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‘Há uma crise de legitimidade

no presidencialismo de
coalizão’
Em livro, professor avalia que incômodo com sistema
político é efeito do loteamento de cargos que deságua
em corrupção
Entrevista com
Professor Leonardo Avritzer
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Iuri Pitta, O Estado de S.Paulo
13 Fevereiro 2016 | 07h13

No dia 18, o professor Leonardo Avritzer lança o livro Impasses da


Democracia no Brasilna Escola de Administração de Empresas da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), com debate sobre a atual conjuntura
brasileira. Nesta entrevista, sobre sua pesquisa, ele analisa as razões
dos atuais impasses da democracia no Brasil.
Professor Leonardo Avritzer lança o livro Impasses da Democracia no Brasil na
Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

Como o sr. resume os atuais impasses da democracia brasileira? Há


risco real de regressão?

A democracia brasileira tem êxitos, e vivemos um impasse justamente


porque houve avanços desde 1988, seja na área social, seja na
estabilidade da moeda dentro de um processo legal. O atual momento é
de incômodo com o sistema, e muito disso é efeito da dupla face do
presidencialismo de coalizão. A partir de 2013, fica visível uma crise de
legitimidade da forma como se formam as coalizões, a partir do
loteamento de ministérios e distribuição de cargos que deságuam em
esquemas de corrupção para financiamento ilegal dos partidos e das
campanhas.

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O sr. também aponta a ineficiência do Estado no combate à corrupção


como um sinal de impasse na democracia brasileira.

É porque o mesmo sistema que reforçou os mecanismos de controle –


como a CGU (Controladoria-Geral da União), a regulamentação do
papel dos tribunais de contas e as operações integradas da Polícia
Federal – ainda é vulnerável porque uma parte do Estado é usada pelos
esquemas de arrecadação dospolíticos.
O sr. atribui um papel de destaque na insatisfação com o atual sistema
democrático à classe média mais tradicional do País.

Há um crescimento da insatisfação de um segmento social que enfrenta


dificuldades para manter certos privilégios que não encontra paralelo
nas classes médias americana ou europeia. A classe média, de certa
forma, ficou sem chão. Assim, ela caminha para uma postura legítima
de protestar contra a corrupção que ataca o Estado, mas também se
incomoda com as mudanças recentes na estrutura social do País. Isso
fica visível a partir de 2013, nas eleições de 2014 e nos protestos contra
o governo em 2015, associados a uma agenda mais conservadora e a
traços de intolerância.

Essa intolerância, que o sr. vê como crescente na política, é um fator


preocupante para a democracia?

A intolerância me preocupa por dois motivos: ela divide o País em


relação ao debate político da agenda para os próximos anos, um debate
que é preciso ser feito com pluralidade. E há o mérito em si, a agenda
de ampliação de direitos que temos visto ocorrer desde 1988 para cá e
que ficou fortemente ameaçada no ano passado, principalmente no
Congresso. Não é uma condição obrigatória que a insatisfação da classe
média com o funcionamento do Estado e com a corrupção se associe a
uma agenda conservadora no que diz respeito a direitos civis.

O custo do presidencialismo de coalizão não é só político, mas


econômico e financeiro, certo?

Exatamente. O custo político é a população não ver como legítima a


ligação entre partidos e processos decisórios. O custo econômico é a
desorganização da agenda do governo, a atuação questionável de
órgãos como Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e Dnit
(Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que são
ineficientes e por vezes alvo de suspeitas de corrupção. Isso é muito
visível na questão da infraestrutura: temos o pior sistema viário de
países em desenvolvimento. A Argentina, com um poder de
arrecadação muito inferior ao do Brasil, tem estradas muito melhores.
Entre os pontos para se sair do impasse da democracia, o livro sugere o
exercício democrático da oposição. Por quê?

Houve uma mudança do modo de se fazer oposição de outubro de 2014


para cá, uma “americanização” nos moldes do que o Partido
Republicano faz com a gestão Barack Obama, uma oposição
permanente que não havia no Brasil nem com PT nem com PSDB.
Vários avanços da democracia brasileira foram obtidos por acordos de
lideranças no Congresso. Não é necessariamente negativo romper com
esse padrão, mas a questão é o limite para isso.

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