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Unidade II
MÓDULO 5 – PROCESSO FALIMENTAR
1. DISPOSIÇÕES GERAIS
O estado patrimonial do devedor que possui ativo inferior ao passivo é denominado insolvência
econômica ou insolvabilidade.
Entretanto, para que seja decretada a falência, a insolvência não pode ser vista em sua acepção
econômica, ou seja, caracterizada pela insuficiência do ativo para o pagamento do passivo, mas sim
compreendida pelo sentido jurídico.
Assim, para fins de decretação da falência, o pressuposto da insolvência não se caracteriza por um
estado patrimonial, mas pela ocorrência de um dos fatos previstos em lei como ensejadores da quebra:
se a sociedade empresária, sem justificativa, for impontual no cumprimento de obrigação líquida (art.
94, I, da LF), pela execução frustrada (art. 94, II) ou pela prática de ato de falência (art. 94, III).
2. PEDIDO DE FALÊNCIA
O processo falimentar se divide em três fases: 1) fase pré-falimentar; 2) fase falimentar propriamente
dita; 3) fase pós-falimentar.
A fase falimentar propriamente dita tem início com a decretação da falência, a qual se estende até o
final do processo. Trata-se de período destinado à discussão sobre o comportamento do falido, quer na
esfera comercial (bens deixados no estabelecimento, créditos, contratos em andamento, bens do falido,
posição dos credores quanto à massa) ou esfera criminal (se há o seu enquadramento em algum dos
crimes previstos no art. 168 e segs. da Lei de Falências).
Nessa fase, a falência poderá ser classificada como casual, culposa ou fraudulenta. Na fase pós-
falimentar existe um processo de reabilitação do falido, desde que não tenha havido condenação.
Sujeito ativo
São partes legítimas para requerer o pedido de falência: o próprio comerciante (sociedade empresária),
o seu sócio e o credor.
A lei impõe ao próprio devedor requerer a autofalência (inciso I, do art. 97, c/c, art. 105, da LF),
quando estiver insolvente e considerar que não atende aos requisitos para pleitear a recuperação judicial.
Trata-se de obrigação desprovida de sanção. A lei também legitima para o pedido de falência o sócio
ou o acionista da sociedade empresária devedora. Trata-se de hipótese rara, porque só tem cabimento
quando a maioria dos sócios não considera oportuna a instauração do concurso de credores.
o registro na Junta Comercial dos atos constitutivos. O credor não domiciliado no país deve prestar
caução, destinada a cobrir as custas do processo e eventual indenização do requerido, caso venha a ser
denegada a falência.
Nos demais casos, se o credor não for sociedade empresária e estiver domiciliado no Brasil, ele possui
a legitimidade ativa para o pedido de falência.
O credor, no pedido de falência, deve exibir o seu título mesmo que não vencido, baseando-se em
ato de falência praticado pelo devedor, na impontualidade titularizada contra terceiro e na execução
frustrada (por meio de certidão de protesto ou do cartório judicial em que ocorreu a execução frustrada).
3. RITO
O pedido de falência segue rito diferente em função de seu autor. Se a falência for requerida pelo
credor ou sócio minoritário, o rito segue os preceitos dos artigos 94 a 96 e 98. Nesse caso, o pedido
de falência observa um procedimento judicial típico, isto é, contencioso. Já em caso de autofalência, o
pedido segue o rito dos artigos 105 a 107, da LF, de natureza não contenciosa.
Quando o pedido de falência tem como base a impontualidade injustificada, a petição inicial deve
ser instruída obrigatoriamente com o título acompanhado do instrumento de protesto. Se fundado na
tríplice omissão, a lei exige, na instrução, a certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução
frustrada. Sendo ato de falência o fundamento do pedido, a lei determina que se descrevam os fatos que
caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se que serão produzidas no decorrer
do processo.
O prazo para a defesa do requerido é de 10 dias, contado da citação. Nesse mesmo prazo, a
sociedade empresária requerida poderá elidir a falência, depositando o valor da obrigação em atraso.
Elidido o pedido de falência com o depósito judicial do valor reclamado, converte-se em inequívoca
medida judicial de cobrança, já que a instauração do concurso universal dos credores está por
completo impossibilitada.
Deve-se relembrar que as sentenças, nos processos de conhecimento, podem ser meramente
declaratórias (tornam indisputável a existência de certa relação jurídica ou falsidade de documento),
condenatórias (atribuem ao vencedor da demanda direito de promover a execução contra o vencido) ou
constitutivas (criam, modificam ou extinguem relações jurídicas).
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FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESA
A partir do momento em que a sentença judicial reconhece a insolvência do devedor, declara o estado
de falência. Com a declaração da sentença, opera-se a dissolução da sociedade falida, ficando os seus
bens, atos jurídicos, contratos e credores submetidos a um regime jurídico específico, o falimentar. Isto
é, na medida em que a sentença se projeta para o futuro, constitui um novo estado jurídico, envolvendo
o devedor, o seu patrimônio, os credores e os seus créditos.
Assim, a sentença não se limita a declarar fatos ou relações preexistentes, mas modifica a disciplina
jurídica deles, abrindo as portas à execução concursal.
