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SITIENTIBUS SÉRIE CIÊNCIAS BIOLOGICAS 7 (3): 307-313. 2007 [Vol.

COMPOSIÇÃO DAS GUILDAS DE ARANHAS (ARANEAE) EM UM FRAGMENTO URBANO DE FLORESTA ATLÂNTICA


NO SUDOESTE DA BAHIA, B RASIL

JOÃO PEDRO SOUZA-ALVES1*, MARCELO C. L. P ERES1,2 & MOACIR S. TINÔCO1,2,3

1
Centro de Ecologia e Conservação Animal (ECOA), Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Católica do
Salvador. Av. Prof°. Pinto de Aguiar, n° 2589, Pituaçu, CEP 41740-090, Salvador, Bahia, Brasil
2
Departamento de Zoologia, Universidade Católica do Salvador, Salvador, Bahia, Brasil
3
Departamento de Ciências Ambientais, Universidade Católica do Salvador, Salvador, Bahia, Brasil
*Autor para correspondência: (allocosa@hotmail.com)

(Composição das guildas de aranhas (Araneae) em um fragmento urbano de Floresta Atlântica no Sudoeste da
Bahia, Brasil) – Nosso objetivo foi verificar a distribuição das espécies nas guildas de aranhas em um fragmento urbano
(9 ha) no município de Itapetinga, localizado na região Sudoeste da Bahia. Procura visual noturna (totalizando 24 horas
de amostra) e guarda-chuva entomológico (totalizando 240 arbustos) foi utilizado para a coleta das aranhas. Foram
mensuradas variáveis ambientais (profundidade e cobertura da serapilheira, cobertura de plantas herbáceas e DAP –
Diâmetro a Altura do Peito) que pudessem interferir na composição das guildas. As aranhas coletadas foram classificadas
dentro de oito guildas. Não foi encontrada diferença significativa na composição de espécies nas guildas. As guildas se
apresentaram de maneira homogênea. Entre as variáveis estruturais, apenas na profundidade da serapilheira foi observada
diferença significativa na área. Propõem-se estudos em fragmentos periféricos (>10 ha) para poder inferir com maior
exatidão sobre as variáveis mensuradas e tentar verificar se a comunidade de aranhas se apresenta de forma distinta entre
diferentes áreas nesses fragmentos.

Palavras-chave: Bahia, estrutura de habitat, fragmentação de habitats, guildas, aranhas.

(Composition of spider’s guilds (Araneae) in an urban Atlantic Forest remnant in the Southwest of Bahia,
Brazil) – Our objective was to verify the distribution of species in the guilds in an urban forest remnant (9 ha) in the
Itapetinga city, located at the southwestern region of Bahia. Nocturnal Visual Search (totalizing 24 hours of sampling)
and Vegetation Beating (totalizing 240 shrubs) were used to collect spiders. Some environmental variables were taken
(leaf litter depth and coverage, herbaceous plants coverage and DBH - Diameter-at-Breast-Height) which are supposed
to cause interference on the guilds composition. The spiders were classified within eight guilds. No significant difference
in species composition was found in the guilds. The guilds had a homogeneous way. Only in the leaf litter depth was
found significant difference in the area. We propose studies on surrounding remnants in the region (>10 ha) aiming to
pose inference above the variables measured and try to verify if the spiders’ community show on a different manner
between distinct areas in these fragments.

Key words: Bahia, habitat structure, habitat fragmentation, guilds, spiders.

