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Introdução
A catequese hoje quer recuperar o catecumenato como “modelo inspirador” de toda catequese,
quer seja pré como pós-batismal, como processo que leva à verdadeira iniciação cristã e a uma forte
experiência da fé cristã. (cf DGC 88-91; DNC 14 f, 48). O catecumenato oferece uma dinâmica especial à
catequese porque é um “processo formativo e verdadeira escola de fé”.
1. Catecumenato Antigo
2. Catecumenato Hoje
1
Israel José NERY, Catequese com adultos e catecumenato. São Paulo, Paulus 2001, p. 131.
2
Victor Hugo ESCALANTE, Itinerário catecumenal para adultos (a manera de esquema desarrollado em la
conferencia). Encuentro Regional de Catequesis para México, Centroamérica y el Caribe. San Salvador 22-26
Agosto 2005, p. 1.
2
Como vimos na palestra anterior, hoje, após vários séculos de histórias, a Igreja julga
necessário restabelecer o catecumenato. Em 06 de janeiro de 1972 Paulo VI aprovou o Ritual da
Iniciação Cristã de Adultos (RICA ou OICA) elaborado pela Congregação para o culto divino. É
um livro litúrgico que, como diz o título, está orientado em primeiro lugar à iniciação cristã de
adultos (entendido como preparação para o batismo), mas apresenta também um rico capítulo
sobre aqueles que, batizados na infância, não receberam a devida catequese ou iniciação (se
tomamos iniciação no sentido não apenas sacramental, mas também como processo de
descoberta e vivência da fé cristã). Um outro capítulo descreve os “ritos de iniciação de crianças
em idade de catequese”.
Publicado nas várias línguas mais conhecidas, em português teve uma re-edição em 2001,
preparado pelo setor de Liturgia da CNBB, com a participação sobretudo do Pe. Domingos
Ormondi. A nova edição 3 apresenta uma organização do conteúdo e diagramação um pouco
diferentes com o intuito facilitar mais o seu uso.
Pe. Antonio Francisco Lelo, assim resume algumas características deste livro litúrgico:
3
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO, Ritual da Iniciação Cristã de Adultos. São Paulo, Paulus 2001
3
somente estes, não isoladamente mas em conjunto, conduzem os fiéis à sua plena estatura em
Cristo 4.
2.2 O esquema apresentado para o itinerário catecumenal conforme o RICA, pode ser
esquematizado conforme a apresentação do Diretório Geral para a Catequese no. 88:
“En el catecumenado bautismal, la formación se desarrolla en cuatro etapas:
a) el precatecumenado, caracterizado porque en él tiene lugar la primera evangelización
en orden a la conversión y se explícita el kerigma del primer anuncio;
b) el catecumenado, propiamente dicho, destinado a la catequesis integral y en cuyo
comienzo se realiza la « entrega de los Evangelios »;
c) el tiempo de purificación e iluminación, que proporciona una preparación más intensa
a los sacramentos de la iniciación, y en el que tiene lugar la «entrega del Símbolo» (RICA 25 y
183-187) y la «entrega de la Oración del Señor»;
d) el tiempo de la mystagogia, caracterizado por la experiencia de los sacramentos y la
entrada en la comunidad”.
4
Antonio Francisco LELO, A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São Paulo:
Paulinas 2005, pp. 46-47
4
d) o tempo da mistagogia: visa a progresso no conhecimento do mistério pascal através
de novas explanações, sobretudo da experiência dos sacramentos recebidos, e a
começar a participação integral da comunidade (cf RICA 37-40).
A formação propriamente catecumenal, conforme a mais antiga tradição, se realiza
através da narração das experiências de Deus, particularmente da História da Salvação mediante
a catequese bíblica. A preparação imediata ao Batismo é feita por meio da catequese doutrinal,
que explica o Símbolo Apostólico e o Pai Nosso, com suas implicações morais. Este processo é
acompanhado de ritos e escrutínios. A etapa que vem depois dos sacramentos de iniciação,
mediante a catequese mistagógica, ajuda os neobatizados a impregnar-se dos sacramentos e a
incorporar-se na comunidade (cf DGC 89; cf CR 222)”. (DNC 44-45).
