Vous êtes sur la page 1sur 51

1

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014

Direito Comercial I
Aulas Práticas
Dra. Carolina Cunha

30 Setembro 2013

Caso 1

Amélia Silva, dona de um supermercado na Baixa de Coimbra, comprou à «Fábrica de


Sabão do Mondego, Lda», uma dúzia de caixas de sabão azul e branco. Ao longo do
último mês, tem adquirido legumes variados a Manuel Dias, proprietário de uma pequena
exploração agrícola em Ançã. Comprou, ainda, numa loja de informática, um computador.
Em virtude das dificuldades financeiras em que se encontra, Amélia ainda não pagou a
estes credores. Que juros moratórios podem eles exigir? Fundamente.

Alguém pratica três actos, todos eles compras e vendas com sujeitos diferentes.Teremos de
fazer um trabalho de qualificação dos actos. Para que questões releva a qualificação de
actos de comércio? Para além de juros moratórios, interessa saber o que são actos de
comércio para saber se o sujeito é comerciante, que é quem faz comércio de profissão e para
tal teremos de ver a actividade e ver se o acto é de comércio.

Também releva para a questão da acessoriedade. O acto será acessório se estiver ligado a
um acto de comércio. A fiança só é comercial quando a obrigação garantida for de comércio.
Temos sempre de estabelecer ligação a um acto de comércio.

Para dar a resposta aos credores, temos de qualificar o acto de comércio, e teremos de ver o
art.º 102º Código Comercial – (ver Dec. Lei 62/2013, que acrescenta um parágrafo 5º e
muda o parágrafo 4º). Esta disposição diz há juros quando decorrer das partes que haja juros,
com referência aos actos comerciais. O parágrafo 1º contém uma exigência de forma e o 2º
fala de limites.
O parágrafo 3º fala de juros moratórios legais que se aplicam quando as partes não
convencionarem ou convencionam invalidamente. Aqui as pessoas singulares e colectivas têm
uma nota de comercialidade e refere-se a empresas normalmente. Este artigo significa que
estes juros serão determinados e alterados ao longo do tempo, o que fez com que se remeta
para uma portaria e não fixar os juros no Código Comercial. Até maio de 2013, o 4º parágrafo
dava uma fórmula e o que fez a portaria foi dizer que, em vez de todos os semestres se
aplicar uma portaria, a taxa de juro seria o limite mínimo do Banco central europeu mais 7
pontos percentuais. Por uma questão de segurança e certeza, há um aviso emitido pois os
agentes económicos podem não estar ao corrente.

Em Maio, o parágrafo 4 foi alterado, está quase igual mas acrescenta, sem esquecer o
disposto no parágrafo seguinte que diz que a taxa não pode ser inferior ao valor do BCE mais
8 pontos percentuais.
Diana Simões
2

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


Temos agora a taxa de juros normal - BCE mais 7% - como limite mínimo e para efeitos desse
diploma será BCE mais 8%. A portaria 277/2013 agora diz: “a presente portaria fixa: al a) a
taxa supletiva de juros moratórios relativamente aos créditos que sejam titulares empresas
comerciais, singulares ou coletivos” e a alínea b) remete par ao parágrafo 4º.

No fundo, acrescentou-se ao regime em vigor, um novo campo de aplicação. O código comercial


fixa a moldura, o limite mínimo e a portaria fixa o limite certo.

Os credores estão interessados numa taxa de 7,5% ou 8,5% e se não se aplicar o artigo
102.º do código comercial, a taxa civil é de 4%, pelo que será melhor a taxa comercial. O
regime do art.º 15º protege o credor, a solidariedade passiva também é melhor para o
credor e os regimes que reforçam o crédito.

Neste caso prático reforçam particularmente o regime de juros.


Temos de qualificar os actos para ver se caem na previsão do regime do Código comercial

1º acto – será acto de comércio? Temos de partir da qualificação em sentido objectivo. A


cormecialidade subjectiva é de segunda linha. Se for objectivamente comercial, não nos
precisamos mais de preocupar. (Em exame, se for qualificado objectivmente não precisamos
de pensar em subjectivamente).
Esta compra e venda é um acto de comércio em sentido objetivo. Mas porquê? Para ser acto
objectivo, o acto tem de estar previsto no Código comercial, como diz o art.º 2º. Temos uma
serie de actos regulados no CC e este acto está cá previsto.

São só estes actos previstos no Código Comercial? Não, pois não podemos ficar presos num
código muito antigo, pelo que interpretamos este código como acto de comércio o acto que
está previsto na Lei comercial. Porém, teremos de ter um critério para, em face do diploma,
saber o que é lei comercial. A partir daí sabemos, em primeira ordem, que o código comercial é
lei comercial e a seguir temos o contrato de sociedade comercial que está previsto no código
das sociedades comerciais – leis que substituem normas no código comercial (o legislador
revogou as normas do código comercial e enviou-as para a disciplina do código das sociedades).
Para chegar a esta conclusão, um dos argumentos é o art.º 4º da carta de lei do código
comercial – argumento histórico da intenção do legislador do código comercial. Atenção:
mesmo aqui, há um caso ou outro que não é assim porque quando o legislador retira do código
comercial e redige de forma diferente, deixa de ser assim, mas isso é uma exceção.

Na terceira gaveta temos a lei que se auto qualifica como lei comercial, directa (leis que
nos actos que regulam, apontam explicitamente para a comercialidade - exemplo: lei que regula
contrato de factoring, ou mediação de seguros em que se exige que o sujeito tem de ter
capacidade para praticar actos de comércio – o legislador qualifica diretamente a lei como
comercial) e indirectamente (esta é mais complicada do poto de encontrarmos normas no
Código civil – Exemplo: a antigo RAU. O arrendamento urbano tem uma parte especifica
designada para fins não habitacionais. Ainda assim, há certas normas que regulam certos actos
que podemos qualificar como comerciais: trespasse – transferência definitiva da propriedade
- e locação de estabelecimento comercial. Estes dois negócios, previstos no código civil levam
a concluir que, pela maneira como a lei os regula, são comerciais e portanto, com raciocínio
mais complexo, conclui-se que as normas que preveem esses actos, são lei comercial).
Diana Simões
3

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014

Em 4º lugar, há actos que nem estão previstos na lei, como fazer? Falta a Analogia e
esta é uma analogia de qualificação. Há uma norma que qualifica um acto e que, pelas mesmas
razões, deve valer para um outro acto por analogia, pois não o conseguimos qualificar por outra
via. O que estendemos não é um regime mas uma qualificação. Esta gaveta também tem dois
patamares: analogia legis – acto que se estende a outro acto e analogia iuris – qualificam-se
actos através de princípios gerais de direito comercial. (O manual tem muitos exemplos
práticos concretos).

Voltando ao caso. A Amelia praticou um acto previsto no Código Comercial – Art.º 463º – são
consideradas comerciais, a compra de coisas moveis para revender. A Amelia comprou as
caixas para revender no seu supermercado, pelo que, é um acto de comércio pois está previsto
no nº1 do art.º 463º. Aqui teremos de olhar para a compra e para a venda e ver se é um
acto comercial de ambos os lados – actos bilaterais, ou actos unilateralmente comerciais,
isto é, apenas comercial para uma das partes e isto é importante porque, quanto à
solidariedade passiva, há uma excepção, tendo em conta que se este for unilateralmente
comercial não vale a solidariedade para quem não pratica um acto comercial.

Exemplo: A B e C vão comprar um carro - a venda é um acto comercial mas a compra não é.
Este é um dos casos em que não vale o art.º 100º, 1º parágrafo, mas vale a regra da
conjunção. Aqui só poderia exigir 33% a cada comprador e não a regra de aplicar sempre o
regime do código comercial de solidariedade.

A compra para revenda é o cerne da actividade comercial. Porém, por parte da fabrica, esta é
uma sociedade por quotas, art.º 200º código comercial. Será esta venda comercial? O nº
3º do art.º 463 diz que a venda é comercial quando a aquisição foi feita com intenção de
revender. Não é isto que se passa com a Amelia, a fábrica produz e não compra sabão para
revender, quem faz isso são os grossistas. Assim, não aplicamos o nº3. Teremos de ir ao art.º
230º para conseguirmos qualificar este acto de venda como comercial – o que quer este
artigo? Os donos das empresas são comerciantes, ou qualifica atos como comercias?
Ainda que haja muita discussão doutrinária, tende-se para a resposta dos actos. A lei, no
art.º 13º qualifica como sujeitos comerciais e não faria sentido que a meio voltasse a
aparecer uma qualificação de sujeitos – interpretação sistemática. Mas atenção, que não são
actos de qualquer forma – o art.º 463º, pela estrutura e forma de redação, aplica-se aos
chamados actos de comércio ocasionais, mas esta ideia de ocasionalidade não vigora em sede
do art.º 230º porque, quando se fala em empresas, exige-se uma certa estrutura, uma certa
continuidade. Estes são actos comerciais mas não de qualquer maneira, são actos praticados
em série, dentro de uma organização e estrutura e não actos ocasionais.

Há uma terceira questão: há quem diga que dentro dessa estrutura, o art.º 230º só qualifica
os mais importantes, os que são o cerne da actividade - exemplo: o art.º 230º nº7 fala de
transporte – e para esta questão, a dúvida é a de se são só atos de transporte ou os outros
actos também (compra de camiões, contratação motorista, gasolina) praticados na
empresa? Uma posição tradicional diz que é só o contrato de transporte o comercial e os
restantes serão subjectivamente comerciais, como também acontece ao dono do
supermercado, quando este compra prateleiras para a loja, pois não as vai revender.

Diana Simões
4

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


O Dr. Coutinho de Abreu defende não ser essa a lógica do art.º 230º pois se fala em
empresas com actos praticados como estrutura, então tudo o que está ligado a essa
organização é um acto de comércio – é o “efeito do guarda-chuva”, tudo o que for relacionado
coma actividade da empresa, beneficia da qualificação.

No caso da produção de bens, temos um argumento fortificado. Mas, quais os actos


principais? Os actos de transformação é jurídico? Não, esses estão na contratação de
funcionários, compra de produtos, distribuição.

3 perguntas:
 Actos ou sujeitos? Actos
 Que actos? Todos os praticados em series
 Só os principais? Não, todos os ligados à empresa.

Respondendo ao gerente da fábrica:

O acto é comercial bilateralmente – art.º 230º, nº1 código comercial, e veremos se se


aplica e em que termos o art.º 102º, a fim de ver se podem ou não cobrar juros. Pelo
parágrafo 3º do art.º 102º, teremos de ver o valor de juros mas temos de ver se há ou não
sobreposição com a portaria pois, em termos práticos, será melhor ao credor receber a taxa
com mais 8%.
A portaria levanta problemas em termos de concepção e o que esteve na origem do diploma foi
um problema actual. As pequenas e médias empresas, têm muitas vezes dificuldades
financeiras emergentes dos contratos de pagamento de clientes ou entidades públicas. No
caso das entidades públicas, ouve-se muitas vezes dizer que o Estado é mau pagador e tem,
muitas vezes, contratos que não cumpre e pagamentos que não fazem. Outro problema está no
facto de as grandes empresas serem fornecidas por pequenas empresas e, quando assim é, são
impostos prazos de pagamento, há atrasos e sujeitam-se a estes atrasos pois precisam das
grandes empresas para escoar os seus produtos.

Esta preocupação dos atrasos de pagamento às pequenas empresas levou a uma directiva que
foi transposta pelo nosso legislador em termos de taxa de juros, ou seja, colocou-se uma taxa
de juros considerável para tentar dissuadir os maus pagadores para tutelar o pagamento. Isso
foi feito através da remissão para o código comercial e foi assim que até 2013, mas em Maio,
o diploma novo foi feito com o raciocínio de que deverá ser reforçada a taxa, pondo mais um
ponto percentual à taxa de juro, devida a falta de pagamentos.

Indo ao diploma, diz-se no art.º 1º que vem do direito comunitário e o art.º 2º manda a
plicar a pagamentos efetuados como remuneração de transações comerciais, mas o legislador
diz que transações comerciais não são as que resultam do critério da comercialidade - art.º
2º do código comercial sobre acto de comércio -, mas aquelas que estão no art.º 3º do mesmo
diploma. Diz serem transações comerciais as efectuadas entre empresas ou empresas e
entidades públicas. Há aqui uma série de sujeitos que não são comerciantes mas, desde que
prestem serviços desta natureza, praticam actos comerciais.

Um psicólogo não é comerciante porque as prestações de serviços e profissões liberais não


são comércio e não se pode dizer que o psicólogo tenha uma empresa, porem, para efeitos do
Diana Simões
5

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


diploma, é uma empresa e o contrato que celebrou é um acto comercial e assim o psicólogo
poderia cobrar juros a 8%, uma vez que foi assim que o legislador decidiu regular esta matéria.
Atenção: isto acontece porque o psicólogo está ligado a uma empresa, ou seja, a partir do
momento em que preste serviços a uma empresa, será considerado uma empresa, o que choca
com a lógica do direito comercial, quanto às definições e ao rigor.

Consequências do diploma: sempre que haja transações entre empresas ou empresas e


entidades públicas, até 2013 aplicava-se o regime do código comercial e depois de Maio, há a
taxa do regime do Código comercial e a taxa do regime de portaria que, por vezes, se
sobrepõe e outras não

No nosso caso, haverá sobreposição? É uma transação comercial para efeitos do diploma?
É uma prestação de bens e serviços? A Amélia e a fábrica desenvolve uma actividade
económica pelo que o regime aplicado será o do Dec. Lei, a uma taxa de 8%. No fundo, o
diploma só não se aplica a contrato que estejam foram daquele âmbito de aplicação.

O primeiro credor podia exigir juros moratórios à taxa de 8,5% (porque hoje a taxa do BCE é
de 0,5). Alem de preencher as condições do código comercial, preenche também os requisitos
do diploma, pelo que é mais favorável e será esse a ser aplicado.

 Compra de legumes.

Compra dos legumes: art.º 463º, nº1 - é uma compra para revenda, pelo que é comercial.

Quanto à venda de legumes: a agricultura não é comércio. 2 Argumentos: o que é comércio é o


que está previsto na lei comercial, logo não há nenhuma lei que regulamente a agricultura como
actividade comercial e, em 2º lugar, o legislador excluiu a agricultura no art.º 230º, 2º
parágrafo. Há outro sinal no 1º parágrafo - (exemplo: uma pessoa tem pomares e faz
conservas e doces numa fabrica la ao pé – esses actos, de acordo com a opção do legislador,
não são actos de comércio porque isto é acessório da exploração agrícola, ou seja, é acessório
porque a exploração agrícola tem de ser mais importante do que o negócio marginal.) O
3ºafastamento é feito no art.º 464º.

Questiona-se, porquê? Não podemos confundir entre actos de comércio e empresa. Pode
haver comércio mas não haver empresa pois o legislador entendeu que a actividade agrícola
não é comercial. Podemos perguntar porque foi assim e a resposta era a de que a ideia
tradicional era a de preconceito de que o era comercial não era nobre e, mais uma vez, deveria
haver pressões de lobies e influências e não se queria que a actividade agrícola fosse comércio.
O critério da comercialidade não se confunde com o critério da empresa.

O acto praticado pelo Manuel não é acto de comércio. Porém para efeitos do diploma, Manuel é
uma empresa que faz uma prestação de géneros a outro sujeito que se dedica a uma
actividade económica – Amélia – pelo que, Manuel pode pedir juros à taxa de 8,5%, sem passar
pelo regime comercial, ainda que se aplique o código comercial parágrafo 5º do art.º 102º.

07 Outubro 2013

Diana Simões
6

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014

Retomando:
Dentro do sector primário, há a agricultura e, por analogia as pescas, estão excluídas da
comercialidade pelo art.º 230º, parágrafo 2º. Temos ainda, no parágrafo 1º, uma exclusão
conectiva do nº1 mas que também fala da agricultura, o que nos faz dizer que a
transformação é acessória da agricultura.
Finalmente, o art.º 464º, nº2 no que diz respeito às singulares compras e vendas,
considera-as isoladas e não as considera comercias, pelo que este acto, da perspetiva de
Manuel, não é acto de comércio, embora o seja para Amelia, que compra para revenda.
Que juros pode pedir Manuel? Com o advento do Dec. Lei, Manuel passou a estar incluído nas
transações, logo é uma empresa tal como a Amélia que também é considerada uma empresa.
Em conclusão, o Manuel pode cobrar juros a uma taxa superior à normal (civil) e pode ainda
cobrar á taxa do novo Dec. Lei, prevista no parágrafo 5º do art.º 102º - BCE mais 8%, ou
seja, 8,5%.

Compra do computador: para a empresa que vendeu, é um acto de comércio objectivo pelo
art.º 463º, nº3.
Por parte da Amelia não há nenhuma norma que o qualifique como objetivamente comercial.
Teremos de ir pala subjectvidade comercial.

A subjectividade encontra-se no art.º 2º, 2ª parte.


