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CRIMES CONTRA A VIDA – arts.

121 a 123

1. DELIMITAÇÃO DA TEMÁTICA
A Parte Especial do CP inicia com a regulação dos crimes contra a pessoa - Título I, que se subdivide nos seguintes
capítulos: I – dos crimes contra a vida; II – das lesões corporais; III – da periclitação da vida e da saúde; IV – da rixa; V – dos crimes
contra a honra; VI – dos crimes contra a liberdade individual. O último capítulo se subdivide nas seguintes seções: I – dos crimes contra
a liberdade pessoal; II – dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio; III – dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência; IV
– dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos.

Consoante já frisado, o CP procura agrupar os tipos penais de acordo com o bem jurídico protegido. Isso se percebe
nitidamente em suas subdivisões. Os tipos não estão organizados, portanto, de forma aleatória, mas sim em uma ordem sistêmica. E,
ainda, a opção do legislador de iniciar a Parte Especial do CP com a defesa da pessoa revela a importância e prioridade que deve ter a
proteção do ser humano, em seu aspecto físico e moral.

A proteção da vida pela norma penal inaugura a Parte Especial.

Os crimes desse gênero são os seguintes: a) homicídio; b) induzimento, instigação ou auxílio a suicídio; c) infanticídio; e
d) aborto.
A vida protegida no capítulo I em epígrafe é tanto na sua forma intra-uterina (considerando que o nascituro é protegido
pela norma penal, visto a previsão legal do crime de aborto) quanto extra-uterina (existente a partir do parto).

2. HOMICÍDIO

Está previsto no art. 121 do CP. Pode ser: a) doloso simples (caput); b) doloso privilegiado (§ 1º); c) doloso qualificado (§
2º); ou d) culposo (§ 3º).

“Homicídio é a morte de um homem provocada por outro homem. É a eliminação da vida de uma pessoa praticada por
outra” (CAPEZ, 2006, v. 2, p. 3).

Fala-se aqui, por evidente, da vida extra-uterina, ou melhor, da vida existente a partir do início do parto, mesmo que ainda
abrigada no útero materno. Buscou, desse modo, proteger integralmente o direito à vida do ser humano, desde a sua concepção, ou
seja, previamente ao seu nascimento.

No tocante à competência, salvo o homicídio culposo (CP, art. 121, § 3.°), cuja ação penal tramita perante o juízo singular
(justamente pelo fato de ser culposo), todos os demais crimes são julgados pelo Tribunal do Júri, em atendimento à regra prevista no
art. 5.°, inciso XXXVIII, alínea “d”, da Constituição Federal.

E a ação penal, como consectário lógico da indisponibilidade do direito à vida, sempre será pública incondicionada,
circunstância que não impede, em caso de inércia do Ministério Público, a utilização da ação penal privada subsidiária da pública,
garantida pelo art. 5.°, inciso LIX, da Constituição Federal.

2.1. Homicídio simples

Descreve o artigo 121, caput, do CP o seguinte comportamento proibido:


Art. 121. Matar alguém: Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.

Vale lembrar que a forma simples é o ponto de partida para compreensão das formas privilegiadas, qualificadas e
culposas de um determinado crime.

Queremos dizer que a interpretação dos tipos derivados depende da análise do tipo básico ao qual são vinculados. Isso
ocorre de maneira cristalina no caso do homicídio. Não tem como, por exemplo, estudar o crime de homicídio qualificado (art. 121, § 2º,
do CP) sem antes conhecer os elementos do homicídio simples, visto que aquele é uma derivação deste; ou seja, o homicídio
qualificado possui os mesmos elementos do homicídio simples, diferenciando-se apenas pela presença de circunstância qualificadora.

É a supressão da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa. Esse conceito permite uma importante
conclusão: a eliminação da vida humana não acarreta na automática tipificação do crime de homicídio. De fato, se a vida humana for
intrauterina estará caracterizado o delito de aborto. Além disso, se já iniciado o trabalho de parto, a morte do feto configura homicídio ou
infanticídio, dependendo do caso concreto, mas não aborto. Se não bastasse, “matar alguém” pode resultar no crime de infanticídio, se
presentes as demais elementares tipificadas pelo art. 123 do Código Penal, quais sejam, a vítima deve ser o filho nascente ou recém-
nascido, além de ser a conduta praticada pela própria mãe durante o parto ou logo após, sob a influência do estado puerperal.

Cuida-se de um dos primeiros crimes conhecidos pela humanidade, razão pela qual se sustenta que a história do
homicídio pode ser confundida com a própria história do direito penal. Em todos os tempos e em todas as civilizações, a vida humana
sempre foi o primeiro bem jurídico a ser tutelado.

O homicídio simples, em regra, não é crime hediondo. Será assim entendido, contudo, quando praticado em atividade
típica de grupo de extermínio, ainda que por um só agente (Lei 8.072/1990, art. 1.°, inc. I, 1.ª parte). Essa hipótese, entretanto, é de
difícil configuração prática.

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Em verdade, a atividade típica de grupo de extermínio, mesmo sem a efetiva existência deste, normalmente enseja a
aplicação da qualificadora do motivo torpe (art. 121, § 2.°, inc. I). Exemplo: matança generalizada de moradores de rua para valorização
de uma área urbana. Nesse caso, o crime será hediondo (Lei 8.072/90, art. 1.°, inc. I, in fine).

Por outro lado, se um agente matar outras pessoas em atividade típica de grupo de extermínio, sem realmente integrá-
lo, mas com relevante valor social, estará caracterizado o homicídio privilegiado (CP, art. 121, § 1.°), que não é crime hediondo.
Exemplo: policial que, durante sua folga, sai à caça de ladrões que aterrorizavam uma pacata cidade, matando-os.

2.2. Objeto jurídico (objetividade jurídica – bem jurídico protegido)

O objeto jurídico protegido no crime de homicídio é a vida. Melhor especificando, a vida existente a partir do início do
parto. Isto porque se o crime for voltado a tirar a vida do nascituro, antes do início do parto, tratar-se-á de crime de aborto.

Nesse particular, necessário investigar o momento em que se inicia a vida protegida pelo tipo em evidência (art. 121 do
CP).
A doutrina se inclina à percepção de que a vida protegida pelo tipo penal do homicídio começa com o início do parto
(CUNHA, 2008, v.3, p. 17). Abandona-se por esta posição a defesa de que a vida protegida no delito de homicídio (ou infanticídio)
somente surge com a respiração[2] do recém-nascido.

Quanto ao fim da vida, tal fenômeno ocorre com a morte encefálica, que consiste no “Estado irreversível de cessação de
todo o encéfalo e funções neurais, resultante de edema e maciça destruição dos tecidos encefálicos, apesar da atividade
cardiopulmonar poder ser mantida por avançados sistemas de suporte vital e mecanismos de ventilação” [3].

A vida extrauterina inicia-se com o processo respiratório autônomo do organismo da pessoa que está nascendo, que a
partir de então não depende mais da mãe para viver. Esse acontecimento pode ser demonstrado por prova pericial, por meio das
docimasias respiratórias.

Em derradeiro, cabe consignar que o direito pátrio não distingue o neonato viável do inviável (aquele que nasce com
patologia que inevitavelmente lhe levará à morte, às vezes pouco tempo depois do nascimento), de modo que ceifar a vida de qualquer
um deles acarreta a ocorrência do crime de homicídio ou de infanticídio, conforme o caso.

É irrelevante a viabilidade do ser nascente. Não importa se tinha ou não possibilidade de permanecer vivo. Basta o
nascimento com vida para autorizar a incidência desse tipo penal, ainda que o recém-nascido, em decorrência de anomalias, apresente
características monstruosas (no direito civil brasileiro, mesmo o monstrum vel prodigium, do direito romano, adquire personalidade civil
ao nascer com vida – CC, art. 2.°). (Nucci)

Núcleo do tipo

O núcleo do tipo é o verbo “matar”. Trata-se de crime de forma livre. Admite qualquer meio de execução e pode ser
praticado por ação ou por omissão, desde que presente o dever de agir, por enquadrar-se o agente em alguma das hipóteses previstas
no art. 13, § 2.°, do Código Penal, como a mãe que mata o filho ao negar-lhe alimentação por diversos dias. Ou então, em hipótese
reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal:

Em tese, o único médico plantonista, procurado mais de uma vez durante o exercício de sua atividade profissional na
unidade de saúde, cientificado da gravidade da doença apresentada pelo paciente que lhe é apresentado (com risco de vida), ao se
recusar a atendê-lo, determinando o retorno para casa, sem ao menos ministrar qualquer atendimento ou tratamento, pode haver
deixado de impedir a ocorrência da morte da vítima, sendo tal conduta omissiva penalmente relevante devido à sua condição de
garante.O crime pode ser praticado de forma direta, quando o meio de execução é manuseado diretamente pelo agente (exemplo:
golpes com uma barra de ferro), ou também de forma indireta, quando o meio de execução é manipulado indiretamente pelo homicida
(exemplo: ataque por um cão feroz).

