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Foi com grande contentamento que tomei conhecimento de seu texto sobre a
habitação social na América Latina, no final de 2006, um dos textos mais lúcidos sobre
o processo de habitação das populações de baixa renda. Particularmente importante
para mim, que estava trabalhando com a questão da habitação social, buscando
entender a relação entre padrões (ou a flexibilização dos mesmos) e a qualidade de vida,
abordada sob o ponto de vista da saúde dos moradores. Sua abordagem inspirada e
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criativa foi uma surpresa. Na abordagem de Salingaros, identifica-se a incorporação de
um novo paradigma no enfrentamento da questão habitacional dos pobres urbanos dos
países em desenvolvimento: uma concepção que abriga a qualidade do espaço. O texto
apresenta recomendações para a participação do morador nas decisões “de baixo para
cima” como maneira de garantir o bem-estar físico e psicológico dos habitantes; a
metodologia apresenta uma insistência constante e contínua em garantir a constituição
de espaços de prazer e de convívio, de socialização e de uso facilitado, descrevendo de
regras precisas para a construção da habitação. Mas, além disso, apresenta um
background filosófico e científico, baseado em evidências empíricas, para a
constituição da habitação social.
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mas capaz de garantir o “mix” social, a qualidade e a sustentabilidade urbana. Nestes
assentamentos, contrariamente às formas rígidas e inumanas, de terríveis impactos
ambientais, desenvolvidas por programas estatais, com soluções formais do desenho
modernista monótono e repetitivo, com áreas específicas e imensas, designadas
exclusivamente para a moradia dos pobres, há espaços “vivos”. O autor defende que na
organização espacial das áreas das populações de baixa renda, produzidas
autonomamente, a geometria e a qualidade da superfície auxiliam na conexão
emocional, onde forma e padrão desempenham o papel de criar a conexão. Com este
entendimento e o auxílio dos princípios da biofilia, o autor propõe o desenvolvimento
de estruturas orgânicas, que estabeleçam uma relação complexa com os padrões
organizacionais de seus moradores.
O fracasso das políticas de habitação para os pobres no meio urbano pode ser
atribuído a diversas razões, dentre as quais se destacam o caráter formalista adotado
nas soluções tradicionais dos arquitetos e urbanistas, uma determinada visão de poder e
da ordem espacial dentro de um paradigma mecanicista dos processos no meio urbano.
Desse modo, a estruturação do aparato do Estado para regular e disciplinar as soluções
urbanísticas, com seus códigos cada vez mais abrangentes e rígidos, encontra nas
instituições formadoras dos arquitetos e urbanistas, os mecanismos de reprodução de
um modo de pensar formal incapaz de apresentar soluções viáveis para os problemas
concretos da cidade contemporânea latino-americana.
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processo de desenvolvimento das cidades, através dos séculos — os autores, liderados
pela perspectiva adotada por Salingaros, desenvolvem uma metodologia aplicável aos
projetos de habitação social, que representa uma proposta inovadora aos desafios
colocados pela necessidade de prover habitação para os pobres no meio urbano.
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humano é afetado pelo seu ambiente, em termos dos elementos físicos, artificiais e
naturais, que o compõe. Através da análise dos padrões de relacionamento dos
habitantes com o meio, um conjunto de conceitos-chave, que vão do psicológico ao
sagrado, propõe uma dimensão nova do processo de produção da habitação, para mais
além do material, alcançando o nível do simbólico, através da constituição de espaços
urbanos de encontro e de identidade social e cultural.
É desta forma que o urbanista Salingaros, e seu grupo, nos auxilia a pensar soluções
que contemplam a complexidade espacial e social que constitui os assentamentos dos
pobres urbanos. É uma forma de conhecimento que tem como objetivo ajudar o
desenho de uma maneira estruturada, para obter uma forma de sucesso e geradora de
bem-estar. Não é um caminho livre de conflitos ou de dificuldades, mas é um percurso
possível para a preservação da qualidade do espaço urbano.
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Nikos Salingaros, físico e matemático, pesquisador e professor da Universidade do Texas, USA,
é o mais próximo colaborador de Christopher Alexander, com quem trabalha sobre a problemática
urbana e da habitação, desde os anos 1980. Na companhia de outros autores (latinos, europeus e
americanos, dentre os quais Andrés M. Duany, cubano, pesquisador da moradia de baixa renda
naquele país; David Brain e Michael W. Mehaffy americanos e Ernesto Philibert-Petit,
mexicano) compõe o ESRG — Environmental Structure Research Group, na pesquisa da
habitação. Sua teoria, baseada nas estruturas das redes complexas, explicativas das cidades, das
relações espaciais e das relações sociais coloca que a complexidade morfológica incorporada à
complexidade social, diferentemente dos espaços rígidos e geometrizados da arquitetura
modernista, é capaz de agregar qualidade à vida das populações e auxiliar no resgate do espaço de
sucesso: aquele que garante bem-estar físico e emocional aos moradores, sendo, portanto, o tipo de
arquitetura que deve ser buscada.
Resumo: Nós oferecemos aqui um conjunto das melhores práticas para a habitação social,
baseadas em evidências, que são aplicáveis em situações gerais. Exemplos variados são discutidos
para o contexto latino-americano. Soluções adaptáveis que agem buscando uma sustentabilidade
duradoura e ajudam os residentes a vincularem-se ao seu (novo) ambiente construído. Buscamos
novos insights nas ciências complexas e, em particular, no trabalho de Christopher Alexander,
sobre como desenvolver a forma urbana com sucesso. Aplicando as ferramentas conceituais do
“Linguagem de Padrões” e “Códigos Geradores” estes princípios apóiam soluções prévias, derivadas
por outros, que nunca foram levadas adiante de uma forma viável. Novas metodologias
apresentadas aqui oferecem uma alternativa promissora ao fracasso das tipologias padrão da
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habitação social promovidas pelos governos em todo o mundo e que se provaram desumanizadas e,
por fim, insustentáveis.
1. Introdução.
Este paper resgata promissoras novas soluções para o futura do habitação social.Ele
foi preparado na forma de um amplo relatório, por um de seus autores, (Nikos
Salíngaros — NAS) para o Brasil e é aplicável de uma maneira geral para toda a
América Latina. Um de nós (Andrés M. Duany — AMD), está projetando habitação
social na Jamaica e no Caribe, e dois outros autores (AMD e Michael W. Mehaffy —
MWM) estão diretamente envolvidos com a reconstrução após a devastação feita pelo
furacão Katrina no sul dos Estados Unidos, o que significa enfrentar realidades
similares, embora não idênticas. Outro autor (Ernesto Philibert-Petit — EPP), tem
pesquisado conexões para pedestres no tecido urbano e está envolvido em promover
soluções habitacionais através de programas governamentais, em grande escala, no
México. O último autor (David Brain — DB), vem há muito tempo estudando a
influência da forma urbana no bem-estar e na sustentabilidade da comunidade, um
fator crucial na nossa discussão.
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os prédios deveriam ser e de como eles deveriam posicionar-se. Na nossa proposta, em
contraste, no início não existe imagem do projeto: ela emerge do processo em si e fica
claro somente quando tudo está terminado.
Nós podemos nos mover através de uma solução mais completa e satisfatória
baseados no trabalho de Christopher Alexander — um entre os vários pioneiros que
propuseram que o tecido urbano deveria seguir um paradigma orgânico — e podemos
incluir trabalho teórico e prático que por várias razões não são amplamente aplicados.
O que nós oferecemos é apoiado pelas evidências de muitos exemplos da prática
tradicional através dos séculos.Os governos, ao invés disso, escolhem impor esquemas e
tipologias que em última instância geram hostilidade, por parte dos próprios
ocupantes, em relação ao tecido da habitação social. Nós iremos analisar as razões
desta hostilidade com o objetivo de evitá-la no futuro. As relativamente simples
soluções apresentadas aqui são genéricas. Desta maneira, embora ajustadas para a
América Latina, elas podem ser adotadas pelo resto do mundo com modificações
mínimas. Este estudo resume idéias que são genéricas o suficiente para ser aplicadas a
países onde as condições locais para a produção da habitação podem ser muito
diferentes.
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aplicar métodos que emergiram durante milênios de construção da própria casa pelos
próprios moradores, com desempenho de sucesso, como parte da produção de
comunidades saudáveis construídas pelos residentes.
Nossa proposta vai além da habitação que é apenas literalmente construída pelos
moradores, no sentido de que o morador é o que bate o prego e faz o concreto. É
importante que eles experenciem o processo de desenho e construção como SEU
processo. Trata-se de estabelecer conexões e engajamento. O ponto chave é o processo
que comporte real engajamento, que seja ágil o suficiente para responder a processos
adaptativos e que possa se engajar sem ser dirigido pela dinâmica social da desigualdade
em infelizes direções. Ainda mais importante: o processo pode tirar vantagem tanto da
tecnologia como da experiência. Nós estamos propondo algo mais do que deixar o
pobre defender-se por si mesmo — nós desejamos empoderá-los com as últimas
ferramentas da tecnologia e com entendimento altamente sofisticado da forma urbana.
Como muitos autores descreveram anteriormente, (tais como Alexander et. al. (1977),
Jacobs (1961), Turner (1976)) a prática de planejamento estabelecida vem tendendo a
seguir um ultrapassado modelo industrial, aquele modelo que surgiu em 1920 e que foi
amplamente adotado no período que seguiu a Segunda Guerra Mundial, baseado em
um modelo hierárquico, paradigmático de comando e controle de cima para baixo, que
levou ao planejamento do tipo “predizer-e-prover”. As pesquisas demonstram
amplamente que este modelo não reflete suficientemente o tipo de problema científico
que a cidade coloca, pois ele ignora a tremenda complexidade física e social de um
tecido urbano de sucesso. De uma maneira inacreditável ele nem mesmo considera as
interações humanas no ambiente construído. Os fracassos e as conseqüências não
esperadas são bem documentados. Assim como a ciência desenvolve ferramentas de
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pesquisa mais acuradas e de menor grão para o estudo analítico do fenômeno de auto-
organização (que inclui as cidades), é também necessário agora propor um novo
urbanismo radical. Nós desejamos empoderar as pessoas com a autoridade de uma nova
metodologia, que seja baseada na pesquisa urbana recente.
O problema não é apenas a falta de complexidade física. A chave que faz o espaço
urbano é, na verdade, a relação entre a complexidade da forma espacial e a
complexidade do processo social. Se fosse apenas uma questão de complexidade física
se poderia imaginar que um processo de cima para baixo poderia ser criado para
simular a complexidade — digamos, um algoritmo computacional. O ponto crucial é
que a complexidade incorpora e expressa a vida social. Ela é, em certos aspectos as
relações sociais por outros meios (por exemplo, artefatos e espaços construídos). Em
certa medida, a resposta começa por re-conceber o ambiente construído, ele próprio
como um processo social, não somente como um produto ou um contenedor. Esta
questão se tornará importante mais tarde, quando nós falarmos sobre manutenção, pois
o caráter processual deste tipo de posse meramente começa quando os residentes se
mudam.
Este paper é muito complexo e trata de muitas questões, então precisamos mapear as
formas de sua exposição. As primeiras quatro seções colocam o background e criticam
as práticas correntes. A seção 2 introduz a competição entre os assentamentos feitos
pelos próprios moradores e a habitação social produzida pelos governos. A seção 3 faz
uma revisão dos programas de habitação social em suas práticas-padrão e tipologias do
tipo “de-cima-para-baixo” e recomenda a sua substituição (ou no mínimo
complementá-las) com os procedimentos “de-baixo-para-cima”. A seção 4 assinala
como uma “geometria de controle” arruína mesmo o mais bem intencionado dos
esquemas, por fazê-los inumanos.
As próximas seis seções oferecem ferramentas específicas para desenho. A seção 5
discute os mecanismos para o estabelecimento de conexões emocionais com o
ambiente construído, onde a biofilia, ou a necessidade de conectar-se com a vida das
plantas é um componente crucial. Nós também discutimos os espaços sagrados e seu
papel no estabelecimento da comunidade. A seção 6 revê o trabalho de Christopher
Alexander, em especial seu trabalho recente em códigos geradores. A seção 7
argumenta contra a abordagem de um plano diretor fixo, sugerindo um processo de
planejamento interativo, que permita a retro-alimentação. A seção 8 revê os padrões
Alexandrinos e analisa a transição dos mesmos para os códigos geradores. A seção 9
apresenta, nos termos mais amplos possíveis, nossa metodologia para planejar um
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assentamento. Sugerimos que se peça licença para construir para um processo, ao invés
de licença para um desenho em um papel. A seção 10 contém um conjunto explícito de
códigos descrevendo o esqueleto de serviços em um projeto de habitação social. A
seção 11 introduz as ferramentas complementares de desenho descrevendo os códigos
geradores necessários para este tipo de projeto.