2.4 Este itinerário catecumenal tem como finalidade ajudar a pessoa a tornar-se cristão,
mergulhado no mistério pascal e participante da comunidade eclesial, vivendo a vida nova da
união com Cristo, buscando assemelhar-se a ele. É uma proposta de processo com um tempo
prolongado, com etapas definidas, celebrações e ritos variados que dão mais vigor à assimilação
da vida cristã. Um grande valor deste itinerário catecumenal está também na importância da
comunidade eclesial e das celebrações litúrgicas. Tudo isso leva o catecúmeno a uma verdadeira
conversão, a um relacionamento pessoal e contínuo com Deus e imprime à catequese dinamismo,
criatividade e caráter celebrativo.
Os quatro tempos do itinerário, adaptados à realidade de hoje, têm estas características
principais 5:
a) Um momento de apresentação de Jesus Cristo, de uma maneira dinâmica e convicta,
mais por meio do testemunho que propriamente por “demonstração” a fim de motivar e iluminar
a pessoa sobre a “boa nova de Jesus Cristo” e a alegria em segui-lo. É a fase da evangelização,
como anúncio e experiência concreta de comunidade fraterna, em clima de oração.
b) Momento da catequese específica: aprofunda a primeira adesão ao Senhor através da
iniciação nas Sagradas Escrituras e nos elementos fundamentais da fé (doutrina cristã). No caso
dos não batizados, tudo é orientado para a recepção do “banho sagrado”; no caso dos já
batizados, é o momento de aprofundar e reviver a própria realidade de batizado, descobrindo e
conscientizando-se das riquezas do “mergulho e participação no mistério da morte e ressurreição
de Jesus”. Este momento é concluído com o pedido para o passo seguinte ou renovação das
promessas e compromissos batismais, agora assumido pela pessoa de um modo mais consciente.
c) O terceiro tempo, que na antiguidade era a preparação imediata ao batismo na noite
pascal, precisa ser recriada para facilitar ao catecúmeno atual uma vivência muito especial da
noite de Páscoa, ou aquele momento que for colocado no término do processo catecumenal.
Talvez pudesse dar uma conotação de retiro de três dias do Tríduo Sagrado e dar destaque aos
catecúmenos (os que se preparam para o batismo) na noite pascal.
d) Assim como o neobatizado passava a integrar plenamente a comunidade eclesial como
membro partícipe da mesa eucarística e da vida da Igreja, é importante visibilizar de algum
modo este fato: o cristão, agora mais preparado pelo catecumenato, passa a ser membro efetivo
da comunidade e participante plenamente da Eucaristia.
6
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL,, Catequese renovada. Orientações e conteúdo. (Documentos da
CNBB 26), S. Paulo 71984, n° 93 retoma o Sínodo sobre a catequese (1977): «Para qualquer forma de catequese se
realizar na sua integridade, é necessário estarem indissoluvelmente unidos: o conhecimento da Palavra de Deus, a
celebração da fé nos sacramentos, e a confissão da fé na vida cotidiana».
7
RICA, nº.s 38, 39, 40, 118, 171, 178, 373.5, 383, por exemplo.
8
Cf A. F. LELO, p. 68-69; 91
9
Quadro reproduzido por Victor Escalante em sua palestra no encontro dos outros dois Regionais do CELAM.
6
Este itinerário pode ser visualizado de uma outra maneira na seguinte Síntese do
Caminho:
7
4 TEMPOS – 3 CONTEÚDOS CELEBRAÇÕES COMPROMISSOS
ET
AP
AS
1. Pré-Catecu- 1- Iniciação ao grupo da Acolhida Entrega do crachá (25 de
m Frater 1º Domingo Advento março) para compromisso aos
nidade encontros semanais na
en e Fraternidade da Palavra.
at Palavr Ler o Evangelho de
o a. Marcos depois do Natal.