A sentença declaratória da falência deve ter o conteúdo genérico de qualquer sentença judicial e o
específico que a lei falimentar lhe prescreve. Deverá o juiz, ao julgar procedente o pedido de falência,
observar o disposto no art. 458, do CPC. Assim, deve conter: a) relatório, com o resumo do pedido e da
resposta, e as principais ocorrências da fase pré-falimentar; b) os fundamentos adotados para o exame
das questões de fato e de direito; c) dispositivo legal que embasa a decisão.
a) a síntese do pedido, a identificação do falido, bem como a designação dos representantes legais
(os administradores das sociedades limitadas e os diretores das anônimas);
5) a proibição da prática de atos de disposição ou oneração de bens do falido sem prévia autorização
judicial;
6) as diligências a serem adotadas para salvaguarda dos interesses das partes envolvidas, incluindo
a prisão preventiva dos representantes legais da sociedade devedora, se presentes elementos que
indiquem a prática de crime falimentar;
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11) autorização para a continuação provisória da empresa com o administrador judicial, se considerar
cabível;
12) se for o caso, convocação da Assembleia dos Credores para a constituição do comitê;
Termo legal da falência: compreende o lapso temporal anterior à declaração da falência, no qual os
atos do devedor são considerados suspeitos de fraude e, por isso, suscetíveis de investigação, podendo
ser declarados ineficazes em relação à massa (período suspeito) (art. 99, II).
O termo legal é o período anterior à decretação da quebra, que serve de referência para a auditoria
dos atos praticados pela sociedade falida.
O juiz na própria sentença de quebra fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo
por mais de noventa dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou
do primeiro protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para essa finalidade, os protestos que
tenham sido cancelados.
À sentença declaratória da falência deve ser dada intensa publicidade, não só para acautelar os
interesses dos credores, como de terceiros.
A sentença deverá ser publicada no órgão oficial por edital (seu inteiro teor). Se a massa comportar,
ela será publicada também em jornal ou revista de circulação regional ou nacional; proceder-se-á
a intimação do Ministério Público e o envio de comunicação à Fazenda Federal, aos estados e aos
municípios em que a falida possuir estabelecimento ou filial. A falência deve ser comunicada à Junta
Comercial em que a sociedade empresária falida tem seus atos constitutivos arquivados e disponibilizará
a informação na rede mundial de computadores.
Contra a sentença denegatória do pedido de falência pode ser interposto recurso de apelação (art.
100, da LF), no prazo e de acordo com o previsto no Código de Processo Civil.
A sentença denegatória da falência pode fundar-se na elisão do pedido em razão do depósito feito
pelo requerido e pela pertinência das alegações formuladas na contestação. As duas hipóteses são
diferentes, porque varia a sucumbência.
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No caso do depósito elisivo, considera-se que o requerido sucumbiu, posto que se não fosse o
depósito, o requerido teria falido. No que tange ao acolhimento das razões alegadas na contestação, o
requerente é que sucumbe, por ter sido aceita a defesa do requerido.
A parte que sucumbe deve arcar com as despesas do processo e os honorários arbitrados pelo juiz
em favor do advogado do vencedor. Contestado o feito e efetuado o depósito elisivo, o juiz é obrigado
a apreciar as razões apresentadas pelo devedor. Embora o depósito afaste a possibilidade de instauração
do concurso de credores, é necessário verificar se era procedente a pretensão do requerente deduzida
em juízo com o fito de definir a sucumbência.
Se constatar que houve dolo manifesto por parte do requerente, deve, na própria sentença
denegatória, condená-lo ao pagamento de indenização em favor do requerido. No entanto, se não
houver dolo manifesto no comportamento do requerente, o juiz não poderá condená-lo, mas o requerido
prejudicado poderá propor demanda em face do requerente, para pleitear indenização por perdas e
danos. No caso de culpa (exemplo: deixar de controlar adequadamente o recebimento dos títulos) ou
abuso de direito pelo requerente também caberá ação de indenização.
8. MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público é cientificado de todos os atos processuais que podem demandar sua intervenção.
A LRE deve proporcionar oportunidade para sua plena participação fiscalizatória, concedendo-lhe espaço
processual para requerer, quando de sua intimação inicial, a intimação dos demais atos do processo, de
modo que esteja apto a intervir sempre que possível. A mesma providência poderá ser adotada pelo
representante do Ministério Público nos processos em que a massa falida seja parte.
Foi vetado o art. 4o, da LRE, que exigia a presença do representante legal nos processos de recuperação
judicial e de falência. Dessa forma, cabe ao MP avaliar se participará ou não.
Assim, o ditame legal é genérico. Contudo, sem prejuízo de menções específicas, em diversos artigos,
sobre a atuação ministerial, é preciso deixar claro que o Ministério Público, naquelas circunstâncias, não só
poderá como deverá intervir. Na condição de titular da persecução penal deve apurar a responsabilidade
dos agentes delituosos. Como fiscal da lei, deve atuar se constatar inobservância formal ou material das
normas vigentes.
O legislador enfatizou momentos processuais específicos que demandam a intervenção do MP. Por
exemplo, o MP tem legitimidade ativa para propor ação penal por crime falimentar; na área civil, a ação
revocatória, contemplada no art. 130, pode impugnar a relação de credores no que se refere à ausência
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A LRE repetiu a omissão da LFC, uma vez que deixou de prever a oitiva do MP para se manifestar sobre o
plano de recuperação judicial e sobre o pedido de falência. No primeiro caso, limita-se a prever sua intimação
da decisão concessiva e a possibilidade de agravar. No segundo caso, o art. 99, inciso XIII, da LRE, ao relacionar
os requisitos da sentença declaratória de falência dispõe que o juiz deverá ordenar a intimação do MP “para
tomar conhecimento da falência”. Em suma, a intenção no legislador é no sentido de que o MP só atue no
processo falimentar na sua fase executiva depois de tomar ciência da falência decretada.