1. Amelia é comerciante? Sim, pelo art.º 13º
2. Ter ou não ter natureza exclusivamente civil – o que o legislador quis afastar com
esta designação? O que está aqui é ser ou não ser possível estabelecer entre o acto e
o comércio uma ligação, ou seja, se através do acto é possível levar a cabo o comércio.
Há aqui uma diferença em relação á tese de estar em causa a regulação – por exemplo,
doação pois através desta será possível promover a doação, ainda que pela sua
regulação este pareça exclusivamente civil.
Os actos com o qual não se pode estabelecer uma relação de comércio são os negócios
pessoais, exemplo, casamento. No fundo, este requisito exclui actos de natureza pessoal ou
extra patrimonial
3. Que o contrário não resulte do acto – art.º 236º código civil – doutrina da
impressão do destinatário – interpretação do negócio jurídico. Estamos à procura do
que resulta do acto: os termos do negócio, o que foi dito pelas partes, as
características. Daqui ou resulta que há ligação, ou resulta que não há ligação ou então
do acto não resulta nada.
A lei diz que só não é se não resultar do acto, nas outras duas hipóteses, será acto de
comércio.

Aplicando ao caso, do acto nada resulta, pelo que é de comércio em sentido subjectivo. Mas,
podemos acrescentar factos:
Imagine-se que as partes dizem que precisam do computador para o mini mercado - o
declaratário vê que resulta a ligação da atividade com o supermercado. Mas se dissesse que
era para levar para casa, não havia ligação. Mas não é só o que dizem, imagine-se que pedia uma
serie de programas para utilização do supermercado e pede instalação lá, aí o declaratário
também concluía a comercialidade subjectiva ou então, se for pedido para instalar jogos, ver-

Diana Simões
7

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


se-á que a utilização é para casa.

Se virmos que o acto é objetivamente comercial não se vai á classificação subjectiva, a


subjectividade é subsidiaria.
Este podia pedir que juros? Reúne as condições do art.º 102º e também podia pedir juros
do diploma das transações comerciais, ou seja, podia pedir juros a 8,5%.

Caso 2:

João e Pedro Alves, irmãos, tomaram em locação a discoteca «NaNoite», pertencente a


Osório Gomes. Pretendendo remodelá-la, contraíram junto do «BancoFácil, SA», um
empréstimo do qual ficou fiador o seu pai, José Alves. Os irmãos ainda não pagaram
qualquer renda, nem tão-pouco as prestações do empréstimo.
Osório quer exigir o pagamento da totalidade das rendas em atraso a João (que dispõe
de um património mais consistente) e o Banco pretende que seja José a satisfazer o seu
crédito. Terão sucesso? Fundamente.

2 irmãos celebraram dois negócios, locação e negocio bancário – o que se pergunta agora
não são os juros, mas exigir o pagamento da totalidade das rendas em atraso.
Temos dois devedores e o dono do estabelecimento quer que só um deles pague e para que
consiga esse objectivo, tem de vigorar o regime da solidariedade – regime regra de obrigações
comerciais. O regime do código civil é o da conjunção.

Temos de ver se o acto é ou não um acto de comércio e, em segundo lugar, o banco pretende
que José, o fiador, pague. Ele tem o benefício da esgotação previa e se fosse aplicado o
regime civil, o banco não podia logo ir ao José, mas se valer o regime comercial, na fiança
mercantil o fiador é solidário com afiançado – art.º 101º.

Estabelecimento é uma coisa incorpórea, soma de tudo aquilo que está organizado de certa
maneira e o valor daquilo é superior à soma do valor das partes. Quando alguém compra uma
empresa, além do valor do imóvel, tem-se em conta a faturação. Transacionamos uma coisa
incorpórea, e dito isto, é suscetível de negócios.

O art.º 1109º do Código Civil é a norma que prevê a locação de estabelecimento e iremos
concluir que se auto-qualifica indiretamente como comercial, não só pelo modo com regula o
negócio, mas também pela sua redação. Aqui não será a locação de qualquer estabelecimento
mas a do estabelecimento comercial, pois há empresas que não são comerciais – empresas
agrícolas. À partida, só vale para locação de estabelecimento.

Será que a discoteca é uma empresa comercial?

Art.º 230º - nº2 – poderá haver uma identidade de identificação, pelo que usaremos a
analogia e aqui há duas dificuldades: a mais fácil e curta, a analogia legis, que faz estender
Diana Simões
8

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


uma norma ao caso – no art.º 230º,nº2 é possível extrair desta norma a continuação de
prestação de serviços comercias mediante pagamento de preço, mas, assim só poderemos usar
esta via para serviços prestados de forma continuada. Porem, há toda uma prestação de
serviços que não são feitas de forma continuada – ou seja, para estas prestações de serviços
não previstas e isoladas, não podemos ir pela analogia legis, mas pela iuris e temos de
construir um princípio que nos diga que as empresas (art.º 230º) de prestação de serviços
são comerciais.

Iremos construir este principio com um processo de indução – juntar todas as normas de
actividades comerciais e vamos tirar o denominador comum que é serem empresas comerciais
de prestação de serviços.

Vejamos: é um estabelecimento comercial porque a actividade é de prestação de serviços, e


conseguimos qualificá-lo como actividade de comércio em sentido objectivo.

Assim, vigora o regime da solidariedade, porque os actos são objectivos porque está previsto
em lei que se auto qualifica como comercial indiretamente, art.º 1109º do CC e como o art.º
1109º nos fala de estabelecimento comercial, tivemos de ir buscar o elemento de analogia
iuris da prestação de serviços para a qualificar como empresa comercial.

Fiança – será mercantil quando a obrigação garantida for comercial, isto porque a fiança é um
acto acessório. Assim, os requisitos que a lei faz depender para que seja acto comercial,
dependem da ligação com outro acto e, no caso da fiança, a obrigação tem de ser mercantil.
Também acontece com o mandato, com o depósito, empréstimo, penhor.

A obrigação garantida era o empréstimo bancário. Está ou não prevista na lei mercantil?
Está prevista no art.º 362º. Podíamos, desde logo, ficar por aqui pois o empréstimo é acto
objectivo de comércio, pelo que a fiança é também comercial e o banco pode demandar de
imediato o fiador.

Dito isto, tínhamos uma outra via, não absolutamente necessária: imagine-se que o dinheiro
tinha sido pedido a alguém, nesse caso, não íamos pelo art.º 362º mas pelo art.º 394º -
requisitos da comercialidade de empréstimo - neste caso, a cousa cedida seria o dinheiro e
teremos de ver se o dinheiro é destinado a um acto de comércio. O dinheiro foi destinado à
remodelação e andamos à procura de actos jurídicos e poderemos pensar que para uma
remodelação da discoteca, podemos comprar equipamentos, materiais de construção etc e
tudo isso são actos jurídicos.

Serão actos integrados na exploração da empresa e são qualificados pelo princípio de


empresas de prestação de serviços são comerciais, analogia iuris, que produz o efeito guarda-
chuva.
Se a coisa cedida – dinheiro – destinada a actos de comércio é comercial, o empréstimo
também será comercial.

Caso 3

Diana Simões
9

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


Aprecie a comercialidade dos seguintes actos praticados por Maria, proprietária de um
atelier de costura:
- Contratação de uma empresa especializada para proceder à limpeza regular do
atelier;

Será um acto de comércio? Teremos de qualificar, do lado da empresa e do lado de Maria.


Do lado da empresa (usamos em duas aceções: ao na do art 230º ou na aceção de
estabelecimento.)
Esta actividade é uma prestação de serviços, pelo princípio geral de analogia iuris de que
todas as empresas de prestação de serviços são empresas comerciais, porem também
poderíamos usar a via da analogia legis, se fosse uma prestação continuada de serviços.

Do lado da Maria, a costura é uma prestação de serviços mas há uma parte da indústria que é
excluída – art.º 230º, paragrafo 1º que prevê o artesanato. Este tem uma série de notas
caracterizadores, sempre em confronto com a indústria, onde no artesanato tem a
particularidade de cada peça ser única e os operários dominam cada fase do processo. (Ver na
parte de empresas artesanais, a matéria está melhor explicada).

Quanto ao artesanato, há uma distinção deste a nível do sector secundário (costureiro que faz
a peça de raiz, oleiro que faz a peça a partir do barro), pois refere-se á transformação,
excluída pelo 1º parágrafo do art.º 230º mas também é excluído pelo art.º 464º, nº3.
Temos assim duas normas de exclusão do artesanato no âmbito da comercialidade e este é o
artesanato de transformação mas o Dr. Coutinho Abreu entende que se deve estender ao
artesanato de serviços e aí há dificuldades porque ele considera cabeleireiros e esteticistas
um artesanato de serviços, porém, em alguns casos poderemos questionar se é artesanato ou
não.

Seja como for, artesanato de transformação é directamente excluído por estas duas normas
e quanto ao artesanato de serviço, ainda que não haja norma que o exclua diretamente e o Dr.
Coutinho Abreu exclui por analogia.

A maneira como o legislador faz esta exclusão, levanta ainda mais duvidas, através do
advérbio “diretamente” – ele está a dizer que se exerçam diretamente, não é atividade
comercial e, à contrário, se o exercício não for direto já é atividade comercial. O que é
diretamente? Nas lições, diretamente significa controlar todo o processo e aqui ainda se
inclui o supervisionamento. Então quando é que é indiretamente? Diz o Dr. Coutinho de
Abreu que é apenas quando existe uma supervisão burocrática financeira da empresa, ainda
que não perceba nada da actividade.

Nada nos diz sobre Maria pelo que teríamos de colocar as duas hipóteses, ou seja, no caso de
exercer diretamente ou indiretamente a sua prestação.

Se tivéssemos um profissional liberal, um psicólogo por exemplo, o que poderíamos dizer


da comercialidade do acto? É um prestador de serviços mas não vale quanto a ele o Princípio
geral da analogia de iuris porque, desde logo, poderemos duvidar que haja uma empresa, salvo
em áreas muito específicas (radiologia). Comércio é indústria transformadora, e prestação de
serviços
Diana Simões
10

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014

- Subscrição de uma livrança para garantia de um financiamento bancário;

As letras e livranças têm um regime próprio, e são no fundo, negócio (saque, aceite, endoço,
avale e emissão são negócios jurídicos unilaterais). São negócios jurídicos? Sim, se estiver em
lei comercial – a lei uniforme de letras e livranças substitui normas do código comercial –
art.º 9º, 15º, 31º - art.º 76º - é legislação mercantil porque estava anteriormente
regulada no Código comercial e vem assim substituir o código, através do art.º 4º da carta
de lei – pelo que é um acto de comércio objectivo. É um ato formalmente comercial - há uma
classificação – e os negócios cambiários são actos de comércio formais pois tem a ver com o
facto de estarem desprendidos de qualquer substancialidade formal.

Caso 4
Carlos, proprietário de uma empresa de mudanças, celebrou com uma sociedade de
locação financeira um contrato de leasing tendo por objecto dois veículos pesados e
arrendou um imóvel para instalar o escritório da empresa. Posteriormente, comprou pneus
novos para os camiões e foi contratado por Diogo e Sara para efetuar uma mudança.

Aprecie a comercialidade dos actos praticados e esclareça ainda se Carlos pode exigir a
totalidade do pagamento do preço da mudança a Sara.

Contrato de leasing – alguém precisa de algo de um banco então pode despender do dinheiro
para o adquirir. A pessoa sabe o que quer, vai ter com um banco e vê se há margem para
celebrar o contrato e se esta estiver disposta, a empresa compra o carro e entrega-o à
pessoa para que o use e, durante um certo tempo, a pessoa vai pagando as rendas e no final há
a opção de compra que corresponde normalmente a um valor residual. O que temos aqui no
fundo é um financiamento que se serve do sistema de locação como garantia.

A locação financeira tem uma função de financiamento. Há um diploma que regula o leasing e
teremos de ver se as normas se auto-qualificam como comerciais, o que não acontece. Iremos
pela analogia legis. Analogia legis porque, quando a sociedade de locação financeira compra o
bem, está a fazer uma compra com intenção de revenda – art.º 463º, nº1 e nº3 e no final
do contrato, mas tamos também as normas da locação das coisas móveis, previsto no código
comercial, no art.º 481º. Já vimos que na vida do contrato há a coisa comprada para se
alugar o uso e teremos mais um ponto de apoio – ora, se tudo isto tem semelhanças no
contrato de leasing e todos esses actos são mercantis, então o leasing também será um acto
de comércio porque por analogia legis estendemos a qualificação e qualificamos a legislação
sobre o leasing como lei mercantil.

Porém, também há leasing de imoveis e aí não poderemos aplicar o art.º 463º porque este se
refere a móveis. Como fazemos? Podemos dizer que o leasing é uma actividade bancária ou
uma operação de banco art.º 362º que tem uma lista que é a de 1888 e daí então para cá,
esta atividade expandiu-se enormemente. O que faremos é estender a lista de forma a incluir
nela operações bancárias como o leasing e para o fazer dizemos ser uma operação de banco
Diana Simões
11

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


por remissão do art.º 4º do regime geral para operações financeiras. Devemos entender
que o art.º 362º remete para o art.º 4º desse regime.

14 Outubro 2013

O caso nº4 dizia respeito a uma qualificação mais simples. O 1º acto era de leasing – locação
financeira – e era qualificado por analogia legis, ou seja, este tem semelhanças em vários
momentos com actos de comércio objetivos regulados no código comercial.
Isto falha para imoveis porque estes não estão previstos no art.º 461º ou art.º 463º pelo
que quando incidisse sobre bens imóveis, vamos por outra vida, ou seja, quem pode praticar o
leasing são as sociedades financeiras ou os bancos e nos sabemos que as operações de banco
são actos de comércio. O que faremos é pegar na norma do art.º 362º e dizer ser nela que
baseamos a qualificação do leasing como acto de comércio e apesar de não estar ai previsto,
com a evolução do comércio jurídico, há uma lista renovada e actualizada e dizemos que é acto
de comércio porque é uma operação de banco que pelo art.º 262º são actos de comércio e
ainda que não esteja nesta lista, esta atualmente no Regulamento Geral de operações
financeiras.

Arrendamento de Imóvel

Será de comércio se estiver previsto na lei mercantil – está previsto no código civil que tem
umas normas que se consideram mercantil – arrendamento para fins não habitacionais e auto
qualifica-se indiretamente como comercial. A maneira como essas normas regulam o
arrendamento é tão diferente que se chega à conclusão que se auto-qualificam indirectamente
como comercial.
Será a empresa de mudanças uma empresa comercial? Sim, prevista no CC, no art.º 230º,
nº7. A actividade é comercial e o arrendamento é para comerciar.

Quando o art.º 230º fala de empresas, quer significar uma serie de actos formalmente
integrados e é isso que nos faz fazer o salto para dizer que os actos ligados ao comércio são
objectivos também.

Porque faz diferença ser unilateralmente comercial? Art.º 99º - a regra é a de que mesmo
unilateralmente comerciais, aplicam-se o regime do código comercial, salvo aqueles casos em
que forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o acto é mercantil. Temos, desde logo,
a regra do art.º 100º que faz uma ressalva, e em relação a Sara e marido, vigora entre eles o
regime do código civil. Esta questão apesar de, em regra, não interessar, no caso da
solidariedade passiva pode implicar a diferença.

Comerciantes:

 Caso 0
Tendo presente o que já ficou visto nos Casos 1 a 4 da matéria dos actos de comércio,
qualifique do ponto de vista jurídico mercantil os sujeitos neles intervenientes.

Diana Simões
12

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014

Art.º 13º nº1


Capacidade de exercício e fazer do comércio profissão. A capacidade de exercício significa
que em relação aos menores e interditos tem de haver o suprimento dessa incapacidade e não
que estão inibidos do comércio. Esta norma aplica-se a pessoas singulares e a colectivas?
Aplica-se a pessoas coletivas exceto as pessoas previstas no nº2, ou seja, sociedades
comerciais porque estas não têm de preencher mais requisitos nenhuns, pois basta-lhe ser
sociedade comercial.

Como sabemos se o sujeito faz ou não do comércio profissão? Terremos de ver se o


sujeito pratica ou não actos de comércio e se o faz de forma reiterada. Não tem de ser a
principal actividade e não tem de ser todos os dias do ano, tem de ser de forma repetida como
modo de vida. No fundo, andamos sempre à procura da unidade mais pequena, o acto de
comércio.

No caso do nº2 teremos de ver se é ou não sociedade comercial e teremos de remeter para o
art.º 1º do Código das sociedades comerciais – tem de ter por objeto uma actividade
comercial, ou seja, consista na prática de actos de comércio e depois há outro requisito, que
adotem um dos tipos de sociedade presentes no código. O que nos diz qual a sociedade que
está presente é o aditamento que aparece na firma.

Nota: Não cometer o erro de só ligar à forma ou esquecer a forma pois há sociedades
anónimas que não têm objecto comercial, pois o aditamento pode não corresponder ao objecto
propriamente dito. Exemplo: uma sociedade anónima com objecto agrícola não existe, teria de
ser uma sociedade civil sob forma comercial – art.º 1º, nº4 CSC.

No que diz respeito às outras pessoas colectivas, iremos incluir as cooperativas, EPE´s, ACE’s
sempre que se puder dizer que fazem do comércio profissão, ou seja, que a actividade que
praticam se reconduz a actos de comércio. Enquanto as pessoas colectivas, nós qualificamo-las
no primeiro momento a partir do acto de constituição, nas pessoas singulares não é bem assim,
pois a aquisição da qualidade de comerciante depende de algo, aqui não se pode fixar um
momento próprio. São comerciantes a partir do momento em que se comece a exteriorizar o
plano de negócio, ou seja o propósito de fazer do comércio profissão.

