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Meditare
Conselho Editorial
Mantenedora de: Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Divinópolis; Faculdade Divinópolis e
Faculdade de Arte e Design.
Editoria: Instituto de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão.
Conselho Editorial:
Jurandir Marques Silva Júnior - FACED
Leandro Maia – FACED
Mônica Fischer – FACED
Neusa Gontijo da Fonseca Monteiro – FACED
Arte- Final / Diagramação: Eduardo Antônio Medeiros Souza
Revisão: Edson Ferreira Gonçalves
Diretor: Célio Fraga da Fonseca
Anual
ISSN: 2236-9678
Revista Meditare
Revista Eletrônica dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação
Gostaríamos de agradecer aos colegas que muito gentilmente aceitaram nosso convite para
participar do Conselho Editorial, respaldando a seriedade que buscamos para a Revista Meditare.
Da mesma forma, agradecemos àqueles que atendem prontamente nossa chamada por colabo-
ração e concordam, de modo desprendido, em apoiar nossa publicação. Esperamos sempre cor-
responder ao apoio que nos é dado.
Clarice Santiago Neto, Gladson Henrique Silva, Eliane Soares Mendes Franco
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JUSTIÇA RESTAURATIVA
Luciana Lopes de Oliveira, Simone Matos Rios Pinto
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RESUMO
ABSTRACT
This paper discusses the practical application of the principle of efficiency in TRE-MG to examine
the accounts of the candidates in the 2012 elections and its link with the quality of public service
delivery, the number of agents and the deadlines for providing analysis accounts.The research
methodology is bibliographic article and analysis of statistical data from the site of TRE-MG Ab init-
tio, the study will address constitutional principles and doctrinal Public Administration. Immediately
thereafter, will be highlighted the principle of efficiency and analysis of the accounts of TRE miner
candidates in the 2012 elections.
KEYWORDS: Principle of Efficiency, Regional Electoral Court of Minas Gerais, Republic of goals.
I – NOTAS INTRODUTÓRIAS
Os princípios são normas que orientam todo o ordenamento jurídico constitucional, esta-
belecem diretrizes imprescindíveis para sua configuração, revelam os valores e a ideologia do
constituinte originário, oferecendo um sentido lógico, harmônico e racional. Sendo normas dotadas
de normatividade e positividade, possuem efeito vinculante e aplicabilidade imediata e devem ser
observados pela a administração pública para melhor atender a sociedade.
O artigo 37, caput, da Constituição Federal estabelece os princípios constitucionais da ad-
ministração pública, também chamados expressos. Uma vez que a observância deste preceito é
imprescindível, qualquer atuação da administração pública deve ser com ele compatível, sob pena
nulidade dos atos.
Outros princípios importantes para o ordenamento jurídico, e não expressos no texto con-
stitucional federal, são elencados nas Constituições Estaduais como a de São Paulo, que pre-
screve: razoabilidade, finalidade e motivação4. A Constituição Estadual de Minas Gerais também
traz princípios próprios5.
Por fim, serão mencionados alguns relevantes princípios que se relacionarão ao presente
trabalho e são reconhecidos pela doutrina e pela jurisprudência.Todos esses possuem mesmo
peso e relevância do que aqueles expressos e, por essa razão, devem ser observados com mesmo
rigor pela Administração.
O Princípio da Legalidade tem sua origem no artigo 5°, inciso II da Constituição da República
de 1988 e trata-se de um princípio basilar do ordenamento jurídico segundo o qual todos os atos
praticados pela administração pública, para que sejam considerados válidos, devem ser autoriza-
dos por lei. Sobre o assunto, José dos Santos Carvalho Filho ensina que:
Dessa forma, visa-se a proteção do administrado em relação do abuso de poder por parte da
Administração, podendo ocorrer tanto omissiva, comissiva, dolosa ou culposa, sendo nulo qualquer
ato praticado sem autorização legal. A nulidade pode ser declarada tanto pela própria Adminis-
4 O artigo 111 da Constituição do Estado de São Paulo determina que: A administração pública direta, indireta ou fun-
dacional, de qualquer dos Poderes do Estado, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
razoabilidade, finalidade, motivação, interesse público e eficiência.
5 Na Constituição do Estado de Minas Gerais, o artigo 13 enumera que: A atividade de administração pública dos Poderes
do Estado e a de entidade descentralizada se sujeitarão aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
eficiência e razoabilidade.
tração, de ofício ou se provocada, quanto pelo Poder Judiciário, caso seja instado para tanto, por
se tratar de caráter legal. Portanto, a administração pública encontra-se sujeita aos mandamentos
legais, não podendo deles se afastar sob pena de invalidade do ato e responsabilização do órgão
e/ou do agente.
Quanto ao Princípio da Impessoalidade pode-se dizer que está diretamente ligado com a
ideia de Estado Democrático de Direito.
Sobre esse prisma, insta trazer a baila acerca do Estado de Direito e Estado Democrático
de Direito. Segundo o eminente doutrinador Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias os conceitos acima
denotam que não se está diante de um Estado qualquer, mas aquele que se submete as normas
do Direito e está estruturado por leis, sobretudo a lei constitucional (Carvalho Dias, 2010, p. 59).
Pela doutrina de J. J. Gomes Canotilho, esse Estado deve guardar sintonia com grandes
princípios jurídicos: democracia e Estado de Direito consubstanciado em um Estado Constitucional
Democrático de Direito (Canotilho Gomes,1999, p. 45).
Ainda sob a ótica da necessária interligação entre o Estado Democrático de Direito e a De-
mocracia, Gustavo Binenbojm assegura que:
Ainda nessa toada, insta destacar os doutrinadores Álvaro Ricardo de Souza Cruz e Mário
Lúcio Quintão que adotam o prisma de paradigmas constitucionais, visões paradigmáticas e im-
agens-modelos (SOUZA CRUZ, 2009 e QUINTÃO SOARES, 2000, p. 15). Tais expressões sofr-
eram influência do físico Thomas Khun. O termo paradigma deve ser empregado nesse contexto
para se buscar o melhor sentido para aplicação na ciência do Direito. Até mesmo porque na dis-
sertação de Souza Cruz, o conceito de paradigma é aplicável às ciências sociais e, em particular,
ao Direito (SOUZA CRUZ, 2009, p. 24).
Mais adiante em sua obra, Ronaldo Bretas afirma que a Constituição brasileira aglutina os
princípios do Estado Democrático e Estado de Direito, sob normas jurídicas constitucionalmente
positivadas, a fim de configurar o Estado Democrático de Direito, objetivo que lhe é explícito no
corpo da Constituição (Carvalho Dias, 2010, p. 55).
Inclusive, ilustra a respeitável doutrina de Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coe-
lho e Paulo Gustavo Gonet Branco sobre a ótica de se efetivar os direitos, ao afirmarem que:
Mais ainda, já agora no plano das relações concretas entre o Poder e o indivíduo,
considera-se democrático aquele Estado de Direito que se empenha em assegurar
aos seus cidadãos o exercício efeito não somente dos direitos civis e políticos, mas
também e, sobretudo dos direitos econômicos, sociais e culturais, sem os quais
de nada valeria a solene proclamação daqueles direitos (FERREIRA MENDES,
MÁRTIRES COELHO, BRANCO, 2008, p.55).
Nesse diapasão, a Administração Pública e seus agentes devem buscar como finalidade
principal o interesse público, afastando-se dos desejos pessoais. Esse direcionamento está pre-
visto no texto Constitucional no artigo 37, incisos I, II e § 1°.
Por sua ótica, o Princípio da Moralidade determinado pela Carta Magna no artigo 37, caput,
estabelece que o administrador deve se ater, primeiramente, às determinações legais, mas ob-
servar ainda a conduta moral (jurídica) a fim de atender ao interesse público. A essa combinação de
atitudes é dado o nome de legalidade administrativa. Nesse sentido Ana Elisa Spaolonzi Queiroz
Assis, Antonio de Pádua Serafim, Olney Queiroz Assis e Vitor Frederico Kümpel anotam que Kant
usa a expressão ética em dois sentidos. O primeiro é mais amplo: ética é a ciência da lei da liber-
dade, que são as leis éticas, que se dividem em morais e jurídicas. O segundo seria em sentido es-
trito em que a ética é a teoria das virtudes e como tal diferencia-se do Direito. Dessa forma, direito
e moral (ética) são foram particular de uma legislação universal, cujos princípios, a ética em sentido
amplo contém (Queiroz Assis, 2013, p. 50).
Existem vários dispositivos no ordenamento jurídico que visam à proteção da moralidade
administrativa. Citamos como exemplo a Ação Popular e Ação Civil Pública, contempladas no artigo
5°, inciso LXXIII e artigo 129, inciso III da Constituição Federal e regulamentadas pela Lei n° 4.717,
de 29/06/65 e Lei n° 7.347, de 24/0785, respectivamente. Por fim, observa-se a Súmula vinculante
n° 13, que determina que a administração pública encontra-se submetida aos princípios da morali-
dade e impessoalidade vedando a prática de nepotismo nas três esferas do Poder Público, sendo
nulos os atos assim caracterizados.
Pelos ditames constitucionais do Princípio da Publicidade torna-se obrigatória a divulgação
de todos os atos praticados pela administração pública dando transparência a esses atos. Isso pos-
sibilita que qualquer pessoa possa questionar toda a atividade administrativa.
Ensina Celso Antônio Bandeira de Mello que:
Ao se publicar um ato presume-se o conhecimento do que foi praticado por parte da socie-
dade em geral. De todo modo, admite-se o sigilo na esfera administrativa, “ressalvadas aquelas
cujo o sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”, de acordo com o artigo
5°, inciso XXXIII, da Constituição. De tal forma, essa situação não cria um choque entre direitos,
mas apenas uma condição de excepcionalidade. Assim, a Administração proporciona a lisura e a
transparência de todos os seus atos.
Pela pertinência temática, o princípio constitucional da eficiência será abordado em tópico
específico.
Nesse tópico serão abordados apenas os princípios que se relacionam diretamente com o
tema sem a intenção de esgotar o assunto. O primeiro deles será o da supremacia do interesse
público sobre o privado. A Administração, ao atuar, busca proporcionar benefícios à coletividade.
Dessa forma, no caso de confronto de um interesse particular e um grupo da sociedade, preva-
lecerá o segundo, pois o destinatário da atividade administrativa é a coletividade. Possui relação
com o poder de polícia da administração pública de fiscalizar e regular a prática de atos em razão
do interesse público. A aplicação desse princípio pode ser observada por exemplo na desapropri-
ação, ligada também à função social da propriedade, bem como na requisição administrativa, pre-
vista no artigo 5°, inciso XXV, da Constituição Federal. Porém, existem exceções onde o interesse
privado prevalecerá sobre o interesse público. Leciona Diógenes Gasparini que:
A aplicabilidade desse princípio, por certo, não significa o total desrespeito ao inter-
esse privado, já que a Administração deve obediência ao direito adquirido, à coisa
julgada e ao ato jurídico perfeito, consoante prescreve a Lei Maior da República
(art.5°, XXXVI). (GASPARINI, 2011, p. 74.)
Por oportuno vale dissertarmos sobre o Princípio da Autotutela que consiste no poder-dever
da administração pública de exercer o controle sobre seus atos, tanto em relação ao mérito, quanto
em relação à legalidade. Em relação ao primeiro, a Administração poderá decidir se o ato é opor-
tuno e conveniente, mantendo-o eficaz e, caso contrário, poderá revogá-lo. Se a análise se tratar
da legalidade, a administração deve se ater a compatibilidade com a ordem jurídica, e, uma vez
considerado incompatível, deve ser anulado.
A Administração deve corrigir e apurar seus atos de ofício ou se provocada por terceiros. A
súmula 473 do Supremo Tribunal Federal sustenta essa afirmativa. Com efeito, a Administração
poderá reavaliar quaisquer de seus atos analisando mérito e legalidade enquanto o Poder Judiciário
apenas fará uma análise em relação à legalidade, quando for provocado, conforme mencionado
anteriormente.
Convém observar o Princípio da Indisponibilidade, que pressupõe que a Administração Pú-
blica e os agentes públicos devem gerir e zelar pelos direitos, interesses e bens da coletividade,
pois são meros gestores da coisa pública.
Assim sendo, a Administração apenas pode dispor de bens públicos quando a lei permitir,
dando a eles a devida finalidade que melhor atenderá a população. Essa obrigatoriedade de per-
missão legal pode ser observada nos casos de alienação de bens públicos, concessão de serviço
público e firmamento de contratos administrativos, feitos através de licitação, em regra.
Introduzido no ordenamento jurídico pátrio pela EC 19/98, conhecida como emenda da refor-
ma administrativa, é, certamente, um dos relevantes princípios da Administração Pública. Denomi-
nado de “dever de boa administração”, relaciona-se a obrigação de atuar com qualidade, produ-
tividade, economicidade buscando ainda maior celeridade e rendimento na prestação do serviço
público.
Em sua ótica, Max Weber observa que a burocracia moderna funciona em conformidade
com os princípios da Jurisdição, Hierarquia e da Capacitação. Esse último pressupõe um treina-
mento especializado associado ao dever de desempenhar o cargo com plena capacidade de tra-
balho do funcionário (WEBER, 1974, p. 40).Diante desse raciocínio, destaca-se a relação direta do
princípio com a economicidade, que visa avaliar o custo-benefício de determinado serviço público
e, ainda assim, aliar a diminuição dos gastos públicos com a prestação de serviço de qualidade.
Tal desiderato pode ser alcançado quando o administrador executa o serviço público com devida
celeridade.
Cumpre salientar que, em razão de eventual omissão por parte do poder público em não
atender de forma satisfatória determinada demanda da população, o Estado poderá responder civ-
ilmente pelos danos que causar. Diante desse prisma, fica evidente a postura da sociedade ao não
tolerar o funcionamento ineficiente de uma estrutura estatal.
Assim, a obrigação de agir eficientemente também atinge os agentes públicos, os quais de-
vem buscar a persecução do bem comum, exercendo suas atividades da melhor maneira possível
e observando todos os critérios mencionados. Isso demonstra uma relação intrínseca com a vida
funcional do servidor público que se submeterá a avaliações periódicas de desempenho que urgem
que sejam aplicadas com seriedade e comprometimento com a sociedade.
Extrai-se deste entendimento que o administrador e seus agentes devem executar o objetivo
pretendido utilizando todos os meios disponíveis para alcançar suas próprias metas traçadas.
Sobre o tema, discorre Fernanda Marinela que Incluído em mandamento constitucional, o
princípio pelo menos prevê para o futuro maior oportunidade para os indivíduos exercerem sua real
cidadania contra tantas falhas e omissões do Estado. (MARINELA, 2005, p. 130).
Diante de tais considerações, deve-se pontuar que agir com eficiência é um requisito
obrigatório para se adquirir a estabilidade em um cargo público, que, valendo-se da avaliação per-
iódica acima descrita, torna-se uma ferramenta de análise do desempenho do agente público.
Ainda sobre o assunto, dispõe o festejado Hely Lopes Meirelles que a Eficiência passa a ser
elemento objetivo de aferição de merecimento e impeditivo da promoção. (MEIRELLES, 2007, p.
97).
Vale ressaltar que o Estado moderno carece de efetivar suas propostas constitucionais, uma
vez que o século XX destacou-se como a era de positivação dos direitos e o XXI possui o desafio de
efetivá-los, na visão de Norberto Bobbio em sua obra A era dos Direitos. Para tanto, a eficiência no
serviço públicos deve ultrapassar o sentido meramente principiológico para alcançar a efetividade
que almeja a sociedade contemporânea. Tal eficiência profissional é exigida nos exames de como
o da OAB e Conselho de Contabilistas. Aliás, também é salutar que no curso de Medicina também
desenvolva um método de avaliação de eficiência com vistas a nivelar os profissionais que se ap-
resentam para o mercado de trabalho.
No que pertine aos objetivos da República do Brasil objetivando garantir o desenvolvimento
nacional, em especial ao se completar 25 anos de Constituição cidadã, urge reforçar-se a aplicação
da Democracia e do Estado Democrático de Direito. Nesse ponto, o jurista Luiz Roberto Barroso
disserta no sentido de que os conceitos de constitucionalismo e Democracia não se confundem,
pois o primeiro significa, em apertada síntese, a limitação do poder e a supremacia da lei, enquanto
que o segundo traduz-se em soberania popular e governo da maioria (BARROSO, 2010, p. 190).
Outra repercussão relevante, sob a ótica de Barroso, diz respeito às duas funções principais
da Constituição de um Estado Democrático. Em linhas gerais, a norma maior deve obter consen-
sos mínimos, essenciais para a dignidade das pessoas e funcionamento do regime democrático e
que não devem ser afetados por maiorias políticas ocasionais. Some-se a isso, a necessidade da
Constituição garantir o espaço do pluralismo político, assegurando o funcionamento adequado dos
mecanismos democráticos6 (BARROSO, 2010, p. 150). Avulta notar que nesse prisma enquadra-se
o princípio da eficiência nas prestações de contas dos candidatos às eleições.
É relevante colher a abordagem de Barroso quanto aos objetivos da Constituição, senão
vejamos:
6 Nesse sentido, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é peremptória ao estabelecer, no artigo 16 que:
“Qualquer sociedade na qual a garantia dos direitos não está em segurança, nem a separação dos poderes determinada, não tem
Constituição”
No último tópico descrito pelo jurista, pode-se exemplificar a análise adequada e eficiente
das prestações de contas dos candidatos às eleições, com vistas a efetivar os objetivos da Repú-
blica.
Em consonância com o mencionado anteriormente, outro aspecto importante e que será
abordado minuciosamente no decorrer deste artigo, é o teor da EC 45/04, que acrescentou a Lei
Maior o inciso LXXVIII ao artigo 5° e dispôs que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua trami-
tação”. O dispositivo em questão tem como fundamento o princípio da eficiência e busca sanar a
excessiva morosidade dos processos na área administrativa e judicial.
Importante mencionar a diferença entre eficiência, eficácia e efetividade. A eficiência tem
relação com o modo em que a atividade administrativa é desempenhada, ou seja, está ligada às
condutas dos agentes. Os meios e instrumentos utilizados pelos agentes ao atuar em suas funções
significa eficácia ao exercer uma função administrativa, possuindo caráter instrumental. Por fim, a
efetividade está relacionada com os resultados alcançados pela Administração através dos atos
praticados. A harmonia entre esses três dispositivos é imprescindível para a prestação do serviço
que seja de qualidade, ágil e eficiente.
Em suma, é necessário demonstrar que a prestação de serviço público apenas será dotada
de real qualidade e efetividade caso esteja aliada a uma conduta eficiente por parte dos agentes
públicos, a meios e métodos que possibilitem a existência de eficácia real.
Porém, isto não basta!
É imprescindível aliar a esses dispositivos uma legislação que não seja omissa e que pos-
sibilite aos órgãos públicos agirem de forma efetiva e responsável e não apenas “formalizar” uma
norma, bem como proporcionar um número razoável de agentes públicos para que possam atender
a grande demanda e volume de trabalho dos órgãos públicos. Nesse sentido, a falta de algum
desses requisitos fere-se o princípio constitucional resultando uma afronta ao Estado Democrático
de Direito.
Através do processo de análise das prestações de contas, a Justiça Eleitoral possui como
alvo apurar se os gastos realizados durante as campanhas eleitorais e a arrecadação de recursos
estão em consonância com as regras estabelecidas pela legislação específica.
Para realização das campanhas eleitorais os candidatos precisam arrecadar recursos, que
podem originar-se de doações do próprio candidato, pessoas físicas e jurídicas, bem como de recur-
sos provenientes dos partidos políticos. Estes podem destinar valores oriundos das contribuições
dos filiados e do fundo partidário para financiamento das campanhas eleitorais.
O Tribunal Regional de Minas Gerais – TREMG – é o órgão competente para receber, proc-
essar, analisar e julgar os processos de prestações de contas dos candidatos que concorrem aos
cargos de Governador e Vice-Governador, Senadores, Prefeitos, Deputados Estaduais e nos ter-
mos do art. 14, XXIV, do Regimento Interno deste egrégio órgão.
A Lei n° 9.504/97 estabelece as principais regras que devem ser observadas nas eleições,
que são regulamentadas por resoluções elaboradas pelo Tribunal Superior Eleitoral – TSE – e
pelos Tribunais Regionais. Essa lei define as diretrizes básicas relacionadas ao financiamento e
gastos de campanha. Para o presente trabalho, fora feita uma adaptação entre as resoluções, da-
dos estatísticos dos anos de 2010 e 2012 valendo-se de informações oficiais e colhidas de agentes
públicos do próprio TREMG. No que tange à prestação de contas a Eleição de 2010 foi regulamen-
tada pelas Resoluções 23.216 e 23.217, ambas do TSE (mantidas com o mesmo teor para o ano
de 2012).
Nesse diapasão, três aspectos são fundamentais para se apurar a qualidade da prestação
do serviço público: o prazo para a análise de prestação de contas, o número de agentes públicos
que verificam as contas dos candidatos bem como o de processos que devem ser analisados.
Em relação aos prazos, inicialmente informa-se que a Lei n° 9.504/97, trata da prestação
de contas nos artigos 28 a 32. Primeiramente, dispõe o artigo 28, § 2°, que a prestação de contas
dos candidatos pode ser feita tanto pelos comitês financeiros, quanto pelos próprios candidatos.
De acordo com o artigo 29, §2°, a inobservância do prazo para encaminhamento das prestações
de contas resulta na impossibilidade de diplomação dos candidatos eleitos. Ainda nesse sentido,
dispõe o artigo 29, inciso III, combinado com o §1°, que os candidatos ou comitês financeiros têm
até 30 dias após a realização das eleições para encaminhar as prestações de contas, referentes ao
primeiro turno, à Justiça Eleitoral. Dispõe ainda o inciso IV que, havendo segundo turno, aqueles
que o disputem possuem até o trigésimo dia após sua realização, de apresentar a prestação de
contas a Justiça Eleitoral referente aos dois turnos.
Ato contínuo, a Justiça Eleitoral verifica a regularidade da campanha decidindo pela “Aprov-
ação”, “Aprovação com ressalvas”, “Desaprovação” ou pela “não prestação de contas”, de acordo
com o texto do artigo 30, incisos de I a IV, da Lei nº 9.504/97.
Após verificar a regularidade da campanha, é expedido relatório técnico. A Justiça Eleitoral
possui o prazo de 72 horas para “vistas”, devendo conter uma das classificações acima. Havendo
desaprovação ou ressalva o Ministério Público possui um prazo de 48 horas para análise. Após
esse prazo, a sentença deve ser elaborada e publicada a decisão em mais 48h. Ou seja, do prazo
de classificação da verificação de regularidade da campanha até a sentença dar-se-á um período
de sete dias.
Após o recebimento da prestação de contas de todos os candidatos que concorreram à
eleição, os Tribunais Regionais Eleitorais (no caso específico o de MG) tem o prazo máximo de 30
dias para analisar toda a prestação de contas dos candidatos eleitos, enquanto o prazo máximo
para a análise dos candidatos não eleitos seria até junho do ano seguinte. O que se conclui pelo
conteúdo da lei é que apenas os candidatos que não prestem contas terão sua diplomação nega-
da.
É a única sanção prevista na Lei nº. 9.504/97, in verbis:
IV – CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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inclusão social de mulheres, negros, homossexuais e pessoas portadoras de deficiência. 3.ed. Belo
Horizonte: Arraes Editores, 2009.
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo explicitar as perspectivas de carreira e motivações profission-
ais dos colaboradores da geração Y que atuam na empresa Unimed Divinópolis/MG. A geração
Y nos dá uma gama inefável de possibilidades de discussões relativas a interesses profissionais
específicos dessa faixa etária levando-se em consideração aspectos sócio-culturais. A pesquisa
contempla uma empresa específica na cidade de Divinópolis do estado de Minas Gerais e os partic-
ipantes foram os colaboradores nascidos a partir de 1990, com propósito de trabalhar as variáveis
de forma mais precisa. O artigo se baseia em um levantamento de dados por meio de pesquisa
qualitativa, uma vez que foi aplicada entrevista semiaberta aos referidos colaboradores, admitidos
entre março de 2011 e julho de 2013 pela Unimed Divinópolis/MG.