9. GESTOR JUDICIAL
O devedor, ou seu administrador, não será mantido à frente da gestão da empresa se o plano de
recuperação judicial estipular seu afastamento e também nas hipóteses estipuladas nos incisos e nas alíneas
do art. 64: a) condenação anterior transitada em julgado por crime falimentar, contra o patrimônio, contra a
economia popular ou contra a ordem econômica; b) indícios veementes da prática de crime; c) dolo, simulação
ou fraude contra os interesses dos credores; d) gastos pessoais manifestamente excessivos em relação ao
cabedal da empresa; e) despesas empresarias injustificáveis em relação ao capital, ao gênero do negócio ou ao
movimento das operações; f) descapitalização da empresa; g) operações prejudiciais ao funcionamento regular
da empresa; h) simulação ou omissão de créditos, injustificáveis, na relação de credores; i) retardamento ou
omissão no cumprimento do plano de recuperação; j) recusa de prestação de informações.
c) intervir, como assistente, nas ações em que a massa for parte ou interessada;
Nos artigos 102 a 104, a LF trata dos efeitos da sentença declaratória de falência quanto à pessoa
do devedor, ou seja, quanto ao empresário individual falido e aos sócios ilimitadamente responsáveis.
Os mais importantes são:
A partir da sentença que decreta a falência, o devedor fica inabilitado para exercer qualquer atividade
empresarial. A vedação persiste até a sentença extintiva de suas obrigações. O devedor também sofre a
indisponibilidade de seus bens e perde o direito de administrá-los.
O regime do devedor é restrito de direitos e impositivo de deveres. São deveres do agente econômico
devedor (art. 104, da LF):
a) assinar nos autos, desde que intimado da decisão, termo de comparecimento, com a indicação do
nome, nacionalidade, estado civil, endereço completo do domicílio, devendo ainda declarar, para
constar no dito termo:
c) não se ausentar do lugar da falência sem motivo justo e comunicação expressa ao juiz;
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Se inobservar qualquer um desses deveres após intimado pelo juiz a fazê-lo, o devedor poderá
incorrer na prática de desobediência e, consequentemente, sujeitar-se ao respectivo processo criminal,
sem prejuízo de, conforme a natureza do dever descumprido, arcar com a prisão corretiva.
13. AUTOFALÊNCIA
A falência requerida pelo próprio devedor é chamada de autofalência, que segue o rito dos artigos
105 a 107, da LF, de natureza não contenciosa.
Quando se tratar de autofalência (art. 105), o pedido da sociedade empresária devedora deve ser
instruído com extensa lista de documentos prevista em lei:
4) registro na Junta Comercial, em sendo irregular o exercício da atividade empresarial pela sociedade
requerente, por falta de registro, a indicação e a qualificação de todos os sócios, acompanhada da
relação de seus bens;
Apresentada a petição inicial de autofalência, o juiz deve decretar a quebra, mesmo que a petição
não esteja devidamente instruída. Poderá deixar de fazê-lo em caso de desistência tempestiva, ou seja,
retratação apresentada pela própria sociedade antes que o juiz decrete a quebra (ato de vontade).
Quando a falência é da sociedade limitada ou anônima, os bens arrecadados para integração à massa
falida são exclusivamente os da sociedade. Os bens dos sócios não se sujeitam à constrição judicial da
execução falimentar. Os sócios somente têm os seus bens arrecadados na falência da sociedade quando
ela adota a forma, por exemplo, de uma sociedade em comandita simples, em nome coletivo, nesses
casos há sócios cuja responsabilidade é ilimitada e solidária pelas obrigações sociais.
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Mesmo quando se tratar de uma sociedade limitada ou anônima, na qual os sócios tenham deixado
de integralizar sua parte no capital social, em caso de falência, não haverá a arrecadação dos bens dos
sócios, somente na ação de integralização promovida pelo administrador judicial é que será feita a
constrição judicial dos bens dos sócios, por penhora, na execução da sentença.
Na falência, a arrecadação é o ato de constrição judicial dos bens do devedor. No processo falimentar,
arrecadam-se todos os bens de propriedade da falida, mesmo os que não se encontram em sua posse,
e todos os bens na posse dela, ainda que não sejam de sua propriedade. Esses últimos deverão ser
restituídos aos proprietários. Os bens da sociedade serão arrecadados pelo administrador judicial, como
medida inicial de constituição da massa falida.
A arrecadação será formalizada, nos autos do processo judicial, por um termo de inventário e laudo
de avaliação, elaborado e assinado pelo administrador judicial, além do representante legal da sociedade
falida, se estiver presente.
No mesmo ato, o administrador judicial avalia os bens e anota o valor atribuído em um laudo, que
serve de referência para determinados atos, como locação ou arrendamento de bens com o objetivo de
geração de renda, na venda sumária ou na definição do valor do crédito com garantia real titular de
preferência.
Se o representante legal da falida não concordar com alguma informação levada a termo,
poderá apresentar, em separado, observações ou declarações para ressalva de direitos. Por exemplo, o
representante legal poderá lançar referência de determinadas características de um bem que o distingue
de outros de menor valor.
Serão arrecadados todos os bens de propriedade da sociedade falida, ainda que não se encontrem
em sua posse, como todos os bens na posse dela, mesmo que não sejam de sua propriedade. Quanto a
esses últimos deverá ser feito pedido de restituição.
Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador judicial ou de pessoa por ele escolhida,
sob a responsabilidade dele, podendo o representante legal da sociedade falida, se aceitar, ser nomeado
depositário de bens imóveis e mercadorias.
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A dissolução por falência pode ser interrompida retornando ao estado anterior à quebra. São causas
de interrupção a declaração judicial de extinção das obrigações antes da sentença de encerramento do
processo falimentar (levantamento da falência).
