do Paço,
“Sebastianismo e Quinto Império: A. 180 a.c. onde as pessoas
Nacionalismo pessoano à luz de um

30 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


Vídeo-resenha do romance
"As Esganadas" - Jô Soares
Luciana Ribeiro

A literatura de Jô Soares caracteriza-se pela riqueza em conteúdos sócio-históricos e culturais,


empregando uma linguagem simples e estética. No vídeo, Luciana Ribeiro, estudante da EN SLV
“Sofía Spangenberg” oferece uma resenha do livro. Acesse para ver o vídeo!

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Outubro 2016 | Revista LuSofia | 31
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32 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


Estudos Interculturais

Graciela Vidal

Karingana ua karingana* ou “era uma vez” - em língua ronga - uma mulher que viajou a
Moçambique para ajudar pessoas portadoras de VIH. Nesta entrevista, Brenda Dalton nos
conta como foi sua experiência e o encontro com a cultura e os costumes deste país, ex-colônia
portuguesa e atual membro da CPLP.

(Entrevista em espanhol)

*Karingana ua karingana es el título de la segunda obra del escritor mozambiqueño José Craveirinha, considerado uno de
los más importantes poetas de Mozambique, y quiere decir “Érase una vez” en lengua ronga, una de las originarias de
Mozambique.

Fotografía: Niños de las Escuelas de la Paz de la Comunidad de Sant'Egidio durante los festejos por el décimo aniversario
del acuerdo de paz.

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 33


B renda, en primer lugar Resources Enhancement against pondría fin a 20 años de lucha
quiero agradecerte por Aids and Malnutrition") nació en fraticida. La Comunidad de
el tiempo dedicado 2002 para luchar contra el SIDA Sant’Egidio cuenta con una casa
para compartir esta en el continente africano. Es una donde vivíamos todos los
maravillosa experiencia de manera de hacer posible y voluntarios extranjeros del sector
amor y solidaridad en accesible, no sólo la terapia salud (médicos, enfermeros,
Mozambique. antirretroviral, sino también todo farmacéuticos, etc.) durante
Nos gustaría conocerte y el conjunto de medidas y factores nuestra estadía. La casa quedaba
saber sobre tu vida en la para que fuera eficaz: educación ubicada en un barrio céntrico de la
actualidad. en salud, complemento ciudad de Maputo. Nuestra tarea
nutricional, diagnostico avanzado, la llevábamos a cabo en un centro
Mi nombre es Brenda Cecilia formación del personal local y de salud cercano al Hospital
Dalton, tengo 43 años y soy lucha contra la malaria, la Público de Machava, una localidad
argentina. Estoy casada desde tuberculosis, las infecciones en la periferia de la capital. Un
hace 10 años con Ramiro y oportunistas y sobre todo la lugar con mucha pobreza, casas
tenemos la dicha de compartir malnutrición. Un punto clave en la muy precarias,donde la gente no
nuestra vida con nuestras dos eficacia de DREAM es que se trata contaba con los servicios
hijas: Renata de 9 años y Sofía de de un programa que se basa en esenciales (luz, gas, agua potable,
5. Soy enfermera desde hace 20 valores espirituales y humanos: etc.). Incluso el Hospital era un
años y me desempeño en la tiene un alma. Su perspectiva está lugar muy precario, con
terapia neonatal del Hospital íntimamente ligada a la de la infraestructuras obsoletas. Muchos
Italiano de Buenos Aires. Comunidad de San Egidio: trabajar pacientes no tenían camas y
por un nuevo mundo, sintiendo la dormían sobre frazadas en el piso,
responsabilidad de construir con los sanitarios estaban en
audacia y paciencia nuevos condiciones deplorables. Al iniciar
caminos que sean una respuesta el proyecto DREAM la Comunidad
concreta y factible a un problema de Sant’Egidio, recicló un edificio
enorme como era el del SIDA en ubicado en el predio del Hospital y
África. lo equipó con todo lo necesario
para poder realizar la detección,
tratamiento y control de la
¿Dónde te estableciste? población HIV (+). Los voluntarios
¿Cuándo viajaste a
¿Cómo era ese lugar y qué extranjeros pertenecientes a
Mozambique y por qué
tareas desempeñabas? distintas Comunidades de
motivos? ¿Cuánto tiempo
Sant’Egidio de todo el mundo
estuviste?
Todos los años me establecí en (Italia, Argentina, Bélgica,
Maputo, la capital del país. Una Alemania, El Salvador, México,
Viajé a Mozambique para trabajar
ciudad muy hermosa, que etc.) trabajábamos a la par con
en el programa DREAM que lleva
conserva en su arquitectura los personal local (enfermeros,
adelante la Comunidad de San
resabios de la dominación colonial médicos, extraccionistas de
Egidio, de la cual formo parte
portuguesa. En ella conviven laboratorio, bioquímicos) a la vez
desde que tenía 16 años. La
cristianos, musulmanes y que se los capacitaba en el uso de
Comunidad de San Egidio es una
creyentes de diversas sectas. Una las diversas tecnologías utilizadas
Asociación Civil de laicos de la
ciudad que desde hace más de 20 para la detección, control y
Iglesia Católica. Tuve la dicha de
años vive en paz, luego de que tratamiento de la
visitar ese querido país en 3
San Egidio lograra que la RENAMO inmunodeficiencia por HIV. Una
oportunidades durante 3 años
(Resistencia Nacional vez por semana concurría a una
consecutivos (2002 a 2004),
Mozambiqueña) y el FRELIMO localidad de las afueras de Maputo
permaneciendo un mes en cada
(partido político en el poder) llamada Matola. Allí funciona una
viaje. El programa DREAM ("Drug
firmaran el acuerdo de paz que maternidad muy grande. En el

