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Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O .

SEVA 2002 1

Capitulo 1.
Revisão didática : a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas [*].

1.1. Até chegar no interruptor da sua casa, ou do seu local de trabalho...

1.2 O “país elétrico” não é um só , nem é o mesmo. E é de primeiro mundo !

1.3 As malhas da rede e seus “pepinos”.

1.4. Podem as centrais instaladas não dar conta do consumo? E os black - outs ?

1.5. Muito trabalho e sempre um alto custo para termos a eletricidade.

1.6. O quê é queimado nos bicos de cada fogão,


ou na caldeira de cada indústria ou navio, ou, no motor de cada veículo e de cada aeronave ?

1.7. Como são obtidos os derivados de petróleo no Brasil ?

1.8. O gás metano resultando de processos industriais, da bio-massa e dos resíduos

1.9 . A recente indústria do gás associado ao petróleo ou GN

1.10. As várias utilizações possíveis do GN e os produtos da sua combustão

1.11. Quatro tipos de instalações básicas


para produzir eletricidade a partir dos rios e dos combustíveis

1.12. Usinas Termelétricas, um resumo histórico

1.13. Termelétricas. Dimensão básica, alguns riscos e certezas.


[*] extraído de livro em fase de elaboração A Guerra das Turbinas, de A . Oswaldo Seva Fo. Para
utilização na disciplina EM 048 Gerencia energética em processos industriais, FEM, 2 o. sem 2002
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1.1. Até chegar no interruptor da sua casa, ou do seu local de trabalho ...[ * * ]

Utilizamos a eletricidade como se fosse a coisa mais simples do mundo, um toque num interruptor e
a mágica se faz . As mágicas : a luz artificial, amarela, quente, ou a luz branquela, quase azulada, fria, e o
motor , para o liquidificador, a furadeira, o cortador de grama, para o elevador do prédio, para a bomba de
água do poço, para a moenda da mandioca ou do milho, o compressor para o refrigerador e o freezer, e
mais : ...o aquecimento em uma resistência do chuveiro e do secador de cabelo, a recepção do sinal de
rádio, a amplificação do som, a retransmissão de imagem de televisão.
Também o autor deste livro usou muita eletricidade, para iluminar suas “viradas” noturnas, e, para a
redação, as revisões e primeiras impressões, feitas em micro - computadores, que consomem, dependendo
do tipo e do tamanho, o equivalente a seis, oito, dez lâmpadas de 100 Watts, ligadas por horas seguidas,
como é o costume atual nas casas e nos locais de trabalho.
Parece um bem universal – não se concebe alguém vivendo sem eletricidade, e, eterno - é fácil
esquecermos o tempo em que não havia, embora sempre achamos bonito quando o cinema ou o teatro re-
constroem o ambiente sem a lâmpada e sem o motor elétrico... e nem nos damos conta de que assistimos
aos filmes e às peças em salas que gastam bastante eletricidade.
Volta e meia, quando falta eletricidade, é porque houve algum curto-circuito, uma sobrecarga e um
fusível queimou, um disjuntor desarmou, algum transformador pifou no poste da rua, um vendaval fez a
árvore cair sobre a fiação, ou até mesmo derrubou a a tôrre de transmissão.
Aí , ficamos atrapalhados e procuramos um fósforo, uma vela, uma lanterna a pilha; os mais
precavidos têm baterias com foto - células que acendem lâmpadas assim que falta eletricidade, ou até
geradores portáteis a gasolina, ou a diesel, que , havendo combustível, podem resolver o problema até que
seja feito o conserto, até que “a energia volte”.

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[ * * : obs: uma versão resumida deste texto foi apresentada, pela primeira vez, como uma contribuição para o
Seminário sobre o projeto de termelétrica em Santa Branca, SP, 03set. 1999, organizado pela Sociedade Ecológica de Santa
Branca, e pelo Forum formado por entidades ambientalistas do Vale do Paraíba do Sul ; nos meses seguintes, o texto foi
enviado para publicação no jornal “ EcoNews ”, de Jacareí, S.P; e foi distribuído durante palestras, p.ex. na EESG Núcleo
Habitacional J.P.Nogueira, em Paulínia, S.P., na FATEC, de Americana; e, da mesma maneira que outras partes deste livro,
tem sido usado como apostila em meus cursos de graduação e de pós-graduação na Unicamp ]
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Ainda há lugares , muitos, pelo Centro e pelo Norte do Brasil, nos Estados do Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, onde a eletricidade até existe, mas não funciona o tempo
todo, falta combustível para o “motor” ( grupo gerador Diesel elétrico ) , ou para a “caldeira ” da usina da
localidade. Os equipamentos se desgastam, quebram muito, as redes de distribuição sempre dão
problemas, o material é velho, ou se desgasta rapidamente, as peças de reposição são difíceis; e, muitas
vezes, as usinas e os motores tem donos que fazem e desfazem, mandam e desmandam na própria vida
das cidades, dos vilarejos .
Nas ilhas, nos faróis, nos pontos culminantes das serras, onde pode haver torres de
telecomunicações, a eletricidade é difícil , mas , ainda mais vital. As poucas soluções são os moto-
geradores portáteis a gasolina, gás de botijão ou querosene, e, para potências maiores, os motores diesel
com geradores, e as baterias de grande porte e de longa duração; em alguns casos, o suprimento de
eletricidade pode ser resolvido ou complementado com placas foto - voltaicas para transformar a luz do
sol diretamente em corrente elétrica, ou, como já se faz em Fernando de Noronha e no litoral cearense,
com a instalação adequada de turbinas a vento com geradores elétricos.
Mesmo assim, sempre será preciso um “back - up”, uma máquina alternativa de emergência , para o
caso dos dias chuvosos ou muito cobertos – as placas voltaicas produzem pouca ou nenhuma corrente , e
para o caso dos dias com pouco vento e com calmaria – as pás da turbina não rodam com a força
necessária , ou simplesmente não mexem...Ainda há lugares sem eletricidade no Brasil de hoje ?
Sim, muitos recantos, alguns até próximos de regiões mais eletrificadas, e outros, embaixo dos
linhões de transmissão de longo percurso, onde simplesmente não há eletricidade, ou melhor, não existe
uma rêde elétrica ligada a alguma central próxima, nem mesmo um equipamento que forneça sempre
eletricidade. Em 1976, passei um dia e uma noite em São Romão, lugarejo antigo, na época esquecido na
margem esquerda do São Francisco, no norte de M.G., por onde passava um linhão da CEMIG, com uma
torre alta plantada numa ilha do rio, defronte à pequena cidade . Na praça da igreja e do cais do porto, um
jardim bem cuidado com um monumento e placa de bronze : uma miniatura da própria torre de
transmissão. Quando escureceu, acenderam luzes bem fracas, no máximo uns 80 volts; às 9 e meia da
noite, faltou luz, e só voltou no manhã seguinte. Em 1990, constatei que pequenos proprietários nas
margens de um dos numerosos braços da represa de Furnas, em M.G., entre as cidades de Carmo do Rio
Claro e Passos não tinham ainda os benefícios da eletrificação rural. Isto, trinta anos depois de pronta a
obra iniciada pelo presidente Juscelino, uma central de 1.200 MW instalados e um reservatório com quase
150.000 hectares, uma das maiores obras do país.
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1.2 O “país elétrico” não é um só , nem é o mesmo. E é de primeiro mundo !


Devemos então deixar claras as várias situações , pois são muito distintas :
* em uma terça parte do território, quase todos os locais estão conectados a um sistema interligado (
Centro-Sul );
* em outra terça parte, conectados a outro sistema interligado ( Nordeste – Pará - Tocantins )
* e , na terceira parte, em extensão a maior de todas, há apenas redes regionais modestas a partir das
centrais termelétricas e de poucas hidrelétricas que atendem as capitais estaduais (RO, AC., AM., AP.,
RR ) e Santarém; e, fora isto, as demais cidades, e todo e qualquer aglomerado humano, serraria, canteiro
de obras, porto fluvial, agro-vila, garimpo, sede de fazenda, exceto , ainda, algumas poucas aldeias
indígenas, tem o seu “motor”, as vezes muitos motores, ou a sua usina. Vejamos com mais detalhe os
dois “grandes sistemas elétricos”:

1ª SISTEMA INTERLIGADO CENTRO-SUL - considere um polígono imaginário, em toda a


“metade inferior “do território brasileiro , começando no litoral Leste , na altura de Vitória,ES , descendo
para o litoral Sul até Pelotas, daí para o interior até Bagé e Uruguaiana , RS, daí a Foz do Iguaçu, PR,
depois a Ponta Porã , MS e a Cuiabá, MT, com um ramo Norte até Sinop e Alta Floresta, e de Cuiabá ,
fechando o polígono no rumo de Brasília, DF e de Belo Horizonte, MG.
Este é o “Centro – Sul elétrico” , um imenso sistema de engenharia elétrica, de dimensão quase
continental, constituído a partir de sistemas regionais de eletricidade, e que assumiu há quase trinta anos ,
com a concretização da central bi-nacional de Itaipu, esta forma interligada atual : uma “malha”de linhas
de transmissão cobrindo todo este bom pedaço do nosso terreno, além de quase todo o vizinho Paraguai .

O total de potência instalada, no início de 2000, nominalmente, era da ordem de 45 mil Megawatts,
mas , em algumas usinas com os prédios prontos e os reservatórios formados, faltava e ainda falta instalar
alguns dos grupos geradores projetados ( Porto Primavera, rio Paraná é um caso importante, há
“espaços”e vazão de água suficiente para mais quatorze turbinas de 100 megawatts cada ), havia obras
quase prontas ( uma delas é a hidrelétrica de Itá, no rio Uruguai RS-SC, com previsão de 1450
Megawatts, outra é a de Canoas, no rio Paranapanema, SP, com 200 Megawatts ), obras inacabadas se
arrastando ( p.ex. a hidrelétrica de Manso, rio Cuiabá, a térmica a carvão Jacuí-I, Charqueadas, RS , com
350 MW previstos ), a central nuclear Angra-II estava pronta em fase de licenciamento e começou a
operar somente em 2001, com potência de até 1.300 Megawatts.
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º
2 . SISTEMA INTERLIGADO NORDESTE- PARÁ – TOCANTINS
Considere, neste caso, uma espécie de espinha de peixe, cuja cabeça estaria quase na foz do Rio São
Francisco, na central hidrelétrica de Xingó ( AL, SE ), e cujo rabo estaria no Leste do Pará, na central
hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins , com “costelas”, derivações de grande capacidade elétrica
abastecendo Salvador , BA, e Aracaju, SE, outro ramo para Maceió, AL, Recife, PE, João Pessoa , PB e
Natal, RN, outro para Fortaleza, CE, outro para Teresina, PI, outro para São Luiz, MA, em seguida, uma
“perna” importante do sistema N-NE, partindo de Imperatriz , MA para o Sul, entrando no estado do
Tocantins, ao longo da rodovia Belém- Brasilia, até na altura de Gurupi (TO) - onde foi completada no
ano de 2000, a primeira ligação elétrica entre os dois Sistemas interligados. Voltando ao eixo principal do
linhão Nordeste- Norte, sai do Leste do Pará, um outro ramo para Marabá e Carajás, e , de Tucuruí
mesmo um ramo para Belém e outro até Altamira, com previsão de ligar também as cidades de Itaituba e
Santarém, no oeste paraense.
Também neste sistema , há usinas prontas faltando instalar grupos turbo-geradores ( no início de
2000 faltava instalar 4 máquinas de 250 Megawatts em Itaparica, rio São Francisco, PE, BA, mais 4
máquinas de 500 megawatts em Xingó, AL, SE ) ; e há uma hidrelétrica já inaugurada, embora ainda não
tenha instalada a potência total de 1.200 MW, a de Lajeado, no rio Tocantins, em cuja margem direita fica
a capital do estado, Palmas, TO.
Nestes dois casos, o sistema “bombeia” a eletricidade de forma comparável às nossas artérias,
começando a partir dos seus “corações”, as centrais elétricas, que injetam nas redes os fluxos ou cargas
maiores, por meio de “canalizações” inicialmente mais grossas, que vão se bifurcando ou lançando
ramificações; daí, diminuindo-se a bitola de cada “cano”, ou de cada cabo elétrico , até chegar nas
indústrias que usam corrente elétrica mais intensa e voltagens mais altas, e, por meio das sub-estações,
vão rebaixando ainda mais a voltagem e diminuindo ainda mais o calibre dos fios, até chegar aos
consumidores comerciais, residenciais, rurais e à iluminação pública.
Esta malha extensa e complicada veio sendo montada, desde um século atrás, com o intuito
comercial de procurar atender a uma determinada atividade industrial específica – várias centrais foram
construídas pelos mesmos empresários que montaram usinas de açúcar, fábricas de celulose, fiações e
tecelagens, curtumes, fundições metálicas. Também havia, desde o início, a meta de estender a venda de
eletricidade ao maior número possível de pontos deste “organismo” cada vez mais devorador de energia
elétrica, que é a vida cotidiana de cada região do país.
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E esta trajetória foi similar por aqui, e alhures, onde quer que a “eletrificação da sociedade” tenha
alcançado desde 1880-90, quando teve um nascimento em berço de ouro nos EUA e nos principais países
da Europa, e rapidamente se implantou nos cinco continentes, onde quer que o imperialismo alcançasse,
inclusive, por aqui, e desde o início ( ver caps. 3 e 4 a seguir ).
Institucionalmente, a eletricidade veio sendo tratada como um serviço público essencial, e em
muitos países, até hoje, todo o sistema ou partes estratégicas do sistema são controladas majoritáriamente
pelo Estado nacional e pelos Estados-membros ou pelas provínciais.
Porém, econômicamente, a mercadoria eletricidade veio sendo um dos vetores de acumulação de
capital privado, em contínua e impressionante expansão, - justamente por haver se tornado um “consumo
de massas”, e um insumo industrial insubstituível em muitos casos.
Na história internacional da eletricidade, o Brasil é um personagem de primeira importância – não
“apenas” pelos mais de 20 bilhões de dólares faturados a cada ano, vendendo-se mais de 300 bilhões de
kilowatts-hora, mas também, pelos alguns bilhões de juros da dívida internacional e interna, pagos agora
a cada ano por conta dos financiamentos feitos nas últimas décadas e não –quitados.
Esta história geralmente é contada, pelos seus vencedores, com uma dose extraordinária de
inovação técnica e de adaptação financeira e tarifária, resultante da ação de grupos de homens
considerados um tanto especiais, e das mega – empresas por eles criadas ou com a sua participação
fundamental. Foram os inventores – empresários – políticos - financistas, símbolos da “belle époque”
tanto quanto os primeiros carros e aviões, gente do naipe do Benjamim Franklin, Thomas Edison, o Barão
Siemens, e os engenheiros Billings e Borden, que implantaram na virada dos séculos XIX a XX, os
sistemas do Rio e de São Paulo, por conta do capital canadense - americano . ( ver cap. 3 e 4 deste livro }
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Figura 1. Sistema Elétrico Brasileiro, principais linhas de transmissão


Fonte: folder com mapa, Eletrobrás, 2000.
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1.3 As malhas da rede e seus “pepinos”.