INTRODUÇÃO da Terra, contendo mais da metade das espécies de todo o


mundo (WHITMORE, 1990). Dentre os biomas que compõem
Guildas referem-se a um grupo de organismos as Florestas Tropicais, a Mata Atlântica é reconhecida
sintópicos, que usam o mesmo recurso, de forma similar, internacionalmente como um hotspot de biodiversidade
geralmente utilizando os mesmos níveis tróficos (JAKSIÉ, 1981; (MYERS et al., 2000). Como este bioma vem sofrendo
BEGON et al., 1996). Para as guildas, as espécies podem acelerado processo de fragmentação, os remanescentes
requerer micro-habitats distintos, associados a florestais constituem hoje um dos maiores desafios para a
características estruturais (HATLEY & MACMAHON, 1980; conservação da diversidade biológica (ESPÍRITO-SANTO et al.,
ROBINSON, 1981; SCHEIDLER, 1990; MASON, 1992; HALAJ et al., 2002). A diminuição da floresta pode reduzir
1998), diferenciando-se pela morfologia, fisiologia e significativamente o número de espécies, afetar a dinâmica
comportamento. Essas características incluem tolerância à das populações de animais e vegetais, além de comprometer
luz do sol e sombra, umidade e condições do tempo (seco e a regeneração natural das florestas (HARRIS, 1974).
chuvoso), estratégias de captura, refúgios e comportamento A preservação da biodiversidade de invertebrados é
reprodutivo (T URNBULL , 1973; UETZ, 1977; N YFFLER & mais uma ferramenta para a conservação de biomas,
STERLING, 1994; HALAJ et al., 2000). Atualmente existem principalmente quando se refere às aranhas, que agem como
trabalhos relacionados à assembléia de aranhas neotropicais indicadores de qualidade ambiental (WHITMORE et al., 2002).
em Madre de Dios, Peru (SILVA & CODDINGTON, 1996), na A maioria das espécies é sensível a alterações ambientais,
Amazônia (HÖFER & BRESCOVIT 2001), no Nordeste (DIAS, tanto abióticas (temperatura, umidade, vento, intensidade
2006; PERES et al., 2007) e Sudeste do Brasil (BRESCOVIT et luminosa) quanto bióticas (estrutura da vegetação e
al., 2004), os quais já foram escassos para o neotrópico. disponibilidade de alimento) (WISE, 1993; FOELIX, 1996). UETZ
As florestas tropicais têm a maior diversidade de (1991) mostrou que a estrutura do habitat pode influenciar
espécies do planeta, embora ocupem apenas 7% da extensão na composição e na riqueza das comunidades de aranhas

