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FACED - IPPEX

a.4 n.7 jan./dez. 2014 ISSN 2236-9678

Diversidade de Saberes

Meditare

Revista Acadêmica dos Cursos de Graduação da FACED


Conselho Consultivo

Antonio José Alves


Edite Natividade Nogueira
Fernando de Oliveira Teixeira
Jadir Vilela de Souza ( In memorian)
Jadir Vilela de Souza Júnior
Lúcia Maria Fonseca Rodrigues
Maria Celeste Teixeira de Oliveira
Marna Elizabete da Natividade Nogueira Lima

Funções dos Órgãos Administrativos da Revista Meditare

Coordenação: Jurandir Marques Silva Júnior


Vice-coordenação: Leandro Maia
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Tesouraria: Mônica Fischer
Comunicação: Lidiane Medeiros
Diagramação: Eduardo Antônio Medeiros Souza
Revisão de texto: Edson Gonçalves

Conselho Editorial

Sociedade Dom Bosco de Educação e Cultural LTDA

Mantenedora de: Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Divinópolis; Faculdade Divinópolis e
Faculdade de Arte e Design.
Editoria: Instituto de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão.
Conselho Editorial:
Jurandir Marques Silva Júnior - FACED
Leandro Maia – FACED
Mônica Fischer – FACED
Neusa Gontijo da Fonseca Monteiro – FACED
Arte- Final / Diagramação: Eduardo Antônio Medeiros Souza
Revisão: Edson Ferreira Gonçalves
Diretor: Célio Fraga da Fonseca

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Biblioteca da SODBEC/FACED

Revista Mediare / Sociedade Dom Bosco de Educação e Cultura,Ltda: Instituto de Pós-


Graduação, Pesquisa e Extensão, ano 4, n.7, jan. a dez. 2014. Divinópolis: IPPEX, 2014. 113 p.

Anual

ISSN: 2236-9678

1. Generalidades. 2. Períódico. I. Título.


CDD – 000

Bibliotecária Responsável: Neusa Gontijo da Fonseca Monteiro CRB- 6 - 2243

Sociedade Dom Bosco de Educação e Cultura Ltda.


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Cep: 35500-048
Tel:: (37) 3512-2000 – Biblioteca: (37) 3512-2015
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E-mail: biblioteca@faced.br / neusa@faced.br
EDITORIAL

Revista Meditare
Revista Eletrônica dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação

A Revista Meditare – Revista Eletrônica dos cursos de graduação e pós-graduação da FACED


teve a sua primeira publicação no ano de 2011 e já está no seu terceiro ano com o sexto número.
Para nós, colaboradores da FACED, a publicação desta revista é motivo de orgulho e comprometi-
mento com o ensino, a pesquisa e a extensão.

Por entender que o acesso adequado e atualizado à informação técnico-científica é essen-


cial ao desenvolvimento e considerando os problemas de distribuição e disseminação de periódicos
impressos, a Revista Meditare – Revista Eletrônica dos cursos de graduação e pós-graduação,
optou por se tornar um veículo de publicação eletrônico. Esperamos que nossa decisão seja do
agrado de todos e que a facilidade da circulação permita com que nossa revista seja um veículo útil
de divulgação dos estudos de diversos saberes.

O objetivo da comissão editorial é transformar a Revista Meditare- Revista Eletrônica dos


cursos de graduação e pós-graduação em um periódico respeitado e conhecido nacional e interna-
cionalmente.

Gostaríamos de agradecer aos colegas que muito gentilmente aceitaram nosso convite para
participar do Conselho Editorial, respaldando a seriedade que buscamos para a Revista Meditare.
Da mesma forma, agradecemos àqueles que atendem prontamente nossa chamada por colabo-
ração e concordam, de modo desprendido, em apoiar nossa publicação. Esperamos sempre cor-
responder ao apoio que nos é dado.

Sejam todos bem-vindos à Revista Meditare!

Jurandir Marques Silva Júnior


Coordenador Geral da Revista Meditare
Revista Eletrônica dos cursos de graduação e pós-graduação.
SUMÁRIO

ANÁLISE DA (IN)APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA NO TRE MINEIRO


NO JULGAMENTO DAS CONTAS DOS CANDIDATOS ÀS ELEIÇÕES DE 2012
FRENTE AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E AOS OBJETIVOS DA
REPÚBLICA.
Francys Gomes Freitas, Lucas Carvalho Américo
8

O ESTUDO DE CASO DA UNIMED DIVINÓPOLIS/MG A PARTIR DA PERSPECTI-


VA DE CARREIRA DE SEUS COLABORADORES DA GERAÇÃO Y (2011 A 2013).

Clarice Santiago Neto, Gladson Henrique Silva, Eliane Soares Mendes Franco
20

A influência da Lei Complementar nº 123/2006 na participação das micro e peque-


nas empresas nas compras governamentais do Sisema-ASF.
Bruna Silva Chaves, Jonas Lúcio dos Santos, Renata Alves Fernandes, Roberto Franklin de Souza
29
IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DE IMPORTÂNCIA PARA A IMPLEMENTAÇÃO
DA AUDITORIA INTERNA NA MICRO E PEQUENA EMPRESA
Jocilaine Lourdes Rodrigues, Glênia Gabrielle de Oliveira Resende, Agilson Emerson da Silva, Jurandir
Marques Silva Júnior
39

A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS SOBRE A LOGÍSTICA DE ARMA-


ZENAGEM
David Heryer de Oliveira, Mariana Soares Faria, Ordelânia Rezende Costa, Thiago Gonçalves Ribeiro, Pâmella
Gabriela Oliveira Pugas
48

JUSTIÇA RESTAURATIVA
Luciana Lopes de Oliveira, Simone Matos Rios Pinto
59

MEDIDA DE SEGURANÇA: DIÁLOGO ENTRE O DIREITO E A PSICOLOGIA


Isabela Alves Lima, Jamille Belchior Machado, Juliana Severino, Lucas Brenner Costa e Silva, Paulo César
D’alessandro Reis, Simone Matos Rios Pinto
72

AS PERSPECTIVAS DO COMÉRCIO ELETRÔNICO SOB A ÓTICA DOS


ACADÊMICOS DA FACED DE DIVINÓPOLIS
Flávia Rezende Machado, João Victor Dias Amaral, Keila Aparecida de Sousa Fonte Boa, Pedro Henrique Gon-
tijo Soares, Jane Márcia Amorim
81
A PROFISSÃO COMO FONTE DE PRAZER: UMA ANÁLISE DOS NOVOS MODE-
LOS DE TRABALHO A PARTIR DA PROPOSTA DE EMPREENDEDORISMO FEMI-
NINO DO “PROJETO CONTINUECURIOSO”
Bruna Fernandes Barros, Prof. Ms. Eliane Soares Mendes Franco
92

RESPONSABILIDADE NO DIREITO EMPRESARIAL: FORMALIDADES SOCI-


ETÁRIAS
Elizabeth Guimarães Machado

Normas Editoriais para publicações de artigos Revista Meditare


111
ANÁLISE DA (IN)APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA NO TRE MINEIRO
NO JULGAMENTO DAS CONTAS DOS CANDIDATOS ÀS ELEIÇÕES DE 2012
FRENTE AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E AOS OBJETIVOS DA
REPÚBLICA.

Francys Gomes Freitas1


Lucas Carvalho Américo2

RESUMO

O O presente trabalho discorre sobre a aplicação prática do princípio da eficiência no TRE-MG


ao analisar as contas dos candidatos nas eleições de 2012 e sua ligação com a qualidade da
prestação do serviço público, o número de agentes e os prazos para a análise da prestação de
contas.A metodologia de pesquisa do artigo será bibliográfica e análise dos dados estatísticos ori-
undos do sítio do TRE-MG.Ab inittio, o estudo abordará os princípios constitucionais e doutrinários
da Administração Pública. Ato contínuo, será destacado o princípio da eficiência e a análise das
contas do TRE mineiro dos candidatos nas eleições de 2012

PALAVRAS-CHAVE: Princípio da Eficiência, Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, objetivos


da República.

ABSTRACT

This paper discusses the practical application of the principle of efficiency in TRE-MG to examine
the accounts of the candidates in the 2012 elections and its link with the quality of public service
delivery, the number of agents and the deadlines for providing analysis accounts.The research
methodology is bibliographic article and analysis of statistical data from the site of TRE-MG Ab init-
tio, the study will address constitutional principles and doctrinal Public Administration. Immediately
thereafter, will be highlighted the principle of efficiency and analysis of the accounts of TRE miner
candidates in the 2012 elections.

KEYWORDS: Principle of Efficiency, Regional Electoral Court of Minas Gerais, Republic of goals.

I – NOTAS INTRODUTÓRIAS

Após a promulgação da atual Constituição3 e com a consolidação de um Estado de Direito,


buscou-se não apenas estabelecer limites ao poder e atuação do Estado, mas também asseg-
urar aos cidadãos as garantias individuais. Passaram-se 25 anos desde a promulgação da Carta
Magna que consolidou os Direitos Fundamentais, sendo necessária para a efetivação dos direitos
individuais e coletivos uma postura eficiente da Administração Pública ao prestar serviços como
educação, saúde e segurança que, por sua vez, venha atender as necessidades da população.
1 Professor de Graduação (Universidade de Itaúna - UIT e FACED-Divinópolis-MG) e Pós-Graduação (Pitágoras e DOC-
TUM), Especialista em Direito Público (Newton Paiva), Mestre em Direito Público (UNIFLU-RJ), Advogado sócio do Escritório
Gomes Freitas Advocacia (gomesfreitasadvocacia@gmail.com) e Procurador do Município de Itaguara-MG.
2 Graduando do curso de Direito pela Universidade de Itaúna-MG.
3 Por Constituição preferiu-se adotar o sentido de Dalmo de Abreu Dallari ao afirmar que: “A constituição é a declaração
da vontade política de um povo, feita de modo solene por meio de uma lei que é superior a todas as outras e que, visando a proteção
e a promoção da dignidade humana, estabelece os direitos e as responsabilidades fundamentais dos indivíduos, dos grupos sociais,
do povo e do governo” (DALLARI, 2010).
Um dos seus objetivos é, certamente, proporcionar aos cidadãos um serviço de qualidade e
eficiente, respeitando a legalidade, impessoalidade e a moralidade.
Nesse sentido, a (in)aplicação do princípio da eficiência na análise de contas dos candidatos
às eleições de 2012 será abordada com ênfase nesse artigo, não deixando de mencionar, quando
necessário, a possível afronta aos demais princípios da Administração Pública.

II – PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: CONSTITUCIONAIS E


DOUTRINÁRIOS

Os princípios são normas que orientam todo o ordenamento jurídico constitucional, esta-
belecem diretrizes imprescindíveis para sua configuração, revelam os valores e a ideologia do
constituinte originário, oferecendo um sentido lógico, harmônico e racional. Sendo normas dotadas
de normatividade e positividade, possuem efeito vinculante e aplicabilidade imediata e devem ser
observados pela a administração pública para melhor atender a sociedade.
O artigo 37, caput, da Constituição Federal estabelece os princípios constitucionais da ad-
ministração pública, também chamados expressos. Uma vez que a observância deste preceito é
imprescindível, qualquer atuação da administração pública deve ser com ele compatível, sob pena
nulidade dos atos.
Outros princípios importantes para o ordenamento jurídico, e não expressos no texto con-
stitucional federal, são elencados nas Constituições Estaduais como a de São Paulo, que pre-
screve: razoabilidade, finalidade e motivação4. A Constituição Estadual de Minas Gerais também
traz princípios próprios5.
Por fim, serão mencionados alguns relevantes princípios que se relacionarão ao presente
trabalho e são reconhecidos pela doutrina e pela jurisprudência.Todos esses possuem mesmo
peso e relevância do que aqueles expressos e, por essa razão, devem ser observados com mesmo
rigor pela Administração.

II.1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

O Princípio da Legalidade tem sua origem no artigo 5°, inciso II da Constituição da República
de 1988 e trata-se de um princípio basilar do ordenamento jurídico segundo o qual todos os atos
praticados pela administração pública, para que sejam considerados válidos, devem ser autoriza-
dos por lei. Sobre o assunto, José dos Santos Carvalho Filho ensina que:

O princípio da legalidade é certamente a diretriz básica da conduta dos agentes


da Administração. Significa que toda e qualquer atividade administrativa deve ser
autorizada por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita.Tal postulado, consagrado após
séculos de evolução política, tem por origem mais próxima a criação do Estado de
Direito, ou seja, do Estado que deve respeitar as próprias leis que edita. (CARVALHO
FILHO, 2010, p. 17).

Dessa forma, visa-se a proteção do administrado em relação do abuso de poder por parte da
Administração, podendo ocorrer tanto omissiva, comissiva, dolosa ou culposa, sendo nulo qualquer
ato praticado sem autorização legal. A nulidade pode ser declarada tanto pela própria Adminis-
4 O artigo 111 da Constituição do Estado de São Paulo determina que: A administração pública direta, indireta ou fun-
dacional, de qualquer dos Poderes do Estado, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
razoabilidade, finalidade, motivação, interesse público e eficiência.
5 Na Constituição do Estado de Minas Gerais, o artigo 13 enumera que: A atividade de administração pública dos Poderes
do Estado e a de entidade descentralizada se sujeitarão aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
eficiência e razoabilidade.
tração, de ofício ou se provocada, quanto pelo Poder Judiciário, caso seja instado para tanto, por
se tratar de caráter legal. Portanto, a administração pública encontra-se sujeita aos mandamentos
legais, não podendo deles se afastar sob pena de invalidade do ato e responsabilização do órgão
e/ou do agente.
Quanto ao Princípio da Impessoalidade pode-se dizer que está diretamente ligado com a
ideia de Estado Democrático de Direito.
Sobre esse prisma, insta trazer a baila acerca do Estado de Direito e Estado Democrático
de Direito. Segundo o eminente doutrinador Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias os conceitos acima
denotam que não se está diante de um Estado qualquer, mas aquele que se submete as normas
do Direito e está estruturado por leis, sobretudo a lei constitucional (Carvalho Dias, 2010, p. 59).
Pela doutrina de J. J. Gomes Canotilho, esse Estado deve guardar sintonia com grandes
princípios jurídicos: democracia e Estado de Direito consubstanciado em um Estado Constitucional
Democrático de Direito (Canotilho Gomes,1999, p. 45).
Ainda sob a ótica da necessária interligação entre o Estado Democrático de Direito e a De-
mocracia, Gustavo Binenbojm assegura que:

O Estado Democrático de Direito é a síntese histórica de duas ideias originariamente


antagônicas: democracia e constitucionalismo. Com efeito, enquanto a ideia de de-
mocracia se funda na soberania popular, o constitucionalismo tem sua origem ligada
à noção de limitação de poder. A democracia constitucional, conquanto proclamada
neste final de século como regime de governo ideal, vive sob o influxo de uma tensão
latente entre a vontade majoritária e a vontade superior expressa na Constituição
(Binenbojm,2010, p. 50).

Ainda nessa toada, insta destacar os doutrinadores Álvaro Ricardo de Souza Cruz e Mário
Lúcio Quintão que adotam o prisma de paradigmas constitucionais, visões paradigmáticas e im-
agens-modelos (SOUZA CRUZ, 2009 e QUINTÃO SOARES, 2000, p. 15). Tais expressões sofr-
eram influência do físico Thomas Khun. O termo paradigma deve ser empregado nesse contexto
para se buscar o melhor sentido para aplicação na ciência do Direito. Até mesmo porque na dis-
sertação de Souza Cruz, o conceito de paradigma é aplicável às ciências sociais e, em particular,
ao Direito (SOUZA CRUZ, 2009, p. 24).
Mais adiante em sua obra, Ronaldo Bretas afirma que a Constituição brasileira aglutina os
princípios do Estado Democrático e Estado de Direito, sob normas jurídicas constitucionalmente
positivadas, a fim de configurar o Estado Democrático de Direito, objetivo que lhe é explícito no
corpo da Constituição (Carvalho Dias, 2010, p. 55).
Inclusive, ilustra a respeitável doutrina de Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coe-
lho e Paulo Gustavo Gonet Branco sobre a ótica de se efetivar os direitos, ao afirmarem que:

Mais ainda, já agora no plano das relações concretas entre o Poder e o indivíduo,
considera-se democrático aquele Estado de Direito que se empenha em assegurar
aos seus cidadãos o exercício efeito não somente dos direitos civis e políticos, mas
também e, sobretudo dos direitos econômicos, sociais e culturais, sem os quais
de nada valeria a solene proclamação daqueles direitos (FERREIRA MENDES,
MÁRTIRES COELHO, BRANCO, 2008, p.55).

Nesse diapasão, a Administração Pública e seus agentes devem buscar como finalidade
principal o interesse público, afastando-se dos desejos pessoais. Esse direcionamento está pre-
visto no texto Constitucional no artigo 37, incisos I, II e § 1°.
Por sua ótica, o Princípio da Moralidade determinado pela Carta Magna no artigo 37, caput,
estabelece que o administrador deve se ater, primeiramente, às determinações legais, mas ob-
servar ainda a conduta moral (jurídica) a fim de atender ao interesse público. A essa combinação de
atitudes é dado o nome de legalidade administrativa. Nesse sentido Ana Elisa Spaolonzi Queiroz
Assis, Antonio de Pádua Serafim, Olney Queiroz Assis e Vitor Frederico Kümpel anotam que Kant
usa a expressão ética em dois sentidos. O primeiro é mais amplo: ética é a ciência da lei da liber-
dade, que são as leis éticas, que se dividem em morais e jurídicas. O segundo seria em sentido es-
trito em que a ética é a teoria das virtudes e como tal diferencia-se do Direito. Dessa forma, direito
e moral (ética) são foram particular de uma legislação universal, cujos princípios, a ética em sentido
amplo contém (Queiroz Assis, 2013, p. 50).
Existem vários dispositivos no ordenamento jurídico que visam à proteção da moralidade
administrativa. Citamos como exemplo a Ação Popular e Ação Civil Pública, contempladas no artigo
5°, inciso LXXIII e artigo 129, inciso III da Constituição Federal e regulamentadas pela Lei n° 4.717,
de 29/06/65 e Lei n° 7.347, de 24/0785, respectivamente. Por fim, observa-se a Súmula vinculante
n° 13, que determina que a administração pública encontra-se submetida aos princípios da morali-
dade e impessoalidade vedando a prática de nepotismo nas três esferas do Poder Público, sendo
nulos os atos assim caracterizados.
Pelos ditames constitucionais do Princípio da Publicidade torna-se obrigatória a divulgação
de todos os atos praticados pela administração pública dando transparência a esses atos. Isso pos-
sibilita que qualquer pessoa possa questionar toda a atividade administrativa.
Ensina Celso Antônio Bandeira de Mello que:

Consagra-se nisto o dever administrativo de manter plena transparência em seus


comportamentos. Não pode haver em um Estado Democrático de Direito, no qual
o poder reside no povo (art.1, parágrafo único, da Constituição), ocultamento aos
administrados dos assuntos que a todos interessam, e muito menos em relação aos
sujeitos individualmente afetados por alguma medida. (MELLO, 2011, p.114)

Ao se publicar um ato presume-se o conhecimento do que foi praticado por parte da socie-
dade em geral. De todo modo, admite-se o sigilo na esfera administrativa, “ressalvadas aquelas
cujo o sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”, de acordo com o artigo
5°, inciso XXXIII, da Constituição. De tal forma, essa situação não cria um choque entre direitos,
mas apenas uma condição de excepcionalidade. Assim, a Administração proporciona a lisura e a
transparência de todos os seus atos.
Pela pertinência temática, o princípio constitucional da eficiência será abordado em tópico
específico.

II.1.2 PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS

Nesse tópico serão abordados apenas os princípios que se relacionam diretamente com o
tema sem a intenção de esgotar o assunto. O primeiro deles será o da supremacia do interesse
público sobre o privado. A Administração, ao atuar, busca proporcionar benefícios à coletividade.
Dessa forma, no caso de confronto de um interesse particular e um grupo da sociedade, preva-
lecerá o segundo, pois o destinatário da atividade administrativa é a coletividade. Possui relação
com o poder de polícia da administração pública de fiscalizar e regular a prática de atos em razão
do interesse público. A aplicação desse princípio pode ser observada por exemplo na desapropri-
ação, ligada também à função social da propriedade, bem como na requisição administrativa, pre-
vista no artigo 5°, inciso XXV, da Constituição Federal. Porém, existem exceções onde o interesse
privado prevalecerá sobre o interesse público. Leciona Diógenes Gasparini que:
A aplicabilidade desse princípio, por certo, não significa o total desrespeito ao inter-
esse privado, já que a Administração deve obediência ao direito adquirido, à coisa
julgada e ao ato jurídico perfeito, consoante prescreve a Lei Maior da República
(art.5°, XXXVI). (GASPARINI, 2011, p. 74.)

Por oportuno vale dissertarmos sobre o Princípio da Autotutela que consiste no poder-dever
da administração pública de exercer o controle sobre seus atos, tanto em relação ao mérito, quanto
em relação à legalidade. Em relação ao primeiro, a Administração poderá decidir se o ato é opor-
tuno e conveniente, mantendo-o eficaz e, caso contrário, poderá revogá-lo. Se a análise se tratar
da legalidade, a administração deve se ater a compatibilidade com a ordem jurídica, e, uma vez
considerado incompatível, deve ser anulado.
A Administração deve corrigir e apurar seus atos de ofício ou se provocada por terceiros. A
súmula 473 do Supremo Tribunal Federal sustenta essa afirmativa. Com efeito, a Administração
poderá reavaliar quaisquer de seus atos analisando mérito e legalidade enquanto o Poder Judiciário
apenas fará uma análise em relação à legalidade, quando for provocado, conforme mencionado
anteriormente.
Convém observar o Princípio da Indisponibilidade, que pressupõe que a Administração Pú-
blica e os agentes públicos devem gerir e zelar pelos direitos, interesses e bens da coletividade,
pois são meros gestores da coisa pública.
Assim sendo, a Administração apenas pode dispor de bens públicos quando a lei permitir,
dando a eles a devida finalidade que melhor atenderá a população. Essa obrigatoriedade de per-
missão legal pode ser observada nos casos de alienação de bens públicos, concessão de serviço
público e firmamento de contratos administrativos, feitos através de licitação, em regra.

II.2 PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA EFICIÊNCIA: EC 19/98 E SUA APLICAÇÃO PRÁTICA NA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Introduzido no ordenamento jurídico pátrio pela EC 19/98, conhecida como emenda da refor-
ma administrativa, é, certamente, um dos relevantes princípios da Administração Pública. Denomi-
nado de “dever de boa administração”, relaciona-se a obrigação de atuar com qualidade, produ-
tividade, economicidade buscando ainda maior celeridade e rendimento na prestação do serviço
público.
Em sua ótica, Max Weber observa que a burocracia moderna funciona em conformidade
com os princípios da Jurisdição, Hierarquia e da Capacitação. Esse último pressupõe um treina-
mento especializado associado ao dever de desempenhar o cargo com plena capacidade de tra-
balho do funcionário (WEBER, 1974, p. 40).Diante desse raciocínio, destaca-se a relação direta do
princípio com a economicidade, que visa avaliar o custo-benefício de determinado serviço público
e, ainda assim, aliar a diminuição dos gastos públicos com a prestação de serviço de qualidade.
Tal desiderato pode ser alcançado quando o administrador executa o serviço público com devida
celeridade.
Cumpre salientar que, em razão de eventual omissão por parte do poder público em não
atender de forma satisfatória determinada demanda da população, o Estado poderá responder civ-
ilmente pelos danos que causar. Diante desse prisma, fica evidente a postura da sociedade ao não
tolerar o funcionamento ineficiente de uma estrutura estatal.
Assim, a obrigação de agir eficientemente também atinge os agentes públicos, os quais de-
vem buscar a persecução do bem comum, exercendo suas atividades da melhor maneira possível
e observando todos os critérios mencionados. Isso demonstra uma relação intrínseca com a vida
funcional do servidor público que se submeterá a avaliações periódicas de desempenho que urgem
que sejam aplicadas com seriedade e comprometimento com a sociedade.
Extrai-se deste entendimento que o administrador e seus agentes devem executar o objetivo
pretendido utilizando todos os meios disponíveis para alcançar suas próprias metas traçadas.
Sobre o tema, discorre Fernanda Marinela que Incluído em mandamento constitucional, o
princípio pelo menos prevê para o futuro maior oportunidade para os indivíduos exercerem sua real
cidadania contra tantas falhas e omissões do Estado. (MARINELA, 2005, p. 130).
Diante de tais considerações, deve-se pontuar que agir com eficiência é um requisito
obrigatório para se adquirir a estabilidade em um cargo público, que, valendo-se da avaliação per-
iódica acima descrita, torna-se uma ferramenta de análise do desempenho do agente público.
Ainda sobre o assunto, dispõe o festejado Hely Lopes Meirelles que a Eficiência passa a ser
elemento objetivo de aferição de merecimento e impeditivo da promoção. (MEIRELLES, 2007, p.
97).
Vale ressaltar que o Estado moderno carece de efetivar suas propostas constitucionais, uma
vez que o século XX destacou-se como a era de positivação dos direitos e o XXI possui o desafio de
efetivá-los, na visão de Norberto Bobbio em sua obra A era dos Direitos. Para tanto, a eficiência no
serviço públicos deve ultrapassar o sentido meramente principiológico para alcançar a efetividade
que almeja a sociedade contemporânea. Tal eficiência profissional é exigida nos exames de como
o da OAB e Conselho de Contabilistas. Aliás, também é salutar que no curso de Medicina também
desenvolva um método de avaliação de eficiência com vistas a nivelar os profissionais que se ap-
resentam para o mercado de trabalho.
No que pertine aos objetivos da República do Brasil objetivando garantir o desenvolvimento
nacional, em especial ao se completar 25 anos de Constituição cidadã, urge reforçar-se a aplicação
da Democracia e do Estado Democrático de Direito. Nesse ponto, o jurista Luiz Roberto Barroso
disserta no sentido de que os conceitos de constitucionalismo e Democracia não se confundem,
pois o primeiro significa, em apertada síntese, a limitação do poder e a supremacia da lei, enquanto
que o segundo traduz-se em soberania popular e governo da maioria (BARROSO, 2010, p. 190).
Outra repercussão relevante, sob a ótica de Barroso, diz respeito às duas funções principais
da Constituição de um Estado Democrático. Em linhas gerais, a norma maior deve obter consen-
sos mínimos, essenciais para a dignidade das pessoas e funcionamento do regime democrático e
que não devem ser afetados por maiorias políticas ocasionais. Some-se a isso, a necessidade da
Constituição garantir o espaço do pluralismo político, assegurando o funcionamento adequado dos
mecanismos democráticos6 (BARROSO, 2010, p. 150). Avulta notar que nesse prisma enquadra-se
o princípio da eficiência nas prestações de contas dos candidatos às eleições.
É relevante colher a abordagem de Barroso quanto aos objetivos da Constituição, senão
vejamos:

a) institucionalizar um Estado democrático de direito, fundado na soberania popular


e na limitação do poder;
b) assegurar o respeito aos direitos fundamentais, inclusive e especialmente os das
minorias políticas;
c) contribuir para o desenvolvimento econômico e para a justiça social;
d) prover mecanismos que garantam a boa administração, com racionalidade e
transparência nos processos de tomadas de decisões, de modo a propiciar governos
eficientes e probos (BARROSO, 2010, p.197).

6 Nesse sentido, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é peremptória ao estabelecer, no artigo 16 que:
“Qualquer sociedade na qual a garantia dos direitos não está em segurança, nem a separação dos poderes determinada, não tem
Constituição”
No último tópico descrito pelo jurista, pode-se exemplificar a análise adequada e eficiente
das prestações de contas dos candidatos às eleições, com vistas a efetivar os objetivos da Repú-
blica.
Em consonância com o mencionado anteriormente, outro aspecto importante e que será
abordado minuciosamente no decorrer deste artigo, é o teor da EC 45/04, que acrescentou a Lei
Maior o inciso LXXVIII ao artigo 5° e dispôs que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua trami-
tação”. O dispositivo em questão tem como fundamento o princípio da eficiência e busca sanar a
excessiva morosidade dos processos na área administrativa e judicial.
Importante mencionar a diferença entre eficiência, eficácia e efetividade. A eficiência tem
relação com o modo em que a atividade administrativa é desempenhada, ou seja, está ligada às
condutas dos agentes. Os meios e instrumentos utilizados pelos agentes ao atuar em suas funções
significa eficácia ao exercer uma função administrativa, possuindo caráter instrumental. Por fim, a
efetividade está relacionada com os resultados alcançados pela Administração através dos atos
praticados. A harmonia entre esses três dispositivos é imprescindível para a prestação do serviço
que seja de qualidade, ágil e eficiente.
Em suma, é necessário demonstrar que a prestação de serviço público apenas será dotada
de real qualidade e efetividade caso esteja aliada a uma conduta eficiente por parte dos agentes
públicos, a meios e métodos que possibilitem a existência de eficácia real.
Porém, isto não basta!
É imprescindível aliar a esses dispositivos uma legislação que não seja omissa e que pos-
sibilite aos órgãos públicos agirem de forma efetiva e responsável e não apenas “formalizar” uma
norma, bem como proporcionar um número razoável de agentes públicos para que possam atender
a grande demanda e volume de trabalho dos órgãos públicos. Nesse sentido, a falta de algum
desses requisitos fere-se o princípio constitucional resultando uma afronta ao Estado Democrático
de Direito.

II.3 – DADOS ESTATÍSTICOS NAS ELEIÇÕES DE 2012 NO TRE-MG E O PRINCÍPIO DA EFICIÊN-


CIA

Através do processo de análise das prestações de contas, a Justiça Eleitoral possui como
alvo apurar se os gastos realizados durante as campanhas eleitorais e a arrecadação de recursos
estão em consonância com as regras estabelecidas pela legislação específica.
Para realização das campanhas eleitorais os candidatos precisam arrecadar recursos, que
podem originar-se de doações do próprio candidato, pessoas físicas e jurídicas, bem como de recur-
sos provenientes dos partidos políticos. Estes podem destinar valores oriundos das contribuições
dos filiados e do fundo partidário para financiamento das campanhas eleitorais.
O Tribunal Regional de Minas Gerais – TREMG – é o órgão competente para receber, proc-
essar, analisar e julgar os processos de prestações de contas dos candidatos que concorrem aos
cargos de Governador e Vice-Governador, Senadores, Prefeitos, Deputados Estaduais e nos ter-
mos do art. 14, XXIV, do Regimento Interno deste egrégio órgão.
A Lei n° 9.504/97 estabelece as principais regras que devem ser observadas nas eleições,
que são regulamentadas por resoluções elaboradas pelo Tribunal Superior Eleitoral – TSE – e
pelos Tribunais Regionais. Essa lei define as diretrizes básicas relacionadas ao financiamento e
gastos de campanha. Para o presente trabalho, fora feita uma adaptação entre as resoluções, da-
dos estatísticos dos anos de 2010 e 2012 valendo-se de informações oficiais e colhidas de agentes
públicos do próprio TREMG. No que tange à prestação de contas a Eleição de 2010 foi regulamen-
tada pelas Resoluções 23.216 e 23.217, ambas do TSE (mantidas com o mesmo teor para o ano
de 2012).
Nesse diapasão, três aspectos são fundamentais para se apurar a qualidade da prestação
do serviço público: o prazo para a análise de prestação de contas, o número de agentes públicos
que verificam as contas dos candidatos bem como o de processos que devem ser analisados.
Em relação aos prazos, inicialmente informa-se que a Lei n° 9.504/97, trata da prestação
de contas nos artigos 28 a 32. Primeiramente, dispõe o artigo 28, § 2°, que a prestação de contas
dos candidatos pode ser feita tanto pelos comitês financeiros, quanto pelos próprios candidatos.
De acordo com o artigo 29, §2°, a inobservância do prazo para encaminhamento das prestações
de contas resulta na impossibilidade de diplomação dos candidatos eleitos. Ainda nesse sentido,
dispõe o artigo 29, inciso III, combinado com o §1°, que os candidatos ou comitês financeiros têm
até 30 dias após a realização das eleições para encaminhar as prestações de contas, referentes ao
primeiro turno, à Justiça Eleitoral. Dispõe ainda o inciso IV que, havendo segundo turno, aqueles
que o disputem possuem até o trigésimo dia após sua realização, de apresentar a prestação de
contas a Justiça Eleitoral referente aos dois turnos.
Ato contínuo, a Justiça Eleitoral verifica a regularidade da campanha decidindo pela “Aprov-
ação”, “Aprovação com ressalvas”, “Desaprovação” ou pela “não prestação de contas”, de acordo
com o texto do artigo 30, incisos de I a IV, da Lei nº 9.504/97.
Após verificar a regularidade da campanha, é expedido relatório técnico. A Justiça Eleitoral
possui o prazo de 72 horas para “vistas”, devendo conter uma das classificações acima. Havendo
desaprovação ou ressalva o Ministério Público possui um prazo de 48 horas para análise. Após
esse prazo, a sentença deve ser elaborada e publicada a decisão em mais 48h. Ou seja, do prazo
de classificação da verificação de regularidade da campanha até a sentença dar-se-á um período
de sete dias.
Após o recebimento da prestação de contas de todos os candidatos que concorreram à
eleição, os Tribunais Regionais Eleitorais (no caso específico o de MG) tem o prazo máximo de 30
dias para analisar toda a prestação de contas dos candidatos eleitos, enquanto o prazo máximo
para a análise dos candidatos não eleitos seria até junho do ano seguinte. O que se conclui pelo
conteúdo da lei é que apenas os candidatos que não prestem contas terão sua diplomação nega-
da.
É a única sanção prevista na Lei nº. 9.504/97, in verbis:

Art. 29. Ao receber as prestações de contas e demais informações dos candidatos


às eleições majoritárias e dos candidatos às eleições proporcionais que optarem por
prestar contas por seu intermédio, os comitês deverão:
§ 2º A inobservância do prazo para encaminhamento das prestações de contas im-
pede a diplomação dos eleitos, enquanto perdurar.

Em razão do prazo esdrúxulo, o que se visualiza, na prática, é a diplomação de candidatos


que podem estar com as contas irregulares. Demonstra-se, com esse ato, a flagrante ausência de
efetividade do processo eleitoral, ou seja, fica evidente que apenas os candidatos que não prestem
contas terão sua diplomação negada.
É oportuno destacar que o prazo de trinta dias é exíguo para se fiscalizar: a fundo a existên-
cia de omissão de receitas ou despesas, (denominado “caixa dois”), se os recursos possuem fonte
lícita ou vedada, se houve abuso de poder econômico, se todos os recursos transitaram pela conta
corrente específica de campanha, dentre outras regras previstas nas resoluções sobre o tema.
Frise-se que diante das inúmeras tarefas, o prazo torna-se insuficiente para realizar a fis-
calização com a qualidade necessária que a democracia demanda. A sociedade clama por uma
prestação de serviço através da qual seja possível aferir se os candidatos agiram com lisura, idonei-
dade, honestidade e transparência na condução de sua campanha, que pode ser demonstrada at-
ravés da verificação da regularidade ou não das prestações de contas.
Nesse ponto, o aspecto da qualidade do serviço prestado e da efetividade do resultado of-
erecido aos cidadãos ficam comprometidos. Há uma flagrante inobservância da aplicação prática
do princípio da eficiência, tendo em vista as falhas da legislação que estipularam prazo insuficiente
para realização a contento do serviço.
Observa-se aqui um contrassenso: como o prazo para analisar a prestação de contas dos
candidatos eleitos, aqueles que representarão a sociedade e desempenharam um papel tão impor-
tante para a democracia, pode ser de 30 dias sendo que o prazo para os candidatos não eleitos
seria cerca de seis meses? O simples fato de se argumentar que o número de candidatos eleitos é
muito menor do que os não leitos não justifica a disparidade dos prazos que encontramos na legis-
lação. É certo afirmar que o legislador andou mal nesse aspecto.
É necessária a revisão do legislador quanto a essa questão sob pena de a própria lei impos-
sibilitar a eficiência prevista pela Lei Maior. Ainda em relação à legislação, existem outros fatores
que impossibilitam a efetividade do serviço público, dos quais destaca-se a lacuna na legislação
infra-constitucional, que não prevê sanções efetivas, pois mesmo as contas sendo desaprovadas o
candidato acaba tomando posse do cargo e pode exercer o mandato.
As contas desaprovadas demonstram que o candidato não tem condições de lidar com o
dinheiro público e de seguir as regras da legislação. Dessa forma, existe uma grande possibilidade
de, durante seu mandato, agir da mesma forma no trato da coisa pública, podendo, até mesmo,
atuar em favor de interesses próprios e de terceiros e não da coletividade.
Sob a ótica do número de servidores públicos que desempenham a função de analisar as
contas dos candidatos, observa-se em mais uma oportunidade, que o administrador poderia agir
de maneira mais eficiente, ou seja, gerir melhor essa importante tarefa de análise das contas dos
candidatos.
Para apuração nas eleições de 2012 foram criadas dez equipes. Duas delas, números
2(dois) e 10(dez), com 7(sete) analistas, sendo um o orientador responsável. As demais equipes,
eram compostas por 6(seis) analistas, sendo um deles o orientador responsável.
Compunha o quadro, ainda, uma equipe de revisão de 4(quatro) integrantes, uma equipe
de atuação e tramitação dos processos da secretária judiciária composta de 10(dez) integrantes e,
por fim, uma equipe de apoio, responsável por passar fax, receber procedimentos de auditória. Tais
atos relacionam-se à confirmação de como foram feitas as doações, qual o valor e, ainda, confir-
mam com os fornecedores/prestadores de serviço se prestaram o serviço ou se venderam os bens
declarados nas prestações de contas.
Num primeiro momento, parece ser um número aceitável de servidores, mas na prática, re-
sulta na necessidade de diversos analistas se verem “obrigados” a fazer hora extra para que todo o
serviço fosse feito dentro do prazo estipulado. Para analisar tal volume de processos em prazo tão
exíguo, são formados mutirões em todas as eleições, sejam elas gerais ou municipais.
Vários depoimentos de servidores que trabalham diretamente neste processo de eleição
queixam de estresse e no aumento de pressão e cobrança por parte dos chefes de departamentos
e superiores hierárquicos.
A situação fica ainda mais grave, segundo relato de servidor público do próprio TREMG, pois
muitos pontos são analisados sem a devida qualidade. Somente casos grosseiros são confronta-
dos com maior rigor. Várias irregularidades passam desapercebidas, em razão do grande volume
de processos, curto prazo e número insuficiente de agentes.
Ora, se o número de agentes fosse suficiente, qual seria a razão de se formar mutirões em
todas as eleições para que os processos sejam analisados? Óbvio ressaltar que não só o número
de agentes é insuficiente, como também a demanda de processos é alta e o prazo, como frisado
acima, é curto.
Corroboram com as afirmativas, o fato da disciplina eleitoral ser extremamente específica e
que não está presente na maioria das matrizes curriculares como disciplina obrigatória nas Univer-
sidades espalhadas pelo Estado de Minas Gerais. Por isso, faz-se necessário para a efetividade
do serviço prestado que, além um número maior de agentes, esses sejam bem preparados para os
desafios que certamente encontram.
É conveniente abordar acerca do número de processos levados a análise para os analistas.
Através de pesquisa realizada no sítio do Tribunal Superior Eleitoral, pode-se verificar que em Mi-
nas Gerais, 1777 eleitores candidataram-se aos cargos disponíveis no pleito.
De acordo com informações repassadas pela Seção de Análise de Contas Eleitorais do
TREMG, setor responsável pela execução da demanda, foram analisados até o dia 02 de dezem-
bro de 2012, pouco mais de um mês, 203 processos de prestações de contas. Destes, 134 proc-
essos relacionavam-se aos candidatos eleitos, 23 de 1º Suplente, 23 de 2º Suplente, 23 de 3º
Suplentes.
Fica clara a deficiência dos órgãos público, em especial quanto à estrutura adequada para
cumprir a demanda de trabalho. Muitas atitudes precisam ser tomadas com vistas a melhorar a situ-
ação atual, a começar pelo legislador que deveria aprimorar a legislação para sanar os problemas
aqui apontados.

