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PRINCÍPIOS GERAIS
1- A resposta celular ao agente lesivo depende da natureza da injúria, sua duração e sua
severidade. Pequenas doses de um agente químico ou pequenos períodos de isquemia podem
induzir injúria reversível, enquanto doses/períodos maiores podem levar à morte celular.
A injúria celular acontece quando as células são estressadas de forma tão severa que elas não
conseguem mais se adaptar, ou quando sofrem anormalidades intrínsecas. A injúria pode
progredir através de um estado reversível e terminar em morte celular.
•Injúria celular reversível: nos estágios iniciais ou em formas brandas de injúria, as alterações
morfológicas e funcionais são reversíveis se o agente lesivo for removido.
•Injúria celular irreversível ou morte celular: com a continuação do dano, a injúria se torna
irreversível, a célula não consegue se recuperar e morre através da necrose ou apoptose.
HIPÓXIA
Há diferenças na resistência das células à hipóxia. Alguns neurônios não suportam mais do que
3 minutos, enquanto células do miocárdio podem resistir até 30 minutos.
As células dos mamíferos desenvolveram respostas protetoras para lidar com o estresse da
hipóxia. A melhor é a ativação de um fator transcrição chamado Fator Induzido pela Hipóxia 1
(HIF-1) que induz a expressão de vários genes que aumentam a capacidade da célula de resistir
a agressões, especialmente através de mecanismos antioxidantes e antiapoptóticos.
OBS: a isquemia é o tipo mais comum de injúria celular e resulta de uma hipóxia induzida por
uma redução do fluxo sanguíneo, geralmente devido a uma obstrução arterial.
-Injúra da reperfusão-
1- Estresse oxidativo:
Radicais livres são produzidos devido a uma redução incompleta do O2 (primeiras moléculas
que chegam ao tecido após a recuperação do fluxo) pelas mitocôndrias danificadas. Os
mecanismos antioxidantes também se encontram comprometidos pela isquemia.
3- Inflamação:
As células mortas estimulam a exsudação de neutrófilos e a consequente liberação de radicais
livres no local.
RADICAIS LIVRES
Os radicais livres são espécies químicas que possuem um elétron não emparelhado no orbital
externo, indicados pelo símbolo • próximo do átomo que possui elétrons desemparelhados
(pex: O2•, •OH). Elétrons desemparelhados são altamente reativos e “atacam” e modificam
moléculas adjacentes, como proteínas, lipídeos, carboidratos e ácidos nucleicos. Algumas dessas
reações são autocatalíticas, uma vez que as moléculas que reagem com esses radicais livres são,
por sua vez, convertidas em radicais livres, amplificando sua capacidade de produzir lesão.
Os radicais livres são produzidos normalmente nas células durante a respiração mitocondrial e
produção de energia, mas são degradados e removidos das células pelos sistemas antioxidantes.
Assim, as células conseguem manter um estado estável no qual os radicais livres estão presentes
transitoriamente em baixas concentrações, sem causar danos. Um aumento da produção e/ou
diminuição da eliminação dos radicais livres pode levar a uma condição chamada ESTRESSE
OXIDATIVO.
-Produção de radicais livres-
1- Reações de oxirredução que ocorrem durante os processos metabólicos normais das células:
Na respiração celular, o O2 recebe 4 elétrons para formar 2H2O. Esses elétrons são transferidos
um a um, produzindo compostos intermediários parcialmente reduzidos (radicais livres).
O2 + 1 elétron = O2•(radical superóxido)
O2 + 2 elétrons = H2O2 (peróxido de hidrogênio – funciona como substrato para reações que
produzem radicais livres)
O2 + 3 elétrons = •OH (radical hidroxil)
O2 + 4 elétrons = 2H2O
3- Inflamação
Em uma reação precisamente controlada, há uma rápida explosão no consumo de O2 para
produção de radicais livres pelos leucócitos ativados na inflamação.
- Sistemas antioxidantes-
1- Vitaminas antioxidantes:
Podem bloquear ou inativar os radicais livres. As principais são as vitaminas A, C e E.
3- lesões no DNA:
Podem causar vários tipos de danos que estão implicados no envelhecimento celular e em
transformações malignas.