O homicídio também pode ser praticado por meio de relações sexuais ou atos libidinosos. É o que ocorre com a Aids
(síndrome da imunodeficiência adquirida), doença fatal e incurável. Se um portador do vírus HIV, consciente da letalidade da moléstia,
efetua intencionalmente com terceira pessoa ato libidinoso que transmite a doença, matando-a, responderá por homicídio doloso
consumado. E, se a vítima não falecer, a ele deverá ser imputado o crime de homicídio tentado.

Nesse caso, não há falar no crime de perigo de contágio venéreo (CP, art. 130), uma vez que o dolo do agente dirige-se
à morte da vítima. Igual raciocínio se aplica à hipótese em que alguém, fazendo uso de uma seringa contendo sangue com o vírus HIV,
injeta o líquido em outra pessoa, contaminando-a. Em qualquer dos casos, o crime será o de homicídio, consumado ou tentado,
dependendo da produção ou não do resultado naturalístico morte. Há quem entenda, todavia, tratar-se de lesão corporal gravíssima em
face da enfermidade incurável (CP, art. 129, § 2.°, inc. II).7 Não concordamos com essa posição, pois enfermidade incurável é a doença
que não possui solução no atual estágio da ciência médica, mas que não leva à morte, como ocorre na Aids.

Os meios de execução podem ser materiais, quando assolam a integridade física do ofendido (exemplo: ferimentos
com uma faca), ou morais, nas hipóteses em que a morte é produzida por um trauma psíquico na vítima, agravando uma doença
preexistente, que a conduz à morte, ou provocando-lhe reação orgânica que a conduza a uma enfermidade, e daí à morte (exemplo:
depressão que acarreta na morte em face do uso excessivo de medicamentos de ação controlada). O meio de execução pode

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caracterizar uma qualificadora, como se dá no emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que
possa resultar perigo comum (CP, art. 121, § 2.°, inc. III).

2.3. Objeto material


No homicídio, o objeto material é a pessoa em face da qual é praticada a conduta. Vale lembrar nesse particular que as
ações tendentes a eliminar a vida de quem não mais a tem (e por tal razão não é mais pessoa, mas sim cadáver) caracterizam hipótese
de crime impossível (art. 17 do CP) por absoluta impropriedade do objeto material.
2.4. Sujeito ativo
Pode praticar o delito em evidência qualquer ser humano, o que lhe dá característica de crime comum.
2.5. Sujeito passivo
Em seu aspecto material, é qualquer pessoa com vida[4].
Importante lembrar que em algumas circunstâncias a conduta típica, ilícita e culpável que logra êxito em tirar a vida de
determinada(s) pessoa(s) não leva à caracterização do crime de homicídio, mas sim de outro delito. É o caso dos crimes: a) de
infanticídio (art. 123 do CP[5]); b) contra a vida do Presidente da República, do presidente do Senado Federal, da Câmara dos
Deputados ou do STF em circunstâncias que configurem o delito previsto no artigo 29 da Lei nº 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional); e
c) de genocídio (Lei nº 2.889/56)[6].
2.6. Elementos objetivos (tipo objetivo)
O art. 121, caput, traz unicamente elementos objetivos descritivos. Se resume nas elementaresmatar e alguém; ou seja,
a conduta típica é simplesmente “matar alguém”.
Matar significa tirar a vida. Alguém diz respeito a um ser humano. Unindo as duas palavras, temos que a conduta
proscrita pelo tipo em evidência é tirar a vida de um ser humano. Isso pode se dar através de meios diretos ou indiretos, físicos ou
morais[7], desde que idôneos à produção do resultado morte (PRADO, 2008, v.2, p. 79), e através de ação ou omissão.
2.7. Elemento subjetivo (tipo subjetivo)
Ensina Mirabete (2008, v.II, p.31) que: “O dolo do homicídio é a vontade consciente de eliminar uma vida humana, ou
seja, de matar (animus necandi ou occidendi), não se exigindo nenhum fim especial”. A figura típica, portanto, não exige elemento
subjetivo do tipo específico, mas somente o dolo genérico.
Registre-se, outrossim, que é perfeitamente possível o homicídio por dolo eventual.
2.8. Consumação e tentativa
O homicídio se consuma com a morte da vítima (resultado naturalístico), sendo por tal razão umcrime material.
A prova da materialidade delitiva se faz pelo exame de corpo de delito, direto (necropsia) ou indireto (com suporte em
prova testemunhal – art. 167 do CPP), sendo este último admissível somente quando impossível a realização do exame direto.
A tentativa se dá quando o crime não se consuma por razões alheias à vontade do agente (art.14, II, do CP), regra esta
que é perfeitamente compatível com o homicídio, visto ser este um crime material. Nesse particular relembra Capez (2006, v.2, pp. 18-
19) que o crime possui quatro etapas (iter criminis): a) cogitação; b) preparação; c) execução; e d) consumação; concluindo ao final
que: “Para nós, só há início de execução quando o sujeito começa a praticar o núcleo do tipo, ou seja, quando começa a „matar‟, a
„subtrair‟, „a constranger‟ etc. Assim, se o agente recebe um tapa no rosto e, prometendo matar o seu agressor, vai até a sua residência,
pega a sua arma de fogo, retorna ao local da briga e é preso em flagrante momentos antes de efetuar o primeiro disparo, não há como
falar em tentativa de homicídio, pois o agente ainda não havia começado a „matar‟. O início de execução, portanto, ocorre com a prática
do primeiro ato idôneo, isto é, apto a produzir a consumação, e inequívoco à produção do resultado”.
Pondera Rogério Sanches Cunha (2008, v.3, p. 18) que: “Admite-se a forma tentada, inclusive, no crime cometido com
dolo eventual, já que equiparado, por lei, ao dolo direto (art, 18, I, do CP)”. Em sentido contrário a posição de Mirabete (2008, v.II, p.
31), defendendo que é inadmissível a tentativa de homicídio quando se age com dolo eventual, podendo nesses casos, não sobrevindo
a morte, o agente responder por lesão corporal grave (art. 129, §2º, II, do CP). Aparentemente, a primeira posição tem prevalecido na
jurisprudência.
2.9. Classificação doutrinária
“Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial);material (delito que exige
resultado naturalístico, consistente na morte da vítima); de forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo
agente); comissivo („matar‟ implica em ação) e, excepcionalmente, comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação
do art. 13, §2º, do Código Penal); instantâneo (cujo resultado „morte‟ se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); de
dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado); unissubjetivo (que pode ser praticado por um só
agente); progressivo (trata-se de um tipo penal que contém, implicitamente, outro, no caso a lesão corporal); plurissubsistente (via de
regra, vários atos integram a conduta de matar); admite tentativa.” (NUCCI, 2006, p. 521).

2.10. Homicídio privilegiado


Está previsto no art. 121, §1º: “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou
sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”.

Na realidade, tecnicamente, a previsão legal em epígrafe é de uma causa de diminuição de pena (a ser considerada na
terceira fase da dosimetria da pena) e não, exatamente, de um crime privilegiado (GRECO, 2007, v. II, p. 155); considerando que o tipo
penal que prevê um delito autenticamente privilegiado[8]traz um preceito secundário independente daquele cominado à forma simples
do crime, e não simplesmente uma previsão de redução de pena. A doutrina e a jurisprudência, contudo, consagraram, por tradição, a
denominação de homicídio privilegiado para a conduta prevista no art. 121, §1º.
As hipóteses que geram o privilégio in casu abordado são:
a) motivo de relevante valor social ou moral para cometimento do crime: o relevante valor social diz respeito aos interesses da
coletividade (ex: matar um traidor da pátria); enquanto que o relevante valor moral corresponde a interesses individuais do agente (ex:
pai que mata o estuprador da sua filha);
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b) domínio de violenta emoção[9], logo após a injusta provocação da vítima: para ocorrência dessa hipótese deve o agente estar
tomado (e não apenas influenciado) por poderosa emoção e sua ação se dar imediatamente depois de ter sido provocado injustamente
pela vítima. Vale lembrar que na hipótese do agente reagir a injusta (antijurídica) agressão, a hipótese será de exclusão da ilicitude por
legítima defesa, e não de crime privilegiado, daí ser importante distinguir injusta provocação de injusta agressão, o que normalmente
não é tarefa fácil, considerando haver bens jurídicos imateriais (como a honra, por exemplo) que podem ser objeto de agressão sem um
dano (ou ameaça de dano) físico. Assim, nessa diferenciação deve também ser levada em consideração a proporcionalidade da reação
e não somente se houve agressão ou provocação, considerando haver situações que, segundo pensamos, uma agressão poderá ser,
ao mesmo tempo, considerada provocação (como é o caso da injúria). Cita a doutrina (MIRABETE, 2008, v.II, p. 35) que há homicídio
privilegiado por injusta provocação da vítima no caso do marido que surpreende a esposa em adultério, vindo a matá-la dominado por
exaltação emocional.

Em derradeiro, ressalte-se que as hipóteses acima descritas não são cumulativas; ou seja, para ser reconhecido o
privilégio basta a ocorrência de uma delas.
Vale lembrar, ainda, que o CP fala que o juiz “pode” reduzir a pena uma vez detectada uma dessas hipóteses, porém
esse “pode” não indica uma faculdade, mas sim um dever, pois a redução trata-se de direito subjetivo do agente.
As circunstâncias minorantes previstas no art. 121, §1º, são incomunicáveis[10] entre os concorrentes na hipótese de
concurso de pessoas (CUNHA, 2008, v. 3, p. 20).