Voltemos ao caso brasileiro de hoje: nestas duas teias de aranha, inter - estaduais, uma na metade
Norte + Leste , e outra na metade Sul + Centro Oeste do país de dimensões continentais, funcionam dois
tipos de “nós”, ou pontos de inter - conexão e de convergência das linhas , e que são estratégicos para o
funcionamento e o controle dos sistemas interligados, - as centrais elétricas - e os centros de consumo ou
de carga. Todos dependemos do bom funcionamento e da boa manutenção destas instalações; só que, nas
etapas de projeto, na concepção e na própria decisão de construir tais obras não fomos em geral
consultados.
São estes os pontos de “origem” e de “utilização” mais intensos de eletricidade :

I - Os “corações”, centros produtores, ou simplesmente, Centrais Elétricas, são:


# centenas de usinas hidroelétricas ( UHE s ), no sistema Centro-Sul , e dezenas no sistema
Nordeste Pará-Tocantins , cada uma delas com barragem no rio, reservatório de água , e uma casa de
força [ em inglês, “hydropower plants” ] constituída por geradores acoplados às turbinas “frias” acionadas
pela força hidráulica e, mais
# uma dezena de usinas termoelétricas no Centro Sul ( além das duas centrais nucleares de Angra
dos Reis, RJ ) e algumas usinas térmicas no outro sistema, equipadas com caldeiras queimando derivados
de petróleo e carvão mineral, produzindo vapor d’agua que aciona turbinas “quentes”, acopladas a
geradores elétricos ; em inglês seriam “fossil fueled power plants”.
Cada central contem um, ou alguns destes TG- Turbo-Geradores elétricos, e até algumas centrais
contem dez, doze, dezoito, até vinte destes, e cada um deles gera eletricidade em corrente alternada, cuja
pulsação deve ser modulada em 60 ciclos por segundo, deve ser depois “sincronizada”com a pulsação do
restante da rede elétrica onde a carga desta central vai ser conectada; uma pequena parte desta energia é
utilizada para acionar os componentes do próprio TG e as instalações elétricas, instrumentos e motores
das próprias centrais.
Ao lado de cada central, pelo menos uma SE- Sub-estação elevatória, e que funciona como a “porta
de saída” da energia que irá abastecer a rede; considerando que a eletricidade é produzida nos bornes do
gerador e nos seus barramentos ( que servem para “escoar ” a energia ) sob uma tensão de 13.800 volts, e
que as tensões mais altas são mais favoráveis para a transmissão, a SE cumpre esta função, pois em seus
transformadores a tensão será elevada para uma faixa bem maior , de 138.000 até 700.00 volts, para,
então, a carga elétrica ser adequadamente “injetada” nas Linhas de Transmissão.
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II – Dentre os diversos “cruzamentos” de linhas em cada trecho territorial desta rede, os mais
importantes de todo o sistema interligado são as Sub-Estações que abastecem os grandes Centros de
Carga, e que recebem grandes “pacotes” de eletricidade por meio dos linhões – as LT , ou Linhas de
Transmissão em alta voltagem, que ali chegam, e terão a função de “descarregar” e direcionar outros
“pacotes” para distintas áreas geográficas, para diversos grupos de consumidores.
Esta etapa final é a da distribuição, a partir das subestações regionais e locais, em geral feita em
voltagens menores, até chegar nos postes das ruas com 11 mil, ou com 13.000 volts, - o quê, nos últimos
transformadores “de rua”, são rebaixados para as tensões convencionais, de 110 e 220 volts, ou, de 380 V
nos sistemas mais potentes, oficinas, indústrias.
O arranjo é tal que – apesar de uma extensa malha se estender por vários Estados e, dentro deles,
por quase todos os municípios – os “troncos”mais importantes, ou os “corredores” de tráfego mais intenso
de energia estão dirigidos, vindos de várias direções, para os os grandes “centros de consumo”ou “centros
de carga elétrica”.
Por exemplo, o maior “centro de carga” do país é representado pela aglomeração da Região
Metropolitana de São Paulo, formada pela capital, pelos municípios do ABC, mais Guarulhos, Osasco e
muitos outros. A região é atualmente suprida pelo sistema interligado Sul- Sudeste, cuja eletricidade
provem quase toda das grandes hidrelétricas na bacia do Paraná, principalmente de Itaipu e de Jupiá - Ilha
Solteira, ambas no rio Paraná, incluindo uma parte proveniente das centrais do Rio Grande, deste o
Triângulo Mineiro, de Água Vermelha, até Furnas, no sul de Minas.
Mas, por estar também ligada ao antigo sistema Light- Eletropaulo, a RMSP e alguns trechos do
interior proximo à Capital, do vale do Paraíba e do litoral recebem ou podem receber eletricidade da
hidrelétrica de Cubatão ( 880 Megawatts ) e da usina termelétrica de Piratininga, zona Sul da capital
paulista, ( entre as represas Billings e a Guarapiranga ) com 450 Megawatts; esta usina está aumentando
sua capacidade, com novas turbinas queimando gás metano fóssil ( G.N. ) e acabou de trocar o
combustível de suas caldeiras, de óleo combustível viscoso para gás metano.
No caso de um sistema tão extenso como o Centro – Sul
– no qual os maiores centros produtores ( Furnas, Agua Vermelha, Itumbiara, São Simão, Jupiá -
Ilha Solteira, as centrais do rio Iguaçu, e , principalmente a de Itaipu ) estão em geral a centenas de km. e,
em alguns casos a mais de mil km. dos maiores centros de carga ( as maiores concentrações urbanas e
industriais do Centro Sul ) ,
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- desta configuração podem resultar custos mais altos, para uma parte da eletricidade vendida, por
causa justamente da sua transmissão a longa distância, cujas obras e materiais custam caro, e onde há
perdas físicas de energia, chegando na faixa de 15 a 20% nos piores casos.
As cargas elétricas são transmitidas em voltagens muito altas, a partir de 138 mil volts até 500, 600
ou 700 mil volts em corrente alternada ( apenas uma LT é corrente contínua, uma das que ligam Itaipu a
SP ), e também estão limitadas pela capacidade de transmissão da LT, que, para cada par de cabos é da
ordem de dezenas de Megawatts ou, nos cabos de maior calibre, centenas de Megawatts.
Ao transmitir uma energia poderosa, os cabos emitem um forte campo eletro-magnético, se
esquentam ( e os seus limites suportáveis de temperatura ficam pouco acima de 100 graus ), vibram, além
de ficarem sujeitos à umidade, corrosão de chuvas e em vários casos, sujeitos à acidez atmosférica, aí vão
oxidando, descascando, e aí passam a emitir mais faíscas, formando gases nitrogenados ao seu redor, etc,.
e, obviamente, sofrerão mais acidentes, e terão que ser trocados um dia ...
Para facilitar, é bom lembrar das torres que avistamos: em geral quanto mais altas, mais pesados os
cabos e maior a tensão e a carga transmitida por cabo. Algumas LT poderiam ser chamadas de “eletro-
vias” pois agrupam vários cabos na mesma torre, e várias linhas na mesma faixa de terreno.
É certo que – com as centrais hidrelétricas distantes do consumo, aumentam os custos, mas,
avaliadas por um outro ponto de vista, as usinas hidrelétricas já funcionando deveriam ser prestigiadas e
mantidas em condições ótimas. Pois, em boa parte já estão pagas, amortizadas, funcionando bem,
algumas com custos bem baixos de operação, e isto apesar do investimento na construção e na montagem
ser bem alto. O fato é que, uma vez pronta cada hidrelétrica e posta a funcionar, a sua “fonte” de energia
é, de certa forma, gratuita. O problema, ainda, é que estamos endividados pelos empréstimos feitos na
época das obras e montagens, e pelos juros crescentes...
Entretanto, a dimensão real dos problemas está apenas começando a ficar clara: com tantas centrais
prontas, agora temos que tentar “gerenciar”uma das maiores intervenções humanas na dinâmica natural
pré-existente. Vejamos um resumo do “pepino” : as hidrelétricas que abastecem o sistema Centro-Sul são
supridas por chuvas que caem em regiões quase todas classificadas como pluviosas, ( algumas bastante
pluviosas, como as Serras Geral, de Paranapiacaba e do Mar).
As águas de toda esta chuva escorrem para a mesma grande bacia dos rios Grande – Paranaíba -
Paraná, além de alimentar também algumas usinas pequenas e médias em outras bacias do Centro Sul ( no
caso do rio Paraíba do Sul, SP, RJ e MG, do rio São Francisco no trecho mineiro, e do rio Jacuí, RS ).
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Os rios mais importantes destas bacias estão bastante barrados, alguns quase inteiramente, e a sua
vazão média está bastante regularizada pela intervenção humana no manejo das comportas dos
reservatórios e das centrais. Em vários casos, vem aumentando a perda de água de algumas bacias
fluviais, seja pela sua derivação ou transposição para uso em outra bacia, seja pelas perdas evaporativas
na superfície dos próprios reservatórios ( as estimativas para a represa de Sobradinho são da ordem de
300 mil litros de água por segundo, perdidas por evaporação; esta vazão pode corresponder a uns 15 % da
vazão do rio São Francisco na época baixa, ou então, compara-se à vazão máxima do rio Piracicaba, SP,
na cheia ); deve-se ainda computar as perdas tipo evaporativas, observadas nas torres de resfriamento e
nas bacias das indústrias, e das ETAs e ETEs.
De toda forma, a engenharia pesada se preparou para a “dependência das chuvas sazonais” e foi
aumentando o porte das barragens e os volumes d’água represados; existem centrais com pequenos
reservatórios e outras “a fio d’água”, que seriam menos adequadas ao principal objetivo do capitalismo
elétrico, seja estatal ou privado : assegurar o fornecimento de eletricidade firme e em grandes “pacotes”,
durante o ano, e atender às variações diárias, semanais e sasonais do consumo .
As centrais com reservatórios são a grande maioria no Brasil , e, em vários casos, as alturas de
barramento e os volumes de reservatórios foram decididos com os valores mais altos possíveis,
independentemente de consequências, por exemplo, o encobrimento das Sete Quedas de Guaíra no rio
Paraná , do Canal de São Simão, no rio Paranaíba, ou da Cachoeira de Itaparica e do “canyon” do rio São
Francisco. Dentre as centrais de grande reservatório e de grande potência estão aquelas cruciais para a
sustentação da geração : no sistema Sul-Sudeste-Centro-Oeste, as de Itaipu, de Jupiá - Ilha Solteira, Agua
Vermelha, Itumbiara e Furnas são os “pivots” essenciais.
Mas, também pesam na sustentação dos principais “corredores” de transmissão, e na geração
somada do sistema interligado, estes “rosários de hidrelétricas” em que se transformaram alguns trechos
dos grandes rios, pois se tornaram “escadas de lagos”, seccionadas por paredões : quase todo o trecho
médio do rio Iguaçu ( 05 grandes hidrelétricas ), quase toda a extensão dos rios Paranapanema, Tietê,
Grande e Paranaíba, o alto e o médio Paraíba do Sul , em SP e no RJ, respectivamente; o trecho final do
São Francisco ( BA, PE, AL, SE ). E, vão no mesmo rumo o trecho médio do rio Tocantins ( GO e TO ) e
o trecho alto da bacia do Uruguai ( RS-SC ).No período Verão - Outono, em geral os reservatórios estão
todos cheios e muitos precisam soltar água pelos vertedouros, - de certa forma, uma energia não -
convertida em eletricidade - , e nesta época, todas as máquinas que estiverem em condições operacionais
podem turbinar, se houver demanda.
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Nas outras estações, Inverno e Primavera, alguns reservatórios poderão descer muito, ou demorar a
subir novamente, e algumas turbinas não poderão funcionar, nem a meia carga...

1.4. Podem as centrais instaladas não dar conta do consumo? E os black - outs ?
Pois bem, será exatamente nestas ocasiões, que são cíclicas, periódicas, ou sazonais - que o sistema
será posto à prova, para saber se a sua capacidade efetiva de gerar e transmitir será suficiente para atender
o montante e a variação real da carga elétrica consumida :
# se aqueles reservatórios menos comprometidos puderem completar a carga elétrica demandada,
tudo bem;
# senão, serão as centrais térmicas que deverão aumentar a sua geração, acendendo mais caldeiras e
mais turbinas, para segurar a demanda adicional nas horas de pico, ou para complementar a geração
hidrelétrica que se reduziu nos períodos de reservatórios baixos.
# e, se as térmicas não derem conta desta missão, e toda a geração possível já esta sendo
despachada, os cabos poderão esquentar além dos limites, ou – as turbinas serão solicitadas acima da
rotação permitida, e- conqüentemente, em algum setor o Sistema deixará de responder à demanda, algum
grupo turbo - gerador vai se desligar, ou algum trecho da LT ou em alguma sub-estação , vai “desarmar”.
De toda forma, em uma parte da rede, em um corredor de eletro-vias, o suprimento de eletricidade
será cortado. E sempre tomará um bom tempo, muitos minutos, algumas horas em média, e muitas horas,
nos casos mais complicados.
Como é tudo inter - ligado e muitos procedimentos técnicos são automatizados, quando cai um
trecho importante da rede ou uma subestação estratégica, todo o Sistema pode ser desarmado, desligando
“em cascata”. e levará um tempo precioso, horas, as vezes dias para ser inteiramente reativado.
Consta que a última vez que isto ocorreu em SP foi nos anos 50, ... “culpa da Light”, como se dizia
na época. É difícil interpretá-lo, sem ter vivido o problema. Todavia, posso mostrar alguma experiência ,
pois estava na área central da capital paulista no maior “black-out” nacional de todos, o de abril de 1984,
e depois me interessei em entender o ocorrido. Também, pude ver há poucos meses uma situação
equivalente, em Manaus, por exemplo, - onde a eletrificação residencial e a demanda industrial avançam
mais rápido do que a oferta de eletricidade pela rede, principalmente em épocas mais quentes com maior
demanda de refrigeração e ventilação, e principalmente, pelas sobrecargas introduzidas na rede sem
qualquer planejamento prévio. ( ver cap. 2 , mais detalhes )
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Ocorreram sim, depois disto, e continuam ocorrendo em todas as regiões do Brasil, vários black-
outs, ou apagões, alguns deles por atos de sabotagem supostos, mas nunca esclarecidos devidamente,
outros por decorrência de falhas operacionais nas usinas de geração ( inclusive na nuclear Angra-II,
poucos dias após iniciar seus testes de fornecimento à rede fluminense , em Dezembro de 2000 ).
Também podem ter atuado os inter-travamentos do sistema na sequencia dos próprios testes e simulações
de operação do sistema interligado, feitos frequentemente pelos operadores do antigo Grupo Coordenador
das operações Interligadas. Não por acaso, alguns dos black - outs recentes ocorreram pouco tempo após
a “desativação” das células e do cérebro do GCOI e a entrada em atividade do “novo” ONS – o Operador
Nacional do Sistema Elétrico .
Claro que muitos apagões, inclusive a maioria dos pequenos, nos bairros das cidades e nas áreas
rurais, são explicados pela ação de algum fenômeno atmosférico, tempestade, vendaval, raio, cujos efeitos
são incontroláveis, e, que atingem partes locais da rede ( postes, transformadores, fiação, árvores, etc )
mas, às vezes, atingem também as grandes sub-estações e as tôrres de transmissão.
No entanto, pelo que andei estudando e conversando com o pessoal do setor, parece que a grande
maioria dos apagões foi, e é por causa de panes técnicas, que são estatísticas, claro, porém são intrínsecas
a estes sistemas, e que se agravam com o envelhecimento progressivo das instalações. Se isto não fôr
devidamente compensado pelas atividades de manutenção técnica, pode se acelerar a deterioração de
equipamentos, de máquinas, dos cabos, torres, disjuntores, chaves, etc.
Ainda mais, as incongruências foram agravadas como conseqüência da recente onda de
terceirização de serviços, e também pela “implosão” dos corpos técnicos das principais empresas, que
vêm sendo retalhadas pela União e pelos Estados, seus antigos acionistas majoritários.
Tal combinação de fatores resulta numa freqüência maior, e notável nos últimos anos, de acidentes
nas linhas, nas salas de comando das centrais, e ainda explosões e incêndios em transformadores e em
sub-estações. Além disto, muitas interrupções de energia são originadas na passagem dos linhões e torres
pelas regiões de queimadas de canaviais, de pastos ou de matas, porque o calor e as chamas também
fazem “cortar” a transmissão, e danificam cabos e torres..
A denominada crise de eletricidade ocorrida no ano de 2001 não está, até hoje totalmente explicada.
Por exemplo, dois anos antes, a situação era vista com uma certa folga : conforme o secretário de Energia
do MME, em declaração ao jornal Gazeta Mercantil, de 08 de junho de 99, o recorde histórico do
consumo de eletricidade ocorreu no horário de ponta do dia 27 de maio, quando a demanda no sistema
Centro Sul exigiu uma potência equivalente a 43.260 MW, ...
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e...“o sistema funcionou muito bem, numa quinta feira, o dia mais carregado da semana; isto
mostra que temos uma certa folga”, e, comentando que os reservatórios , no final do outono estavam 70
% cheios, e que em Outubro voltaria a chover, disse que “apagão é um problema de funcionamento do
sisitema, não pode ser visto como sinônimo de falta de energia...”
De fato, ao final do ano 2000, contava-se com 61 mil megawatts instalados no país, e mais de 45
mil MW no Centro Sul, e ainda algumas centrais de grande porte estavam ficando prontas, começando a
operar as primeiras máquinas, inclusive a nuclear de Angra II, as hidrelétricas de Itá , RS-SC, de Salto
Caxias , PR, - e - outras já prontas e ainda sendo “motorizadas” ( ou seja, estavam sendo instalados os
grupos turbo-geradores , nos casos de Porto Primavera, MS – SP , de Serra da Mesa, GO, ambas com
potências previstas na faixa de 1000 a 1.800 MW cada ) . Neste panorama, não fazia muito sentido agitar
a bandeira vermelha do “déficit” de energia elétrica, do “black-out” por causa de deficiência de oferta;
mas, de fato, algo estava bastante errado pois os reservatórios estavam se esvaziando, e alguns deles
chegaram no início de 2001 com 40% ou menos, do volume total de água.
Foi quando se intensificou o “ lobby” pela instalação de termelétricas, dizia-se que elas seriam “
independentes de São Pedro”. Voltando ao exemplo da RMSP e do ABC : a alegação era de que uma
usina térmica queimando gás metano canalizado seria uma “garantia de confiabilidade total de
suprimento elétrico para a região próxima” (conforme prometeu um executivo da General Electric em
reunião política e empresarial no ABC, 28.06.1999 ). Creio que isto não procede, porque:
1. o combustível principal da usina pode falhar, e ela pode ser obrigada a queimar óleo
diesel ou querosene tipo aviação, se tiver o suficiente em seu estoque, ou se estiver ligada por oleoduto a
alguma refinaria ; senão, para de uma vez o despacho de eletricidade.
2. como qualquer indústria, os equipamentos do gasoduto, inclusindo-se as estações de
compressão, as válvulas motorizadas tele-comandadas, as partes do “city-gate”( estação de redução de
pressão, medição e distribuição final de G.N.) e os equipamentos da própria central elétrica , podem
sofrer panes, quebrar, pode haver emergências e avarias; neste caso, pararia de uma vez o despacho de
gás metano canalizado, e, se não houver qualquer estoque, - seja um vaso - pulmão refrigerado (
temperaturas entre 40 e 140 graus negativos ), ou coisa do gênero, - tem que parar as turbinas a gás, e cai
no caso anterior.
3. além disto, uma queda de transmissão de eletricidade em qualquer um dos quatro
sistemas que abastecem a RMSP ( antigas Eletropaulo e Cesp, mais Furnas, MG e mais Itaipu ) pode - e
estatisticamente tem acontecido – desligar outros trechos do sistema interligado SE-CO;
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4. por consequência, este desligamento das malhas pode desacoplar grupos turbo-
geradores das UTEs projetadas;
5. e, além disto, se houver compressores, válvulas ou instrumentos dos gasodutos ligados
na rede elétrica regional, pode ser que algum trecho dos gasodutos seja “derrubado ”( param os
compressores ), e de novo, por um outro percurso, a propagação de uma pane local pode repercutir numa
central termelétrica aparentemente “autônoma, segura, confiável ” ; bastaria que esta central estivesse, no
momento, funcionando em qualquer ponto no ABC , ou perto de Campinas, ou de Sorocaba, e que
estivesse despachando carga para este trecho que “abriu a linha”...
Aí estariam, para os leitores que ainda crêem na confiabilidade total de sistemas complexos, as
várias maneiras de um sistema elétrico portentoso continuar a sofrer panes e colapsos, ou seja, continuar a
ter de enfrentar “pepinos” sérios, os quais podem afetar também as tão faladas termelétricas a gás.
Passado um ano da crise de 2001, a única coisa que se tem certeza, é que a oportunidade foi
aproveitada pelas empresas distribuidoras para aumentar ainda mais suas tarifas, e ainda, de quebra,
obtiveram do próprio governo, recursos que compensaram a sua perda de faturamento. Um paradoxo
justamente para um setor que estava sendo privatizado, ou seja, trazido de volta para as regras do
capitalismo não estatal : os consumidores tiveram cotas pré – estabelecidas de eletricidade, baseadas em
seus históricos de consumo, com bônus para quem economizasse, e penalidades para quem não
conseguisse economizar; mas, quase todos modificaram seus hábitos, reduziram seus índices, aprenderam
a usar melhor equipamentos elétricos, e ... as empresas mantiveram o seu fluxo de caixa, por meio deste
subterfúgio, negociado, como sempre, nos corredores dos palácios.