ABSTRACT
The present work aims to show the career perspective and professional motivation of generation Y
employees working at Unimed Divinópolis/MG. This generation promotes an infinite range of pos-
sible discussions related to specific professional concern of this age group considering its sociocul-
tural aspects. This research focuses on a specific company located at Divinópolis, Minas Gerais and
the participants who took part of it were the employees born after 1990, in order to study the vari-
ables in a more accurate way. The work is based on a data collection through qualitative research,
as it was applied a half-open interview to those employees, hired between March 2011 and July
2013 by Unimed Divinópolis/MG.
1 - INTRODUÇÃO
As mudanças sociais e tecnológicas ocorridas nos últimos anos são muito evidentes e in-
fluenciam diretamente no comportamento dos jovens considerados da geração Y. De acordo com
Coimbra, citado por Oliveira, Piccinini e Bitencourt (2012), a principal diferença entre as gerações
na década de 60 se dava pelos valores e, em contrapartida, atualmente essa diferença está rela-
cionada, sobretudo, aos avanços tecnológicos.
Logo, jovens vem ganhando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. As peculiari-
3 Professora da Pós-graduação da FACED e professora dos cursos de graduação da Universidade de Itaúna –UIT, Mestre
em Educação Tecnológica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, pós-graduada em Gestão Estratégica
de Pessoas, Gestão de Ensino Profissionalizante e Educação Tecnológica – eliane@diferencialmg.com.br
dades na forma de ser e agir dessa geração abarcam uma série de características como criativi-
dade, inovação, individualidade, imediatismo, além de terem habilidades para realizar várias tare-
fas ao mesmo tempo. A motivação e a perspectiva desta geração no mercado de trabalho parece
não ser a mesma dos colaboradores de outras gerações. “Dos anos de 1990 para cá, a perspectiva
não é mais de riqueza, mas está no campo da segurança. Quer dizer: “Se eu não for o melhor, não
tenho onde trabalhar” (CORTELLA; MANDELLI; 2011, p.11).
Os desafios encontrados pelos pesquisadores frente à nova forma de atuação desta geração
no mercado de trabalho funcionaram como estímulo para efetividade de tal artigo. Percebe-se que
os novos modelos de se relacionar e de pensar o futuro no mercado de trabalho têm demandado
novas formas de atuar dos pesquisadores, levando-os a passar esta questão de um contexto pes-
soal/profissional para um contexto acadêmico.
Tal artigo mostra-se relevante na medida em que pode ajudar os profissionais de Recursos
Humanos, bem como os líderes das organizações, a compreenderem melhor os anseios de seus
colaboradores com a faixa etária proposta. Dessa maneira, poderão desenvolver ações que con-
tribuam para a motivação no ambiente organizacional e tentar promover a retenção desses talen-
tos.
2 - DESENVOLVIMENTO
2.1 Gerações
2.2 Geração Y
No decorrer dos estudos para a confecção do presente artigo, percebe-se que não há um
consenso no que diz respeito ao período preciso em que se possa definir a chamada geração Y,
mas sim, períodos e datas aproximadas, o que não invalida a credibilidade dos estudos, uma vez
que não existem destoantes consideráveis em relação a essas datas. Os autores do artigo Juven-
tudes, Gerações e Trabalho: É Possível Falar em Geração Y no Brasil? (OLIVEIRA; PICCININI;
BITENCOURT, 2012), dizem que os jovens que integram a geração Y são nascidos a partir de
1978. Diferentemente, Filho (2011 apud OLIVEIRA, 2011, p. 13) diz que ela é formada por jovens
que nasceram a partir de 1983.
A geração Y tem rompido com a nitidez das fronteiras que separam a vida organizacional
da vida pessoal, pois tem aspirações que envolvem esses dois aspectos dentro de uma mesma
perspectiva de carreira com vistas à qualidade de vida.
Pode-se afirmar que a vida profissional invadiu a vida pessoal. Como conseqüência,
a expectativa dos profissionais também mudou e agora busca refletir a possibilidade
de equilibrar o trabalho com as demais dimensões pessoais dando importância à
qualidade de vida. (OLIVEIRA, 2012).
Assim sendo, “carreira de vida” parece fazer mais sentido para esta geração dinâmica e
menos hierarquizada. No que diz respeito à carreira, significa “(...) a sequência de posições e
atividades desenvolvidas por uma pessoa ao longo do tempo em uma organização” (CHIAVENTO,
2010, p.227).
Este modelo de carreira coloca em questão a experiência de trabalho da geração Y dentro
das organizações porque, segundo Michele (2012), essa geração está mais preocupada com o
crescimento pessoal do que com o crescimento da empresa. Assim sendo, galgar uma estabilidade
dentro de uma única empresa talvez não seja mais o atrativo principal. Todavia, há de se considerar
que a empresa que viabiliza um ambiente de trabalho agradável e possibilita o desenvolvimento
das habilidades de seus colaboradores, contemplando perspectivas de realização pessoal por meio
da carreira profissional, tende a ser mais bem sucedida na retenção de talentos da geração em
questão. Além disso, a empresa com essa premissa adequa-se com mais facilidade ao atual con-
texto de mercado de trabalho, minimizando o risco de tornar seu respectivo modelo de gestão ob-
soleto uma vez que, de acordo com Oliveira (2011), a geração Y já representa 45% do mercado de
trabalho no Brasil.
Ainda, de acordo com o autor, quanto às características que marcam tal geração, pode-se
salientar o domínio da tecnologia que surgiu nos últimos 20 anos e influenciou o sistema cognitivo
e, consequentemente, a comunicação da referida geração.
Oliveira (2011) define motivação como aquilo que é visto pela pessoa como algo recompen-
sador, o qual compreende a atenção, o pensamento e a ação.
Um determinado indivíduo pode ser mais motivado em determinado momento de sua vida
em relação a outros momentos. O que vai definir tal impulso motivacional é o objetivo pessoal ao
qual se almeja alcançar. Como o foco em questão é na situação de trabalho, pode-se definir como
objetivos organizacionais àqueles que demandam um elevado nível de esforço, condicionados à
necessidade de satisfazer necessidades individuais. (CHIAVENATO, 1999, p.592).
Um autor renomado, dentre outros, que se empenhou no estudo da motivação foi Abraham
Maslow. De acordo Maslow (1945), a motivação é norteada por uma hierarquia das necessidades,
sendo elas: necessidade fisiológica que são necessidades básicas de sobrevivência biológica; ne-
cessidade de segurança, a qual busca assegurar a estabilidade das pessoas; necessidade social,
em que amor, interação e relacionamento pessoal estão incluídos; necessidade de estima, a qual
contempla reconhecimento, prestígio, atenção e consideração e, por fim, a necessidade de autor-
realização que envolve crescimento pessoal e o alcance da plena potencialidade da pessoa. Sendo
esta última, o topo mais elevado de satisfação na hierarquia das necessidades. Essas necessidades
para Maslow são vivenciadas uma após a outra na medida em que vão sendo, progressivamente,
satisfeitas. (MASLOW apud CHIAVENATO, 1999, p.594).
Enveredar pelo caminho no qual se busca o entendimento da motivação dentro das organi-
zações abarca um viés psicológico que implica na subjetividade e singularidade de cada pessoa, de
cada colaborador, uma vez que motivação está condicionada à satisfação e realização pessoal.
Três estados psicológicos teriam, assim, um impacto importante na motivação e na satis-
fação de uma pessoa no seu trabalho: o sentido que uma pessoa encontra na função exercida, o
sentimento de responsabilidade que ela vivencia em relação aos resultados obtidos e o conheci-
mento de seu desempenho no trabalho. (MORIN, 2001).
Satisfação pessoal, sentido no trabalho e reconhecimento de desempenho vão ao encontro
do perfil da geração que trata o respectivo artigo. Contudo, Oliveira (2011) diz que a motivação
aliada aos padrões elevados de produtividade, além dos desafios encontrados anteriormente pelos
veteranos, não refletem a realidade dos profissionais mais jovens. Os mesmos são poupados de
encarar os desafios da empresa, o que pode provocar desmotivação e, consequentemente, um
menor comprometimento com a organização.
Ainda, segundo o autor citado, a expectativa dos jovens profissionais quanto à fidelidade
corporativa é evidenciada em algumas pesquisas da seguinte forma, caso recebessem uma pro-
posta de outra empresa: “61% ouviria a proposta e se fosse interessante trocaria de emprego; 36%
ouviria a nova proposta, mesmo sabendo que não trocaria de empresa; 2% não ouviria a nova pro-
posta” (OLIVEIRA, 2011). Observa-se que é ínfimo o percentual daqueles que têm como motivação
principal a permanência em uma determinada empresa, entendida por colaboradores veteranos
como um comportamento de fidelidade à mesma. Inovação, busca constante de crescimento, de
novas aprendizagens e realizações parece ser a reposta mais plausível quanto às expectativa e
necessidades desta geração Y.
A Unimed é uma Cooperativa de Trabalho que atua no setor de saúde suplementar como op-
eradora de plano de saúde. Trata-se de um sistema formado por cooperativas de trabalho, compos-
tas por grupos de médicos que se associam, com objetivo de administrar contratos de prestação
de saúde suplementar a usuários, atuar na geração de trabalho para os cooperados e defender e
proteger os interesses da classe.
A Unimed Divinópolis/MG é uma cooperativa singular que atua no setor de saúde suplemen-
tar, como operadora de plano de saúde, e está registrada na Agência Nacional de Saúde (ANS) sob
o número 31.912-1. Tem como associados médicos que trabalham em cidades da área de atuação.
Segundo dados pesquisados no site da empresa, a cooperativa foi fundada em 22 de outubro de
1987, atualmente está entre as quatro maiores Unimeds de Minas Gerais e é a maior operadora de
plano de saúde da região de centro-oeste de Minas Gerais, tanto em rede de atendimento, quanto
em número de usuários.
Na respectiva empresa há um total de 195 colaboradores até julho de 2013. Contemplou-se
no artigo os funcionários nascidos a partir da década de 90, que totalizam 13 participantes e repre-
sentam 6,6% do número total, conforme descrito na tabela 1.
Os colaboradores participantes da pesquisa foram admitidos no período de março de 2011 a
julho de 2013. Conforme outros dados colhidos no setor de Departamento Pessoal, nesse mesmo
período a empresa realizou o total de 48 admissões. Desse número, 06 foram pessoas nascidas
na década de 70; 26 nascidas na década de 80; e 16 na década de 90. Dessas, 03 já saíram da
empresa, portanto, foram 13 os participantes da pesquisa.
Diante da imprecisão quanto ao período em que se possa definir a geração Y, os pesquisa-
dores, na busca de uma confecção acurada do artigo em questão, contemplaram os colaboradores
da respectiva empresa nascidos a partir de 1990, data que está em consonância com o conceito de
todos os autores citados, buscando, assim, contribuir de forma fidedigna à comunidade acadêmi-
ca e ao mercado de trabalho. Partiu-se das hipóteses de que os maiores interesses dos jovens
pesquisados seriam: oportunidade de fazer carreira em uma empresa bem conceituada; salários
oferecidos pela empresa; satisfação gerada pela atividade exercida no trabalho; busca constante
de novos desafios profissionais.
Outro dado sobre a empresa pode ser verificado na tabela 2, a qual diz respeito ao tempo
de serviço de seus colaboradores. Tal informação é importante uma vez que a pesquisa se refere
à possibilidade de seus funcionários, aqueles considerados da geração Y, seguirem carreira na
mesma. Os participantes da pesquisa estão entre os 44,1% dos colaboradores que trabalham na
empresa há no máximo 03 anos. Já 39,4% dos colaboradores trabalham de 04 a 10 anos. De 11 a
15 anos a porcentagem de colaboradores é de 8,2%, que também é a porcentagem de colabora-
dores que trabalham há mais de 15 anos na Unimed Divinópolis/MG.
Diante de tais dados, buscou-se explicitar as perspectivas de carreira da geração Y que atua
na Unimed Divinópolis/MG, bem como compreender suas principais demandas e analisar quais os
fatores mais importantes para motivá-los a permanecerem na empresa.
2.5 Pesquisa
1ª- Os motivos que levaram os colaboradores a procurar uma vaga de trabalho na Unimed Di-
vinópolis/MG;
2ª- Os aspectos que os fazem permanecer trabalhando na empresa;
3ª- Os motivos que os levariam a desligar-se da Unimed Divinópolis/MG;
4ª- Se acreditam que podem conseguir atingir satisfação pessoal em sua atividade profissional
atual e/ou futura.
Nas duas primeiras questões, havia alternativas nas quais os participantes deveriam dis-
tribuir 100%, de acordo com os valores que atribuíam a cada uma delas e, posteriormente, deve-
riam justificar os aspectos que colocaram a menor e a maior porcentagem. Na terceira questão, os
participantes deveriam marcar de uma a duas opções para os aspectos que os levariam a sair da
empresa. A última questão, referente à satisfação pessoal no trabalho, era aberta e os colabora-
dores deveriam explicar sua resposta.
3 - CONCLUSÕES
A partir da análise dos dados colhidos através dos questionários, verificou-se que algumas
hipóteses, inicialmente estabelecidas, foram refutadas e outras confirmadas.
No que diz respeito aos motivos que levaram os referidos jovens a procurar uma vaga de
trabalho na Unimed Divinópolis/MG, a alternativa mais marcada foi a oportunidade de ingressar em
uma empresa bem conceituada e em seguida a oportunidade de aprendizagem profissional. Essa
última confirma a colocação do autor Veloso (2012) citado no decorrer do artigo ao afirmar que o
aprendizado é fator de motivação e otimismo para a geração Y. Na mesma questão, uma das alter-
nativas era a oportunidade de vencer o desafio do primeiro emprego. Tal resposta recebeu a menor
porcentagem entre os participantes, o que denota que os mesmos iniciaram suas atividades profis-
sionais antes de trabalharem na Unimed Divinópolis/MG. A alternativa que se referia ao salário e
aos benefícios oferecidos pela empresa também não recebeu a maior parte da porcentagem. Tal
constatação vai ao encontro da teoria de Mandelli (2011) ao dizer que ganhar dinheiro não é mais
o foco principal das pessoas que ingressam no mercado de trabalho.
Quanto aos motivos que levam os jovens a permanecer na empresa, observou-se que as
alternativas referentes aos salários e benefícios oferecidos e, também, a satisfação gerada pela
atividade exercida no trabalho foram as que receberam menor porcentagem por parte dos colabora-
dores. Verifica-se, então, que essas duas hipóteses foram negadas. Outras alternativas presentes
na questão se referiam ao ambiente de trabalho e ao relacionamento com os colegas e superiores.
Essas também receberam baixa porcentagem. É relevante ressaltar que, como diz Michele (2012),
o contexto histórico não pode ser negligenciado ao abordar conceitos e perspectivas sobre as ger-
ações. Existem variáveis sócio-culturais que devem ser levadas em consideração, posto isso, nota-
se, no atual artigo, que a autora acima citada aborda a importância de um ambiente de trabalho
agradável, no entanto não se confirma tal assertiva como prioridade dos colaboradores da geração
Y da Unimed Divinópolis/MG.
Ainda na mesma questão, a alternativa que recebeu maior porcentagem entre os partici-
pantes diz respeito à oportunidade de fazer carreira em uma empresa bem conceituada, portanto
essa hipótese foi confirmada. Como a oportunidade de ingressar em uma empresa bem conceitu-
ada também foi a escolha mais contemplada pelos jovens ao responderem a primeira questão do
questionário, pode-se inferir que a conceituação das empresas influencia na perspectiva de car-
reira dos jovens da geração Y da empresa estudada. Nas justificativas das questões 01 e 02, os
pesquisados enfatizaram que vislumbram uma carreira dentro da Unimed Divinópolis/MG uma vez
que a consideram uma empresa de renome no mercado de trabalho. Para eles, tal consideração
é fator determinante para possibilitar com que alcancem crescimento profissional e pessoal. Como
diz Cortella e Mandelli (1990), a partir de 1990 a riqueza fica em segundo plano em relação a outros
fatores de motivação como, por exemplo, a busca de segurança das pessoas que ingressam no
mercado de trabalho.
Na questão referente aos aspectos que levariam os participantes a saírem da Unimed Di-
vinópolis/MG, a alternativa mais considerada foi a busca de novos conhecimentos e desafios. Ol-
iveira (2011) chama a atenção desta característica dos jovens da geração Y, que geralmente esta-
belecem um prazo irreal em relação à ascensão de carreira e ressalta o risco da ansiedade extrema
como resultado desta estratégia. Ainda segundo o autor, os veteranos costumam evitar que esses
jovens enfrentem os desafios da empresa, e esse fator pode provocar a desmotivação dos mes-
mos no trabalho. Diante disso, a hipótese que diz respeito à constante busca de novos desafios
profissionais por parte desses jovens foi ratificada. Nas justificativas, os participantes ressaltaram
que somente sairiam da empresa caso houvesse a oportunidade de atuar em áreas que estão rela-
cionadas com as respectivas formações acadêmicas as quais estão cursando ou pretendem cursar,
se não fosse possível exercê-las na Unimed Divinópolis/MG.
Observou-se, ainda, que houve três alternativas que se destacam quanto à opção dos par-
ticipantes em relação a tal questão, são as seguintes: possibilidade de abrir uma empresa própria;
receber melhores salários e benefícios; oportunidade de exercer atividade que lhe cause maior
motivação. A alternativa que dizia respeito à possibilidade de ter maior autonomia nas atividades
exercidas recebeu poucas marcações e a possibilidade de maior reconhecimento no trabalho não
foi escolhida pelos participantes.
Quando questionados se acreditam poder conseguir atingir satisfação pessoal em sua ativi-
dade profissional atual e/ou futura, os jovens participantes responderam que se consideram sat-
isfeitos realizando as tarefas executadas atualmente no trabalho. Com a exceção de dois colabo-
radores, os quais afirmaram que os projetos que têm para o futuro são diferentes das atividades
exercidas atualmente, portanto, não se consideram satisfeitos.
REFERÊNCIAS
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 197-237.
CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. 2.ed. Rio de Janeiro: Campos, 1999.p.
590-628.
CORTELLA, Mário Sérgio; MANDELLI, Pedro. Vida e Carreira: um equilíbrio possível?. Campinas,
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MICHELE, Roberta.As gerações e suas características. [online]. Dezembro 2012. Disponível em: <http://
www.administradores.com.br/artigos/academico/as-geracoes-e-suascaracteristicas/67890/>.
Acesso em: 27 agosto 2013
MORIN, Estelle M. Os sentidos do trabalho. Rev. adm. empres. São Paulo, v. 41, n. 3, Sept. 2001. Dis-
ponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902001000300002-
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OLIVEIRA, Sidnei. Geração Y: ser potencial ou ser talento? Faça por merecer. 3.ed. São Paulo:
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VELOSO, Elza Fátima Rosa. É possível negar a existência da Geração Y no Brasil? Organizações
e Sociedade [online]. Dez 2012, vol.19, n.63, p.745-747. ISSN 1984-9230. Disponível em: <http://
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Acesso em: 21 jul. 2013.
VELOSO, Elza Fátima Rosa; SILVA, Rodrigo Cunha da; DUTRA, Joel Souza. Diferentes gerações
e percepções sobre carreiras inteligentes e crescimento profissional nas organizações. Rev. bras.
orientac. prof, São Paulo, v. 13, n. 2, dez.2012 Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902012000200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 27 ago.
2013.
A influência da Lei Complementar nº 123/2006 na participação das micro e peque-
nas empresas nas compras governamentais do Sisema-ASF.
RESUMO
Sabe-se que é significativo o valor anual despendido pelos governos nas aquisições de produtos
e serviços para alcance de seus objetivos e que uma das finalidades da Lei Complementar Nº
123/2006 foi promover o acesso das micro e pequenas empresas a essa parcela de mercado. O
presente artigo visa verificar a influência da Lei Geral na participação dessas empresas nas com-
pras governamentais do Sisema-ASF. Primeiro foi feita uma pesquisa às bibliografias para uma
breve caracterização do tema, contando posteriormente com uma pesquisa realizada junto a esse
público. Após análise chegou-se a conclusão que é perceptível a capacidade da Lei Complementar
Nº 123/2006 de atuar nas distorções do mercado, porém há ocorrência de fatores que podem ter
comprometido sua eficácia.
ABSTRACT
It is known that there is a significant annual amount spent by governments on purchases of prod-
ucts and services to achieve their objectives and that one of the purposes of Complementary Law
no. 123/2006 was to promote the access of micro and small enterprises to this market share. This
article aims to investigate the influence of the General Law on participation of these companies in
government purchases SISEMA-ASF. First the research bibliographies for a brief description of the
subject was taken, later telling with a survey of the public. After analysis the conclusion is noticeable
that the ability of Complementary Law No. 123/2006 of acting in the market distortions come up, but
there is occurrence of factors that may have compromised their effectiveness.
KEYWORDS: Micro Enterprises and Small Businesses, Complementary Law no. 123/2006, govern-
ment purchases.
1 INTRODUÇÃO
Professor da FACED, Pós-graduado em direito público, Procurador geral e doutorando pela Univer-
sidade Católica de Santa Fé. E-mail: proger@camaradiv.mg.gov.br
Em 14 de Dezembro de 2006, foi promulgada a Lei Complementar nº 123, conhecida como
Lei Geral da Micro e Pequena Empresa; ela estabelece normas gerais relativas ao tratamento
diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte no
âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. No que se refere
a acesso de mercados, embora haja por parte de alguns juristas questionamentos de Constitucion-
alidade, a Lei Geral traz em seu Capítulo V inovações no que envolve as compras governamentais
1 Alunos(a) do curso de administração da FACED.
2 Professor da FACED, Pós-graduado em direito público, Procurador geral e doutorando pela Universidade Católica de
Santa Fé. E-mail: proger@camaradiv.mg.gov.br
(aquisições públicas).
O acesso das micro e pequenas empresas ao mundo das compras governamentais é a
base para a instalação de um ciclo virtuoso na economia, pois segundo o SEBRAE (2005, p.5),
elas representam 99% do número total de empresas no país, tendo a participação de apenas 15%
nas compras governamentais; percentual baixíssimo se comparado ao volume desse mercado, na
ordem de 03 bilhões, considerando apenas os pregões eletrônicos. As microempresas e empresas
de pequeno porte brasileiras representam quase 70% do pessoal ocupado em todo o país e geram
20% do PIB.
Todavia, sabe-se que a aplicação das normas pode trazer implicações às práticas diversas,
tornando-se necessário verificar as mudanças trazidas pela Lei Geral nas licitações. Sendo assim,
a problemática desta pesquisa partiu sobre a seguinte indagação: Como a Lei Complementar nº
123/2006 influencia na participação das ME´s e EPP´s nas compras governamentais do Sisema-
ASF?
O objetivo desse estudo consistiu em verificar a influência da Lei Complementar n° 123/2006
na participação das micro e pequenas empresas nas compras governamentais do Sistema Es-
tadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Alto São Francisco (Sisema-ASF).
O estudo em questão se mostra relevante diante do ponto de vista econômico, social e
acadêmico, pois as leis influenciam diretamente a economia nacional, regional e local. Desperta
também o interesse do empresário, juntamente com o papel que o administrador exerce diante de
tais regras.
De acordo com Ramos (2013, p. 778), para os efeitos da Lei Complementar Nº 123/2006,
são consideradas microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a socie-
dade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e também o empresário a que se
refere o art. 966 da Lei n.o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados
no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso;
desde que, na ocasião de microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou
inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais), e em caso de empresa de pequeno porte,
aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil
reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). O gráfico 1 apre-
senta dados de 2005, referente às micro e pequenas no Brasil.
Percebe-se que apesar de representar quase 99% das empresas brasileiras, e ocuparem
mais de dois terços da mão de obra formal, as micro e pequenas empresas tem a participação de
apenas 20% do PIB nacional. Assim intervenções do governo nesse setor não têm caráter assist-
encialista, mas mostram-se uma questão de cunho econômico e também social.