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em florestas tropicais, ou seja, quando o habitat se apresenta pequenos arbustos de até 2 m de altura, sendo estes batidos
de maneira complexa ou não, a comunidade pode se por um dos coletores, enquanto o outro retirava as aranhas
modificar. que caíam no pano com o auxílio de uma pinça. Em cada
Nosso objetivo foi verificar a distribuição das amostra foram batidos 10 arbustos, por transecto, totalizando
espécies nas guildas de aranhas em um fragmento de Floresta 240 arbustos, obtidos do total de 24 amostras ao longo de
Decidual, no Estado da Bahia, Brasil, verificando se a dois meses de coleta.
distribuição pode ter alguma associação com as As aranhas coletadas foram acondicionadas em potes
características da estrutura do ambiente. plásticos contendo álcool 70% e depositadas na Coleção
de Referência de Aranhas do Centro de Ecologia e
METODOLOGIA Conservação Animal da Universidade Católica do Salvador
(ECOA/UCSal, curador M. C. L. Peres) e na Coleção de
Área de estudo Aracnídeos e Miriápodes do Instituto Butantan, São Paulo
As coletas das aranhas ocorreram nos meses de (IBSP, curador A. D. Brescovit). As aranhas coletadas foram
março e abril de 2003 e em novembro de 2004 foi realizada a classificadas em oito das 12 guildas propostas por HÖFER &
coleta das variáveis estruturais. O trabalho foi realizado no B RESCOVIT (2001). Esta classificação usada seguiu as
Parque Municipal da Matinha (15º16’ S, 40º15’ W), um seguintes características ecológicas como parâmetros: uso
zoológico situado na área urbana do município de Itapetinga, e tipo de teia, modo de caça, estratos e plantas utilizadas,
na região sudoeste do Estado da Bahia, Brasil. O parque locais de fixação de teias e período de atividade.
possui uma área total de 24 hectares e o fragmento amostrado
apresenta 9 hectares. Esta é considerada uma das áreas Avaliação da estrutura física
prioritárias para a conservação da Mata Atlântica devido à Para determinar a estrutura da vegetação foram
grande diversidade biológica encontrada nos fragmentos medidos em todas as áreas: o Diâmetro à Altura do Peito
da região (CONSERVATION INTERNATIONAL DO BRASIL et al., (DAP), a profundidade e cobertura da serapilheira e a
2000). Todo o parque não possui nenhum tipo de ligação cobertura de plantas herbáceas. O DAP e a profundidade
com outro remanescente ou mesmo uma área de pasto, da serapilheira foram estimados de forma quantitativa (cm).
estando totalmente inserido dentro da cidade. Somente árvores com DAP maior e igual a 4 cm foram
A vegetação do parque foi classificada como Floresta consideradas, sendo medidas com fita métrica. A cobertura
Estacional Decidual, sendo formada por espécies de cipós da serapilheira e a cobertura de plantas herbáceas foram
lenhosos, compondo a Mata-de-Cipó. Este tipo de mata é categorizadas por meio do Percentual de Intensidade,
considerado como uma vegetação de transição entre a mata adaptado de FOURNIER (1974). Este índice é expresso por
costeira e a região do Sertão, ocorrendo exclusivamente no uma escala de cinco categorias (de 0 a 4), que permitem
Estado da Bahia (NOVAES & JOSÉ, 1992; MANTOVANI, 2003). A calcular a intensidade de cobertura vegetal em uma área (0 =
vegetação é caracterizada pela dominância fanerófita ausência, 1 = 1 a 25%, 2 = 26 a 50%, 3 = 51 a 75% e 4 = 76 a
decidual, com indivíduos com copas muito esgalhadas e 100%).
folhas pequenas. Trata-se de uma vegetação relativamente O método aplicado para inferir as variáveis foi o
baixa, raramente ultrapassando 12 metros de altura (BRASÃO quadrante centrado (KREBS, 1989), que foi medido dentro do
& ARAÚJO , 1981; V INHA et al., 1976). A precipitação mesmo transecto utilizado para as coletas das aranhas. Foram
pluviométrica varia de 600 a 1.200 mm anuais (BRASÃO & utilizados quatro pontos (0 m, 10 m, 20 m e 30 m, ao longo do
ARAÚJO, 1981), com períodos alternadamente secos de 5 a 6 transecto), sendo estes o centro de cada quadrante.
meses (BRASÃO & ARAÚJO, 1981; MANTOVANI, 2003). Posteriormente, foram delimitados quadrantes de 5 x 5 m e
cada um deles foi dividido em outros quatro quadrados de
Delineamento amostral 2,5 x 2,5 m. Posteriormente, foram calculadas as médias das
Para a coleta de aranhas foram selecionados 12 variáveis mensuradas.
pontos (50 x 50 m), com uma distância entre todos eles de
100 m, distribuídos aleatoriamente pelo fragmento. Os Análises estatísticas
métodos de coleta foram adaptados do protocolo de Para comparar a freqüência de espécies classificadas
amostragem rápida, estabelecido por CODDINGTON et al. dentro das guildas ecológicas entre as amostras, foi utilizado
(1991). A procura visual noturna (PVN) consistiu de o teste Kolmogorov-Smirnov: duas-amostras (KS). Para
transectos de 30 x 5 m, percorridos por dois coletores, comparar as variáveis entre os pontos amostrais no
durante uma hora. Os coletores se moveram até 2,5 m para fragmento foram utilizadas as seguintes análises: para os
cada lado do transecto, coletando aranhas em teias, dados categóricos (cobertura da serapilheira e cobertura de
arbustos, troncos, cascas de árvores e na serapilheira. Ao plantas herbáceas), utilizou-se o teste do Qui-quadrado (χ2)
término da PVN foi obtido um total de 24 amostras (24 horas), e para as variáveis quantitativas (profundidade da
ou seja, 12 amostras para cada mês de coleta. serapilheira e DAP), o teste t de Student. Para estas análises
O guarda-chuva entomológico (GCE) é formado por foi utilizado o Software Biostat 2.0 (AYRES et al., 2000). Foi
uma estrutura de canos de PVC, cobertos por um pano realizada uma Análise de Agrupamento através do método
branco de 1 m2. Ele foi colocado sob galhos de árvores ou de encadeamento médio (UPGMA) utilizando a distância
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Euclideana através do programa PC-ORD© (MCCUNE & (1992) inferiram que a fisionomia da comunidade de plantas
GRACE, 2002), para verificar a distribuição na composição pode afetar a população de aranhas, desde que influencie
das guildas. Os valores brutos das variáveis estruturais na disponibilidade de micro-habitats. Isso mostra que o
foram padronizados pela média. fragmento possui condições similares para a fixação de teias
em toda sua área, o que pode ter favorecido a
RESULTADOS homogeneidade na abundância de espécimes. Os resultados
obtidos na comparação das variáveis DAP e cobertura de
Foram coletados 911 indivíduos, distribuídos em 28 herbáceas pode estar ajudando na distribuição desses
famílias e agrupados em oito guildas. Os 209 indivíduos indivíduos.
