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Caro leitor,
Outro dia aprendi a diferença entre posse e detenção de um bem. Detenção tem caráter
precário. Por exemplo, quando você compra um ingresso no cinema, tem a detenção
de uma cadeira por algumas horas.
Posse tem caráter de permanência. Por exemplo, quando você compra uma cadeira em
uma loja e a coloca em sua casa, tem a posse dela. Você pode até passar a detenção
(uso temporário) para uma visita e permitir que ela se sente, porém a posse é sua.
Este relatório não substitui uma consulta ao advogado e, para elaborá-lo, contamos
com a colaboração do Dr. Marcelo Barbaresco, especialista em direito imobiliário e
societário, que revisou o artigo quanto à sua essência.
Se, por exemplo, o imóvel estiver ocupado por um parente ou por um terceiro, pode
haver um impedimento para o recebimento da posse pelo comprador.
Se o imóvel estiver “ocupado” por um locatário que registrou ou não o contrato, ele
pode ter direito de preferência na compra.
Por fim, é necessário verificar se o imóvel está livre de dívidas, especialmente para
evitar dois tipos de fraudes que podem trazer graves problemas.
A fraude a credores tem relação com as dívidas dos vendedores. Pode ser uma dívida
de condomínio, de financiamento, de empréstimo, ou qualquer uma que ainda não
tenha entrado na esfera de cobrança judicial.
A fraude à execução tem a mesma característica, porém diz respeito a obrigações não
cumpridas que se encontram na esfera judicial. De novo, existe o risco de algum credor
argumentar que os vendedores estão vendendo para fugir das obrigações.
Para diminuir o risco de perder seu imóvel ou de ser cobrado pelos credores, é
importante fazer uma extensa análise das dívidas e/ou obrigações pendentes de
pagamento.
O ideal seria fazer uma investigação de toda a vida pregressa do imóvel e das pessoas,
porém isso é impossível.
A recomendação prática é que se faça uma investigação do maior tempo disponível nos
registros públicos. Em tese, 20 anos para as certidões. É preciso lembrar que podem
existir ações propostas há mais de 20 anos e ainda em curso, que poderão afetar a
compra... LOGO, quanto mais puder avaliar, melhor.
A segunda: qual alcance geográfico utilizar? Num país tão grande quanto o Brasil, não
há disponibilidade econômica para acessar todos os registros públicos de forma única.
É necessário investigar todos os estados e, em alguns casos, os municípios.
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Seria muito caro e, portanto, inviável na maioria das vezes. Recomenda-se fazer a
investigação em todos os estados e municípios nos quais os vendedores já moraram ou
tiveram negócios. Caso tenham morado fora do Brasil, também será preciso investigar
essas condições.
Inspeção física
É mais simples no caso de apartamentos, pois geralmente não há como mudar as áreas
construídas. Mas, se puder e, especialmente, caso se trate de um apartamento novo, é
bom pedir para um técnico realizar a medição. Talvez surja a possibilidade de um
desconto no preço.
Quanto à inspeção dos vícios aparentes, lançaremos um curso exclusivo para assinantes
com uma aula sobre as técnicas para detectá-los.
Avaliação da matrícula
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No documento que o cartório fornece com base no número de matrícula consta o
endereço, a descrição do imóvel, suas dimensões e fronteiras. Também consta a cadeia
registral, que é a sequência de transmissão da propriedade do imóvel entre pessoas.
Você pode descobrir como o imóvel chegou ao vendedor atual e se ele realmente tem
direito a fazer a venda.
É importante saber se, em algum momento da vida, o vendedor teve união estável,
relacionamento duradouro (namoro prolongado) ou casamento que não esteja no radar
e que poderia exigir que uma terceira parte concordasse e assinasse o compromisso de
compra e venda e, posteriormente, a escritura.