34 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


consultorio de obstetricia, que se acercan más mundo. Se comprende esta
atendido por una enfermera, les frecuentemente a las zonas costumbre viendo la realidad de
ofrecíamos a las mujeres alejadas de los centros urbanos. pobreza y justamente miseria que
embarazadas la posibilidad de sufren tantos mozambiqueños.
realizarse el test y, en caso de ser
positivas, que ellas y sus bebés ¿Podrías describir algunos
cuando nacieran pudieran acceder aspectos de la cultura o
al tratamiento. La gran mayoría costumbres del lugar?
aceptaba luego de explicarles los ¿Alguno en particular llamó tu
riesgos que corrían ellas y sus atención?
futuros hijos si tenían HIV y no
recibían tratamiento. Una vez En Mozambique las mujeres se
incorporadas al programa las ocupan preferentemente de la
madres recibían complementos casa y los hijos. Son el sostén de
nutricionales (el tratamiento la vida familiar. Realizan sus
antirretroviral es más efectivo si se labores en la casa o en otras casas
cuenta con un buen estado (costura, limpieza). Algunas
nutricional) basados en las pautas mujeres también se dedican a la
de alimentación autóctonas (arroz, venta de productos alimenticios en ¿Cómo fue el encuentro con su
frijoles, maní, leche, aceite). puestos en las calles. Los niños idioma? ¿Sabías portugués
También recibían un filtro para pequeños siempre están con su antes de viajar?¿Algo llamó tu
purificar el agua. Durante el parto mamá, ya sea en la casa o en los atención en cuanto a su forma
recibían el tratamiento puestos de venta callejeros. Las de expresarse?
antirretroviral y una vez nacido el mujeres los llevan sujetos a su
bebé, él también lo recibía. Se les espalda envueltos en una tela El encuentro con el idioma
brindaban los biberones y la leche anudada en su pecho. Las mujeres portugués fue muy interesante. En
de fórmula para alimentar a los jóvenes usan peinados muy Mozambique los que hablan
pequeños (la lactancia está bonitos, mientras que las ancianas portugués son los adultos de
contraindicada en madres llevan la cabeza cubierta con un mediana edad, los jóvenes y los
seropositivas), así como un pañuelo. La venta de artesanías en niños, es decir los que han ido a la
mosquitero para proteger al bebé las calles es algo muy pintoresco. escuela. El resto de la población
de la malaria. Se venden batiks, esculturas en habla los distintos dialectos
madera, ¡e incluso hechas con regionales, por lo que en varias
cascaras secas de bananas!Es oportunidades necesitábamos la
¿Cómo se trasladaban? común el regateo entre ayuda de traductores nativos para
vendedores y compradores. Algo hacernos entender. Antes de mi
En el Programa contamos con que me impresionó mucho fueron primer viaje, en mayo del 2002,
vehículos todo terreno para poder los nombres que algunos padres asistí a algunas clases en Casa do
acceder a las zonas rurales de las les ponen a sus hijos. Conocí Brasil.Creo que a pesar de no
afueras de la ciudad. Utilizábamos varios niños que se llamaban haber sido muchas, me fueron
ese medio de transporte a diario "Miseria", "Castigo", haciendo muy útiles. Llegué a Mozambique
para ir a los centros de salud referencia a lo que significaba la con un vocabulario básico y
donde trabajábamos o a las casas llegada de esos niños a este nociones básicas de fonética
de los pacientes. Otra manera de portuguesa, las cuales recuerdo
trasladarme a sitios cercanos era a hoy día a pesar de no ejercitar
pie. Cuando nos veían a más de demasiado el idioma. No encontré
una mujer en la camioneta, los diferencias notorias entre lo que
niños de los suburbios nos me habían enseñado y la
miraban sonrientes y gritaban: - pronunciación mozambiqueña. No
Irmããs, irmããs!! (monjas, hace falta aclarar que día a día
hermanas) porque son ellas las incorporaba a mi vocabulario