IV – CONCLUSÃO

O presente trabalho almejou demonstrar a necessidade de a Administração Pública atuar de


maneira eficiente, com qualidade, presteza e perfeição. Apesar da Constituição Federal determinar
a necessidade de atuação com qualidade, isso não basta para a efetividade dos resultados. Impõe-
se a necessidade de se gerir melhor essa importante tarefa de análise das contas dos candidatos,
posto que repercute na efetivação das premissas do Estado Democrático de Direito.
De acordo com os dados colhidos referentes a 2010, estrutura essa mantida basicamente
a mesma nas eleições dos anos posteriores, os agentes públicos do TRE são organizados em tur-
mas, formadas perto do período das eleições onde são preparadas as zonas eleitorais, checagem
e testes das urnas eletrônicas dentre outros.
Nas eleições de 2010, foram constituídas treze equipes, compostas dentre nove e sete
agentes com finalidade de analisarem a prestação de contas. Pontue-se que em razão da imensa
dificuldade em ter acesso às informações do ano de 2012 no órgão público mencionado, não foi
possível coletar dados mais atuais, que permitiria uma avaliação mais precisa, não obstante os in-
úmeros contatos com o SACOE e com servidor responsável. A ausência dessa simples informação
a tais dados que deveriam ser públicos é inadmissível em um Estado que se denomina Democ-
rático de Direito. Tal conduta viola flagrantemente vários princípios da Administração pública, tais
como publicidade e eficiência.
Pode-se afirmar com veemência que o acesso à informação pública, qualquer que seja sua
natureza, é direito fundamental básico de todo cidadão brasileiro, haja vista que tal direito visa
combater a corrupção, promover a inclusão social e, principalmente, o aperfeiçoamento da gestão
pública.
Quando qualquer órgão público, em especial o citado nesse artigo, omite ou dificulta o aces-
so à informação, tal fato impossibilita que a sociedade tome ciência do que acontece, mesmo diante
do princípio da publicidade e lei da transparência.
É dever do Estado brasileiro de garantir o direito ao acesso a informação, cabendo aos
órgãos e entidades do poder público efetivar tal direito e não dificultá-la, situação que, infelizmente,
foi enfrentada para coleta dos dados para feitura desse artigo. Porém, pela manutenção da estru-
tura estatal do ano de 2010, os problemas e falhas continuam a existir.
Assim, também são falhas a legislação infra-constitucional e os órgãos administrativos e
merecem maior atenção, sob pena das situações que ocorrem hoje se repetirem intermitente-
mente.
Como se não fosse suficiente, o legislador é omisso em vários pontos cruciais, o que agrava
ainda mais a situação. Os órgãos públicos também contribuem negativamente para o caso, em es-
pecial a de não possuir o número adequado de servidores públicos para desempenhar as funções
da própria administração.
Nesse sentido, o que se busca é desencadear uma mudança na situação atual, carecendo
do Administrador Público, legislador e da própria sociedade, uma postura pro-ativa em relação ao
assunto.
Espera-se que os descontentamentos elucidados nesse artigo sejam levados em conta para
as eleições de 2014, com vistas a uma gestão mais eficiente, transparente e segura ao se realizar
a análise das contas pelo TRE-MG.
Em síntese, chega-se o entendimento de que o calendário eleitoral curto, combinado como
número de analistas insuficiente e a legislação deficitária resultam a ineficiência do serviço público
prestado, situação que não deve ser aceita e tolerada no Estado Democrático de Direito.

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O ESTUDO DE CASO DA UNIMED DIVINÓPOLIS/MG A PARTIR DA
PERSPECTIVA DE CARREIRA DE SEUS COLABORADORES DA GERAÇÃO Y
(2011 A 2013).

Clarice Santiago Neto1


Gladson Henrique Silva2
Eliane Soares Mendes Franco3

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo explicitar as perspectivas de carreira e motivações profission-
ais dos colaboradores da geração Y que atuam na empresa Unimed Divinópolis/MG. A geração
Y nos dá uma gama inefável de possibilidades de discussões relativas a interesses profissionais
específicos dessa faixa etária levando-se em consideração aspectos sócio-culturais. A pesquisa
contempla uma empresa específica na cidade de Divinópolis do estado de Minas Gerais e os partic-
ipantes foram os colaboradores nascidos a partir de 1990, com propósito de trabalhar as variáveis
de forma mais precisa. O artigo se baseia em um levantamento de dados por meio de pesquisa
qualitativa, uma vez que foi aplicada entrevista semiaberta aos referidos colaboradores, admitidos
entre março de 2011 e julho de 2013 pela Unimed Divinópolis/MG.

Palavras-chave: gerações; gerações Y; carreira; motivação.

ABSTRACT

The present work aims to show the career perspective and professional motivation of generation Y
employees working at Unimed Divinópolis/MG. This generation promotes an infinite range of pos-
sible discussions related to specific professional concern of this age group considering its sociocul-
tural aspects. This research focuses on a specific company located at Divinópolis, Minas Gerais and
the participants who took part of it were the employees born after 1990, in order to study the vari-
ables in a more accurate way. The work is based on a data collection through qualitative research,
as it was applied a half-open interview to those employees, hired between March 2011 and July
2013 by Unimed Divinópolis/MG.

Keywords: generation; generation Y, career; motivation.

1 - INTRODUÇÃO

As mudanças sociais e tecnológicas ocorridas nos últimos anos são muito evidentes e in-
fluenciam diretamente no comportamento dos jovens considerados da geração Y. De acordo com
Coimbra, citado por Oliveira, Piccinini e Bitencourt (2012), a principal diferença entre as gerações
na década de 60 se dava pelos valores e, em contrapartida, atualmente essa diferença está rela-
cionada, sobretudo, aos avanços tecnológicos.
Logo, jovens vem ganhando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. As peculiari-

1 Psicóloga e Pós-graduada em Gestão de Pessoas e RH pela FACED – claricesn@gmail.com


2 Psicólogo e Pós-graduado em Gestão de Pessoas e RH pela FACED – gladson_henrique@yahoo.com.br

3 Professora da Pós-graduação da FACED e professora dos cursos de graduação da Universidade de Itaúna –UIT, Mestre
em Educação Tecnológica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, pós-graduada em Gestão Estratégica
de Pessoas, Gestão de Ensino Profissionalizante e Educação Tecnológica – eliane@diferencialmg.com.br
dades na forma de ser e agir dessa geração abarcam uma série de características como criativi-
dade, inovação, individualidade, imediatismo, além de terem habilidades para realizar várias tare-
fas ao mesmo tempo. A motivação e a perspectiva desta geração no mercado de trabalho parece
não ser a mesma dos colaboradores de outras gerações. “Dos anos de 1990 para cá, a perspectiva
não é mais de riqueza, mas está no campo da segurança. Quer dizer: “Se eu não for o melhor, não
tenho onde trabalhar” (CORTELLA; MANDELLI; 2011, p.11).
Os desafios encontrados pelos pesquisadores frente à nova forma de atuação desta geração
no mercado de trabalho funcionaram como estímulo para efetividade de tal artigo. Percebe-se que
os novos modelos de se relacionar e de pensar o futuro no mercado de trabalho têm demandado
novas formas de atuar dos pesquisadores, levando-os a passar esta questão de um contexto pes-
soal/profissional para um contexto acadêmico.
Tal artigo mostra-se relevante na medida em que pode ajudar os profissionais de Recursos
Humanos, bem como os líderes das organizações, a compreenderem melhor os anseios de seus
colaboradores com a faixa etária proposta. Dessa maneira, poderão desenvolver ações que con-
tribuam para a motivação no ambiente organizacional e tentar promover a retenção desses talen-
tos.

(...) normalmente os jovens da geração Y querem uma ascensão rápida na carreira e


estão dispostos a fazer de tudo para conseguir isso. Na maioria das vezes, estabe-
lecem um prazo irreal para a realidade em que se encontram. Em suas estratégias
de carreira, priorizam a própria qualificação e desprezam os fatores culturais e os
comportamentos coorporativos. Como resultado, acabam se afogando em ansie-
dade extrema. Em geral, abandonam um emprego frustrados pelo fracasso, alegam
falta de desafios e começam tudo novamente em outra empresa, em outra realidade.
(OLIVEIRA, 2011).

É importante que os dirigentes das empresas estejam atentos às perspectivas profissionais


dos colaboradores que fazem parte da geração Y. Isso se faz necessário para que os mesmos não
corram o risco de tornarem obsoleta a atuação de sua empresa no mercado, haja vista que esta
geração representa um grupo que tem exercido grande influência nas atividades e nas estratégias
das organizações.
Partindo desta missiva, o artigo teve como objetivo identificar com base na descrição, no
referencial teórico e na pesquisa qualitativa, as principais perspectivas de carreira da geração Y -
especificamente os nascidos a partir de 1990 – que atua na Unimed Divinópolis/MG, além de anal-
isar quais os fatores mais importantes para motivá-la a permanecer na empresa e suas principais
demandas.

2 - DESENVOLVIMENTO

2.1 Gerações

Segundo Mandelli (2011) as gerações se diferem - em relação à carreira - quanto à moti-


vação em entrar e permanecer em uma determinada empresa. Segundo o autor, atualmente, gan-
har dinheiro não é mais o foco principal das pessoas que ingressam no mercado de trabalho, ou
seja, suas principais motivações giram em torno de crescimento pessoal.
Isso influencia diretamente nas formas de atuação no mercado de trabalho, uma vez que
as diferenças entre as gerações estão vinculadas às mudanças no contexto sócio-cultural do qual
fazem parte. Comportamentos e pensamentos estão ligados aos costumes, valores, crenças, ide-
ais e a uma gama de fatores que são dinâmicos e transformam-se no tempo e na história. Alguns
modelos de comportamento interpessoal, tanto nas organizações como na família, partilhados por
uma determinada geração com maior vigor, podem perder força e aceitação social por outra ger-
ação. De acordo com MICHELE (2012):

As Gerações podem ser definidas como um grupo de indivíduos nascidos na mesma


época, influenciados por um contexto histórico e que causam impacto à sociedade
no que diz respeito à evolução. Cada geração possui características que estão dire-
tamente ligadas ao seu comportamento, costumes e valores. Para entendermos mel-
hor cada geração é importante que confiramos as suas características e seu impacto
no ambiente organizacional. (MICHELE, 2012).

Falar em geração considerando apenas o aspecto temporal/cronológico pode parecer sim-


plista, uma vez que, para delimitar uma determinada geração, é importante considerar outros fatores
como contexto cultural e social. No entanto, não seria inapropriado levar em consideração cara-
cterísticas de um determinado grupo de um período histórico específico. Compartilhar as crenças
e valores sociais de determinada geração não invalida as diferenças individuais e suas idiossincra-
sias.
Diante disso, traçar uma delimitação temporal é imprescindível na compreensão sistemática
das gerações como, por exemplo, à dos Baby boomers - (1946 a 1967) que segundo Veloso; Silva
e Dutra (2012), são influenciados pela pós-segunda guerra mundial, o que marca uma delimitação
temporal e a descrição de cada geração a seguir. Ainda, segundo estes autores, o mercado de tra-
balho encontrado no Brasil é vivenciado de forma diferente pela geração X (1968 a 1979) uma vez
que o país passava por instabilidade econômica. Já na década de 80 e início da década de 90, a
chamada geração Y se molda em um contexto no qual se consolida a democracia e a economia.
Pode-se inferir que tais acontecimentos geram uma série de peculiaridades em cada ger-
ação. Parry e Urwin (2011) citados pelos autores supracitados elucidam diferenças significativas
destas gerações. Os Baby boomers trazem uma marca forte - dentre outras - que se baseia na
lealdade à organização. Diferentemente, a geração X, é desconfiada em relação às organizações.
A geração Y, por sua vez, demonstra relutância nas relações hierarquizadas.
Essas, dentre outras diferenças nos padrões de comportamento, causaram certo impacto
entre as gerações dentro das organizações, principalmente no que diz respeito à liderança e ao
desenvolvimento destes novos profissionais inseridos no mercado de trabalho. Segundo Oliveira
(2011), há um comprometimento no vínculo em relação a essas gerações e, por conseguinte os
veteranos poupam os jovens aos desafios e riscos mais complexos. Ainda, segundo o autor essa
atitude pode gerar consequências como rotatividade e dificuldade no engajamento dentro da em-
presa.
No entanto, esse impacto entre as gerações pode ser abordado de uma forma positiva e
produtiva, procurando elencar os pontos favoráveis das diferentes gerações dentro de uma empre-
sa e também buscando minimizar os aspectos negativos através de um aprendizado por meio de
troca de ideais e pensamentos entre elas. Segundo Michele (2012) uma empresa pode saber retirar
o melhor de cada geração tendo consciência da inviabilidade de classificar uma geração sendo boa
ou ruim.

2.2 Geração Y

No decorrer dos estudos para a confecção do presente artigo, percebe-se que não há um
consenso no que diz respeito ao período preciso em que se possa definir a chamada geração Y,
mas sim, períodos e datas aproximadas, o que não invalida a credibilidade dos estudos, uma vez
que não existem destoantes consideráveis em relação a essas datas. Os autores do artigo Juven-
tudes, Gerações e Trabalho: É Possível Falar em Geração Y no Brasil? (OLIVEIRA; PICCININI;
BITENCOURT, 2012), dizem que os jovens que integram a geração Y são nascidos a partir de
1978. Diferentemente, Filho (2011 apud OLIVEIRA, 2011, p. 13) diz que ela é formada por jovens
que nasceram a partir de 1983.
A geração Y tem rompido com a nitidez das fronteiras que separam a vida organizacional
da vida pessoal, pois tem aspirações que envolvem esses dois aspectos dentro de uma mesma
perspectiva de carreira com vistas à qualidade de vida.

Pode-se afirmar que a vida profissional invadiu a vida pessoal. Como conseqüência,
a expectativa dos profissionais também mudou e agora busca refletir a possibilidade
de equilibrar o trabalho com as demais dimensões pessoais dando importância à
qualidade de vida. (OLIVEIRA, 2012).

Assim sendo, “carreira de vida” parece fazer mais sentido para esta geração dinâmica e
menos hierarquizada. No que diz respeito à carreira, significa “(...) a sequência de posições e
atividades desenvolvidas por uma pessoa ao longo do tempo em uma organização” (CHIAVENTO,
2010, p.227).
Este modelo de carreira coloca em questão a experiência de trabalho da geração Y dentro
das organizações porque, segundo Michele (2012), essa geração está mais preocupada com o
crescimento pessoal do que com o crescimento da empresa. Assim sendo, galgar uma estabilidade
dentro de uma única empresa talvez não seja mais o atrativo principal. Todavia, há de se considerar
que a empresa que viabiliza um ambiente de trabalho agradável e possibilita o desenvolvimento
das habilidades de seus colaboradores, contemplando perspectivas de realização pessoal por meio
da carreira profissional, tende a ser mais bem sucedida na retenção de talentos da geração em
questão. Além disso, a empresa com essa premissa adequa-se com mais facilidade ao atual con-
texto de mercado de trabalho, minimizando o risco de tornar seu respectivo modelo de gestão ob-
soleto uma vez que, de acordo com Oliveira (2011), a geração Y já representa 45% do mercado de
trabalho no Brasil.
Ainda, de acordo com o autor, quanto às características que marcam tal geração, pode-se
salientar o domínio da tecnologia que surgiu nos últimos 20 anos e influenciou o sistema cognitivo
e, consequentemente, a comunicação da referida geração.

2.3 Motivação nas organizações

Oliveira (2011) define motivação como aquilo que é visto pela pessoa como algo recompen-
sador, o qual compreende a atenção, o pensamento e a ação.
Um determinado indivíduo pode ser mais motivado em determinado momento de sua vida
em relação a outros momentos. O que vai definir tal impulso motivacional é o objetivo pessoal ao
qual se almeja alcançar. Como o foco em questão é na situação de trabalho, pode-se definir como
objetivos organizacionais àqueles que demandam um elevado nível de esforço, condicionados à
necessidade de satisfazer necessidades individuais. (CHIAVENATO, 1999, p.592).
Um autor renomado, dentre outros, que se empenhou no estudo da motivação foi Abraham
Maslow. De acordo Maslow (1945), a motivação é norteada por uma hierarquia das necessidades,
sendo elas: necessidade fisiológica que são necessidades básicas de sobrevivência biológica; ne-
cessidade de segurança, a qual busca assegurar a estabilidade das pessoas; necessidade social,
em que amor, interação e relacionamento pessoal estão incluídos; necessidade de estima, a qual
contempla reconhecimento, prestígio, atenção e consideração e, por fim, a necessidade de autor-
realização que envolve crescimento pessoal e o alcance da plena potencialidade da pessoa. Sendo
esta última, o topo mais elevado de satisfação na hierarquia das necessidades. Essas necessidades
para Maslow são vivenciadas uma após a outra na medida em que vão sendo, progressivamente,
satisfeitas. (MASLOW apud CHIAVENATO, 1999, p.594).
Enveredar pelo caminho no qual se busca o entendimento da motivação dentro das organi-
zações abarca um viés psicológico que implica na subjetividade e singularidade de cada pessoa, de
cada colaborador, uma vez que motivação está condicionada à satisfação e realização pessoal.
Três estados psicológicos teriam, assim, um impacto importante na motivação e na satis-
fação de uma pessoa no seu trabalho: o sentido que uma pessoa encontra na função exercida, o
sentimento de responsabilidade que ela vivencia em relação aos resultados obtidos e o conheci-
mento de seu desempenho no trabalho. (MORIN, 2001).
Satisfação pessoal, sentido no trabalho e reconhecimento de desempenho vão ao encontro
do perfil da geração que trata o respectivo artigo. Contudo, Oliveira (2011) diz que a motivação
aliada aos padrões elevados de produtividade, além dos desafios encontrados anteriormente pelos
veteranos, não refletem a realidade dos profissionais mais jovens. Os mesmos são poupados de
encarar os desafios da empresa, o que pode provocar desmotivação e, consequentemente, um
menor comprometimento com a organização.
Ainda, segundo o autor citado, a expectativa dos jovens profissionais quanto à fidelidade
corporativa é evidenciada em algumas pesquisas da seguinte forma, caso recebessem uma pro-
posta de outra empresa: “61% ouviria a proposta e se fosse interessante trocaria de emprego; 36%
ouviria a nova proposta, mesmo sabendo que não trocaria de empresa; 2% não ouviria a nova pro-
posta” (OLIVEIRA, 2011). Observa-se que é ínfimo o percentual daqueles que têm como motivação
principal a permanência em uma determinada empresa, entendida por colaboradores veteranos
como um comportamento de fidelidade à mesma. Inovação, busca constante de crescimento, de
novas aprendizagens e realizações parece ser a reposta mais plausível quanto às expectativa e
necessidades desta geração Y.

2.4 Contextualização da empresa

A Unimed é uma Cooperativa de Trabalho que atua no setor de saúde suplementar como op-
eradora de plano de saúde. Trata-se de um sistema formado por cooperativas de trabalho, compos-
tas por grupos de médicos que se associam, com objetivo de administrar contratos de prestação
de saúde suplementar a usuários, atuar na geração de trabalho para os cooperados e defender e
proteger os interesses da classe.
A Unimed Divinópolis/MG é uma cooperativa singular que atua no setor de saúde suplemen-
tar, como operadora de plano de saúde, e está registrada na Agência Nacional de Saúde (ANS) sob
o número 31.912-1. Tem como associados médicos que trabalham em cidades da área de atuação.
Segundo dados pesquisados no site da empresa, a cooperativa foi fundada em 22 de outubro de
1987, atualmente está entre as quatro maiores Unimeds de Minas Gerais e é a maior operadora de
plano de saúde da região de centro-oeste de Minas Gerais, tanto em rede de atendimento, quanto
em número de usuários.
Na respectiva empresa há um total de 195 colaboradores até julho de 2013. Contemplou-se
no artigo os funcionários nascidos a partir da década de 90, que totalizam 13 participantes e repre-
sentam 6,6% do número total, conforme descrito na tabela 1.
Os colaboradores participantes da pesquisa foram admitidos no período de março de 2011 a
julho de 2013. Conforme outros dados colhidos no setor de Departamento Pessoal, nesse mesmo
período a empresa realizou o total de 48 admissões. Desse número, 06 foram pessoas nascidas
na década de 70; 26 nascidas na década de 80; e 16 na década de 90. Dessas, 03 já saíram da
empresa, portanto, foram 13 os participantes da pesquisa.
Diante da imprecisão quanto ao período em que se possa definir a geração Y, os pesquisa-
dores, na busca de uma confecção acurada do artigo em questão, contemplaram os colaboradores
da respectiva empresa nascidos a partir de 1990, data que está em consonância com o conceito de
todos os autores citados, buscando, assim, contribuir de forma fidedigna à comunidade acadêmi-
ca e ao mercado de trabalho. Partiu-se das hipóteses de que os maiores interesses dos jovens
pesquisados seriam: oportunidade de fazer carreira em uma empresa bem conceituada; salários
oferecidos pela empresa; satisfação gerada pela atividade exercida no trabalho; busca constante
de novos desafios profissionais.
Outro dado sobre a empresa pode ser verificado na tabela 2, a qual diz respeito ao tempo
de serviço de seus colaboradores. Tal informação é importante uma vez que a pesquisa se refere
à possibilidade de seus funcionários, aqueles considerados da geração Y, seguirem carreira na
mesma. Os participantes da pesquisa estão entre os 44,1% dos colaboradores que trabalham na
empresa há no máximo 03 anos. Já 39,4% dos colaboradores trabalham de 04 a 10 anos. De 11 a
15 anos a porcentagem de colaboradores é de 8,2%, que também é a porcentagem de colabora-
dores que trabalham há mais de 15 anos na Unimed Divinópolis/MG.

Diante de tais dados, buscou-se explicitar as perspectivas de carreira da geração Y que atua
na Unimed Divinópolis/MG, bem como compreender suas principais demandas e analisar quais os
fatores mais importantes para motivá-los a permanecerem na empresa.

2.5 Pesquisa

Os colaboradores participaram de um levantamento de dados por meio de pesquisa quali-


tativa, uma vez que responderam a uma entrevista semiaberta. Os 13 participantes aderiram à
pesquisa de maneira voluntária e ficaram cientes de que o artigo teria como objetivo contribuir para
a comunidade acadêmica e ao mercado de trabalho. Os pesquisadores informaram que não se
esperavam quaisquer efeitos que pudessem acarretar algum tipo de transtorno à empresa Unimed
Divinópolis/MG, tampouco aos colaboradores que foram submetidos à mesma. Os participantes
assinaram um termo com tais declarações, bem como a Gerente Executiva assinou uma declaração
permitindo que os pesquisadores realizassem a presente pesquisa, conforme o Anexo 1.
Dessa forma, os pesquisadores entregaram um questionário para cada participante, solic-
itando que o preenchesse da maneira mais sincera possível, não se preocupando com os efeitos
que suas respostas pudessem provocar. No momento da entrega dos questionários, os pesquisa-
dores preencheram uma ficha contendo os dados pessoais dos participantes. As fichas e os ques-
tionários estão no Anexo 2 do presente artigo.
O tempo médio de devolução dos questionários foi de 15 dias. O perfil dos pesquisados foi
o seguinte: 09 homens e 04 mulheres; faixa etária entre 17 e 22 anos; todos solteiros; apenas um
participante com filho; escolaridade variando entre ensino médio em curso, ensino médio completo
e ensino superior em curso; atuação em setores variados da empresa.
O questionário continha quatro perguntas, que se referiam aos seguintes aspectos:

1ª- Os motivos que levaram os colaboradores a procurar uma vaga de trabalho na Unimed Di-
vinópolis/MG;
2ª- Os aspectos que os fazem permanecer trabalhando na empresa;
3ª- Os motivos que os levariam a desligar-se da Unimed Divinópolis/MG;
4ª- Se acreditam que podem conseguir atingir satisfação pessoal em sua atividade profissional
atual e/ou futura.
Nas duas primeiras questões, havia alternativas nas quais os participantes deveriam dis-
tribuir 100%, de acordo com os valores que atribuíam a cada uma delas e, posteriormente, deve-
riam justificar os aspectos que colocaram a menor e a maior porcentagem. Na terceira questão, os
participantes deveriam marcar de uma a duas opções para os aspectos que os levariam a sair da
empresa. A última questão, referente à satisfação pessoal no trabalho, era aberta e os colabora-
dores deveriam explicar sua resposta.

3 - CONCLUSÕES

A partir da análise dos dados colhidos através dos questionários, verificou-se que algumas
hipóteses, inicialmente estabelecidas, foram refutadas e outras confirmadas.
No que diz respeito aos motivos que levaram os referidos jovens a procurar uma vaga de
trabalho na Unimed Divinópolis/MG, a alternativa mais marcada foi a oportunidade de ingressar em
uma empresa bem conceituada e em seguida a oportunidade de aprendizagem profissional. Essa
última confirma a colocação do autor Veloso (2012) citado no decorrer do artigo ao afirmar que o
aprendizado é fator de motivação e otimismo para a geração Y. Na mesma questão, uma das alter-
nativas era a oportunidade de vencer o desafio do primeiro emprego. Tal resposta recebeu a menor
porcentagem entre os participantes, o que denota que os mesmos iniciaram suas atividades profis-
sionais antes de trabalharem na Unimed Divinópolis/MG. A alternativa que se referia ao salário e
aos benefícios oferecidos pela empresa também não recebeu a maior parte da porcentagem. Tal
constatação vai ao encontro da teoria de Mandelli (2011) ao dizer que ganhar dinheiro não é mais
o foco principal das pessoas que ingressam no mercado de trabalho.
Quanto aos motivos que levam os jovens a permanecer na empresa, observou-se que as
alternativas referentes aos salários e benefícios oferecidos e, também, a satisfação gerada pela
atividade exercida no trabalho foram as que receberam menor porcentagem por parte dos colabora-
dores. Verifica-se, então, que essas duas hipóteses foram negadas. Outras alternativas presentes
na questão se referiam ao ambiente de trabalho e ao relacionamento com os colegas e superiores.
Essas também receberam baixa porcentagem. É relevante ressaltar que, como diz Michele (2012),
o contexto histórico não pode ser negligenciado ao abordar conceitos e perspectivas sobre as ger-
ações. Existem variáveis sócio-culturais que devem ser levadas em consideração, posto isso, nota-
se, no atual artigo, que a autora acima citada aborda a importância de um ambiente de trabalho
agradável, no entanto não se confirma tal assertiva como prioridade dos colaboradores da geração
Y da Unimed Divinópolis/MG.
Ainda na mesma questão, a alternativa que recebeu maior porcentagem entre os partici-
pantes diz respeito à oportunidade de fazer carreira em uma empresa bem conceituada, portanto
essa hipótese foi confirmada. Como a oportunidade de ingressar em uma empresa bem conceitu-
ada também foi a escolha mais contemplada pelos jovens ao responderem a primeira questão do
questionário, pode-se inferir que a conceituação das empresas influencia na perspectiva de car-
reira dos jovens da geração Y da empresa estudada. Nas justificativas das questões 01 e 02, os
pesquisados enfatizaram que vislumbram uma carreira dentro da Unimed Divinópolis/MG uma vez
que a consideram uma empresa de renome no mercado de trabalho. Para eles, tal consideração
é fator determinante para possibilitar com que alcancem crescimento profissional e pessoal. Como
diz Cortella e Mandelli (1990), a partir de 1990 a riqueza fica em segundo plano em relação a outros
fatores de motivação como, por exemplo, a busca de segurança das pessoas que ingressam no
mercado de trabalho.
Na questão referente aos aspectos que levariam os participantes a saírem da Unimed Di-
vinópolis/MG, a alternativa mais considerada foi a busca de novos conhecimentos e desafios. Ol-
iveira (2011) chama a atenção desta característica dos jovens da geração Y, que geralmente esta-
belecem um prazo irreal em relação à ascensão de carreira e ressalta o risco da ansiedade extrema
como resultado desta estratégia. Ainda segundo o autor, os veteranos costumam evitar que esses
jovens enfrentem os desafios da empresa, e esse fator pode provocar a desmotivação dos mes-
mos no trabalho. Diante disso, a hipótese que diz respeito à constante busca de novos desafios
profissionais por parte desses jovens foi ratificada. Nas justificativas, os participantes ressaltaram
que somente sairiam da empresa caso houvesse a oportunidade de atuar em áreas que estão rela-
cionadas com as respectivas formações acadêmicas as quais estão cursando ou pretendem cursar,
se não fosse possível exercê-las na Unimed Divinópolis/MG.
Observou-se, ainda, que houve três alternativas que se destacam quanto à opção dos par-
ticipantes em relação a tal questão, são as seguintes: possibilidade de abrir uma empresa própria;
receber melhores salários e benefícios; oportunidade de exercer atividade que lhe cause maior
motivação. A alternativa que dizia respeito à possibilidade de ter maior autonomia nas atividades
exercidas recebeu poucas marcações e a possibilidade de maior reconhecimento no trabalho não
foi escolhida pelos participantes.
Quando questionados se acreditam poder conseguir atingir satisfação pessoal em sua ativi-
dade profissional atual e/ou futura, os jovens participantes responderam que se consideram sat-
isfeitos realizando as tarefas executadas atualmente no trabalho. Com a exceção de dois colabo-
radores, os quais afirmaram que os projetos que têm para o futuro são diferentes das atividades
exercidas atualmente, portanto, não se consideram satisfeitos.

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VELOSO, Elza Fátima Rosa; SILVA, Rodrigo Cunha da; DUTRA, Joel Souza. Diferentes gerações
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2013.
A influência da Lei Complementar nº 123/2006 na participação das micro e peque-
nas empresas nas compras governamentais do Sisema-ASF.

Bruna Silva Chaves


Jonas Lúcio dos Santos1
Renata Alves Fernandes2
Roberto Franklin de Souza

RESUMO

Sabe-se que é significativo o valor anual despendido pelos governos nas aquisições de produtos
e serviços para alcance de seus objetivos e que uma das finalidades da Lei Complementar Nº
123/2006 foi promover o acesso das micro e pequenas empresas a essa parcela de mercado. O
presente artigo visa verificar a influência da Lei Geral na participação dessas empresas nas com-
pras governamentais do Sisema-ASF. Primeiro foi feita uma pesquisa às bibliografias para uma
breve caracterização do tema, contando posteriormente com uma pesquisa realizada junto a esse
público. Após análise chegou-se a conclusão que é perceptível a capacidade da Lei Complementar
Nº 123/2006 de atuar nas distorções do mercado, porém há ocorrência de fatores que podem ter
comprometido sua eficácia.

PALAVRAS-CHAVE: Micro Empresas, Empresas de Pequeno Porte, Lei Complementar Nº 123/2006,


Compras governamentais.

ABSTRACT

It is known that there is a significant annual amount spent by governments on purchases of prod-
ucts and services to achieve their objectives and that one of the purposes of Complementary Law
no. 123/2006 was to promote the access of micro and small enterprises to this market share. This
article aims to investigate the influence of the General Law on participation of these companies in
government purchases SISEMA-ASF. First the research bibliographies for a brief description of the
subject was taken, later telling with a survey of the public. After analysis the conclusion is noticeable
that the ability of Complementary Law No. 123/2006 of acting in the market distortions come up, but
there is occurrence of factors that may have compromised their effectiveness.

KEYWORDS: Micro Enterprises and Small Businesses, Complementary Law no. 123/2006, govern-
ment purchases.

1 INTRODUÇÃO
Professor da FACED, Pós-graduado em direito público, Procurador geral e doutorando pela Univer-
sidade Católica de Santa Fé. E-mail: proger@camaradiv.mg.gov.br
Em 14 de Dezembro de 2006, foi promulgada a Lei Complementar nº 123, conhecida como
Lei Geral da Micro e Pequena Empresa; ela estabelece normas gerais relativas ao tratamento
diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte no
âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. No que se refere
a acesso de mercados, embora haja por parte de alguns juristas questionamentos de Constitucion-
alidade, a Lei Geral traz em seu Capítulo V inovações no que envolve as compras governamentais
1 Alunos(a) do curso de administração da FACED.
2 Professor da FACED, Pós-graduado em direito público, Procurador geral e doutorando pela Universidade Católica de
Santa Fé. E-mail: proger@camaradiv.mg.gov.br
(aquisições públicas).
O acesso das micro e pequenas empresas ao mundo das compras governamentais é a
base para a instalação de um ciclo virtuoso na economia, pois segundo o SEBRAE (2005, p.5),
elas representam 99% do número total de empresas no país, tendo a participação de apenas 15%
nas compras governamentais; percentual baixíssimo se comparado ao volume desse mercado, na
ordem de 03 bilhões, considerando apenas os pregões eletrônicos. As microempresas e empresas
de pequeno porte brasileiras representam quase 70% do pessoal ocupado em todo o país e geram
20% do PIB.
Todavia, sabe-se que a aplicação das normas pode trazer implicações às práticas diversas,
tornando-se necessário verificar as mudanças trazidas pela Lei Geral nas licitações. Sendo assim,
a problemática desta pesquisa partiu sobre a seguinte indagação: Como a Lei Complementar nº
123/2006 influencia na participação das ME´s e EPP´s nas compras governamentais do Sisema-
ASF?
O objetivo desse estudo consistiu em verificar a influência da Lei Complementar n° 123/2006
na participação das micro e pequenas empresas nas compras governamentais do Sistema Es-
tadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Alto São Francisco (Sisema-ASF).
O estudo em questão se mostra relevante diante do ponto de vista econômico, social e
acadêmico, pois as leis influenciam diretamente a economia nacional, regional e local. Desperta
também o interesse do empresário, juntamente com o papel que o administrador exerce diante de
tais regras.

2 AS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE

De acordo com Ramos (2013, p. 778), para os efeitos da Lei Complementar Nº 123/2006,
são consideradas microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a socie-
dade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e também o empresário a que se
refere o art. 966 da Lei n.o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados
no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso;
desde que, na ocasião de microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou
inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais), e em caso de empresa de pequeno porte,
aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil
reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). O gráfico 1 apre-
senta dados de 2005, referente às micro e pequenas no Brasil.

Percebe-se que apesar de representar quase 99% das empresas brasileiras, e ocuparem
mais de dois terços da mão de obra formal, as micro e pequenas empresas tem a participação de
apenas 20% do PIB nacional. Assim intervenções do governo nesse setor não têm caráter assist-
encialista, mas mostram-se uma questão de cunho econômico e também social.

3 COMPRAS GOVERNAMENTAIS

Segundo Araújo e Gomes (2010, p.6), no sentido jurídico amplo compras são definidas como
as aquisições de coisa, corpórea ou incorpórea a qual por ela se paga o preço ajustado em dinheiro
ou valor equivalente, à vista ou a prazo. No universo das compras governamentais esta definição
adquire características que lhe são próprias, pois é entendido que o gestor da coisa pública admin-
istra bens e interesses que não lhe pertencem, mas, sim, a comunidade. Por esta razão, quando
há necessidade em comprar, contratar serviços, enfim, para realizar qualquer tarefa que envolva
terceiros em favor de órgãos públicos, existe a obrigatoriedade em travar relacionamentos de inter-
esse mútuo, para aquisição do bem ou serviço.
De acordo com a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Estado de Minas
Gerais, SEPLAG (2008, p.12), o termo compras governamentais é utilizado enquanto sinônimo
de aquisições públicas realizadas pelos diversos entes públicos na execução de suas atividades.
Estas compras podem ser realizadas por meio de licitações, dispensas ou inexigibilidade de lici-
tação.
No Brasil o administrador público possui um sistema funcional, decretado em leis, que lhe
permite comprar ou contratar, na maioria das vezes somente através de licitação, sendo essa o
meio necessário para alcance do objetivo final, qual seja a aquisição ou contratação. A licitação
como regra para essas contratações foi imposta de modo imperioso pela Lei Nº 8.666 de 1993:

Art. 2o As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, con-


cessões, permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com
terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses
previstas nesta Lei. (BRASIL,1993)

A observância do administrador público a esta regra é explicada por Gonçalves, (1999,


p.301), “diferentemente do indivíduo, que é livre para agir, podendo fazer tudo o que a lei não
proíbe, a administração somente poderá fazer o que a lei manda ou permite”. A Lei 8666/93, em
seu art. 3º, também trouxe o conceito de licitação:

A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia


e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e
julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impes-
soalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa,
da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes
são correlatos. (BRASIL,1993).