1.5. Muito trabalho e sempre um alto custo para termos a eletricidade, inclusive a renovável !
Por aí, se vê que o milagre da eletricidade é , essencialmente, o milagre do trabalho humano, de
muita gente, assalariados, empreitados e “peões” avulsos, todos peregrinando pelos canteiros de obras do
páis, os “barrageiros”, gente de várias gerações e de muitas profissões. O suprimento de eletricidade não é
portanto um fluxo mágico que circula sem o suor de milhares de homens, nem a sua organização é algo
“natural”; tem que ser visto sempre como uma atividade produtiva feita por grandes coletivos, em uma
estrutura empresarial , incorporando conhecimento científico e técnico acumulado durante séculos, até
desabrochar e se consolidar nas formas hoje existentes.
Dois problemas decorrentes são graves, de solução dificílima ou até sem solução, e perduram.
Logo, nunca podem ser esquecidos nem subestimados :
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1) no Brasil, onde mais de 85 % da eletricidade é hoje obtida dos rios, o fato é que barramos muitos
de nossos rios, alagamos muitas terras, e, o conjunto das intervenções feitas é assombroso.
2 ) desde o início, fomos dependentes da importação de máquinas e equipamentos, e em certas fases
históricas do país, estivemos sob o comando de empresários e engenheiros estrangeiros.
Sobre o primeiro problema, transcrevo a seguir um texto síntese que elaborei especialmente para ser
distribuído , como documento de apoio aos participantes do Encontro nacional de Trabalhadores
Atingidos por Barragens, organizado pela CRAB – Comissão regional de atingidos, RS-SC, e pelo
Departamento de Trabalhadores Rurais da CUT, em Goiânia, 19 a 21 abril 1989.
( reproduzido também como anexo, após pg.27 do texto SEVA, A .O . “Ecologia ou Política no Xingu?”, Coleção Documentos,
série Ciências Ambientais, num.04, Junho de 1990, IEA / USP, S. Paulo )

ALTERAÇÕES EM CONSEQÜÊNCIA DE HIDRELÉTRICAS


Riscos para a Condição Humana, Reações do Planeta

A impressão que os visitantes guardam de uma grande barragem e de um grande “lago” é marcante,
inesquecível até, por causa das dimensões desproporcionais, realçadas pela luminosidade especial, pelos reflexos
de um espelho. E fica também o fascínio pelo maquinário, pelo mistério de toda aquela água ser transformada em
eletricidade.
Não é surpresa, assim, que os engenheiros e os políticos costumam repetir, insistentes, seus elogios à
tecnologia, ao retumbante “domínio do homem sobre a natureza”...Entretanto, convem sermos mais realistas,
avaliar quanto de fato a natureza perdeu, e quanto nós e os nossos descendentes perdemos e perderemos.
Será um exagero dizer que já perdemos vários de nossos rios mais importantes ?
Será pessimismo achar que vamos provavelmente perder todos ou quase todos os rios restantes?
Talvez sim, mas não há exagero nem pessimismo, em afirmar que estes vários rios já barrados, com suas
barrancas, várzeas, ilhas, e com suas vertentes, estão bastante alterados em seu funcionamento. Vejamos como.

Alguns destes antigos rios se tornaram uma “escada” de lagos artificiais, imponentes, fotogênicos, porém
enfraquecidos enquanto sistemas fluviais. Todos os reservatórios se degradam, alguns em ritmo acelerado: águas
escuras, proliferação de água-pés e outras plantas, de algas; contaminação por causa dos escombros e resíduos
não retirados na ocasião da formação do “lago”; gases de putrefação da folhagem e do húmus submersos.
Todos os reservatórios se entopem, e alguns, bem depressa: desbarrancamentos, retenção de sedimentos
enxurradas de entulhos, assoreamento agravado por desmatamento e por mecanização agrícola.
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As águas já subiram centenas de vezes nos grandes açudes e lagos artificiais brasileiros. A cada vez foram
riscadas do mapa e apagadas da história paisagens únicas, algumas esplêndidas. E, no total, mais de 50.000 km.
quadrados de terras, ilhas, planícies, e “costas” de grandes rios estão hoje em baixo d’água, muita terra boa.
E, ainda se deve debitar na mesma conta outros milhares de km quadrados de terras perdidas para os
canteiros de obras, para os linhões, e mais as terras que vão ficando nas mãos das empresas de eletricidade e das
empreiteiras.

Quem acompanha com detalhes a dinâmica da natureza e as atividades humanas, já constatou que a
alteração em consequência de uma grande barragem só pode ser violenta e duradoura. A experiência das
populações humanas nas regiões barrageiras no Brasil e em muitos outros países mostra que alguns riscos são
prováveis:
* riscos de infiltração de umidade e de água nas fundações e nos revestimentos dos paredões ( que hoje têm
de 50 a 150 metros de altura, por alguns km de comprimento ) e também nas fissuras, cavidades e lençois d’água
subterrâneos, no fundo e nas vertentes submersas do “ lago”;
* riscos de inundações das margens do “lago” e de trechos a montante; riscos de “ondas”e de cataclismas
nos trechos a jusante das barragens; “cheias” anormais cada vez mais freqüentes, mais desastrosas; - e, com
grande responsabilidade da operação das barragens e centrais nestes eventos;
* riscos de acomodação do terreno, do deslocamento de rochas e de camadas d e solo, e, riscos de tremores
de terra nas imediações do “lago”e mesmo em pontos distantes;
* riscos de poluição acumulada, por ausência de tratamento de esgotos urbanos e industriais, e por efeito
de resíduos ou derramamento de agro-tóxicos e não bio-degradváveis na área do “lago”e rio acima;
* e riscos de doenças transmissíveis, chegando até os casos de epidemias, favorecidas pela concentração de
populações migrantes e pela multiplicação de insetos ( p.ex. febre amarela, malária, filariose ) e de caramujos (
p.ex. esquistossomose )

Enfim, para quem viveu muitos anos nas regiões atingidas , e pode testemunhar as transformações, e,
também para alguns pesquisadores que se empenharam em compreender os sinais vitais do planeta, fica a certeza
de que : * a cada “lago”, é como se o continente, e se até todo o planeta, se incomodassem, fossem derrotados ,
e... reagissem !
Muda a umidade, mudam os ventos e as chuvas; as tempestades são mais fortes, como no mar. Muitas
espécies de animais são dizimadas ou quase: peixes, tartarugas e outros répteis, botos, e também algumas espécies
de aves; outras espécies terão menos alimento, é o caso dos homens...Outras, ainda, poderão proliferar à vontade,
como os mosquitos, as libélulas, as piranhas. Muitos habitats destruídos, alguns recriados, de futuro incerto.
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Toda a energia do sol e da água, naquele trecho do planeta, servirá a uma função exclusiva:
* ser um reservatório de Megawatts, uma jazida energética, de exploração intensiva, produzindo
mercadoria valorizada: a eletricidade.
A região atingida tem um destino preocupante, e mais, revoltante: a degradação, os riscos, a reação do
planeta contra a mutilação de seus ciclos... o estreitamento das possibilidades futuras, o empobrecimento dos
recursos vitais !”

fig 2 Esquema dos pontos críticos de alterações ambientais nos lagos de barragem
original Oswaldo Sevá ; redesenhado por Cláudio Fernandez
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Enfim, ao encerrar esta parte da nossa revisão didática sobre a eletricidade, deve-se lembrar da
primeira questão do capítulo : e o que acontece até chegar no interruptor de sua casa, de seu local de
trabalho ? e, já sabendo de uma parte de toda a complicação, deve-se refletir a respeito, pois,

# cada vez que tocamos o botão mágico, - isto se estivermos ligados neste sistema Centro - Sul, ou
no outro, Norte-Nordeste - estaremos ao mesmo tempo:
# pagando caro “ligar a luz”, alimentando os juros da divida externa brasileira, alimentando as
remessas de lucros de empresas multinacionais, e-
# usufruindo de nossos kilowatts-hora que somente se tornaram disponíveis porque dezenas de
milhares de km. quadrados de terras foram inundadas pelos reservatórios, em alguns casos desalojando
compulsoriamente milhares de cidadãos , porque todos os principais rios e muitos dos secundários na
Bacia do Paraná, mais o rio São Francisco, o Paraíba do Sul, foram totalmente ou quase totalmente
barrados, e portanto estão adulterados, e continuam se adulterando.

Mas, pode acontecer do leitor estar num ponto da rede que é suprido também por centrais
termelétricas, ( seja nas capitais RJ e SP, seja nos Estados de SC e RS ) , e , agora outra reflexão valeria
também para todas as cidades do Norte e Amazônia que queimam combustível em seus motores e usinas.
Se o nosso kilowatt - hora veio também de uma usina térmica, é bom saber que:

# quase todas queimaram bastante combustível fóssil ( carvão mineral , petróleo ou gás associado ,
GN) , com uma perda do calor na faixa de 50 a 70 por cento até se obter a eletricidade;
# as que não queimam são as duas nucleares em Angra dos Reis – era melhor que não existissem,
mas já que aí estão, é vital não esquecê-las! e é bom torcer e ou rezar muito - para que nunca ocorra nada
de mais grave!
# as centrais térmicas estão sempre na lista dos principais focos de poluentes atmosféricos e dos
principais captadores de água em suas regiões e, que,
# quanto maior sua potência elétrica, maiores as tonelagens de poluentes emitidos e em geral
maiores são as vazões de água retiradas dos rios, - as quais na maior parte, são perdidas por evaporação
nas torres de resfriamento e condensação destas usinas térmicas.
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1.6. O quê é queimado nos bicos de cada fogão,


ou na caldeira de cada indústria ou navio, ou, no motor de cada veículo e de cada aeronave ?

Quando o leitor acende o seu fogão ou seu forno a gás, ou o seu aquecedor de água para o banho,
qual é o gás? Como foi obtido ? Depende de onde estejam situados o fogão, o aquecedor, e, de onde
passem as rotas de distribuição dos tipos principais de combustíveis atuais no país.
E quando abastece um tanque do carro ou do caminhão?
E quando acende um forno numa cerâmica, numa metalúrgica, numa fábrica de cimento ou de cal ?
ou, quando acende uma caldeira para produzir vapor numa indústria, numa lavanderia, num hospital ? E
quando acende um maçarico numa oficina ou num garimpo?
Depende, em cada caso, do quê se compõe o nosso parque de conversores ( fogão, aquecedor, motor
a explosão com e sem centelha elétrica , forno, caldeira, maçarico...) e de qual é o nosso cardápio de
combustíveis gasosos, líquidos, sólidos. Só que, a simples resposta a cada pergunta exige um
conhecimento do conjunto das perguntas e respostas, e mereceria uma explicação correta, com algum
detalhe, e empregando um bom arsenal de siglas, nomes técnicos e locais geográficos.
Mesmo para os leitores que já conhecem, sempre é bom relembrarmos e atualizarmos este jargão,
este glossário de termos peculiares, mencionarmos os principais locais que estão nestas rotas, - sem o quê,
não poderemos depois avaliar os problemas, nem apreciar os números, valores e proporções de energia,
de combustível, de investimentos, ...que irão aparecendo em todo este livro:
Para simplificar, segue uma lista com 12 verbetes , com informações básicas sobre os combustíveis
gasosos, líquidos e sólidos mais comuns pelo mundo afora, e que estão em uso no Brasil atualmente, ou
que poderiam estar, em alguns casos.

1.6.1. Gás Metano


Este hidrocarboneto é o mais simples e leve de todos, cada átomo com um Carbono ligado à quatro
Hidrogênios, inodoro, inflamável e mais leve do que o ar, é um componente essencial da atmosfera e está
associado a muitos processos orgânicos fundamentais , por exemplo, reprodução de bactérias, digestão de
muitos animais, e portanto nos seus dejetos.
Na prática, sempre está misturado com outros gases : presente no gas “grisu”, das minas
subterrâneas de carvão, neste caso, com metano e outros hidrocarbonetos, além de gases sulfídricos ou
sulfurosos e eventualmente com gás radônio, que ocorre também em outras rochas e solos.
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Obtido em forma industrial nas coquerias, Coke Oven Gas , quando o minério de carvão é
cozinhado lentamente, coqueificando e evaporando suas frações gasosas e viscosas que estavam
entranhadas na pedra ; os gases de coqueria , bem como os gases obtidos da gaseificação do próprio
carvão contém metano, HCs leves, aromáticos, alcatrão, fenóis, - a partir dos quais se estabeleceu no sec.
XVIII, a industria carboquímica, e mais recentemente, até a possibilidade de obter combustíveis líquidos
sintéticos a partir do carvão, - syngas - ; e, também daí vieram os primeiros gasômetros e a distribuição
de gás canalizado a partir das coquerias para outras indústrias e para areas urbanas próximas.
Nos séculos XIX e XX, o gás industrial e o gás canalizado ( com metano e etano, de um e dois
carbonos ) passaram a ser obtidos pelo craqueamento de naftas ( Hidrocarbonetos de cinco a nove
carbonos ) , por sua vez obtidas da carboquimica do COG. Depois, foram obtidos da nafta de frações
destiladas do petróleo , por meio de processos químicos usando Hidrogênio, catalisadores, condições
severas de pressão e temperatura.
O metano também se formou na fossilização da vida vegetal e animal, que gerou o “chorume” do
petróleo, exatamente através da reprodução das bactérias metanogênicas e desta fermentação orgânica,
“sem ar”, abafada; por isto, o metano é o componente majoritário do gás associado ao petróleo e do gás
não associado, também encontrado em subsolos petrolíferos. ( v. adiante )

1.6. 2. GNV – Gás Natural Veicular.


