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1º Trim.

de 2018: A SUPREMACIA DE CRISTO: Fé, esperança e ânimo na Carta aos Hebreus

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1º Trimestre de 2018 - CPAD
A SUPREMACIA DE CRISTO: Fé, esperança e ânimo na Carta aos Hebreus
Comentários da revista da CPAD: José Gonçalves
Comentário: Ev. Caramuru Afonso Francisco

ESBOÇO Nº 6

LIÇÃO Nº 6 – PERSEVERANÇA E FÉ EM TEMPO DE APOSTASIA


A apostasia pode nos levar a um quadro irreversível de perda da salvação.

INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus, analisaremos a parte final do capítulo 5 e o capítulo 6.

- Neste trecho, o autor aos hebreus mostra o risco da apostasia, que pode nos levar a um quadro irreversível
de perda da salvação.

I – A IMATURIDADE ESPIRITUAL DOS CRENTES DESTINATÁRIOS DA CARTA AOS HEBREUS

- Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus, analisaremos a parte final da perícope iniciada em
Hb.4:14 e que se estende at´d Hb.6:20, mais precisamente o trecho entre Hb.5:11 até o final do
capítulo 6, onde o autor fala a respeito da apostasia espiritual.

- Depois de ter demonstrado que Jesus é maior que Arão e Seu sacerdócio é superior ao sacerdócio levítico,
o escritor aos hebreus afirma que Jesus é de uma ordem sacerdotal superior, a ordem de Melquisedeque,
evocando o Sl.110:4, mas afirma que teria muito que dizer aos destinatários da carta a respeito de tal
circunstância, mas que isto era de difícil interpretação e que os crentes judeus destinatários da carta não
estavam em condições de entender isto, já que tinham se feito negligentes para ouvir (Hb.5:11).

- Verdade é que, mais à frente, o autor irá explicar o que significa o “sacerdócio segundo a ordem de
Melquisedeque”, mas não perde a oportunidade de apontar àqueles irmãos, que estavam titubeando em
prosseguir na fé e pensavam abandonar Jesus Cristo para voltar ao judaísmo, o fator primordial pelo qual se
encontravam naquela perigosa situação espiritual: a negligência em ouvir a Palavra de Deus.

- Quando o Senhor Jesus foi tentado no deserto pelo diabo, logo após iniciar o Seu ministério público,
repudiou a primeira tentação rememorando Dt.8:3, dizendo que não só de pão viveria o homem, mas de toda
palavra que saísse da boca de Deus (Mt.4:4). Assim, não só Se utilizou da Palavra de Deus para afastar a
tentação, mostrando ser a Palavra a arma de ataque contra o inimigo de nossas almas, a “espada do Espírito”
(Ef.6:17), como também ser fundamental para a sobrevivência e saúde espirituais do salvo a alimentação
pela Palavra de Deus.

- Nosso Senhor, também, no sermão do monte, disse que somente pode ser Seu discípulo bem sucedido
aquele que ouve e pratica as Suas palavras (Mt.7:24,25), de sorte que o ouvir a Palavra de Deus é condição
“sine qua non” para que se possa ter êxito na vida espiritual, êxito este que nos levará à glorificação, o
último estágio do processo da salvação, pois, como já havia dito o escritor, precisamos conservar firme a
confiança e a glória da esperança até ao fim (Hb.3:6).

- Ora, os crentes judeus tinham se feito negligentes para ouvir e, portanto, já não tinham a necessária
robustez espiritual e, por isso mesmo, estavam sendo tentados a abandonar o Evangelho e voltar às
práticas judaicas. Esta negligência em ouvir a Palavra criou um estado de “embrutecimento espiritual”, de

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forma que não tinham mais eles sequer condição de entender as Escrituras, de receber a devida revelação
relativa a “difíceis interpretações”.

- Neste passo, notamos que não se pode querer compreender a Bíblia Sagrada a não ser pelo Espírito
Santo. As Escrituras foram redigidas por inspiração do Espírito Santo (II Pe.1:21) e o que foi redigido por
tal inspiração somente pode ser discernido espiritualmente (I Co.2:9-16), sendo, pois, indispensável que
tenhamos o Espírito de Deus, que Ele venha nos revelar o que está na Sua santa Palavra.

- Eis o motivo por que pessoas que, secularmente, são consideradas doutíssimas, grandes intelectuais são
incapazes de compreender o que dizem as Escrituras, enquanto que pessoas indoutas, de pouca ou nenhuma
escolaridade, bem entendem o que foi revelado na Bíblia Sagrada. Tudo se discerne espiritualmente. Cristo
mesmo afirmou que o Senhor havia ocultado as coisas aos sábios e entendidos para revelá-las aos
pequeninos ((Mt.11:25).

- Não se quer, em absoluto, fazer-se uma apologia do anti-intelectualismo, algo que, lamentável, vigorou por
muito tempo em nossas igrejas locais. Não se está dizendo que não se deve aprimorar no estudo secular,
mas, tão somente, que a compreensão das Escrituras não se faz com bases puramente intelectuais, mas por
revelação do Espírito Santo.

- Quando deixamos de ouvir a Palavra de Deus, quando negligenciamos o seu estudo e a sua
meditação, passamos a agir com negligência e o resultado disto é o nosso inevitável enfraquecimento
espiritual, a enfermidade, a doença, que poderá nos levar à morte por inanição. Este, aliás, é um quadro
que se tem observado com muita frequência em nossos dias, que, não por caso, são dias de apostasia
espiritual.

- Esta negligência dos crentes judeus fez com que, mesmo diante do tempo decorrido desde a sua conversão,
eles ainda fossem “meninos espirituais”, já que era necessário que o autor lhes ensinasse os primeiros
rudimentos das palavras de Deus (Hb.5:12).

