PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GERONTOLOGIA Profª Drª Cristina Maria de Souza Brito Dias
TEORIAS PSICOLÓGICAS E SOCIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO
Paradigma: significa modelo, padrão. Os paradigmas moldam os diversos
aspectos da nossa vida e nos isolam dos dados que o contrariam. Quando o indivíduo se aferra ao paradigma de uma forma que não o contesta instala-se “a paralisia do paradigma”.
Teoria: é um conjunto de definições, leis e princípios gerais sobre determinado
objeto. O objetivo da teoria é a construção do conhecimento científico de forma sistemática, crítica, reflexiva, coletiva e acumulativa, visando a solução de problemas humanos.
1) Paradigma Mecanicista: sua ideia central é a de um ser humano como
máquina que reage a forças externas. De acordo com esse paradigma, o desenvolvimento seria produto de uma história de relações ou de funções estímulo-resposta, sem a intervenção de uma mente interpretativa. Ele teve papel fundamental no despertar da experimentação na Psicologia, mas, por outro lado, ajudou a difundir a ideia de que o desenvolvimento cessa após adolescência. 2) Paradigma Organicista: as noções centrais desse paradigma são de que o desenvolvimento é um processo ativo de mudança ordenada, havendo uma sequência de estágios regulados por princípios, levando em conta determinantes históricos, sociais e culturais. Exs: teoria evolucionista de Darwin e a teoria de Erik Erickson.
3) Paradigma Dialético: considera o desenvolvimento como processo
permanente de conciliação entre determinantes inatos-biológicos, individuais-psicológicos, culturais-psicológicos e naturais-ecológicos. Abandona a perspectiva organicista e adota a de um processo que dura toda a vida, presidido por diversas influências. Esse processo pode ser interrompido ou obstaculado por pontos de transição de natureza biológica (climatério); psicossocial (aposentadoria, migração) ou ambiental (enchente, terremoto). Não ocorre de forma linear, havendo uma constante tensão. 4) Paradigma do curso de vida: seus conceitos básicos são a interação social e a socialização. Ele também é sociológico. O indivíduo e o ambiente são vistos como mutuamente influentes e coparticipantes no processo de construção da trajetória individual. Dele fazem parte duas teorias: a) Teoria da Atividade (HAVIGHURST; ALBRECHT, 1953), que propõe a atividade como forma de preservação de uma boa velhice; b) Teoria do Afastamento ou Desengajamento (CUMMINGS; HENRY, 1961), que propõe que o idoso se afasta socialmente e se torna mais introspectivo como forma de se preparar para a morte. 5) Paradigma do desenvolvimento ao longo de toda a vida (Life span): ele integra os anteriores e considera múltiplos níveis e dimensões do desenvolvimento que é visto como um processo interacional, dinâmico e contextualizado. Tem como precursor Paul Baltes. Ele integra cinco teorias: a) Influências normativas graduadas por idade: em cada época e sociedade estabelecem-se normas de comportamento associadas à idade e ao gênero. Hoje os padrões esperados quanto aos eventos de vida como casamento, procriação, carreira mudaram muito em relação a décadas passadas. Ou seja, os limites da plasticidade individual dependem das condições histórico-culturais que se refletem na organização do curso de vida. b) Influências normativas graduadas por história: as influências graduadas por fatos históricos (guerras, epidemias, terrorismo, crises econômicas, novas tecnologias, movimentos artísticos e educacionais) variam em função da classe social, gênero e etnia. c) Influências não normativas ou idiossincráticas: não estão ligadas a todas as pessoas nem ocorrem ao mesmo tempo, tais como: adoecer gravemente, divorciar-se, perder emprego, ganhar na loteria. Tais eventos interrompem a sequência e o ritmo do curso de vida esperado gerando desafios e incertezas. Quanto maior for o senso de controle, menor a chance de depressão, isolamento, doenças somáticas. d) Dinâmica biologia-cultura e trajetórias de desenvolvimento ao longo da vida: Baltes propôs três princípios gerais: 1) a plasticidade biológica e a fidelidade genética declinam com a idade porque a natureza privilegia as fases pré-reprodutiva e reprodutiva, para a continuidade da espécie; 2) para que o desenvolvimento se estenda até idades avançadas são necessários avanços cada vez mais expressivos na evolução cultural e na disponibilidade de recursos; 3) há limites à eficácia da cultura e reabilitação das perdas associadas à velhice. e) Trajetórias de alocação de recursos: crescer envolve o alcance de níveis cada vez mais altos de funcionamento ou capacidade adaptativa. Na infância os recursos visam o crescimento; na vida adulta ao desafio da manutenção e na velhice, à regulação e manejo das perdas. f) Desenvolvimento e envelhecimento bem sucedidos diante das estratégias de seleção, otimização e compensação (SOC): esta teoria tem como objetivos descrever o desenvolvimento geral e estabelecer como os indivíduos podem manejar as mudanças nas condições biológicas, psicológicas e sociais. Interessa saber como os indivíduos alocam e realocam recursos internos e externos entre essas três funções e como maximizam os ganhos e minimizam as perdas. Na verdade elas são utilizadas nas diversas fases da vida.
Microteorias psicológicas sobre o envelhecimento:
1) Teoria da seletividade socioemocional: Laura Carstensen formulou essa teoria para explicar o declínio nas alterações sociais e as mudanças no comportamento emocional dos idosos. Ela acredita que as pessoas constroem seu mundo social e não são apenas reagentes a ele. Diante do pouco tempo que lhe resta, o indivíduo idoso seleciona metas, parceiros, e formas de interação, pois isso lhe permite otimizar os recursos de que dispõe. 2) Teoria da dependência aprendida: acredita-se que a dependência é uma condição obrigatória e unidimensional da velhice, mas isso não é verdade. Ela pode se dever a diversos fatores (pobreza, abandono, negligência, doenças, perdas de familiares, discriminação, medicamentos inadequados, falta de estímulo) e pode ocorrer em qualquer fase da vida. Nos microcontextos sociais ela é reforçada (asilos, hospitais) e se pune o comportamento independente.