Denotando grande interesse dos legisladores quanto à garantia do desenvolvimento do país,


através da Lei nº 12.349 de 15 de Dezembro de 2010 a redação do art. 3º da Lei 8666/93 foi al-
terada, ampliando as finalidades da licitação. Segundo Justin Filho (apud Barbosa 2011, p.10),
essa modificação afeta o modo de aplicação do princípio da isonomia e modifica a avaliação da
vantajosidade das propostas. Nota-se então a garantia do desenvolvimento sustentável atribuída a
finalidade da licitação.
De acordo com a Lei n.º 8.666/93, está previsto, no seu art. 22, cinco modalidades de lici-
tação, sendo estas a concorrência, a tomada de preços, o convite, o concurso e o leilão. Essas
modalidades têm características próprias, destinando-se a determinados tipos de contratação.
De acordo com o SEBRAE (2010, p.1), a licitação é o gênero, da qual as modalidades são as es-
pécies, de forma, que seja possível aplicar a essas espécies os preceitos genéricos da licitação,
enquanto os específicos regem cada modalidade em particular.
Para Peixoto (2001, p.2), não há dúvida que concorrência, tomada de preços e o convite se-
jam as mais importantes. Geralmente dependem do valor que a Administração presume gastar em
relação à jurídica sucedânea, ou seja, os patamares de valor estabelecidos em lei corresponderão
às diferentes modalidades. Obriga-se a utilização da concorrência para o caso de valores mais el-
evados. A tomada de preços e o leilão são previstos para negócios de vulto médio, enquanto o con-
vite é destinado a negócios economicamente menos significantes. Segundo Peixoto (2001, p.2), há
previsões em lei para que a Administração possa optar pela modalidade de valor mais elevado, ao
invés da correspondente ao respectivo patamar de valor, sendo vedada, contudo, a utilização de
modalidade correspondente a valor inferior.
Com exceção do convite, cuja divulgação é feita por carta ou fixação em local apropriado,
todas as espécies licitatórias dependem de publicação de aviso, contendo um resumo do edital com
indicação do local onde os interessados podem obter o texto completo e todas as informações en-
volvendo o certame. Há ainda o intervalo de prazos mínimos entre a divulgação e a apresentação
das propostas ou a realização do evento, na Lei 8666/93; que variam de acordo a modalidade ado-
tada para o certame e representam o mínimo a ser respeitado pela Administração.
A Medida Provisória n.º 2.026, editada em 04 de maio de 2000 e regulamentada pelo De-
creto n.º 3.555, de 08 de agosto de 2000, instituiu no âmbito da Administração Federal, uma nova
modalidade de licitação, o pregão, destinado à aquisição de bens e serviços comuns, qualquer que
seja o valor da contratação; em que a disputa pelo fornecimento é feita por meio de propostas e
lances em sessão pública.
De acordo com o CRCRS (2012, p. 37), está previsto na Lei n.º 8.666/93 que em certas
ocasiões, a administração pública poderá admitir a contratação direta, ou seja, sem licitação, desde
que fundamentada a necessidade. Com tudo essas ocasiões são exceções e caracterizam-se pela
dispensa de licitação, nos casos em que a lei autoriza a compra direta, e a inexigibilidade de lici-
tação, quando não há competitividade em relação ao objeto licitado.

A diferença entre as situações de dispensa e inexigibilidade reside no fato de que,


na primeira, haveria a possibilidade de competição entre os possíveis interessados,
o que torna possível a realização de licitação. Na segunda, na inexigibilidade, ao
contrário, não haveria competição, isso porque só existe um objeto ou uma pes-
soa que atenda às necessidades da Administração; a licitação, portanto, é inviável.
(FURTADO, 2007, p. 67)

4. A LEI COMPLEMENTAR Nº 123 DE 14 DE DEZEMBRO DE 2006

Em 14 de dezembro de 2006, foi promulgada a Lei Complementar Federal nº. 123, também
conhecida como Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, ela estabelece um tratamento diferen-
ciado, simplificado e favorecido aos pequenos negócios. Segundo a SEPLAG/MG (2008, p.5), o ob-
jetivo dessa norma é unificar a regulamentação das atividades de micro e pequenos empresários.
Ela almeja simplificar: a formalização de empresas; o pagamento de tributos; a obtenção de crédito;
e o acesso à tecnologia, às exportações, e às vendas ao governo.
De acordo com o artigo 3º da Lei Complementar nº 123/2006 e suas posteriores alterações
são consideradas microempresas (ME) ou empresas de pequeno porte (EPP), a sociedade em-
presária, a sociedade simples e o empresário individual, devidamente registrado na Junta Com-
ercial do Estado ou no Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas, conforme o caso; desde que
aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$360.000,00 no caso de microem-
presa ou aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior
a R$ 3.600.000,00 no caso de empresa de pequeno porte.
A Lei 11.488 de 15 de junho de 2007 equiparou as Cooperativas às Empresas de Pequeno
Porte para fins licitatórios desde que verificado o limites definido no inciso II do caput do artigo 3º
da referida lei complementar, nela incluídos os atos cooperados e não cooperados. Assim, do
ponto de vista dos contratados, são destinatários do tratamento diferenciado e favorecido previsto
na Lei Complementar Nº 123/2006, as microempresas, as empresas de pequeno porte e as coop-
erativas.
Conforme determinação da Lei Geral, todos os entes federados (Municípios, Estados, Dis-
trito Federal e União) devem regulamentar em âmbito local o conteúdo do seu Capítulo V, artigos
42 a 49, de forma a dar tratamento diferenciado e favorecido às Micro empresas e Empresas de
Pequeno porte nas compras públicas.
Entre as vantagens advindas pela criação da Lei Geral em relação às compras governamen-
tais destaca-se:
• Possibilidade da ME e EPP participar de licitações ainda que apresente pendências fiscais e
comprovar a regularidade fiscal apenas no momento da assinatura do contrato (art. 42 e 43);
• A preferência de contratação por ME e EPP se tornou um critério de desempate das lici-
tações (art. 44 e 45);
• A possibilidade de participação exclusiva de ME e EPP em licitações que não tenham valor
estimado superior a R$ 80.000,00 ( art. 47 e 48);
• Exigência aos licitantes para subcontratar ME ou EPP, desde que o percentual máximo do
objeto a ser contratado não exceda a 30% do total licitado (art. 47 e 48);
• Estabelecer cota de até 25% do objeto da licitação para contratação de ME e EPP, em cer-
tames para aquisição de bens e serviços de natureza divisível. (art. 47 e 48)
De acordo com Ramos (2013 p.794), a regularidade fiscal das microempresas e empresas
de pequeno porte somente será exigida para efeito de assinatura do contrato conforme previsto no
art. 42 da Lei Geral. Já o art. 43 dessa mesma Lei, determina que essas empresas por ocasião da
participação em certames licitatórios, deverão apresentar toda a documentação exigida para efeito
de regularidade fiscal, mesmo havendo alguma restrição.
No art. 44 da Lei Geral está previsto, segundo Ramos (2013, p. 795), que nas licitações será
assegurada, como critério de desempate, preferência de contratação para as microempresas e em-
presas de pequeno porte. Segundo o autor a norma em questão se mostrou bastante inovadora.
Em síntese do art. 44 da Lei Geral, a preferência dada refere-se considerar empatadas, ao
final da disputa, as propostas de ME ou EPP que sejam superiores à melhor oferta, até os limites
percentuais previstos na Lei sendo estes 5% na modalidade de pregão e 10% nas demais modali-
dades de licitação. Hipótese a qual a ME ou EPP mais bem classificada terá a oportunidade de
apresentar novo preço, para cobrir a melhor oferta, vencendo, assim, a licitação.
O art. 46 ao qual prevê a criação de uma nota de crédito micro-empresarial em favor da ME
ou EPP caso não haja o pagamento do empenho em até 30 dias após sua liquidação. Segundo
Ramos (2013, p. 797), ocorre que a Lei Geral não especificou as regras jurídicas aplicáveis a este
título de crédito especial, somente determinado que o mesmo fosse regulamentado no prazo de
180 contados a partir da publicação da lei e a ele, subsidiariamente, sejam aplicadas as normas
que regulam as cédulas de crédito comercial. Contudo vale ressaltar que não houve esta regulam-
entação no prazo determinado pela lei, assim tornando seus efeitos inválidos.
Conforme explica Ramos (2013, p.797) o art. 47 impõe a necessidade de criação de lei es-
pecífica no âmbito do ente federado, para implantação das licitações diferenciadas com finalidade
clara de promover o desenvolvimento econômico e social do município ou região ou aumentar a
eficiência das políticas públicas ou ainda incentivar a inovação tecnológica. O Art. 48 registra as
diferenciações possíveis ao ente federado (União, Estados, Distrito Federal e municípios) para
cumprimento do art. 47. Já o art. 49 prevê apenas os casos em que os art. 47 e 48 não serão apli-
cados.

5 METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste estudo foi dividida em dois momentos: inicialmente foram ap-
resentadas publicações e legislações envolvidas ao tema; e posteriormente feito um estudo descri-
tivo, cujo principal instrumento de pesquisa foi um questionário estruturado, aplicado junto às micro
e pequenas empresas fornecedoras do Sisema-ASF entre janeiro de 2012 e julho de 2013. Sua
finalidade foi conhecer as opiniões e percepções das micro e pequenas empresas fornecedoras
deste órgão quanto a Lei Complementar nº 123/2006, para entendimento de sua influência nas
compras governamentais e contratações de serviços públicos.

5.1 Um estudo das Compras Governamentais no Sisema-ASF

Situado em Divinópolis, o Sisema-ASF é um conjunto de órgãos ambientais da esfera estad-


ual. Em atendimento ao Decreto 5.749 de 05 de outubro de 2011; o Sisema-ASF efetuou todas as
suas aquisições e contratações de serviços de 2012 a 2013, com participação exclusiva de micro
e pequenas empresas em seus certames, (com exceção das adesões a registros de preço); tendo
em vista que os valores estimados eram inferiores R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).
A seleção da população foi dada pela acessibilidade, pois de acordo com Vergara (2006,
p.51), dispensando o uso de procedimentos estatísticos, um critério de seleção que pode ser utili-
zado é a facilidade de acesso.
Selecionadas aleatoriamente o questionário foi encaminhado via e-mail a 37 fornecedores,
sendo respondido por 22 empresas, aos quais após tabulados foram analisados.

5.2 Análise dos resultados

Quando questionados sob seus cargos 45,45% dos entrevistados informaram ser empresári-
os, 36,36% se disseram administrador geral, diretores 9,09%, “outros” não claramente informado
apenas 9,09%. Ao perceber que mais de 90% dos entrevistados desenvolvem cargo de chefia
dentro de suas organizações, confere a esta pesquisa uma maior fidedignidade das informações
obtidas. Outros dados obtidos em relação ao perfil dos pesquisados é que a maior parte é do sexo
masculino (54,55%). Em sua maioria, (90,91%), têm entre 26 e 55 anos e possuem um grau de
instrução acima da média nacional, mais de 90% dos entrevistados disseram possuir curso supe-
rior.
Quanto ao tempo de existência das empresas, 36,36% informaram terem sido criadas há
mais de 15 anos; seguido do mesmo percentual que relatou ter entre 06 e 10 de atuação e 27,27%
que comunicaram à pesquisa possuem 01 a 05 anos de existência. Esses dados apontam ter o
Sisema-ASF uma cadeia de fornecedores madura, e em sua maioria atuante no ramo do comércio
(72,73%); 18,18% são prestadoras de serviços e 9,09% na construção civil.
As empresas fornecedoras do Sisema-ASF entrevistadas estão, em sua maioria, localizadas
na capital do estado de MG ou região metropolitana, (cerca de 55%), pouco mais de 36% são lo-
cais e o restante 18,18% são do interior do estado. Dados tanto curiosos, uma vez que as compras
eletrônicas permitem a participação de empresas de todo o país.
Quando foram questionadas sobre o interesse em fazer novas vendas ao setor público,
72,73% dos pesquisados informaram ter alto interesse, seguidos de 18,18% que relataram dedicar-
se ou pretendem dedicar-se exclusivamente a vender a órgãos públicos; o que acaba condizendo
com suas satisfações de negócios com esse setor, 90,91% se mostraram satisfeitos e até mesmo
muito satisfeitos com essas negociações. Houve relatos de insatisfações por apenas 9,09% dos
entrevistados, os quais acrescentaram que estas carecem de muitas melhorias, como clareza dos
procedimentos e maior agilidade.
Quanto aos seus conhecimentos sobre vendas públicas, 100% dos entrevistados revelou
conhecer os órgãos públicos que adquirem seus produtos/serviços, os quais em sua maioria bus-
cam informações nos sites de compras dos Governos, carta convite ou ainda são convidados a
participar e recebem informações dos entes públicos.
O canal preferido deste grupo para recebimento das informações é o e-mail (81,82%). Entre
os participantes da pesquisa, 72,73% buscam atualizar constantemente sobre licitações; 9,09% de-
têm departamento ou pessoal exclusivo para informações sobre licitações; e apenas 18,18% infor-
maram que somente às vezes procuram informações sobre licitações; razão pela qual talvez expli-
que o fato de 100% dos entrevistados terem revelado possuir conhecimento das regras para vender
ao setor público. Porém estes dados conflitam com outros dados do estudo, os quais demonstram
que mais de 90% dos entrevistados informaram ter conhecimento apenas superficial dos benefícios
concedidos às micro e pequenas empresas nas compras públicas; e o restante diz ignorá-los.

O gráfico 2 reflete certa complexidade no entendimento da Lei Geral apesar da busca con-
stante sobre informações pelos fornecedores do Sisema-ASF. Quanto às motivações para negociar
com o setor público, a garantia do pagamento e ter o setor público como mais uma alternativa de
mercado foram citados por 54,45% dos entrevistados, acompanhado pela localização com 18,18 %
e a possibilidade de vendas em grande volume 9,91%.
A importância da garantia de pagamento volta a ser percebida ao analisar o motivo do receio
ou restrição de negociar com órgãos públicos, apontado por quase dois terços dos entrevistados.
Ressalta-se que de forma unânime as restrições e receios desse grupo foram atribuídos às nego-
ciações com prefeituras, mais de 85% informaram estar ligado a atrasos e demoras no pagamento;
destaca-se ainda o fato de 57,14% dos entrevistados, terem citado também a burocracia como
restrição dos negócios com estes órgãos. A razão disso pode estar relacionada ao fato da maioria
das prefeituras ainda não ter efetivado a implantação da Lei Geral, pois segundo a Fecomércio/
MG (2013, p.1) apenas 100 das 576 cidades mineiras com Lei Geral aprovada, tem-na realmente
implantada.

Outra observação importante ligada à garantia de pagamento e rapidez no pagamento, apon-


tados por quase um terço dos entrevistados como fator para se sentir motivado a vender ao setor
público; leva a questionar se a Lei Complementar nº 123/2006 não teve sua eficácia comprometida
pela não regulamentação de seu art. 46, ao qual previa a criação de uma nota de crédito micro-
empresarial em favor da micro ou pequena empresa caso não houvesse o pagamento do empenho
em até 30 dias após sua liquidação.

6 CONCLUSÃO

Há claras evidências de que Lei Complementar Nº 123/2006, e que ela possui uma capaci-
dade extraordinária de influenciar a participação das micro e pequenas nas licitações, visto que to-
das as contratações com exceção das por registro preços realizadas pelo Sisema-ASF foram feitas
com essas empresas.
É percebido pelo grupo que o órgãos públicos conhecem mais do que as ME´s e EPP´s
sobre os benefícios da Lei Complementar, talvez pela própria exigência dos atos administrativos.
Desse modo para que a Lei Complementar nº 123/2006 tenha plena eficácia é necessário que o
gestor público entenda seu valor e estenda esse entendimento ao empresariado local. Acredita-se
que caso haja melhor divulgação e esclarecimentos dessa lei ocorra uma maior efetividade de seus
benefícios, pois é visto que apesar dos participantes da pesquisa buscarem se atualizar constante-
mente sobre as licitações não conhecem muito bem os benefícios da Lei Geral. As parcerias entre
entes públicos e órgãos de apoio como os do Sistema S e federações da indústria e comércio po-
dem se mostrar excelentes veículos de divulgação da Lei Geral e seus benefícios.
Outro dado que se destaca, leva a pensar se a eficácia da Lei Complementar Nº 123/2006
não foi comprometida pela não regulamentação da carta de crédito prevista em seu art. 46, visto
que a garantia de pagamento e não morosidade de pagamento está perceptivelmente ligada a mo-
tivação das micro empresas e empresas de pequeno porte para negociar com esse setor. Percebe-
se que apesar dos rigores da Lei de Responsabilidade Fiscal que impõe diversas penalidades à
gestão pública inadimplente, a fama de “mal pagador”, adquirida pelo governo em décadas pas-
sadas ainda persiste no meio empresarial refletindo em seus negócios.
Revelou-se ainda que as restrições de vendas às prefeituras, apontadas pelo entrevistado
pode estar relacionada ao fato delas não terem efetivamente instalado a Lei Complementar Nº
123/2006 em seus municípios conforme informe do Fecomércio/ MG, carecendo um estudo mais
profundo dessa causa.

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IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DE IMPORTÂNCIA PARA A IMPLEMENTAÇÃO
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Jocilaine Lourdes Rodrigues1


Glênia Gabrielle de Oliveira Resende
Agilson Emerson da Silva2
Jurandir Marques Silva Júnior3

RESUMO

A Auditoria Interna, após a segunda metade do século XX, passou a ser um instrumento de extrema
importância no contexto empresarial, por meio de suas ações nas principais cinco modalidades
que se aplica. Este ramo da Auditoria é detentora de importante componente ao administrativo do
corpo empresarial, com a finalidade clara de identificar nos processos internos da empresa, quais
as ações que devem ser mantenedoras e norteadores de possibilidades de crescimento e melhor
atendimento ao consumidor final a que se destina a ação mercadológica. Nesta ação, se perce-
berá neste estudo que ocorre a constante averiguação dos processos que perpassam as etapas
que cada empresa, em suas particularidades submete-se para seu êxito empresarial. Assim, este
presente artigo, sob o título “Identificação dos fatores de Importância para a implementação da Au-
ditoria Interna na micro e pequena empresa”, trata neste viés como as pequenas e microempresas
são o foco da Auditoria Interna, no objetivo de melhor elucidar as contribuições que esta pode con-
tribuir ao mercado empresarial na contemporaneidade. O trabalho metodológico foi desenvolvido
por meio de pesquisa bibliográfica, na sistemática análise de artigos e textos que evidenciam o
campo do estudo contábil.

Palavras-chave: Auditoria Interna; microempresa; pequena empresa; gestão empresarial.

ABSTRACT

Internal Audit, after the second half of the twentieth century, it became an instrument of extreme
importance in the enterprise context, through their actions in five main modalities that apply. This
branch of Audit holds important component to the administrative body corporate, with the clear pur-
pose of identifying the internal processes of the company, what actions should be sustaining and
guiding the growth opportunities and better customer service end of the intended the market action
. In this action, it will be found in this study that occurs constantly investigate the processes that
underlie the steps that each business in their particular subjects to your business success. Thus,
this present article, entitled “Identification of factors of importance for the implementation of internal
audit in the micro and small enterprise”, this bias is as small and micro enterprises are the focus of
Internal Audit, in order to better elucidate the contributions that can contribute to the business mar-
ket nowadays. The methodological work was developed through literature review, the systematic
analysis of articles and texts that show the field of study accounting.

Keywords: Internal Audit; microenterprise; small business; business management.

1 Pós-graduadas em Gestão Contábil, Auditoria e Controladoria FACED - IPPEX.


2 Professor Ms. e Orientador do curso de Pós-graduação em Gestão Contábil, Auditoria e Controladoria – FACED- IP-
PEX.
3 Coordenador do curso de Pós-graduação em Gestão Contábil, Auditoria e Controladoria – FACED-IPPEX.
INTRODUÇÃO

A importância do trabalho de auditoria interna nas micro e pequenas empresas é um assunto


que se tornou muito evidente com a globalização no século XXI. Isso se desencadeou devido ao
aumento da concorrência e a ampla possibilidade de expansão dos negócios nas mais variadas
possibilidades mercadológicas.
Podemos esclarecer a palavra globalização para com esta temática, partindo do princípio
em que o mundo passa a não ter fronteiras comerciais na segunda metade do século XX. As dif-
erenças culturais, de idiomas, ritmos de vidas e outras variabilidades culturais deixam de ser uma
barreira para que o comércio seja alavancado nos processos intercontinentais.
Nesta perspectiva, a gestão de negócios passa a ser um termo muito usado na realidade das
empresas e assim, cuidar de assuntos que antes eram decorrentes de viagens somente turísticas,
torna-se rota de negócios nas pontes aéreas para as variadas realidades comerciais do mundo.
Globalização nada mais é que a relação de mercado público na mistura de todas as possibilidades
de interação de negócios em um espaço de mundo.
Assim, no âmbito da discussão que se pretende discorrer este artigo, a Auditoria Interna se
coloca como protagonista como importante ferramenta na relação de controle e administrativo nas
pequenas e micro empresas. Percebe-se que a ausência da mesma nestes espaços acarreta no
enfraquecimento de estruturas de êxito administrativo e expõe a empresa a variadas possibilidades
de riscos e perdas, na maioria das vezes conduzindo certas decisões ao erro.
É percebido ao longo deste estudo que se mostra aparente a necessidade que as empresas
apresentam no ato de intervir com o trabalho da Auditoria Interna. Isso se faz nítido no seu desen-
volvimento tecnológico e na intenção de elaborar os controles, na redução da folha onerosa, no in-
tuito de tornar mais competitivo sua marca e isso em grande parte das vezes se deve à intervenção
direta da Auditoria Interna.
Retomando a problemática da globalização, pode-se dizer que o alargamento das empresas
com o mercado contemporâneo e o descuido de possibilidades de entendimento comercial amplo
dos gestores, compromete a necessidade de um auxílio da Auditoria Interna, no objetivo de buscar
respostas e soluções pontuais para diversas situações que a empresa deixa escapar por não obter
pleno domínio das ações correlatas de todos os campos que pode se atingir, como o investimento
em bancos de capital de giro, empréstimos relacionados à área e a abertura de novos mercados.
Nesta ótica, este trabalho vem apresentar quais são as ferramentas e pontos básicos que a
Auditoria Interna pode intervir para a obtenção de positivos resultados para a empresa e no ato de
intervir em possíveis e futuros erros que sem a Auditoria Interna poderiam vir a ser considerados
irreparáveis.
Já o termo gestão decorre do processo de administrar, o que compete ao seu gestor a ação
de tomar decisões, o que se transcreve no setor público como a organização e democratização dos
bens da sociedade. Mas o que seria do gestor sem a Auditoria? Neste estudo poderá ser percebido
como a Auditoria, em especial a Auditoria Interna é fator relevante para que a distribuição correta
de recursos seja aplicada na realidade administrativa das micro e pequenas empresas.
Verifica-se nesta ótica o quanto é difícil para as micro e pequenas empresas aceitarem que
alguns de seus projetos não estão em conformidade ou não funcionam da forma em que se foi pro-
posto em planejamento. As empresas que integram gestões familiares encontram ainda maiores
percalços na aceitação do fracasso administrativos, pois, muitas vezes são geridas pelos próprios
donos que fizeram suas próprias regras e não estão aptos a mudanças no ato de negociar e de
estabelecer metas e processos de avanço mercadológico. É
A Auditoria Interna se faz importante, pois é se é percebida a verificação das conformidades
dentro dos setores das micro e pequenas empresas, facilitando a tomada de decisão por parte dos
gestores. Nesta perspectiva William Attie (1987), esclarece a importância da Auditoria Interna para
com os auditados:

Como o auditor tratará esses assuntos junto às áreas é vital para o sucesso de um
bom relacionamento entre auditor / auditado, de forma que permita que as portas
dessas áreas continuem abertas para trabalhos futuros. É importante que os audita-
dos sintam nos auditores disposição para auxiliá-los na solução de seus problemas e
no encaminhamento junto aos demais segmentos da empresa (ATTIE,1987, p.33).

Então, quais as razões do pequeno empresário não implementar a auditoria interna na em-
presa? Esta é uma resposta que infelizmente este estudo não consegue perfazer, pois são sempre
positivas as ações que são encontradas acerca da atuação da Auditoria Interna no âmbito empre-
sarial.
Como será mencionado neste artigo, a Auditoria Interna faz-se pouco elaborada ao tempo
que as empresas, de todos os segmentos possíveis, públicas ou privadas, caminham para o pen-
samento de fazer constante avaliação de seu desempenho.

1 CONCEITUAÇÃO DE AUDITORIA INTERNA

A Auditoria, por desconhecimento de seu conceito principal por muitos empresários é vista
como um problema por partes de alguns setores das micro e pequenas empresas.
Micro empresas são aquelas que seu faturamento não ultrapassa R$360.000,00 (trezentos
e sessenta mil reais) ao ano. A pequena empresa fatura entre R$360.000,00 (trezentos e sessenta
mil reais) ao ano até R$3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais) no período de um ano
Gestores, administradores e até mesmo funcionários do hall da linha de frente de venda,
não acreditam que a Auditoria, em específico a Auditoria Interna somará nas tomadas de decisões
e tão pouco contribuirá para ampliar o mercado e com o sistema de controle de qualidade do que
se é comercializado, por simplesmente desconhecerem a conceituação básica de Auditoria Interna.
Esta é um processo sistemático pelo qual são perpassadas as ações desenvolvidas por específico
órgão comercial ou setor deste.
O maior objetivo da Auditoria Interna é diagnosticar e constatar se os procedimentos, mé-
todos, planejamentos e operações estabelecidas para a ação final de prestação de serviço estão
sendo executados com eficácia e está trazendo os resultados a que são de intenção principal.
A auditoria Interna é um exame de análise e perícia com o propósito de acompanhar o
desempenho das operações no âmbito empresarial com fins de melhor lucratividade para o em-
preendedor.
O Institute of Internal Auditors (IIA, 1999), define o processo de Auditoria Interna como:
Uma atividade independente, de avaliação objetiva e de consultoria, destinada a
acrescentar valor e melhorar as operações de uma organização na consequência
dos seus objetivos, através de uma abordagem sistemática e disciplinada, na av-
aliação dos processos da eficácia da gestão de risco, do controle e de administração.
(tradução do IIA – Portugal, 1999).

No caso da Auditoria Interna, foco deste estudo, ela mantém como principal eixo norteador
a avaliação do processo de gestão empresarial que remetem aos campos da direção corporativa,
gestão de perdas e procedimentos de aderência aos princípios propostos, com o intuito de apontar
eventuais erros e a fragilidades às quais todas as organizações estão fadadas a enfrentar.
O autor que foi pioneiro na alerta para o papel da Auditoria Interna, mencionando como foco
desta a manufatura foi o pensador Skinner (1978), apresentando a Auditoria Interna no processo
empresarial como importante aliado no ato de estabelecer várias políticas e sistemas de manu-
fatura no âmbito do desenho do ciclo de produção.
Desde então, o processo de Auditoria Interna não mais se foi visto em segundo plano no
processo organizacional e sim como relevante ferramenta no corpo da ação mercadológica.

2 A PROBLEMÁTICA DA AUDITORIA INTERNA

Os processos de Auditoria Interna tornam-se cada vez menos complexos à medida que as
empresas passam a compreender a natureza de sua execução e as metodologias que se apre-
goam nesta ação.
Em um contexto tradicional, na primeira metade do século XX, as empresas eram geridas
por métodos que visavam somente e exclusivamente indicadores financeiros, o que ao caminhar
dos processos de globalização e no apogeu das novas tecnologias a partir da segunda metade
século XX, desmistificaram a imagem do Auditor enquanto profissional que somente detecta proble-
mas, mas aquele que vai à empresa no intuito de apresentar soluções práticas e que a curto, médio
e longo prazo trarão melhores resultados para todo o ciclo empresarial.
Nesta problemática, pode-se citar que a Auditoria Interna nas pequenas e micro empresas
pode: A) Avaliar melhor os processos de gestão e hierarquia, elaborando de maneira objetiva e
econômica a reorganização de cargos, salários e promoções. B) Focar na observância dos gastos
da empresa com matéria-prima e as possibilidades de avaliação dos produtos com fornecedores,
estudo das possibilidades de expansão e compra de maiores quantidades para estocagem, quando
for o caso. C) Contribuir para a eficácia nos processos de venda e nas intervenções sociais de
acordo com a proposta da pequena ou micro empresa, com foco no cliente alvo e nos mecanismos
de divulgação de seu produto para todas as camadas a que se dispõe atingir. D) Contribuir para a
avaliação de resultados de maneira a compreender os pontos em que se fizeram positivos e nega-
tivos em todo o processo de intervenção financeira da empresa, no âmbito do pagamento de im-
postos ao estado, aos honorários do grupo trabalhista e outras determinações legais. E) Promoção
de formação de equipe diretiva com foco na constante observação do processo empresarial, desde
a compra da matéria prima ao estabelecimento de entrega do produto ao cliente.
Quando é traçado este tipo de consideração acerca destas ações que são de fundamental
atribuição da Auditoria Interna, é necessário traçar um paralelo com a Auditoria Externa, uma vez
que apresentam algumas características similares. Neste ínterim Marques, refere que:

Existem semelhanças entre as auditorias, interna e externa, ao utilizarem metodolo-


gias e técnicas comuns ou idênticas, tais como planear, programar e datar os seus
trabalhos, elaborar e utilizar checklists e questionários sobre aspectos a abordar
e os designados “papéis de trabalho”, ambas identificam, analisam e avaliam pro-
cedimentos de controle interno, realizam testes, identificam insuficiências, erros e
anomalias e avaliam os riscos que lhe estão associados e elaboram relatórios, nos
quais fazem as suas apreciações, formulam sugestões e apresentam propostas cor-
retivas a adotar com vista a resolver ou a minimizar as deficiências encontradas.
(MARQUES, 1997, p.52)

Neste artigo a problemática da Auditoria Interna é apontada no âmbito das relações que se
fazem necessárias na empresa para que aconteçam ajustes no objetivo de ascender o êxito em-
presarial.
Assim, nesta temática é possível perceber que a Auditoria Interna não é tratada somente na
ótica de observações in loco, mas na evolução de todo um processo de melhoria relacionado dire-
tamente com o que não está em conformidade com as ações em andamento no âmbito da pequena
e micro empresa.
Isso se dá em contra ponto com a realidade de uma empresa que encerra um processo
de Auditoria quando a mesma ainda se encontra em andamento. O processo efetivo de Auditoria
Interna pressupõe toda a elaboração de um cronograma que tenha previsões, início, meio, final e
avaliação.
A importância da Auditoria Interna está exatamente na fundamentação teórica que a mesma
integra, o que propicia a segurança de resultados positivos para a pequena e micro empresa.
Segundo Attie (1992), uma das principais funções da Auditoria Interna está na promoção
de atividades que se relacionem de maneira intensa com a observação de cada uma das funções
dentro da pequena e micro empresa, focando em suas respectivas áreas, departamentos, setores
e ramos de atividades.
Assim, neste pensamento, pode-se dizer que este processo está centrado no viés de exami-
nar as ramificações destes espaços, em períodos regulares de tempo, na intenção de, perceber a
eficiência de operacionalização dos aspectos que mantém as empresas com as “portas abertas”.
Em decorrência de ações pontuais de Auditoria Interna, são diagnosticados casos em que é indi-
cado ao contratante, o encerramento das atividades, em vias de impedir que ocorram prejuízos
futuros ou os lucros não sejam insuficientes à expectativa do empresário.
Apesar de serem determinadas inúmeras funções à prática da Auditoria Interna, grande
parte do trabalho está centrado na simples ação de enfatizar a revisão totalitária das atividades
desenvolvidas no histórico empresarial atual da empresa, em cargos, funções, atividades, propos-
tas e resultados.
A Auditoria Interna não elimina diretamente a necessidade de uma Auditoria Externa, uma
vez que o trabalho de colaboração entre ambas as auditorias propicia maior conforto aos auditores
envolvidos, evitando resultados equivocados e permitindo melhor identificação dos problemas de-
tectados e a eficácia de soluções a serem apresentadas.
Neste trabalho é possibilitada a observância de dados da empresa na perspectiva de traduz-
ir para ações básicas o que se propõe para que haja ascensão mercadológica na empresa, o que
está arraigado diretamente em literatura teórica, e trabalho de formação diretamente acadêmica.
Partindo deste entendimento, a Auditoria Interna teve seu surgimento a partir da demanda
de investidores e proprietários demonstrarem interesse em precisar seus patrimônios em suas re-
spectivas pequenas e micro empresas e não encontrarem dentro das mesmas, pessoal capacitado
para a execução de tal serviço.
Daí surge o curso de especialização, em nível de pós-graduação latu sensu, que se deu de
um desmembramento do curso de especialização em Auditoria, arraigado na proposta pedagógica
inicial de capacitar ao trabalho de avaliação de forma autônoma o profissional que se forma neste
estudo, formando-o para avaliar os processos de controle contábil, financeiro, no atendimento di-
reto à administração empresarial de pequenas e micro empresas.
Assim, as necessidades surgidas pela sociedade empresarial de avaliar de maneira compe-
tente suas possibilidades de alargamento mercadológico, vêm em resposta e justificativa ao cresci-
mento econômico que o país atingiu nas três últimas décadas.

Enquanto as empresas estavam ocupadas em apagar os incêndios financeiros, a


realidade do mundo dos negócios continuou a mudar. Uma ameaça de longo prazo
especialmente séria é a atração e retenção de mão de obra em um mercado glo-
bal impulsionado pela tecnologia, em que capacitações como engenharia e TI são
extremamente procuradas, e a oferta é pequena. Os pesquisados identificaram os
riscos associados a talento e mão de obra como significativos, mas apenas 23%
mostraram confiança na capacidade de suas organizações (Estudo sobre a Situação
da Profissão de Auditoria Interna em 2012. p.12)
Neste contexto, é possível encontrar o trabalho de vários estudiosos que apontam que a
melhor visibilidade financeira do país se deve prioritariamente ao cuidado de gestão que as empre-
sas têm submetido-se nos últimos períodos. Não se pode deixar de levar em consideração que a
Auditoria Interna é uma importante aliada no êxito de pequenas e micro empresas que conseguem
dentro de sua organização, avançarem no mercado e mudarem seu patamar de atendimento de
maneira positiva.

3 QUAIS OS BENEFÍCIOS COMPROVADOS

A Auditoria Interna se caracteriza pelo trabalho desenvolvido in loco e busca estabelecer por
meio da minuciosa avaliação do Auditor a avaliação precisa do sistema organizacional interno da
empresa no objetivo de trazer benefícios para a mesma utilizando os procedimentos já descritos
anteriormente.
Vários são os benefícios enaltecidos por diversos estudos que foram de grande relevância
para este trabalho, pode-se citar que as ações mais recorrentes em maioria deles são os benefícios
de controle financeiro interno que as pequenas e micro empresas adquirem depois que passam a
empregar a Auditoria Interna em suas atividades de rotina; as melhores relações estabelecidas en-
tre empregados e empregadores, assim, impulsionando o trabalho e elevando significativamente a
sua qualidade; a prevenção de falhas e erros, que com o olhar e apuro do auditor tornam-se menos
frequentes; a melhor avaliação e divulgação dos produtos e/ou serviços que a pequena e micro
empresa por ora vende, além de trazer planejamento e norteamento para os trabalhos posteriores
da empresa. Segundo o estudo intitulado Auditoria Interna no Brasil, o autor enaltece que:

A independência da auditoria interna está diretamente relacionada ao nível de re-


porte dos trabalhos, o qual, de acordo com as melhores práticas, deve ser realizado
diretamente ao Comitê de Auditoria ou a uma instância equivalente na empresa. Um
nível de reporte adequado é considerado essencial para que os trabalhos sejam
conduzidos com plena autonomia em relação à alta administração. (Deloitte Touche
Tohmatsu, vários, pág. 09. 2007).

A administração da pequena e micro empresa é a principal atuante no processo de estabe-


lecimento de um sistema de controle que deverá ser seguido como molde pelos funcionários de
toda a empresa, no objetivo de garantir que todos os objetivos sejam atingidos, que se possibilite
diagnosticar as irregularidades e também os responsáveis pelas falhas e erros no processo de re-
alização da escala de produção empresarial.
Nesta ótica, o benefício central da Auditoria Interna é a garantia da relação positiva de con-
trole interno e os resultados obtidos pelos membros funcionários de cada setor da empresa. Com
esta garantia, a empresa consolida planejamentos com êxito e facilmente colhe elementos compro-
batórios para tais informações.
Segundo o estudo citado anteriormente, várias pequenas e micro empresas mantém em seu
quadro fixo de empregados, auditores com a finalidade da permanente Auditoria Interna.