adultos foram agrupados em 80 espécies pertencentes a 22 A diferença na profundidade da serapilheira pode ter
famílias (Tabela 1). Foram encontradas as seguintes guildas favorecido algumas espécies das guildas de Aranhas
de aranhas caçadoras: Corredoras Noturnas de Solo (CNS), Caçadoras, tendo estas espécies melhores condições (oferta
que inclui as aranhas que se locomovem freqüentemente e de alimento e disponibilidade de recurso) para a manutenção
não constroem teias para a captura de presas; Predadoras da comunidade de aranhas. Espécies dessas guildas
de Serapilheira (PS), representada por aranhas que forrageiam também no estrato herbáceo, porém, a cobertura
perseguem suas presas na serapilheira; Caçadoras Aéreas de plantas herbáceas não diferiu, podendo ter ajudado na
Diurnas (CAD), cujas aranhas que caçam ativamente suas distribuição das espécies encontradas no fragmento. Este
presas, durante o dia, sendo encontrado sete indivíduos de resultado pode ter ocorrido porque o fragmento é cortado
Peucetia sp.; Predadores de Espreita de Solo (PSE), que por trilhas, facilitando o acesso a todas as áreas. GIBB &
caçam por espreita todas as aranhas e outros artrópodes, HOCHULI (2002), em um estudo com fragmentos na Austrália,
que vivem sob a serapilheira ou troncos de árvores. O gênero mediram o nível de antropização através da quantidade de
Nothroctenus sp. (Ctenidae) foi o mais abundante desta lixo e do número de trilhas. Estes e outros fatores, tais como
guilda; Corredoras Aéreas Noturnas (CAN), aranhas que o tamanho do fragmento (HOBBS, 1988; MYIASHITA et al.,
perseguem suas presas ativamente sobre a vegetação. 1998; B OLGER et al., 2000), aumento de indivíduos em
Italaman santamaria Brescovit, 1997 (Anyphaenidae) foi a períodos chuvosos (LEVINGS & W INDSOR, 1985) e atividades
mais abundante entre as CAN. humanas (MCINTYRE et al., 2001; SHOCHAT et al., 2004) podem
Foram encontradas as seguintes guildas de aranhas acarretar mudanças na estrutura da vegetação, microclima e
construtoras de teia: Tecedoras Orbiculares (TO), cujas habitats adequados para a manutenção de espécies. Desta
aranhas constroem teias de forma orbicular na vegetação, forma, afetando a população de artrópodes em todo o
sendo Metazygia sp. a mais abundante; Sedentárias com fragmento. Também deve ser observado a igualdade em
Teia Lençol (STL), que vivem à luz do dia e vibram algumas variáveis da estrutura do ambiente do fragmento,
intensamente o corpo e as pernas, quando perturbadas. Para pois tais se apresentam pouco adequadas para a manutenção
esta guilda foi encontrado Mesabolivar sp.; Tecedoras de da uma comunidade.
Teia Não Orbiculares (TNO), aranhas diurnas e que Em relação às guildas tecedoras de Teia Orbicular,
constroem pequenas teias de forma irregular, fixadas nos Tecedoras de teias Não Orbicular e Sedentária com Teia
arbustos e troncos de árvores. Dictyna sp. foi a aranha mais Lençol, a abundância de espécies pode estar relacionada ao
abundante desta guilda. grande número de pontos para fixação de teias. Em áreas
Quando verificada a freqüência das espécies das perturbadas, pode ocorrer sucessão secundária, onde a
guildas de aranhas entre as amostras, não se encontrou composição florística se modifica e se torna cada vez mais
diferença significativa (KS; Dmax= 0,1960; p> 0,05; n= 12) complexa e diversificada (RONDON NETO et al., 2000). SILVA
no fragmento. Segundo a Análise de Agrupamento, as (1996), em estudos sobre a composição de espécies e
guildas se apresentaram distribuídas de forma homogênea estrutura da comunidade em uma Floresta Pluvial no Peru,
no fragmento (Fig. 1) tendo apenas uma guilda de aranhas relatou que a riqueza e abundância de aranhas não variam
caçadoras dentre as guildas de aranhas construtoras de teia. apenas entre o tipo de floresta, altitude ou em base diurna/
Na comparação das variáveis estruturais no noturna, mas também para a qualidade de micro-habitats
fragmento, somente a profundidade da serapilheira foi (pouca diferença na geomorfologia, vegetação, micro-clima
significativa (t= 3,738; g.l.= 10; p< 0,01; n= 12). As demais etc.). Isso favorece a presença de uma alta cobertura de
medidas não apresentaram nenhuma diferença: DAP (t= plantas herbáceas, pois o fragmento sofre algum tipo de
1,264; g.l.= 10; p> 0,05n= 12), cobertura de serapilheira perturbação devido ao livre acesso.
(χ2=0,03; g.l.= 5; p> 0,05; n= 12) e cobertura de herbácea Quando comentado sobre as guildas Predadores de
(χ2= 0,04; g.l.= 5; p> 0,05; n= 12). Espreita de Solo e Corredoras Aéreas Noturnas, pôde-se
observar a diferença na profundidade da serapilheira e a
DISCUSSÃO igualdade na cobertura de plantas herbáceas no fragmento.
Alguns estudos (GUNNARSSON, 1996 e SILVA, 1996) têm
O fragmento não apresentou nenhuma diferença na demonstrado que a influência da estrutura do ambiente pode
distribuição de espécies das guildas Construtora de Teia. favorecer as aranhas da guilda CAN. No entanto, PERES et
LUCZAK (1959), DUFFEY (1966), UETZ (1991) e HURD & FAGAN al. (2007), num estudo em Clareiras Naturais e Floresta
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Tabela 1. Composição das espécies das guildas observadas em um fragmento urbano no Sudoeste da Bahia, Brasil.
Famílias Espécies Guildas Total de Indivíduos
Amaurobiidae Amaurobiidae sp. 1 TNO 5
Amaurobiidae sp. 2 TNO 1
Anyphaenidae Anyphaenoides sp. CAN 2
Anyphaenidae sp. 1 CAN 2
Italaman santamaria (Brescovit, 1997) CAN 6
Teudis sp. CAN 2
Umuara sp. CAN 2
Xiruana sp. CAN 2
Araneidae Eriophora sp. TO 2
Parawixia audax (Blackwall, 1863) TO 1
Mecynogea sp. TO 1
Metazygia sp. TO 10
Eustala sp. TO 5
Argiope sp. TO 3
Cyclosa sp. TO 5
Araneidae sp. 1 TO 1
Araneidae sp. 2 TO 1
Araneidae sp. 3 TO 1
Caponiidae Caponiidae sp. 1 PS 1
Corinnidae Corinnidae sp. 1 CAN 1
Corinna sp. CAN 1
Clubionidae Clubionidae sp. 1 CAN 1
Ctenidae Nothroctenus sp. PSE 6
Celaetycheus sp. PSE 1
Ctenidae sp. 1 PSE 1
Ctenidae sp. 2 PSE 1
Ctenidae sp. 3 PSE 1
Dictynidae Dictyna sp. TNO 22
Dictynidae sp. 1 TNO 8
Dictynidae sp. 2 TNO 1
Gnaphosidae Gnaphosidae sp. 1 CNS 1
Gnaphosidae sp. 2 CNS 1
M imetidae Ero sp. CAN 1
M iturgidae Cheiracanthium inclusum (Hentz, 1847) CAN 1
Oxyopidae Peucetia sp. CAD 7
Pholcidae Mesabolivar sp. 1 STL 36
Metagonia sp. STL 1
Pisauridae Pisauridae sp. 1 STL 1
Salticidae Lyssomanis sp. 1 CAN 1
Lyssomanis sp. 2 CAN 2
Noegus sp. CAN 2
Salticidae sp. 1 CAN 1
Salticidae sp. 2 CAN 1
Salticidae sp. 3 CAN 2
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Famílias Espécies Guildas Total de Indivíduos