Advento 2003 2- Iniciação a Bíblia. Conversas com o
Advento 2004 3- Iniciação a Oração. Acompanhante.
4- Iniciação a Conversão Participação nos Retiros
Nome: 5- Iniciação ao Querigmáticos.
SIMPATIZANTES Testemunho Escrutínios com auto-
missionário. avaliação.
6- Iniciação aos Tempos Pedido para inscrever-se
Litúrgicos. 1a Etapa no Catecumenato.
Nº 10 Catequeses
Querigmáticas
Nº 10 catequeses da
história da Salvação
como Querigma
2. Catecumenato Nº8 catequeses: Acolher Inscrição Livro dos Leitura orante diária da
Advento 2004 a Cate Bíblia com oração.
Aparecida 2005 salvaç cúm Celebrar casamento: civil-
(10 meses) ão no enos religioso.
ano . Participar na própria
Nome: litúrgi Unção Pré-Batismal. comunidade da Liturgia
CATECÚMENOS co (para aqueles que não dominical da Palavra.
Nº9 catequeses: Seguir tem banho batismal) Pedido dos sacramentos
Cristo para ser cristão
Nº8 catequeses: entrar
na Igreja 2a Etapa
3. Iluminação Nº3 catequeses: ser Inscrição do nome Celebração do Sacramento
Aparecida 2005 cristão dos Eleitos. da Penitência e da Unção dos
Cristo-Rei 2005 hoje Entrega na Enfermos.
(40 dias) Nº5 retiros de comunidade do Pai- Preparação a celebração
ilumin Nosso e do Creio. dos Sacramentos (dois ou
Nome: ação 3 Etapa: Celebração três).
a
Por ser um livro litúrgico (alguns gostariam de chamá-lo mais de itinerário litúrgico),
falta ao RICA o específico catequético. A catequese se concentra particularmente no segundo
tempo (catecumenato) e no quarto (mistagogia). Conforme o Diretório Geral para a Catequese o
conteúdo essencial da catequese está concentrado nas “sete pedras fundamentais”: quatro
colunas da exposição da fé que provêm da tradição dos catecismos (o símbolo, os sacramentos,
as bem-aventuranças-decálogo e o Pai-Nosso), e as três etapas da História da Salvação
(dimensão narrativa da fé) que provém da tradição patrística (o Antigo Testamento, a vida de
Jesus Cristo e a História da Igreja) (Cf DGC nº 130; cf 128; DNC 127)..
No exemplo de itinerário brasileiro que estamos apresentando, o índice do momento
explícitamente catequético (catecumenato propriamente dito ou segundo tempo), é o seguinte:
Conforme o DGC o itinerário catecumenal, modelo de toda catequese, não deve ser
reproduzido mimeticamente, isto é, tal qual era vivido nos inícios da Igreja. São necessárias a
devida adaptação e inculturação. Nós na América Latina, temos um maneira própria de viver e
expressar a fé que é comum a toda a Igreja, fruto principalmente dos grandes momentos
históricos de Medellín, Puebla e Santo Domingo.
9
5.1 Com relação ao Brasil podemos acentuar 10, por exemplo o princípio metodológico da
“interação fé e vida” que perpassa nossas Igrejas, ao menos como esforço. A fé é vivida a partir
da realidade sócio-política-econômica-cultural. Este método tem por finalidade encarnar a fé na
vida dos batizados, considerando nossa maneira de viver e se expressar no mundo de hoje. O
itinerário, em sua totalidade, entre nós precisa estar impregnado desta interação fé e vida, que
leva os cristãos a professarem a fé bem por dentro da própria vida.