3 COMPRAS GOVERNAMENTAIS
Segundo Araújo e Gomes (2010, p.6), no sentido jurídico amplo compras são definidas como
as aquisições de coisa, corpórea ou incorpórea a qual por ela se paga o preço ajustado em dinheiro
ou valor equivalente, à vista ou a prazo. No universo das compras governamentais esta definição
adquire características que lhe são próprias, pois é entendido que o gestor da coisa pública admin-
istra bens e interesses que não lhe pertencem, mas, sim, a comunidade. Por esta razão, quando
há necessidade em comprar, contratar serviços, enfim, para realizar qualquer tarefa que envolva
terceiros em favor de órgãos públicos, existe a obrigatoriedade em travar relacionamentos de inter-
esse mútuo, para aquisição do bem ou serviço.
De acordo com a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Estado de Minas
Gerais, SEPLAG (2008, p.12), o termo compras governamentais é utilizado enquanto sinônimo
de aquisições públicas realizadas pelos diversos entes públicos na execução de suas atividades.
Estas compras podem ser realizadas por meio de licitações, dispensas ou inexigibilidade de lici-
tação.
No Brasil o administrador público possui um sistema funcional, decretado em leis, que lhe
permite comprar ou contratar, na maioria das vezes somente através de licitação, sendo essa o
meio necessário para alcance do objetivo final, qual seja a aquisição ou contratação. A licitação
como regra para essas contratações foi imposta de modo imperioso pela Lei Nº 8.666 de 1993:
Em 14 de dezembro de 2006, foi promulgada a Lei Complementar Federal nº. 123, também
conhecida como Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, ela estabelece um tratamento diferen-
ciado, simplificado e favorecido aos pequenos negócios. Segundo a SEPLAG/MG (2008, p.5), o ob-
jetivo dessa norma é unificar a regulamentação das atividades de micro e pequenos empresários.
Ela almeja simplificar: a formalização de empresas; o pagamento de tributos; a obtenção de crédito;
e o acesso à tecnologia, às exportações, e às vendas ao governo.
De acordo com o artigo 3º da Lei Complementar nº 123/2006 e suas posteriores alterações
são consideradas microempresas (ME) ou empresas de pequeno porte (EPP), a sociedade em-
presária, a sociedade simples e o empresário individual, devidamente registrado na Junta Com-
ercial do Estado ou no Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas, conforme o caso; desde que
aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$360.000,00 no caso de microem-
presa ou aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior
a R$ 3.600.000,00 no caso de empresa de pequeno porte.
A Lei 11.488 de 15 de junho de 2007 equiparou as Cooperativas às Empresas de Pequeno
Porte para fins licitatórios desde que verificado o limites definido no inciso II do caput do artigo 3º
da referida lei complementar, nela incluídos os atos cooperados e não cooperados. Assim, do
ponto de vista dos contratados, são destinatários do tratamento diferenciado e favorecido previsto
na Lei Complementar Nº 123/2006, as microempresas, as empresas de pequeno porte e as coop-
erativas.
Conforme determinação da Lei Geral, todos os entes federados (Municípios, Estados, Dis-
trito Federal e União) devem regulamentar em âmbito local o conteúdo do seu Capítulo V, artigos
42 a 49, de forma a dar tratamento diferenciado e favorecido às Micro empresas e Empresas de
Pequeno porte nas compras públicas.
Entre as vantagens advindas pela criação da Lei Geral em relação às compras governamen-
tais destaca-se:
• Possibilidade da ME e EPP participar de licitações ainda que apresente pendências fiscais e
comprovar a regularidade fiscal apenas no momento da assinatura do contrato (art. 42 e 43);
• A preferência de contratação por ME e EPP se tornou um critério de desempate das lici-
tações (art. 44 e 45);
• A possibilidade de participação exclusiva de ME e EPP em licitações que não tenham valor
estimado superior a R$ 80.000,00 ( art. 47 e 48);
• Exigência aos licitantes para subcontratar ME ou EPP, desde que o percentual máximo do
objeto a ser contratado não exceda a 30% do total licitado (art. 47 e 48);
• Estabelecer cota de até 25% do objeto da licitação para contratação de ME e EPP, em cer-
tames para aquisição de bens e serviços de natureza divisível. (art. 47 e 48)
De acordo com Ramos (2013 p.794), a regularidade fiscal das microempresas e empresas
de pequeno porte somente será exigida para efeito de assinatura do contrato conforme previsto no
art. 42 da Lei Geral. Já o art. 43 dessa mesma Lei, determina que essas empresas por ocasião da
participação em certames licitatórios, deverão apresentar toda a documentação exigida para efeito
de regularidade fiscal, mesmo havendo alguma restrição.
No art. 44 da Lei Geral está previsto, segundo Ramos (2013, p. 795), que nas licitações será
assegurada, como critério de desempate, preferência de contratação para as microempresas e em-
presas de pequeno porte. Segundo o autor a norma em questão se mostrou bastante inovadora.
Em síntese do art. 44 da Lei Geral, a preferência dada refere-se considerar empatadas, ao
final da disputa, as propostas de ME ou EPP que sejam superiores à melhor oferta, até os limites
percentuais previstos na Lei sendo estes 5% na modalidade de pregão e 10% nas demais modali-
dades de licitação. Hipótese a qual a ME ou EPP mais bem classificada terá a oportunidade de
apresentar novo preço, para cobrir a melhor oferta, vencendo, assim, a licitação.
O art. 46 ao qual prevê a criação de uma nota de crédito micro-empresarial em favor da ME
ou EPP caso não haja o pagamento do empenho em até 30 dias após sua liquidação. Segundo
Ramos (2013, p. 797), ocorre que a Lei Geral não especificou as regras jurídicas aplicáveis a este
título de crédito especial, somente determinado que o mesmo fosse regulamentado no prazo de
180 contados a partir da publicação da lei e a ele, subsidiariamente, sejam aplicadas as normas
que regulam as cédulas de crédito comercial. Contudo vale ressaltar que não houve esta regulam-
entação no prazo determinado pela lei, assim tornando seus efeitos inválidos.
Conforme explica Ramos (2013, p.797) o art. 47 impõe a necessidade de criação de lei es-
pecífica no âmbito do ente federado, para implantação das licitações diferenciadas com finalidade
clara de promover o desenvolvimento econômico e social do município ou região ou aumentar a
eficiência das políticas públicas ou ainda incentivar a inovação tecnológica. O Art. 48 registra as
diferenciações possíveis ao ente federado (União, Estados, Distrito Federal e municípios) para
cumprimento do art. 47. Já o art. 49 prevê apenas os casos em que os art. 47 e 48 não serão apli-
cados.
5 METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste estudo foi dividida em dois momentos: inicialmente foram ap-
resentadas publicações e legislações envolvidas ao tema; e posteriormente feito um estudo descri-
tivo, cujo principal instrumento de pesquisa foi um questionário estruturado, aplicado junto às micro
e pequenas empresas fornecedoras do Sisema-ASF entre janeiro de 2012 e julho de 2013. Sua
finalidade foi conhecer as opiniões e percepções das micro e pequenas empresas fornecedoras
deste órgão quanto a Lei Complementar nº 123/2006, para entendimento de sua influência nas
compras governamentais e contratações de serviços públicos.
Quando questionados sob seus cargos 45,45% dos entrevistados informaram ser empresári-
os, 36,36% se disseram administrador geral, diretores 9,09%, “outros” não claramente informado
apenas 9,09%. Ao perceber que mais de 90% dos entrevistados desenvolvem cargo de chefia
dentro de suas organizações, confere a esta pesquisa uma maior fidedignidade das informações
obtidas. Outros dados obtidos em relação ao perfil dos pesquisados é que a maior parte é do sexo
masculino (54,55%). Em sua maioria, (90,91%), têm entre 26 e 55 anos e possuem um grau de
instrução acima da média nacional, mais de 90% dos entrevistados disseram possuir curso supe-
rior.
Quanto ao tempo de existência das empresas, 36,36% informaram terem sido criadas há
mais de 15 anos; seguido do mesmo percentual que relatou ter entre 06 e 10 de atuação e 27,27%
que comunicaram à pesquisa possuem 01 a 05 anos de existência. Esses dados apontam ter o
Sisema-ASF uma cadeia de fornecedores madura, e em sua maioria atuante no ramo do comércio
(72,73%); 18,18% são prestadoras de serviços e 9,09% na construção civil.
As empresas fornecedoras do Sisema-ASF entrevistadas estão, em sua maioria, localizadas
na capital do estado de MG ou região metropolitana, (cerca de 55%), pouco mais de 36% são lo-
cais e o restante 18,18% são do interior do estado. Dados tanto curiosos, uma vez que as compras
eletrônicas permitem a participação de empresas de todo o país.
Quando foram questionadas sobre o interesse em fazer novas vendas ao setor público,
72,73% dos pesquisados informaram ter alto interesse, seguidos de 18,18% que relataram dedicar-
se ou pretendem dedicar-se exclusivamente a vender a órgãos públicos; o que acaba condizendo
com suas satisfações de negócios com esse setor, 90,91% se mostraram satisfeitos e até mesmo
muito satisfeitos com essas negociações. Houve relatos de insatisfações por apenas 9,09% dos
entrevistados, os quais acrescentaram que estas carecem de muitas melhorias, como clareza dos
procedimentos e maior agilidade.
Quanto aos seus conhecimentos sobre vendas públicas, 100% dos entrevistados revelou
conhecer os órgãos públicos que adquirem seus produtos/serviços, os quais em sua maioria bus-
cam informações nos sites de compras dos Governos, carta convite ou ainda são convidados a
participar e recebem informações dos entes públicos.
O canal preferido deste grupo para recebimento das informações é o e-mail (81,82%). Entre
os participantes da pesquisa, 72,73% buscam atualizar constantemente sobre licitações; 9,09% de-
têm departamento ou pessoal exclusivo para informações sobre licitações; e apenas 18,18% infor-
maram que somente às vezes procuram informações sobre licitações; razão pela qual talvez expli-
que o fato de 100% dos entrevistados terem revelado possuir conhecimento das regras para vender
ao setor público. Porém estes dados conflitam com outros dados do estudo, os quais demonstram
que mais de 90% dos entrevistados informaram ter conhecimento apenas superficial dos benefícios
concedidos às micro e pequenas empresas nas compras públicas; e o restante diz ignorá-los.
O gráfico 2 reflete certa complexidade no entendimento da Lei Geral apesar da busca con-
stante sobre informações pelos fornecedores do Sisema-ASF. Quanto às motivações para negociar
com o setor público, a garantia do pagamento e ter o setor público como mais uma alternativa de
mercado foram citados por 54,45% dos entrevistados, acompanhado pela localização com 18,18 %
e a possibilidade de vendas em grande volume 9,91%.
A importância da garantia de pagamento volta a ser percebida ao analisar o motivo do receio
ou restrição de negociar com órgãos públicos, apontado por quase dois terços dos entrevistados.
Ressalta-se que de forma unânime as restrições e receios desse grupo foram atribuídos às nego-
ciações com prefeituras, mais de 85% informaram estar ligado a atrasos e demoras no pagamento;
destaca-se ainda o fato de 57,14% dos entrevistados, terem citado também a burocracia como
restrição dos negócios com estes órgãos. A razão disso pode estar relacionada ao fato da maioria
das prefeituras ainda não ter efetivado a implantação da Lei Geral, pois segundo a Fecomércio/
MG (2013, p.1) apenas 100 das 576 cidades mineiras com Lei Geral aprovada, tem-na realmente
implantada.
6 CONCLUSÃO
Há claras evidências de que Lei Complementar Nº 123/2006, e que ela possui uma capaci-
dade extraordinária de influenciar a participação das micro e pequenas nas licitações, visto que to-
das as contratações com exceção das por registro preços realizadas pelo Sisema-ASF foram feitas
com essas empresas.
É percebido pelo grupo que o órgãos públicos conhecem mais do que as ME´s e EPP´s
sobre os benefícios da Lei Complementar, talvez pela própria exigência dos atos administrativos.
Desse modo para que a Lei Complementar nº 123/2006 tenha plena eficácia é necessário que o
gestor público entenda seu valor e estenda esse entendimento ao empresariado local. Acredita-se
que caso haja melhor divulgação e esclarecimentos dessa lei ocorra uma maior efetividade de seus
benefícios, pois é visto que apesar dos participantes da pesquisa buscarem se atualizar constante-
mente sobre as licitações não conhecem muito bem os benefícios da Lei Geral. As parcerias entre
entes públicos e órgãos de apoio como os do Sistema S e federações da indústria e comércio po-
dem se mostrar excelentes veículos de divulgação da Lei Geral e seus benefícios.
Outro dado que se destaca, leva a pensar se a eficácia da Lei Complementar Nº 123/2006
não foi comprometida pela não regulamentação da carta de crédito prevista em seu art. 46, visto
que a garantia de pagamento e não morosidade de pagamento está perceptivelmente ligada a mo-
tivação das micro empresas e empresas de pequeno porte para negociar com esse setor. Percebe-
se que apesar dos rigores da Lei de Responsabilidade Fiscal que impõe diversas penalidades à
gestão pública inadimplente, a fama de “mal pagador”, adquirida pelo governo em décadas pas-
sadas ainda persiste no meio empresarial refletindo em seus negócios.
Revelou-se ainda que as restrições de vendas às prefeituras, apontadas pelo entrevistado
pode estar relacionada ao fato delas não terem efetivamente instalado a Lei Complementar Nº
123/2006 em seus municípios conforme informe do Fecomércio/ MG, carecendo um estudo mais
profundo dessa causa.
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IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DE IMPORTÂNCIA PARA A IMPLEMENTAÇÃO
DA AUDITORIA INTERNA NA MICRO E PEQUENA EMPRESA
RESUMO
A Auditoria Interna, após a segunda metade do século XX, passou a ser um instrumento de extrema
importância no contexto empresarial, por meio de suas ações nas principais cinco modalidades
que se aplica. Este ramo da Auditoria é detentora de importante componente ao administrativo do
corpo empresarial, com a finalidade clara de identificar nos processos internos da empresa, quais
as ações que devem ser mantenedoras e norteadores de possibilidades de crescimento e melhor
atendimento ao consumidor final a que se destina a ação mercadológica. Nesta ação, se perce-
berá neste estudo que ocorre a constante averiguação dos processos que perpassam as etapas
que cada empresa, em suas particularidades submete-se para seu êxito empresarial. Assim, este
presente artigo, sob o título “Identificação dos fatores de Importância para a implementação da Au-
ditoria Interna na micro e pequena empresa”, trata neste viés como as pequenas e microempresas
são o foco da Auditoria Interna, no objetivo de melhor elucidar as contribuições que esta pode con-
tribuir ao mercado empresarial na contemporaneidade. O trabalho metodológico foi desenvolvido
por meio de pesquisa bibliográfica, na sistemática análise de artigos e textos que evidenciam o
campo do estudo contábil.
ABSTRACT
Internal Audit, after the second half of the twentieth century, it became an instrument of extreme
importance in the enterprise context, through their actions in five main modalities that apply. This
branch of Audit holds important component to the administrative body corporate, with the clear pur-
pose of identifying the internal processes of the company, what actions should be sustaining and
guiding the growth opportunities and better customer service end of the intended the market action
. In this action, it will be found in this study that occurs constantly investigate the processes that
underlie the steps that each business in their particular subjects to your business success. Thus,
this present article, entitled “Identification of factors of importance for the implementation of internal
audit in the micro and small enterprise”, this bias is as small and micro enterprises are the focus of
Internal Audit, in order to better elucidate the contributions that can contribute to the business mar-
ket nowadays. The methodological work was developed through literature review, the systematic
analysis of articles and texts that show the field of study accounting.
Como o auditor tratará esses assuntos junto às áreas é vital para o sucesso de um
bom relacionamento entre auditor / auditado, de forma que permita que as portas
dessas áreas continuem abertas para trabalhos futuros. É importante que os audita-
dos sintam nos auditores disposição para auxiliá-los na solução de seus problemas e
no encaminhamento junto aos demais segmentos da empresa (ATTIE,1987, p.33).
Então, quais as razões do pequeno empresário não implementar a auditoria interna na em-
presa? Esta é uma resposta que infelizmente este estudo não consegue perfazer, pois são sempre
positivas as ações que são encontradas acerca da atuação da Auditoria Interna no âmbito empre-
sarial.
Como será mencionado neste artigo, a Auditoria Interna faz-se pouco elaborada ao tempo
que as empresas, de todos os segmentos possíveis, públicas ou privadas, caminham para o pen-
samento de fazer constante avaliação de seu desempenho.
A Auditoria, por desconhecimento de seu conceito principal por muitos empresários é vista
como um problema por partes de alguns setores das micro e pequenas empresas.
Micro empresas são aquelas que seu faturamento não ultrapassa R$360.000,00 (trezentos
e sessenta mil reais) ao ano. A pequena empresa fatura entre R$360.000,00 (trezentos e sessenta
mil reais) ao ano até R$3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais) no período de um ano
Gestores, administradores e até mesmo funcionários do hall da linha de frente de venda,
não acreditam que a Auditoria, em específico a Auditoria Interna somará nas tomadas de decisões
e tão pouco contribuirá para ampliar o mercado e com o sistema de controle de qualidade do que
se é comercializado, por simplesmente desconhecerem a conceituação básica de Auditoria Interna.
Esta é um processo sistemático pelo qual são perpassadas as ações desenvolvidas por específico
órgão comercial ou setor deste.
O maior objetivo da Auditoria Interna é diagnosticar e constatar se os procedimentos, mé-
todos, planejamentos e operações estabelecidas para a ação final de prestação de serviço estão
sendo executados com eficácia e está trazendo os resultados a que são de intenção principal.
A auditoria Interna é um exame de análise e perícia com o propósito de acompanhar o
desempenho das operações no âmbito empresarial com fins de melhor lucratividade para o em-
preendedor.
O Institute of Internal Auditors (IIA, 1999), define o processo de Auditoria Interna como:
Uma atividade independente, de avaliação objetiva e de consultoria, destinada a
acrescentar valor e melhorar as operações de uma organização na consequência
dos seus objetivos, através de uma abordagem sistemática e disciplinada, na av-
aliação dos processos da eficácia da gestão de risco, do controle e de administração.
(tradução do IIA – Portugal, 1999).
No caso da Auditoria Interna, foco deste estudo, ela mantém como principal eixo norteador
a avaliação do processo de gestão empresarial que remetem aos campos da direção corporativa,
gestão de perdas e procedimentos de aderência aos princípios propostos, com o intuito de apontar
eventuais erros e a fragilidades às quais todas as organizações estão fadadas a enfrentar.
O autor que foi pioneiro na alerta para o papel da Auditoria Interna, mencionando como foco
desta a manufatura foi o pensador Skinner (1978), apresentando a Auditoria Interna no processo
empresarial como importante aliado no ato de estabelecer várias políticas e sistemas de manu-
fatura no âmbito do desenho do ciclo de produção.
Desde então, o processo de Auditoria Interna não mais se foi visto em segundo plano no
processo organizacional e sim como relevante ferramenta no corpo da ação mercadológica.
Os processos de Auditoria Interna tornam-se cada vez menos complexos à medida que as
empresas passam a compreender a natureza de sua execução e as metodologias que se apre-
goam nesta ação.
Em um contexto tradicional, na primeira metade do século XX, as empresas eram geridas
por métodos que visavam somente e exclusivamente indicadores financeiros, o que ao caminhar
dos processos de globalização e no apogeu das novas tecnologias a partir da segunda metade
século XX, desmistificaram a imagem do Auditor enquanto profissional que somente detecta proble-
mas, mas aquele que vai à empresa no intuito de apresentar soluções práticas e que a curto, médio
e longo prazo trarão melhores resultados para todo o ciclo empresarial.
Nesta problemática, pode-se citar que a Auditoria Interna nas pequenas e micro empresas
pode: A) Avaliar melhor os processos de gestão e hierarquia, elaborando de maneira objetiva e
econômica a reorganização de cargos, salários e promoções. B) Focar na observância dos gastos
da empresa com matéria-prima e as possibilidades de avaliação dos produtos com fornecedores,
estudo das possibilidades de expansão e compra de maiores quantidades para estocagem, quando
for o caso. C) Contribuir para a eficácia nos processos de venda e nas intervenções sociais de
acordo com a proposta da pequena ou micro empresa, com foco no cliente alvo e nos mecanismos
de divulgação de seu produto para todas as camadas a que se dispõe atingir. D) Contribuir para a
avaliação de resultados de maneira a compreender os pontos em que se fizeram positivos e nega-
tivos em todo o processo de intervenção financeira da empresa, no âmbito do pagamento de im-
postos ao estado, aos honorários do grupo trabalhista e outras determinações legais. E) Promoção
de formação de equipe diretiva com foco na constante observação do processo empresarial, desde
a compra da matéria prima ao estabelecimento de entrega do produto ao cliente.
Quando é traçado este tipo de consideração acerca destas ações que são de fundamental
atribuição da Auditoria Interna, é necessário traçar um paralelo com a Auditoria Externa, uma vez
que apresentam algumas características similares. Neste ínterim Marques, refere que:
Neste artigo a problemática da Auditoria Interna é apontada no âmbito das relações que se
fazem necessárias na empresa para que aconteçam ajustes no objetivo de ascender o êxito em-
presarial.
Assim, nesta temática é possível perceber que a Auditoria Interna não é tratada somente na
ótica de observações in loco, mas na evolução de todo um processo de melhoria relacionado dire-
tamente com o que não está em conformidade com as ações em andamento no âmbito da pequena
e micro empresa.
Isso se dá em contra ponto com a realidade de uma empresa que encerra um processo
de Auditoria quando a mesma ainda se encontra em andamento. O processo efetivo de Auditoria
Interna pressupõe toda a elaboração de um cronograma que tenha previsões, início, meio, final e
avaliação.
A importância da Auditoria Interna está exatamente na fundamentação teórica que a mesma
integra, o que propicia a segurança de resultados positivos para a pequena e micro empresa.
Segundo Attie (1992), uma das principais funções da Auditoria Interna está na promoção
de atividades que se relacionem de maneira intensa com a observação de cada uma das funções
dentro da pequena e micro empresa, focando em suas respectivas áreas, departamentos, setores
e ramos de atividades.
Assim, neste pensamento, pode-se dizer que este processo está centrado no viés de exami-
nar as ramificações destes espaços, em períodos regulares de tempo, na intenção de, perceber a
eficiência de operacionalização dos aspectos que mantém as empresas com as “portas abertas”.
Em decorrência de ações pontuais de Auditoria Interna, são diagnosticados casos em que é indi-
cado ao contratante, o encerramento das atividades, em vias de impedir que ocorram prejuízos
futuros ou os lucros não sejam insuficientes à expectativa do empresário.
Apesar de serem determinadas inúmeras funções à prática da Auditoria Interna, grande
parte do trabalho está centrado na simples ação de enfatizar a revisão totalitária das atividades
desenvolvidas no histórico empresarial atual da empresa, em cargos, funções, atividades, propos-
tas e resultados.
A Auditoria Interna não elimina diretamente a necessidade de uma Auditoria Externa, uma
vez que o trabalho de colaboração entre ambas as auditorias propicia maior conforto aos auditores
envolvidos, evitando resultados equivocados e permitindo melhor identificação dos problemas de-
tectados e a eficácia de soluções a serem apresentadas.
Neste trabalho é possibilitada a observância de dados da empresa na perspectiva de traduz-
ir para ações básicas o que se propõe para que haja ascensão mercadológica na empresa, o que
está arraigado diretamente em literatura teórica, e trabalho de formação diretamente acadêmica.
Partindo deste entendimento, a Auditoria Interna teve seu surgimento a partir da demanda
de investidores e proprietários demonstrarem interesse em precisar seus patrimônios em suas re-
spectivas pequenas e micro empresas e não encontrarem dentro das mesmas, pessoal capacitado
para a execução de tal serviço.