Salticidae sp. 4 CAN 1
Thiodina sp. CAN 2
Senoculidae Senoculidae sp. 1 PSE 2
Senoculus sp. PSE 2
Scytodidae Scytodes itapevi (Brescovit & Rheims, 2000) CAN 1
Sparassidae Olios sp. PSE 2
Sparassidae sp. 1 PSE 1
Tetragnathidae Tetragnathidae sp. 1 TO 5
Tetragnathidae sp. 2 TO 1
Tetragnathidae sp. 3 TO 1
Tetragnathidae sp. 4 TO 1
Tetragnathidae sp. 5 TO 2
Tetragnathidae sp. 6 TO 1
Tetragnathidae sp. 7 TO 1
Tetragnathidae sp. 8 TO 1
Theridiidae Achaearanea hirta (Taczanowski, 1873) TNO 3
Argyrodes sp. TNO 1
Dipoena sp. TNO 1
Theridiidae sp. 1 TNO 1
Theridiidae sp. 2 TNO 1
Theridiidae sp. 3 TNO 1
Theridiidae sp. 4 TNO 1
Theridiidae sp. 5 TNO 1
Theridion sp. TNO 6
Thomisidae Misumenops sp. CAN 2
Thomisidae sp. 1 CAN 1
Thomisidae sp. 2 CAN 1
Thomisidae sp. 3 CAN 1
Thomisidae sp. 4 CAN 1
Thomisidae sp. 5 CAN 1
Tmarus sp. 1 CAN 3
Tmarus sp. 2 CAN 1
Uloboridae Zosis sp. TO 4
Uloborus sp. TO 9
Uloboridae sp. 1 TO 1
Uloboridae sp. 2 TO 2
TOTAL 222

