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Direitos Humanos:
Leituras e Representações
Copyright © 2017 Grinaura Medeiros de Morais
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violação dos direitos autorais de acordo com a Lei nº 9.610/98, é crime. (Art. 184 do Código
Penal)
114p.
ISBN: 978-85-5508-092-0
História, Educação e
Direitos Humanos:
Leituras e Representações
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Humanos, Guerra e Paz – vol 21 – (BOBBIO apud MARQUES,
2013, p. 249), afirma que “os direitos do homem são direitos histó-
ricos que emergem gradualmente das lutas que o homem trava pela
própria emancipação, pela transformação das condições de vida que
estas lutas produzem”.
Em cada artigo está presente a característica peculiar da autoria e
a sua projeção no componente temporal da Pesquisa em Educação. São
autores embasados em referenciais de vulto no percurso da construção
de suas trajetórias como pesquisadores e como artífices do conjunto da
atividade laboral que realizam no ofício da profissão acadêmica.
Participaram da construção dessa produção, pesquisadores da
UFRN e UFPB – Campus Central com títulos acadêmicos diversifi-
cados de alunos e de professores, alguns destes com experiências em
aprofundamento de Estudos Pós-Doutorais realizados no país e no
exterior.
O conjunto de artigos que compõe essa produção pode ser or-
ganizado em dois grupos que se interrelacionam: o primeiro identifi-
cado como uma exposição de práticas e de políticas educacionais que
envolvem as questões de ensino e de remetimento ao que conforma
os sujeitos de direito; o segundo interpretado como uma memória
da educação em tempos e espaços distintos. São autores oriundos de
diferentes tradições e de experiências acadêmicas, o que dá sentido de
unidade a diversidade de textos na orquestração das convergências e
divergências, tendo o diálogo como território comum entre eles, no
sentido colocado por Backtin ao conceber o texto como “um tecido de
muitas vozes” ou de “muitos textos ou discursos que se entrecruzam e
se completam (Backtin apud BARROS, in FARACO, p. 31).
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.......................................................5
1. Introdução
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
2. A constitucionalidade da Lei n° 11.738/2008 e sua
aplicação como instrumento de valorização da digni-
dade do profissional do magistério público
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Para Mônica Sifuente2, no que concerne ao direito à educação,
o desenvolvimento pessoal e social é expressamente assinalado como
meta a ser alcançada com a colaboração da sociedade, como decorre
do artigo 205, da Constituição Federal.
O artigo 206 da Carta Constitucional de 1988, no seu inciso V, é
cristalino ao preceituar: “a valorização dos profissionais da educação, ga-
rantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente
por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas”.
Em 17 de dezembro de 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF)
julgou a cautelar da Ação de Direta Inconstitucionalidade (ADI) de nº
4167, proposta por cinco estados (MS, PR, SC, RS e CE), que ques-
tionaram a implantação de alguns dispositivos da Lei n° 11.738/2008.
Por maioria de votos, vencidos os Ministros Joaquim Barbosa (re-
lator) e Carlos Ayres Brito, o STF determinou que até o julgamento final
da citada ADI nº 4.167, a referência do piso salarial nacional para os pro-
fissionais da educação pública deveria ser a remuneração, e não o venci-
mento inicial como determinado na “Lei do Piso”. Isso significou que os
valores pagos aos professores a título de gratificações e vantagens poderiam
ser contabilizados para atingir o mínimo estabelecido pelo piso. O STF
decidiu também liminarmente, que estados e municípios não estavam
obrigados a assegurar no mínimo 1/3 da carga horária da jornada de tra-
balho destes profissionais para atividades extra-sala de aula, suspendendo
também nesse ponto a aplicação da Lei nº 11.738/2008.
Esses entendimentos foram modificados quando o STF, em 27
de abril de 2011, concluiu o julgamento ADI nº 4.167, julgando to-
talmente constitucional a Lei nº 11.738/2008. Com essa decisão, os
preceitos da “Lei do Piso” deveriam ser aplicados imediatamente e de
forma integral.
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
O Ministro Joaquim Barbosa, relator da Ação Direta de Incons-
titucionalidade, em seu voto constatou as ideias de “vencimento ini-
cial”, como política de incentivo, e “remuneração global”, como uma
proteção mínima. “Usar gratificação para atingir o piso poderia anular,
por exemplo, políticas de gratificações por desempenho, baseada em
mérito”, explicou o ministro, ressaltando a ideia de que o principal ob-
jetivo da “Lei do Piso” é a valorização dos profissionais do magistério4.
Mesmo diante desse cenário de certos avanços, já passados mais
de cinco anos da promulgação da “Lei do Piso”, a luta pelo cumpri-
mento desse diploma legal continua. Conforme mapa de pagamento
do piso salarial dos professores das redes estaduais no Brasil, divulgado
pelo Portal Terra5, em janeiro de 2014, os estados do Rio Grande do
Sul e Rondônia aparecem como os únicos estados brasileiros que ainda
não pagam o piso. O site elaborou um levantamento em abril de 2014
a respeito do valor pago pelos estados brasileiros aos docentes da rede
pública que tenham como formação mínima o Ensino Médio. Seis
estados (SE, BA, GO, MA, PI e PE) somente em 2013 passaram a
pagar o valor corretamente ou a mais, correspondente ao piso salarial
estabelecido em lei.
4 Considerações finais
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Referências
12 Para um conceito do uso simbólico da Constituição como um todo, ver NEVES, Marce-
lo. A constitucionalização simbólica. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 95.
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Uma sociedade conduzida e representada por indivíduos alheios
às preocupações públicas, é na verdade, um Estado de mera agregação,
onde cada homem pensa em primeiro lugar em si mesmo, num cons-
tante estado de luta por reconhecimento e dominação. Nesse modelo
de cidade, os homens se relacionariam menos como uma família do
que como inimigos, através dos verbos aceitação, submissão e impo-
sição.
É evidente que as considerações feitas por Rousseau não podem
ser transportadas de seu tempo ao nosso sem as devidas adequações,
os clássicos precisam ser reinterpretados. Dessa forma, a missão dos
Emílios do século XXI é substancialmente diferente da desenvolvida
em seu tratado sobre educação.
A mensagem que queremos passar é clara, [P]olítica implica,
antes de tudo, a educação do homem. Apenas uma população mate-
rialmente educada poderá estabelecer uma sociedade justa.
Portanto, a educação é uma questão extremamente sensível à
política e à democracia. Informa a política pelas razões que já expomos
e é sensível à democracia, pois, é por meio da educação que é formado
o cidadão solidário e corresponsável pela escolha e promoção do bem
comum.
Desde Rousseau até nossos dias essa intrínseca relação nunca
deixou de ser percebida. Na verdade, trata-se de um consenso tão ro-
busto que agrega em torno dele autores de tradições filosóficas opostas.
Feita essa exposição, sobre a intrínseca relação entre um conceito
forte de democracia e um sistema educacional amplo e de qualidade,
passaremos a analisar a evolução das garantias do direito à educação
no Brasil.
Ao fim, pretendemos ter deixado claro que, apesar da proteção
normativa, nunca houve vontade política na concretização do direito
à educação.
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
2. Histórico do marco normativo Educacional no
Brasil
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
das constituições anteriores pelo chamado constitucionalismo social,
inaugurado pelas experiências mexicana (1917) e weimariana (1919).
Nesse sentido, o texto constitucional traz títulos relativos à or-
dem econômica, social e cultural e pretende atuar sobre instituições
como a família, a cultura, a saúde e a educação. Assim, é um docu-
mento de valor histórico substancial.
As evoluções sociais, notadamente no campo normativo, realiza-
das dentro do processo histórico brasileiro republicano são interrom-
pidas durante a experiência fascista nacional, sobre o Governo Vargas
no Estado Novo, quando há um abandono de uma posição garantista
assumida pelo Estado.
Esse é mais um fato histórico que atesta a importância da educa-
ção para a democracia. Assim que se formou um estado totalitário no
Brasil, uma de suas preocupações foi exatamente esvaziar as potencia-
lidades transformadoras de uma educação ampla e de qualidade.
Retomando o caminho da democracia, a Constituição de 1946,
marca do fim do Estado Novo, retoma os parâmetros normativos da
Constituição de 1934, não trazendo maiores inovações.
No entanto, ainda que não traga grandes novidades no campo
normativo, a Constituição de 1946 regia uma conjectura social bas-
tante distinta de sua antecessora republicana. Com efeito, foi durante
sua vigência que houve os debates político-partidários que levaram a
aprovação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
de 1961.
A tomada de poder pelos militares e a instauração de um novo
regime autoritário no país retomaram os traços do Estado Novo e
trouxe graves prejuízos à educação.
A política educacional do regime militar se pautou pela privati-
zação do ensino e repressão aos opositores desse processo. De acordo
com (GHIRALDELLI JUNIOR, op. cit. p. 163), houve “exclusão de
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
boa parcela das classes populares do ensino de qualidade, instituciona-
lização do ensino profissionalizante, tecnicismo pedagógico e desmo-
bilização do magistério”.
O legado militar à educação não é positivo. Durante o período
militar, continua o autor acima, o país conseguiu produzir mais de 60
milhões de analfabetos e semiletrados para uma população de mais ou
menos 130 milhões de habitantes.
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Vemos retomada a ideia de educação como um direito de todos
e essencialmente dever do Estado. A Sociedade colabora, sendo, por-
tanto, sujeito subsidiário do processo, invertendo-se a lógica aplicada
nas constituições de nossos regimes de exceção.
Ponto essencial é que não se trata de qualquer ensino, mas en-
sino de qualidade voltado ao preparo para o exercício da cidadania.
Nesse ponto, a Constituição reconhece a ligação necessária entre a
educação e o sistema democrático.
O acesso à educação de qualidade propicia o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária, possibilita o retorno do indivíduo
à sociedade dos investimentos feitos em sua formação, agora segundo
(SOUSA, 2010, p. 34) com plena “consciência de sua individualidade,
atrelado a forte sentimento de solidariedade social”.
Considerações finais
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Um aspecto que contribui(u) substancialmente para o fracasso
de nossos projetos constitucionais foi um mau uso do direito pelos
seus operadores ao longo da história.
Nesses termos, atua sobre todo o campo do direito, desde sua
ciência e ensino até a sua prática, uma força ideológica que, travestida
de suposta neutralidade na aplicação do direito e alicerçada num posi-
tivismo normativista, favorece a manutenção das relações de poder15.
A prática forense é partícipe na falta de concretização do tex-
to constitucional, porque segundo (MÉSZAROS, 2004, p. 57), “essa
atuação há muito se tornou um fazer simplesmente tecnológico, des-
politizado e exercido com total indiferença pelos critérios éticos de
justiça”.