Para isso muito tem ajudado, com todas as evoluções, adaptações e variações, o já
tradicional método “ver, julgar e agir”. A este respeito, assim se expressa o DNC: “O método ver,
julgar, agir, por experiência e tradição na pastoral latino-americana, tem trazido segurança e
eficácia na educação da fé, respondendo às necessidades e aos desafios vividos pelo nosso povo.
Entre nós o termo julgar está sendo substituído por iluminar. Nesse processo do ver-iluminar-
agir acrescentaram-se o celebrar e o rever. Não são passos estanques nem seqüência de
operações, mas trata-se de um processo dinâmico na educação da fé” (no. 153).
É preciso dizer também que a celebração dos sacramentos, e particularmente, no
itinerário catecumenal, os sacramentos da iniciação, têm uma repercussão em toda a vida do
cristão, quer pessoal, como comunitária e social. De fato: “O mistério pascal celebrado como
cume e fonte da vida cristã oferece sentido à continuidade do culto na vida, o Dom recebido na
celebração gera o compromisso de transformação histórica, pois trata-se sempre do Reino que
irrompe tanto na celebração quanto na vida do fiel com a força do Espírito que impele ao
seguimento de Cristo, realizando a vontade do Pai [...]. O sacramento conecta a defesa da vida,
sua fonte faz brotar a vida plena. As lutas históricas de uma comunidade que sabe ler a sua vida à
luz da Páscoa do seu Senhor, alinham-se com a finalidade sacramental: produzir a vida em
Cristo. Acaba levando a vida para os sacramentos e os sacramentos para a vida. A própria
concepção popular valoriza o sacramento acima de qualquer motivação” 11.
Porém, há, entre nós, algo também de muito particular: é o modo pelo qual se lê, se
interpreta e se vive as Sagradas Escrituras. Seguindo os passos da “pedagogia divina” que se
revelou historicamente, isto é, a partir e bem por dentro da realidade humana, também nós hoje
nos esforçamos por viver, expressar e celebrar esta Palavra de Deus a partir da cultura, de nossos
problemas concretos, dos desafios existenciais. Um método, já antigo, mas que foi inculturado
entre nós e se vai consagrando cada vez mais, é o da “lectio divina” ou, como chamamos “a
leitura orante” das Sagradas Escrituras. Por ele, segundo Carlos Mesters, um de seus grandes
impulsionadores, procuramos “levar a Bíblia para a vida e trazer a vida para dentro da Bíblia”,
numa interação fecunda e integral.
Hoje, devido a vários fatores, entre os quais se colocam alguns movimentos, é necessário
sempre estar atentos ao perigo de uma leitura fundamentalista da Bíblia, que distorce e destrói
todo o sentido da Palavra de Deus.
5.3 Outra grande característica de nossa vivência cristã é a dimensão comunitária, que
implica viver e expressar a fé não somente no âmbito pessoal e individual (o que é também
muito importante), mas também juntos, como comunidade, como Igreja em seus diversos níveis;
10
Cf. A. F. LELO, A iniciação cristã, o. c., principalmente o capítulo 7: “Estilo Catecumenal Brasileiro”, pp 139-163.
11
ID., Ib., pp..
10
não somente nos modelos tradicionais de Igreja local e paróquias, mas principalmente conforme
o modelo das pequenas comunidades.
Se no passado, principalmente nos períodos compreendidos entre a Conferência de
Medellín e a Conferência de Santo Domingo (décadas de 60 a 90) vigorou com intensidade o
modelo das CEBs (comunidades eclesiais de base), este permanece em amplos setores da Igreja,
e deixou a marca de sua originalidade em todos os segmentos da Igreja 12. Compreendemos
melhor a estrutura paroquial como rede de comunidades, o protagonismo dos leigos no anúncio
do evangelho e na organização da estrutura da comunidade: mais do que numa Igreja jerárquica
pensamos numa Igreja toda ela ministerial.
12
No Brasil realizou-se recentemente (julho de 2005) o 11o. Encontro Inter-eclesial de Comunidades Eclesiais de
Base, demonstrando a permanência e vivacidade das CEBs entre nós.
