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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Prática Civil f André Mota, Cristiano Sobral, Luciano


Figueiredo, Roberto Figueiredo, Sabrina Dourado. - 3a ed. rev.,
atual. e ampl. - Recife, PE: Armador, 2015.

976 p.; 16 x 23,5 em.

ISBN: 978-85-67674-98-8

1. Direito - Brasil. 2. Direito Civil. 3. Ordem dos Advogados


do Brasil - Exames. L Título.

CDU343.2

Índice para catálogo sistemático:


1. Direito Civil- Brasil. 343.2
PRÁTICA CIVIL

ANDRÉMOTA
CRISTIANO SOBRAL
LUCIANO FIGUEIREDO
ROBERTO FIGUEIREDO
SABRINA DOURADO

3• edição
revisada, atualizada e ampliada
Recife- PE

EDITORA
ARmADOR
2016
© Copyright 2016
Armador

Autores
André Mo ta
Cristiano Sobral
Luciano Figueiredo
Roberto Figueiredo
Sabrina Dourado

Capa
LyviaMelo

Projeto gráfico e diagramação


Richard Veiga

Revisão
Christiane Santos
Taciana Giaquinto

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma


ou me~o eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos

I
xerograficos, sem permissão expressa do editor (Lei n° 9.610/98).

Todos os direitos reservados à:


ARMADoR
Rua Pio !X, 301, Madalena
Recife-PE, CEP: 50.710-265
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ÍNDICE

CAPÍTULO I.
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
(LINDB), 29

1.1. Noções Introdução, 29


1.2. Vigência Normativa, 30
1.2.1. Modificação da Lei, 31
1.2.2. Princípio da Continuidade cu perman_ênda da norma, 32
1.2.3. Repristinação (§ 3" do artigo 2", LINDB), 33
1.3. Obrigatoriedade das Normas (art. 3• da LINDB), 34
1.4. Integração da Norma (artigo 4• da LINDBo), 34
1.4.1. Analogia, 35
1.4.2. Costumes, 36
1.4.3. Princípios gerais do direito, 37
1.5. Interpretação Normativa (art. 5• da LINDB), 37
1.6. Aplicação da lei no tempo ou Direito lntertemporal (artigo 6•,
LJNDB), 38
1.7. Eficácia da Lei uo Espaço (Direito Internacional Privado), 39

CAPÍTULO li.
PESSOA FísicA ou NATURAL ou DE EXISTÊNCIA VISÍVEL, 42

2.1. Personalidade Jurídica, 42


2.2. Pessoa Física: Conceito, 43
2.~.1. Aquisição da Personalidade Jurídica pela Pessoa Na~ural, 43
2.22. O Nascituro, 44
2.2.3. Capacidade, 45
2.2.4. Incapacidade, 48
2.2.5. Cessação da incapacidade, 51

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FlGlJEIREDO, ROilERTo"-FIGUE!REDO, SAilR!NA DoURADO 5


ÍNDICE

2.3. Emancipação, 51
2.3.1. Voluntária (artigo 5", parágrafo único, I, primeira parte, CC), 52
2.3.2. judicial (artigo 5", parágrafo único, I, segunda parte, CC), 52
2.3.3. Legal (artigo 5", parágrafo único, I! e ss. do CC), 53
2.4. Extinção da Pessoa Física ou Natural, 55
2.4.1. Morte real, 55
2.4.2. Morte presumida ou morte civil ou ficta mortis, 55
2.4.3. Comoriência, 59

CAPÍTULO !li.
PESSOA jURÍDICA, 60

3.1. Conceito, 60
3.2. Surgimento da Pessoa Jurídica, 61
3.2.1. Ato Constitutivo das Pessoas Jurídicas, 62
3.2.2. Princípio da Separação ou Independência ou Autonomia, 62
3.3. Desconsideração da Personalidade jurídica da Pessoa jurídica, 62
3.4. Sociedades Despersonificadas, 66
3.5. Representação da Pessoa jurídica, 67
3.6. Classificação das Pessoas Jurídicas, 67
3.6.1. QuantQ à nacionalidade: nacional ou estrangeira, 68
3.6.2. Quanto à atividade executada ou funções~ 68
3.6.3. Quanto à estrutura interna, 69
3.7. Empresas Individuais de Responsabilidade Ltda, 74
3.8. Extinção da Pessoa jurídica, 76

CAPÍTULO IV.
DIREITOS DA PERSONALIDADE, 78
4.1. Introdução e Conceito, 78
4.2. Características do Direito da Personalidade, 80
4.2.1. Indisponíveis, 81
4.2.2. Absolutos, 81
4.2.J. Extrapatrimoniais, 81
4.2.4. Inatos (jusnaturalistas), 82

Fn!T!lRA ARMAO()R I PRÁTICA C:!Vll. I ~a f'fÍiriln


ÍNDICE

4.2.5. Imprescritíveis, 82
4.2.6. Vitalícios, 82
4.3. Tutela Jurisdicional, 84
4.4. Classific~ção, 84
4.4.1. Pilar da Integridade Física, 85
4.4.2. Integridade Psíquica ou Moral, 86
4.4.3. Direito à integridade Intelectual, 98
4.5. Direitos da Personalidade jurídica, 98

CAPÍTULO v.
DOM!CÍLIO, 100

5.1. Introdução, 100


5.2. Domicílio da Pessoa Natural, 100
5.2.1. Pluralidade de domicílios, 101
5.2.2. Domicílio Profissional, 102
5.2.3. Domicilio aparente ou ocasional, 102
5.3. Domicílio da Pessoa Jurídica, 102
5.4. Espécies de Domicílio, 103

CAPÍTULO VI.
BENS jURÍDICOS, 105
6.1. Conceito de bens jurídicos, 105
6.2. Classificação, 105
6.2.1. Bens considerados em si mesmos, 106
6.2.3. Bens públicos e particulares, 113

CAPÍTULO VIL
TEORIA DO ATO, FATO E NEGÓCIO jURÍDICO, 114

7.1. Fato Jurídico x Fato Material, 114


7.1.1. Classificação dos Fatos Jurídicos, 115

7.2. Negócio Jurídico, 116


7 .2.1. Plano de Existência, 117

ANORÉ MoT,\, CRIST!IINO SOBRAL, LUCIANO fiGUCIREDO, ROBIORTO FIGUEIREDO, $1\BRINA DOURADO
7
7.2.2. Plano de Validade, 117
7.2.3. Plano de eficácia, 122
7.3. Defeitos do Negócio Jurídico, 125
7.3.1. Vícios de consentimento l2G
7.3.2. Vícios sociais, 131 '

CAPÍTULO VIII.
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA, 137
8.1. Noções Introdutórias, 137
8.2. Prescrição, 140
S.2.1. Prazos prescricionais, 141
8.2.2. Causas. impeditiv
- as, suspensivas e interruptivas d
prescnçao, 143 a
8.2.3. Lembretes finais sobre prescrição, 147
8.3. Decadência (ou Caducidade), 148
8.3.1. Observações co rre lat as: prescrição e decadência, 149

8.4. Direito Intertemporal ~Prescrição, 150

CAPÍTULO IX.
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES, 151
9.1. Conceito e Generalidades, 151
9.2. Distinção dos Direitos Reais, 152
9.2.1. Obrigações Propter Rem (In Rem, Oh Rem ou
Ambulatoriais), 153
9.2.2. Obrigação Natural (Débito sem Crédito), 154
9.3. Elementos do Direito Obrigacional, 154
9.4. Classificação, 156
9.4.1. Class~ficação Básica ou Quanto ao Objeto, 156
9.4.2. Classrficação Especial, 160
9.5. Do Pagamento. Teoria Geral, 167
9.5.1. PQnem deve pagar (solvens). O Sujeito Ativo do
agamento, 167
9.5.2. A quem se deve pagar (acccpens).
· O Sujeito Passivo do
Pagamento, 168

8
EDITO lU i\R,\\.-1.DOR i PRÁTICA CIVIL. I 3" edição
9.5.3. A penhora prévia, 169
9.5.4. Aspectos principiológicos da teoria geral do pagamento, 169

5.5. A função social do pagamento, 171


95.6. Quitação x Recibo, 172
9.5.7. Despesas decorrentes do pagamento e da quitação, 173
9.5.8. Lugar do pagamento (dívida quesível x dívida portável), 173
9.6. Formas Especiais de Extinção da Obrigação (com ou sem o
pagamento), 174
9.6.1. Consignação em pagamento, 175
9.6.2. Pagamento com sub-rogação, 182
9.6.3. Dação em pagamento (Datio in Soluntum), 183
9.6.4. Novação, 183
9.6.5. Compensação, 186
9.6.6. Imputação ao pagamento, 189
9.6.7. Confusão, 190
9.6.8. Remissão, 190
9.7. Transmissão das Obrigações, 192
9.7.1. Cessão de crédito, 192
c
9.7.2. Cessão de débito (assunção de dívida), 194
9.7.3. Cessão de contrato, 195
9.8. Sinal ou Arras, 196
9.9. Mora ou Inadimplemento Relativo, 198
9.9.1. Espécies, 199
9.10. Cláusula Penal ou Pena Convencional, 201
9.11. juros, 203
9.11.1. Taxa Selic- Sistema especial de liquidação e custódia, 204

CAPÍTULO X.
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS, 206
10.1. Conceito e Natureza Jurídica, 206
10.1.,1. Visão geral dos contratos no CC de 2002, 207
10.2. Princípios do Direito Contratual, 207
10.2.1. Princípios Liberais, 208
10.2.2. Princípios Sociais, 215

ANDRÉ MoTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUE!Rl'.DO, ROBERTO ftéUElltEDO, SAJl.RINA DOURADO
9
ÍNDICE

10.3. Formação dos contratos, 218


10.3.1. Tratativas (ou Puntuação), 218
10.3.2. Proposta, 219
10.3.3. Aceitação, 220
10.4. Contrato preliminar, 221
10.5. Vícios redibitórios, 222
10.6. Exceção do contrato não cumprido (exceptio non adimpleti
contractus), 224
10.7. Evicção, 225
10.8. Extinção dos contratos, 226
10.8.1. Resolução (artigo 475, CC), 226
10.8.2. Resilição, 227
10.8.3. Rescisão, 227
10.9. Classificações dos contratos, 228

CAPÍTULO XI.
CoNTRATos EM EsPÉCIE, 234
11.1. Compra e Venda (artigos 481 a 532 do CC), 234
11.1.1. Conceito, 234
11.1.2. Natu~eza jurídica, 235
11.1.3. Elementos constitutivos, 235
11.1.4. As despesas e riscos do contrato, 236
11.1.5. Restrições à compra e venda, 236
11.1.6. Regras especiais da compra e venda, 238
11.1.7. Cláusulas especiais ou pactos adjetos, 238
11.2. Troca ou Permuta (artigo 533 do CC), 239
11.2.1. Conceito, 239
11.2.2. Natureza jurídica, 240
11.3. Contrato Estimatório (artigos 534 a 537 do CC), 240
11.3.1. Conceito, 240
11.3.2. Natureza jurídica, 240
11.3.3. Efeitos e regras, 241
11.4. Doação (artigos 538 a 554 do CC), 241
11.4.1. Conceito, 241

10 Fm1Y111A ARMAnnll ! Pui:nr.o C'tvn I ~· ,.rJid'ín


ÍNDICE

11.4.2. Natureza jurídica, 242


11.4.3. Espécies de doação, 242
11.4.4. Revogação da doação, 245
11.4.5. Hipóteses ,1le irrevogabilidade por ingratidão, 245
I
11.5. Locação de Coisas (artigo 565 e segs., do CC), 245
11.5.1. Conceito, 245
11.5.2. Natureza jurídica, 245
11.5.3. Pressupostos, 246
11.5.4. Dos deveres do locador, 246
11.5.5. O direito potestativo da redução proporcional do aluguel ou
a resolução do contrato, 247
11.5.6. Dos deveres do locatário, 247
11.5.7. Locação por prazo determinado, 247
11.5.8. Aluguel pena, 247
11.5.9. A aquisição do bem por terceiro e a cláusula de
vigência, 248
11.5.10. A sucessão na locação, 248
11.5.11. Indenização por benfeitorias, 248
11.5.12. A locação na Lei no 8.245/91, 248
11.6. Empréstimo, 253
11.6.1. Aspectos gerais, 253
11.6.2. Do Comodato (Empréstimo de Uso) (Artigos 579 a 585 do
CC), 254
11.6.3. Do mútuo (empréstimo de consumo) (artigos 586 a 592 do
CC), 256
11.7. Da prestação de serviço (artigos 593 a 61)9 do CC), 259
11.7.1. Conceito, 259
11.7.2. Natureza jurídica, 259
11.7.3. Objeto do contrato, 260
11.7.4. A remuneração (a não presunção de gratuidade), 260
11.7.5. Prazo máximo do contrato, 260
11.7.6. Resilição do contrato, 260
11.7.7.lnexecução do contrato, 261
11.7.8. Amplitude do contrato, 261
11.7 .9. Responsabilidade pela ruptura culposa do contrato, 261
11.7.10. Perdas e danos, 262
11.7.11. A declaração formal da dissolução do contrato, 262
11.7.12. Exigência de capacitação, 262

ANDRÉ Mon., CRISTIANO SO!IRAL, LUCIANO FIGUEllUlDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 11
11.7.13. Formas de extinção do contrato, 262
11.7.14. Aliciamento do prestador de serviço, 263
11.7.15. Alienação do prédio agrícola e suas consequências, 263
11.8. Empreitada (artigos 610 a 626 do CC), 263
11.8.1. Conceito, 263
11.8.2. Natureza jurídica, 263
11.8.3. Espécies, 264
11.8.4. Deveres e direitos do dono da obra, 264
11.8.5. Responsabilidade do empreiteiro, 265
11.8.6. Subempreitada, 265
11.9. Depósito (artigos 627 a 652 do CC), 266
11.9.1. Conceito, 266
11.9.2. Natureza jurídica, 266
11.9.3. Modalidades, 266
11.9.4. Direitos e deveres do depositário, 267
11.9.5. Direitos e deveres do depositante, 268
11.9.6. Da prisão do depositário infiel, 268
11. 9.7. Extinção do depósito, 268
11.10. Do mandato (artigos 653 a 692 do CC), 268
11.10.1. Conceito, 268
1Ll0.2. Natureza jurídica, 269
11.10.3. Espécies, 269
1Ll0.4. Submandato, 270
11.10.5. Obrigações do mandatário, 270
11.10.6. Obrigações do mandante, 271
11.10.7. Extinção do contrato, 272
11.11. Do transporte (arts. 730 a 756, CC), 272
11.11.1. Conceito, 272
11.11.2. Natureza jurídica, 273
11.11.3. Normas aplicáveis ao contrato de transporte, 273
11.11.4. Transporte de pessoas, 275
11.11.5. Transporte de coisas, 278
11.12. Do seguro (arts. 757 a 802, CC), 281
11.12.1. Conceito e a socialização dos riscos, 281
11.12.2. Natureza jurídica, 282
11.12.3. Requisitos do contrato, 282

12 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVlL 1 33 edição


11.12.4. Seguro de dano, 287
11.12.5. Seguro de pessoa, 291
11.13- Contrato de fiança (artigos 818 a 839 do CC), 293
11.13.1. Conceito, 293
11.13.2. Natureza jurídica, 294
11.13.3. Seus efeitos e regras, 294
11.13.4. Extinção da fiança, 296

CAPÍTULO XlL
RESPONSABILIDADE CIVIL, 298
12.1. Conceito, 298
12.2. Pressupostos, 298
12.2.1. Ato ilícito ou conduta, 299
12.2.2. Culpa, 299
12.2.3. Dano, 302
12.2.4. Nexo de causalidade, 324
12.3. Risco, 328
12.4. Responsabilidade por Ato Próprio, 330
12.5. Responsabilidade pelo Fato de outrem ou Responsabilidade
Indireta, 331
12.5.1. A responsabilidade civil e criminal, 337
12.6. Responsabilidade pelo fato do animal, por ruína, por coisas
caídas ou lançadas, 339
12.7. A responsabilidade civil no CDC, 341
12.7.1. A ocorrência do vício do produto e do serviço, 341
12.7.2. A decadência. Análise do artigo 26 do CDC, 345
12.7 .3. A ocorrência do fato do produto e do serviço, 346
12.8. Excludentes de ilicitude e excludentes de responsabilidade, 352
12.8.1. Estado de necessidade, 352
12.8.2. Legítima defesa, 353
, 12.8.3. Exercício regular do direito, 353
12.8.4. Caso fortuito e força maior, 355
12.8.5. Culpa exclusiva da vítima, 356
12.7.6. Fato de terceiro, 360
12.7. 7. Cláusula de não indenizar, 361

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LuCIANO FIGUEIREDO, ROt>ERTO FIGUEIREDO, SJ\l!RIN.'I DOURADO 13

L
ÍNDICE

CAPÍTULO XIII.
DIREITOS DAS COISAS, 364

13.1. Definição, 364


13.2. Posse, 365
13.2.1. Conceito e natureza jurídica, 365
13.2.2. Principais teorias explicativas da posse: breves notas, 366
13.2.3. Posse x detenção, 368
13.2.5. Classificação da posse, 369
13.2.6. Constituto Possessório x Tradition Breve Manu, 374
13.3. Aquisição e Perda da Posse, 375
13.4. Direito Real de Propriedade ou na Coisa Própria, 375
13.4.1. Conceito e caracteres, 376
13.4.2. Características da Propriedade, 376
13.4.3. Extensão e limites: função social da propriedade (artigo
L229 e artigo 1.230, CC), 377
13.4.4. Função social da propriedade (artigo so, XXII e XXII! e
artigo 170, li!, CF), 378
13.4.5. O que é a descoberta?, 378
13.4.6. Aquisição da propriedade imobiliária, 379
13.4.7. Aquisição da propriedade móvel (artigos 1.260/1.274,
CC), 389
13.4.8. A perda da propriedade (artigo L275 e L276, CC), 391
13.5. Direitos de Vizinhança, 392
13.6. Condomínio, 397
13.6.1. Administração do condomínio, 398
13.6.2. Condomínio necessário, 398
13.6.3. Condomínio edilícios, 399
13.6.4. Direitos do condômino, 399
13.6.5. Deveres do condômino, 400
13.6.6. Aplicação de multas aos condôminos, 400
13.6.7. Administração do condomínio, 401
13.6.8. Extinção do condomínio, 402
13.7. Propriedade resolúvel, 402
13.8. Propriedade fiduciária, 403
13.9. Superfície, 403

14
ÍNDICE

13.10. Servidões, 404


13.10.1. Exercício das servidões, 405
13.10.2. Extinção das servidões, 405
13.11. Usufruto, 406
13.11.1. Direitos do usufrutuário, 406
13.11.2. Deveres do usufrutuário, 407
13.11.3. Extinção do usufruto, 407
13.12. Do Uso, 408
13.13. Da Habitação, 408
13.14. Do Direito do Promitente Comprador, 409
13.15. Do Penhor, da Hipoteca e da Anticrese, 409
13.16. Do Penhor, 410
13.16.1. Direitos do credor pignoratício, 410
13.16.2. Obrigações do credor pignoratício, 411
13.16.3. Extinção do penhor, 411
13.16.4. Penhor rural, 411
13.16.5. Penhor agrícola, 412
13.16.6. Penhor pecuário, 412
16.7. Penhor industrial e mercantil, 412
13.16.8. Penhor de direitos e títulos de crédito, 413
13.16.9. Penhor de veículos, 413
13.16.10. Penhor legal, 413
13.17. Hipoteca, 414
13.17.1. Hipoteca legal, 415
13.17.2. Registro da hipoteca, 415
13.17.3. Extinção da hipoteca, 416
13.17 .4. Hipoteca de vias férreas, 416
13.18. Anticrese, 416

CAPÍTULO XIV.
DIREITO DE FAMÍLIA, 418

14.1. Noções Introdutórias, 418


14.2. Casamento, 418
14.2.1. Capacidade núbil, 419

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCJ.ANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 15
14.2.2. Habilitação para o casamento, 419
14.2.3. Impedimentos Matrimoniais, 420
14.2.4. Causas suspensivas, 421
14.2.5. Casamento nulo e casamento anulável, 422
14.2.6. Espécies de casamento, 423
14.2.7. Regime de bens, 424
14.2.8. Separação e Divórcio, 428
14.3. Relações de parentesco, 429
14.3.1. Filiação, 430
14.4. União Estável, 433
14.5. Concubinato, 434
14.6. Alimentos, 435
14.6.1. Alimentos Gravídicos, 436
14.7. Bem de Família, 437
14.8. Guarda, 439
14.9. Tutela, 441
14.10. A Curatela, 444
14.ll. Adoção, 447

CAPÍTULO XV.
DIREITO DAS SUCESSÕEs, 449
15.1. Introdução ao Direito Hereditário, 449
15.2. Aceitação da Herança, 450
15.3. Renúncia da Herança, 451
15.4. Natureza jurídica da herança, 452
15.5. Terminologias importantes, 452

15.6. O Foro para Ajuizamento do Inventário e a Administração da


Herança, 453
15.7. A Cessão dos Direitos Hereditários, 453
15.8. A responsabilidade civil e o direito hereditário, 454
15.9. quem pode e quem não pode receber a herança, 454

ló EDITORA ARMADOR I PRÂTICA CivtL ! 3a edição


15.10. Dos Excluídos da Sucessão, 455
15.ll. Deserdação, 456
15.12. Herança Jacente versus Herança Vacante, 457
15.13. Petição da Herança, 458
15.14. A Ordem de Vocação Hereditária, 458
15.15. O direito real de habitação, 461
15.16. A Sucessão na União Estável, 461
15.17. Direito de Representação, 463
15.18. Sucessão Testamentária, 464
15.19. Codicilo, 467
15.20. Revogação do testi'mento, 467
15.21. Rompimento do testamento, 468
15.22. O testamenteiro, 468
15.23. Do legado, 469

CAPÍTULO XVI.
DIREITO DO CONSUMIDOR, 470
16.1. Uma abordagem ao Código de Defesa do Consumidor, 470
16.2. Relação jurídica de consumo, 475
16.2.1. Quem é o consumídor?, 475
16.2.2. Quem é o fornecedor?, 483
16.2.3. Produto e serviço, 484
16.3. Os princípios do Código de Defesa do Consumidor, 485
16.3.1. Da vulnerabilidade, 485
16.3.2. Do dever governamental, 485
16.3.3. Da harmonização e compatibilização da proteção ao
consumidor, 486
16.3.4. Da boa-fé objetiva, 486
'16.3.5. Da equidade, 487
16.3.6. Da educação e informação dos consumidores, 487
16.3.7. Do controle de qualidade e mecanismos de atendimento
pelas próprias empresas, 488

t' ANDRÉ Mon., CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO flCUEIREDO, RoBERTO F!GUE!R.EDO, SAIHUNA DOURADO 17

L
r
ÍNDICE

16.3.8. Da racionalização e melhoria dos serviços públicos, 488


16.3.9. Da coibição e repressão das práticas abusivas, 489
16.3.10. Do estudo das modificações do mercado, 489
16.4. Direitos básicos do consumidor, 490
16.4.1. A proteção da vida, saúde e segurança, 491
16.4.2. Educação, informação e liberdade de escolha, 492
16.4.3. Informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, 492
16.4.4. Proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, 494
16.4.5. A modificação e a revisão das cláusulas contratuais, 494
16.4.6. A prevenção e a reparação integral dos danos, 495
16.4.7. Facilitação do acesso à justiça e à administração, 495
16.4.8. Facilitação da defesa e a inversão do ônus da prova, 496
4.9. A adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em
geral, 497
16.5. A responsabilidade civil no CDC, 498
16.5.1. A ocorrência do vício do produto e do serviço, 498
16.5.2. A decadência. Análise do artigo 26 do CDC, 502
16.5.3. A ocorrência do fato do produto e do serviço, 503
16.6. Da desconsideração da personalidade jurídica, 511
16.7. Oferta, 513
16.8. Da Publicidade, 515
16.9. Das práticas abusivas, 517
16.9.1. Venda casada, 518
16.9.2. Venda quantitativa, 519
16.9.3. Recusa de atendimento, 519
9.4. Fornecimento de produto/serviço não solicitado, 520
16.9.5. Aproveitamento da vulnerabilidade do consumidor, 521
16.9.6. Exigir vantagem excessiva, 521
16.9.7. Serviços sem orçamento, 521
16.9.8. Repasse de informações depreciativas, 522
16.9.9. Descumprir normas técnicas, 522
16.9.9. Recusa de venda direta ou à vista, 523
16.9.10. Elevação dos preços sem justa causa de produtos e
serviços, 523

1~ P.mTORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL I Y edição


r
ÍNDICE

16.9.11. Inexistência de prazo para o cumprimento da obrigação, 524


16.9.12. Aplicar fórmula ou reajuste diverso do legal, 524
16.10. Cobrança de dívidas, 524
16.11. Banco de dados, 525
16.12. Proteção contratual, 531
16.12.1. Direito de arrependimento, 538
16.12.2. Da garantia contratual, 538
16.12.3. Cláusulas Abusivas, 539
16.13. Dos contratos de concessão de crédito, financiamento e
consórcio, 548
16.14. A compra e venda de imóveis e móveis, 550
16.15. Dos contratos de adesão, 551
16.16. Da Defesa do Consumidor em Juízo, 552
16.17. Tutela dos interesses e direitos dos consumidores e das
vítimas de danos (artigo 81 do CDC), 555
16.18. Legitimação ativa concorrente (artigo 82 do CDC), 555
16.19. Efetividade da tutela jurídica processual (artigo 83 do
CDC), 557
16.20. Ações coletivas para a defesa de interesses individuais
homogêneos, 558
16.21. Coisa julgada coletiva, 559
16.22. Do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor e da
Convenção Coletiva de Consumo, 561
16.23. Da Convenção Coletiva de Consumo, 562

PARTE TEÓRICA, 509

1. ASPECTOS RELEVANTES DA TEORIA GERAL DO PROCESSO, 565


1.1. Notas introdutórias, 565
1.2. Autonomia do direito processual, 565
1.3. A trilogia estruturante do direito processual, 566

1<)
2. MEIOS NÃO JuRISDICIONAIS DE RESOLUÇÃO DE CoNFLITos, 567
2.1. Autotutela, 567
2.2. Autocomposição, 568
2.3. Mediação, 568
2.4. Arbitragem, 572

3. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL E NoRMAS


PROCESSUAIS FUNDAMEN;r AIS DO CPC/15, 574
3.1. Princípio do devido processo legal, 574
3.2. Princípio da igualdade/isonomia ou paridade de armas, 575
3.3. Princípio do juiz natural,·· 576
3.4. Priiicípio da inaíastabiiidade do controle jurisdicional, 576
3.5. Princípios do contraditório e da ampla defesa, 577
3.6. Motivação das decisões judiciais ou livre convencimento
motivado, 578
3.7. Princípio da lealdade processual, da probidade ou da boa-fé
processual, 579
3.8. Duração razoável do processo, 579
3.9. Princípio da Primazia do julgamento de Mérito, 580
3.10. Cooperação, 580
3.11. Ordem cronológica de julgamento, 581

4. jURISDIÇÃO, 582
4.1. Conceito, 582
4.2. Princípios da jurisdição, 582
4.2.1. Investidura, 582
4.2.2. lndelegabilidade, 583
4.2.3. Aderência ou territorialidade, 583
4.2.4. lndeclinabilidade, 584
4.2.5. Inércia, 584
4.3. Espécies de jurisdição, 585
4.4. Limites da jurisdição nacional, 586

20 EDITORA ARMADOR ( PRÁTICA ÜVJL I 3 3 edição


5. CoOPERAÇÃO INTERNACIONAL, 589
5.1. Auxilio direto, 590

6. AÇÃO, 592
6.1. Conceito de ação, 592
6.2. Conceito de demanda, 592
6.3. Elementos da ação, 592
6.4. Legitimidade e interesse, 593

7. COMPETÊNCIA, 595
7.1. Conceito, 595
7 .2. Momento que demarca a fixação de competência; exceções à
regra da perpetuatio jurisdictionis, 595
7 .3. Critérios de determinação da competência, 596
7 .3.1. Critério Territorial. 596
7 .3.2. Critério Intuito Personae, 599
7 .4. Classificação de competência, 600
7.4.1. Competência do foro (territorial) e competência do
juízo, 600
7 .4.2. Competência originária e derivada, 601
7 .4.3. Incompetência relativa x Incompetência absoluta, 601
7 .5. Modificação de competência, 603
7 .6. Conflito de competência, 604
7.7. Cooperação nacional, 606

8. SUJEITOS DO PROCESSO, 608


8.1. Partes e procuradores, 608
8.2. Capacidades, 609
8,3. Verificação das incapacidades, 610
8.4. Deveres das partes e de seus procuradores, 611
8.5. Responsabilidade das partes por dano processual, 613

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO F!GUE!REDo;·RoBERTO fJGUEIREDO, SABIUNA DOURADO 21


ÍNDICE

8.6. Despesas, dos honorários advocatícios e das multas, 615


8.7. juiz, 621
8.8. Advocacia, 625

9. GRATUIDADE DA JUSTIÇA, 628

10. LITISCONSÓRCIO, 633


10.1. Conceito, 633
10.2. Espécies, 633

11. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS, 638


11.1. Assistência, 638
11.2. Denunciação da Lide, 640
11.3. Chamamento ao Processo, 640
11.4. Incidente de Desconsideração da Personalidade jurídica, 641
11.5. Amicus Curiae, 642

12. ATOS PROCESSUAIS, 644


12.1. Noções inciais, 644
12.2. Atos processuais das partes, 645
12.3. Atos processuais do juiz, 645
12.4. Tempo dos atos processuais, 646
12.5. Lugar dos atos processuais, 647
12.6. Negócios jurídicos processuais, 647
12.7. Prática eletrônica de atos processuais, 649

13. PRAZOS, 651


13.1. Noções iniciais, 651
13.2. Forma de contagem e disposições importantes dos prazos, 652
13.3. Verificação dos prazos e das penalidades, 654

F.mTORA ARMADOR I PRÁTICA CiviL I 3" edkão


ÍNDICE

14. COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS, 656


14.1. Noções iniciais, 656
14.2. Cartas, 656
14.3. Citação, 657
14.4.lntimações, 663

15. NULIDADES, 666

16. TUTELA PROVISÓRIA, 668


16.1. Noções iuiciais, 668
16.2. Tutela de urgência, 669
16.2.1. Tutela Antecipada, 671
16.2.2. Tutela Cautelar, 672
16.3. Tutela evidência, 674

17. PROCESSO DE CONHECIMENTO, 675


17.1. Noções inciais, 675
17.2. Formação, suspensão e extinção do processo, 675
17 .3. Petição iuicial, 677
17.3.1. Pedido, 680
17.4. Emenda da inicial, 682
17.5. Indeferimento da inicial, 683
17.6. Improcedência liminar do pedido, 684
17.7. Audiência de conciliação ou de mediação, 685
17.8. Resposta do réu, 686
17.9. Revelia, 689
17.10. julgamento conforme o estado do processo, 690
17.11. Saneamento e da organização do processo, 691
18. PROVAS, 693
18.1. Noções da sua teoria geral, 693
18.2. J?rodução antecipada da prova, 695

19. PROVAS EM EsPÉCIE, 697


19.1. Ata notarial, 697
19.2. Depoimento pessoal, 697
19.3. Confissão, 699 c

19.4. Exibição de documento ou coisa, 700


19 .5. Prova documental, 701
19.5.1. F'Orça Probante dos Documentos, 701
19 .5.2. Arguição de Falsidade, 703
19.5.3. Produção da Prova Documental, 703
19.5.4. Documentos Eletrônicos, 705
19.6. Prova testemunhal, 705
19.6.1. Admissibilidade e do Valor da Prova Testemunhal, 706
19.6.2. Produção da Prova Testemunhal, 706
19.7. Prova pericial, 709
19.8. Inspeção judicial, 713
19.9. Audiência de instrução e julgamento, 714

20. SENTENÇA E CoiSA JuLGADA, 717


20.1. Noções iniciais, 717
20.2. Elementos e dos efeitos da sentença, 719
20.3. Da remessa necessária, 721
20.4. Julgamento das ações relativas às prestações de fazer, de não
fazer e de entregar coisa, 722
20 .5. Coisa julgada, 723

21. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA, 725

24 EDITORA ARrotADO R ! PRÁTICA CtVlL J 3a edição


22. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, 727
22.1. Noções iniciais, 727
22.2. Do cumprimento provisório da sentença que reconhece a
exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, 730
22.3. Procedimentos no cumprimento de sentença, 732
22.3.1. Obrigações de Fazer, Não Fazer e Entrega de Coisa, 733
22.3.2. Obrigações para Pagamento de Quantia Certa, 735

23. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS, 739


23.1. Procedimentos especiais previstos no cpc, 740
23.1.1. Ação de Consignação em Pagamento, 740
23.1.2. Embargos de Terceiro, 745
23.1.3. Ação Monitória, 749
23.2. Procedimentos especiais previstos em leis extravagantes, 753
23.2.1. Mandado de Segurança (Lei n" 12.016/09), 753
23.2.2. Ação Civil Pública (Lei n" 7.347 /85), 763
23.2.3. Ação Popular (Lei n" 4.717 /65), 770
23.2.4. Juizados Especiais Cíveis (Lei n" 9.099/95}, 775

24. DA EXECUÇÃO, 781


24.1. Aspectos gerais, 781
24.1.1. Requisitos para a Realização da Execução, 782
24.1.2. Desistência da Execução, 787
24.1.3. Impenhorabilidade do Bem de Família
(Lei n" 8.009/1990}, 787
24.2. Execução de título extrajudicial, 790
24.2.1. Obrigações de Fazer e Não Fazer, 790
24.2.2. Obrigações para Entrega de Coisa, 792
24.2.3. Obrigações para Pagamento de Quantia, 794
24.3. Execução fiscal, 802

25. Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA, 806


25.1. Recursos, 806
25.1.1. Conceito, 807
25.1.2. Fundamentos, 807

ANDRÉ Mo-n, CRtSTJM..:O SOBRAL, LLICIANO FtGUBIREno, Roamáo FtGUElR!iDO, SABR!KA DOll!VüJO 25
i
L'
ÍNDICE
r
25.1.3. Princípios, 808
25.1.4. Pressupostos de Admissibilidade, 811
25.1.5. Efeitos, 815
25.1.6. Principais Modalidades, 815
25.2. Ação rescisória, 840

PEÇAS PRÁTICAS, 849

1. Petição inicial, 85<i.


2. Ação de obrigação de fazer com pedido de tutela antecipada, 857
3. Ação de alimentos, 861
4. Contestação, 866
5. Agravo de instrumento, 871
6. Apelação, 874
7. Embargos de declaração, 878
8. Recurso especial, 880
9. Recurso extraordi~ário, 883
10. Requerimento de cumprimento de sentença, 886
11. Impugnação ao cumprimento de sentença, 888
12. Embargos à execução, 893
13. Ação de embargos de terceiro, 898
14. Medida cautelar de arresto, 903
15. Medida cautelar de sequestro, 908
16. Medida cautelar de busca e apreensão, 913
17. Ação monitória, 918
18. Ações possessórias, 920
19. Ação de usucapião urbana, 922
20. Mandado de segurança, 927

F.DlTORA ARMADOR 1 PRÁTICA ÜVIL j 3a edição


r ÍNDICE

PROVAS ANTERIORES, 933

XIX Exame - Peça Prático-profissional, 935


XVlll Exame - Peça Prático-profissional, 937
XVII Exame - Peça Prático-profissional, 939
XVI Exame - Peça Prático-profissional, 941
XV Exame- Peça Prático-profissional, 942
XIV Exame - Peça Prático-profissional, 944
XIII Exame- Peça Prático-profissional, 946
XII Exame - Peça Prático-profissional, 948
XI Exame - Peça Prático-profissional, 949
X Exame - Peça Prático-profissional, 951
IX Exame - Peça Prático-profissional, 953
VIII Exame- Peça Prático-profissional, 956
VII Exame- Peça Prático-profissional, 958
VI Exame - Peça Prático-profissional, 960
V Exame - Peça Prático-profissional, 964
IV Exame - Peça Prático-profissional, 968
Exame 2010.3- Peça Prático-profissional, 969
Exame 2010.2 - Peça Prático-profissional, 973

REFERÊNCIAS, 975

ANDRÉ MOTA. CiUSTlANO SOBRAL. LUCIANO f'JGUEIREDO, RoBERTO FtGUEJREDO, SABRJNA DouRADO 27
c
CAPÍTULO L

LEI DE INTRODUÇÃO ÀS
NORMAS DO DIREITO
BRASILEIRO (LiNDB)

1.1. NOÇÕES INTRODUÇÃO

Antes denominada Lei de Introdução ao Código Civil -LICC-,


a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro passou a adotar
essa nomenclatura no dia 30/12/2010, por meio da Lei Federal12.376/10.
A mudança de nomenclatura se fez necessária, uma vez que se
trata de norma jurídica autônoma, aplicável sobre todo o ordenamento
jurídico. Logo a mesma não se restringe apenas à matéria cível.
A LINDB tem como fito estabelecer as diretrizes de aplicação das
leis no tempo e no espaço, bem como a sua compreensão e vigência.

29

L
ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO FiGUEIREDO, 5A11RINA DOURADO
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB)
r
Capítulo I

É, portanto, considerada um código de normas ou sobre-normas, pois


se aplica a todo ordenamento jurídico pátrio.
A lei em comento encontra sua base no Decreto nº 4.657/42, o qual
dispõe de dezenove artigos, bem como nas Leis nº 95/98 e 107/2001.
Estruturalmente a Lei de Introdução divide-se em:
~ Artigo 1º e 2º- Vigência das normas;
~ Artigo 3º- Obrigatoriedade geral e abstrata das normas;
~ Artigo 4º- Integração normativa;
~ Artigo 5º Interpretação das normas;
~ Artigo 6º- Aplicação da norma no tempo (Direito lntertemporal);
~ Artigo 7º e seguintes - Aplicação da lei no espaço (Direito
Espacial);

1.2. VIGÊNCIA NORMATIVA

A promulgação é o ato que confere à norma existência e validade.


Atesta a sua compatibilidade com o ordenamento jurídico.
Ao firmar que determinada norma é válida, diz-se que a mesma é
compatível com o ordenamento jurídico pátrio. Por outro lado, a norma
inválida é aquela tida como incompatível (inconstitucional ou ilegal).
Existem dois planos de validade normativa: material e formal.
Para que uma determinada norma seja considerada válida, a mesma
deve estar em plena consonância com o quanto disposto na Consti-
tuição Federal, bem como com as leis infraconstitucionais (validade
material), e ter obedecido ao devido processo legislativo (validade
formal). '
Dessa forma, para que uma Emenda Constitucional tenha
validade formal, a mesma deve ser aprovada por 3/5 do Congresso
Nacional. com votação em dois turnos, conforme dispõe o artigo 60,
§ 2º da Carta Magna. Além disso, a emenda não pode ir de encontro,
por exemplo, às cláusulas pétreas, ou às garantias constitucionais,
validade maferiaf.
A promulgação é o reconhecimento da existência e da validade
de uma norma jurÍdica. Contud~ distingue-se da publicação, ato

30 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL 1 3a edição


rI LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NoRMAS DO DIREITO BRASILEIRO (llNDB)

Capítulo I

posterior à promulgação, cuja finalidade é dar conhecimento a todos


acerca da existência e da validade da referida norma, para, com isto,
permitir que a lei gere efeitos no mundo jurídico. A publicação é ato
pelo qual a norma pode adquirir obrigatoriedade e coercibi\idade.
Ainda assim, tal vigência, de forma concomitante à publicação, não
deverá ser a regra, sendo possível tão somente para as normas de
menor repercussão (artigo 8º da Lei Complementar 95/98 modificada
pela Lei Complementar 107/2001).
Nessa toada, em regra, é necessário que a lei possua um tempo
mínimo de publicação e amadurecimento, para que então passe a
vigorar. O referido lapso temporal é chamado de vacatio legis, a qual
tem duração de 45 (quarenta e cinco) dias para o território nacional
e de 3 (três) meses para território estrangeiro, conforme dispõe o art.
1º da LINDB.
A vacatio legis tem como objetivo trazer ao conhecimento de
todos a existência da nova norma a ser observada. Por essa razão, as
normas de menor repercussão podem ser, a depender do legislador,
dispensadas do período de vacatio. Ademais, o prazo acima exposto é
uma regra geral, sendo possível que a própria norma consigne prazo
diverso, como ocorrera com o Código Civil, o qual teve vacatio de 1
ano (art. 2.044) e com o Código de Processo Civil de 2015 (art. 1.045).
Nesta situação estar-se-á diante de uma autodeclaração normativa.
Insta observar que o art. 8º, § 1º da Lei complementar 95/98,
-estabelece regra diversa para a contagem do prazo de vacância, em
comparação com os prazos de direito material (art. 132 do Código
Civil) e processual (art. 224 do Código de Processo Civil). Enquanto
no direito material e processual resta excluído o primeiro dia, a con-
tagem da vacância dar-se-á com a inclusão da data da publicação e
do último dia do prazo, entrando em vigor I)O dia subsequente à sua
consumação integral.

1.2.1. MODIFICAÇÃO DA LEI

A modificação da lei deverá observar duas regras importantes:

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SO!IRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO ftGUE!RllPO, $ABRINA DOURADO 31
Capítulo I I

• A modificação da lei já em vigor somente ocorrerá através de


nova lei, conforme § 4º, do artigo 1º, da LINDB, devendo ser
observado novo prazo de vacatio;
• A modificação da lei, que esteja ainda no período de vacatio
legis, deve ocorrer através de nova publicação do seu texto,
sendo conferido novo prazo de vacatio.

1.2.2. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE OU PERMANÊNCIA DA


NORMA

A lei, uma vez vigente e em regra, se submete ao princípio da


continuidade ou permanência. Explica-se: a norma produzirá os·seus
efeitos até que outra a torne total ou parcialmente ineficaz, por meio
de revogação (artigo 2º, da LINDB).
Como fora dito, a continuidade é uma regra, sendo, no entanto,
possível elencar duas espécies normativas que não se submetem a tal
preceito, quais sejam: leis temporárias e circunstanciais.
Todavia, repisa-se, a regra é a continuidade ou permanência.
Assim, a norma vigente produzirá os seus efeitos até que venha a ser
revogada. Quanto à revogação, esta pode ser classificada:

I> Quanto à abrangência ou extensão:


a) Ab-Rogação - revogação total, a exemplo da realizada pelo
CC/2002 em relação ao CC/16;
b) Derrogação - revogação parcial, a exemplo da realizada pelo
CC/2002 à primeira parte do Código Comercial.

Salienta-se que é inadmissível a revogação de leis pelos usos e


costumes. A revogação de lei se dará sempre por outra lei.

I> Quanto à forma ou modo:


a) Expressa ou direta - Deve ser a regra, na dicção do artigo 9º
da Lei Complementar 95/98, pois traz segurança jurídica. Dá se
quando a nova lei, expressamente, revoga a anterior.

32 EDiTORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL j 3" edição


I Capítulo I

b) Tácita, indireta ou oblíqua- Decorre de incompatibilidade ou


quando uma nova norma regula todo o tema da lei anterior,
com colisões. Afirma a doutrina que essa revogação tácita
pode se dar com fulcro no critério hierárquico (norma superior
revoga norma inferior), cronológico (norma mais nova revoga
a n:Lais antiga) e especial (norma específica revoga norma geral
tratando do mesmo tema).

Todavia, fiquem atentos: A lei nova, que estabeleça disposições


gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica
a lei anterior (artigo 2º, § 2º, da LINDB).

1.2.3. REPRISTINAÇÃO (§ 3" DO ARTIGO 2•, LlNDB)

Repristinar significa restaurar. No Brasil, é excepcional, deman-


dando disposição normativa expressa.
Em regra, o referido instituto é cobrado na prova da seguinte
forma: A Lei "A:' está em vigor e é revogada pelo advento da Lei "B",
a qual é revogada pela lei "C". Pergunta-se: a revogação da Lei "B",
pela Lei "C", repristina (retoma) os efeitos da Lei "A:'?
Em regra a resposta é negativa, pois a LINDB, no § 3º, do artigo
2º, apenas possibilita tal reprisÍinação se houver previsão normativa
em contrário da lei.
Mister ressaltar que é possível, ainda, a percepção do efeito repris-
tinatório, também denominada de repristinação oblíqua ou indireta,
como efeito anexo à decisão que reconhece a inconstitucionalidade
normativa (art. 27 da Lei 9.868/99). Por exemplo, a Lei "A:' é revogada
pela Lei "B". A Lei "B" foi declarada inconstitucional em sede de Ação
Direta de Inconstitucionalidade. Nesta hipótese, como a Lei "B" é
nula, com decisão de eficácia, em regra, ex-tunc (retroativa), é como se
a Lei B nunca tivesse revogado a Lei "A', existindo, por consequência,
efeito repristinatório.
Lembra-se que no referido controle concentrado apenas é pos-
sível a repristinação se a decisão possuir eficácia retroativa, não
sendo aplicada aos casos em que o STF modula os efeitos decisórios,

L A~oRí: Mon., CRISTIANO SOJ!.RAL, LuC!,\NO FJGUEIRLDO, RoBEÍl.TO FJcunRJmo, SABRI"'A DouRA[)O 33
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB)

Capítulo I

pela maioria de 2/3 (dois terços) dos seus membros, com o escopo de
garantir a segurança jurídica ou excepcional interesse social (vide o
artigo 27, da Lei 9.886/99).
Faz-se a ressalva de que esta hipótese só é possível no controle de
constitucionalidade concer.trado, não sendo possível no controle de
constitucionalidade difuso, o qual produz efeito somente inter partes.

1.3. OBRIGATORIEDADE DAS NORMAS (ART. 3" DA


LINDB)

Conforme a redação do artigo 3' da LINDB, ninguém se escusa


de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
Tal entendimento decorre do Princípio da obrigatoriedade, que,
em regra veda a alegação do erro de direito. No Direito entende-se
que o conhecimento da norma decorre da sua publicação. Daí a
importância da mencionada vacatio legis, na divulgação da nova lei.
A LINDB traz em seu bojo o sistema de obrigatoriedade simultâ-
nea, obrigando a norma, de maneira simultânea, em todo o território
nacionaL
Indaga-se: a presunção de conhecimento das leis é absoluta?
Não. A ignorância quanto à existência da lei só pode ser alegada
em casos excepcionais, dispostos no ordenamento jurídico, como
ocorre no casamento putativo (artigo 1.561, CC) ou no instituto do erro
ou ignorância como vício de vontade (defeito do negócio jurídico),
regra do artigo 139, inciso III, do CC.

1.4. INTEGRAÇÃO DA NORMA (ARTIGO 4" DA LINDB)

Integrar significa preencher as lacunas existentes nas normas


jurídicas. Decorre das seguintes premissas:

a) Em razão do legislador não poder dispor sobre todos os possí-


veis conflitos existentes na sociedade, criam-se lacunas.

34 EDlTORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL f 3" edição


LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NoRMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LlNDB)

Capítulo I

b) O magistrado não pode deixar de julgar uma lide, em razão de


lacuna ou qualquer outra alternativa (vedação ao non liquet-
artigo 140 do NCPC).

Nesta esteira, sendo vedado ao juiz deixar de decidir em razão


das lacunas legislativas existentes, se fez necessária a criação de um
sistema de preenchimento, o qual está disposto no artigo 4º da LINDB
e é denominado de integração ou colmatação normativa. O referido
sistema utiliza-se da analogia, dos costumes e dos princípios gerais
do direito.
E a equidade?
Em que pese não estar expressamente prevista na Lei de Intro-
dução, o parágrafo único do artigo 140 do CPC autoriza o seu uso,
sempre que houver permissivo legal expresso. Cita-se como exemplo:
~ Artigo 413 do CC/02 - Redução de cláusula penal, quando
abusiva ou o negócio já tiver sido previamente cumprido.
~ Artigo 944, parágrafo único do CC/02 - Possibilita ao juiz dimi-
nuir o quantum indenizatório decorrente da responsabilidade
civil quando houver desnivelamento entre o grau de culpa e a
extensão do dano - culpa mínima e dano máximo. Consiste em
exceção ao princípio da reparação integral conforme pontua o
Enunciado 46 do Conselho da Justiça Federal.

"1.4.1. ANALOGIA

A noção de analogia parte da ideia seg~ndo a qual fatos de igual


natureza devem ser julgados de igual maneira - ubi eadem est legis
ratio, ibi eadem legis dispositio ou legis dispositio.
Espécies de analogia:
a) Legis (Legal): Busca-se uma norma jurídica análoga mais ade-
quada para a solução do caso concreto.
b) Jures ou Juris (Jurídica): Busca-se dirimir a lide por meio da
aplicação da totalidade do ordenamento jurídico e princípios
gerais do direito.

ANDRE MOTA, CRiSTIANO SoBRAL, Ll!CIANO FiGUEIREDO, RüRERTO FlGUElREDO, SABRINA DOURADO 35
Capítulo I\

Ex: União homoafetiva. Não há lei a regulamentando. Em face da


ausência normativa, o Juiz não pode se eximir de julgar, abrindo-se
duas alternativas:
, (i) Compara e aplica os um dos preceitos da legislação da união
estavel - analogia legis;
(ii) Compara e aplica os princípios constitucionais da Liberdade
Pluralidade de Famílias, Dignidade da Pessoa Humana e as norma;
de união estável - analogia iures.

Registra-se que, a analogia em direito penal e tributário só é


autorizada em in bonan partem (em favor da parte). Assim, há uma
limitação ao uso do instituto em tais ramos do direito.

L4.2. CosTUMEs

O costume consiste em prática reiterada e uniforme, de determi-


nado comportamento, o qual se acredita ser obrigatório. Nesta senda,
são necessários dois requisitos para a utilização dos costumes:
a) Objetivo, externo ou material: prática reiterada de um deter-
minado local.
b) Subjetivo, interno ou psicológico: entende-se obrigatório (opinio
necessitatis).

A utilização dos costumes, em caso de lacuna, nunca poderá ser


contra legem (contra a lei), sendo vedada a revogação da norma em
decorrência do uso de costumes (consuetudo abrogatório ou dessuetudo
consuetudinaria).
No ordenamento jurídico brasileiro é admitida, somente, a utili-
zação do costume secundun legem e praeter legem.
A utilização dos costumes secundum legem decorre de sua previsão
no texto de lei. Leia-se: a própria norma jurídica prevê para a solução
do conflito a utilização dos costumes. Um bom exemplo é 0 artigo 113
do CC, o qual vaticina a observância dos usos do local na aplicação
da boa-fé. Ressalta-se que tais costumes não traduzem mecanismo
de integração, ao passo que não há lacuna, mas opção legislativa de
tratamento pelos usos.

36 EmTORA ARMADOR I PRÁTiCA CiVIL 1 3a edição


\ Capítulo I

já o costume praeter legem é considerado como, de fato, um ver-


dadeiro método integrativo, uma vez que a sua aplicação decorre da
ausência de norma especifica para solucionar o conflito. Nesta hipó-
tese, utilizam-se os costumes de um determinado lugar. O exemplo é o
costume do cheque pré-datado- ou pós-datado, para alguns-, o qual
é desprovido de, regramento legal e é regulado pelos cosh1mes. Sobre
o tema, inclusive, há súmula do Superior Tribunal de Justiça- Súmula
370. STJ - no sentido de que a apresentação do cheque pré-datado
antes do prazo estipulado gera o dever de indenizar.

1.4.3. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

São princípios universais e gerais, de caráter abstrato e indetermi-


nado, implícitos no ordenamento jurídico, utilizados para preencher
as lacunas existentes. Exemplificativamente menciona-se: I) não lesar
a ninguém; li) dar a cada um o que é seu; Ill) viver honestamente.

1.5. INTERPRETAÇÃO NORMATIVA (ART. 5• DA LINDB)

A interpretação da norma consiste em descobrir o seu real sentido


e delimitar o seu alcance.
Conforme dispõe o art. 5º da LINDB, ao interpretar qualquer
norma há de se levarem conta os fins sociais a que se destinam e
exigências dos bens comuns. A isso se denominam de finalidade
teleológica e função social (socialidade) da norma.
Os resultados decorrentes da interpretação podem ser amplia-
tivos, declaratórios ou restritivos. No que concerna a interpretação
de normas que dispõem sobre direitos e garantias fundamentais,
o resultado será sempre ampliativo. No direito administrativo, a
lt
interpretação, em regra, será declaratória, em razão do princípio
I' da reserva legal ser colorário da legalidade estrita (artigo 37, CF/88).
No âmbito do direito penal se impõe uma significação restritiva das
I!

ANDR[ Mo'l'A, CRISTIANO SoBR.4.J,, LUClANO FIGUEIREDO, RoBERTO FIGUEIREDO, SA.BRINA DOURADO 37
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LlNDB)
Capítulo I

normas que veiculam sanções; afinal de contas nulla poena sine praevia
lege (tipicidade).
No direito civil, deve-se seguir uma interpretação restritiva
quant<\l às normas que estabelecem privilégio, benefício, sanção,
renúncia, fiança, aval e transação (art. 114, 819 e 843 do CC/02).
A interpretação autentica é fruto do entendimento do próprio
legislador quanto à norma. Nesta hipótese, o legislador, criador da
norma, a interpreta para que não pairem dúvidas sobre a mesma.
Ademais, além da interpretação autentica,. admite-se, ainda, a interpre-
tação realizada pelo poder judiciário (Judicial) e pelos doutrinadores
(Doutrinária).

1.6. APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO OU DIREITO


INTERTEMPORAL (ARTIGO 6•, LINDB)

A LINDB regula o direito intertemporal com o fito de traçar con-


ceitos amortecedores proveniente da sucessão de normas no tempo.
Quando surge uma nova lei destinada à regulamentar certa matéria, ela
se aplica aos fatos pendentes, especificamente suas partes novas, e aos
fatos futuros, conforme artigo 6º da LINDB e artigo 5º, XXXVI da CF.
Pelo princípio da irretroatividade da norma, a lei nova passa a
produzir efeitos imediatos e gerais. Assim, em regra, a nova lei não
poderá atingir fatos pretéritos a sua vigência.
Entretanto o referido comando legal, prevê uma hipótese de exce-
ção à referida regra (retroatividade da norma), desde que atendidos
os seguintes requisitos:
a) Expressa disposição nesse sentido
b) Se esta retroatividade não violar o ato jurídico perfeito, a coisa
julgada e o direito adquirido.

Entende-se por direito adquirido aquilo que se incorporou ao


patrimônio jurídico do titular. Ressalta-se que não há direito adquirido
em face de nova ordem constitucional, bem como a regime jurídico
estatutário. Já a coisa julgada decorre da decisão proferida em um
processo, a qual não pode ser reformada por recurso. O Ato jurídico

38 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA ÜVII- I J« edição


LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LlNDB)

Capítulo I

perfeito é aquele realizado em consonância com determinada norma


jurídica à época vigente, estando perfeito e acabado, não podendo ser
desfeito pelo surgimento de uma nova norma.
Registra-se que a ultratividade (pós-eficácia ou pós-atividade
normativa) não é totalmente vedada. A mais lembrada em provas é
a relativa às normas que se aplicam ao inventário e partilha. Neste
caso é certo que a norma sucessória regente será a da época do óbito,
e não a da época do inventário, conforme dispõe o art. 1.785 do CC
(Droit de Saisine). Isto, porque, no momento do falecimento já haverá
a trans1nissão patrimonial.
Dessa forma, se uma pessoa falece antes da entrada em vigor do
Código Civil de 2002, porém a abertura do inventário se deu após,
ainda sim será aplicável o Código Civil de 1916 a seu inventário e
partilha. Justo por isto que à Súmula 112 do STF aduz a alíquota do
imposto causa mortis será o do momento da abertura da sucessão- ou
seja, do óbito - sendo irrelevante modificação posterior da alíquota.
Por fim, no que concernem os atos jurídicos continuativos - ou
seja, aqueles que nascem sob um determinado regime jurídico e pro-
duzem efeitos na vigência de outro- deve-se observar o art. 2.035 do
CC/02. Desta maneira, a existência e validade normativa se submetem
à norma da época da celebração do negócio jurídico, mas a eficácia
estará submetida à nova norma. É o que ocorre, por exemplo, com
o contrato celebrado na vigência do CC/16 e que produz efeitos no
· CC/02; a exemplo da compra de um imóvel realizada em 2000 na qual
ficou pactuado que os pagamentos acontecerão até 2020. Neste caso,
a existência e a validade do negócio seguirá CC/16, enquanto que os
seus efeitos serão ponderados à luz do CC/02.

1.7. EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO


(DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO)

O artigo 7" e seguintes da LINDB regulam a aplicação das leis


no espaço, tratando da sua utilização no Direito Civil, bem como no
Direito Internacional.

ANDRÊ MaTA, CRJSTI~No SoBRAL, LuciANO fiGuEJRliDO, RoBERTO FJGUEIRimo, SAilRJNA DoLilcwo 39
Capítulo I

No que diz respeito à soberania nacional, tendo em vista que o


direito brasileiro se submete ao Princípio da Territorialidade Mode-
rada/Mitigada, em regra, no Brasil, aplica-se a lei brasileira. Ocorre
que, excepcionalmente, desde que haja expressa previsão legal, a lei
estrangeira poderá ser aplicada no Brasil.
Assim, seguem os estudos das excepcionais hipóteses nas quais
será aplicada a lei nacional:

a) Estatuto Pessoal - Segundo o artigo 7º da LINDB, aplica-se a


lei do domicílio para reger: I) nome; II) capacidade; III) começo e fim
da personalidade; IV) direitos de família.
No particular, deve o futuro aprovado ficar atento à possibili-
dade de separação e divórcio consensual e extrajudicial realizado
por autoridades consulares brasileiras. Assim, desde que todos os
envolvidos sejam maiores e capazes, haja presença de um advogado
e sejam observados os requisitos legais quanto aos prazos, é possível
a separação e o divórcio extrajudicial realizado através de escritura
• pública e diante de uma autoridade consular brasileira, versando o
ato público sobre partilha de bens, pensão alimentícia e retomada,
ou não, do nome de solteiro. Trata-se da novel redação do art. 18 da
LINDB, inserida em função da Lei 12.874/13.

b) Conflito sobre bens imóveis situados fora do Brasil aplica-se


a lei do lugar onde estiver situado (artigo 8º da LINDB). Assim, exe-
cução hipotecária cujo bem hipotecado está no Paraguai se submete
à legislação paraguaia.

c) O contrato internacional se reputa formado onde residir o seu


proponente, sendo esta a legislação aplicável e o foro competente
(artigo 9º, § 2º, LINDB). Enfatiza-se que este dispositivo apenas se
aplica a contratos internacionais. Para os contratos celebrados no
Brasil há norma específica reputando-os celebrados no local em que
foi proposto (artigo 435 do CC/02);

d) Aplica-se a lei sucessória mais benéfica para sucessão de bens


de estrangeiros situados no Brasil, quando há cônjuge ou descendentes

40 Eo:TORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL ! 3" edição


\ Capítulo 1

brasileiros (artigo 10, § 1º da LINDB e 5º, XXXI CF/88). Em outras


palavras, quando o estrangeiro morre e deixa bens no Brasil, a com-
petência para processar e julgar a ação de inventário e partilha destes
bens é exclusiva do Brasil (art. 23, II do CPC). Tal partilha, todavia,
não se fará necessariamente com base na lei brasileira, mas sim na lei
sucessória mais benéhica.
'
e) As sentenças, cartas rogatórias e laudos arbitrais estrangeiros
podem ser executados no Brasil, desde que:
I) Homologação pelo STJ (exequatur), que se dá por procedimento
especial submetido às formalidades legais. Tal homologação é de
competência do STJ por força da Emenda Constitucional45/04.
II) Prova do Trânsito em Julgado da Sentença Estrangeira, con-
soante orientação da súmula 420 do STF.
III) Filtragem Constitucional, pois só é permitida a execução no
Brasil de sentença estrangeira compatível com a ordem interna, não
violando a soberania nacional, ordem pública e bons costumes.

Il
·

ANDRÉ I\10TA, CRISTIANO SOBRAl,, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO fiGUElREOO, SABRINA DOURADO
41
CAPÍTULO li.

PESSOA FíSICA ou NATURAL


ou DE EXISTÊNCIA VISÍVEL
o

2.1. PERSONALIDADE JURÍDICA

Por meio da personalidade jurídica, confere-se a uma pessoa a


aptidão genérica para titularizar direitos e contrair deveres na ordem
jurídica. A pessoa que adquire a personalidade jurídica pode tanto ser
pessoa física quanto pessoa jurídica, denominada sujeito de direito.
Entretanto, existem alguns entes desprovidos de personalidade
jurídica que possuem capacidade judiciária, denominados entes
despersonalizados, tais como a massa falida, a herança jacente, o
condomínio, etc.

42 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL ! -~" eclic!:'ío


PEssoA FísiCA ou NATURAL ou DE ExiSTÊNCIA VIsívEL
Capítulo li

2.2. PESSOA FÍSICA: CONCEITO

Tem-se por pessoa física o ser dotado de estrut:-'ra biopsicológica,


titular de direitos e deveres na ordem jurídica. E conhecida como
pessoa física, natural ou de aparência visível. Atualmente, em razão
dos procedimentos artificiais de criação do homem, tal como a inse-
minação artificial, a concepção de pessoa física não se limita mais ao
ser biologicamente criado.

2.2.1. AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE jURÍDICA PELA PESSOA


NATURAL

Como a pessoa física adquire personalidade jurídica?


O artigo 2º do Código Civil determina que a personalidade
· "começa do nascimento com vida". Nesta linha, entende-se por nas-
cimento com vida o início do funcionamento do aparelho cardiorres-
piratório, clinicamente aferível pelo exame denominado docimasia
hidrostática de Galeno. Registra-se que, independe do corte do
cordão umbilicaL viabilidade de sobrevivência superior a 24 horas,
é necessária apenas a entrada de ar nos pulmões. Ao respirar o ente
adquire personalidade jurídica.
Deve ser lembrado que, nas provas objetivas a teoria acolhida é
a natalista, dando ênfase á primeira passagem do art. 2º do Código
Civil. Nesta toada, o recém-nascido adquire personalidade jurídica,
tornando-se sujeito de direito, a partir do seu nascimento com vida,
ainda que este venha a falecer minutos após, sendo de extrema rele-
vância para o instituto sucessório.
Ao nascer, a pessoa deve ser registrada. O registro da pessoa
natural consiste num ato puramente declaratório, pois a personali-
dade independe desta. Como fora dito a personalidade se adquire a
partir do nascimento com vida Assim, o registro retroage à data do
nascimento.

ANnllf MOTA. CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fJGUEIREl>O, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOtiRADO 43
Capítulo li

2.2.2. Ü NASCITURO

Entende-se por nascituro, o ente já concebido e dotado de vida


intrauterina. A legislação civil trata do nascituro quando, ainda que
nao considere como pessoa, ressalva os seus direitos a partir da sua
concepção (art. 2º CC). Quanto a isto, o código civil adota a teoria
condi~ionalista, salvaguardando direitos para aqueles que nascem
c~rn VJ~a. Nesta senda, quais são os direitos que o ordenamento jurí-
dico patno reserva ao nascituro?

a) O nascituro é titular de direitos personalíssimos. O principal


exemplo é o direito à vida. Tal assertiva é comprovada ao
verificarmos que o aborto é tipificado na Lei Penal corno crime
nos artigos 124 a 128 do Código Penat cuja pena, e1n regra, é
de 1 (um) a 3 (três) anos.
b) Pode receber doação, aceita pelo seu representante (curador),
sem prejuízo do recolhimento do imposto de transmissão inter
vivos (artigo 542, CC);
c) Pode ser beneficiado por legado e herança, mediante testa-
mento (arts. 1.798, 1799 e 1.800, CC).
d) Pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses
(art. 1.779 CC);
e) O nascituro tem direito de saber quem é o seu pai, através da
realização do exame de DNA após o nascimento (STF, RC 2040).
f) O nascituro possui direito a alimentos. A Lei 11804/08 instituiu
os alimentos gravídicos no ordenamento jurídico nacional.
g) O nascituro possui direito a danos morais (REsp 9315566/RS).
h) O nascituro tem direito a recebimento do DPVAT (Informativo
o 459 do STJ).

2.2.2.1. E o Natimorto? Tem personalidade jurídica?

Considera-se natimorto, a pessoa que nasce sem vida. Entretanto,


antes de morrer o natimorto foi um nascituro, razão pela qual esse
deve ter protegido os direitos da personalidade, sendo concedido, por
exemplo, tutela ao nome, à imagem e a memória daquele que nasceu

44 EDITORA ARtvlADOR I PRÁTICA GvtL ! 3a edição


!Capítulo li

sem vida (sepultura), corno dispõe o primeiro enunciado do Conselho


da Justiça Federal (CJF).

2.2.3. CAPACIDADE

Capacidade é a medida jurídica da personalidade, e se divide


em: capacidade de direito, jurídica ou de gozo; e capacidade de fato,
exercício ou atividade.

2.2.3.1. Espécies

a) Capacidade de Direito, Jurídica ou de Gozo.


É Uip.a capacidade genérica, que se adquire em conjunto com a
personalidade. Urna vez adquirida a personalidade jurídica, a pessoa
passar a ser titular de direitos e deveres na ordem jurídica (art. 1º
do CC).

b) Capacidade de Fato, Exercício ou Ação.


A capacidade de fato é aquela que possibilita a pessoa praticar e
exercer todos os atos da vida civil. Diferente da capacidade de direito,
a capacidade de fato não é inerente a toda pessoa, cita-se o exemplo
dos recém-nascidos.
Os desprovidos de capacidade de ação são conhecidos incapazes
(absolutos ou relativos).
É nítido, portanto, que no ordenamento jurídico inexiste rnitigação
quanto à capacidade de direito, havendo de correlacionar a teoria das
incapacidades com o abrandamento da capacidade de fato ou exercício.
Conforme a doutrina pátria, ao somar a capacidade de fato à de
direito tem-se a Capacidade Jurídica Geral ou Plena. Ressalta-se, no

I
entanto, a existência de hipóteses em que, ainda que a pessoa física
tenha capacidade jurídica geral há determinados atos que ela não
poderá praticar sem urna legitimação, ou seja: sem urna autorização

I específica ou capacidade negocia!. Verificam-se corno exemplos:

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SoBRAL, LtJCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO fiGtJEIREDO, $ABRI NA ÜOURAOO 45
r
I
PESSOA fÍSICA OU NATURAL OU DE EXISTÊNCIA VISÍVEL

Capítulo li

I. Venda de Ascendente para Descendente (artigo 496 do CC)


De acordo com o artigo 496 do Código Civil: "É anulável a venda
de ascendente a de,scendente, salvo se os outros descendentes e o
I
cônjuge do alienante expressamente houverem consentido".
Nesse sentido, para que tal alienação, seja considerada válida,
depende de autorização expressa de todos os demais descendentes e
do cônjuge, salvo se casado no regime de separação obrigatória, sob
pena de anulabilidade.

Tribunal da Cidadania
DIREITO CIVIL. VENDA DE ASCENDENTE A DES-
CENDENTE SEM ANUÊNCIA DOS DEMAIS. ANULA-
BILIDADE. REQUISITOS DA ANULAÇÃO PRESEN-
TES. 1.- Segundo entendimento doutrinário e jurispruden-
cial majoritário, a alienação feita por ascendente a descendente
é, desde o regime originário do CC de 1916 (artigo 1132),
ato jurídico anulável. Tal orientação veio a se consolidar de
modo expresso no novo CC(CC/2002, artigo 496). 2.- Além
da iniciativa da parte interessada, para a invalidação desse
ato de alienação é necessário: a) fato da venda; b) relação
descendência e descendência entre vendedor e comprador;
c) falta de consentimento de outros descendentes (CC/1916,
artigo 1132); d) a configuração de simulação, consistente em
doação disfarçada (REsp 476557/PR, Rel. Min. NANCY
ANDRIGHI, 3ª T., DJ 22.3.2004) ou, alternativamente, e) a
demonstração de prejuízo (EREsp 661858/PR, 2ªSeção, Rel.
Min. FERNANDO GONÇALVES, Dje 19.12.2008; REsp
752149/AL, Rel. Min. RAUL ARAÚJO, 4ª T, 2.10.2010).
3.- No caso concreto estão presentes todos os requisitos para
a anulação dó ato. 4. - Desnecessidade do acionamento de
todos os herdeiros ou citação destes para o processo, ante a não
anuência irretorquível de dois deles para com a alienação rea-
lizada por avô a neto (.. .). 6. -Decisão do Tribunal de Justiça
de Santa Catarina subsistente, Recurso Especial improvido.
(STJ- REsp: 953461 SC 2007/0114207-8, Relator: Ministro
SIDNEI BENETI, Data de Julgamento: 14/06/2011, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/06/2011)

A-'
r PESSOA FÍSICA OU NATURAL OU DE EXISTÊNCIA VISÍVEL

Capítulo 11

Interessante indagação é saber qual o prazo de anulabilidade do


negócio jurídico em questão?
O artigo 496 não disciplina, aplicando-se à hipótese a norma
supletiva delineada no artigo 179 do CC. Logo, o prazo decadencial
será de dois anos, contatos da conclusão do ato. No particular, não
mais merece aplicação a Súmula 494 do STF.

li. Vênia Conjugal: A Outorga Uxória e Marital.


Por conta do casamento, a legislação nacional exige para a prática
de certos atos a concordância do outro consorte. A isto se denomina
vênia conjugal, gênero cujas espécies são outorga uxória, quando con-
cedida pela mulher, e outorga marital, quando conferida pelo marido.
A outorga, como dispõe o artigo 1.647 do CC, incide em todos
os casamentos, à exceção daqueles cuja eficácia patrimonial é regida
pelo regime de separação de bens. É necessária para alienar ou gravar
de ônus real bens imóveis; pleitear, corno autor ou réur ações acerca
desses bens; prestar fiança ou aval e fazer doação não remuneratória
de bens comuns.
A negativa injustificada de um dos cônjuges, ou a impossibilidade
de consentir - a exemplo de doença ou ausência -pode ser suprida
pelo magistrado, conforme verbera o artigo 1.648 do CC.
Caso o cônjuge, isoladamente, venha a praticar o ato que necessite
da outorga, sem a respectiva autorização, a hipótese é de anulabilidade
, do ato, no prazo decadencial de 2 (dois) anos, contados do término
da sociedade conjugal. Esta, inclusive, é a dicção do artigo 1.649 CC.
Para questões específicas, é possível noticiar sobre o Enunciado
114 do CJF, o qual clama pela ineficácia do aval, conferido sem outorga
uxória, sobre a meação do cônjuge meeiro, bem como a súmula 332
do STJ, a qual afirma que a ausência de outorga em fiança é fato que
gera ineficácia. Repisa-se: posicionamentos para questões específicas,
pois a regra é a dicção do CC.
E se a pessoa for casada no regime de participação final nos
aquestos, precisará da outorga uxória para alienação de um imóvel?
A regra geral é que seja necessária a outorga uxória, pois o artigo
1.647 supramencionado apenas exclui a necessidade na hipótese do

ANDRÉ MaTA, CRISTIANO SOl!RAl., LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 47
Capítulo li I

regime de separação. Todavia, segundo o artigo 1.656 do CC, a outorga


uxória pode ser dispensada no pacto antenupcial em que os cônjuges
escolham o regime de participação final.

2.2.4. INCAPACIDADE

Considera-se uma pessoa incapaz quando inexiste a capacidade


de fato, possuindo, portanto restrições à prática de determinados atos
da vida civil. Por ser uma limitação, a incapacidade deve ser interpre-
tada de maneira restrita. Capacidade, portanto, é a regra; enquanto
que incapacidade é a exceção, nos casos discriminados pela lei.
A incapacidade decorre de critério objetivo (cronológico ou etário) '
e subjetivo (psíquico).

a) Objetivo, Etário ou Cronológico ~ Idade: menores de 16 ou


entre 16 e 18 anos).
Este é facilmente aferível com simples verificação da certidão de
nascimento ou carteira de identidade.

b) Subjetivo ou Psíquico ~ Patologia + Decisão Judicial


Este mais dificilmente analisado, demandando processo com
contraditório, entrevista do interditando, perícia médica...

A incapacidade admite uma gradação, dividindo-se em absoluta


e a relativa.
Ademais, em virtude das recentes mudanças implementadas pela
Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência ou Lei Brasileira de
Inclusão), o tema incapacidades sofreu importantes impactos. Defi-
ciência deixou de ser sinôrúmo de incapacidade. Assim, o deficiente, a
priori, é capaz, tendo sido reformados os arts. 32 e 4º do Código Civil.
Diante destes novos paradigmas que estudaremos os temas
incapacidades absolutas e relativas.
'
I
48 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA ÜVIL j 3a edição

l
\ Capítulo li

2.2.4.1. Incapacidade Absoluta (art. 3" CC)


Conforme dispõe o novel art. 3º do Código Civil, são absoluta-
mente incapazes apenas os menores de 16 anos. Trata-se dos menores
impúberes. Abaixo deste limite etário, o legislador considera que a pes-
soa não possui maturidade suficiente p,ora atuar na órbita do direito.
Entretanto, eventualmente, o mer'tor de 16 anos será escutado,
mormente em ações que digam respeito à sua situação existencial, a
exemplo de guarda e adoção (Enunciado 138 do CJF).
Infere-se que após a reforma legislativa (Lei 13.146/15), o quadro
dos absolutamente incapazes fora sensivelmente reduzido. De três
hipóteses, tem-se, hodiernamente, apenas uma delas: o menor de
dezesseis anos. Em consequência, verificam-se impactos no decorrer
de todo o Código Civil; veja-se: i. não corre prescrição e decadência
em face dos absolutamente incapazes (CC, arts. 198, I, 207 e 208), mas
corre em face dos relativamente incapazes (CC, 'art. 195, 207 e 208) e
ii. o ato praticado pelo absolutamen~e incapaz, sem representação,
é nulo (CC, art. 166, I), enquanto que o praticado pelo relativamente
incapaz, sem assistência, é anulável (CC art. 171, !).

2.2.4.2. Incapacidade relativa: (artigo 4", CC)


Conforme o novel artigo 4º do Código Civil, são relativamente
incapazes a certos atos ou a forma de exercê-los:

I. Os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos.


São denominados menores púberes, os quais, em razão de não
possuírem ainda o completo discernimento, a norma os caracteriza
como relativaQlente incapazes.
Ressalta-se que o menor entre dezesseis e dezoito anos não pode
se valer de sua idade para se eximir de uma obrigação, caso a tenha
dolosamente ocultado quando inquirido pela outra parte ou, se no
ato de obrigar-se, declarou-se maior (artigo 180 do CC). Veda-se aqui
o abuso do direito pelo viés do comportamento contraditório (nemo
potest venire contra factum proprium).

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO F1GUEIRED0,5ABR!NA DOURADO 49


PEsSOA FíSICA ou NATURAL ou DE ExiSTÊNCIA VtsívEL

Capítulo li

Outrossim, observe que o CC não enuncia idade máxima para


a incapacidade. O passar dos anos, por si só, não é capaz de gerar a
incapacitação.

li. Ébrios habituais e os viciados em tóxico.


Aqui se percebe a primeira mudança da Lei 13.146/15 (Estatuto
da Pessoa com Deficiência ou Lei Brasileira de Inclusão) no rol dos
relativamente incapazes. Retirou-se da redação originária a doença
mental que gerasse discernimento reduzido.

III. Aqueles que, mesmo por causa transitória, não puderem


exprimir a sua vontade.
Segunda mudança da Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com
Deficiência ou Lei Brasileira de Inclusão) no rol dos relativamente
incapazes. Antes da modificação, a hipótese em apreço dizia respeito
à incapacidade absoluta. Hodiernamente é reconhecida como situação
apta a ocasionar incapacidade relativa.
Trata-se de hipóteses episódicas nas quais a pessoa se encontra
impedida de manifestar vontade. É o caso de alguém, vítima de
intoxicação fortuita, que a incapacita por completo, a exemplo de
quando colocam droga na bebida desta, deixando-a inconsciente
temporariamente. Ilustre-se, ainda, com o estado de coma, em virtude
de acidente de veículo.

IV. Pródigos.
A prodigalidade ~~nsiste num desvio comportamental através
do qual o indivíduo, desordenadamente, dilapida o seu patrimônio
sem um motivo plausível, incorrendo no risco de reduzir-se à miséria.
Nesta situação, o pródigo deve ser interditado, a fim de preservar
o seu próprio patrimônio, para que lhe seja assegurado o mínimo
existenciaL Logo, a curatela do pródigo somente o privará de, sem
curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, deman-
dar ou ser demandado, e praticar, em geral, atos que não sejam de
mera administração, conforme a redação do artigo 1.782, CC
PESSOA FíSICA ou NATURAL ou DE EXISTÊNCIA VISÍVEL
Capítulo li

_
E o índio?
A disciplina normativa do índio, elencada no Código de 1916
entre os relativamente incapazes, passou a ser tratada por legislação
especial, conforme artigo 4º, parágrafo único, do atual CC de 2002.
As legislações especiais são: a Lei 5.371 (Estatuto da FUNAI) e a 6.001
(Estatuto do Índio). Na regra geral, os índios ficam sob a tutela da
FUNAI.

2.2.4.3. Suprimento da incapacidade (Representação e


Assistência)

Por meio do seu representante, o absolutamente incapaz passa


a produzir atos da vida civil, suprindo a sua incapacidade. O mesmo
ocorre com o relativamente incapaz, que através do seu assistente
passa praficar atos jurídicos. Lembra-se que o ato praticado pelo
incapaz sem a anuência dO<seu assistente é passível de anulabilidade.

2.2.5. CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE

Cessa a incapacidade como a causa que a originou:


a) Com o final de sua causa objetiva ~ Maioridade
b) Com o final de sua causa subjetiva~ Revisão do Processo de
Interdição
c) Emancipação

2.3. EMANCIPAÇÃO

De acordo com o artigo 5º, do Código Civil, a menoridade cessa


aos dezoito anos completos. Ocorre que a capacidade plena poderá
ser antecipada, seja em virtude da autorização dos representantes
legais do menor ou do Juiz, ou pela superveniência de fato a que a lei
atribui força para tanto.

ÁNnllf. MnTA. C:O'!IST!ANO Sm~f<U. l.iJClANO fiGUIHR.EOO. RoBERTO flGUEIREOO. SAJ:IRINA DOURADO 51
Capítulo li

Entende-se por emancipação o ato irretratável e irrevogável por


meio do qual se confere ao menor a capacidade de exercício antes
deste completar a maioridade. A emancipação, segundo o artigo 5º,
parágrafo único do CC, pode ser voluntária, judicial ou legal, senão
veja-se:

2.3.1. VOLUNTÁRIA (ARTIGO 5•, PARÁGRAFO ÚNICO,


I, PRIMEIRA PARTE, CC)

Consiste a emancipação no ato de concessão de ambos os res-


ponsáveis, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento
público, independentemente da homologação judicial, a menos que
•.. enh a, no m1nin1o,
' · .1.0 'd
-.r · ) anos con1p1.etos.
\ ezesse1s '
Atente-se para as questões usuais das provas:

a) Se a mãe for separada do pai e detiver a g).larda, poderá sozinha


conceder a emancipação (ou vice-versa)?
Não, sob o risco de retirar o poder familiar do outro genitor.
Só ocorrerá emancipação isolada de um dos genitores quando o outro
estiver destituído do poder familiar. As hipóteses de destituição do
poder familiar são específicas e demandam processo judiciaL estando
previstas no artigo 1.635 do CC.

b) Se houver conflito na decisão dos pais, exemplo: o genitor quer


emancipar, mas a genitora não quer fazê-lo, como proceder?
O Juiz decide, aplicando-se a hipótese padrão para o conflito de
interesses no exercício do Poder Familiar (artigo 1.631, CC).

2.3.2. JUDICIAL (ARTIGO 5•, PARÁGRAFO ÚNICO, I, SEGUNDA


PARTE, CC)

A emancipação judicial poderá ocorrer quando concedida pelo


tutor ao pupilo, quando este possuir dezesseis anos completos, atra-
vés de decisão judicial a fim de evitar o esvaziamento da tutela e
deste múnus pelo simples ato de emancipar. Poderá ocorrer ainda por

52 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


ICapítulo 11

determinação da Justiça, em casos de divergência entre os genitores


(inafastabilidade da jurisdição).

2.3.3. LEGAL (ARTIGO 5•, PARÁGRAFO ÚNICO, li E SS. DO CC)

Decorre da prática de ato jurídico incompatível com a sua con-


dição de incapaz. Tais atos estão previstos em lei. São as hipóteses:

a) Pelo casamento (artigo 5º, parágrafo único, !I, CC);


Por se tratar de um ato irrevogáveL ainda que casamento eman-
cipe, a separação ou divórcio posterior não a revogam, pois são ques-
tões que se ligam à eficácia do casamento, e não à sua validade. Por
ser a emancipação um ato irrevogável e irretratável, esta permanece.
O mesmo raciocínio se aplica caso o cônjuge falecer.
Entretanto, a nulidade do matrimônio gera a inexistência da
emancipação, pois do nada, nada provem. Se não houve casamento,
não há de se falar em emancipação. Todavia, há de ser ressalvada a
hipótese de casamento putativo, o qual produz efeitos para aquele
que agir de boa-fé até a sentença anulatória. Este, inclusive, é o regra-
mento do artigo 1.561 do CC.

b) Exercício de emprego público efetivo (artigo 5º, parágrafo


único, III, CC);
É o exercício, e não a aprovação no concurso público. Cuidado
com a usual pegadinha de prova!
Mais uma vez, registra-se que a emancipação é irrevogável e
irretratável. Na hipótese do emprego público, mesmo que venha a
perdê-lo, o estado de emancipado irá perdurar, não sendo restabele-
cida a incapacidade anterior, sob pena de causar insegurança jurídica.

c) Côlação de grau em ensino superior (artigo 5º, ·parágrafo


único, IV, NCC);
É a colação de grau, e não a aprovação no vestibular. Mais uma
! pegadinha!

L ANDRÉ MOTA, CR!STIA.NO SOBRAL, LuCIANO flGUE!REDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 53
PESSOA FÍSICA ou NATURAL ou DE EXISTÊNCIA VJSÍVEL
Capítulo 11

d) O estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de rela-


ção de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis
r
anos completos tenha econon;tia própria (artigo 5º, parágrafo único,
V,CC); i

A emancipação legal é imediata e automática, sendo dispensada


a declaração judicial. Caso ocorram diversos atos ernancipatórios
seguidos: casamento, graduação em ensino superior, exercício de
função pública, o primeiro já será suficiente para emancipar, não
havendo de falar-se em diversas emancipações.
As emancipações judicial e legal exoneram a responsabilidade
civil solidária dos responsáveis - a exemplo dos pais - e que está
prevista no artigo 932 e 933 do CC/02, pois decorrem de ato legitimado
pelo Estado, o que não ocorre na voluntária (Enunciado 41 do CJF).

Tribunal da Cidadania
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRU-
MENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ATROPELA-
MENTO. LESÕES CORPORAIS. INCAPACIDADE.
DEVER DE INDENIZAR. REEXAME DE MATÉRIA DE
FATO. REVISÃO DO V~LOR DA INDENIZAÇÃO POR
DANO MORAL. PENSAO MENSAL. BENEFICIO PRE-
VIDENCIÁRIO. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. JUL-
GAMENTO ULTRA PETITA. OCORRÊNCIA. RESPON-
SABILIDADE CIVIL DOS PAIS. EMANCIPAÇÃO. 1. Não '
cabe recurso especial por alegada ofensa a dispositivos consti-
tucionais. 2. A emancipação voluntária, diversamente da ope-
rada por força de lei, não exclui a responsabilidade civil dos
pais pelos atos praticados por seus filhos menores. 3. Impos-
sibilidade de reexame de matéria de fato em recurso especial
(Súmula 7 do STJ). (... ) 7. Agravo regimental parcialmente
provido. (STJ - AgRg no Ag: 1239557 RJ 2009/0195859-0,
Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data de
Julgamento: 09/10/2012, T4- QUARTA TURMA, Data de
Publicação: Dje 17/10/2012)
r
!;
~
Capítulo li

2.4. EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL


PESSOA FÍSICA OU NATURAL OU DE EXISTÊNCIA VISÍVEL

A existência da pessoa natural, bem corno sua personalidade, é


extinta com a morte. A morte, no direito nacional, se dá de duas formas:
a) Real
b) Presumida
• Com procedimento de ausência.
• Sem procedimento de ausência.

2.4.1. MORTE REAL

Está prevista no artigo 6º do Código Civil. Cuida-se da morte


atestada, em regra, por profissional da medicina, e, na ausência deste,
por duas testemunhas, na forma do artigo 78 da LRP (6.015/73).
O conceito de morte passou por uma reforma, não sendo mais
considerada como a parada cardíaca, mas sim a paralisação das ondas
cerebrais, por conta da necessidade de preservação do funcionamento
do corpo para eventuais transplantes.
De acordo com o artigo 9º do CC a morte é registrada no local
do óbito (artigo 9º, do CC).

2.4.2. MORTE PRESUMIDA OU MORTE CIVIL OU FICTA MORTIS

Tem-se como regra a morte real, entretanto, excepcionalmente, a


morte pode ser presumida. Tal hipótese ocorre quando há impossi-
bilidade de localização do cadáver. O Direito Brasileiro admite duas
situações para a morte presumida:

2.4.2.1. Com Procedimento de Ausência (artigo 6•, e 22 a 39)


Considera-se Ausente aquele que desaparec~ de seu domicílio
sem deixar notícias. Para que uma pessoa seja considerada ausente,
é necessária à verificação de um processo desdobrado em três fases.

ANnttF MoTA CIIT~Tt4NO SORIIAI- ],\I('JANO fJCaJF;IRROO. ROBERTO FIGUEIREDO. SABRINA DOURADO 55
Capítulo 11

~ 1' Fase- Curadoria de Bens do Ausente


. A abertura do procedimento poderá ser requerida por qualquer
mteressado, inclusive o Ministério Público (artigo 22, CC), cabendo
ao juiz declarar a ausência e nomear curador. Também será nomeado
curador na hipótese do ausente ter deixado procurador que tenha
poderes insuficientes~ ou não mais queira, ou possa~ exercer este
mister (artigo 23, CC). Registra-se que o curador será responsável por
arrecadar os bens do ausente e protegê-los.
O curador não será necessariamente quem iniciou o procedi-
mento, havendo uma ordem preferencial estabelecida no artigo 25
do CC:
a) O cônjuge, desde que não esteja separado judicialmente e nem
de fato há mais de dois anos; t~ · ·
b) Os pais;
c) Os descendentes, preferindo os mais próximos em relação aos
mais remotos;
d) Curador dativo, à escolha do Juiz.

O companheiro está incluído no rol de possíveis curadores,


ao lado do cônjuge, por questão de intuitiva isonomia constitucio-
nal. Essa informação apenas deverá ser utilizada na prova acaso
o questionamento verse sobre posicionamento doutrinário ou
jurisprudencial.

~ 2' Fase - Sucessão Provisória


. Inicia-se após 1 (um) ano contado da data da decisão que deter-
minou a arrecadação dos bens, ou três anos após tal decisão, caso o
ausente te~ha deixado procurador (artigo 26, CC). O requerimento é
fe1to pelos mteressados (artigo 27, CC), sendo eles:
a) Cônjuge, não separado judicialmente;
b) Herdeiros;
c) Credores do ausente.

Não havendo interessado no prosseguimento da ação, o Minis-


tério Público poderá requerer sua continuidade. (artigo 28, § 1°, CC).

56 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA ÜVlL ! Y edição


iI j Capftulo ti""

A decisão que converte a curadoria de bens em sucessão provi-


II sória apenas tem efeito 180 (cento e oitenta) dias após publicada na
imprensa oficial (artigo 28, CC).
Pede-se ao Juiz que transmita os bens aos herdeiros, em caráter
precário (provisório), mediante caução (garantia). Esta é conferida
segundo penhores ou hipotecas equivalentes :aos quinhões respecti-
vos. Pode ser dispensada a caução se a transmissão for para herdeiros
necessários (artigo 30, § 2° e artigo 1.845).
Nesta fase não será admitida a prática' de ato de disposição do
direito (ex. alienação, venda, doação), salvo com autorização do juiz
(artigo 31, CC), por conta do possível retorno do ausente.
Ainda por conta do referido retorno, deverão os herdeiros capi-
talizar o valor referente à metade dos frutos e rendimentos oriundos
dos bens recebidos, prestando contas anualmente ao juízo competente
(artigo 33, CC). Tais frutos, porém, não serão devidos se, quando o
ausente aparecer, restar comprovado que a ausência fora voluntária
e injustificada.

~ 3' Fase- Sucessão Definitiva


Inicia-se 10 (dez) anos após o trânsito em julgado da sentença
que declarou aberta a sucessão provisória, ou 5 (cinco) anos depois
das últimas notícias do ausente, se maior de 80 (oitenta) anos, como
pontuam os artigos 37 e 38 do CC.
Nesta fase há trans·nissão dos bens, em caráter definitivo, sendo
o
restituídas as cauções e admitindo a prática do ato de disposição.
E se o ausente voltar dentro do lapso de até 10 anos da sucessão
definitiva?
a) Se for na 1' fase - reassume a titularidade do patrimônio.
b) Se for na 2ª fase- tem direito a reaver o patrimônio no estado
em que deixou. Se houver depreciação além da usual, o ausente
poderá levantar a caução. Se houver melhoramentos, o pos-
suidor de boa-fé deve ser indenizado (artigo 36, CC).
c) Se for na 3ª fase- tem o ausente direito aos bens no estado em
que se encontram, sendo que se tiverem sido vendidos, terá

ANDRÉ MOTII, CRJSTIANO Süli&\L, LuCiANO FlGUElll.EDO, ROBERTO FJGUUREDO, SABRJNA DOURADO 57
PESSOA FísJCA ou NATURAL ou DE ExisTÊNCIA VIsívEL

Capítulo 11

direito no que se sub-rogou (substituiu, segundo o artigo 39


do CC).
d) Se após os 10 (dez) anos da 3' fase- não terá direito algum.
'
'
Esclareça-se, que a morte presumida com decretação de ausência
(artigo 6') dissolve o casamento, conforme o artigo 1.571 do CC.
E se o ausente retornar? O casamento restaura?
A resposta é negativa, pois o eventual retorno do ausente não vai
trazer consequências de ordem pessoal, a par da insegurança jurídica
decorrente de outro entendimento e da possibilidade eventual de um
novo casamento, acaso assim se desejem.

2.4.2.2. Morte presumida sem declaração de ausência


(artigo 7°1 CC)

Apenas é admitida no direito brasileiro em duas hipóteses, nas


quais o legislador entende haver um motivo aparente para o desapa-
recimento, e, em virtude da grande probabilidade da morte, autoriza
sua declaração sem perpassar pelo procedimento de ausência. São as
seguintes hipóteses:
a) se for extremamente provável a morte de quem estava em
perigo de vida;
b) no desaparecimento em decorrência de campanha ou prisão,
quando o desaparecido não for encontrado após 2 (dois) anos
do término da guerra.

A morte ficta sem procedimento de ausência traduz novidade


do vigente CC. Nesta há declaração da morte, sem a necessidade
do largo procedimento de ausência. Malgrado a inexistência deste
procedimento, o pedido de declaração de morte demanda processo
judicial específico, denominado de justificação do óbito.
O parágrafo único do artigo 7º determina que a declaração da
morte presumida apenas poderá ser requerida depois de esgotadas
buscas e averiguações. Neste caso, a sentença deverá fixar a provável
data do falecimento.
Sobre morte presumida (gênero: com ou sem procedimento de
ausência), lembrar da súmula 331 do· STF, segundo a qual é legitima a

EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3 8 edição


PESSOA fÍSICA OU NATURAL OU DE EXISTÊNCIA VISÍVEL

Capítulo JJ

incidência do imposto de transmissão causa mortis no inventário por


morte presumida.

2.4.3. CoMORIÊNCIA

Prevista no artigo 8º do CC, traduz a declaração de morte simul-


tânea de duas ou mais pessoas, quando não for possível precisar os
instantes das mortes. Tal fato acarreta importantes consequências
práticas, pois serão abertas cadeias sucessórias autônomas e distintas,
de maneira que um comoriente não herda do outro. (:·
A cmnoriência pode ser afastada por prova definitiva em contrário
(prova de pré-moriênç;ia).

ANDRÊ MOTA, CrtlSTlANO SOBRAL, LUCIANO flGU'ElREDO, ROBERTO FlGDElP.EDO, SAllRINA DOURADO 59
CAPÍTULO III.

PEssoA JuRÍDICA

3.1. CONCEITO

A pessoa Jurídica é um fenômeno social que decorre da necessi-.


da de do ser humano se associar para desenvolver atividades relativas
a natureza do homem. O Direito não poderia quedar-se omisso quanto
a estas colelivid:des, assim, passou a discipliná-las a fim de legitimar
a sua parlicipaçao, na vida jurídica, corno sujeitos de direitos, dotan-
do-as para este fim, de personalidade própria.
Tecnicamente, pode-se afirmar que a pessoa jurídica representa a
so~~ de esforç~s humanos (corporação) ou a destinação de um patri-
momo (fundaçao), destinada a urna finalidade lícita, expressamente
prevista em lei, a partu de registro.
, , Hodiernarnente, tem-se urna visão constitucional da pessoa
JUfldica, ob~ervan~o um viés de solidariedade social e igualdade,
remetendo a funçao social da empresa. Tem como expressão mais

60 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 Y edíção


\ Capítulo lll

adequada a Empresarialidade Responsável: a empresa deve pautar-se,


no exercício de suas atividades, na boa-fé objetiva, de modo a não
prejudicar terceiros (enunciado 53 do CJF).

3.2. SURGIMENTO DA PESSOA JURÍDICA

O Código Civil de 2002 adotou a teoria da Realidade Técnica,


segundo a qual a existência da pessoa jurídica se dá com a inscrição
dos Atos Constitutivos no registro competente, conforme dispõe o
artigo 45 do C/C.
Diferente da Pessoa Física, na qual o registro constitui mero ato
declaratório de direito, o registro é para a pessoa jurídica um ato
constitutivo de direito.
O registro das pessoas jurídicas ocorre em locais diversos, a
depender de sua natureza. O assento dos atos constitutivos das
sociedades simples, associações fundações deverá ser realizado no
Registro Civil das Pessoas Juríclicas (Cartório de Registro das Pessoas
Jurídicas). No que concerne o registro das sociedades empresárias,
o mesmo deverá ser realizado no Registro Público das Sociedades
Mercantis, por meio das juntas, comerciais.
Ressalta-se que determinadas pessoas jurídicas dependem de
outros atos além do registro para adquirir personalidade. Nestas
hipóteses, determina o artigo 45 do CC, a necessidade de uma autori-
zação prévia, conferida pelo Poder Executivo, sob pena de quedar-se
inexistente. Ex: banco (além do registro deve ter autorização do Banco
Central); companhia de seguros (Dec. Lei 2.063/40); escritório de advo-
i cacia (Estatuto da OAB); sociedades estrangeiras (Lei de Introdução

I' às normas do Direito Brasileiro, artigo 11, § 1º).


O direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito
privado por defeito do ato respectivo pode ser exercido dentro do
prazo dec-adencial de 3 (três) anos, contados da publicação de sua

I inscrição no registro, ou a partir do registro, nas hipóteses em que a


publicação não for exigida (artigo 45, p.u., CC).

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROIIERfü FlGUEIREI)O, SA:BRINA DOURADO
61
I PESSOA JURÍDICA
Capítulo 111 I

3.2.1. ATo CoNSTITUTIVO DAS PESSOAS JuRÍDICAS

O ato constitutivo consiste num contrato social ou estatuto.


O estatuto é destinado às associações e sbciedades anônimas. Já o
contrato social, por sua vez, é usado pelas sociedades.

3.2.2. PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO ou INDEPENDÊNCIA ou


AuTONOMIA

Ao realizar o registro do contrato social ou estatuto, a pessoa


jurídica passa de fato a existir, tornando-se pessoa jurídica de direitos
e deveres, a ter capacidade patrimonial, constituindo patrimônio pró-
prio e independente do patrimônio pessoal daqueles que a corr~põem.
Tem-se, então, a formação de uma unidade orgânica autônoma,
provida de personalidade própria, que contrai direitos e deveres inde-
pendentes em relação àqueles que a compõem. Assim, pelas obriga-
ções contraídas pela pessoa jurídica, em regra, reponde o patrimônio
da mesma. Tal regra da autonomia, porém, sofre exceções, sendo a
principal a teoria da desconsideração da personalidade jurídica da
pessoa jurídica.

3.3. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA DA PESSOA JURÍDICA

A desconsideração da Personalidade Jurídica ocorre diante da


necessidade de satisfazer o direito de terceiros lesados, respondendo
àqueles que compõem a sociedade através dos seus patrimônios
pessoais, passando estes a terem responsabilidade pessoal pelo ilícito
causado. Registra-se que este fenômeno consiste numa exceção.
Assim, a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica
é episódica, ou seja: levanta-se o "véu protetivo" do princípio da
separação apenas na situação concreta, mantendo-se o princípio da
personalização para demais atos.

EmTORA ARMADOR 1 PRÁTICA ÜVll I 3a edição


PESSOA jURÍDICA I
I Capítulo liJ

Registra-se que a desconsideração da personalidade jurídica não


põe fim à pessoa jurídica. O princípio em comento protege. até mesmo,
a função social da empresa, pois a eventual extinção da empresa
prejudicaria os empregos por essa gerados, bem como a circulação
de capitaL
O artigo 50 do C/C traz expressamente o instituto da desconside-
ração da personalidade jurídica. Sob a ótica do artigo 795, do NCPC,
veicula a norma uma responsabilidade patrimonial secundária.
Ao trazer a teoria da desconsideração da personalidade jurídica
para o seu campo normativo, o legislador optou pelo que denomina
a doutrina de teoria maior, elencando alguns requisitos para tanto:
a) Pedido Expresso: da Parte ou do Ministério Público, quando
couber intervir no Processo- é vedada no CC a desconside-
ração de ofício pelo juiz.
b) Abuso da Personalidade: seja através do Desvio de Finali-
dade ou Confusão Patrimonial.

Por se tratar de uma exceção, o artigo 50 do Código Civil que


traz a hipótese de desconsideração da personalidade jurídica, deve
ser interpretado de maneira restritiva (Enunciado 146 do CJF). Tanto é
assim que o mero encerramento das atividades não pasta para carac-
terização do abuso de personalidade, bem como a insolvência não é
exigida (Enunciados 281 e 282 do CJF).
Percebe-se, então, que o Código Civil adotou uma linha objeti-
.;,ista, sendo dispensada a comprovação da intenção (dolo ou culpa).
Conforme a linha de raciocínio do enunciado 7 do CJF, em uma
interpretação sistemática do artigo 50 do C/C, dispõe que podem ser
atingidos tanto o integrante- sócio, associado ou fundador- bem
como o mero administrador, independentemente de culpa, perqui-
rindo a sanção aquele que praticou o ato em abuso de personalidade.
Contudo, em que pese o Código Civil ter adotado uma teoria
maior de desconsideração da personalidade jurídica, existem alguns
diplomas, ainda vigentes (Enunciado 51 do CJF) que adotam a teoria
menor, são eles:
a) Código de Defesa do Consumidor- artigo 28, § 5º:
b) Código Tributário Nacional (CTN- Lei 5.172/64)- artigo 135:

!'
't
I /\NURf: MOTA, Ü!!STJA~O SOBRAL, LUCli\NO FIGUEJREDO, ROBERTO fJGUF.JREOO, SIIHltlNA DOURADO 63
Capítulo lii

c) Lei dos Crimes Contra o Meio Ambiente (Lei 9.605/98)- art. 4º:
d) Lei do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (Lei
12.529/2011)- artigo 34

Conforme o Enunciado 284 do CJF, a desconsideração pode atingir


qualquer espécie de pessoa jurídica, podendo ser arguida pela própria

pes3oa jurídica (Enunciado 285 CJF).
Registra-se que em qualquer hipótese deverá sempre ser respei-
tado o devido processo legal, com direito ao contraditório e à ampla
defesa. • I
De mais a mais, inovando o sistema nacional, o Código de Pro-
cesso Civil de 2015 trouxe o chamado incidente de desconsideração,
como modalidade típica de intervenção de terceiros, atento, en:>
I
'
I

~
grande parte, aos avanços doutrinários e do direito material sobre o I
tema. O assunto restou regulado nos seus artigos 133 a 13Z
O intuito do legislador processualista foi procedimentalizar o
tema, ao passo que o assunto já tinha grande musculatura material,
mas era completamente carente de forma de instrumentalização.
Destarte, a ausência de procedimento era bastante deletéria ao direito
nacional, não sendo raras as decisões de desconsideração sem a devida II
garantia ao contraditório. Pior. Em outros casos desconsiderava-se ;;
sem nenhum parâmetro procedimental, havendo um incidente de t
desconsideração para cada juiz, cada qual fixando prazo de resposta
de dilação probatória que entendia equânime. A partir de março de
!
1
2016, ao que parece, esta situação será resolvida.
Na ótica do novel Código de Processo Civil, o incidente poderá
ser instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando
I
couber intervir no processo (CPC, art. 133). Trata-se de regra capaz
de promover importante diálogo com o direito civil material, o qual,
desde 2002 já propugna, no artigo 50 do Código Civil, a necessidade
de pedido expresso -seja da parte ou do Ministério Público.
Sensível à evolução doutrinária e jurisprudencial sobre o assunto,
o Código de Processo Civil, de maneira inédita no direito positivo,
fez alusão, até mesmo, ao instituto da desconsideração inversa, orde-
nando a aplicação, por analogia, da normatização da desconsideração
direta, em uma iniciativa digna de aplauso (CPC, art. 133, § 2'). Com

64 EDITORA ARM,\DOR I PRÂTICA CIVIl. I 3" edição


\ Capítulo lll

efeito, 0 legislador, no particular, caminhou com os já mencionado~


acórdãos do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto, os qums Ja
ordenavam a analogia na hipótese.
Ainda atento à consolidada e citada jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, firma o Código de Processo Civil a possibili-
dade de 0 incidente ser realizado em qualquer fase do processo1de
conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundád~
em título extrajudicial. Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça, ha
muito iá havia abraçado a noção de que o direito à desconsideração é
potest~tivo e sem prazo para exercício, nã~ d~ca~n?~· . ,
Por razões de ordem lógica, caso a propna m1C1al )a tenha colo-
cado no seu polo passivo os sócios da pessoa j':rídica, t:'~do este_s
integrado o processo de conhecimento, não se~a necessan? _InCI- ?
dente, pois o contraditório já haverá sido garantido desd':' o InlClO da
demanda, bastando decisão judicial ordenando a mitlgaçao a autono-
mia. Obviamente, em constando no polo passivo da lide desde a sua
gênese, despiciendo a intervenção de terceiros.
Procedimentalmente, o incidente suspenderá o processo em curso,
devendo 0 requerimento demonstrar o preenchimento dos requisitos
materiais para a incidência do instituto. Aqui deverá o operado: do
direito diagnosticar qual a seara material em que se encontra (c1vel,
consumo, tributária, trabalhista ...) e cpm base nas regras respectlvas
buscar a demonstração dos elementos da teoria maior ou menor.
Então, em garantia ao devido processo legal, o sócio ou a pe~soa
jurídica será citada para se manifestar e requerer as provas cab1veis
no prazo de 15 (quinze) dias. Destarte, a procedimentalização d~
incidente, em atenção ao devido processo legal, curva-se a tese, ha
muito, desenvolvida pelo Superior Tribunal de Justiça de necessidade
de contraditório, como já trabalhado.
Finda a instrução, acaso necessária, o incidente será resolvido
por decisão interlocutória, atacável por agravo - de instrumento ou
interno, a depender da hipótese.

ANDRÊ MoTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCli\NO FlGUElRl.WO, ROBtRTO FIGUEIREDO, S!IER!NA DoURADO
65
l PESSOA }URÍDICA
Capítulo IH I
3.4. SOCIEDADES DESPERSONIFICADAS

As sociedades Despersonificadas, tamb~m conhecidas como


Sociedades Irregulares, Sociedades de Fato, Gnlpos ou Entes Desper-
sonificados são aquelas que não foram constituídas nos termos da lei,
ou seja, falta o registro.
A doutrina inclui no rol das Sociedades Despersonificadas, o
condomínio, a herança vacante, a herança jacente, a massa falida, a
família ...
Em razão de não possuírem registro, esses entes não são dotados
de personalidade jurídica. Entretanto, o Código Civil em seu artigo
986, preocupou-se em lhes conferir tratamento elencando-os no rol
das sociedades comuns, tendo em vista os atos por eles praticados.
Mas o que significa ser despersonalizada? Qual a implicação
jurídica desta situação?
Significa não possuir aptidão genérica para ser titular de direi-
tos e obrigações na esfera civil. Ainda sim, mesmo não possuindo
personalidade estes entes podem exercer alguns atos, a exemplo de
celebração de contratos, bem corno lhe é concedida legitimidade pro-
cessual passiva (artigo 75, IX, NCPC).
A inobservância ao registro da sociedade traz aos sócios o ônus
da responsabilidade solidária e ilimitada, retirando ainda o benefício
de ordem do sócio que praticou o ato social (Enunciado 59 CJF). Pelo
benefício de ordem, os bens dos sócios só poderão ser executados, caso
os bens da sociedade não sejam suficientes para satisfazer a obrigação.
Registre-se: apenas perde essa faculdade aquele que contratou em
nome da sociedade.
Conforme disposição do artigo 989 do C/C, eventual pacto limi-
tativo de responsabilidade entre os sócios não terá eficácia em face
do terceiro de boa-fé, o qual não conhecia ou não devia conhecer
do acordo. É mais urna consequência da responsabilidade solidária
e ilimitada.
Conforme dispõe o artigo 987 do Código Civil, os sócios, nas
relações entre si ou com terceiros, apenas poderão provar a existência

66 EDITORA /\R!\1 \DOR 1 PRÃTICA CIVIL I 3" cdiçJ.o


PESSOA jURÍDICA I
[ Capítulo IIl

da sociedade por escrito, mas os terceiros podem provar a existência


de sociedade de qualquer modo.
A sociedade irregular e a sociedade de fato, são espécies de
sociedades comuns, possuindo algumas diferenças conceituadas pela
doutrina pátria (artigo 58 CJF). Entende-se por sociedade irregular
aquela que possui ato constitutivo, mas que ainda não foi registrada.
Já a sociedade de fato é aquela que sequer possui ato constitutivo.

3.5. REPRESENTAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

A representação da pessoa jurídica deverá constar no ato consti-


tutivo da empresa. Caso o ato constitutivo quede-se omisso quanto à
nomeação do represent&nte, todos os integrantes e administradores
serã~ considerados representantes.
Nesta linha de raciocínio, a citação da pessoa jurídica deve ser
recebida por aquele que tem poderes para tanto. Todavia, o entendi-
mento do STJ é no sentido de que a citação feita na sede da pessoa
jurídica, recebida por funcionário componente de seus quadros, é
válida, ainda que este não esteja mencionado no estatuto como um
dos representantes da empresa, com força na teoria da aparência.
Segundo o artigo 49 do Código Civil, o juiz poderá nomear
administrador provisório a requerimento de qualquer interessado,
momentaneamente, caso o administrador da pessoa jurídica venha
a faltar.

3.6. CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS


I
!
A doutrina classifica a pessoa jurídica com base em alguns cri-
térios a seguir expostos:

ANDRÉ MOTA, CR!STlA~O SonnAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DoURADO 67
Capítulo ll1 !
3.6..1. QUANTO À NACIONALIDADE: NACIONAL OU ESTRANGEIRA

A identificação da pessoa jurídica deve estar subordinada ao orde-


namento jurídico que lhe conferiu personalidade. Se a pessoa jurídica
fm estabeleoda pelo ordenamento jurídico pátrio, esta será nacional;
se por ordenamento jurídico estranho ao nacional, será estrangeira.
. , Nesta esteira, pouco interessa a origem do capital da pessoa
JUndica, ou amda a nacionalidade dos seus membros ou a origem do
controle financeuo, sendo relevante apenas a localidade do seu regis-
tro. Assim, a pessoa jurídica estrangeira irá obedecer à lei nacional do
registro, inclusive no que respeita à autorização para funcionamento,
na forma do artigo 11 da Lei de Introdução às normas do Direito
Brasileiro.
. Deste modo, salienta-se que existem algumas atividades pri-
val:!~as das pessoas_iurídicas nacionais, a exemplo da exploração de
mmenos. Esta h1potese de exclusividade denomina-se reserva de
mercado, :endo fundamento no artigo 176 da. Constituição Federal.
:rms exceçoes foram mitigadas pela EC 6/95, que abriu o mercado para
mvestimentos produtivos estrangeiros.
A distinção aqui realizada entre as empresas nacionais e estran-
geiras permite conceituar de maneira mais clara as empresas nacionais
com capital estrangeiro.

3.6.2. QUANTO À ATIVIDADE EXECUTADA OU FUNÇÕES

a) Direito Público -estão previstas em Lei. Nessa casuística há


soberania do público sobre o privado, com um regime jurídico dife-
renciado. Podem ser:
~ Direito Público Interno: poder público constituído (União,
Esta~os, ?istrito Federal, Municípios, suas autarquias, asso-
ciaçoes pubhcas e fundações) -disciplina do artigo 41 do CC.
~ Direito Público Externo: submetidas ao Direito Internacional
Público (as diversas nações inclusive a Santa Sé e os organis-
mos Internacionais como a ONU, a OEA, a FAO, a UNESCO
etc.)- disciplina do artigo 42, CC.

68
EmroRA.ARivtADOR I PRÁTJCAC!VIL I Yedição
b) Direito Privado -todas as demais (que não são previstas em
lei), tendo como enumeração exemplificativa o artigo 44 do CC.
Dessa forma, inclui-se no rol exemplificativo das pessoas jurídicas
de direito privado, as associações, sociedades, fundações (privadas),
organizações religiosas, partidos políticos e as empresas individuais
de responsabilidade limitada. 1
A Lei 12.441/2011, trouxe uma mudança legislativa, implicahdo
rto acréscimo da empresas individuais de responsabilidade limitada.
As organizações e p<>rtidos políticos estão aqui inseridos como
novidade no CC de 2002 para garantir liberdade de credo e autonomia
política, respectivamente.
É importante a distinção entre público e privado, podendo gerar
significativas consequências jurídicas quanto ao regime disciplinador
da matéria (estatutário ou privado), além de importar em se saber se
tais patrimônios serão impenhoráveis, inalienáveis (com exceções) e
imprescritíveis (não podem ser objeto de usucapião).

~ ATENÇÃO!!!
'
O parágrafo único do artigo 41 do CC dispõe que as Sociedades
de Economia Mista e as Empresas Públicas são pessoas jurídicas
de direito privado. '

3.6.3. QUANTO À ESTRUTURA INTERNA

a) Corporações (universitas personarum) -é a reunião de pes-


soas (universalidade de pessoas), que podem, ou não, ter finalidade
econômica. Subdivide-se em sociedades e associações.

a) Sociedades
Trata-se de uma pessoa jurídica de direito privado, formada
através da reunião de indivíduos (sócios), constituída através de um
contrato social, visando à partilha de lucros.
Antes da vigência do atual código civiL dividiam-se as socie-
dades em sociedades civis e sociedades comerciais. Atualmente tais

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCJA.NO FIGUEIREDO, RoBÍ:RTO F!GUEIRl'DO, SABR!NA DOURADO 69
j PESSOA jURÍDICA
Capítulo lil I

expressões encontram-se extintas. São chamadas de sociedades sim-


ples as antigas sociedades civis e, sociedades empresariais as antigas
sociedades comerciais.
As denominadas sociedades simples, são pessods jurídicas que
embora persigam proveito econômico, não desenvolvem atividades
empresariais, restringindo-se à prestação de serviços. A regra é que o
sócio participe da atividade fim da empresa, a exemplo de consultórios
médicos, odontológicos, escritórios de advocacia ...
Pode-se afirmar que são sociedades simples todas àquelas que não
são empresariais. Ademais, o seu registro deverá ser feito no Cartório
Jurídico de Pessoas Jurídicas.
O artigo 966 do Código Civil traz o conceito de crr.prcs.::írio sendo
aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou serviços. Tal conceito se
aplica de maneira idêntica às sociedades empresariais. Salienta-se,
ainda, que o seu registro deverá ser realizado no Registro Público de
Empresas, também conhecido como Junta ComerciaL Neste tipo de
sociedade, o sócio nem sempre participará da atividade fim, surgindo
a figura do sócio investidor.
Conforme o artigo 982 do CC, as sociedades por ações são empre-
sariais e, as cooperativas sociedades simples.
Registra-se, por fim, que a sociedade entre cônjuges só será pos-
sível se não forem casados no regime de comunhão universal ou de
separação obrigatória de bens (artigo 977 do CC).

b) Associacões:
Conforme o artigo 53 do C/C, são entidades de direito privado
formadas pela união de pessoas que se organizam para fins não eco-
nômicos (finalidade ideal não lucrativa, social).

:> ATENÇÃO!!!
As associações podem ter lucro, entretanto é defeso a sua
repartição.
Nesta esteira, a renda que essa pessoa jurídica venha a gerar, não
poderá ser repartida entre os associados, devendo ser revertida

7fl
PESSOA }uaímcA I
f Capítulo lJI

para a sua finalidade ideal, promovendo novas contratações ou


melhorias na sua sede.
Deve-se prestar atenção ao termo acima utilizado, qual seja
associado. Nas associações não há a figura do sócio, mas sim
associado. Assim, não há de se falar em direitos e deveres entre
associados.

No que conceme à associação, os associados têm iguais direitos,


a exemplo de voto, participação em deliberações, frequentar a sede ...
Todavia, é possível que o estatuto traga vantagens especiais a certas
categorias de associados (artigo 55, CC).
A associação é iorrnada por:
I- Conselho deliberativo;
II - Um conselho fiscal;
III -Urna presidência;
IV - A assembleia geral de associados.
V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos
deliberativos;
VI- as condições para a alteração das disposições estatutárias e
para a dissolução.
VII - a forma de gestão administrativa e de aprovação das res-
pectivas contas.

Registra-se que a eventual exclusão de um associado deverá


observar a justa causa, assim como o devido processo legal, conforme
determinação do artigo 57 do CC.
Caso ocorra a extinção de uma associação, qual será o destino
dos seus bens?
Como fora dito, não poderá ser feita a divisão do patrimônio
pelos associados, tendo em vista que as associações não possuem
finalidade lucrativa.
Assim, a primeira coisa a ser feita será a divisão das frações ideais
de cada associado. Para se associar, cada associado poderá ser obrigado
a dar urna contribuição, chamada de fração ideal, que não se confunde
com a contribuição mensal. Após, o patrimônio líquido remanescente
deverá ser destinado a uma entidade de fins não econômicos, indicada

ANPlU~ ,"vf(.lL\, CRJSTI \NO SOBRAL, I.UCI.INO FlGUEIRf.OO. ROBIRTO F!GUURíó!lO, S\1\RINA DOVR·\PO 71
Capítulo 111 !
pelo estatuto da empresa. Caso o estatuto quede-se omisso, haverá
deliberação da assembleia para deliberar uma entidade municipal,
estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes. Caso inexista, o
patrimônio remanescente será devolvido à Fazenda Pública do Estado,
do Distrito Federal ou da União (§ 2º do artigo 61, CC). I!
b) Fundações (universitas bonorum) :
As fundações são o resultado da afetação de um patrimônio
livre, desembaraçado e idôneo, por escritura pública (ato inter vivos),
ou testamento (ato mortis causa). Resulta da personificação de um i
patrimônio, com o fito de realizar urna finalidade ideal.
No que tange às finalidades fundacionais, digno de nota que
I
a Lei 13.151/2015 operou recerte modificação no Código Civil, espe-·
ci~c~mente no parágrafo único do art. 62. Assint, passou o vigente
Cod1go a adotar a linha já defendida pelos Enunciados 8 e 9 do Con-
selho da Justiça Federal, dilatando o rol de finalidade fundacionais
em relação à lei pretérita. Hoje, portanto, a fundação somente poderá
constituir-se para fins de: I- assistência social; li - cultura, defesa e
conservação do patrimônio histórico e artístico; Ill - educação; IV -
saúde; V- segurança alimentar e nutricional; VI- defesa, preservação
e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento
sustentável; VII - pesquisa científica, desenvolvimento de tecnolo-
gias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e
divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos;
VIII- promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos
humanos e IX - atividades religiosas;
A criação da fundação se dará consoante os seguintes passos:

1º) Afetação de Bens Livres, por meio do Ato de Dotação Patri-


monial. Esta se dará por Escritura Pública (para atos inter vivos)
~
ou Testamento (para atos causa mortis) O dito testamento pode ser
público, particular ou cerrado.
A instituição é o ato pelo qual se cria a fundação. Aplicam-se a ela
as mesmas restrições de todo e qualquer ato de disposição patrimonial,
a exemplo da doação inoficiosa- que desrespeite a legítima, conforme
l I

72 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiviL 1 3" edição


r Capítulo 111

dispõe o artigo 549 do CC- e da doação de todo patrimônio- chamada


de universal e expressamente vetada pelo artigo 548 do CC.
A finalidade fundacional deverá sempre ser indicada pelo ins-
tituidor e o ato de criação poderá mencionar, caso queira, o modo de
administrar a fundação.
Em ocorrendo por ato inter vivos, a instituição será irretratável.
Nesta hipótese, caso o instituidor tenha criado uma fundação, deta-
lhando seu patrimônio e não tenha transferido os bens, o interessado,
ou o Ministério Público, poderá requerê-lo, através de tutela específica
(artigo 64 do CC).
Sendo insuficiente o patrimônio afetado, seguir-se-á o destino
indicado no ato da instituição (estatuto social). Na hipótese de omissão
do ato de instituição, o patrimônio, nos moldes do artigo 63 do CC,
dPverá ser transferido oara entidade de finalidade igual ou semelhante.
Não havendo entidad~ alguma desse tipo, o juiz indicará o destino a
ser dado ao aludido patrimônio, tudo na forma do artigo 63 do CC.

2º) Elaboração dos Estatutos (não é contrato social). Pode ser:


a) Direta- realizada pelo próprio instituidor;
b) Indireta ou fiduciária- quando alguém é nomeado para fazê-
lo. Fiduciária, pois decorre da confiança e, por isso, se a pessoa não
cumprir o encargo no prazo determinado, o Ministério Público o fará,
de maneira compulsória;
3º) Aprovação dos Estatutos, por parte do Ministério Público
(art. 65 do CC).
A única hipótese em que o MP não será o responsável pela apro-
vação dos estatutos será quando ele próprio elaborá-Ío, em decorrência
da omissão do criador, ou de terceiro. Assim, segundo a doutrina,
nessa hipótese a aprovação deverá ser feita pelo juiz, por meio da
jurisdição voluntária, para ser efetivado o controle buscado.

4º) Realização do Registro Civil, no Cartório de Registro das


Pessoas Jurídicas. A partir da realização do registro civil, a fundação
adquiri sua personalidade jurídica.

ANDRÉ MoTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUElREOO, ROBERTO FIGUEIREDO, SAI!RlNA DoURADO
73
j PESSOA }URÍDICA
Capítulo 111 \

O estatuto é o ato constitutivo das fundações. O estatuto já regis-


trado só poderá ser modificado se observados os seguintes requisitos,
todos dispostos no artigo 67 do CC:
1
I) Quórurn para aprovação- maioria qualificada (2/3) dos gestores;
II) Não modificação da finalidade;
III) Aprovação do Ministério Público no prazo máximo de 45
(quarenta e cinco) dias, findo o qual, ou no caso de o Ministério Público
a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. Este
item trata-se de mais uma das recentes modificações insertas pela Lei
13.151/2015.
Conforme o artigo 68 do CC, a minoria vencida dos gestores terá
o prazo decadencial de 10 (dez) dias para impugnar a modificação
estatutária.
Nas pegadas do art. 66 d<i Código Civil, a fiscalização das fun-
dações deverá ser feita pelo Ministério Público EstaduaL Consoante
mais uma modificação da Lei 13.151/2015- agora adequando o texto do
Código Civil a ADI 21794 -, se as fundações funcionarem no Distrito
Federal, ou em Territórios, caberá o encargo ao Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios. Outrossim, caso as fundações estendam
suas atividades por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um
dos Estados, ao respectivo Ministério Público EstaduaL
Finda a Fundação a destinação de seu patrimônio deverá estar
expressa no estatuto. Porém, caso este quede-se omisso, o magistrado,
com a oitiva do Ministério Público, o destinará para urna fundação
similar, nos moldes do artigo 69 do CC

3.7. EMPRESAS INDIVIDUAIS DE RESPONSABILIDADE


LTDA

A empresa Individual de Responsabilidade Limitada, também


conhecida corno EIRELI, passou a ter previsão no Código Civil (artigos
44 e 980-A), após o advento da Lei Federal nº 12.441/2011.
Por se tratar de um fenômeno recente, o mesmo ainda é tratado
pelos manuais com o devido cuidado e prudência, sendo ora remetido
PESSOA }URÍDICA \

I Capitulo lll

ao direito empresarial, ora não tratado, ora referido como inovação


legislativa sem detalhamentos maiores.
De qualquer forma, o Conselho da Justiça Federal já se manifestou
acerca da EIRELI introduzindo a comunidade jurídica seis enuncia-
dos na jornada de Direito Civil, a quinta, publicada em dezembro de
2011, a saber:
• A empresa individual de responsabilidade limitada só poderá
ser constituída por pessoa natural (Enunciado nº 468).
• A empresa individual de responsabilidade limitada não é socie-
dade, mas novo ente jurídico personificado. (Enunciado nº 469).
• O patrimônio da empresa individual de respo~sabilidade
limitada responderá pelas dívidas da pessoa jurídica. não se
confundindo com o patrimônio da pessoa natural que a consti-
tui, sem prejuízo da aplicação do instituto da desconsideração
da personalidade jurídica. (Enunciado nº 470).
• Os atos constitutivos da empresa in'dividual de responsabili-
dade limitada devem ser arquivados no registro competente
para fins de aquisição de personalidade jurídica. A falta de
arquivamento ou de registro de alterações dos atos constituti-
vos configura irregularidade superveniente. (Enunciado nº 471).
• É inadequada a utilização da expressão "social" para empresas
individuais de responsabilidade limitada. (Enunciado nº 472).
• A imagem, o nome ou a voz não podem ser utilizados para
integralização do capital da empresa individual de responsa-
bilidade limitada. (Enunciado nº 473).

Curiosa é a situação jurídica da EIRELI, pois a norma lhe confere


estrutura de uma sociedade no plano da eficácia (dos efeitos jurídicos),
mas não de essência.
Ocorre que o CC passou a chamar de pessoa jurídica (artigo 44,
VI) as empresas individuais de responsabilidade limitada que, a teor
do artigo 980-A será constituída "por uma única pessoa" titular da
totalidade do capital social, devidamente integralizado e que "não
será inferior a cem vezes o maior salário mínimo vigente no país".
Por óbvio o desejo do legislador foi suprimir os desvios de
comportamento de alguns empresários que, face a uma limitação

ANIHtii MOTA, (RIST!ANO SOBRAL, LUC!ANO F!GUE!REDO, ROBERTO fiGUEIREDO, SABRINA DOURADO 75
I
Capítulo lil j

normativa para a constituição das suas sociedades, acabavam por


uconvidar"' certos sujeitos para "figurar" também na empresa com
!
percentuais societários ínfimosr poisr até entãor essa era a única pos-
sibilidade de constituição de pessoas jurídicas (reunião de no mínimo
duas pessoas).
Rrgistra-se que, em decorrência de imposição normativar o nome
empresarial deverá conter sempre a expressão EIRELI após a firma
ou a denominação social da empresa de responsabilidade limitada.
Deve ser lembrado, que cada pessoa natural só poder figurar em
uma empresa de responsabilidade limitada, a fim de evitar excessos,
desvios, ou abusos na utilização da EIRELI.
O fato é que as regras das sociedades limitadas serão aplicadas,
no que couber, às empresas individuais, pois é isto o que determina'
o CC não se aplicando, contudo, a EIRELI para os casos de sócio
remanescente, mesmo na hipótese de concentração de todas as cotas
sociais, como adverte o artigo 1.033, parágrafo único, do CC, observado
o disposto no artigo 1.113 a 1.115 do mesmo Diploma.

3.8. EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

A extinção da Pessoa Jurídica pode decorrer em razão de diversos


motivos, nas seguintes modalidades:

a) Convencional: ocorre quando os sócios resolvem dissolvê-la


por livre manifestação de vontade, imotivadamente, no exercício do
direito potestativo de não permanecer contratado.

b) Legal: Hipóteses de extinção previstas na lei, como no caso


de morte dos sócios (artigo 1.028 do CC) e de decretação de falência
(Lei 11.105/05)

c) Administrativa: pessoas jurídicas que precisam de autorização


de outros órgãos do poder executivo para funcionamento, e perdem
tal autorização, por uma questão qualquer. É o exemplo das segura-
dorasr ou bancos.

76 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL j 3a edição


\Capítulo lll

d) Judicial: quando há um processo e deci~ão, con;ose anulada


a constituição na forma do artigo 45 do CC, paragrafo umco; ou seja.
por defeito no ato constitutivo no prazo de três anos.
Para a extinção da pessoa jurídica, é necessário que seja realizada
a liquidação da empresa, quitando todas as obrigações e apurand~ o
patrimônio remanescente, caso este exista, procedendo a sua d1v1sao,
se a empresa tiver fim lucrativo.

Tribunal da Cidadania
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL: DIS-
SOLUÇÃO DA PESSOA JURÍDICA. PRESUNÇAO DE
IRREGULARIDADE AFASTADA. REDIRECIONA-
MENTO. DESCABIMENTO. RECURSO REPRESEN-
TATrVO DE CONTROVÉRSIA. 1. O STJfirmou o enten-
dimento de que o redirecionamento da Execução Fiscal, e seus
consectários legais, para o sócio-gerwte da empresa, somente
é cabível quando demonstrado que este agiu com excess~ de
poderes, infração à lei ou contra o estatuto,. ou na_hrpote.se
de dissolução irregular da empresa. 2. Orrentaçao reafir-
mada pela Primeira Seção, no julgamento do Ag 1.265.1241
SP, submetido ao rito do artigo 543-C do CPC. 3. Agravo
Regimental não provido. (STJ - AgRg no Ag: 1353564 RS
2010/0179311-8, Relator: Ministro HERMAN BENJA-
MIN, Data de Julgamento: 16/12/2010, T2 - SEGUNDA
TURMA, Data de Publicação: Dje 02/03/2011)

77
ANDRÊ MaTA, CRiSTIANO SOimAL, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO FtGUElREDO, SABRINA DoURADO
CAPÍTULO IV.

DIREITOS DA PERSONALIDADE

4.1. INTRODUÇÃO E CONCEITO

É usual e verdadeira a afirmação segundo a qual a pessoa seria


o centro do sistema privado. Lembra Orlando Gomes que a pessoa é
quem contrata, possui poder familiar, é empresária, firma contrato
de emprego, realiza testamento. Entretanto, a pessoa nada seria sem
o seu conteúdo, ou seja, sua personalidade.
A personalidade é algo intrínseco a qualquer pessoa, seja ela natu-
ral ou jurídica. Consiste então na possibilidade de ser um sujeito de
direito, titularizando direitos e contraindo deveres na ordem jurídica.
O ordenamento jurídico confere personalidade jurídica a alguns
sujeitos (pessoas físicas e jurídicas). Ademais, atribui disciplina pro-
tetora da pessoa mediante um mínimo existencial a garantir o exercício
destes direitos fundamentais no campo das relações privadas. É aí
que entram em cena os direitos da personalidade. Consistem então
DIREITOS DA PERSONALIDADE

Capítulo IV

uma categoria jurídica necessária e fundamental para o reconheci-


mento da personalidade jurídica, garantindo um exercício pleno da
capacidade jurídica.
Trata-se de direitos subjetivos conferidos às pessoas, tomada
em si mesma e em suas necessárias projeções. São indispensáveis ao
desenvolvimento e manutenção do homem em diversos aspectos, a
exemplo do nome, imagem, privacidade etc ...
A correlação entre os direitos fundamentais e o direito da per-
sonalidade ocorre, ao passo em que estes consistem num espelho
infraconstitucional daqueles. A partir da análise dos artigos 11 ao 21
do CC evidencia-se que muitos dos direitos da personalídade guar-
d~nl rcbção corr. os direitos fundamentais dispostos no artigo 5º, da
Constituição Federal. A título de exemplo:
a) os incisos V e X, do artigo 5º da Constituição Federal, abordam
o direito à imagem, como o faz também o artigo 20 do CC;
b) os incisos XI, XII e XII, do artigo 5º da Constituição Federal,
abordam o direito à privacidade, como o faz o artigo 21 do CC

Da harmonia existente entre os direitos fundamentais e os direi-


tos da personalidade, podem ser tiradas três conclusões de extrema
importância:

a) direitos e garantias fundamentais são cláusulas pétreas, logo,


é possível a construção de tal regime aos direitos da personalidade;

b) assim como os direitos e garantias fundamentais, que são


exemplificativos - haja vista que o § 2º, do artigo 5º da Constituição
Federal afirma, expressamente, que a relação lá noticiada não exclui
outros eventuais direitos- os direitos da personalidade não se subme-
tem a enumeração taxativa, sendo, por conseguinte, exemplificativo o
rol dos artigos 11 a 21 do CC, ao disciplinar alguns dos vários direitos
da personalidade. Este posicionamento bem prestigia o princípio da
operabilidade do direito civil.

Ao lado da enumeração explicitada nos artigos 11 a 21 do Digesto


Civilista, há uma cláusula geral de direitos da personalidade, a qual é

ANnRF MOTA- CRISTIANO SoBRAL. LUCIANO ftGUElREDO, ROBfRTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 79
Capítulo IV

veiculada no ordenamento jurídico nacional a partir do Princípio da


Dignidade da Pessoa Humana (artigo 1º, III, CF). Nessa linha, enten-
de-se que a enumeração tem um viés abertor constituindo os direitos
da personalidade uma categoria elástica, compreendida a partir do
quadro evolutivo do homem.
Abraça•1do esta tese, observa-se que o Superior Tribunal de Justiça
sumulou a extensão do conceito de família, tutelando o single -leia-se:
solteiro, viúvo - para proteção do bem de família (Súmula 364;).
Ainda em termos conceituais, é interessante buscar a relação
existente entre os direitos da personalidade e as nominadas liberdades
públicas. De fato, impõem os direitos da personalidade tanto ações,
corno omissões, estatais para sua implementação, seja respeitando a
liberdade, ou promovendo a igualdade.

c) como fruto da dignidade da pessoa humana, e ao serem incluí-


dos como direitos e garantias fundamentais, os direitos da personali-
dade submetem-se à técnica da ponderação de interesses, segundo o
princípio da concordância recíproca, e não a regra do tudo ou nada.
Nessa linha, arremata o Enunciado 274 do CJF "Em caso de colisão
entre eles (direitos da personalidade), como nenhum pode sobrelevar
os demais, deve-se aplicara técnica da ponderação.".

4.2. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DA


PERSONALIDADE

O artigo 11 do Código Civil elenca algumas das Características


do Direito da Personalidade. Entretanto, é a doutrina quem traz de
maneira mais detalhada. O citado dispositivo legal afirma que, res-
salvadas as exceções legais, os direitos da personalidade são intrans-
missíveis e irrenunciáveis, não admitindo seu exercício, limitação I
I
voluntária -leia-se: indisponíveis.
Baseada na redação do artigo 11 do CC, a doutrina versa sobre os
caracteres neles explicitados, bem como nos implícitos.

80 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVlL ] 3~ edição


I Capítulo IV

4.2.1. INDISPONÍVEIS

Por não serem passíveis de transmissão definitiva, inter. vivos


ou causa mortis, tampouco de renuncia, os direitos da personal~dade
são indisponíveis. Entretanto, admite-se, eventualmente, a cessao do
rcício em determinadas situações, dentro de certos hmltes, a
seuexe , d h' -
modo de não sacrificar sua própria dignidade. Ex: quan o a c:ssao
de direito à imagem, doação de órgãos humanos duplo3, ce~sao de
uso do nome. Nesse sentido, o Enunciado nº 4 do CJF: "o exerciciO dos
direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que
não seja permanente nem gera!" .

4.2.2. ABSOLUTOS

o fato dos direito da personalidade serem absolutos, ~ão signific~


ue os mesmos são impassíveis de mitigação. Do contrano, como 1a
~ra mencionado, os direitos da personalidade podem ser ponderados.
São absolutos, pois possuem eficácia erga omnes, logo possuem
eficácia contra todos, de sorte que todos deverão respeitar a persona-
lidade do próximo.

4.2.3. EXTRAPATRIMONIAIS

Regra geral, os direitos da personalidade não possue':' conteúd~


econômico. Entretanto, caso ocorra violação desses dueltos, ou ate
mesmo em caso de sua cessão, confere-se valor econômico, seja com
0 ânimo de reparar ou de comercializar. Dessa form~, ~ possí~el falar
num conteúdo econômico mediato, ainda que tms direitos seJam des-
providos de valor econômico inerente.

ANDRÉ MaTA, CRISTIANO SOBRAL, LuciANO FJGUfiiREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DouRADO
81
DIREITOS DA PERSONALIDADE

Capitl1lo IV

4.2.4. INATOS (JUSNATURALISTAS)

Para a doutrina majoritária, os direitos da personalidade decor-


rem de um momento pré-jurídico, sendo inatos. Devido a isto, tais
direitos estão relacionados à tese jusnaturalista.
Cita-se como exemplo desta linha de pensamento é o do tribunal
de Nuremberg, que condenou os alemães pelos massacres da Segunda
Guerra, mesmo diante da tese de defesa alemã de que atendia ao cum-
primento da norma. Segundo o entendimento do referido Tribunal,
nenhuma lei poderia ir de encontro ao direito à vida, direito este que
antecede a lei, é inato.

4.2.5. IMPRESCRITÍVEIS _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
.:__::c._:::::=-===:.:..:..::::::....

A ausência do exercício do direito da personalidade não os torna


passíveis de extinção, sendo por isso considerados imprescritíveis.
Cita-se o exemplo banal da pessoa que não utiliza a sua imagem,
como fazem os atores famosos. Neste caso, não há a possibilidade de
perda desta pretensão.
Em que pese os direitos da personalidade serem imprescritíveis,
a pretensão condenatória de reparação pelo dano decorrente da sua
violação, prescreve no prazo de 3 (três) anos, conforme dispõe o artigo
206, § 3°, V do CC.
Noutros termos, apesar de não haver prazo para pretensão do
livre exercício (por isso é imprescritível a ação preventiva), há prazo
para a pretensão indenizatória.

=.:::...:.==:::::::.
4.2.6.VITALÍCIOS ______________
Como fora dito preteritamente, a personalidade se inicia com o
nascimento e se finda com a morte. Dessa forma, tendo como o objeto
de proteção dos direitos da personalidade a própria personalidade,
não há que se falar em sua proteção após morte (em regra), sendo, por
I
isso, considerados vitalícios.

I 01
DIREITOS DA PERSONALIDADE
Capítulo IV

Os direitos da personalidade são intransmissíveis. Sendo assim


em regra, somente o titular de tais direitos pode ajuizar ação em cas~
de sua violação. Entretanto, a lei permite que os herdeiros deem con-
tinuidades a ação iniciada pelo de cujus, desde que a ação não englobe
pedidos personalíssimos.
O parágrafo único do artigo 12 do C/C, legitima outras pessoas,
na qualidade de lesados refl~xos, a pretender pelo morto. São eles: 0
cônjuge sobrevivente, ascendentes, descendentes ou colaterais até 4º
grau.
A informação acima não contradiz o caráter vitalício dos direitos
da personalidade?
Os direitos da personalidade não se transmitem, mas o disposi-
tivo possibilita a sua tutela por outrem, que, de forma indireta sofre
pela tentativa de dano ao de cujus, vale dizer, os parentes vivos (efeito
ricochete ou• oblíquo), trata-se de uma lesão indireta.
. Nesta esteira, ressalta-se que não há no artigo uma previsão de
legitimidade extraordinária, ou substituição processual. A hipótese
é de legitimação ordinária ou autônoma.
Em que pese o referido dispositivo legal não incluir neste rol o
companheiro, a doutrina o fez em observação à isonomia constitu-
cional. Entretanto, caso o referido pensamento doutrinário só deverá
ser levado em consideração em questões objetivas direcionadas ou
subjetivas. Ademais, apesar de o artigo referir-se ao morto, deve ser
levado em consideração também o ausente, sendo admitida inclusive
a morte presumida (artigo 7º CC).
Exemplo interessante de lesado indireto ocorreu no caso em que
um jornalista escreveu uma biografia sobre o jogador Carrinha, na
qual expôs que o craque possuía órgão sexual avantajado. Os lesados
indiretos ajuizaram uma ação, pleiteando afronta à privacidade, o que
foi deferido pelo STJ, no REsp 521697 f RJ.
Para não cair em pegadinha na prova, fique de olho, pois o pará-
grafo único do artigo 20 do CC traz previsão específica sobre lesados
indiretos em casos de direito à imagem, enunciando rol mais restrito
que o do artigo 12 do CC. Trata-se do artigo 20 a legitimar ativamente
apenas o cônjuge, ascendentes e descendentes, sem noticiar os cola-
terais até 4º grau.

AN!lRÉ MOTA, (RJST!ANO SOBRAL, LUCIANO fiGUEIRlõDD, ROliGIHO f!GUEJREDO, 5ABR!NII DOURADO 83
Capítulo IV j

Dessa forma, aplica-se, como regra geral, o rol trazido pelo artigo
12, e, para questões relativas à imagem, o artigo 20. Esse é o entendi-
mento do Enunciado nº 5 da Jornada de direito civil do CJF.

4.3. TUTELA J:URISDICIONAL

Prevê o artigo 12º do CC, a possibilidade de proteção dos direi-


tos da personalidade através de medidas preventivas (inibitórias) ou
repressivas (de fazer, não fazer ou de dar).
Com a possibilidade de tutela preventiva dos direitos da persona-
lidade, o artigo 12 do CC, traz uma importante regra, a qual coaduna
com o artigo 84 do CDÇ. rompendo o histórico binômio lesão-sancão
caracterizador da tutela repressiva. •
A medida preventiva serve para evitar o dano e o seu alarga-
mento, sendo o meio para tanto tutela específica processual.
Entretanto, uma vez materializado o dano, a solução será a sua
reparação por meio de medida repressiva, sendo utilizado, em regra,
o arbitramento de danos morais, buscando a sua compensação. Nada
impede, porém, a cumulação desses danos morais com os materiais ou
até mesmo, estéticos, consoantes as Súmula s 37 e 387, arnbaslí'f(jfS'l'i.

4.4. CLASSIFICAÇÃO

Como fora inicialmente dito neste capítulo, a proteção da per-


sonalidade recai sobre os aspectos físico, psíquico ou intelectual.
Analisam-se agora os seus pilares classificatórios e desdobramentos:
integridade física (corpo vivo, corpo morto e autonomia do paciente);
integridade psíquica ou moral (imagem, privacidade, honra e nome)
e integridade intelectual.

84 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CiVIL I 3" edição


1 capitUlO •v

4.4.1. PILAR DA INTEGRIDADE FÍSICA

Trata-se da tutela do corpo humano, esteja ele vivo ou morto, além


dos tecidos e órgãos, bem corno as partes suscetíveis de separação e
individualização. É o direito de proteção corporal. O Direito Penal, ao
reprimir condutas contra a vida, protege juridicamente a integridade
física humana.
Classifica-se o Pilar da Integridade Física em:
• Artigo 13- Tutela ao corpo vivo;
• Artigo 14- Tutela ao corpo morto;
• Artigo 15 -Autonomia do paciente.

4.4.1.1. Corpo Vivo (artigo 13 CC)


Conforme dispõe o caput do artigo 13, do CC, ninguém poderá
dispor do corpo de maneira que haja diminuição permanente. _
A exigência médica mencionada no art1go hga-se a slluaçoes
emergenciais, como retirada de apêndice, sisos, vesícula, transplantes
de órgãos, et cetera. . , ,
o transplante de órgãos, conforme o artlgo 199, § 4-, CF, e regu-
lado pela Lei 9.434/97, que traz alguns requisitos necessários, para o
procedimento médico em vida, quais sejam:
1. Gratuidade- o contrato é neutro, pois é desprovido de econo-
micidade.
2. Relacionado a órgãos dúplices ou regeneráveis (renováveis),
ou seja, partes do corpo cuja retirada implique o doador a
continuar vivendo sem risco para a sua saúde.
3. O beneficiário seja cônjuge, parentes consanguíneos até o
quarto grau ou qualquer outra pessoa.

4.4.1.2. Tutela ao Corpo Morto (artigo 14 do CC)

A disposição do corpo morto só se~á possív~l, p~ra ~ns altnús-


ticos ou de pesquisa e, de forma gratmta. Essa e a d1cçao do arhgo
supracitado.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROI>ERTO fiGU!ÜREDO, SAI\RINA DOURADO
85
DIREITOS DA PERSONALIDADE
Capítulo IV

A disposição do corpo morto poderá ser revogável a qualquer


tempo em vida, não havendo de se falar em expectativa de direito.
Registre-se, por oportuno, que a validade do transplante pós-
-morte está condicionada à concorrência de determinados requisitos,
sendo eles:
1. Gratuidade- o contrato é neutro, pois é desprovido de econo-
micidade;
2. Não há limites quanto aos órgãos doáveis (possível deixar
todos os órgãos aproveitáveis);
3. Não se pode escolher o beneficiário (o receptor), pois existe
uma fila (organizada em ordem de emergência e com espeque
no princípio da universalidade da saúde);
4. Não é possível transplante pós-morte quando se tratar de
pessoas não identificadas ou indigentes (porém, o corpo do
indigente pode ser utilizado para pesquisas cientificas);
5. Necessidade de morte encefálica (cerebral);
6. Consentimento dos familiares do doador, se não houver nega-
tiva deste em vida;

4.4.1.3. Autonomia do paciente (artigo 15 do CC)


Também conhecida como livre consentimento, a autonomia do
paciente prega que, diante das informações dadas pelo médico, o
paciente deverá consentir o tratamentor de maneira autônoma, tendo
em vista que ninguém poderá ser obrigado a se submeter, com risco
de vidar a tratamento médico ou intervenção cirúrgica.
Com base no artigo 15 do CC, o paciente não é um objeto de
direito, mas um sujeito. Logo o mesmo possui o livre arbítrio para
optar se será tratado ou não.

4.4.2. INTEGRIDADE PSÍQUICA OU MORAL

Sob o prisma psíquico, existem quatro direitos da personalidade:


imagem, privacidade honra e nome. Estão relacionados à moral do
DIREITOS DA PERSONALIDADE

Capítulo IV

indivíduo e, visam preservar o conjunto psicológico da estrutura


humana (aspecto interior da personalidade).

4.4.2.1. Imagem

A Constituição federal em seu artigo 5º, V e X, bem como o artigo


20 do CC, dispõem sobre a proteção da imagem. Incide proteção
jurídica sobre a imagem por ela consistir nas particularidades que
identificam a pessoa no cenário sociaL Veja que essa identificação,
em verdade, vai além dos traços fisionômicos. Assim, malgrado a
imagem consistir em bem jurídico uno (aspectos de um único direito),
é possível ser fracionada em:
I) Imagem-Retrato: características fisionômicas de uma dada
pessoa (elementos físicos identificadores)- é o pôster da pessoa.
II) Imagem-Atributo: É uma característica identificadora social
da pessoa. Consiste em um qualitativo sociaL É quando tachamos
alguém de legal, ou chato.
JII) Imagem-Voz: É o timbre sonoro identificador. Ex.: Lombardi
(não se sabia quem era, mas só de ouvi-lo, identificava-se a pessoa),
Silvio Santos, Cid Moreira ...

A utilização da imagem de uma pessoa requer a autorização


desta, sendo indispensável o, seu consentimento, seja de forma
expressa ou tácita.

Tribunal da cidadania
Informativo 493/2012- STJ- DANO MORAL. DIREITO
DE INFORMAR E DIREITO À IMAGEM.
O direito de informar deve ser analisado com a proteção
dada ao direito de imagem. O Min. Relator, com base na dou-
trina, consignou que, para verificação da gravidade do dano
sofrido pela pessoa cuja imagem é utilizada sem autorização
prévia, devem ser analisados: (I) o grau de consciência do
retratado em relação à possibilidade de captação da sua ima-
gem no contexto da imagem do qual foi extraída; (ii) o grau de
identificação do retratado na imagem veiculada; (iii) a ampli-
tude da exposição do retratado; e (IV) a natureza e o grau de

ANnRF MOTA. CRISTIANO SO!I(UI.L. LUCIANO fJGUEIREDO. ROBERTO fiGUEIREDO, SABRINA DOURADO 87
Capítlllo IV

repercussão do meio pele qual se dá a divulgação. De outra


parte, o direito de informar deve ser garantido, observando
os seguintes parâmetros: (i) o grau de utilidade para o público
do fato mformado por meio da imagem; (ii) o grau de atuali-
dade da imagem; (iii) o grau de necessidade da veiculação da
zmagem p1:ra informar o fato; e (iv) o grau de preservação do
contexto originário do qual a imagem foi colhida. No caso ana-
Usado, emissora de TV captou irnagens, sem autorização, de
funcionário de empresa de assistência técnica durante visita
para realização de orçamento para conserto de uma televisão
que, segundo a emissora de TV, estava apenas com um fusí-
vel quezmado. O orçamento realizado englobou outros servi-
ços, além da troca do fusível. A imagem do funcionário foi
bem focalizada, permitindo sua individualização, bem como
da empresa em que trahalhava. Não houve onortunidade de
contraditório para que o envolvido pudesse p;ovar que o apa-
relho tznha outros defeitos, além daquele informado pela rede
de TV Assim, restou configurado dano moral por utilização
mdevida da imagem do funcionário. Noutro aspecto anali-
sado, o Min. Relator destacou a pacifica jurisprudência do
STJ que possibilita a revisão do montante devido a título de
dano moral, quando o '"oalor for exorbitante ou irrisório,. obser-
vados os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
Nesse contexto, a Turma entendeu desproporcional a fixação
da verba indenizatória em R$ 100 mil, reduzindo-a a R$ 30
mil. Precedentes citados: REsp 267.529- RJ, DJ de 18112/2000;
REsp 1.219.197-RS, Dfe de 1711012011; REsp 1.005.278-SE,
Dfe de 1111112010; REsp 569.812-SC, DJ de 1º1812005. REsp
794.586-RJ, Rei. Min. Raul Araújo, julgado em 1513/2012.

Informativo 468/2011 - STJ- DANO MORAL. USO


INDEVIDO. IMAGEM.
Trata-se de ação de indenização por danos morais pelo uso
indevido de imagem em programa de TV (recorrente) que
filmou a autora após despejar baratas vivas quando ela tran-
sztava em via pública, o que, segundo o TJ, não se poderia
confundir com mera brincadeira devido ao terror imposto -
que, inclusive, repercutiu na atividade psíquica da vítima.
Para coibir esse tipo de conduta, o TJ fixou a indenização

88 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


em montante equivalente a 500 salários mínimos. Agora, no
REsp, a TV alega a ocorrência da decadência nos termos da
Lei nº 5.250/1967 (Lei de Imprensa) e a necessidade de redu-
ção do valor da indenização. Para o Min. Relator, a limitação
do prazo decadencial disposta na citada lei não foi recep-
cionada pela CF/1988, uma vez que incompatível com seu
artigo 5º, X, que erigiu o dano moral a direito fundamental
do cidadão, de sorte que é inadmissível tratamento temporal
diferenciado e privilegiado para essa espécie de lesão, apenas
porque perpetrada pela mídia, seus agentes e colaboradores.
Ademais, observa que o Plenário do STF declarou inconsti-
tucional a Lei de Imprensa por inteiro. Por outro lado, con-
siderou e/evade o quantum arbitrado, embora ressalte não
desconhecer a situação de absoluto constrangimento, pavor
e ridicularização sofrida pela recorrida, que teve despejadas
inúmeras baratas vivas sobre seu corpo, agravada pelo fato de
que essas imagens foram veiculadas em programa televisivo
sem a devida autorização. Assim, devido aos constrangimen-
tos sofridos pela recorrida, adequou a condenação em propor-
cionalidade à lesão e fixou o valor indenizatório em cem mil
reais, englobando os danos morais e a exposiçã~ indevida da
imagem, corrigidos a partir da data desse julgamento. Diante
do exposto, a Turma conheceu do recurso especial e deu-lhe
parcial provimento, apenas para reduzir o valor da indeni-
zação. (REsp 1.095.385-SP, Rei. Min. Aldir Passarinho
Junior, julgado em 7/4/2011)

a) Imagem em um local público


O fato de estar em local público, por si só, não relativiza o direito
de imagem. Isto ocorrerá desde que não haja individualização da ima-
gem (dose). Entretanto, caso o foco da imagem seja uma determinada,
pessoa, esta terá que autorizar ainda que tacítamente a sua veiculação,
sob o risco de incorrer em violação do direito de imagem.

b) Pesso~s Públicas (celebridades) em locais públicos


As celebridades são pessoas publicamente conhecidas, diversa
da imagem de uma pessoa comum. Dessa forma, questiona-se: a

A!>.DRt MOTA, CR!~TIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIRI:DO, RoaERTO FiGUEIREDO, SABR!NA DOURADO 89
r
IDIREITOS DA PERSONALIDADE
Capítulo IV I !
pessoa pública que já trabalha com a sua imagem exposta, tem direito
a imagem?
Sim. Pois todas as pessoas, independente de serem públicas ou
não, têm direito de personalidade. Porém, as pessoas públicas sofrem
mitigação desse direito, em razão da atividade que exercem.
Ressalta-se que não poderá haver desvio de finalidade, ou seja,
a relativização dar-se-á no limite de sua atividade profissional, não
sendo possível, por exemplo, a veiculação da imagem de pessoa pública
em campanhas publicitárias, sem a sua aprovação.
Não será admitida, também, a invasão de privacidade para
obtenções de fotos.
Há de se àestacar que as pessoas que acompanharr, a celebridade,
em locais públicos, sofrem o mesmo regramento (implica na mesma
flexibilização do direito à imagem). Isso porque, se estão ao lado de
uma pessoa pública, em local público, de forma tácita assentem com
a divulgação de sua imagem, afinal de contas, os negócios jurídicos
devem ser interpretados de acordo com a boa fé e os usos e costumes
do lugar (artigo 113, CC).

c) Administração da Justiça ou Manutenção da Ordem Pública

Não há que se falar em violação ao direito de imagem, quando a


mesma for veiculada com a finalidade de administração da justiça ou
manutenção da ordem pública (artigo 20 do CC). A exemplo, cita-se
a hipótese da veiculação da imagem de um fugitivo da justiça, a fim
de que o mesmo seja recapturado.
Registra-se por último, que a veiculação da imagem para fins
comerciais requer a autorização do titular, sob pena de dano pre-
sumido (súmula 403 do STJ). Aplica-se esta regra inclusive para as
pessoas públicas.

d) É possível a veiculação de biografias não autorizadas?


O Supremo Tribunal Federal teve a oportunidade de decidir sobre
a suposta inconstitucionalidade da primeira parte do art. 20 do CC
na ADI 4815 do STF.

r:,..,,-,.,"'' Ao"''""" I PR.iTirACl\'IL l 3~cJiciio


r
!
I
I
Capítulo IV
DIREITOS DA PERSONALIDADE

f
A questão mereceu análise da Corte Suprema no que diz respeito
ao trecho do preceito normativo "Salvo quando autorizada" em relação
à possibilidade de se escrever biografias não autorizadas.
:Pela letra fria do texto infra constitucional, a dúvida interpretativa
que se tinha era no sentido da impossibilidade de biógrafos escreverem
biografias quando não autorizadas pelo biografado. Entretanto, numa
leitura constitucional do tema, prestigiando a liberdade de expressão,
o Supremo Tribunal Federal entendeu não ser necessário obter auto-
rização prévia do biografado para se escrever biografias. Em outras
palavras, a primeira parte do art. 20 do CC não se aplica ao caso de
biografias não autorizadas, de modo que estas poderão ser escritas.

e) Lei de Direito de Resposta


Em 11 de novembro de 2015 veio a lume a Lei Federal nº 13.188/15,
dispondo acerca do direito de resposta ou retificação do ofendido,
em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comu-
nicação. Faz-se mister analisar a referida norma, notadamente para
aferir os impactos da mesma sobre a teoria geral da responsabilidade
civil e proteção à personalidade.
Ao ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por
veículo de comunicação social é assegurado o direito de resposta ou
retificação, gratuito e proporcional ao agravo.
. Dessa maneira, qualquer reportagem, nota ou notícia divulgada
por veículo de comunicação social será considerada matéria, inde-
pendente do meio ou da plataforma de distribuição, comunicação ou
publicação. Se a matéria atentar, ainda que por equívoco de informa-
ção, contra a honra, intimidade, reputação, conceito, nome, marca ou
imagem de uma pessoa física ou jurídica, identificada ou passível de
identificação, será possível exigir o direito de resposta ou de retificação.
A norma exclui da definição de matéria os comentários reali-
zados por usuários da internet nas páginas eletrônicas dos veículos
de comunicação. De igual modo, a norma afirma que a retração ou
retificação espontânea não são capazes de impedir o exercício do
direito de resposta, "nem prejudicam a ação de reparação·por dano moral".
Pois bem. Diante da lesão, o ofendido terá o prazo decadencial de
60 (sessenta) dias para exercitar o seu pedido de direito de resposta,

ANllRf. MnTA_ CRISTIANO SOBIIAL. LUCIANO FIGUEIREDO. RülltliUO flGUElR!'iDO. 5AllRINA DOURADO 91
I
Capítulo IV

contados da data da divulgação, publicação ou transmissão da matéria


:
ofensiva O pleito do exercício do direito de resposta será realizado
mediante correspondência encaminhada, com aviso de recebimento,
diretamente ao veículo de comunicação social ou, inexistindo pessoa
jurídica constituída, a quem por ele responda, independentemente de
quem seja o responsável inteliectual pelo agravo. Se a matéria for con-
tinuada e ininterrupta, o prazo é contado da data em que se iniciou.
Quem fará o pedido do direito de resposta?
Este direito de resposta poderá ser exercido pelo ofendido, pelo
representante legal do ofendido incapaz ou da pessoa jurídica, bem
como pelo cônjuge, descendente, ascendente ou irmão do ofendido
que esteja ausente do país ou tenha falecido depois do agravo, mas
antes de decorrido o prazo decadencial de 60 (sessenta) dias. ·

o u~~-
. . . . .~.- -:r11º u.a
~~r-:-: ~;,..,..~~l; ..... a
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a .._orma ...:. -
e a ...._uraçao •
aa resposta ou
rettficaçao. A premissa é o respeito ao mesmo destaque e as mesmas
condiçôes da informação originária: publicidade, periodicidade e
duração. Ju~to por isto é que o ofendido poderá exigir que a resposta
ou rehficaçao aconteça no mesmo espaço, dia da semana e horário do
agravo, sob pena de ser considerada uma resposta inexistente.
E o que fazer se o veículo de comunicação receber o pedido de
resposta e não o conferir?
Nas pegadas do art. 5º da referida norma, "Se o veículo de comu-
nicação social ou quem por ele responda não divulgar, publicar ou transmitir
a resposta ou retificação no prazo de 7 (sete) dias, contado do recebimento do
respectivo pedido, na forma do art. 3º, restará caracterizado o interesse jurídico
para a proposztura de ação judicial".
O interesse de agir, portanto, de acordo com a letra fria da lei,
surgirá apenas após o transcurso dos 7 (sete) dias, a contar do recebi-
mento do pedido, sem nenhuma resposta do veículo de comunicação...
A competência para conhecer, processar e decidir este pedido
será do juízo do domicílio do ofendido ou, se este assim preferir
aquele do lugar onde o agravo tenha apresentado maior repercussão.
A demanda possui rito especial e deverá ser processada no prazo
máximo de 30 (trinta) dias. Deverá ser instruída com as provas do
agravo e do pedido de resposta ou retificação desatendido, além do

92 EDJTORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL ! 3a edição


I
j Capítulo 'iv

texto da resposta ou retificação a ser divulgado, publicado ou trans-


mitido, sob pena de inépcia da petição inicial.
Diante do caráter especial do rito, é vedada a cumulação de
pedidos, a reconvenção, o litisconsórcio, a assistência e a intervenção
de terceiros. Também não se admite a prova da verdade (exceção da
verdade).
Recebida a petição inicial, o magistrado deverá, em 24 (vinte
e quatro) horas, citar o responsável pelo veículo de comunicação
social para que, em igual prazo, apresente as razões pelas quais não
divulgou a resposta ou a retificação. Além disso, terá o veículo de
comunicação o prazo de 3 (três) dias, contados da citação, para oferecer
sua resposta à demanda.
Transcorridas as 24 (vinte e qúatro) horas da citação, havendo
ou não manifestação do réu sobre a questão liminar, o magistrado
conhecerá do pedido acaso se convença da verossimilhança da ale-
gação, ou verifique receio de ineficácia do provimento final, fixando,
desde logo, as condiçôes e a data para a veiculação da resposta ou
retificação, em prazo não superior a 10 (dez dias).
Esta tutela jurisdicional antecipatória poderá ser revogada,
reconsiderada ou modificada a qualquer momento, em decisão fun-
damentada. Poderá o magistrado, de igual sorte, fixar multa diária
independente de pedido da parte, bem como qualquer tipo de tutela
jurisdicional específica que assegure o resultado prático do processo.
A sentença deve ser prolatada em até 30 (trinta) dias após o ajui-
zamento da ação, salvo na hipótese de surgir conversão do pedido
em reparação por perdas e danos. Este feito deverá tramitar normal-
mente, ainda que surjam recessos ou férias forenses. Portanto, não se
suspende nestes períodos.
Os pedidos de reparação ou indenização por danos morais, mate-
riais ou à imagem serão deduzidos em ação própria, salvo se o autor,
desistindo expressamente da tutela específica de que trata a norma,
os requerer, caso em que o processo seguirá pelo rito ordinário.
Por fim, registra-se que o direito de resposta coaduna-se com o
ideal de reparação civil in natura, nas exatas pegadas do Enunciado
589 do CJF, segundo o qual a compensação pecuniária não é o único

Al-iDRf.; Mor,\, CRIS'fl"NO SO!>RAL, Ü:CIANO l'lGUElllL1JO, RoBERTO ftGUÉ!ll.l.ólJO. SABRI~:.o, DOURADO 93
DIREITOS DA PERSONALIDADE

Capítuln IV

modo de reparar o dano extrapatrirnonial, sendo admitida a reparação


in natura, na forma de retratação pública ou outro meio".

4.4.2.2. Vida Privada ou Privacidade

O artigo 5º, XII, da Constituição Federal (proteção constitucional),


bem corno o artigo 21 do CC, traz proteção a um bem jurídico per-
sonalíssimo, sendo este o direito de se manter só, de guardar aquilo
que faz parte da sua vida íntima.
Consiste na cláusula pétrea dos direitos da personalidade, pois
afirma a norma ser inviolável. Todavia, a doutrina, mitigando este
fato, afirrr.a que a privacidade pode ser decomposta em dols ~srectos:
I) Intimidade: São informações particulares, valores que dizem
respeito apenas ao titular; aspecto escondido, mais interior, que per-
tence a uma pessoa e mais ninguém.
II) Segredo ou Sigilo: Consistem em dados identificadores de
alguém, relacionados apenas ao seu titular, como número de telefone,
conta corrente, etc.

, Em que pese a intimidade ser blindada, o segredo não é, pois


pode ser relativizado quando se tratar de interesse público, a exemplo
das quebras de sigilo telefônico e bancário em persecuçôes penais.
Esta afirmação é doutrinária, apenas devendo ser utilizada em provas
específicas.

4.4.2.3. Honra

A honra diz respeito à reputação social do indivíduo, é aquilo o


que ele representa para a sociedade. Logo se trata de proteção contra
falsas imputações de fatos desabonadores que podem abalar a repu-
tação do titular. É o direito a reputação social, a boa fama, conceito
social que a pessoa tem perante a sociedade e em relação a si mesmo.
A honra se divide em:
I) Honra Objetiva: É o que os outros pensam de você. Seu pres-
tígio perante a sociedade.
Il) Honra Subjetiva: É o que você pensa sobre si mesmo.

94 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiviL I 3a edição


DIREITOS DA PERSONALIDADE

r.:J.pítulo lV

:l ATENÇÃO!
A pessoa jurídica também possui honra objetiva, em razão disto
é cabível n pleito de dano moral em favor da pessoa jurídica.
I
I

Tribunal da Cidadania
Informativo 508/2012- STJ- DIREITO ADMINISTRA-
TIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL.
PESSOA JURÍDICA. HONRA OBJETIVA. VIOLAÇÃO.
Pessoa jurídica pode sofrer dano moral, mas apenas na
hipótese em que haja ferimento à sua honra objetiva, isto é, ao
conceito de que goza no meio social. Embora a Súm. nº 2271
S T} preceitue que "a pessoa jurídica pode sofrer dano morai';
a aplicação desse enunciado é restrita às hipóteses em que há
ferimento à honra objetiva da entidade, ou seja, às situações
nas quais a pessoa jurídica tenha o seu conceito social aba-
'
lado pelo ato ilícito, entendendo-se como honra também os
valores morais, concernentes à reputação, ao crédito que lhe
é atribuído, qualidades essas inteiramente aplicáveis às pes-
soas jurídicas, além de se tratar de bens que integram o seu
patrimônio. Talvez por isso, o artigo 52 do CC, segundo o
qual se aplica "às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção
aos direitos da personalidade'; tenha-se valido da expressão
"no que couber", para deixar claro que somente se protege a
honra objetiva da pessoa jurídica, destituída que é de honra
subjetiva. O dano moral para a pessoa jurídica não é, por-
tanto, o mesmo que se pode imputar à pessoa natural, tendo
em vista que somente a pessoa natural, obviamente, tem atri-
butos biopsíquicos. O dano moral da pessoa jurídica, assim
sendo, está associado a um "desconforto extraordinário"
que afeta o nome e a tradição de mercado, com repercussão
econômica, à honra objetiva da pessoa jurídica, vale dizer, à
sua imagem, conceito e boa fama, não se referindo aos mes-
mos atributos das pessoas naturais. Precedente citado: REsp
45.889-SP, DJ 15/811994. (REsp 1.298.689-RS, Rei. Min.
Castro Meira, julgado em 23/10/2012)

95
Capítulo IV I

4.4.2.4. Nome (artigo 16 a 19, do CC)


Considera-se o nome como elemento individualizador do indi-
víduo (pessoa física ou jurídica) na sociedade. É o direito de identi-
ficação.
O nome é formado, em, regra, pelo prenome (primeiro nome)
seguido pelo sobrenome ou ar)elido de família (patronímico), conforme
dispõe o artigo 16 do CC.
Existe ainda a figura do agnome, sendo este considerado um
diferenciador, revelando-se necessário para distinguir pessoas com
prenomes e patronímicos iguais (Junior, Neto, Primeiro, Segundo ...).
A escolha do nome deve respeitar alguns limites, veja-se:
a) Não é possível escolher um nome que venha a expor'? titular
ao ridículo. O parágrafo único do artigo 55 da Lei de Registros
Públicos (Lei 6.015/73) permite ao oficiai do cartório recusar
nomes que exponham ao ridículo os seus portadores. Ex:
querer registrar o filho com o nome de Osama Bin Laden.
b) Segundo o artigo 13 da CF, todo registro público deve ser feito
na língua portuguesa e por isso proíbe o registro de nome
estrangeiro (não se engloba aqui os nomes estrangeiros que
já estão incorporados, a exemplo de David).

Conforme dispõe o artigo 17, do CC, o nome da pessoa não pode


ser veiculado em publicações ou representações, que exponham ao
desprezo público, ainda que inexista intenção difamatória.
Como já fora exaustivamente dito, a utilização do nome da pessoa
requer a sua autorização, conforme impõe o artigo 18 do CC, ainda
que seja pessoa pública.
O artigo 19 do CC, confere proteção ao pseudônimo {apelido),
denominação dada à uma pessoa em razão das suas particularidades,
que é utilizado para atividades. Tal proteção é igual a do nome, uma
vez que é possível a sua averbação no registro civil. É o exemplo de
Maria das Graças Xuxa Meneghel, Luiz Inácio Lula da Silva, entre
outros (artigo 57 da Lei de Registros Públicos).
Em razão do princípio da imutabilidade relativa, o nome pode
ser alterado.

96 EotTORA ARMADOR I PRÁTICA C!Vll I 3a edição


l Capítulo IV
As hipóteses legais de alteração do nome são:
a) Casamento (artigo 1.565, § 1º: CC) , . .
b) União estável (na lei de Registros Pubhcos- artigo 57)
c) Dissolução do casamento (separação e divór~io)- artigo 1.578
do CC ou pedido expresso em qualquer hipotese.
d) Dissolução da união estável .
e) Aquisição de nacionalidade brasileira- estatuto do estrangeiro
permite que ele mude de nome quando adqmra a naciOnali-
dade brasileira
f) Em razão de fundada coação ou ameaça decorrente de .cola-
boração com proteção de crime - artigo 58 da LRP e pro-vita
(inserção no programa de proteção a testemunhas) -lei 9.807/99
g) Adoção _pode alterar o prenome e inserir so~renome.
h) Nome vexatório, que expõe o titular ao ndiculo (artigo 55,
LRP) '
i) Substituição por apelido público notório (artigo 58, LRP~
j) Modificação no primeiro ano após a maioridade atraves de
decisão judicial (artigo 56, LRP).

Tribunal da Cidadania ,
Informativo 503/2012- STJ -ACRESCIMO DE S_OBRE-
NOME DO CÓNJUGE APOS A CELEBRAÇAO DO
CASAMENTO. . ,
Aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome
do outro, ainda que após a data da celebração do casamento,
porém deverá ser por meio de ação judiczal. O regrstro de nas-
cimento da pessoa natural, com a identific~ção do nome crvrl,
em regra é imutável. Contudo,." lei perm:te, em deterrr;mas
ocasiões sua alteração. Ao oficwl de cartono somente e per-

I
!'
mitido ;Iterar um nome, independente de ação judicial, nos
casos previstos em lei, como é a hipótese do artigo 1565, § 1º
do CC 0 qual possibilita a inclusão do sobrenome de um dos
nuben~es no do outro, durante o processo de habilitação do
casamento. A Turma entendeu que essa possibilidade deve-se
estender ao período de con~ivência do ca;;al, enquanto perdu-
rar 0 vínculo conjugal. Porem, nesta hrpot_ese, o_nome deve ser
acrescido por intermédio da ação de retificaçao de registros

ANO RÉ MOTA, CRISTIANO $OllRAL, LVCIASO FtGUE!REDO, RoSI:'RTO FiGUEIREDO, SAIIRINA DoURADO
97
DIREITOS DA PERSONALIDADE

C:1pitulo JV

públicos, nos termos dos artigos 57 e 109 da Lei de Registros


l
I
Públicos (Lei nº 6.01511973). (REsp 910.094-SC, Rei. Raul
Araújo, julgado em 4/9/2012) I
A jurisprudência trouxe ainda outras possibilidades:
a) Homonímia depreciativa;
b) Transexual; (ver REsp 1.008.398-SP)
I
c) Viuvez.

No que concerne o transexual, o entendimento atual traz a possi-


bilidade de sua mudança de nome e gênero, em proteção aos direitos
da persona !idade (Enunciado 276 do CJF).
II
I
4.4.3. DIREITO À INTEGRIDADE INTELECTUAL
~~-------~----

Diz respeito à criação desenvolvida pela mente do indivíduo (pro- I


teção ao elemento criativo típico da inteligência humana): propriedade
intelectual, direitos autorais e propriedade industrial.
Existem ainda, outras hipóteses de direito da persona !idade
enquadrados na hipótese propriedade intelectual, quais sejam: a
proteção da liberdade religiosa e sexual e a liberdade de pensamento.

4.5. DIREITOS DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Como se sabe, os direitos da personalidade visam à proteção


da personalidade da pessoa física. Ocorre que, como o ordenamento
jurídico pátrio conferiu personalidade às pessoas jurídicas, as mesmas
gozam da proteção acima destacada.
Nesta esteira, não se admite qualquer extensão sobre a tutela
do corpo humano às pessoas jurídicas. Entretanto, é possível tutela
ao nome, à honra objetiva, privacidade (segredo); à imagem atributo.
Dessa forma, a eventual violação a esses direitos pressupõe dano
material ou patrimonial. Assim, a decorrência lógica da aplicação dos

9R EDITORA AHMADOR I PRÁTICA CIVIL j 3·'· cdíçào


l direitos da personalidade às pessoas jurídicas é o reconhecimento
natural destas como sujeitos passivos de danos morais. Este, aliás, é
DIREITOS DA PERSONALIDADE!

o sentido da Súmula 227 do STJ.


Por últim<;•, insta salientar que se aplicam aos direitos da perso-

I nalidade da pessoa jurídica as mesmas mitigações relativas às pessoas


físicas, impondo ponderações de interesses, como no caso de quebra
da privacidade para verificação de questões tributárias.

AND!ll. :-,.loTA, Ciunli\NO SonR~L, LliUANo FlGtJEJRtPO, RORI'RTo Flt:IIE!Rlloo, SMIRI:-<A DouRADo 99
CAPÍTULO v.

DOMICÍLIO

5.1. INTRODUÇÃO

O ~studo do domicílio é de extrema importância, uma vez ue


se relaciOna com o ambiente no qual o indivíduo desenvolve ;ua
personalidad~, liga-se ao processo civil -como a regra geral de onde
o processo ua tramJ!a: (domicílio do réu - artigo 46, NCPC) ou até
m:smo de determmaçao de competência (Vara da Fazenda Pública-
açoes contra o Estado)- e ao direito eleitoral- alistamento eleitoral.

5.2. DOMICÍLIO DA PESSOA NATURAL

, O domicílio civil da pessoa natural é o local onde este reside, com


o ammo defiml!vo, considerada corno sede jurídica da pessoa (artigo
70 do CC). Ressalta-se neste conceito a presença de dois elementos:

100
EDITORA AR:.J;,ooR I PRÃncA CiviL I V edição
I
(Capítnlo V

a) Objetivo- ato de fixação em determinado local (residência)

I b) Subjetivo - o ânimo de permanência definitivo (animus)

É importante não confundir domicílio com as suas correlatas


moções de morada e residência. Assim, tem-se como morada o local
onde a pessoa se estabelece de maneira provisória, como quando viaja.
Nota-se, na morada, a ausência dos elementos objetivos e subjetivos.
No que concerne à residência, esta pressupõe maior estabilidade,
urna vez que a pessoa pode ser encontrada habitualmente no local, a
exemplo de uma casa de veraneio. Nessa casuística, nota-se a presença
do elemento objetivo, porém não há o animus definitivo.

Em síntese, e para que facilite o amigo mndidato na hora da prova:

Morada -lemporária I Residênci?.- habitual/ Domicílio- habi-


tual com animus definitivo.

5.2.1. PLURALIDADE DE DOMICÍLIOS

O artig'b 70 do Código Civil estabelece corno domicílio da pessoa


natural o local onde esta estabelece residência com o animo definitivo.
Entretanto, caso a pessoa natural possua mais de uma residência,
onde viva, alternadamente, qualquer uma dessas será considerada o
seu domicílio, conforme dispõe o artigo 71 do CC.
Isso porque há pluralidade de requisitos objetivos (residências),
todos, porém, desprovidos do elemento subjetivo (animus de perma-
nência). Aqui não há outra opção, senão adotar o requisito da plurali-
dade. Tal escolha não é apenas do legislador de direito materiaL sendo
que o próprio Novo Código de Processo Civil adota o princípio da
pluralidade domiciliar, ao tratar no seu artigo 46, § 1º que: tendo mais
de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.

ANDRÊ MurA, Ci!.!STJANO So!\11"-L, LUCJANO FlGUElREDO, RoBT,'ftTO F\GUEJRrllO, SABRJNA DoUR.ADQ 101
!DOMICÍLIO
Capítulo V!

5.2.2. DOMICÍLIO PROFISSIONAL

Domicílio profissional é aquele que diz respeito ao local de tra-


balho do indivíduo (pessoa física), conforme dicção do artigo 72 do
CC. Nesta linha, é possível a pessoa física possuir domicílio pessoal
e profissional diversos. Há, portanto, coexistência de domicílios, e
não sobreposição, convivendo, lado a lado, o domicílio pessoal e o
profissional.
Assim, caso a pessoa exerça sua profissão em lugares diversos,
cada um deles será considerado o seu domicílio profissional, tendo,
nesta hipótese, o que se chama de pluralidade de domicílios profis-
sionais. Cita-se coinu exen1plo, o advogado que possui escritórios ern
cidades diversas, tem em cada uma delas um domicílio profissional.

