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PSICOLOGIA SOCIAL E ESCOLA

Andréa Vieira Zanella

A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura


crítica implica a percepção das relações entre o texto e o
contexto. (Paulo Freire, 1981, p. 12).

Partindo do que nos aponta Paulo Freire, solicito que o leitor me acompanhe
na tarefa de buscar as relações entre o texto e o contexto: o texto aqui proposto,
o qual diz respeito à atuação do psicólogo no espaço escolar em uma
perspectiva social crítica; e o contexto, que se refere tanto à história da
psicologia escolar no Brasil quanto às suas implicações sociais e políticas.
Gostaria inicialmente de destacar a própria dificuldade com o título. Afinal,
várias são as terminologias adotadas: Psicologia Escolar; Psicologia Educacional;
Psicologia da Educação; Psicologia na Educação. Goulart (1987) e Davis e Oliveira
(1992) apresentam razões para essas diferentes terminologias, e com certeza
leitores ávidos em identificá-las poderão recorrer à bibliografia indicada.
De nossa parte, interessa demarcar que a diversidade e complexidade da
atuação do psicólogo (afinal, são tantas as chamadas “áreas de atuação”:
escolar, organizacional, do esporte, clínica, jurídica, comunitária, etc.) têm
revelado, ao que parece, como cada vez mais inadequada a discussão sobre
essas áreas de atuação tal qual vinha acontecendo, isto é, como áreas
estanques, separadas, com arcabouço técnico e teórico delimitado. Para
complicar ainda mais os leitores iniciantes na área, há uma diversidade enorme
de orientações teórico-metodológicas.
No que diz respeito à atuação do psicólogo, os esforços na delimitação de
espaços tão demarcados têm sérias implicações, sendo que me parece
importante assinalar ao menos uma: a não reflexão sobre as consequências
sociais e políticas dessas ações. Isto porque, se concordamos que o texto se
relaciona com o contexto que por sua vez se relaciona com o texto, certamente
entendemos que nossas ações sempre e necessariamente resultam de
situações e concomitantemente contribuem para a constituição de novos
contextos. Cabe, pois, refletir sobre esse novo contexto que estamos
produzindo.
A discussão da psicologia enquanto áreas de atuação nos parece, pois,
deslocada. Afinal, como nos aponta Eizirik (1988, p. 33):
Não é o lugar que define a postura de um profissional – embora nem todos pensem assim –, é
antes a capacidade de refletir criticamente sobre teorias, métodos e práticas, avaliando resultados
e pensando acerca das necessidades do país em que nos encontramos.
Espero que essas colocações iniciais ajudem o leitor a entender por que o
título se refere à atuação do psicólogo na escola: o local é demarcado, mas a
atuação profissional que defendemos é necessariamente múltipla, posto que
assim se caracteriza a realidade.