A maioria dos agentes químicos é metabolizada para formar produtos inativos solúveis em
água (detoxificação) ou são ativados para formar metabólitos tóxicos. Essas reações ocorrem em
duas fases:
- FASE I: o catalisador mais importante dessa fase é o Sistema Enzimático do Citocromo P450
(conhecido como CYP), localizado principalmente no RE dos hepatócitos, uma grande família
de enzimas que detoxificam xenobióticos (agentes químicos exógenos) ou os converte em
compostos ativos tóxicos. Ambas as reações também podem produzir radicais livres.
- FASE II: geralmente transforma os produtos da fase I em compostos hidrossolúveis para serem
excretados
Há uma grande variação na atividade do sistema P450 entre indivíduos. A variação pode ser
uma consequência de polimorfismos genéticos, mas geralmente é devido a exposição a agentes
químicos que aumentam ou diminuem a atividade do sistema.
Absorção: pode ocorrer por via cutânea, mucosa (digestiva, respiratória, urogenital) ou
parenteral (intradérmica, subcutânea, intramuscular, intravenosa).
Transporte e distribuição: uma vez absorvido, o agente cai na corrente sanguínea, onde se
dissolve no plasma ou conjuga com proteínas plasmáticas. A distribuição nos tecidos depende
do fluxo sanguíneo; por terem maior perfusão, encéfalo, coração, fígado e rins recebem maior
quantidade do agente.
Armazenamento: os agentes podem ser armazenados nos tecidos por períodos variáveis.
Excreção: os agentes podem ser excretados em sua forma nativa ou após biotransformação. A
excreção se faz pelos rins, sistema digestório, vias respiratórias e pele
1- Constituição genética:
É importante porque condiciona o padrão enzimático do indivíduo, influenciando os
mecanismos de biotransformação.
2- Idade:
Lactentes e crianças são mais susceptíveis porque possuem maior teor de água corporal em
relação ao peso (o que aumenta a quantidade do agente lesivo nos tecidos) e seu sistema de
biotransformação é imaturo.
Idosos possuem atividades funcionais reduzidas, o que os tornam mais susceptíveis aos agentes
químicos.
3- Gênero:
Estrógeno interfere na biotransformação de formas variadas.
Mulheres possuem maior teor de água nos tecidos, são mais susceptíveis aos efeitos do álcool e,
na gestação, há uma maior retenção de água e efeitos dos hormônios na biotransformação.
5- Doenças preexistentes:
Doenças hepáticas reduzem a capacidade de biotransformação e doenças renais dificultam a
excreção de muitos agentes químicos.
I- MONÓXIDO DE CARBONO
É um gás não-irritante, sem cor, sem sabor e sem cheiro que é produzido durante qualquer
processo que resulte na oxidação incompleta de hidrocarbonetos (combustão incompleta de
substâncias orgânicas). As principais fontes ambientais provêm da queima de materiais
carbonáceos, como ocorre em motores, fornalhas, cigarros e incêndios.
O CO tem uma meia-vida curta na atmosfera, sendo rapidamente oxidado a dióxido de carbono
(CO2); assim, níveis elevados no ambiente são transitórios e ocorrem somente bem próximos da
fonte ou em ambiente saturados.
Sua toxicidade está relacionada com a alta afinidade que tem pela hemoglobina, com a qual se
combina formando carboxi-hemoglobina, incapaz de transportar O2. A consequência é uma
hipóxia tecidual sistêmica que provoca lesões degenerativas, edema e hemorragias por lesão
endotelial, mais intensas e frequentes em órgãos mais sensíveis à hipóxia, como cérebro e
coração. Além disso, ele provoca uma depressão insidiosa do SNC.
Envenenamento crônico:
Envenenamento agudo:
- em uma garagem pequena e fechada, um carro ligado pode produzir CO suficiente para
induzir coma e morte por hipóxia em 5 minutos.
- é marcado por uma coloração vermelho-cereja característica e generalizada da pele e mucosas,
provocada pela presença da carboxi-hemoglobina nos capilares superficiais.
É um metal facilmente absorvido que se liga a proteínas, alterando sua função, e interfere no
metabolismo do cálcio, o que leva a efeitos hematológicos, ósseos, neurológicos,
gastrointestinais e renais. A intoxicação por chumbo é conhecida como saturnismo.
Há muitas fontes de chumbo no ambiente, como nas minerações, baterias, tintas*, soldas, ligas
metálicas, pilhas, etc.
O chumbo é absorvido pelas vias digestiva e respiratória, cai na circulação e se distribui pelo
organismo. A maior parte dele (em torno de 85%) é incorporada nos ossos, onde se deposita e
volta lentamente à circulação (sua meia-vida nos ossos é em torno de 30 anos).
