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11/03/2018 Sociedade de classes e violência sexual (3): Capitalismo e opressão da mulher | Passa Palavra

Sociedade de classes e violência sexual (3):


Capitalismo e opressão da mulher
29/06/2017

O sistema capitalista (ab)usou de diferenças biológicas entre homens e


mulheres, gerando crise na classe operária conforme se apropriava de seu
tempo. Por Maya John

Leia aqui a série completa.

O desenvolvimento da moderna sociedade


capitalista produziu mudanças massivas, tanto na
vida pessoal como laboral. O capitalismo não só
reestruturou o mundo do trabalho, mas também a
família. Com o desenvolvimento do capitalismo, a
economia surgiu como esfera separada de
atividade, tanto para a família como para o Estado. Em outras palavras, a
organização da produção sob o capitalismo (ao separar os meios de produção

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da classe dos produtores) e o processo de proletarização eliminaram o caráter


corporativo do funcionamento dos grupos de parentesco. Cada vez mais, as
pessoas se apresentavam frente ao Estado como indivíduos; a socialização do
trabalho veio acompanhada da privatização da vida pessoal (a família); o
trabalho produtivo se dissociou das relações familiares; e a unidade familiar
foi se convertendo na unidade de reprodução social (reduzindo seu tamanho
continuamente) e de consumo (as necessidades básicas como a alimentação,
roupa etc., começaram a ser produzidas para o mercado, e o trabalho familiar,
portanto, não se empregava como na época em que os lares constituíam
esferas de produção). Posteriormente, com o progressivo desenvolvimento da
sociedade industrial, o capitalismo incorporou o trabalho doméstico na
de nição de feminilidade, despojando-o de seu conteúdo laboral e
arrebatando-lhe seu valor econômico dentro da família. As atividades ligadas
ao cuidado dos lhos, por exemplo, terminaram identi cando-se
exclusivamente com as mulheres, e a este trabalho doméstico foi negado seu
valor econômico, depreciando assim os salários dos trabalhadores e piorando
suas condições de vida[28].

Ao criar uma esfera privada “não econômica”


frente à esfera pública “econômica”, o capitalismo
desatou novos níveis e formas de opressão sobre as
mulheres. É necessário determinar estas formas
particulares sob as quais surgiu a opressão no seio do capitalismo e,
principalmente, a “questão da mulher”. Foi principalmente no contexto da
dinâmica da produção capitalista e de sua errônea concepção das limitações
postas pela reprodução biológica onde surgiu a divisão sexual do trabalho (que
empurrava as mulheres a uma situação econômica e socialmente subordinada)
como uma possibilidade histórica. Em poucas palavras, o mero fato biológico
da reprodução (gravidez, parto, amamentação) não é compatível com o
sistema capitalista de produção e os capitalistas não têm vontade de
adaptarem-se a ele (por exemplo, outorgando uma ampla licença remunerada

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para a maternidade, pondo creches e babás nos centros de trabalho, etc.), na


medida em que implica mais gasto em capital variável e repercute na
maximização dos lucros.

Portanto, o sistema capitalista obrigou as


mulheres: 1) a dedicarem-se completamente a
labores domésticos despojados de seu valor
“econômico” e que as reduzem a uma situação de
aberta dependência em relação a seus maridos; 2)
ou a aguentar o fardo de ambas as coisas, o
trabalho doméstico (não remunerado) e o trabalho assalariado. Dado que o
trabalho doméstico é algo não negociável, existem mulheres que preferem (ou
se sentem inclinadas a) abandonar o trabalho assalariado na medida em que o
permite o alto salário de seus maridos, o que nos leva ao primeiro caso. E dado
que um amplo número de mulheres procede de famílias operárias que sofrem
uma constante proletarização, se veem obrigadas a entrar no mercado de
trabalho para ajudar aos precários salários familiares, pelo que não
abandonam o trabalho assalariado durante um bom tempo, o que nos leva ao
segundo caso. Estes desenvolvimentos se distanciam da realidade das
sociedades pré-capitalistas, nas quais as mulheres desempenhavam diversas
funções produtivas além das reprodutivas. Isto não signi ca que as mulheres
estivessem menos oprimidas nos modos de produção pré-capitalistas, mas
que não estavam separadas do próprio processo de produção.