Daí surge o curso de especialização, em nível de pós-graduação latu sensu, que se deu de
um desmembramento do curso de especialização em Auditoria, arraigado na proposta pedagógica
inicial de capacitar ao trabalho de avaliação de forma autônoma o profissional que se forma neste
estudo, formando-o para avaliar os processos de controle contábil, financeiro, no atendimento di-
reto à administração empresarial de pequenas e micro empresas.
Assim, as necessidades surgidas pela sociedade empresarial de avaliar de maneira compe-
tente suas possibilidades de alargamento mercadológico, vêm em resposta e justificativa ao cresci-
mento econômico que o país atingiu nas três últimas décadas.
A Auditoria Interna se caracteriza pelo trabalho desenvolvido in loco e busca estabelecer por
meio da minuciosa avaliação do Auditor a avaliação precisa do sistema organizacional interno da
empresa no objetivo de trazer benefícios para a mesma utilizando os procedimentos já descritos
anteriormente.
Vários são os benefícios enaltecidos por diversos estudos que foram de grande relevância
para este trabalho, pode-se citar que as ações mais recorrentes em maioria deles são os benefícios
de controle financeiro interno que as pequenas e micro empresas adquirem depois que passam a
empregar a Auditoria Interna em suas atividades de rotina; as melhores relações estabelecidas en-
tre empregados e empregadores, assim, impulsionando o trabalho e elevando significativamente a
sua qualidade; a prevenção de falhas e erros, que com o olhar e apuro do auditor tornam-se menos
frequentes; a melhor avaliação e divulgação dos produtos e/ou serviços que a pequena e micro
empresa por ora vende, além de trazer planejamento e norteamento para os trabalhos posteriores
da empresa. Segundo o estudo intitulado Auditoria Interna no Brasil, o autor enaltece que:
A maior parte das empresas mantém equipes próprias de auditores internos, porém,
cerca de 16% realiza co-sourcing, ou seja, combina a equipe interna com outros
profissionais terceirizados. Essa alternativa tem sido utilizada principalmente pelas
organizações que demandam suporte de profissionais especialistas para atender às
demandas específicas ou como complemento de quadro efetivo. (Deloitte Touche
Tohmatsu, vários, pág. 12. 2007).
O trabalho da análise dos setores internos por meio da ação de Auditoria Interna para as mi-
cro e pequenas empresas, beneficia-as em conformidade para do ajuste eficaz de suas operações
de rotina.
As micro e pequenas empresas estão em busca de metas cada vez mais altas, e em busca
de um mercado mais amplo onde possam exibir seus produtos e/ou serviços aumentando assim
suas receitas.
Outro importante benefício que nesta ação se mostra é a investidura em inovações tec-
nológicas, que melhoram a qualidade das informações passadas aos clientes, reduzindo custos.
Levando tudo isso em consideração as micro e pequenas empresas necessitam de bons
profissionais que saibam coletar importantes dados, pontuais e precisos, sempre analisando situ-
ações financeiras, operacionais, enfim os setores internos das empresas, assim obtendo os benefí-
cios por ora apresentados.
O aperfeiçoamento dos setores internos também podem trazer resultados positivos desde
que sigam as normas técnicas, melhorando a qualidade e o fluxo de informações, na obtenção de
credibilidade e controle nas atividades desenvolvidas pela empresa.
A possibilidade das pequenas e micro empresas investirem no auditor interno tende a con-
tribuir para a obtenção de informações precisas e no aprimoramento dos controles internos torn-
ando a empresa assim mais competitiva no sistema mercadológico que na contemporaneidade do
século XXI se apresenta demasiadamente concorrido.
Neste pensamento, para o aparecimento de benefícios com a Auditoria Interna é necessário
para expandir seus negócios a pré-disposição dos empresários em estarem mais abertos às mu-
danças e inovações tecnológicas, sempre se fundamentando nas modernidades que se desdobram
na realidade social da clientela que tal produto ou serviço destina-se a atingir.
O auditor interno deve ser contratado como um empregado da empresa que tem como
função a junção de dados transcrevendo em informações importantes para que os gestores tomem
decisões adequadas e eficientes, o que caracteriza o maior benefício para qualquer empresa.
CONCLUSÃO
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A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS SOBRE
A LOGÍSTICA DE ARMAZENAGEM
RESUMO
Diante de um mercado cada vez mais competitivo, as empresas buscam aperfeiçoar seus proces-
sos, focando em estratégias para proporcionar vantagem neste ambiente extremamente complexo,
onde toda e qualquer ação bem definida e planejada, pode influenciar no sucesso do negócio. O
investimento em Logística e a gestão eficiente dos processos que a compõe podem contribuir,
uma vez que, através desta ferramenta ocorre à implantação do controle de toda a cadeia, como
por exemplo; compras, produção, gestão de armazéns, distribuição física e também informações.
Diante destas considerações, o presente artigo objetiva estudar as tecnologias e ferramentas que
são utilizados na gestão de armazéns e como tais tecnologias podem proporcionar um diferencial
competitivo para as organizações, no que tange a ganho de produtividade e redução de custos.
ABSTRACT
Faced with an increasingly competitive market, companies seek to improve their processes, focus-
ing on strategies to provide advantage in this highly complex environment where any and all well-de-
fined and planned, can influence the success of the business. Investment in Logistics and efficient
management of processes that compose it can contribute, since, through deployment of this tool is
to control the entire chain, for example, purchasing, manufacturing, warehouse management, physi-
cal distribution and also information. Given these considerations, this paper aims to study the tech-
nologies and tools that are used in warehouse management and how such technologies can provide
a competitive advantage for organizations, with respect to productivity gains and cost savings.
1. INTRODUÇÃO
A Logística pode ser entendida dentro das empresas como um mecanismo que objetiva pro-
porcionar lucro para o negócio. Sendo assim, “a logística empresarial estuda como a administração
pode prover melhor nível de rentabilidade nos serviços de distribuição aos clientes e consumidores,
através de planejamento, organização e controle efetivos para as atividades de movimentação e
armazenagem que visam facilitar o fluxo de produtos” (BALLOU, 2008 p. 17).
Neste contexto da Logística, é necessário que se tenha um conjunto de recursos, como por
exemplo; funcionários devidamente capacitados e alinhados com o objetivo da companhia, veícu-
los para o transporte, empilhadeiras para carga, descarga e acondicionamento dos pallet’s, um
armazém para movimentação e estocagem de produtos, softwares ERP’s para gestão eficiente dos
processos entre outros.
Conforme observado, a gestão de armazéns faz parte das atividades de apoio e, “refere-se à
administração do espaço necessário para manter estoques. Envolve problemas como localização,
dimensionamento de área, arranjo físico, recuperação do estoque, projeto de docas ou baias de
atracação e configuração do armazém”. (BALLOU, 2008 p. 27).
Importante ressaltar o papel da Logística como ferramenta para proporcionar o aumento do
nível de serviço ao cliente e, ao mesmo tempo, buscar o equilíbrio entre satisfazer às necessidades
do cliente e o custo gerado. Sendo assim, “a meta de serviço logístico é providenciar bens ou
serviços corretos, no lugar certo, no tempo exato e na condição desejada ao menor custo possível”
(BALLOU, 2008, p. 38).
Do mesmo modo que todo o processo logístico requer eficiência, o ambiente de arma-
zenagem exige técnicas de aprimoramento, que foram e ainda são desenvolvidas durante a história
e em conformidade com as necessidades do mercado.
Nesse aspecto, a gestão de armazéns vem se tornado altamente tecnológica, com foco na
alta gestão e visando reduzir o desperdício de tempo e espaço, com o ganho de qualidade.
As ferramentas criadas no percurso de sua trajetória, tais como: empilhadeiras, gôndolas,
racks, estruturas e porta-pallet’s, continuam fazendo parte do processo de armazenagem. Deste
modo, as novas tecnologias vieram com o intuito de maximizar a gestão, que a todo o momento
precisa ser mais eficiente e capaz de suprir as necessidades do mercado.
Na mesma vertente, Moura (1989, p. 262), “dizia que o processo de armazenagem au-
tomatizada busca inserir ferramentas tecnológicas de eficiência, focadas na eliminação do trabalho
manual, objetivando a economia e ganho de produtividade, além de possibilitar a identificação e
eliminação de erros”. O próximo tópico abrange as tecnologias e sistemas que vem sendo utiliza-
dos para otimizar o processo logístico e o processo de armazenagem.
De acordo com Veríssimo (2003), os sistemas tecnológicos são programas que facilitam a
organização das informações de um determinado setor dentro da cadeia de suprimento, sendo que
estas informações facilitam o gerenciamento de dados de todo o processo de logística dentro da
gestão de armazéns. Estes sistemas facilitam o controle do recebimento da matéria prima, atendi-
mento à linha de produção e entrega do produto final ao cliente, otimizando a flexibilidade, o tempo
e a satisfação do mesmo.
Segundo Razzolini Filho (2009), com a evolução dos recursos da tecnologia da informação,
ocorreu uma diminuição dos custos relativos ao provimento e à manutenção de informações atuali-
zadas e confiáveis, enquanto que os custos com mão-de-obra e outros ativos aumentaram.
Nogueira (2012, p. 150-151) aponta alguns benefícios que a tecnologia de informação pode
trazer aos processos logísticos:
• Redução do valor de estoque, da falta de material e tempo de inventário;
• Melhoria no nível de serviço e no atendimento aos clientes;
• Aumento da eficiência operacional;
• Rastreabilidade de frotas e produtos e planejamento de rotas, cargas e modais;
• Cumprimento dos prazos de entrega, por se obter maior velocidade.
Com isso aumenta a busca por processos altamente tecnológicos, para facilitar a movimen-
tação dessas atividades, que incluem produtos, serviços e informações. Esses sistemas tecnológi-
cos são utilizados para que o processo logístico ocorra de forma rápida, eficiente, e com menor
custo, visando sempre à satisfação dos clientes, em um mercado que está cada vez mais competi-
tivo.
Para que os sistemas obtenham dados e trabalhem corretamente, algumas tecnologias são
necessárias, como o Código de Barras e o RFID. Para Nogueira (2013, p. 157), “o código de barras
tem a finalidade de identificar um produto. Ele contém informações como o número referente ao
país, a empresa e o código do produto”.
O código de barras é fundamental no processo logístico. De acordo com Nogueira (2013, p.
156), “o código de barras é de grande importância para a agilidade e bom andamento de um proc-
esso informatizado, para gestão de estoques”.
De um método de codificação de dados alfanuméricos para leitura ótica precisa e
rápida. É constituído por uma “sequência de barras e espações alternados impressos
ou estampados em produtos ou outra forma de fixação, representado informações
codificadas que podem ser reconhecidas por leitores eletrônicos, utilizados para fa-
cilitar a entrada de dados em sistemas de processamento de dados”. (RAZZOLINI,
2009, p. 252-253).
Existe uma necessidade de melhoria contínua de processos. De acordo com Nogueira (2012,
p. 160), “com o RFID (radio frequency identification – identificação via radiofrequência), temos como
forma de tecnologia a transmissão de dados através das etiquetas – TAG”.
Essa etiqueta utiliza-se de ondas eletromagnéticas para transmitir informações at-
ravés de ondas de rádio. Uma das vantagens das etiquetas inteligentes é que podem
armazenar informações e mais de um item pode ser lido ao mesmo tempo. O sistema
de identificação por radiofrequência consiste de um transponder com rádio e um lei-
tor para conectá-lo a um sistema de informação corporativo. (NOGUEIRA, 2012, p.
160).
Essa tecnologia é importante. Conforme explica Nogueira (2012, p. 160), “o transponder é
composto de um chip e antena, que é ativado por um sinal de rádio na sua frequência de trabalho”.
A figura 4 demonstra a comparação do RFID com o código de barras:
“As ferramentas tecnológicas oferecem visibilidade total da cadeia para que as empresas
de logística possam atuar com inteligência nas falhas e elevar seus níveis de serviço”. (FISCHER,
2013, p. 56). Com isso, pode-se verificar que atualmente a tecnologia influencia diretamente na
logística, onde àquelas empresas que usam dessa ferramenta, se sobressaem perante os concor-
rentes e garantem uma boa vantagem competitiva.
Assim, “o emprego das novas tecnologias na logística torna-se, com o passar dos anos,
imperativo, porque proporciona inúmeros benefícios para as empresas do setor”. (FISCHER, 2013,
p.58)
De acordo com Fischer, quando se fala a respeito da evolução do investimento em TI, per-
cebe que:
As médias e grandes empresas brasileiras investiram, em 2012, 7,2% de seu fatu-
ramento líquido em TI, número que deve chegar a 8% no acumulado de 2013. Pode
parecer pouco, mas trata-se de uma evolução significativa se comparada à porcenta-
gem investida em 1990, que girava em torno de 1,5%, e também ao crescimento
exponencial do faturamento dessas corporações em um cenário mais estabilizado e,
posteriormente, em ascensão da economia nacional. (FISCHER, 2013, p. 57)
Nos últimos dois anos as pequenas e médias empresas começaram a buscar mais
soluções tecnológicas no mercado. São, em geral, organizações que estão surgindo
ou que estão em pleno crescimento. Como o mercado vem amadurecendo e se
profissionalizando muito, elas percebem o valor da informação nas operações como
um diferencial. (FISCHER, 2013, p. 64)
De acordo com Fischer (2013), as empresas devem ter consciência das reduções de cus-
tos que a tecnologia pode gerar para sobreviver em um mercado cada vez mais exigente, pois os
clientes exigem mais informação de quem está com a carga. Mesmo que a utilização de algumas
tecnologias encareça os serviços logísticos, o cliente se acostuma com um determinado nível de
informação e não aceita mais ficar sem ela.
Observa-se que os sistemas e tecnologias de informação são primordiais para garantir um
nível de serviço satisfatório e redução dos custos, garantindo mercado e tornando a empresa mais
competitiva, independente do segmento e do seu tamanho. Para confirmar tais apontamentos, bus-
cou-se exemplos reais de empresas que conseguiram alcançar níveis positivos coma implantação
de tecnologias no âmbito da gestão de armazéns.
Para Giurlani (2013) a Nestlé traduz resultados reais da utilização de software de gestão:
Ao empregar o software Galileu, da Bulk, a Nestlé passou a contar com um sistema único para
gerenciar todo o fluxo de transporte de seus produtos. Um dos benefícios mais significativos obti-
dos pela Nestlé ao centralizar a gestão do transporte, foi a redução da ordem de 10% a 20% do
custo relacionado à produtividade dos veículos utilizados, mas houve outros ganhos importantes
como, poder agendar as entregas em grandes clientes e manter os registros no sistema, monitorar
os veículos que entram e saem das fábricas e dos centros de distribuição, visibilidade completa
de todos os processos, operações logísticas de transporte, movimentações de cargas em diversos
locais e de registrar todas as informações em uma única base de dados.
Segundo o artigo desenvolvido por Feldens, Maçada e Santos (2007), que estudou o impac-
to da tecnologia da informação na gestão das cadeias de suprimentos, constata-se os resultados
obtidos por quatro empresas que começaram a usar as ferramentas de TI voltadas à logística:
Pelo quadro é possível observar uma nítida redução dos custos em todas as empresas,
aumento na velocidade dos processos, aumento na integração da comunicação entre os depar-
tamentos da empresa e ganho de competitividade no mercado. Além disso, duas das empresas
obtiveram ganho de flexibilidade na gestão e apenas as outras duas não conseguiram alcançar o
mesmo êxito. Nestes que não houve modificação na flexibilidade, os autores explicam que isto se
deve a um compartilhamento menor da infraestrutura de TI com os parceiros da cadeia, porém, as
empresas pesquisadas pretendem aumentar esse compartilhamento. Com isso, percebe-se que
para a tecnologia ajudar na gestão da cadeia de suprimentos é necessária infraestrutura própria
para isto.
De acordo com o artigo publicado na Revista Tecnologística (2012), a metalúrgica Stam,
está investindo R$ 4 milhões na modernização das áreas de armazenagem e de preparação de
pedidos de sua planta, localizada em Nova Friburgo (RJ), com a instalação de um sistema automa-
tizado. O objetivo do sistema é incrementar a acuracidade dos estoques, ganhar rastreabilidade
dos produtos dentro do armazém e ampliar a eficiência na armazenagem e na movimentação de
itens. A ferramenta, conhecida como Miniload, também irá racionalizar o espaço usado para es-
toque e preparação de pedidos dos atuais 1.140 m² para 280 m², possibilitando à Stam abrigar os
mais de cinco mil itens de seu estoque de forma mais eficiente. Todo o projeto segue a premissa
de acompanhar o crescimento anual médio de 25% da Stam e, por pelo menos cinco anos, a em-
presa poderá ampliar os estoques sem aumentar a área de estocagem. O Miniload também vai
possibilitar uma queda de 30% do tempo empregado na preparação de pedidos, tornando-os mais
eficientes (MORAES, 2012).
Segundo artigo publicado pela Ecoporto Alfandegado (2013), após a publicação da lei dos
portos, a modernização dos terminais começa ser um requisito para funcionamento. Assim, HTS
Brasil, empresa que oferece aos terminais portuários soluções como a automatização de portões
e de posicionamento de contêineres, percebe que um terminal gasta cerca de 10 minutos para ad-
mitir um caminhão em um gate. Quando se automatiza, consegui chegar a 3 minutos, triplicando a
eficiência do processo, e, além disso, diminui a necessidade de movimentação da carga, ocasion-
ando a redução dos custos do processo.
Torna-se perceptível a importância de se investir em tecnologia para melhoria dos proces-
sos logísticos, bem como na armazenagem. Os casos de sucesso demonstrados referente às em-
presas que investiram em tecnologia e maximizaram seu negócio, são exemplos desta melhoria
proporcionada, inclusive, reduzindo custos e aumentado o nível de serviço.
“Trabalhar em logística atualmente é muito mais do que simplesmente carregar caixas. A in-
teligência precisa estar por trás de todos os processos para que eles aconteçam com o maior nível
de excelência possível”. (FISCHER, 2013, p. 64)
CONCLUSÃO
A proposta deste artigo foi demonstrar a importância das novas tecnologias para redução
dos custos, aumento dos níveis de serviço, melhora na qualidade das operações de armazenagem
e logística. Diante da pesquisa realizada em livros, artigos e revistas os autores abordaram sobre o
contexto logístico focados no processo de armazenagem. Com isso a história mostra que desde o
início as organizações buscaram inovar através dos processos tecnológicos para se tornarem mais
competitivas no mercado.
Os avanços tecnológicos proporcionaram aumento na cadeia produtiva no momento em que
a mão de obra cedeu lugar aos avanços da automatização dos processos. As vertentes benéficas
se dão através do aumento da movimentação de materiais com informações rápidas e exatas,
gerando um crescente ganho de produtividade, satisfazendo as necessidades dos clientes e reduz-
indo os custos do processo onde as empresas se tornam altamente competitivas.
Pode-se afirmar que o WMS tem se tornado bastante popular no cenário logístico, possibil-
itando uma integração de informações intersetoriais e proporcionando um aumento de ganho em
produtividade e qualidade, com isso se tornou a ferramenta principal do sistema de armazenagem
e logística. Por outro lado, tecnologias como o sistema R-FID que tem a possibilidade de oferecer
grandes benefícios ao sistema logístico, possuem um alto custo de implantação e utilização, fator
que não o torna muito atrativo para as empresas.
É importante salientar que quando se fala sobre tecnologias, estas não se tratam apenas
de sistemas de informações, mas também de máquinas e equipamentos de ponta como: empilha-
deiras elétricas, carros de transporte e racks, que proporcionam o aumento do nível de serviço e
qualidade.
Sendo assim, fica claro que para o crescimento do setor logístico, faz-se necessário o inves-
timento em tecnologias. Estas se tornam primordiais para garantir o sucesso e a longevidade das
organizações, sendo assim, cabe a cada empresa analisar quais ferramentas são mais adequadas
ao seu negócio, bem como, o quanto está disposta a investir para alcançar os resultados dese-
jados.
REFERÊNCIAS
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LAKATOS, Eva. Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico. 4. ed.
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NOGUEIRA, Amarildo de Souza. Logística Empresarial: Uma visão local com pensamento globali-
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ra.ecoportosantos.com.br/noticias/2013/07/23/673/terminais-investem-em-tecnologia-em-santos >
Acesso em 27 out. 2013.
JUSTIÇA RESTAURATIVA
RESUMO
O objetivo do presente artigo é analisar criticamente o sistema penal adotado atualmente no Bras-
il, sua forma de aplicação e suas principais consequências. Através da análise desse quadro, o
trabalho abordará a necessidade de criação de um novo paradigma. A restauração deve ser uma
das finalidades da pena juntamente com a retribuição e prevenção. Alternativas à privação de
liberdade como a conciliação e a assistência à vítima são formas de amenizar as consequências
do atual sistema penal. Sobre o novo paradigma, a monografia abordará o que vem a ser justiça
restaurativa, qual seu principal objetivo e o novo olhar que é dado em relação ao crime, tratando-o
como conflito que envolve pessoas e não visando somente punição aos infratores. Pretende tam-
bém demonstrar como a Justiça Restaurativa está sendo aplicada no ordenamento jurídico pátrio,
quais são seus benefícios bem como suas maiores dificuldades de implementação. Além disso,
o trabalho também fornecerá informações sobre a origem desta e sobre sua aplicação em outros
países.
ABSTRACT
The present study objective is to critically analyse about the penal system adopted in Brazil actu-
ally, your aplication form and your main consequences. Through the analysis of this frame, the
study will accost about the necessity of a new paradigm creation. Alternatives of liberty privation
like conciliation and victim’s assistance are manners created to brighten up the actual penal sys-
tem consequences. About the new paradigm, the monograph will clarify about restorative justice,
which is your main objective and how is the view about the crime, treating it like a conflict that
envolved people and not only a infractor’s punition. It will also demonstrated how the Restorative
Justice has been applied in the land legal system, which are your benefices as though your main
implementation difficulties. Besides that, the study also will give information about it’s origin and
your application in other countries.
INTRODUÇÃO
O presente artigo visa esclarecer o que vem a ser justiça restaurativa, como esta é aplica-
da em nosso ordenamento jurídico e quais são os principais desafios para sua implementação.
O ordenamento jurídico brasileiro adota, precipuamente, o tipo retributivo e preventivo de
justiça penal, representado pela figura do Estado. Nesse modelo, a punição é vista como o re-
sultado adequado, havendo o predomínio das penas privativas de liberdade. A pena é consid-
erada o único remédio para punir e evitar as condutas criminosas. A satisfação da pretensão pu-
nitiva estatal é a primeira opção. A vítima fica totalmente à margem do processo e, muitas vezes,
1 Aluna do curso de Direito da Faculdade Divinópolis - FACED.
2 Professora da Faculdade Divinópolis - FACED. E-mail: simonemrpinto@yahoo.com.br
sequer participa da condução do mesmo, limitando-se, apenas ao fornecimento de declarações.
A reunião de todos esses fatores tem como consequência o grande mal desse modelo, qual
seja, a superpopulação carcerária e o abandono da vítima. Além disso, a falta de perspectiva e
de oportunidade para o preso, dentro da cadeia, tem contribuído para o aumento da reincidência
quando este é posto em liberdade. O desrespeito aos direitos e garantias fundamentais previstos
na Carta Magna, principalmente a dignidade da pessoa humana, dentro das penitenciárias, faz com
que o delinquente se sinta como um “lixo” humano, causando revolta e dificuldade de reinserção
social. Nesse sistema, a “responsabilização” do infrator pelo delito cometido é imposta através da
dor e do sofrimento. Diante disso, algumas mudanças estão sendo feitas a fim de que um novo
paradigma seja criado. Alternativas à privação de liberdade como a conciliação e a assistência à
vítima representam uma forma de amenizar as consequências do atual sistema.
A justiça restaurativa é um modelo de solução de conflitos, baseando-se, principalmente, na
reparação do dano causado pelo crime e na reconciliação entre vítima e ofensor. Ao mesmo tempo
em que busca atender às necessidades da vítima, esse modelo também busca responsabilizar o
agressor pelo dano causado, além de proporciona-lhe a reintegração à sociedade. O objetivo é
tentar corrigir os erros. Para isso, a justiça restaurativa busca o envolvimento da vítima, do ofensor
e também da comunidade para tentar solucionar o problema através da reparação, reconciliação e
segurança.