Uma possível resposta para as questões levantadas e superação
dessa perversa realidade é o resgate da categoria da utopia16 no estudo
do direito, como ferramenta de preparação de uma nova prática jurí-
dica, capaz de contribuir positivamente com a transformação social.
Não se trata aqui, no entanto, da tradicional compreensão de
utopia como um estado irrealizável, meramente ficcional, mas uma
concepção de uma utopia concreta, desenhada a partir da realidade e
suas contradições e projetada para as possibilidades efetivas do presen-
te no futuro17.
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Referências
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
A LUTA DE MANOEL DANTAS PELA INSTRUÇÃO
PÚBLICA DO SERIDÓ (1889)
Introdução
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Desenvolvimento
18 No dia 9 de março de 1889 surgia no Caicó, então cidade do Príncipe – cidadezinha per-
dida nos confins da Província do Rio Grande do Norte – um jornalzinho intitulado O Povo.
De tiragem semanal, pertencia ao Sr. Renaud. Tinha o seu escritório em um sobrado, à Praça
Dinarte Mariz. Como redatores do jornal figuravam as pessoas de Diógenes Celso da Nóbrega
e Olegário Gonçalves de Medeiros Vale. Àquele ano, Diógenes Nóbrega contava apenas 28
anos e Olegário Vale 31. A partir de 15 de junho daquele ano, juntou-se ao corpo redacional o
moço Manoel Gomes de Medeiros Dantas, um jovem de apenas 22 anos de idade. (Medeiros
Filho apud SANTOS, 2006, p.11).
19 Convidado para tomar parte na redação do <<Povo>> sinto, nas condições aflictivas em
que estou, ver-me inibido de contribuir presentemente com o nosso pequeno concurso para
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Vale e Diógenes da Nóbrega.
Nesta passagem percebe-se o conteúdo político com que este
profere as suas palavras para o jornal O Povo. Dantas fala a respeito
do baque de uma instituição. Com isto, ele refere-se ao fim do regi-
me monárquico e a ascensão da república que viria para restaurar os
problemas causados pela monarquia. Sua preocupação em cuidar do
país é evidente, para fortalecê-lo diante das mudanças que estavam
acontecendo naquele contexto.
Inicialmente, Dantas começa a escrever poesias no jornal assi-
nando com pseudônimo, mas logo a seguir escreve artigos extensos
em defesa da instrução pública e do partido liberal, o futuro partido
republicano do qual fazia parte e comungava dos mesmos ideais. Sobre
a instrução pública este declara:
Tratamos no n. 15 da instrução publica, geralmente, em
relação à todo paiz, agora vamos encaral-a em relação à
nossa província, que pode ter tudo menos um systhema de
ensino regularmente organisado. Se achamos a instrucção
publica atrazada e deficiente em outros pontos do paiz em
que existe um arremedo de systhematisação do ensino, em
nossa provincia não podemos fazer numa analyse precisa
porque o terreno foge-nos debaixo dos pés. Quaes as causas
desse atrazo, não podemos por ora apreciar, porque para
fase-lo, seria preciso enveredar pela serie de tentativas e
desastres, que levaram a província ao estado actual que
pouco dista dos tempos de sua independencia.
o bom exito de nossa empreza. É tanto mais isso me é sensível quando desejava por-me ao
lado dos que combatem em prol das idéas liberaes e do progresso, advogando os interesses do
povo e trabalhando pela nossa regeneração. Atravessamos na época actual um periodo difficil
de reconstrução, no qual cada individuo deve assumir uma posição decidida, e promover,
quanto... (DANTAS, 1889, p.5).
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
algum espirito bemfazejo que vê-se logo supplantado pela
especulação política e partidária que tem sido sempre o
criterio porque se julgam as questões de ensino entre nós.
(DANTAS, 1889, p.1).
Manoel Dantas denuncia a situação precária e praticamente
inexistente de um sistema de ensino organizado na província, denun-
ciando ainda a forma como a política partidária influenciava de forma
negativa as questões relacionadas ao ensino. Em outro fragmento de
seu texto sobre a Instrução Pública no ano de 1889, afirma que:
Ha muitos annos que existe uma lei provincial, creando
uma Escola Normal, e, no entanto deixou-se esquecido esse
melhoramento, e continuam as vagas no professorado a ser
preenchidas por meio de concursos, nos quaes triumpham, não
aquelles que exhibem melhores provas de seu adiantamento,
mas aquelles que levam melhores recomendações.
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
A instrução pública deve ser o pilar de sustentação de uma so-
ciedade. Com essa crença e atitude ele consegue desenvolver um ideal
de envolvimento do povo quanto a reconhecer a instrução como um
bem precioso do qual devemos cuidar e lutar para a sua realização. Em
seu trabalho monográfico sobre Manoel Dantas, a autora Maria José
do Nascimento afirma que:
Manoel Dantas abalizado por uma fé pedagógica, inspirado
nas luzes da razão, acreditava que a imprensa e a escola seriam
os meios estratégicos para convencer e seduzir a população para
o processo de modernização e de republicanização. Assim, a
população educada seria libertada da opressão obscurantista
em que vivia e passaria a compreender os seus direitos, pois de
acordo com o jornal O Povo explorado por Almir de Carvalho
Bueno, Manoel Dantas ressaltava em seus escritos que
“precisamos de ideias práticas e realizáveis; sobretudo educar o
povo ignorante e fazê-lo melhor compreender os seus direitos
(NASCIMENTO, 2012, p. 21)”.
Ao assumir a postura de um defensor da instrução pública atra-
vés do jornal, Dantas almejava atingir com maior abrangência boa
parte da população, despertando o interesse em lutar por seus direitos
e reconhecer-se enquanto cidadão que necessitava de educação para
evoluir, além de reconhecer que a instrução deveria ser a base de uma
sociedade. Assim, ele lutava com a melhor das armas. A inteligência,
os ideais esclarecidos e futuristas que o faziam enxergar o Seridó muito
além do que outras pessoas conseguiam ver.
Considerações finais
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Seridó na transição da monarquia para a república. Quiçá tenha sido
pelo clima de mudanças que assolava o país, onde a república ganhava
força e galgava os seus primeiros passos como novo regime político um
dos principais fatores que inspirou Manoel Dantas a lutar pelos seus
ideais.
Além do clima de mudanças e a renovação de ideias, pode-se
observar que o descaso que o regime político vinha tratando até então
o povo do Seridó, revoltava Manoel Dantas, que diante de tal situação
viu-se na qualidade de responsável por incentivar a população através
de seus artigos a conhecer os seus direitos, refletindo a sua opinião à
luz da intelectualidade concedida pela sua formação em bacharel em
ciências jurídicas e sociais, que contribuía para que ele se envolvesse
com os ideais políticos da época, aliando-se ao partido liberal, para
militar a favor um país melhor, cuidando primeiramente da instrução
da sua província.
Pode-se dizer sem preocupação alguma de estar cometendo exa-
geros, que, Manoel Dantas foi um dos maiores representantes do Se-
ridó na defesa pela instrução pública e que lutava para expandir cada
vez mais o acesso ao ensino. Como foi citado ao longo desse texto, a
educação deve ser a base; o pilar da formação de uma sociedade. Dan-
tas conhecia bem a importância da instrução e os benefícios que essa
traria para a população do Seridó.
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Referências
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
O ENSINO DE HISTÓRIA DA LITERATURA
NO IMPÉRIO: APONTAMENTOS SOBRE
AS HISTÓRIAS LITERÁRIAS DE CÔNEGO
FERNANDES PINHEIRO (1825-1876).
Introdução
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
O espírito nacional foi despertado na população brasileira –
principalmente nos seus representantes intelectuais, porém se manteve
atrelado às bases disciplinares e ideológicas do Estado que cultivou um
determinado tipo de valorização nacional, cujos parâmetros relacio-
nam-se ao conservadorismo e à unidade, fazendo crer no que Ernest
Gellner acredita ser o nacionalismo “un princípio político que sostiene
que debe haber congruencia entre la unidad nacional y la política”
(GELLNER, s/d, p. 13). Essa situação diz respeito à forma política
conservadora e constitucional do Império Brasileiro.
Diante disso, parece ser natural o cultivo do estudo da literatura
lusitana, principalmente no Colégio Pedro II, estabelecimento com
evidente selo da política imperial. A estruturação do ensino naciona-
lista e historicista ficou atrelada a esse posicionamento conservador
dos intelectuais brasileiros que levavam em conta o condicionamento
do saber às medidas de solidificação das bases. A permanência dessa
história da literatura “luso-brasileira” simbolizava a integração de um
suposto passado e o presente nacional unificados do ponto de vista
cultural:
A literatura... crêmo-la nós um resultado das relações de um
povo; é um efeito cuja causa são os sentimentos cordiais,
muitas vezes gerais, de ordinário muito peculiares e algumas
vezes até excêntricos à vista das outras, como em relação
à poesia européia os poemas chins, à vista dos dramas
Schillerianos as tragédias índias (AZEVEDO, 1942, p.
339).
A crítica de Álvares de Azevedo insere-se nas questões valorativas
de que, no passado literário, antes do século XIX, as relações com os
aspectos nacionais tornaram-se bastante controversas pela formação de
seus intelectuais que se relacionam com a cultura portuguesa.
Na expressão “literatura nacional”, o termo “nacional” adqui-
ria uma concepção mais abrangente, porque a ideia de nação não se
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
restringe aos aspectos restritos da “brasilidade”. Envolvem-se questões
ideológicas e práticas que dizem respeito ao sistema natural do poder
instituído e da necessidade urgente de nacionalização do país. As fron-
teiras nacionais se ampliam por conta da necessidade de manter vín-
culos com um passado nacional em que a “nação brasileira” mescla-se
com a “nação portuguesa”. A unidade nacional comprova-se a partir
da valoração do elo entre língua, laços sanguíneos e culturais, princi-
palmente. Nesse caso, a colocação, por exemplo, de escritores como
Sá de Miranda e Camões no quadro “dos autores cômicos do grande
século da nossa literatura” (PINHEIRO, 1978, p. 102-103), torna-se
frequente e natural aos historiadores da literatura à época.
O estudo conjunto da literatura brasileira e portuguesa pode
ser visualizado como uma prática discursiva de destacar o processo de
independência literária brasileira. A análise comparativa insere numa
tentativa de acompanhar a formação progressiva dos “traços” nacionais
presentes na expressão literária do Brasil. O objetivo dos historiadores
da época era despertar nos estudantes de literatura o sentimento de
nacionalidade que se liga proporcionalmente ao surgimento do senti-
mento de “brasilidade”.
20 Nas citações, mantive a grafia das palavras e a estrutura sintática originais das fontes
oitocentistas consultadas.