Outubro 2016 | Revista LuSofia | 35
infinidad de términos y modismos programa DREAM la iban a visitar en un banco. La miro de nuevo y
locales. para llevarle la medicación y los creo reconocerla.¡¡¡Es Honoria!!!
alimentos necesarios. Sus padres No salgo de mi sorpresa y me
Por otro lado entre los voluntarios estaban muy avergonzados de ella acerco a ella para preguntarle si
extranjeros el idioma en común no por su condición de infectada de es ella verdaderamente. Ella me
era el portugués sino el italiano, lo HIV, era una desgracia para la mira, dice ¡¡Brenda!! y se arroja
que sumado a que parte del familia. Cuando la conocí a en mis brazos. Un año después de
personal africano era del Congo, Honoria ella pesaba menos de 40 conocerla me encuentro con una
generaba que nos expresáramos kilos, dormía sobre un camastro Honoria totalmente irreconocible.
en una suerte de mezcla de de mimbre en una habitación de Su rostro luce dos cachetes
lenguas un tanto particular. ¡Lo su casa paterna. Tenía una escara rozagantes, camina con un bastón
notable es que a la hora de enorme en el sacro (porción pero con paso firme, su cabello ha
hacernos entender mutuamente lo inferior de la columna) producida crecido y lleva un bonito peinado y
terminábamos logrando! por estar acostada mucho tiempo, su sonrisa blanca brillante me
su deplorable estado nutricional y confirma que la esperanza nunca
se pierde. Ahora Honoria
¿Cuál es el balance de trabaja para el proyecto
la experiencia? ¿Te dando charlas a las
gustó? ¿Qué senti- mujeres que asisten al
mientos provocó en centro para el diagnóstico
vos? del HIV. Les habla de
corazón, les cuenta sin
Debo decir que fue una tapujos su propia historia,
experiencia muy las aconseja y les da
enriquecedora desde coraje.
todo punto de vista,
tanto a nivel humano
como profesional. El estar ¿Qué podrías comen-
en contacto con una tarnos sobre la comu-
cultura tan diversa de la nidad que lleva ade-
nuestra y el poder ayudar a tantos su debilidad. Fui varias veces a lante este proyecto?
sumidos en la enfermedad y en la visitarla y nos hicimos amigas. Ella
pobreza, pero también en el siempre se mostraba agradecida La Comunidad de Sant'Egidio es
abandono y en la desesperanza de haber conocido a la Comunidad una Asociación Internacional
fue algo que nunca voy a olvidar. y de poder seguir el tratamiento. Pública de Laicos de la Iglesia
Y con respecto a esto les quiero Cuando finalizó mi estadía me Católica. La primera "obra" de la
compartir un recuerdo de esos despedí de Honoria y le prometí Comunidad de Sant'Egidio es la
días. Cuando viaje por primera que volvería, no sabía cuándo, oración. A partir del encuentro con
vez, en el 2002, el proyecto pero volvería. Al año siguiente la Escritura, puesta en el centro de
DREAM recién iniciaba. El total de pude regresar a trabajar la vida, nació una propuesta
pacientes atendidos en el centro nuevamente en el proyecto. Al personal y común: es la invitación
de Machava apenas superaba los segundo día fuimos a misa con antigua de Jesús a convertirse en
50. Durante una visita a las casas algunos amigos de la Comunidad. discípulos suyos que él dirige a
de los pacientes, conocí a una En Mozambique la misa se celebra todas las generaciones. Es la
joven llamada Honoria. Ella había al aire libre, la gente lleva su invitación a convertirse y a dejar
vuelto de la universidad a la casa propia silla, las ofrendas son de vivir solo para uno mismo, y a
materna muy enferma. Poco animales vivos (gallinas, en comenzar, con libertad, a ser
tiempo después le hicieron el test general), los cantos son instrumentos de un amor más
de HIV y le confirmaron que era celestiales. Al finalizar la misa veo grande para todos, a hombres y
seropositiva. Los voluntarios del a una muchacha robusta sentada mujeres, y sobre todo a los más