A vítima deve voltar a sentir que a vida faz sentido e que ela exerce o controle sobre si. Já
para o agressor, a ressocialização virá através da mudança de comportamento e da esperança no
futuro. Para a justiça restaurativa, quando um crime acontece deve-se buscar, em primeiro plano,
atender as necessidades das pessoas que foram violadas. A vítima, na maioria das vezes, almeja
a reparação do dano e não a punição do infrator. O objetivo é oferecer oportunidade para que a
reconciliação entre vítima e ofensor ocorra, porém esta não deve ocorrer de maneira forçada. Deve
advir da vontade de ambas as partes.
FINALIDADES DA PENA
A justiça retributiva remonta de séculos atrás, podendo ser encontrada até no Antigo Testa-
mento, pela Lei de Talião: “olho por olho e dente por dente”. Com os primeiros ordenamentos ju-
rídicos penais, a pena privativa de liberdade passou a ser a sanção imposta pelo detentor do poder
punitivo (Estado) como resposta à conduta criminosa e a sua justificação foi defendida pelas teorias
da pena.
As teorias que justificam os fins da pena dividem-se em absoluta, relativas e mistas.
a) Teoria Absoluta ou Retributiva: de acordo com essa teoria, a pena é a consequência do
delito, tendo como objetivo a retribuição ao mal causado. A pena é o castigo imposto ao transgres-
sor como forma de pura punição. Pune-se porque um crime foi cometido. Não há que se falar em
prevenção. De acordo com Mirabete (2007, p. 244): “As teorias absolutas têm como fundamento da
sanção penal a exigência da justiça: pune-se o agente porque cometeu o crime”;
b) Teoria Relativa ou Utilitarista: segundo essa teoria, o objetivo da pena é evitar o cometi-
mento de novos delitos. A pena imposta é aplicada de maneira proporcional ao dano causado pelo
delito praticado. Essa teoria subdivide-se em: teoria relativa da prevenção geral negativa e positiva
e teoria relativa da prevenção especial negativa e positiva. A teoria da prevenção geral negativa
garante seu resultado através da coação psicológica, acreditando que os infratores em potencial
se sentirão intimidados a cometer delitos através da ameaça, imposição e execução de uma pena
imposta a terceiros. O castigo aplicado a um infrator é um meio de evitar que outros cidadãos in-
corram no mesmo erro, ou seja, cometam delitos. Já a teoria da prevenção geral positiva obje-
tiva demonstrar aos cidadãos de bem que a lei penal existe e que esta será aplicada a todos que a
infrinjam. A teoria relativa da prevenção especial, que também se subdivide em negativa e positiva,
entende que a finalidade da pena é a ressocialização do infrator. Seu objetivo precípuo é a pre-
venção da reincidência. A prevenção especial positiva, de acordo com Yarochewsky (2005, p. 178)
ocorre “quando a pena dirigi-se ao infrator, buscando ressocializá-lo e reintegrá-lo à sociedade” e
a negativa “quando a pena dirige-se ao infrator, visando sua neutralização.” Ao contrário da teoria
da prevenção geral que se dirige à coletividade, esta teoria se dirige a uma pessoa específica, qual
seja, o infrator;
c) Teoria Mista, Unificadora ou Eclética: devido às várias críticas tecidas contra as teorias
supramencionadas, uma nova teoria surgiu. Essa teoria foi chamada de mista devido ao fato de
mesclar o conteúdo das teorias absoluta e relativa, com o objetivo de suprir as deficiências de
ambas. De acordo com essa teoria, a pena não tem o sentido meramente retributivo. Não objetiva
somente a prevenção, mas também a ressocialização do autor do delito. “A pena é retribuição, mas
deve, por igual, perseguir os fins de prevenção geral e especial”(FRAGOSO, 2004, p. 345). Apesar
de tentar buscar uma melhor aplicação da pena, a teoria mista não escapou às críticas. Do con-
trário, as concentra. Como combinar uma teoria que nega um fim à pena com outra que aclara sua
finalidade? Outras críticas relacionadas dizem respeito à coação psicológica geral e ao alto índice
de reincidência observado naqueles que cumprem pena privativa de liberdade;
Todas as teorias supracitadas justificam a pena e não discordam de que sua aplicação é
necessária para que haja o bom convívio social. O ordenamento jurídico pátrio adota a teoria mista
da pena.
O art. 59 do Código Penal3 traz em seu bojo as circunstâncias que devem ser levadas em
consideração para que a pena alcance seu fim, qual seja, a reprovação e a prevenção do crime.
Mas será mesmo possível aferir, através dos critérios do referido artigo, uma pena-base
que seja justa, individual, proporcional e humana e que ainda reprove e previna o crime? O juiz,
ao aplicar a pena-base, tem que julgar as circunstâncias judiciais previstas no caput do art. 59 do
Código Penal. Porém, apesar de sua decisão ter de ser motivada, a valoração dessas circunstân-
cias é subjetiva, o que faz com que cada magistrado julgue de acordo com o seu entendimento.
Assim, muitas vezes, o quantum da pena aplicada nem sempre corresponde ao ideal para alcançar
seus fins. Por se tratar de poder discricionário, o magistrado julgará de acordo com seus valores
ideológicos e culturais.
d) Teorias Abolicionistas: com o fracasso do atual sistema penal onde a pena privativa de
liberdade é a regra e o nível de reincidência é altíssimo, uma proposta abolicionista surgiu criticando
a legitimidade do sistema posto e os excessos de “atos de poder” praticados pelo Estado, como
tratamento desumano nos presídios, condenação de inocentes, dentre outros. Essa teoria critica
ferrenhamente o fim almejado pelo atual sistema penal, qual seja, o controle da criminalidade. Louk
Hulsman, Edson Passeti e Michel Focault são grandes expoentes da teoria abolicionista. Assim
como nas demais teorias, o abolicionismo penal também sofreu críticas, sendo considerado como
utópico e insuficiente para deter os crescentes índices de violência. A exclusão do poder de punir
do Estado faria com que os próprios indivíduos buscassem seus meios de resolver os conflitos,
trazendo novamente à tona a vingança privada e uma sociedade sem regras.
O sistema penal retributivo/preventivo, como modelo vigente, vem sendo fadado ao fracas-
so.
Marcelo Gonçalves Saliba, citando Lola Aniyar de Castro indica que fracassaram os “fins ex-
3 Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos,
às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.
plícitos da prisão e do tratamento”, qual seja, a melhora do ser humano, porém, seus fins implícitos
foram cumpridos:
Desse modo, os excluídos pelo sistema, não conseguem novamente se “aderir” à socie-
dade, o que faz com que a reiteração de práticas delituosas aumente a cada dia.
A desigualdade do sistema retributivo/preventivo é criticada por Baratta, que tece as seguin-
tes críticas:
a) o Direito Penal tutela somente bens essenciais e o faz com ‘intensidade desigual
e de modo fragmentário’; b) a lei penal não é igual para todos, existindo um processo
seletivo de criminalização; c) a seleção das condutas criminalizadas é independente
do status social e interesse lesado, no sentido de que estas não constituem a variável
principal da reação criminalizante e da sua intensidade. (BARATTA, 2002. p. 162)
Um bom exemplo é o que acontece com os crimes de ‘colarinho branco’ que, quando pu-
nidos, recebem sanções muitos leves, causando repulsa na sociedade devido à desproporção da
pena e do tratamento “privilegiado” dispensado aos infratores desse tipo de crime. A ação penal 470
(Mensalão) trouxe algumas condenações, porém, articulações processuais levaram a uma redução
da pena, sendo que muitos não ficarão privados da liberdade por muito tempo.
Zehr (2008) identifica os três modelos de justiça restaurativa mais utilizados no mundo:
a) Mediação entre vítima e ofensor: Prática mais utilizada na solução consensual dos litígios.
Um terceiro imparcial, chamado mediador, tenta auxiliar as partes na resolução do conflito. Há um
estreito relacionamento entre vítima e ofensor, havendo redução do medo por parte da vítima e
uma maior possibilidade de cumprimento do acordado por parte do agressor. Porém, antes que o
encontro aconteça, vítima e ofensor se encontram, separadamente, com um mediador treinado,
que avalia se ambos estão preparados para enfrentar a situação. Países como Estados Unidos e
Canadá já adotam esse tipo de prática há mais de 20 anos;
b) conferências familiares: modelo que teve como base as soluções de conflitos adotadas
pelos indígenas maoris. Há o envolvimento da família, de amigos, além da polícia, de advogado e
do facilitador. Nesse modelo, o policial relatará os fatos e ao infrator é proporcionado um advogado.
Vítima e agressor serão ouvidos e, após, familiares e acompanhantes poderão se manifestar. Em
seguida, o agressor se reúne juntamente com seus acompanhantes a fim de se responsabilizar e
estabelecer uma solução para o conflito. A proposta é apresentada para a vítima e seus familiares
objetivando um acordo de forma consensual. Normalmente, os acordos envolvem pedido de descul-
pas, restituição do dano à vítima e serviços à comunidade. Esse modelo, embora mais difícil de se
implementar, possui vantagens sobre o modelo de mediação entre vítima e ofensor. Há uma maior
facilidade na comunicação por causa da ajuda das pessoas envolvidas, uma melhor discussão dos
fatos e a possibilidade de várias sugestões para a reparação do dano;
c) círculos restaurativos: também conhecidos como círculos de paz, são encontros que en-
volvem a participação das partes (vítima e infrator), da comunidade, dos familiares e dos amigos,
juntamente com um coordenador, que auxiliará a comunicação dos envolvidos a fim de que alcan-
cem a melhor solução para o conflito. Para seu desenvolvimento, três etapas devem ser obser-
vadas: pré-círculo, círculo e pós-círculo. O pré-círculo consiste basicamente no convite à partici-
pação do círculo feito pelo coordenador aos principais interessados (vítima e infrator). Em caso de
aceitação, o coordenador explicará a dinâmica do encontro, podendo as partes indicar pessoas que
as apoiarão durante a participação no círculo. O círculo é o efetivo encontro entre vítima, ofensor
e comunidade. É durante o círculo que os envolvidos terão a oportunidade de se expressarem e
chegarem a um acordo em que o agressor assumirá responsabilidade, oferecendo uma proposta
de reparação à vítima. Vale ressaltar que o agressor terá prazo para cumprir o acordado. No pós-
círculo, um novo encontro entre os participantes é marcado. Essa fase é a necessária para que o
coordenador verifique se o infrator assumiu sua responsabilidade cumprindo com o acordo e se
a vítima se sentiu restaurada com a proposta oferecida. Esse tipo de prática teve origem no Ca-
nadá.
Importante lembrar que os conciliadores ou mediadores são pessoas especialmente treina-
das e aptas para a realização do processo restaurativo.
Com relação ao acompanhamento de advogados e defensores públicos durante o processo
restaurativo, há quem entenda que não cabe a participação, porém, uma corrente intermediária
admite a intervenção desde que necessária.
A participação da comunidade é de suma importância para a pacificação entre vítima e
agressor. Segundo Calhau (2000, p. 230): “Uma sociedade que não protege e não presta assistên-
cia às vítimas de seus crimes não obtém níveis de cidadania dignos para o momento histórico em
que a humanidade se encontra.”
Os representantes comunitários devem tentar colaborar com o monopólio estatal para que
a punição retributiva não seja a única opção de resposta. Vítima, agressor e comunidade devem
participar de todo o processo tentando buscar a conciliação, o perdão, bem como a reparação do
dano. Nesse sentido, Pereira diz que a:
Assim, a resposta conjunta entre Estado e comunidade, com o apoio desta, possibilita res-
postas penais que não sejam privativas de liberdade e que respeitem a dignidade da pessoa hu-
mana.
Vale ressaltar que a justiça restaurativa não visa a extinção do atual sistema penal, apenas
o complementa, trazendo à tona, novas maneiras de resolução de conflitos através de práticas al-
ternativas. O novo paradigma surge como uma opção para a diminuição dos efeitos impostos pelas
penas do sistema retributivo/preventivo.
O ex ministro Cezar Peluso, em seu discurso de posse em 23/04/2010, conforme é possível
verificar no anexo A, proferiu algumas palavras a respeito dos problemas do judiciário brasileiro.
De acordo com Peluso, o Poder Judiciário encontra-se “assoberbado”, o que acarreta prorrogação
de prazos e execuções extremamente lentas e, muitas vezes, ineficazes. Para ele, alternativas às
soluções de conflitos devem ser incorporadas ao ordenamento jurídico pátrio.
Assim, buscando uma forma mais célere, amena e eficaz de resolver os conflitos, vários
países passaram a adotar técnicas e programas restaurativos a fim de promover a pacificação so-
cial.
A Lei 8069/90, que diz respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, também, conhe-
cido como ECA, tem como um de seus objetivos disciplinar a aplicação das medidas socioeducati-
vas. Porém, qual é o real sentido da medida socioeducativa? Será que ela realmente protege e gera
responsabilidade ao adolescente infrator? Qual o papel da justiça restaurativa nesse contexto?
O ECA, assim como o Código Penal, também vem passando por crise, pois a sua conse-
quência maior é a perda ou a restrição da liberdade. Os estabelecimentos socioeducativos estão
lotados de jovens infratores sem nenhuma perspectiva de vida. Jovens que, na maioria das vezes,
tiveram sua infância ceifada pelas drogas ou até mesmo por pais que tinham o objetivo apenas de
povoar o mundo, não se importando com a educação e a estrutura de sua família.
Segundo Soares (2011, p 53.), as entidades para onde se conduzem os menores infratores
para o cumprimento de “medidas socioeducativas” nada mais são do que depósitos de jovens.
Esses estabelecimentos estão longe de ser alojamentos educativos. Pelo contrário, parecem peni-
tenciárias (sucursais do inferno).
De acordo com os artigos 228 da Constituição Federal e 27 do Código Penal, os menores
de 18 anos são penalmente inimputáveis e se sujeitam às normas da legislação especial, qual seja,
o Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, vale ressaltar que inimputabilidade não significa
irresponsabilidade. Mesmo inimputáveis os menores de 18 anos são penalmente responsáveis. O
artigo 112 do Estatuto da Criança e Adolescente4 elenca os vários tipos de medidas socioeducati-
vas que podem ser aplicadas, levando-se em consideração a capacidade do infrator de cumprir a
medida imposta, as circunstâncias e a gravidade do ato infracional cometido.
A aplicação dessas medidas, assim como na aplicação da pena criminal, é poder exclusivo
do Estado, que exerce sobre elas o seu monopólio. Assim como na legislação penal, o ECA tam-
bém está alicerçado sobre os princípios da justiça retributiva/preventiva, onde os protagonistas da
história, na maioria das vezes, não exercem o papel principal, não havendo a responsabilização do
jovem infrator.
A Lei 8069/90 tem como base as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos
Jovens Privados da Liberdade que dispõe, em seu item 12, que:
4 Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes me-
didas: I- advertência; II-obrigação de reparar o dano; III- prestação de serviços à comunidade; IV-liberdade assistida; V- inserção
em regime de semiliberdade; VI- internação em estabelecimento educacional; VII- qualquer umas das previstas no art. 101, I a
IV.
para cumprir “medida socioeducativa”. O branco, mesmo portando uma quantidade que também se
enquadraria no tráfico, se tivesse sido autuado, seria levado à delegacia e, num instante, estaria
de volta à sua casa, devido ao fato de ser filhinho de papai. Ambos os jovens que se encontravam
na padaria cometeram o mesmo ilícito. O jovem branco continua solto e talvez, cometendo outros
ilícitos, quem sabe ainda piores, com a certeza da impunidade. O adolescente negro, encarcerado
numa instituição, terá agora, a chance de fazer sua carreira na vida do crime, onde a violência será
sua principal arma.
De acordo com o retromencionado autor, o papel das instituições deveria ser o de ajudar o
jovem a se recuperar, devolvendo a ele autoconfiança e amor-próprio. Porém, isso não é possível
com a restrição da liberdade.
Fazendo um paralelo com os estabelecimentos educacionais que, em sua maioria, não of-
erecem oportunidades aos adolescentes infratores durante o cumprimento da medida, tampouco
perspectivas para o futuro, alternativas além da institucionalização devem ser pensadas.
A privação da liberdade não gera ressocialização tampouco responsabilidade. O estigma gerado
pela sociedade tanto ao menor infrator quanto ao adulto criminoso ao saírem, respectivamente, do esta-
belecimento socioeducativo e da prisão, faz com que não consigam emprego e nem oportunidades para
começarem uma nova vida. Diante disso, o mundo do crime será a solução.
Nas palavras de Baratta, a estigmatização do jovem infrator bem como a do condenado
representa o comportamento futuro do desviante e, o sistema penal e as penas privativas de liber-
dade:
Se o que se deseja é fazer com que o menor não cometa novo ato infracional, após o cumpri-
mento da medida, um novo paradigma deve ser criado. Nos dizeres de Konzen:
Se respeito aos outros e aos princípios constitucionais fundamentais bem como a assunção
da responsabilidade pelo seu ato forem incutidos na mente do adolescente infrator, a sociedade, ao
devolvê-lo ao convívio social, irá tê-lo transformado em um cidadão de bem e não em um infrator.
Fazer com que o adolescente se sinta valorizado enxergando em si próprio suas qualidades
fará com que seu processo de transformação pessoal e arrependimento dos atos cometidos no
passado aconteçam de maneira tranquila e eficaz. A oportunidade da palavra entre os sujeitos
em conflito durante o círculo restaurativo também é extremamente importante para essa transfor-
mação.
O diálogo entre vítima, infrator e familiares é, portanto, o melhor instrumento para a busca da
verdade e, consequentemente, da melhor solução para o conflito.
O objetivo não é criticar indiscriminadamente o atual sistema, mas pensar em alternativas
que possam ajudar a evitar a violência. Desse modo, a justiça restaurativa vem com o intuito de ten-
tar amenizar os erros cometidos pelo sistema retributivo/preventivo, bem como estabelecer novas
dimensões sobre o significado de punição, responsabilidade e reparação de dano. Soares (2011, p.
127-135) cita um belo exemplo de como a aplicação da prática restaurativa pode ser eficiente: em
uma república moravam 5 jovens. Um dia, um dos rapazes, com problemas no trabalho e farto da
bagunça e desorganização na república, em um acesso de fúria, quebrou a TV que todos haviam
ajudado a pagar. Diante dessa situação, cada um dos jovens expressou a sua opinião sobre como
o dano teria que ser reparado. A primeira opinião foi a do rapaz que mais ficou revoltado. Para ele,
o jovem que quebrou a TV, além de merecer uma surra, deveria ser expulso da república e ainda ter
um objeto seu destruído. Desta forma, iria sentir na pele o que fez. A vingança seria olho por olho,
dente por dente. O segundo jovem a expressar opinião, sugeriu que o autor, além de ser expulso
da república, deveria arcar com todo o prejuízo causado, já que somente ele deu causa à destru-
ição da TV. A terceira opinião, emitida por um colega que fazia psicologia, foi totalmente diferente
das duas primeiras. Para ele, o autor não estava bem e precisava da ajuda. Disse aos colegas que
a vida do jovem valia mais do que o objeto quebrado. Na verdade, este eximiu o jovem de sua re-
sponsabilidade, “passando a mão” na cabeça dele. O jovem que expressou a quarta opinião disse
que surra e expulsão só serviriam para atenuar a revolta gerada, mas não resolveria o problema.
Segundo ele, justiça não é combater violência com violência. O autor deveria ressarcir o prejuízo,
mas o que o levou a praticar tal ato deveria também ser levado em consideração. A quebra da TV
não foi um gesto isolado e sem sentido. Todos, de alguma forma, contribuíram para a concretização
do ato. A desorganização reinava no apartamento. Cada um deveria contribuir para o conserto da
TV. Isso não significa dizer que o jovem não será responsabilizado, porém, todos os demais, tam-
bém têm uma parcela de culpa, ou seja, devem ser corresponsabilizados. A proposta foi a seguinte:
o jovem que quebrou a TV arcará com 50% do prejuízo causado e os outros 50% será dividido entre
os demais. Além disso, as regras da república serão modificadas e todos, de alguma forma, as-
sumirá tarefas e se responsabilizará pelo fiel cumprimento destas. Diante disso, desde que o autor
assuma as regras pactuadas, não será expulso da república. Essa foi a melhor opinião e a melhor
maneira de solucionar o conflito.
Apesar de vários países já terem comprovado a eficácia das práticas restaurativas em se
tratando de jovens infratores, a legislação brasileira ainda não dispõe totalmente de programas que
visem a aplicação de tais práticas.
O ECA, em seus artigos 1265, 1276 e 1287 trata do instituto da remissão, que, de alguma
forma, poderia ser uma prática restaurativa, se o círculo restaurativo fosse aplicado antes do iní-
cio do processo, como uma forma do adolescente infrator se responsabilizar pelo ato e pelo dano
causado. Esse instituto tem o objetivo de, além de desafogar o judiciário, tentar evitar que o jovem
infrator sofra os efeitos danosos de um processo.
A remissão, como vista, pode ser concedida tanto na fase pré-processual (antes do ofereci-
5 Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do Ministério Pú-
blico poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e consequências do fato, ao
contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional.
6 Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece
para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colo-
cação em regime de semiliberdade e a internação.
7 Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece
para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colo-
cação em regime de semiliberdade e a internação.
mento da representação) quanto na fase processual (após o oferecimento da representação, em
qualquer fase do processo) como meio de exclusão, suspensão ou extinção do procedimento.
Ofertada a proposta de remissão pelo Ministério Público, o adolescente infrator não mais re-
sponderá pelo ato infracional cometido. Essa remissão, chamada de remissão parajudicial, pura ou
simples não pode ser aplicada com qualquer outra medida socioeducativa, já que esta é atribuição
exclusiva do juiz, de acordo com a Súmula nº 108 do STJ8.
A remissão aplicada no curso do processo é chamada de remissão condicionada, já que esta
sempre vem acompanhada de uma ou mais medidas socioeducativas. Ela é ato consensual e, por
isso, depende da anuência do infrator em concordar em cumprir a medida ou as medidas impos-
tas.
Caso seja imposta a remissão ao adolescente infrator, o Estado não poderá aplicar-lhe medi-
da de privação de liberdade caso este descumpra o acordado. Se isso pudesse acontecer, o princí-
pio da proteção integral estaria sendo descumprido, pois haveria a figura penal da transgressão.
A remissão por si só, de acordo com o art. 127 do ECA, não implica necessariamente o
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, por isso, não há que se falar em restaura-
tividade.
O instituto utilizado atualmente deveria passar por uma transformação para que a justiça
restaurativa pudesse ser aplicada. Para isso, os órgãos da justiça deveriam promover o encontro
entre vítima, infrator e familiares (círculos restaurativos) antes de iniciado o processo, a fim de que
houvesse uma solução para a reparação do dano, bem como a responsabilização do menor infra-
tor. Daí sim poder-se-ia falar em remissão.
Em 18 de janeiro de 2012, foi criada a Lei 12.594, mais conhecida como Lei do Sinase
(Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) que regulamenta a execução das medidas so-
cioeducativas aos adolescentes infratores, através de programas de atendimento compostos por
uma equipe de profissionais multidisciplinares.
De acordo com o art. 1º, § 1º:
Muitos se perguntam em que situações a justiça restaurativa pode ser aplicada. Pois bem, a
resposta é que esta pode ser aplicada em todos os tipos de crime nas fases pré processual, proces-
sual bem como na fase de execução penal. Mas como isso acontece?
Na fase pré-processual, ou seja, na fase de inquérito policial, poderá ocorrer o encontro vol-
untário entre vítima e ofensor através do círculo restaurativo com a rede de apoio. Nesse caso, a
vítima relatará ao agressor todos os seus sentimentos e angústias e este, por sua vez, tentará, de
alguma forma, reparar o dano causado. Através da rede de apoio, vítima será assistida e agressor
assumirá responsabilidades que lhes serão cobradas. Nesse caso, o promotor de justiça poderá
requerer o arquivamento dos autos.
