Vous êtes sur la page 1sur 3

Os genes falam mais alto

Livro: Tábula Rasa


Autor:Steven Pinker

Os genes falam mais alto


Por Jerônimo Teixeira.
Publicado originalmente na Revista Veja,
em 19/05/2004.
As ciências sociais têm de aprender com o darwinismo e a genética.
É o que propõe o cientista Steven Pinker.

O zoólogo Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, costuma dizer que o darwinismo


é uma teoria boa demais para ficar restrita apenas à biologia. A idéia foi levada a sério
pelo psicólogo evolucionista Steven Pinker, da prestigiosa Universidade Harvard. Seu
livro Tábula Rasa (tradução de Laura Teixeira Motta; Companhia das Letras; 670 páginas)
é um extenso apanhado das contribuições da biologia darwinista a campos como a
antropologia, a sociologia, a ciência política e até a crítica de arte. Na verdade,
contribuição é uma palavra modesta demais para as ambições do autor. No horizonte
talvez não tão longínquo vislumbrado por Pinker, as ciências humanas deverão todas se
converter ao darwinismo.

Com um senso formidável para a provocação e uma juba digna de um ídolo pop dos anos
80, Pinker é uma estrela ascendente da divulgação científica. Sua fama deve-se
principalmente a Como a Mente Funciona, livro que explica o funcionamento do cérebro
humano de uma perspectiva darwinista. O objetivo declarado de Tábula Rasa é nada mais
nada menos do que propor uma nova idéia de natureza humana. A palavra natureza deve
ser entendida literalmente. Diz respeito à nossa biologia, às determinações inescapáveis
que a seleção natural depositou em nosso código genético. Impressas em nosso DNA
estariam não apenas as instruções para fazer cinco dedos em cada mão e um nariz no
meio dos olhos. Todos nascemos com uma programação básica que nos habilita à
condição humana, da capacidade de aprender uma língua ao senso de justiça em trocas
comerciais. O apêndice de Tábula Rasa traz uma lista de universais humanos compilada
pelo antropólogo Donald Brown. Seriam características comuns a todas as culturas do
planeta – uma lista de cinco páginas com itens que vão do óbvio ao curioso: medo de
cobras, poesia, sorriso, linguagem.
O estudo dessas características comuns do comportamento humano faz parte do
programa da psicologia evolucionista, ramo científico relativamente novo, que ganhou
força no final do século XX. De certo modo, a psicologia sempre esteve no cardápio
darwinista. Afinal, a idéia de que a seleção natural conduz a evolução dos seres vivos, tal
como formulada pelo naturalista inglês Charles Darwin no clássico A Origem das
Espécies, de 1859, tem um atributo fundamental a toda grande teoria científica: o poder de
generalização. Quando geneticistas e biólogos evolucionistas tecem considerações
remotamente políticas, porém, há quem ouça velhos esqueletos sacudir no armário. Os
críticos lembram do darwinismo social de teóricos do século XIX como Herbert Spencer,
que consideravam a pobreza um sintoma de inferioridade evolutiva. E, por conta da
pseudociência de nazistas e apaniguados, a suspeita de racismo está sempre nas
redondezas da pesquisa genética. Pinker desqualifica esses receios como mera paranóia.
A nova psicologia evolucionista não deve nada a Spencer ou a Hitler.

Ostensivamente polêmico, Tábula Rasa mete a mão em vários vespeiros e ataca inclusive
egrégios darwinistas como o paleontólogo Stephen Jay Gould. Mas o principal alvo é o
relativismo cultural que ainda grassa em muitos departamentos de ciências sociais.
Antropólogos culturalistas, sociólogos pós-modernos e críticos literários feministas – todos
professariam a idéia de que o ser humano é uma tábula rasa, uma folha em branco na
qual a família, a sociedade ou a cultura irá imprimir suas marcas. Pinker demonstra muito
cabalmente, e com ironia arrasadora, que os fatos não corroboram idéias como a de que
as características sexuais masculinas ou femininas, para ficar num exemplo extremo, são
meras construções culturais. Nem todos os argumentos de Tábula Rasa são tão bem
arquitetados. No seu ímpeto de introduzir Darwin nas ciências humanas, o livro às vezes
força a mão. Especialmente frágil é o capítulo sobre as artes. Depois de sucessivos
ataques ao marxismo, Pinker quase evoca, na sua crítica à arte contemporânea, a
estúpida pecha de degeneração burguesa com que a esclerosada crítica marxista rotulou
os modernistas. Mas é empolgante seu esforço em provar que a compreensão dos nossos
imperativos biológicos não limita nossa liberdade – pelo contrário, pode aprofundá-la. De
certo modo, o cientista canadense retoma o velho humanismo da Renascença – mas um
humanismo realista e fundamentado na biologia. No lugar da divina proporção explorada
por Leonardo da Vinci e seus contemporâneos, está a dupla hélice do DNA.

Fonte: Revista Veja;


Livraria Cultura . Autor: Jerônimo Teixeira (artigo); Steven Pinker (livro)

Vous aimerez peut-être aussi