Amélia Silva – Amélia tem capacidade de exercício e teremos de ver se faz do comércio
profissão. Pelo art.º 13º, temos de ver se a atividade será ou não comercial – no
supermercado a Amélia pratica reiteradamente actos de comércio pois faz compras para
revenda a vendas dessa revenda. Para demonstrar que é a profissão da Amélia poderemos ver
que ela é dona de uma empresa e isso é suficiente para dizer haver comercialidade.
Amelia é comerciante.

Fábrica de sabão do Mondego LDa - Art.º 13º - será uma sociedade comercial e agora
teremos de ver se tem por objecto actos comerciais art.º 2º do Código das Sociedades
Comercias – quanto ao tipo, será uma sociedade por quotas e para tal teremos de verificar o
art.º 200º, nº1 que é o que nos dá a confirmação de que LDA significa sociedade por quotas.
Na segunda parte, esta empresa é comercial porque se dedica à indústria transformadora e

Diana Simões
13

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


pelo art.º 230º nº1 é acto comercial.

O Sr. Manuel Dias tem capacidade de exercício mas a sua actividade não é comercial, pois
para além de não estarem previstos na legislação, são excluídos pelo art.º 230 1º e 2º
parágrafo e ainda pelo art.º 464º nº2.

Caso 2:
Irmãos a explorar a discoteca: têm capacidade e a actividade, será ou não constituída
através de actos de comércio? Esta atividade é comercial porque a actividade é uma
prestação de serviços – (ou está diretamente prevista no código e se não estiver temos a
hipótese da analogia legis ou analogia iuris). Para haver analogia tem de haver identidade entre
a norma e o caso e na analogia legis usamos a norma porque consideramos que as razões que
levaram o legislador a qualificar esta ideia de continuidade neste caso, num género, também se
aplicam à continuidade do fornecimento de um serviço. Porém, a analogia legis só se explica
quanto à continuidade de prestação de serviços mas no caso da discoteca, não há a celebração
de um contrato de fornecimento de serviços, há apenas a prestação de serviços e qualificamos
como comercial pela analogia iuris.

Quanto a estes irmãos, está aqui em causa é o requisito da profissionalidade porque um


locatário está ou não a fazer daquele comércio profissão? Sim, das lições decorre que
durante aquele tempo ele é comerciante pelo que conclui-se que são comerciantes porque são
locatários de um estabelecimento comercial e teríamos de demostrar a comercialidade do
estabelecimento através da analogia iuris.

Dono da discoteca – Osório:


Antes de dar a discoteca em locação não havia dúvidas acerca de ser comerciante e agora?
Enquanto vigora a locação ele perde a auqlidade de comerciante? Podíamos dizer que sim,
mas o Dr. Coutinho de Abreu, numa nota de rodapé, diz que o locador a ganha mas também
diz que não faz sentido que a qualidade de comerciante seja intermitente e usa o mesmo
raciocínio de um bar na praia. Ele não deixa de ser dono e quando acabar a locação manterá a
sua actividade pelo que também se diz ser comerciante. Não esquecer que para concluir isto
temos de determinar se a empresa é comercial

Banco fácil SA – art.º 13º, nº2 é uma sociedade porque tem o aditamento de SA, ou seja,
sociedade anónima pelo art.º 275º do Código das Sociedades Comerciais. Terá de
preencher os requisitos do art.º 1º, nº2 do Código das Sociedades Coemerciais. Um banco
dedica-se a operações de banco – art 362º od comercial, pelo que confere o objecto comercial
bem como o tipo de sociedade dai que e uma sociedade comercial e assim, automaticamente é
comerciante. Remissão do art.º 13º nº2 código comercial para art.º 1º, nº2 do CSC.

Pai – não há informação nenhuma, mas imaginemos que era uma pessoa que passava a vida a
afiançar dividas – se fossem sempre fianças mercantis, era este senhor comerciante? Se as
obrigações forem mercantis, a fiança é um acto acessório pelo que faz parecer ser
comerciante mas no fundo, não faz daquilo profissão pois não há nenhuma profissão de fiador
na nossa vida.

Quando falamos de o sujeito ter de fazer comércio profissão temos de ter em atenção aos
Diana Simões
14

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


actos porque nem todos têm uma associação a uma profissão e também não servem os atos
subjectivos porque para esses temos já de ter a qualificação de comerciante e é isto que
andamos à procura.

Caso 3 - D. Maria:
Art.º 13º, nº1 porque é pessoa singular. Tem capacidade mas será que faz do comércio
profissão? Ela é costureira, a sua actividade é de artesanato e esta tinha todas as
características do artesanato tradicional e daqui fez-se a exclusão desta actividade comercial
pelo que também não se irá qualificar a Maria como comerciante – art.º230º, 1º parágrafo
e art.º 464º. Porém temos o advérbio “directamente”, ou seja, controlar o processo de
produção e aqui teremos de distinguir do controlo financeiro ou administrativo pois aqui não
exercia directamente.

Caso 4 – Carlos:
Dono de uma empresa de mudanças – art.º 13º, nº1 – tem capacidade de exercício e
teremos de ver se faz do comércio profissão, para tal, já vimos que a sua actividade é
constituída por actos de comércio art.º 230º, nº7 e como corresponde a uma profissão,
podemos dizer que é comerciante.

Se Diogo e Sara fossem advogados: seriam comerciantes? O nosso ordenamento jurídico


rejeita a profissão liberal como qualificação de comerciantes. A atividade será ou não
comercial se estiver na lei mercantil e não há uma única referência a esta actividade como
mercantil e podemos dizer ainda que os profissionais liberais não têm empresas, estas são
estruturas produtivas separáveis do sujeito e o que se diz é que o exercício das actividades
liberais (predominantemente intelectuais) é insuscetível de constituir uma empresa pois a
actividade vive do sujeito que as opera, salvo alguma excepção na área de radiologia.

O princípio que diz que as empresas de prestação de serviços são comerciais não vale aqui
porque os profissionais liberais não têm empresa. O outro argumento é o de não haver
nenhuma qualificação no código e em terceiro lugar, dizemos que há tomadas de posição do
legislador que mostra querer excluir estas atividades do comércio, por exemplo, o diploma do
estatuto da ordem dos advogados, caracterizando-o como civil.

Se o Diogo e a Sara fossem advogados, não faziam do comércio profissão.

Quanto ao diploma das transações comerciais, os advogados e todos profissionais liberais


serão considerados “comerciantes” porque se consideram transações entre “empresas”,
entendidas aqui enquanto sujeito autónomo que oferece no mercado serviços e fornece bens.

21 Outubro 2013

Caso 1
Diga se são comerciantes e porquê:
Diana Simões
15

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


 A Fundação de Aurélio Amaro Diniz, cujo fim principal consiste na manutenção e ex-
ploração de um Hospital
Começaremos pelo art.º 13º e vimos logo que não cabe no nº2 uma vez que a fundação não é
uma sociedade. Teremos de usar o nº1, sendo a fundação uma pessoa colectiva de direito
privado. Porém, teremos de ver se este artigo qualifica ou não pessoas e concluímos que
qualifica e refere-se a pessoas quer singulares, quer colectivas, ainda que não seja pacífi-
co, há quem entenda não qualifica pois refere-se a profissões e as pessoas colectivas não
exercem uma profissão. No entanto, para quem defende a outra posição entende que no
art.º 14º o legislador utiliza a expressão profissão indistintamente, pelo que qualificamos
esta fundação pelo art.º 13º, n º1.

Vejamos agora os actos que pratica: esta função dedica-se à manutenção e exploração de um
hospital e ainda que pensemos neste como serviço público, sempre poderemos qualificar
estas prestações de serviços como comerciais. O Dr. Coutinho de Abreu qualifica esta
actividade como comercial pela via da prestação de serviços.
Em função disto, temos uma pessoa colectiva que faz do comércio profissão e parece uma o
conclusão lógica, porém não é, há aqui uma “areia que não permite esta conclusão”, a funda-
ção não é comerciante pelo art.º 17º, que nos diz quem é que está impedido de adquirir
este estatuto, ainda que verifiquem os requisitos. Este artigo terá de ser interpretado
como Estado e pessoas coletivas públicas, sendo elas de base territorial, sejam de base
institucional ou de base associativa. O parágrafo único da norma é interpretada hoje como
dizendo respeito às fundações porque de acordo com a definição legal, têm de visar um fim
de reconhecido interesse social mas não só, estas pessoas colectivas que este parágrafo
quer abranger são aquelas que na teoria geral do direito civil, as pessoas colectivas de di-
reito privado de fim desinteressado ou altruístico, uma categoria preenchida por duas ca-
tegorias de pessoas colectivas, sendo por um lado as fundações como as associações que
poderem cair nesta categoria, ou seja, fins desinteressados.

Aplicando isto ao nosso caso, a fundação é ou não comercial sendo a fundação sempre de fim
desinteressado ou altruísta, esta fundação não é comerciante porque, pelo art.º 17º é-
lhe proibido a qualificação de comerciante ainda que pratique actos comerciais.

Se esta empresa fosse explorada por uma pessoa singular ou por uma sociedade poderíamos
atribuir-lhe a qualidade de comercial.

 A CP - Comboios de Portugal, E.P.E., responsável pela prestação de serviços de


transporte ferroviário nacional e internacional de passageiros;

Pelo art.º 13º a CP, EPE não é uma sociedade comercial. Esta é uma entidade pública empre-
sarial de direito público. Falta dizer que este artigo se aplica a todas as pessoas colectivas
publicas exceto às EPE’s, pelo Dr. Coutinho de Abreu, pois diz-se que seria um contras-

Diana Simões
16

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


senso que o sector empresarial do Estado não pudesse adquirir esta qualidade, quando as
empresas fossem comerciais. Teremos de ultrapassar a letra da lei com argumento de ba-
se histórica porque em 1888 o legislador não previa se quer estas EPE’s ao ponto de as ex-
cluir, e que se fossem previstas, teriam sido ressalvadas.

Não haverá então obstáculo se esta actividade for comercial e aqui basta-nos ir ao art.º
230º nº7 que diz que as empresas comerciais de transporte por terra, neste caso, prati-
cam actos de comércio. Assim, cumpre os dois requisitos porque faz desta actividade a sua
profissão pelo que é uma empresa comercial.

 A CESPU – Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário, CRL; que ex-


plora quatro estabelecimentos de ensino superior particular e cooperativo: o Instituto
Superior de Ciências da Saúde – Norte, o Instituto Politécnico de Saúde do Norte, a
Escola Superior de Saúde do Vale do Ave e a Escola Superior de Saúde do Vale do
Sousa (estas duas últimas pertencem ao Instituto Politécnico

Nota: donwload do código cooperativo. Art.º 13º nº1 pois hoje as cooperativas já não são
consideradas sociedades. Assim, teremos de ver se pratica actos comerciais e se faz deles
profissão. Os colégios e as universidades são considerados prestações de serviços e o es-
tabelecimento de ensino é comercial pelo Princípio geral de que todas em empresas de
prestação de serviços são comerciais, pela Analogia Iuris. Assim, a cooperativa é comercial

 A Associação para a Defesa da Gastronomia Alentejana, que mantém um lucrativo


restaurante aberto ao público em geral
Art.º 13º, nº1. A actividade dos restaurantes será a de prestação de serviços, que pelo
Princípio geral de Analogia Iuris, é considerada comercial. Há aqui uma norma a impedir
que esta empresa seja qualificada como comerciante – art.º 14º - porque esta associação
tem um fim interessado ou egoístico. Quanto a este artigo, no nº2 temos impedimentos a
pessoas e no nº1 temos impedimentos a associações de direito privado porque nenhuma as-
sociação tem fins materiais, quer o fim seja egoístico ou altruístico. Há assim uma sobre-
posição entre normas entre esta e o art.º 17º mas não é problemático.

Poderá esta associação explorar empresas comerciais? Dentro da actividade do quadro ge-
ral da associação, esta serve para um fim próprio da associação e as receitas auferidas se-
rão destinadas para o fim da associação e não para distribuir pelos associados.
Neste caso, poderemos dizer que a exploração do restaurante é uma fonte directa de recei-
tas e prossegue-se directamente o fim da associação uma vez que a associação é de gas-
tronomia e nada melhor do que a restauração para provar os pratos. Não faria assim senti-
do que as associações não pudessem explorar essas empresas, uma vez que promovem os
fins da associação.

Diana Simões
17

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


Porém, teremos de ter cuidado porque se a exploração não fosse de promoção à gastronomia
alentejana e fizesse pizzas, estaria a violar o Princípio da especialidade do fim e os seus
actos são nulos porque não há capacidade de gozo. Será comerciante? Não porque se os
actos são nulos, não usaremos a qualidade de comerciantes com actos nulos, além de que
está a violar directamente a norma do art.º 14º.

O que aconteceria à associação? Quando as pessoas colectivas de direito privado violam o


seu fim, prosseguindo uma actividade que viola a que lhes foi atribuída, são extintas, por
decisão do Ministério Público.
As associações podem ou não explorar empresas comerciais, mas não é obrigatório.

 Caso 7
Os pais de Dinis, na qualidade de representantes do filho, adquiriram, há cerca de três
anos, um estabelecimento que se dedica à venda de peças de artesanato local. Pouco
tempo depois, venderam a Elvira, médica, vários objectos para a decoração da sua casa.
Elvira até hoje não pagou o preço devido. Quid iuris?

Quando o caso tem uma pergunta de alguém não ter pago. Lista mental: Para que interessa
qualificar os sujeitos como comerciantes? Obrigações do art.º 18º; art.º 15º
comerciantes casados; prescrição.
O prazo geral de prescrição é de 20 anos. Art.º 317º b) Código Civil e para tal apenas
poderá invocar esta prescrição se os vendedores forem comerciantes e comprador não
comerciante, ou seja, não destine a compra para o comércio.

O vendedor das peças será a criança representada pelos pais. A criança é comerciante? Não,
pelo art.º 13º esta não tem capacidade de exercício. Porém a sua incapacidade está
devidamente suprida pela representação do menor. Resta ver o requisito da profissão e
concluir se a actividade é ou não uma actividade comercial. Fala-se de artesanato mas falamos
de alguém que compra o artesanato para revenda e revenda do que se comprou com essa
intenção, pelo que é uma actividade comercial

Falta verificar a Elvira, esta será comerciante? Não, a lei não prevê a profissão liberal
como comércio pelo que não se deve considerar comercial e alem disto, para que haja analogia
iuris originando um principio geral, teremos de ter normas que agrupadas levem a ele e não
encontramos uma única norma associada a estes profissionais que nos levem a constatar tal
princípio e, finalmente, o princípio é construído como as empresas de prestações de serviços
não comerciais e os profissionais liberais não são empresas.

Concluindo, o prazo de prescrição é de 2 anos devem ter passado quase 3 anos pelo que se

Diana Simões
18

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


aplica a prescrição, a divida prescreveu e poderá ser invocada.

 Caso 8

Fátima decidiu recentemente abrir um cabeleireiro na sua cidade natal e pretende saber
se tem de adoptar uma firma. Que lhe responderia?

As firmas e denominações são sinais distintivos de sujeitos. A diferença entre firma e


denominações é que a lei, em alguns casos, usa como expressão a firma e noutros usa a
denominação. A distinção tradicional passava pela qualificação de comerciantes pois os
comerciantes adoptavam firmas e os não comerciantes, denominações porém, já há exceções
que não confirmam a regra. Exemplo: Art.º 1º nº4, deixa que haja sociedades civis sob
forma comercial, ou seja, não é comerciante e pode adptar uma firma. Ainda no caso de
denominações, podemos encontrar não comerciantes com firmas, por exemplo as cooperativas
mas há cooperativas que são comerciantes e continuam identificadas por uma denominação.
(ser rigoroso e dizer a firma da sociedade e a denominação da associação pelo rigor.)

Uma das obrigações dos comerciantes é a adoção de uma firma, pelo art.º 18º, nº1. Se ela
for comerciante, estará obrigada a adoptar uma firma.

Art.º 13º, nº1 – Teremos de saber se a actividade estará ou não excluída da comercialidade
ainda que seja prestação de serviços. Teremos de ver se esta prestação de serviços não seja
artesanato de prestações, a professora julga que fuja ao artesanato mas o Dr. Coutinho de
Abreu inclina-se por ser o artesanato de profissão, e se nesse caso fosse artesanato
teríamos de ver se é ou não diretamente exercida, devido ao adverbio do artigo 230º,nº1 e
art.º 464º nº3 . Se não fosse comerciante, poderia adoptar a firma mas não estava obrigada
a fazê-lo.