Assim, pois, o sistema capitalista historicamente


(ab)usou de algumas das diferenças biológicas
entre os homens e as mulheres, gerando uma
formidável crise na classe operária conforme ia
apropriando-se do tempo dos trabalhadores. Com
o surgimento da jornada média de trabalho de 12 horas ou mais, a classe
capitalista, em seu constante empenho por extrair a máxima mais-valia
possível, terminou colocando uma séria ameaça para a própria sobrevivência
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da classe operária. As excessivas horas de trabalho e os baixos salários, por


exemplo, tornavam impossível que os trabalhadores reproduzissem a força de
trabalho, ou seja, que não podiam cobrir as necessidades básicas que lhes
permitem voltar ao trabalho a cada dia. Não podiam, por exemplo, acessar os
bens e serviços que requeriam suas necessidades domésticas (babás,
empregadas, mordomos, cozinheiros etc.). Dadas estas circunstâncias, as
famílias operárias evoluíram em torno a sua própria divisão de trabalho, na
qual uma pessoa se encarregava dos trabalhos domésticos ademais do
trabalho assalariado suplementar, enquanto a outra trabalhava a jornada
completa. Basicamente, pois, o caráter temporal ou suplementar do trabalho
assalariado da mulher permitiu aos capitalistas manter baixos os salários das
famílias trabalhadoras, e também considerar a mulher como uma fonte de
trabalho mais barata em um mercado laboral em expansão. Os interesses da
classe capitalista, pois, consistem em reduzir a presença da mulher na força de
trabalho a um estado de contínuo uxo, mantendo-as dentro da categoria dos
pior remunerados e menos “protegidos”.

Se examinarmos atentamente a natureza do


emprego feminino no capitalismo, está claro que as
mulheres de famílias operárias ou camponesas
pobres foram empurradas a empregos mal
remunerados, normalmente não quali cados ou
semiquali cados. Em um país como a Índia, um
amplo número de mulheres operárias está sendo escravizado no que se chama
popularmente como o setor informal, onde sobrevivem trabalhando por
produtividade (salários por peça). As mulheres operárias também conformam
um amplo contingente dos operários migrantes que a uem para as
metrópoles em busca de trabalho. Assim, pois, apenas um pequeno setor de
mulheres, as de classe média, tem trabalhos bem remunerados, e só elas têm
alguma oportunidade de progredir em sua carreira pro ssional e adquirir
relevância em seu trabalho. Não obstante, mesmo para as mulheres bem pagas

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das pro ssões liberais existe um teto de cristal difícil de romper. Disparidade
de salários entre as mulheres e os homens de cada pro ssão; falta de
oportunidades para ascender; atmosferas de trabalho altamente sexistas
(macho-alfa); assignação de tarefas ligadas a um per l feminino, etc.,
formam uma parte concreta da vida das mulheres pro ssionais de todo o
mundo.

O impacto adverso desta situação precária e opressiva das mulheres no


mercado de trabalho é gigantesco. Em especial no caso das mulheres operárias
com contratos de intensa exploração, cujo emprego muitas vezes requer viajar
insegura durante horas, pela noite ou de madrugada; cujos bairros estão pouco
iluminados, pouco vigiados pela polícia e sofrem um aumento da
criminalização (e uma expansão do lúmpen) entre a juventude; cuja aberta
dependência de um transporte público pouco regular as obriga a suportar
diariamente a lascivos transeuntes, etc.

A primeira repercussão importante da


subvalorização do trabalho produtivo da mulher e
da feminização de certos empregos foi a criação de
um terreno fértil para o sexismo. Com o mercado
laboral pressionando para baixo os salários das
mulheres e empurrando-as para as categorias laborais mais desprotegidas, o
resultado é uma contínua reprodução dos papeis e atitudes de gênero. Daí,
então, essa tendência dos colegas e chefes masculinos a desenvolver atitudes
misóginas como “é só uma ajuda temporária”, “só procura algo de diversão
até que sente a cabeça”, “se conseguiu o trabalho, a alguém se ofereceu”,
“quem pensa que é nos dando ordens?”, etc.

Ao reduzir a mulher a trabalhos femininos ou de


supermulher se cria uma nova carga suplementar
para as mulheres operárias, cujas repercussões são
gerais. Coletoras de ervas com as costas dobradas,

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que colhem folhas durante horas sem descanso; bordadoras que movem seus
ágeis dedos a toda velocidade através de designs complexos para alcançar os
objetivos e reclamar o salário diário; enfermeiras lutando para cumprir com
seus deveres de cuidar dos pacientes porque não há pessoal su ciente para
todos os doentes; professoras com salários miseráveis, etc. Estes costumam
ser os trabalhos para os que se contratam as mulheres, dado que encaixam
com as tarefas (femininas) associadas a elas. Enquanto isso, a recepcionista
“sexy”; a esbelta aeromoça de minissaia; as bailarinas meio desnudas das
festas e outras representações; a impecável secretária que está sempre a mil; a
modelo esquelética que se equilibra nas entregas de prêmios e demais atos; as
maquiadíssimas dançarinas de bares etc. são os típicos trabalhos nos quais o
físico das mulheres se emprega para fazer negócio. Nestes trabalhos de
supermulher ou hipersexualizados, as mulheres devem se vestir e se
comportar para acentuar certos traços de seu corpo. Isto não bene cia os
interesses das mulheres trabalhadoras (ainda que algumas mulheres
considerem estes papeis “interessantes”), nem os das mulheres em geral. Esta
acentuação das partes do corpo feminino “por questões de trabalho”, aos
únicos que interessa interessa unicamente aos homens que querem consumir
visualmente (e inclusive sicamente) sua sexualidade sem o elemento de
responsabilidade que acompanha o vínculo sexual com outra pessoa. E mais,
esta feminização distorcida dos per s laborais reforça o estereótipo de que as
mulheres valem mais por seu corpo e aparência que por sua personalidade em
geral.