Doutrina e jurisprudência têm reconhecido que a eutanásia é um caso de homicídio privilegiado por relevante valor
moral[11].

2.11. Homicídio qualificado

Encontra previsão no art. 121, § 2º, do CP, in verbis:


Homicídio qualificado
§2º. Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II – por motivo fútil;
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:

Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da
lei e da ordem.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

As circunstâncias caracterizadoras do homicídio qualificado trazem ínsita uma necessidade de reprovação bem maior do
que na sua forma simples.

“Tentado ou consumado, o homicídio doloso qualificado é crime hediondo, nos termos do art. 1º, I, com a redação
determinada pela lei nº 8.930/94” (CAPEZ, 2006, v. 2, p. 44). Lembrando-se que a Lei nº 8.072/90 regula os crimes hediondos, sendo
esta a norma referida pelo autor, que foi alterada pela Lei nº 8.930/94.
É provável que o estudante que inicia o estudo da Parte Especial do Código Penal tenha dificuldades em identificar se
um determinado homicídio doloso encontra simetria com a forma qualificada, privilegiada ou simples. Para dirimir dúvida nesse sentido
o melhor critério é o da exclusão, ou seja, averigua-se se há a presença de circunstância qualificadora ou que induza privilégio. Se

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houver, faz-se o enquadramento pertinente; lembrando-se também que a doutrina aventa a possibilidade da existência de crimes que se
enquadram, ao mesmo tempo, como homicídio qualificado e privilegiado. Caso não haja privilégio nem qualificadora, o fato deve ser
apenado na forma simples.

2.11.1. Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe

Inicialmente, pondere-se que (GRECO, 2007, v.II, p. 164):


Torpe é o motivo abjeto que causa repugnância, nojo, sensação de repulsa pelo fato praticado pelo agente.
A paga é o valor ou qualquer outra vantagem, tenha ou não natureza patrimonial (a teoria majoritária exige natureza econômica),
recebida antecipadamente, para que o agente leve a efeito a empreitada criminosa. Já na promessa de recompensa, como a própria
expressão está a demonstrar, o agente não recebe antecipadamente, mas sim existe uma promessa de pagamento futuro.

Antevê o legislador no dispositivo em destaque, em sua primeira parte, a hipótese do “crime de encomenda”, onde
alguém contrata um “matador de aluguel” ( sicário) para tirar a vida de outrem. É irrelevante, nessa situação, se a recompensa é
recebida antecipadamente, depois, ou se é apenas prometida, em ambos os casos está presente a qualificadora. Contudo, segundo
posição majoritária da doutrina, somente o executor do crime necessariamente responderá pela figura majorada ora ilustrada, devendo-
se analisar em separado o motivo do mandante ( o qual poderia estar agindo sob violenta emoção ou valor moral); ou seja, a motivação
sob foco trata-se de circunstância incomunicável.

Cabe, ademais, observar que o art. 121, §2º, I, traz a expressão “ou outro motivo torpe”, permitindo interpretação
analógica. Que dizer: explicita o dispositivo que o homicídio mediante paga ou promessa de recompensa traduz um motivo torpe que
qualifica o delito, porém deixa em aberto para que sejam considerados outros motivos (que sejam igualmente torpes) como variáveis
qualificadoras, entre os quais admite Mirabete (2008, v.II, p. 37) possam ser incluídos os seguintes:

Como melhores exemplos são citados os homicídios praticados por cupidez (desejo, cobiça, ganancia) (para receber uma herança, por
rivalidade profissional etc.) ou para satisfazer desejos sexuais. Reconheceu-se haver motivo torpe nos seguintes casos: (...) do acusado
que eliminou a vítima com quem praticava atos de pederastia, por desejar esta interrompê-los; dos que, despeitados pela fama de
valente da vítima, numa demonstração de vaidade criminal, resolveram matá-la para tentar mostrar maior valentia que ela (RJTJESP
26/401); do jovem que matou a namorada ao ter conhecimento de que a mesma já não era virgem; (...).

2.11.2. Motivo fútil

É o motivo insignificante, evidentemente desproporcional ao resultado produzido. “Ex: o autor suprime a vida da vítima
porque esta, dona de um bar, não lhe vendeu fiado” (NUCCI, 2006, p. 532). Ressaltando o autor citado (idem, p. 533) que ciúme não
configura futilidade.

Discute-se, em outro prisma, se a ausência de motivo acarreta o reconhecimento de homicídio qualificado por motivo
fútil. Parece-nos que a posição mais acertada é aquela que admite tal equiparação, reconhecendo que a ausência de motivo leva a
incidência da qualificadora de motivo fútil ( capez e greco).

2.11.3. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum
Ab initio é indispensável frisar que a qualificadora em estudo trata de estabelecer uma maior apenação quando o
homicídio for praticado por meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. A referência ao veneno, fogo, explosivo,
asfixia e tortura oferece apenas exemplos do gênero de meios que o dispositivo pretende reprimir. O legislador, nesse particular, mais
uma vez permitiu a chamada interpretação analógica, autorizando que o intérprete, diante de uma situação concreta, em que não haja o
emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia nem tortura, mas que perceba a presença de outro meio insidioso ou cruel, ou de que
possa resultar perigo comum, identifique a presença de circunstância qualificadora. Tem-se em mira, portanto, não somente repelir a
utilização dos meios em espécie citados expressamente, mas também qualquer outro condizente com os gêneros especificados, daí a
imprescindível necessidade de delimitar os conceitos destes.

Meios insidiosos: “(...) aqueles constituídos de fraude, clandestinos, desconhecidos da vítima, que não sabe estar
sendo atacada. O que qualifica o homicídio não é propriamente o meio escolhido ou usado para a prática do crime, e sim o modo
insidioso com que o agente o executa, empregando, para isso, recurso que dificulte ou torne impossível a defesa (RJTJERGS 160/149).
Cita Maggiore alguns exemplos: uma armadilha; a sabotagem de um motor de automóvel ou de aeroplano; o carregar um objeto de uma
corrente elétrica de alta tensão, fazendo-o tocar na vítima; o fazer experimentar uma arma de fogo cuja explosão, por um desconserto
do maquinismo, volve contra quem a usa” (MIRABETE, 2008, v.II, p. 40).

Meios cruéis: são aqueles que causam excessivo e desnecessário sofrimento (físico ou moral) à vítima, levando-a por
tal meio à morte. Exs.: esquartejamento, pisoteamento e privação de alimento e água. Importante salientar que o uso desses meios pelo
assassino após ter matado a vítima, não conduz, por evidente, à caracterização da qualificadora.
Meios que possam resultar perigo comum: são aqueles que, além de afetar a vítima, expõem outras pessoas a risco.
Importante lembrar que o CP tipifica especificamente crimes de perigo comum (arts. 250-259), prevendo também como forma
qualificada destes o fato de produzirem o efeito morte. Nesse ponto, preciosas as lições de Capez (2006, v.2, pp. 54-55):

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Se, no caso concreto, o agente, além de matar a vítima, expõe um número indeterminado de pessoas a perigo comum, configurando
algum crime de perigo comum (explosão, incêndio, desabamento, epidemia, os desastres de meios de transporte coletivo), entende-se
que poderá o agente responder em concurso formal pelos crimes de perigo comum e de homicídio qualificado. É importante fazer a
distinção entre o homicídio qualificado, cujo meio para a sua prática é um crime de perigo comum, e o delito de crime de perigo comum
qualificado pelo evento morte (CP, art. 258). A diferença reside no elemento subjetivo. Com efeito, no homicídio qualificado o agente
quer ou assume o risco do resultado danoso, qual seja, a morte da vítima, de modo que o meio empregado para alcançar esse
resultado é um crime de perigo comum. No entanto, se o dolo não era homicida, mas o de praticar o crime de perigo, e houve morte
decorrente, haverá “qualificação” do delito perigoso (pelo resultado morte preterdolosa).

Visitados os gêneros, vamos às espécies relacionadas exemplificativamente no art. 121, §2º, III.

Do magistério de Luiz Regis Prado (2008, v.2, p. 4) colhe-se:


Veneno é qualquer substância – mineral, animal ou vegetal - que, inoculada, ingerida ou introduzida no organismo, provoque lesão ou
perigo de lesão à saúde ou à vida. O conceito de veneno deve ser determinado de modo objetivo, e não em razão das características
pessoais da vítima (v.g., criança, dibético etc.).
Pondera o renomado autor, ainda, que para configurar a qualificadora de emprego de veneno (meio insidioso), este tem
que se dar de forma dissimulada, ou seja, sem o conhecimento da vítima. Se, por exemplo, o sujeito passivo for forçado a tomar o
veneno, sabendo da natureza da substância, a qualificadora não se aperfeiçoa.