As próximas quatro seções continuam com sugestões práticas para fazer os projetos
funcionarem. A seção 12 sugere a indicação de um gerente de projeto para dirigir a
aplicação dos códigos geradores. A seção 13 defende o uso de materiais apropriados:
baratos, mas permanentes, duráveis mas flexíveis para serem modelados, sólidos mas
agradáveis ao toque e à vista. Discute-se também o uso de módulos industriais tais
como “caixa hidráulica”. A seção 14 traz o tópico de como financiar um projeto,
recomendando o envolvimento de organizações não governamentais com foco em
escalas pequenas. A seção 15 é política, investigando como se pode cooperar da melhor
maneira com o sistema existente criado para produzir habitações sociais que seguem
tipologias industriais muito diferentes. A seção 16 oferece estratégias que levam os
residentes a manter seus assentamentos depois que ele são construídos.
O Anexo contém uma explícita seqüência geradora para habitação social numa área
de campo ou numa antiga área industrial aberta.
2. A analogia do eco-sistema.
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Aqui está uma incompatibilidade básica: o tecido urbano orgânico é uma extensão da
biologia humana, enquanto a construção planejada é uma visão artificial do mundo
imposta pela mente humana sobre a natureza. O primeiro é cheio de vida, mas pode ser
pobre e insalubre, enquanto o último é limpo e eficiente, mas estéril. Uma destas duas
morfologias urbanas contrastantes pode ganhar sobre a outra, ou elas podem, juntas,
alcançar algum tipo de equilíbrio de coexistência (como tem ocorrido na maior parte
da América Latina). No movimento de auto-construção os governos aceitam que os
moradores irão construir suas próprias casas e provê os materiais e treinamento para
ajudar a estabelecer as redes de eletricidade, água e esgotos.
Habitações sociais e invasões são as regiões onde vivem mais de um bilhão dos mais
pobres habitantes do mundo. Nós iremos discutir esses dois fenômenos urbanos, lado a
lado, e nos oferecer para resolver a competição ideológica e espacial entre os dois. Para
começar, moradia para os pobres representam o nível mais baixo do eco-sistema
urbano mundial. Diferentes forças, dentro da sociedade humana geram ambos os tipos
de sistemas urbanos: a habitação social financiada pelos governos e os assentamentos
invadidos. Christopher Alexander (2005), Hassan Fathy (1973), N. J. Habraken (1972),
John F. C. Turner (1976) e outros reconheceram esta competição antes de nós e
propuseram uma acomodação entre os dois sistemas. Turner auxiliou a construir vários
projetos no Peru e no México, e aconselhou a implementação dessas idéias no mundo
inteiro.
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Se não são refreados pela lei e por intervenção direta, as ocupações avançam sobre as
terras públicas e privadas. Nós estamos descrevendo uma competição entre grupos pelo
mesmo espaço disponível. Cada grupo (tipologia urbana) quer deslocar todos os outros.
Os assentamentos invadidos querem tomar a cidade inteira se lhe for permitido (por
exemplo, no Cairo, eles tomaram as coberturas planas dos prédios comerciais; nos
Estados Unidos constroem abrigos temporários em parques e sob viadutos). O
governo, por seu lado, gostaria de fazer desaparecer todas as invasões. Os governos, ao
redor do mundo, assumem que eles devem construir moradias planejadas para
substituir as casas construídas pelos próprios moradores. Isso é muito caro para ser
factível.
De todas as certezas sobre a habitação social que foram tentadas ao longo dos anos,
tem sido aceito amplamente (com algumas poucas exceções) que a favela não planejada
e construída pelo próprio morador é vergonhosa para o governo e que deve ser
demolida tão cedo quanto seja possível. Mas mesmo esta afirmação é errada. Muito
poucos em uma posição de autoridade para decidir, parecem considerar as vantagens
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econômicas da existência das favelas. Os padrões geométricos das construções, dos
lotes e das ruas desenvolveram-se na maior parte (emergiram), organicamente, e nós
iremos argumentar que esta auto-organização comporta um grande número de
conformações que são desejáveis. Mesmo com todas as suas graves deficiências, as
favelas oferecem uma demonstração instrutiva espontânea de um processo econômico,
rápido e eficiente de abrigar pessoas.
As desvantagens das favelas não são inerentes ao sistema urbano. A sua geometria
orgânica é perfeitamente boa, no entanto, é precisamente este aspecto que é
veementemente rejeitado. Ele não se adapta à estereotipada (e cientificamente fora de
moda) imagem daquilo com que um tecido urbano progressivo deveria se parecer —
organizado, uniforme, retangular, modular e estéril. A geometria orgânica da favela está
ligada ao ato ilegal de invadir e com a falta de lei generalizada. A geometria representa,
ela mesma, “uma inimiga do progresso” para uma administração. Nós não podemos
construir tecidos urbanos vivos (ou salvar porções existentes) até que esse preconceito
seja abandonado. As favelas tem um mecanismo de auto-cura que é ausente na maioria
dos esquemas de habitação social desenvolvidos de cima para baixo. O crescimento
orgânico também repara o tecido urbano em um processo natural, o que é uma coisa
inteiramente ausente dos projetos geometricamente rígidos de habitação.
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autoridade; ou isto levanta possíveis questões relativas à legitimidade da distribuição de
recursos que não sejam sujeitos a cuidadosos responsáveis procedimentos burocráticos.
Vamos resumir algumas das crenças e tipologias correntes que guiam a habitação
social hoje, de tal maneira que possamos substituí-las por um quadro de referência
inteiramente diferente. Nós vamos sugerir as soluções que nós sentimos que
funcionaram melhor, como as mais “iluminadas” alternativas. Muito da nossa crítica
foca-se no controle de-cima-para-baixo. Esta abordagem leva a simplificações do
processo de planejamento. No entanto não se pode projetar e construir um tecido
urbano complexo usando ferramentas de-cima-para-baixo. Há ainda mais a criticar
sobre as imagens específicas que as pessoas têm da modernidade, o que preocupa tanto
arquitetos que carregam consigo um conjunto falso de imagens desejáveis, quanto
preocupa os residentes, que invariavelmente são influenciados por estas mesmas
imagens, através da mídia.
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construtivo. Este requerimento prático significa que a participação do usuário é
excluída.
7. A localização típica dos projetos de habitação social nas áreas rurais tem a ver com
uma poderosa razão econômica: os proprietários de terra arrumaram uma maneira de
mudar o uso do solo e conseguiram, para eles mesmos, um extraordinário lucro. Isto é
parte da expansão orientada de nossas cidades. Além disso, o projeto, o governo e os
usuários raramente se beneficiam de alguma forma deste lucro.
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8. Um projeto típico de habitação social, concebido como uma “ilha urbana”
desconectada tem um impacto terrível no ambiente natural. Ele é desconectado dos
ciclo econômico global e local.
Os governos ainda estão intransigentes em suas idéias de que a habitação social cria
trabalho numa área particular. A realidade é diferente: espaços urbanos saudáveis
conectam-se com conglomerados e as pessoas trabalham onde elas conseguem
encontrar trabalho. Em contraste, regiões urbanas que não são saudáveis são também
isoladas, desconectando as pessoas umas das outras e das oportunidades de emprego.
Apesar das forças sociais e econômicas que levam ao isolamento, nosso objetivo não é
codificar esse isolamento nos prédios e na forma urbana. Fazer isso é reforçar o
problema. Nós devemos, ao invés disso, usar a geometria urbana para impedir o
isolamento social.
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Um princípio fica claro: não há nenhum sentido em projetar “habitação social” da
maneira em que isso tem sido feito. Nós devemos projetar e construir tecidos urbanos
complexos e com usos mistos, e garantir que eles adaptem-se aos tecidos complexos e
de usos mistos já existentes. A habitação social e a habitação em geral precisam ser
parte de um processo saudável (e socialmente inclusivo) de urbanismo. A própria noção
de habitação mono-funcional é obsoleta e desacreditada, porque ela nunca funcionou
com a intenção de conectar os residentes ao seu ambiente. Todas as medidas de
planejamento que nós rejeitamos - originalmente bem intencionadas — foram adotadas
como um meio para melhorar a eficiência para enfrentar os sérios desafios urbanos.
As principais razões pelas quais elas falharam, no entanto, nunca foram admitidas
oficialmente. Como resultado, tem havido uma tendência do debate em focar nos
problemas do projeto da habitação social, enquanto construção: como se fosse
meramente uma questão de aparecer uma melhor proposta de projeto para ser imposta
com mais ou menos os mesmos aparatos de controle de-cima-para-baixo. Hoje em dia,
a idéia de um bom projeto, para um arquiteto, é normalmente um desenho opressivo e
impessoal para os usuários. Algumas iniciativas de habitação social nos EUA (como,
por exemplo, o projeto HOPE 4), têm feito um esforço para incorporar a participação
dos residentes nos projetos, mas de maneira superficial e com sucesso relativo. Nosso
ponto chave é que o processo de produzir espaços vivos que incorporem a habitação
social tem que ser mudado em suas raízes. Ele deve acomodar um comprometimento
mais fundamental e significativo, assentando a geração da forma urbana em um
processo que respeite, de maneira adequada, a complexidade organizada que é
distintiva da natureza da cidade.
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mais pobres do que elas mesmas. No entanto, nós encontramos exemplos
encorajadores de mistura social nas cidades históricas e centros históricos, por toda a
América Latina. (o centro histórico de Querétaro é um bom exemplo). As diferenças
estão na percepção da comunidade (que pode superar diferenças de renda) em relação a
perceber a casa como estritamente moradia de caráter social produzida pelo governo
para os pobres. Comunidades de rendas mistas não são apenas possíveis, como são mais
resilientes.
Não se trata aqui apenas de uma questão de espaços urbanos separados, na periferia
urbana. Como se pode criar um único processo gerador de padrões para estes espaços
urbanos sem criar enclaves que se apartam dramaticamente do resto da cidade? Em
outras palavras, como se pode planejar habitação de baixa renda sem criar “projetos”,
bairros ou guetos? É fundamental para nós que este re-pensar a “habitação de social”
tenha que ser um re-pensar da casa de todos — isto é, do urbanismo — de tal forma
que a “habitação social” seja submetida a um processo mais geral de criar uma cidade de
redes saudáveis (Salingaros, 2005). È da maior importância que as habitações se
conectem com as redes globais da cidade: ruas principais, o sistema de transporte
público, os sistemas políticos e sociais, etc.
Parte da atitude dos governos baseia-se em que a habitação social deve seguir um
conjunto específico de políticas direcionadas a um específico problema e administradas
para um sítio específico. Nós temos projetos de super quadras (que são
desumanizadoras, mas fáceis de gerenciar) ou nós temos algo como o sistema de tickets
da Seção 8, nos EUA, que subsidia os aluguéis para os moradores de baixa renda. Neste
último caso, a habitação social se torna uma categoria abstrata — definida somente em
termos das patologias dos indivíduos que precisam de assistência e dirigida na forma de
pagamento aos proprietários. Neste caso, o sítio é uma categoria de indivíduos
separados de suas conexões com a comunidade.
Tipicamente, os pobres têm uma extensa e complexa rede de relações sociais na qual
eles se apóiam para sobreviver. Ao mesmo tempo, no entanto, o relativo isolamento
dessas redes é um problema sério. Embora seja freqüente que elas sejam densamente
conectadas num tipo de “sociedade de iguais” os pobres tendem a ter conexões
limitadas fora desses círculos e são isolados em suas próprias vilas. Elas fecham-se em
pequenas redes, mas não tem senso de si próprios como residentes de uma vizinhança.
Eles tendem, também a desconfiar das pessoas de fora do grupo. Essencialmente, eles
não têm capacidade de se identificar ou cuidar da sua vizinhança como ‘um grupo de
vizinhos”. O problema de um ponto de vista das redes, é o de como reforçar o padrão
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tênue das amarrações de maneira que se possa incorporar as populações de baixa renda
na vida cívica. Além do que, isso precisa ser feito sem interromper as fortes redes de
assistência mútua nos quais estes sistemas se apóiam. A solução requer organizar estes
networks locais em redes que funcionem em larga escala.