Haja ou não intuito fraudulento de prejudicar credores, o ato, se resultar de quaisquer das hipóteses
do art. 129, da LF, será ineficaz perante a massa falida, desde que praticado dentro do prazo da lei ou de
acordo com os demais pressupostos.
A ineficácia está condicionada à prática em um certo lapso temporal (termo legal da falência ou nos
dois anos anteriores à quebra). É irrelevante se a falida agiu ou não com fraude para que o ato, realizado
no prazo mencionado na lei, seja ineficaz. Dos atos do art. 129 que, independentemente da época em
que ocorreram e da comprovação de fraude, são reputados ineficazes, interessa ao estudo da falência da
sociedade empresária apenas o previsto no inciso VI, a alienação de estabelecimento comercial.
De acordo com o art. 129, da LF, são objetivamente ineficazes perante a massa falida os seguintes atos:
a) O pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal da falência, por
qualquer meio extintivo do direito de crédito (art. 129, I). O que torna ineficaz o ato é a circunstância
da obrigação não ter vencido, isto é, a falta de exigibilidade da obrigação. Se a dívida não era exigível,
mas a sociedade devedora pagou, então devem ser desconstituídos os efeitos do ato, retornando à
massa falida o valor pago, para que haja tratamento paritário entre os credores.
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b) O pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal da falência, por
qualquer forma que não seja a prevista no contrato (art. 129, II). O ato ineficaz é o pagamento
de dívida vencida por forma diversa da contratada. Por exemplo, se, no termo legal, vence uma
duplicata e a sociedade devedora quita-a mediante dação em pagamento, transferindo ao credor
bens de seu ativo imobilizado, ela não cumpriu a obrigação vencida como tinha pactuado. Esse
pagamento frustra o tratamento paritário, na medida em que os bens da sociedade devedora
representam a garantia de todos os credores.
d) Os atos a título gratuito praticados nos dois anos anteriores à decretação da quebra (art. 129,
IV). Como os objetivos da sociedade empresária são sempre lucrativos, não se justificam atos
de mera liberalidade, importando, inclusive, responsabilidade aos administradores (art. 154, §
2o, a, da LSA); salvo as doações de valor ínfimo, feitas, por exemplo, em benefício de entidades
culturais ou assistenciais. Outra exceção é a gratificação paga a diretores e empregados, que,
segundo a doutrina como integra a remuneração ou o salário, não é alcançada pela ineficácia da
lei falimentar.
e) a renúncia à herança ou a legado, até dois anos antes da decretação da falência (art. 129, V).
h) Reembolso à conta do capital social, quando o acionista dissidente não for substituído, em relação
aos credores da sociedade falida anteriores à retirada (art. 45, § 8o, da LSA). O acionista dissidente
de determinadas deliberações da assembleia geral pode desligar-se da sociedade e exigir o
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Por outro lado, os atos subjetivamente ineficazes não estão listados pela lei. Para eles, é irrelevante
a época em que foram praticados, bastando para a sua ineficácia perante a massa a demonstração de
que o representante legal da sociedade falida e o terceiro contratante agiram com fraude, com intuito
de prejudicar credores ou frustrar os objetivos da falência (art. 130, da LF). Como exemplo, pode-se citar
qualquer ato referido pelo art. 129, I a IV e VII, da LF; mas praticados fora do período, se provado que as
partes agiram com fraude.
Pedidos de restituição
A lei prevê dois pedidos de restituição. O primeiro está previsto no caput, do art. 76, e tem por
fundamento a titularidade de direito real sobre bem arrecadado e o seu objetivo é destacar as coisas
que não são do patrimônio da sociedade falida. O segundo se encontra disciplinado no § 2o, do art.
76, e tem por fundamento a entrega de mercadorias, vendidas a prazo e não pagas, ocorrida nos 15
dias que antecedem ao pedido de falência e visa a coibir a má-fé presumida da falida. São iguais os
procedimentos nos pedidos de restituição.
Se for deferido o pedido de restituição, a coisa deve ser restituída em espécie, ou seja, deve ser
devolvido ao requerente o mesmo bem de sua propriedade. Exceto nos seguintes casos (art. 78 e
seus §§): a) se houver sub-rogação do bem, o reclamante terá direito à coisa sub-rogada (exemplo: a
transformação de matéria-prima em produto manufaturado será entregue pela massa); b) se o bem se
perdeu receberá o reclamante o seu valor estimado; c) se tiver sido vendido pela massa, na hipótese da
restituição do art. 76, caput, ou em qualquer caso, o requerente terá direito ao preço obtido pelo bem.
Nas duas últimas situações, a restituição será feita em dinheiro.
No caso em que a restituição é feita em espécie, ela deve seguir-se ao trânsito em julgado da
sentença que acolher o pedido, determinando o juiz, nas 48 horas seguintes, a expedição de mandado
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para a entrega da coisa ao requerente. Se for feita em dinheiro, o administrador deve providenciar o
pagamento ao requerente durante a liquidação, após pagar as despesas de administração da falência,
mas antes de atender à ordem de classificação dos créditos.
Infere-se, assim, que os titulares de direito à restituição não entram na classificação dos credores.
Por esse dispositivo, a restituição opera-se em relação aos bens que estavam na posse da sociedade falida
e, por isso, foram arrecadados, isto é, são bens em que a falida era comodatária, depositária ou locatária.
O proprietário do bem pode se utilizar de duas medidas judiciais: o pedido de restituição (art. 85,
caput) e os embargos de terceiro (art. 93). Qualquer uma delas pode ser usada pelo titular do bem.