5.2.3. DOMICÍLIO APARENTE OU OCASIONAL


~~~~~~-----------

Questiona-se então. Qual é o domicílio daqueles que não possuem


residência nem profissão?
Tal questionamento advém da preocupação em estabelecer uma
segurança jurídica, tendo em vista que, em termos processuais, a
tramitação do processo, ocorre no domicílio do réu. o

Diante disto, o artigo 73 do CC, trouxe ao mundo jurídico o


domicílio aparente ou ocasional, cita-se: "considerar-se-á domicílio
da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde
for encontrada". É o caso, por exemplo, dos profissionais de circo que
não possuem residência fixa pelo fato de estarem sempre viajando.
A mesma disposição do artigo 73 CC encontra-se no artigo 46,
§ 2º, do CPC.

5.3. DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA

Considera-se o domicílio civil da pessoa jurídica privada, o


local que fora eleito no seu ato constitutivo. Entretanto, caso o ato

102 EDITORA ARMADOR j PRÁTiCA CIVIL j 3" edição


DOMICÍLIO I
!Capítulo V
constitutivo seja omisso quanto a isto, será considerado o domicílio
o local onde funciona a diretoria ou a administração.
Conforme a redação do artigo 75, § 1º, do CC, em hipótese da
pessoa jurídica poss:uir diversos estabelecimentos em locais diferentes,
cada um deles será considerado seu domicílio, para os respectivos
atos praticados.
Ainda em conformidade com o artigo acima citado, o seu § 2º,
dispõe que caso a administração ou diretoria esteja localizada no
estrangeiro, será considerado como domicílio da pessoa jurídica de
direito privado, o local onde é sito seu estabelecimento no Brasil.

5.4. ESPÉCIES DE DOMICÍLIO

O domicílio poderá ser:

a) Voluntário, Comum ou Convencional: Aquele que decorre


de ato de vontade, sendo a regra geral. Ele se divide em:
a.l) Voluntário Geral: Eleito pela vontade da parte em se domi-
ciliar em um dado local.
a.2) Voluntário de Eleição ou Especial: Escolhido ou eleito pelos
próprios contratantes, como uma decorrência do ajuste entre as par-
tes de um contrato, na forma dos artigos 78 do CC e 111 do Código de
Processo Civil.
Questiona-se: é cabível tal eleição de domicílio em contrato de
consumo?
O Código de Defesa do Consumidor confere de forma cogente
a este, foro privilegiado, podendo a ação ser proposta no domicílio
do consumidor. Assim, considera-se ilegal a cláusula que estabelece
foro de eleição em benefício do fornecedor do produto ou serviço,
em prejuízo do consumidor, pois tal disposição violaria os artigos
51, IV e 101 do CDC.
Ademais, o próprio CC estaria apto a vedar esta conduta no
momento em que afirma ser nula a renúncia antecipada a direito em
contrato de adesão (artigo 424 do CC).
Capítulo V 1

b) Legal ou Necessário
Trata-se do domicílio imposto pela lei, em observação às con-
dições especiais de certas pessoas. Logo, afirmam os artigos 76 e 77
do CC:
.,. Do Incapaz: é o do seu representante ou assistente.
> Do Servidor: é o lugar que exerce perd1anentemente suas
funções (cuidado: permanentemente não engloba cargo tem-
porário).
> Do Militar: onde servir, sendo da Marinha ou da Aeronáu-
tica a sede do comando a que se encontrar imediatamente
subordinado.
> Do Marítimo: onde o navio estiver matriculado.
• Do Preso: lugar onde cumprir sentença (não onde foi conde~
nado).
• Do Agente Diplomático do Brasil: quando citado no estrangeiro,
alegar extraterritorialidade, sem designar, onde tem, no país,
o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou
no último ponto do território brasileiro onde o teve.

104 EDITORA AR\1ArJOR 1 PRÁTICA CIVIL I Y edição


CAPÍTULO VI.

BENS JuRÍDICOS

6.1. CONCEITO DE BENS JURÍDICOS

Objeto de um direito subjetivo,. os bens juddicos pode':' ser


corpóreos, também chamados de cmsa (rnatena1s) ou mcorporeos
(imateriais ou ideais).
Assim, existem bens jurídicos não palpáveis, que não são coisas,
a exemplo da honra, da liberdade, a integridade moral, dentre outros.
Outros bens, portanto, são considerados cmsas a exemplo de um carro,
uma caneta, livros etc ...

6.2. CLASSIFICAÇÃO

Urna vez verificado o conceito de bens, passa-se à análise de sua


classificação, a qual costuma ser questionada nos certames da Ordem
dos Advogados do Brasil.

ANDR'Ê MoTA, CR!ST!ANO $0Jl.RAl., LUCIANO f!GUEJREDO, RO!.<ERTO f!GUE!REDO, SABR!NA DouRADO 105
) BENS )URÍDICOS

Capítulo VI I

6.2.1. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS

I- Imóveis e Móveis
São considerados imóveis os bens cujo transporte não é possível,
por alterar a sua substância, englobando o terreno e tudo aquilo que
se incorporar de forma natural ou artificial.
Os bens imóveis são classificados da seguinte maneira: a) Imóveis
por sua própria natureza b) Imóveis por acessão física, industrial ou
artificial c) Imóveis por acessão intelectual d) Imóveis por determi-
nação legal.
Verificar-se-á um a um.

a) Imóveis por sua Própria Natureza


Pode ser incluído, nesta categoria de bens, o solo com as suas
superfícies, os seus acessórios, as suas adjacências naturais, englobando
as arvores e frutos pendentes, o espaço aéreo e subsolo correspondente.
Insta observar que, a árvores predestinadas ao corte, utilizada
pela indústria madeireira, são considerados bens móveis por anteci-
pação, assim como os frutos que serão colhidos por alienação.

b) Imóveis por acessão física. industrial ou artificial.


De acordo com o artigo 79 do CC, estes bens são incorporados ao
solo de maneira definitiva pelo homem.
O significado de acessão é a incorporação, união física com
aumento de volume da coisa principal. Logo, os bens móveis incor-
porados propositalmente ao solo adquirem a natureza imobiliária,
como é o caso do forro de gesso empregado na construção.

c) Imóveis por determinação legal.


São bens considerados imóveis por determinação da lei, tornando
irrelevante o aspecto naturalístico do bem. O fito desta determinação
é garantir uma segurança jurídica.
Dessa forma, inclui-se nessa categoria (artigos 80 e 81, CC):
a) Os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
b) O direito à sucessão aberta, ainda que a herança seja apenas
formada por móveis;

1llh FntTmu, ARMAnflR I PRÁTICA CJVn. I ~" eilidio


BENS JURÍDICOS I
lcapi:u!o VI

c) As edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua


unidade, forem removidas para outro local;
d) Os materiais provisoriamente separados de um prédio, para
nele se reempreg.\1rem.

II- Móveis
Os bens móveis são aqueles que podem ser deslocados, movidos,
sem que haja alteração da sua substancia.
Incluem-se na categoria de móveis os bens suscetíveis de movi-
mento próprio, sem alteração de sua substância, como um cachorro,
cabeças de gado, búfalos ... São os bens semoventes.
Chama-se a atenção, futuro advogado, que há bens n1ÇJVeis por
força da lei, sendo eles (artigo 83, CC):
.. As energias que tenham valor econômico;
.. Os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
• Os direitos pessoais de caráter patrimoni"al e respectivas ações;

A diferenciação de bens em móveis e imóveis gera algumas


consequências jurídicas, elencadas, sucintamente, na tabela abaixo:

I BENS IMÓVEIS BENS MÓVEIS


i São adquiridos mediante escrítura São adquiridos por tradição, em
/ pública e Registro no Cartório de
regra.
j Registro de imóveis (art. 1.245, CC)

\ Alienação exige outorga uxória, salvo


I no regime de separação de bens e no
I de participação final nos aquestos, se Alienação não exige outorga uxória.
, o pacto antenupcial liberar tal exigên-
I cia (art. 1.647 e 1.656, CC)
~sucapião s:.dá em prazo maior Usucapião em prazo menor
( Direito real de garantia é a hipoteca. Direito real de garantia é o penhor
! Sujeitos à Concessão da Superfície
Prestam-se ao contrato de mútuo
I (art. 1369, CC)

ANDRÉ MOlA, CI\IS"JMNO SonR,\t, LUCIANO F!CUF.IREDO, ROn!>l!.TO fiGUHRHlO, SAHRINA DOURADO 107
Capítulo VI j

UI -Fungíveis e infungíveis (classificação dos bens móveis)


Conforme dispõe o artigo 95 do CC, são considerados fungíveis
os bens que podem ser substituídos por outro da mesma natureza, ou
seja, da mesma espécie, qualidade e quantidade, a exemplo da soja,
café dentre outros. Já os bens infungíveis são aqueles qt te não podem
ser substituídos, a exemplo de uma obra de arte. i
O que torna um bem fungível é a sua natureza. Porém, nada
imped; que, por vontade das partes, um bem fungível torne-se infun-
gível. E o que ocorre no empréstimo para ornamentação, a exemplo
de uma cesta de frutas exóticas.
Por oportuno, recorda-se ao amigo candidato que o mútuo é
empréstimo de coisa fungível, enquanto que o comodato é empréstimo
de coisa infungível. ·

IV- Consumíveis e Inconsumíveis


De acordo com o artigo 86 do CC, são consumíveis os bens móveis
cujo uso importa destruição imediata da própria substância - natu-
ralmente consumíveis -, bem comó aqueles destinados à alienação -
juridicamente consumíveis -, a exemplo de um sanduíche, frutas,
livros em uma estante para venda.
Já os bens inconsumíveis, são aqueles que suportam uso con-
tinuado sem destruição da sua essência, como carros e televisores.
Lembre-se de que, se tais bens estiverem destinados à venda serão
considerados consumíveis.

V- Divisíveis e Indivisíveis
Os bens divisíveis são aqueles que podem ser fracionados em
porções reais e distintas, sem que haja prejuízo em sua essência, sem
desvalorização ou prejuízo no seu fim, de modo que cada porção forme
um todo perfeito, a exemplo de urna saca de café (artigo 87 e 88 do CC).
Os indivisíveis por sua vez não podem ser fracionados, pois isto
alteraria a sua substancia, bem corno diminuiria o seu valor, a exemplo
de um cavalo de corrida.

108 EDITORA ARMADOR I PRÂTICA ÜVll.. j 3a edição


!Capítulo VI
A indivisibilidade decorre:
a) Por determinação da legislação - indivisibilidade legal, a
exemplo de módulo rural;
b) Por vontade das partes - indivisibilidade convencional, a
exemplo de um condomínio;

VI - Singulares e Coletivos
o artigo 89 do CC define como bens singulares aqueles embora
reunidos, devem ser considerados individualmente, independentes
dos demais. São em sua individualidade representados por uma uni-
dade autônoma e, por isso, distintos de quaisquer outra, mesmo que
no meio de uma coletividade, a exemplo de um lápis, um livro, etc.
Já os bens coletivos, também chamados de universais, são aqueles
compostos por diversos outros bens singulares, forJ;nando juntos um
só bem. classificam-se as universalidades:
a) Universalidade de fato: uma pluralidade de bens singulares
que, pertinentes à mesma pessoa, tenham uma destinação
unitária, como um rebanho, uma biblioteca (artigo 90, CC).
b) Universalidade de direito: traduz um complexo de relações
jurídicas dotadas de valor econômico, como um patrimônio,
uma herança (artigo 91, CC).
Observa-se que nas universalidades sempre há uma pertinência
temática, leia-se: os bens pertencem a um único sujeito.

VII -Bens reciprocamente considerados


Tais bens se dividem em principais e acessórios.
Principal é aquele que possui existência própria, concreta ou abs-
trata, de Maire independente, como uma árvore em relação ao fruto,
um carro em relação ao seu som, dentre outros, Já o bem acessório,
depende do principal para existir, logo, não tem existência própria, a
exemplo de um fruto que nasce de uma arvore.
Os bens acessórios se dividem em:

a) Frutos- São utilidades renováveis, produzidas periodicamente


pela coisa principal cuja percepção não diminui a sua substância.

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOJl.RAL, LUCIANO FlGUI:lREDO, ROBERTO FlGUEIREDO, SAIHI.INA DOURADO
109
!BENS )URÍDICOS
Capítulo VI )

Tais frutos se classificam em:

I. Quanto à sua natureza:


• Naturais - Gerados pelo bem principal sem necessidade da
intervenção humana direta. São os frutos de uma plantação:
laranjas, tomates, cacau, etc.
• Industriais - Decorrem da atividade industrial. São aqueles
que resultam de linhas de produção como eletrodomésticos,
bens manufaturados, etc.
• Civis ou Rendimentos- Utilidades que a coisa periodicamente
~
produz, mas não resultam da natureza, como aluguéis, rendi- ,.I
:Ulentos de aplicações, etc. '
~

I!. Quanto à ligacão com a coisa principal: t'


• Colhidos ou Percebidos- Frutos já retirados da coisa principal, s
mas ainda existentes; .;
j.
\;
• Pendentes -São aqueles que ainda se encontram ligados à coisa I
principal, não tendo sido, portanto, retirados;
• Percipiendos - Aqueles que deveriam ter sido colhidos, mas
I
não o foram;
• Estantes - São frutos que já foram destacados que se encontram
[
estocados ~ armazenados para a venda; f
.. Consumidos - Que não mais existem.
I
I
Seguindo a classificação dos bens acessórios:

b) Produtos- São utilidades esgotáveis, cuja percepção diminui


a substância da coisa principal, a exemplo de carvão extraído de uma
mina esgotável; petróleo ...

c) Pertenças- São bens que, não constituindo partes integrantes,


acoplam-se às coisas principais, se destinando de modo duradouro
ao seu uso, aformoseamento ou serviço. Tem-se como exemplo claro
o trator e a máquina de colheita da fazenda (artigo 93, CC).
Chama-se a atenção de que os bens acessórios seguem o prin-
cipal, em regra, salvo disposição expressa. Tal assertiva, porém, não
BENS jURÍDICOS I
r Capítulo Vl

se aplica às pertenças, pois estas, em regra, não seguem o principal,


salvo disposição em contrário (artigo 94, CC)

d) Benfeitorias - Consis<em em obra realizada pelo homem


(artificial) na estrutura de uma coisa, com o propósito de:
.. Conservá-la: São as benfeitorias necessárias, como a reforma
de uma viga, tubulação.
• Melhorá-la: São as benfeitorias úteis, que aumentam e facilitam
o uso do bem, como a abertura do vão de entrada da casa ou a
construção de uma piscina em uma academia para que, além
da ginástica, haja aulas de natação.
• Embelezá-la: São as benfeitorias voluptuárias, visando o mero
deleite ou recreio, como uma escultura talhada na parede de
pedra do imóvel ou um chafariz.

Tribunal da cidadania
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. REIN-
TEGRAÇÃO DE POSSE. OCUPAÇÃO DE ÁREA
PÚBLICA POR PARTICULARES. OMISSÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. LC 73312006. LEI LOCAL. SÚMULA
280/STF. ARTIGOS 128 E 460 DO CPC. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. CONSTRUÇÃO. BENFEITO-
RIAS. INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Hipótese
em que o Tribunal de Justiça reconheceu que a área ocupada
pelos recorrentes é pública e afastou o direito à indenização
pelas benfeitorias. 2. A solução integral da controvérsia, com
fundamento suficiente, não caracteriza ofensa ao artigo 535
do CPC. 3. A LC 733/2006, suscitada no Recurso Especial,
é distrital, e não federal, de modo que não pode ser apreciada
pelo STJ. Incide, por analogia, a Súmula 280/STF (. . .). 5.
Configurada a ocupação indevida de bem público, não há falar
em posse, mas em mera detenção, de natureza precária, a que
afasta o direito à indenização por benfeitorias. Precedentes
do STJ. 6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa
parte, não provido. (STJ- REsp: 1310458 DF 2011/0204112-1,
Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Jul-
gamento: 11/04/2013, T2- SEGUNDA TURMA, Data de
Publicação: DJe 09/05/2013)

1\N!JRÊ MaTA, CRJST!,\NO SOBRAl,, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO fJGUElREDO, SABRINA DoURADO 111
Capítulo VI /

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. EMBAR-


GOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL
DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRi
RIA. INDENIZAÇÃO DAS BENFEITORIAS. PAGA-
MENTO EM DINHEIRO, OBSERVADO O REGIME
DE PRE~ATORIOS. OMISSÃO SUPRIDA. 1. E.\istência
de omtssa~ quanto ao pedido de pagamento da inddnização
devt~a a titulo de cobertura vegetal em Títulos da Dívida
Agrana - ,TDAs, e não em dinheiro. 2. Conforme ressaltado
pelas mstanczas ordinárias, não se trata d~ indenízação da
cobertura vegetal nativa, mas de verdadeiras benfeitorias
conststentes em culturas artijidais produzidas pelos expro-
pnados, possetros e/ou cessionários. 3. Tratando-se de ben-
fettonas, faz-se o pagamento da indenização respectiva em·
dmhetro, o~servado o regime de precatórios. 4. Embarzos
de declaraçao aco:htdos, apenas para suprir a omissão ap;n-
tada, sem alteraçao do resultado do julgamwto. (STJ _ EDc!
no REsp: 1259550 CE 2011/0130201-1, Relator: Ministra
ELIANA CALMON, Data de Julgamento: 03/09/2013,
T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação· DJe
18/09/2013) .

, Registra:se que, no que concerne à Lei do Inquilinato, as benfeito-


ras ~tets, ~evtdamente autorizadas, bem como as necessárias deverão
ser mdemzadas pelo locador de boa-fé, podendo inclusive se valer do
dJrerto de retenção do bem. As voluptuárias poderão ser levantadas.
. Tars prernrssas, porém, relativas à Lei Inquilinária (Lei 8.245/91
artrgo 35), apenas incidem caso o contrato seja omisso na forrn d '
Silmuia 335 do STJ·O · . • . ' a a
. u SeJa. e posstvel que o contrato regule inteira-
mente o terna, dando disciplina completamente diversa e regulando
o caso.

e) Partes_Integrantes- Integram a coisa principal de maneira ue


a sua. se~araçaopr':'judícará a fruição do todo, ou seja, a utilizaçãoqdo
bem )Urrdico prmcipal (ex.: a lâmpada em relação ao lustre).

112
EDITORA ARMADOR 1 Pn,hiCA C!Vlt.. 1 3" edição
!Ctpítulo VI
6.2.3. BENS PÚBLICOS E PARTICULARES

O Código Civil divide os bens em público ou privado. São con-


siderados Públicos os bens das pessoas jurídicas de direito público.
Assim, considera-se privado os demais bens que não se enquadram
como pllblicos.
A legislação classifica os bens públicos, afirmando que são:
a) de uso comum do povo, os rios, mares, estradas, ruas e praças;
b) de uso especial, os edifícios ou terrenos destinados a serviço ou
estabelecimento da administração federal, estadual, territorial
ou municipal, inclusive os de suas autarquias;
c) os dominicais, aqueles que constituem o patrimônio das
pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito
pessoaL ou rea.l; de cada uma dessas entidades.

Consideram-se, ainda, como dominicais os bens pertencentes às


pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de
p1ivada (sociedades de economia mista e autarquias).
Há de se ressaltar que os bens de uso comum do povo e aqueles
nominados de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem
essa qualificação, diferentemente dos dominicais, os quais, observadas
as exigências legais, podem ser alienados.
Outrossim, tais bens públicos não podem ser alvo de usucapião
e seu uso pode ser gratuito ou retribuído, a depender de lei prévia e
válida exigindo a referida retribuição.
Conforme os Enunciados 97 e 287, ambos do CJF, afirmam que,
em relação às sociedades de economia mista e empresas públicas, o
critério mais adequado, tendo em vista o seu caráter híbrido, para
considerar um bem público ou privado, seria o da afetação do referido
bem. Tal informação, porém, o futuro advogado apenas irá utilizar
caso a prova questione sobre posicionamento doutrinário.

ÀNDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL., LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO ftGUEIREDO, 5ASRINA DOURADO 113
-

CAPÍTULO VII.

TEORIA DO ATo, FATO E


NEGÓCIO JuRÍDico

I
7.1. FATO JURÍDICO X FATO MATERIAL

Em uma análise preliminar, os fatos se dividem em materiais e


jurídicos.
O fato material não acarreta consequências jurídicas, a exemplo de
um raio que cai no meio de urna floresta, sem prejuízo ao patrimônio
de outrem. Noutras palavras, o fato não é relevante para o direito.
Fato jurídico, por sua vez, é aquele que produz efeitos na esfera
jurídica. É todo acontecimento relevante para o direito, ainda que
ilícito.

114 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiviL I 3·' edição


TEORIA DO ATO, FATO E NEGÓCIO jURÍDICO

Capítulo VII

7.1.1. CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JuRÍDICOS

Os fatos jurídicos podem ser divididos da seguinte forma:


I

7.1.1.~. Fatos Naturais (ou fato jurídico em sentido estrito ou


stríctu sensu)
Os fatos naturais independem da ação do homem, a exemplo do
nascimento e da morte. Podem ser divididos em:
a) Ordinários: acontecimentos comuns, do quotidiano. Ex: nas-
cimento, morte, parentesco, maioridade.
b) Extraordinários: incvntuns, excepcionais, que foge1T1 ao quo-

I tidiano. Ex: terremoto, maremoto, tsunami. "

Os fatos da natureza relevantes para o direito civil são aqueles


que interferem nas relações humanas, de modo a propicia< a aqui-
sição, modificação e extinção de direitos e deveres jurídicos. O fato
natural em si não é e nem pode ser objeto do direito, pois nenhuma
consequência teria (não constituem fatos jurídicos).

7.1.1.2, Fatos Humanos (ou fato jurídico em sentido amplo ou


ato jurídico)
Como o próprio nome já diz, tais fatos dependem da ação do
homem para existir. Podem ser divididos da seguinte forma:

a) Atos Jurídicos Ilícitos: são aquelas condutas humanas contrárias


ao direito, por violentarem regras do ordenamento jurídico.

b) Atos Jurídicos Lícitos: são as condutas humanas consoantes o


direito, as quais, por sua vez, admitem divisão, falando-se em:

b.l) Ato jurídico em sentido estrito.


É o ato que decorre da ação humana reconhecidamente válida e
cujos efeitos são determinados pela norma jurídica." Nesse caso, a von-
tade tem grande relevância e deye estar presente para a configuração

ANDRÉ MüTA, (RJSOANO $Oill~AL. LuU,\NO f.'JGUElR.!.lllO, ROBERTO fJGUEJRCDO, SAIUUNA DOURADO 115
Capítulo VII

do aludido ato jurídico. Todavia, a vontade humana, neste caso, não


tem aptidão pararegrar os efeitos do ato, pois estes decorrem da lei
de forma cogente (ex lege), inexistindo margem de ação. Ex: a fixação
de domicílio, o reconhecimento voluntário de filiacão a confissão a
> ' '

aceitação da herança ...

b.2) Negócio Jurídico


O negócio jurídico decorre da vontade do homem, projetando os
efeitos por ele desejados. Registra-se que no negócio jurídico, o exercí-
cío da autonomia privado é pleno, uma vez que a vontade humana gera
os efeitos jurídicos e as consequências: Ex: as declarações unilaterais
de vontade, os contratos, o testamento, etc.

b.3) Ato Fato-Jurídico


A teoria do ato fato-jurídico decorre de uma ação do homem,
produzindo efeitos jurídicos, pouco importando se houve, ou não,
vontade da pessoa em sua prática. Assim podem ser citados os exem-
plos da caça, pesca e o achado de tesour;. (art. 1269 CC)

7.2. NEGÓCIO JURÍDICO

Vamos, agora, direcionar o estudo do negócio jurídico, conforme


é cobrado no exame de ordem.
Define-se negócio jurídico como o acordo de vontades, com o
fito de criar, modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas.
A vontade humana é considerada o fato gerador do negócio jurídico,
sendo a mesma responsável pelas suas consequências, nos limites do
ordenamento jurídico, da função social e boa-fé.
O negócio jurídico, segundo a doutrina, pressupõe três planos.
São eles: validade, eficácia e existência.

116 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiviL I 3a edição


7.2.1. PLANO DE EXISTÊNCIA

Em razão de não ter sido tratado pelo Código Civil, a doutrina


cuidou de conceituar tal plano. Conhecido como plano de ser do
negócio jurídico, para que o mesmo seja considerado corno tal, é
necessária a presença de seus requisitos. Vale lembrar que o negócio
jurídico pode existir e ser inválido, portanto, existência e validade
são coisas diversas.
São pressupostos de existência do negócio jurídico:
I. Agente;
I!. Objeto;
!Il. Forma;
IV. Vontade Exteriorizada.

A eventual ausência de um destes elementos é suficiente para


caracterizar o negócio jurídico como inexistente.

7.2.2. PLANO DE VALIDADE

Quando se fala em validade do negócio jurídico, deve-se entender


como a sua compatibilidade ao ordenamento jurídico. Logo, para se
tornar válido o negócio jurídico deve estar em consonância com a lei
pátria.
Nesta toada, afirma o artigo 104 do CC, que para ser válido o
negócio jurídico deverá:
I - Agente capaz e Legitimado
I!- Objeto, lícito, possível, determinado ou determinável.
UI- Forma prescrita ou não defesa em lei

Soma-se a isso, o consentimento válido, ou seja, a manifestação de


vontade sem víciç>. Da mesma forma, para ser válido o negócio jurídico
não pode ter defeitos, tampouco poderá ser simulado ou contrário ao
ordenamento jurídico.
Dessa forma, onze são os pressupostos de validade do negócio
jurídico corno se infere da leitura dos artigos 104, 166, 167 e 171 do CC.

ANDRÉ MOTA, CRiSTIANO SoBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROllERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURAN; 117
TEORIA DO ATO, FATO E NEGÓCIO )URÍDICO

Capítulo VII

A capacidade do agente já foi tratada em capítulo pretérito rela-


tivo à pessoa física.
Objeto lícito é aquele que está em conformidade com a lei, falan-
do-se em possibilidade jurídica (os conceitos de licitude e de possibi-
lidade jurídica se confundem).
Diz-se possível, o objeto, quando este é materialmente possível.
Conforme afirma a doutrina, por exemplo, é impossível a compra e
venda de um cavalo que fala. Nessa linha, a objetividade deve ser
oponível a todos. Não se considera possível uma obrigação na qual
o devedor, por algum motivo de ordem particular (vg. condição de
saúde), não pode executar, mas que facilmente poderia ser realizada
por um terceiro.
O objeto é determinado quando possui definidos gêneros, quali-
dade e quantidade. Consiste na obrigação de dar coisa certa. Como a
compra de um carro Renault Sandero, placa e chassi com numeração
única, ou seja, placa x, chassi y.
O objeto determinável, assim como o determinado, possui gênero
e quantidade expresso, mas necessita de uma operação de concentra-
ção do débito, para se tronar determinado. Relaciona-se a obrigação
de dar coisa incerta. Tem-se como exemplo a compra e venda de dez
sacas de feijão.
No que diz respeito à forma, o negócio jurídico poderá ser reali-
zado de maneira livre, salvo disposição em contrário da lei, conforme
dispõe o artigo 107 do CC. Assim, excepcionalmente, a lei poderá
impor um formato específico para a realização do negócio jurídico.
Hipótese muito cobrada em provas da ordem é a da exigência
de escritura pública para a validade de certos negócios jurídicos
que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de
direitos reais sobre imóveis, de valor superior a trinta vezes o maior
salário mínimo vigente no País (artigo 108, CC).
Ressalta-se que, não será inválido o ato se a forma for livre e o
instrumento for inválido. Sobre o tema, vale a pena ler o artigo 183
do CC. Nesse caso, a forma é uma mera questão de prova (forma
ad probationem), ao revés de ser questão de solenidade substancial
(ad substancione).
TEORIA no ATo, FATO E NEGÓCio JuRíDico
Capítulo VIl

O consentimento válido é aquele livre e desembaraçado de vícios.


Os vícios de consentimento são, justamente, o erro, o dolo, a coação,
lesão, e estado de perigo, os quais não podem existir para que o con-
sentimento seja iivre. Os vícios sociais são t1 fraude contra credores
e a simulação.
Em algumas hipóteses, o consentimento é admitido pelo silêncio,
desde quando a lei não exija forma diversa, e as circunstâncias do caso
ou os usos autorizem tal entendimento, como aduz o artigo 111 do CC.

7.2.2.1. Teoria das Invalidades do negócio jurídico

A inobservância aos pressupostos de validade do negócio jErídico


acarretará a sua nulidade ou a anulabilidade. A invalidade representa
o descompasso entre o negócio jurídico realizado e o ordenamento
jurídico posto, podendo ser absolutamente nulo (nulidade absoluta)
ou relativamente nulo (nulidade relativa, também denominada de
anulabilidade).
As invalidades deverão estar sempre disciplinadas expressamente
no ordenamento jurídico pátrio, não sendo admitido o seu reconheci-
mento implícito na lei. Ademais, deverão tais nulidades gerar prejuízo,
sob pena de não ocorrência.
Passa-se a análise de cada uma delas.

a) Nulidade Absoluta (artigo 166 e 167, CC)


A nulidade absoluta ocorre quando o negócio jurídico viola uma
questão de ordem pública.
Suas hipóteses estão elencadas nos artigos 166 e 167 do CC, englo-
bando a simulação e o celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; o motivo deter-
minante, comum a ambas as partes, for ilícito; não revestir a forma
prescrita em lei; for preterida alguma solenidade que a lei considere
essencial para a sua validade; tiver por objetivo fraudar lei imperativa
e a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem
cominar sanção.
O negócio jurídico nulo possui as seguintes características:
1. Atinge interesse público superior;

ANDRÊ MOTA. CRISTIANO Soilll.At.. LUCIANO FIGUEIREDO, Rosmuo FJGUElREDO, SAU!UNA DoURADO
119
Capitulo Vll I
!

2. Opera-se de pleno direito (ope legis ou iures);


!
I
I
3. Não admite confirmação (ratificação), mas sim conversão (art.
170 do CC) em um negócio validado pelo ordenamento jurídico; I
4. Pode ser arguido pelas partes, por terceiro interessado, pelo
Ministério Público, quando lhe couber intervir, ou, até mesmo,
pronunciada de ofício (ex oficio) pelo Juiz;
5. A ação declaratória de nulidade é decidida por sentença com
efeitos ex tunc (retroativos) e conira todos (erga omnes);
6. A nulidade, segundo o novo CC, pode ser reconhecida a qual-
quer tempo, não se sujeitando a prazo prescricional (impres-
critível) ou decadencial.

Sobre tais características, atenção para o fato segundo o qual: .


1 Entende o STJ que a arguição de nulidade absoluta em instân-
cias extraordinárias demanda a observância do requisito do
prequestionamento.
2. Apesar de o juiz poder reconhecer ex ofício a nulidade, ele
não tem permissão para supri-la, aináa que a requerimento
da parte (artigo 168 p.u., CC).

b) Nulidade Relativa (anulabilidade)


Por atingir questão de ordem particular, e não pública, a anula-
bilidade é mais branda.
Anulabilidade, quer dizer que o negócio jurídico poderá ser
anulado, mas que para tanto é necessário que o mesmo seja decla-
rado como tal através de uma decisão judicial. Assim a nulidade
relativa é ope íudícis. Dessa forma, caso não haja decisão judicial
declarando nulo o negócio jurídico, o mesmo se aperfeiçoara pelo
tempo convalidando-se.
As principais hipóteses de nulidade relativa estão elencadas no
artigo 171 do CC de 2002, sendo elas:
I- por incapacidade relativa do agente;
li - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo,
lesão ou fraude contra credores.

O negócio jurídico anulável possui as seguintes características:
1 Atinge apenas interesses particulares;

120 EDITORA ARMADOR I PRÃTICA CIVIL 1 3a edição


I
Capítulo VIl

2. Não se opera de pleno direito;


3. Admite confirmação expressa ou tácita (ratificação);
4. Somente pode ser arguida pelos legítimos interessados;
5. A ação anulatória é decidida por sentença de natureza des-
constitutiva com efeitos ex nunc (não retroativa) e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidarie;
dade ou indivisibilidade;
6. A anulabilidade somente pode ser arguida, pela via judicial,
em prazos decadenciais de 4 anos (regra geral), ou 2 anos (regra
supletiva), salvo norma específica em sentido contrário (artigo
178 e 179, CC). Assim, quando a lei dispõe que um determinado
negócio é anulável, sem consignar o prazo, este será de 2 anos,
contados da sua conclusão. Outrossim, afirma o artigo 178 que
o prazo de 4 anos será contado, no caso de coação, do dia em
que ela cessar; erro, dolo, fraude contra credores, estado de
perigo e lesão, do dia em que fora realizado o negócio jurídico;
e no de atos de incapazes, no dia que cessar a incapacidade.

7.2.2.2. Princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos


Malgrado o legislador civilista ter previsto as invalidades do
negócio jurídico, veiculou também, inspirado no princípio da instru-
mentalidade de formas do processo civil, o que denomina a doutrina
de princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos. A noção é
simples: sempre que possível, ao revés de invalidar o negócio jurídico,
deve-se aproveitá-lo. Nessa linha de pensamento, estão presentes na
Codificação três importantes institutos que viabilizam a conservação
do negócio jurídico: a conversão substancial; a ratificação e a redução.

a) Conversão Substancial
Prevista no artigo 170 do CC, consiste numa tentativa de aprovei-
tar um ato nulo, conservando os seus elementos materiais (requisito
objetivo), bem c~mo a manifestação de vontade outrora externada
(requisito subjetivo), convertendo-o em um negócio válido. Trata-se
de uma recategorização do ato nulo em um negócio válido.

ANDRil MoTA, CR!ST!A?-;0 SoBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, RoBJ:;RTO F!GUClREDO, SAeRlNA DOURADO 121
TEORIA no Aro, FATO E NEGÓCIO }uRímco
Capítulo VJI

Busca-se, então, conservar a vontade de um negócio jurídico


nulo por vício de forma, demonstrando a primazia da vontade sobre
a forma.
Um exemplo usual, citado na doutrina, a conversão de uma com-
pra e venda nula, por vício de forma (artigo 108, CC), em promessa de
compra e venda cuja forma é livre (artigo 462, CC).

b) Ratificação (Saneamento, Conva!idação ou Confirmação)


É a possibilidades partes, por vontade expressa ou tácita, decla-
rarem desejo de aproveitar o negócio ou ato anulável, ratificando-o,
desde que não gere prejuízo a terceiros. Tal medida aplica-se somente
no negócio anulável (artigo 169 e 172 do CC). Ex: os pais que assinam
ao lado do filho menor (relativamente incapaz) que adquiriu um
imóvel sem a assistência, ou deixam escoar o prazo decadencial para
manejo da ação. '

c) Redução do Negócio Jurídico (artigo 184, CC)

Trata-se de invalidação parcial, cabível quando for admitido o


fracionamento das partes do negócio jurídico e a exclusão da parte
inválida deste negócio, aproveitando-se a válida.
Tal situação é aplicável que o negócio for parcialmente inválido,
havendo nele, contudo, feixes de declaração de vontades separáveis
(cindíveis) e aproveitáveis, digamos assim, por não contaminarem as
demais. Ex.: Locação com fiança sem outorga uxória, caindo apenas
a fiança.

7.2.3. PLANO DE EFICÁCIA

Quando se fala no plano de eficácia, deve-se ter a ideia dos efei-


tos do negócio jurídico estruturado (existente) e dos requisitos legais
(válido). Em regra, os efeitos do negócio produzem efeitos desde a sua
existência, salvo esteja presente algum fator de eficácia, a exemplo do
termo, condição, modo ou encargo.

PnrrnPA ARMAf)nR I Pll:ÁTICA CJVn, I 3" cdicão


TEORIA DO ATO, FATO E NEGÓClO jURÍDICO

Capítulo VIl

Condição, termo, modo ou encargo são elementos acidentais ou


acessórios do negócio jurídico e que não estão relacionados com os
planos da existência e da validade. Consistem em auto limitações da
vontade, de natureza facultat;va e que incidem s~'bre os efeitos do
negócio.

a) Condição
Conforme o artigo 121, do CC é evento futuro e incerto que con-
dicionao negócio jurídico e deriva da vontade humana. A condição
é admitida em algumas modalidades:
I I- Susoensivqs x Resolutivas

I
A condição suspensiva torna os efeitos negócio jurídico suspen-
sos até que se realize a condição. Os efeitos do negócio jurídico ficam
pendentes. Ex.: Contrato de doação para casamento futuro com pessoa
certa (artigo 546, CC). Ocorre quando o pai promete à filha a doação de

I
um apartamento caso venha a se casar com uma determinada pessoa:
o efeito da doação está pendente, condicionado ao matrimônio.
Deste modo, enquanto não ocorrida a condição suspensiva, no
caso o casamento, não há de se falar nem na aquistção, nem no exercício
do direito (artigo 125, CC), inexistindo direito à posse ou propriedade
sobre o aludido apartamento.
Já a condição resolutiva, esta põe fim ao negócio jurídico (resolve).
Exemplifica-se com a doação de cotas periódicas até um evento futuro
e incerto, corno a mesada até a aprovação no concurso público (artigo
127 e 128, CC).
Antes de implementadas as condições, tem-se corno possível os
atos de conservação, por haver o que se denomina direito eventual
(artigo 130, CC).

li Lícitas x Ilícitas
As condições lícitas são aquelas que estão em conformidade com
a lei, os bons costumes e à ordem pública (artigo 122, CC). Já as ilícitas
são justamente contrárias às leis, aos bons costumes e à ordem pública.

ANDR[ MOTA, CRlSTli\NO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROlltiiTO FlCUEIREOO, 5ABRJNA DOURADO 123
Capítulo VJI I

É vedada a condição que prive o negócio de qualquer efeito prá-


tico, como o empréstimo de um carro com vedação de dirigi-lo ou
ocupá-lo por qualquer pessoa.
Da mesma forma, é ilícita é a condição que se sujeita ao puro
arbítrio de uma das partes (denominadas de puramente potestativas).
Ex.: Compro sua casa pelo preço que eu determinar e na forma de
pagamento que eu quiser.
Assim, as condições simplesmente (ou meramente) potestativas
são aceitas, consistindo naquelas em que há dependência da manifes-
tação de vontade de uma das partes e algo externo, como uma doação
a um jogador de golfe caso ele ganhe um determinado número de
torneios no ano.
Conforme dispõe o artigo 123, do CC, são condições que invali-
dam os negócios jurídicos: ni- as condições ffsica ou juridicamente
impossíveis, quando suspensivas; II- as condições ilícitas, ou de fazer
coisa ilícita; III- as condições incompreensíveis ou contraditórias".
Por fim, aduz o CC que não pode a parte obstar, nem sequer
implementar a condição de forma maliciosa. Tal conduta equivale à
situação inversa (artigo 129 do CC).

b)Termo
Trata-se de um dos elementos acidentais do negócio jurídico,
o qual é construído sob a égide da futuridade e da certeza (evento
futuro e certo). Termo nada mais é senão o dia ou momento em que
o negócio começa (termo inicial ou dies a quo) ou termina (termo final,
ou dies ad quem).
O lapso temporal entre o termo inicial e o termo final é denomi-
nado de prazo, sendo a forma de sua contagem disciplinada no artigo
132 do CC/02, excluindo-se o dia do começo e incluído o do vencimento.
Lembre-se que o termo fixado em testamento presume-se em
favor do herdeiro, sem se esquecer, ainda, que nos contratos se deve
presumir o termo em proveito do devedor, salvo se do caso concreto
verificar-se o contrário.
Por fim, o termo inicial suspende apenas o exercício do direito,·
mas não sua aquisição, diferindo da condição suspensiva (cf. artigos
131, 132 e 133, CC).

124 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL I 3" edição


\ Capítulo VJI

c) Modo ou Encargo
Trata-se de um ônus imposto para que a pessoa us_ufrua do bem
benefício. O ônus não equivale o preço do beneficio, podendo
~~orrer nas mais diversas modalidades obrigacior:ais, como faz;r,
dar coisa certa ou incerta. Ex: a doação de um autorr;ovel para alguem
l desde que essa pessoa leve o filho do doador ao colegiO por dms anos
consecutivos. - t
Conforme dispõe o artigo 136 do Código Civil, o encargonao em
o poder de suspender nem o exercício nem,a aquisição o dueito. Caso
descumprido o encargo o beneficio podera ser cessado. ·u .
. Diga-se, ainda, conforme o artigo 137 do CC, que o encargo I cito
ou impossível se considera não escrito, salvo se vier a cons:tt~: m?t:vo
determinante da liberalidade, caso em que invalida o negocio JUridico.
Posto isto, questiona-se:
. ?
a) É possível o autocontrato ou contrato consigo mesmo.
Sob a luz do CC/02, é anulável, na forma do artigo 117. O autocon-
trato só será admitido caso a lei permita, ou ainda se assim ~utonzar
o representante do negócio realizado. Contudo, acas~ pratica~o em
contrato de mútuo com a Caixa Econômica Federal, sera nulo (Sumula
60 do STJ).

7.3. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

Os defeitos do negócio jurídico decorrem de ;'ícios ~ue impõem


a sua invalidade do ato. O termo defeitos do negocio JUndJco abarca
tanto os vícios de consentimento quanto os vícios sociais.
Tais defeitos apresentam-se da forma a seguir:

a) Vícios de Consentimento (de vontade)- diz resp;'ito à u;ani-


festação de vontade, trata-se de um aspecto interno do negocio JUndJco,
inerente à própria manifestação de vontade. _
Ocorre quando a vontade exteriorizada nao corresponde ao seu
, . . · · d Há uma mácula na vontade
mtimo, estando subjetivamente vicia a.

. . . . R '!lTO f'lGCF!Rl1DO, SABR!;>;A DouRADO


125
ANDRÉ MoTA, CR!~TLJ,"lO Soi!RA!., LUCIANO fl(,t;E!R!;l)O, OBL
TEORIA DO ATO, FATO E NEGÓCIO JuRÍDICO

C1pítulo VII

declarada, a qual discorda do real desejo do agente, seja por um erro,


dolo, coação, lesão ou estado de perigo.

b) Vícios Sociais - nestes a vontade do agente é exteriorizada


corresponde a sua intenção. No entanto, há a intenção de prejudicar
terceiro ou burlar a lei. Logo, trata-se de vício externo, de fundo e
alcance social. São vícios sociais a fraude contra credores e a simulação.
Aduz o artigo 171, 11, do CC, os defeitos do negócio jurídico geram
a anulabilídade deste.

7.3.). VÍCIOS DE CONSENTIMENTO


-~--------~~--

A) Erro ou Ignorância (artigos 138 a 144, CC)


Trata-se de uma falsa percepção ou desconhecimento, que incide
sobre a pessoa, o objeto ou o próprio negócio jurídico. Dessa forma,
o agente age de maneira diversa a sua vontade.
Entretanto, nem todo erro torno o ato anulável. Para que o erro
gere anulabilidade do negócio jurídico, há de ser a causa determinante
do ato, denominando a doutrina de erro essencial ou principal (artigo
138, CC). Em sendo acessório, secundário, como o relativo à mera indi-
cação da pessoa ou coisa, não haverá de se falar na anulação (artigo
142, CC), não tendo consequência jurídica relevante.
O artigo 139 do CC traz as espécies ou modalidades de erro, sendo
possível verificar-se:
a) Errar In Negotia- Incide sobre a natureza do negócio. Ex.: ima-
gina-se está realizando uma compra e venda, mas, em verdade, esta
celebrando contrato de doação;
b) Errar In Corpare- Incide sobre o objeto do negócio jurídico. Ex.:
imagina esta comprando um imóvel na rua A, mas está adquirindo
na rua B, ou ainda rua homônima. Pode ser até mesmo em relação à
quantidade do objeto (Errar in quantitate): Ex.: Colecionador compra
coleção de selos imaginando ter 200 selos, mas em verdade há 150 selos.

EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA ÜVIL I V edição


TEORIA DO ATo, FATO E NEGÓCIO JuRíotco

Capítulo VIl

c) Errar In Persona- Incide sobre a pessoa, tendo importante apli-


cação na seara dos matrimônios em relação ao erro essencial sobre a
pessoa (artigo 1.557, CC).
I
d) Erro de Direito- Não implica negativa de aplicaçii!o à lei, não
significando seu descumprimento intencional, mas sim equívoco
quanto ao alcance da norma jurídica. Ex.: Cidadão compra o terreno
para edificar em área que descobre, posteriormente, não ser edificante.

:l ATENÇÃO!
• O falso motivo, externado no ato como sua razão determinante,
equivale ao erro, gerando anulabi!idade (artigo 140 do CC).
• A transmissão equivocada de vontade por interposta pessoa
gera anulabilidade do ato (artigo 141, CC).
• O erro de cálculo gera mera ratificação, não sendo hipótese
de anulabilidade do negócio, assim como o erro material, na
forma do artigo 143 do CC.

B) Dolo (artigo 145 a 150 do CC)


O dolo ocorre quando a pessoa é induzida de maneira maliciosa
a praticar um ato que lhe seja prejudicial, mas que traga benefícios
ao autor dolo ou terceiros. É comumente abordado nas provas como
induzimento ardiloso. É suficiente quando o induzimento ardiloso
leva a parte a celebrar um negócio que não queria
Diferente do erro, que ocorre quando a pessoa por si só comete o
equívoco devido a uma falsa percepção ou desconhecimento, no dolo
a o induzimento do erro com a influência de outrem.
Assim como o erro, para que o dolo seja causa de anulabilidade
do negócio jurídico o mesmo deve ser essencial (artigo 145 CC).
Contudo, caso a parte realizaria o negócio, com ou sem a presença
do dolo, a hipótese é de dolo acidental (incidental), o qual não gera
anulação do negócio, mas é passível de ocasionar indenização por
perdas e danos (artigo 146, CC). Neste ponto, há importante diferença

ANDRÍ: MOTA, CRJST!,\N() SüllRAL, LUCJ\NO F!Gl\ElREDO, RO!HRTO FlGUriREilO, $\BR1NA DOURAI)() 127
Capítulo VJI

para o erro acidental, o qual não possui consequências para 0 mundo


do direito.
O dolo admite algumas classificações

a) Dolo positivo x negativo


• . O dolo negativo pressupõe uma omissão dolosa, logo não é neces-
sana uma conduta positiva para a sua configuração. A omissão dolosa
(decorrente de silêncio intencional de uma das part<>s) pode ensejar 0
dolo, quando provado que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Ex: ausência de informação no momento do contrato de seguro (artigo
147, CC), como uma doença anterior que tinha conhecimento.

b) Dolo decorrente de conduta de terceiro


Conforme o artigo 148 do CC, o dolo pode ocorrer por condu~a
de terceuAo, quando este interessado soubesse ou devesse saber da
sua o~orren~Ia, sendo apto a gerar anulabilidade do negócio. Em caso
contrano, ha de falar-se, porém, na possibilidade de se postular perdas
e danos em face do terceiro.

c) Dolo do representante
Ter-se-á de analisar se a hipótese é representação legal ou con-
venciOnal na forma do artigo 149 do CC.
~ Se repr~sentação legal, o representado apenas responde até a
1mportanc1a que tiver proveito econômico.
~ Se representação convencional, há responsabilidade solidária
entre representante e representado.

d) Dolo bilateral ou recíproco


Ocorre quando ambas as partes incorrem em conduta dolosa.
Nesta hipótese, ninguém poderá se beneficiar da própria malícia (tor-
peza). Devido a Isto, nenhuma delas poderá arguir isto como motivo
de anulação do negócio, nem reclamar indenização.

C) Coação Moral (artigos 151 a 155, CC)


Consiste em toda ameaça ou pressão, física ou moral, exercida
sobre uma pessoa para forçá-la, contra a sua vontade, a praticar um

128 EDITORA ARMADOR J PRÁTICA CIVIL J 3a edição


\ Capítulo VIl

ato ou realizar um negócio, tornando o ato defeituoso. Assim, a coa-


ção pode ser:
a) Coação Absoluta ou física (vis absoluta). Ocorre quando a
manifestação de vontade pretendida é obtida mediante força física.
Nesta hipótese inexiste qualquer manifestação de vontade do agente.
A co!ação absoluta gera inexistência do ato por ausência de vontade.
Ex.: Arma na cabeça para casar, obrigando ao noivo a assinatura do
documento que comprova a celebração do casamento.
b) Coação Relativa ou moral (vis compulsiva). Trata-se de coação
psicológica. Na coação relativa o negócio pode ser anulável, desde que
verificados os seguintes requisitos: A coação haverá de ser:
i. Causa do ato: deve demonstrar que sem a coação o ato não teria
sido concretizado (nexo de causalidade);
ii. Grave: a coação deve imputar ao coagido um verdadeiro temor
de dano sério.
iii. Injusta (ilícita, contrária ao direito, abusiva). Portanto, a ameaça
ao exercício normal do direito e o temor reverencial não configuram
coação (artigo 153, CC);
iv. Iminente ou Atual: o dano deve ser próximo e provável, isto
é, prestes a se consumar (é para afastar a coação impossível);
v. Deve constituir ameaça de preju,ízo à pessoa ou bens da vítima,
às pessoas ou bens da sua família e até mesmo terceiros, quando o
juiz haverá de analisar o nexo de causalidade.
Dos requisitos acima expostos, são levadas em consideração as
circunstâncias subjetivas da vítimar como o sexo, a idade, a formação
intelectual e profissional. Isto não ocorre na análise do erro e do dolo
(artigo 152, CC).
A coação, assim como o dolo, pode ser exercida por terceiro,
viciando o negócio jurídico, caso, a parte beneficiada tivesse ou devesse
ter conhecimento dela. Neste caso, a responsabilidade é de fundo
solidário, sendo. esta a diferença para o dolo praticado por terceiro
(artigo 154, CC). Se a parte beneficiada não tivesse conhecimento, este
relevante fato conduzirá à ausência do vício, subsistindo a responsa-
bilidade civil do terceiro (artigo 155, CC) por perdas e danos.

ANDRÉ MOTA, CR.!STIA"lO $0JlRAl-, LliCIANO FtGUC!REDO, ROilCR.TO FtGU[lfUiDO, SABRINA DOt:RAOO
129
TEORIA oo Aro, FATO E NEGÓCIO juRíDico

Capítulo VII

D) Estado de Perigo (artigo 156, CC)


Trata-se de um instituto do direito penal, de aplicabilidade ainda
recente no vigente CC, especificamente nos vícios de consentimento.
Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da neces-
sidade de salvar-se, a pessoa de sua família, ou até mesmo terceiro,
de grave dano, conhecido pela outra parte, assume obrigação exces-
sivamente onerosa.
No estado de perigo, a pessoa, em razão de perigo atual e imi-
nente, assume uma obrigação excessivamente onerosa, para se salvar
ou salvar outra pessoa. Ex: uma embarcação está naufragando quando,
então, outra embarcação se aproxima, opor.:tunidade na qual se afirma
que apenas será pre.staJo soco110 se houver pagarnento de ~,·alares.
O cheque caução (vedado pela ANS desde a resolução 44/2003) ou
os honorários médicos excessivos para atendimento de emergência
também configuram estado de perigo.
Lembra-se de que assim como na coação, caso o estado de perigo
diga respeito a terceiro, o magistrado haverá de analisar o grau de
proximidade.

E) Lesão (artigo 157, CC)


Está relacionada a uma concepção de justiça contratual e equi-
dade nas relações negociais. Possui o fito de coibir o abuso de poder
econômico ou uma posição privilegiada. A lesão é objetiva e não
exige dolo de aproveitamento, mas apenas desequilíbrio negociai
objetivamente inadequado.
Dois são os requisitos da lesão em destaque:

a) Objetivo: manifesta desproporção entre as prestações esta-


belecidas no negócio. Observa-se que o CC não quantificou o valor,
falando em desproporcionalidade como conceito aberto, sem definir
o padrão quantitativo.

b) Subjetivo: inexperiência ou premente necessidade de uma das


partes, a qual é percebida pelas condições pessoais do contratante. Tal
elemento não se presume, havendo de ser verificado no caso concreto
(Enunciado 290 do CJF).

130 EDITORA ARM,\DOH. I PRÁTICA CivJL 1 3·' edlçâo


TEORIA DO ATO, fATO E NEGÓCIO jURÍDICO

Capitulo VII

Os requisitos devem ser analisados no momento da contratação,


e não posteriormente. Conforme entendimento do Enunciado 150 do
CJF, a lesão não exige o dolo de aproveitamento.
Uma vez presentes os requisitos, o negócio será anulado. ,Entre-
mentes, em consonância com o ideal da conservação dos atos (Enun- '
ciados 149 e 291 do CJF), o legislador traz a possibilidade de revisão do
negócio jurídico, com suplemento suficiente ou redução do proveito,
sendo uma alternativa. Questiona-se: aplica-se ao estado de perigo
possibilidade de revisão?
Conforme disposição do Enunciado 148 do CJF, sim. Porém, o
Código não traz essa disposição expressa. Assim, para provas objetivas
d;, OAB. em regra a resposta é negativa, salvo questões que verse1n
sobre doutrina ou jurisprudência.

7.3.2. VÍCIOS SOCIAIS

a) Fraude Contra Credores (artigos 158 a 165)


A Fraude contra Credores consiste num vício social decorrente da
prática de atos de disposição patrimonial pelo devedor com o objetivo
de esvaziar o seu patrimônio e gerar insolvência em face dos seus
credores. Para configuração da mesma, faz-se necessária a presença
. de dois requisitos:

I) Objetivo (Eventus Damni): consiste na diminuição do patri-


mônio capaz de gerar a insolvência. Ou seja, a mera diminuição do
patrimônio não é suficiente para caracterizar a fraude contra credores.

TI) Subjetivo (Consílium Fraudis): conluio fraudulento que ressalta


a má-fé dos envolvidos. A propósito, deve-se recordar que existem
hipóteses nas quais o CC presume a má-fé (vide artigos 158, 159, 162
e 163, CC), a saber:
i. Negócios de transmissão gratuita de bens (artigo 158, CC);
ü. Remissão de dívidas (artigo 158, CC);
ííi. Contratos onerosos do devedor insolvente; em duas hipóteses
(artigo 159, CC):

ANDRÊ MüTA, C!USTIANO SüllRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SA!IRlNA DOURADO 131
Capítulo VII j

• quando a insolvência for notória·


• quando ho~ver motivo para ser ~onhecida pelo contratante;
, . IV. AnteCipaçao de pagamento feita a um dos credores quirogra-
fanos, em detnmento dos demais (artigo 162, CC);
v. Outorga de garantia de dívida dada a um dos credores em
detnmento dos demais (artigo 163, CC). '

Contudo, a boa-fé será presumida quanto aos negócios ord· , .


indi ' · , 1nanos
. spensaveis a _manutenção do estabelecimento mercantil rural
ou mdustnal ou a subsistência do devedor e de sua família (artigo
164, CC).
. . Urna vez car~cterizada a fraude contra credores, deverá ser
aJUizada a denominada ação pauliana ou revocatória, de natureza
desconstltutiva e CUJO pedido central é o de anulabilidade do ato
submetendo-se ao prazo decadencial de 4 (quatro) anos. ,

Tribunal da Cidadania
Informativo 467/2012- STJ _FRAUDE CONTRA CRE-
DORES. EFEITOS. SENTENÇA.
-Trata-se, na origem, de ação pauliana (anulatória de doa-
çoes) contra os recorrentes na qual se alega que um dos réus
:oou todos seus bens aos demais réus, s~us filhos e sua fui ura
sposa, todos mmores e capazes, por mezo de escrituras públi-
cas, de modo que, reduzindo-se à insolvência, sem nenhum
bem em seu nome, zn; · ,,rzngzu
· · o dzsposto
· no artigo 106 do
CC/191~. O Min. Relator entendeu, entre outras questões
que estao presentes os requisitos do citado artigo ensejadore~
da fraude contra credores e que chegar a conclusão diversa
demandarza o reexame do conjunto fático-probatório. Quanto
aos efeztos da declaração de fraude contra credores, consig-
nou que a sentença paulzana sujeitará à excussão judicial o
bem f~audulentamente transferido, mas apenas em benefício
d~ credzto fraudad~ e na exata medida desse. Naquilo que
nao znterf';rzr no credito do credor, o ato permanecerá hígido,
como auhmtzca manifestação das partes contratantes. Caso
haJa remzssão da dívida, o ato de alienação subsistirá não
havendo como sustentar a anulabilidade. Assim, a Tur;,a, ao

132 EDITORA AR\1.'\DOR J PRÁTICA ÜVJL I 3' ed'1çao


.
lCapítulo VIl

prosseguir o julgamento, deu parcial provimento ao recurso.


Precedente citado: REsp 506.312-MS, DJ 31/8/2006. REsp
971.884-PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 2213/2011.

Registra-se, que há relevante posicionamento doutrinário defen-


dendo a int'ficácia do ato fraudulento, ao revés de sua anulabilidade.
Para as provas objetivas, o entendimento a ser seguido é o da anulabi-
lidade, salvo se a questão vier pautada na doutrina ou jurisprudência.
Ademais, como já fora surnulado pelo STJ (verbete nº 195), os
embargos de terceiros não constituem mecanismo hábil ao reconhe-
cimento judicial da fraude contra credores, que deve se submeter
ao procedimento comum ordinário e não ao especial de jurisdição
contenciosa.
Por fim, não se deve confundir fraude contra credores com fraude
à execução, pois nesta (fraude à execução):
a) já há processo em curso;
b) Configura-se tipo penal (artigo 179, CP);
c) Não exige o requisito subjetivo (consiliurn fraudis) para sua
configuração;
d) A consequência não é anulabilidade, mas sim ineficácia do
ato, que deve ser combatido de ofício pelo magistrado.
b) Simulação

Trata-se de urna declaração enganosa de vontade, visando a pro-


duzir efeito diverso do daquele indicado pelo negócio. Perceba-se que
não há vício na declaração da vontade, assim como ocorre na fraude
contra credores. O objetivo é prejudicar terceiros.
Conforme o enunciado 294 da CJF, por se tratar de causa de
nulidade absoluta do negócio jurídico, a mesma pode ser alegada por
urna das partes contra outra. Atualmente, a simulação é composta de
duas modalidades, quais sejam:

a) Absoluta: nesta é celebrado um negócio jurídico destinado a


não produzir qualquer efeito, com o único intento de lesar alguém.
Ex: João é casado com Maria e corno estão prestes a divorciar, João
celebra, com um grande amigo, contratos de compra e venda corno

ANDRÉ MOTA, CRI~TIANO SoBR,.L, LuCIANO FJGUEIREDO. RollFRTO hcuHÍ<EDO, SABRJNA DouAAtJO
133
TEORIA DO ATO, FATO E NEGÓCIO jURÍDICO

Capítulo VII

forma de salvaguardar bens para que não sejam inclusos na divisão


patrimonial do divórcio, aproveitando-se desta ilegalidade.

b) Relativa (ou dissimulação): as partes reaÜzam um negócio


jurídico (simulado) destinado a macular outro negócio (dissimulado),
cujos efeitos são vedados por lei (para esconder o negócio que que-
rem realmente praticar). Ex: João é casado, e não podendo doar bens
à concubina, ele faz uma simulação de uma compra e venda para
dissimular a doação realizada. Observa-se que nesta hipótese, ocorre
urna simulação relativa objetiva, pois o negócio é utilizado como
instrumento de engano. Tal simulação relativa poderia ser subjetiva,
acaso utilizada uma interposta pessoa (huanja), configurando-se se
João doasse o bem para Pedro (seu amigo) com o intuito de que este,
posteriormente, repassasse o bem objeto da alienação à concubina
de João.
Nesta hipótese, o negócio jurídico simulado é nu lo, mas subsistirá
o dissimulado se válido for em substância e forma, nas pegadas do
artigo 167 do CC
Há de se atentar às hipóteses de simulação elencadas no próprio
artigo 167, especialmente em seu§ 1º, que assim dispõe: I- aparentarem
conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente
se conferem, ou transmitem; II- contiverem declaração, confissão, condição
ou cláusula não verdadeira; III- os instrumentos particulares forem ante-
datados, ou pós-datados.

Tribunal da Cidadania
Informativo ~60/2010- STJ- IMÓVEL SIMULAÇÃO.
INDENIZAÇAO. ALUGUEL Discutiu-se a propriedade e
posse de dois lotes e a consequente invalidação de negócios
jurídicos relativos a eles. A metade ideal do primeiro lote foi
alienada mediante escritura pública de compra e venda na
qual há declaração falsa do ex-marido de que ainda se encon-
trava casado, quando há muito se divorciara, além do uso de
procuração extinta com o divórcio do casal. Já a outra metade
desse lote foi arrematada por corréu mediante recursos finan-
ceiros fornecidos pelo ex-marido em processo de execução de
título extrajudicial contra ele mesmo proposto. Ao final, a

134 EDITORA ARMADOR [ PRÁTICA CIVIL [ 3a edição


TEORIA DO ATO, fATO E NEGÓCIO }URÍDICO

Capíwlo Vll

totalidade do bem foi transferida à genitora do ex-marido. Já o


segundo lote foi arrematado, quando ainda casados, por um
banco nos autos de execução de título extrajudicial proposta
contra a sociedade empresária de propriedade do casal, toda;
via foi posteriormente adquirido pelo corréu quando ainda enl
vigor a sociedade conjugal (regida pela comunhão universal
de bens), mas com recursos também fornecidos pelo ex-es-
poso. Esse lote igualmente foi transferido em sua totalidade
à sua genitora. Sucede que o tríbw1al a quo reconheceu invá-
lidos os negócios jurídicos referentes ao primeiro lote, mas,
quanto ao segundo, entendeu mantê-los hígidos. Ocorre que
são semelhantes às circunstâncias de fato que permeiam os
negrlcin~ nernetrados nos dois lotes, a evidenciar simulação
ta~1bém ~o tocante ao segundo lote. Apesar de válida a arre-
matação realizada pelo banco (credor inocente), pois havia
dívida que foi quitada em benefício da empresa do ex-casal, a
po~terior venda ao corréu também constituiu simulação lesiva
aos direitos de terceiro, pois, como dito, o ex-marido, quando
ainda casado, adquiriu o lote po1· interposta pessoa (o c01-réu),
transferindo-o para sua genitora. Assim, há que prevalecer o
negécio oculto, a ensejar o registro da compra e vmda entre o
banco e o ex-casal em substituição à compra e venda aparente,
além de tornm· sem efeito a transferência da propriedade para
a genitora do ex-esposo, negócio contaminado pela invalidação
do anterim: Ainda, vê-se que os dois terrenos permaneceram
na posse, uso e gozo exclusivo do ex-marido e sua família e,
dessa forma, deve-se assegurar à ex-esposa as prerrogativas
que ostentava antes da prática dos atos anulados (proprietária
e possuidora indireta), bem como o direito à indenização pelo
período em que ficou privada desses direitos (artigo 158 do
CC/1916) (... ). (REsp 330.182-PR, Rei. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 14/12/2010)

~ATENÇÃO!

Não se deve confundir simulação com reserva mental, a qual


também é chamada de reticência (artigo 110, CC). A reserva men-
tal se dá quando o agente mantém escondida à intenção de não
cumprir a finalidade do negócio. Esta não tem consequências

<\NORÊ MOTA, CRISTMNO SOBRAl, LUCIM'iO PlGI.II:IRióOO, ROB~Rn1 FIGUrlRFOO, $.1.\HUNA fJoURA\)0 135
Capítulo VJJ

I
para o direito, produzindo o negócio jurídico seus efeitos
regulares.

Por óbvio, c~so a reserva seja externada (deixando de ser re-


serva), e h<IJa co~cordância da outra parte (havendo simulação
absoluta), o negocio será nulo, na forma do artigo 167 do CC. !
I
I
f

I

136
EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CtVlL I y edição
I CAPÍTULO VIII.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

8.1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Não se pode negar a necessidade do direito consolidar situa-


ções jurídicas ao longo do tempo, objetivando a pacificação social e
a manutenção da segurança jurídica. A isso se denomina de teoria
do fato consumado. Dessa forma, é possível verificar que o decurso
do tempo pode gerar a aquisição, a manutenção, a modificação ou
a perda dos direitos.
Cita-se o exemplo da usucapião, pela qual a pessoa adquire um
direito de propriedade em razão do decurso do tempo, denominada
por alguns de pr~scrição aquisitiva A alteração da idade de um abso-
lutamente para um relativamente incapaz exemplifica, de igual forma,
hipótese de modificação dos direitos subjetivos de alguém (artigos
3º e 4º, CC).

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, Ro!>ERTO flGUElREDO, $ABRINA DOURADO 137
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Capítulo VIII

Sob a ótica jurídica, o decurso do tempo pode garantir a con-


servação dos direitos subjetivos, a exemplo da duração razoável do
processo, sem a qual pretensões podem se esvaziar e direitos podem
ser perdidos ou deixar de ser conservados. Contudo, o objetivo aqui
proposto é a análise da int1uência do tempo na extinção dos direitos
sob a ótica da segurança jurídica, da estabilidade social e da pacifica-
ção dos conflitos, afinal de contas "aos que dormem o direito não socorre"
(dormientibus non sucurrit jus).
Dessa forma, a extinção dos direitos pode ocorrer de duas manei-
ras: (1) o direito ao exercício de pretensões, se não exercido durante
determinado tempo é fulminado pela prescrição. Assim, a prescrição
é o instituto jurídico que destrói pretensões nfrc postuladas em dado
espaço de tempo, relacionadas a direitos subjetivos. (2) já q, direito
potestativo, este é destruído pela decadência. Logo, a decadência é
o mecanismo jurídico que destrói direitos potestativos.
E o que são direitos potestativos? Qual a diferença destes para
os direitos subjetivos a uma pretensão?
Os direitos potestativos são auto-executáveis. Em outras pala-
vras: são direitos meramente informativos, de modo que o exercício
destes não exige, nem se obstrui pela resistência de ninguém. Exem-
plifica-se: o direito potestativo de renunciar a um cargo público, ou
mesmo de não mais trabalhar em uma dada empresa. Nada, nem
ninguém, podem obstruir o exercício desse direito meramente infor-
mativo, auto-executável.
Já os direitos subjetivos, ou seja, os direitos prestacionais, pos-
suem características distintas porque, a princípio, são obstados por
eventual resistência da outra parte, sendo necessária a atuação judicial
para se realizarem.
Em suma: os direitos potestativos, meramente informativos e
auto-executáveis, são extintos pela decadência (inércia do titular +
decurso do tempo). Os direitos subjetivos, que não são auto-executá-
veis, geram a pretensão. Esta, de igual sorte, é extinta pela prescrição
(inércia do titular+ decurso do tempo).
Inércia do titular + decurso do tempo + pretensão ; prescrição.
Inércia do titular+ decurso do tempo+ potestade; decadência.

Prwrt"llh ARMAnOR I PRÁTICA CIVIL I 3" edição


PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA I
(Capítulo vm

Outra maneira de se distinguir prescrição e decadência se dá


através da doutrina de Agnelo de Amorim, professor da Universi-
dade de Direito da Paraíba e ocorre através da análise da natureza
jurídica das ações, ou seja:
• Ações Declaratórias: Imprescritíveis.
• Açires Condenatórias: Prescritíveis.
• Ações Desconstitutivas, ou Constitutivas: Decadenciais.

Dessa forma, as ações de natureza exclusivamente declaratória


não se submetem a prazo prescricional algum, pois têm o fito de cer-
tificar a existência ou não de um direito, sem qualquer outro efeito
jurídico concreto.
As ações condenatórias prescrevem porque possuem pretensões
de dar (coisa certa ou incerta), de fazer ou de não fazer. Logo, tais
pretensões emanam de um direito subjetivo que, se não exercido pelo
titular, devem ser destruídos pela prescrição.
As ações desconstitutivas ou constitutivas trazem dentro de si
pleitos de natureza potestativa. Objetivam ou destruir um negócio
jurídico existente, ou constituir uma relação jurídica a partir de então.
Nestas ações, o direito potestativo eventualmente existente, acaso não
exercido a tempo e modo, decai.
É possível, contudo, que uma ação cumule pedidos de naturezas
diversas. A título de exemplo, imagine alguém vítima de coação em
decorrência da qual prejuízos jurídicos foram experimentados. Nesta
hipótese, esta pessoa pode ajuizar uma ação visando anular o negócio
jurídico (artigo 171, CC) e, além disto, reparar os prejuízos sofridos (arti-
gos 186 e 927, CC). Nesta hipótese, o pedido de anulação se submete à
decadência (CC, e deve ser postulado dentro de quatro anos- artigo
178, !), enquanto que a pretensão de reparação pode prescrever, em
três anos (artigo 206, § 3º, V, CC).
Outro exemplo: um suposto herdeiro ajuíza ação para que se
declare o estado de filiação em face do de cujus. Neste mesmo pro-
cesso, esta pessoa também postula o pagamento da herança (petição
da herança). Como já esclareceu o Supremo Tribunal Federal (Súmula
149), é imprescritível a ação declaratória de investigação de paternidade
(artigo 27, ECA), mas não o é a de petição da herança.

.'li.NnRÉ MOTA, CRISTIANO SoBRAl, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA 00URAOO 139
Capítulo VIII

Apresentadas as notas introdutórias, é tempo de avançar no


instituto da prescrição.

8.2. PRESCRIÇÃO
lI
Noutros tempos, imaginava-se de maneira equivocada, que a
f
prescrição seria a perda do direito de ação, a qual se fundava a teoria
imanentista do Direito Romano.
A autonomia científica do processo fez revelar que o direito de
ação é abstrato, subjetivo, público, imprescritível e fundamentalmente
Ii
incondicionado. Dessa forma, não prescreve o direito de ação, por
í
estas razões e, também, ante o principio da ubiquidade, ou seja, da
inafastabilidade do Poder Judiciário (artigo 5º, XXXV, da CF/88). '
Soma-se a isso a percepção de que o reconhecimento da pres-
crição, bem como da decadência, gera a extinção do processo com
julgamento do mérito, a teor dos artigo 487 do NCPC.
Atualmente, a prescrição consiste na perda da pretensão,
relativa a um direito subjetivo patrimonial e disponível, no prazo
previsto em lei, em virtude da inércia do seu titular e manejada por
uma ação condenatória. Trata-se de matéria de defesa.
E o que seria uma pretensão?
É a possibilidade de exigir a outrem uma determinada obrigação
(de dar, fazer ou não fazer), sob pena de execução patrimonial dos
bens desta pessoa contra a qual se pretende.
Não se deve confundir pretensão com o direito material. Con-
forme o artigo 189 do CC, "violado um direito, nasce para o titular a pre-
tensão, a qual se extingue pela prescrição, nos prazos dos artigos 205 e 206".
O dispositivo legal acima citado consagra a Teoria da Actío Nata
(nasce a pretensão a partir da violação do direito material). Tal posi-
cionamento também é defendido no Enunciado 14 do CJF.
Como a prescrição envolve apenas direitos subjetivos patrimo-
niais disponíveis, deve-se destacar que os direitos sem conteúdo patri-
monial (extrapatrimoniais), a exemplo daqueles referentes aos direitos
da personalidade (estado de família, por exemplo) são imprescritíveis,

140 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL 1 Y edição


\ Capítulo Vlll

indisponíveis e irrenunciáveis. Estes direitos extrapatrimoniais são


exercitados mediante ações declaratórias.
Nada obstante, pretensões de responsabilidade civil que desdo-
bram em violências jurídicas com expressão econômica permitem a
formulação de pleitos condenatórios. Estes, e apenas estes, prescrevem.
Vejam-se dois exempl\"s a este respeito:

1) Violacão ao direito de imagem-atributo:


a) O prazo para pretensão reparatória do dano é de três anos
(artigo 206, § 3, V, CC)
b) O prazo da tutela inibitória para impedir a utilização da ima-
gem não prescreve

2) Exemplo sobre alimentos:


a) O direito de pedir alimentos não é passível de renúncia, sendo
possível, tão somente, a desistência momentânea (CC artigo 1.707 e S.
379 do STJ):
b) Todavia, o crédito alimentar vencido, líquido e certo, acaso
não pretendido a tempo e modo, prescreve em 2 (dois) anos (artigo
206, § 2º, CC).

8.2.1. PRAZOS PRESCRICIONAIS

Os prazos prescricionais estão elencados nos artigos 205 e 206 do


CC/02. Assim, os demais prazos contidos neste diploma legal serão
prazos decadenciais.
O prazo prescricional de maior tempo é o de dez anos e ocorre
"quando a lei não lhe haja fixado prazo menor", a teor do artigo 205
do CC/02. Consiste, portanto, na regra geral. Contudo, existem pra-
zos prescricionais específicos, todos previstos nos cinco parágrafos
do artigo 206 do CC/02. Cada parágrafo corresponde ao ano do seu
número (ex:§ 12, um ano,§ 22, dois anos,§ 3º, três anos). ·
São hipóteses de prescrição em um ano a dos hospedeiros ou
fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabe-
lecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; a

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAl, LuCIANO FIGUEIREDO, RoBERTO F!GUIÜREDO, SABRINA DOURADO 141
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Capítulo Vlll

pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele,


contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de respon-
sabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de
indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este
indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais seguros,
da ciência do fato gerador da pretensão; a pretensão dos tabeliães,
auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela
percepção de emolumentos, custas e honorários; a pretensão contra
os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do
capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assem-
bleia que aprovar o laudo e a pretensão dos credores não pagos contra
os sócios ou ~cionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação
da ata de encerramento da liquidação da sociedade.
A única prescrição bienal (de dois anos) prevista no CC/02 é a
referente aos alimentos (§ 2º).
O prazo de três anos ocorre para temas envolvendo aluguéis,
empresa, ressarcimento decorrente de enriquecimento sem causa,
reparação civil, entre outras importantes questões.
A única prescrição de quatro anos prevista no § 4º, do artigo
206, do CC/02 é para "a pretensão relativa à tutela, a contar da data
da aprovação das contas".
Portanto, não será comum em provas de concurso se marcar
pretensão de dois (alimentos) ou quatro anos (tutela).
Finalmente, a prescrição quinquenal (§ 5º, do artigo 206) nos
seguintes casos:
I. a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de
instrumento público ou particular;
II. a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores
judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o
prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos
ou mandato;
III. a pretensão do vencedor para haver do vencido o que des-
pendeu em juízo.

íi 147. EDITORA ARMADOR ] PRÁTICA CiVIL I 3a edição


PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA I
rCapítulo VIII

8.2.2. CAUSAS IMPEDITIVAS, SUSPENSIVAS E INTERRUPTIVAS DA


PRESCRIÇÃO

O prazo prescricional durante o seu decurso poderá sofrer, por


força de lei, causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas.
Nas causas impeditivas o prazo sequer começa a ser contado.
Já as causas suspensivas paralisam o decurso do prazo, que recomeça
de onde parou. Por fim, as causas interruptivas param o prazo des-
truindo a contagem inicialmente realizada, recomeçando-se "do zero"
um novo cômputo.
Há de ser mencionada, a importante Súmula 229 do STJ que
afirma que o pedido do pagarr1ento de indenização à seguradora
suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da
decisão.

a) Causas Suspensivas ou Impeditivas (artigos 197, 198 e 199)


Para o Código Civil não corre a prescrição "entre os cônjuges, na
constância da sociedade conjugal" (artigo 197, I, CC). E não poderia
ser de outro modo. A família possui especial proteção do Estado por
imposição constitucional (CF/88, artigo 223, caput). Logo, não seria
razoável os cônjuges se submeterem ao curso de prazo enquanto
estiverem submetidos à própria sociedade matrimonial, sob pena de
. se aumentar o nível de litigiosidade e desconfiança no leito da família.
E entre companheiros na união estável? Corre o prazo?
Como o dispositivo legal não dispõe sobre o tema, a priori, a
resposta para prova da OAB é que corre normalmente. Entrementes,
caso a questão verse sobre um posicionamento jurisprudencial ou
doutrinário, é possível aplicar a causa suspensiva ou impeditiva com
força no Enunciado 296 do CJF.
Em razão deste entendimento, não correrá prazo de prescrição
"entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar" (artigo
197, II, CC), ou seja: enquanto o descendente for menor de 18 (dezoito)
anos, não emancipado. Trata-se de proteção jurídica a quem se encontra
em estado de hipossuficiência para com o próprio representante legal

ANDRE MOTA.. (R!ST!ANO SOBRAL, LUCIANO fiGUElREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SAlliUNA DOURADO 143
Capítulo VIII r
e dentro da própria família, merecendo proteção integral e prioridade
absoluta.
Esta ideia também impede o curso da prescrição "entre os tute-
lados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou
curatela" (artigo 197, III, CC).
No entanto, deve-se prestar atenção no tocante aos absolutamente
incapazes em face dos relativamente.
É que "não corre a prescrição contra os incapazes de que trata
o artigo 3º" do CC/02, ou seja, contra os absolutamente incapazes.
Contudo., quanto aos relativamente incapazes, a prescrição corre, a
teor do artigo 195 do CC/02.

Tribunal da Cidadania
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SER-
VIDOR PÚBLICO MILITAR. REFORMA. DOENÇA
MENTAL INCAPACITANTE. ECLOSÃO DURANTE
A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO MILITAR. DIREITO À
REFORMA. COMPROVAÇÃO DO NEXO CAUSAL.
DESNECESSIDADE. MODIFICAÇÃO DO ACÓRDÃO
RECORRIDO. INVIABILIDADE. SÚMULA Nº 07/STJ.
PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO. NÃO OCOR-
RÊNCIA. (. . .) 3. Atingido o ex-militar pela incapacidade
absoluta, contra ele não flui o prazo prescricional, que come-
çou a correr a partir de sua morte, ocorrida em 1211111986.
Assim, somente em 1211111991 expiraria o prazo para o ajui-
zamento da presente ação. Sendo certo que a ação foi proposta
em 08/11/91, é de ser afastada a alegada tese de presetição de
fundo de direito. 4. Recurso especial conhecido e desprovido.
(STJ, REsp 496.350/RS, Rei. Ministra LAURITA VAZ,
QUINTA TURMA, julgado em 03/04/2007, DJ 14/05/2007
p. 365)

Outra questão. Seria sensato a contagem de prazo prescricional


contra servidor público que se ausenta do nosso país para defender
a pátria ou trabalhar em favor do interesse público?
A resposta é intuitivamente negativa e está bem colocada no
artigo 198, incisos II e III:

144 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CiVIL j 3a edição


r
Capítulo Vlll

, . , is 0 prazo prescricional
Ainda concernente as h!poteses, nas qua , . - , dência
- devem-se destacar questões alusivas a evicçao, a pen
nao corre, . " . d azo vencido a teor do
de condição suspensiva e à inexistenCia e pr '
f 199 do CC/02. ., ·
ang0 , . - t t ês hipóteses. Conforme a ,eona
Uma 50 exphcaçao para es as r . _ h ,
d Actio Nata enquanto o din!ito material não for viOlado, nao av:_ra
a - ( ;. 189 CC). Portanto, sem o nascimento da pretensao,
p~etensao. ar Igocont~gem do prazo prescricional apto a ser extmto
nao se lTIICla a

pela 6"r~c:!ç:~~ão de evicção está pendendo é porque não se;erti~-


: - .a não se reconheceu a perda da coisa por eCisao
cou :i:~~~~~~i~~:e~~ julgado. É possível que não ac~nteça a perda
JUdl . lh lesão É factível que o direito nao seJa VIOlado,
da cmsa, ou me or, a ·
d~{ n~o rorrer orazo prescricional. -~ . t
~~-A ~~sma ideia Para a condição suspensiva_e o nao v~n~Imen_ o
do prazo Nestas duas hipóteses inexistiu violaçao a um dire!lo ..r.:.ao
. . t - ser extinta pela prescnçao.
há lesão e portanto, inexiste pre ensao a . A •

Dem~is disto, por conta da independência de mstanCJas_na seara


. 200 do CC que quando a açao se on-
cível e penaL consigna o arl!go . . - - ,
ginar de fato que deva ser apurado no j~ízo cnmmal, i~:~-;:;;:~:
pretensão cível antes da respectiva deCJsao penal defin . b d da
será retomado no capítulo de responsabilidade civil, ao ser a or a .
a independência de instâncias.

Tribunal da Cidadania
. _ STJ- RESPONSABILIDADE
Informattvo 50012012 - E DE
CIVIL. PRESCRIÇÃO. SUSPENSAO. ACIDENT
TRÃNSITO. , . . · · t f
A independência entre os juízos cz~ezs e crzmm~zs ,ar zgo
935 do CC! é apenas relativa, pois exzstem sztuaçoes em que
a decisão proferida na esfera criminal pode mterferz; ~:re­
tamente naquela proferida no juízo cível. O prznczpa _elezto
civil de uma sentença penal é produzido pela cond~naçao cn-
minal, pois a sentença penal condenatória faz co;sa ]Ulgad~
no cível Porém, não apenas se houver condenaçao cnmz~a_'
mas ta~bém se ocorrerem algumas situações de absolvzçao
criminal, essa decisão fará coisa julgada no cível. Entretanto,

R F!GUElt(Eoo, SABRINA DoURADO


145
ANDRR MOTA, CRiSTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, OBERTO
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Capítulo Vlll

o CPC autoriza (artigo 265, IV) a suspensão do processo, já


que é comum as duas ações tramitarem paralelamente. Dessa
forma, o juiz do processo cível pode suspendê-lo até o julga-
mento da ação penal por até um ano. Assim, situa-se nesse
contexto a regra do artigo 200 do CC, ao obstar o transcurso
do prazo prescricional antes da solução da ação penal. A fina-
lidade dessa norma é evitar soluções contraditórias entre os
juízos cíveis e criminais, especialmente quando a solução do
processo penal seja determinante do resultado do cível. Sendo
assim, permite-se à vítima aguardar a solução da ação penal
para, apenas depois, desencadear a demanda indenizatória na
esfera cível. Por isso, éfundamental que exista processo penal
em curso OU; pelo menos, a tramitação àe inquérito policial
até o seu arquivamento. In casu, cuiàou-se, na origem, de
ação de reparação de danos derivados de acidente de trânsito
(ocorrido em 26/812002) proposta apenas em 71212006, em
que o juízo singular reconheceu a ocorrência da prescrição
trienal (artigo 206 do CC), sendo que o tribunal a quo afas-
tou o reconhecimento da prescrição com base no artigo 200
do CC, por considerar que deveria ser apurada a lesão corpo-
ral culposa no juízo criminal. Porém, segundo as instâncias
ordinárias, não foi instaurado inquérito policial, tampouco
iniciada a ação penal. Assim, não se estabeleceu a relação de
prejudicialidade entre a ação penal e a ação indenizatória em
torno da existência de fato que devesse ser apurado no juízo
criminal como exige o texto legal (artigo 200 do CC). Portanto,
não ocorreu a suspensão ou óbice da prescrição da pretensão
indenizatória prevista no artigo 200 do CC, pois a verifica-
ção da circunstância fática não era prejudicial à ação indeni-
zatória, até porque não houve a representação do ofendido e,
consequentemente, a existência e recebimento de denúncia.
Precedentes citados: REsp 137942-RJ, DJ 213/1998; REsp
622.117-PR, DJ 31/512004; REsp 920.582-RJ, Dfe 24/1112008,
e REsp 1.131.125-RJ, DJe 181512011. (REsp 1.180.237-MT,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/6/2012).

Por fim, a suspensão da prescrição em favor de um dos devedores


solidários, apenas aproveitará aos outros se a obrigação for indivisível
(artigo 201, CC).
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Capítulo VIII

Aconselha-se a leitura dos artigos 197 a 201, pois de grande inci-


dência em provas!

b) Causas Interruptivas (artigo 202 a 204)


Como fora rasamente explanado em linhas pretéritas, as causas
interruptivas zeram o prazo prescricionat ou seja, este voltará a ser
contado desde o seu início, levando em consideração a data do ato
que o interrompeu ou do último ato do processo para interrompê-lo.
Conforme dispõe o artigo 202 do CC, a interrupção do prazo só
poderá acontecer uma única vez.
Contudo, há de ser feita uma observação. O inciso III do artigo
202 ào CC fez peràer os efeitos a Súmula 153 do STF, segundo a qudl
"Simples protesto cambiário não interrompe a prescrição". Ora, com
a lei nova admitindo explicitamente a interrupção, não há mais que
falar-se na aplicação do aludido verbete sumulado.
Aconselha-se a leitura dos artigos 202 a 204, pois incidem bas-
tante nas provas!

8.2.3. LEMBRETES FINAIS SOBRE PRESCRIÇÃO

O atual Código Civil, em seu artigo 190, põe fim à discussão


,doutrinária para asseverar agora que a exceção prescreve no mesmo
prazo que a pretensão, a exemplo do direito de compensação, a teor
do artigo 190.
Também se há de lembrar que "Prescreve a execução no mesmo
prazo da prescrição da ação", ou melhor, da pretensão de conheci-
mento, a teor da Súmula 150 do STF.
Ademais, a Súmula 237 do STF possibilita a arguição de usucapião
(prescrição aquisitiva) em sede de defesa. A doutrina vem entendendo
que isso é possível ainda que em sede de ações possessórias, pois a
usucapião não é uma exceção de propriedade, mais sim de domínio,
não havendo, portanto, vedação em seu manejo.
Lembre-se que a prescrição, na ótica do CC,· pode ser alegada
em qualquer grau de jurisdição pela parte a quem aproveita. Essa é

A.NofiÊ MorA, C!USTlANO SOBRAL., LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABR!NA DoURA.DO
147
Capítulo VIU J

a resposta primeira para as provas objetivas da OAB. Caso, porém,


a prova que§tione sobre o posicionamento jurisprudencial, atentar
para o informativo 329 do STJ, o qual exige a observância do requisito
do prequestionamento para arguição da prescrição nas instâncias
extraordinárias (STJ e STF).
Outrossim, a prescrição iniciada contra uma pessoa continua a
correr contra seus sucessores, na forma do artigo 196 do CC. Logo,
não há de falar-se na morte como causa suspensiva ou interruptiva
do prazo prescricional.
Um último lembrete: é importante saber distinguir a chamada
prescrição absoluta ou de fundo da denominada prescrição relativa, de
trato sucessivo, e que pode ser ilustrada através da Súmula 85 do STJ:
"Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública
figure como devedora,. auando não tiver sido negado o oróorio direito
ao reclamado, a prescri~ão atinge apenas as prestações ~eu'cidas antes
do quinquênio anterior à propositura da ação".
Portanto, as relações jurídicas de trato sucessivo não se subme-
tem à prescrição absoluta (de fundo), mas tão somente à relativa, de
modo que sempre será possível pretender, nos limites temporais das
prestações vencidas antes do prazo prescricional fixado pela lei e com
referência à data da propositura da ação.

8.3. DECADÊNCIA (OU CADUCIDADE)

Entende-se por decadência a perda de um direito potestativo,


não exercido no prazo (tempo) estabelecido em lei (inércia), atingindo
uma ação constitutiva, seja positiva, ou negativa (desconstitutiva).
A inobservância do prazo gera extinção do direito por decadência.
Ex.: direito de arguir anulabilidade de um contrato em 4 (quatro) ou
2(dois) anos (artigos 178 e 179, CC).
Ocorre que alguns direitos potestativos não possuem prazo
decadencial em lei, ou seja, não submetidos a prazo decadencial. Ex:
divórcio: a qualquer tempo podem ser exercidos.

148 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3a edição


ICapítulo Vlll
0 prazo decadencial pode ser legal, quando decorre _da Je~, oU
convencional, quando é acordado entre as partes numa relaçao JUndJca •
(artigo 211, CC). A decadência convencional é novidade do Código.
É aquela eleita voluntariamente pelas partes. Ex: direito de arrepen-
dimento em um contrato preliminar; prazo de garantia contratual.
Este ponto deve ser bem rea;çado: diferentemente dos prazos
prescricionais, que sempre são LEGAIS, os decadenciais poderão
derivar da LEI (prazo legal) ou da VONTADE (convencional) das
próprias partes.

8.3.1. OBSERVAÇÕES CORRELATAS: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

I. Os prazos prescricionais decorrerão sempre da lei, não podendo


ser estabelecidos ou alterados pela vontade das partes (artigo 192, CC);
os prazos decadenciais legais também não podem ser alterados, pelo
mesmo motivo. Ao contrário disto, os prazos decadenciais conven-
cionais admitem alteração.

I!. Por se tratar de uma espécie de defesa do devedor, a prescrição


pode ser renunciada, nos termos do artigo 191 CC; na mesma linha, a
decadência convencional também pode ser renunciada, não se admi-
tindo, porém, a renúncia ao prazo decadencial legal (artigo 209, CC).
Note que a lei veda a renúncia antecipada da prescrição (artigo 191,
CC). Ou melhor, a renúncia ao prazo prescricional só poderá ocorrer
uma vez transcorrido o prazo prescricional, seja de forma expressa
ou tácita e desde que não gere prejuízo a terceiros.

III. Assim como a prescrição, a decadência legal pode ser reconhe-


cida de ofício pelo juiz. Decadência convencional não pode ser reco-
nhecida de ofício pelo juiz (artigo 332, § 1º do NCPC. 210 e 211 do CC).

IV. Em regrà, a decadência, não se suspende nem se interrompe,


salvo previsão legal expressa. Todavia, o CC afirma expressamente
que ela não corre contra os absolutamente incapazes (artigos 207 e
208 do CC).

ANORÊ MOTA, CRISTIANO SOI!RAL, LUCIANO fiGUE!REOO, ROBERTO fiGUEfiU-'00, SARRIN.~ 00\JRADO
149
I PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Capitulo vm/

8.4. DIREITO INTER TEMPORAL E PRESCRIÇÃO

A fim de dü:imir o conflito intertemporal entre os prazos pres-


cricionais, o atual Código Civil, em seu artigo 2.028, dispôs: "Serão os
da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na
data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade
do tempo estabelecido na lei revogada".
Dessa forma, deverá ser analisado em primeiro lugar, a data
da lesão, pois é a partir desta que nasce a pretensão. Feito isto, dois
outros requisitos haverão de ser cumulativamente considerados para
se identificar qual Código Civil se aplica à espécie. Em primeiro lugar,
se o prazo novo prescricional seria menor do que o prazo antigo.
Na hipótese negativa, aplica-se o Código velho. Na hipótese positiva,
formula-se a última pergunta: além disto, já transcorrera mais da
metade do tempo estabelecido na lei revogada? Em caso afirmativo,
aplica-se o Código de 1916. Em caso contrário, o Código de 2002, com-
putando-se aqui como termo a quo a vigência do CC (11.01.03), como
consigna o Enunciado 299 do CJF.

lSO 'ROITORA ARMADOR I PRÃTlCA CIVIL j 3a edição


CAPÍTULO IX.

DIREITO DAS ÜBRIGAÇÕES


9.1. CONCEITO E GENERALIDADES

Conceituar o direito obrigacional permanece um desafio para os


civilistas das diferentes eras. Inúmeras são os conceitos atribuídos pela
doutrina, definido por Clóvis Beviláqua (Código Civil Comentado,
v. 4, p. 6) como um "complexo de normas que regem relações jurídicas de
ordem patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveito
de outrem".
Definimos as obrigações como urna relação prestacional de cará-
ter patrimonial cujo desrespeito se resolve mediante a execução do
patrimônio penhorável do inadimplente.
Como podem ser caracterizados? Por se dirigirem a pessoas
determinadas, os direitos obrigacionais (ou creditórios) são relativos,
não sendo erga omnes, e encerram uma prestação positiva ou negativa
consubstanciada em dada conduta.

AND!ot.Ê MOTA, CIUSTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBF.RTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 151
Capítulo IX

A cooperação jurídica em prol do adimplemento é a mola propul-


sora desta relação de crédito. Logo, imprescindível urna cooperação
mútua entre credor e devedor visando sempre o adimplemento e,
consequenternente, coíbe-se a deslealdade entre eles, sob pena de
violência ao princípio da eticidade e da boa-fé objetiva.
Dessa forma, a relação obrigacional é constituída por diversos
deveres de conduta ao longo do tempo e, por isso, considera-se ela
dinâmica, formando um processo não estático.
A princípio, as obrigações estão vinculadas ao princípio dares-
ponsabilidade patrimonial do devedor, sendo excepcional a prisão
civil por dívida. Sobre essa última, destaque-se, à luz do Pacto de São
José da Costa Rica, que o Supremo Tribunal Federal confere nova lei-
tura ao artigo 5º, LXVII, da Constituição Federal, de forma que, hoje,
não mais se admite a prisão civil por divida, salvo para a hipótese
de alimentos (Informativo 531, STF: HC 87.585/TO e, posteriormente,
Súmula vinculante nº 25, que dispõe que "É ilícita a prisão de depositário
infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito"). No mesmo sentido,
o Superior Tribunal de Justiça publicou a Súmula nº 419: "Descabe a
prisão civil do depositário judicial infiel".
O inadimplemento obrigacional é solucionado tecnicamente
através da aplicação dos artigos 389 e 390 do CC, ou seja, mediante a
teoria da responsabilidade civil negociai ou contratual.

9.2. DISTINÇÃO DOS DIREITOS REAIS

Duas considerações iniciais são feitas pela doutrina tradicional


ao apresentar o tratamento das obrigações. A pril)leira delas é de que
os direitos obrigacionais veiculam relações pessoais, traduzida em
urna relação intersubjetiva entre credor e devedor consistente em urna
relação de crédito e um dever correlato. Adernais, os doutrinadores
clássicos afirmam que os direitos reais relacionam-se a um poder
jurídico direto e imediato de uma pessoa sobre uma coisa, subme-
tendo-se ao respeito de todos.

152 EDITORA ARMADOR I PRÂTICA CIVIL I 3a edição


r
Capítulo IX

Dentro desse contexto, o legislador do CC de 2002 diferencia os


direitos reais dos direitos obrigacionais, adotando a teoria dualista.
Essa distinção acaba sendo cobrada em provas do Exame da Ordem
e, portanto relevante, sendo este o presente foco do estudo.
Os direitos REAIS submetem-se ao princípio da taxatividade, ou
seja, são numerus clausulus, sendo que solnente aqueles explicitamente
elencados na norma são direitos reais. Os direitos OBRIGACIONAIS
são reg,idos pela máxima pela qual o que não está proibido está per-
mitido e, logo, são numerus apertus, de modo que podem surgir pela
autonomia privada.
O titular dos direitos REAIS tem oponibilidade erga omnes, vez
que se submetem à noção de sequela (princípio da aderência ou ine-
rência), podendo ir ao encontro do bem, da coisa, onde quer que esta
se encontre, reivindicando-a, opondo-se contra tudo e contra todos.
Diferentemente, os direitos PESSOAIS se submetem à execução patri-
monial por perdas e danos.
Ademais, os direitos REAIS, em regra, sujeitam-se à registrabili-
dade, sendo indispensável o registro público para a sua constituição.
Inexiste essa exigência para os direitos OBRIGACIONAIS.
Divergem ainda quanto ao objeto. Enquanto no direito REAL o
objeto é a coisa, no direito OBRIGACIONAL é a prestação.

9.2.1. OBRIGAÇÕES PROPTER REM (IN REM, ÜB REM OU


AMBULATORIAl:;)

Existem figuras que dotam de elementos de direitos reais e ele-


mentos de direitos pessoais a um só tempo e, por isso, são híbridas,
mistas ou simbióticas, habitando uma zona grisi, cinzenta ou de
confluência entre direitos reais e obrigacionais.
São as obrigações próprias da coisa (propter rem). São também
denominadas de obrigações na coisa (in rem), da coisa (ob rem) ou
ambulatoriais.
Transmitem-se automaticamente ao seu novo titular, desde que
haja transferência proprietária, aderindo à coisa e não à pessoa. São

ANDRÉ MOTA, ClUST!At-;0 SOBRAL, LUCIANO flGUE!Il:EDO, ROfH'RTO flGU!:IREDO,SABR!NA DOURADO 153
I DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Capitulo IX I

exemplos o IPTU, ITR, IPVA e as taxas condominiais (Informativo


291, STJ e REsp. 659.584-SP).

9.2.2. OBRIGAÇÃO NATURAL (DÉBITO SEM CRÉD!TO)

Caracterizam-se por não serem exigíveis. Porém, urna vez pagas


espontaneamente pelo devedor, não poderão ser devolvidas por
exigência do devedor. Podem ser identificadas no artigo 882 do CC.
Chamadas por Silvio de Salvo Venosa de obrigações incompletas,
As dívidas prescritas (artigo 882, CC), a dívida resultante de jogo
e aposta não legalizados (artigo 815, CC) e o mútuo Íeito a rnenor St2l11
a prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver (artigo 588, CC)
são excelentes ilustrações das denominadas obrigações naturais.
Também é exemplo de obrigação natural a gorjeta, que advém da
expressão gorja, ou seja, garganta, remetendo aquilo que se dá para
esquentar a garganta do trabalhador, o cafezinho ou outra bebida
preferida. Relaciona-se, dessa forma, ao beber e não ao comer.

9.3. ELEMENTOS DO DIREITO OBRIGACIONAL

O direito obrigacional é estruturado por três elementos.


O primeiro deles é o subjetivo, que está ligado às pessoas (físicas
ou jurídicas, ativas ou passivas) da relação. O elemento material, con-
creto ou objetivo seria o segundo, qual seja a prestação. O terceiro e
último é o elemento imaterial ou virtual, relativo ao vínculo jurídico
que ficticiamente une os sujeitos e o objeto da obrigação (nexo).

a) Elemento subjetivo: sujeitos ativos e passivos


São os credores/sujeitos ativos e os devedores/sujeitos passivos.
Ou seja, são as pessoas físicas ou jurídicas que titularizam relações
ativas de crédito ou de débito e, neste último caso, na hipótese de
inadimplemento (não cumprimento da conduta sobre a qual se
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
jcapímlo IX

obrigaram), será aquele que sofrerá a perda do respectivo patrimônio


penhorável.

b) Elemento objetivo ou material: prestação


'
A prestação é o elemento concreto, objetivo, material se realiza
que concretiza a obrigação.
Esta prestação deve ser lícita; possível física e juridicamente;
certa, determinada, ou determinável; suscetível de aferição econô-
mica; comerciável (alienável, transmissível patrimonialmente).

c) Elemento Imaterial: vínculo jurídico

Para tratar sobre este elemento das obrigações, de relevante


irnportância recordar a divergência entre correntes doutrinárias acerca
da quantidade de elementos a unirem a prestação aos sujeitos (vínculo
imaterial ou jurídico), a saber:

c.l) TEORIA MONISTA: preconiza que uma só relação jurídica


vincula credor e devedor, de forma que o direito de exigir está inserido
no dever de prestar.
c.2) TEORIA DUALISTA (teoria majoritária): a relação contém
dois vínculos, um atinente ao dever do sujeito passivo de realizar
a prestação, outro de utilizar o patrimônio deste para satisfazer o
crédito. Distingue o shuld (o dever de prestar, a prestação), do half-
tung (do débito, do patrimônio), bem como o débito, da obrigação.
Ex: fiança, aval, onde só há a garantia, sem o dever da prestação; ou
da dívida prescrita, onde só a prestação, sem a garantia patrimonial.
Para melhor compreender o elemento virtual à luz da teoria dua-
lista das obrigações, válido analisá-lo pela via do artigo 815 do CC, que
dispõe que não se pode exigir reembolso do que se emprestou para
jogo ou aposta. Percebe-se um típico caso onde há obrigação natural,
imperfeita (shuld) sem o halftung, ou seja, sem a coercibilidade patri-
monial. Hipótese invertida seria o contrato de fiança, onde há, pelo
fiador, um dever de garantia (halftung) sem a obrigação propriamente
dita (shuld).

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fiG\JEIREOO, ROBERTO FIGUEIREDO, $ABRI NA DOURADO 155
Capítulo IX

O perdedor de jogos considerados ilícitos não terá o dever de pagar


e, se o fizer, não poderá repetir o indébito. Trata-se a hipótese de
obrigação natural, na qual há débito, mas inexiste responsabilidade.

c.3) TEORIA ECLÉTICA: O elemento débito e obrigação se com-


pletam, constituindo uma unidade.
Sobre os elementos das obrigações, mister lembrar que existem
ainda os elementos imediatos da obrigação (a prestação) e os elemen-
tos mediatos da obrigação (o bem da vida, a coisa, o bem jurídico
tutelado), também chamados esses últimos de elementos objetivos
da prestação.

9.4. CLASSIFICAÇÃO

o Neste momento será apresentada a classificação das obrigações


com amparo na doutrina de Maria Helena Diniz, porém, com ênfase
nas modalidades mais requisitadas nos concursos públicos da OAB.

9.4.1. CLASSIFICAÇÃO BÁSICA OU QUANTO AO OBJETO

Está dentre uma das mais exigidas modalidades classificatórias


nas provas de OAB. Trata-se de classificação geral, recorrente na prá-
tica jurídica, que é consubstanciada na prestação e no que a mesma
consiste, podendo recair em dar coisa certa ou incerta em um fazer
1

ou em urna abstençãq como se verá adiante.

9.4.1.1. Obrigação de Dar

A obrigação de dar pode ser dividida em um dar coisa certa,


com previsão nos artigos 233 a 242 do CC, e em um dar coisa incerta,
disciplinada entre os artigos 243 a 246 do CC, sendo a diferença básica
entre elas no fato de a coisa estar completamente individuada (deter-
minada) ou não (determinável).

156
EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CmL I Y edição
fcapítulo IX

9.4.1.1.1. Obrigação de Dar Coisa Certa

A obrigação de dar coisa certa tem seu objeto completamente


individualizado. Assim, tem gênero, quantidade e qualidade. A obri- l
gação de entrega de um veículo especificada a sua marca, ano, placa

I
policial e chassi são exemplos desta modalidade. Nesta modalidade,
as benfeitorias e os demais acessórios, à exceção! das pertenças (artigos
93 e 94 do CC), devem acompanhar a transferência ou a restituição do
bem principal, nos moldes do princípio segundo o qual o acessório
segue a sorte do principal, bem corno do artigo 233 do CC.
É considerada urna obrigação positiva, que envolve a entrega ou
a apresentação de urna determinada coisa, já existente e identificada,
seja pela TRADIÇÃO, para os bens móveis, seja pelo REGISTRO, para
os bens imóveis.
A propriedade não será transferida, enquanto a.coisa certa não
' for dada, mediante tradição ou registro. Vigora o princípio res perit
domino suo, ou seja, a coisa perece em face do seu dono. Perceba-se que o
direito obrigacional preocupa-se, corno regra, com a perda enquanto
a prestação ainda está sob as mãos do devedor. Obviamente, se já
houve pagamento e recebimento da coisa por parte do credor, e este
a perdeu por ato próprio, não haverá urna discussão jurídica. Apenas
havendo algum vício redibitório, terna da teoria geral dos contratos,
irá tocar o direito. ' .
Até a tradição, pertence ao devedor a coisa com os seus melho-
ramentos e acrescidos, conforme preconiza o artigo 237 do CC. Con-
sequenternente, na hipótese de melhoramentos, por este, poderá o
devedor exigir aumento no preço e, se o credor não anuir, poderá o
devedor resolver a obrigação. Destaque, adernais, que os frutos per-
cebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.

9.4.1.1.2. Obrigação de Dar Coisa Incerta

Também ch'i'rnada de obrigação genérica, a obrigação de _dar


coisa incerta, prevista no artigo 243 do CC, é aquela em que apenas
o gênero (espécie) e a quantidade individualizam seu objeto, nao
havendo especificação da qualidade.

157
I DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Capítulo IX I

Na obrigação de entregar 15 (quinze) sacas de cacau há espécie


(cacau) e quantidade (quinze sacas), entretanto, não se especifica a
qualidade.
Em algum momento, t~)davia, a coisa haverá de ser individua-
lizada ou determinada, em que pese ser possível o objeto incerto
(determinável), sendo que, ao gênero e quantidade, deverá ser somada
a qualidade. Como isto ocorre?
Recebe a denominação de concentração do débito ou da presta-
ção a operação jurídica que transforma o incerto (determinável) em
certo (determinado). Mas a quem caberá esta incumbência? Caberá ao
devedor, salvo disposição em contrário (CC, artigo 244), de forma que a
norma ctpl.icct-se apenas no silêncio das partes, sendo, portanto, norm~
dispositiva ou supletiva. Ressalte-se, por conseguinte, que as próprias
partes poderão pactuar a escolha por parte do credor ou de terceiro.
Destarte, é o critério médio que deverá ser utilizado na escolha.
A luz do viés da boa-fé e eticidade (CC, artigos 113 e 245), não deverá
ser escolhido nem o melhor e nem o pior objeto, mas sim o médio
(intermediário).
Ocorrida a escolha, o que implica realizada a concentração do
débito, a obrigação se converte em dar coisa certa. Dessa forma, toda
a disciplina jurídica relativa à obrigação de dar coisa certa passa a
ser aplicada, mormente sobre a perda do objeto (perecimento ou
deterioração). Conclui-se, por conseguinte, que a incerteza do objeto
obrigacional é sempre transitória (relativa).

9.4.1.2. Obrigação de Fazer


A obrigação de fazer impõe uma conduta, um facere. Assim, tra-
ta-se de uma obrigação positiva, uma prestação de fato para o devedor,
sendo que o adimplemento de sua prestação se dará justamente através
da prática desta ação específica entabulada na obrigação.
A obrigação de fazer pode ser fungível ou infungível. Será fun-
gível aquela que ainda pode ser adimplida por outrem, mediante
artigos 816 e 817 do CPC/15. Será infungível ou personalíssima, seja
pela natureza do bem, seja pela convenção das partes.

FniTORA AHMADOR I PRÁTICA CIVIL I Y edição


DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
!capítulo IX

Baseando-se nos princípios da conservação dos negócios jurídicos


e da função social dos contratos, prioriza-se cumprimento in natura da
obrigação de fazer, inclusive mediante astreintes (artigo 536, do CPC/15
e 84 do CDC). Diante da impossibilidade do cumprimento desta_ é que
o credor deverá pleitear a indenização nas obrigações de fazer. Nesse
sentido, o Enunciado 22, da I Jornada em Direito Civil do CJF/STJ).
Dessa forma, não sendo possível a prestação in natura, surgirá a
possibilidade do pagamento substitutivo em perdas e danos (artigo
247, CC), apurando-se a culpa no caso concreto.
Válido mencionar, diante do caráter desburocratizante, o pará-
grafo único do artigo 817 do CPC/15, que autoriza o exequente a adian-
tar as quantias previstas na proposta a fim de que dada obrigação de
fazer seja implementada por terceiro.
Também é importante a possibilidade, em caso de urgência,
do credor executar ou mandar executar o fato, independentemente
de autorização judicial, sendo depois ressarcido, conforme dispõe o
parágrafo único artigo 249 do CC.

9.4.1.2. Obrigação de Não Fazer

A obrigação de não fazer decorre do compromisso de abstenção


de uma conduta, ficando o devedor proibido de praticar um determi-
nado ato, sob pena de inadimplemento.
Constitui a única obrigação negativa do Ordenamento Jurídico
Privado Brasileiro e tem previsão nos artigos 250 e 251 do CC.
Deve ser urna abstenção juridicamente relevante. Exemplo: não
despejar lixo em determinado local; não divulgar segredo industrial;
não construir acima do terceiro andar; não abrir um estabelecimento
comercial nesta vizinhança; não poluir o meio ambiente; não concorrer
num determinado ramo do comércio, etc.
É, de regra, infungível, personalíssima e indivisível pela sua
natureza (artigo 258, CC).
Moacyr Amaral dos Santos distingue, quanto aos aspectos proces-
suais e, nas hipóteses de inadimplemento, em obrigação de não fazer
transeunte (ou instantânea), onde só cabe ao credor pedir perdas e
danos, da obrigação de não fazer permanente, que permite ao credor

Ar.n~;[· Mor;, CRI.~1'JANO Sü~II"-L, LliC!ANO FJGUEJIIEDO, RO!II'II.TO FJGUE1RE0(), SAJJ.I\lNA DOURADO 159
Capítulo IX

exigir o desfazimento do ato (que pode ser feito por terceiro ou pelo
próprio credor, conforme artigo 820 do CPC/15).

9.4.2. CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL

9.4.2.1. Consideradas em si mesmo - morais, civis e naturais

Essa classificação deve ser entendida tendo por base o elemento


virtual das obrigações e a teoria dualista, que distingue a prestação
da responsabilidade civil.
Consequentemente, se de um lado as obrigações naturais e
morais são imperfeitas, porque destituídas de coercibilidade, as obri-
gações civis são completas, pois além de prescreverem a conduta,
vinculam patrimonialmente o devedor que deixar de observit-la.

9.4.2.2. Obrigações compostas pela multiplicidade de objetos

a) Cumulativas ou Conjuntivas
As obrigações cumulativas ou conjuntivas caracterizam-se por
obrigar o devedor ao adimplemento de todas as prestações (objetos)
da relação obrigacional. Ex: o devedor se CQmpromete a construir a
casa e pintá-la.

b) Alternativas ou Disjuntivas
Nas obrigações alternativas ou disjuntivas, haverá necessidade
de adimplir somente uma das duas prestações pelo devedor. Ex: o
devedor será liberado da obrigação ou se construir a casa, ou se pin-
tar a casa construída por alguém. Portanto, a obrigação alternativa
está contida no conceito de obrigação composta, sendo identificada, em
regra, pela conjunção disjuntiva ou. Ex: contrato estimatório ou por
consignação (artigo 534, CC).
Indaga-se: a quem caberá a escolha?
A regra, nos moldes do artigo 252 do CC, é que a escolha caberá
ao devedor, se outra coisa não for estipulada no ajuste, de forma que as
partes podem disciplinar em sentido contrário ou até mesmo delegar

160 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CJVlL 1 Y edição


\capítulo lX

. t d olha Sendo a hipótese de pluralidade de devedores,


a terceuo o a o e esc ·
a escolha haverá de ser unânime.
Se não puder cumprir nenhuma das prestações, sendo a escolh~
. tência do devedor e a impossibilidade por culpa deste ficara
~~:a~:igado a pagar o valor da que por últimos~ impossibilitou, mms perdas
e danos. Se a escolha couber ao credor, tera este o ~uetto de exzgtr a
prestação subsistente ou o valor da outra com perdas e danos.

:>ATENÇÃO!
Se as duas préstaçõesperecerem nestas condiçõ~s_poderá ~ cre-
dor cobrar o valpr de qua1quer das duas (prestaçoes perecidas)
mais indenização por perdas e danos.
Destaque-se, ademais, conforme artigo 252 do CC, não se:.pos-
. un1a parLe ....:~ ...... .,. . . , ....hiotn P outra de-outro, 1a que
sível cumpnr l uç .......... " '"'""'J-~_-' - · -
a alternatividade relaciona-se aos objetos. .

:>ATENÇÃO!
'Não há previsão na legislação, mas alguns doutrinadores tra-
tam ainda da obrigação facultativa. Caractenza-se por possmr
a enas uma prestação, acompanhada por uma fa~ldade a ser
c~m rida pelo devedor, de acordo' com a sua opçao ou conve-
niên~a. Dessa forma, o credor não poderá exigir esta faculdade,
- ha' dever quanto .à mesma,
vez que nao _ . sendo, portanto, uma
obrigação facultativa uma obngaçao Simples.

9.4.2.3. Obrigações compostas pela multiplicida_de de


sujeitos - solidárias (ativa, passiva ou mistas)

Levando em conta a multiplicadade dos sujeitos que a integram,. seja_no


polo ativo, seja no polo passivo, seja em ambos os polos, as. o~r~gaçoes
também podem ser configuradas como compostas ou soltdanas, que
é a terminologia utilizada pelo CC.

ROB!:R'l"O fJGUfJ!tEllO, SAEIIliNA DoURADO


161
ANORÉMOTA, (RlSTIANO SonRAL, LuCIANO FIGUC1l\1;DO.
I DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Capítulo IX )

A solidariedade ora abordada brota obrigacionalmente da


autonomia privada. Não deve ser confundida com a solidariedade
decorrente de ATO ILÍCITO prevista, por exemplo, nos artigos 932 e
942 do CC (aquiliana), nem a do aktigo 7º, parágrafo único, do CDC.
Essa solidariedade pode ser pura ou simples, condicional, a
termo, modo ou encargo, conforme artigo 266 do CC, que traz rol
exemplificativo, como prevê o Enunciado 347 em Jornada de Direito
Civil que prevê que a solidariedade admite outras disposições de
conteúdo particular além do rol previsto no artigo 266 do CC.
No caso da solidariedade ativa (artigo 268, CC), ajuizando um
credor AÇÃO JUDICIAL, incorrerá no instituto da prevenção judi-
ciai e aí u cuinprÍlTtertto obrigGcional sorr1ente poded acontecer nos
autos do processo.
Também na solidariedade ativa, havendo morte de um dos cre-
dores, incide a previsão do artigo 270 do CC. Tendo em vista que a
obrigação se transmite causa mortis até as forças da herança, com
o óbito, obriga nos limites da quota hereditária recebida, havendo a
refração do crédito, não incidindo dita regra, obviamente, apenas na
hipótese de obrigação indivisível. Ex: credor de 12 mil reais falece e
deixa 3 filhos herdeiros. Cada um destes herdeiros somente poderá
exigir uma quota de 4 mil reais.
Tendo em vista a sua natureza personalíssima, ao devedor é
vedada a oposição indistinta de exceções pessoais aos credores soli-
dários, conforme artigo 273 do CC. Ex: "se o devedor foi coagido por um
credor solidário a celebrar determinado negócio jurídico, a anulabilidade do
negócio somente poderá ser oposta em relação a esse credor, não em relação
aos demais credores, que nada têm a ver com a coação exercida". (Flávio
Tartuce, 2009, p. 101).
O tema tratado no artigo 274 do CC, com redação dada pelo
CPC/15, também merece destaque, vez que polêmico. Dispõe esse
dispositivo que o julgamento contrário a um dos credores solidários
não atinge os demais, enquanto que o julgamento favorável aprovei-
ta-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito
de invocar em relação a qualquer deles ...
Nessa esteira, vencida a causa por um dos credores, esta decisão
atinge os demais, salvo se o devedor, em face de outro credor que

1 f...'"l EDITORA ARMADOR 1 PRÁTiCA CiVIL 1 3~ edição


DIREITO DAS OBRIGAÇÕES l
(Capítulo IX

não participa do processo, tiver em seu favor alguma exceção pes-


soal passível de ser invocada. Assim, para esta corrente, os credores
apenas poderiam ser beneficiados, jamais prejudicados com a coisa
julgada, havendo a extensão da coisa julgada aos que não participa-
ram do processo passível apenas da exceção mencionada, sendo que
esta defesa não poderá ser apresentada em face daquele credor que
promoveu a demanda.
Em suma: Se um dos credores PERDE em juízo, não há inter-
ferência na relação com os outros; se ele GANHA, essa decisão
beneficiará os demais credores, salvo se o devedor tiver exceção
pessoal que possa ser oposta ao outro credor que não participou
do processo, pois, em relação àquele que promoveu a demanda, o
devedor nada mais pode opor (artigo 508, CPC/15).
Ainda quanto à solidariedade ativa, dois aspectos alusivos à
prescrição também são aqui relevantes:
I) ?USPENSA a prescrição em favor de um dos credores solidários,
este efeito só aproveitará aos outros se a obrigação for indivisível
(artigo 201 da CC). Exemplo em que isto não acontece, artigo 198, III, CC.
li) A INTERRUPÇÃO efetivada por um credor não aproveita
aos outros, salvo se a obrigação for solidária ativa (artigo 204). Ex.
Se um credor protesta título em cartório, a interrupção da prescrição
aproveitará aos demais credores solidários.

Sobre a solidariedade passiva, algumas considerações de alguns


Enunciados do CJF.
O Enunciado 348 do CJF prevê que o pagamento parcial não
implica, por si só, renúncia à solidariedade. Esta deve derivar dos
termos expressos da quitação ou, inequivocamente, das circunstâncias
do recebimento da prestação.
Segundo o Enunciado 350 do CJF, a renúncia à solidariedade
se diferencia da remissão. Nesta última, o devedor fica inteiramente
liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que tange ao rateio
da quota do eventual codevedor insolvente (artigo 284, CC). Ex. A é
credor de B, C e D em R$ 30.000,00 (trinta mil reais). Se há renuncia à
solidariedade em relação a B, neste caso, B será exonerado da solida-
riedade, mas continua obrigado por R$10.000,00 (dez mil reais), sendo

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIÇUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 163
Capítulo IX

que os demais continuam respondendo solidariamente pelo restante


do valor (no exemplo A e B são solidariamente responsáveis por R$
20.000, 00- vinte mil reais).
O Enunciado 349 do CJF também elucida esta importante ques-
tão: "Com a renúncia da solidariedade quanto a apenas um dos devedores
solidários, o credor só poderá cobrar do beneficiado a sua quota na dívida;
permanecendo a solidariedade quanto aos demais devedores, abatida do débito
a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia".

9.4.2.4. Quanto ao tempo de adimplemento - instantânea,


diferida

As obrigações instantâneas são aquelas cuja prestação é imedia'


tamente executada, razão pela qual se fala em urna extinção natura 1
da mesma desde logo, vez que logo após o pronto adimplemento.
As obrigações de trato sucessivo são as obrigações por tempo inde-
terminado e, por isso, diferidas no tempo, exigindo execução protraída
ao longo do tempo. ·

9.4.2.5. Quanto aos elementos acidentais - pura, condicional,


moda! ou a termo
c
Na medida em que constituem negócios jurídicos, as obrigações
podem (não necessitam) contemplar elementos acidentais. Desta forma,
os estudos alusivos à condição, ao termo ou modo e, finalmente, ao
encargo, elementos acidentais do negócio jurídico- já analisados neste
livro quando do estudo da teoria geral do fato, ato e negócio- apli-
cam-se integralmente ao direito obrigacional, tecendo-se aqui ligeiras
recordações a respeito do assunto.

(i) Obrigação sujeita ao elemento acidental da condição.


Geralmente acompanhado da palavrinha "se'; é elemento que traz
dentro de seu conceito as noções de futuridade e incerteza (elemento
futuro e incerto). Ex. doação feita a nascituro (artigo 542, CC): "doo
parte da minha propriedade ao nascituro se ele nascer, evidentemente".

164 EmTORA ARM:I.DOR ! PRÁTICA CtVlL I 3a edição


fCapítulo IX

(ii) Obrigação sujeita ao elemento termo.


O termo é composto pelos elementos futuridade e certeza (elen:;ento
·st 'nção para a condição é a certeza da ocorrenCia
futuro e certo). A d 1 1
do termo. Ex. doação na qual o donatário fica com o ben; por um lapso
temporal: "quando você completar a maioridade, perdera a propnedade
resolúvel do bem ". I
1

(iii) Obrigação sujeita ao elemento acidental modo ou encargo.


Aqui a futuridade também está presente, po.rém, ao invés de
· t
u1na 1ncer eza
ou uma certeza se aJ·usta um sacnflClO, um trabalho,
1
f -

qual 0 negócio 1·urídico não acontecera. Ex: a doaçao


um munus, sem 0 b ·bl'
r t. 540) "para que desde que" ou seja,"deixo-lhe uma z zoteca
onerosa ,ar 1go ' "' "
para que você ministre aulas de portugues ~aquele lugar .

9.4.2.6. Quanto à divisibilidade


A obrigação será indivisível quando, pela natu~eza_ real do
objeto ou pela da vontade dos contratantes, sua ~restaçao nao puder
· d Pela vontade das partes podera ocorrer mediante
ser f raciona a. .. d· ·
ciáusula nos contratos, já que, 0 que não é proibido é permztzdo no 1re1to
das obrigações. . . . ? 1·
E o que d 1·ferencia indivisibilidade e sohdanedade.
. . . .. .
A so I-
d'
dariedade se refere aos sujeitos da obrigação, a mdiVISlbihdade IZ
respeito ao objeto. . . _ . .
Destaque-se para 0 artigo 263 do CC, em que a obngaçao mdi-
visível perde esta qualidade quando há conversão em perdas e dan~s
no caso de inadimplemento. Isto, todavia, não vale para a_ obngaçao
solidária, pois a solidariedade será mantida sobre a questao das per-
das e danos.
Ademais, na obrigação indivisível com pluralidade de credores,
todos os credores devem ser convocados pelo devedor para a e~tre?a
conjunta da coisa ou, ainda, poderá haver o cumprimento_ da obngaçao
em face de um só credor, desde que obtenha deste cauçao de ratifica-
ção, garantia pela qual este confirma que repassará o correspondente

ANDRÊ MoTA., CRISTIANO SOB!l'I.L, LUCIANO f!GUElREDO, Ro<HW.10 flGUE!RC'D;), ~ABRlN/• DOURADO
165
!DIREITO DAS ÜBRIGAÇÕES

Capítulo IX j

aos demais credores. Tal caução de ratificação será escrita, datada e


assinada com firma reconhecida.

I
9.4.2.7. Quanto ao fim - obrigações de meio, de resultado e de
garantia
Nas obrigações de resultado, o devedor, sob pena de responsa-
bilidade civil, se compromete (assume os riscos) com a ocorrência do
resultado ajustado. Ex: "eu prometo que você estará em casa às Sh, afinal
de contas/ o meu transporte jamais atrasou, de modo que garanto: você não
perderá o compromisso ajustado para aquele horário!".
As obrig!!ÇÕ!'S de meio 0corrpm quando o devedor não tem como
(ou não deseja) se comprometer com o resultado. Ex: "prometo que
utilizarei todos os recursos existentes para lhe salvar/ mas não tenho como
garantir o resultado disto".
Profissionais liberais, como o advogado, por exemplo, em regra,
assumem apenas obrigação de meio, daí porque a responsabilização
destes será subjetiva, nos termos do artigo 14, § 4" do CDC. Quanto
aos profissionais da saúde referidos, no artigo 951 do CC, esta respon-
sabilidade também será de meio, razão pela qual se estar no campo do
dolo ou culpa (negligência, imprudência ou imperícia).
Diante destas considerações indaga-se: a obrigação de um cirur-
gião plástico seria de resultado ou de meio? Teria ele responsabilidade
civil objetiva ou subjetiva? Depende. A obrigação é de resultado, sendo
objetiva a responsabilidade, se a cirurgia plástica for cosmetológica
(TJSP, AP. 132.990-4/2003), inclusive para casos de dentista estético
(TAMG, acórdão 0377927-1/2002); a obrigação é de meio e a responsa-
bilidade é subjetiva, se for cirurgia plástica reparadora.
Por fim, a obrigação de garantia está associada à cláusula de inco-
lumidade e está prevista nos contratos de transportes, por exemplo.

9.4.2.8. Quando reciprocamente consideradas - principal ou


acessória
Obrigações principais existem independentemente de qualquer
outra. De outra sorte, as obrigações acessórias seguem a sorte da

166 EotTORA ARMADOR I PRÂTICA CIVIl, I 3a edição


DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
ÍCapítulo IX

principal de modo que inexistindo esta, quedam-se aquelas. Exemplo


constante é a obrigação do fiador no contrato de locação, em que a
obrigação do locador é considerada a principal (existe independen-
temente da sorte do contrato de fiança) e a obrigação do fiador está
condicionada a do contrato principal.

9.4.2.9. Obrigação propter rem (própria da coisa), também


chamada de híbrida, ambulatória, mista, real, ob rem,
ou, finalmente, reipersecutória

São obrigações que se vinculam ao direito de propriedade, à


coisa, p<::tando aderidas a esta como que numa zona de interseção
Entre o direito real e o direito das obrigações. Por tais razões também
são chamadas de obrigações próprias da coisa. Exemplo clássico diz
respeito às despesas de condomínio (artigo 1.345, CC) que seguem a
sorte do proprietário do imóvel independentemente de quem seja
este. Assim, se você adquire um imóvel e o antigo proprietário era
devedor de IPTU, este débito segue o imóvel e será transferido para o
novo adquirente.

9.5. DO PAGAMENTO. TEORIA GERAL

Fundamental compreender, dentro da teoria geral das obrigações,


a teoria geral do pagamento, que consiste, resumidamente, em saber
quem deve pagar, a quem pagar, quando pagar, como pagar, onde pagar...

9.5.1. QUEM DEVE PAGAR (SOL VENS). 0 SUJEITO ATIVO DO


PAGAMENTO

Todo aquele que deve ou pode pagar é chamado juridicamente


de solvens, que é expressão mais ampla do que o termo devedor. Nessa
senda, o pagamento pode ser feito pelo devedor, por seu representante

ANnRÉ MOTA, CR!ST!,.,NO SoBRAl., LU<:!Ar-.:0 F!GUflREno, Ro~mTo F!GUE!RllDO, Sll.RR!NJ\ DouRADO 167
Capítulo IX

ou, ainda, por um terceiro, sendo possível que todos eles se utilizem
dos meios jurídicos para tanto a exemplo da consignação em paga-
mento (art. 304 do CC).
O pagamento feito pelo próprio devedor ou pelo seu represen-
tante; como um procurador; não costuma ocasionar grandes dúvidas.
Entrementes, já o pagamento feio por terceiro costuma gerar mais
polêmicas.
O terceiro, que realiza o pagamento, poderá ser interessado ou"
desinteressado.
Por terceiro interessado entende-se aquele que tenha interesse
jurídico no pagamento, a exemplo do fiador e do avalista. Estes, ao
pagarem, se sub-rogam (substituem) na posição do credor originário,
tendo todas as prerrogativas iniciais do crédito.
Já o terceiro desinteressado é aquele não tem interesse jurídico
no pagamento, mas pode ter um interesse moral. É o caso do genitor,
irmãos ou parentes do devedor. Em sendo o pagamento realizado por
terceiro não interessado haverá de se verificar se ele:
a) Pagou em nome próprio: quando lhe assistirá o direito de ação
em regresso em face do devedor. Cuidado! Aqui se fala em
mera ação em regresso, não havendo sub-rogação;
b) agou em nome do devedor, quando se estará diante de uma
obrigação natural, inexigível e irrepetível (art. 305 do CC).

Recorda-se que se o pagamento por terceiro for realizado com


oposição ou desconhecimento do devedor e este tivesse meios para
ilidir com a obrigação, restará desobrigado por reembolso (art. 306
do CC).

9.5.2. A QUEM SE DEVE PAGAR (ACCIPENS). 0 SUJEITO PASSIVO


DO PAGAMENTO

Ex vi do artigo 308 do CC, o pagamento deve ser feito ao credor


ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de
por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

168 EorTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL I 3" edição


jcapítulo JX

face de quem se pode (e se deve) pagar é inti-


Toda a pessoa em . ue en loba não apenas o credor
tulada de Accipiens, conce,ItO ~st~ qporta!o, o sujeito de direito em
como o seu representante ega . ' . -
e deve realizar a obngaçao.
face de quem s d d tativo (aparente) igualmente é tido como
O denomtna o cr~ ortuão ou seja também é sujeito de direito
Accipens, conforme a egis aç c' f e' artigo 309 CC o pagcimento
b 0 pagamento. on orm '
apto a rece er . . '!"do No mesmo sentido o
f. edor putativo sera va I ·
feito de boa e ao cr . d receber o paaamento o portador
. 311 e considera autonza o a " - .
artigo 'qu . t' cias contrariarem a presunçao dm
da quitação, salvo se as cucuns an
resultante.

9.5.3. A PENHORA PRÉVIA

O f 312 CC informa que se o devedor pagar ao credor,_apesar


. . ar Igo 'enhora feita sobre o crédito, ou da impugnaçao a ele
de mllmado da p amento não valerá contra estes, que pode-
oposta por terceuos, o pag . de novo ficando-lhe ressalvado o
rão constranger o devedor a pagar '
regresso contra o credor. t
do com a teoria geral do pagamen o, em
Dessa forma, d e acor . . - d d d
d ecorrente de decisão judiClal, nao po e o eve or
h avend o pen hora · t ua1pagamento
. - . 'd" ademodoareahzareven
ignorar esta situaçao JUri !C hora retira o crédito do plano da
de maneira extraJudicial. A pen . - . 'd'
. d' . . - da sttuaçao JUri tca.
disponibilidade ante a JU tcta1tzaça0

• GICOS DA TEORIA GERAL DO


9.5.4. ASPECTOS PRINCIPIOLO
PAGAMENTO

. trizes e princípios peculiares a respeito do


O CC apresent a d Ire . . . ·d- )
- .d li·ficados nos artigos 313 (pnnClp!O da exal! ao'
pagamento. Sao I en - fi 1 t 315
. . . d identidade física da prestaçao) e, na men e,
314 (pnnCiplO a . . ortunidade em que se apresentam
(princípio do nommahsmo), op .
breves notas a respeito desta principiologm.

EDO ROBERTO flGUl>lREDO, 5ABRINA ÜOURADO


169
ANDRÉ MOTA, (RISTIANO SoBRAL, LUCIANO fiGUEIR ' '
I DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Capítulo IX )

a) Princípio da exatidão
O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe
é devida, ainda que mais valiosa (artigo 313, c;:::). Justifica-se, pois o
objeto do pagamento envolve uma prestação exala que, justamente por
isto, limita os direitos e deveres dos sujeitos da relação obrigacional.
Ressalte-se para o significado da expressão o credor "não é
obrigado". Não significa dizer que o credor seria proibido de assim
agir, de forma que nada impediria que credor e devedor ajustassem
posteriormente a realização do pagamento de outra maneira (dação
em pagamento, por exemplo), porém, isto não acontecerá como ele-
mento impositivo ao credor que, insista-se, "não é obrigado" a assim
agir. E não é obrigado justo porque o princípio da exatidão orienta
as relações obrigacionais limitando e otimizando as condutas dos
contratantes.

b) Princípio da identidade física da prestação


A identidade física da prestação é princípio limitador da forma do
pagamento para as prestações divisíveis. Conforme artigo 314, ainda
que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o
credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se
assim não se ajustou.
Decorre do preceito extraído do princípio da exatidão, previsto no
artigo 313 do Código, sendo, portanto, um desdobramento da exatidão
para fim de prestações divisíveis.

c) Princípio do nominalismo

As dívidas, em regra, devem ser em dinheiro e em moeda nacio-


nal (artigo 315 do CC). Por isso, fala-se que o Direito Brasileiro adota
princípio específico segundo o qual a obrigação é definida por sua
expressão nominal, em dinheiro.
Apenas extraordinariamente é que se admitem dívidas em ouro
ou em moedas estrangeiras. A este respeito.
DtREITO DAS OBRIGAÇÕES I
fêa.pítulo IX

:l ATENÇÃO!
Destaque para a possibilidade da cláusula de escala móvel
(ou de escalonamento): apesar da dívida ser necessariamente
paga em dinheiro nacional (critério do valor nominal), será
licito, como permite o artigo 316 do CC, convencionar o aumento
progressivo de prestaçõessucessivas. Este permissivo legal, ~ou­
tudo, deve ser analisado sob os limites do Decreto-Lei 22.626/33
(Lei da Usura) e da Lei Federal10.192/2001, que no seu artigo 2º
estipula que é nula de pleno direito qualquer estipulação de rea-
juste ou correção monetáría de periodicidade inferior a um ano.

5.5. A FUNÇÃO SOCIAL DO PAGAMENTO

O presente CC é fundamentado no princípio da socialidade e,


consequentemente, o tema função social estará presente em todos os
seus momentos e artigos. A marcante socialidade que hoje reveste o
direito privado acarreta o reconhecimento de interesses metaindividuais,
cogentes e públicos que exigem nova reflexão também acerca da fun-
ção social das obrigações e, ainda, da função social do pagamento.
Diante disto, seria possível que um fato superveniente ensejasse
a revisão e alteração, pelo magistrado, de uma prestação de relação
obrigacional privada? A resposta é afirmativa desde que haja requeri-
mento de uma das partes a este respeito, já que o magistrado se sub-
mete à inércia da jurisdição e, além disso, tendo em vista o patrimônio
das pessoas ser renunciável e disponível.
A Súmula nº 381 do STJ prescreve neste sentido ao estabelecer
que nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de
ofício, da abusividade das cláusulas.
Igualmente nessa linha o artigo 317 do CC que determina que,
por motivos imprevisíveis, quando sobrevier desproporção manifesta
entre o valor da prestação devida e o momento de sua execução, poderá
o juiz corrigi-lo, a pedido da párte, de modo que assegure, quanto
possível, o valor real da prestação.

ANDRÉ MOTA. CR!STM.NO SOBRAL, LuCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FiGUEIREDO, SABRINA DOURADO 171
Capítulo IX

O dispositivo consagra a teoria da imprevisão na perspectivada


da do~t.rma majori~á~a. Entende-se, porém, por excepcionar os casos
espeCificos de_ rev1sao contratual, pois para estes, o artigo 478 que
trata da ':xtmçao do neg~cio jurídico por onerosidade excessiva (e não
~e revtsao contratual) e o dispositivo a ser inserido. O fundamento
e aphcabthdade do critério da /ex especialis, que torna inaplicável 0
refendo arhgo 317 para casos específicos de revisão contratual.
va - Em ambos os c:sos, não se poderá ignorar o princípio da conser-
_çao dos negoczos ]Urtdzcos. A este respeito o Enunciado 176: "Em at _
cao ,.d - . en
• ao_ prznczpzo a conservaçao dos negóczos jurídicos, o artigo 478 do CC
devera co~duzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não
a resoluçao contratual".

:l ATENÇÃO!
O tema teve tratamento jurídico específico no direito do con-
sumidor
'
através do
r •
artigo • 6º' ,inciso V do CDC de fo rma que
f I .

tamb~m.em prestigiO ao pnnClpio da /ex especialis, deve-se evitar


refer:ncta ~~s artigos do CC acima indicados (317 ou 478) se a
relaçao JUndJca for de consumo. '

9.5.6. QUITAÇÃO X RECIBO

tConforme
d. . disposição legal do CC (artigo 319' CC), 0 "devedor que
paga em zrezto a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não
lhe se1a dada".
Quitação, na clássica lição de Silvio Rodrigues seria "um escrito no
qu~l o credor, reconhecendo ter recebido o que lhe era devido, libera 0 devedor,
ate o montante do que lhe foi pago".
Desta forma, constitui a quitação, um direito subjetivo do deve-
?or e, ao mesmo tempo, um dever jurídico do credor de fornecê-la
aq~ele. Pela doutrina clássica, a quitação pode ser empregada como
sznonzmo de recibo.
Interessante notar, como já advertiu o Enunciado 18 do cm;STJ
aex - H •t ~ J.I., ,que
pressao qm açao regular" engloba a dada por meios eletrônicos

172 EDITORA ARMADOR l PRÁTICA CiVIL l 3 4 edição


f Capítulo IX

ou por quaisquer formas de comunicação à distância aptas a ajustar


negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea
simultânea das partes ou de seus representantes.
À luz do artigo 324 do CC. a entrega do título ao devedor firma
a presunção do pagamento. Todavia, tem efeito a quitação assim
operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagament2,
tratando-se, portanto, de presunção relativa e de prazo decadencial

9.5.7. DESPESAS DECORRENTES DO PAGAMENTO E DA QUITAÇÃO

O tema está legislado de modo objetivo no artigo 325 do CC, não


restando muito a comentar a respeito do dispositivo legal que dispõe
que se presumem a car$o do devedor as despesas com o pagamento
e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a
despesa acrescida.
Desta maneira, tais despesas - como com taxas bancárias, com
transporte do bem, <entre outras serão- de regra, são suportadas pelo
devedor (salvo disciplina negociada em sentido contrário).

9.5.8. LUGAR DO PAGAMENTO (DÍVIDA QUESÍVEL X DÍVIDA


PORTÁVEL}

A regra é que o pagamento deve ser efetuado no domicílio do


devedor. Porém, há algumas exceções e peculiaridades, conforme
artigo 327, CC.
Do mesmo dispositivo supracitado enseja-se que a regra não se
aplicará se as partes convencionarem diversamente ou se o contrário
resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Caberá a escolha pelo credor, se dois ou mais lugares forem desig-
nados para a efetivação do pagamento. Trata-se de opção legislativa
questionável é polêmica, sendo verdadeira "pegadinha" em provas de
concurso público.
Dessa forma, a regra é que a dívida seja quesível (queráble), ou
seja, exigível, pagável no domicílio do devedor. Excepcionalmente a

173
ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO F!GUEJil.EDO, $ASRINA. DOURADO
I DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Capítulo IX

dívida será portável (portáble), que é aquela a ser efetuada no domicílio


do credor.
Destaque-se, todavia, que o pagamento reiteradamente feito em
outro local faz presumir renúncia do credor relativami~nte ao previsto
no contrato, conforme previsão do artigo 330. Tem por fundamento
a regra de boa-fé objetiva presente no CC, bem como está relacio-
nado ao instituto da supressio (verwirkung), ou seja, supressão por
renúncia tácita de um direito ou de uma posição jurídica pelo seu não
exercício com o passar dos tempos - lembre-se aqui o outro lado da
moeda correlação com o instituto da surrectio (erwírkung) ou surreição
ou surgimento, que é, ou seja, o direito que antes não existia, mas que
surge da efetividade social, dos costu:G":.CS, 2 ~:is!veL
É também exceção à regra segundo a qual o pagamento será feito
no domicilio do credor, a previsão contida no artigo 328 CC, segundo
o qual se o pagamento consistir na tradição de um imóvel ou em
prestações relativas à imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.

9.6. FORMAS ESPECIAIS DE EXTINÇÃO DA


OBRIGAÇÃO (COM OU SEM O PAGAMENTO)

Aqui serão abordadas situações jurídicas nas quais a obrigação


é extinta por uma maneira indireta (com ou sem pagamento) e não
usual. Eis as hipóteses:
a) Consignação em pagamento;
b) Pagamento com Sub-Rogação;
c) Novação;
d) Confusão;
e) Compensação;
f) Dação em Pagamento;
g) Remissão;
h) Imputação ao pagamento.

17& f;'mT0Rr. ARMADOR I PRÁTICA CtVIL I 3" edição


DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
rcapítulo IX

9.6.1. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

A consignação em pagamento (arts. 539 a 549, CPC/15) é o proce-


dimento especial de jurisdição contenciosa que viabiliza o direito
material do devedor de exigir (e obter) a quitação, prevista no artigo
304 do CC/02 e já estudada. Está relacionada ao direito subjetivo do
devedor de obter o efeito liberatório obrigacional, que se efetivará
coercitivamente mediante a consignação em pagamento. Justifica-se,
pois o vínculo jurídico que envolve o credor e o devedor, no liame obri-
gacional, confere a este o dever de adimplir a obrigação e, ao mesmo
tempo, o direito de pagar. Por haver disciplina tanto no Direito Mate-
rial, quanto no Direito Processual Civil, trata-se de instituto híbrido.

9.6.1.1. Hipóteses de cabimento

O CC/02, no seu artigo 335, apresenta rol exemplificativo das


hipóteses de cabimento da consignação, a saber:

a) Se o credor não puder, ou sem justa causa, recusar receber o


pagamento, ou dar quitação na devida forma (inciso I).
O inciso em referência disciplina situações de dívidas porta-
bles (ou portáveis, que, como visto, são aquelas que siio quitadas no
, domicílio do credor).
Apresenta esse dispositivo a denominada hipótese de mora
do credor que, sem justo motivo, sem justa causa, obstrui o direito
material do devedor de pagar, ou seja, de obter a quitação devida. Este
inciso I do artigo 335 do CC/02 não se aplica se houver justa causa pelo
credor na recusa, de forma que a recusa motivada é juridicamente
legítima, por razões óbvias.

b) Se o credor não for, nem mandar receber, a coisa no lugar,


tempo, e condição devidos (inciso li).
Aqui, a hipótese é de dívidas quesíveis o~,t querables (as que
devem ser adimplidas no domicílio do devedor, que é a regra geral).

A'oiORt MüTA, CRJSTJANO SOBRAL, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO fiGUiiiREDO, 5ABRJNA ÜOURJ.OO 175
Capítulo IX

Na situação proposta por esse dispositivo, o credor não adota as


providências cabíveis ao recebimento da coisa nas condições ajusta-
das. Assim, tem-se nítida mora do credor e, diante disso, a legítima
a atuação do devedor, visando à liberação da obrigação. Ou melhor,
com o intuito de obter o efeito liberatório obrigacional, a consignatória
será manejada.

c) Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, decla-


rado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou
difícil (inciso III).
Este preceito jurídico apresenta mais de uma circunstância na
qual é possível o manejo da consignação em pagamento, a saber:

(i) Incapacidade de credor. O p3g3rr.cntc QO credor incapaz é


possível acaso representado ou assistido por quem de direito apto
a receber a quantia. O pagamento ao próprio incapaz acarretaria a
invalidade do ato (nulidade ou anulabilidade, a depend~r do nível da
incapacidade), vez que sendo o credor incapaz, a legislação o proíbe
de dar quitação. Não sendo possível o pagamento ao incapaz através
de seu representante ou assistente, a consignação se justifica.

(ii) Credor desconhecido. Como quem paga mal paga duas vezes, não
tendo conhecimento do credor, a prudência (e a legislação) recomen-
dam seja ajuizada a ação de consignação em pagamento para obter
o devedor o efeito liberatório obrigacional. Exemplifica-se através
da situação na qual o credor falece sem deixar ou sem se conhecer
efetivamente os herdeiros destes. Possível neste caso ajuizar ação de
consignação, citando-se os possíveis credores em substituição ao finado.

(iii) Credor ausente. A situação jurídica do credor ausente em


muito se equivalerá à do credor desconhecido, pois enseja fundada
dúvida, que é aspecto legitimador da consignação em pagamento
(haverá, como no exemplo acima, a busca pela identificação dos her-
deiros aptos a receberem a prestação em lugar do ausente). Os artigos
22/39 do CC/02 disciplinam o instituto jurídico da ausência, espécie
de morte presumida admitida no artigo 6º, segunda parte, do mesmo
Diploma.

176 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


fI Capítulo IX

. ) Residência em local incerto, de acesso perigoso ou difícil.


(JV , · · d c somente para qmtar
Od dor não deve arriscar a propna VI a a0 . .
eve . - f própria noção de proporciOnalidade e
uma obngaçao, con orme a . . f d mental à vida e o
oabilidade (ponderação entre o d!feilo un a .
~;eito atrimonial ao crédito). Assim send_o, se o local do pagamento e
p . d f' "l a consignaçao em pagamento se mostra
de acesso pengoso ou t tct '
de uada à solução do problema.
a qQuanto à incerteza do lugar do pagamento, parte-se do press~-
. . Havendo séria dúvida quanto aos elementos o
Posto v1sto ac1ma. à forma ao credor ou ao lugar), como no caso, o
to
P agamento (quan ' . d d.
. da consignatória como meiO e proce I-
direito recomend a o maneJO .
mento apropriado à solução do confhto.

. 'd obre auem deva legitimamente receber


d) Se ocorrer d. uv1 a s ~

0 objeto do pagamento (inciso IV).


, . t se da ideia pela qual quando de fundadas
Tamb em aqm par e- d
dúvidas quanto aos elementos do pagamento (a quem pagar, on e
. t ) deve o devedor ser prudente e manepr a
nagar como pagar, e c , _
~ .' _ . t dispositivo 0 devedor nao tem certeza a
consignaçao, pms por es e -
respeito da pessoa legitimada ao recebimento da prestaçao.

'e) Se pender litígio sobre o objeto do pagamento (inciso V).


Estando a obrigação sub judice, convém ao devedor depositar a
, · · - 0 em pagamento. Tal med1da
P restação em jmzo mediante consignaça , . . , .
· da obtera o efe1to hberatono
ilidirá o devedor de eventua1mora e, am , , . d d' .
da obrigação, sendo desnecessário aguardar o termmo a pen enoa
judicial para liberar-se. c

9.6.1.2. Condições de validade para 0 pagamento na


consignatória
. t. do CC para que a consignação tenha força
C on formear 1go 336 f _ ,
, · am em relaçao as pessoas, ao
de pagamento, sera m1ster concorr f • _ , , •

objeto modo e tempo todos os requisitos sem os quaiS nao e ;ahdo_ o


paga,;,ento. Em outr~s palavras: o processo judicial de constgnaçao

ROBERTO FléUEJREDO, SABRINA DOURADO


177
ANDRÍ:: MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO,
l DIREITO DAS ÜBRIGAÇÕES

Capítulo IX /

em pagamento deve observar os mesmos elementos (objetivos e


subjetivos) sem os quais o pagamento extrajudicial não ocorreria.
Portanto, o objeto, o tempo, o modo e as pessoas disciplinadas no
direito material também estarão presentes na processu;::!.lística, ou
seja, no procedimento judicial.

9.6.1.3. Obrigações de dar coisa certa e incerta: especificidades

Em todas as modalidades de obrigações (de dar, fazer e não


fazer) é possível valer-se das consignações.
Porém, ressalte-se, quanto à obrigação de dar imóvel ou corpo
certo, a curiosa disciplina do artigo 3-H du CC. Este dispositivo deter-
mina que esta obrigação deve ser adimplida no local onde esta coisa
se encontrar, sendo este o foro competente para propositura da
demanda. De efeito, se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que
deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar
o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada
(artigo 540, CPC/15).
Na hipótese da coisa ser indeterminada (melhor seria dizer
incerta, pois coisa há de ser determinável), há de ser a mesma indivi-
duada mediante operação de concentração do débito ou concentração
da prestação devida (artigo 342, CC). Não há dificuldade quando a
escolha é do devedor, pois ele escolhe e consigna o escolhido. Todavia,
sendo a escolha do credor, inicialmente será ele intimado para que
a faça em 5 (cinco) dias, sob pena de recair o direito sobre o devedor
que, nessa hipótese, escolherá e consignará no procedimento usual
(artigo 543, CPC/15).

9.6.1.4. Prestações periódicas

As prestações periódicas estão relacionadas às obrigações de trato


sucessivo (alimentos, salários, aluguéis, etc.). Neste caso, a consignação
dos valores pode acontecer à medida que forem vencendo, sem maio-
res formalidades e até o quinto dia útil subsequente ao vencimento,
nos moldes do artigo 541, CPC/15. Visa prestigiar a operabilidade do
direito civil, facilitando a efetividade do processo e atendendo ao

-- •-···--.- • nn•~·r•r•~"' I ~''Priidio


DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
(Capítulo IX

princípio da economia e celeridade. Vale lembrar que as prestações


periódicas são consideradas pedidos implícitos pelo processo civil
(artigo 323, CPC/15) e podem ser quitadas até a prolação da sentença.

9.6.1.5. Regras procedimentais da consignação em pagamento

a) Consignação Extrajudicial
Tem previsão no artigo 539 do CPC/15, admitindo, de maneira
inédita, a consignação em pagamento bancário fora da justiça, 0 que
decorre sua denominação de extrajudicial.
Pela literalidade do artigo 539, § 1º, CPC/15, somente seria possí-
vel a constgnação extrajudicial para obrigação pecuniária Muito se
indagou sobre a possibilidade de consignação em banco não oficiaL
Esmagadora doutrina entende que ser o banco oficial é apenas uma
questão preferencial, que visa facilitar o procedimento judicial pos-
tenor. Na falta deste, a utilização de instituições bancárias privadas
será possível.
Outro tema de grande discussão a respeito desta importante alte-
ração legislativa, mas que não será aqui aprofundado, pois não deve
• ser apresentado em questões objetivas de prova, foi se a consignação
extraJudiCial englobaria apenas a possibilidade de consignar valores
ou abrangeria outros bens.
Na sistemática da consignação extrajudicial 0 devedor solicita
abertura de conta em nome do credor, que será notificado a respeito
d~ assunto e estará autorizado a levantar os valores ali depositados.
Nao procedendo ao levantamento, o credor poderá apresentar negativa
formal a ~er encaminhada à instituição bancária, hipótese em que esta
nNtficara o devedor a respeito da recusa de modo que este (o devedor)
ajuíze consignação judicial (artigo 539, § 4º, CPC/15).
, O credor pode ser cientificado pelo banco, pela via postal ou pelo
propno devedor, desde que seja com aviso de recebimento (artigo 539,
§ 1º, CPC/15). Esse é o documento que instruirá eventual pedido de
conSignação judicial, caso haja recusa do levantamento da quantia.
. , Haverá liberação obrigacional se, transcorridós 10 (dez) dias da
ctencta do depósito (conta do recebimento do credor), este silenciar

ANDRQ MOTel, CRISTIANO SOilRAL, LUCIANO FtGUElRilDO, ROBERTO fiGUEJtt.EDO, $ABRINA DOURADO
179
Capítulo IX

(artigo ~39, § 2º, CPC/15), ou seja, configura hipótese em que o deve-


dor obtem o efeito liberatório. Dessa forma, a recusa deverá ser por
escnto e, pelas razões já explicitadas, deverá ser ela endereçada ao
estabelecimento bancário (artigo 539, § 3º, CPC/15).
O mesmo § 3º fixa o prazo de 1 mês para, no caso de recusa, o
mõinejo da consigr;atória, que deve ser instruída com cópia do depó-
sito e da recusa. E permitido, porém, levantar o valor depositado
no banco pelo devedor, caso não haja o manejo da ação, perdendo o
procedimento a sua eficácia, de modo que o devedor estará em mora.
Destaque-se que o procedimento extrajudicial não é necessário
e nem preparatório ao judicial. Logo, o credor pode ou não valer-se
desta faculdade.

b) Consignação Ju:didal

. . . Para o ajuizamento da demanda de consignação em pagamento,


ImC!almente vale analisar a competência (territorial), ou melhor, à qual
autondade julgadora se direcionará o pedido. Esta competência será
do local indicado para ser adimplida a obrigação, conforme reza o
artigo 540 do Código de Processo Civil. Porém, a competência será do
foro de eleição, nas consignatórias envolvendo aluguéis ou encargos.
Na ausência deste, o processo será ajuizado no lugar da situação do
imóvel (artigo 58, li, da Lei nº 8.245/91).
. Os requisitos específicos da petição inicial são previstos no
arhgo 542 do CPC/15 que devem ser analisados conjuntamente com os
requisitos gerais do artigo 319 do mesmo CPC/15. Dentre os requisitos
estão: (I) o depósito da quantia ou coisa devida, a ser efetivado no
prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento, ressalvada a hipó-
tese do artigo 539, § 3º do CPC/15 e (li) a citação do réu para oferecer
contestação.
Desde a inicial, o depósito já é requerido.
A hipótese é de indeferimento da inicial, caso não realizado o
depósito, já que o depósito é pressuposto necessário para o prosse-
guimento do feito (artigo 485, I, e 321, ambos do CPC/15). Assim dis-
põe o parágrafo único do art. 542, do CPC/15: "Parágrafo único. Não
realizado o depósito no prazo do inciso I, o processo será extinto sem
resolução do mérito."

180 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiviL I 3" edição


i Capítulo IX

A citação do réu deve ser realizada após comprovado o depósito


determinado pelo juiz no prazo de cinco dias, tal como prevê o artigo
542, I, CPC/15.
Uma vez citadof o réu deverá dizer se aceita ou se recusa o valor.
Recusando, deve indicar o montante incontroverso e apresentar
resposta específica de acordo com o ônus da impugnação específica,
seguindo-se o feito pelo rito ordinário.
A redação do artigo 544 traz o rol das matérias tipicamente sus-
citáveis. Poderá alegar o réu, em contestação que:
a) Não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa
devida;
b) Foi justa a recusa;
c) O depósito não se efetuou no prazo e lugar do pagamento;
d) O depósito não é integral. devendo indicar aqui o montante
devido, sendo vedada a defesa genérica.

Importante previsão adveio do artigo 546 do CPC/15, julgado


procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação, ou havendo
aceitação tácita do depósito e decorrente condenação do réu/credor às
custas e honorários advocatícios.
Quando réu/credor enfatizar que o depósito foi feito a menor,
poderá o autor/devedor complementá-lo no prazo de 10 (dez) dias,
salvo se o faltante corresponder à prestação que acarrete a rescisão
do contrato, como dispõe o artigo 545 do CPC/15.
Não havendo complementação, possível que o réu levante, de
pronto, o incontroverso, prosseguindo a lide continuada em relação
à parte controversa.
Havendo conclusão em sentença pela insuficiência do depósito,
valerá ela como título judicial ao credor, dando celeridade ao procedi-
mento que pode ser executado nos mesmo autos (artigo 545, CPC/15).
O processo fica de logo extinto com o julgamento do mérito em relação
à parte incontroversa, sendo a hipótese de reconhecimento parcial da
procedência do ·pedido. Tendo a prestação se tornado imprestável ao
réu, a consignação perde a utilidade jurídica, respondendo o autor/
devedor pelas custas, bem como pelos danos decorrentes.

ANonÊ Mon.,, CRiSTIANO SOBRAL, LuCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO fiGUElli.EDO, SABRINA DOURADO 181
I
p
p
!DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Capítulo IX j

A sentença de procedência tem relevante importância nesta


I modalidade de ação. Torna subsistente o depósito, reputa efetuado o
pagamento e faz cessar a incidência de juros moratórios, não respon-
L

dendo mais o devedor pelos riscos que recaem sobre a coisa, tud<l isto
desde o depósito, em razão da natureza extunc do decisum.
Sendo a sentença de improcedência, o devedor permanece na
mesma posição que se encontrava antes, caracterizando o seu retar-
damento no cumprimento da obrigação de forma culposa. No caso
da locação, por exemplo, a mesma não será extinta, e serão devidos
aluguéis de todo o período do processo.

9.6.2. PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO

Conceituada por Clóvis Beviláqua como "a transferência dos direitos


do credor para aquele que solveu a obrigação ou emprestou o necessário para
solvê-la. A obrigação pelo pagamento extingue-se; mas, em virtude da sub-
-rogação, a dívida, extinta para o credor originário, subsiste para o devedor,
que passa a ter por credor, investido nas mesmas garantias, aquele que lhe
pagou ou lhe permitiu pagar a dívida".
Sub, rogação significa substituição. Constitui modalidade de paga-
mento não liberatório em relação ao devedor. Transfere àquele que
paga todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo
crédito.
Não deve ser confundida com a cessão. Nesta o crédito é trans-
ferido (artigo 286, CC); naquela, os direitos e acessórios é que são.
Ademais, a cessão costuma ter caráter especulativo, apesar de poder,
em tese, ser gratuita ou onerosa; a sub-rogação não tem caráter espe-
culativo, mas tão Somente gratuito.
A sub-rogação pode ser pessoal (do sujeito da relação obrigacio-
nal) ou real (da coisa).
Ainda, o pagamento com sub-rogação poder ser: Legal (artigo
346, CC), imposta pela lei, operando-se de pleno direito, ou ainda
convencional (artigo 347, CC), decorrente da vontade das partes.
O efeito será extintivo da obrigação para o credor, de forma
que este se retira da relação obrigacional transferindo sua qualidade
jC:apítulo IX
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I

jurídica a quem paga (credor novo), que passa a integrar a relação obri-
gacionaL Atente-se, porém, que, na sub-rogação legaL o sub-rogado
apenas tera direito contra o credor em relação aos valores pagos, como
disciplina o artigo 350 do CC/02, afinal de contas: "Na sub-rogação legal
o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até a
sorna que tiver desembolsado para desobrigar o devedor."

9.6.3. DAÇÃO EM PAGAMENTO (DA TIO IN SOLUNTUM)

Configura meio efetivo de satisfação do credor, que aceita receber


prestaçãG dive;·sa da que lhe é devida (artigo 356, CC).
Essa forma de cumprimento da obrigação está condicionada a
determinados requisitos, quais sejam:
I) Existência de uma dívida vencida·
I!) Consentimento do Credor; '
III) Entrega de uma prestação diversa da que era devida;
IV) Animus Sol vendi (animus/intenção de pagar)- pois caso con-
trário configurará uma liberalidade.

Havendo evicção na dação em pagamento, restabelecer-se-á


a obrigação primitiva, nos moldes do artigo 359 do CC Trata-se de
importante instituto relacionado com a eticidade, boa-fé objetiva e a
tutela da confiança. Há decisões do STJ (Resp 20317/SP) admitindo a
utilização do importante instituto da dação em pagamento no direito
de família, para quitação de débitos concernentes à pensão alimentícia
(e para impedir a prisão civil).

9.6.4. NOVAÇÃO

Meio especial de pagamento pelo qual as partes criam uma


obrigação nova destinada a substituir e extinguir a obrigação
anterior. Ex: Flávio é credor de Pablo, que está sem dinheiro para 0
cumpnmento da obrigação. Ambos resolvem extinguir esta obrigação,

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO flGUBIREDO, SABRINA DOURADO
183
Capítulo IX I
constituindo uma obrigação nova (os prazos foram zerados) em que
propõe a prestação de um serviço.
Desta maneira, sempre pressupõe acordo de vontades, valendo
destacar que não existe novação legal (por força de lei).
_ r-:ã~ deve ser confundida ~om a dação em pagamento, pois nesta
nao ha que se falar em obngaçao nova a gerar a quitação da obrigação
antiga.

9.6.4.1. Requisitos gerais da novação

I. Existência de uma obrigação anterior.

li. Intenção de novar (animus novandi). O propósito de criar


obrigação nova. Neste sentido o artigo 361: "Não havendo ânimo de
novar, expresso ou tácito, mas inequívoco, a segunda obrigação confirma
stmplesmente a primeira''.

III. Criação de uma obrigaÇão nova, substancialmente diversa


da primeira.
Em que pese em caráter excepcional, o CC admite que se a obri-
gação anterior for anulável, poderá a mesma ser novada, vez que os
negócios anuláveis podem ser confirmados. Todavia, não podem ser
novadas as obrigações nulas ou extintas (artigo 367, CC).

Destaque-se, porém, que não implica necessariamente a existência


da novação a renegociação de uma dívida. É preciso, para que exista
~ov~ção, que as partes efetivamente constituam uma obrigação nova,
h~mda~do a o~rigação antenor (deve haver a quitação da obriga-
ç~o anbg~). A titulo de exemplo, não implica em novação a simples
d1mmmçao de multa ou até mesmo o seu perdão (remissão), como já
decidiu o STJ (ArRg no RESP 588241/MG).
. No bojo da renegociação ou inovação de um contrato pode ser
discutida eventual cláusula ilegal?
Conforme Súmula 286, STJ e jurisprudência predominante,
admite-se a discussão da validade das cláusulas do contrato novado
ou renegociado, ou seja, a novação não convalida cláusulas inválidas
anteriores. A única obrigação inválida passível de ser novada são as

184 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL [ 3a edição


Capítulo LX

anuláveis, o que ainda pode não ser considerado na ótica da relação


de consumo e contrato de adesão.
A novação tem efeito extintivo e liberatório, prejudicando tam-
bém, em regra geral, eventuais garantias da obrigação primitiva, nos
termos do artigo 364 do CC. Em relação à fiança, esta ideia é reforçada,
de forma que cai com a novação, conforme artigo 819 do CC, bem como
Súmula 214 do STJ, a qual se refere expressamente à fiança na locação.
Interessante relembrar que a jurisprudência do STJ tem sus-
tentado que, no caso do REFIS (Programa de Recuperação Fiscal), o
parcelamento do débito tributário extingue a obrigação primitiva,
caracterizando urna novação (AgRg no Resp 522903/PR).

9.6.4.2. Espécies de novação

I. Novação Objetiva (artigo 360, I, CC): é aquela em que obrigação


nova é constituída pelas mesmas partes, extinguindo-se a obrigação
anterior e alterando o seu objeto.

II. Novação Subjetiva (artigo 360, li e III, CC): há alteração nos


sujeitos da relação obrigacional (e não no objeto). É de pouca frequência
na prática. Pode ainda subdividir-se em:

• Ativa (inc. III): mudança de credores.


Ex: Pablo deve R$ 1.000,00 à Liana e esta, por sua vez, deve R$
1.000,00 a Roberto. Em lugar de pagar a Liana.. fica acordado que Pablo
vai pagar a Roberto, só que deve ainda ter a característica de obrigação
nova e, por isto, devem ser estabelecidos novos prazos.

• Passiva (inc. li): mudança de devedores.


Nesta, opera-se mudança de devedores: sai o devedor velho e
entra o novo, considerando-se criada, a partir dali, uma obrigação
nova.
Existem dois instrumentos jurídicos que realizam a novação
subjetiva passiva, a saber:

ANDRf MoTA, CRISTIA."'O SoBRAL, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO F!GiJE!REDO, SABRINA DOURADO 185
!DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Capítulo IX !
a) Delegação: não há previsão no CC, mas é aceita na Doutrina e
na Jurisprudência. Nela, todos os envolvidos participam do ato nova-
tório (as partes estipulam de comum acordo a novação). O devedor
primitivo não terá responsabilidade, salvo em caso de má-fé (artigo
363 do CC).

b) Expromissão: o devedor novo ingressa na relação obrigacional


sem anuência do devedor primitivo, sendo um ato de força do credor.
Exemplo hipotético: um pai, considerando-se homem de honra (que
não admite que ninguém pague sua dívida), está passando privações
econômicas. Seu filho, sabendo que o pai não vai admitir que este
venha a assumir a dívida em destaque, postula em face do credor, que
autoriza a este que efetue o pagamento. Assim o artigo 362: A novação
por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente
de consentimento deste.

III. MISTA: aquela na qual são alteradas, simultaneamente, tanto


as partes, quanto o objeto.

9.6.5. CoMPENSAÇÃO

À luz da clareza do texto legislativo, ao dispor o artigo 368 do


CC de 2002 que se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e
devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se
compensarem, pode-se afirmar, que ocorre a compensação quando
os sujeitos da relação jurídica são, ao mesmo tempo, credores e
devedores recíprocos, utilizando-se deste mecanismo jurídico para
extinguir a obrigação sem pagamento, como diz a norma, "até onde
se compensarem".
Importante frizar, destaque-se, no que se refere ao instituto da
compensação, a possibilidade de elaboração entre as partes de uma
cláusula de exclusão da compensação, tal qual admite o artigo 375 do CC.
Funda-se na autonomia privada e na liberdade contratual, que devem
ser respeitadas nas relações cíveis nada obstante o cuidado especí-
fico que se deve ter em cada caso concreto, especialmente quanto à
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
f'ê:arítulo IX

ressalva à renúncia prévia nos contratos adesivos (artigo 424, CC) e


de consumo (artigo 4º, I, CDC).

9.6.5.1. Espécies de compensação

A compensação pode ser legal, convencional ou judicial. Dare-


mos ênfase à compensação legal, ante a relevância e frequência do
instituto em provas, evitando explorar temas menos prováveis para
efeito de cobrança.

a) Compensação Legal. Está explicitamente prevista na legislação


e costuma ser suscitada mediante defesa indireta de mérito (exceção
substancial) ou mediante preliminar (de mérito). Ex: Tício ajuíza ação
de cobrança contra Mévio. Este, em preliminar de defesa indireta de
mérito, alega ser titular de um crédito, no valor de R$ 10.000,00 em
face de Tício. O magistrado, nesta situação, haverá de verificar se os
requisitos da compensação estão presentes, oportunidade em que
determinará a observância da mesma.
Compensação Legal submete-se a certos requisitos (artigos 369,
370 e 371, CC).

I. Reciprocidade das Dívidas entre as Partes. As dívidas pre-


cisam ser recíprocas e entre as partes, isto porque a compensação é
intuito personae (personalíssima), razão que a impede de ser utili-
.zada por aquele que não for o titular do direito subjetivo na hipótese.
À exceção na hipótese é a da fiança (artigo 371, CC), onde fiador -
quem garante a dívida de outrem - tem direito subjetivo de opor
a compensação ao credor. Assim, a regra é que o devedor somente
pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode
compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.

II. Liquidez das Dívidas. As dívidas precisam ser líquidas, cer-


tas, delimitadas, pois somente assim as partes saberão os limites até
onde será possível compensar. Não sendo líquida, como compensar?
Não seria possível.

l\.."'Dttf· MoTA., CRISTIANO SOBRAL, LVC!ANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, $ABRINA DOUl~ADO 187
Capítulo IX

III. Vencimento (exigibilidade) da Dívida. A dívida há de ser


líquida, certa e exigível. A exigibilidade da dívida significa dizer que
a mesma já se encontra vencida. Sem o vencimento da dívida não há
direito subjetivo de pretender o recebimento do crédito. Sem existir
este direito subjetivo não há o que compensar, pois não se compensa 0
que não se tem (i compensar.
IV. Homogeneidade das Dívidas. As dívidas devem possuir
a mesma natureza jurídica, ou melhor, devem ser homogêneas em
gênero, quantidade e qualidade. Ex: dinheiro com dinheiro; café do
tipo A com café do tipo A. ..

_ O artigo 369 do CC é específico ao prescrever que a cornpensa-


çao efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis;
arrematando 0 .preceito
. -
insrulnlrlõ'l ní'l :lrtlan 1.70 nlH:>
r~-~~·--
0 '1....._ .... orn'hllT'<'> so-i-::nn
~~~~ ~ ~· ~, -.-1.........
-.-~L·~~·'"'

do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não


se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando
especificada no contrato.

b) Convencional. Nasce da autonomia privada, de um contrato


ou outro negócio jurídico qualquer. Não está prevista em lei, de modo
que se dirige a situações amplas para além da norma. Não exige os
requisitos da compensação legal, de forma que é admitida mesmo
para objetos diversos, de naturezas jurídicas distintas ou inexigíveis,
ers que envolve direitos patrimoniais disponíveis.

c) Judicial. Configura hipótese que decorre de decisão judicial


transitada em julgado nos autos de um dado processo. Ex: quando há,
n~ processo, procedência em parte dos pedidos exordiais (as partes
sao, ao mesmo tempo, vencedoras e vencidas). Neste caso, o magis-
trado deverá disciplinar o ônus da sucumbência, ou seja, o valor rela-
tivo aos honorários advocatícios e às despesas processuais. No caso,
costuma-se falar de custas pro rata (artigo 86, CPC/15), que não deixa
de significar justamente a aplicação do instituto da compensação no
caso concreto.

188 EDlTORA ARMADOR I PRÂTICA CIVIL 1 3a edição


fCapítulo IX
9.6.6. IMPUTAÇÃO AO PAGAMENTO

Imputação ao pagamento significa especificar qual entre dois ou


mais débitos da mesma natureza, positivos e vencidos, devidos a um
só credor, está sendo quitado naquela oportunidade. Dessa forma,
consiste justamente neste fenômeno da concentração do pag~rnento,
da eleição, da indicação de qual pagamento entre os vencrdos, se
está a realizar. A este respeito o artigo 352 do CC: "A pessoa obrzgada
dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de
por . . ·a "
indicar J qual deles oferece pagamento, se todos forem lzqwdos e vencz os .

9.6.6.1. Requisitos legais

a) Igualdade de sujeitos (credor e devedor)


Sendo distintos os sujeitos da relação jurídica, não há corno
imputar pagamento algum, afinal d; _contas não se teria neste caso
duas ou mais dívidas na mesma relaçao obngaCional.

b) Liquidez e vencimento de dívidas da mesma natureza


De idêntico modo, as dívidas devem ser líquidas, certas e
exigíveis corno também ocorre na compensação, de modo que, para
existir 0 aludido direito subjetivo, é pressuposto a presença destas
circunstâncias.
Vale salientar também que o pagamento parcelado do débito
só é permitido quando convencionado (artigo 314, CC). Assim, salvo
anuência do credor, o devedor não poderá imputar o pagamento em
dívida cujo montante seja superior ao valor ofertado.
Na ausência de qualquer manifestação de vontade, ocorrendo
o silêncio do devedor sobre qual das dívidas líquidas e vencidas
deseja imputar o pagamento, como proceder?
Neste caso, 0 artigo 353 do CC permite ao credor imputar no
recibo ou em outro documento inequívoco a este respeito. Caso isto
não ocorra- a quitação foi omissa, por exemplo, no que tange à impu-
tação-, serão invocadas as regras da imputação legal interpretando-se
conjuntamente os artigos 354 e 355 do CC da seguinte maneira:

189
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SoBRAL, Ll:Clh~.O FJC.\.ElREJlO, Ro!IER f O FIGliE!REDO, SABRJ-..;A DoURADO
~ ÜIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Capítuh JX I

(i) prioridade para os juros vencidos, em detrimento do capital;


(ii) prioridade para as líquidas e vencidas anteriormente, em
detrimento das mais recentes;
(iii) prioridade para as mais onerosas, em detrimento das mais
vultosas, se vencidas e líquidas ao mesmo tempo.

9.6.7. CONFUSÃO

A Confusão ocorre quando as qualidades de credor e devedor


são reunidas em urna só pessoa, tornando a extinção da relação
jurídica torna-se inevitável.
É o exemplo do sujeito que é devedor de um amigo e, em virtude
do falecimento daquele, adquire, por sucessão testamentária, herança.
Nesta situação, o indivíduo passará a ser credor de si mesmo, conforme
prevê o artigo 381.
Porém, cumpre advertir que a confusão estudada não se confunde
com a prevista nos artigos 1.272 a 1.274 do CC, atinente à aquisição da
propriedade móvel de coisas líquidas que se misturam.
A confusão poderá extinguir total ou parcial a dívida, a depen-
der da extensão, como se afere do artigo 382 do CC.
A doutrina ainda reconhece a existência da chamada confu-
são imprópria, quando se reúnem na mesma pessoa as condições
de garante e de sujeito (ativo e passivo). Ex: quando se reúnem as
qualidades de fiador e devedor (sujeito passivo) ou de dono da coisa
hipotecada e credor (sujeito ativo). A confusão imprópria ocorre
quando não se extingue a obrigação primitiva, mas somente a rela-
ção obrigacional acessória.

9.6.8. REMISSÃO

Remissão denota perdão da dívida. Suponha que alguém sendo


credor de outrem, de maneira explícita/expressa, declara ao devedor
sua intenção em perdoá-lo.

ç~,_,.....,.,, il.uMAnnu \ PRÁTICA CIVIL j V edição


DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
JC:apítulo IX

P~d~ o de~e~or, porém, apresentar recusa à remissão, vez que


tem drrelto subJetlvo de pagar), sendo imprescindíveL portanto, que
a remissão seja aceita, tácita ou expressamente, para produzir efeitos.
A norma é esclarecedora a este respeito: ':A remissão da dívida, aceita
pelo devedor extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro".
A remissão não se confunde com a renúncia. A renúncia pode
incidir sobre determinados direitos pessoais e é ato unilateral A remis-
são, por outro viés, só diz respeito a direitos creditórios, é ato bilaw
teral e, além disso, somente opera inter partes, não sendo admitida
em prejuízo de terceiros, na forma do artigo 385 do CC
Cuidado com a pegadinha constante de prova: REMISSÃO com
"s "stgnifica perdão e REMIÇAO com "ç" significa resgate (artigo 385, CC).

9.6.8.1. Requisitos da remissão

Para caracterizar a remissão da dívida é necessária a presença


simultânea de dois requisitos, a saber:

a) Ãnimo de perdoar. O ato de perdoar exige esta intenção e essa


manifestação de vontade, em regra, deve ser expressa, admitindo-se
excepcionalmente o perdão tácito para hipótese de presunções legais.

b) Aceitação do perdão. A remissão exige a concordância do


devedor. Faltante a anuência, pode o devedor consignar o valor devido,
colocando-o à disposição do credor.
A remissão poderá ser expressa ou tácita. A remissão expressa
ocorre tanto de forma escrita como de forma verbal. A comprovação
da remissão verbal é de grande dificuldade no caso concreto. É 0 caso,
por exemplo, de alguém que, diante de um show, declara publicamente
perdoar a dívida de alguém, comportamento que não pode serdes-
prezad~ juridicamente. Por isso, recomenda-se a remissão expressa
com estipulação por escrito público ou particular (carta), declarando
para o devedor que não deseja mais receber a dívida.
A remissão também pode ser total ou parciaL A remissão total
acontece quando o credor perdoa a dívida em sua integralidade. Ex:
Z deve 10 mil e B perdoa os 10 mil. A remissão parcial segue a mesma

ANDRÉ MoT..._, CJUSTJANO SOBI\At, LucL.. NO FJGUEJRJmo, RoBERTO FJGUEIREDO, SABRJNA DouRADO
191
Capítulo IX

lógica jurídica. Ex: X deve a Y o valor de 5 mil reais, mas Y declara,


sem oposição de X, que só irá executar a quantia de 3 mil reais.
•T~mbém podemos constatar a presença da remissão presumida
ou tactta, amda que não esteja verbalizada, mediante atos praticados
pelo credor (artigo 324, CC), a ensejar a remissão da dívida. Pode ser
vislumbrada na idei:• de devolução voluntária do título da obrigação
ou na de sua própria destruição. Ex: se W, credor de H em obrigação
prevista em determinado título de crédito, simplesmente destrói 0
htulo na frente de H, mesmo que não diga expressamente que o está
perdoando, a remissão será presumida.
Para encerrar, convém registrar que a remissão do codevedor é
plenamente válida, impondo-se o equacionamento da dívida remi-
:ida, com a dedução da parte remetida (artigo 388, CC). Portanto,
Isso desembocará na extinção da solidariedade em relação a esse
codevedor, incidindo os artigos 277 e 282 do CC. Ex: A, B e C são deve-
dores solidários de D no valor de 3 mil. D, entretanto, perdoa a dívida
de B. Nessa situação persiste a solidariedade em relação aos demais
devedores (A e C), que deverão pagar 2 mil em razão do abatimento
da quota-parte de B (1 mil).

9.7. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

Po~ .constituírem bens comerciáveis, as obrigações podem ser


transm1hdas. Nesse sentido, o CC ao disciplinar a matéria admite
tanto a cessão do crédito (transferência do crédito), quanto à cessão
(ou assunção) da dívida (transferência do débito).

9.7.1. CESSÃO DE CRÉDITO

Consiste em um negócio jurídico através do qual o credor


(cedente) transmite total ou parcialmente o seu crédito a um terceiro
(cessionário), mantendo-se a relação obrigacional primitiva com 0
devedor originário (cedido).

192
EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL ! 3"- edição
Previsão no artigo 286 que disciplina que o credor pode ceder o
seu crédito, se a isso não se opuser a natureza jurídica da obrigação
(ex: direito a alimentos), a lei ou eventual con~enção com o d~vedo:
proibindo a prática, sendo essa, portanto, h1potese em que nao sera
possível a cessão de crédito. _ , .
A cláusula proibitiva da cessão nao podera ser oposta ao cessio-
nário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.
Em geral, a cessão de crédito é onerosa, mas nada impede que
seja gratuita. Esta é a diferença entre cessão e pagamento com sub-ro-
gação, que não é gratuito.
A diferença para a novação, é que nesta se cria uma obrigação
nova. Isto não acontece na cessão, onde há transferência do crédito
e seus acessórios, como mesmos juros, prazos ...
É possível a cessão de direitos hereditários mediante instru-
mento público, conforme dispõe artigo 1.793, tendo. ern vista que os
direitos à sucessão aberta são considerados imóveis (artigo 80, CC),
transmitindo-se a respectiva cota hereditária. Porém, essa cessão de
direitos hereditários só pode acontecer após a morte do de cujus, afi-
nal de contas é vedado o contrato que tenha como objeto herança de
pessoa viva (artigo 426, CC).
Para que a cessão de crédito tenha eficácia em relação ao devedor,
exige-se a notificação deste. Será tido como notificado, para efeito do
artigo 290 do CC, se declarar ciente da cessão feito em escrito público
ou particular.
A teor do artigo 294 do CC, o devedor pode opor ao cessionário
as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em
que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. Demais
disto, independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor,
pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido,
o que comprova que a notificação não consiste em restrição ao plano
da validade, mas apenas da eficácia da cessão.
E o credor originário (cedente) tem responsabilidade sobre o
crédito cedido?,
A regra geral aplica-se às cessões onerosas e gratuitas de má-fé,
impondo uma responsabilidade pro-soluto: pela existência do crédito
cedido. Ex: Um credor originário cedeu onerosamente um crédito

ANDRÉ MOTA, CRtSTIANO SOBRAl, LUCIANO FtGVEtR!iDO, RoBERTO FtGIJCIREDO, SABR!NA DOl!R~DO 193
I
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Capítulo IX I
a um novo credor. Neste caso, o credor originário tem que garantir
apenas a existência do crédito, mas não está obrigado a garantir que
o devedor venha a quitar a dívida.
Nada impede, todavia, que seja estipulada na cessão uma cláusula
através da qual o cedente (credor originário) garanta o pagamento ao
cedido, gerando uma corresponsabilidade. Nesté caso, a cessão que
seria pro-soluto passa a ser cessão pro-solvendo.
Necessário advertir, contudo, que urna vez penhorado o crédito,
não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento
da penhora (artigo 298 do CC); mas o devedor que pagar, não tendo
notificação daquela, fica exonerado, subsistindo somente em face do
creàor os direitos de terceiros.

9.7.1.1. Diferenças entre cessão de crédito e sub-rogação

A cessão de crédito não se confunde com o instituto da sub-ro-


gação, isto porque:

CESSÃO DE CRÉDITO SUB-ROGAÇÃO


cessão particular nos direitos do
credor, originada de uma declaração pagamento do crédito original_j
de vontade.
pode ocorrer a título gratuito. não pode ocorrer a título gratuito. j
pressupõe o cumprimento do vín-j
conserva-se o vínculo obrigacional. culo obrigacional por parte de um \
terceiro, direta. ou indiretamente.

9.7.2. CESSÃO DE DÉBITO (ASSUNÇÃO DE DÍVIDA)

Na cessão de débito o devedor, com expresso consentimento do


credor, transmite a um terceiro a sua dívida.
Assim, o devedor primitivo se libera da obrigação. Porém, o antigo
devedor continuará respondendo pela dívida, se o novo devedor for
insolvente ao tempo da assunção e se o credor ignorava este fato, nos
termos da lei.

EmTORA ARMADOR 1 PRÁTICA Clvn.. I 3" edição


DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
ÍCapítulo IX

Aqui o silêncio, invariavelmente, importa recusa. Nesse sentido,


o artigo 299 do CC dispõe ser facultado a terceiro assumir a obrigação
do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exone-
' rado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era
insolvente e o credor o ignorava. E mais: qualquer das partes pode
assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida,
interpretando-se o seu silêncio como recusa.

9.7.2.1. Diferenças entre cessão de débito e novação subjetiva

Não se confunde a cessão de débito com a novação subjetiva


passiva. Na assunção de débito não se cria obrigação nova (prazo,
vencimento, juros são os mesmos).
Os requisitos da cessão de débito ou assunção de dívida, por-
tanto, são:
l. Existência de uma obrigação válida.
II. Anuência expressa do credor (pois muda a garantia patrimo-
nial da dívida).
III. A substituição do devedor, mantendo-se a mesma (a) obri-
gação.

9.7.3. CESSÃO DE CONTRATO

Modalidade nâo prevista legislativamente, mas admitida na


jurisprudência e doutrina majoritárias.
Nela, havendo consentimento da parte contrária, o cedente trans-
fere a própria posição no contrato (compreendendo créditos e débitos)
a um terceiro (cessionário).

9.7.3.1. Requisitos da cessão de contrato

L Anuência da parte contrária;


II. A celebração de um negócio jurídico entre cedente e ces-
sionário;
III. Integralidade da cessão (deve ser global).

A"iD!tf M01)\, CR!~T!ANO SOBRAL, LuOANO F!GUEll\JlDO, RoBERTO fiGUJ;!REno, SABR!NA 00Ul\ADO
195
Capítulo IX

O tema cessão de contrato, para os concursos públicos, revela


importante referência legislativa, qual seja a Lei Federal n "10.150/00.
É que o legislad~r passou a permitir os denominados contratos de
gaveta (Ex: mutuário contratava com a Caixa Econômica Federal e,
depois, transferia a terceiro sua posição sem, contudo, pedir autori-
zação disto ao mutuante). i

9.8. SINAL OU ARRAS

Trata-se de uma disposição contratual pela qual uma das partes


entrega (a outra) dinheiro ou bem móvel para assegurar o cumpri-
mento da obrigação pactuada. Duas são as espécies:

a) Arras confirmatórias (chamadas, popularmente, de "entrada


ou sinal")
Consiste em um reforço à execução do contrato mediante a
entrega de um numerário (ou do bem móvel) a título de sinal ou
entrada, marcando o início da execução do contrato, de maneira a não
admitir o arrependimento posterior deste (artigo 417, CC).
De regra, esse sinal dota da mesma natureza da prestação origi-
nal, sendo abatido do valor global do bem. Dessa forma, o comprador
ficará responsável apenas pela diferença de valores.
Havendo inexecução do contrato consubstanciado em obrigação
em que foram pactuadas arras confirmatórias, esse descumprimento
enseja, como regra geral, a perda do valor das arras em favor da parte
inocente. Se a parte inocente for aquela que conferiu as arras, deverá
ajuizar ação pedindo sua restituição ou correspondente monetário
atualízado, mais o equivalente da outra parte e, ainda, os honorários
do advogado. A parte inocente que houver recebido arras irá exercer
seu direito de retenção.
Se o prejuízo da parte inocente for superior ao valor das arras e
houver inexecução culposa, terá este direito a indenização suplemen-
tar, nos termos do artigo 419 do CC. As arras, neste caso, funciona-
riam apenas como uma taxa mínima, devendo a parte prejudicada

196 EorrnRA _AR '>lADO R 1 PRÁTJC4- Clvlt 1 Y edição


(inocente) exigir a suplementação das perd~s e danos. O artigo 419 do
CC permite, ainda, que a parte inocente eXIJa o cumpnmento do con-
trato (tutela específica), mais as perdas de danos pelo atraso, valendo
as arras também como mínimo a ser executado.

b) Arras Penitenciais
As arras penitenciais, quando pactuada~, gar~nter;' direito de ?
.mento tendo função meramente mdemzatona em favor
arrependi ' . d ·
daquele que desistiu do negócio logo em segm~a a ele. Se quem e~Is-
tiu foi aquele que conferiu as arras, as perdera para a outra parte, se
foi quem as recebeu, haverá de restituir em dobro. . ,
Essa possibilidade de arrependimento constllmra, nesta mod:'-
lidade, um direito que afastará, no caso, qualquer outra mdemzaçao
suplementar (artigo 420, CC e Súmula 412 do STF). . _
Nessa linha, enquanto as ARRAS CONFIRMATORIAS consi~­
tem em um reforço à execução do contrato, admitindo mdemzaç~o
suplementar, as PENITENCIAIS dizem respeito a uma mde~tzaçao
pré-estabelecida pelo descumprimento contratual ou arrependimento
e impede indenização suplementar.
Em resumo:
,. Arras confirmatórias= sem cláusula de arrependimento, com
perdas e danos. · .
,. Arras penitenciais = com cláusula de arrependimento, sem
perdas e danos.