36 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |


pobres. Por este motivo, las allí donde no existe. Los medios comidas para la gente que vive
comunidades en Roma y otras de este servicio a la paz y a la por las calles, escuelas de la Paz
partes de Italia, de Europa y del reconciliación son los medios (La Boca y Barracas), visitas a
mundo, se reúnen lo más pobres de la oración, la palabra, la ancianos en hogares y
frecuentemente posible para rezar participación en las situaciones geriátricos...
juntos. En muchas ciudades todas difíciles, el encuentro, el diálogo.
las tardes hay una oración Incluso cuando no se puede
comunitaria abierta a todos. A trabajar por la paz, la comunidad
todos los miembros de la intenta conseguir la solidaridad y
comunidad se les pide también la ayuda humanitaria para las
encontrar un espacio significativo poblaciones civiles que sufren a
en la propia vida para la oración causa de la guerra. Algunos
personal y para la lectura de las miembros de la comunidad han
Escrituras, comenzando desde el sido facilitadores o mediadores en
Evangelio. La segunda "obra" de la conflictos fratricidas que han
comunidad, su segundo pilar, es la durado más de diez años, como en
comunicación del Evangelio. Es el Mozambique, o más de treinta,
Evangelio mismo, es decir, la como en Guatemala. La amistad
buena noticia que compartir con entre las personas de culturas y
los demás, el tesoro precioso, la naciones diferentes es el modo
lámpara que no se puede cotidiano con el que se expresa
esconder. El Evangelio no es esta fraternidad internacional que
patrimonio exclusivo, sino que es es al mismo tiempo apertura al
una responsabilidad más para los mundo y pertenencia a una única
¿Cómo se puede colaborar?
miembros de la comunidad, familia de discípulos.
llamados a comunicarlo. La tercera En un mundo que al final del
Se puede colaborar con alimentos
"obra" característica de segundo milenio exalta las
para preparar las comidas o las
Sant'Egidio, auténtico pilar y fronteras y las diferencias
meriendas para los niños de las
compromiso cotidiano desde los nacionales y culturales, incluso
Escuela de la Paz, ropa para niños,
comienzos, es el servicio a los más hasta hacer de esto un motivo
adultos y/o ancianos ,donaciones
pobres, vivido como una amistad. antiguo y nuevo de conflicto, las
de dinero, etc.
Esta amistad ha nacido con tantos comunidades de Sant'Egidio
pobres: niños de barrios testimonian la existencia de un
carenciados, minusválidos físicos y destino común, no solo para los
¿Si alguien quiere saber más
psíquicos, personas sin hogar, cristianos, sino para todos los
sobre la comunidad, adonde
inmigrantes, enfermos terminales. hombres.
puede acercarse o conseguir
También se ha llegado a otras Hay comunidades más jóvenes y
información?
situaciones: cárceles, asilos de más ancianas. Algunas son más
ancianos, campamentos de numerosas y están más enraizadas
Para acercarse a conocer o
gitanos, campos de refugiados. La que otras, algunas son más
colaborar, comunicarse con
amistad con los pobres ha conocidas que otras en el
Brenda Dalton
conducido a Sant'Egidio a ambiente en el que viven, pero
comprender aún más que la todas se esfuerzan en ser, y
Teléfono celular:
guerra es la madre de todas las verdaderamente representan, una
(11) 15-5563-9854
pobrezas. Y así, el amor a los única familia en torno a Jesús.
pobres en muchas situaciones, ha Aquí en Buenos Aires, la
Correos electrónicos:
implicado trabajar por la paz, para Comunidad lleva adelante diversos brenda10941@hotmail.com
proteger la vida cuando se ve servicios de cercanía a los pobres brenda.dalton@hospitalitaliano.org.ar
amenazada, para ayudar a y momentos de oración
reconstruirla, facilitando el dialogo comunitaria: preparación de

Outubro 2016 | Revista LuSofia | 37


M. Fernanda de Sousa Tomé
Divulgação Maria Castro Azevedo
Liliana García Domínguez María Laura Iopolo
Cynthia Fridman Mariel Tronca
Romina Alves

Direção
Carla Panto
Ignacio Spina
Agradecimentos
Graciela Vidal Professores e estudantes do Curso de
Formação de Professores de Português,
pela participação nas diferentes etapas de
Autores elaboração da revista.
Alzira Probo
Analía Coria Professora Julia Campos da Gerencia de
Carla Panto Incorporación de Tecnologias do Ministerio
Cynthia Fridman de Educación de la Ciudad Autónoma de
Geruza Queiroz Coutinho Buenos Aires.
Graciela Vidal
Guillermo Vidal Professora Andrea Ayres do Centro Cultural
Ignacio Spina de Estudos Brasileiros de Buenos Aires pelo
Liliana García Domínguez espaço destinado à divulgação na I
Liliana Roxana Rubín Jornada de Professores de Português.
Luciana Ribeiro

38 | Outubro 2016 | Revista LuSofia |

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