Julgada procedente a medida judicial, deverá ser destacado da massa o bem e entregue ao proprietário.
Cabe pedido de restituição de coisa alienada com garantia fiduciária, por parte da instituição
financeira fiduciária, na falência da sociedade fiduciante. Já que a instituição financeira fiduciária é a
titular da propriedade resolúvel da coisa alienada, enquanto a devedora fiduciante detém a posse direta.
O pedido de restituição pode ter por objeto dinheiro. Por exemplo, a contribuição dos empregados para
o Seguro Social, descontada dos salários, mas depositada na conta bancária da falida, pode ser recolhida
aos cofres do INSS. Também podem ser objeto de pedido de restituição as importâncias antecipadas pela
instituição financeira, com base em contrato de câmbio, do qual a sociedade falida era exportadora (art.
75, § 3o, da Lei n. 4.728/65). Outros títulos também podem ser reivindicados por intermédio de pedido
de restituição, desde que presentes dos pressupostos da titularidade do requerente e da posse ilegítima
da massa falida.
Fundamenta-se na reclamação de coisas vendidas a crédito e entregues à falida nos 15 dias anteriores
ao pedido de falência, se ainda não alienadas pela massa.
É necessário que o pedido de restituição seja feito no juízo falimentar antes da venda judicial das
mercadorias. Se for feita a venda, na fase de liquidação, ou antecipadamente (art. 73), não haverá
mais direito à restituição, restando ao vendedor habilitar o seu crédito e concorrer na massa falida.
É necessário mencionar que a venda feita pela sociedade falida, antes de ser decretada a quebra, não
impede o direito de restituição.
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No pedido de restituição com base no § 2o, do art. 76, o requerente deverá provar que as mercadorias
foram entregues em um dos 15 dias anteriores ao da distribuição do pedido de falência. Nesse caso,
o pedido de restituição tem o objetivo de coibir a má-fé presumida dos representantes legais da
sociedade falida, mesmo sabendo das dificuldades que terão para honrar com os compromissos
referentes às mercadorias, as recebem, sem ao menos informar a compradora sobre a situação crítica
que estão passando.
O rito é o mesmo do pedido de restituição com fundamento no caput, do art. 76. Assim,
compreendendo a manifestação dos representantes legais da sociedade falida e do administrador, no
prazo de três dias para cada um, sucessivamente. Qualquer credor também pode contestar o pedido
nos 5 dias seguintes à publicação providenciada pelo escrivão. Se não for contestado o pedido, o juiz
colhe a manifestação do Ministério Público e sentencia. Se houver contestação, segue-se a fase de
dilação probatória, se necessário.
Se o juiz indeferir a restituição, mas reconhecer que o requerente tem direito a crédito perante a
falida, poderá mandar inclui-lo no quadro geral de credores, hipótese em que o pedido de restituição
vale como habilitação de crédito.
Da sentença que julgar o pedido de restituição cabe recurso de apelação, que poderá ser interposto
pela falida, administrador e por qualquer credor, ainda que não tenha contestado. As despesas com a
restituição, quando não contestado o pedido, correm por conta do requerente; se contestada, pelo vencido.
Liquidação
A liquidação tem dois objetivos: a realização do ativo mediante a venda dos bens arrecadados e a
cobrança dos devedores da sociedade falida; e a satisfação do passivo por intermédio do pagamento dos
credores admitidos, de acordo com a ordem de classificação dos créditos.
Os bens arrecadados podem ser vendidos de modo ordinário ou extraordinário, conforme melhor
convier à massa. Pelo modo ordinário, a venda é feita em leilão, por propostas fechadas ou pregão (art.
142), sendo que qualquer interessado pode concorrer à aquisição dos bens. Já pelo modo extraordinário,
conforme o art. 145, o juiz homologará qualquer outra modalidade de realização do ativo, desde que
aprovada pela assembleia-geral de credores, inclusive com a constituição de sociedade de credores ou
dos empregados do próprio devedor, com a participação, se necessária, dos atuais sócios ou de terceiros.
Em qualquer caso, os bens arrecadados podem ser vendidos englobados ou separadamente.
No leilão, o arrematante deve pagar no ato um sinal correspondente a, pelo menos, 20% do preço da
venda. Se não completar o preço nos 3 dias subsequentes, perderá o sinal e terá que pagar a diferença
entre a sua oferta e a do maior lance dado na segunda convocação do leilão. A certidão do leiloeiro
serve de título executivo para que a massa falida possa propor ação de execução contra o arrematante
pela diferença verificada.
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A venda por propostas fechadas deve ser feita por intermédio de publicações no Diário Oficial e em
jornal de grande circulação, durante o prazo de 30 dias com intervalos. Os interessados apresentarão ao
escrivão as suas propostas em envelopes lacrados, que serão abertos pelo juiz em dia e hora designados.
Sobre as propostas deverão se manifestar o administrador, o representante legal da sociedade falida e
o membro do Ministério Público. Em seguida, o juiz decidirá, autorizando a venda e determinando a
expedição de alvará.
A venda por pregão constitui modalidade híbrida das anteriores, comportando duas fases: a)
recebimento de propostas; b) leilão por lances orais, de que participarão somente aqueles que
apresentarem propostas não inferiores a 90% da maior proposta ofertada.