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Não temos a vaidade de crer que completo seja o nosso trabalho;
é de suppor que tenha defeitos, originados uns da nossa
insuficiência, e outros da estreiteza do plano que abraçamos,
tendo em attenção a multiplicidade de matérias que estudam
os alumnos do setimo anno do referido collegio, para os quaes
principalmente o escrevemos. Consola-nos, porém a persuasão
de sermos o primeiro a realisar um pensamento que, quando
aperfeiçoado, será de grande vantagem para a juventude
(PINHEIRO, 1883, p. VII).
Esse compêndio foi dividido em quarenta e três lições, nas
quais trabalham o conteúdo específico do programa de ensino do
Colégio Pedro II. Nas duas primeiras lições, o autor concentra-se em
fazer um panorama histórico sobre as origens da língua portuguesa e
mostrar o conceito e divisão da literatura. As outras restantes analisam
diretamente as produções literárias. A segunda lição torna-se essencial
para o entendimento do pensamento histórico-literário do Cônego
Fernandes Pinheiro, uma vez que nela se obtém o conceito de nacio-
nalidade e a explanação do tipo de periodização utilizado no acom-
panhamento historicista do desenvolvimento literário nacional. O
Cônego adota uma periodização (vide quadro 1) baseada nas fases po-
líticas de Portugal ao encarar a literatura portuguesa e brasileira, tendo
como modelo o método do escritor Borges de Figueiredo, publicado
no livro “Bosquejo histórico da literatura clássica, grega, latina e por-
tuguesa”, o qual divide em cinco fases da literatura portuguesa: infân-
cia (1140-1279), adolescência (1279-1495), virilidade (1495-1580),
velhice (1580-1750) e renascimento (1750-1826). A única diferença é
que há o acréscimo de uma nova fase, a reforma, que marca a inaugu-
ração da escola romântica “em Portugal pelo exímio poeta visconde de
Almeida Garrett, e no Brazil pelo Sr. Dr. J. Gonçalves de Magalhães”
(PINHEIRO, 1883, p. 11), respectivamente, nos anos de 1826 e 1836
até a atualidade do autor. Nessa fase, percebem-se duas modificações
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
importantes: a primeira diz respeito ao fato de que a periodização dei-
xa de acompanhar a evolução da literatura por meio dos momentos
políticos da Metrópole. O evento literário é considerado independente
dos períodos políticos; a segunda marca o estudo da produção literária
brasileira independente da portuguesa, antes encaradas como coirmãs.
O conceito de literatura revela forte predomínio dos códigos
retóricos e poéticos de formação clássica, baseado na ideia de belas-
-letras. Outra característica da obra que revela a influência da retórica
seria a análise literária por gêneros poéticos. No Curso de literatura
nacional, o professor fluminense analisa os escritores e as respectivas
obras dentro da sua representação em cada gênero ou aspecto poético.
Os gêneros dividem-se em lírico, didático, épico e dramático; roman-
ce; diálogos; oratória; epistolografia, biografia, historiografia e viagens.
Aos dois primeiros, acrescenta-se uma subdivisão em espécies.
Cônego Fernandes Pinheiro enquadrou toda a produção lite-
rária brasileira colonial como pertencente à literatura portuguesa, se-
guindo os parâmetros do pensamento historiográfico lusitano. A inde-
pendência literária estava ligada apenas à originalidade dos escritores,
que, para ele, não se verificava antes do romantismo brasileiro.
Cônego Fernandes Pinheiro demonstra que a falta de originali-
dade de nossos brasileiros deve-se, em parte, à educação portuguesa,
enfim, europeia. A educação orientava-os a imitar os modelos literá-
rios já preestabelecidos pelas matrizes, afastando-os do caminho que os
levaria a obter uma literatura original e própria. A questão da origina-
lidade da literatura, no Curso de literatura nacional, é o fator decisivo
para distinguir a literatura brasileira da literatura portuguesa.
O autor admite uma literatura nacional a partir do momento
em que se observa, nas produções literárias de nossos brasileiros, o
“cunho original”. Ser original é possuir ideias próprias, independentes
das influências das matrizes europeias, alcançadas por meio da habili-
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
dade e da maturidade de cantar as “coisas pátrias”, principalmente, a
natureza brasílica. O marco é Domingos José Gonçalves de Magalhães
com seus Suspiros poéticos e Saudades, no qual o “sentimentalismo de
Lamartine, a suave melancolia de Chateaubriand, a vigorosa imagina-
ção de Lord Byron, ou de Victor Hugo, as graves e profundas cogita-
ções de Schiller e de Goethe, se acham reunidos neste livro, precioso
talismã dos novos romeiros” (PINHEIRO, 1978, p. 498).
O cânone literário brasileiro, desenhado nas páginas do Curso,
enquadra o poeta Manoel Botelho de Oliveira como o primeiro poeta
brasileiro e aparece na quarta época como representante do gênero líri-
co, mais especificamente da posição das produções das espécies líricas.
Há, também, a figura de Gregório de Mattos, o escritor da espécie sa-
tírica. Depois, na quinta época, o quadro dos nomes aumenta quando
são estudados os nomes de Sebastião da Rocha Pitta, Antônio Pereira
de Souza Caldas, Tomás Antônio Gonzaga, Manoel Ignácio da Silva
Alvarenga, José Basílio da Gama e Santa Rita Durão.
Na última lição, aparecem os nomes canônicos do Romantismo
que, posteriormente, estariam na maioria das histórias literárias bra-
sileiras. São eles: Gonçalves de Magalhães, Porto-Alegre, Gonçalves
Dias, Teixeira e Souza, Joaquim Norberto, Joaquim Manoel de Ma-
cedo, Dutra Melo, Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Pereira da
Silva, Varnhagen, João Francisco Lisboa.
O método de análise historiográfica de Cônego Fernandes Pi-
nheiro consistiu no “princípio básico da exaltação nacionalista das ex-
pressões brasileiras com relação às fontes europeias. Os critérios eram,
portanto, a diferenciação e a afirmação de autonomia.” (BARBOSA,
2003, p. 28). Mesmo analisando a produção brasileira do período co-
lonial conjuntamente com a portuguesa, depreende-se do discurso do
Cônego, por diversas vezes, um esforço em salientar que a literatura
brasileira caminhava em rumo a sua emancipação.
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
A escolha em colocar escritores lusitanos e brasileiros, lado a
lado, oferece muitas vezes a sensação de uma proposta de compara-
ção que destaca o processo de desligamento literário dos últimos em
relação aos primeiros. A preocupação em destacar o despontar de uma
literatura autônoma e diferente permeará por completo o discurso crí-
tico do Cônego Fernandes Pinheiro, desde a exposição da obra lírica
de Botelho de Oliveira, como já vimos, até análise de trabalhos de um
Basílio da Gama e Santa Rita Durão.
Em Caldas, Cônego Fernandes Pinheiro lamenta que seja “tal-
vez este o único lugar das Poesias de Caldas em que se reflete o céu
brasileiro, em que vigorosamente desenhada se vê a cor local, que tan-
tas vezes abrilhanta as páginas de Durão, Basílio da Gama e S. Carlos”
(PINHEIRO, 1978, 302). Cláudio Manoel da Costa é reconhecido
pela sua beleza poética, mas que deixou “escapar um pensamento pa-
triótico, tão imbuído se achava ele na leitura dos seus caros italianos,
tornando-se por demais europeu em suas imagens, o que lhe exprobra
o Sr. Ferdinand Denis” (PINHEIRO, 1978, p. 369). Destaca-se a in-
diferença de Gonzaga pela “natureza americana” e lastima a “falha” do
brasileiro, uma vez que lhe atribuía grande capacidade poética para a
inauguração de “uma escola nova”.
Por outro lado, Cônego Fernandes Pinheiro destaca a partici-
pação de outros escritores que produziram poemas brasílicos, como
foram: José Basílio da Gama e a sua obra o Uraguai; Fr. José da Santa
Rita Durão, com o Caramuru que “é o segundo poema épico que
contam as letras brasileiras” (PINHEIRO, 1978, p. 391) e, também, o
Fr. Francisco de São Carlos e a Assunção “um poema eminentemente
nacional; um desses poucos monumentos que nos legou a geração pas-
sada para a formação da nossa literatura” (PINHEIRO, 1978, p. 444).
Se a escolha dos brasileiros da fase colonial baseia-se inteiramen-
te em critérios de identificação de traços que denunciam o processo
49
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
de abnegação dos modelos europeus ou falta deles, a seleção canônica
dos românticos brasileiros liga-se à perspectiva de afirmação de auto-
nomia. Todos os escritores românticos selecionados necessariamente
apresentam o cunho de originalidade que os diferencia totalmente dos
seus “compatriotas” de além-mar. Por exemplo, Gonçalves de Maga-
lhães pertence ao quadro de escritores brasileiros, pois Confederação
dos Tamoios reflete “nestes versos a natureza basílica, e ninguém ao
lê-los poderá duvidar da nacionalidade do poeta. Tudo aqui é nosso;
os assuntos, os nomes, as comparações, as imagens, tudo é americano.
É com produções desta ordem que incontestavelmente firmaremos a
nossa independência literária” (PINHEIRO, 1978, p. 499). Exalta a
originalidade de outros poetas, colocando em destaque, a produção
poética de Joaquim Norberto de Souza e Silva, “de quem faríamos o
elogio, se ele disso houvesse mister, e se pelos estreitos laços da mais
fraternal amizade não estivéssemos a ele ligado”.
O esboço historiográfico sobre literatura brasileira romântica
mereceu ampliação no livro décimo, “Literatura luso-brasileira”, do
Resumo de história literária (1873). O autor conserva a conceituação
sobre a literatura produzida no Brasil. Ele continua a afirmar que ela
“é um garfo do tronco portuguez, um ângulo que se afasta do seu
vertice, à proporção que se distancia a epocha do descobrimento e
colonisação, e pela força das causas que modificão à indole e os costu-
mes dos dois povos coirmãos” (PINHEIRO, 1873, p. 9). Conforme
assegurou Virgínia Cortes de Lacerda, há “entre o Curso Elementar de
Literatura Nacional (1862) e o Resumo de História Literária (1873)
grande progresso, revelado, sobretudo, numa posição mais autônoma,
relativamente à literatura produzida no Brasil, posição que sabemos
ser um resultado da própria índole nacionalista do romantismo” (LA-
CERDA, 1958, p. 223-224).
50
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
O Resumo de história literária, publicado em dois volumes,
configura-se como uma história da literatura universal, onde se encon-
tra um estudo panorâmico da representação das literaturas. O autor
não revela à qual disciplina do Colégio Pedro II esteve direcionado.