A maior parte das empresas mantém equipes próprias de auditores internos, porém,
cerca de 16% realiza co-sourcing, ou seja, combina a equipe interna com outros
profissionais terceirizados. Essa alternativa tem sido utilizada principalmente pelas
organizações que demandam suporte de profissionais especialistas para atender às
demandas específicas ou como complemento de quadro efetivo. (Deloitte Touche
Tohmatsu, vários, pág. 12. 2007).
O trabalho da análise dos setores internos por meio da ação de Auditoria Interna para as mi-
cro e pequenas empresas, beneficia-as em conformidade para do ajuste eficaz de suas operações
de rotina.
As micro e pequenas empresas estão em busca de metas cada vez mais altas, e em busca
de um mercado mais amplo onde possam exibir seus produtos e/ou serviços aumentando assim
suas receitas.
Outro importante benefício que nesta ação se mostra é a investidura em inovações tec-
nológicas, que melhoram a qualidade das informações passadas aos clientes, reduzindo custos.
Levando tudo isso em consideração as micro e pequenas empresas necessitam de bons
profissionais que saibam coletar importantes dados, pontuais e precisos, sempre analisando situ-
ações financeiras, operacionais, enfim os setores internos das empresas, assim obtendo os benefí-
cios por ora apresentados.
O aperfeiçoamento dos setores internos também podem trazer resultados positivos desde
que sigam as normas técnicas, melhorando a qualidade e o fluxo de informações, na obtenção de
credibilidade e controle nas atividades desenvolvidas pela empresa.
A possibilidade das pequenas e micro empresas investirem no auditor interno tende a con-
tribuir para a obtenção de informações precisas e no aprimoramento dos controles internos torn-
ando a empresa assim mais competitiva no sistema mercadológico que na contemporaneidade do
século XXI se apresenta demasiadamente concorrido.
Neste pensamento, para o aparecimento de benefícios com a Auditoria Interna é necessário
para expandir seus negócios a pré-disposição dos empresários em estarem mais abertos às mu-
danças e inovações tecnológicas, sempre se fundamentando nas modernidades que se desdobram
na realidade social da clientela que tal produto ou serviço destina-se a atingir.
O auditor interno deve ser contratado como um empregado da empresa que tem como
função a junção de dados transcrevendo em informações importantes para que os gestores tomem
decisões adequadas e eficientes, o que caracteriza o maior benefício para qualquer empresa.

4 AS VARIADAS MODALIDADES DA AUDITORIA INTERNA

No âmbito de atividades que circundam a problemática da Auditoria Interna, varias modali-


dades foram ao longo do processo de desenvolvimento empresarial na sociedade se incorporaram.
Elas se subdividem em cinco campos isolados, mas que só conseguem êxito se integradas na re-
alidade mercadológica que tal ação de Auditoria Interna na pequena e micro empresa pode atuar.
Elas são Contábil e Financeira, Operacional, Sistemas, Qualidade e por fim a Gestão.
A modalidade Contábil e Financeira se centra na priorização das manifestações de finanças
da empresa, na observância se os registros, procedimentos e lucros estão em consonância de leg-
islação vigente e atendendo às normas contábeis que são externas à realidade da micro e pequena
empresa. Esta modalidade está centrada na captação de recursos, abarcando a análise de liquidez
e rentabilidade, bem como o planejamento sistemático dos resultados e sua interpretação.
Neste entendimento, Lajoso acredita que:
A auditoria interna fornece análises, apreciações, perspectivas, recomendações, re-
sultados, sugestões e informações relativamente às atividades examinadas, incluin-
do a promoção do controle mais eficaz a custo razoável. O auditor interno deve rev-
elar as fraquezas, determinar as causas, avaliar as consequências e encontrar uma
solução de modo a convencer os responsáveis a agir. A necessidade da existência
da função de auditoria resulta assim em conseguir monitorar a eficácia e eficiência
do sistema implementado nas diversas áreas de atividade. Ela constitui um meio
de medir recursos (humanos, materiais, financeiros e informacionais) a fim de que
a função liderança possa validar, consolidar ou alterar a sua estratégia. (LAJOSO,
pág. 11, 2005).
Assim, segue-se a modalidade Operacional o eixo está centrado na avaliação das oper-
ações empresariais. É a principal responsável por elaborar a avaliação dos objetivos do processo
empresarial de operações e a qualidade da versão do produto que chega ao consumidor final.
Avalia e reavalia os procedimentos adotados ao longo de todo o processo mercadológico. Esta
modalidade tende a assegurar que a administração desempenhe com êxito suas funções básicas
de responsabilidades, no uso correto dos sistemas e matérias-primas trabalhadas.
Na modalidade Sistemas, é evidenciado os processos de avaliação e desenvolvimento. Nes-
ta modalidade são detectados os processos que perpassam o adequar, o aplicar, o custear, o docu-
mentar e o operar dos sistemas que são aplicados na escola. É uma modalidade muito importante
da Auditoria Interna por implantar ideias e novas ações que elevam a qualidade do produto final que
a micro e pequena empresa leva ao consumidor final.
A modalidade Qualidade parte da premissa que a toda empresa necessita de métodos de
avaliação e assim é necessário elaborar não somente na ótica do cliente, como na análise de re-
cursos da empresa a contribuição que esta tem a ofertar e a receber com a finalidade de lucro.
Esta modalidade tem como principal objetivo a elevação da qualidade de seus produtos e também
a verificação dos índices de satisfação do público-alvo.
Por fim, a modalidade Gestão, abarca no estudo da Auditora Interna a análise financeira
de todos os recursos empregados no processo de atividades que a mesma desenvolve, desde a
apuração, captação e compra de matéria-prima, bem como a chegada no consumidor final. Em
suma, este processo visa contribuir para a melhoria dos resultados que a empresa obtém.
Neste entendimento, para a implementação do processo de Auditoria Interna em todas as
suas modalidades, requer a disposição de custos, o que é entendido em toda e qualquer empresa
em processo de mudança. Além dos custos humanos, materiais, equipamentos e outros também
fazem parte dos gastos que se moldam sob o lucro.
O sistema de aplicação de informação auxilia o processo de garantia de tomadas de de-
cisões e também propicia o suporte necessário no considerar das adversidades que cada empresa
apresenta, uma vez que o gestor necessita deste suporte em suas ações cotidianas, na tomada
decisões, bem como no processo de inserção no grande mercado.

CONCLUSÃO

Na observância do estudo desenvolvido, embasado na pesquisa bibliográfica, bem como no


entendimento de conceitos adquiridos ao longo da formação no curso de especialização referido,
pode-se concluir que a Auditoria Interna integra importante papel no bom funcionamento de uma
empresa, auxiliando-a de modo exitoso nos processos de fiscalização, sendo ferramenta de ex-
trema importância no lido com informações, com a gestão de pessoal, com a aquisição de produtos
e com a sobrevivência no mercado empresarial.
Ao longo deste artigo, procurou-se apresentar a Auditoria Interna e sua relevante con-
tribuição na realidade das empresas no século XXI, no enfrentamento da globalização e na gestão
compartilhada de negócios. A Auditória Interna neste ínterim não pode ser julgada como apenas um
acessório da pequena e microempresa, mas como parte integrante de uma construção que perfaz
os caminhos internos e as rotinas de trabalho, bem como o trabalho com dados que necessitam e
merecem confiança e cuidado especial.
Conclui-se, por meio deste documento de estudo a importância desta ferramenta que propi-
cia para a administração da empresa, por meio de controle interno, advindo de auditoria, o asseg-
urar com êxito das rotinas de trabalho que, se executadas com a devida responsabilidade, promove
ascensão da pequena e microempresa no campo a que se destina atuar.
6 REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT NBR ISO 9000:2005.

ATTIE, William. Auditoria conceitos e aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1987. 704 p.

____________. Auditoria interna. São Paulo: Atlas, 1992.

Deloitte Touche Tohmatsu. Todos os direitos reservados. Auditoria Interna no Brasil, 2007. Dis-
ponível em http://www.deloitte.com/assets/Dcom-Brazil/Local%20Assets/Documents/auditoria%20
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IIA – The Instituta of Internal Auditors, (1999), Internal Auditing Definition; http://www.theiia.org/GTF/
Def.htm, Acesso em 12 de setembro de 2013.

LAJOSO, P. Guilherme, (2005), A importância da Auditoria Interna para a Gestão de Topo, Revista
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MARQUES, Madeira. Auditoria e Gestão. 1ª edição, Editorial Presença, 1997.

Posicionamento da auditoria interna. Você está no nível certo? Estudo sobre a Situação da Profissão
de Auditoria Interna em 2012. Disponível em: http://www.pwc.com.br/pt_BR/br/publicacoes/servicos/
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SKINNER, W. Manufacturing in the Corporate Strategy. New York: Wiley, 1978. Fragmento retirado
de: A importância da auditoria interna contábil como instrumento de verificação e controle. Dis-
ponível em: http://junior.ftec.com.br/revista/autor/pdf/grieco.pdf. Acesso em 30 de Junho de 2013.
A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS SOBRE
A LOGÍSTICA DE ARMAZENAGEM

David Heryer de Oliveira1


Mariana Soares Faria
Ordelânia Rezende Costa
Thiago Gonçalves Ribeiro
Pâmella Gabriela Oliveira Pugas2

RESUMO

Diante de um mercado cada vez mais competitivo, as empresas buscam aperfeiçoar seus proces-
sos, focando em estratégias para proporcionar vantagem neste ambiente extremamente complexo,
onde toda e qualquer ação bem definida e planejada, pode influenciar no sucesso do negócio. O
investimento em Logística e a gestão eficiente dos processos que a compõe podem contribuir,
uma vez que, através desta ferramenta ocorre à implantação do controle de toda a cadeia, como
por exemplo; compras, produção, gestão de armazéns, distribuição física e também informações.
Diante destas considerações, o presente artigo objetiva estudar as tecnologias e ferramentas que
são utilizados na gestão de armazéns e como tais tecnologias podem proporcionar um diferencial
competitivo para as organizações, no que tange a ganho de produtividade e redução de custos.

Palavras-chaves: Logística, Gestão de Armazéns, Tecnologia.

ABSTRACT

Faced with an increasingly competitive market, companies seek to improve their processes, focus-
ing on strategies to provide advantage in this highly complex environment where any and all well-de-
fined and planned, can influence the success of the business. Investment in Logistics and efficient
management of processes that compose it can contribute, since, through deployment of this tool is
to control the entire chain, for example, purchasing, manufacturing, warehouse management, physi-
cal distribution and also information. Given these considerations, this paper aims to study the tech-
nologies and tools that are used in warehouse management and how such technologies can provide
a competitive advantage for organizations, with respect to productivity gains and cost savings.

Keywords: Logistics, Warehouse Management, Technology.

1. INTRODUÇÃO

O gerenciamento de toda a cadeia Logística tornou-se fundamental para às organizações. A


logística existe para satisfazer às necessidades do cliente, facilitando as operações relevantes de
produção e marketing. De acordo com Bowersox e Closs (2009, p. 23), “a logística de uma empresa
é um esforço integrado com o objetivo de ajudar a criar valor para o cliente pelo menor custo total
possível”.
Pretende-se neste artigo discutir sobre as tecnologias utilizadas no processo logístico de
armazenagem e sobre a relevância de sua implantação para otimização e melhoria dos resultados
operacionais e financeiros que poderão ser obtidos pelas organizações.
Pretende-se enfatizar a importância da gestão eficiente de armazéns para atender às ex-
1 Graduandos em Administração – FACED.
2 Mestre em Administração, Professora da FACED. E-mail: pamellagabi@yahoo.com.br
pectativas dos clientes internos e externos e, ao mesmo tempo, reduzir custos para as empresas,
através do alinhamento e organização de cada item dentro da cadeia logística.
Existem vários componentes que integram e que são utilizados para uma gestão eficiente de
armazéns, como por exemplo; softwares, que além de outras características produzem informações
extremamente importantes para o negócio, dimensionamento do espaço físico, fundamental para
entender o estoque que poderá estar armazenado e que será movimentado dentro do armazém,
o layout, que determinará a disposição dos produtos, considerando, por exemplo, a curva ABC, as
tecnologias existentes, como esteiras elétricas, rack’s e prateleiras interligadas ao software.
Enfim, a proposta deste artigo é demonstrar a importância das novas tecnologias para mel-
horar a qualidade nas operações de armazenagem e logística em geral, visando um baixo custo e
aumento na qualidade, bem como amenizar a falta de estrutura logística enfrentada no país, tudo
isto com vistas ao crescimento competitivo do segmento.
Para atingir a proposta aqui enfatizada, foi realizada uma revisão literária, através de liv-
ros, artigos acadêmicos, monografias e revistas especializadas, para entender o atual cenário da
gestão de armazéns frente às mudanças tecnológicas.
Nesse sentido, a presente pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa teórica, bibliográfica.
A pesquisa bibliográfica, segundo Lakatos e Marconi (1992, p. 43-44), “trata-se de um levantamen-
to de toda bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa
escrita”.

2. LOGÍSTICA E SUAS ATIVIDADES

A Logística pode ser entendida dentro das empresas como um mecanismo que objetiva pro-
porcionar lucro para o negócio. Sendo assim, “a logística empresarial estuda como a administração
pode prover melhor nível de rentabilidade nos serviços de distribuição aos clientes e consumidores,
através de planejamento, organização e controle efetivos para as atividades de movimentação e
armazenagem que visam facilitar o fluxo de produtos” (BALLOU, 2008 p. 17).
Neste contexto da Logística, é necessário que se tenha um conjunto de recursos, como por
exemplo; funcionários devidamente capacitados e alinhados com o objetivo da companhia, veícu-
los para o transporte, empilhadeiras para carga, descarga e acondicionamento dos pallet’s, um
armazém para movimentação e estocagem de produtos, softwares ERP’s para gestão eficiente dos
processos entre outros.

O processo de planejamento, implantação e controle do fluxo de informações efi-


ciente e eficaz de mercadorias, serviços e das informações relativas desde o ponto
de origem até o ponto de consumo com o propósito de atender as exigências dos
clientes (BOWERSOX e CLOSS 2009, p. 20).

A coordenação eficiente destes processos de Logística, alinhados a estratégia central das


empresas, onde se faz necessário o envolvimento das áreas de Marketing, Produção e Vendas,
potencializa uma gestão eficiente e direcionada ao sucesso.

A logística empresarial trata de todas atividades de movimentação e armazenagem,


que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria prima até
o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os
produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequa-
dos aos clientes a um custo razoável. (BALLOU 2008, p. 24).

Sendo assim, as atividades primárias são: transportes, manutenção de estoques e proces-


samento de pedidos. A figura 1 demonstra a relação entre as três atividades logísticas primárias
para atender clientes – o “ciclo crítico”:

Figura 1: Relação entre as três atividades logísticas primárias.


Fonte: Ballou (2008, p. 25).

Existem também as atividades de apoio, que servem para apoiar as atividades primárias,
que são: armazenagem, manuseio de materiais, embalagem de proteção, obtenção, programação
de produtos e manutenção de informação. Na figura 2 é demonstrado o relacionamento destas com
as atividades primárias e o nível de serviço visado.

Figura 2: Relacionamento das atividades logísticas


Fonte: Ballou (2008, p. 26).

Conforme observado, a gestão de armazéns faz parte das atividades de apoio e, “refere-se à
administração do espaço necessário para manter estoques. Envolve problemas como localização,
dimensionamento de área, arranjo físico, recuperação do estoque, projeto de docas ou baias de
atracação e configuração do armazém”. (BALLOU, 2008 p. 27).
Importante ressaltar o papel da Logística como ferramenta para proporcionar o aumento do
nível de serviço ao cliente e, ao mesmo tempo, buscar o equilíbrio entre satisfazer às necessidades
do cliente e o custo gerado. Sendo assim, “a meta de serviço logístico é providenciar bens ou
serviços corretos, no lugar certo, no tempo exato e na condição desejada ao menor custo possível”
(BALLOU, 2008, p. 38).

3. GESTÃO DE ARMAZÉNS E COMPETITIVIDADE

Segundo Dias (2007, p. 135), a armazenagem é um processo existente dentro da logística,


que consiste em receber, estocar, retirar e expedir mercadorias ou matéria-prima, mantendo uma
ligação direta com as outras áreas da logística, como a produção e a logística de distribuição.
“A finalidade da logística de armazenagem, assim também chamada, é manter disponível,
por certo período, as mercadorias em processo de compra, produção ou venda, buscando ser efi-
ciente a esses processos sem agregar altos custos ao final”. (MOURA, 1989, p. 134)
Mesmo parecendo ser uma técnica atual, o processo de armazenagem, segundo Moura
(1989, p.2), já existe desde 1.800 A.C. Com efeito, é citado no capítulo 41 do livro de Genesis, que
José nomeado pelo Rei do Egito, armazenou um quinto de sua colheita para garantir o sustento do
povo durante um período de sete anos de fome.
Posteriormente, o advento do parafuso e da engrenagem, em 1860, possibilitou a verticali-
zação dos estoques no processo de armazenagem, que até então era feito manualmente. Destarte,
por volta de 1933 com a invenção das primeiras empilhadeiras, que elevavam 01 (uma) tonelada a
4,5 metros de altura, houve maior aproveitamento de tempo e espaço, com menor esforço humano.
Já na década de 80 com a introdução do computador nas operações industriais, possibilitou-se a
agilidade e eficiência nos processos que até então eram feitos de forma manual (MOURA, 1989, p.
3)
A história mostra que a gestão de armazéns, desde o início, buscou sempre a maximização
de seus processos, desde a localização dos armazéns, ao modelo de layout ou até as técnicas de
guarda das mercadorias, voltado sempre ao aumento da capacidade física e da produtividade com
a melhor utilização de seus recursos, com menor tempo e custo possível.

A influência dos equipamentos e sistemas para armazenagem na produtividade in-


dustrial pode ser observada em todas as suas frentes. Um método adequado para
estocar matéria-prima, peças em processamento e produtos acabados permite di-
minuir os custos de operação, melhorar a qualidade dos produtos e acelerar o ritmo
dos trabalhos. (DIAS, 2007 p.135)

Do mesmo modo que todo o processo logístico requer eficiência, o ambiente de arma-
zenagem exige técnicas de aprimoramento, que foram e ainda são desenvolvidas durante a história
e em conformidade com as necessidades do mercado.
Nesse aspecto, a gestão de armazéns vem se tornado altamente tecnológica, com foco na
alta gestão e visando reduzir o desperdício de tempo e espaço, com o ganho de qualidade.
As ferramentas criadas no percurso de sua trajetória, tais como: empilhadeiras, gôndolas,
racks, estruturas e porta-pallet’s, continuam fazendo parte do processo de armazenagem. Deste
modo, as novas tecnologias vieram com o intuito de maximizar a gestão, que a todo o momento
precisa ser mais eficiente e capaz de suprir as necessidades do mercado.
Na mesma vertente, Moura (1989, p. 262), “dizia que o processo de armazenagem au-
tomatizada busca inserir ferramentas tecnológicas de eficiência, focadas na eliminação do trabalho
manual, objetivando a economia e ganho de produtividade, além de possibilitar a identificação e
eliminação de erros”. O próximo tópico abrange as tecnologias e sistemas que vem sendo utiliza-
dos para otimizar o processo logístico e o processo de armazenagem.

4. SISTEMAS E TECNOLOGIAS APLICADAS À LOGÍSTICA

De acordo com Veríssimo (2003), os sistemas tecnológicos são programas que facilitam a
organização das informações de um determinado setor dentro da cadeia de suprimento, sendo que
estas informações facilitam o gerenciamento de dados de todo o processo de logística dentro da
gestão de armazéns. Estes sistemas facilitam o controle do recebimento da matéria prima, atendi-
mento à linha de produção e entrega do produto final ao cliente, otimizando a flexibilidade, o tempo
e a satisfação do mesmo.
Segundo Razzolini Filho (2009), com a evolução dos recursos da tecnologia da informação,
ocorreu uma diminuição dos custos relativos ao provimento e à manutenção de informações atuali-
zadas e confiáveis, enquanto que os custos com mão-de-obra e outros ativos aumentaram.
Nogueira (2012, p. 150-151) aponta alguns benefícios que a tecnologia de informação pode
trazer aos processos logísticos:
• Redução do valor de estoque, da falta de material e tempo de inventário;
• Melhoria no nível de serviço e no atendimento aos clientes;
• Aumento da eficiência operacional;
• Rastreabilidade de frotas e produtos e planejamento de rotas, cargas e modais;
• Cumprimento dos prazos de entrega, por se obter maior velocidade.
Com isso aumenta a busca por processos altamente tecnológicos, para facilitar a movimen-
tação dessas atividades, que incluem produtos, serviços e informações. Esses sistemas tecnológi-
cos são utilizados para que o processo logístico ocorra de forma rápida, eficiente, e com menor
custo, visando sempre à satisfação dos clientes, em um mercado que está cada vez mais competi-
tivo.

O custo decrescente da tecnologia da informação, associado à sua maior facilidade


de uso, permite aos gestores de logística utilizar essa tecnologia, com o objetivo de
transferir e gerenciar informações eletronicamente, com maior eficiência, qualidade
e rapidez. (NOGUEIRA, 2012, p. 149)

Para Fischer (2013), a utilização de ferramentas tecnológicas na logística brasileira não é


replicada com a velocidade que imaginamos ser a ideal, pois o mercado brasileiro de ferramentas
de TI voltadas à logística apresenta uma defasagem de alguns anos em relação a países mais
avançados, como os Estados Unidos. Além disso, a tecnologia empregada na logística do Brasil
ainda não se encontra no mesmo patamar que pode ser observado em outros países, pelo fato do
empresário brasileiro não possuir uma cultura de projetos enraizada.
Especificamente no âmbito logístico, os sistemas de informação são denominados ‘Sistemas
de Informações Logísticas’ (SIL’s). Estes sistemas foram criados para minimizar erros e fornecer
dados para uma gestão eficiente, ajudando nas tomadas de decisões, e contribuindo para uma
diminuição de custos ao longo de toda a cadeia de suprimento.
Segundo Razzolini Filho (2009) os sistemas de informações logísticas (SIL’s) devem estar
inseridos nos sistemas Enterprise Resource Planning (ERP’s), ou sistemas de planejamento dos
recursos empresariais, ou sistemas integrados de gestão empresarial, como são chamados usual-
mente. Os sistemas ERP integram e coordenam os principais processos da empresa através de um
software, organizando e disseminando a informação de forma integrada entre as diferentes áreas
da empresa (NOGUEIRA, 2012).
Os sistemas de informações logísticas podem ser divididos em três tipos: (RAZZOLINI FIL-
HO, 2009, p. 241).
• Um sistema de administração de armazéns (Warehouse Management System – WMS);
• Um sistema de administração de pedidos (Order Management System – OMS);
• Um sistema de administração de transportes (Transport Management System – TMS).

Neste artigo, o foco é no WMS, que é o sistema de gerenciamento de armazém. De acordo


com Nogueira (2012, p. 153), “o sistema WMS trabalha com integração de hardware, software e
equipamentos periféricos para gerenciar espaço físico, estocagem, armazenagem, equipamentos
e mão de obra em centro de distribuição (armazéns)”.
Para Rago (2002), “é o sistema de informação de tecnologia que planeja, programa e con-
trola as operações do armazém. Abrange todas as funções, desde a chegada do veiculo ao pátio, o
recebimento dos materiais, passando pela estocagem, separação de pedidos, reposição e controle
de estoques, inventário, programação e controle de embarque e liberação de caminhões”.
Com esse tipo de sistema, as empresas conseguem minimizar erros e atrasos de entrega,
pois podem planejar melhor suas rotas, o que proporciona maior segurança e confiabilidade por
parte dos clientes.
Nogueira (2012, p. 153-154) aponta os principais benefícios do WMS:
• Funcionalidade da administração da mão de obra em tempo real;
• Planejamento, acompanhamento e funcionalidade de administração de mão de obra;
• Comunicação integrada com sistema central;
• Desenvolvimento de software com parâmetros conforme a necessidade do armazém;
• Controle do dispositivo de movimentação de material;
• Controle do equipamento de estocagem automatizado;
• Disponibilização de informações em tempo real;
• Total adequação da funcionalidade do armazém;
• Programação e entrada de pedidos;
• Planejamento e alocação de recursos;
• Pré-recebimento e recebimento;
• Acompanhamento de inspeção e controle de qualidade;
• Agilização na separação de pedidos;
• Expedição;
• Inventários;
• Relatórios operacionais e gerenciais;
• Acuracidade de informações e banco de dados para o WMS;
• Melhoria na ocupação de espaço;
• Redução de erros de operações;
• Aumento de produtividade.

Para que os sistemas obtenham dados e trabalhem corretamente, algumas tecnologias são
necessárias, como o Código de Barras e o RFID. Para Nogueira (2013, p. 157), “o código de barras
tem a finalidade de identificar um produto. Ele contém informações como o número referente ao
país, a empresa e o código do produto”.
O código de barras é fundamental no processo logístico. De acordo com Nogueira (2013, p.
156), “o código de barras é de grande importância para a agilidade e bom andamento de um proc-
esso informatizado, para gestão de estoques”.
De um método de codificação de dados alfanuméricos para leitura ótica precisa e
rápida. É constituído por uma “sequência de barras e espações alternados impressos
ou estampados em produtos ou outra forma de fixação, representado informações
codificadas que podem ser reconhecidas por leitores eletrônicos, utilizados para fa-
cilitar a entrada de dados em sistemas de processamento de dados”. (RAZZOLINI,
2009, p. 252-253).
Existe uma necessidade de melhoria contínua de processos. De acordo com Nogueira (2012,
p. 160), “com o RFID (radio frequency identification – identificação via radiofrequência), temos como
forma de tecnologia a transmissão de dados através das etiquetas – TAG”.
Essa etiqueta utiliza-se de ondas eletromagnéticas para transmitir informações at-
ravés de ondas de rádio. Uma das vantagens das etiquetas inteligentes é que podem
armazenar informações e mais de um item pode ser lido ao mesmo tempo. O sistema
de identificação por radiofrequência consiste de um transponder com rádio e um lei-
tor para conectá-lo a um sistema de informação corporativo. (NOGUEIRA, 2012, p.
160).
Essa tecnologia é importante. Conforme explica Nogueira (2012, p. 160), “o transponder é
composto de um chip e antena, que é ativado por um sinal de rádio na sua frequência de trabalho”.
A figura 4 demonstra a comparação do RFID com o código de barras:

Figura 4: Comparando RFID ao código de barras.


Fonte: Nogueira (2012, p. 161).

5. GESTÃO DE ARMAZÉNS E TECNOLOGIA: PROPOSTA PARA REDUÇÃO DE


CUSTOS E AUMENTO DO NÍVEL DE SERVIÇO

“As ferramentas tecnológicas oferecem visibilidade total da cadeia para que as empresas
de logística possam atuar com inteligência nas falhas e elevar seus níveis de serviço”. (FISCHER,
2013, p. 56). Com isso, pode-se verificar que atualmente a tecnologia influencia diretamente na
logística, onde àquelas empresas que usam dessa ferramenta, se sobressaem perante os concor-
rentes e garantem uma boa vantagem competitiva.
Assim, “o emprego das novas tecnologias na logística torna-se, com o passar dos anos,
imperativo, porque proporciona inúmeros benefícios para as empresas do setor”. (FISCHER, 2013,
p.58)
De acordo com Fischer, quando se fala a respeito da evolução do investimento em TI, per-
cebe que:
As médias e grandes empresas brasileiras investiram, em 2012, 7,2% de seu fatu-
ramento líquido em TI, número que deve chegar a 8% no acumulado de 2013. Pode
parecer pouco, mas trata-se de uma evolução significativa se comparada à porcenta-
gem investida em 1990, que girava em torno de 1,5%, e também ao crescimento
exponencial do faturamento dessas corporações em um cenário mais estabilizado e,
posteriormente, em ascensão da economia nacional. (FISCHER, 2013, p. 57)

Gráfico 1: Evolução Faturamento x Investimento em TI


Fonte: Adaptado de Fischer (2013)

Pode-se perceber que a evolução do faturamento x investimento em TI que antes era da


faixa de aproximadamente 0,3%a.a. hoje se aproxima de 0,8%a.a.. Com isso, constata-se que “as
empresas de logística são pressionadas para melhorar cada vez mais seus níveis de serviço, e aos
poucos vão percebendo que investir em tecnologia é a melhor solução”. (FISCHER, 2013, p. 64)
Segundo Fischer (2013), a logística no Brasil cujo amadurecimento pode ser considerado
recente, experimentou um impulso em seu desenvolvimento depois do ano 2000, que pode ser
creditado não somente ao crescimento econômico do país e à expansão do comércio internacional,
mas também à evolução da TI, que permitiu o emprego de sistemas hoje indispensáveis para os
players que atuam no segmento, como o WMS (Warehouse Management System), foco do pre-
sente trabalho.

Nos últimos dois anos as pequenas e médias empresas começaram a buscar mais
soluções tecnológicas no mercado. São, em geral, organizações que estão surgindo
ou que estão em pleno crescimento. Como o mercado vem amadurecendo e se
profissionalizando muito, elas percebem o valor da informação nas operações como
um diferencial. (FISCHER, 2013, p. 64)

De acordo com Fischer (2013), as empresas devem ter consciência das reduções de cus-
tos que a tecnologia pode gerar para sobreviver em um mercado cada vez mais exigente, pois os
clientes exigem mais informação de quem está com a carga. Mesmo que a utilização de algumas
tecnologias encareça os serviços logísticos, o cliente se acostuma com um determinado nível de
informação e não aceita mais ficar sem ela.
Observa-se que os sistemas e tecnologias de informação são primordiais para garantir um
nível de serviço satisfatório e redução dos custos, garantindo mercado e tornando a empresa mais
competitiva, independente do segmento e do seu tamanho. Para confirmar tais apontamentos, bus-
cou-se exemplos reais de empresas que conseguiram alcançar níveis positivos coma implantação
de tecnologias no âmbito da gestão de armazéns.
Para Giurlani (2013) a Nestlé traduz resultados reais da utilização de software de gestão:
Ao empregar o software Galileu, da Bulk, a Nestlé passou a contar com um sistema único para
gerenciar todo o fluxo de transporte de seus produtos. Um dos benefícios mais significativos obti-
dos pela Nestlé ao centralizar a gestão do transporte, foi a redução da ordem de 10% a 20% do
custo relacionado à produtividade dos veículos utilizados, mas houve outros ganhos importantes
como, poder agendar as entregas em grandes clientes e manter os registros no sistema, monitorar
os veículos que entram e saem das fábricas e dos centros de distribuição, visibilidade completa
de todos os processos, operações logísticas de transporte, movimentações de cargas em diversos
locais e de registrar todas as informações em uma única base de dados.
Segundo o artigo desenvolvido por Feldens, Maçada e Santos (2007), que estudou o impac-
to da tecnologia da informação na gestão das cadeias de suprimentos, constata-se os resultados
obtidos por quatro empresas que começaram a usar as ferramentas de TI voltadas à logística:

Quadro 1: Impacto da Tecnologia da Informação


Fonte: Adaptado de Feldens, Maçada e Santos (2007).

Pelo quadro é possível observar uma nítida redução dos custos em todas as empresas,
aumento na velocidade dos processos, aumento na integração da comunicação entre os depar-
tamentos da empresa e ganho de competitividade no mercado. Além disso, duas das empresas
obtiveram ganho de flexibilidade na gestão e apenas as outras duas não conseguiram alcançar o
mesmo êxito. Nestes que não houve modificação na flexibilidade, os autores explicam que isto se
deve a um compartilhamento menor da infraestrutura de TI com os parceiros da cadeia, porém, as
empresas pesquisadas pretendem aumentar esse compartilhamento. Com isso, percebe-se que
para a tecnologia ajudar na gestão da cadeia de suprimentos é necessária infraestrutura própria
para isto.
De acordo com o artigo publicado na Revista Tecnologística (2012), a metalúrgica Stam,
está investindo R$ 4 milhões na modernização das áreas de armazenagem e de preparação de
pedidos de sua planta, localizada em Nova Friburgo (RJ), com a instalação de um sistema automa-
tizado. O objetivo do sistema é incrementar a acuracidade dos estoques, ganhar rastreabilidade
dos produtos dentro do armazém e ampliar a eficiência na armazenagem e na movimentação de
itens. A ferramenta, conhecida como Miniload, também irá racionalizar o espaço usado para es-
toque e preparação de pedidos dos atuais 1.140 m² para 280 m², possibilitando à Stam abrigar os
mais de cinco mil itens de seu estoque de forma mais eficiente. Todo o projeto segue a premissa
de acompanhar o crescimento anual médio de 25% da Stam e, por pelo menos cinco anos, a em-
presa poderá ampliar os estoques sem aumentar a área de estocagem. O Miniload também vai
possibilitar uma queda de 30% do tempo empregado na preparação de pedidos, tornando-os mais
eficientes (MORAES, 2012).
Segundo artigo publicado pela Ecoporto Alfandegado (2013), após a publicação da lei dos
portos, a modernização dos terminais começa ser um requisito para funcionamento. Assim, HTS
Brasil, empresa que oferece aos terminais portuários soluções como a automatização de portões
e de posicionamento de contêineres, percebe que um terminal gasta cerca de 10 minutos para ad-
mitir um caminhão em um gate. Quando se automatiza, consegui chegar a 3 minutos, triplicando a
eficiência do processo, e, além disso, diminui a necessidade de movimentação da carga, ocasion-
ando a redução dos custos do processo.
Torna-se perceptível a importância de se investir em tecnologia para melhoria dos proces-
sos logísticos, bem como na armazenagem. Os casos de sucesso demonstrados referente às em-
presas que investiram em tecnologia e maximizaram seu negócio, são exemplos desta melhoria
proporcionada, inclusive, reduzindo custos e aumentado o nível de serviço.
“Trabalhar em logística atualmente é muito mais do que simplesmente carregar caixas. A in-
teligência precisa estar por trás de todos os processos para que eles aconteçam com o maior nível
de excelência possível”. (FISCHER, 2013, p. 64)

CONCLUSÃO

A proposta deste artigo foi demonstrar a importância das novas tecnologias para redução
dos custos, aumento dos níveis de serviço, melhora na qualidade das operações de armazenagem
e logística. Diante da pesquisa realizada em livros, artigos e revistas os autores abordaram sobre o
contexto logístico focados no processo de armazenagem. Com isso a história mostra que desde o
início as organizações buscaram inovar através dos processos tecnológicos para se tornarem mais
competitivas no mercado.
Os avanços tecnológicos proporcionaram aumento na cadeia produtiva no momento em que
a mão de obra cedeu lugar aos avanços da automatização dos processos. As vertentes benéficas
se dão através do aumento da movimentação de materiais com informações rápidas e exatas,
gerando um crescente ganho de produtividade, satisfazendo as necessidades dos clientes e reduz-
indo os custos do processo onde as empresas se tornam altamente competitivas.
Pode-se afirmar que o WMS tem se tornado bastante popular no cenário logístico, possibil-
itando uma integração de informações intersetoriais e proporcionando um aumento de ganho em
produtividade e qualidade, com isso se tornou a ferramenta principal do sistema de armazenagem
e logística. Por outro lado, tecnologias como o sistema R-FID que tem a possibilidade de oferecer
grandes benefícios ao sistema logístico, possuem um alto custo de implantação e utilização, fator
que não o torna muito atrativo para as empresas.
É importante salientar que quando se fala sobre tecnologias, estas não se tratam apenas
de sistemas de informações, mas também de máquinas e equipamentos de ponta como: empilha-
deiras elétricas, carros de transporte e racks, que proporcionam o aumento do nível de serviço e
qualidade.
Sendo assim, fica claro que para o crescimento do setor logístico, faz-se necessário o inves-
timento em tecnologias. Estas se tornam primordiais para garantir o sucesso e a longevidade das
organizações, sendo assim, cabe a cada empresa analisar quais ferramentas são mais adequadas
ao seu negócio, bem como, o quanto está disposta a investir para alcançar os resultados dese-
jados.

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física – 1. ed. – 20. Reimpr. – São Paulo: Atlas 2008.

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RAZZOLINI FILHO, Edelvino. Transporte e Modais: Com suporte de TI e SI. 2. ed. rev., atual. e
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SILVESTRINI, Luiza. Terminais investem em tecnologia em Santos. Disponível em: < http://
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Acesso em 27 out. 2013.
JUSTIÇA RESTAURATIVA

Luciana Lopes de Oliveira1


Simone Matos Rios Pinto2

RESUMO

O objetivo do presente artigo é analisar criticamente o sistema penal adotado atualmente no Bras-
il, sua forma de aplicação e suas principais consequências. Através da análise desse quadro, o
trabalho abordará a necessidade de criação de um novo paradigma. A restauração deve ser uma
das finalidades da pena juntamente com a retribuição e prevenção. Alternativas à privação de
liberdade como a conciliação e a assistência à vítima são formas de amenizar as consequências
do atual sistema penal. Sobre o novo paradigma, a monografia abordará o que vem a ser justiça
restaurativa, qual seu principal objetivo e o novo olhar que é dado em relação ao crime, tratando-o
como conflito que envolve pessoas e não visando somente punição aos infratores. Pretende tam-
bém demonstrar como a Justiça Restaurativa está sendo aplicada no ordenamento jurídico pátrio,
quais são seus benefícios bem como suas maiores dificuldades de implementação. Além disso,
o trabalho também fornecerá informações sobre a origem desta e sobre sua aplicação em outros
países.

Palavras-Chave: Justiça restaurativa. Origem. Paradigma.

ABSTRACT

The present study objective is to critically analyse about the penal system adopted in Brazil actu-
ally, your aplication form and your main consequences. Through the analysis of this frame, the
study will accost about the necessity of a new paradigm creation. Alternatives of liberty privation
like conciliation and victim’s assistance are manners created to brighten up the actual penal sys-
tem consequences. About the new paradigm, the monograph will clarify about restorative justice,
which is your main objective and how is the view about the crime, treating it like a conflict that
envolved people and not only a infractor’s punition. It will also demonstrated how the Restorative
Justice has been applied in the land legal system, which are your benefices as though your main
implementation difficulties. Besides that, the study also will give information about it’s origin and
your application in other countries.

Keywords: Restorative justice. Origin. Paradigm.