O fogo pode revelar-se um meio cruel e, também, um meio que pode desencadear perigo comum. Trata-se de tirar a
vida da vítima, fazendo-a padecer em chamas.
Explosivo, quando o meio utilizado consiste em substância ou artefato que provoca explosão, mediante detonação. É o
caso do uso de dinamite, de granada[15] etc.
A asfixia consiste em suprimir a possibilidade de a vítima respirar, vindo por isso a provocar-lhe a morte, podendo ser
mecânica (estrangulamento, enforcamento, afogamento etc.) ou tóxica (provocada pela exposição da vítima a determinados gases, por
exemplo).
Tortura é uma espécie de meio cruel, onde o criminoso submete a vítima a suplícios como meio de tirar-lhe a vida (ex:
morte por mutilação). Deve-se observar, outrossim, que a Lei nº 9.455/97 prevê a tortura como crime específico, trazendo, inclusive,
como forma qualificada o fato da tortura ter levado a vítima à morte. Daí Rogério Greco (2007, v.II, p. 171) esclarecer:

Qual a diferença, portanto, entre a tortura prevista como qualificadora do delito de homicídio e a tortura com resultado morte prevista
pela Lei nº 9.455/97? A diferença reside no fato de que a tortura, no art. 121, é tão-somente um meio para o cometimento do homicídio.
É um meio cruel de que se utiliza o agente, com o fim de causar a morte da vítima. Já na Lei nº 9.455/97,a tortura é um fim em si
mesmo. Se vier a ocorrer o resultado morte, este somente poderá qualificar a tortura a título de culpa. Isso significa que a tortura
qualificada pelo resultado morte é um delito eminentemente preterdoloso. O agente não pode, dessa forma, para que se aplique a lei de
tortura, pretender a morte do agente, pois, caso contrário, responderá pelo crime de homicídio tipificado pelo Código Penal.
Concluindo o raciocínio, no art. 121, a tortura é um meio cruel, utilizado pelo agente na prática do homicídio; na Lei nº 9.455/97, ela é
um fim em si mesmo e, caso ocorra a morte da vítima, terá o condão de qualificar o delito, que possui o status de crime preterdoloso.

É também perfeitamente possível a ocorrência de homicídio em concurso material com o crime de tortura[16], vitimando
o mesmo sujeito passivo. Nessa hipótese, contudo, a tortura não pode ser considerada como qualificadora do homicídio, pois para isto
ocorrer ela teria que ser utilizada como um meio para morte e não como um fim em si próprio (crime autônomo).

2.11.4. Homicídio à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
defesa do ofendido
Mais uma vez o legislador verte uma seqüência casuística seguida de uma fórmula genérica, permitindo a interpretação
analógica; ou seja, exemplifica recursos que dificultam ou tornam impossível a defesa da vítima, e no final abre a possibilidade de
inclusão pelo intérprete de outros modos de execução semelhantes. Reforce-se também que a finalidade do dispositivo em evidência é
exarcebar a pena quando osmodos de execução do crime forem especialmente graves, de modo que, nesse particular, não são
considerados para o fim de agravação da sanção características pessoais da vítima ou outra variável qualquer que não esteja
relacionada à maneira de execução do crime.
Sintetiza Cunha (2008, v.3, pp. 22-23) que:
Traição é ataque desleal, repentino e inesperado (ex.: atirar na vítima pelas costas ou durante o sono)[17].
A emboscada pressupõe ocultamento do agente, que ataca a vítima com surpresa. Denota essa circunstância maior covardia e
perversidade por parte do delinqüente.
Já a dissimulação significa fingimento, ocultando (disfarçando) o agente a sua intenção hostil, apanhando a vítima desatenta e
indefesa[18].

Em fecho, registre-se que na fórmula genérica (outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido)
cabem modos de execução, por exemplo, que induzam a surpresa da vítima em relação ao ataque[19], e, por óbvio, que não se
enquadrem nos modos especificamente mencionados no dispositivo em análise, considerando que neles vai também estar presente a
surpresa, porém com características bem detalhadas (ou seja, condizente com a noção de traição, emboscada ou dissimulação).

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2.11.5. para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime
Trata-se de qualificação pela conexão (ligação) com outro crime[20]. O homicídio, nesse caso, aparece em um plano
secundário, pois somente é levado a efeito em razão de outro delito. O outro crime mencionado pode ser pertinente ao próprio sujeito
ativo do homicídio ou a terceiro[21].
Assenta Mirabete (2008, v.II, p. 42) que:
Essas circunstâncias, que configurariam a rigor motivo torpe, originam casos de conexão teleológica ou consequencial. A
conexão teleológica ocorre quando o homicídio é perpetrado como meio para executar outro crime (homicídio para poder provocar um
incêndio). A conexão consequencial ocorre quando é praticado para ocultar a prática de outro delito (homicídio contra o perito que vai
apurar apropriação indébita do agente), ou para assegurar a impunidadedele (homicídio da testemunha que pode identificar o agente
como autor de um roubo), ou para fugir à prisão em flagrante (RT 434/358), ou para garantir a vantagem do produto, preço ou proveito
de crime (homicídio contra o co-autor de roubo ou furto para apossar-se da res furtiva).

Ressalte-se que a conexão ocasional (ou seja, quando a relação do outro crime com o homicídio é meramente
ocasional, não havendo um liame entre eles, apesar de cometidos em um mesmo contexto fático) não acarreta a qualificação
desenhada no art. 121, §2º, V, do CP.
Em suma, a qualificadora em deslinde caracteriza-se quando o homicídio é utilizado para:

a) assegurar a execução de outro crime: aqui o objetivo primordial do agente é propiciar a execução de outro crime
qualquer e apenas pratica o homicídio como meio para atingir seu intento. Ex: sujeito quer estuprar uma mulher que se encontra
acompanhada do marido. Entendendo o criminoso que o homem dificultará a execução do estupro, mata-o para poder violentar a
mulher (seu objetivo inicial). Ressaltando Capez (2006, v.2, p. 59) que não é necessário que o agente atinja o fim visado para se
aperfeiçoar a circunstância qualificadora delineada. No exemplo citado (inspirado no mesmo autor), pode ser que o agente não consiga
consumar o crime de estupro contra a mulher, porém mesmo assim deve ser reconhecida a qualificadora no homicídio contra o marido;
b) assegurar a ocultação de outro crime: nesse particular o agente quer esconder um crime por ele ou por outrem
cometido[22]. Ex: um funcionário público, que acompanhado de outra pessoa furta bens da repartição em que trabalha, resolve matar o
comparsa para evitar que o mesmo comente com alguém o ocorrido, pois entende ser esta a única forma de ser descoberta a
subtração;
c) assegurar a impunidade em relação a outro crime: aqui o agente busca, com o homicídio, evitar que seja punido
um outro crime cuja existência já é conhecida, mas ainda desconhecida a sua autoria, ao contrário do que ocorre na hipótese anterior
(matar para ocultar um outro crime indica que ainda não se sabe que este outro delito ocorreu, buscando o agente com o homicídio
garantir a permanência dessa situação)[23]. Exemplo da hipótese da busca da impunidade: matar policiais para escapar da prisão em
flagrante por um crime de trânsito;
d) assegurar vantagem de outro crime: aqui o agente antevê um risco da vantagem (econômica ou não) de outro
crime, e para assegurar o proveito vem a cometer um homicídio. Ex: dois ladrões praticam um roubo; depois isso, um deles,
desconfiando que o outro vai fugir com todo o produto do delito, resolve matá-lo para garantir seu proveito na empreitada criminosa.

Por fim, importante notar que a ligação entre o homicídio e outro crime, pressuposto da qualificadora sob foco, em
algumas vezes pode levar à formação de um único delito complexo. É o caso, por exemplo, do sujeito que mata um vigilante para
garantir o ilícito apossamento da coisa subtraída de outras vítimas. Nessa hipótese responderá por latrocínio (art. 157, §3º - parte final,
do CP) e não por roubo em concurso com homicídio qualificado. Nessa esteira se expressa Capez com precisão:

Importa notar que tanto na conexão teleológica quanto na conexão consequencial, o homicídio qualificado e o “outro crime” praticado
não formam um delito complexo como no caso do latrocínio. Na realidade, constituem delitos autônomos, mas há uma ligação (conexão
teleológica ou consequencial) que os une, sendo aplicável no caso a regra do concurso material. Assim, responderá o agente pelos
crimes de homicídio qualificado (pela conexão teleológica ou consequencial) em concurso material com o “outro crime”.

2.11.6. Comunicabilidade das circunstâncias qualificadoras entre os agentes

A comunicabilidade a que nos referimos diz respeito, por óbvio, às situações em que haja concurso de agentes para a
prática do homicídio qualificado.

Havendo o concurso em evidência, ou seja, quando duas ou mais pessoas concorrem para o homicídio, surgirá o
questionamento se a circunstância qualificadora identificada se aplica a todas elas. A solução para essa dúvida está no estudo da
comunicabilidade das circunstâncias, genericamente prevista no art. 30 do CP.

Nesse ponto, após transcrever o art. 30 do CP (“Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal,
salvo quando elementares do crime”), Capez (2006, v.2, pp. 62-63) pontua:

Disso resulta que as circunstâncias qualificadoras, que são dados acessórios agregados ao crime para agravar a pena, quando tiverem
caráter subjetivo (motivos determinantes do crime, p. ex., motivo fútil, homicídio praticado mediante paga ou promessa de recompensa)
não se comunicam jamais ao partícipe. No entanto, se tiverem caráter objetivo, por exemplo, homicídio cometido mediante emboscada,
haverá a comunicação se for do conhecimento do partícipe a presença da circunstância material, ou seja, se com relação a ela tiver
agido com dolo ou culpa. Se desconhecida a presença da mesma, não poderá responder pela figura qualificada do homicídio.