- O Senhor Jesus disse que aqueles que creem n’Ele nascem de novo (Jo.3:3,5), ou seja, tornam-se novas
criaturas (II Co.5:17; Gl.6:15) e, a exemplo do que ocorre na vida física, na vida espiritual o ser humano não
nasce sabendo, é necessário que aprenda, tanto que, assim que criado, recebia o homem a visita do seu
Criador diariamente, para que fosse instruído nas coisas de Deus.

- Ora, este aprendizado, que proporciona o crescimento espiritual, diz claramente o escritor aos
hebreus, dá pelo aprendizado das palavras de Deus, ou seja, pelo estudo metódico, contínuo e
incessante da Palavra de Deus. A Bíblia Sagrada precisa ser diuturnamente estudada por aquele que crê em
Cristo, pois só assim haverá desenvolvimento, só assim o “recém-nascido espiritual” se tornará um “adulto
espiiritual”, alguém maduro espiritualmente falando.

- No entanto, os destinatários da carta haviam negligenciado este estudo das Escrituras e, apesar do tempo
que tinham de membresia na igreja, não passavam de “meninos espirituais”. É bom observar que a
maturidade espiritual não decorre do tempo cronológico, mas do crescimento espiritual, motivo pelo qual
não podemos confundir as coisas, pois há muitos crentes que, apesar de longo tempo de membresia, são,
ainda, “recém-nascidos espirituais”.

- Diante desta circunstância, diz o autor aos hebreus que a alimentação espiritual deve ser distinta entre
os “recém-nascidos” e os “maduros”. Estes podem se alimentar de “alimento sólido”, o mesmo tipo de
alimento que o apóstolo Paulo denomina de “manjar” (I Co.3:2), que é um estudo mais aprofundado da
Bíblia Sagrada, uma meditação substanciosa e mais alentada, enquanto que os “meninos” devem ser
alimentados com “leite”, mesma expressão utilizada por Paulo em I Co.3:2 e que Pedro denomina de “leite
racional não falsificado” (I Pe.2:2)..

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OBS: “…Leite é o ensino elementar no qual o ignorante se inicia. Pedro o usa num sentido distinto [lPe 2.2], quando solicita que desejemos
leite sem malícia. Existe uma dupla infância, a saber: a da maldade e a da razão. Daí Paulo, em outra passagem, dizer: “Irmãos, não sejais
meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças” [1C0 14.20]. Aqueles, pois, que são demasiadamente tenros em idade, que não podem receber
um doutrinamento mais avançado, são chamados crianças, à guisa de censura. Consequentemente, o genuíno propósito da doutrina é adequar
nossa união a fim de desenvolvermos o “homem perfeito”, à medida da plena maturidade, “para que não mais sejamos como meninos, agitados
de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” [Ef
4.14]. Devemos, naturalmente, revelar indulgência para com aqueles que ainda não experimentaram a Cristo, caso sejam eles incapazes de
ingerir alimento sólido; mas se alguém ainda não cresceu com o passar do tempo, o tal é inescusável se permanecer perenemente no “jardim da
infância”.…(CALVINO, João. Hebreus. Trad. de Válter Graciano Martins, pp.134-5).

- O “leite” é um alimento menos aprofundado, é o ensino das doutrinas bíblicas fundamentais, o ensino
apropriado para o chamado “discipulado”, que é o ensino que se dá ao novo convertido até o batismo nas
águas, o aprendizado do que é ser cristão. Tal ensino, aliás, nos primeiros tempos da igreja, era de, no
mínimo, um ano (At.11:26).

- O “leite” é o alimento apropriado para os que ainda não estão experimentados na palavra da justiça,
ou seja, para aqueles que ainda não têm familiaridade com as Escrituras, que não têm experiência ainda com
o Senhor, que estão ainda dando os primeiros passos da fé, mesmo que já estejam na igreja há muito tempo,
como era o caso dos crentes judeus que, em meio às adversidades que estavam a passar, numa prova de que
não tinham conhecimento de Deus, estavam pensando em desistir, em voltar ao judaísmo.

- Já o “alimento sólido” é apropriado para os crentes que são “perfeitos”. Mas pode um crente ser
“perfeito”? A “perfeição” não vem com a glorificação, como nos mostra I Co.13:10 e I Jo.3:2? Sem dúvida
alguma. Enquanto não ocorrer a glorificação, temos de nos aperfeiçoar a cada dia, pois, para isto, o Senhor
Jesus pôs os dons ministeriais na Igreja, a fim de que se tenha o “aperfeiçoamento dos santos” (Ef.4:11,12).

- Quando o escritor aos hebreus fala aqui de “perfeitos”, não está a indicar pessoas que já tenham alcançado
a glorificação, mas, sim, aquelas que completaram o ensino do discipulado, que adquiriram experiência na
palavra da justiça, ou seja, pessoas que já têm pleno conhecimento do que é ser cristão, de quais são os
fundamentos doutrinários básicos e que têm já desenvolvido uma intimidade com o Senhor e, por ter já se
adaptado à “nova vida em Cristo”, têm condições de discernir tanto o bem como o mal (Hb.5:14), ou seja,
não se conformaram com o mundo mas se transformaram pela renovação do seu entendimento e, portanto,
podem agora experimentar a vontade de Deus (Rm.12:2), pessoas que já conseguiram renunciar à impiedade
e concupiscências mundanas e passaram a viver, neste presente século, sóbria, pia e justamente (Tt.2:12).
OBS: “…Ele chama de perfeitos aqueles que são adultos, colocando-os em oposição a bebês, como em 1 Coríntios 2.6; 14.20 e Efésios 4.13.
A idade média, a idade viril, é, por assim dizer, a idade plena da vida humana. Figurativamente, ele os chama de homens espirituais em Cristo.
Ele deseja que todos os cristãos sejam como esses que, pela prática constante, têm formado o hábito de “discernir entre o bem e o mal”. Só
seremos adequadamente instruídos na verdade, à medida que formos sendo guarnecidos por essa proteção contra as falsidades de Satanás. Isso é
o que significa a “espada do Espírito”. Paulo está se referindo a esse benefício da sã doutrina, quando diz: “Para que não sejamos levados ao
redor por todo vento de doutrina” [Ef 4.14]. Que gênero de fé é esse que oscila confusa entre a verdade e a falsidade? Fé que a todo instante está
sujeita a ficar reduzida a nada?…” (CALVINO, João. op.cit., p.136).