Na fase processual, ou seja, após ter sido oferecida e recebida a denúncia, o círculo restau-
rativo poderá ser aplicado como uma atenuante para diminuir a pena a ser cumprida.
Já na fase de execução, a justiça restaurativa, assim como já ocorre com os adolescentes
infratores, na lei do Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), poderá ser apli-
cada, após o cumprimento da pena, através de ações educacionais, culturais e capacitação para o
trabalho. Assim, ao sair da prisão, o agressor terá uma rede de apoio cujo objetivo será reinseri-lo
na sociedade.
Dessa forma, pode-se perceber que a justiça restaurativa é um sonho possível que aos
poucos vem sendo concretizado. É preciso que um novo paradigma surja como alternativa ao atual
sistema penal. Punição por mera punição e prevenção sem oportunidades apenas estigmatizam o
criminoso, fazendo com que este permaneça na vida do crime. O caminho da reintegração social
é a restauração. Somente através da assunção de responsabilidades e de novas oportunidades, o
agressor voltará a sentir-se como parte da sociedade.
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MEDIDA DE SEGURANÇA: DIÁLOGO ENTRE O DIREITO E A PSICOLOGIA
RESUMO
Após várias reflexões e debates, no grupo de iniciação científica do curso de Direito, acerca do
tema inimputabilidade penal por incapacidade de entender o caráter ilícito ao tempo da ação ou
da omissão, registra-se, neste artigo, as conclusões. Constata-se que o tema não se encerra, o
diálogo ficará sempre aberto àqueles que pretenderem debater a melhor resposta para casos de-
clarados de inimputabilidade por ‘loucura’, que marcam o sistema penal brasileiro com internações
perpétuas.
Palavras-chave: inimputabilidade penal, deficiência mental, dignidade da pessoa humana.
ABSTRACT
After several discussions and debates in the undergraduate group of law school, about the criminal
unaccountability theme by inability to understand the illicit character to the time of the action or omis-
sion, is recorded, in this article, the conclusions. It appears that the issue does not end, dialogue will
always be open to those wishing to discuss the best response to reported cases of unaccountability
by madness that mark the criminal justice system with perpetual admissions
Key words: criminal unaccountability, mental disability, human dignity.
1 INTRODUÇÃO
A doutrina e a jurisprudência nos ensinam que o Direito Penal é, dos ramos do Direito, a
última ratio, ou seja, por cercear a liberdade do ser humano, só deve atuar quando houver grave
lesão aos bens jurídicos assegurados pelo Direito. Enquanto outros ramos derem uma resposta
suficiente, não há de se aplicar o Direito Penal. E ainda, dentro do próprio Direito Penal, a apli-
cação da sanção restrição da liberdade deve ser também usada em casos em que outras sanções
não forem a resposta suficiente. Assim, quando a pena não ultrapassar quatro anos e o crime não
for cometido com violência ou grave ameaça, sendo o ofensor não reincidente específico, pode a
pena privativa de liberdade ser substituída por restritivas de direitos. Institutos outros como o da
Transação Penal, Suspensão Condicional do Processo e Suspensão Condicional da Pena podem
ser aplicados, se adequados a cada caso. A política criminal do momento é de encarceramento,
somente em casos mais graves, reconhecendo toda a falha do sistema prisional em não cumprir
os anseios da Lei de Execução Penal, tampouco, a finalidade da prevenção de crimes. Cenas de
presídios superlotados e notícias de maus tratos levam pesquisadores a questionar a legitimidade
deste método de punição.
Da mesma maneira, a política criminal de internação, no caso de aplicação da medida de
segurança, deve orientar-se no sentido da política criminal da prisão, de ser aplicada somente em
casos mais graves e com obediência aos comandos da Lei de Execução Penal, sobretudo no que
1 Graduandos do curso de Direito da Faculdade Divinópolis – FACED.
2 Professora do curso de Direito e coordenadora do NUPED-IPPEX-FACED. E-mail:simonemrpinto@yahoo.com.br
tange à dignidade da pessoa humana.
2 O HOLOCAUSTO BRASILEIRO
As investigações partiram do seguinte questionamento: será que existe algo pior no sistema
prisional brasileiro? A constatação foi afirmativa a partir dos estudos da obra da jornalista Daniela
Arbex: “O Holocausto Brasileiro”. O documentário revela que, dentro dos manicômios judiciais, hoje
intitulados hospitais psiquiátricos, o tratamento pode ser ainda mais desumano que nos presídios,
próximo das cenas que retrataram as atrocidades da segunda guerra mundial. Os registros,
encontrados, no Hospital Psiquiátrico de Barbacena, maior hospício do Brasil, são de aproximada-
mente sessenta mil pessoas mortas, num período que atravessou a maior parte do século XX.
A causa das mortes era frio, fome, doenças e choques, durante as internações. Consta-se que
grande parte dos internados eram seres humanos descartados pela sociedade, que ao chegar
à internação, perdiam a identidade e tornavam-se invisíveis aos olhos da sociedade. Como relata
Arbex:
Eram pessoas diferentes ou ameaçavam a ordem pública. Por isso, a Colônia tornou-
se destino de desafetos, homossexuais, militantes políticos e todos os tipos de in-
desejados, inclusive os chamados insanos. A teoria eugenista que sustentava a idéia
de limpeza social, fortalecia o hospital e justificava seus abusos. Livrar a sociedade
de escória, desfazendo-se dela, de preferência em local que a vista não pudesse
alcançar. (ARBEX, 2013, p. 13.)
Enquanto em meados dos anos 60, do século passado, os estudiosos do Direito Penal mar-
cavam uma nova etapa das Ciências Penais, sobretudo na Alemanha, na tentativa de reconstruir
um sistema penal centralizado no respeito da dignidade da pessoa humana, após a tragédia da se-
gunda guerra mundial, o Brasil, em plena ditadura, compactuava com discursos de eliminação e ex-
clusão. O questionamento que se faz é: a intolerância social com o diferente continua enraizada?
Do documentário de Arbex concluímos que ontem foram os judeus e loucos, hoje os indese-
jáveis continuam os loucos somados aos dependentes químicos taxados de “perigosos”, vistos
como irracionais e não como sujeitos de direitos:
Tragédias como a do Colônia de Barbacena nos coloca frente a frente com a intol-
erância social que continua a produzir massacres: Carandiru, Candelária, são velhos
nomes para velhas formas de extermínio. Ontem os judeus e os loucos, hoje, os
indesejáveis são os dependentes químicos, e, com, eles temos o retorno das inter-
nações compulsórias. Será a reedição dos abusos sob a forma de política de saúde
pública? O país está novamente dividido. Os parentes dos pacientes também. Pouco
instrumentalizadas para lidar com as mazelas impostas pelas drogas e pelo avanço
do crack, as famílias continuam se sentido abandonadas pelo Poder Público, re-
produzindo, muitas vezes involuntariamente, a exclusão que as atinge. O fato é que
a história de Barbacena é a nossa história. Os campos de concentração vão além de
Barbacena. (ARBEX, 2013, p.241)
Apesar dos equívocos e acertos na construção de um novo paradigma para a saúde pública,
a loucura ainda é usada como justificativa para a manutenção da violência e da medicalização da
vida. Violência institucionalizada nas prisões, nos centros socioeducativos, nos hospitais psiquiátri-
cos. A proposta do documentário “O Holocausto Brasileiro” é expor a todos nós uma realidade que
perpassa dentro destas instituições. Como exposto na obra, o descaso diante da realidade nos
transforma em prisioneiros dela.
Ao ignorá-la, nos tornamos cúmplices dos crimes que se repetem diariamente
diante de nossos olhos. Enquanto o silêncio acobertar a indiferença, a sociedade
continuará avançando e retroagindo, em direção ao passado de barbárie. (ARBEX,
2013, p.241)
Revela-se, a partir deste estudo situações de indignidade que pensava-se não existir em
terras brasileiras. Somos responsáveis por reconstruir nossa história. Devemos sair da posição de
neutralidade e reconhecer um Direito que tenha efetivamente um compromisso de garantir a todos
os brasileiros o seu reconhecimento como cidadãos sujeitos de direitos. Não pode haver exceção
a esta regra. Aqueles que estão em estado de sofrimento mental não devem ser objetivados e es-
tereotipados de “loucos perigosos” e irracionais, esquecidos em hospitais psiquiátricos, dentro do
isolamento em completa exclusão.
3 MEDIDA DE SEGURANÇA
Medida de Segurança é, ao lado das penas, uma espécie de sanção penal. Medida com que
o Estado reage contra a violação da norma proibitiva, por agente não imputável por doença mental.
São duas as espécies: internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e sujeição a
tratamento ambulatorial.
A palavra medida é empregada no sentido de respeito à singularidade do sujeito, em det-
rimento de tratar a todos da mesma maneira. Apesar da definição da palavra, observa-se que o
cumprimento desta ocorre de maneira desmedida. O que condiciona o tempo de permanência, em
hospitais psiquiátricos, está mais direcionado ao contexto social em que o internado está inserido,
sobretudo, com a presença da família, do que sua possibilidade de responder ao tratamento. Em
muitas situações, a família não aceita o sujeito o que faz com que as medidas perdurem de ma-
neira perpétua. Enquanto o preso imputável tem direitos garantidos como progressão do regime,
livramento condicional, suspensão condicional da pena, aquele que deveria receber, por parte do
Estado, maior proteção por ser considerado doente mental, no cumprimento de Medida, não re-
cebe tais institutos, somente a desinternação para tratamento ambulatorial, sem um tempo deter-
minado, é permitida. A justificativa de tal diferenciação está no entendimento de que, na medida
de segurança, não há a finalidade retributiva, mas preventiva. Portanto, a internação perdura en-
quanto não cessar a periculosidade do sujeito. Diante das controvérsias de laudos sobre a cessão
da periculosidade vale destacar a conclusão de Franco Basaglia: “a periculosidade não reside na
especificidade do diagnostico; reside, muito mais, na falta de respostas às necessidades das pes-
soas”. (Basaglia, 1985, p.41).
É a falta que leva a pessoa a praticar certas condutas tidas como ilícitas. Isto não significa
que crime é praticado por “anormais” e nem todo doente mental comete crime, o que nos leva a
concluir que todos nós estamos propensos a praticar atos considerados como crimes. No Seminário
de Iniciação Cientifica, realizado na FACED, que teve como finalidade debater o tema, Marcelo
Fonseca de Souza, professor do curso de psicologia, nos lembra que nada é mais humano que o
crime. O Código Penal tipifica condutas possíveis de serem praticadas por qualquer ser humano.
Nas pesquisas realizadas, observa-se que para o doente mental, falta atenção às suas necessi-
dades. É comum o relato da percepção de comportamentos diferentes, contudo, o tratamento em
instituições públicas é na maioria das vezes interrompido. Como no depoimento de uma mãe que
narra: “tive cinco filhos normais e este que sempre deu problema.” A exclusão começa na família,
perpassa pela sociedade: “desde menino ele tem comportamentos diferentes, corria de toda cri-
ança que se aproximava”. E, quando a falta não é suprida, acaba o sujeito entrando no grupo dos
indesejáveis merecendo restrição da liberdade, incorporado do discurso da periculosidade social.
Tarefa difícil aos operadores do direito é identificar o agente de um fato típico como inim-
putável, já que os critérios para verificar a inimputabilidade perpassam pelo estudo da psicologia e
psiquiatria. Neste ponto, o Direito dialoga com outros ramos da ciência com a finalidade de buscar
sustentação para decidir se, ao agente deve ser aplicada pena ou se pela saúde mental, recomen-
da-se tratamento de saúde, neste caso, o agente recebe a absolvição imprópria condicionada ao
tratamento de saúde mental.
O critério para se averiguar a inimputabilidade quanto à higidez mental é o bio psicológico.
Neste contexto, no caráter biológico, busca-se saber se o agente é ou não doente mental, ou seja,
se possui ou não um desenvolvimento mental incompleto ou retardado. A análise psicológica se
traduz na capacidade de entender o caráter ilícito do fato. Portanto, além da enfermidade mental
deve-se buscar, no caso concreto, prova de que o transtorno realmente afetou a capacidade de
compreender o caráter ilícito do fato.
A prova que se faz é uma perícia denominada de Laudo de in(sanidade) mental. Em várias
situações, nos procedimentos processuais penais, o juiz não decide sem que esta perícia esteja
nos autos. Como no caso do artigo 397, do Código de Processo Penal em que o legislador elenca
situações que autorizam ao juiz absolver sumariamente o agente excetuando casos de existência
manifesta de não culpabilidade pela de inimputabilidade. Neste momento, processual o óbice ad-
vém da necessidade desta perícia.
Todavia, caso o agente possua doença mental e pratique ações em situações que se en-
quadrem em outras causas de absolvição sumária, esta poderá ser aplicada. Exemplificando, se
o agente, apesar de possuir doença mental, agir em legítima defesa, poderá ser absolvido como
qualquer outro imputável, em respeito a todos os princípios do Direito Penal.
O mesmo raciocínio se repete nos procedimentos de crimes dolosos contra a vida. O juiz, ao
final da primeira fase deste procedimento, poderá absolver o acusado em situações elencadas no
artigo 415 do Código de Processo Penal, excetuando casos que demonstrem causa de isenção de
pena ou exclusão do crime no caso de inimputabilidade. Neste ponto, o legislador possibilita a ab-
solvição quando a única tese defensiva versar sobre a inimputabilidade do sujeito, após a juntada
do laudo de insanidade mental, poderá o juiz decidir pela absolvição imprópria ou não.
Constata-se que o exame de insanidade mental é a prova fundamental para as decisões que
versem sobre inimputabilidade por doença mental, não podendo o juiz decidir pelo princípio do livre
convencimento motivado, nesses casos, também não se aplica a regra de que juiz não fica adstrito
a provas. Caso ainda haja dúvidas acerca do laudo apresentado, deve o magistrado submeter o
agente a novo exame médico com formulação de novos quesitos para que disponha de elementos
suficientes para sua decisão.
Doença mental são alterações psíquicas abrangendo doenças de origem patológica e toxi-
cológica. As psicoses são doenças mentais que enquadram dentro de um quadro clínico de ps-
icopatologias, onde a pessoa perde o contato com a realidade. Em momento de crise apresenta
alucinações ou delírios, desorganizações psíquicas, transtornos psicomotores, sensitivos, dificul-
dades de interação social e dificuldade de realizar atividades de vida diária (AVDs). Pode-se dividir
a psicose em dois grandes grupos: a orgânica, ligada a uma desordem fisiológica ou a uma lesão
cerebral (demência senil, psicose sifílica, psicose alcóolica) e a funcional, que é acompanhado por
um distúrbio total da personalidade e uma desordem mental muito grande (esquizofrenia, ciclof-
renia ou psicose maníaco depressiva e epilepsia genuína). A pesquisa se limitou às psicoses do
segundo grupo.
Esquizofrenia: é um distúrbio de personalidade e comumente chamados de “loucos”. Es-
tranha o social, pois despreza a realidade. Há discordância cultural, menospreza a razão em prol
da fantasia. Ocorrem distorções do pensamento, da percepção e inadequação dos afetos. Traz
um prejuízo bastante severo e a pessoa torna-se incapaz de atender às exigências da vida e
da realidade. Na esquizofrenia paranóide, a pessoa apresenta mania de perseguição, mas é um
quadro clínico que responde melhor ao tratamento. A esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada,
apresentam discurso infantil, emoções desapropriadas. Na esquizofrenia catatônica, as pessoas
apresentam transtornos psicomotores acentuados. A esquizofrenia residual é uma esquizofrenia
crônica e a esquizofrenia simples, os sintomas são mais amenos, apresentando um isolamento
social, depressão e distúrbio de caráter.
1) Psicose maníaco depressiva ou ciclofrenia ou transtorno bipolar: cicla estados nor-
mais ou de euforia com estados depressivos, ou seja, estados de intensa agitação com estados de
intensa tristeza. Quando fixa apenas no estado depressivo, a chamamos de doença afetiva unipo-
lar.
2) Epilepsia genuína: nesse quadro ocorre perda de consciência, contrações muscu-
lares, alterações motoras, agressividade, perturbação do pensamento e agitação.
Não podemos deixar de tratar aqui das personalidades psicopáticas e da oligofrenia. As
personalidades psicopáticas também encaixam dentro das perturbações mentais. Os psicopatas
são pessoas de inteligência média, competitivos, com grande capacidade de socialização, são
empreendedores e de sucesso. Entretanto, não apresentam sentimento, afeto, amizade, amor,
gratidão e não demonstram sequer nem um pouco de remorso pelos seus atos. São egocêntricos
e egoístas. Com relação à oligofrenia, que é uma doença mental que afeta a inteligência de uma
pessoa, sendo chamados de retardados mentais, as pessoas que revelam esse quadro clínico
apresentam um desenvolvimento mental compatível ao de uma criança. Desta forma, não têm ca-
pacidade de um entendimento real das coisas.
De acordo com Palomba:
A segunda definição é a que mais incomoda a neutralidade de todos nós. Diante da incerteza das
ações futuras, melhor que fique internado pelo resto de suas vidas? Mais uma vez nos deparamos com per-
guntas que nos fazem refletir o sistema penal contemporâneo. Zaffaroni nos alerta que “não existe razão
para estabelecer que um azar leve à submissão de um controle penal perpétuo” (ZAFFARONI e NILO
BATISTA, 2003, p. 811).
Não havendo possibilidade de prisão perpétua como garantia da Constituição de 1988, o
que nos autoriza legitimar a Medida perpétua? A triste resposta é de que ainda existem pessoas
consideradas por todos nós “lixo humano”, sem lugar fora das instituições manicomiais que tem sua
3 Calibri
internação decretada e um processo de execução penal mofando na prateleira, com esporádicos
laudos consistentes em dizer que a periculosidade não está cessada. Aos poucos essas pessoas
vão perdendo a identidade, o laço familiar que lhe resta, as memórias, tornando-se invisíveis aos
olhos de todos nós.
5 O SEMI-INIMPUTÁVEL
Aqueles que têm o diagnóstico de não ser inteiramente capazes de entender o caráter ilícito
do fato, ou seja, relativamente incapazes, são definidos como semi-inimputáveis. Neste caso, o
agente tem uma condenação, com causa de diminuição da pena, de acordo com o art. 26 § único,
do Código Penal.
Outro grande paradoxo do sistema penal. Reconhece-se que o agente possui alguns tran-
stornos mentais e coloca-o no cumprimento de pena que pode ser no regime fechado. Recebendo
pena, esta deve efetivar as finalidades, ou seja, ressocializar ou reeducar o agente, nos anseios
da prevenção especial. Novamente aquele que precisa de cuidados é colocado no cárcere na
justificativa de que lá terá uma resposta atenta às suas necessidades de tratamento. Neste ponto,
registra-se uma frase de socorro numa das cartas enviadas ao Juízo da Execução Penal por um
preso considerado semi-imputável: “Senhor, é tão difícil viver aqui, sem entrar em confusão, preciso
de remédios e de tratamento.” No mesmo caso, foi requerido pelo Diretor do Presídio a conversão
da pena em medida de segurança pelo fato de o detento estar passando fezes no corpo, sem
condições de cuidar de sua higiene pessoal. A indagação que se coloca é sobre qual seria a res-
posta correta nos casos de diagnóstico de semi-imputabilidade. Ao invés da medida da absolvição
imprópria, a aplicação da pena reduzida como possibilidade de um tempo definido de restrição da
liberdade. Há julgados no Tribunal do Rio Grande do Sul, sobretudo, da câmara de Amilton Bueno
de Carvalho 4 no sentido de que constitui arbítrio do Estado abandonar um cidadão, por tempo
indeterminado, em medida de segurança. E, ainda acrescenta que fica vedado constituir estados
de pessoas estigmatizantes que imponham sanção ao sujeito por aquilo que é, e não pelo que fez.
Nesta linha de pensamento, seria melhor a aplicação da pena com prazos definidos. Caso o sujeito
não apresente condições de suportar o cárcere pela doença mental, o artigo 98 do Código Penal
autoriza a substituição pela internação, com tempo definido de um a três anos. Nucci 5 desenvolve
a tese de que estando o agente em condições de voltar ao cárcere, possível se torna a reconversão
em pena. Contudo, no caso do semi-imputavel, que já teve sua pena reduzida, o tempo de cumpri-
mento da medida deverá ser detraído. A questão é: deve voltar a cumprir a pena se ainda restar?
A resposta deve ser dada após análise da proporcionalidade compreendida como necessidade e
adequação no caso concreto, não como uma imposição em abstrato.
O nosso sistema é o sistema unitário ou vicariante, ou seja, nunca se cumula pena e medida
de segurança. O sistema duplo binário não vige no nosso ordenamento jurídico. Pode o juiz con-
verter a pena em medida de segurança, se sobrevier doença mental, conforme artigo 183 da Lei de
Execução Penal. Vários são os precedentes jurisprudenciais no sentido de que, quando a medida
de segurança for em substituição a uma pena aplicada, seu tempo de cumprimento deve respeitar
o do término da pena anteriormente aplicada.
A polêmica está em situações de persistir a periculosidade do agente. Poderia o juiz autori-
zar o fim da medida de segurança com laudos que identificam a presença da periculosidade? A
4 TJRS .Apelação Criminal 70019141886, quinta câmara criminal.Relator Desembargador Amilton Bueno de Carvalho,
09.05.2007.Em sentido idêntico: 70025703414 de 09.10 de 2008 e 700448818409 de 21.10.2011.
5 Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal comentado.São Paulo, RT, 2014.p.515
pesquisa conclui que diante dessas situações, o caso deve ser remetido à Vara de Família com o
devido processo de interdição e a nomeação de um curador.
Nucci6 baseando no direito espanhol, defende a possibilidade de reconversão da medida de
segurança em pena, e justifica com o exemplo de um condenado por latrocínio à pena de 20 anos
de reclusão, adoece após cinco anos de cumprimento da pena sendo sua pena convertida em me-
dida de segurança. Passados dois anos há melhora comprovada, faltando, portanto, mais anos a
cumprir de pena, o que no seu entendimento, deve cumprir o restante.
A reforma que perpassou o Código de Processo Penal autoriza ao juiz substituir o decreto de
prisão preventiva por medidas cautelares, dentre elas a medida de segurança. Portanto, pode ser
autorizada durante o inquérito ou processo em casos extremos, obedecendo os requisitos do artigo
312 do Código de Processo Penal.
Quando se passa a analisar casos concretos percebe-se que há falha de comunicação no
sistema penal brasileiro e constata-se que o sujeito cumpre pena e medida de segurança. Como no
caso real de Daniel. Por ter cometido vários furtos e roubos teve sua pena unificada e, no cumpri-
mento destas, foi pedido pelo diretor do presídio a conversão em medida de segurança. O Ministério
Público opinou favorável e o juiz deferiu que Daniel se submetesse a tratamento ambulatorial, con-
siderando laudo psiquiátrico. Quando Daniel sai do presídio, começa o tratamento ambulatorial e
não dá continuidade a ele, sendo que, um dia, chega em casa e seus familiares não o deixam entrar,
arromba a porta e tenta matar o pai. Preso em flagrante, continua por dois anos preso, aguardando
o julgamento. Recebe uma pena atenuada pela semi- imputabilidade de seis anos e somente quan-
do a nova condenação é encaminhada ao Juízo da Execução é que percebem que Daniel estava
com medida de segurança decretada. Nos autos de execução de pena de Daniel, há cartas de sua
irmã pedindo ao juiz que não libere Daniel porque ele ameaça o pai. Neste caso, percebe-se que o
que se almeja é a segregação social do sujeito não aceito pela família e pela sociedade. Daniel, ao
mesmo tempo que foi considerado inimputável, condicionado ao tratamento ambulatorial, não tinha
onde residir. Nas suas falas não reconhece sua família como a real, diz ser filho de juiz, ser rico, e
que seus pais adotivos o maltratam, mas que seus pais biológicos irão buscá-lo. Os psiquiatras são
unânimes nos laudos em dizer: “Daniel sofre de transtorno esquizofrênico paranoide (F20.0), crise
parcial simples (G40.1), é possível promover a estabilização do quadro e promover a reintegração
na sociedade, cura não existe”.
CONCLUSÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 5º, inciso XLVII, assegura
que não haverá pena de caráter perpétuo nem cruel, e no inciso XLVIII, assegura a integridade
física e moral. Em respeito a estes comandos concluímos pela inconstitucionalidade da medida de
segurança, por tempo indeterminado.
No mesmo sentido, a resolução 113 do CNJ, art. 17, dispõe que o juiz competente para a
execução da Medida de Segurança, sempre que possível, buscará implementar políticas antimani-
comiais. A internação é sempre a derradeira trincheira e o juiz deve sempre preferir a internação
ambulatorial.
Constata-se que a passagem do ato, em grande parte homicida, foi realizada após intensa
angústia produzida pela segregação do sujeito com o mundo. Em muitas situações, antes de com-
eter o ato, os sujeitos apresentam junto às instituições seu sofrimento anunciando estar prestes a
passar do limite. Esta constatação nos remete a refletir que muitos crimes são cometidos após a
reiteração de outras condutas que demonstram e que sinalizam a falta de algo, principalmente de
tratamento adequado.
6 Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal comentado.São Paulo, RT, 2014, p.515
De tudo exposto, em se tratando de Medida de Segurança na modalidade internação, o
Direito Penal não pode dar a resposta correta, devendo o agente passar por um processo de inter-
dição, na seara cível, com nomeação de um curador, complementando o comando do artigo 149, §
2º, do Código de Processo Penal. Neste contexto, há inversão de interpretação de última ratio do
Direito Penal, passando de última ratio para inexequível, na Execução Penal.
REFERÊNCIAS
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Brasil. São Paulo: Geração, 2013.
CARVALHO, Salo de. Pena e garantias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo, RT, 2014.
PALOMBA, Guido Arturo. Tratado de psiquiatria forense civil e penal. São Paulo: Atheneu, 2003.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos do direito penal.5 ed. São Paulo: Saraiva, 1994.
ZAFFARONI, Eugênio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito penal
brasileiro: teoria do direito penal. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
AS PERSPECTIVAS DO COMÉRCIO ELETRÔNICO SOB A ÓTICA
DOS ACADÊMICOS DA FACED DE DIVINÓPOLIS
RESUMO
O comércio eletrônico é mais uma forma de comercializar produtos ou serviços dentro das redes
virtuais. O objetivo deste trabalho é apontar os comportamentos e os fatores mais relevantes no
processo de decisão de compra no comércio eletrônico pelos acadêmicos da FACED. Para atender
ao objetivo foi realizada uma pesquisa quantitativa, com a aplicação de questionários aos discentes
dos diversos cursos da faculdade, identificando os principais fatores e influências no ato da compra
pelo comércio eletrônico. Diante da pesquisa realizada, foi possível identificar diferentes pontos
relevantes para os acadêmicos optarem pelo uso no comércio eletrônico.
ABSTRACT
Ecommerce is another way to market products or services within the virtual networks. The objec-
tive of this work is to analyze the behavior and the most relevant factors in the decision to purchase
in commerce by academics FACED. To attain the goal we conducted a quantitative survey, with
questionnaires to academics from various college courses, identifying key factors and influences in
the purchase by electronic commerce. Before the survey, it was possible to identify different points
relevant for academics choose to buy in e-commerce.
1 INTRODUÇÃO
2 COMÉRCIO ELETRÔNICO
Para Trepper (2000, p.4) “comércio eletrônico inclui qualquer atividade comercial que ocorra
diretamente entre uma empresa, seus parceiros ou seus clientes por meio de uma combinação de
tecnologia...”.
Com o crescimento contínuo da internet e o avanço da tecnologia, surgiu um novo modelo
de relacionamento no mercado, o comércio eletrônico, onde os consumidores efetuam compras
online com preços acessíveis, comparação de produtos e marcas de diversas lojas optando pela
melhor opção, facilidade em comprar de acordo com sua disponibilidade de tempo, flexibilidade de
acessar o canal de compra em qualquer local que esteja, dentre outros.
De acordo com Heng (2000, apud CRISTIANO, 2005, p. 03), “o CE pode ser entendido como
uma atividade empresarial preocupada diretamente com o comércio de bens e serviços...”.
Entretanto o comércio eletrônico é entendido como todo canal de venda de produtos e
serviços desde o pedido/entrega até o pagamento/faturamento, ou seja, uma troca de informações
on-line agilizando todo o processo de transação comercial e conseqüentemente atender a satis-
fação e as necessidades dos consumidores.
Conforme Kalakota e Whinston (1996 apud ALBERTIN, 1998), os aspectos complexos
de segurança, privacidade, autenticação e anonimato têm especial importância para o comércio
eletrônico.
O comércio eletrônico tem como vantagem a comparação de preços entre vários produtos
de lojas diferentes. Segundo Clay et al (2001, apud BAPTISTA e BOTELHO, 2003), “a internet pos-
sibilita a busca de informações e comparação de preços e produtos com baixos custos, o que pode
levar os consumidores á maior sensibilidade aos preços...”. Um outro fator é a segurança pois hoje
é um critério de seleção dos consumidores em relação ao comércio eletrônico, porém os mesmos
possuem receio das compras efetuadas devido a inúmeras situações colocadas na mídia e fraudes
que acontecem no mercado eletrônico.
Outra variável é a confiabilidade de um site, pois é um fator que se torna indispensável para
o mercado eletrônico. Para um site ser seguro deve conter política de privacidade, regras claras
para devolução ou troca de mercadoria, prazo de entrega, formas de pagamento e especificação
do produto, conseqüentemente estar atraindo o consumidor e chamar sua atenção de maneira
positiva.
De acordo com Olins (2005, p.67), ” as marcas começaram subitamente a sair do mundo
estreito e estritamente codificado em que haviam sido criadas, e num período de poucos anos
tornaram-se um fenômeno comercial...”. A marca tem a finalidade de distinguir produtos e serviços
de outros análogos de procedência diversa, que engloba vários níveis como: benefícios (funcionais
e emocionais), durabilidade, prestígio e personalidade.
Uma das desvantagens do comércio eletrônico é que ainda existem bens que não podem
ser comprados nas lojas virtuais, ou seja, acaba que em alguns casos o consumidor é obrigado a
comprar nas lojas físicas.
Os formatos do comércio eletrônico mais utilizados são: B2B (empresa para empresa), B2C
(empresa para o consumidor), C2C (consumidor para consumidor).
Segundo Trepper (2000, p.09) “O e-commerce B2B é utilizado com maior frequência para
melhorar a comunicação dentro da empresa e para reduzir os custos e aumentar a eficiência dos
processos de negocio”. Ou seja, o B2B é toda a cadeia de negociação eletrônica entre empresas,
também sendo o modelo que mais movimenta valores financeiros.
Desta forma B2C é toda negociação eletrônica em que os consumidores compram produtos
ou serviços de determinadas empresas.
O modelo de comércio eletrônico C2C é a grande novidade de compra pela internet, ou seja,
são transações comerciais de consumidor para consumidor, o maior exemplo deste modelo de
compra é o mercado livre (onde determinadas pessoas anunciam seus produtos para que outras
pessoas possam adquiri-los).
O impacto dessa nova forma de economia digital está trazendo à tona novas relações
econômicas e sociais as quais estão levando seus participantes a repensar seus princípios, regras,
percepções, táticas, controles e mercados (MAEMURA, 1998, apud CRISTIANO, 2005).
Pode-se dizer que a internet é uma rede de comunicação que conecta pessoas do mundo
inteiro; além disso, é uma grande fonte de informações que auxilia a sociedade. Nos últimos anos,
com o avanço da tecnologia, houve a popularização da internet a partir da diminuição de seu custo,
aumento de sua importância e a facilidade de seu acesso.
Para Tenenbaum, Chowdhry e Hughes, (1997, apud ALBERTIN, 2010, p.41) “argumentam
que a internet está revolucionando o comércio. Ela estabelece a primeira forma possível e segura
para ligar espontaneamente pessoas e computadores por fronteiras organizacionais”.
Outro fator importante para a difusão da internet é o aumento da velocidade da conexão,
pois há alguns anos atrás a internet era lenta, de difícil acesso e com muitos problemas durante a
conexão. Com o avanço da tecnologia houve um rápido fluxo de informações que facilitou o acesso
dos consumidores as lojas virtuais.
Desde quando a internet explodiu para o domínio público, ela tem mantido viva a
promessa de uma revolução comercial. A promessa é de um novo e radical mundo
dos negócios – uma arena livre de conflitos em que milhões de compradores e vend-
edores completam suas transações de forma barata, instantânea e anonimamente.
(SPAR; BUSSGANG, 1996 apud ALBERTIN 2010, p.41).
O Brasil vem evoluindo ano após ano no faturamento do comércio eletrônico, sendo que de
acordo com o E-BIT (2013) “o comércio eletrônico brasileiro faturou R$ 12,74 bilhões no primeiro
semestre de 2013. Esse valor é, nominalmente, 24% maior que o registrado no mesmo período de
2012”.
Outro fator que contribui para a evolução do comércio eletrônico é a utilização de dispositivos
móveis com acesso a internet, que possibilitam a consulta/compra de produtos em qualquer lugar,
a qualquer hora por parte dos consumidores. A forte tendência do aumento tecnológico proporciona
cada vez mais a compra por meios eletrônicos, uma vez que a maior utilização dessas tecnologias
gera uma maior probabilidade de consumo, conforme o E-BIT (2013):
Mais do que uma tendência, uma realidade. É assim que o Mobile Commerce pode
ser interpretado dentro do mercado digital. O crescimento exponencial desse canal
é um claro sinal disso. Em Janeiro de 2012, o share em volume transacional do M
Commerce era de 0,8%. Em Junho, já registrava 1,3% e em janeiro de 2013 alcançou
2,5%. Com novos aplicativos e tecnologias direcionados a esse tipo de comércio, o
avanço continuará para os próximos anos. (E-BIT 2013).
Pode-se destacar que o Brasil ganhou espaço no comércio eletrônico nos últimos anos. De
acordo com dados do E-COMERCE (2012) “o Brasil ocupa a quinta posição com maior número de
usuários na internet, sendo 37,4% da sua população”.
3 METODOLOGIA
Para atingir os objetivos levantados inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica,
através de materiais já existentes como: livros, artigos científicos, entre outros. Após, foi realizada
uma pesquisa exploratória mediante a análise quantitativa, realizada com coleta de dados através
de questionários. Para Gil (2009), “questionário é a técnica de investigação composta por um con-
junto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter conhecimento, crenças,
sentimentos, interesses, expectativas...”.
O questionário foi composto por 15 questões de múltipla escolha onde foi analisado os
comportamentos e os fatores mais relevantes no processo de decisão de compra no comércio
eletrônico pelos acadêmicos da FACED. Os dados pesquisados foram tabulados e transformados
em gráficos para análises e comparação com outras pesquisas. As variáveis em estudo foram codi-
ficadas, permitindo o uso de correlações e outros procedimentos estatísticos.
4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA NA FACED
A pesquisa foi realizada na FACED no mês de setembro de 2013 com 218 acadêmicos dos
cursos: Administração, Ciências Contábeis, Design de Moda, Direito, Psicologia e Serviço Social.
Da amostra pesquisada, 70% são mulheres e 30% homens. A idade entre 18 a 25 anos representa
63,43%, de 26 a 35 anos representa 28,24 %, de 36 a 45 anos representa 4,17%, de 46 a 55 anos
representa 3,24% e acima de 55 anos representa 0,93 % dos entrevistados. A renda mensal dos
pesquisados está distribuída em: 13,17% recebem menos de um salário mínimo, 52,20% recebem
de 1 a 2 salários mínimos, 22,44 % recebem de 2 a 3 salários mínimos e 12,20% recebem acima
de 3 salários mínimos.
Em relação ao acesso a internet destas pessoas, 21,71 % acessam no serviço, 49,14%
acessam em casa, 25,43% acessam pelo celular e 3,71% tem outras formas de acesso a internet.
Nota-se que o acesso a internet em casa ainda é o preferido, porém, o acesso pelo celular está em
crescimento, atingindo o segundo lugar na preferência dos acadêmicos.
No que se refere a freqüência de compra no comércio eletrônico, 31,65% nunca compraram,
30,28% compraram 1 a 2 vezes, 17,89% compraram de 3 a 5 vezes e 20,18% compraram mais
de 5 vezes. Em relação a interferência da propaganda virtual na decisão de compra no comér-
cio eletrônico, 27,91% concordam, 13,47% discordam e 58,60% das pessoas consideram que às
vezes interferem.
Relacionado aos problemas de compras de produtos pela internet, 4,46% das mercadorias
não chegaram aos consumidores, 9,41% dos produtos não foram entregues no prazo estipulado,
6,44% dos produtos comprados chegaram diferentes do que foi pedido, 2,97% das mercadorias
chegaram com algum defeito, 7,92% dos entrevistados consideram que há outros tipos de proble-
mas na compra dos produtos, já 68,81% dos acadêmicos não tiveram problemas durante o proc-
esso da compra.
Segundo os acadêmicos da FACED, 41,78% pretendem aumentar a usabilidade do comér-
cio eletrônico, já 41,31% consideram que talvez irão aumentar a freqüência de consumo no comér-
cio eletrônico e 16,90% não pretendem aumentar o consumo de compras. O gráfico 1 representa
quais os produtos que os acadêmicos mais compram no comércio eletrônico.
Nota-se que eletrônico/informática e livros são muito utilizados no ambiente onde foi reali-
zada a pesquisa. Já os demais são comprados de acordo com as necessidades e preferências de
cada acadêmico.
Nota-se que outros com 32,56%, e-mail 31,16%, facebook 30,70%, juntos tiveram uma rep-
resentatividade maior que 90%, demonstrando assim serem as maiores fontes da propaganda
virtual. O instagram com 5,12% e o twitter com 0,47% ainda tem pouca influência na decisão de
compra dos acadêmicos.
Foi observado que tanto pelo site E-BIT, quanto para os acadêmicos da FACED, os meios
que mais influenciam para a compra são outros meios de mídias. Nota-se que tanto os acadêmicos,
como também os entrevistados pelo site E-BIT pretendem aumentar o seu número de compra no
comércio eletrônico. De acordo com o E-BIT (2013) “O ano de 2013 deve terminar com resultados
positivos para o comércio eletrônico brasileiro representando um crescimento nominal de 25% em
relação a 2012”.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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ALBERTIN, Alberto Luiz, Comércio Eletrônico: Benefícios e Aspectos de Sua Aplicação. Atlas, São
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GIL, Antonio Carlos.Métodos e Técnicas de Pesquisa Social, São Paulo, 6. ed, Atlas, 2009.
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E-BIT. Fechamento de 2012 e expectativas do setor para 2013 27. ed., capitulo 1. E-bit: Infor-
mações de comércio eletrônico. Disponível em: http://www.ebit.com.br/webshoppers. Acesso em
10 de novembro de 2013.
A PROFISSÃO COMO FONTE DE PRAZER: UMA ANÁLISE DOS NOVOS MODE-
LOS DE TRABALHO A PARTIR DA PROPOSTA DE EMPREENDEDORISMO FEMI-
NINO DO “PROJETO CONTINUECURIOSO”1
RESUMO
O presente artigo busca tratar sobre novos modelos de empreendedorismo feminino, assim como a
evolução da presença da mulher no mercado de trabalho. Por meio de pesquisa teórica foi traçado
o percurso histórico profissional feminino, assim como o desenvolvimento do empreendedorismo
no Brasil e a análise da mulher empreendedora. O projeto de web séries ContinueCurioso foi o ob-
jeto escolhido para exemplificar o que foi analisado no estudo, por meio de três documentários com
mulheres que se expressam e se realizam no empreendedorismo não convencional. Percebeu-se
o momento histórico profissional para a mulher, com sua maior presença no mercado de trabalho
até então. E, principalmente, a capacidade feminina de se reinventar por meio do seu trabalho, com
criações inovadoras que quebram a barreira entre profissional e pessoal.
Palavras-chave: empreendedorismo; mulher; trabalho; realização pessoal.
ABSTRACT
This article studies new models of female entrepreneurship, as well as the progress in the repre-
sentation of women in work market. Through theoretical research was traced the historical female
professional path, the development of entrepreneurship in Brazil and an analysis of entrepreneurial
women. The webseries project ContinueCurioso was chosen to exemplify what was analyzed in
the study, through three documentaries in wich women express themselves and perform an uncon-
ventional entrepreneurship. It was noticed the historic moment for professional women, with their
greater presence in the labor market so far. And especially, women’s ability to reinvent themselves
through work with innovative creations that break the barrier between professional and personal.
Keywords: entrepreneurship; woman; work; self-realization.
1 INTRODUÇÃO
Esse estudo surgiu do interesse em estudar a mulher e suas transformações no âmbito profis-
sional. É uma vertente de um assunto estudado previamente na graduação, no qual se analisou a
imagem feminina nas últimas décadas. Neste trabalho, é proposto o estudo do empreendedorismo
feminino, pois além de existir o crescimento significativo deste no Brasil, o tema está relacionado
com a nova forma da mulher se enxergar na sociedade, sua auto-imagem.
Pesquisas mostram o crescimento do número de empreendedoras no Brasil, em todas as
classes sociais, que hoje compreendem 49,6% do total de empreendedores no país (ATAL, ÑOPO
e WINTER, 2013). Começa-se a perceber uma tendência feminina para iniciar um negócio próp-
rio.
1 Trabalho extraído de artigo apresentado para conclusão do curso de Pós-graduação em Gestão de Pessoas e Recursos
Humanos da Faculdade FACED.
2 Pós-graduada em Gestão de Pessoas e Recursos Humanos (FACED), formada em Comunicação Social - Publicidade e
Propaganda (UNIVALI) – brunafbarros@live.com.
3 Orientadora do trabalho, Professora Mestre, Dicente do curso de Pós-graduação de Gestão de Pessoas e Recursos Hu-
manos (FACED) - eliane@diferencialmg.com.br.
Na gestão de pessoas, entender os novos perfis profissionais é essencial para o desenvolvi-
mento do trabalho e das empresas. COSTA (2007, p. 28) afirma que “Motivar significa despertar
o interesse e o entusiasmo por alguma atividade. Para motivar é preciso conhecer a natureza dos
motivos humanos (...)”. Logo, estudar os novos modelos de trabalho e a mulher empreendedora
oferece um conhecimento desse cenário profissional em crescimento e mais embasamento para
geri-lo.
Este trabalho propõe uma discussão sobre os fatores que impulsionam o comportamento
empreendedor feminino. Tal estudo pode fundamentar empresas na criação de estratégias para
retenção de talentos, criando situações que minimizem tais impulsos. Ou ainda auxiliar organiza-
ções políticas ou comerciais, que tenham interesse no empreendedorismo, na identificação das
motivações da empreendedora e como as trabalhar.
Existem muitas pesquisas a respeito da mulher e sua relação com o trabalho. Porém, o con-
ceito de empreendedorismo é relativamente recente, assim como a participação quase que igual-
itária em números entre empreendedores homens e mulheres. Devido a isso, ainda existem muitas
possibilidades de estudo acerca do tema, principalmente se associarmos o fator novos modelos de
trabalhos aliados ao prazer.
Associar prazer e trabalho é uma realidade, como abordado no Projeto ContinueCurioso.
As idealizadoras do Projeto, Juliana Mendonça e Cristiane Schmidt, o definem como “uma web
série documental independente em ascensão que aborda transformações profissionais e pessoais”
(CONTINUECURIOSO, 2013, p. 1).
ContinueCurioso leva a internet histórias de homens e mulheres que optaram por empreender
de uma maneira não convencional em busca de realização pessoal. Neste trabalho, são analisados
determinados documentários femininos do Projeto ContinueCurioso, em paralelo com as pesquisas
teóricas realizadas, a fim de determinar os fatores que motivam a mulher na busca pelo empreend-
edorismo e analisar a atual posição feminina no mercado de trabalho.
A partir desta colocação das autoras não é difícil entender como se deu o processo de ev-
olução da mulher no mercado de trabalho e até sua inserção na educação, o que envolveu certa
resistência por parte da sociedade em geral. O primeiro centro de ensino a aceitar mulheres na for-
mação superior aconteceu apenas em 1879. Na década de 1970 as mulheres constituíam minoria
na graduação, sendo apenas 25% do número de estudantes nesse nível no Brasil (NORONHA e
VOLPATO, 2006).
As mudanças na década de 1970 refletiram na expansão do ensino superior. Na década
seguinte, 1980, a população feminina constituía 49,2% dos estudantes de graduação. Ao fim desta
década para o início de 1990, esse número passou para 52,9% (GUIMARÃES, 2003). Já em 2002,
56.6% das mulheres frequentavam o ensino superior (NORONHA e VOLPATO, 2006).
No censo 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2011) divulgou que
as mulheres estão mais instruídas do que os homens. Na faixa entre 25 e 60 anos, 9,9% dos ho-
mens possuem ensino superior, no caso das mulheres, esse número sobe para 12,5%. A presença
feminina na graduação sofreu um crescimento considerável nas últimas décadas, o que influi dire-
tamente na sua participação no mercado de trabalho.
De acordo com pesquisa divulgada pela Fundação Carlos Chagas (2007), 18,2% das mul-
heres brasileiras trabalhava em 1970. Na década de 1980, esse número subiu para 26,6%. Em
1993, 47% das mulheres estavam presentes no mercado de trabalho. O aumento continuou pro-
gressivo, sendo que em 2007, 52,7% das mulheres brasileiras desenvolvia algum tipo de atividade
profissional.
No entanto, a presença feminina em cargos executivos é menos expressiva do que mascu-
lina. Um estudo da Bain & Company, com 250 das maiores empresas do país, divulgou que 96%
das empresas pesquisadas possuíam homens no cargo mais alto, logo, no Brasil, um homem teria
20 vezes mais chances de liderar uma grande empresa (CFA, 2013).
O percurso profissional feminino confunde-se tanto com a trajetória política quanto a social
da mulher, o que envolve “fatores como a emancipação econômica da mulher, a redução da taxa
de fecundidade, a busca da realização profissional” (DIEESE, 2012, p. 216), além do fator educa-
cional. Segundo pesquisa do IBGE (2012), a taxa de fecundidade e o grau de instrução feminino
estão diretamente relacionados. Os níveis de fecundidade são inversamente proporcionais ao nível
de instrução e rendimento da mulher. Logo, quanto maior o grau de escolaridade e a renda femi-
nina, menor a probabilidade de filhos.
A luta pela emancipação feminina ganhou força no Brasil a partir dos anos de 1970, coin-
cidindo com a diminuição progressiva da taxa de fecundidade. Até a década de 1960 a taxa de
fecundidade se mantinha regular, com pouco mais de 6 filhos por mulher. No senso de 1970 foi
identificada a primeira queda na taxa até então, 5,8 filhos por mulher. Em 1980 o número de filhos
por mulher já era 4,4; em 1991, 2,9; e em 2000, 2,2. Essa taxa se mantém decrescente, no censo
de 2010 o IBGE divulgou o número oficial de 1,86 filhos por mulher brasileira (IBGE, 2002; 2013).
Em 2013, as mulheres representavam 43,9% da força de trabalho nacional. Em contrapar-
tida, os números apresentados estão longe de representar igualdade de direitos entre mulheres e
homens, principalmente na questão de remuneração. As mulheres ganham, em média, 30% menos
do que os homens (IBGE, 2013). Esse fato tem como uma das causas o estereótipo machista que
se vê presente na sociedade brasileira.
São esses mesmos estereótipos que designam as funções domésticas às mulheres, o que
muitas vezes faz com que estas tenham jornada dupla de trabalho, dentro e fora de casa. As mul-
heres dedicam, em média, 26 horas semanais para atividades domésticas, os homens destinam
menos do que a metade desse tempo, 10,3 horas por semana (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS,
2007). Este dado remete novamente a diminuição da taxa de fecundidade entre as profissionais
femininas. Torna-se difícil conciliar trabalho e filhos quando a divisão das tarefas domésticas com
os conjugues não é igualitária.