JUSTIÇA RESTAURATIVA

INTRODUÇÃO

O presente artigo visa esclarecer o que vem a ser justiça restaurativa, como esta é aplica-
da em nosso ordenamento jurídico e quais são os principais desafios para sua implementação.
O ordenamento jurídico brasileiro adota, precipuamente, o tipo retributivo e preventivo de
justiça penal, representado pela figura do Estado. Nesse modelo, a punição é vista como o re-
sultado adequado, havendo o predomínio das penas privativas de liberdade. A pena é consid-
erada o único remédio para punir e evitar as condutas criminosas. A satisfação da pretensão pu-
nitiva estatal é a primeira opção. A vítima fica totalmente à margem do processo e, muitas vezes,
1 Aluna do curso de Direito da Faculdade Divinópolis - FACED.
2 Professora da Faculdade Divinópolis - FACED. E-mail: simonemrpinto@yahoo.com.br
sequer participa da condução do mesmo, limitando-se, apenas ao fornecimento de declarações.
A reunião de todos esses fatores tem como consequência o grande mal desse modelo, qual
seja, a superpopulação carcerária e o abandono da vítima. Além disso, a falta de perspectiva e
de oportunidade para o preso, dentro da cadeia, tem contribuído para o aumento da reincidência
quando este é posto em liberdade. O desrespeito aos direitos e garantias fundamentais previstos
na Carta Magna, principalmente a dignidade da pessoa humana, dentro das penitenciárias, faz com
que o delinquente se sinta como um “lixo” humano, causando revolta e dificuldade de reinserção
social. Nesse sistema, a “responsabilização” do infrator pelo delito cometido é imposta através da
dor e do sofrimento. Diante disso, algumas mudanças estão sendo feitas a fim de que um novo
paradigma seja criado. Alternativas à privação de liberdade como a conciliação e a assistência à
vítima representam uma forma de amenizar as consequências do atual sistema.
A justiça restaurativa é um modelo de solução de conflitos, baseando-se, principalmente, na
reparação do dano causado pelo crime e na reconciliação entre vítima e ofensor. Ao mesmo tempo
em que busca atender às necessidades da vítima, esse modelo também busca responsabilizar o
agressor pelo dano causado, além de proporciona-lhe a reintegração à sociedade. O objetivo é
tentar corrigir os erros. Para isso, a justiça restaurativa busca o envolvimento da vítima, do ofensor
e também da comunidade para tentar solucionar o problema através da reparação, reconciliação e
segurança.
A vítima deve voltar a sentir que a vida faz sentido e que ela exerce o controle sobre si. Já
para o agressor, a ressocialização virá através da mudança de comportamento e da esperança no
futuro. Para a justiça restaurativa, quando um crime acontece deve-se buscar, em primeiro plano,
atender as necessidades das pessoas que foram violadas. A vítima, na maioria das vezes, almeja
a reparação do dano e não a punição do infrator. O objetivo é oferecer oportunidade para que a
reconciliação entre vítima e ofensor ocorra, porém esta não deve ocorrer de maneira forçada. Deve
advir da vontade de ambas as partes.

FINALIDADES DA PENA

A justiça retributiva remonta de séculos atrás, podendo ser encontrada até no Antigo Testa-
mento, pela Lei de Talião: “olho por olho e dente por dente”. Com os primeiros ordenamentos ju-
rídicos penais, a pena privativa de liberdade passou a ser a sanção imposta pelo detentor do poder
punitivo (Estado) como resposta à conduta criminosa e a sua justificação foi defendida pelas teorias
da pena.
As teorias que justificam os fins da pena dividem-se em absoluta, relativas e mistas.
a) Teoria Absoluta ou Retributiva: de acordo com essa teoria, a pena é a consequência do
delito, tendo como objetivo a retribuição ao mal causado. A pena é o castigo imposto ao transgres-
sor como forma de pura punição. Pune-se porque um crime foi cometido. Não há que se falar em
prevenção. De acordo com Mirabete (2007, p. 244): “As teorias absolutas têm como fundamento da
sanção penal a exigência da justiça: pune-se o agente porque cometeu o crime”;
b) Teoria Relativa ou Utilitarista: segundo essa teoria, o objetivo da pena é evitar o cometi-
mento de novos delitos. A pena imposta é aplicada de maneira proporcional ao dano causado pelo
delito praticado. Essa teoria subdivide-se em: teoria relativa da prevenção geral negativa e positiva
e teoria relativa da prevenção especial negativa e positiva. A teoria da prevenção geral negativa
garante seu resultado através da coação psicológica, acreditando que os infratores em potencial
se sentirão intimidados a cometer delitos através da ameaça, imposição e execução de uma pena
imposta a terceiros. O castigo aplicado a um infrator é um meio de evitar que outros cidadãos in-
corram no mesmo erro, ou seja, cometam delitos. Já a teoria da prevenção geral positiva obje-
tiva demonstrar aos cidadãos de bem que a lei penal existe e que esta será aplicada a todos que a
infrinjam. A teoria relativa da prevenção especial, que também se subdivide em negativa e positiva,
entende que a finalidade da pena é a ressocialização do infrator. Seu objetivo precípuo é a pre-
venção da reincidência. A prevenção especial positiva, de acordo com Yarochewsky (2005, p. 178)
ocorre “quando a pena dirigi-se ao infrator, buscando ressocializá-lo e reintegrá-lo à sociedade” e
a negativa “quando a pena dirige-se ao infrator, visando sua neutralização.” Ao contrário da teoria
da prevenção geral que se dirige à coletividade, esta teoria se dirige a uma pessoa específica, qual
seja, o infrator;
c) Teoria Mista, Unificadora ou Eclética: devido às várias críticas tecidas contra as teorias
supramencionadas, uma nova teoria surgiu. Essa teoria foi chamada de mista devido ao fato de
mesclar o conteúdo das teorias absoluta e relativa, com o objetivo de suprir as deficiências de
ambas. De acordo com essa teoria, a pena não tem o sentido meramente retributivo. Não objetiva
somente a prevenção, mas também a ressocialização do autor do delito. “A pena é retribuição, mas
deve, por igual, perseguir os fins de prevenção geral e especial”(FRAGOSO, 2004, p. 345). Apesar
de tentar buscar uma melhor aplicação da pena, a teoria mista não escapou às críticas. Do con-
trário, as concentra. Como combinar uma teoria que nega um fim à pena com outra que aclara sua
finalidade? Outras críticas relacionadas dizem respeito à coação psicológica geral e ao alto índice
de reincidência observado naqueles que cumprem pena privativa de liberdade;
Todas as teorias supracitadas justificam a pena e não discordam de que sua aplicação é
necessária para que haja o bom convívio social. O ordenamento jurídico pátrio adota a teoria mista
da pena.
O art. 59 do Código Penal3 traz em seu bojo as circunstâncias que devem ser levadas em
consideração para que a pena alcance seu fim, qual seja, a reprovação e a prevenção do crime.
Mas será mesmo possível aferir, através dos critérios do referido artigo, uma pena-base
que seja justa, individual, proporcional e humana e que ainda reprove e previna o crime? O juiz,
ao aplicar a pena-base, tem que julgar as circunstâncias judiciais previstas no caput do art. 59 do
Código Penal. Porém, apesar de sua decisão ter de ser motivada, a valoração dessas circunstân-
cias é subjetiva, o que faz com que cada magistrado julgue de acordo com o seu entendimento.
Assim, muitas vezes, o quantum da pena aplicada nem sempre corresponde ao ideal para alcançar
seus fins. Por se tratar de poder discricionário, o magistrado julgará de acordo com seus valores
ideológicos e culturais.
d) Teorias Abolicionistas: com o fracasso do atual sistema penal onde a pena privativa de
liberdade é a regra e o nível de reincidência é altíssimo, uma proposta abolicionista surgiu criticando
a legitimidade do sistema posto e os excessos de “atos de poder” praticados pelo Estado, como
tratamento desumano nos presídios, condenação de inocentes, dentre outros. Essa teoria critica
ferrenhamente o fim almejado pelo atual sistema penal, qual seja, o controle da criminalidade. Louk
Hulsman, Edson Passeti e Michel Focault são grandes expoentes da teoria abolicionista. Assim
como nas demais teorias, o abolicionismo penal também sofreu críticas, sendo considerado como
utópico e insuficiente para deter os crescentes índices de violência. A exclusão do poder de punir
do Estado faria com que os próprios indivíduos buscassem seus meios de resolver os conflitos,
trazendo novamente à tona a vingança privada e uma sociedade sem regras.
O sistema penal retributivo/preventivo, como modelo vigente, vem sendo fadado ao fracas-
so.
Marcelo Gonçalves Saliba, citando Lola Aniyar de Castro indica que fracassaram os “fins ex-
3 Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos,
às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.
plícitos da prisão e do tratamento”, qual seja, a melhora do ser humano, porém, seus fins implícitos
foram cumpridos:

Reproduzir o sistema de classes e deixar a classe hegemônica de mãos livres para


realizar seus objetivos através da racionalidade do mercado; ratificar as teorias do
senso comum, as quais, ao separar as classes delinquentes das classes não deli-
quentes, consolidam a estratificação. (SALIBA ,2009, p.70 apud CASTRO, 2005, p.
49)

Desse modo, os excluídos pelo sistema, não conseguem novamente se “aderir” à socie-
dade, o que faz com que a reiteração de práticas delituosas aumente a cada dia.
A desigualdade do sistema retributivo/preventivo é criticada por Baratta, que tece as seguin-
tes críticas:

a) o Direito Penal tutela somente bens essenciais e o faz com ‘intensidade desigual
e de modo fragmentário’; b) a lei penal não é igual para todos, existindo um processo
seletivo de criminalização; c) a seleção das condutas criminalizadas é independente
do status social e interesse lesado, no sentido de que estas não constituem a variável
principal da reação criminalizante e da sua intensidade. (BARATTA, 2002. p. 162)

Um bom exemplo é o que acontece com os crimes de ‘colarinho branco’ que, quando pu-
nidos, recebem sanções muitos leves, causando repulsa na sociedade devido à desproporção da
pena e do tratamento “privilegiado” dispensado aos infratores desse tipo de crime. A ação penal 470
(Mensalão) trouxe algumas condenações, porém, articulações processuais levaram a uma redução
da pena, sendo que muitos não ficarão privados da liberdade por muito tempo.

MODELOS DE PRÁTICAS RESTAURATIVAS

A Organização das Nações Unidas enunciou, através de resolução de seu Conselho


Econômico, os princípios básicos que regem a justiça restaurativa, quais sejam: voluntariedade,
consensualidade, confidencialidade, celeridade, urbanidade e imparcialidade.
Diante dos princípios, modelos de práticas restaurativas foram criados a fim de que um mel-
hor resultado fosse alcançado.
O reconhecimento de que a justiça restaurativa evolui como uma resposta ao crime, de ma-
neira a respeitar a dignidade e a igualdade das pessoas, enseja uma variedade de medidas que se
adaptam ao sistema de justiça criminal, sem prejudicar o direito público dos Estados em processar
presumíveis infratores.
Alguns conceitos terminológicos são identificados pela ONU, a saber:
1).Programa restaurativo: através de processos restaurativos, visa alcançar resultados tam-
bém restaurativos. Há o atendimento das necessidades e das possibilidades das pessoas envolvi-
das no conflito, além do respeito aos direitos humanos e à dignidade da pessoa humana.
2) Processo restaurativo: participação ativa das pessoas envolvidas no delito (vítima, infrator
e comunidade) para melhor resolução dos problemas através do diálogo entre as partes.
3) Resultado restaurativo: é o acordo alcançado através do processo restaurativo que visa
a reparação do dano à vítima e a reintegração do infrator à sociedade. Essa reintegração se dá at-
ravés da assunção de responsabilidades onde o autor, além de reparar e restituir a vítima também
presta serviços à comunidade como forma de se redimir.
Marcelo Gonçalves Saliba, citando Gomes Pinto elucida a respeito do procedimento da
justiça restaurativa da seguinte forma:
Trata-se de um processo estritamente voluntário, relativamente informal, a ter lugar
preferencialmente em espaços comunitários, sem o peso e o ritual solene da ar-
quitetura do cenário judiciário, intervindo um ou mais mediadores ou facilitadores,
e podendo ser utilizadas técnicas de mediação, conciliação e transação para se al-
cançar o resultado restaurativo, ou seja, um acordo objetivando suprir as necessi-
dades individuais e coletivas das partes e se lograr a reintegração social da vítima e
do infrator. (SALIBA, 2009, p.175).

Zehr (2008) identifica os três modelos de justiça restaurativa mais utilizados no mundo:
a) Mediação entre vítima e ofensor: Prática mais utilizada na solução consensual dos litígios.
Um terceiro imparcial, chamado mediador, tenta auxiliar as partes na resolução do conflito. Há um
estreito relacionamento entre vítima e ofensor, havendo redução do medo por parte da vítima e
uma maior possibilidade de cumprimento do acordado por parte do agressor. Porém, antes que o
encontro aconteça, vítima e ofensor se encontram, separadamente, com um mediador treinado,
que avalia se ambos estão preparados para enfrentar a situação. Países como Estados Unidos e
Canadá já adotam esse tipo de prática há mais de 20 anos;
b) conferências familiares: modelo que teve como base as soluções de conflitos adotadas
pelos indígenas maoris. Há o envolvimento da família, de amigos, além da polícia, de advogado e
do facilitador. Nesse modelo, o policial relatará os fatos e ao infrator é proporcionado um advogado.
Vítima e agressor serão ouvidos e, após, familiares e acompanhantes poderão se manifestar. Em
seguida, o agressor se reúne juntamente com seus acompanhantes a fim de se responsabilizar e
estabelecer uma solução para o conflito. A proposta é apresentada para a vítima e seus familiares
objetivando um acordo de forma consensual. Normalmente, os acordos envolvem pedido de descul-
pas, restituição do dano à vítima e serviços à comunidade. Esse modelo, embora mais difícil de se
implementar, possui vantagens sobre o modelo de mediação entre vítima e ofensor. Há uma maior
facilidade na comunicação por causa da ajuda das pessoas envolvidas, uma melhor discussão dos
fatos e a possibilidade de várias sugestões para a reparação do dano;
c) círculos restaurativos: também conhecidos como círculos de paz, são encontros que en-
volvem a participação das partes (vítima e infrator), da comunidade, dos familiares e dos amigos,
juntamente com um coordenador, que auxiliará a comunicação dos envolvidos a fim de que alcan-
cem a melhor solução para o conflito. Para seu desenvolvimento, três etapas devem ser obser-
vadas: pré-círculo, círculo e pós-círculo. O pré-círculo consiste basicamente no convite à partici-
pação do círculo feito pelo coordenador aos principais interessados (vítima e infrator). Em caso de
aceitação, o coordenador explicará a dinâmica do encontro, podendo as partes indicar pessoas que
as apoiarão durante a participação no círculo. O círculo é o efetivo encontro entre vítima, ofensor
e comunidade. É durante o círculo que os envolvidos terão a oportunidade de se expressarem e
chegarem a um acordo em que o agressor assumirá responsabilidade, oferecendo uma proposta
de reparação à vítima. Vale ressaltar que o agressor terá prazo para cumprir o acordado. No pós-
círculo, um novo encontro entre os participantes é marcado. Essa fase é a necessária para que o
coordenador verifique se o infrator assumiu sua responsabilidade cumprindo com o acordo e se
a vítima se sentiu restaurada com a proposta oferecida. Esse tipo de prática teve origem no Ca-
nadá.
Importante lembrar que os conciliadores ou mediadores são pessoas especialmente treina-
das e aptas para a realização do processo restaurativo.
Com relação ao acompanhamento de advogados e defensores públicos durante o processo
restaurativo, há quem entenda que não cabe a participação, porém, uma corrente intermediária
admite a intervenção desde que necessária.
A participação da comunidade é de suma importância para a pacificação entre vítima e
agressor. Segundo Calhau (2000, p. 230): “Uma sociedade que não protege e não presta assistên-
cia às vítimas de seus crimes não obtém níveis de cidadania dignos para o momento histórico em
que a humanidade se encontra.”
Os representantes comunitários devem tentar colaborar com o monopólio estatal para que
a punição retributiva não seja a única opção de resposta. Vítima, agressor e comunidade devem
participar de todo o processo tentando buscar a conciliação, o perdão, bem como a reparação do
dano. Nesse sentido, Pereira diz que a:

Imputação de parcela da responsabilidade da resolução de conflitos penais às partes


[...], significa a adoção de um Direito Penal de características mais humanitárias;
considerado este conflito como um agir comunicativo, que obtém solução mais ad-
equada no acordo entre os diretamente envolvidos, atendendo assim aos reclamos
da vítima e disponibilizando uma chance de reparação ao autor. (PEREIRA, 2002,
p. 90-91)

Assim, a resposta conjunta entre Estado e comunidade, com o apoio desta, possibilita res-
postas penais que não sejam privativas de liberdade e que respeitem a dignidade da pessoa hu-
mana.
Vale ressaltar que a justiça restaurativa não visa a extinção do atual sistema penal, apenas
o complementa, trazendo à tona, novas maneiras de resolução de conflitos através de práticas al-
ternativas. O novo paradigma surge como uma opção para a diminuição dos efeitos impostos pelas
penas do sistema retributivo/preventivo.
O ex ministro Cezar Peluso, em seu discurso de posse em 23/04/2010, conforme é possível
verificar no anexo A, proferiu algumas palavras a respeito dos problemas do judiciário brasileiro.
De acordo com Peluso, o Poder Judiciário encontra-se “assoberbado”, o que acarreta prorrogação
de prazos e execuções extremamente lentas e, muitas vezes, ineficazes. Para ele, alternativas às
soluções de conflitos devem ser incorporadas ao ordenamento jurídico pátrio.
Assim, buscando uma forma mais célere, amena e eficaz de resolver os conflitos, vários
países passaram a adotar técnicas e programas restaurativos a fim de promover a pacificação so-
cial.

O ATO INFRANCIONAL E A JUSTIÇA RESTAURATIVA

A Lei 8069/90, que diz respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, também, conhe-
cido como ECA, tem como um de seus objetivos disciplinar a aplicação das medidas socioeducati-
vas. Porém, qual é o real sentido da medida socioeducativa? Será que ela realmente protege e gera
responsabilidade ao adolescente infrator? Qual o papel da justiça restaurativa nesse contexto?
O ECA, assim como o Código Penal, também vem passando por crise, pois a sua conse-
quência maior é a perda ou a restrição da liberdade. Os estabelecimentos socioeducativos estão
lotados de jovens infratores sem nenhuma perspectiva de vida. Jovens que, na maioria das vezes,
tiveram sua infância ceifada pelas drogas ou até mesmo por pais que tinham o objetivo apenas de
povoar o mundo, não se importando com a educação e a estrutura de sua família.
Segundo Soares (2011, p 53.), as entidades para onde se conduzem os menores infratores
para o cumprimento de “medidas socioeducativas” nada mais são do que depósitos de jovens.
Esses estabelecimentos estão longe de ser alojamentos educativos. Pelo contrário, parecem peni-
tenciárias (sucursais do inferno).
De acordo com os artigos 228 da Constituição Federal e 27 do Código Penal, os menores
de 18 anos são penalmente inimputáveis e se sujeitam às normas da legislação especial, qual seja,
o Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, vale ressaltar que inimputabilidade não significa
irresponsabilidade. Mesmo inimputáveis os menores de 18 anos são penalmente responsáveis. O
artigo 112 do Estatuto da Criança e Adolescente4 elenca os vários tipos de medidas socioeducati-
vas que podem ser aplicadas, levando-se em consideração a capacidade do infrator de cumprir a
medida imposta, as circunstâncias e a gravidade do ato infracional cometido.
A aplicação dessas medidas, assim como na aplicação da pena criminal, é poder exclusivo
do Estado, que exerce sobre elas o seu monopólio. Assim como na legislação penal, o ECA tam-
bém está alicerçado sobre os princípios da justiça retributiva/preventiva, onde os protagonistas da
história, na maioria das vezes, não exercem o papel principal, não havendo a responsabilização do
jovem infrator.
A Lei 8069/90 tem como base as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos
Jovens Privados da Liberdade que dispõe, em seu item 12, que:

A privação da liberdade deverá ser efetuada em condições e circunstâncias que ga-


rantam o respeito aos direitos humanos dos jovens. Deverá ser garantido, aos jovens
reclusos em centros, o direito a desfrutar de atividades e programas úteis que sirvam
para fomentar e garantir seu são desenvolvimento e sua dignidade, promover seu
sentido de responsabilidade e fomentar, neles, atitudes e conhecimentos que ajudem
a desenvolver suas possibilidades como membros da sociedade.

Nesse sentido, oportunidades deveriam ser apresentadas ao menor infrator enquanto o


mesmo se encontrasse em cumprimento de medida. Porém, isso nem sempre acontece e o ado-
lescente fica retido dentro de um estabelecimento “esperando o tempo passar” para que se possa
ver novamente nas ruas. Os programas de execução das medidas socioeducativas vêm passando
por um fenômeno parecido com o do sistema prisional. A falta de oportunidades e atendimento às
necessidades dos jovens infratores vem fazendo com que estes cometam novos atos infracionais,
aumentando o índice da reincidência.
Infelizmente, o alto índice de ilícitos cometidos por menores infratores, muitas vezes, refletem
o tratamento desigual da justiça e da sociedade para com jovens negros e pobres x jovens brancos
“mauricinhos”. A punição desastrosa aplicada a esse jovem pelo Estado, além de não recuperá-lo,
irá gerar nesse indivíduo, sentimento de revolta, criando nele uma imagem de adolescente violento
e criminoso. Este começará agir como tal, como forma de “agradecer” pelo tratamento que lhe foi
imposto.
Soares (2011, p. 50-53) cita um ótimo exemplo dessa desigualdade: dois jovens de 15 anos
se encontravam em uma padaria. Um branco, de classe média, vestido como playboyzinho e outro
negro, pobre e mal vestido. De repente, uma senhora que também se encontrava no estabeleci-
mento, anuncia que sua carteira fora roubada. Um policial que estava a paisana tomando o seu
café da manhã ordena que ninguém saia. Quem o policial revistou? Acho que essa pergunta tem
uma resposta óbvia. Enquanto revistava o jovem negro e malvestido, o adolescente branco, com
a carteira furtada, se retirou da padaria sem ser notado. Ambos os jovens portavam trouxinhas de
maconha. O negro, que nunca furtara na vida, fazia papel de aviãozinho para ajudar nas despesas
da família. Tinha a intenção de cair fora tão logo arranjasse um emprego. O branco, que comprara
a droga para distribuir em sua festa de aniversário, sequer foi notado pelo policial. O negro, apreen-
dido em flagrante e xingado de vagabundo, traficante e acusado pela sociedade de não valer nada,
foi enquadrado por tráfico, levado à delegacia, encaminhado ao juiz e internado em uma instituição

4 Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes me-
didas: I- advertência; II-obrigação de reparar o dano; III- prestação de serviços à comunidade; IV-liberdade assistida; V- inserção
em regime de semiliberdade; VI- internação em estabelecimento educacional; VII- qualquer umas das previstas no art. 101, I a
IV.
para cumprir “medida socioeducativa”. O branco, mesmo portando uma quantidade que também se
enquadraria no tráfico, se tivesse sido autuado, seria levado à delegacia e, num instante, estaria
de volta à sua casa, devido ao fato de ser filhinho de papai. Ambos os jovens que se encontravam
na padaria cometeram o mesmo ilícito. O jovem branco continua solto e talvez, cometendo outros
ilícitos, quem sabe ainda piores, com a certeza da impunidade. O adolescente negro, encarcerado
numa instituição, terá agora, a chance de fazer sua carreira na vida do crime, onde a violência será
sua principal arma.
De acordo com o retromencionado autor, o papel das instituições deveria ser o de ajudar o
jovem a se recuperar, devolvendo a ele autoconfiança e amor-próprio. Porém, isso não é possível
com a restrição da liberdade.
Fazendo um paralelo com os estabelecimentos educacionais que, em sua maioria, não of-
erecem oportunidades aos adolescentes infratores durante o cumprimento da medida, tampouco
perspectivas para o futuro, alternativas além da institucionalização devem ser pensadas.
A privação da liberdade não gera ressocialização tampouco responsabilidade. O estigma gerado
pela sociedade tanto ao menor infrator quanto ao adulto criminoso ao saírem, respectivamente, do esta-
belecimento socioeducativo e da prisão, faz com que não consigam emprego e nem oportunidades para
começarem uma nova vida. Diante disso, o mundo do crime será a solução.
Nas palavras de Baratta, a estigmatização do jovem infrator bem como a do condenado
representa o comportamento futuro do desviante e, o sistema penal e as penas privativas de liber-
dade:

Antes de terem um efeito reeducativo sobre o delinquente determinam, na maioria


dos casos, uma consolidação da identidade do desviante do condenado e o seu
ingresso em uma verdadeira e própria carreira criminosa. (SALIBA, 2009, p. 64-65
apud BARATTA, 2002, p. 41)

Se o que se deseja é fazer com que o menor não cometa novo ato infracional, após o cumpri-
mento da medida, um novo paradigma deve ser criado. Nos dizeres de Konzen:

Não se trata, portanto, de deslegitimar a reação do Estado como justificativa para


conter a violência. Tampouco trata-se de sugerir um modelo abolicionista ou de
abandonar as formas de institucionalidade, com a exclusão da justiça formal, da
necessidade da norma, ou o abandono do estado democrático. Trata-se de instituir
ou de justificar, tanto nas relações entre os Estados como nas relações dos repre-
sentantes do Estado com os cidadãos, assim como nas relações entre os sujeitos, a
essencialidade absoluta da negociação, da palavra, da medição, como modalidade
primeira, e verdadeiramente ética, de (re)solver o conflito e, em consequência, de
resolver a violência. Está nessa perspectiva a possibilidade de fazer com que a re-
alidade possa tornar-se justa, com a qualidade da reconstrução das relações éticas
destruídas pela violência, em forma de manifestação da responsabilidade de uns
pelos outros.(KOZEN, 2007, p. 123)

Se respeito aos outros e aos princípios constitucionais fundamentais bem como a assunção
da responsabilidade pelo seu ato forem incutidos na mente do adolescente infrator, a sociedade, ao
devolvê-lo ao convívio social, irá tê-lo transformado em um cidadão de bem e não em um infrator.
Fazer com que o adolescente se sinta valorizado enxergando em si próprio suas qualidades
fará com que seu processo de transformação pessoal e arrependimento dos atos cometidos no
passado aconteçam de maneira tranquila e eficaz. A oportunidade da palavra entre os sujeitos
em conflito durante o círculo restaurativo também é extremamente importante para essa transfor-
mação.
O diálogo entre vítima, infrator e familiares é, portanto, o melhor instrumento para a busca da
verdade e, consequentemente, da melhor solução para o conflito.
O objetivo não é criticar indiscriminadamente o atual sistema, mas pensar em alternativas
que possam ajudar a evitar a violência. Desse modo, a justiça restaurativa vem com o intuito de ten-
tar amenizar os erros cometidos pelo sistema retributivo/preventivo, bem como estabelecer novas
dimensões sobre o significado de punição, responsabilidade e reparação de dano. Soares (2011, p.
127-135) cita um belo exemplo de como a aplicação da prática restaurativa pode ser eficiente: em
uma república moravam 5 jovens. Um dia, um dos rapazes, com problemas no trabalho e farto da
bagunça e desorganização na república, em um acesso de fúria, quebrou a TV que todos haviam
ajudado a pagar. Diante dessa situação, cada um dos jovens expressou a sua opinião sobre como
o dano teria que ser reparado. A primeira opinião foi a do rapaz que mais ficou revoltado. Para ele,
o jovem que quebrou a TV, além de merecer uma surra, deveria ser expulso da república e ainda ter
um objeto seu destruído. Desta forma, iria sentir na pele o que fez. A vingança seria olho por olho,
dente por dente. O segundo jovem a expressar opinião, sugeriu que o autor, além de ser expulso
da república, deveria arcar com todo o prejuízo causado, já que somente ele deu causa à destru-
ição da TV. A terceira opinião, emitida por um colega que fazia psicologia, foi totalmente diferente
das duas primeiras. Para ele, o autor não estava bem e precisava da ajuda. Disse aos colegas que
a vida do jovem valia mais do que o objeto quebrado. Na verdade, este eximiu o jovem de sua re-
sponsabilidade, “passando a mão” na cabeça dele. O jovem que expressou a quarta opinião disse
que surra e expulsão só serviriam para atenuar a revolta gerada, mas não resolveria o problema.
Segundo ele, justiça não é combater violência com violência. O autor deveria ressarcir o prejuízo,
mas o que o levou a praticar tal ato deveria também ser levado em consideração. A quebra da TV
não foi um gesto isolado e sem sentido. Todos, de alguma forma, contribuíram para a concretização
do ato. A desorganização reinava no apartamento. Cada um deveria contribuir para o conserto da
TV. Isso não significa dizer que o jovem não será responsabilizado, porém, todos os demais, tam-
bém têm uma parcela de culpa, ou seja, devem ser corresponsabilizados. A proposta foi a seguinte:
o jovem que quebrou a TV arcará com 50% do prejuízo causado e os outros 50% será dividido entre
os demais. Além disso, as regras da república serão modificadas e todos, de alguma forma, as-
sumirá tarefas e se responsabilizará pelo fiel cumprimento destas. Diante disso, desde que o autor
assuma as regras pactuadas, não será expulso da república. Essa foi a melhor opinião e a melhor
maneira de solucionar o conflito.
Apesar de vários países já terem comprovado a eficácia das práticas restaurativas em se
tratando de jovens infratores, a legislação brasileira ainda não dispõe totalmente de programas que
visem a aplicação de tais práticas.
O ECA, em seus artigos 1265, 1276 e 1287 trata do instituto da remissão, que, de alguma
forma, poderia ser uma prática restaurativa, se o círculo restaurativo fosse aplicado antes do iní-
cio do processo, como uma forma do adolescente infrator se responsabilizar pelo ato e pelo dano
causado. Esse instituto tem o objetivo de, além de desafogar o judiciário, tentar evitar que o jovem
infrator sofra os efeitos danosos de um processo.
A remissão, como vista, pode ser concedida tanto na fase pré-processual (antes do ofereci-

5 Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do Ministério Pú-
blico poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e consequências do fato, ao
contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional.
6 Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece
para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colo-
cação em regime de semiliberdade e a internação.
7 Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece
para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colo-
cação em regime de semiliberdade e a internação.
mento da representação) quanto na fase processual (após o oferecimento da representação, em
qualquer fase do processo) como meio de exclusão, suspensão ou extinção do procedimento.
Ofertada a proposta de remissão pelo Ministério Público, o adolescente infrator não mais re-
sponderá pelo ato infracional cometido. Essa remissão, chamada de remissão parajudicial, pura ou
simples não pode ser aplicada com qualquer outra medida socioeducativa, já que esta é atribuição
exclusiva do juiz, de acordo com a Súmula nº 108 do STJ8.
A remissão aplicada no curso do processo é chamada de remissão condicionada, já que esta
sempre vem acompanhada de uma ou mais medidas socioeducativas. Ela é ato consensual e, por
isso, depende da anuência do infrator em concordar em cumprir a medida ou as medidas impos-
tas.
Caso seja imposta a remissão ao adolescente infrator, o Estado não poderá aplicar-lhe medi-
da de privação de liberdade caso este descumpra o acordado. Se isso pudesse acontecer, o princí-
pio da proteção integral estaria sendo descumprido, pois haveria a figura penal da transgressão.
A remissão por si só, de acordo com o art. 127 do ECA, não implica necessariamente o
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, por isso, não há que se falar em restaura-
tividade.
O instituto utilizado atualmente deveria passar por uma transformação para que a justiça
restaurativa pudesse ser aplicada. Para isso, os órgãos da justiça deveriam promover o encontro
entre vítima, infrator e familiares (círculos restaurativos) antes de iniciado o processo, a fim de que
houvesse uma solução para a reparação do dano, bem como a responsabilização do menor infra-
tor. Daí sim poder-se-ia falar em remissão.
Em 18 de janeiro de 2012, foi criada a Lei 12.594, mais conhecida como Lei do Sinase
(Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) que regulamenta a execução das medidas so-
cioeducativas aos adolescentes infratores, através de programas de atendimento compostos por
uma equipe de profissionais multidisciplinares.
De acordo com o art. 1º, § 1º:

Entende-se por Sinase o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que


envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão,
os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e
programas específicos de atendimento a adolescente em conflito com a lei.

Os planos e programas de atendimento são destinados ao acompanhamento do menor in-


frator enquanto este se encontrar no cumprimento de medida. Haverá um plano individual de at-
endimento (PIA) para cada adolescente com o objetivo premente de ressocialização. Este plano,
que será elaborado por uma equipe técnica, contará com a participação efetiva do adolescente e
de sua família.
O parágrafo único do art. 52 da referida lei impõe aos pais ou responsáveis o dever de partic-
ipar do processo de ressocialização do adolescente. Isso não é uma opção e sim uma obrigação.
O art. 35, II e III9 do referido diploma legal diz respeito à obrigação de reparar o dano. En-
fatiza a reparação, através de práticas restaurativas, tentando sempre atender às necessidades da
vítima. A justiça restaurativa passa efetivamente a ter previsão no ordenamento jurídico brasileiro,
deixando de ser vista como um direito alternativo passando a ser um dos princípios da execução
da medida sócio educativa.
A Lei do Sinase foi um grande avanço com relação ao tratamento destinado ao menor infra-
8 A aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente pela prática de ato infracional, é de competência exclusiva do
juiz.
9 Art. 35. A execução das medidas socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios:
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas, favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos;
III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que possível, atendam às necessidades das vítimas;
tor, porém, mesmo com esse avanço, o adolescente ainda tem que passar pelas consequências
do processo. O ideal seria que esses programas fossem destinados aos jovens infratores antes
da aplicação de alguma medida socioeducativa. Desta forma, vítima seria ressarcida e agressor,
através da assunção de responsabilidades, restituiria, de alguma forma, o dano causado, sem que
para isso um processo judicial fosse necessário.
O atual sistema vem passando por várias críticas. Um novo modelo, mesmo que a título de
experiência, precisa ser implementado para que um novo paradigma seja criado. Romper com o
tradicional é muito difícil, mas diante da atual conjuntura, lutar por um novo modelo onde a institu-
cionalização não seja a regra é de suma importância. Práticas restaurativas vêm sendo adotadas,
porém, estas devem ser reformuladas quanto ao início de sua aplicação, numa perspectiva de
continuidade e nunca de retrocesso. Jovens infratores devem ter a oportunidade de se responsa-
bilizarem sem ter que passar pelas consequências do processo, sobretudo em conflitos na escola.
O encontro entre vítima e infrator deveria ocorrer antes do início do processo para que, dessa ma-
neira, a máquina judiciária não fosse movimentada e que as partes não precisassem passar pelas
consequências do mesmo.

CONCLUSÃO

Muitos se perguntam em que situações a justiça restaurativa pode ser aplicada. Pois bem, a
resposta é que esta pode ser aplicada em todos os tipos de crime nas fases pré processual, proces-
sual bem como na fase de execução penal. Mas como isso acontece?
Na fase pré-processual, ou seja, na fase de inquérito policial, poderá ocorrer o encontro vol-
untário entre vítima e ofensor através do círculo restaurativo com a rede de apoio. Nesse caso, a
vítima relatará ao agressor todos os seus sentimentos e angústias e este, por sua vez, tentará, de
alguma forma, reparar o dano causado. Através da rede de apoio, vítima será assistida e agressor
assumirá responsabilidades que lhes serão cobradas. Nesse caso, o promotor de justiça poderá
requerer o arquivamento dos autos.
Na fase processual, ou seja, após ter sido oferecida e recebida a denúncia, o círculo restau-
rativo poderá ser aplicado como uma atenuante para diminuir a pena a ser cumprida.
Já na fase de execução, a justiça restaurativa, assim como já ocorre com os adolescentes
infratores, na lei do Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), poderá ser apli-
cada, após o cumprimento da pena, através de ações educacionais, culturais e capacitação para o
trabalho. Assim, ao sair da prisão, o agressor terá uma rede de apoio cujo objetivo será reinseri-lo
na sociedade.
Dessa forma, pode-se perceber que a justiça restaurativa é um sonho possível que aos
poucos vem sendo concretizado. É preciso que um novo paradigma surja como alternativa ao atual
sistema penal. Punição por mera punição e prevenção sem oportunidades apenas estigmatizam o
criminoso, fazendo com que este permaneça na vida do crime. O caminho da reintegração social
é a restauração. Somente através da assunção de responsabilidades e de novas oportunidades, o
agressor voltará a sentir-se como parte da sociedade.

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MEDIDA DE SEGURANÇA: DIÁLOGO ENTRE O DIREITO E A PSICOLOGIA

Isabela Alves Lima 1


Jamille Belchior Machado
Juliana Severino
Lucas Brenner Costa e Silva
Paulo César D’alessandro Reis
Simone Matos Rios Pinto 2

RESUMO

Após várias reflexões e debates, no grupo de iniciação científica do curso de Direito, acerca do
tema inimputabilidade penal por incapacidade de entender o caráter ilícito ao tempo da ação ou
da omissão, registra-se, neste artigo, as conclusões. Constata-se que o tema não se encerra, o
diálogo ficará sempre aberto àqueles que pretenderem debater a melhor resposta para casos de-
clarados de inimputabilidade por ‘loucura’, que marcam o sistema penal brasileiro com internações
perpétuas.
Palavras-chave: inimputabilidade penal, deficiência mental, dignidade da pessoa humana.

ABSTRACT

After several discussions and debates in the undergraduate group of law school, about the criminal
unaccountability theme by inability to understand the illicit character to the time of the action or omis-
sion, is recorded, in this article, the conclusions. It appears that the issue does not end, dialogue will
always be open to those wishing to discuss the best response to reported cases of unaccountability
by madness that mark the criminal justice system with perpetual admissions
Key words: criminal unaccountability, mental disability, human dignity.