- Para que se atinja tal maturidade espiritual, o escritor aos hebreus diz que é preciso ter o
aprendizado dos “rudimentos da doutrina de Cristo” e, então, lista como que um “currículo do
discipulado”, ou seja, quais as doutrinas básicas que se deve conhecer para que se possa dizer que a pessoa é
espiritualmente madura. São seis doutrinas, a saber: o fundamento do arrependimento de obras mortas, o
fundamento da fé em Deus, doutrina dos batismos, doutrina da imposição de mãos, doutrina da ressurreição
dos mortos e a doutrina do juízo eterno.

- Quando observamos este pequeno “currículo de discipulado”, vemos como estamos distantes, em nossos
dias, do cuidado e zelo que tinha a igreja primitiva no tocante ao ensino da Palavra de Deus aos crentes. Não
é difícil encontrar pessoas que estão, inclusive, no ministério que não dominam estes seis assuntos tidos
como básicos e fundamentais pelo escritor aos hebreus.

- É lamentável, mas, na atualidade, pouquíssimos são os crentes que foram devidamente discipulados em
suas igrejas locais. Soubemos, aliás, de um determinado campo de trabalho em que houve um verdadeiro

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levante de obreiros contra um sério programa de discipulado que se procurava implantar. Ou seja: além de
não haver discipulado, hoje temos inimigos do discipulado! Um verdadeiro absurdo!

- Os crentes judeus haviam negligenciado o estudo das Escrituras. Não havia uma dedicação no estudo das
doutrinas básicas do Cristianismo, talvez porque se achava que o que aqueles crentes haviam aprendido nas
sinagogas, quando ainda eram praticantes do judaísmo, fosse o suficiente, como se não fosse indispensável
que se desse uma leitura cristocêntrica às Escrituras hebraicas.

- O resultado disto era a imaturidade espiritual. Apesar do longo tempo de conversão, aqueles crentes
eram verdadeiros “anões espirituais”, não haviam crescido, comportavam-se como “meninos espirituais” e,
por isso mesmo, estavam em grande perigo espiritual, sendo tentados a abandonar a fé em Cristo Jesus e a
voltar às práticas judaicas ante as perseguições e adversidades que estavam a enfrentar.

- Na parábola do semeador, o Senhor Jesus bem mostrou o risco que corre a pessoa que não se alimenta da
Palavra de Deus, que não se aprofunda no seu estudo, que não desenvolve suas “raízes” na Bíblia Sagrada.
Ao falar do terreno pedregoso, onde a semente chegou a germinar mas a planta veio a morrer por falta de
raiz, Cristo está a nos mostrar o que acontece com aquele que, tendo crido em Jesus, não busca desenvolver-
se espiritualmente com o conhecimento de Deus pela Palavra. Quando vem a perseguição, simplesmente
sobrevém a morte espiritual, a perda da salvação (Mt.13:20,21).

- É esta a situação de muitos, mas muitos mesmos que recebem a Jesus Cristo como Senhor e Salvador na
atualidade. Por falta do discipulado, pela inexistência de desenvolvimento espiritual, quando sobrevêm as
perseguições e adversidades, que são cada vez mais intensas já que estamos nas vésperas do arrebatamento
da Igreja, muitos abandonam a fé, ainda que se mantenham, por vezes, nominalmente pertencendo a alguma
igreja local.

- A imaturidade espiritual dos crentes hebreus era o principal motivo por que eles estavam sendo
tentados a abandonar Cristo Jesus para tentarem, com isso, minorar o sofrimento e a tensão que
estavam a passar naquele ambiente imediatamente anterior à eclosão da primeira guerra judaico-
cristã. Nos dias de hoje, não é diferente: muitos estão a fracassar espiritualmente, precisamente porque não
têm raízes suficientes na Palavra de Deus para poderem resistir às muitas lutas, cada vez mais crescentes, de
nossos dias.

- O escritor aos hebreus lança um desafio àqueles crentes, concitando-os a “deixar os rudimentos”, ou
seja, a completar o estudo fundamental das doutrinas bíblicas e a se lançar num novo patamar, o da
maturidade espiritual. “Isto faremos se Deus o permitir”. Tenhamos esta mesma disposição do autor da
carta e nos disponhamos a mudar este quadro trágico em que se encontra a igreja em nossos dias.

II – O PERIGO DA APOSTASIA DA FÉ

- Depois de ter mostrado o erro dos crentes judeus, qual seja, o de terem negligenciado o estudo da Palavra
de Deus, o que os levara à situação de titubeio espiritual que os fazia pensar em abandonar a fé em Cristo
Jesus e voltar às práticas judaicas, o escritor aos hebreus começa a dissertar a respeito do perigo da apostasia
da fé, num dos trechos que têm sido alvo de debate ao longo da história da Igreja.

- O autor afirma, de modo peremptório, que é impossível que os que uma vez já foram iluminados e
provaram o dom celestial e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa Palavra de
Deus, e as virtudes do século futuro e recaíram novamente sejam outra vez renovados para
arrependimento (Hb.6:4-6).

- Esta afirmação do escritor aos hebreus, por primeiro, permite-nos verificar, como em outras passagens das
Escrituras, que é possível a perda da salvação. O autor fala de alguém que era salvo e que deixou de sê-lo.

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Tal afirmação desmente cabalmente os defensores da doutrina da predestinação incondicional, segundo os


quais “uma vez salvo, salvo para sempre” e que dizem que se alguém se desviou da fé nunca foi realmente
salvo.