Um bate-papo informal com os vendedores pode dar dicas se eles têm filhos, outros
casamentos e/ou uniões estáveis que acabem resultando em direitos sobre o imóvel
vendido.
Também haverá situações nas quais o imóvel foi dado em garantia de uma dívida e
casos em que haja alguma obrigação relacionada a ocupantes (locatários e
comodatários).
Certidões
Queremos saber se os vendedores têm algum problema que possa gerar obrigações
que recaiam sobre os imóveis.
Por isso, pedimos uma extensa lista de certidões cíveis, fiscais e trabalhistas, entre
outras.
Além disso, queremos ter certeza de que os vendedores não deixaram de fora
esposas/maridos, inclusive nos casos de união estável. É imprescindível verificar a
certidão de casamento ou de nascimento atualizada.
Cuidado com certidões e procurações falsas. É um golpe que ainda acontece e que pode
trazer grande dor de cabeça. Havendo dúvida, o advogado é a melhor opção para
garantir a autenticidade dos documentos. A investigação até pode levar o advogado a
procurar o cartório responsável pela emissão das certidões ou procurações para
confirmar a autenticidade.
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Por fim, uma boa e velha consulta ao Serasa e ao SPC ou serviço similar é sempre
recomendável para verificar se não há dívidas ou obrigações relevantes que não
aparecem em nenhum outro registro público.
Para não cair nesse golpe, recomenda-se que, na escritura, conste o horário da
assinatura do documento – além do dia, claro. Também é importante pedir uma certidão
de prenotação do imóvel, que apontará a entrada de pedidos de qualquer tipo relativos
àquele imóvel, independentemente de já terem sido registrados ou não.
Assim, evita-se que um vendedor mal-intencionado faça uma venda simultânea para
dois compradores.
Afora discussões judiciais que não vêm ao caso, quem ingressar primeiro com o pedido
de registro da escritura de compra e venda terá a prioridade no registro de imóveis, ou
seja, desde que tudo esteja certo, o imóvel será registrado, e a pessoa se tornará sua
proprietária.
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Quem não registra não é dono!
Assim ele terá como dizer se é aconselhável desistir da compra ou como ela pode
prosseguir sem prejudicar o cliente.
Vale lembrar que ele também terá condições de avaliar possíveis fraudes e falsificações
de documentos.
Não, totalmente errado. Existem incorporadores que vendem unidades mesmo sem ter
a documentação em ordem.
Todas as verificações que listamos acima são necessárias no caso de uma compra na
planta. É obrigação do incorporador ter esses documentos arquivados no cartório de
imóveis (consulte o artigo 32 da Lei 4.591). Peça para vê-los!
Além disso, o vendedor precisa ter o memorial descritivo, um documento com uma
descrição detalhada do imóvel – acabamento, marca dos produtos que serão utilizados,
descrição de todas as áreas de lazer, dos elevadores, dimensão das garagens, se são
demarcadas e assim por diante.
Cuidado com o corretor que afirma que você não precisa verificar os documentos porque
está tudo certo. Saia correndo do estande!
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Também tome cuidado na seleção do incorporador, pois, em realidade, você está dando
um crédito para a empresa numa relação de confiança, então é importante saber como
está sua capacidade financeira.
Nesse mesmo relatório, explicamos por que a incorporação que escolhe o modelo de
patrimônio de afetação é a que melhor protege o comprador de problemas de falência
de uma incorporadora.
Palavras finais
Agora você tem os elementos necessários para dialogar sobre o assunto com seu
advogado e entender por que uma investigação não está sendo feita ou perguntar se
algum risco foi verificado.
Bons negócios!
Abraço
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(*) A reprodução indevida, não autorizada, deste relatório ou de qualquer parte dele sujeitará o infrator
a multa de até 3 mil vezes o valor do relatório, à apreensão das cópias ilegais, à responsabilidade
reparatória civil e persecução criminal, nos termos dos artigos 102 e seguintes da Lei 9.610/98