Tribunal da Cidadania:
Informativo 39212009 - STJ- PROMESSA COMPRA.
VENDA. VALORES PAGOS. DEVOLUÇAO.
A recorrente argumenta não haver qualquer ilegalidade na
cláusula inserta em contrato de promessa de compra e venda
de imóvel que prevê, para o caso de inadimplemento con-
tratual, a retenção de 30% dos valores até então pagos pela
_recorrida promitente compradora. Afirma, out1:oss1m, que a
legalidade da referida cláusula tem resp~ldo, m~da, na pos-
sibilidade de a parte que não deu causa a re:CJsao d~ avença
reter o montante dado a título de arras. Porem, o Mm. Rela-
tor destacou que a Segunda Seção deste Superior Tribunal

ANORÊ Mon,, CRJSTJA"<O SOBRAL, L\JCIA~'ü F!Gt.:EJRJ:L>O, Rol!ERTO FlGlJl lFJ:no, SMIRJ'-H J)Ql'RA!JO
197
I DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Capítulo IX I

já decidiu que o promitente comprador, por motivo de difi-


culdade financeira, pode ajuizar ação de rescisão contratual,
objetivando, também, reaver o reembolso dos valores verti-
dos. As arras, quando confirmatórias, constituem um pacto
anexo cuja finalidade é a entrega de algum bem (em geral,
determinada soma em dinheiro), para assegurar ou confir-
mar a obrigação principal assumida e, de igual modo, l'ara
garantir o exercício do direito de desistência. Por ocasião da
rescisão contratual, o valor dado a título de sinal (arras) deve
ser restituído ao reus debendi, sob pena de enriquecimento
ilícito. O artigo 53 do CDC não revogou o disposto no artigo
1.097 do CC/1916 (atual artigo 418 do CC/2002), ao contrário,
apenas positivou, na ordem jurfdica, o principio crmsuhstan-
ciado na vedação do enriquecimento ilícito. Portanto, não é de
admitir-se a retenção total do sinal dado ao promitente ven-
dedor. Assim, segundo a exegese do artigo 418 do CC/2002
ele o artigo 53 do CDC, o percentual a ser devolvido tem
como base de cálculo todo o montante vertido pelo promitente
comprador, nele se incluindo as parcelas propriamente ditas e
as arras. É inviável alterar o percentual da retenção quando,
das peculiaridades do caso concreto, tal montante afigura-
-se razoavelmente fixado. In casu, o imóvel objeto da avença
sequer foi ocupado, porquanto o bem não foi ao menos en !re-
gue. Desse modo, na espécie, não há que se admitir a majora-
ção do percentual nos termos em que fixados pelas instâncias
ordinárias, de 10% sobre todos os valores pagos. Precedentes
citados: EREsp 59.870-SP, DJ 9112/2002; REsp 355.818-MG,
DJ 1311012003; REsp 476.775-MG, DJ 418/2003, e REsp
896.246-RJ, DJ 1511012007. (REsp 1.056.704-MA, Rei. Min.
Massami Uyeda, julgado em 28/4/2009)

9.9. MORA OU INADIMPLEMENTO RELATIVO

O inadimplemento pode ser total (absoluto), quando se tem a


total inutilidade da prestação, ou pardal (relativo), quando a prestação
ainda pode e deve ser executada, apesar da inexatídãq.

EmTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL I 3a edição


DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
~Capítulo IX

O inadimplemento relativo, denominado tecnicamente de mora,


ocorre quando o pagamento não é feito no tempo, lugar ou na forma
convencionados.
1A teor do Enunciado 162 do CJF/STJ, a inutílídade da prestação
que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deve ser afe-
rida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção
do sinalagma, e não de acordo com o mero interesse subjetivo do
credor, isto porque o adimplemento substancial decorre dos princípios
gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do
contrato e o princípio da boa-fé, balizando a aplicação do artigo 475
(Enunciado 361).
Sobre o tema, válido mencionar a Teoria da Substantial Perfor-
mance. Com base nela, adimplida quase toda a obrigação, não caberá
a extinção do contrato, mas apenas outros efeitos jurídicos, visando
sempre à manutenção da avença como numa eficácia interna da função
social dos contratos, entre as partes contratantes (Enunciado 360). Por
isto, a cobrança de encargos e parcelas indevidas ou abusivas impede
a caracterização da mora do devedor (Enunciado 354 e STJ, AgRg no
REsp. 903.592/RS, Relator Menezes Direito).
Interessa estudar as espécies de mora.

9.9.1. ESPÉCIES

A legislação deixa claro, conforme artigo 394 do CC, a distinção


entre a mora do devedor (a mais comum na prática forense) da mora
do credor, ao determinar que se considera em mora o devedor que não
efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo,
lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.
Segue o estudo dessas modalidades.

a) Mora do devedor
A mora do devedor ocorre quando este retarda culposamente o
cumprimento da obrigação.

ANDR!l Mon, CRISTIANO SoBRAL, LuCIANO F1GUlliREDO, RoBT;RTD F!GUI:lR~DO, SABRINA DoURAPO 199
Capítulo IX

moraAlguns requisitos
do devedor dent devem estar presentes para que se fale em
'- re os qums:
~ E .
.,. "' XIStencia
A

• de uma dívida rtqui"d a e certa;


vencimento
1
da dívida.

9 1
• ; ~ ~: ~Cd)evedor (a r~sponsabilidade civil é subjetiva, artigo

• Viabilidade
' I

, f , no . cumpnmento
· ' . da obrigação (artigo 395
tardiO
paragra o umco). '

A mora
persona. do devedor pode ain
Em resumo: · d a ser automática (mora ex re) ou ex

(i) "Ex re" - não exige a · · ·


de vencimento pré-fixado da Vl~O prevw algum (nela existe o termo
tica Ocorre . . d divida) e por ISSO considerada automá-
. , assim m epend t d .
sendo conhecida 'e ia ex . ~n emente .. e qualquer medida judicial,
interpela pelo ho~em). presoao latma aws znterpelat pro homine (o dia

(ii) "Ex persona"- exige inter 1 -


constituída. Logo, configura-se e pe a?ao, sem a qual a mesma não é
e devedor) não ajustaram d t lm hipoteses em que as partes (credor
ção (inexiste data de venci;e~~ rum~ par~ cumprimento da obriga-
ingressar com uma medid d o ,razao pe a qual o credor precisará
o devedor em mo a a mmistrativa (ou judicial) para constituir
r a.

a.l) Efeitos da mora do devedor


Alguns efeitos jurídicos da mora estão d" . 1' d
prejuízos a :u:
A exem lo o arti . ISCip ma os no CC.
sua m~~~~::etermma q~e responde o devedor pelos
res monetários se und , . caus~, ~~IS JUros, atualização dos valo-
honorários de ad! ado I~~Ices oficiais regularmente estabelecidos e
devedor ampl D g o. a, portanto, uma responsabilidade civil do
a. eve este repara · ,
Este é o principal efei'to d rdos preJmzos que a mora der causa.
a mora este
Além disto, o devedor t • · ..
integral da coisa també h era responsabilidade civil pelo risco
399 CC) Cor b ' m c amada de perpetuatio obligationes (artigo
seja acidental (caso for tu;to ou~~ responsa) Ihdade ~esmo que o dano
' · n asenesta have ' b ..
rça mawr' o que nao ocorreria se não

200 EolTORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL I 3« edição


j Capítulo IX
estivesse em mora. Trata-se de tema que tem exceção desdobrada em
duas hipóteses, ambas previstas na segunda parte do artigo 399 do CC:
• Isenção de culpa na mora. Ex: quis cumprir no prazo certo,
mas não encontrou o credor, ou este se negou a receber (aí a
hipótese seria de mora do credor).
> Provar que o dano ocorreria de qualquer maneira, ainda que
não houvesse mora.

b) Mora do credor
Remete a situação em que o credor, sem justificativa, recusa-se ao
pagamento. Haverá inadimplemento obrigacional, pois o devedor tem
direito de realizar o pagamento. Tanto é assim que a Ordem Jurídica
prevê a Ação de Consignação em Pagamento.

b.l) Efeitos da mora do credor


A teor do artigo 400 do CC. o principal efeito da mora do credor
é a responsabilidade pela conservação da coisa. De igual sorte, será
ainda de responsabilidade do credor em mora o ressarcimento das
despesas empregadas com a coisa e, finalmente, na hipótese do valor
oscilar entre o dia acordado para o pagamento e o da sua efetivação,
a receber a estimação mais favorável ao devedor.

9.10. CLÁUSULA PENAL OU PENA CONVENCIONAL

Consiste em um pacto acessório que pode ser previsto pelas partes


nas relações obrigacionais, onde se fixam, previamente, quais serão as
consequências jurídicas decorrentes do descumprimento culposo da
obrigação principal, na forma da Lei: "Incorre de pleno direito o devedor
na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou
se constitua em mora" (artigo 408).
O objetivo da cláusula penal será a pré-liquidação de danos
(função compensatória) ou a intimidação pedagógica ao cumprimento
do ajuste (função penitenciai).

201
ANDR'Ê MOTA, CRISTIANO SOJHli\.L, LUCIANO FIGUEIREDO, RoBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DouRADO
~ DIREITO DAS ÜBR;GAÇÕES
Capítulo IX )

Resumindo:
~ Cláusula Penal moratória = obrigação principal + multa
~ Cláusula Penal compensatória= obrigação principal ou multa

Para o caso de total inadimplemento da obrigação onde há pre-


visão de cláusula penal, esta se converterá em alternativa a benefício
do credor, na forma do artigo 410 do CC. Nesta situação, o credor tem
a opção de executar apenas a cláusula penal, abrindo mão das perdas
e danos ou requerer apenas perdas e danos, abrindo mão da cláusula
penal compensatória. Configuraria bis in idem, não permitido pelo
Direito, conduta em sentido contrário.
Por conta disto, outra relevante pergunta: em havendo previsão
da cláusula penal, é possível,_ indenização suplementar? Será possível
a indenização suplementar, a teor do parágrafo único do artigo 416
do CC, tão somente se a cláusula penal for insuficiente e, além disto,
o contrato trouxer previsão expressa.

::> CUIDADO!
Astreintes # Cláusula Penal:
ó Astreinres: surge da decisão judicial e tem como objetivo garan-
tir a efetividade -da Jurisdição. É estudada no processo civil.
• Cláusula penal: surge da autonomia privada (da vontade das
partes)e ~m como,finalidade ou a pré~fixação das perdas e
danqs(cláÚsulapena}_2ompensatória) ou intimidar as partes
levando~as· ao adimplemento (cláusula penal pêriite1ldal).

O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exce-


der o da obrigação principaL conforme artigo 412 do CC. Trata-se de
norma imperativa de relevante força ética (princípio da eticidade)
e social (função social dos contratos), insuscetível de disciplina em
sentido contrário pelas partes, sob pena de nulidade absoluta, nos
termos do artigo 166, inciso VII, do mesmo Código.
Em sendo a cláusula penal abusiva, ou havendo cumprimento
parcial da obrigação, o juiz deverá reduzi-la equitativamente, mesmo
de ofício, na forma do art. 413 do Código Civil (Enunciado 356 do CJF/
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Capítulo IX

STJ). Trata-se de preceito de ordem pública, impassível de renúncia


pelas partes (Enunciado 355 do CJF). Também é interessante perceber,
a teor do Enunciado 359 do mesmo CJF/STJ, que a redação do artigo
413 não impc,e que a redução da penalidade seja proporcionalmente
idêntica ao percentual adimplido.
Entretanto, em que pese à cláusula penal constituir obrigação
acessória, a sua nulidade não prejudica nem atinge a obrigação prin-
cipal. O atual Código não repetiu o conteúdo do artigo 922 do CC/16,
I
segundo o qual a nulidade da obrigação principal imporia por arras-
tamento a invalidade da acessória.

9.11. JUROS

Trata-se de um fruto civil- também nomeado de rendimento-


correspondente tanto à remuneração devida ao credor pela utilização
do seu capital, quanto à mora (compensa o credor em virtude do atraso
em seu pagamento).
Nos juros compensatórios (remuneratórios), portanto, compen-
sa-se o credor pela utilização do seu capital. Nos juros moratórios, a
compensação do credor acontece em decorrência do atraso do paga-
mento (compensando o inadimplemento relativo).
Os juros não se confundem com a correção monetária. Os juros
correspondem a um acréscimo, enquanto que a correção monetária
visa apenas atualizar o valor nominal da dívida (atualizar o valor da
moeda para que não haja distorções), ou seja, não objetiva a acrescer
o capital (não é um plus).

Tribunal da Cidadania:
Informativo 508/2012- STJ- DIREITO PROCESSUAL
CIVIL. APLICAÇÃO DE ÍNDICES NEGATIVOS DE
CORREÇÃO MONETÁRIA.
Os índices negativos de correção monetária (deflação) são
considerados no cálculo de atualização da obriga{ão, desde que
preservado o valor nominal. A correção monetária nada mais
é do que um mecanismo de manutenção do poder aquisitivo

ÁNl)RJ1 MOTA. CRJSTII\NO SollRAL, LUCIA.NO F!GUEIREI>O, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA ÜOURII.DO 203
Capítulo IX

da moeda
só n , nãoZ. deve ndo representar, consequentemente por si
em um f us nem ~m minus em sua substância. C~rri ir
~e'::lor ~o
r

nommal da obrzgação representa, portanto, manter


çõe:i~fl:eu P?der de compra original, alterado pelas oscila-
Atual· cwnarzas po_:ztzvas e negativas ocorridas no período
. . IZar a obngaçao lev~ndo em conta apenas oscila - .
pos:was zmportaria distorcer a realidade econômica pr~~:s
zzn o_ un:z _resultado que não representa a simples ma~uten ã~
~~forzmz~zvo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimoçno
Pr r ~ea . Nessa lznha, estabelece o Manual de Orientação de
oce zmento ~e Calculas aprovado pelo Conselho da Justi a
Federal que, nao havendo decisão judicial contrária, os índi-
ces negatwos de correção monetária (defla ã ) - .
~~;:~s ~o
d 1 cálculo de atualização, com a re~s~lv~ez;;oq~~~~­
u o[inal, a atualzzação implicar reducão do vrincivaz'
eve prevalecer o valor nominal. Precede~te citddo· . '
1.265.580-RS, DJe 181412012. (REsp 1.227.583-RS R .l RMEsp
Arnaldo Esteves L'una, julgado· em 611112012). • e· m.

Quando os juros moratórios não fo .


forem sem taxa estipulada ou uand rem convencwnados, quando
lei, serão fixados segundo a t~xa o provierem de .determinação da
do pagamento de im ostos . qu~ estiver em VIgor para a mora
do CC). p devidos a Fazenda Nacional (artigo 406

9.11.1. CUSTÓDIA
TAXA SELIC- SIST EMA ESPECIAL DE LIQUIDAÇÃO E

Trata-se de uma taxa básica de .


pelo Banco Central do Br 'I JUros da economia divulgada
asi e que tem com . . I
remunerar quem investe em t't I 'b. o pnncipa
1 u os pu hcos fed · finalidade
o governo ganhe mais di. h . erats, para que assim
. • n euo (captar invesf )
a mflação E COPON (Ó _ d Imento e para segurar
divulgar ~ taxa.
0
rgao o Banco Central) o responsável por

O STJ ainda não uniformizou o entend. ,


da Taxa Selic como juro legal de A d Jmento quanto a aplicação
mora. outrina, contudo, a exemplo

204 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I Yedição


\capítulo lX

do Enunciado 20 do CJF/STJ, qualifica de inconstitucional a taxa selic,


nos seguintes termos: "a taxa de juros moratórios a que se refere o artigo
406 é a do artigo 161, § 1º, do Código Tributário Nacional, ou seja, um por
cento ao mês. A utilização da taxa SELIC como índice de apuração dos juros
legais não é juridicamente segura, porque impede o prévio conhecimento dos
juros; não é operacional, porque seu uso será inviável sempre que se calcularem
somente juros ou somente correção monetária; é incompatível com a regra do
artigo 591 do novo CC, que permite apenas a capitalização anual dos juros,
e pode ser incompatível com o artigo 192, § 3º, da Constituição Federal, se
resultarem juros reais superiores a doze por cento ao ano."
Por conta disto, a doutrina cível majoritária sustenta que o juro
legal de mora- disciplinado no CC/02 - deve considerar os baliza-
n>entos do artigo 161, § 1º do CTN, ou seja, ser de 1% ao mês. Os juros
convencionais moratórios também devem ser no máximo de 1°/o ao
mês por força do Decreto 22.626/33 (Lei de Usura), que veda a cobrança
extorsiva de juros ou ainda de juros sobre juros (anatocismo). Os juros
convencionais compensatórios, em regra, serão também de 1°/o ao
n1ês, mas essa mesma Lei da Usura supramendonada admite que
este possa vir a ser de até 2% (ao mês).
Porém, os Bancos, não estão limitados à lei da usura, como esclarece
a Súmula 596 do STF: "as disposições do decreto 2262611933 não se aplicam
às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por
instituições públicas ou privadas, que inÚgram o sistema financeiro nacional".
Sobre o tema convém mencionar a Súmula nº 530 do STJ: "Nos
contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efeti-
< vamente contratada -por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do

instrumento aos autos -, aplica-se a taxa media de mercado, divulgada pelo


Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for
mais vantajosa para o devedor."
Vale lembrar, o STJ (Súmula 283) entende que as administrado-
ras de cartão de crédito foram equiparadas aos Bancos: "As empresas
administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso,
os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem limitação da lei da
usura". De quálquer modo, a teor da Súmula 382 do mesmo STJ,
"A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano por si só
não indica abusividade".

205
ANDRÉ MOTA, CRISTiANO SOBRAL, LUCIANO FlGUEJREDO, RollERTO FlGUElREPO, 5ABRINA DOURADO
CAPÍTULO X.

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

10.1. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Sob a ótica jurídica, o contrato é um encontro de vontades con-


trapostas, com o fito de regulamentar interesses particulares, visando
criar, modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas patrimoniais,
nos limites positivados e principiológicos do ordenamento jurídico
nacional, com especial atenção à função social (artigo 421, CC) e boa
fé objetiva (artigo 422, CC).
Trata-se de negócio jurídico, fruto da vontade dos indivíduos.
Por se tratar de um negócio jurídico, o mesmo há de ser estudado
dentro dos planos da existência, validade e eficácia, os quais já foram
tratados nesta sinopse no capítulo reservado ao tema negócio jurídico.

"10h. FnTTORA ARMA.DOR I PRÁTICACtVtL I 3a edição


TEORIA GERAL DOS CoNTRATOS !
féapimlo X

10.1.1. VISÃO GERAL DOS CONTRATOS NO CC DE 2002

O atual Código Civil dispôs sobre os contratos da seguinte


maneaa:
• 11

a) Título V - Dos contratos em Geral, subdividido em dois


Capítulos: Capítulo I - "Das Disposições Gerais" e Capítulo
2- "Da Extinção do Contrato". Tais capítulos são estruturados
em Seções, as quais versam sobre aspectos gerais da matéria
contratual;
b) Título VI - Das Várias Espécies de Contratos, subdividido
em 20 capítulos, compartimentados em várias outras Seções,
cuidando dos Contratos em Espécie.

Neste momento, estudaremos o Título V: Teoria Geral dos


Contratos.

10.2. PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL

Atualmente considera-se ultrapassado o pensamento de que os


princípios são subsidiários às leis, costumes e analogia. Na visão atual,
os princípios são considerados uma espécie de norma (normas-princí-
. pios), com plena aplicabilidade e máxima eficácia, sobretudo quando
objetivam concretizar valores constitucionais.
No âmbito contratual, os Princípios Gerais dos Contratos têm
o ~ondão de dar clareza à edição das normas regras, constituindo
uma base da normatização contratual. Com a evolução das relações
jurídicas e as novas figuras de negociação, os princípios contratuais
modificaram, em muito, o seu conteúdo. A alteração no enfoque do
direito civil do ter (concepção oitocentista patrimonialista) para o
ser (olhar atual, com base na dignidade da pessoa humana, boa-fé e
função social) é prova disto.
Portanto, além dos clássicos princípios contratuais, ditos liberais,
surgiram os princípios sociais, reconhecedores de ·valores metaindivi-

ANURf MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO flGUEIR'EDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 207
Capítulo X

:~~s tna Teoria Geral ~os Contratos. Compilando todos eles, enuncia
u nna como pnncipiOs contratuais:
1. Princípio da Autonomia ou Consensualismo
~- :rinc~pio ~a Relatividade Subjetiva dos Efeitos dos Contratos
. rmc~piO a Força Obrigatória dos Contratos
4. PnnciplO da Boa-Fé Objetiva ,
5· Princípio da Função Social dos Contr~tos
6. Equivalência Material
Na numeraç-
rimeir ·
. , ~o aCima exposta, é possível afirmar que os três
fb . os pnnopws (autonomia, relativismo e força obrigatória) são
:q~rai~~ enquanto os tr~s últimos (boa-fé objetiva, função social e
Iva encw matenal) sao sociais.

10.2.1. PRINCÍPIOS LIBERAIS

Os princípios liberais têm origem relacionada .


revol · ' · b A ao movimento
·r uc:_onan~ urguesf persistindo até os dias atuais com algumas
illl Iga~oes. ~emontam o conStitucionalismo de primeira dimensão
(geraçao), veiculando liberdades privadas.

10.2.1.1. Princípio da Autonomia Privada

Este princíp~o traduz a liberdade que as partes possuem em con-


tratar, em sua max1ma ex -0 E
~ec~':t~a absoluta, remo~:~~~ ~s ;i!~::~~: ~:~:~;ã~p~~~:::::
ilumini::o, como produto do hberalismo individualista, proprietário
. , . sobretudo' pela r!Vre vonta d e dos contratantes'
Trad . a, 1prezava,
uzla ta pnnCipiO, nesse contexto, em um trinômio· .
a) Liberdade de Escolher o Contratado· .
b) Liberdade de Escolher 0 Tipo de Co~trato;
c) Liberdade de Estipular as Cláusulas do Contrato.

Nesta época, a liberdade tinha total amplitud N- h .


nenhuma veda ã e. ao avia
, f ç o:
por exemplo, em conferir como garantia de um
empres Imo uma hbra de carne do próprio corpo, a exemplo do conto

208 EDITORA AR\1ADOR J PRÁTICA CIVIL I 3~ edição


Capítulo X

de Shakespeare intitulado O Mercador de Veneza, bem como o de Ariano


Suassuna, denominado O Auto da Compadecida. Hoje, os princípios do
Código Civil: eticidade (boa-fé), sociabilidade (função social), e opera-
bilidade, além dos postulados constitucionais da dignidade humana,
justiça distributiva e solidariedade, mitigam a liberdade absoluta,
otimizando as relações contratuais. Que reste claro: a autonomia da
vontade não foi eliminada. Todavia, limitada. Assim, por exemplo,
uma cláusula contratual não poderá se sobrepor sobre a dignidade
da pessoa humana.
Ainda de acordo com o parágrafo acima, cita-se o exemplo dos
chamados contratos de adesão, principalmente no que concerne a
contratação de serviços essenciais (luz, água, telefonia ...), nos quais
se restringiu a ideia de autonomia, pois o consumidor não tem a alter-
nativa de escolher nem o contratado, nem as clátlsulas, nem sequer
o tip,o de contrato. '

10.2.1.2. Princípio da Relatividade


Por este princípio, o contrato só produzirá efeitos (obrigação)
entre as próprias partes contratantes subscritoras da avença (efeitos
inter-partes e não erga-omnes).
Diante dos valores metaindividuais (difusos e coletivos), conside-
rando a função social dos contratos, a necessidade de tutela externa do
crédito, enfim, os novos valores jurídicos postos, mitigou-se o princípio
da relatividade em prol da eficácia transubjetiva dos contratos, com
pactos que exaram efeitos sobre toda a sociedade.
Exemplificam exceções ao relativismo os Termos de Ajustamento
de Conduta (TAC) realizados pelo Ministério Público, bem como as
Convenções Coletivas de Trabalho (CCT), os Acordos Coletivos de
Trabalho (ACT) ou mesmo contratos individuais que geram lesão à
comunidade (à função socioambiental).
O próprio direito positivo, na teoria geral dos contratos, veicula
abrandamentos ao relativismo, especialmente na estipulação em
favor de terceiro, promessa de fato de terceiro e contrato com pessoa
a declarar, a bem evidenciar a flexibilização do aludido princípio.
Sobre isto que se passa a falar:

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FlGUEIREDO, ROBERTO FtGUEIREOO, SABRINA DOUR.,>.PO
209
~ TEORIA GERAL DOS CoNTRATOS
Capítulo X\

10.2.1.2.1. Estipulação em favor de terceiro

Ocorre quando duas partes estipulam algo em favor de um ter-


ceiro. Nesta hipótese, têm-se estas três figuras:
a) estipulante,
b) estipulado/beneficiário,
c) o promitente.

O exemplo mais comum sobre este pacto é o seguro de vida.


Nesta espécie de contrato tem-se a presença do estipulante (segurado),
promitente (seguradora) e beneficiário (terceiro).
No contrato de seguro de vida, o estipulante (segurado) e o
promitente (seguradora) pactuam uma obrigação na qual o beneíi-
ciário é contemplado com indenização na hipótese de sinistro. Logo,
o beneficiário experimenta consequências de um contrato que não
subscreveu em clara mitigação ao relativismo. Sobre tal contrato é
importante observar que:
a) O beneficiário pode ser alterado a qualquer tempo, indepen-
dentemente do pagamento de valores de indenização (artigo
438, CC). Tal modificação é direito potestativo do contratante
(segurado).
b) Assim como o estipulante, o estipulado tem legitimidade para
pedir a execução da avença. O estipulado/beneficiário possui
interesse jurídico na execuçãof tendo em vista que será inde-
nizado com o recebimento de valores na morte do segurado,
consoante o artigo 436 do CC. Já o estipulante apenas tem
possibilidade de pleitear a execução do pacto quando o seguro
não for apenas de vida, possibilitando a apólice recebimentos
de valores pela sobrevivência (atingir uma determinada idade)
e/ou acidente.

10.2.1.2.2. Promessa de fato de terceiro

Ocorre quando alguém (promitente) promete uma obrigação que


será cumprida por outrem (terceiro). Exemplifica-se quando alguém
(promitente), desprovido de qualquer relação com um determinado
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS J

rcapítulo X

grupo musical, promete que este grupo irá realizar um show em um


determinado local, dia e horário.
Para o Exame de Ordem, o futuro aprovado deverá atentar-se a
redação do artigo 439l do CC, o qual afirma que, em não acontecendo
o show, caberá perdas e danos contra o promitentef pois este assume
obrigação de resultado.
Dessa forma, ao subscrever o contrato, o promitente deverá res-
ponder pela obrigação contraída. O terceiro apenas será responsabi-
lizado se t1ver proveito econômico e na medida destef ou ainda se 0
promitente era representante deste (terceiro).

10.:2.1.2.3. Contrato com pessoa a àeclarar

O Código Civil dispõe sobre a possibilidade de se celebrar um


contrato com pessoa a declarar, sendo esta aquela quem deverá assu-
mir direitos e obrigações decorrentes da avença, na ordem de ideias
do artigo 467 do CC.
Nesta hipótese, uma pessoa contrata com o fim de, futuramente,
indicar pessoa que irá assumir os direitos e obrigações decorrentes
do ajuste. A indicação (declaração), salvo disposição contratual em
contrário, haverá de ser feita no prazo de 5 (cinco) dias, demandando
aceitação na forma do contrato. Esta aceitação retroagirá à data da
assmatura do contrato, conforme os artigos 468 e 469, ambos do CC.
- Tal contrato, porém, apenas obrigará as partes originárias nas
seguintes hipóteses (artigos 470 e 471 do CC):
a) Se não houver indicação da pessoa
b) Caso o nomeado se recuse a aceitar
c) Se a pessoa nomeada for insolvente e a outra pessoa desco-
nhecia este fato no momento da indicação

Vencidas as exceções ao relativismo, voltamos à análise dos


princípios contratuais.

ANDRÊ MOTA, C!USTb\1'0 SOBR~L. LUC!t.NQ F!GUElREDO, ROBEJITO fiGUUREDO, 5ABRINA DOURADO 211
Capítulo X

10.2.1.3. Princípio da força obrigatória do contrato (onpacta


sunt ser.vanda)
Por este princípio as partes estão obrigadas a cumprir aquilo
que fora estabelecido no contrato. Pode-se dizer que o contrato faz
lei entre as partes. 1
I
Nesta linha de pensamento, entende-se que o Estado-Juiz não
poderia intervir nas cláusulas do contrato, em seu conteúdo, em razão
da autonomia da vontade. Contudo, a noção de força obrigatória não
mais deve ser analisada de maneira absoluta, uma vez que as revisões
contratuais são constantemente apreciadas pelo Poder Judiciário.
Uma das importantes exceções à força obrigatória dos contratos
é a denominada teoria da imprevisão.

10.2.1.3.1. Teorias da imprevisão e da onerosidade excessiva

A Teoria da Imprevisão por vezes atenua a força obrigatória dos


contratos. Tal teoria encontra suas raízes no artigo 48 do Código de
Hamurabi (2700 a.c.). Consiste no ressurgimento da Cláusula Rebus Sic
Stantibus, oriunda do Direito Canônico, que cunhava regra segundo a
qual um contrato só poderia ser exigido se as condições do tempo da
sua execução fossem próximas às do tempo de sua celebração.
A Teoria da Imprevisão permite que um contrato seja revisado
ou resolvido quando, diante da ocorrência de um acontecimento novo/
superveniente, imprevisível e extraordinário, ocorra o desequilíbrio
na base econômica contratual, importando em extrema vantagem para
uma das partes e onerosidade excessiva para a outra.
Verifica-se, portanto, como requisitos:

a) Contrato comutativo (oneroso e bilateral) de duração (execução


diferida ou continuada).
O contrato de execução momentânea é aquele que se finaliza num
só ato - como, por exemplo, o contrato de compra e venda à vista e
com pronta entrega, no qual após a entrega do objeto e o pagamento
do preço estipulado se dá por encerrado. Nesta espécie de contrato
não há de se falar em imprevisão, pois não há como configurar um
fato superveniente.

212 EDITORA ARJI.IADOR ! PRÂTICA CiviL 1 3" edição


C:1pítulo X

Ademais, não há de se falar em imprevisão no contrato aleató-


. po1·s nesse há uma álea econômica (fator de variação),
no, , . não sendo
ossível prever de forma anterior os custos e beneflctos do pacto.
~ssim, a imprevisão tem incidência sobre a figura comutattva, em
que 05 contraentes têm a possibilidade de verificar, antes do pacto,
quais seus custos e benefícios.
Aplica-se, portanto, a imprevisão na compra e ,venda (contrato
comutativo) de duração (a prazo), e não tem me~denCla no seguro
(contrato aleatório).

b) Superveniência de circunstância extraordinária e imprevisível.


Caso a onerosidade excessiva seja imposta a uma das partes em
razão de um risco previsto no contrato, não há de se falar em impre-
visão. A circunstância, apta a gerar este fato, há de ser completamente
extraordinária e imprevisíveL Exemplifica-se, no Brasil, com o clássico
acontecimento da alta do dólar ao final da década de noventa, quando
o Brasil deixou de experimentar um cambio fixo e passou ao móvel,
0 que desequilibrou vários contratos sucessivos indexados com base
nessa moeda estrangeira.

c) Alteração da base econômica objetiva do contrato com extrema


vantagem a uma das partes e oneros!dade excesshra par_a a outra;
O evento causador da circunstância superveniente, tmpreviSivel
e extraordinária há de alterar a base objetiva do contrato, trazendo
mudanças no cenário originário da contratação e ocasionando um
impacto diferenciado na execução da avença, com extrema vantagem
para uma das partes e onerosidade excessiva para a outra. . .
Uma vez enquadrado na teoria da imprevisão, segundo os reqmsb
tos supracitados, 0 contrato poderá ser resolvido ou revisado, conforme
dispõem os artigos 478 e 479 do CC, a resolução ou revisão contratual.

~ATENÇÃO!
;; , Sob a ótica d\) Código Civil, para que o contrato seja revisaâo
jA (conservação do negócio jurídico com o ree~uilíbrio contra-
ilct2;tual) é necessária a concordância do beneficiado, nos moldes .
~c{\<(,; . ' 1

ll~'Â-o artigo 479.

ANoRÊ MOTA, CRISTiANO SOBRAl., LUClANO FIGUEIREDO, ROIIERTO FIGUEIREDO. 5ABRINA DOURADO
213
~ TEORIA GERAL DOS CoNTRATO~
Capítulo X\

Eis então a seguinte dúvida: Teoria da imprevisão e Teoria da


Onerosidade Excessiva ou Base Objetiva do Contrato seriam expres-
sões sinônimas?
Infere-se, em alguns certames da OAB, o uso de tais expressões
como sinônimas. Entretanto, há diferença entre tais institutos.
Para que seja configurada num contrato a Teoria da Onerosidade
Excessiva, é necessário que estejam presentes os mesmos requisitos
da Teoria da Imprevisão, à exceção do fato ser imprevisível. Logo, é
necessário que o contrato seja comutativo e de duração, com a presença
de um fato superveniente e extraordinário, que desequilibre a base
ec<mômica do contrato, gerando onerosidade excessiva para uma das
partes e extrema vantagem para a outra.
No Brasil, o diploma legal que adota a teoria da onerosidade
excessiva é 0 CDC, especificamente no seu artigo 6º, V. Por este dis-
positivo, uma vez configurada a <?nerosidade excessiva é possível a
revisão ou resolução do contrato. Neste âmbito, para que ocorra a
revisão do, não se faz necessária a concordância do beneficiado, haja
vista a legislação protetiva do hipossuficiente.
Analisando 0 atual Código Civil, nota-se que o mesmo ostenta
um contra senso, pois antes dos artigos 478 a 480 é enunciada a teoria
da onerosidade excessiva. Entrementes, a redação do artigo 478 traz à
baila a necessidade de imprevisibilidade. Como proceder na prova?
A saída é simples. Deverá o candidato externar seus pontos de
vista tratando de ambas as teorias, diferenciando-as e abordando os
seus âmbitos de aplicação. . _
Ademais, considera-se ilícita a cláusula que veda a aphcaçao
da teoria da imprevisão, por violar o princípio da função social do
contrato. Outrossim, caso haja imprevisão ou onerosidade excessiva,
revisando ou resolvendo o contrato, os efeitos da decisão retroagem
à data da citação.
Por fim 0 examinando deverá ficar atento para não confundir a
teoria da im~revisão e onerosidade excessiva com o instituto da lesão,
relativo aos vícios do consentimento.
A lesão é considerada um vício de consentimento, passível de
anulabilidade do negócio jurídico. Ocorre a lesão quando há manifesta
desproporção entre as prestações pactuadas, em razão de premente
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS I
!capítulo X

necessidade ou inexperiência de uma das partes, conforme o artigo 157


do CC. Verifica-se se há ou não lesão no momento da manifestação de
vontade - é vício de consentimento-, ou seja: no ato da contratação.
É vício que atinge o plano de validade. O contrato já nasce inválido.
Já a teoria da imprevisão ou onerosidade excessiva atinge apenas
o plano de eficácia do negócio jurídico, e não a sua validade, por ser
posterior à sua formação, segundo os requisitos já supramencionados.
Configurada a imprevisibilidade, ou onerosidade excessiva, a conse-
quência não é a anulabilidade, mas revisão ou resolução do contrato,
nos moldes aqui já vistos.

10.2.2. PRINCÍPIOS SOCIAIS

Os direitos fundamentais de segunda e terceira geração estão


ligados aos direitos sociais, que configuram limitações às amplas liber-
dades de outrora, objetivando igualdade material e solidarismo social.
Decorrem da percepção de que a ampla liberdade, muitas vezes, traz
prejuízos o mais fraco, sendo necessário o intervencionismo estatal
para ser igualado o fiel da balança contratual.
Em contratos, as manifestações dos princípios sociais são a fun-
ç.3o social dos contratos, a boa-fé objetiva e a equivalência material
ou justiça contratual. Sobre tais princípios contratuais que se começa
a abordar.

10.2.2.1. Princípio da função social do contrato e a


equivalência material

Por se tratarem de temas correlatos, a função social do contrato


e a equivalência material serão estudadas conjuntamente.
Primeiramente, registra-se que não há um conceito preciso de
função social, tendo em vista a sua noção aberta, indeterminada,
fluida e histórico-determinada. Relaciona-se com a sociabilidade, um
dos princípios vetores do CC. .
A primeira manifestação acerca do Principio da Função Social
se deu no direito de propriedade, mais precisamente durante 0
Capítulo X j

Século XX. Neste contexto, a propriedade deixa de ser um direito abso-


luto, passando a ser a função social do detentor de riquezas, havendo
de atend:r aos interesses dos proprietários e dos não proprietários.
No amblto dos contratos, a função social se traduz em um
elemento de eficácia social que traz a ideia básica segundo a qual a
avença deve ser cumprida não só em função do credor, !mas também
de fo_rma a não afrontar interesses difusos e conferir contribuição
positiva para a sociedade. O fato de o contrato ter uma função social
s1gmfica que o mesmo deverá ter uma finalidade que atenda aos
mteresses da sociedade.
Nesta toada, a autonomia privada estará limitada à função social
do contrato, representada esta por uma cláusula geral a ser concre-
tizada em cada c~so, com o objetivo de promoção a dignidade da
pessoa• humar!..a.
v
E isso cue
1
se infere rL-. a-~;~,-. ,f')1 u.v
uv '- ubv
,.:!,-.. r;....:~~r.- . . . r..-. 'T
'-V'-'--'-óV ..__,__,''./l.L C
'CI:"'-1._

Enunc1a~o 23 d~ CJF. O fato do princípio da autonomia privada estar


hmltado a funçao social do contrato, não significa o fim da liberdade
contratual. A autonomia contratual persiste como um princípio dos
contratos, porém mitigado pela tutela externa do crédito (função
social).
De mais a mais, conforme o Enunciado 21 do CJF, a eficácia difusa
do contrato passa a se constituir realidade inegável, pois relativiza 0
efeito mter partes e, por conseguinte, mitiga o relativismo contratual.
O princípio da função social dos contratos tem como objetivo
estabelecer um maior equilíbrio nessas relações jurídicas. Haverá
entã~ u~a equival~ncia material ou justiça contratual cujo desrespeito
JUStifica mtervençao JUdicial a igualar o pêndulo contratual (Enun-
Ciado 22 do CJF). Aqui se insere o princípio da equivalência material
ou JUstiça contratuaL discutindo-se se é um princípio autônomo ou
subproduto da função social.

10.2.2.2. Princípio da boa-fé objetiva

A boa-fé pode ser dividida em subjetiva (interna) e objetiva


(externa).
Este princípio encontr~ suas raízes no Direito Romano, especifi-
camente no Ideal da Bana Fzdes, ligando-se a um dever interno, probo

216
EDITORA ARl\-iADOR I PRAncA CIVIl. j 3a edição
j Capítulo X

e confiável. Traduz um estado psicológico de inocência. No âmbito


dos contratos, observa-se a sua presença na vedação de contratar em
ocorrência de vício de consentimento.
Os alemães, ao recepcionar a boa fé romana no BGB (CC Ale-
mão), transformaram-na em uma regra objetiva de conduta leal e
confiável - Treu und Glauben. Hodiernarnente se revela uma cláusula
geral e implícita, tendo como funções a interpretativa, integrativa e
restritiva (ou limitadora):

a) A Função Interpretativa impõe que o contrato seja executado


de maneira ética. Para tanto, lembra o Enunciado 27 do CJF, deve-se
considerar tanto o sistema do CC, corno as conexões para com outros
estatutos normativos e fatores metajurídicos.

b) A Função Integrativa, com Deveres Anexos, ünpõe a existência,


em todo contrato, de deveres implícitos (satelitários, anexos, laterais,
colaterais ...), de obediência cogente, a exemplo dos deveres de zelo,
informação, probidade, lealdade, confiança, assistência, sigilo, miti-
gação dos danos etc. Tais deveres sequer precisam estar noticiados
no instrumento contratual. São implícitos. O descumprimento de tais
deveres equivale ao inadimplemento contratual, com responsabili-
dade objetiva (Enunciado 24 do CJF), pois, malgrado não expressos
no instrumento contratual, são implícitos.

c) Pela Função Restritiva ou Limitadora, o contrato não poderá


gerar deveres excessivos e desproporcionais a uma parte em detri-
mento d<e outra, a exemplo de juros exacerbados. Nesta hipótese é
possível que o judiciário revise o contrato, com eventual supressão
da aludida cláusula, a teor do Enunciado 26 do CJF.
A função restritiva tem como objetivo promover o equilíbrio e
justiça contratual, conforme mencionado no tópico alusivo à função
social dos contratos. Ao debruçar-se sobre a boa-fé, especificamente
na redação dos artigos 113 e 422, o CC não deixou claro sobre o seu
campo de incidência. Explica-se: existiria uma boa-fé apenas contra-
tual, ou ela ainda persiste na seara pré-contratual e pós-contratual?

ANDRÉ MaTA, CRISTIANO So!HtAL-, LUCIANO f!GUEIREnO, ROP.flRTO FJGUEIREOO, SA.BRINA DOURADO 217
[ TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

Capítulo X)

Pela literalidade do dispositivo, a boa fé só pode ser observada


na execução ou na conclusão do contrato. Como fazer?
Aponta a esmagadora doutrina que há necessidade de obser-
vância à boa-fé pré-contratual, contratual e pós-contratual, devendo
ser o contrato iluminado desde as negociações preliminares, até o
pós-contrato (pós-eficácia objetiva obrigacional). Nesse sentido os
Enunciados 25 e 170 do CJF. Sobre o tema, costumam as provas enfa-
tizar no pré-contrato a necessidade de cumprimento das promessas
e nos pós-contrato o zelo e sigilo com a parceira anterior.
O exemplo corriqueiro da boa-{é pré-contratual remete à pro-
messa de compra de safra futura, na qual o comprador resta respon-
sável pelo aàimplemenlo de vãlores. Na seara pós-cm.:trah.El1 tem-"H"
o
como diuturno exemplo a realização de propaganda, por uma mesma
pessoa, para empresas concorre~tes, devendo-se zelar com a imagem
das referidas empresas.

10.3. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

Ao constituir um contrato, passa-se primeiro por uma fase prévia


denominada de tratativas, negociações preliminares ou pontuação, a
qual costuma ser seguida de uma proposta, oferta ou por licitação e,
por fim, a última fase, denominada de aceitação.

10.3.1. TRATATIVAS (OU PUNTUAÇÃO)

Neste momento, não se pode afirmar a existência, de fato, de um


contrato. É uma fase preliminar, na qual o contrato ainda está sendo
formado, não havendo, em regra, exigibilidade do cumprimento.
Há mera expectativa de direito.
Como fora dito, as tratativas são negociações preliminares, que
podem ser formais, através de minutas escritas, ou informais, feitas
de forma verbal. Assim como não há ainda um contrato, não se pode
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS l
rcapítulo X

falar em exigibilidade. Porém, há necessidade de respeito à boa-fé e


à função social.
Após esta fase preliminar, as partes poderão optar por firmar
o contrato de maneira definitiv'i• ou podem ainda optar pela não
contratação, tendo em vista que não há de se falar em exigibilidade.
Na prática, verificam-se as tratativas quando as partes pontuam
seus interesses comuns. Acontece quando alguém chega a determi-
nado estabelecimento comercial e pergunta ao futuro vendedor se há
um eletrodoméstico à venda, como uma TV de LCD de 36 polegadas.
Nesse momento, o futuro vendedor irá externar os modelos existentes,
buscando interesse do futuro comprador. É a negociação.

10.3.2. PROPOSTA

Trata-se de uma declaração receptíciá de vontade dirigida pelo


proponente ao oblato (aquele que poderá aceitar a proposta). A pro-
posta pode ser individual ou coletiva, como a vitrine de uma loja,
sendo que, em ambos os casos e em regra, obrigam o proponente
(art. 429 do CC).
Conforme consubstanciao artigo 427 do Código Civil, a proposta,
em regra, obriga o proponente, não persistindo esta obrigação, porém,
se o contrário resulta r dos termos dela, da natureza do negócio ou
·das circunstâncias do caso. Dessa forma, caso haja na proposta uma
eventual cláusula de arrependimento, não poderá se falar em sua
obrigatoriedade.
De acordo com o artigo 428 do CC, a proposta pode ser realizada
entre presentes ou entre ausentes. Por presença, na ótica do legisla-
dor civilista, deve-se entender a comunicação simultânea, não sendo
necessária a presença física, propriamente. Assim, para o legislador,
contatos via telefone, MSN e Skype, são hipóteses de contratos cele-
brados entre presentes, pois há comunicação simultânea.
Nos termos do artigo supracitado a proposta entre presentes só
terá caráter obrigatório se imediatamente aceita. Contudo, esta regra
poderá ser afastada caso haja na proposta um prazo específico, quando
este há de ser respeitado como data limite.

JlH'<nRf· MoTA, CR!~T!ANO SollR.-\L, LIKIANO l'IGIWIR~Do, RoBERTo F!GtJE!RrDo, SA!IRINA DoURADO 219
Capítulo X I

Entende-se por contrato entre ausente aquele no qual não há


comunicação simultânea entre as partes, a exemplo de carta ou e-mail.
Seg~ndo o Código Civil, a proposta entre ausentes gerará uma obri-
gaçao se h~uver decorrido tempo razoável para aceitação. Tal regra
apenas sera afastada se a própria proposta trouxe um prazo limite a
ser respeitado. ,
A proposta feita pode ser revogada mediante o mesm~ meca-
nismo (meio) que foi realizada, em respeito ao princípio da simetria
ou paralelismo das formas. Lembrar que quem pode 0 mais, pode 0
menos, pelo que proposta feita de forma verbal, pode ser desfeita por
escnto - o Inverso, entretanto, não é possível.
. Outrossim, nos termos do artigo 435 do Código Civil, o contrato
naciOnal se considera formado no local no qual fui feita a proposta.
Tal local de formação será, em regra, o foro competente para dirimir
as controv~r~ias relativas ao contrato, ressalvadas as hipóteses de
foro d';' eleiÇ:o ou de foro privilegiado, tema tratado no capítulo de
dorn:cilto~ Na~ obsta~te, em sendo o contrato internacional, aplica-se
o artigo 9-, § 2- da Ler de Introdução às normas do Direito Brasileiro
sendo o local de formação do contrato aquele no qual é domiciliad~
o proponente. '

10.3.3. ACEITAÇÃO

O policitante é quem oferece a proposta, e esta deverá ser aceita


ou não pelo oblato. Ao aceitar a proposta o oblato estará concordo
com todos os termos nela elencados, sob pena de configurar contra-
proposta. Assrm, caso a aceitação realizada fora do prazo, contendo
termos aditivos, restritivos ou modificativos, estaremos diante de
uma contrapr~posta, a ser apreciada pelo proponente, a quem, por
sua vez, cabera anmr, desrstlr, ou ainda contrapropor (artigo 431, CC).
Percebe-se que a formação do contrato entre presentes se dá no
momento da aceitação da proposta, a qual deverá ser de pronto ou no
prazo convencionado. Já a formação do contrato entre ausentes sob
a ótica do Código Civil, e segundo doutrina majoritária, dar-se~á no
momento da expedição da aceitação. Nesta linha, para a formação do

220 Em TonA An\HPOR 1 PR-\TJCA C! VIL ~ y edição


jcapíwlo X

contrato entre ausentes, o Brasil adotou a teoria da expedição, con-


forme a inteligência dos artigos 433 e 434 do CC. Contudo, isto não
ocorrerá caso antes da expedição da aceitação chegue ao proponente a
retratação do aceitante, bem como quando o próprio policitante houver
se comprometido a esperar resposta, ou mesmo quando a aceitação
não chegue ao prazo convencionado, posto que a aceitação fora do
prazo ostenta natureza jurídica de contraproposta.

10.4. CONTRATO PRELIMINAR

Pelo Contrato preliminar (ante-contrato, pré-contrato ou pro-


messa), as partes se comprometem a pactuar um contrato futuro.
Trata-se de um contrato e não de uma mera tratativa. Assim, possui
efeitos vinculantes.
O pré-contrato possui como obrigação central um fazer, pois tem
como escopo garantir a conclusão de um futuro contrato definitivo.
Conforme o artigo 462, do CC. o contrato preliminar deverá conter
todos os requisitos do definitivo, à exceção da forma. Exemplifi-
cando-se: malgrado o contrato definitivo de alienação de imóvel cujo
valor é superior a trinta vezes o mai?r salário mínimo vigente no país
tenha forma vinculada - escritura pública, sob pena de nulidade -,
o respectivo contrato preliminar tem forma livre, sendo plenamente
válida sua realização por escrito particular (inteligência dos artigos
108, 166 e 462 do CC).
Ainda referente à promessa de compra e venda, o direito do
promitente comprador, após o pagamento da última parcela, é real.
Tal fato leva a uma utilização da promessa de compra e venda como
uma cautelar satisfativa; explica-se: faz-se o contrato preliminar, cuja
forma é livre e, após o pagamento da última parcela, transfere-se a
propriedade, sem necessidade de um contrato definitivo.
Conforme dispõe o artigo 463 do CC, o contrato preliminar, em
regra, é irretratável, salvo se o mesmo possuir cláusula de arrepen-
dimento. Ademais, ainda sob a ótica do dispositivo supracitado, o
contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente. Assim,

221
!TEORIA GERAL nos CoNTRATos
Capítulo X j

caso uma da parte se recuse a dar execução ao contrato preliminar,


poderá a parte prejudicada requerer judicialmente o seu cumprimento,
com tutela específica, a exemplo de multa diária (astreintes) ou medida
sub-rogatória (vide artigos 536 e 537 do Código de Processo Civil e
464 do CC).
É o que ocorre com o pedido de adjudicação compulsória, ins-
culpido no Decreto-Lei nº 58/37, decorrente de promessa de compra e
venda em que, malgrado o promitente comprador ter cumprido com
todas as suas obrigações, o promitente vendedor se recusa a transferir
definitivamente a propriedade. Nesta hipótese, substitui-se o magis-
trado à vontade da parte e ordena a transferência de propriedade
(tutela sub-rogatória), in1plên1entando o direito reaJ de f'tqui'-lção do
promitente comprador.
Hodiernamente, segundo o Código CiviL o pleito de adjudicação
compulsória de imóvel exige uina promessa de venda e compra qui-
tada, registrada e irretratável (arts. 1.417 e 1.418 do CC). Entrementes
o STJ vem mitigando o requisito do registro, possibilitando a referida
adjudicação ainda que a promessa não esteja registrada (Súmula 239
do STJ).

10.5. VÍCIOS REDIBITÓRIOS

O vício redibitório consiste num defeito oculto que atinge o objeto


do contrato comutativo, diminuindo o seu valor e/ou prejudicando a
sua utilização. Para que seja considerado vício redibitório, o defeito
deverá ser pré-existente - ou seja, o mesmo já deverá existir sobre o
objeto antes da tradição- e ser descoberto pelo adquirente apenas após
a sua entrega (artigo 441, CC). Caso o suposto vicio for do gênero da
coisa, não há de se falar em vício redibitório, pois se trata de caracte-
rística inerente ao gênero. Tem-se como exemplo a aquisição de um
touro cuja raça é "baixa" em reprodução. Não se trata de defeito, mas
de característica do animal.
O aludido vício poderá tornar o objeto impróprio ao uso ou redu-
zir sensivelmente o seu valor, sendo possível falar-se na aplicação do

T-:nnnnA ARMADOR l PRÁTICA CIVIL I 3a edição


TEORIA GERAL DOS CONTRATOS )
[êapítulo X

princípio da proporcionalidade (reduções mínimas de valores não


ensejam alegação do vício em comento). Uma vez constatado o vício
redibitório, o adquirente prejudicado poderá se fazer valer de uma
das ações ediiícias, quais sejam: ação red,ibitória ou estimatória (quanti
minoris). Tais pretensões não podem ser ~umuladas (artigos 442 e 443,
CC), sendo excludentes entre si.
A ação redibitória pressupõe a devolução do objeto, eivado
de vício, com a restituição ao adquirente do valor pago. Tem como
objetivo resolver (desfazer) o contrato. Já a ação estimatória ou quanti
minoris visa reduzir o valor de aquisição da coisa, por conta do vício,
com o escopo de manutenção do bem. Estima-se o montante do dano
e abate-se do valor da venda (artigo 442, CC). Urge observar que o
Código Civil não exige a presença da culpa como elemento necessário
à configuração do vício. Caso haja culpa, porém, torna-se possível
cumular a resolução ou diminuição dos valores com o pleito de perdas
e danos (artigo 443, CC).
O prazo para propositura das ações edilícias- tanto a redibitó-
ria quanto a estimatória - dependerá da natureza do bem - móvel
ou imóvel - e do tipo de vício - aparente ou oculto (artigo 445, CC).
Assim, tratando-se de vício de fácil constatação (vício aparente), o
prazo será de:
a) 30 (trinta) dias quando bem móvel;
b) 1 (um) ano quando bem imóvel.

Os prazos para propor as ações edilícias, deverão ser contados


da entrega definitiva do objeto. Ocorre que caso o adquirente já se
encontre na posse da coisar os prazos em comento serão reduzidos
pela metade e serão CO!ltados da alienação. Pressupõe o legislador
que estando o prejudicado na posse, ele já conhecia a coisa, tendo
maiores possibilidades de verificar o vício, que é aparente. Ex: João
estava na posse da casa de Paulo por 10 (dez) meses, em virtude de
contrato de locação. Resolveu Paulo vender a casa para João. O prazo
para propor ação edilícia será de 6 (seis) meses, reduzindo-se o prazo
de 1 (um) ano pela metade.
Acaso, porém, trate-se de vício de difícil constatação (vício oculto)
o prazo será de:

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SüllRAL, LUC(ANO FJGUWIEIIO, Rou~RTO FIGUEIREDO, s .. aRINA DoURADO 223
Capítulo X I

a) 180 (cento e oitenta) dias para bens móveis;


b) 1 (um) ano quando bem imóvel

~)emais_ dito,os prazo em comento são contados da descoberta


do vrc10, e nao da data da entrega ou alienação.

:l ATENÇÃO futuros advogados!


De acord~ com o ~r_ti?o 446 do Código Civil, os prazos referen-
tes aos vrcros redrbrtorios não correm enquanto não finalizado
o p~azo_de garantia, subsistindo ao adquirente, nesse prazo, a
ob~rgaça? de c~municar a existência do vício no prazo de 30
(trmta) dms, apos a descoberta do vício, sob péna de decadência.

10.6. EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO


(EXCEPTIO NON ADIMPLETI CONTRACTUS)

_ . A "Exceção do Contrato Não Cumprido" consiste numa defesa


mdrreta de mérito, através da qual a parte demandada pela execução
de um contrato po~e arguir que deixou de cumpri-lo em razão da
outra parte amda nao ter satisfeito a prestação correspondente. Este
tema encontra-se regulado, .no artigo 476 do CC, 0 qua 1 preve- como
pressuposto': para o exercrc10 da exceção do contrato não cumprido:
a) Exrstencra de um contrato bilateral sinalagmático. O instituto
necessr~a qu~ ~s prestações sejam recíprocas, ou seja: que uma
prestaçao ongme a outra.
b) Demanda de uma das partes pelo cumprimento do pactuado.
Somente ~á sentido na invocação de uma exceção se houver
pr~v?caçao, sendo impossível acontecer aplicação de ofício.
c) Prevw descumprimento da prestação pelo demandante. De
certo, se a parte que demanda o cumprimento tiver cumprido
mtegralmente a sua obrigação, possui direito de exigir da outra
parte que cumpra a sua, em um exercício regular de direito.

224 EmTORAARMADOR I PRÁTICA CiVIl 1 Yedição


10.7. EVICÇÃO

Consiste na perda do objeto pelo adquirente, em razão do reco-


nhecimento do direito de terceiro, anterior ao contrato, sobre este.
Traduz-se em uma garantia contratual do adquirente, típica dos
contratos onerosos, translativos de propriedade, que se opera quando
o adquirente venha a perder a posse e a propriedade da coisa em
virtude do reconhecimento judicial ou administrativo de direito de
outrem. Prevista no artigo 447 do CC, a evicção é composta por 3
(três) personagens:
L Alienante: quem responde pelos riscos da evicção;
IL Adquirente (ou evicto): pessoa que perde a posse e a propriedade;
IJI. Terceiro (evictor): pessoa que prova direito anterior.

Insta salientar que a garantia da evicção subsiste ainda que


a aquisição se tenha operado em hasta pública. Ademais, ocorre a
evicção ainda que a perda se dê por execução de ato administrativo.
Na evicção, portanto, o evicto - quem adquiriu um bem do
alienante de forma onerosa -- perde a coisa em virtude de direito
de terceiro (evictor). Nesta hipótese, poderá o adquirente pleitear os
direitos esculpidos no artigo 450 do CC, quais sejam:
I. à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
li. à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos
que diretamente resultarem da evicção;
!Il. às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele
constituído.

Nos termos do artigo 448 do CC, vale registrar que a cláusula de


garantia da evicção pode ser reforçada, diminuída ou excluída, desde
que através de cláusula expressa. O contrato poderá, por exemplo,
prever o reforço à garantia, de modo que o evicto faça jus ao recebi-
mento de uma multa, além das prerrogativas do artigo 450 codificado.
No que concerne à exclusão, porém, a análise deve ser mais
cuidadosa. Isso, porque, afirma o artigo 449 do CC que se houver no
contrato cláusula afirmando que "alienante não responde pelo risco

ÃNDRÉ Mon., CRiSTIANO SOBAAL, LUCIANO fiGUElREI.>O, ROIIERTO FlGU!:'IREOO, SABRINA DouAADO
225
t TEoRIA GERAL nos CoNTRATOs
Capitulo X!

da evicção", este ainda terá direito pelos valores desembolsados, não


subsistindo o direito às demais prerrogativas do artigo 450 codificado.
Dessa forma, para que ocorra uma completa exclusão das prerrogativas
decorrentes da evicção, além da cláusula de exclusão, o adquirente
haverá de ser informado sobre o que é a evicção e assumir o risco de
sua ocorrência.
Por fim, em norma de ordem ética, ressalta-se que se o adquirente
sabia que a coisa era alheia ou litigiosa, não poderá demandar pela
evicção (artigo 457, CC).

10.8. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS

O contrato poderá ser extinto de várias maneiras, a exemplo do


seu cumprimento, da morte do contrato e obrigações personalíssimas,
em casos de implemento de condição resolutiva ... Neste tópico, toda-
via, serão estudadas as três expressões resolutivas sempre recordadas
nas provas; quais sejam: resolução, resilição e rescisão.

10.8.1. RESOLUÇÃO (ARTIGO 475, CC)

A resolução consiste numa modalidade de extinção do contrato


pela quaL face ao inadimplemento de uma das partes, a parte lesada
poderá pedir a sua resolução. O inadimplemento contratual é com-
batido pelo pleito específico (tutela específica) de cumprimento, ou
pedido de resolução, havendo a possibilidade da cumulação de ambos
com perdas e danos (artigo 475, CC). Por óbvio, tais possibilidades não
incidem acaso haja excludente de responsabilidade civil.
Registra-se que todo contrato bilateral possui uma cláusula
resolutória tácita (art. 474 do CC). Afinal, não tendo sido o contrato
bilateral cumprido, haverá de ser resolvido. Entretanto, a vantagem
de se consignar a cláusula resolutiva de forma expressa e prévia no
contrato é de economia processual, eis que, descumprida a obrigação, o

~'~rrnt><> AuMAnOR I PRÃTICACIVIL ! 3" edição


TEoRIA GERAL nos CoNTRATos \
rCapítulo X

contrato será automaticamente resolvido. Se não contiver essa cláusula


de maneira expressa, o prejudicado, para a resolução do contrato, terá
que interpelar judicialmente a outra parte (artigo 474, CC).

10.8.2. RESILIÇÃO

Entende-se por resilição o desfazimento do contrato por ato de


vontade. Em sendo esta vontade unilateral, estar-se-á diante de uma
resilição unilateral ou denúncia. Em sendo esta vontade bilateral,
estaremos diante de uma resilição bilateral ou distrato.
/.,~ resilição unilateral (~rtign 473; CC) opera-se por meio de um
ato jurídico chamado denúncia. Assim, não se pode resilir unilate'
ralmente todo e qualquer contrato, mas somente aqueles em que há
permissão implícita ou explícita da lei, a exemplo da locação ou do
contrato de prestação de serviços. Atente-se, ainda, para a redação
do parágrafo único do artigo 473 do CC, a qual afirma que se uma
das partes houver realizado vultosos investimentos para a execução
do contrato, poderá o juiz determinar a manutenção da avença até o
retorno do investimento, em clara atenção à probidade nas relações.
Já resilição bilateral (artigo 472, CC) ocorre quando a mesma
vontade criadora, de ambas as partes, entende por extingui o contrato.
Tem como único requisito ser feita na mesma forma exigida para o
' contrato.

10.8.3. RESCISÃO

O termo rescisão não está definido no Código Civil. A doutrina,


responsável por tal definição, é controvertida. Entrementes, o posi-
cionamento majoritário caminha no sentído de ser entendida a res-
cisão como hipótese genérica de desfazimento do contrato, seja por
inadimplemento (resolução), ou seja, por ato de vontade (resilição).

ÁNDRÉ MOTA, CRISTIANO SOHRAL, LLiCJA.NO FlCUEIREDO, ROII!;RTO F!GlJEIREDO, SABRINA DOURADO 227
10.9. CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS

, Incumbe à doutrina a classificação dos contratos A o . .


e ~~nsmitir baos candidatos as principais classificaç~es ~~::.~~~~
P em ser o ]elo da prova da OAB. I I
I'

a) Quanto à Natureza da Obrigação


L Contratos Unilaterais, Bilaterais ou Plurilaterais - quand d
. - para ambos os contratanteso ou
contrato surtir direitos e ob ngaçoes o
:~xen;s p~ra um deles, será bilateral (ex.: compra e venda) ou unilateral
' 1).. eposdi!od), podendo se falar em contrato plurilateral (ou multilate-
ra ,name I aemquehaa J mais . de d OIS
. contratantes com obrio-acões
0
~
(con t rato d e constituicão de uma SOClE:'· d ;)de ou de t.lm conrl()m ín-i• 0 \
rece~:d~ontratos Onerosos ou Gratuitos- Ocorre quando·~· ~~~1~;í~io
outr fo(r uma das partes u:pphcar num sacrifício patrimonial da
adpar e ex: compra e venda), fala-se em contrato oneroso Porém
fquan
. o restar estabelecido que somente uma das partes auferirá
· bene-'
ICIO, enquanto a outra arcará com toda ob . - f 1
gratuito ou b ,fi ( . - ngaçao, a a-se em contrato
ene co ex. doaçao pura e comodato);
., ~!L Contrat~s
Comutativos ou Aleatórios- Nos contratos comuta-
~:~~~~ o~nga~oes se equivalem, tendo os contratantes conhecimento
IniciO, as suas respectivas prestações, como, or exem lo n~
:~;:f:r~: ~o
venda ou contrato individual de empreg;. Já no co~t;ato
função dea obngaça~ de uma das partes só poderá ser exigida em
assumido co~sas ~u atos futuros, cujo risco da não ocorrência seja
pe o ou ro contratante, previsto nos artigos (458/461) É
caso, por exemplo, dos contratos de seguro, jogo e aposta b . o
o contrato de constituição de renda. ' em como

tativ:ecor~a:se que malgrado a compra e venda seja, em regra, comu-


' o Codigo CIVIl veicula hipóteses, exemplificativa d
e vendas aleatórias, quais sejam: ' e compras

I a) Contrato
. • . de Comp. ra d e c msa
· Futura, com Assunção de Risco
pe a Existenoa (emptw spei): nessa modalidade d e contrato, prevista
.

228 EDITORA ARMADOR ) PRÁTICA CiVIL j 3a edição


expressamente no artigo 458 do CC, o contratante assume o risco de
não vir a ganhar coisa alguma, deixando à sorte propriamente dita
resultado da sua contratação. É o exemplo da contratação do lança-
0
mento de uma rede de pesca, por um pescador, assumindo o contra-
tante o risco de advir um grande volume de peixe ou, simplesmente,
nenhum peixe. A álea incide sobre a existência.
b) Contrato de Compra de Coisa Futura, sem Assunção de Risco
peia Existência (emptio rei speratae): nessa segunda modalidade, prevista
no artigo 459 CC. o contratante assume parcialmente o risco, tendo
em vista que o alienante se comprometeu a que alguma coisa fosse
entregue. O exemplo aqui é a aquisição de uma safra futura, na qual
o contratante deve receber toda a safra, havendo variação quanto ao
volume. A álea aqui incide sobre a quantidade.
c) Contrato de Compra de Coisa Presente, rnus Exposta a Risco
assumido pelo Contratante: nessa última modalidade, prevista no
artigo 460, CC, o contratante adquire uma coisa atual, mas sujeita a
risco. Exemplifica-se no caso da aquisição de uma égua prenha, na
qual a p'erda do potro não gera direito a devolução de valores.
IV. Contratos Paritários ou por Adesão -Nesta hipótese, as par-
tes encontram-se em condições de negociação iguais, estipulando de
maneira livre as cláusulas contratuais, tornando o contrato paritário.
Diferencia-se do contrato de adesão, pois neste um dos pactuantes
pré-determina as cláusulas do negócio jurídico, cabendo à outra parte
tão somente aderir.

b) Classificação dos Contratos quanto à Disciplina Jurídica.


Civis, comerciais, trabalhistas, consumeristas e administrativos.

c) Classificação dos Contratos quanto à Forma


I. Solenes ou Não-Solenes- Nos solenes, há de ser observada uma
forma pré-determinada e específica para a sua validade. Diferem-se
dos Não-Solenes à medida que estes não exigem forma específica

229
ANDRÊ MOTA, CTHSTlANO SOBRA!.., Lt!<..:l!'.t-:0 FtGUEIREPO, ROBERTO FiGt:ElREDO, S,\BRJNA Dot..:RADO
L
TEORIA GERAL vos CoNTRATOS
Capítulo X

li. Consensuais ou Reais - Refere-se à forma pela qual o negócio


jurídico é considerado ultimado. Os contratos podem ser consensuai~,
quando o acordo de vontades entre as partes basta para que o _nego-
cio torne-se perfeito e acabado; ou reais, na medida em que eXIJam a
entrega da coisa para que se reputem existentes. A compra e vend~ é
um contrato consensual, enquanto que o depósito e o comodato sao
hipóteses de contratos reais.

d) Classificação dos Contratos quanto à Designação (nominados


e inominados)
Os contratos nominados são àqueles que possuem nomenclatura
definida e prevista em leicSão considerados contratos típicos, pois pus-
suem e regulamentação. Já os contratos inominados, como o próprio
nome já diz, não encontram definição legal, ou seja, a lei não confere
nem nome e nem tratamentos específico, sendo atípicos.

e) Classificação dos Contratos quanto à Pessoa do Contratante


I. Pessoais ou Impessoais- Os contratos pessoais, também chama-
dos de personalíssimos, são os realizados intuito personae. São aqueles
celebrados em função da pessoa do contratante, que tem influência
determinante para o consentimento do outro, para quem interessa que
a prestação seja cumprida por ele próprio, pelas suas características
particulares (habilidade, experiência, técnica, idoneidade etc.). Nessa
hipótese, é razoável se afirmar, inclusive, que a pessoa do contratante
torna-se um elemento causal do contrato (ex: contrato de emprego).
Já os contratos impessoais são aqueles em que somente interessa o
resultado da atividade contratada, pouco importando a pessoa que
irá realizá-la.
II. Individuais ou Coletivos- Nessas duas modalidades é levado
em consideração o número de sujeitos envolvidos/atingidos. No con-
trato individual, há uma estipulação entre pessoas determinadas,
ainda que em número elevado, mas consideradas individualmente.
Exemplo: compra e venda, na qual há um polo comprador e outro
vendedor. Ainda que haja uma pluralidade de compradores ou de
vendedores, tais contratos continuam sendo individuais. Já no contrato

"F>rnrnRA ARMADOR ] PRÂTJCA(IVU. j 3" edição


TEORIA GERAL DOS CONTRATOS ~
rcarltulo X

coletivo, também chamado de contrato normativo, tem-se uma tran-


subjetivização da avença, alcançando grupos não individualizados,
reunidos por uma relação jurídica ou de fato, como convenções ou
acordos coletivos de trabalho e termos de ajustamEinto de conduta.

f) Classificação dos Contratos quanto ao Tempo

I. Instantâneos (execução imediata ou execução diferida)- Nos


contratos instantâneos os efeitos da relação jurídica são produzidos
de uma só vez (ex: compra e venda à vista de bens móveis, em que o
contrato se consuma com a tradição da coisa). Tal produção concen-
trada de efeitos, porém, dar-se-á ipso facto à avença - havendo aqui
o chamado contrato instantâneo ou de execução imediata - ou dife-
rida no tempo, quando estaremos diante do contrato instantâneo de
forma diferida (ex.: realiza-se a compra e venda hoje e resta acertado
que o pagamento e a entrega do objeto será feito no dia vinte do mês
seguinte).
Tal subclassificação também tem interesse prático, tendo em
vista que nos contratos de execução diferida é aplicável à teoria da
imprevisão, por dependerem de circunstâncias futuras, o que, por
óbvio, inexiste nos contratos de execução imediata.
!L De duração (determinada ou indeterminada) - Já os contra-
tos de duração- também chamados de contratos de trato sucessivo,
·execução continuada ou débito permanente - são aqueles nos quais
o cumprimento da obrigação se dá por meio de atos reiterados, como,
por exemplo, o contrato de prestação de serviços, compra e venda a
prazo e o contrato de emprego. Tal duração pode ser determinada ou
indeterminada, na medida em que haja, ou não, previsão expressa
de termo final ou condição resolutiva a limitar a eficácia do contrato.

g) Classificação dos Contratos quanto à Disciplina Legal


Específica
Típicos e atípicos- Contrato típico é aquele que possui previsão
legal; na situação inversa, ou seja, em que o contrato não esteja disci-
plinado/regulado pelo Direito Positivo, vislumbraremos um contrato
atípico.

A:'i"Dll.Ê Mur.\, CRISTIANO SOBRA!., LUCIANO J;JGUH!REDO, Rol\U\TL) f'lCA!LIREDO, $!l)IRlNA ÜOURADO 231
h) Classificação pelo Motivo Determinante do Negócio
Causais e abstratos: Os primeiros estão vinculados à causa que
os determinou, podendo ser declarados inválidos se a mesma for con-
siderada inexistente, ilícita ou hnoral. Já os contratos abstratos seriam
aqueles cuja força decorre da sua própria forma, independentemente
da causa que o estipulou. Seriam os exemplos dos títulos de crédito
em geral, como um cheque.

i) Classificação pela Função Econômica (de troca, associativos,


de prevenção, de riscos, de crédito e de atividade).
L De troca: caracteriza-se pela permuta de utilidades econômicas,
como, por exemplo, a compra e venda;
!L Associativos: caracterizado pela coincidência de fins, como é
o caso da sociedade e da parceria;
III. De prevenção de riscos: nesta modalidade uma das partes
assume os riscos, resguardada a possibilidade de dano futuro e
eventuaL como nos contratos de seguro, capitalização e constituição
~re~~ o

IV De crédito: caracteriza-se pela obtenção de um bem que deve


ser posteriormente restituído. É calcada na confiança dos contratantes
e no interesse de obtenção de uma utilidade econômica em tal trans-
,, ferência. É a hipótese típica do mútuo feneratício (a juros);
V. De atividade: nesta hipótese uma das partes deve prestar uma
atividade ou conduta de fato, mediante a qual se conseguirá uma uti-
lidade econômica. Citam-se os exemplos dos contratos de emprego,
prestação de serviços, empreitada, mandato, agência e corretagem.

j) Contratos Reciprocamente Considerados


L Classificação quanto à Relação de Dependência (principais e
acessórios)- Os contratos principais independem de outro para existir,
pois são autônomos na sua existência. Já os contratos acessórios, estes
estão ligados à outra relação jurídica contratual, e só podem existir se
assim for. Há uma relação de dependência. É o caso típico da fiança,
caução, penhor, hipoteca e anticrese.

232 EDJTORA ARMADOR 1 PRÁTICA ÜVIL I 3" edição


,-.
\ C3píw:o X

!I Classificação quanto à Definitividade (preliminares e defi-


. . .) Os contratos ainda podem ser classificados quanto a sua
mtlVOS - - d -
'tt'vidade. Os contratos preliminares, exceçao no nosso o; ena
fi
de m , · JUrl
· "d'Icos q ue tem por
. 'd'
rnento JUrl ICO, n
ada mais são do que negoctos fi ..
finalidade justamente a celebração de um contrato de mhvo.

, RoBtRTO fJ(;IJtJREDO, SA.RRJNA DOGRAOO


233
ANDRÉ MoTA,CRlSTJ<~.NO SoBRAL, LucL.. ~O fiGUEIREP 0 '
CAPÍTULO XL

CoNTRATos EM EsPÉCIE

11.1. COMPRA E VENDA (ARTIGOS 481 A 532 DO CC)

11.1.1. CONCEITO

A definição do contrato de compra e venda está conceituada de


maneira clara e objetiva no artigo 481 do CC:

Artigo 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos con-


tratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o
outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

234 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CiviL 1 3" edi<,:ão


CoNTRATOS EM ESPÉCIE /

/capítulo XI

11.1.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Contrato bilateral ou sinalagmático- proporciona, reciproca-


mente, obrigações r,ara ambas as partes. \
b) Contrato oneroso - gera repercussão econômica com a sua
elaboração para ambas as partes.
c) Contratos aleatórios ou comutativos- regra geral, os contratos
são comutativos em razão das prestações serem certas. No entanto, a
possibilidade de risco não está completamente excluída.
d) Contrato consensual- nasce do consenso entre as partes, uma
delas será responsável em aceitar o preço e a outra a contraprestação.
e) Contrato formal ou informal- a compra e venda de bens imó-
veis com valor superior a trinta salários mínimos federais deverá ser
sempre por escritura pública. Todavia, se inferior, a mesma poderá
ser feita por instrumento particular.
f) Contrato instantâneo ou de longa duração- o instantâneo se
consumará com a prática do ato, o de longa duração, necessita de
tempo para se exaurir.
g) Contrato paritário ou de adesão - será paritário quando as
partes estiverem em pé de igualdade; já o contrato de adesão ocorre
.assim que uma das partes estipula as cláusulas e a outra terá somente
corno escolha a aceitação das mesmas.

11.1.3. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS

a) Partes: capazes (aptidão genérica) e a legitimação (aptidão


específica).

b) Coisa: deve ser disponível para sua comercialização dentro do


mercado. O objeto tem de ser lícito e determinado ou determinável.
Segundo previsão do artigo 483 do CC, o objeto do contrato para ser
negociado no mercado poderá também ser futuro.

ANDRÊ MOTA. CRISTIANO Süllfl,\l" LUCIANO FlGUF!Rllr>O, ROBUIHO f'lGUI'lREDO, SABR!NA DOLIRAOO 235
~------ --·-- ---------------

com c) Preço: justo, certo, determinado e em moeda corrente, de acordo


o artigo 315 do CC. Tal elemento possuí ainda algumas regras
espeCiais:
c.l) preço por avaliação - artigo 485 do CC
c.2) preço à taxa de mercado ou de bolsa _'artigo 486 do CC
c.3) preço por cotação - artigo 487 do CC; '
c.4) preço tabelado e médio - artigo 488 do CC;
c.S) preço umlateral- artigo 489 do CC.

11.1.4. AS DESPESAS E RISCOS DO CONTRATO

c Salvo
cláusula em con t rano,
_ · · as d espesas de escritura e 0 regis-
t ro ECarao
carg d sob
d d
~-... t" .._. '-'-'·-".L.._._._ ..........C u.C
a l"OS"'O'"'S"'h:;l;rl.,.rl r1 CCrTIDIJ.rl .......... "as ..-1 .... "--~....1:~:::::~ _
..l V-V..ll '- U.U. ~.lUU1\-~lV a
o o ven e or. E quanto aos riscos? Até o momento da tradição
os nscos da COISa cabem por obrigação ao vendedor e os do re o a~
comprador. Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes 'no ato d~ c~n~ar
marcar ou as~Inalar coisas, que comumente se recebein contand;
~esando, medmdo ou assinalando, e que já foram postas disposiçã~ à
o comprador, correrão por conta deste. I Essa é a previsão legaL

11.1.5. RESTRIÇÕES À COMPRA E VENDA

t" a) 4~:n~a de ascendente para descendente- prevê o diploma civil·


:~~~~Oll)~ ver REsp 953.461-SC, Rei. Min. Sídnei Beneti, julgado e~
I Artigo 496. É anulável a venda de ascendente a descendente
sa vo s~ os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressa:
mente ouverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos
dispens~-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o d~
separaçao obrigatória.
Conforme previsto, a lei destaca a anulabilidade. mas em t
tem. tempo?
. . . Deve ser ressa 1tad o o prazo estipulado ·no arti oquan
179 dao
Lei Civil, afastando a Súmula nº 494 do STF. g

236 EDITORA ARMADOR f PRÁTICA CIVIL I 3a edição


~-
1 Capiw1u XI

b) Venda de bens sob administração- é proibida pelo artigo 497


do CC. Nesse caso, destaca-se a nulidade!

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Agravo regimental no recurso especial. Ação anu-


latória de ato jurídico. Compra e venda. Ascendentes
e 'descendente.
2. O acórdão embargado possui importante vício a ser
sanado por meio de embargos de declaração, uma vez que
o Tribunal de origem não se manifestou acerca de todas as
questões relevantes para a solução da controvérsia, tal como
lhe fora posta e submetida, principalmente aquela que diz res-
peito à existência de efetivo prejuízo causado à descendente
pela venda efetuada pm· seus pais ao irmão, por intermédio de
interposta pessoa, alo qr-te C-~cio a viabiliz.rtr ez1entunl emprés-
timo rural para o desenvolvimento da atividade agrícola da
família.
3. Conforme bem assinalado pela doutiiina "a nomeação do
curador é provisória e só perdurará até o momento em que
seja resolvida a colidência. A falta de nomeação de curador
não importa nulidade do ato quando não resultar prejuízo
ao menor." (Carvalho Filho, Milton Paulo. CC comentado:
doutrina e jurisprudência. Coordenador Cezar Peluso. 4' ed.
Barueri, SP: Manole, 2010, p. 1924).
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg nos
EDcl no REsp 1211531/MS, Rei. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 05/02/2013,
Dje 14/02/2013)

c) Venda entre cônjuges -reza o artigo 499:


Artigo 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação
a bens excluídos da comunhão."
d) Venda de parte indivisa em condomínio - não pode um
condômino de coisa indivisível vender a sua parte a terceiros sem
notificar o outro proprietário dares. O artigo 504 da Lei Civil salienta
a observância do direito de preferência.

237
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SoliRAL, LUCIANO fJGIJ:EJREDO, ROliERTO ftGUEIRFllO, S-1.1111.1'<-' DouRADO
j CoNTRATOS EM EsrÉCIE
Capítulo XI \

11.1.6. REGRAS ESPECIAIS DA COMPRA E VENDA

a) Venda por amostra, por protótipos ou por modelos - se a


venda ocorrer dessa forma, o vendedor assegurará ter a coisa as
qualidades que a elas correspondem. Essa é a regra do artigo 484 da
norma civilista.

b) Venda a contento e sujeita à prova- entende-se que é aquela


o
realizada sob condição suspensiva, ainda que tenha recebido a coisa.
Aquele que recebe a coisa será considerado como comodatário. Assim,
em caso de descumprimento da mesma, poderá o alienante propor
ação para recuperar a posse. Observe os artigos 509 a 512 do CC/2002.

c) Venda ad mensuram e ad corpus - a ad mensuram (artigo 500,


caput) é aquela em que o preço do bem é medido pela área. Em caso
de descumprimento da. mesma, prevê a lei a possibilidade de algu-
mas ações. Quais são elas? Ação ex empto (complementação da área),
Ação Redibitória (extinguir o negócio), Ação Estimatória ou Quanti
Minorís (abatimento). Essas ações têm o prazo de um ano decaden-
cial, consoante previsão do artigo 501. Na venda ad corpus (artigo
500, § 3º), as metragens e a área são apenas para localizar o bem, mas
não influenciam no preço. Nessa venda não são cabíveis as Ações
retromencionadas.

11.1.7. CLÁUSULAS ESPECIAIS OU PACTOS ADJETOS

a) Retrovenda ou cláusula de resgate -por meio dos artigos 505


a 508 da Lei Civil, pode ser observado esse pacto acessório. A mesma
recai sobre bens imóveis e o prazo máximo para o retrato será de três
anos. Não se trata de cláusula personalíssima, pois a mesma é cessível
e transmissível a herdeiros e legatários.

b) Cláusula de preempção, preferência ou prelação- Os artigos


513 a 520 do CC estabelecem esse pacto adjeto que poderá recair sobre
bens móveis e imóveis. O prazo para o exercício do pacto não poderá

"~·~,.._,..,"""A"''~, I Pli~TJCACJVIL \ 3~edição


CONTRATOS EM ESPÉCIE I
rcapúulo XI

exceder a cento e oitenta dias para os bens móveis e dois anos para
os imóveis. Uma vez pactuado a cláusula e inexistindo prazo estipu-
lado, o direito de preempção caducará, se a coisa for móvel, não se
exercendo nos três dias, e, se for imóvet não se exercendo n 1)s ses-
senta dias subsequentes à data em que o comprador tiver notificado
o vendedor. Tal direito é pers•malíssimo, pois não se pode ceder nem
passa aos herdeiros.

c) Cláusula de venda com reserva de domínio - a previsão


encontra-se nos artigos 521 a 528 do CC. Recai sobre bens móveis
e será estipulada por escrito, dependendo de registro no domicílio
do comprador para valer contra terceiros. O comprador do bem só
alcançará a propriedade depois àe pagas todas as parcelas. Uma vez;
descumprida a mesma e constituído o comprador em mora, poderá
o vendedor propor ação de cobrança ou busca e apreensão para recu-
perar a posse do bem.

d) Venda sobre documentos ou trust receipt- por intermédio dos


artigos 529 ao 532, verifica-se a venda em que a tradição da coisa é
substituída pela entrega de um título que a representa.

11.2. TROCA OU PERMUTA (ARTIGO 533 DO CC)

11.2.1. CoNCEITO

Nessa modalidade contratual prevista no artigo 533 da Lei Civil,


as partes pactuam suas obrigações, remunerando-se, através da
compensação dos ofícios estabelecidos por cada uma delas. Difere
do contrato de compra e venda, pois na permuta a contraprestação é
feita pelo pagamento de um preço em dinheiro.

ANnR~ :\10TA, CRISTIANO SOBRAl., LUCIANO FJGUEJRED(), RoatR.TO PlCUT!IREDO, S,>.BRll'>'A DOURADO 239
Capítulo XI I

11.2.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Contrato bilateral ou sinalagmático - apresenta, reciproca-


mente, deveres para ambas as partes, que se obrigam a dar uma coisa
recebendo outra diferente de dinheiro.
b) Contrato comutativo - as partes se cientificam de suas obri-
gações no ato da elaboração, por serem certas e determinadas no ato
da celebr~ção.
c) Contrato consensual- ocorre com a manífestação das partes.
d) Contrato formal ou informal, solene ou não solene- a lei não
impõe maiores formalidades para a sua celebração.
e) Contrato translativo a transmissão da coisa ocorrerá com a
tradição, trazendo consigo no contrato.
<

f) Contrato oneroso- apresenta repercussão econômica.

11.3. CONTRATO ESTIMATÓRIO (ARTIGOS 534 A 537


DOCC)

11.3.1. CONCEITO

Esse contrato pode ser chamado também de venda em consignação,


tem por finalidade vender, em nome próprio, bens móveis de proprie-
dade de terceiros. O proprietário/consignante dará somente a posse
do bem ao vendedor/consignatário, não sendo entregue o domínio da
coisa. Sua previsão está nos artigos 534 a 537 do CC.

11.3.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Contrato bilateral ou sinalagmático -caracterizado pela reci-


procidade nas obrigações entre os contratantes.

240 EDITORA ARMADOR 1 PRÃTJCA CtvJL 1 Y edição


jC<tpíwlo XI

b) Contrato oneroso - proporciona repercussão econômica.


c) Contrato real-concretizado com a efetiva entrega do bem. .
d) Contrato comutativo- as partes são cientificadas de suas obn-
aações no ato da elaboração. _ .
'" . f ai ou não solene - a lei não impoe malüres
e) C,:mtrato m orm _
formalidades para a sua celebraçao.
" , · p'rimeiro se consuma
f) Contrato instantaneo e temporan0 - 0 . fi I
com a prática do ato, já o segundo se efetua por melO do termo na
para a venda da coisa consignada.

U.3.3. EFEITOS E REGRAS

._ É 'logo a uma obrigação alternativa, pois o vend~dor/con-


ana . . d rá devolver o valor inicialmente estimado ou
signatano po e
a própria coisa. - d do
~ A coisa deve ser móvel e livre para alien.ação, nao po en
estar' gravada com cláusula de inalienabilidade.

:l ATENÇÃO!
· te possui o domínio,
Nesta relação contratual, o consignan • 1
• . te a posse do bem move .
transferindo ao consignatano somen

11.4. DOAÇÃO (ARTIGOS 538 A 554 DO CC)

11.4.1. CoNcEITO

A sua definição encontra-se melhor conceituada no artigo 538


do CC:
. 538 Considera-se doação o contrato em que uma
A rt tgo . . , . b ou
pessoa, por lz.beralt'dade' transfere
'J'
do seu patnmonw ens
vantagens para o de outra.

, Ro!IERTO [lGVUREDO, SAB!HNA DouRADO


241
0
ANDRÊ MoTA, CRiSTIANO Sül>RAL, LucL.. NO FJGVE\ltED '
1 CONTRATOS EM ESPÉCIE
Capítulo Xl \

11.4.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Contrato unilateral/bilateral - apresenta obrigação somente


para uma das partes; porém, no caso de doação moda!, ocor~e uma
imposição para aquele que recebe bens ou vantagens de um onus.
b) Contrato gratuito- a doação será, em regra, gratuita (excep-
cionalmente haverá a doação moda!, conferindo vantagens a ambas
as partes).
c) Contrato consensual -é formado pela manifestação de vontade
das partes.
d) Contrato real - ocorre sempre que a doação envolver bem de
pequeno valor seguido de sua tradição (doação oral/manual).
e) Contrato comutativo- acontece quando as partes são cientifi-
cadas de suas obrigações no ato da elaboração.
f) Formal e solene- desde que a doação de bem imóvel seja supe-
rior a 30 salários mínimos.
g) Formal e não solene - todas as vezes que o bem imóvel for
superior a 30 salários mínimos, porém não há necesstdade de escn-
tura pública.

11.4.3. ESPÉCIES DE DOAÇÃO

a) Pura e simples (artigo 543 do CC)- o ato possui liberdade plena,


não se submetendo a condição, termo ou encargo:
b) Contemplativa (artigo 540, 1ª parte, do CC)- o doador efetua
a mesma por mera liberalidade, expressando o motivo.
c) Remuneratória (artigo 540, 2ª parte, do CC) - se origina da
realização de serviços prestados, cujo pagamento o donatário não
pode ou não deseja cobrar.
d) Ao nascituro (artigo 542 do CC) - é válida desde que aceita
pelo seu representante legal. Trata-se de modalidade que depende,
CoNTRATOS EM ESPÉCIE I
jcapítulo XI

necessariamente, de condição suspensiva para vigorar, pois condiciona


a validade do contrato de doação ao nascimento do feto com vida.
e) Ao absolutamente incapaz (artigo 543 do CC) - trata-se de
doação pura, não há necessidade da aceitação do donatário, pois sei
presume que o incapaz aceitou, inexistindo prova em contrário (iure
ei iure).
f) De ascendente a descendente ou de um cônjuge ao outro (artigo
544 do CC)- está relacionado ao adiantamento da legítima, visto que
confere às doações o valor, que dele em vida receberam, sob pena
de sonegação. Não confundir esse tipo de doação com a inoficiosa
prevista no artigo 549 da Lei Civil (ver AR 310/PI. Rei. Ministro DIAS
TRINDADE, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/05/1993, Dj 18/10/1?93,
p. 21828).
g) Em forma de subvenção periódica (artigo 545 do CC)- trafa-
-se de pagamentos mensais (trato sucessivo) realizados pelo doador
ao donatário, extinguindo-se com o falecimento de uma das partes,
exceto no caso de falecimento do doador, que poderá estabelecer aos
seus herdeiros a continuação dos pagamentos ao favorecido.
h) Propter nuptias (artigo 546 do CC)- é aquele direcionado para
as núpcias, ou seja, aplicado para casamento futuro, não vigendo o
contrato em caso de não consumação do mesmo.
i) Com cláusula de reversão ou retorno (artigo 547 do CC) - tra-
ta-se de contrato de doação intuitu personae, desde que a mesma esteja
direcionada somente ao donatário, pois caso ele venha a falecer antes
do doador, o bem retornará ao patrimônio deste, ainda que tenha
alienado o imóvel antes da morte.
j) Universal (artigo 548 do CC)- é nula tal modalidade, pois a lei
veda a doação pelo doador se ele não possuir bens suficientes para a
sua subsistência. Tal medida visa tutelar a qualidade de vida do doador
(regra em sintonia com o princípio da dignidade da pessoa humana,
(ver REsp nº 285.421/SP, rei. Ministro Vasco De!la Giustina (Desem-
bargador convocado do 1JRS), j. em 04.05.2010, Informativo nº 433).

A:•IDRÊ MOrA, CR!STJANO So13RAL, LLOANO FlG\JEI\l,EOO, ROBERTO FlG\JEIREDO, $A13R!NA DOURADO 243
Capítulo XI J

!) Inoficiosa (artigo 549 do CC)- significa que a doação efetuada


ultrapassou o quinhão disponível para testar. Note: O doador tem R$
200 mil reais e faz uma doação de R$ 120 mil reais, o ato será válido
até os R$ 100 mil reais e nulo com relação aos R$ 20 mil.

:l ATENÇÃO!
A Ação de redução é a que tem como objetivo a declaração de
nulidade da parte inoficiosa.

Para aferir a eventual existência de nulidade em


doação pela disposição patrimonial efetuada acima
da parte de que o doador poderia dispo1· em testa~
menta, a teor do artigo 1.176 do CC/1916, deve-se con-
siderar o patrim.Jnio exist-ente no mumenlv da libera-
lidade, isto é, na data da doação, e não o patrimônio
estimado no momento da abertura da sucessão do
doador. (AR 3.493-PE, Rei. Min. Massami Uyeda, jul-
gado em 12/12/2012)

m) Do cônjuge adúltero ao seu cúmplice (artigo 550 do CC) - é


a doação feita entre amantes, geralmente por pessoas casadas com
impedimento de contrair união estável, sendo anulável no prazo
decadencial de dois anos. A anulabilidade do contrato poderá ser
proposta pelo cônjuge traído ou também pelos herdeiros necessários.
Todavia, a mesma poderá ser convalidada no caso dos cônjuges esta-
rem separados de fato.
n) Conjuntiva (artigo 551 do CC) - trata-se da doação de um
determinado bem a dois ou mais donatários, os quais se tornarão
cotitulares do bem.
o) Moda! ou onerosa (artigo 553 do CC)- é aquela em que o doa-
dor atribui ao donatário um encargo, o qual se torna elemento moda!
do negócio jurídico.
p) À entidade futura (artigo 554 do CC) - a entidade deverá se
constituir regularmente com a inscrição dos atos constitutivos no
respectivo registro no prazo máximo de dois anos; no entanto, se

244 ED!TORAAR!'YIADOR I PRÁTICACIVJL I 3a edição


ela não estiver devidamente composta dentro desse prazo o contrato
poderá caducar.

11.4.4. REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO


I

São os cas~s definidos nos artigos 555 ao 564 do CC e merecem


ser conferidos!

11.4.5. HIPÓTESES DE IRREVOGABILIDADE POR INGRATIDÃO

Conforme o artigo 564 da Lei Civil, as doações que não serão


revuva.das
b
cor ingratidão serão:
.L '.
a) as puramente remuneratonas; .
b) as oneradas com encargo já cumpndo; . _ l·
c) as que se fizerem em cumprimento de obngaçao natura '
d) as feitas para determinado casamento.

11.5. LOCAÇÃO DE COISAS (ARTIGO 565 E SEGS., DO CC)

11.5.1. CoNCEITO -------------------

É o contrato em que o locador cede ao locatário determinad~ bem,


objetivando que o mesmo use e goze da coisa de forma continua e
temporária, mediante o pagamento de alugueL

11.5.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Bilateral ou sinalagmático - as partes possuem vantagens e


desvantagens recíprocas.

. ROBLRTO FlGl:EUI~DO, SABRlNA DoUR.\00


245
ANDRÊ MOTA, C!'JSTli\NO SoBRAL, LUCIANO FIGI!ElRE:DO,
! CONTRATOS EM ESPÉCIE
Capítulo XJ I
b) Oneroso - é essencialmente econômico, isto é, por meio da
cobrança de aluguéis.
c) Comutativo- as partes são cientificadas de suas obrigações no
ato da celebração do contrato de locação.
d) Consensual- a vontade das partes é a essência do contrato.
e) Informal e não solene -inexiste obrigatoriedade de escritura
pública como também de contrato escrito.
f) Execução continuada- as prestações perduram com o passar
do tempo.
g) Típico- caracterizado por possuir regulan ttd llação legal no CC.
h) Paritário ou de adesão- será paritário quando as partes estive-
rem em pé de igualdade no ato de estabelecer as cláusulas contratuais
e de adesão assim que uma das partes estipular as cláusulas e a outra
somente puder aderi-las para que se possa obter o objeto do contrato.

11.5.3. PRESSUPOSTOS

a) coisa;
b) temporariedade;
c) aluguel.

11.5.4. Dos DEVERES DO LOCADOR

O locador é obrigado a entregar ao locatário a coisa alugada, com


suas pertenças, em estado de servir ao uso a que se destina, assegu-
rando a utilização pacífica da coisa. Devendo o locatário, durante o
período contratual, manter a coisa no estado em que se encontra, salvo
se previsto diversamente em cláusula.
CoNTRATOS EM Esi>ÉCtE I
jêapítulo XI

11.5.5. Ü DIREITO POTESTATIVO DA REDUÇÃO PROPORCIONAL


DO ALUGUEL OU A RESOLUÇÃO DO CONTRATO

Conforme preceitua o artigo 567 da Lei Civil, se durante a locação


a coisa alugada for deteriorada, sem culpa do locatário, a este caberá
pedir redução proporcional do aluguel, 0u resolver o contrato, caso
já não sirva a coisa para o fim a que se destinava.

11.5.6. Dos DEVERES DO LOCATÁRIO

Os deveres legais estão elcncados no rol do artigo 569 de CC:


a) servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou
presumidos, consoante a natureza dela e as circunstâncias, bem como
tratá-la com o mesmo cuidado corno se sua fosse;
b) pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta
de ajuste, segundo o costume do lugar;
c) levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros,
que se pretendam fundadas em direito;
d) restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu,
salvas as deteriorações naturais ao uso regular.

11.5.7. LOCAÇÃO POR PRAZO DETERMINADO

De acordo com a regra prevista no artigo 573 do CC, esta moda-


lidade cessa de pleno direito com o fim do prazo estipulado, indepen-
dentemente de notificação ou aviso.

11.5.8. ALUGUEL PENA

Reza a norma civilista:

ANORÊ MOT.\., CRtSTJA~O SoSML, Lt!t'JANO FJGliEIREDO, ROBlill.TO FrGIWlli.EDO, SARRJNA DoURADO 247
Capítulo XI

Artigo 575. Se, notificado o locatário, não restituir a coisa,


pagara, enquanto a tiver em seu poder, o aluguel que 0 loca-
dor arbztrar, e responderá pelo dano que ela venha a sofrer,
embora provenzente de caso fortuito.
Parágrafo único. Se o aluguel arbitrado for manifestamente
excesszvo,poderá o juiz reduzi-lo, mas tendo sempre em conta
o seu carater de penalidade.

11.5.9. A A~UISIÇÃO DO BEM POR TERCEIRO E A CLÁUSULA DE


VIGENCIA

Se o bem - objeto do contrato - for alienado durante a vigência


~o contr~to ~e ~ocação,_ o ad~uirente não ficará obrigado a respeitá-
1~, :;;e I~e1e na~ ror cuns1gnaaa a cláusula àa sua vigência, no caso àe
ahenaçao, e nao constar de registro. c

11.5.10. A SUCESSÃO NA LOCAÇÃO

Destaca o artigo 577 da Lei Civil:

Artigo 57Z Morrendo o locador ou o locatário, transfe-


re-se aos seus herdezros a locação por tempo determinado.

11.5.11. INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS

E~ceto disposição em contrário, o locatário goza do direito de


~et~nçao, no caso de benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias
utezs, se estas houverem sido feitas com expresso consentimento do
locador, conforme prevê o artigo 578 da Lei Civil.

11.5.12. A LOCAÇÃO NA LEI N° 8.245/91

Esta lei se aplica somente às relações locatícias de imóvel urbano


consoante previsto em seu artigo 12. '

248 EDITORA AR\1ADOR I PRÁTICA CiviL ! 3a edição


r---------
1 Capículo XI

11.5.12.1. Ações inquilinárias ou locatícias

ll.5.12.l.L Conceito
São quatro as ações previstas na lei de locações: a de despejo, a
consignatória de alug•,zéis e encargos locatícios, a revisional de aluguel
e a renovatória de im6veis não residenciais.
Além dessas, poderão ser propostas também: a ação de execu-
ção dos encargos locatícios, conforme disposto no artigo 784, inciso
VIII, do CPC/15, e a indenizatória, pelo locatário em face do locador,
alegando que o imóvel locado apresentava defeitos causadores tanto
de danos morais quanto de materiais.
Portanto, a Lei nº 8.245/91 é uma norma híbrida, pois cuida de
aspectos materiais, procedimentais, como também processuais.

11.5.12.1.2. Lei do inquilinato: aspectos gerais


Algumas questões televantes devem ser analisadas no estudo da
Léi nº 8.245/91. O primeiro ponto a ser analisado é o juízo competente
para propor as ações de despejo. Aqui se aplica a regra de competência
do foro da situação da coisa, disposta no artigo 47 do CPC/15, por trazer
maior facilidade ao juízo a proximidade com o bem objeto do desalijo.
Como previsto pelo artigo 58 da Lei nº 8.245/91, o valor da causa
para a propositura da ação de despejo corresponderá a 12 meses de
aluguel, ou, na hipótese do inciso !I do artigo 47, a três salários vigentes
por ocasião do ajuizamento.
Segundo recente entendimento do STJ, o despejo para uso pró-
prio poderá ser proposto nos Juizados Especiais Cíveis, posto que os
incisos do artigo 3º da Lei nº 9.099/95 não são cumulativos e o inciso !li
do mesmo artigo não possui limite de valor tanto para bens imóveis
como para os aluguéis vencidos ou vincendos, se os mesmos existirem.
Por último, deve ser esclarecido que o recurso contra sentença
proferida, nesses casos, será o de apelação e deverá ser recebido
somente no efeito devolutivo, permitindo assim o diploma legal, a
execução provisória do julgado.

ANDRÉ M0111, CRISTIANO SOJlltAL, LL:CJANO FJC:llEi!REDO, ROBERTO FJGU[IREDO,$,\BRISA ÜOlJlL.-DO


249
!CoNTRATos EM EsPÉCIE
Capítulo XI)

11.5.12.1.3. Espécies

11.5.12.1.3.1. Ação de despejo (artigos 59 a 66 da Lei n" 8.245/91)

a) É a única ação que o locador pode sugerir para recuperar o


imóvel objeto da locação.

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito civil. Legitimidade do locador para a propositura de


ação de despejo. O locador, ainda que não seja o proprietário
do imó<.•el alugado, é parte legítima para a propositura de ação
de despejo fundada na prática de infraçliu iegal/cuntratual ou
na falta de pagamento de aluguéis. REsp 1.196.824-AL, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/212013.

b) Tem natureza de ação de rescisão de dissolução contratual, com


natureza eminentemente pessoal e não possessória ou real.
c) Segue o rito ordinário, consoante artigo 59 da Lei nº 8.245/91.
d) No polo passivo figurará o locatário, sublocatário e/ou quem
o tenha legitimamente substituído.
e) É permitido o deferimento de medidas liminares inaudita altera
pars, conforme§ 1º do artigo 59 da Lei nº 8.245/91 (ver REsp nº 1.20Zl61/
AL, rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. em 08.02.2011, Informativo
nº 462).
f) O despejo também poderá ocorrer por denúncia cheia ou vazia.
A primeira ação está baseada no artigo 47 da lei do inquilinato; já a
segunda está disposta no artigo 6º desta lei;
g) Pode ser proposta ação de despejo por falta de pagamento ou
por infração contratual; pedido para uso próprio; ausência de con-
servação ou deterioração do imóvel locado ou, ainda, realizar obras
sem o consentimento do locador.
h) A sentença tem caráter mandamental por dispensar a sua fase
final de liquidação.
CoNTRATos EM EsPÉCIE j
j Capitulo XI

11.5.12.1.3.2. Ação consignatória de aluguéis e acessórios na


locação (artigo 67 da Lei n" 8.245/91)

a) Esta ação tem por característica evitar a inadimplência do


locatário por meio do depósito efetuado em juízo quando proposta
a exordial.
b) Transcorre pelo rito especial.
c) Caracteriza-se como uma ação que visa ao pagamento indireto
da obrigação e tem como parte autora o locatário.
d) Diversamente da ação consignatória prevista no CPC/15, esta
modalidade não tem caráter dúplice, pois a lei preceitua 0 cabimento de
reconvenção nos termos do inciso Vl do artigo 67 da lei do inquilmato.

11.5.12.1.3.3. Ação revisional de aluguel (artigos 68 a 70 da Lei


n" 8.245/91)

a) Pode ser ofertada tanto pelo locador, buscando o aumento do


valor dos aluguéis, como poderá ser proposta pelo locatário com 0
objetivo de reduzi-los.

b) Este benefício poderá ser utilizado somente pelo prazo de três


anos, ainda que a ação tenha sido proposta pela parte contrária.
c) Segue o rito sumário, conforme artigo 68 da lei do inquilinato.
:l ATENÇÃO!

O CPC/15 não traz previsão acerca do rito sumário.

d) O juiz fixará o aluguel provisório por meio dos elementos


fornecidos pelo autor da ação, que será devido desde a citação.
. ~ Na audiência d~ conciliação, consoante recente alteração pela
Le1 n 12.112/09, devera ser apresentada a contestação, contendo a
contraproposta; caso exista discordância quanto ao valor pretendido,
tentará o juiz a conciliação; em caso de impossibilidade, determinará a
rea~ização de perícia, se necessária, designando, desde logo, audiência
de mstrução e julgamento.

Ar-mRÉ MOTA, CRISTIANO $0l!RAL, LlKlANO FIGUEIREDO, RoBERTO FIGUEIREOO, SABRJNA DOURADO
251
C.tpíwlo XI 1

f) O aluguel fixado em sentença retroage à citação e as diferenças


devidas durante a ação de revisão abrangerá os alugueres vincendos,
bem como os vencidos e não pagos; as mensalidades locatícias serão
pagas com correção monetária exigível a partir do trânsito em julgado
da decisão que fixar o novo aluguel; como também serão descontados
os aluguéis provisórios já satisfeitos. O aluguel fixado em sentença
retroage à citação, as diferenças devidas durante a ação de revisão
e abrangerá os aluguéis vincendos, bem como os vencidos que não
foram pagos; as mensalidades locatícias serão pagas com correção
monetária a partir do transito em julgado da decisão que fixar o novo
aluguel; como também serão descontados os alugueres provisórios
já satisfeitos.
g) No final da ação locatícia serão cobradas as diferenças locatícias
entre o aluguel provisório ê o deflnilivo.
h) A ação de despejo poderá ser fundamentada pelo inadimple-
mento dos aluguéis provisórios.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Processual civil. Agravo regimental no agravo em


recurso especial. Apelação. Ação revisional de alu-
guel. Artigo 58 da lei nQ 8.245/1991. Efeito devolutivo
apenas. Decisão mantida.
2. O artigo 69 da Lei nº 8.24511991, que possibilita a
cobrança das diferenças do valor do aluguel somente a partir
do trânsito em julgado da decisão que fixou o novo val01; não,
pode ser invocado para atribuir efeito suspensivo ao recurso
de apelação.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 171.147/SP, Rei. Ministro ANTONIO
CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
18/10/2012, DJe 31/10/2012)

Agravo regimental no recurso especial. Locação.


Argumentos insuficientes para alterar a decisão agra-
vada. Cumulação com ação revisional de aluguel.
Possibilidade.

252 EDITORA ARMADOR I PRÜ!CA CIVIL I 3a edição


2. É possível a cumulação de pedido de desocupação com a
revisão de alugueres. Precedente. .
3 4grnvo regimental a que se nega seguzmen.to.
u\gRcr no REsp 778.489/PR, Rei. Ministro VASCO
DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCA-
DO DO Tj/RS), SEXTA TURMA, julgado em 20/10/2011,
DJe 14/11/i~ll)

, · d e cont ra t o (artigos 71 a 75 da Lei


11.5.12.1.3.4. Ação renovatona
n" 8.245/91)
a) Esta ação visa à renovação compulsória do contrato de lo,cação
es"rit~ e não residencial, por prazo determinado, vigendo no IDlTIIU:O
d; fon~a ininterrupta pelo prazo de 5 (cinco) :nos, comd expl~raç~o
ctLlViual..lC t''-iv t'''"" 0 ~~-~~-----
. _,. ·.J~.J~~.-.l"'"".,..,z m-ínimo0e3(tres)anos, even oes a
uamesrna ' ·
demanda correr no rito ordinário.
áximo de 1 ano e 6 meses
b) Ela deverá ser proposta no prazo m
após 0 término do contrato.
c) A legitimidade ativa é do locatário.
d) Nesta demanda será fixado o aluguel pro_visório a ser devido
após o término da vigência do contrato de locaçao. .
e) O aluguel fixado na sentença poderá ser cobrado imedJata-
ment~, independentemente da propositura do recurso.
f) Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição
de mandado de despejo, dentro do prazo de 30 (tnnta~ dJas para a
desocupação voluntária, se houver pedido na contestaçao.

11.6. EMPRÉSTIMO

11.6.1. ASPECTOS GERAIS

Esse tipo de contrato abrange tanto o comodato como o mútuo.


Ambos os institutos se assemelham por terem como objeto a entrega

R 'lHO fJGL'ElREDO SAI!RlNA DO\IR~DO


253
ÁNDRÉ MOTA, Cl<t~T!A~O So!'.RAL, L\.:CJANO FIGUEIREDO, OBE - ''
L
CoNTRATOs EM EsPÉCIE
Capítulo XI

da coisa para ser usada e restituída ao dono originário ao final do


negócio estabelecido. Diferenciam-se em razão da na_tureza_ da cmsa
empre,;tada, pois se 0 bem for fungível o contrato sera de mutuo e, se
o mesmo for infungível, comodato.

11.6.2. Do COMODATO (EMPRÉSTIMO DE Uso) (ARTIGOS 579 A


585 Do CC)

11.6.2.1. Conceito
A melhor definição está expressa no artigo 579 do CC:

Artigo 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coi-


sas não fungíveis.

Perfaz-se com a tradição do objeto.

11.6.2.2. Natureza jurídica


a) Real - se perfaz com a tradição do bem infungíveL
b) Gratuito _ como disposto acima, ainda que o comodatário
efetue 0 pagamento dos encargos de comodato (p- ex.,_ condomínio,
IPTU, dentre outros), este contrato é considerado gratmto.
c) Informal e não solene- não possui formalidade prevista em lei.
d) Unilateral - confere obrigações somente ao comodatário,
e) Personalíssimo- extingue-se com a morte do comodatário.
f) Fiduciário- como o próprio nome diz, é baseado na confiança
entre o comodante e comodatário.

11.6.2.3. Legitimação para celebrar o contrato


Em regra, todos os bens imóveis/móveis são passíveis de ser obje:o
de contrato de comodato, no entanto, excepcionalmente a le1 dtspoe
que não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens
CoNTRATos EM ESPÉCIE I
jcapítu!o XI

confiados à guarda dos tutores, curadores e todos os administradores


de bens alheios, em geraL

11.6.2.4. Prazo determinado e indeterminado


Nos casos pactuados por prazo determinado, não poderá o
comodante suspender o uso e gozo da coisa emprestada antes de
findo o prazo convencional, salvo se houver uma urgente necessidade
reconhecida pelo juiz.
O comodato poderá não ter prazo convencionado, e nesse caso
se presumirá o prazo por meio da necessidade da utilização da coisa.

11.6.2.5. Obrigações do comodatário e o chamado


aluguel-pena
O comodatário tem como obrigação conservar o imóvel como se
seu fosse, não podendo usá-lo em desacordo com o contrato ou a sua
natureza, sob pena de responder por perdas e danos.
Este será notificado para que dessa forma seja constituído em
mora, respondendo tanto pelo atraso quanto também pelos aluguéis
da coisa que forem arbitrados pelo comodante até a efetiva entrega
das chaves, caracterizando, nesse caso, urna espécie de cláusula penal
típica do contrato de comodato.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito civil. Contrato de comodato. Aluguel-pena


em razão de mora na restituição.
(__.)A natureza desse aluguel é de uma autêntica pena pri-
vada, e não de indenização pela ocupação indevida do imóvel
emprestado. O objetivo central do aluguel não é transmudar o
comodato em contrato de locação, mas sim coagir o comodatá-
rio a restituir o mais rapidamente possível a coisa emprestada,
que indevidamente não foi devolvida no prazo legal. (___) Para
não se caracterizar como abusivo, o montante do aluguel-
-pena não pode ser superior ao dobro da média do mercado,

Al>oOR~ MO'! A, CRISTIANO SO!IR/\1~ LVCJANO F!GUEIRP.DO, ROBERTO F1GLIE!ll.l100, SABRINA DoURADO 255
Capílulo XI

considerando
. . . que
. nao - deve servzr. de mew
. para o enriqueci-
mento InJUstificado do comodante. REsp 1.175.848-PR R l
Mm. Paulo de Tarso Sanseveri1lo. Julgado em 1819120Í2. e .

11.6.2.6. Responsabilidade do comodatário


E . - .

:e~~ ~0~:~~!!~~3i2:~~~:~.i:~~!a:o::~~:~~~;:a~~a;~~::rn~:
lizado pelo d 'd os do comodante, deverá ser responsabi-
ano ocorn 0 ' ainda que se t rale d e caso fortuito ou força
maior. Vale enfaf
culpa do comoda~~;~~ que mesmo nestes casos, não será suprimida a
que pretere a COisa alheia emprestada em prol
de seus pertences.

ll.6.2.7. Despesas do contrato

feita~~: ;~:!v:lg~~~~odatário recobrar do comodante as despesas


a COisa emprestada.

11.6.2.8. A solidariedade no contrato


d t Só é possível a existência da solidariedade no contrato de como-
a o no caso
comodat, . dde duas ou mais P e sooas, .
serem, szmultaneamente
anas a mesma co· fi d . '
para com o comodante. zsa, can o solidariamente responsáveis

11.6.3. 592
Do MÚTuo
DO CC) (EMPRÉ STIMO DE CONSUMO) (ARTIGOS 586 A

11.6.3.1. Conceito
O conceito do contrato de mu· t uo esta, prevzsto
. no artigo 586 do CC:

. ,· O m
Artigo, 586 . u•t uo e· o emprestzmo
, . de coisas fungíveis.
r0 ~utuarzo e obrzgado a restituir ao mutuante o que dele
ece eu em cozsa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.

256 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA ÜV1L I 3~ edição


~-

i Capículü XI

11.6.3.2. Natureza jurídica


a) Unilateral - gera obrigações somente para uma das partes,
neste caso, o mutuário.
b) Gratuito- só traz ônus para o mutuante; o mutuário irá devol-
ver sem ônus. Excepcionalm,ente esta modalidade contratual será
onerosa, nas situações de mút-ho feneratício ou, como é popularmente
conhecido, empréstimo em dinheiro.
c) Informal e não solene - por inexistir previsão legal sobre a
forma de celebração, podendo ser feito por instrumento particular.
d) Real- se concretiza com a entrega do bem fungíveL

1Ui.33. A transferência da coisa


Este contrato se caracteriza pela transferência do domínio da
coisa emprestada ao mutuário, que assume todos os riscos do bem
fungível desde a tradição.

11.6.3.4. Mútuo feito à pessoa menor


O mútuo realizado por menor de idade, quando não autorizado
por seus responsáveis legais, isto é, aqueles que possuem a sua guarda,
não poderá ser reivindicado, nem pelo menor nem tampouco por
quem possui a sua guarda. Todavia, essa regra possui cinco exceções:
a) se o representante legal do menor posteriormente ratificar a
necessidade do mútuo;
b) se o menor se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus
alimentos habituais em razão da ausência de seu representante legal;
c) se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho, observan-
do-se que a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças;
d) se o empréstimo reverteu em benefício do menor;
e) se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.

257
Al>lDRÉ MOTA, C!US'! IA"ü $OBRAL, LL'CIANO FLCt:ElRLllO, ROB~RTO Fu:;;umR[00, S~!JIUSA DOURADO
!CONTRATOS EM ESPÉCIE

Capítulo XI I

11.6.3.5. A garantia no mútuo e a exceptio non adimplenti


contractus
Verificar:do o mutuante ~ue o mutuário poderá inadimplir com o
mesmo o contrato firmado, poderá este exigir a garantia legal, podendo
ser ela real ou fidejussória, com o objetivo de buscar maior segurança
jurídica. Contudo, mesmo adimplindo o contrato, se o mutuário não
cumprir com seu mister, a dívida vencerá antecipadamente ante a
exceptio non ri te adimpleti contractus, como disposto no artigo 477 do CC.

11.6.3.6. O mútuo feneratício ou mercantil e a limitação de


juros

Versa sobre o mútuo destinado a fins econômicos, cujos juros


cobrados presumir-se-ão devidos, podendo até chegar ao limite pre-
visto no artigo 406 do CC, sob pena de redução.
Segundo entendimento do STJ. os contratos bancários, que não
foram regulamentados pela legislação específica, poderão possuir
juros moratórios no limite de 1% (um por cento) para se convencionar.
Além disso, a simples estipulação de juros remuneratórios superiores
a 12% (doze por cento) ao ano não traz indícios de abusividade.
O STF ainda entende que a Lei de Usura (DL nº 22.626/33) não é
aplicável às instituições bancárias (Súmula nº 596 do STF).
Sobre o tema, veja:

Súmula nº 539, STJ: "É pemútida a capitalizm;ão de juros


com periodicidade inferior a anual em contratos celebrados
can1 instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional
a partir de 3113!2000(MP nº 1.963-1712000, reeditada como
MP nº 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada."

Súmula nº 541, STJ: 'A previsão 110 contrato bancário


de taxa de juros anual superior ao duodécupio da mensal
e suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada."

7CQ t:rwrnnA ARMADOR I PRÁTICA CtVIL \ 3·' edição


CONTRATOS EM ESPÉCIE )

[Capitulo XI

11.6.3.7. Prazo para a realização do pagamento do mútuo

Inexistindo convenção entre as partes, o mútuo será devido:


a) se for de produtos agrícolas, até a próxima colheita quando já
estiverem prontos para o consumo ou para a semeadura;
b) pelo prazo de 30 (trinta) dias, se ele for de dinheiro;
c) se for de qualquer outra coisa fungível sempre que declarar
o mutuante.

1i.í. DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO (ARTIGOS 593 A 609


DOCC)

11.7.1. CONCEITO

São aquelas reguladas pelo CC, como toda espécie de serviço ou


trabalho lícito, material ou imaterial que pode ser contratada mediante
retribuição, e que não esteja sujeita às leis trabalhistas ou à lei especial.

11.7.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Bilateral- gera deveres a ambas as partes.


b) Comutativo - as partes possuem o prévio conhecimento das
obrigações contratuais.
c) Personalíssimo/intuitu personae - deve ser prestado somente
pelas partes que pactuaram os termos do contrato. ·
d) Oneroso -possui repercussão econômica.
e) Informal/não solene - não tem previsão legal quanto à sua
forma, podendo ser verbal, escrito, ou por instrumento particular.
f) Consensual- deriva da vontade comum das partes.

