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RESUMO:
A cidade de Belém-do-Pará nestes primeiros anos do século XXI ainda se beneficia de
paisagens identificáveis à região amazônica, como o rio Guamá, a baia de Guajará, e trechos
de floresta nativa. No entanto, estes são percebidos somente em parte na paisagem.
Primeiramente, em consequência do estabelecimento da cidade portuguesa, “de costas” para o
rio. Posteriormente, devido à expansão urbana, quando igarapés e alagados presentes no sítio
foram transformados e distanciados de suas características formais. No presente, projetos
urbanos veem sendo realizados em Belém de modo a promover a incorporação na cidade,
ainda que contemplativa, da paisagem amazônica ribeirinha, sem a incorporação nos projetos,
do resgate da estrutura hidrográfica original do sítio. Este quadro resulta de processos
políticos, econômicos e sociais que promoveram, no passado, e ainda promovem no presente,
esse distanciamento. Como consequência, atesta-se: negação e transformações
indiscriminadas de paisagens e perda de identidades paisagísticas; desequilíbrio ambiental;
desqualificação estética; comprometimento da qualidade de vida da população etc. Por outro
lado, no século XXI, surge outra cidade, a que valoriza e se volta para os elementos naturais,
em projetos governamentais ou investimentos privados, construídos às margens do rio, onde a
paisagem é “vendida” como um bem privado. Esta postura ideológica nos parece
conceitualmente problemática à cidade, inspirando maiores reflexões sobre o processo de
“evolução” da cidade de Belém, onde a paisagem, operacionalizada na sua origem,
desvalorizada ao longo dos anos, (re) descoberta e “desejada” na contemporaneidade, clama
por um futuro que a conserve como parte cultural inserida em uma estrutura paisagística
amazônida, equilibrada e identificável. Pelo exposto, o presente estudo pretende refletir sobre o
estabelecimento e a expansão da cidade de Belém-do-Pará e sua relação para com a
paisagem ao longo do tempo. Palavras-chave: Paisagem amazônica; Cidade ribeirinha; Belém-
do-Pará.
Baía
de
Guajará
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O Alagado do Piri “era uma área baixa, pantanosa, que se transformava num lago na estação
das cheias, e no verão secava” (ARAÚJO, 1998, p. 247) e representava um problema de
ordem sanitária, em decorrência de suas águas paradas, e um entrave à expansão da cidade
no sentido leste. Desse modo, dois projetos foram propostos, na então Belém do século XVIII,
para a resolução do problema: o primeiro, do engenheiro Gronsfeldf, sugeria a manutenção
desse elemento geográfico, transformando-o em um lago permanente (ARAÚJO, 1998, p.247).
O segundo projeto, do também engenheiro Teodoro Constantino de Chermont, propunha o
ensecamento do Piri, iniciado em 1779 (TRINDADE JR., 2005, p.21) e concretizado no século
XIX (ARAÚJO, 1998, p.253).
3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro
Figura 2 – Planta antiga de Belém com o Alagado do Piri
Alagado do Piri
(ensecado no século XIX)
Fonte:<Skyscraper.com>
Baía
de
Guajará
Rio
Guamá
Fonte:<Skyscrapecity.com>
Deste modo, pergunta-se: a sociedade belenense neste século XXI endossa o modelo
urbano colonial, “de costas para o rio”? Ou, o exemplo supracitado, expressa tão
somente um caso isolado, mas que, se consolidado pode apontar a privatização
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade de Belém expressa forma amorfa vista de um avião. A cidade pode ser
percebida como um tecido urbano que parte de um limite natural: o rio, e se expande
em direção ao continente sem ter conservado seus elementos naturais presentes no
seu sítio, ou seja, os igarapés e alagados que foram aterrados por meio de sua
expansão. Pelos mapas, podem-se identificar formas e estruturas que correspondem
aos momentos da expansão urbana da cidade, como vias, quadras, espaços públicos.
Em um primeiro momento, a forma espontânea da cidade, presente no núcleo pioneiro
e em bairros circunvizinhos, se expande em sentido longitudinal, paralela à baía de
Guajará.
Posteriormente, a cidade se desenvolve em direção a noroeste, sobrepondo-se aos
elementos naturais do sítio, configura-se a partir de uma grande via, a Estrada de
Nazaré, que estrutura a cidade criando um eixo de ligação e expansão dela para o
continente. Deste eixo, a cidade assume uma forma ortogonal, com vias e ruas
abertas delimitando quadras e lotes, configurando o modelo quadricular de traçado
urbano, dotando a cidade de Belém de uma forma urbana de fácil leitura e boa
estruturação urbana.
Outras áreas, notadamente as consolidadas pela dita cidade informal, implantadas em
áreas de bacias de igarapés, se desenvolveram de forma orgânica adaptando-se à
configuração natural do sítio, e, posteriormente, essas áreas foram objeto, em
períodos recentes, de projetos de macrodrenagem a fim de proporcionar uma melhor
qualidade de vida às populações habitantes dessas áreas; no entanto, esses projetos
5 REFERÊNCIAS