Os motores a gasolina e a álcool podem também funcionar alternadamente com uma mistura gasosa
cujo componente mais importante é o gás metano – neste caso, a marca comercial no Brasil é o G.N.V.
Isto se consegue através da instalação de um “kit” mecânico e eletrônico, além de reservatório apropriado,
um cilindro com capacidade de armazenamento entre 9 e 20 m3 aproximadamente; e, o veículo passa a
ser bi-combustível. É o que já ocorria, em 1999, com mais de dez mil taxis nas capitais de SP e do RJ e
com alguns milhares de outros veículos, em geral, das frotas de algumas empresas. No caso de motores
originalmente a óleo diesel, sem centelha elétrica, a adaptação é quase uma reforma, e o motor fica mono
- combustível, só a gás; mas, já há motores de linha, das grandes montadoras, para ônibus a gás e alguns
tipos de caminhões. Carros de frotas de empresas, camionetes, micro-ônibus, Kombis, além de táxis, já
circulam há vários anos em Fortaleza, Natal, Salvador; as adaptações de táxis em SP e RJ estavam na casa
de mais de vinte mil , no ano de 2000, e já há postos de GNV em Belo Horizonte e no interior do RJ. Em
2002 é provável que se chegue à marca de um milhão de veículos adaptados no país.
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1.6. 3. Gas de Botijão .


A mistura de propano-butano ( C3+C4 ), os hidrocarbonetos com tres e quatro carbonos, forma um
combustível que é gasoso no momento da queima, mas, que é produzido e pode ser armazenado de forma
líquida, sob pressão, e que, justamente, se gaseifica quando em contato com o ar, com a pressão
atmosférica, menor do que a do interior do recipiente.
O gás de botijão pode ser obtido por duas vias distintas : a mais conhecida é quando a refinaria de
petróleo produz, a partir das frações mais leves de vários tipos de óleo cru, o chamado G.L.P. ou Gás
Liquefeito de Petróleo; a outra via, conhecida apenas em poucos locais no Brasil, é quando a mistura
propano – butano é obtida pela liquefação das frações condensáveis do gás associado ao petróleo, - só
que, neste caso , deveria ser chamado de GLGN – Gás Liquefeito de Gás Natural; de toda forma, a
composição e as características devem ser padronizadas ( com a mesma especificação técnica ) e o GLGN
é engarrafado no mesmo botijão e utilizado do mesmo jeito.
Tanto o GNV como o gás de botijão têm um cheiro forte justamente como alerta para os seus
possíveis e freqüentes vazamentos durante o enchimento de cilindros e butijões, em canalizações, e nas
válvulas – trata-se de um odorífero muito forte colocado em pequenas quantidade, um tipo de composto
orgânico, com enxofre, chamado de “mercaptana”.
1.6. 4. Gasolinas.
Se abastecemos um carro, uma moto, um motor de pôpa, uma moto-serra, um moto-gerador portátil,
ou uma pequena moto-bomba ou moenda, com gasolina, é porque o motor é a explosão, com centelha
elétrica, e o combustível é um líquido leve, uma mistura de naftas, que são hidrocarbonetos com 4 a 10
carbonos. O “pool” de gasolinas também é obtido do petróleo cru e do LGN – o Liquido de Gás Natural.
No caso brasileiro e de alguns outros países ou regiões de outros países, - a mistura de gasolina tem
também uma proporção importante de um combustível derivado da bio-massa, - o álcool etílico, ou
etanol anidro ( na faixa de 25% por cento em volume, do total de mistura gasolina-álcool ); o álcool
anidro obtido da cana-de ácucar, por meio de fermentação da sacarose do caldo da cana cumpre também o
papel essencial de ser um anti-detonante da mistura ( função feita durante décadas, por um composto de
chumbo, e que também pode ser feita por outros álcoois e alguns éteres ).
No caso das aeronaves desde o seu início até os anos 40, eram todas com motores a pistão
queimando uma gasolina especial de alta octanagem, - a GAV – Gasolina tipo Aviação – incluindo-se
no “pool” os iso - butanos e iso - pentanos obtidos inicialmente sob pressão ( semelhantes ao GLP) e
depois, misturados com frações líquidas da família do benzeno e dos heptanos e octanos.
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1.6. 5. Álcool e Metanol.


Se o veiculo for “a álcool”, mesmo assim, será abastecido com uma mistura de álcool de origem
vegetal ( etanol, obtido da sacarose da cana de açucar ) com alcool de origem fóssil ( metanol, obtido de
gás natural ou de carvão mineral ) e também, de gasolina. Em SP, esta mistura chegou, no início dos anos
1990, a ter uma proporção de 60% etanol, 33% metanol e 7 % gasolina. Portanto não há própriamente
motores exclusivamente a álcool, nem totalmente abastecidos apenas com combustíveis líquidos
renováveis. Isto sem falar que a produção da cana e seu transporte consomem uma enorme quantidade
óleo diesel, derivado de petróleo, nos motores dos tratores, colheitadeiras e caminhões.
Em compensação, o álcool não é a única substância energética extraída da cana neste processo, pois
o bagaço também é queimado em caldeiras, diretamente, ou primeiro sendo gaseificado; e a parte do
caldo não convertida pelas bactérias ( levedura) em álcool, que fica entre 80 e 90 % do total, - conhecida
como vinhoto ou vinhaça – pode também ser concentrada para ser depois gaseificada ( uma mistura com
mais de 50% de metano ) ou ainda incinerada com a recuperação dos compostos inorgânicos ( cálcio e
potássio, principalmente ).

1.6.6. Os querosenes

Os querosenes, assim como os solventes, as águarrás, são também misturas líquidas de


hidrocarbonetos leves, de quatro a dez carbonos, e, juntamente com a gasolina e o propano - butano, são
considerados as frações mais “nobres” obtidas do petróleo. O uso do querosene para iluminação é bem
antigo e ainda subsiste, bem como a sua queima similar à da gasolina, nos motores de geladeiras e outros
pequenos moto – compressores ou moto - bombas.
O principal uso atual do “pool”de querosenes, fora o QI - Querosene Iluminante e fora as
“misturas” irregulares e não convencionais com gasolina e óleo diesel, é a fração vendida como QAV –
Querosene tipo Aviação , líquido, e que será queimado pulverizado, em maçaricos, nas turbinas dos aviões
e dos helicópteros, e de alguns tipos de embarcações e de locomotivas de trens de grande velocidade.
Pode ser queimado também na maioria das turbinas fixas, que movem geradores elétricos ou
grandes compressores nas modernas usinas termelétricas e na própria atividade petrolífera; estas turbinas
queimam em geral gás metano, mas, na sua falta, o QAV pode ser o combustível de emergência, para que
a geração de eletricidade ou o bombeamento não sejam interrompidos.
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1.6.7. Óleo tipo Diesel


Se o caso for abastecer os tanques que alimentam os motores tipo diesel –
- que são o equipamento motriz da totalidade dos caminhões pesados, e de quase todos os outros
caminhões e ônibus , as camionetes, as vans , os tratores , as máquinas rodoviárias, as dragas, as balsas,
os guindastes, uma boa parte das embarcações pequenas e médias, os grupos geradores diesel-elétricos,
uma boa parte das locomotivas –
- aí tudo isto depende de como as refinarias extrairão , por meio de destilação, de craqueamento, e
de coqueamento, as varias frações de naftas pesadas e de óleos leves, que são hidrocarbonetos de nove,
dez a dezesseis, ou dezoito carbonos, que podem compor o “pool” de óleo diesel.
Não por acaso, dentre todos os derivados de petróleo, o óleo diesel é o que tem a maior demanda ( o
volume de diesel consumido está na faixa de 40 % ou mais, do volume total de petróleo processado ) .
Entretanto, nem sempre a proporção natural de óleo diesel nos petróleos crus atinge tais valores, ficando,
em geral, na faixa de 30 a 40 % ; o quê deve ser compensado de alguma forma.
No caso brasileiro, em cada refinaria vai se tentar extrair mais óleo diesel através de métodos
químicos especiais ( por exemplo, craqueando, ou seja, quebrando-se com ajuda de catalizadores, as
moléculas maiores das frações mais viscosas, como o gasóleo e o resíduo ultra-viscoso ), obtendo-se uma
fração a mais de naftas pesadas que podem aumentar o “pool” de diesel. Mesmo assim, a oferta de diesel
não é suficiente; pior, como há quase vinte anos, não há criação de novas refinarias, apenas ampliações
nas existentes – o fato é que estamos importando óleo diesel fabricado em refinarias estrangeiras, e esta
proporção chega atualmente a quase um terço do nosso consumo total.
Embora o melhor uso do diesel seja em motores de médio e grande porte, muitas caldeiras queimam
o mesmo óleo diesel, nas indústrias e outros estabelecimentos, e em algumas centrais termo-elétricas com
turbinas a vapor. Além disto, nas maiores cidades da Amazônia, há centrais elétricas com turbinas tipo
aero-derivadas ( projeto semelhante às turbinas de avião ), que trabalham com a compressão do ar
admitido e com a expansão dos gases queimados nos maçaricos ( ciclo Brayton, v. adiante ) e que
queimam óleo diesel.
Foi o quê ocorreu também nos primeiros meses de funcionamento das usinas te´rmicas em Cuiabá,
MT e em Uruguaiana, RS, que começaram a funcionar antes que fosse completado o gasoduto. Mas, se
for concretizada a ligação de gasodutos com áreas produtoras de gás, estas mesmas turbinas hoje
instaladas em Manaus, Boa Vista, Rio Branco, Porto Velho, Macapá, poderiam queimar gás metano,
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como já fazem as turbinas das plataformas de produção, em terra e no mar, e das unidades de
processamento de gás da Petrobrás e como fazem algumas outras, recém- instaladas em locais já
atendidos por gasodutos. ( v. capitulos seguintes )

1.6.8. Óleos grossos e Resíduos de “fundo de barril”


A parte mais viscosa do petróleo, a sua borra mais grossa, chamada de “fundo do barril”, de “ fundo
de torre”, tem uma proporção em geral entre 10% e 20% , mas pode chegar a 30% ou até 40% em pêso,
do total de cada barril de óleo cru. Esta fração ultra-viscosa contém grandes moléculas de hidro -
carbonetos e uma alta proporção de Carbono, e ainda será trabalhada nas refinarias para separar os vários
tipos de O. C. - Óleos Combustíveis, que vão alimentar os fornos de indústrias e as grandes caldeiras dos
navios e das usinas termelétricas, e, para separar os asfaltos, o piche, os betumes.
Os materiais muito viscosos ou ultra-viscosos, como estes, devem ser mantidos aquecidos, em
temperaturas até perto de 270 graus – pois caso contrário vão “empedrar”, endurecer indevidamente. Por
outro lado, se diluídos com solventes e óleos mais leves, podem ser manobrados em forma quase líquida e
uma vez “secos”, funcionam com impermeabilziantes. Em algumas refinarias, p.ex. em Cubatão e
Paulínia, SP, em Betim, MG, pode-se obter a partir dos óleos de “fundo”, um combustível sólido,
pulverizado, o coque de petróleo, e também os carbonos coloidais e o pó tipo “negro de fumo”.

1.6. 9. Os outros combustíveis fósseis: carvão, xisto, turfa,


e os resíduos industriais combustíveis.

O sobrenome desta família de combustíveis – fósseis - é bem apropriado, pois todos são, além do
petróleo e do gás associado, resultantes de um processo histórico, muito longo, de fossilização. Em
termos simples, tais materiais se formaram quando, pela ação de vários mecanismos que só existiram
naquela época, há milhões centenas de milhões de anos atrás - ficou sepultado sob “novas” camadas de
sedimentos, rochas e terras, o material orgânico do passado remoto, quase toda a vida daquelas eras:
- os microorganismos como algas e plânctons, as plantas menores e as grandes árvores, os pequenos
animais como crustáceos e moluscos, os peixes dos mares e lagos que também foram sepultados, e até os
imensos mastodontes, mamutes e dinossauros, recriados hoje pela engenharia dos efeitos especiais do
cinema e dos vídeo-games.
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 26

No caso do carvão mineral, conhecido milenarmente e, nos ultimos três seculos o mais importante
combustível extraído e usado em todos os continentes, a matéria fóssil ficou espremida em camadas,
entranhada e entremeada com areia, sílica, quartzo, outras rochas, e com os compostos de enxofre, de
flúor, de nitrogênio, e às vezes, misturados com traços e compostos dos metais chamados “ pesados”,
incluindo-se ferro, manganês, cobre, chumbo, níquel, cádmio, molibdênio, vanádio, arsênico, mercúrio e
outros ). Petrificou, mas está empapada de liquidos viscosos e contem emulsões ou até bolsões de
matérias voláteis e gases.
O carvão já foi usado para tudo que se imagine, inclusive aquecimento de cavernas e de casas, aliás,
até hoje, em vários países como a China e a Índia e mesmo alguns da Europa. A sua forma mais
valorizada é o “coque”, ou seja, um carvão mineral que, além de beneficiado, “lavado” e concentrado nas
bôcas das minas, foi também “carvoejado”, ou coqueificado, através de um cozinhamento lento e
abafado, de muitas horas, dois a três dias nas coquerias mais rudimentares, forçando-se a evporação das
frações voláteis e a saída dos gases e da umidade, e concentrando-se no coque o Carbono fixo e as
moléculas maiores, sólidas ou bem soldadas pelas frações ultra-viscosas.
Com isto, gasta-se bastante combustível e gera-se bastante subprodutos ( complicados, porém em
parte, re- aproveitáveis ) e passa-se de um material com poder calorífico na faixa de 3500 a 6000
kilocalorias por kg, para um outro material, mais leve, com menos contaminantes, especialmente o
enxôfre e seus compostos, e produzindo de 7000 a quase 9000 kcal por kg de coque queimado.
O principal uso do coque é na siderurgia , nas etapas da sinterização e dos altos-fornos de ferro –
gusa, em várias aciarias e também em metalurgias de outros metais, inclusive do alumínio, como material
de revestimento das cubas e dos bastões elétricos.
Além disto, ainda restam locomotivas e embarcações a carvão, e, sobretudo, uma boa parte da
eletricidade em muitas regiões de muitos países, inclusive dentre os mais ricos e avançados, é obtida em
termelétricas a carvão, ou a derivado de carvão, - através da queima de carvão mineral e de coque em
suas caldeiras para produzir vapor ( ciclo Rankine, v. adiante ), e , às vezes, com uso do gás de coqueria
ou da gaseificação do carvão para queima em caldeiras ou em turbinas.
O xisto betuminoso seria um estágio intermediário entre o carvão e o petróleo, pois, a partir da
moagem da rocha e de seu cozinhamento pode-se obter algo similar a um petróleo cru. A turfa seria um
tipo de carvão superficial ainda em formação, e pode-se compor de restos de arvores, e de arbustos,
camadas de folhas e de raizes em putrefação, ainda úmidos, e já ligados pela argila.
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É um terreno de regiões sedimentares recentes, baixadas de rios maiores e de estuários, e onde a


matéria vegetal milenar ficou exposta ao ar livre, nas turfeiras. Parece algo como a terra vegetal que se
produz para os jardins e hortas, mas com sua caracteristica própria, fibrosa, de terra preta ou cinza escura.
Em alguns países vem sendo usada há séculos como combustível, - isto após a terra ter sido drenada, e
solidificada sob pressão, em toletes, para poder ser transportada e alimentar as caldeiras ou fornos.
Além dos combustíveis fósseis obtidos da natureza e em seguida fabricados para serem
especialmente combustiveis , também são queimados em conversores comuns , - além de suas pilhas
queimadas ao ar livre... –
- vários tipos de resíduos industriais - como as borras dos separadores de águas oleosas, as lamas
das estações de tratamento de efluentes; as poeiras dos filtros-manga e dos balões de retenção, as
emulsões com óleos lubrificantes, decapantes e outros, as borras de dragagem de bacias de decantação e
de tanques, as resinas e materiais plásticos fora de especificação, ou as aparas de seus cortes e outras
perdas de processo,
- e mais, os produtos usados como os pneus gastos, embalagens plásticas e alguns tipos de lixo.
Particularmente, os fornos rotativos das fabricas de cimento e de cal ( mas não somente estes ) vêm
sendo utilizados, na prática, como incineradores destes tipos de resíduos, cuja queima é paga, por
tonelada, pelas indústrias geradoras do resíduo , - às fábricas que têm os fornos e que misturam tais
resíduos às suas cargas usuais de combustível, que são de OC, Resíduo Viscoso, Carvão Mineral ou
Coque, ou, ainda, Carvão Vegetal. ( ref. tese mestrado SANTI, 1996 e comunicação VIII CBE, 1999 )

1.6.10. Os combustíveis lenhosos e fibrosos, e o aproveitamento dos seus resíduos


e os óleos vegetais combustíveis.