As principais manifestações da intoxicação são:
1- Encefalopatia saturnínica
Altos níveis de chumbo causam alterações no SNC de adultos e crianças, mas as neuropatias
periféricas predominam em adultos. As crianças absorvem mais de 50% do chumbo ingerido, o
que facilita a intoxicação e o dano cerebral causado pela competição do chumbo com o cálcio na
atuação dos neurotransmissores.
Crianças: há retardo mental variável, cegueira, paresias, psicose, convulsões e, até mesmo, coma
e morte em casos graves.
Adultos: a lesão mais comum é a neuropatia desmielinizante periférica, que compromete a
inervação dos músculos mais utilizados, especialmente os do punho, dedos e pernas (mãos e
pés “em gota” / “pulso caído”).
2- Anemia
O chumbo inibe a síntese do heme e a incorporação de ferro nos eritrócitos da medula óssea,
além de diminuir a meia-vida das hemácias (há hemólise discreta).
4- Insuficiência renal
A nefropatia pelo chumbo é devida aos seus efeitos tóxicos sobre as células tubulares proximais
dos rins. O dano renal crônico eventualmente leva a uma fibrose e falência renal.
5- Alterações ósseas
Interfere na remodelação óssea das epífises de crianças, causando um aumento da densidade
óssea chamada de “linha de chumbo óssea”, visíveis como uma linha radiopaca em
radiografias. Prejudica também a cicatrização de fraturas por atrasar a mineralização de
cartilagens.
6- Alterações gengivais
O chumbo pode se precipitar na gengiva marginal, formando uma linha de coloração azul
escura (“linha de chumbo gengival”) resultante da sua interação com o sangue e o sulfeto de
hidrogênio originários das partículas alimentares em decomposição.
COMPLEMENTAÇÃO MEDVET
III – MERCÚRIO
Na intoxicação crônica pode ocorrer a Síndrome da Acrodinia, que se manifesta por meio de
eritema de extremidades, tórax e face, fotofobia, anorexia, taquicardia e diarreia ou constipação
intestinal.
COMPLEMENTAÇÃO MEDVET
Porcos tratados com sementes de plantio ficam cegos sem qualquer lesão
ocular, perdem o apetite, ficam fracos e incoordenados, e logo não conseguem
ficar de pé. Geralmente eles vivem durante vários dias, deitados de lado, com a
cabeça projetada para trás, costas arqueadas e patas dianteiras esticadas
rigidamente para trás, contra o esterno. A respiração fica cada vez mais lenta,
com pouca evidência de vida, até a morte.
IV- ARSÊNIO/ARSÊNICO
Devido à sua ampla utilização e eficácia como arma de assassinato pelas famílias reais antigas, o
arsênico tem sido chamado de “o veneno dos reis e o rei dos venenos”.
Ele é absorvido por via digestiva e, progressivamente, vai se acumulando na queratina (pele,
pelos, unhas), ossos e dentes, onde permanece por muitos e muitos anos.
Principais lesões:
1- hepatite tóxica
2- hiperpigmentação e hiperceratose extrema
3- neurite, causadora de atrofia do nervo óptico e cegueira. Nervos motores
periféricos podem ser destruídos, o que leva à paraplegia e disfagia
4- em bovinos pode haver uma fibrose periarticular inexplicada, causando
enrijecimento das articulações.
V- AFLATOXINAS
São metabólitos altamente tóxicos e carcinogênicos produzidas por fungos do gênero Aspergillus
(A. flavus e A. parasiticus), quando as condições ambientais favorecem seu crescimento em certos
grãos de cereais, castanhas e sementes. Os alimentos mais contaminados são o amendoim,
milho e semente de algodão. As aflatoxinas são encontradas nos alimentos in natura e em seus
derivados, como fubá, pasta de amendoim, farinha de soja e semente de algodão, sendo comum
a contaminação de rações mal armazenadas. A exposição varia principalmente de acordo com
hábitos alimentares.
As aflatoxinas são absorvidas pela via digestiva e metabolizadas no fígado, onde produzem
vários derivados, inclusive epoxiderivados que possuem alta afinidade pelo DNA, podendo
causar mutação no gene TP53 e carcinoma hepatocelular, além de insuficiência hepática.
COMPLEMENTAÇÃO MEDVET