É possível que tenha sido escrito para o uso nos cursos de “História
da Literatura em geral e especialmente da portuguesa e da nacional”
(1870-1876) e de “Literatura” (1877-1878), por conta do conteúdo
da obra, que reflete de perto as mudanças de caráter universalista do
programa curricular das disciplinas literárias do colégio. A comprova-
ção se tornou impossível pela lacuna nos registros do Colégio e, prin-
cipalmente, pela falta de referência nominal dos compêndios adotados
nas documentações existentes desse período. Por outro lado, é quase
certo de que a sua adoção oficial ocorreu na disciplina de “Português e
História Literária” da turma do sétimo ano de 1882, uma vez que na
sua ementa declare-se que o livro a ser utilizado seria “Postillas do pro-
fessor (em falta de compendio); Historia litteraria: conego Fernandes
Pinheiro” (SOUZA, 1999, p. 187).
O Resumo conserva os laços didáticos de exposição do evento
literário nacional, com o resumido sistema de apresentação autor e
obra, no qual há exaltação retórica das qualidades e dos defeitos. No
segundo volume, a literatura nacional é sistematizada, sem ser analisa-
da conjuntamente com a literatura portuguesa. Há uma nova perspec-
tiva de periodização, baseada em denominações diretamente ligadas à
evolução literária nacional e aos limites seculares: a formação, compre-
endendo os séculos XVI e XVII, o desenvolvimento, o século XVIII
e, por fim, a reforma, o século XIX. O terceiro período subdivide-se
em mais três épocas distintas sob a égide dos fatos históricos do país.
É interessante que Cônego Fernandes Pinheiro reconhece a fra-
gilidade da adoção mecanicista de periodização, pela delimitação dos
séculos. Essa perspectiva histórica antecipa os questionamentos dos
51
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
historiadores da literatura posteriores em relação a metodologias his-
toriográficas que delimitam a expressão literária:
Adoptando a divisão por periodos litterarios nas ordens dos
seculos não desconhecemos a incongruencia de semelhante
classificação, visto como prolongão-se indeterminadamente
no seguinte as ideias dominantes no anterior, não se sabendo
ao certo quando acabão as antigas, nem se podendo fixar o
ponto de partida das novas ideias. Na deficiencia, porém
de melhor methodo seguimos o mais geralmente praticado
pelos que nos hão precedido na senda, que ora timidamente
trilhamos (PINHEIRO, 1873, p.418-419).
No que concerne à ilustração dos autores e obras e à formação
do cânone literário nacional, há o acréscimo significativo de nomes.
Na fase colonial, estão Bento Teixeira, Manuel de Moraes, Eusébio
de Mattos, Antônio de Sá e os já consolidados Gregório de Mattos e
Botelho de Oliveira.
Considerações finais
53
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Referências
54
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
SAÚDE PÚBLICA E ODONTOLOGIA: A
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE MÉDIA E ALTA
COMPLEXIDADE SOB A PERSPECTIVA DOS
DIREITOS HUMANOS
Introdução
55
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
ção do Curso de Odontologia desenham um novo perfil para o futuro
profissional cirurgião-dentista, voltado para o desenvolvimento de ha-
bilidades respaldadas pelo conhecimento teórico-científico, o desem-
penho da prática sustentada pela ética e valores humanistas, além do
exercício de capacidades, como liderança e gerenciamento (BRASIL,
2002).
Ainda quanto aos elementos relevantes da nova prática odon-
tológica, o olhar crítico sobre o processo saúde-doença, contemplado
pela Prevenção, Recuperação e Reabilitação, deve compor o profissio-
nal, atendendo aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde
– SUS (BRASIL, 2002).
Para tanto, a grade curricular do Curso de Graduação em Odon-
tologia vem, gradualmente, conquistando reformas relevantes, inves-
tindo na ampliação e adequação de disciplinas, como uma estratégia
para a inserção do aluno no convívio com situações frequentes em sua
futura prática como cirurgião-dentista, a fim de motivar o raciocínio
crítico, que considera a interação dos fatores socioeconômicos e am-
bientais, a tomada de decisão apoiada na ciência e na conduta ética e,
sobretudo, o contato com a situação real, que alia o saber e a técnica,
e, vem a somar-se às experiências e vivências do profissional de saúde
promissor (BRASIL, 2002; MADEIRA, 2006).
A vivência de situações reais é fator determinante para conhecer
e compreender o sujeito de direitos que se traja como paciente, refletir
sobre os câmbios sociais que delimitam o modo como expressa, viven-
cia e qualifica o processo de adoecimento; qual é seu entendimento
acerca da assistência que recebe e como o ambiente que o circunda
interfere nessas questões (UNESCO, 1998; MANN, 1996).
Sob a ótica do aluno, o paciente e o meio passam a ser objetos de
estudo, preenchidos por responsabilidades sociais questionáveis, face à
transgressão dos Direitos Humanos (MANN, 1996).
56
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Nesse sentido, pensar o paciente como sujeito de direitos, dire-
ciona a reflexão para a qualidade do serviço ofertado. Estaria sendo o
paciente, como cidadão qualificado pelo cumprimento de obrigações
sócio-políticas e dotado de direitos intransferíveis, lesado por seu prin-
cipal provedor de assistência à saúde? Em que ponto as fragilidades da
Saúde Pública perturbam e desrespeitam direitos humanos esquecidos,
frente a programas de apoio de qualidade inferior? (MANN, 1996).
É na oportunidade de refletir dada ao discente que testemunha
e vivencia a realidade de programas de assistência à saúde, durante a
preparação para a vida profissional, que nascem questionamentos que
contrastam com o direito à saúde, serviço ofertado e acesso à qualida-
de, reflexões que fomentam este texto.
Discussão
58
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Nessa compreensão, são sujeitos desvalidos do direito ao escla-
recimento e à assistência de qualidade, quando são ignorantes quanto
à necessidade individual de preservar a higidez dentária e dos tecidos
que compõem o sistema estomatognático; ao terem acesso ao trata-
mento reabilitador que, apesar de falho, é considerado como satis-
fatório. São lesados ao darem crédito a promessas de acesso à uma
qualidade questionável.
Apesar do investimento na contratação de profissionais habi-
litados, os programas de saúde odontológica que garantem procedi-
mentos de média e alta complexidade são abastecidos por materiais de
qualidade inferior e, ainda, estão submetidos a metas de produtivida-
de proporcionais ao incentivo repassado pelo poder público. Assim,
próteses dentárias descartáveis são produzidas em larga escala sob a
premissa da oferta de reabilitações de excelência.
Nesse sentido, são delineadas duas faces das políticas públicas:
uma que oferta o serviço, dando ao paciente, sujeito de direito, o aces-
so à saúde; outra, que não prioriza a qualidade do serviço ofertado.
Considerações finais
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Referências
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
MEMÓRIAS DO MOBRAL: INSTRUINDO-SE NA
ARTE DE OBEDECER, SILENCIAR E PROGRAMAR
A MORTE DE UMA EDUCAÇÃO CIDADÃ
63
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
instrução ancorada na complexidade inerente aos múltiplos modos de
(des) dizer, de (des) pronunciar o mundo através da experimentação
de um trabalho pedagógico que devotou ao cidadão, o treinamento e
a esterilidade do diálogo e consequentemente, o aprisionamento aos
grilhões da ditadura e a uma pedagogia bancária22 que reinou absoluta
como uma onda nebulosa de proibição e de aniquilamento do espaço
coletivo, das proibições das relações democráticas e da ostentação do
autoritarismo de forma ampla.
Nos contextos discursivos sobre o Mobral, sua gênese conceitu-
al, legislação, e tendências políticas sobre as quais o modelo de edu-
cação estava pautado, era a instrução e o treinamento23 que estavam
sendo valorizados, alijando do cidadão o direito da exposição da fala e
os desdobramentos do pensamento, sem os quais ficamos privados da
vontade e da liberdade de ser, marcando um retrocesso aos processos
dialógicos e de construção de modelos educativos para uma cidadania
livre em conformidade com os direitos humanos.
No documento do Mobral (1973), que trata de sua origem e evolu-
ção, as palavras-chave que lhe dá sustentação e argumentação, estão expli-
citamente citadas: rotinas intensivas de treinamento, linguagem técnica,
planejamento estratégico, controle de resultados, etc. Tais palavras funcio-
nam como termômetro para averiguar as situações de fragilidade citadas
no diagnóstico da organização e métodos, a saber,
a) Inconsistência quanto ao uso da moderna tecnologia
administrativa nos pontos mais sensíveis e adequados
da estrutura do Mobral Central; b) receio à inovação,
66
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Para reforçar o estilo de enquadramento a que me refiro de pas-
sagem, e utilizando-o como metáfora para criticar essa tentativa de
imposição, de um padrão dos militares, retomo o mito de Procusto27
ou ao mito da intolerância com práticas de esticamento, o que na mi-
tologia grega representa a intolerância do homem em relação ao seu
semelhante.
Em analogia a todo o período educacional da década de 70, o
mito de Procusto encontra raízes na forma de controle do saber que
o brasileiro devia adquirir como forma de pensar e de ser. A forma de
entendimento e de ligação do mito à realidade diz respeito à manifes-
tação e o direito a fala do cidadão brasileiro durante o regime militar
e no caso em estudo, aos estudantes do Mobral. Não havia gritos a
serem ouvidos como se dava com as vítimas de Procusto porque os
seus sons foram convertidos em silêncios, emudecimentos que seriam
ressuscitados da subterraneidade em que viviam, não em forma de re-
volução, mas sob o manto do sentimento de vergonha e de indignação
ou às vezes do nada, do completo ocultamento.
O mito de Procusto se aproxima do foco de discussão que trata
27 Procusto era um ladrão que levava a vida roubando as pessoas que passavam pela estrada
que ligava Mégara a Atenas, só poderia cruzar seu caminho quem passasse por um terrível
julgamento: o ladrão possuía uma cama de ferro do seu exato tamanho: nenhum centímetro
a mais ou a menos. Nela, ele fazia sua vítima deitar-se, se a pessoa fosse maior que a cama
amputava-lhe as pernas, se fosse menor, era esticada até atingir o tamanho desejado. Tudo teve
fim quando o herói Teseu fez a ele o mesmo que ele sempre fazia às suas vítimas, colocou-o
na cama, mas um pouco para o lado, sobrando assim a cabeça e os pés que foram amputados
pelo herói. O mito de Procusto é uma alegoria da intolerância. Apesar da diversidade ser uma
característica humana, o ser humano tem agido como Procusto, em grande parte acreditando
estar sendo justo. Num dos episódios desse mito, Atena, a deusa da sabedoria, incomodada
pelos gritos das vítimas, resolveu tomar uma providência e foi ter com o bandido, mas ficou
sem palavras quando este argumentou que estava fazendo justiça porque sua cama nada mais
fazia do que acabar com as diferenças entre as pessoas. O silêncio de Atena foi interpretado
como aprovação e só fez reforçar a crueldade do bandido. Quando Teseu procurou por Pro-
custo, o ladrão pensando que seria uma visita amigável, tentou convencer o herói da legitimi-
dade de suas ações. No entanto, Teseu responde que injusto é tentar igualar as pessoas que são
diferentes por natureza, por isso cada uma tem o direito de ser como é.