Dito isso, talvez um dos efeitos mais


transformadores e destacáveis do capitalismo é seu
impacto na sexualidade humana e nos vínculos de
casal. Com o desenvolvimento do capitalismo e o
subsequente colapso da família como unidade
produtiva, cada vez mais homens, e também
mulheres, saem de casa em busca de emprego, dado que já não herdam os

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ofícios nem têm possibilidade de receber sustento por parte de suas famílias
ou comunidades. Este processo histórico criou um âmbito no qual os homens e
as mulheres podiam interagir fora dos limites tradicionais dos laços
comunitários. Consequentemente, o matrimônio começou a se basear na
mútua atração, ou como o chamou Engels, o “amor sexual individual”. Na
moderna sociedade capitalista, o matrimônio e as demais formas de relação
entre o homem e a mulher começaram a se basear na livre atração mútua.
Inclusive num país como a Índia, onde segue sendo comum a prática de
arranjar casamentos, cada vez são mais raras as bodas sem conhecer o futuro
esposo e sem um breve noivado prévio. Ademais, é acima de tudo nas cidades,
para as quais os jovens emigram em busca de educação ou emprego, onde há
oportunidades de ter uma relação sentimental e se casar, ou ao menos
encontrar um parceiro. Isto se deve ao fato de que nas cidades os jovens não
estão vigiados e controlados diretamente por sua família ou comunidade. Não
obstante, ainda que as relações sejam mais livres, os vínculos de casal
(heterossexual ou homossexual) se sustentam na desigualdade e opressão.
Portanto, inclusive hoje em dia a satisfação mútua das necessidades sexuais e
emocionais segue sendo uma prática excepcional. A questão, claro, consiste
em saber por que, apesar das transformações sociais que o capitalismo
introduz, a emancipação das mulheres (que inclui sua libertação sexual) segue
sendo um sonho distante.

Sem dúvida, as décadas de 60 e 70 supuseram uma


nova época na vida pessoal das mulheres, graças a
avanços como o da pílula anticoncepcional, o
direito a abortar e uma maior facilidade para o
divórcio, assim como a outras mudanças nas atitudes com relação ao sexo e a
gravidez fora do casamento. Ainda assim, o que muitas feministas radicais
chamam a “revolução sexual” cou limitada durante muitos anos às classes
altas dos países de primeiro mundo. É importante assinalar que boa parte
destas mudanças para melhor foram o resultado de um contínuo acréscimo de

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mulheres na mão de obra (ainda que não necessariamente em forma de


empregos bem pagos e por jornada completa). E por último, mas não por isso
menos importante, o nome de “revolução sexual” não parece apropriado. Pois
o capitalismo conservou a estrutura familiar, ainda que sobre a base de novos
vínculos de casamento.

Esta estrutura familiar que evoluiu com o capitalismo é o que muitos


identi cam como a família nuclear. Neste processo de desenvolvimento, é
importante destacar que o modo de produção capitalista foi reduzindo
continuamente o tamanho da família, o que permitiu também aumentar a
responsabilidade e a carga das mulheres no lar. Ademais, mesmo hoje em dia a
mulher comum considera como um tabu e um risco ter uma vida sexual ativa
antes ou à margem da instituição do casamento. Também vacila ou considera
que é difícil, se não “inaceitável”, impor sua própria escolha à família[29].
Neste contexto, como foi se de nindo e rede nindo o conceito de estupro sob
o capitalismo?

(continua…)

Notas

[28] Ao reduzir os salários familiares da classe operária (o salário do chefe de


família) e ao empurrar para fora do trabalho as mulheres quando dão à luz, o
trabalho de criar e dar educação para os lhos se converteu em uma tarefa que
devia “fazer-se gratuitamente”, pois não tinha nenhum papel na sustentação
da economia e, portanto, os capitalistas não gastariam dinheiro com isso.

[29] Em Índia, por exemplo, as mulheres tendem a se casar inclusive antes de


completar seus estudos superiores. Quem consegue certo nível educativo não
costuma ter oportunidade de trabalhar antes de se casar. Isto demonstra que
as mulheres muitas vezes têm que abandonar sua educação e suas carreiras
para poder chegar a ofertas de matrimônio “adequadas”. Evidentemente,
muitas delas não retornam aos estudos depois do casamento.
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Traduzido por Pablo Polese. O texto de Maya John foi originalmente publicado
em Radical Notes e sairá dividido em sete partes, uma por semana.

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