28 Outubro 2013

 Caso 2
Joaquim Alves das Neves, emigrante recém chegado de França, que tem estado a
levar a cabo diligências no sentido de montar uma empresa de catering e de entrega de
refeições ao domicílio no distrito de Coimbra (considerando também a hipótese de,
posteriormente, expandir a sua actividade aos distritos de Aveiro e Leiria), consulta-a(o)
para saber:

(a) Se tem de adoptar uma firma;

Diana Simões
19

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


Teremos de saber se é ou não comerciante porque se for, é obrigado a adoptar a firma pelo
art.º 18º código das sociedades comerciais.
O problema aqui seria ver a partir do momento em que adquire a qualidade de comerciante.
Aqui terá de manifestar essa intenção através de actos concretos suficientes a exteriorizar
que pretende dedicar-se ao exercício da actividade, pois à partida ele será comerciante pois
faz da sua actividade profissão e pratica actos objectivos através da analogia iuris através do
Principio Geral de que a prestação de serviços é comercial

(b) Se pode adoptar como firma “Joaquim das Neves”, atendendo a que Joaquim
Ferreira das Neves, dono de um restaurante em Coimbra, já registou como firma
o seu nome próprio abreviado.
Temos dois problemas: primeiro o saber se ele pode usar como firma o nome abreviado e o
segundo problema diz respeito a uma outra firma que já esta registado.
1ª Regras de composição das firmas:
Art.º 36º e ss do RRNPC
Nota: art.º 43º fazer lista de normas nesta margem onde se determina a composição das
firmas de outras pessoas colectivas – remissões; art.º 37º remeter para art.º 200º; art.º
275º das sociedades comerciais

Art.º 38º, nº1 – a regra é que da firma de comerciante individual deve obrigatoriamente
constar o seu nome, com a ligação do núcleo da firma. Depois podem fazer-se uma serie de
aditamentos como alcunha ou expressão alusiva à actividade exercida. Ainda no nº2 é possível
ou deve conter a referência de sucessor ou herdeiro de, principalmente nos casos de
transmissão de estabelecimento. No nº3 diz que se podem usar títulos académicos e a
abreviação n pode referir-se a um só vocábulo salvo se (continuar).
Quanto a Joaquim, ele pode usar este nome na firma pois respeita o art.º 38º quanto às
regras de composição. Falta ver o 2º nível que diz respeito aos princípios que a firma
composta tem de respeitar.

Princípio da unidade diz nos que cada comerciante só pode ter uma firma e só fazia sentido
teorizar mais do que uma firma para um comerciante individual. Para as pessoas singulares é
uma obrigação que sobre elas recai se forem comerciantes ou possibilidade para o caso de não
serem comerciais mas para as pessoas colectivas. A firma ou denominação tem um papel mais
importante porque a firma ou denominação das pessoas colectivas é a sua representação, ou
seja, o nome sinal de identificação. Porque está esta matéria tratada não no código de
propriedade industrial e no RRNPC? O legislador criou este serviço de registo que funciona
como espécie de registo civil das pessoas colectivas e como a matéria das firmas das pessoas
singulares era uma matéria muito pequena, por economia processual, decidui-se manter neste
diploma também essa matéria.

Princípio da verdade: as firmas têm de ser verdadeiras


Diana Simões
20

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014

Princípio da capacidade distintiva – tem de haver capacidade de distinção. Aqui pensa-se a


firma em si que aplicada a um dado sujeito, tem de se conseguir distinguir. Exemplo: no caso
das marcas, estas distinguem produtos, e se a marca para os ovos é “Ovo” não distingue, mas
se fosse “Ovo” um detergente, já o distinguiria. No caso de “sociedades de seguros”, para uma
sociedade de seguros, isto não distingue o que se está a identificar. É necessário que algo
sirva de distinção

Princípio da Novidade - a firma número 1 tem de ser distinta da número 2.

Princípio da exclusividade – tem de haver novidade porque a partir do momento em que uma
firma está registada, nasce um direito exclusivo e é para proteger a exclusividade que a firma
tem de ser nova.

Princípio da Licitude residual – serve para respeitar dadas regras que não têm dimensão e
abrangência de princípio autónomo.

Joaquim tem algum problema em ter registado o seu nome próprio abreviado?

Está em causa o Princípio da Novidade, e parece que se levanta um problema quanto à


novidade. No RRNPC, o art.º 35º diz que após o registo definitivo (as firmas têm de ser
registadas) é conferido o direito ou uso exclusivo (…) significa que a partir do momento em
que há registo, o titular do direito tem o uso exclusivo. O direito à firma poderia ser visto
como um direito de personalidade e há quem o veja assim porque funciona para as pessoas
colectivas como funciona o direito ao nome da pessoa singular, mas há aspectos que diferem
muito do próprio direito ao nome: este pode ser extinto, não é inalienável nem irrenunciável.

O direito à firma não se pode construir, contudo, como direito de personalidade, esta
conclusão é retirada da lei. Não sendo um direito de personalidade é um direito real pois é um
verdadeiro direito de propriedade apenas com a diferença de não ser um direito corpóreo. A
construção mais adequada é de que a firma é uma coisa incorpórea sobre o qual incide um
direito análogo aos direitos reais, o direito de uso exclusivo, sendo uma coisa incorpórea.
Perturbar o domínio significa apropriar-se das vantagens da coisa incorpórea usando uma
firma confundível, daí o Princípio da exclusividade nos dizer que tem como complemento o
Princípio da novidade para que não haja uma violação do direito sobre a firma e para tal
necessita-se que a firma registada posteriormente não seja confundível com a firma já
registada.

Art.º 33º RRNPC – as firmas e denominações devem ser distintas. Tudo isto vale, voltando
ao art.º 35º no âmbito territorial especialmente definido (…), isto é, para certas entidades,
a proteção é para todo o território nacional mas para outras entidades é apenas uma proteção
sectorial.

Diana Simões
21

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


A primeira resposta a dar é que se for só protegida por uma determinada região, se calhar o
Joaquim das Neves número 2 não pode. Contudo, há um problema aqui, art.º 38º, nº4 –
aqueles que não usem como firma apenas o nome tem o uso exclusivo no âmbito do concelho
onde se encontra o estabelecimento principal. À contrário, se usarem como firma apenas o
nome, não têm o direito exclusivo e perdem o direito de impedir que outros utilizem o sinal
distintivo idêntico.
A lei aqui suprime uma dimensão importante do Principio da exclusividade, devido a uma
proteção civil ao nome, ou seja, a proteção do direito ao nome terá consequências pois em
casos de homonímia, (nomes iguais) do ponto de vista do direito comercial e direito das firmas
seria intolerável que alguém não usasse o seu nome só porque alguém com o mesmo nome já
criou assim uma firma.

Para se salvaguardar o direito ao nome, cai o Principio da exclusividade quando a firma for
apenas constituída pelo nome.

O Sr. Joaquim pode, de facto, criar uma firma com o mesmo nome, porém, se nos atentarmos
na proteção do primeiro Sr. Joaquim, este quanto ao RRNPC não se pode defender, porém o
ordenamento jurídico dá-lhe certas armas, desde logo, a parte da origem do problema que
emerge da tutela do direito ao nome – em termos de direitos de personalidade tem como
conteúdo poder usar o nome e evitar que outros o usem ilicitamente. No direito civil há uma
norma que prevê conflitos de direito ao nome – homonímia – que serve para resolver estes
conflitos, nomeadamente art.º 72º, nº2 – que nos diz que não se pode usar o mesmo nome
com intuito de prejudicar a pessoa que já usou nome idêntico e quando isso acontecer, o
tribunal decretará providências que, segundo juízos de equidade, resolvam o caso concreto.

Esta linha de defesa podia implicar que o 1º Joaquim fosse a tribunal pedir determinadas
providências de equidade, nomeadamente, o pedido de alteração da firma com aditamentos
que se tornassem distintivos. Podia também pedir que o 2º introduzisse alguma referência na
publicidade e explicar que era uma coisa nova, ou então, em vez de ser aditamento, que
utilizasse como firma o nome completo e não fazer a abreviação da firma.
Em alternativa, seria também possível recorrer à concorrência desleal, ilícito previsto no
código de propriedade industrial previsto no art.º 317º onde se se conseguisse provar que o
2º estava a fazer concorrência desleal ao 1º ao usar um regime totalmente confundível, a
reação podia ser feita por intermedio dessa cláusula geral.

(c) Se tem alguma vantagem em escolher uma firma diferente.

Se se mantiver na sua primeira opção, não tem direito de exclusivo e se acrescentar algo mais,
tem direito de exclusivo no conselho relativo ao estabelecimento principal.

Diana Simões
22

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


 Caso 3
Deverá o RNPC emitir certificado de admissibilidade de firma ou denominação:

(a) “Associação dos Tecidos e Lanifícios de Braga”, pedido por uma sociedade anónima
cujo objecto consiste na exploração de indústria têxtil;

Art.º 275º - falta-lhe um elemento, “SA”. A sociedade pode ter uma firma-nome; firma-
denominarão ou firma mista mas falta-lhe o aditamento relativo ao tipo de sociedade. Neste
caso é uma firma-denominação e quanto ao resto respeita o conteúdo do art.º 275º do
código das sociedades comerciais.
Quanto aos princípios, pode estar em causa o Princípio da verdade pois esta firma induz em
erro quanto à caracterização do sujeito. Art.º 32º RRNPC – neste caso falha a verdade
quanto à identificação da natureza jurídica pois não é uma associação mas uma sociedade.
Falta aqui também o art.º 10º do código das sociedades comerciais.

No nº2 diz-se que a parte da firma que se refere ao objecto ou atividade ou mesmo quando
em causa esteja uma expressão de fantasia, não pode induzir em erro e sugerir objeto social
diferente.

O nº4 a) é a norma que enquadra especificamente o nosso caso. Na al b) tudo o que seja
enganador e se afaste da verdade quanto às características do sujeito, falta ao princípio da
verdade.

No nº5 há uma “mentirinha” admitida pelo legislador, ou seja, está em causa a firma-nome, ou
seja, que incluem nomes, e nesses casos, quando a pessoa era socia, tinha o nome na firma e
depois saiu, esta firma deve ser alterada no prazo de um ano, a não ser que o associado ou
sócio ou herdeiro do que faleceu, consintam por escrito a manutenção no nome do socio que já
la não está. O legislador admite esta mentira pois ao desproteger o interesse da verdade está
a proteger a clientela pois a firma é um colector de clientela que é a fonte de rendimento.
Assim tutela-se, desta forma, o valor patrimonial desta firma. É certo que permanece que a
firma não irá exprimir com correção a verdade da firma porque o sujeito que dá o nome à
firma já não está presente.

Se se tratar de uma sociedade em nome colectivo, os sócios respondem e quem não for socio e
tiver o nome na firma da sociedade também responde pelo que não será uma boa ideia manter
o nome na firma.

Voltando ao caso, este padece de dois problemas, um ao nível da composição e o outro pelo
Principio da verdade, pela art.º 32º, nº1 e nº4 al a) e ainda art.º 10º código das
sociedades comerciais

Diana Simões
23

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


(b) “Fulgor do Acaso, S.A.”, pedido por uma sociedade anónima que tem por objecto
a produção de cabos de aço;

Escolheu-se aqui a denominação particular, mas esta é inteiramente constituída por


expressões de fantasia unicamente e há uns anos atras não seria possível mas começou-o a ser
a partir de 2005/2006. Porquê esta alteração? Antes, quando se via uma firma de uma
sociedade, conseguíamos logo identificar a que se destinava a empresa porque ou havia uma
firma-nome ou se era denominação, exigia o art.º 10º do que houvesse sempre uma
referência ao objecto, ou seja, uma ligação estreita entre a firma e a sociedade. A partir de
2005/2006, isto deixou de ser assim porque nesta altura criaram-se dois regimes muito
importantes, os da empresa na hora e o da empresa on-line, ou seja, constituição imediata e na
on-line de sociedades, respectivamente. Isto foi um progresso notável pois o sistema anterior
demorava muito, sendo o processo que mais demorava o processo de certificado
admissibilidade da firma e para criar uma sociedade em 24h não se pode ser tão criterioso e
agora, vai-se a uma lista e escolhe-se uma das firmas pré-determinadas e para que isto poder
ser célere, teria de ser composto com expressões de fantasia. Esta busca à base de dados só
pode ser usada em sociedades anónimas e por quotas ou então associações.
Esta firma é admissível, desde de 2005, pois antes desta data, o art.º 10º nº3 do código
das sociedades comerciais proibia-o.

(c) “Mescla De Perfumes, Aromoterapia, Lda” pedido por uma sociedade por quotas
que tem por objecto o tratamento de resíduos.

Art.º 32º RRNPC – esta firma ainda que bem constituída, viola o Principio da verdade pois
dá-se a entender que se dedica a aromoterapia, esta trata de resíduos, ou seja, entra em
choque. Porém, suponhamos uma segunda hipótese, e que apenas existia “mescla de perfumes”,
pelo art.º 32º nº2, teríamos de pensar se ainda assim, viola ou não o Princípio da verdade,
pois mesmo quando sejam expressões de fantasia, não podem sugerir uma atividade diferente.

Para as firmas-denominação com uma expressão completamente neutra, esta não viola o
Principio da verdade porque como não sugere nada, também não sugere coisa diferente.

04 Novembro 2013

 Caso prático 4:
Pronuncie-se quanto à suscetibilidade de confusão das seguintes firmas:

Estará aqui presente o Princípio da Novidade do art.º 33º do RNRPC, que é diferente da
capacidade distintiva. Para sabermos se as outras firmas são ou não novas, teremos de as
Diana Simões
24

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


confrontar com a firma registada e protegida daí associarmos o Princípio da novidade com a
exclusividade. Firmas novas significam não se confundir, ou seja, tomar uma por outra.
Pensamos também nas situações em que alguém, tendo uma firma presente, confronta-se com
a segunda firma e sem ter a primeira, quando vê a segunda, há a suscetibilidade de confusão e
pensar ser a primeira. Pode também haver uma confusão mais mitigada e não total onde não as
confunde mas entende que, na cabeça do público médio, estas possam ter uma certa ligação
entre si. Fala-se, então, de confusão ou suposição de ligação.

Há firmas confundíveis porque, graficamente, são muito semelhantes, mas também do ponto
de vista fonético.
Art.º 33º RNPC – princípio da novidade e como se sabe, pelo art.º 35º, a exclusividade
pode ser geograficamente restrito. Para comerciantes individuais, a área exclusiva é mais
restrita. Na maior parte das sociedades não nos preocupamos com a parte exclusiva porque
abrangem o território nacional. O nº2 do art.º 33º diz o que ter em conta no juízo de
novidade.

Teremos de saber se este Princípio da novidade vale ou não para sujeitos que não são
concorrentes. As firmas são sinais distintivos, ainda que haja outros e para esses outros, este
princípio tem um travão, travado pelo princípio da especialidade, por exemplo, dentro da
matéria das marcas estas também respeitam o Princípio da Novidade mas só vale para
produtos concorrentes e que, de alguma forma, sejam sucedâneos (se um regista a marca Dove
para chocolates, outro não pode registar a mesma marca, mas em shampoo já pode ser
registada porque respeita o Princípio da novidade, uma vez que os produtos são diferentes).

As firmas, em relação aos sujeitos, têm uma função de identificação mais intensa, pretende-
se não só distinguir perante o público – os seus clientes, mas de uma forma geral. Pode
acontecer duas firmas com o mesmo nome em objetos diferentes e serem envolvidas numa
série de confusões que se respeitam a uma e repercutem transtornos na outra pois, muitas
vezes, não é sensível para os clientes perceber de qual exatamente e está a falar.

Porque a firma tem uma função de identificação muito importante, parece que, ainda assim,
vale o Princípio da novidade e a segunda firma tem de ser nova. Desta forma, o nº1 do art.º
33º serve para sermos mais ou menos rigorosos porque, quanto mais próximas forem as
actividades, mais rigorosos poderemos ser quanto à confundibilidade.

(a) "Exclusimóvel-Sociedade de Mediação Imobiliária, Lda" e "Exclusivo - Sociedade


de Mediação Imobiliária, S. A."

A actividade é a mesma, mediação imobiliária pelo que teríamos de ser mais rigorosos, e, desta
forma, iriamos rejeitar a nova firma porque são muito confundíveis em termos de grafia e
fonética. A única coisa que as distingue é o tipo de sociedade mas que para o efeito não é

Diana Simões
25

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


relevante.

(b) "Altis-Sociedade de Empreendimentos Turísticos e Hoteleiros, SA" e "Altis -


Viagens e Turismo e Lda".

Coração da firma – núcleo.


Temos um elemento forte de confundibilidade, o Altis, que é o que funciona como firma
oficiosa. As actividades não serão as mesmas exatamente mas estão no mesmo sector.

(c) “Sitel - Sociedade Instaladora de Tubagens e Equipamentos, Lda” e Sitel


Portugal Tele-serviços - Serviços Telefónicos, SA”

Sitel é uma sigla e esse núcleo irá funcionar como firma oficiosa.

Aqui a actividade é completamente diferente e a parte da firma relativa à actividade também


é diferente mas a firma oficiosa é exatamente igual, além de ser uma sigla, que tem uma
enorme capacidade distintiva e é única para identificar aquele sujeito. Neste caso, talvez se
admitisse as duas decisões.

Muito curiosamente, há decisões para todos os gostos mas em relação à questão do coração da
firma, o que normalmente vale por conceito ou prejuízo dos decisores é que a segunda escolhe
uma firma oficiosa parecida com a primeira para retirar algumas vantagens e provavelmente
será assim. Neste caso não parece evidente. Mas há casos em que o preconceito não se
verifica mas têm sido admitidas firmas com núcleo caracterizante muito semelhante. Em
termos de confundibilidade, não temos de atender à reputação porque ainda não teve tempo
de influenciar.