Psicologia e educação: uma longa história

Continuando a nossa conversa, faz-se necessário destacar alguns dados, ainda


que breves, a respeito das contribuições da psicologia à educação. Apesar de
“nova” enquanto ciência e profissão (vale lembrar que seu reconhecimento no
Brasil data de 1962), a presença da psicologia já era realidade em nosso país
desde o final do século passado e início deste século, seja através das teses de
conclusão de curso defendidas por médicos da Bahia e Rio de Janeiro, seja como
disciplina nos cursos de formação de professores (YAZZLE, 1990).
Contextos diferentes, mas com uma mesma perspectiva teórico-
metodológica: a do “ajustamento”, da identificação de distúrbios (sejam estes de
personalidade, de conduta, de aprendizagem), visando à correção dos mesmos
ou então à sua prevenção. Sob essa ótica, a psicologia exerceu sobre a educação
“...uma influência bastante nefasta, pois os problemas de escolarização passaram a
ser localizados basicamente nos próprios alunos e em suas famílias, geralmente
vistas como desorganizadas e desestruturadas” (ANDALÓ, 1997, p. 169).
Desse modo, mais do que contribuir com a superação do fracasso escolar, a
psicologia historicamente contribuiu para a legitimação do mesmo e,
consequentemente, para a manutenção da ordem social vigente. Isto na medida
em que os problemas sociais eram reduzidos a problemas psiquiátricos, sendo o
sujeito visto como “doente mental” em potencial.
Com a regulamentação da profissão, os serviços de psicologia junto às
instituições escolares caracterizaram-se por essa perspectiva, a qual ainda não
foi superada. Tanto isso é verdade que em um jornal de uma associação de
profissionais da área[1] encontramos a seguinte referência à atuação do
psicólogo:
É preciso que nos manifestemos a respeito do nosso perfil profissional, que mostremos o quanto
podemos fazer sob a ótica da saúde e do desenvolvimento, que convençamos a todos de que o
desenvolvimento de uma criança e de um jovem em um adulto sadio requer atenção e cuidados
especiais de uma grande equipe de técnicos, e que o psicólogo escolar é parte fundamental dessa
equipe. Ao mesmo tempo, é preciso que convençamos a todos de que um desenvolvimento
saudável na infância previne desajustamentos na idade adulta, ou melhor, que quando jovens
aprendem a identificar e a lidar com seus “pesadelos”, eles previnem problemas futuros.
Sob essa ótica a atuação pauta-se, portanto, em uma perspectiva preventivo-
curativa, em que os conhecimentos da psicologia são utilizados
fundamentalmente para o diagnóstico e intervenção junto a alunos que
apresentam as chamadas “dificuldades de aprendizagem”. Ao psicólogo é
atribuída, pois, uma função eminentemente técnica.
Em contraposição, temos a atuação do psicólogo em uma perspectiva social
crítica, o que caracteriza as discussões e trabalhos que vêm sendo
desenvolvidos pelos profissionais ligados à Abrapso (Associação Brasileira de
Psicologia Social). Partindo da compreensão de que o homem é social e
historicamente constituído e, concomitantemente, caracteriza-se como produtor
de cultura e história, a intervenção do psicólogo na escola pauta-se na análise
das situações educativas em sua complexidade, considerando os vários
aspectos aí envolvidos: históricos, econômicos, políticos, sociais etc.
Uma breve análise destas diferentes perspectivas de atuação junto às
instituições escolares é o que apresentaremos a seguir.

Psicólogo escolar – Técnico da Educação

Desde a sua inserção nas escolas, o psicólogo tem sido geralmente


considerado como um técnico que, juntamente com os demais especialistas da
educação (orientadores, supervisores e administradores escolares) contribui
para a maximização do processo ensino/aprendizagem.
A concepção desse trabalho como especialismo técnico-científico tem se
prestado, no entanto, a fins distintos do que os apregoados. Compreender essa
outra função nos remete à história da divisão social do trabalho (DST), fenômeno
que se consolidou no século passado. Como nos esclarece Coimbra (1990, p. 10),
mais do que em decorrência das necessidades tecnológicas, a DST originada nas
fábricas é explicada pela necessidade de fiscalizar, hierarquizar e disciplinar os
trabalhadores, delegando a estes funções cada vez mais distanciadas dos meios
e do processo de produção como um todo.
Essa função de fiscalização é assumida, portanto, pelo pessoal técnico. No
entanto, mais do que técnica a função destes é claramente política, pois consiste
em “...perpetuar a dependência dos operários, sua subordinação, sua separação
dos meios e do processo de produção” (GORZ in: COIMBRA, 1990, p. 10).
No contexto educacional brasileiro essa DST foi acentuada na década de 1970,
no auge do regime militar, na época do chamado milagre econômico brasileiro.
Através da lei 5.692/71, os especialistas da educação traziam consigo a proposta
de modernização da escola, herdada do taylorismo.
Aos técnicos, tidos como detentores do saber, caberia a função de assessorar
os professores, os que “não sabem”. Aos primeiros, pois, caberia a função de
planejamento, enquanto os docentes eram tidos como os executores.
Essa perspectiva aparece claramente em trabalhos que versam sobre o papel
do psicólogo escolar e que tem sido amplamente discutidos e divulgados em
cursos de formação do psicólogo em todo o Brasil, como é o caso do texto de
Reger. Para este autor, o objetivo básico do psicólogo escolar consiste em:
ajudar a aumentar a qualidade e a eficiência do processo educacional através da aplicação dos
conhecimentos psicológicos... Enquanto educador comprometido com a identidade do
acadêmico, o psicólogo escolar pode tentar ensinar a outros profissionais no sistema escolar
(REGER, 1989, p. 14/15 – grifo nosso).
Essa perspectiva ainda é compartilhada por grande parte dos profissionais
que atuam em escolas ou que discutem a questão, conforme apontamos
anteriormente. Desse modo, assumindo uma atuação eminentemente técnica, o
psicólogo, mais do que contribuir com a escola na discussão de seus impasses,
legitima a hierarquização do trabalho, assumindo função de controle. Nesse
sentido, nega aos demais (professores, alunos, orientadores, pais, diretores,
merendeiras etc.) a possibilidade de se perceberem como corresponsáveis tanto
pela realidade encontrada quanto por um projeto social outro que se queira
construir.
Superar essa atuação politicamente comprometida com a manutenção do
status quo vigente requer deste profissional, entre outras coisas, a compreensão
do caráter histórico da divisão social do trabalho. Desse modo este poderá atuar
no sentido de “desmistificar esses territórios tão bem marcados e fechados – do
‘não saber’ e ‘saber’ – para que outros saberes possam fluir e circular, saberes
que não seriam monopólio de uns poucos” (COIMBRA, 1990, p. 14).