4. A geometria do controle.
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industrial que obviamente é o oposto da geometria livre da favela. Nós temos duas
geometrias contrastantes: unidades habitacionais massivas em um ou mais blocos, ou as
unidades espalhadas irregularmente. A impressão psicológica de controle segue a
possibilidade REAL de controle, assim como a entrada de um edifício de apartamentos
pode ser facilmente fechada pela polícia, algo que é impossível em uma disposição
aleatória de casas individuais.
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mais importante manter padrões, transparência e responsabilidade do que reduzir
custos em termos absolutos. Como resultado, torna-se muito comum para as estruturas
da administração burocráticas (com a melhor das intenções e indiferentemente às
tendências ideológicos da esquerda ou da direita) impor padrões que rompem com a
verdadeira coisa que eles desejam criar.
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considerado um luxo que não pode ser adquirido, e ao fim, o projeto adquire um
caráter sem vida e pouco natural, onde falta completamente a conexão com o
crescimento de vegetação.
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complexa relação que esta estrutura estabelece com o padrão organizacional dos
usuários. Aqui está a lista de alguns dos conceitos chave com os quais se deve trabalhar:
3. Os moradores devem amar suas casa e suas vizinhanças. Isto significa que a
forma do ambiente construído imediato deve ser espiritual, e não industrial.
5. O caráter sagrado das vilas tradicionais e dos espaços urbanos não pode ser
ignorado e tratado como antiquado nonsense (como tem sido feito atualmente). Esta é a
única qualidade que conecta a vila em larga escala às pessoas, e assim, indiretamente
umas às outras. Nós precisamos construir isto nos espaços urbanos.
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pessoas em espaços urbanos projetados apropriadamente. Estes locais são então
responsáveis pela coesão societal da vizinhança.
Uma coisa é “sagrada” se atribuímos a ela um valor acima e além da sua estrutura
material. Uma boa regra é perguntar sobre se nós estaríamos disponíveis para lutar para
protegê-la do dano ou da destruição. Poderíamos perguntar também: será que muitas
pessoas, alguns necessariamente estrangeiros, sentem o mesmo a este respeito? Nós
consideramos o lugar como tendo significado para a comunidade como um todo, de tal
forma que um grupo viria proteger este lugar, objeto ou sítio? Nas cidades antigas, uma
árvore velha, uma grande pedra, uma montanha proeminente, um riacho ou um córrego
poderia ser considerado sagrado (no sentido religioso mais profundo) e ser protegido de
qualquer dano. Aquelas sociedades construíam cidades ao redor de lugares sagrados e
atribuíam a certas partes do que eles construíam um significado sagrado. Hoje, esta
qualidade infelizmente é descartada, como anacrônica.
Por exemplo, os mais velhos nós sociais são: as fontes de água (a torneira comunitária
ou o poço), o lugar de adoração (igreja ou templo), os lugares de encontro (bar / café
para os homens), o play-ground das crianças, etc. No caso da igreja, nós temos uma
estrutura genuinamente sagrada que é com freqüência construída no centro original do
assentamento. Ela serve à função coesiva da comunidade: “ecclesia” é a junção das
crenças religiosas comuns, que é tanto um ato coesivo social como é um ato puramente
religioso. Não é por coincidência que o lugar de encontro não-religioso, o café, é,
freqüentemente, situado na frente da igreja nas vilas tradicionais. Como um lugar
alternativo, o café substitui o espaço de reunião para os que não se inserem nos
significados sagrados da religião local.
Outro código da estrutura sagrada é a praça central, ou a praça aberta que nos climas
temperados acomoda a vida social, no fim da tarde. A tradição latina de caminhar à
tardinha na praça central estabelece um valor para a praça na coesão social da
comunidade. Aquilo a que nós nos referimos como “estrutura sagrada” neste paper se
refere A TODAS essas funções coesivas. Nós vemos a coesão como uma representação
natural e interpretamos suas várias manifestações como simplesmente diferentes graus
de conectividade em canais que se sobrepõem. Uma praça central é um lugar para a
coesão social, enquanto a igreja conecta seus crentes no mais alto nível, que é ao seu
Criador.
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de lugar de encontro, para pelo menos, parte da comunidade. Nos bairros de alta renda,
(por exemplo, comunidades que vivem em áreas cujo acesso se dá através de um único
acesso principal (portão)) as mesmas forças se aplicam, mas não são resolvidas, devido à
total dependência do automóvel. Neles, não há espaço sagrado, não há espaço comum
de encontro, nem lugar de interação social. Contrariamente às intenções dos
promotores imobiliários, nos clusters suburbanos da população de alta renda, as
piscinas e os clubes de ginástica dos empreendimentos não atendem a esta função. A
geometria urbana nunca estabelece uma vida social comum entre os residentes, o que
origina uma séria falta de socialização.
O lugar sagrado que nós estamos descrevendo, está ausente da construção urbana
contemporânea (Duany et. al., 2000). Nós vemos cópias superficiais criadas sem
qualquer entendimento do seu profundo sentido cultural. Como conseqüência, o
dramático declínio no sentido de comunidade leva a um igualmente dramático
aumento da alienação social. Tanto a esquerda quanto a direita, certamente jamais
reconheceram a necessidade de espiritualidade no tecido da habitação social. No
entanto, um sentido do sagrado está inerente em todas as habitações tradicionais (em
alguns lugares mais, em outros lugares menos) independentemente de suas origens. Em
contraste, os dormitórios militares /industriais não são apenas rejeitados pelos seus
ocupantes, mas são odiados, porque ninguém pode se conectar com as suas formas e
imagens. Um ser humano não pode, verdadeiramente, pertencer a estas construções,
nem pode a imagem deste tipo de prédio pertencer, emocionalmente, a um ser
humano, e então as pessoas passam a odiá-los, e mesmo a destruí-los. Prédios deste
tipo, construídos ao redor dos anos 60 com as melhores das intenções, são abundantes
em todo o mundo. Eles não canalizam um apego emocional à grande escala. Esquemas
propondo “shopping lineares” e jardins de infância (como um substituto dos lugares
sagrados) no quinto andar de um arranha-céu, se mostraram ridículos. Praças de
concreto tendem a ser desconectadas e hostis, gerando um sentimento de animosidade
ao invés do de conectividade.
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casas ao redor foram interrompidas pelos proprietários. O governo nunca tentou ajudar
para que ele se tornasse um lugar de reunião. Nenhum esforço foi feito para reforçar o
valor sagrado do canteiro de obras.
Pode haver um problema com a ênfase sobre o sagrado nesta discussão. No terceiro
mundo, mais do que em lugares como os EUA, as constituências da habitação social
são freqüentemente envolvidas em uma outra forma de movimento democrático.
Particularmente nas cidades globais, nós não queremos que pareça que estamos
promovendo o retorno a algum tipo de tribalismo (que é a forma como as vilas
tradicionais são vistas). Os lugares requerem a materialização do “sagrado”, mas não no
senso comum da palavra. Os lugares de reunião são importantes, mas a sua estrutura (e
a suas relação com a estrutura social) é mais complexa do que a de simplesmente atuar
como contenedora ou como oportunidade para as pessoas se juntarem. Nós precisamos
prestar atenção aos padrões de interação nas cidades tradicionais assim como nas vilas
e assentamentos tribais que são homogêneas em termos de classes. Esses padrões de
interação são estruturalmente variados e não se trata apenas de coesão comunitária.
27
ou todos, os residentes se conecta com a estrutura física sagrada, então, indiretamente,
eles se conectam, uns aos outros. Este simples princípio estabelece um sentido de
comunidade, que sobrevive as difíceis condições de vida. E isso mantém as forças
orientadas a manter a estrutura física da comunidade, ao invés de se virarem contra a
ela, como acontece nos casos em que a estrutura física não é valorizada.
28
parte do processo geral pelo qual um sistema complexo surge é a nova contribuição, e
tem sido demonstrado, na teoria, o quanto ela é fundamental para o sucesso de
qualquer projeto. Tornou-se possível, agora, mostrar a ordem certa na qual os
componentes de um loteamento habitacional podem ser construídos para garantir a
sustentabilidade.
4. Os espaços para pedestres são definidos pelas fachadas dos prédios, e são
acessados por veículos, mas são fisicamente protegidos deles.
5. Os prédios são posicionados de tal forma que as suas fachadas definam o espaço
urbano da maneira mais coerente possível — sem recuos e com poucas falhas na
seqüência entre eles.
6. As ruas surgem como conseqüência da linearidade, conectando segmentos de um
espaço urbano bem definido.
29
pequeno porte, etc.) era fácil dar prioridade para o espaço e para a construção. Quando
o automóvel assume, no entanto, ele começa a ditar uma nova prioridade, que inverte a
seqüência acima. O planejador, então, sacrifica o tecido urbano tradicional para
acelerar o movimento transversal e isto, em última análise, é o que cria o desenho
disfuncional e insustentável.
Uma nova comunidade não pode ser simplesmente inserida numa terra limpa (na
verdade, poderia ser, mas então, não seria adaptável e não formaria uma comunidade).
Nós visualizamos um crescimento gradual ao invés de construir tudo de uma só vez.
Deve ser permitido ao desenho emergir e isso não pode ser feito no início. Um plano
diretor — no sentido de decidir onde exatamente a futura construção vai ser localizada
e qual a exata forma o prédio terá — é muito restritivo, e, portanto, altamente
incompleto.
A habitação social que segue esta atitude — de planejar no papel e depois construir
de acordo com o plano — é falha para constituir um ambiente vivo. Assim como
Alexander, nós defendemos um processo no qual cada futuro passo seja influenciado
pelo que existe em cada momento.
30
Para garantir a coerência morfológica, o que é construído deve ser influenciado pelo
seu entorno. Esta interação é experimentalmente determinada e não pode ser decidida
no papel, ou antecipada, devido à complexidade de todos os mecanismos envolvidos.
Em um empreendimento parcialmente construído, a próxima casa ou o próximo
segmento de uma via a ser construído tem que adaptar sua geometria ao que já foi
previamente construído.
Qualquer decisão feita no início do projeto deve ser entendida como recomendação,
e não como uma regra ditada (diferentemente do que acontece nos planos diretores). À
medida que o projeto se desenvolve no tempo, as decisões que foram feitas no começo
para as áreas não construídas vão ser vistas agora como incorretas, não mais relevantes,
então nós precisamos da possibilidade de mudar o desenho continuamente, à medida
que mais construções vão acontecendo. Isto é exatamente o que ocorreu nas
comunidades históricas construídas num espaço de tempo de séculos. Este
procedimento adaptável (que se adapta à sensibilidade humana, em relação às formas e
espaços que aos poucos emergem) gerou geometrias extremamente coerentes e
complexas nas tradicionais vilas e cidades e esta coerência não pode, matematicamente,
ser adquirida de uma só vez.
31
8. Exemplos de padrões e códigos geradores
O ponto para o qual se está chamando atenção aqui (resumido neste padrão
particular) é o de usar um conjunto de árvores para definir um espaço sagrado. Isto,
filosoficamente, está muito distante da idéia de plantar árvores simplesmente como
uma “decoração” visual, o que simplesmente reforça a geometria do poder. Há uma
razão pragmática para isso. A não ser que a árvore seja protegida, fazendo parte de um
lugar sagrado, ela será logo cortada e usada como material de construção ou como
combustível para aquecer e cozinhar. Esta idéia segue o mesmo princípio de proteger
as vacas necessárias para o arado, tornando-as animais sagrados. Assim, as vacas não são
32
comidas durante os períodos de fome, e então elas podem ser utilizadas para a
agricultura na próxima estação.
Um outro fator, e mais sério, que tem funcionado contra a adoção dos padrões para o
desenho, é que a arquitetura e o urbanismo têm se apoiado, por várias décadas, na base
filosófica do relativismo qualitativo. Esta alegação significa que todos os julgamentos
na arquitetura são uma questão de opinião e de gosto, e a arquitetura é só um pouco
mais do que um ato de expressão pessoal. Este relativismo está em contraste marcante
com a visão da ciência, onde fatos descobertos sobre a estrutura da realidade são
entendidos como subjacentes às questões de aparente opinião individual. Os arquitetos
e urbanistas inculcados na tradição relativista desconsideram efeitos estruturais
observáveis e soluções mais avançadas. Eles consideram os padrões como apenas mais
uma opinião, e uma que pode ser tranqüilamente ignorada (especialmente se os padrões
contradizem diretamente a tipologia militar / industrial). Mas os padrões são
agrupamentos observáveis de configurações recorrentes, de respostas recorrentes a
problemas de desenho e que constituem uma forma, passível de ser descoberta, de
“inteligência coletiva” na civilização e na vida humana. Esta inteligência coletiva
relaciona-se à maneira como nós operamos no contexto da relação entre a forma
construída e nossos valores, aspirações, práticas sociais, etc.