Compete ao administrador decidir se os bens da falida serão vendidos pelo modo ordinário (leilão,
proposta ou pregão), sempre observando o interesse da massa. Os credores podem alterar a decisão
do administrador em assembleia convocada a pedido de titulares de ¼ do passivo. Na assembleia,
as decisões serão tomadas pelo voto da maioria dos credores presentes, computados em função do
valor dos créditos de cada um. Assim, os credores reunidos em assembleia podem alterar a decisão do
administrador, mas, em princípio, estão submetidos às mesmas alternativas correspondentes ao modo
ordinário de venda dos bens da massa. Por exemplo: o administrador havia decidido que os bens seriam
vendidos todos em leilão, a assembleia dos credores pode deliberar pela divisão dos bens em lotes, para
serem vendidos parte em leilão e parte mediante propostas.
A realização do ativo também compreende a cobrança amigável ou judicial dos créditos de titularidade
da sociedade falida. Assim que for exigível o crédito, o administrador deve tomar providências para
recebê-lo, não deve aguardar a liquidação para dar início à cobrança, já que a liquidação é o momento
de se concluir as tentativas de recebimento do crédito e contratar advogado para a propositura das
ações e das execuções ainda não propostas.
O administrador, desde que autorizado pelo juiz, pode conceder abatimento ao devedor, quando se
tratar de crédito de difícil liquidação.
Pagamentos na falência
O dinheiro obtido com a realização do ativo (venda dos bens e cobrança dos devedores) deverá ser
depositado pelo administrador em conta judicial.
O pagamento deve ser efetuado primeiramente aos créditos extraconcursais (art. 84) que são aqueles
originados após a decretação da falência:
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III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto,
bem como custas do processo de falência;
IV – custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa falida tenha sido vencida;
V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos
termos do art. 67, da LF, ou após a decretação da falência e tributos relativos a fatos geradores
ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83, da LF.
Posteriormente, deverá ocorrer o pagamento dos créditos concursais (art. 83), que são aqueles
constituídos anteriormente à decretação da falência, conforme a ordem legal.
Encerramento da falência
Uma vez esgotado o passivo (ou o ativo, caso seja insuficiente para o pagamento do passivo), o
processo falimentar deve ser encerrado. O administrador deve apresentar a sua prestação de contas nos
30 dias seguintes ao término da liquidação, isto é, do último pagamento.
Se o juiz, ao rejeitar as contas, reconhecer que ocorreu apropriação indevida de recursos da massa,
determinará a intimação do administrador para que restitua o apropriado em 48 horas, podendo também
ordenar o sequestro de seus bens para indenização da massa. O administrador responderá por crime
falimentar de desvio de bens da massa. Mesmo após o cumprimento de pena, da reabilitação penal e
do ressarcimento à massa falida, a rejeição das contas de determinada pessoa impede sua posterior
nomeação para a função de administrador em outra falência.
70
FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESA
Dependendo da espécie, o meio processual adequado para a declaração da ineficácia varia. Quando
é objetiva, ela pode ser inicialmente declarada de ofício pelo juiz, por mero despacho, nos autos da
falência. Se não houver tais provas reunidas no processo falimentar, a ineficácia deverá ser buscada pela
ação própria ou mediante exceção, em processo autônomo ou incidente ao da falência. Já a ineficácia
subjetiva do ato deve ser declarada pelo juiz da falência em uma ação falimentar específica, a revocatória.
O juiz competente é o da falência e a ação processa-se pelo rito ordinário. Ocorre a decadência do
direito à ação revocatória em três anos a contar do aviso de início da liquidação. Da decisão que julga a
ação revocatória cabe recurso de apelação (art. 135, parágrafo único, da LF).
Introdução
A LRE modificou o universo dos crimes falimentares. Novas condutas penais substituem condutas
típicas previstas na LFC que estavam completamente obsoletas. Altera-se o critério de aferição do lapso
prescricional, e as sanções previstas para os diversos crimes falimentares são majoradas.
Os crimes falimentares não são mais apurados em inquérito supervisionado pelo órgão judiciário. Como
os demais delitos, observam na fase investigatória os ditames do inquérito policial, se e quando necessário.
A persecução criminal não se desenvolve mais perante o juízo da falência, porque foi deslocada para o juízo
criminal. Os crimes praticados nos processos de recuperação judicial ou de falência ofendem, imediatamente,
o patrimônio em crise, mas também agridem a administração da justiça, a propriedade, a fé pública e o crédito.
Assim, o critério mais razoável para a alocação de tais crimes é o que os qualifica como delitos pluriojetivos.
O elenco do art. 168 e seguintes da LRE contém crimes de dano e crimes de perigo.
71
Unidade II
O perigo pode ser presumido ou concreto. Perigo presumido é o que a lei reconhece
abstratamente, inserto em determinada ação ou omissão. Perigo concreto, ao contrário, é o que
deve ser demonstrado caso a caso sua efetividade, ou, quando presumido juris tantum, admite prova
em sentido contrário. A LRE define os dois. De perigo presumido é o crime de mera escrituração e,
de perigo concreto, a fraude.
A maioria dos crimes tratados na lei admite a forma tentada. É o caso do delito do art. 173, quando o
devedor, sentindo próxima e inevitável a quebra, tenta ocultar ou desviar bens pertencentes à empresa,
só não logrando êxito porque o administrador judicial obsta o transporte da mercadoria em trânsito.
Os delitos previstos na LRE comportam, em regra, a coautoria. O art. 179 equipara ao falido ou
devedor, para todos os efeitos penais, sócios, diretores, gerentes, administradores e conselheiros das
sociedades empresárias, na medida de sua culpabilidade. Os crimes praticados na recuperação judicial
ou na falência conhecem diversas classificações: quanto ao agente, quanto ao tempo da ação e quanto
à espécie de sanção.