- Tal pensamento é completamente desmentido pelo autor aos hebreus, que fala de pessoas que realmente
foram salvas, tanto que é dito que “foram iluminados, provaram o dom celestial, fizeram-se participantes do
Espírito Santo e provaram a boa Palavra de Deus e as virtudes do século futuro”. Ora, como alguém que
tenha tido tais condições não pode ser considerado como alguém que se salvou na pessoa de Cristo Jesus?
Efetivamente, o autor aos hebreus está a falar de pessoas salvas que, deliberadamente, abandonaram a fé.
Razão tem, portanto, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus da CGADB quando afirma:
“…Rejeitamos a afirmação segundo a qual ‘uma vez salvo, salvo para sempre’, pois entendemos à luz das
Sagradas /Escrituras que, depois de experimentar o milagre do novo nascimento, o crente tem a
responsabilidade de zelar pela manutenção da salvação a ele oferecida gratuitamente(…). Não há dúvidas
quanto à possibilidade do salvo perder a salvação, seja temporariamente ou eternamente…” (X,6, p.114).

- O escritor aos hebreus dá-nos um retrato do que é ser salvo. Por primeiro, ser salvo é “ser iluminado”. O
apóstolo Paulo afirma que, quando somos salvos, “resplandece a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é
a imagem de Deus” (II Co.4:4). Jesus é a luz do mundo (Jo.8:12; 9:5), de modo que quando alguém crê
n’Ele passa a enxergar, passa a ver as realidades espirituais, pois, quem nasce de novo vê o reino de Deus
(Jo.3:3).

- A iluminação significa a obtenção de uma visão espiritual, passar a enxergar as realidades espirituais, mas
isto decorre do fato de reconhecermos a nossa cegueira e abrirmos os “olhos da fé”. Por isso, quem se recusa
a admitir tal cegueira está espiritualmente perdido (Jo.9:39-41).

- Na sua alegoria “O Peregrino”, John Bunyan (1628-1688) bem ilustra esta verdade bíblica, ao mostrar que
o primeiro passo da salvação de Cristão foi o fato de, através das Escrituras, perceber que estava na Cidade
da Destruição e vislumbrar ao longe uma luz, de onde se iniciaria sua jornada para o céu.
OBS: “…Evangelista – Por que choras? Cristão – (Assim se chamava ele). – Porque este livro me diz que eu estou condenado à morte, e que
depois de morrer, serei julgado (Hebreus 9:27), e eu não quero morrer (Jó 16:21-22), nem estou preparado para comparecer em juízo! (Ezeq.
22:14). Evangelista – E por que não queres morrer, se a tua vida é cheia de tantos males? Cristão – Porque temo que este pesado fardo que tenho
Sobre os ombros, me faça enterrar ainda mais do que o sepulcro, e eu venha a cair em Tofete (Isaías 30:33). E, se não estou disposto a ir para
este tremendo cárcere, muito menos para comparecer em juízo ou para esse suplício. Eis a razão do meu pranto. Evangelista – Então, por que
esperas, agora que chegaste a esse estado? Cristão – Nem sei para onde me dirigir. Evangelista – Toma e lê. (E apresentou-lhe um pergaminho
no qual estavam escritas estas palavras: “Fugi da ira vindoura”). (Mateus 3:7). Cristão – (Depois de ter lido). E para onde hei de fugir?
Evangelista – (Indicando-lhe um campo muito vasto). Vês aquela porta estreita? (Mateus 7:13-14). Cristão – Não vejo. Evangelista – Não avistas
além brilhar uma luz? (Salmo 119:105; II Pedro 1:19). Cristão – Parece-me avistá-la. Evangelista – Pois não a percas de vista; vai direito a ela, e
encontrarás uma porta; bate, e lá te dirão o que hás de fazer.…’(BUNYAN, John. O Peregrino: uma jornada para o céu, p.3. Versão digitalizada
por Carlos Boas).

- Destarte, quem não enxerga somente as realidades deste mundo, quem tem seus olhos voltados única e
exclusivamente para as coisas desta vida não pode ser considerado um salvo, visto que ainda não foi
iluminado.

- Por segundo, ser salvo é “ter provado o dom celestial”. Que dom é este? Ora, no dia de Pentecostes, o
apóstolo Pedro afirmou que, se houvesse arrependimento e perdão dos pecados, seria dado o “dom do
Espírito Santo” (At.2:38), sendo certo que o apóstolo Paulo diz que, quando somos justificados pela fé,
dentre outras coisas, o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5). O
apóstolo Paulo afirma, ainda, que pela graça somos salvos, por meio da fé, e isto não vem de nós, é dom de
Deus (Ef.2:8). Como se isto fosse pouco, o Senhor diz que quem crê n’Ele rios de água viva correrão do seu
ventre e isto se referia ao Espírito Santo (Jo.7:38,39).

- Tem-se, portanto, que o “dom celestial” mencionado pelo autor aos hebreus é o Espírito Santo, ou, como
afirma Matthew Henry, “…algo da eficácia do Espírito Santo operando na alma deles, levando-os a provar
algo da fé cristã…” (Comentário completo – Novo Testamento: Atos a Apocalipse. Trad. de Degmar Ribas

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Júnior, p.778). A salvação é, em si, um dom vindo do céu e, quando somos salvos, recebemos o Espírito
Santo em nosso interior, tornamo-nos templo do Espírito Santo (I Co.6:19), “morada de Deus em Espírito”
(Ef.2:22), e, por causa disto, passamos a ter fé, esperança e amor, as chamadas “virtudes teologais”, que são
disposições que nos levam a servir ao Senhor e a ter uma vida segundo o Espírito de Deus.

- Assim, se não produzirmos o “fruto do Espírito” (Gl.5:22), não há como dizer que somos salvos, visto que
não teremos qualquer evidência de que temos o “dom celestial”, que o Espírito Santo nos foi dado.