1 INTRODUÇÃO

A doutrina e a jurisprudência nos ensinam que o Direito Penal é, dos ramos do Direito, a
última ratio, ou seja, por cercear a liberdade do ser humano, só deve atuar quando houver grave
lesão aos bens jurídicos assegurados pelo Direito. Enquanto outros ramos derem uma resposta
suficiente, não há de se aplicar o Direito Penal. E ainda, dentro do próprio Direito Penal, a apli-
cação da sanção restrição da liberdade deve ser também usada em casos em que outras sanções
não forem a resposta suficiente. Assim, quando a pena não ultrapassar quatro anos e o crime não
for cometido com violência ou grave ameaça, sendo o ofensor não reincidente específico, pode a
pena privativa de liberdade ser substituída por restritivas de direitos. Institutos outros como o da
Transação Penal, Suspensão Condicional do Processo e Suspensão Condicional da Pena podem
ser aplicados, se adequados a cada caso. A política criminal do momento é de encarceramento,
somente em casos mais graves, reconhecendo toda a falha do sistema prisional em não cumprir
os anseios da Lei de Execução Penal, tampouco, a finalidade da prevenção de crimes. Cenas de
presídios superlotados e notícias de maus tratos levam pesquisadores a questionar a legitimidade
deste método de punição.
Da mesma maneira, a política criminal de internação, no caso de aplicação da medida de
segurança, deve orientar-se no sentido da política criminal da prisão, de ser aplicada somente em
casos mais graves e com obediência aos comandos da Lei de Execução Penal, sobretudo no que
1 Graduandos do curso de Direito da Faculdade Divinópolis – FACED.
2 Professora do curso de Direito e coordenadora do NUPED-IPPEX-FACED. E-mail:simonemrpinto@yahoo.com.br
tange à dignidade da pessoa humana.

2 O HOLOCAUSTO BRASILEIRO

As investigações partiram do seguinte questionamento: será que existe algo pior no sistema
prisional brasileiro? A constatação foi afirmativa a partir dos estudos da obra da jornalista Daniela
Arbex: “O Holocausto Brasileiro”. O documentário revela que, dentro dos manicômios judiciais, hoje
intitulados hospitais psiquiátricos, o tratamento pode ser ainda mais desumano que nos presídios,
próximo das cenas que retrataram as atrocidades da segunda guerra mundial. Os registros,
encontrados, no Hospital Psiquiátrico de Barbacena, maior hospício do Brasil, são de aproximada-
mente sessenta mil pessoas mortas, num período que atravessou a maior parte do século XX.
A causa das mortes era frio, fome, doenças e choques, durante as internações. Consta-se que
grande parte dos internados eram seres humanos descartados pela sociedade, que ao chegar
à internação, perdiam a identidade e tornavam-se invisíveis aos olhos da sociedade. Como relata
Arbex:

Eram pessoas diferentes ou ameaçavam a ordem pública. Por isso, a Colônia tornou-
se destino de desafetos, homossexuais, militantes políticos e todos os tipos de in-
desejados, inclusive os chamados insanos. A teoria eugenista que sustentava a idéia
de limpeza social, fortalecia o hospital e justificava seus abusos. Livrar a sociedade
de escória, desfazendo-se dela, de preferência em local que a vista não pudesse
alcançar. (ARBEX, 2013, p. 13.)

Enquanto em meados dos anos 60, do século passado, os estudiosos do Direito Penal mar-
cavam uma nova etapa das Ciências Penais, sobretudo na Alemanha, na tentativa de reconstruir
um sistema penal centralizado no respeito da dignidade da pessoa humana, após a tragédia da se-
gunda guerra mundial, o Brasil, em plena ditadura, compactuava com discursos de eliminação e ex-
clusão. O questionamento que se faz é: a intolerância social com o diferente continua enraizada?
Do documentário de Arbex concluímos que ontem foram os judeus e loucos, hoje os indese-
jáveis continuam os loucos somados aos dependentes químicos taxados de “perigosos”, vistos
como irracionais e não como sujeitos de direitos:

Tragédias como a do Colônia de Barbacena nos coloca frente a frente com a intol-
erância social que continua a produzir massacres: Carandiru, Candelária, são velhos
nomes para velhas formas de extermínio. Ontem os judeus e os loucos, hoje, os
indesejáveis são os dependentes químicos, e, com, eles temos o retorno das inter-
nações compulsórias. Será a reedição dos abusos sob a forma de política de saúde
pública? O país está novamente dividido. Os parentes dos pacientes também. Pouco
instrumentalizadas para lidar com as mazelas impostas pelas drogas e pelo avanço
do crack, as famílias continuam se sentido abandonadas pelo Poder Público, re-
produzindo, muitas vezes involuntariamente, a exclusão que as atinge. O fato é que
a história de Barbacena é a nossa história. Os campos de concentração vão além de
Barbacena. (ARBEX, 2013, p.241)

Apesar dos equívocos e acertos na construção de um novo paradigma para a saúde pública,
a loucura ainda é usada como justificativa para a manutenção da violência e da medicalização da
vida. Violência institucionalizada nas prisões, nos centros socioeducativos, nos hospitais psiquiátri-
cos. A proposta do documentário “O Holocausto Brasileiro” é expor a todos nós uma realidade que
perpassa dentro destas instituições. Como exposto na obra, o descaso diante da realidade nos
transforma em prisioneiros dela.
Ao ignorá-la, nos tornamos cúmplices dos crimes que se repetem diariamente
diante de nossos olhos. Enquanto o silêncio acobertar a indiferença, a sociedade
continuará avançando e retroagindo, em direção ao passado de barbárie. (ARBEX,
2013, p.241)

Revela-se, a partir deste estudo situações de indignidade que pensava-se não existir em
terras brasileiras. Somos responsáveis por reconstruir nossa história. Devemos sair da posição de
neutralidade e reconhecer um Direito que tenha efetivamente um compromisso de garantir a todos
os brasileiros o seu reconhecimento como cidadãos sujeitos de direitos. Não pode haver exceção
a esta regra. Aqueles que estão em estado de sofrimento mental não devem ser objetivados e es-
tereotipados de “loucos perigosos” e irracionais, esquecidos em hospitais psiquiátricos, dentro do
isolamento em completa exclusão.

3 MEDIDA DE SEGURANÇA

Medida de Segurança é, ao lado das penas, uma espécie de sanção penal. Medida com que
o Estado reage contra a violação da norma proibitiva, por agente não imputável por doença mental.
São duas as espécies: internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e sujeição a
tratamento ambulatorial.
A palavra medida é empregada no sentido de respeito à singularidade do sujeito, em det-
rimento de tratar a todos da mesma maneira. Apesar da definição da palavra, observa-se que o
cumprimento desta ocorre de maneira desmedida. O que condiciona o tempo de permanência, em
hospitais psiquiátricos, está mais direcionado ao contexto social em que o internado está inserido,
sobretudo, com a presença da família, do que sua possibilidade de responder ao tratamento. Em
muitas situações, a família não aceita o sujeito o que faz com que as medidas perdurem de ma-
neira perpétua. Enquanto o preso imputável tem direitos garantidos como progressão do regime,
livramento condicional, suspensão condicional da pena, aquele que deveria receber, por parte do
Estado, maior proteção por ser considerado doente mental, no cumprimento de Medida, não re-
cebe tais institutos, somente a desinternação para tratamento ambulatorial, sem um tempo deter-
minado, é permitida. A justificativa de tal diferenciação está no entendimento de que, na medida
de segurança, não há a finalidade retributiva, mas preventiva. Portanto, a internação perdura en-
quanto não cessar a periculosidade do sujeito. Diante das controvérsias de laudos sobre a cessão
da periculosidade vale destacar a conclusão de Franco Basaglia: “a periculosidade não reside na
especificidade do diagnostico; reside, muito mais, na falta de respostas às necessidades das pes-
soas”. (Basaglia, 1985, p.41).
É a falta que leva a pessoa a praticar certas condutas tidas como ilícitas. Isto não significa
que crime é praticado por “anormais” e nem todo doente mental comete crime, o que nos leva a
concluir que todos nós estamos propensos a praticar atos considerados como crimes. No Seminário
de Iniciação Cientifica, realizado na FACED, que teve como finalidade debater o tema, Marcelo
Fonseca de Souza, professor do curso de psicologia, nos lembra que nada é mais humano que o
crime. O Código Penal tipifica condutas possíveis de serem praticadas por qualquer ser humano.
Nas pesquisas realizadas, observa-se que para o doente mental, falta atenção às suas necessi-
dades. É comum o relato da percepção de comportamentos diferentes, contudo, o tratamento em
instituições públicas é na maioria das vezes interrompido. Como no depoimento de uma mãe que
narra: “tive cinco filhos normais e este que sempre deu problema.” A exclusão começa na família,
perpassa pela sociedade: “desde menino ele tem comportamentos diferentes, corria de toda cri-
ança que se aproximava”. E, quando a falta não é suprida, acaba o sujeito entrando no grupo dos
indesejáveis merecendo restrição da liberdade, incorporado do discurso da periculosidade social.

3.1 Laudo de constatação da in(sanidade mental)

Tarefa difícil aos operadores do direito é identificar o agente de um fato típico como inim-
putável, já que os critérios para verificar a inimputabilidade perpassam pelo estudo da psicologia e
psiquiatria. Neste ponto, o Direito dialoga com outros ramos da ciência com a finalidade de buscar
sustentação para decidir se, ao agente deve ser aplicada pena ou se pela saúde mental, recomen-
da-se tratamento de saúde, neste caso, o agente recebe a absolvição imprópria condicionada ao
tratamento de saúde mental.
O critério para se averiguar a inimputabilidade quanto à higidez mental é o bio psicológico.
Neste contexto, no caráter biológico, busca-se saber se o agente é ou não doente mental, ou seja,
se possui ou não um desenvolvimento mental incompleto ou retardado. A análise psicológica se
traduz na capacidade de entender o caráter ilícito do fato. Portanto, além da enfermidade mental
deve-se buscar, no caso concreto, prova de que o transtorno realmente afetou a capacidade de
compreender o caráter ilícito do fato.
A prova que se faz é uma perícia denominada de Laudo de in(sanidade) mental. Em várias
situações, nos procedimentos processuais penais, o juiz não decide sem que esta perícia esteja
nos autos. Como no caso do artigo 397, do Código de Processo Penal em que o legislador elenca
situações que autorizam ao juiz absolver sumariamente o agente excetuando casos de existência
manifesta de não culpabilidade pela de inimputabilidade. Neste momento, processual o óbice ad-
vém da necessidade desta perícia.
Todavia, caso o agente possua doença mental e pratique ações em situações que se en-
quadrem em outras causas de absolvição sumária, esta poderá ser aplicada. Exemplificando, se
o agente, apesar de possuir doença mental, agir em legítima defesa, poderá ser absolvido como
qualquer outro imputável, em respeito a todos os princípios do Direito Penal.
O mesmo raciocínio se repete nos procedimentos de crimes dolosos contra a vida. O juiz, ao
final da primeira fase deste procedimento, poderá absolver o acusado em situações elencadas no
artigo 415 do Código de Processo Penal, excetuando casos que demonstrem causa de isenção de
pena ou exclusão do crime no caso de inimputabilidade. Neste ponto, o legislador possibilita a ab-
solvição quando a única tese defensiva versar sobre a inimputabilidade do sujeito, após a juntada
do laudo de insanidade mental, poderá o juiz decidir pela absolvição imprópria ou não.
Constata-se que o exame de insanidade mental é a prova fundamental para as decisões que
versem sobre inimputabilidade por doença mental, não podendo o juiz decidir pelo princípio do livre
convencimento motivado, nesses casos, também não se aplica a regra de que juiz não fica adstrito
a provas. Caso ainda haja dúvidas acerca do laudo apresentado, deve o magistrado submeter o
agente a novo exame médico com formulação de novos quesitos para que disponha de elementos
suficientes para sua decisão.

3.2 Doença Mental

Doença mental são alterações psíquicas abrangendo doenças de origem patológica e toxi-
cológica. As psicoses são doenças mentais que enquadram dentro de um quadro clínico de ps-
icopatologias, onde a pessoa perde o contato com a realidade. Em momento de crise apresenta
alucinações ou delírios, desorganizações psíquicas, transtornos psicomotores, sensitivos, dificul-
dades de interação social e dificuldade de realizar atividades de vida diária (AVDs). Pode-se dividir
a psicose em dois grandes grupos: a orgânica, ligada a uma desordem fisiológica ou a uma lesão
cerebral (demência senil, psicose sifílica, psicose alcóolica) e a funcional, que é acompanhado por
um distúrbio total da personalidade e uma desordem mental muito grande (esquizofrenia, ciclof-
renia ou psicose maníaco depressiva e epilepsia genuína). A pesquisa se limitou às psicoses do
segundo grupo.
Esquizofrenia: é um distúrbio de personalidade e comumente chamados de “loucos”. Es-
tranha o social, pois despreza a realidade. Há discordância cultural, menospreza a razão em prol
da fantasia. Ocorrem distorções do pensamento, da percepção e inadequação dos afetos. Traz
um prejuízo bastante severo e a pessoa torna-se incapaz de atender às exigências da vida e
da realidade. Na esquizofrenia paranóide, a pessoa apresenta mania de perseguição, mas é um
quadro clínico que responde melhor ao tratamento. A esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada,
apresentam discurso infantil, emoções desapropriadas. Na esquizofrenia catatônica, as pessoas
apresentam transtornos psicomotores acentuados. A esquizofrenia residual é uma esquizofrenia
crônica e a esquizofrenia simples, os sintomas são mais amenos, apresentando um isolamento
social, depressão e distúrbio de caráter.
1) Psicose maníaco depressiva ou ciclofrenia ou transtorno bipolar: cicla estados nor-
mais ou de euforia com estados depressivos, ou seja, estados de intensa agitação com estados de
intensa tristeza. Quando fixa apenas no estado depressivo, a chamamos de doença afetiva unipo-
lar.
2) Epilepsia genuína: nesse quadro ocorre perda de consciência, contrações muscu-
lares, alterações motoras, agressividade, perturbação do pensamento e agitação.
Não podemos deixar de tratar aqui das personalidades psicopáticas e da oligofrenia. As
personalidades psicopáticas também encaixam dentro das perturbações mentais. Os psicopatas
são pessoas de inteligência média, competitivos, com grande capacidade de socialização, são
empreendedores e de sucesso. Entretanto, não apresentam sentimento, afeto, amizade, amor,
gratidão e não demonstram sequer nem um pouco de remorso pelos seus atos. São egocêntricos
e egoístas. Com relação à oligofrenia, que é uma doença mental que afeta a inteligência de uma
pessoa, sendo chamados de retardados mentais, as pessoas que revelam esse quadro clínico
apresentam um desenvolvimento mental compatível ao de uma criança. Desta forma, não têm ca-
pacidade de um entendimento real das coisas.
De acordo com Palomba:

A diferença entre o psicótico e o neurótico é que no primeiro a patologia mental brota


do nada, simplesmente nasce na mente, enquanto que no neurótico o estado mental
alterado está baseado em vivências dolorosas do passado, próximo ou remoto. O
neurótico sabe que é problemático, tanto é que às vezes chega a achar que está
ficando louco, ao passo que o psicótico, que é louco propriamente dito, nunca acha
que está doente da psique: vive o seu delírio como se fosse uma realidade inques-
tionável e não é possível convencê-lo do contrário. (PALOMBA, 2003, p.546).

A partir da compreensão destas psicoses, pode-se compreender atitudes como as de Car-


los que matou o sobrinho de cinco anos. No seu depoimento, afirma que matou porque o sobrinho
“mexeu com ele”. E no depoimento de Alexandre que narra que quando da prisão em flagrante, por
crime de roubo, “ouviu uma voz que disse que ele matasse alguém, as algemas sumiriam” e ainda
no depoimento de Daniel que não reconhece seu pai: “aquele não é meu pai, meu pai vai aparecer
e me buscar”. Carlos está internado há 27 anos, em Barbacena, Alexandre vive sozinho, está medi-
cado e espera a extinção da punibilidade, Daniel vive nas ruas, recentemente agrediu uma senhora
idosa e começa um novo processo acerca deste fato.
O que eles têm em comum? Doença mental agravada pela falta de acolhimento familiar e
social e de aceitação das diferenças que os cercam. E como relata Salo de Carvalho, não obstante
o sofrimento mental:
É parâmetro de justificação da incidência do sistema penal sobre os indivíduos clas-
sificados como perigosos. Representa, em classificação ideal típica, o mais espetac-
ular resíduo etiológico, nos sistemas penais contemporâneos. (CARVALHO, 2003,
p. 137).

4 PENA x MEDIDA DE SEGURANÇA

Se podemos atribuir várias finalidades à aplicação da pena, seja retribuição, prevenção e


ressocialização, com olhar para o fato passado, no que tange a medida de segurança o olhar
volta-se ao futuro, levando em conta a periculosidade do agente. Neste entendimento, a medida de
segurança não teria caráter punitivo e sim curativo.
Há quem defenda que à medida de segurança não se aplica o princípio da reserva legal e
da anterioridade justamente por ter caráter puramente assistencial, como a doutrina de Assis To-
ledo 3. Todavia, a maior parte da doutrina entende que por ser medida restritiva da liberdade, não
se pode negar o caráter punitivo, bem como todos os princípios inerentes à pena, inclusive o da
proporcionalidade. Neste sentido, urge a problematização acerca da proporcionalidade da medida
comparando à aplicação da pena.
A pena deve ser aplicada de acordo com a gravidade do delito. Como num caso hipotético
de um furto qualificado e um simples. O furto simples tem uma pena menor que o do qualificado.
A pena varia de acordo com a gravidade do delito e na medida de segurança de acordo com a
periculosidade do agente. No mesmo exemplo de um furto qualificado e um simples, com agente
inimputável, não necessariamente a sanção será maior em um ou em outro delito.
A problematização se estende à desproporcionalidade do tempo de cumprimento da medida.
Pode um furto simples ensejar uma internação sem limite de tempo, podendo estender até a morte
do agente.
O primeiro pressuposto da medida de segurança é a prática de fato previsto como infração
penal que não esteja acobertado por nenhuma causa de exclusão de ilicitude. Neste raciocínio, até
aquele que comete uma contravenção penal pode receber a medida de segurança. Apesar da Lei
não dispor a respeito, pode-se aplicar subsidiariamente o Código Penal. A medida de segurança é
sempre pós-delitual e nunca pré-delitual. O segundo pressuposto é a comprovação da inimputabili-
dade ou semi-imputabilidade, por meio do exame de sanidade mental e por último, a periculosidade
do agente. De maneira simplicista, a definição de periculosidade compreende: o estado de quem
é perigoso, e no conjunto das circunstâncias de alguém tornar a praticar crimes. Um outro enfoque
desenvolvido por Salo de Carvalho a respeito da periculosidade:

A periculososidade representa um juízo futuro e incerto sobre condutas de impos-


sível determinação probabilística, aplicada à pessoa rotulada como perigosa, com
base em questionável avaliação sobre suas condições morais e sua vida pregressa.
(CARVALHO, 2003, p. 137).

A segunda definição é a que mais incomoda a neutralidade de todos nós. Diante da incerteza das
ações futuras, melhor que fique internado pelo resto de suas vidas? Mais uma vez nos deparamos com per-
guntas que nos fazem refletir o sistema penal contemporâneo. Zaffaroni nos alerta que “não existe razão
para estabelecer que um azar leve à submissão de um controle penal perpétuo” (ZAFFARONI e NILO
BATISTA, 2003, p. 811).
Não havendo possibilidade de prisão perpétua como garantia da Constituição de 1988, o
que nos autoriza legitimar a Medida perpétua? A triste resposta é de que ainda existem pessoas
consideradas por todos nós “lixo humano”, sem lugar fora das instituições manicomiais que tem sua
3 Calibri
internação decretada e um processo de execução penal mofando na prateleira, com esporádicos
laudos consistentes em dizer que a periculosidade não está cessada. Aos poucos essas pessoas
vão perdendo a identidade, o laço familiar que lhe resta, as memórias, tornando-se invisíveis aos
olhos de todos nós.

5 O SEMI-INIMPUTÁVEL

Aqueles que têm o diagnóstico de não ser inteiramente capazes de entender o caráter ilícito
do fato, ou seja, relativamente incapazes, são definidos como semi-inimputáveis. Neste caso, o
agente tem uma condenação, com causa de diminuição da pena, de acordo com o art. 26 § único,
do Código Penal.
Outro grande paradoxo do sistema penal. Reconhece-se que o agente possui alguns tran-
stornos mentais e coloca-o no cumprimento de pena que pode ser no regime fechado. Recebendo
pena, esta deve efetivar as finalidades, ou seja, ressocializar ou reeducar o agente, nos anseios
da prevenção especial. Novamente aquele que precisa de cuidados é colocado no cárcere na
justificativa de que lá terá uma resposta atenta às suas necessidades de tratamento. Neste ponto,
registra-se uma frase de socorro numa das cartas enviadas ao Juízo da Execução Penal por um
preso considerado semi-imputável: “Senhor, é tão difícil viver aqui, sem entrar em confusão, preciso
de remédios e de tratamento.” No mesmo caso, foi requerido pelo Diretor do Presídio a conversão
da pena em medida de segurança pelo fato de o detento estar passando fezes no corpo, sem
condições de cuidar de sua higiene pessoal. A indagação que se coloca é sobre qual seria a res-
posta correta nos casos de diagnóstico de semi-imputabilidade. Ao invés da medida da absolvição
imprópria, a aplicação da pena reduzida como possibilidade de um tempo definido de restrição da
liberdade. Há julgados no Tribunal do Rio Grande do Sul, sobretudo, da câmara de Amilton Bueno
de Carvalho 4 no sentido de que constitui arbítrio do Estado abandonar um cidadão, por tempo
indeterminado, em medida de segurança. E, ainda acrescenta que fica vedado constituir estados
de pessoas estigmatizantes que imponham sanção ao sujeito por aquilo que é, e não pelo que fez.
Nesta linha de pensamento, seria melhor a aplicação da pena com prazos definidos. Caso o sujeito
não apresente condições de suportar o cárcere pela doença mental, o artigo 98 do Código Penal
autoriza a substituição pela internação, com tempo definido de um a três anos. Nucci 5 desenvolve
a tese de que estando o agente em condições de voltar ao cárcere, possível se torna a reconversão
em pena. Contudo, no caso do semi-imputavel, que já teve sua pena reduzida, o tempo de cumpri-
mento da medida deverá ser detraído. A questão é: deve voltar a cumprir a pena se ainda restar?
A resposta deve ser dada após análise da proporcionalidade compreendida como necessidade e
adequação no caso concreto, não como uma imposição em abstrato.

6 SISTEMA VICARIANTE OU DUPLO BINÁRIO?

O nosso sistema é o sistema unitário ou vicariante, ou seja, nunca se cumula pena e medida
de segurança. O sistema duplo binário não vige no nosso ordenamento jurídico. Pode o juiz con-
verter a pena em medida de segurança, se sobrevier doença mental, conforme artigo 183 da Lei de
Execução Penal. Vários são os precedentes jurisprudenciais no sentido de que, quando a medida
de segurança for em substituição a uma pena aplicada, seu tempo de cumprimento deve respeitar
o do término da pena anteriormente aplicada.
A polêmica está em situações de persistir a periculosidade do agente. Poderia o juiz autori-
zar o fim da medida de segurança com laudos que identificam a presença da periculosidade? A
4 TJRS .Apelação Criminal 70019141886, quinta câmara criminal.Relator Desembargador Amilton Bueno de Carvalho,
09.05.2007.Em sentido idêntico: 70025703414 de 09.10 de 2008 e 700448818409 de 21.10.2011.
5 Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal comentado.São Paulo, RT, 2014.p.515
pesquisa conclui que diante dessas situações, o caso deve ser remetido à Vara de Família com o
devido processo de interdição e a nomeação de um curador.
Nucci6 baseando no direito espanhol, defende a possibilidade de reconversão da medida de
segurança em pena, e justifica com o exemplo de um condenado por latrocínio à pena de 20 anos
de reclusão, adoece após cinco anos de cumprimento da pena sendo sua pena convertida em me-
dida de segurança. Passados dois anos há melhora comprovada, faltando, portanto, mais anos a
cumprir de pena, o que no seu entendimento, deve cumprir o restante.
A reforma que perpassou o Código de Processo Penal autoriza ao juiz substituir o decreto de
prisão preventiva por medidas cautelares, dentre elas a medida de segurança. Portanto, pode ser
autorizada durante o inquérito ou processo em casos extremos, obedecendo os requisitos do artigo
312 do Código de Processo Penal.
Quando se passa a analisar casos concretos percebe-se que há falha de comunicação no
sistema penal brasileiro e constata-se que o sujeito cumpre pena e medida de segurança. Como no
caso real de Daniel. Por ter cometido vários furtos e roubos teve sua pena unificada e, no cumpri-
mento destas, foi pedido pelo diretor do presídio a conversão em medida de segurança. O Ministério
Público opinou favorável e o juiz deferiu que Daniel se submetesse a tratamento ambulatorial, con-
siderando laudo psiquiátrico. Quando Daniel sai do presídio, começa o tratamento ambulatorial e
não dá continuidade a ele, sendo que, um dia, chega em casa e seus familiares não o deixam entrar,
arromba a porta e tenta matar o pai. Preso em flagrante, continua por dois anos preso, aguardando
o julgamento. Recebe uma pena atenuada pela semi- imputabilidade de seis anos e somente quan-
do a nova condenação é encaminhada ao Juízo da Execução é que percebem que Daniel estava
com medida de segurança decretada. Nos autos de execução de pena de Daniel, há cartas de sua
irmã pedindo ao juiz que não libere Daniel porque ele ameaça o pai. Neste caso, percebe-se que o
que se almeja é a segregação social do sujeito não aceito pela família e pela sociedade. Daniel, ao
mesmo tempo que foi considerado inimputável, condicionado ao tratamento ambulatorial, não tinha
onde residir. Nas suas falas não reconhece sua família como a real, diz ser filho de juiz, ser rico, e
que seus pais adotivos o maltratam, mas que seus pais biológicos irão buscá-lo. Os psiquiatras são
unânimes nos laudos em dizer: “Daniel sofre de transtorno esquizofrênico paranoide (F20.0), crise
parcial simples (G40.1), é possível promover a estabilização do quadro e promover a reintegração
na sociedade, cura não existe”.

CONCLUSÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 5º, inciso XLVII, assegura
que não haverá pena de caráter perpétuo nem cruel, e no inciso XLVIII, assegura a integridade
física e moral. Em respeito a estes comandos concluímos pela inconstitucionalidade da medida de
segurança, por tempo indeterminado.
No mesmo sentido, a resolução 113 do CNJ, art. 17, dispõe que o juiz competente para a
execução da Medida de Segurança, sempre que possível, buscará implementar políticas antimani-
comiais. A internação é sempre a derradeira trincheira e o juiz deve sempre preferir a internação
ambulatorial.
Constata-se que a passagem do ato, em grande parte homicida, foi realizada após intensa
angústia produzida pela segregação do sujeito com o mundo. Em muitas situações, antes de com-
eter o ato, os sujeitos apresentam junto às instituições seu sofrimento anunciando estar prestes a
passar do limite. Esta constatação nos remete a refletir que muitos crimes são cometidos após a
reiteração de outras condutas que demonstram e que sinalizam a falta de algo, principalmente de
tratamento adequado.

6 Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal comentado.São Paulo, RT, 2014, p.515
De tudo exposto, em se tratando de Medida de Segurança na modalidade internação, o
Direito Penal não pode dar a resposta correta, devendo o agente passar por um processo de inter-
dição, na seara cível, com nomeação de um curador, complementando o comando do artigo 149, §
2º, do Código de Processo Penal. Neste contexto, há inversão de interpretação de última ratio do
Direito Penal, passando de última ratio para inexequível, na Execução Penal.

REFERÊNCIAS

ARBEX, Daniela. O Holocausto Brasileiro: vida, genocídio e 60 mil mortos no maior hospício do
Brasil. São Paulo: Geração, 2013.

BASAGLIA, Franco. A instituição negada – relato de um hospital psiquiátrico. Tradução de Heloisa


Jahn. Rio de Janeiro: Graal, 1985.

CARVALHO, Salo de. Pena e garantias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.

FOUCAULT, Michel. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo, RT, 2014.

PALOMBA, Guido Arturo. Tratado de psiquiatria forense civil e penal. São Paulo: Atheneu, 2003.

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos do direito penal.5 ed. São Paulo: Saraiva, 1994.

ZAFFARONI, Eugênio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito penal
brasileiro: teoria do direito penal. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
AS PERSPECTIVAS DO COMÉRCIO ELETRÔNICO SOB A ÓTICA
DOS ACADÊMICOS DA FACED DE DIVINÓPOLIS

Flávia Rezende Machado 1


João Victor Dias Amaral
Keila Aparecida de Sousa Fonte Boa
Pedro Henrique Gontijo Soares
Jane Márcia Amorim 2

RESUMO

O comércio eletrônico é mais uma forma de comercializar produtos ou serviços dentro das redes
virtuais. O objetivo deste trabalho é apontar os comportamentos e os fatores mais relevantes no
processo de decisão de compra no comércio eletrônico pelos acadêmicos da FACED. Para atender
ao objetivo foi realizada uma pesquisa quantitativa, com a aplicação de questionários aos discentes
dos diversos cursos da faculdade, identificando os principais fatores e influências no ato da compra
pelo comércio eletrônico. Diante da pesquisa realizada, foi possível identificar diferentes pontos
relevantes para os acadêmicos optarem pelo uso no comércio eletrônico.

Palavras-chave: Comércio Eletrônico, comportamento de compra, acadêmicos.

ABSTRACT

Ecommerce is another way to market products or services within the virtual networks. The objec-
tive of this work is to analyze the behavior and the most relevant factors in the decision to purchase
in commerce by academics FACED. To attain the goal we conducted a quantitative survey, with
questionnaires to academics from various college courses, identifying key factors and influences in
the purchase by electronic commerce. Before the survey, it was possible to identify different points
relevant for academics choose to buy in e-commerce.

Keywords: Electronic Commerce, buying behavior, Academic.

1 INTRODUÇÃO

É notório que a partir da criação da internet as mudanças passaram a acontecer de uma


maneira tão rápida, que as pessoas precisaram acompanhar esta velocidade para se adaptar a
elas. O mundo se transformou em uma aldeia global, e a internet encurtou as distâncias, facilitando
o acesso a qualquer produto, serviço ou informação. Desta forma, as empresas criaram um novo
jeito de vender seus produtos, num espaço virtual, surgindo assim o comércio eletrônico.
De acordo com Albertin (2010, p.3) “o comércio eletrônico é a realização de toda a ca-
deia de valores dos processos de negócio em um ambiente eletrônico...”. Nesse sentido, comércio
eletrônico são rotinas de compras e vendas de produtos e serviços pela internet. Este possibilita a
diminuição de custos, a eliminação de intermediários e consequentemente gera mais lucros.
No Brasil este modelo de mercado vem ganhando espaço cada vez mais, devido ao cresci-
mento contínuo da internet e o avanço da tecnologia. Assim os consumidores virtuais passaram
a aderir a compra via internet com mais frequência, ao enxergar vantagens como: comodidade,
preço, praticidade, agilidade, segurança, variedade de produtos, facilidade na compra, acessibili-
1 Graduandos em Administração – FACED.
2 Mestre em Administração - Professora da FACED. E-mail: janemamorim@hotmail.com
dade das lojas virtuais a qualquer hora do dia, dentre outros.
Diante deste cenário de evolução do comércio eletrônico, surgem alternativas diferentes de
compra, processos comportamentais e possíveis variações de consumo. Entretanto é necessário
entender os motivos que levam os consumidores a optar pela utilização deste canal de compra,
pois as necessidades e desejos de cada indivíduo são pessoais, sendo influenciadas pelo seu meio
social.
O objetivo deste trabalho é entender as perspectivas do comércio eletrônico, buscando apon-
tar quais são os critérios de escolha e os comportamentos dos consumidores acadêmicos. Para
alcançar tal objetivo foi realizada uma pesquisa com 218 estudantes de uma faculdade privada de
cursos diversos, Administração, Ciências Contábeis, Direito, Design de Moda, Psicologia e Serviço
Social.
Foi realizada uma pequena comparação entre as estratégias e comportamentos dos acadêmi-
cos da FACED, em relação às pesquisas divulgadas pelo site E-BIT. Este tema é de suma importân-
cia, porque os avanços tecnológicos e as mudanças no cotidiano das pessoas vêm causando
impacto no comportamento de compra dos indivíduos, e o comércio eletrônico é um fator determi-
nante quanto a esse processo de mudança de vida da sociedade.

2 COMÉRCIO ELETRÔNICO

Para Trepper (2000, p.4) “comércio eletrônico inclui qualquer atividade comercial que ocorra
diretamente entre uma empresa, seus parceiros ou seus clientes por meio de uma combinação de
tecnologia...”.
Com o crescimento contínuo da internet e o avanço da tecnologia, surgiu um novo modelo
de relacionamento no mercado, o comércio eletrônico, onde os consumidores efetuam compras
online com preços acessíveis, comparação de produtos e marcas de diversas lojas optando pela
melhor opção, facilidade em comprar de acordo com sua disponibilidade de tempo, flexibilidade de
acessar o canal de compra em qualquer local que esteja, dentre outros.
De acordo com Heng (2000, apud CRISTIANO, 2005, p. 03), “o CE pode ser entendido como
uma atividade empresarial preocupada diretamente com o comércio de bens e serviços...”.
Entretanto o comércio eletrônico é entendido como todo canal de venda de produtos e
serviços desde o pedido/entrega até o pagamento/faturamento, ou seja, uma troca de informações
on-line agilizando todo o processo de transação comercial e conseqüentemente atender a satis-
fação e as necessidades dos consumidores.
Conforme Kalakota e Whinston (1996 apud ALBERTIN, 1998), os aspectos complexos
de segurança, privacidade, autenticação e anonimato têm especial importância para o comércio
eletrônico.

2.1 Vantagens e desvantagens no comércio eletrônico

O comércio eletrônico tem como vantagem a comparação de preços entre vários produtos
de lojas diferentes. Segundo Clay et al (2001, apud BAPTISTA e BOTELHO, 2003), “a internet pos-
sibilita a busca de informações e comparação de preços e produtos com baixos custos, o que pode
levar os consumidores á maior sensibilidade aos preços...”. Um outro fator é a segurança pois hoje
é um critério de seleção dos consumidores em relação ao comércio eletrônico, porém os mesmos
possuem receio das compras efetuadas devido a inúmeras situações colocadas na mídia e fraudes
que acontecem no mercado eletrônico.

Um aspecto amplamente citado dos sistemas on-line atuais é a segurança, apesar


de muitos especialistas considerarem-na mais uma questão de percepção do que de
realidade. Cabe lembrar que as percepções dos clientes são o que realmente impor-
tam em termos de adoção de novas tecnologias. (ALBERTIN, 1998, p.62).

Outra variável é a confiabilidade de um site, pois é um fator que se torna indispensável para
o mercado eletrônico. Para um site ser seguro deve conter política de privacidade, regras claras
para devolução ou troca de mercadoria, prazo de entrega, formas de pagamento e especificação
do produto, conseqüentemente estar atraindo o consumidor e chamar sua atenção de maneira
positiva.
De acordo com Olins (2005, p.67), ” as marcas começaram subitamente a sair do mundo
estreito e estritamente codificado em que haviam sido criadas, e num período de poucos anos
tornaram-se um fenômeno comercial...”. A marca tem a finalidade de distinguir produtos e serviços
de outros análogos de procedência diversa, que engloba vários níveis como: benefícios (funcionais
e emocionais), durabilidade, prestígio e personalidade.

A vantagem do comércio eletrônico como meio de entregar informações de produ-


tos é a sua disponibilidade em qualquer tempo, em qualquer lugar, uma vez que o
cliente tem a infraestrutura certa para acessar essa informação. (ALBERTINI, 2010,
p.154).

As desvantagens encontradas no comércio eletrônico são as falhas logísticas, ou seja, em


algumas vendas efetuadas a mercadoria não chega no prazo estipulado ou até mesmo há troca de
mercadorias. Outra desvantagem são as fraudes ocorridas no decorrer da compra, pois os produ-
tos podem ser falsificados ou a própria empresa pode ser um estelionatário.
De acordo com o E-BIT (2012) “desconfie de ofertas milagrosas e ganhos fora do comum
principalmente de produtos eletrônicos e informáticas, pois podem ser produtos falsificados, rouba-
dos ou a empresa pode estar sonegando impostos...”.
O comércio eletrônico substitui a venda face a face diminuindo a mão de obra em lojas físi-
cas, portanto as lojas terão que se adaptar a este novo modelo de compra e se atualizar de acordo
com a evolução tecnológica. De acordo com Nagle e Holden (2002, apud BAPTISTA E BOTELHO,
2003) apresentam contra-argumentos para esse pressuposto:

1. Na internet os consumidores têm menos certeza sobre as características do


produto a ser comprado, o que os torna menos dispostos apagar preços mais baixos
por alternativas de compra desconhecidas; 2. Os consumidores têm menos certeza
a respeito da legitimidade do varejista, o que os deixa dispostos a pagar mais para
lidar com comerciantes mais respeitáveis e com maior legitimidade; 3. Os compra-
dores on-line têm maior renda, que é uma característica geralmente associada com
consumidores menos sensíveis a preço; 4. Pesquisas anteriores demonstraram que
os compradores on-line usam a internet em busca de conveniência, e não de preços
mais baixos. (NAGLE; HOLDEN, 2002, apud BAPTISTA; BOTELHO, 2003).

Uma das desvantagens do comércio eletrônico é que ainda existem bens que não podem
ser comprados nas lojas virtuais, ou seja, acaba que em alguns casos o consumidor é obrigado a
comprar nas lojas físicas.

2.2 Formatos do comércio eletrônico

Os formatos do comércio eletrônico mais utilizados são: B2B (empresa para empresa), B2C
(empresa para o consumidor), C2C (consumidor para consumidor).
Segundo Trepper (2000, p.09) “O e-commerce B2B é utilizado com maior frequência para
melhorar a comunicação dentro da empresa e para reduzir os custos e aumentar a eficiência dos
processos de negocio”. Ou seja, o B2B é toda a cadeia de negociação eletrônica entre empresas,
também sendo o modelo que mais movimenta valores financeiros.