2.11.7. Outras peculiaridades

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A premeditação não é circunstância qualificadora do homicídio.
Havendo a pluralidade de circunstâncias qualificadoras, apenas uma será utilizada para qualificar o delito e as demais
devem ser utilizadas na dosimetria da pena (havendo divergência quanto em que fase deverá se dar essa utilização)[24].
É possível a forma “qualificada-privilegiada” de homicídio em certos casos[25]. Contudo, a doutrina majoritária considera
que o homicídio sob tal classificação não deve ser considerado crime hediondo[26].

2.12. Homicídio doloso – causa especial de aumento de pena (art. 121, §4º, parte final)
Dispõe o dispositivo em epígrafe que: “(...) Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime
é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) ou maior de 60 (sessenta) anos”.
Trata-se de causa de aumento de pena a ser considerada, por evidente, na terceira fase da dosimetria da pena. Não é
uma qualificadora.
A norma traz uma severidade adicional quando o homicídio doloso, seja ele simples, privilegiado ou qualificado tem
como vítima criança ou idoso nas condições que especifica.

2.13. Homicídio culposo


O CP incrimina a modalidade culposa de homicídio com os seguintes termos:

Homicídio culposo
§3º. Se o homicídio é culposo:
Pena – detenção, de 1(um) a 3(três) anos.
Delimita Rogério Sanches Cunha (2008, v.3, p. 24) que:
Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta imprudência, negligência ou imperícia, deixa de empregar a atenção ou
diligência de que era capaz, provocando, com sua conduta, o resultado lesivo (morte), previsto (culpa consciente) ou previsível (culpa
inconsciente), porém jamais aceito ou querido.
A culpa “é o elemento normativo da conduta. A culpa é assim chamada porque sua verificação necessita de um prévio
juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela está ou não presente” (CAPEZ, 2003, v. 1, p. 191).
Importante observar que quando o indivíduo incorre em uma conduta culposa ele não almeja com sua conduta um
objetivo ilícito, mas age com imprudência, negligência ou imperícia, vindo a ferir um bem juridicamente protegido.
Note-se que existem alguns elementos exigíveis para configuração do delito culposo, quais sejam (GRECO, 2007, v.I, p.
197):
a) conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva;

b) inobservância de um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia);

c) o resultado lesivo não querido, tampouco assumido, pelo agente;


d) nexo de causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever de cuidado e o resultado lesivo
dela advindo;
e) previsibilidade;
f) tipicidade.

Quando se fala em delito culposo deve-se ter em mira, primordialmente, o disposto no art. 18 do CP:
Art. 18. Diz-se o crime:
(...)
Crime culposo
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.
Os contornos delineados no CP, conforme se viu, impõem que o crime somente será punido em sua forma culposa se
houver previsão legal nesse sentido (no caso do crime de homicídio já se observou que há – art. 121, §3º). E somente existirá conduta
proscrita se o agente tiver incorrido em imprudência, negligência ou imperícia.

Imprudência: corresponde a uma conduta positiva, onde o sujeito age sem a cautela necessária, vindo a provocar um
resultado lesivo;
Negligência: corresponde a um deixar de fazer, ou seja, o sujeito se abstém de fazer aquilo que a diligência normal
impõe;
Imperícia: corresponde a uma inaptidão, momentânea ou não, de um profissional para a atividade ou ofício que deveria
dominar.
Apesar da sintética delimitação supra, cabe alertar que a diferenciação entre imprudência, negligência e imperícia, em
muitos casos é de extrema dificuldade, considerando os pontos comuns existentes entre tais institutos[27].
O preceito incriminador do crime culposo configura-se um tipo penal aberto[28], considerando que não descreve com
exatidão a conduta proscrita, ao contrário do que ocorre com o tipo doloso (tipo fechado). Daí Capez afirmar (2006, v.2, p. 66) que: “A
culpa não está descrita nem especificada, mas apenas prevista genericamente no tipo, isso porque é impossível prever todos os modos
em que a culpa pode apresentar-se na produção do resultado morte”.
Traçados os parâmetros, em grande parte gerais, sobre o homicídio culposo, cabe ainda assentar os seguintes pontos:
a) não há a compensação de culpa do sujeito passivo com a culpa do sujeito ativo para fins de isenção de pena. Havendo culpa
recíproca, contudo, a culpa da vítima poderá ser utilizada positivamente na valoração das circunstâncias judiciais (art. 59 do CP) no

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momento da fixação da pena do autor do crime;
b) “com o advento da Lei 9.503/97, o homicídio culposo decorrente da direção de veículo automotor passou a subsumir-se ao
disposto no art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro (princípio da especialidade), punido com detenção de 2 a 4 anos, e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir” (CUNHA, 2008, v.3, p. 24).
2.13.1. Causas especiais de aumento de pena do homicídio culposo
Estabelece o art. 121, §4º - primeira parte, do CP:
§4º. No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge
para evitar prisão em flagrante. (...)
Observa-se, portanto, que a legislação impõe um aumento fixo na quantidade da pena (de um terço - a ser aplicado na
terceira fase da dosimetria) àquele que cometeu homicídio culposo nas circunstâncias especificadas:
a) se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: é pressuposto dessa causa de
aumento, segundo orientação predominante, que o agente seja um profissional tecnicamente capacitado para o exercício da profissão,
arte ou ofício no desempenho da qual veio a provocar o dano que lhe é imputado a título de culpa. Cabe destacar, seguindo os passos
de Andreucci (2008, p. 166) que:“A inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício não se confunde com a imperícia. Na
inobservância da regra técnica, o agente conhece a regra técnica que não observou. Já na imperícia, existe a inabilidade ou
insuficiência profissional. Exemplo de inobservância da regra técnica seria o médico não providenciar a esterilização dos instrumentos
que vai utilizar na cirurgia”. Essa distinção encontra ressonância na maioria da doutrina, com espelho nas lições de Nélson Hungria.
Nucci (2006, pp.538-539), contudo, afirma (com toda razão) que tal causa de aumento acaba caindo na inaplicabilidade, considerando
que na maioria das situações em que poderia ser aplicada, na realidade ela já seria uma circunstância caracterizadora da culpa, não
podendo ser utilizada, portanto, novamente como circunstância majorante, sob pena de se incorrer em bis in idem;
b) se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima: nessa hipótese há uma espécie de omissão de socorro por
parte do agente responsável pelo crime culposo, que podia ajudar a vítima sem risco pessoal no intuito de tentar evitar o resultado
morte[29]. Nesse caso, ele não responderá pelo crime autônomo de omissão de socorro (art. 135 do CP), mas sim terá a pena do
homicídio culposo agravada. “Se a vítima é socorrida imediatamente por terceiros, não incide o aumento, bem como no caso de morte
instantânea[30], circunstâncias estas que tornam inviável a assistência” (CUNHA, 2008, v.3, p. 25). Igualmente não incide a majorante
se o agente também se machuca, e se retira do local dos fatos visando buscar socorro para si próprio. Por fim, repise-se que o Código
Penal não regula homicídio culposo quando este decorre de acidente de trânsito, e nessa linha, também não se aplica a majorante em
questão (prevista no CP) em tal caso, pois o CTB, em regulação específica, prevê expressamente a seguinte causa de aumento: “Art.
302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na
direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente: I – não possuir Permissão para Dirigir ou
Carteira de Habilitação; II – praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; III – deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo
sem risco pessoal, à vítima do acidente; IV – no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de
passageiros; V – estiver sob a influência de álcool ou substância tóxica ou entorpecente de efeitos análogos”[31];
c) se o agente não procura diminuir as conseqüências do seu ato: esta hipótese já é englobada pela anterior; sendo,
portanto, redundante, segundo a maioria da doutrina (CAPEZ, 2006, v.2, p. 74). Há autores, contudo, que vislumbram exemplos em que
a ocorrência em deslinde não se encaixa nos termos da omissão de socorro. Nesse passo Greco (2007, v.II, p. 182) exemplifica: “a
exemplo daquele que, sabendo que a vítima não possui condições financeiras para arcar com o custo do tratamento e medicamentos,
não a auxilia materialmente nesse sentido, deixando-a à própria sorte, ou também naquele caso em que o agente, ameaçado de ser
linchado pela população revoltada com o seu comportamento, não busca socorro nas autoridades”;
d) se o agente foge para evitar sua prisão em flagrante: a doutrina contemporânea questiona a constitucionalidade
dessa majorante[32], considerando que a mesma pressupõe a obrigação do indivíduo se entregar à polícia, em contraponto ao
reconhecimento por nossa ordem jurídica que nenhum indivíduo tem a obrigação de se autoincriminar. Apesar disso, ainda se admite a
sua aplicação, estando em vias de consolidação apenas os seguintes entendimentos[33]: i) em caso de linchamento iminente não se
exige que o indivíduo aguarde a polícia para lhe prender, sendo admissível sua fuga; ii) se o indivíduo prestou socorro à vítima, torna-se
incabível a prisão em flagrante do infrator, segundo aplicação analógica do art. 301 do CTB.
2.13.2. Perdão judicial no homicídio culposo
Conceitua Rogério Sanches Cunha (2008, v.3, p. 26): “Perdão judicial é o instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática
de um fato típico e antijurídico por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar, nas hipóteses taxativamente previstas em
lei, o preceito sancionador cabível, levando em consideração determinadas circunstâncias que concorrem para o evento. Em casos tais,
o Estado perde o interesse de punir”.
Nesse andar, prevê o artigo 121, §5º, do CP:
§5º. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio
agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Relembre-se que o perdão judicial acarreta a extinção da punibilidade do agente (art. 107, IX, do CP). A sentença que o
reconhece é meramente declaratória de extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório (Súmula 18 do STJ). O
crime objeto do perdão, portanto, não deve ser considerado para efeitos de reincidência do autor (art.120 do CP).
O instituto em desate somente é admissível nos casos previstos em lei.
É isto que ocorre com o art. 121, §5º, conforme se vê ao norte (permite expressamente o perdão judicial). Assim, mesmo
diante da existência do crime e identificação de sua autoria, o juiz se vê conduzido a extinguir a punibilidade do agente se reconhecer a
presença dos fatores condicionantes legislados.
O texto do dispositivo em exame (§5º) diz que o juiz poderá conceder o perdão (ou seja, deixa de aplicar a pena). Nesse
ponto discute a doutrina se esse “poderá” é ou não uma faculdade do magistrado; sendo posição dominante que há, na realidade, um