- Por terceiro, ser salvo é “fazer participante do Espírito Santo”, que nada mais é que sermos “uma nova
criatura” (II Co.5:17; Gl.6:15). Passamos a ter comunhão com o Espírito Santo e, por meio dele, passamos a
participar da natureza divina (II Pe.1:4), formando, assim, uma unidade com o Senhor (Jo.17:21,22).
Matthew Henry entende que esta “participação do Espírito Santo” é a realização de sinais, prodígios e
maravilhas: “…“...participantes do Espirito Santo”, isto é, dos seus dons extraordinários e de seus milagres;
podem ter expulsado demônios em nome de Cristo e feito muitos outros atos poderosos.…” (op.cit., p.779)

- Quem, portanto, não demonstra ter comunhão com o Senhor, não fazendo o que Ele manda, não tendo uma
vida de santidade, ou seja, uma vida de separação do pecado, não revela ter sido efetivamente salvo,
devendo, ainda, mostrar, no seu dia-a-dia, os sinais que seguem aos que creem (Mc.16:17,18).

- Por quarto, ser salvo é “provar a boa Palavra de Deus”. Aqui vemos que a salvação nos leva a ter prazer
na Palavra de Deus (Sl.1:1,2), a buscá-la dia após dia, pois é a fonte de alimentação do homem espiritual, do
homem que realmente foi salvo. Como diz João Calvino: “ …a benevolência divina não nos é revelada de
uma forma qualquer, mas de uma forma tal que a mesma nos traz contentamento. Essa descrição adicional
denota a diferença existente entre a lei e o evangelho. Aquela nada contém senão severidade e juízo,
enquanto que este é uma agradável evidência do amor divino e da paternal benevolência para conosco.…”
(op.cit., p.146).

- Por quinto, ser salvo é “provar as virtudes do século futuro”. “…Por essa expressão ele quer dizer que
pela fé somos admitidos no reino dos céus, de modo que, no Espírito, visualizamos aquela bem-aventurada
imortalidade que se acha oculta de nossos sentidos.…” (CALVINO, João. op.cit., p.146). A salvação já nos
permite, desde já, desfrutarmos da glória celestial, vislumbrarmos o que nos aguarda, de modo que passamos
a pensar nas “coisas de cima” e a desejá-las (Cl.3:1-3). Quem não tem prazer nas coisas celestiais e no seu
aguardo, efetivamente demonstra não ter sido salvo.

- Ao assim descrever a salvação, o autor aos hebreus mostra aos destinatários da sua carta que a salvação
tem evidências e que, portanto, é indesculpável aquele que, por conta de adversidades e perseguições
terrenas, queira, deliberadamente, tudo abandonar, para apenas ter um bem-estar terreno e
temporário.

- Quem agir desta maneira, diz o escritor aos hebreus, perderá de forma irremediável a salvação. O autor aos
hebreus não tergiversa, diz que é impossível quem tenha sido efetivamente salvo, se deliberadamente recair,
ser renovado para o arrependimento, pois, na verdade, quem se porta deste modo está crucificando de novo 0
Filho de Deus e O expondo ao vitupério.

- O autor aos hebreus está a falar da apostasia. Mas o que é apostasia? “…Esta expressão, no grego do
Novo Testamento, significa “levar à revolta”, ‘desviar’. Quando usado o verbo aphistemi na voz transitiva,
significa ‘afastar-se’, ‘retirar-se’, ‘apostatar’ etc. Quando ligada diretamente ao mundo religioso, significa
“descer um degrau”, ou seja: “descer moral e espiritualmente”. Este verbo significa rejeitar uma posição
anterior, aderindo a uma posição diferente e contraditória à primeira; perder a primeira fé,
repelindo-a em favor de outra crença.(…), A apostasia leva a pessoa a retroceder na vida espiritual e
impossibilita o sentimento de arrependimento. A missão sombria da apostasia é neutralizar a operação
miraculosa do Espírito Santo. A apostasia entenebrece a mente que foi iluminada pelo Espírito Santo quando

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produziu na pessoa o arrependimento. O termo ‘recaíram’, usado aqui pelo autor sagrado, é o equivalente de
Hebreus 3.12, onde ‘um coração mau e infiel’ leva a criatura humana a ‘se apartar do Deus vivo’. Essa
apostasia é introduzida no ambiente cristão por ensinos “doutrinários”, visto que aqueles que por ela são
enredados, ‘... crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério’ Há em nossos dias muitos ensinos que
são verdadeiras heresias, cuja finalidade é afastar as pessoas do conhecimento que o Evangelho traz aos
corações dos homens. Até mesmo ‘... aqueles que se estavam afastando dos que andam em erro’ (2 Pe 2.18)
são engodados por estas heresias doentias. A ‘recaída’ fala de alguém que estava se recuperando de uma
doença, mas por falta de esforço negligenciou sua total recuperação. O nosso sucesso espiritual depende de
uma vida de comunhão contínua com Deus e com os poderes do mundo futuro. Ao afastar-se dessa
comunhão, o cristão começa paulatinamente a enfraquecer, pois sua alma doente não tem nenhum poder de
reação; isso muitas vezes leva a pessoa a um estado pior do que o primeiro. Pedro advertiu sobre isso
dizendo: ‘Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e
Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, torna-se-lhes o último estado pior do
que o primeiro’ (2 Pe 2.20).…” (SILVA, Severino Pedro da. Hebreus: as coisas grandes e novas que Deus
preparou para você, pp.98,99-100).

- Muito se discute sobre esta afirmação do autor aos hebreus a respeito da impossibilidade de haver nova
oportunidade de salvação para a “recaída”. Quer este texto dizer que quem pecar novamente após a salvação
está irremediavelmente perdido?