Quanto ao agente, podem ser próprios ou impróprios. Os próprios são os cometidos pelo empresário
individual devedor, sócios ou administradores da sociedade empresária devedora. Os impróprios são
os praticados por outras pessoas vinculadas à falência, tais como o juiz, o representante do Ministério
Público, o escrivão, o administrador judicial etc. Também incidem nas mesmas penas do devedor
contadores, auditores e outros profissionais que concorrem para a prática do estelionato falimentar
tratado no art. 168 e seus incisos.
Quanto ao tempo de sua prática, há crimes cometidos antes da decretação judicial da falência
(crimes pré-falimentares), outros praticados no curso do processo de falência e outros, ainda, cometidos
durante a fase de recuperação judicial. Por exemplo, o crime do art. 170 consistente em alardear falsa
informação sobre empresa em recuperação judicial, com o fim de levá-la a falência ou de obter vantagem,
é crime pré-falimentar.
Em regra, os crimes falimentares próprios são realizados pelo falido até que se promova a arrecadação
dos ativos. A partir daí, com a perda da administração e a disponibilidade dos bens da empresa,
dificilmente ocorrem esses crimes. Em compensação, é justamente nessa fase que eclodem os delitos
falimentares impróprios, por exemplo, o de aquisição de bens da massa falida por leiloeiro via interposta
pessoa ou, ainda, a especulação de lucro cometida pelo administrador judicial que intenta negociar com
alguns credores formas pouco ortodoxas de solução de algumas obrigações.
Quanto à sanção, inexiste, hoje, a distinção entre falência dolosa e falência culposa. A LRE trata,
simplesmente, de crimes de reclusão e de detenção, todos acrescidos de multa. Com exceção do art.
178 (crime de detenção), todos os demais são punidos com pena de reclusão. Como já ocorria na LFC, a
sentença declaratória de falência é condição objetiva de punibilidade das infrações penais previstas no
art. 168 e seguintes.
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FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESA
Três são os efeitos da condenação por crime falimentar, devendo ser fundamentalmente declarados
na sentença respectiva (art. 181):
Tais efeitos perduram pelo prazo máximo de 5 anos após a extinção de punibilidade, mas podem
cessar com reabilitação penal (art. 181, § 1o). O devedor condenado não pode, sem a reabilitação, exercer
cargo administrativo em empresa e nem a gerir ou ser seu mandatário.
O art. 181, § 2o, estabelece que, transitada em julgada a sentença penal condenatória, será notificado
o Registro de Empresas. Por ocasião da decretação da falência, o juiz já ordena a comunicação ao
Registro de Empresas ou ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas. A partir dessa comunicação, o devedor
ou sócio solidário já está inibido de empreender.
A condenação por crime falimentar altera as condições para extinção das obrigações do devedor. Se
o devedor não for condenado à pena de prisão pela prática de crime falimentar, tem o prazo de 5 anos,
a partir do encerramento da falência, para o reconhecimento da extinção obrigacional. Se condenado,
o prazo vai a 10 anos.
Os prazos de prescrição da ação penal na falência seguem as normas do Código Penal. Seu termo a
quo é a data do fato. Na impossibilidade de defini-la, o termo inicial da prescrição é a data da decretação
da quebra ou da recuperação judicial. Esse prazo se interrompe nos termos do Código Penal. Por isso, o
recebimento da denúncia interrompe o lapso prescricional do crime falimentar.
1 – fraude a credores;
4 – indução a erro;
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Unidade II
5 – favorecimento de credores;
10 – violação de impedimento;
O mais grave dos delitos falimentares está tipificado no art. 168 e consiste em praticar ato
fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores. Com o fim de obter ou assegurar
vantagem indevida para si ou para outrem, o agente realiza essa conduta antes da sentença declaratória
de falência, da homologatória de recuperação extrajudicial ou da concessiva de recuperação judicial. A
pena é de reclusão (de 3 a 6 anos), além de multa.
A fraude contra credores, descrita na LRE, pressupõe o concurso de pessoas (contadores, técnicos
contábeis, auditores etc.). O legislador prevê a possibilidade judicial de redução ou substituição de pena,
no caso de microempresa e empresa de pequeno porte, desde que a prática incriminada não seja habitual.
Já a violação de sigilo empresarial (art. 169) tem por núcleo típico as condutas consistentes em violar,
explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou dados confidenciais sobre operações ou
serviços. É necessário que esses atos contribuam para a condução do devedor a estado de inviabilidade
econômica ou financeira.
O art. 170 traz a figura da divulgação de informações falsas, por qualquer meio hábil, sobre devedor
empresário em regime de recuperação judicial, com a intenção de obter vantagem e levá-lo à quebra.
Realizam o tipo penal falimentar do art. 171 as condutas de sonegar ou omitir informações ou, ainda,
prestar informações falsas no processo de falência, de recuperação judicial ou recuperação extrajudicial,
com o fim de induzir a erro o juiz, o representante do Ministério Público, os credores, a assembleia-geral
de credores, o Comitê ou o administrador judicial.
A prática de ato de disposição ou de oneração patrimonial com o fim de favorecer credores caracteriza
o delito do art. 172 (favorecimento de credores) e pode ser levada a efeito antes ou depois da sentença
concursal. O credor que dessa conduta se beneficiar incorre na mesma pena do agente.
Desviar, ocultar ou apropriar-se de bens constritos pela massa ou sob recuperação judicial perfaz o
delito do art. 173 e caracteriza ainda que seja praticado por interposta pessoa. Contudo, se a conduta do
agente consistir em adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que sabe pertencer à massa falida ou influir
para o terceiro, de boa-fé, o adquira, receba ou use, a adequação típica correta está no art. 174, da LRE.