67
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
da ditadura militar e do projeto de educação que destinaram aos jo-
vens e adultos do país. Uma definição do tamanho do cidadão e da
sua permissão de fala e de expressão, um modelo escolar tecido, orga-
nizado, planejado nos moldes da ditadura, da tecnocracia, dos instru-
mentais tecnicistas impostos fragmentariamente, podando a liberdade
de expressão através de uma condenação à repetição do pensamento e
da fala dos outros, dos alheios, dos vindos de fora, de outras paragens.
Os processos criativos de ensino e de aprendizagem foram su-
cumbidos, e no seu lugar modelos de repetição, de decoração de no-
mes, datas e heróis assumiram o lugar central de importância da for-
mação do cidadão. Quase tudo era proibido e tudo se iniciava a partir
de ações autorizadas pelos tecnocratas cuidadosamente preparados
para tal.
Ao lado e acima da formalização do método de alfabetização,
havia toda uma política de convencimento de que se estava retiran-
do o país do analfabetismo e da ignorância e uma responsabilização
do cidadão tanto pela condição educacional em que se encontrava o
país como pelo seu esforço individual em se alfabetizar para modificar
a situação. Para o governo a presença do analfabetismo indicava um
“mal”, uma “calamidade pública”, sendo os analfabetos culpados pela
condição de subdesenvolvimento do país, ficando sob sua responsab-
ilidade alfabetizar-se, porque o país só obteria o crescimento econô-
mico-político se esse “mal” fosse sanado. Essa conclamação estava
presente e se fez chegar ao povo sob todas as formas. Realça-se aqui
uma música tocada e permitida pelas ondas do rádio do cantor Antô-
nio Marcos (Você também é responsável), retratando a situação.
É por razão dessa proibição da palavra e do desprezo à expres-
são de liberdade do pensamento do povo que recorremos ao diálogo
com Paulo Freire e de Mikhail Bakhtin e suas postulações acerca da
importância do diálogo e do dialogismo. Suas leituras são primordiais
e indispensáveis para o entendimento da importância da palavra na
68
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
vida do cidadão com realce para A Pedagogia do Oprimido e Gêneros
do Diálogo, destacando os conceitos e as suas contribuições para a
humanidade acerca da produção que realizaram e da importância do
diálogo e do dialogismo no contexto da educação e da humanização.
28 Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, no bairro de Casa
Amarela -Recife, uma das regiões mais pobres do país, onde logo cedo pôde experimentar as
dificuldades de sobrevivência das classes populares. Filho de Joaquim Temístocles Freire, capi-
tão da polícia militar do Pernambuco e de Edeltrudes Neves Freire uma norte-rio-grandense,
do lar. Freire tinha uma irmã chamada Stela e dois irmãos: Armando e Temístocles. Freire
vivenciou a pobreza e a fome na infância durante a depressão de 1929, uma experiência que o
levaria a se preocupar com os mais pobres e o ajudaria a construir suas revolucionárias ideias
de alfabetização. No livro A sombra das Mangueiras, podemos conferir o que foi a vida para
Paulo Freire desde a mais tenra idade, uma infância vivida com muitos sacrifícios principal-
mente quando perdeu o pai aos nove anos de idade quando a família obrigou-se a se mudar
para Jaboatão. Somente aos onze anos frequentou a escola pela primeira vez. Sua filosofia edu-
cacional expressou-se primeiramente em 1958 na sua tese de concurso para a Universidade
de Recife e, mais tarde, como professor de História e Filosofia da Educação daquela Univer-
sidade, bem como em suas primeiras experiências de alfabetização como a de Angicos no Rio
Grande do Norte, em 1963. Freire casou-se com Elza Maia Costa Oliveira de quem teve cinco
filhos. Por esta época começou a lecionar no Colégio Oswaldo cruz em Recife. Trabalhou
inicialmente no SESI – Serviço Nacional da Indústria – e no Serviço de Extensão Cultural da
Universidade do Recife. Há uma vasta produção freireana conhecida no Brasil e no mundo,
assim organizada: A proposta de uma Administração; Conscientização e Alfabetização: uma
nova visão do processo; Pedagogia do Oprimido; Educação e Mudança; A importância do
ato de ler em três artigos que se completam; A Educação na Cidade; Pedagogia da Esperança;
Política e Educação; Cartas a Cristina; À sombra desta Mangueira; Pedagogia da Autonomia;
Mudar é difícil, mas possível. Ana Maria Freire com quem Freire se casou pela segunda vez
deu continuidade a sua escrita organizando importantes publicações que estavam a caminho
quando da sua morte em 1997.
69
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
1975)29. Muitas diferenças marcaram a trajetória pessoal e profissional
de ambos, mas o que assinalamos como semelhança nesta pesquisa é a
obstinação dos dois na crença de que o diálogo é uma fonte propulsora
que dá origem a uma sociedade com pessoas livres, criativas e autôno-
mas. Assim como o diálogo em Paulo Freire, o dialogismo, tido como
29 Bakhtin nasceu em 1895, na cidade russa de Oriol, desde a mais tenra idade teve saúde
frágil, sendo acometido de grave enfermidade ao longo de sua vida, tendo amputados mem-
bros do corpo e sofrendo algumas privações materiais, falecendo no ano de 1975, com oitenta
anos. Decidiu-se pelo casamento em 1920 com Elena Aleksandrovna Okovitch, a qual foi
fiel colaboradora na sua vida intelectual durante meio século, conforme se pode constatar na
biografia do autor amplamente descrita e publicada nas redes sociais e nas fontes documentais.
As fontes sobre a formação acadêmica de Bakhtin são escassas, de uma magra capacidade de
volume em relação à fortuidade das ideias que legou ao mundo. Estudou primeiramente na
Universidade de Odessa, seguindo para a de São Petersburgo de onde saiu diplomado em
História e Filologia no ano de 1918, então com 23 anos. Segundo Clark e Holquist (1998,
p. 21), “seus escritos abarcam, ao lado da linguística, da Psicanálise, da Teologia e da Teoria
Social, a poética histórica, a Axiologia e a Filosofia da pessoa”, o que evidencia a pluralidade
de pensamento do autor. Na sua trajetória teve que enfrentar uma conjuntura histórica extre-
mamente adversa até a década de 1960, aproximadamente. Trata-se da Revolução Soviética
de 1917, que impôs perseguições políticas e privações materiais a um grande número de in-
telectuais, obrigando-os a uma vida errante, em constante exílio, voluntário ou imposto. Em-
bora os registros biográficos assinalem a sua origem nobre, pelo menos em uma família com
recursos materiais, a revolução russa não dispensou a Bakhtin a oportunidade do convívio e
das dificuldades vividas junto a outros exilados. Essa conjuntura explica a descontinuidade das
publicações das obras de Bakhtim. Postas em retraimento por ocasião da revolução, suas obras
apresentam um hiato de mais de trinta anos entre a primeira fase, quando publicou algumas
de suas obras, como O freudismo (1925), o método formalista aplicado a crítica literária
(1928), Marxismo e Filosofia da Linguagem (1929), e a segunda fase, marcada pela publica-
ção de uma nova edição de Os problemas da criação em Dostoiévski e da sua tese de douto-
rado, intitulada Rabelais e a Cultura Popular da Idade Média e do Renascimento. No cenário
intelectual não perdeu a oportunidade de debater contra o dualismo de sua época. Criticou
as tendências teóricas da linguística contemporânea, categorizada em duas grandes correntes:
o objetivismo abstrato, representado, principalmente, pela obra de Saussure e o subjetivismo
idealista, representado por Humboldt, Croce e Vossler. Considerou-as reducionistas e um
obstáculo à apreensão da natureza real da linguagem como código ideológico, uma vez que a
primeira corrente prioriza o fator normativo e estável da língua em detrimento do seu caráter
mutável, ao passo que a segunda prioriza a criação individual, portanto o aspecto interno, o
lado subjetivo da criação significativa, em detrimento do social. Desse modo as duas tendên-
cias contrapõem-se às suas ideias, que ressaltam o valor da língua viva, em constante mutação,
dentro de um contexto social.
70
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
conceito central na obra bakhtiniana, é assumido nesta pesquisa como
plataforma de recurso indispensável na construção da relação com o
outro.
Toda a pedagogia freireana encerra a valorização do diálogo como
construção, pronunciamento e transformação do mundo através da pa-
lavra “verdadeira” que é aquela elaborada no conjunto dos interesses dos
grupos, dita e problematizada num contexto dialético de elaboração e ree-
laboração do pensamento pelos sujeitos “pronunciantes a exigir deles novo
pronunciar. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no
trabalho, na ação-reflexão” (FREIRE, 1987, p. 44).
Logo o diálogo é “esse encontro dos homens, mediatizados pelo
mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-
-tu”.(p. 45), mas em um nós que está envolvido e comprometido na
proposta dessa construção humanista e democrática cuja horizonta-
lidade é a condição sobre a qual, os sujeitos se reconhecem nas suas
relações consigo e com os seus semelhantes, somente possível numa
condição humanamente existente, na capacidade que somente o ho-
mem tem de se rever, de reconhecer-se nos seus erros e acertos, nas
decisões que toma.
A proposta é, sobretudo coletiva, mas passa pelo individual,
pelo autoconhecimento, pela busca permanente de um encontro con-
sigo mesmo, de uma reflexão pessoal a procura do ser mais e melhor,
vencendo, superando, reelaborando posições intrapessoais e interpes-
soais que se manifestam e se desdobram no jeito de ser consigo mesmo
e com os outros, na extensão dos conteúdos constitutivos de uma pe-
dagogia humanizadora e humanizante cujo conteúdo está forjado pela
amorosidade, o respeito, a compreensão, a tolerância, a humildade, o
altruísmo, a esperança e a confiança em si e nos outros.
A educação problematizadora tem a criatividade e a reflexão
como princípios da ação “dos homens sobre a realidade, responde a
71
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
sua vocação, como seres que não podem autenticar-se fora da busca
e da transformação criadora” (p.41). Tem a categoria histórica como
fundamento da sua construção e a consciência como característica es-
sencialmente humana.
As conexões entre o pensamento de Freire e de Bakhtin firmam-
-se na questão da interação social – o primeiro ligado às questões da
emancipação humana, o segundo, explorando a questão da linguagem
como recurso radicado no social, tomando a interação como categoria
de estudo no campo da linguagem onde através do sujeito bakhtiniano
(social, histórico e ideológico), evidencia a indissociabilidade entre a
enunciação e seu contexto social.
Bakhtin realça as relações humanas enfatizando que o homem
nasce ou emerge do outro e que quando fala não está agindo solitaria-
mente sobre ou pelo outro, mas com o outro. Por isso a noção de dia-
logismo ocupa a centralidade nas suas reflexões acerca da linguagem.