33
freqüentemente às expensas da habilidade de ver (muito menos de discutir) o completo
desafio de criar lugares vivos, bonitos e sustentáveis. A noção de uma inteligência
coletiva incorporada em padrões não deveria ser entendida como uma alegação de se
haver descoberto a verdade final, mas como o reconhecimento da importância de um
processo vivo. Isto re-estabelece a capacidade cultural de se engajar na construção do
espaço como um processo social colaborativo. O sucesso não é medido em termos
abstratos, mas pela experiência local de melhoria contínua da qualidade e na
sustentabilidade dos assentamentos humanos. O uso de padrões no desenho
proporciona a base necessária para um método colaborativo que é adaptável e
particular para um local (isto é, os condicionantes do momento) e ainda é capaz de
responder às aspirações humanas por alguma coisa melhor.
Mesmo quando os padrões são usados para o desenho, o desenhista deve ter certeza
que o projeto está sendo executado e construído na seqüência correta. Esta nova
abordagem do planejamento é baseada no reconhecimento de que a emergência de uma
forma adaptável tem que seguir uma específica seqüência de passos. Um desenho
adaptável requer um “processo gerador”. Um desenho vivo nunca é imposto: ele é
gerado por uma seqüência na qual cada passo depende dos passos anteriores. Os
padrões, eles mesmos, no entanto, não contam nada sobre a seqüência. Para isso é
necessário consultar o trabalho mais recente de Alexander (Alexander, 2005). Há
outros autores que apóiam a necessidade de um processo gerador. Besim Hakim
chegou a esta conclusão através da impressionante evidência disponibilizada por sua
pesquisa sobre as cidades tradicionais (Hakim, 2003).
9. A estratégia de construção.
34
Mesmo considerando que um projeto particular vai requerer um cuidadoso
ajustamento às condições locais, esses dois métodos agindo juntos servem para a
maioria dos casos. Nós podemos começar sua imediata aplicação utilizando material
publicado com experiências no sítio, o que levará a conseqüentes refinamentos no
processo. Em termos mais amplos, aqui está como alguém pode seguir nossas
sugestões:
5. Use a linguagem de padrões para reabilitar as casa dos habitantes de baixa renda
e para converter as unidades alugadas em casas próprias. Isto requer uma injeção de
dinheiro, mas também gera trabalho na construção.
6. Use a linguagem de padrões e a noção de cidade como uma rede para orientar as
intervenções globalmente. Processos de larga escala e de longo tempo irão garantir que
além de construir casas os projetos são concebidos e implementados para completar
uma vizinhança sustentável, bem conectada em um grande cenário urbano.
O processo começa por identificar a terra certa. Um grande problema é que muito da
habitação informal é empurrada para terras problemáticas e marginais, nas quais é
impossível a melhoria. È necessário que o arquiteto / planejador responsável tenha
35
conhecimento na linguagem de padrões e em sua aplicação. Como muitos arquitetos,
hoje, não sabem, recomendamos os governos, que ao menos nos próximos anos,
apóiem-se em quem é familiar com este material para coordenar os projetos de
construção. Um certo número de profissionais com este conhecimento estão
disponíveis, embora não em número suficiente para satisfazer a demanda. Temos
esperança que nas próximas décadas se possa treinar um número suficiente de jovens
arquitetos para dirigir novos projetos.
O que segue é uma estratégia de layout baseada em regras que um de nós (AMD)
observou durante seu trabalho em São Domingos, na República Dominicana. Ela
oferece um esqueleto de referência simples, mas efetivo no qual um assentamento
saudável e humano pode se auto-organizar.
O que segue são as regras para uma favela de renda MÍNIMA. Há mais regras para o
grupo localizado em uma escala acima, em termos de renda, incluindo acomodações
para carros. Mas qualquer coisa menos do que este conjunto de regras tende a não
funcionar, pois ele forma o núcleo sobre o qual outras regras são acrescentadas.
1. O governo deve fazer um esquema dos lotes e garantir a posse da terra, através
de um documento em papel. Isto pode começar com “noções” sobre os lotes, que
36
poderão ser definidos mais tarde, através de um processo “gerador” que poderá ser,
num outro momento, pesquisado e documentado.
2. Os lotes deverão estar dentro de quadras definidas pela previsão de uma rede de
ruas. Cada quadra deve ter a previsão de um caminho de pedestres atrás de cada lote.
Os lotes podem variar em tamanho e forma, mas não devem ser menores do que 6 m de
frente e 20 m de fundos.
3. O governo deve fazer um canal, na terra, que drene das quadras para as ruas e
das ruas para fora da área habitada.
4. O governo deve construir passeios de concreto nos dois lados das ruas previstas
(mas não necessariamente pavimentar as ruas). O canal formado entre os passeios
conterá as águas da chuva. E também será uma forma de prevenir contra a propagação
do fogo.
6. À medida que os lotes vão sendo construídos, deverá ser mantida uma passagem
bem definida do caminho de pedestres para a rua. Isto encoraja a construção de peças
com janelas e também permite o lote e a quadra a drenarem para a rua.
7. Os moradores irão construir as suas casas eles mesmos, ao seu próprio ritmo,
mas eles devem iniciar construindo a parede do caminho de pedestres em primeiro
lugar. A parte de trás é feita mais tarde. Pode ser pedido para que a parede frontal seja
de blocos de concreto. Os telhados não devem drenar suas águas para o lote vizinho.
8. Os lotes de esquina são reservados para o comércio. Todos os lotes podem ser
unidades de habitação e comércio.
11. É possível requerer que os residentes paguem pelos lotes, através de pequenas
mensalidades, após a construção ter sido concluída.
37
Há ainda várias questões de controle social sobre as quais não estaremos lidando
agora, mas que precisam ser observadas empiricamente. Este é apenas um código físico,
portanto apenas parte da solução completa que irá fazer o projeto vivo. O
estabelecimento dos limites legais é uma função do governo. No entanto, não deve ser
entendido que isto deva ser feito antes, como um ato de-cima-para-baixo. A proposta
de layout dos lotes envolve uma participação preliminar dos moradores. A questão mais
importante sobre a morfologia dos lugares planejados pelos moradores, é o seu poder
de auto-organização, e é isto que o processo dos “códigos geradores” de Alexander está
tentando explicitar.
Alexander (2005, livro 3) aplicou “códigos geradores” mais avançados a projetos e nós
resumimos aqui parte de seu procedimento. Esta é uma versão mais incremental da
metodologia de layout descrita anteriormente para o “esqueleto de serviços”.
38
Um layout gerador que inclui ruas estabelece os lotes de acordo com a topografia,
com as aflorações naturais e a percepção psicológica dos melhores fluxos conforme é
determinado ao se caminhar no solo. Então o processo de desenho acontece — e não o
inverso. Este seria a abordagem “Alexandrina” para “cidades medievais com
encanamentos”. Embora isto possa ocorrer antecipadamente, como parte do processo
“código gerador” pela comunidade, ele tem que acontecer gradualmente. O layout não
deve ser baseado em um modelo ou desenhado para ser visto de um avião.
Para conseguir a complexidade emergente de uma vizinhança viva, ela tem que ser
descontinuada e determinada no sítio. Deve ser garantido que o desdobramento
orgânico possa acontecer, e isto não é fácil em um mundo rigidamente codificado. Nós
temos o desafio de invocar bons processos a partir de circunstâncias que apresentam
muitos condicionantes e obstáculos.
Isto reflete o padrão medieval de projetar ruas e lotes. Isso também segue o princípio
de Leon Krier de que os prédios e os espaços sociais vêm antes, e depois vêm as ruas
(Krier, 1998). Nas cidades medievais, o processo era altamente regulado. Uma cidade
baseada numa malha também pode ser bem ordenada: nosso ponto é que se use a malha
que mais se adapte ao local, e que surge do terreno. A implementação prática, mesmo
de um processo gerador radical, não é tão difícil como se poderia pensar. Pode-se
contornar os problemas legais colocados pela lei convencional de loteamentos ao criar
uma seqüência de lotes irregulares “encaixados” que serão após detalhados de acordo
com o processo gerador, então é feita a versão final do esquema, com os ajustamentos
na linha dos lotes e oferecidos os acessos para direito de passagem. Normalmente há
alguma maneira de passar por cima dos processos convencionais para esse tipo de
atividade, mas o governo precisa apoiar e não bloquear o processo, porque isso parte de
práticas já estabelecidas.
Entrando ainda mais no detalhe do layout, a rua principal deve ser proposta com base
na topografia e na conexão com a parte externa. Depois, decidir sobre os espaços
urbanos, que devem ser vistos como nós de atividades para pedestres, conectados pelas
ruas. Nova decisão: as ruas laterais que alimentam a rua principal são decididas —
mesmo pensando que essa decisão significa a marcação com estacas no solo. Depois:
definir a posição das casas (não ainda do lote, apenas a construção) usando estacas
marcadas no solo, de tal maneira que as fachadas frontais reforcem o espaço urbano.
Agora, cada família decide o plano total da casa que considera um pátio e um jardim,
nos fundos. Este processo sofre limitações pelas ruas do entorno, caminhos de
pedestres e vizinhos, mas espera-se que o pátio e o jardim formem um conjunto o mais
39
coerente possível, isto é, uma área semi-aberta confortável para as pessoas ficarem e
trabalharem, e não apenas um espaço residual. Esta parte, finalmente, permite fixar o
lote, que é então, gravado. Os planos são desenhados com gravetos no chão.
À medida que as linhas dos lotes começam a ser decididas, então as ruas podem
começar a tomar uma forma mais definida no plano (mas ainda não construídas).
Espera-se que as ruas conectem e alimentem os segmentos dos espaços urbanos, que
são definidos pelas frentes das casas. (Note-se que isso é o oposto de posicionar as
casas para seguir as ruas existentes). A flexibilidade no desenho das ruas será mantida
até que todas as casas sejam construídas. Claramente, não se verão muitas ruas retas
cortando o loteamento (para o espanto dos burocratas do governo), porque elas não
foram colocadas no início. Nem as ruas precisam ter uma largura uniforme, elas se
abrem para o espaço urbano. As ruas surgem à medida que surge todo o loteamento.
Agora começa a construção. Primeiro construir os passeios, depois então as casas, e,
por último, pavimentar as ruas — se é que isso vai ser feito.
Nossa experiência com a construção de projetos nos leva a propor uma regra
administrativa. É a de fazer um único indivíduo responsável por conseguir a
“humanidade” de um projeto individual. O governo ou a organização não-
governamental que financia o projeto irá apontar a pessoa que vai supervisionar o
desenho e a construção e que vai coordenar a participação dos usuários. Nós sugerimos
que esta tarefa não seja desempenhada por um empregado da burocracia governamental
ou da empresa construtora, pela simples razão que esta pessoa não tem a necessária
especialização no processo de desenho que nós estamos defendendo aqui. Idealmente,
seria uma pessoa que tivesse um entendimento profissional dessas questões e que
tivesse um sentido de responsabilidade profissional independente para supervisionar a
apropriada implementação.
Este arquiteto / gerente de projeto será o responsável por fazer a diferença entre
criar uma aparência militar / industrial versus um projeto construído final que seja
40
humano e que propicie um sentimento de vida. De novo: isto não é uma questão de
estética (que seria imediatamente descaracterizado pela agência financiadora como
irrelevante para as pessoas pobres), mas de sobrevivência básica. Um projeto percebido
pelos seus habitantes como hostil será eventualmente destruído por eles, e ao mesmo
tempo destruirá, neles, o próprio sentido de si mesmos. Tanto quanto nós acreditamos
em participação, tem sido mostrado que as pessoas que necessitam de habitação social
não têm, sempre, a capacidade organizativa para trabalharem juntas e terminarem o
projeto. O seu aporte é absolutamente necessário nos estágios de planejamento, mas
aqui nós estamos falando de alguém “de fora” que será responsável junto aos residentes
e que irá garantir o bem-estar quando forem pressionados a cortar custos e alterar o
projeto de construção.