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direito público subjetivo do réu de não lhe ser aplicada a sanção, se presentes no seu caso concreto as condicionantes abstratamente
posicionadas no dispositivo permissivo. Quer dizer: se houverem provas que, no caso do homicídio culposo, as conseqüências do crime
atingiram o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se tornou desnecessária, o juiz deverá, obrigatoriamente, conceder o
perdão judicial[34].
As conseqüências que podem ensejar a concessão do perdão judicial, como se viu, devem atingir o agente de forma
extremamente grave. Daí Capez (2006, v.2, pp. 76-77) ensinar que:

As conseqüências a que se refere o §5º podem ser: a) físicas – o agente também acaba sendo lesionado de forma grave (p.ex., teve as
suas pernas amputadas, ficou tetraplégico, cego, teve o seu rosto desfigurado); b) morais – dizem respeito à morte ou lesão de
familiares do agente (p.ex., o pai, a mãe, os filhos, a esposa, o irmão), incluindo-se aqui a morte ou lesão da concubina do agente, ou
então as pessoas de qualquer forma ligadas ao agente por afinidade (p.ex., noiva do agente, amigos íntimos). Observe-se que cada
caso exige uma análise concreta, não havendo presunção de que as conseqüências da infração atingiram o agente de forma grave ante
a tão-só constatação da relação de parentesco ou afinidade entre ele e a vítima.

2.14. Ação penal - A ação penal pertinente ao crime de homicídio (seja ele doloso ou culposo) é pública incondicionada.
Em se tratando de homicídio doloso, é competente o tribunal do júri para apreciar e julgar o caso (art. 5º, XXXVIII).

3. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO

Está previsto no art. 122 do CP, conforme segue:

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio


Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio
resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único. A pena é duplicada:
Aumento de pena
I – se o crime é praticado por motivo egoístico;
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Note-se que o legislador, com o tipo em deslinde, resolveu repelir a conduta daquele que se conduz no sentido de
contribuir (moral ou fisicamente) para que outrem se suicide.
Racionalmente analisando, sabe-se que não há como punir o suicida, considerando que o mesmo já tirou sua própria
vida. Aliás, mesmo que apenas tente o suicídio, não há lesividade que justifique a punição do agente, considerando que em tais
condições direciona sua conduta contra sua própria vida. Diferente é o caso daquele que contribui para o suicídio, seja por instigar,
induzir ou auxiliar o suicida, o qual na maioria das vezes está abalado psicologicamente. Contra este emerge como legítima a repressão
estatal. É nisso que se pauta o art. 122 do CP.
Não se pode dizer, entretanto, que o suicida tem o direito de eliminar sua própria vida, considerando ser esta um bem
indisponível. Disso resulta que quem atenta contra sua existência pratica um ato antijurídico, podendo ser compelido a cessar a auto-
agressão. Tanto isso é verdade que o art. 146, §3º, II, do CP, legitima a coação, quando esta se dá visando evitar que uma pessoa se
suicide.

3.1. Objeto jurídico - Protege-se com o tipo em estudo a vida humana.

3.2. Objeto material - É a pessoa que se suicida ou tenta suicidar-se.

3.3. Sujeito ativo - Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.

3.4. Sujeito passivo

Qualquer pessoa com capacidade de resistência e discernimento. Isto por que: “Quando o suicida é inimputável ou
menor sem compreensão, não ocorrerá o delito em estudo, diante da capacidade de resistência nula da vítima, mas um homicídio
típico. Aquele que convence uma criança de três anos ou um doente mental a matar-se pratica o crime mais grave porque a vítima, no
caso, é mero instrumento do agente” (MIRABETE, 2008, v.II, p. 51).
A capacidade que nos referimos não diz respeito, exatamente, à noção de capacidade civil. Isto porque, mesmo o menor
de dezoito anos pode ser considerado como sujeito passivo do crime insculpido no art. 122 do CP, se já tiver discernimento suficiente.

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Nesse andar Greco (2007, v.II, p. 202) assevera com precisão:
Tem-se discutido a respeito dessa capacidade de discernimento. Os inimputáveis por doença mental, de forma geral, não a possuem.
(...) No que diz respeito aos menores, tem-se raciocinado com o limite de 14 anos, fazendo-se um paralelo com a presunção de
violência prevista pela alínea a do art. 224 do Código Penal. Merece ser frisado, contudo, que tal presunção é de natureza relativa,
cedendo diante de caso concreto, pois pode acontecer a hipótese de que o agente induza um menor de 13 anos de idade a se matar,
tendo este último pleno conhecimento da gravidade do ato que estava por praticar.
Pode ocorrer, ainda, que a vítima se encontre numa situação em virtude da qual não tenha condições de resistir ao comportamento
praticado pelo agente, como acontece nas hipóteses de hipnose. A vítima hipnotizada não possui controle sobre seus atos, não tendo,
portanto, capacidade de autodeterminação, razão pela qual se induzida a atirar, por exemplo, contra a própria cabeça, o agente deverá
responder pelo delito de homicídio.

A vítima tem que ser determinada (uma ou mais pessoas); de modo que, o crime em epígrafe não se aperfeiçoa se o
sujeito ativo age em desfavor de pessoas indeterminadas. Isto pode se dar, p. ex., através de obras literárias que incentivem o suicídio.

3.5. Tipo objetivo

O tipo em evidência criminaliza as seguintes condutas:

a) induzir alguém a suicidar-se: induzir implica no fato do agente fazer nascer na mente da vítima a idéia de suicidar-
se. Ex: alguém amargurado, mas sem a determinação de suicidar-se, procura um amigo para aconselhá-lo, e este, ao invés de consolá-
lo, lhe aconselha eficazmente a tirar sua própria vida;

b) instigar alguém a suicidar-se: “instigar é fomentar uma idéia já existente. Trata-se, pois, do agente que estimula a
idéia suicida que alguém anda manifestando” (NUCCI, 2006, p. 545). Ex: alguém, já com vontade de suicidar-se, encontra-se com outra
pessoa que lhe incentiva a agir nesse sentido.

c) prestar auxílio para alguém suicidar-se: quando o agente não se limita em agir dentro do aspecto moral (através do
induzimento e instigação), mas sim dá apoio material ao suicida. Ex: sujeito que, conscientemente, fornece uma corda para o suicida
enfocar-se. Esse auxílio pode ser antes ou durante a prática do suicídio, porém deve se limitar a um aspecto secundário; ou seja, não
pode o agente participar diretamente do suicídio, como, por exemplo, empurrando o suicida, a seu pedido, de um penhasco. Em casos
desse gênero, responderá por homicídio. Em regra, o auxílio implica em uma conduta comissiva, havendo, contudo, penalistas que
defendem ser ele também possível através da omissão. Nesse sentido: “Entendemos, como a maior parte da doutrina, ser admissível a
prestação de auxílio por omissão, desde que o agente se encontre na posição de garante, quando, no caso concreto, devia e podia agir
para evitar o resultado, razão pela qual poderá responder, de acordo com a norma de extensão prevista no §2º do art. 13 do Código
Penal, pelo delito tipificado no art. 122 do mencionado diploma repressivo, se com a sua omissão dolosa contribuiu para a ocorrência do
resultado morte da vítima” (CAPEZ, 2006, v.2, p. 89)[35].

Alerta Mirabete (2008, v.II, p. 54) que: “Necessária é a prova de que realmente houve uma relação de causalidade
entre a conduta do agente e o suicídio, o que não ocorre, por exemplo, quando a instigação em nada acresceu da vontade do suicida,
ou quando alguém, por exemplo, fornece um revólver e a vítima se elimina por enforcamento”.