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FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESA
A habilitação ilegal de créditos se refere à apresentação de título falso ou simulado em qualquer dos
processos concursais previstos na LRE. É o delito do art. 175, que envolve também a oferta de relação
falsa de credores. O empresário ou sócio de responsabilidade ilimitada interditado para o exercício da
empresa, em virtude de sentença declaratória de falência, não pode fazê-lo, sob pena de inserir-se no
tipo penal do art. 176, da LRE.
O art. 177 capitula como crime falimentar a aquisição de bens da massa ou da recuperação pelo juiz,
representante do Ministério Público, administrador judicial, gestor, perito, avaliador, escrivão, oficial de
justiça e leiloeiro, por si ou por interposta pessoa. No artigo 178, da LRE, estipula-se a punição do devedor
empresário que não elabora nem escritura nem autentica os documentos contábeis que a lei exige. É delito
que alcança também os empresários irregulares. O crime é apenado com detenção (de 1 a 2 anos) e multa.
A intervenção, geralmente, constitui o primeiro passo para a liquidação extrajudicial, mas é possível a
decretação dela sem a etapa daquela. A intervenção é perfeitamente distinta da liquidação extrajudicial.
A Lei n. 6.024, de 13 março de 1974, dispõe sobre a intervenção ao lado da liquidação extrajudicial, não
a conceituando, mas aponta o campo de sua abrangência e lhe indica os pressupostos.
O Conselho Monetário Nacional é quem dita a política financeira, cujas ordens e determinações são
cumpridas pelo Banco Central do Brasil, que as impõem às instituições públicas e privadas integrantes
do Sistema. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas
jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, a intermediação
ou a aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a
custódia de valor de propriedade de terceiros (art. 17, da Lei n. 4.595/64).
Também se equiparam às instituições financeiras as pessoas físicas que exerçam qualquer das
atividades referidas nesse artigo, de forma permanente ou eventual.
As instituições financeiras federais não estão sujeitas à liquidação extrajudicial, uma vez que a União,
na qualidade de controladora dessas sociedades, deve proceder à sua liquidação ordinária sempre que
entender conveniente o encerramento de suas atividades.
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Unidade II
O legislador, por sua vez, colocou à disposição das autoridades monetárias dois instrumentos que
visam à reorganização da instituição financeira, ou seja, a intervenção, regulada nos arts. 2o a 14, da Lei
n. 6.024/74, e o regime de administração especial temporária, de que cuida o Decreto-lei n. 2.321/87.
Ambos os instrumentos visam a possibilitar a recuperação econômico-financeira e a reorganização da
instituição financeira, evitando-se a sua liquidação extrajudicial.
No art. 15, da Lei n. 6.024/74, estão mencionadas as causas que autorizam a liquidação extrajudicial.
É possível discernir dois grupos. Um deles está relacionado diretamente com a insolvência patrimonial
do devedor e compreende as alíneas a e c, do inc. I, do art. 15, ou seja, o comprometimento da situação
econômica ou financeira, especialmente a impontualidade, a prática de ato de falência e a execução frustrada,
e prejuízo que sujeite os credores quirografários a um risco anormal. O outro grupo de causas autorizantes
da liquidação extrajudicial representa uma sanção administrativa a cargo das autoridades monetárias e
compreende as alíneas b e d do dispositivo legal, isto é, a violação grave das normas legais ou estatutárias ou
das determinações do Conselho Monetário Nacional ou do Banco Central, bem como o atraso superior a 90
dias para o início da liquidação ordinária, ou a sua morosidade após a cassação da autorização para funcionar.
A liquidação extrajudicial também pode ser decretada pelo Banco Central a pedido da própria
instituição, representada pelos seus administradores devidamente autorizados pelo estatuto, ou pelo
interventor, quando estiver sob o regime de intervenção.
A liquidação acarretará a perda do mandato dos administradores, dos membros do conselho fiscal
e de quaisquer órgãos criados pelos estatutos. A decretação da liquidação extrajudicial importa na
suspensão de ações e execuções judiciais existentes e na proibição de ajuizamento de novas ações (art.
18, a). Resta afastada, assim, a possibilidade de decretação da falência da instituição.
O liquidante
O liquidante será nomeado no mesmo ato do Banco Central que decretar a liquidação extrajudicial.
Ele é investido de amplos poderes de administração e de liquidação, especialmente os de verificação e
classificação dos créditos, contratação e demissão de funcionários, fixação dos vencimentos, outorga e
cassação de mandato, representação da sociedade em juízo; enfim, praticar todos os atos jurídicos em
nome da entidade relacionados com a liquidação.
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FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESA
O liquidante é investido em suas funções por um termo de posse lavrado no livro diário da instituição
financeira e deve, de imediato, proceder a arrecadação, por termo, de todos os livros e os documentos de
interesse para a administração da massa e determinar o levantamento de balanço geral e inventário de
todos os livros, documentos, dinheiro e bens. Os administradores em exercício quando da decretação da
liquidação devem assinar também o termo de arrecadação, o balanço geral e o inventário; cabendo-lhes,
ainda, a prestação de informações gerais sobre a administração, o patrimônio etc. (art. 10).
O liquidante, nos 60 dias seguintes à sua posse, apresentará ao Banco Central do Brasil relatório
contendo: a) exame da escrituração, da aplicação dos fundos e disponibilidade e da situação econômico-
financeira da instituição; b) atos e omissões danosos eventualmente ocorridos, com a correspondente
comprovação; c) adoção de medidas convenientes à liquidanda, devidamente justificadas (art. 11).
A venda dos bens do ativo da instituição será feita por licitação realizada pelo liquidante, sendo
necessária prévia e expressa autorização do Banco Central.
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000