O e-commerce B2C é usado pelos consumidores pela conveniência da compra de


produtos ou serviços via internet. As empresas utilizam o e-commerce B2C para al-
cançar novos mercados e promover produtos e serviços. (TREPPER, 2000, p. 09).

Desta forma B2C é toda negociação eletrônica em que os consumidores compram produtos
ou serviços de determinadas empresas.
O modelo de comércio eletrônico C2C é a grande novidade de compra pela internet, ou seja,
são transações comerciais de consumidor para consumidor, o maior exemplo deste modelo de
compra é o mercado livre (onde determinadas pessoas anunciam seus produtos para que outras
pessoas possam adquiri-los).
O impacto dessa nova forma de economia digital está trazendo à tona novas relações
econômicas e sociais as quais estão levando seus participantes a repensar seus princípios, regras,
percepções, táticas, controles e mercados (MAEMURA, 1998, apud CRISTIANO, 2005).

2.3 A internet e sua importância no comércio eletrônico

De acordo com Trepper (2000, p.11):

A internet foi criada há mais de 30 anos com objetivo de suprir as necessidades


do departamento de defesa dos Estados Unidos e outras empresas e indivíduos
que trabalhavam em projetos de pesquisa para indústria bélica. A internet foi criada
para resolver um importante problema de comunicação entre computadores separa-
dos por milhares de quilômetros, mas que precisavam trabalhar juntos. (TREPPER,
2000, p.11).

Pode-se dizer que a internet é uma rede de comunicação que conecta pessoas do mundo
inteiro; além disso, é uma grande fonte de informações que auxilia a sociedade. Nos últimos anos,
com o avanço da tecnologia, houve a popularização da internet a partir da diminuição de seu custo,
aumento de sua importância e a facilidade de seu acesso.

A internet é uma malha global de redes de computadores que tornou possível a


comunicação global instantânea e descentralizada. (…). Eles podem enviar e-mails,
trocar experiências, comprar produtos e acessar notícias, receitas e informações
sobre arte e negócios. A Internet em si é grátis, embora os usuários individuais pre-
cisem de um provedor de serviços da Internet para estarem conectados a ela. (KO-
TLER, 2000, apud NASCIMENTO, 2011, p. 25).

Para Tenenbaum, Chowdhry e Hughes, (1997, apud ALBERTIN, 2010, p.41) “argumentam
que a internet está revolucionando o comércio. Ela estabelece a primeira forma possível e segura
para ligar espontaneamente pessoas e computadores por fronteiras organizacionais”.
Outro fator importante para a difusão da internet é o aumento da velocidade da conexão,
pois há alguns anos atrás a internet era lenta, de difícil acesso e com muitos problemas durante a
conexão. Com o avanço da tecnologia houve um rápido fluxo de informações que facilitou o acesso
dos consumidores as lojas virtuais.

Desde quando a internet explodiu para o domínio público, ela tem mantido viva a
promessa de uma revolução comercial. A promessa é de um novo e radical mundo
dos negócios – uma arena livre de conflitos em que milhões de compradores e vend-
edores completam suas transações de forma barata, instantânea e anonimamente.
(SPAR; BUSSGANG, 1996 apud ALBERTIN 2010, p.41).

2.4 O surgimento e a evolução do comércio eletrônico no Brasil

O comércio eletrônico começou a ganhar ênfase no Brasil, consequentemente foi ganhando


espaço no mercado, acompanhando o crescimento e a facilidade de acesso a internet por parte
da população. É possível perceber também a valorização das empresas que operam no comércio
eletrônico e algumas fusões entre elas com o objetivo de ganho de escala e exploração de um mer-
cado em crescimento.

Em 2012 o setor fechou o ano com R$ 22,5 bilhões de faturamento, um crescimento


nominal de 20% em relação a 2011, quando havia registrado R$ 18,7 bilhões em
vendas de bens de consumo. E com uma maior demanda de pedidos, também au-
mentou o número de consumidores virtuais: 10,3 milhões de novos entrantes. Com
isso, já são mais de 42,2 milhões de pessoas que fizeram, ao menos, uma compra
online até hoje no Brasil. Dois fatores que constam na pesquisa merecem destaque,
54% dos pedidos realizados foram com frete grátis, o que gerou uma “economia” de
R$ 1,09 bilhão aos bolsos dos brasileiros. Durante o ano de 2012, o setor de Com-
pras Coletivas faturou R$ 1,65 bilhão, um crescimento nominal de 8% em relação a
2011. ( E-BIT, 2013).

O Brasil vem evoluindo ano após ano no faturamento do comércio eletrônico, sendo que de
acordo com o E-BIT (2013) “o comércio eletrônico brasileiro faturou R$ 12,74 bilhões no primeiro
semestre de 2013. Esse valor é, nominalmente, 24% maior que o registrado no mesmo período de
2012”.

Mesmo tendo as organizações que ponderar sobre as vantagens e desvantagens da


utilização do comércio eletrônico em cada situação especifica, o fato é que essa mo-
dalidade de aquisição cresce em ritmo muito acelerado, fenômeno esse propiciado
pelo aumento do numero de e-consumidores, pela elevação do valor médio de com-
pras via internet e pela maior frequência de aquisições de compradores antigos, assi-
nalando que as compras através do comércio eletrônico estão deixando de ser uma
novidade para se tornar um hábito. (AMARAL, 2007, p.6 apud FELIPINI, 2004).

Outro fator que contribui para a evolução do comércio eletrônico é a utilização de dispositivos
móveis com acesso a internet, que possibilitam a consulta/compra de produtos em qualquer lugar,
a qualquer hora por parte dos consumidores. A forte tendência do aumento tecnológico proporciona
cada vez mais a compra por meios eletrônicos, uma vez que a maior utilização dessas tecnologias
gera uma maior probabilidade de consumo, conforme o E-BIT (2013):

Mais do que uma tendência, uma realidade. É assim que o Mobile Commerce pode
ser interpretado dentro do mercado digital. O crescimento exponencial desse canal
é um claro sinal disso. Em Janeiro de 2012, o share em volume transacional do M
Commerce era de 0,8%. Em Junho, já registrava 1,3% e em janeiro de 2013 alcançou
2,5%. Com novos aplicativos e tecnologias direcionados a esse tipo de comércio, o
avanço continuará para os próximos anos. (E-BIT 2013).

Pode-se destacar que o Brasil ganhou espaço no comércio eletrônico nos últimos anos. De
acordo com dados do E-COMERCE (2012) “o Brasil ocupa a quinta posição com maior número de
usuários na internet, sendo 37,4% da sua população”.

3 METODOLOGIA

Para atingir os objetivos levantados inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica,
através de materiais já existentes como: livros, artigos científicos, entre outros. Após, foi realizada
uma pesquisa exploratória mediante a análise quantitativa, realizada com coleta de dados através
de questionários. Para Gil (2009), “questionário é a técnica de investigação composta por um con-
junto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter conhecimento, crenças,
sentimentos, interesses, expectativas...”.
O questionário foi composto por 15 questões de múltipla escolha onde foi analisado os
comportamentos e os fatores mais relevantes no processo de decisão de compra no comércio
eletrônico pelos acadêmicos da FACED. Os dados pesquisados foram tabulados e transformados
em gráficos para análises e comparação com outras pesquisas. As variáveis em estudo foram codi-
ficadas, permitindo o uso de correlações e outros procedimentos estatísticos.
4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA NA FACED

A pesquisa foi realizada na FACED no mês de setembro de 2013 com 218 acadêmicos dos
cursos: Administração, Ciências Contábeis, Design de Moda, Direito, Psicologia e Serviço Social.
Da amostra pesquisada, 70% são mulheres e 30% homens. A idade entre 18 a 25 anos representa
63,43%, de 26 a 35 anos representa 28,24 %, de 36 a 45 anos representa 4,17%, de 46 a 55 anos
representa 3,24% e acima de 55 anos representa 0,93 % dos entrevistados. A renda mensal dos
pesquisados está distribuída em: 13,17% recebem menos de um salário mínimo, 52,20% recebem
de 1 a 2 salários mínimos, 22,44 % recebem de 2 a 3 salários mínimos e 12,20% recebem acima
de 3 salários mínimos.
Em relação ao acesso a internet destas pessoas, 21,71 % acessam no serviço, 49,14%
acessam em casa, 25,43% acessam pelo celular e 3,71% tem outras formas de acesso a internet.
Nota-se que o acesso a internet em casa ainda é o preferido, porém, o acesso pelo celular está em
crescimento, atingindo o segundo lugar na preferência dos acadêmicos.
No que se refere a freqüência de compra no comércio eletrônico, 31,65% nunca compraram,
30,28% compraram 1 a 2 vezes, 17,89% compraram de 3 a 5 vezes e 20,18% compraram mais
de 5 vezes. Em relação a interferência da propaganda virtual na decisão de compra no comér-
cio eletrônico, 27,91% concordam, 13,47% discordam e 58,60% das pessoas consideram que às
vezes interferem.
Relacionado aos problemas de compras de produtos pela internet, 4,46% das mercadorias
não chegaram aos consumidores, 9,41% dos produtos não foram entregues no prazo estipulado,
6,44% dos produtos comprados chegaram diferentes do que foi pedido, 2,97% das mercadorias
chegaram com algum defeito, 7,92% dos entrevistados consideram que há outros tipos de proble-
mas na compra dos produtos, já 68,81% dos acadêmicos não tiveram problemas durante o proc-
esso da compra.
Segundo os acadêmicos da FACED, 41,78% pretendem aumentar a usabilidade do comér-
cio eletrônico, já 41,31% consideram que talvez irão aumentar a freqüência de consumo no comér-
cio eletrônico e 16,90% não pretendem aumentar o consumo de compras. O gráfico 1 representa
quais os produtos que os acadêmicos mais compram no comércio eletrônico.

Gráfico 1: Produtos mais comprados pelos acadêmicos


Fonte: Pesquisa

Nota-se que eletrônico/informática e livros são muito utilizados no ambiente onde foi reali-
zada a pesquisa. Já os demais são comprados de acordo com as necessidades e preferências de
cada acadêmico.

Gráfico 2: Quem orienta a compra pelo comércio eletrônico


Fonte: Pesquisa

De acordo com o Gráfico 2, em relação as pessoas que orientam na decisão de compra no


comércio eletrônico, pode-se destacar três escolhas relevantes: em primeiro lugar 40,18% disser-
am que ninguém os orienta, para 35,27% os amigos influenciam na decisão de compra e 22,32%
consideram que a família ajuda na decisão de compra. Nota-se que os acadêmicos se sentem
relativamente preparados para decidir sua compra no comércio eletrônico; aliando a opiniões de
pessoas próximas para optar pela melhor decisão.
O gráfico 3 demonstra quais fatores são mais importantes para motivar o acadêmico a com-
prar no comércio eletrônico. A opção preferida por 38,76% é preço/condições de pagamento, em
seguida comodidade e rapidez representa 32,17% da preferência, para 15,89% dos acadêmicos a
segurança/garantia é o fator mais importante, e apenas 13,18% dos acadêmicos considera que a
marca/qualidade é a opção mais relevante.

Gráfico 3: Fatores de Motivação


Fonte: Pesquisa

Acredita-se que mesmo no comércio virtual o preço/condições de pagamento é o critério


preferido dos pesquisados. Porém a comodidade/rapidez na entrega é um fator relevante na es-
colha, demonstrando ser um diferencial do comércio eletrônico em relação ao comércio físico. Já
as outras duas opções mesmo somadas tiveram uma representatividade menor do que as acima
citadas.
O gráfico 4 apresenta quais as razões que fazem com que alguns acadêmicos não comprem
pelo comércio eletrônico. Em primeiro lugar com 28,95% está a insegurança/medo, logo após pode-
se destacar que a falta de hábito e costume e a preferência de ir as lojas tem o mesmo percentual,
de 24,34%. A opção outros representa 18,42% da preferência. Por fim a falta de conhecimento foi
escolhida por apenas 3,95%. Desta forma, pode-se dizer que os acadêmicos estão bem informados
em relação ao comércio eletrônico, em contrapartida se sentem inseguros para efetuar a compra
neste modelo de mercado. Para quase 50% dos entrevistados, o habito e costume de ir as lojas
impede a utilização do comércio eletrônico.

Gráfico 4: Fatores de influência


Fonte: Pesquisa
Com base nos resultados, pode-se destacar que 24,19% dos acadêmicos não compram no
comércio eletrônico. Já para os que optam pelo uso deste canal de compra, quase todos escolhem
satisfazer suas necessidades. O gráfico 5 detalha os canais de comunicação que mais influencia
os acadêmicos na hora de efetuar suas compras. Destacam-se três grupos de maior relevância:
e-mail, facebook, outros (sites, blogs, televisão). O instagram e twitter têm uma representatividade
muito baixa na influencia de compra no comércio eletrônico.

Gráfico 5: Canal de Comunicação


Fonte: Pesquisa

Nota-se que outros com 32,56%, e-mail 31,16%, facebook 30,70%, juntos tiveram uma rep-
resentatividade maior que 90%, demonstrando assim serem as maiores fontes da propaganda
virtual. O instagram com 5,12% e o twitter com 0,47% ainda tem pouca influência na decisão de
compra dos acadêmicos.

5 COMPARAÇÃO ENTRE OS ACADÊMICOS DA FACED E OS DADOS DO E-BIT

Ao se comparar a pesquisa realizada pelo E-BIT e a realizada com os acadêmicos da FACED,


nota-se que o perfil de compra dos acadêmicos são diferentes, sendo que os entrevistados do E-BIT
compram mais moda e acessórios com 13,7%, enquanto os acadêmicos já optam mais por livros/
produtos eletrônicos. Por motivo de ser uma amostra especifica, o E-BIT utiliza uma amostragem
de toda a população, e a pesquisa com os acadêmicos na FACED é realizada em um contexto
aonde a maioria dos entrevistados são jovens e tem uma renda de 1 a 2 salários mínimos.

Gráfico 6: Comparação entre os acadêmicos da FACED/ E-BIT


Fonte: Próprios Autores
Gráfico 7: Comparação entre os acadêmicos da FACED/ E-BIT
Fonte: Próprios Autores

Foi observado que tanto pelo site E-BIT, quanto para os acadêmicos da FACED, os meios
que mais influenciam para a compra são outros meios de mídias. Nota-se que tanto os acadêmicos,
como também os entrevistados pelo site E-BIT pretendem aumentar o seu número de compra no
comércio eletrônico. De acordo com o E-BIT (2013) “O ano de 2013 deve terminar com resultados
positivos para o comércio eletrônico brasileiro representando um crescimento nominal de 25% em
relação a 2012”.

CONCLUSÃO

Este estudo buscou apontar as estratégias de compra e comportamento dos acadêmicos da


FACED no comércio eletrônico. Nota-se que os discentes pretendem aumentar o uso do comércio
eletrônico; porém a cultura de ir as lojas faz com que esta tendência não cresça de forma tão rápida
como se espera.
Conclui-se diante desse panorama e possibilidades da evolução do comércio eletrônico,
que as estratégias de compra e processo comportamentais sobre a ótica dos acadêmicos foram:
satisfazer suas necessidades, busca de menores preços nas lojas virtuais, comodidade e rapidez
na entrega dos produtos e compra de produtos padronizados. Além disso, pode-se dizer que o
consumidor deixa de comprar no comércio eletrônico por insegurança/medo, ou falta de hábito e
costume por preferir ir as lojas físicas.
Outro ponto importante é que os acadêmicos são influenciados pelas propagandas virtuais
do e-mail e facebook, que divulga produtos ofertados no comércio eletrônico, criando assim um
desejo de compra. Outro comportamento identificado foi que os acadêmicos decidem suas com-
pras no comércio eletrônico de forma individual, considerando ter um conhecimento suficiente para
tomar as decisões de acordo com suas necessidades, ou tendo como referência as experiências
de compra ou pessoas próximas como amigos e membros da família.
Portanto, a tendência atual é que o comércio eletrônico se torne um modelo de compra cada
vez mais utilizado, tanto pelos acadêmicos, como pela sociedade em geral.

REFERÊNCIAS

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ERA, São Paulo, v.38, n.1, p.52-63.
ALBERTIN, Alberto Luiz, Comércio Eletrônico: Benefícios e Aspectos de Sua Aplicação. Atlas, São
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GIL, Antonio Carlos.Métodos e Técnicas de Pesquisa Social, São Paulo, 6. ed, Atlas, 2009.

NASCIMENTO, Rafael Moraes Do. E-commerce no Brasil: perfil do mercado e do e-consumidor bra-
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TREPPER, Charles. Estratégias de E-comerce. Rio de Janeiro: Campos, 2000.

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E-BIT. Fechamento de 2012 e expectativas do setor para 2013 27. ed., capitulo 1. E-bit: Infor-
mações de comércio eletrônico. Disponível em: http://www.ebit.com.br/webshoppers. Acesso em
10 de novembro de 2013.
A PROFISSÃO COMO FONTE DE PRAZER: UMA ANÁLISE DOS NOVOS MODE-
LOS DE TRABALHO A PARTIR DA PROPOSTA DE EMPREENDEDORISMO FEMI-
NINO DO “PROJETO CONTINUECURIOSO”1

Bruna Fernandes Barros2


Prof. Ms. Eliane Soares Mendes Franco3

RESUMO

O presente artigo busca tratar sobre novos modelos de empreendedorismo feminino, assim como a
evolução da presença da mulher no mercado de trabalho. Por meio de pesquisa teórica foi traçado
o percurso histórico profissional feminino, assim como o desenvolvimento do empreendedorismo
no Brasil e a análise da mulher empreendedora. O projeto de web séries ContinueCurioso foi o ob-
jeto escolhido para exemplificar o que foi analisado no estudo, por meio de três documentários com
mulheres que se expressam e se realizam no empreendedorismo não convencional. Percebeu-se
o momento histórico profissional para a mulher, com sua maior presença no mercado de trabalho
até então. E, principalmente, a capacidade feminina de se reinventar por meio do seu trabalho, com
criações inovadoras que quebram a barreira entre profissional e pessoal.
Palavras-chave: empreendedorismo; mulher; trabalho; realização pessoal.

ABSTRACT

This article studies new models of female entrepreneurship, as well as the progress in the repre-
sentation of women in work market. Through theoretical research was traced the historical female
professional path, the development of entrepreneurship in Brazil and an analysis of entrepreneurial
women. The webseries project ContinueCurioso was chosen to exemplify what was analyzed in
the study, through three documentaries in wich women express themselves and perform an uncon-
ventional entrepreneurship. It was noticed the historic moment for professional women, with their
greater presence in the labor market so far. And especially, women’s ability to reinvent themselves
through work with innovative creations that break the barrier between professional and personal.
Keywords: entrepreneurship; woman; work; self-realization.

1 INTRODUÇÃO

Esse estudo surgiu do interesse em estudar a mulher e suas transformações no âmbito profis-
sional. É uma vertente de um assunto estudado previamente na graduação, no qual se analisou a
imagem feminina nas últimas décadas. Neste trabalho, é proposto o estudo do empreendedorismo
feminino, pois além de existir o crescimento significativo deste no Brasil, o tema está relacionado
com a nova forma da mulher se enxergar na sociedade, sua auto-imagem.
Pesquisas mostram o crescimento do número de empreendedoras no Brasil, em todas as
classes sociais, que hoje compreendem 49,6% do total de empreendedores no país (ATAL, ÑOPO
e WINTER, 2013). Começa-se a perceber uma tendência feminina para iniciar um negócio próp-
rio.

1 Trabalho extraído de artigo apresentado para conclusão do curso de Pós-graduação em Gestão de Pessoas e Recursos
Humanos da Faculdade FACED.
2 Pós-graduada em Gestão de Pessoas e Recursos Humanos (FACED), formada em Comunicação Social - Publicidade e
Propaganda (UNIVALI) – brunafbarros@live.com.
3 Orientadora do trabalho, Professora Mestre, Dicente do curso de Pós-graduação de Gestão de Pessoas e Recursos Hu-
manos (FACED) - eliane@diferencialmg.com.br.
Na gestão de pessoas, entender os novos perfis profissionais é essencial para o desenvolvi-
mento do trabalho e das empresas. COSTA (2007, p. 28) afirma que “Motivar significa despertar
o interesse e o entusiasmo por alguma atividade. Para motivar é preciso conhecer a natureza dos
motivos humanos (...)”. Logo, estudar os novos modelos de trabalho e a mulher empreendedora
oferece um conhecimento desse cenário profissional em crescimento e mais embasamento para
geri-lo.
Este trabalho propõe uma discussão sobre os fatores que impulsionam o comportamento
empreendedor feminino. Tal estudo pode fundamentar empresas na criação de estratégias para
retenção de talentos, criando situações que minimizem tais impulsos. Ou ainda auxiliar organiza-
ções políticas ou comerciais, que tenham interesse no empreendedorismo, na identificação das
motivações da empreendedora e como as trabalhar.
Existem muitas pesquisas a respeito da mulher e sua relação com o trabalho. Porém, o con-
ceito de empreendedorismo é relativamente recente, assim como a participação quase que igual-
itária em números entre empreendedores homens e mulheres. Devido a isso, ainda existem muitas
possibilidades de estudo acerca do tema, principalmente se associarmos o fator novos modelos de
trabalhos aliados ao prazer.
Associar prazer e trabalho é uma realidade, como abordado no Projeto ContinueCurioso.
As idealizadoras do Projeto, Juliana Mendonça e Cristiane Schmidt, o definem como “uma web
série documental independente em ascensão que aborda transformações profissionais e pessoais”
(CONTINUECURIOSO, 2013, p. 1).
ContinueCurioso leva a internet histórias de homens e mulheres que optaram por empreender
de uma maneira não convencional em busca de realização pessoal. Neste trabalho, são analisados
determinados documentários femininos do Projeto ContinueCurioso, em paralelo com as pesquisas
teóricas realizadas, a fim de determinar os fatores que motivam a mulher na busca pelo empreend-
edorismo e analisar a atual posição feminina no mercado de trabalho.

2 A trajetória profissional da mulher nas últimas três décadas

Antes de analisar qualquer dado histórico relacionado à mulher e ao trabalho, é importante


estabelecer a relação de gênero nesse cenário. A separação de funções profissionais entre mul-
heres e homens, assim como a definição de suas capacidades básicas, é uma construção social e
não biológica. A ideia de gênero em si é baseada nas estruturas cultural e material desenvolvidas
no decorrer dos anos.

As relações de gênero, portanto, se configuram numa construção social e cultural à


medida que representam um processo contínuo da produção do poder de homens
e mulheres nas diferentes culturas. Sendo assim, percebe-se que as diferenças de
sexo repercutem diretamente nas relações de trabalho entre homens e mulheres
(FRANÇA e SCHIANSKI, 2009, p.1).

A partir desta colocação das autoras não é difícil entender como se deu o processo de ev-
olução da mulher no mercado de trabalho e até sua inserção na educação, o que envolveu certa
resistência por parte da sociedade em geral. O primeiro centro de ensino a aceitar mulheres na for-
mação superior aconteceu apenas em 1879. Na década de 1970 as mulheres constituíam minoria
na graduação, sendo apenas 25% do número de estudantes nesse nível no Brasil (NORONHA e
VOLPATO, 2006).
As mudanças na década de 1970 refletiram na expansão do ensino superior. Na década
seguinte, 1980, a população feminina constituía 49,2% dos estudantes de graduação. Ao fim desta
década para o início de 1990, esse número passou para 52,9% (GUIMARÃES, 2003). Já em 2002,
56.6% das mulheres frequentavam o ensino superior (NORONHA e VOLPATO, 2006).
No censo 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2011) divulgou que
as mulheres estão mais instruídas do que os homens. Na faixa entre 25 e 60 anos, 9,9% dos ho-
mens possuem ensino superior, no caso das mulheres, esse número sobe para 12,5%. A presença
feminina na graduação sofreu um crescimento considerável nas últimas décadas, o que influi dire-
tamente na sua participação no mercado de trabalho.
De acordo com pesquisa divulgada pela Fundação Carlos Chagas (2007), 18,2% das mul-
heres brasileiras trabalhava em 1970. Na década de 1980, esse número subiu para 26,6%. Em
1993, 47% das mulheres estavam presentes no mercado de trabalho. O aumento continuou pro-
gressivo, sendo que em 2007, 52,7% das mulheres brasileiras desenvolvia algum tipo de atividade
profissional.
No entanto, a presença feminina em cargos executivos é menos expressiva do que mascu-
lina. Um estudo da Bain & Company, com 250 das maiores empresas do país, divulgou que 96%
das empresas pesquisadas possuíam homens no cargo mais alto, logo, no Brasil, um homem teria
20 vezes mais chances de liderar uma grande empresa (CFA, 2013).
O percurso profissional feminino confunde-se tanto com a trajetória política quanto a social
da mulher, o que envolve “fatores como a emancipação econômica da mulher, a redução da taxa
de fecundidade, a busca da realização profissional” (DIEESE, 2012, p. 216), além do fator educa-
cional. Segundo pesquisa do IBGE (2012), a taxa de fecundidade e o grau de instrução feminino
estão diretamente relacionados. Os níveis de fecundidade são inversamente proporcionais ao nível
de instrução e rendimento da mulher. Logo, quanto maior o grau de escolaridade e a renda femi-
nina, menor a probabilidade de filhos.
A luta pela emancipação feminina ganhou força no Brasil a partir dos anos de 1970, coin-
cidindo com a diminuição progressiva da taxa de fecundidade. Até a década de 1960 a taxa de
fecundidade se mantinha regular, com pouco mais de 6 filhos por mulher. No senso de 1970 foi
identificada a primeira queda na taxa até então, 5,8 filhos por mulher. Em 1980 o número de filhos
por mulher já era 4,4; em 1991, 2,9; e em 2000, 2,2. Essa taxa se mantém decrescente, no censo
de 2010 o IBGE divulgou o número oficial de 1,86 filhos por mulher brasileira (IBGE, 2002; 2013).
Em 2013, as mulheres representavam 43,9% da força de trabalho nacional. Em contrapar-
tida, os números apresentados estão longe de representar igualdade de direitos entre mulheres e
homens, principalmente na questão de remuneração. As mulheres ganham, em média, 30% menos
do que os homens (IBGE, 2013). Esse fato tem como uma das causas o estereótipo machista que
se vê presente na sociedade brasileira.

Como se percebe, apesar de toda a qualificação e aprimoramento, ainda se esbarra


em velhos preconceitos que, de tão arraigados, fazem com que alguns acreditem
que a diferença de sexo seja parâmetro para medir inteligência e capacidade (NO-
RONHA e VOLPATO, 2006, p. 67).

São esses mesmos estereótipos que designam as funções domésticas às mulheres, o que
muitas vezes faz com que estas tenham jornada dupla de trabalho, dentro e fora de casa. As mul-
heres dedicam, em média, 26 horas semanais para atividades domésticas, os homens destinam
menos do que a metade desse tempo, 10,3 horas por semana (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS,
2007). Este dado remete novamente a diminuição da taxa de fecundidade entre as profissionais
femininas. Torna-se difícil conciliar trabalho e filhos quando a divisão das tarefas domésticas com
os conjugues não é igualitária.
3 Empreendedorismo e Motivação

Uma alternativa para conciliar profissão e trabalho doméstico, aumentar a renda, desen-
volver um novo ofício ou até associar algum prazer particular ao profissional, seria iniciar um novo
negócio, o que leva ao crescimento do empreendedorismo feminino no Brasil.
O Global Entrepreneurship Monitor – GEM –, pesquisa anual que estuda o empreendedoris-
mo mundial, define o empreendedor como todo aquele que realiza uma “(...) tentativa de criação de
um novo empreendimento, como por exemplo: uma atividade autônoma, uma nova empresa ou a
expansão.” (IBQP, 2013, p.7).
Peter Drucker realizou estudos acerca do empreendedorismo a partir do crescimento do
número de empreendedores norte-americanos. Drucker atribui o crescimento da economia dos
EUA, a partir da década de 1960, ao aumento do empreendedorismo (DRUCKER, 1985). O au-
tor também enfatiza a inovação empreendedora como um fator causador de desenvolvimento
econômico.

A inovação é a função específica da capacidade empresarial, seja num negócio já


existente, numa instituição de serviço público ou num pequeno negócio iniciado por
um indivíduo na cozinha da família. É o meio através do qual um espírito empreende-
dor cria novos recursos de produção de riqueza ou desenvolve recursos já existentes
com um potencial refinado para a criação de riqueza (DRUCKER, 1998, p. 1).

No Brasil, a difusão do empreendedorismo em massa aconteceu na década de 1990, com


a inserção de entidades importantes para o desenvolvimento de microempresas, como o Sebrae –
Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas. Até então não havia suporte econômico
ou político para um indivíduo iniciar uma empresa de pequeno porte, o cenário começou a mudar a
partir deste momento (DORNELAS, 2008).
O Sebrae oferece cursos e consultorias, que vão desde o auxílio a elaboração teórica da
estrutura da microempresa, por meio do plano de negócio, até apoios mais práticos, voltados às
finanças e ao desenvolvimento do marketing (SEBRAE, 2013). Esse suporte valorizou e profission-
alizou o micro e pequeno empresário, o que ofereceu maior possibilidade de crescimento para o
empreendedorismo no Brasil.
Em 2000, pela primeira vez, o Brasil foi incluído na pesquisa GEM, sendo realizada no país
pelo Instituto Brasileiro de Produtividade e Qualidade – IBPQ. No estudo, foi identificado que os
brasileiros possuíam a maior porcentagem (16%) de empreendedores na população dentre os
países pesquisados. A mulher brasileira se mostrou mais empreendedora do que qualquer outra na
pesquisa. No entanto, havia certa disparidade entre o sexo masculino e feminino no Brasil, sendo
a maioria empreendedores homens (62.5%) (IBPQ, 2000).
Cinco anos depois da primeira participação, com o Brasil sendo incluído em todas as pesqui-
sas anuais do GEM, a análise passou a ter um foco mais amplo. Além do estudo padrão do início
de novos negócios, o GEM passou a analisar o desenvolvimento destes ao longo dos anos.
No ano de 2005, a pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor identificou amadurecimen-
to considerável dos empreendimentos no Brasil, cerca de 60% dos empreendedores estudados
mantinham seus negócios entre 10 a 15 anos no mercado. Outro dado importante revelado na
pesquisa é a análise da motivação para empreender:

O Brasil ocupa a 15ª posição no ranking do empreendedorismo por oportunidade


(taxa de 6,0%) e a 4ª posição no ranking de empreendedorismo por necessidade
(taxa de 5,3%). A razão entre as duas taxas (1,1) é a 34ª entre os países pesquisa-
dos. Portanto, evidencia-se cada vez mais a influência do empreendedorismo por
necessidade na posição do Brasil em relação aos demais países. (IBPQ, 2005)

Entre os 35 países pesquisados naquele ano, foi identificado que quanto maior a renda do
país, maior o número de empreendedores por oportunidade. O número decai à medida que a renda
do país diminui, aumentando assim o número de empreendedorismo por necessidade. O Brasil, na
época, se encontrava neste último caso, como destacado acima.
Os dados referentes a igualdade de gênero no número de empreendedores se mostrou
positiva em 2005. Sendo que o número de empreendedores homens e mulheres era praticamente
o mesmo no estágio inicial do negócio. E, apesar dos homens brasileiros constituírem, na época,
o dobro, em relação às mulheres, a frente de empreendimentos com mais de três anos e meio, as
empreendedoras brasileira ocupavam o terceiro lugar em números absolutos, quando comparadas
aos outros países pesquisados (IBPQ, 2005).
Em 2012, 69 países entraram na pesquisa anual do GEM, incluindo o Brasil. Neste ano, o
número de empreendedores nacionais em estágio inicial se manteve o mesmo entre homens e
mulheres. A diferença se mostrou no perfil de empreendedores estabelecidos, no qual os homens
estão 12% mais presentes do que as mulheres (IBPQ, 2012).
Tais dados evidenciam a presença da disparidade de gênero no empreendedorismo bra-
sileiro em longo prazo, mas também demonstram o crescimento do empreendedorismo feminino no
Brasil. De 2000 a 2012, a presença da empreendedora no país quase dobrou, foi do índice de 7%
para 13,1% das mulheres brasileiras (IBPQ, 2000; 2012).
A motivação dos brasileiros para empreender também mudou em 2012. A pesquisa do GEM
(IBPQ, 2012) mostrou que 69,2% dos empreendedores nacionais em estágio inicial são motivados
primeiramente pelas oportunidades, o que demonstra uma tendência positiva dos novos negócios
no Brasil, no sentido de amadurecimento profissional e empresas com maior propensão a estabili-
dade.
Para além das estatísticas, motivação é um tópico sensível, que envolve questões práticas,
mas principalmente psicológicas e, no geral, atuam de maneira particular para cada indivíduo. Chi-
avenato (2005, p. 242) a define da seguinte forma:

Motivação é a pressão interna surgida de uma necessidade, também interna, que


excitando (via electroquímica) as estruturas nervosas, origina um estado energizador
que impulsiona o organismo à atividade, iniciando, guiando e mantendo a conduta
até que alguma meta (objetivo, incentivo) seja conseguida ou a resposta seja blo-
queada.

Por ser um estímulo interno seria de se esperar que funcionasse de maneira individualizada.
No entanto, é possível prever certos comportamentos derivados da motivação e entender os estí-
mulos que auxiliam na sua incitação.
No meio corporativo, proporcionar espaço para a participação dos colaboradores na decisão
da empresa, oferecer autonomia de decisão para os líderes de setor e promover gratificações são
maneiras de gerar motivação. Em uma equipe motivada é mais provável se identificar maiores ín-
dices de produtividade, pró-atividade e comprometimento com os objetivos da empresa. (AGUIAR,
2002)
Pode-se associar a motivação também à auto-imagem do indivíduo, que pode ser estudada
por meio da teoria da auto-eficácia, de Bandura (1977). De acordo com o autor, o comportamento,
assim como o resultado obtido pelo indivíduo, está atrelado a percepção que este tem de si próprio
e de suas capacidades. Em seu estudo, Bandura afirma que “as pessoas tendem a evitar situações
ameaçadoras que acreditam estar além de suas capacidades, e se comportam assertivamente em
atividades que se veem capazes de desenvolver” (1977, p. 194).
O autor define quatro tópicos centrais que influenciam diretamente a auto-eficácia do indi-
víduo. Seriam as conquistas pela performance profissional, que são os sucessos obtidos, inclusive
aqueles depois de um fracasso; as experiências observadas, ver as pessoas a sua volta tendo
sucesso com o esforço pode motivar o indivíduo, o fazendo acreditar que ele também é capaz;
persuasão verbal, o que é falado para o indivíduo sobre determinada atividade, assim como sua ca-
pacidade de realizá-la, influencia sua motivação; estado emocional, de acordo com o autor, pessoas
estressadas e vulneráveis estão menos inclinadas a persistir numa tarefa (BANDURA, 1977).
Bandura (1977) reforça que apenas um fator isolado não é parâmetro para análise de auto-
eficácia, mas a combinação destes ao longo da vida definem como cada pessoa se enxerga e como
isso influenciará em suas atividades.
Na pesquisa do GEM, a motivação é dividida em oportunidade e necessidade, sendo de
oportunidade aquela gerada “pela percepção de um nicho de mercado em potencial”, e a de neces-
sidade “pela falta de alternativa satisfatória de ocupação e renda” (GEM, 2005, p. 13).
No entanto, Chiavenato (2005) conceitua a motivação em si como gerada de uma neces-
sidade. Portanto, ao utilizar a lógica do autor, a oportunidade, em uma análise qualitativa, já estaria
diretamente vinculada a necessidade. E tal necessidade só poderia de fato ser suprida se for iden-
tificada ou criada uma oportunidade.
De acordo com Maslow (1943), o ser humano prioriza suas necessidades de maneira não
intencional. O autor defende que a base de todas as necessidades são as fisiológicas. Sede, fome,
sono são alguns exemplos do que precisa ser satisfeito para que o indivíduo possa ter outras am-
bições.
Num segundo momento, entra a necessidade de segurança. O autor afirma que previamente
a se tornar um ser ambicioso de fato, é preciso se sentir seguro e, na próxima etapa, estabelecer
relações humanas.
Satisfeitas essas três necessidades (fisiológica, de segurança e social), o indivíduo passa a
buscar o que Maslow chama de necessidade de estima, que é a necessidade de ser percebido de
forma positiva, ser valorizado. Por último, está a necessidade de auto-realização, que se constitui
no ato de realizar algo por si próprio, que tenha sentido pessoal e o faça se sentir, de certa forma,
completo (MASLOW, 1943).
Necessidade e oportunidade estão, de certa forma, interligadas no empreendedorismo, as-
sim como a importância da auto-imagem positiva ou auto-eficácia, que se confunde a busca da
auto-realização, a fim de sustentar a motivação e o comportamento empreendedor. É a partir des-
sas três características (necessidade, oportunidade e auto-imagem) que a análise do empreend-
edorismo exposto no Projeto ContinueCurioso foi realizada.

4 O Projeto ContinueCurioso e o empreendedorismo não-convencional

Juliana Mendonça, 27 anos, e Cristiane Schmidt, 26 anos, são as idealizadoras do Projeto


ContinueCurioso. Ambas, são artistas envolvidas com fotografia, que já trabalharam em escritórios,
com horário e salário fixos, e hoje são freelancers. Juliana contou, em entrevista a autora, como
nasceu o projeto:

A ideia do projeto surgiu da minha vontade, e da vontade da Cristiane, de falarmos


sobre novas maneiras de trabalho e novas maneiras de enxergar o trabalho. As duas
como freelancer já estavam vivendo esse caminho profissional pouco conhecido e,
muitas vezes, visto como um plano B. E a gente queria saber: tem mais gente seg-
uindo esse caminho desconhecido? Quem são? O que pensam sobre trabalho? É o
que queremos descobrir através dos episódios. Emprego é assunto delicado. Cada
um tem sua visão. E nós adoramos isso. O que queremos incentivar é o senso de
curiosidade e questionamento dentro ou fora de uma empresa. Queremos que as
pessoas conversem sobre o que pensam e o que sentem.