Uma parte crucial no papel do gerente de projetos tem que ser definida em termos
da facilitação do processo em vários níveis. O gerente terá com freqüência, não apenas
que encorajar o engajamento no trabalho, mas também ensinar às pessoas que não
estão acostumadas a ele, e que podem não ter a habilidade e o hábito de uma ação
efetivamente participativa. Os participantes podem vir para o processo com uma
profunda descrença em qualquer método que dependa do esforço dos outros. Parte do
desfio em um novo assentamento será, então, criar um ordeiro, confiável e efetivo
processo colaborativo que engaje a população — mas estas pessoas podem estar
traumatizadas devido a experiências com re-assentamentos anteriores e com violência
social. Não se pode assumir que a comunidade pré-existente já tivesse estabelecido
normas adequadas e comprometimento requerido para esse tipo de engajamento. Ao
gerente vai ser requerido um papel que inevitavelmente envolverá uma parte do que é
chamado de “construir a comunidade”, organização e treinamento em liderança.
41
Nós estamos, na verdade, defendendo uma abordagem de-baixo-para-cima, com um
nível intermediário, estritamente administrativo, do tipo de-cima-para-baixo. A não ser
que uma clara responsabilidade e um sistema administrativo autônomo sejam
colocados, o que nós queremos ver acontecer não vai jamais ocorrer. A burocracia
impessoal do governo nunca vai se incomodar em fazer um lugar vivo e humano,
porque eles podem com muito mais facilidade seguir regras não-criativas de modulação
e combinação mecânica. O grupo que constrói não é responsável: ele quer terminar o
seu trabalho no menor tempo e com as menores alterações possíveis. Os residentes não
são suficientemente poderosos para garantir um ambiente vivo. Na realidade da
construção, um projeto requer um defensor com o poder de coordenar todas estas
forças.
Para complicar este quadro ainda mais, a questão dos materiais de construção
desejados, vai diretamente agir sobre os preconceitos escondidos e as imagens de auto-
estima, que são específicas culturalmente e talvez, até mesmo, localmente. As agências
de controle, em alguns casos, banem certos materiais considerados de “baixo status”,
como, por exemplo, o adobe (cuja superfície é tanto amigável como fácil de ser
moldada, diferentemente do concreto). Em muitos casos são os próprios donos /
proprietários os que rejeitam os materiais adaptáveis, nas regiões onde eles são usados
na construção tradicional. Hassan Fathy não conseguiu fazer com que os pobres
aceitassem viver nas casas de barro (Fathy, 1973). Este é um grande problema em todo o
mundo: é a imagem representando um passado desprezado ao invés de um futuro
utópico, promissor.
42
A solução definitiva para este problema deve ser cultural. Os cidadãos devem
descobrir orgulho nas suas heranças e construções tradicionais, e o grande prazer e
valor que eles trazem. Ao mesmo tempo, o mito de uma utópica abordagem
tecnológica precisa ser exposto pelo que ele é — uma imagem de marketing para feita
para um público inocente — enquanto os reais benefícios da modernidade são
mostrados como sendo inteiramente compatíveis com as práticas tradicionais (os
encanamentos de água, a eletricidade, eletrodomésticos, etc.). Desta forma nós
podemos gerar a “inteligência coletiva” que está incorporada na tradição cultural e
imbuí-la com as melhores novas adaptações.
Como foi colocado por Jorge Luís Borges: “entre o tradicional e o novo, ou entre a ordem e
a aventura, não há uma real oposição; o que nós chamamos de tradição hoje é a trama de séculos de
aventura”.
Quando um governo constrói habitação social, ele está querendo resolver dois
problemas de uma só vez: abrigar as pessoas que não tem os meios para prover a sua
própria moradia e para promover a indústria de materiais e estimular a economia. Há
uma boa razão para a última, pois o governo é associado aos maiores produtores de
indústria de materiais de construção. É do interesse da economia consumir estes
materiais em projetos financiados. No entanto, esta pode não ser a melhor solução para
a moradia. Há duas razões para isto: uma relacionada à economia e outra com conexão
emocional.
Uma favela auto-construída usa material barato e disponível tal como madeira,
papelão, folhas de metal corrugado, pedras, plástico, restos de blocos de concreto, etc.
Embora haja uma óbvia deficiência quanto a durabilidade destes materiais (o que se
torna catastrófico durante tempestades e inundações) a enorme vantagem que estes
materiais possuem é a adaptabilidade. Os proprietários têm uma enorme liberdade para
determinar a forma e os detalhes de suas casas. Eles utilizam esta liberdade de desenho
para adaptar a estrutura às sensibilidades humanas. Isto não é possível quando o
governo constrói módulos habitacionais com materiais muito mais duráveis, tais como
concreto armado. As pessoas têm que poder fazer modificações em suas casa como
uma questão de princípio. Aqui nós temos uma oposição entre permanência/rigidez e
impermanência / liberdade, no que influencia a forma dos prédios.
A habitação social deve ser feita de materiais permanentes, pois construções baratas
e frágeis são um desserviço para a população. Favelas construídas com gravetos e
papelão são modelos inaceitáveis de serem seguidos. No entanto, nós desejamos
preservar tanto quanto possível, a LIBERDADE DE DESENHO, inerente à utilização
43
de materiais impermanentes. Isto é essencial para garantir os ajustamentos no desenho
que irão permitir uma geometria viva. Nas melhores casas auto-construídas, cada lasca
de material é utilizada em uma maneira muito precisa para criar um tecido urbano vivo
— um processo sofisticado que se compara às grandes aquisições arquitetônicas em
qualquer lugar. A única solução que nós vemos para este conflito é o governo prover
material apropriado (permanente, mas fácil de organizar, de cortar e de modelar) para
que seja usado pelos moradores na construção ou na modificação de suas casas.
44
não são caros, mas eles colocam um desafio financeiro. Outra razão é que eles limitam
as possibilidades de desenho. Blocos de concreto padrão levam a configurações
estruturais padrão, inviabilizando algumas das formas adaptativas que Alexander
desejava introduzir.
Nós devemos mencionar um caso em que estes módulos industriais foram reduzidos
em complexidade, de maneira que a construção pode ser inicialmente mais adaptável às
necessidades sociais. Alexander, em 1980, trabalhou em habitação social na Índia, e
pensou em usar uma caixa de concreto pré-fabricado, contendo encanamentos para
banho, vaso sanitário e cozinha (Alexander, 2005, livro 2, página 320). Esta solução
seguiu as soluções de sucesso, anteriormente desenvolvidos por Balkrishna V. Doshi.
No entanto, logo se mostrou claro que construir, para cada casa, uma base sólida (um
espaço que representasse um padrão tradicional) era na verdade mais importante na
seqüência da construção (porque era uma prioridade para os residentes) do que ter um
módulo de concreto pré-fabricado com as instalações hidro-sanitárias. Então Alexander
decidiu gastar a quantidade limitada de dinheiro disponível em um terraço, deixando
uma passagem para a futura adição de encanamentos. Os residentes, então, utilizaram
água e sanitários comunitários até que puderam construir os seus próprios. A fundação
45
era mais vital para a vida da família do que o módulo de concreto pré-fabricado com as
instalações.
A construção de habitação social não pode ser financiada apenas pelos residentes,
desta maneira o governo e as entidades não-governamentais tem que sustentar os
custos. Esta simples dependência traz a tona questões que afetam a forma da
construção. Envolver os residentes na construção de suas casas reduzirá os desembolsos
iniciais. No entanto, quanto maior o valor investido por uma agência externa, na
habitação social, maior será o controle que a mesma vai querer ter sobre o produto
final. Essa conseqüência natural leva inevitavelmente à subconsciente adoção de uma
geometria de controle, nos moldes em que foi mostrado em seções anteriores.
2. Levantar fundos, a partir de várias fontes, para garantir casas que sejam acessíveis
para os moradores das vizinhanças. Uma parceria-público-privada (PPP) é o caminho
mais efetivo para usar a economia de mercado para gerar espaços urbanos, ao invés do
monstro monolítico favorecido pela burocracia do governo.
46
oportunidade para a construção especulativa, que irá recuperar os investimentos
iniciais na construção existe (como juros) dos próprios aluguéis. Nestes casos, a
condição física das residências tem pouca importância. Além disso, a manutenção e a
futura condição do tecido construído não é uma parte da equação dos lucros, pois não
há expectativas de recobrar os investimentos feitos nas estruturas construídas. É
esperado que as estruturas construídas sofrerão deterioração, então (porque não)
encorajar construções não-permanentes desde o início. Claramente, aluguéis
subsidiados podem trabalhar contra uma habitação social humana, contrariando a
intenção da legislação original.
47
mesma quantidade dividida e distribuída para muitos diferentes tomadores de
empréstimos. Reduzir o número de transações toma precedência sobre os outros
sistemas baseados em oferta e demanda. No entanto, é fundamental para as pessoas
exatamente essa flexibilidade do micro-financiamento para terem a possibilidade de
construir suas próprias casas. Restaurar um bairro requer um vasto número de
pequenas intervenções. Um trabalho promissor tem sido feito para desenvolver um
sistema efetivo de gerenciamento que permita esses micro-empréstimos (por exemplo,
o Banco Grameen). Novamente, este é um modelo de financiamento muito mais
sofisticado e avançado, pois é altamente diferenciado.
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pode significar desastre para outro, e maior, segmento da sociedade. Um de nós
(AMD) tem defendido, em relação à reconstrução a pós a devastação do Katrina, o uso
de estratégias que permitam o florescimento dos mesmos processos sociais que
ocorriam anteriormente (Duany, 2007). Estas estratégias enfrentam desafios
desencorajadores devido à presença dos atuais sistemas de construção, financiamento e
regulação.
Muitas das casas destruídas no furacão, particularmente aquelas dos bairros de baixa
renda, eram auto-construídas e não acompanham os atuais códigos ou padrões de
financiamento. O tecido urbano existente era o produto de animados processos de
auto-construção ao longo de gerações, com a vantagem de que ele não era baseado em
dívidas. Esta era uma sociedade de proprietários que eram livres de dívidas, cujas vidas
poderiam ser estruturadas ao redor de atividades de suas escolhas (Duany, 2007).
Aquelas casas estavam fora do sistema, porque devido à sua construção em
desconformidade com os códigos as tornavam impossíveis de serem financiadas. O
sistema agora requer um contrato de dívida, já que os novos padrões de construção não
podem ser alcançados sem a intervenção comercial. Na maioria dos casos isto significa
que o governo deve intervir e construir a habitação social, resolvendo um problema que
ele próprio criou (Duany, 2007). E o ciclo de conseqüências não desejadas continua.
Embora isto possa ser “lazer” nos moldes dos padrões da classe média, isto
representa uma vida difícil para um tecido cultural fértil e vibrante que é simplesmente
negligenciado (mesmo que seja uma parte direta dela) pela economia convencional. Os
habitantes da moderna classe média, em todo o mundo, consideram um sistema
dominado pelo débito, como dado: muito do tempo de trabalho das suas vidas é gasto
apenas para pagar o financiamento da moradia. De fato, o sistema funciona impedindo
outras opções para obter um teto sobre a cabeça. A classe média consegue liberação do
sistema financeiro somente após a aposentadoria, quando o financiamento de 30 anos é
49
finalmente pego. A habitação erigida por auto-construção, com dinheiro e troca
(escambo) é uma fuga deste sistema, e é visto pelo governo e pelos grandes empresários
como uma ameaça a sua hegemonia. Este é um problema estrutural, não uma intenção
malévola. A dívida é a chave, mas ela é apenas uma variável de um sistema
interconectado.
Não é fácil implementar este tipo de inovação, porque na maioria dos países e
regiões, já existe um sistema bem estabelecido que produz, rigidamente, habitação
social inumana (mas que ele acredita, ao contrário, ser uma solução iluminada e
progressista). Muitas vezes nos nossos projetos a primeira coisa a ser feita é começar a
estudar o sistema de produção habitacional, para superá-lo. Estes sistemas são criados
por uma engrenagem composta de burocracias, especialistas, instituições financeiras,
entidades políticas, etc. É possível construir os tangíveis físicos, mas não nos sistemas.
Há muito que precisa ser superado, mas que resistirá a ser abandonado.