3.6. Tipo subjetivo


Resume-se ao dolo (direto ou eventual), não havendo elemento subjetivo do tipo específico exigível para consumação do
delito. Não há punição para a modalidade culposa.

3.7. Consumação e tentativa

O crime em apreciação somente se consuma com a morte da vítima ou quando esta sofre, em decorrência do fato, lesão
corporal de natureza grave[36]. É, portanto, um crime material. As penas são diferentes, conforme ocorra um ou outro resultado,
segundo apregoa o preceito secundário do art. 122: “(...) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou
reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave”. Quanto a este texto, esclarece
Greco (2007, v.II, p. 209): “Quando a lei penal fala em tentativa de suicídio, obviamente, pela ilação que se faz do artigo, está se
referindo à vítima que tentou contra a própria vida e sobreviveu, e não o comportamento praticado pelo agente”. Disso resulta que o
legislador, quando fala em tentativa, não está se referindo à tentativa do cometimento do crime previsto no artigo em evidência, mas sim
dizendo que se o suicida não consegue concluir seu intento, mas provoca em si lesão corporal grave, a pena (aplicável a quem induziu,
instigou ou auxiliou) é aquela que especifica. Não havendo, pelo menos, lesão corporal grave, o fato é atípico, sendo inadmissível a
punição da tentativa (CAPEZ, 2006, v.2, pp. 92-93).

3.8. Forma majorada - O art. 122, parágrafo único, assim disciplina:

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Parágrafo único. A pena é duplicada:
Aumento de pena
I – se o crime é praticado por motivo egoístico;
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Estamos diante de causas especiais de aumento de pena (majorantes especiais), tecnicamente falando. Devem,
portanto, ser consideradas somente na terceira fase da dosimetria da pena.

Segundo se depreende da leitura do dispositivo supra transcrito, o aumento deve ser de 100% (cento por cento), ou seja,
a pena encontrada na segunda fase da dosimetria deve ser dobrada, se presente alguma das majorantes previstas, as quais
detalhamos a seguir:

a) crime praticado por motivo egoístico – nesse caso o agente busca satisfazer interesse pessoal (material ou
moral)[37] com o delito, ou simplesmente almeja vantagem com o mesmo. Exs.: indivíduo que instiga pessoa a se matar visando
receber herança; pessoa que auxilia outra a se suicidar porque tem inveja dela;

b) crime praticado contra vítima menor – quanto a esta majorante, explica Greco (2007, v.II, p. 210): “Quando a lei
penal fala em vítima menor, está se referindo, portanto, àquela menor de 18 anos, data em que se inicia a maturidade penal, e maior de
14 (quatorze) anos. Caso a vítima não tenha, ainda, completado 14 (quatorze) anos, haverá uma presunção no sentido da sua
incapacidade de discernimento, o que conduzirá ao reconhecimento do homicídio, afastando-se, portanto, o delito do art. 122 do Código
Penal”. A presunção, segundo alerta o próprio autor citado, no tocante à vítima menor de 14 anos, é relativa, visto que no caso concreto
poder-se-á identificar capacidade de discernimento suficiente que afastará a incidência do homicídio e atrairá a forma majorada do art.
122. De outro modo, em sendo a vítima maior de 14 e menor de 18 anos, também, segundo parte da doutrina (que entendemos
equivocada[38]) não se pode dizer que nessas circunstâncias sempre será aplicável o aumento de pena, pois se a mesma for dotada de
maturidade suficiente isto acarretará o não reconhecimento da majorante[39], mais uma vez revelando-se a presunção como relativa,
ficando na dependência do caso concreto;

c) crime praticado contra vítima com capacidade de resistência diminuída por qualquer causa – aqui se tem casos
de vítima maior de idade que, por outras razões, tem sua capacidade de resistência mental reduzida por qualquer causa. Ex: vítima
embriagada, demente, angustiada etc.

3.9. Classificação doutrinária

O art. 122 do CP tipifica um crime: comum (pode ser cometido por qualquer pessoa), simples(não resulta da fusão de
dois ou mais tipos penais, mas sim apresenta tipo penal único), material (exige resultado naturalístico para consumação), doloso (não
existe a forma culposa), instantâneo (a consumação não se protrai no tempo), comissivo (praticado, em regra, via ação, mas admite
como exceção a forma omissiva no seu aspecto impróprio), de dano (pressupõe efetiva lesão ao bem jurídico
protegido), unissubjetivo (é possível que apenas uma pessoa seja seu sujeito ativo), de forma livre (pode ser cometido por qualquer
meio que atinja o resultado) e plurissubsistente (normalmente praticado através de mais de um ato).

3.10. Outras peculiaridades


Quanto ao crime em desate, resta-nos ainda registrar alguns aspectos peculiares.
Nesse intento, ressalte-se a interessante hipótese do suicídio conjunto (“pacto de morte”), seguindo as lições de Luis
Regis Prado (2008, v.2, p. 86):
Importa, nesse passo, fazer alusão ao suicídio conjunto. Noutro dizer, à particular situação na qual duas pessoas combinam se matar
(suicídio a dois ou pacto de morte). Caso ambas colaborem para o evento morte (v.g., abrindo a torneira de gás, vedando as aberturas
de portas e janelas) e sobrevivam, caracterizado estará o homicídio tentado; se apenas uma delas sobrevive, responderá por homicídio
consumado. Se avençam, por exemplo, um deles atirar no outro e, em seguida, matar-se, e assim o fazem, se sobrevive aquele que
atirou, responderá pelo delito de homicídio consumado; todavia, se sobrevive o outro, incorre nas penas do delito de instigação ao
suicídio.
Em outro vértice, mas igualmente preciosas, são as lições de Rogério Greco (2007, v.II, pp. 214-215), sobre a situação
dos membros da seita denominada “Testemunhas de Jeová”, na ocasião em que se recusam a receber transfusão de sangue, a
pretexto de que isto viola as leis de Deus, o que poderá implicar, em algumas circunstâncias, numa espécie de tentativa de suicídio.
Referido autor defende a posição, que consideramos corretíssima, de que, assim ocorrendo, e diante de uma necessidade premente
deve o médico agir, amparado pelo art. 146, parágrafo 3º, inciso I, do CP, no sentido de fazer a transfusão necessária para restabelecer
a saúde do paciente. Podendo, se não o fizer, responder penalmente (crime omissivo impróprio) pelo resultado danoso que advier à
pessoa que está sob seus cuidados profissionais. Caso o paciente seja incapaz, e os responsáveis, a despeito da determinação
médica, resolvam, por exemplo, retirá-lo do hospital, vindo ele a falecer por falta da necessária transfusão de sangue, devem os
agentes responder por homicídio, considerando a posição de garantes. Tal entendimento não implica em desrespeito à liberdade de
crença religiosa amparada pela Carta Magna (art. 5º, VI), visto que ninguém tem o direito de se matar ou mesmo de permitir, com sua
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omissão diante de uma possível e exigível ação para impedir o resultado, que outra pessoa morra, segundo apregoa de forma
insofismável a lei penal e a própria CF quando garante o direito à vida (art. 5º, caput).

3.11. Ação penal

No crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio a ação penal é pública incondicionada. O Tribunal do Júri é
competente para o processamento e julgamento da ação, considerando tratar-se de crime doloso contra a vida.

4. INFANTICÍDIO

Está assim previsto no CP: “Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo
após: Pena – detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos”.
Explica Nucci (2006, p. 547) que o infanticídio “(...) trata-se do homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou
recém-nascido, sob a influência do estado puerperal. É uma hipótese de homicídio privilegiado em que, por circunstâncias particulares e
especiais, houve por bem o legislador conferir tratamento mais brando à autora do delito, diminuindo a faixa de fixação da pena (mínimo
e máximo)”.
Conforme se vê, o infanticídio nada mais é do que um homicídio que, dadas circunstâncias especializantes, o legislador
resolveu tipificar e apenar de forma diferenciada. É a hipótese de um concurso aparente de normas penais (art. 121 em confronto com o
art. 123 do CP), que se resolve pelo critério da especialidade, levando à aplicação do art. 123.

4.1. Objeto jurídico- É a vida humana; mais especificamente a vida do nascente (que está nascendo) ou do neonato (recém-nascido).

4.2. Objeto material - É a criança que sofre a agressão[40].

4.3. Sujeito ativo

Somente a mãe sob a influência de estado puerperal é que pode ser sujeito ativo. Trata-se de crime próprio. Há, todavia,
a possibilidade de terceiro, que aja em concurso com a mãe, responder pelo delito em tela.

No tocante ao concurso de pessoas no crime de infanticídio, Capez (2006, v.2, pp. 106-108) antevê as seguintes
possibilidades: 1ª) mãe que mata o próprio filho, contando com a participação de terceiro; 2ª) terceiro que mata o recém-nascido,
contando com a participação da mãe; 3ª) mãe e terceiro que atuam em co-autoria matando a vítima; concluindo que em ambos os
casos, tanto a mãe quanto o terceiro concorrente devem responder pelo crime em deslinde. Tal solução jurídica decorre do fato de que,
segundo a teoria monista ou unitária, adotada como regra pelo CP, no concurso de pessoas os agentes devem responder pelo mesmo
crime. Não é possível, pois, se afirmar que o terceiro deve responder por homicídio e a mãe por infanticídio em qualquer das hipóteses
citadas.