Princípio da capacidade distintiva – dizer que se tem de distinguir uma das outras é o
Princípio da novidade, na capacidade distintiva pegamos na firma e no sujeito e vemos se a
firma tem ou não suscetibilidade de distinguir aquele sujeito de um outro sujeito “exemplo:
sociedade conimbricense limitada – conimbricense há muitas” – as palavras de qualidade
genéricas em firmas compostas exclusivamente por isso não têm capacidade distintiva e isto
vem regulado no art.º 33º, nº3. O raciocínio feito é a aptidão para distinguir um sujeito dos
demais sujeitos, devendo associar á originalidade, ainda que não exagerada. Todas as firmas
compostas por nomes têm capacidade distintiva e aí considera-se que tem capacidade
distintiva.

 Caso 5
Nuno pretende comprar por bom preço a Olavo, dono de um conhecido café, a sua firma
«Olavo Santos, Cafetaria». Olavo, a quem o dinheiro faz falta para remodelar as

Diana Simões
26

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


instalações, está inclinado a aceitar a proposta. Como o aconselharia?

É um caso de transmissão da firma, art.º 44º RNPC. Se começarmos pelo nº4, temos um
problema porque ele quer transmitir a firma para usar o dinheiro e não pode ser. Este art.º
44º é um dos artigos que nos leva a concluir que o direito sobre a firma é patrimonial, pois é
suscetível de transmissão e alienação pois a firma é vista como coletor de clientela e adquire
no comércio jurídico um valor.

Todavia, por uma questão de proteção da clientela, diz-se que se a firma passa de A para B
também o estabelecimento tem de passar para B, de modo a que a clientela possa manter-se.
Ou seja, é transmissível mas exige que vá consigo o estabelecimento.

O negócio teria de ser celebrado por escrito, art.º 44º, nº1 parte final. A lei permite que o
Nuno use o nome do Olavo na firma mas, ainda assim, tem de fazer uma “firma comboio” e
aditar o seu nome. Isto pode ter alguma eficácia na atracão de clientela mas não é a mesma
coisa, perde-se o interesse.

 Caso 10 (insolvência)
A Fundação de Aurélio Amaro Diniz (cfr. caso prático 1) recusa-se a pagar uma avultada
dívida que tem junto de Equipamédico, SA, fornecedores de material hospitalar,
alegando que a última remessa de material não se encontra em condições de ser utilizada.

(a) Pode a Equipamédico, SA, pedir a declaração de insolvência da Fundação?

Sempre que é perguntado isto, temos de ver 3 coisas:

 Se A tem legitimidade activa, (pode pedir)

 Se B tem legitimidade passiva, (pode ser declarado)

 Se há ou não fundamentação para declaração de insolvência.

Art.º 2º- uma fundação é uma pessoa colectiva, sujeito de direito, pelo que uma fundação
pode ser declarada insolvente, art.º 2º, nº1 a).

Quem tem legitimidade activa? Ou é o próprio devedor que se apresenta á insolvência, art.º
18º CIR ou então um conjunto de pessoas previstas no art.º 20º. Normalmente é requerida
pelos credores.

Art.º 20º, nº1 a) quem é legalmente responsável é uma noção especial – remissão para art.º
6º do CIR, que explica quem está aí incluído. Os credores e o Ministério Público também pode
requerer. No nosso caso temos um credor da fundação.

Diana Simões
27

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


Teremos de ver se há ou não situação de insolvência e a terminologia da lei diz há que há situ-
ação de insolvência, que é o pressuposto geral art.º 3º, nº1 e pressupostos especiais nº3 e
4. O nº 2 é o desenvolvimento do nº1 (situação de insolvência; desencadeado processo de
insolvência; declaração de insolvência - cronologia)

Nº1 – impossibilitado de cumprir obrigações vencidas – está em causa o fluxo de caixa ou fal-
ta de liquidez – este critério é o adotado porque, tradicionalmente, é o da situação mais nociva
pela cessação de pagamentos. Alguém pode não ter liquidez e ter um activo superior ao passivo
no caso de bens imóveis, mas não há dinheiro para os pagamentos,

Remissão do art.º 3º, nº1 para art.º 20º al a) e b) – são presunções legais com função no
âmbito de processo de insolvência e ajudam a concretizar quando alguém está impossibilitado.

Na al a), se alguém deixou de pagar, presume-se que não tem como pagar se cessa a generali-
dade de pagamentos e na al b) presume-se que a falta de pagamento revela a impossibilidade
de pagamento

No nº2 do art.º 3º diz-se que para certos sujeitos passivos (pressuposto especial) as pesso-
as colectivas e patrimónios autónomos (referidos no nº2 – heranças e EIRL) que respeitem a
condição que vem a seguir – tem de ser patrimónios autónomos e pessoas colectivas por cujas
dívdas não haja pessoas singulares a responder ilimitada e pessoalmente nestes termos, ou
seja, principalmente nas sociedades anónimas e por quotas. Estão insolventes quando o seu
passivo seja manifestamente superior ao seu activo; património é o conjunto de relações jurí-
dicas avaliáveis em dinheiro – (há dois polos: positivo – titular de direitos reais e crédito e
polo negativo - dívidas). Se o passivo for superior significa que há mais dívidas do que direitos
de crédito e, para isto, nada vale argumentar que se consiga cumprir o pagamento das dívidas
pois estas sociedades em que os sócios gozam do benefício de responsabilidade limitada, não
são devimente sancionadas em algumas situações.

O nº3 vem permitir que que a sociedade mostre o seu “verdadeiro rosto” – e sejam avaliadas
pelas seguintes regras. Se um credor pega no balanço da sociedade, uma das defesas da soci-
edade é referir que este balanço não estava bem feito.

O último pressuposto de insolvência especial vale apenas quando o sujeito activo é o devedor.
Se for o devedor ele pode antecipar as coisas, ao contrário os outros sujeitos activos que
apenas o podem fazer quando a situação é actual, isto é, quando o devedor nota que a situação
de passivo superior será iminente, pode ele próprio preferir apresentar-se à insolvência, pois
esta não tem só consequências negativas uma vez que há mecanismos de recuperação que po-
dem ser mobilizados em processo de insolvência. O ideal será dar início ao processo de insol-
vência antes de a situação estar em nível irrecuperável.

No nosso caso, não há uma impossibilidade de incumprir mas uma decisão voluntaria de cumprir
numa situação de litígio alegando cumprimento defeituoso.
Diana Simões
28

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


(b) No decurso de um eventual processo de insolvência, teria algum relevo o facto de
a Fundação não ser comerciante ou de explorar uma empresa?

Ser ou não ser comerciante já foi muito importante porque quando se chamava falência dizia-
se falência para comerciante e insolvência para não comerciantes, mas hoje a qualidade de
comerciante é totalmente irrelevante. O facto de o devedor ser titular de uma empresa pode
trazer uma importante porque há certas soluções do CIR que só são aplicadas quando o deve-
dor tenha uma empresa – art.º 18º, nº2. (Não estão sujeitas a este dever as pessoas singu-
lares que não sejam titulares de uma empresa – isto é, não violam a norma do nº1, ou seja, a
obrigatoriedade de se apresentar à insolvência).

(c) No último balanço da Equipamédico, SA, constata-se que esta sociedade tem um
passivo superior ao activo. Pode o credor Infortudo, Lda., pedir a declaração de
insolvência daquela sociedade anónima?

1º Legitimidade passiva: Equipamédico SA – pessoa colectiva art.º 2º, a) pode ser declara-
do insolvente; legitimidade activa: o redor tem legitimidade – art.º 20º.

Está-se a alegar o critério da folha de balanço, nº2 e teremos de ver se é viável este critério
para certos sujeitos e aqui verifica-se o critério especial pois era uma sociedade. Teremos de
ver se há manifesta superioridade e o caso não nos diz. Terá de se apurar se há o não passivo
manifestamente superior ao activo e, havendo essa superioridade, cabe ainda provar ao deve-
dor se as contas estão devidamente bem elaboradas ou não.

(d) Se a Equipamédico, SA, vier a ser declarada insolvente, quais as consequências a


que ficam expostos os respectivos administradores?

A declaração de insolvência tem muitas consequências, aliás, elas apenas nascem após a
declaração. O processo de insolvência, quer a satisfação do interesse dos credores, seja
liquidando (conversão em dinheiro para pagar), seja por outra forma, é possível a aprovação de
um plano de insolvência, que pode visar a liquidação em termos especiais como a recuperação
da empresa.

Estas consequências quanto aos administradores - geram uma incompatibilidade para o


exercício do comércio, mas apenas quando a insolvência for considerada culposa (art.º 186º
CIRE – quando a situação do art.º 3º tiver sido criado ou agravada em função da actuação
dolosa ou com culpa grave nos 3 anos anteriores ao inicio do processo de insolvência – esta
norma dirige-se a pessoas colectivas e aí faz sentido falar-se dos devedores). A culpa é dolo
ou culpa grave e não negligencia.
As consequências disto estão no art.º 189º, sendo que nos interessa no direito comercial a
da alínea c).

A insolvência culposa determina a inibição do comércio das pessoas afectadas num período de
2 a 10 anos. O que acontece se violarem esta proibição? Vimos nas outras incompatibilidade
Diana Simões
29

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


que se eles violassem a proibição, estavam postos a sanções mas do ponto de vista do direito
comercial adquiriam a qualidade de comerciante. Não é assim neste caso, pois se a pessoa
afectada viola a proibição de se dedicar ao exercício do comércio e o exerce não adquire a
qualidade de comerciante porque esta proibição leva a querer afastar estas pessoas para
proteger o comércio – é uma singularidade dentro das incompatibilidades.

11 Novembro 2013

 Empresas:

MATÉRIA: Das empresas

Caso 1

Álvaro vendeu o seu estabelecimento a Branca, por um valor considerável. No documento


nada foi dito quanto i) ao prédio (pertencente a Álvaro) onde o estabelecimento funciona;
ii) à carrinha, afecta ao transporte de material, sobre a qual incide um contrato de
locação financeira; iii) aos créditos emergentes da venda de mercadorias. Branca
pretende saber se lhe foi transmitida a disponibilidade do prédio e da carrinha e se pode
cobrar a quantia em dívida.

Que lhe responderia?

LEGISLAÇÃO: CCiv; CPI, Decreto-Lei n.º 149/95 (locação financeira).

O trespasse é a transmissão do estabelecimento por acto inter vivos, a transmissão


definitiva da propriedade do estabelecimento, sobretudo para distinguir da locação. Atenção
que isto não é um tipo de negócio jurídico, é uma categoria porque transmitir definitivamente
a propriedade de um estabelecimento inter vivos pode ser levado a cabo por vários tipos de
negócios, desde logo, compra e venda; doação; dação em cumprimento (se um sujeito não tem
liquidez mas tem estabelecimento, se o credor aceitar, ele pode entregar ao credor o
estabelecimento como forma de satisfazer uma divida); entrada em sociedade (no momento
em que se constitui uma sociedade é necessário que os sócios contribuam com bens ou serviços
e na entrada em géneros, um dos sócios pode entrar com um estabelecimento, um negocio de
entrada em sociedade e isto significa que houve um trespasse. Isto devia ser mais frequente
do que é porque, muitas vezes, nas sociedades anónimas unipessoais, uma pessoa explora um
estabelecimento e decide alterar para sociedade unipessoal por quotas mas esquece-se de
entrar com o estabelecimento para a sociedade).

Diana Simões
30

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014

O que é um estabelecimento? È um conjunto de elementos que todos agregados e


organizados forma o estabelecimento. Do ponto de vista da classificação, é uma coisa
incorpórea.

Boneco A – boneco B

Imóvel X máquinas
Logotipo marca
prestação de trabalho cliente
€ automóveis crédito la
Matérias primas
Know-how

O dono do estabelecimento é quem tem a propriedade deste. Questiona-se, quais são os


meios ou elementos de entrega? O critério é o dos fatores de produção e elementos que
identificam primordialmente a empresa. Os factores de produção são o capital e o trabalho e
os elementos primordialmente identificadores são os sinais distintivos ligados à exploração do
estabelecimento que ajudam na sua identificação.

Dentro do estabelecimento temos objectos de direitos e estas setas explicam um problema


central da conceção do estabelecimento porque por um lado temos o direito sobre o todo e
depois temos os vários direitos que compõe as cruzinhas. Teremos de analisar os dois
momentos para perceber como as coisas correm.
No momento estático questiona-se: a que titulo tem a disponibilidade das prestações de
trabalho? Celebrou um contrato de trabalho. Quanto à marca, pode tê-la por direito de
propriedade pelo seu registo ou então tem uma licença e aí é a nível obrigacional e o mesmo
acontece sobre o logotipo. Sobre o imóvel pode ser a propriedade ou o arrendamento, ou seja,
ou um direito real ou um direito de crédito. No caso das máquinas, ou há propriedade ou há
uma forma de contrato que é a locação financeira pois o dono da empresa, em vez de comprar
as máquinas, usa a forma de leasing e enquanto o contrato decorre, sendo locatário financeiro
tem o direito ao uso e disponibilidade das maquinas apesar de não ser proprietário.

Agora deixamos a estática e passamos para a dinâmica. Imagine-se que A quer transmitir o
estabelecimento a B, temos aí um trespasse. Se o imóvel for de A não há problema, mas se for
arrendatário, à partida no plano geral dos princípios, A tem o gozo do imóvel facultado através
do contrato e para transmitir o imóvel tem de transmitir a sua posição que é a cessão da
posição contratual e aqui normalmente a regra é haver consentimento do senhorio, e assim,
Diana Simões
31

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


dir-se-ia que, sem o regime especial, não tem possibilidade de transmitir a sua posição
contratual e, se assim fosse, não teria possibilidade de transmitir o imóvel, porém, há um
regime que dispensa o consentimento do senhorio.

Supúnhamos que não existe o regime especial e que sem o consentimento não era possível
transmitir a posição do arrendatário, acontecia que o estabelecimento era transmitido sem o
imóvel e então, podemos transmitir o estabelecimento sem elementos? Depende do âmbito
mínimo de entrega. O âmbito mínimo visa responder a esta pergunta: pode-se transmitir o
estabelecimento desfalcado de alguns elementos? Sim, desde que se conserve o âmbito
mínimo - então, o que é o âmbito mínimo? São os elementos necessários sem os quais não
podemos caracterizar a empresa, que a caracteriza e projeta a sua imagem no público em
geral. Pode ser um conjunto de elementos ou um elemento só que é imprescindível à sua
caracterização como empresa.

No caso de uma fotocopiadora, este não pode ser transmitido sem o logotipo, e possivelmente,
nestes casos, será o elemento mais identificador do estabelecimento. Aqui, no caso das
maquinas, estas podem não fazer parte do âmbito mínimo porque e pessoa pode comprar
máquinas novas. De todos os elementos, tipicamente, o que faz o âmbito mínimo são as
máquinas e os logótipos.

Quando o Know-How faz parte do estabelecimento, muitas vezes, faz parte do âmbito mínimo
para a transmissão do estabelecimento.

Quanto ao âmbito natural fazem parte os elementos para cuja estipulação não é necessária
estipulação contratual. Que elementos do estabelecimento se transmitem no silêncio das
partes sem necessidade de referência expressa? Primeiro, os elementos que fazem parte
do estabelecimento e segundo, a ligação da disponibilidade desses elementos está na esfera
do direito real do trespassante, ou seja, está na propriedade ou qualquer titularidade de outro
direito real, uma vez que só assim há a possibilidade jurídica de transmissão sem
consentimento de mais ninguém.

Há uma quantidade de normas que criam regimes especiais para facilitar ou proteger os
interesses envolvidos no estabelecimento. Tudo o que o dono não pode transmitir, não se
transmite.

Do âmbito convencional fazem parte aqueles elementos que para serem transmitidos
necessitam de convenção expressa e diz-se que faz parte do âmbito convencional também a
firma ainda que esteja não seja um elemento da firma, pois o art.º 44º RNPC exige que haja
uma referencia especial à firma aquando da transmissão do estabelecimento.

Resolução do caso:
Diana Simões
32

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014

Aqui vamos buscar o âmbito natural para responder à questão.


Primeiro, temos de perguntar se o elemento em causa é elemento do estabelecimento e depois
temos de ver se está ou não na disponibilidade do trespassante, por força do direito real.
Quanto ao prédio, é fator de produção e assim é elemento do estabelecimento e Álvaro tem a
disponibilidade a título de direito de propriedade. Estamos aqui a falar do prédio e este pode
suscitar problemas:

Num primeiro tipo de problemas, há quem diga que se quis transmitir o todo, também quis
transmitir a parte como o caso do Dr. Coutinho de Abreu mas há autores que dizem fazer
parte do âmbito convencional e sem referência expressa, não havia transferência do imóvel.
Esses autores dizem isto porque dizem ser o imóvel é muito importante, o que é mais patente
visualmente e em termos patrimoniais corresponde a uma parcela muito significativa de valor,
ao ponto de ser expressamente convencionado, porém há rebatimento pois a marca pode ser
mais valiosa que o próprio imóvel e quanto a este não o integram no âmbito convencional.