O autor entende e concebe o diálogo “não apenas como a co-
municação em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas toda
comunicação verbal, de qualquer tipo que seja (1986, p. 123). A na-
tureza dialógica da vida dispõe da palavra “como uma espécie de pon-
te lançada entre mim e os outros”. Se ela se apóia sobre mim numa
extremidade, na outra apóia-se sobre meu interlocutor. A palavra é o
território comum do locutor e do interlocutor” (p. 113).
Os dois autores acreditam no poder da palavra como sustenta-
dora do diálogo que mantém viva a força transformadora da realidade
social, o que está muito além do diálogo formalmente produzido ou
da retórica ostentadora destituída do poder transformador, o que Frei-
re denomina de verbosidade ou de pura sonoridade.
Do remetimento às suas leituras depreende-se que o esvazia-
mento da palavra e a proibição do diálogo e da livre manifestação do
pensamento veiculado pela proposta do Mobral só poderia ir paula-
72
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
tinamente produzindo a morte do cidadão, o apagamento do huma-
nismo e a negação do homem, sinais de uma necrofilia que no dizer
de (Fromm apud FREIRE, 1987, p. 37) se constitui numa espécie de
morrer para viver, expressa na passagem a seguir: “El indivíduo necró-
filo ama todo lo que no crece, todo lo que es mecânico. La persona
necrofila es movida por un deseo de converter lo orgânico em inorgâ-
nico, de mirar la vida mecanicamente”.
A coisificação da vida é portadora desse assalto e violação dos
sentimentos, dos pensamentos e das palavras, de uma morte da vida
na sua essência e plenitude orquestrada pela sede de poder e de con-
trole do outro. É esse o modelo que implica na negação do homem,
através da restrição das suas ações, do aniquilamento do seu poder de
argumentação e de pensamento, de igual modo, um modelo de morte
que se sobrepõe a vida em sua plenitude através da manipulação, de-
pósito, condução, prescrição, negação da fala, morbidez e descrença
no cidadão.
Este artigo encerra a discussão levantada acerca do Mobral apre-
sentando-o como modelo de prescrição da formação de um cidadão
cujo perfil se caracterizava pela ausência de palavra vincada, sem letra
solta e independente, obediente, dócil, repetidor, afeito à mecânica
da vida, costurado em silêncios por trás da porta que se fechara para
ele com a chegada dos tempos de escuridão da ditadura envolta numa
enigmática comunicação que nem de longe se parecia com um diálo-
go.
E convenhamos que sem diálogo não há comunicação, mas ape-
nas repasse de comunicados envoltos na moldura de um tempo auto-
ritário, responsável por toda a programação de uma morte velada que
se impingia sorrateiramente na alma de cada estudante do Mobral: a
morte da cidadania e do que está vivo dentro de cada um de nós.
73
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Referências
74
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
AOS LEITORES DOS JORNAIS DA PARAÍBA E DO
RIO DE JANEIRO, NOTÍCIAS SOBRE OS LICEUS
NO IMPÉRIO30
Fabiana Sena
30 O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desen-
volvimento Científico e Tecnológico - Brasil. Este também foi publicado, primeiramente, nos
anais do VII Congresso Brasileiro de História da Educação, 2013, Cuiabá.
75
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
ção epistolar que os signatários se apropriaram para transmitir o con-
teúdo da carta?
Embora se reconheça as peculiaridades entre as províncias da
Paraíba e do Rio de Janeiro, bem como as semelhanças entre os jornais
– conforme aponta Barbosa (2011) quando defende que a produção
desse suporte, seja na Inglaterra, em Portugal ou no Brasil, possuía
um modo comum de escrever e publicar as suas notícias próprias da
época – foi necessário estreitar as relações entre elas para situar a rede
de comunicação que havia entre ambas. Nesse sentido, as epístolas
localizadas nos jornais dessas províncias foram analisadas por meio
das regras e modelos de composição, difundidos pelos manuais epis-
tolares, como uma arte do bem escrever, por considerar a estrutura
discursiva das epístolas estarem impregnadas de intenção persuasivas,
as quais são relevantes para a transmissão do conteúdo.
Assim, analisar as epístolas nos jornais sob essas condições é “es-
tudar o modo como o texto opera” (DARNTON, 2005, p. 83), ou
seja, a maneira pela qual ele se encaixa no suporte do texto escrito. Os
periódicos tratados aqui não são especializados em educação e ensino,
entretanto, estes registram fragmentos do cotidiano escolar, os quais
nos possibilitam compreender determinados aspectos da educação e
da instrução pública no Império. O corpus que se baseia esta pesquisa
é constituído de 10 cartas publicadas nos jornais paraibanos e cariocas
por professores, diretores da instrução pública, pai de alunos e anôni-
mos, de um total de 188 cartas identificadas, sendo 80 nos jornais da
província da Paraíba e 108 do Rio de Janeiro.
Nos últimos anos, tem crescido a produção acadêmica tomando
o jornal como objeto e fonte para as pesquisas na área de História,
Literatura, Sociologia e Educação. No que tange a essa última área,
esse suporte apresenta questões que revelam dados para a história da
educação, tais como livros didáticos, alunos, professores, instituições,
76
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
diretores da instrução pública, inspetores, recursos financeiros e etc.
Uma produção relevante é o estudo de Gondra (2003), o qual apre-
senta e discute a relação entre a imprensa e a epístola, por meio das
cartas do professor Manoel José Pereira Frazão publicadas no jornal
Constitucional, em 1864.
Ao considerar esses elementos importantes para compreender
uma história da educação por meio da imprensa no Império e consta-
tar o considerável lugar de destaque ocupado pela epístola enquanto
modo discursivo que proporcionava aos leitores a intervenção públi-
ca (GONDRA, 2003; BARBOSA, 2010, 2011, 2012; SENA, 2011,
2012), esta pesquisa buscou dar visibilidade aos discursos epistolares
nos jornais sobre a educação e instrução pública nas províncias da
Paraíba e no Rio de Janeiro durante o Império, identificando e ana-
lisando as proximidades e as diferenças discursivas entre as cartas nos
jornais dessas províncias.
O estudo das cartas no jornal possibilita compreender o coti-
diano de uma comunidade de leitores por meio de sujeitos célebres e
comuns, tomando conhecimento do que faziam, liam, escreviam ou
pensavam em uma determinada época e lugar. Possibilita também aos
estudiosos que tratam esse suporte textual como objeto e/ou como
fonte de pesquisa adentrarem à cultura letrada do Brasil. Por abordar
diversas temáticas, este suporte pode ser considerado como uma espé-
cie de “museus de tudo”, segundo Pecheman, (2002), no qual retrata
uma sociedade em um dado momento por meio dos múltiplos gêne-
ros textuais, a exemplo de anúncios, crônicas, poesias, comunicados,
romances, relatórios, editais, cujos textos tratam de diversos assuntos,
como morte, moda, política, literatura, concursos, saúde, hospeda-
gem, livros, escolas, compra e venda, leilão, crimes e delitos, transpor-
te, eventos sociais, guerra entre outros.
77
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Epístolas ao Diretor do Liceu Paraibano e ao Reitor
do Colégio Pedro II: discurso sobre o controle das
instituições de ensino secundário
80
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Ao coronel José da Costa Azevedo, communicando que
n’esta data fora exonerado do logar de director do liceu de
Nictheroy; nomeando-se para o substituir o desembargador
João Candido de Deus e Silva. – Communicou-se ao
nomeado e á thesouraria provincial (DIÁRIO DO RIO DE
JANEIRO, 5 de abril de 1850).
81
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
[...] em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo
tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída
por certo número de procedimentos que têm por função
conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento
aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade
(FOUCAULT, 2000, p. 08).
Assim, o conteúdo das epístolas tão-somente poderia ser pro-
ferido por alguém de direito, qualificado, e segundo o ritual requerido,
a da escrita epistolar, os quais estão relacionados ao exercício do poder
a quem lhe atribuiu, o Presidente da província ao Diretor da Instrução
Pública. A este último era dado o poder de designar, poder controlar,
poder organizar, poder criar. Foi através da escrita epistolar que a in-
formação a respeito do ensino secundário se transformou em notícia.
Estas cartas são classificadas como ordem ou comando, esta última é
definida pelo manual Le Secretaire à la Mode (1650), de Sieur de La Serre:
Apenas ouça o que eles querem ou deixam fazerem. E nem
sempre precisa usar a razão para convencê-los, porque a
autoridade do orador toma o lugar da razão. Mas, às vezes,
se for considerada a respeito, eles podem representar a facilidade
e a igualdade de comando que lhes é dado, o dispositivo de
promessas de recompensa, se eles obedecem e ameaças de
punição, se eles fizerem o oposto. E para conclusão dizer que a
gente espera que eles façam o dever e nos deem todo sujeito
de se contentar com eles.35 (SERRE, 1650, p. 12, grifo
meu).
Embora não se tenha dados de que esse manual circulou no Bra-
sil, o seu conteúdo gerou o habitus para a escrita de outros manuais.
35 Trecho original: Il n'est point besoin d'en donner de regles. Les plus simples sont de meil-
leures. Il suffit de leur faire entendre, ce qu'on veut qu'ils farent ou qu'ils laissent. Et n'est pas
toujours besoin d'user de raison pour les persuader, parce que l'autorité de celui qui parle tient
lieu de raison. Mais si quelquefois on le juge etre à propos, on leur peut representer la facilité
et l' equité du commandement qu' on leur donne, et adjouter des promisses de recompense
s'ils obeissent et des menaces de punition s'ils font le contraire. et por conclusion dire qu'on
espere qu' ils feront leur de voir e nous donnernt tout sujet d' etre contens d'eux.
82
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Cada livro que aborda o conteúdo da arte epistolar o faz a seu modo,
de acordo com a importância que confere a essas regras, levando em
consideração o seu destinatário, por considerar as normas de leitura
que definem para comunidade de leitores, modos de ler, procedimen-
tos de interpretação (CHARTIER, 1999). Entretanto, os manuais de
O Secretário Português36 (1801), da autoria de Francisco José Freire e
Novo Secretário Portuguez ou Código Epistolar (1846) de José Ignácio
Roquette, não apresentam definição acerca da tipologia da carta de
ordem e de requerimento, apenas oferece exemplos de cartas, o que
permite verificar por meio deles as semelhanças com as cartas publi-
cadas acima.
No que se refere aos signatários não identificados, nem pelo uso
dos pseudônimos, estas ausências revelam um jogo epistolar que ocor-
re entre o remetente, às vezes oculto, e o destinatário explícito, no
qual um escreve para o outro, que, por sua vez, pode responder ao seu
remetente. Ora um pode assumir a função de emissor da mensagem,
ora pode se tornar receptor dela, dependendo da resposta, se houver.