A madeira, especialmente galhos e troncos cortados e secos como lenha, é também de uso milenar e
generalizado, e continua até hoje em muitas regiões do mundo, e também nas áreas urbanas e nas
residências – pelo menos no caso das lareiras e calefações prediais, e no caso de alguns fornos de cozinha,
por exemplo, pizzarias, e, em muitos locais, as padarias. Também ainda se usa regularmente em fornos de
olarias e de alguns tipos de cerâmicas, e várias fábricas de alimentos, em fornos ou em caldeiras para
produzir vapor e água quente.
Permanecem raros exemplares de locomotivas e de embarcações a lenha, mas caberia lembrar o
exemplo do “gasogênio”, ( um gás “pobre”, resultante da combustão abafada de carvão vegetal, com
alguma proporção de CO, de H2, de metano ou outros hidrocarbonetos ) e que foi uma solução
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 28

ª
encontrada em períodos de falta de gasolina ( na 2 guerra, no Brasil, p.ex. ) e em regiões sem eletricidade
e com dificil suprimento de diesel ( os grupos geradores a gasogênio em serrarias, p.ex. ).
O principal uso da madeira, e do material lenhoso em geral como combustível, na realidade, é, após
o carvoejamento, como carvão vegetal. Continua o seu uso urbano e em eventos de lazer e de alimentação
coletiva ( p.ex., os churrascos ) mas, em vários regiões, o carvão vegetal é a base energética geral, e, em
alguns casos, alimenta a poderosa indústria siderúrgica e alguns ramos especificos da metalurgia. No
Brasil, uma terça parte do ferro-gusa ( precursos do aço e das ligas de ferro com outros metais ) é obtida
em altos-fornos queimando carvão vegetal, em geral, menores do que os das usinas integradas a coque.
Três das grandes siderúrgicas de MG, a Belgo-Mineira de João Monlevade, a Acesita, de Timóteo,
e a Mannesmann, do Barreiro, BH, foram construídas para reduzir o ferro com carvão vegetal, e estas
empresas industriais organizaram seus “braços” específicos para o suprimento, outras empresas de
reflorestamento e de carvoejamento que estão dentre as maiores proprietárias de terras em Minas. Na
década de 1990, estas siderúrgicas, outras menores e alguns guseiros começaram a misturar coque com
carvão vegetal e converter alguns fornos, mas a estrutura básica do combustível lenhoso permanece, e os
milhões de hectares de eucaliptais continuam a ser uma reserva de combustível, e ou de matéria - prima
para a fabricação de celulose, papel e papelão.
Várias metalúrgicas importantes, e que fabricam ligas de uso sofisticado, como as de Zinco e
Chumbo, as de Níquel; as de Manganês, as de Estanho, e, especialmente, as cadeias produtivas do silício
metálico, do cromo, das suas ligas nobres e dos seus concentrados caríssimos, - também são movidas a
carvão vegetal, além da enorme eletricidade que consomem.
Na indústria madeireira – que desdobra as toras, tira as pranchas, produz a madeira estrutural , de
revestimentos, portas, esquadrias, carrocerias, embarcações, móveis, etc - os resíduos em principio são
todos aproveitáveis, seja na própria produção de artefatos, compensados, aglomerados, etc, mas , também
como combustíveis, seja na forma bruta de cascas, cavacos, aparas, serragens, ou também, carvoejando as
sobras do eucaliptal, do pinheiral e da mata, galharias, lascas e até folhas, ou fabricando briquetes, ou
pellets de fibras, os quais por sua vez podem ser torrados ou queimados diretamente, ou, ainda,
gaseificando tais materiais. De forma similar, a indústria da celulose/ papelão / papel, que produz alguns
resíduos iguais a estes, pode queima - los em suas caldeiras; ainda, estas fábricas têm como sub-produto
uma quantidade impressionante de “licor” da madeira ( após cozinhada em banho químico, para separar
as fibras ), e este licor, ou lixívia , também pode ser queimado diretamente ou gaseificado.
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Ainda neste tópico de combustíveis renováveis, obtidos diretamente da vegetação, temos que
destacar, pelo seu futuro certamente promissor, os óleos combustíveis vegetais, que são extraídos de
sementes de árvores, ou de leguminosas, portanto, são, em princípio, completamente renováveis e,
relativamente dependentes de safra e de condições de coleta, principalmente aqueles que têm composição
orgânica similar ao “pool” de naftas do óleo diesel, e que podem ser usados em motores bi-combustível,
ou, se devidamente tratados, podem ser misturados ao diesel. Estão neste caso, com pesquisas e
utilizações já bastante avançadas, em alguns países e também por aqui, os aproveitamentos dos óleos dos
cocos das palmeiras ( como o dendê, mas também pode se aplicar aos cocos do babaçu, do buriti, do acaí
), das sementes bastante oleosas das castanheiras, ( e suas parentes amendoeiras, nogueiras e outras ), mas
também das brasileiras sementes de andirobas, de copaíba, de mamona, e tantas outras. Além é claro, da
maioria dos óleos comestíveis convencionais, obtidos de soja, de arroz, de milho, de sementes de girassol,
de uva, de oliveiras, e que, em diferentes graus, podem ser ainda beneficiados para usá-los como
combustíveis, sozinhos ou misturados a outros.
Não custa registrar também, que durante muito tempo, queimou-se óleo de baleia e resinas de
arvores para iluminar, extrairam-se solventes, essências e princípios ativos da vegetação e dos animais,
obteve-se álcool de várias frutas, raizes, e grãos. Tais tecnologias estiveram um tanto ofuscadas pelo
surto do combustível líquido obtido do petróleo - que já dura um século e meio quase, mas que
provavelmente está mais próximo do fim – mas os combustíveis da bio – massa têm obviamente muito
mais futuro do que os estoques de material fóssil, finito, e de difícil acesso.

1.7. Como são obtidos os derivados de petróleo no Brasil ?


Mas... para que este “surto” do petróleo possa continuar em vigor, dia após dia, é preciso encontrar
e conseguir extrair o petróleo, lá onde ele se formou, no antigo leito de um mar ou de um lago, com muita
matéria orgânica, planctons, algas, peixes, crustáceos, moluscos, conchas, plantas. Estas foram as
matérias-primas do petróleo, tudo o que ficou sepultado dentro das camadas sedimentares, e que foi
lentamente fermentando, concentrando e apurando, sob pressão, sem ar, produzindo este “chorume” da
vida nas eras geológicas anteriores, esta mistura de óleos, gases, resinas, sais e água cujos derivados se
tornaram as principais mercadorias do mundo neste século.
Embora o Brasil não seja um dos principais produtores de petróleo do mundo, ele já é extraído do
nosso subsolo desde a década de 1940, e a sua produção é crescente em várias regiões.
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 30

Nos últimos anos, tem sido de origem nacional algo como 2 /3 , ou um pouco mais, de todo o
petróleo processado nas refinarias do país ( cuja capacidade somada esteve na faixa entre 1,5 e 1, 7
milhões de barris / dia, ou , aproximadamente 80 milhões de toneladas anuais ) . A terça parte restante,
um pouco menos, chega importado, em navios-tanque, nos terminais marítimos que abastecem as
refinarias ( como óleo cru de determinados poços ou como “blends” de determinadas regiões, como
resíduos de beneficiamento e destilações feitas em outras refinarias; e como LGN, para poder compensar
as diminutas frações de GLP e naftas nas demais matérias-primas ), e as proveniências mais comuns são o
Golfo Pérsico, Norte da Africa, Nigéria, Argentina, Venezuela, Indonésia.
Retomando nossa pergunta anterior, tudo isto só é possível às custas de enormes investimentos, de
muito trabalho humano e às custas de muitas alterações ambientais em toda a sua cadeia produtiva , de
distribuição e de consumo.
Resumidamente, eis as principais etapas, em se tratando de petróleo aqui extraído :
# Trata-se de perfurar o solo terrestre, no Espirito Santo, na Bahia, em Sergipe, no Rio Grande do
Norte e no Amazonas, e o solo marinho, sob lâminas d’água, - pequenas, com poucos metros, no
Recôncavo Baiano, - médias, com dezenas de metros até duzentos metros, em Sergipe , no Ceará e Rio
Grande do Norte , - e grandes, até profundidades de mil metros, como no restante do litoral fluminense, e
ao Sul, na bacia de Santos e Paranaguá. Perfurar para atingir camadas profundas do subsolo. No Brasil,
os “reservatórios” de óleo cru e gás estão nas camadas de arenitos a dois, três mil metros abaixo do piso.
Perfurar para comprovar ou não a existência dos hidrocarbonetos, prevista nos estudos geofísicos e nas
modelagens de reservatórios.
Depois: tampar , abandonando os poços, -, ou deixando em “stand-by”, - ou- completar tais poços,
neste caso imobilizando na rocha, com cimento, as tubulações de aço concêntricas por onde o poço será
manobrado, com cabos elétricos, tubos para água, vapor, para re- injeção de gás, e por onde escoarão , até
jorrar na superfície, os hidrocarbonetos líquidos e gasosos, a água com sais e o cascalho; - para o quê, é
necessário ainda , empregar explosivos, para canhonear a rocha-mãe no entorno da seção final do poço,
para forçar o escoamento dos primeiros fluxos de óleo e gás.

# E depois, montar as conexões de cada poço com suas instalações terrestres ou subaquáticas :
árvores de natal, conjuntos de válvulas de cabeça de poço, “manifolds”( conjuntos de válvulas
controlando vários poços), assentar e montar tubulações, com trechos flexíveis (sob o mar) e trechos
rigidos, com bitolas de até 24 polegadas, no mar, e de até 40 polegadas, em terra.
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No caso da produção “off-shore”, deve-se construir, rebocar até o local definitivo e instalar as
unidades marítimas industriais de produção e processamento de óleo cru e de gás natural - apoiadas no
piso do mar (as plataformas fixas ) - ou - ancoradas ( os navios-sonda e os navios adaptados para
produção ) , ou - ancoradas e estabilizadas por submarinos ( as plataformas semi-submersíveis). E fazer as
conexões de cada plataforma , fluxo acima, com um ou mais poços produtores , e fluxo abaixo, com o
continente; ou, nos casos do Norte Fluminense e da bacia de Santos, fazer as conexões com algumas
mono-bóias ( mono-bóia é o jargão técnico para instalação mixta de tancagem, bombeio e atracamento,
um tipo de plataforma ou um navio-tanque reformado, que também é ancorado no fundo do mar ) para
transferir a carga para os navios-tanque em alto-mar.
Regra geral, o trabalho nas etapas de perfuração e produção de óleo e gás, é árduo, pesado, e ao
mesmo tempo, bastante automatizado e de tecnologia densa; se as embarcações e plataformas estão no
“alto-mar”, as pessoas vivem em regime de confinamento e com um esquema único de turnos diários e
anuais das equipes, com “embarques” e “desembarques” ( volta para cas, para a terra ) alternados.
Isto define, do ponto de vista humano, e logístico, o quê se passa no “off-shore”, e em certa medida,
é comparável ao quê se passa em áreas produtoras isoladas na selva, - caso do Polo Arara em Urucu, AM
. Todo o acesso às áreas é estritamente programado e controlado pela Petrobrás ( e pelas operadoras
“avulsas” no “off-shore”) em vôos de helicópteros, ( e aviões pequenos, em Urucu) , por linhas exclusivas
ou fretadas, pela Petrobrás, ou, em viagens marítimas e fluviais idem, já que helipontos no mar, aeroporto
e porto em Urucu são territórios da empresa em perímetro fechado.
No caso do “off-shore” , o trabalho e a presença humana são estatísticamente mais arriscadas, por
causa do mar, e do trajeto áereo e aquático, e também porque intervêm várias outras profissões além dos
petroleiros especificos da perfuração e da produção, e dentre estas, os mergulhadores-mecânicos, que
instalam linhas, conexões e válvulas o piso do mar, e que fazem reparos, trocas e medições em
equipamentos subaquáticos em profundidades de até 300 metros, com o auxilio de robôs e equipamentos
especialíssimos, e uma infra-estrutura de um navio inteiro com dezenas de tripulantes para assegurar tais
manobras ( navios de mergulho , pipe-layers e similares ).
Ver a seguir, figuras 3 e 4, ilustrações cartográficas sobre os circuitos do petróleo e do gás no
Estado do RJ e no Estado de SP.
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Prosseguindo nossa descrição da cadeia produtiva do petróleo:


# Trata-se portanto, até aqui, de colocar as instalações produtoras em condições de partir e de
operar; o quê, tratando-se de um processamento de fluxos e estoques em regime contínuo, somente se
concretiza com o acionamento de toda a infra-estrutura de transferência e de estocagem, - exigindo a
montagem e operação de bases terrestres e/ou terminais marítimos de recepção, beneficiamento e
despacho de óleo cru e de gás natural.
Isto é o que se passa em Porto Tefé e no terminal do Solimões em Coari (AM), em Fortaleza ( CE )
, em Guamaré(RN), em Carmópolis, (SE), Madre de Deus e Candeias, (BA) em São Mateus( ES); em
vários pontos no RJ : em Cabiúnas , distrito de Macaé, em Duque de Caxias e em duas ilhas na Baía de
Guanabara, e no Tebig, na Baía da Ilha Grande; nas várias bases da Petrobrás em São Paulo : o Tebar em
São Sebastião, em Santos , Cubatão, Utinga, Barueri, Guarulhos, Suzano, Guararema , e mais, em São
Francisco do Sul (PR) e em Tramandaí(SC).
Todas estas bases e/ ou terminais estão conectados diretamente , muitas vezes, em instalações
vizinhas, às bases de estocagem e distribuição das distribuidoras de derivados de petróleo, e recebem e
despacham por meio de dutos, por via marítima (cabotagem) e fluvial, por via férrea e por rodovia.

# Algumas destas bases também incluem unidades de processamento de gás natural - as UPGNs, em
Urucu (AM), com um gasoduto em direção a Manaus metade já construído em meados de 1999, em
Fortaleza (CE ) , em Guamaré (RN), algumas em Sergipe e na Bahia , todas interligadas pelo gasoduto
“Nordestão”; no norte do ES, com gasoduto até Vitória e em obras até o RJ; ali em Macaé , cujas UPGNs
recebem por meio de gasodutos vindo das plataformas de Enchova e de Garoupa, e com gasoduto ligando
com Duque de Caxias , RJ, com duas UPGNs funcionando e ligada por gasodutos a Belo Horizonte, MG
e a SP, através do vale do Paraíba do Sul; e em Cubatão, SP, recebendo por meio de gasoduto ligando a
plataforma de Merluza no mar, e despachando por gasoduto para a região do ABC e a capital paulista. [ v.
detalhes a seguir, neste capítulo ]

# O “miolo”da indústria do petróleo é o parque de refinarias, no caso brasileiro, representado por 14


complexos de instalações: as maiores, processando de 200 a mais de 300 mil barris por dia, estão em
Paulínia,SP (REPLAN), Duque de Caxias,RJ,( REDUC); São José dos Campos, (REVAP) e Cubatão
(RPBC), ambas em SP; Araucária,PR (REPAR), Betim, MG(REGAP), Mataripe, Bahia (RLAM) e
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Canoas, RS (REFAP), e as menores, processando até 40 mil barris por dia, estão em Manaus (RMAN),
em Capuava, SP (RECAP), em Fortaleza (ASFOR).
Todas estas unidades industriais são da Petrobrás, porém todas bastante terceirizadas inclusive em
áreas operacionais, algumas delas já estão prevendo a entrada de uma empresa produtora de eletricidade
em forma de co-geração, e a refinaria de Canoas, RS foi objeto de uma espécie de escambo entre a
Petrobrás e a Repsol, por meio da YPF argentina, pois ficaram sócias cada empresa em um pedaço da
outra...Além delas, funcionam também no país duas refinarias fundadas por empresas privadas: em Rio
Grande, RS, a refinaria do grupo IPIRANGA, e na cidade do RJ, a refinaria MANGUINHOS,
anteriromente do grupo Peixoto de Castro, depois adquirida pela argentina YPF e agora pela espanhola
Repsol.
E ainda, a unidade de processamento de xisto , a PETROSIX, de São Mateus do Sul, PR, da
Petrobrás, - cuja matéria-prima não é o óleo cru e sim a rocha betuminosa, impregnada de óleo, - mas que
funciona, no essencial, como uma grande mina que abastece com matéria prima rochosa uma pequena
refinaria, menor que 10 mil barris por dia.
# Em todos estes complexos industriais , além das funções de transferência e estocagem já
comentadas, há um conjunto de plantas industriais de processamento físico-químico :
- unidades de fracionamento de óleo cru ( pré-flashes , destilações atmosféricas e a vácuo),
- unidades de craqueamento e de reciclo de resíduos ( craqueamento de gasóleo, coqueamento de
resíduo viscoso ), e de fabricação de fluidos especiais ( solventes, lubrificantes) ;
- unidades de tratamento químico de derivados ( processos com aplicação de soda, dietaniolamina,
merox, hidrogênio no arraste de contaminantes) e de tratamento dos gases residuais ( p.ex. recuperação de
enxofre ) e circuitos e instalações específicas para a coleta destes gases e a sua eliminação segura por
meio de tochas de alívio;
- e um parque de utilidades industriais convencionais ( captação e tratamento de água, circuito de
incêndio, produção e distribuição de vapor e de ar comprimido, coleta e tratamento de condensado,
geração de eletricidade e de ar comprimido, coleta e tratamentos de efluentes líquidos e de resíduos
sólidos e pastosos ).
# Cada refinaria trabalha atualmente com cinco turmas de operadores e técnicos em regime de turno
de revezamento, com seis horas por jornada de trabalho e folgas alternadas , além de equipes de
manutenção e de apoio em horário administrativo, totalizando algumas centenas de funcionários e
contratados nas refinarias menores, e mais de mil nas maiores. Freqüentemente, quase o tempo todo, estes
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 36