- À evidência, este texto não pode ser assim interpretado, porquanto o salvo não está revestido da
“impecabilidade”, até porque o “velho homem” convive com ele até a sua passagem para a eternidade,
sendo possível, e diríamos mesmo, inevitável que o homem salvo volte a pecar, ainda que não tenha
uma vida pecaminosa, pois, na vida do salvo, o pecado é um acidente, não uma prática corriqueira.
Não fosse assim, o apóstolo João não teria explicitamente considerado a possibilidade de o salvo vir a pecar
(I Jo.2:1,2).

- O “velho homem” é crucificado (Rm.6:6; Gl.5:24), foi despojado (Ef.4:22; Cl.3:22), mas ainda não está
morto nem foi destruído, o que somente ocorrerá no momento em que passarmos para a dimensão eterna.
Deste modo, o pecado pode ocorrer por descuido, por negligência, de modo que não há como se dizer que o
texto do autor aos hebreus, em dissonância com o restante das Escrituras, estaria a apontar uma
impecabilidade humana que faria com que a prática do pecado após a salvação tenha o condão de fazer
perder a salvação.

- Como se isto fosse pouco, deve-se observar que o proverbista diz que o justo pode cair sete vezes e,
mesmo assim, poderá se levantar (Pv.24:16), expressão que levou alguns doutores da lei a entender que o
limite numérico para o perdão seria sete, algo que foi contrariado pelo próprio Senhor Jesus que, indagado a
respeito, disse que a pessoa deveria perdoar outra até setenta vezes sete, ou seja, sempre (Mt.18:21,22). Ora,
se o ser humano, falho e imperfeito, tem de perdoar sempre, como estaria Deus impedido de perdoar uma
segunda vez ou limitado a apenas sete vezes?

- Mas não é só! Nosso Senhor apontou que apenas um pecado não teria perdão, qual seja, a blasfêmia
contra o Espírito Santo (Mt.12:31,32; Mc.3:31,32; Lc.12:10). Desta maneira, o texto em comento do autor
aos hebreus há de ser interpretado à luz de outras passagens bíblicas.

- Como, então, entender esta impossibilidade? Alguns, como Agostinho e Tomás de Aquino, entenderam
que a passagem tinha por objetivo apenas afirmar que os que assim agiram não podiam ser novamente
batizados, ou seja, um "rebatismo” era impossível pois isto seria novamente crucificar o Filho de Deus,
expondo-O ao vitupério, ideia esta que acabou sendo acolhida no seio da Igreja, tanto que foram
considerados heréticos os entendimentos contrários dos chamados “novacianistas”, seguidores do antipapa
Novaciano ou Novato (200-258) quanto dos “donatistas”, seguidores do bispo Donato de Casa Nigra (270-
350) que diziam que os “lapsi” ou “recaídos”, que eram aqueles cristãos que, em meio às perseguições

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romanas, renegaram a sua fé para não serem mortos e, depois, passada a perseguição, resolviam voltar à
comunhão da Igreja, teriam de ser rebatizados.
OBS: Eis o entendimento de Tomás de Aquino: “…Mas, dizer que aqueles que caíram uma vez não podem ser renovados novamente pela
penitência e sabendo, por outro lado, que não há pecado no mundo que o homem não possa se arrepender, por isso o texto deve ser entendido por
outro caminho; e também devemos saber que daqui um certo Novato, presbítero da Igreja Romana, cometeu um erro nesta questão, dizendo que,
após o batismo, não há lugar para a penitência; declaração errônea, como Santo Atanásio diz, porque o próprio Paulo recebeu o incestuoso se
arrependeu de Corinto, como resulta de II Co.2 e Gl.4, que diz: "Meus filhinhos, por quem segunda vez sofro dores de parto". Portanto, devemos
entender, como diz Santo Agostinho, que não diz que é impossível fazer penitência, mas "renovar-se novamente", isto é, ser batizado novamente
(Tt.3); pois um homem nunca poderia se arrepender de tal forma que ele deveria ser batizado novamente. E a isso se refere o Apóstolo, porque,
de acordo com a lei, os judeus são batizados ou lavados repetidamente, como parece por Marcos 7. Portanto, isto é o que o apóstolo diz: remover
esse erro.…” (Comentário da Epístola aos Hebreus. Trad. J.L.M. n.20. Cit. Hb.6:4-12. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 21 nov. 2017) (tradução Google adaptada por nós de texto em espanhol).

- Não resta dúvida de que não é possível o rebatismo e que tal prática se constitui num evidente sacrilégio,
mas não é propriamente disto que o texto está a tratar, até porque, como bem sabemos, o batismo não salva,
mas é uma prática a ser exercida pelo salvo.
OBS: O item 9 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus da CGADB é claríssimo neste ponto: “…No batismo bíblico,
efetuado por imersão em águas, UMA SÓ VEZ, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo
(Mt.28:19; Rm.6:1-6; Cl.2:12)” (caixa alta nossa).

- Na verdade, o texto está a nos mostrar que existe aqui a mesma blasfêmia contra o Espírito Santo que
Jesus tratou nos Evangelhos. Tem-se o caso de uma deliberada, consciente e desejada renúncia à fé em
Cristo, depois de se já se ter desfrutado da salvação em todos os seus matizes. É um abandono da
comunhão com Cristo, que se constitui numa verdadeira ofensa ao Espírito Santo, que foi dado no ato da
salvação e que habita, desde então, no interior do salvo em Jesus Cristo. A pessoa, sabendo o que é a
salvação, já tendo desfrutado dela, despreza-a, considerada algo vil, aviltando, deste modo, a própria
redenção que recebera. Nestes casos, diz o escritor aos hebreus, não há como se obter o perdão divino, pois,
com tal gesto, a pessoa está crucificando a Jesus, ou seja, o está rejeitando deliberadamente.

- Como, biblicamente, afirma o Catecismo da Igreja Romana, “…A misericórdia de Deus não tem limites,
mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão
de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à
impenitência final e à perdição eterna” (§ 1864 CIC).