Entretanto, a ausência de resposta não significa que não houve comu-
nicação. E é por isso que se estabelece o jogo epistolar, pois a comu-
nicação não se funda apenas na troca de mensagens, mas também no
envio, pois não se pode “perder de vista a repercussão que provocou
nesse correspondente”, como alerta Rocha (1985, p. 18). De acordo
com Gondra (2003, p. 30), a carta no jornal “inscreve o leitor de
cartas, bem como de outros tipos de fonte, em um jogo cujas regras
exigem, dentre outros aspectos, que fique assumida a sua condição de
observador inserido em um tempo”, funcionando “como uma espé-
cie de atestado de acumulação de um determinado capital simbólico”.
Considerando a editoração do suporte textual do jornal no século XIX
36 Esta obra do mesmo autor também foi publicada sob o título Secretário Portuguez ou
methodo de escrever cartas pela tipografia Rollandiana no ano de 1801 em Portugal. Cf. Barbo-
sa (2011) a respeito do processo de adaptar manuais de escrever cartas no século XIX.
83
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
e a função do redator que seleciona e ordena os textos que são publi-
cados, o sentido da escrita epistolar pode ter outro significado, o de
se divulgar para um público específico o que está ocorrendo na ins-
trução pública de uma determinada província. No caso das cartas que
ordenam, supõe-se que os comandos foram executados, mesmo com
a ausência da resposta. Entretanto, um exemplo abaixo mostra uma
carta que responde a outra carta:
Ao diretor da instrução pública em resposta ao seu ofício de
hoje em que consulta se os alunos matriculados nas aulas de
instrução primária são ou não isentos do recrutamento que a
Presidência julga-os compreendidos na disposição do artigo
7 da instrução de 10 de abril de 1843, que assim determina.
Item os estudantes de todas as classes que apresentarem
atestado dos respectivos professores visto que a expressão
vaga-estudante de todas as classes abrange também os alunos
de instrução primária (O GOVERNISTA PARAHIBANO
17 de maio de 1851).
Nas cartas apresentadas nesse estudo, verifica-se um traço co-
mum por meio de uma escrita ordinária. Os vocativos utilizados nas
cartas nos jornais como “Ao diretor” e “Ao reitor” apresentam o pri-
meiro destinatário, mas no conteúdo delas se encontram outros. Esses
vocativos são praticados como a função apelativa na qual busca uma
exclusividade do discurso. O signatário expõe o motivo da sua escrita
logo no primeiro parágrafo. Em seguida, apresentam os argumentos.
Por fim, ele solicita, faz o pedido. Entretanto, nas cartas curtas, as três
últimas apontadas, é dispensável quase todos os recursos de retórica
epistolar, pois o signatário transmite diretamente o seu discurso ao
destinatário, de modo que a ordem dada não deixa dúvidas a respeito
do que se quer.
A epístola pode ser comparada aos sermões portugueses dos
século XVI, XVII e XVIII, cujos textos são estudados por Hansen
84
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
(2000), pois ambos os gêneros textuais apresentam a fórmula da pro-
posição: “alguém diz algo sobre alguma coisa para alguém”. Consi-
derando que o discurso epistolar é escrito e não falado, como o do
sermão, no entanto, este tipo de escrita faz do ausente presente o que
permite aplicar essa fórmula retoricamente a partir de duas articula-
ções, conforme Hansen (2000, p. 31):
Uma delas, ‘alguém diz [escreve] para alguém’, refere-se ao
ato da fala [escrita], como relação pragmática de sujeito da
enunciação e destinatário, ou relação dialógica ‘eu/tu’, que
define o contrato enunciativo [...] A outra articulação, ‘algo
sobre alguma coisa’, refere-se à construção do discurso como
estrutura sintática (sua ordenação sequencial) e estrutura
semântica (sua significação).
Nessa perspectiva, esse autor (2000, p. 32) afirma que “o ‘eu’ da
enunciação e o ‘tu’ da recepção não eram categorias psicológicas, mas
representações de posições sociais preenchidas por outras representa-
ções hierárquicas extraídas de todo o social objetivo”. As cartas publi-
cadas nos jornais cariocas e paraibanos revelam esses lugares apontados
acima, os quais são hierárquico: Diretor da Instrução Pública/Diretor
do Liceu e das escolas públicas; Professor/Câmara dos vereadores; Um
interessado/Diretor da Instrução Pública; Um por todos/Diretor da
Instrução Pública.
Considerações finais
86
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Referências
88
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
A CAMPANHA DE PÉ NO CHÃO E SUA LEITURA
A PARTIR DA PEDAGOGIA CRÍTICA: UMA
MEMÓRIA IMPORTANTE PARA EDUCAÇÃO EM
DIREITOS HUMANOS.
Kléber de Araújo
Patrícia Araújo Rocha
90
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
no seu aspecto físico (a Biblioteca, os Acampamentos, parte dos seus
documentos), pois as experiências vivenciadas por homens, mulheres
e crianças ficaram guardadas na vida de cada um deles, os quais, hoje
podem ser compartilhados através de suas memórias.
91
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
de um povo que se levanta para lutar contra a miséria, contra a espolia-
ção(...); por uma escola brasileira, consciente, crítica e demonstrativa
[...]” (GERMANO,1989, p 94).
Ao observarmos o quadro atual da educação nacional podemos
perceber que as mudanças se fazem necessárias e que muitas vezes as
ideias não são efetivadas por falta de vontade política e por diversos
outros fatores e interesses que exercem grande poder, engessando a
nossa educação, o que não quer dizer que não sejam possíveis. Uma
prova disso é a experiência da “Campanha de pé no chão”.
39
94
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
violação de direitos à educação, marcando a cidade de Natal no Rio
Grande do Norte.
Desse modo, a percepção que se pode alcançar através da cons-
ciência crítica, obviamente, liberta um indivíduo e/ou uma sociedade
no sentido de que essa consciência faz possível ou reconhece as verda-
deiras razões que estão na raiz de seus problemas. Portanto, a “Campa-
nha de pé no chão” é a resposta popular que se acorda e vai à luta pela
afirmação do direito de todos à educação e pela autenticidade de uma
cultura. Essa experiência superou expectativas e se engajou definitiva-
mente, na luta de emancipação de um povo solidário e comprometido
com a igualdade social.
Para ilustrar essa consciência crítica e da afirmação do direito
de todos à educação, destacamos alguns objetivos da Pedagogia Crítica
apontados por (MAGENDZO, 2002, p.2) que diz:
(a) Crear nuevas formas de conocimiento através de
su énfasis em romper com las disciplinas y em crear
conocimiento interdisciplinario;
95
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
[...] Pedagogía Crítica, vale decir ubicando el proceso de
la enseñanza y el aprendizaje al interior ... proporcionado
excelentes e interesantes aportes, a partir de la teoría crítica,
en el campo del control y el poder político, institucional
y burocrático que se ejerce sobre el conocimiento, los
estudiantes y los docentes. (Disponível em: http://www.
iidh.ed.cr/documentos/herrped/pedagogicasteoricos/12.
pdf . Acesso em 30 de ago. de 2014.)
Aliado a isso, (GIROUX, 1986, p.236), traz uma crítica
interessante quanto à fundamentação teórica e a prática educacional
com relação à transmissão da cidadania, quando afirma
Uma falha importante no modelo de educação para
a cidadania é que ele não reconhece nem responde às
disfunções sociais e estruturais; ao invés disso, as falhas
sociais e institucionais são interpretadas como falhas
pessoais.
Tanto a Pedagogia Crítica como a “Campanha de pé no chão”
trazem no seu arcabouço teórico-prático, uma mudança pessoal e so-
cial levando as pessoas inseridas nesse processo a uma plena expansão
da liberdade e autonomia. É o que poderíamos chamar de “empode-
ramento” defendido tanto pela Pedagogia Crítica como conquistada
com a “Campanha de pé no chão”, como diz (COUNT apud APPLE,
1996, p. 22):
[...] pode a escola ousar em construir uma nova ordem
social? Questionar radicalmente as escolas e outras entidades
pedagógicas, de perguntar quem se beneficia de suas formas
dominantes em termos de currículo, ensino, avaliação e
políticas, de discutir sobre o que elas poderiam fazer de
diferente [...]
O foco da Pedagogia Crítica enquanto prática pedagógica e a
experiência da “Campanha de pé no chão” trazem uma memória sig-
96
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
nificativa e uma grande influência para todos aqueles que trabalham
com a educação e que se perguntam “qual conhecimento é o de maior
valor?”. Pergunta essa que (APPLE, 1996, 2000, 2004) reformulou
e nos desafia a responder: “O conhecimento de quem é o de maior
valor?”.
Considerações finais
99
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
surável não só para a Educação em Direitos Humanos, mas é a possi-
bilidade de compreender de que o crescimento pessoal é um processo
contínuo, é aprender a acreditar na natureza humana e no potencial
ilimitado das pessoas.
Embora tenha sido barbaramente interrompida acreditamos
que mesmo diante do medo, lá estava presente o direito daquelas pes-
soas, de poder indignar-se.
100
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Referências
101
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
em direitos humanos. In. SILVEIRA, R.M.G. et al. Educação em
Direitos Humanos: Fundamentos Teórico-Metodológicos. João
Pessoa. Editora Universitária, 2007.
102
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
EDUCAR EM DIREITOS HUMANOS: PARA
UMA PEDAGOGIA DA SENSIBILIDADE E DO
EMPODERAMENTO
Introdução
103
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
ser fortalecida e orientada pela Educação em Direitos Humanos
(EDH), considerando que “educar e educar-se em direitos humanos é
humanizar-se e pretender humanizar as pessoas e as relações” (CAR-
BONARI, 2009, p. 141).
Mas, de que forma promover essa educação que humaniza
quando situações de negligência e injustiça machucam a dignidade
contribuindo para a descrença nos direitos humanos? Como educar
em e para os direitos humanos quando a razão insensível reduz nosso
olhar para não percebermos a dignidade do outro?
As respostas para esses questionamentos encontram na EDH a
proposta favorável ao fortalecimento do ser humano, pelo fato de ser
uma educação sensível aos princípios de liberdade, igualdade, solida-
riedade e empoderamento das pessoas diante das situações de negação
e/ou violação de direitos. Uma educação comprometida com a trans-
formação da realidade, que além de sensibilizar empodera os sujeitos.
A pedagogia do empoderamento deve fortalecer as
capacidades dos atores - individuais e coletivos - em níveis
local e global, nacional e internacional, público e privado,
para sua afirmação como sujeitos no sentido pleno e para a
tomada de decisões (CANDAU et al, 2013, p. 39).
Partindo dessa compreensão, propomos refletir sobre as contri-
buições da Educação em Direitos Humanos enquanto uma pedagogia
da sensibilidade humana e em prol do empoderamento, por ser capaz
de “humanizar as pessoas e as relações”, ou seja, “empoderá-las” para o
enfretamento de injustiças e desigualdades.