homens convivem, na área operacional, com grupos numerosos de contratados de empreiteiras que estão
realizando obras de construção e de reformas, além das atividades especiais durante as paradas de
manutenção periódica das grandes plantas de fabricação e de utilidades e também dos parques de
transferência e estocagem.
# A lógica mercantil do petróleo somente se completa com o circuito da distribuição final dos
derivados - que é feita a partir das refinarias e dos terminais marítimos , ligados por meio de oleodutos às
bases de distribuição de derivados líquidos e às bases de engarrafamento de GLP, onde são estocados e
retalhados os lotes de derivados, que serão re-despachados também por oleodutos até outras bases
menores e diretamente para alguns grandes consumidores.
Os combustíveis saem das bases também por meio de comboios ferroviários de vagões-tanques e
comboios fluviais de barcaças-tanque , e, em todas as ramificações finais, por meio de caminhões-tanque,
caminhões –cilindros, e caminhões com butijões , de chatas – tanque e embarcações menores com
tambores, ou mesmo por meio de aviões, - até abastecer todos os postos, garagens de frotas, portos e
aeroportos. O que também , por sua vez, envolve o trabalho de muita gente, e uma dose considerável de
disseminação dos riscos de acidentes com incêndios, explosões e vazamentos.
# Considerando-se todos estes trajetos das cargas de combustíveis por trens, caminhões, e
embarcações, que consomem combustíveis, e os trajetos por dutos, que consomem eletricidade e ou gás
para movimentar aas bombas e compressores, estamos diante do caso típico em que -- para tornar
disponível uma grande oferta de combustíveis para uso geral, gasta-se uma ponderável quantidade de
combustível, ou, em outros termos – o auto-consumo da indústria petrolífera, que acontece desde as fases
de extração do subsolo, deve incluir também o gasto em combustível na distribuição, atacadista e
varejista, até os pontos ou os conversores do consumo final dos combustíveis, ou melhor, até as bocas dos
tanques de cada conversor.
Mas, o auto-consumo de toda a indústria do petróleo é ainda mais ponderável do que este
“combustível usado para transportar combustível”; isto porque se queima muito derivado de petróleo nos
próprios equipamentos , motores, caldeiras, fornos, maçaricos, turbinas em todo o circuito , a começar
pelas próprias operações das plataformas, dos navios, das refinarias e das demais instalações e, alem disto
- em todo o transporte necessário de materiais e pessoas na própria atividade petrolífera, e indo
terminar nas redes bem ramificadas, capilares, que levam o gás do seu butijão, a gasolina do seu veículo
ou barco, o querosene do avião, o diesel do caminhão e do grupo gerador, a qualquer ponto do país,
mesmo que seja a um custo alto e com qualidades às vezes adulteradas.
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 37

De alguma forma comparável, a configuração do petróleo e do gás é da mesma família que a


configuração dos sistemas elétricos, o “ network”: redes com corredores principais e malhas mais e
menos densas, com dutos e vias de maior ou menor calibre; alguns pontos de produção da matéria-prima,
as vezes distantes dos centros de maior consumo, possibilidades de trocas de fluxos entre os estoques das
refinarias e dos terminais e bases.
E, num outro ponto de vista, tão importante quanto o anterior, o “network” petrolífero é totalmente
distinto do elétrico, pois a eletricidade não é estocada, nem pode ser transportada “fora dos dutos”.

1.8. O gás metano resultando de processos industriais, da bio-massa e dos resíduos


O gás Metano ( CH4 ), já comentado brevemente, é também emitido, por emanação, ou como
resultado de processos termicos e químicos, durante etapas de fabricação em alguns processos industriais
cujas matérias-primas são também materiais fósseis. Por exemplo, alguns parâmetros de estimação
recente, internacionais, indicam os seguinte valores:
* 1 a 2 g de metano emitido por kg de etileno, e de metanol fabricados ;
* 2 a 4 g / kg metano / kg de aço, na siderurgia a coque, e também por kg. de estireno, resina
plástica obtida de compostos aromáticos e hexanos;
* 11 g de metano / kg de negro de fumo( ou “carbon black” ) fabricado a partir dos resíduos do
craqueamento de gasóleo .

Além disto, o metano também é produzido e passa para a atmosfera nas bacias das Estações de
tratamentos de efluentes industriais, por exemplo, nas próprias refinarias e nas plantras petroquímicas, e
também nas fábricas de polpa de celulose e de papel, a uma razão de aproximadamente 1 kg de gás
metano por m3 de efluente recebido para tratamento. ( ref IPCC , pg. 2.6 e 6. 24 ). Em geral, a emissão de
gás metano pela biodigestão de bôrras industriais em processos orgânicos pode ser estimada, em 22% do
peso da carga orgânica , medida em Demanda Biológica de Oxigênio.
Especificamente, no caso do vinho e dos destilados alcóolicos de vegetais , pode-se estimar em 30
kg metano que pode ser obtido por bio-digestão de cada m3 do efluente, chamado de calda ou vinhaça;
no caso de uma fábrica de cerveja, 19 kg de metano por m3 de efluente bio –digerido ; no setor industrial
de alimentos e bebidas, em média 8 kg de metano podem ser obtidos pela bio – digestão de um m3 de
seus efluentes orgânicos.
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 38

Recapitulando: o metano, um componente essencial de nossa atmosfera e da história da vida sobre a


terra, tem também origem na matéria vegetal, no material orgânico e a partir de resíduos de processos
usuais, por exemplo, num processo natural bem conhecido, que produz o chamado “gás dos pântanos ”,
uma mistura composta por metano + CO2 + ácidos orgânicos e sulfetos; por exemplo, os gases que
emanam dos arrozais ( também por meio de fermentação anaeróbica ); e ainda, os gases emitidos pelos
rebanhos de ruminantes ( digestão ), especialmente ovinos e caprinos.
Com base no mesmo princípio bio-químico, das bactérias metanogênicas, pode-se obter a bio -
digestão de madeira, de bagaço, de cascas e de fibras, resultando também um gás com alguma proporção
de metano; pode-se obter gases combustíveis por meio da biodigestão de dejetos humanos, acumulados
em fossas específicas para a produção do gás, e tambem nas ETEs - Estações de Tratamentos de Esgotos
humanos, em coletividades e nas cidades; também por meio da bio-digestão de excrementos animais (
nota: ver exper. Castanho, AM ) ; e ainda, pela recuperação de gases nos aterros de lixo.
( nota : no aterro de Perus, SP as estimativas apontavam algo equivalente a 30 ou mais MW de eletricidade obtida pelo
turbinamento deste gás, ref: Landfil Gas Recovery, EPA, ... )

1.9 . A recente indústria do gás associado ao petróleo - ou - GN

Diferentemente do petróleo que, apesar de viscoso e volátil, é um fluido e pode ser confinado e
armazenado sem grandes perdas ou riscos, em condições usuais de pressão e de temperatura, os gases
combustíveis são mais restritivos e exigem instalações e cuidados especiais, principalmente se forem
manobrados e estocados com pressões médias e altas. Por exemplo, o comércio marítimo de GLP já é
feito há décadas em navios chamados de “propaneiros”, que devem armazenar o gás sob forte pressão e
resfriado até a faixa de 40, 50 graus negativos; já o comércio de gás natural liquefeito deve usar
equipamentos ainda mais pesados e custosos, para resfriar na faixa de 140 a 160 graus negativos.
Além disto, a transferência do gás em grandes vazões, qualquer que seja a distância, e a sua
distribuição até os consumidores finais, deve ser também canalizada e sob pressão; como as estocagens
são raras, pode-se considerar que os “networks” do gás natural têm semelhanças com as redes elétricas; só
que, se o gás subindo dos poços não fôr despachado para consumo e nem estocado, ele só poderá ser – ou
re - injetado de volta nas jazidas – ou – queimado nas torchas de alívio, os “flares”, que fazem parte de
toda a cadeia gasífera, desde as plataformas no mar.
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 39

Assim, pela lógica, há apenas três vias para que uma indústria de GN se implante em qualquer país,
e assim vai sendo no Brasil :
I . se temos gás no território e sob o mar de domínio nacional, pode-se implantar a indústria, a
começar pelas regiões produtoras de gás e suas vizinhas, e o fazemos, no litoral do Nordeste, no RJ, em
SP e no AM, com algumas décadas de atraso em relação a países tão diversos como a Argentina ou a
Holanda, que há décadas extraem e usam o seu GN ;
II. mas, poderíamos implantá-la também como a França, a Itália, a Alemanha, que consomem do
seu gás que é pouco, e importam bastante, por gasodutos, de seus vizinhos, e até de países mais distantes
( a Itália recebe da Argélia; a França e Alemanha recebem do mar do Norte e da Rússia ).
III e ainda, fazer como no Japão, que distribui o GN nas principais cidades e indústrias,
praticamente todo importado em forma liquefeita, por navios “metaneiros” vindo das regiões gasíferas da
Indonésia, da Austrália, do Golfo Pérsico. ( ref tese Eliana Ribeiro da Silva )

( via I ) No Brasil, o GN nacional só pode ser proveniente, por enquanto, das seis regiões produtoras em
operação : 1 ) região central do Amazonas, 2) litorais e sob o oceano no Ceará e Rio Grande do Norte; 3) litoral e
sob o mar entre Alagoas, Sergipe e Bahia, - estas duas regiões interligadas pelo gasoduto Nordestão feito em 1985 -
87 ; 4) no litoral e sob o mar na área de São Mateus, norte do Espírito Santo; 5 ) sob o oceano no litoral norte do
RJ, de onde saem os dutos principais para Duque de Caxias, os GasDuc, e daí para suprir a RMRJ, e, depois
bifurcando, pelo GasMig, para MG, e pelo Gaspal para SP ; também está sendo completada a ligação da região de
Macaé, pelo GasCav , com Campos, sul do ES, Vitória e interligando-se com a área 4 ) São Mateus ; e, por último,
6 ) sob o mar ao sul de SP, em águas territoriais de SP, do PR e de SC, área de São Francisco do Sul, de onde sai
apenas um gasoduto, o GaSan, em direção à Cubatão, SP. ( ver caps. 3 e 8 )
( via II ) Já estamos importando, no início de 2001, um bom volume de gás via terrestre por meio de três
gasodutos , os dois primeiros saindo do Sul e Centro da Bolivia : 1 ) o GasBol, entrando pelo MS em Corumbá, daí
até Paulinia, de onde sai um ramo Leste para interligar com o Gaspal ( região 5 no item anterior ) e um ramo Sul
passando por Curitiba, Joinville, Criciúma até a RM Porto Alegre. . ( Ver caps.5,6,7 deste livro ) ; 2 ) o
GasOccidente, entrando no MT perto de Cáceres e chegando até Cuiabá . 3 ) O gasoduto TSB, que recebe gás da
Argentina , região de Neuquen e do gasoduto Gás del Norte , em Uruguaiana, e que está sendo prolongado até
Porto Alegre.( v.cap. 10 )
( via III ) Mas, além de outros gasodutos projetados e imaginados, vários entrando pelos Estados do Sul,
outros provenientes do Peru, da Venezuela e do Caribe, - também parece que faremos como o Japão, importando,
via marítima, da Nigéria e ou do Caribe. O projeto, conduzido pela Shell, é para receber navios “” metaneiros”no
porto de Suape, ao sul do Recife, PE, para aí re-gaseificar o GNL e fornecer para uma central termelétrica.
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 40

(III, continua ) Estão sendo feitos os primeiros estudos também, para criar uma estrutura pioneira com planta
de liquefação – - embarcações – tanque criogênicas - – plantas de re-gaseificação , para aproveitar o gás natural de
Urucu, Amazônia, que poderia assim abastecer por via fluvial muitas cidades da região e escoar também , por
cabotagem para as cidades litorâneas do país.

A Produção e o Beneficiamento do gás associado ao petróleo. Recapitulando: sobem juntos desde


as rochas a dois mil metros de profundidade, ou mais, os Hidrocarbonetos na fase gasosa e na fase volátil,
na realidade, “evaporações” de frações que estavam sob forma líquida , e com êles, uma mistura variável
contendo vapor dágua, gases carbônicos CO e CO2, nitrogênio N2, gás sulfídrico H2S ( cf. Shreve, p.92
de 0 a 35 g / m3; cf,EIA TPP 130 mg / m3) e, ainda, eventuais vapores mercuriais ( ref . UPGN Argélia ;
caso contam. Oleo Cru Refap ).
Já na plataforma produtora, são feitas várias separações entre óleo cru / gases/ água, por sistemas de
vasos aquecidos e de membranas; uma parte do gás vem sendo re-injetada nos poços, visando um melhor
rendimento futuro da extração de óleo cru. Parte do gás que sobe é também usado nas turbinas ( para
eletricidade) e nas caldeiras, principalmente nas instalações “off-shore”, e também nos turbo-
compressores que despacham óleo , ou o próprio gás.
As queimas de gás “excedente” nas torchas de alívio ainda são significativas em vários lugares do
mundo, inclusive por aqui, tendo iniciado a década no patamar de 2 milhões de m3/ dia e atingindo no
final a cifra de 6 milhões de m3/ dia, ou quase 20 % de toda a produção comercial de GN no país.
( ref. rel posDoc, caso conservação de energia ; Artigo Elio Gaspari , FSP, dez 2000 ).

O Processamento do Gás Natural nas UPGN Nestas instalações similares às refinarias de petróleo,
o gás “bruto”, ou “rico”, recebido das jazidas e apenas separado do óleo cru é trabalhado para se retirar a
água , vapor ou umidade, e algum enxôfre das correntes gasosas, e para condensar e depois fracionar as
frações líquidas, ou, L.G.N. (etano, propano, butano e seus similares de dois, três e quatro carbonos e
mais as naftas , incluindo a “gasolina natural”). Esta condensaçãao é feita em trocadores de calor, com a
injeção de agentes secantes ( glicóis, silica gel, alumina ativada ); as correntes de hidroc-carbonetos
sofrem tratamentos para a retirada de CO2 e H2S ( scrubbers com éter - glicol, e com aminas alifáticas:
MEA, DEA, DPA , e adsorção de contaminantes usando carbonato de potássio quente, lama ou esponja
de óxidos de ferro ativados ).
A mistura condensada deve ser refrigerada, e são separadas as correntes de propano-butano – para
engarrafamento como gás de butijão, dos demais líquidos, pentanos, naftas.
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O gás “seco” resultante, com proproção de metano em geral; acima de 80 % terá as suas
características normalizadas ( composição, teor de umidade e de enxofre, pressão, poder calorífico ), antes
de ser despachado para os clientes seguintes, as companhias de gás, as indústrias e as usinas térmicas. Os
gasodutos tem seus troncos principais com estações re-compressão, conforme as cargas e distâncias
bombeadas, e estações de rebaixamento de pressão e realinhamento do gás para os ramais locais (
chamados de “city – gates )
Exemplos de composição do GN seco

[ Comgás / gás recebido via GasBol ]:


91,8 % CH4 5,6% C2 1% C3+ 1,4% N2 < 0,1% CO2 dens 0,7 kg.m3
fonte : RAP projeto Eletroger Santa Branca, psg.21, abril 1999

[ Comgás / gás recebido via Gasan, plataforma de Merluza )


81 a 89% CH4 5 a 10% C2 4,8% C3 + 1 a 6% N2 0,2 a 0,4 % CO2

1.10. As várias utilizações possíveis do GN e os produtos da sua combustão


Tanto o gás seco como o gás “rico” são usados como insumos básicos pela indústria petroquimica ,
por exemplo, na fabricação de metanol, de hidrogênio, dos compostos da cadeia acética, e dos polímeros
formados por hidrocarbonetos de 2 e de 3 carbonos , como os polietilenos e polipropilenos. Recapitulando
: a parte líquida do gás “rico” , o LGN, servirá como meio de melhorar o “blend” de refino dos óleos crus,
pois aumentam a proporção de derivados leves obtidos, e também, pelo fornecimento de GLGN, pode
complementar a oferta de GLP.
O gás seco é usado principalmente como combustível em caldeiras e em fornos industriais ( p. ex.
na indústria cerâmica e em metalúrgicas e até mesmo em altos-fornos, processo HYL, mexicano ); pode
ser canalizado em cidades e distritos para uso em residencias, em coletividades, nos fogões, aquecedores,
nas centrais de co-geração, compossibilidades de fornecimento de calor e de frio, além da eletricidade.

No Brasil, ainda é raro, mas a tendência internacional é aumentar o uso de gas metano e também
dos derivados leves de petróleo para produzir eletricidade num equipamento recente, a célula
combustível, uma espécie de “pilha térmica” – na qual a combinação do hidrogênio contido no
combustível com o oxigênio do ar fornece uma corrente elétrica captada por meio de catalizadores e
células especiais E, como já citamos, começa-se a usar cada vez mais o GNV em motores a pistão,
pequenos e médios para veículos, e também em grandes motores especiais para mover geradores
elétricos. ( por exemplo, a central de co-geração da Spal em Jundiaí).
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E quais seriam os produtos da combustão do GN ?