ANDRt MoT,\, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FJCUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO
259
11.7.3. ÜBJETO DO CONTRATO
~~~~~~~~-

Como informado anteriormente, é toda espécie de serviço ou


trabalho lícito, material ou imaterial que pode ser contratada mediante
retribuição.

11.7.4. A REMUNERAÇÃO (A NÃO PRESUNÇÃO DE GRATUIDADE)

A remuneração será, em regra, paga após a prestação do serviço,


podendo ser convencionada de forma diversa, ou seja, o pagamento
poderá se concretizar no início dos trabalhos ou, também, ser dividido
em três parcelas, efetuando o pagamento de 1/3 no início, outros 1/3
durante a execução dos ser viçu.s eu restante ao final.
No que tange aos valores devidos, se inexistir estipulação prévia
e muito menos a possibilidade de acordo entre as partes, deverá ser
proposta ação para que o juiz arbitre a remuneração de acordo com o
costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade.

11.7.5. PRAZO MÁXIMO DO CONTRATO


--~~----~~~~~~~~----------------

Prevê a Lei Civil no caput de seu artigo 598:

Artigo 598. A prestação de serviço não se poderá conven-


cionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por
causa o pagamento de dívida de quem o presta, ou se destine
à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorri-
dos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não
concluída a obra.

11.7.6. RESILIÇÃO DO CONTRATO

O prazo para estabelecer a resilição contratual ficará ao arbítrio


de ambas as partes, mediante prévio aviso. Entretanto, a lei estipula
prazos gerais, caso as partes não pactuem previamente tais limites:

260 EDITORA ·<\R~·P,DOR 1 PRÁTIC~ CJVlL 1 3" edição


a) oito dias de antecedência, nas hipóteses de remuneração fixada
por tempo de um mês, ou mais; _ .
b) quatro dias de antecedência, se a remuneraçao for aJUStada
por sernana ou quinzena; _
c) quando a contratação tenha ;;ido por prazo inferior a sete dlas,
poderá ser avisado na véspera. '

11.7.7. INEXECUÇÃO DO:'._':C~O>:N<_T':'R~A':'T~O'___ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

A Lei Civil dispõe que não será contado o tempo em que o pres-
tador de serviço não tenha efetuado a sua tarefa.

11.7.8. AMPLITUDE DO CON!:T~R~A'.'T~O~-----------

Quando nesta modalidade de contrato não se estabelecer a tarefa


que o prestador de serviço deverá executar, e~ tende-se que o mesmo
se obrigou a todo e qualquer serviço compatlvel com as suas forças
e condições.

11.7.9. RESPONSABILIDADE PELA RUPTURA CULPOSA DO


CONTRATO
______:::_

Não poderá 0 prestador de serviço contratado por tempo certoou


por obra determinada se ausentar sem justa causa antes de preench!do
o tempo ou concluída a obra. . . _ .
Dessa forma, terá 0 contratante direito à re,tnbmça~ ve~C!da,
por meio das perdas e danos. Essa punição tambem se aphcara para
o caso do prestador ser despedido por justa causa.

261
ANDRÉ \loTA, Clu~T!A"O SOJIR-\1., i.1.êl-'"o FJCLURFOO, RoBERTO FJt.;l·nREDO, S.\BRI:-<A Dot RAno
I
CONTRATOS EM ESPÉCIE

Capítulo XI )

11.7.10. PERDAS E DANOS

Nas hipóteses <1>m que o prestador de serviço for despedido sem


justa causa, o contrktante será obrigado a lhe pagar a integral retri-
buição vencida acrescida da rnetade da remuneração a que caberia a
ele, caso pudesse cumprir com o termo legal do contrato.

11.7.11. A DECLARAÇÃO FORMAL DA DISSOLUÇÃO DO CONTRATO

Ao final do contrato, o prestador de serviço tem o direito de exigir


da outra parte uma declaração, a firmando que as obrigações contraídas
foram finalizadas, bem como se for despedido sem ou com justa causa.

11.7.12. EXIGÊNCIA DE CAPACITAÇÃO


----~-----------------

Nas hipóteses de prestação de serviço por pessoa que não pos-


sua título de habilitação ou não satisfaça requisitos estabelecidos em
lei, não poderá ser cobrada retribuição correspondente ao trabalho
executado por quem o prestou.
Se o serviço for prestado de boa-fé, o juiz arbitrará compensação
razoável, exceto quando a proibição da prestação de serviço resultar
de lei de ordem pública.

11.7.13. fORMAS DE EXTINÇÃO DO CONTRATO

A Lei Civil estabeleceu algumas formas de extinção do contrato,


dentre elas consta a morte de qualquer das partes, escoamento do
prazo contratualmente determinado, conclusão da obra, rescisão do
contrato mediante aviso prévio, inadimplemento de qualquer das
partes ou impossibilidade da continuação do contrato motivada por
força maior.

T'------· A • .-,.~,-,, 1 Pn-'T'r~rlvn I .i"f'ilicão


CoNTRATOS EM Esi~EctE j
/capitulo XI

11.7.14. ALICIAMENTO DO PRESTADOR DE SERVIÇO

Atente-se para a leitura do artigo 608 do CC:

Artigo 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em


contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a
importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito,
houvesse de caber durante dois anos.

11.7.15. ALIENAÇÃO DO PRÉDIO AGRÍCOLA E SUAS


CONSEQUÊNCIAS

Não implica a rescisão do contrato quando o prédio agrícola,


local da prestação de serviços, é alienado, salvo no caso em que o
prestador opte em continuar com o adquirente da propriedade ou
com o contratante inicial.

11.8. EMPREITADA (ARTIGOS 610 A 626 DO CC)

11.8.1. CONCEITO

Trata-se de contrato em que o contratado/empreiteiro se obriga,


sem subordinação ou dependência, a realizar pessoalmente ou por
terceiros, determinada obra para o dono ou para o empreiteiro contra-
tado, com material próprio ou fornecido pelo dono da obra, mediante
remuneração determinada ou proporcional ao trabalho executado.

11.8.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Bilateral- gera deveres a ambas as partes.


b) Comutativo - possui o prévio conhecimento das obrigações
contratuais.

/,)o.!pRJ M<'1A, Cius·J JANO Sof\1\M., LUCIANO FJGlTUliEDO, Ro~r.Rro FIGVElRLDo, S\SRJ'<A Do\JJ<IIDO 263
Capítu:io X~

c) Oneroso- proporciona repercussão econômica.


d) Informal e não solene- não há previsão legal expressa quanto à
sua forma, podendo ser verbal, escrito ou por instrumento particular.
e) Consensual - deriva da vontade comum das partes.
f) Instantâneo ou de longa duração - o primeiro se consumará
com a prática do ato, já o segundo necessita de tempo para se exaurir.
g) Não personalíssimo- sua execução pode ser confiada a tercei-
ros, sob a responsabilidade do empreiteiro.

11.8.3. EsPÉCIES
·-------

a) de lavor~ neste contrato o empreiteiro somente contribui com


o seu trabalho;
b) mista- o emp'l:eiteiro contribui com o seu trabalho, mas tam-
béin com os materiais necessários para a sua realização;
c) de projeto- a obrigatoriedade do empreiteiro é somente entre-
gar o seu projeto final;
d) instantânea- é estabelecida remuneração fixa para a execução
da obra;
e) por medida/ad mensuram - nesta modalidade, a fixação do
preço é determinada pelas etapas realizadas, isto é, a remuneração é
proporcional ao trabalho executado;
f) por administração - na qual o empreiteiro se encarrega da
execução do projeto, pesquisando preço, profissionais, dentre outros
aspectos, sendo remunerado de forma fixa ou por meio de um per-
centual sobre o custo da obra.

11.8.4. DEVERES E DIREITOS DO DONO DA OBRA

Quando a obra for concluída de acordo com o que foi pactuado


inicialmente, o dono da obra será obrigado a aceitá-la, podendo

264 EDITORA AR..MADOR I PRÃTlCA CiVIL I 3" edição


~

1 capítulo XI

. ·t. 1 caso o empreiteiro se afaste das instruções recebidas, dos


;~:~:~ ~ados ou das regras técnicas em trabalhos de tal natureza.

11.8.5. RESPONSABI!:IDADiõ.DO EMPREITEIRO

Existem três pontos a serem analisados:


a) Consoante o artigo 617 do CC:
Artigo 617. O empreiteiro é obrigad~ a pagar os materiais
que recebeu• se por imperícia ou negltgencza os znutzlzzar.
b) O empreiteiro responderá durante o irredutível p~azo de cin:o
d trabalho como tambem em razao
anos, pela solidez e segurança o _ , ,. ._ , .J --~ --l~ ,.,.1.-. .. -.
. t . . utilizados· contudo decaira o dlreu:o- uo uOttu uo. '---''-'·'-'...
dos ma ena1s ' 180 d. guintes
~ user a ação contra o empreiteiro, nos las se
que nao prop d . . ott defeito· cumpre ressaltar que tal res-
ao aparectmento o VICIO • CC .
po,-,sabilidade é objetiva segundo a norma do artigo 618 do 'CUJa
obrigação é de resultado.
c) Se a obra ficar paralisada sem justo motivo resolve-se em p~­
das e danos, podendo o empreiteiro suspender a obra nos casos o
artigo 625 do CC.

11.8.6. SuBEMPREITADA

Esta modalidade contratual não possui natureza personalíssima,


-o da obra ser confiada a terceiros, desde que os
po d end oaexecuça . _ · fi d
- m a direção ou fiscahzaçao do serVIÇO, can o
mesmos nao assuma . , 1
limitados os danos resultantes de defeitos durante o nredu\lve prazo
. ( . REsp nº 803 950/RJ rel. Mmlstro Nancy Andnghi,
d e onco anos. vei · '
j. em 20.05.2010, Informativo nº 435)

• _. .• R "RTO FWUEJREOO. S<~.fiRlNA Dot'RADO 265


ANDRÉ MOTA, CRISn .... no $OUR}.L, L1 t.:IA~ll fl<,t F.IRE•lO, OUE
j CONTRATOS EM EsPÉCIE
Capítulo XJ I

11.9. DEPÓSITO (ARTIGOS 627 A 652 DO CC)

11.9.1. CONCEITO

Neste contrato, o depositário recebe um objeto móvel para guar-


dar até que o depositante o reclame, sendo em regra gratuito, exceto
se houver convenção em contrário e for fruto de atividade negocial
ou se o depositário o praticar por profissão.

_11_._9_.2_.N_A_T_u_R_E_Z_A
__J_U_R_ÍD
__ IC_A _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

a) Real - depende da entrega da coisa.


b) Unilateral- somente gera obrigações a uma das partes, todavia
excepcionalmente na hipótese do artigo 643 do CC, poderá se tornar
contrato bilateral imperfeito.
c) Gratuito- regra geral onera somente uma das partes, havendo
extraordinariamente remuneração ao depositário.
d) Informal- não obstante o deposito voluntário se provar por
escrito, não há regramento específico para a sua celebração.
e) Não solene- pode ser feito por instrumento particular.
f) Personalíssimo- o contrato será ajustado de acordo com o depo-
sitário, podendo ser afastado quando o depositário for pessoa jurídica.
g) Temporário - pode ser estipulado prazo final ou não nesta
modalidade de contrato.

11.9.3. MoDALID:".A:"D::E"':s~-----------------

a) voluntário- decorre da autonomia da vontade das partes;


b) necessário - não resulta da autonomia da vontade, sendo
subdividido em:
CONTRATOS EM ESPÉCIE !
fCapítulo XI

b.l) legal- origina-se do direito positivo;


b.2) miserável - sucede de calamidade pública;
b.3) hospedeiro- depende da guarda das bagagens de hospedes;
c)' regular- deriva de bem infungível e inconsurnível;
d) irregular- oriunda de bem fungível ou consumível;
e) judicial - possui corno finalidade resguardar a coisa até a
decisão final judicial, derivando de mandado judicial;
f) bem indivisível- diz o artigo 639 da Lei Civilista:

Artigo 639. Sendo dois ou mais depositantes, e divisível a


coisa, a cada um só entregará o depositário a respectiva parte,
salvo se houver entre eles solidariedade.

g) fechado - conforme o artigo 630 do CC:

Artigo 630. Se o depósito se entregou fechado, colado,


selado, ou lacrado, nesse mesmo estado se manterá.
o

11.9.4. DIREITOS E DEVERES DO DEPOSITÁRIO

A lei traz ao longo do texto os seguintes direitos:


a) o depositante terá o direito de obter a restituição sobre as
despesas necessárias;
b) direito de retenção do bem depositado para o caso de inadim-
plemento;
c) ser remunerado, nas hipóteses que é devida a remuneração.
Além disso, terá corno dever:
a) custodiar a coisa com o devido zelo;
b) obter autorização do depositante para usar a coisa depositada;
c) restituir o bem no prazo final, no local pactuado, se responsa-
bilizando pela coisa até a sua efetiva entrega.

ANDRÊ MOTA., CRI!oõTii,NO SOBRAL, Lu<.:JANO FIGUEIREDO, ROBf.RTO flGVEIRCDO, SA!HUNA DOURAOO 267
·--·-...----
C:lpÍLulc -x~l
I

11.9.5. DIREITOS E DEVERES DO DEPOSITANTE

_Como de~er, consta o de pagar pelas despesas referentes à manu-


tençao do deposito, bem como sobre os prejuízos que a coisa erar ao
~epos!lan~. O depositário tem o direito de ser ressarcido nogcaso de
etenoraçao do bem depositado.

11.9.6. DA PRISÃO DO DEPOSITÁRIO INFIEL

I A_rresente matéria, objeto de antigas controvérsias, foi pacificada


pe a Sumula Vmculante nº 25 do STF estabelecendo que:

11.9.7. EXTINÇÃO DO DEPÓSITO

. O presente contrato será extinto por resilição unilateral pelo .


termm~ do prazo .estabelecido, pelo perecimento da coisa, mo~te do
depos!lano
. e pela mcapacidade civil do depos·t, . Importante se faz
1 ano.

menoo_nar a Lei nº 2.313/54, prevendo que após o prazo de 25 anos se a


cmsa nao for reclamada, os bens serão recolhidos ao Tesouro Naci~nal.

11.10. DO MANDATO (ARTIGOS 653 A 692 DO CC)

11.10.1. CONCEITO

Esta modalidade contratual ocorre enquanto alguém substitui


outra pessoa, com poderes legais necessários confiados para agir em
nome do representado, atuando consoante sua vontade.

268 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA ÜVlL j y edição


j C0\1itulo XI
'
11.10.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Unilateral - gera somente obrigações ao mandatário.


b) Gratuito- se não ficar estipulada remuneração, exceto quando
se tratar de ofício ou profissão lucrativa do mandatário.
c) Oneroso- será cabível a remuneração p<ktuada entre as partes
e, na ausência, a prevista em lei de acordo com a categoria profissio-
nal, estabelecendo-se, ainda, conforme os usos e costumes do lugar
da celebração ou por arbitramento judicial.
d) Consensual- deriva da autonomia da vontade das partes.
e) Comutativo - as partes já conhecem os seus efeitos.
f) Preparatório- serve para preparar a prática de um terceiro ato.
g) Informal e não solene - inexiste previsão legal sobre o seu
íormato.

11.10.3. ESPÉCIES

a) Judicial - possui a finalidade de representar perante o Poder


Judiciário o outorgante.
b) Legal- não há instrumento por decorrer da lei.
c) Escrito- materializado por instrumento público ou particular.
d) Verbal -inexiste documento escrito, sendo evidenciado por
prova testemunhal.
e) Expresso e tácito- o primeiro se forma explicitamente através
de sua forma, podendo ser verbal ou escrito, entretanto, o segundo
se dá com a definição dos deveres em decorrência de outra pessoa.
f) Aparente -terá o mandatário o dever de remunerar, adiantar
as despesas necessárias, reembolsar as despesas feitas na execução
do mandato, ressarcir os prejuízos, honrar os compromissos assumi-
dos em seu nome, vincular-se com quem seu procurador contratou,

269
ANDRÉ MOTA, CtuSTlANO SoBR.u., LucHNO FIGuEIRUJO, Ro11nno FtGUEIRLDO, $ABRI~,, DoURADO
I CoNTRATOS EM EsPÉCIE
Capítulo XI
1

responsabilizar-se solidariamente nas hipóteses legais, pagar a remu-


neração do substabelecido e vincular-se a terceiro de boa-fé.
g) Salariado - trata-se de sbrigação de meio, em que a remune-
ração se dá independente do resultado final.
h) Geral- engloba todo o patrimônio do outorgante.
i) Especial- abrange um ou mais negócios do mandante.
j) Conjunto - quando há uma pluralidade de mandatários que
devem participar do ato designado.
l) Solidário - com cláusula in solidum, cada mandatário poderá
realizar o mistc:- '!.r;.de;-e!:.dente dos dt:>mr1is.
m) Fracionário - sempre que existir divisão de tarefas devida-
mente delimitada entre os mandatários.
n) Singular- preza pela existência de apenas um outorgado.
o) Plural- sempre que vários são nomeados no instrumento de
mandato.

11.10.4. SUBMANDATO

Contrato acessório ao mandato principal, devendo ser escrito, por


meio do instrumento de substabelecimento, e tem como objeto obriga-
ção de fazer fungível. Se houver reservas, tanto o mandatário quanto
o submandatário podem realizar as tarefas. Todavia, quando este
instrumento for sem reservas, o mandatário revoga os seus próprios
poderes perante o mandante, repassando-os para o submandatário.

11.10.5. ÜBRIGAÇÕES DO'...M"':':A"cN:'.'D':'"A~T~A~·R~IO~---------

A Lei Civil estabelece as regras gerais de obrigações do manda-


tário nos artigos 667 a 674, cuja leitura se faz obrigatória, podendo ser
listados aqui os principais deveres:

~7(\ EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3a edíção


CoNTRATOS EM EsPÉCIE I
rCapítulo XI

a) agir em nome do mandante dentro dos limites outorgados no


instrumento de mandato;
b) ser diligente na execução do contrato e indenizar no caso de
prejuízo causado por sua culpa ou de quem substabeleceu;
c) prestar contas com o mandante, transferindo as vantagens
provenientes do instrumento de mandato;
d) se identificar como mandatário perante terceiros com quem
tratar;
e) concluir a tarefa a que foi contratado.

11.10.6. ÜBRIGAÇÕES DO MANDANTE

É de extrema importância a leitura dos artigos 675 a 681 do CC,


podendo ser enumerados aqui os principais deveres:
a) satisfazer todas as obrigações contraídas pelo mandatário, na
conformidade do mandato conferido, e adiantar a importância das
despesas necessárias à execução dele, quando necessário se fizer;
b) a pagar ao mandatário pela remuneração ajustada e despesas
da execução do mandato, ainda que o negócio não surta o esperado
. efeito, exceto tendo o mandatário culpa;
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito Civil. Responsabilização de imobiliária


por perdas e danos em decorrência de falha na pres-
tação de serviço.
A imobiliária deve indenizar o proprietário pelas perdas e
danos decorrentes da frustração de execução de alugueres e
débitos relativos às cotas condominiais e tributos inadimpli-
dos na hipótese em que a referida frustração tenha sido oca-
sionada pela aprovação deficitária dos cadastros do locatário
e do seu respectivo fiador. (REsp 1.103.658-RN, Rei. Min.
Luís Felipe Salomão, julgado em 4/4/2013)

ANDR( 'VIOTA, CRJ~TIANO SOBRAl., LUCIANO FrGUI~lREDO, ROHRTO fiGUEJREDO, SABRINA DOURADO 271
C:lpítulo XI j

c) é obrigatório o mandante ressarcir ao mandatário as perdas


que
d esteI sofrer com a exe cuçao
- d o mandato, sempre que não resultem
e cu pa sua ou de excesso de poderes;
d) odmandante ficará obrigado para com aqueles com quem o seu
procura or contratou ain
•• • , • · d a que o mandatarío
f . contrarie as instruções
or1g1nanas;
t h e) o mandatário tem direito de retenção sobre a coisa de que
;n a a pnhossedem virtude do mandato, até do que se reembolsar no
esempe o o encargo despendido;

11.10.7. EXTINÇÃO DO CONTRATO

O ~C regulamenta o terna nos artigos 682 a 691 determinando


a e~hn~ao na~ ~ipóteses de revogação, renúncia, morte de uma das
par es, I~terdiçao de uma das partes, mudança de estado de uma das
partes, terrnmo do prazo e conclusão do negócio.

11.11. DO TRANSPORTE (ARTS. 730 A 756, CC)

11.11.1. CONCEITO
------------------
"P A lei civil traz no artigo 730 a d efi mçao
· - d o contrato de transporte·
te 1o contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição.
a ransportarf de um lugar para outro, pessoas ou coisas." '
Trata-se de uma obrigação de resultado, na qual a coisa ou a
pess~~ deve'r: ser transportadas com segurança. Nesse conceito está
ImpllClta· a/bclausula de -mcolumidade CUJ. o significado e' t ransportar o
passageiro agagem sao e salvo até o seu destino.

272 EonoRA ARM'\.DOR I PRÁTICA CiVIL I .'V edição


11.11.2. NATUREZA JURÍDICA
;c____c.:_---

a) Bilateral ou sinalagmático - deveres proporcionais para as


partes.
b) Consensual- formado pelo consenso das partes, independente
da entrega da coisa ou passageiro. Sua validade :[lão está ligada à
entrega da coisa/pessoa, pois essa corresponde à execução contratual.
c) Comutativo - as prestações já são conhecidas pelas partes.
d) De adesão - o transportador é quem em geral impõe as cláu-
sulas contratuais (art. 54, CDC e arts. 423 e 424 do CC): Destaca-se
que nada obsta que ele seja paritário, podendo as partes discutir as
cláusulas.
e) Informal e não solene- não há solenidade e exigibilid21de para
a sua realização.

~ATENÇÃO!
Conforme redação do artigo 730, o contrato se opera mediante
retribuição. No entanto, a onerosidade não é essencial ao con-
trato podendo ser o transporte gratuito.

11.11.3. NORMAS APLICÁVEIS AO CONTRATO DE TRANSPORTE

O artigo 731 prevê que o transporte exercido em virtude de auto-


rização, permissão ou concessão, rege-se pelas normas regulamentares
e pelo que for estabelecido naqueles atos, sem prejuízo do disposto na
lei civil. Menciona-se que a parte final do artigo sob comento trata da
possibilidade do diálogo das fontes, como exemplos, entre os Códigos
Civil e o de Defesa do Consumidor.
A lei estabelece regras de direito privado, no entanto, há res-
salva para as hipóteses relativas ao transporte público que pode ser
executado de forma direta ou através de delegação ao particular, por
concessão (delegação bilateral), permissão (licitação da prestação

273
ANDRE MaTA, CRlSTJA;;o SoBRAl, LuUANO Fl(;cuREDO, \Ül!lfRTO f'IGl'ElREDO, SAllRJSA DoUR\DO
) CONTRATOS EM ESPÉCIE

C1pítu\o Xll

de serviços públicos) ou autorização (ato administrativo unilateral,


precário e discricionário).
O artigo 732 dispõe que: "Aos contratos de transporte, em geral,
são aplicáveis, qu.?ndo couber, desdtl que não contrariem as disposi-
ções deste Código, os preceitos constantes da legislação especial e de
tratados e convenções internacionais".

:l ATENÇÃO!
As Convenções de Varsóvia e de Montreal limitam a indeniza-
ção em caso de perda/extravio de bagagem ou atraso de voo em
viagens internacionais. Porém, diante do CDC, não prevalece
mais a tarifação limitada em respeito ao direito básico da repa-
ração integral dos danos (art. 6º, VI, da Lei nº 8.078/1990). (sobre
o tema ver a Recursão Geral no RE nº 636.331, STF, que trata da
antinomia entre a Convenção de Varsóvia e o CDC no caso de
indenização por extravio de bagagem em voo internacional,
Informativo nº 745).

O transporte cumu !ativo figura na redação do artigo 733:

Art. 733. Nos contratos de transporte cumulativo, cada


transportador se obriga a cumprir o contrato relativamente
ao respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causa-
dos a pessoas e coisas.
§ F O dano, resultante do atraso ou da interrupção da
viagem, será determinado em razão da totalidade do percurso.
§ 2'. Se houver substituição de algum dos transportadores
no decorrer do percurso, a responsabilidade solidária esten-
der-se-á ao substituto.

A unidade do contrato de transporte induz à solidariedade.


Aqui mais uma vez se apresenta de forma implícita a cláusula de
incolumidade.

~;,,~n, .. AllMAnon 1 PRÁTICA CIVIL I Y edição


CONTRATOS EM EsPÉCIE I
[Capítulo XI

11.11.4. TRANSPORTE DE PESSOAS

Esta modalidade está disciplinada no artigo 734 do diploma


civil que diz que o transportador responde pelos danos causados às
pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior,
sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade. Sendo
lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim
de fixar o limite da indenização.
Trata-se obrigação de resultado do transportador, gerando ares-
ponsabilidade civil objetiva baseada na teoria do risco. O risco não é
integral, pois poderá ser excluído pela força maior/fortuito (expressões
cr.:preg~d;:~s como sinônimas pela jurisprudência).
Será excluída a responsabilidade somente se for considerado
fortuito externo. O fortuito interno está atrelado a uma causa conexa.
Exemplo: no caso de mal-estar de um motorista; já o externo, diz res-
peito a uma causa desconexa, exterior. Exemplo: Assalto.
O artigo sob comento reforça a Súmula nº 161 do STF dispondo
que: "Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não
indenizar.u
A boa-fé é enfatizada no§ 1º do artigo, pois garante a licitude do
transportador exigir a declaração do valor da bagagem.
Prevê a lei: "Art. 735. A responsabilidade contratual do trans-
portador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de
terceiro, contra o qual tem ação regressiva." Esse entendimento vem
solidificado pelo STF no verbete da Súmula nº 187.
O artigo 736 do Código Civil determina que não se subordina às
normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade
ou cortesia. E ainda que não se considere gratuito o transporte quando,
embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens
indiretas.
Baseado neste dispositivo, citamos o posicionamento do STJ
presente na Súmula nº 145: "No transporte desinteressado, de simples
cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave".

ANCRt .\hrr,\, CRJST!ANO SOJ.>RAJ., LuCJANO FlGUlllREDO, ROBLRTo FlGUEuu;no, SMRJNA DouRADO 275
L:ipltlllü Xlj

Como observa o artigo 737: "O transportador está sujeito aos


horários e itinerários previstos, sob pena de responder por perdas e
danos, salvo motivo de força maior".
Percebe-se mais urna vez a obrigação de resultado e a incidên-
cia da responsabilidade civil objetiva fundada no risco. Passageiros
considerados inconvenientes, que não estejam em c?ndições de viajar,
podem ser impedidos pelo transportador. Assim é a disposição do
artigo 738:

Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às nor-


mas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete
ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer
atos que causem incômodo ou prejuízo aos passageiros, daní~
fiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução nor-
mal da ser·viçc.
Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa trans-
portada for atribuível à transgressão de normas e instruções
regulamentares, o jaiz reduzirá equitativamente a indeniza-
ção, na medida em que a vítima houver concorrido para a
ocorrência do dano.

O parágrafo único do artigo citado volta a referir a culpa concor-


rente presente no artigo 945 da presente lei civil.
Em complementação ao artigo 738, citamos a disposição contida
no artigo 739 que prevê que o transportador não poderá recusar
passageiros, exceto nos casos previstos nos regulamentos, ou se as
condições de higiene ou de saúde do interessado o justificarem.
Dialogando com o CDC, insta mencionar o artigo 39, li, que afirma
ser prática abusiva o não atendimento às demandas dos consumidores.
O artigo 740 prevê a possibilidade de resilição contratual pelo
passageiro, apesar de a lei mencionar urescisão". Vejamos:

Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato


de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a
restituição do valor da passagem, desde que feita a comunica-
ção ao transportador em tempo de ser renegociada.

276 EonoR.A ARMADOR 1 PRÁTICA CJVtL 1 Y t.:di~ão


! (.;,pítulo XI

§ 1º. Ao passageiro é facultado desistir do transporte,


. de z'nz'ciada a viagem sendo-lhe devzda a res-
mesmo depozs ' - ·· d
tituição do valor correspondente ao trecho nao utzlzza o,
desde que provado que outra pessoa ha;a szdo transportada
em seu lugar.
§ 2º Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o
, : que dez·xa"' de eJabarcar' salvo se provado
usuano , que outra,
pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe sera
restituído o valor do bilhete aão zdzlzzado.
§ 3º. Nas hipóteses previstas neste artzgo: o traz:.sportador
terá direito de reter até cinco por cento da zmportancz~ ~ ser
restituída ao passageiro, a título de multa compensatorza.

:l ATENÇÃO!
. -'-~ ~ ........... 5.. . . ...-oo-11 b o~ r.:'lsns de overbookinsz ou over-
~a~~~~~~~1~~; l~:;;;i~ov; ;~~i~a ~b~~iva de os.t~ansp~rtadores
venderem mais passagens do que assentos existentes.

A obrigação de resultado é reforçada na redação do artigo 741:

A1·t. 741. Interrompendo-se a viagem por qualquer m~tivo


alheio à vontade do transportador, ainda que em consequencza
de evento imprevisível, ficr ele obrigado a concluzr o trans-
orte contratado em outro veículo da n:esma ~ategorza~ ou,
pcom a anuen- cz·a do passageiro' por modalidade diferente, adsua
sta correndo também por sua conta as despesas de esta a e
~~im:ntação do usuário, durante a espera de novo transporte.

O diploma civilista no artigo 742 não trata de penhor legal, mas


sim de direito pessoal de retenção sobre a bagagem do passageiro;
Nesta medida, o transportador, uma vez realizado o transporte, pode~a
reter a bagagem e outros objetos pessoais do pas~ageuo, ~ fim . e
garantu. o pagamento d o v alor da passagem que nao tJver sido feito
no início ou dUrante o percurso.

- '. r I:EIRtiDO. ROIH.kTO FlGI)[lRl-llO, SM>RJSA DouR.\I)Ú


277
ANnRE. MOTA, CRISTIANO SoBRAL, LuciANO IG
!CONTRATOS EM EsPÉCIE
C;:~pítulo XI I

11.11.5. TRANSPORTE DE COISAS

Tudo aquilo que for transportado nfcessita de identificação


para que se evite a confusão com outras l:oisas. Esta identificação
será feita por meio de um documento denominado conhecimento,
no qual devem constar os dados do transportador, do remetente e do
destinatário. Aqui deve ser observada a boa-fé objetiva com função
integrativa. No artigo a seguir transparece a modalidade da estipu-
lação em favor de terceiro. (art. 743, CC).
Conforme redação do artigo 744, a informação constitui elemento
essencial ao contrato de transporte: uAo receber a coisa, o transportador
emitirá conhecimento com a menção dos dados que a iàentiíiq lléú\
o!:Jedecido o disposto em lei especial. Parágrafo únlco. O transporta-
dor poderá exigir que o remetente lhe entregue, devidamente assinada,
a relação discriminada das coisas a serem transportadas, em duas
vias, uma das quais, por ele devidamente autenticada, ficará fazendo
parte integrante do conhecimento."
Examina-se o conhecimento de frete ou de carga.
Dispõe o artigo 745 que:

Art. 745. Em caso de informação inexata ou falsa descri-


ção no documento a que se refere o artigo antecedente, será o
transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo
a ação respectiva ser ajuizada no prazo de cento e vinte dias,
a contar daquele ato, sob pena de decadência.

O prazo previsto no artigo sob comento possui natureza deca-


dencial, entretanto entendemos que houve um equívoco na lei, pois
se a ação busca uma condenação, esse prazo deveria ser prescricional.
De acordo com o artigo 746 do CC, a embalagem deve estar em
conformidade com o transporte, podendo o transportador recusar a
coisa cuja embalagem seja inadequada, bem como a que possa pôr
em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e outros bens.
Na hipótese de o objeto ser ilícito, o transporte também o será.
Nesta hipótese, deve o transportador obrigatoriamente recusar a
coisa cujo transporte ou comercialização não sejam permitidos, ou

"'"''~'"'' Aun.A<vw I PRÁTICA CIVIL ! 3" edição


CONTRATOS EM ESPÊCIE I
jcapítuiv Xl

que venha desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou


regulamento (artigo 747, CC). Resumindo, trata-se de um dever legal
de recusa por parte do transportador.
Na leitura do art. 748, CC podemos verificar o denominado
stoppage in transita ou variação do destino de carga. Veja-se: "Até
a entrega da coisa, pode o remetente desistir do transporte e pedi-la
de volta, ou ordenar seja entregue a outro destinatário, pagando, em
ambos os casos; os acréscimos de despesa decorrentes da contraordern,
mais as perdas e danos que houver."
O artigo 749 ilustra a cláusula de incolumidade, desta vez no con-
trato de transporte de coisas, prevendo que o transportador conduzirá
.1 coi~a ao seu destino, tomando todas as cautelas necessárias para

mantê-la em bom estado e entregá-la no prazo ajustado ou previsto.


A mesma cláusula ainda pode ser verificada nos artigos 750 e 751:
<

Art. 750. A responsabilidade do transportador, limitada


ao valor constante do conhecimento, começa no momento em
que ele, ou seus prepostos, recebem a coisa; termina quando
é entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, se aquele
não for encontrado.

Art. 751. A coisa, depositada ou guardada nos armazéns


do transportador, em virtude de contrato de transporte, rege-
·se, no que couber, pelas disposições relativas a depósito.

A limitação presente no artigo 750 não se adequa à relação de


consumo, pois o artigo 6°, VI, da Lei 8.078/90, CDC prevê a restituição
integral dos danos.
A boa-fé objetiva conflita com o artigo 752, pois há um equívoco
com relação ao dever de informação do transportador. Prevê .a norma
civilista:

Art. 752. Desembarcadas as mercadorias, o transporta-


dor 12âo é obrigado a dar aviso ao destinatário, se assim não
foi convencionado, dependendo também de ajuste a entrega
a domicílio, e devem constar do conhecimento de embarque
as cláusulas de aviso ou de entrega a domicílio.

ANnRf 1\loT.\, L'Rll;Tlt\No Soi!R,u., LVCJANO F1GUEJREOO, RoBERTO f){;UEJREPO, SAIIRINA DouR-\DO
279
Capítulo XI j

O dever de boa-fé, especificamente com relação ao zelo está dis-


posto no artigo 753:

Art. 753. Se o transporte não puder ser Jeito ou sofrer


longa interrupção, o transportador solicitará, incontinenti,
instruções ao remetente, e zelará pela coisa, por cujo pereci-
mento ou deterioração responderá, salvo força maior.
§ 1'. Perdurando o impedimento, sem motivo imputável ao
transportador e sem manifestação do remetmte, poderá aquele
depositar a coisa em juízo, ou t•endê-la, obedecidos os preceitos
legais e regulamentares, ou os usos locais, depositando o valor.
§ 2'. Se o impedimento for responsabilidade do transporta-
dor, este poderá depositar a coisa, por sua conta e risco, mas
só poderá vendê-la se perecível.
§ 3º. Em ambos n5 cnsDs, o tmnsportr._dor dez.H! i11jormar a
remetente da efetivação do depósito ou da venda.
§ 4'. Se o transportador mantiver a coisa depositada em
seus próprios armazéns, continuará a responder pela sua
guarda e conservação, sendo-lhe devida, porém, uma remu-
neração pela custódia, a qual poderá ser contratualmente
ajustada ou se conformará aos usos adotados em cada sistema
de transporte.

Há um equívoco na lei ao realçar mais uma vez a decadência


no parágrafo único do artigo 754, quando se trata em realidade de
prescrição. No caput o prazo é para a reclamação e no parágrafo único
para ação:

Art. 754. As mercadorias devem ser entregues ao desti-


natário, ou a quem apresentar o conhecimento endossado,
devendo aquele que as receber conferi-las e apresentar as
reclamações que tiveJ; sob pena de decadência dos direitos.
Parágrafo único. No caso de perda parcial ou de avaria não
perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua
ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em
dez dias a contar da entrega.

280 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL I Y edição


Havendo dúvida sobre quem seja o destinatário, o tran~portador
· · · ão lhe for posswel obter
deve depositar a mercadona em JUIZO, se n . . -
- d remetente· se a demora puder ocasiOnar a detenoraçao
instruçoes o • . d ld em
da coisa, o transportador deverá vendê-la, deposltan o o sa o
. ízo conforme disposto no artigo 755, CC. . .
JU E por fim, 0 artigo 756 do Código Civil que trata da sohdanefade
no transporte cumulativo:
Art. 756. No caso de transporte cumulativo, todos os
transportadores respondem solidariamen~e pelo dano causado
perante 0 remetente, ressalvada a apuraçao final da responsa-
bilidade entre eles, de modo que o ressarcimento recata, por
inteiro, ou proporcionalmente, naquele ou naqueles em CUJO
percurso houver ocorrido o dano.

Sobre o tema, ver ainda a Lei nº 11.442/2007 que dispõe sobre o


viário de cargas por conta de terceiros e medwnte
transpor te ro do
remuneração.

l1.1 2 . DO SEGURO (ARTS. 757 A 802, CC)

11.12.1. CONCEITO E A SOCIALIZAÇÃO DOS RISCOS

Este contrato pode ser analisado através do artigo 757 do Código


Civil:

Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obrig~.


mediante 0 pagamento do prêmio, a garantiY mteresse legz-
timo do segurado, relativo à pessoa ou a co1sa, contra rzscos
predeterminados.
Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de
s~guro, como segurador, entidade para tal fim legalmente
autorizada.

·RTO FIGUEIREDO S.o.l\!\1-.;,\ DOI.iRADO 281


ANDRÊ MOT,\, CRISTIANO SOBRAL, LUCIA~O FlGVE!RllLJO, R OBE ·' . .
l CONTRATOS EM ESPÉCIE
Capitulo XI l
O seguro tem por função econômica socializar riscos entre os
segurados. A seguradora recebe de cada um o prêmio, calculado de
acordo com a probabilidade de ocorrência do evento danoso. Todavia,
- I -' .
obriga-se a dar garantia, pagando certa prestaçao pecumana ao segu-
rador ou a terceiros beneficiários, em geral de caráter indenizatório,
no caso de ocorrência do sinistro.

11.12.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Bilateral ou sinalagmático - os direitos e deveres sã.o propor-


cionais para ambas as partes.
b) Oneroso- o prêmio representa a remuneração a ser paga pelo
segurado ao segurador. Vigendo o contrato, os prêmios pagos não são
irrepetiv:_isr haja vista sua natureza aleatória.
c) Consensual- se forma pela vontade das partes, pelo consenso.
d) Aleatório - é aquele que sua natureza apresenta o risco.

:l ATENÇÃO!
Parte da doutrina sustenta a natureza comutativa do contrato
de seguro, tendo em vista que o risco poderia ser determinado
com base em cálculos.

e) Adesão - aquele autorizado por autoridade competente ou


estipulado por uma das partes, em regra a seguradora.

11.12.3. REQUISITOS DO CONTRATO

O contrato de seguro deverá ser feito por escrito, vedada a forma


verbal e é provado por meio da exibição da apólice ou do bilhete do
seguro, e, se ausentes, por documento comprobatório do pagamento
do respectivo prêmio (art. 758, CC).
CONTRATOS EM ESPÉCIE I
féapítu!o XI

A proposta é fase contratual na qual dever estar presente a boa-


-fé objetiva, pois o segurado obriga-se a dar todas as informações
com base na lealdade e na confiança, tornando possível à seguradora
avaliar os riscosr aceitar ou não o contrato e valorar o prêmio a ser
pago. Assim, a emissão da apólice deverá ser precedida de proposta
escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser
garantido e do risco (art. 759, CC).
Com base no artigo 760 da lei civil:

Art. 760. A apólice ou o bilhete de seguro serão nomina-


tÍl'OS, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assu-
midos, o início e o fim de sua validade, o limite da !!,arantia e
o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do segurado e
o do beneficiário.
Parágrafo único. No seguro de pessoas, a apólice ou o
bilhete niío podem ser ao portador.

Conforme disposto, o contrato de seguro deve sempre apresentar


uma interpretação restritiva, não se admitindo a ampliação da álea
e dos termos.
O cosseguro tem previsão na redação do artigo 761 do Código:
//Quando o risco for assumido em cosseguro, a apólice indicará o
segurador que administrará o contrato e representará os demais, para
.todos os seus efeitos."
Tal instituto diz respeito a uma operação securitária na qual duas
ou mais seguradoras, com a concordância do segurado, compartilham,
em percentuais previamente estabelecidos, os riscos de uma apólice
de seguro, respondendo cada cossegurado unicamente pelo limite
da responsabilidade assumida. No cosseguro, também é admitida
a pluralidade de apólices para cada cosseguradora e não existindo
responsabilidade solidária entre elas.
É nulo o contrato de seguro em que tenha por objeto a cobertura
de atividades ilícitas ou de ato doloso do segurado. A hipótese atinge o
plano de validade do negócio jurídico, tratando-se de nulidade textual,
consoante à conjugação dos artigos 104,166, Vl, e 762 da norma civilista.

A'IDRÉ MOH, ClttSTlANO SOBRAl-, LUCIANO F!GUiiiREDO, ROBERTO F!G\JHRliDO, SAtllllNA DOURAOO 283
C;pittdo XII

:l ATENÇÃO!
De acordo com entendimento jurisprudencial, a embriaguez, por
si só, não constitui causa de exclusão da cobertura securitária,
sendo necessária a prova de que o agravamento de risco dela
decorrente influiu, decisivamente, na ocorrência do sinistro.

A lei adverte que não terá direito à indenização o segurado que


estiver em mora no pagamento do prêmio e se ocorrer o sinistro antes
de sua purgação (art. 763, CC). A regra em questão é um meio de exce-
ção do contrato não cumprido, e não forma de resolução do contrato.
Merece a devida atenção a teoria do adimplemento substancial ou
substancial performance, que é outra modalidade de impedimento da
resolução do negócio.
Dispõe o artigo 764 do diploma civil que salvo disposição especial,
o fato de o risco não ter sido verificado, em previsão do qual se faz o
seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio. Fica demonstrada
a natureza aleatória desse negócio, estando em consonância com o
artigo 757 do CC.
A boa-fé objetiva se encontra destacada no artigo 765:
O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão
e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto
a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele
concernentes.
Importa citar a Súmula nº 302 do STJ, que está em total consonân-
cia com a boa-fé objetiva: "É abusiva a cláusula contratual de plano
de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado."
A Súmula nº 469 do STJ trata da aplicação da lei consumerista a
essa relação contratual: "Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor
aos contratos de plano de saúde."
A boa-fé objetiva se faz presente ainda na redação do artigo 766
do Código Civil dispondo que:

Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante,


fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que pos-
sam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio,

284 EotnW.A AR.\!ADOR 1 PRÂTICA CiVIL 1 3' edição


perderá 0 direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio
vencido.
Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas decla~
racões não resultar de má-fé do segurado, o segur~dor tera
di;eito a resolver 0 contrato, ou a cobrm~ mesmo apos o smis-
tro, a diferença do prêmio.

No seguro à conta de outrem, o segurador pode opor ao segurado


exce~ões que contra o estipulante, por descumpr~ment~ das norm~s
de conclusão do contrato, ou de pagamento do premw, e o que expoe
0artigo 767 do CC. . ·
O segurado perderá o direito à garantia se agravar mtenc!Ona1:
mente o risco objeto do contrato (art. 768, CC). Novamente aqm e
privilegiada a boa-fé objetiva. _ __, '"
~ Pode-se afirmar que a boa-fé se presume, mas nau a uw-J.c:.

:l ATENÇÃO!
Súmula nº 465, STJ: "Ressalvada a hipótese de efetivo
agravamento do risco, a seguradora não se exrme do dever
de indenizar em razão da transferência do veículo sem a sua
prévia comunicação."

O dever de informação, em plena intimidade com a boa-fé, figura


no artigo 769 do CC. Note:

Art. 769. 0 segurado é obrigado a cm;wnicar ao segura-


dor, logo que saiba, todo incidente suscetzvel de agravar con:
sideravelmente 0 risco cabalo, sob pena de perder o dzrezto a
garantia, se provar que silenciou de má-fé. . . .
§ lº. 0 segurador, desde que 0 Jaça no_:; qumze dzas segum-
tes ao recebimento do aviso da agravaçao do nsco sem culp~
do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escnto, de sua decz-
são de resolver o contrato. . ..
· § 2º. A resolução só será eficaz trinta dias apos a notifi-
cação, devendo ser restituída pelo segurador a diferença do
prêmio.

· · · 1 c 'J IRJ'')O S-\llRW\ L\0\'R.\NJ 285


ANDRliMon, CRI~n,p.;o SoBR~L, LLCII\KO ftGUI'JRFPO, Ronuuo · 1 L· -• •'
l CONTRATOS EM ESPÉCIE

Capítulo XI
1

Por outro viés, o artigo 770 do diploma civil dispõe que salvo
estipulação em contrárior a diminuição do risco no curso do contrato
não acarreta a redução do prêmio estipulado; no entanto, caso seja
considerável a redução do riscof o segurado poderá Elxigir a revisão
do prêmio, ou a resolução do contrato.
A falta de comunicação do sinistro é apresentada pela lei no
artigo 771, que assegura que:

Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização,


o segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o
saiba, e tomará as providência:;; imediatas para minorar-lhe
ab CUJbt:L-fuêllciüs.
Parágrafo único. Correm à conta do segurador, até o
limite fixado 110 contrato, as despesas de salvamento canse-
quente ao sinistro.

Em síntese, o atraso não motivado acarreta a perda do direito à


indenização.
Caso haja mora do segurador no pagamento do sinistro, o mesmo
será obrigado à atualização monetária da indenização devida de
acordo com índices oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuízo
dos juros moratórios, segundo estatui o artigo 772 do CC.
O artigo 773 CC apresenta penalidade à seguradora que age de
má-fé, prevendo que caso o segurador que, ao tempo do contrato, ter
conhecimento de estar passado o risco de que o segurado se pretende
cobrir, e, não obstante, expede a apólice, pagará em dobro o prêmio
estipulado.
A fim de garantir um pacto equilibrado e que seja protegida a
função social do negócio, reza o artigo 774 do CC: "A recondução tácita
do contrato pelo mesmo prazo, mediante expressa cláusula contratual,
não poderá operar mais de uma vez". Tal regra está em total sintonia
com as disposições do coe, precisamente com o disposto no rol
exemplificativo das práticas e cláusulas abusivas dos artigos 39 e 51.
Conforme o artigo 775 do diploma civil, o corretor de seguros é o
agente autorizado do segurador, sob exame: "Os agentes autorizados
CoNTRATos EM ESPÉCIE /
/capítulo XI

do segurador presumem-se seus representantes para todos os atos


relativos aos contratos que agenciarem".
, Caso o.corretor cause danos ao segurado, a seguradora respon-
dera sohdanamente com o mesmo ou por ele. Podemos assim concluir
da análise dos artigos 932, inc. UI, do CC e 34 do CDC.
Antes de ingressar no seguro de dano, o segurador é obrigado a
pagar em dinheiro o prejuízo resultante do risco assumido, salvo se
convencior,ada a reposição da coisa (artigo 776, CC).

:J ATENÇÃO!

Súmula nQ 188, STF: "O segurador tem ação regressiva


cun~ru. u cmt:;;~dur du dano, pelo que eÍelivamente pagou, até
ao lzmzte prevzsto 110 contrato de seguro".

11.12.4. SEGURO DE DANO

Essa espécie de seguro está prevista no artigo 778 da lei civil:

Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não


pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento
da conclu~ão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e
sem preJuzzo da ação penal que no caso couber.

Assim, o segurador terá o ônus da prova de que o valor excede


o do bem e ainda que o segurado agiu de má-fé.

:l ATENÇÃO!

Súmul~ nQ 31, STJ: ':4 aquisição, pelo segurado, de mais


de um nnovel financzado pelo Sistema Financeiro da Habita-
ção, situados na mesma localidade, não exime a seguradora
da obrigação de pagamento dos seguros."

O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes


o.u _conseq~entes, como sejaxn os estragos ocasionados para evitar 0
smzstro, mmorar o dano, ou salvar a coisa (art. 779, CC).

ANo11.f Mon~' Cll.JST s •


, !ANO' OBHAL, 1.Ut.:lANQ 1·JGU!'\R);l)O, ROBERTO FlGUElREDO, SAil.R!NA 00URA1l0
287
Qualquer cláusula que vá contra ao previsto na norma será tida
como nula.

:>ATENÇÃO!

Súmula n• 402, ST]: "O contrata de seguro por danas


pessoais compreeHde os danos morais, salvo cláusula expressa
de exclusão".

O contrato coligado está presente no artigo 780 do CC: "A vigência


da garantia, no seguro de coisas transportadas, começa no momento
em que são pelo transportador recebidas, e cessa com a sua entrega
ao destinatário." Diz-se coligado, pois se estabelece pela soma do
contrato de seguro mais o de transporte.
Os parân1etros para a indenização securitária estão expostos no
artigo 781 da legislação civilista:
A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado
no 1nomento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da
garantia fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador.
Merece destaque o princípio do justo ressarcimento, pois tal
contrato não tem como fim enriquecer o segurado.
É possível a cumulação de seguros ou o chamado seguro duplo
e a mesma pode ser observada na redação do artigo 782 do CC:
O segurado que, na vigência do contrato, pretender obter novo
seguro sobre o mesmo interesse, e contra o mesmo risco junto a outro
segurador, deve previamente comunicar sua intenção por escrito ao
primeiro, indicando a soma por que pretende segurar-se, a fim de ?e
comprovar a obediência ao disposto no art. 778.
De acordo com o artigo 783 do CC pode ser realizado o seguro
parcial: "Salvo disposição em contrário, o seguro de um interesse por
menos do que valha acarreta a redução proporcional da indenização,
no caso de sinistro parcial."
Nessa hipótese, evidencia-se o dispositivo que aborda a chamada
cláusula de rateio, quando a cobertura contratada é inferior ao valor
da coisa e dos danos.
O artigo 784 da lei civil exclui do dever de indenizar o chamado
vício ou defeito intrínseco. Entende-se por vício intrínseco o defeito

288 Eo!TORA AR\lADOR ! PRÁTICA CiVIL 1 3" edição


, · da coisa que se não encontra normalmente em outras da
propno '
mesma espécie. , .
0 contrato de seguro não é personahssimO e, portanto, a regra
do artigo 785 do CC permite que:

Art. 785. Salvo disposição em contrário, admite-se a trans-


ferência do contrato a terceiro com a alienação ou cessao do
interesse segurado. , . .
§ 1º. Se 0 instrumento contratu~l e nommatwo, a tr_ans-,
ferência só produz efeitos em relaçao ao segurado; medzantc
aviso escrito assinado pelo cedente e pelo cesswnarw.
§ 2º. A apólice ou o bilhete à ordem só se transfere por
endosso em preto. datado e assinado pelo endossante e pelo
endossatário.

O artigo 786 cuida da sub-rogação legal:

Art. 786. Paga a indenização. o segurador sub-roga-se, nos


limites do valor respectivo, nos direitos e ações que competi-
rem ao segurado contra o autor do dano.
§ 1º. Salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano
foi causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou
ascendentes, consanguín.eos ou afins. . .
§ 2º. É ineficaz qualquer ato do segurado que dzmznua o~z
extinga, em prejuízo do segurador, os dzreztos a que se rejeJe
este artigo.

:>ATENÇÃO!
A regra descrita não se aplica ao seguro de pessoas, conforme
prevê o art. 800 da lei civil.

A lei prevê regras para a hipótese de o segurado causar danos a


terceiros. Vejamos:

, Art. 787, No seguro de responsabilidade civil, o segurador


garante 0 pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado
a terceiro.

ANORfr MOTA, (RJST!A:'<O $O\IRAt, LUCIANO flGUf.IREOO, ROBERTO FWUE!RE[)O, SABRINA DOURAUO
289
ICONTRATOS EM ESPÉCIE
Capítulo XI I

§ 1'. Tão logo saiba o segurado das consequências de ato


seu, suscetível de lhe acarretar a responsabílidade incluída na
garantia, comunicará o fato ao segurador.
§ 2º. É defeso ao segurado reconhecer sua respono,abilidade
ou confessar a ação, bem como transigir com o terCeiro pre-
judicado, ou indenizá-lo diretamente{ sem anuência expressa
do segurador.
§ 3º. Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência
da lide ao segurador.
§ 4'. Subsistirá a responsabilidade do segumdo perante o
terceiro, se o segurador for insolvente.

O artigo citado apresenta alguns probleHld::., ctv dêlo2rrrünar que


não poderá o segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar
a ação, bem como transigir com o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo
diretamente, sem anuência expressa do segurador. Isso fere a função
social do contrato, bem como o princípio da reparação integral dos
danos.
Sobre o tema, observe:

Súmula n" 529, STJ: "No seguro de responsabilidade


civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro
prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do
apontado causador do dano."

Súmula n" 537, STJ: "Em ação de reparação de danos, a


seguradora denunciada, se aceitar a denunciação 011 contestar
o pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente
junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à
vítima, nos limites contratados na apólice."

Quando intentada a ação em face do segurado, a este será dada a


ciência da lide por intermédio do chamamento ao processo de acordo
com artigo 130, III, do CPC/15.
No caso dos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios,
a indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao
terceiro prejudicado. Demandado em ação direta pela vítima do dano,

EDITORA ARMADOR I PR,\TlCA CIVIL I 3" edição


CONTRATOS EM ESPÉCIE I
)capitulo XI

0 segurador não poderá opor a exceção de contrato não cumprido pelo


segurado, sem promover a citação deste para integrar o contraditório.
(artigo 788, cq.

--- _______
11.12.5. SEGURO DE PESSOA
,

O capital segurado poderá ser livremente pactuado entre as par-


tes, não obedecendo ao princípio indenitário. Em síntese, a indenização
pode não corresponder ao valor do prejuízo. Reza a lei:

Art. 789. Nr:=: seguras de pessnas, o capital segurada é


livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar
rnais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo
ou diversos seguradores.

No seguro sobre a vida de outros, o proponente é obrigado a


declarar o seu interesse pela preservação da vida do segurado, sob
pena de falsidade. Até prova em contrário, presume-se o interesse,
quando o segurado é cônjuge, ascendente ou descendente do propo-
nente, de acordo com a redação do artigo 790 do CC Há um equívoco
na norma, pois omitiu a figura do companheiro.
A lei prevê a possibilidade de o segurado substituir-se a qualquer
· tempo e ainda sem a justificação. Trata-se de uma prerrogativa:

Art. 791. Se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o


seguro não tiver como causa declarada a garantia de alguma
obrigação, é lícita a substituição do beneficiário, por ato entre
vivos ou de última 'VOntade.
Parágrafo único. O segurador, que não for cí,entificado
oportunamente da substituição, desobrigar-se-á pagando o
capital segurado ao antigo beneficiário.

Não sendo indicada a pessoa ou beneficiário, ou por qualquer


motivo não prevalecer aquela que fora objeto de indicação, o capital
segurado será pago desta forma: metade ao cônjuge não separado
judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a

At..;DRÉ ,\1(>TA, CRJSllANO SOBRAl-, LliCl,\'>10 FtGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, 5ABRINA 00\JRAllO 291
: ____ ..

ordem da vocação hereditária. Caso inexistam tais pessoas, serão


beneficiários aqueles que provarem que a morte do segurado os pri-
vou dos meios necessários à subsistência, de acordo com disposição
do artigo 792 do CC. A lei civilista destaca o termo separação judicial,
porém é oportuno lembrar que entendemos que com a EC nº 66/2010
esta f:gura foi retirada do nosso ordenamento.
O artigo 793 do CC enuncia que é válida a instituição do com-
panheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era
separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato.
Fazemos neste ponto a mesma ressalva quanto à figura da
separação.
O capital do seguro de vida pertence ao beneficiário não estando
sujeito às dívidas do segurado, nem é considerado como herança. Esse·
é o entendimento do artigo 794 do CC.
Deitando bases na função social e na boa-fé objetiva, o artigo 795
da norma civilista salienta que: "É nula, no seguro de pessoa, qualquer
transação para pagamento reduzido do capital segurado."
O prêmio, no seguro de vida, será conveniado por prazo limitado,
ou por toda a vida do segurado. Em qua)quer hipótese, quando for
individual, o segurador não terá ação para cobrar o prêmio vencido,
cuja falta de pagamento, nos prazos previstos, acarretará consoante
se estipular, a resolução do contrato, com a restituição da reserva já
formada, ou a redução do capital garantido proporcionalmente ao
prêmio pago, de acordo com redação do artigo 796, CC.
Na ocorrência de morte, é lícito estipular-se um prazo de carên-
cia, durante o qual o segurador não responde pelo sinistro. Nesse
caso, o segurador é obrigado a devolver ao beneficiário o montante
da reserva técnica já formada (art. 797). Percebe-se que a lei não fixa
um prazo, desta forma o mesmo deverá ser pautado no princípio da
razoabilidade.
O artigo 798 do diploma civil dispõe que o beneficiário não tem
direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primei-
ros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução
depois de suspenso, observado o disposto no parágrafo único do
artigo 797. Será nula a cláusula contratual que excluí o pagamento do
capital por suicídio do segurado.

292 EDlTORA ARMADOR 1 PRÂTICA CiVIL 1 Y edição


:J ATENÇÃO!
Súmula n' 61 do STJ. O seguro de vida cobre o suicídio
não premeditado.
' la nQ 105 do STF. Salvo se tiver havido dpremedita-
Sumu , .
ção, o suicídio do segurado no período contratual e camlCla
não exime o segurador da pagamento do seguro.

O segurador não pode eximir-se ao pagarnent'> do seguro, ainda


ue da apólice conste a restrição, se a morte ou a mcapaCldade do
q d · da utilizacão de meio de transporte rnms arnscado,
d:
se(Tura o prov1er ~ d
prestacão de serviço militar, da prática de esporte, ou d;' atos e
humanid~de em auxílio de outrem (art. 799, CC). A referenCla a~s
atos de humanidade em auxílio de outrem sigmfica aqueles que sao
praticados êl1L estado de necessidad~-
- Nos seguros de pessoas, é defeso ao segurador sub-rogar-se nos
. .t e ações do segurado, ou do beneficiário, contra o causador do
dIte! os - h, d. .t d esso
sinistro. Desta maneira, no seguro de pessoas nao a uel o e regr .
O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa natural ou
jurídica em proveito de grupo que a ela, de qualquer modo, se vmcule;
estipulante não representa 0 segurador perante o grupo segurado, e e
0
, · sa'vel para com 0 segurador, pelo cumprimento de todas
o uruco respon , , . . d d
as obrigações contratuais. A modificação da apohce em vigor epen e-
rá da anuência expressa dos segurados que representem 3/4 do grupo.
0 gàrantia de reembolso de despesas não é o~jeto do contrato
de seguro de pessoas, mas sim do seguro de dano as despesas hos-
'd. bem corno as despesas onundas
pitalares ou de tratamento me !CO,
de luto e funeral do segurado.

1Ll3. CONTRATO DE FIANÇA (ARTIGOS 818 A 839 DO CC)

11.13.1. CoNcEITO
Trata-se de garantia fidejussória em que um terceiro (fiador) passa
a garantir pessoalmente perante o credor a dívida do devedor, com
seu patrimônio, tendo dessa forma urna responsabilidade sem debito.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBR;>,.L, Ll'Cl>\NO FIGUEIREDO, RoBt:RTO fJGU~IRI:DO, S.~BRlN·\ DüCR>\110
293
) CoNTRATos EM EsPÉCIE

Capítulo Xll
11.13.2. NATUREZA JURÍDICA

a) Gratuito - quem obtém o benefício deste contrato é o credor,


que tem o seu direito de crédito garantido. Porém, pode ser oneroioo,
como no caso da fiança bancária. Nessa última hipótese, serão apli-
cadas as regras do CDC.
b) Consensual- atende à autonomia da vontade das partes.
c) Formal -exige, minimamente, documento escrito.
d) Não solene- não há necessidade de escritura pública.
c) Obrig:1ção acessória- a s:ua existência depende de um contrato
principal.
f) Típico - possui previsão legal.
g) Fiduciário- essencialmente decorre da confiança das partes.

11.13.3. SEUS EFEITOS E REGRAS

a) As dívidas futuras podem ser objeto de fiança, mas o fiador,


nesse caso, não será demandado senão depois que se fizer certa e
líquida a obrigação do principal devedor (artigo 821 do CC).
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito civil. Responsabilidade do fiador pelas des-


pesas judiciais a partir de sua citação.
As despesas judiciais só serão arcadas pelo fiador a par-
tir de sua citação. Precedentes citados: REsp 413.830-DF,
DJ 15/5/2006, e REsp 153.659-SP, DJ 1612/I998. REsp
1.264.820-RS, Rel. Min. Luís Felipe Salo111ão, julgado em
13/11/2012.

b) A fiança poderá abranger a totalidade da dívida (total) ou parte


da dívida (parcial), sendo a primeira ilimitada e a segunda limitada.
CONTRATOS EM ESPÉCIE r

r Capítulo XI

c) O credor possui o direito de examinar a idoneidade do fiador,


não podendo ser obrigado a aceitá-lo se o mesmo não for idôneo,
domiciliado no município onde i:enha de prestar a fiança, e não possua
bens suficientes para cumprir a obrigação.
d) Se houver insolvência do fiador, o credor poderá exigir a sua
substituição.
e) É inerente à fiança o benefício de ordem, qual seja o fiador
exigir que inicialmente seja executado o bem do devedor para poste-
riormente ter o seu patrimônio atingido.
f) A solidariedade não se presume, decorre da lei ou da vontade
das partes, loso inexiste dip!oma legal dizendo que o devedor e o fia-
dor são solidários; se inexistir no contrato, não se poderá presumi-los
solidários, pois isso violaria a regra legal.
g) A fiança poderá ser prestada coajuntamente a um só débito,
por mais de uma pessoa, importando o compromisso de solidariedade
entre elas se declaradamente não se reservarem o benefício da divisão,
respondendo cada fiador unicamente pela parte que proporcional-
mente lne couber no pagamento.
h) O fiador também tem direito perante o devedor de ser ressar-
cido de todas as perdas e danos que vier a sofrer em razão da fiança.
i) Poderá o fiador promover o andamento da execução contra
, o devedor nos casos .em que o credor~ sem justa causa, demorar a
executar.
j) Segundo a doutrina majoritária, a renúncia convencional é nula.
1) A obrigação do fiador passa para os herdeiros, mas fica limitado
ao quinhão hereditário (forças da herança).
m) É o único contrato em que há compensação sem reciprocidade
de créditos e débitos, podendo ser compensado com o credor o que
este deve ao afiançado.
n) A desoneração de fiador em locação urbana é regulada pelo
artigo 40 da Lei nº 8.245/91, em que o fiador ainda responde no período
de 120 (cento e vinte) dias após a sua desoneração, enquanto a da Lei

AKDR( t,10r4, Cil.ISTI-\NO SOIII\IIt, LUCIANO FtCUEI!l.UJO, Rülll.RTO FtGll!é!REDO, $ABRI NA DOURAIJO 295
Civil, o fiador ficará obrigado por todos os efeitos da fiança, durante
60 (sessenta) dias após a notificação do credor.
o) Não obstante discussões anteriores acerca da constitucionali-
dade da penhora do único bem imóvel do fiador, o STF pacificou este
entendimento acerca da possibilidade, declarando a constitucionali-
dade do aritigo 3º, inciso VII, da Lei nº 8.009/90.

11.13.4. EXTINÇÃO DA FIANÇA


------~----------------------

São casos de extinção da fiança:

a) resilição unilateral;
E o nosso Tribunal da Cidadania?

NOVO PACTO ENTRE CREDOR E DEVEDOR


SEM ANUÊNCIA DOS FIADORES. ILEGITIMI-
DADE PASSIVA DOS FIADORES NA EXECUÇÃO.
A transação entre credor e devedor sem a anuência do
fiador com a dilação do prazo para o pagamento da dívida
extingue a garantia fidejussória anteriormente concedida ...
REsp 1.013.436-RS, Rei. Min. Luís Felipe Salomão, julgado
em 111912012.

b) morte;
c) O fiador pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais
e as extintivas da obrigação que competem ao devedor principal, se
não provierem simplesmente de incapacidade pessoal, salvo o caso
do mútuo feito a pessoa menor;
d) o fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado se, sem o seu
consentimento, o credor conceder moratória ao devedor; se por fato
do credor, for impossível a sub-rogação nos seus direitos e preferên-
cias; se o credor, em pagamento da dívida, aceitar amigavelmente do
devedor objeto diverso do que este era obrigado a lhe dar, ainda que
depois venha a perdê-lo por evicção;

296 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CtVIL ! 3" edição


lcavírulo XI
I .

. do o benefício da excussão e o devedor,


) em caso de ser mvoca
e d , execução cair em insolvência, ficará exonerado o
re tardan o-se. a ' ar que os bens por ele .mdica· d os eram,
fi d r que o mvocou, se prov , . fi d .
a o h fi cientes para a solução da divida a ança a,
ao tempo da pen ora, su

. R o fWUEIREDO. SAIIR!XA Dot'RADO 297


ANDRE MoTA., CltlSTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, DBERT .
CAPÍTULO XII.

RESPONSABILIDADE CIVIL

12.1. CONCEITO

A matéria sob comento liga-se ao dever de não causar prejuízo a


outrem, obtendo-se a devida indenização na hipótese de danos sofri-
dos, tendo por objetivo a reparação de acordo com o injusto causado.

12.2. PRESSUPOSTOS

Constituem pressupostos da responsabilidade civil: o ato ilícito


ou conduta; a culpa; o dano e o nexo causal.
RESPONSABILIDADE CIVIL

Capítulo Xll

-
12.2.1. ATO ILÍCITO OU CONDUTA

O ato ilícito ou conduta compreendido como ato contrário ao


disposto em lei. São seus elementos a antijuridicidade, e a imputabi-
lidade do agente.

12.2.1.1. Espécies
O ato ilícito tem as seguintes espécies:
a) indenizatório - tem por fim a reparação do estado inicial da
vítima (status quo ante);
b) invalidante - tem por objetivo invalidar o ato praticado de
forma ilícita;
c) caducificante- tem por consequência a efetiva perda do direito;
d) autorizante- a lei autoriza a prática de uma conduta em rejei-
ção a um ilícito. c

12.2.2. CULPA

Há duas hipóteses em que se divide a culpa:

a) culpa latu sensu: se faz presente o dolo como sua modalidade


mais grave, podendo ser encontrado nas formas:
a.l) dolo direto: o agente deseja a prática do ilícito;
a.2) dolo necessário: fala a respeito de um efeito colateral típico
decorrente do meio escolhido e admitido, pelo autor, como certo ou
necessário;
a.3) dolo eventual: o agente, com a sua conduta, assume o risco
do ilícito.

b) culpa strictu sensu (mera culpa): o ilícito ocorre pela ausência


do dever de cuidado do agente, dando ensejo às seguintes formas:
b.l) negligência - a conduta caracteriza-se pelo descuido;
b.2) imprudência -a conduta é omissiva;

ANliRÉ MOL\, CRJST!.·\NO So!lll.AL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO fllGUEIR[DO, SA!IR!NA DOURADO 299
CapíLulo Xlll

b.3) imperícia- ausência de habilidade técnica.


A p~rtdir da [abordagem do tema, pode-se observar que há uma
grad uaçao a cu pa pode d l
diante de falta .t: l· n o e~ ser: g:·ave, por erro grosseiro; leve,
. . . eAvi ave ' e, por fim, levissima, pela falta de atenção
extra t) flinana
. :!
inden·tzaçao
. i. .
- se taz
- obngatoria
. , em qual uer dos
graus (m lege Aqrl!lia et levíssima culpa venit). q

12.2.2.1. Modalidades de culpa strictu sensu

a) contratual- transgres - d d . . .
estabelecido; sao e um ever JUndiCo previamente

- . . ou aq UITIana -ocorre sem qualquer estabele-


. b) extracontratual
d
cnnento e relaçao JUndica originária;
c) in comitmdo - culpa por imprudência;
d) in omitmdo - culpa por omissão;
e) in uigilando- culpa pela vigilância;
f) in eligendo- culpa pela escolha;
g) in custodiando- culpa pela custódi·a, Por guar d ar;
E h) presumida-
l .. aqui' a cu 1pa e· essencial
. para o dever de reparar
m gera , a lei Já faz o 1·uízo d e presunçao,
- todavia
. a mesma não foi·
adotada pela l7i civil, e, quando prevista em leis esparsas, a doutrina
considera hipotese de responsabilidade objetiva;
i) concorrente -o agente e a vitima
·· contribuem para a prática
d o evento danoso' sendo a responsab Ihdade
.. proporcional à culpa de
ca d a um.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL


MORTE DE CARONA EM "CAVALO MECÂNICO';
QUE TRACIONAVA REBOQUE.
O propr~etário de reboque responde, solidariamente com
o propnetarw do cavalo mecânico que o !racionava, por

300 EDITORA ARMADOR I PRÃTICA CiviL I 3a edição


~

\ Carítu\o Xll

acidente de trânsito no veículo conduzido por preposto do qual


resultou a morte de vítima que estava dentro do veículo na
condição de carona. As instâncias ordinárias expressamente
afirmaram a existência de liame de subordinação e preposição
entre a proprietária do reboque e o dono do cavalo-mecânico,
o que não pode ser revisto na instância especial. A relação de
preposição, que se caracteriza pela subordinação hierárquica,
desafia a responsabilidade, pois o preposto - motorista -age
no interesse e sob autoridade, ordens e instruções do prepo-
nente- empregador-, a quem cabe a fiscalização da atividade
imputada. Há culpa in eligendo da transportadora que con-
trata transportador autônomo dono de automóvel inadequa-
damente conservado, cujas deficiências foram detectadas no
sistema de freios (falha mecânica e ruptura do chassi com a
presença de rachadura e oxidaçíio). Ao permitir a circulação de
veículo ne:;;sa candiçifo, tracionando reboque da sua proprie-
dade (alugado para o cumprimento do transporte de cargas
em rodovias movimentadas), não observou o dever de cuidado
objetivo de não lesar o próximo (neminem laedere). A despeito
de não possuir força motriz independente, quer dizer; aptidão
para se movimentar autonomamente, o reboque da transpor-
tadora foi alugado para cumprir uma finalidade contratual e
econômica de seu interesse, circunstância que não a exime de
assumir as consequências pelo acidente causado por "cava-
lo-mecânico" mal conservado. Trata-se de responsabilidade
objetiva do transportador, atualmente prevista no art. 735 do
CC (sem correspondente no Código de 1916), que não exclui a
responsabilidade no caso de fortuito interno (ligado a pessoa,
a coisa ou a empresa do agente). (REsp nº 453.882-MG, rel.
Ministro Ricardo Villas Boas Cueva, j. em 18.09.2012)

TREM. ATROPELAMENTO.
A concessionária de transporte ferroviário tem o dever de
cercar efiscalizar os limites da linha férrea, principalmente em
locais de grande concentração populacional, tal como no caso,
·em que a linha cruza o bairro Barra Funda na cidade de São
Paulo. Assim, se a concessionária deixa de tomar as medidas
que evitam o acesso de pedestres à via férrea, responde civil-
mente pelos atropelamentos causados por seus trens. Contudo,

301
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SollR\L, Ll'UANO f-JGLJ(IREDO, ROBERTO flCliE!RlPO, SABRP,,\ ÜOURADO
I
RESPONSABILlDADE CIVIL
Capítulo XII I

nesses casos, a jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de


existir culpa concorrente entre a concessionária e a vítima.
Precedentes citados: EREsp 705.859-SP, DJ 8/312007; REsp
773.853-RS, DJ 2215/2006, e REsp 74.532-RJ, DJ 121511997.
(REsp 1.042.313-SP, Rei. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 13/4/2010. Informativo n2 43(1)

12.2.3. DANO

São espécies de dano: material, moral, estético, coletivo e social


e a perda de umu chance.

12.2.3.1. Espécies

12.2.3.1.1. Dano material


O dano material é compreendido como uma efetiva lesão patri-
monial, sendo ele total ou parcial, passível de avaliação pecuniária.

12.2.3.1.1.1. Danos emergentes e lucros cessantes


a) danos emergentes- advém da expressão latina damnum emer-
gens, a perda efetivamente sofrida;
b) lucros cessantes- alcança o patrimônio futuro (ganho esperá-
vel), impedindo seu aumento.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Indenização. Acidente aéreo. Fotógrafo. O recor-


rente, fotógrafo profissional especializado em fotos aéreas,
ajuizou ação de danos materiais e morais contra a recornda,
sociedade empresária de táxi aéreo, ao fundamento de que,
em razão da queda do helicóptero em que se encontrava,
sofreu fraturas e danos psicológicos qu~ o impossibilitaram
de exercer seu oficio por mais de 120 dzas e o zmpedzram de
retomar os trabalhos de fotografia aérea. Nesse contexto, faz

c,...,..,.,,,., Ao-..,nroll 1 PRÁTICA CIVIL \ 3a cdiçilo


RESPONSABILIDADE CIVIL !'

jus o recorrente ao recebimento de lucros cessantes, viSto que


comprovadas a realização contínua da atividade e a posterior
incapacidade absoluta de exercê-la no período de convales-
cência. Contudo, apesar de a jurisprudência propalar que
o lucro cessante deve ser analisado de forma objetiva, a não
admitir mera presunção, nos casos de profissionais autôno-
mos, esses lucros são fixados por arbitramento na liquidação
de sentença e devem ter como base os valores que a vítima,
em média, costumava receber. Já a revisão das conclusões
das instâncias ordinárias de que a redução da capacidade
laboral (25% conforme laudo) não o impediria de exercer
seu ofício, mesmo que não mais realize fotografias aéreas
em razão, como alega, do trmmm psicorógico sofrido, não há
como ser feita sem desprezar o contido na Súmula nº 7-STJ.
Anote-se, por fim, que devem ser aplicados desde a citação os
juros moratórios no patamar de 0,5% ao mês até 10.01.2003
(art. 1.062 do CC/1916) e no de I% ao mês a partir do dia
li daquele mês e ano (art. 406 do CC/2002), pois se cuida
de responsabilidade contratual. Precedentes citados: REsp
nº 846.455-MS, DJe, 22.04.2009; REsp nº 1.764-GO, DJ,
19.09.1994; REsp nº 603.984-MT, DJ, 16.11.2004; AgRg no
Ag 922.390-SP, DJe, 07.12.2009; EDel no AgRg nos EDcl no
REsp nº 1.096.560-SC, OJe, 26.11.2009; REsp nº 721.091-SP,
DJ, 1º.02.2006; REsp nº 327.382-RJ, DJ, 10.06.2002; EDcl
no REsp nº 671.964-BA, DJe, 31.08.2009; AgRg no Ag
915.165-RJ, DJe, 20.10.2008; e REsp nº 971.721-RJ, rei. Minis-
tro Luis Felipe Salomão, j. em 17.03.2011 (ver Informativo
nº 466).

12.2.3.1.2. Dano incerto

De acordo com o STJ, não é possível indenizar um dano incerto,


em razão da própria natureza da responsabilidade civil, que é a efetiva
reparação de dano causado ao patrimônio.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Responsabilidade civil. Transporte aéreo. Extra-


vio de bagagem. Inaplicabilidade da convenção de

ANDRÉ MQ'P,, CRISTIANO SOBRAL, LtiC!ANO FIGUEIREDO, ROBERTO FI(_;UJ;IREDO, SABRJNA DOURADO 303
----------
Ctpí'.ulo XH I

Varsóvia. Relação de consumo. Código de Defesa do


Consumidor. Indenização ampla. Danos materiais
e mora!s. Onentação do tribunal. Pagamento de
bolsa de estudo~. Dan~ incerto e eventual. Aprovação
mcerta. Exclusao da mdenização. Recurso acolhido
parctal1J1 ente. Maioria.
1

I ~ Nos casos de extravio de bagagem ocorrido durant"


o transporte aéreo,. ~á rela7ão de consumo entre as partes:
de,.v~ndo a reparaçao, asszm, ser integral, nos termos do
Codzgo de Defesa do Consumidor, e não mais limitada pela
legzslação especial. li~ Por se tratar de dano incerto e even-
tual, fica excluida da indenização por danos materiais a par-
cela correspondente ao valor da bolsa que o recorrido teria
se tzvesse szdo aprovado no exame para frequentar 0 cursa
de mestrado. (REsp nº 300.190/RI. rei. Ministro Sálvio
de Figueiredo Teixeira, 4' Turma, j. em 24.04.2001 DJ
18.03.2002, p. 256) ' '

l2.2.3.L3. Dano material futuro

Est~ modalidade não existe, uma vez que só é possível exigir


rep_araçao por d~nos causados e não por danos a causar, não havendo
lesao ao patnmonio.

12.2.3.L4. Dano moral

- Trata-se de uma espécie de dano extrapatrimonial, por vio-


laçao aos dueztos intrínseco à pessoa, abrangidos nos direitos da
personahdade.

12.2.3.L4.L Modos de fixação

12.2.3.L4.2. Compensatório

Necessário se faz serem analisados dois requisitos simultanea-


mente: extensão do dano + condições pessoais da vítima.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

304 EDJTORA AR\tADOR I PRÁTICA CiVIL 1 3a edição


fCapíLulo Xll

Recurso especial. DNER. União. Sucessora. Res-


ponsabilidade civil por acidente causado em rodovia
federal. Omissão do estado. Responsabilidade sub-
jetiva. Má conservação da rodovia federal. Culpa da
autarquia. Indenização por danos materiais e morais.
Adequação aos principias da razoabilidade e propor-
cionalidade. (.. .) 4. A jurisprudência deste STJ firmou-se
no sentido de que a revisão do arbitramento da indenização
somente é admissível nas hipóteses de determinação de mon-
tante exorbitante ou irrisório, uma vez que tais excessos confi-
guram flagrante violação dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. 5. Quando o valor fixado estiver dentro de
critérios de razoabilidade e proporcionalidade, impossível é a
alteração do quantum indenizatório, por demandar, necessa-
riamente, a análise do contexto fático-probatório importando
reexame de provas, o qHe esbarra no óbice dn Súmula nº 7
do STJ. 6. Na presente hipótese o valor da condenação por
danos morais encontra-se dentro dos parâmetros legais, atm-
dendo ao dúplice caráter daquela condenação, tanto punitivo
do ente causador quanto compensatório em relação à vítima.
7. Recurso Especial conhecido em parte e, nessa, não pro-
vido. (REsp nº 763.531/RJ, rei. Ministro Carlos Fernando
Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1ª Região), 2ª
Turma, j. em 25.03.2008, DJe, 15.04.2008)

12.2.3.1.4.3. Punitiva
Aqui, há dois requisitos: condições econômicas + grau de culpa
do ofensor.

12.2.3.1.4.3.1. Punitive damages


· No vernáculo, danos punitivos, chamado pela doutrina de "dano
moral punitivo". Tal instituto será possível na hipótese de o juiz enten-
der que diante·da proporcionalidade entre a culpa e o dano é cabível
indenização com o objetivo de punir o agente pela prática.

305
ÀNDRÉ MOTA, C;uSTIA~O SoBRAL, LUCIANO FIGUElREDO, Rot>ERTO fiGUEllU>DO, $".BRI!'{A DoURADO
I
RESPONSABILIDADE CIVIL

Capítulo XII l
Todavia, parte da doutrina posiciona-se de forma diversa, inter-
pretando que se não há previsão no CC/2002, logo, impossível a sua
adoção, sob pena de caracterizar enriquecimento sem causa (art. 884).
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Recurso especial. Responsabilidade civil. Acidente


de trânsito. Agressão física ao condutor do veículo
que colidiu com o dos réus. Reparação dos danos
morais. Elevação. Ato doloso. Caráter punitivo-pe-
dagógico e compensatório. Razoabilidade e propor-
cionalidade. Recurso provido.
1. Nü fixaçiio do valer da rcpr.mçãc de d!m(l .111(rrnf pnr atn
doloso, atentando-se para o principio da razoabilidade e para
os critérios da proporcionalidade, deve-se levar em conside-
ração o bem jurídico lesado e as condições econômico-finan-
ceiras do ofensor e do ofendido, sem se perder de vista o grau
de reprovabilidade da conduta do causador do dano no meio
social e a gravidade do ato ilícito.
2. Sendo a conduta dolosa do agente dirigida ao fim ilícito
de causar dano à vítima, mediante emprego de reprovável
violência física, o arbitramento da reparação por dano moral
deve alicerçar-se também no caráter punitivo e pedagógico
da compensação, sem perder de vista a vedação do el!fiqueci-
mento sem causa da vítima.
3. Na hipótese dos autos, os réus espancaram o autor da
ação indenizatória, motorista do carro que colidira com a tra-
seira do veículo que ocupavam. Essa reprovável atitude não se
justifica pela simples culpa do causador do acidente de trân-
sito. Esse tipo de acidente é comum na vida diária, estando
todos suscetíveis ao evento, o que demonstra, ainda mais, a
reprovabilidade da atitude extrema, agressiva e perigosa dos
réus de, par meio de força física desproporcional e excessiva,
buscarem vingar a involuntária ofensa patrimonial sofrida.
4. Nesse contexto, o montante de R$ 13.000,00, fixado pela
colenda Corte a quo, para os dois réus, mostra-se irrisório e
incompatível com a gravidade dos fatos narrados e apurados
RESPONSABILIDADE CIVIL
Capítulo XII

pelas instâncias ordinárias, o que autoriza a intervenção deste


Tribunal Superior para a revisão do valor arbitrado a título
de danos morais.
5. Considerando o comportamento altamente reprovável
dos ofensores, deve o valor de reparação do dano moral ser
majorado para R$ 50.000, 00, para cada um dos réus, com a
devida incidência de correção monetária e juros moratórios.
6. Recurso especial provido.
(REsp 839.923/MG, Rei. Ministro Raul Araújo, Quarta
Turma, julgado em 15/05/2012, DJe 21/05/2012)

12.2.3.1.4.4. Dano moral direto e indireto ou ricochete

O dano moral direto acontece quando o ofendido é diretamente


atingido nos seus direitos da personalidàde.
Já o dano moral reflexo ou indireto, também denominado rico-
chete diz respeito ao sofrimento, à dor e ao trauma provocados pela
morte de um ente querido os quais podem gerar o dever de indenizar.
Esse tem sido o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
ao JUlgar os pedidos de reparação feitos por parentes ou pessoas que
mantenham fortes vínculos afetivos com a vítima.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Processual civil e administrativo. Agravo em


recurso especial. Responsabilidade civil. Morte de
preso em penitenciária por outro interno. Dano em
ricochete. Dever de indenizar. Danos morais. Revi-
são. Reexame de provas. Súmula 7/ST]. 1. Pacifico neste
Tribunal o entendimento de que a revisão do valor da inde-
nização a título de danos morais esbarra no óbice da Súmula
7/ST], exceto nos casos de valores irrisórios ou exorbitantes
o que não se afigura no caso concreto. 2. Agravo regimentaÍ
não provido. (AgRg no AREsp 346.209/BA, Rel. Ministra
ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/09/2013, DJe 17/09/2013)

A"lDll.Ê MOlA, CRISTlhNO So&RAL, LUCIANO fiGliEJREOO, ROII[RTO FlGUt!Rl\DO, SA.J>RINA DouR.'\DO 307
C::.pít.uio XU I

Direito civil. Recurso especial. Responsabilidade


civil. Legitimidade para o ajuizamento de ação inde-
nizatória de_ danos morais por morte. Noivo. Ilegi-
tunuiade atwa. Necessária limitação subjetiva dos
autorizados a reclamar compensação.
. L En~ tem.a d; legitimidade para propositura de ação inde-
nzzatona em rúzão de morte, percebe-se que o espírito do
ordenamento jurídico rechaça a legitimação daqueles que não
fazem Farte da família" direta da vítima, sobretudo aqueles
que nao se rnserem, nem hipoteticamente, na condicão de
herdeiro. Interpretação sistemática e teleológica dos a;ts. 12
e 948, inciso I, do Código Civil de 2002; art. 63 do Código de
Processo Penal e art. 76 do Código Civil de 1916.
2. Assim, como regra-ficando expressamente ressalvadas
eveJitztais par~icularidades de casos concretos-, a legitimação
para a proposztura de ação de indemzação por dano moral em
razão de morte deve mesmo alinhar-se, mutatis mutandís, à
ordem de vocação hereditária, com as devidas adaptações.
3. Cumpre realçar que o direito à indenização, diante de
peculiaridades do caso concreto, pode estar aberto aos mais
diuersijicados arranjos familiares, devendo o juiz avaliar se as
particularidades de cada fmnília nuclear justificam o alarga-
mento a outros sujeitos que nela se inserem, assim também,
em cada hipótese a ser julgada, o prudente arbítrio do julga-
dor amliará o total da indenização para o núcleo familiar, sem
excluir os diversos legitimados indicados. A mencionada vál-
vula, que aponta para as múltiplas facetas que podem assumir
essa realidade metamórfica chamada família, justifica prece-
dentes desta Corte que conferiu legitimação ao sobrinho e à
sogra da vítima fatal.
4. Encontra-se subjacente ao art. 944, caput e parágrafo
únzco, do Código Civil de 2002, principiologia que, a par
de reconhecer o direito à integral reparação, ameniza-o em
havendo um dano irracional que escapa dos efeitos que se
esperam do ato causador. O sistema de responsabilidade civil.
atual, deveras, rechaço indenizações z7imitadas que alcançam
valores que, a pretexto de reparar integralmente vítimas de
ato ilícito, revelam nítida desproporção entre a conduta do
agente e os resultados ordinariamente dela esperados. E, a

308 EDiTORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL j 3a edição


toda evidência, esse exagero ou desproporção da indenização
estariam presentes caso não houvesse- além de ~ma limita-
ção quantitativa da condenação - uma lzmztaçao sub]etzva
dos beneficiários. .. .
5. Nessa linha de raciocínio, conceder legztzmzdade ampla e
irrestrita a todos aqueles que, de alguma forma, suportaram
a dor da perda de alguém- c~mo um se1)1-núm~ro de pessoas
<•
que se encontram fora do nucleo Jamzlzat da vztzma- szgm-
fica impor ao obrigado um dever tombem zlzmztado de reparar
um dano cuja extensão será sempte desproporczonal ao ato
causador. Assim, o dano por ricochete a pessoas não perten-
centes ao núcleo familiar da vítima direta da morte, de regra,
deve ser considetado como não inserido nos desdobramentos
lógicos e causais do ato, seja na tesponsabilidade por culpa,
seja na objetiva, porque extrapolam os efeztos mzoavelmente
imputáveis à conduta do agente. ·
6. Por outro lado, conferir a via da ação indenizatória a
sujeitos não insetidos no núcleo familiar da vítima acar;e-
taria também uma diluição de valores, em evzdente pre1uzzo
daqueles que efetivamente fazem jus a uma compensação
dos danos moz·ais, como cônjugelcompanhezro, descendentes
e ascendentes.
7. Por essas mzões, o noivo não possui legitimidade ativa
para pleitear indenização por d~no mo;al pela morte d~ noiva,
sobretudo quando os pazs da vztzma JO zntentaram açao repa-
ratória na quallograrf{m êxito, como no caso.
8. Recurso especial conhecido e provido. (~Esp 1076160/
AM, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMAO, QUARTA
TURMA, julgado em 10/04/2012, DJe 21/06/2012)

A pensão mensal indenizatória d~vida aos pais


pela morte de filho men,o~ dev,e ~er fixada em,valor
equivalente a 213 do salarw mtmmo, dos 14 ate os 25
anos de idade da vítima, reduzido, então, para 113
até a data em que o "de cujus"completaria 65 anos.
Precedentes citados: AgRg no REsp 686.398-MG, Terceira
Turma, DJe 18/6/2010, AgRg no Ag 1.132.842-RS, Quarta
Turma, DJe 201612012. (REsp 1.279.173-SP, Rel Min. Paulo
de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013)

ANDRÉ MOTA, CRI~TIANO SOBRAL. LUCI ~NO FtGIJUREDO, ROIWRTO Ftm.:r:tREDO, SABIUNA.DOllRADO 309
RESPONSABILIDADE CIVIL
Capítulo XII

Direito civil. Dies a quo do prazo prescricional.


Reparação de danos decorrentes de falecimento.
O termo inicial da contagem do prazo prescricional
na hipótese em que se pleiteia indenização por danos
morais e/ou materiais decorrentes do falecimento de
ente querido é a data do óbito, independentemente da
data da ação ou omissão. Não é possível considerar que a
pretensão à indenização em decorrência da morte nasça antes
do evento que lhe deu causa. Diferentemente do que ocorre
em direito penal, que considera o momento do crime a data
em que é praticada a ação ou omissão que lhe deu causa, no
direito civil a prescrição é contada da data da "violação do
direito". (REsp 1.318.825-SE, Rei. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 13/11/2012)

12.2.3.1.4.5. Pessoa jurídica e o dano moral

Apesar de não ser pacífico, é majoritário o entendimento de que


pode a pessoa jurídica sofrer dano moral, de acordo com a Súmula
n 2 227 do STJ.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Pessoa jurídica pode sofrer dano moral, mas apenas


na hipótese em que haja ferimento à sua honra obje-
tiva, isto é, ao conceito de que goza no meio social.
Embora a Súm. nº 227/STJ preceitue que "a pessoa jurídica
pode sofrer dano moral·; a aplicação desse enunciado é restrita
às hipóteses em que há ferimento à honra objetiva da entidade,
ou seja, às situações nas quais a pessoa jurídica tenha o seu
conceito social abalado pelo ato t?ícito, entendmdo-se como
honra também os valores morais, concernentes à reputação,
ao crédito que lhe é atribuído, qualidades essas inteiramente
aplicáveis às pessoas jurídicas, além de se tratar de bens que
integram o seu patrimônio. Talvez por isso, o art. 52 do CC,
segundo o qual se aplica "às pessoas jurídicas, no que couber,
a proteção aos direitos da personalidade", tenha-se valido da
expressão "no que couber", para deixar claro que somente s~
protege a honra objetiva da pessoa jurídica, destituída que e
RESPONSABILIDADE CtVlL r

jêaríwlo XII

de honra subjetiva. O dano moral para a pessoa jurídica não


é, portanto, o mesmo que se pode imputar à pessoa natural,
tendo em vista que somente a pessoa natural, obviamente,
tem atributos biopsíquicos. O dano moral da pessoa jurídica,
assim sendo, está associado a um "desconforto extraordinário"
que afeta o nome e a tradição de mercado, com repercussão
econômica, à honra objetiva da pessoa jurídica, vale dizer, à
sua imagem, conceito e boa fama, não se referindo aos mes-
mos atributos das pessoas naturais. Precedente citado: REsp
45.889-SP, DJ 15/811994. (REsp 1.298.689-RS, Rei. Min.
Castro Meira, julgado em 23/1012012).

Processo ci'vil. Responsabilidade civil. Dano moral


reflexo. Pessoa jurídica. Sócio-gerente com nome
indevidamente inscrito no cadastro de inadimplentes.
Negativa de empréstimo à sociedade. Legitimidade
ativa ad causam da pessoa jurídica. Abalo de crédito.
Não ocorrência de dano in re ipsa. Necessidade de
comprovação da ofensa à honra objetiva.
1. O dano moral reflexo, indireto ou por ricochete é aquele
que, originado necessariamente do ato causador de prejuízo
a uma pessoa, venha a atingir, de forma mediata, o direito
personalíssimo de terceiro que mantenha com o lesado um
vínculo direto. Precedentes.
2. A Súmula 227 do STJ preconiza que a pessoa jurídica
reúne potencialidade para experimentar dano moral, podendo,
assim, pleitear a devida compensação quando for atingida em
sua honra objetiva.
3. No caso concreto, é incontroversa a inscrição indevida
do nome do sócio-gerente da recorrente no cadastro de ina-
dimplentes, acarretando a esta a negativa de empréstimo
junto à Caixa Econômica Federal. Assim, ainda que a con-
duta indevida da recorrida tenha atingido diretamente a pes-
soa do sócio, é plausível a hipótese de ocorrência de prejuízo
reflexo à pessoa jurídica, em decorrência de ter tido seu crédito
negado, considerando a repercussão dos efeitos desse mesmo
ato ilícito. Dessarte, ostenta o autor pretensão subjetivamente
mzoável, uma vez que a legitimidade ativa ad causam se faz

/\~aan·; J\'JnT.\, CRISTIANO SOBRAL, Ll'CJANO FJGUI:JREDO, ROBERTO FJGUHJRIWO, SABIUNA DoURADO 311
Ca1Jiluio Xli !
presente quando o direito afirmado pertence a quem propõe
a demand~ e possa ser exigido daquele em face de quem a
demanda c proposta.
4. O abalo de crédito desponta como afronta a direito per--
sonalzssmzo - a honradez e o prestígio moral e social da pes-
soaen: determmado m~io- transcendendo, portanto, o mero
concelto econômico de Crédito.
5. A jurisprudência desta Corte já se posicionou no sentido
de que o dmw_ moral direto decorrente do protesto indevido
de tztulo de credito ou de inscrição indevida nos cadastros de
m~us pagadores prescinde de prova efetiva do prejuízo eco-
nomlco, uma vez que implica "efetiva diminuição do conceito
ou da re~utação da empresa cujo título foi protestado"", por-
quanto, a partzr de um juízo da experiência, [. .. ] qualquer
um sabe os efeztos danosos aue daí decorrem"" (REsv 487.9791
RJ, Rel._Min. RUY ROSADO DE AGUIAR, DJ OÍW9.2003).
7. Nao obstante, no que tange ao dano moral indireto tal
r:esunção niio é(aplicável, uma vez que o evento danoso dire-
czon~u-se a ou:rem,. ca~~ando .a este um prejuízo direto e pre-
sumwel. A peosoa ;undzca foz alcançada acidentalmentr de
modo qr~e é mister a prova do prejuízo à sua honra objetiva,
o que nao ~cor!eu no caso em julgamento, conforme consig-
nado no a_cordao recorrido, mormente porque a ciência acerca
da negaçao do empréstimo ficou adstrita aos funcionários do
banco.
8. Recurso especial não provido. (REsp 1022522/RS, Rei.
Mm1stro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
JUlgado em 25/06/2013, DJe 01/08/2013)

12.2.3.1.4.6. Incidência de imposto de renda

O dano moral é uma _:eco_mposição de lesão, ainda que extrapatri-


rn_on:al,_ e _a sua In~enizaçao nao configura um acréscimo patrimonial,
nao modmdo no Imposto de renda.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

. Súmul~ 498, STJ: "Não incide imposto de renda sobre a


mdenzzaçao por danos morais."

312 EDJTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CtvrL 1 3~ edição


12.2.3.1.4.7. Dano moral coletivo e social
O dano moral coletivo é a lesão extrapatrimonial aos direitos da
personalidade de um determinado grupo, como, nos casos relativos
à discriminação sexual, etnia, religião.
O dano moral social envolve a sociedade, ou seja, um grupo
indeterminado, não sendo possível mensurar o número de pessoas
lesionadas.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito processual civil e ambiental. Cumulação


das obrigações de recomposição do meio ambiente e
de compensação por dano moral coletivo. Na hipó-
tese de ação civil pública proposta em razão de dano
ambiental, é passh.'el que a sentença condenatória
imponha ao responsável, cumulativamente, as obri-
gações de recompor o meio ambiente degradado e de
pagar quantia em dinheiro a título de compensação
por dano moral coletivo. Isso porque vigora em nosso
sistema jurídico o princípio da reparação integral do dano
ambiental, que, ao determinar a responsabilização do agente
por todos os efeitos decorrentes da conduta lesiva, permite a
cumulação de obrigações de Jazer, de não Jazer e de indeni-
zar. Ademais, deve-se destacar que, embora o art. 3º da Lei
7.347/1985 disponha que "a ação civil poderá ter por objeto a
condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de
Jazer ou não Jazer", é certo que a conjunção "ou" -contida
na citada norma, bem como nos arts. 4º, VII, e 14, § 1', da
Lei 6.93811981- opera com valor aditivo, não introduzindo,
portanto, alternativa excludente. Em primeiro lugar, porque
vedar a cumulação desses remédios limitaria, de forma inde-
sejada, a Ação Civil Pública- importante instrumento de per-
secução da responsabilidade civil de danos causados ao meio
ambiente -, inviabilizando, por exemplo, condenações em
danos morais coletivos. Em segundo lugar, porque incumbe
ao juiz, diante das normas de Direito Ambiental - recheadas
que são de conteúdo ético intergeracional atrelado às presen-
tes e futuras gerações -, levar em conta o comando do art.

ANDRÊ !vJ.OTA, CRISTIANO SOBRAL, LCClANO fiGUUREDO, RoBERTO flGUl.lRI:DO, 5ABRINA DOURADO
313
RESPONSABILIDADE CIVIL

Capítulo XU

SQ da LINDB, segundo o qual, ao se aplicar a lei, deve-se


atender "aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum': cujo corolário é a constatação de que, em caso
de dúvida ou outra anomalia técnico-redaciunal, a norma
ambiental demanda interpretação e integração de acordo com
o princípio hermenêutica in dubio pro natura, haja viéta que
toda a legislação de amparo dos sujeitos vulneráveis e dos
interesses difusos e coletivos há sempre de ser compreendida
da maneira que lhes seja mais proveitosa e melhor possa via-
bilizar, "la perspectiva dos resultados práticos, a prestação
jurisdicior,al e a ratio essendi da norma. Por fim. a interpre-
tação sistemática das normas e princípios ambientais leva à
conclusão de que, se o bem ambiental lesada for imediata c
completamente restaurado, isto é, restabelecido à condição
original, não há falar, corno regra, em indenização. Contudo,
a possibilidade técnica, no futuro, de restauração in natura
nem sempre se mostra stificiente para reverter ou recompor
integralmente, 110 âmbito da responsabilidade civil, as várias
dimensões do dano ambiental causado; por isso não exaure
os deveres associados aos princípios do poluidor-pagador e
da reparação integral do dano. Cumpre ressaltar que o dano
ambie.ntal é multifacetário (ética, temporal, ecológica e patri-
monialmente falando, sensível ainda à diversidade do vasto
universo de vítimas, que vão do indivíduo isolado à coletivi-
dade, às gerações futuras e aos processos ecológicos em si mes-
mos considerados). Em suma, equivoca-se, jurídica e meto-
dologicamente, quem confunde prioridade da recuperação in
natura do bem degradado com impossibilidade de cumulação
simultânea dos deveres de repristinação natural (obrigação
de fazer), compensação ambiental e indenização em dinheim
(obrigação de dar), e abstenção de uso e nova lesão (obriga-
ção de não fazer). (REsp 1.328.753-MG, Rei. Min. Herman
Benjamin, julgado em 28/5/2013)

Dano moral coletivo. Instituição financeira. Aten-


dimento prioritário. A Turma negou provimento ao apelo
especial e manteve a condenação do banco, em ação civil
pública ajuizada pelo Ministério Público, ao pagamento de
indenização por danos morais coletivos em decorrência do

~n"''""'" 1 p.,,;,-.w,.l!V!I. I 3"cdição


RESPONSABILIDADE CIVIL I
jcap:'tulo XII

inadequado atendimento dos consumidores prioritários.


No caso, o atendimento às pessoas idosas, com deficiência
física, bem como àquelas com dificuldade de locomoção era
realizado somente no segundo andar da agência bancária,
após a locomoção dos consumidores por três lances de escada.
Inicialme11te, registrou o Min. Relator que a dicção do art.
6º, VI, do CDC é clara ao possibilitar o cabimento de inde-
nização por danos morais aos consumidores tanto de ordem
individual quanto coletivamente. Em seguida, observou que
não é qualquer atentado aos interesses dos consumídores que
pode acarretar dano moral difuso. É preciso que o fato trans-
gressor seja de razoável significância e desborde dos limites
rln tnlPmhilirfndP. Elr deve ser grave o t>uficiente vara vrodu-
zir verdadeiros sofrimentos, intranquilÚade so~ial e 'altera-
ções relevantes na ordem patrimonial coletiva. Na espécie,
afirmou ser indubitável a ocorrência de dano moral coletivo
apto a gerar indenização. Asseverou-se não ser razoável sub-
meter aqueles que já possuem dificuldades de locomoção, seja
pela idade seja por deficiência física seja por qualquer causa
transitória, como as gestantes, à situação desgastante de subir
escadas, exatos 23 degraus/ em agência bancária que, ínclu-
siz>e, possui plena capacidade de propiciar melhor forma de
atendimento aos consumidores prioritários. Destacou-se, ade-
mais, o caráter propedêutico da indenização por dano moral,
tendo como objetivo, além da reparação do dano, a pedagó-
gica punição do infrator. Por fim, considerou-se adequado e
proporcional o valor da indenização fixado (R$ 50.000,00).
(REsp 1.221.756-RJ, Rei. Min. Massami Uyeda, julgado
em 2/2/2012)

12.2.3.1.4.8. Prova do dano moral

O dano moral é chamado de in re ipsa (presumido), ou dano na


própria coisa, bastando para tanto demonstrar unicamente o fato.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Agravo regimental no agravo de instrumento. Res-


ponsabilidade civil. Inscrição indevida em órgãos de

A:-,•[:•RJ; J\1tq·,;, CRISTIANO SO!I.RAI., LUCIANO FIGUEIREDO, Rmmno FiCUflRt!DO, SJ\BRINA DoL•MDO
315
proteção ao crédito. Dívida oriunda de lançamento
de encargos em conta corrente inativa. Dano moral.
Valor da condenação.
I. Inviável rever a conclusão a que chegou o Tribunal a
quo, a respeito dn existência de dano moral indenizável, em
face d? óbice da Súmula 7/STJ,
2. E consolidado nesta Cortt Superior de Justiça o entendi.
menta de que a inscrição ou a manutenção indevida em cadas-
tro de inadimplentes gera, por si só, o dever de indenizar e
constitui dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado a pró-
pria existência do jato ilícito, cujos resultados são presumidos.
3. A quantia fixada não se revela excessiva, consideran-
do-se os parâmetros adotados por este Tribunal Superior em
casos de indenização decorrente de inscrição indn,ida em
órgãos de proteção ao crédito. Precedentes.
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg
no Ag 1379761/SP, Rei. Ministro LUIS FELIPE SALO-
MÃO, QUARTA TURMA, julgado em 26/04/2011, DJe
02/05/2011)

Agravo regimental. Agravo de instrumento.


Recurso especial. Responsabilidade civil. Ovetboo-
king. Indenização. Dano moral presumido. Preceden-
tes. Danos materiais. Ocorrência. Reexame maté1'ia
fática. Inviabilidade. Súmula 07/STJ. Incidência.
Valor. Revisão. Impossibilidade. Fixação com base
no critério da •·azoabilidade.
1. O dano moral decorrente de atraso de voa, prescinde de
prova, sendo que a responsabilidade de seu causador opera-se,
in re ipsa, por força do simples Jato da sua violação em vir-
tude do desconforto, da aflição e dos transtornos suportados
pelo passageiro.!REsp 299.532/SP, Rei. Ministro HONILDO
AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJIAP), DJe 23/1112009)
2. A reapreciação por esta Corte das provas que lastrearam
o acórdão hostilizado é vedada nesta sede especial, segundo o
enunciado nº 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
3. O valor da indenização por danos morais deve ser fixado
com moderação, considerando a realidade de cada caso, sendo

316 Li>JTORA AR'\1APOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 JJ edição


cabível a intervenção da Corte quando exagaado ou ínfimo,
fugindo de qualquer parâmetro razoável, o que não ocorre
neste feito.
4. O agmvo regimental não trouxe nenhum argumento
novo capaz de modificar a conclusão alvitrada, a qual se man-
tém por seus próprios fundamentos.
5. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (AgRg no
Ag 1410645/BA, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SAN-
SEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/10/2011,
D)e 07/11/2011)

Dano. Imagem. Nome. Guia. Plano. Saúde. O nome


é um dos atributos da personalidade, pois Jaz reconhecer seu
portador na esfera íntima e em suas relações sociais. O nome
versonifica, individualiza e identifica a pessoa de forma a
poder ;;,por-lhe direitos e obrigações. Des~e modo,. a incl~LS<lú
dos nomes dos médicos recorndos em guta de onentaçao de
plano de saúde sem que haja a devida ~ermissão é dano pre-
sumido à imagem, o que gera zndemzaçao sem qu~ se Eerqwra
haver prova de prejuízo, tal qual entendeu o acordao recor-
rido. Precedente citado: REsp 267.529-RJ, DJ 1811212000.
(REsp 1.020.936-ES, Rei. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 17/212011!. ·

Direito civil. Danos morais pela ocultação da ver-


dade quanto à paternidade biológica.
A esposa infiel tem o dever de reparar por danos
morais o marido traído na hipótese em que tenha
ocultado dele, até alguns anos após a separ~çã,o, .o
fato de que criança nascida durante o matrtmonw
e criada como filha biológica do casal serta, na ve~­
dade, filha sua e de seu "cúmplice". De Jato, a vwlaçao
dos deveres impostos por lei tanto no casamento (art. 1.566 ~o
CC/2002) como na união estável (art. 1.724 do CC/2002) nao
cot~stitui, por si só, ofensa à honra e à dignidade do consorte,
apta a ensejar a obrigação de indenizar. Nesse contexto, perde
importância, inclusive, a identificação do culp~d? pelo fi": da
relação afetiva, porquanto de1xar de amar o con7uge ou com_-
panheiro é circunstância de cunho estritamente pessoal, nao

ANDRÉ MOTA, CRJSTJ,\".;O SOBP.!\l., LUCIANO h(;U(JREDO, RoBERTO FIGUEIRHIO, SÁBRJ!':A 00\.IRAUO
317
RESPONSABILIDADE CIVIL

Capítulo XU

configurando o desamor, por si só, um ato ilícito (arts. 186 e


927 do CC/2002) que enseje indenização. Todavia, não é possí-
vel ignorar que a vida em comum impõe restrições que devem
ser observadas, entre as quais se destaca o dever de fidelidade
nas relações conjugais (art. 231., I, do CC/1916 e art. 1.566,
I, do CC/2002), o qual pode, efetivamente, acarretar danos
morais. Isso porque o dever de fidelidade é um atributo de
quem cumpre aquilo a que se obriga, condição imptescindível
para a boa harmonia e estabilidade da vida conjugal. Ademais,
a imposição desse dever é tão significativa que o CP já consi-
derou o adultério como crime. Além disso, representa quebra
do dever de confiança a descoberta, pelo esposo traído, de que
a criança nascida durante o matrimônio e crúzdti por c! c i;~::;o
seria sua filha biológica. O STF, aliás, já sinalizou acerca do
direito constitucional à felicidade, verdadeiro postulado cons-
titucional implícito, que se qualifica como expressão de U11la
ideiajorça que deriva do princípio da essencial dignidade da
pessoa humana (RE 477.554 AgR-MG, Segunda Turma, DJe
2618/2011). Sendo assim, a lesão à dignidade humana desafia
teparação (arts. 1º, III, e 5º, V e X, da CF!, sendo justamente
nas relações familiares que se impõe a necessidade de sua pro-
teção, já que a família é o centro de preservação da pessoa e
base mestra da sociedade (art. 226 CF!. Dessa forma, o abalo
emoCional gerado pela traição da então esposa, ainda com a
cimtificação de não ser o genítor de criança gerada durante
a relação matrimonial, representa efetivo dano moral, o que
impõe o dever de reparação dos danos acarretados ao lesado
a fim de restabelecer o equilíbrio pessoal e social buscado pelo
direito, à luz do conhecido ditame neminem laedere. Assim,
é devida a indenização por danos morais, que, na
hipótese, manifesta-se in re ipsa. (REsp 922.462-SP, Rel.
Mín. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 4/4/2013).
(grifo do autor)

O uso não autorizado da imagem de atleta em car-


taz de propaganda de evento esportivo, ainda que sem
finalidade lucrativa ou comercial, enseja reparação
por danos morais, independentemente da compro-
vação de prejuízo. A obrigação da reparação pelo uso não

•· --~- •-··-~~·· ' n~r~.,... r,.,, 1 <.• r>rlidio


RESPONSABILIDADE CIVIL l
)capítulo XII

autorizado de imagem decorre da própria utilização inde-


vida do direito personalíssimo. Assim, a análise da existência
de finalidade comercial ou econômica no uso é irrelevante.
O da 110, por sua vez, conforme a jurisprudência do STJ, apre-
senta'-se in re ipsa, sendo desnecessária, portanto, a demons-
tração de prejuízo para a sua aferição. (REsp 299.832-RJ, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2013)

12.2.3.1.4.9. Fixação dos danos morais

Para calcular o qum1tum debeatur, o magistrado tem de considerar


a culpa do agente, a extensão e a gravidade do prejuízo causado, bem
como ~· LctpctelJd.Je ecvnônüca das partes. A indenização fesu1ta de
urrl critério de razoabilidade, proporcionalidade e ainda ser necessária
à condenJção do agente.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Agravo regimental no agravo (art. 544 do CPC)


transporte aéreo internacional- Convenção de Mon-
treal -Aplicação do CDC - Quantum indenizatório
que não se mostta exorbitante- Decisão monocrática
negando provimento ao agravo- Insurgência da ré.
1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça se
orienta no sentido de prevalência das normas do Código de
Defesa do Consumidor, em detrimento das disposições inser-
tas em Convenções Internacionais, como a Convenção de
Montreal, por verificar a existência da relação de consumo
entre a empresa aérea e o passageiro, haja vista que a própria
Constituição Federal de 1988 elevou a defesa do consumidor
à esfera constitucional de nosso ordenamento.
2. Discussão quanto ao valor da indenização arbitrada a
título de reparação por danos morais. Inviabilidade no caso
concreto. Tribunal a quo que fixou o quantum indenizatório
balizado pelos princípios da proporcionalidade e razoabilidade,
impedindo a atuação desta Corte, reservada apenas aos casos
de excessividade ou irrisoriedade da verba, pena de afronta
ao texto da Súmula nº 7/STJ.

,\~T~n[ :Jlon, CH!STL\;>.~O SoBRAl., LuuANO F!GUf.!l!EDO, Rom;r<Tn J..'JGIIJ;JRnJo, SAllllJNA DovRAno
319
---- -------·------~~-----.
C,,;,flui,, xa 1
1

3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp


388.975/MA, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 17/10/2013, DJe 24/10/2013) [o art.
544, CPC/73 corresponde ao art. 1.042, CPC/15]

Agravo regimental em agrav\' (art. 544 do CPC) -


Ação de obrigação de fazer ele in'denizatória por dano
moral- Decisão monocrática que deu provimento ao
apelo nobre para majorar o quantum estabelecido a
título de dano moral- Insurgência do réu.
1. O valor da compensação por danos morais admite ele-
vação, nesta sede, quando fixado em patamar irrisório, dis-
tanczando-se dcs critérios da razoabilidade e da proporcio-
nalidade. Hzpotese de inscrição indevida em cadastro de ina-
dtmplentes em que o quantum i11denizatório merece reaiuste
para melhor adequação aos limites normalmente fixado~ por
esta Corte.
2. Descabi~a a revisão dos honorários advocatícios, qua11do
o seu valor, fixado em 10% (dez por cento) da condenação,
nos termos do artz~o 20, § 3º, do CPC, mantém-se adequado,
apesar da ma1oraçao do valor condenatório.
3. Agravo regimental desproc•ido. (AgRg no AREsp
272.600/DF, Rei. Ministro MARCO BUZZI QUARTA
TURMA, julgado em 17/10/2013, DJe 24/10/2013) [os arts.
20, § 3º e 544, CPC/73 correspondem, respectivamente,
aos arts. 85, § 2º e 1.042, CPC/15]

12.2.3.1.5. Dano estético

. Trata-s; da efetiva lesão à integridade corporal da vítima, podendo


s~r mdemzavel. O dano deve ser duradouro ou permanente ou, impe-
dzr as capacidades laborativas.
É possível a cumulação das indenizações relativas ao dano moral
e estético, esse entendimento se encontra disposto na Súmula nº 38Z
~~ .
E o nosso Tribunal da Cidadania?

320
ED!TORA AR:v\-'I.DOR I PRÁTICA CiVIL 1 3d edição
Responsabilidade civil. Agravo regimental no
recurso especial. Exame médico. Biópsia. Falso diag-
nóstico negativo de câncer. Obrigação de resultado.
Responsabilidade objetiva. Dano moral e dano esté-
tico. Cumulação. Possibilidade. Súmula 387/STJ.
Decisão agravada, que se mantém por seus próprios
fundamentos.
1. Na espécie, narram as decisões recorridas que a emís-
são de resultado negativo de câncer, quando, 11a verdade, o
diagnóstico era positivo, retardou de tal forma o tratamento
que culminou, quando finalmente descoberto, em intervenção
cirúrgica drástica provocando defeito na face, com queda dos
dentes e distúrbios na fala; contudo, não a tempo suficiente a
fim de evitar o sofrimento e o óbito do paciente.
2. Este Tribunal Superior já se manifestou no sentido de
que configura obrigação de resultado, a- implicar responsabi-
lidade objetiva, o diagnóstico fornecido por exame médico.
Precedentes.
3. No caso, o Tribunal de origem, com base no acervo fático-
-probatório dos autos, de forma bem fundamentada, delineou
a configuração dos dois danos -o moral e o estético.
4. Nos termos da jurisprudência deste Tribunal Superior,
consolidada na Súmula 387 do ST], é possível a cumulação
de danos morais e estéticos.
5. Nesta feita, a agravante, no arrazoado regimental, não
deduz argumentação jurídica nova alguma capaz de alterar
a decisão ora agravada, que se mantém, na íntegra, por seus
próprios fundamentos.
6. Agravo regimental não provido. (J;gRg no REsp
1117146/CE, Rei. Ministro RAUL ARAUJO, QUARTA
TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 22/10/2013)

12.2.3.1.6. Perda de uma chance

A perda de uma chance acontece quando a vítima possui uma


chance séria e real, englobando tanto o dano moral quanto o material.

ANDRÉ MOTA, CRtSTt.AJ>;O SoBRAL, Lu<.:JANO FJGUIOHU:OO, ROBERTO FIGUEIREDO, S"tJRl"'A DOURADO 321
RESPONSABILIDADE CtVIL
Capítulo XII

O instituto pode ser observado no caso de um programa televi-


sivo, REsp nº 788.459/BA, em que foi apresentada ao participante uma
pergunta que não possuía resposta correta.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

A teoria da perda de uma chance pode ser utilizada


como critério para a apuração de responsabilidade
civil ocasionada por erro médico na hipótese em que
o erro tenha reduzido possibilidades concretas e reais
de cura de paciente que venha a falecer em razão da
doença tratada de maneira inadequada pelo médico.
De infcin, pode-se argumentar ser impossível a aplicação. da
teoria da perda de uma chance na seara médica, tendo em vzsta
a suposta ausência de nexo causal entre a conduta (o erro do
médico) e o dano !lesão gerada pela perda da vida), uma vez
que o prejuízo causado pelo óbito da paciente tev~ como causa
direta e imediata a própria doença, e não o erro medtco. Assnn,
alega-se que a referida teoria estaria em cotifronto claro co~1
a regra insculpida no art. 403 do CC, que veda a mdemzaçao
de danos indiretamente gerados pela conduta do reu. Deve-
-se notar, contudo, que a responsabilidade civil pela perda da
chance não atua, nem mesmo na seara médica, no campo da
mitigação do nexo causal. A perda da chance, ~m verda~e,
consubstancio uma modalidade autônoma de mdenrzaçao,
passível de ser invocada nas hipóteses em que não se puder
apurar a responsabilidade direta do agente pelo dano final.
Nessas situações, o agente não responde pelo resultado para
o qual sua conduta pode ter contribuído, mas ape~ws pela
chance de que ele privou a paciente. A chance em st - desde
que seja concreta, real, com alto grau de probabilidade de
obter um benefício ou de evitar um prejuízo -é constderada
um bem aut8nomo e perfeitamente reparável. De tal modo, é
direto o nexo causal entre a conduta (o erro médico) e o dano
(lesão gerada pela perda de bem jurídico autônomo: a chance).
Inexistindo, portanto, afronta à regra inserida no art. 403 do
CC, mostra-se aplicável a teoria da perda de uma chance aos
casos em que o erro médico tenha reduzido chances concretas

EonoRA AI\MADOR ! PRÁTICA CiviL I 3" edição


RESPONSABILIDADE CIVIL )

rCapítulo XIJ

e reais que poderiam ter sido postas à disposição da paciente.


(REsp 1.254.141-PR, Rei. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 4/12/2012)
I
1
Di1·eito civil. Aplicabilidade da teoria da perda da
chance.
A emissora responsável pela veiculação de pro-
grama televisivo de perguntas e respostas deve inde-
nizar, pela perda de uma chance, o participante do
progtama que, apesar de responder corretamente a
pergunta sobre determinado time de futebol, tenha
sido indevidamente desclassificado, ao ter sua res-
~astc. considerada ertr!da por estarem desacordo com
r .
parte fantasiosa de livro adotado como bibliografia
básica para as perguntas formuladas. De fato, nos co11-
tmtos de promessa de recompensa por concurso, vale a regra
geral de que os concorrentes, ao participarem do concurso,
saben1 de suas condições e a elas se submetem. Dentre essas
condições, está a de se submeter ao pronunciamento dos jul-
aadores do concurso. Entretanto, em casos excepcionalíssi-
';;,os, é possível que se reconheça a nulidade desse julgamento.
Na situação em análise, houve erro no julgamento, o qual foi
efetuado em discordância com a verdade dos fatos- fundando-
~sc apenas na parte fictícia de livro adotado contratualmente
como bibliografia básica -, configurando-se, assim, hipótese
excepcionalíssima apta a afastar a incidência da regra da infa-
libilidade do julgador. Ademais, o concurso era sobre determi-
nado clube de futebol -e não sobre o livro adotado como biblio-
grafia-, razão pela qual inadmissível exigir que o participante
respondesse erradamente, afastando-se da realidade dos fatos
atinentes ao clube. Nesse contexto, deve ser aplicada a regra
da boa1é objetiva em prol do participante e em detrimento da
organizadora do certame, ao mesmo tempo em que há de ser
aplicada a regra segundo a qual o contrato será interpretado
em detrimento do estipulante. (REsp 1.383.437-SP, Rel Min.
Sidnei Beneti, julgado em 13/8/2013)

fi.NDRf, :\1VrA, CJu~·I!Af'(l SOBRAL, LUCIANO ftCUEiliEDO, ROBERTO flGUL!l\EDO, SABR!NA DOURAIJO 323
Cq>ítu)n Xll

12.2.4. NEXO DE CAUSALIDADE

Compreendido como vínculo ou ligação de causa e efeito entre


a co~d~ta e o ;es~ltado, existindo diversas teorias, sendo adotada
pela JUnsprudenCia a Teoria do Dano Direto e Imediato. Citamos as
pnnc1pms teonas: !

• Teoria da equivalência das condições/conditio sinequa non- ine-


xrste drferença entre os antecedentes do resultado danoso, de
forma que tudo concorrerá para o evento considerado causador
Não é adotada em nosso ordenamento. .
• Teoria da causalidade adequada- adotada nos arts. 944 e 945
CC, cons~dera-se como causa todo e qualquer evento que tenh~
contnbtnrlo para a efetivR ocnrrêt1d-1 d() rP<::ldt~rin nPve>-<::P
estar dianre de uma causa adequada e ~pt-~ à-~f~~i~~ç-~o- d~
resultado.

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Recurs'? especial. Civil. Responsabilidade civil.


Prescrzçao. Não configuração. Fuga de paciente
menor de estabelecimento hospitalar. Agravamento
da doença. Morte subsequente. Nexo de causalidade
Concorrên_cia de culpas. Reconhecimento. Redução d~
conde~açao. Recurso parcialmente provido.
1. Nao mcrdem as normas do Código de Defesa do Consu-
r:zzdm~ ~o;qu.anto o evento danoso ocorreu em data anterior
a sua vzgencza.
Ficam, assim, afastadas a responsabilidade objetiva (CDC,
art. 14) e a prescrição quinquenal (CDC, art. 27), devendo ser
a controvérsia dirimida à luz do Código Civil de 1916.
2. Aplica-se o prazo prescricional de natureza pessoal de
que trata o art. 177 do Código Civil de 1916 (vinte anos), em
hannonra com o disposto no art. 2.028 do Código Civil de
2002, ficando afastada a regra trienal do art. 206 § 3º V do
CC/2002. ' ' '
. 3. Na aferição do nexo de causalidade, a doutrina majoritá-
na de Drrezto Czvzl adota a teoria da causalidade adequada ou

324 EDITORA AR\lADOR I PRÂTICA CiviL 1 3a edição


do dano direto e imediato, de maneira que somente se consi-
dera existente o nexo causal quando o dano é efeito necessário
e adequado de uma causa (ação ou omissão). Essa teoria foi
acolhida pelo Código Civil de 1916 (art. 1.060) e pelo Código
Civil de 2002 (art. 403).
4. As circunstâncias invocadas pelas instâncias ordinárias
levaram a que concluíssem que a causa direta e determinante
do falecimento do menor fora a omissão do hospital em impe-
dir a evasão do paciente menor, enquanto se encontrava sob
sua guarda para tratamento de doença que poderia levar à
morte.
5. Contudo, não se pode perder de vista sobretudo a atitude
negligente dos pais após a fuga do menor, contribuindo como
causa direta e também determinante para o trágico evento
danoso. Está-se, assim, diante da concorrência de causas,
atualmente prevista expressament"e iZO art. 945 do Código
Civil de 2002, mas, há muito, levada em conta pela doutrina
e jurisprudência pátrias.
6. A culpa concorrente é fator determinante para a redução
do valor da indenização, mediante a análise do grau de culpa
de cada um dos litigantes, e, sobretudo, das colaborações indi-
viduais para confirmação do resultado danoso, considerando a
relevârzcia da conduta de cada qual. O evento danoso resulta
da conduta culposa das partes nele envolvidas, devendo a
indenização medir-se conforme a extensão do dano e o grau
de cooperação de cada uma das partes à sua eclosão.
7. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1307032/
PR, Rei. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 18/0612013, DJe 0110812013).

• Teoria do dano direto e imediato -será indenizável todo o dano


em que se tenha uma causa, ainda que remota, todavia neces-
sária, encontrando respaldo no Código Civil, em seu artigo 403.

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Responsabilidade civil. Tabagismo. Ação repara-


tória ajuizada por familiares de fumante falecido.
Prescrição inocorrente. Produto de periculosidade

ANDRÊMOTA, CRISTIANO $061!.-IL, Ll'CPS(J FIGU[IRFDO, ROBERTO fl<iUORFDO, SAil.RINA Dot'RAIJO


325
!RESPONSABILIDADE CIVIL
Capítulo xul
inerente. Inexistência de violação a dever jurídico
relativo à informação. Nexo causal indemonstrado.
Teoria do dano direto e imediato (interrupção do nexo
causal). Improcedência do pedido inicial.
(. . .) 2. A pretensão de ressarcimento do próprio fumante
(cuja prescrição é quinquenal, REsp. n' 489.895/SP), que
desenvolvera moléstias imputadas ao fumo, manifesta-se
em momento diverso da pretensão dos herdeiros, em razão
dos alegados danos morais experimentados com a morte do
fumante. Só a partir do óbito nasce para estes ação exercitá-
,>e[ (actio nata), com o escopo de compensar o pretenso dano
próprio. Preliminar de prescrição rejeitada. 3. O cigarro é um
prudutu de J.h:riculosidüdc iHt:reHte ç: não um p-roduto defci·-
tuoso, nos termos do que preceitua o Código de Defesa do
Consumidor, pois o defeito a que alude o Diploma coHsubstan-
cia-se em falha que se desvia da normalidade, capaz de gerar
uma frustração no consumidor ao não experimentar a segu-
rança que ordinariamente se espera do produto ou serviço.
4. Não é possível simplesmente aplicar princípios e valores
hoje consagrados pelo ordenamento jurídica a fatos suposta-
mente ilícitos imputados à indústria tabagista, ocorridos em
décadas pretéritas- a partir da década de cinquenta -, alcan-
çando notadamente períodos anteriores ao Código de Defesa
do Consumidor e a legislações restritivas do tabagismo. 5.
Antes da Constituição Federal de 1988 -raiz normativa das
limitações impostas às propagandas do tabaco -, sobretudo
antes da vasta legislação restritiva do consumo e publicidade
de cigarros, aí incluindo-se notadamente o Código de Defesa
do Consumidor e a Lei nº 9.294196, não havia dever jurídico
de informação que impusesse às indústrias do fumo uma con-
duta diversa daquela por elas praticada em décadas passadas.
6. Em realidade, afirmar que o homem não age segundo o seu
livre-arbítrio em razão de suposta "contaminação propagan-
dista" arquitetada pelas indústrias do fumo é afirmar que
nenhuma opção feita pelo homem é genuinamente livre, por-
quanto toda escolha da pessoa, desde a compra de um veículo
a um eletrodoméstico, sofre os influxos do meio social e do
marketing. É desarrazoado afirmar-se que nessas hipóteses a
vontade não é livre. 7. A boa1é não possui um conteúdo per

ç'""""nh 1lnM~nnu I PRÁTICA CIVIL j 3a edição


RESPONSABILiDADE CIVIL I
rCapítulo XII

se, a ela inerente, mas contextual, com significativa carga


histórico-social. Com efeito, em mira os fatores legais, histó-
ricos e culturais vigentes nas décadas de cinquenta a oitenta,
não há como se ag,'tar o princípio da boa1é de maneira fluida,
sem conteúdo subStancial e de forma contrária aos usos e aos
costumes, os quais preexistiam de séculos, para se chegar à
conclusão de que era exigível das indústrias do fumo um
dever jurídico de informação aos fumantes. Não havia, de
fato, nenhuma norma, quer advinda de lei, quer dos princí-
pios gerais de direito, quer dos costumes, que lhes impusesse
ta! comportamento. 8. Além do mais, somente rende ensejo à
responsabilidade civil o nexo causal demonstrado segundo os
,narâmetms jurídicos adotados pelo ordenamento. Nesse passo,
vigora do direito civil brasileiro (art. 403 do Código Civil de
2002 e art. 1.060 do Código Civil de 1916), sob a vertente dà
necessariedade, a "teoria do dano direto e imediato", também
conhecida como "teoria do nexo causal direto e imediato" ou
"teoria da interrupção do nexo causal". 9. Reconhecendo-se
a possibilidade de vários fato;-es contribuírem para o resul-
tado, elege-se apenas aquele que se filio ao dano mediante
wna relação de necessariedade, vale dizer, dentre os vários
antecedentes causais, apenas aquele elevado à categoria de
caus11 nece~sária do dano dará e11sejo ao dever de indenizar.
10. A arte médica está limitada a afirmar a existência de fator
de risco entre o fumo e o câncer, tal como outros fatores, como
a alimentação, álcool, carga genética e o modo de vida. Assim,
somente se fosse possível, no caso concreto, determinar quão
relepante foi o cigarro para o infortúnio (morte), ou seja, qual
a proporção causal existente entre o tabagismo e ofaleômento,
poder-se-ia cogitar de se estabelecer um nexo causal juridica-
mente satisfatório. 11. As estatísticas- muito embora de reco-
nhecida robustez - não podem dar lastro à responsabilidade
civil em casos concretos de mortes associadas ao tabagismo,
sem que se investigue, episodicamente, o preenchimento dos
requisitos legais. 12. Recurso especial conhecido em parte e,
na extensão, provido. (REsp nº 1113804/RS, rei. Ministro
Luís Felipe Salomão, 4' Turma, j. em 27.04.2010, DJe,
24.06.2010) (ver Informativo nº 432)

.'~NDp;[ lllüTA, CRISTI>.No SouRM., l.uct,\NO F!GU!omrvo, Rosurro fJGlFEHlEDO, SAniW"I>I [)ouRADO 327
12.2.4.1. Concorrência de causas

a) Subsequentes -é causado pela prática de conduta oriunda de


um ato fundamentando prática posterior.
b) Complementares- é gerado pela a prática da conduta de dois
ou mms. agentes que, sem a ajuda do outro, não seria ating~do o fim
pretend1do. '
. c) Cumulativas - não haveria necessidade da soma da conduta
dos agentes, tendo em vista que de qualquer torma 0 objetivo-fim
sena alcançado.
d) Alternativas - não é possível determinar o agente causador
do dano.
e) Preexistentes- 2_ conduta do 2.,."";+-o '""" . . . <:; cA ..,..,::;!""' -::.ti..-. . •
resultado-fim. se já existisse outra cau:a~·--'- t"'-'' _,. _,, .... , ....... ú,,, .g1na o

. f) Concomitantes - são causas geradoras do dano que são pro-


duzidas ao mesmo tempo.
g) Supervenientes - surgem após 0 evento danoso.

12.3. RISCO

. . Dentre as diversas espécies de risco presentes no ordenamento


JUndico, menciOnamos as principais:
• risco prov:'ito - o ônus total deve ser suportado por quem
recebe o bonus;
• risco profissional- advém das relações laborais;
• risco excepcional- origina-se de atividades que exigem elevado
grau de pengo;
• risco integral - forma mais elevada de responsabilidade obje·
hva por madm1t1r exclusão de culpabilidade, em razão de o

328 EDITOR-"'- ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


agente ser o responsável universal, adotado excepcionalmente
no ordenamento jurídico nas seguintes formas:
• dano ambiental: art. 225, § 3º, CF/88 c/c o art. 14, § 1º, da Lei
nº 6.931/81, prevê que tal dano deverá ser reparado indepen-
dentemente de culpa;
• seguro obrigatório- DPVAT: Lei nº 6.194/74 alterada pela Lei
nº 8.441/92, estabelece indenização às vítimas de acidente de
veículos automotores independente de culpa ou de identifica-
ção do veículo automotor;

E o nosso Tribunal da Cidadania?


Súmula nº 405, STJ: "A ação de cobrança do seguro obri-
gatório (DPVAT) prescreve em três anos."

Súmula nº 426, STJ: "Os juros de mora na indenização


do seguco DPVAT fluem a partir da citação."

Súmula nQ 474, STJ: "A indenização do seguro DPVAT,


em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de
forma proporcional ao grau da invalidez."

Súmula nQ 540, STJ: "Na ação de cobrança do seguro


DPVAT, constitui faculdade do autor escolher entre os foros
do seu domicílio, do local do acidente ou ainda do domicílio
do réu."
Súmula nQ 573, STJ: "Nas ações de indenização decor-
rentes de seguro DPVAT, a ciência inequívoca do caráter
permanente da invalidez, para fins de contagem do prazo
prescricional, depende de laudo médico, exceto nos casos de
invalidez permanente notória ou naqueles em que o conhe·
cimento anterior resulte comprovado na fase de instrução".

~ danos nucleares - art. 21, inciso XXIII, "d", CF, aqui também
foi adotada a teoria do risco integral.

A."lORf MoTA., CRISTIA-NO SOBRAL, LüCJA~O FIGUEIREDO, RoBERTO flG\}F!Rf.OO, SAIHl!NA DoCRADO
329
RESPONSABILIDADE CIVIL

Ca-pítub XII

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito civil. Responsabilidade civil objetiva.


Dano ambiental.
A responsabilidade por dano ambiental é objetiva
e pautada no risco integral, não se admitindo a apli-
cação de excludentes de responsabilidade. Conforme a
previsão do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.93811981, recepcionado
pelo art. 225, §§ 2º e 3º, da CF, a responsabilidade por dano
ambiental, fundamentada na teoria do risco integral, pressu-
põe a existência de uma atividade que implique riscos para a
saúde e para o meio arnbienter impondo-se ao empreendedor
ü obrigação de pteuenir ta-is riscos (principia da pr:!?Y?~1çào)
e de internalizá-los em seu processo produtivo (princípio do
poluidor-pagador). Pressupõe, ainda, o dano ou riscp de dano
e o nexo de causalidade entre a atividade e o resultado, efetivo
ou potencial, não cabendo invocar a aplicação de excludentes
de responsabilidade. Precedente citado: REsp 1.114.398-PR,
D]e 16/212012 (REPETITIVO). (REsp 1.346.430-PR, Rel.
Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 18/10/2012)

12.4. RESPONSABILIDADE POR ATO PRÓPRIO

Decorre por ato do próprio agente, causador do dano. Está pre-


vista nos artigos 939 e 940 da lei civil.
De acordo com art. 939, quem demandar judicialmente contra
devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o
permita, ficará obrigado a aguardar o vencimento, bem como pagar
as custas em dobro, sendo obrigado ainda a descontar os juros, por
serem, até o momento, indevidos.
Já o dispositivo subsequente dispõe que aquele que demandar
judicialmente por dívida já paga, ainda que somente parte desta, ficará
obrigado a pagar ao devedor, o dobro do que houver cobrado. E, ainda,
se litigar sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que
tor devido, ficará obrigado a pagar ao devedor o equivalente do que

no
RESPONSABILIDADE CIVIL

Capíwlo X11

dele exigir. Em ambos os casos, fica ressalvado se já tiver ocorrido a


prescrição. o
A diferença entre o artigo 940 do Código Civil e o parágrafo único
do artigo 42 da Lei nº 8.078/90, é qu<[ o primeiro somente se aplica às
cobranças judiciais e o segundo, a todas as judiciais e extrajudiciais.

12.5. RESPONSABILIDADE PELO FATO DE OUTREM OU


RESPONSABILIDADE INDIRETA

Conforme disposto no artigo 932 do Código Civil, trata-se de


caso que terceiros praticam o ilícito e o responsável legal responde
pelo fato, isto é, responde (Haftung) mesmo sem ter contraído o débito
(Schuld). A lei civil adotou para esses casos a responsabilidade objetiva,
de acordo com o artigo 933.
A responsabilidade solidária prevista no artigo 942 da Lei Civil
é aplicável nos casos dos incisos III, IV e V do artigo 932.

• Os pais responderão pelos atos dos filhos sob sua guarda e


companhia, ainda que provem não terem agido com negligên-
cia. A responsabilidade será objetiva, e de acordo com a Teoria
da Substituição, os pais substituirão os filhos.

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito civil e processual civil. Interposição de


recurso pelo filho menor em face de sentença condena-
t6ria proferida em ação proposta unicamente em face
de seu genitor com fundamento na responsabilidade
dos pais por ato ilícito que teria cometido.
O filho menor não tem interesse nem legitimidade
para recOI'J"er da sentença condenat6ria proferida
em ação proposta unicamente em face de seu geni-
tor com fundamento na responsabilidade dos pais
pelos atos ilícitos cometidos por filhos menores. O art.
499, § 1º, do CPC [conesponde ao art. 996, p. ú., CPCII5]
assegura ao terceiro prejudicado a possibilidade de interpor

331
~---

recurso de determinada decisão, desde que ela afete, direta


ou mdzretamente, uma relação jurídica de que seja titular.
~sszm, !aJ~a ?u.e se;a admissível o recurso de pessoa estranha
arelaçao ]Urtdrco?rocessual já estabelecida, Jaz-se necessá-
na a demonstraçao do prejuízo sofrido em razão da decisão
~ud!c~al, ou se;a: ? terceiJ:o _deve demonstrar seu inten;sse
1
;urzdzco
932 quanto a mterposzçao do recurso • O CC no fj'e'd Üf
I ~.
J.

, trata das hipóteses em que a responsabilidade civil pode


ser atnburda a quem não seja o causador do dano, a exemplo
da responsabrlrdade dos genitores pelos atos cometidos por
seus filhos menores (mcrso I!, que constitui modalidade de
responsab;lrdade objetiva decorrente do exercício do poder
famrlrar.,E_ certo que, conforme o art. 942, parágrafo único,
do CC, sao solzdanamente responsáveís com os autores, os·
coautores
,r, 'd d.
e as pessoas desi,;nadas
_ no art. 932". y,odama,
· o
re;en o rspositivo legal deve ser interpretado em conjunto
com os arts. 928 e 934 do CC, que tratam, respectivamente,
da resp~nsabrlrdade subsidiária e mitigada do incapaz e da
mexrstencra de drrerto de regresso em face do descendente
a.bsoluta ou relatzvamente íwapaz. Destarte{ o patrimônio do
filho menor somente pode responder pelos prejuízos causa-
dos _a outrem se as pessoas por ele responsáueis não tiverem
obrzgação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficimtes.
Mesmo asstm, nos termos do parágrafo único do art. 928, se
for~ caso,de a~zng_zmento do patrimônio do n1e1101~ a indeni-
z~çao sera equztatzva e não terá lugar se privar do necessário
o mcapaz ou as pessoas que dele dependam. Portanto, deve-se
concluzr que o filho menor não é responsável solidário com
seus_ genztores pelos danos causados, mas, sim{ subsidiário.
Asszm, tr~tando-se de pessoa estranha à relação jurídico-pro-
ce~sual ;a estabelecid~ e não havendo demonstração do pre-
J~'z? sofrrdo e':' r~zao da decisão judicial, configura-se, na
hzpote_se, a carencza de mteresse e legitimidade para a inter-
poszçao de recurso. (REsp 1.319.626-MG, Rei. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 26/2/2013)

. D_i~eit? civil e processual civil. Responsabilidade


czvtlmdtreta dos pais pelos atos dos filhos. Excluden·
tes. Reexame de matéria fática.

332 EDJTOR:\ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 y edição


1. - Os pais respondem civilmente, de forma objetiva, pelos
atos do filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em
sua companhia (artigo 932, I, do Código Civil).
2. - O fato de o menor não residir com o(a) genitor(a) não
configura, por si só, causa excludente de responsabilidade
civil.
3. - Há que se investigar se persiste o poder familiar com
todas os deveres/poderes de orientação e vigilância que lhe
são inerentes.
Precedentes.
4. -No caso dos autos o Tribunal de origem não esclareceu
se, a despeito de o menor não residir com o Recorrente, estaria
também configurada a ausência de relações entre eles a eviden-
ciar um esfacelamento do poder famiíiar. O exame da questão,
tal como enfocada pela jurisprudência da Corte, demandaria
a análise âe Íai:us c provas, o que veda a _Súmula 07/STr
5. - Agravo Regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 220.930/MG, Rei. Ministro SIDNEI
BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/10/2012,
DJe 29/10/2012)

• A responsabilidade do tutor e curador pelos pupilos e curate-


lados sob sua autoridade e companhia é tratada nos mesmos
ditames que a responsabilidade dos genitores. Ressalte-se que
inexiste proibição legal sobre direito de regresso em face dos
pupilos ou curatelados.
• O empregador ou comitente responde por seus empregados,
serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes com-
petir ou em razão dele.
Antes do Código Civil de 2002, nesses casos, havia a responsabili-
dade por culpa in elegendo, como culpa presumida na forma da Súmula
nº 341 do STF que, ao final, resultava nas mesmas consequências pre-
vistas no atual diploma civil, que transformou em responsabilidade
objetiva. ·
A norma abrange toda e qualquer relação empregatícia com
subordinação, chamada de preposição.

333
A)'.;Dl!.~ Mon., CR!SnANO SoBR>\l-, LUCIANO fiGUEIRI:DO, ROBERTO FJ.CUI:IIl.EDO, SARRI~A DouRADO
RESPONSABILIDADE CIVIL

Capítulo XH

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Recurso especial. Ação de responsabilidade civil


por fato de outrem (empregador). Art. 932, III,
CC/2002. Acidente de trânsito causado por preposto.
Falecimento do marido. Danos materiais e morais.
Ação penal. Causa impeditiva da prescrição. Art. 200
do CC/2002. Ocorrência.
I. Impera a noção de independência entre as instâncias
civil e criminal, uma vez que o mesmo fato pode gerar, em
tais esferas, tutelas a diferentes bens jurídicos, acarretando
níveis diversos de intervenção. Nessa seara, o novo Código
Civíi previu dispositivo inéàito em seu art. 200, reconhtcendu
c causa impeditiva da prescrição: "quando a ação se originar

de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a


prescrição antes da respectiva sentença definitiva".
2. Estabeleceu a norma, em prestígio à boafé, que o início
do prazo prescricional não decorre da violação do direito sub·
jetivo em si, mas, ao revés, a partir da definição por sentença,
no juizo criminal, que apure definitivamente o fato. A apli-
cação do art. 200 do Código Civil tem valia quando houver
relação de prejudicialidade entre as esferas cível e penal- isto
é, quando a conduta originar-se de fato também a ser apurado
no juizo criminal-, sendo fundamental a existência de ação
penal em curso (ou ao menos inquérito policial em trâmite).
3. Na hipótese, houve ação penal com condenação do moto-
rista da empresa ré, ora recorrida, à pena de 02 (dois) anos de
detenção, no regime aberto, além da suspensão da habilitação,
por 06 (seis) meses, como incurso no art. 302 do Código de
Trânsito Brasileiro, c/c art. 121, § 3º, do Código Penal, sendo
que a causa petendi da presente ação civil foi o ilícito penal
advindo de conduta culposa do motorista da empresa recorrida.
4. O novo Código Civil (art. 933), seguindo evolução dou-
trinária, considera a responsabilidade civil por ato de terceiro
como sendo objetiva, aumentando sobejamente a garantia da
vítima. Malgrado a responsabilização objetiva do emprega-
dor, esta só exsurgirá se, antes, for demonstrada a culpa do
empregado ou preposto, à exceção, por evidência, da relação
de consumo.
RESPONSABILIDADE CIVIL r

jcap!tulo XII

5. Assim, em sendo necessário- para o reconhecimento da


responsabilidade civil do patrão pelos atos do empregado -a
demonstração da culpa anterior por parte do causador direto
do dano, deverá, também, incid\r a causa obstativa da prescri-
ção (CC, art. 200! no tocante à' referida ação civil ex delicto,
caso essa conduta do preposto esteja também sendo apurada
em processo criminal.
Dessarte, tendo o acidente de trânsito - com óbito da
vítima- ocorrido em 27/312003, o trânsito em julgado da ação
penal contra o preposto em 9/1/2006 e a a.ção de indenização
por danos materiais e morais proposta em 217/2007, não há
falar em prescrição.
6. É -'firmp n iurisnrudência
/ '
do STJ de aue
'
/la sentença
penal condenatória não constitui título executivo contra o
responsável civil pelos danos decorrentes do ilícito, que não
fez parte da relação jurídico-processual, podendo ser ajuizada
contra ele ação, pelo processo de conhecimento, tendente à
obtenção do título a ser executado" (REsp 343.917/MA, Rei.
Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado
em 1611012003, D/ 0311112003, p. 315), como ocorre no pre-
sente caso.
7. Recurso especial provido. (REsp 1135988/SP, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 08/10/2013, OJe 17/10/2013)

Civil e processual. Recurso especial. Ação indeni-


zatória. Responsabilidade civil do empregador por
ato de preposto (art. 932, IH, CC). Teoria da aparên-
cia. Responsabilidade objetiva. Precedentes.
1. Nos termos em que descrita no acórdão recorrido a dinâ-
mica dos fatos, tem~se que a autor do evento danoso atuou na
qualidade de vigia do local e, ainda que em gozo .de licença
médica e desobedecendo os procedimentos da ré, praticou o
ato negligente na proteção do estabelecimento.
2. Nos termos da jurisprudência do STJ, o empregador
responde objetivamente pelos atos ilícitos de seus emprega-
dos e prepostos praticados no exercício do trabalho que lhes
competir, ou em razão dele (arts. 932, IH, e 933 do Código
Civil). Precede11tes.

335
(_- tpituio .\Jll
3. Recurso especial provido. (REsp 1365339/SP, Rel.
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, juigado em 02/04/2013, Dje 16/04/2013)

• Referente aos donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabele-


cimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de
educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos. Aqui,
destacamos alguns pontos.

Caso o CC/2002 não dispusesse sobre essa matéria, os hotéis,


em especial, responderiam também, de maneira objetiva, por força
do artigo 14 da Lei nº 8D78/90 (CDC), visto que decorre do risco da
atividade desenvolvida.
Tanto nos casos dos hospitais, clínicas e outros estabelecimentos
similares, bem como nas escol.:ls, enquanto estiverem no refcri-:!olGcat
aplica-se a teoria da guarda.
Quando o paciente nos hospitais for meno; ou adolescente, deverá
ser observado o artigo 12 da Lei nº 8.069/90 do ECA, com redação dada
pela Lei nº 13.257/2016: "Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de cuidados
intermediários, deverão proporcionar condições para a permanência
em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de inter-
nação de criança ou adolescente ..."
Atualmente, fala-se nos casos de bullying, que consiste na prática
infantil de deboche com isolamento da pessoa naquela comunidade,
geralmente ocorrendo nos colégios. Sobre o tema citamos a recente
Lei nº 13.185, de 06.11.2015, que institui o Programa de Combate à
Intimidação Sistemática (Bullying). Há responsabilidade pedagógica
do estabelecimento de ensino, sob pena de infração administrativa,
conforme artigo 245 do ECA:

Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por


estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental,
pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente
os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou
confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente.
Pena- multa de três a vinte salários de referência, aplican-
do-se o dobro em caso de reincidência.

336 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CtVJL I 3a edição


Civil e processual. Ação indenizatória. Morte ~e
menor em passeio escolar, por afogamento em pts-
cina. Responsabilidade reconhecida. Prova. Reexa.me.
Imposst'b'l'dt t a d e. Su' mula nº7-STJ.
. Dano .moral.,Ftxa-
.
- p •
çao. arame r . t o Pensão devtda aos pats da. vtttma.
Dedução de 1/3 a título de despesas pessoats. .
I. Responsabilidade da escola reconheci~a pelo Trzbunal
estadual em face da prova, cujo reexame e vedado em sede
es ecial, ao teor da Súmula n' 7 do STJ. •
· PII. Dano moral reduzido, para amoldar-se aos parametros
usualmente adotados pela Turma. . , .
III. Na fixação da pensão devida aos pazs da vzttma menor
d 'dade deve ser deduzida a parte da renda que serza destz- o

n:~a ao,próprio sustento do de cujus (113). .


IV Recurso conhecido em parte e parcz:'}:_rr;_en!~ pror;_z~o;~
(REsp 506 _2S4/SP, Rel. Ministro ALDlK J:'A::oSAt\.u'Jnu
JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 19/02/2004,
Dj 22/03/2004, p. 312)

- responsab.l.
,. Serao 1 1za
dos obJ. etivamente os que
.
gratuitamente
,
. . do nos produtos do cnme, ate a concor-
houverem par t lC!pa
. da qual tirou o proveito efetivo, consagrando o
rente quant Ia .
Princípio da reparação do indev1do.

. da Lei Civil trata do direito de regresso. E somente


• O artigo 934 , , I I d' .t
. . I do artigo 932 não sera cablve ta Ire! o.
no caso d o InCISO
Atenção!

12.5.1. A RESPONSABILIDADE CIVIL E CRIMINAL

·l'd de c1·vn é independente da criminal. Há comu-


A responsab1 1 a
. - t I s todavia prevalecerá de forma absoluta o reconhe-
nicaçao en re e a , '
cimento do fat~ e de autoria na justiça penal (art. 93~ do ~C). Antes
• .
d o trans1to . I do da sentença penal condenatona nao corre a
em JU ga . · d· · 1
. _ ( t do CC) formando título execut1vo JU !Cla na
prescnçao ar . 200 '
jurisdição civil, consoante disposição do CPC.

, O ROBERTO fJGÚEI!lEDO, SABRINA DoURADO


337
ANDRÉ MOTA, CR!ST!A"iO SoBRAL, LUCIANO fJGUElRED '
I RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo Xll \

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Responsabilidade civil. Prescrição. Suspensão.


Acidente de trânsito.
A independência entre os juízos cíveis e criminais (art.
935 do CC! é apenas relativa, pois existem situações em que
a decisão proferida na esfera criminal pode interferir direta-
mente naquela proferida no juízo cível. O principal efeito civil
de uma sentença penal é produzido pela condenação criminal,
pois a sentença penal condenatória Jaz coisa julgada no cível.
Porém, não apenas se houver condenação criminal, mas tam-
bém se acorrerem alf(umas situações de absolvição criminal,
essa decisão fará coisa julgada no cível. Entretanto, o CPC
autoriza (art. 265, IV) [corresponde ao art. 313, V, CPC/15]
a suspensão do pr~cesso, já que é comum as duas ações tra-
mitarem paralelamente. Dessa forma, o juiz do processo cível
pode suspendê-lo até o julgamento da ação penal por até um
ano. Assim, situa-se nesse contexto a regra do art. 200 do CC.
ao obstar o transcurso do prazo prescricional antes da solu-
ção da ação penal. A finalidade dessa norma é evitar soluções
contraditórias entre os juízos cíveis e criminais, especialmente
quando a solução do processo penal seja determinante do
1·est!ltado do cível. Sendo assim, permite-se à vítima aguardar
a solução da ação penal para, apenas depois, desencadear a
demanda indenizatória na esfera cível. Por isso, éfundamental
que exista processo penal em curso ou, pelo menos, a tramita-
ção de inquérito policial até o seu arquivamento. In casu, cui-
dou-se, na origem, de ação de reparação de danos derivados de
acidente de trânsito (ocorrido em 2618/2002) proposta apenas
em 7/212006, em que o juízo singular reconheceu a ocorrência
da prescrição trienal (art. 206 do CC), sendo que o tribunal a
quo afastou o reconhecimento da prescrição com base no art.
200 do CC. por considerar que deveria ser apurada a lesão cor-
poral culposa no juízo criminal. Porém, segundo as instâncias
ordinárias, não foi instaurado inquérito policial, tampouco
iniciada a ação penal. Assim, não se estabeleceu a relação de
prejudicialidade entre a ação penal e a ação indenizatória ~m
torno da existência de fato que devesse ser apurado no JUIZO
criminal como exige o texto legal (art. 200 do CC). Portanto,
RESPONSABILIDADE CIVIL I
jcapítulo XII

não ocorreu a suspensão ou óbice da prescrição da pretensão


mdenizatór~a prevista no art. 200 do CC, pois a verificação
da czrcunstancw fa11ca não era prejudicial à ação indeniza-
tória, até porque não houve a repres"ntação do ofendido e,
consequentemente, a existência e rec~bimento de denúncia
Precedentes citados: REsp 137.942-RJ, DJ 2/311998; REs~
622.117-PR, DJ 31/512004; REsp 920.582-RJ, DJe 24/11/2008,
e REsp 1.131.125-RJ, DJe 18/512011. (REsp 1.180.237-MT, Rei.
Mm. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/6/2012.)

:l ATENÇÃO!
Observe a recente Súmula do STJ:

Súmula n" 575, STJ: "Constitui crime a conduta de per-


mzhr, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a
pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qual-
quer das situaçõe: previstas no art. 310 do CTB, independm-
temente da ocorrene1a de lesão ou de perigo de dano concreto
na condução do veículo."

12.6. RESPO~SABILIDADE PELO FATO D.O ANIMAL,


POR RUINA, POR COISAS CAÍDAS OU LANÇADAS

O dono de edifício ou construção responde pelos danos que


resultarem de sua ruína, se esta advir da falta de reparos necessários.
Aq~ele que habitar prédio, ou parte dele, é responsável ·pelo
dano onundo das cozsas que dele caírem ou forem lançadas em lugar
indevido.
Quando não houver possibilidade de identificar o autor do lan-
çamento de objetos em um prédio com diversos blocos, a doutrina
entende que se aplica a Teoria da Pulverização dos Danos, respon-
dendo todos os condôminos por não se conseguir individualizar a
conduta.
No que tange à responsabilidade por fato do animal aplica-se a
teoria da guarda, devendo o dono ou o detentor do animal ressarcir

ANDRÉ Mo·! A, Cll:JSTIANO So!HtAI, LUCIANO I'IGUI:lREPO, ROBI;R r-o I'IGUElRHJO, SAIIRlNA DOURAI)O 339
o dano causado por este. Essa regra é aplicável tanto ao adestrador
quanto aos estabelecimentos especializados. Nestas hipóteses, cabe a
isenção de responsabilidade mediante produção probatória da culpa
exclusiva da vítima ou força maior.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Responsabilidade civil e direita da consumidor.


Recurso especial. Alegação de omissão da julgada.
Art. 535 da CPC. Inexistência. Espetáculo circense--
marte de criança em decorrência de ataque de leões-
circo instalado em área utilizada como estaciona-
menta de shopping center. Legitimidade passiva das
locadoras. Desenvolvimento de atividade de entre-
tenimento com o fim de atrair um maior número de
consumidores. Responsabilidade. Defeito da serviço
(vício de qualidade par insegurança). Dano moral.
Valor exorbitante. Redução. Multa. Art. 538 do CPC.
Afastamento. 1. O órgão julgador deve enfrentar as questões
relevantes para a solução da litígio, afigurando-se dispensrivel
a exame de todas as alegações efundamentos expendidos pelas
partes. Precedentes. 2. Está presente a legitimidade passiva
das litisconsortes, pois a acórdão recorrido afirmou que o circo
foi apenas mais um serviço que a condomínio do shopping,
juntamente com as sociedades empresárias rés, integrantes de
um mesmo gmpa societário, colocaram à disposição daqueles
que frequentam o local, com o único objetivo de angariar clien-
tes potencialmente consumidores e elevar as lucras. Incidência
da Súmula 7/STJ. 3. No caso em julgamento- trágico acidente
acorrido durante apresentação do Circo Vastok, instalado em
estacionamento de shopping center, quando menor de idade foi
morto após ataque por leões -, a art. 17 da Código de Defesa
do Consumidor estende o conceito de consumidor àqueles
que sofrem a consequência de acidente de consumo. Houve
vício de qualidade na prestação da serviço, por insegurança,
conforme asseverado pela acórdão recorrido. 4. Ademais, o
Código Civil admite a responsabilidade sem culpa pelo exer-
cício de atividade que, por sua natureza, representa risco para
outrem, cama exatamente no caso em apreça. 5. O valor da

340 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA ÜVIL ! Y edição


indenização par dana moral sujeita-se ao controle do Superior
Tribunal de Justiça, na hipótese de se mostrar manifestamente
exagerada ou irrisório, distanciando-se, assim, das finalida-
des da lei. O valor estabelecida para indenizar a dano moral
experimentado revela-se exorbitante, e deve ser reduzido aos
parâmetros adotadas pelo STJ. 6. Não cabe multa nas embar-
gos declaratórios opostos com intuito de prequestianamento.
Súmula 98/ST]. 7. Provimento parcial da recurso especial.
(REsp nº 1.100.571/PE, rel. Ministro Luís Felipe Salomão,
4ª Turma, j. em 07.04.2011, DJe, 18.08.2011). [os arts. 535 e
538, CPC/73 correspondem, respectivamente, aos arts.
1.022 e 1.026, CPC/15]

12.7. A RESPONSABiLiDADE CIVIL NO CDC

A lei consumerista não distingue a responsabilidade contratual e


a extracontratual e, apresenta duas modalidades de responsabilidades:
por vício e por fato.

12.7.1. A OCORRÊNCIA DO VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

A presente matéria está disposta nos artigos 18, 19, 20, 23 e 26 da


Lei nº 8.078/90, que diz:

Vício é a impropriedade ou a inadequação do pro-


duto ou serviço que fere a expectativa do consumidor.
Possui a vício uma natureza intrínseca e pode ele ser
de fácil constatação, aparente e oculto.

O vício do produto pela falta de qualidade se encontra no artigo


18, e pela quantidade, no artigo 19. ,
Sendo o vício pela falta de qualidade salienta o artigo 18:

ANDRÉ MOTA., CRISTIANO SOBRAL, Lt:CIANO F!GUElRl:DO, Rüi>[RTO F!Gl:ClREDO, SABRINA DOURADO 341
!RESPONSABILIDADE CiVIL Capítulo XII I

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo d;Lráveis


ou não duráveis respondem solidariamente pelos vzcws de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou ina-
dequados ao consumo a que se destinam ou lhes dzmmuam
0
valor, assim como por aqueles decorrentes da d1sparzdade,
com as indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas.
§ 1º. Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta
dias, pode o consumidor exigir, altemativamente e à sua
escolha:
I- a substituição do produto por outro da n1esma espécie,
em perfeitas condições de uso; .
II- a restituição imediata da quantia paga, monetarzamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III- o abatimento proporcional do preço.
§ 2º. Poderão as partes convencionar a redução ou amplia-
ção do prazo previsto no parágrafo anterior, não podm~o
ser inferior a sete nem superwr a cento e ozte~ta dzas. Nos
contratos de adesão, a cláusula de prazo devera ser conven-
cionada em separado, por meio de manifestação expressa do
consumidor.
§ 3º. O consumidor poderá Jazer uso imed!ato das alte:na-
tivas do§ 1º deste artigo sempre que, em razao da extensao do
vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a
qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor
ou se tratar de produto essencial. . . .
§ 4º. Tendo o consumidor optado pela_ alternatzva do z~clSO
I do § 1º deste artigo, e não sendo posszvel a subs;ztwçao do
bem, poderá haver substituição por outro d~ especze, marca
ou modelo diversos, mediante complementaçao ou restztuzçao
de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos
incisos Il e III do§ 1º deste artigo. . ,
§ 5º. No caso de fornecimento de produtos znnatura, sera
responsável perante o consumidor o fornecedor 1medzato,
exceto quando identificado claramente seu produtor.
§ 6º. São impróprios ao uso e consumo:
RESPONSABILIDADE CIVIL I
rcapitulo XII

I- os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;


Il- os produtos deteriorados, alterados, adulterados, ava-
riados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida
ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles efn\ desacordo com
as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou
apresentação;
III- os produtos que, por qualquer motivo, se revelem ina-
dequados ao fim a que se destinam.

Importa mencionar que todas as vezes que o CDC mencionar


o vocábu!o fornecedores, a responsabilidade civil será, em regra,
solidária. Todavia, na hipótese do§ 5º do artigo 18 há exceção a esta
regra, pois não haverá responsabilidade de todos da cadeia de con-
sumo quando se tratar de um produto in natura (aquele que não sofre
processo de industrialização).
Em razão do risco da atividade desenvolvida pelos fornecedores,
esta será objetiva, isto é, independentemente de culpa.
O consumidor, como regra geral, necessita observar o prazo
máximo de 30 dias para que o fornecedor venha a sanar o vício no
produto(§ 1º do artigo 18). Caso não seja sanado, o consumidor poderá
tomar as medidas cabíveis na lei como: substituição ou restituição mais
perdas e danos ou abatimento. Todavia, o§ 3º do artigo 18 dispõe que
tal prazo não será observado em certas hipóteses, o que significa que
.o uso dos pedidos poderá ser realizado de forma imediata.

~ATENÇÃO!

De acordo com o § 2º do artigo sob comento o prazo acima


mencionado poderá ser modificado pelas partes não podendo
ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias.

Em se tratando de vício do produto com relação à quantidade,


cita-se o artigo 19:

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos


vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido

ANDRÊ i'"l(JT,., (RJST!A'<O SOIIR,\L- LHC!ANO FlGUElREDO. ROBERTO FI(:UEIIU:DO. SABRlNA 0011RAilO
Capítulo XII ,

for inferior às indicações constantes do recipiente, da emba-


lagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o
consumidor exigiJ~ alternativamente e à sua escolha:
I- o abatimento proporcional do preço;
II- complementação do peso ou medida;
III- a substituição do produto por outro da mesma espécie,
marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
IV- a restituição imediata da quantia paga, monetaria-
mente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
§ Iº. Aplica-se a este artigo o disposto no § 4º do artigo
anterior.
§ 2º. O fornecedor imediato será responsável quando fizer
a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver
aferido segundo os padrões oficiais.

Prevalecem as mesmas observações iniciais, ou seja, a regra é a


da solidariedade e a responsabilidade civil é objetiva. Porém, haverá
hipótese de rompimento dessa solidariedade no caso proposto no § 2º.
Outro ponto importante sobre o vício de quantidade é que não
será necessário esperar o prazo para que ele seja sanado, como ocorre
no artigo 18. Existente o vício, o consumidor poderá realizar os pedidos
apresentados de forma imediata.
Sendo o vício do serviço, o leitor deverá ter atenção ao artigo 20:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios


de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor., assim como por aqueles decorrentes da dis-
paridade com as indicações constantes da oferta ou mensagem
publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente
e à sua escolha:
I- a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando
cabível;
li- a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danas;
III- o abatimento proporcional do preço.
§ 1º. A reexecução das serviços poderá ser confiada a tercei-
ros devidamente capacitados, por conta e risca do fornecedor.

344 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CiVIL j 3" edição


rC. pitdo XH.
1

§ 2º. São impróprios os serviços que se mostrem inade-


quados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem
como aqueles que não atendam as normas regulamentares
de prestabilidade.

, A solidariedade de todos que fazem parte da cadeia de consumo


~an1 bém é 1nuito importante, embora o artigo não tenha mencionado
expressamente como o fez nos anteriores. A responsabilidade também
independe de culpa, isto é, a mesma é objetiva.

:l DICA!
Lembre-se de que os vícios do produto ou do serviço são intrín-
secos, ou seja, inerentes.

12.7.2. A DECADÊNCIA. ANÁLISE DO ARTIGO 26 DO CDC

O prazo para reclamar junto ao fornecedor sobre os vícios do


produto e do serviço são decadenciais de 30 dias para os bens não
duráveis e de 90 dias para os bens duráveis. A contagem inicia-se
com a entrega efetiva do produto ou do término da execução dos
serviços.
O prazo decadencial será suspenso com a reclamação compro-
vadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de
produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve
ser transmitida de forma inequívoca, bem como pela instauração de
inquérito civil, ainda no seu encerramento.
Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial começa no
momento em que ficar evidenciado o defeito. Há ainda um critério
utilizado baseado na Teoria da Vida Útil, em que se avalia a duração
do bem ou serviço, para se estender o prazo inicial do consumidor
de reclamar.

ANDRE l\10TA, CRISTIANO SOSRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROl.HiRTO FIGUEIREDO, SABRIN,\ DoURADO
345
RESPONSABILIDADE CIVIL
Capítulo XII

:> DICA!
Os prazos são decadenciais e também são utilizados para os
vícios de fácil constatação, aparente e oculto, o que os diferenciam é
o
o dies a quo.

:>ATENÇÃO!
Súmula n" 477, STJ: "A decadência do art. 26 do CDC
não é aplicável à prestação de contas para obter esclarecimen-
tos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários".

12.7.3. A OCORRÊNCIA DO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

Trata-se de acidente de consumo ou defeito causado pelo produto


ou serviço. O mesmo é tão grave que gera danos ao consumidor. Fica
evidente a diferença para o vício que é um defeito menos grave e que
recai sobre o produto ou o serviço (intrínseco).
O fato do produto está capitaneado nos artigos 12, 13 e 27 da lei
consumerista. Observe a redação dos arts. 12 e 13:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional


ou estrangeiro, e o importador respondem, independente-
mente da existência de culpa, pela reparação dos danos cau-
sados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto,
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos.
§ 1º. O produto é defeituoso quando não oferece a segurança
que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração
as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I- sua apresentação;
II- o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III- a época em que foi colocado em circulação.
§ 2'. O produto não é considerado defeituoso pelo fato de
outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

·--·--· ·'-·••'"'"'" I P~:~.;.:nCAÜVIL \ 3"edíção


RESPONSABILIDADE CIVIL I
rC;~pitulo XII

§ 3º. O fabricante, o construtor, o produtor ou importador


só não será responsabilizado quando provar:
I- que não colocou o produto no mercado;
II- que, embora haja colocado o produto no niercado, o
defeito inexiste; '
IIl- a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art.13. O comerciante é igualmente responsável, nos ter-


mos do artigo anterior, quando:
I- o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador
não puderem ser identificados;
Il -o produto for fornecido sem identificação clara do seu
['"tbrimnte, praduto0 can~trufcr O?! i:nporfador;
III ~não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao pre-
judicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais
responsáveis, segundo sua participação na causação do evento
danoso .

O legislador Aqui também a responsabilidade civil é objetiva
(independente da existência de culpa). O fato do produto exibe natureza
extrínseca, por causar danos morais, materiais, estéticos e, inclusive,
a perda de uma chance ao consumidor. O defeito do produto pode ser
causado por um erro de concepção ou de comercialização.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Dano moral. Preservativo em extrato de tomate


A Turma manteve a indenização de R$ 10.000,00 por
danos morais para a consumidora que encontrou um pre-
servativo masculino no interior de uma lata de extrato de
tomate, visto que o fabricante tem responsabilidade objetiva
pelos produtos que disponibilizo no mercado, ainda que se
trate de um sistema de fabricação totalmente automatizado,
no qual, em princípio, não ocorre intervenção humana. O jato
de a consumidora ter dado entrevista aos meios de comuni-
cação não fere seu direito à indenização; ao contrário, divul-
gar tal jato, demonstrando a justiça feita, faz parte do pro-
cesso de reparação do mal causado, exercendo uma função

ANDRÉ Jl.lOTA, CRISTIANO SO!IRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROiltltTO flGtJEIREDO, SABRINA DOURADO 347
C;pílulo XII '
1

educadora. Precedente: REsp 1.239.060-MG, D]e 181512011.


REsp 1.317.611/RS, Min. Rei. NANCY ANDRIGHI, julgado
em 12.06.2012. (ver Informativo nº 499)

Defeito de fabricação. Relação de consumo. Ônus


da prova.
No caso, houve um acidente de trânsito causado pela que-
bra do banco do motorista, que reclinou, detaminando a perda
do controle do automóvel e a colisão com uma árvore. A fabri·
cante alegou cerceamento de defesa, pois não foi possível uma
perícia direta no automóvel para verificar o defeito de fabri-
cação, em face da perda total do veículo e venda do casco pela
seguradora. Para a Turma, o Jato narrado amolda-se à regra
do art. 12 do CDC, que contempla a responsabilidade pelo Jatd
dn prnrlutn. As.~im, rnnc;idemu-<:oe cnrretn t7 h1~1er5ifo da finus
da prova, atribuído pelo próprio legislador ao fabricante. Pam
afastar sua responsabilidade, a montadora deveria ter tentado,
por outros meios, demonstrar a inexistência do defeito ou a
culpa exclusiva do consumidor, já que outras provas confirma-
ram o defeito do banco do veículo e sua relação de causalidade
com o evento danoso. Além disso, houve divulgação de recall
pela empresa meses após o acidente, chamado que englobou,
inclusive, o automóvel sinistrado, para a verificação de pos·
sível defeito na peça dos bancos dianteiros. Diante de todas
as peculiaridades, o colegiado não reconheceu cerceamento de
defesa pela impossibilidade de pedcia direta no veículo sinis·
Irado. Precedente citado: REsp 1.036.485-SC, DJe 5/312009.
REsp 1.168.775/RS, Rei. Min. PAULO DE TARSO SANSE·
VERINO, julgado em 10/4/2012. (ver Informativo nº 495)

O comerciante fora excluído da lista do artigo 12 justamente


por ele não possuir o controle sobre a concepção do produto. Dessa
maneira, o CDC lhe atribui uma responsabilidade subsidiária. Isso
ocorre somente no caso do fato do produto.
O artigo 12, § 3º, apresenta as excludentes de responsabilidade.
Percebe-se que não foram citados o caso fortuito e a força maior. Por
essa razão, para as provas objetivas siga o rol do artigo, apesar de não
advogar no sentido de ser esse rol taxativo.

348 EDITORA Att!\IADOR ! PRÁTICA CiVIL 1 3" edição


0 razo para a propositura da Ação Indenizatória no caso do
fato do pproduto são cinco anos prescricionais do conheCimento do
dano e de sua autoria. .
0 fato do serviço possui previsão nos artigos 14 e 27. Veja o art.14:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independen·


temente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou ina·
dequadas sobre sua fruição e riscos. _
§ 1º. O serviço é defeituoso quando nao fornece a segurança
que 0 consumidor dele pode esperar, levando-se .em conside-
ração as circunstâncias relevantes, entre as qums:
I -o modo de seu fornecimento;
[!- 0 rf'5Hitndn e os riscos que razoavelmente dele se
esperam;
III- a época em que foi fornecido. . _
§ 2º. O serviço não é considerado defeituoso pela adoçao
de novas técnicas.
§ 3º. O fornecedor de serviços só não será liesponsabilizado
quando provar: . . .
I- que, tendo prestado o serviço, o defeito mexiste;
IJ -a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.. .
§ 4º. A responsabilidade pessoal dos profissionais llberms
será apurada mediante a verificação de culpa.

Assim como previsto no artigo 12, no caso de fato do serviço a


responsabilidade será objetiva por uma escolha legal; no entanto, eXIst;
uma exceção a esse respeito expressa no CDC em seu arh~o 14, § 4·.
Dessa forma, a responsabilidade do profissional liberal sera apurada
mediante a verificação de culpa.
Outra questão importante é a da responsabilidade dos part~­
cipantes na cadeia de consumo. Nesse caso, há diferença quanto a
responsabilidaçle civil, pois no fato do produto, o coe especificou
quem são os responsáveis, e, ao falar no fato do serv1ço, apenas citou
o vocábulo fornecedor. Conclui-se que, no fato do serviço, todos os
participantes da cadeia de consumo respondem solidariamente.

ANDRÉ MOTA, CRlSTIA"O $OlHtAL, LUCIANO FlGUUREDO, RoBLRTO fi(;UEJREDO, SA"BRlN-\ DOURADO
349
RESPONSABILIDADE CIVIL
Capítulo XII

Um exemplo clássico de fato do serviço está contido na Súmula


nº 370 do STJ: "Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de
cheque pré-datado."
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Diteito do. consumidor. Danos morais. Devolução


de cheque por motivo diverso. É cabível a indenização
pot danos matais pela instituição financeita quando
cheque apresentado fom do pmzo legal e já ptescrito é
devolvido sob o argumento de insuficiência de fundos.
Considerando que a Lei nº 7.35711985 diz que a "a existência
de fundos dispUtiÍ'i)t::is 2 \)r:rUicada r:o m.omer!tc dn f1J1rPsentn-
ção do cheque pata pagm;nento" (att. 4º, § 1º) e, paralelamente,
afirma que o título deve se!' apresentado para pagamwto em
detetmiuado prazo (att. 33), impõe-se ao sacador (emitente),
de forma implícita, a o~rigaçiio de manter provisão de fundos
somente durante o prazo de apresentação do cheque. Com isso,
evita-se que o sacado!' fique obtigado em catáter papétuo a
manter dinheiro em conta para o seu pagamento. Por outro
lado, a instituição financeira não está impedida de proceder
à compensação do cheque após o prazo de apresentação se
houver saldo em conta. Contudo, não poderá devolvê-lo por
insuficiência de fundos se a aptesentação tiver ocorrido após
o prazo que a lei assinalou para a prática desse ato. Ademais,
de acordo com o Manual Operacional da Compe (Centraliza-
dom da Compensação de Cheques), o cheque deve ser devol-
vido pelo "motivo 11" quando, em primeira apresentação, não
tiver fundos e, pelo "motivo 12", quando não tiver fundos
em segunda apresentação. Dito isso, é preciso acrescentar
que só saá possível afirmar que o cheque foi devolvido por
falta de fundos quando ele podia ser validamente apresen-
tado. No mesmo passo, vale destacar que o referido Manual
estabelece que o cheque sem fw1dos [motivos 11 e 12] somente
pode ser devolvido pelo motivo conespondente. Diante disso,
se a instituição financeira fundamentou a devolução de che-
que em insuficiência de fundos, mas o motivo era outro, resta
configurada uma clara hipótese de defeito na prestação do
serviço bancário, visto que o banco recorrido não atendeu
RESPONSABILIDADE CIVIL I
!capítulo XII

~ re?ramento administrativo baixado de forma cogente pelo


orgao regulador; configura-se, portanto, sua responsabilidade
objetzva pelos danos deflagrados ao consumidor, nos termos do
ar~. 14 da Lez nº 8.078/1990. Tal conclusão é reforçada quan<lo,
alem de o cheque ter sido apresentado fora do prazo, ainda' se
consumou a prescrição. REsp 1.297.353-SP, Rei. Min. SID-
NEI BENETI. julgado em 1611012012.

~ATENÇÃO!

Sobre o tema, observe a recente Súmula nº 572, do STJ, d'1spond o


que:

"O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de


Emztentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a respon-
sabzlzd~de de notificar prevzamente o devedor acerca da sua
mscrzçao no aludzdo cadastro, tampouco legitimidade passiva
pa~a as açúes de reparação de danos fundadas na ausência de
prevta comunzcação."

CDC. Seguro automotivo. Oficina credenciada.


Danos materiais e morais.
A Turma, aplicando o Código de Defesa do Consumidor,
d~czdzu que a seguradora tem responsabilidade objetiva e soli-
darza pela qualzdade dos serviços executados no automóvel do
consumzdor por oficina que indicou ou credenciou, Ao fazer
tal indicação, a seguradora, como fomecedora de servicos
amplza a sua responsabilidade aos consertos realizados pel~
ofzcma credencz~da. Quanto aos danos morais, a Turma
entendeu que o szr~ples inadimplemento contratual, má qua-
lzdade na prestaçao do servzço, não gera, em regra, danos
morazs por caracterzzar mero aborrecimento, dissabor. envol-
vendo. controvérsia possível de surgir em qualquer 'relação
negoczal, sendo fato comum e previsível na vida social embora
não desejável nos negócios contratadas, Precedentes' citados'
REsp 723.729-RJ. DJ 30/1012006, e REsp 1.129.881-RJ. DJ~
19/1212011. REsp 827.833/MG, Rei. Min. RAUL ARAÚJO,
JUlgado em 24/412012.

Asrnti'- 1'vloT' ' c RJSTli\NO s


,OJmiiL, LUCIANO fJ<..:ll!;lll!õDO, ROIIERTO FlGUFIREDO, S!IBRINA DOURADO 351
A quebra da confiança e da lealdade nesse contexto rompe a boa-fé
objetiva e gera o chamado dano moral in re ipsa, ou seja, presumido.
Diante da ocorrência de dano causado ao consumidor por uma
falha na prestação do serviço, o fornecedor pode sugerir alguma
excludente para romper o nexo causal e consequente1nente afastar a
sua respor.sabilidade.
Valem as mesmas observações feitas para o artigo 12, § 3º, pois
no artigo 14, § 3º, também não foram citados o caso fortuito e a força
maior no rol de excludentes de responsabilidade.

:l DICA!
O consumidor poderá, facultativamente, propor a ação tanto em
seu domicílio quanto no do réu, por força da regra dos artigos
101, inciso I, c 6º, inciso VII arr.bos do CDC.
1

12.8. EXCLUDENTES DE ILICITUDE E EXCLUDENTES


DE RESPONSABILIDADE

As excludentes de ilicitude afastam a ilicitude da conduta, mas


não o dever de indenizar, respondendo o agente pelos atos lícitos.
Têm-se, corno exemplos, o estado de necessidade, a legítima defesa e
o exercício regular do direito.
Por sua vez, as excludentes de responsabilidade rompem o nexo
causal e afastam o dever de indenizar. Exemplos: o caso fortuito, a
força maior e a culpa exclusiva da vítima.

12.8.1. ESTADO DE NECESSIDADE

Baseia-se na deterioração ou destruição da coisa alheia, ou lesão


à pessoa, com o fim de remover perigo iminente, quando as circuns-
tâncias não autorizarem outra forma de atuação. Nesse caso, o agente
irá atuar com o fim de resguardar direito seu ou de outra pessoa em
situação de perigo concreto.

352 EDITORA AR,\L\DOR 1 PRÃTICA CiVIL ! 3a edição


Esta excludente foi regulamentada no artigo 188, inciso li, c/c
artigo 929, ambos do Código CiviL
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito civil. Responsabilidade civil. Estado de


! necessidade. Proporcionalidade na fixação de inde-
nização. O estado de necessidade, embora não exclua
0
dever de indenizar, fundamenta a fixação das inde-
nizações segundo o critério da proporcionalidade.
A adoção da restitutio in integrum no âmbito da responsabi-
lidade civil por danos, sejam materzais ou extrapatnmonzms,
nos conduz à inafastabilidade do direito da vítima à reparação
ou compensação do prejuízo, ainda que o agente se encontre
amparado por excludentes de ilicitude, nos termos dos ~rts.
1.519 t: 1.520 do CC/1916 (arts. 929 e 930 do CC/2002), sztua-
ção que afetará apenas o valor da indenização fixado pelo cri-
tério da proporcionalidade. (REsp 1.292.141-SP, Rei. Mm.
Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.)

12.8.2. LEGÍTIMA DEFESA

O agente, diante de situação de injusta agressão atual e iminente,


a si ou a outra pessoa, age de forma moderada a repehr o acometido.
Tal forma de exclusão de ilicitude está prevista no artigo 188, inciso
I, 1• parte, CC '
Caso a defesa gere danos a terceiros, deverá o agente, ainda que
licitamente em sua defesa ou de outrem, indenizar o terceiro na forma
dos artigos 929 e 930, CC.

12.8.3. EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO

Presente ~o artigo 188, inciso I, 2ª parte, CC, consiste na extrapo-


lação dos fins colimados pela lei. Quando não for ilícito, será exercício
regular do direito. Observe que o estrito cumprimento do dever legal

A1->0R.t MoT,\, (RJSTMNO SOBRAL, LUCIANO flGUHRiiDO, ROJJ.JõRl'O flGUr:!REDO, SABRJNA DoURADO
353
RESPONSABILIDADE CIVIL

Capítulo XU

não está previstof dessa forma deve ser encarado como uma espécie
de exercício regular do direito.
E o nosso Tribunal da Cidadania? ,

Indenização. Matéria jornalística. Direito de infor-


mar. Liberdade de imprensa.
A Turmar por maioria, deu provimento ao recurso para
afastar a responsabilização da empresa jomalística ora recor-
rente pelo pagamento de indenização à recorrida sob o enten-
dimento de que, no caso, não existiria ilícito civit pois a
recorrente teria atuado nos limites do exercício de informar
c do principie da Jil-rcrrlwfe dn imprensa. Na espécie, a defesa
alegava ofensa à honra da recorrida; pois, em matéria publi-
cada no referido jomal, ela teria sido confundida com uma
evangélica fanática que, após quebrar o bloqueio da segurança
presidencial, teria se aproximado do então presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva para Jazer W1l discurso
favorável à pessoa de Femandinho Beira-Mar. lnicialme1.1te,
observou o Min. Relator que, em se tratando de materw
veiculada pela imprensa, a responsabilidade civil por danos
morais emerge quando a reportagem for divulgada com a
intenção de injuriar, difamar ou caluniar. Nessas hipóteses,
a responsabilidade das empresas jomalísticas seria de natu-
reza subjetiva, dependendo da aferição de culpa, sob pena de
ofensa à liberdade de imprensa. Assentou, ainda, que, se o fato
divulgado for verídico e estiver presente o interesse público
na informação, não há que falar em abuso na veiculação da
notícia, caso em quer por consectário, inexiste o dever de inde-
nizar, sendo essa a hipótese dos autos. Segundo destacou, a
matéria publicada não tinha como objetivo ofender a honra
da recorrida, mas sim noticiar a possível falha na segurança
da então Presidência da República, que permitiu a aproxi-
mação de uma cidadã não identificada, sem autorização, da
autoridade máxima do país, assunto, portanto, de interesse
nacional. Consignou, ademais, que a matéria escorou-se em
jatos objetivos e de notória relevância, o que afasta a ilicitude
da divulgação, sendo que, em momento algum, fot publzcada
a fotografia ou o nome completo da recorrida. Pelo contrário,
j Capítuln XII
RESPONSABILIDADE CIVIL I

a reportagem trouxe a imagem da verdadeira autora do dis-


curso, identificando-a pelo seu próprio nome. Dessa forma,
amda que tenham nomes similares, não seria crível ter havido
confusão entre aquela e a ora recorrida. REsp 1.268.233-DF,
Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 15/312012.

12.8.4. CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR

São institutos similares e podem ser conceituados da seguinte


maneira:
-..\ r.._~,. . S'"'
u) v
çO_,..h,;t-o
L ~
,_ ~
........ -
..-nar,..,c:>r1n nol
.__._,

_._ ............. " "
· "b"l"-4
Y""-'-a nrtprevrs1 '
l.I~aae,
, ,
a:.I~,'err.
,
ae
causa desconhecida.

b) Força maior- caracterizada pela inevitabilidade, sobrevém de


causa conhecida.
E o nosso Tribunal da Cidadania? •

A instituição financeira não pode ser J·esponsabi-


lizada por assalto sofrido por sua correntista em via
pública, isto é, fora das dependências de sua aaência
bancáriar após a tetirada, na agência, de valo~es em
espécie, sem que tenha havido qualquer falha deter-
minante para a ocorrência do sinistro no sistema de
segurança da instituição. O STJ tem reconhecido ampla-
mente a responsabilidade objetiva dos bancos pelos assaltos
ocorridos no interior de suas agênciasf em razão do risco ine-
rente à atividade bancária. Além disso, já se reconheceu, tam-
bém, a responsabilidade da instituição financeira por assnlto
acontecido nas dependências de estacionamento oferecido nos
seus clientes exatamente com o escopo de mais segurança. Não
há, contudo, como responsabilizar a instituição financeira
na hipótese em que o assalto tenha ocorrido fora das depen-
dências da agência bancária, em via pública, sem que tenha
havido qualquer falha na segurança interna da agência bancá-
na que proptczasse a atuação dos criminosos após a efetivação
do saque, tendo em vista a inexistência de vício na prestação

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SosRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, RüllfRTO FlCUEJRt!DO, SA!HtlNA DOURAJlO
355
Capítulo XIJ l
de serviços por parte da instituição financeira. Além do mais
se o ilícito ocorre em via pública, é do Estado, e não da insti~
tuição financeira, o dever de garantir a segurança dos cida-
dãos e de evitar a atuação dos criminosos. Precedente citado:
REsp 402.870-SP, DJ 141212005. !REsp 1.284.962-MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 1111212012).

Direito civil e processual civil. Agravo regimental


no recurso especial. Responsabilidade civil do trans-
portador. Ocorrência de força maior. Exclusão. Ação
de regresso da seguradora contra o transportador.
Inviabilidade. Reexame de matéria fático-probató-
rta. Impossibilidade. Óbice das súmulas n' 5 e 7 do
STJ. Decisão mantida.
1. A resp011Sf1bilidnde rio trrmsp0rtad(1r é abjetir.Y!, nos ter-
mos do art. 750 do CC/2002, podendo ser elidida tão somente
pela ocorrência de força maior ou fortuito externo, isto é,
estranho à organização da atividade.
L O recurso especial não comporta o exame de questões
que zmplzquem revolvimento do contexto fático-probatório dos
autos, a teor do que dispõe a Súmula n' 7/STJ.
3. No caso, o Tribunal de origem, com base na prova dos
autos, concluiit que o naufrágio da embarcação e o extravio
da mercadoria transportada se deu em virtude da ocorrência
de caso fortuito, alheio à esfera de previsibilidade do coman-
dante da embarcação.
Alterar tal mtendimento é inviável em recurso especial.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 1285015/AM, Rei. Ministro Antô-
nio Carlos Ferreira, QUARTA TURMA, julgado em
11/06/2013, DJe 18/06/2013)

12.8.5. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA

Diferente da culpa concorrente da vítima, a culpa exclusiva da


vítima ocorrerá quando esta concorrer sozinha para o acontecimento

356
EDiTORA ARMADOR 1 PRÁTiCA CIVIL 1 3"- edição
do evento danoso. A hipótese está prevista no artigo 14, § 3º, inciso
II da Lei nº 8.078/90.
' A culpa concorrente, prevista no artigo 945 do Código Civil,
ocorrerá se a vítima tiver contribuído culposamente para o evento
danoso. A indenização será fixada de acordo com a gravidade de sua
culpa em confronto com a do autor ~o dano. .. .
1
Destaca-se que se houver prev1sao legal de responsabilidade obJe-
tiva não se discute a culpa, exceto quando se tratar de culpa exclusiva
da vítima ou culpa concorrente.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Processual civil. Acidente ferroviário. Atropela-


mento. Comprovada a culpa exclusiva da vítima na
instância ordinária. Reexame. Inviabilidade. Súmula
7/ST].
1. O STJ, no julgamento do REsp 1.210.064/SP, subme-
tido ao rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC)
[corresponde aos arts. 1.036, 1.038, 1.040 e 1.042, CPC/15],
firmou o entendimento de que, nos casos de atropelamento
de pedestre em via férrea, configurar-se-á a concorrência de
causas quando: a) a concessionária de transporte ferroviário
descumpre o dever de cercar e fiscalizar os limites da linha
férrea, mormente em locais urbanos e populosos, adotando
-conduta negligente no tocante às necessárias práticas de cui-
dado e vigilância tendentes a evitar a ocorrência de sinistros,
e b) a vítima adota conduta imprudente, atravessando a linha
ferroviária em local inapropriado. Todavia, a responsabz1idade
da concessionária de transporte ferroviário somente é elidida
pela comprovação da culpa exclusiva da vítima.
2. In casu, o Ihbunal de origem, apreciando o conjunto
probatório dos autos, concluiu que a culpa é unicamente da
vítima. Alterar tal entendimento demanda análise do acervo
fático-probatório dos autos, o que é vedado pela Súmula 7/STJ.
3. Agravo Regimental não provido. (AgRg no AREsp
332.638/RJ. Rei. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 15/08/2013, DJe
16/09/2013)

ANDRii MoTA, CRISTIANO SoaRI>L, LUCIANO F!GUEJR'EPO, RoUERTO fJGlCJiaREDO, SAllRlNA DocAADO 357
I RESPONSABILIDADE CIVIL
Capítulo Xll

Processual civil. Administrativo. Aclaratórios no


recurso especial. Responsabilidade civil do estado.
Detento morto após ser recolhido ao estabelecunento
prisional. Suicídio. Omissão reconhecida. Existên-
cia de nexo de causalidade. Precedentes do STJ e do
STF. Embargos de declaração acolhidos sem efeitos
modificativos. .
1. Nos termos consignado pela acórdão ara embargado, foz
recoahecida a presença dos requisitos necessários para a res-
ponsabilização objetiva do ente público ora embargante tenda
em vista a ocorrência de suicídio de detento em umdade prz-
sional. Não obstante, houve omissão no que ta11ge à presença
ou wi.o, 1LO caso elll CU/li.Jdu, dt: nc.\O de cmtsalid[!de e.11fte
suposta ação/omissão estatal que teria result~do a m~r:e .de
detenta em virtude de ato por ele mesmo pratzcada (swczdza).
,, 2. Embora no acórdão recorrido te~~ha sido afinnada a culpa
exclusiva da vítima- e assim afastado o nexo de causalidade-
é de se ressaltar que, no caso em concreto, a relação que deve
ser estabelecida é mtre o fato de ele estar preso sob a custódia
da Estado. Conforme muito bem ressaltado pela Exnzo. Senhor
Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI em seu voto relatzvo
ao recurso especial nº 847.687/GO, "o Estado tem o dever de
proteger os detentos, inclusive .contra si mesn~os. Não se JUSh-
fica que tenha tido acesso a mezos aptos a pratzcar wn ,atenta~o
contra sua própria vida. Os estabelecimentos carceranos sao,
de modo geral, feitos para impedir esse tipo. de evento., Se.~
Estado não consegue impedir o evento, de e o responsavel .
(REsp 847.687/GO, Rei. Ministro JOSE DELGADO, PRI-
MEIRA TURMA, julgado em 1711012006, DJ 25/0612007).
Precedentes do STJ e do STF. .
3. Portanto, no caso em concreto, embora afastada pelo Trz-
bunal a quo, é inegável a presença do nexo de causalidade a
autorizar a responsabilização civil do ente pzíblzco pela morte
do detento em virtude de suicídio.
4. Embargos de declaração acolhidos sem efeitos modifica-
tivos. (EDcl no AgRg no REsp 1305259/SC, Rei. Mm1stro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 15/08/2013, D)c 22/08/2013)

1.:~,.,,..,.,A A<>MH>nll 1 PltÂTlCA CIVIL 1 3" edição


RESPONSABILIDADE CIVIL I
rCapítulo XII

Processual civil e responsabilidade civil. Recurso


especial. Rompimento de cabo de energia por disparo
de fuzil. Morte de vítima que, várias horas após o
acidente e comunicação à concessionária de energia
acerca do ocorrido, tentava prevenir que crianças se
acidentassem. Responsabilidade civil objetiva da
concessionária de serviço público. Culpa exclusiva
da vítima ou de terceiro não caracterizada,. visto
que houve superveniente e inconcebível negligência
quanto ao reparo da linha de energia. Apreciação
de tese acerca de concorrência de causas. Inviabili-
dade, por exigir o reexame de provas. Pensíonamento.
Ern cnráter excepcional; é possível o exercício da
faculdade qo magistrado de substituição da consti-
tuição de capital pela inclusão em folha de pagamento
de empresa de notória capacidade econômica, nos ter-
mos do att. 475-Q, § 2", do CPC. Matél'ia, cujo exame
compete às instâncias ordinárias, não constituindo
diteito subjetivo do demandado.
1. O artigo 14, § 3º, do Código de Defesa do Consumidor
somente afasta a responsabilidade do fornecedor por fato do
serviço quando a culpa da vítima do evento ou de terceiro
for exclusiva. Embora o rompimento do cabo de energia por
disparo de fuzil seja inusual, é comum esse tipo de dano em
linhas de energia decorrente dos mais variados fatos (v.g.,
colisão de automóvel com poste que sustenta linhti de energia,
vandalismo, queda de árvore), devendo, pois, as concessioná-
rias de energia manter ininterruptamente serviço eficiente
de reparo, de modo a mitigar os riscos inerentes aos serviços
que presta.
2. No casa, foi apurado pelas instâncias ordinárias que o
rompimento do cabo de eletricidade ocorreu às 16h e apenas
às 21h30 foi providenciado o reparo, tendo a vítima vindo a
falecer por volta de 19h, quando tentava proteger criauças
que circulavam pelo local de riscos de acidentes; isto é, bus-
cava afastar o risco criado pela negligência da própria ré, que
não efetuou o reparo de imediato, em tempo hábil a prevenir
o acidente:

.\ ... ))Rj \\orA, CRISTIANO S()Rf\AL, ].lf<.:JANO f'J<;UfiRlCDO, ROBERTO F!GliEIREr>O, $AllRl:-l1\ 00URA!)O 359
3. O advento da Lei nº 11.232/2005 instituiu o atual art
475-Q, § 2º, do Código de Processo Civil [corresponde a~
art. 533,§_2º, CPC/15]. estabelecendo ser faculdade do juiz a
substz~wçao da determinação de constituição de capital pela
znclusao dos beneficiários na folha de pagamento de sociedade
empresária que apresente notória capacidade econômica. Des-
sarte, a Súmula 313/STJ, embora não tenha ficado superada,
deve ser mterpretada de forma consentânea ao texto legal em
vzgor, que estabelece ser faculdade do juiz que, excepcional-
mente,_determine a substituição da constituição de capital pela
znclusao dos beneficiários na folha de pagamento de sociedade
empresária, contanto que a condenada apresente clara higi-
dez economzca, podendo a questão ser examinada na fase de
cumprimento da sentença.
4. Recurso especial não provido. (REso 1308438/RL Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 27/08/2013, REPDJe 07/10/2013, DJe 27/09/2013)

12.7.6. fATO DE TERCEIRO

Ocorre quando um terceiro estranho à relação jurídica entre a


vítima e o fornecedor de bens ou serviços causa dano. Dessa forma, o
fato de terceiro não exime o dever de indenizar, mas permite o direito
de regresso em face do terceiro.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Recurso especial. Civil, processual civil e consu-


midor. Responsabilidade civil. Roubo de veículo.
Manobrista de restaurante (valet). Ruptura do nexo
causal. Fato exclusivo de terceiro. Ação regressiva
da seguradora. Excludente da responsabilidade civil.
Consumidora por sub-rogação (seguradora).
1. Ação de regresso movida por seguradora contra restau-
rante ~ara se ressarcir dos valores pagos a segurado, que teve
seu vezculo roubado quando estava na guarda de manobrista
vinculado ao restaurante (valet).

360 EDJTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3·' edição


~lo XII

2. Legitimidade da seguradora prevista pelo artigo 349 do


Código Civil/2002, conferindo-lhe ação de regresso em relação
a todos os direitos do seu segurado.
3. Em se tratando de consumidor, há plena incidência do
Código de Defesa do Consumidor, agindo a seguradora como
consumidora por sub-rogação, exercendo direitos, privilégios
e garantias! do seu segurado/consumidor.
4. A responsabilidade civil pelo Jato do serviço, embora
exercida por uma seguradora, mantem-se objetiva, forte no
artigo 14 do CDC.
5. O Jato de terceiro, como excludente da responsanilidade
pelo Jato do serviço (art. 14, § 3º, II, do CDC), deve surgir
como causa exclusiva do evento danoso para ensejar o rom-
púnento do nexo causal.
6. No serviço de manobristas de rua (valets), as hipóteses
de roubo constituem, em princípio, fato exclusivo de tercEiro,
não havendo prova da concorrência do fornecedor, mediante
defeito na prestação do serviço, para o evento danoso.
7. Reconhecimento pelo acórdão recorrido do rompimento
do nexo causal pelo roubo praticado por terceiro, excluindo
a responsabilidade civil do restaurante fornecedor do serviço
do manobrista (art. 14, § 3º, II, do CDC).
8. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp
1321739/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSE-
VERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/09/2013,
Dje 10/09/2013)

12.7.7. CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR

Somente poderá ser utilizada nas hipóteses de responsabilidade


contratual, em que uma das partes estabelece cláusula visando ao
afastamento do dever de indenizar quando ocorrer o dano.

Casos em que não será aceita:


a) quando o seu conteúdo objetivar exonerar o devedor que
incorreria em responsabilidade por dolo ou culpa grave;
b) em caso de violação a interesse de ordem pública;

361
ANDRÊ Mor>.., CR!>TI\.NOSOBRAL. LCCIA~O nGOE!REDO, ROBERTO FJGt!Elln:uo. SABRlK~ DOURAPO
I RESPONSABILIDADE CIVIL
Capítulo Xll

c) diante dos hipossuficientes e vulneráveis;


d) nos casos dos artigos 424 e 734 do Código Civil;
e) na1s hipóteses dos artigos 25 e 51, inciso I, da Lei nº 8.078/90;
f) na's condições do artigo 247 da Lei nº 7.565/86 (Código Brasileiro
de Aeronáutica);

Requisitos para a validade da cláusula de não indenizar:


a) bilateralidade do consentimento;
b) que não colida com preceito de ordem pública;
c) igualdade das partes;
d) inexistência do escopo de eximir o dolo ou a culpa grave do
estipulante;
e) ausência da intenção de afastar obrigação inerente à função.

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Seguro. Vida. Suicídio. Trata-se, no caso, de saber se,


nos contratos de seguro de vida, o suicídio do segurado de
forma objetiva, isto é, premeditado ou não, desobriga as segu·
radoras do pagamento da indenização securitária contratada
diante do que dispõe o art. 798 do CC/2002. A Seção, por
maioria, entendeu que o fato de o suicídio ter ocorrido no
período inicial de dois anos de vigência do contrato de seguro,
por si só, não exime a companhia seguradora do dever de inde·
nizar. Para que ela não seja responsável por tal indenização,
é necessário que comprove inequivocamente a premeditação
do segurado. Consignou-se que o art. 798 do CC/2002 não
vai de encontro às Súmulas nº 105-STF e nº 61-STJ, mas as
complementa, fixando um período de carência no qual, em
caso de premeditação, a cláusula de não indenizar é válida.
Registrou-se, contudo, que, segundo os princípios norteadores
do novo Código Civil, o que se presume é a boa-fé, devendo a
má1é ser sempre comprovada. Assim, o referido art. 798 da
lei subjetiva civil vigente deve ser interpretado em conjunto
com os arts. 113 e 422 do mesmo diploma legal, ou seja, se
alguém contrata um seguro de vida e, depois, comete suicídio,
não se revela razoável, dentro de uma interpretação lógico-sis·
temática do diploma civil, que a lei estabeleça uma presunção

" ---- •-···-~~ 1 Pnõ ... orAliVII t 3"edição


RESPONSABILIDADE CtViL

Capítulo XII

absoluta para beneficiar as seguradoras. Ressaltou-se, por fim,


que o próprio tribunal a quo, expressamente, assentou que os
elementos de convicção dos autos evidenciam que, na hipó·
tese, o suicídio não foi premeditado. Precedente citado: REsp
1.071342-MG, DJe 31912010. AgRg no Ag 1.244.022-RS, Rei.
Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 1314/2011.

ANl1RÉ MOTA. CRtSTtiiNO SOI!RAL, l.UCJA.NO FtG\JEIREDO, ROBERTO FlGUEIRt:l)O, $Ail.RINA DOURADO 363
CAPÍTULO XIII.

DIREITOS DAS COISAS

13.1. DEFINIÇÃO

O tema é abordado no Livro li!, Parte Especial, da Lei Civil.


O estudo do tema deverá ser iniciado por meio da leitura da legislação
para,. somente após a superação desta atividade, avançar-se na doutrina
e JUrisprudência. O Direito das Coisas é um gênero dentro do qual
os tem_as posse, drrertos reais, propriedade, vizinhança, superfície,
servrdoes,_ usufruto, uso, habit~ção, direito do promitente comprador,
penhor, hrpoteca e anticrese sao espécies.
, . A expressão "Direitos Reais" traduz o conjunto de normas e prin-
CipiOs que_ regulam as relações jurídicas sobre as coisas suscetíveis de
apropnaçao pelo homem, segundo uma finalidade social
Sob a ótica legislativa, os bens jurídicos estão elencados na Parte
Geral do Código Civil, Livro II (artigos 79/103), daí porque não devem
ser confundidos com as coisas, muito menos com o Direito das Coisas.

364
EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3a cdiç.<io
Como os Direitos Reais estão, legislativamente, contidos no gênero
Direito das Coisas, seguiremos o critério mais apropriado em face
das provas, adentrando, de imediato, no tema da Posse para, apenas
depois disto, abordar as características dos Direitos Reais.

13.2. POSSE

13.2.1. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Considera-se possuidor aquele que tem, de fato, o exercício de um


algum dos poderes inerentes à propriedade. É o que afirma o artigo
1.19ó do Código c-:.~vTil. Desta Ir.a:neira, será necess~rio identificar quais
são os poderes inerentes à propriedade para, depois disto, saber se
efetivamente uma determinada pessoa será ou não possuidora de
um bem.
Os poderes da propriedade estão previstos no artigo 1.228 do
CC, segundo o qual o proprietário terá a faculdade de usar, gozar
(fruir), dispor e reaver a coisa em face de quem injustamente a dete-
nha. Logo, se possuidor é aquele que tem de fato alguns dos poderes
da propriedade (art. 1.196, CC), será possuidor ou quem exercer, ou
detiver a disponibilidade de usar, ou fruir, de um determinado bem,
por exemplo, ainda que não seja o dono deste bem.
A posse, portanto, é um direito autônomo. Não se confunde
com a propriedade. Por ser direito autônomo, possui tutela jurídica
própria e distinta, à exemplo das ações possessórias de reintegração,
manutenção e interdito proibitórios. Em questões prático-profissionais
é sempre bom relacionar a tutela possessória à luz da inafastabilidade
da jurisdição (artigo 5º, XXXV, CF), ou do direito constitucional à
moradia (artigo 6º, caput, CF), quando for o caso, ou, finalmente, diante
do princípio da função social.
Aliás, a ideia da função social da posse é intuitiva e decorre da
própria previsão constitucional da função social da propriedade.
(artigo 5º, XXII, CF). Com efeito, seria ilógico admitir a função social
da propriedade e, ao mesmo tempo, negar a função social da posse.

365
I
DIREITOS DAS COISAS
Capítulo XIII l

A socialidade que norteia todo o Código Civil, como se pode veri-


ficar, à título ilustrativo, na Teoria Geral dos Contratos (CC, artigo 422).
A posse tanobém pode ser vista como um estado de fato, um poder
sócio econômicd sobre determinada coisa. Todas estas maneiras de
se compreender a posse devem ser, na medida do possível, tratadas
nas questões práticos profissionais e bem referidas na hora da prova.
E como a posse é adquirida?
A posse se adquire desde o momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à pro-
priedade (1.204, CC). Corno se pode notar, não há necessidade alguma,
sob o ponto de vista jurídico, de um ato formal para se adquirir a
posse de um bem. I"-Jão. Basta que no plano fático u. pessoa, H::ic3. ou
jurídica, passe a exercer em nome próprio algum dos poderes inerentes
à propriedade para, desta maneira, haver adquirido a posse.
Esta é uma característica que bem distingue a posse da proprie-
dade. Sim, porque a propriedade pressupõe a existência de um título.
A posse não exige isto. .
Ainda sobre a aquisição, de ver-se que a posse poderá ser adqui-
rida pela própria pessoa, por seu representante legal, ou até mesmo
por terceiro, mediante ratificação. É o que afirma o art. 1.205 do CC,
de leitura recomendada.
Se a posse é este estado de fato, ou de poder sobre um bem, é
fácil perceber que a perda da posse acontecerá da mesma forma,
ou seja, quando a pessoa, ainda que à contra gosto, deixa de exercer
sobre a coisa os poderes inerentes à propriedade. Neste sentido, o
artigo 1.223 do CC

13.2.2. PRINCIPAIS TEORIAS EXPLICATIVAS DA POSSE: BREVES


NOTAS

Como antecedente lógico necessário à melhor compreensão do


assunto, é importante a apresentação de breves notas sobre as teorias
mais citadas nas Universidades a respeito da posse.

,...-·----·A~···"'""" 1 PniTJrACIVIL 1 Yedição


DIREITOS DAS COISAS I
rCapítulo XIII

13.2.2.1. Teoria subjetiva (Friedrich Carl Von Savigny)


Savigny, na sua obra "Tratado da Posse" (1.824), tentou explicar
a posse no direito alemão com base em ensinamentos provenientes
do Direito Romano. Para ele a posse traduziria um poder material
sobre a coisa- domínio físico (corpus)- com a intenção de tê-la para
st (ammus). Portanto, o aspecto subjetivo seria imprescindível à con-
figuração da mesma.

Em suma: posse = corpus + animus.

Em certa medida, percebe-se a presença desta teoria, ainda que


de mane1~a d1screta, no instituto da usucapião, notadamente quando
a legtslaçao costuma' exigir o animus domini na posse juridicamente
qualificada para este fim, à exemplo dos artigos 1.238 e 1.432 do CC.
Também se nota a ideia da teoria subjetiva da posse no tema do
detentor, ou seja, aquele que conserva a posse em nome alheio, sem
animus domini.
. A c:ítica à teoria subjetiva reside na dificuldade de comprovar
a Intençao, o an1mus em possuir a coisa, daí o surgimento da teoria
objetiva, em contraponto.

13.2.2.2. Teoria objetiva (RudolfVon Ihering)


Para construir a sua teoria, Ihering afirma que a posse é o poder
de fato, enquanto que a propriedade será o poder de direito sobre a
coisa. O possuidor é a pessoa que age como se fosse proprietária da
cmsa, mdependentemente da demonstração do animus (o compor-
tamento objetivo é o que importa). A posse seria a exteriorização da
propriedade, sendo percebida por uma regra de conduta, .por uma
regra de comportamento.

Em suma: posse = corpus.

Ihering não exige a presença do animus domini para constituir


posse. A posse é considerada pela existência exterior, sem qualquer

ANDRÉ MOTA, CtuSTIA.NO SoBRAL, LUCIANO FlGUElRUDO, ROBERTO flGUEIREDO, SABRINA DOVRAVO 367
Cdpítulo XIII i

necessidade de descermos a intrincada questão do plano íntimo da


vontade individual.
Voltando-se os olhos ao Código Civil, percebe-se que ele adota,
prep~nderantemer_:te, a teoria objetiva da posse. Dois exemplos bem
Slmbohcos d!sto sao os artigos 1196
· e 1197
· , do CC . N a d a ob stante
como ress~ltar:'os em linhas anteriores, também será possível nota;
~: legislaçao Civel algumas situações nas quais indícios da presença
. teona subjetiva da posse se fazem presentes, especialmente na
disoplma da usucapião e do fârnulo da posse.

13.2.3. POSSE X DETENÇÃO

h Ded acordo corn.- O artigo 1.198 do CC, rlPtPntnr


_.,., .... 6- ··'1_---·-
:o!nnolo n11o
'1"''
ac an o-se em relaçao de dependência para com o outro; conserva a
?esse em nome deste, em cumprimento de ordens e instruções suas
a exemplo de u_m motorista, da empregada doméstica ou do caseir~
que, de ngor, nao são titulares de posse alguma: atuam apenas como
longa manus, prepostos do verdadeiro possuidor. Estes são os fâmulos
detentores ou servidores da posse. '
Mas, atenção! Na prática, é possível a conversão da detenção em
posse, desde que rompida a subordinação, vale'dizer, na hipótese de
~ exerc1ciO dos atos ~ossessórios passar a se der em nome próprio.
E 0 :xemplo do caseiro que, após desligado, persiste no imóvel do
patrao, deixando de ser mero detentor e se enquaêrando na figura
de um possmdor InJUSto. Neste tipo de situação, a qualidade jurídica
desta pessoa, a~t~s mero detentor, é alterada para possuidor e alguns
efeitos possessonos certamente surgirão em decorrência disto como
por exemplo:_a possibilidade futura de urna aquisição da propriedad~
pela usucapiao.
Digno de nota é a dis~iplina do artigo 1.208 do CC, segundo a
qual os atos de mera detençao, permitidos e tolerados, não são capazes
de ?erar a posse. Eis mais um exemplo de que a detenção é instituto
JUndico distmto da posse.
De !ato, a permissã~ (autorização prévia, induvidosa e expressa)
e a toleranoa (autonzaçao posterior e tácita) não retiram daquele que

368 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


ICapílulo xm
autoriza, ou permite, o estado de poder sócio econômico sobre o bem,
razão pela qual não induzem à posse.
O derradeiro exemplo de detenção relaciona-se aos bens públicos,
sobre os quais o particular não poderá usucapir, por ser mero detentor
(art. 102 do CC e súmula 340 do STF).

13.2.5. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE ------

a) Direta x Indireta
Posse direta é aquela em que o possuidor tem o contato material
e imediato com a coisa. Ex: inquilino (locatário). Já a posse indireta é
aquela na qual o possuidor está afastado da coisa, mas aufere vanta-
gens àesta, a ex.en1plo do proprietário no contrnto de locação.
A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, tempora-
riamente, em virtude de direito pessoal ou real, não anula a indireta,
de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a
sua posse contra o indireto, em vice-versa (art. 1.197 do CC).
De fato. Na prática, locatário pode litigar contra locador, assim
como comodatário contra o comodante, assim como usufrutuário
contra o nu-proprietário, de maneira que é visível a possiblidade
jurídica de o possuidor direito defender a sua posse contra o indireto.
A distinção da posse em direta e indireta pode ocorrer por força
de um direito pessoal, como no caso de locação, ou comodato, ou por
força de um direito real, como no caso de usufruto ou habitação.

b) Composse
A composse ocorre quando duas ou mais pessoas exercem a
posse, concomitante, sobre uma coisa indivisível (artigo 1.199, CC),
à exemplo de dois amigos que dividem um imóvel em locação (dois
locatários de um mesmo bem). Em havendo composse, cada um destes
poderá realizar a defesa possessória do todo, independentemente de
sua cota parte.
Importante lembrar, na forma do art. 73, § 2º do CPC/15, que
nas ações possessórias a participação do cônjuge do autor ou do réu

ANDRÊ MOTA, CRISTIA~O SoBR•\L, LVC!A:'--0 fiG\JEIREDO, Rost:RTO frGUElREDO, SABRINA ÜOl'RADO
369
1 DIREITOS DAS COISAS
Capitulo XIII l

somente será indispensável nas hipóteses de composse ou de ato


praticado por ambos. A composse gera o efeito processual de impor
a presença dos comljossuidores em juízos. Esta é uma importante
informação de práticà-cível.

c) Justa x Injusta
A posse justa é aquela isenta de vícios, ou seja, a que não foi
contraída por nenhum dos meios previstos no artigo 1.200 do CC.
Logo, é justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
O conceito de posse justa é técnico e restrito à ausência destes três
elementos (violência, clandestinidade ou precariedade).
Interpretando-se às avessas a norma é possível considerar injusta
toda a posse adquirida de maneira contrária ao estabelecido pelo
ordenamento jurídico, ou melhor, a víolenta, a clandestina e a precária.
O momento da aquisição da posse será o lugar no qual se deverá
aferir a forma por meio da qual esta foi adquirida. Somente assim se
poderá afirmar se a aludida posse é justa, ou injusta.
De modo didático, será possível sugerir uma analogia da posse
violenta com o crime de roubo, pois este tipo penal exigirá violência,
ou grave ameaça. Também será possível estabelecer relação jurídica
com esbulho possessório. A invasão de imóvel alheio com a utilização
de armas de fogo é um claro exemplo da posse injusta na modalidade
violenta.
Já a posse clandestina é aquela adquirida com destreza (sem o
emprego de violência, muito menos grave ameaça), sendo factível a
analogia com o crime de furto. Imagine o exemplo de um vizinho
que coloca, matreiramente, uma cerca dez metros para dentro da
propriedade do outro.
Por fim, a posse injusta na modalidade precária decorrerá do
abuso da confiança, sendo importante a analogia com o crime de
apropriação indébita. Veja o caso no qual alguém empresta um livro
a outra pessoa, para ser devolvido em data aprazada e a devolução
não acontece. É visível que a posse injusta é derivada de uma posse
originariamente lícita, justa.
O Código Civil põe à disposição da sociedade importantes meca-
nismos para combater a posse injusta: o possuidor tem direito a ser

n_ · - - - · ~-···-~~ l On~-.·•r&(lvll I 3"edição


DIREITOS DAS COiSAS I
!capítulo XIII

manti~o na posse em caso de turbação (ação de manutenção de posse),


restltm~o no de esbulho (ação de reintegração de posse) e segurado
de vwlencra Immente, se tiver justo receio de ser molestado (ação de
interdito possessório).
. . Nos ca~os do arti?o 1.210 do Código Civil, o possuidor poderá
aJUizar a aç~o possessona, ou de Indenização, contra o terceiro que
recebeu a cmsa esbulhada tendo ciência de que o era (artigo 1.212 CC)
ante o visível dolo no caso concreto. ' '
A contrário senso, será inadmissível o direcionamento de deman-
da possessória ou ressarcitória contra terceiro possuidor de boa-fé,
por ser parte passiva ilegítima, diante do disposto no artigo 1.212 do
novo CC. Contra o terceiro de boa-fé, cabe tão-somente a propositura
de demanda de natureza real. (Enunciado 80, CJF/511).
Estes temas deverão ser aprofundados no estudo do Direito
Processual Civil.
De mais a mais, o artigo 1.210 do Código Civil apresenta 0 instituto
do desforço incontinente, ,consistindo na legítima defesa da posse.
O possmdor manso e pacifico, que está a sofrer dano possessório
poderá agir imediatamente, de forma proporcional ao dano se~
necessit~r da atuação Judicial para repelir a lesão (§ 1º, artigo 1.~10).
O dispositivo legal traz também a distinção entre o denominado
juízo p_ossessório (quero a posse porque tenho a melhor posse), típico
das açoe~ possessórias, do juízo petitório (quero a posse porque sou
'Propnetano), o qual se refere às ações reivindicatórias e decorrem do
direito real de sequela (buscar e apreender o bem onde quer que este
esteja e contra qualquer um). Com efeito, a posse não é apêndice da
propne~ade, de modo que ;'ão se discute propriedade em questões
possessonas, ou melhor, o titulo de propriedade não obstrui 0 debate
possessório (§ 2º, artigo 1.210).
A ,única hipót~se na qual se defere a posse àquele que comprovar
o domm10 ocorrera se a aludida posse estiver sendo disputada com
ba~e neste domínio, como já esclareceu a Súmula 487 do Supremo
Tnbunal Federal: "Será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver 0
domínio se com base neste for ela disputada". Nessa toada, consolidou a
doutrina dois importantes Enunciados na I Jornada de Direito Civil.
O Enunciado 78: "Tendo em vista a não-recepção pelo novo CC da exceptio

ANDRÉ J\10 !".\,CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fiGUil!l\EDO, ROBERTO fiGUf.IIWDO, SABR!NA DOURADO 371
Capítulo xiffl

proprietatis (artigo 1.210, § 2º), em caso de ausência de prova suficiente para


embasar decisão liminar ou sentença final ancorada exclusivamente no ius
possessionis, deverá o pedido ser indeferido e julgado improcedente, não obs-
tante eventual alegação e demonstração de direito real sobre o bem litigioso".
E o Enunciado 79: 'A exceptio proprietatis, como defesa oponível às ações
possessórias típicas, foi abolida pelo CC de 2002, que estabeleceu a absoluta
separação entre os juízos possessório e petitório".

d) De Boa fé x de Má fé
O artigo 1.201 do Código Civil traz o conceito de boa-fé no insti-
tuto possessório, da seguinte forma: "É de boa-fé a posse, se o possuidor
ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa", advertindo
ainda o parágrafo único- do mesmo preceito- que "O possuidor com
justo título tem por ::.i a prcsuílçlfo de bou·fé, salvo prova iiíl contrário, ou
quando a lei expressamente não admite esta presunção".
A definição acima exposta trata da boa-fé subjetiva, que "só perde
este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam
presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente'~ a teor do
artigo 1.202 do CC A identificação da presença da boa ou má-fé será
importante para qualificar a presença de eventual vício possessório
e, com isso, estabelecer as consequências, os efeitos disto decorrentes,
para os casos de perecimento, deterioração, frutos, benfeitorias, direito
de levantamento, etc.
Não se deve confundir a lição acima exposta com a noção de justo
título e de título legítimo. Isto, por que justo título é a justa causa, o
justo motivo, independe de documento específico comprobatório da
posse; enquanto que título legítimo é o documento hábil a demonstrar,
por escrito, a posse. A este respeito existem dois importantes Enuncia-
dos em Jornada de Direito Civil. O Enunciado 302: "Pode ser considerado
justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse
ad usucapionem, observado o disposto no artigo 113 do CC" e o Enunciado
303, assim redigido: "Considera-se justo título para presunção relativa da
boafé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da
posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular.
Compreensão na perspectiva da função social da posse".

372 EDlTORA ARMADOR 1 PRÂTICA CiVIL 1 Y edição


Já foi dito que a presença da boa-fé ou da má-fé da poss_: s~rá de
extrema importância, uma vez que gerará algumas consequenCias no
mundo jurídico. Vejamos:

a uanto à erce ão dos frutos arti o 1.214 a 1.216 CC


A percepção dos frutos, no instit'"to possessório, dependerá
. tamente da boa ou da má-fé do possmdor.
d ue
A uele que de boa-fé perceber os frutos sera' prot eg1·do, e a e1e os
perten~erão (artigo 1.214, CC). Vale dizer, os frutos colhidos pertencerão
'dor de boa-fé Os frutos pendentes e os antecipadamente
ao possm · , _ . • b
colhidos ao tempo em que cessar a boa-fe serao devolVIdos, apos o a a-
"' nto das despesas eventualmente ocorridas (p.u., artigo 1.214, CC).
c.me . d , f'
Esta proteção jurídica não se aplicará ao possmdor e ma- e.
0 possuidor n1 alicioso r2sponderá ci~.rilmente por todos os. frutos
colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, de1xou de
perceber (fruto percipiendo), desde o momento em qu_e se constitmu
em má-fé, com a ressalva de que terá direito apenas as despesas da
produção e custeio (artigo 1.216, CC). , , _
Os frutos colhidos pelo possuidor de ma·fe nao lhe pertencem.
Há responsabilidade civil direta por tais frutos, como ainda pelos que
deixou de perceber. Apenas para evitar o ennqueClmento sem ca_:'sa
é que a legislação admite 0 reembolso pelas despesas de produçao e
custeio. Nada mais.
Concernente aos frutos, registra-se que os frutos naturais e in~us-
triais se reputam colhidos e percebidos logo que são separados. )a os
civis são percebidos dia por dia (artigo 1.215, CC).

Baseado nos conceitos de boa e má-fé, pode se afirmar que o pos-


suidor de boa-fé só responde se der causa à perda ou deterioração da
coisa, incorrendo em dolo ou culpa. Trata-se de uma responsabilidade
civil subjetiva. . . ,
Já 0 possuidor de má-fé responderá de maneira obJehv~, ate
pelos danos acidentais ocorridos, salvo se comprovar 1sençao de

ANDRÉ MOTA. CR!STJ,\NO $oilRAJ..., l.t.TIA."lO FlGt:rlREDO, ROB!:RTO Í'lG1JCJRHl0, $,\BRI~A DOURADO
373
!DiREITOS DAS COISAS
Capítulo XIII 1

culpa ou que o dano ocorria ainda que o objeto estivesse nas mãos
do reivindicante.
I
c) Quanto às benfeitorias' realizadas na coisa (arts. i219 e 1220, CC)
O ordenamento jurídico traz proteção ao possuidor de boa fé
e, dessa forma, o mesmo terá direito à indenização e retenção sobre
benfeitorias necessárias e úteis. Já às voluptuárias, poderá apenas
levantá-las, quando possível (sem prejuízo da coisa).
Quanto ao possuidor de má fé, este somente será ressarcido nas
benfeitorias necessárias, sem direito à retenção.

13.2.6. CoNSTITUTo PossEssóRIO x TRADITION BREVE MANU

O Constituto possessório ou Cláusula contituti ocorre quando, por


exemplo, alguém vende um imóvel a outrem, porem continua a habitar
naquele bem, que antes lhe pertencia (agora mediante o pagamento
de aluguel). Nesta hipótese, o alienante que possuía o bem origina-
riamente em nome próprio, passa a possuir, agora, em nome alheio.
Há uma alteração jurídica na qualidade da posse (antes decorrente da
'propriedade e agora não mais decorrente da propriedade).
O Enunciado 77 da I Jornada de Direito Civil (CJF/STJ) esclareceu,
mediante doutrina firme e consolidada, que ''A posse das coisas móveis
e imóveis pode ser transmitida pelo constituto possessório".
Mas uma importante pergunta surge agora: e se o exemplo acon-
tecesse de maneira invertida, em uma situação contrária?
A tradittio breve manu é o inverso. Ocorre quando alguém possuía
originariamente algo em nome alheio e, agora, passa a possuir em
nome próprio. É o exemplo do locatário que passa a ser proprietário
do imóvel alugado. Originariamente, o locatário era titular da posse
direta por força da locação e, agora, é titular da posse porque adquiriu
o bem.
DIREITOS DAS CoiSAS r
ÍCapítulo XIII

13.3. AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE

A aquisição da posse ocorre a partir do momento em que o indi-


víduo puder exercitar um ou alguns dos poderes inerentes à proprie-
dade (artigo 1.204, CC). Esta posse faz presumir a dos bens móveis, os
quais acompanham o principal (artigo 1.209, CC), firme na regra geral
segundo a qual o acessório seguirá a sorte do bem principal.
Nos moldes do artigo 1.205 do Código CiviL a posse poderá ser
adquirida pela própria pessoa, por seu representante ou terceiro, desde
que haja ratificação. A posse se transmite aos herdeiros ou legatários
do possuidor com os mesmos caracteres da sua aquisição (artigo 1.206,
CC), sendo que o sucessor universal continua de direito a posse do
seu antecessor e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do
antecessor, para efeitos legais (artigo 1.207, CC).
Em suma, a posse uma vez adquirida é transmitida com os mes-
mos caracteres, sendo possível a soma das posses até mesmo para fins
de usucapião (art. 1243 do CC).

13.4. DIREITO REAL DE PROPRIEDADE OU NA COISA


PRÓPRIA

O atual Código Civil elenca, a partir do artigo 1.225, as espécies


de Direitos Reais, enumerando-as em seus incisos.
Logo após, o artigo 1.226 dispõe que os direitos reais sobre coisas
móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só
se adquirem com a tradição. Já os Direito Reais sobre imóveis, cons-
tituídos ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com 0
registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos, salvo
os casos expressos neste Código (artigo 1227).
A legislação cível avança para o estudo da propriedade em geraL
Exige-se, assim, identificar o conceito objetivo do que vem a ser pro-
pnedade (espécie) e os direitos reais (gênero), a fim de avançar no
estudo da matéria.

ANDRÍ' MOT.t, CRISTIANO SOliRAL, Lut:JANO fJGUElRf.DO, ROBERTO fiGUEIRP.DO, SABRINA DOURADO
375
Capílulo XIII \

13.4.1. CONCEITO E CARACTERES

. _Malgrado o legislador civilista não ter trazido o conceito d 0


dueJtode propne · d a d e, o legislador preocupou-se em definir a fig
~p . . .
. ropnetano, e l encando as suas faculdades no artigo 1.228. Assim ~
sao faculdades do proprietário usar, gozar/fruir, dispor e reivindicar
a cmsa segundo a sua função social.
. A prop;iedade n:sta inserida em um rol taxativo dos direitos
rems. ? carater ta~ahv~ ~os direitos reais decorre, justamente, da
necessidade de se ldentJficar a imediata titulação da propriedade
para, ~om ISto, perm!lu a oponibilidade erga omnes (caráter absoluto,
~pomvel em face de todos, com um sujeito passivo universal). Deve-
,~~. ~~sp_;ltar a propnedade alheia ainda que não saiba quem é o seu
uLular. .iãlS direitos reais são perpétuos. Curioso aaui o paralel- ~- ·--
os direit b • • • - -1
I I U LUlll
os o ngacmnals, que sao relativos, inter-partes, transitórios
e de forma hvre.

13.4.2. CARACTERÍSTICAS DA PROPRIEDADE

A fi m d e proporcwnar
· melhor compreensão dos estudantes
trouxemos as características mais importantes do direito de proprie~
dade. VeJa-se.
a) COMPLEXO- pois é formado por um plexo (conjunto) de
poderes ou faculdades (usar, gozar/fruir, dispor e reivindicar);
b) ABSOLUTO- pois a sua oponibilidade é "erga ornnes" (em face
de todos);
. c) PERPÉTUO- uma vez que não se extingue pelo simples não·
uso e pode ser transrnll!do de urna geração para outra;
d) EXCLUSIVO - pois afasta o exercício do poder dominial de
terceiro sobre a mesma coisa (quando da propriedade sobre um bem),
~essalvando-se apenas a situação do condomínio, em que há divisão
1deal do bem;

376 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL 1 3a edição


]capítulo xm

e) ELÁSTICO - pois os poderes do proprietário podem ser dis-


tendidos ou contraídos, para formar outros direitos reais, sem perder
a sua essência (vide artigo 1.231, CC);

13.4.3. EXTENSÃO E LIMITES: FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE


(ARTIGO 1.229 E ARTIGO 1.230,__C::.C=)_c..i- - - - - - -

A propriedade deverá atender à função social. É o que dispõe a


Constituição Federal, no seu artigo 5º, XXII, trazendo ao ordenamento
jurídico o princípio da função social da propriedade, aliado ao artigo
170, Ill, que capitula a função social como um elemento da ordem
econômica.
As disoosições constitucionais impactam favoravelmente a legis·
\ação cível infraconstitucional, propugnando uma leitura funcional das
propriedade. Exemplo disto está na disciplina da propriedade do solo,
que abrange tanto o espaço aéreo, quanto o subsolo correspondentes
em altura e profundidade úteis ao seu exercício, mitigando-se a ideia
absoluta da propriedade plena (artigo 1.229, CC).
Eliminada se encontra a ultrapassada ideia medieval segundo a
qual qui dominus este soli dominus est usque ad coelos et usque ad ínferos
(quem é dono do solo é também dono até o céu e até o inferno).
Diante da função social, a propriedade do solo não abrange as
jazidas, minas e demais recursos minerais, nem mesmo os potenciais
de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens
referidos em leis especiais. O artigo 176 da Carta Magna e o artigo 84
do Código de Mineração impedem o assenhoramento (aquisição de
domínio) de determinados bens minerais que constituem elementos
da propriedade, seja porque estratégicos, seja ante a supremacia do
interesse público sobre o privado, restando tão somente uma exceção
a este respeito, que se refere aos índios, que estão autorizados a fruir
também deste patrimônio.
Diante da disposição constitucional, o artigo 1.230 do Código
Civil dispõe que a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas
e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os
monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.

377
ANDRÉ MOTA, C!USTIANO $OBRAI., LUCIANO FlGUI:IREnO, RoliERTO FIGCHIRI:DO, SMHUNA DOURADO
!DIREITOS DAS COISAS
C;;pitu!o Xlll l
Logo, a extensão do direito de propriedade é diretamente orientada
pela função socioambiental desta, sem perder de mira o interesse
público primá:r:,io e os interesses r;netaindividuais.
I

13.4.4. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE (ARTIGO 5°, XXII E


XXIII E AR1CIGO 170, Ill, CF)

A função social é intrínseca ao direito de propriedade. O conceito


de propriedade só pode ser devidamente apreendido dentro de uma
concepção social, encontrando fundamento jurídico na Constituição
Federal de 1988, motivo que levou o CC a tratar deste assunto nu§ 1° du
artigo 1228: o direito de propriedade deve ser exercido em consonância
com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a
floral a fauna, as beleL.as naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
Em razão da função social, não é mais possível analisar aproprie-
dade como um direito absoluto, de tal forma que são defesos os atos
que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade,
e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem(§ 2º, do artigo
1.228, CC), sob pena de abuso de direito.
Outrossim, a propriedade se presume plena e exclusiva até prova
em contrário (artigo 1.231, CC). Logo, em não havendo comprovação
acerca da existência de direito real sobre coisa alheia, e/ou condomí-
nio, a propriedade é tida como plena e exclusiva de um único sujeito.

13.4.5. 0 QUE É A DES_cC_cO:.:B:.:E:::R:::T:.:A:::?:___ _ _ _ _ _ _ _ _ __

O Código Civil trata da descoberta no seu artigo 1.233, dispondo


da seguinte forma: "Quem quer que ache coisa alheia perdida há de res-
tituí-la no dono ou legítimo possuidor". Contudo, caso o dono não seja
conhecido, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar,
entregará a coisa achada à autoridade competente (art. 1.233, p.u.).

n - :_, . .,., r .. ,, I ~·· cdicão


DIREITOS DAS CoiSAS /
rCapitulo Xlll

Ademais, o descobridor que restituir a coisa, terá direito a uma


recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, além da
indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e
transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la, respondendo
aquele acaso proceda com dolo. (artigo 1.234)
Pela lei, quando a coisa descoberta é entregue a autoridade
competente deverá se fazer valer da imprensa e de outros meios de
informação, dentro de uma economicidade e proporcionalidade,
para identificar o dono da coisa. Decorridos sessenta dias da divul-
gação da notícia sem resposta alg'lma, a coisa será vendida em hasta
pública, transmitindo a propriedade do remanescente ao Municí-
pio em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido (artigo 1.237,
CC). Autoriza-se ao ente municipal abandonar o bem em favor de
quem o achou.
Portanto, descoberta é o achado de coisa a alheia. Impõe ao
descobridor (aquele que encontrou a coisa alheia) devolver o bem ao
proprietário, ou entregar a uma autoridade pública.

13.4.6. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA

O Código Civil dispõe acerca dos modos de aquisição da pro-


priedade imobiliária, devendo estes ser objeto de estudo do operador
do direito. Faremos uma sintética análise destas formas de aquisição.
Conforme dispõe o artigo 1.241 do CC, poderá o possuidor
requerer ao juiz que seja declarada adquirid"' mediante usucapião, a
propriedade imóvel, de forma que a declaração obtida na forma deste
artigo constituirá título hábil para o registro no Cartório de Registro
de Imóveis.
A usucapião constitui instituto sedimentado pelo Corpus Juris
Cívilis de Justiniano. Etimologicamente significa a capio ou capionis
(tomada, aquisição, ocupação) através do usu. Trata-se de expressão
no feminino a significar a ocupação da coisa através do uso.
Sendo a usucapião uma prescrição aquisitiva da propriedade,
pode-se afirmar que o usucapiente não adquire a alguém; simples-

ANDRÉ Mon, CRISTIANO SoiJ.RAt, LUCIANO f•)(aJUREDO, HonfftTO FlGUElRl:DO, SABRJNA Dül'RADO
379
Capítulo XIII I

mente adquire. Por constituir instituto semelhante à prescrição, as


causas que obstam, suspendem ou interrompem esta, também devem
se aplicar àquele, por força do artigo 1.244 do CC

Em síntese: a usucapião é forma de aquisição da propriedade.

a) Aquisição pela usucapião de bem imóvel

Trata-se de um modo originário de aquisição da propriedade por


meio da posse mansa e pacífica da coisa ao longo de um espaço de
tempo fixado em lei. Para ocorrer, deverão estar presentes três pres-
supostos obrigatórios, a saber: posse juridicamente qualificada, para
fins de usucapião, objeto hábil à usucapião e, finalmente, decurso de
tempo fixado em lei.
A posse juriàicamente qualificada para firn de usucapião é a
mansa, pacífica, contínua, sem oposição e com animus domini. Portanto,
não é urna posse qualquer. A posse direta, por exemplo, não gerará
a usucapião se não contiver os demais elementos ora identificados.
Justamente por isto é que um locatário, um comodatário, um usufru-
tuário não irão usucapir, afinal de contas a posse destes sujeitos não
é juridicamente qualificada para o fim da usucapião.
O objeto hábil à usucapião é o bem jurídico juridicamente pos-
sível de ser usucapido. Existem certas coisas, ou bens, que não pode-
rão ser objeto da usucapião, à exemplo do corpo humano e dos bens
públicos. Deste modo, para a usucapião acontecer será necessária a
existência de objeto hábiL
O decurso de tempo fixado em lei será, por fim, o último pres-
suposto obrigatório a toda e qualquer modalidade de usucapião. Será
a legislação em vigor que fixará o lapso temporal mínimo a partir do
qual a usucapião poderá acontecer.
Estes são, como visto, os três pressupostos necessários à toda e
qualquer situação jurídica de usucapião. Evidentemente que em casos
concretos outros pressupostos (facultativos) poderão ser exigidos,
como acontecerá, por exemplo, na usucapião ordinária (CC artigo
1.242), que exigirá também o justo título e a boa-fé.

380 EDITORA AR\1ADOR ) PRÁTICA CIVIL 1 3' edição


\ capit11lo xm

:l ATENÇÃO!
OS mo Tribunal Federal possui importantes súmulas sobre
uprde capl·-ao Recorde-se que "A usucapião pode ser arguzda
o tema a usu . .t d
,f " (S, la 237: STF) e que "O possuidor deve ser cz a o,
em de1esa umu ' ' F) mo
ssoalmente para a ação de usucapião" (Súmula 263, ST ' co
pe b, ' "O conifinante certo deve ser citado, pessoal!:zente, para
tam emque '
a açilo de usucapião". (Súmula 391, STF). .

Nenhum bem público pode ser usucapido (STF, Súmula 340 e CC:
t' 102) É imprescindível que a coisa seja suscet!vel de ser usuca l
ardgo . . ultaneamente a isto, tenha transcorrido lapso tempora.
pr a, e, stm ontínua pacífica e com o ammus domznz
suficiente na posse mansa, c ' -
'interesse de se tornar dono) sobre a cmsa. , .
' .... - ~---~~,..,,....., ;~;H-irlír ;;\" esnee1es de usu-
Feitas estas renexoes, pas:,a.~x.~.uv.::> .__._ ....._Á, i~-i· -~ -r
·- . b'l" . a fim de melhor compreender cada uma das suas
capmo 1mo 1 mna · · ·d t d d
modalidades. A usucapião imobiliária pode ser d!V!dl a e es u a a
mediante as seguintes espécies:

I. Usucapião extraordinária (artigo 1.238, CC)


Nos terrn.os do artigo 1.238 do Código Civil, aquele que, por
. - m oposição possuu como seu um
quinze anos, sem mterrupçao, ne . ' , l ou boa-fé.
imóvel adquiri-lhe a propriedade, mdependente de tltu o
A~te a literalidade do artigo supracitado, nota-se .que esta moda-
lidade de usucapião independe do título ou_a boa-fe, mm~o m;os
como o tamanho da área objeto da usucap!aO, ou com o ato e o
autor do pedido já ser proprietário de imóvel antenor, contentando-se
so do prazo de 15 (quinze) anos. E mms! Este prazo
com o mero d ecur d t b lho
será reduzido para 10 anos no caso da denomina a posse ra a
(moradia habitual ou obras, serviços de caráter produtivo), como reza
o artigo 1.238. · t ' 1 d
-- extraordinária a antenor ma ncu a o
Caso ocorra a usucaprao ' . 1 .d d
. , I , . da sem qualquer tipo de sucessão da tltu an a e,
Imove e arqurva . · · ~ 1· e
. . . . . -o é causa originá na de aqmszçao IVre
pms mslsta-se, a usucapla , . d
d ' b d da propriedade quebrando a cadeia sucessona a
esem araça a ' · dade pela
matrícula. É possível que uma pessoa adquira a propne

EJREDO ROBERTO Fl(;UEIREDO, SABRINA DouRADO


381
ANDRÉ MOTA, CRIWl!\SO SoBRAL, LuCIANO FtGU '
) DIREITOS DAS COISAS

Capítltlo Xllll

usucapião extraordinária de mais de um bem, independentemente


da área, desde que preencha os requisitos acima identificados.
Atente-se, ainda, à regra de trar:sição prevista no artigo 2.029
do CC: "até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os prazos esta-
belecidos no parágrafo único do artigo 1.238 e no parágrafo único do artigo
1.242 serão acrescidos de dois mws, qualq<~er que seja o tempo transcorrido
na vigência do anterior, Lei nº 3.071, de 1 de janeiro de 1916".
Dessa forma, a fim de dar maior profundidade ao assunto, reco-
menda-se, a leitura do artigo 2.030 do mesmo Código, atentando-se,
destarte, para as específicas regras de transição.

!L Usucapião ordinária (artigo 1.242. CCl


Diferente da usucapião extraordinária, na usucapião ordinária
é exigido o justo título, bem como boa-fé. Em razão disso, o lapso
temporal é menor, podendo ser de 10 ou 5 anos.
O prazo será de 5 anos quando o imóvel tiver sido adquirido
onerosamente, com base em registro posteriormente cancelado, e
os possuidores tiverem estabelecido moradia ou realizado investi-
mentos sociais e econômicos (posse trabalho). "A expressão justo tí-
tulo contida nos artigos 1.242 e 1.260 do CC abrange todo e qualquer ato
jurídico hábil, em tese, a transferir a propriedade, independentemente de
registro". É este o entendimento da doutrina majoritária (EnunCia-
do 86, CJF/STJ).
Assim como ocorre na usucapião extraordinária, é possível que
uma pessoa adquira a propriedade pela usucapião ordinária de mais
de um bem, independentemente da área, desde que preencha os
requisitos acima identificados.

~ATENÇÃO!

Deve ser lembrado que nos termos do artigo 1243 do Código


Civil é possível, para efeito da usucapião, a soma do tempo exi-
gido mediante o acréscimo à atual posse da posse dos antecesso-
res, desde que contínuas, pacíficas, com justo título e de boa-fé. , ..
DIREITOS DAS COiSAS j
rcapíulo XIII

De acordo com o Enunciado 317 da lii Jornada de Direito Civil


ao se debruçar sobre o artigo 1.243, "A accessio possessionis, de que trata;
artigo 1.243, primeira parte, do CC, não encontra aplicabilidade relativamente
aos artigos 1.239 e 1.240 do mesmo diploma legal, em face da normatividade do
usucapião constitucional urbano e rural, artigos 183 e 191, respectivamente".
As próximas espécies de usucapião a serem estudadas estão no
grupo da usucapião especial Aplicam-se em favor de pessoas que não
são proprietárias de nenhum outro imóvel Assim, serão estudados
dois tipos de usucapião especial (rural e urbano), os quais tutelam a
primeira moradia.

I)!: Usucapião especial rural ou pro-labore ou rústico (artigo 1.239.


CC: artigo 191. CF/88 e Lei 6.969/81)
O Código Civil tratou a matéria de forma inédita: "não sendo
proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco
anos jninterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não
superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho
ou de sua família, tendo nela sua moradia" (artigo 1.239).
Um dos requisitos para que se opere a usucapião rural é 0 ine-
ditismo da propriedade, pois como fora dito, é imprescindível que 0
postulante não seja dono de imóvel algum. Além do ineditismo da
propriedade, é necessário o decurso de cinco anos, de maneira inin-
~errupta e sem oposição- ou seja, mansa e pacificamente, com animus
âomini. Também é necessário que a área não seja superior à cinquenta
hectares e que a propriedade se torne produtiva ou, não sendo assim,
que seja utilizada como moradia, afinal de contas: "Quando a posse
ocorre sobre área superior aos limites legais, não é possível a aquisição pela
ma da usucapião especial, ainda que o pedido restrinja a dimensão do que se
quer usucapir" (Enunciado 313, CJF/STJ).
Nos termos da Súmula 11, do S1J, "A presença dá União ou.de qual-
quer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a competfncia
do foro da situação do imóvel". Nesta senda, com o escopo de assegurar
o due1to constitucional à moradia, a Carta Magna dispôs acerca da
usucapião rural em seu artigo 191.

ANDRf: Mlln, Crt!ST!,\N() SO!IRAL, ],tH.:I-t"'() FlGUF.IR!:[JO, ROBERTO flGPHRFl)O, SABRJNA DOURADO
383
183 dIV.CF/88
Usucapião
o
especial urb ano ou pro-mrsero
· (artigo 1.240 do CC
a e 9 do Estatuto da Cidade) '
. Com a mesma razão do especial rural (promoção de acesso .
pn~dade c_onsoante à função social) e requisitos próximos (a ex~~çra~­
d
aoa ate a, maxtma q u e sera• d e d uzentos e cinquenta metros quadradoso
C, ~eves~e cinquenta hectares), tanto a Constituição Federal com .
u~b:~~- rvrl e o Estatuto das Cidades regulam a usucapião 'espec~~
d Neste s~ntido, aquele que possuir, como sua, área urbana de até
m~~~:~: e cmquen_ta metros quadrados, por cinco anos ininterrupta-
. - em oposrçao, utilizando-a para sua moradia ou de sua f 'I'
a d quinr-Ihe-á o do , . d d ami Ia,
imóvel b mrmo, es e que não seja proprietário de outro
···~s·n~ ~-r~-~~~dou rural. E~te direito não poderá será reconhecido aO
Ult;: H v f-'u;:,;:,u_ 1 01" pOr 111a1S dê ílêZ.

:>ATENÇÃO!
Em virtude de recente reforma, datada de 2011 fora -
C'd- c - ' msen'dono
o rg~ . rvrl o art. 1.240-A, o qual, de maneira inédita assou
a p:~rbrhtar a usucapião entre cônjuges e companhcl:C,s em
VIr e do abandono do lar. Nessa toada, aquele que exe~cer
por2 (dOis) anos ininterruptamente e sem oposiç- '
direta e com exc1ustvi- .d ade, sobre imóvel urbano de ao, posse'
até 250
(duzentos
d. .d e cinquent
, . a met ros quadrados), cuja propriedade m
:;' a com ex-conJuge ou ex-companheiro que abandonou o lar
~ ~~za~do-~ para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á
., rr;rm~ mtegral, desde que não seja proprietário de outro
:nove ur an_o ou ruraL Tal prerrogativa, como soe ocorrer nas
orma~ especr~lS de usucapião, não será reconhecida ao mesmo
possmdor mms de uma vez.

V. Usucapião coletivo (artigo 10 do Estatuto da C d d L .


10.257/01) 1 a e - e1

A usucapião coletiva encontra-se positivada no arti 10 do


Estatuto das Cidades (Lei 10.527/01). Esta modalidade d e usucap1ao
go .-

384 EDITORA ARMADOR I PRÃTICA CIVIL I y edição


nasceu da necessidade de regular o fenômeno social de apropriação
das comunidades (pejorativamente denominadas de favelas), ampa-
rando a população de baixa renda que ocupa terrenos coletivamente,
de modo desordenado, mas de maneira mansa e pacífica.
Nesta senda, a lei em comento adverte que as áreas urbanas
com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por
população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos i:ünter-
ruptos e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos
ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de
outro imóvel urbano ou rural (artigo 10).
Conforme disposição do artigo 12, inciso !li, do Estatuto das
Cidades, na usucapião especial urbana, é parte legitima para propo-
situra da ação a associação de moradores da comunidade em questão,
legalmente constituída e desde que exista cxplkita autorização dos
representados para assim atuar.
E se caso alguns dos moradores se recusem a litigar no pólo ativo
como litisconsortes necessários?
A resposta está no artigo 92, ou seja, devem ser citados para inte-
grar a lide. Após a resposta destes à citação, o Juiz da Causa apreciará
a manutenção ou não do processo, suprindo ou não inércia destes.
Há de se observar que na ação de usucapião especial urbana, o
rito a ser observado é o sumário (artigo 14 do Estatuto das Cidades).
Ademais, dispõe o artigo 13 da lei em comento que a usucapião espe-
cial urbana poderá ser alegada como matéria de defesa, sendo que,
enquanto esta ação judicial não for dirimida, nenhuma outra poderá
tramitar, seja possessória, seja reivindicatória.

:>ATENÇÃO!
O arual Código Civil disciplina instiruto próximo, porém diverso
da usucapião coletiva, em seu artigo 1.228. É a batizada desa-
propriação judicial ou indireta. Conforme este dispositivo, o
proprietário tJ:mbém poderá ser privado da coisa se o imóvel
reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta
de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número
pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou

385
ANnt~.tMoTA, CR.tSTH\NO SoBRAl.., LUCIA-NO ftGUEIREDO, ROIIlRfO FtC.:t'f!Rtno, S\!lRJSA DouRADO
I
DIREITOS DAS COISAS
Capítulo xmj

separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de inte-


resse social e econômico relevante.

A diferença para a usucapião coletiva Jeside no fato de que ."a


desapropriação indireta se exige o pagamento prévio de mdemzaçao,
sob pena de não consumação da transferência proprietária.

b) Aquisição pelo registro do título


A titularidade do imóvel só será reconhecida mediante registro,
até mesmo ante o caráter erga-omnes do direito de propriedade.
De~sa fonna q uen1 não registr:::: r:}_ o será tido como proprietário,
à luz do artigo 1.245 do Código CiviL Em razão disto, enquanto o
título translativo não for registrado, o alienante continua a ser havr~o
como dono do imóvel (§ 1º, artigo 1.245). Outrossim, enquanto nao
se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade
do registro e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser
havido como dono do imóvel (§ 2º, artigo 1.245).
Importante recordar que com base no sistema registra! brasileir~,
para que haja aquisição da propriedade é preciso conjugar duas vana-
veis: o título (contrato) e modo (solenidade na transferência).
A solenidade dos bens móveis é a tradição e dos imóveis o
registro.
Para legislação civil, o registro se torna eficaz desde o momento
em que se apresentar o título ao oficial de registro e este o pren~ta_r
no protocolo (artigo 1.246, CC e artigo 186 da Lei de R_:pstros Publi-
cas). Trata-se do princípio da prioridade da prenotaçao a gerar uma
presunção de verdade relativa (juris tantum), a ser ilidida mediante o
cancelamento do próprio registro.

:>ATENÇÃO!
Matrículà, registro e averbação são coisas distintas. A matr~cula
é o nome que se dá ao primeiro registro do imóveL O regtstro
(anteriormerlte denominado de transcrição) refere-se ao ato que
consubstantia a transferência da propriedade: a cada registro
se recebe um novo número, em virtude da alienação (g~atuita

Fn1T()R,\ ARMADOR 1 PRÁTICA CtVJL I Y eJição


ÜlREITOS DAS COISAS !
rCapítulo XIII

ou onerosa). Já a averbação constitui qualquer alteração feita à


margem do registro, sofridas pelo imóveL como, por exemplo,
a averbação de uma construção.

Por fim, haja vista a elevação do direito do promitente comprador


d\> imóvel à categoria de real, consigna a doutrina no Enunciado 87
do CJF que a Promessa de Compra e Venda, devidamente quitada,
considera-se título translativo apto à registro. Caminha o referido
enunciado com a Súmula 239 do SD, a qual não demanda o registro
da aludida promessa para a adjudicação compulsória.

c) Aquisição da propriedade imóvel por acessão

Uma outra forma de aquisição da propriedade imóvel é a acessão.


Por meio desta, o proprietário de um bem principal adquiri a titula-
ridade de outros acessórios que aderirem ao principaL
Tem-se, então, a união física de urna coisa acessória a uma coisa
principal, aumentando o volume desta última em favor do proprietá-
rio que, dono da coisa principal, passa também a ser titular dZi coisa
acessória.
A acessão pode se dar em seis hipóteses: por formação de ilhas,
por aluvião, por avulsão, por abandono de álveo, por plantação é por
construções. É o que consubstancia o artigo 1.248 do Código Civil,
· que apresenta formas naturais de acessão (incisos I à IV) e formas
artificiais (inciso V).
Importante recordar que não se deve confundir acessão (modo de
aquisição de propriedade imóvel) com a benfeitoria (bem acessório).
A benfeitoria será sempre artificial, constituindo obra feita na estru-
tura da própria coisa, sem implicar aumento de volume significativo
desta. A acessão, ao contrário, aumenta o volume da coisa principal,
sendo considerada modo de aquisição da propriedade.
Passa-se ao estudo das formas de acessão:

L Acessão por formação de ilhas


O artigo 1.249 do Código Civil trata da acessão por formação
de ilhas, sendo esta uma forma de aquisição natural da propriedade

ANDltÉ MOTA, Ctu.<>T!ANO SoBRAl., LUCIANO fiGUEJREOO, ROBERTO fJGUEIREDO, SABR\NA DOURADO 387
Capítul(l Xllf i

imóvel. Nessa toada, as ilhas que se formarem em correntes comuns


ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros.
Sobre o tema, há três importantes regras relacionadas sobre as
ilhas:
I) as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos
sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens,
na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas
~~~~ .

li) as que se formarem entre a referida linha e uma das margens


consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse
mesmo lado;
III) as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço
do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa'
dos quais sfl constituíram.