Assim como Juliana descreveu, o projeto busca contar, em vídeos biográficos, de em média
5 minutos, divulgados na internet, histórias de pessoas que se desenvolvem e se mantém por meio
de trabalhos pouco convencionais, mas que oferecem grande satisfação pessoal.
A fim de contextualizar o projeto com esse estudo, foram selecionados três vídeos do Projeto
ContinueCurioso para análise. Todos protagonizados por mulheres que se realizaram profissional-
mente e pessoalmente no empreendedorismo prazeroso: Marília, Juss e Cíntia.
Marília foi a personagem do primeiro vídeo disponibilizado pelo projeto na web. No vídeo,
ela conta que trabalhava num escritório, saía de casa sete horas da manhã e chegava nove horas
da noite: “Eu não via como estava o dia lá fora, não tinha tempo para nada, (...) acho que é uma
sensação de desperdício” (ContinueCurioso, 2013, p.1). A partir deste descontentamento, Marília
percebeu a necessidade de buscar algo diferente, quando decidiu se dedicar a fotografia, o que já
era uma paixão.
É interessante identificar que a fotografia já existia na vida dela, mas que só foi vista como
oportunidade quando houve a necessidade de mudança causada pelo descontentamento profis-
sional. É a motivação citada por Chiavenatto, assim como a necessidade de auto-realização, abor-
dada na pirâmide de Maslow.
A fotógrafa também enfatiza, em seu depoimento, sua determinação e persistência para
levar seu novo projeto de vida adiante e sua sensação de liberdade em trabalhar com o que te pro-
porciona prazer.
Já no episódio de Juss, esta se define como “Diretora de Arte num momento estilista” (Con-
tinueCurioso, 2013, p.1). Com o aprendizado da mãe, deu início a sua própria confecção de roupas
artesanais.
Diferentemente de Marília, Juss afirma não ter feito nenhuma mudança radical, mas que as
transformações na carreira simplesmente fluíram. Ela trabalhou em agência de publicidade, com
fotografia e se encontrou na moda, mas afirma ainda querer atuar em outras áreas, diferentes das
que já trabalhou. De acordo com Juss “a melhor coisa é fazer o que você quer e ainda ganhar din-
heiro”.
É uma nova forma de viver e trabalhar, o importante não é enriquecer, mas se satisfazer.
Juss fala da importância de transmitir o que se gosta e quem é no trabalho, um modelo diferente de
pensar e de ser profissionalmente.
Apenas alguém que vê em si mesmo potencial e se enxerga de maneira positiva, busca se
retratar ou se encontrar por meio do seu trabalho, um exemplo da importância da auto-imagem no
empreendedorismo, também presente na teoria da auto-eficiência, de Bandura.
A partir do momento que o trabalho vira uma extensão do indivíduo, quando esse se enxerga
de maneira positiva, seu profissional tende a se desenvolver, isso é visto em todos os casos apre-
sentados no projeto e exemplificado claramente no depoimento de Juss.
Outra entrevistada do projeto, Cíntia, é brasiliense residente de São Paulo, era publicitária
antes de dar início a uma loja gastronômica. Ela é casada e decidiu mudar de carreira quando per-
cebeu sua insatisfação e mau humor ao receber um trabalho.
Cíntia recomeçou do zero, estudou, fez cursos e estágios de culinária até encontrar o camin-
ho profissional que queria seguir. Sabia que gostava de cozinhar, mas não queria se desgastar com
as horas de trabalho num restaurante. Até que surgiu a ideia de uma loja gastronômica, que serviria
refeições artesanais e venderia produtos desenvolvidos por ela para quem tem pouco tempo para
cozinhar.
O que se destaca no depoimento de Cíntia são suas observações do percurso que fez até
chegar ao seu objetivo. No período entre deixar o antigo emprego e desenvolver suas novas ideias
profissionais, ela foi dona de casa e dependeu inteiramente do marido, o que lhe causou conflitos
íntimos sobre ser sustentada por ele e não mais poder dividir as contas.
Essa é uma quebra de paradigma que se mostra cada vez mais em evidência no Brasil. As
mulheres não apenas ocupam o mercado de trabalho, muitas fazem questão de se manter nele e
se sentem desconfortáveis quando isso não acontece.
Por outro lado, Cíntia também reforçou o receio em relação a opinião dos outros quando
ficava em casa, pela possibilidade de ser condenada por não ajudar financeiramente a família. De
acordo com ela, só conseguiu superar essas inseguranças por meio do apoio do marido. O que
reforça uma das características abordadas por Bandura na auto-eficácia, a persuasão verbal, na
qual o autor destaca a importância da opinião de pessoas-chave para o desenvolvimento pessoal.
O que se percebe é uma tendência feminina de se colocar no mercado de maneira inventiva,
que satisfaça suas necessidades antigas e atuais por meio da criação de novas oportunidades. As
mulheres crescem em número no mercado de trabalho e como empreendedoras. Projetos como
ContinueCurioso demonstram essa abrangência feminina e a capacidade delas de se desenvolv-
erem de maneira prazerosa e, muitas vezes, inovadora.

5 CONCLUSÃO

É improvável que uma única conclusão seja retirada desse estudo. A história feminina ainda
se constrói na sociedade, assim como sua presença no mundo profissional. O que se pode ver com
clareza é o desenvolvimento da mulher nas diversas frentes sociais, que abrangem muito mais do
que o trabalho, mas a forma de enxergar o outro e, principalmente, a si mesma.
A autoconfiança feminina, adquirida a partir das diversas conquistas nas últimas décadas,
provocou que ainda mais obstáculos fossem superados. Obviamente, existem paradigmas e pre-
conceitos a serem quebrados, que podem e devem ser tratados em futuros trabalhos. Como a
objetificação da mulher, dentro e fora do mercado de trabalho, a ditadura do padrão masculino de
feminilidade ou ainda a desvantagem salarial feminina no mercado de trabalho.
No entanto, essa autoconfiança, seja ela proveniente da condição vivida pelas novas ger-
ações ou do desenvolvimento do sistema social em si, ofereceu a mulher o sentimento de direito
a ambição. Afinal, elas podem fazer mais ou menos do que antes, fazer igual ou escolher fazer
diferente dos homens, existe a escolha.
Poder escolher empreender, inovar, trabalhar ou não para outros, é um passo historicamente
recente para a mulher e o que se viu, por meio desse trabalho, é que tal escolha se mostra cada
vez mais consciente e apropriada. A possibilidade de escolha é o primeiro passo para um mercado
profissional legitimamente igualitário, com consequências e resultados independentes de gênero.
E, apesar de ainda não ser uma realidade para todas as mulheres brasileiras, é o caminho que se
mostra sendo traçado.

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RESPONSABILIDADE NO DIREITO EMPRESARIAL:
FORMALIDADES SOCIETÁRIAS

Elizabeth Guimarães Machado1


RESUMO

No âmbito de atuação de atividades empresárias percebemos vários atores sociais que, no exer-
cício de seu empreendimento, assumem vínculos obrigacionais diversos. Necessário se torna o
entendimento de cada vínculo obrigacional assumido em decorrência das atividades econômicas
exercidas no contexto empresarial para o enfrentamento de seus efeitos e usufruto de suas pe-
culiaridades, em consonância com o exercício regular dos atos mercantis frente às consequentes
responsabilidades advindas por sua prática no mercado.

Palavras-chave: Empresário. Responsabilidade. Atividade empresarial.

ABSTRACT

Within the scope of activity of entrepreneurial organizations, we perceive several social actors who
establish diverse obligational bonds while performing their entrepreneurship. It is necessary to un-
derstand each obligational bond established as a result of the economic activities performed in the
business context in order to confront its effects and use its peculiarities, in accordance with the
regular exercise of mercantile markets in the light of the consequent responsibilities resulted by their
practice in the market.

Key words: Entrepreneur. Responsibility. Entrepreneurial Activity.

1. INTRODUÇÃO

Observando o panorama econômico da atualidade com foco na livre iniciativa, visualizado


no âmbito do tecido empresarial hodierno percebe-se a atividade empresarial exercida em seus
diferentes campos pelo empresário em suas modalidades, quais sejam, o individual, o coletivo
e a EIRELI. A atividade considerada empresária é descrita no direito brasileiro de forma ampla,
abrangente, a exemplo da produção, que envolve qualquer tipo de transformação ou de criação de
bens e direitos, a circulação de bens, que envolve o comércio em si, atividade esta, historicamente
genuína no âmbito comercial e a prestação de serviços em geral.
Observamos os diversos atores sociais intrincados neste emaranhado de vínculos nego-
ciais com afetação patrimonial e percebemos que nem sempre as normas empresariais são claras
quanto ao seu direcionamento se vincular ao empresário individual, ou ao empresário coletivo, ou
mesmo aos sócios deste último, dando ensejo a confusões entre: (1) o empresário pessoa jurídica
e os sócios desta e (2) o empresário pessoa física.
Buscando maior esclarecimento sobre o tema, propomos neste trabalho, destacar e analisar
a responsabilidade que cada um assume em decorrência do exercício de atividades econômicas,
no contexto empresarial, para o enfrentamento de seus efeitos e usufruto de suas peculiaridades,
em consonância com o exercício regular dos atos mercantis. Neste propósito, nos embasaremos
na legislação empresarial vigente, além de fonte doutrinária e jurisprudencial.

1 Mestre em Direito Empresarial, pela UIT; doutoranda em Direito Privado pela PUC-MG., em disciplina isolada. Professo-
ra universitária na Faculdade Divinópolis, no curso de Direito e Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis
de Divinópolis, no curso de Ciências Contábeis. E-mail: elizabethguimaraes50@gmail.com
2. EMPRESÁRIO: MODALIDADES

Em face da legislação empresarial vigente no ordenamento jurídico brasileiro, a figura do
empresário é representada pelo agente que exerce profissionalmente, atividade econômica organi-
zada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, conforme conceitua o caput do artigo
966 do Código Civil de 2002.
O legislador se preocupou em assinalar quais atividades são consideradas como empre-
sariais, considerando como empresário o agente que pratica atividade empresarial no contexto do
artigo supra citado, agente este que é denominado empresário individual ou coletivo (PIMENTA,
2004, p. 21)2, sendo que o primeiro a exerce em seu próprio nome e a título individual, e o último
o faz em sociedade, nada alterando, nos dois casos, quando o empresário (individual ou coletivo)
se utiliza de auxiliares ou colaboradores para o desempenho das atividades. Observa Fábio Ulhoa
Coelho (2013, p. 127):

A empresa pode ser explorada por uma pessoa física ou jurídica. No primeiro caso, o
exercente da atividade econômica se chama empresário individual; no segundo, so-
ciedade empresária. Como é a pessoa jurídica que explora a atividade empresarial,
não é correto chamar de “empresário” o sócio da sociedade empresária.3

A partir da lei nº 12.441/2011 ocorreu uma alteração quanto às modalidades de empresários.


A legislação pátria atual prevê a seguinte classificação: (1). Empresário individual: com natureza
de pessoa física; (2). As sociedades empresárias personificadas: tratando-se de pessoas jurídicas
com pluralidades de titulares, cuja responsabilidade pessoal se verifica em conformidade com o
regulamentado de cada tipo societário; e (3). A empresa individual de responsabilidade limitada –
EIRELI: pessoa jurídica com titularidade unipessoal, cujo capital que não poderá ser inferior a 100
vezes o maior salário mínimo vigente no país. Por força de lei, o ato de integralização deve ocorrer
até o momento do registro (RAMOS, 2013, p. 39-46).
A nomenclatura empresário individual (ou singular) vem substituir o antigo termo comerciante
individual (ALMEIDA, 2004, p. 56)4. O exercício da atividade empresarial pelo empresário individual,
apesar da obrigatoriedade do registro na junta comercial5, não produz o efeito de personificação,
sendo este agente empresarial considerado pessoa física, equiparado à pessoa jurídica somente
para efeitos fiscais. Afirma a doutrina que o titular de uma empresa individual é denominado em-
presário (pessoa física). Quando o titular de uma empresa for uma pessoa jurídica, é denominada
sociedade empresária. (MAMEDE, 2008, p. 39).
Em relação às sociedades empresárias, devem ser personificadas através do registro de
seus atos constitutivos. O desmembramento das responsabilidades pessoais assumidas pelos
membros de uma sociedade será de acordo com a legislação específica, sabendo que os sócios
de uma sociedade assumem ou não responsabilidade solidária, ilimitada ou limitada, de acordo
com cada tipo societário (CAMPINHO, 2011, p. 57-58). Entretanto, toda pessoa jurídica, ente di-
verso e independente em relação aos membros do quadro societário, sempre terá responsabili-
dade ilimitada, ou seja, enquanto tiver patrimônio, segundo regra geral, este será utilizado para o
cumprimento de suas obrigações. Em se tratando de uma empresa individual de responsabilidade
limitada - EIRELI, seu registro impõe o surgimento da correlata pessoa jurídica.

2 Mesmo posicionamento: (REQUIÃO, 2013, p. 86-87) e (CAMPINHO, 2011, p. 12).


3 Neste sentido, ver também: RAMOS, 2013, p.39.
4 No mesmo sentido: FIUZA, 2002, p. 870.
5 Artigo 967 do Código Civil de 2002: “È obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis
da respectiva sede, antes do início de sua atividade”.
3. Responsabilidade no direito empresarial

3.1 – Empresário Individual

O empresário individual é pessoa natural, dotada de capacidade plena e sem impedimento


ou proibição legal (MARTINS, 2013, p.111), que pratica atividade econômica organizada para a
produção, circulação de bens ou prestação de serviços, com profissionalidade e finalidade de lu-
cro. Considerado como um indivíduo, seu patrimônio é uno. Assim sendo, reserva parte de seu
patrimônio pessoal, disponibilizando-o para o exercício das atividades mercantis, patrimônio esse
que é considerado especial, uma vez que será o primeiro afetado no caso de execução de credores
por descumprimento de vínculos obrigacionais. Entretanto, caso esse patrimônio especial não for
suficiente para saldar as dívidas contraídas, o restante de seu patrimônio pessoal será submetido
para o cumprimento das dívidas (TOMAZETTE, 2013, p.48). Assim, a responsabilidade do em-
presário individual se configura ilimitada, ou seja, não se vincula a nenhum limite. Enquanto o em-
presário individual tiver bens penhoráveis, serão esses utilizados para o cumprimento compulsório
de obrigações assumidas e descumpridas, não importando se na esfera pessoal ou empresarial
(COELHO, 2013, p.159-160)6.

3.2 – Empresa individual de responsabilidade limitada – EIRELI

Em termos comparativos em relação ao vínculo obrigacional assumido pelo empresário in-


dividual e o titular da EIRELI, o primeiro, de natureza individua, por consequência acarreta a unici-
dade de seu patrimônio, portanto, indiviso para o cumprimento das obrigações oriundas do exercí-
cio da atividade mercantil; no caso da EIRELI - pessoa jurídica, ocorre o fracionamento do universo
patrimonial do titular entre patrimônio empresarial, considerado patrimônio de afetação – aquele uti-
lizado para a integralização do capital, passando a pertencer à pessoa jurídica, tal como ocorre com
o sócio de uma sociedade empresária, e patrimônio pessoal, uma vez que são pessoas distintas.
Com efeito, “a EIRELI não é exatamente uma sociedade unipessoal nem um empresário individual
de responsabilidade limitada, mas uma nova modalidade de pessoa jurídica (art. 44,VI, do Código
Civil)” (RAMOS, 2013, p. 225). Elucidando o assunto, citamos o Enunciado 3, da I Jornada de Di-
reito Comercial, com o seguinte teor: “A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI
não é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade
empresária”.
Sendo a EIRELI uma pessoa jurídica, é ela quem assume responsabilidades em virtude das
atividades exercidas, obrigações estas que deverão ser cumpridas com base em seu patrimônio
próprio, que tem origem no capital investido por seu titular e que pode sofrer ajustes à medida em
que a empresa passar a investir em seu crescimento patrimonial, utilizando-se de rendas auferidas
no exercício da atividade, patrimônio este que não se confunde com o patrimônio de seu titular
único.
Entretanto, tal como ocorre com o sócio de uma sociedade personificada, a pessoa natural
titular da EIRELI, está sujeita às mesmas normas que prevêm a aplicação de medidas excepcionais
que permitem a desconsideração da personalidade jurídica.

3.3 – Sociedade personificada

As sociedades, assim consideradas quando ocorre a união de duas ou mais pessoas, físicas
6 O Enunciado 5 da I Jornada de Direito Civil da CJF promoveu a seguinte direção ao tema: “Quanto às obrigações decor-
rentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no artigo 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens
vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos termos do artigo 1.024 do Código Civil”.
ou jurídicas, que exercem atividades em comum e partilham entre si o resultado apurado em cada
exercício social de prática de atividades no mercado, devem ser personificadas, com exceção da
sociedade em conta de participação, considerada despersonificada por força de lei. O Brasil não
adotou o formato de sociedade unitária (CAMPINHO, 2011, p. 38). A falta de pluralidade de sócios
constitui obrigatoriedade de baixa da pessoa jurídica, após 180 dias de tentativa de reconstituir o
quadro societário com um mínimo de duas pessoas7, havendo, entretanto, a possibilidade de sua
transformação em empresário individual ou em EIRELI, com as devidas adequações.
Consequentemente, uma vez personificada a sociedade em decorrência do registro, surge
no cenário a figura da pessoa jurídica – ente artificial dotado de personalidade jurídica, portanto
com capacidade de, em seu próprio nome, adquirir direitos e contrair obrigações na esfera jurídica.
A doutrina é unanime ao afirmar que “uma vez constituída a sociedade, adquirindo personalidade
jurídica pelo arquivamento dos seus atos constitutivos no Registro Público de Empresas Mercantis
e Atividades Afins, desliga-se das pessoas dos sócios, criando autonomia” (MARTINS, 2013, p.
176).
Desta forma, a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado tem início com a in-
scrição dos atos constitutivos no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização
ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o
ato constitutivo8.
A pessoa jurídica obriga-se, através dos atos de seus administradores, exercidos nos limites
de seus poderes definidos no contrato social ou em instrumento separado, devendo, assim, cumprir
os compromissos assumidos com seu patrimônio próprio9.
Esse regramento deve-se ao fato de a pessoa jurídica possuir patrimônio próprio, distinto
do de seus sócios, e possuir capacidade para, em seu próprio nome, adquirir direitos e contrair
obrigações, podendo, inclusive, estar em juízo ativa ou passivamente (MACHADO, 2004, p. 45).
Via de consequência, não se confunde o patrimônio da pessoa jurídica com o patrimônio de seus
sócios.
Em regra, a pessoa jurídica assume responsabilidade ilimitada ante as obrigações sociais,
mas, de acordo com o tipo societário, reconhece responsabilidade limitada ou ilimitada dos sócios
perante a sociedade. Traduzindo, enquanto a pessoa jurídica tiver bens penhoráveis, serão eles
utilizados para o cumprimento de vínculo obrigacional contraído em seu nome.
Quanto às sociedades personificadas, dependendo do tipo societário adotado, é composta
por sócios com responsabilidade limitada, geralmente ao valor do capital subscrito, que deve ser
integralizado, ou sócios com responsabilidade solidária e ilimitada, ou seja, mesmo após integrali-
zada sua quota-parte, responderá pessoalmente por vínculos obrigacionais contraídos em nome da
sociedade, de forma subsidiária, que implica no benefício de ordem, ou seja, na execução por dívi-
das da sociedade, primeiro são executados os bens sociais pertencentes à pessoa jurídica, deix-
ando por último os bens particulares dos sócios, se os primeiros não bastarem para a liquidação da
dívida. Por outro lado, há sociedades cujo quadro societário é misto, ou seja, composto por sócios
que assumiram responsabilidade limitada e outros que assumiram responsabilidade solidária e ili-
mitada.
Após o registro do contrato social, dando origem a uma pessoa jurídica, em conformidade
com o acordado no contrato social, os sócios assumem obrigações, entre si e perante a pessoa
jurídica, obrigações essas que passam a vigorar a partir da assinatura do contrato, ou de data nele
especificada, “e terminam quando, liquidada a sociedade, se extinguirem as responsabilidades
sociais”, conforme letra do art. 1.001, do Código Civil. – Na lição de André Luiz Santa Cruz Ramos
(2013, p. 250):
7 Conforme inciso IV, do art. 1.033, CC/02.
8 Art. 45, CC/02.
9 Art. 47, CC/02.
Dentre as principais obrigações dos sócios, podemos destacar a de contribuir para a for-
mação do capital social, subscrevendo e integralizando suas respectivas quotas, e a de participar
dos resultados sociais, nos termos estabelecidos no contrato social ou, na omissão deste, na forma
prevista no art. 1.007 do Código Civil.
Em termos genéricos, o direito societário, na medida em que assegura a limitação de re-
sponsabilidade pessoal de sócio, nas diversas modalidades de tipos societários, resulta no estí-
mulo ao empreendedorismo tendo em vista atuar como importante redutor do risco empresarial que
beneficia principalmente os membros do quadro social (RAMOS, 2013, p. 405). Por conseguinte,
pelo princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas, consagrado no art. 1.024 do Código
Civil, estabeleceu-se a responsabilidade ilimitada da pessoa jurídica perante terceiros, mas consid-
erando limites de responsabilidades dos sócios, de acordo com cada tipo societário adotado.
A ressalva feita em relação aos limites de poderes definidos no contrato ou na lei deve-se ao
fato de que, na hipótese de qualquer sócio agir, entre outros, com abuso de personalidade, excesso
de mandato ou infringir norma legal ou norma contratual, pela infração, responderá ele com seus
bens pessoais, aplicando-se a desconsideração da personalidade jurídica.

3.3.1. Responsabilidade pessoal de sócio nos diversos tipos societários

Analisando a responsabilidade a partir de cada tipo societário, teremos então sócios com
responsabilidade limitada ao preço das ações subscritas ou adquiridas, como o que ocorre com
as sociedades anônima10 e em comandita por ações. Nesta última, o sócio administrador assume
responsabilidade subsidiária e ilimitada11, não pelo fato de ser sócio, mas por ser administrador, e
enquanto assumir esse encargo de gestão empresarial. Na sociedade limitada, cada sócio assume
obrigação pessoal de integralizar sua quota-parte, portanto, é este o limite de sua responsabilidade.
Entretanto, enquanto o capital social não estiver totalmente integralizado, são todos solidariamente
responsáveis até o limite do capital social. Depois de integralizado todo o capital social – capital
realizado – em condições normais, não há mais que se cobrar responsabilidade pessoal de sóci-
os.12
Na sociedade em nome coletivo, todos os sócios assumem responsabilidade solidária e ili-
mitada, mesmo após a integralização total do capital social. O quadro societário somente pode ser
composto por pessoas físicas13.
Caso de responsabilidade mista no quadro societário é o da sociedade em comandita sim-
ples, contendo sócio comanditado - pessoa física que assume responsabilidade solidária e ilimitada
pelas obrigações sociais e sócio comanditário com limite de responsabilidade à integralização de
sua quota-parte14.
Na sociedade cooperativa, o estatuto social é o instrumento que vai definir se os associados
terão responsabilidade limitada ou ilimitada. Adota-se um ou outro regime de responsabilidade,
assim não há responsabilidade mista em relação aos associados, ou seja, ou todos assumem re-
sponsabilidade limitada, ou todos assumem responsabilidade ilimitada, a critério do estatuto social
10 Art. 1º da Lei 6.404/76: “A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos
sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Respaldo no art. 1.088 do Código
Civil.
11 Art. 1.091 do Código Civil: “Somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde
subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade”. Respaldo no art. 281 da Lei 6.404/76.
12 Art. 1.052 do Código Civil: “Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas,
mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”.
13 Art. 1.039 do Código Civil: “somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo
todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais”.
14 Art. 1.045 do Código Civil: “Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comandita-
dos, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo
valor de sua quota”.
vigente. O parágrafo 1º do art. 1.095 do Código Civil regula o tratamento quanto ao limite de re-
sponsabilidade de sócio, determinando que o mesmo “responde somente pelo valor de suas quotas
e pelo prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a proporção de sua participação nas
mesmas operações”. O parágrafo 2º do mesmo artigo prevê responsabilidade dos sócios de forma
solidária e ilimitada pelas obrigações sociais, aplicando, no que couber, as regras da sociedade
simples, que estabelece o benefício de ordem traduzido pela responsabilidade subsidiária.

4. Sociedade de pessoas e sociedade de capital

Em atendimento ao seu propósito de atuação no mercado, as sociedades podem se for-


matar priorizando os sócios ou o capital, fator que influenciará na escolha do tipo societário a ser
adotado e formato administrativo. É indiscutível que as sociedades contêm, em sua essência, pes-
soas compondo o corpo societário e capital – fator pecuniário considerado como fundo inicial co-
mum a partir do qual exerce atividades no mercado e contribui para a formação de seu patrimônio,
gerando, a partir de sua integralização, a necessária confiança quanto à capacidade financeira da
sociedade (TOMAZETTE, 2008, p. 196).
Aquelas cuja formação tende a valorizar as qualidades pessoais dos membros do quadro
societário formando laços específicos e insubstituíveis são as chamadas sociedades de pessoas,
constituídas intuitu personae, ou seja, em função da pessoa dos sócios, portanto, de caráter per-
sonalíssimo. Confere-se maior importância ao vínculo interpessoal dos sócios, realidade esta que
se sobreleva em relação ao capital por eles investido na sociedade. É também chamada sociedade
de capital fechado, assim considerado como um grupo fechado, contendo restrição em relação à
substituição da pessoa dos sócios e empecilhos no tocante à transmissibilidade de sua participação
no capital a terceiros, geralmente necessitando de anuência dos sócios remanescentes15. Na so-
ciedade de pessoas deve haver um elo de confiança entre os sócios chamado affectio societatis.
Significa “confiança mútua e vontade de cooperação conjunta, a fim de obter determinados ben-
efícios (TOMAZETTE, 2008, p. 201)16. A quebra deste elo de confiança é motivo suficiente para o
rompimento parcial do vínculo associativo.
A sociedade de capital é constituída intuitu pecunie, ou seja, em função do capital. Neste
caso, não importa a qualidade pessoal e características de cada sócio e sim o elemento financeiro
que ele representa. É também chamada sociedade de capital aberto, não no sentido de se colocar
ações no mercado de balcão ou em bolsa de valores, mas em relação ao formato aberto de entrada
e saída de investidor-sócio, havendo maior liberalidade em relação à cessão de direitos vinculados
à participação no capital, a outros sócios bem como a terceiros. Assim, a entrada de novos sócios
não se vincula à anuência dos remanescentes. Em uma sociedade de capital, prioriza-se a ad-
ministração por experts, assim sendo, não importa quem seja sócio, o importante é que seja bem
administrada e que dê bons lucros.
A relação interpessoal entre os sócios é secundária, mas é importante que cada sócio cumpra
seus deveres de conferimento e sociais, sob pena de suspensão do exercício dos seus direitos ou
15 Nesse sentido, ao tratar da sociedade simples pura, que é essencialmente de pessoas, o art. 1.002 do Código Civil deter-
mina que “o sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consentimento dos demais sócios, expresso em
modificação do contrato social”. Em seguida, o art. 1.003 do Código Civil, caput, regulamenta que “a cessão total ou parcial de
quota, sem a correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a
estes e à sociedade”. E o parágrafo único do mesmo artigo prevê que “até dois anos depois de averbada a modificação do contrato,
responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio”.
Vemos a responsabilidade pessoal de sócio estendida aos herdeiros, por força do art. 1.032 do Código Civil que reza: “a retirada,
exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois
anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se
requerer a averbação”.
16 O autor faz referência à Vera Heleno de Mello Franco. Lições de direito comercial. 2.ed. São Paulo: Maltese, 1995, p.
133.
até mesmo exclusão. Basta que deixe de cumprir obrigação legal ou contratual, como é o caso do
procedimento adotado pela Sociedade Anônima17.

5. Limites de atuação de sócios e de administradores

Sociedades contratuais são aquelas cujo instrumento de constituição é o contrato social,


que deve conter, obrigatoriamente, o fornecimento de informações essenciais, tais como o quadro
societário, cláusulas, consentimento, termo, data e assinaturas dos envolvidos. Como cláusulas es-
senciais temos o direcionamento dos incisos do art. 997 do Código Civil de 2002. Um apontamento
necessário é das pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, seus poderes e
atribuições.
À administração, exercida por sócios ou por terceiros, cabe a prática dos atos de gestão,
vinculando obrigacionalmente a pessoa jurídica representada, nos limites dos poderes atribuídos
individualmente a cada administrador. Somente poderá administrar pessoa plenamente capaz des-
impedida e não proibida por lei. Há casos em que, apesar de plenamente capaz, a pessoa está
destituída de capacidade de administração.
Quanto ao quadro societário, todos os integrantes tem o dever de conferimento e dever de
colaboração (PIMENTA, 2004, p. 100), ou seja, o vínculo obrigacional societário contraído junto à
sociedade deve ser cumprido, tendo o direito ao recebimento de prestação de contas da adminis-
tração, bem como à partilha de resultados, mas principalmente o poder de deliberar, mesmo que
nem todos tenham atribuições de administrar.
A deliberação representa direito dos sócios e seu resultado é a tomada de decisão, a
resolução sobre o que se discutiu. A decisão tomada será validada ante a observação do quorum
adequado para cada assunto colocado em pauta e vinculará a sociedade em termos obrigacionais.
Quorum, neste ambiente, é o número mínimo de membros de determinado grupo, presentes em
reunião ou assembleia, com poderes para deliberar validamente (TOMAZETTE, 2013, p. 358). A
ausência da observância de quorum mínimo previsto em lei, contrato ou estatuto, acarreta a con-
sequente nulidade da decisão tomada por deliberação.

6. Desconsideração de personalidade jurídica

O direito constitucional à livre iniciativa confere aos particulares a prerrogativa de explorar


qualquer atividade econômica, sem a necessidade de prévia autorização estatal, salvo os casos
dispostos em lei. Em contraponto à liberdade de empreender destacamos a livre concorrência que
estabelece vertentes para que o empresário se utilize de meios leais para a conquista de sua clien-
tela, como também é instrumento de garantia contra atos abusivos que impliquem em perturbação
do livre jogo da oferta e da procura (BOTREL, 2009, p.45-46).
A teia obrigacional que se forma em razão da atividade mercantil 18 envolve não só os em-
presários, mas também os membros do quadro societário, quando for o caso, e, entre outros, os
empregados, colaboradores, financiadores, fornecedores, consumidores, concorrentes, o meio am-
biente, por fim, o Estado e a sociedade civil.
O limite de responsabilidade dos sócios, em sociedade personificada, e do titular da EIRELI,
assegurado pelo princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas, funciona como válvula
propulsionadora para o desenvolvimento de atividades econômicas com menor risco, beneficiando
17 O art. 107, II da LSA faculta a exclusão do acionista mediante venda de suas ações em bolsa, a qual retira do subscritor a
qualidade de sócio; e o art. 120 da mesma lei permite a suspensão do exercício dos direitos do acionista pela assembleia geral em
casos de descumprimento de dever social impostos pela lei ou estatuto.
18 Teoria lançada por Ronald H. Coase. Sobre o tema ver PIMENTA, Eduardo Goulart. Teoria da empresa em direito e
economia. Revista de direito público da economia – RDPE, Belo Horizonte, ano 4, n. 14, p. 55-74, abr.jun., 2006.
não só ao investidor-empreendedor, mas também ao Estado.
Entretanto, o uso abusivo ou deturpado da pessoa jurídica, por agentes maliciosos gerou a
necessidade da aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, em medidas excepcion-
ais, sendo possível a atribuição de responsabilidade pessoal, com afetação patrimonial, em relação
à pessoa natural que, nos termos da legislação pertinente, utilizou-se da pessoa jurídica de forma
contrária à expectativa da legislação pertinente. Na lição de André Luiz Santa Cruz Ramos (2013,
p. 410):
Com efeito, nos casos de aplicação da teoria da desconsideração não se está diante, em
princípio, de nenhuma ilicitude típica. Em casos de prática de atos ilícitos ou com infração dos es-
tatutos ou do contrato social, por exemplo, não é necessária a desconsideração da personalidade
jurídica para a responsabilização dos sócios ou administradores que praticaram tais atos, uma vez
que, nessas hipóteses, o próprio ordenamento jurídico já estabelece a sua responsabilização pes-
soal e direta pelas obrigações decorrentes desses atos.
É esta a diretriz do art. 1.080 do Código Civil que prevê a responsabilidade ilimitada dos
sócios que expressamente aprovaram a deliberação infringente do contrato ou da lei.
Destacamos a seguir, hipóteses em que a pessoa natural pertencente a quadro societário
ou o titular da EIRELI, bem como os respectivos administradores, se submeterão à medidas de
desconsideração da personalidade jurídica, iniciando pela diretriz que nos dá o Código Civil, no art.
50 pela conduta representativa de abuso da personalidade jurídica, caracterizada pelo desvio de
finalidade, ou pela confusão patrimonial.
Outras hipóteses permissivas da aplicação da desconsideração da personalidade jurídica,
que apontam abuso de personalidade: (1) nas relações de consumo prevista pelo art. 28 do CDC
– Lei 8.078/90; (2) em atos contra a economia popular, que destaca o abuso de direito, excesso
de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social, nos termos
do art. 18 da Lei 8.884/94; (3) a Lei 9.605/98, que regula os crimes ambientais, prevê no art. 4º a
possibilidade da desconsideração da personalidade jurídica “sempre que sua personalidade for
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”; (4) em matéria
tributária, com afetação do patrimônio pessoal de diretores, gerentes ou representantes de pessoas
jurídicas de direito privado, conforme articulação do art. 135 do CTN – Lei 5.172/66; (5) em casos
de existência de débito trabalhista inadimplido, havendo insuficiência dos bens da pessoa jurídica,
recai o ônus, por último, aos sócios, dado ao caráter de natureza alimentar do crédito trabalhista.

Conclusão

Os diversos modelos de responsabilidade assumidos no âmbito da prática empresarial é


uma realidade, com consequências diferenciadas para cada papel assumido pelos atores diversos.
Nesta teia de relações destacamos o empresário individual como pessoa física exercente de ativi-
dade empresária assumindo responsabilidade com afetação de seu patrimônio como um todo; em
contrapartida, a EIRELI, cujo titular único assume responsabilidade limitada ao montante do capital
que deve ser integralizado e o empresário coletivo, traduzido pela sociedade personificada, com
tratamento diferenciado em relação aos sócios, estes, dependendo do tipo societário, assumem
responsabilidades que ora passa por limites demarcados pela legislação, ora sem conotação de
qualquer limite, entretanto, nestas hipóteses, havendo relações solidárias e benefício de ordem
para o cumprimento do vínculo obrigacional, tendo em vista a subsidiariedade. Saindo da regra
geral, articulamos possibilidades de afetação patrimonial, com cobrança de responsabilidade pes-
soal em decorrência da desconsideração da personalidade jurídica, com vistas à confiabilidade e
segurança necessárias no exercício das atividades mercantis.
Constatamos que os empresários em geral: individual (pessoa física); coletivo (pessoa ju-
rídica) e EIRELI (pessoa jurídica) – todos assumem responsabilidade ilimitada.

REFERÊNCIAS

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Normas Editoriais para publicações de artigos Revista Meditare

A Revista MEDITARE – Revista Acadêmica dos cursos de graduação e pós-graduação da


FACED, publicará artigos de interesse científico, com as seguintes características:
• O texto conterá, no máximo, 15 laudas.
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tos de caso, comunicação ou notas prévias.
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hos já publicados, revisões bibliográficas etc.

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conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
l) Introdução: Na introdução deve-se expor a finalidade e os objetivos do trabalho de modo
que o leitor tenha uma visão geral do tema abordado. Desenvolvimento: parte principal e mais ex-
tensa do trabalho deve apresentar a fundamentação teórica, a metodologia, os resultados e a dis-
cussão. Divide-se em seções e subseções conforme a NBR 6024, 2003. Os títulos de cada seção
devem ser apresentados em negrito. Conclusões: as conclusões devem responder às questões da
pesquisa, correspondentes aos objetivos e hipóteses; devem ser breves .
m) Glossário: elemento opcional elaborado em ordem alfabética;
n) Apêndices: Elemento opcional. “Texto ou documento elaborado pelo autor a fim de com-
plementar o texto principal”.(NBR14724, 2002, p.2);
o) As ilustrações (quadros, figuras, fotos etc): deverão ser enviadas em arquivos separados,
claramente identificadas (ex: Figura 1, Figura 2 etc), indicando o texto e o local (espaço) onde de-
vem ser inseridas. Sua identificação aparece na parte inferior, precedida da palavra designativa,
seguida de seu número de ordem de ocorrência do texto, em algarismos arábicos, do respectivo
título, a ilustração deve figurar o mais próximo possível do texto a que se refere. Conforme o IBGE
(1999) as tabelas devem ter um número em algarismo arábico, sequencial, inscritos na parte supe-
rior da tabela, a esquerda da página, precedida da palavra Tabela. Exemplo: Tabela 5 ou Tabela 3.5.
A fonte deve ser colocada imediatamente em baixo da tabela para indicar a autoridade dos dados
e/ou informações da tabela, precedida da palavra Fonte.
p) Indicativo de seção: O Indicativo Numérico da seção precede o título [da seção] alinhado
à esquerda. “Não se utilizam ponto, hífen, travessão ou qualquer outro sinal após o indicativo da
seção ou de seu título”.(NBR 6024, 2003, p.2). Os títulos e subtítulos de cada seção devem estar
sem adentramento e numerados em número arábico – apenas a primeira letra do subtítulo deve ser
maiúscula.
• Local de entrega dos trabalhos: Secretaria do Instituto de Pós-Graduação, Pesquisa
e Extensão da FACED. Endereço: Praça do Mercado, 191 – Centro. CEP: 35500-048 - Divinópolis,
Minas Gerais ou pelo e-mail: ippex@faced.br

Divinópolis, 21 de janeiro de 2014.

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