Madura no Nordeste do Brasil, não encontraram uma forte aranhas forrageiam na serapilheira e são dominantes no
influência da estrutura do ambiente sobre esta guilda. Já tamanho dos espécimes cursoriais. Para HUHTA (1971), UETZ
algumas aranhas da guilda PSE podem ter sido beneficiadas (1975, 1976, 1979), HÖFER et al. (1996) e GREEN (1999),
pela profundidade da serapilheira, principalmente as espécies diferenças na estrutura da serapilheira podem afetar a
da família Ctenidae. Segundo HÖFER et al. (1994), essas comunidade de aranhas que vivem no solo favorecendo a
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Distribuição das Guildas


Distance (Objective Function)
5E-01 2,1E+02 4,3E+02 6,4E+02

Information Remaining (%)


100 75 50 25

TO

CAN

TNO

STL

CAD

PS

CNS

PSE
Fig. 1. Análise de Agrupamento apresentando a similaridade da abundância de espécies entre as guildas de um fragmento urbano no Sudoeste
da Bahia, Brasil. TO: Tecedoras de teias Orbiculares, TNO: Tecedoras de teias Não Orbiculares, STL: Sedentárias com Teia Lençol, CAN:
Corredoras Aéreas Noturnas, CAD: Corredoras Aéreas Diurnas, PS: Predadoras de Serapilheira, PSE: Predadoras de Espreita.

abundância e diversidade de presas, menor amplitude térmica, fragmento urbano, com acesso da população local,
manutenção da umidade, substrato heterogêneo para refúgio acarretando uma possível modificação na composição das
dos predadores e abrigo. guildas, dificultando assim sua manutenção.
Após análises desses resultados propõem-se
estudos em outras áreas (>10 ha) periféricas à região, para AGRADECIMENTOS
poder avaliar com maior exatidão sobre as variáveis da
Gostaríamos de agradecer a Sidclay Dias e Tasso Meneses
estrutura do ambiente e tentar verificar se a distribuição das pelas críticas e sugestões ao manuscrito. A Renata Chagas, Daniela
espécies em suas guildas difere entre áreas de um mesmo Uzel e Marcelo Dias pelas correções gramaticais. Agradecemos aos
fragmento. Isso ajudaria a entender melhor como revisores anônimos pelas valiosas críticas e sugestões ao manuscrito.
determinados efeitos da fragmentação (tamanho, efeito de A Pablo Amoedo, Erica Coutinho, Gutemberg Casaes, à administração
e aos funcionários do Parque da Matinha, pela ajuda nos trabalhos de
borda, conectividade, tipo de vizinhança etc.) agem sobre a
campo. Ao Centro ECOA/UCSal, pelo apoio logístico durante e pós
comunidade de aranhas em pequenos fragmentos. Também coletas. Ao Dr. Antonio Brescovit pela identificação do material
se faz necessário um plano de manejo e, posteriormente, de biológico. Este trabalho teve o apoio do Regime de Tempo Contínuo
monitoramento da fauna e flora da área, pois se trata de um - UCSal (MCLP).

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