13
Aqui faço uso abundante e muito próximo do texto de Agenor BRIGHENTI, Princípios e metodologia da animação
bíblico-ctequética, apresentados no 8o. Encontro Bíblico-Catequético Nacional, recentemente realizado em Belo
Horizonte, de 06 a 09 de Outubro de 2005 (suas apostilas serão publicadas na coleção Estudos da CNBB)..
11
entra a dimensão comunitária: a fé cristã é sempre crer com os outros e naquilo que os outros
crêem.
6.3 Com relação à Palavra de Deus (Bíblia) o itinerário catecumenal facilita a prática
daquele princípio pelo qual “o lugar privilegiado da leitura das Escrituras é a Liturgia”. Uma
espiritualidade eclesial pressupõe uma espiritualidade bíblica, fruto da Palavra que se faz oração,
meditação, contemplação e ação. De fato, é a celebração no simbolismo do rito que a fé antecipa
aquilo que ela espera. Por sua vez, a Palavra, lida e celebrada na Liturgia, leva à adesão ao
sacramento da comunidade, ou seja: aquela manifestação histórica e prolongamento do próprio
Verbo de Deus. A fé cristã ou é eclesial, ou não é; cristãos sem Igreja é um contra-senso pois
crer, como se disse acima, é sempre crer com os outros e naquilo que os outros crêem. Além
desta dimensão eclesial, a Palavra tem uma função pedagógica: ela não informa simplesmente,
nem veicula um conjunto de verdades; ela é interpeladora enquanto suscita uma resposta
concreta, diante dos acontecimentos da vida. Enquanto narrativa (tradição patrística), ela narra os
fatos e acontecimentos e os interpreta, para que cada um e a comunidade toda saiba ler a vontade
de Deus e seus desígnios nos acontecimentos de hoje. Na catequese, mais importante do que
falar da Bíblia, é propiciar condições para que os próprios catequizandos ou catecúmenos, pouco
a pouco, aprendam a entrar em contato direto com o texto das Escrituras. Neste sentido é
necessário que o itinerário catecumenal seja eminentemente bíblico: bíblico na temática, na
espiritualidade, nos conceitos e no vocabulário.
6.4 Do ponto de vista metodológico (odós – caminho) se poderia indicar alguns passos:
6.4.1 O primeiro seria a inserção gratuita e respeitosa no contexto onde se quer
desencadear um processo de transmissão do Evangelho. Trata-se daquela empatia com os
interlocutores sobre a qual tão bem se expressou a Gaudium et Spes: “as alegrias e tristezas,
angústias e esperanças” dos nossos interlocutores, são também as do evangelizador, do
catequista. Evangelizar significa testemunhar uma atitude de respeito e de acolhida das pessoas e
de suas realidades, por causa de Deus e da obra que Ele já realizou no meio delas... (antes do
missionário, já chegou o Espírito Santo!). Trata-se da evangelização implícita na medida em que
a simples vivência da fé vai sensibilizando, abrindo espaço nos corações e criando condições
para um diálogo, para que haja uma abertura à revelação de Deus.
Trata-se de estabelecer uma relação de empatia14: compreender corretamente o que
experimenta o outro, sobretudo seus sentimentos e vivências, situar-se no lugar dele e tentar
comunicar esta compreensão mais com gestos concretos que com palavras, deduzindo, por
analogia o conhecimento do outro a parir do conhecimento que se tem de si próprio. Isso implica
apresentar-se com humildade, numa perspectiva de também aprender com o outro, reconhecendo
os próprios limites. Somente quando se aceita e se reconhece as próprias sombras, se está em
condições de aceitar o outro e de compreendê-lo.