- É este também o entendimento de Calvino, “in verbis”: “…Para que se entenda isso mais claramente,
tracemos um contraste entre essa queda e a graça de Deus, a qual o autor tem descrito. Aquele que apóstata é
alguém que renuncia a Palavra de Deus, que extingue sua luz, que se nega a provar o dom celestial e que
desiste de participar do Espírito. Ora, isso significa uma total renúncia de Deus. Agora podemos entender
quem é excluído da esperança ou do perdão. São os apóstatas que se alienaram do evangelho de Cristo, o
qual anterior- mente haviam abraçado, bem como se alienaram da graça de Deus. Tal coisa não acontece a
qualquer um, exceto àquele que peca contra o Espírito Santo. Aquele que viola a segunda tábua da lei, ou
que, por ignorância, transgride a primeira, não é culpado dessa rebelião; e certamente Deus jamais exclui ou
priva alguém de sua graça, exceto aquele que se torna totalmente réprobo. Para tal pessoa nada se deixa.…(
CALVINO, João. op.cit., p.145).

- O autor aos hebreus, então, faz uma ilustração para respaldar sua advertência a respeito do perigo da
apostasia, ao lembrar seus leitores que a terra que produz espinhos e abrolhos é reprovada e perto está da
maldição e o seu fim é ser queimada, enquanto que a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre
ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus (Hb.6:6,9).

- Com esta imagem, o autor aos hebreus ensina-nos que a apostasia, embora seja um fenômeno interno,
imperceptível aos olhos humanos, pode ser verificado e examinado pelos homens, que deverão
observar a frutificação, repetindo, aqui, aliás, o ensino de Nosso Salvador que, no sermão do monte, já
havia falado a respeito do conhecimento da situação espiritual das pessoas por intermédio de seus frutos
(Mt.7:15-20).

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- Quem apostata da fé era uma pessoa que, quando se encontrava salva, recebia a bênção de Deus, porque
acolhida a “chuva de graça” vinda do Senhor, envolvendo-se com as coisas de Deus e produzindo o “fruto
do Espírito”. No entanto, a partir do momento que renegou a fé, de modo deliberado, consciente e
voluntário, desprezando a obra da salvação, afrontando, em profunda ingratidão, o dom recebido em sua
vida pelo Espírito Santo, passa a produzir apenas “espinhos e abrolhos”, ou seja, as “obras da carne”, aquilo
que é amaldiçoado pela Palavra de Deus e o resultado é que será queimado.

- Os crentes judeus, neste seu titubeio para retornar às práticas judaicas, ainda não haviam se tornado uma
“terra maldita”, mas o autor aos hebreus faz questão de alertar-lhes que, se eles voltassem ao judaísmo,
certamente acabariam por chegar a este triste, lamentável e, o que é pior, irreversível estado.

- Apesar desta advertência, o autor aos hebreus não acusa os crentes judeus de já terem incidido na
apostasia, nem era o caso de o fazer. Tratava-se de uma advertência e, ao mesmo tempo em que mostra o
perigo da apostasia, traz um incentivo àqueles irmãos, dizendo que não se esperava que eles apostatassem da
fé, mas, sim, coisas melhores, coisas que acompanham a salvação.
OBS: “…Se alguém porventura perguntar por que o apóstolo faz menção desse gênero de apostasia, quando está dirigindo-se a crentes que
longe estão de traição tão pecaminosa, minha resposta é a seguinte: ele lhes está ministrando, em tempo hábil, uma advertência do perigo que os
ameaça, a fim de que se pusessem em guarda contra o mesmo. Tal fato é digno de nota. Quando nos extraviamos do reto caminho, não só
justificamos nossos vícios diante de outras pessoas, mas também enganamos a nós mesmos. Satanás, furtivamente, se move sobre nós e
gradualmente nos alicia por meio de artifícios secretos, de modo tal que, quando chegamos a extraviar-nos, não nos apercebemos de como o
fizemos. Escorregamos gradualmente, até que, finalmente, nos precipitarmos na ruína. Tal fato pode ser constatado todos os dias em um sem fim
de casos. Portanto, o apóstolo com muita razão alerta a todos os seguidores de Cristo a tomarem cuidado em seu próprio favor, enquanto é
tempo. A constante inatividade quase sempre leva a uma letargia que é seguida de alienação mental.…” (CALVINO, João. op.cit., pp.145-6).

- O autor aos hebreus rememora a obra e o trabalho da caridade que para com o nome de Cristo que
aqueles crentes tinham demonstrado ao longo dos anos, servindo aos santos, o que eles ainda estavam a
fazer, mas que era necessário que eles tivessem o mesmo cuidado até o fim para a completa certeza da
esperança (Hb.6:10,11).

- Neste trecho, temos um importante ensino do autor a respeito do papel das obras na vida do cristão. Se as
obras não salvam, tem-se que elas são, sim, levadas em conta por Deus, ainda que não para salvação, pois
ela é por fé e graça, mas para o devido galardão. As obras não são desprezadas pelo Senhor, que as levará
em conta quando estivermos diante do Tribunal de Cristo (Rm.14:10; II Co.5:10). Assim, nada perdemos em
servir aos santos continuadamente.
OBS: “…O termo grego aqui usado traz o sentido de “indolente”, “preguiçoso”, “descuidado”, ao que Provérbios 18.9 diz: “... o negligente na
sua obra é irmão do desperdiçador”. Ao repreender o servo que desperdiçou a grande oportunidade que tinha recebido de seu senhor, Jesus
colocou os negligentes ao lado das pessoas de má índole, dizendo: “Mau e negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e ajunto onde não
espalhei; devias, então, ter dado o meu dinheiro aos banqueiros, e, quando eu viesse, receberia o que é meu com os juros” (Mt 25.26,27). São
vários os fatores que podem levar uma pessoa a prosperar na vida material: trabalhar com perseverança; economizar com paciência; aplicar nesta
ou naquela área com todo o cuidado e inteligência — e contar acima de tudo, é claro, com a bênção de Deus. Assim também sucede no campo
espiritual. O céu é bom, mas requer esforço por parte daquele que se dispõe a lutar por ele. Este sim ouvirá do Senhor as solenes palavras: “...
sofreste e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome e não te cansaste” (Ap 2.3).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.105).