De certa forma, os mesmos que resultam da combustão de combustíveis fósseis em geral, porque:
- se há queima de Carbono e de Hidrogênio, há produção de gases CO, CO2, e de vapor d’água;
-com a presença de Nitrogênio no combustível, mesmo que em pequena proporção e já que o ar
atmosférico tem 78 % de N2, a queima, que necessita de oxigênio, na realidade usa muito mais o próprio
ar, e esquenta-o, e faz uma parte do seu N2 se oxidar em óxidos gasosos NO, NO2;
- se ao queimar GN , a queima é parcial ou ineficiente, também sairão pelas chaminés os hidro-
carbonetos não queimados, - só que hidrocarbonetos mais leves, e muito menos perceptíveis e menos
imediatamente danosos do que os materiais particulados, fumaças pretas ou brancas causadas pelos
demais combustíveis.
Uma vantagem importante do GN, se for proveniente de poços com pouco ou nenhum H2S e se
teve um tratamento químico adequado antes de queimar, é que na queima do GN se produz em geral
menos gas sulfuroso SO2 por tonelada de produto queimado ou por poder calorífico obtido. Claro que
estes valores de emissão de S02 em geral serão maiores se uma turbina ou um motor tiver que queimar
Óleo Diesel ou Querosene tipo Aviação.
De toda forma, se houver emanações de hidro - carbonetos nas instalações e alguma queima
incompleta, e no mesmo proceso, está se produzindo NOx, e, se tudo é lançado na mesma atmosfera,
estão dadas as pré-condições para se alterar o ciclo do gás ozônio respirável. Basta apenas que atue por
algumas horas a radiação ultra-violeta da luz do sol.
- para que se forme o chamado “smog fotoquímico”,
- e para que a concentração de ozônio e de nitratos oxidados aumente no local ou longe dali, pois os
gases são levados pelos ventos.

1.11. Quatro tipos de instalações básicas


para produzir eletricidade a partir dos rios e dos combustíveis

Estas imagens da figura 5, a seguir, simbolizam os tipos mais comuns, no Brasil, de instalações
destinadas a produzir eletricidade em escala comercial; as três primeiras vêm sendo utilizadas desde o
início da era da eletricidade, há mais de um século atrás; já as turbinas a gases quentes são bem mais
recentes.
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 43
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* A primeira imagem, acima à esquerda, é a tradicional roda d’água , sucessora das rodas de
moinho , que aproveitam trechos encachoeirados ou desníveis dos rios, e cujo eixo aciona um gerador
elétrico. Ainda hoje são usadas em fazendas, vilarejos, casas de farinha e outras moendas, granjas, etc.
Modelos mais aperfeiçoados, chamados de rodas ou turbinas Pelton, foram instalados em várias Usinas
Hidro- Elétricas (U.H.E.), por exemplo, na usina Henry Borden, em Cubatão, S.P., cuja água é canalizada
em uma queda de 740 metros, desde a represa Billings, no alto da Serra até a baixada litorânea.
* A segunda imagem, no alto à direita, é uma U.H.E- Usina Hidrelétrica do tipo mais comum no
Brasil, com uma barragem , uma queda artificial construída , com paredões de 15, ou 20 metros, até mais
de 100 metros , no caso de Itaipu ( rio Paraná), de Foz do Areia( rio Iguaçu), Xingó ( rio São Francisco).
A água do reservatório é sugada por tubos em forma de caracol, para acelerar a água e injetá-la, com
bastante pressão, na boca da entrada de uma ou mais turbinas tipo Francis, com pás e aletas internas, com
eixo vertical, acoplado a um gerador elétrico. A potência destes grupos turbo-geradores vai desde a faixa
de 5 - 10 mil kilowatts , p.ex. nas usinas de Americana, rio Atibaia, ou da Cachoeira de Cima, no rio
Mogi-Guaçu, - até a faixa de 300 mil a 700 mil kw ( p.ex., os grupos das U.H.E Itaparica e Paulo Afonso
IV, no rio São Francisco, de Tucuruí, no rio Tocantins ).
* A terceira imagem, na metade inferior, é de uma Usina Termo-Elétrica convencional, movida a
combustível líquido [ comumente óleos grossos e óleo diesel, derivados de petróleo, e resíduos de
refinaria e de coqueria, alcatrões, e resíduos combustíveis de processos industriais, p.ex. lixívia de
celulose ]. O combustível pulverizado e o ar atmosférico, ambos pressurizados, são queimados em uma
caldeira Ca, - para produção de vapor d’água. Seguem-se as etapas deste ciclo de conversão de calor em
trabalho mecânico:
- Parte do calor da queima ( Q ) produz o vapor em alta temperatura e alta pressão, outra parte se
perde para a atmosfera junto com os produtos da combustão, pela chaminé Ch.
-O vapor é injetado na boca de uma turbina Tu e se expande movimentando as pás e um eixo
horizontal, acoplado a um gerador elétrico. G
- O vapor, com pressão e temperaturas mais baixas passa por uma torre de condensação, na qual
cede o calor para a água de refrigeração ( captada num rio ou açude), que em parte evapora para a
atmosfera ( Q ) e em parte retorna aquecida ( Q ) para o rio ou açude. O vapor se transforma em água
líquida , de baixa pressão, que é , em seguida , bombeada Bo. para alimentar a caldeira. Este ciclo em que
a água recebe energia térmica, o vapor realiza trabalho mecânico e cede energia termica voltando a ser
água líquida é conhecido no estudo da termodinâmica, como ciclo Rankine. ( fig 6 abaixo )
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 45

Estes grupos turbo-geradores têm potência de alguns mil kilowatts (p.ex. nas refinarias de petróleo
e nas usinas de açúcar e álcool ) até centenas de milhares de kw ( UTEs de Piratininga, SP, e Sta. Cruz,
RJ ). Outras instalações semelhantes queimam combustível sólido nas caldeiras, p.ex. bagaço de cana nas
usinas de açúcar, carvão mineral pulverizado nas UTEs do RS ( Bagé, Charqueadas) e de SC
(Tubarão).
Figura 6 – Interpretação foto – térmica de uma usina ciclo Rankine
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Funcionamento de uma turbina movida pela expansão dos gases de combustão de um


combustível líquido ou gasoso.
Este tipo de máquina também transforma o calor de uma combustão em trabalho mecânico,
podendo o seu eixo horizontal estar acoplado a uma bomba ou um compressor de liquidos e gases, ou a
um gerador elétrico G. ( fora da imagem, à direita ) Nas turbinas fixas, chumbadas no chão, o
combustível líquido em geral é óleo diesel pulverizado, - que é produzido nas refinarias, ou importado , e
armazenado em tanques- p.ex., é o caso da Usina Termoelétrica de Porto Velho, Rondônia.
O combustível gasoso, em geral é o metano fóssil, como em várias plataformas de produção de
petróleo e gás, no mar do RJ ( bacia de Campos) , ES, e no Nordeste. Podem também queimar, além do
GN canalizado, outros gases residuais, de processos petrolíferos e siderúrgicos, como as turbinas da
refinaria Replan, de Paulínia e as da U.T.E da Companhia Siderurgica Nacional em Volta Redonda.
Poderiam ainda queimar gases de obtidos de aterros de lixo e resíduos industriais, e da gaseificação ou
biodigestão de resíduos, p.ex. , do bagaço de cana e da vinhaça das destilarias de álcool.
Em todos os casos; o ar é aspirado e filtrado numa caixa, à esquerda; e os produtos da combustão
são lançados na atmosfera pela chaminé Ch , à direita . ( figura 7 )
Nas turbinas móveis, das aeronaves “a jato”, ou a “turbo-hélice”, o combustível líquido é o Qav-
Querosene de Aviação, também produzido nas refinarias ou importado, e não existem estas caixas de
tomada de ar nem chaminés, pois a aspiração e a exaustão são diretas, pelos buracos da entrada e saída da
turbina.
Figura 7 – Fluxos de combustível, eletricidade e água e vapor numa turbina a gases com caldeira de recuperação
O . Sevá
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 47

Os combustíveis se compõem de diversos tipos de hidro-carbonetos ( compostos de Carbono e


Hidrogênio-CxHy), às vezes gás Hidrogênio, e comumente, gases carbônicos, compostos de enxôfre, de
nitrogênio, de inorgânicos; pode haver traços de metais pesados nos combustíveis líquidos ( diesel e
querosene ) , e vapores de mercúrio junto com os gases fósseis associados ao petróleo.
Esta conversão de calor em trabalho é conhecida, na Termodinâmica, como ciclo Brayton:
Os combustíveis são pressurizados e injetados, junto com o ar que foi comprimido num compressor
C acoplado à própria turbina, numa câmara de combustão, ou queimador ( Q ). Os gases desta combustão,
muito quentes e com altíssima pressão, se expandem por entre as aletas da turbina Tu girando as pás e o
eixo . Uma parte do calor da combustão ( Q ) é perdida junto com os produtos da combustão, inclusive
vapor d’água, proveniente da queima dos compostos que contêm Hidrogênio, na chaminé.
Algumas instalações, como a da Replan, já mencionada, podem desviar este fluxo de produtos
quentes e este calor que seria perdido, para Caldeiras de Recuperação- C.R. (à direita da imagem ), onde
– por meio de uma simples troca de calor , ou ainda queimando mais combustível, - pode ser gerado um
fluxo adicional de vapor de alta pressão e temperatura, a ser aproveitado em outras turbinas a vapor ou no
processo industrial.
Nos projetos mais modernos, as usinas termelétricas são movidas a gás e a vapor, aproveitando-se
melhor o calor do combustível : no ciclo Brayton, simples ou aberto, as eficiências ficam na faixa de 32 a
40%, e o ciclo combinado Brayton – Rankine pode chegar a mais de 55% de eficiência.
Na figura 8 a seguir são representados os fluxos dos componentes do ar atmosférico, do
combustível e de todos os produtos de combustão emitidos pelas chaminés destas turbinas, acrescentamos
ainda os três problemas de poluição atmosférica associados ao seu funcionamento : aumento da emissão
de gases que agravam o efeito – estufa, de gases que provocam acidez na atmosfera, e de compostos que
provocam o chamado “smog fotoquímico”.
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1.12. Usinas Termelétricas, um resumo histórico ( * )

1. A utilização do calor para gerar força motriz foi experimentada pelos homens desde a
Civilização greco-romana – quando se divertiam, curiosos, com o seguinte dispositivo: uma esfera ôca, de
metal, um pouco maior do que uma bola de tênis e una qual se faziam uma bôca inferior e dois furos na
“linha do Equador” , acrescidos com pequenos tubos, como flautas, saindo no plano horizontal e cada um
num sentido. O pequeno globo era apoiado por uma haste vertical que atravessava a “boca” e se dividia
em duas pernas sobre um pequeno pedestal, com espaço para uma mecha ou um pavio com fogo e uma
panelinha com água . Colocando-se a boca inferior do “diabinho de Heron” logo acima da água em
ebulição , o vapor se concentrava no ôco da esfera, e com o aumento da pressão, saia pelos tubos laterais,
e esta energia, devidamente aproveitada nos dois tubinhos da saída, fazia a esfera girar, para espanto de
todos...
A engenhoca é o legítimo antecessor da válvula principal de uma panela de pressão moderna, e é
prim a próxima dos moinhos de vento, das rodas d’água , milenares no Oriente, e que, na Europa
renascentista foram aperfeiçoadas por Leonardo Da Vinci – que desenhou um tipo de roda d’água até hoje
utilizado , incluindo modernas usinas hidrelétricas ( turbina Pelton).
O “diabinho térmico” dos gregos também é o embrião de todas as turbinas térmicas.

2. O uso específico do vapor d’água, produzido em grande quantidade, de forma mais contínua,
para obter movimento, , é obra de dezenas de pesquisadores, engenheiros, empresários, artesãos,
expressando um resultado da ciência prática européia que já havia incorporado , às vezes, espionando,
tantas inovações de origem chinesa e de origem árabe. Um fio condutor pode ser dado pela seguintes
sequências de aperfeiçoamentos sucessivos, ocorridos em poucos países, durante três séculos :
a) aperfeiçoamento do bombeamento de água , primeiro pela expansão e condensação do vapor em
câmaras vizinhas, com o efeito de vácuo aspirando a água ( Somerset, 1633 );
b) aperfeiçoamento da ebulição sob pressão, com aproveitamento do movimento vertical da válvula
( Papin , final do sec XVII);
[ * este item e o seguinte foram usados como roteiro para palestra no Seminário Técnico sobre a implantação da
termoelétrica em São José dos Campos e seus impactos sócio- ambientais”, com a participação dos profs. Célio Bermann
(USP), Licia Moreira- Nodermann (INPE), e do Dr. Roberto Boldrin Jr. ( Soc.Paulista de Pneumologia ), organizado pelo
Forum Permanente em defesa da qualidade de vida em São José dos Campos e região, no Anfiteatro da Ordem dos Advogados
do Brasil, SJC, 29 de maio de 1999. ]
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 50

c ) aperfeiçoamento do sistema de pistão empurrado pela expansão do vapor –- manivela


excêntrica, ou biela, que transforma o movimento reto e alternado do pistão em movimento de rotação de
um eixo, começando com Savery e Newcomen, na virada dos secs XVII – XVIII ; e, adquirindo a sua
posição dominante nas fontes fixas de força motriz, após as patentes de Watt e de Boulton, nos anos
1780-90 , e após a aplicação de tais máquinas a vapor em embarcações ( Fulton, 1803 ), e depois em
locomotivas ( Stephenson, anos 1810-20 ), e ainda, pela aplicação, a partir da 2ª metade do século, do
“motor a vapor”, de tripla expansão, que chegou a aproveitar quase 10 % do calor para fôrça-motriz.
d) o aperfeiçoamento do “diabinho” grego até chegar na forma de TURBINA A VAPOR, que foi
obtida por vários inventores nesta mesma época; o ciclo de trabalho foi equacionado por Rankine, em
quatro etapas – 1 . produção do vapor saturado e pressurizado em caldeiras ( queimando, na época, carvão
mineral, e lenha ) , 2. expandindo por entre as aletas fixas e móveis da turbina, saindo dela ainda saturado,
com menor pressão e temperatura, 3. sendo condensado em seguida pela cessão de calor ao ambiente ( ar
ou água ), e 4. sendo novamente bombeado, em forma líquida, ainda quente e já pressurizado para entrar
novamente na caldeira.
Uma das primeiras grandes disputas por patentes na era industrial se deu nas décadas de 1850 a
1880 – logo após a etapa de experimentos e das teorias elétricas e eletro-magnéticas de Ampère, Ohm, e
vários outros, principalmente de Faraday, nos anos 1820-40.
Tratava-se da obtenção de corrente elétrica por meio da rotação de um eixo – contendo peças e fios
metálicos de um certo tipo, - dentro de uma caixa contendo também fios, e peças magnéticas – e cuja
primeira forma comercial foi a máquina de Gramme; daí, em poucos anos, nasceu a eletricidade
comercial, pelas mãos de grandes inventores empresários , Edison, nos EUA, Siemens, na Alemanha, que
fabricaram e instalaram dínamos, posteriormente alternadores, acoplados a motores a vapor e às primeiras
turbinas a vapor - que são o equipamento-chave das usinas termoelétricas , ou , acoplados a turbinas
hidráulicas – idem, das usinas hidroelétricas.
4. Estes renomados fundadores do capitalismo elétrico da atualidade, também construiram ou
participaram, de alguma forma, das redes de transmissão e de distribuição de eletricidade, e da fabricação
dos conversores para o uso final da eletricidade, - na época, eram lâmpadas, resistores para aquecimento e
... motores elétricos... logo aplicados em ferrovias eletrificadas, bondes elétricos e em toda a atividade de
transporte e transferência de cargas sólidas ( guindastes, esteiras, teleféricos) e de cargas líquidas e
gasosas ( bombas, aspiradores , insufladores, compressores, ...). Estávamos ainda no final do século
passado, e todos estes equipamentos já funcionavam, apesar de baixa eficiência e apesar de problemas
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 51