6.4.2 O segundo passo seria a relação de diálogo, não entre sujeitos e destinatários,
mas diálogo de inter-locutores, principalmente tratando-se de adultos que iniciam ou retomam
sua caminhada de fé. A evangelização em geral, e em particular o itinerário catecumenal com
adultos, é sempre um caminho de mão dupla: o catequista mais do que falar somente ele, precisa
também escutar muito. A atitude de escuta e de comunicação respeitosa faz parte do anúncio. Se
acima falamos de empatia, aqui é o lugar de falar da simpatia, capacidade de dar espaço e ouvir
perguntas e interrogantes no processo de evangelização. O diálogo comunica e transforma:
conforme Paulo Freire, no diálogo a palavra, mais do que um meio, é reflexão e também práxis
criadora e transformadora. O diálogo sempre é dom, e jamais instrumento de conquista: nutre-se
de amor, da humildade, da confiança e da esperança, que constituem seu fundamento e matriz.
14
Aqui empatia no sentido de Hebreus 5, 2: “Todo Pontífice é capaz de ter compreensão por aqueles que ignoram ou
erram, porque ele mesmo está cercado de fraquezas...”.
12
6.4.3 O terceiro passo, ainda no dinamismo da Encarnação, e do “assumir para
redimir” (S. Irineu de Lião), vai na direção de identificar e reconhecer os valores da pessoa e de
sua comunidade como “sementes do Verbo”. Tais valores não são obstáculos, mas preparação ao
Evangelho (cf LG 16) ou “pedagogia para o Deus verdadeiro” (AG 3). O critério para o
discernimento será sempre o Jesus Cristo: daí a necessidade de despojar-se dos próprios critérios
e dos critérios “do mundo”, e capacitar-se com aquilo que somente Deus pode dar: a sabedoria
evangélica.
6.4.4 Com o quarto passo é que se inicia propriamente a evangelização explícita. EN
que enaltece e prioriza o testemunho, adverte que sempre é necessário “o anúncio claro e
inequívoco de Jesus Cristo” (no. 22). A Igreja não pode dispensar-se deste “mandato explícito”
de Cristo, como também “não pode privar aos homens da Boa-Nova de que são amados e salvos
por Deus” (RMi 44). Estamos em pleno anúncio querigmático: fazer um apelo para que a pessoa
se abra e responda ao convite do amor de Deus em Cristo seu Filho pela nova vida no Espírito.
E para isso é preciso facilitar o acesso direto ao texto bíblico para que haja uma recepção original
da Mensagem.
6.4.5 No quinto passo do processo evangelizador coloca-se a mútua evangelização:
não somente do catequista em direção aos interlocutores (catecúmenos/catequizandos), como
também destes àquele. Trata-se do desencadeamento de uma reflexão crítica comum ou de um
discernimento conjunto, no sentido de cada um ajudar ao outro a não absolutizar o próprio modo
de viver diante da transcendência do Evangelho, e nem o seu modo de apropriação do mesmo.
6.4.6 O sexto passo consiste em tentar fazer uma simbiose entre “vida e Evangelho”,
tanto por parte do catequista como dos interlocutores (princípio da interação fé-vida). Trata-se
de assimilar o Evangelho a partir do núcleo de valores e do modelo de vida dos interlocutores e
não em fazer uma mera adaptação externa. Sem inculturação o Evangelho ficaria na superfície.
E no dizer de L. Boff, “não é tanto o Evangelho que se incultura, senão é a cultura que incorpora
a seu modo o Evangelho”, pois o Evangelho não existe quimicamente puro fora da cultura.
Podemos aqui dizer que o rito da “redditio” no catecumenato, tem justamente esta dimensão de
inculturação: o catequizando “recebe” (traditio) o Evangelho, mas também o “devolve”
(redditio) à Igreja enriquecido com seu modo próprio de ser. E assim, a tradição vai se
enriquecendo.
6.4.7 E isto nos leva ao sétimo e último passo: revitalização da comunidade eclesial,
com “fisionomia própria” (EN 63), profundamente enraizada na vida de seus membros (AG 15).
É um dos grandes frutos do catecumenato: levar à criação de comunidades eclesiais ou
revitaliza-las.