Depois, a questão do valor rebate-se porque em casos de trespasse em que o estabelecimento


seja levado a cabo por um uma doação, ou então, no caso de compra e venda, o valor do
estabelecimento não é somado como um todo, e há elementos que não fazem parte deste mas
que lhe dão valor, nomeadamente a clientela e o aviamento.

Temos de ter em conta o valor que se pagou ao trespassário para saber se, de facto, quiseram
ou não excluir o imóvel. Como estamos no âmbito do direito contratual, o imóvel poderia ser
excluído, ou através de uma claúsula, ou tacitamente através de um valor. Se o móvel vale mais
do que o preço pago pelo estabelecimento, conclui-se que não quiseram transmitir o
estabelecimento - exemplo: estabelecimento vale 100 000€ e o imóvel 150 000€.

O outro problema relativamente ao imóvel passa pelo documento. O trespasse precisa de


forma ou pode ser celebrado verbalmente? Todos os autores convergem dizendo ser preciso
um documento escrito para o trespasse. Em muitos destes actos, com a desformalização, a
exigência de escritura pública foi substituída por documento autêntico e no caso do trespasse,
este ficou um pouco no limbo, contudo, há uma norma que nos permite fundar legalmente a
exigência de forma para o trespasse, art.º 1112º,nº3 do código civil. Esta norma levanta
várias dificuldades de interpretação mas seja como for, podemos dela retirar a necessidade
de redução a escrito particular para formalizar o trespasse, uma vez que é uma norma de
alcance geral para todos os casos de trespasse.

Álvaro e Branca utilizaram um documento escrito, pelo que estaria respeitada a forma porém
quando se fala de transmissão de imoveis, exige-se escritura pública ou documento particular
autenticado, o que é uma forma superior relativamente ao trespasse. Isto significa, que,
quando o estabelecimento compreenda o imóvel, para que a transmissão seja válida do ponto
Diana Simões
33

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


de vista formal, teremos de fazer um upgrade e celebrar o trespasse por escritura pública ou
documento articular autenticado.

Há outra hipótese, os Drs. Carolina Cunha e Ricardo Costa dizem que faz sentido que nos
bastemos para a transmissão da propriedade do imóvel com a forma do simples escrito
particular quando haja um imóvel e as razões são: não é transmitir imóveis por escrito
particular um acto estranho ao nosso sistema porque há regimes especiais que o permitem e
segundo, exige-se forma por uma questão de segurança e certeza e neste caso concreto,
todas as razões determinantes ficam preenchidas se tivermos em conta que um trespasse é
um negócio que por si exige uma certa reflexão e ponderação.

Há finalmente uma série de normas que em matéria de trespasse facilitam a matéria do


trespasse de estabelecimento, por exemplo, dispensa a autorização do senhorio na
transmissão da pessoa do arrendatário e do locatário.

Dentro dessa lógica, o bem transmitido é o estabelecimento pelo que o legislador nesses
regimes salvaguarda que seja transmitido mais facilmente conservando todos os seus
elementos constituintes.

Então, quanto ao prédio, este transmitiu-se e é defensável não ser necessário escritura
pública na transmissão do imóvel, ainda que haja quem defenda uma forma específica.

A carrinha é um elemento de produção da empresa, faz parte do capital da empresa e esta


está na disponibilidade de Álvaro a título obrigacional, o que exigiria consentimento da
contraparte do contrato de locação financeira. Para este caso, há um regime especial, no
diploma da locação financeira. A ideia deste diploma é a de facilitar o trespasse permitindo
que dentro do estabelecimento, aqueles bens que o trespassante não tem disponibilidade a
título de direitos reais, também se transmitam, art.º 11º.

Porque é que é bom proteger a circulação do estabelecimento? Para o fazer,


desprotegemos a contra parte porém se isto se faz e o legislador faz esta opção tem em
conta o benefício desta protecção porque é benéfico para a concorrência. Um dos facotres
importantes na concorrência de mercados é a liberdade de entrada e a liberdade de saída e
assim a estrutura dos mercados aproxima-se mais da concorrência perfeita e faz com que
esta concorrência exista com maior enfase. Quanto à circulação do mercado, o trespasse
facilita quer a entrada no mercado do lado de quem compra o estabelecimento, quer a saída
por parte de quem vende.

No artigo da locação financeira a logica é: o leasing/locação financeira começou por ser


originariamente um contrato que só podia incidir sobre bens de equipamento pelo que só tinha
interesse os empresários porque os consumidores não tinham estes bens. Quando o leasing
Diana Simões
34

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


disser respeito a bens de equipamento, a lei tem esta forma especial de que quando circula o
estabelecimento, a disponibilidade dos bens é transmitida sem necessidade do consentimento
do locador financeiro com uma ressalva, quando o locatário não ofereça garantias do ponto de
vista patrimoniais o locador tem alguma margem para se opor a esta automaticidade do regime.
Podemos dizer a Branca que a carrinha pode ser utilizada por ela mas esta terá de pagar as
rendas pois irá suceder a uma posição contratual, por força do trespasse.

Assim aditamos aos elementos que podem ser transmitidos no âmbito natural, uma vez que não
são os que estiverem na sua disponibilidade por direitos reais mas também os que estiverem
na disponibilidade a título obrigacional mas sujeitos a um regime especial de automaticidade
de transmissão.

18 Outubro 2013

Quanto ao prédio, nada foi dito pelo que se transmitiu. O prédio é um elemento ou factor de
empresa porque faz parte do capital e quanto à disponibilidade, ele está na propriedade do
trespassário pelo que poderá ser transmitido sem que nada tenha sido dito.

Há o problema quanto à forma, há quem diga que deve haver um upgrade e há quem defenda
um downgrade, ou seja, devemo-nos bastar com o escrito particular. O segundo problema diz
respeito à integração ou não deste no âmbito natural. A segunda questão corresponde à
carrinha, ela faz parte de um elemento ou factor de produção da empresa de capital. Esta
estava na disponibilidade a nível obrigacional por um contrato de concessão, art.º 11º do
regime de locação financeira – em caso de trespasse a posição de locatário transmite-se sem
necessidade de consentimento.

A diferença entre estes dois regimes, o nº3 do art.º 11º do regime de locação financeira
diz que o locador financeiro tem esta faculdade de se opor e o senhorio não tem. Tem a ver
com os interesses, se se deixar de pagar as rendas, o senhorio pode intentar uma acção de
despejo, teria o risco de colocar outra pessoa lá mas permanecia com o bem na sua
disponibilidade. Ao contrário, quanto ao locador, o legislador pretende ter uma tutela mais
forte porque muitas vezes são os contratos de locação que permitem amortizar o investimento
e conseguir algum dinheiro. Assim, o legislador se por um lado dispensa o consentimento, por
outro lado tutelou os seus interesses, deixando limite para a oposição quando a pessoa não
ofereça garantias.

Os créditos não faziam parte da empresa segundo o critério que usamos, não são factor e
produção nem elemento identificador da empresa, ainda que estejam ligados à empresa, ou
seja, não está dentro do bem jurídico da empresa. Ainda assim, os créditos podem transmitir-
Diana Simões
35

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


se mas necessitam de referência expressa, porque este não está dentro dos elementos. Diz-
se que os créditos fazem parte do âmbito convencional mas isto não é assim, em bom rigor,
eles não fazem parte mas podem ser transmitidos juntos com o estabelecimento. É inclusive
frequente a cláusula de transmissão do estabelecimento com todo o seu activo e passivo.

A partir da referência expressa, o acordo do trespassante e trespassário basta-se e o regime


de cessão de créditos do código civil diz que o devedor não é chamado a consentir, por outro
lado, o interesse a ser tutelado é a validade, ou seja o devedor tem de ter a garantia que
quando paga, esse pagamento seja válido. Apenas terá de haver uma notificação ao devedor de
que foi alterada a pessoa a quem o devedor deve fazer pagamentos – art.º 577º CC.

Dívidas são possíveis de ser transmitidas? A norma refere a possibilidade de transmissão


de todo o activo e passivo e do ponto de vista económico faz sentido que no trespasse a
pessoa fique livre de tudo, mas aqui, não basta o acordo porque não é indiferente para o
credor que altere o devedor, é preciso que haja consentimento do credor porque as garantias
dos devedores sejam diferentes. Pelo art.º 575º, nº2 diz-se que a transmissão exonera o
antigo devedor havendo declaração expressa, caso contrário, vigoraria o regime da
solidariedade entre devedores, no caso prático, Álvaro e Branca.

Se isto fosse uma situação de exame, apenas falaríamos do que foi pedido e não mais do que é
questionado.

 Caso 2
Carla, dona de uma pastelaria afamada na Baixa de Coimbra, celebrou com “Doce Enleio,
Unipessoal, Lda” um «contrato de trespasse da pastelaria». Do documento constava uma
cláusula excluindo a transmissão das «receitas e segredos de fabrico de bolos». Dois
meses mais tarde, Carla abre uma pastelaria no novo centro comercial da margem
esquerda.
Poderá a Doce Enleio reagir?

LEGISLAÇÃO: CCiv

Esta matéria remete para a obrigação de não concorrência

A obrigação de não concorrência impende sobre o trespassante e chamamos-lhe obrigação


implícita de não concorrência – não é necessário a convenção das partes pelo que elas nascem
de um Princípio, isto é, o estabelecimento é uma coisa incorpórea transmitida e é difícil
assegurar o seu gozo pleno e o que está em causa é tutelar esse gozo pacífico pelo novo dono.
A clientela não é um elemento do estabelecimento mas esta dá valor à empresa, é um valor de
exploração e é tao importante que quando se avalia o estabelecimento, tem-se em conta a

Diana Simões
36

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


clientela através de um índice de valor do negócio.

Abrindo um estabelecimento e não respeitando a não concorrência, pode haver uma deslocação
de clientela e esvazia-se o estabelecimento trespassado anteriormente. A obrigação de não
concorrência não é universal, há casos em que ela não existe, ela só existe quando é preciso
que exista e quando o sujeito que transmite o estabelecimento está em condições de fazer
uma concorrência diferenciada.

Principio da Boa-fé e a dignidade humana são princípios mobilizados para sustentar o


dever/obrigação de não concorrência. Há quem também funde a sua sustentação na obrigação
de entrega da coisa do Código Civil, pois para entregar a coisa não se pode ir buscá-la através
de abertura de novo estabelecimento. Há aqui uma obrigação de abstenção, defendida pelo Dr.
Soveral Martins.

Parece ser isto que, à primeira vista, a Carla quer fazer. Mas, a eficácia deste “ir buscar” tem
limites. Estes limites são materiais, temporais e espaciais.

Limites materiais: exercer uma actividade que seja concorrente e/ou vá disputar a mesma
clientela, por exemplo, café e snack bar.

Limites espaciais: teremos determinar a área de irradiação do estabelecimento – esta área


dependerá da atividade exercida pelo estabelecimento.

Limites temporais: não se pode exercer concorrência durante um determinado período de


tempo suficiente para estabelecer os valores de exploração com a clientela. Aqui a lógica para
um período de tempo remete para muitas vezes, restrições de nível comunitário.

Quanto à abertura de Carla, quanto ao limite material, a actividade é a mesma e 2 meses em


termos temporais não parece ser tempo necessário para efectivar toda a clientela. Quanto ao
limite espacial, não parece que este segundo estabelecimento esteja ainda dentro da área de
irradiação, pelo que, como não se cumulam os três limites, não há violação.

Quanto às receitas estas são elemento da empresa, e neste caso será o know-how. Este será
um problema de âmbito mínimo de entrega e de saber que elementos se podem retirar da
entrega para que ainda assim haja uma identificação da empresa.

Na maior parte dos estabelecimentos, não há muito que particularmente sobressaia e se


identifique; em certos casos poderá ser o local onde funciona o estabelecimento mas, muitas
vezes, o elemento distintivo é o “saber-fazer” e se este não for transmitido há um negócio
mas não há trespasse. Neste caso não podemos chamar trespasse a este negócio, mas sim um
negócio de transmissão de determinados elementos, não se podendo dizer ter havido
Diana Simões
37

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


transmissão de estabelecimento e, consequentemente, não havendo trespasse não haveria a
transmissão da posição do arrendatário.

Parece que a Carla ao reservar para si as receitas, não quis transmitir o seu conhecimento.
Aqui, não havendo trespasse, não se produzem as suas consequências, ou seja, aplicação de
regimes especiais, e também a obrigação de não concorrência pelo que Carla, poderia, se
quisesse, abrir um estabelecimento na porta ao lado.

Se houvesse violação da obrigação de não concorrência:


Poderíamos intentar uma acção na condenação da abstenção da prática de concorrência, ou
seja, que a obrigue a encerrar o estabelecimento bem como um pedido de indemnização.
Poderíamos ainda pedir uma sanção pecuniária compulsória – art.º 829º-A que o devedor terá
de pagar por cada dia de atraso no cumprimento da ordem do tribunal.

A doce enleio poderia pedir ainda outra coisa, esta podia pedir a resolução por incumprimento,
uma vez que lhe foi retirado o estabelecimento, mediante entrega do que lhe foi transmitido.
Aqui pede-se uma indemnização pelo interesse contratual negativo, ou seja, prejuízos sofridos
por ter colocado expectativas num contrato que veio a ser destruído.

O devedor e credor da obrigação de não concorrência não se esgotam no trespassante e no


trespassário – há depois uma serie de outros sujeitos que podem ficar na posição de devedor
e/ou credor. Pode haver ainda esta obrigação para o trespassante não original. No caso do
cônjuge, aqui também há uma obrigação de concorrência quando o negócio é celebrado entre
um dos cônjuges e um terceiro. Também no caso de uma sociedade unipessoal por quotas,
através da desconsideração da personalidade jurídica da sociedade, podemos imputar esta
obrigação de não concorrência ao sócio único da sociedade.

 Caso 3
“Iniciativa Paralela, Lda.”, que explora uma tipografia em Condeixa, pretende vender o
seu estabelecimento a “Labirinto Fascinante, Lda”. Consulta-a/o para saber (i) se terá
de transmitir as máquinas de alta definição que actualmente são utilizadas para os
trabalhos de impressão; (ii) se, depois de concretizado o negócio, pode reiniciar a sua
actividade na Figueira da Foz.

LEGISLAÇÃO: CCiv

Estamos ao abrigo do âmbito mínimo, as partes podem excluir o que quiserem mas tem de ter
atenção às consequências. Quanto às máquinas, estas são um elemento da empresa, factor de
produção capital, mas são fungíveis, isto é, substituíveis. São elemento do estabelecimento
mas não são essenciais à distinção do estabelecimento, assim seria apenas se fossem maquinas

Diana Simões
38

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


já não produzidas e já não existia em mais lado nenhum, porém, nos restantes casos, não havia
problema e eram perfeitamente retiráveis sem retirar a qualificação do estabelecimento não
a qualificação de trespasse

Quanto ao fundamento da não transmissão das máquinas, está em causa a obrigação de não
concorrência e apenas surgem prolemas quanto ao limite espacial devido à topografia da
empresa. Teríamos de colocar as duas hipóteses de cair ou não dentro do elemento espacial.
Num caso como este teríamos de explicar o porque de existir a obrigação de não concorrência
e seu fundamento.

 Caso 4
“Quimiconduta, SA” tomou de arrendamento a Maria Celeste um armazém para guardar
matérias-primas utilizadas na fábrica que explora. Entretanto, surgiu a oportunidade de
“trespassar” o dito armazém a “Rebola Caixote – Pasta de Papel e Embalagens
Industriais, S.A.”.

Poderá fazê-lo? Em caso afirmativo, será necessário obter o consentimento de Maria


Celeste para que a Rebola Caixote passe a utilizar o imóvel em causa?

LEGISLAÇÃO: CCiv
Teremos de saber se há ou não cessão da posição do arrendatário – art.º 1112º - cuidado: a
autorização do senhorio é a autorização não para o trespasse em si, mas é para a cessão da
posição contratual de arrendatário, pois se houver, o imóvel poderá ir com o estabelecimento.

Se tivermos um trespasse, a conclusão retirada é que não é não é preciso autorização. O que
está em causa é saber se o armazém é ou não estabelecimento. Teremos de distinguir entre
estabelecimento; sucursal e secção. Enquanto a sucursal está ainda parada mas à espera de se
tornar estabelecimento a secção é uma divisão funcional da actividade do estabelecimento.
Aqui não haveria um trespasse mas o que as partes queriam fazer era uma cessão da posição
contratual sem chamar o dono do imóvel a consentir, ludibriando com a qualificação do negócio
como trespasse.

A secção é uma divisão da actividade do estabelecimento, não há aqui estabelecimento, não há


trespasse e consequentemente é necessário a autorização de Maria Celeste.

Se fosse uma sucursal, sabíamos que a actividade era a mesma e teriam uma direção comum,
mas também há aspectos de autonomia porque cada uma tem uma gestão física, isto é, a sua
própria contabilidade, personalidade judiciária no âmbito do código processo civil e quer isto
dizer que e o dono da sucursal vendesse o local, aí já seria um trespasse e na prática já
podíamos celebrar esse negócio como trespasse daí que esteja no limite entre

Diana Simões
39

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


estabelecimento e não estabelecimento.

No caso era um negócio sobre uma secção e esta não tem qualquer qualificação possível
enquanto estabelecimento.