- Mas este serviço não pode ser considerado como “mérito” diante de Deus. Nenhum serviço, por mais
bem motivado e intencionado que seja, nos dispensa de termos uma vida espiritual cuidadosa e de sempre
termos como objetivo a obtenção de uma “certeza de esperança”. Muitos, na atualidade, entram num
“ativismo” e, como consequência disto, tornam-se negligentes no cuidado com as coisas espirituais, com o
cuidado da sua comunhão com Deus e, pasmem os senhores, principalmente os obreiros, aqueles que estão à
frente do povo do Senhor. O resultado desta negligência é um enfraquecimento espiritual que pode levar à
vacilação da fé e ao perigo da apostasia. Tomemos cuidado, amados irmãos!
OBS: “…A Teologia da Prosperidade — também conhecida como Confissão Positiva — ensina que Deus, uma vez tendo prometido bênçãos e
heranças aos que fizessem sua profissão de fé em Jesus Cristo, estaria obrigado a conceder cada bênção prometida aos que reivindicassem seu
direito legal às bênçãos, sobretudo concernentes à saúde e prosperidade. Mas a Bíblia nos ensina que o que somos e tudo aquilo que recebemos
da parte Deus é inteiramente por sua infinita misericórdia, e não por merecimento algum de nossa parte.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit.,
p.106).

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1º Trim. de 2018: A SUPREMACIA DE CRISTO: Fé, esperança e ânimo na Carta aos Hebreus

- Não podemos deixar que percamos o foco nas promessas de Deus, das quais a maior delas é a nossa
glorificação e a passagem deste mundo para a glória eterna. O autor aos hebreus faz uso da figura de
Abraão, que, afinal de contas, é o “primeiro judeu”, herdou as promessas porque nelas confiou.

- O escritor aos hebreus disse que o próprio Deus fez questão de dar a Abraão um sinal da firmeza de
Suas promessas quando, mesmo sendo Deus, jurou ao prometer dar a Abraão a multiplicação da sua
descendência como também que a bênção sobre ela repousaria (Hb.6:13-17).

- O escritor aos hebreus alude ao episódio em que Deus fez um pacto com Abraão, logo após o patriarca ter
sido justificado por ter crido na promessa de Deus, pacto este firmado mediante um sacrifício, em que os
animais foram cortados pela metade e Deus passou no meio deles, num verdadeiro juramento, com o qual o
Senhor respondeu ao questionamento do patriarca de que como saberia que iria herdar as promessas
recebidas (Gn.15:1-21).

- Os crentes judeus, que eram prova viva e indelével do cumprimento da promessa dada por Deus a Abraão,
não tinham, portanto, razão alguma para duvidar de que herdariam as promessas que o Senhor lhes dera com
a salvação na pessoa de Jesus Cristo. Tinham de manter a “certeza da esperança” da glorificação e da vida
eterna, pois Deus é imutável e não pode mentir, de modo que, o que fizera com Abraão, haveria de continuar
fazendo, bem como que o que prometera através de Cristo também haveria de cumprir, como cumprido
havia com o patriarca.

- A esperança é a âncora da alma e, portanto, retendo esta esperança, que Paulo chama de “bem-
aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt.2:13), não
nos movamos pelos movimentos das águas turbulentas deste mundo, pois, a exemplo da âncora, a esperança
não nos permite ser levados pelos movimentos do mundo, pelas tempestades desta peregrinação terrena, até
porque, voltando então às “coisas de difícil interpretação”, o Senhor Jesus penetrou até o véu, alcançando a
nossa completa e perfeita salvação, vez que é sumo sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque, o
que ele passará a explicar, como veremos na próxima lição.
OBS: “…Existe aqui um símile muitíssimo apropriado na comparação da fé, que repousa na Palavra de Deus, a uma âncora. Certamente que,
enquanto peregrinamos neste mundo, não temos terra firme onde pisar, senão que somos arremessados de um lado para 0 outro como se
estivéssemos em meio a um oceano atingido por devastadora tormenta. O diabo jamais cessa de acionar incontáveis tempestades, as quais
imediatamente fariam soçobrar e submergir nossa embarcação, se não lançássemos nossa âncora, com firmeza, nas profundezas. Olhamos, e
nossos olhos não divisam nenhum porto, senão que, em qualquer direção que volva- mos nossa vista, a única coisa que divisamos é água; na
verdade, só vemos ondas em gigantescos vagalhões a nos ameaçarem. Mas assim como se lança uma âncora no vazio das águas, a um lugar
escuro e oculto, e, enquanto permanece ali, invisível, sustenta a embarcação que se encontra exposta ao sabor das ondas, agora segura em sua
posição para que não afunde, assim também nossa esperança está firmada no Deus invisível. Mas há uma diferença: uma âncora é lançada ao
mar porque existe solo firme no fundo, enquanto que nossa esperança sobe e flutua nas alturas, porquanto ela não encontra nada em que se
firmar neste mundo. Ela não pode repousar nas coisas criadas, senão que encontra seu único repouso no Deus vivo. Assim como o cabo, ao qual
a âncora se acha presa, mantém o navio seguro ao solo de um profundo e escuro abismo, também a verdade de Deus é uma corrente que nos
mantém jungidos a ele, de modo que nenhuma distância de lugar e nenhuma escuridão podem impedir-nos de aderir a ele. Quando nos sentimos
unidos assim a Deus, mesmo que tenhamos de enfrentar as constantes tempestades, estaremos a salvos do risco de naufrágio.…” (CALVINO,
João, op.cit., pp.164-5).

Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Caramuru Afonso Francisco

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