Importante ressalvar, porém, que para haver comunicabilidade das circunstâncias elementares do art. 123 (fato este que
leva à imputação única aos concorrentes – conforme art. 30 do CP[41]) é imprescindível que o terceiro aja tendo conhecimento das
mesmas[42]; ou seja, tem que saber que está concorrendo com uma mãe que, sob a influência de estado puerperal, concorre para tirar
a vida de seu próprio filho, durante ou logo após o parto. Se não tiver consciência dessas variáveis, deve responder por homicídio. Seria
o exemplo do terceiro que ajuda uma mulher a matar uma criança sem saber que a vítima é filho dela. Nesse caso, as elementares do
art. 123 não se comunicarão, vindo o terceiro a responder por homicídio, enquanto que a parturiente responderá pelo crime de
infanticídio.

4.4. Sujeito passivo - É o ser humano que está nascendo ou que acabou de nascer, segundo dicção do próprio art. 123.

4.5. Tipo objetivo


Consoante já explicitado; ocorre o crime de infanticídio quando, durante o parto ou logo após, a parturiente (mãe) mata,
sob influência do estado puerperal, o próprio filho.
A tipificação traz algumas elementares que podem gerar dificuldades de interpretação, conforme se destaca a seguir:

Durante o parto ou logo após

O marco temporal inicial para cometimento do crime de infanticídio se identifica com o início do parto. Não há, contudo,
concordância da doutrina no tocante ao momento exato em que se inicia o parto. Greco (2007, v. II, p. 222), após fundamentar sua
posição, conclui que este momento é marcado pela dilatação do colo do útero[43], em se tratando de parto natural; ou com as incisões
na camada abdominal, no caso de parto através de cirurgia cesariana. Há, contudo, autores que defendem que o início do parto se dá
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apenas com o rompimento da membrana amniótica[44]. A diferença em questão é relevante, pois antes do “início do parto” o crime
cometido contra a criança ainda no ventre da mãe é tido como de aborto, enquanto que depois o crime passa a ser de homicídio ou de
infanticídio, dependendo do caso concreto.
Em seguimento, necessário definir o que o art. 123 em análise quer dizer com “logo após” o parto, pois tal expressão
delimita o termo final em que poderá ser cometido o infanticídio. Não há, também, concordância na doutrina quanto ao exato momento
em que se implementa este termo. Para Capez (2006, v. 2, pp. 102-102), a expressão logo após o parto deve alcançar o mesmo
período que durar o estado puerperal exigível como elementar do crime de infanticídio. Greco (2007, v.II, pp. 222-223) não aceita
posição nesse sentido, afirmando que nos casos em que o puerpério dure longo período, não é razoável entender que a mãe que tira a
vida do seu filho muito depois do parto seja beneficiada com a incidência do tipo de infanticídio, que afasta a imputação do homicídio
(crime mais grave). Referido autor prefere defender que em casos do gênero deverá ser utilizado o princípio da razoabilidade,
procurando evitar lapso temporal muito grande entre o parto e o crime, considerando que o legislador utilizou no tipo a expressão “logo
após” o parto e não apenas “após o parto”. Quanto ao ponto abordado, Mirabete (2008, v.II, pp. 60-61) leciona que:

Não fixa a lei o limite de prazo após o parto em que ocorre o infanticídio e não homicídio. Almeida Jr., que se referia a um prazo preciso,
de até sete dias, passou a admitir que se deve deixar a interpretação ao julgador. Bento de Faria refere-se ao prazo de oito dias, em
que ocorre a queda do cordão umbilical. Flamínio Fávero também se inclina para a orientação de deixar ao julgador a apreciação. Costa
e Silva afirma que „logo após‟ que dizer „enquanto perdura o estado emocional‟. Damásio estende o prazo até enquanto perdurar a
influência do estado puerperal. Na jurisprudência, tem-se entendido que, se apresentando de relativo valor probante a conclusão para a
verificação do estado puerperal e assumindo relevo as demais circunstâncias que fazem gerar a forte presunção do delictum
exceptum (RT 506/362, RJTJESP 14/391), o prazo se estende durante o estado transitório de desnormalização psíquica (RT 442/409).

Influência do estado puerperal

Indispensável, no infanticídio, que a conduta da mãe seja influenciada por transtornos típicos do estado puerperal. De
início, deve-se entender no que consiste o estado em questão. Nesse particular, Nucci (2006, p. 548) leciona que: “Estado puerperal: é
o estado que envolve a parturiente durante a expulsão da criança do ventre materno. Há profundas alterações psíquicas e físicas, que
chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que está fazendo. É uma hipótese de semi-
imputabilidade que foi tratada pelo legislador com a criação de um tipo especial. O puerpério é o período que se estende do início do
parto até a volta da mulher às condições pré-gravidez. Como toda mãe passa pelo estado puerperal – algumas com graves
perturbações e outras com menos -, é desnecessária a perícia”. Note-se que o simples fato da mãe está em estado puerperal não é
suficiente para caracterizar o infanticídio, devendo (além de atender às outras elementares, por óbvio) agir sob influência do mesmo
quando se conduz no sentido de tirar a vida do seu filho. Por essa razão que Greco (2007, v.II, pp. 219-220) faz a seguinte
diferenciação:

Podemos, a título de ilustração, identificar três níveis de estado puerperal, a saber: mínimo, médio, máximo.
Se a parturiente, embora em estado puerperal, considerado de grau mínimo, não atua, por essa razão, influenciada por ele, e vem a
causar a morte de seu filho, durante ou logo após o parto, deverá responder pelo delito de homicídio.
Em sentido diametralmente oposto, se a parturiente, completamente perturbada psicologicamente, dada a intensidade do seu estado
puerperal, considerado aqui como de nível máximo, provocar a morte de seu filho durante o parto ou logo após, deverá ser tratada
como inimputável, afastando-se, outrossim, a sua culpabilidade e, consequentemente, a própria infração penal.
(...)
Numa situação intermediária encontra-se a gestante que atua influenciada pelo estado puerperal e, assim, vem a dar causa à morte de
seu filho durante o parto ou logo após, sendo o seu estado puerperal considerado de grau médio. Este, para nós, é o que fora adotado
pelo Código Penal e que caracteriza, efetivamente, o delito de infanticídio.
Nota-se pelas lições transcritas supra, que a interferência em grau máximo das manifestações inerentes ao estado
puerperal, sempre consideradas sob o aspecto biopsíquico, podem levar à inimputabilidade da parturiente, conduzindo à exclusão da
culpabilidade (ex vi art. 26 do CP); afastando, portanto, qualquer imputação penal.
Tal orientação também encontra ressonância nas lições de Luiz Regis Prado (2008, v. 2, p. 98), que, adicionalmente,
antevê a possibilidade do reconhecimento de semi-imputabilidade da parturiente quando a manifestação do estado puerperal espelhar
as circunstâncias previstas no art. 26, parágrafo único, do CP. Eis as palavras do insigne autor:
Questão importante consiste em saber se o estado puerperal, enquanto elemento indispensável à caracterização do infanticídio, se
harmoniza com o disposto no artigo 26 do Código Penal. Apesar de algumas opiniões dissonantes, é bem possível o reconhecimento da
influência do estado puerperal e também da inimputabilidade (art. 26, caput, CP) ou da semi-imputabilidade da parturiente (art. 26,
parágrafo único, CP), conforme o caso.

4.6. Tipo subjetivo

O infanticídio demanda conduta dolosa, não havendo previsão da forma culposa para a espécie. O dolo pode ser
direto ou eventual.
Acaso a mãe provoque, por culpa, a morte do filho nascente ou neonato, deve responder por homicídio culposo,
mesmo que se encontre sob a influência do estado puerperal; que não provoca, como se viu, necessariamente, a inimputabilidade da
parturiente[45].

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4.7. Consumação e tentativa
O delito em deslinde é um crime material, ou seja, exige resultado naturalístico para sua consumação (no caso: a
morte do nascente ou neonato). Para tanto, é imprescindível a prova de que a vítima estava viva antes da ação da mãe. É
perfeitamente possível a tentativa de infanticídio quando a parturiente, por razões alheias à sua vontade, mesmo após realizar atos
executórios, não consegue consumar o delito.

4.8. Classificação doutrinária


É um crime próprio (somente pode ser praticado pela própria mãe da vítima, sob a influência do estado puerperal;
sendo, contudo, segundo já se demonstrou, admissível o concurso de outras pessoas); doloso; comissivo (admitindo, contudo, a
forma omissiva imprópria dada a condição de garante da mãe – art. 13, parágrafo 2º, do CP); de dano (exige lesão ao bem jurídico
protegido para sua consumação);instantâneo (sua consumação não se protrai no tempo); material (exige resultado naturalístico para
sua consumação); unissubjetivo (pode ser cometido por uma só pessoa); plurissubsistente (vários atos integram a conduta);
de forma livre (pode ser cometido de qualquer forma idônea a produzir o resultado); e não transeunte (deixa vestígios).

4.9. Ação penal

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. Trata-se de crime sujeito à competência do Tribunal do Júri, visto
que doloso contra a vida.

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