I!. Acessão por aluvião


O artigo 1.250 do Código Civil nos traz a hipótese de acessão por
aluvião. Nos termos do artigo, ocorre a acessão por aluvião quando
houver o acréscimo, de maneira lenta e imperceptível, de resíduos à
beira do rio. Assim, os acréscimos formades, sucessiva e impercepti-
velmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das
correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos
terrenos n1arginais, sem indenização.
Registra-se que se o terreno aluvial se formar em frente a prédios
de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da
testada de cada um sobre a antiga margem.

III. Acessão por avulsão


Na acessão por avulsão há, em decorrência de força natural e
violenta, a separação de uma porção de terra, que se destaca de um
prédio e se junta a outro. Nesta hipótese, o dono do prédio que teve
acréscimo haverá de indenizar o proprietário daquele que sofreu
decréscimo, dentro de um prazo decadencial de um ano.

388 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL j 3" edição


IV. Acessão por álveo abandonado
Conforme dispõe o Código das Águas, álveo é a superfície que as
águas cobrem sem transbordar para o solo natural e ordinariamente
enxuto. Noutros termos, entende-se por álveo a linha que divide o
meio do rio.
Nos termos do artigo 1.252 do Código Civil, o álveo abandon<êdo
ertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, até a testada,
p d .
sem que tenham indenização os donos dos terrenos por on e as aguas
abrirem novo curso.

V Acessão por plantacões e construções


Nos termos do artigo 1.253, do Código Civil, toda construção ou
plantação existente em um terreno se presume feita pelo ~roprietário, à
sua custa, até que se prove o contrário. Afinal, a presu:-:.ç2.o que o aces-
sório (plantação ou construção) siga o principal (propriedade do solo).
Tal presunção é relativa, afinal de contas aquele que semem,
planta ou edifica em terreno próprio, com sementes, plantas ou mate-
riais alheios, adquire a propriedade destes; porém restará obrigado
a pagar-lhes 0 valor, além de responder por perdas e danos, se agiu
de má-fé.
A tudo isto chama-se de acessão, uma forma de aquisição pro-
prietária pela aderência.
E o que seria a acessão inversa?
Nos moldes do parágrafo único do artigo 1.255 do CC, se a cons-
trução ou plantação for de valor maior do que a do próprio terreno,
pode 0 construtor adquirir a propriedade do solo, indenizando o seu
dono.

13.4.7. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL (ARTIGOS


1.260/1.274, CC)

a) Aquisição por usucapião de bem móvel


No que concerne a usucapião de bem imóvel, a mesma se dará
apenas de duas formas, a ordinária e a extraordinária.

ÁNDRtMOTA, CRISTIANO SOSRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO fJGÜElREDü, SABRl"iA DOUR.\DO


389
I
DIREITOS DAS COISAS
Capíwlo Xlllj

A aquisição de bem móvel por meio da usucapião ordinária, exige


o justo título e a boa-fé, estando prevista no artigo 1.260 do ~ódígo
Civil. Assim, aquele que pos:uir coisa m~vel c~~o sua, co~hnua ~
incontestadamente durante tres anos, com JUSto tit1.tlo e boa-fe, adqm-
rir-lhe-á a propriedade.
Já a forma extraordinária de usucapião está prevista no artigo
1.261 do Código Civil, de modo que se a posse da coisa móvel se pro-
longar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de
título e boa-fé.
De mais a mais, à usucapião dos bens móveis se aplicará, subsi-
diariamente, o regime jurídico da usucJ.pião dos bens i.móveis- a~ti?os
1.243 e 1.244 do CC, assim cotno u atligv 9-n c seguintes do Cod1go
de Processo Civil.

b) Aquisição por ocupação


Na esfera jurídica, algumas coisas não pertencem a ninguém:
pois encontram-se em estado de abandono ou inutilidade. Conforme
a legislação, quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe
adquire a propriedade, não sendo essa ocupação vedada 2m ler (artigo
1.263, CC). A isto denomina-se de ocupação, uma forma ordmana de
aquisição proprietária.

c) Aquisição por achado do tesouro


Os artigos 1.264 a 1.266 do Código Civil tratam da hipótese de
aquisição por achado de coisa preciosa (tesouro). , .
Assim, admite-se a aquisição da propriedade move! rela:rva ao
depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono nao hap
memória devendo este ser dividido por igual entre o propnetano
do prédi~ e o quem achar o tesouro casualmente. ~aso, porém, este
tesouro seja encontrado em decorrência de pesqmsa ~rdenada pd~
dono do prédio ou por este não autorizada, o propnetano do 1move
se tornará dono exclusivo do depósito.

d) Aquisição por tradição


Nos termos do artigo 1.267 do Código Cívíl, a propriedad~ ~o
bem móvel não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradJÇao.
DIREITOS DAS CoisAs )

!capítulo XIII

Esta é a forma ordinária de aquisição da propriedade móvel. sendo o


equivalente do registro dos imóveis.

e) Aquisição por especificação


O artigo 1.269 do Código Cívíl veicula a possibilidade de aquisição
proprietária móvel daquele que, trabalhando em matéria-prima em
parte alheia, obtiver espécie nova, não sendo possível o retorno da
coisa ao seu estado anterior. É o exemplo do escultor que esculpir em
mármore alheio, tornando-se proprietário daquela pedra bruta que não
poderá retornar ao estado anterior. A isto nomína-se de especificação.

13.4.8. A PERDA DA PROPRIEDADE (ARTIGO 1.275 E 1.276, CC)

Finalizado o estudo acerca das formas de aquisição da proprie-


dade móvel e imóvel. é chegada a hora de analisar as causas geradoras
da perda destas propriedades, vindo a lume o artigo 1.275 do CC.
Consistem em causas de perda da propriedade a alienação, a
renúncia, o abandono~ o perecimento da coisa e a desapropriação.
Pois bem.
A alienação gratuita (doação) ou onerosa (venda) é a forma usual
de perda proprietária. Contudo, renúncia e abandono também cons-
. tituem importantes modalidades, daí a importância em se distinguir
uma situação da outra.
A renúncia é a exoneração da qualidade jurídica sobre uma
dada coisa. É a declaração expressa da vontade abdicativa da pro-
priedade. No abandono o propríE'cário da coisa se desfaz desta, por
não lhe interessar mais ser o proprietário. Constituí um fato jurídico
implícito, mas sobre o qual se pode extrair a intenção de não mais ser
proprietário da coisa.
No caso do abandono, o referido imóvel poderá ser arrecadado
como bem vago e, passados três anos, incorporado à propriedade do
Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas cir-
cunscrições (artigo 1.276, CC). No caso do imóvel ruraL tal aquisição
será por parte da União.

A~t>Rf. MofA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO F'lCllló!R[DO, ROIIERTO fJ(;l'f:IRHPO, SABRJNA DOURADO 391
Capítulo xm I

Outra forma de perda da coisa é através do perecimento lem-


brando a maxrma
' · segundo a qual a coisa perece em face de ' seu
dono - res pent domino. O perecimento simboliza a perda do objet0
ou da utilidade do bem. ·
A última forma de perda da propriedade é a desapropriacão
pe~a qual a perda está relacionuda à supremacia do interesse so~iaÍ
(publico) sobre o partrcular egoístico, sendo assunto pertinente ao
Drrelto Administrativo. .

13.5. DIREITOS DE VIZINHANÇA

O Direito da Vizinhança traduz um conjunto de regras que visa


estabelecer uma conv.ivência harmônica e pacifica entre os vi-zinhos.
Tr~ta-,s~ de tema confhtuoso, que deverá ser conduzido em atencão aos
pnncdiOS constitucionais da intimidade, da inviolabilidade da vida
pnva a e da proteção ao meio ambiente (Enunciado 319 do CJF/STJ).

a) Uso normal da propriedade e deveres de abstenção (artigos


1277 e ss.)
A pri~eira noção que se deve ter é o chamado dever de uso racio-
nal do predro. Assim, o proprietário ou possuidor tem o direito de
:azer cessar, mediante tutela inibitória, as interferências prejudiciais
a segurança, sossego e saúde provocadas pela abusiva utilização da
propn.edade vizinha. Para tanto haverá de lançar mão de urna ação de
dano mfecto. Nesta poderá ser pleiteada uma caução por eventuais
danos futuros e, até mesmo, a demolição do prédio.
Evrdentemente que casos de exceção podem acontecer à exem-
plo da necessidade inadiável da realização de uma obra o'
rned· t · .fi . u mesmo
1
wn e JUStl catrva de interesse público, quando será possível
haver_ sltua~ão, po.r exemplo, de desassossego. Nesta hipótese de
exceç~o, s:ra autonzada a atividade mediante o pagamento de J·usta
mdemzaçao.

392 EOITORA ARMADOR I PRÁTICA ClVIL ! 3a edição


1Capítulo XUI

b) Árvores limítrofes (artigos 1.282 e ss.)


O direito de vizinhança disciplina ainda a utilização racional,
proporcional e não abusiva das árvores.
Nessa toada, a árvore será de propriedade do proprietário do
respectivo imóvel. Idem sobre seus frutos. Todavia, caso os frutos
caiam em terreno vizinho, o dono deste último será o proprietário.
Acaso uma árvore esteja em uma linha divisória e os galhos
adentrarem no terreno vizinho, o propietário deste último poderá
ordenar a poda.

c) Passagem forçada (artigos 1.285 e ss.)


É a situação na qual um imóvel se encontra encravado, sem saída
para via pública, nascente ou porto. Nesta situação, o proprietário do
jmóvelencravado terá o direito àe ajuizar ação c reclamar ao vlzlnho,
na justiça, que lhe conceda passagem, mediante indenização a ser
paga por aquele a este último. É uma rara hipótese de reparação civil
por ato lícito.
Nos termos do artigo 1.285, § 1º do Código Civil, o vizinho cujo
imóvel, naturalmente e de forma mais fácil, possibilite a aludida
passagem, deverá concedê-la (§ 1º, artigo 1.285, CC).
Havendo alienação parcial de um bem da qual resulte encravação,
o antigo proprietário deverá garantir a passagem. Da mesma forma
deve-se proceder caso haja passagem anterior fornecida por outro
vizinho.
A doutrina consagrada no Enunciado 88 do CJF/STJ, ao apreciar
o conteúdo do artigo epigrafado, que o direito de passagem forçada,
previsto no artigo 1.285 do CC, também é garantido nos casos em que
o acesso à via pública for insuficiente ou inadequado, consideradas,
inclusive, as necessidades de exploração econômica. Deve-se conside-
rar igualmente encravado o imóvel quando a passagem for insegura
ou impraticáveL
A passagem forçada não se confunde com a servidão de. passa-
gem. São coisas distintas. A passagem forçada é tema do direito de
vizinhança e pressupõe sentença judicial. Brota, portanto, de decisão

393
ANORÊ MOTA, CRJS1'!AN0 SOBRAL, LUC!A~O fiGt'E!ltEDO, ROBERTO fiGUElREDO, SABJUNA DOt:RADO
I
DIREITOS DAS COISAS

Capítulo XIII \

da Justiça. A servidão de passagem, por sua vez, brota ou de declara-


ção, ou de testamento. Portanto, ocorre no campo extrajudicial.

d) Passagem de cabos e tubulações (artigos 1.286 e:ss.)


Dispõe o artigo 1.281i do Código Civil que o proprietário de um
imóvel deverá ceder passagem a cabos, tubu !ações e outras espécies
de condutos subterrâneos, que prestem serviços de utilidade pública,
em proveito do proprietário vizinho, quando de outro modo impos-
sível ou excessivamente oneroso. Para tanto, o proprietário do imóvel
onerado terá direito a percepção de indenização correspondente a
desvalorização da área afetada.
Obviamente que o proprietário prejudicado poderá exigir que a
instalação seja feita de modo menos gravoso ao prédio onerado, bem
como que depois seja removida, à sua custa, para outro local do imóvel.

e) Das águas (artigos 1.288 e ss.)


O direito de vizinhança, aqui, preocupou-se em disciplinar as
situações que versem sobre o curso das águas.
Uma primeira situação diz respeito ao trânsito natural das águas
do prédio superior ao inferior. Nos termos do artigo 1.288 do Código
Civil, o dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber
·as águas que correm naturalmente do superior, não podendo realizar
obras que embaracem o seu fluxo. Entrementes, a condição natural e
anterior do prédio inferior não poderá ser agravada por obras feitas
pelo dono ou possuidor do prédio superior.
Uma segunda situação se relaciona à hipótese de curso artificial
das águas do prédio superior ao inferior. Aqui garante-se ao dono
do prédio inferior o direito de reclamar que se desviem o curso das
águas artificiais, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer (artigo 1.289,
CC), deduzindo-se o valor do benefício obtido.
No tocante às nascentes, o artigo 1.290 do Código Civil disciplina
que o proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais,
satisfeitas as necessidades de seu consumo, não possa impedir ou des-
viar o curso natural das águas remanescentes pelos prédios inferiores.
DIREITOS DAS COISAS I
\capítulo XIII

É dever de todos prezar pela conservação do meio ambiente.


No âmbito da propriedade, o dever de não poluir está intuitivamente
relacionado à sua função sócio ambiental (artigo 1.291 do CC). Nesta
toada, '0 possuidor do imóvel superior não poderá poluir as águas
indispensáveis às primeiras necessidades da vida dos possuidores dos
imóveis inferiores. Se o fizer, haverá de recuperar e ressarcir os danos.
Questionamento interessante é se teria o proprietário direito
subjetivo de construir barragens, açudes ou obras de represamento
de água em seu prédio?
A resposta encontra-se elencada no artigo 1.292 do Código Civil.
o proprietário tem o direito de construir barragens, açudes ou outras
obr<J.s para o represarnento de água em seu prédio. Se as águas repre-
sadas invadirem prédio alheio, será o seu proprietário indenizado
pelo dano sofrido, deduzido o valor do benefício obtido.
E os aquedutos?
Da mesma forma, é lícito a qualquer indivíduo, desde que me-
diante prévia indenização aos proprietários prejudicados, construir
canais, através de prédios alheios, para receber as águas a que tenha
direito, indispensáveis às primeiras necessidades da vida e desde
que não cause prejuízo considerável à agricultura e à indústria, bem
como para o escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a
drenagem de terrenos (artigo 1.293).
Ocorrendo a situação acima descrita pelo artigo 1.293, do CC,
· ao proprietário prejudicado assistirá o direito a ressarcimento <pelos
danos que de futuro lhe advenham da infiltração ou irrupção das
águas, bem como da deterioração das obras destinadas a canalizá-las
(artigo 1.293, § 1°). O proprietário prejudicado ainda poderá exigir que
seja subterrânea a canalização que atravessa áreas edificadas, pátios,
hortas, jardins ou quintais. (artigo 1293, § 2°)
Os referidos aquedutos serão construídos da maneira menos gra-
vosa aos proprietários dos imóveis vizinhos e a expensas de seu dono,
a quem incumbe também as despesas de conservação. Outrossim, o
aqueduto não impedirá que os proprietários cerquem os imóveis e
construam sobre ele, sem prejuízo para a sua segurança e conservação.
De mais a mais, os proprietários dos imóveis poderão usar das águas
do aqueduto para as primeiras necessidades da vida (art.1.295 do CC).

A':'f)Rf. Mon. CRISTIA-NO SonRAL, LUCIANO F!GUE!RlmO, ROll~RTO FlG\JE!RfoDO, SABRINA DOURADO 395
Capítulo xufl

f) Limites e direito de tapagem (artigos 1.297 e ss.)

Com o fito de estabelecer limites ao espaço das propriedades pre-


diais, o artigo 1.297 do Código Civil confere ao proprietário o direito de
"cercar, murar, vaiar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano
ou rural", como ainda "constranger o seu confinante a proceder com
e:e à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados
e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se propor-
cionalmente entre os interessados as respectivas despesas".
Tais limites e cercados se presumem, salvo prova em contrário,
pertencerem a ambos os proprietários confinantes, razão pela qual
somente poderão ser cortadas de comum acordo, devendo haver
contribuição conjunta para aquisição e conservação de tais bens (art..
1.298 do CC).

g) Direito de construir (artigos 1.299 e ss.)


O direito de vizinhança também garante ao proprietário o direito
de construir da 1naneira que lhe aprouver e de acordo, evidentemente,
com os regulamentos administrativos (artigo 1.299, CC). Na mesma
linha, dispõe o artigo 1.301 do CC que na divisa entre as duas casas
não se poderá construir janelas, eirado, terr2.ços ou varandas a menos
de metro e meio do terreno do vizinho.
Contudo, a jurisprudência entende ser possível a abertura de
janela a menos de metro e meio, desde que esta tenha vidro opaco ou
translúcido (Súmula 120, STF). Da mesma forma é lícita a construção,
a menos de metro e meio, de abertura para ventilação ou luz, não
maiores de dez centímetros de largura sobre vinte de comprimento
e construídas a mais de dois metros de altura de cada piso.
Registra-se que as medidas aqui mencionadas, relacionadas ao
distanciamento na aberturas das janelas, serão maiores na zona rural,
sendo de no mínimo três metros (artigo 1.303 do CC).
Em arremate, polêmica questão envolvendo a Súmula 414 do STF,
segundo a qual não se distingue a visão direita ou oblíqua na proibição
de abrir janela, ou fazer terraço, eirado, ou varanda, a menos de metro
e meio do prédio de outrem e o artigo 1.301. § 1º, do CC, para quem
as janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as

396 EDITORA AR~ADOR J PRÁTICA CiVIL ! 3" edição


rc;udo XHl

. - derão ser abertas a menos de setenta e cinco


perpendiculares, nao po d"dato deverá seguir a linha do Código
. t Na prova o can I
cen!lme ros.
d J · rudencm a epender do direcionamento da pergunta. .
- . d
ou a unsp - . d. cial para embargar a obra que esta
D alquer modo, a açao JU I . d -
e qu d ·to a essas regras é a denomma a açao
sendo reah:ada com e~~~~: ortante notar que o novo Código de
de n~.<nnaçao de obra n . ?
nciação de obra nova de forma
Processo Civil não mms preveSa;uno antigo e já revogado CPC/73
orno antes ocorna. 1 ' .
expressa, c - d b ova se encontrava disciplinada, assim
- d ·açao e o ra n
a açao e nunCl_ s rocedimentos especiais. Agora, tanto a nun-
como a usucap!aO, no p ·- são demandas submetidas ao
ciação de obra, quanto a usucapmo,
-Pdimento comum.
pr Oc~ .. .
.
1 'd deve-se aJ·mzar
- d emal"t.
açao I ona,.
C b a 1a esteja cone m a,
aso a o r . 1302 do CC a qual tem o prazo decadencial de
na forma do artlgo · '
um ano e um dia.

13.6. CONDOMÍNIO

condomínio ou copropriedade, cada um dos donos tem iguais


. No . havendo o dever de concorrer com as despesas
dueltos sobre a cmsa, d , tar 0 ônus a que esta estiver
- u divisão, deven o supor .
de conservaçao o d t. prova em contrário, que estas partes ideaiS
sul· eita presumtn o-se, a e d' .
' . . 1 a cada um dos con orrnnos.
pertencem de mane~ra Igual. go do Código Civil, quando a dívida
Conforme dispoe o ar I 1317 · . . .
, dos os condôminos, sem se discnminar
houver sido contraida pobr to ção nem se estipular a solidariedade,
a parte de cada um na o nga ' ·
d 1 se obrigou proporcionalmente ao seu qm-
ent:nde-se ~e c.~ a q~:dos assumem expressamente a dívida, pois,
nhao. Nesta Ipo dese,d em suportar o ônus ao qual a coisa comum
como fora düo, to os ev
está sujeita. d "t -o na qual um dos condôminos (apenas um)
Difere-se a SI uaça d · ·d
. "d e"to do condomínio. Neste caso, as IVI as
assume diVI a em prov I . h-
. d ondôminos em proveito da comun ao e
contrmdas por um os c '

FIGDElREPO, ROBER10 fiGUElREDO, 5.\BR!Õ'<.-\ DOURADO


397
ANDRii MOTA, CRISTIANO SOBR.U., LUC!.,NO
I DIREITOS DAS CoiSAS
Capítulo Xlll )

durante ela, obriga ao único condômino; mas este terá ação regressiva
contra os demais (artigo 1.318, CC).
O artigo 1.319 do CC trata da responsabilidade civil entre os
condôminos, de sorte que cada um destes responde aos outros :pelos
frutos que percebeu da coisa e pelo dano que lhe causou. Nos termos
do artigo 1.320, é lícito ao condomino, a todo tempo, exigir a divisão
da coisa em comum, respondendo o quinhão de cada um pela parte
nas despesas da dívida.
Em arremate, poderão os condôminos ajustar a indivisibilidade
da coisa comum por prazo não superior a cinco anos, suscetível de
prorrogação ulterior. Nada impede, todavia, à vista de ponderáveis
- '·"e--~~e
. .- ,. -· _; ·1·0 uel ~ U.LV
,.;~;~~~~~~ .-t ... """.;S.., rr.rnnm ~ntPS elo
razoeS, que jUGll-lu.l 111Hl.l a. .L.::>UV u.u '--v~ v• -'-'~~---~-- ·-· ·

aludido prazo (artigo 1.320, § 1, § 2, § 3).

13.6.1. ADMINISTRAÇÃO DO CONDOMÍNIO

A administração do condomínio será decidida por deliberação


da maioria dos condôminos, podendo, inclusive, ser direcionada a um
estranho à propriedade condominial, nos termos do artigo 1.323 do
Código Civil. Caso um dos condôminos seja eleito como administra-
dor, os atos que este vier a praticar, sem a oposição dos demais, estará
coberto de legitimidade, pois presume-se que este seja o representante
comum dos demais (artigo 1.324, CC).

13.6.2. CONDOMÍNIO NECESSÁRIO

Em determinadas situações jurídicas o condomínio se torna


obrigatório, ou seja, necessário. Ocorre, por exemplo, nos casos de
meação de paredes, cercas, muros e valas, como regulam os artigos
1.327/1.330 do Código Civil. Nesta hipótese, haverá meação dos muros,
cercas, valas e paredes. Isto posto, aquele que as construir tem direito
a reembolsar metade do que valer a obra.

o no
DIREITos DAS CotsAS I
[Capítulo XIII

13.6.3. CONDOMÍNIO EDILÍCIOS

Umas das formas mais conhecidas de condomínio são os edilícios


(artigos 1.331 a 1.338). Decorre de edificações que podem conter partes
exclusivas (ex. apartamento e salas) e partes comuns (ex. playground).
0 Enunciado 89 do CJF dispõe que "O disposto nos artigos 1.331 a 1.358
do novo CC aplica-se, no que couber, aos condomínios assemelhados, tais
como loteamentos fechados, multipropriedade imobiliária e clubes de campo".
Nesta modalidade de condomínio as partes suscetíveis de uti-
lização independente (salas, lojas, abrigos de veículos, escritórios,
et cetera) sujeitam-se à propriedade exclusiva, sendo que as partes
conlU1b (solo, estruturã do prédio, telhado, rede de água, esgoto, gás,
eletricidade, logradouro público) não poderão ser alienadas separada-
mente, nem divididas. A cada unidade imobiliária caberá, como parte
inseparável, urna fração ideal no solo e nas outras partes comuns, que
será identificada em forma decimal ou ordinária no instrumento de
instituição do condomínio.
A teor do artigo 1.332 do CC, o condomínio edilício poderá ser
instituído por ato entre vivos ou testamento, mediante inscrição no
Cartório de Registro de Imóveis, devendo ainda ser elaborada a conven-
ção que o institui, subscrita pelos titulares de, no mínimo, dois terços
das frações ideais, obrigando todos os condôminos. Para o Superior
Tribunal de Justiça, "A convenção de condomínio aprovada, ainda que sem
· registro, é eficaz para regular as relações entre condôminos" (Súmula 260,
STJ). Portanto, é possível elaborar a convenção ou por instrumento
particular, ou por escritura pública. Para que a aludida convenção
tenha eficácia erga omnes, a mesma deverá ser levada à registro.

13.6.4. DIREITOS DO CONDÔMINO

A teor do artigo 1.335 do CC são direitos do condômino usar, fruir e


livremente dispor das suas unidades. Igualmente terá direito de usar as
partes comuns, conforme a destinação destas, contanto que não exclua
a utilização dos demais e, finalmente, votar nas deliberações da assern-
bleia e delas participar "estando quite" com as respectivas obrigações.

ANDRÉ Mon., (R!STIANO SOBRAL, LUCIANO flGUEllU!DO, ROBERTO fiGUEIREDO, SABRINA DOURAI}O 399
Capítulo Xlll !

13.6.5. DEVERES DO CONDÔMINO


--------------------------

O artigo 1.336 do Código Civil trata dos deveres aos quais estão
os obrigados os condôminos. Estes têm o dever de contribuir para
as despesas do condomínio na proporção de suas frações ideais, não
realiza1i obras que comprometam a segurança da edificação, não alterar
a forma ·e a cor da fachada das partes e esquadrias externas, dar às
suas partes a mesma destinação que tem a edificação, não prejudicar
o sossego, salubridade, segurança, bons costumes, enfim, comportar-
-se de acordo com a boa-fé objetiva e a função social da propriedade.

:l ATENÇÃO!
Nos termos do artigo 1.340 do CC, as despesas relativas às partes
comuns de uso exclusivo de um dos condôminos, ou de alguns
deles, incumbem a quem delas se serve. Da mesma forma, as
obras relativas ao condomínio dependem, se voluptuárias, do
voto de dois terços dos condôminos; se úteis, do voto da maioria
dos condôminos.

Com relação aos débitos condominiais, estes constituem obriga-


ções próprias da coisa (propter rem), sendo inerentes à coisa (da coisa,
ob rem). Nesse sentido, afirma o artigo 1.345 do CC que o adquirente
da unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao con-
domínio, inclusive multas e juros moratórios. Também não se pode
ignorar ser obrigatório o seguro de toda a edificação contra o risco
de incêndio ou destruição, total ou parcial da coisa (artigo 1.346, CC).

13.6.6. APLICAÇÃO DE MULTAS AOS CONDÔMINOS

Os condôminos possuem deveres para com o condomínio. Neste


sentido, a legislação cível prevê que o condômino que não cumprir
suas obrigações poderá, mediante deliberação ou ato constitutivo de
dois terços da assembleia geral, sofrer multa. Esta sanção não poderá
ser superior a cinco vezes o valor de suas contribuições mensais.