Você pode tentar forçar mudanças na abordagem do desenho, e alguma coisa boa
pode vir daí, mas só afasta você do processo. Um projeto tende a ser uma luta de poder
que tira tempo e esforço da construção. Alternativamente, podemos tentar cooperar
com o sistema, juntando financiadores e facilitadores de uma maneira inesperada. Mas
isso vai requerer que nós reconheçamos estar trabalhando com um sistema existente
como um diferente tipo de problema, não linear, mas multi-variado e “cultural”. É
necessário estar mais enraizado no sistema de operação local (uma cultura forte
existente) para resolver aqueles problemas, para ter alguma chance de ver onde estão as
alavancas (para podermos acioná-las para efetuar a mudança) e ver como as decisões são
tomadas, nos vários níveis.
50
deveríamos trabalhar para negociar uma forma de “atalho” que considere, desde o
início, as limitações encontradas antes de tentar desmantelar, completamente, o
sistema existente. Pode ser realmente necessário transformar radicalmente o sistema
existente, mas este é um problema separado do desenho e da construção do tecido
urbano, e nós não desejamos gastar todas as nossas energias lutando contra o sistema.
Por outro lado, se não forem possíveis atalhos, vai haver pouca alternativa que não seja
pressionar por uma reforma do sistema.
Alexander (2005, livro 2, página 536) mostra sua própria experiência com este tipo de
luta. Ao longo de um período de trinta anos gerando projetos, ele se deu conta que o
maior problema é que a implementação exige muito. “Nas nossas primeiras experiências,
nós freqüentemente entramos em situações inacreditáveis para fazer um novo processo ser
implementado, e funcionar. Mas a quantidade de esforço que nós tivemos que fazer para tê-lo
funcionando — a verdadeira fonte do nosso sucesso — era também o lado fraco do que nós
conseguíamos. Em muitos casos, a magnitude do esforço especial que tinha que ser feito para
sustentar um novo processo era massivo — grande demais, para facilmente ou razoavelmente, ser
copiado”.
Uma analogia genética, proposta por Alexander, sugere caminhos para ter sucesso no
longo termo. Um processo apresentado como um sistema complexo, completo (como
um código genético para um organismo inteiro) requer que sua implementação seja, ou
inteira, ou nenhuma. Neste caso, o sistema existente de implementação deve mudar
para permitir o projeto ser construído. Se, por outro lado, nosso projeto é apresentado
(e entendido) como uma coleção de peças semi-independentes, cada uma das quais
pode ser implementada facilmente, então, há uma chance maior de que uma ou mais
das peças se juntem. Grupos pequenos de operadores, desta forma, poderiam aplicar
cada peça do processo, sem requerer o apoio do sistema. Alexander tem esperança que
51
peças de metodologia copiadas facilmente irão se espalhar independentemente e que,
eventualmente, este processo de difusão levará, ao longo do tempo, a um “sistema
operacional” inteiramente novo.
52
2. Torne possível possuir uma casa que a pessoa possa comprar, mesmo se ela for do
tipo mais primitivo de moradia. Encoraje o governo a comprometer-se com o
financiamento, visto como uma forma saudável de investimento futuro que previne a
habitação social de ser destruída por seus habitantes.
A habilidade dos ocupantes em manter suas moradias não pode alcançada através do
requerimento de uma autoridade central (com poder suficiente para expulsá-los, caso
não cumpram as regras) de que disponham seu tempo trabalhando. “Manutenção” tem
que estar conectado com “governança”. Na reurbanização do Columbia Point, em
Boston, a companhia de loteamento assinou um contrato que concordava em dividir as
responsabilidades de controle do gerenciamento meio a meio com os residentes. O
problema tradicional com habitação pública tem sido que as pessoas mantêm a parte
interna das suas casas, mas não há uma capacidade coletiva de assumir a
responsabilidade pela parte externa. A solução para “o espaço defensável” tem sido o de
privatizar ou abandonar as áreas públicas, tanto quanto possível — o que é expresso na
geometria do projeto. Isso, no entanto, leva a um crescente isolamento e em mudanças
fundamentais, em direção a uma sociedade cada vez mais introvertida.
A melhor solução é simplesmente um padrão com uma distinção bem definida entre
as esferas públicas e privadas, MAIS uma capacidade coletiva de tomar
responsabilidade pelo espaço. Uma parte desta capacidade tem a ver com um desenho
que facilite “olhos na rua” (pórticos frontais, janelas, etc.), mas “olhos na rua” tem
sentido somente se estiverem respaldados por condições de confiança, reciprocidade e
eficácia coletiva. As pessoas tendem a esquecer, freqüentemente, que o bairro de Jane
53
Jacobs funcionava não somente porque as pessoas podiam ver as ruas, mas porque as
pessoas possuíam um sentido de obrigação como membros de um tipo de comunidade
(Jacobs, 1961). Ela descreveu uma característica do ambiente social que é agora descrito
em termos de “capital social”. Isto é como alguém cria um efetivo “código de
responsabilidade”. Se você tentar impor isto (como tentam as autoridades que regulam
a habitação social), então você gera uma ampliação da recusa, em face da qual nenhum
mecanismo de reforço vai funcionar, não importa quanto intrusivo ele seja.
A propriedade das moradias parece ser uma boa coisa a ser encorajada, a partir de
todas as evidências. No entanto, não é verdade que os moradores não podem ser
responsáveis por manterem seu ambiente de entorno. Os proprietários podem ser
responsáveis na medida em que eles tenham interesse em suas casas, o que significa que
eles são motivados pela preocupação pelo valor de troca incorporado nas suas moradias.
Os que alugam também podem ter um envolvimento no lugar, mas somente se as
relações sociais envolvidas não estão reduzidas ao frio nexo do dinheiro — isto é, uma
quantidade de metros quadrados por uma quantia mensal de aluguel. È possível, (e
freqüentemente acontece) que os inquilinos podem construir seus “investimentos” no
valor de uso do lugar, dependendo da extensão a qual eles se beneficiam do network
específico de relações sociais que definem a vizinhança. (Note-se que a vizinhança de
Jane Jacobs não era uma vizinhança de proprietários).
54
17. A re-urbanizando e a promoção sanitária da favela: problemas e
soluções.
Não é sempre possível, e mesmo desejável, aceitar uma favela existente e transformá-
la em um melhor lugar para viver. Primeiro, porque é freqüente que as ocupações
cresçam em solo poluído ou tóxico, ou em solo instável, em altas declividades ou em
áreas inundáveis. Periodicamente seus habitantes são mortos por desastres naturais e
há pouco que possa ser feito para re-urbanizar um assentamento localizado em um solo
perigoso de maneira a torná-lo mais seguro. Segundo, os assentamentos irregulares
invadem reservas naturais que são necessárias para regenerar o oxigênio necessário para
a cidade inteira. Estes são os “pulmões” de uma população urbana, e precisam ser
preservados da destruição e de serem invadidos. Terceiro, os assentamentos irregulares
produzem poluição e dejetos humanos que causam danos ao resto da cidade. Este
problema não pode ser ignorado. Mesmo se o governo não deseja legitimar uma favela
particular, tratar o lixo beneficia a cidade inteira.
Vamos assumir, por um momento, que os problemas sociais (que são particularmente
presentes e ameaçadores nas favelas) possam ser atacados independentemente dos
problemas provenientes da forma arquitetônica e da forma urbana. Alguém pode
facilmente ir a um assentamento existente e tentar repará-lo, com o auxílio dos
correntes ocupantes. John F. C. Turner (1976) fez exatamente isto, estabelecendo um
precedente para várias intervenções de sucesso, na América Latina, especialmente, na
Colômbia. O único obstáculo — e esse é um muito profundo — é a convicção filosófica
de que a geometria da favela está ultrapassada em uma sociedade moderna. Para este
tipo de pensamento, qualquer “reparo” torna-se destruição e substituição. Nós
precisamos verdadeiramente compreender o processo de reparação e de auto-cura do
55
tecido urbano, sem as influências dos preconceitos correntes.
56
governo pode auxiliar seus residentes a reconstruir suas casas gradualmente usando
materiais mais permanentes. Nós não queremos dizer, com isso, em substituir a
tipologia das suas casas, mas em substituir uma cobertura instável ou as paredes
(usando esta oportunidade para inserir as canalizações de água e de eletricidade). Uma
casa feita de papelão e de telhas corrugadas de maneira semelhante, usando tijolos,
blocos de concreto e painéis mais sólidos providos de maneira barata pelo governo.
Algumas vezes os residentes estão apenas esperando até receberem um documento
legal para a terra onde eles estão vivendo, e então eles reconstroem suas casa com
materiais mais permanentes, financiados pelas suas economias acumuladas. Não sendo
assim, eles são relutantes em investir o mínimo que seja na estrutura.
Alguns leitores irão objetar em aceitar a super-ocupação que existe nas favelas e
talvez até mesmo achem ultrajante que se sugira manter estas altas densidades. Aqui
nós temos que estudar as altas densidades dos assentamentos de alta-renda, na mesma
sociedade, para decidir quanta densidade pode ser tolerada. Não é a densidade por si só
que é objetável, mas as condições difíceis de vida que resultam desta densidade. Então
se pode ver que porções do tecido urbano podem ser mantidas com altas densidades
quando possuem melhores condições sanitárias. Infelizmente, estas sugestões têm sido
execradas até agora.
Em alguns lugares, aceitar as favelas e legalizar seus lotes tem vindo sob uma crítica
poderosa da parte de vários ativistas sociais, que vêm aí uma solução fácil a ser tomada
pelos governos. A acusação é de que ao simplesmente legalizar um assentamento não
saudável, o governo se desresponsabiliza de construir habitações sociais mais
permanentes. Em nossa opinião a magnitude do problema representado pela habitação
social é tão vasta, ao ponto de ser quase impossível de ser resolvido. A simples questão
econômica põe uma solução ampla fora das possibilidades. Nossa abordagem atua com
um passo a cada momento, re-urbanizando aquelas porções da favela que podem ser
tornadas mais saudáveis, e, ao mesmo tempo, construindo novas habitações seguindo o
paradigma orgânico. Se estes passos acontecem, então eles podem ser repetidos
definitivamente, progredindo na direção de uma melhoria no longo prazo.
57
econômico desequilibrado (e seu terrível custo para a sociedade) está se tornando
dolorosamente evidente.
Em uma visão mais positiva, muitos grupos descobriram soluções de pequena escala
de enorme valor. Por exemplo, em anos recentes, conceitos do tipo micro-
financiamento, geração de micro-energia, centros de mães, centros de tecnologia,
fazendas urbanas, banheiros de compostagem e outras idéias vem sendo implementadas
com sucesso. Estes processos de pequena escala podem, eventualmente, fazer grandes
diferenças, tanto para as favelas como para a habitação social. Elas estão de acordo com
nossa insistência na pequena escala como um mecanismo de auto-ajuda nestas
comunidades e também em estabelecer um sentido de comunidade para uma
população disfuncional (Habitatjam, 2006). Estas soluções de pequena escala que
representam independência de recursos, oferecem uma alternativa saudável às forças
que atuam tentando impor um controle central.
58
muitas pessoas, já em desesperadas situações. Não há uma solução simples, nem
método universal que possa ser aplicado em todos os casos. O máximo que nós
podemos sugerir é uma abordagem cautelosa, sem preconceito ideológico que
beneficiará a população como um todo. Com freqüência, significativos, embora
anônimos assentamentos tem sido destruídos em nome do desenho “racional”, que é
nada mais do que uma ferramenta para manter o status quo.
Logo que uma peça imobiliária é registrada legalmente, o título transferível da terra
se torna uma mercadoria negociável e entra no mercado livre (que pode ser um sub-
mercado ilegal). Mesmo se um lote é localizado no meio de uma favela, ou em um não
muito desejável projeto de habitação social, o seu preço pode subir. As oportunidades
para o ganho orientam a consolidação dessas parcelas de terra para poucas mãos, não as
dos residentes originais. Isto, na verdade, ocorreu em muitos países ao redor do
mundo, levando a um corrupto pós-mercado imobiliário das favelas. Ironicamente, o
acréscimo de infra-estrutura na favela aumenta seu valor, o que pode expulsar seus
ocupantes originais. Em antecipação a este processo, a especulação pode correr
amplamente na terra não construída.
59
muito dos centros de exploração que oferecem serviços que o governo se recusa a
prover para os moradores das favelas, é simplesmente suprido pela demanda, embora a
preços exorbitantes.