3 Empreendedorismo e Motivação
Uma alternativa para conciliar profissão e trabalho doméstico, aumentar a renda, desen-
volver um novo ofício ou até associar algum prazer particular ao profissional, seria iniciar um novo
negócio, o que leva ao crescimento do empreendedorismo feminino no Brasil.
O Global Entrepreneurship Monitor – GEM –, pesquisa anual que estuda o empreendedoris-
mo mundial, define o empreendedor como todo aquele que realiza uma “(...) tentativa de criação de
um novo empreendimento, como por exemplo: uma atividade autônoma, uma nova empresa ou a
expansão.” (IBQP, 2013, p.7).
Peter Drucker realizou estudos acerca do empreendedorismo a partir do crescimento do
número de empreendedores norte-americanos. Drucker atribui o crescimento da economia dos
EUA, a partir da década de 1960, ao aumento do empreendedorismo (DRUCKER, 1985). O au-
tor também enfatiza a inovação empreendedora como um fator causador de desenvolvimento
econômico.
Entre os 35 países pesquisados naquele ano, foi identificado que quanto maior a renda do
país, maior o número de empreendedores por oportunidade. O número decai à medida que a renda
do país diminui, aumentando assim o número de empreendedorismo por necessidade. O Brasil, na
época, se encontrava neste último caso, como destacado acima.
Os dados referentes a igualdade de gênero no número de empreendedores se mostrou
positiva em 2005. Sendo que o número de empreendedores homens e mulheres era praticamente
o mesmo no estágio inicial do negócio. E, apesar dos homens brasileiros constituírem, na época,
o dobro, em relação às mulheres, a frente de empreendimentos com mais de três anos e meio, as
empreendedoras brasileira ocupavam o terceiro lugar em números absolutos, quando comparadas
aos outros países pesquisados (IBPQ, 2005).
Em 2012, 69 países entraram na pesquisa anual do GEM, incluindo o Brasil. Neste ano, o
número de empreendedores nacionais em estágio inicial se manteve o mesmo entre homens e
mulheres. A diferença se mostrou no perfil de empreendedores estabelecidos, no qual os homens
estão 12% mais presentes do que as mulheres (IBPQ, 2012).
Tais dados evidenciam a presença da disparidade de gênero no empreendedorismo bra-
sileiro em longo prazo, mas também demonstram o crescimento do empreendedorismo feminino no
Brasil. De 2000 a 2012, a presença da empreendedora no país quase dobrou, foi do índice de 7%
para 13,1% das mulheres brasileiras (IBPQ, 2000; 2012).
A motivação dos brasileiros para empreender também mudou em 2012. A pesquisa do GEM
(IBPQ, 2012) mostrou que 69,2% dos empreendedores nacionais em estágio inicial são motivados
primeiramente pelas oportunidades, o que demonstra uma tendência positiva dos novos negócios
no Brasil, no sentido de amadurecimento profissional e empresas com maior propensão a estabili-
dade.
Para além das estatísticas, motivação é um tópico sensível, que envolve questões práticas,
mas principalmente psicológicas e, no geral, atuam de maneira particular para cada indivíduo. Chi-
avenato (2005, p. 242) a define da seguinte forma:
Por ser um estímulo interno seria de se esperar que funcionasse de maneira individualizada.
No entanto, é possível prever certos comportamentos derivados da motivação e entender os estí-
mulos que auxiliam na sua incitação.
No meio corporativo, proporcionar espaço para a participação dos colaboradores na decisão
da empresa, oferecer autonomia de decisão para os líderes de setor e promover gratificações são
maneiras de gerar motivação. Em uma equipe motivada é mais provável se identificar maiores ín-
dices de produtividade, pró-atividade e comprometimento com os objetivos da empresa. (AGUIAR,
2002)
Pode-se associar a motivação também à auto-imagem do indivíduo, que pode ser estudada
por meio da teoria da auto-eficácia, de Bandura (1977). De acordo com o autor, o comportamento,
assim como o resultado obtido pelo indivíduo, está atrelado a percepção que este tem de si próprio
e de suas capacidades. Em seu estudo, Bandura afirma que “as pessoas tendem a evitar situações
ameaçadoras que acreditam estar além de suas capacidades, e se comportam assertivamente em
atividades que se veem capazes de desenvolver” (1977, p. 194).
O autor define quatro tópicos centrais que influenciam diretamente a auto-eficácia do indi-
víduo. Seriam as conquistas pela performance profissional, que são os sucessos obtidos, inclusive
aqueles depois de um fracasso; as experiências observadas, ver as pessoas a sua volta tendo
sucesso com o esforço pode motivar o indivíduo, o fazendo acreditar que ele também é capaz;
persuasão verbal, o que é falado para o indivíduo sobre determinada atividade, assim como sua ca-
pacidade de realizá-la, influencia sua motivação; estado emocional, de acordo com o autor, pessoas
estressadas e vulneráveis estão menos inclinadas a persistir numa tarefa (BANDURA, 1977).
Bandura (1977) reforça que apenas um fator isolado não é parâmetro para análise de auto-
eficácia, mas a combinação destes ao longo da vida definem como cada pessoa se enxerga e como
isso influenciará em suas atividades.
Na pesquisa do GEM, a motivação é dividida em oportunidade e necessidade, sendo de
oportunidade aquela gerada “pela percepção de um nicho de mercado em potencial”, e a de neces-
sidade “pela falta de alternativa satisfatória de ocupação e renda” (GEM, 2005, p. 13).
No entanto, Chiavenato (2005) conceitua a motivação em si como gerada de uma neces-
sidade. Portanto, ao utilizar a lógica do autor, a oportunidade, em uma análise qualitativa, já estaria
diretamente vinculada a necessidade. E tal necessidade só poderia de fato ser suprida se for iden-
tificada ou criada uma oportunidade.
De acordo com Maslow (1943), o ser humano prioriza suas necessidades de maneira não
intencional. O autor defende que a base de todas as necessidades são as fisiológicas. Sede, fome,
sono são alguns exemplos do que precisa ser satisfeito para que o indivíduo possa ter outras am-
bições.
Num segundo momento, entra a necessidade de segurança. O autor afirma que previamente
a se tornar um ser ambicioso de fato, é preciso se sentir seguro e, na próxima etapa, estabelecer
relações humanas.
Satisfeitas essas três necessidades (fisiológica, de segurança e social), o indivíduo passa a
buscar o que Maslow chama de necessidade de estima, que é a necessidade de ser percebido de
forma positiva, ser valorizado. Por último, está a necessidade de auto-realização, que se constitui
no ato de realizar algo por si próprio, que tenha sentido pessoal e o faça se sentir, de certa forma,
completo (MASLOW, 1943).
Necessidade e oportunidade estão, de certa forma, interligadas no empreendedorismo, as-
sim como a importância da auto-imagem positiva ou auto-eficácia, que se confunde a busca da
auto-realização, a fim de sustentar a motivação e o comportamento empreendedor. É a partir des-
sas três características (necessidade, oportunidade e auto-imagem) que a análise do empreend-
edorismo exposto no Projeto ContinueCurioso foi realizada.
Assim como Juliana descreveu, o projeto busca contar, em vídeos biográficos, de em média
5 minutos, divulgados na internet, histórias de pessoas que se desenvolvem e se mantém por meio
de trabalhos pouco convencionais, mas que oferecem grande satisfação pessoal.
A fim de contextualizar o projeto com esse estudo, foram selecionados três vídeos do Projeto
ContinueCurioso para análise. Todos protagonizados por mulheres que se realizaram profissional-
mente e pessoalmente no empreendedorismo prazeroso: Marília, Juss e Cíntia.
Marília foi a personagem do primeiro vídeo disponibilizado pelo projeto na web. No vídeo,
ela conta que trabalhava num escritório, saía de casa sete horas da manhã e chegava nove horas
da noite: “Eu não via como estava o dia lá fora, não tinha tempo para nada, (...) acho que é uma
sensação de desperdício” (ContinueCurioso, 2013, p.1). A partir deste descontentamento, Marília
percebeu a necessidade de buscar algo diferente, quando decidiu se dedicar a fotografia, o que já
era uma paixão.
É interessante identificar que a fotografia já existia na vida dela, mas que só foi vista como
oportunidade quando houve a necessidade de mudança causada pelo descontentamento profis-
sional. É a motivação citada por Chiavenatto, assim como a necessidade de auto-realização, abor-
dada na pirâmide de Maslow.
A fotógrafa também enfatiza, em seu depoimento, sua determinação e persistência para
levar seu novo projeto de vida adiante e sua sensação de liberdade em trabalhar com o que te pro-
porciona prazer.
Já no episódio de Juss, esta se define como “Diretora de Arte num momento estilista” (Con-
tinueCurioso, 2013, p.1). Com o aprendizado da mãe, deu início a sua própria confecção de roupas
artesanais.
Diferentemente de Marília, Juss afirma não ter feito nenhuma mudança radical, mas que as
transformações na carreira simplesmente fluíram. Ela trabalhou em agência de publicidade, com
fotografia e se encontrou na moda, mas afirma ainda querer atuar em outras áreas, diferentes das
que já trabalhou. De acordo com Juss “a melhor coisa é fazer o que você quer e ainda ganhar din-
heiro”.
É uma nova forma de viver e trabalhar, o importante não é enriquecer, mas se satisfazer.
Juss fala da importância de transmitir o que se gosta e quem é no trabalho, um modelo diferente de
pensar e de ser profissionalmente.
Apenas alguém que vê em si mesmo potencial e se enxerga de maneira positiva, busca se
retratar ou se encontrar por meio do seu trabalho, um exemplo da importância da auto-imagem no
empreendedorismo, também presente na teoria da auto-eficiência, de Bandura.
A partir do momento que o trabalho vira uma extensão do indivíduo, quando esse se enxerga
de maneira positiva, seu profissional tende a se desenvolver, isso é visto em todos os casos apre-
sentados no projeto e exemplificado claramente no depoimento de Juss.
Outra entrevistada do projeto, Cíntia, é brasiliense residente de São Paulo, era publicitária
antes de dar início a uma loja gastronômica. Ela é casada e decidiu mudar de carreira quando per-
cebeu sua insatisfação e mau humor ao receber um trabalho.
Cíntia recomeçou do zero, estudou, fez cursos e estágios de culinária até encontrar o camin-
ho profissional que queria seguir. Sabia que gostava de cozinhar, mas não queria se desgastar com
as horas de trabalho num restaurante. Até que surgiu a ideia de uma loja gastronômica, que serviria
refeições artesanais e venderia produtos desenvolvidos por ela para quem tem pouco tempo para
cozinhar.
O que se destaca no depoimento de Cíntia são suas observações do percurso que fez até
chegar ao seu objetivo. No período entre deixar o antigo emprego e desenvolver suas novas ideias
profissionais, ela foi dona de casa e dependeu inteiramente do marido, o que lhe causou conflitos
íntimos sobre ser sustentada por ele e não mais poder dividir as contas.
Essa é uma quebra de paradigma que se mostra cada vez mais em evidência no Brasil. As
mulheres não apenas ocupam o mercado de trabalho, muitas fazem questão de se manter nele e
se sentem desconfortáveis quando isso não acontece.
Por outro lado, Cíntia também reforçou o receio em relação a opinião dos outros quando
ficava em casa, pela possibilidade de ser condenada por não ajudar financeiramente a família. De
acordo com ela, só conseguiu superar essas inseguranças por meio do apoio do marido. O que
reforça uma das características abordadas por Bandura na auto-eficácia, a persuasão verbal, na
qual o autor destaca a importância da opinião de pessoas-chave para o desenvolvimento pessoal.
O que se percebe é uma tendência feminina de se colocar no mercado de maneira inventiva,
que satisfaça suas necessidades antigas e atuais por meio da criação de novas oportunidades. As
mulheres crescem em número no mercado de trabalho e como empreendedoras. Projetos como
ContinueCurioso demonstram essa abrangência feminina e a capacidade delas de se desenvolv-
erem de maneira prazerosa e, muitas vezes, inovadora.
5 CONCLUSÃO
É improvável que uma única conclusão seja retirada desse estudo. A história feminina ainda
se constrói na sociedade, assim como sua presença no mundo profissional. O que se pode ver com
clareza é o desenvolvimento da mulher nas diversas frentes sociais, que abrangem muito mais do
que o trabalho, mas a forma de enxergar o outro e, principalmente, a si mesma.
A autoconfiança feminina, adquirida a partir das diversas conquistas nas últimas décadas,
provocou que ainda mais obstáculos fossem superados. Obviamente, existem paradigmas e pre-
conceitos a serem quebrados, que podem e devem ser tratados em futuros trabalhos. Como a
objetificação da mulher, dentro e fora do mercado de trabalho, a ditadura do padrão masculino de
feminilidade ou ainda a desvantagem salarial feminina no mercado de trabalho.
No entanto, essa autoconfiança, seja ela proveniente da condição vivida pelas novas ger-
ações ou do desenvolvimento do sistema social em si, ofereceu a mulher o sentimento de direito
a ambição. Afinal, elas podem fazer mais ou menos do que antes, fazer igual ou escolher fazer
diferente dos homens, existe a escolha.
Poder escolher empreender, inovar, trabalhar ou não para outros, é um passo historicamente
recente para a mulher e o que se viu, por meio desse trabalho, é que tal escolha se mostra cada
vez mais consciente e apropriada. A possibilidade de escolha é o primeiro passo para um mercado
profissional legitimamente igualitário, com consequências e resultados independentes de gênero.
E, apesar de ainda não ser uma realidade para todas as mulheres brasileiras, é o caminho que se
mostra sendo traçado.
6 REFERÊNCIAS
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No âmbito de atuação de atividades empresárias percebemos vários atores sociais que, no exer-
cício de seu empreendimento, assumem vínculos obrigacionais diversos. Necessário se torna o
entendimento de cada vínculo obrigacional assumido em decorrência das atividades econômicas
exercidas no contexto empresarial para o enfrentamento de seus efeitos e usufruto de suas pe-
culiaridades, em consonância com o exercício regular dos atos mercantis frente às consequentes
responsabilidades advindas por sua prática no mercado.
ABSTRACT
Within the scope of activity of entrepreneurial organizations, we perceive several social actors who
establish diverse obligational bonds while performing their entrepreneurship. It is necessary to un-
derstand each obligational bond established as a result of the economic activities performed in the
business context in order to confront its effects and use its peculiarities, in accordance with the
regular exercise of mercantile markets in the light of the consequent responsibilities resulted by their
practice in the market.
1. INTRODUÇÃO
1 Mestre em Direito Empresarial, pela UIT; doutoranda em Direito Privado pela PUC-MG., em disciplina isolada. Professo-
ra universitária na Faculdade Divinópolis, no curso de Direito e Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis
de Divinópolis, no curso de Ciências Contábeis. E-mail: elizabethguimaraes50@gmail.com
2. EMPRESÁRIO: MODALIDADES
Em face da legislação empresarial vigente no ordenamento jurídico brasileiro, a figura do
empresário é representada pelo agente que exerce profissionalmente, atividade econômica organi-
zada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, conforme conceitua o caput do artigo
966 do Código Civil de 2002.
O legislador se preocupou em assinalar quais atividades são consideradas como empre-
sariais, considerando como empresário o agente que pratica atividade empresarial no contexto do
artigo supra citado, agente este que é denominado empresário individual ou coletivo (PIMENTA,
2004, p. 21)2, sendo que o primeiro a exerce em seu próprio nome e a título individual, e o último
o faz em sociedade, nada alterando, nos dois casos, quando o empresário (individual ou coletivo)
se utiliza de auxiliares ou colaboradores para o desempenho das atividades. Observa Fábio Ulhoa
Coelho (2013, p. 127):
A empresa pode ser explorada por uma pessoa física ou jurídica. No primeiro caso, o
exercente da atividade econômica se chama empresário individual; no segundo, so-
ciedade empresária. Como é a pessoa jurídica que explora a atividade empresarial,
não é correto chamar de “empresário” o sócio da sociedade empresária.3
As sociedades, assim consideradas quando ocorre a união de duas ou mais pessoas, físicas
6 O Enunciado 5 da I Jornada de Direito Civil da CJF promoveu a seguinte direção ao tema: “Quanto às obrigações decor-
rentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no artigo 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens
vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos termos do artigo 1.024 do Código Civil”.
ou jurídicas, que exercem atividades em comum e partilham entre si o resultado apurado em cada
exercício social de prática de atividades no mercado, devem ser personificadas, com exceção da
sociedade em conta de participação, considerada despersonificada por força de lei. O Brasil não
adotou o formato de sociedade unitária (CAMPINHO, 2011, p. 38). A falta de pluralidade de sócios
constitui obrigatoriedade de baixa da pessoa jurídica, após 180 dias de tentativa de reconstituir o
quadro societário com um mínimo de duas pessoas7, havendo, entretanto, a possibilidade de sua
transformação em empresário individual ou em EIRELI, com as devidas adequações.
Consequentemente, uma vez personificada a sociedade em decorrência do registro, surge
no cenário a figura da pessoa jurídica – ente artificial dotado de personalidade jurídica, portanto
com capacidade de, em seu próprio nome, adquirir direitos e contrair obrigações na esfera jurídica.
A doutrina é unanime ao afirmar que “uma vez constituída a sociedade, adquirindo personalidade
jurídica pelo arquivamento dos seus atos constitutivos no Registro Público de Empresas Mercantis
e Atividades Afins, desliga-se das pessoas dos sócios, criando autonomia” (MARTINS, 2013, p.
176).
Desta forma, a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado tem início com a in-
scrição dos atos constitutivos no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização
ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o
ato constitutivo8.
A pessoa jurídica obriga-se, através dos atos de seus administradores, exercidos nos limites
de seus poderes definidos no contrato social ou em instrumento separado, devendo, assim, cumprir
os compromissos assumidos com seu patrimônio próprio9.
Esse regramento deve-se ao fato de a pessoa jurídica possuir patrimônio próprio, distinto
do de seus sócios, e possuir capacidade para, em seu próprio nome, adquirir direitos e contrair
obrigações, podendo, inclusive, estar em juízo ativa ou passivamente (MACHADO, 2004, p. 45).
Via de consequência, não se confunde o patrimônio da pessoa jurídica com o patrimônio de seus
sócios.
Em regra, a pessoa jurídica assume responsabilidade ilimitada ante as obrigações sociais,
mas, de acordo com o tipo societário, reconhece responsabilidade limitada ou ilimitada dos sócios
perante a sociedade. Traduzindo, enquanto a pessoa jurídica tiver bens penhoráveis, serão eles
utilizados para o cumprimento de vínculo obrigacional contraído em seu nome.
Quanto às sociedades personificadas, dependendo do tipo societário adotado, é composta
por sócios com responsabilidade limitada, geralmente ao valor do capital subscrito, que deve ser
integralizado, ou sócios com responsabilidade solidária e ilimitada, ou seja, mesmo após integrali-
zada sua quota-parte, responderá pessoalmente por vínculos obrigacionais contraídos em nome da
sociedade, de forma subsidiária, que implica no benefício de ordem, ou seja, na execução por dívi-
das da sociedade, primeiro são executados os bens sociais pertencentes à pessoa jurídica, deix-
ando por último os bens particulares dos sócios, se os primeiros não bastarem para a liquidação da
dívida. Por outro lado, há sociedades cujo quadro societário é misto, ou seja, composto por sócios
que assumiram responsabilidade limitada e outros que assumiram responsabilidade solidária e ili-
mitada.
Após o registro do contrato social, dando origem a uma pessoa jurídica, em conformidade
com o acordado no contrato social, os sócios assumem obrigações, entre si e perante a pessoa
jurídica, obrigações essas que passam a vigorar a partir da assinatura do contrato, ou de data nele
especificada, “e terminam quando, liquidada a sociedade, se extinguirem as responsabilidades
sociais”, conforme letra do art. 1.001, do Código Civil. – Na lição de André Luiz Santa Cruz Ramos
(2013, p. 250):
7 Conforme inciso IV, do art. 1.033, CC/02.
8 Art. 45, CC/02.
9 Art. 47, CC/02.
Dentre as principais obrigações dos sócios, podemos destacar a de contribuir para a for-
mação do capital social, subscrevendo e integralizando suas respectivas quotas, e a de participar
dos resultados sociais, nos termos estabelecidos no contrato social ou, na omissão deste, na forma
prevista no art. 1.007 do Código Civil.
Em termos genéricos, o direito societário, na medida em que assegura a limitação de re-
sponsabilidade pessoal de sócio, nas diversas modalidades de tipos societários, resulta no estí-
mulo ao empreendedorismo tendo em vista atuar como importante redutor do risco empresarial que
beneficia principalmente os membros do quadro social (RAMOS, 2013, p. 405). Por conseguinte,
pelo princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas, consagrado no art. 1.024 do Código
Civil, estabeleceu-se a responsabilidade ilimitada da pessoa jurídica perante terceiros, mas consid-
erando limites de responsabilidades dos sócios, de acordo com cada tipo societário adotado.
A ressalva feita em relação aos limites de poderes definidos no contrato ou na lei deve-se ao
fato de que, na hipótese de qualquer sócio agir, entre outros, com abuso de personalidade, excesso
de mandato ou infringir norma legal ou norma contratual, pela infração, responderá ele com seus
bens pessoais, aplicando-se a desconsideração da personalidade jurídica.
Analisando a responsabilidade a partir de cada tipo societário, teremos então sócios com
responsabilidade limitada ao preço das ações subscritas ou adquiridas, como o que ocorre com
as sociedades anônima10 e em comandita por ações. Nesta última, o sócio administrador assume
responsabilidade subsidiária e ilimitada11, não pelo fato de ser sócio, mas por ser administrador, e
enquanto assumir esse encargo de gestão empresarial. Na sociedade limitada, cada sócio assume
obrigação pessoal de integralizar sua quota-parte, portanto, é este o limite de sua responsabilidade.
Entretanto, enquanto o capital social não estiver totalmente integralizado, são todos solidariamente
responsáveis até o limite do capital social. Depois de integralizado todo o capital social – capital
realizado – em condições normais, não há mais que se cobrar responsabilidade pessoal de sóci-
os.12
Na sociedade em nome coletivo, todos os sócios assumem responsabilidade solidária e ili-
mitada, mesmo após a integralização total do capital social. O quadro societário somente pode ser
composto por pessoas físicas13.
Caso de responsabilidade mista no quadro societário é o da sociedade em comandita sim-
ples, contendo sócio comanditado - pessoa física que assume responsabilidade solidária e ilimitada
pelas obrigações sociais e sócio comanditário com limite de responsabilidade à integralização de
sua quota-parte14.
Na sociedade cooperativa, o estatuto social é o instrumento que vai definir se os associados
terão responsabilidade limitada ou ilimitada. Adota-se um ou outro regime de responsabilidade,
assim não há responsabilidade mista em relação aos associados, ou seja, ou todos assumem re-
sponsabilidade limitada, ou todos assumem responsabilidade ilimitada, a critério do estatuto social
10 Art. 1º da Lei 6.404/76: “A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos
sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Respaldo no art. 1.088 do Código
Civil.
11 Art. 1.091 do Código Civil: “Somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde
subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade”. Respaldo no art. 281 da Lei 6.404/76.
12 Art. 1.052 do Código Civil: “Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas,
mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”.
13 Art. 1.039 do Código Civil: “somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo
todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais”.
14 Art. 1.045 do Código Civil: “Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comandita-
dos, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo
valor de sua quota”.
vigente. O parágrafo 1º do art. 1.095 do Código Civil regula o tratamento quanto ao limite de re-
sponsabilidade de sócio, determinando que o mesmo “responde somente pelo valor de suas quotas
e pelo prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a proporção de sua participação nas
mesmas operações”. O parágrafo 2º do mesmo artigo prevê responsabilidade dos sócios de forma
solidária e ilimitada pelas obrigações sociais, aplicando, no que couber, as regras da sociedade
simples, que estabelece o benefício de ordem traduzido pela responsabilidade subsidiária.
Conclusão
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