400 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CtVlL 1 3" edição


Ademais, prevê o artigo 1.337, do Código Civil a possibili~ade do
, · faltoso por deliberação de três quartos dos condommos
cond om1n0 ' , ,
·t t s ser constrangido a pagar multa correspondente ate ao qum-
re:::;ane, d ···
tu lo do valor atribuído à contribuição para as despesas con omm1a1s,
c!forme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente de
erdas e danos que se apurarem. . . .
p Evidentemente que à luz das garantias constltucwnars e, no
. 1 ante a específica doutrina cristalizada no Enunciado 92
~~~ t · 1.331- do novo cc·
da de Direito Civil, "As sanções do artzgo nao
d a I Jorna d' · · "
podem ser aplicadas sem que se garanta direito de defesa ao con ommo noczvo .

13.6.7. ADMíNISTRAÇÃO DO CONDOMÍNIO

A administração do condomínio será decidida em assembleia,


podendo 0 administrador s~r um condômino ou não. O mandato
do administrador não podera ser supenor a dms anos, podendo ser
renovado ilimitadamente, conforme afirma o artigo 1.347 do CC. .
' Nesta linha, são atribuições do síndico convocar a assemble1~,
representar ativa e passivamente o condo~ír:i~, cientifica~ ~s con~o­
minos acerca da existência de processo JUdicial ou administrativo,
diligenciar a conservação e a guarda das partes comuns, zelar pela
prestação dos serviços que interessem aos possmdores: e~aborar orça-
mento a cada ano, exercer cobrança, prestar contas anuaiS a assemble1~,
ou, quando exigido, realizar seguro, sendo possível à assembl~1a
investir outra pessoa, em lugar deste, em poderes de represent:çao.
0 síndico poderá delegar a outrem poderes de ~epresentaçao ou
mesmo funções administrativas, mediante aprovaçao da a;semble1a.
O síndico poderá ainda ser destituído antes mesmo do termmo do
mandato mediante assembleia especialmente convocada para este fim
e pelo v;to absoluto de seus membros. De qualquer forma, o síndico
deverá convocar assembleia anualmente a fim de aprovar o orçamento
das despesas, as contribuições e a prestação de cont~s (artigo 1.350,
CC). Também é possível se alterar a convenção condom1rual, desde que
mediante votos de dois terços ou, em certos casos, pela unamm1dade
dos condôminos (artigo 1.351, CC).

401
ANDRÉ M.OTA, CR!ST!A"O SOBRAL, LUCIANO f!GUF!Rt::DO, Roi\I:RTO fJ(,'Utll\.EDO, SABR!l'>A DOURADO
1 DiREITOS DAS COISAS
Capitulo xm I

Para que a assembleia delibere algo, todos os condôminos deverão


ser convocados para a reunião (artigo 1.354, CC), sendo que assem-
bleias extraordinárias poderão ser convocadas pelo síndico ou por 1
um quarto dos condôminos (artigo 1.355, CC). '

13.6.8. EXTINÇÃO DO CONDOMÍNIO

Havendo ameaça de ruína, ou estando o edifício parcialme.nte


destruído, os condôminos, por meio de assembleia, poderao dec;dtr
pela sua reforrna ou venda. A venda ou reforma do c~n~or~un10
dependerá de votos que representem metade mais um da t;açao 1deal.
Havendo a venda, estaremos diante da extinção do condomm!O. O con-
domínio também pode ser extinto em decorrência de desapropriação,
hipótese na qual "a indenização será repartida na proporção"' do valor das
unidades imobiliárias, como prevê o artigo 1.358.

13.7. PROPRIEDADE RESOLÚVEL

Nos termos do artigo 1.359 do Código Civil a propriedade poderá


. - ou d e um te rm_'
ser extinta pelo implemento de uma cond 1çao o como
ocorre nos casos de retrovenda, venda a contento sob cond1çao reso-
lutiva, doação com cláusula de reversão e fideicomisso. Conforme_ o
artigo citado, resolvida a propriedade pelo implemento da cond1çao
ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os dneltos
• · e ao propne
reais concedidos em sua pendencm, · t'ano,
· e m cuJ·o favor
se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a
possua ou detenha.
Não obstante, caso a propriedade se resolva por outra causa
·
superveniente, o possui"dor, que a t"tver a d quu1
· "do por título antenor,
à sua resolução, será considerado proprietário perfeito, restando a
pessoa, em cujo benefício houver a resolução, ação contra aquele cuJa
• · cmsa
propriedade se resolveu para haver a propna · o u o seu valor
(1.360 do CC).
DIREITOS DAS CoiSAS J

jcapít:tlo XIII

13.8. PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA

Entende-se por propriedade fiduciária a propriedade resolúvel de


coisa móvel infungível que o devedor, no desejo de garantia, transfere
ao credor. Tal propriedade é constituída mediante registro do contrato
no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor ou, em
se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento,
fazendo-se a anotação no certificado de registro.
Uma vez constituída a propriedade fiduciária (de confiança,
fidúcia), tem-se o desdobramento da posse, passando o devedor a ser
o possuidor direto da coisa e o credor o indireto. Este devedor, após
quitada a dívida, irá adquirir a propriedade supervenientemente,
tornando-se eficaz a transferência da propriedade fiduciária; ou seja:
da coisa móvel e infungível dada em garantia, com efeito ex tunc.
Nesta situação, antes de vencida a dívida, o devedor, a suas
expensas e risco, poderá usar a coisa segundo a sua destinação, sendo
obrigado, como depositário, a entregá-la ao credor, se a dívida não for
paga no vencimento (artigo 1.363, inciso li, do CC).
Ocorrendo o vencimento da dívida e não estando esta quitada,
o credor ficará obrigado a vender o bem e, com isto, utilizar do preço
recebido para o pagamento do crédito e despesas da cobrança, entre-
gando o saldo eventualmente existente ao devedor.
Ressalta-se que, neste contexto, será nula a cláusula contratual
que autorize o proprietário fiduciário a ficar com a coisa alienada se
a dívida não for paga no seu vencimento.

13.9. SUPERFÍCIE

Consiste na concessão, gratuita ou onerosa, pelo proprietário à


outrem do direito de plantar ou construir em seu terreno, por tempo
determinado, mediante escritura pública devidamente registrada no
Cartório de Registro de Imóveis, conforme dispõe o artigo 1.369 do
Código Civil.

AMnRÊ MOTA, CR!ST\,\NO SOJHtAl, Lucu.NO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUutREDO, SABRINA DOURADO 403
Em regra, o encargos e tributos que incidem sobre o imóvel serão
de responsabilidade do superficiário, ou seja, daquele que se beneficia
pela concessão de uso do imóvel para o fim acima indicado. Todavia,
nada impede disciplina contratual em sentido contrário (Enunciado
94 do CJF).
O direi:;o de superfície é transmissível, seja por ato entre vivos ou
hereditariamente, nos termos do artigo 1.372, do CC. Não será possível
ao concedente, entretanto, receber remuneração pela transferência do
direito de superfície a outrem.
Vale recordar, contudo, à luz da lex especialis e do Enunciado 93 da
I Jornada em Direito Civil, que '~s normas previstas no CC sobre direito
de superfície não revogam as relativas a direito de superfície constantes do
Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), por ser instrumento de política de
desenvolvimento urbano". E mais: uos direitos e obrigações vinculados ao
terreno e, bem assim, aqueles vinculados à construção ou à plantação formam
patrimônios distintos e autônomos, respondendo cada um dos seus titulares
exclusivamente por suas próprias dividas e obrigações, ressalvadas as fiscais
decorrentes do imóvel" (Enunciado 321).
Cumpre, ainda, registrar o Enunciado 322 em Jornada de Direito
Civil: "O momento da desapropriação e as condições da concessão super-
ficiária serão considerados para fins da divisão do montante indenizatório
(artigo 1.376), constituindo-se litisconsórcio passivo necessário simples entre
proprietário e superficiário"

13.10. SERVIDÕES

Nos termos do artigo 1.738 do CC, a servidão proporciona utili·


dade para o prédio dominante e grava o prédio serviente, que pertence
a dono diverso. A aludida servidão é constituída mediante declaração
expressa dos proprietários, ou por testamento e subsequente registro
no Cartório de Registro de Imóveis.
Trata-se, portanto, de direito real entre dois prédios. O domínio
do prédio serviente agrega utilidade ao prédio dominante, que se

404 EDITORA AK\lADOR 1 PRÁTICA Ctvu. ! 3n edição


rc;tulo XIII

serve dele para viabilizar-se. Eis um belo exemplo de função social


da propriedade. ,
Atenta-se ao fato de que o exercício incontestado e contmuo
de uma servidão aparente, por dez anos, autoriza o interessado a
registrá-la em seu nome no Registro de Imóveis~ valendo-lhe como
tít lo a sentença que julgar consumado a usucap1ao (artigo 1.379, CC).
0 ~esmo ocorrerá se o possuidor não tiver justo título, exigindo-se
aqui 0 prazo mais dilatado de vinte anos.

13.10.1. EXERCÍCIO DAS SERVIDÕES

Aquele que aproveita a servidão está autorizado_ a realizar as


obras necessárias à sua conservação e uso. Se a serv1dao pertencer a
mais de um prédio, tais despesas serão rateadas entre os respe:tivos
donos (artigo 1.380, CC). Ressalta-se a possibilidade de rerr:oçao da
aludida servidão, de um local para outro, pelo dono do predw ser-
viente e à custa deste. De qualquer forma, o exercício da servidão
será limitado às necessidades do prédio dominante de modo a evitar
aumento de encargo ao prédio serviente. Constituída para certo fim,
a servidão não se pode ampliar a outro.

0
13.10.2. EXTINÇÃO DAS SERVIDÕES

A servidão só se extinguirá quando cancelada ou, na pior das


hipóteses, em caso de desapropriação. A teor do artigo 1.388 do CC, o
dono do" prédio serviente tem direito, pelos meios judiciais, ao cance-
lamento do registro, embora o dono do prédio dominante possa lhe
impugnar em três hipóteses: . _
I) quando o titular houver renunciado a sua serv1dao;_ .
II) quando tiver cessado, para o prédio ~ominante,_ a ~tlhdade ou
a comodidade, que determinou a constituiçao da serv1dao;. _
III) quando o dono do prédio serviente resgatar a serv1dao.

ANDSÉ MOTA, CRISTIANO $Oll.R.\'t., Lt;CJANO F!G1JEIREOO, ROBJ:ItTO FlGVtlREDO, SABRINA DOURADO
405
!DIREITOS DAS COISAS Capítulo XIII \

Ademais a servidão se extingue pela reunião dos dois prédios


no domínio da mesma pessoa; pela supressão das respectivas obras
por efeito de contrato ou de outro título expresso e, finalmente, pelo
não uso, durante dez anos contínuos.

13.11. USUFRUTO

Consiste no direito real, sobre coisa alheia, transferindo a terceiro


o ooder de retirar todas as utilidades sobre a coisa. Trata-se de direito
reLal de gozo e fruição que pode recair em um ou mais bens, rnúvei::;
ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe
frutos e utilidades. Esta é a maior característica do usufruto: abranger
todos os frutos e utilidades.
O usufruto deve atender ao princípio da registrabilidade, razão
pela qual o mesmo se constitui mediante registro no Cartório de
Registro de Imóveis. .
Nos termos do artigo 1.393 do CC, não se pode transfenr o
usufruto por alienação; mas o seu exercício pode ceder-se por título
gratuito ou oneroso. É dizer: o usufruto é inalienável.

13.11.1. DIREITOS DO USUFRUTUÁRIO

Conforme o artigo 1.394 do CC, o usufrutuário tem direito à posse,


uso, administração e percepção dos frutos, podendo recair sobre
títulos de crédito, oportunidade na qual este terá direito tanto aos
frutos, quanto à cobrança das respectivas dívidas. Os frutos natura!S e
pendentes, ao começar o usufruto, pertencem ao usufrutuário. Porém,
os frutos naturais e pendentes ao tempo em que cessar o usufruto
pertencerão ao dono, também sem compensação das despesas. .
, Da mesma forma, se o usufruto se der sobre animais, as cnas
pertencerão ao usufrutuário, deduzidas quantas bastem para inteirar
as cabeças de gado existentes ao começar o usufruto. O mesmo se
diga para os frutos civis vencidos na data em que cessa o usufruto.
DIREITOS DAS COISAS 1

rcapítulo XIIJ

13.11.2. DEVERES DO USUFRUTUÁRIO

O usufrutuário deverá inventariar, às suas custas, os bens que


receber em usufruto, determinando o estado em que se acham, con-
ferindo caução, se lhe exigir o dono, velar-lhes pela conservação e
entregá-los findo o usufruto (artigo 1.400 do CC). Contudo, adverte-se
que não é obrigado à caução o doador que se reservar o usufruto da
coisa doada.
Nos termos do artigo 1.401 do Código Civil, o usufrutuário que
não quiser ou que não puder dar caução suficiente, perderá o direito
de administrar o usufruto e, neste caso, os bens serão administrados
peio proprietário, que ficará obrigado, mediante caução, a entregar
ao usufrutuário o rendimento deles, deduzidas as despesas de admi-
nistração e remuneração do mister.
Ressalta-se que o usufrutuário, nos termos do artigo 1.402, do
Código Civil, não estará obrigado a pagar as deterioraçôes resultantes
do exercício regular do usufruto. Contudo, incumbe ao usufrutuário
as despesas ordinárias de conservação dos bens e o pagamento das
prestaçôes e tributos devidos pela posse ou rendimento da coisa.
As reparações extraordinárias são devidas pelo dono da coisa. E mais:
se a coisa estiver segurada, incumbe ao usufrutuário pagar, durante
o usufruto, as contribuiçôes do seguro (artigo 1.407).

13.11.3. EXTINÇÃO DO USUFRUTO

O artigo 1.410 do CC dispôe acerca das hipóteses de extinção


do usufruto que haverá de ser cancelado do registro no Cartório de
Registro de Imóveis, a saber:
a) pela renúncia ou morte do usufrutuário: de fato, sendo o usu-
fruto constituído intuito personae, o mesmo é intransmissível;
b) pelo termo de sua duração, nos casos de usufruto por tempo
determinado;.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBPAL LUC!P.NO frGUEIREDO. ROBERTO flGUE!REOO. $,>,1\RINA 00IJRAOO 407
C:tpítulo XIII ]

c) pela extinção da pessoa jurídica em favor de quem o usufruto


foi constituído, ou, se ela perdurar, pelo decurso de trinta anos da
data em que se começou a exercer;
d) pela cessação do motivo de que se origina, a final de contas,
cessada a causa, o:.~ssa também o efeito;
'
e) pela destruição da coisa a gerar a perda superveniente do
objeto do usufruto;.
f) pela consolidação, ou seja, reunião com a propriedade;.
. . g) por culpa do usufrutuário, vale dizer, nos casos de responsa-
bilidade o vil deste;.

h) pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai.

Sendo o usufruto personalíssimo e intransmissível (inalienável),


se este for constituído em favor de duas ou mais pessoas, extinguir-
·se~á a pa!te em relação a cada uma das que falecerem, salvo se, por
eshpulaçao expressa, o quinhão desses couber ao sobrevivente.

13.12. DO USO

Diferente do usufruto, o uso possui abrangência mais redu-


zida. Assim, no uso os únicos frutos devidos são aqueles relativos
às necessidades do usuário e da família deste, sendo esta a principal
nota d1stmllva em relação ao usufruto, onde os frutos são devidos de
modo mais amplo.

13.13. DA HABITAÇÃO

Consisre no direito de habitar, de forma gratuita, a casa de outrem,


sendo vedado ao titular deste direito alugar, ou emprestar a coisa.
Restringe-se a habitação, por conseguinte, apenas na prerrogativa

408 EDITORA ARJ\.L"'DOR 1 PRÁTICA CrviL 1 Y edição


\ Capítulo XIII

de ocupar o imóvel com a sua família. Este direito real de habitação


pode ser conferido a mais de uma pessoa.

13.14. DO DIREITO DO PROMITENTE COMPRADOR

Nos termos do artigo 1.417 do Código Civil, consiste no direito


real à aquisição do imóvel decorrente da promessa de compra e venda
irretratável, registrada e quitada. Assim, o promissário comprador
que houver quitado a promessa de compra e venda irretratável e
registrada terá o direito, mediante a adjudicação compulsória, de se
tornar o proprietário do imóvel.

:>ATENÇÃO!
Segundo a doutrina (Enunciado 95 do CJF) e a jurisprudência
(Súmula 239 do STJ), ainda que a referida promessa de compra e
venda não esteja registrada será possível o direito à adjudicação
compulsória, ante o fundamento da função social da posse.

13.15. DO PENHOR, DA HIPOTECA E DA ANTICRESE

Estudaremos neste momento os direitos reais de garantia. Con-


forme dispõe o artigo 1.419 do CC, nas dívidas garantidas por penhor,
anticrese ou hipoteca, o bem dado em garantia fica sujeito, por vínculo
real, ao cumprimento da obrigação. É a especialização ou especifici-
dade da garantia real. Com efeito, no direito real apenas o bem dado
em garantia é que poderá ser objeto de execução, ao contrário do
direito obrigacional, no qual os bens do devedor responderão pelo
inadimplemento (CC, artigo 391).
Assim, em regra, o credor hipotecário e o pignoratício têm o
direito de excutir a coisa hipotecada ou empenhada e preferir no paga-
mento a outros credores, observada, quanto à hipoteca, a prioridade

ANDRÉ MOTA, CRJSTl,\NO SOSRAL, Lt:CJA"'O fJGtTlREL)O, ROBERTO flGl,)flREDO, $.\I>,RlNA ÜOLRADü 409
1 DIREITOS DAS COISAS
Capítulo xml
no registro (artigo 1422, CC). Eis a característica da preferência da
garantia real sobre a garantia obrigacional.
O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa
exoneração correspondente da garantia, ainda que esta compreenda
vários bens, salvo disposição expressa no título ou na quitação (artigo
1421, CC). A isto se convencionou denominar de indivisibilidade da
garantia real.
Os contratos de penhor, anticrese ou hipoteca precisam declarar,
sob pena de ineficácia, o valor do crédito, o prazo fixado para paga-
mento, a taxa dos juros, se houver e o bem dado em garanti3, com as
suas especificações.

13.16. DO PENHOR

Consiste o penhor em uma forma de garantia de débito ao credor


pela qual o devedor transfere à este a efetiva posse da coisa móvel
(artigo 1.431, CC).
Conforme o parágrafo único do artigo supracitado, o penhor
também pode ser rural, industrial, mercantil e de veículos. Nestas
hipóteses, as coisas empenhadas continuam em poder do. devedor,
que as deve guardar e conservar.
Em qualquer caso, o instrumento do penhor deverá ser levado
a registro pelos contratantes. O penhor comum será registrado no
Cartório de Títulos e Documentos.

13.16.1. DIREITOS DO CREDOR PIGNORATÍCIO_ _ _ _ __

Nos termos do artigo 1.443 do CC, o credor pignoratício tem


direito à posse da coisa empenhada, à retenção desta, ao ressarcimento
do prejuízo que houver sofrido por vício da coisa empenhada, à exe·
cução judicial, à venda amigável do bem- se lhe permitir expressa·
mente o contrato, ou lhe autorizar o devedor mediante procuração-.
a apropriar-se dos frutos da coisa empenhada que se encontrarem

~;~,...,,,. At>MAllll\.1 1 PRÃTlCACJvlL I 3",·dição


DIREITOS DAS COISAS I
Capítulo Xlll

em seu poder e, finalmente, à venda antecipada, mediante prévia


autorização judicial, sempre que haja receio fundado de que a coisa
empenhada se perca ou deteriore.

13.16.2. OBRIGAÇÕES DO CREDOR PIGNORATÍCIO

O credor pignoratício, na qualidade de depositário, estará obri-


gado à custódia da coisa, bem como a ressarcir o dono da perda ou
deterioração de que for culpado, à defesa da posse da coisa empe-
nhada, a imputar o valor dos frutos de que se apropriar nas despesas
de guarda e conservação, a restituí-la com os respectivos frutos e
acessões, uma vez paga a dívida e a entregar o que sobeje do preço,
quando a dívida for paga no caso do inciso IV do artigo 1.433. É o que •
afirma o artigo 1.435 do CC.

13.16.3. EXTINÇÃO DO PENHOR

Extingue-se o penhor extinguindo-se a obrigação, perecendo a


coisa, pela renúncia do credor, pela confusão, pela adjudicação judi-
cial, remissão, venda da coisa empenhada, feita pelo credor ou por
ele autorizada.

13.16.4. PENHOR RURAL

Nos moldes do artigo 1.438, do CC, constitui-se o penhor rural


mediante instrumento público ou particular, registrado no Cartório
de Registro de Imóveis da circunscrição em que estiverem situadas as
coisas empenhadas. Dispõe ainda o parágrafo único do artigo supra-
citado que, prometendo pagar em dinheiro a dívida, que garante com
penhor rural, o devedor poderá emitir, em favor do credor, cédula
rural pignoratícia, na forma determinada em lei especial.

ANDRÉ MoTA, CnJSTl~<NO SonRAJ, LuCJANO FiGUEIREDo, RoBERTo FJGUEUtEDO, SAfiRINA DouRADO 411
Capítul;J XIHI

A luz do artigo 1.439, do CC, o penhor agrícola e o pecuário


somente podem ser convencionados, respectivamente, pelos prazos
máximos de três e quatro anos, prorrogáveis, uma só vez, até o limite
de igual tempo.

I
13.16.5. PENHOR AGRÍCÓLA

Podem ser objetos do penhor agrícola as máquinas e instrumentos


de agricultura, as colheitas pendentes, ou em via de formação, os frutos
acondicionados ou armazenados, a lenha cortada, o carvão vegetal e
os animais do serviço ordinário de estabelecimento. (artigo 1.442 CC)

13.16.6. PENHOR PECUÁRIO

No penhor pecuário poderão ser objetos os animais que integram


a atividade pastoril, agrícola ou de lacticínios. Em tais casos, o devedor
não poderá alienar os animais empenhados sem prévio consentimento,
por escrito, do credor. (artigo 1.444, CC)

16.7. PENHOR INDUSTRIAL E MERCANTIL

Elencados no artigo 1.447 do CC, poderão ser objetos de penhora


as máquinas, aparelhos, materiais, instrumentos instalados e em fun-
cionamento, cmn os acessórios ou sem eles, os animais utilizados na
indústria, o sal e bens destinados à exploração das salinas, os produtos
de suinoctütura, animais destinados à industrialização de carnes e
derivados, as matérias-primas e os produtos industrializados.
A teor do parágrafo único do mencionado artigo, o penhor
industrial ou mercantil se constitui mediante instrumento público ou
particular registrado no Cartório de Registro de Imóveis da circuns-
crição onde estiverem situadas as coisas empenhadas.

412 Em TORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


Os direitos suscetíveis de cessão sobre coisas móveis, desde que
·· · trumento público ou particular registrado no Repstro de
roedmnte 1ns .
mento s poderão ser obj. etos de penhor. Nesta lmha, o
D
Títu Ios e ocu '
. ,_ · t · efica'cia quando notificado o devedor, devendo entender
peru tO f so era .
"fi - I·nstrumento público ou particular no qual o devedor
por notl caçao 0 .
~e declara ciente da sua existência. (artigo 1.453, CC)

13.16.9. PENHOR DE VEÍCULOS

Afirma 0 artigo 1.461 do CC que os veículos empregados em


qua Iquer espeü'e u"e +...--...-.snr.rt~:>
· LH.U•
nn rondução nodem .c;er obietos de
t''"'~~~ ~-- -- .L , • ' •

de que feito mediante instrumento pubhco ou partlcu-


penh or, d es . .. d
·lar, reg1s
· t ra do no Cartório de Títulos e Documentos 1
. . do domiCI 10 o
devedor e anotado no certificado de propnedade (artigo 1.462, CC). T~l
penhor terá pelo prazo máximo de dois anos, podendo ser prorrogaoo
por igual período (artigo 1.466, CC). _ ,
Ademias, a teor do artigo 1.463 do CC, nao se fara o penhor de
veículos sem que estejam previamente segurados contra furto, avana,
perecimento e danos causadcs a terceiros, s,endo que, na forma do
artigo 1.465, a alienação ou a mudança do veictüo empenhado sem a
prévia comunicação ao credor importa no vencimento antecipado do
crédito pignoratício.

13.16.10. PENHOR LEGAL

o penhor legal independe de convenção, sendo instifuído por


lei. Ocorre nos casos dos hospedeiros ou fornecedores de pousada ou
alimentos, sobre as bagagens, móveis, joias ou dinheiro que os. seus
consumidores ou' fregueses tiverem consigo nas respectivas casas .ou
estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito;
como ainda em face do dono do prédio rústico ou urbano e sobre os

ANDR.ii MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCJAIW fJGUElR'EDO, ROIH'RTO F!GUElR'fDO, SABRINA ÜOL'RADO
413
I
DIREITOS DAS COISAS

Capitulo XII~

bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo


prédio, pelos aluguéis ou rendas.
Nestes termos, "Tomado o penhor, requererá o credor, ato contínuo, a
sua homologação judicial" (artigo 1.471, CC), sendo possível ao locatário
impedir a constituição do penhor mediante caução idônea.

13.17. HIPOTECA

Consiste a hipoteca no direito real de garantia sobre bem imóvel


que, dispensando a tradição, manténl o belrt i-La poss~ do próprb
devedor.
Conforme elenca o artigo 1.473 do CC, podem ser objeto de hipo-
teca os bens imóveis, seus acessórios, o domínio direto, o domínio
útil, as estradas de ferro, os recursos naturais a que se refere o artigo
1.230, os navios, as aeronaves, o direito de uso especial para fins de
moradia, o direito real de uso e a propriedade superficiária.
Importante informação está contida no artigo 1.475 do CC, dis-
pondo acerca da nulidade da cláusula que proíbe ao proprietário de
alienar imóvel hipotecado, sendo possível, contudo, a teor do parágrafo
único, "convencionar-se que vencerá o crédito hipotecário, se o imóvel for
alienado". Também é possível constituir outra hipoteca sobre imóvel
já hipotecado, mediante novo título, em favor do mesmo ou de outro
credor, quando, então, o credor da segunda hipoteca não poderá
executar o imóvel antes de vencida a primeira.
É possível mediante simples averbação, requerida por ambas as
partes, prorrogar a hipoteca até 30 (trinta) anos da data do contrato.
Assim, desde que perfaça este prazo, só poderá subsistir o contrato
de hipoteca reconstituindo-se por novo título e novo registro; e, nesse
caso, lhe será mantida a precedência, que então lhe competir.
Da mesma forma é possível, ao credor e ao devedor, no ato cons-
titutivo da hipoteca, autorizar a emissão da correspondente cédula
hipotecária, na forma e para os fins previstos em lei especial (artigo
1.486, CC).
DIREITOS DAS CoiSAS )
rcapítulo XIII

A hipoteca poderá ser constituída para garantia de dívida


futura ou condicionada, desde que determinado o valor máximo do
crédito a ser garantido (artigo 1.487, CC). Vindo o imóvel hipotecado
a 1ser loteado ou formado em condomínio edilício, poderá 0 ônus ser
dividido, gravando cada unidade na proporção entre o valor de cada
delas e o crédito (artigo 1.488).

13.17.1. HIPOTECA LEGAL

Prevista no artigo 1.489 do Código Civil, esta modalidade de


hipoteca traz as hipóteses em que a própria lei (sistema jurídico)
constitui, automaticamente, uma garantia hipotecária em favor de
determinados credores.
Desta forma, a lei confere hipoteca às pessoas de direito público
interno sobre os imóveis pertencentes aos encarregados da cobrança,
guarda ou administração dos respectivos fundos e rendas, bem como
aos filhos sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núp-
cias, antes de fazer o inventário do casal anterior, ao ofendido, ou aos
seus herdeiros, sobre os imóveis do delinquente, para satisfação do dano
causado pelo delito e pagamento das despesas judiciais, ao coerdeiro
para garantia do seu quinhão ou torna da partilha, sobre o imóvel
adjudicado ao herdeiro repoente e ao credor sobre o imóvel arrematado
para garantia do pagamento do restante do preço da arrematação. '
Nos termos do Código Civil, em todas as hipóteses a hipoteca
legal exige homologação através de procedimento especial de juris-
dição voluntária.

13.17.2. REGISTRO DA HIPOTECA

O registro da hipoteca se dará no cartório do lugar do imóvel,


exibindo-se o título e postulando-se o registro deste (artigo 1.492, CC)
Os registro e averbações de hipoteca seguirão a ordem em que
forem requeridas, pela numeração sucessiva do protocolo, que deter-
mina a prioridade (preferência) entre elas, conforme disciplina o

ANORf. MOTA, CRISTIANO SOBRAl-, LUCIANO FJGUE!RE!)O, ROBERTO FlGlTIROJO, $ABRI NA DOUJL~DO 415
Capiudo XUII

artigo 1.493, do CC. Nos termos do artigo 1.494, não se registrarão no


mesmo dia duas hipotecas, ou uma hipoteca e outro direito real, sobre
o mesmo imóveL em favor de pessoas diversas, salvo se as escrituras
do mesmo dia, indicarem a hora em que foram lavradas. '

13.17.3. EXTINÇÃO DA HIPOTiECA

A hip~teca se extinguirá de seis formas, conforme elenca o artigo


1.499, do Codigo Civil. São elas: extinção da obrigação principal; pelo
perecimento da coisa; pela resolução da propriedade; pela renúncia
do credor; p':la remição (resgate); pela arrematação ou adjudicação e
pela averbaçao, no Registro de Imóveis, do cancelamento do registro
a vtsta da respectiva prova.

13.17.4. HIPOTECA DE VIAS FÉRREAS

O atual código civil ainda traz a possibilidade de hipoteca de vias


fén:eas. Assim, é possível a hipoteca sobre as estradas de ferro, que
serao registradas no Município da estação inicial da respectiva linha.
Nos termos do artigo 1.503 do CC, os credores hipotecários não podem
embaraçar a e:'ploração da linha, nem contrariar as modificações que
a admmistraçao deliberar, no leito da estrada, em suas dependências
ou no seu material.
So~re o assunto, atenção ao artigo 1.505: na execução das hipote-
cas sera mhmado o representante da União ou do Estado, para que,
dentro de qumze dias, resgate a estrada de ferro hipotecada, pagando
o preço da arrematação ou da adjudicação.

13.18. ANTICRESE

Em que pese tal instituto estar em completo desuso, é importante


tecer algumas palavras sobre ele.

416 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3" edição


i Capítulo Xlll
Entende-se por anticrese a cessão do direito de se perceber frutos
e rendimentos de imóvel para fim de compensação de certa dívida.
Em outras palavras, é o direito real na coisa alheia sobre bem frugífero
(aquele que produz frutos) - artigo 1.506, do CC.
Este credor, denominado anticrético, pode administrar os bens
dados em anticrese e fruir dos frutos e utilidades do mesmo, apresen·
tando balanço anual acerca da aludida administração, respondendo
pelas deteriorações que, por culpa sua, o ~móvel vier a sofrer e pelos
frutos e rendimentos que, por sua negligenCia, deixar de perceber.
A preferência deste direito real de garantia sobre os demais
direitos pessoais é constatada pelo conteúdo do artigo 1.509 do CC:
"O credor anticrético pode vindicar os seus direitos contra o adqui-
rente dos bens, os credores quirografários e os hipotecários posteriores
ao registro da anticrese".

ANDRÉ MOT.I, Ca s·J LANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, RouERTO F!GUDREUO, SABRI"iAÜOURADO
417
1
CAPÍTULO XIV.

DIREITO DE FAMÍLIA

14.1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

O Direito de Família merece ser estudado à luz de quatro grandes


temas: casamento, união estável, relações de parentesco e direito assis-
tencial (guarda, tutela e curatela). Vamos iniciar o estudo revisando
o tema do direito matrimonial de família.

14.2. CASAMENTO

Os §§ 1º e 2º do art. 226 da CF disciplinam o tema do casamento,


afirmando ser o mesmo civil e gratuita a sua celebração, nada obstante
se admitir ainda o casamento religioso com efeito civil. No plano
infraconstitucional, o art. 1.511 do CC inaugura o instituto afirmando

á1R EDITORA ARMADOR \ PRÁTICA CIVIL j 3'' edição


DIREITO DE FAMÍLIA I
!capítulo XIV
I

que "O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade
de direitos e deveres dos cônjuges".

l
l
14.2.1. CAPACIDADE NÚBIL

Em regra, a partir dos 16 (dezesseis) anos é possível contrair


casamento, seja para o homem, seja para a mulher, ante o princípio da
isonomia (CF, art. 5º, li). Por isto, é certo dizer que a capacidade para
o casamento se inicial a partir desta idade. O tema está disciplinado
entre os arts. 1517 a 1520 do CC.
O '!'T!.aior de 16 a!l.OS e menor de 18 anos necessitará de autorização
de seUs genitores, ou tutores. Esta autorização poderá ser revogada até
a data da celebração do casamento. Lembre-se, ademais, que por força
ctas modificações perpetradas pela Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com
Deficiência), o deficiente não mais é tido corno incapaz no nosso país.
Assim, por consequência, desde que tenha capacidade núbio, poderá
se casar, expressando sua vontade diretamente ou através de seu cura-
dor, não havendo nenhuma invalidade (art.l.550, parágrafo segundo).
Acaso não haja esta autorização, será preciso o ajuizamento da
ação de supressão de consentimento. Trata-se de ação ordinária movida
pelo relativamente incapaz detentor de capacidade núbil contra seu
representante que não consentiu, perante a Vara de Família, visando
ordem judicial que supra o consentimento não ofertado. Ocorrido o
casamento por meio de ordem da Justiça que supra o consentimento
dos pais o regime de bens destes cônjuges será necessariamente o da
separação obrigatória (CC, art. 1641).
Excepcionalmente será possível ao menos de 16 anos casar (CC,
art. 1.520), em duas hipóteses: para obstar pena criminal, ou na situa-
ção de gravidez.

~4:~.2. HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO

Trata-se de pleito administrativo subscrito pelos nubentes, ou


procurador habilitado, dirigido ao oficial de registro, iniciado por

ANDRÉ ~')QTA, CRISTIANO Süi\RAL, LUCIANO fiGUElREDO, ROBERTO flGUElREDO, SABRINA DOURADO 419
Capítuio Xl\,l

meio das_ formalidades preliminares e finalizado com a entrega da


hab1~1taçao (documento que autoriza, por 90 dias de validade, a cele-
braçao do matrimônio).
O Ministério Público deverá se manifestar neste feito adminis-
trativo. Opinando favora,•elmente serão publicados editais por 15
(qtnnze) dws er como visto acima, eptregue a habilitação ao casal,
para celebrar, dentro de 90 (noventa) dias, o matrimônio.
" . De a~ordo com a doutrina cristalizada no Enunciado 513 do CJF
O JUIZ nao pode dzspensar, mesmo fundamentadamente, a publicação do
edzt~l de pr?clamas do casamento, mas sim o decurso do prazo". Desta forma,
sera poss1vel ao magistrado de família, em situações excepcionais,
dispensar o prazo de quinze dias para que o matrimônio rapidamente
se realize.
Mas também será possível haver imougnacão ao matrimônio
med~a~te re_qu~rimento_ administrativo ao J~iz...,de Família, caso em qu~
surgira um Incidente/ com contraditório concentrado e decisão judicial.

14.2.3. IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS


----==~~-----------

Conforme art. 1.521 do CC certas pessoas "Não podem casar.. :; 0


que s1grufica que a norma estabelece impedimentos ao casamento, cujo
desres~elto acarretará a nulidade do matrimônio (CC art. 1.548, I!).
Nao podem casar os ascendentes com os descendentes seja o
parentesco natural ou civil, os afins em linha reta, o adotante com
quem f_oi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante,
os Irmaos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro
grau inclusive, o adotado com o filho do adotante, as pessoas casadas
e, finalmente, o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio
ou tentativa de homicidio contra o seu consorte.
Insista-se: o desrespeito a estas situações ensejará a nulidade
absoluta do casamento.
Tais impedimentos atingem o casamento de estrangeiros domi-
ciliados (LINDB, art. ?").

420 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


A maior parte dos impedimentos decorre da situação jurídica de
parentesco (art. 1.521, I a V, CC). Entre estes assuntos é digno de nota o
fato de que, em regra, não será possível o casamento entre colateraiS
de 3º grau, inclusive. Diz-se em regra, porque excepcionalmente tios e
sobrinhas poderão casar, nos casos do Decreto-Lei 3.200/41 (art. 2º), ou
seja quando dois médicos atestarem ausência de problema genético.
Sobre o tema o Enunciado 98 do CJF.
Também não poderão casar as pessoas já casadas, seja ante o
imnedimento matrimonial, seja porque bigamia é crime (art. 235, CP).
r Finalmente (art. 1.521, VII, CC), o cônjuge sobrevivente é impedido
de casar com o condenado em crime de homicídio ou tentativa de
homicídio contra o seu consorte.

14.2.4. CAUSAS SUSPENSIVAS

As causas suspensivas se caracterizam como meras recomenda-


ções cuja inobservância acarreta como única consequência a imposição
do regime da separação obrigatória de bens, a que alude o art. 1641
do CC. Neste sentido, de recomendação, adverte o art. 1523 do CC:
"Não devem casar".
De acordo com a lei não deverão casar, sob pena de separação
obrigatória de bens, o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge fale-
cido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha
aos herdeirosr a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser
nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez,
ou da dissolução da sociedade conjugal, o divorciado, enquanto não
houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal e,
finalmente 0 tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes,
irmãos, cu~hados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada,
enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as
respectivas conta. c
Como se nota, estas causas suspensivas envolverão apenas-inte-
resse privado.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIA~O FIGCE!RE!>O, ROBERTO FIGUE!REOO, SABRINA ÜOijRADO
421
j DIREiTO DE FAMiLIA
Capítulo XIV 1

14.2.5. CASAMENTO NULO E CASAMENTO ANULÁVEL

O art. 1548 do CC dispõe sobre uma única hipótese de nulidade


absoluta do casamento; qual seja: o desrespeito aos impedimentos
matrimoniais. Ressalta-se que fora retirada a segunda hipótese de
nulidade absoluta do ordenamento jurídico- casamento contraído pelo
enfermo mental - diante das mudanças decorrentes da Lei 13.146/15
(Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Diante de uma hipótese de casamento nulo o interessado poderá
&juiza r ação ordinária declaratória de nulidade absoluta do casamento,
na forma do art. 1549 do CC, perante o juiz de Família. O Ministério
Público Estadual também possui legitimiàade aíiva ild caLLSüíii.
As causas de nulidade relativa do casamento estão previstas no
art.1550 do CC. A anulável o casamento celebrado por quem não com-
pletou a idade mínima para casar, por menor em idade núbil, quando
não autorizado por seu representante legal, por vício da vontade, nos
termos dos arts. 1.556 a 1.558, do incapaz de consentir ou manifestar,
de modo inequívoco, o consentimento, quando realizado pelo man-
datário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do
mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges e, finalmente,
por incompetência da autoridade celebrante.
O cuidado necessário é relembrar não ser possível invalidar casa-
mento por motivo de idade quando o mesmo resultar de gravidez.
Nesta situação, há nítida opção normativa pela manutenção da nova
família matrimonial. •
Na linha da conservação do negócio jurídico, o CC permite àquele
que ainda não adquiriu idade núbil que, ao completá-la, ratifique o
matrimônio, seja por meio dos representantes legais, seja ainda através
de supressão judicial.
Quanto aos vícios de consentimento aptos à invalidar o casa-
mento, o futuro advogado deverá dedicar-se, com ênfase, ao estado
da coação e do erro de pessoa. Sobre este último vício, o art. 1557 do
CC apresentará as hipóteses.
Ocorre erro essencial de pessoal no que diz respeito à sua iden·
tidade, sua honra e boa fama, tornar insuportável a vida em comu1n
ao cônjuge enganado, bem como a ignorância de crime, anterior ao

I~rwr<HIA AnMAnOR I PRÁTICA CIVIL \ 3a edição


DIREITO DE FAMÍLIA I

casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal


e, finalmente, a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico
irremediável, que não caracterize deficiência, ou de moléstia grave
e transmissív,::I, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a
saúde do outro cônjuge ou de sua descendência.
À vista de um erro essencial quanto à pessoa, o outro cônjuge
terá legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação ordinária de anu-
labilidade do casamento, perante a Vara de Família.

14.2.6. ESPÉCIES DE CASAMENTO

a) Casamento civil
Em regra o casamento é civil e gratuita a sua celebração, na
meihor forma do § 1º do art. 226 da CF. justo por isto que deverá ser
realizado, também via de regra, na sede do cartório (CC, art. 1.534).
A legislação permitirá que a celebração deste matrimônio ocorra
em edifício público ou particular, com a presença de 4 testemunhas.

b) Casamento religioso com efeito civil


O que muda aqui é tão somente a celebração do matrimônio, eis
que o processo administrativo de habilitação é o mesmo. O casamento
religioso decorre da garantia fundamental ao exercício de cultos reli-
giosos (art. 5º, IV, CF), ou seja, da liberdade de crença.
Neste contexto, o art. 1.515 do CC permitirá o casamento religioso
com efeito civil.

c) Moléstia grave
Reza o art. 1539 do CC ser possível o casamento de pessoa porta-
dora de moléstia grave. Assim, aqueles que se encontrarem gravemente
enfermos poderão casar também e esta celebração, evidentemente,
ocorrerá fora do cartório, perante 2 testemunhas.
A legislação admite até mesmo que este matrimônio seja cele-
brada à noite, para casos de urgência, seja pelo oficial de registro, seu

!',:O•,'DRf )\\OrA, CRJ.STJANO SüBR.\L, LUCIANO F!GUEIREUO, ROBFRTO flGUF.JRf.IJO, SABRJNA DOUMDO 423
substituto le?al ou_ainda um oficial ad hoc, que lavrará termo avulso
e o registrara em Cinco dias.

d) Risco de vida
De ocorrência pouco provável, está pr~visto no art. 1540 do CC
par~ q~em se encontrar à beira ela morte, &m extrema situação de
urgenCia que sequer perm1ta a indicação de uma autoridade celebrante
ou mesmo de procedimento prévio de habilitação. '
~ma atenção necessária para esta espécie de casamento está na
quantidade de testemunhas. São seis (art. 1540 do CC).
Realizado o casamento nestas condições, as testemunhas devem
~omparecer peran~e uma autoridade judicial no prazo máximo ele 10
_~as: tnforrnando a mesma que presenciaram 0 evento, porque soli-
cllaaas
. pelo enfer mo, que o mesmo se encontrava em perigo de vida
e, finalmente, que o enfermo declarou o desejo de casar.
A partir deste instante, o magistrado irá instaurar um procedi-
mento JUdJcJal, mstrumdo o feito para, ao final disto, decidir se auto-
nza ou n~o o registro deste casmnento. Em caso afirmativo, os efeitos
deste registro retroagirão ao dia em que o matrimônio aconteceu.

e) Por procuração
_É possível o ca:amento por procu~ação, desde que esta seja feita
por mstrumento pubhco e contenha poderes especiais, na forma do
art.. 1.542 CC Interessante recordar que a procuração para o casamento
tera validade restrita a 90 dias.
Acaso ~a!a a revo~ação do manta do e, ainda assim, o matrimônio
ocorra, a h1potese sera de nulidade relativa do casamento (CC, art.
1550): de forma que se não houver coabitação entre os cônjuges, será
poss1vel mvahdar o matrimônio.

14.2.7. REGIME DE BENS

, O casa~en:_o enseja efeitos econômicos, entre os quais 0 da pos-


SJvel comumcaçao do patrimônio dos consortes. Justamente por isto

424 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL J 3" edição


.-------
\ Capítulv XIV

é que a legislação cível disciplina o instituto do regime de bens, cuja


finalidade é regular o eventual rateio dos aquestos (bens adquiridos
durante o matrimônio).
Em regra, as partes são livres para eleger o regime de bens que
melhor aprouver. O regime de bens se inicia a partir ela celebração
do matrimônio (CC, 1639) e poderá ser alterado durante o casamento.
O pacto antenupcial é o instrumento jurídico que os nubentes
poderão utilizar para eleger regime de bens distinto da comunhão
parciaL Sim, porque em regra o regime é o ela comunhão parcial ele
bens. Vale dizer, no silêncio ou na ausência do pacto antenupcial -
também denominado ele convenção matrimonial, vigorará a comunhão
parcial ele bens.
Através elo pacto antenupcial, realizado mediante escritura
pública e com efeitos condicionados à celebração elo matrimônio (CC,
1.653), será possível aos nubentes escolher outro reginle de bens para
regular o casamento.
Importante novicladé está no § 2º elo art. 1639 do CC que permite
a alteração do regime ele bens no curso do casamento, desde que haja
um requerimento conjunto, sem litígio, portanto e que os cônjuges ao
formular este pleito o faça de forma fundamentada perante o juiz ele
Família que sentenciará deferindo a mudança somente se não houver
prejuízo contra terceiros.
O caso é de procedimento de ju~isdição voluntária, no qual ambos
os cônjuges são os requerentes. A sentença terá efeito ex nunc ele forma
que a partir ela sentença acarretará eficácia (Enunciado 113 elo CJF).

a) Comunhão parcial de bens


Também denominado ele regime legal, a comunhão parcial vigo-
rará entre os cônjuges sempre que não existir pacto antenupcial, ou
ainda quando este for nulo (CC, 1640).
Neste regime ele bens o patrimônio que na constância do casa-
mento sobrevier ao casal será objeto de comunicação, rateio, entre os
cônjuges (art. 1.658, CC). Em síntese: até o casamento nada comunica;
após o casamento todos os bens comunicação à exceção das hipóteses
previstas no art. 1659 do CC, de leitura recomendada.

425
ANDRÉ MOTA, [RISTtANO $OIIRAL, LUCLA~O FIGUEIRJ>DO, ROl> ERTO FH;Ut!REDO, SA!IRlNA DOt'RADO
\ DIREITO DE fAMÍLIA

Capítulo Xlvl
Importante advertir que os bens onerosamente adquiridos
durante o matrimônio, ainda que só em nome de um dos cônjuges,
comunicarão ao outro, assim como os bens "adquiridos por fato eventual,
com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior", ou ainda adquiri-
dos por doação, ou herança, feita a ambos os cônjuges, as "benfeitorias
em bens particulares de cada cônjuge" e, finalmente, os 'frutos dos bens
comuns, ou ~os particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do
casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão". A regra é do
art. 1660 do CC

b) Comunhão universal
Como o nome sugere, no regime da comunhão universal o
patrimônio presente e futuro do casal se confundirá, tornando-se um
condomínio (copropriedade).
Apenas não se comunicarão, neste regime da comunhão uni-
versaL "os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e
os sub-rogados em seu lugar; os bens gravados de fideicomisso e o direito do
herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; as dívidas
anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos,
ou reverteren1 em proveito comum; as doações antenupciais feitas por um dos
côujuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade; Os bens referidos
nos inci.<os V a VII do art. 1.659". É o que afirma o art. 1668 do CC

c) Separação obrigatória

Neste regime de bens as partes não terão liberdade alguma de


opção. Ao contrário disto, será imposto aos cônjuges a obrigatória
separação para os casos previstos no art. 1.641 do CC, quais sejam:
casamento celebrado com maior de 70 anos de idade, casamento
decorrente de supressão judicial de autorização para casar em favor
de relativamente incapaz e casamento que não observa as causas
suspensivas.
Se o cônjuge se enquadrar em alguma destas situaçôes, deverá,
necessariamente, submeter-se ao regime da separação obrigatória de
bens.
DIREITO DE FAMÍLIA ~
)capítulo XlV

Neste regime, nenhum bem se comunica, seja no presente, seja


no futuro.
O futuro advogado, entretanto, deverá está atento à súmula 377
do Supremo Tribun~l Federal para quem "no regime de separação legal de
bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento~~. Trata-se de
uma exceção à incomunicabilidade. A Suprema Corte entendeu que a
regra da ausência da comunicação patrimonial não poderia prevalecer
sobre o enriquecimento sem causa, ou ainda sobre a realidade fática,
de forma a admitir a sociedade de fato e o condomínio nesta hipótese.

d) Separação convencional
Dentro da liberdade e da autonmnia privada será possível aos
cônjuges a opção pela incomunicabilidade dos bens durante o casa-
mento, mediante a elaboração de um pacto antenupcial a este respeito.
Assim, os nubentes poderão fazer uma convenção antenupcial e
disciplinarem a incomunicabilidade do patrimônio, mediante o regime
da separação convencional.
Trata-se de regime semelhante à separação obrigatória, sendo
que a distinção residirá apenas no fato de decorrer da autonomia da
vontade.

e) Participação final nos aquestos


A participação final nos aquestos está prevista no art. 1.672 do
CC de modo que o cônjuge, neste regime, possuirá patrimônio pró-
prio e terá direito, quando da extinção do ca3amento, à 50% dos bens
onerosamente adquiridos durante o matrimônio.
Portanto, este regime se destaca porque não permitir a imediata
comunicação dos bens durante o matrimônio. Apenas em havendo
uma extinção do vínculo é que se discutirá o rateio dos bens. Justa-
mente por isto é que a administração patrimonial na constância do
matrimônio será do consorte proprietário, que estará autorizado à
dispor livremente de tais bens móveis forem. (p.u. do art. 1.673, CC).
Acaso exista autorização no pacto antenupcial, os cônjuges também
poderão alienar bens imóveis.

427
Capítulo XtVl

14.2.8. SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO

A extinção da sociedade conjugal se dá ou com o óbito, ou com


a nulidade, ou anulação do casamento ou, finalmente, pela separação
e divórcio. É o que afirma o art. 1571 do CC.
Entretanto, com a recente alteração do § 6", do irtígo 226, da Cons-
tituição- Federal de 1988, feita pela Emenda Constitucional n' 66, de
13 de julho de 2010, surge um importante debate sobre a manutenção
(ou não) do instituto da separação judicial no Brasil. Muitos defendem
que a separação teria deixado de existir.
Contudo, o Enunciado 514, V Jornada de Direito Civil- CJF afirma:
'A Emenda Constitucional nº 6612010 não extinguiu o instituto da separação
judicial e extrajudicial". Em decorrência disto, e porque muitos tribu-
ruis brasileiros continuam udrrtitindo a separação judkiat o fuluro
advogado deverá está atendo a esta circunstância na prova. Soma-se
a isto a percepção de que o Novo Código de Processo Civil dedica-se
ao tema separação, como infere-se dos arts. 693, 731, 732 e 733.
De qualquer modo, é possível afirmar que a nova redação do § 6'
do art. 226 da CF aboliu o prazo mínimo de um ou dois anos para o
pleito de divórcio, de forma que atualmente será possível postular o
divórcio imediatamente bastando, para tanto, encontrar-se casado.
Em arremate, observe que o art. 1.581 do CC e a súmula 197 do
STJ autorizam o divórcio sem que haja prévia partilha de bens. Desta
forma, será possível ao casal que ainda não encontrou solução para a
divisão patrimonial realizar o imediato divórcio. A única consequência
é que estes somente poderão contrair novo matrimônio mediante o
regime da separação obrigatória, enquanto não realizarem a partilha
do leito anterior (CC, 1641).
Importante, ainda, a leitura do art. 733 do NCPC, o qual permite
a separação e o divórcio extrajudiciais no Brasil. Trata-se do chamado
divórcio administrativo, o qual ocorrerá em um Tabelionato e demanda
serem todos os envolvidos maiores e capazes, a inexistência de nas-
cituro ou filhos incapazes, consenso e a presença de um advogado
ou defensor. Tal advogado ou defensor, diante do consenso, poderá,
inclusive, ser único.

428 EDITOR:\ AR:\lADOR j PRÁTICA CIVIL j 3" edíção


Acaso os interessados não tenham recurso para contrata?ão de
oderá utilizar dos serviços da defensona publica,
um ad vogado, P
conforme autoriza a Lei Federal nº 11.965/09. . . , .
. alguns dos principais efettos que o dtvorcw
Vejamos, agora, .
acarreta sobre os divorciados e os filhos. . , . .
78 do CC é possível no dtvoroo retuar o
Na forma d o ar t .1.5
tro cÔnJ·uge. De acordo com a norma, para tanto
sobrenome do Ou 1 d
, , · dido expresso e reconhecimento de cu pa a parte
sera necessano pe . , .d ·
, · desde que não represente evidente preJU1ZO para a 1 entl-
contrana, d f "·
. - d ' · e manifesta distinção entre o seu nome e amum
ficaçao o conJug ,
e o dos filhos havidos da união dissolvida ou, finalmente, dano grave
reconhecido na decisão judicial. , .
' ' oss 1'vel se postular alimentos entre os conJuges
Tamb em e p
quando do divórcio. 1 , , .-1· _ ·t.
· t lta'r que o cÔnJ·uge culpado tantnem tera u.ltChO
Importan e ressa , , .
à receber alimentos necessários, na forma do paragrafo umco do art.
1704 do CC, de leitura recomendada. . . . ,
. d sobre a extineão do casamento e seu processo JUdtClal, sera
A 1n a ~ . " .
ossível postular a disciplina relativa à gua~da e convtvencta com o~
P d 18 anos Nestas condições, a luz do art. 227 da CF sera
filhos menores e · .
·d d melhor interesse da cnança e do adolescente.
ronfen a a guar a n 0 , . . .
, Conforme Lei Federal n' 12. 398/2011, o art. 1.589 do Codtgo Ctvt1
· d ceber dispositivo que admüe duelto de vtsüas dos
f01 altera o parare .
avós em relação aos netos. Vale a pena confenr.

14. 3 . RELAÇÕES DE PARENTESCO

car um entendimento em questões reJa-


Passemos agora a bus . .
· d tesco após vencermos o estudo acerca do Duello
c10na as ao paren , , . . . .
· · 1A cemos sobre o Codtgo Ctvü, na tentallva de buscar-
Matnmonla . ven
-ao melhor acerca dessas questões. O parentesco
mos uma compre ens . .
pode ser natural (consanguíneo), civil, sócio afehvo, por afimdade
ou por outra origem.

flGVElRLOO ROUERTO f!GUe!RtDO, SABR!~A ÜOUR.ADO


429
ANDRÊ MOT.\, C!USTIANO $OSR.Al-, L UCIANO '
~ DIREITO DE FAMÍLIA

Cnpítulo XIV !

Mister se faz a distinção entre parentes em linha reta de parentes


colaterais. Debruçando-se sobre o artigo 1.591 "São parentes em linha
reta as pessoas que estão para com as outras na relação de ascendentes
e descentes". Concluímos que os ascendentes e os descendentes cons-
tituem os dois únicos tipos de parentes em linha reta. Como esclarece
o artigo 1.593 do Código Civil, os parentes colaterais (ou transversais)
são "'as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma
da outra", cabendo frisar que vai até o quarto grau e dele fazem parte,
os irmãos, sobrinhos, tios e primos.
No artigo 1.596 do Código Civil que assevera: "Cada cônjuge ou
companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade",
fuz-se referencia aos parentes afins. Este parer.tesco estada limit<'ldo
"aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou com-
panheiro" (§ 1º, art. 1.595, CC). Nesse mesmo entendimento, "na linha
reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou
da união estável", razão pela qual haverá um parentesco eterno por
afinidade, nestas condições.
Fazendo referencia ao artigo 1.594 do Código Civil, cumpre notar
que o número de gerações fica estabelecido pelo grau de parentesco
existente entres os parentes. Ob,ervemos melhor acerca deste aspecto,
pais e filhos, parentes em primeiro grau, posto que só há uma geração
entre os dois. Netos e avôs, parentes em segundo grau, posto que há
duas gerações entre os dois.
Já na linha colateral, para que seja determinado o grau de paren-
tesco, reportemo-nos ao artigo 1.594, assevera este que o grau de
parentesco determina-se subindo de um dos parentes até ao ascen-
dente comum, e descendo até encontrar o outro parente. Assim, por
exemplo, irmãos são parentes de segundo grau, pois há duas gerações
entre eles, a que liga um filho ao pai e o pai ao outro filho.

14.3.1. FILIAÇÃO

A igualdade existente entre os filhos é matéria de assento cons-


titucional e se apresenta como matéria de extrema relevância dentro
das relações de parentesco. Na melhor forma do § 6º do artigo 227 da

1-'nnmul ARMADOR I PRÁTICA CIVIl. ! 3" edição


DIREITO DE fAMÍLIA!

~ Car;ítulo XIV

CF/88 "Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,


terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas àfiliação". No mesmo sentido o art. 1596 do CC.
Tamanha é a relevânq[a do terna, que o artigo 1.597 do CC disci-
plinará o sistema de presunção do estado de filiação na constância
do casamento. São presumidamente filhos concebidos na constância
do casamento aqueles que nasceram cento e oitenta dias, pelo menos,
depois de concebida a união estável_ bem como os nascidos nos tre-
zentos dias após a dissolução da sociedade conjugal, seja por morte,
separação jud[cial, nulidade e anulação do casamento.
Na sequência, o art. 1597 do CC também disciplinará o sistema de
pre5unçi'ín p.::~n~ c;itnações envolvendo técnicas de reprodução artifi-
cialmente assistidas. Assim, os filhos oriundos através de fecundação
artificial homóloga, ainda que fal,f'cido o marido são presumidamente
do casamento, como também serão os havidos, seja a qualquer tempo,
ao se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção
artificial homóloga.
Chama-se homóloga a inseminação quando o material genético
utilizado é do próprio casal.
Mas a legislação cível também presumirá como filhos concebidos
na constância do casamento aqueles havidos por inseminação artificial
heteróloga, dependendo apenas da existência de prévia autorização
do marido. Heteróloga é a inseminação quando o material genético
utilizado é de terceiro. Para ocorrer a presunção, é imprescindível que
ocorre a autorização do marido. Em outras palavras: se não houver a
autorização, não [ncidirá o sistema de presunção de filiação.
Este sistema de presunção também se aplica à união estável
por força de entendimento do Superior Tribunal de Justiça, apesar da
norn1a somente se referir ao casamento.
Um cuidado importante à respeito do sistema de presunção é a
ressalva prescrita no art. 1.599 do CC: "A prova da impotência do cônjuge
para gerar, à época ria concepção, ilide a presunção da paternidade". Portanto,
acaso o cônjuge comprove que à época da concepção não era fértil,
esta ausência de capacidade para gerar, também denominada de
impotência generandi, irá ilidir o sistema de presunção.

431
C:qwulo XlV !

Atente-se que a impotência coeundi (para o coito) não foi referida


pela norma. Portanto, esta última jamais irá ilidir a presunção.
Na sequência, dispõe o CC que o adultério da mulher, ainda
que confessado não ilide, de igual sorte, o sistema de presuncão (art.
1600, CC). •
Outro tema importante de se recordar para a prova d>:: 2ª Fase em
Direito Civil gira em torno da perfilhação, ou melhor, do reconhe-
cimento de filhos fora do casamento. O assunto está previsto no art.
1609 do CC. Os filhos havidos de uma relação extraconjugal podem ser
reconheCidos da seguinte forma: por meio de registro de nascimento
p_or escrit~ra pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartó~
no, atraves de testamento, ainda que.incidentalmente manifestado e
finalmente, por manifestação direta e expressa perante o juiz, mesm~
que o reconhecimento não tenha sido o obieto único e orincioal do
ato que o contém. ' ' '
A lei civil é clara ao afirmar que este reconhecimento é irrevoaá~
vel. Ademais disto, apenas com o consentimento do outro consor~ é
que este filho reconhecido unilateralmente poderá residir no lar con-
JUgal. Ante a relevância do bem jurídico protegido, o reconhecimento
não poderá submeter-se à condição, ou mesmo à termo. Sobre o tema
recomendável a leitura dos arts. 1.610, 1.611 e 1.613 do CC.

a) Investigação de paternidade
Mediante procedimento comum ordinário perante a Vara de
Família é possível o ajuizamento, por quem pretende ser reconhecido
como filho, em face do suposto pai, desta ação de investigação de pater-
mdade. O art. 27, ECA e súmula 149, STF serão fundamentos relevantes
na causa de pedir. Será possível cumular ao pleito de investigação
de patermdade alimentos ou herança, à depender da situação fática.

b) Negatória de paternidade
Está prevista no artigo 1.601 do CC. Ajuizada na Vara de Família,
o autor da demanda é o marido. O procedimento é comum ordiná-
rio. Postula-se a declaração de que o filho oriundo do matrimônio e
presumidamente do casal (presunção relativa) efetivamente não é do

432 EorroRA ARMADOR 1 PRÃTICA CiviL 1 3" edição


j Cqítulo XlV

autor da demanda. Trata-se de ação personalíssima, cuja legitimidade


ativa é apenas do marido casado. Contudo, se no curso da lide houver
falecimento do autor da demanda, os herdeiros deste poderão dar
0
prosseguimento à lide, na forma do parágrafo único do art. 1601 do
CC. 0 réu da demanda é o filho havido nascido da mulher casada
aue. se menor, será representado pela genitora.
' .

14.4. UNIÃO ESTÃVEL

Na forma do§ 3º do art. 226 da CF é reconhecida, como entidade


familiar, a relação entre homem e mulher, devendo a lei facilitar a
conversão desta em união estável. Sob o ponto de vista infraconsti-
tucional, os arts. 1.723 a 1.726 do Có<;\igo Civil àisciplinam a matéria.
Esta entidade familiar será constituída mediante a configuração dos
seguintes requisitos: relação não eventual, pública, entre homem e
mulher com o objetivo de constituir família.
Sob 0 ponto de vista processual, a hipótese é de ajuizamento na
Vara de Família de urna ação ordinária de reconhecimento e dissolu-
ção de união estável, que poderá ser cumulada com partilha de bens,
guarda, alimentos e até danos morais à depender da casuística.
O autor desta demanda deverá comprovar tanto esta publicidade,
quanto a habitualidade. Observe que a legislação não exige prazo
mínimo para <;,Onfiguração desta entidade familiar. No caso concreto,
esta habitualidade será reconhecida pela Justiça.
Um último requisito será o anímus de constituir família, deno-
minado de requisito subjetivo.
Em arremate, deve-se ressaltar que o Supremo Tribunal Federal
a partir da decisão plenária da ADPF 132 passou a equiparar a união
homoafetiva à união estável. Portanto, toda a disciplina da união
estável se aplicará, por analogia, à união entre pessoas do mesmo sexo.
A doutrina cristalizada no Enunciado 524 do CJF afirma que as
demandas envolvendo união estável entre pessoas do mesmo sexo
constituem matéria de Direito de Família. Portanto, esta ação também
será na Vara de Família.

433
ANDRÉ MOTA, CRISTiANO SOBAAL, L\tCJ.>,NO FJGLIE!li.EDO, ROSERTO F!GVElREDO, SARRINA DoVRAl)O
1 DIREITO DE fAMÍLIA

Capítulo XIvl

O§ 1º do art. 1723 do CC prescreve que os impedimentos matrimo-


niais também se aplicam à união estável. Deste modo, não é admissível
união estável nas hipóteses do art. 1521 do CC, ou seja, nos çasos em
que tais sujeitos não poderiam se casar.
Contudo, se o consorte estiver separado de fato poderá, apenas
neste caso, constituir união estável
O § 2º do art. 1723 do CC adverte que as causas suspensivas do
casamento não obstam a configuração da união estável.
A comunhão parcial de bens será o regime da união estável, salvo
se os conviventes elaborarem um contrato escrito optando por outro
regime (contrato de convivência).
Finalmente, observe que a legislação cívet seguindo os passos da
CF, permitirá a conversão da união estável em casamento por meio
de requerimento perante a Vara de Família, ~m procedimento de
jurisdição voluntária a ser requerido por ambos os cônjuges.
Segundo a doutrina cristalizada no Enunciado 526 do CJF será
possível a conversão de união estável entre pessoas do mesmo sexo
em casamento, observados os requisitos exigidos para a respectiva
habilitação.
Os efeitos pessoais desta união estável estão previstos no art.
1.724 do CC e são os deveres de lealdade (monogamia), de respeito e
assistência, guarda, sustento e educação dos filhos.

14.5. CONCUBINATO

A teor do art. 1.727 do CC as relações habituais entre homem


e mulher impedidos de casar são concubinato, compreendido este
pela jurisprudência do STJ como uma sociedade de fato. Na forma da
súmula 380 do STF, é possível aos concubinos requerer a "dissolução
judicial, com a partilha do patrimônio adquirida pela esforça comum" isto se
"comprovada a existência de sociedade de fato" (súmula 380).
Não há necessidade destes concubinos estarem a morar juntos:
"A vida em comum sob o mestno teto more uxório, não é indispensável à
caracterização do concubinato" (STF, súmula 382).

--- ' o~;~,, .• r,.,,, 1 ~·'edição


DIREITO DE FAMÍLIA I
rcapítulo XIV

Desde o final de 2009, o STJ e STF não mais possibilitam deferi-


mento de indenização por serviços prestados à concubina.

14.6. ALIMENTOS

Considerando a prevalência da dignidade humana, a proteção ao


mínimo existencial deveria encerrar-se no dever jurídico de respeito
e solidariedade familiar. Nesta linha de raciocínio, a ordem jurídica
assevera que deve haver entre certos parentes (ascendentes, descen-
dentes e irmãoslco direito recíproco de receber alimentos, estendendo
o cumprimento deste dever ao cônjuge e ao companheiro.
A imposição do pagamento, in natura ou em espécie, de presta-
ções que venham a atender a manutenção de uma vida digna, estaria
relacionada a um direito indisponíveL intransacionável, impenhoráveL
incompensável, incessívet inerente à pessoa humana.
Apesar dos alimentos serem irrenunciáveis, é possível, em tese,
que o credor dispense o pagamento ao potencial devedor nos casos
de uma hipótese fática da ausência de uma necessidade.
Em suma: diante de uma necessidade fática do credor acrescida
das reais condições do devedor de fornecer (binômio necessidade/
possibilidade), abre-se a possibilidade de urna efetiva cobrança de
alimentos, observando-se uma ordem preferencial de parentes (sub-
sidiariedade), de forma sequencial, cabendo, neste caso um beneficio
utilizando-se do critério da ordem. Convém salientar que tal obrigação
esta inserida nos critérios da solidariedade, pois infere-se 'a mesma
classe e ao mesmo grau (ex: entre os pais).
Em Jornadas de Direito Civil, cumpre anotar que a doutrina
teve a possibilidade de se manifestar no Enunciado 342, asseverando
que "Observadas as suas condições pessoais e sociais, os avós somente serão
obrigados a prestar alimentos aos netos em ca1·áter exclusivo, sucessivo,
complementar e não solidário, quando os pais destes estiverem
impossibilitados de fazê-lo, caso em que as necessidades básicas dos
alimentandos serão aferidas, prioritariamente, segundo o nível econômico-
-financeiro dos seus genitores."

435
Capítulo xfV]

Estes alimentos devidos e vencidos prescrevem em dois anos


(art 206, § 2º, CC) se não pretendidos pelo credor. A Justiça, ao deferir
hmr~ar aos alimentos, os coloca em duas categorias como podemos
an_ahsar: Os chamados de provisionais (processuais, deferidos em
~çoes ordinárias ou cautelares), e os chamados de provisórios (estes
u~hmos são disciplinados apenas na Lei de Alimentos, de rito e:;pecial,
nao cabendo a mesma denominação em nenhuma outra hipótese.
De acordo com a súmula 309 do STJ "O débito alimentar que autoriza
a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestacões anteriores
ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do. processo".
. . Para a doutrina, cristalizada no Enunciado 522 do CJF a prisão
CIVIl do devedor; nos casos dF-não prestação de alimentos gravídicos, é
plenamente cab1vel, o estabelecido seria com base na Lei nº 11.804/2008
inclusive deferidos em qyaisquer em situações de tutela de urgência~
A teor da súmula 358 do STJ "O cancelamento da pensão ali,;;entícia
de filho que atingiu a maioridnde está sujeito à decisão iudicial, mediante
contr~d~tório, ainda que nos próprios autos". De fato, "A, obrigação alimen-
tar orxgznada do poder familiar, especialmente para atender às 11ecessidades
educacionais, pode não cessar com a maioridade"(Enunciado 344 do CJF).

14.6.1. ALIMENTOS GRAVÍDICOS

A Lei Federall1.804/2008 reconhece também o direito de ali-


mentos à mulher gestante desde a concepção ate o parto "inclusive as
referentes à alime~1tação especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, zntemações, parto, medicamentos de demais prescrições
pteventtvas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras
~ue o juiz c~~sidere ~ertínentes". Tais alimentos devem ser custeados pelo
futuro pat (art. 2 da lei), uma vez que haja '·indícios de paternidade"
(art. 6º da lei).
Trata-se de ação na Vara de Família também. Há, contudo duas
peculi~ridades: o prazo de contestação será de cinco dias apen~s (art.
7º da lei). O nasomento da criança ensejará a conversão dos alimentos
gravídicos em pensão alimentícia.

436 EDITORA AR.\1ADOR 1 PRÁTICA CIVIL ! 3a edição


)Carítnlo XIV

14.7. BEM DE FAMÍLIA

A finalidade c!este instituto é assegurar o direito social de mora-


dia, como um direito constitucionalmente assegurado a todos (CF,
art. 6º). A proteção normativa é dirigida ao indivíduo, daí porque a
súmula 364 do STJ adverte: "o conceito de impenhorabilidade de bem de
família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas
e viúvas."
É importante ressaltar o entendimento do STJ, em que afirma ser
a Lei 8.009/90 aplicável às penhoras anteriores à vigência da lei, bem
como às pessoas que morem sozinhas, como os solteiros, separados
e viúvos.
O bem de família é subdividido em: a) legal, cogente, involuntário
ou obrigatório, previstos na Lei Federai nº 8.009/90 e b) be1n de fainília
voluntário ou convencional, previsto a partir do art. 1.711 do CC.
O Código Civil regula o bem de família convencional exigindo
para a sua instituição ato volitivo, a ser constituído pelos cônjuges,
companheiros ou até por terceiros, sobre bens imóveis ou móveis.
O bem de família convencional e pouco utilizado na prática.
Mas o futuro aprovado deve aprofundar os estudos na Lei Fede-
ral nº 8.009/1990, que regula o bem de família legal, qual seja aquele
independe da vontade de seu titular, que exsurge do enquadramento
da situação jurídica à norma.
A Lei Federal nº 8.009/90 instituiu o bem de família legaL qual
seja o imóvel residencial utilizado para a moradia permanente da
entidade familiar (art. 5º da Lei 8009/90). Trata-se de norma de ordem
pública intimamente relacionada com o direito social de moradia (art.
6º da CF/88).
Nos casos de pluralidade domiciliar (art. 71 do CC), a impenho-
rabilidade do bem de família legal recairá sobre o imóvel de menor
valor, ainda que haja o desejo da referida família de residir no outro.
Uma importante questão de prova é saber como proceder nos
casos em que o devedor insolvente venha adquirir, mediante má-fé, um
imóvel de maior valia com a finalidade de transferir a sua residência
familiar assegurando uma tutela ~ais larga do bem de família legal?

ANDRÉ MüTA., CRJST!ANO SüBR.~L, LLT!A~O f!Gut;JREDO, ROBI:RfO I:JGt:EIR~DO, SA!>RIN>; DOURADO 437
1 DIREITO DE fAMÍLIA

Capítulo XIV \

A resposta é dada pelo art. 4º da Lei 8.009/90, art. 4º para quem não
se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente,
adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência fami·
liar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. Caberâ ao magistrado
invalidar a alienação, transferindo a aludida impenhorabilidade para
a moradia familiar anterior. A propriedade mais valiosa fica liberada
para uma devida execução, repousando a impenhorabilidade do bem
de família legal sobre o bem mais antigo, menos valioso e capaz de
assegurar a moradia.
Cabe uma devida inclinação para uma outra questão interessante,
agora de direito intertemporal. Aplica-se à tutela do bem de família
aos imóveis cuja penhora ocorreu antes da edição da lêgisbçt:o do
bem de família legal? A resposta é positiva, apesar da Lei Federal
nº 8.009/90 ter iniciado sua vigência na época da publicação (art. 7º da
Lei 8.009/90). O entendimento esta na Súmula 205 do Superior Tribu-
nal de Justiça: "A Lei 8.009190 (bem de família legal! aplica-se às penhoras
realízadas mesmo antes de sua vígêncía".
Esta impenhorabilidade repousa sobre o imóvel residencial, pró-
prio da entidade familiar, bem como as suas construções, plantações,
benfeitorias de qualquer natureza, os equipamentos, inclusive de uso
profissional, e os móveis que guarnecem o lar, desde que quitados
(art. 1º da Lei 8009/90).
Outra importante questão envolve a súmula 486 do STJ segundo
a qual o imóvel próprio do casaL ou da entidade familiar, residencial,
sendo único, ainda que o devedor o tenha locado à terceiro, não res-
ponderá desde que a renda obtida com a locação seja revertida para
a subsistência ou moradia da sua família.
Na forma do art. 2º da Lei nº 8.009/90, a impenhorabilidade do
bem de família legal não alcança "os veículos de transportes, obras de arte
e adornos suntuosos". A estes será possível a penhora para o pagamento
das dívidas do titular.
E a vaga de garagem? Seria bem de família? Este tema foi tratado
na Súmula 449 do ST): "a vaga de garagem que possui matricula própria
no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora".
Portanto, se não possuir matrícula própria, poderá ser bem de família.
Tendo matrícula própria poderá ser penhorada.
DIREITO DE FAMÍLIA I
r Capítulo XIV

Em arremate, observe que o art. 3º da Lei Federal nº 8.009/90 apre-


senta rol taxativo de exceções à impenhorabilidade do bem de família
legal. Tal artigo sofreu recente mudança através da Lei Complementar
número 150/2015 e da Lei 13.144/2015. Dee:sa forma, hodiernamente, são
penhoráveis: a) os bens pelo titular do crédito decorrente do financia-
mento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos
créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
b) pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre 0
bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável
ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela
dívida; c) para cobrança de impostos, predial ou territoriat taxas e
contribvlç0e'> devid;:1s em f11nç::lo elo imóvel familiar: d) vara exect1cão
de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garanti;real pelo casal'ou
pela entidade familiar; e) por ter sido adquirido com produto de crime
ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento,
indenização ou perdimento de bens e f) por obrigação decorrente de
fiança concedida em contrato de locação.

14.8. GUARDA

A guarda nada mais é do que a posse da criança ou do adolescente


menor de dezoito anos e não emancipado, fixada por Juiz de Direito
mediante decisão provisória, ou definitiva no bojo de um processo
judicial que, no melhor interesse da criança e do adolescente, regule
o direito de convivência.
A guarda não extingue o poder familiar, mas somente disciplina
a convivência da criança, ou do adolescente, com os genitores, demais
familiares, ou até mesmo terceiros.
A socioafetividade, a segurança, a saúde e a educação para com
a criança ou o adolescente são os elementos considerados pela norma
para fixação desta medida, respeitando-se a igualdade entre home e
mulher (CF, art. 5, inciso I), assim como o melhor interesse da infância
e juventude (CF, art. 227).

ANr>Rf.i\ltn \CRISTIANO S(JJ\Il,,t, l.(rr;IAN(> FH.;('i:IRFDO, RoH[RrO fiGLFl'.IRtDO, $,\1\IUNA DOUH\1)0


439
No plano infraconstitucional, a guarda se encontra prevista na
seara da Proteção à Pessoa dos Filhos (arts. 1.583 e ss.). Inúmeras alte-
rações normativas surgiram à respeito do terna, notadamente a partir
do ano de 2002, com a chegada do atual Código Civil. À título ilustra-
tivo a vale conferir a Lei Federall1.698/2008, a Lei Federal12.398/2011
e, finalmente, a Lei Federal13.058/2014. ,
I
Todas estas modificações normativas giram em torno dos artigos
1.583 e ss. do Código Civil. Assim, tem-se hoje na legislação codificada
duas modalidades legais de guarda: a compartilhada e a unilateral.
O atual legislador optou pela guarda compartilhada corno regra. Deste
modo, a guarda unilateral será medida extraordinária quando, por
exemplo, um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a
guarda do menor. ·
De acordo com o atual Código Civil. modificado em 2014. o Tuiz
de Família deverá buscar a divisão equilibrada do tempo de com;ívio
d~ menor com os seus genitores (art. 1.583, § 2º). Para tanto, "o juiz, de
ofzcw ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orien-
tação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar'; sempre em busca
da proteção do melhor interesse do menor (art. 1.584, § 3º).
Esta divisão equ~librada do tempo de convívio acaba por ensejar,
na pr~tica, uma alternancra de lares de forma que muitos defendem que
a hrpote:e, de ngor, seria de guarda alternada (e não compartilhada).
E ha diferença entre guarda alternada e compartilhada 7
Sim. Na modalidade (alternada) inexiste o compartilhamento
de responsabilidades, mas apenas períodos de responsabilidades
exclusivas e sucessivas.
Em arremate, cumpre recordar que existem outras modalidades
de guarda não abordadas expressamente na legislação, porém abra-
çadas pela doutrina e jurisprudência, tais corno a guarda por nidação
ou an1nhamento, em que a criança ou o adolescente permanecerá
no mesmo domicílio, quando os genitores revezam momentos de
convívio neste lar.
. .In~eressante notar ainda que o novo modelo expressamente prevê
drrerto a prestação de contas, bem corno a estipulação de multa diária
à estabelecimentos públicos ou privados que não apresentarem aos
gemtores informações sobre seus filhos.

440 EDlTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CJVlL 1 3a edição


r------~·

\CilpHul,) XIV

A guarda unilateral é, pois, exceção à regra admitida ape~as


quando não for possível a guarda compartilhada ~esta, um dos con-
juges, companheiros, ou representante legal lera o defenmento ~o
instituto a seu favor, estabelecendo-se em face do outro gemtor tao
somente o regime de visitas (a regulação das visitas).
Não necessariamente a guarda do menor ou maior incapaz será
dada a um de seus pais. O § 5º do artigo 1.584 do Código Civil prevê
que é possível ao juiz entregar a guarda do incapaz à pessoa distinta
desde que revele compatibilidade com a natureza da med1da. Neste
caso convém observar os graus de parentesco e as relações de afim-
dade e afetividade.

Reza 0 artigo 1.728 do Código Civil que no caso de falecimento dos


pais, os filhos menores serão postos em tutela, ou se "os pais decaírem do
poder familiar", situação que competirá aos genitores nomear tutor em
conjunto. Cabe neste caso testamento ou documento outro, desde que
autêntico, sendo "nula a nomeação de tutor pelo pai ou pela mãe que,
ao tempo de sua morte, não tinha o poder familiar" (art. 1.730, CC).
A tutela é justificada desde que atenda ao melhor interesse da
criança e do adolescente menor de 18 anos e não emancipado que
carecem de administração, seja porque órfãos, seja em face de possível
perda da autoridade parenta!. Constitui instituto do direito assisten-
cial de família desde que se faça a falta da autoridade parenta! (poder
familiar).
A tutela incumbe aos parentes do menor, cabendo preferência aos
ascendentes mais próximos. Na falta destes, aos colaterais até o terceiro
grau ou, na pior das hipóteses, ao Magistrado (art. 1.744, I, CC) que
"nomeará tutor idôneo e residente 110 domicílio do menor" (art. 1.732, CC).
No intuito ,de manter os laços familiares originários, há de se
conferir um só tutor aos irmãos órfãos. Seria essa situação denominada
unidade da tutela. Nos casos dos "menores abandonados", a tutela deve
se implementar de modo que estes sejam "recolhidos a estabelecimento

ANDRÍ: MOTA, CRlSTJANO SOBRAL, LLTMNO FJGUEIREDO, RoBERTO FlGLT!REDO, SABRit;;A ÜOU:RAUO
441
I
DIREITO DE FAMÍLIA

Capítulo XIYl

público para este fim destinado". Na ausência desses estabelecimentos,


ficam sob a tutela das pessoas que, voluntária e gratuitamente, se
encarregarem da sua criação.
O impedimento do exercício da tutela se dar às pessoas conside-
radas pela lei, como impedidas de exerce-la. Fatores como a falta de
livre administração dos próprios bens; a obrigatoriedade para com
o menor, demanda em face deste, inimizade; conflito de interesses;
ou ainda porque foram condenados por crime, qualificando-se como
pessoas de mau procedimento, ou com falhas em probidade; culpadas
de abuso em tutorias anteriores bu, em arremate, porque exercerem
função pública incompatível com a boa administração da tutela, são
determinantes ao exercício àesse fün. <
Poderíamos enquadrar ainda ao lado dos impedidos de exercer
a tutela, aqueles que podem se escusar do múnus, ou seja, postular
a dispensa do dever da tutela. Entre tais pessoas se encontram as
mulheres casadas, os maiores de sessenta anos, aqueles que tiverem
sob autoridade mais de três filhos, os impossibilitados por enfermi-
dade, os que habitam longe do lugar onde se haja de exercer a tutela,
aqueles que já exercerem tutela ou curatel,; e os militares em serviço.
A escusa e o impedimento não se confundem. A este cabe indi-
cação do Juiz ex oficio, e, àquela exige postulação do interessado.
Uma vez designada a escusa, esta deve ser oposta nos dez dias
subsequentes, sob pena de entender-se a renúncia do direito de alega-
-la. Este prazo poderá ser contado ainda a partir do fato superveniente.
A escusa é passível de não ser admitida pelo Juiz. Neste caso
exercerá o nomeado a tutela enquanto o recurso eventualmente inter-
posto por este não for provido (reformando a decisão desfavorável).
Responderá, desde logo, pelas perdas e danos que o menor venha a
experimentar.
E qual seriam as atribuições do tutor?
De acordo com o artigo 1.740 do Código Civil compete ao tutor
dirigir a.çducação do tutelado, defendê-lo, prestar alimentos, adim-
plir os deveres dos pais, entre outras hipóteses, sempre se colhendo a
opinião do menor, especialmente se este já contar doze anos de idade,
administrando os bens do tutelado com zelo e boa-fé.
DIREITO DE fAMÍLIA )
/capítulo XIV

Não se restringem aí tais atribuições do tutor. Os artigos 1.747 a


1.750 do Código Civil enumeram outras de igual relevância. Sendo
digno de nota, por exemplo, a de "representar o menor, até os dezes-
seis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, ~pós essa idade, nos atos
em que for parte" (art. 1.747, I, CC). Tais competências elencadas no
artigo 1.747 serão praticadas livremente, sem que haja necessidade
de autorização do juiz. Já as competências previstas no artigo 1.478
dependem de autorização do juiz para o ato.
Estabelece o Código Civil ainda, as hipóteses em que o tutor não
esteja autorizado a agir, sob pena de nulidade. São elas: (art. 1.479, CC):
adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato particu-
lar. bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor; dispor dos bens
do menor a título gratuito; constituir-se cessionário de crédito ou de
direito, contra o menor.
Na impossibilidade do Magistrado de fiscalizar os atos do tutor, o
artigo 1.742, CC lhe autoriza a "nomear um protutor': ou seja, alguém
que atue nesta condição fiscalizadora.
Também é possível que sejam exigidos conhecimentos técnicos
acerca de determinados bens e interesses administrativos do tutelado,
ou se realizados em lugares distantes do domicílio do tutor. Neste caso
necessário se faz necessária a aprovação judicial para que se delegue
o exercício parcial da tutela a outras pessoas. Em qualquer situa-
çãof serão sempre os bens do menor entregues ao tutor, isso se dará
, mediante termo especificando tanto os bens, quanto os respectivos
valores. Ficará o Juiz condicionado ao exercício da tutela mediante a
prestação de caução bastante. Esta pode ser dispensada se o tutor for
pessoa idônea, razão pela qual: "Antes de assumir a tutela, o tutor
declarará tudo o que o menor lhe deva, sob pena de não lhe poder
cobrar, enquanto exerça a tutoria, salvo provando que não conhecia
o débito quando a assumiu" (art. 1.751, CC).
Reza ainda o artigo 1.752, CC: "O tutor responde pelos prejuízos
que, por culpa, ou dolo, causar ao tutelado; mas tem direito a ser pago
pelo que realmente despender no exercício da tutela, salvo no caso
do art. 1.734, e a perceber remuneração proporcional à importância
dos bens administrados. § 1º .Ao protutor será arbitrada uma grati-
ficação módica pela fiscalização efetuada. § 2º- São solidariamente

ANDRÉ MOTA, CRJSTIASO SOBRAL, LUCIANO F!GUURliDO, RüllERTO F!t.;UtlREPO, SABRJNA DOURAOO 443
responsáveis pelos prejuízos às pessoas, as quais competiam fiscalizar
a atividade do tutor, e as que concorreram para o dano".
A administração dos bens dos tutelados devem ser realizadas
pelos tutores. "No fim de cada ano de administração, os tutores
submeterão ao juiz o balanço respectivo, que, depois de aprovado, se
anexará aos autos do inventário", a teor do art. 1.756 do Código Civil.
Além do balanço anual os tutores prestarão contas de dois em
dois anos. Mesmo ao findar o exercício da tutela tal obrigação persiste.
Sempre que o Juiz achar conveniente, a situação pode se repetir. Extin-
guindo-se a tutela pela emancipação ou maioridade, persistirá o efeito
liberatório (ou seja, a quitação). As contas devem ser aprovadas pelo
Magistrado, subsistindo inteira, até então, a responsabilidade do tutor.

14.10. A CURATELA

Trata-se a curatela de um instituto mais amplo, dirige-se não ape-


nas aos demais i;ncapazes, absolutos ou relativos, maiores de dezoito
anos, como ainda ao nascituro, ao ausente, ao revel citado por edital,
entre outras hipóteses.
Apenas para efeito de exemplo e registro, nos termos do artigo
1.779 do Código Civil "Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai íalecer
estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar'; sendo que. de
acordo com o parágrafo único daquele preceito, "Se a mulher estiver
interdita, seu curador será o do nascituro".
De acordo com o artigo 1.767 do Código Civil, estão sujeitos a
curatela: I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade; II - os ébrio habituais e os viciados
em tóxico e III - os pródigos.
A curatela pressupõe devido processo legal judicial. A legitimi-
dade ativa será do: i. cônjuge ou companheiro; ii. parentes ou tutores;
iii. representante da entidade em que se encontre abrigado o interdi-
tado e iv. o Ministério Público (NCPC, art. 747). O Ministério Público,
porém, apenas terá legitimidade se os demais legitimados do art. 747

444 EDITORAARJVL.o.DOR I PRÁTIC\ CiVIL 1 3" edição


do NCPC não intentarem a demanda, forem incapazes e, ainda, esti-
vermos diante de uma doença mental grave (NCPC. art. 748).
É exigido ao Magistrado que entreviste o interditando, ~ que
poderá ser feito assistido por especialistas (NCPC. 751). Apos tal
entrevista, será conferido prazo de 15 d1as para que o mter~Jtando
ofereça a sua impugnação, sendo cabível assistência ~o seu co~jug~,
companheiro ou parente sucessível. Feita a tmpu~naçao, havera pen-
cia médica obrigatória (NCPC, art. 753) e dee1sao (NCPC, arts. 754
e 755). Decidida a curatela, deverá o curador ter assinalado os seus
limites de atuação, sempre em busca da integração social e melhora do
curatelado (CC, art. 1.777). Será o curador aquele que melhor defender
05
interesses do curatelado, devendo ser considerado, inclusive, as
preferências do curatelado.
E quem deve ser nomeado o curador?
N,; forma do artigo 1.775 do Código Civil, cabe a curatela ao
cônjuge, ou 0 companheiro, não separadojudicialment~ ou de fa~o.
Na falta destas pessoas, o curador devera ser ou o pai, ou a mae.
Na falta destes, o descendente que se demonstrar mcais apto, sendo que
"os mais próximos precedem aos mais remotos". Hodiern_amente, ~pós
a vigência da Lei 13.146/15, é viável, até mesmo, a nomeaçao de mms de
um curador, na chamada curatela compartilhada (art. 1.775-A do CC).
Havendo restabelecimento do interditado em sua saúde psíquica,
poderá formalizar judicialmente pedido de levantamento da inter-
dição, hipótese na qual cessará a curatela.
No mais, guia-se a curatela pelas mesmas regras concernentes
à tutela.
E o que seria a Tomada de Decisão Apoiada?
Inovando a legislação pretérita, a Lei 13.146/2015 (Estatuto da
Pessoa com Deficiência) inaugurou todo um novo capítulo, com um
único artigo (art. 1783-A), o qual contém onze parágrafos. Trata o artigo
em comento da chamada Tomada de Decisão Apoiada, tema sobre o
qual passaremos a tratar.
A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa
com deficiência elege, ao menos, 2 (duas) pessoas idôneas com as quais
mantenha vínculos e que gozem de sua confiança. Tais pessoas irão
prestar ao deficiente apoio na tomada de decisões sobre atos da vida

ANDRÊ MOTA, CR.lSTlA:-:O SOBRAL, LuClANO fJCUHREDO, RoBERTO flGUEIII.EDO, SARRlNA DOURADO
445
I
DIREITO DE FAMÍLIA

Capítulo XIV!

civil, fornecendo elementos e informações necessárias para o pleno


exercício da capacidade.
Procedimentalmente, o pedido de tomada de decisão apoiada
será feito pela pessoa com deficiência e os respectivos apoiadores,
junto ao Poder Judiciário. Neste pedido há de constar termo em que
limite-se o apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores,
bem como o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos
direitos e aos interesses da pessoa apoiada.
Que fique claro: pedido de tomada de decisão apoiada será reque-
rido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas
aptas a prestarem o apoio, as quais estarão concordes em prestar o
aiudiJ.o apoio.
Antes de se pronunciar sobre o pedido, o juiz, assistido por
equipe multidisciplinar e após a oitiva do Ministério Público, ouvirá
pessoalmente o deficiente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
Em sendo um apoio lilnitado aos termos do acordo, a tomada
de decisão por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros,
sem restrições, desde que, obviamente, inserida nos limites do apoio
acordado. Outrossim, terceiros com quem a pessoa apoiada mantenha
relação negocia! poderão solicitar que os apoiadores assinem o docu-
mento, especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado.
Para clarificar a situação, imagina-se que João, deficiente, ajuíze
um procedimento de tomada de decisão apoiada, indicando como seus
apoiadores Caio e Hugo, ambos concordes. João indica como limites
do apoio a alienação de bens. Nessa esteira, sempre que houver alie-
nações patrimoniais, haverá de existir apoio, podendo o comprador
do imóvel de João exigir que o ato seja subscrito por Caio e Hugo.
Caso o negócio jurídico possa trazer risco ou prejuízo relevante,
havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos
apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a
questão. Fala-se, aqui, em conflito entre os apoiadores apto a ocasionar
suprimento judicial. O juiz, obviamente, após a oitiva do Ministério
Público, decidirá atento ao pilar de proteção do vulnerável. Pergun-
tar-se-á o juiz: afinal, é bom para o apoiado a alienação deste bem?
Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida
ou não adimplir com suas respectivas obrigações, poderá a pessoa
DIREITO DE fAMÍLIA f
!capítulo XIV

apoiada, ou qualquer interessado, apresentar denúncia ao Ministério


Público, ou ao juiz. Procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador.
Havendo a destituição, o juiz ouvirá a pessoa apoiada e, em sendo
do interesse do apoiado, nomeará outrem para a pr,estação do apoio.
Mesmo tendo sido fixado prazo no termo d~ apoio, a pessoa
apoiada poderá, a qualquer tempo, solicitar o término do acordo
firmado, destituindo o apoio. Destarte, o apoiador também poderá
solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada
de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifes-
tação do juiz sobre a matéria.
Por fim, em sendo a tomada de decisão apoiada, em certa medida,
gestão de patrimônio alheio, os apoiadores haverão de prestar contas.
Logo, aplicar-se-á, no que couber, as disposições referentes à prestação
de contas da curatela à tomada de decisão apoiada.

14.ll. ADOÇÃO

Instituto jurídico que faz surgir uma nova família, dando azo da
família substituta. Os laços de parentesco do passado são apagados
(à exceção dos impedimentos matrimoniais que sempre existirão)
assegurando direitos e deveres jurídicos e, desta forma, atribuindo a
.condição de filho ao adotado.
É preciso que aquele que deseja adotar seja pessoa maior de
dezoito anos, salvo na hipótese de um casal em que um deles tenha
completado a maioridade e comprove a estabilidade da família.
A única exceção à regra; seria nos casos de um menor de dezoito anos
desejar adotar, este deverá estar casado ou em união estável como
alguém maior de dezoito.
Em fiel respeito à eticidade e à boa fé objetiva, tutores e curadores
somente poderão adotar após a prestação (aprovação) das contas dos
tutelados e curatelados, inclusive com a quitação de eventuais débitos.
Assim, outras particularidades são exigidas, como a diferença de 16
anos de idade entre o adotante e o adotado.

447
Concebida como ficção jurídica que imita a realidade biológica a
observância dos requisitos designados pressupõe um processo judi-
cial. O consentimento dos pais ou de quem deseja adotar, bem comJ
dos representantes legais, seria outro requisito aventado. A concor-
dância do adotado também é considerada caso este conte com ma[s
de doze anos.
Dispensa-se o consentimento apenas se os pais desta pessoa
forem desconhecidos, ou destituídos do pod"r familiar, por razões
intuitivas.
A revogação do aludido consentimento é possível até a publicação
da sentença constitutiva da adoção.
Casais homoafetivos podem adotar como entendeu o Superior
Tribunal de Justiça e ainda os divorciados e separados judicialmente,
desde que acordem sobre a guarda, regulação de visitas e alimentos,
sempre no melhor interesse da pessoa adotada e desde que o estágio
de convivência tenha sido iniciado na constância desta sociedade.
Ainda de acordo com o princípio da proteção integral, o mesmo
aplicado para a guarda, a adoção existe em melhor benefício do a do·
tando dispensando-se o consentimento do representante legal do
menor, se provado, por exemplo, que os pais são desconhecidos, ou
tenham sido destituídos do poder familiar, entre outras situações que
serão ponderadas pelo Juízo de Família.
Cabe direito subjetivo ao adotando, como por exemplo o direito
de alterar o sobrenome ou até o prenome, se menor e desde que haja
pleito neste sentido.
Necessário o trânsito em julgado do processo para que prevale·
çam os efeitos da adoção, exceto se o adotante vier a falecer no curso
do procedimento, caso em que terá força retroativa à data do óbito.

448 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


CAPÍTULO XV.

DIREITO DAS SucEssõEs

15.l. INTRODUÇÃO AO DIREITO HEREDITÁRIO

o direito hereditário é o conjunto de normas (princípios e regras)


que regulamentam a transferência do patrimônio de uma pessoa
lf' · ) b orno a sua última vontade, para depOIS da sua morte.
, IS!Ca, em c . d l'd d d
De acordo com a legislação vigente, ex1stem duas mo a 1 a es . e
• , legítima 'ab intestato) e a testamentária.
sucessoes. a ' 'b' s
. ·to sucessório tem corno pressuposto fático o o !lo. em a
O d rrm , . T t
existência do de cujus não se pode aplicar o direito sucessono. an o
·t ·
lSOecer t o que, no Brasil' 0 art. 426 do CC proíbe o contrato
, .que
. tenha
, .
comooJeOb" t a herança de pessoa viva. Na prova, este negocm Jund1co,.
d
Poesere d nominado de pacto sucessório, ou sucessão pacl!c1a, A·'
ou
m esmo pac to de corvina. Sendo vedado em lei, a .consequenCia ,e .a
nulidade (CC, art. 166, Vil), afinal de contas a vahdade do negoCio
jurídico exige objeto lícito ou não pr01b1do (CC, art. 104).

• • L.. frGLrFJREDO ROBEftTO FH.;n.JREJJO, SABRl'~A DOURADO


449
A..'>IDRI: MOTA, CRJST!ANO :iOBRAL, I.•UAN 0 ' '
!DIREITO DAS SUCESSÕES
Capítulo XV l
Neste contexto, reza o art. 1784 do CC que a sucessão ocorre exa-
tamente no momento da morte, quando o patrimônio da pessoa de
cuja a herança estamos a tratar- de cujus -transmite-se imediatamente
aos herdeiros por força desta ficção jurídica denominada tecnicamente
Saisi11e ou Droit Saisine.
É muito importante recordar o instituto da Saisine. Para o direito,
a propriedade não deve existir sem dono, afinal de contas deverá
atender a uma função social. Assim, desde o momento da morte, esta
propriedade será imediatamente transmitida aos herdeiros, aspecto
que justificará até mesmo o caráter perpétuo da propriedade.

15.2. ACEITAÇÃO DA HERANÇA

A ficção jurídica da Saisine que impõe a transferência imediata


do patrimônio do de cujus para os herdeiros estará condicionada à
aceitação, ou mesmo à renúncia por parte destes últimos, tendo em
vista que não há obrigatoriedade de recebimento da herança no BrasiL
A aceitação da herança é disciplinada no art. 1.805 do CC e pode
ser expressa ou tácita.
A aceitação é expressa quando o herdeiro se manifesta de forma
escrita, seja por meio de instrumento particular, seja por instrumento
pública. Há, pois, ato comissivo, inequívoco. O herdeiro afirma expres-
samente que deseja receber a herança.
A aceitação é tácita quando, apesar de não se manifestar de forma
escrita e inequívoca, o herdeiro pratica condutas típicas de quem
efetivamente deseja receber a herança, ou seja, típica de quem aceita.
Importa notar, entretanto, que atos de mera administração,
denominados pela lei de oficiosos, como o pagamento de funeral,
bem como atos de guarda provisória não configuram aceitação tácita.
Outro detalhe importante para a sua prova é recordar que jamais
será permitido aceitar uma herança antes de aberta a sucessão, seja
porque o direito hereditário, como vimos, pressupôe o óbito para inci-
dir, seja, finalmente, porque o art. 426 do CC veda o pacto de corvina.
Capítulo XV
ÜlREITO DAS SUCESSÕES I

15.3. RENÚNCIA DA HERANÇA

Como não há obrigatoriedade em se aceitar a herar.1ça, será pos-


sível ao herdeiro simplesmente abdicar do seu quinhão, 'caso em que
será tido como se nunca tivesse herdado. A aceitação e a renúncia terão
efeito ex tuuc, de forma que retroagiram à data do óbito.
O ato de renunciar significa uma diminuição do patrimônio jurí-
dico de quem renuncia, razão pela qual não poderá ser presumido,
como se. extrai de uma interpretação sistêmica entre o art. 114 e 1806
do CC. E dizer: a renúncia deverá ser expressa, ou por instrumento
público ou por termo nos autos.
Uma vez renunciada a herança, a quota-parte do renunciante
retorna ao monte-mor para ser distribuída aos demais herdeiros da
mesma classe ou, na falta destes, aos da classe seguinte, de acordo
com a ordem de vocação hereditária prevista no art. 1829 do CC.
Uma pegadinha muito comum diz respeito à inexistência do
direito de representação para a hipótese de renúncia da herança, de
maneira que não se pode admitir que o patrimônio objeto da renúncia
seja deferido ao representante do renunciante. A quota-parte deste
apenas poderia ser transmitida aos seus descendentes por cabeça e
por direito próprio, de modo que não incide o direito de representação.
Tendo em vista os princípios da eticidade, da boa-fé e da função
. social, é claro que haverá restrição ao direito de renunciar. Um belo
exemplo disto ocorre para casos nos quais o renunciante é devedor e
pratica ato de renúncia em nítida fraude contra credores. Neste caso,
ou os credores agitam a conhecida ação pauliana, ou apresentam
requerimento ao juiz do inventário, quando, então, irão aceitar a
herança em nome do renunciante e receber o crédito devido.
Finalmente, recorde-se que o ato de aceitar ou renunciar a herança
é irrevogável e não se submete à condição, termo, modo ou encargo.
Portanto, não será possível a retratação da renúncia e da aceitação.
. Isto é evidente. A consequência de uma renúncia, por exemplo,
e o surgimento a um só tempo de um ato jurídico perfeito e acabado,
bem como de um direito adquirido de quem venha à receber 0 alu-
dido quinhão.

ANI)IIÉ MOTA. (R!~T!liNO SOBRAL, LUCIANO FtGU!ilREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SA!>RlNA DoURADO
451
Capítulo XV I
'

Perceba, entretanto, que será possível invalidar o ato (de aceita-


ção ou renúncia) se o mesmo for praticado em situação de nulidade
absoluta (CC, 166) ou de nulidade relativa (CC, 171). Em síntese: não
se pode r<lvogar, mas será possível invalidar.
Finalmente, é de se recordar a autonomia dos quinhões. o her-
deiro poderá aceitar um quinhão e renunciar outro

15.4. NATUREZA JURÍDICA DA HERANÇA

Existe f undarnento jurídico para se exigir que a renúncia da


herança, ou mesmo a cessão de direito hereditário (CC, 1793) se dê·
por escritura púhlka. Este fundamento jllrídico e~tá nn n;:~t11H'Zr1 o8
herança que, à luz do art. 80, li, CC é considerada como imóvel, bem
corno condomínio indivisível típico de um juízo universal (art. 91 e
1.791, CC).

15.5. TERMINOLOGIAS IMPORTANTES

Na ho:a da prova, o candidato deve recordar de importantes


terrnmolog1as para a resolução das questões. Lembre-se, por exem-
plo, qu~ o herdeiro legítimo será sempre aquele referido na vocação
hereditana (art. 1.829, CC), para casos de sucessão ab intestato, ou seja
sem testamento.
Já os herdeiros necessários são aqueles previstos no art. 1845 do
CC titulares do direito à metade da herança, a que se convencionou
chamar de legítima, a teor do art. 1846 do mesmo CC. Os herdeiros
necessários são os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
_ Os herdeiros legítimos facultativos são os colaterais, que podem
nao receber a herança acaso haja testamento neste sentido. De fato, os
colaterais são herdeiros legítimos porque estão referidos na sucessão
legítima (sem testamento), mas serão facultativos porque podem não
receber a herança.

452
EunmtA ARMADOR 1 PRÁTICA GVIL 1 Y edição
rüpítul~ XV

Os herdeiros universais são aqueles titulares de um quinhão,


urna universalidade.
Legatário será o herdeiro que venha a receber uma coisa deter-
minada, certa, individualizada.
Herdeiro testamentário, nomeado ou instituído como já se
pod•'' imaginar será aquele que se beneficiou de urna sucessão em
dec~rrência de testamento, ou de ato de última vontade.

15.6. O FORO PARA AJUIZAMENTO DO INVENTÁRIO E


A ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA

Na melhor forma do art. 1795 do CC e do art. 23, li, bem como os


arts. 48 e 96 do CPC/15 a sucessão será aberta no foro ào último domi-
cílio do de cujus e processada pela autoridade judicial brasileira. Toda
a atenção agora, pois este será o local competente para a propositura
da ação de inventário judicial.
Esta regra, entretanto, sobre exceções para casos concretos. Se o
autor da herança não possuía domicílio certo, será competente o foro
da situação dos bens imóveis (inciso I, art. 48, CPC/15). Se existirem
bens imóveis e:U foros diferentes, a competência será de qualquer
um destes foros (inciso li, art. 48, CPC/15). Finalmente, não havendo
bens imóveis, o foro competente será do local de qualquer dos bens
do espólio (inciso l!l, art. 48, CPC/15).
Perceba que tais questões são de processo civil e pressupõem
uma demanda judicial. Significa isto dizer que sendo o inventário
extrajudicial o mesmo poderá ser realizado em qualquer tabelionato
do país, pois restringir-se-á à elaboração de mera escritura pública.

15.7. A CESSÃO DOS DIREITOS HEREDITÃRIOS

Na melhor forma do art. 1791 do CC a herança será deferida como


um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros. Deste modo,

453
l DIREITO DAS SUCESSÕES
l
Capítulo XV

até a partilha o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse


da herança será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao
condomínio. Prossegue o art. 1793 do CC permitindo a cessão por
escritura pública do quinhão hereditário, evidentemente após aberta
a sucessão, certo como era e é que não há herança de pessoa viva.
Esta cessão de direito hereditário há de respeitar a preferência
legal em benefício dos outros herdeiros que, por conta disto, terão
direito de obter a cessão nas mesmas condições ofertadas à terceiros.
A este respeito, o art. 1.795 do CC segundo o qual o coerdeíro, a quem
não se der conhecimento da c<essão, poderá, depositado o preço, haver
para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta
dias apos a transmissão.
o

15.8. A RESPONSABILIDADE CIVIL E O DIREITO


HEREDITÁRIO

É do art. 943 do CC a disciplina de que "O direito de exigir a repara-


ção e a obrigação de prestá-la se transmitem com a herança". Não há dúvida:
o dever de reparar um dano, ou o direito de receber uma indenização,
se transferem hereditariamente.
Contudo, há um limite para isto denominado de forças da herança
e disciplinado no art. 1792 do CC "O herdeiro não responde por encargos
superiores às forças da herança·; sendo dele o ônus da "prova do excesso,
salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herda-
dos". Surge neste momento a figura do inventário negativo, criada pela
doutrina e jurisprudência e que se presta, exatamente, para o herdeiro
noticiar a ocorrência do óbito de alguém que não deixou patrimônio
e, com isto, eximir-se do ônus da prova de não ter recebido herança.

15.9. QUEM PODE E QUEM NÁO PODE RECEBER A


HERANÇA

O tema é bem compreendido a partir do art. 1798 do CC segundo


o qual se legitimam a suceder as "pessoas nascidas ou já concebidas no
DIREITO DAS SUCESSÕES l
jcapítulo XV

momento da abertura da sucessão" (art. 1.789). Aplica-se à sucessão a lei


do tempo do óbito sendo esta a norma que também disciplinará os
sujeitos legitimados à suceder.
Destaque na revisão deste estudo para a prova a figura[ testa-
mentária da prole eventual gerada após o óbito (arts. 1.799, 1.800, CC).
Veja além disto, que a lei civi: permite o recebimento de herança por
pessoa jurídica, atual ou futura à exemplo de uma fundação.
Agora vamos recordar as pessoas que não podem receber a
herança.
Não podem receber a herança o concubino, o deserdado, o indigno
(art. 1.802, CC), assim como quem escreveu o testamento, seu cônjuge
au companheiro, ao:::cl"'ndente<:: e irm~os, as tt:>stemun h a c; do testamento
e o tabelião, seja civil ou militar (art. 1801, CC).
Ante a proibição legal, será nula de pleno direito o benefício
dirigido a tais pessoas.
Atenção! Evidentemente que será possível a deixa testamentária
para o filho fruto de um concubinato (art. 1803, CC). E não poderia ser
diferente, afinal de contas o Texto Constitucional veda a discriminação
filial (CF, art. 227, § 6º). Esta matéria está pacificada na jurisprudência
(STF, súmula 447).

15.10. DOS EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO

Os arts. 1814 à 1818 do CC disciplinam o instituto da indignidade,


que ocorre mediante ação ordinária na qual o juízo sucessório apliêa
uma pena, mediante sentença judicial, para as seguintes hipóteses
taxativas: autoria, coautoria ou participação do réu em homicídio
doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar,
seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; calunia em
juízo contra o autor da herança, ou crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro; emprego de violência ou meios fraudulentos
para inibir ou obstar o autor da herança de dispor livremente de seus
bens por ato de última vontade.

ANDR.Í' MOTA, CRISTIANO SosRAL, LUCIANO F!GUH!RliDO, Ro6F.II.TO FIGU!:IRISDO, $!\fiRHú\ 00URAPO 455
Capítulo XV

. . Sendo uma sanção, a indignidade é personalíssima (CF, at. 5º,


mcrso ~LV), não podendo transbordar a pessoa do apenado, afinal de
co:'tas nullu_m patrzs delictum delictum innocentifilio poena este" (nenhum
cruue do pru pode prejudicar o filho inocente).
Este aspecto permite que o herdeiro do indigno excluído da
herança poss~ recebê-la em direito de representação, como se morto
fosse o exclurdo. Esta é uma situação curiosa em que, excepcional-
mente, admthr-se representação de pessoa viva.
. A in~ign~dade exige processo judicial ante o princípio constitu-
Cional d~ mocencm; de forma que será preciso àquele que desejar obter
a exclusao de alguem da herança o ajuizamento desta ação ordinária,
gara~mdo-se a ampla defesa, o contraditório e o devido processo legal.
. . eja, ao final, que o art. 1.Sl8 do CC permite a reabilitação do·
1nd1o-nn
b ·--qu::tnrin rm::u:::cre
-·~--·-r~-~ p.· o Sf! 0 OJf!f!W!!O
- V_. r J• J 0 tr!H!f exprt>c:c:nnwr/l·p rpn/,1_

fitado em testamento, ou em outro ato autêntico'; ou aind;·;;c~~;~:,;;Í~do


em testamento do ofendido, quando o testad01; ao testm; já conhecia a causa
da mdzgmdade". Esta reabilitação equivale a um perdão e permitirá 0
mdrgno receber o quinhão hereditário.

15.11. DESERDAÇÃO

A deserdação somente pode existir ~e o autor da herança fizer


um te~tam.ento. Szm, a deserdação pressupõe um testamento e tem
fomo finalidade privar os herdeiros necessários da legítima. Como
~e perc~be a deserdação é bem específica e possui finalidade própria.
E especifica porque pressupõe testamento. Sem o testamento não há
falar-se :mdeserdação. Possui finalidade própria porque se destina
apenas a pnvar os herdeiros necessários (1845, CC) da legítima que
lhes pertenceria (1846, CC).
. Em síntes:: esta pena hereditária aplicável mediante ação ordiná-
na de deserdaçao com todas as garantias de contraditório, ampla defesa
e devido processo, incide somente contra os herdeiros necessários.
. . As hipóteses de deserdação são todas aquelas previstas para a
mdrgmdade (art. 1814, CC) acrescida de outras situações, previstas

456 EDITORA ARM.\DOR 1 PRÁTJCA Civu. 1 3" edição


~tulo XV

entre os arts. 1961 e 1962 do CC, tais como ofensa física, injúria grave,
relações ilícitas familiares e desamparo.
Tanto a decretação da indignidade, quanto da deserdação sub-
metem-se a um prazo decadencial de 4 (quatro) anos, que se inicia
deste o óbito. Desta forma, aberta a sucessão, o interessado terá até 4
(quatro) ar: os para ajuizar a ação ordinária, sob pena de decadência.

15.12. HERANÇA JACENTE VERSUS HERANÇA


VACANTE

Inicialmente, recorde-se que este assunto também possui pre-


visão no CPC/15 nos arts. 75, VI, bem como 738 a 743. Exploraremos
aqui, entretanto, a previsão à iuz du direito material, sendo também
indicada a leitura do art. 1819 do CC.
A herança jacente pressupõe uma situação jurídica de dúvida.
Vale dizer, alguém falece e não deixa herdeiros notoriamente conhe-
cidos. Outra hipótese de jacência ocorre quando a herança deixa de
ser aceita pelos herdeiros conhecidos.
A jacência é esta situação jurídica de dúvida a impor a instaura-
ção de um procedimento judicial que tenha como objetivo eliminar
este estado provisório, temporário, de incerteza acerca de eventuais
herdeiros do finado. Assim, instaura-se um processo de jacência, publi-
cam-se editais. Se no curso deste procedimento surgirem herdeiros, o
processo de jacência poderá ser convertido em inventário. Se nenhum
herdeiro surgir, a hipótese será de vacância.
A jacência é tida como um ente despersonalizado, uma massa
patrimonial submetida a um curador, que a administra, sob fiscali-
zação do juiz de Direito.
Após um ano do primeiro edital o juiz da Causa sentenciará o
processo e decretará a herança vacante (art. 1820), quando o Município,
em regra, recebe a propriedade.
Neste momento de decretação da vacância os herdeiros colate-
rais não mais poderão se habilitar (decaíram no direito de receber a
herança). já os herdeiros necessários ainda terão cinco anos de prazo

ANDRÊ MOTA, (RISTLA.l>IO SOBRAL, LUCIANO FJGUEIRI:DO, ROBERTO f1GUEIRI>DO, SABRlNA ÜOUIL"'DO
457
I DIREITO DAS SUCESSÕES
Capítulo XV

após a sentença de vacância para postular o recebimento dos quinhões


(art.1822 CC). É como se houvesse, durante este período, uma situação
de propriedade resolúvel em face do Município.
A herança, quando da vacância, será constituída em favor do
Município ou do Distrito Federal, via de regra.

15.13. PETIÇÃO DA HERANÇA

Trata-se de uma ação ordinária prevista no art. 1824 do CC por


meio da qual alguém se afirma herdeiro e postula o seu quinhão here-
ditária, formulando basicamente dois pedidos de mérito, o primeiro
que se lhe reconheça a qualidade de herdeiro, o segundo que se lhe
entregue a cota-parte hereditária.
O primeiro pleito (reconhecimento de uma relação de parentesco)
é imprescritível por envolve estado civil, direito da personalidade.
O segundo, entretanto, terá natureza patrimonial, pois visa o recebi-
mento de patrimônio hereditário.
Justamente por isto foi que o Supremo Tribunal Federal exa-
rou a súmula 149 segundo a qual é imprescritível a investigação de
paternidade, porém não o é a petição de herança. Vale a pena conferir.
O autor deste pleito é o suposto herdeiro. O réu os coerdeiros ou
co-possuidores. O juízo competente a Vara de Sucessões. O procedi-
mento será o comum ordinário.

15.14. A ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

O art. 1829 do CC disciplina a ordem de vocação hereditária, ou


seja, uma relação de pessoas convocadas à receber a herança ante a
falta de testamento do de cujus, e de acordo com uma preferência legal
distribuída entre classes, graus e linhagens.
Esta ordem de vocação hereditária é construída com fundamento
na relação de parentesco, incluindo ainda o cônjuge sobrevivente.
DIREITO DAS SUCESSÕES j
fCapíwlo XV

A ideia é que os parentes mais próximos recebam no lugar dos paren-


tes mais distantes.
Os descendentes são os herdeiros de primeira classe (1829, I do
CC). Preferem aos demais. São os primeiros convocados à receber a1I
herança. De acordo com o art. 1.835 do CC "Na linha descendente, os
filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes por cabeça ou por estirpe,
conforme se achem ou não nO mesmo grau".
É preciso recordar, então, o direito de representação porque na
linha dos ascendentes será possível surgir uma situação de premo-
riência.
Em outras palavras: há possibilidade de descendentes de graus
d!·versos concorrerem à mesma heranca. '
Neste caso. al2:u ns destes ~

receberão por cabeça, sendo que outros receberão por estirpe (direito
de representação).
Na sucessão dos descendentes o cônjuge, à depender do regime de
bens, concorrerá com estes (art. 1.829, inciso I, CC). Portanto, existirão
hipóteses nas quais o cônjuge sobrevivente não concorrerá, e hipóteses
nas quais concorrerá. Atente-se a isto.
Nos casos de comunhão universal, separação obrigatória e
comunhão parcial sem bens particulares, o cônjuge sobrevivente
não concorrerá, de maneira que apenas os descendentes receberão
a herança.
O cônjuge sobrevivente somente concorrerá com os descendentes
·no regime da separação convencional de bens ou na comunhão parcial
com bens particulares, ou na participação final nos aquestos.
O art. 1.832 do CC assegura ao cônjuge sobrevivente "quinhão
igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior
à quarta parte se for ascendente dos herdeiros com que concorre". O preceito
normativo assegura a reserva hereditária mínima de %em benefício
do cônjuge sobrevivente para os casos em que este seja ascendente
dos herdeiros em face de quem concorrer.
Na falta de descendentes, os ascendentes serão chamados à
concorrer e sucederão com o cônjuge residual independentemente do
regime de bens (art. 1.836, CC). Isto é muito importante de se desta-
car. Pouco importa o regime de bens: o cônjuge sobrevivente sempre
concorrerá com os ascendentes.

AN"DRf MOTA, CJUSTMNO SOBRAL, LtK!ANO FlG\JEI!U:DO, RO!IIRTO flGUEIREilO, SAB!t!NA DOtfn,\DO 459
Capítulo XV 1

O princípio da proximidade continuará sendo respeitado. Desta


forma, o ascendentes mais próximo receberá a herança em detrimento
do mais distante (art. 1.836, p.u.).
Recorde-se, ademais disto, que na ascendência o herdeiro rece-
berá apenas por cabeça, isto porque não há direito de representação
na ascendência (art. 1.852, CC).
A distribuição da herança na hipótese de ascendentes (art. 1837
CC) ocorrerá da seguinte maneira: só havendo ascendentes em pri-
meiro grau, receberá um terço da herança. Nos demais casos, caber-
-lhe-á metade do acervo hereditário.
"Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por
inteiro ao cônjuge sobrevivente" (1.838, CC). Portanto, o cônjuge é o her-
deiro da terceira classe. Significa isto dizer que na falta de descendentes
e ascendentes receberá toda a herança.
Para tanto (CC, 1830) este cônjuge residual não poderá estar sepa-
rado há mais de dois anos, pois isto afasta o direito ao recebimento
da herança.
Os colaterais são os herdeiros de quarta e última classe (CC,
1829, IV). Receberão na falta de descendentes, ascendentes, cônjuge e,
atente-se, na falta de testamento distribuindo a herança para outras
pessoas. Por isto é que se chamam herdeiros facultativos.
Veja o ar. 1.840 do CC: "Na classe dos colaterais, os mais próximos
exr:luem os mais remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos
de irmãos".
Regra importante sobre os colaterais está no direito de represen-
tação destes, que apenas acontecerá para "filhos de irmãos do falecido,
quando com irmãos deste concorrerem" (art. 1.853, CC).
Agora, a última reflexão sobre os colaterais. De acordo com o art.
1.841 do CC "concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos
unilaterais, cada um destes herdara metade do que cada um daqueles herdar".
O meio irmão recebe meia herança.
Os sobrinhos herdam na falta dos irmãos (art. 1.843, CC). Não
havendo irmãos, ou sobrinhos, os tios recebem a herança. Na falta de
todos estes, os sobrinhos netos, tios· avós e primos irmãos do finado.
Na falta de colaterais, a herança é vacante e o município a receberá,
via de regra.

460 EmTOM ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL 1 3" edição


15 .15 . 0 DIREITO REAL DE HABITAÇÃO

0 direito real de habitação está previsto no art. 1.831 do CC, assiU:


. "d . n Ao cÔnJ'uge sobrevivente, qualquer que seJa o reg•me de bens, sera
re dlgl o. n. .
eJ.UÍ70 da participação que lhe cmba na herança, o !fel o
a· 't
assegura do, sem Pr - _ , . .. . ~z·
real de habitação i·elativamente ao imóvel destmado a ,;es!dencw da fam• !a,
desde que seja o único daquela natureza a mventanar . . .
· clara: garante ao cônJ·uge sobreviVente um d1reüo here-
A regra e f · -
ditário que não é de propriedade, mas apenas de uso, gozo e rmçao
'fica !11·po'tese deste não ter onde morar, ou seja, para o
para a espec1 . , . . ,
caso do mesmo não ser propnetano de outro Imove~. ,
Este direito real de habitação é cogente, legaL Nao dependera de
escn·t ura pu· bl 1·ca, pois decorre da própria aplicação do. art. . 1831 do
• ~----1-e'~ ~ ;.,..........,,....rt::\nh:. tPcordar oue o duelto real de
LL LOn[uuu LaHtu lH .;.. LU't''-'" ----~~ - - ._ .
habitação pode ser voluntário e não hereditário, constituído mediante
escn·tura pu· bl1·ca registrada em cartório, na melhor forma do art. 167,
inciso I, § 72 da Lei de Registros Públicos. .
A doutrina cristalizada no Enunciado 117 do CJF afirm: que ?ste
direito real de habitação também existe para os casos de_ umao estavel
f d Léi Federal n2 9278/96 e à vista do direito soCial de moradm
pororçaa , 'd"d. . ld
·
previsto no ar t . 62 da CF. Eis 0 conteudo . do .enunCia_ o o . 1rezto rea e
b ·t - d ser estendido ao companhe!To, seJa
Iw-zaçaoeve- . por nao_ter szdo~·
revogada a
· - da L et· n-' 9......?78/96, seJ·a em razão da mterpretaçao analog•ca do art.
prnnsao
1.831, ;11formado pelo art. 6º, caput, da CF/88".

15.16. A SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL

o futuro advogado deve saber que a legislação cível possui disci-


plina sucessória diferenciada para os casos de união :stável. A ordem
de vocação hereditária prevista no art. 1829 do CC nao se aphca para
casos de união 'estável.

• S LUCl\NO FIGUEIREDO ROBERTO FIGUEIREDO, SABIUSA DOURADO


461
A ~\)RJ; MOTA, CRISTIANO OBRAL, • '
!DIREITO DAS SUCESSÕES
Capítulo XV

O art. 1.790 do CC apresenta o tema da sucessão do companheiro,


de modo que está revogado o art. 2º, da Lei Federal nº 8.971/94, afinal
de, contas a lei nova revoga a lei mais antiga (LINDB, art. 2º).
' De acordo com o CC o companheiro participará hereditariamente
sobre os bens onerosamente adquiridos na constância da união estável.
Para facilitar o entendimento basta o futuro aprovado observar que
existirão, basicamente, dois conjuntos de patrimônios deixados pelo
companheiro: (i) os bens onerosamente adquiridos, sobre os quais o
companheiro sobrevivente participará, (ii) os demais bens, sobre os
quais o companheiro sobrevivente não participará.
Em síntese: este companheiro sobrevivente, além de meeiro, par-
ticipará da sucessão relativa aos bens onerosarncntc adquiridos, mas
não participará sobre os demais bens (quais sejam os bens gratuitos,
incomunicáveis, anteriores à união estável, etc).
Na forma do inciso I do art. 1790 do CC o companheiro sobrevi-
vente participará da herança quando possuir filhos comuns com o de
cujus, situação na qual receberá o mesmo quinhão que cada um destes
filhos comuns vier a receber, sobre os bens onerosamente adquiridos
durante a união estável.
Recorde-se que o companheiro somente participa sobre os bens
onerosamente adquiridos. Portanto, os demais bens (gratuitos, inco-
municáveis, anteriores à união estável, etc) serão objeto de herança
apenas dos filhos comuns.
Apesar do inciso I, do art. 1.790 do CC abordar apenas os filhos
comuns o Enunciado 266 do CJF amplia a interpretação para afirmar
que este entendimento se aplica também para todos os demais des-
cendentes comuns. Evidentemente que se trata de um entendimento
da doutrina majoritária. Nada obstante, deve-se estar atento à isto.
O inciso II do art. 1790 do CC disciplina outra situação jurídica,
qual seja quando os descendentes são apenas do finado companheiro.
Nesta hipótese de descendentes exclusivos o companheiro sobrevi-
vente herdará apenas metade do que cada um dos descendentes exclu-
sivos do de cujus vier a receber. Este inciso deverá ser interpretado à luz
do caput do art. 1790 do CC de modo que esta participação continuará
se dando somente sobre os bens onerosamente adquiridos, isto porque

r~·----, A n•• '""v I P11:iTICA CIVIL j 3" ediÇãO


DIREITO DAS SUCESSÕES f
r Capítulo XV

sobre os demais bens (gratuitos, incomunicáveis, anteriores à união


estável, etc) o companheiro sobrevivente não concorrerá.
O inciso Ili do artigo 1.790 do CC discipÚna uma hipótese suces-
sória interessante, qual seja a de o companheiro sobrevivente não
houver deixado descendentes. Neste caso, a participação sucessória do
companheiro sobrevivente será com os "outros parentes'; englobando
neste preceito os ascendentes e colaterais.
De acordo com a norma, o companheiro residual apenas rece-
berá 1/3 dos bens onerosamente adquiridos durante a união estável.
Recorde-se que este não participará da herança sobre os demais bens
(gratuitos, incomunicáveis, anteriores à união estável, etc).
Já os "outros parentes" (ou ascendentes, ou colaterais) todos os bens
não onerosos e ainda herdarão 2/3 dos bens onerosamente adquiridos
ao longo da união estável.
De acordo com o inciso IV do art. 1790 do CC em não havendo
parente algum o companheiro residual receberá toda a herança.

15.17. DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

A melhor forma de se identificar na prova a existência de um


direito de representação é verificar a existência de uma premoriência.
· Sim, o direito de representação exige a premoriência, via de regra.
Conforme art. 1851 do CC havendo um pré-morto no momento da
abertura da sucessão será chamado à suceder o descendente deste, por
estirpe, ou seja, por direito de representação: a denominada sucessão
indireta.
Recorde-se que a sucessão pode ser direta (por cabeça), ou indi-
reta (por estirpe).
Alguns cuidados precisam ser relembrados. Em primeiro lugar,
observe que o direito de representação pode ocorrer em casos de
indignidade, na melhor forma do art. 1816 do CC. Porém, o direito de
representação não acontecesse em casos de renúncia. Este é um dos
temas mais explorados pela sua banca de prova. Veja, em segundo
lugar, que não há direito de representação na ascendência.

ANDRÉ MOTA, CRlSTli\NO SOBRAL, LuCIANO fiGUlm:tEDO, RoB[RTO fiGUEIRllDO, $ABRINA DOURADO 463
Capítulo XV !

A teor do art. 1.852 do CC não há direito de representação na


ascendência. Na colateralidade se permite o direito de representação
apenas "em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando com irmão deste
concorrerem" (art. 1.853, CC).
Os representantes herdam exatamente aquilo que o pré-morto
herdaria se vivo fosse: nem mais, nem menos (art. 1.854, CC).
Em arremate, recorde-se que o renunciante à herança de uma
pessoa poderá representá-la na sucessão de outra (art. 1.856, CC), isto
porque a renúncia deve sempre ser interpretada de forma restritiva
(CC, 114).

15.18. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

O testamento é um negócio jurídico revogável que expressa a


real vontade do autor da herança. Por este mecanismo, é possível se
d1spor, no todo ou em parte, do patrimônio ou de sua última vontade,
para depois de sua morte (art. 1.857, § 2º, CC).
Uma das grandes novidades hoje debatidas no direito testa-
mentário é o chamado testamento vital, bem conceituado através do
Enunciado 528 da V do CJF, segundo o qual: "É válida a declaração de
vontade expressa em documento autêntico, também chamado "testamento
vital'; em que a pessoa estabelece disposições sobre o tipo de tratamento de
saúde, ou não tratamento, que deseja no caso de se encontrar sem condições
de manifestar a sua vontade".
Deve-se recordar que este negócio jurídico é essencialmente
gratuito, solene, personalíssimo e revogável. Sendo personalíssimo,
a lei não ~ermitirá que este negócio jurídico se dê de forma conjunta,
ou de mao comum, ou mesmo de forma simultânea, recíproca ou
correspectiva (art. 1863 CC),.
Importante iniciar o tema do testamento a partir do art. 1.857 do
CC segundo o qual "toda pessoa pode dispor por testamento da totalidade
de seus bens ou de parte deles, para depois de sua morte", respeitando-se,
evidentemente, a legítima dos herdeiros necessários que "não poderá
ser incluída no testamento".

464 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3" edição


\capítulo Xv
'
A partir dos 16 anos já será possível elaborar o testamento. Sim,
a capacidade testamentária começa aos 16 anos, conforme autonza o
parágrafo único do art. 1860 do CC. . , . .
É importante relacionar a capaCidade testamentana com o ms-
titulo das incapacidades absolutas e relativas, a que aludem os arts.
3º e 4º do CC. ,
Neste particular, observe-se que o surdo mudo está autorizado à
fazer testamento por força de específico preceito legal (art. 1.866, CC).
Eis teor da norma: "o indivíduo inteiramente surdo, que saiba ler, lerá seu
0
testamento, e se não souber, designará quem o leia em seu lugar/ presentes as
testemunhas". Também é importante notar que o cego (art. 1.867, CC) e o
analfabeto (art. 1.869, CC) estão autorizados à confeccionar testamentos.
Com advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei Federal
0
13.149/15) a teoria das incapacidades sofreu importante alteração, daí
porque recomendamos a leitura da reÍeriJa lei e:x~ravagantc.
0 art. 1859 do CC prevê o prazo decadenoal de 5 anos para
impugnar a validade do testamento, contado a partir da_data do ~eu
registro. Neste caso, ao interessado comp.et~ aJUI~ar ~çao ord1nana
de impugnação ao testamento perante o JUiZO pnvahvo da vara de
sucessões.
À luz do tempus regit actum é importante recordar que esta inca-
pacidade se identifica no momento da prática do ato jurídico, pouco
importando se a posteriori surja alguma alteração na capacidade de
que confeccionou o testamento, afinal de contas "A incapacidade super-
veniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do mcapaz
se valida com a superveniência da capacidade" (art. 1.861, CC).
0 testamento pode ser elaborado mediante formas ordinárias, ou
por meio de formas especiais. As formas ordinárias do testamento,
de acordo com 0 art. 1862 do CC são público, cerrado e particular.
As formas especiais são militar, aeronáutico e marítimo (CC, 1862).
É ponto de interesse explorar as formas ordinárias de testamento,
sendo certo que as formas especiais são de pouco uso e utilidade.

a) O testamento público
O testamento público é a forma mais segura de se elaborar este
negócio jurídico, porque firmado perante um tabelião, por meio de

465
ANDRÊ MOTA, (RJ$TIANO SOBRAL, LUCIANO fJGUEIREDO, RO!IERTO flGUUREDO, SABRINA DOURADO
l DIREITO DAS SUCESSÕES
l
Capítulo XV

escritura pública, daí porque a legislação admite que o analfabeto e o


portador de necessidades visuais elaborem sua disposição de última
vontade apenas através desta modalidade testamentária.
6tabelião ou seu substituto legal é a pessoa designada pela norma
para elaborar o testamento, que será registrado no livro de notas. Este
testamento deverá ser integralmente lido a um só tempo pelo testa-
mento na presença de duas testemunhas, que assistam a todo o ato.
Finalmente, o testamento público será assinado pelo testador,
testemunhas e tabelião. Não sabendo, ou não podendo assinar, o
tabelião irá registrar este fato no termo e ato contínuo assinará pelo
testador uma das testemunhas (art. 1.865, CC).

b) Testamento cerrado
Nesta modalidade de testamento, o testador objetiva guardar
um segredo. Daí porque também será denominado de testamento
secreto ou místico.
Cerrado é o testamento composto de dois elementos básicos: (i) a
cédula testamentária, que é o documento particular, feito pelo testador,
assinado por este ou por alguém a seu rogo, (ii) auto de aprovação,
que é o parte pública do documento, qual seja o treco do docun;_ent~
elaborado pelo tabelião. A leitura dos arts. 1.868 a 1.875 do CC sera
fundamental à compreensão do assunto.
Esta cédula testamentária será apresentada ao tabelião perante
duas testemunhas, oportunidade na qual se lavrará o auto de apro-
vação, quando todos assinarão o documento público, que cerrou o
testamento.
Um cuidado deverá ser dado ao testamento secreto. Acaso aberto
pelo testador, ou violado (arts. 1.864, 1.875 do CC), este testamento, será
considerado como violado e, portanto, não gerará mais efeito jund1co
algum. .
O testamento cerrado poderá ser elaborado em língua estrangeira
(art. 1.871 do CC), assim como poderá ser feito por quem não saiba, ou
não possa, ler (CC, art. 1.872). O surdo mudo também estará autorizado
à fazer o testamento cerrado (art. 1.873, CC).
DIREITO DAS SUCESSÕES I
fCapítnlo XV

c) Testamento particular

O testamento particular não passa por qualquer tabelião. Ao con-


trário disto será elaborado pelo próprio testador na presença de três
testemunhas, na melhor forma dos arts. 1.876 a 1.880 do CC. Eviden-
temente que este documento não poderá conter inexatidões, muito
menos rasuras ou espaços em branco.

15.19. CODICILO

De acordo com o art. 1881 do CC "toda pessoa capaz de testar poderá,


mediante escrito particular seu, datado e assinado, fazer disposições especiais
sobre seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e determinadas
pessoas, ou, indetenninadamente, aos pobres de certo lugm; assim como legar
móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal".
Codicilo, portanto, não é testamento. Trata-se de um documento
particular, sem testemunhas. Datado e assinado, objetiva disciplinar
a última vontade de alguém para situações de pequeno valor, ou de
menor importância para o direito. O codicilo também servirá para
nomear ou substituir testamenteiros (CC, art. 1.883) e perdoar o indigno
(CC, art. 1.818).
Na forma do artigo 1.884 "Considera-se revogado o codicilo se sobrevier
testamento que não o confirme, ou modifique". A ideia é bem simples: o
codicilo não é juridicamente apto à revogação de um testamento. Já o
testamento sempre revogará o codicilo, a menos que expressamente
o ratifique.
É possível o codicilo cerrado. De acordo com a lei, se estiver
fechado o codicilo, abrir-se-á do mesmo modo que o testamento cer-
rado (art. 1.885, CC).

15.20. REVOGAÇÃO DO TESTAMENTO

A revogação é ato de poder, verdadeiro direito potestativo. O tes-


tador tem direito de revogar o testamento que fez. Na forma da lei,

ANuRt .\10TA, CRJSTHNO SonRAL, Luc.:!ANo FJGuEJREno, Ro!IF.RTo FJGUmREno, SABRJNA DouRAoo 467
o testamento poderá ser revogado da mesma maneira por meio da
qual foi feita (CC, 1.969). Esta revogação produzirá seus efeitos ainda
que o testamento originário caducar por exclusão, incapacidade, ou
renúncia do herdeiro nela nomeado.
Como já vimos, é tido como revogado o testamento cerrado
quando aberto, ou dilacerado.

15.21. ROMPIMENTO DO TESTAMENTO

De acordo com o CC o advento de um descendente sucessível


ao testador importa no rompimento do testamento, na forma dos
arts. 1.973 a 1.975 do CC, que prevê ainda a hipótese de rompimento
quando este testamento for feito na ignorância da existência de her-
deiros sucessíveis.
A ideia é simples: o instituto protege a legítima dos herdeiros
necessários (1845 e 1846, CC).
Mas o rompimento do testamento pressupões, por razões óbvias,
que a disposição testamentária agrida a legítima. Acaso a última
vontade envolve patrimônio disponível do autor da herança não há
razão alguma para se falar sobre rompimento(1.795, CC).

15.22. O TESTAMENTEIRO

O testamenteiro é a pessoa física designada pelo testador em


sua última vontade para dar execução às disposições testamentárias,
obrigando-se pelos bens a si confiados.
É juridicamente possível que se garanta ao testamenteiro o direito
ao recebimento de um prêmio. Se o testador não fizer expressa refe-
rência a isto, poderá o juiz de direito arbitrar este prêmio entre um a
cinco por cento da herança.

468 EDITORA AR\iADOR ! PRÁTICA CIVIL j 3a edição


\Capítulo XV

15.23. DO LEGADO

Trata-se de instituto previsto nos arts. 1.912 a 1.940 do CC e que


, d t de última vontade celebrado pelo testador, ao
tambem decorre e a o 1 , .
. . x re certa ou direito determinado para outrem, o egatano.
de1xarcmsae · ' . · d · h-
E nto o herdeiro r~cebe uma universahda e, um qu~n ao
. d nqua do o legatário herda coisa certa, individuada, SeJa por
w eterm1na ,
testamento, seja por codicilo.

fJGUElREDO ROBERTO FtGUEIREOO, SABRINA DoURADO


469
ANDRÊ Mo TA., CRJSTL\NO SoBRAL, L UCt;!.NO '
CAPÍTULO XVI.

DIREITO Do CoNSUMIDOR

16.1. UMA ABORDAGEM AO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR

A Constituição Federal de 1988 destaca em seu artigo 5º, inciso


XXXII, que o Estado irá promover, na forma da lei, a defesa do con-
sumidor. Assim, é possível afirmar que não se trata de uma mera
faculdade, e sim um dever de o Estado proteger o elo mais fraco na
relação de consumo.
Ainda é possível encontrar uma determinação do constituinte
no artigo 48 do ADCT. Observe: "O Congresso Nacional, dentro de cento
e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará Código de Defesa do
Consumidor".
Não só nos dispositivos já mencionados está expressa a defesa
do consumidor, mas também nos artigos 24, inciso VIII, 150, § 5º, e
170, inciso I, da Carta Magna.

r:~.~~~ • /1 ' " " " ' " " I PuÁTICA CIVIL I 3~ edição
DIREITO DO CONSUMIDOR !
fcapítulo XVI

A terminologia utilizada pela Lei nº 8.078/90 é perfeita, pois não


se está diante de um código de consumo, mas sim de uma lei que
tutela a proteção do consumidor.
Trata-se de uma lei que é um microssistema jurídico multidisci-
plinar. O que isso significa? Significa a máxima proteção desse vulne-
rável, que é transparecida por meio de tutelas específicas, como nos
ramos civil (artigos 8º a 54), administrativo (artigos 55 a 60 e, ainda,
105 e 106), penal (artigos 61 a 80) e jurisdicional (artigos 81 a 104).
O artigo 1º do CDC dispõe: "O presente código estabelece normas
de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse
social, nos termos dos artigos 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Cons-
tituição Federal e artigo 48 de suas Disposições Transitórias."."

O que é uma norma de ordem pública?


Consiste em uma norma cogente, de observância obrigatóría.
O CDC é uma norma de ordem pública!

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Recurso especial (artigo 105, III, "a", da CRFB).


Demanda ressarcitória de segurá. Segurado vítima
de crime de extorsão (CP, artigo 158). Aresto estadual
reconhecendo a cobertura securitária. Irresignação
da seguradora. 1. Violação do artigo 535 do CPC [corres-
pondente ao art. 1.022 do CPC/15] inocorrente. Acórdão local
devidamente fundamentado, tendo mfrentado todos os aspec-
tos fático-jurídicos essenciais à resolução da controvérsia.
Desnecessidade de a autoridade judiciária enfrentar todas as
alegações veiculadas pelas partes, quando invocada motiva-
ção suficiente ao bom desate da lide. Não há vício que possa
nulificar o acórdão recorrido ou ensejar negativa de presta-
ção jurisdicional, mormente na espécie em que a recorrente
sequer especificou quais temas deixaram de ser apreciados
pela Corte de origem. 2. A redefinição do enquadramento
jurídico dos fatos expressamente mencionados no acórdão
hostilizado constitui mera revaloração da prova. A excepcio-
nal superação das Súmulas 5 e 7 desta Corte justifica-se em

ANDR( 1\lOTi\, CRISTIANO SOBRM~, LUCIANO FIGUEIREDO, RüDERTO FlGUI:HtEDO, SAJlRIN,\ DoURADO 471
Capítulo XVI

caso~ particulares, sobretudo quando, num juízo sumário, for


posszvel vzslumbrar przmo icto oculi que a tese articulada no
a~elo nob;e não retrata rediscussão de fato e nem interpreta-
çao.de clausulas c01;tratuais, senão somente da qualificação
;urzdzca dos fatos ;a apurados e dos efeitos decorrentes de
avença securitária, à luz de institutos jurídicos próprios a que
se reportou a cláusula que regula os riscos acobertados pela
avença. 3. Mérito. Violação ao artigo 757 do CC. Cobertura
securitária. Predeterminação de riscos. Cláusula contratual
remiss~va a conceitos de direito penal !furto e roubo). Segu-
rado vztzma de extorsão. Tênue distinção entre o delito do
artigo 157 do CP e o tipo do artigo 158 do mesmo Codex. Cri-
tério do entendimento do homem médio. Relação contratual
submetida às normas do Código de Defesa do Consumidor.·
Dever de cobertura caracterizado. 4. Firmada pela Corte
a quo a natureza consumerista da relaçíÍo jurídica
estabelecida entre as partes, forçosa sua submissão
aos preceitos de ordem pública da Lei nQ 8.078/90, a
qual elegeu como premissas hermenêuticas a inter-
pretação mais favorável ao consumidor (artigo 47),
a. nulidade de cláusulas que atenuem a responsabi-
ltdade do fornecedor, ou redundem em renúncia ou
disposição de direitos pelo consumidor (artigo 51,
I), ou desvirtuem direitos fundamentais inerentes à
natureza do contrato (artigo 51, § lQ, II). 5. Embora a
aleatoriedade constitua característica elementar do contrato
de seguro, é mister a previsão de quais os interesses sujeitos
a eventos confiados ao acaso estão protegidos, cujo imple-
mento, uma vez verificado, impõe o dever de cobertura pela
seguradora. Daí a imprescindibilidade de se ter muito bem-
-definidas as balizas contratuais, cuja formação, segundo o
artzgo 765 do CC, deve observar o princípio da "estrita boa-
fé" e da "veracidade'; seja na conclusão ou na execução do
contrato, bem assim quanto ao "objeto" e as "circunstâncias e
declarações a ele concernentes". 6. As cláusulas contratuais,
uma vez delimitadas, não escapam da interpretação daquele
que ocupa a outra extremidade da relação jurídica, a saber, o
consumidor, especialmente em face de manifestações volitivas
materializadas em disposições dúbias, lacunosas, omissas ou

472 EDJTO.RA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL f Y edição


\Capítulo XVI

que comportem vários sentidos. Z A mera remissão a concei-


tos e artigos do Código Penal contida em cláusula de contrato
de seguro não se compatibiliza com a exigência do artigo 54,
§ 4º, do CDC, uma vez que materializa inforn;ação insufi-
ciente, que escapa à compreensão do homem medzo, zncapaz
de distinguir entre o crime de roubo e o delito de extorsão,
dada sua aproximaJão topográfica, conceitual e da forma
probatória. Dever de cobertura caracterizado. 8. Recurso
especial conhecido e desprovido. (REsp nº 1.106.827/SP, Rel.
Min. MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
16.10.2012, DJe de 23.10.2012) <

Por ser uma norma de ordem pública, o magistrado deveria ter


poder de apreciar qualquer cláusula abusiva em um contrato de
0
consurno de ofício, rnMs não é esse o posicionamento do STJ.
Tal entendimento fica ainda mais forte diante da leitura da
Súmula nº 381 do STJ que informa:

Súmula nQ 381. Nos contratos bancários, é vedado ao


julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas.

A Súmula citada está de acordo com o artigo lQ do CDC?


Entende-se que a mesma é um verdadeiro contrassenso jurídico.
Viola totalmente o que fora salientado no artigo da lei consumerista.
O respeitável magistrado GERIVALDO NEIVA faz as seguintes
ponderações: .
Ora, da forma em que foi editada a Súmula, quando o diZ que sn
o Juiz não pode conhecer de ofício de tais cláusulas, por outras vias,
está querendo dizer que os bancos podem inserir cláus~las abus:vas
nos contratos, mas o Juiz simplesmente não pode conhece-las de of1ClO.
Banco manda, Juiz obedece! (...)
Nesta lógica absurda, considerando que as cláusulas abusivas são
sempre favoráveis aos bancos e desfavoráveis ao cliente, o STJ quer
que os Juízes sejam benevolentes com os bancos e indiferentes com
seus clientes. Devem se omitir, mesmo sabendo que esta omissão será

473
ANDRÊ MOT,, CR!ST!.\...;O SOflR,\1., !.IT!-'-"0 f!Gt'FJRrDO, ROBERTO FiGn lRH>O, SABl!.lK.\ J)Ol·II.APO
/ DIREITO DO CoNSUMIDOR
Capítulo XVI \

favorável ao banco, e não podem agir, mesmo sabendo que sua ação
poderá corrigir uma ilegalidade.1.
Ser uma normí:l de interesse social, deste modo descreve o artigo
I
1º da legislação consumerista. Norma de interesse social é aquela que
visa à proteção de interesses individuais relativos à dignidade da
pessoa humana e interesses metaindividuais, ou seja, da coletividade.

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito do consumidor. Administrativo. Normas


de proteção e defesa do consumidor. Ordem pública
e interesse social. P1·incípio da vulnerabilidade do
consumidor. Princípio da transparência. Princípio
da boa-fé objetiva. P1'incípio da confiança. Obriga-
ção de segurança. Direito à informação. Dever posi-
tivo do fMnecedor de informar, adequada e data-
mente, sobre riscos de produtos e serviços. Distinção
entre informação-conteúdo e informação-advertên-
cia. Rotulagem. Proteção de consumidores hipervul-
neráveis. Campo de aplicação da lei do glútw (Lei
nQ 8.543/92 ab-rogada pela Lei nQ 10.674/2003) e even-
tual antinomia com o artigo 31 do Código de Defesa
do Consumidor. Mandado de segurança preventivo.
Justo 1·eceio da impetrante de ofensa à sua livre-ini-
ciativa e à comercialização de seus produtos. San-
ções administrativas por deixar de adve1·tir sobre os
riscos do glúten aos doentes celíacos. Inexistência
de direito líquido e certo. Denegação da segurança.
(REsp nº 586.316/MG, Rel. Min. HERMAN BENJA-
MIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17.04.2007, D)e
de 19.03.2009)

:l ATENÇÃO!
Diante do que foi exposto, fica clara a relação entre a Constitui-
ção Federal e o Código de Defesa do Consumidor. Por ter sido

1. Disponível em: <http://www. bahianoticias.com.br/j ustica/artigo/3~reflexoes-sobre-a-sumu­


la-381-do-stj.html.>
DIREITO DO CONSUMIDOR I
rCapítulo XVI

incluída a defesa do consumidor no artigo 5º, inciso XXXII, no


rol dos direitos fundamentais, pode ser sustentado o chamado
fenômeno da constítucionalízação do direito privado. Dessa
maneira, é possível aplicar os preceitos constitucionais nas
relações privadas, a chamada eficácia horizontal dos direitos
fundamentais. Um dos maiores exemplos é a aplicação do
princípio da dignidade da pessoa humana nas relações de con-
sumo. Também merece destaque o texto da Súmula Vinculante
nº 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade do depósito.

16.2. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

Fica estabelecida a relação de consumo com a presença dos


elementos subjetivos e objetivos. Mas quais elementos são esses?
Os elementos subjetivos dividem-se em duas partes: consumidor
e fornecedor. Já os objetivos, referem-se à prestação em si, isto é, o
produto e o serviço.

, 16.2.1. QUEM É O CONSUMIDOR?

A lei aborda o assunto no artigo 22, determinando que:

Artigo 2•. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que


adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Esse é o tipo de consumidor intitulado standard, stricto sensu ou


mesmo padrão.
O que significa ser um destinatário final? Encontra-se agora um
dos pontos mais discutidos na doutrina, bem como na jurisprudência.
Urna primeira corrente sustenta que o consumidor é o destinatário
final fático, isto é, uma pessoa que adquire o produto ou utiliza o

AND!Ui MüTA. CRISTIANO SOI\Rill, LUCIANO fiGUI:JREDO, ROIIERTO fJGUEIREDO. SABRINA DOURADO 475
Capítulo À'\11

serviço, sem que se releve se eles serão utilizados no desenvolvimento


de urna atividade econômica ou não. Em síntese, não é relevante se 0
consumidor irá fazer uso particular ou profissional do bem. Tal cor-
rente é minoritária e chamada de maximalista ou objetiva. A segunda
corrente defen~e que o conceito de destinatário final significa que 0
consumidor Ira se valer do produto ou serviço para fins pessoais.
Essa corrente, adotada por nossos tribunais, é intitulada finalista ou
subjetiva.

:l ATENÇÃO!

Em certos casos, o STJ busca abrandar o critério subjetivo


aplicado pela lei desde que presente a vulnerabilidade, que é
a pnnc1pal característica do consumidor. Ocorre desse modo a
denon1inada Teoria Finalista AprofÚndada.

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito do consumidor. Consumo intermediá-


rio. Vulnerabilidade. Finalismo aprofundado. Não
~st~n.ta a qualidade de consumidor a pessoa física ou
JUrzdzca que não é destinatária fática ou econômica
do bem ou serviço, salvo se caracterizada a sua vul-
nerabilidade frente ao fomecedor. A determinação da
qualzda~e de consumidor deve, em regra, ser feita mediante
aplzcaçao da teoria finalista, que, 11uma exegese restritiva do
artzgo2' ~o CIJ_C, considera destinatário final tão somente
o destzn~tarzo fatie~ e econômico do bem ou serviço, seja ele
p~ssoa fzszca ou JUrzdzca. Dessa forma, fica excluído da prote-
çao do CDC o consumo intermediário, assim entendido como
aquele cuj~ produto retoma para as cadeias de produção e
dzstrzbuzçao, compondo o custo (e, portanto, o preço final) de
um novo bem ou serviço. Vale dizer, só pode ser considerado
consun:;idor, p~rafins de tutela pelo CDC, aquele que exaure
a funçao economzca do bem ou serviço, excluindo-o de forma
definztzva do mercado de consumo. Todavia, a jurisprudên-
cza do ST~ tomando por base o conceito de consumidor por
equzparaçao prevzsto no artigo 29 do coe, tem evoluído para

476 EDITORA AR:V!ADOH f PRÁTICA CiVIL I 3" edição


uma aplicação temperada da teoria finalista frente às pessoas
jurídicas, num processo que a doutrina vem denominando
"finalismo aprofundado". Assim, fe';' se admztzdo que, em
determinadas hipóteses, a pessoa jurzd1ca adquzrente de um
produto ou serviço possa ser equiparada à condição de consu-
midora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnera-
bilidade, que constitui o principio-motor da política nacional
das relações de consumo, premissa expressamente fixada no
artigo 4º, I, do CDC, que legitima toda a proteção conferi~a ao
consumidor. A doutrina tradicionalmente aponta a exzstencta
de três modalidades de vulnerabilidade: técnica (ausência de
conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto
de consumo), jurídica <falta de conhecimento jurídico, contá-
bil ou econômico e de seus reflexos na relação de consumo)
e fática (situações em que a insuficiência econômica, física
ou até mesmo psicologica ào consumida r a coloca em pé de
desigualdade frente ao fornecedor). Mais recentemente, tem
se incluído também a vulnerabilidade informacional (dados
insuficientes sobre o produto ou serviço capazes de influen-
ciar no processo decisório de compra). Além disso, a casuís-
tica poderá apresmtar novas formas de vulnerabilidade aptas
a atrair a incidência do CDC à relação de consumo. Numa
relação interempresarial, para além das hipóteses de vulnera-
bilidade já consagradas pela doutrina e pela jurisprudência,
a relação de dependência de uma das partes frente à outra
pode, conforme o caso, caracterizar uma vulnerabilidade
legitimadora da aplicação do coe, mitigando os rigores da
teoria finalista e autorizando a equiparação da pessoa jurídica
compradora à condição de consumidora. Precedentes citados:
REsp 1.196.951-PI, Dfe 91412012, e REsp 1.027.165-ES, Dfe
141612011. REsp 1.195.642-RJ, Rel. Min. Nancy Andriglú,
julgado em 13/1112012.

Direito do consumidor. Pessoa jurídica. Insumos.


Não incidência das normas consumeristas. In casu, a
re~orrente, empresa fornecedora de gás, ajuizou na origem
ação contra sociedade empresária do ramo industrial e comer-
cial, ora recorrida, cobrando diferenças de valores oriundos
de contrato de fornecimento de gás e cessão de equipamentos,

477
l DIREITO DO CONSUMIDOR
Capitulo X\l]l

ón virtude de consumo inferior à cota mínima mensal obri-


gatória, ocasionando também a rescisão contratual mediante
notificação. Sobreveio sentença de improcedência do pedido.
O tribunhl de justiça negou provimento à apelação. A recor-
rente interpôs recurso especial, sustentando que a relação
jurídica entre as partes não poderia ser considerada como
consumerísta e que não é caso de equiparação a consumi-
dores hipossLifícientes, uma vez que a recorrida é detentora
de conhecimentos técnicos, além de possuir fins lucrativos.
A Turma entendeu que a recorrida não se insere em situação
de vulnerabilidade, porquanto não se apresenta como sujeito
mais fraco, com necessidade de proteção estatal, mas como
sociedade empresária, sendo certo que w1v utiliza o.s prod~L­
tos e serviços prestados pela recorrente como sua destinatá-
ria final, mas conw üzswnos dos produtos que nwnufatura.
Adenwis a sentenca e o acórdão recorrido partiram do pres-
suposto de que tod~s as pessoas jurídicas são submetidas às
regras consumeristas, razão pela qual entenderam ser abusi7..m
a cláusula contratual que estipula o consumo mínimo, nada
mencionando acerca de eventual vulnerabilidade - técnica,
jurídica, fática, econômica ou informacional. O artigo 2' d~
COC abarca expressamente a possibilidade de OS pessoas )!lrt-
dicas figurarem como consumidores, sendo relevante sabe: se
a pessoa-fLsica ou jurídica- é "destinatária final" do p!oauto
ou serviço. Nesse passo, somente se desnatura a relaçao cmJ-
sumerista se o bem ou serviço passam a integrar a cadeia pro-
dutiva do adquirente, ou seja, tornam-se objeto de revenda ou
de transformação por meio de beneficiamento ou montag~m,
ou, ainda, quando demonstrada sua vulnerabllzdade tecmca,
jurídica ou econômica frente à outra parte, situação que ~ão
se aplica à recorrida. Diante dessa e de outras cons1deraçoe~,
a Turma deu provimento ao recurso para reconhecer a nao
incidência das regras consumeristas, determinando o retorno
dos autos ao tribunal de apelação, para que outro julgamento
seja proferido. REsp 932.557-SP, Rel. Min. Luís Felipe Salo-
mão, julgado em 7/2/2012.
DIREITO DO CONSUMIDOR !
(Capítulo XVI

:l TEMA DE PROVA!
Diferencie vulnerabilidade de hipossuficiência
A doutrina, tradicionalmente, aponta a existência de três moda-
lidades de vulnerabilidade: a técnica (ausência de conhecimento
específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo), a jurídica
(falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus refle-
xos na relação de consumo) e a fática (situações em que a insuficiência
econômica, física ou, até mesmo, psicológica do consumidor, o coloca
em pé de desigualdade frente ao fornecedor). Vulnerabilidade então
nada mais é do que a cor,dição de inferioridade e está vinculada ao
direito material, enquanto a hipossuficiência é a vulnerabilidade
amp1ific1:1dêt e está ligada ao direito processual.
Além do consumidor standard, a lei apresenta em três artigos o
chamado consumidor equiparado ou por equiparação. O primeiro
consumidor equiparado é a coletividade de pessoas, que se encontra
no parágrafo único do artigo 2º da lei do CDC. Avalie o texto:

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade


de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo
nas relações de consumo.

Fica clara a ideia da tutela coletiva nesse ponto. É necessário


que o grupo de pessoas tenha adquirido o produto ou contmtado o
serviço? A resposta é negativa, ou seja, basta que haja a possibilidade
de um dano, corno nos casos de publicidades abusivas. O segundo
consumidor equiparado são as vítimas do evento danoso (vítimas
bystanders), presentes no artigo 17 do CDC, que diz que "Para os
efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as viti-
mas do evento. "
Ressalte-se: na o há necessidade de a pessoa adquirir ou ·mesmo
utilizar um produto ou serviço. O artigo suprarreferido é adotado
em conjunto com os artigos 12 e 14 do CDC, isto é, no caso de fato do
produto e serviço. Um exemplo bastante utilizado em provas é o da
ocorrência de negativações indevidas quando houver uma abertura
de conta corrente fraudulenta. O terceiro consumidor equiparado é

Á!\DRÉ Mon,, (RlSTIANO SOBUAL, LUCIANO ftGUEJREDO, ROBERTO f'IGUE!REDO, SAURINA DoURADO 479
Capítulo XVI

aquele exposto às práticas comerciais, artigo 29 da lei de proteção ao


consumidor. Vejamos:

Artigo 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equi-


param-se aos consumidores todas as pessoas determináveis
ou não, expostas às práticas nele previstas.

. . A esse respeito, destacam-se aquelas pessoas que não são iden-


tificadas por tais práticas. Exemplo: relação da imobiliária com 0
locatário, a qual já fez parte de um julgado. Sabe-se que a relação
entre a imobiliária e o locador é de consumo, mas a do locatário com
a imobiliária possui controvérsias. Imagine um locatário que sofre
um constrangimento dentro de uma imobiliária. Pode ele buscar
uma indenização com fulcro no CDC? Com base no artigo 29 desta
legislação, entende-se que sim. ·
E o nosso Tribunal da Cidadania?

1. Cuida-se de agravo contra decisão que ínadmitiu recurso


especial fundado na alínea "a" da permissão constitucional..
interposto de acórdão do TJRJ, assim ementado: AGRAVO
INOfv!INApO DO ARTIGO 557, § Iº DO CPC. APE-
LAÇAO CIVEL. Ação indenizatória. Consumidor que teve
seus documentos roubados. Protesto indevido de cheques não
emztzdos pelo autor, que sequer participou da relação jurídica.
Sentença procedente em parte. Rejeição do dano moral pelo
magzstrado, sob o argumento de que o Jato de terceiro afasta
o dever de indenizar. Apelo do autor. Decisão do Relator que
deu provimento de plano ao apelo para reconhecer e fixar o
dan~ moral em R$ 8.000,00. Possibilidade. Manifesta pro-
cedencza das razões recursais do demandante. Inteligência
contzda nos artzgos 557, parágrafo 1º-A do CPC [corresponde
ao art. 932, V, CPC/15} e 31, VIII do RITJRJ. Aplicação da
Súmula nº 94 deste E TJRJ.
"Cuidando-se de fortuito interno, o fato de terceiro não
exclui o dever do fornecedor de indenizar". Na sistemática
do Código de Defesa do Consumidor, o qual agasalha a teoria
do rzsco do empreendimento, a utilização de dados de outrem

480 EnnoRA AR:.1ADOR 1 PltÃTICA ÜVJL 1 3'' edição


\Capítulo XVl

ou mesmo documentos falsos para a obtenção de bens e ser-


viços em nome de algu~m que sequer participou do negócio
jurídico, integram o risco do negócio praticado _pela ré, cor-
rendo, assim, por sua própria conta. DECISAO PROFE-
RIDA PELO ILUSTRE RELATOR QUE SE MANTEM.
AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO. (e-STJ fi.. 166).
Em sede de recurso especial, a reciwrente sustenta violação
aos artigos 3º, 267, VI, do CPC [correspondem aos arts. 17 e
485, VI, do CPC/15]; 14 § 3º, I e li do CDC; 186, 393, 927 e
9"44 do CC, argumentando que: a) é parte ilegítima parares-
ponder à ação de indenização por dm;~ moral; _b! "nã~_rode
prevalecer o entendimento de acorreu fortuzto mterno , pozs
0 documento de fi. 70 comprova que o fraudador portava talo-
nário com nome do autor/recorrido e portava também docu-
mentos falsos com aparência de verdadeiros; c) o dano sofrido
pelo recorrido iülu r3 rcspcms:'Ibilidr.de d~ re~o~rente, pois se
deu por culpa de terceiro e e estranho as atzvzdades por ela
desenvolvidas; d) a recorrente não cometeu ato ilícito mas, na
verdade, também foi uítizna do terceiro que pagou o serviço
com cheque roubado. Contrarrazões (e - STJ fls. 209-214).
Juízo de admissibilidade (e-STJ fls. 216-217).
Relatados, decido.
2. O Tribunal local decidiu a lide suportada em argumenta-
cão assim deduzida: Em primeiro lugar, impende salientar que
; relação aventada nos autos é de consumo, enquadrando-se
0 autor no conceito de consumidor por equiparação, con-
forme se extrai dos artigos 2º, parágrafo único e 29 do CDC.
A ré nada mais é do que uma fornecedora de produtos e
serviços, sendo certo que a sua responsabilidade é objetiva
nos precisos termos do artigo 14, caput, da Lei 8.078190,
encontrando fundamento na teoria da risco do empreendi-
mento, segundo a qual, todo aquele que se dispõe a fornecer
em massa bens ou serviços deve assumir os riscos inerentes
à sua atividade independentemente de culpa.
In casu, a responsabilidade da recorz·ida exsurge do simples
fato, de se dedicar com habitualidade à exploração de ati~i­
dade consistente no ofereczmento de bens ou servzços. Asszm,
pode-se afirmar que os riscos internos inerentes ao próprio

ANDR[ Mon,, CRlSTlA~O SOBRAL, LUCI\ NO F!Gl;E!RU)O, Roll"lc.rO FIGlll!REDO, SAliRI~.1. DOUR.-'\DO
481
I
DIREITO DO CONSUMIDOR
Capítulo XVI I

empreendimento correm por conta do fornecedor, que deverá


por eles responder sempre que não comprovada a causa exclu-
dente do nexo causal.
Deste modo, a '!istemática do Código de Defesa do Consu-
midor, o qual aga~alha a teoria do risco do empreendimento,
a utilizacão de dados de outrem ou mesmo documentos fal-
sos para, a obtencão de bens e serviços em nome de alguém
que sequer parti~ipou do negócio praticado pela ré correndo,
assim, por sua própria conta. Nesse sentido, a lição dada pelo
Exmo. Desembargador Sérgio Cavalieri Filho extraído de sua
conhecida obra "Programa de Responsabilidade Civil": (... )
Dessa forma, incumbe ao réu, exclusivamente, à assunção
dos ;·i::.ccs dcccrrcntcs da cxploraçifc de sua nh"vidade sig-
mifi'cativamente lucrativa
, ' arcando com os prejuízos advin-.
dos da utilização de documentos da autora para a concessao
de crédito em nome de outrem. Vale frisar que o artigo
29, CDC, define consumidor como qualquer pessoa
exposta às práticas comerciais ainda que não exista
relação jurídica de consumo direta com o fornecedor,
como ocorre in casu, sendo o apelante um bystander
atingido pelas técnicas de cobrança de dívidas.
Ademais. a questão tratada invoca a aplicação do artigo
14, caput, do CDC, que trata da responsabilidade objeti~a do
fornecedor de serviços, não se perquirindo sobre a exzstenCla
·de culpa para determinar o dever de indenizar. Assim, nos
termos do artigo 14, § 3º do CDC, somente se exime do dever
da responsabilidade o fornecedor que provar a ausência de
defeito na prestação do serviço, fato exclusivo do fornecedor
ou fato exclusivo de terceiro. .
A sentença ora vergastada reconheceu o fato excluszvo de
terceiro, entendendo o magistrado a quo que a abertura de
conta bancária e a emissão fraudulenta de cheque realzzada
por tcrceito que se utilizou dos documentos subtraídos do
apelante, configuram causas excludentes do nexo causal e
afastam o dever de indenizar.
Todavia não deve ser mantido o raciocínio consignado pelo
juízo de primeiro grau, pois, como consagrado pela doutri~a e
jurisprudência, a emissão fraudulenta de cheque, na hzpotese

ED1 r oH-\ ARM.\DOn 1 PRÁTICA CJvlt I 3" edição


DIREITO DO CONSUMIDOR I
jc:~tp'rulo XVI

dos autos, caracteriza fato de terceiro equiparado a fortuito


interno, estando abrangido pelo risco do empreendimento.
Assim, não há rompimento do nexo causal.
..
( .)
Ora, se para proteger o seu crédito o apelado causou danos
indevidos a terceiros, resta flagrante o dever de indenizar.
Caso tenha sido induzido a erro por falta do dever de cuidado
de terceiros, como alega, que busque o ressarcimento junto
àquele que lhe induziu em erro.
Pelo cotejo do cheque acostado afi. 70 e da cédula de identi-
dade do apelante àfi. 11, percebe-se a diferença gritante entre
as assinaturas.
Logo, vê-se q-ue a apelada poderia ter er. itada o recebimento
1

do título fraudado solicitando a apresentação de documento


de identidade e conferindo as assinaturas, diligência mínima
esperada na condução de um negócio. (e-STJ fls. 168-172) (. . .). '
No que toca ao dever de a recorrente indenizar moralmente
o recorrido pelo lançamento do seu nome em cadastro de ina-
dimplentes, não lhe escusa a assertiva de que o dano sofrido
não é de sua responsabilidade, pois o Tribunal local formou
seu convencimento no sentido de que a prestadora de serviço
não comprovou ter tomado os cuidados necessários na con-
dução do seu negócio, de forma que rever tal entendimento
em sede de recurso especial, esbarra no enunciado nº 7 da
Súmula do STJ.
Por outro lado, se o lançamento indevido do nome do recor-
rido decorreu inequivocamente de ato da recorrente, patente
o dever de indenizar. Aliás, essa é a jurisprudência do STJ
acerca da matéria (.. .). 3. Ante o exposto, nego provimento ao
agravo no recurso especial. (AREsp 018793, Rei. Min. LUIS
FELIPE SALOMÃO, data da publicação 02/08/2012.)
(grifos nossos)

16.2.2. QUEM É O FORNECEDOR?

A lei do Código de Defesa do Consumidor enfatiza:

ANt>Rí. Mo'JA, Crus·JJ,,No SoBRAL, LuuAJ>..:o ftcunRFJJO, Rt'BEJnü FJGUEIREvo, SABRINA DoL:RADO 483
C:;pítu!o XVI !

A~tigo 3º.. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,


publtca ou przvada, nacional ou estrangeira, bem como os
ente~ despersonalizados, que desenvolvem atividade de pro-
duç~o, montage:rz. criação, construção, transformação, impor-
laçao, exportaçao, dzstrzbuzçâo ou comercialização de produtos
ou prestação de serviços.

:l ATENÇÃO!
Segundo o conceito acima, para que haja uma relação de con-
sumo é necessária a constatação da habitualidade. Exemplo:
Se uma pessoa vende o seu carro para a outra, não pode ser
aplicado o CDC, e sim o CC/2002. Todavia, se essa pessoa que
vendeu o carro para a outra for uma vendedora com habituali-
dade, deve ser utilizada a lei consun1erista.

16.2.3. PRODUTO E SERVIÇO

Relatam os §§ 1º e 2º do artigo 3º da norma consumerista:

§ 1'. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material


ou imaterial.
§ 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado
de consumo, mediante remuneração, ínclusíve as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decor-
rentes das relações de caráter trabalhista.

:l ATENÇÃO!
A remuneração citada J?ela lei na definição de serviço poderá
ser drreta ou mdrreta. E muito comum encontrar esse tipo de
remuneração nos estacionamentos de mercados que mencionam
ser "gratuitos", mas o valor já está embutido nos preços dos
produtos vendidos.

484 EDJTORAARM'IDOR I PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


r
C;1p/tuhl XVI

:l ATENÇÃO!
Observar as seguintes Súmulas do STJ:

Súmula nº 297. O Código de Defesa do Consumidor é


aplicável às instituições financeiras.

Súmula nº 469. Aplica-se o Código d.!: Defesa do Consu-


midor aos contratos de plano de saúde.

Súmula nº 563. O Código de Defesa do Consumidor é


aplicável às entidades abertas de previdência complementar,
não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com
entidades fechadas.

16.3. OS PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR

16.3.1. DA VULNERABILIDADE

Em item anterior fora explicado que a vulnerabilidade é a prin-


cipal característica do consumidor. A mesma pode ocorrer de quatro
formas: técnica; jurídica; fática; e informacional. Observe o seguinte
texto da lei do CDC:

Artigo 4º, I- reconhecimento da vulnerabilidade do con-


sumidor no mercado de consumo;#

16.3.2. Do DEVER GOVERNAMENTAL

Sendo o consumidor vulnerável, o artigo 4º do CDC prevê em


seu inciso li u~a proteção efetiva a ele por meio de urna ação gover-
namentaL que ocorrerá:

a) por iniciativa direta;

485
\DIREITO DO CoNSUMIDOR
Capit•do XVll
'

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associa-


ções representativas;
c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
d) pela garantia dos 1hrodutos e serviços com padrões ade-
quados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

16.3.3. DA HARMONIZAÇÃO E COMPATIBILIZAÇÃO DA


PROTEÇÃO AO CON".S':'U::'M"cl~D~O~R_ _ _ _ _ _ _ _ __

Mais uma vez, a lei do Código de Defesa do Consumidor trans-


parece no inciso III do seu artigu -±'2 o dever de harrru~niz::lç~o entre o
consumidor e o fornecedor e a necessidade de um desenvolvimento
econômico e tecnológico. Veja:

][[ - Jwrnwnização dos interesses dos participantes das


relações de consumo e compatibilização da proteção do consu-
midor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tec-
nológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda
a ordem econômica (artigo 170 da Constituição Federal! ...;

16.3.4. DA BOA-FÉ OBJETIVA

A passagem desse princípio está presente no inciso III do artigo


4º, parte final. Comprove:

III- ... sempre com base na boa1é e equilíbrio nas relações


entre conswnidores e fornecedores;

O termo boa-fé serve para indicar um dever de conduta entre o:


parceiros contratuais, baseado na confiança e na lealdade. O tema esta
desvinculado das intenções íntimas dos sujeitos da relação de consumo
e ligado à lisura, transparência, correção e proteção em todas as fases
da formação do contrato.
DIREITO DO CONSUMIDOR i
rC.:t(Luln XVI

Para que ocorra o preenchimento de tal princípio, as partes devem


cumprir com os deveres principais e anexos. A violação de qualquer
deles acarreta inadimplemento contratual.

16.3.5. DA EQUIDADE

Atente-se para o disposto no artigo 51 inciso IV da lei do código


do consunlidor:

Al'tigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços que:
(. ..)
IV- estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusi-
vas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada,
ou sejam incompatíveis com a boa1é ou a equidade.

Uma vez descumprida a equidade, a cláusula ou o contrato terão


a sua invalidade reconhecida, pois estará presente a falta de justiça
ao caso concreto.
Veja a Súmula nº 543, do STJ: "Na hipótese de resolução de contrato
de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa
do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo
promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva do pro-
mitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador
quem deu causa ao desfazimento".

~6.3.6. DA EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO DOS CONSUMIDORES

Um grande exemplo do princípio relatado é a Lei nº 12.291/2010,


que obriga os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços
à exposição de um exemplar do CDC no local. Vale destacar o artigo
6º inciso li da legislação consumerista. Perceba:

487
Artigo 6". São direitos básicos do consumidor:
(. .. )
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado
dos produtos e servzços, asseguradas a liberdade de escolha e
a zgualdade nas contratações;

16.3.7. Do CONTROLE DE QUALIDADE E MECANISMOS DE


ATENDIMENTO PELAS PRÓPRIAS EMPRESAS

O inciso V do artigo 4 salienta o assunto:

. V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios efi-.


czentes de controle de qualidade e segurança de produtos e
servzços~ assim como de mecanismos alternativos de solucão
de conflztos de consumo; ,

16.3.8. D~ RACIONALIZAÇÃO E MELHORIA DOS SERVIÇOS


PUBLICOS

Nesse tópico, deve-se ter atenção a dois artigos do CDC O .


· d I ' · · pn-
meiro e es e o arhgo 6º, inciso X, e o segundo, o 22.

Artigo 6", São direitos básicos do consumidor:


(.. )
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos
em geral.

Artigo 22, Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,


concesszonarzas, permzsszonarias ou sob qualquer outra forma
de empreendzmento, são obrigados afornecer serviços adequa-
dos, eJi.czwtes; seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Paragrafo uz:zco.-Nos casos de descumprimento, total ou
par~z~l, das obrzg~çoes referidas neste artigo, serão as pessoas
JUrzdzcas compelzdas a cumpri-las e a reparar os danos cau-
sados, na forma prevista neste código.

488 Em TORA AR}tADOR I PRÁTICA CtVIL 1 3" edição


~·------------------
\ Capítulo XVI

Esse princípio está capitaneado no inciso VII do artigo 4º. Reza


a lei:
VII- racionalização e melhoria dos serviços públicos;

16.3.9, DA COIBIÇÃO E REPRESSÃO DAS PRÁTICAS ABt.:SIVAS

Trata-se de um princípio de grande relevância disposto no inciso


VI do artigo 4º da norma consumerista, que determina:

VI -coibição e repressão eficientes de todos os abusos pra-


ticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência des-
leal e utilização indevida de inventos e criações industriais das
marcas e rwm.es c01nerciais e signos distintilJO.SI aue vossam
causar prejuízos aos consumidores; ' '

O artigo 39 da legislação exibe um rol exemplificativo das práticas


abusivas. Mais adiante esse ass1,1nto será abordado.

16.3.10. Do ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES DO MERCADO

Nosso mercado de consumo é extremamente mutável e/ por essa


razão, é preciso um estudo constante para que não haja qualquer tipo
de lesão ao consumidor. O inciso VIII do artigo 4º ressalta o tema,
confira:

VIII - estudo constante das modificações do mercado de


consumo.

O mercado online é um grande exemplo do princípio mostrado,


pois a todo tempo necessita de modificações,

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL Lt:CIAI><O FrGUF.lREDO, Ronr:RTO F!Cl EIRr.N), SABRJN,\ J)on~ADO
489
!DIREITO DO CONSUMIDOR
C:;pítulo XVI

16.4. DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

O artigo 6º propõe uma lista exempl! ficativa de direitos básicos.


Ante esse fato, examine o dispositivo da lei consumerista:

Artigo 6". São direitos básicos do consumidor:


I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de produtos e ser-
viços cor~siderados perigosos ou nocivos;
li -a educaç1IO e divulgação sobre o consumo adequado
dos produtos e serc•iços, asseguradas a liberdade de escolha e
a igualdade nas co11tratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação co1Teta de quantidade,
características, composição, qualidade, tributos incidentes, e
preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV- a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento
de produtos e serviços;
V- a modificação das cláusulas contratuais que estabele-
çarrz prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de
fatos supervenientes que as ton1em excessivamente onerosas;
VI- a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais
e morais, individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos
com vistm; à prevenção ou reparação de danos patrimoniais
e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a pro-
teção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor., no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias
de experiências;
IX- (VETADO).
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos
em geral.
DIREITO DO CONSUMJDOR I
r
c~píwh XVI

Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do


caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência,
observado o disposto em regulamento.

16.4.1. A PROTEÇÃO DA VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA

Vivemos em uma St>ciedade de risco e, por essa razão, o artigo


6º, inciso I, nos apresenta tal direito básico. Por isso, deve prevalecer
a teoria da qualidade dos produtos e serviços para que não ocorram
danos aos consumidores, sejam eles os padrões ou equiparados. Nesse
sentido. veia'
os seguintes artigos do CDC·.
~ ~

Artigo s•. Os produtos e serviços colocados no mercado


de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos
consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis
em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os
fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações
necessárias e adequadas a seu respeito.
Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial,
ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este
artigo, através de impressos apropriados que devam acom-
panhar o produto.

Artigo 9". O fornecedor de produtos e serviços poten-


cialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá
informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua
nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de
outms medidas cabíveis em cada caso concreto.

Artigo 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado


de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber
apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde
eu segurança.
§ 1º. O fornecedor de produtos e serviços que, posterior-
mente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhe-
cimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar

491
Capítulo XVll

o fato imediatamente às autoridades competentes e aos con-


sumzdores, medzante anúncios publicitários.
§ 2º. Os a~1úncios publicitários a que se refere o parágrafo
anterwr serao vezculados na imprensa, rádio e televisão, às
expensas do fornecedor do produto ou serviço.
§ 3º. Sempre que tiverem co11hecimento de periculosidade
de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumi-
dores, _a União, ~s Estados, o Distrito Federal e os Municípios
deverao mforma-los a respeito.
o

16.4.2. EDUCAÇÃO, INFORMAÇÃO E LIBERDADE DE ESCOLHA

Em todo contrato de consumo devem reinar a liberdade de escolha


e a transparência máxiu:a, sendo este o intuito da lei. Um exemplo
claro de tal nor?'a, ou. sep, o artigo 6º, inciso II, é a exigência de um
exemplar do Codzgo ae Defesa do Consumidor em todo estabeleci-
mento comercial e de prestação de serviços (Lei nº 12.291/10).

16.4.3. INFORMAÇÃO ADEQUADA E CLARA SOBRE OS


DIFERENTES PRODUTOS E SERVIÇOS

. _Mais uma vez ,tica consagrado o princípio da transparência


maxzma no arl!go 6-, mczso III. Essa mformação deve estar presente
tanto nas fases pré-contratual e contratual quanto na de execução
do contrato. Tem-se aqui a boa-fé objetiva com o cumprimento dos
deveres pnnCipazs e anexos. O consumidor por intermédio do devido
esclarecimento do produto ou serviço fará uma escolha consciente.
Importa mencionar que o Estatuto da Pessoa com Deficiência
Lei nº 13.14~/2015, incluiu parágrafo único ao art. 6º, dispondo qu~
a mf~;m~çao de que trata o inc. III deve ser acessível à pessoa com
defiCiencza, observado o disposto em regulamento.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Contrato de seguro. Cláusula abusiva. Não obser-


vância do dever de informar. A Turma decidiu que, uma

492 EDITORA AR~lADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3a eJiçã.o


p;ít~io XVI

vez reconhecida a falha no dever geral de i11formação, direito


básico do consumidor previsto no artigo 6º, III, do CDC, é
inválida cláusula securitária que exclui da cobertura de inde-
nização ofurto simples ocorrido no estabelecimento cometcial
contratante. A circunstância de o risco segurado ser limi-
tado aos casos de furto qualificado (por arrombamento ou
rompimento de obstáculo) exige, de plano, o conhe.,cimento
do aderente quanto às diferenças entre uma e outra e'spécie-
qualificado e sim;>les -conhecimento que, em razão da vul-
nerabilidade do consumidor, presumidamente ele não possui,
ensejando, por isso, o vício no dever de informar. A condi-
ção exigida para cobertura do sinistto - ocorrência de furto
qualificado -, por si só, apresenta conceituação especifica da
legislação penal, para cuja conceituação o próprio meio téc-
nico-jurídico encontra dificuldades, o que denota sua abu-
sividaàe. REsp 1.293.006-SP, Rel. !v!in. ~Mnsc;ami Uyeda,
julgado em 211612012.

ACP. Legitimidade do MP. Consumidor. Vale-trans-


porte eletrônico. Direito à informação. A Turma, por
maioria, reiterou que o Ministério Público tem legitimidade
para propor ação civil pública que trate da proteção de quais-
quer direitos transindividuais, tais como definidos no artigo
81 do CDC. Isso decorre da interpretação do artigo 129, III, da
CF em conjunto com o artigo 21 da Lei nº 7.34711985 e artigos
81 e 90 do coe e protege todos os interesses transindividuais,
sejam eles decorrentes de relações consumeristas ou não. Res-
saltou a Min. Relatora que não se pode relegar a tutela de
todos os direitos a instrumentos processuais individuais, sob
pena de excluir do Estado e da democracia aqueles cidadãos
Bue mais merecem sua proteção. Outro ponto decidido pelo
colegiado foi de que viola o direito à plena informação do con-
sumidor (artigo 6º, III, do CDC) a conduta de náo informar na
roleta do ônibus o saldo do vale-transporte eletrônico. No caso,
a operadora do sistema de vale-transporte deixou de informar
d .saldo do cartão para mostrar apenas um gráfico quando
o usuário passava pela roleta. O saldo somente era exibido
quando inferior a R$ 20,00. Caso o valor remanescente fosse
superior, o portador deveria realizar a consulta na internet ou

493
A~DRf. MoT.\, ClHSfl.\NO SOBIUL, LUCI~NO FtGUI!IItLDO, ROBf.R1 O FtGUEIRUJO, 5'<!:11<lk\ DOLIRA!Iü
I
DIREITO DO CONSUMIDOR
CJpi111lo XVl l

em "validadores" localizados em lojas e supermercados. Nessa


situação, a Min. Relatora entendeu que a operadora do sis-
tema de vale-transporte deve possibilitar ao usuário a consulta
ao crédito remanescente durante o trt:'nsporte, sendo znsufi-
cíente a disponibilização do serviço apenas na internet ou em
pcucos guichês espalhados pela região metropolitana: A infor-
mação incompleta, representada por gráficos dtspombtltzados
no momento de uso do cartiio, não supre o dever de prestar
plena informação ao consumidor. Também ficou decidido que
a indenização por danos sofridos pelos usuários do sistema
de vale-transporte eletrônico deve ser aferida caso a ~as_o.
Após debater esses e outros assuntos, a Turma, por mazorza,
àeu parcial provime/ltu üu rrXLitso somente parr. afi?s.far !1
condenação genérica ao pagamento de reparação por danos
materiais e morais fixada 110 tribunal de origem. Preceden-
tes citados: do STF: RE 163.231-SP, 291612001; do STJ: REsp
635.807-CE, DJ 2016/2005; REsp 547.170-SP, Df 101212004, e
REsp 509.654-MA, DJ 16í1I/2004. REsp 1.099.634-RJ, Rei.
Min. Nancy Andrighi, julgado çm 8/5/2012.

16.4.4. PROTEÇÃO CONTRA A PUBLICIDADE ENGANOSA E


~ABUSIVA

A publicidade é um meio de difusão e informação com um fim


comercial. A lei consumerista expressa no artigo 37 o conceito de uma
publicidade enganosa e abusiva. O direito básico do artigo 6, inciso IV,
tem como objetivo o equilíbrio da relação de consumo, evitando-se a
configuração do abuso de direito.

16.4.5. A MODIFICAÇÃO E A REVISÃO DAS CLÁUSULAS


CONTRATUAIS

Sempre que o contrato de consumo se iniciar desequilibrado pela


presença de uma cláusula abusiva, o consumidor irá requerer a sua
modificação em razão da presença de uma prestação desproporciOnal,

.::,"-''""' /l.oo.u1nR t PRÁTICA CIVIL j 3"cdiçâo


DIREITO DO CONSUMIDOR I
!I Clpítulo XVI

isto é, uma lesão congênere. Contudo, se um fato superveniente acar-


retar o desequilíbrio na relação de consumo, o consumidor irá buscar
a revisão do mesmo. Fica claro então que a primeira parte do artigo
6º, inciso V, abordou a teoria da lesão consurnerista, e a segunda, a
teoria do rompimento da base objetiva do negócio jurídico.

16.4.6. A PREVENÇÃO E A REPARAÇÃO INTEGRAL DOS DANOS

Educar, orientar e informar os consumidores e fornecedores são


deveres básicos para que ocorra a devida prevenção dos danos; já com
relação à repu_;_·ação destes, aplica-se o princípio da rcstitutio intcgrum.
Assim sendo, qualquer tipo de tarifação ou mesmo tabelamento será
considerado abusivo. A lei enfatiza que deverão ser reparados os danos
materiais e morais, i_ndividuais, coletivos e difusos.

16.4.7. fACILITAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA E À ADMINISTRAÇÃO

É necessário que o consumidor tenha meios para ver os seus direi-


tos sendo assegurados, seja pelo Judiciário, seja pela Administração
Pública. Hoje também se trabalha com a prevenção e a reparação dos
danos. O acesso ao judiciário é um direito básico do consumidor, e
· qualquer cláusula que venha obstar o mesmo será tida corno abusiva.
Vale ressaltar a regra da própria lei em seu artigo 5º. Avalie:

Artigo 5". Para a execução da Política Nacional das Rela-


ções de Consumo, contará o poder público com os seguintes
instrumentos, entre outros:
I- manutenção de assistência jurídica, integrare gratuita
para o consumidor carente;
li - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do
Consumidor, no âmbito do Ministério Público;
III - criação de delegacias de polícia especializadas no
atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de
consumo;

495
Capítulo XVI ~

IV- criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e


Varas Especzalz':adas para a solução de litígios de consumo·
V - conce~sao de estímulos à criação e desenvolvimento
das Assoczaçoes de Defesa do Consumidor.

16.4.8. fACILITAÇÃO DA DEFESA E A INVERSÃO DO ÔNUS DA


PROVA

. . Diante da facilit~ção da defesa do consumidor, será permitido ao


JUIZrealizar uma analise de critério subjetivo para se inverter o ônus
da prova. Destaca a lei de proteção ao consumidor no inciso VIII de
seu arhgo 6º:

VIII- a fa':ilitação da defesa de seus direitos, inclusive


. . a mversao do o'n<LS da prova/ a seu fiavor, no processo
com
czvzl, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando f~r ele hzpossuficiente, segundo as regras ordinárias
de experzenczas.

Normalmente, o ônus da prova é daquele que alega o fato con-


f~rrme previsão do digesto processual de 2015 no artigo 373. A {nver-
esao exposta no- inciso VIII da lei do CDC é a cons,·derad a ope zu . a·lClS.
'.por essa _:azao, poderá o magistrado inverter quando presentes a
hzpossufiCiencia
!e· t ou a verossimilhanca • · Importante m encwnar
. que a
1 mos ra outra modalidade de inversão presente nos artigos 12 § 3º
M§~' ' e 38d . . , ,·
' , enommada de ope legis. Nessa segund a mo d a l"d '
1 a d e, a
'
carga probatona Ja e transferida ao fornecedor.
E 0 nosso Tribunal da Cidadania?

Inv_ersão do ônus da prova. Regra de instrução.


A Seçao, por mawrza, decidiu que a inversão do ônus da prova
de que trata 0 artigo 6º, VIII, do CDC é regra de instrução
devendo a decisão judicial que determiná-la ser proferid;
preferenczalmente .na fase de saneamento do processo ou, pelo
menos, assegurar a parte a quem não incumbia inicialmente o
encargo a reabertura de oportunidade para manifestar-se nos

496 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL 1 3a edição


autos. EREsp 422.778-SP. Rei. originário Min. João Otávio
de Noronha, Rei. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti
(artigo 52, IV, b, do RISTJ), julgados em 291212012.

Agmvo ,-egimenta! em agravo de instrumento.


Inversão do ônus da ptova. Artigo 6Q, inciso VIII,
do Código de Defesa do Cons':'midor. Hipossuficiên-l
cia e verossimilhança. CRITERIO do juiz. Reexame
do contexto fáctico-probatório. Enunciado nQ 7 da
Súmula do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes.
1. Em se tratando de relação de consumo, a inversão do
ônus da prova não é automática, cabendo ao magistrado a
análise da existência dos requisitos de hipossuficiência do
consumidor e da verossimilhança das suas alegações, con-
forme estabelece o artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa
do Consumidor.
2. Reconhecida no acórdão impugnado, com base nos ele-
mentos fácticos dos autos, a presença dos requisitos a ensejar a
inversão do ônus da prova, rever tal situação, nesta instância
especial, é inadmissível, pela incidência do enunciado nº 7 da
Súmula do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes.
3. Agravo regimental improvido. (AgRg no Ag 1102650/
MG, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRI-
MEIRA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 02/02/2010)

4.9. A ADEQUADA E EFICAZ PRESTAÇÃO DOS


SERVIÇOS PÚBLICOS EM GERAL

O Código de Defesa do Consumidor será aplicado quando se tra-


tar de serviços públicos executados mediante o regime de concessão.
Neste sentido, o artigo 22 da norma consumerista institui:

'Artigo 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,


concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outm forma
de empreendimento, são obrigados afomecer serviços adequa-
dos, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

497
ANDRÉ M01~\, (RlSTH"'D SOBRAL, LUCIANO F!GUElREDO, ROBERTO FiGUEIREDO, SABR!NA DoVRADO
\ DIREITO DO CONSUMIDOR
Capitulo XV~

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou


parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas
jurídicas compelidas a cumpri·las e a reparar os danos cau·
sados, na forma prevista neste código. !

Vale ressaltar que os serviços custeados por tributos serão afas·


tados dos preceitos consumeristas

16.5. A RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC

A lei consumerista não faz qualquer distinção entre a respon·


sabilidade contratual e a extracontratual e, além disso, traz duas
modalidades de responsabilidades: por vício e por fato.

16.5.1. A OCORRÊNCIA DO VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

A presente matéria está capitaneada nos artigos 18, 19, 20, 23 e 26


da Lei nº 8.078/90, que diz:

Vício é a improp1'iedade ou a inadequação do produto ou


serviço que fere a expectativa do consumidor. Possui o vício
uma natureza intrínseca e pode ele ser de fácil constatação,
aparente e oculto.

O vício do produto pela falta de qualidade se encontra presente


na regra do artigo 18, enquanto for pela quantidade, consulte·se o
artigo 19.
Sendo o vício pela falta de qualidade salienta o artigo 18:

Artigo 18. Os fornecedores de produtos de consumo durá·


veis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios
de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou ina·
dequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam
o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade,
DIREITO DO CONSUMIDOR I
rc;íLulc' XVI

com as indicações constantes do recipiente, da embalagem,


rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas.
§ 1º. Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta
dias, pode o consumidot exigir/ alternativa~ente e à sua
escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie,
em perfeitas condições de uso;
II- a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perda& e danos;
III- o abatimento proporcional do preço.
§ 2º. Poderão as partes convencionar a r?dução ou amplia·
ção do prazo previsto no parágrafo anterior, não pod~ndo
ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos
contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser conven-
cionada em separado, por meio de manifestação expressa do
consumidor.
§ 3º. O consumidor poderá Jazer uso imediato das alterna·
tivas do § 1º deste artigo sempre que, em razão da extensão do
vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a
qualidade ou características do produto, diminuir·lhe o valor
ou se tratar de produto essencial.
§ 4º. Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso
I do § 1º deste artigo, e não sendo possível a substituição do
bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca
ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição
de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos
znczsos li e III do § 1º deste artigo.
§ 5º. No caso de fornecimento de produtos in natura, será
responsável perante o consumidor o fornecedor imediato,
exceto quando identificado claramente seu produto(.
§ 6º- São impróprios ao uso e consumo:
I- os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II- os produtos deteriorados, alterados, adulterados, ava·
riados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida
ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com
as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou
apresentação;

AnDRÉ MOTA, CRJSTJ,\N() SOBR.U, LUCIANO FlGUPJREDO, RüBERl"O f'I(;UJ::J!t~:DO, S\lllllNA DOURADO 499
I1I- os produtos que, por qualquer motivo, se revelem ina-
dequados ao fim a que se destinam.

Deve ser ressaltado que todas as vezes que o CDC mencionar


o vocábulo fornecedores, a responsabilidade civil será, em regra,
solidária. Na hipótese do § 5º do artigo 18 transparece rompimento
da mes1na, pois não haverá responsabilidade de todos da cadeia de
consumo quando estivermos na frente de um produto ín naturaf ou
seja, aquele que não sofre processo de industrialização.
Em razão do risco da atividade desenvolvida pelos fornecedores,
esta será objetiva, isto é, independentemente de culpa.
O consumidor, como regra geral, necessita de observar o prazo
máximo de 30 dias, conforme narrado no § 1º do artigo 18, para que
o fornecedor venha a sanar o vício no produto. Contudo, se ele não
for sanado, o consumidor poderá tomar as medidas cabíveis na lei
como: substituição ou restituição mais perdas e danos ou abatimento.
Todavia, a lei no seu § 3º enfatiza que tal prazo não será observado
em certas hipóteses, o que significa que o uso dos pedidos poderá ser
realizado de fqrma imediata.

:>ATENÇÃO!
O prazo acima mencionado poderá ser modificado? A res-
posta será encontrada com a breve leitura do § 2º do artigo 18
supracitado.

Em se tratando de vício do produto com relação à quantidade, a


leitura do artigo 19 deve ser realizada. Note:

Artigo 19. Os fornecedores respondem solidariamente


pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeita-
das as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo
líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I- o abatimento proporcional do preço;
li - complementação do peso ou medida;

500 EDITORA ARMADOR j PRÁTlCA ÜVlL j 3a edição


fcapíwln :\.'VI

III- a substituição do produto por outro da mesma espécie,


marca ou modelo, sem os aludidos vícios; .
IV - a restituição imedi11ta da quantza paga, monetarza-
mente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
§ 1º. Aplica-se a este artigo o disposto no § 4º do artzgo
anterior. , , fi-
§ Zº. 0 fornecedor imediato sera responsavel qua11do -~er
a pesagem ou a medição e o in~trumento utzlzzado nao estzver
aferido segundo os padrões oficzms.

Nessas palavras, prevalecem as mesmas observaç~e~ i:r;ici~is,_ ~u


. a é a da solidariedade e a responsabilidade CIVIl e obJetn a.
seJa, a regr l" d . d d no caso
Porém, haverá hipótese de rompimento dessa so I ane a e
proposto no § 2º. . , -
Outro ponto ilT',portante sobre o vício de quantidade e que nao
será necessário esperar o prazo para que ele seja s~nado, co~o oc~rre
no artigo 18. Urna vez que existe o vício, o consumidor podera realizar
os edidos apresentados de forma imediata.
p Sendo o vício do serviço, o leitor deverá ter atenção ao artigo 20.
Destaca a lei:

Artigo 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios


de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da dls-
paridade com as indicações constantes da oferta ou mensagem
publicitária, podendo o consumidor exigir, alternatzvamente
e à sua escolha: . .
I _ a reexecução dos serviços, sem custo adzczonal e quando
cabível; · t
I/_ a restituição imediata da quantia paga, monetanamen e
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
I/I- o abatimento proporcional do preço. .
§ 1º. A reexecução dos serviços poderá ser confiada a tercez-
ros devidamente capacitados, por conta e rzsco do fornecedor.
'§ 2º. São impróprios os serviços que se mostrem made-
quados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem
como aqueles que não atendam as normas r-egulamentares
de prestabilidade.

501
ÁNDRE. MOTA, (RlST!ANO $OBRAL, LUCIANO fJGUE!REDO, ROIIEitrO fJGUF.IREDO, SABRINA Dol'R.\DO
l DIREITO DO CONSUMIDOR

A solidariedade de todos que fazem parte da cadeia de consumo


também é muito importante, embora o artigo não tenha mencionado
expressamente como o fez nos anteriores. A responsabilidade também
1
independe de culpa, isto é, a mesma é objetiva.

:>ATENÇÃO!
Lembre-se de que os vícios do produto ou do serviço são intrín-
secos, ou seja, inerentes.

16.5.2. A DECADÊNCIA. ANÁLiSE DO ARTIGO 26 DO CDC

O prazo para reclamar junto ao fornecedor sobre os vícios do


produto e do serviço são decadenciais de 30 dias para os bens não
duráveis e de 90 dias para os bens duráveis. A contagem desse prazo
inicia-se com a entrega efetiva do produto ou do término da execução
dos serviços.
O prazo decadencial será suspenso com a reclamação compro-
vadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de
produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve
ser transmitida de forma inequívoca, bem como pela instauração de
inquérito civil, ainda no seu encerramento.
Além disso, tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial
começa no momento em que ficar evidenciado o defeito. Há ainda
um critério utilizado baseado na Teoria da Vida Útil, em que se avalia
a duração do bem ou serviço, para se estender o prazo inicial do con-
sumidor de reclamar.

:>ATENÇÃO!
Conforme abordado, os prazos são decadenciais e também são
utilizados para os vícios de fácil constatação, aparente e oculto,
o que os diferenciam é o dies a quo.

,...~·--~· '"··"~"" 1 Pn.iTICAC!VIL 1 3"edição


DIREITO DO CONSUMIDOR I
rCapitulo XVI

16.5.3. A OCORRÊNCIA DO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

É o acidente de consumo ou defeito causado pelo produto ou


serviço. O mesmo é tão grave que gera danos ao consumidor. Fica
evidente a diferença para o vício que é um defeito menos grave e que
recat sobre o produto ou o serviço (intrínseco).
O fato do produto está capitaneado nos artigos 12, 13 e 27 da lei
consumerista. Observe:

Artigo 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacio-


nal ou estrangeiro, e o importador respondem, independente-
,,,._, .. ._ .........
Wl<>nf"' rr•lnn p-la
,-,.,_, . ._ .•.••rle ,_·r··,
rln t>v1e>f8nr1n t:. ·- - d.os d.anoscau~
,t:paraçao
sados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto,
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos.
§ 1º. O produto é defeituoso quando não oferece a segurança
que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração
as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I- sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
Ili- a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º. O produto não é considerado defeituoso pelo fato de
outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.
§ 3º. O fabricante, o construtor, o produtor ou importador
só não será responsabilizado quando provar:
I- que não Cvlocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o
defeito inexiste;
III- a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Artigo 13. O comerciante é igualmente responsável, nos


termos do artigo anterior, quando:
I- o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador
não puderem ser identificados;

ANoRf: MnT-\, CR!STJ\NO Süllllt\1, LUCIA'·W fJ(;UF!HUJO, RoBnrro FJGl'r.IREDO, Si\.IIRJNA Doun,\PO 503
Capítulo X\IJ

li- o produto for fornecido sem identificação clara do seu


fabncant": produtor, construtor ou importador;
III-: nao co~servar adequadamente os produtos perecíveis.
. Paragrafo u~zco. Aquele que efetivar o pagamento ao pre-
;udzcad~ podera exercer o direito de regresse contra os demais
responsavezs, segundo sua participação na causação do evento
danoso.

. A escolha da responsabilidade civil pelo legislador foi clara na


lellura do artigo 12, isto é, ela é objetiva (independente da existência de
wlpa). O fato do prc::,du:o exibe natureza extrínseca, por causar danos
morais, ~atena1s, estehcos e, inclusive, a perda de uma chance ao
consum1do:. O defeito do produto pode ser causado por um erro
de. concepçao ou de _comercialização. Exemplo: há pouco tempo um
\· e.ICulo automotor na o mostrava orientação de como manusear deter-
mm~da peça, e ela estava decepando o dedo do consumidor. Outro
ep1sod10 bastante divulgado foi o de urna geleia bem conhecida, em
que urna senhora deu algumas colheradas a seus filhos e, logo depois,
eles rnm rerarn. Fm constatada na perícia que havia raticida no produto.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Dano moral. Preservativo em extrato de tomate


A Turma manteve a indenização de R$ 10.000,00 por
danos .morazs para a consumidora que encontrou um pre-
servatiVo masculino no interior de urna lata de extrato de
tomate, visto que o fabricante tem responsabilidade objetiva
pelos produtos que disponibilizo no mercado, ainda que se
trate de um szstema de fabricação totalmente automatizado
no qual, em princípio, não ocorre intervenção humana. O fat~
de a consumzdora ter dado entrevista aos meios de comunica-
ção não fere seu direito à indenização; ao contrário, divulgar
tal fato, de'!'onstrando a justiça feita, faz parte do processo
de reparaçao do mal causado, exercendo uma função educa-
dora. Precedente: REsp 1.239.060-MG, D]e 18/512011. REsp
1.317.611/RS, Min. Rel. NANCY ANDRIGHI, julgado em
12.06.2012. (ver Informativo nº 499)

504 EDJTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL 1 y edição


rc;pítu!o XVI

Defeito de fabricação. Relação de consumo. Ônus


da prova.
No caso, houve um acidente de trânsito causado pela que-
bra do banco do motorista, que reclinou, determinando a perda
do controle do automóvel e a colisão com uma árvore. A fabri-
cante alegou cerceamento de defesa, pois não foi possível uma
perícia direta no automóvel para verificar o defeito de fabri-
cação, em face da perda total do veículo e venda do casco pela
seguradora. Para a Turma, ofato narrado amolda-se à regra do
artigo 12 do coe, que contempla a responsabilidade pelo fato
do produto. Assim, considerou-se correta a inversão do ônus
da prova, atribuído pelo próprio legislador ao fabricante. Para
afastar sua responsabilidade, a montadora deveria ter tentado,
por outros meios, demonstrar a inexistência do defeito ou a
culpa exclusiva do consumidor, já que outras provas confirma-
ram o defeito do banco do t)cfculo c sua relação de cnusalirlarle
com o evento danoso. Além disso, houve divulgação de recall
pela empresa meses após o acidente, chamado que englobou,
inclusive, o automóvel sinistrado, para a verificação de pos-
sível defeito na peça dos bancos dianteiros. Diante de todas
as peculiaridades, o colegiado não reconheceu cerceamento de
defesa pela impossibilidade de perícia direta no veículo sinis-
trado. Precedente citado: REsp 1.036.485-SC, Dfe 5/312009.
REsp 1.168.775/RS, Rel. Min. PAULO DE TARSO SANSE-
VERINO, julgado em 1014/2012. (ver Informativo nº 495)

Deve ser dito que consoante proposta do texto legislativo narrado,


o comerciante fora excluído da lista do artigo 12. Indaga-se: Po1· que
o comerciante foi excluído dessa via principal? Justamente por ele
não possuir o controle sobre a concepção do produto. Dessa maneira,
o CDC lhe atribui uma responsabilidade subsidiária. Seria assim em
toda e qualquer hipótese? Não, somente no caso do fato do produto.
Tema de grande conotação, abordado no artigo 12, § 3º, são as
excludentes de responsabilidade. Percebe-se que não foram citados o
caso fortuito e a 'força maior. Por essa razão, para as provas objetivas
siga o rol do artigo, apesar de não advogar no sentido de ser esse rol
taxativo.

ANDRf MOTA, CRJSTIANO ;jOBRAL, LL'C!ANO fJGl'EIREDO, ROBERTO ftGLTJREDO, 5ABRINA DoUR!I DO
505
I DIREITO DO CoNSUMIDOR
Capí1 ulo xVil
Qual seria o prazo para a propositura da Ação Indenizatória
no caso do fato do produto? São cinco anos prescricionais do conhe-
cimento do dano e de sua autoria. O fato do serviço possui previsão
nos artigos 14 e 27. Examine: I
Artigo 14. O fornecedor de serviços responde, indepen-
dentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou ina-
dequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1º- O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança
que o consumidor dele pode esperar, levando-se em conside-
ração as circunstâncias relevantes, entre as qums:
I- o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se
esperam;
III- a época em qúe foi fornecido.
§ 2º- O serviço não é considerado defeituoso pela adoção
de novas técnicas.
§ 3º .O fornecedor de serviços só não será responsabilizado
quando provar:
I- que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II -a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais
será apurada mediante a verificação de culpa.

Assim como previsto no artigo 12, no caso de fato do serviço a


responsabilidade será objetiva por uma escolha legal; no entanto,
existe uma exceção a esse respeito expressa pela lei do CDC no artigo
14, § 4º. Dessa forma, a responsabilidade do profissional liberal será
apurada mediante a verificação de culpa.
Outra questão importante é a da responsabilidade dos partici-
pantes na cadeia de consumo. É possível fazer as mesmas observa-
ções proferidas no artigo 12? Não. Nesse caso, há diferença quanto
à responsabilidade civil, pois no fato do produto, o CDC especificou
quem são os responsáveis, e, ao falar no fato do serviço, apenas cítou

L'"''''"' n""'-<nr)R I PnA-ncACJVJJ. i 3''cdição


DIREITO DO CONSUMIDOR !

o vocábulo fornecedor. Conclui-se que, no fato do serviço, todos os


participantes da cadeia de consumo respondem solidariamente.
Um exemplo clássico de fato do serviço está contido na Súmula
n' 370 do STJ, que dispõe que "Caracteriza dano moral a apresen-
tação antecipada de cheque pré-datado."
E o nosso Tribunal da Cidadania?

C~nsumidor. Recurso especial. Ação de compen-


saçao por danos morais. Embargos de declaração.
Omissão, contradição ou obscuridade. Não ocorrên-
cia. Recusa indevida de pagamento com cartão de cré-
dito. Responsabilidade solidária. HBandeira"lmarca
do cartão de crédito. Legitimidade passiva. Reexame
de fatos e provas. Incidência da Súmula nQ 7 do STJ.
• Ausentes os vícios do artigo 535 do Código de Processo
Civil [corresponde ao art. 1.022, CPC/15], rejeitam-se os
embargos de declaração.
• O artigo 14 do CDC estabelece regra de responsabilidade
solidária entre os fornecedores de uma mesma cadeia de
serviços, razão pela qual as "bandeiras"/marcas de cartão
de crédito respondem solidariamente com os bancos e as
administradoras de cartão de crédito pelos danos decorren-
l~s da má prestação de serviço~ ..
• E inadmissível o reexame de fatos e provas em recurso
especial.
• A alteração do valor fixado a título de compensação por
d~n?s morais somente é possível, em recurso especiat nas
hzpoteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de
origem revela-se irrisória ou exagerada.
Recurso especial não provido. (REsp n' 1029454/RJ, Rei.
Min. NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, jul-
gado em 01.10.2009, DJe, 19.10.2009) (ver Informativo
nº 409)

Agravo regimental. Agravo em recurso especial.


Responsabilidade civil. Cheque pré-datado. Apre-
sentação antecipada. Danos morais. Súmula 370/STJ.
Quantum indenizatório. Razoabilidade. Reexame do

!\NJ.;RÍ. Tlh>T", CR!~nAsO SOliH\L, l,lJClANO FlGUEJRrno, Rom-:RTO I'JGVEJRrno, SAJIRJNA DotiRADO 507
Ctpíwlo X\~ \C

conjunto fático-probatório. Impossibilidade. Súmula


7/STJ. Decisão agravada mantida. Improvimento.
1- Ultrapassar os fundamentos do Acórdão demandaria,
inevitavelmente, o reexame de provasf incidindo, à espécie, o
óbice da Súmula 7 desta Corte.
2 -O posicionamento adotado pelo colegiado de origem se
coaduna com a jurisprudência desta Corte, que é pacifica no
sentido de que a apresentação antecipada de cheque pré-da-
tado gera o dever de indenizar por dano moral, conforme o
enunciado 370 da Súmula desta Corte.
3 - É possível a intervenção desta Corte para reduzir ou
aumentar o valor indenizatório por dano moral apenas nos
casos em que o quantum arbitrado pelo Acórdão recorrido se
mostrar irrisório ou exorbitantef situação que não se faz pre-·
sente no caso em tela, em que a indenização foi fixada em R$
5.000,00 (cinco mil reais).
4- O Agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz
de modificar a conclusão alvitrada, a qual se mantém por seus
próprios fundamentos.
5 -Agravo Regimental improvido. (AgRg nos EDcl no
AREsp 17440 I SC, Rel. Min. SIDNEI BENETI, TER-
CEIRA TURMA, julgado em 15.09.2011, OJe 26/10/2011)

Direito do consumidor. Danos morais. Devolução


de cheque por motivo diverso.
É cabível a indenização por danos morais pela ins-
tituição financeira quando cheque apresentado fora
do pmzo legal e já prescrito é devolvido sob o argu-
mento de insuficiência de fundos. Considerando que a Lei
n' 7.35711985 diz que a "a existência de fundos disponíveis é
verificada no momento da apresentação do cheque para paga-
mento" (artigo 4º, § Iº) e, paralelamente, afirma que o título
deve ser apresentado para pagamento em determinado prazo
(artigo 33), impõe-se ao sacador (emitente), de forma implícita,
a obrigação de manter provisão de fundos somente durante
o prazo de apresentação do cheque. Com isso, evita-se que o
sacador fique obrigado em caráter perpétuo a manter dinheiro
em conta para o seu pagamento. Por outro lado, a institui-
ção financeira não está impedida de proceder à compensação

508 EDITORA AR.\MDOR j PRÂTICA CiVIL j 3a edição


Carírulo XVI

, razo de apresentação se houver saldo em


do cheque ap~ o p- poderá devolvê-lo por insuficiência de

fcon~~s~~~t~p~s=:~ação tiver ocorrido após o prazo que a lei


un rática desse ato. Ademazs, de acordo com o
assmaloluOpara ap l da Compe (Centralizadora da Compen-
Manua peraczona . l " f·
- d Cheques) o cheque deve ser devolvrdo pe o mo wo
saçao e ' ·meira apresentaçao, - nao - t.zver f undos e'
11" quan do, em pn d .
" t. 12" q•wndo não tiver fundos em segun a apJe-
pelo mo rvo • ' ' · 'vel
- Dito isso é preciso acrescentar que so sera possz
sentaçao. ue o cheq;<e foi devolvido por falta de fundos quando
afrm~d ser validamente apresentado. No mesmo passo, vale
e e po f< ido Manual estabelece que o cheque sem
destacar quet o re elrl e 12] somente pode ser devolvido pelo
f •mdos
. .
[mo rvos · · · - fi a 1
dente. Diante disso, se a mstztuzçao .;' J-
motrvo coz:~,~~u a devolução de cheque em insujiczencra
cerra fun . . ···- ~" ..~. ...... .,._,sfa ,..011fiaurada uma
undOS maS 0 Jn0tzV0 f;:./U U~HIV, r+-~~~ "- ''}"? ' ,
df f hi Ótese de defeito na prestação do servzço bancano,
~i~~~ o banco recorrido não atendeu a r~gra_mento al ddmz~
qJe
. d d fiorma cogente pelo orgao regu a or,
nistrativo bazxa o e ·abilidade obJ·etiva pelos
a-se portanto, sua respon> .
fi
con gudr , dos ao consumidor, nos termos do artrgo 14
danos ejlagra , d 1'
L . º 8 07811990. Tal conclusão e reforçada quan o, a em
da ez n . t d fi ·a do prazo amda se con-
de o cheque ter sido apresen a o oz SP R l 'M. SIDNEI
sumou a prescrição. REsp l-297. 353- ' e · m.
BENETI. julgado em 16110/2012.

Sobre o tema, veja entendimento sumulado:


Súmula n• 388 do STJ: "A si~1ples devolução indevida
de cheque caracteriza dano moral.

~ATENÇÃO!
rve a recente Súmula nº 572, do STJ, dispondo
Sobre o tema, obse
que:

"O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro


de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a

r llEJREDO RonEJno Fll;unREno, SABRJN." DouRADO


509
ANDRÉ l\10TA, CRJ5TlA!--:0 5oSRA.L, Lllclh;-.;O lG . '
!DIREITO DO CoNSUMIDOR

responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca


da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade
passiva para as ações de reparação de danos fundadas na
ausência de prévia comunicação."

CDC. Seguro auton,otivo. Oficina credenciada.


Danos 1nateriais e morais.
A Turma, aplicando o Código de Defesa do Consumidor,
decidiu que a seguradora tem responsabilidade objetiva e soli-
dária pela qualidade dos serviços executados no automóvel do
consumidor por oficina que indicou ou credenciou. Ao fazer
tal indicação/ a seguradora, como fornecedora de serviços,
amplia a sua responsabilidade aos consertos reati::.uu'u~ pt:ia
oficina credenciada. Quanto aos danos morais, a Turma
entendeu que o simples inadimplemento contratual, ntá qua-·
lidade na prestação do serviço, não gera, em regra, danos
morais por caracterizar mero aborrecimento, dissabor. envol-
ver;.do controvérsia possível de surgir em qualquer relação
negociai, sendo fato comum e previsível na vida social, embora
não desejável nos negócios contratados. Precede11tes citados:
REsp 723.729-RJ, DJ 30/1012006, e REsp 1.129.881-RJ, DJe
1911212011. REsp 827.833/MG, Rel. Min. RAUL ARAÚJO.
julgado em 24/412012.

A quebra da confiança e da lealdade nesse contexto rompe a boa-fé


objetiva e gera o chamado dano moral in re ipsa, ou seja, presumido.
Outro caso pode ser mencionado: quando um paciente é encaminhado
para fazer um exame em uma determinada clínica e sai contaminado
por algum vírus.
Diante da ocorrência de dano causado ao consumidor por uma
falha na prestação do serviço, o fomecedor pode sugerir alguma
excludente para romper o nexo causal e consequentemente afastar
a sua responsabilidade? Sim. Valem as mesmas observações feitas
para o artigo 12, § 3º, pois no artigo 14, § 3º, também não foram cita-
dos o caso fortuito e a força maior no rol de excludentes de respon-
sabilidade.

.5-' edição
DIREITO DO CONSUMIDOR I
rcapírulo XVI

:l ATENÇÃO!

Qual seria o juízo competente para a propositura da ação


indenizatória por fato e vício? O consumidor poderá, faculta-
tivamente, propor a ação tanto em seu domicílio quanto no do
Réu, por força da regra dos artigos 101, inciso I, e 6º, inciso VII,
ambos do CDC.

16.6. DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA

Com fundamento no princípio da separação patrimonial, as pessoas


jurídicas devem responder por suas obrigações com o seu patrimônio,
não podendo a execução, como regra geral, adentrar no patrimônio
particular dos sócios ou administradores.

:l ATENÇÃO!

Sobre este terna, ressaltamos a inovação processual trazida pelo


CPC/15 que trata do Incidente de Desconsideração da Personali-
dade Jurídica, disposto nos arts. 133 e seguintes do novo diploma.

Todavia, em certos casos, o patrimônio dos sócios ou administra-


dores pode ser executado com a devida aplicação da desconsideração
(disregard doctrine). Desconsideração da personalidade jurídica é a
suspensão episódica da eficácia do ato constitutivo.
No artigo 28 do CDC consta o seguinte terna:

Artigo 28. O juiz poderá desconsiderar a pers~nalidade


jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor,
houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato
ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social.
A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade
da pessoa jurídica provocados por má-administração.

J\~vRí: :>lorA. C!tiSTJ.\NO :;,oiii!-\L, Ll'<..!A~o FKa'Elll.fDo, RoHK!<l l'l,_;u;Jnum, S,\BRI>'A DoURADO 511
Capitulo xVllI

§ Iº. !VETADO).
§ 2º. As sociedades integrantes dos grupos societários e as
soczedades controladas, são subsidiariamente responsáveis
pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 3º. As sociedades consorciadas são solidariamente res-
P?nsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
i § 4'- As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5º. Também poderá ser descor,siderada a pessoa jurídica
sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

O COC optou por adotar a Teoria Menor da Desconsideração da


Person~lzdade Jurídica, po,is com a apresentação da mera prova de
msolvenCia ~a pessoa jundica para o pagamento de suas obrigações;
o JU17: p~dern _sus~Pnder a eficácia do ato constitutivo, independe:fl.te
de desviO de finalidade ou confusão patrimonial. O CC/2002 escolheu
a Teoria Maior em seu artigo 50, exigindo a prova de insolvência o
desvio de finalidade ou a confusão patrimonial. '
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Responsabilidade civil e direito do consumidor.


Recurso especial. Shopping Center de Osasco-SP.
Explosão. Consumidores. Danos materiais e morais.
Ministério Público. Legitimidade ativa. Pessoa jurí-
dzca. Desconszderação. Teoria maior e Teoria menor.
Limite de responsabilização dos sócios. Código de
Defesa do Consumidor. Requisitos. Obstáculo ao res-
sarcimento de prejuízos causados aos consumidores.
Artigo 28, § 5g. Considerada a proteção do consumidor um
dos pilares da ordem econômica, e incumbindo ao Ministério
Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
d_os interesses sociais e individuais indisponíveis/ possui o
Orgão mi~isteriallegitimidade para atuar em defesa de inte-
resses mdzvzduazs homogêneos de consumidores, decorrentes
de ongem comum. A teoria maior da desconsideração,
regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode ser apli-
cada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica
msolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-se,

512 EDITOR-<~. AR\UDOR 1 PRÃTlCA CIVIL ! 3'' edição


~ltulo XVI

aqui, para além da prova de insolvência, ou a dem~nstra€ão


de desvio de finalidade (teona subJetiVa da desconszderaçao),
ou a demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva
da desconsideração). A teoria menor da desconsideração,
acolhida em nosso ordenamento jurídico excepcionalmente
no direito do consumidor e no direito ambiental, incide com
a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o paga-
mento de suas obrigações, independentemente da existência
de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. Para a
teoria men01; o risco empresarial normal às atividades eco-
nômicas não pode ser suportado pelo terceiro que contratou
com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores
desta, ainda que estes demonstrem conduta administrativa
proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de
identificar conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e!
ou administradores da pessoa jurídica. ~A~ aplicação da teona
menor da desconsideração às relações de consumo está cal-
cada na exegese autônoma do § 5º do artigo 28 do Código de
Defesa do Consumidor, porquanto a incidência desse disposi-
tivo não se subordina à demonstração dos requisitos previstos
no caput do artigo indicado, mas apenas à prova de causar, a
mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressarcimento
de prejuízos causados aos consumidores. Recursos especiais
não conhecidos (REsp nº 279.273/SP, rel. Ministro Ari Par-
gendler, rel.ºp!Acórdão Ministra Nancy Andrighi, 3º Turma,
j. em 04.12.2003, Df, 29.03.2004, p. 230)

16.7. OFERTA

O conceito de oferta, bem como o princípio da vinculação, pode ser


extraído da leitura do artigo 30 do COC. Perceba:

,Artigo 30. Toda informação ou publicidade, suficien-


temente precisa, veiculada por qualquer forma ou mezo de
comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos
ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou
dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

513
ANDRÉ MOTA, CR!STtANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBilltTO FIGUEIREDO, SAnRlNA DOURADO
1 DiREiTO DO CoNSUMIDOR
Capítulo XVtl

Deste modo, oferta divide-se em informação e publicidade.


Importante observar que nem toda oferta vincula, mas somente aquela
que for suficientemente precisa. Um exagero publicitário (puffing) não
obriga o fornecedor, como no caso da publicidade do Red Bull. Nin-
guém irá processar a Red Bull por não ter "ganho asas". Diante disso,
oferta suficientemente precisa é aquela que mostra termos claros/
precisos e está dentro dos padrões praticados no mercado.
O princípio da veracidade da oferta está intimamente ligado à boa-
-fé objetiva, referido no artigo 31 da lei de proteção ao consumidor.
Sugere-se a leitura desse dispositivo:

..:1rtiga 31. A oferta e r!presentnr;iin de produtos ou servi-


ços devem assegurar informações corretas, claras, precisas,
ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características,
qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, pra:os
de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os
riscos que apresentam à saúde e segurança dos consu1nidores.
Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos
produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão grava-
das de forma indelével.

O artigo 32 da lei consumerista delimita a responsabilidade para


o fabricante e importador no caso da reposição de peças, enquanto não
cessar a fabricação ou a importação do produto. Uma vez suspensa
a fabricação ou importação das peças, elas deverão ser mantidas por
um tempo de vida útil. É o que dispõe a lei:

Artigo 32. Os fabricantes e importadores deverão asse-


gurar a oferta de componmtes e peças de rer1osição enquanto
não cessar a fabricação ou importação do produto.
Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a
oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na
forma da lei.

Caso ocorra venda por telefone ou reembolso postal, o CDC


obriga a devida identificação do fabricante ou do importador para
que fique caracterizada a transparência. Leia-se a lei:

C1A EDITOR,\ ARMADOR \ PRÁTICA ClVlL I Y edição


DIREiTO DO CONSUMIDOR I
r Capítulo XVI

Artigo 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou


reembolso postal, deve constar o nome do fabricante e ende-
reço na embalagem, publicidade e em todos os impressos uti-
lzzados na transação comercial. Parágrafo único. É proibida a
publzczdade de bens e serviços por telefone, quando a chamada
for onerosa ao consumidor que a origina.

A responsabilidade solidária dos fornecedores do produto ou


serviço novamente é citada pela lei consumerista no artigo 34. Confira:

Artigo 34. O fornecedor do produto ou serviço é solida-


riamente respo11sável pelos atos de seus prepostos ou repre-
sentantes autôrwmos .

A regra anteriormente proposta se equipara à estudada no capí-


tulo de responsabilidade civil desta obra, precisamente a do artigo
932, inciso III, do CC/2002. A responsabilidade civil aqui independe
de culpa, em razão do risco da atividade.
Caso o fornecedor não cumpra com a oferta, quais medidas 0
consumidor poderá adotar? Essa resposta pode ser retirada da leitura
do artigo 35 da legislação do CDC. Leia-se:

Artigo 35. Se ofornecedor de produtos ou serviços recusar


cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consu-
midor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I- exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos
do oferta, apresentação ou publicidade;
II- aceitar outro produto ou prestação de serviço equiva-
lente;
. Ill- rescindir o contrato, com direito à restituição de quan-
tza eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e
a perdas e danos.

16.8. DA PUBLICIDADE

Na busca de fidelizar cada vez mais os consumidores, os forne-


cedores atuam de forma agressiva no mercado de consumo, exibindo

A:-IORÉ MOTA, CIUSTJANO SoBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBtRTO FlGl'ElREDO, SA!lRlNA DOURADO 515
Capítulo XVI /

publicidades muito criativas; porém, deve ser salientado que todo


abuso será recriminado.
. . o_ artigo 36 ~a norma consumerista aborda o princípio da iden-
tlficaçao obngatona da publicidade, que determina:

Artig,o 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma


que o consumidorf fácil e imediatamente, a identifique como
tal.

. Diante da regra expressa, a publicidade subliminar é vedada por


fenr a transparência com o consumidor.
. O legislador proibiu e conceituou a publicidade enganosa e abu-
SIVa no artigo 37, §§ 1º e 2º do coe. Constate: .

Artigo 37. É proibida toda publicidade enganosa ou


abusiva.
§ 1'. É enganosa qualquer modalidade de informação ou
comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente
falsa. ou,por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz
de ~n~uzzr em e_rro o consumidor a respeito da natureza, carac-
tensttcas, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço
e qumsq!:'er outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2º. E abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória
de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo
ou a s~perstição, se aprO!!eite da deficiência de julgammto e
expenencta da cnança, desrespeita valores ambientais, ou que
se;a cap~z de induzir o consumidor a se comportar de forma
pre;ud!Clal ou pengosa à sua saúde ou segurança.
§ 3º. Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa
por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial
do produto ou serviço.

:l ATENÇÃO!

A publicidade enganosa poderá ocorrer de forma comissiva ou


s:ja~. ~enci~nando algo que não é verdadeiro, e omissiva, ~ue
Slgmfica deixar de transparecer uma essencialidade.

516 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 y edição


f<:;itulo XVI

o princípio da inversão do ônus da prova fica claro co~ a leitura


do artigo 38 do coe, visto que se trata de uma das modalidades ope
legis, isto é, não ocorre análise do critério subjetivo do magistrado.
Avalie:

Artigo 38. O ônus da prova da veracidade e correção


da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as
patrocina.

16.9. DAS PRÁTICAS ABUSIVAS

Com previsão no CDC e um rol exemplificativo, o artigo 39


ressalta:

Artig; 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou servi-


ços, dentre outras práticas abusivas:
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço
ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem
justa causa, a limites quantitativos; .
II- recusar atendimento às demandas dos consumtdores,
na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda,
de conformidade com os usos e costumes;
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação
prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;
IV- prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consu-
midor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou
condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;
V- exigir do cOflSUmidor vantagem manifestamente exces-
siva;
VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orça-
mento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as
decorrentes de práticas anteriores entre as partes;
VII- repassar informação depreciativa, referente a ato pra-
ticado pelo consumidor no exercício de seus direitos;

ANDRÉ Mo TA, CRISTIANO SoBRAL, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO fiGUEIREDO, SJ\.BRI NA DOUAADO 517
I DIREITO DO CONSUMIDOR
Capítulo XVI l
VIII- colocar, no mercado de consumo, qualquer produto
ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos
órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não
existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou
outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metro-
logia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);
X -deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua
obrigação ou deixar afixação de seu termo inicial a seu exclu-
sivo critério;
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços,
diretamente a quem se dispo11ha a adquiri-los mediante pronto
pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados
em ltis especiais;
X- elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços;
XI - Dispositivo incluído pela MPV n' 1.890-67, de
22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando da conuer-
são na Lei nº 9.870, de 23.11.1999;
XII - deixar de estipular prazo para o cwnprimento de
sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu
exclusivo critério
XIII- aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal
ou contratualmente estabelecido. ·
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos reme-
tidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no
inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obri-
gação de pagamento.

16.9.1. VENDA CASADA

A lei proíbe a "venda casada", que se aplica quando o fornecedor


de produtos ou serviços associa o fornecimento destes a outro pro-
duto ou serviço. Infelizmente, os bancos praticam muito isso, como
no exemplo de condicionar a contratação do cheque especial caso ele
contrate outro seguro qualquer na instituição.

EDITORA ARMADOR j PRÁTICA. CIVIL I 3a edit,:âo


DIREITO DO CONSUMIDOR I
!capítulo XVI

16.9.2. VENDA QUANTITATIVA

Quando o consumidor chega a um estabelecimento ele está certo


: do que deseja adquirir, mas existem muitos outros que praticam a
denominada venda quantitativa, que é a exigência de se adquirir pro-
dutos ou serviços em quantidade menor ou maior do que a desejada.

16.9.3. RECUSA DE ATENDIMENTO

Caso o produto ou o serviço esteja disponibilizado e o fornecedor


recusar o seu cumprimento, além de ocorrer prática abusiva, ficará
configurado crime contra as relações de consumo, conforme prevê o
artigo 7º da Lei nº 8.137/90, e infração à ordem econômica, diante do
artigo 36, § 3º, inciso XI, da Lei nº 12.529/2011. Um exemplo clássico é
aquele em que as lojas se negam a vender a roupa que se encontra na
vitrine alegando que não podem retirá-la do manequim.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito civil e consumidor. Ilicitude na negativa de


contratar seguro de vida,
A negativa pura e simples de contratar seguro de
vida é ilícita, violando a regra do m·tigo 39, IX, do
CDC. Diversas opções poderiam substituir a simples negativa
de contratar, como aformulação de prêmío mais alto ou ainda
a redução de cobertura securitária, excluindo-se os sinistros
relacionados à doença preexistente, mas não poderia negar
ao consumidor a prestação de serviços. As normas expedidas
pela Susep para regulação de seguros devem ser interpretadas
em consonância com o mencionado dispositivo. Ainda que
o ramo securitário consubstancie atividade de altà comple-
xidade técnica, regulada por órgão específico, a contratação
de seguros está inserida no âmbito das relações de consumo,
portanto tem necessariamente de respeitar as disposições do
CDC. A recusa da contratação é possível, como previsto na
Circular Susep n' 25112004, mas apenas em hipóteses real-
mente excepcionais. REsp 1.300.116/SP, Rei. Min. NANCY
ANORIGHI, julgado em 23/10/2012.

ANvHf: [l.-1oTA, CRISTIANO SoBRAL, !.utlMiO FIGI.If1REno, RollERTO f'JGliEJRF.Do, S,\\JRINA DmmAOO 519
Capítulo XVI

9.4. FORNECIMENTO DE PRODUTO/SERVIÇO NÃO


SOLICITADO

Muitos são os exemplos no nosso cotidiano arrolando pessoas


surpreendidas por produto'i/serviços não solicitados. Ao acordar pela
1
manhã; uma pessoa encontra um jornal de uma determinada empresa
na porta de sua casa e sabe-se que ela não o solicitou. A pessoa vai ter
de pagar pelo jornal? A resposta é negativa e a configuração de uma
prática abusiva está estampada. E o jornal? Deve pagar pelo mesmo?
Novamente a resposta é negativa e o mesmo será considerado uma
amostra grátis. Idêntica solução se aplica aos cartões de crédito não
solicitados.
E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito do consumidor. Envio de cartão de crédito •


à residência do consumidor. Necessidade de prévia e
exptessa solicitação.
É vedado o envio de cartão de crédito, ainda que
bloqueado, à residência do consumidor sem prévia e
expressa solicitação. Essa prática comercial é considerada
abusiva nos moldes do artigo 39, III, do CDC, contrariando a
boa-fé objetiva. O referido dispositivo legal tutela os interesses
dos consumidores até mesmo no período pré-contratual; não
sendo válido o argumento de que o simples envio do cartão
de crédito à residência do consumidor não configuraria ilícito
por não implicar contratação, mas mera proposta de serviço.
REsp 1.199.117/SP, Rei. Min. PAULO DE TARSO SANSE-
VERINO, julgado em 18/U/2012.

Sobre o tema, observe:

Súmula 532, do STJ: "Constitui prática comercial abu-


siva o mvio de cartão de crédito sem prévia e expressa solici-
tação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável
e sujeito à aplicação de multa administrativa."

520 EDITORA ARMADOR I PRÂTICA CtVIL I 3" edição


\ Capítulo XVI

16.9.5. APROVEITAMENTO DA VULNERABILIDADE DO


CONSUMIDOR

Conforme já estudado, a vulnerabilidade é, a prin;ipal caracte-


rística do consumidor; podendo ser: técnica, JUfldlca, fatica ou real e
informacional. Nesse caso, as práticas utilizadas pelos fornecedores
· 1 m consumidor para impor-lhe produtos ou serv1ços
que mampu a 0
será abusiva.

16.9.6. EXIGIR VANTAGEM EXCESSIVA

0 § 1º do artigo 51 da norma consumerista traz essa ocorr~ncia,


quando está caracterizada a utilização do fornecedor da supenondade
econômica. Note:

§ 1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade

qu~: _ ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico


a que pertence; . _ . .
rr _restringe direitos ou obngaçoes fundamentalS meren-
tes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto
ou equilíbrio contratual; .
III- se mostra excessivamente onerosa para o con~umzdo0
considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o mteresse
das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

16.9.7. SERVIÇOS SEM ORÇAMENTO

o tema orçamento é tratado no artigo 40 da lei de proteção ao


consumidor. Leia-se:

, Artigo 40. O fornecedor de s~rviç~ se~á ~brigado a entre-


gar ao consumidor orçamento premo dtscrtmmando o valor da
mão de obra, dos materiais e equtpamentos a serem emprega-

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FtGUE!lUlDO, ROBER'í'O FIGUEIREDO, SA:SRINA DouRADO
521
I DIREITO DO CONSUMIDOR
Capítulo XVI l
dos, as condições de pagamento, bem coma as datas de início
e término dos serviços.
§ 1'. Salva estipulação em contrário, a valor orçada terá
validade pela prazo de dez dias, cantado de seu recebimento
pelo consumidor.
§ 2º. Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento
obriga os contraentes e somente pode ser alterado mediante
livre negociação das partes.
§ 3º. O consumidor não responde por quaisquer ônus ou
acréscimos decorrentes da contratação de serviços de terceiros
não previstos no orçamento prévio.

Constitui prátíca abusiva o serviço realizado sern_ a prévia


autorização do consumidor. Entretanto, poderá ser exonerado de
sua responsabilidade o fornecedor que provar práticas anteriores,
ou seja, que eram_ realizados serviços sem a prévia autorização do
consumidor. Caso o consumidor alegue a abusividade, o fornecedor
poderá alegar o rompimento da boa-fé objetiva (confiança e lealdade)
e enfatizar a presença da venire contra Jactum praprium (comportamento
contraditório).

16.9.8. REPASSE DE INFORMAÇÕES DEPRECIATIVAS

Esse intercâmbio de dados é considerado abusivo pela lei, assim


nenhum fornecedor poderá repassar informações depreciativas sobre
o consumidor.

16.9.9. DESCUMPRIR NORMAS TÉCNICAS

O padrão de qualidade deverá sempre ser observado pelos for-


necedores, sob pena da violação de um direito básico do consumidor.
Um produto em desacordo com as normas técnicas pode gerar danos
aos consumidores.

S22 EDITORA ARMADO I< j PRÁTICA CiVIL I 3" edição


DIREITo oo CoNSUMIDOR I

16.9.9. RECUSA DE VENDA DIRETA OU À VISTA

f'quele consumidor que deseja adquirir um bem ou um serviço


mediante o pronto pagamento deverá ter o seu direito atendido. Caso
o fornecedor venha a descumprir a oferta, ele poderá valer-se da
regra estipulada no artigo 84 da legislação do Código de Defesa do
Consumidor. Observe:

Artigo 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimenta


da obrigação de fazer ou não Jazer, o juiz concederá a tutela
especifica da obrigação ou determinará providências que asse-
gurpm n rp,c;ultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1'. A conversão da obrigação em perdas e danos somente
será admissível se por elas optar o autor ou se impossí-
vel a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
correspondente.
§ 2º. A indenização por perdas e danos se fará sem pre-
juízo da multa
§ 3'. Sendo relevante ofundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao
juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação pré-
via, citado o réu.
§ 4'. O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença,
impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do
autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando
prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 5'. Para a tutela especifica ou para a obtenção do resul-
tado prático equivalente, poderá a juiz determinar as medidas
necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas
e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade
nociva, além de requisição de força policial.

16.9.10. ELEVAÇÃO DOS PREÇOS SEM JUSTA CAUSA DE PRODUTOS


E SERVIÇOS

O aumento abusivo dos preços dos produtos e serviços de forma


imotivada configura uma prática abusiva. Como exemplo, tem-se

A~aJRÍi MOTA, (RlSTIANO SOBRAL, LUCJ/I.NO flGUEIRrOO, ROBERTO FlGUe!Rl'llO, $A8R!NA DOURADO 523
Capítulo XV~

o julgamento no REsp nº 1.073.595/MG, que considerou o aumento


abrupto nas parcelas de seguro de vida uma violação das normas
consumenstas. Ex1ste sim a possibilidade do aumento, desde que 0
mesmo seja realizado de forma adequada e respeitando um crono-
grama. O d1verso disso não poderá prevalecer.

16.9.11. INEXISTÊNCIA DE PRAZO PARA O CUMPRIMENTO DA


OBRIGAÇÃO

Visando colocar o consumidor no mesmo patamar de igualdade


do fornecedor e firmar, portanto, urna função social do contrato a lei
estabelece como abusiva a não estipulação de prazo para 0 cu~pri­
mento de sua ,.,hrio-;:lr0ín
-- ~a--·-·-·

16.9.12. APLICAR FÓRMULA OU REAJUSTE DIVERSO DO LEGAL

O fornecedoc tem o dever de aplicar os índices legais ou mesmo


aqueles que foram contratualmente acordados, sob pena de prática
abusiva.


16.10. COBRANÇA DE DÍVIDAS

. O fornecedor possui diversas formas de exigir do consumidor o


ad1mplemen:o. da obrigação, porém, nenhuma delas poderá ser feita de
forma vexatona, enxovalhando a imagem daquele que é o vulnerável.
O arhgo 71 da le1 consumerista expõe importante passagem sobre
o tema. Veja:

A~tigo 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça,


coaçao, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas
mcorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento
que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou

524 EDlTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CtVIL 1 y edição


\capitulo XVI

interfira com seu trabalho, descanso ou laze. Pena- Detenção


de três meses a um ano e multa.

Uma prática muito comum que infelizmente existe em nosso


cotidiano é a proibição do ingresso da criança na instituição de ensino
quando a mensalidade se encontra em atraso. Outro caso é o corte
de energia elétrica com fundamento em parcelas antigas. Para que o
corte possa ser justo, a parcela deve ser atual e não pretérita.
Vale destacar que toda cobrança realizada pelo fornecedor,
segundo a Lei nº 12.039/09 que introduziu o artigo 42-A, deverá possuir
as seguintes informações:

Artigo 42-A. Em todos os documentos de cobrança de


débitos apresentados ao consumidor, deverão constar o nome,
o endereço e u número de inscrição no Cadr..stro de Pessnas
Físicas -CPF ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica -
CNPJ do fomecedor do produto ou serviço correspondente.

O consumidor que for cobrado em quantia indevida e realizar o


pagamento em excesso terá direito à devolução em dobro, salvo se o
fornecedor apresentar engano justificável. Confira o que determina
o CDC em seu artigo 42:

Artigo 42. Na cobrança de débitos, o consumidor ina-


dimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a
qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia inde-
vida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao
dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção mone-
tária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

16.11. BANCO DE DADOS

O artigo 43 da legislação consumerista trata do tema de banco


de dados e cadastro de consumidores. Desse modo, são direitos dos
consumidores em relação aos bancos de dados:

ANORÊ MOTA, CRISTIANO SORR./11., LUCIANO ftGUElREDO, ROBERTO FIGULIREOO, SABRINA DOURADO
525
l DIREITO DO CONSUMIDOR

Capítulo XVI]

a) o acesso (artigo 43, caput e§ 6º);


b) a informação (artigo 43, § 2º);
c) a retificação (artigo 43, § 3º);
d) a exclusão (artigo 43, §§ 1º e 5º).

Os bancos de dados e arquivos de consumo surgiram de·Jido à


necessidade das empresas de créditos verificarem a vida financeira
e o comportamento dos consumidores perante o mercado, toda vez
que eles viessem solicitar alguma quantia.
Existe distinção entre os bancos de dados e os cadastros de
consumo. Os bancos de dados são arquivos organizados por uma
errtpresa que é alimentada de informações pelos fornecedores no gera 1,:
já os cadastros de consumidores são arquivos organizados por cada
fornecedor para a sua própria verificação, isto é, tais informações não
são compartilhadas com os outros.
A lei do CDC menciona no § 1º de seu artigo 43 que:

§ 1º. Os cadastros e dados de consumidores devem ser obje·


tivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreel!·
são, não podendo conter informações negativas referentes a
período superior a cinco anos.

A lei agiu de forma simples e direta, pois o consumidor precisa


entender o conteúdo daquela informação, bem como o seu significado.
Caso haja algum tipo de inexatidão ele poderá exigir a sua retificação.
Essa previsão da retificação encontra respaldo no § 3º do artigo
43 da norma consumerista que salienta:

§ 3º. O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos


seus dados e cadastros, podaá exigir sua imediata correção,
devendo o arquivista/ no prazo de cinco dias úteis, comuni-
car a alteração aos eventuais destinatários das informações
incorretas.

:>ATENÇÃO!
Veja a recente Súmula do STJ:

- - · A ________ , o ... ~ ........ r""' 1 V'f'dicão


DIREITO oo CoNSUMIDOR I
rC.1pítulo XVI

Súmula n• 548: "Incumbe ao credor a exclusão do registro


da divida em nome do devedor no cadastro de inadimplen-
tes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e efetivo
pagamento do débito"

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Cadastro de inadimplentes. Baixa da inscrição.


Responsabilidade. Prazo.
O credor é responsável pelo pedido de baixa da inscrição
do devedor em cadastro de inadimplentes no prazo de cinco
dias úteis, contados da efetiva quitação do débito, sob pena
de: iiicurrcr em ;zr:gligência c conscqucntc rcsponsabilização
por danos morais. Isso porque o credor tem o dever de manter
os cadastros dos serviços de proteção ao crédito atualizados.
Quanto ao prazo, a Min. Relatora definiu-o pela aplicação
analógica do artigo 43, § 3º, do CDC, segundo o qual o con-
sumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados
e cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o
arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alte-
ração aos eventuais destinatários das informações incorre-
tas. O termo inicial para a contagem do prazo para baixa no
registro deverá ser do efetivo pagamento da dívida. Assim, as
quitações realizadas mediante cheque, boleto bancário, trans-
ferência interbancária ou outro meio sujeito a confirmação,
dependerão do efetivo ingresso do numerário na esfera de dis-
ponibilidade do credor. A Min. Relatora ressalvou a possibili-
dade de estipulação de outro prazo entre as partes, desde que
não seja abusivo, especialmente por tratar-se de contratos de
adesão. Precedentes citados: REsp 255.269-PR, DJ 16/412001;
REsp 437.234-PB, DJ 2919/2003; AgRg no Ag 1.094.459-SP,
DJe 1'16/2009, e AgRg no REsp 957.880-SP, Dfe -141312012.
REsp 1.149.998/RS, Rei. Min. NANCY ANDRIGHI, jul-
gado em 7/812012.

Havendo abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais


e de consumo sem a solicitação do consumidor, a mesma deverá ser
comunicada a ele por escrito.

\i'ni\Í: MOIA, CHJST!tt.NO SO!IRAl., LUCIANO f'IC\!ElREDO, ROBERTO fiG\JEIREDO, SABRINA DOUJl.t\DO 527
Capítulo XVI l

Reza a lei de proteção ao consumidor no § 2º do seu artigo 43:

§ 2•. A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pes-


soais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao con-
sumidOI; quando não solicitada por ele.
'
O caput do artigo 43 da lei do CDC' menciona o direito do con-
sumidor no acesso às informações existentes em cadastros, fichas,
registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, mas
de que forma ele vai ocorrer? Por meio do habeas data, com funda-
mento no artigo 5º, inciso LXXII, da CF/88. Examine:

Artigo 5Q. Todos são iguais perante a lei, sem distinção.


de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termoS seguintes: · ;.c
LXXII~ conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas
à pessoa de impetrante, constantes de registros ou bancos de
dados de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira Jazê-lo
por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

O artigo 86 do CDC que previa o habeas data foi vetado pelo Pre-
sidente da República. É válido citar o artigo 1º da Lei nº 9.507/97 que
disciplina o seu procedimento.
Interessante frisar que os bancos de dados e cadastros relativos
a consumidores, serviços de proteção ao crédito e congêneres são
considerados entidades de caráter público, conforme a previsão do
§ 4º do artigo 43 do CDC.
A quem cabe notificar o consumidor antes de uma futura ins-
crição? Acompanhe o texto da Súmula nº 359 do STJ.

Súmula n• 359: Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro


de Proteção ao Crédito a notificação do devedor antes de pro-
ceder à inscrição.

528 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL I 3a edição


fcapítulo XVI

:J ATENÇÃO!
Súmula nQ 404 do STJ. É dispensável o aviso de recebi-
mento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre
a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.

Súmula nQ 572, STJ: "O Banco do Brasil, na condição


de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos
(CCF), não tem a responsabzlzdade de notificar prevzamente
0
devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tam-
pouco legitimidade passiva para ~s ações de rep{lr~ção de
danos fundadas na ausência de prema comumcaçao.

Caso 0 consumidor possua uma legítima inscrição do seu nome


cadastro de proteção ao crédito e venha a surgir uma outra
em um . . º 38-
indevida, caberá dano moral? Sobre a indagação a Súmu1a n ::>
do STJ:

Súmula nQ 385. Da anotação irregular em cadastro de


proteção ao crédito, não, cabe indeni:ação por dano moral,
quando preexistente legztuna mscnçao, ressalvado o dzrezto
ao cancelamento.

Qual 0 prazo máximo para que o no~~ do consumidor fiqu:


inscrito nos Serviços de Proteção ao Credtto? Essa resposta esta
baseada na Súmula nº 323 do STJ:

Súmula nº 323. A inscrição do nome do devedor pode


ser mantida nos serviços de proteção ao crédito até o prazo
máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da
execução.

Em contratos bancários, segundo a jurisprudência do STJ, alguns


pontos devem ser observados para que ocorra o cancelamento ou
abstenção da inscrição. Perceba: . .
A abstenção da inscrição/manutenção em cadastro de madim-
plentes, requerida em antecipação de tutela e/ou medida cautelar,

ANDRÊ MoTA, CRISTiANO SoBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SAIHUNA DOURADO 529
I DIREITo Do CoNSUMIDOR
Capítulo XVl !

somente será deferida se, cumulativamente: I) a ação for fundada em


questionamento integral ou parcial do débito; li) houver demonstração
de que a cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e
em jurisprudência consolidada do STF ou STJ; III) houver depósito
da parcela incontroversa ou for prestada a caução fixada conforme o
prudente arbítrio do juiz

:>ATENÇÃO!
Sobre o tema, observe a seguinte Súmula do ST}:

Súmula 550: "A utilização de escore de crédito, método


estatístico de av·aliação de ri~ro que nãn constitui banco de
dados, dispensa o consentimento do consumidor, que terá o
direito de solicitar esclarecimentos sobre as informações_ pes-
soais valoradas e as fontes dos dados considerados no respec-
tivo cálculo."

Conforme previsão do § 5º do artigo 43 do CDC, consumada a


prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão
fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quais-
quer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao
crédito junto aos fornecedores.
Em recente alteração foi inserido o § 6º ~o art. 43, do CDC, pela
Lei nº 13.146/2015, que institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência,
dispondo que:

§ 6º. Todas as informações de que trata o caput deste artigo


devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis, inclu-
sive para a pessoa com deficiência, mediante solicitação do
consumidor.
<
Por fim, com o intuito de informar cada vez mais o consumidor
a respeito dos fornecedores, o artigo 44 da lei consumerista descreve:

Artigo 44. Os órgãos públicos de defesa do consumidor


manterão cadastros atualizados de reclamações fundamen-

t.·,,.w"H ,\RMAnoR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3~ edição


DIREITO DO CONSUMIDOR I
icapíLilo XVI

tadas contra fornecedores de produtos e serviços, devendo


divulgá-lo pública e anualmente. A divulgação indicará se a
reclamação foi atendida ou não pelo fornecedor.
.[Í 1º. Éfacultado o acesso às informações lá constantes para
orientação e consulta po;· qualquer interessado.
§ 2º. Aplicam-se a este artigo, no que couber; as mesmas
regras enunciadas no artigo anterior e as do parágrafo único
do artigo 22 deste código.

:>ATENÇÃO!
Sobre o tema, importante observar a Lei nº 12.414/2011 que disci-
plina a formação e consulta a bancos de dados com informações
de adimplemento, de pessoas naturais ou de pessoas jurídicas,
para formação de histórico de crédito.

16.12. PROTEÇÃO CONTRATUAL

Por ser o consumidor o elo mais fraco da relação de consumo, a


lei consurnerista sugere diversas normas especiais sobre o assunto.
Com base no exposto, os estudos podem ser iniciados com a
análise do artigo 46 do CDC que alude ao princípio da transparência
máxinza com os consumidores. Determina a lei:

Artigo 46. Os contratos que regulam as relações de con-


sumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a
oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo,
ou se os respectivos instrumentos forem redigidos d.e modo a
dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

O destaque dado pela norma acima está em total consonância


com o artigo 6º, inciso lll, ora já analisado no item 4 da presente obra.
Menciona a lei:

Artigo 69 • São direitos básicos do consumidor:

ANLlRi \10T\, C~u~rt~NO SomtAL, LUCIANO ftGUElREOO, ROBf.RTO F!GUE!RLDO, $ABRINA DOURADO 531
Capítulo J...'Vl j

(.. )
III- a informação adequada e clara sobre os diferentes
produto~ e serVIços, com especificação correta de quantidade,
caracterzstzcas, composição, qualidade, tributos incidentes e
preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

E o nosso Tribunal da Cidadania?

Direito do consumidor. Administrativo. Normas


c de. proteção e defesa do consumidor. Ordem pública
e mteresse social. Princípio da vulnerabilidade do
consumidor. Principio da transparência. Princípio da
boa-fé objetiva. Princípio da confiança. Obrigação de
segurança. Direito à informação. Dever positivo do.
fontecedor
• de iit;""o;·;ítiii'r adeauadr:
-
1
u11tC:..Ht- e, ;:;,uvt
.:;' r,1 ,-,~·~~--
.,._ ......... ~ ~ 1-··-
..,.., c
n .....

rtSco! de prod~tos e serviços. Distinção entre infor-


maçao-conteudo e informação-advettência. Rotu-
lagem. Proteção de consumidores hipervulneráveis.
Campo de aplicação da Lei do glúten (Lei n 9 8.543/92
ab-rogada pela Lei n 9 10.674/03) e eventual antinomia
com o artigo 31 do Código de Defesa do Consumidor.
t;randado de segurança preventivo. justo receio da
1mpetrante de ofensa à sua livre iniciativa e à comer-
cialização de seus produtos. Sanções administrati-
vas por deixar de advertir sobre os riscos do glúten
aos doentes celíacos. Inexistência de direito líquido
e certo. Denegação da segurança. 1. Mandado de Segu-
rança Preventzvo fundado em justo receio de sofrer ameaça
na comerczalzzação de produtos alimentícios fabricados po;-
empresas que mtegram a Associação Brasileira das Indús-
trias da Alimwtação- ABIA, ora impetrante, e ajuizado em
face da mstauração de procedimentos administrativos pelo
PROCONIMG, em resposta ao descumprimento do dever de
advertir sobre os riscos que o glúten, presente na composição
de certos alzmentos industrializados, apresenta à saúde e à
segurança de ~ma categoria de consumidores- os portadores
de doença celzaca. 2. A superveniência da Lei nº 10.674/03,
que ab-rogou a Lei nº 8.543/92, não esvazia o objeto do man-
damus, pozs, a despeito de disciplinar a matéria em maior

532 ED!TORAARMADOR I PRÁTICAÜVJL 1 3aedíção


\ Capítulo XVI

amplitude, não invalida a necessidade de, por força do artigo


31 do Código de Defesa do Consumidor- CDC. complemen-
tar a expressão "contém glúten" com a advertência dos ris-
cos que causa à saúde e segurança dos portadores da doença
celíaca. É concreto o justo receio das empresas de alimentos
em sofrer efetiva lesão no seu alegado direito líquido e certo
de livremente exercer suas atividades e comercializar os pro-
dutos que fabricam. 3. As normas de proteção e defesa do
consumidor têm índole de "ordem pública e interesse social".
São, portanto, indisponíveis e inafastáveis, pois resguardam
valores básicos e fundamentais da ordem jurídica do Estado
Social; daí a impossibilidade de o consumidor delas abrir
mão ex ante e no atacado. 4. O ponto de partida do CDC é a
afirmação do Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor,
mecanismo que visa a garantir igualdade formal-material aos
sujeitos da relação jurídica de consumo, o que não quer dizer
compactuar com exageros que, sem utilidade real, obstem o
progresso tecnológico, a circulação dos bens de consumo e a
própria lucratividade dos negócios. 5. O direito à informação,
abrigado expressamente pelo artigo 5º, XHO: da Constitui,ão
Federal, é uma das Jorznas de expressão concreta do Princípio
da Transparência, sendo também corolário do Princípio da
Boa-Fé Objetiva e do Princípio da Confiança, todos abraçados
pelo CDC. 6. No âmbito da proteção à vida e saúde do con-
sumidor, o direito. à informação é manifestação autônoma da
obrigação de segurança. Z Entre os direitos básicos do consu-
midor, previstos no CDC, inclui-se exatamente a "informação
adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composi-
ção, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresen-
tem" (artigo 6º, III). S. Informação adequada, nos terznos do
artigo 6º, III, do CDC, é aquela que se apresenta simultanea-
mente completa, gratuita e útil, vedada, neste último caso, a
diluição da comunicação efetivamente relevante pelo uso de
informações soltas, redundantes ou destituídas de qualquer
sérventia para o consumidor. 9. Nas práticas comerciais, ins-
trumento que por excelência viabiliza a circulação de bens
de consumo, "a oferta e apresentação de produtos ou servi-
ços devem assegurar informações corretas, claras, precisas,

ANDRÉ MOTA, (R!STIANO S06RAL, LUCIANO FIGUEIREDO. ROBERTO FIGDEIREDO, SABRINA DouRADO
533
!DIREITO DO CONSUMIDOR
Capítulo XVIl

ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características,


qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos
de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os
riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumido-
res" (artigo 31 do CDC!. 10. A informação deve ser correta
(~verdadeira), clara(= de fácil entendimento), precisa(= não
prolixa ou escassa), ostensiva (= de fácil constatação ou per-
cepção) e, por óbvio, em língua portuguesa. 11. A obrigação
de informação é desdobrada pelo artigo 31 do CDC, em quatro
categorias principais, imbricados entre si: a) informação-con-
teúdo (= características intrínsecas do produto e serviço), b)
informação-utilização (=como se usa o produto ou serviço),
c) informação-preço (= custo, formas e condições de paga-
mento), e d) informação-advertência(= riscos do produto ou
serviço). 12. A obrigação de informação exige comportamento
positivo, pois o CDC rejeita tanto a regra do caveat emptor
como a subinformação, o que transmuda o silêncio total ou
parcial do fornecedor em patologia repreensível, relevante
apenas em desfavor do profissional, inclusive como oferta e
publicidade enganosa por omissão. 13. Inexistência de anti-
nomia entre a Lei n' 10.674/03, que surgiu para proteger a
saúde (imediatamente) e a vida Imediatamente) dos portadores
da doença celíaca, e o artigo 31 do CDC, que prevê sejam os
Consumidores informados sobre o "conteúdo" e alertados sobre
os "riscos" dos produtos ou serviços à saúde e à segurança.
14. Complementaridade entre os dois textos legais. Distinção,
na análise das duas leis, que se deve fazer entre obrigação
geral de informação e obrigação especial de informação, bem
como entre informação-conteúdo e informação-advertência.
15. O CDC estatui uma obrigação geral de informação (=
comuff!-, ordinária ou primária), enquanto outras leis, espe-
cíficas para certos setores (como a Lei nº 10.674103), dispõem
sobre obrigação especial de informação (= secundária, deri-
vada ou tópica). Esta, por ter um caráter mínimo, não isenta
os profissionais de cumprirem aquela. 16. Embora toda adver-
tência seja informação, nem toda informação é advertência.
Quem informa nem sempre adverte. 17. No campo da saúde
e da segurança do consumidor (e com maior razão quanto a
alimentos e medicamentos), em que as normas de proteção

"•• ,-...... ' ::t 3 ""dirão


DIREITO DO CONSUMIDOR I
/ Capítulo XVI

dev,em ser interpretadas com maior rigor, por conta dos bens
JUY!dtcos em questão, seria um despropósito falar em dever
de informar baseado 110 homo medius ou na generalidade dos
con_swn.jdores,_o que ~evaria a informação a não atingir quem
mats dela prectsa, p01s os que padecem de enfermidades ou de
necesstdades especiais são frequentemente a minoria no amplo
w~werso dos consumidores. 18. Ao Estado Social importam
nao apenas os vulneráveis, mas sobretudo os hipervulnerá-
veis, pois são esses que, exatamente por serem minoritários
e amiúde discriminados ou ignorados, mais sofrem com a
massificação do consumo e a "pasteurização" das diferenças
que caracterizam e enriquecem a sociedade moderna. 19. Ser
d~ferente ou minoria. por doença ou qualauer outra razão,
não é ser ~e_nos consumidor, nem menos cidadão, tampouco
merecer dtrettos de segunda classe ou proteção apenas retórica
do legtslador. 20. O fornecedor tem o dever de informar que
o produto ou servtço pode causar malefícios a um grupo de
pes:oas, ~mbora não seja prejudicial à generalidade da popu-
laçao, pots o que o ordenamento pretende resguardar não é
somente a vida de muitos, mas também a vida de poucos. 21.
Existência de lacuna na Lei nº 10.674103, que tratou apenas
da mformação-conteúdo, o que leva à aplicação do artigo
31 do CDC, em processo de integração jurídica, de forma a
obngar o fornecedor a estabelecer e divulgar, clara e inequi-
vo~amente, a conexão entre a presença de glúten e os doentes
celtacos. 22. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa
parte, provido. (REsp n' 586316/MG, Rei. Min. HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17.04.2007,
DJe, 19.03.2009) ·

Consumidor, Direito à informação, A questão posta


no REsp ct~ge-se em saber se, a despeito de existir regula-
mento cl~s~ificando como "sem álcool" cervejas que possuem
teor alcooltco mfenor a meio por cento em volume, seria dado
à soctedade empresária recorrente comercializar seu produto,
pos:utdor de 0,30gl100g e 0,37g/100g de álcool em sua compo-
stçao, fazendo constar do seu rótulo a expressão "sem álcool".
A Turma negou provimento ao recurso, consignando que,
mdependentemente do fato de existir norma regulamentar que

•\NtJR~ CRt.~"H\MJ SoliRI\.1., LUCL<\.~0


1\lOT\, FtGUEJREDO, RoBERTO FlGIJE!REDO, SIIUR!NA. DoURADO
535
Capítulo XVI ,I

classifique como sendo "sem álcool" bebidas cujo teor alcoó-


lico seja inferior a 0,5% por volume, não se afigura plausível
a pretensão da fornecedora de levar ao mercado cerveja rotu-
lada com a expressão "sem álcool'; quando essa substância
encontra-se presente no p1-oduto. Ao assim procede1~ estaria
ela induzindo o consumidor a erro e, eventualmente, levan-
do-o ao uso de substância que acreditava idexistente na conz.-
posição do produto e pode revelar-se potencialmente lesiva à
sua saúde. Destarte, entendeu-se correto o tribunal a quo, ao
decidir que a comercialização de cerveja com teor alcoólíco,
ainda que inferior a 0,5% em cada volume, com informação
ao consumidor, no rótulo do produto, de que se trata de bebida
sem álcool vulnera o disposto nos artigos 6º e 9º do coe
ante o risco à saúde de pessoas impedidas do consumo. REsp ·
nº 1.181.066-RS, Rei. Min. Vasco Della Giustina !Desem-
bargador convocado do Tf-RS!, julgado em 15.03.2011. (ver
Informativo nº 466)

Outra regra de proteção é a do artigo 47, pois retrata o importante


princípio da interpretação mais favorável ao consumidor, pouco
importando a natureza do contrato. O artigo 423 da norma civilista,
ora estudado nessa obra, na teoria geral dos contratos está em total
sintonia com o mesmo, contudo esse último só poderá ser aplicado
se o contr~to for de adesão. A lei consumerista:

Artigo 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas


de maneira mais favorável ao consumidor.

E o nosso Tribunal da Cidadania?

É abusiva a negativa do plano de saúde em cobrir


as despesas de intervenção cirúrgica de gastroplastia
necessária à garantia da sobrevivência do segurado.
A gastroplastia, indicada para o tratamento da obesidade mór-
bida, bem como de outras doenças dela derivadas, constitui
cirurgia essencial à preservação da vida e dá saúde dá paciente
seguradá, não se confundindo com simples tratamento para
emagrecimento. Os contratos de seguro-saúde são contratos

536 EDITORA ARMADOR 1 PRÃTICA CtvtL 1 3a edição


1 Capítulo XVl

de consumo submetidos a cláusulas contratuais gerais, ocor-


rendo a sua aceitação por simples adesão pelo segurado. Nes-
ses contratos, as cláusulas seguem as regras de interpretação
dos negócios jurídicos estandardizados, ou seja, existindo
cláusulas ambíguas ou contraditórias, deve ser aplicada a
interpretação mais favorável ao aderente, conforme o artigo 47
do CDC. Assim, a cláusula contratual de exclusão da cober-
tura securitária para casos de tratamento estético de emagre-
cimento prevista no contrato de seguro-saúde não abrange a
cirurgia para tratamento de obesidade mórbida. Precedentes
citados: REsp 1.175.616-MT, DJe 41312011; AgRg no AREsp
52.420-MG, DJe 1211212011; REsp 311.509-SP, DJ 25/6/2001.,
e REsp 735.750-SP, Dfe 161212012. REsp 1.249.701/SC, Rei.
Min. PAULO DE TARSO SANSEVERINO, julgado em
411212012.

O artigo 48 do CDC reza que as declarações de vontade constantes


de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações
de consumo vinculam o fornecedOr, ensejando indpsive execução
específica, nos termos do artigo 84 e seus parágrafos. Segue o artigo
84 da lei de proteção ao consumidor:

Artigo 84. Na ação q(<e tenha por objeto o cumprimento


da obrigação de fazer ou não Jazer, o juiz concederá a tutela
especifica da obrigação ou determinará providências que asse-
gurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1º. A conversão da obrigação em perdas e danos somente
será admissível se por elas optar o autor ou se impossí-
vel a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
correspondente.
§ 2'. A indenização por perdas e danos se fará sem pre-
juízo da multa
§ 3º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao
juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação pré-
via, citado o réu.
§ 4º. O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença,
impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAl, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO fiGÍJEIREDO, SABRINA DOURADO 537
I DIREITO DO CONSUMIDOR
Capítulo XV!l

autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando


prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 5º. Para a tutela especifica ou para a obtenção do resul-
tado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas
necessárias, tais cama busca e apreensão, remoção de coisas
e pessoas, desfazimento de obra, ~mpedimento de atividade
nociva, além de requisição de força policial.

16.12.1. DIREITO DE ARREPENDIMENTO

O à i rei to de arrependintcnto veio estampado no artigo 49 da


norma e trata-se de um direito potestativo do consumidor. A lei
apresenta um prazo de 7 (sete) dias para ele refletir se deseja ou não
ficar com o produto ou serviço, independente deste mostrar vício ou
não. Tal direito somente poderá ser exercido se a compra tiver sido
realizada fora do estabelecimento empresarial. Uma vez exercido o
arrependimento, o consumidor irá ter o direito de reaver imediata-
mente tudo que pagou e ainda monetariamente atualizados. Esse é o
sentido da lei consumerista:

Artigo 49. O consumidor pode desistir do contrato, no


prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de ~ece­
bimento do produto ou serviço, sempre que a contmtaçao de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estab~le­
cimento comercial, especialmente por telefone ou a domzczlw.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de
arrependimento previsto neste artigo, os valores eventu~l­
mente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexao,
serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.

16.12.2. DA GARANTIA CONTRATUAL

De acordo com o artigo 50 da legislação em estudo, a gamntia


contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo
escrito. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e

~ , n~ •~·~· r,,., 1 ~" eciícão


DIREITO DO CONSUMIDOR I
!capítulo XVI

esclarecer, de maneira adequada, em que ela consiste, bem como a


forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo
do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido
pelo fornecedor, no ato do :fornecimento, acompanhado de manual
de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática,
com ilustrações.
O texto do artigo 24 diz que a garantia legal de adequação do
produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração
contratual do fornecedor.
A garantia legal supracitada deverá respeitar os prazos do artigo
26 anteriormente analisado.
O STJ possui o seguinte entendimento: deve-se contar inicial-
n1ente com a garantia contratual e, finda a mesma, com a legal. Exem-
plo: Uma determinada pessoa comprou um computador e o fabricante
concedeu a ela um ano de seguro. Por se tratar de bem durável, a
garantia lega I do produto será de 90 dias. Destarte, esse consumidor
irá somar os prazos, contando inicialmente a garantia contratual de
um 1 (um) e depois os 90 (noventa) dias da lei do CDC.

16.12.3. CLÁUSULAS ABUSIVAS


.~~~~------------

O rol do artigo 51 do CDC é exemplificativo, ou seja, numerus


apertus. Serão declaradas nulas de pleno direito as cláusulas que
contrariem as nonnas estabelecidas na lei de proteção ao consumidor.
Nesse sentido, por tratar o CDC de norma de ordem pública, qualquer
cláusula que contrariá-lo poderá ser decretada de ofício pelo magis-
trado, porém não é esse o entendimento do STJ, conforme analisado
no início desta obra.
Adiante será abordada uma lista proposta pela lei:

16.12.3.1. Da cláusula de não indenizar

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relaiivas ao fornecimento de produtos
e serviços que:

ANDRÍ: MoTA, CR!STJA~O SonRAL, Lvcli\NO Fl<:UEJREUO, Ronmno FlGtJriREDO, SAIIRINA DolJRADO 539
Capítulo XVI l

. I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabi-


lzdade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos
produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de
dzre~tos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o con-
sumi~or pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada!
em sztuações justificáveis.

Desse ponto de vista, qualquer cláusula inserida em um contrato


de consumo será considerada nula de pleno direito. Em reforco ao
exposto, atente-se para o artigo 25 da lei de proteção ao consurr:idor:

Artigo 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula


que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar.
prevzsta nesta e nas seções anteriores.

Vale ressaltar a importante Súmula do STJ que faz por letra morta
os dzzeres estampados nos estacionamentos de shoppings:

Súmula n• i3o. A empresa responde, perante o cliente,


pela reparação de dano ou furtu de veículo ocorridos em seu
estacionamento.

16.12.3.2. Impedimento de reembolso

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e servzços que:
(... )
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da
quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

Imagine que o consumidor venha a comprar algum produto


pela mternet e exerça o seu arrependimento. Caso a fornecedora do
produto estabeleça o impedimento do reembolso, a cláusula será nula
de pleno direito.
Sobre o tema, observe:

540 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


~-
! Cap;tulo XVI

Súmula 543, do ST]: "Na hipótese de resolução de con-


tmto de promessa de compra e venda de imóvel submetido
ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata
restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador -
integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente ven-
dedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o compra-
dor quem deu causa ao desfazimento."

16.12.3.3. Transferência da responsabilidade a terceiros

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços que:
(. .. )
111 - transfiram responsabilidades a terceiros;

A transferência de responsabilidade para terceiros é uma prática


muito comum no cotidiano do consumidor. Operadoras e agências de
turismo costumam transferir a sua responsabilidade para os hotéis e
pousadas quando ocorre algum tipo de dano. Tal caso vem acontecendo
muito com empresas de móveis planejados. Exemplificando: Uma pessoa
adquire 0 armário de sua cozinha em um determinado estabelecimento
que usa o nome de uma grande marcá. Esse estabelecimento fecha, e
o consumidor ao pedir apoio da grande marca é surpreendido com
a seguinte resposta: "A responsabilidade é daquele que lhe vendeu
o produto e não nossa." "Como assim?" - questiona o consumidor.
Um estabelecimento usa o nome da grande marca e ele fatura com isso,
mas na hora de assumir a responsabilidade diz que não pode! Tais casos
são comuns, mas o Judiciário vem trabalhando bastante nesse sentido.

16.12.3.4. As cláusulas iníquas e abusivas que ferem a equidade


e a boa-fé

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços que:

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAl.., LUClANO flGUEIREDO, ROBERTO FlGUElREDO, SABJUNA DOURADO
541
\ DIREITO DO CONSUMIDOR
Capítulo XVIl

IV_ estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusi-


vas, que coloquem o consumidor em desvantag~m exagerada,
ou sejam incompatíveis com a boa1é ou a equzdade;

É importante enfatizar Súmula do STJ que consi~era abusiva a


cláusula que estabelece período de tempo de internaçao. Clara fica a
quebra da boa-fé e da justiça ao caso concreto.

Súmula n" 302: É abusiva a cláusula contratual de plano


de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do
segurado.

16.12.3.5. Inversão do ônus da prova

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, _as


cláusulas contratuais relativas ao jor1zeczmznto de produ~os
e serviços que: . ,
VI _ estabeleçam inversão do ônus da prova em prqurzo
do consumidor;

As modalidades de inversão do ônus da prova já foram estudadas


em ponto anterior. Por isso, se a mesma for a favor do fornecedor, será
considerada nula de pleno direito.

16.12.3.6. Utilização compulsória de arbitragem

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre out~as, a~


cláusulas contratuais relativas ao fomecrmento de p10dutos
e serviços que: . . . .
VII- determinem a utilização compulsona de arbrtragem,

A Lei nº 9.307/96, que fala da arbitragem, tem como objetivo desa-


fogar o judiciário e solucionar o quanto antes os conflitos; no e~1 t·a'n~o,
a sua estípulaçao_ compu1sana . . ve d a o acesso ao Poder Judiciano,
considerando sua cláusula abusiva.

T7n,.rr>Ja AnMAOOR 1 PRÁTJCACIVlL I 3'' edição


DIREITO DO CONSUMIDOR I
)capítulo XVI

E o nosso Tribuna I da Cidadania?

Direito processual civil e do consumidor. Conven-


ção de arbitragem. Nulidade da cláusula.
. '
E nula a cláusula' que determine a utilização com-
pulsól"ia da arbitragem em contrato que envolva rela-
ção de consumo, ainda que de compra e venda de imó-
vel, salvo se houver posterior concordância de ambas
as partes. A Lei de Arbitragem dispõe que a pactuação do
compromisso e da cláusula arbitral constitui hipótese de exh'n-
ção do processo sem julgamento do mérito, obrigando a obser-
vância da arbitragem quando pactuada pelas partes com derro-
gação da jurisdição estatal. Tratando-se de contratos de adesão
genéricos, a menâonada lei restringe a eficácia da cláusula0
compronússóriaf permitindo-a na hipótese em que o aderente
tome a iniciativa de instituir á arbitragem ou de concordar
expressamnrte com a swfinstituição (artigo 4º, § 2º, da Lei
nº 9.307/I996!. O artigo 51, VII, do COC estabelece serem
nulas as cláusulas contratuais que determinem a utilização
compulsória da arbitragem. Porém, o COC veda apenas a ado-
ção prévia e compulsória da arbitragem no momento da celebra-
ção do contrato, mas não impede que, posteriormente, diante de
eventual litígio, havendo consenso entre as partes (em especial
a aquiescê11cia do consumidor), seja instaurado o procedimento
arbitral. Portanto, não há conflito entre as regras dos artigos
51, VII, do COCe 4º, § 2º, da Lei n' 9.30711996; pois, havendo
contrato de adesão que regule uma relação de consumo, deve-
-se aplicar a regra específica do CDC, inclusive nos contratos
de compra e venda de imóvel. Assim, o ajuizamento da açiio
judicial evidencia, ainda que de forma implícita, a discordância
do autor em se submeter ao procedimmto arbitral. Precedente
citado: REsp 819.519-PE, OJ 5111/2007. REsp 1.169.841-RJ,
Rei. Min. NANCY ANDRIGHI, julgado em 611112012.

16.12.3.7. Imposição de representante

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços que:
'

A"-:DRÍO MOTA, Clt!STlANO SOBIHL, Lt:liANO FIGUEIREDO, RORI':RTO f!Gl!f'IRFDO, SA!IRlNA DOURADO 543
Capítulo xvfl

VIII- imponham representante para concluir ou realizar


outro negócio jurídico pelo consumidor;

Bastante conhecida como cláusula-mandato e muito comum no


contratos bancários. Nesse tipo de cláusula, o consumidor nomeia ~
ban~o como o seu próprio procurador, para que ele possa redizar
negoctos em seu nome, como, por exemplo, contrair um emprés~imo.

16.!2.3.8. Opção de conclusão do negócio

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


clausulas contratuais relativas ao fomecimmto de produtos
e serVJços que:
IX- deixem ao fornecedor a 0p,..n0 A,., """''_.,,,,,;,. "''l ,_.,;;,.-., ,..,
contrato, embora obrigando 0 co~sL~;;;id~·r;'"'''"'" "' """"

, . A mesma fere a função social do contrato, que objetiva o equi-


hbno entr"e as par.tes. Uma vez ofertado o produto ou 0 serviço pelo
fornecedo;, podera o consumidor exigir o cumprimento forçado, como
visto no topico de oferta.

16.12.3.9. Variação do preço de maneira unilateral

~rtigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


clausulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e servrços que:
X- pennitam ao fornecedor, direta ou indiretamente varia-
ção do preço de maneira unilateral· '
'
É inválida a cláusula que estabelece a possibilidade de 0 fornece-
dor alterar unilateralmente o preço. A comissão de permanência, se
calculada por índices fixados pelo credor, será considerada abusiva,
de acordo com a orientação do STJ.

544 EDITORA ARMADOR J PRÁTICA CIVIL J 3a edição


\capítulo Xvt
'

16.12.3.10. Cancelamento unilateral do contrato

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratL~ais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços que:
XI- autorizem ofornecedor a cancelar o contrato unilate-
ralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor;

O cancelamento unilateral do contrato fere a sua função social,


sendo considerada nula a cláusula contratual de seguro que prevê o
cancelamento automático em caso de atraso no pagamento do prêmio.

16.12.3.11. Ressarcimento de custos

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços qúe:
XII - obriguem o consumidor a ressarcír os custos de
cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja con-
ferido contra o fornecedor;

A exigência do pagamento dos honorários advocatícios é muito


comum aos contratos de consumar sem a ocorrência de uma proposi-
tura de ação no caso de atraso no pagamento por parte do consumidor.

16.12.3.12. Alteração unilateral do contrato

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecímento de produtos
e serviços que:
XIII- autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente
o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração;

Qualquer tipo de alteração contratual deverá ser pactuado pelas


partes, sob pena de ferimento da função social endógena do contrato.

ANDRÉ MOTA., CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fiCUEIREDO, RoBERTO FIGUEIREDO, $ABIUNA DouRADO
545
l DIREITO DO CONSUMIDOR
Capítulo XVI\

16.12.3.13. Violação das normas ambientais

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços que:
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas
ambientais;

A lei visa à proteção ao meio ambiente, direito esse assegurado


pela nossa CF/88 no seu artigo 225. Vale lembrar que o contrato, além
de mostrar uma função social endógena (interna), também traz a
exógena, que protege interesses meta individuais.

16.12.3.14. Cláusula contrária ao sistema de proteção ao


consumidor

Artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços que:
XV- estejam em desacordo com o sistema de proteção ao
consumidor;

O objetivo da lei é afastar literalmente qualquer cláusula que


contrarie uma norma de proteção ao consumidor. Como exemplo,
pode ser citada a cláusula de eleição de foro que gera grande prejuízo
àquele que é o elo mais fraco na relação de consumo.

16.12.3.15. Renúncia à indenização por benfeitorias


necessárias
Sobre o assunto, deve ser estudado o disposto na parte geral
dessa obra no tópico das benfeitorias. Esse assunto é narrado pelo
CC em seu artigo 96. Dessa forma, qualquer tipo de cláusula que
afaste esse direito será considerada nula. Exemplo: O aluguel de biCI-
cleta em uma determinada cidade turística. O consumidor sai com a
bicicleta e percebe o pneu um pouco vazio, mas contínua a pedalar

EmTORI\ ARMA DOI!. \ PRÁTICA ÜVlL ! 3"· edição


DIREITO DO CONSUMIDOR l
I Capitulo XVI

com os seus amigos. Logo, o pneu esvazia completamente e ele está


em frente a uma borracharia. Então, se dirige a ela e conserta o pneu.
Chegando ao estabelecimento, o qual ele alugou a bicicleta, pede o
ressarcimento do contrato e é surpreer1dido com a resposta de que
esse tipo de benfeitoria não é possível. Diante dessa situação, cabe a
seguin:e conclusão: trata-se de uma benfeitoria necessária e a resposta
exibida pela empresa fundamentada em cláusula contratual será tida
como abusiva.

:>ATENÇÃO!
O § 1º do artigo 51 da lei de proteção ao consumidor destaca:

§ 1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade


que:
I- ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico
a que pertence;
li- restringe direitos ou obrigações fundamentais ineren-
tes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto
ou equilíbrio contratual;
III- se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,
considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse
das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

16.12.3.16. A conservação do contrato

É contemplado no § 2º do artigo 51 o princípio da conservação


dos contratos que guarda total sintonia com a sua função social. Diz
a lei de proteção ao consumidor:

§ 2º- A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não


invalida o contrato, exceto quando de sua ausôttia, apesar
dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qual-
quer das partes.

16.12.3.17. Controle das cláusulas abusivas

Prevê o § 4º do artigo 51 do CDC:

ANDRfi MOTA. CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FlGLIE!Rf.OO, ROBERTO fiGUEIREDO, SABRIN.o\ DOURADO 547
C,pftu!o XVI

§ 4º. Éfacultado a qualquer consumidor ou entidade que o


repre~ente _:-equerer ao Ministério Público que ajuíze a com-
petente açao para ser declarada a nulidade de cláusula con-
tratual q_ue contrarie o disposto neste código ou de qualquer
forma nao assegure o justo equilíbrio entre direitos e obriga-
ções das partes.

Os citados no artigo 82 da lei consumerista podem ser somados


como legitimados.

16.13. DOS CONTRATOS DE CONCESSÃO DE CRÉDITO


FINANCIAMENTO E CONSÓRCIO ,

O artigo 52 da lei de proteção ao consumidor menciona:


'
No fornecimento de produtos ou serviços que envolm
outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consu-
midor, ofornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo
prevza e adequadamente sobre:
I- preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual
de juros; -
III- acréscimos legalmente previstos;
IV- número e periodicidade das prestações;
V- soma total a pagm; com e sem financiamento.
§ 1º: As_ multas de mora decorrentes do inadimplemento
de obrzgaçoes no seu termo não poderão ser superiores a dois
por cent~ do valor da prestação.
§ ~º: E assegurado ao consumidor a liquidação antecipada
do debrto, total ou parcialmente, mediante redução proporcio-
nal dos JUros e demais acréscimos.

Alguns destaques devem ser adicionados ao artigo 52 da norma


consumerista. O primeiro deles é o da Lei nº 8.880/94 que proíbe a
contratação e o reajuste de prestações baseados em moeda estran-
geira, exceto nos contratos de leasing. Tal regra é fundamentada no

548 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


j Capítulo XVI

princípio do nominalismo expresso no artigo 315 do CC A sua não


observação acarretará a nulidade do contrato, conforme a leitura do
artigo 318 dessa lei. O segundo refere-se a algumas Súmulas do STJ
e do STF. Atente-se:
Súmula nº 283. As empresas administradoras de cartão
de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros
remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações
da Lei de Usura.

Súmula nº 285. Nos contratos bancários posteriores ao


Código de Defesa do Consumidor incide a multa moratória
nele prevista.
Súmula nº 287. A Taxa Básica Financeira (TBF) não pode
ser utilizada como indexador de correção monetária nos con-
tratos bancários.

Súmula nº 288. A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP)


pode ser utilizada como indexador de correção monetária nos
contratos bancários.

Súmula nº 294. Não é potestativa a cláusula contratual


que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa
média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil,
limitada à taxa do contrato.

Súmula nº 295. A Taxa Referencial (TR) é indexador


válido para contratos posteriores à Lei nº 8.177191, desde que
pactuada.
Súmula nº 296. Os juros remuneratórios, não cumulá-
veis com a comissão de permanência, são devidos no período
de inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo
Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado.

Súmula nº 379. Nos contratos bancários, não regidos por


legislação especifica, os juros moratórios poderão ser conven-
cionados até o limite de 1% ao mês.

ANDRÉ MoTA, CRISTIANO SoBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO fiGUElREDO, SABRINA DOURADO
549
I DIREITO DO CONSUMIDOR
Capítulo XV~

Súmula nQ 382. A estipulação de juros remuneratórios


superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.

Súmula n" 422. O artigo 6', e, da Lei nº 4.380164 não


estabelece limitação aos juros remuneratórios nos contratos
vinculados ao SFH.
o

Súmula n" 454. Pactuada a correção monetária nos con-


tratos do SFH pelo mesmo índice aplicável à caderneta de
poupança, incide a taxa referencial ITR) a partir da vigência
da Lei nº 8.177/91.
0
Súmula nll 596, STF. As disposições du Decreto íl 22.626
de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos
cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou
o privadas, que integram o sistema financeiro nacional.

16.14. A COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS E MÓVEIS

Reza o artigo 53 da lei de proteção ao consumidor:

Nos contratos de compra e vmda de móveis ou imóveis


mediante pagamento em prestações, bem como nas aliena·
ções fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno
direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das presta·
ções pagas em benefício do credor que, em razão do inadim·
plemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do
produto alienado. . .
§ 2º. Nos contratos do sistema de consorcw de produtos
duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas qutta·
das, na forma deste artigo, terá descontada, além da vantagem
econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desrs·
tente ou inadimplente causar ao grupo. . _
§ 3º. Os contratos de que trata o caput deste artrgo serao
expressos em moeda corrente nacional.

Pm1'nllr.. AilMAOOR I PRÁTICA CiVIL I Y edição


DIREITO DO CONSUMlDOR I
ícapítulo XVJ

Inicialmente deve-se dar ênfase para a cláusula de decaimento,


isto é, aquela que prevê a perda total das parcelas. Fica evidente que,
todo o contrato que busca tal ocorrência irá ferir a função social e a
boa-fé objetiva. Com relação aos consórcios, pc:derão ser descontadas
a taxa de administração e a vantagem recebida pelo uso do bem nas
parcelas pag&s.
Sobre o tema, observe a Súmula nº 538, do SD: "As administra·
doras de consórcio têm liberdade para estabelecer a respectiva taxa
de administração, ainda que fixada em percentual superior a dez por
cento."
É de suma importância frisar que o consumidor não terá direito
n receber nada, caso o bem apreendido seja alienado e o seu valor
não cubra o débito. Por último, mais uma vez prevê a lei o princípio
do nominalismo, exigindo o uso da moeda nacional, sob pena de ser
nulo o contrato.

16.15. DOS CONTRATOS DE ADESÃO

Pode-se afirmar que 99,9% dos contratos realizados no nosso


cotidiano são de adesão. Mas o que é um contrato de adesão? Diz a
lei do CDC em seu artigo 54:

Artigo 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas


tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou esta-
belecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu C01Iteúdo.

Se for inserida alguma cláusula no contrato, será afastado o seu


caráter de adesão? Quem nos responde a essa indagação é a própria
lei consumerista em seu§ 1º do artigo 54. Avalie:

§ 1º. A inserção de cláusula no formulário não desfigura a


natureza de adesão do contrato.

ANORÉ MOTA, CRISTIANO SO!>AAL, LUCIANO FtGUElREDO, ROOf!U'O F'lGL'f;JRt·:I'O, SAJlRlNA DOURADO 551
A cláusula resolutória é narrada no § 2º do art·
.
d o CDC . Salienta 1go em comento
o mesmo:

. § 2º- Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutó-


rza, desde que alternativa~ cabendo a escolha ao consumdor
ressalvando-se o disposto no§ 2' do artigo anterior. ' '

Vale dizer que essa res~alva feita pela lei se refere ao consórcio.
~aiS ur_na vez VISando a aplicação da transparência e protegendo
aque e que e o elo mais fraco na relação de consumo isto .
midor , e, o consu-
, a norma consurnerista prevê, ainda no referido artigo:

§ 3º. Os contratos de adesão escritos serão redigidos em .


termos claros e co1~ car~c.teres ostensivos e legíveis, cujo
tamanho da fonte nao sera mferior ao corpo doze, de modo a
faC!lztar sua compreensão pelo consumido
§ 4º. As clausulas
. r.
que implicarem limitação de direito do
consumzdor deverão ser redigidas com destaque, permitindo
sua zmedzata e fácil compreensão. .

<
16.16. DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

. Trata-se da tutela judiciária dos direitos e interesses do consu-


midor, podendo ser visualizados os interesses ou direitos difusos os
Interesses ou direito leti · '
homo " . s co vos e os Interesses ou direitos individuais
geneos. Existe uma clara preocupação com a efetividade do
processo d~stm~do à proteção do vulnerável e com a facilitação de
seu acesso a JUStiça.
Registre-se que a lei de proteção ao consumidor só se preocupou
em regulamentar as ações coletivas de defesa do consumidor. As ações
mdividums contmuam a obedecer à sistemática do Código de Pro-
cesso Civil, tendo este, inclusive se abeberado de alguns dispositivos
da norma consumerista (artigo 84, por exemplo, literalmente copiado
como artigo 461 do CPC/73, que corresponde ao art. 497, do CPC/15).

552
EolTORAARMADOR I PRÁTtCA CiviL 1 y edição
ro:pítulo XVI

No dizer de Kazuo Watanabe:


O Código procurou disciplinar mais pormenorizadamente as
demandas coletivas por vários motivos. Primeiro, porque o nosso
direito positivo tem história e experiência mais recentes nesse
campo. Excluída a ação popular constitucional, a primeira disci-
plina legal mais sistemática, na área do processo civil, somente teve
início em 1985, com a lei de ação civil pública. Segundo, porque o
legislador claramente percebeu que, na solução dos conflitos que
nascem das relações geradas pela economia de massa, quando
essencialmente de natureza coletiva, o processo deve operar-se
também como instrumento de mediação dos conflitos sociais nele
envolvidos e não apenas como instrumento de solução de lides.
A estratégia tradicional de tratamento das disputas tem sido de
iragmentar os conflitos de configuração essencialmente coletiva em
demandas-átomo. Já a solução dos conl1itos na dimensão molecular,
como demandas coletivas, além de permitir o acesso mais fácil à
Justiça, pelo seu barateamento e quebra de barreiras socioculturais,
evitará a sua banalização que decorre de sua fragmentação e con-
ferirá peso político mais adequado às ações destinadas à solução
desses conflitos coletivos.
As ações coletivas são essenciais para assegurar não só um acesso
à justiça mais amplo e universal, mas também para proporcionar uma
efetiva proteção dos direitos dos consumidores. Na concepção tradi-
cional de Mauro Cappelletti e Bryant Garth, o acesso à justiça implica
ter um sistema "pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos
e/ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado que, primeiro,
deve ser realmente acessível a todos; segundo ele, deve produzir
resultados que sejam individual e socialmente justos".
Os autores propõem três soluções para remover as barreiras que
possam servir de obstáculo para o acesso à justiça, que são chama-
das de "ondas": assistência judiciária para os pobres (primeira onda);
representação dos interesses difusos (segunda onda); e um conjunto
geral de instituições e mecanismos, pessoas e procedimentos uti-
lizados para processar e mesmo prevenir disputas nas sociedades
modernas (terceira onda). Essa segunda onda foi particularmente

ANDRÊ MoTA, CRiSTIANO SOBRAL, LUCiANO ftGUElREDO, ROBERTO flGUE! REDO, SABR!NA DOURADO 553
/ DIREITO oo CoNSUMIDOR

Capítulo XVll

objeto de atenção po:ra a lei consumerista, no reconhecimento do


Estado em busca da efetiva defesa do consumidor, na qual as ações
coletivas teriam de ser valorizadas. E, de fato, o Código de Defesa do
Consumidor representa um avanço no campo das ações coletivas em
relação à Lei de Ação Civil Pública (LACP), e em vez de substituí-la, o
coe surgiu para interagir com ela, tudo para f~cilitar a defesa coletiva
do consumidor em juízo.
Há que se lembrar, também, que os Juizados Especiais Cíveis
integram a Política Nacional das Relações de Consumo (artigo 5º,
inciso IV, da Lei nº 8.078/90). Corno a maioria das causas que envol-
vem consumo de menor complexidade ou de menor valor deságuam
nos Juizados, alguns estados da federação criJ.rJ.rrt órgãos espe-
cializados para resolver tais demandas. Acontece que apenas os
Juizados lispeciais, mesmo com todas as suas facilidades de acesso,
não são suficientes para proporcionarem uma adequada proteção
aos consumidores, porque existem danos tão pequenos, de valores
irrisóriosr que não compensam a ida ao Judiciário pelo consumidor
individualmente. Nesses casos, as ações coletivas são essenciais,
pois danos individuais muito pequenos podem representar danos
coletivos enormes, com lucros ilícitos tão grandes quanto. Basta
imaginar uma lesão de R$ 0,01 (um centavo) na conta-corrente de
cada consumidor de um grande banco. Individualmente o valor é
ínfimo, entretanto, a lesão coletivamente considerada é gigantesca,
bem como o lucro auferido pelo banco com esses supostos descontos
ilícitos, gerando lucros às custas de rnicrolesões individuais. Assim
sendo, apenas urna ação coletiva poderia proporcionar um ressar-
cimento aos consumidores.
Em qualquer hipótese, a competência para ação se estabelecerá
em benefício do autor (artigo 101, inciso I, CDC), salvo se for coletiva,
quando será competente a justiça estadual do local onde ocorreu o
dano (artigo 93, CDC). Se, contudo, o fornecedor for empresa pública
federal, por exemplo, a competência será da justiça federal (artigo 109,
inciso I, CF).

~.::'"'""'"'", A uM' '"''o 1 PRÁTICA CIVtt ! 3" edição


ÜlREITO DO CONSUMIDOR !
r Capítulo XVI

16.17. TUTELA DOS INTERESSES E DIREITOS DOS


CONSUMIDORES E DAS VÍTIMAS DE DANOS
(ARTIGO 81 DO CDC)

A lei de proteção ao Consumidor tomou o cuidado de definir os


direitos e interesses coletivos lato sensu (sem fazer diferenciação entre
ambos), a fim de esclarecer o âmbito de incidência da proteção judicial.
I- interesses ou direitos difusos: optou-se pelo critério da inde-
terminação dos titulares e da inexistência entre eles de relação jurídi-
ca-base, no aspecto subjetivo, e pela indivisibilidade do bem jurídico,
no aspecto objetivo; o

li - interesses ou direitos coletivos: essa relação jurídica-base é


a preexistente à lesão ou ameaça do interesse ou direito do grupo,
categoria ou classe de pessoas;
UI - interesses ou direitos individuais homogêneos: "origem
comum" não significa, necessariamente, urna unidade factual e
temporal.

Essa divisão tripartida dos direitos coletivos criou uma até então
nova categoria de direitos coletivos, os individuais homogêneos, que,
na verdade, são individuais, porém, foram coletivizados para fins de
ações coletivas. A jurisprudência atualmente reconhece categorica-
.rnente os interesses individuais homogêneos dos consumidores corno
aptos de proteção pela via das ações coletivas.

16.18. LEGITIMAÇÃO ATIVA CONCORRENTE (ARTIGO


82 DOCDC)

Apesar de constituir as ações coletivas previstas na norma consu-


merista em verdadeiras ações civis públicas, manteve-se a legitimidade
concorrente de outras entidades e não apenas do Ministério Público.
Na verdade, a legitimidade jamais poderia ser exclusiva deste Órgão,
posto que isso representaria uma limitação inaceitável do acesso à

'\NDRÉ MOTA, CRJliTJfiNO SOllRAL, LUCIANO FlGliF-lREI.l(), ROBERTO flG\IEJRrPO, SA!IRINA Dülll\AOO 555
Capitulo XVI

justiça, já que quanto mais legitimados houver, maiores serão os atores


responsáveis pela proteção ao consumidor. A própria Constituição
estabelece em seu artigo 129: "A legitimação do Ministério Público
para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros,
nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei."
Dessa forma, ainda que o Ministério Público seja o legitimado mais
atuante, .segundo dados estatísticos, isso não representa em absoluto
exclusividade na legitimação para ações coletivas na proteção dos
consumidores.
As pessoas jurídicas de direito público também possuem legiti-
midade para a propositura de ações coletivas, bem corno as entidades
e os órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que
sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos·
interesses e direitos. Aqui se percebe que a intenção dn legislrldor é
realmente ampliar a proteção, permitindo que órgãos sem persona-
lidade jurídica própria, todavia, desde que criados para a defesa dos
consumidores, possam demandar em juízo. É o caso dos PROCON's.
A perquirição ope judieis da legitimidade ad causam só deve ser
feita quando estiver relacionada à associação civil, devendo o juiz no
caso concreto analisar se ela preenche os requisitos formal (regular-
mente constituída), temporal (há pelo menos 1 ano) e institucional
(que dentre os objetivos da associação esteja a proteção dos consumi-
dores). O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz,
nas ações previstas nos artigos 91 e seguintes, no caso de manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano,
ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
O consumidor, individualmente ou em litisconsórcio, não tem
legitimidade para promover a ação coletiva, como ocorre em outros
países, a exemplo dos Estados Unidos da América, podendo apenas
defender em juízo seus próprios interesses. Porém, se o consumidor
verificar que o seu dano é também o de outras pessoas, poderá repre-
sentar junto aos legitimados, requerendo, no exercício do seu direito
constitucional de petição, a atuação do órgão.

556 EDITOR.>\ ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL ! 3" edição


\ Capítulo XVl

TUTELA JURÍDICA
16.19. ;i~T~~~~~~t ~~TIGO 83 DO CDC)
- de'ncia que só mais tarde foi abraçada
Em anteC!p · açao a uma ten . , . hiovendiano, segund o o
;oelo CPC, o
coe .
con
sagrou o pnnCip!O c
to for ossível praticamente, a quem
qual "o processo deve dar, quan ~ quilo que ele tenha direito
d . 'to tudo aqUilo e somen e a
tenha um uel '
de conseguir". concedessem ao juiz poderes
· canismos que .
Para tanto, cnou me - nas da maneira como soh-
t ão do autor nao ape . .
Para satisfazer a pre romovendoens d tividades e: medidas ~egais
to as as a ... - d
citada por eIe, mas P . I . se necessário a modificaçao o
lcance InC usrve/ , ,
e adequadas ao seu a ' d uxiliares para conforma-lo
, . t 0 óprioe eseusa • ..
mundo fat1co, por a pr . .. edimento da publicidade
_ _,...."'""'"""" r1 ~ '"entença. 1mp , · d
ao comanL:\ o elllel)J..:..~ ,.. ._ -..~- - d f ]'cial se neCessario, retua a
. ouso a orçapol '
enganosa, inclusive com . d nosos à vida saúde e segurança
d tos e serviços a ' ,.
do mercado de pro u . ' onduzam à tutela especifica
dos consumidores, e outros at~s maiS que c
- d (azer ou nao fazer.
das obrigaçoes e ' . 84 do coe foi reproduzido conforme
o comando do artigo d art 497. do CPC/15, e sua
PC/73 ue correspon e ao . '
artigo 461 no C 'q . . t abranger 0 cumprimento de
. - ssou postenormen e, a .d
determ1naçao pa ' . E d' sitivo concede ao consumi or
- d t gar cmsa sse Ispo
obrigaçao e en re . ecífica do seu direito, não podendo o
o direito de buscar a tutela esp ·ra se o consumidor opta pelo
d, -lo Dessa manei ,
juiz deixar de aten e . . dquiriu J. unto ao fornecedor, e
lho defeituoso que a
conserto do apare d , espeitar" essa opção do consu-
. , o processo eve r
pede isso em JUIZO, .d direito no caso concreto, dar a
f econheCI o o seu .
midor e buscar, se o r r d' t o direito de receber: o conserto
·1oquepe me em
ele exatamente aqUI t' 84 da lei consumerista, deve o
· mbasenoar 1go _
do aparelho. A ss!rn, co t o aparelho do consumidor, nao
. f edor a conser ar
juiz obngar o ornec . - pecífica pela genérica de perdas
.t · sa obngaçao es
podendo subsli uir es 'd ssim declarar expressamente
I uando o consumi or a .
de danos, sa vo q , pri·mento específico.
· possiVe 1 o curo .
ou quando res tar Irn b r a não este)· a explicitada devi-
- d , usdaprova,em o .
A inversao o on d d f ·udicial também se constitUI
damente no título que trata a e esa J ,

SAsRINA DouRADO
557
o FIGUEIREDO, ROBERTO F!GUEIREI)O,
ANDRÉ MOTA, CR!STIA~O SOI.IAAL, LUCIAN
\ DIREITO DO CONSUMIDOR
Capítulo XVI

em meio para efetivar a tutela jurídica. Salvo exceções, se constituirá


em possibilidade para o juiz que, no caso concreto, verificada a vulne-
rabilidade do consumidor, determinará a inversão do ônus da prova
a seu favor. Considerando que a inversão não é automática, deve o
juiz no caso concreto analisar se os requisitos legais para a inversão
estão presentes, a saber: verossimilhança das alegações (que os fatos
narrados pelo consumidor pareçam verdadeiros) e hipossuficiência
(técnica, isto é, que o ônus da prova seja de difícil cumprimento por
parte do consumidor -prova diabólica). _ . _
A lei de proteção ao consumidor vetou a utilizaçao da mtervençao
de terceiros, denominada denunciação da lide, uma vez que o ingresso
do terceiro introduziria uma nova a~ão que seria desfavorável aos
interesses do consumidor (artigo 88, CDC). A este em nada interessa
ou favorece a discussão da responsabilidade de terceiros perante o
fornecedor, daí a razão do veto legal.
Contudo, como são solidariamente respons'áveis os fornecedo-
res, não há óbice em que seja fzito o chamamento ao processo (desde
que não se esteja deduzindo o pedido em sede de Juizados Especiais
Cíveis, porque a Lei nº 9.099/95 proíbe esse tipo de intervenção). Nesse
caso, o ingresso de mais um responsável no polo passivo da demanda
poderá .favorecer o consumidor, que, no momento do cumpn~e~to ~~
sentença que lhe for favorável, escolherá entre os dois ou ma1s reus, la
condenados em solidariedade, não havendo, por óbvio, chamamento
ao processo em sede de execução.

16.20. AÇÕES COLETIVAS PARA A DEFESA _DE


INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGENEOS

A legislação consumerista criou interessante hipótese de litis-


consórcio na ação coletiva envolvendo os não legitimados com as
seguintes consequências:
a) o interessado intervém no processo coletivo. Sendo a sentença
procedente, será igualmente beneficiado pela coisa julgada, todav1a,

r-·---· '-•··~~n \ PnÂTlCAf'lVII. j 3"edição


DIREITo oo CoNSUMIDOR /

~ Capítulo XVI

se a demanda for rejeitada pelo mérito, ainda poderá ingressar em


juízo com sua ação individual de responsabilidade civil;
b) o interessado interfere no processo a título de litisconsorte: será
I
normalmente colhido pela coisa julgada, favorável ou desfavorável,
não podendo, neste último caso, renovar a ação a título individual.

O pedido condenatório será sempre ilíquido (artigo 95, CDC),


"isso porque, declarada a responsabilidade civil do réu e a obrigação
de indenizar, sua condenação versará sobre o ressarcimento dos
danos causados e não dos prejuízos sofridos"- Para fins de execução
11
individual, deverá haver a liquidação prévia, porém 0correrá urna
verdadeira habilitação àas vítimas e sucessore;:;, capaL J.e transfonnar
a condenação pelos prejuízos globalmente causados do artigo 95 em
indenizações pelos danos individualmente sofridos".
As liquidações terão um caráter diferente daquelas do processo
civil comum (artigos 509 e ss., CPC/15). Isso porque cada consumid?r
não se limitará a demonstrar os danos sofridos, mas deverá provar o
nexo entre o seu dano pessoal e o globalmente causado.
Caso os interessados em número compatível com a gravidade do
dano não se habilitem no prazo de um ano para o cumprimento da
sentença, incumbirá a qualquer legitimado coletivo (artigo 82, CDC),
promover a execução coletiva (artigo 100, CDC).

16.21. COISA JULGADA COLETIVA

A sistematização da coisa julgada nas ações coletivas foi um


dos maiores avanços do CDC. Anteriormente, a lei de ação popular
(artigo 18 da Lei n' 4.717/65) e a lei de ação civil pública (artigo 17 da
Lei nº 7.347/85) já forneciam dados sobre a coisa julgada, no entanto,
somente quando a causa versava sobre direitos difusos. Por meio do
Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 103, derroga-se a
tradicional regra, insculpida no artigo 506 do CPC/15, de que a coisa
julgada é inter partes, ainda que o direito seja unitário. E, como os direi-
tos coletivos e individuais homogêneos não obstam o ajuizamento de

ANI)llÊ MOTA, (.RIST!ANO SOBRAL, LUOANO FI(;UE!RfiDO, ROIIERTO !'IGIJ[lRI.DO, S,\llRlNA DOVR.\J)O 559
Ctpítulo XVI
1

ações individuais sobre o mesmo dano, o artigo 104 dessa mesma lei
disciplina a coisa julgada que alcançará o autor individual. Observe
o texto legal:

Artigo 103. Nas ações coletivas de que trata este código,


a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improce-
dente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legztzmado poderá intentar outra ação, com idêntico funda--
mento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do
parágrafo único do artigo 81;
II- ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria
ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, .
nos termos do mciso anterior, quando se tratar da hipótese
pn:·vista no inciso II do parâgrti:fo única do artigo 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do
pedzdo, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na
hipótese do inciso III do parágrafo único do artigo 81.
§ 1º- Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e
II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos inte-
grantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
_§ 2º. Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improce-
dencza do pedzdo, os interessados que não tiverem intervindo
110 pr~cess~ como litisconsortes poderão propor ação de inde-
mzaçao a tztulo individual.
§ 3º. Os efeitos da coisa julgada de que cuida o artigo 16,
combm~do com o artigo 13 da Lei nº 7.347, de 24 de julho de
1985, nao pre;udzcarão as ações de indenização por danos pes-
soalmente sofrzdos, propostas individualmente ou na forma
p~evista. neste código, mas, se procedente o pedido, beneficia-
mo ':s vz~zmas e s:us sucessores, que poderão proceder à liqui-
daçao e a execuçao, nos termos dos artigos 96 a 99.
§ 4º .Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença
penal condenatól'ia.

Artigo 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e


II_ e do parágrafo único do artigo 81, não induzem litispen-
dencza para as ações individuais, mas os efeitos da coisa jul-
gada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II

560 EDITORA ARMADOR I PRÃTICAÜVIL 1 3" edição


j CJ.pítulo XVI

e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações


individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de
trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da
ação coletiva.

'
16.22. 'DO SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO
CONSUMIDOR E DA CONVENÇÃO COLETIVA DE
CONSUMO

Prevê a lei do CDC: "Artigo 105. Integram o Sistema Nacional


de Defesa do Consumidor (SNDC), os órgãos federais, estaduais, do
Distrito Federal e municipais e as entidades privadas de defesa do
consumidor."
Segue a lei apresentando que o Departamento Nacional de Defesa
do Consumidor e o Departamento da Secretaria Nacional de Direito
Econômico (MJ), ou órgão federal que venha substituí-lo, são orga-
nismos de coordenação da política do Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor, cabendo-lhes: ,
> planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política
nacional de proteção ao consumidor;
,. receber, analisar, avaliar e encaminhar consultas, denúncias
ou sugestões apresentadas por entidades representativas ou
pessoas jurídicas de direito público ou privado;
> prestar aos consumidores orientações permanentes sobre seus
direitos e garantias;
,. informar, conscientizar e motivar o consumidor através dos
diferentes meios de comunicação;
> solicitar à polícia judiciária a instauração de inquérito policial
para a apreciação de delito contra os consumidores, nos termos
da legislação vigente;
> represent;lf ao Ministério Público competente para fins de
adoção de medidas processuais no âmbito de suas atribuições;
> levar ao conhecimento dos órgãos competentes as infrações
de ordem administrativa que violarem os interesses difusos,
coletivos ou individuais dos consumidores;

ANDRÊ MOTA, CRiSTIANO SoBRA-L, LUCIANO FIGUEIREDO, RoBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO
561
I DIREITO DO CONSUMIDOR

Capítulo xvtl
• solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, dos Esta-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como auxiliar a
fiscalização de preços, abastecimento, quantidade e segurança
de bens e serviços;
.,. incentivarf até mesmo com recursos financeiros e outros
programas especiais, a formação de entidades de defesa do
consumidor pela população e pelos órgãos públicos estaduais
e municipais;
• desenvolver outras atividades compatíveis com suas finali-
dades.

Destaca-se que para a consecução de se"J.s objetivos, o Departa-


mento Nacional de Defesa do Consumidor poderá solicitar o concurso
de órgãos e entidades de notória especialização técnico-científica.

16.23. DA CONVENÇÃO COLETIVA DE CONSUMO

Dispõe o artigo 107 da lei que as entidades civis de consumidores


e as associações de fornecedores ou sindicatos de categoria econômica
podem regular, por convenção escrita, relações de consumo que
tenham por objeto estabelecer condições relativas ao preço, à quali-
dade, à quantidade, à garantia e às características de produtos e ser-
viços, bem como à reclamação e composição do conflito de consumo.
A convenção tornar-se-á obrigatória a partir do registro do ins-
trumento no cartório de títulos e documentos. Ela somente obrigará
os filiados às entidades signatárias. Vale ressaltar que não se exime
de cumprir a convenção o fornecedor que se desligar da entidade em
data posterior ao registro do instrumento.
RESUMO TEÓRICO

563
1.

ASPECTOS RELEVANTES DA
TE<:)RlA GERAL DO PROCESSO

1.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS

O Direito Processual Civil pode ser conceituado como sendo o


ramo do direito que estuda as normas que regulam o exercício da
jurisdição pelo Estado-juiz, bem como a relação que se formará entre
os sujeitos quando submeterem seu conflito de interesses à apreciação
deste Estado-juiz. Modernamente, afirma-se ser o ramo do Direito
Público que se propõe a definir contornos aplicáveis à resolução de
lides e chancela de inter.,sses relevantes, ainda que não conflituosos',
e, mesmo os que não sejam objeto de um Processo Jurisdicional.

1.2. AUTONOMIA DO DIREITO PROCESSUAL

Há autonomia do Direito Processual Civil, ou direito instrumen-


tal, em face do direito civiL ou direito substancial, e perante outros
ramos do direito, em razão da evidente diversidade da natureza e de
objetivos.

2.Eis o que ocorre nas casuísticas de Jurisdição voluntária, também chamada de não confli~
tuosa. Para elas não há lide. Os sujeitos dirigir-se-ão ao Judiciário para obter a chancela dos
seus interesses.

ANDRÉ MOTA, CRIS11At>-'O SOBRAL, LUCIA-NO FIGUEIREDO, ROBERTO FtGlJE!Rl.:OO, SAIIRINA DOURADO 565
ASPECTOS RELEVANTES DA TEORIA GERAL DO PROCESSO

Resumo Teórico

Contudo, esta autonomia não significa isolamento, uma vez que


o Direito Processual Civil faz parte do sistema maior, a ciência do
direito, da qual apenas é um dos seus vários ramos. Destacando-se
aqui o forte intercâmbio e influência do processo com a constituição3•

1.3. A TRILOGIA ESTRUTURANTE DO DIREITO


PROCESSUAL

• Jurisdição
• Ação
.,_ Processo

Três são os institutos basilares da Ciência Processual, quais sejam:


jurisdição, ação e processo. Através da Jurisdição são dirimidos os
mais diversos, complexos ou simplórios conflitos que forem levados
a sua apreciação. Cada indivíduo tem, por conseguinte, a garantia de
acessar a Justiça, ante a ameaça ou efetiva lesão ao Direito. É através
do Processo que atuará o Judiciário e se concretizará a garantia fun-
damental de acesso à justiça. Processo é instrumento elementar para
a concretização de direitos fundamentais.

3. Vivemos a era da Constitucionalização dos Direitos. É imperativa a necessidade de observar-


mos os ditames estabelecidos na carta Magna. O NCPC, no seu artigo 1º, sinaliza que o texto
processual está rendido aos Princípios, regras e valores estabelecido na Constituição Federal.
Entendemos que o mencionado artigo se configura como importante norma de reforço. Ela
possui um caráter educativo.

.-...... , P ,.r\ir;io
2.
MEIOS NÃO }URISDICIONAIS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

O artigo 3º do NCPC apregoa a inafastabilidade do controle Juris-


dicional, como menciona a própria CF/88. A carta magna sinaliza que
nenhuma ameaça ou efetiva lesão a direito poderão ser afastadas da
apreciação jurisdicional. Eis o que chamamos de controle jurisdicional
obrigatório. No entanto, chama atenção à necessidade de estimularmos
a autocomposição, bem como a arbitragem.
O CPC(l5 deixa clara a sua intenção em estimular tais mecanis-
mos de resolução de conflitos. Adverte no parágrafo 2º do artigo 3º
que o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual
de conflitos. Eis uma das suas normas fundamentais.
Vamos estudar os mencionados equivalentes jurisdicionais, con-
_ferindo as principais inovações sobre o tema, vejamos:

2.1. AUTOTUTELA

A autotutela é a mais rudimentar dos equivalentes jurisdicio-


nais, datada desde os primórdios da civilização, consiste na defesa
dos direitos através do emprego de diversos mecanismos, tais como
a força bruta e meios bélicos.
Vale ressaltar que hoje a autotutela é abominada na grande
maioria dos ordenamentos jurídicos, sendo excepcionalmente per-
mitida, já que ela configura inclusive um ilícito penal. Exemplos
excepcionais de autotutela permitida: desforço incontinente nas

ANll!\'É MOIA, CRISTIANO SOURAI, Ll•CIANO flt;LIE!REOO, ROHRTO FlGUF!RJ:J)O, SABIUNA DoURADO
567
Resumo Teórico

ações possessórias, estado de necessidade, greve, a legítima defesa e


a retenção de bagagens•.

2.2. AUTOCOMPOSIÇÃO

. , Eis o mecanismo de resolução de conflitos que tem por base 0


dtalogo. Dele resultam três distintos resultados, senão vejamos:
~ Conciliação;
., Renúncia;
~ Reconhecimento da procedência do pleito

Na primeira hipótese, uma das partes em conflito ou ambas


abrem mão do interesse ou parte dele. São feitas concess~es recípro:
cas. Elas se ajustam.
.~odas essas soluções têm em comum a característica de serem
parctazs, no sentido de que dependem da vontade e da atividade de
uma ou de ambas as partes envolvidas.

2.3. MEDIAÇÃO

Vejamos a~aixo _algumas das suas principais disposições.


A medtaçao sera onentada pelos seguintes princípios:
> tmparctahdade do mediador;
., isonomia entre as partes;
> oralidade;
> informalidade;
> autonomia da vontade das partes;
• busca do consenso·
'
• confidencialidade;
• boa-fé.

4. Atualmen~e, o ~stado-Juiz irá fiscalizar a utilização proporcional da autotutela. Nada impede


que ele repnma aqueles que excederem aos limites da Proporcionalidade.

568 EDJTORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL. 1 3a edíção


rResumo Teórico

Na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de media-


ção, as partes deverão comparecer à primeira reunião de mediação.
Ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de
mediação.
Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos
disponíveis ou sobr,' direitos indisponíveis que admitam transação.
A mediação pode versar sobre todo o conflito ou parte dele .
O consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas
transigíveis, deve ser homologado em juízo, exigida a oitiva do Minis-
tério Público.

Conheçamos as funções dos Mediadores


O mediador será designado pelo tribunal ou escolhido pelas
partes.
Ele conduzirá o procedimento de comunicação entre as partes,
buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do
conflito. Ademais, aos necessitados será assegurada a gratuidade da
mediacão.
A~licam-se ao mediador as mesmas hipóteses legais de impe-
dimento e suspeição do juiz, as quais estão dispostas nos arts. 144 e
145 do NCPC.
A pessoa designada para atuar corno mediador tem o dever
de revelar às partes, antes da aceitação da função, qualquer fato ou
circunstância que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua
imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá
ser recusado por qualquer delas .
O mediador fica impedido, pelo prazo de um ano, contado do
término da última audiência em que atuou, de assessorar, representar
ou patrocinar qualquer das partes.
Tal sujeito não poderá atuar como árbitro nem funcionar como
testemunha em processos judiciais ou arbitrais pertinentes a conflito
em que tenha atuado como mediador.
O mediador 'e todos aqueles que o assessoram no procedimento
de mediação, quando no exercício de suas funções ou em razão delas,
são equiparados a servidor público, para os efeitos da legislação penal.

569
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO $OS!tAL, LllClANO FtGUEIREDO, ROBERTO ftGUEIREDO, SABRINA DOURADO
I MEIOS NÃO )URISDlCIONAlS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Resumo Teórico

Mediação Judicial
Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual
de 11conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de
conciliação e mediação, pré-processuais e processuais, e pelo desen-
volvimento de programas destinados, a auxiliar, orientar e estimular
a autocomposição.
A composição e a organização do centro serão definidas pelo
respectivo tribunal, observadas as normas do Conselho Nacional de
Justiça.
Na mediação judicial, os mediadores não estarão sujeitos à prévia
aceitação das partes, observado o disposto no art. 5º desta Lei.
As parte~ deverão ser assistidas por advogados ou defensores
públicos, ressalvadas as hipóteses previstas nas Leis nº 9.099, de 26
de setembro de 19955, e nº 10.259, de 12 de julho de 2001.

:l ATENÇÃO!
Aos que comprovarem insuficiência de recursos será assegurada
assistência pela Defensoria Pública.

Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o


caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência
de mediação.
O procedimento de mediação judicial deverá ser concluído em
até sessenta dias, contados da primeira sessão, salvo quando as partes,
de comum acordo, requererem sua prorrogação.
Se houver acordo, os autos serão encaminhados ao juiz, que
determinará o arquivamento do processo e, desde que requerido
pelas partes, homologará o acordo, por sentença, e o termo final da
mediação e determinará o arquivamento do processo.
Solucionado o conflito pela mediação antes da citação do réu,
não serão devidas custas judiciais finais.

s. Causas que não excedam 20 salários mínimos até a prolatação da sentença.


MEIOS NÃO )URlSDICIONAIS DE RESOLUÇÃO DE CO!'<FUTOS J

rResumo Teórico

Trataremos, por fim, da autocomposição aplicável às pessoas


jurídicas de Direito Público, vejamos:
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
criar câmaras de prevenção e resolução administrativa de conflitos,
no âmbito dos respectivos órgãos da Advocacia Pública, onde houver,
com competência para:
• dirimir conflitos entre órgãos e entidades da administração
pública;
• avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de con-
flitos, por meio de composição, no caso de controvérsia entre
particular e pessoa jurídica de direito público;
!- prornovcr, quando couber, a celebração de termo de ajl:.sta-
mento de conduta.

A submissão do conflito às câmaras de que trata o caput é facul-


tativa e será cabível apenas nos casos previstos no regulamento do
respectivo ente federado.
Se houver consenso entre as partes, o acordo será reduzido a
termo e constituirá título executivo extrajudicial.
Não se incluem na competência dos órgãos mencionados no
caput deste artigo as controvérsias que somente possam ser resolvi-
das por atos ou concessão de direitos sujeitos a autorização do Poder
Legislativo.
Compreendem-se na competência das câmaras de que trata o
caput a prevenção e a resolução de conflitos que envolvam equilíbrio
econômico-financeiro de contratos celebrados pela administração
com particulares.
Enquanto não forem criadas as câmaras de mediação, os conflitos
poderão ser dirimidos nos termos do procedimento de mediação na
Lei em comento.
A Advocacia Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, onde houver, poderá instaurar, de ofício ou mediante
provocação, procedimento de mediação coletiva de conflitos relacio-
nados à prestação de serviços públicos.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOSRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO flGUE!REDO, SABR!NA DOURADO 571
Resumo Teórico I

A instauração de procedimento administrativo para a resolução


consensual de conflito no âmbito da administração pública suspende
a prescrição.
Considera-se instaurado o procedimento quando o órgão ou
entidade pública emitir juízo de admissibilidade, retroagindo a sus-
pensão da prescrição à data de formalização do pedido de resolução
consensual do conflito.
Em se tratando de matéria tributária, a suspensão da prescrição
deverá observar o disposto na Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966-
Código Tributário Nacional.
A mediação nas relações de trabalho será regulada por lei própria.
Os órgãos e entidades da administração pública poderão criar
câmaras para a resolução de conflitos entre particulares, que versem,
sobre atividades por eles reguladas ou supervisionadas.
A mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de
comunicação que permita a transação à distância, desde que as partes
estejam de acordo.
É facultado à parte domiciliada no exterior submeter-se à media-
ção segundo as regras estabelecidas nesta Lei.

2.4. ~RBITRAGEM

Outra técnica de solução de conflitos é a arbitragem, presente no


ordenamento pátrio através da Lei nº 9.307/966•
Trata-se de um instrumento de solução de contendas através da
qual as próprias partes, de comum acordo, estabelecem/elegem um
terceiro que decidirá sobre a questão, exercendo função similar à
atividade jurisdicional.

6. As vantagens da Arbitragem são numerosas:


,. Eficácia
,. Agilidade
• Especialização
,. Sigilo (garantido peJa Lei 9.307/96);
,. Prevalência da autonomia das partes
• Menor custo e menor tempo gasto

572 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA ClVlL ! 3a edição


Í~tesumo Teórico

. t d e quaisquer conflitos,
Todavia, a arbitragem não atmge a o. os - I ai Também não
possui limitações e depende, pois, de autonzaçao eg .
exclui a atividade junsdiC,lOnal. d. - d Lei 13.129/15 foi ampliada a
Recentemente, atraves da e Içao a de árbitros uando
aplicação da arbitrager;" P~~aa~~f: s~~~~=r~:~~~:
da prescriç1o pela
as partes recorrem a orga
instituição da arb!lragem. emms,
Ad . '
regulamenta a concessão de lute-
. b't I
. b. 1 b como a sentença ar 1 ra.
las de urgência, carta ar !tra' em . 1: bém de acordo
Ademais, o árbitro não possui força executlv~· t a~será título exe-
31 da Lei da Arbitragem, a sentença ar 1 r a
co~ o art. contiver eficácia cOndenatória. Entretanto, o conteúdo
cutwo quando . I , I , e! à análise do Poder Judiciário, apenas,
da sentença arbttra e vu nerav
sobre os aspectos da sua re!'ular~da~e. . a atrimoniais, podem
Somerrte os direitos dtspomvets, ou Se) 'p
ser resolvidos pela arbitragem.

DO ROI>ERTO FIGUEIREDO, SABRJNA DOURADO


573
ANoRt MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO F!GUE!RE '
3.

PRINCÍPIOS DO DIREITO
PROCESSUAL E NoRMAS
PROCESSUAIS fUNDAMENTAIS
DO CPC/15

No CPC/15, estão regulados uma série deles. Nos doze primeiros


artigos do novo texto estão destacadas as normas processuais funda-
mentais. Tais normas são indiscutivelmente importantes. Servem de
base para a compreensão do novo sistema processual.

3.1. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

O princípio do devido processo legal, ou "due process oflaw",_ está


previsto no art. 5º, inciso LIV, da Constituição Federal, nos segumtes
termos: "Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devtdo
processo legal". .
Tal princípio deve ser interpretado de forma ampla e atmge
não só os processos judiciais, mas também todos os procedimentos
administrativos e até mesmo nas relações privadas.
É considerado o princípio base do direito processual, abrangendo
todos os demais.
Em seu sentido material ("substantive due process"), tutela o
indivíduo orientando até mesmo a produção legislativa, obrigando-a
a observar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade no

C"7A FrHTOilA ARMAOOR ! PRÁTICA ÜVIl \ 3a edição


PRINCÍPIOS DO DIR. PROCESSUAL E NORMAS PROCESSUAJS FUNDAMENTAIS DO CPCjlS

gesumo Teórico

momento da elaboração das leis, a fim de que estas não ofendam


os direitos fundamentais previstos na Constituição. Ademais, um
processo devido não é apenas aquele em que se observam exigências
formais: devido é o processo que gera decisões jurídicas substancial-
mente devidas.
Quanto ao seu aspecto processual ou procedimental ("procedural
due process"), obriga o respeito ao procedimento legalmente previsto,
a fim de proporcionar às partes o amplo exercício de seus direitos e
faculdades processais.

32. PRINCÍPIO DA IGUALDADE/ISONOMIA OU


PARIDADE DE ARMAS

O princípio da igualdade estabelece o dever do Estado-juiz de


dar tratamento isonômico às partes. Tal isonomia, entendida como
igualdade de tratamento e de oportunidade de intervir no processo,
deve ser substantiva, ou seja, o julgador deve buscar o equilíbrio de fato
entre os litigantes, tratando os desiguais na medida de sua desigualdade'.
De acordo com o princípio da isonomia, previsto no art. 52,
"caput", e inciso I, da Constituição Federal, todos que participam da
relação processual devem receber igualdade de tratamento, devendo
o juiz, a fim de garantir que esta igualdade seja efetiva, proporcionar
''paridade de armas", ou seja, estar atento às desigualdades sociais
e econômicas existentes entre as partes, por exemplo, deverá o juiz
garantir que todos tenham a mesma oportunidade para produzir as
provas necessárias, inclusive com a concessão dos benefícios da assis-
tência judiciária gratuita, que proporciona a nomeação de advogado
dativo ao hipossuficiente e a isenção do pagamento dos honorários
periciais.
De acordo com o artigo 7º do NCPC, é assegurada às partes
paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e facul-
dades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à

7. Na acepção originária do principio, todos deveriam ser tratados igualmente perante a lei.

ANDI\Ü MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO ftGUEIREllO, ROBERTO FIGUEIREDO, $11BR!NA 001.:1\ADO 575
Resumo Teóric~

aoplitcaçdãot ~e sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo


C n ra 1 ono.

3.3. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL

O art
LIII do princíp·
5º dl: do JUIZ
· · na_:ural está previsto nos incisos XXXVII e
d. .. . Cons!Jtmçao Federal. Com efeito, estatui este último
IS~Osltlvo cons!Jtucmnal que ninguém será processado nem sentenciado
senRo pela autorzdade competente. O inciso XXXVII o '
os chamados tribunais de exce ão a . ' P- r sua vez, veda
tribunal de exceção'. ç ' o dispor que nao haverá juízo ou

- Assim' tem-se . que JUIZ


· · nat ura1 e• aquele com competência re-·
Çã d J't'estabeleCida
vlamente · - . para
. conhecer do co n fl't
I 0. A S partes, na soJu-
P
in ~ ~ dl lg~o, tem d!n:Jto a julgamento realizado por juiz e tribunal
M' es I os e atnbmçoes JUrisdicionais fixadas e limitadas pela Lei
mor,_ que seJam mdependentes e imparciais. Exige-se ainda que
e Ies se1am competentes. ' '

3.4. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DO


CONTROLE JURISDICIONAL

. . d. De.acordo
I com o artigo 3º do NCPC'nao - se exclmra
. , da apreciação
~ns IC!Ona ameaça ou efetiva lesão a direito. Tal princípio foi extraído
o texto
Jt constituciOnal
b' - art. 5º' inciso XXXV· O mesmo d1sposJt1VO
. ..
ena ece a a~ Jtrage::', já estudada em capítulo anterior.
No paragrafo 2 do aludido artigo, sinaliza-se o dever do estado
d e, sempre que
. possível' promover a soluçao - consensual de fl't
Adema s T con 1 os.
d fl't d'1 a c~nCJiação, a mediação e outros métodos de solução
e con I os everao ser estimulados por juízes, advogados, defensores

8. ?~st: m~o; é vedada constitucionalmente ual


nanos mshtuxdos ad hoc (expostfiacto q_ ;,quer ~naçao
. - de orgaos
, - JUlgadores
. extraordi-
. . . 0 uapos1enorz,paraJulgardet · d f .. .
constltumdo tnbunais de exceção. ermma os atos 1a ocorndos,

576 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL j Y edição


fR.esumo Teórico

públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do


processo judicial.
Em regra, o exercício da jurisdição é atribuído exclusivamente
pelo Poder Judiciário, o qual não poderá eximir-se de apreciar qual-
quer lesão ou ameaça a direito, nos termos do art. 5º, inciso XXXV, da
Constituição FederaL 1
Porém, excepcionalmente,' a função jurisdicional é atribuída a
outros órgãos, como o Senado Federal, que é competente para pro-
cessar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes
da mesma natureza conexos com aqueles (CF, art. 52, inciso I).
Aos árbitros, desde que regularmente investidos na função, o
legislador igualmente atribuiu uma parcela da função jurisdicional,
pois expressamente conferiu natureza de títuio executivo judicial às
sentenças arbitrais.

3.5. PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA


DEFESA

São princípios derivados do pri;,cípio do devido processo legal


e com previsão na Constituição Federal. Segundo o art. 5º, inciso LV,
da Constituição, "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes".
São extremamente importantes em nosso sistema, pois garantem
a efetiva participação de todos no processo, assim, os referidos prin-
cípios não admitem exceção.
A concessão de liminares sem a manifestação prévia do réu
(denominadas de "inaudita altera parte"), por se destinar a evitar o
perecimento de direitos e a tornar efetiva a prestação jurisdicional,
não configuram ofensa ao princípio do contraditório. Isso porque
a concessão da liminar não obsta o exercício do contraditório, mas

577
ANDRÉ ~QT.\, (RlSTl"NO SOBR·\L, Lt'Cl~NO fiGUElREDO, ROBERTO flGUEJRJ;DO, SAI!RINA DOURADO
PRINCÍPIOS oo DIR. PROCESSUAL E NORMAS PROCESSUAIS FuNDAMENTAIS oo CPCJ15

Resumo Teórico

apenas o transfere para um momento posterior, fazendo com que


ocorra o denominado contraditório postergado.
Em razão d~sses princípios, não basta que apenas se dê ciência
às partes dos atoS processuais realizados, mas que se garanta a opor-
tunidade de prévia manifestação e reação.
No NCPC, o contraditório foi agigantado. No artigo 9º, sinaliza,se
que não se proferirá decisão contra urna das parte sem que ela seja
previamente ouvida. Foram estabelecidas algumas exceções, senão
vejamos:
,. tutelas provisória de urgência;
~ às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos
I e II;
~ à decisão prevista no art. 701.

Como se não bastasse, o juiz não pode decidir, em grau algum de


jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha
dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de
matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

3.6. MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS OU LIVRE


CONVENCIMENTO MOTIVADO

O art. 93, inciso IX, da Constituição Federal determina que todas


as decisões dos órgãos do Poder Judiciário devem ser fundamentadas,
sob pena de nulidade. Tal preceito destina-se tanto a evitar decisões
arbitrárias como a possibilitar às partes terem conhecimento do
fundamento utilizado pelo juiz para decidir, para que possam, desse
modo, impugná-lo por meio de recurso. A fundamentação das deci-
sões também é destinada a garantir, em concreto, a imparcialidade
do juiz.
De acordo com o artigo 11 do NCPC, todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade.
PRINCÍPIOS oo DIR. PROCESSUAL E NoRMAS PRoCESSUAIS FuNDAMENTAIS DO CPC/15

Re.~umo Teórico

Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença


somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou
do Ministério Público

3.7. PRINCÍPIO DA LEALDADE PROCESSUAL, DA


PROBIDADE OU DA BOA-FÉ PROCESSUAL

O princípio da Boa-fé está estabelecido no artigo 5º. De acordo


com o dispositivo em comento aquele que de qualquer forma participe
do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.
É dever das partes que integram a relação processual agir com
lealdade, boa-fé e urbanidade. Os deveres das partes, procuradores
e daqueles que, de qualquer forma participem no processo, estão
elencados no artigo 77
Atuando com má-fé, com o fim de prejudicar a outra parte, emba-
raçar o exercício da prestação jurisdicional ou ofender a dignidade
da justiça, conforme hipóteses previstas no art. 80 do CPC, a parte
poderá ser condenada a pagar multa não excedente a um e inferior
a dez por cento sobre o valor da causa ATUALIZADO e a indenizar
à parte contrária os prejuízos que esta sofreu, mais os honorários
advocatícios e todas as despesas que efetuou (CPC, art. 81).

3.8. DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO

Eis um princípio processual foi criado com a Emenda Constitu-


ciona\45/2004, que é o da celeridade processual, mediante o acréscimo
do inciso LXXVIII ao art. 5' da Constituição Fera!: "a todos, no âmbito
judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação"'.

9. NCPC- Art. 4q. As partes têm direito de obterem prazo razoável a solução integral da lide,
incluída a atividade satisfativa.

ANDRÉ MoT,,, Cit!STH:-<0 SoBRA!-. LUCIANO FJGUFJRf:DO, Rül!liRTO FIGUEIREDO, $ABRJNA DOURADO 579
Resumo Teórico I

No NCPC tal princípio se encontra expresso nos artigos 4º e 6º.


De acordo com ele, todos que participarem do processo têm direito de
obter em prazo razoável a solução INTEGRAL do MÉRITO, incluída
a atividade satisfativa.

3.9. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DO JULGAMENTO DE


MÉRITO

De acordo com a disposição expressa do artigo 5º, acima men-


cionada, inovou o CPC ao garantir as partes o direito ao julgamento
de mérito. O texto faz referência à atividade satisfativa. Ademais, no ·
artigo 6º é garantido o direito fundamental a obtenção de urna decisão
de mérito justa e efetiva.

3.10. COOPERAÇÃO

Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que


se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
A doutrina brasileira importou do Direito europeu o ptincípio da
cooperação (ou da colaboração), segundo o qual o processo seria o
produto da atividade cooperativa triangular (entre o juiz e as partes).
A moderna concepção processual (no sentido de que o processo é um
meio de interesse público na busca da justa aplicação do ordenamento
jurídico no caso concreto) exige um juiz ativo no centro da contro·
vérsia e a participação ativa das partes, por meio da efetivação do
caráter isonômico entre os sujeitos do processo.
Não somente o juiz deve colaborar para a tutela efetiva, célere e
adequada. "O novo direito processual defende a necessidade de urna
democracia participativa" no processo; com o consequente exercício
mais ativo da cidadania, inclusive de natureza processual.

580 EDITORA ARMADOR l PRÂTICA CJVIL I 3a edição


r
Resumo Teórico

3.11. ORDEM CRONOLÓGICA DE JULGAMENTO

O novo CPC inovou ao estabelecer que "os juízes dev:rão profe;ir


.b . decidir os recursos obedecendo a ordem c o-
sentença e os tn una1s " . , ·
I, ica de conclusão" (art. 12), positivando, corno se ve, o pnnopiO
no og . .· . .o os p'rocessos devem ser anahsados,
da cronologra. Para esse ?,'~Clplde chegada" às mãos do magistrado,
referencralmente, por or em t
p- d h referências de qualquer natureza, exce o as
nao poden o aver p
legalmente previstas. . d
, .b . deverão obedecer, preferencialmente, a or em
Juizes e tn unms d- lo
I, . a de conclusão para proferir sentença ou acor ao .
crono ogiC . t d verá estar permanen-
A lista de processos aptos a JUlgamen o e , . d
temente à disposição para consulta pública em cartono e na re e
mundial àe co1nputadorts.

_ . 53 do NCPC. De acordo com ela a ordem cro-


1
10. A Lei 13.256 alterou'a redaça~ dos ~rts,·, ~ e SI ,,·,preferenciaL ve·1amos: "Art.l2. Os juízes
- 0 sena obnga ona. e - f ·
.
.
.
nol6g1ca de JU!garnen na°
t
.
. t d - preferenctalmente, a or e
, d m cronológica de conclusao para pro enr
. d - . .
e os tnbunats a en era0' .d . 153 passou a ter a segutnte re açao, veJamos.
. d- "N 0 mesmo sent1 o o art1go , l' ·
sentença ou acor ao. . t derá preferencialmente, a ordem crono og1ca
"A 153 0 "vão ou 0 chefe de secretana a en ' ... ,
rl. . escn . _ f . - d s pronunciamentos judtctaiS.
de recebimento para pubhcaçao e e etivaçao o

581
ANDRÉ MaTA, CRISTIAJ'O SOBRAL, LUCI \NO F!GUEJR!WO, ROBERTO F!GUDflEDO, SABRINA DouRADO
4.

!JURISDIÇÃO

4.1. CONCEITO

Primeiramente; observa-se que a jurisdição é um poder e dever


do Estado, de resolver de modo imparcial o conflito de interesse dos
indivíduos, substituindo a vontade deles pela sentença, que declarará
o direito material aplicável ao caso e será imperativa e passível de
· tornar-se imutável pelo fenômeno da coisa julgada.
Assim, a jurisdição abrange três poderes básicos: decisão, coer-
ção e documentação. Pelo primeiro, o Estado-juiz tem o poder de
conhecer a lide, colher provas e decidir; pelo segundo, o Estado-juiz
pode compelir o vencido ao cumprimento da decisão; pelo terceiro, o
Estado-juiz pode documentar por escrito os atos processuais.

4.2. PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO

4.2.1. INVESTIDURA

Somente o juiz poderá exercer a jurisdição. Exige-se deste agente


público, ademais, que esteja regularmente investido na função,

582 EDITORA A!\MAD()R I PRÃTICA CIVIL ! .~a edição


jURISDIÇÃO l
[Resumo Teórico

devendo ser aprovado em concurso público de provas e títulos11, ou


nomeado por ato do chefe do Poder Executivo para ocupar cargo nos
lugares reservados nos Tribunais aos advogados ou membros do
Ministério Público, ou mesmo nomeado no cargo de Ministro dos
Tribunais Superiores. Uma outra exceção está prevista nos JEC's.
Lá estão presentes os cha~ados juízes leigos.

4.2.2. lNDELEGABILIDADE

Não se pode delegar a função jurisdicional a qualquer outro


órg5o diverso do Poder Judiciário, sob pena de violação do principio
do juiz natural.
Cada poder da República tem as atribuições e o conteúdo fixa-
dos constitucionalmente, vedando-se aos membros de tais Poderes
por deliberação, ou mesmo mediante lei, alterar o conteúdo de suas
funções. Aplica-se a hipótese aos juízes, que não podem delegar a
outros magistrados, ou mesmo a outros Poderes ou a particulares,
as funções que lhes foram atribuídas pelo Estado, já que tais funções
são do poder estatal, que as distribui conforme lhe convém, cabendo
ao juiz apenas seu exercício.

4.2.3. ADERÊNCIA OU TERRITORIALIDADE

Segundo este princípio, os juízes só poderão exercer sua função


no território nacional e ainda mais nos limites de sua competência
territorial, motivo pelo qual necessária é a cooperação entre os juízes,
para a prática de atos em outras localidades, por meio de cartas preca-
tórias, por exemplo. A decisão de qualquer juiz, no entanto, produzirá
efeitos em todo território nacional.

11. Desde que tenha desempenhado 3 anos de atividade jurídica anteriormente.

ANDR.fo MOTA., CRISTIANO S()BRA.L, LuCiANo FtGUHHumo, ROIIF.RTO f'tGUElREDO, SAHRtNA DoUR>\DO 583
Resumo Teórico l
:>ATENÇÃO!

A desnecessidade da emissão de cartas precatórias para comar-


cas contíguas ou situadas na mesma região metropolitana. Art.
255, CPC".
Vide também a disposição do artigo 60, CPCB.

4.2.4. INDECLINABILIDADE

_ Nos termos do art. 5º, inciso XXXV, não se excluirá da aprecia-


çao do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, motivo pelo qual a
nenhum juiz é lícito deixar de decidir porque há lacuna ou obscuridade.
na lei, àevenào servir-se dos mecanismos de integração. 14
~onsagrando expressamente o princípio da indeclinabilidade
(ou da inafastabilidade, também chamado de princípio do controle
jurisdicional por Cintra, Grinover e Dinamarco), dispõe o artigo 5º,
mcu:o XXXV, da Constituição Federal que "a lei não excluirá da apre-
cmçao do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito".
Em suma, apregoa o princípio da indeclinabilidade que o juiz não
pode subtrair-se da função jurisdicional, sendo que, mesmo havendo
lacuna ou obscuridade no ordenamento, deverá proferir decisão (art.
140, CPC).

4.2.5. INÉRCIA

É concedido apenas à parte o direito de provocar o exercício


da jurisdição, uma vez que esta é inerte. Este princípio também é

12. Nas c~marcas c?~tígua~ d~ fácil comunicação e nas que se situem na mesma região
me~?po~Jtana, o oficial de J~Shça poderá efetuar, em qualquer delas, citações, intimações,
nohficaçoes, penhoras e qumsquer outros atos executivos.

13. Se o i~ó~el se _ach.ar sit~a?o em mais de um Estado, comarca, seção ou subseção judiciária, a
c~mp~tencta temt~nal do J~I:_o prevento. estender~se-á sobre a totalidade do imóvel. Tal disposi-
çao eVIta a prolataçao de dectsoes contraditórias, as quais gerariam flagrante insegurança jurídica.

14. Vide art. 52, LINDB.

584 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3a edição


r
Resumo Teórico

denominado de princípio da ação ou da demanda, ou princípio da


iniciativa da parte.
O estado-juiz só atua se for provocado. Ne proceda! iudex ex officio,
ou seja, 0 juiz não procede de ofício (de ofício= por conta própria). Esta
regra geral, conhecida pelo nome de principio da demanda ou princi-
pio da inércia, está consagrada no art. 2º d<;> código de processo civil.
I

:> EXCEÇÕES!
A Lei 11.101/05 permite ao juiz converter o proce$SO de recupe-
ração judicial em falência.

Art. 738. Nos casos em que a lei considere jacente a


herança, o juiz em cuja comarca tiver domicílio o falecido
procederá imedir.tarne-nte 11 nrrecndação dos respectivos bens.

4.3. ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO

A jurisdição, embora indivisível, é classificada, quando ao seu


objeto, como penal e civil. Dentre os órgãos do Poder Judiciário, ape-
nas a Justiça do Trabalho não tem competência criminal. Por sua vez,
apenas a Justiça Militar não exerce a competência civil.
Classifica-se também a jurisdição em contenciosa e voluntária
ou graciosa. Nesta última, costuma-se dizer que o Estado realiza
verdadeira "administração pública de interesses privados", por ser
necessária a sua participação para dar validade a alguns atos da
vida civil, como os de separação e divórcio consensual, por exemplo.
A jurisdição contenciosa, por sua vez, destina-se à solução dos con-
flitos de interesses (lides).
Levando-se em consideração as regras de competência, a juris-
dição pode ser ainda chamada de especial e comum. Quando não
houver competência específica de algum órgão do Poder judiciário
para 0 julgamento de determinada questão, será ela apreciada pelos
órgãos que exercerem a jurisdição comum, tanto da Justiça Federal
como da Justiça Estadual.

ANDRÉ MoTA, CRISTIANO $OSRAL, LUCIANO F!GUEIRU)O, ROBERTO fl<>UEIREDO, SABRINA DoURADO
585
!)URlSDIÇÃO
Resumo Teóric~

4.4. LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL

A jurisdição é fruto da: soberania do Estado e, por consequência


natural, deve ser exercida d~ntro do seu território. Entretanto, a neces-
sidade de convivência entre os Estados, independentes e soberanos,
fez nascerem regras que levam um Estado a acatar, dentro de certos
limites estabelecidos em tratados internacionais, as decisões proferidas
por juízes de outros Estados.
Pareceu-nos mais apropriado falar em .. limites da jurisdição
nacionar ao invés de ..competência internacionaL como mencionava
o texto anterior. As hipóteses foram ampliadas.
De acordo com o art. 21 compete à autoridade judiciária brasileira
processar e julgar as ações em <jue:
., o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domici-
liado no Brasil;
~ no Brasil, tiver de ser cumprida a obrigação;
~ o fundamento seja fato oc'?rrido ou ato praticado no Brasil.

Tais regras são chamadas de Jurisdição internacional concorrente.

~ATENÇÃO!

Considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira


que nele tiver agência, filial ou sucursal.

Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e


julgar as ações:
~ de alimentos, quando:
• o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
• o réu mantiver vínculos no Brasil, tais corno posse ou pro-
priedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de
benefícios econômicos;

Vejamos as demais hipóteses:


~ decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor
tiver domicílio ou residência no Brasil;

EniTORA ARMADOR j PRÁTICA ÜVIL j 3'1 edição


)URISDIÇÃO I
I Resumo Teórico

• em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à


jurisdição nacional.

,, No artigo 23 do NCPC. estão veiculadas as regras do exercício da


função jurisdicional brasileira exclusiva. Nessas hipóteses, somente
um órgão jurisdicional brasileiro, com exclusão de qualquer outro,
poderão decidir tais matérias. Eventuais decisões estrangeiras sobre
as mesmas não serão homologadas.

Vejamos:
Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de
qualquer outra:
• conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
~ em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação
de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens
situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacio-
nalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território
nacional;

~ATENÇÃO!

Em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável,


proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o
titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio
fora do território nacional.
A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litis-
pendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira
conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas
as disposições em contrário em tratados internacionais e acordos
bilaterais em vigor no Brasil.
Ademais, a pendência de causa perante a jurisdição brasileira
não impede a homologação de sentença judicial estrangeira
quando exigida para produzir efeitos no Brasil.

ANO RÉ Mü1A, CtUStlANO SoBRAL, LuCIANO FlGUEIRBDO, ROBERTO FlGUE!REOO, SABRJN' DOURADO 587
Resumo Teórico

REGRA DE INCOMPETÊNCIA!

. Não compete à autoridade judiciária brasíleira o processamento


e o JUlgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro
exclusivo_estrangeno em contrato internacional, arguida pelo ré
contestaçao. u na
. As ;egras acima não se aplicam às hipóteses de competência
mternacwnal exclusiva previstas neste Capítulo.

588
EmTORA ARN!ADOR I PRÁTICA CIVIL J 3a edição
5.

CooPERAÇÃO INTERNACIONAL

Em substancial crescimento, estão as demandas envolvendo


interesses transnacionais e a correspondente necessidade de produção
de atos em um país para o cumprimento em outro, o que, de certo,
decorre de crescente internacionalização da economia. Vivemos numa
sociedaàe globalizada.
Reflexo desse cenário internacional hodierno, a cooperação
jurídica internacional figura como uma maneira de contribuir para
as informações e prática de atos voltados à solução de controvérsias
que ultrapassem as fronteiras de determinado Estado.
O art. 26 do NCPC traça a base principiológica da cooperação
internacional e estabelece o ministério da Justiça como autoridade
central- salvo estipulação diversa.
A cooperação jurídica internacional será regida por tratado de
que o Brasil faz parte e observará:
~ o respeito às garantias do devido processo legal no Estado
requerente;
~ a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros,
residentes ou não r;o Brasil, em relação ao acesso à justiça e à
tramitação dos processos, assegurando-se assistência judiciária
aos necessitados;
~ a publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigílo previs-
tas na legislação brasileira ou na do Estado requerente;
~ a existência de autoridade central para recepção e transmissão
dos pedidos de cooperação; ·
~ a espontaneidade na transmissão de informações a autoridades
estrangeiras.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO flGUE\R[J)Q, ROBLRTO [JCUEIREDQ, 5ABR!NA DOURADO 589
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Resumo Teórico

:l ATENÇÃO!
Na ausência de tratado, a cooperação jurídica internacional
poderá realizar-se com base e m reciprocidade, lfl-anifestada
1
por via diplomática.
Não se exigirá a reciprocidade referida acima para homologação
de sentença estrangeira.
Na cooperação jurídica internacional, não será admitida a prática
de atos que contrariem ou que produzam resultados incompatí-
veis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro.
O 1'.1inistério de. Jnstiça exercerá as funções de autoridade central
na ausência de designação específica.
Vejamos o objeto da cooperação jurídica internacional:
~ citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial;
~ colheita de provas e obtenção de informações;
~ homologação e cumprimento de decisão;
~ concessão de medida judicial de urgência;
,.. assistência jurídica internacional;
~ qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida
pela lei brasileira.

5.1. AUXÍLIO DIRETO

Cabe auxílio direto quando a medida não decorrer diretamente


de decisão de autoridade jurisdicional estrangeira a ser submetida a
juízo de delibação no Brasil.
A solicitação de auxílio direto será encaminhada pelo órgão
estrangeiro interessado à autoridade central. cabendo ao Estado
requerente assegurar a autenticidade e a clareza do pedido.
Além dos casos previstos em tratados de que o Brasil faz parte,
o auxílio direto terá os seguintes objetos:
CooPERAÇÃolNTERNACIONAL'
Resumo Teórico

~ obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento


jurídico e sobre processos administrativos ou jurisdicionais
findos ou em curso;
~ colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo,
em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autori-
dade judiciária brasileira;
~ qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida
pela lei brasileira.

A autoridade central brasileira comunicar-se-á diretamente com


suas congêneres e, se necessário, corn outros órgãos estrangeiros res-
ponsáveis pela tramitação e pela execução de pedidos de cooperação
enviados e recebidos pelo Estado brasileiro, respeitadas disposições
específicas constantes de tratado.
No caso de auxílio direto para a prática de atos que, segundo a
lei brasileira, não necessitem de prestação jurisdicionat a autoridade
central adotará as providências necessárias para seu cumprimento.
Recebido o pedido de auxílio direto passivo, a autoridade central
o encaminhará à Advocacia-Geral da União, que requererá em juízo
a medida solicitada.
O Ministério Público requererá em juízo a medida solicitada
quando for autoridade central.
Compete ao juízo federal do lugar em que deva ser executada
a medida apreciar pedido de auxílio direto passivo que demande
prestação de atividade jurisdicional.

ANDRÊ MOTA, CRiSTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURA.OO 591
6.

AçÃo

6.1. CONCEITO DE AÇÃO

Enquanto jurisdição é a função, o poder e dever do Estado de


resolver as crises de interesses e processo a relação jurídica que li a
as partes e o juiz, ação é o direito público subjetivo ao exercício ~a
attvtdade JUnsdicional.
O direito de ação tem natureza pública e previsão constitucional
(CF, art. 5º, XXXV), sendo autônomo e independente em relação ao
dtretto matenal. Ou seja, a improcedência do pedido do autor não
autonza conclmr que o autor não tinha direito de ação.

6.2. CONCEITO DE DEMANDA

. Den;anda é a pretensão levada a juízo. É aquilo que se vai buscar


ao JU~.tctano, 0 que se almeja perante o juízo. É um direito subjetivo
que e mstrumentalizado através da petição inicial.

6.3. ELEMENTOS DA AÇÃO

~PARTES

~ CAUSA DE PEDIR
~PEDIDO

592
EmTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL 1 3·1 edição
1 Resumo teonco

A ação tem como elementos as partes, a causa de pedir e o pedido,


que servem para identificá-la e individualizá-la.
Havendo ações com identidade de elementos, ocorrerá litispen-
dência, devendo a segunda ser extinta, sem resolução do mérito. Se a
segunda ação for ajuizada somente depois de a primeira já ter sido
julgada definitivamente, deverá ser reconhecida a coisa julgada.
As partes são as pessoas, físicas ou jurídicas, qu'e alegam ser
titulares do direito material discutido nos autos. Enquanto a parte
autora integra o polo ativo, a parte requerida, o polo passivo.
A causa de pedir consiste na narração dos fatos e nos fundamen-
tos jurídicos do pedido. Os fatos devem ser expostos com detalhes
a fim de se identificar com precisão a lide surgida entre as partes.
Necessária também a indicação da forma de solução que se pretende
obter, que deve ser amparada pelo direito. Classifica-se a causa de
pedir em remota e próxima, sendo a prirr,çirü. relativa aos fatos e a
segunda referente ao enquadramento jurídico dos fatos de forma
abstrata no ordenamento.
O juiz deve apreciar os fatos expostos e dar a solução adequada,
de acordo com a legislação vigente, ainda que adote fundamentação
jurídica diversa daquela indicada pelo autor na petição inicial, em
respeito ao princípio "jura novit curia". A teoria que leva em conside-
ração os fatos para individualização das ações, e que foi adotada por
nossa legislação, denomina-se "teoria da substanciação".
Com relação ao pedido que deve ser formulado pelo autor, é
classificado em imediato ou mediato. O pedido imediato consiste
no provimento jurisdicional pleiteado em face do Estado, que pode
ser declaratório, condenatório, executivo ou acautelatório. O pedido
mediato, por sua vez, c0nsiste no bem da vida, material ou imateria~
desejado.

6.4. LEGITIMIDADE E INTERESSE

Haverá interesse de agir ou interesse processual quando houver


necessidade de a parte pleitear em juízo a proteção do direito alegado,

ANORÊ MOTII, CRISTIANO SOBRAL, LuCIANO fKiUElREDO, ROBERTO l'lGCURt:DO, SAl!Rl>.:A DOURADO 593
I
AÇÃO

Resumo Teóric~

sob pena de perecimento, sendo certo ainda que o processo a ser for-
mado deve ser adequado à solução do conflito de interesses. Trata-se
do binômio necessidade-adequação.
Há quem ainda defenda que a açãq deva sempre trazer resultado
útil ao autor, do ponto de vista processual (binômio necessidade-utili-
dade); porém, não há consenso quanto à necessidade desse requisito,
pois a utilidade teria natureza subjetiva, ficando livre a escolha do
procedimento a ser adotado, desde que não seja inadequado.
No entanto, a adequação e a utilidade normalmente se confun-
dem, pois na maioria das vezes que um procedimento for inadequado
também não será útil à tu tela do direito pleiteado. Convém ainda
obsen'ar que o interesse prnr:es<;;;l_l<Jl também não pode ser confundido
com a possibilidade de insucesso da pretensão, matéria esta relativa
ao mérito.
No que se refere à legitimidade para agir ou "legitimatio ad
causam", exige-se que a ação seja movida pelo titular do direito, pois
ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo
quando autorizado pelo ordenamento jurídico (CPC, art. 18º).
A ação, por sua vez, deverá ser direcionada apenas contra a parte
legítima, que é a pessoa que resiste à pretensão do titular do direito
material.
A referida legitimação é chamada de ordinária. Excepcional-
mente, quando houver autorização legal para se pleitear direito alheio
em nome próprio, dar-se-á legitimação extraordinária ou substituição
processual.
O Pedido juridicamente possível passou a integrar o mérito,
diz-se que o pedido é juridicamente possível quando não for vedado
pelo ordenamento o seu acolhimento. Como exemplo de pedido juridi-
camente impossível, pode-se citar aquele em que se postule a cobrança
de dívida de jogo. Porém, necessário observar que não é considerado
impossibilidade jurídica do pedido o fato de se poder antever, desde
a petição inicial, que o pedido formulado não será acolhido, vez que
tal questão é relativa ao mérito e será apreciada na sentença. Ademais,
não há mais menção a ele no inciso VI do art. 485 do CPC, que apenas
se refere à legitimidade e ao interesse de agir.

EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


7.
CoMPETÊNCIA

7.1. CONCEITO

Competência nada mais é do que a fixação das atribuições de


cada um dos órgãos jurisdicionais, isto é, a demarcação dos limites
dentro dos quais podem eles exercer a jurisdição. Neste sentido, "juiz
competente" é aquele que, segundo limites fixados pela Lei, tem 0
poder para decidir certo e determinado litígio (art. 42, CPC).
Vejamos a integra do dispositivo:

. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos


lnnztes de sua competência, ressalvado às partes o direito de
instituir juízo arbitral, na forma da lei.

7.2. MOMENTO QUE DEMARCA A FIXAÇÃO DE


COMPETÊNCIA; EXCEÇÕES Ã REGRA DA
PERPETUATIO JURISDICTIONIS

Segundo dispõe o art. 43 do CPC, a competência, em regra, é


determinada no momento em que a ação é proposta - com a sua
distribuição (art. 312 c/c art. 284 do CPC) ou com o despacho inicial,
sendo irrelevantes as modificações do estado de fato (ex. Mudança de
domicílio do réu) ou de direito (ex. ampliação do teto da competência

A:c~oR( MOTA, CR!S"nANO SORRAJ.., LUCIANO FtGUEIRHlO, ROBERTO FIGUEIREDO, SA!SlUNA DoURADO
595
Resumo Teórico

do órgão em razão do valor da causa) ocorridas posteriormente (per-


p:'tuatio jurisdictionis), salvo se suprimirem o órgão judiciário cuja compe-
tenCia J" estava determinada inicialmente - por exemplo, a extinção
de uma vara cível; ou quando as modificações ocorridas alterarem a
competência em razão da matéria ou da hierarquia - porque são espécies
de competência absoluta, fixadas em função do interesse público,
razão pela qual outras modalidades de competência absoluta devem
estar abrangidas.

7.3. CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DA


COMPETÊNCIA

• Territorial: Está baseado na circunscrição geográfica. É o cri-


tério de foro. Encontrado no CPC/15 nos artigos 46 a 53.
• Material: Tem por base o objeto litigioso, a pretensão que está
sendo discutida. Exemplo: causa de família, ou de trânsito, etc.
• Valor da causa: Poderá ser um critério de determinação de
competência, é um dos motivos da obrigatoriedade do valor
da causa na inicial. Ex: art. 3º da Lei 9.099/95.
• Funcional ou hierárquico: Tem por base as funções confiadas
aos órgãos jurisdicionais. Gera a chamada competência origi-
nária. Em razão da função ou hierarquia move-se a causa no
tribunal, por exemplo.
• Pessoas: Os sujeitos da relação processual também podem
influir na regra de competência. Eis o que estabelece na Justiça
Federal e nas Varas de Fazenda pública.

7.3.1. CRITÉRIO TERRITORIAL

Os órgãos jurisdicionais exercem jurisdição nos limites das suas


circunscrições territoriais, estabelecidas na Constituição federal e/
ou Estadual e nas Leis. Destarte, os juízes estaduais são competentes
para d1zer o direito nas suas Comarcas, e os juízes federais, por sua

596 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL j 3a edição


ÍResumo Teórico

vez, nos limites da sua Seção Judiciária. Já os Tribunais Estaduais


são competentes para exercer a jurisdição dentro do seu estado, os
Tribunais Regionais Federais, nos limites da sua região. O STF e o ST)
podem dizer o direito em todo o território nacional.
Sob 0 ângulo da parte, a competência territorial é em princípio
determinada pelo domicilio do réu, para as ações fundadas em, direito
pessoal e as ações fundadas em direito real sobre bens móveis. (art.
46, CPC).
Se 0 réu tiver domicílios múltiplos, poderá ser demandado em
qualquer deles; se incerto ou desconhecido: será demandado no local
em que for encontrado, ou no foro de domJC•:•o do aut~r, facultando-se
ao autor ajuizar a ação no foro de seu domicilio, se o reu nao res1d1r no
Brasil e se 0 próprio autor também não tiver residência no País. Neste
último caso, a demanda poderá ser proposta em qualquer foro. Eis
que dispõe o artigo 46, parágrafo 3º do CPC/15. Será ainda no foro
0
de domicílio de qualquer dos réus no caso de litisconsórcio passivo.
• Além dessas regras, existem outras, seja no CPC, seja em leis
extravagantes, que estabelecem regras específicas para certas ações,
por exemplo:
I - ação de inventário, competente o foro do ultimo domicilio do
autor da herança (art. 48, CPC);
li - ação declaratória de ausência, competente o foro do ultimo
domicílio do ausente (art. 49, CPC);
III- ação de separação, divórcio, conversão de separação em divorcio e
anulação de casamento, era competente o foro do domicílio da mulher
(art. 100, I, CPC). No NCPC - art. 53, I, são encontradas as seguintes
regras:
• de domicílio do guardião de filho incapaz;
• do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
• de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo
domicílio do casal;
IV- ação de alimentos, competente o foro do domicílio do alimen-
tado, isto é, aquele que pede os alimentos (art. 53, li, CPC);

597
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO $OIIRAl, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO F!GUf.lREDO, SABR!N \DOURADO
\ CoMPETÊNCIA
Resumo Teórico [

V- ação de cobrança, competente o foro do lugar onde a obrigação


deveria ter sido satisfeita (art. 53, Ill, d, CPC);
VI- ação de despejo, competente o foro da ')ituação do imóvel (art.
58, li, Lei nº 8.245/91);
VII - ação de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços,
competente o foro domicílio do autor (art. 101, Lei nº 8.078/90-CDC);

VIII -ação de adoção, competente o foro do domicílio dos pais ou


responsáveis (art. 146, Lei nº 8.069/90 ECA);
IX- ações movidas no Juizado Especial Cível, competente o foro do
domicílio do autor (art. 4º, Lei nº 9.099/95 JEC).
Conheçamos mais algumas regras de competência territorial:
A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no
de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.
Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente
o foro de situação da coisa. O autor pode optar pelo foro de domicílio
do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de
propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e
de nunciação de obra nova.
A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação
da coisa, cujo juízo tem competência absoluta.
A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domi-
cílio de seu representante ou assistente.
É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que
seja autora a União.
É competente o foro de domicílio do réu para as causas em gue
seja autor Estado ou o Distrito Federal. Se Estado ou o Distrito Federal
for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do
autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de
situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado.
É competente o foro do lugar:
• onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;
>- onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a
pessoa jurídica contraiu;

~ ·- . _ • -· .. -~~ , n~ :..,,,...~ rnrn ! """ edicão


COMPETÊNCIA I
I Resumo Teórico

>- onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade
ou associação sem personalidade jurídica;
• onde a obrigação de,;re ser satisfeita, para a ação em que se lhe
exigir o cumprimento;
• de residência do idoso, para a causa gue verse sobre direito
previsto no respectivo estatuto;
• da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de
reparação de dano por ato praticado em razão do ofício;
• do lugar do ato ou fato para a ação:
- de reparação de dano;
• em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;
• de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de
reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de
veículos, inclusive aeronaves.

7.3.2. CRITÉRIO iNTUITO PERSONAE

As pessoas envolvidas podem alterar as regras de competência


aplicáveis ao conflito. A fixação da competência tendo em conta as
partes envolvidas (rationae personae) é absoluta.
O principal exemplo de competência em razão da pessoa é o
da vara privativa da Fazenda Pública, criada para processar e julgar
causas que envolvam entes públicos.
Há casos de competência de tribunal determinada em razão da
pessoa, como prerrogativa do exercício de algumas funções (mandado
de segurança contra ato do Presidente da República é da competência
do STF). Não podemos esquecer-nos da competência da Justiça Federal.
Ela é fixada em razão das pessoas e está estabelecida no art. 109, CF/88.
O NCPC, no seu artigo 45, sinaliza que tramitando o processo
perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal com-
petente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades
autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade
profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto
as ações:

ANDRÉ MoTA, CRISTIANO SoBRAL, LuCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FtGUElREDO, SABRINA DOURADO
ResumoTeóric~

• de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente


de trabalho;
• sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho.

~CUIDADO!

O~ autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação


Seja de competência do juízo perante o qual foi proposta a ação.

. O ju~z, ao não admitir a cumulação de pedidos em razão da


1ncompetencia para apreciar qualquer deles, não examinará 0 mérito
daquele em que exista interesse da União, de suas entidades autár-
qmcas ou de suas empresas públicas.
Ademais, o juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem:
susCitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for
excluído do processo.

7.4. CLASSIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA

A competência classifica-se em:

7.4.1. COMPETÊNCIA DO FORO (TERRITORIAL) E COMPETÊNCIA


_ DO JUÍZO

. Fm:o é o local onde o juiz exerce as suas funções; é a unidade


terntonal a qual se exerce o poder jurisdicional. No mesmo local,
se~undo as leis de organização judiciária podem funcionar vários
JUizes com atribuições iguais ou diversas.
De tal modo, para uma mesma causa, constata-se primeiro qual
o foro competent2', para depms averiguar o juízo, que em primeiro
grau de JUnsdJçao, corresponde às varas, o cartório a unidade
administrativa. '

600
EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CtvJL 1 3~ edição
j Resumo Teórico

Nas Justiças dos Estados o foro de cada juiz de primeiro grau, é


o que se chama comarca; na Justiça Federal é a subseção judiciária.
O foro do Tribunal de justiça de um estado é todo o Estado; o dos
Tribunais Regionais Federais é a sua região, definida em lei (art. 107,
par. Único, CF); o do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal
de Justiça e de todos os demais tribunais superiores é todo o território
nacional (CF, art. 92, parágrafo único). Portanto, competência de for6,
é sinônimo de competência territorial, e Juízo de órgão judiciário.
A competência do juízo é matéria pertinente às leis de organização
judiciária; já a de foro é regulada pelo CPC.

7.4.2. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA E DERIVADA

A competência originária é atribuída ao órgão jurisdicional direta-


mente, para conl1ecer da causa em primeiro lugar; pode ser atribuída
. tanto ao juízo monocrático, o que é a regra, como ao tribunal, em
algumas situações, como por ei<emplo, ação rescisória e mandado de
segurança contra ato judicial. Enquanto que a competência derivada ou
recursal é atribuída ao órgão jurisdicional destinado a rever a decisão
já proferida; normalmente, atribui-se a competência derivada ao tribu-
nal, mas há casos em que o próprio magistrado de primeira instancia
possui competência recursal, por exemplo, nos casos dos embargos
infringentes de alçada, cabíveis na forma do art. 34 da lei de Execução
Fiscal, que serão julgados pelo mesmo juízo prolator da sentença .

7.4.3. INCOMPETÊNCIA RELATIVA X INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA

As regras de competência submetem-se a regimes jurídicos


diversos, conforme se trate de regra fixada para atender somente ao
interesse público, denominada de regra de incompetência absoluta, e
para atender predominantemente ao interesse particular, a regra de
incompetência relativa.
A incompetência é defeito processual que, em regra, não leva à
extinção o processo, mesmo tratando-se de incompetência absoluta,

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO $ORRAt, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBI:RTO FtGUClREDO, SA!ll\!"1<~. DOURADO 601
I
COMPETÊNCIA
l
Resumo Teórico

salvo nas excepcionais hipóteses do inciso III do art. 51 da Lei nº 9.099/95


(juizados Especiais Cíveis), da incompetência internacional (arts.
88-89 do CPC) e do § 1º do art. 21 do Regimento Interno do Supremo
. I
Tnbunal Federal. '
A incompetência quando absoluta pode ser alegada a qualquer
tempo, por qualquer das partes, em sede de preliminar à contestação,
e, quando relativa, era arguida mediante exceção. NO NCPC, ambas
serão arguidas na contestação.
Se absoluta, o juiz poderá reconhecê-la de ofício (CPC, art. 64),
independentemente da alegação da parte, remetem-se os autos ao juiz
competente e reputam-se nulos os atos decisórios já praticados, e, se
relativa (CPC, art. 63), somente se acolher ct iüc0n1petênciu, rcrr.ctcd.
o juiz o processo para o juízo competente para apreciar a questão, que
terá duas opções: reconhecer sua competência ou divergir, declaran-
do-se igualmente incompetepte, suscitando o conflito de competência
(CPC, art. 66, li), e não se anulam os atos decisórios já praticados.
Na incompetência absoluta, responderá integralmente pelas cus-
tas, a parte que deixar de alegar na primeira oportunidade em que
lhe couber falar nos autos. Na relativa, o juiz não pode reconhecê-la
de ofício (Sumula 33 do STJ), salvo se houver contrato de adesão cujo
foro de eleição seja abusivo (Parágrafo terceiro do art. 63 do CPC).

:>ATENÇÃO!
A competência relativa preclui, há prorrogação se não for
arguida no prazo. Eis o que chamamos de prorrogação da
competência. . ·
Era ela alegada na Exceção de incompetência, ao passo que a
absoluta em preliminar de contestação. No NCPC ambas serão
arguidas na contestação. Serão suscitadas em preliminar de
contestação.
Na relativa há uma possibilidade de declaração de incompe-
tência de ofício que é nos casos de foro de eleição nos contratos
de adesão. Eis uma importante exceção. Nos demais casos,
aplicar-se-ão as disposições da sumula 33 do STJ.

I
COMPETÊNCIA )

IResumo Teórico

A competência relativa prestigia interesses privados. A compe-


tência absolta prestigia interesses públicos.
Se o réu alegar incompetência após o oferecimento da contesta-
ção, o réu vai pagar as custas do processo em razão da demora,
MESMO QUE GANHE A CAUSA. .

7.5. MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA

.,. Legal: Conexão continência: imperativo constitucional e o


juízo universal.

~ Conexão: Art. 55, CPC. Quando houver duas ações com mesmo
pedido e causa de pedir.

Art. 55. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando


lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.

:>ATENÇÃO!
Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão
conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado. Tal dis-
posição já estava consolidada na súmula 235 do 51}.

Aplica-se ainda a conexão


~ à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento
relativa ao mesmo ato jurídico;
~ às execuções fundadas no mesmo título executivo.

Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que pos-


sam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias
caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

~ Continência: Art. 56, CPC. As mesmas partes e mesma causa


de pedir e o pedido de um tem que ser maior que o do outro.

A'-'DRfo MOTo\, (R\STJANO SOl!l\AL, LliUANO flGUFIRilDO, ROBERTO FlGVFlltHilO, SABRJNA DOURADO 603
Resumo Teórico

Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações


quando houver identidade quanto às partes e à causa de
pedir, mas o pedido de uma. por ser mais amplo, abrange o
das demais.

Quando houver continência e a ação continente tiver sido pro-


posta anteriormente, no processo relativo à ação contida será profe-
rida sentença sem resolução de mérito, caso contrário, as ações serão
necessariamente reunidas.
A reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo
prevento, onde serão decididas simultaneamente.

PREVENÇÃO
Prevenção é um critério de confirrnação e manutenção da compe-
tência do juiz que conheceu a causa em primeiro lugar, perpetuando
a sua jurisdição e excluindo possíveis competências concorrentes de
outros juízos.
De acordo com o art. 59, o registro ou a distribuição da petição
inicial torna prevento o juízo. O NCPC tornou tal regra a única apli-
cável às hipóteses de prevenção.
Entretanto, essa reunião só será possível se não ocorrer hipótese
de competência absoluta dos órgãos julgadores e se as ações ainda
estiverem pendentes de julgamento, tramitando no mesmo grau de
jurisdição.

7.6. CONFLITO DE COMPETÊNCIA

A questão da competência ou incompetência também pode ser


levantada por outro procedimento próprio, denominado conflito de
competência, regulado nos arts. 951 a 959 do CPC. O conflito pode ser
suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo
juiz (art. 951), e é decido pelo tribunal que designa qual juiz é o com-
petente para decidir o conflito, pronunciando-se sobre a validade dos
atos praticados pelo incompetente (art. 957).

604 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA ÜVIL ! Y edição


r
Resumo Teórico

Instaura-se mediante petição dirigida ao presidente do tribunal,


instruída com os documentos que comprovem o conflito: ouvindo o
relator, com a distribuição, os juízes em conflito. Sobrestara o processo,
caso 0 conflito seja positivo; se o conflito for negativo, o sobrestamento
não será necessário, pois não haverá juízo praticando atos processu~1s.
Deverá ainda 0 relator designar um juiz para solucionar as questoes
urgentes. . ...
Assim há conflito de competência quando dms ou ma1s Jmzes se
declaram c~mpetentes (conflito positivo) ou incompetentes (cont1ito
negativo) e também no caso de controvérsia sobre reunião ou sepa-
ração de processos (CPC. art. 66, I. li e III).

~ATENÇÃO!
o conflitO entre autoridade judiciária e autoridade administra-
tiva, ou só entre autoridades administrativas, chama-se conflito
de atribuições e não conflito de competência.

Em suma:
o conflito de competência pode ser suscitado por qualquer das
partes, pelo Ministério Público ou pe:o juiz. .
o Ministério Público somente sera puv1do nos conflitos de compe-
tência relativos aos processos previstos no art. 178, mas terá qualidade
de parte nos conflitos que suscitar. .
Não pode suscitar conflito a parte qu~, ~o p~ocesso, arg~m
incompetência relativa. O conflito de competenc1a nao obsta. porem,
a que a parte que não o arguiu suscite a incompetência.
O conflito será suscitado ao tribunal:
~ pelo juiz. por ofício;
~ pela parte e pelo Ministério Público, por petição.

o ofício e a petição serão instruídos com os documentos neces-


sários à prova do conflito.
Após a distribuição, o relator determinará a oitiva dos juízes em
conflito ou, se um deles for suscitante, apenas do susCitado. No prazo

ANDRÉ MoTII, CRlSTLANO SOBRAL, LUCIANO flGUEIREOO, ROBERTO FIGUI2!REOO, SABRlNA DouRADO
605
I COMPETÊNCIA
Resumo Teórico l
designado pelo relator, incumbirá ao juiz ou aos juízes prestar as
informações.
O relator poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das
partes, determinar, quando o conflito for positivo, o sobre';tamento do
processo e, nesse caso, bem como no de conflito negativo, designará um
dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes.
Os autos do processo em que se manifestou o conflito serão
remetidos ao juiz declarado competente.
No conflito que envolva órgãos fracionários dos tribunais,
desembargadores e juízes em exercício no tribunal, observar-se-á o
que dispuser o regimento interno do tribunal. O regimento interno do
tribunal regulará o processo e o julgarr.cr.to 8o c:o:::_flito de atribuições
• entre autoridade judiciária e autoridade administrativa.

7.7. COOPERAÇÃO NACIONAL

O CPC/15 inova ao regulamentar a cooperação nacional. Os órgãos


que compõe o Poder Judiciário Brasileiro precisam se ajudar mutua-
mente. Eis uma decorrência
Aos órgãos do Poder Judiciário, estadual ou federal, especializado
ou comum, em todas as instâncias e graus de jurisdição, inclusive
aos tribunais superiores, incumbe o dever de recíproca cooperação,
por meio de seus magistrados e servidores.
Os juízos poderão formular entre si pedido de cooperação para
prática de qualquer ato processual.
O pedido de cooperação jurisdicional deve ser prontamente
atendido, prescinde de forma específica e pode ser executado como:
.. auxílio direto;
.. reunião ou apensamento de processos;
~ prestação de informações;
~ atos concertados entre os juízes cooperantes.

As cartas de ordem, precatória e arbitral seguirão o regime pre-


visto neste Código, conforme veremos juntos.

r..nr.. "O>n1-rnu., AuMI\llOR I PRÁTICA CiVIL \ 3aedição


COMPETÊNCIA I
jResumo Teórico

Os atos concertados entre os juízes cooperantes poderão consistir,


além de outros, no estabelecimento de procedimento para:
~ a prática de citação, intimação ou notificação de ato;
~ a obtenção e apresentação de provas e a coleta de depoimentos;
• a efetivação de tutela provisória;
• a efetivação de medidas e providências para recuperação e
preservação de empresas;
~ a facilitação de habilitação de créditos na falência e na recu-
peração judicial;
• a centralização de processos repetitivos;
• a execução de decisão jurisdicional.

~ATENÇÃO!

O pedido de cooperação judiciária pode ser realizado entre


órgãos jurisdicionais de diferentes ramos do Poder Judiciário.
8.

SUJEITOS DO PROCESSO

8.1. PARTES E PROCURADORES

São sujeitos da relação jurídica processual o autor, o réu e o Estado,


na figura do juiz. Autor é aquele que apresenta sua pretensão em
juízo, enquanto o réu é a parte contra quem a pretensão foi deduzida.
Além das partes originárias, autor e réu, admite-se também
a intervenção de terceiros, desde que possuam interesse jurídico
relacionado à questão discutida. Tal intervenção se dá por meio da
assistência, denunciação da lide e chamamento ao processo, conforn1e
se verá adiante.
O advogado, conquanto seja considerado essencial ao processo,
não é parte, mas atuará em nome desta, devendo, para tanto, apresen-
tar instrumento de procuração com a outorga de poderes para praticar
todos os atos do processo (cláusula "ad juditia"- art. 105 do CPC).
Se a parte for advogado, poderá atuar em causa própria (CPC,
art. 103). O Ministério Público ora pode atuar corno parte, ora corno
fiscal da lei, nas hipóteses elencadas no art. 178do CPC.
Para propor ações que versem sobre direitos reais imobiliários, a
parte necessitará do consentimento do cônjuge, o qual pode ser suprido
judicialmente quando houver recusa injustificada, ou quando não
for possível ao cônjuge concedê-la (corno nos casos de enfermidade).
Quanto ao cônjuge da parte ré, deverá ser citado em litisconsórcio
necessário (art. 73, § 1º, CPC).

608 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA ÜVtL I 3~ edição


\Resumo Teórico

Vejamos o dispositivo na integralidade:


0 cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor
ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados
sob 0 regime de separação absoluta de bens.

Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:


~ que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados
sob 0 regime de separação absoluta de bens; A •

~ resultante de fato que diga respeito a ambos os conJuges ou de


ato praticado por eles; A •

~ fundada em dívida contraída por um dos conJuges a bem da


família;
• ue tenha por objeto 0 reconhecimento, a constituição ou a
q d b • .
extinção de ônus sobre imóvel de um ou e am os os conJuges.

Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou


do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato
por ambos praticado.

:l ATENÇÃO!
Aplica-se 0 disposto neste artigo à união estável comprovada
nos autos. '

o consentimento acima mencionado pode ser suprido judicial-


mente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo,
ou quando lhe seja impossível concedê.-lo. A falta de consentlrnento,
quando necessário e não suprido pelo JUIZ, mvahda o processo.

8,2, CAPACIDADES

Estudemo~ as capacidades:
São três as capacidades no sistema processual civil brasileiro

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBR~L, LUCIANO ftGUEIREDO, RoaERTO FIGl.)I'J.!l.[DO, SAIIRINA ÜO\JR.\.llO
609
I SUJEITOS DO PROCESSO
Resumo Teóricol

.,.. Capacidade para ser parte


Todos a possuem. Ela é decorrência do direito fundamental
de ação, que está estabelecido na CF/88. Possuem tal capacidade os
entes despersonalizados, nascituro, absolutamente e relativarhente
incapazes.
Só não a possuem os animais e pessoas falecidas.

.,.. Ct.pacidade processual/ para estar em juízo


Eis uma aptidão concedida aos absolutamente capazes. De acordo
com o artigo 70 toda pessoa que se encontre no exercício de seus direi-
tos tem capacidade para estar em juízo. O incapaz será representado
ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei.

.,.. Capacidade postulatória


Eis a aptidão concedida aos advogados regularmente inscritos
nos quadros da OAB, bem como membros do MP. O primeiro atua
como representante da parte e o segundo como substituto.

8.3. VERIFICAÇÃO DAS INCAPACIDADES

Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da


representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará
prazo razoável para que seja sanado o vício.
Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância
originária:
.,. o processo será extinto, se a providência couber ao autor;
~ o réu será considerado revel, se a providência lhe couber;
~ o terceiro será considerado revel ou excluído do processo,
dependendo do polo em que se encontre.

Descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal


de justiça, tribunal regional federal ou tribunal superior, o relator:
,. não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente;

610 EDITORA ARMADOR 1 PnÁTICA CiviL 1 3" edição


SUJEITOS DO PROCESSO I
rResumo Teórico

,. determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a pro-


vidência couber ao recorrido.

Tratemos do Curador Especial


Ele é o representante especial que o juiz dá, em determinados
casos de incapacidade ou revelia, à parte para atuar em seu nome no
correr do processo.
O juiz nomeará curador especial ao:
., incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses
deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade;
> réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou
corn hcrCl: certa; enquanto não for constituído advogado.

:l ATENÇÃO!
A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos
termos da lei.

8.4. DEVERES DAS PARTES E DE SEUS PROCURADORES

Em obediência ao dever geral de boa-fé, que ganhou forma de


norma fundamental no Novo Código de Processo Civil, o art. 77 impõe
o dever de probidade e lealdade processual às partes e seus procuradores,
públicos ou privados, assim como a todos aqueles que de alguma
forma participam do processo, incluído o Ministério Público, o perito,
dentre outros.
Em síntese, compete àquele que praticar ato processual agir
com lealdade e boa-fé, pautando suas ações no plano da ética e da
moralidade.
O litigante ímprobo, que vier descumprir tal dever, sofrerá às
sanções previstas ao litigante de má fé, de que tratam os artigos 79 e 80.
Pretende-se alijar do processo atos desleais, desonestos, infundados
e procrastinatórios, conferiremos logo abaixo.

ANI>Jt{; M(rl/1, CRJ~TfANO Süt!RAL, LtKJANO fJt>UE!REDO, ROBERTO }'JGUiiUUlDO, $ABRINA DOURADO 611
Resumo Teórico

que de qualquer forma pa;ticipem ~ ocuradores e de todos aqueles


São deveres das partes de seus r
~ o processo:
~ e~por os fatos em juízo conforme a verdade;
nao formular pretensão ou de a
de que são destituídas d f dpresentar defesa quando cientes
._ _ e un amento·
' n-o p d · '
s;~iosr~ d~~::r~~~~a~ue àn!:f~sraatdicoadr ~t~st inúteis ou desneces-
. Hei o·
., cumpnr co ·d- . _ '
provisória : ~::~ :o :s d~Cisoes jurisdicionais, de natureza
"'" declinar no . ' . nao cnar embaraços à sua efetivação;
' pnmeuo momento q Ih
autos, o endereço residencia u~ . es couber falar nos
intimações, atualizando ess: i~~;:::;:wnal onde receberão
q~alquer modificação temporária ou de~nsetmi·vpre que ocorrer
., naop f . 1 a,
litigi:s::car movação ilegal no estado de fato de bem ou direito

Se a parte não cumprir com e fd- . -


de natureza provisória ou fi I . xa 1 ao as deosoes jurisdicionais,
na , cnar embaraço , f . _
como praticar inovação ile ai n t d s a sua e etivaçao, bem
gioso o J·uiz advertirá qu lg odes a o de fato de bem ou direito liti-
a quer as pessoa
ser punida como ato atentatório à d. .d ds que .sua conduta poderá
A viola ão t . Igm a e da JUStiça.
da justiça, d~ve:d:~~·~rieZceitos const~tui ato atentatório à dignidade
, sem preJU1ZO das - . . .
e processuais cabíveis apl· sançoes cnm1nms, civis
' ICar ao responsável lt d , -
cento do valor da causa d d mu a e ate vmte por
. Não sendo paga n; P::~o: s~rc~~a~ gravidade da conduta.
mdicada será inscrita co d. "d . o pelo JUIZ, a multa acima
mo IVI a ativa da U ·- d
o trânsito em ·ulgado d d . _ mao ou o Estado após
. 1 a eCisao que a fix _
vara o procedimento da - fi ou, e sua execuçao obser-
execuçao scal re t d
previstos no art. 971'- ' ver en o-se aos fundos
Ademais, a multicitada multa ood , . .
mente da incidência da . ' era ser fixada mdependente-
s previstas nos arts. 523 § 1º e 536 § 1º El
po d em ser cumuladas. r •I as I

?7.
aos quaiS serão revertidos os valores das san õeu dos ~': ~odernização do Poder Judiciário,
15. Art. A União e os Estados podem criar f n
e aos Estados, e outras verbas previstas em ~i. s pecumanas processuais destinadas à União

612 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL I Y edição


JResumo Teórico
Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa
poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo.
Aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defen-
soria Pública e do Ministério Público não se aplica a disposição da
multa, devendo eventual responsabilidade disciplinar ser apurada
pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria, ao qual o juiz oficiará_
Reconhecida violação ao disposto no inciso VI do artigo 77, o juiz
determinará o restabelecimento do estado anterior, podendo, ainda,
proibir a parte de falar nos autos até a purgação do atentado, sem
prejuízo da aplicação da multa.
O representante judicial da parte não pode ser compelido a cum-
prir decisão em seu lugar.

:>ATENÇÃO!
É vedado às partes, a seus procuradores, aos juízes, aos mem-
bros do Ministério Público e da Defensoria Pública e a qualquer
pessoa que participe do processo empregar expressões ofen-
sivas nos escritos apresentados. Eis mais uma decorrência do
Princípio da Boa-fé_
Quando expressões ou condutas ofensivas forem manifestadas
oral ou presencia!mente, o juiz àdvertirá o ofensor de que não
as deve usar ou repetir, sob pena de lhe ser cassada a palavra.
De ofício ou a requerimento do ofendido, o juiz determinará
que as expressões ofensivas sejam riscadas e, a requerimento do
ofendido, determinará a expedição de certidão com inteiro teor
das expressões ofensivas e a colocará à disposição da parte inte-
ressada. Eis uma decorrência do seu poder geral de efetivação.

8.5. RESPONSABILIDADE DAS PARTES POR DANO


PROCESS.UAL

Entre os deveres que as partes possuem dentro do processo, sem


dúvida alguma, o da boa-fé ocupa posição de destaque, trazendo o

613
ANDRf MüTA, CRJHlANO SoBRAL, LUC!AKO FIGUEIREDO, ROBERTO FlGUEIREOO, SABRINA DoURADO
I SUJEITOS DO PROCESSO
Resumo Teórico l
Código de Processo Civil (CPC) diversos dispositivos relacionados
ao dever de lealdade.
Na instauração de uma demanda, inevitável que as partes ten-
tem, de todas as formas possíveis, fazer valer os direitos que julgam !
possuir. Porém, apesar disso, é de fundamental importância que os
litigantes respeitem padrões mínimos de urbanidade, visando o cor-
reto julgamento da lide.
Ou seja, é necessário que todos os entes processuais observem
regras preestabelecidas, objetivando uma "luta" leal e i~onômica,
visando conservar os princípios éticos que levam à boa-fé processual
e, consequentemente, a eficaz prestação jurisdicional.
Nesse sentido, o principio da probidade abrange. de forma ampla.
o dever de lealdade processual, condizente com os regramentos éticos
resumidos na expressão "proceder com lealdade e boa-fé". No NCPC, o
artigo 5º expressa que todo aquele que de qualquer forma participar
do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. Eis uma norma
processual fundamental, já estudada.
Desta forma, é possível conceituar como litigante de boa-fé aquele
que age conforme o artigo 77 do NCPC, não incorrendo em qualquer
conduta contrária ap ali disposto, principalmente, mas não exclusi-
vamente, as enumeradas nos artigos 17/ 80 do novo Código de Ritos.
Portanto, o litigante de boa-fé é aquele que não utiliza de artifícios
fraudulentos, abusando do direito de demandar, e, consequentemente,
prejudicando, com tais atos, a efetividade do provimento jurisdicional.
Se for considerado litigante de má-fé será o indivíduo respon-
sabilizado. Ele terá protagonizado um abuso de Direito Processual.

:l ATENÇÃO!

De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de


má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e
inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar
a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com
os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou.
Observe que o NCPC faz referenda ao valor ATUALIZADO
DA CAUSA

614 Em rORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I Y edição


SUJEITOS DO PROCESSO I
r Resumo Teórico

Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz-


condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse
n_a causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar
a parte contrária.
Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa
poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-rrúni~o.
,' l~

O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja
possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo pro-
cedimento comum, nos próprios autos.

8.6. DESPESAS, DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E


DAS MULTAS

Salvo as disposições concernentes à gratuidade da justiça, in-


cumbe às partes prover as despesas dos atos que realizarem ou re-
quererem no processo, antecipando-lhes o pagamento, desde o início
até a sentença final ou, na execução, até a plena satisfação do direito
reconhecido no título.
Incumbe ao autor adiantar as despesas relativas a ato cuja rea-
lização o juiz determinar de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, quando sua intervenção ocorrer como fiscal da ordem jurídica.
A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas
que antecipou.
O autor, brasileiro ou estrangeiro, que residir fora do Brasil ou
deixar de residir no país ao longo da tramitação de processo prestará
caução suficiente ao pagamento das custas e dos honorários de advo-
gado da parte contrária nas ações que propuser, se não tiver no Brasil
bens imóveis que lhes assegurem o pagamento.
Não se exigirá a caução acima indicada, vejamos:
>- quando houver dispensa prevista em acordo ou tratado inter-
nacional de que o Brasil faz parte;

.1\NDRÊ MOTA, CR!STlANO So!lRAL, Ll'ClANO FtGU~!REt>O, RosmTo ftGUEIRt!oo, SABRINA DoURAPO 615
Resumo Teórico

~ ~=::~~:~~~fundada em título extrajudicial e no cumprimento


., na reconvenção.

Verificando-se no trâmite do
tia, poderá o ü:lleressado exigir r~::r~:s~a que desfalc~u a garan- s.:
pedido com a indicação da d . - cauçao, JUS!Jficando seu
. · epreCiaçao do be d d .
a Importância do reforço que pretende obter. m a o em garanlJa e
As despesas abrangem a t d
zação de viagem a rem s ~usdas os atos do processo, a indeni-
testemunha. ' uneraçao o assistente técnico e a diária de

Cuidemos dos HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS


/". <ennf.n.r.,-..,
....,...._,
,..,,......,dcr,a:ra, o v·"'~-·...1~
·~.._._,'>u. ~v._,
. ~ 1 ,
do vencedor. ÇJ.Iuuv a pagar ilonorarios ao advug,aJu

São devidos honorários advocatícios na reconve - .


mento de sentença, provisó . d fi . . nçao, no cumpn-
no ou e nrhvo na exe - · .
não, e nos recursos interpostos cu I t. ' cuçao, reststrda ou
, . ' mu a IVamente.
Os honoranos serão fixados entre o m, .
de vinte por cento sobre o valor da cond ~11lmo de dez e o máximo
obtido ou não sendo p , I enaçao, do proveito econômico
' OSSive mensurá-lo sob I
da causa, atendidos: ' re o va or atualizado

.
~
~ o grau de zelo do profissional·
o Iugar de prestação do serviço·
'
a natureza e a in1portância da causa·
• o trabalho realizado pelo advogado ~ o ternp . .d
'

seu serviço. o exigi o para o

Nas causas em que a Fazenda Púb!i f


honorários observará os .t, . ca or parte, a fixação dos
cn enos estabelecido ·
percentuais: s acima e os seguintes
• mínimo de dez e má · d .
cond - XIrno e vmte por cento sobre o valor da
s I, enaça? ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos)
a anos-minimos; ,
• mínimo de oito e m · · d d
cond - aximo e ez por cento sobre o valor da
enaçao ou do proveito econômico obtido acima de 200

616
EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL I 3d edição
!Resumo Teórico
(duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mí-
nimos;
• mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da
condenação ou do proveito econômico obtido acima de 2.000
(dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mí-
nimos;
• mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da
condenação ou do proveito econômico obtido acima de 20.000
(vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mí-
nimos;
1> mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da
condenação ou do proveito econômico obtido acima de 100.000
(cem mil) salários-mínimos.

Quando, conforme o caso, a condenação contra a Fazenda Pública


ou o benefício econômico obtido pelo vencedor ou o valor da causa
for superior ao valor previsto nas disposições acima a fixação do
percentual de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo que
a exceder, a faixa subsequente, e assim sucessivamente.
Os limites e critérios já indicados acima se aplicam independen-
temente de qual seja o conteúdo da decisão, inclusive aos casos de
improcedência ou de sentença sem resolução de mérito.
Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra
a Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não
tenha sido impugnada.
Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econô-
mico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará
o valor dos honorários por apreciação equitativa.
Na ação de indenização por ato ilícito contra pessoa, o percentual
de honorários incidirá sobre a soma das prestações vencidas acrescida
de 12 (doze) prestações vincendas. E nos casos de perda do objeto, os
honorários serão devidos por quem deu causa ao processo.

:l ATENÇÃO!
O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados
anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado

ANDRÉ MOTA, (RlSTL\NO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, RO»ERTO flGUillREDO, SABRINA DoURADO 617
!SUJEITOS DO PROCESSO
Resumo Teórico l
em grau recursal,. observando. . conforme o caso, o disposto no
artigo 85, §§ 2º a 6º, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral
da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor,
ultrapassar os respectivos limites estabelecidos r\os §§ 2º e 3º
do mencionado artigo, para a fase de conhecimento.
Os honorários recursais são cumuláveis com multas e outras
sanções processuais, inclusive as previstas no art. 77, as quais
tratam das sanções decorrentes da litigância de má-fé.
As verbas de sucumbência arbitradas em embargos à execução
rejeitados ou julgados improcedentes e em fase de cumprimento
de sentença serão acrescidas no valor do débito principal, para
todos os efeitos legais.

Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza


alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da
legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de
sucumbência parcial.
O advogado pode requerer que o pagamento dos honorários que
lhe caibam seja efetuado em favor da sociedade de advogados que inte-
gra na qualidade de sócio, aplicando-se à hipótese o disposto acima.
Quando os honorários forem fixados em quantia certa, os juros
moratórios incidirão a partir da data do trânsito em julgado da decisão.
Tal matéria gerava debates acalorados.
Ademais, vale ressaltar que os honorários serão devidos quando
o advogado atuar em causa própria.
Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao
direito aos honorários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para
sua definição e cobrança.
Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência,
nos termos da lei. Eis um dos pontos que mais gerou debate ao longo
de toda tramitação legislativa.

Continuemos a tratar das Despesas!


Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão propor-
cionalmente distribuídas entre eles as despesas.

r;...,,,..,.....,. ,,, •• ,.,....,., t PD.\T•r<~ C'JVJl t 3'' edição


SUJEITOS DO PROCESSO !

\Resumo Teórico

Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro


responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários.
Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos
respondem proporcionalmente pelas despesas e pelos honorários.
A sentença deverá distribuir entre os litisconsortes, de forma
expressa, a responsabilidade proporcional pelo pagamento das verbas
previstas acima.
Se a distribuição não for feita, os vencidos responderão solida-
riamente pelas despesas e pelos honorários.
Nos procedimentos de jurisdição voluntária, as despesas serão
adiantadas pelo requerente e rateadas entre os interessados.
Nos juizos divisórios, não havendo litígio, os interessados pagarão
as despesas proporcionalmente a seus quinhões.
Proferida sentença com fundamento em desistência, em renúncia
ou em reconhecimento do pedido, as despesas e os honorários serão
pagos pela parte que desistiu, renunciou ou reconheceu.
Sendo parcial a desistência, a renúncia ou o reconhecimento, a
responsabilidade pelas despesas e pelos honorários será proporcional
à parcela reconhecida, à qual se renunciou ou da qual se desistiu.
Havendo transação e nada tendo as partes disposto quanto às
despesas, estas serão divididas igualmente.
Se a transação ocorrer antes da sentença, as partes ficam dispen-
sadas do pagamento das custas processuais remanescentes, se houver.
Se o réu reconhecer a procedência do pedido e, simultaneamente,
cumprir integralmente a prestação reconhecida, os honorários serão
reduzidos pela metade.
As despesas dos atos processuais praticados a requerimento da
Fazenda Pública, do Ministério Público ou da Defensoria Pública serão
pagas ao final pelo vencido.
As perícias requeridas pela Fazenda Pública, pelo Ministério
Público ou pela Defensoria Pública poderão ser realizadas por entidade
pública ou, havendo previsão orçamentária, ter os valores adiantados
por aquele que requerer a prova.
Não havendo previsão orçamentária no exercício financeiro para
adiantamento dos honorários periciais, eles serão pagos no exercício

AN!>Rf; MOTA, CRJSI"JANO SüllRAl., LUCIANO FJGUEJREDO, ROBERTO FJGUE:IREDO, 5A8RINA DOURADO 619
Resumo Teórico j

seguinte ou ao final, pelo vencido, caso o processo se encerre antes


do adiantamento a ser feito pelo ente público.
Quando, a requerimento do réu, o juiz proferir sentença sem
resolver o méritor o autor não poderá propor novamente a ação sem
pagar ou depositar em cartório as despesas e os honorários a que foi
condenado.
As .despesas de atos adiados ou cuja repetição for necessária
ficarão a cargo da parte, do auxiliar da justiça, do órgão do Ministério
Público ou da Defensoria Pública ou do juiz que, sem justo motivo,
houver dado causa ao adiamento ou à repetição.
Se o assistido for vencido, o assistente será condenado ao paga-
mento das custas em proporção à atividade que houver exercido no
processo.
Cada parte adiantará a remuneração do assistente técnico que
houver indicado, sendo a do perito adiantada pela parte que houver
requerido a perícia ou rateada quando a perícia for determinada de
ofício ou requerida por ambas as partes.
O juiz poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento
dos honorários do perito deposite em juízo o valor correspondente.
A quantia recolhida em depósito bancário à ordem do juízo será cor-
rigida monetariamente e paga de acordo com o art. 465, § 4º.
Quando o pagamento da perícia for de responsabilidade de
beneficiário de gratuidade da justiça, ela poderá ser:
• custeada com recursos alocados no orçamento do ente público
e realizada por servidor do Poder Judiciário ou por órgão
público conveniado;
• paga com recursos alocados no orçamento da União, do Estado
ou do Distrito Federal, no caso de ser realizada por particu-
lar, hipótese em que o valor será fixado conforme tabela do
tribunal respectivo ou, em caso de sua omissão, do Conselho
Nacional de Justiça.

O valor das sanções impostas ao litigante de má-fé reverterá


em benefício da parte contrária, e o valor das sanções impostas aos
serventuários pertencerá ao Estado ou à União.

620 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


\Resumo Teórico

.- odem criar fundos de modernização do


A Umao. e os Estados P erão revertidos os valores das sanções
Poder judlClano, aos quadls s. d , União e aos Estados, e outras
pecuniárias processua_Is eshna as a
verbas previstas em lei.

8.7. JUIZ

·uiz é o terceiro imparcial a quem compe~e conduzir o processo.


OJ . , . de deveres os quais estao dispostos no artigo
Ele possui uma sene '
139 do CPC/15.

Conheçamos os seus deveres: ...


d· · - deste Coa1go
O juiz dirigirá o processo conforme as lsposiçoes '
incumbindo-lhe: .
,. assegurar a, s partes igualdade , de tratamento,
.
• velar pela duração razoavel do processo, , . , d' .d de da
. u reprimir qualquer ato contrano a Igm a
• prevemr o t 1 t 'rias·
. . , deferir postulações meramente pro e a o '
JUStiça e m 't" s manda
. todas as medidas indutivas; coerCl IVa ' -
,. d eterminar r • um-
t . u sub-rogatórias necessanas para assegurar o c
men aiS o d . d' . l inclusive nas ações que tenham
primento de or em JU ICia .'r .
or objeto prestação pecumana; . I
p a qualquer tempo, a autocomposição, preferenCla -
• promover, d" d ·udiciais·
xílio de conciliadores e me '" ores J '
mente com au d dução
• dilatar os razos processuais e alterar a ordem e pro .
. pde prova adequando-os às necessidades do confhto
d osmews • , d d" ·t ·
de modo a conferir maior efetividade a tutela o uel o, , .
1' . requisitando, quando necessano,
• exercer o poder d e po lCia, , 'b .s·
l . . I além da segurança interna dos foruns e tn unai '
força po 1c1a • . 1das
• determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pe~soa
, ara inquiri-las sobre os fatos da causa, hlpotese em
t p
pares, .
ue não incidirá a pena de confesso, .
q , . to de pressupostos processuais e o
• determmar o supnmen .
saneamento de outros vícios processuais;

621
ANDRÊ MoTA, CRISTIANO SOSRAL, LUCIANO F!GUEIR[DO, ROBERTO FJGUHREDO, 5ABIUNA DouRADO
1SUJEITOS DO PROCESSO
Resumo Tcóric~

~ quando se deparar com diversas demandas individuais repe-


titivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e,
na medida do possível, outros legitimados a que se referem o
art. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei
nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover
a propositura da ação coletiva respectiva.

:>ATENÇÃO!
· A dilação de prazos prevista no inciso VI do art. 139, somente
pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular.

IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
A imparcialidade é decorrência do juiz natural. Eis uma garan-
tia constitucional. A sua violação dará ensejo às parcialidades. Par-
cialidade é gênero da qual surgem duas espécies: Impedimento e
suspeição.
Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas fun-
ções no processo:
,. em que interveio como mandatário da parte, oficiou como
perito, funcionou como membro do Ministério Público ou
prestou depoimento como testemunha;
• de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido
decisão;
~ quando nele estiver postulando, como defensor público,
advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou
companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em
linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
~ quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou com-
panheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive;
~ quando for sócio ou membro de direção ou de administração
de pessoa jurídica parte no processo;
• quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de
qualquer das partes;

FmToRr. ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL 1 Yedição


SUJEITOS DO PROCESSO )

r Resumo Teórico

• em que figure como parte instituição de ensino com a qual


tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de pres-
tação de serviços;
• em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de
seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim,
em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo
que patrocinado por advogado de outro escritório;
• quando promover ação contra a parte ou seu advogado.

:>ATENÇÃO!
Na hipótese do inciso III do art. 144, o impedimento só se veri-
fica quando o defensor público, o advogado ou o membro do
Ministério Público já integrava o processo antes do início da
atividade judicante do juiz.
É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar
impedimento do juiz.
O impedimento previsto no inciso III do já mencionado artigo
também se verifica no caso de mandato conferido a membro de.
escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado
que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo
que não intervenha diretamente no processo.

Passemos a tratar da suspeição. Ela é mais subjetiva e difícil de


ser provada.
Há suspeição do juiz:
• amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus
advogados;

O NCPC corrige uma incongruência presente no CPC/73. Nele


o juiz só era suspeito quando era amigo ou inimigo de qualquer
das partes.

~ que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa


antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma

< ANDRÊ Mon., CRISTIANO Sot>RAl., Ll:CIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, 5Al!RINA DOURADO 623
Resumo Teórico

das partes acerca do objeto da causo. ou que subministrar meios


para atender às despesas do litígio;
• quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de
seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha
reta até o terceiro grau, inclusive;
• interessado no julgan,1ento do processo em favor de qualquer
das partes.

Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem


necessidade de declarar suas razões.
Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
• houver sido provocada por quem a alega;
• a parte que a alega houver praticado ato que signifique mani-
festa aceitaçao do arguido.

Vejamos as regras procedimentais:


No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato,
a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica
'dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o fundamento da recusa,
podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e
com rol de testemunhas.
Se reconhecer o impedimento ou a suspeição ao receber a petição,
o juiz ordenará ünediatamente a remessa dos autos a seu substituto
legal, caso contrário, determinará a autuação em apartado da petição
e, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentará suas razões, acompanha-
das de documentos e de rol de testemunhas, se houver, ordenando a
remessa do incidente ao tribunal.
Distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus efeitos,
sendo que, se o incidente for recebido:
.. sem efeito suspensivo, o processo voltará a correr;
• com efeito suspensivo, o processo permanecerá suspenso até
o julgamento do incidente.

Enquanto não for declarado o efeito em que é recebido o incidente


ou quando este for recebido com efeito suspensivo, a tutela de urgência

624 EmTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CtviL 1 3J edição


r
Resumo Teórico

, re uerida ao substituto legal. Verificando que a alegaç~o d;


sera dq nto ou de suspeição é improcedente, o tribunal reJeita-la-a.
Impe Ime · d ·f t
Acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou 'e mam es a
. - o tribunal condenará o juiz nas custas e remetera os autos_ ao
suspeiçbaot:tuto legal podendo o juiz recorrer da decisão. Reconhecido
seusus1 ' .
. - o tribunal fixara, o moment o a part.lr
o impedimento ou a suspeiçao,
do qual o juiz não podena ter atuado.

8.8. ADVOCACIA

ado16 é indispensávEl à administração da justiça, pois é


O a d vog J d. ·' · fl"tos
, 1por,·ntermediar e levar ao Poder u IClano os con I
o responsave
. •
. ·c- . r-·
t ocinar a defesa técnica de seu chente ( ~'art. 66).
de mteresses e pa r . . d
é o bacharel em direito devidamente mscnto no qua ro
O ad vogad 0 ·1 · · - taque
d d Ordem dos Advogados do Bras! ' mscnçao es
de advoga os a ·f ·t 1 rdade
somente é deferida aos aprovados no exame que e ei o pe a en I .
Sua função está regulada pela Lei nº 8.906/94. . , .
. 103 107 do CPC são imprescmd!Vels para o exame,
Os artigos a
senão vejamos:

COMENTÁRIOS AOS ARTS. 103 A 107 DO CPC


, t da em J·uízo por advogado regularmente
A parte sera represen a
. .t r· a Ordem dos Advogados do Brasil.
mscn o ' , . d · h bT
É lícito à parte postular em causa propna quan o hver a I I-
tação legal. . ,
O advogado não será admitido a postular em JUIZ~ s_em procu-
- Ivo para evitar preclusão, decadência ou prescnçao, para ?u
raçao, sa .d do urgente. Nem tais hipóteses excepciOnaiS o
prahcar ato cons1 era _ . .
advogado deverá, independentemente de cauçao, exibir a ~rocura-
- d (quinze) dias prorrogável por Igual penodo por
çao no prazo e 15 '
despacho do juiz.

, blicos ou privados) e os membros do Ministério Público


16. Não esqueça que os advoga d os (p ~ . . . ., .
possuem capacidade postulatória, tecmca ou JUdtctana.

FiGUEIREDO ROBERTO f!GUE\R.EOO, SABR\NA DouRADO


625
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, L UClANO '
1 SUJEITOS DO PROCESSO
Resumo Teórico l
O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente
àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o advogado pelas
despesas e por perdas e danos.

Tratemos da PROCURAÇÃO!
A procuração geral para 0 foro, outorgada por instrumento
público ou particular assinado pela parte, habilita o_ advogado a
praticar todos os atos do processo, exceto receber ot~ç~o, confess.ar,
reconhecer a procedência do pedido, transigir, desist.u, :en~nCiar
ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar qmtaçao, firmar
compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que
devem constar de cláusula específica. .
A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma d.a let.
A procuração deverá conter o nome do advogado, seu numero
de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço complet_o.
Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a procuraçao
também deverá conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem
dos Advogados do Brasil e endereço completo. .
Salvo disposição expressa em sentido contrário,constante do pro:
prio instrumento, a procuração outorgada na fase de. conhecimento e
· 1usrve
eficaz para todas as fases do processo, me · para o cumpnmento
de sentença. . . . do·
Quando postular em causa propna, mcumbe ao advoga ·
• declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço: seu
número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o
nome da sociedade de advogados da qual participa, para 0
recebimento de intimações;
~ comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço.

Se o advogado descumprir a ordem de declaração do seu endereço


e demais exigências do art. 106, inciso I, o juiz ordenará que se sup~a
a omissão, no prazo de 5 (cinco) dias, antes de determmar a otaçao
do réu, sob pena de indeferimento da petição.
Se o advogado não comunicar ao juízo a mudança de endereço,
serão consideradas válidas as intimações enviadas por carta regrstrada
ou meio eletrônico ao endereço constante dos autos.

___ ·-···-~~ , n~;;:..., ...... r .."' 1 _J;aedição


SUJEITOS DO PROCESSO I
IResumo Teórico
:>ATENÇÃO!
A procuração pode ser assinada digitalmente com base em
c;ertificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada,
na forma da lei específica.
Daí porque se inserem nas procurações os poderes inerentes à
cláusula "ad judicia" e mais os especiais que venham a ser neces-
sários, tais como os de transigir, desistir, receber, dar quitação,
firmar compromisso etc. Esses poderes devem ser expressos.

Conforme preceitua o artigo 107, o advogado tem direito:


._ e:xarrünar, ern cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo
sem procuração, autos de qualquer processo, independente-
mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias
e o registro de anotações, salvo na hipótese de segredo de
justiça, nas quais apenas o advogado constituído terá acesso
aos autos;
> requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer pro-
cesso, pelo prazo de 5 (cinco) dias;
,. retirar os autos do cartório ou da secreta"ria, pelo prazo legal,
sempre que neles lhe couber falar por determinação do juiz,
nos casos previstos em lei.

Ao receber os autos, o advogado assinará carga em livro ou


documento próprio.
Sendo o prazo comum às partes, os procuradores poderão retirar
os autos somente em conjunto ou mediante prévio ajuste, por petição
nos autos.
Na hipótese acima é lícito ao procurador retirar os autos para
obtenção de cópias, pelo prazo de 2 (duas) a 6 (seis) horas17, indepen-
dentemente de ajuste e sem prejuízo da continuidade do prazo.

17. No CPCm o prazo não poderia exceder 1 hora.


9.

GRATUIDADE DA JuSTIÇA

O c~put do art. 98 do CPC/15 dispõe sobre aqueles que podem ser


benefiCianos da JUStiça gratuita: "Art. 98. A pessoa natural ou jurídica,
brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar
as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem
direito à gratuidade da justiça, na forma da lei".
Qualquer um que seja parte- demandante ou demandada- pode
usufruir do_ benefício da justiça gratuita e bem assim o terceiro, após
a mtervençao, quando, então, assume a qualidade de parte.
Embora a lei se refira à "pessoa'; parece intuitivo que também os
entes despersonalizados, que possuem apenas personalidade no plano
processual, podem gozar da gratuidade da justiça. A negativa, neste
caso, se admitida, atingiria, em última análise, o direito fundamental
à justiça gratuita das próprias pessoas vinculadas a esses entes.
_ Confor~e o art. 98, tanto a pessoa natural como a pessoa jurídica
tem dueito a justiça gratuita, sejam estas brasileiras ou estrangeiras.
A Interpretação literal do parágrafo único do art. 2º da Lei
nº 1.060/50 conduz ao entendimento de que as pessoas jurídicas não
podem usufruir do benefício da gratuidade, uma vez que considera
necessitado "todo aquele cuja situação econômica não lhe permita
pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo
do sustento próprio ou da família".
Ao aludir à incapacidade de sustento próprio ou da família, o
texto pode levar ao entendimento de que apenas as pessoas naturais
podem ser beneficiárias da justiça gratuita; afinal, só elas podem
compor uma família.

628 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL j Y edição


!Resumo Teórico
É verdade que, já à luz da Lei nº 1.060/50, a doutrina e a jurispru-
dência são unânimes quanto à possibilidade de concessão da justiça
gratuita às pessoas jurídicas, que, apesar de não terem fanu1ia, podem,
perfeitamente, não ter condições de arcar com as despesas do processo
sem prejuízo de sua manutenção.
Ocorre que a redação do NCPC, ao requisitar "insuficiência de
recursos", é mais clara, trazendo, pois, segural!ça na aplicação do
instituto e prevenindo discussões desnecessárias.

A gratuidade da justiça compreende:


,. as taxas ou as custas judiciais;
~ os selos postais;
~ as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-
-se a publicação em outros meios;
~ a indenização devida à testemunha que, quando empregada,
receberá do empregador salário integral, como se em serviço
estivesse;
~ as despesas com a realização de exame de código genético -
DNA e de outros exames considerados essenciais;
~ os honorários do advogado e do perito e a remuneração do
intérprete ou do tradutor nomeado para apresentação de versão
em português de documento redigido em língua estrangeira;
~ o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exi-
gida para instauração da execução;
~ os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para
propositura de ação e para a prática de outros atos processuais
inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório;
~ os emolumentos devidos a notários ou registradores em decor-
rência da prática de registro, averbação ou qualquer outro
ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à
continuidade de processo judicial no qual o benefício tenha
sido concedido.

ANDRÉ MOTI\., CRiSTIANO SODII.AL, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, Si\JI.RINA DOURADO 629
I GRATUIDADE DA jUSTIÇA
Resumo Teórico l

:J ATENÇÃO!
A concessão de gratuidade não afasta a responsabilidade do
beneficiário pelas despesas processuais e pelos honorários
advocatícios decorrentes de sua sucumbência.
Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucum-
bência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e
somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subse-
quentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o
credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiên-
cia de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extin-
guindo-se, passado esse prazor tais obrigações do beneficiário.
A concessão de gratuidade não afasta o dever de o beneficiário
pagar, ao final, as multas processuais que lhe sejam impostas.
A gratuidade poderá ser concedida em relação a algum ou a
todos os atos processuais, ou consistir na redução percentual
de despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no
curso do procedimento.
.Conforme o caso, o juiz poderá conceder direito ao parcelamento
de despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no
curso do procedimento.

Regras sobre o pedido de Gratuidade


O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição
inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo
ou em recurso.
Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância,
o pedido poderá ser formulado por petição simples, nos autos do
próprio processo, e não suspenderá seu curso.
O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos
elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a con-
cessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar
à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.

, n-•-·~• r ... ,, ! ~a f'dicão


GRATUIDADE DA JusTIÇA I
r Resumo Teórico

Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida


exclusivamente por pessoa natural.
A as~~stência do requerente por advogado particular não impede
a concessap de gratmdade da justiça.
Na hipótese acima, o recurso que verse exclusivamente sobre
valor de honorários de sucumbência fixados em favor do advogado
de beneficiário estará sujeito a preparo, salvo se o próprio advogado
demonstrar que tem direito à gratuidade.
O direito à gratuidade da justiça é pessoal, não se estendendo
a litisconsorte ou ao sucessor do beneficiário, salvo requerimento e
deferimento expressos.
::l rr.nrP<.::S::Ír.
--~-~---~-~-- -·
RPnllPrirl::l -~--~-~ -·~ rlP ~~ gra.ur . . . a d e d a JUStJça
t ·r1 · · em recurso, o
recorrente estará dispensado de comprovar o recolhimento do pre-
paro, Incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o requerimento e, se
indeferi-lo, fixar prazo para realização do recolhimento.
_ Deferido o pedido, a parte contrária poderá oferecer impugna-
çao na contestação, na réplica, nas contrarrazões de recurso ou, nos
casos d~ pedido superveniente ou formulado por terceiro, por meio
de petlçao Slmples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, nos
autos do próprio processo, sem suspensão de seu curso .
Revogado o benefício, a parte arcará com as despesas processuais
que tiver deixado de adiantar e pagará, em caso de má-fé, até o décu-
plo de seu valor a título de multa, que será revertida em benefício da
Fazenda Pública estadual ou federal e poderá ser inscrita em dívida
ativa.
RECORRIBILIDADE! Contra a decisão que indeferir a gratui-
dade ou a que acolher pedido de sua revogação caberá agravo de ins-
trumento, exceto quando a questão for resolvida na sentença, contra
a qual caberá apelação.
O recorrente estará dispensado do recolhimento de custas até
decisão do relator sobre a questão, preliminarmente ao julgamento
do recurso.
Confirmada a denegação ou a revogação da gratuidade, o rela-
tor ou o órgão colegiado determinará ao recorrente o recolhimento
das custas processuais, no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de não
conhecimento do recurso.
Resumo Teórico l
_ Sobrevindo o trâ~sito em julgado de decisão que revoga a gra-
tUidade, aparte devera efetuar o recolhimento de todas as despesas
de CUJO adiantamento foi dispensada, inclusive as relativas ao recurso
interposto, se h_ouver, no prazo fixado pelo juiz, sem prejuízo de apli-
caçao das sançoes previstas em lei.
Não efetuado o recolhimento, o proi:esso será extinto sem reso-
lução de ~érito, tratando-se do autor, e, nos demais casos, não poderá
ser defe;:Ida a rea~zação de nenhum ato ou diligência requerida pela
p~rte enquanto nao efetuado o depósito.

632
EorroRA ARMADOR ! PRÁTICA CtVIL 1 3a edição
10.

LITISCONSÓRCIO

10.1. CONCEITO

Dá-se o litisconsórcio quando duas ou mais pessoas litigam, no


mesmo processo (art. 113 CPq, ou seja, quando há mais de um autor
e/ou mais de um réu, havendo comunhão de interesses, isto é, quando
entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente
à demanda, por exemplo, solidariedade, composse, condomínio etc.;
entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir
(art. 55, CPC); ocorrer afinidade de questões por um ponto comum
de fato ou de direito, ou seja, os direitos ou as obrigações derivarem
<
do mesmo fundamento de fato ou de direito.

10.2. ESPÉCIES

Quanto à posição dos sujeitos


Quanto aos sujeitos, o litisconsórcio pode ser considerado ativo,
passivo ou misto.
Havendo pluralidade de partes no polo ativo, o litisconsórcio
será chamado ativo. Se a pluralidade de partes se der no polo passivo,
formado estará o litiscor,sórcio passivo. Existindo mais de um autor

ANDRÍ! MoT.\, C1USTJANO SOBAAL, LLTCIA"JO FtGUEJREDO, RoB~RTO Fu:;uE!REDO, SA.BR!NA DOURADO 633
!LITISCONSÓRCIO
Resumo Teóric~

e mais de um réu, no mesmo processo, o litisconsórcio será denomi-


nado misto.

Em relação ao momento de sua formação


Quando a própria petição inicial já relaciona os diversos autores
que integrarão o polo ativo ou os vários réus que deverão figurar no
polo passivo, o litisconsórcio formado será iniciaL
Se, por outro lado, o litisconsórcio formar-se posteriormente, por
requerimento de alguma parte ou determinação do juiz, será chamado
de incidental ou ulterior.

Quanto à obrigatoriedade de sua formação


Se for obrigatória a formação do litisconsórcio, sob pena de o
feito não prosseguir, será chamado de necessário ou obrigatório. Não
havendo tal necessidade, o litisconsórcio será facultativo.
A lei détermin~ que será necessária a formação de litisconsórcio
quando decorrer de disposição legal ou em razão da natureza da rela-
ção jurídica. No primeiro caso, temos corno exemplo a determinação
constante do art. 73 do CPC, que prevê a obrigatoriedade de, tanto o
marido como a mulher, bem como, companheiros, que figurarem como
réus em ações que versem sobre direito real imobiliário. Na segunda
hipótese, como exemplo, podemos citar as ações em que se busca a
declaração de nulidade ou ineficácia de algum contrato, nas quais se
exige a participação de todos aqueles que figuram corno partes no
contrato, em face da relação jurídica existente entre eles.
A formação do litisconsórcio necessário deve ser fiscalizada pelo
juiz, que deverá determinar ao autor que promova o aditamento da
petição inicial e promova a citação de todos os litisconsortes neces-
sários, sob pena de extinção do feito (CPC, art. 115, parágrafo único).
Se for o Tribunal que verificar a necessidade de formação do
litisconsórcio necessário e já tiver sido proferida sentença, deverá tal
decisão ser declarada nula, e recomeçado o feito.
A formação do litisconsórcio facultativo, por sua vez, decorre
exclusivamente da iniciativa do autor, que ao invés de propor várias
ações contra réus diferentes, em face, por exemplo, de conexão
LITISCONSÓRCIO )
j Resumo Teórico

existente entre as ações, desde já está autorizado a reuni-las e mover


uma única ação contra todos.
Tratando-se de litisconsórcio facultativo, se o número de liti-
gante~, seja n~ p;JlO ativo ou no polo passivo, comprometer a rápida
soluçao do ht1po ou dificultar a defesa, poderá o juiz limitá-lo a um
número razoáveL '

Quanto à uniformidade da decisão


Se a decisão não precisar ser uniforme para todos os litisconsortes
simples se~á .considerado o litisconsórcio. O litisconsórcio simples será:
ora necessano, ora facultativo. Em regra, o litisconsórcio simples será
( _ ___ Jc_ ... :_._ n_ , - ....:1
ht\...u~wll\ u. 1 urem, na açao ue usucapião, por exernplo, será necessária
a presença no polo passivo tanto dos confinantes do imóvel quando
daquel': CUJO nome consta como proprietário no registro de imÓveis;
a deosao, no entanto, evidentemente será distinta para ambos, pois
apenas o proprietário poderá ter retirado seu nome do cadastro imo-
biliário e não mais ser considerado dono do bem.
Tratando-se de litisconsórcio simples, cada litisconsorte será
c~nsiderado litigante distinto da parte adversa, uma vez que a decisão
nao preosa ser uniforme para todos. Assim, os atos e omissões de
um, não prejudicarão ou beneficiarão os outros.
A contestação apresentada por um dos litisconsortes sendo 0
litisconsórcio simples, não aproveitará aos demais que não 'contesta-
ram, que serão considerados revéis e contra eles incidirão os efeitos
da revelia.
O litisconsórcio, por outro lado, será unitário, quando a decisão
precisar ser idêntica para todos.
Não devemos confundir o litisconsórcio unitário com o litiscon-
sórcio necessário.

Embora não seja a regra geral, é possível existir litisconsórcio


ne~essário que não seja unitário (como no exemplo citado. da
açao de usucapião em que o litisconsórcio será necessário e
simples). Normalmente, se o juiz deve decidir a lide de modo
uniforme para todos os litisconsortes, o litisconsórcio também
será necessário pela natureza da relação jurídica.

Ae<DR{ MüT,\, CIUSTIANO SO~RAL, LUCI."N() F!GtiEJRfl!)O, ROIIERTO FlG\JiilfUODO, SA.IIRJNA DOUIIADO
635
Resumo Teórico

Como exemplo de litisconsórcio unitário não necessário, podemos


citar também o exemplo do coproprietário que pode defender a posse
do imóvel esbulhado por terceiro, sem que os demais coproprietários
necessitem participar do processo.
A ação de anulação de casamento proposta pelo l\1P, porém, é
um exemplo típico de litisconsórcio necessário :unitário, pois deverá
ser movida contra o marido e a mulher, e a decisão necessariamente
será uniforme para ambos.
Trat3ndo-se de litisconsórcio unitário, os atos praticados por um
dos htlsconsortes, como provas e recursos, aproveitarão os demaís,
uma vez que a decisão será uniforme para todos. Neste caso, não se
dará os efeitos da revelia quando um dos litisconsortes contestar.

Vejamos mais regras descomplicadas!


Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em
conjunto, ativa ou passivamente, quando:
~ entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações
relativamente à lide;
~ entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de
pedir;
~ ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou
de direito. ·

Tais hipóteses são intituladas de Litisconsórcio Facultativo ou


Voluntário.

:>ATENÇÃO!
O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao
número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação
de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida
solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da
sentença.
Vale lembrar que o requerimento de limitação interrompe o
prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da inti-
mação da decisão que o solucionar.

636 EDITORA Alli-.1ADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


r
Resumo Teórico

O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando,


pela natureza da relação jurídica conttovertida; \1 efic~:ia da
sentença depender da citação de todos que devam ser litiscon-
sortes. Nestes casos, o juiz não poderá controlar o número de
litisconsortes.

A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do


contraditório, será:
~ nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que
deveriam ter integrado o processo;
,. ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram
citados.

Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará


ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes,
dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo.
O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação
jurídica, 0 juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos
os litisconsortes.
Ademais, os litisconsortes serão considerados, em suas relações
com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio
unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão
os outros, mas os poderão beneficiar.
Por fim, cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento
do processo, e todos devem ser intimados dos respectivos ato3.

637
ANDRÉ MOT-\, CRISTL~NO SOBRAL, LUCIANO ftGUElRE.DO,ROBF.RTO FtCUEIR\':00, SABRlKA DOURADO
11.

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

A princípio, a sentença proferida num processo só deve atingir


favorecer ou prejudicar as partes (autor e réu).
Todavia, há situações em que a decisão tomada num processo
tem reflexo em outra relação jurídica de direito material, estendendo
indiretamente os efeitos da sentença a terceira pessoa estranha à rela-
ção jurídica processual originária. Portanto, é basilar perceber que
a correta compreensão das intervenções de terceiro passa, neces~
sariamente, pela constatação de que haverá sempre, um vínculo
entre 0 terceiro, o objeto litigioso do processo e a relação jurídica
material dedr;czida.
Assim, este "terceiro juridicamente interessado" pode, com o
escopo de defender interesse próprio, intervir voluntariamente no
processo, ou mediante provocação de uma das partes.

11.1. ASSISTÊNCIA

O terceiro que tiver interesse jurídico próprio em que a sentença


seja favorável a alguma das partes, poderá espontaneamente inter~ir
no processo para assisti-la, uma vez que a sentença a ser profenda
poderá influir na relação jurídica que o terceiro tem com alguma das
partes. " .
O assistente, porém, recebe o processo no estado em que esl!-
ver, ainda que em grau de recurso, e não poderá alterar a causa de
pedir nem o pedido, se pretender auxiliar o autor, ou a contestação,

FniTORA ARMADOR ! PRÁTICA CJVJL l Y edição


INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

Resumo Teórico

se auxiliar o réu. Poderá, todavia, arrolar testemunhas, juntar docu-


mentos e recorrer (neste caso, a assistência será chamada de recurso
de terceiro prejudicado).
A assistência tem cluas espécies, a simples e a litisconsorcial.
Será simples qua~do o assistente tiver relação jurídica com a
parte que fqr assistir.
O assistente simples não poderá obstar que a parte principal
reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou transija sobre
direitos controvertidos. Nestes casos, terminando o processo, cessa a
intervenção do assistente.
Sendo revel o assistido, o assistente será considerado seu gestor
de negócios e atuará corno legitimado extraordinário, defendendo
direito alheio em nome próprio.
A assistência será chamada de litisconsorcial, por outro lado,
quando o assistente pretender defender direito próprio em relação
ao adversário do assistido. O assistente litisconsorcial, portanto, tem
legitimidade tanto para figurar no polo ativo quanto no polo passivo.
Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que
a sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário
do assistido.

:l ATENÇÃO!
Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio
o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a
justiça da decisão, salvo se alegar e provar que:
~ pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações
e pelos atos do assistido, foj impedido de produzir provas
suscetíveis de influir na sentença;
~ desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais
o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.

Procedimento
Não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido
do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar.

1\NDR.f: !VlOT\. CRI$TJA"0 SORRAL, LUCIANO FlGUEliiEDO, ROIIHRTO FJGUE!Rf-00, SABRJNA DOURADO 639
Resumo Teórico /

Se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico


para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo.

11.2. DENUNCIAÇÃO DA LIDE

A denunciação da lide é forma de intervenção de terceiros, pro-


vocada por iniciativa do autor ou do réu, que será denominado de
denunciante, com o objetivo de ver assegurado eventual direito de
regresso se perder a demanda.
Também tem natureza de ação incidente, pois o denunciante
formulará pretensão que ampliará o objeto do processo e deverá ser
decidida conjuntamente com a lide originária, em face da relação de
prejudicialidade existente entre ambas.
Com efeito, o direito de regresso pleiteado na lide secundária
somente será apreciado se o denunciante sucumbir na ação originária,
caso em que poderá ser acolhido ou não. Se o denunciante for vencedor
na ação principat a denunciação restará prejudicada; tecnicamente,
neste caso, a denunciação será julgada improcedente.

11.3. CHAMAMENTO AO PROCESSO

Os coobrigados podem ser chamados pelo réu, devedor da mesma


dívida cobrada, para que passem a integrar o polo passivo e para que
o juiz, na mesma sentença, já fixe a responsabilidade de cada um.
Havendo chamamento ao processo, será formado litisconsórcio
passivo, por iniciativa do réu (denominado "chamante", enquanto os
codevedores, "chamados"). Deixando o réu, porém, de pleitear o cha-
mamento dos coobrigados ao processo, não perderá o direito de exercer
seu direito de regresso caso efetue o pagamento integral da dívida.
Não se confunde com a denunciação da lide porque os chamados
não serão considerados devedores somente depois de reconhecido o
direito de regresso, posto que já são devedores tanto quanto o réu

640 EDITORA ARMADOR j PRÂTICA ÜVIL j 3~ edição


r
Resumo Teórico

s portanto 1-á têm relação jurídica com o autor,


chamante. O s ch amado , ' ..
. t r sido demandados como httsconsortes
de modo que po d enam e
desde a petição inicial. . . Td d d
O art. 130 prevê as seguintes hipóteses de admtsstbt ' a e o
chamamento ao processo: . , .
>. do afiançado, na ação em que o fiador for reu,
• dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns
deles; d d .. de
• dos demais devedores solidários, quan o o cre or extgtr
um ou de alguns o pagamento da dívida comum.

O chamamento só é admissível em processos de conhecimento,


. . , condenação dos coobrigados chamados.
pmS VISa a 1' · ' . aSSiVO
A citação daqueles que devam figurar em Ittsconso_rc!O p
sera requenaa pel0 u 11 a LVi11 ....... .. ~
• . , ,·e' ... ~ ........ ._.-:>st-acão e deve ser promovida no prazo
_1
.
de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efetto o chamament~. . .
Se o chamado residir em outra comarca, seção ou subseçao JUdt-
ciárias, ou em lugar incerto, o prazo será de ~ (dois) mes~s.
rocedência valerá como tttulo executiVO em favor
A sentença de P · t ·
do réu ue satisfizer a dívida, a fim de que possa exigi-la, por In ~uo,
do dev:;dor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota,
na proporção que lhes tocar.

11.4. INCIDENTE DE DESCO_NSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURIDICA

O . .dente de desconsideração da personalidade jurídica será


. mdct edl.do da parte ou do Ministério Público, quando lhe
mstaura o a p . t
couber intervir no processo. Eis o disposto no arttgo 133 do novo tex o;
O pedido de desconsideração da personalidade jurídtea observara
os pressupostos previstos em let. . . , . _
A lica-se à disposição aqui mencwnada hipotese de desconstde
p d . 'd' 18
ração inversa da personalida e JUn tca .

18. Ele já é utilizado em demandas familiaristas.

• So•n•• LUCIANO FiGUE!RéDO, ROBERTO FtGI)ElREDO, SABU!NA DOURADO


641
ANDRE MOTA, CRISTIANO ..,,.,., '
iNTERVENÇÃO DE TERCEIROS

Resumo Teórico

A Desconsideração Inversa consiste na possibilidade de se inva-


dir o patrimônio da empresa, por dívidas contraídas por um de seus
sócios, ou seja, é admitido desconsiderar a autonomia patrimonial da
pessoa jurídica, para responsabilizá-la por obrigações assumidas por
um ou mais sócios.
A Desconsideração Inversa coíbe a fraude, o abuso de direito e,
principalmente, o desvio de bens, ou seja, o sócio devedor transfere
seus bens para a pessoa jurídica sobre a qual tem controle total, esva-
ziando seu patrimônio pessoal, mas usufruindo daquele que está sob
a propriedade da sociedade, já que ao integralizar totalmente a pessoa
jurídica, passa a exercer a atividade em seu nome, com o objetivo de
fraudar terceiros.
Diante disso, os credores têm dificuldade para satisfazerem seus
créditos, frustrando suas pretensões, o que lhes dá, adotando essa
linha de ideias, o direito de invadir o patrimônio da sociedade- usada
pelo devedor para "esconder" seus bens- uma vez que o caminho
para alcançar suas pretensões, através da penhora e, após, da venda
das cotas sociais, é mais lento e muitas vezes será ineficaz.
O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do
processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução
fundada em título executiv0 extrajudicial.
A instauraçã? do incidente será imediatamente comunicada ao
distribuidor para as anotações devidas.
Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da
personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em
que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.

11.5. AMICUS CURIAE

Amicus curiae é um auxiliar do juízo que pode atuar no processo,


quer seja pessoa física ou jurídica, desde que tenha representatividade
e possa contribuir para a solução da causa.
Trata-se de urna intervenção provocada pelo magistrado ou reque-
rida pelo próprio amicus curiae, cujo objetivo é o de aprimorar ainda

642 flDlTORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIl. 3" ediçáo


INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

Resumo Teórico

mais as decisões proferidas pelo Poder Judiciário. Entretanto, não se


pode equiparar a intervenção do amicus curae- que tem participação
consubstanciada em apoio técnico-jurídico -, com a intervenção de
terceiro, que tem interesse na ~::onclusão do processo.
O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a espe-
cificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da con-
trovérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento
das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a
participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade espe-
cializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze)
dias de sua intimação.
A intervenção de que trata o caput não implica alteração de
competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a
oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º.
Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir
a intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente
de resolução de demandas repetitivas.

ANDRÉ MOTA, CRJSTlANO SOBRAL, LUCIANO FlGUElREDO, ROBERTO FlGU'ElREDO, SA!IRJNA DOURADO 643
12.

ATOS PROCESSUAIS

12.1. NOÇÕES INCIAIS

processuaL .
Atos processuais são aque1es prahcados durante a relação jurídica

portanto, os atos das partes os atos ~ SUJello que o pratica, havendo,


São classificados de acordo com . .
auxiliares da justiça. ' o JUIZ, assnn como os atos dos
Quanto à forma dos atos processuais d
da instrumentalidade d f ' e acordo com o princípio
as orrnas temos q -
válidos se atingida sua finalidad: Ade ue os atos s_ao reputados
de forma det · d · malS, os atos nao dependem
ermrna
Atualment h. a' a meno
. . s que a 1el. expressamente a exija.
e, a a poss1b1hdade de p af
meio eletrônico por exem . d r lCar atos processais por
' po,oenvm e f- . ,.
a criação de Diário da Justiça Eletr' . pe l~oes ~or melO eletronico,
1
Os atos processuais . d onico, Intlmaçoes eletrônicas, etc.
' seja e qual forma for de •bl
correndo em segredo d . t. • vem ser pu icos,
e JUS lÇa apenas os proce
o interesse público e que d. . ssos em que o exigir
ração dos cônjuges, conver;i:~e:~:~:o a ~asamento, filiação, sepa-
de menores (CPC, art. 189). d!vorclo, ahmentos e guarda
Nestes casos, o direito de consultar .
de seus atos é restrito às t os autos e de pedu certidões
ao terceiro que demonst par ets e seus pr.ocuradores, sendo facultado
r ar rn eresse JUndico ap .b. . d
de requerer certidão do a· . . ' enas a poss1 1hda e
, lSpOSlhvo da sentenç b .
tario e partilha. a, em como de mven-

644 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL I 3a edição


r
Resumo TeóricO

Obrigatório ainda o uso do vernáculo (língua nacional - por-


tuguesa) em todos os atos e termos do processo. Os documentos
redigidos em língua estrangeira somente poderão ser juntados aos
autos se acompanhados de versão em língua portuguesa, feita por
tradutor juramentado.

12.2. ATOS PROCESSUAIS DAS PARTES

O art. 200 do CPC prevê que os atos das partes consistem em


declarações unilaterais ou bilaterais de vontade. Será ato unilateral,
por exemplo, a petição inicial e a contestação. Bilateral, por sua vez,
é a petição que comunica a celebração de um acordo, subscrita pelas
duas partes.
Os atos das partes também são classificados em postulatórios,
instrutórios e dispositivos. Postulatórios são aqueles que expressam
a pretensão da parte, como a petição inicial e a contestação. Os atos
instrutórios são destinados a comprovar as alegações feitas. Dispo-
sitivos são os atos que podem expressar a submissão de uma parte à
pretensão da outra, ou desistência da pretensão formulada, ou ainda
eventual transação celebrada pelas partes.
As manifestações de vontade das partes, por meio dos atos
dispositivos, produzem imediatamente a constituição, modificação
ou a extinção de direitos processuais, sendo consideradas, portanto,
verdadeiros negócios jurídicos. Nestes casos, a homologação judicial
apenas se destina a qualificar eventual acordo, por exemplo, como
título executivo judicial.

12.3. ATOS PROCESSUAIS DO JUIZ

O juiz se manifesta nos autos por meio de sentenças, decisões


interlocutórias e despachos.

645
ANDRÊ MOTA, CR1STIA~O SOBRAL, LUClANú flGUElRI-:DO, RoBERTO ftGUEJRfDO, SASIUNA DOURADO
IATOS PROCESSUAIS

Resumo Teórico l
Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos espe-
ciais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fun-
damento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento
comum, bem como extingue a execução.
Já a decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de
natureza decisória que não se enquadre no de sentença. Ela não é
mais o ato decisório que resolve apenas questões incidentais sem por
fim ao processo.
Acórdãos são as decisões colegiadas proferidas pelos tribunais.
Alguns atos de movimentação processual independem de despa-
cho do juiz e podem ser praticados até mesmo de ofício pelo escrivão
....:~ .......... ,., .. J,.,.; ...:;,... ;,,,ri.;,....;,l rr.Trlo a).11ntad"'
......_.._,~
UV\...<..U<-V.L.LVJ'-'-'-'--'-"-.._,....._,.._..._,.._,,
do notiri'\o::u::: T:::tl~ :::ttn~ ~:;;n chomado.s
"-_t-''-~.._~-...~~·-'--·-~--·---~'-
...,_ <• •

de ordinatórios e estão previstos no art. 203, § 4º, do CPC. assim como


na Constituição Federal, no art. 93, XIV.
Vejamos a íntegra do dispositivo:

Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista


obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados
de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário.

De acordo com art. 205 os despachos, as decisões, as sentenças e


os acórdãos serão redigidos, datados e assinados pelos juízes.
Quando os pronunciamentos forem proferidos oralmente, o
servidor os documentará, submetendo-os aos juízes para revisão e
assinatura.

12.4. TEMPO DOS ATOS PROCESSUAIS

Os atos serão praticados em dias úteis, das 06 às 20 horas, podendo


haver prorrogação para conclusão dos atos iniciados antes do final
I do expediente (CPC, art. 212). Entretanto, os atos processuais que
dependam de protocolo só poderão ser praticados dentro do horário
I
I de expediente forense de cada órgão jurisdicional.
Os Juizados Especiais, porém, poderão funcionar em horário

I
noturno (Lei 9.099/95, art. 12).

(1,.4(; EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL J 3a edição


ATOS PROCESSUAIS I
rResumo Teórko

Durante as férias não serão praticados atos processuais, com


exceção das citações, intimações e penhoras, bem como tutelas de
urgência (art. 214, CPC)
Os procedimentos indicados no; incisos do art. 215 do CPC tam-
t
bém tramitam durante as férias, são eles: os procedimentos de juris-
diç?o voluntária e os necessários à conservação de direitos, quando
puderem ser prejudicados pelo adiamento;- a ação de alimentos e os
processos de nomeação ou remoção de tutor e curador;- os processos
que a lei determinar.
Além dos declarados em lei, são feriados, para efeito forense, os
sábados, os domingos e os dias em que não haja expediente forense.

12.5. LUGAR DOS ATOS PROCESSUAIS

Os atos processuais são realizados na sede do juízo (cartório ou


vara judicial em que tramita o processo).
O art. 217, no entanto, autoriza seja efetuado em outro lugar, em
virtude do interesse da justiça (por meio de cartas precatórias, por
exemplo) ou em face da função que exerce a pessoa que precisa ser
ouvida no processo (depoimento do Presidente da República, por
exemplo), ou ainda em face de obstáculo arguido pelo interessado e
acolhido pelo juiz, como nos casos de oitiva de testemunha enferma e
que não pode se locomover, ocasião em que o depoimento será colhido
no local onde estiver.

12.6. NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS

Uma das inovações previstas no novo Código de Processo Civil


é o que tem sido denominado "Negócio Jurídico Processual", definido
nos artigos 190 e 191, que nada mais é do que a flexibilização do pro-
cesso civil, por meio de acordo entre as partes."

19. Para aprofundamento do tema recomendamos a obra coletiva da editora Juspodivm, inti-
tulada Negócios Jurídicos Processuais.

ANPRÊ MoT,\, CRJST!A.NO ~01\R~L, Ll•C!ANO F!c;uuREDo, ROilF.RTO F!GUWREDO. SA!IlUNA DovRAr>O 647
Resumo Teórico I
Neste sentindo o artigo 190, estabelece que versando o processo
sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plena-
mente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Eis
uma cláusula geral de negociação. ,
De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das '
convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente
nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de ade-
são ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de
vulnerabilidade.
O modelo já é muito utilizado nas arbitragens comerciais em que,
a despeito dos regulamentos das Câmaras de Arbitragem fixarem
alguns prazos e procedimentos, as partes, juntamente com os árbitros,
celebram um cronograma provisório em que fixam os prazos para
apresentação das alegações iniciais, contestação, réplica e, por vezes,
já fixam matérias atinentes à produção das provas e, até mesmo,. o
eventual fatiamento do julgamento.
Em decorrência do valot maior liberdade humana, surge entre
os processualistas o princípio do autorregramento da vontade no
processo, que nada mais é do que, guardadas as devidas proporções
a seguir esclarecidas, a autonomia privada, a autodeterminação, do
direito material civil.
É claro que a negociação processual sofre maior restrição por se
realizar em um ambiente de atividade jurisdicional (pública). De rigor,
não há motivo algum para impedir que a liberdade humana em sua
máxima expressão deixe de ser considerada dentro do processo civil,
afinal de contas vivemos em um Estado Democrático de Direito fun-
dado na dignidade humana.
Ademais, de comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calen-
dário para a prática dos atos processuais, quando for o caso. Eis o que
chamamos de calendário Processual.
O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previs-
tos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente
justificados.

648 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL I 3" edição


rResumo Teórico
Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato proces-
sual ou a realização de audiência cujas datas tJ.verem stdo destgnadas
no calendário.

12.7. PRÁTICA ELETRÔNICA DE ATOS PROCESSUAIS

Os atos processuais podem ser total ou parcialmente digitais, de


forma a permitir que sejam produzidos, comumcados, armazenados
e validados por meio eletrônico, na forma da le1.. _ . .
Os sistemas de automação processual respeltarao a pubhCidade
dos atos, 0 acesso e a participação das partes e de seus procurado-
res, inclusive nas audiências e sessões de julgame~to, observadas as
garantias da disponibilidade, independência da plataforma compu-
tacional, acessibilidade e interoperabilidade dos sistemas, servi~Os,
dados e informações que o Poder Judiçiário administre no exerctClO
de suas funções. . _
o registro de ato processual eletrônico deverá ser feitO em p~droes
abertos, que atenderão aos requisitos de autenticidade, mtegndade,
temporalidade, não repúdio, conservação e, nos casos .que tramitem
em segredo de justiça, confidencialidade, observada a mfraest:utura
de chaves públicas unificada nacionalmente, r:os termos da le1.
Compete ao Conselho Nacional de Justiça e, :upl:t:vamente,'
aos tribunais, regulamentar a prática e a comumcaçao oficial de atos
processuais por meio eletrônico e velar pela compatibilidade dos
sistemas, disciplinando a incorporação progressiva de novos av~nços
tecnológicos e editando, para esse fim, os atos que forem necessanos,
respeitadas as normas fundamentais de~te Código. .
Os tribunais divulgarão as informaçoes constantes de seu sistema
de automação em página própria na rede mundial de compu:adores,
gozando a divulgação de presunção de veracidade e confiabihd_ad:-
Nos casos de problema técnico do sistema e de erro ou omtssao
do auxiliar da justiça responsável pelo registro dos andamentos,
poderá ser configurada a justa causa prevista no art. 223, caput e § 1º.

649
ANDRÉ MOTA, CRISTL"\NO SOBRAL, LUCIANO fiGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO
!ATOS PROCESSUAIS
Resumo Teóric~

:l ATENÇÃO!

As unidades do Poder Judiciário deverão manter gratuitamente,


à disposição dos interessados, equipamentos nece~sários à prá-
tica._de atos processuais e à consulta e ao acesso ao Si;;tema e aos
documentos dele constantes. No entanto, será admitida a prática
de atos por meio não eletrônico no local onde não estiverem
disponibilizados os equipamentos acima indicados.
. As unidades do Poder Judiciário assegurarão às pessoas com
deficiência acessibilidade aos seus sítios na rede mundial de
computadores, ao meio eletrônico de prática de atos judiciais,
a' comurncaçao
. -
e l..ef..ron1ca
.". ri .
-...os atos processuais e a' assrna
. t ura
eletrônica.

<
13.

PRAZOS

13.1. NOÇÕES INICIAIS

O processo exterioriza-se como uma sucessão ordenada de atos,


desde a petição inicial até o ato-fim, que é a sentença, podendo pros-
seguir em segundo grau de jurisdição havendo recurso. A fim de
impedir o prolongamento interminável do processo, a lei estabelece
prazos dentro dos quais os atos devem ser praticados, quer para as
partes, quer para o juiz e auxiliares da justiça.
Prazo pode ser compreendido como lapso de tempo destinado à
prática de um ato processuaL

O NCPC exige que a renúncia seja EXPRESSA.

:l ATENÇÃO!
Quando a lei ou o juiz não determinar prazo, as intimações
somente obrigarão a comparecimento após decorridas 48 (qua-
renta e oito) horas.
Inexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz, será
de 5 (cinco) dias o prazo para a prática de ato processual a cargo
da parte.

ANURÚ MOTA, CRISTIANO SOBRA!., LUCIANO FlGIJ.EIREDO, ROTHiRTO FlGUEIREOO, SABRINA DOURADO 651
Resumo Teórico

13.2. FORMA DE CONTAGEM E DISPOSIÇÕES


IMPORTANTES DOS PRAZOS

Para a contagem dos prazos processuais, excluí-se o dia do


começo e incluí-se o dia do vencimento. Caindo o dia do vencimento
em feriado ou dia que não houver expediente forense ou for ele
encerrado antes do normal, considera-se prorrogado até o próximo
dia útil (CPC art. 224).

:>ATENÇÃO!
Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos
para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em
que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois
da hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação
eletrônica.
Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil
seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da
Justiça eletrônico.
A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir
ao da publicação.

O representante da Fazenda Pública, o representante do Ministé-


rio Público, assim como o Defensor Público, serão sempre intimados
pessoalmente. Quando a decisão é publicada em audiência, conside-
ra-se intimada a parte na data em que se realizou a audiência (CPC
art. 1003, § 1º)
Se a intimação for feita por publicação no Diário de Justiça Ele-
trônico- DJE, considerar-se-á como data da publicação o primeiro dia
útil seguinte ao da disponibilização da informação. Os prazos proces-
suais, por seu turno, terão início no primeiro dia útil que seguir àquele
considerado como data da publicação (Lei 11.419/06, art. 4º, §§ 3º e 4º).
Desse modo, se o DJE for disponibilizado numa segunda-feira, a
terça-feira é que será considerada como data de publicação (se houver

652 EDlTORA ARMADOR I PRÁTICA C!vtL ! 3a edição


rResumo Teórico
. o) e prazo para a prática do ato iniciar-se-á
expediente forense, e c1ar ' 0
f da quarta-feira. .
a par u d ais eram contínuos, não se interrompiam nos
Os prazos, a em ' t em de prazo em dias, estabelecido por
feriados. No NCPC na tco~sae~ão somente os dias úteis. (art. 219).
l e!. OU p elo JUIZ: compu
- .
ar
\" somente aos prazos proceSSUaiS.
.
' As dispos!çoes aCima se ap !cam
'
:>ATENÇÃO!
~ Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo
inicial do prazo. . . .
. urso do prazo processual nos dms com.preen-
d
• Suspen e-seoc . . l .
. t 20 de dezembro e 20 de janeuo, me uslVe.
didos en re . . . ,
férias individuais e os fenados mstitmdos por
p. Ressa,.Ivad as as . . , . n.'.l-.1~ .......... da nol=o.....,so-
. -. , s membros ào Nhnlsteno .L uvu._v, ._.. ............
H

lei os 1mzes, 0 ·1· d J stiça


. '
c na Pu
, bl"lCa e da Advocacia Pública e os auxi Iares a u
exercerão suas atribuições normalmente. - ." .
- do prazo não se realizarao audiencias
.,_ Durante a suspensao '
nem sessões de julgamento.

razo por obstáculo criado em detri-


S spende-se o curso do P 313
u do qualquer das hipóteses do art. •
t d parte ou ocorren
men o a t'tuído por tempo igual ao que faltava para
devendo 0 prazo ser res I
mplem~ntação. - d
sua co , .- . . Suspendem-se os prazos durante a execuçao e
Paragrato umco. _
. . 'd 1 Poder Judiciário para promover a autocom
rama mstitUl o pe o d' .
pro.g - . b. do aos tribunais especificar, com antece enCia, a
postçao, 1ncum 1n
duração dos trabalho_s. subseção J·udiciária onde for difícil o trans-
Na comarca, seçao ou , .
. . derá rorrogar os prazos por ate 2 (dms) meses.
porte, o JUIZ p~ dapdo reduzir prazos peremptórios sem anuência
Ao JUlZ e ve
das partes. d . 1 'd de pública o limite previsto no capút para
Haven o ca ami a ' .
- de razos poderá ser excedido.
prorrogaça~d p xtingue-se o direito de praticar ou de emen-
Decorn o o prazo, e - . d" . I
. dependentemente de declaraçao JU Icia '
dar o ato processua1' In

FiGUEIREDO, Ro&ERTO p1ctiEUtEDO, SABlUNA DouRADO


653
ANDRE MOTA, CRISTIANO SOSRAl, LUCiANO
r I PRAZOS
Resumo Teóric~

ficando assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por


justa causa. c

Considera-se justa causa o evento alheio à vontade da parte e que


a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário:
Verificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática do ato
no prazo que lhe assinar.

13.3. VERIFICAÇÃO DOS PRAZOS E DAS PENALIDADES

Incurnbc QO juiz "'.Terificar se o serventuário excedeu, sem motivo


legítimo, os prazos estabelecidos em lei.
Constatada a falta, o juiz ordenará a instauração de processo
administrativo, na forma da lei.'
Qualquer das partes, o Ministério Público ou a Defensoria Pública
poderá representar ao juiz contra o serventuário que injustificada-
mente exceder os prazos previstos em lei.
Os advogados públicos ou privados, o defensor público e o
membro do Ministério Público devem restituir os autos no prazo do
ato a ser praticado.
É lícito a qualquer interessado exigir os autos do advogado que
exceder prazo legal.
Se, intimado, o advogado não devolver os autos no prazo de 3
(três) dias, perderá o direito à vista fora de cartório e incorrerá em
multa correspondente à metade do salário-mínimo.
Verificada a falta, o juiz comunicará o fato à seção local da Ordem
dos Advogados do Brasil para procedimento disciplinar e imposição
de multa.
Se a situação envolver membro do Ministério Público, da Defen-
soria Pública ou da Advocacia Pública, a multa, se for o caso, será
aplicada ao agente público responsável pelo ato.
Verificada a falta, o juiz comunicará o fato ao órgão competente
responsável pela instauração de procedimento disciplinar contra o
membro que atuou no feito.

FmTnRA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


PRAZOS

\ Resumo Teórico

Qualquer parte, o Ministério Público ou a Defensoria Pública


poderá representar ao corregedor do tribunal ou ao Conselho Nacio-
nal de Justiça contra juiz ou relator que injustificadamente exceder os
prazos previstos em lei, regulamento ou regimento :interno.
Distribuída a representação ao órgão competente e ouvido previa-
mente o juiz, não seDdo caso de arquivamento liminar, será instaurado
procedimento para apuração da responsabilidade, com intimação do
representado por meio eletrônico para, querendo, apresentar justifi-
cativa no prazo de 15 (quinze) dias.
Sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis, em até 48
(quarenta e oito) horas após a apresentação ou não da justificativa de
qtlE' trata o § 1º, se for o caso, o corregedor do tribunal ou o relator no
Conselho Nacional de Justiça determinará a intimação do representado
por meio eletrônico para que, em 10 (dez) dias, pratique o ato.
Mantida a inércia, os autos serão remetidos ao substituto legal
do juiz ou do relator contra o qual se representou para dedsã<,> em
10 (dez) dias.

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAl,, LUCIANO fiGUiltREDO, ROSERTO FlGUE!ltEDO, SAJIRINA DOURADO 655
14.

COMUNICAÇÃO DOS
ATOS PROCESSUAIS

14.1. NOÇÕES INICIAIS

Os atos processuais serão cumpridos por ordem . d" . I


S ' d· JU lCla .
t . . e~a ex~e Ida carta para a prática de atos fora dos limites terri-
onms o tri un.al~, da comarca; da seção ou da subseção ·udieíárias
ressalvadas as hipoteses previstas em lei. J '
O tribunal poderá expedir carta para juízo a ele vinculado, se o ato
houver de se realizar fora dos limites territoriais d~ local de sua sede.

:>ATENÇÃO!

Ad;nite-se a prática de atos processuais por meio de v;deocon-


:erencra ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
Imagens em tempo real.

14.2. CARTAS

Será expedida carta:


• de ordem, pelo tribunal, na hipótese do § 2º do art 236·
'

656
EDitORA ARMADOR ! PRÁTICA CiVIL ! 3~ edição
] Resumo Teórico

> rogatória, para que órgão jurisdicional estrangeiro pratique


ato de cooperação jurídica internacional, relativo a processo
em curso perante órgão jurisdicional brasileiro;
• precatória, para que órgão jurisdicional brasileiro pratique
ou determine o cumprimento, na área de sua competência
1territorial, de ato relativo a petiido de cooperação judiciária
formulado por órgão jurisdicional de competência territorial
diversa;

:l NOVIDADE!
Arbitral, para que órgão ào Poder Judiciário pratique ou deter-
mine o cumprimento, na área de sua competência territorial,
de ato objeto de pedido de cooperação judiciária formulado por
juizo arbitral, indu siv e os que importem efetiva,ção de tutela
provisória.
Se o ato relativo a processo em curso na justiça federal ou em
tribunal superior houver de ser praticado em local ond.e não
haja vara federal, a carta poderá ser dirigida ao juízo estadual
da respectiva comarca.

14.3. CITAÇÃO

Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou


o interessado para integrar a relação processual. Ela é um ato solene
que atende ao princípio do contraditório.
Para a validade do processo é indispensável à citação do réu ou
do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição
inicial ou de improcedência liminar do pedido.

:l ATENÇÃO!·.
O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a
falta ou a nulidade da citação, fluindo apartir desta data o prazo
para apresentação de contestação ori de embargos à execução.· ·

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LuCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO ftGUÉIREOO, SABRINA DoURADO 657
COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
Resumo Teórico

Rejeitada a alegação de nulidade, tratando-se de processo de:


,._ conhecimento, o réu será considerado revel;
• execução, o feito terá seguimento.

A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente,


induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o
devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei nº 10.406, de
10 de janeiro de 2002 (Código Civil).
A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena
a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá, à
data de propositnra da ação.
Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providên-
cias necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar
o disposto acima. •
A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusiva-
mente ao serviço judiciário.
O efeito retroativo aplica-se à decadên..:ia e aos demais prazos
extintivos previstos em lei.

:l ATENÇÃO!
Transitada em julgado a sentença de mérito proferida em favor
do réu antes da citação, incumbe ao escrivão ou ao chefe de
secretaria comunicar-lhe o resultado do julgamento.

Conheçamos seus requisitos.


A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita na pessoa
do representante legal ou do procurador do réu, do executado ou do
interessado.
Na ausência do citando, a citação será feita na pessoa de seu
mandatário, administrador, preposto ou gerente, quando a ação se
originar de atos por eles praticados.
O locador que se ausentar do Brasil sem cientificar o locatário
de que deixou, na localidade onde estiver situado o imóvel, procu-
rador com poderes para receber citação será citado na pessoa do

t:.C:Q
PmTOil,>, ARMAOOR l PRÁTICAÜVJL I 3a edição
COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS

Resumo Teórico

administrador do imóvel encarregado do recebimento dos aluguéis,


que será considerado habilitado para representar o locador em juízo.
A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Muni-
cípios e de suas respectivas autarquias e fundações de direito púB.lico
será realizada perante o órgão de Advocacia Pública responsável por
sua representação judicial.

A citação poderá ser feita em qualquer lugar em que se encontre


o réu, o executado ou o interessado.
O militar em serviço ativo será citado na unidade em que esti-
ver servindo, se não for conhecida sua residência ou nela não for
encontrado.

Não se fará a citaÇão, salvo para evitar o perecimento do direito:


• de quem estiver participando de ato de culto religioso;
• de cônjuge, de companheiro ou de qualquer parente do morto,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou na linha colateral
em segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias
seguintes;
• de noivos, nos 3 (três) primeiros dias seguintes ao casamento;
• de doente, enquanto grave o seu estado.

Não se fará citação quando se verificar que o citando é mental-


mente incapaz ou está impossibilitado de recebê-la.
O oficial de justiça descreverá e certificará minuciosamente a
ocorrência.
Para examinar o citando~ o juiz nomeará médico, que apresentará
laudo no prazo de 5 (cinco) dias.
Dispensa-se a nomeação acima mencionada se pessoa da família
apresentar declaração do médico do citando que ateste a incapacidade
deste.
Reconhecida a impossibilidade, o juiz nomeará curador ao
citando, observando, quanto à sua escolha, a preferência estabelecida
em lei e restringindo a nomeação à causa.
A citação será feita na pessoa do curador, a quem incumbirá a
defesa dos interesses do citando.

ANDRÉ MOTA, CRtSHANO SOBRAL, LUCIANO ftGUEUI.J!DO, ROHRTO flGUUJREDO. SABRLNA 00URA[)0
Resumo Teórico l
MODALIDADES
A citação será feita:
.. pelo correio;
• por oficial de justiça;
• pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer
em cartório;
• por edital;
• por meio eletrônico, conforme regulado em lei.

Com exceção das microempresas e das empresas de pequeno


porte, as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter
cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito
de ~eceb1mento de citações e intimações, as quais serão efetuadas
preterencialmente por esse meio.
A disposição acima se aplica à Uniã<l, aos Estados, ao Distrito
Federal, aos Municípios e às entidades da administração indireta.
Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão •itados
pessoalmente, exceto quando tiver por objeto unidade autônoma de
prédio em condomínio, caso em que tal citação é dispensada.

:>ATENÇÃO!

A citação será feita pelo correio para qualquer comarca do país,


exceto:
• nas ações de estado, observado o disposto no art. 695, § 3º;
• quando o citando for incapaz;
• quando o citando for pessoa de direito público;
• qua~~o.o citando residir em local não atendido pela entrega
dormcdtar de correspondência;
• quando o autor, justificadamente, a requerer de outra forma.

DICAS DA CITAÇÃO POR CARTA


Deferida a citação pelo correio, o escrivão ou o chefe de secretaria
remeterá ao citando cópias da petição inicial e do despacho do juiz e

660 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL j 3a edição


j Resumo Teórico

comunicará o prazo para resposta, o endereço do juízo e o respectivo


cartório.
A carta será registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o
carteiro, ao fazer a entrega, que assine o recibo.
Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entrega do mandado
a pessoa com pod11!res de gerência geral ou de administração ou, ainda,
a funcionário responsável pelo recebimento de correspondências.
Da carta de citação no processo de conhecimento constarão os
requisitos do art. 250.
Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de
acesso, será válida a entrega do mandado a funcionário da portaria
responsável pelo recebimento de correspondência, que, entretanto,
poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito, sob as penas
da lei, que o destinatário da correspondênc-:a está ausente.

CITAÇÃO POR OFICIAL/MANDADO


A citação será feita por meio de oficial de justiça nas hipóteses
previstas neste Código ou em lei, ou quando frustrada a citação pelo
correio.
O mandado que o oficial de justiça tiver de cumprir conterá:
• os nomes do autor e do citando e seus respectivos domicílios
ou residências;
• a finalidade da citação, com todas as especificações constantes
da petição inicial, bem como a menção do prazo para contestar,
sob pena de revelia, ou para embargar a execução;
• a aplicação de sanção para o caso de descumprimento da
ordem, se houver;
.,. se for o caso, a intimação do citando para comparecer, acom-
panhado de advogado ou de defensor público, à audiência de
conciliação ou de mediação, com a menção do dia, da hora e
do lugar do comparecimento;
• a cópia df! petição inicial, do despacho ou da decisão que deferir
tutela provisória;
• a assinatura do escrivão ou do chefe de secretaria e a declaração
de que o subscreve por ordem do juiz.

ANDRÉ MOTA, CRiSTiANO SoBRAL, LUCIANO fiGUEIREDO, RoBERTO fJGUE!REDO, 5ABRINA DOURADO 661
COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS

Resumo Teórico

Incumbe ao oficial de justiça procurar o citando e, onde o encon-


trar, citá-lo:
~ lendo-lhe o mandado e entregando-lhe a contrafé;
.,. portando por fé se recebeu ou recusou a contrafé;
> obtendo a nota de ciente ou certificando que o citando não a
apôs no mandado.

Quando, por 2 (duas) vezes20, o oficial de justiça houver procurado


o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá,
havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família
ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará
a fim de efetuar a citacão. na hora aue designar.
~ ' J. '-'

Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de


acesso, será válida a intimação feita a funcionário da portaria respon-
sável pelo recebimento de correspondência.
No dia e na hora designados, o oficial de justiça, independente-
mente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou à residência
do citando a fim de realizar a diligência.
Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará infor-
· mar-se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o ci-
tando se tenha ocultado em outra comarca, seção ou subseção judiciárias.
A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da
família ou o vizinho que houver sido intimado esteja ausente, ou se,
embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se recusar a receber
o mandado.
Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé
com qualquer pessoa da família ou vizinho, conforme o caso, decla-
rando-lhe o nome.
O oficial de justiça fará constar do mandado a advertência de que
será nomeado curador especial se houver revelia.
Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria
enviará ao réu, executado ou interessado, no prazo de 10 (dez) dias,
contado da data da juntada do mandado aos autos, carta, telegrama
ou correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo ciência.

20. O CPC/73 exigia três tentativas.

FmTnRA ARMAOOR I PRÁTICA CiVIl. ! 3" edição


COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
Resumo Teórico

CITAÇÃO POR EDITAL


É urna modalidade excepcional de citação. Ela é considerada
corno citação ficta .
Vejamos suas hipóteses:
A citação por edital será feita:
~ quando desconhecido ou incerto o citando;
~ quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se
encontrar o citando;
.,. nos casos expressos em lei.

C&nsidera-se inacessível, para efeito de citação por edital, o país


que recusar o cumprimento de carta rogatória.
No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar 0 réu, a
notícia de sua citação será divulgada também pelo rádio, se na comarca
houver emissora de radiodifusão.
O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutí-
feras as tentativas de sua localização, inclusive mediante requisição
p~lo juízo de informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos
pubhcos ou de concessionárias de serviços públicos.

14.4. INTIMAÇÕES

Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos


termos do processo. •
É facultado aos advogados promover a intimação do advogado
da ou;ra parte por meio do correio, juntando aos autos, a seguir, cópia
do ofrc1o de mllrnação e do aviso de recebimento.
O ofício de intimação deverá ser instruído com cópia do despacho,
da decisão ou da sentença.
A intimação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Muni-
cíp~os e de suas respectiv~s ~utarquias e fundações de direito público
sera realizada perante o orgao de Advocacia Pública responsável por
sua representação.

ANDRÊ MDTA. CRT.~TJANO SOFIRAI .. l,llr'IANn FU:III'IRI'nO Rr"'~"TO J;,-,,,,,.,,.._, <;:,,,,~,. r'ln•rt>•nn
Resumo Teórico I

Aplica-se ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Advo-


cacia Pública o disposto no § 1º do art. 246 do CPC/15.
O juiz determinará de ofício as intimações em processos pen-
dentes, salvo disposição em contrário.
Quando não realizadas por meio eletrõnico, consideram-se feitas
as intimações pela publicação dos atos no órgão oficial.
Os advogados poderão requerer que, na intimação a eles dirigida,
figure apenas o nome da sociedade a que pertençam, desde que devi-
damente registrada na Ordem dos Advogados do Brasil.
Sob pena de nulidade, é indispensável que da publicação constem
os nomes das partes e de seus advogados, com o respectivo número de
inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, ou, se assim requerido,
da sociedade de advogados.
A. grafia dos nomes das partes não deve conter abreviaturas.
A grafia dos ry,omes dos advogados deve corresponder ao nome
completo e ser a mesma que constar da procuração ou que estiver
registrada na Ordem dos Advogados do Brasil.
Constando dos autos pedido expresso para que as comunicações
dos atos processuais sejam feitas em nome dos advogados indicados,
o seu desatendimento implicará nulidade.
A retirada dos autos do cartório ou da secretaria em carga pelo
advogado, por pessoa credenciada a pedido do advogado ou da socie-
dade de advogados, pela Advocacia Pública, pela Defensoria Pública
ou pelo Ministério Público implicará intimação de qualquer decisão
contida no processo retirado, ainda que pendente de publicação.
O advogado e a sociedade de advogados deverão requerer o res-
pectivo credenciamento para a retirada de autos por preposto.
A parte arguirá a nulidade da intimação em capítulo preliminar
do próprio ato que lhe caiba praticar, o qual será tido por tempestivo
se o vício for reconhecido.
Não sendo possível a prática imediata do ato diante da necessi-
dade de acesso prévio aos autos, a parte limitar-se-á a arguir a nuli-
dade da intimação, caso em que o prazo será contado da intimação
da decisão que a reconheça.
Se inviável a intimação por meio eletrônico e não houver na loca-
lidade publicação em órgão oficial, incumbirá ao escrivão ou chefe

664 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiviL I 3a edição


\ Resumo Teórico

de secretaria intimar de todos os atos do processo os advogados das

partes: T d d · 'zo·
., pessoalmente, se tiverem domiCl lO na se e o JUI '
~ por carta registrada, cor;' aviso de recebimento, quando forem
domiciliados fora do JUIZO.

- . d I ·' d outro modo as intimações serão feitas às


Nao dlspon o a er e ' d .
artes aos seus representantes legais, aos advogados e ~os emaiS
;ujeit;s do processo pelo correio ou, se presentes em cartono, dueta-
mente pelo escrivão ou chefe de secretana.
Presumem-se válidas as intimações dirigidas ao endereço cons-
tante dos autos, ainda que não recebidas pessoa!men_:e pelo mte-
. ficação temporária ou defimt!Va nao tiver sidO
ressa d o, se a mo d t · d
devidamente comunicada ao juízo, fluindo os prazos a p~rtlr a
. d tos do comprovante de entrega da correspondenoa no
JUnta a aos au
primitivo endereço. . . f d
A intimação será feita por oficial de JUStiça quando rustra a a
realização por meio eletrônico ou pelo correiO.
A certidão de intimação deve conter: . .
~ a indicação do lugar e a descrição da pessoa mtlmada, men-
cionando, quando possível, o número de seu documento de
identidade e 0 órgão que o expediu;
~ a declaração de entrega da contrafé; - -
~ a nota de ciente ou a certidão de que o interessado nao a apos
no mandado.

Caso necessário, a intimação poderá ser efetuada com hora certa


ou por edital.

• . . 5 LUCiANO FIGUEIREDO, ROI>ERTO FiGUEIREDO, SASRINA DouRADO


665
ANDR!; MOTA, CR!S1l,\I'O OBRA.L.
15.

NULIDADES

Os atos processuais, se praticados de forma diversa daquela


prevista em lei, poderão ser considerados ineficazes. . .
Não podemos aplicar no direito processual: por:m, a teor:a ~a
nulidade dos negócios jurídicos, da forma corno e aplicada no d1;e1to
material. Isto porque a mera distinção feita entre atos nulos e anu~avets
é insuficiente para 0 direito processual. Neste ramo do dtretto, e_fetta
nova classificação das invalidades, que observará tanto sua relevanCia
e consequência, co~o a forma de seu reconheci~e~to._ . F •

Leva-se também em consideração, nesta classtficaçao, o prmc1p10


de que toda nulidade, em direito processual, é sanável, diversament:
do que ocorre no direito material. Adernais, embora nulo, o ato podera
ser considerado eficaz. . _
Com relação às invalidades do ato processual, o CPC na~ as
relacionou de forma minuciosa, apenas fornecendo dive~sos ~r~t~nos
e princípios que orientam o aplicador no momento de tdenhfica-las
e declará-las.

Regras básicas
~ Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nuli-
dade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que
lhe deu causa.
~ Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz conside-
rará válido 0 ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a
finalidade.
~ A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade
em que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão,

I 666
EDITORA ARMADOR I PRÁTICA ÜVIJ. ) 3" ..:dição
NULIDADES I
[ Resumo Teórico

desde que ela seja relativa. Art. 279. É nulo o processo quando o
membro do Ministério Público não for intimado a acompanhar
o feito em que deva intervir.
~ Se o processo tiver tramitado sem conhecimento do membro
do Ministério Público, o juiz invalidará os atos praticados a
partir do momento em que ele deveria ter sido intimado.
~ A nulidade só pode ser decretada após a intimação do Minis-
tério Público, que se manifestará sobre a existência ou a ine-
xistência de prejuízo.
~ As citações e as intimações serão nulas quando feitas sem
observância das prescrições leg,ais.
.,_ Anulado o ato: consideram-se de nenhum efeito todos os subse-
quentes que dele dependam, todavia, a nulidade de uma parte
do ato não prejudicará as outras que dela sejam independentes.
~ Ao t'ronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingi-
dos e ordenará as providências necessárias a fim de que sejam
repetidos ou retificados.
~ O ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não
prejudicar a parte.
~ Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem apro-
veite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem
mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.
~ O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação
dos atos que não possam ser aproveitados, devendo ser pra-
ticados os que forem necessárias a fim de se observarem as
prescrições legais.
~ Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não
resulte prejuízo à defesa de qualquer parte.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO flGUEIREOO, ROBERTO f'lGUEIREOO. SA.RIUN4 nr" "' •r.n f.h7
16.

TUTELA PROVISÓRIA

16.1. NOÇÕES INICIAIS

d Inicialmente, cabe salientar que as disposições que serão aborda-


asd no presente capítulo são inovadoras · No CPC/73, a t u teI a anteci- .
pa a estava ':'grada no art. 273 e as cautelares estavam regulamentadas
num hvro propno, o qual deixou de existir. Elas estavam dispostas nos
arts. 796 a 889 e se subdividiam em cautelares nominadas ou típicas
e mommadas. O Legislador passou a tratar de tais matérias na arte
geral do texto, especificamente dentro das tutelas provisórias. p
1 · Nessa , . toada, verifica-se que 0 NCPC prefenu . ad atar a termino-
.
ogra' classrca e
· d d · .. distinguir a tutela provisória ' fundada e . -
mcogmçao
surnana, a . e~~rhva, baseada em cognição exauriente. Daí or ue
a tutela provrsona (~e urgência ou da evidência), quando con~ed~a,
conserva a sua eficacia na pendência do processo, mas pode ser, a
qualquer momento, revogada ou modificada (art. 296)
. provisória é gênero. s-ao d uas as suas especies:
A ,tutela , tutelas
d e urgencra e tutelas de evidência.
De,acordo com~ art. 294, a tutela provisória pode fundamentar-se
em urg~ncra ou evrdencra. As de urgência são divididas em cautelares
e antecrpadas.
A ~utela provi,sória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser
concedrda em cara!er antecedente ou incidental.

668 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA ÜVIL I 3a edição


\ Resumo Teonco

Vale salientar que a tutela provisória requerida em caráter inci-


dental independe do pagamento de custas.
A tutela provisória conserva sua eficácia na pendência do pro-
cesso, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou modificada. É do
seu caráter a revogabilidade.
Salvo decisão judicial ell! contrário, a tutela provisória conservará
a eficácia durante o período ide suspensão do processo.
O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas
para efetivação da tutela provisória. Ele é dotado de poder geral de
cautela. Ao que nos parece, tal poder foi agigantando no NCPC. Espe-
ra-se do juiz a sua utilização proporcional, efetiva e justa.
A efetivação da tutela provisória observará as normas referentes
ao cumprimento provisório da sentença, no que couber. Na decisão
que conceder, negar, modificar ou revogar a tutela provisória, o juiz
motivará seu convencimento de moào claro e preciso. fJ..,_ exigência
da qualidade da fundamentação é ponto de especial destaque no
novo texto.

Tratemos da Competência
A tutela provisória será requerida ao juízo da causa e, quando
antecedente, ao juízo competente para conhecer do pedido principal.
Ressalvada disposição especial, na ação de competência originária
de tribunal e nos recursos a tutela provisória será requerida ao órgão
jurisdicional competente para apreciar o mérito.

16.2. TUTELA DE URGÊNCIA

A tutela de urgência será concedida quando houver elementos


que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo. São dois os requisitos autorizadores
da sua concessão.
Observa-se, portanto, que o NCPC acertadamente abandonou a
expressão "prova inequívoca da verossimilhança", ainda presente no
vigente art. 273 do CPC/73.

669
ANDRÉ MoTA, CRl~TIA"'O SOI>RAL, LUCIANO fJGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SAnR!NA DoURADO
!TUTELA PROVISÓRIA
Resumo Teórico I

Eis a conclusão estampada no Enunciado nº 143 do Fórum Perma-


nente de Processualistas Civis: "A redação do art. 300, caput, superou a
distinção entre os requisitos da concessão para a tutela cautelar e para
a tutela satisfativa de urgência, erigindo a probabilidade e o perigo
na demora a requisitos comuns para a prestação de ambas as tutelas
de forma antecipada.".
Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o
caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos
que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada
se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la, logo,
não se trata de uma regra fechada, a qual não comporta exceções.
O juiz terá de se valer da proporcionz:_lidade.
A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.
A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida
quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão:·

:l ATENÇÃO!
A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada
mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de
protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idô-
nea para assegui:ação do direito.

Independentemente da reparação por dano processual, a parte


responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar
à parte adversa, se:
> a sentença lhe for desfavorável;
• obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não
fornecer os meios necessários para a citação do requerido no
prazo de 5 (cinco) dias;
> ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese
legal;
> o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pre-
tensão do autor.

r,,~,..,ni>A AuMAnnR 1 PRÂTICACIVIL I 3a edlção


TUTELA PROVISÓRIA I
j Resumo Teórico

A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver


sido concedida, sempre que possível.

16.2.1. TUTELA ANTECIPADA

~os casos em que a urgência for contemporânea à propositura


da açao, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela
antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição
da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do
risco ao resultado útil do processo.
Concedida a tutela antecipada:
> o autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação
de sua argumentação, a juntada de novos documentos e a
confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou
em outro prazo maior que o juiz fixar;
11> o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação

ou de mediação na forma do art. 334;


> não havendo autocomposição, o prazo para contestação será
contado na forma do art. 335.

Não realizado o aditamento, o processo será extinto sem reso-


lução do mérito.
· , O aditamento a que se refere o inciso I do § 1º deste artigo dar-
-se-a nos mesmos autos, sem incidência de novas custas processuais.
Na petição inicial, o autor terá de indicar o valor da causa, que
deve levar em consideração o pedido de tutela final. Ele indicará na
petição inicial, ainda, que pretende valer-se do benefício previsto no
caput deste artigo.
Caso entenda que não há elementos para a concessão de tutela
antecipada, o órgão jurisdicional determinará a emenda da petição
inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o processo
ser extmto sem resolução de mérito.

ANDRÍi MüTA, CRISTIANO SüllftAL, LUCMNO fiGU!!!REIJO, RoU!iRTO fiG!JEIREUO, SARR.INA DOURADO 671
Resumo Teórico 1

:>ATENÇÃO!

ESTABILIDADE DA TUTELA
Eis mais uma novidade do NCPC.
A
t tutela antecipada
• • conced I·d a nos termos do• art. 303 do CPC
oorrenspa-esetestavel se da decisão que a conceder não for interpost~
c Ivo recurso.
~alquer das partes poderá d~mandar a outra com intuito .o
rever, reformar ou mvalidar a tutela antecipada estabilizad
nos termos do caput. · . a

~::~~~:a~:~~:':~~~:d:n~:~:~~~~:u: ef~i~os:nqu~nto
proferida na ação. eCisao e mento