25 Novembro 2013

 Caso 5

“Tantatralha, Lda.” fez uma dação em cumprimento da sua loja de móveis ao credor
“Compreensão Lógica, Sistemas Informáticos, Lda.”. Ao fim de um mês, a Compreensão
Lógica procedeu à liquidação dos stocks de mobiliário ainda existente e, fechou o local
durante uma semana para obras, após o que nele instalou uma sucursal da sua empresa
“Logicentro”. O senhorio José Ferreira consulta-a/o para saber se pode reagir.

Quid iuris?

O senhorio quer saber se houve ou não uma transmissão ilícita da posição do arrendatário,
porque se o tiver sido, o senhorio tem fundamento de resolução do contrato de arrendamento
– art.º 1083º. Esta cessão da posição de arrendatário é ilícita na medida em que o
arrendatário não obteve previamente a autorização do senhorio – art.º 1038º f).
Neste caso, a cessão seria ilícita perenta o senhorio por violar a obrigação do art.º 1038º e
teremos de ver se se aplica ou não o regime excecional do art.º 1112º.

No nosso caso, sabemos que no caso de trespasse é permitida a cessação da posição do


destinatário. A dação em cumprimento pode ser trespasse porque é um negócio jurídico,
celebrado entre devedor e credor, tendo em vista a extinção de um crédito por cumprimento
e esta categoria abrange todos os negócios jurídicos que sejam a transmissão definitiva do
estabelecimento por negócios inter vivos. À partida, temos preenchido o nº1 do art.º 1112º
pelo que seria vaálida e licita da posição do arrendatário.

Todavia, o nº2 do art.º 1112º tem dois tipos de situações que o legislador criou para
facilitar a identificação de situações em que as partes constroem um negócio a aparentar ser
trespasse quando na verdade o não é. Este cria dois grupos de casos em que há uma série de
indícios que mostra que o que as partes quiserem fazer não foi um trespasse, mas ceder
ilicitamente a posição do arrendatário.

No primeiro caso, a al a) quer salvaguardar o âmbito mínimo pelo que teremos de fazer uma
interpretação restritiva da norma. Quanto à al b), esta é a que nos interessa para o caso
(sublinhar a palavra “vise”) – esta norma visa proteger situações em que os contratos já vêm

Diana Simões
40

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


do regime anterior porque as partes são tentadas a comprar o estabelecimento anterior,
aproveita a instalação e elimina o objecto do estabelecimento e constitui outro completamente
díspar.

Houve aqui nitidamente uma alteração do ramo. O problema aqui é com o “vise” que supõe
intenção, ou seja, supõe que já se tenha celebrado o alegado trespasse com intenção de
alterar o ramo de actividade. Aqui, o problema aparece na prova dessa intenção porque há
casos em que é muito difícil ao senhorio provar essa intenção.
No nosso caso é fácil porque a alteração do ramo demorou um mês. Mais difícil ainda é saber
quem tem de visar o que e aqui Coutinho de abreu diz que basta que vise i adquirente, o
trespassário porque este já compra com esta intenção mas o Dr. Soveral Martins diz assim
ser injusto, essa intenção tem de ser conhecida por que aliena, ou seja, este tem de ter um
mero conhecimento pois é ele quem irá sofrer as consequências e não é justo ser ele a sofrer
consequências da intenção do outro quando não sabia de nenhuma forma da intenção do outro.

O senhorio tem de provar a intenção com base nesta alínea, e em segundo caso, tem de
provar a intenção de quem? Num caso como o nosso, isto era fácil, houve a intenção de
alteração de ramo porque num curto espaço de tempo liquidou o stock, e alterou o logotipo. O
simples facto de quem adquire o estabelecimento não se dedicar àquela actividade não é
argumento suficiente, mas junto com os outros torna a prova fácil para o senhorio.

Aqui, provando esta ilicitude, teríamos de ir ao art.º 1038º e ao art.º 1083º e) dizendo ter
havido fundamento de resolução e o senhorio conseguiria resolver o contrato. Isto é
importante porque o senhorio tinha outra alternativa que, por um lado, lhe facilitava a vida
mas por outro não lhe permitiria pedir a indemnização, porém, do art.º 1112º nº5 tem outra
via que sendo mais fácil de prova é menos abrangente em termos de resultado, ou seja, aqui
não é preciso provar intenção de ninguém, apenas é necessário provar factos e estes são mais
fáceis de provar.

Por outro lado, não teremos de ir ao art.º 1038º e art.º 1083º porque a lei fornece um
fundamento autónomo de resolução que vem acrescer aos demais. É nessa medida mais simples
para o senhorio que tinha dificuldades probatórias mas se, por um lado, é mais fácil provar,
por outro lado restringe as possibilidades em termos indemnizatórios porque é uma resolução
por um acto licito, isto é, não se vai averiguar se houve ou não um acto ilícito e sendo assim,
não há fundamento para a responsabilidade civil contratual.

Esta norma levanta ainda outro problema, pois se se muda de ramo ainda que de forma licita, o
senhorio pode resolver o contrato. Há quem diga que este efeito é indesejado e que não é isto
que o legislador entendia, devendo fazer se uma interpretação restritiva para os casos em que
não houve intenção fraudatória, por outro lado, há outra posição possível, isto é, teremos de
ver isto em termos de interesses contrapostos, sacrifícios e tutela e há aqui o interesse do
Diana Simões
41

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


arrendatário e do senhorio e esses interesses estão cada um deles no prato da balança. No
nº1 protege-se o arrendatário sacrificando os interesses do senhorio e o nº5 faz o re-
equilibrio e a partir do momento em que não há estabelecimento, deixa-se de sacrificar os
interesses do senhorio. Se virmos não é assim tao injusto porque o senhorio já teve de
suportar um novo inquilino sem nada poder dizer.

Em exame, teremos de referir as duas hipóteses porque elas convergem, normalmente, em


termos de possibilidade de aplicação.

Teremos ainda saber o que é necessário fazer se a cessão for lícita. E agora? Esta
transmissão deve ser comunicada por escrito ao senhorio nos termos no nº3. Esta
comunicação também corresponde a um dever do arrendatário, presente no art.º 1038º.
Porque permanece aqui esta obrigação? Desde logo porque em certos casos o senhorio tem
direito de preferência, nº4 - no que diz respeito em alguns casos de trespasse e, por outro
lado, mesmo que não haja direito de preferência, para que o senhorio saiba quem é o novo
locatário e assim possa fiscalizar se a transmissão da posição contratual se deu no contexto
em que a lei o permite.

O que acontece se esta comunicação não for feita? É uma obrigação do locatário mas o
trespassário pode levá-la a cabo para se precaver. Se esta notificação não for feita, mais uma
vez temos um fundamento de resolução porque temos uma cessão ineficaz perante o senhorio,
sendo assim a interpretação da norma, pela alínea e). Se a comunicação estiver apenas
atrasada, como fazer? No regime anterior havia discórdia quanto à existência ou não de
fundamento de resolução mas hoje tudo se tornou mais simples por causa da clausula geral do
corpo do nº2, ou seja, se em vez de 15 dias forem 20 ou 30, podemos dizer que houve
incumprimento mas o atraso não torna a violação de forma muito grave, isto é, há um critério
mais elástico para avaliar a situação do incumprimento.

Caso 6
Enquanto participava numa expedição ao Tibete, Arlindo cedeu por 12 meses a
exploração do seu ginásio a Vítor, mediante o pagamento trimestral de uma quantia
indexada ao número de clientes que frequentassem as instalações. Ao fim de 2 meses
Arlindo sofreu um acidente e teve de interromper a sua aventura tibetana. Rapidamente
recuperado, decide constituir uma sociedade por quotas unipessoal para explorar um
“centro desportivo e de fitness” na mesma cidade, o qual vem a ser inaugurado poucas
semanas depois com enorme sucesso. Inconformado, Vítor pretende reagir.
Diga se e como o pode fazer.

Aqui temos uma locação de estabelecimento. Pode haver uma conveniência de desligar do
estabelecimento por uns tempos e nesse caso poderemos procurar alguém que queira ocupar a
posição de locatário do estabelecimento para que o explore durante algum tempo. Este

Diana Simões
42

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


negócio também se chama de cessão da exploração do estabelecimento.

Aqui não se colocam os problemas do que passa ou não com a locação porque o dono mantém a
propriedade das coisas e o locatário tem o direito de usar o material mas apenas como
resultado do próprio contrato, isto é, a pessoa usa os bens porque tem este poder-dever. Se
se tomar em locação o estabelecimento há uma obrigação de o explorar, é uma obrigação de o
fazer porque o estabelecimento perde o seu valor e o locatário tem como obrigação de
entregar a coisa no estado em que lhe foi dada, salvo as deteriorações normais da sua
exploração.

No que diz respeito ao imóvel, se este for objecto de um contrato de arrendamento, nós
sabíamos que não era preciso uma cessão de posição de arrendatário para o locatário utilizar o
prédio. A locação de estabelecimento é um contrato legalmente típico, no sentido em que a lei
o prevê, ou melhor, lhe dá um nome – art.º 1109º. Desde logo, esta remissão para as regras
da sub-secção gera problemas porque se está a mandar aplicar as regras do arrendamento
para comércio e industria o que por vezes não dá uma solução. O nº2 carece do mesmo erro, a
autorização do senhorio nunca é para o trespasse ou locação nunca carece da autorização do
senhorio, tal autorização é precisa para a cessão da posição contratual.

Aqui, a autorização é de um mês e parece uma discrepância porque no caso do trespasse onde
os interesses do senhorio são mais afectados, a autorização é de 15 dias e aqui exige um mês
sendo que os interesses do senhorio praticamente não serão afectados. Neste caso, na falta
de comunicação as soluções são as mesmas do art.º 1083º como era para o trespasse.

Este art.º 1109º prevê o contrato de locação que incide sobre o estabelecimento mas
teremos de ter atenção ao nº1 porque esta remissão levanta várias dificuldades.

No nosso caso concreto, não se fala em senhorios, pelo que não tínhamos que passar pelo nº2
do art.º 1109º.

Vítor não está satisfeito porque Arlindo abriu uma sociedade e está a violar um direito do
locatário de estabelecimento e ao mesmo tempo um dever do locador. Se se dá em locação um
estabelecimento e depois se abre um estabelecimento concorrente, está-se a violar a
obrigação de proporcionar o gozo pacífico. Quer isto dizer que aqui acaba por existir também
uma obrigação de não concorrência explicita porque ela resulta das consequências da própria
lei, previstas no art.º 1031º. Quando a coisa seja um estabelecimento, esta obrigação
compreende a abstenção de concorrência juntando o art.º 1037º em que o locador não pode
praticar actos que impeçam o gozo do locatário.

Estas obrigações de não concorrência têm limites: espaciais (a área de irradiação do


estabelecimento – teremos de ver em termos geográficos de onde se deslocam os clientes –
Diana Simões
43

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


teremos de ver a dimensão da cidade em concreto), temporais (aqui fala-se enquanto durar a
locação, ou seja, enquanto tiver cedido o estabelecimento a outrem) e materiais (haver ou não
concorrência de actividades – aqui o ginásio faz concorrência).

Parece aqui haver uma violação desta obrigação mas há um problema, o Arlindo viria invocar
que era a sociedade e não ele em nome individual. Aqui parece que formalmente a sociedade
não está a violar uma obrigação de não concorrência mas, para este caso, podemos chegar pela
maneira de saber o que está vedado e aqui é o exercício directo ou indirecto de uma
actividade de não concorrência, seja esta levada a cabo de modo directo ou de modo indirecto
através de uma sociedade mas, neste caso, o que ele não podia era ter uma posição
francamente maioritária nessa sociedade ou ainda ter funções de administração.
Por outro lado, poderíamos ir pela via da desconsideração que essencialmente traduz se no
levantamento do véu da personalidade jurídica, esta é uma construção do direito e esse dom
que o direito faz é para certas finalidades que serão importantes, e assim como o direito dá,
também o direito pode tirar e pode haver a desconstrução do que foi contruído quando esteja
a haver algum tipo de “abuso” e assim sendo quem está debaixo do véu é o Arlindo em nome
individual.

Há na desconsideração a responsabilidade e imputação e aqui interessa a imputação porque


imputamos comportamentos da sociedade ao sócio, levantando o véu e imutando uma ação da
sociedade ao Arlindo, violando assim uma obrigação de não concorrência.

O Vítor podia pedir ou a resolução do contrato de locação de estabelecimento ou pedir o


encerramento do centro de fitness. Se optasse pela primeira hipótese pedia indemnização
pelos prejuízos que tinha sofrido mas se optasse pela solução B, além do encerramento podia
pedir a indemnização pelos prejuízos e a sanção pecuniária compulsória.

02 Dezembro 2013

Letras e Livranças:

Letras e livranças são, antes de mais, um pedaço de papel onde tem de estar escrito “letra ou
livrança” mas é muito importante porque é um documento que servirá para fazer negócios
cambiários.
A letra é um documento no qual serão formalizados os negócios, não sendo este um documento
qualquer. Nesse documento, as assinaturas de cada um dos sujeitos, chamados obrigados
cambiários, vai constituir um negócio unilateral. Esses negócios foram falados a propósito de
actos formalmente comerciais: saque, aceite, endosso e avale. Cada um deles tem uma
determinada função:

Diana Simões
44

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


 Saque: aquele que cria a letra, o sacador cria a letra através de um esquema peculiar.
O saque é uma ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado, a alguém que recebe
essa ordem de pagar um valor a alguém que há-de ser o tomador da letra.
Depois, numa determinada data, embora essa data possa n ser fixa. O seu conteúdo
corresponde a um direito de crédito. A ordem de pagamento podem também ser em benefício
do tomador – saque à própria ordem.
(esquema Sr ____Sd)

Exemplo: A compra mercadoria a B e para o efeito, para garantir a verba B pediu que fosse
subscrita uma letra e para que a pessoa fique vinculada tem de aceitar a ordem – a isso se
chama aceite. Nesta história, o tomador é B, ela quer a letra para ficar credora. Nas letras
há um sistema trilateral porquê? As letras são como os gatos, têm sete vidas. Ao longo do
tempo, têm servido para mutoas coisas e inicialmente serviram para dar uma ordem ao seu
compadre (banqueiro) para que quando chegasse a Itália, pagasse a quantia gasta em frança –
na origem era assim: um dava a ordem, o outro era o recetor da ordem e depois via as contas
com o banco.
Hoje não precisamos desta função, as letras posteriormente começaram a ser usadas como
forma de pagamento. Nos dias de hoje, dá-se muita importância à circulação da letra porque
durante muitos séculos foi uma função de pagamento.

Em primeiro lugar tem uma função de garantia, isto é reforço do crédito pois a letra é um
título executivo e assim, se a dívida não for paga voluntariamente apos exigência, poderá ser
este exigido logo em Acão executiva. Porém, as letras não circulam, são conservadas pelos
credores e a única circulação que existe é o chamado desconto bancário – imagine-se que a
data de pagamento era 30 de Março, mas entretanto a vendedora precisa de dinheiro, vai ao
banco e faz um endosso de desconto relativamente ao pagamento que o devedor fará em 30
de Março.

Em segundo lugar, tem uma função de garantia em sentido estrito, através do avale. Exemplo:
suponhamos que temos uma sociedade comercial que se vincula a pagar o fornecimento e a
sociedade vinculava-se a pagar essa letra a 31 de dezembro. As sociedades são em pessoa
colectiva e nas sociedades por quotas e anónimas temos um problema para os credores, que é
a responsabilidade limitada e nesta medida exige-se que além da sociedade aceitar a letra,
exige também que os sócios da sociedade figurassem como avalistas e iriam também ficar
obrigados a pagar a letra se a sociedade não pagasse. Isto é uma forma de circuitar o
exercício da responsabilidade limitada. Este exemplo permite-nos trazer assim, uma
função/característica importante.

Imagine-se um mutuo bancário, há uma letra comprometendo-se a pagar um valor, mas o


quê? Sabemos que há um plano de pagamento pelo que, entrega-se a letra em branco e ao
mesmo tempo celebra-se um pacto de preenchimento, no qual a pessoa se compromete a usar a
Diana Simões
45

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


letra apenas quando se deixar de pagar e pela quantia em falta. Há aqui uma vantagem
suplementar, ou seja, há um título executivo feito à medida, bastando preencher com os
valores certos para usar como título executivo.

Letra é uma ordem de pagamento dada ao sacador pelo sacado em benefício de terceiro. Nas
livranças temos o emitente (que cria a livrança) e este faz uma promessa de pagamento ao
beneficiário e aqui o sistema é mais simples, não é trilateral mas bilateral.
Exemplo: compra e venda de mercadorias e se se usasse uma livrança seria o comprador quem
a emitia prometendo pagar o valor em debito, sendo o próprio a criar a livrança, mas quanto ao
resto é igual.

Teoria geral da relação jurídica: na relação cambiária temos um lado activo (credor) e um
lado passivo (devedor).
Como credor cambiário encontramos, desde logo, o sacador e este cria um direito de crédito,
ou seja, direito a receber uma determinada quantia em dinheiro. Do lado passivo, contrapõe-se
uma prestação em sentido técnico, ou seja, há uma obrigação mas esta não é única, ou seja,
começamos por ter uma obrigação principal que é a do aceitante pois quando alguém aceita
uma letra, é ele que se obriga a pagar aquela letra – art.º 28º da lei uniforme de letras e
livranças. Mas, curiosamente, esta obrigação principal não é a inicial, a primeira de todas é a
do sacador. Quando alguém cria uma letra, ao mesmo tempo, vincula-se, ele próprio a pagar a
letra se o sacado não aceitar ou se depois de aceitar, não cumprir – art.º 9º LULL. Isto
explica-se pela história e isto acontece com o sacador e com todos os obrigados de garantia,
ou seja, os endossantes e avalistas.