O psicólogo na escola – Para além da função técnica

Repensar o papel do psicólogo requer, como foi apontado acima, superar a


visão técnica. Mas afinal, se a função do psicólogo não é técnica (ou não
somente técnica), como podemos entendê-la?
Toda e qualquer ação humana (aí incluindo-se o quefazer psicológico) é
sempre e necessariamente política, pessoal, social e histórica. É, nesse sentido,
concomitantemente afetiva, cognitiva, social, motora, posto que em toda e
qualquer situação apresentamo-nos como um todo, enquanto sujeitos histórica
e socialmente constituídos e, ao mesmo tempo, como constituidores ativos do
contexto no qual nos inserimos. A nossa ação, portanto, está sempre
comprometida, tenhamos consciência disso ou não, com um projeto de
sociedade.
Desse modo, necessária se faz a reflexão crítica constante sobre a nossa
atuação. Por sua vez,
...as perguntas críticas que os psicólogos devem se formular a respeito do caráter de sua
atividade e, portanto, a respeito do papel que está desempenhando na sociedade, não devem
centrar-se tanto no onde, mas no a partir de quem; não tanto em como se está realizando algo,
quanto em benefício de quem; e, assim, não tanto sobre o tipo de atividade que se pratica (clínica,
escolar, industrial, comunitária ou outra), mas sobre quais são as consequências históricas
concretas que essa atividade está produzindo (MARTIN-BARÓ, 1997, p. 22).
Considerando essas questões, como pode então ser entendida a atuação do
psicólogo junto às instituições escolares? Recorro a Paulo Freire (1983) que há
muito nos alertou para o fato de que cabe aos profissionais de um modo geral e
aos profissionais que atuam na educação, como é o caso, constituírem-se como
trabalhadores sociais, historicamente comprometidos com o processo de
mudança.
Desse modo, o psicólogo, entendido como trabalhador social, teria como
papel “atuar e refletir com os indivíduos para conscientizar-se junto com eles das
reais dificuldades da sua sociedade” (FREIRE, 1983, p. 56).
Nesse processo de atuação conjunta, de produção coletiva de uma nova práxis
educativa, o psicólogo pode contribuir em muito com a análise e
redimensionamento das relações sociais que se estabelecem no contexto
educacional. E por que essa questão é importante?
As relações sociais caracterizam-se como palco onde as significações são
coletivamente produzidas e particularmente apropriadas. É, pois, nas relações
sociais que os homens constituem-se enquanto sujeitos, enquanto capazes de
regular a própria conduta e vontade. Tal compreensão vem ao encontro dos
postulados de Vygotsky (1987), o qual esclarece que as funções psicológicas
superiores[2] são constituídas nas e pelas relações que o homem estabelece
com outros homens, num movimento dialético que compreende o social e o
particular, sendo ambos mutuamente constitutivos.
As relações sociais entabuladas no contexto escolar, por sua vez, organizam-
se em razão das atividades que caracterizam a própria escola: o ensinar e o
aprender. Ao falarmos em redimensionamento das relações sociais
enfatizamos, pois, a necessidade de que essas possibilitem a todos a
concretização com pleno êxito das atividades citadas, de modo a que o acesso
ao conhecimento historicamente produzido possa efetivamente ser prerrogativa
de todos.
A atuação de psicólogo caracteriza-se, nesse sentido, como ação voltada para
a cidadania, sendo esta entendida enquanto possibilidade de os indivíduos “...se
apropriarem dos bens socialmente criados, de atualizarem todas as
possibilidades de realização humanas abertas pela vida social em cada contexto
historicamente determinado” (COUTINHO, 1994, p. 14).
Desse modo, procurando conhecer a realidade escolar como um todo, com
suas múltiplas determinações, o psicólogo pode contribuir para o repensar da
escola, na medida em que redimensiona sua própria atuação e contribui para
que os demais integrantes desta reflitam também sobre a forma como
agem/interagem frente ao real. Estaria, assim, contribuindo efetivamente para a
transformação social pois, como nos esclarece Freire (1983, p. 50),
...no momento em que os indivíduos, atuando e refletindo, são capazes de perceber o
condicionamento de sua percepção pela estrutura em que se encontram, sua percepção muda,
embora isso não signifique, ainda, a mudança da estrutura. Mas a mudança da percepção da
realidade, que antes era vista como algo imutável, significa para os indivíduos vê-la como
realmente é: uma realidade histórico-cultural, humana, criada pelos homens e que pode ser
transformada por eles.
O compromisso do psicólogo no contexto educacional deve ser, portanto, com
a superação da dicotomia planejamento/execução que alija os professores/os
alunos/os pais/as faxineiras e outros da possibilidade de conhecimento,
imputando a estes o posto da submissão, do não ser capaz, do não saber. Às
relações de dominação/submissão contrapõem-se as relações de cooperação,
marcadas por laços de solidariedade e pelo compromisso com uma sociedade
não exclusora, onde os direitos civis, políticos e sociais possam efetivamente ser
prerrogativa de todo cidadão.
O quefazer psicológico crítico no contexto escolar caracteriza-se, portanto,
como ação pautada pela indignação em relação a toda e qualquer forma de
violência, como ação que se opõe aos processos de exclusão social e, nesse
sentido, ao fracasso escolar. A atuação que se almeja é comprometida, assim,
com um projeto de realidade que busca para todos uma “vida mais digna de ser
vivida” (CROCHIK, 1992).