Apesar desta realidade, os governos com freqüência são seduzidos a entrar nestes
contratos, que em última instância, eles não podem pagar. Um país em
desenvolvimento conta com suas reservas naturais para pagar a conta para uma rápida
modernização. No entanto, as flutuações econômicas e os eventos inesperados são
usualmente suficientes para balançar a fragilidade destes acordos. O resultado é que o
país fica afundado na dívida. Ao tornar-se um país devedor, a nação pode ser
estabilizada apenas com a ajuda do BID ou do Banco Mundial. A reestruturação via os
Programas de Ajustamento Estruturais (SAPs), impõem condições econômicas muito
duras, que pioram as vidas dos setores mais pobres da sociedade. Não apenas o país
perde parte de sua soberania como, deste ponto em diante, fica em posição de não
poder ajudar seus pobres de nenhuma forma.
A lição a ser aprendida a partir disto — uma lição que muitos países infelizmente
falharam em aprender — é a necessidade de trabalhar na pequena escala. Projetos
novos, amplos e caros, são factíveis para as nações ricas, mas muito arriscados para as
nações em desenvolvimento. (Projetos em larga escala são, na maior parte, baseados em
processos insustentáveis que desperdiçam grandes quantidades de energia e de
recursos). A habitação social deveria crescer de-baixo-para-cima, aplicando soluções
locais para projetos de pequena escala. Se estas soluções funcionarem, elas poderão ser
aplicadas indefinidamente. Há muitas ONGs independentes e que podem auxiliar, e
especialistas estrangeiros que oferecem seu conhecimento e experiência graciosamente.
É melhor apoiar-se tanto quanto possível nos recursos, no know-how e no capital
financeiro local. Uma solução de longo prazo, baseada na evolução adaptativa dos
60
padrões e da construção da habitação é mais sustentável do que a tecnologia do “faça
rápido”.
Neste ponto nós estamos menos entusiásticos sobre o que tem sido alcançado na
América Latina. Apesar de todas as melhores intenções e da enorme quantidade de
esforço investido, nós vemos muitos projetos que, em uma ampla gama de avaliações,
são entendidos como tendo um caráter impessoal e industrial. Claro está que nem
todos eles possuem o sentimento “mortal” do totalitarismo das habitações dos blocos
de apartamento, mas a ambiência do espaço construído varia desde o horrível para o
neutro. Em nosso julgamento, a forma e o layout falham em se conectar
emocionalmente com os usuários. É interessante pesquisar as razões pelas quais estas
soluções não são levadas através de todos os passos do desenho adaptativo.
Nossa explicação é a seguinte: aqueles projetos são dirigidos por arquitetos, que
ainda carregam suas bagagens intelectuais de tipologia e desenho industrial e
relatividade dos gostos pessoais, mesmo quando eles tentam auxiliar as pessoas de
maneira pessoal. A linguagem do arquiteto é influenciada pela sua ideologia de
desenho, e isto não é universal. Muito poucos arquitetos escaparam da estética
modernista que estabeleceu uma parte pivotal em sua formação (uma tradição nas
escolas de arquitetura, estabelecida há muitas décadas). É muito difícil escapar destas
imagens arquitetônicas entranhadas — para quebrar as tipologias fundamentalistas de
cubos, janelas horizontais, blocos modulares, etc. — e a lógica do funcionalismo
abstrato que freqüentemente serve como uma justificativa ideológica para posturas de
61
auto-engrandecimento estético (Alexander, 2005; Salingaros, 2006). Especialmente na
América Latina, as tipologias modernistas arquitetônicas são adotadas como parte do
estilo arquitetural nacional, popularmente pensado, de maneira errada, como ligado a
crenças políticas progressistas.
Deixar algumas de nossas críticas explícitas auxilia o leitor a saber do que nós
estamos falando. Nós encontramos prédios com escala humana modesta (o que é bom),
mas eles estão arranjados numa rígida malha retangular que não tem outro propósito do
que o de expressar a “claridade da concepção”. O plano aparece perfeitamente regular
do alto (sendo concebido para essa simetria que não se percebe) e expressa modulação
ao invés de expressar variação. O arranjo matematicamente preciso é arbitrário, em
relação à preocupação com a percepção e a circulação humanas, pois não contribui para
a coerência urbana. Na escala dos prédios individuais, nós vemos as usuais
obsessivamente paredes planas, sem superfície de articulação, retangularidade estrita,
telhados planos, portas e janelas sem esquadrias, janelas estreitas, casas levantadas em
pilotis, pátios posteriores sem sentido, sem curvas onde elas reforçariam a estrutura
tectônica e paredes curvas colocadas por efeitos estéticos, espaços urbanos com
tamanhos exagerados ou fragmentados, etc.
62
saltos abruptos? Ou, se há passagens abruptas, elas terminam com geometrias mais
complexas na próxima escala? (c) Se a geometria é visualmente complexa, a forma
cresce e se adapta às necessidades humanas físicas e psicológicas ou ela é de um
complexo “alto desenho” imposto arbitrariamente? Estes três critérios distinguem um
tecido urbano vivo das formas industriais mortas. (O terceiro critério é mais difícil de
aplicar sem alguma experiência).
Há um ponto que nós não discutimos ainda, e que pode sabotar a melhor intenção da
habitação social humana. È a imagem que o potencial residente tem da “mais
maravilhosa casa no mundo”. As pessoas carregam consigo imagens de desejo,
freqüentemente o oposto do que eles realmente requerem. A propaganda funciona
convencendo as pessoas a consumirem o que elas não precisam, a gastarem seu
dinheiro em coisas frívolas ou perniciosas, ao invés de comida saudável, medicina ou
educação. Da mesma maneira, nossa cultura propaga imagens artificiais de casas
“bonitas” na mente do pobre urbano, e mesmo no mais isolado dos moradores rurais.
Quando um indivíduo migra para a cidade, ele/ela irá trabalhar para adquirir a casa que
corresponde à imagem dos seus sonhos. Este é certamente o caso quando esta imagem
choca-se com as tipologias das casas adaptativas.
63
não declarados e sutilezas. É uma batalha frustrante, porque as pessoas são distraídas da
consideração do que é bom ou saudável. A arquitetura vernácula maravilhosamente
adaptativa é identificada com a herança da qual os pobres estão tentando escapar. Eles
estão fugindo de seu passado com a sua miséria. As pessoas originárias do campo
abandonam as tipologias tradicionais rurais: elas estão abandonando os símbolos do
campo com todas as suas restrições e correndo para a cidade “libertadora”. Uma nova
casa naquele estilo iria desencadear um profundo desapontamento. Prover casa
humana, desta forma, entra em conflito com manter a “imagem de modernidade”.
Um morador do campo que se muda para a favela, ou alguém ali nascido, não deseja
ver isto recuperado: ele/ela deseja desesperadamente se mudar, logo que for possível,
para um apartamento de classe-média. A favela não representa a “imagem de
modernidade” amplamente aceita, ao contrário, carrega um estigma social. Escapar da
pobreza, na mente de um morador da favela significa escapar da geometria da favela. E
esta idéia é reforçada pela dramática transformação na geometria que se vê nas casas da
classe média. Residências de classe média tendem a ser monótonos complexos
modernistas de apartamentos ou casas isoladas pseudo-tradicionais com gramado e
cerca. Aquelas insípidas imagens de modernidade dominam o pensamento das pessoas
pobres, que as ingerem de programas de televisão e outros meios de marketing.
64
a comunidade valoriza suas opções e, então, toma suas decisões de acordo com elas.
Ou, mais propriamente, se é a questão de um sistema verdadeiramente inteligente (isto
é, que se auto-corrige e aprende) de tomar decisões coletivas que está funcionando.
Então, nossa tarefa não é apenas oferecer escolhas, mas também oferecer um quadro
(ou a escolha de um conjunto de quadros) que permita fazer aquelas escolhas ao longo
do tempo.
Esta simples noção de “riqueza”, nos termos reduzidos dos mercados monetários,
não pode distinguir entre os sutis processos de vida. Por esta razão, ele não pode
combinar os recursos de-cima-para-baixo, como as “instalações molhadas” (caixas de
concreto contendo o banheiro e a cozinha com a pia) ou caminhões cheios de material
de construção aparecendo nos limites do sítio, com recursos “de-baixo-para-cima” tais
como pessoas trabalhando em suas próprias casas, economias locais de pequena escala,
ou seguindo códigos geradores adaptáveis.
65
— isto seria arrogante — mas ter um tipo de conversação, onde nós, profissionais,
apontaríamos as opções possíveis de uma maneira mais conectada e mais completa.
O que é óbvio para nós, não é necessariamente considerado positivo por uma ampla
parte da população. Isso faria sentido e evitaria os perigos, se viesse a partir de um
processo colaborativo que estivesse grandemente em mãos dos locais. Isto precisa ser a
tradição vernácula deles. De outra maneira há o perigo real deste esforço aparecer
como presunçoso e condescendente. Há aí um equilíbrio muito delicado entre o
respeito pela cultura local, que é muito uma cultura da pobreza — o urbanismo do dia-
a-dia, em certo sentido — e o reconhecimento das aspirações, mesmo dentro desta
cultura (e nos indivíduos) por alguma coisa que eles imaginam ser melhor.
21. Está o mundo mudado para aceitar uma habitação social humana?
Em todo o mundo os projetos foram construídos seguindo um paradigma orgânico,
usando a participação do morador. Nós observamos um fenômeno cíclico: tanto os
governos quanto as organizações não-governamentais apóiam partes do que nós (e
outros antes de nós) propomos, então esta proposta cai em desgraça e é substituída por
tipologias modernistas inumanas, que voltam quando mudam os oficiais eleitos e os
diretores das agências. Esta flutuação temporal mostra o modelo de competição das
espécies, onde uma espécie competindo desloca outra (mas não a leva à extinção).
Quando as condições mudam, aquelas espécies fazem um modesto retorno.
66
O paradigma urbano orgânico tem sido sempre aceito marginalmente pelos poderes
em ascensão, mesmo considerando que ele representa a vasta maioria do tecido urbano
correntemente construído. Na analogia ecológica, casas não planejadas, construídas
pelos moradores, são as espécies dominantes, embora, na mente das pessoas (em
gritante contradição com os fatos) é assumido que seja uma espécie minoritária. A
explosão da população urbana mundial ocorreu nos estratos mais pobres das
sociedades, com uma menor parte sendo abrigada por mecanismos de habitação social
do tipo de-cima-para-baixo, enquanto a maior parte emergiu como favelas
(assentamentos irregulares). É esse desequilíbrio — entre as poderosas forças que
geram, no mundo, a morfologia urbana irregular e as tentativas ineficazes de impor
ordem — que nós desejamos corrigir com este paper. Nós dependemos de três
estratégias: (a) os leitores verão que alguns dos velhos preconceitos contra a habitação
construída pelo próprio morador estão ultrapassados e que são social e
economicamente dispendiosos. (b) as pessoas reconhecerão as raízes deste conflito
como ideológicas, e não como exclusivamente legais. (c) nós temos, finalmente,
ferramentas muito poderosas para um reparo e desenho eficientes, os quais não
estavam disponíveis no passado.
67
proclamaram uma exclusiva validade “científica” racional. A partir da recente entrada
de cientistas treinados em arquitetura e urbanismo, esta confusão vem finalmente
sendo desfeita, e nós podemos separar o método genuíno do dogma dirigido pela
imagem. Nossos corajosos predecessores, que construíram um tecido urbano vivo,
foram todos frustrados por um establishment arquitetônico convencido da absoluta
correção do paradigma industrial de desenho do início do século XX. Várias e várias
vezes projetos e idéias foram marginalizados e tiveram que ser reinventados em outros
lugares e em outros tempos. Nós acreditamos que nossa era está finalmente pronta
para aceitar um tecido urbano vivo como parte da própria vida e que esta idéia pode
assumir seu apropriado papel central em nossa consciência.
22. Conclusão.
As práticas do século XX para construir habitação social podem ter sido bem
intencionadas, mas na verdade estavam equivocadas. Elas não ajudam a conectar os
residentes ao seu ambiente. Uma grande parte do tecido urbano poderia ter sido feito
mais saudável e sustentável, pelo mesmo custo, mas ao contrário exerce um efeito
mortal em seus residentes, e, em última instância torna-se insustentável. Infelizmente,
os planejadores dos governos estiveram determinados a impor um experimento social
mal concebido como parte de um utópico programa de industrialização. Nós
apontamos aqui, por outro lado, soluções práticas e sensíveis que podem ser aplicadas
imediatamente a qualquer contexto, com algumas pequenas modificações para atender
as condições locais.
