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PLACEBO

Ao me ver chorando por ter queimado o meu dedo quando pequena,


minha mãe dizia, “Vou dar um beijinho e já vai passar”. Com o beijo, parava de
chorar. Quase como um milagre!
Esse é um exemplo de efeito placebo. Placebos se referem a
medicamentos simulados que podem produzir no paciente uma crença de que
está sendo curando. Esses falsos medicamentos são usados em experimentos
clínicos para testar os efeitos de medicamentos reais.
Pesquisas têm mostrado que o uso do placebo pode, de fato, melhorar a
dor. Em 2007, Dr. Tor D. Wager, então professor na Columbia University em
Nova York, fez um experimento. Ele usou nos participantes da pesquisa dois
cremes. Um creme que combatia a dor foi aplicado no braço; Dr. Wager, porém,
disse aos participantes que o creme era falso, um placebo. O outro creme que
era na verdade um placebo foi aplicado na testa dos participantes e Dr. Wager
disse a eles que o creme era um medicamento real. Foi, então, aplicado nos
participantes um estímulo de dor (parecido com uma pequena queimadura) e as
reações do cérebro foram registradas através do PET.
Os resultados mostraram que o uso do placebo funcionou com um
remédio normal. Através das reações cerebrais, Dr. Wager observou que o
tratamento com placebo provocou no cérebro a liberação de uma substância
química para aliviar a dor, o chamado opiodis.
Dr. Wager comprovou o que minha mãe já sabia: que o uso do Placebo
pode funcionar. Além dissso, ele mostrou que existe uma relação entre mente e
corpo.
As pesquisas com placebos ainda são raras, embora seja comum o uso
de placebos em experimentos clínicos para testar efeitos de medicamentos.
Afinal, que empresa de remédios estaria interessada em financiar pesquisas
com placebo?
A falta de interesse das empresas farmaceuticas não impediu que uma
mãe americana criasse em 2008 a primeira empresa de placebos. Ela não é
médica nem farmaceutica, mas como mãe, acredita que o placebo pode ajudar
os pais. Obecalp, que é placebo de trás para frente, é o nome de sua empresa.
Seus medicamentos são considerados suplementos alimentares. Portanto,
podem ser vendidos em qualquer lugar sem prescrição médica. Embora Obecalp
mantenha um sabor parecido a de um remédio para enganar as crianças, eles
não tem nenhum efeito real de cura.
O uso do placebo é controvertido. Muitos pais não gostam da idéia por
sentirem que estão mentindo a seus filhos. Outros pensam que o uso de placebo
ensina a criança a tomar remédios sempre que sentir qualquer forma de dor.
De acordo com o próprio Dr. Wager, ainda não se sabe por que para
algumas pessoas o placebo é eficaz, enquanto para outras, o placebo não faz
diferença.
Assim como podemos acreditar que fomos curados por um remédio que
na verdade é um placebo, o inverso também pode ocorrer. Ao tomar um
placebo, podemos acreditar que o remédio piorou o nosso estado.
A sensação de piora depois de ter tomado um placebo se chama nocebo.
Sentir-se mal porque foi mordido por um cobra que na verdade é não-venenosa;
ou ter dor de cabeça ao tomar um café decafeinado, pensando ser um café
regular, são exemplos de nocebos.
Pesquisas ainda precisam ser feitas para comprovar e entender melhor
os efeitos do placebo. As mães, entretando, sabem que um beijo no dedo do
filhinho pode ser tudo que a criança precisa para sentir que a dor está passando.
Mesmo sem pesquisa acadêmica.

Denise M. Osborne é araxaense, doutoranda pela Universidade do Arizona


(USA) em aquisição de segunda língua, e professora de português pela
mesma universidade.

Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):


Osborne, D. (2010, Sept 10). Tocando no ponto. Clarim, Ano 15, n. 735, p. A2.

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