Diante dessas perspectivas, de sensibilização e empoderamento
da EDH, retomamos as garantias legais pós-ditadura militar, pelo fato
do Estado democrático de direito constituir-se em um regime de go-
verno viável para a prática de uma educação humanizadora, pautada
pelos direitos humanos.
104
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Decorrente das garantias fundamentais, a Educação em Direi-
tos Humanos é abordada sob a ótica pedagógica da sensibilidade, que
“ressoa” entre razão e emoção, em prol do empoderamento.
Diante dessas intenções, dialogamos com Carvalho (2008), Car-
bonari (2009), Candau (2003; 2013), Dias; Porto (2007), Sacavino
(2007), entre outros estudiosos da Educação em Direitos Humanos.
105
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
as exigências de justiça e dos valores éticos (PIOVESAN,
2003, p. 339).
O princípio da dignidade humana é incorporado ao rol de status
jurídico, em outras palavras, este princípio passou a ser expressamente
previsto pelo ordenamento legal.
Sobre o percurso histórico brasileiro da EDH entendemos que
esta é uma prática recente datada de meados da década de 1980, em
pleno contexto de (re) definição da sociedade brasileira que ficou re-
fém do regime ditatorial durante o tempo de vinte e um anos, pois:
Em anos anteriores, os militantes e as organizações de direitos
humanos concentram seus esforços, por motivos óbvios, na
denúncia das violações, assim como nos mecanismos de
proteção das vítimas e das pessoas ameaçadas de terem seus
direitos e sua vida ameaçada (CANDAU, 2003, p.73).
Ora, frente ao contexto de violações cometidas pelo regime au-
toritário, a prioridade era a defesa da vida, por isso, conforme Candau
(2003),
É no contexto das buscas de construção de um novo
estado de direito que emerge a preocupação com a
construção de uma nova cultura política e uma cidadania
ativa, profundamente atravessada pelo reconhecimento
e afirmação dos direitos humanos. Nesse horizonte, a
educação em direitos humanos aparece com um potencial
especialmente relevante e significativo (CANDAU, 2003,
p. 73).
Dessa forma, durante os anos de ditadura, ações mais sistema-
tizadas em prol da EDH eram impraticáveis, pois nesse momento, os
militantes políticos buscavam ao menos a preservação mínima da vida
e da dignidade das pessoas perseguidas. Por isso, apenas com os anseios
democráticos, após ditadura, instaurados pela nova Constituição, é
que a atuação dos Direitos Humanos adquiriu contornos mais defi-
106
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
nidos através da criação de polos de direitos humanos em diferentes
pontos do país40. Alguns desses núcleos receberam apoio do Instituto
Interamericano de Direitos Humanos (IIDH).
Outros organismos internacionais como a Organização das Na-
ções Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e a Rede
latino-americana de Educação para a Paz também influenciaram o de-
senvolvimento da EDH em nosso país.
É nesse cenário de reabertura e declínio dos paradigmas ditato-
riais, que a CF de 1988 dedica o artigo 5º aos direitos fundamentais,
assegurando, à sociedade brasileira, direitos e garantias fundamentais,
para que todos possam usufruir de uma vida com dignidade, dispon-
do: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature-
za, [...]” (ANGHER, 2008, p. 35).
A partir desses preceitos, temos a dignidade da pessoa huma-
na como a representação mais fecunda do modelo democrático, pois
“a dignidade humana e os direitos fundamentais vêm constituir os
princípios constitucionais de 1988, que incorporam as exigências de
justiça e dos valores éticos” (PIOVESAN, 2003, p. 339).
A partir de então, como princípio previsto no ordenamento ju-
rídico, a dignidade humana passa a tutelar as garantias individuais e
coletivas da sociedade brasileira.
Dentre as garantias fundamentais pós-ditadura, destacamos o
direito à educação sob o prisma da Educação em Direitos Humanos
enquanto um direito humano que preserva a dignidade, e por isso:
Essencial para o desenvolvimento humano, sem o qual não
há qualquer chance de sobrevivência (física e intelectual
– no que diz respeito à concorrência de trabalho e sua
40 Conforme Candau (2003, p. 74), “no Nordeste pela Universidade Federal da Paraíba
e pelo Gabinete de Assessoria às Organizações Populares (GAJOP), no Rio de Janeiro
pelos professores do Departamento de Ciências Jurídicas da PUC-Rio e, em São Paulo,
pela Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo”.
107
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
consequente qualificação técnico-profissional) ou, se houver
essa sobrevivência estará comprometida com a qualidade
(LIBERATI, 2004, p.212).
108
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Nessa perspectiva, de uma formação continuada de educadores
em direitos humanos, a escola é mais que um espaço educacional, mas
o lugar de construção de posturas questionadoras da realidade, e ao
mesmo tempo sensíveis aos direitos humanos, pois:
Não se trata de apenas socializar o conhecimento relativo aos
Direitos Humanos. Em outros termos, não basta conhecer,
é preciso incorporar esse conhecimento, transformando em
modo de estar no mundo (CANDAU et al, 2013, p. 86).
Na escola, o conhecimento sistematizado deve ser mesclado
pelo sentimento de indignação e tomada de posicionamento diante da
vida, no sentido proposto por Paulo Freire (2001, p. 102), de que “essa
educação ligada aos direitos humanos tem que ver com o conhecimen-
to crítico do real e com a alegria de viver”.
Diante dessa gama de possibilidades que envolvem o espaço
educacional, a proposta pedagógica pautada pela Educação em Di-
reitos Humanos pressupõe relações mais profundas de sensibilização
e envolvimento das pessoas com a prática de uma cultura respaldada
no reconhecimento e promoção dos direitos humanos. Pois, “estamos
falando de um conhecimento que passa pelo cérebro, mas deve inva-
dir o coração, provocando uma relação intelectual e ao mesmo tempo
amorosa” (CANDAU et al, 2013, p. 87).
Essa relação “amorosa” com os direitos humanos se fundamenta
nos preceitos de que educar em direitos humanos significa sensibilizar
as pessoas e as relações, mas também sensibilizar-se para a essenciali-
dade do respeito à dignidade de todos, e de cada um.
As constantes violações aos valores humanos de liberdade, igual-
dade e justiça social, aliadas a incorporação de práticas competitivas
decorrentes da vertente neoliberal capitalista, e até a correria do dia
a dia, promovem o distanciamento das pessoas e a descrença de que
os direitos humanos são princípios orientadores da vida, inerentes a
todos e a cada cidadão do mundo.
109
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Esse distanciamento das pessoas e descrença nos direitos huma-
nos, além de fortalecer a negação do ser humano enquanto pessoa
dotada de dignidade, também reforça a insensibilidade diante de situ-
ações violadoras e injustas. Desse modo, é necessário promover uma
educação que humaniza.
Enfim, o fato é que a humanidade precisa “reaprender a ser huma-
na” em outros termos, a sensibilidade diante das negligências aos direitos
humanos precisa ser estimulada e vivenciada no espaço educativo.
Buscando atender a esses preceitos, bem como ao apelo de Gi-
nott (apud CARVALHO; MACEDO, 2010) de “ajudarmos nossos
alunos a se tornarem humanos”, é proposta à humanidade a Educação
em Direitos Humanos, enquanto uma pedagogia humanizadora que
toca os sentidos e as práticas de um saber escolar pautado pela sensibi-
lidade no olhar, para enxergar além das violações. A EDH sensibiliza
também os gestos para promover a esperança.
Assim, educar em Direitos Humanos implica relações pedagógi-
cas mais profundas de sensibilização e envolvimento das pessoas com
a prática de uma cultura de direitos humanos direcionada para o res-
peito e promoção da dignidade humana, de forma a contemplar temas
como: valores éticos, subjetividade, história conceitual e institucional
dos direitos humanos, pluralidade cultural e política, respeito à di-
versidade, construção de diálogos inter-étnico e inter-religioso. Nesse
contexto relacional, incluem-se as relações interpessoais e a socializa-
ção dos valores que compõem a especificidade dos direitos humanos,
como noções de respeito à diversidade, solidariedade, tolerância, paz e
dignidade humana.
Para o processo de efetivação da EDH, é necessária a conscientização
dos atores educacionais por uma ação transformadora e emancipatória.
Tem-se, então, que a Educação em Direitos Humanos
implica, necessariamente, numa mudança de mentalidades,
110
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
impulsionada pelo movimento constante de criação e
recriação, invenção e reinvenção de outras sociabilidades que,
efetivamente, contribuam para o processo de consolidação
de relações democráticas na escola e na sociedade. (DIAS;
PORTO, 2010, p. 36)
Educar em Direitos Humanos é vivenciar o respeito à dignidade
humana, é ser igual em direitos mesmo que diferente na diversidade.
É ter como alicerce uma concepção de cultura de paz, buscando ao
mesmo tempo sensibilizar e sensibilizar-se, em um processo dialético,
despertando a sociedade como um todo para a essência do ser huma-
no, que é justamente sua dignidade.
Dessa forma, a EDH, enquanto prática educativa, não pode ser
desenvolvida de forma isolada, pelo contrário, precisa articular-se com
os conteúdos, com o contexto escolar, com a história de vida dos alu-
nos. Pois assim como nos explica Freire (1996, p. 47) “ensinar não é
transferir conhecimento” e educar em direitos humanos também não.
Partindo dessa compreensão, de que educar em direitos humanos
não significa transferir conhecimento, para que a EDH de fato seja efeti-
vada, precisamos senti-la e vivê-la no cotidiano de nossas ações e relações.
Educando nossos sentidos e atitudes para a sensibilidade e respeito à dife-
rença; reconhecendo no outro, e em nós, a essência da dignidade humana.
É nesse contexto educacional de desenvolvimento de processos
de sensibilidades que se configura o sujeito de direitos em sua plenitu-
de, sendo esse sujeito que a EDH pretende formar, ao proporcionar a
estudantes o domínio de sua própria aprendizagem.
[...] uma pessoa - sujeito de direitos – necessariamente
deve desenvolver habilidades que lhe permitam dizer ‘não’,
com autonomia, liberdade e responsabilidade quando se
defrontam com situações que ameaçam sua dignidade;
poder de recusar pedidos arbitrários, injustos e abusivos que
lesionem seus direitos; [...]. (KOLESTREIN, 2012, p.5)
111
História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Essas habilidades devem permitir aos educandos e educandas
assumirem posturas e comportamentos pela dignidade, atuando frente
às injustiças e violações de direitos, como sujeitos éticos e políticos.
Considerações finais
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Referências
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História, Educação e Direitos Humanos: Leituras e Representações
Este livro foi composto em
Adobe Garamond Pro
e impresso em cartão
Duo Design 250g./m². (capa)
e Offset 90g./m². (miolo)
pela Offset Gráfica, Natal/RN,
em fevereiro/2017.
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