Quanto ao endosso, este transmite todos os direitos emergentes da letra – art.º 14º, mas
também tem a função de gerar obrigações, a função de garantia. No nosso caso isto significa,
pois os endossantes também garantem o pagamento da letra e isto era particularmente
importante naquelas grandes cadeias de comerciantes, porque cada vez que alguém endossava
a letra ficava como obrigado cambiário. (quem é obrigado cambiário é quem assina, é esse o
obrigado. Quem recebe a letra é o portador dela, o credor da letra)

Assim, do lado activo temos um direito e do lado passivo temos uma serie de obrigações. Os
obrigados de garantia só são chamados a pagar a letra se o aceitante não pagar e aqui entram
questões técnicas: para que os obrigados de garantia sejam chamados a pagar tem de se
verificar o risco mas alguém tem de provar que o risco de verificou – e é preciso demonstrar
através de um acto formal chamado protesto, a condição para acionar os obrigados de
garantia pois é a comprovação formal feita no notário – art.º 44º.

Imagine-se uma relação jurídica cambiária com vários protagonistas: temos um sacado e um
aceitante e depois temos o tomador, que ficou beneficiário e que endossou a letra tornando-
se endossante. Este endossou a letra a B, que o fez a C, depois a D e depois o E, sendo este o
Diana Simões
46

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


portador da letra, sujeito que naquele esquema da relação jurídica, é titular do direito. No
momento inicial, o primeiro credor cambiário, o titular do direito foi o tomador, o segundo foi
B, o terceiro foi o C, o quarto foi o D e hoje é o E. Este E tem legitimidade activa para no dia
30 dezembro se apresentar a A, aceitante e exigir que pague. Se A pagar, toda a cadeia de
vínculos extingue-se satisfatoriamente e todas as vinculações desaparecem. Porém, se A não
pagar, o que é que E fará? Este irá ao notário lavrar o protesto e com ele pode, ao abrigo do
art.º 47º, demandar todos os outros, ou seja, pode exigir a soma integral de quem quiser.

Voltando ao esquema, suponhamos que E aciona C pois de todos é o que tem mais bens
penhoráveis e julga ser quem dá mais garantias de pagamento e C paga a letra – art.º 49º.
Agora, enquanto a letra não chegar ao aceitante as coisas não param, há sempre alguém que
pode demandar outros. Se vigorasse o esquema de solidariedade do Código Civil, exigiria uma
parcela do que pagou mas aqui é diferente. Há uma ordem, C só pode exigir o pagamento aos
seus próprios garantes, ou seja, aqueles que perante ele que assumiram uma obrigação, não
podendo ser possível pedir a D porque quem endossou foi C. quer isto dizer que quando C paga,
D fica livre pelo art.º art.º 50º segundo parágrafo. Quando C paga, risca tudo o que está
para além dele.

Quando a letra chegar a S, só pode demandar A que é o aceitante. Esta particularidade é o


exercício de direito de regresso perante os credores cambiários. O sacador e o aceitante
garante perante todos, os endossantes apenas garantem quem está para trás.

Nesta linha faltam os avalistas no esquema. Este, pelo art.º 30º é o obrigado por garantia e
enquanto o sacador está automaticamente colocado, o aceitante também, os endossantes vão-
se colocando sequencialmente e o avalista art.º 30º (…) último parágrafo.
Imagine-se que ele deu o aval pelo B, nos termos no art.º 32º (o aval é diferente da fiança,
na fiança se a obrigação for nula, a obrigação do fiador também não subsiste mas no aval,
mesmo que uma seja nula, a do avalista mantém-se e quando na fiança, a pessoa garantida tem
determinados meios de defesa, o fiador também pode e no aval não é assim), o avalista
responde de mesma maneira que a pessoa afiançada ou seja, responde perante as mesmas
pessoas que o B. No sistema de direito de regresso, pelo último parágrafo, ele tem direito de
regresso contra B e contra os obrigados ou seja, tomador, sacador e aceitante.

Há aqui mais uma serie de relações jurídicas que se deixaram de fora. Quando se falou de
subscrição de uma letra, disse-se que havia um contrato de compra e venda e foi isso que
explicou que se recorresse a este mecanismo, porém, da perspetiva técnico-jurídica, na esfera
jurídica da vendedora, ficam dois direitos: o de exigir o pagamento e também o direito
cambiário ambos com o mesmo objecto. Aqui, ela não pode exercer os dois direitos pois não
pode exigir duas vezes o mesmo valor.

Temos o sacador (e também tomador) e o aceitante, ligados por uma relação jurídica
Diana Simões
47

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


cambiária. Há aqui um contrato de compra e venda a que chamamos relação fundamental ou
causa remota, ou seja, aquilo que remotamente vai explicar a relação jurídica cambiária.
A letra só existe porque foi combinada mas esta combinação, normalmente, é difícil de ser
encontrada. Todavia, mesmo de forma tácita, existe um acordo que faz a interface entre a
relação fundamental e a relação cambiária e chama-se de convenção executiva. É esta que nos
vai dar a chave de vários problemas encontrados, desde logo, imagine-se que o vendedor
interpunha ação declarativa e com base nesta convenção dir-se-ia já estar satisfeita.

Imagine-se agora que não houve fornecimento ou fornecimento defeituoso, o vendedor pode
interpor a acção executiva com base na letra, o comprador tem uma ação de defesa através
de um incidente chamado oposição à execução porque o cumprimento, por parte da credora,
foi inexistente ou parcial. Isto pode ser feito porque são simultaneamente partes nas várias
relações. A relação cambiária serve para garantir o pagamento da divida e se a divida não
existir, não pode adquirir o que tinha direito na relação fundamental porque foi o combinado
na relação executiva, ainda que tacitamente, pois esta em causa a integração do CC.

Todavia, imagine-se que o título tinha circulado e imagine-se que se pedia o valor a D, este não
podia opor a convenção cambiária, ou seja, aquela pessoa não pode invocar exceções para
escapar ao pagamento perante terceiros. Isto é explicado pela teoria tradicional e pela
professora - estamos a falar do efeito externo inexistente das obrigações, este apenas pode
invocar exceções pessoais quando for S a pedir o pagamento e isto está no art.º 17º e é a
propósito deste que se fala de abstração cambiária. O art.º 17º não fala em abstração nem
ausência deste efeito externo mas dá-nos a consequência: se alguém é demandado por uma
letra, não pode opor os efeitos s quem esteja em relações meramente cambiárias com ele.
Aqui fala-se de relações mediatas e relações imediatas.

No nosso esquema há relações imediatas entre S e A e S e B; B e C e C e D. a razão de ser dos


negócios cambiários não está na letra, a causa está fora, na convenção executiva. Há sempre
algo de fora da letra que a explica daí ser correto dizer que a causa não está no enunciado da
letra. Já não é tão correto dizer que tudo isto se explica pelo Princípio da abstração, dizemos
que esta só vale nas relações mediatas com sujeitos que não tenham ligação a quem quer
invocar as exceções, apenas de o ser nas elações imediatas.
Seja qual for a teoria explicativa, o resultado está no art.º 17º.

Há depois, uma exceção no art.º 17º, mas isso vimos na próxima aula.

09 Dezembro 2013

Relações mediatas e imediatas (sujeitos consecutivos mas a concepção mais correcta é a que
defende haver relações imediatas com sujeitos cambiários que estão ligados extra
Diana Simões
48

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


cambiariamente por uma convenção cambiária/executiva).

Art.º 16º, 2º parágrafo - Princípio da autonomia – tem dois sentidos sendo que nos
interessa aqui é o sentido que constrói este principio: cada vez que alguém adquire o direito
cambiário, adquire-o originariamente, ou seja, sem dependência de uma ligação anterior.

Exemplo:
Sacador – aceitante
Tomador – E1 – E2 – E3 – Portador.
O art.º 16º diz que se E1 perdesse a letra e se reaparecesse em E2 que endossava a E3 e
este endossava ao portador – podia acontecer que entre E1 e E2 houvesse um endosso
nominativo, e E2 pode falsificar a assinatura de E1 simulando o endosso de E1 a E2. Quando a
letra está em P E1 descobre tudo ele vai querer exigir a letra de volta para exercer o seu
direito e exigir o pagamento ao aceitante. Aqui entra o art.º 16º o detentor de uma letra é
considerado portador legítimo se justifica o seu direito por uma série ininterrupta de
endossos.

Se o tomador endossou a letra em branco, E1 podia preencher o espaço em branco e podia


colocar logo E2 não ficando assim obrigado cambiário.
Outra hipótese E1 podia pegar na letra apenas com o endosso do tomador e entregava em
mãos a E1 que entregava em mãos a E2 e a letra na prática circulava como letra ao portador.

Não sabendo o que aconteceu entre E1 e E2, sabemos que no momento em que E1 descobre e
quer reaver o direito, o portador preenche as condições do art.º 16º nº2, ele tem uma letra
em seu poder que exibe o saque, o aceite e o endosso ininterrupto e está protegido pelo art.º
16º nº2 e a consequência é a de que a menos que esteja de má-fé e devesse saber tudo o que
se passou, ele esta protegido e não tem de devolver a letra E1. Para justificar este regime, a
doutrina tradicional utiliza o Princípio da autonomia, dizendo que quando alguém adquire o
direito, este é originário e o portador não tem nada que ver com os vícios de titularidades
anteriores.

Alternativa ao art.º 16º: não podemos desconsiderar o art.º 14º, nº1 ao dizer que o
endosso transmite, logo é uma aquisição derivada translativa e o direito cambiário vai
circulando de esfera em esfera jurídica. O art.º 16º nº2 parece contemplar um caso de
proteção de boa-fé para excecionar o Princípio nemo plus iuris. A lei trata a situação como se
o portador tivesse adquirido e no art.º 16º estão preenchidos todos os requisitos: há uma
série regular de endossos e P adquiriu por confiar aparentemente em quem adquiriu – assim
fala-se não de princípio de autonomia de aquisição originária mas excepção à regra Nemo Plus
Iuris.

A face oposta do problema: é uma questão de titularidade do direito e se a pessoa quiser


Diana Simões
49

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


exercer o direito que está na letra, ou seja cobrar ao aceitante, precisa, ao abrigo do art.º
40º da legitimação formal que o endosso dá e é por esta razão que se diz que o endosso tem
uma função de legitimação formal do portador.

Art.º 1º e 2º - o art.º 1º tem uma lista do que tem de estar para que esta constitua uma
relação cambiária: tem de ter a palavra letra para que todos fiquem confiantes de e que estão
perante um regime cambiário; mandato puro e simples de pagar uma quantia pecuniária, sem
condições de se e mas; o nome do sacado, a época do pagamento, o vencimento; a indicação do
lugar em que se deve efetuar o pagamento; o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem seve
ser paga, o tomador; indicação da data de criação e lugar da letra e assinatura de quem saca a
letra, o sacador.

No nº2 diz que o escrito em que faltar algum dos requisitos não produzirá os efeitos da letra,
mas há uma serie de notas supletivas que suprimem algumas faltas. Se tivermos um
papel/impresso e a pessoa apenas assinar, não há indicação do sacador, valor e data de
pagamento e, em certos casos, isto pode ser uma letra em branco, ou como se diz nas lições,
pode ser também uma letra incompleta. Se for uma letra em branco e se for preenchida,
aplica-se o art.º 10º e parece ser essa a diferença.

Por exemplo; empréstimo de 5 000 euros ao banco, a esta entidade interessa que haja uma
letra para garantir o pagamento e neste caso, na letra não convém que esteja preenchida o
valor na letra, ou seja, nestes casos há uma livrança em branco. No contrato de mútuo existe
uma cláusula que menciona a existência de uma livrança em branco para garantir
responsabilidades futuras e incertas sendo que se o contrato for escrupulosamente
preenchido, o banco deve destruir aquela livrança. O acordo de preenchimento está na cláusula
que diz os casos e as condições em que a letra deve ser preenchida.

Art.º 10º - exemplo: em divida 2 500€ e o banco preenche por 3 000€ - a primeira posição
da lei é desproteger o subscritor em branco e proteger o portador, pois e alguém subscreve
uma letra em branco terá de suportar o risco, salvo se o portador tenha adquirido de má-fé ou
por falta grave e no nosso caso, a letra não circula, ou seja, a solução é virada para a tutela de
circulação mas obviamente que se a pessoa não merecer proteção, não será protegida quando
sabia ou devia saber do passado da letra.

Nas lições há uma serie de hipóteses: A emite letra em branco e entrega a B e B preenche
com valor diferente e transmite a C, este está de boa-fé? Teremos de ver esta parte nas
lições. A boa-fé é o conhecimento ou cognoscibilidade.

Caso Prático:
Abel carpinteiro

Diana Simões
50

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014


Quid Iuris?


Convém determinar o ponto de vista formal. Quem está a exigir pagamento é o tomador
legítimo da letra? Sim, a letra não circulou, pode ser ele a exigir o pagamento. Está a exigir
a quem tem de pagar? Sim, art.º 28º, ao aceitante por isso lhe chamamos obrigado
principal. O aceitante vem-se defender: há relação cambiária, a relação fundamental e no meio
temos convenção executiva.
Há relações mediatas ou imediatas entre Abel e Sótabuas? Há relações imediatas, estão
em posições consecutivas como estão ligados extra cambiariamente pela relação extra cambial
e convenção executiva.

Neste sentido, pode ou não exigir o cumprimento? Temos de mobilizar o art.º 17º que diz
que Abel não pode opor ao portador, sotabuas as relações pessoais (…) Princípio da abstração
mas este apenas se aplica às relações mediatas e não nas imediatas. No caso, existem relações
imediatas e a contrário, pelo art.º 17º podem opor essas exceções.
Aqui a letra não circulou e assim Abel já pode opor essas exceções porque estamos no domínio
das relações imediatas e aqui não vale o Princípio da abstração.
A solução alternativa de poder ou não opor exceções tem a ver com a eficácia externa das
obrigações. Note-se que o resultado é o mesmo, a explicação teórica é que diverge.

a) Belmiro é um terceiro e entre este e Abel não há nenhuma relação a não ser a
cambiária, apenas são credor cambiário e Abel, devedor principal e aqui vale
plenamente o Princípio da abstração consagrado no art.º 17º.

 Caso prático 2:
Pedro, portador de uma letra que lhe foi endossada em branco por Rui (tomador) fica sem ela
(…)
Quid Iuris?

Apenas sabemos haver um Rui que endossa a letra em branco a um Pedro e que o Pedro fica
sem a letra. A letra aparece nas mãos de Mário que vem exigir o pagamento ao Rui. Não
sabemos o que está para trás sobre sacador e aceitante.

M teria de apresentar a letra para pagamento ao aceitante e não a R e só se o aceitante


recusar é que se faz um protesto, a comprovação formal e condição para acionar os chamados
obrigados de garantia. Desde logo, há um problema porque M não devia ter apresentado a
letra a pagamento a R porque este só tem de pagar se o aceitante não o fizer e R podia
recusar-se a pagar.

Diana Simões
51

Direito Comercial I Aulas práticas 2013/2014

Imagine-se que M tinha exigido o pagamento ao aceitante e este não pagou, será ainda
assim M o portador legítimo? Pedro foi desapossado, isto é, no momento em que M parece
com a letra em seu poder, P poderá a partida reagir. A única maneira de se defender é
justificar a sua posição de portador legítimo por uma serie regular de endossos e de boa-fé,
mas se não o fizer, terá de devolver a letra a quem foi furtada e não pode exercer o seu
direito, uma situação eu exige a mobilização do P da autonomia que diz que cada aquisição é
originária.

Neste caso havia o aspecto formal de saber se a pessoa a quem se esta a exigir á que deve
pagar e quem exige tem legitimidade para tal e depois a mobilização do art.º 16º.

 Caso prático 3

Houve uma livrança em branco - temos um problema de circulação da letra em branco. Se a


letra tivesse permanecido a electrocoimbra, podia haver uma violação do acordo de
preenchimento e pelo art.º 10º podíamos defender a Emília.
Não sabemos em que termos circulou e aqui teríamos de colocar várias hipóteses:

1º Reforço operacional limitada recebeu a letra preenchida e não tinha razão de desconfiar:
está de boa-fé e a Emília tem de pagar, sendo o risco máximo que suporta o subscritor em
branco porque apesar da violação do acordo, o 3º está de boa-fé. Depois de pagar, Emília
poderá extra cambiariamente em ação declarativa com esse fundamento e exigir o reembolso
de tudo quanto pagou à electro Coimbra.

2º Reforço operacional sabia ou devia saber: se a Emília conseguir provar a má-fé ou falta
grave, consegue escapar ao pagamento e dizer haver violação do acordo de preenchimento

3º Se a letra tiver sido transmitida em branco, dificilmente haverá boa-fé.

Diana Simões

Vous aimerez peut-être aussi