~~~~q:er das fpartes poderá requerer o desarquivamento dos


inicial dm que
- 01 concedtda a med"d .
I a, para mstruir. a petição
concedi:a~çao, prevento o juízo em que a tutela antecipada foi

O :ireito de rever, reformar ou invalidar a tutela anteci ~da


ex mgu_e-se ~pós2 (dois) anos, contados da ciência da d!isã~
que extmgmu o processo.
Por fim, a decisão que concede a tutela não fará coisa .ul a da
:as ~ estabilidad~
.ecrsao
dos respectivos efeitos só será
. d que a revrr, reformar o u mva
. l"d . . em ação
' ar, profenda
afas1ad~
po;

aJUIZa a por urna das partes. ..

16.2.2. TuTELA CAUTELAR

em caráter antecedente. d. ~ue :tsa a prestáção de tutela cautelar


A petição inicial da ação · •
m tcaraahdeeseuf d -
sumária do direito que se ObJ"ett" a un arnento. a exposiçao
. v assegurar e 0 per· d d
nsco ao resultado u' tt"l d o processo. tgo e ano ou o

672 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3"- edição


j Resumo ·1eonco

Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natureza


antecipada, o juiz observará o disposto no art. 303, que cuida do reque-
rimento da antecipação dos efeitos da sentença. Ao que nos parece,
aplicar-se-ão às tutelas de urgência o princípio da fungibilidade.
O réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o
pedido e indicar as provas que pretende produzir. Não sendo con-
testado o pedido, os fatos alegados pelo autor presum!ir-se-ão aceitos
pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5
(cinco) dias.
Contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o procedi-
mento comum.
Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formu-
lado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será apresen-
tado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela cautelar,
não dependendo do adiantamento de nvvüS custas processuais.
~ O pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o
pedido de tutela éautelar.
~ A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulação
do pedido principal.
~ Apresentado o pedido principal. as partes serão intimadas para
a audiência de conciliação ou de mediação, na forma do art.
334, por seus advogados ou pessoalmente, sem necessidade
de nova citação do réu.

Não havendo autocomposição, o prazo para contestação será


contado na forma do art. 335.

Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente, se:


~ o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal;
~ não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias;
~ o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo
autor ou extinguir o processo sem resolução de mérito.

Se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é


vedado à parte renovar o pedido, salvo sob novo fundamento.

673
ANDRE MaTA, CRISTIANO SOIIRAL, LUCIANO FIGUI:IR~DO, RoliERTO FIGUEIREDO, SAIIRINA DOURADO
~ TUTELA PROVISÓRIA
Resumo Teórico 1
O indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a parte formule
o pedido principal, nem influi no julgamento desse, salvo se o motivo
do indeferimento for o reconhecimento de decadência ou de prescrição.
I
I

16.3. TUTELA EVIDÊNCIA

A tutela da evidência diferentemente do que ocorre com as tutelas


de urgência não possui requisitos própríos, ela é pura na sua essên-
cia e'independe do risco de dano que é característico das tutelas de
urgência. Por esse motivo não há de se confundir a tutela da evidência
com as de urgência.
O direito evidente é aquele que se sustenta por si só dispensando
a dilação probatória ou através de prova documental irrefutável do
direito alegado pela parte, independente da necessidade de tempo
para se produzir a prova ou constituí-la.
A tutela da evidência será concedida, independentemente da
demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do
processo, quando:
• ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto
propósito protelatório da parte;
• as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas docu-
mentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos
repetitivos ou em súmula vinculante;
• se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova docu-
mental adequada do contrato de depósito, caso em que será
decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob comi-
nação de multa;
• a petição inicial for instruída com prova documental suficiente
dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não
oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.

Nas duas últimas hipóteses acima, o juiz poderá decidir limi-


narmente.

EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL ! 3'' edição


17.

PROCESSO DE CONHECIMENTO

17.1. NOÇÕES INCIAIS

Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo dis-


posição em contrário do código de ritos ou de lei.
Não há mais a subdivisão em procedimentos ordinário e sumário.
Os procedimentos passam a ser comuns ou especiais.
O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais
procedimentos especiais e ao processo de execução.

17.2. FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO


PROCESSO

FORMAÇÃO
O artigo 2º do NCPC funde, sem contradições, dois princípios
informativos do processo civil: o dispositivo (também chamado
de princípio da iniciativa da parte ou da inércia da jurisdição) e o
inquisitivo.
Na instalação da relação processual, prevalece o princípio dis-
positivo. O juiz age mediante provocação da parte ou do interessado,
salvo em situações excepcionais, previstas e mencionadas em lei.

ANDRÊ MOTA, CRlS11ANO SoBRAl. L\JCIANO FlCUEHI.FDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 675
Resumo Teórico I

Não age de ofício, por conta própria, independentemente de


formulação do pedido de alguém. Sem a iniciativa da parte (ou do
Ministério Público, arts. 177 e 720) não há processo. Pode existir o
direito ferido, a parte pode reclamar, declarar-se vítima de injustiça,
mas se não deduzir pretensãc e não ingressar em juízo solicitando
a proteção do p9der judiciário, todas as suas atitudes tornar-se-ão
inócuas.

SUSPENSÃO DO PROCESSO
Compreende-se por suspensão do processo a sua paralização
temporária. As hipóteses de suspensão estão estabelecidas em lei.
No novo texto, elas são encontradas no art. 313, vejamos:
Suspende-se o processo:
" pela n1orte ou pela peràa àa capaciàaàe processual de qualquer
das partes, de seu representante legal ou de seu procurador;
• pela convenção das partes;
• pela arguição de impedimento ou de suspeição;
• pela admissão de incidente de resolução de demandas
repetitivas;
• quando a sentença de mérito:
• depender do julgamento de outra causa ou da declaração de
existência ou de inexistência de relação jurídica que çonstitua
o objeto principal de outro processo pendente;
• tiver de ser proferida somente após a verificação de deter-
minado fato ou a produção de certa prova, requisitada a
outro juízo;
• por motivo de força maior;
• quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes
e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo;
• nos demais casos que o Código regula.

~ATENÇÃO!

O prazo de suspens~o do processo nunca poderá 6 (seis)meses.


quando se derpor convenção entre as partes. ·

676 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL 1 3~ edição


1 Resumo Teórico

O juiz determinará o prosseguimento do processo assim que


esgotados os prazos acima mencwnad()S·

Ademais, durante a suspensão é vedado praticar. qu':.lquer ato


do o J·uiz todavia, determinar a reahzaçao de atos
processual, Poden ' d · -
t
urgenesa fi m de evitar dano . _
irreparável, salvo no caso e 1argmçao
1
de impedimento e de suspetçao. . . - . ,
Se o conhecimento do mérito depender de venfica~ao da extsten-
cia de fato delituoso, o juiz pode determinar a suspensao do processo
até ue se pronuncie a justiça criminal. ,
qSe a ação penal não for proposta no prazo d~ 3 (tre~) meses,
. t. aça-o do ato de suspensão, cessara o efello desse,
contad o d a1n1m - , .
. b' ndo ao juiz cível examinar incidentemente a questao previa.
mcu;r~ osta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo prazo
máxim:de 1 (um) ano, ao final do qual se aplicara o disposto na parte
final do § 1º.

EXTINÇÃO DO PROCESSO
A extinção do processo dar-se-á por sentença.

~ATENÇÃO!
Antes de proferir decisão sem resolução de ':'-érito, o ~u~ de';'e:'á
conceder à parte oportunidade para, se posstvel, cor~tgu o V1C10.
Eis úma decorrência do Princípio da pnmazta do julgamento
demérito.

17.3. PETIÇÃO INICIAL

Como juiz não age de ofício, a petição inicial "é universal-


0
. b lar exordial ou inaugural do processo ctVtl,
mente a peça pream u , . . . ,
inde endentemente do rito sobre o qual mctdtra, tornando-se res-
pon~vel, por conseguinte, pela instauração da demanda e da tutela

L CJA.NO FlGOEIREDO, ROl3ERTO fJGUE!RLDO, SAT!RJNA DOUili\DO


677
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO 5 OBlt\L, U ·
PROCESSO DE CONHECiMENTO

Resumo Teórico

jurisdicional - pública ou privada - "É o instrumento, escrito, que


contém o pedido do autor, assim como os demais requisitos pertinentes
à individualização subjetiva e objetiva da ação."
Ela é o primeiro ato do processo. A lei <),xige o preenchimento de
requisitos para a sua construção. Tais requisitos estão dispostos nos
arts. 319 e 320 do CPC, senão vejamos:

A petição inicial indicará:

.,.. o juízo a que é dirigida;


Com o inciso I, aponta-se o órgão competente para conhecer da
ação, primeira dificuldade com que se defronta o advogado, pois nem
sempre de fácil determinação.

..,.. os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união está-


vel, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço
eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu21 ;
O inciso é muito mais moderno e completo quando comparado
aoCPC/73.

.,.. o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;


Determina-se a causa de pedir não apenas com a indicação da
relação jurídica de que se trata (propriedade, por exemplo), mas tam-
bém com a indicação do respectivo fato gerador (aquisição da proprie-
dade por compra e venda, por doação, por sucessão mortis causa, etc.).
Adotou, assim, o Código, não a teoria da individualização (bastaria a
indicação da relação jurídica correspondente, especialmente nas ações
reais - causa de pedir imediata), mas a da substanciação (os fatos
integram a causa de pedir- causa de pedir mediata, fática ou remota).

21. Em ações de reintegração de posse, em casos como o de invasões de terras por integrantes
do "Movimento dos Sem Terra", tem-se com razão dispensado a indicação do nome de cada
um dos invasores, sendo a ação movida contra os invasores ou ocupantes, citando-se os líderes
do movimento, ou todOs, com o uso de megafone. É possível, ainda em outros casos, que o juiz
haja de se contentar com a descrição física do réu e indicação do lugar em que se encontre.

67R EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


PROCESSO DE CONHECIMENTO

Resumo Teórico

Exige-se a indicação do fundamento jurídico do pedido (propriedade,


por exemplo), não a indicação do dispositivo legal correspondente.

.,.. o pedido com as suas especificações;


É um dos mais importantes requisitos da exordial. Distingue-se o
pedido imediato do mediato. O pedido imediato indica a natureza da
providência solicitada: declaração, condenação, constituição, manda-
mento, execução. Pedido mediato é o bem da vida pretendido (quantia
em dinheiro, bem que se encontra em poder do réu, etc.).

.,_ o valor da causa;


O valor da causa, a que se refere o inciso V, pode ser importante
para fins de determinação do órgão competente, do procedimento a
ser observado, dos recursos cabíveis e do valor da taxa judiciária, das
custas, da condenação em honorários advocatícios e multas.
O valor da causa é o 'quanto' representativo~ precisado e estipu-
lado pelo autor em moeda corrente nacional, ao tempo da propositura
da ação, e atribuído na petição inicial, considerando-se, para sua
fixação, regras ditadas na Lei Instrumental Civil ou fazendo-se sua
estipulação criteriosamente, quando assim é facultado.

.,.. as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos


fatos alegados;
Na petição inicial deverá o autor indicar de maneira especificada
as provas que pretende demonstrar o fato constitutivo do seu direito
alegado, não bastando requerer ou muito menos protestar generica-
mente pela 'produção de todos os meios de prova admitidos em direito.
A falta de indicação das provas que pretende produzir pode
autorizar o julgamento antecipado da lide, dispensada a audiência de
instrução, desde que preenchidos os demais requisitos legais .

.,.. a opção do autor pela realização ou não de audiência de concilia-


ção ou de mediação.

ANDRÉ MOTA, CRISTL\NO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, RORfRTO fiGUF.IRfOO, SA.!IRJNA DOURADO 679
Resumo Teórico j

- Eis um requisito novo. O autor terá de indicar se retende o


nao comparecer a audiência de conciliação ou rnediaçãopa depe d u
d o caso. , n er

:l ATENÇÃO!

Caso.
d não disponha d as m · f orrnaçoes
- relativas à qualificação
.
as partes,
d. . • . poderá o
, . autor' na t. - . . ' .
pe 1çao mJcJal, requerer ao 1·uiz
J1JgencJas necessanas a sua obtenção. . . .
~etição_inicial ~o será indef~rida se, a despeito da falta de
d orrnaçoes
· Ad relaciOnadas
. à qualificaça·o, f or
. possrv
, e! a citação
o :.u. ema~, ela não será indeferida pelo não atendimento
ao !Sp.os;o aCJrna se a obtenção de tais informações tornar
un.possivei ou excessivamente oneroSo o acesso à justiça.
Entendemos como
NCPC . , . s uper posrtlvas
· . ·
as disposições acima. O
. I ' corno Ja ~Jmos, adotou o princípio da supremacia do
JU gamento de menta. ·
petição
, inicial
. , será, ainda' instruída com 0 s d ocumentos·md
. 1.s-
pensaveJs
m t I a, propositura da ação. É ce d.IÇO que
. a prova doeu-
eu a sera produzida na fase postulatória.

17.3.1. PEDIDO

O peciido deve ser certo22.


ria e ;so.:~~::~~::~~e no.princ~pal os !uros legais, a correção monetá-
·s u 'd d mbencJa, mclusrve os honorários advocatícios
El , tmanov1
h. .
- a e qu e es t ava conso1rdada na Jurisprudência Tias•
rpo eses sao conhecidas corno pedidos implícitos. .

22.?
sena antigo artigo
certo ou 286 do CPC anterior trazia uma grande anomaha.
determinado. . Sinalizava que 0 pedido

680 EDJTORAARMADOR I PRÃTICACIVIL I Yedição


\ Resumo Teórico

O NCPC determina que interpretação do pedido considerará o


conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé. Tal dispo-
sição é substancial e muito importante.
Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em
prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas no pedido,
independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas
na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no qmso
do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.

O pedido deve ser determinado.


É lícito, porém, formular pedido genérico:
.- nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens
demandados;
• quando não for possível determinar, desde logo, as consequên-
cias do ato ou do fato;
> quando a determinação do objeto ou do valor da condenação
depender de ato que deva ser pr;üicado pelo réu.

O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o


devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo.
Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o
juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro
modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido alternativo.
É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim
de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior.
É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que
o juiz acolha um deles.
Vejamos as regras para a cumulação de pedidos, tema muito
recorrente em prova e importante para a prática forense.
É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu,
de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.

São requisitos de admissibilidade da cumulação que:


• os pedidos sejam compatíveis entre si;
• seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;
• seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.

681
ANDRÉ MOTA., CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, RoBERTO f)GUEIREDO, SABRINA DoURA.DO
PROCESSO DE CONHECIMENTO

Resumo Teórico

:l IMPORTANTE!
Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de pro-
cedimento, ~erá admitida a cumulação se o a~1tor empregar o
procedimento comum, sem prejuízo do empr~go das técnicas
processuais diferenci<fdas previstas nos procedimentos especiais
a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem
incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum.

Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que


não participou do processo receberá sua parte, deduzidas as despesas
na proporção de seu crédito.

Alterabilidade da dem<;mda de forma descomplicada.


O autor poderá:
~ até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir,
independentemente de consentimento do réu;
~ até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a
causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o con-
traditório mediante a possibilidade de manifestação deste no
prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento
de prova suplementar."

17.4. EMENDA DA INICIAL

O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos


dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes
de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no
prazo de 15 (quinze) dias 24, a emende ou a complete, indicando com
precisão o que deve ser corrigido ou completado.

23. Tais disposições se aplicam à reconvenção e à respectiva causa de pedir.

24. No CPC/73 o prazo era de dez dias.

682 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL I 3" edição


PRoCEsso DE CoNHECIMENTO

Resumo Teórico

Observe que o Código de Ritos exige que o juiz indique o que


deve ser emendado na Inicial Veda-se a ordem genérica de Emenda.
Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição
iniciaL

17.5. INDEFERIMENTO DA INICIAL

PETIÇÃO INICIAL PODE CONTAR UM VÍCIO INSANÁVEL


(exemplo: Ilegitimidade de parte)
Nesse caso, como o vício não pode ser regularizado, o JUIZ INDE-
FERIRÁ LIMINARMENTE a petição inicial, JULGANDO EXTINTO
O PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.
O indeferimento importará na prolação de uma sentença, sendo
o recurso cabível o de apelação, a ser interposto no prazo de quinze
dias. Ao receber o recurso, o juiz poderá retratar-se, ou seja, poderá
reformar a sua própria decisão e determinar a continuidade do pro-
cesso, com a citação do requerido.
As hipóteses de indeferimento estão dispostas no art. 330,
vejamos:
~ for inepta;
~ a parte for manifestamente ilegítima;
.. o autor carecer de interesse processual;
~ não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.

Considera-se inepta a petição inicial 25 quando:


~ faltar-lhe pedido ou causa de pedir;
• o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais
em que se permite o pedido genérico;
• da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;
~ contiver pedidos incompatíveis entre si.

Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao


juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se.

25. No CPC/73 seria inepta a inicial quando formulado pedido juridicamente impossível.

ANDRÉ Mon., CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SA!IRINA DOURADO 683
Resumo Teórico

Se não houver retratação o .uiz . .


ponder ao recurso Em ob ' , J . mandara citar o réu para res-
. servanCia a gar t · . .
contraditório que foi ag· t d an Ia constitucional do
tgan a a na nova legislação
Sendo a sentença reformada el t . .
tação começará a correr da i t" P- od nbunal, o prazo para a contes-
n tmaçao o retorno do t b
o disposto no art. 334 do NCPC. s au os, o servado
Não interposta a ap 1 - . , .
julgado da sentença. e açao, o reu sera mtimado do trânsito em

:l ATENÇÃO!

rente de empréstimo ~~~r o Jeto a revisão de obrigação decor-


Nas ações que tenha b.
o autor terá de, sob' enan:cm';'e~to ou de alienação de bens,
inicial, dcn.tre as obr~ações :~~~!::'a~. dtscrin;inar. na petição
controverter, além de qu . tífi ""'""a'~· aquews que pretende
O valor incontroverso d:er~:~~~~or mcontroverso do débito.
modo contratados. uar a ser pago no .tempo e

17.6. IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO

Saliente-se desde logo . .


texto. Ele receb~u novos c ' ;ue o mstJt~to fora reformulado no novo
on ornos, senao veJamos:
Nas causas que dispensem a fase in , . . . .
dentemente da citação do réu "ul , . strutona, o JUIZ, mdepen-
pedido que contrariar: ' J gara hmmarmente improcedente o
~
~ Su~er!or Tribunal de Jus~ça~premo Tnbunal Federal ou do
enunciado de súmula d S .

:::~:~~::~~~ds;:oaS:premo Tribunal Federal ou pelo Supe-


~ entendimento firmadç m_Jul~amento de recursos repetitivos;
repetitivas ou de ass~:ç~~~' ente de,resolução de demandas
e competencm·
~ enunciado de súmula de t n·buna 1d e justiça 'sobre direito local.

684 EDITORAARMADOR I PRÁTICACiVIL I 3a edição


~Resum~ Teórico

O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o


pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de
prescrição.
Não interposta a apelaçãc, o réu será intimado do trânsito em
julgado da sentença, nos termos do art. 241.
Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do
processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, determi-
nará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15
(quinze) dias

17.7. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO

Se a petiçãv inicial preencher os requisitos essenciais e não for


o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiên-
cia de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30
(trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias
de antecedência.
O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente
na audiência de conciliação ou de mediação, observando o disposto
neste Código, bem como as disposições da lei de organização judiciária.
Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à
mediação, não podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização
da primeira sessão, desde que necessárias à composição das partes.
A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de
seu advogado.
A audiência não será realizada:
,.. se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse
na composição consensual;
~ quand':' não se admitir a autocomposição.

O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na


autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com
10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência.

685
ANDRÊ MaTA, CRiSTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO Fl.GUElREDO, $ABR!NII DOURADO
I PROCESSO DE CONHECIMENTO
Resumo Teórico l
Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência
deve ser manifestado por todos os litisconsortes.
A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por
meio eletrônico, nos termos da lei.
O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiên-
cia de conciliação é co>1siderado ato atentatório à dignidade da jus-
tiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem
econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da
União ou do Estado.
As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou
defensores públicos.
A narte ooderá constituir reoresentante. oor meio de orocuracão
-'- j._ j._ • .._ ~

específica, com poderes para negociar e transigir.


A autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada
por sentença.
A pauta das audiências de conciliação ou de mediação será orga-
nizada de modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos
entre o início de uma e o início da seguinte.

17.8. RESPOSTA DO RÉU

CONTESTAÇÃO
A contestação é a peça de defesa por excelência.
O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15
(quinze) dias, cujo termo inicial será a data:
• da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última
sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer
ou, comparecendo, não houver autocomposição;
• do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de con-
ciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer
a hipótese do art. 334, § 4º, inciso I;
• prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a
citação, nos demais casos.

686 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL ! 3" edição


PROCESSO DE CONHECIMENTO

Resumo Teórico

Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa,


expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do
autor e especificando as provas que pretende produzir.
Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:
.. inexistência ou nulidade da citação;
,.. incompetência absoluta e relativa;
,.. incorreção do valor da causa;
• inépcia da petição inicial;
• perempção;
• litispendência;
• coisa julgada;
.. conexão;
• incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de
autorização;
• convenção de arbitragem;
• ausência de legitimidade ou de interesse processual;
• falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como
preliminar;
• indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
• Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se
reproduz ação anteriormente ajuizada.
• Uma ação é idêntica à outra quando possui as mesmas partes,
a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
• Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
• Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida
por decisão transitada em julgado.
• Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência
relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias enumeradas
neste artigo.
• A ausência de alegação da existência de convenção ·de arbi-
tragem, na forma prevista neste Capítulo, implica aceitação
da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.

:l ATENÇÃO!
Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser
o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor,

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SoBRAl.., LUCIANO FiGUEIREDO, RoBERTO FIGUEIREDO, SABR!NA DOURADO 687
Resumo Teórico J

em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substi-


tuição do réu. Realizada a substituição, o autor reembolsará as
despesas e pagará os honorários ao procurador do réu excluído,
que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa
ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8º.
Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o
sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver
conhecimento, sob pena de arcar com as despesas proçessuajs
e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da faltá de
indicação.
O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze)
dias, à alteração da petição inicial para a substituição do réu,
observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338.
No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a
petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito
indicado pelo réu.

A contestação será submetida a livre distribuição ou, se o réu


houver sido citado por meio de carta precatória, juntada aos autos
dessa carta, seguindo-se a sua imediata remessa para o juízo da causa.
Reconhecida a competência do foro indicado pelo réu, o juízo
para o qual for distribuída a contestação ou a carta precatória será
considerado prevento. Alegada a incompetência nos termos do caput,
será suspensa a realização da audiência de conciliação ou de mediação,
se tiver sido designada.
Definida a competência, o juízo competente designará nova data
para a audiência de conciliação ou de mediação.
Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as
alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se ver-
dadeiras as não impugnadas, salvo se:
.. não for admissível, a seu respeito, a confissão;
~ a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que
a lei considerar da substância do ato;
~ estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu
conjunto.

688 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL I 3a edição


\ Resumo Teórico

0 ' s da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao


onu d .
defensor público, ao advogado dativo e ao cura or espec1a1.

Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações


quando: .
~ relativas a direito ou a fato supervemente;
~ competir ao juiz conhecer delas de ofício;
~ por expressa autorização legal, P'::derem ser formuladas em c

qualquer tempo e grau de jurisdiçao.

RECONVENÇÃO
Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar
pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento
da defesa.
Proposta a reconvenção, o autor será intimado, na pessoa de seu
advogado, para apresentar resposta no prazo de 15 (quinze) dias.
A desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que
impeça 0 exame de seu mérito não obsta ao prosseguimento do pro-
cesso quanto à reconvenção. .
A reconvenção pode ser proposta contra o autor e terceuo.
A reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com
terceiro. d ' afi
Se 0 autor for substituto processual, o reconvinte ever_a rma;
ser titular de direito em face do substituído, e a reconvençao devera
ser proposta em face do autor, também na qualidade de substJtuto
processual. _ .
Vale lembrar que 0 réu pode propor reconvençao mdependente-
mente de oferecer contestação.

17.9. REVELIA

Se 0 réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-


-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor.

689
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fJGUE!REDO, ROBERTO frGÚEtKEDO, SABKINA DOURADO
I PROCESSO DE CONHECIMENTO
Resumo Teórico l
A revelia não produz o efejto mencionado no art. 344 se:
> havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;
,. o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
,. a petição inicial não estiver acompanhada de instrumet]tto que
a lei considere indispensável à prova do ato;
> as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis
ou estiverem em contradição com prova constante dos autos.

Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão
da data de publicação do ato decisório no órgão oficial.
O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, receben-
do-o no estado em que se encontrar.

17.10. JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO


PROCESSO

Extinção do Processo
Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487,
incisos li e III, o juiz proferirá sentença.
A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas
parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de
instrumento.

JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO


O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença
com resolução de mérito, quando:
> não houver necessidade de produção de outras provas;
> o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver
requerimento de prova, na forma do art. 349.

JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO


Eis uma novidade.

h OI) EmTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CtVIL I 3" edição


PRocEsso DE CoNHECIMENTO
Resumo Teórico

O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos


pedidos formulados ou parcela deles: "
,. mostrar-se incontroverso;
> estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do
art. 355.

A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a


existência de obrigação líquida ou ilíquida. A parte poderá liquidar ou
executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar
parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja
recurso contra essa interposto.
A llquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcial-
mente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a
requerimento da parte ou a critério do juiz.
A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por
agravo de instrumento.

17.11. SANEAMENTO .E DA ORGANIZAÇÃO DO


PROCESSO

Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o


juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo:
,. resolver as questões processuais pendentes, se houver;
> delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade
probatória, especificando os meios de prova admitidos;
> definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373;
> delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do
mérito;
> designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.

Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclare-


cimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo
o qual a decisão se torna estável.

ANDRÉ MQT,o., CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBilRTO flGUEIREDO, SABRINA ÜOURAI>O 691
Resumo Teórico

As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimita-


ção consensual das questões de fato e de direito, a qual, se homologada,
vincula as partes e o juiz.
Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de
direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja
feito e:n cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se
for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações.
Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal,
o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as
partes apresentem rol de testemunhas. <\s partes devem levar, para a
audiência prevista, o respectivo rol de testemunhas.
O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a
10 (dez), sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato. O juiz·
roderá !imitar o núrnero de testemunhc..s levando em conta a cornple-
xidade da causa e dos fatos individualmente considerados.
Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz
deve observar o disposto no art. 465 e, se possível, estabelecer, desde
logo, calendário para sua realização.
As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1
(uma) hora entre as audiências.

692 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiviL J 3a edição


18.

PROVAS

18.1. NOÇÕES DA SUA TEORIA GERAL

Provas são os instrumentos utilizados pela parte para o con-


vencimento judicial.
As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem
como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste
Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido
ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz.
Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar
as provas necessárias ao julgamento do mérito. O juiz indeferirá,
em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente
protelatórias.
O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente
do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da
formação de seu convencimento. Ele poderá admitir a utilização de
prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que con-
siderar adequado, observado o contraditório.

O ônus da prova incumbe:


~ ao autor~ _quanto ao fato constitutivo de seu direito;
~ ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LuC!A.NO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO
693
I
PROVAS
Resumo Teórico \

Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa


relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir
o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova die
modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que
lhe foi atribuído. A decisão acima mencionada não pode gerar situação
em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou
excessivamente difícil.

A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer


por convenção das partes, salvo quando:
• recair sobre direito indisponíFel da parte;
~ >- tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.

A convenção pode ser celebrada antes ou durante o processo.

Não dependem de prova os fatos:


.,_ notórios;
• afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;
,.. admitidos no processo como incontroversos;
• em cujo favor milita presunção legal de existência ou de
veracidade.

O juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas


pela observação do que ordinariamente acontece e, ainda, as regras
de experiência técnica, ressalvado, quanto a estas, o exame periciaL

:>ATENÇÃO!
I A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou
I consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o
I juiz determinar.

li A carta precatória, a carta rogatória e o auxílio direto suspenderão


o julgamento da causa no caso previsto no art. 313, inciso V, alínea
\
i
PROVAS I
I Resumo Teórico

"b", quando, tendo sido requeridos antes da decisão de saneamento


a prova neles solicitada for imprescindível. '
A carta precatória e a carta rogatória não devolvidas no prazo
ou concedidas sem efeito suspensivo poderão ser juntadas aos autos
a qualquer momento.
Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário
para o descobrimento da verdade.

. Pres~rvado o direito de não produzir prova contra si própria,


mcumbe a parte:
• comparecer em juízo, respondendo ao que lhe for interrogado;
~ colaborar com o juizo na realização de inspeção judicial que
for considerada necessária; •
• praticar o ato que lhe for determinado.