Agradecimentos:
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ESRG uma eficiente colaboração on-line foi possível. Os membros da ESRG, Besim
Hakim e Yodan Rofè nos mandaram incisivos e importantes comentários. Outros
indivíduos que contribuíram com material e referências inclui Ana Cecilia Ambriz e
Alfredo Ambriz da Universidad Autónoma de Guadalajara, Pablo Bullaude da Fundación
CEPA, Andrius Kulikauskas do Global Villages Group e Fausto Martinez, da IPFC.
Referências:
Christopher Alexander (2005) The Nature of Order: Books One to Four (Center for
Environmental Structure, Berkeley, California).
Christopher Alexander, Howard Davis, Julio Martinez & Donald Corner (1985) The
Production of Houses (Oxford University Press, New York).
Andrés Duany (2007) “Restoring the Real New Orleans. How do we save the
Crescent City? Recreate the unique building culture that spawned it”, Metropolis,
February 14, pages 58-60. <www.metropolismag.com>.
Andrés Duany & Elizabeth Plater-Zyberk (2005) Smart Code, Version 6.4
<www.dpz.com>, Miami, Florida.
Andrés Duany, Elizabeth Plater-Zyberk & Jeff Speck (2000) Suburban Nation (North
Point Press, New York).
Hassan Fathy (1973) Architecture for the Poor (University of Chicago Press, Chicago,
Illinois).
Jan Gehl (1996) Life Between Buildings: Using Public Space (Arkitektens Forlag,
Copenhagen, Denmark).
Besim Hakim (2003) “Byzantine and Islamic Codes from the Mediterranean”, in:
CNU Council Report III/IV, Style and Urbanism: New Urban Codes and Design Guidelines
(The Town Paper, Gaithersburg, Maryland, 2003), pages 42-43 & 63. Shorter version
available online from <http://tndtownpaper.com/council/Hakim.htm>.
69
Jane Jacobs (1961) The Death and Life of Great American Cities (Vintage Books, New
York).
Stephen R. Kellert (2005) Building for Life: Designing and Understanding the Human-
Nature Connection (Island Press, Washington, DC).
Léon Krier (1998) Architecture: Choice or Fate (Andreas Papadakis Publisher, Windsor,
England).
O corpo deste paper na verdade demonstra um método de métodos, que pode ser
usado para formatar um número infinito de abordagens. Todas as abordagens que
surgem de nossas recomendações tem em comum uma adaptabilidade às sensibilidades
humanas. Nesta qualidade essencial, no entanto, elas diferem marcadamente dos
outros métodos correntemente em uso. Evidentemente, um planejador deve criar um
novo método, que sirva melhor as condições e as exigências locais. Para os leitores que
desejam implementar nosso método sem demora, nós demonstramos aqui um
procedimento que pode produzir habitações em terras vazias. Uma abordagem
levemente diferente é necessária para trabalhar num sítio que já tem construções, e
ainda outra para re-configurar um assentamento existente. Por favor, lembre-se de que
este representa apenas UM de um número infinito de métodos relacionados que
satisfazem nosso critério e que não deve ser adotado como um conjunto de regras
universais.
Nós assumimos que um conjunto de planejadores irá trabalhar com alguns ou com
todos os potenciais futuros residentes em todos os passos do layout. Isto é crucial para
ter uma “leitura” de todos os necessários fatores humanos que precisam ser
considerados. A construção real é dividida em dois componentes: os que são de
responsabilidade da agência financiadora e os que são de responsabilidade dos
proprietários / residentes. Uma rápida divisão do trabalho atribuiria ao governo a
70
construção do espaço público e aos moradores a construção de suas próprias casas, mas
estas responsabilidades podem ser sobrepostas de qualquer maneira, de acordo com as
condições específicas do local. Mesmo se os proprietários / residentes vão fazer toda a
construção nas suas casas, o grupo de planejadores deve estar preparado para apoiá-los
e guiá-los durante o processo. As referências abaixo são para padrões individuais na
“Linguagem dos Padrões” (Alexander et. al., 1977).
È extremamente importante fazer uma afirmação inicial de que nós temos aqui um
diferente tipo de abordagem para a habitação social e para o planejamento em geral. A
novidade desta abordagem é evidente em três de nossos procedimentos. Primeiro, nós
começamos delineando a rede de ruas e de lotes com a ativa participação dos
residentes, não como um plano pré-concebido, feito em algum lugar. O segundo
elemento não comum é permitir (na verdade, encorajar ativamente), que os usuários
ornamentem os passeios na frente de suas casas, antes mesmo que a casa seja
construída. O terceiro elemento não comum é construir o espaço urbano antes que
qualquer das casas seja completada. O espaço urbano irá definir o caráter do
assentamento como um todo — sua qualidade espacial e sua identidade na escala
grande — mais do que qualquer outro objeto construído. Ele irá jogar um papel
importante em fazer com que os moradores sintam o lugar emocionalmente.
Nós recomendamos os passos a seguir, à medida que nós enfatizamos os aspectos não
comuns de nosso método, e deixamos os detalhes mais óbvios da construção para o
grupo local:
1. Caminhe na área para diagnosticar a sua condição, suas qualidades, seus problemas,
suas excepcionais oportunidades, áreas que precisam de reparo, etc. Identifique os
espaços candidatos ao lugar sagrado, como por exemplo, montanhas, rochas
proeminentes, grandes árvores, etc. Eles deverão ser protegidos e mais tarde
incorporados ao espaço urbano.
2. Em muitos casos o assentamento vai ter um limite que determina as conexões das
ruas. Onde isto não acontece, (isto é, no campo) a limitação da área deve ser fixada,
porque ela terá um impacto no padrão geral das ruas. (Padrão 15: Limites do Bairro,
de Alexander et. al. 1977).
71
retas, nem ortogonais, uma em relação à outra. Marque-as fortemente, com postes e
bandeiras vermelhas. Deixe espaço para as ruas e para os passeios nos dois lados.
4. Caminhe na área mais uma vez para visualizar onde o espaço urbano pode ser
definido (decidido pelos pontos identificados como os melhores para se estar e que de
alguma maneira focalize os sinais positivos de toda a área). Estas serão as saliências na
rua principal, próximo do centro, e que deverão conter algum espaço sagrado, se for
possível. Aplique o princípio do fluxo tangencial ao redor de um espaço urbano (isto é,
as ruas vão ao longo do espaço, não através do seu centro). Um espaço urbano pode ser
tão longo quanto for necessário, mas não deve ser maior do que 20 m. (Padrão 61:
Pequenas Praças Públicas). Marque os limites dos espaços urbanos com bandeiras
vermelhas.
5. Decida as áreas que as casas irão ocupar, para cercar e reforçar parcialmente os
espaços urbanos. As paredes frontais das casas, sem recuos, definirão os limites dos
espaços urbanos.
6. Agora, algumas das decisões importantes sobre os layouts deverão ser tomadas.
Uma possível tipologia é criar quarteirões com a profundidade de duas casas em
seqüência, não necessariamente retas, cada um com dimensões de 40-60 m de largura e
de mais ou menos 100-150 m de comprimento. A construção dos quarteirões inicia no
limite do espaço urbano e das ruas principais. Os seus limites irão definir as ruas
secundárias, que são marcadas com bandeiras vermelhas. As ruas secundárias formam
junções em T (Padrão 50: Junções em T) nas intersecções e não cruzam a rua
principal. As ruas secundárias são mais estreitas do que as ruas principais.
7. Ao mesmo tempo, as questões sobre a drenagem das águas são acertadas porque as
direções das ruas devem coincidir com o fluxo das águas. Decida onde será localizado o
dreno principal para fora do assentamento, para evitar inundações. Verifique se alguma
rua deve ser desobstruída.
8. As ações sobre a terra iniciam somente agora, com o governo fazendo as divisões
da terra de tal modo que os lotes drenem para os dois lados das ruas. As ruas deverão
ser desimpedidas, onde for necessário, para facilitar o escoamento do fluxo de água,
como foi definido anteriormente.
72
envolvê-lo parcialmente (Padrão 115: Quintais que vivem). Variações individuais são
essenciais para garantir exposição ao sul nos quintais, de outra maneira eles não serão
utilizados (Padrão 105: Áreas abertas de face sul). Primeiro defina os prédios ao
redor dos espaços urbanos principais e nas entradas principais.
10. Uma vez que um número suficiente de casas alinhadas tenha sido marcado,
complete o limite do lote usando bandeiras amarelas. Cada lote deve ser no mínimo 20
m de profundidade e 6 m de largura. Os lotes são separados por uma avenida nos
fundos e por um caminho de pedestres, a cada lado. Os lotes são marcados e o trabalho
é iniciado. O que é admirável neste processo é que agora é a primeira vez que o
assentamento é desenhado em papel (até agora estivemos trabalhando somente com
bandeiras no solo).
11. O governo põe a infra-estrutura que ele provê: geradores de eletricidade nas
avenidas, sistema de água ou uma distribuição regular de torneiras públicas, canos de
esgoto ou algumas latrinas separadas por gênero, etc.
14. A construção da casa pode começar, feita pelos próprios residentes, com a
fachada frontal se erguendo primeiro, no limite com o passeio. Desta maneira, os
espaços urbanos, ao invés das casas, são os primeiros elementos espaciais a serem
fisicamente construídos. (Padrão 106: Espaço externo positivo).
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16. O governo pode solidificar o espaço urbano construindo um quiosque — um
espaço coberto e aberto (Padrão 69: Espaços públicos cobertos). Garanta que haja
degraus confortáveis para que as pessoas sentem (Padrão 125: Degraus para sentar).
Este elemento pode catalisar o uso do espaço urbano e reforçar os elementos sagrados
tais como uma grande árvore, por exemplo.
17. Os proprietários completam suas casas individuais no seu próprio ritmo. Eles têm
completa liberdade no desenho da planta com suas características originais. Se for
apropriado para a cultura local, podem construir um muro baixo para sentar ou uma
platibanda integrada à fachada frontal, próxima à entrada (Padrão 160: Construindo
um avanço e Padrão 242: Banco na porta da frente). Isso poderá, por sua vez,
influenciar um avanço da cobertura.
21. Talvez a regra simples mais importante para criar peças em uma construção seja
que elas devem ter luz natural de dois lados. (Padrão 159: Luz em dois lados de todas
as peças).
22. À medida que as frentes das casas estiverem próximas de estarem completadas, o
governo supre os moradores com materiais e tintas e oferece um prêmio monetário
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para a mais artística ornamentação, de preferência usando motivos tradicionais
inteiramente escolhidos pelos moradores (Padrão 249: Ornamento). A ornamentação
deveria ser mais detalhada e mais intensa ao nível dos olhos e naqueles lugares onde o
usuário possa tocar o prédio.
FIGURAS.
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Figura 1. A média dos caminhos que demarcam os fluxos naturais dão a
localização da rua principal AB e do cruzamento constituído pela rua CD.
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Figura 2. Cardo e Decumanus são estabelecidos e marcados com bandeiras
nas extremidades.
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Figura 3. Os espaços urbanos são identificados com expansões ao longo dos
caminhos principais, constituindo-se de áreas onde é agradável estar.
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Figura 4. O espaço urbano é a característica geográfica primária, definida e
reforçada pelas construções do entorno.
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Figura 5. Os espaços deixados entre as quadras definem as ruas, os espaços
urbanos e a drenagem — o que é o oposto de adequar os lotes às vias já
existentes.
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Figura 6. Os pátios são parcialmente circundados pela planta da casa e são
orientados, individualmente, para exposição ao Sul. (Note-se que no
Hemisfério Sul, a orientação é para o Norte).
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Figura 7. Exemplo de um desenho possível feito pelo próprio morador para
um padrão de passeio, usando diferentes tipos de materiais pressionados ao
concreto, imediatamente após a concretagem.
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Figura 8. As fachadas dos prédios, os passeios e os muros para sentar
envolvem o espaço urbano. Todos os elementos construídos cooperam para
fazer o espaço coerente e vivo.
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Figura 9. A transição com uma moldura grossa e uma entrada larga definem
a porta da frente como uma transição e não como uma imagem plana.
Figura 10. São oferecidos aos moradores tintas e materiais coloridos que os
encoraje a ornamentar suas casas.
Nikos A. Salíngaros
Department of Mathematics
David Brain
Department of Sociology
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New College of Florida
Andrés M. Duany
Michael W. Mehaffy
Ernesto Philibert-Petit
MÉXICO
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