Sugestão de leituras

Entendendo a atuação do psicólogo como múltipla, posto que assim se


caracteriza a realidade, várias são as leituras que poderiam ser indicadas.
Apontarei aqui algumas que me parecem importantes, destacando que
certamente muitas outras igualmente relevantes poderiam aqui constar.
Dois livros já considerados clássicos e indispensáveis, ambos de Maria Helena
Souza Patto, são: Psicologia e ideologia (São Paulo: T.A. Queiroz, 1984) e A
produção do fracasso escolar (São Paulo: T.A. Queiroz, 1990). Mais recente temos
o livro Psicologia escolar: em busca de novos rumos (São Paulo: Casa do Psicólogo,
1997), organizado por Adriana M. Machado e Marilene P.R. de Souza.
A respeito do sucesso escolar uma coletânea de textos importantes e críticos
encontra-se no Cadernos Cedes n. 28, editado pela Papirus.
Por fim, textos que caracterizam a perspectiva da Abrapso podem ser
encontrados na revista Psicologia e Sociedade e no livro Psicologia e práticas
sociais, este editado pela Regional Sul da Abrapso.
Bibliografia

ANDALÓ, Carmen S. Psicologia e educação. In: ZANELLA, A.V. et al. Psicologia e


práticas sociais. Porto Alegre: Abrapsosul, 1997.

COIMBRA, Cecília. A divisão social do trabalho e os especialismos técnico-


científicos. Revista do Departamento de Psicologia da UFF, a. II, n. 2. 1 sem., 1990.

COUTINHO, Carlos N. Cidadania, democracia e educação. In: BORGES, A. et al.


Escola: Espaço de construção da cidadania. São Paulo: FDE, 1994.

CROCHIK, José Leon. Notas sobre a relação ética-psicologia. Psicologia, ciência e


profissão. CFP, a.12, n. 2, 1992.

DAVIS, Cláudia & OLIVEIRA, Zilma. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez,
1992.

EIZIRIK, Marisa F. Psicologia hoje: uma análise do quefazer psicológico. Psicologia,


ciência e profissão, a.8, n. 1, 1988.

FIGUEIREDO, Luís Cláudio. Matrizes do pensamento psicológico. Petrópolis: Vozes,


1991.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam.


São Paulo: Cortez, 1990.

––––––. Educação e mudança. São Paulo: Paz e Terra, 1983.

GOULART, Íris Barbosa. Psicologia da educação: fundamentos teóricos e


aplicações à prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 1987.

MARTIN-BARÓ, Ignacio. O papel do psicólogo. Estudos de Psicologia, a.2, n. l, 1997.

REGER, Roger. Psicólogo escolar: educador ou clínico? In: PATTO, M.H.S. (org.).
Introdução à psicologia escolar. São Paulo: T.A. Queiroz, 1989.

VYGOTSKY, Lev Semionovitch. História del desarrollo de las funciones psíquicas


superiores. La Habana/Cuba: Científico-Técnica, 1987.

YAZZLE, Elisabeth G. A formação do psicólogo escolar no estado de São Paulo:


subsídios para uma ação necessária. São Paulo: 1990. Dissertação (mestrado).
PUC-SP.

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