mecânicos e elétricos, questões de desgaste, de corrosão, de desbalanceamento , que ainda hoje estão
sendo resolvidos ou minimizados.
A maioria das centrais elétricas hoje funcionando, em todo o mundo, têm base no ciclo Rankine, e o
vapor é obtido pelo calor da queima de carvão, de derivados e resíduos de petróleo, de gases, de resíduos
vegetais e industriais,...ou , depois de 1945-50, obtido pelo calor da fissão nuclear controlada em reatores
nucleares.
5. Enquanto tais revoluções desabrochavam, os estudos e experimentos com os gases e líquidos
combustíveis iam germinando outra alteração energética, industrial e financeira que mudaria o curso da
civilização na paz e na guerra, o uso intensivo do petróleo e seu gás associado. Por exemplo, as redes de
iluminação a gás , desde o final do sec. XVIII vinham sendo supridas pelo gás de coqueria- obtido de
alguns tipos de minério de carvão , por coqueamento – para suprir de coque a siderurgia - , e, produzindo
frações gasosas com alto poder combustível . A partir dos anos 1860-70, o petróleo passou a ser usado
para queima em fornos, e para obtenção de querosene iluminante – que concorreu com o lampião a gás ,
antes mesmo de serem ambos destronados pela lâmpada elétrica de filamento.
Quando se começou a queimar os derivados mais viscosos do petróleo, chamados de óleos
combustíveis, e os resíduos das refinarias nas caldeiras para o acionamento de motores a vapor, no final
do sec. XIX, nasceu a família das usinas termoelétricas a derivados ou resíduos ( gasosos ou viscosos ) de
petróleo.
Hoje, as centrais utilizam turbinas a vapor, em ciclo Rankine, com vários sistemas economizadores
de energia, podendo chegar a aproveitar mecânicamente quase 40 % da energia contida no combustível
inicial. Com a abertura rápida e disseminada de poços de petróleo e a construção das primeiras refinarias,
primeiro nos EUA , e logo depois no Cáucaso ( mar Cáspio), no Golfo Persico, no Norte da Africa, no
México, na Venezuela...pode-se demarcar , juntamente com a Primeira Guerra Mundial, e a produção de
veiculos em série, na década de 1910, - a consolidação histórica, mundial, da utilização de combustíveis
de origem fóssil.
O mundo hoje funciona queimando carvão, petróleo e gás associado.
6. Em três décadas, de 1850 até 1880, os engenheiros, físicos e empresários dos motores ( p.ex
Mateucci, Otto, Daimler , Panhard ), acabaram também equacionando um problema já conhecido desde o
primeiro êmbolo de máquina a vapor : o aproveitamento mecânico, na rotação de um eixo, da força de
expansão dos gases quentes dentro de um cilindro com pistão; e, resolveram um problema até então
inédito : a combustão produzida internamente ao cilindro, com ou sem a intervenção de uma faísca
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elétrica ( vela de ignição ). Os gases quentes eram obtidos pela queima de hidrogênio, ou de gás metano,
misturas de álcoois , até que entram em cana os dois derivados mais importantes do petróleo : a gasolina e
o óleo diesel, para queimar nos motores com rendimentos, hoje, nas faixa de 25 % ( G) e de 36 % (D) .
Com a tecnologia elétrica já então existente, foi possivel gerar eletricidade também por meio dos
motores a combustão. Daí vieram os grupos geradores diesel- elétricos – GGDE, as locomotivas diesel-
elétricas, e, foi por aí também que se conseguiu maior autonomia para os veículos , para as embarcações e
depois, para as aeronaves, inicialmente movidas por motores deste tipo, a pistão. Pois estes novos
motores, além de movimentar pesos e pessoas na terra, no mar e no ar, poderiam gerar eletricidade com
dínamos e alternadores, e depois, acumular eletricidade em baterias, e usá-la para “dar a partida” nos
próprios motores e em outros motores , para acender luzes de sinalização, iluminar o caminho, comunicar
– se via rádio, etc...
7. A etapa final desta família de conversores se baseia na turbina a gases de combustão. resolvida,
em termos de engenharia, apenas no início do sec. xx, a turbina a gases quentes utilizou-se de princípios
similares aos da turbina hidráulica de Fourneyron ( sec XVIII ), e aos da turbina a vapor d’água ( sec.
XIX ) – a energia de rotação do eixo pode ser “transferida” por meio de uma expansão direcionada de um
fluído pressurizado por entre as aletas e condutos fixos a uma carcaça cônica - e - as aletas fixas ao eixo.
A turbina movida a gases quentes foi construída em escala comercial somente após centenas de
aperfeiçoamentos, principalmente nos materiais que devem suportar altas temperaturas , pressões,
velocidades e vibrações, na “pilotagem” dos injetores de combustível e dos maçaricos de queima, e, claro,
nos aspectos de segurança operacional.
O ciclo termodinâmico realizado é conhecido como “Brayton”, e inclui a utilização de parcelas do
trabalho da turbina para movimentar um compressor de ar, e ,para bombear o combustível, pressurizando
a mistura ar- combustível nos maçaricos; com a expulsão dos gases quentes, e a “perda” desta energia,
seu rendimento fica na faixa de 30% a 35% .
Desde o início, a turbina a gases de combustão foi empregada nas instalações petrolíferas,
queimando gases associados ou residuais, óleo diesel, querosene, - para acionar bombas, compressores e
dínamos ; depois, nos anos 1940, foi aplicada nos aviões militares de caça e bombardeiro, e depois, na
aviação civil – os denominados “aviões a jato”, e também em algumas embarcações, em locomotivas, e
em veículos de teste.
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8. Nas últimas três décadas, vêm se multiplicando as turbinas a gases de combustão nas usinas
termelétricas, acoplando-se seus eixos aos geradores elétricos ; em vários casos, são aproveitados os gases
de escape em caldeiras de recuperação, produzindo-se vapor para os processos industriais e ou , para a
geração de mais eletricidade.
Se for montada uma configuração de equipamentos com o devido balanceamento entre as duas
turbinas e acoplando-as ao mesmo eixo de um único gerador teríamos o caso mais eficiente de central
termo-elétrica , na faixa de 52 a 57 % , com a tecnologia deste final de século XX (Gas Turbine Steam
Turbine Combined Cycle ). ( v. box a seguir , projeto alemão /holandês, de central com três módulos de
336 MW , em Tapada do Outeiro, rio Douro, 18 km sudeste do Porto, Norte de Portugal, para queimar
metano fóssil de procedência argelina )
Em outros casos, pode-se adotar uma ou mais caldeiras de complementação , com queima adicional
de combustível junto com os gases quentes de escape, e aí também, fornecer vapor para processos e para
outras turbinas a vapor, com rendimento global entre 30% e 45 % .

1.13. Termelétricas. Dimensão básica, alguns riscos e certezas.

Como qualquer instalação energética ou industrial de grande porte, os riscos técnicos estão sempre
associados à escala das operações, e são probabilísticos, e esta probabilidade varia ao longo dos dias, das
estações climáticas, e no longo prazo.
A escala de operações ( quantos kilowatts.hora está produzindo ) é dada, numa central elétrica, pela
carga elétrica demandada, a cada instante pela rede, e fica limitada, claro, à capacidade nominal total da
central, ou seja, a soma das potências elétricas de cada turbina a gás e a vapor, e que esteja em condições
operacionais.
Disto decorre diretamente a vazão de queima de combustível, seja ele carvão mineral, bio-massa,
óleo grosso ou gás; e da mesma forma que falamos, nos carros, em kilômetros rodados por litro de
combustível gasto, no caso das centrais térmicas, fala remos de toneladas de carvão, em toneladas ou litros
de óleo , por kwh produzidos; no caso das térmicas a gás, sua vazão de queima é dada em milhares ou
milhões de m3/ dia e a sua performance ao converter combustível em eletricidade seria dada em m3 de
gás por kwh produzido.
Entenda-se que a maior parte dos riscos e das alterações que expõem e afetam os homens e o meio
ambiemte nas proximidades das usinas e às vezes até mais longe, se avalia justamente em função destas
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vazões: 1. as emissões atmosféricas dependem destas vazões, pois o quê queimar, de alguma maneira sai
pelas chaminés ( pois a queima do gás é um processo sem cinzas ) , inclusive o ar atmosférico aspirado
pelas turbinas e eventualmente soprado nas caldeiras de recuperação, em volumes varias vezes maiores do
que os volumes de gás a queimar; 2. O patamar de funcionamento das turbinas a gás é define a carga
térmica possível para produzir vapor , e também influi na vazão demandada de água o para resfriamento
geral de trocadores de calor, e para alimentar os ciclos de vapor, e ainda na vazão de água bruta para a
condensação deste vapor. .
Para termos uma idéia deste números, ver o resumo abaixo, no caso das usinas a gás ,
correlacionando faixas de consumo diário de gás com faixas de potência elétrica instalada para tr6es tipos
de centrais :
# 1.000.000 m3 GN / dia aprox. 750 t GN / dia até 250.000 kW
[faixa estimada para uma usina em ciclo combinado balanceado : com turbina gás ciclo Brayton +caldeira de
recuperação com pressão múltipla, mais um trem de turbinas a vapor em ciclo Rankine, com as máquinas podendo
trabalhar no mesmo eixo que o gerador elétrico, e com eficiência elétrica na faixa de 50-58 %; como sempre, muito
dependente de condições atmosféricas locais para o rendimento geral da usina]
até 140.000 kW
[ estimado para o caso de operar somente turbinas a gases quentes, ciclo Brayton, sem reaproveitamento de
calor residual, cada uma acoplada a um gerador, com eficiência elétrica na faixa de 30 - 35 % , dependente de
condiçoes atmosféricas e da faixa de potência em que puder operar de forma estável ]
aproxim. 80.000 a 180.000 kW
[ estimado para uma configuração tipo “co-geração”, com turbinas a gases quentes acoplada ao gerador
elétrico , e caldeiras de recuperação com queima adicional , para produzir vapor de alta pressão, com vazões de 150
a 400 toneladas / hora, parte dele aproveitada em ciclo Rankine, com turbinas a vapor e outros geradores elétricos ]
TG + Caldeira c/ queima adicional – cogeração vapor AP, 150 a 400ton/h + Rankine ]
Obs: Se tiverem que operar com combustível de emergência, seria o QAV – Querosene tipo Aviação, ou,
como em Manaus já se faz há dois anos, um “Oleo Leve para Termo - Elétricas “, na prática, um “pool” de óleos e
naftas tipo Diesel, consumiriam aproximadamente 1.000.000 de litros diários de combustível líquido,
aproximadamente 800 toneladas.
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Alguns riscos são muito prováveis, à medida em que estas infra- estruturas se implantem, que as
centrais comecem a gerar, e que os equipamentos vão se desgastando, etc. O quadro que gera este
potencial negativo é a combinação de um, dois ou todos destes doze fatores e circunstâncias,
contingências – ou, problemas típicos de nossa era e do país, de a) a l):
a) As vias de suprimento são de grande calibre, por ferrovia ( p.ex. usinas a carvão), ou por rota
marítima ou fluvial, ou por oleoduto, no caso das usinas a derivados de petróleo, ou por gasoduto, no
caso de usinas queimando gás metano ou gás residual canalizado; idem, para a principal saída da usina,
que é o despacho de eletricidade de grande voltagem e amperagem, via sub-estação e linhas de
transmissão, também de grande porte.
b) riscos de vazamento, com ou sem incêndio e explosão, por causa dos estoques de combustíveis (
pilhas de carvão, tanques de combustível líquido ), da degradação e desgaste de tubulações, vasos,
válvulas, selos e retentores de bombas e compressores, e por consequência de anormalidades agudas e de
panes e acidentes nas caldeiras e nas turbinas;
c) riscos de acidentes de trabalho e de acidentes coletivos durante a fase de construção, na operação,
e nas atividades de parada de manutenção periódica, e nas ocasiões de panes operacionais com
manutenção corretiva.
d) riscos de contaminação química e choques térmicos nas águas de refrigeração devolvidas para os
rios, lagos ou litorais vizinhos às usinas.

Há alterações decorrentes da implantação e do funcionamento de usinas termoelétricas movidas a


combustíveis fósseis , que não são riscos no sentido probabilístico, e sim, situações bastante prováveis, e,
em alguns casos, certeiras.

e) adensamento humano e de materiais : ocupação e construção de glebas extensas, dentro de


instalações já existentes, ou próximo delas, ou em áreas já construídas e com outros usos; tráfego, ruídos,
vibrações e iluminação artificial forte na vizinhança, na etapa de obra e no funcionamento ( dia e noite );
prédios e torres altas ( até 15, 20 andares ) e chaminés e torchas mais muito altas ( 90, 120 metros ) , com
eventual interferência com tráfego aéreo ( prejuízo à visibilidade, formação de correntes de convecção,
cone de aproximação e de decolagem das aeronaves ).
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f) alterações atmosféricas e climáticas, pela introdução de novos focos de queima de combustíveis


fósseis em grande escala – gases quentes contendo vapor dágua, materiais particulados ( fuligens,
fumaças , eventualmente contendo oxidos ou sulfetos metálicos ) , gases carbônicos ( CO e CO2 ),
nitrogenados ( NO x, dando origem a oxidantes foto-químicos, como o ozônio, a acidez atmosférica e a
precipitação de nitratos no solo e nas águas ), sulfurosos ( SO x , dando origem a acidez e a precipitação
de sulfatos e sulfetos ).
g) acréscimos de materiais residuais sólidos, principalmente cinzas das caldeiras - o que depende,
por sua vez, dos tipos de combustíveis queimados e das condições operacionais da queima:
* os piores carvões minerais e lenhas podem passar dos 40 % de cinzas, em peso; os melhores
carvões minerais , o coque de minério , o coque de petróleo , os resíduos viscosos e os óleos combustíveis
podem conter menos cinzas, às vezes abaixo de 10%.
h) parte destes produtos de combustão pode ser retirada da atmosfera, antes de sair pela chaminé da
caldeira ou da turbina, se houver equipamento especifico para isto – ciclones para coleta de cinzas finas,
precipitadores de particulas mais grossas; lavadores , ou reatores / catalizadores para alguns gases; de-
sulfurizadores a base de materiais alcalinos para a redução dos compostos ácidos do enxofre, gerando, por
sua vez, grandes volumes de sulfatos ,p.ex. de cálcio, tipo gêsso, ou de amônia ; em todos estes casos, há
grande consumo de água e/ou energia elétrica, insumos químicos, e grande geração de efluentes – águas
servidas, borras, lamas...
i) utilizando-se os combustíveis menos “pesados” ( como o gás metano, seja fóssil ou seja de
origem na bio -massa, ou o querosene, no caso das turbinas ) , todos estes problemas diminuem, e alguns
podem até não existir; na outra ponta da tabela, se as usinas queimam os piores carvões, ou os resíduos
mais viscosos do petróleo com mais cinzas, mais enxôfre, mais traços de metais pesados , - todos os
problemas se agravam, e a redução da poluição se torna menos eficaz e bem mais cara.
j) todas as centrais térmicas – com exceção das que operam somente com turbinas a gases quentes,
( ciclo Brayton simples ) - requerem grandes volumes de água bruta para as torres de resfriamento,
especialmente para a condensação do vapor após passar pelas turbinas a vapor; além de exigirem volumes
não desprezíveis de água bastante tratada para o circuito de vapor ( ciclo Rankine ); as ETA- Estações de
Tratamento de Água também usam insumos químicos e produzem suas bôrras, que contêm a “sujeira”
retirada da água bruta ;.
Revisão didática: a eletricidade, os combustíveis e as usinas elétricas O . SEVA 2002 57

Por exemplo ...


* a usina Jorge Lacerda, queimando carvão mineral no sul de SC ( Tubarão) , hoje com 832
Megawstts instalados, pode requerer uma vazão, a ser retirada do rio Tubarão, e depois devolvida mais
quente, da ordem de 15.000 litros / segundo, equivalente ao consumo de 3 milhões de habitantes, - para
resfriar as máquinas e condensar o vapor em circuito aberto.
* a Refinaria da Petrobrás em Duque de Caxias, no RJ, para alimentar suas centrais térmicas de
º
menos de 50 MW e produzir vapor para todo o parque industrial de refino, o 2 maior do país, além de
usar água da rede estadual e de um manancial próprio na Serra, re-circula mais de 20 mil litros / segundo
de água salgada ou salobra , obtida em canais abertos nos manguezais do fundo da Baía de Guanabara ;

k) os projetos de novas usinas, com turbinas a gases e a vapor, poderiam consumir muito menos
água,... mas... p.ex.
* o projeto da Entergy e Cesp ( aprox. 800 MW ) em Jundiaí , prevê um consumo de água bruta (
no caso, seria o esgoto tratado na ETE da própria cidade, a qual por sua vez capta água em outra bacia, no
Atibaia ) da ordem de 400 litros por segundo, 70 % do qual seria perdido na torre, por evaporação;
* o projeto da TPP ( Odebrecht, Ultra , Replan, Cesp ) em Paulínia , prevê retirar mais 150 litros/
seg do rio Jaguari, e perderia na torre cerca de 120 litros / seg , por evaporação;

l ) Duas consequências são certeiras, nos casos em que os sistema de refrigeração / condensação das
usinas são de concepção arcaica , despreocupada com a escassez de água nas regiões onde se implantam :

1 ª - os rios de onde se retirou a água , depois parcialmente “perdida”, terão suas vazões diminuídas;
2 ª - como a água de refrigeração é bruta, ou pouco tratada, e será aquecida na tôrre, ocorre que a
parte da água que não foi perdida por evaporação na tôrre acaba concentrando os poluentes, e, isto
sobrecarrega a ETE da própria usina, e afinal, aumenta a carga poluente no rio onde é devolvida , ou seja,
no ex - rio Jundiaí no 1º caso, e, no ex- rio Atibaia no 2º caso, ambos alimentando a mesma bacia do ex -
rio Tietê, abaixo da metrópole paulistana.

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