Incumbe ao terceiro, em relação a qualquer causa:


• informar ao juiz os fatos e as circunstâncias de que tenha
conhecimento;
• exibir coisa ou documento .que esteja em seu poder.

Poderá o juiz, em caso de descumprimento, determiv.ar, além da


imposição de multa, outras medidas indutiv~s, coercitivas, manda-
mentais ou sub-rogatórias.

18.2. PRODUÇÃO ANTECIPADA DA PROVA

A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que:


• haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou
muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação;
• a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a auto-
composição ou outro meio adequado de solução de conflito;
• o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o
ajuizamento de ação.

ANDRÉ MoTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO flGUEIREDO. ROBERTO flGUEtnEDO, SABRINA DOURADO 695
A produção antecipada da prova é da competência do juízo do
foro onde esta deva ser produzida ou do foro de domicílio do réu.
A produção antecipada da prova não previne a competência do juízo
para a ação que venha a ser proposta.
O juízo estadual tem competência para produção antecipada
de prova re~juerida em face da União, de entidade autárquica ou de
empresa pública federal se, na localidade, não houver vara federal.
Aplicam-se às disposições acima àquele que pretender justificar a
existência de algum fato ou relação jurídica para simples documento
e sem caráter contencioso, que exporá, em petição circunstanciada,
a sua intenção.
Na petição, o requerente apresentará as razões que justificam a
necessidade de antecipação da prova e mencionará com precisão os
btos sobre os quais a prova há de recair.
O juiz determinará, de ofício ou il, requerimento da parte, a cita-
ção de interessados na produção da prova ou no fato a ser provado,
salvo se inexistente çaráter contencioso. Ele não se pronunciará sobre
a ocorrência ou a inocorrência do fato, nem sobre as respectivas con-
sequências jurídicas.
Os interessados poderão requerer a produção de qualquer prova
no mesmo procedimento, desde que relacionada ao mesmo fato, salvo
se a sua produção conjunta acarretar excessiva demora.
Neste procedimento, não se admitirá defesa ou recurso, salvo
contra decisão que indeferir totalmente a produção da prova pleiteada
pelo requerente originário.
Os autos permanecerão em cartório durante 1 (um) mês para
extração de cópias e certidões pelos interessados. Findo o prazo, os
autos serão entregues ao promovente da medida.

696 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL ! Y edição


19.

PRo V AS EM EsPÉCIE

19.1. ATA NOTARIAL

Em linhas gerais, a ata notarial é um instrumento público, lavrado


por tabelião de notas (Lei Federal nº 8.935/94, art. 7º, III) ~ requenmento
de pessoa interessada, que se destina a a~estar (atraves dos sentidos
do próprio notário) e documentar a ex1sten~1a ou o modo de ex1stlr
de algum fato jurídico. O exemplo ma1s palpavel na atu~hdade talvez
seja a prova das situações documentadas na mternet e, pnnC!palmente,
nas redes sociais.
De acordo com o art. 384 a existência e o modo de existir de
algum fato podem ser atestados ou documen~~dos, a '.equerimento
do interessado, mediante ata lavrada por tabehao. Dados represen~­
dos por imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos poderao
constar da ata notarial.

19.2. DEPOIMENTO PESSOAL

Depoime~to pessoal é o ato praticado pela parte, mediante provo-


cação da parte contrária, de comparecer em Jmzo quando convocada
pelo juiz, a fim de prestar esclarecimentos sobre os fatos de mteresse
da causa.

ANDRÍó MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LuCIANO FIGUEIREDO, ROilERTO FIGUEJREDO, SABRINA DouRADO
697
I PROVAS EM ESPÉCIE
Resumo Teórico l
I

Cabe à parte requerer o depoimento pessoal da outra parte, a fim


de que esta seja interrogada na audiência de instrução e julgamento,
sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo de ofício.
Se a parte, pessoalmente intimada para prestar depoimento
pessoal e advertida da pena de confesso, não comparecer ou, compa-
recendo, se recusar a depor, o juiz aplicar-lhe-á a pena.

:>ATENÇÃO!
É vedado a quem ainda não depôs assistir ao interrogatório
da outra parte. O depoimento pessoal da parte que residir em
comarca, seção ou subseção judiciária diversa paquela onde
tramita o processo poderá ser colhido por meio de videoconte-
rência ou outro reCurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real, o que poderá ocorrer, inclusive, durante
a realização daaudiência de instrução e julgamento.

Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao


que lhe for perguntado ou empregar evasivas, o juiz, apreciando as
demais circunstâncias e os elementos de prova, declarará, na sentença,
se houve recusa de depor.
'A parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não
podendo servir-se de escritos anteriormente preparados, permitindo-
-lhe o juiz, todavia, a consulta a notas breves, desde que objetivem
completar esclarecimentos.

A parte não é obrigada a depor sobre fatos:


• criminosos ou torpes que lhe forem imputados;
• a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo;
> acerca dos quais não possa responder sem desonra própria,
de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau
sucessível;
> que coloquem em perigo a vida do depoente ou das pessoas
referidas acima.

-ç,w,.,.... .,A ,l.,M~n<1o 1 PnÃTICACIVIL 1 3" edição


PRoVAS EM EsPÉCIE I
I Resumo Teórko

:>EXCEÇÃO!
Esta disposição não se aplica às ações de estado e de família.

19.3. CONFISSÃO

Há confissão, judicial ,;u extrajudicial, quando a parte admite a


verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao do adversário.
Vale ressaltar que a confissão judicial pode ser espontânea ou
provocada. Ademais, a confissão espontânea pode ser feita pela pró-
pria parte ou por representante com poder especial. Já a confissão
provocada constará do termo de depoimento pessoal.
A confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudi-
cando, todavia, os litisconsortes. Ela tem caráter personalíssimo.
Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou direitos reais
sobre imóveis alheios, a confissão de um cônjuge ou companheiro
não valerá sem a do outro, salvo se o regime de casamento for o de
separação absoluta de bens.

:>ATENÇÃO!
Não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos relàtivos
a direitos indisponíveis.
A confissão será ineficaz se feita por quem não for capaz de
dispor do direito a que se referem os fatos confessados. Quando
ela é feita por um representante somente é eficaz nos limites em
que este pode vincular o representado.
Ademais, ela é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu
de erro de fato ou de coação.
A legitimidade para a ação prevista acima é exclusiva do confi-
tente e pode ser transferida a seus herdeiros se ele falecer após
a propositura.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO flGUE!ItEDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 699
A confissão extrajudicial, quando feita oralmente, só terá eficácia
nos casos em que a lei não exija prova literal. Ela é, em regra, indivisí-
vel, não podendo a parte que a quiser invocar como prova aceitá-la no
tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável, porém
cindir-se-á quando o confitente a ela aduzir fatos novos, capazes de
constituir fundame,1to de defesa de direito material ou de reconvenção.

19.4. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO OU COISA

O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que


se encontre em seu poder.

O pedido formulado pela parte conterá:


• a individuação, tão completa quanto possível, do documento
ou da coisa;
• a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam
com o documento ou com a coisa;
• as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar
que o documento ou a coisa existe e se acha em poder da parte
contrária.

O requerido dará sua resposta nos 5 (cinco) dias subsequentes à


sua intimação. Se o requerido afirmar que não possui o documento ou
a coisa, o juiz permitirá que o requerente prove, por qualquer meio,
que a declaração não corresponde à verdade.

O juiz não admitirá a recusa se:


• o requerido tiver obrigação legal de exibir;
• o requerido tiver aludido ao documento ou à coisa, no processo,
com o intuito de constituir prova;
• o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.

Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos


que, por meio do documento ou da coisa, a parte pretendia provar se:

700 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL I Y edição


j Resumo Teórico

• requerido não efetuar a exibição nem fizer nenhuma decla-


0
ração no prazo do art. 398;
• a recusa for havida por ilegítima.

Sendo necessário, o juiz pode adotar medidas indutivas, coer-


citivas, mandamentais ou sub-rogatórias para que o documento seja
exibido.

19.5. PROVA DOCUMENTAL

Documento é todo e qualquer objeto que possa cristalizar, que


possa tornar duradouro o registro de um fato ef~mero, p~ssa~eir~. ;.
Ao contrário do que comumente se pensa/ aocutnen\.o na.o . . . s ....
0
objeto formado pela palavra escrita, já que diversas são as formas
de se registrar um fato. Assim, no direito processual, o conceito do
que seja documento abrange objetos diversificados.

19.5.1. foRÇA PROBANTE DOS DOCUMENTOS

o documento público faz prova não só da sua formação, mas


também dos fatos que o escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião ou
0
servidor declarar que ocorreram em sua presença.
Quando a lei exigir instrumento público como da substân~ia do
ato, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode supnr-lhe
a falta.
o documento feito por oficial público incompetente ou sem a
observância das formalidades legais, sendo subscrito pelas partes,
tem a mesma eficácia probatória do documento particular.
As declarações constantes do documento particular escrito e
assinado ou somente assinado presumem-se verdadeiras em relação
ao signatário. Quando, todavia, contiver declaração. de. ciência ~e
determinado fato, o documento particular prova a CienCla, mas nao

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO So&RAI.., LUCIANO fJGt;I:IREDO, ROBERTO F!GUEÜI.EDO, SA6RINA DouRADO
701
I PROVAS EM ESPÉCIE
Resumo Teórico l
o fato em si, incumbindo o ônus de prová-lo ao interessado em sua
veracidade.
A data do documento particular, quando a seu respeito surgir
dúvida ou impugnação entre os litigantes, provar-sé-á por todos os
meios de direito.

Em relação a terceiros, considerar-se-á datado o documento


• particular:
• no dia em que foi registrado;
• desde a morte de algum dos signatários;
• a partir da impossibilidaçle física que sobreveio a qualquer
dos signatários;
• da sua apresentação em repartição pública ou em juízo;
> do ato ou do fato que estabeleça, de modo certo, a anterioridade
da formação do documento.

Considera-se autor do documento particular:


.,_ aquele que o fez e o. assinou;
• aquele por conta de quem ele foi feito, estando assinado;
• aquele que, mandando compô-lo, não o firmou porque, con-
forme a experiência comum, não se costuma assinar, como
livros empr.esariais e assentos domésticos.

No art. 411, sinaliza que se considera autêntico o documento


quando:
• o tabelião reconhecer a firma do signatário;
• a autoria estiver identificada por qualquer outro meio legal de
certificação, inclusive eletrônico, nos termos da lei;
> não houver impugnação da parte contra quem foi produzido
o documento.

O documento particular de cuja autenticidade não se duvida


prova que o seu autor fez a declaração que lhe é atribuída. Ele é
admitido expressa ou tacitamente é indivisível, sendo vedado à parte
que pretende utilizar-se dele aceitar os fatos que lhe são favoráveis
e recusar os que são contrários ao seu interesse, salvo se provar que
estes não ocorreram.

702 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


PROVAS EM ESPÉCIE I
I
! Resumo Teóríco

O telegrama, o radiograma ou qualquer outro meio de trans-


missão tem a mesma força probatória do documento particular se
o original constante da estação expedidora tiver sido assinado pelo
remetente. A firma do remetente poderá ser reconhecida pelo tabelião,
declarando-se essa circunstância no original depositado na estação
expedidora.
O telegrama ou o radiograma presume-se conforme com o ori-
ginal, provando as datas de sua expedição e de seu recebimento pelo
destinatário.

A falsidade deve ser suscitada na contestação, na réplica ou no


prazo de 15 (quinze) dias, contado a partir da intimação da juntada
do documento aos autos. Uma vez arguida, a falsidade será resolvida
como questão incidental, salvo se a parte requerer que o juiz a decida
como questão principal, nos termos do inciso li do art. 19.
A parte arguirá a falsidade expondo os motivos em que funda a
sua pretensão e os meios com que provará o alegado.
Depois de ouvida a outra parte no prazo de 15 (quinze) dias, será
realizado o exame pericial. Não se procederá ao exame pericial se a
parte que produziu o documento concordar em retirá-lo.
A declaração sobre a falsidade do documento, quando suscitada
como questão pri::J.cipal, constará da parte dispositiva da sentença e
sobre ela incidirá também a autoridade da coisa julgada.

19.5.3. PRODUÇÃO DA PROVA DOCUMENTAL

Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com


os documentos destinados a provar suas alegações.
Quando o documento consistir em reprodução cinematográfica
ou fonográfica, a parte deverá trazê-lo nos termos do caput, mas sua
exposição será realizada em audiência, inthnando-se previamente
as partes.

ANORÉ MOTA, CRISTIM'0 $OBRAI., LUCIANO FtGL!EIRJ;Do, ROilf:RTO FIGlfEIRf.DO, SAIIRINA DOURADO 703
Resumo Teórico

É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documen-


tos novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois
dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos
autos.
Admite-se também a juntada posterior de documentos formados
após a petição inicial o:3 a contestação, bem como dos que se torna-
~am conhecidos, acessíveis ou disponíveis após esses atos, cabendo
a_rarte que os produzir comprovar o motivo que a impediu de jun-
ta-los antenormente e incumbindo ao juiz, em qualquer caso, avaliar
a conduta da parte.

A parte, intimada a falar sobre documento constante dos autos,


poderá:
• impugnar a admissibilidade da prova documental;
• impugnar sua autenticidade;
• suscitar sua falsidade, com ou sem deflagração do incidente
de arguição de falsidade;
• manifestar-se sobre seu conteúdo.

O réu manifestar-se-á na contestação sobre os documentos anexa-


dos à inicial, e o autor manifestar-se-á na réplica sobre os documentos
anexados à contestação. Sempre que uma das partes requerer a juntada
de documento aos autos, o juiz ouvirá, a seu respeito, a outra parte,
que disporá do prazo de 15 (quinze) dias para adotar qualquer das
posturas indicadas no art. 436.
Poderá o juiz, a requerimento da parte, dilatar o prazo para
manifestação sobre a prova documental produzida, levando em con-
sideração a quantidade e a complexidade da documentação.

O juiz requisitará às repartições públicas, em qualquer tempo


ou grau de jurisdição:
• as certidões necessárias à prova das alegações das partes;
• os procedimentos administrativos nas causas em que forem
interessados a União, os Estados, o Distrito Federal, os Muni-
cípios ou entidades da administração indireta.

704 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL ! 3" edição


r
Resumo T~rico

Recebidos os autos, o juiz mandará extrair, no prazo máximo e


· a'vel de 1 (um) mês certidões ou reproduções fotográficas
1mprorrog ' . .
das peças que indiçar e das ~ue fore~ md1cadas pelas partes, e, em
seguida, devolverá os autos a repartlçao de ongem.
As repartições públicas poderão fornecer todos os documentos em
meio eletrônico, conforme disposto em le1, certificando, pelo mesmo
meio, que se trata de extrato fiel do que consta em s"u banco de dados
ou no documento digitalizado.

19.5.4. DocuMENTOS ELETRÔNICOS

Documento eletrônico ~todo registro que tem como meio físico


,m "morte eletrônico. É importante notar que, para a plena eficácia
~;~ba{ória do documento, é preciso que ele possua a capacidade de
armazenar informações de forma que Impeça ou permita detectar
eliminacão ou adulteração de conteúdo.
A ,;tilização de documentos eletrônicos no processo convencional
dependerá de sua conversão à forma impressa e da verificação de sua
autenticidade, na forma da lei.
o ·uiz apreciará 0 valor probante do documento eletrônico não
conver~ido, assegurado às partes o acysso ao seu teor. Serão admitidos
documentos eletrônicos produzidos e conservados com a observância
da legislação específica.

19.6. PROVA TESTEMUNHAL

Prova testemunhal é a narração, por pessoa capaz, imparcial e


estranha ao processo, de fatos importantes à s_olução d~ litígio, por ela
conhecidos sensorialmente (por meio da v1sao, aud1çao etc.).
Muitas foram as mudanças implementadas na prova testemunhal.

705
ANDRÊ MOTA, CRISTIANO Sol>R..O,.L, LUCJA~O FJGUEIP.HOO, ROBERTO FiGUEIREDO, SABR!NA DOURADO
I PROVAS EM ESPÉCIE
Resumo Teóricol

19.6.1. ADMISSIBILIDADE• E DO VALOR DA PROVA


TESTEMUNHAL

A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei


de modo diverso.

O juiz indeferirá a inquirição de testemunhas sobre fatos:


• já provados por documento ou confissão da parte;
• que só por documento ou por exame pericial puderem ser
provados.

Nos casos em que a Iei exigir prova escrita da obrigação,~ adnüs-



sível a prova testemunhal quando houver começo de prova por escrito,
emanado da parte contra a qual se pretende produzir a prova.
Também se admite a prova testemunhal quando o credor não
pode ou não podia, moral ou materialmente, obter a prova escrita da
obrigação, em casos como o de parentesco, de depósito necessário ou
de hospedagem em hotel ou em razão das práticas comerciais do local
. onde contraída a obrigação.

É lícito à parte provar com testemunhas:


• nos contratos simulados, a divergência entre a vontade real e
c
a vontade declarada;
• nos contratos em geral, os vícios de consentimento.

19.6.2. PRODUÇÃO DA PROVA TESTEMUNHAL

O rol de testemunhas conterá, sempre que possível, o nome, a


profissão, o estado civil, a idade, o número de inscrição no Cadastro
de Pessoas Físicas, o número de registro de identidade e o endereço
completo da residência e do local de trabalho.

Depois de apresentado o rol de que tratam os §§ 4º e 52 do art.


357, a parte só pode substituir a testemunha:
• que falecer;

701> F.OITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL ! 3


3
edição
PROVAS EM ESPÉCIE I
/ Resumo Teórico

• que, por enfermidade, não ~stiver em condições de depor;


• que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho, não
for encontrada.

Quando for arrolado como testemunha, o juiz da causa:


• declarar-se-á impedido, se tiver conhecimento de fatos que
possam influir na decisão, caso em que será vedado à parte
que o incluiu no rol desistir de seu depoimento;
,. se nada souber, mandará excluir o seu nome.

As testemunhas depõem, na audiência de instrução e julgamento,


rerante o j11i7 da cnusa, exceto:
• as que prestam depoimento antecipadamente;
• as que são inquiridas por carta.

:l ATENÇÃO!
A oitiva de testemunha que residir em comarca, seção ou subse-
ção judiciária diversa daquela onde trari:lita o processo poderá
ser realizada por meio de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão e recepção de sons e imagélls em
tempo real, o que poderá ocorrer, inclu~ive, durante a audiência
de instrução e julgamento. · ·

Cabe ao advogado da parte informar ou intimar a testemullha


por ele arrolada do dia, da hora e do local da audiência designada,
dispensando-se a intimação do juízo.
A intimação deverá ser realizada por carta com aviso de recebi-
mento, cumprindo ao advogado juntar aos autos, com antecedência de
pelo menos 3 (três) dias da data da audiência, cópia da correspondência
de intimação e do comprovante de recebimento.
A parte pode comprometer-se a levar a testemunha à audiência,
independentemente da intimação de que trata o § 12, presumindo-
-se, caso a testemunha não compareça, que a parte desistiu de sua
inquirição.

ANDRÉ MOTA, CR!S'l!ANO SoBRAL, LliC!~NO J:i(;UEIRI!üO, ROBERTO FIGUEIREDO, SA!lRINA DoURADO 707
Resumo Teórico !

A inércia na realização da intimação importa desistência da


inquirição da testemunha.
A testemunha que, intimada, deixar de comparecer sem motivo
justificado será conduzida e responderá pelas despesas do adiamento.
O juiz inquirirá as testemunhas separadas e sucessivamente,
primeiro as do autor e depoi::: as do réu, e providenciará para que
uma não ouça o depoimento das outras.
O juiz poderá alterar a ordem estabelecida no caput se as partes
concordarem.
Antes de depor, a testemunha será qualificada, declarará ou con-
firmará seus dados e informará se tem relações de parentesco com a
parte ou interesse no objeto do processo.
É lícito à parte contraditar a testemunha, arguindo-lhe a inca-
pacidade, o impedimento nu a .~uspeição, bem como, caso a testemu-
nha negue os fatos que lhe são imputados, provar a contradita com
documentos ou com testemunhas, até 3 (três), apresentadas no ato e
inquiridas em separado.
Sendo provados ou confessados os fatos o juiz dispensará a tes-
temunha ou lhe tornará o depoimento corno informante.
A testemunha pode requerer ao juiz que a escuse de depor, ale-
gando os motivos previstos neste Código, decidindo o juiz de plano
após ouvidas as partes.
Ao início da inquirição, a testemunha prestará o compromisso
de dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado.
O juiz advertirá à testemunha que incorre em sanção penal quem
faz afirmação falsa, cala ou oculta a verdade.
As perguntas serão formuladas pelas partes direcamente à teste-
munha, começando pela que a arrolou, não admitindo o juiz aquelas
que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com as questões
de fato objeto da atividade probatória ou importarem repetição de
outra já respondida.
O juiz poderá inquirir a testemunha tanto antes quanto depois
da inquirição feita pelas partes.
As testemunhas devem ser tratadas com urbanidade, não se
lhes fazendo perguntas ou considerações impertinentes, capciosas
ou vexatórias.

708 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CiviL ! 3a edição


rResumo Teórico
. . .ndeferir serão transcritas no termo, se
As perguntas que o JUlZ I
a parte o requerer.

19.7. PROVA PERICIAL

.. l const'ste em exame, vistoria ou avaliação. Ela foi


A prova pencta .
muito modificada com o novo código de Rttos.

Vale lembrar que o juiz indeferirá a perícia quando: . ld


f to não depender de conheCimento espeCJa e
.,. aprova d o a
•técnico; d idas·
• for desnecessária em vista de outras provas pro uz '
• a verificação for impraticável.

De ofício ou a requerimento das partes, o juiz po.derá, em su~~


. dução de prova tecmca s1mp 1 -
tituição à perícia, deterrnmar a ;.~o for de menor complexidade. Eis
d uando o ponto controver t o -
ca a, q d' t que merece nossas consideraçoes
uma facilitação de proce ,men o
elogiosas.

:>ATENÇÃO!
A rova técnica simplificada consistirá apenasna inquirição de
P . l' ta pelo ).uiz sobre ponto controvertido da causa que
espec1a1s, ' ,. , ·
demande especial conhecimento cientifico ou tecmco.

Durante a arguição, o especialista, que deverá ter form~ção aca-


dêmica específica na área objeto de seu depoi~ento, poderavaler-s:
de ual uer recurso tecnológico de transmissao de sons e Irnagen
q fiqm de esclarecer os pontos controvertidos da causa.. fi ,
com o . b' t d períc1a e xara
O juiz non;teará perito especializado no o Je o a .
de imediato o prazo para a entrega do laudo.
Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da inti-
mação do despacho de nomeação do pento:

709
' L . o FIGUEIREDO, ROBERTO ftGÚEIREDO, 5Al>R!NA DOURADO
ANDRE MOTA, CRISTIANO SOBRAL, UUAN
I
PROVAS EM ESPÉCIE

Resumo Teóricol

• arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso;


,.. indicar assistente técnico;
,.. apresentar quesitos.

Nessa toada, ciente da nomeação, o perito apresentará em 5


(cinco) dias:
• proposta de honorários;
.,. currículo, com comprovação de especialização;
• contatos profissionais, em especial o endereço eletrônico, para
onde serão dirigidas as intimações pessoais.

i 1... s partes serão intimadas da proposta de honorários para, que-


rendo, manifestarem-se no prazo comum de 5 (cinco) dias, após o que
o juiz arbitrará o valor, intimando-se as partes para os fins do art. 95.
O juiz poderá autorizar o pagamento de até cinquenta por cento
dos honorários arbitrados a favor do perito no início dos trabalhos,
devendo o remanescente ser pago apenas ao final, depois de entregue
o laudo e prestados todos os esclarecimentos necessários.
Quando a perícia for inconclusiva ou deficiente, o juiz poderá
reduzir a remuneração inicialmente arbitrada para o trabalho.
Quando tiver de realizar-se por carta, poder-se-á proceder à
nomeação de perito e à indicação de assistentes técnicos no juízo ao
qual se requisitar a perícia.
O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi come-
tido, independentemente de termo de compromisso.
O perito pode escusar-se ou ser recusado por impedimento ou
suspeição.
O juiz, ao aceitar a escusa ou ao julgar procedente a impugnação,
nomeará novo perito.
Se ele deixar de cumprir o encargo no prazo assinalado, o
juiz comunicará a ocorrência à corporação profissional respectiva,
podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor
da causa e o possível prejuízo decorrente do atraso no processo.
O perito substituído restituirá, no prazo de 15 (quinze) dias,
os valores recebidos pelo trabalho não realizado, sob pena de ficar
impedido de atuar como perito judicial pelo prazo de 5 (cinco) anos.

710 EDITORA AltMM)OR I PRÃTtCA CIVIL I Y edição


PROVAS EM ESPÉCIE I
/ Resumo Teórico

Não ocorrendo a restituição voluRtária de que trata o§ 2º, a parte


que tiver realizado o adiantamento dos honorários poderá promover
execução contra o perito, na forma dos arts. 513 e seguintes deste
Códig<i>, com fundamento na decisão que determinar a devolução do
numerário.
As partes poderão apresentar quesitos suplementares durante
a diligência, que poderão ser respondidos pelo perito previamente
ou na audiência de instrução e julgamento. O escrivão dará à parte
contrária ciência da juntada dos quesitos aos autos.
O perito e os assistentes técnicos devem entregar, respectiva-
mente, laudo e pareceres em prazo fixado pelo juiz.
A t-wrfr1;:~ ron~Pn~ual substitui. oara todos os efeitos, a que seria
~~r~~~-~~---------- 'l A

realizada por perito nomeado pelo juiz.


O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na
inicial e na contestação, apresentarem, sobre as questões de fato, pare-
ceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes.

O laudo pericial deverá conter:


• a exposição do objeto da perícia;
• a análise técnica ou científica realizada pelo perito;
• a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demons-
trando ser predominantemente aceito pelos especialistas da
área do conhecimento da qual se originou;
• resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz,
pelas partes e pelo órgão do Ministério Público.

No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em lin-


guagem simples e com coerência lógica, indicando como alcançou
suas conclusões.
É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação,
bem como emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou
científico do objeto da perícia.
Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técni-
cos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemu-
nhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em
poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como

AI'•Hmf: MOTA, CRISTIANO SOBRAl,, LtJ(.;lANO fJGliEIRI'.PO, RORERTO FIGlTEJREDO, SI\RRINA DOURADO 711
Resumo Teórico

instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias


ou outros elementos necessários ao esclarecimento do çbjeto da perícia.
As partes terão ciência da data e do local designados pelo juiz ou
indicados pelo perito para ter início a produção da prova.
Tratando'se de perícia complexa que abranja mais de uma área
de conhecimento especializado, o jiuiz poderá nomear mais de um
perito, e.a parte, indicar mais de um assistente técnico.
Se o perito, por motivo justificado, não puder apresentar o laudo
dentro do prazo, o juiz poderá conceder-lhe, por uma vez, prorrogação
pela metade do prazo originalmente fixado.
O perito protocolará o laudo em juízo, no prazo fixado pelo
juiz, pelo menos 20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e
julgamento.
As partes serão intimrtdr~s pnra, querendo, rnarüfestarem-se
sobre o laudo do perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) dias,
podendo o assistente técnico de cada uma das partes, em igual prazo,
apresentar seu respectivo parecer.

O perito do juízo tem o dever de, no prazo de 15 (quinze) dias,


esclarecer ponto:
• sobre o qual exista divergência ou dúvida de qualquer das
partes, do juiz ou do órgão do Ministério Público;
> divergente apresentado no parecer do assistente técnico da
parte.

Se ainda houver necessidade de esclarecimentos, a parte requererá


ao juiz que mande intimar o perito ou o assistente técnico a compa-
recer à audiência de instrução e julgamento, formulando, desde logo,
as perguntas, sob forma de quesitos.
O perito ou o assistente técnico será intimado por meio eletrônico,
com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência da audiência.
Quando o exame tiver por objeto a autenticidade ou a falsidade
de documento ou for de natureza médico-legal, o perito será esco-
lhido, de preferência, entre os técnicos dos estabelecimentos oficiais
especializados, a cujos diretores o juiz autorizará a remessa dos autos,
bem como do material sujeito a exame.

712 EDITORA ARM ..o,DOR I PRÁTICA ÜVIL l 3a edição


\ Resumo Teórico

Nas hipóteses de gratuidade de justiça, os órgãos e as re~artições


oficiais deverão cumprir a determinação judicial com preferencta, no
prazo estabelecido.

19.8. INSPEÇÃO JUDICIAL

. -o l·udicial é meio de prova que consiste no contato direto


A mspeça
. lugar relacionado com o 1·ttlgto.
· · C orno
do juiz com pessoa, c01sa ou . d
. d prova serve a promover o conhecimento do JUlga or
to d oomelo e ' . d C odiz
a respeito de fatos relevantes para o julgamento a causa. fiom de se
o CPC, o juiz inspeciona pessoalm:'nte p~ssoa ou cOlsa a m
esclarecer sobre fato, que interesse a deetsao da causa. l
.
0 · · de ofício ou a requenmeniO , ua
~ p--'e
au ,
pode-' a-m
..._~H
qn::~ QUPr
-~~ 1 --

fase dol;~~cesso, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer


sobre fato que interesse à decisão da caus~. . .
Ao realizar a inspeção, o juiz podera ser asststldo por um ou
mais peritos.

. . . , ao local onde se encontre a pessoa ou a coisa quando:


O JUlZlfa · · t t -
• julgar necessário para a melhor verificação ou m erpre aça0
dos fatos que deva observar; . , .
,. a coisa não puder ser apresentada em juízo sem constderavels
despesas ou graves dificuldades;
I> determinar a reconstituição dos fatos.

As artes têm sempre direito a assistir à inspeção, prestando


esclarecfrnentos e fazendo observações que considerem de mteresse
para a causa. · stan
Concluída a diligência, o juiz mandará lavrar au1o ctrcun -
. do mencionando nele tudo quanto for útil ao julgamento da causa.
cta ' nh 'fi fotografia
O auto poderá, ser instruído com dese o, gra co ou .

• S LUCIANO fJGUElRf.DO, ROBERTO f!GUEIREDO, $AJIRINA DOURADO


713
ANDRE MOTA, C!USTIANO ORRAL,
I
PROVAS EM ESPÉCIE
Resumo Teórico ]

19.9. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

No dia e na hora designados) o juiz declarará aberta a audiência


de instrução e julgamento e mandará apregoar as partes e os respecti-
vos advogados, bem como outras pessoas que dela devam participar.
Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, inde-
pendentemente do emprego ~nterior de outros métodos de solução
consensual de conflitos, como a mediação e a arbitragem.

O juiz exerce o poder de polícia, incumbindo-lhe:


' .- manter a ordem e o decoro na audiência;
~ ordenar que se retirem da sala de audiência os que se compor-
tarem inconvenientemente;
~ requisitar, quando necessário, força policial;
,. tratar com urbanidade as partes, os advogados, os membros do
Ministério Público e da Defensoria Pública e qualquer pessoa
que participe do processo; - registrar em ata:_ com exatidão,
todos os requerimentos apresentados em audJenCia.

As provas orais serão produzidas em audiência, ouvindo-se nesta


ordem, preferencialmente: .
~ 0 perito e OS assistentes técnicos, que responderão aOS quesitOS
de esclarecimentos requeridos no prazo e na forma do art. 477,
caso não respondidos anteriormente por escrito;
~ 0 autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoimentos
pessoais; , _
,. as testemunhas arroladas pelo autor e pelo reu, que serao
inquiridas.

Enquanto depuserem o perito, os assistentes técnic~s'. as ~artes


e as testemunhas, não poderão os advogados e o Mm1steno Publico
intervir ou apartear, sem licença do juiz.

A audiência poderá ser adiada:


,. por convenção das partes;

71<1 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA ÜVlL 1 3a edição


PROVAS EM EsPÉCIE j
I Resumo Teórico

,. se não puder comparecer, por <motivo justificado, qualquer


pessoa que dela deva necessariamente participar;
,. por atraso injustificado de seu início em tempo superior a 30
, minutos do horário marcado.
(trinl.!l)

O impedimento deverá ser comprovado até a abertura da audiên-


cia, e, não o sendo, o juiz procederá à instrução.
O juiz poderá dispensar a produção das provas requeridas pela
parte cujo advogado ou defensor público não tenha comparecido à
audiência, aplicando-se a mesma regra ao Ministério Público.
Quem der causa ao adiamento responderá pelas despesas acres-
cidas.
Havendo antecipação ou adiamento da audiência, o juiz, de ofícip
ou a requerimento da parte, determinará a intimação dos advogados
ou da sociedade de advogados para ciência da nova designação.
Finda a instrução, o juiz dará a palavra ao advogado do autor
e do réu, bem como ao membro do Ministério Público, se for o caso
de sua intervenção, sucessivamente, pelo prazo de 20 (vinte) minutos
para cada um, prorrogável por 10 (dez) minutos, a critério do juiz.
Havendo litisconsorte ou terceiro interveniente, o prazo, que
formará com o da prorrogação um só todo, dividir-se-á entre os do
mesmo grupo, se não convencionarem de modo diverso.
Quando a causa apresentar questões complexas de fato ou de
direito, o debate oral poderá ser substituído por razões finais escritas,
que serão apresentadas pelo autor e pelo réu, bem como pelo Minis-
tério Público, se for o caso de sua intervenção, em prazos sucessivos
de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos.
A audiência é una e contínua, podendo ser excepcional e justi-
ficadamente cindida na ausência de perito ou de testemunha, desde
que haja concordância das partes.
Diante da impossibilidade de realização da instrução, do debate
e do julgamento no mesmo dia, o juiz marcará seu prosseguimento
para a data mais próxima possível, em pauta preferencial.
Encerrado o debate ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá
sentença em audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias.

AN11RÉ MO'rA, CR!STii\.NO SoBRAL, LUCii\.NO F!CUE!REDO, ROBERTO FIGUEIREDO, $ABRI NA DOURADO 715
Resumo Teórico I

O servidor lavrará, sob ditado do juiz, termo que conterá, em


resurnof o ocorrido na audiência, bem como, por extenso, os despachos,
as decisões e a sentença, se proferida no ato.
Quando o termo não for registrado em meio eletrônico, o juiz
rubricar-lhe-á as folhas, que serão encadernadas em volume próprio.
Subscreverão o termo o juiz, os advog:•dos, o membro do Ministé-
rio Público e o escrivão ou chefe de secretaria, dispensadas as partes,
exceto quando houver ato de disposição para cuja prática os advogados
não tenham poderes.
O escrivão ou chefe de secretaria trasladará para os autos cópia
autêntica do termo de audiência.
Tratando-se de autos eletrônicos, observar-se-á o disposto neste
Código, em legislação específica e nas normas internas dos tribunais.
A audiência poderá ser integralmente gravada em imagem e em
áudio, em meio digital ou analógico, desde que assegure o rápido
acesso das partes e dos órgãos julgadores, observada a legislação
específica.
A gravação a que se refere o § 5º também pode ser realizada
diretamente por qualquer das partes, independentemente de auto-
rização judicial.
A audiência será pública, ressalvadas as exceções legais.

"

716 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


20.

SENTENÇA E CoisA JuLGADA

20.1. NOÇÕES INICIAIS

Não podemos definir mais a sentença como um ato que e~tingue


processo, mas sim como um pronunciamento judicial que contem urna
das hipóteses dos arts. 485 ou 487, incisos e parágrafos, do novo CPC,
e que poderá ou não extinguir o processo.
Vejamos as hipóteses de extinção sem julgamento de mérito:

O juiz não resolverá o mérito quando:


• indeferir a petição inicial; · .
• 0 processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negli-

gência das partes; . .


• por não promover os atos e as diligências que lhe _mcumbu, o
autor abandonar a causa por mais de 30 (tnnta) d1as;
• verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desen-
volvimento válido e regular do processo;
• reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou
de coisa julgada;
• verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
• acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem
ou qua;.,do o juízo arbitral reconhecer sua competência;
• homologar a desistência da ação;

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO ftGUE!REDO, ROBERTO FiGUEIREDO, SAt'RlNA DOURAI)O
717
!SENTENÇA E COISA jULGADA
Resumo Teórico l
• em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmis-
sível por disposição legal; e
• nos demais casos prescritos no CPC/15.

:') ATENÇÃO!
O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta
a que a parte proponha de novo a ação.
No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos
·dos incisos I, IV, VI e VII do art. 485, a propositura da nova
ação depende da correção do vício que levou à sentença sem
resolução do mérito.
A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova
do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de
advogado. '

Haverá resolução de mérito quando o juiz:


• acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na recon-
venção;
• decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de
decadência ou prescrição;
• homologar:
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na
ação ou na reconvenção;
b) a transação;
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.

Ressalvada a hipótese do § 1º do art. 332, a prescrição e a deca-


dência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes
oportunidade de manifestar-se. . _
Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a dec1sao
for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento
nos termos do art. 485.

I
I
I
718 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL I Y edição
SENTENÇA E COISA jULGADA

Resumo Teórico

20.2. ELEMENTOS E DOS EFEITOS DA SENTENÇA

São elementos essenciais da sentença:


• o relatório,! que conterá os nomes das partes, a identificação
do caso, com a sun;ta do pedido e da contestação, e o registro
das principais ocorrências havidas no andamento do processo;
> os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato
e de direito;
• o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais
que as partes lhe submeterem.

:l ATENÇÃO!
O NCPC se preocupa em indicar quando uma decisão não
estará, fundamentada. Percebe-se uma exigência peculiar
quanto à qualidade da fundamentação.
Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja
ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
• se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
decidida;
• empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o
motivo concreto de sua incidência no caso;
• invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra
decisão; .. ...
• não enfrentar todos os. argument~s deduzidos no. processo
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo
julgador;
• se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar
que o caso sobjulgamento se ajusta àqueles fundamentos;
• deixar de seguir enunciado de súmula, júrispnidêriciá ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar '.a éxistên-
cia de distinção no caso eri1 julgamento a súpefa~ão do ou
entendimento.

ANDRÉ MaTA, CRISTIANO SOBRAl., LUCIANO flGUEIRRDO, ROBERTO fiGUEIR!lDO, SABRINA DOURADO 719
Resumo Teórico 1

No ca~o-de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e


os cntenos gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões
q:'e autonzam a mterferência na norma afastada e as premissas
faticas que fundamentam a conclusão.

A decisão judicial deve ser interpretada a pajtir da conjugação de


todos o~.seus el~me~tos e em conformidade com o princípio da boa-fé
O JUIZ reso.vera o mérito acolhendo ou rejeitando, no todo ou e~
parte, os p':didos formulados pelas partes.
Na açao relativ.a à obrigação de pagar quantia, ainda que for-
mulado_redi~o genenco, a decisão definirá desde logo a extensão da
obngaçao,
· · · 1d
o mdice de correção monetária' a taxa de J·uro s, o termo
Imcia e ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for
o caso, salvo quando:
~ nãofor possível determinar, de modo definitivo, o montante
dev1do;
~ a apuração_ do valor devido depender da produção de prova
de reahzaçao demorada ou excessivamente dispendiosa, assim
reconheCida na sentença.

É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida


bd~m como condenar a parte em quantidade superior ou em objet~
1verso do que lhe foi demandado.
A. . d eCisao
. - d eve ser certa, ainda que resolva relação J. urídica
condiciOnal.
Se' depms
.. · d a propositura
· da ação, algum fato constitutivo,
modi~cahvo ou ex;intivo do direito influir no julgamento do mérito,
~abera ao JUIZ toma-lo em consideração, de ofício ou a requerimento
a parte, no momento de proferir a decisão.
Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre
eIe antes de decidir.

Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:


~ par: lhe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexa-
tldoes materiais ou erros de cálculo;
~ por meio de embargos de declaração.

720 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CiVIL ! 3" edição


] Resumo Teonco

A decisão que condenar o réu ao pagamento de prestação con-


sistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de
fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão
como título constitutivo de hipoteca judiciária.

A decisão produz a hipoteca judiciária:


~ embora a condenação seja genérica;
~ ainda que o credor possa promover o cumprimento provisório
da sentença ou esteja pendente arresto sobre bem do devedor;
~ mesmo que impugnada por recurso dotado de efeito suspen--
sivo.
A hipoteca judiciária poderá ser realizada mediante apresenta-
ção de cópia da sentença perante o cartório de registro imobiliário,
indcpcr:.dente!Y1_ente de ordem judicial, de declaração expressa do juiz
ou de demonstração de urgência.
No prazo de até 15 (quinze) dias da data de realização da hipoteca,
a parte informá-la-á ao juízo da causa, que determinará a intimação
da outra parte para que tome ciência do ato. '
A hipoteca judiciária, uma vez constituída, implicará, para o
credor hipotecário, o direito de preferência, quanto ao pagamento, em
reiação a outros credores, observada a prioridade no registro.
Sobrevindo a reforma ou a invalidação da decisão que impôs o
pagamento de quantia, a parte responderá, independentemente de
culpa, pelos danos que a outra parte tiver sofrido em razão da cons-
tituição da garantia, devendo o valor da indenização ser liquidado e
executado nos próprios autos.

20.3. DA REMESSA NECESSÁRIA

No NCPC está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo


efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: ·
~ proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de
direito público;

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO F!GUEII!.EDO, ROBERTO flCUEIREDO, SABRINA DOURADO
721
SENTENÇA E COISA JULGADA

Resumo Teórico

~ que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à


execução fiscal.

Nos casos previstos acima, não interposta a apelação no prazo


legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunat e, se não o fizer,
o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.

Não se aplica o disposto acima quando a condenação ou o pro-


veito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
~ 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas
autarquias e fundações de direito público;
~ 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito
Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito
público e os Municípios que constituam capitais dos Estados;
~' 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e
respectivas autarquias e fundações de direito público.

Também não se aplica o disposto acima quando a sentença


estiver fundada em:
~ súmula de tribunal superior; •
~ acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Supe-
rior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
~ entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência;
~ entendimento coincidente com orientação vinculante firmada
no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada
em manifestação, parecer ou súmula administrativa.

20.4. JULGAMENTO DAS AÇÕES RELATIVAS ÀS


PRESTAÇÕES DE FAZER, DE NÀO FAZER E DE
ENTREGAR COISA

Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não


fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou

722 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVIL ! 3a edição


SENTENÇA E COISA jULGADA

Resumo Teórico

determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo


resultado prático equivalente.
Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prá-
tica, a reiteração ou a ccptinuação de um ilícito, ou a sua remoção, é
irrelevante a demonstr~ção da ocorrência de dano ou da existência
de culpa ou dolo.
Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conce-
der a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.
Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela
quantidade, o autor individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber
a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará individua-
lizada, no prazo fixado pelo juiz.
A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o
autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente.
A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da
multa fixada periodicamente para compelir o réu ao cumprimento
específico da obrigação.
Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade,
a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em
julgado, produzirá todos of efeitos da declaração não emitida.

20.5. COISA JULGADA

Nos termos do art. 502 do CPC de 2015, denomina-se coisa julgada


material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de
mérito não mais sujeita a recurso; o CPC de 1973, por sua vez, definia,
no art. 467, a coisa julgada material como sendo a eficácia, que torna
imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário
ou extraordinário. Logo, o termo "sentença", previsto na legislação
pretérita, foi substituído pela expressão "decisão de mérito", o que
abrange também as decisões interlocutórias de mérito.
Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imu-
tável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.

ANDRÊ MOTA, CRlSTli\SO SOURAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBCRTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 723
Resumo Teórico I

. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de


le1 nos hm1tes da questão principal expressamente decidida .

. A disposição acima se aplica à resolução de questão prejudiciaL


dec1d1da expressa e incidentemente no processo, se:
~ dessa resolução depender o julgamento do méri,to;
,. a. seu respeito tiver havido contraditório prévio :e efetivo, não
se aplicando no caso de revelia·
~ o juiz': tiver competência em r,.,:ão da matéria e da pessoa para
resolve-la como questão principal.

Não fazem coisa julgada:


~ os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance
da parte dispositiva da sentença;
~ a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.

. '!enhum juiz decidirá novamente as questões já decididas rela-


tivas a mesma lide, salvo:
~ se,_ tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobre-
vew n;odificação no estado de fato ou de direito, caso em que
podera a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença;
,. nos demais casos prescritos em lei.

. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não


prejudicando terceiros.
. É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já
decididas a cujo respeito se operou a preclusão. '
Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão dedu-
zidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia
opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido.

724
EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL J 3a edição
21.

LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

Somente a obrigação líquida pode ser objeto de ação executiva.


Líquida é a obrigação que tem determinado e mensurado o objeto
da prestação, ou seja, quando já se encontra definido o "quantum
debeatur" (valor da dívida), nas obrigações de pagar quantia, ou o
fato a ser prestado, nas obrígações de fazer, ou ai:nda o objeto a ser
entregue, nas obrigações de entregar coisa.
Nos termos do art. 509, a liquidação terá lugar quando "a sentença
condenar ao pagamento de quantia ilíquida". Ou seja, pela literal
aplicação do dispositivo, quando a posterior execução tiver por objeto
prestações pecuniárias, visando às dívidas em dinheiro.
É necessário ressaltar que o procedimento de liquidação des-
tina-se exclusivamente aos títulos executivos judiciai8, motivo pelo
qual se conclui que a iliquidez dos· títulos executivos extrajudiciais
impede, por completo, sua execução, pois deixará de ser considerado
título executivo .
Na liquidação também é vedado rediscutir a lide ou modificar a
sentença que a julgou (CPC, art. 509, parágrafo 4º).

Conheçamos suas importantes disposições:

Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida,


proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do
devedor:
~ por arbitramento, quando determinado pela sentença, con-
vencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto
da liquidação;

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBR<~.L.., LUCIANO FIGUEUHlDO, RoBERTO FiG-UEIREDO, S;,SRINA DOURADO 725
I LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA
Resumo Teórico \

• pelo procedimento comum, quando houver necessidade de


alegar e provar fato novo.

Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida,


ao credor é lícito promover simult,\ineamente a execução daquela e,
em autos apartados, a liquidação desta.
Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo arit-
mético, 0 credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da
sentença.
0 Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à dispo-
sição dos interessados programa de atualização financeira.
1'-Ja liquidação, é vedado discutir de novo ('I lide ou modificar a
sentença que a julgou.
· Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a
apres~ntação de pareceres ou documentos elucida:ivos,_ no prazo que
fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeara pento, observan-
do-se, no que couber, o procedimento da prova pericial.
Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a
intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade
de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar
contestação no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a segmr, no
que couber, o dispo.sto no Livro I da Parte Especial do NCPC.
•· A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso,
processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumpnndo
ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processua1s
pertinentes.

7).{, EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA ClvtL ! 3a edição


22.

CuMPRIMEN'fO DE SENTENÇA

22.1. NOÇÕES INICIAIS

De acordo com as alterações promovidas no CPC pela Lei 11.232/05,


as obrigações de pagar quantia consubstanciadas em título executivo
judicial não são executadas em processo autônomo de execução, mas
sim em fase do mesmo processo, denominada de fase de cumprimento
de sentença. O NCPC fortalece o sistema do sincretismo processual.
As demais espécies de obrigações previstas em títulos executi-
vos judiciais_. como a de fazer, não fazer e entregar coisa, ao menos
necessitam de fase de cumprimento de sentença, pois se efetivam
por meio da concessão de tutela específica ou por determinação de
providências que asseguram o resultado prático equivalente ao do
adimplemento, conforme regra prevista nos artigos 497 e ss., bem
corno 536 e 498 do CPC.
Até mesmo a Fazenda Pública se sujeitará ao regramento do cum-
primento de sentença, consoante dispõe o art. 534, que será estudado
na sequência.
O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar
quantia, provisório ou definitivo, far-se-á a requerimento do exequente.

O devedor será intimado para cumprir a sentença:


> pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído
nos autos;

ANDRÉ MOTA, CRiSTIANO SOBRAL, LUCIANO FJGUiilRF.DO, RüllHRTO FIGUEIREDO, SAlll\JNA DOURADO 727
Resumo Teórico

• por carta com aviso de recebimento, quando representado pela


Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído
nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV;
• por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não
tiver procurador constituído nos autos
• por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sidq revel
na fase de conhecimento. '

:>ATENÇÃO!
Se o requerimento acima indic<jdo for formulado após 1 (um)
ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita na
pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento
encaminhada ao endereço constante dos autos, observado o
disposto no parágrafo único do art. 274 e !'1.0 § 3º deste a!'tigc.
O cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face
do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não tiver
participado da fase de conhecimento.
Quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a cçmdição ou
termo, o cumprimento da sentença dependerá de demonstração
de que se realizou a condição ou de que ocorreu o termo.

São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de


acordo com''os artigos previstos neste Título:
• as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a
exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não
fazer ou de entregar coisa;
• a decisão homologatória de autocomposição judicial;
• a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de
qualquer natureza;
• o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao
inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular
ou universal;
• o crédito de auxílíar da justiça, quando as custas, emolumentos
ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial;

728 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiviL ! 3a edição


j Resumo Teórico

• a sentença penal condenatória transitada em julgado;


• a sentença arbitral;
• a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de
Justiça;
,. a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exe-
quatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;

A sentença arbitral é título executivo JUDICIAL.


A autocomposiÇão judicial pode envolver sujeito estranho. ao
processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzrda
em juízo.

Tratemos de competência, vejamos:


O cumprimento àa sentença efetuar-se-á perante:
,. os tribunais, nas causas de sua competência originária;
• 0 juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;
• 0 juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal
condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangerra ou
de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo.

Nas hipóteses de decisão h~mologatória de autocomposição


judicial ou de decisão homologatória de autocomposição extrajudicial
de qualquer natureza, o exequente poderá optar pelo juízo do atual
domicílio do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens
sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a
obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos
do processo será solicitada ao juízo de origem.
A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a pro-
testo, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento
voluntário previsto no art. 523, já mencionado acima. .
Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certi-
dão de teor da decisão.
A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3
(três) dias e indicará o nome e a qualificação do exequente e do exe-
cutado, 0 número do processo, o valor da dívida e a data de decurso
do prazo para pagamento voluntário.

ANDRÍ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fJGUEIREDO, RoBERTO fJGU!l!REOO, SABRINA DOURADO
729
CuMPRIMENTO DE SENTENÇA
Resumo Teórico

:>ATENÇÃO!
O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar
a decisão exequenda pode requerer, a suas expensflS e sob sua
lesponsabilidade, a anotação da propositura da ação. à margem
do título protestado.
A requerimento do executado, o protesto será cancelado por
determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartó-
. rio, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do
requerimento, desde que comprovada à satisfação integral da
obrigação.
Todas as questões relativas à validade do procedimento de
cumprimento da sentença e dos atos executivos subsequentes
poderão ser arguidas pelo executado nos próprios autos e nestes
serão decididas pelo juiz.

REGRA DE APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA


Aplicam-se as disposições relativas ao cumprimento da sentença,
provisório ou definitivo; e à liquidação, no que couber, às decisões
que concederem tutela provisória.

22.2. DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA SENTENÇA


QUE RECONHECE A EXIGIBILIDADE DE
OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA

O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso


desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que
o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime:
• corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se
obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o
executado haja sofrido;

, n- •~·~· r,.,., 1 ~,, er!idio


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Resumo Teórico

• fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a


sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado
anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos;

Se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou


anu \a da apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução;
O levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que
importem transferência de posse ou alienação de propriedade ou de
outro direito reat ou dos quais possa resultar grave dano ao executado,
dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz
e prestada nos próprios autos.
No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá
apresentar impugnação, se quiser, nos termos do art. 525 do NCPC.
A multa e os honorários são devidos no cumprimento provisório
de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa.
Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor,
com a finalidade de isentar-se da multa, o ato não será havido como
incompatível com o recurso por ele interposto.
A restituição ao estado anterior a que se refere o inci~o II não
implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação
de propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada,
ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao
executado.
Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obriga-
ção de fazer, de não fazer ou de dar coisa aplica-se, no que couber, as
disposições deste cumprimento.
A caução acima mencionada poderá ser dispensada nos casos
em que:
• o crédito for de natureza alimentar, independentemente de
sua origem;
• o credor demonstrar situação de necessidade;
• pender o agravo fundado nos incisos li e 1II do art. 1.042;

De acordo com a Lei 13.256/16 a redação do art. 521, inciso III


passou a ser a seguinte: [... ]pender o agravo do art. 1.042.
~ a sentença a ser provísoriamente cumprida estiver em conso-
nância com súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal

ANORÉ MOTA, CR!STI,\NO SoBRAl., Luo;;IM-W FIGUUII.FOO, RoJSliRTO FJ(;UEJRF.VO, SAI!RINA DouRADO 731
Resumo Teórico

Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou em conformidade


com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos.

A exigência de caução será mantida quando da dispensa pos-


Sl resultar manifesto risco de grave dano de difícil ou incerta
reparação.
O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição
dirigida ao juízo competente.

Não sendo eletrônicos os autos, a petição será acompanhada de


cópias das seguintes peças do processo, cuja autenticidade poderá ser
certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal:
~ decisão exequenda;
~ certidão de interposição do recurso não dotado de efeito
suspensivo;
• procurações outorgadas pelas partes;
• decisão de habilitação, se for o caso;
• facultativamente, outras peças processuais consideradas neces-
sárias para demonstrar a existência do crédito.

22.3. PRO.CEDIMENTOS NO CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA

É certo que a sentença judicial pode constituir um sujeito a uma


obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia. As três
primeiras são chamadas de "obrigações específicas'~ na medida em
que exigem a prática ou abstenção de determinada conduta humana;
a última consiste naquilo que se denomina de "obrigação genérica"
(pagar dinheiro, que é bem fungível por excelência).
O procedimento executivo irá variar, a depender da modalidade
de obrigação. Enquanto nas obrigações específicas o legislador concedeu
poderes para que o magistrado compelisse o destinatário a cumprir
o preceito específico estatuído na sentença, na obrigação genérica o
procedimento passou a ser mais acelerado, na medida em que houve

732 EDITORA ARMADOR j PRÂTICA CiVil, 1 3a edição


!Resumo Teórico

0
abandono de formalidades exigidas pelo modelo executivo clássico
do processo dual

22.3.1. OBRIGAÇÕES DE FAZER, NÃO fAZER E ENTREGA DE


COISA

A) Considerações iniciais
Sob 0 argumento da intangibilidade da vontade humana, há
muito não se permitia a execução específica de obrigações de Jazer e
não Jazer, de modo que o descumprimento da obrigação importava,
quando muito, na conversão da obrigação das perdas e danos.
Com o avanço da processualística, atrelado à ideia de efetividade
do processo, surgiu a sistemática da tutela específica da obrigação,
introduzida pela Lei nº 8.952/94 e posteriormente estendida às obriga-
ções de entrega de coisa, por intermédio da Lei nº 10.444/02.
O CPC de 2015 também utilizou-se da técnica da tutela específica
ou do resultado prático equivalente.
Pela primeira, entende-se a maior coincidência possível entre o
resultado da atividade judicial e o da obrigação, acaso a mesma tivesse
sido espontaneamente cumprida. O re~ultado prático equivalente, por
sua vez, consiste em uma forma diferente de obter a mesma tutela,
o mesmo bem da vida vislumbrado pelo autor, por meio de medidas
que levem a tal resultado.

B) Natureza da obrigação e técnica executiva apropriada


Conforme afirmado alhures, o legislador, mediante as Leis·
nº 8.952/94, 10.444/02 e, agora com o CPC de 2015, procurou elevar as
prerrogativas do julgador nas lides que versam obrigações de Jazer, não
fazer e entrega de coisa, de modo que são inúmeros os instrumentos
colocados à sua disposição na perspectiva de cumprimento imediato
do decisório emitido, sendo certo que a sentença que serviu de bàse às
medidas de apoio acaba por assumir um caráter misto, ora assumindo
feição mandamental, ora executiva.

ANDR~ MüTA, CRISTIANO $0l1RAL, LUCIANO fiG\7EJRED0, ROIIERTO fJGIJEIREDO, SABRINA DoURADO 733
CuMPRIMENTO DE SENTENÇA

Resumo Teórico

Assim, para a efetivação da tutela pleiteada, poderá o magistrado


determinar, de acordo com o artigo 536, parágrafo 1º, as medidas neces-
sárias, a exemplo de: 1) imposição de multa por atraso: é a chamada
"astreirttes", aplicada nas obrigações de entrega de coisa (ex: mora do
Poder Pública em entregar determinado medicamento ou concessionária em
substituir automóvel, entregando um novo veículo), fazer (ex: realização de
cirurgia par empresa de plano de saúde ou inclusão de determinada pessoa
em academia militar) ou não fazer (ex: como na abstenção de jogar resíduos
em rios, não produção de barulhos na vizinhança); 2) busca e apreensão,
como no caso de materiais produzidos ilegalmente, onde se determina,
inclusive, a apreensão do maquinário responsável pela confecção; 3)
remoção de pessoas e coisas, como ocorre com a detenuinação para
que seja retirada urna grande placa publicitária de determinada ins-
tituição que se utiliza, indevidamente, da marca de outra empresa; 4)
desfazimento de obras, a exemplo daquele que constrói muro acima
de determinado limite de tolerância; 4) impedimento de atividade
nociva, a exemplo de paralisação de atividade de fábrica que agride
de maneira considerável o meio ambiente.
Conforme se observa, o objetivo é fornecer meios para que a sen-
tença proferida alcance sua finalidade. O objetiva é não apenas determinar
que alguém cumpr~ com uma prestação, mas forçá-la, mediante as medidas
de apoio, a cumprir especificamente com a obrigação a que ele se encontra
atado (do contrário, o ordenamento se conformaria com a conversão
da obrigação em perdas e danos).

~ATENÇÃO!
.
O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou
a periodicidade da multa diária ou ainda excluí~la, caso verifique
que se tornou insuficiente, excessiva, o obrigado demonstrou o
cumprimento parcial da obrigação ou justa causa para o des-
cumprimento (art. 537, § 1º NCPC).

Nada impede que o executado apresente impugnação ao cum-


primento de sentença como defesa nesta modalidade de execução.
CuMPRIMENTo DE SENTENÇA
Resumo Teórico

22.3.2. ÜBRIGAÇÕES PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

A) Considerações iniciais
i
Nas obrigações de faze:, não fazer e entr~ga de coisa, 0 magistrado
exerce sua atividade com vistas à obtenção da tutela específica ou, ao
menos, do resultado prático equivalente. A indenização por perdas e
danos s_e dará, apenas, em último caso, quando o adimplemento for
Impossivel ou o autor da demanda assim o requerer.
No q~e perti~e às ?brigações para pagamento de quantia certa,
como se ve, a pecuma 1a mtegra o objeto de tal obrigação.
Assim, o objetivo do legislador, com o procedimento descrito
nos artigos 523 a 527, NCPC, é justamente fornecer meios para que 0
adimplemento ~esta espécie de obrigação se dê num lapso temporal
mais breve possivel, de modo a atender aos ditames da razoável duração
da processo e celeridade processual.

B) Procedimento

Atentemos, assim, para a sistemática do procedimento para 0


cumpnmento de sentença nas obrigações de tal natureza:

~ requerimento do credor: em atendimento ao princípio da inércia, 0


legislador prevm a necessidade de requerimento por parte do credor
(mteressado na execução) para que o devedor venha cumprir com
o preceituado na decisão.

As~irn, _no caso de condenação em quantia certa, ou já fixada


em hqmdaçao, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, 0
cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exe-
quente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de
15 (qumze) dias, acrescido de custas, se houver.
O requerimento em questão deverá estar acompanhado d
planilha com demonstrativo do débito atualizado, elaborado pel:
credor (art. 524, NCPC). O juiz poderá valer-se de contabilista do juízo
quando o credor for beneficiário da justiça gratuita ou se 0 magistrado
considerar aparentemente excessivo o cálculo elaborado ou, ainda, se

AM)]([ MOTA, Cll.!STIANO SOI!Il~L, LtJClANQ FIGUEIREDO. ROBERTO FlGUE!RiiDO. SA!!RlNA Dn"""nr\
7'"
Resumo Teórico

ho~ver impugnação por parte do devedor. Neste caso, o contabilista


tera o prazo de 30 (trinta) dias para a entrega dos cálculos, salvo se
outro prazo tiver sido assinado pelo juízo.
Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em
poder d':. terceiros ou do executado, o juiz poderá requisitá-los, sob
commaçao do crime de desobediência.
. Quando a complementação do demonstrativo depender de dados
adiCIOnaiS em poder do executado, o jui:c poderá, a requerimento do
exequente, requisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias para
o cumpnmento da diligência. Se os dados adicionais não forem
apresentados pelo executado, sem justificativa, no prazo designado,
reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo exequente apenas
com base nos dados de que dispõe.
A peça de reque.rLlUento ainda deverá conter: I - o nnmp rnm-
pleto, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Fí~;~~s·o~-~~
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente e do executado·
li- o índice de correção monetária adotado; III- os juros aplicados ~
as respechvas tL<xas; IV- o termo inicial e o termo final dos juros e da
correção monetária utilizados; V - a periodicidade da capitalização
dos Juros, se for o caso; VI - especificação dos eventuais descontos
obrigatórios realizados; VII- indicação dos bens passíveis de penhora,
sempre que possível.

:>ATENÇÃO!

Há possibilidade do cumprimento de sentença ser realizado


mediante requerimento do credor, perante o juízo onde se encon~
tram os bens sujeitos à expropriação ou pelo atual domicílio do
devedor (art. 516, par. único, NCPC), tudo por amor à efetividade
e ao princípio da razoável duração do processo.

~ prazo para adimplemento voluntário: o devedor terá o prazo de


qumze d1as para cumprir, espontaneamente, com a obrigação,
sob pena de c_umprir, forçadamente, com o acréscimo de 10% (dez
por cento) a htulo de multa, além da incidência de honorários no
percentual de 10%. Cabe salientar que o pagamento parcial do

736
EonoRAARMADOR 1 PRÁTICA CiviL 1 y edição
\ Resumo Teórico

montante da condenação fará com que a multa e os honorários


incidam apenas sobre o restante da dívida, em respeito ao princípio
da proporcionalidade.

1> expedição de mandado: não realizado o pagamento, será expedido


mandado de penhora e avaliação. Observa-se que há a reunião de atos
processuais outrora cumpridos por sujeitos diversos -o oficial de
justiça e o avaliador -e agora concentrados na função do oficial de
justiça (por isso ele é chamado de "oficial de justiça-avaliador").

Apenas na hipótese deste não possuir capacidade técnica para


realizar a diligência em questão (corno no caso de avaliar uma obra de
arte, por exemplo), o magistrado nomeará um avaliador para cumprir
com tal determinação.
Destarte, verifica-se que a nova slsten1ática não mais prevê o deno- '
minado instrumento de "mandado de citação e penhora'', mas, sim, o
"mandado de penhora e avaliação", de modo que, agora, procura-se
obter o imediato cumprimento da obrigação, sem a dependência de
ato a ser praticado pelo devedor (como a nomeação de bens à penho.-a),
tudo em cumprimento aos anseios da efetividade processual (princípio
da razoável duração do processo).

1> Impugnação ao cumprimento de sentença (art. 525, NCPC): ins-


trumento utilizado pelo devedor para insurgir-se contra o cumpri-
mento do comando sentencia!.

Transcorrido o prazo sem o pagamento voluntário, inicia-se o


prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente
de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua
impugnação.
A impugnação poderá ter como fundamento a ausência ou nuli-
dade de citação, se o processo correu à revelia; Inexigibilidade do título
(considera-se, também, inexigível o título quando o mesmo estiver
fundado em lei ou ato normativo declarado inconstitucional ou
incompatível com a constituição pelo STF); Penhora incorreta; avaliação
errônea; ilegitimidade; excesso de execução (ocorre quando o credor buscar

ANDRÉ MOlA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEiREDO, ROB!:RfO FJGUL"lREDO, SAIIRINA DOURADO 737
/ CuMPRIMENTO DE SENTENÇA

Resumo Teórico l
o adimplemento da obrigação para além daquilo que o título permite,
ou seja, em quantia superior àquela prevista no título); Qualquer causa
modificativa, impeditiva ou extintiva da obrigação, desde que superveniente
à sentença (ex: pagamento, novação, compensação, prescrição, etc.).

:l ATENÇÃO!
Quanto aos efeitos, a impugnação não terá o condão de sus-
pender o cumprimento de sentença (art. 525, § 6º, NCPC), tudo
·em atendimento à duração razoável do processo, salvo em
apresentando perigo de dano de difícil ou incerta reparação,
caso em que o magistrado poderá atribuir o efeito suspensivo
à impugnação.
Em regra, a decisão que resolve a impugnação tem natureza
interlocutória, atacável, portanto, mediante agravo de instrumento.
Caso a mesma venha a extinruir a execução, de sentença se
trata, sendo atacável mediante apelação. .

EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CtVIL ! 3a ediçã.o


23.

PROCEDIMENTOS ESPE.CIAIS

Sabe-se que a jurisdição se vale do processo como instrumento


para o cumprimento de seu mister, que é dizer o direito (juris dictio).
O processo, assim, pode ser definido como o ínstrumento utilizado
pela jurisdição para a resolução dos conflitos de interesses.
O procedimento, por sua vez, é a forma pela qual o processo se
exteriorizo (modo de ser do processo). Em outros termos, é o caminho
percorrido, o encadeamento de atos que se ligam e sucedem tem-
poralmente uns aos outros, com vistas a um resultado, que é fazer
justiça entre as partes.
O processo se distingue do procedimento, na medida em que
este último indica o aspecto puramente formal e exterior do fenômeno
processual, ao passo que a noção de processo é essencialmente fina-
lística (resolver conflitos).
Assim, o processo é o instrumento pelo qual se exerce a jurisdição;
o procedimento representa o meio extrínseco pelo qual ele se opera.

O procedimento pode ser comum ou especial.


O procedimento comum fora devidamente analisado nesta obra.
Já os procedimentos especiais estão previstos tanto no CPC (parte
especial, livro I, no título III) quanto em leis extravagantes (mandado
de segurança, juizados especiais, etc.), os quais serão objeto de análise a
seguir.

ANDIHl MDTA, CR!SllANO Sonll.AL, LUCIANO FlCUEIRllDO, Ro~ntTO FIGUEIREDO, SAURINA DOURADO 739
Resumo Teórico I

23.1. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS PREVISTOS NO CPC

.. Três são os procedimentos previstos no novo Código de Processo


Civil (NCPC) de o::aior importância: Ação de consignação em paga-
mento, (arts. 539 a ::>49), Embargos de terceiro (arts. 674 a 681) e Acão
Momtona (arts. 700 a 703). ·

23.1.1. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

Em uma dada relação jurídica obrigacional, sendo atingida a


data do ':enomento para a entrega de coisa ou para 0 pagamento de
quantia,: comum contemplarmos o recebimento do objeto ou quantia
o'rn
~i rn•ostar. ..,.,...r ..............
'":1....._'"" ~ ..... o'"".r Y""'
...
,.,.nscgu1nLe,
. f- a qultaçao
• _
regular {emissão de recibo,
por ex.), de forma a liberar o devedor da, agora, extinta obrigação.
Ocorre que determmadas circunstâncias acidentais (divergência
quanto ao valor, dúvida quem se deva pagar, negativa de entrega de recibo,
etc.) pbdem fazer com que surja a necessidade de se proceder com
a medida de consignação, judicial ou extrajudicial, como forma de
desonerar aquele que deve e não está podendo exercer 0 seu direito
de se desvmcular da obrigação a qual está atado.
. Vê-se., portanto, que existe um conflito de interesses, a ser solu-
cw~ado ~ediante instrumentos legais (judiciais ou extrajudiciais) de
pacificaçao social.

A) Definição
A _:onsignação é o procedimento, judicial ou extrajudicial, para a
obtençao pelo autor, de quitação de dívida naquelas hipóteses em que
o credor s: nega a receber a coisa ou o dinheiro, ou ainda quando 0
devedor nao sabe a quem pagar. Com a quitação, o autor busca evitar
a mora e os seus efeitos.

B) Espécies de Consignação

~ Extrajudicial: com o escopo de garantir a pacificação social e, ao


mesmo tempo, evitar assoberbar ainda mais 0 judiciário, 0 legislador

740 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


\ Resumo Teórico

previu a consignação extrajudicial como forma alternativa de solu-


ção de conflitos. O procedimento consiste no depósito de quantia em
instituição bancária oficial, em conta com correção monetária, com
a posterior notificação do credor, mediante aviso de recebimento,
para que o mesmo tome ciência e se manifeste, no prazo de 10 (dez)
dias, acerca do depósito efetuado.
Embora haja divergência, temos que é indicado seja a correspon-
dência emitida pelo representante do estabelecimento bancário, haja
vista a maior segurança que o ato proporciona.
Feita a notificação, o credor poderá tomar as seguintes atitudes:
~ comparecer perante o estabelecimento e levantar o depósito
efetuado (aceitação expressa), com a consequente liberação do
devedor da obrigação;
~ deixar escoar o prazo de manifestação de recusa (aceitação
tácita), com a consequente liber,ação do devedor;
• efetuar o levantamento com ressalvas, dizendo não se tratar
de depósito integral, dando cabimento ao ingresso de ação
judicial para a cobrança da diferença que entenda ser devida;
~ manifestar a recusa por escrito, endereçada ao estabelecimento
bancário, no prazo de 10 (dez) dias, importando a ineficácia do
depósito, não liberando o devedor da obrigação.

~ Judicial: no insucesso da tentativa extrajudicial, restará ao devedor


ou ao terceiro interessado ingressar com demanda judicial dentro de
um mês, na qual colacionará os documentos indispensáveis (prova
do depósito e cópia da correspondência com a recusa).
Não propondo a consignatória dentro do referido prazo, será
necessário que o autor, logo após autorização judicial, providencie
novo depósito, haja vista que aquele tornou sem efeito.

C) Ação Judicial
A consignação é ação de cognição, de rito especial, para a obtenção
pelo autor, de quitação de dívida naquelas hipóteses em que o credor

741
ANDRÉ MaTA, CRtSTIAI'O SoBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, RoBERTO ftCUE!REDO, SASR!NA DOURADO
I PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Resumo Teórico l
se nega a receber a coisa ou o dinheiro, ou ainda quando o devedor
não sabe a quem pagar.
Relativamente à natureza da pretensão por ela veiculada, há
controvérsia na doutrinaf sendo majoritáriaf no entanto, a posição que
afirma se tratar de pretensão do tipo declaratória.
Como ação especial, tem a mesma um rito legal próprio, previsto
nos artigos 540 a 549, NCPC, com especificidades em relação ao pro-
cedimento comumente conhecido, senão vejamos:


~ Competência: deve o procedimento judicial ser instaurado no lugar
do pagamentOj geralmente expresso no documento obrigacional,
podendo, por conseguinte, se:r intentada no domicílio de devedor
ou do credor, a depender de ser a mesma quesível ou portável,
respectivamente. A regra, como sabido é que a mesma se trate de
dívida a ser paga no domicílio do devedor.
A competência em questão é relativa, de modo que pode ser
prorrogada, caso não oposta exceção pela parte interessada, haja vista
que o magistrado não pode suscitá-la de ofício, a teor do preceituado
na Súmula 33 do STJ.

~ Legitimidade: a legitimidade constitui condição da ação, de forma


que o seu regular exercício apenas de dará quando atendido o
requisito em questão.
É parte ativa da ação o devedor e o terceiro interessado (fiador,
devedor solidário, sócio, etc.), existindo quem diga (Misael Montene-
gro, com fundamento no par. único do artigo 304, CC) que se incluiria
o terceiro desinteressado, o qual apenas não poderia se sub-rogar nos
direitos do credor.
Outrossim, é parte passiva o credor. Podemos também afirmar
que pode ser sujeito passivo da ação uma outra pessoa que represente
o devedor (ex: administradora de imóveis).

~ Petição inicial: além dos requisitos genéricos do artigo 319, NCPC,


a peça inicial deverá obedecer algumas particularidades deste
procedimento.

742 EDITORA ARMADOR ! PRÁTlCA CIVIL j 3n edição


PROCEDIMENTOS ESPEClAIS

Resumo Teórico

Em primeiro lugar, acaso se trate de ação posterior à tentativa


de consignação extrajudicial, deverá a mesma conter cópia do com-
provante de depósito bem como da correspondência demonstradora
da recusa.
Ademais, deverá a mesma conter os seguintes requisitos especiais:
> requerimento do depósito da quantia ou da coisa devida,
a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) dias contados do deferi-
mento, ressalvada a hipótese de ter sido feito o prévio depósito
extrajudicial.
> a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta:
a peculiaridade da ação tem por efeito que o requerimento da
citação do réu seja feito em se cons1derando a postura que eíe
pode adotar em relação ao pedido formulado. O réu na ação
de consignação pode levantar a quantia ou coisa oferecida, o
que equivale ao reconhecimento da procedência do pedido,
ou pode contestar o pedido.

~ Intimação para o depósito: recebida a inicial, não sendo caso de


indeferimento, o autor será intimado para providenciar, no prazo de 5
(cinco) dias, o depósito da quantia ou coisa devida. O depósito, aqui,
consiste em condição de procedibilidade, de modo que o processo
será extinto sem resolução de mérito, acaso não seja ultimado.

~ Citação do consignado: a citação do consignado será feita pelo cor-


reio, a menos que o autor requeira a citação por Oficial de Justiça ou
que seja a hipótese de que a citação seja necessariamente por edital.

~ Contestação do réu: as regras que regem a defesa na ação de con-


signação em pagamento não tratam a matéria de forma cqmpleta.
A defesa será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias. Na con-
testação, o réu pode alegar todas as matérias de defesa contra o
processo (preliminares) e, no mérito, ele pode alegar quaisquer das
matérias do artigo 544, NCPC (I - que não houve recusa ou mora
em receber a quantia ou coisa devida; II - que a recusa foi justa;
III- o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;
IV- o depósito não é integral).

ANllRÉ MOTI\, (RJSTJANO SOBRA!., LUCIANO FIGUEIREDO, ROBf.RTO flGUI;HUmO, $t~.BRJNA DüliRADO 743
Resumo Teórico

t Sef o réu alegar que o depósito não fora integral, a lei permite ao
au
d. or e etuar a complementação do depo' s't . . . 1'no prazo de dez
1 o Inicia
ras. Essa complementação não será possível, entretanto, se o não
cumpnmento mtegral da obrigação for prevista contratualmente
como causa da rescisão do contrato que gerou a obrigação de pagar.

I> Levantament~ da quantia depositada sem prejuízo da defesa·


com .a alteraçao
_ promovida pela Lei nº 8·951/94, o r cu
, na açao - de.
consrgnaç~o passou a poder levantar o depósito feito pelo autor
se: p:eJUIZO de sua defesa. Antes da lei, o réu só poderia levantar
o epo~rto ao final, o que acabava permitindo que a ação de con-
srgnaçao fcsse utilizada como uma ameaça ao credor em e . I
em c di- ,
ques oes e ocaçao. O CPC de 2015 manteve a sistemática de
specra

~odo que o credor pode levantar, de imediato, o deoósito da n<:1r~Plr:J


mcontroversa (art. 545, § 1º). ' ' · ··

I> ~nstruç~o: na consignação temos, via de regra, a desnecessidade


e_ audienc:a de Instrução porque, na maioria dos casos, a matéria
verculada e de direito ou, sendo de direito e de fato, os fatos são
co:.~rovados por.documentos. Havendo necessidade de prova em
~u ':;'era, far-se-a como de costume, ou seja, é possível a produção
e to as as provas que o direito admite.

I> Ex:inção da obrigação e a continuidade do processo: quando a


Açao
d de consignação tiver por fundamento d,uv1'd a sob re quem
~v~ receber, comparecendo ao processo mais de um interessado
o JUIZ resolverá a consignação, dizendo de sua procedência ou não'
e o proc.esso passará a correr segundo o rito ordinário para que ~
JUIZ deoda quanto a quem deva ficar com o depósito.

I> Julgamento d: causa: a doutrina diverge quanto à natureza da


s:nte~ça na Açao de consignação em pagamento. A corrente majori-
tana e no sentido de que ela possui natureza declaratória A parcela
restante da doutrina opina que ela tem natureza consti;utiva.
. O artigo § 2º, NCPC revela, todavia, uma peculiaridade Ele er-
m•te ao JUIZ proferir uma sentença de conteúdo condenatório ~m f~vor
744 EDITORA ARMADOR l PRÁTICA ÜVIL I 3a edição
fJle~umo Teórico

do réu, em uma alteração substancial do papel das partes no processo.


Diz o mencionado artigo que a sentença que concluir pela insuficiência
do depósito determinará, sempre que possível, o montante devido e valerá
como título executivo, facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos
mesmos autos, após liquidação, se necessária.

1> ''
Recurso: O recurso contra a sentença na ACP é a apelação. A ape-
lação será recebida em ambos os efeitos.

D) Consignação de prestações periódicas


As prestações periódicas são aquelas decorrentes, principalmente,
dos contratos de trato sucessivo, ou seja, aqueles cujas principais
obrigações se renovam periodicamente. Uma vez consignada uma
parcela, as den1ais que ferem se vencendo poderão ser d'epositadas
pelo devedor até 5 (cinco) dias depois da data do respectivo venci-
mento (art. 541, NCPC). Esse depósito é sem maiores formalidades e
o prazo previsto para ele é em razão da possibilidade de obtenção de
quitação junto ao credor no prazo do pagamento.

23.1.2. EMBARGOS DE TERCEIRO

A responsabilidade patrimonial reside na premissa ou possibi-


lidade do estado, exercendo o seu poder de império, retirar do patri-
mônio do devedor tantos bens quantos bastem para o cumprimento
da obrigação a qual o mesmo se encontra vinculado.
Para tanto, vale-se a JUrisdição do processo de execução, que tem
a função de tornar efetiva a vontade da lei ou do título executivo, e a
qual atua submetendo o patrimônio do devedor aos atos de constrição
(penhora, arresto, etc.,) e de expropriação, tudo com vistas a satisfação
do credor, seja pela obtenção do próprio bem da vida, seja pela técnica
da conversão do bem em equivalente pecuniário.
É mister salientar que, com o objetivo acima exposto, poderão vir
a ser objeto de constrição não apenas bem do devedor, mas também
aqueles que se encontram em poder de terceiros estranhos à execução,

745
ANDRÉ MoTA, CRISTIANO SoBRAl, LUCIANO FiGUEIREDO, RoSERTO FIGUEIREDO, SA.BRINA Doul!.i\DO
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Resumo Teórico

mas que a ela fiquem sujeitos, pelos seguintes motivos: a) seja porque
são bens adquiridos com evidente intuito de fraudar execução; b) seja porque
está ele (o terceiro), em virtude de lei ou contrato, na qualidade de
corresponsável pelo adimplemento da dívida (ex: fiador); ou, finalmente, c)
porque os possui na qualidade de mero possuidor (comodatário, locatário,
depositário, etc.).
Ocorre que pode suceder, entretanto, de um terceiro, completa-
mente despido de responsabilidade, vir a ser afetado pela constrição
judicial de um bem ou direito seu. Para tanto, o ordenamento jurídico,
na perspectiva de salvaguardar aqueles bens, previu o instituto dos
Embargos de terceiro como remédio ju_rídico apto a sanar a ilegítima
cnnstrjção perpetrada. <-

A) Definição
É a ação incidental, de rito especial, destinada a excluir bens de
terceiro que foram ilegitimamente aivos de constrição judicial.

B) Finalidade e fundamento
A ação judicial em questão tem a finalidade, conforme dito,
de liberar bens daquele que não é parte em dado processo judicial,
além de não possuir a qualidade de codevedor. O ato prejudicial em
questão deve ter sido praticado pelo Poder Judiciário. Assim, acaso a
posse venha a ser ofendida por ato de particular, o remédio jurídico
adequado passa a ser a ação possessória e não o que ora tratamos.
O seu fundamento de seu manejo pode ser vislumbrado na pre-
missa de que a sentença só pode surtir efeitos em relação às partes
do processo (limites subjetivos da coisa julgada - artigo 506, NCPC),
não podendo atingir terceiros, que não integraram a relação jurídi-
co-processual, sob pena de ferir os princípios do contraditório e da
ampla defesa.

C) Legitimidade
Parte legítima para figurar como autor da ação é o terceiro, sendo
entendido, por exclusão, como aquele que não ocupa um dos polos
da relação jurídica processual.

746 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CiVIL ! 33 edição


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Resumo Teórico

Frise-se que a legislação equipara a terceiro a pessoa que, não


obstante ostente a qualidade de parte, venha a defender bens que
, não poderiam ter sido atingidos pela constrição judicial. Seja em
virtude do título em que o possua (ex: bem que já pertencia ao: patri-
mônio do herdeiro que passou a ser sucessor no polo passivo de um processo
de execução não estará sujeito à zxecução), seja pela qualidade em que
o possua (ex: um locatário, por não ser dono, não poderá ver penhorado o
imóvel em que o mesmo está morando de aluguel).
Legitimado passivo é aquele que figura como credor no processo
principal (autor/exequente/requerente), justificándo-se pelo fato de
que a constrição só foi realizada em virtude de provocação inicial do
demandante, já que fora este que propunha a ação:
Nada obsta, entretanto, que venha o devedor figurar como réu,
juntamente com o demandante, acaso tenha sido ele o indicador do
bem objeto da constrição (art. Art. 677, § 4º, NCPC). Neste caso estaría-
mos diante de um litisconsórcio passivo necessário, haja vista que a des-
constituição da constrição poderia acarretar prejuízos ao exequente,
bem assim para o réu-executado, já que estaria este último sujeito a
sofrer nova constrição. Ressalte-se, entretanto, que, a teor da Súmula
303 do STJ, a condenação nas custas processuais e honorários advo-
catícios ficará a cargo da parte que deu causa à ilegítima constrição
(indicou o bem).

D) Prazo para a propositura da ação


Tratando-se de processo de conhecimento, a propositura se
dará a qualquer momento, desde que antes do trânsito em julgado
da decisão.
No caso de processo de execução, a propositura dar-se-á até 5
(cinco) dias após a arrematação, adjudicação ou alienação por iniciativa
particular, desde que antes da assinatura da respectiva carta (art. 675,
NCPC).
Vale salientar que, em virtude do terceiro não poder ser atingido
pelos efeitos da coisa julgada, o transcorrer do prazo em questão não o
impede de, pelas vias ordinárias, reivindicar o bem que fora objeto da
constrição. O vencimento do prazo é meramente preclusivo no sentido
de impedi-lo de manejar os embargos para a defesa imediata da posse.

ANDRi'i MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fJGUEIREDO, RoBERTO FIGUEIREDO, $ABRINA DOURADO 747
Resumo Teórico l
E) Procedimento

Os embargos são uma ação espe<;ial autônoma a ual dá ori e


a um processo incidente, distribuído por dependên~ia, ficand~ :
~esmos apensos aos autos ditos principais. O procedimento segue
as segumtes regras:

... dco:pecencra:
. e' competente o mesmo juízo que ordenou a apreensão
o em, mediante a expedição do mandado de constrição. Assim
embora realizado o ato de constrição por intermédio do juíz~
depre~ado, este apenas será competente se tiver ordenado o ato em
questao (art. 676, NCPC).

.,. Petição Inicial: deverá obedecer aos requisitos gerais do artigo 319
comb1nados com os específicos d,....,v ........ ._;~~ (-,"717 --lo r.. r,-... ,-.. .
" -'- C.U.L.ltJV v / / U. l'\j\._-1'\.... OS qual$
:i~g~~a) prov~ sumária da posse; b) prova da constriç~o, c) qua-
a e e tercerro; d) documentos e rol de testemunhas.

.,. Da. Liminar: julgando suficientemente provada a posse, o juiz defe-


nra hmmar~ente os embargos e ordenará a expedição de mandado
de manutençao ou de restituição em favor do embargant ,
b ' b e, que so
rece .era os ens depois de prestat caução de devolvê-los com seus
~:ndJmentos, caso sejam afinal declarados improcedentes, ressal-
da a ImpossJbihdade da parte economicamente hipossuficiente.
.,.D d"' ·
a au :encra prel!minar: faculta-se ao magistrado determinar a
re~rzaçao de audiencJa preliminar quando o autor não tiver pro-
va o suficientemente, por meio de documentos, a sua posse. Seria
em outros te~mos, audiência que se assemelha à justificação prévi~
d as possessonas.

.,. Contestação: será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias.

.,. A co~versão ao rito comum: apresentada a defesa, haverá a con-


versao do rito esp~cial para o rito comum. Destarte, deverá o
~agrstrado determmar a intimação do autor para apresentar a
rephca, seguindo-se a fase de saneamento e audiência de instrução

748
EDITORA ARMADOR J PRÁTICAÜVIL J 3" edição
J Resumo Teórico

e julgamento. Logo após, proferirá a sentença. Se procedente, deter-


minará a expedição de mandado de manutenção ou de restituição;
acaso tais medidas já tiverem sido tomadas no limiar do processo,
o magistrado determinará a liberação da caução anteriormente
prestada pelo autor.
I

1> Co~denação em custas e honorários advocatícios: deverá


ser condenado aquele que deu causa à constrição indevida e,
por consequência, causou o tumulto prucessual. Inclusive há o
entendimento neste sentido, expresso mediante a Súmula 303,
doSTJ: "Em Embargos de terceiro, quem deu causa à constrição
indevida deve arcar com os honorários advocatícios".

o
23.1.3. AÇÁO MONITÓRIA

Certamente que aquele que pretende ver satisfeita uma deter- .


minada obrigação deve se valer de um determinado documento que
legitime a sua pretensãü. Para tanto, no momento da constituição de
uma dada relação jurídica obrigacional, a lei confere força executiva
aos documentos que fizeram erigir ou, ao menos, serviram de força
probante ao negócio jurídico realiz,.do: são os conhecidos títulos exe-
cutivos. Assim, de acordo com o artigo 784, NCPC, temos o contrato
assinado por duas testemunhas, a duplicata com aceite na compra e venda de
mercadorias, a nota promissória, etc.
Ocorre que algumas obrigações, apesar de firmadas na realidade
factual, acabam por perder certa força no mundo jurídico, justamente
em virtude da ausência de força executiva do documento do qual
dispunha o credor. Imaginemos uma carta na qual o devedor agradece
o empréstimo contraído, prometendo pagar futuramente a quantia
devida; ou um contrato sem assinatura de testemunhas; um cheque
prescrito, uma fatura que comprova despesas com internação em
hospital despesas durante a estadia em hotel, etc.
Em todas as situações acima estamos do seguinte quadro: existe
um credor, um devedor, bem como um documento que, embora não
possua força executiva, tem uma alta carga probatória, na medida em

ANDRÉ MüTA., CRISTIANO SOBRAL, LUClANO FJCUfJREDO, ROBERTO FtGlJEIREOO, SABR!NA DOURADO 749
I PROCEDIMENTos EsPECIAIS
Resumo Teórico l
que, diante de urna simples leitura, chega-se à conclusão da existência
do crédito nele consignado.
Não obstante a inexistência da força executiva do chamado
"quase-título" (utiliza-se deste termo em virtude de fàltar-lhe algum
requisito que lhe torne exigível), o legislador, atento à realidade fac-
tual bem como com vistas a evitar o enriquecimento sem causa do
beneficiário do negócio jurídico, previu, por meio da Lei nº 9.079/95,
instrumento apto a imprimir a realização do direito do credor de
documento desprovido de força executiva, sem a necessária delonga
típica do processo de cognição. É a chamada "Ação Monitória".
O procedimento monitório, previsto nos artigos 700 a 703, NCPC,
resu Ita da fusão de atos típicos de cognição e de execução e é infor-
mado pela técnica da inversão do contraditório. Nele, a cognição é
• fundada em prova documental apresentada de forma unilateral pelo
autor, de modo a permitir, de imediato, a emissão de um mandado
dirigido ao réu contendo comando para pagar soma em dinheiro,
entregar bem móvel ou imóvel ou cumprir com obrigação de fazer
ou não fazer.

A) Definição

É a ação, de rito especial, que tem por objetivo atribuir força


executiva a documento desprovido de tal caráter, para a consequente
satisfação do direito do credor, mediante o pagamento de sorna em
dinheiro, entrega de bem móvel ou imóvel ou cumprimento de obri-
gação de fazer ou não fazer.

B) Procedimento

É mister tecer as seguintes considerações acerca do seu proce-


dimento:

... Competência: é o do local do pagamento ou da entrega da coisa, ou o


foro do domicílio do réu. Caso a pretensão esteja lastreada em contrato
que contemple foro de eleição, neste será aforada a ação.

750 EDITORA ARMADOR J PRÁTICA CtVIL J 3a edição


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Resumo Teórico

... Petição Inicial: além dos requisitos gerais do artigo 319, NCPC, a
petição deverá vir acompanhada de prova escrita (documento em
sentido estrito), de modo a permitir a cognição superficial típica
deste procedimento. Vê-se que o modelo estrito de documento:
(escrito) adotado pelo legislador afasta outras espécies de documen-
tação em sentido amplo, a exemplo de urna fita cassete. Têm sido
considerados instrumentos hábeis à instrução da ação monitória:
um cheque prescrito (Súmula 299, STJ), uma nota promissória rasurada,
contrato particular sem assinatura de testemunhas, contrato de abertura
de crédito em conta corrente (Súmula 247, STJ), etc.

..,. Juízo de Admissibilidade: consiste na verificação de regularidade


quanto ao preenchimento dos requisitos formais e materiais da
ação. Após a análise em questão, o magistrado poderá adotar uma
das seguintes atitudes:

Em primeiro lugar, havendo dúvida quanto à idoneidade de prova


documental apresentada pelo autor, o juiz intimá-lo-á para, querendo,
emendar a petição inicial, adaptando-a ao procedimento comum.
oEm segundo lugar, observando que a petição inicial está devida-

mente instruída, determinará ele a expedição do mandado monitório


ou injuntivo.

... O Mandado monitório: o instrumento em questão consiste em


ordem dirigida ao réu para pagamento, entrega de coisa ou cumpri-
mento da obrigação de fazer ou não fazer, no prazo de 15 (quinze)
dias, com o pagamento de honorários advocatícios de 5% do valor
atribuído à causa. Como no lapso temporal em questão poderão ser
apresentados embargos, o mandado serve, de igual modo, como
instrumento de citação, devendo, assim, conter as implicações
de sua inércia (revelia). Destarte, cientificado do mandado, o réu,
além de estar impelido a cumprir com a obrigação, e intimado do
conteúdo daquele ato e das consequências que poderão advir do
seu descumprimento, também estará sendo citado para integrar a
relação processual.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SoBRAL, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 751
Resumo Teórico

~ Atitudes do Réu: uma vez citado, o réu, no prazo de 15 (quinze)


dias, poderá tomar as seguintes atitudes: a) inércia: a contumácia
acarretará a revelia. No panorama da monitória, ela é vislumbrada r

de maneira mais qualificada, mais forte, tendo em vista a presença


do quase-título, o qual acaba pvr possuir uma presunção quase que
absoluta, transmudando-se em título executivo judicial, autorizando
a consequente instauração da execução, por meio da técnica do cum-
primento de sentença; b) cumprimento voluntário do mandado:
é a opção mais favorável ao réu quando o mesmo reconhece a sua
posição de devedor, tendo em vista que, não se opondo ao cumpri-
mento da obrigação, ficará ele isento das custas processuais. Mais
que mera vantagem, a isenção em questão representa um verdadeiro
convite ao réu para não apresentar embargos, buscando, assim, o
ideal de solução de conflitos por meio de atividade das partes; c)
apresentação de Embargos ao Mandado: quanto à sua ·natureza,
constitui ele uma espécie de defesa (contestação), com a pretensão
de combater a prova escrita na perspectiva de evitar a formação
do título executivo judicial; Quanto ao prazo, serão os embargos
propostos em 15 (quinze) dias; quanto ao conteúdo, poderão versar
a imprestabilidade do documento como fundamento da monitória,
em virtude de não evidenciar a intenção de pagar ou entregar coisa.

~ Instrução: apresentados os embargos, serão dadas vistas ao autor


para impugnação (semelhante à réplica). Em seguida haverá desig-
nação de audiência de instrução e julgamento, havendo prova a ser
produzida. Em seguida, será proferida a sentença.

A sentença que acolher os embargos condenará o vencido nas


custas e honorários advocatícios, em respeito ao princípio da sucum-
bência; a sentença de rejeição importará na procedência do pedido
contido na monitória e a constituição do título executivo judicial, hábil
à execução forçada, mediante a técnica do cumprimento de sentença.

:>ATENÇÃO!
Duas observações devem aqui ser consignadas:

752 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL 1 3a edição


jResumo Teórico

Em primeiro lugar; nada impede a apresentação <:i~. recon~er~o ·


no procedimento monitório, consoant~ os tern:J._ósdo ar~go 7 2,
§ 6º, NCPC. . . . . . .,, ,.,, • '
A segundaobservação é no se!ltido de que c.ab~ ação Momtóp~
em face da Fazenda Pública. Embo~a surg1ssem vozes~~ sen-
tido de não \vislumbrar a possibilidade, ante a normat!V.!d~de
. dos precatórios, hoje o posicionamento é u':if~~e no sentido de
permitir a monitória em face da Fazenda Pubhca, com~ pr~esso
de formação abreviado do título judicial. Isto quer dJZer <JI:le a
especialidade vai até a formação do título, d: J?Odo a respeitar,
posteriormente o preceituado para a execuçao c~n:r~ a fa:ze11~a
pública. O CPC de 2015 seguiu esta ::'ilha ao perm1tir ~maneJO
da monitória em face da fazenda pubhca (art. 700, § 6-, NCPC).

23.2. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS PREVISTOS EM


LEIS EXTRAVAGANTES

Dentre os procedimentos especiais, destacam-se os seguintes:


Mandado de segurança (Lei nº 12.916/09), Ação civil pública _{L~!
nº 7.347/85), Ação popular (Lei nº 4.717/65) e Juizados espeCiaiS CJVeJs
(Lei nº 9.099/95).

23.2.1. MANDADO DE SEGURANÇA (LEI No 12.016/09)

Sabe-se que 0 surgimento da ordem estatal só foi possível em


virtude da renúncia, por parte dos súditos, de parcela ~e _sua auto-
. o obJ·etivo era viver de forma organizada, sob a eg1de de- um
nom1a. d
ente estatal dotado de poderes que dessem suporte à consecuçao o
objetivo de proporcionar ao povo o bem comum. . , .
Não obstante, se por um lado houve o consenso de que a ;r;encm
va condicionada à criação de ente dotado de dommm, por
grupa1esta ,. f.
outro lado, paulatinamente, percebeu-se que era necessano con enr

w'ANO FIGUEJREJ)O Ro!IE!t.TO ftGi.JEIREDO, SASRINA DOURADO


753
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO S ORRAl, L ...,._ '
\ PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Resumo Teórico l
aos cidadãos garantias que repelissem a utilização irregular do poder
estatal. Da tese em questão, da limitação da atividade estataL surgiram
os direitos de primeira geração, conhecidos como aqueles que conferem
lil:!erdades individuais ou garantias ao cidadão, a exemplo da vida,
liberdade, propriedade, manifestação do pensamento, voto, etc.
Nesse diapasão, ao lado dos direitos materiais, era mister a exis-
tência de instrumentos que conferissem efetividade a ditas garantias.
Foi daí que surgiram inúmeros instrumentos, dentre os quais desta-
camos o mandado de segurança, disciplinado, inicialmente, pela Lei
nº 1.533/51, posteriormente revogada pela Lei nº 12.016/09.

...A..) Definição
É o instrun1ento jurídico-processual, de natureza constitucio-
nal, utilizado para evitar ou sanar lesão a direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quan}lo o ato ou omissão for
praticado por parte de autoridade pública ou por quem o faça às vezes.

B) Pressupostos

Do conceito exp9sto, extraem-se os, requisitos imprescindíveis


ao manejo do remédio heroico. Vejamos: -.

1> Direito líquido e certo: conceito tipicamente processual. Pode ser


entendido como aquele que é contemplado de imediato, prima facie,
sem necessidade de rriaiorés delongas. É justamente por isso que, no
mandamus, inexiste dilação probatória; nele a questão deve ser vis-
lumbrada mediante a análise de prova documental pré-constituída.

1> Periculum in mora: não basta a evidência do direito alegado. É mis-


ter que o autor demonstre que o mesmo fora objeto de violação ou
mesmo esteja na iminência de o ser por parte de autoridade pública
ou por quem o faça as vezes.

:l ATENÇÃO!
o instrumento em questãô não poderá ser utilizado quando o ato
a se~ irnpugmÍdo seja. passível de ~combate mediante recurso

7<;4 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL 1 3a edição


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS 1

IResumo Teórico

administrativo ou judicial com efeito suspensivo on, ainda,


quando se tratar de decisão transitada em julgado (artigo 5º, Lei
nº 12.016/09). Nesses casos, o manejo da ação não seria possível
por não existir o interesse de agir.

C) Prazo

O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á


quando decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo
interessado, do ato impugnado.
Algumas colocações devem aqui ser feitas .
A priiTleira diz respeito ao termo inicial para a irx1pet:;:aç.J.o
quando se efetua pedido de reconsideração à autoridade coatora.
Em uma apressada conclusão, diríamos que o termo inicial do prazo'
não esperaria pela resposta da autoridade administrativa ao pedido
de reconsideração, haja vista que a Súmula 430 do STF menciona que
"o pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo
para o mandado de segurança". Ocorre que a súmula em questão deve ser
aplicada aos casos em que inexiste disposição legal expressa quanto
ao pedido de reconsideração. Assim, havendo previsão legal quanto
ao pedido de reconsideração, este passa a ostentar a natureza de
recurso administrativo, pelo que a resposta negativ~ da autoridade
administrativa acabará por renovar a lesão a direito líquido e certo,
justificando, por consequência a devolução do prazo para impetração
do mandamus.
A segunda se refere aos atos de trato sucessivo. Nesse caso,
como a lesão se renova periodicamente, o prazo para impetração da
segurança renasce com a lesão perpetrada. Este é o entendimento
sedimentado na jurisprudência.
Finalmente, a terceira colocação se refere ao início cio prazo
quando a lesão a direito líquido e certo é perpetrada mediante omissão
da autoridade coatora. Fixada por lei a data em que a conduta deverá
ser praticada, o termo inicial de impetração coincidiria com aludida
data; se, ao contrário, não houver previsão acerca do momento, a lesão
estará em constante execução, pelo que não haveria que se falar em

ANDRÉ Mon., CRISTIANO SOBRAL, LuCIANO fiGUElRE:DO, ROBERTO F!Gllli!REDO, SABRINA DúURAl)O 755
Resumo Teórico 1

fluência do prazo decadencial (seria, em outros termos, obrigação de


trato sucessivo, a qual se renova mês a mês).

D) Legitimidade

Tanto a pessoa física quanto a jurídica poderá valer-se do remédio


heroico. Verifica-se que a nova lei procurou abarcar o entendimento
sedimentado pela jurisprudência quanto à utilização do mandamus
por pessoa jurídica.

E) Competência

No que pertine à competência, o remédio em questão deverá


ser apresentado perante o juízo cuja jurisdição o ato da autoridade
coatora esteja sujeita.
Dessa forma, a impugnação de ato administrativo emanado de
autoridade municipal se dará perante juízo de primeiro grau (mesmo
em se tratando de prefeito, visto que a regra do artigo 29, X da Carta de
1~88, que o ~ubmete ~o julgamento pe;ante o tribunal de justiça, se refere
tao !omente a competencza cz·zmznal, em virtude da prerrogativa da função,
e nao para a apreciação de mandado de segurança); do ato de autoridade
estadual, caberá o mandamus perante o respectivo TJ; finalmente, em
se tratando de autoridade federal, o mandado de segurança deverá
ser avmdo perante a justiça federal de primeiro grau, excetuados os
casos ~e competência de ~utro tribunal, mediante disposição expressa
da propna conshtmção. E que a carta de 1988, em seu artigo 105, I, b,
:ponta a comp:tência do STJ para julgar mandado de segurança
contra ato de Mznzstro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exér-
cito e da ,Ae~onáutica ou do próprio tribunal" e, em seu artigo 102, I, d, a
competenCia do STF para o julgamento do mandamus "contra atvs do
Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República
e do próprio Supremo Tribunal Federal."
, Em ~e tratando de impugnação de ato judicial, a competência
sera do tnbunal ao qual a autoridade judiciária está vinculada. Assim,
contra ato de juízo de primeiro grau, caberá mandado de segurança
para o respectivo tribunal (TJ ou TRF); do ato do tribunal de segundo

756
EoiTORAARMADOR 1 PRÃTICACIVIL 1 3" edição
\ Resumo Teórico

grau, caberá o remédio para o próprio tribunal (TJ ou TRF), assim


corno deverá o mandamus ser dirigido ao STJ ou STF quando se quiser
impugnar ató emitido por seus membros.
Nessa toada, com o fito de expurgar qualquer dúvida, o STJ, por
intermédio da Súmula 41, pontuou que o mesmo não tem competên-
cia para processar e :iulgar, originariamente, mandado de segurança
contra ato de outros tribunais ou dos respectivos órgãos.
No que se refere à competência para julgamento do mandado de
segurança interposto contra ato de juiz de Juizado, o entendimento
pacificado é de que a competência é da Turma Recursal (vide Súmula
376, STJ).

F) Procedimento
A açã.v en1 comento, desde a sua propositura até o seu julgamento~
deverá obedecer ao procedimento a seguir descrito:

.,.. Petição Inicial: A inicial, além de preencher os requisitos do artigo


319, NCPC, deverá ser apresentada em duas vias com os documentos
que a instruírem. Adernais, deverá ela apontar a autoridade coatora
bem como a pessoa jurídica a qual a mesma integra.

.,.. Juízo de admissibilidade: Ao despachar a inicial, o magistrado


poderá adotar uma dentre as seguintes posturas: a) Indeferimento:
quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos
requisitos legais ou quando decorrido o prazo decadencial para a sua
impetração (a saber, 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência,
pelo interessado, do ato impugnado - artigo 23, LMS). Da decisão
que indefere a inicial será cabível a interposição do recurso de
apelação; quando a competência for originária, da decisão do rela-
tor que a indefere, será cabível o recurso de agravo para o órgão
competente do tribunal que integre; b) recebimento: recebendo a
inicial, cuidará o mesmo de adotar as seguintes providências: 1)
notificação da autoridade coatora para que preste informações em
dez dias; 2) ciência à pessoa jurídica interessada para que, querendo,
ingresse no feito; 3) concessão de liminar no sentido de suspender
o ato que deu origem ao pedido.

ANDRll MOTA, (RISTJAS'O SOBRAL, LuCIANO FIGUlilRIODO, ROBERTO FiGVE!RfDO, SABRINA DOURADO 757
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Resumo Teórico

.,. A liminar: a liminar será concedida quando houver fundamento


relevante e do ato impugnado possa resultar dano irreparável ou de
difícil reparação antes do julgamento final do mérito.
'
'
A autoridade administrativa, no prazo de 48 (quarenta e oito)
horas da notificação da medida liminar, cuidará de enviar cópia do
mandado notificatório ao ministério ou órgão ao qual se acha vincu-
lado ou a quem tiver a representação judicial para que este adote as
medidas que entender cabíveis (suspensão da liminar e defesa do ato
apontado como ilegal).
Contra a decisão que conceder ou denegar a liminar, caberá
agravo de instrumento. Contra a decisão que ..a concede c caberá o
pedido de suspensão, a ser tratado mais à frente; finalmente, sendo
do relator, cabível será o agravo interno.
Os efeitos da liminar irão perdurar até a prolação da sentença
(e não mais 90 (noventa) dias, prorrogável por mais 30 (trinta), a teor
do disposto no artigo 1, "b", da Lei nº 4.348/64).

.,. Ouvida do Ministério público: prestadas as informações, o repre-


sentante do ministério público será ouvido no prazo improrrogável
de 10 (dez) dias.

.,. Decisão: será a sentença proferida no prazo 30 (trinta) dias. Da sen-


tença, concedendo ou denegando a segurança, caberá apelação
(recebida apenas no efeito devolutivo, visto que não impede a execução
provisória, salvo nas hipóteses de proibição de liminares - artigo 14 par.
3º), estendendo-se à autoridade coatora o direito de recorrer.

:>ATENÇÃO!
A senteflça que co,;_cede a ségurança estará sujeita ao Reexame,
necessário (artigo '14, par. 1º). Perceba, inclusive, que o duplo
grau sempre será 9brigatório, independentement'! d9 valor que
eventu'!lmente s"'ja atribuído à condenação/ não havendoqu,e
se aplicar, aqui, as exceções J=>revistas no CPC.

l'm-rmu AnMAN111 I PRÁTICA ClVlL I 3~ edição


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Resumo Teórico

A sentença que extingue ó mandamus sem apreciar o mérito não


impede o ajuizamento da aÇão para pleitear o respectivo direito
e seus efeitos patrimoniais.
De igual forma, o pedido de mandado de segurança poderá ser
renovado dentro do prazo décadencial se a decisão denegatória
não lhe houver apreciado o mérito (artigo 6º, par. 6º).

G) A questão da limitação no manejo de liminares em face do


poder público
Visando ao interesse público (além do óbice jurídico dos preca-
tórios e à necessidade do duplo grau de jurisdição obrigatório), pro-
curou o legislador impedir o manejo de medidas liminares contra a
fazenda pública.
Inicialmente a vedação legal à concessão de liminares em face
do poder público em sede de mandado de segurança fora feito por
intermédio da Lei nº 4.348/64 para os casos de reclassificação ou
equiparação salarial e aumento e extensão de vantagens a servi-
dores públicos.
De forma ainda mais restritiva (pois os causídicos poderiam
utilizar-se de nomenclaturas distintas para conseguir ditas vantagens
proibidas), a Lei n• 5.021/66 estabeleceu a vedação do mandamus
para se conseguir qualquer vantagem pecuniária ("não se concederá
medida liminar para efeito de pagamentos de vencimentos e van-
tagens pecuniárias").
Assim, os advogados passaram a se utilizar de cautelares com o
intuito de conseguir igual objetivo, agora em sede de cautelar.
Daí veio à lume a Lei n• 7.969/1989 apregoar que: "não haverá
medida liminar quando a ação cautelar tiver por objeto reclassifi-
cação ou equiparação de servidores públicos, ou, ainda, aumento
e extensão de vantagens a ditos servidores".
E, para evitar lacunas (que a parte se utilizasse de cautelares se
utilizando de outras nomenclaturas para atingir ditas finalidades
onde já era vedada a liminar em MS), editou-se a Lei n• 8.437 de 1992
para determinar que: "não caberá liminar em ação cautelar contra o

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO $OllRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DouRADO 759
""""~------------

Resumo Teórico !

Poder ~úblico, to_da vez que providência semelhante não puder ser
concedtda em açoes de MS, em virtude de vedação legal":
, Certamente que a "criatividade" dos causídicos não parou por
aL Sem poder se servir da cautelar, passaram a recorrer ao instituto
da tute;a antecipada para conseguir semelhante intento, até que fora
l~stJtmda a Lei nº 9.494/97 para fechar, de vez, as "portas" da utiliza-
çao de hmmares com a proibição do manejo de decisões provisórias,
agora em sede de tutela antecipada"
Já no âmbi~o da nova lei do mandado de segurança (Lei nº12"016/09),
todas as vedaçoes mencionadas foram mantidas, segundo estabelece
o artigo 7º da mesma:
'
§ 2'. Não será cor1cedida medida liminar que tenha por
ob]~to a compensaçao de créditos tributários, a entrega de
m_ercadorw~ e be~s provenientes do exterior, a reclass-ifica-
çao ou equzparaçao de servidores públicos e a concessão de
aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qual-
quer natureza.

H) A suspensão de segurança

A LMS, a exemplo de outras leis extravagantes (tal como a Lei


nº 7.347/85), _refere-se ao instrumento em questão para possibilitar às
p~ssoas Jundtcas de direito público a suspensão dos efeitos de deci-
sao (hmmar, ou final) que seja suscetível de causar danos a um dos
mteresses pubhcos relevantes, senão vejamos:

"Artig~ 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de


dz~ezto publico ~nt~ressada ~u ~o Ministério Público e para
ev_zta; grave lesao a ordem, a saude, à segurança e à economia
publzcas, o presidente do tribunal ao qual couber o conheci-
mento do respectivo recurso suspender, em decisão funda-
ment~da, a execução da liminar e da sentença, dessa decisão
cabera agravo, sem efezto suspensivo, no prazo de 5 (cinco)
dzas, que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua
znterposição.

760 EDJTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CrviL 1 Y edição


!Resumo Teórico
§ 1º. Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo
a que se refere o caput deste artigo, caberá novo pedido de sus-
pensão ao presidente do tribunal competente para conhecer
de eventual recurso especial ou extraordinário.
§ 2º. É cabível também o pedido de suspensão a que se refere
o § Iº deste a~tigo, quando negado provimento a agravo de
instrumento ihterposto contra a liminar a que se refere este
artigo.

A concessão do efeito suspensivo tem como pressupostos a plau-


sibilidade do direito invocado e a urgência na concessão da medida.
A legitimidade será da fazenda pública (incluindo, portanto,
as agências reguladoras, as quais ostentam feição de autarquias em
regime especial e, portanto, de pessoas jurídicas de direito público)
e do Ministêrio Público.
Perceba que o presidente do tribunal não adentra no mérito da
discussão, verificando a justiça ou injustiça da decisão. Limita-se este
a analisar a potencialidade aos interesses públicos superiores.
Nada obsta que, uma vez interposto o remédio em estudo, seja
utilizado cumulativamente o Agravo de instrumento. É o que diz o
parágrafo terceiro, in verbis:
A interposição de agravo de instrumento contra liminar conce-
dida nas ações movidas contra o poder público e seus agentes não
prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a
que se refere este artigo.
Vale ressaltar que não constitui afronta ao princípio da unicidade
o manejo dos instrumentos para o combate da mesma decisão judicial.
É que, conforme mencionado alhures, o pedido de suspensão não
ostenta natureza de recurso, tendo função diversa da do agravo de
instrumento. O agravo é recurso, sujeito a prazo e com função especí-
fica de reforma ou invalidação da decisão; por outro lado, o pedido de
suspensão é incidente que visa, tão somente, a sustação dos efeitos da
decisão, não estando sujeito a prazo, podendo ser efetuado a qualquer
momento, desde que antes da execução do ato.
Verifique que o deferimento ou indeferimento do pedido de
suspensão não prejudica o julgamento do agravo. É que aquele tem

ANDRt MOTA, CRISTIANO SOJ.IR,\L, LUCiANO flGUEIR!iDO, ROBERTO l'IGUEIREDO, SABRINA DOURADO
761
, PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Resumo Teórico

a função de apenas sustar os efeitos da decisão, a qual terá o mêrito


analisado por ocasião do julgamento do agravo.
Em se tratando de liminares cujo objeto seja idêntico, estas'
poderão ser su~;pensas em uma única decisão, podendo o presidente do
Tribunal estender os efeitos da suspensão a liminares supervenientes,
mediante simples aditamento do pedido original.
A teor do preceituado na Lei nº 8.437/92 (artigo 4º, par. 9º), a sus-
pensão vigorará até o trânsito em julgado da decisão de mérito na
ação principal.
O STF editou a Súmula 626, no sentido de que a duração vigora
até o trânsito em julgado ou, havendo recurso, até a sua manutenção
pc!c STF. O STF entende qu~ a duração só :não perdurará até o firn
caso tenha sido determinado o contrário na decisão que a conferiu.

!) Mandado de segurança coletivo


O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por par-
tido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de
seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade
partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou asso-
ciação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1
(um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de
parte, dos seus membros ou associados, na forma dOs seus estatutos
e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto,
autorização especial.
Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser: I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta lei, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo
ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
u1na relação jurídica básica; II - individuais homogêneos, assim
entendidos, para efeito desta lei, os decorrentes de origem comum
e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos
associados ou membros do impetrante.

:>ATENÇÃO!
Aqui, três nuances necessitam ser registradas:

7fi7. EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I Y ediçãc'


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Resumo Teórico

A primeira é que, no mandado de segurança coletivo, a sentença


fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou
categoria substituídos pelo impetrante.
Em segundo lugar, o mandado de segurança coletivo não induz
litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da
coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual
se não requerer a desistência de seu mandado de segurança
no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da
impetração da segurança coletiva.
Em último lugar, no mandado de segurança coletivo, a liminar
só poderá ser concedida após a audiência do representante
judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se
pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

23.2.2. AÇÃO CiVIL PÚBLICA (LEI N° 7.347/85)

Certamente que a moderna noção de acesso à justiça não se limita


ao resguardo de direitos individuais violados. Vai, portanto, mais
além, preocupando-se, agora, com a tutela jurisdicional de interesses
coletivos em seu sentido mais amplo (conflitos de massa).
Com o fito de possibilitar a defesa dos interesses em questão (meio
ambiente, consumidor, bens de valor artístico, estético, paisagístico,
histórico, turístico, etc.), o legislador criou, por intermédio da Lei
nº 7347/85, a denominada "ação civil pública".

A) Legitimidade
De acordo com o artigo 5º, são legitimados: o Ministério Público,
a Defensoria Pública, as Pessoas Jurídicas de Direito Público (União,
Estados, D.F., Municípios, Autarquias e Fundações de direito público),
empresa pública, sociedade de economia mista e associação (desde
que, quanto a esta, esteja constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano e inclua, dentre suas finalidades, a tutela dos interesses
previstos na lei em comento).

ANVRÉ Mo f A, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO flGUEJREOO, SABRINA DoURADO 763
Resumo Teórico

Algumas nuances devem ser aqui consignadas.


A primeira, que fica facultado ao Poder Público e a outras asso-
ciações legitimadas habilitar-se como litisconsortes de qualquer das
partes (tanto no polo ativo quanto passivo, portanto).
A segunda, que em caso de desistência infundada ou abandono
da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro
legitimado assumirá a titularidade ativa.
Finalmente, quanto ao papel do Ministério Público, urge res-
saltar que, se não intervier no processo como parte, atuará obrigato-
riamente como fiscal da lei. Sua atuação, quando no polo ativo, é de
suma relevância, tendo em vista o seu poder de instaurar o chamado
inquérito civil público e o de requisitar documentos (prerrogativa
inexistente aos demais legitimados, os quais se limitam a requerer
certidões), no prazo por ele assinalado, os quais deverão ser prestados
em prazo não inferior a dez dias úteis.
Admitir-se-á, inclusive, o litisconsórcio facultativo entre os Minis-
térios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa
dos interesses e direitos de que cuida a mencionada lei (art. 5º, par. 5º).

:l ATENÇÃO!
O Ministério Público tem legitimidade para promover ação
civil pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de
mensalidades escolares (Súmula 643, STF).

B) Competência
Serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo
terá competência funcional para processar a causa. (art. 2º, LACP).
Apesar de estar apoiada no critério territorial a lei atribuiu-lhe natu-
reza absoluta. Isso quer dizer que não há modificação por vontade
das partes (foro de eleição) ou prorrogação pela não apresentação de
exceção declinatória de incompetência.
A propositura da ação prevenirá a jurisdição para outras deman-
das a serem propostas, com o mesmo objeto e causa de pedir (§ ú do
artigo 2º da LACP (Lei de Ação Civil Pública).

764 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL j Y edição


\ Resumo Teórico

O dispositivo em tela deve ser interpretado conjunta':'ente com o


arti o 93 do CDC (Lei nº 8.078/90}, tendo em vista que :x•ste':' danos
g - se limitam ao âmbito local, tendo repercussao regwnal ou
que nao . . . . .
até mesmo nacional. Preceitua o relendo dispositivo.

Artigo 93 . Ressahlada a competência da Justiça Federal,


é competente para a causa a JUStzça local:
I- no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano,
quando de âmbito local; . .
II _ no foro da Capital do Estado ou no do Dzstrzto Federal,
para os danos de âmbito nacional ou regzonal, aplzcando-se as
regras do CPC aos casos de competência concorrente.

Assim, seja pela justiça estadual ou federal, deve-se observar a


re ercussão do dano. Se àe âmbito locül, np foro onde ocorrera (resol-
v!do-se pela prevenção quando envolver diversas comarcas de um
mesmo estado); se de âmbito regional ou naczonal, no foro da capztal d~
estado, tendo-se que aplicar, mais uma vez, as regras do CPC quanto a
com etência pela prevenção. Ressalte-se, aqui, outra partlculandade:
não ~bstante ostentar natureza absoluta (funcional}, a lei a>Jtonza a
modificação de competência mediante as regras da conexao, conti-
nência e prevenção. . · f d 1
Ressalte-se, por fim, que a ACP será julgada por J~Zz e era
quando a união tiver interesse (na condição de autora, re, assistente
ou opoente).

C) Objeto
O artigo 3º menciona que a ação poderá t:r como objeto a con"
denação em dinheiro ou obrigação de fazer ou nao Jazer.

O) 0 termo de ajustamento de conduta (TAC)


, - s pu'blicos le<>itimados poderão tomar, dos .interes-
O s orgao o· , .
sados compromisso de ajustamento de sua condu!~ as exigencias
legais, mediante cominações, que terá eficácia de titulo executivo
extrajudicial.

765
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO So!IRAL, LLT!i\NÜ FIGUEIREDO. ROBERTO FJGÚEIRCDO, SABRlNA DOURADO
f PROCEDIMENTOS ESPECLAIS

Resumo Teóri~

E) Procedimento
O procedimento seguirá os seguintes passos:
'
I> Petição Inicial: deverá obedecer aos requisitos gerais descritos nos
artigos 319 e 320 do NCPC. Perceba, inclusive, quanto à instrução dos
documentos, que os interessados poderão requerer às autoridades
competentes as informações que julgarem necessárias, a serem for-
necidas no prazo de 15 (quinze) dias. Quanto ao ministério público,
o seu poder é de requisição, conforme mencionado alhures.

I> Admissibilidade: Proposta a demanda os autos irão conclusos para


a adinissibílidade e verificação àe cabim.ento de lilni:nar. Poderá
o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia,
em decisão sujeita a agravo. ~erceba que a liminar determinará C'
cumprimento da obrigação específica (tutela específica -Jazer ou
não Jazer), podendo o magistrado valer-se (a requerimento ou de
ofício) das intituladas medidas executivas ou de apoio (a lei fala de
multa diária ou astreintes). Quanto à exigibilidade da multa diária,
a lei menciona que esta só será exigida do réu após o trânsito em
julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia
em que se houver configurado o descumprimento.

A concessão da liminar não se limita ao ataque pela via do agravo.


Destaque-se que a requerimento de pessoa jurídica de direito
público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à
segurança e à economia pública, poderá o Presidente do Tribunal a
que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a exe-
cução da liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo
para uma das turmas julgadoras. Seu prazo será de 5 (cinco) dias a
partir da publicação do ato.
É o chamado pedido de suspensão. O objetivo é preservar o que
denominamos de "interesses públicos relevantes".

I> Sentença e Coisa Julgada: Instruído o feito, os autos irão a julga-


mento.

FmTC1RA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL. \ 3a ediçãO


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Resumo Teórko

Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano


causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério
Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos desti-
nados à reconstituição dos bens lesados. No âmbito trabalhista, por
exemplo, os recursos irão ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
A sentença civil fará coisa julgada erga omnes (veja-se que a regra é
a ~e que a sentença faz coisa julgada entre as partes às quais é dada,
nao beneficiando nem prejudicando terceiros- art. 506, NCPC),
l'.os limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se 0
pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese
em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova (artigo 16, LACP).
Mais urna vez, deve-se interpretar o dispositivo em combinação
com o CDC (Lei nº 8.078/90), desta feita no artigo 103, senão vejamos,
analisando cada caso:

Artigo 103. Nas ações coletivas de que trata este código,


a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improce-
dente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fun-
damento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I
do parágrafo único do artigo 81 (interesses difusos ou
.
seJa, aqueles transindividuais, de natureza indivisí-
'
vel, de que sejam titulares pessoas indeterminadas
ligadas por circunstâncias de fato. Ex: danos ao mei~
ambiente);
li- ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria
ou classe, salvo zmproced€ncza por insuficiência de provas,
nos termos do inciso anterior, quando se tratar da· hipótese
prevzsta no mczso li do parágrafo único do artigo 81 (inte-
resse coletivo, ou seja, os transindividuais, de natu·
reza indivisível de que seja titular grupo, categoria
ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base);

ANtJRf MOTA, CR!STMNO SOBRAl, LUCIANO FlGUElREIJO, ROIIERTO fiCUEIREDO, SABRINA DOURADO 767
Resumo Teórico

A mutabilidade de resultados da coisa julgada, condicionada aos


resultados do processo é o que se denomina de coisa julgada secun-
dum eventum litis.
No caso de procedência da ação coletiva, os efeitos da coisa
julgada beneficiarão as vítimas e seus sucessores, os quais poderão
proceder à liquidação e execução.
Vale ressaltar que os efeitos da coisa julgada, nos casos de inte-
resses difusos ou coletivos, não prejudicarão os interesses e direitos
individuais dos integrantes da mencionada coletividade.
As ações coletivas, nos casos dos interesses difusos ou coletivos,
não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos
da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos
II e III do artigo em comento não beneficiarão os autores das ações
individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta
dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

~ATENÇÃO!

Eis a síntese dos efeitos da coisa julgada:

1) Em se tratando de direitos difusos ou coletivos:

PROCEDÊNCIA
~ beneficiará a todos os lesados -erga omnes (desde que os sujei-
tos individuais não tenham ingressado com a ação individual
ou, tendo, dela tenham desistido no prazo de 30 dias, a contar
da ciência nos autos do ajuizamento da coletiva);

IMPROCEDÊNCIA
~ a coisa julgada só atingirá os legitimados de ajuizar nova
ação, salvo se a improcedência tiver se dado por ausência
de provas, caso em que qualquer dos legitimados poderá
promover nova demanda;

2) Na hipótese de interesses individuais homogêneos. a impro-


cedência da demanda não poderá prejudicar o direito de a~ão

768 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL J Y edição


daqueles que não se habilitaram como litisconsortes na demanda
coletiva. Assim:

PROCEDÊNCIA
~ APENAS neste caso beneficiará a todos- erga omnes;

IMPROCEDÊNCIA
~ só prejudicará aqueles que tenham se habilitado _::orno litiscon-
sortes, ou seja, que tenham participado darelaçao processual.

,.. Despesas: quanto às despesas, não haverá ADIANTAMENTO de


custas, emolumentos, honorários penoms e qumsquer outras des-
pesas por parte dos legi~irrtados.
Já quanto à associação autora, esta não será condenada aos ônus
da sucumbência (em honorários de advogado, custas e despesas pro-
cessuais). É que não haveria sentido, tendo em vista que ela atu~ n~
condição de substituta processual. Constatada, todavia, s~a ma-fe,
será ela, bem como seus diretores, solidariamente responsavel pelos
honorários advocatícios e ao décuplo das custas.

..,. Execução: se a sentença contiver conteúdo condenatório, nos ca~o~


de interesses difusos e coletivos, o ente legitimado prossegmra
com sua execução, revertendo-se a pecúnia para fundo gerido por
conselho estadual ou federal, conforme o caso, com o obJetivo de
reconstituir os bens lesados.
Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da senten_ça
condenatóri~_, sem que a associação autora lhe promova ~ :x~cuçao,
deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual imCiatlva aos
demais legitimados. ,
Em se tratando de interesses individuais homogêneos, a verba sera
destinada àqueles que foram prejudicados, os quais executarão indi-
vidualmente ou por seus sucessores.

ANDRÉ MüTA, CRISTIANO SOBR.-'1.1-, LUCI·\'-'0 fiGU!:l!USDO, ROBERTO fiGUrJREOO, SA!IRINA DOURADO
769
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Resumo Teórico

23.2.3. AÇÃO POPULAR (LEI N" 4.717/65)

Originariamente cria~a por intermédio da Lei nº 4.717/65, fora


a ação popular disciplina&• expressamente na atual carta magna, a
qual consigna, em seu artigo 5º, LXXIII:

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popu-


lar que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administra-
tiva, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada máfé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência.

Vê-se, pois, que a ação popular fora criada com o fito de anular
ato prejudicial ao patrimônio público, seja ele meramente estatal (aspecto
primordialmente econômico, significando o prejuízo financeiro causado
à coisa pública) ou público-coletivo (aspecto valorativo, indicando a lesão
à moralidade administrativa, meio ambiente ou patrimônio histórico
e cultural).
A ação popular deve ser proposta no prazo de cinco anos, sob
pena de ser fulminada pela prescrição.

A) Legitimidade
A legitimidade ativa será de qualquer cidadão, considerado como
tal o eleitor, em pleno exercício dos direitos políticos. A prova da
cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou
com documento que a ele corresponda.
É facultado a qualquer cidadão habilitar-se corno litisconsorte
(litisconsórcio ativo) ou assistente do autor da ação popular. Veja que,
na verdade, a lei quis se referir à assistência litisconsorcial (ingresso pós-
tumo de terceiro que também é titular do direito discutido em juízo).
Se o autor desistir da ação, ficará assegurado a qualquer cida-
dão, bem como ao representante do Ministério Público, promover o
prosseguimento da ação.
Quanto à legitimidade passiva, a ação será proposta contra 1)
as pessoas públicas ou privadas mencionadas (aqui, a sujeição ao pala

770 EorroRA ARMADOR 1 PRÁTICA CJvu. I 3" edição


PROCEDIMENTOS ESPECLAIS I
I Resumo Teórico

passivo se dá pelo fato de que ela poderá ser condenada à adoção de medidas
administrativas); 2) autoridades, funcionários ou administradores que hou-
verem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado,
ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão; 3) os benefi-
ciários diretos do mesmo.
Perceba que, havendo beneficiários diretos no ato, haverá um
litisconsórcio passivo necessário, por determinação legal, entre a pessoa
jurídica e autoridade cuja atuação tiver sido decisiva na prática do ato e
o sujeito beneficiado. Se não houver benefício direto do ato lesivo, ou se
for ele indeterminado ou desconhecido, a ação será proposta somente
contra as outras pessoas indicadas .
'A pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato
seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou
poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao inte-
resse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.
O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar
a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou crimi-
nal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese,
assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.

B) Objeto
É a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio
público, sejam eles causados às pessoas jurídicas de direito público de
'qualquer das esferas políticas, sejam eles causados às entidades priva-
das das quais o poder público participe com mais de 50% (cinquenta
por cento) do capital, sejam, finalmente, aquelas subvencionadas pelos
cofres públicos.
Haverá nulidade sempre que nos atos houver vícios relativos à
incompetência.jorma, ilegalidade do objeto, inexistência dos motivosou desvio
de finalidade, ou seja, vícios de ilegalidade.
Urge ressaltar, conforme afirmado alhures, que se consideram
patrimônio público, para os fins da lei em comento, os bens e direitos
de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico.
Em se tratando de instituições ou fundações, para cuja criação
ou custeio o tesouro público concorra com menos de cinquenta por
cento do patrimônio ou da receita ânua, bem corno de pessoas jurídicas

ANDR( MOTA, CRISTIANO SOJlRAL, LUCIANO FlG\JEIREOO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA Dou!IADO 771
Resumo Teórico

?u e~tidades subvencionadas, as consequências patrimoniais da


mvahdez dos atos lesivos terão por limite a repercussão deles sobre
a ~ontrib':iç~o dos cofres públicos. O motivo é simples: aqui o poder
pubhco nao e detentor da maioria do capital e, portanto, sua vontade
não é decisiva para a prática do ato lesivo.

C) Competência
Será fixada de acordo com a origem do ato impugnado. Assim,
em um primeiro momento deverá ser observada a natureza federal ou
estadual, para que seja determinada a competência da justiça comum
estadual ou federal.
. Quando a competência for da justiça estadual, a vara especia-
hzada da fazenda pública, onde houve, cuidará de solver o conflito.
Sendo o pleito àe interesse simuitâneo da União e de qualquer
outra pessoa ou entidade de outra esfera, será competente a justiça
federaL
:-propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas
as açoes que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes
e sob os mesmos fundamentos.

D) Procedimento

Seguirá as regras do CPC com as alterações indicadas na lei.


Assim:

.,. :etiçã? inicial: para instruir a inicial, o cidadão poderá requerer


as en!I~~des mencionadas as certidões e informações que julgar
necessanas, bastando para isso indicar a finalidade das mesmas.
As certidões e informações deverão ser fornecidas dentro de 15
(qu~nze)di~s da entrega, sob recibo, dos respectivos requerimentos,
e so poderao ser utilizadas para a instrução de ação popular.

N_os casos em que o interesse público impuser sigilo, a ação


podera ser proposta desacompanhada das certidões ou informações
negadas, cabendo ao juiz, após apreciar os motivos do indeferimento, e
salvo em se tratando de razão de segurança nacional, requisitar urnas

772 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CiVIL ! 3a edição


] Resumo Teórico

e outras; feita a requisição, o processo correrá em segredo de justiça,


que cessará com o trânsito em julgado de sentença condenatória.

.,. Admissibilidade: ao despachar a inicial, o juiz ordenará: a) além


da citação dos réus, a intimação do representante do Ministério
Público; b) a requisição, às entidades indica,das na petição inicial,
dos documentos que tiverem sido referidos'pelo autor, bem como
a de outros que se lhe afigurem necessários ao esclarecimento
dos fatos, ficando prazos de 15 (quinze) a 30 (trinta) dias para o
atendimento.
Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do
ato lesivo impugnado.

,.. Defesa: o prazo de contestação é de 20 (vinte) d~as, prorrogáveis


por mais 20 (vinte), a requerimento do interessado, se particular-
mente difícil a produção de prova documental, e será comum a
todos os interessados, correndo da entrega em cartório do mandado
cumprido, ou, quando for o caso, do decurso do prazo assinado
em edital.
A bem da obediência aos postulados do contraditório e ampla
defesa, a doutrina tem entendido que o artigo 7º da LAP não foi
recepcionado pela atual constituição, pelo que se a citação por edital
se afigura possível apenas nas hipóteses indicadas no CPC.

.,. Razões finais: havendo requerimento de prova, o processo tornará


o rito ordinário, conforme se sabe. Não sendo requerida ou determi-
nada a produção de prova testemunhal ou pericial, o juiz ordenará
vista às partes por 10 (dez) dias, sendo-lhe os autos conclusos para
sentença.

.,. Sentença: A sentença, quando não prolatada em audiência de


instrução e julgamento, deverá ser proferida dentro de 15 (quinze)
dias do recebimento dos autos pelo juiz.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FJGUEJREDO, RoBERTO FJGUEJREDO, SABRINA. DOURADO
773
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Resumo Teórico

A sentença que, julgando procedente a ação popular, decretar a


invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas
e danos os responsáveis pela sua prática e os beneficiários dele, res-
salvada a ação regressiva contra (bs funcionários causadores de dano,
quando incorrerem em culpa.
O autor somente arcará com as custas judiciais e com os ônus da
sucumbência se a ação for proposta de má-fé.
Se 0 valor da lesão ficar provado no curso da causa, será indi-
cado na sentença; se depender de avaliação ou perícia, será apurado
na execução, por meio da competente liquidação, por artigos ou
arbitramento.
Quando c réu condenado receber dos cofres públicos_. a execução
far-se-á por desconto em folha até o integral ressarcimento do dano
causado, se assim mais convier ao interesse público.
A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga omnes",
exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por defi-
ciência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra
ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
Por outro lado, a sentença que concluir pela carência ou pela
improcedência da ação está sujeita a() duplo grau de jurisdição, não
produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal. Apesar
da doutrina se referir que, aqui, há um "reexame necessário invertido",
percebemos que não é o caso. É que, como a ação popular visa proteger
0
patrimônio público afetado,a sua improcedência deve estar SUJeita
ao novo exame, a bem da defesa do patrimônio público.

~ Recursos: da sentença que julgar a ação procedente caberá apelação,


com efeito suspensivo.
Das decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento. Das
sentenças e decisôes proferidas contra o autor da ação e suscetíveis
de recurso, poderá recorrer qualquer cidadão e também o Ministério
Público.

~ Execução: A parte condenada a restituir bens ou valores ficará sujeita


a sequestro e penhora, desde a prolação da sentença condenatória.

EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3a edição


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Resumo Teórico

Decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da sentença conde-


natória de segunda instância, sem que o autor ou terceiro promova
a respectiva execução, o representante do Ministério Público a pro-
moverá nos 30 (trinta) dias seguintes, sob pena de falta grave.


23.2.4. JUIZADOS ESPECIAIS CíVEIS (LEI N° 9.099/95)

Preocupado com a agilidade na prestação jurisdicional bem


como com o atendimento dos ditames do acesso à justiça, previu o
legislador, por intermédio da Lei nº 9.099/95, um procedimento que
possibilitasse, ao máxirr. o, a solução das lides de natureza usimplória"
ou de menor complexidade.
Para tanto criou os juizados especiais cíveis, órgãos da justiça
ordinária estadual, com competência para a conciliação, processo,
julgamento e execução, das causas neia mencionadas.
Urge ressaltar que, devido à singeleza e agilidade, o processo
orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade,
economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a
conciliação ou a transação.

A) Competência
Quanto às regras gerais, o juizado especial cível tem competência
para conciliação, processo e julgamento (demandas cognitivas) das
causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
~ as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário
mínimo;
~ a ação de despejo para uso próprio (o objetivo é evitar o
ingresso de terceiro no feito, visto o procedimento em questão
o veda);
~ as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não exce-
dente ao fixado no inciso I deste artigo.

Na mesma linha, compete ao Juizado Especial promover a exe-


cução: I- dos seus julgados; 11- dos títulos executivos extrajudiciais,
no valor de até quarenta vezes o salário mínimo.

ANDRÉ MOTA, ClllSTlANO SOBRA!., LUCIANO FIGUEIREDO, ROlii:RTO FIGUEIRf.IJO, SAIJRINA DOURADO 775
Resumo Teórico

Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas


de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda
Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e
ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial.
A opção pelo procedimento previsto na lei em comento imp0r-
tará em renúncia ao crédito excedente ao limite acima mencionado
(40 salários), excetuada a hipótese de conciliação.

No que se refere à competência Territorial, a lei menciona o foro:


>- do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele
exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha
estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório (o que
não deixa de ser o seu domicílio!);
>- do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
• do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações
para reparação de dano de qualquer natureza.

Em qualquer hipótese, poderá a ação ser pwposta no foro do


domicílio do réu.

B) Partes'
De logo, é mister salientar alguns aspectos gerais relativos à
atuação das partes e seus procuradores.
Pois bem, em primeiro lugar, não poderão ser partes (autor ou
réu), no processo instituído por esta lei, o incapaz, o preso, as pessoas
jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa
falida e o insolvente civil.
Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes
comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado;
nas de valor superior, a assistência é obrigatória. Sendo facultativa a
assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou
se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se
quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao
Juizado Especial, na forma da lei local; o Juiz alertará as partes da

776 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CiVIL J 3a edição


\ Resumo Teórico

, .
d ogado quando a causa o reco-
convdeniênOcimaadno:a~:r~:~::,~go:;o ;oderá ser verbal, salvo quanto
men ar;
aos poderes especiais. . ·
O Ministério Público intervirá nos casos previstos em 1el.

:l ATENÇÃO! 1
I -
Não se admitirá, no processo, qualquer for.m.a _d_e inter;e~çao
·d . m de assistência Admitir-se-a o htlsconsorclO.
e terceuo ne ·

No mais, os polos da relação processual ficam assim estabelecidos:

. - de autor: I - as pessoas físicas capazes, excluídos os


1>- Na cond 1çao . . . I! · empre-
. . . s de direito de pessoas JUndicas; - as micro
cesswnano . .. •·r· ·- .l-~ ,.. ............,,... nl"o-~nizacão da
. UI~ as pessoas jurídiCaS quaUHLctua::;, >..v.uw ....,~o·· ·'. ~
sas, . bl' (OSCIP)· IV _ as soCledades
Sociedade Civil de Interesse Pu !CO '
de crédito ao microempreendedor;
. de 18 (dezoito) anos poderá ser autor,
Ressalte-se que o maiOr . T -
. dependentemente de assistência, inclusive para fins de conCl tçao:
m. a' luz do novo Código Civil, a capaCldade p ena e
ate mesmo porque,
adquirida em tal idade.

,.. Na condição de réu: qualquer sujeito poderá ser ~e':';.nda!o


perante o )EC, exceto o incapaz, o preso, as ~~ssoas JUr~ ;:~~a:
direito público, as empresas públicas da Umao, a mass
0 insolvente civil.

C) Procedimento
,.. Peti ão inicial: o processo instaurar-se-á com a _apresentação da
peti~ão inicial, valendo frisar que o pedido podera ser .a~resenta~o
verbalmente à secretaria do juizado, a qual o red~zlf~ a escn o,
. t'lizado o sistema de fichas ou formulanos Impressos.
po d end o seru 1
A e a deverá conter os seguintes requisitos (em linguage~
. 1 p ç , I)· I- o nome a qualificação e o endereço das partes,
51mp es e acess1ve . '

777
LUCIANO flGUE!REOO, RoBiiRTO fLGUEIREDO, SABRLNA DOURADO
ANDRÉ MOTA, (RISTIANO SOBRAL,
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Resumo Teórico

li - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta; III - o objeto e seu


valor (aqui é lícito formular pedido genérico quando não for possível deter-
minar, desde logo, a extensão da obrigação; se houver cumulação de pedidos,
a soma não poderá ultrapassar o montante ,ite 40 salários).

I> Citação: registrado o pedido, independentemente de distribuição


e autuação, a Secretaria do Juizado designará a sessão de concilia-
ção, a realizar-se no prazo de quinze dias, citando o réu para que
o mesmo compareça.

A citação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento


em mão própria. Tratando-se de pessoa jurídica ou firma indiv,idual,
será feita mediante entrega ao encarregado da recepção, que será
obrigatoriamente identificado. Sendo necessário, será efetivada por
oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória.

:>ATENÇÃO!
No procedimento descrito na Lei nº 9.099/95 não se fará citação
por edital.

I> Conciliação: a conciliação será conduzida pelo juiz togado, leigo


ou por conciliador sob SJ.la orientação. Comparecendo inicialmente
ambas as partes, instaurar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação,
dispensados o registro prévio de pedido e a citação. Não compa-
recendo o demandado à sessão de conciliação ou à audiência de
instrução e julgamento, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados
no pedido inicial, salvo se o contrário resultar da convicção do Juiz.

Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada


pelo Juiz togado, mediante sentença com eficácia de título executivo.
Não havendo conciliação será designada audiência de instrução,
ocasião em que o réu apresentará a sua resposta

I> Instrução e julgamento: a audiência em questão é composta dos


seguintes momentos: I -Apresentação de defesa e réplica: a contesta-
ção, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa, exceto

77R FmTOllA AnMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3a edkão


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Resumo Teórico

arguição de suspeição ou impedimento do Juiz, que se processará


na forma da legislação em vigor. Não se admitirá a reconvenção,
podendo o réu formular pedido contraposto. O autor poderá
responder ao pedido do réu na própria audiência ou requerer a
designação da nova data, que será desde logo fixada, cientes todos
os presentes; li - Produção de provas: na audiência de instrução e
julgamento serão ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida,
proferida a sentença. Serão decididos de plano todos os incidentes
que possam interferir no regular prosseguimento da audiência.
As demais questões serão decididas na sentença.

Quanto à produção das provas, observar-se-á o seguinte: a) sobre


os documentos apresentados por uma das partes, manifestar-se-á
imediatamente a parte contrária, sem interrupção da audiência; b)
As testemunhas, até o máximo de 3 (três) para cada parte, comparece-
rão à audiência de instrução e julgamento levadas pela parte que as
tenha arrolado, independentemente de intimação, ou mediante esta,
se assim for requerido; c) Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá
inquirir témicos de sua confiança, permitida às partes a apresentação
de parecer técnico.

I> Sentença: A sentença mencionará os elementos de convicção do


Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência,
dispensado o relatório.
Não se admitirá sentença condenatória por quantia ilíquída, ainda
que genérico o pedido.
É ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada
de 40 (quarenta) sa'!ários mínimos.

,.._ Recursos: são cabíveis os seguintes recursos: I - Recuiso inomi-


nado: Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou
laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado. O recurso
será julgado por uma turma composta por três Juízes togados,
em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede
do Juizado. No recurso, as partes serão obrigatoriamente repre-
sentadas por advogado. O recurso será interposto no prazo de 10

ANllRil MOT.-"., CRISTIANO SOBRAL, LUCI<\NO F!GUE!REOO, ROllERTO F!GllEIREOO, SABRINA DOllR/\00 779
Resumo Teórico

(dez{ dias, co:ltados da ciência da sentença, por petição escrita, da


qua constarao as razões e o pedido do recorrente. O pre aro-será
feito,_ mdependentemente de intimação, nas quarenta e !to horas
~egmntes a mterp~sição, sob pena de deserção. Após o preparo, a
ecretana Intimara o recorrido para oferecer resposta escrita no
àrazo de 10_(dez) dias; li- Embargos de declaração: caberão embargos
e dedara!ao quando, na sentença ou acórdão, houver obscuridade
contrad1cao om ISsao
· - ou d UVIda.
· · . . po d em ser'
. . ~ ' , Os erros m ate nats
corngidos de oficio. Os embargos de declaração serão interpostos
p~r escnto ou o!almente, no prazo de 5 (cinco) dias, contados d
Ciencta da dec1sao. a

. - _Quando interpostos contra sentença, os embargos de declaração


uao Interromper 0 prazo -
-u d L . º para apresentaçao de outros recursos (artigo
::> a e1 n 9.099/95).

780
EDITORA ARMADOR ! PRATICA CIVIL ! 3a edição
24.

DA EXECUÇÃO

24.1. ASPECTOS GERAIS

O processo de conhecimento e a execução são duas formas de


manifestação de jurisdição que não se confundem haja vista possuí-
rem distintas finalidades.
Assim, o processo de conhecimento é manejado na perspec-
tiva de se obter certeza quanto ao direito. O contraditório é amplo,
há exaustiva produção de provas e por meio da sentença o juiz diz '
quem tem razão quanto ao direito controvertido. Note que o termo
cognição ajusta-se à circunstância de que é nesta relação processual
que o magistrado tomará conhecimento a respeito da titularidade do
direito, estando, até então, alheio aos fatos da causa.
Por outro lado, a execução tem como pressuposto a certeza quanto
ao direito (já se conhece o seu titular). Essa certeza é outorgada por
umtítulo a que a lei confere força executiva- seja ele judicial ou extra-
judicial- e que obriga o devedor a uma prestação de pagar (ex: sen-
tença que condena ao pagamento de quantia, a título de indenização
por danos materiais), de entregar coisa (ex: sentença que determina
a entrega de imóvel disputado em juízo), de fazer (ex: sentença que
condena pla(lo de saúde a realizar cirurgia anteriormente negada) e
não fazer (ex: sentença que condena empresa a não prosseguir com
atividade poluidora). Na execução, a atuação do órgão jurisdicional
é para a efetivação do direito. O contraditório é restrito à ciência da

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO flGUUREOO, ROBERTO fiGUlilRELlO, SABRINA DoURJ\.00 781
!DA EXECUÇÃO
Resumo Teórico I

execução, não há produção de provas e o juiz não profere sentença.


O órgão jurisdicional apenas pratica atos para a satisfação do crédito
revelado no título executivo. Esses atos processuais para a satisfação
do crédito são a penhora, a adjudicação, a V·['nda pública do bem, a
venda do bem por particular e a remição.

24.1.1. REQUISITOS PARA A REALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO

A atividade jurisdicional executiva é marcada pelo atributo


da coercitividade, sendo certo afirmar que ela constitui exceção, no
sentido de que o mesma sé se!""á !!:staurado r.o caso de insucesso do
cumprimento espontâneo da obrigação.
Portanto, ela não pode se desenvolver validamente sem que haja
o atendimento de certos requisitos os quais evitem a nulidade do
procedimento em questão.
Tamanha é a importância na obediência dos requisitos que a
matéria possui índole pública, conhecível de ofício pelo magistrado
a qualquer momento e grau de jurisdição.
Dois são os requisitos autorizadores da atividade executiva: título
executivo e inadimplemento.

A) Título Executivo

É o documento a que a lei atribui força executiva, necessário p<:ra


que se desencadeie a atividade jurisdicional executiva.
A sua Importância no contexto da execução é vislumbrada na
medida em que não há atividade jurisdicional executiva senão a partir
da existência de um título (nulla executio sine titulo).
Os requisitos para que os títulos possam propiciar o desencadea-
mento da atividade jurisdicional executiva são a certeza, a liquidez e
a exigibilidade (artigo 783, NCPC). Título certo é aquele que possui
crédito sobre o qual não pairam dúvidas, seja porque formalmente
preenche os requisitos necessários para que possa ter validade perante
o mundo jurídico (títulos extrajudiciais), seja pelo fato de que a decisão
judicial que originou o crédito transitou em julgado (títulos judiciais);

782 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIl I 3


3
edição
DA EXECUÇÃO I
!Resumo Teórico
a liquidez é a fixação da coisa ou quantia devida no título executivo.
Título executivo que não apresenta a coisa ou quantia devida; precisa
passar por um procedimento prévio denominado de "liquidação";
quanto à exigibilidade, é questão que diz respeito ao vencimento da
obrigação prevista no título. É exigível a dívida já vencida. Em outros
termos, estará satisfeitó tal requisito se houver a indicação de que a
obrigação já deva ser cumprida, seja porque ela não está sujeita a termo
ou condição, seja porque estes já foram demonstrados.

Os títulos podem ser judiciais ou extrajudiciais.

Títulos judiciais (art. 515, NCPC) consistem em provimentos


jurisdicionais, ou equivalentes, que contêm a determinação a uma
das partes de prestar algo à outra. São eles:

~ A decisão proferida no processo civil que reconheça a existência


de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa QU pagar quantia:
11
a doutrina aponta como sendo 0 título .._executivo por excelência",
sendo certo que a maioria das execuções são lastreadas nesta espé-
cie de título.

~ A sentença penal condenatória transitada em julgado: o trânsito


em julgado constitui pressuposto imprescindível, na medida em
que, enquanto não operada, existe a presunção de inocência daquele
que está sendo processado.

~ A sentença homologatória de autocomposição judicial: o CPC


atribui ao magistrado a tarefa de, como condutor do processo, tentar
conciliar as partes a qualquer momento. O objetivo é fazer com que
a lide seja resolvida pela atividade das próprias partes. A doutrina
costuma distinguir os termos nconciliação" e utransaçãO," apon-
tando que ambos consistem em acordo realizado pelas partes, sendo
que, enquanto no primeiro caso há o incentivo do magistrado, na
transação o acordo é operado por mera iniciativa das partes.

~ A sentença arbitral: a arbitragem constitui instrumento alternativo


de solução de conflitos, na medida em que as partes, de comum

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FiGUEIREDO, SABRINA DOURADO 783
Resumo Teórko I

acordo, elegem árbitro(s) para solucionar eventuais controvérsias


advindas de um dado negócio jurídico realizado. Observe que a
a~vidade do árbitro se restringe à prolação da decisão, visto que o
nao cumpnmento da sentença arbitral enseja a execução perante o
~para.to jurisdicional, órgão investido de jurisdição para proceder
as drasl!cas medidas de execução.

.,.. A decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de


qualquer natureza: não se confunde com a decisão homologatória
de autocomposição judicial. Naquela, o acordo é firmado para pôr
fim a uma dada relação processual, ao passo que, aqui, consiste em
um procedimento de jurisdição voluntária onde os interessados
ingressam com a ação homologatória postulando a chancela do
acordo extrajudicial firmado.

.,.. A sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de


Justiça.

.,. ? forma~ e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao


Inven~anante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular
ou umversal: note que, em atendimento aos limites subjetivos da
c~isa julgada, o título em questão não pode ser oposto ao terceiro
nao par:Icipante da relação processual, de modo que qualquer
controversia só será dirimida mediante demanda de conhecimento.

.,.. O crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos


ou honorários forem aprovados por decisão judicial.

Por outro lado, os títulos extrajudiciais (art. 784, NCPC) são


documentos, públicos ou particulares, que consubstanciam uma
relação jurídica de crédito e de débito e que recebem força executiva
mediante expressa previsão legal. São eles:

.,.. Títulos de crédito: a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata,


a debênture e o-cheque.

.,.. A escritura pública ou outro documento público assinado pelo


devedor.

784 EotTORAARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


IResumo TeÓ~ico
.,.. O documento particular assinado pelo devedor e por duas teste-
munhas: diversamente da escritura pública ou documento público,
aqui existe a necessidade da presença de duas testemunh.as ao ato
jurídico, haja vista a natureza particular do documen_:o. E co;num
visualizar a espécie em questão na chamada confissao de divida,
a teor do consubstanciado na Súmula 300, STJ .

.,.. o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público,


pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos tr:nsatores:
muito comum vislumbrar o instrumento em tela, no ambJto do
MP, quando da celebração do Termo de Ajustamento de Condu~a.
Questão interessante é que a Lei nº 11.737/08, dando nova redaçao
ao artigo 13 da Lei nº 10.741/03, outorgou legitimidade, também, à
defensoria pública para efetuar transação de alimentos que envol-
vam 1"dosos (ant es so. pertencia '1P) . -éL 1....~e-'-
. . . a o 1v ............. ..,.." locrlti"rnldade
.iLv 'i.,_.'"' ..... ~-- 0 ·~ -+·+ -- .

para referendar as transações relativas aos alimentos deve ser ampla,


envolvendor inclusive, àquelas concernentes a outras pessoas;

.,.. Os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução,


bem como os de seguro de vida.

.,.. O crédito decorrente de foro e laudêmio: os créditos em questão


surgem do instituto da Enfiteuse, Pode ser definida como sendo
direito real que autoriza uma pessoa a usar, gozar e dispor de .
0
determinada coisa, mediante o pagamento de uma pensão anual
(foro). Outrossim, o laudêmio é a compensação de\· ida pelo não-uso
do direito de preferência, por parte do senhorio direto, quando da
alienação do imóvel.
.,.. O crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel
de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e
despesas de condomínio.

.,.. A certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos


Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios,
correspondente aos créditos inscritos na forma da lei: a inscrição
da dívida ativa deverá ser feita findo o prazo final para o pagamento,

785
ANDfi.Ê MOTA, (R!STIANO SoBRAL, LUCIANO F!GUI>IREDO, ROBERTO fJGUEltl.EDO, SABRINA DouRADO
I DA EXECUÇÃO
Resumo Teórico l
fixado pela lei, ou após decisão administrativa final. A Certidão
da Dívida Ativa é um documento que goza de presunção relativa
de certeza e liquidez, e servirá de fundamento para o início de um
processo de execução fiscal contra o devedor (L:'i nº 6.830/80). Evi-
dentemente, diz-se que a presunção de certeza e liquidez é relativa,
porque admite prova em contrário. O devedor/executado poderá
provar em seus embargos qualquer irregularidade na constituição
do crédito tributário e poderá alegar até mesmo a inconstitucionali-
dade da lei que serviu de supedâneo para o lançamento do tributo.

~ O crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordiná-


rias' de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção
ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente
comprovadas;

~ A certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa


a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos
por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;

[>Todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atri-


buir força executiva: o inciso em tela demonstra que as hipóteses
arroladas no artigo são meramente exemplificativas (numerus aper-
tus), de modo que o legislador, em outros diplomas legislativos,
poderá atribuir força executiva a certos documentos, a exemplo
do que ocorre com o par. 6º do artigo 5º da LACP (Lei nº 7.347/85),
o qual trata do termo de ajustamento de conduta firmado junto
aos entes legitimados para a ação (União, estados, municípios,
autarquias, fundações, empresas públicas, sociedade de economia
mista, MP, Defensoria Pública, Associação).

B) Inadimplemento

Para que se torne viável a execução, é mister, além da presença do


título, que tenha havido a violação da norma jurídica, consistente na
não satisfação espontânea da obrigação nele consubstanciada. É por

786 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiviL 1 3" edição


DA EXECUÇÃO I
I Resumo Teórico

isso que o legislador afirma que "O credor não poderá iniciar a execução
ou nela prosseguir se o devedor cumprir a obrigação ... " (art. 788, NCPC).
A simples verificação, no título, de que ocorreu o vencimento é
prova suficiente do inadimplemento e consequente desencadeamento
da atividade executiva.
Neste diapasão, incumbe ao devedor o ônus de provar a quitação
c' a dívida, mediante defesa em impugnação ao cumprimento de sentença
(se a execução for de título judicial) ou embargos à execução (se a exe-
cução for de título extrajudicial).

24.1.2. DESISTÊNCIA DA_E_l(!'_CUÇÃ_<>_____ ~-- __


~
i
·~
.;
Assim como é possível ao autor desistir da ação de conhecimento
(com a concordância do réu, se já apresentada a contestação), é admis-
sível, também, a desistência da ação de execução ou de apenas algu-

Ij mas medidas executivas. Quanto à desistência da execução, devemos


efetuar duas observações: I) serão extintos os embargos que versarem
apenas sobre questões processuais, pagando o credor as custas e os
honorários advocatícios; II) nos demais casos, a extinção dependerá
I da concordância do embargante (art. 775, NCPC). '

I'
l 24.1.3. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE fAMÍLIA
(LEI N" 8.009/1990)

I Os atos executivos não devem levar o devedor a uma situação


incompatível com a dignidade da pessoa humana.

I
I
A preocupação com a dignidade da pessoa humana é questão
erigida a foro constitucional, sendo mais precisamente um dos fun-
damentos de nossa república federativa (artigo 1º, III da Constituição
Federal). O CPC de 2015 também consagrou tal princípio através do
seu artigo 8º.
A condição de devedor não desapossa a pessoa de sua digni-
dade e a atividade jurisdicional de cumprimento da obrigação deve
ter em vista essa condição original e imutável. Assim é que formas

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FiGUEIREDO, RoBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 787
Resumo Teórico

de exposição do devedor são repelidas pelo ordenamento jurídico e


sujeitam o infrator à reparação do dano moral.
Por isso é que bens que permitam uma vida com dignidade são
preservados da ação estatal executiva, a exemplo do que ocorre com
o bem de família, previsto na Lei nº 8009/90.
Eis alguns artigos que merecem destaque:

Artigo 1'. O imóvel residencial próprio do casal, ou da


entidade familiar, é impmhorável e não responderá por qual-
quer tipo de dívida ciPil, comercial, fiscal, previdenciária ou
de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou
filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas
hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imó-
vel sobre o ~Fiül se asstlilüíll a cuHstrwiio, as plantaçães, as
benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos,
inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a
casa, desde que quitados.

Artigo 2Q. Excluem-se da impenhorabilidade os veículos


de transporte, obras de arte e adomos suntuosos.

Perceba que a impenhorabilidade não alcança os veículos de


transporte e as obras de arte e adornos suntuosos, haja vista que eles
não constituem bens indispensáveis a uma vivência com dignidade.
Mas, atenção! Sendo o veículo utilizado para o exercício da profissão
(ex: taxista), será ele impenhorável, nos termos do artigo 833, V, NCPC.

:l ATENÇÃO!
Aponte-se que, à luz da jurisprudência pacificada no STJ, o cone
ceito de impenhorabilidade do bem de família abrange também
o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas ou viúvas
(Súmula 364).
O conceito de bem de família não alcança a vaga de garagem
autônoma que tenha matrícula própria no registro de imóc
veis, consoante Súmula 449, STJ. É que, neste caso, a unidade

788 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3a edição


!Resumo Teórico
constitui-se em unidade independente e, por consequência,
poderá ser objeto de relações jurídiq;s aut~no:nas (cessão, locação,
vmda, etc.), não se confundindo com o prmctpal.
É impenhorável o imóvel que esteja locado a,terceiro, desde que
a renda obtida seja revertida para a subststenCla ou a moradta
. de sua família (Súmula 486, STJ). ·

Acerca da possibilidade de utilização de vários imóveis para


a residência pelo devedor, o legislador mediante o artigo 5' da Lei
nº 8.009/90 assim se pronunciou:

Art. 5'. Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata


esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado
pelo casal ou pela entidade familiar para moraáia permanente.
Parágrafo único- Na hipótese de o casal, ou entidade fan;n-
liar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como reszden-
cia, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor
valor salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no
Regis;ro de Imóveis e na forma do artigo 70 do Código Civil.

o objetivo do legislador foi fazer com que o devedor, alegando


a moradia simultânea em mais de u'm imóvet quisesse se escusar do
cumprimento de suas obrigações.

:l ATENÇÃO!
A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de exe-
cução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de ?~tra na tu~
reza. Mas existem situações em que o bem de famtha podera
ser penhorado, senão vejamos:
~ pelo titular do crédito decorrente do financiamento dest~n~do
à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos credttos
e acrésd!I,los constituídos em função do respectivo contrato;
~ pelo credor de pensão alimentícia;
~ para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e
contribuições devidas em função do imóvel familiar;

ANDRÉ MaTA., CRISTIANO SOBRAL,LUCI\NOflGllEIRLDO, ROBERTO flGUE!REDO, 5ABRINA DOURADO


789
I DA ExECUÇÃO
Resumo Teórico j

• para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como


garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
~ por ter sido adquirido com produto de crime ou para ;execução
de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização
ou perdimento de bens.
~ por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação.

24.2. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL

No capítulo anterior, verificou-se que o processo de conheci-


mento, de rito comum ou especial, é capaz de desaguar na confecção
de um documento com força executiva, denominado "título executivo".
Observou-se, também, que, não sendo a obrigação espontaneamente
cumprida, passaríamos à nova etapa procedimental, de natureza
executiva, denominada de "fase de cumprimento de sentença", cujos
procedimentos estão capitulados na Parte Especial, livro I, título li,
do Novo CPC.
Ocorre que existem outros documentos, capitulados no artigo
784, NCPC, que possuem natureza executiva, sendo desnecessário
ajuizamento de demanda cognitiva: são os títulos executivos extra-
judiciais. De posse deles, o credor poderá valer-se, diretamente, de
demanda executiva, originando um processo de execução autônomo.
Destarte, o processo de execução autônomo é aquele utilizado
para os títulos executivos extrajudiciais, cujos procedimentos estão
inseridos na Parte Especial, livro li do Novo CPC.

24.2.1. OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER

A exemplo do que ocorre com as obrigações para entrega de coisa,


as obrigações de fazer fundadas em título judicial serão executadas
DA EXECUÇÃO I
I Resumo Teórico

mediante as técnicas da efetivação da tutela específica, com a utilização


das medidas de apoio previstas no artigo 536, § 12, NCPC.
O processo executivo autônomo remanesce, contudo, nas obri-
gações apoiadas em título executivo extrajudicial. Assim, cabe-nos
abordar, agora, a execução das obrigações de fazer e não-fazer fun-
dadas em título executivo extrajudicial e disciplinadas nos artigos
814 a 823 do NCPC.

Vejamos o procedimento a ser utilizado:

I> Petição inicial: em atendimento ao princípio da inércia, o credor


deverá elaborar a petição inicial, nela acostando o título executivo
que serve de base à execução, além de apontar expresso pedido de
citação do devedor para cumprir com a obrigação.

I> Juízo de admissibilidade: intentada a ação, os autos irão conclu-


sos ao magistrado para que este efetue o juízo de admissibilidade
da demanda executiva, podendo tomar uma dentre as seguintes
atitudes:

1) emenda da inicial, sob pena de indeferimento (se ausente o


título, por exemplo); 2) indeferimento no caso de vício insanável
(a exemplo de manifesta ilegitimidade de parte); 3) processamento da
execução, onde o juiz fixará multa por período de atraso no cumpri-
mento da obrigação e a data a partir da qual será devida. Se o valor da
multa estiver previsto no título e for excessivo, o juiz poderá reduzi-lo.

I> Citação: proposta a demanda e realizado o juízo de admissibilidade,


o devedor será citado para satisfazer a obrigação no prazo assinado
pelo magistrado, se outro não estiver disposto no título executivo.

I> Atitudes do réu: sendo citado, poderá o réu adotar as seguintes


posturas: 1) satisfação voluntária da obrigação: a satisfação volun-
tária da obrigação extingue o processo, proferindo o magistrado,
por conseguinte, sentença finalizando a relação processual execu-
tiva; 2) inércia: permanecendo o devedor inerte no cumprimento
da obrigação, duas alternativas restarão ao credor: sendo fungível

ANDRÉ MaTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fJGUEIREDO, ROBERTO FiGUEIREDO, 5ABRINA DOURADO 791
Resumo Teórico I

a prestação de fazer (aquela que pode ser prestada por qualquer pessoa,
a exemplo de um contrato para transporte escolar), poderá insistir no
cumprimento da obrigação específica, a ser realizada por um ter-
ceiro às custas do devedor. Neste caso, o credor apresentará simples
proposta a ser homologada pelo magistrado após a oitiva da parte
cOI:ctrária. Sendo aprovada, caberá ao credor adiantar as despesas
a serem efetuadas, as quais serão cobradas posteriormente ao
devedor, sob pena de execução forçada; Sendo infungível a pres-
taçãq (a exemplo de cantor renomado que não mais deseja executar show
ou artista plástico a confeccionar determinada escultura) ou, ainda que
fungível, desejando o credor, poderá a obrigação se converter em
perdas e danos, de modo que a obrigação específica se transmudará
em genérica, observando-se, daí por diante, as regras pertinentes
à execução por quantia certa,: 3) embargos do devedor: é a ação
incidental apresentada pelo devedor, visando combater aspectos
relativos à obrigação disposta no título executivo. Sendo julgados
procedentes, a execução será extinta. Sendo rejeitados, proceder-se-á
de conformidade com a opção executiva dada ao credor, nos termos
anteriormente expostos.

~ Obrigações de não-fazer: a rigor, a execução de obrigação de não-


jazer representa, muitas vezes, na prestação de ato positivo (num
fazer), consistente na obrigatoriedade, por parte do devedor, de des-
fazer o ato a que estava proibido realizar. Por exemplo, aquele que
se comprometeu não construir muro acima de determinado limite
(num condomínio, por exemplo), será obrigado, por intermédio de
processo executivo, a deshzer a construção realizada em desacordo
com a obrigação consubstanciada no título.

24.2.2. OBRIGAÇÕES PARA ENTREGA DE COISA

O objetivo, aqui, é forçar o devedor a cumprir obrigação de entre-


gar coisa, quando o ajuste estiver consubstanciado em documento
cuja a lei atribuiu força executiva. É o caso, por exemplo, de contrato,

792 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL I 3a edíção


1 Resumo teon..._.,

devidamente assinado pelo devedor e duas testemunhas, em que ficou


ajustada a entrega de mercadorias, as quais não foram entregues.
Eis 0 procedimento para a execução de título extrajudicial:

~ Petição inicial: além de anexar o título executivo que s~rve. d.e


base à execução, a petição inicial será apresentada com a mdlVl-
duqlização da coisa na hipótese do título prever cOisa certa ou CUJa
escolha caiba ao credor.
Se, cabendo ao credor a escolha, este não proceder com a discri-
minação do objeto da obrigação, deverá o magistrado determ;nar a
emenda, sob pena de extinção processual sem resolução de mento.
Em se tratando de entrega de coisa incerta, cup escolha cmba
ao devedor, este será citado para efetuar a escolha, entregando-a
individualizadamente. , . , .
De toda forma, feita a escolha, a parte contrana podera impug-
ná-la dentro de 15 (quinze) dias.

~ Despacho: O legislador previu a possibilidade de o juiz fixar, ao


despachar a inicial, multa diária para a hipótese de demora no cum-
primento da obrigação. É a denominada "astreintes", med1da de
apoio que tem por objetivo constranger o devedor ao cumpnmento
imediato da obrigação. Vale ressaltar que o valor da penahdade
em questão poderá ser diminuído ou majorado, a depender de se
vislumbrar excessivo ou insuficiente.

~ Citação: proposta a demanda e realizado ~ juízo de admissibili-


di!de, 0
devedor será citado para, em 15 (qmnze) d1as, sallsfazer a
obrigação.
Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse
ou busca e apreensão, conforme se tratar de bem imóve! ou móvel,
cujo cumprimento se dará de imediato, se o executado nao sallsfizer
a obrigação nci prazo que lhe fOI des1gnado.

ANDRÉ MOT-''• CR!STIA.NO $oRRAL, LUCIANO flGUEIRiiDO, ROBERTO ftGUEIREDO, $A.BRINII DoURADO
793
I DA EXECUÇÃO

Resumo Teóricol

~Atitudes do executado: feita a citação, o executado poderá adotar


uma das seguintes posturas: 1) entrega voluntária da coisa: a
entrega da coisa extingue a obrigação e o processo, exceto na hipó-
tese de necessidade de prosseguimento da demanda em vjrtude
de pagamento de frutos ou fixação de indenização por prejuízos
ou, ainda, apuração de multa (prevista no título ou na decisão
fixada pelo juízo), caso em que a execução passará a ser proces-
sada mediante o rito da obrigação por quantia certa; 2) embargos
do devedor: é o instrumento de defesa apresentado pelo devedor,
visando combater aspectos relativos à obrigação disposta no título
executivo.

~ A alienação da coisa litigiosa: Alienada a coisa quando já litigiosa,


será expedido mandado contra o terceiro adquirente, que somente
será ouvido após depositá-la. O depósito da coisa em juízo pelo
terceiro é pressuposto de que qualquer manifestação dele possa ser
conhecida pelo juízo. O terceiro poderá se opor à execução mediante
o instrumento de embargos de terceiro (arts. 674 a 681, NCPC).

· ~ Da impossibilidade do cun1primento da obrigação específica: caso


não seja mais possível o cumprimento da obrigação específica (seja
porque a coisa se deteriorou, não foi encontrada ou, finalmente, não
for requisitada das mãos de terceiro) a obrigação se converterá em
genérica (execução por quantia certa, calculada com base no valor da
coisa mais as perdas e danos). "Será ·mister, no entanto, que o credor
proceda com a prévia liquidação, mediante estimativa em planilha
de cálculos (a qual acompanhará a inicial) ou arbitramento.

24.2.3. ÜBRIGAÇÔES PARA PAGAMENTO DE QUANTIA

A execução por quantia certa tem por objetivo expropriar bens


do devedor a fim de satisfazer o direito do credor, consubstanciado
no título executivo judicial ou extrajudicial.
Conforme exposto alhures, os procedimentos executivos pos-
suem algumas diferenças, conforme se baseiem em título judicial ou

794 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIl. ! 3a edição


DA EXECUÇÃO !
I Resumo Teórico

extrajudicial, especialmente quanto à forma de defesa do devedor.


No mais, os traços procedimentais são os mesmos, tendo em vista a
aplicação subsidiária da disciplina de execução de quantia certa de
títulos extrajudiciais ao rito do cumprimento de sentença de obrigação
de mesma natureza.
O cumprimento de sentença já foi objeto de estudo. Agora, cabe-
· nos deter na disciplina jurídica que norteia o procedimento executivo
das obrigações para pagamento de quantia certa.
A ação de execução de título extrajudicial segue, basicamente, o
seguinte esquema procedimental:

~ Propositura da ação: dar-se-á com a apresentação da petição inicial,


preenchida com os requisitos da lei (título executivo e demonstrativo do
débito atualizado). Poderá, inclusive, o credor já indicar bens penhorá-
veis do devedor, a teor do que preceitua o artigo 798, li, "c", NCPC.

O exequente poderá, no ato da distribuição, obter certidão com-


probatória do ajuizamento da execução, com identificação das partes e
valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, registro
de veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto.
É a chamada "averbação premonitória" (art. 828, NCPC). O objetivo
é fazer presumir em fraude à execução, qualquer alienação de bens
posterior a essa data, dispensada a prova de insolvência.

· ~ Despacho da inicial: apresentada a petição inicial, segue-se a


apreciação da sua admissibilidade pelo magistrado, o qual pode
determinar a sua emenda (acaso não possua o documento indis-
pensável, por exemplo), indeferi-la (acaso não venha a ser sanada a
irregularidade ou título não for executivo, por exemplo), ou, final-
mente, determinar o processamento da execução, com a expedição
de mandado de pagamento da obrigação. ·

Ao despachar a inicial, o juiz também fixará os honorários advo-


catícios de 10% (dez por cento), a serem pagos pelo executado. No caso
de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, a verba honorária será
reduzida pela metade.

ANDRil MOTA., CRJSTJI\NO SoBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FrGUEIRUlO, SA!l!UNA DoURADO 795
Kesurno -leónco 1

O valor dos honorários poderá ser elevado até 20% (vinte por
c"nto), quando rejeitados os embargos à execução, podendo a majora-
çao, caso não opostos os embargos, ocorrer ao final do procedimento
execullvo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado
do exequente.
I
P.. Citação: o 'executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3
(três) ~ias, contado da citação. Do mandado de citação constarão,
lambem, a ordem de penhora e a avaliação a serem cumpridas
pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no prazo
assmalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado.
Se o oficial de justiça não encontrar o executado, arrestar-lhe-á
tantos bens quantos bastem para garantir a execução. Nos 10 (dez)
dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará
o executado 2 (duas) vezes em dias distintos e, havendo suspeita
de ocultação, realizará a citação com hora certa, certificando por-
n:en~nzadarnente o ocorrido. Incumbe ao exequente requerer a
Cltaçao por edital, uma vez frustradas a pessoal e a com hora certa.

P.. Atitudes do devedor: recebida a inicial e realizada a citação, o


credor poderá tomar as seguintes atitudes: 1) Efetuar o paga-
mento voluntário: haverá a extinção do processo executivo e os
honorários advocatícios serão reduzidos pela metade; 2) Requerer
o parcelamento (art. 916, NCPC): poderá o executado, no prazo dos
embargos, reconhecendo o débito e juntando (trinta por cento) do
valor em execução, requerer seja admitido a pagar o restante em até
6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros
de 1% (um por cento) ao mês. Tal benefício não constitui ato que
vincula o magistrado, o qual poderá ou não deferi-lo. O exequente
será intimado para manifestar-se sobre o pedido de parcelamento
e o juiz decidirá o requerimento em 5 (cinco) dias. Enquanto não
apreciado o requerimento, o executado terá de depositar as parce-
las vmcendas, facultado ao exequente seu levantamento. Indeferida
a proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o depósito,
que será convertido em penhora; Deferida a proposta, o exequente
levantará a quantia depositada, e serão suspensos os atos executivos.

796 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CiviL j 3a edição


j Resumo Teonco

0 descumprimento de qualquer das prestações importará o venci-


mento antecipado das demais e o prosseguimento do processo, com
0
imediato início dos atos executivos bem como a imposição de multa
de 10% (dez por cento) sobre 0 valor das prestações remanescentes;
3) Apresentar embargos à execução: os embargos quahfi~am-se
como a defesa com a natureza jurídica de ação incidental autonoma.
Serão os embargos distribuídos por dependência, autuados em
apartado e instruídos com cópias das peças processuais relevantes.
Serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias. Vale ressaltar que,
não obstante seja a execução movida em face de litisconsortes co_:n
diferentes procuradores, o prazo dobrado do a;tigo 229, NCPC, nao
lhes será ap!icado. Recebidos os embargos, se~a o exeq~ent':. ouvt~o
no prazo de 15 (quinze) dias. Os embargos a execuçao nao terao
efeito suspensivo (art. 919, NCPC). O juiz poderá, a requenmento
do emba;gante, atribuir efeito suspensivo aos embargos qu,"ndo
verificados os requisitos para a concessão da tutela provisona e
desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou
caução suficientes. É o caso, por exemplo, dos embargos versarem
sobre a penhorabilidade de bem protegido por lei;

p.. Penhora: tendo em vista que os embargos não mais possuem efeito
suspensivo, os atos de constrição e expropr~ação seguirão p~ralela­
mente ao seu rito. A expropriação apenas nao se aperfeiçoara acaso
seja deferido efeito suspensivo aos embargos.
Pois bem, não efetuado o pagamento, munido da segunda via
do mandado o oficial de justiça procederá de imediato à penhora de
bens e a sua' avaliação, lavrando-se o respectivo auto e de tais atos
intimando, na mesma oportunidade, o executado. .
A penhora pode ser definida como o ato que individualiza
bens no patrimônio do devedor, os quais serão sujeitos a postenor
expropriação. , . . .
Quanto a<;>s limites, a penhora devera mc1d1r em tantos_ bens
quantos bastem para o pagamento do principal atualizado, JUroS,
custas e honorários advocatícios.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, RoBERTO FJGÚEIREDO, SAIIRINA DOURADO
797
IDA EXECUÇÃO

Resumo Teórico l
A penhora recairá sobre os bens indicados pelo exequente, salvo
se outros forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante
demonstração de que a constrição proposta lhe será menos onerosa e
não trará prejuízo ao exequente.
O ato judicial em questão deverá obedecer à ordem de priori-
dade estabelecida no artigo 835, NCPC, a saber: I- dinheiro, em espécie
ou em c(P-pósito ou aplicação em instituição financeira (para possibilitar a
penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a
requerimento do exequente, requisitará à autoridade supervisara do
sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informa-
ções sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no
mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado
na execução. As informações lirnitar-se-ão à existência ou não de
depósito ou aplicação até o valor indicado na execução); II- títulos da
dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação
em mercado; III- títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV- veículos de via terrestre; V- bens imóveis; VI- bens móveis em geral;
VII- semoventes; VIII- navios e aeronaves; IX- ações e quotas de sociedades
simples e empresárias; X -percentual do faturamento de empresa deve-
dora; XI- pedras e metais preciosos; XII- direitos aquisitivos derivados de
promessa de compra e venda e de alienação fiduciária em garantia;
XIII - outros direitos.

:l ATENÇÃO!
Três observações. precisam ser feitas:
Em primeiro lugar, se não encontrar bens.perrhoráveis, o oficial
comurucará ao juiz, que intimará o devedor para que indique
bens passíveis de expropriação. Considera-se ato atentatório à
dignidade da jurisdição a conduta do devedor que, intimado,
não indica ao juiz quais são e onde se encontram os bens sujei-
tos à penhora e seus respectivos valores (artigo 774, v, NCPC).
Em segundo lugar, atente-se que é prioritária a penhora em
dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses, alterar a ordem
acima referida de acordo com: as circunstâncias do caso concreto
(art. 835, § 1º, NCPC).

798 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL 1 3~ edição


DA EXECUÇÃO I
!Resumo Teórico
Finalmente, quanto ao registro da penhora, 'Val~sàlientar qtie
será tarefa do exequente proceder com.o registró\da,pfmhóta
no cartório competente, tudo com o fito de dar públi~idade e
conhecimento para terceiros de boa-fé; Atento ao mandamento
em questão, a Corte Especial do Superior Tribunal de.Justiça
sumulou a questão (Súmula 375). O texto determina que o
reconhecimento da fraude de execução dependa do registro
da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro
adquirente.

1> Depósito de bens: os bens penhorados serão preferencialmente


depositados:

• as quantias em dinheiro, os papéis de crédito e as pedras e


os metais preciosos, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica
Federal ou em banco do qual o Estado ou o Distrito Federal
possua mais da metade do capital social integralizado, ou,
na falta desses estabelecimentos, em qualquer instituição de
crédito designada pelo juiz;
.,_ os móveis, os semoventes, os imóveis urbanos e os direitos
aquisitivos sobre imóveis urbanos, em poder do depositário
judiciaL Se não houver depositário judicial, os bens ficarão
em poder do exequente. Os bens poderão ser depositados em
poder do executado nos casos de difícil remoção ou quando
anuir o exequente.
• os imóveis rbrais, os direitos aquisitivos sobre imóveis
rurais, as máquinas, os utensílios e os instrumentos neces·
sários ou úteis à atividade agrícola, mediante caução idônea,
em poder do executado.

I> Dos atos d2 Expropriação

Realizada a penhora e avaliação, inicia-se a fase expropriatória.


A atual sistemática executiva consagra as seguintes modalidades de
expropriação:

ANPR(; MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FtGU[IRfDO, ROBERTO FIGUEIREDO, 5ABRlNA DOURADO 799
Resumo Teórico I

• ex
Adjudicação
r . - (arts. 876 a 878' NCPC)·. e· a forma preferencml. de
p opnaçao,
d y; ·. mediante a entrega do próprio bempenh orad 0
ao cred or. enfica-se a adjudicação quando o exequente ofe-
recen
. . opreço na- o m· fenor
· ao da avaliação, requer lhe se. ' am
adJ~d:cadosos bens penhorados. A adjudicação consider~-se
~~: ei a e 'rc~ba~a com a lavratura e assinatura do auto pelo
J. ' pelo adJUdicante, pelo escrivão e, se for presente pelo
executado, expe d In
· d o-se a respectiva carta, se bem imóvel
'
(este documento substitui a tradicional compra e venda entre
particulares). Urge ressaltar que a carta só será emitida ·un-
ta~ente com a prova da quitação dos tributos (a serem p~gos
pe o adqmrente). Em se tratando de bem móvel, será expedido
mandado de entrega ao adjudicante.
d' ~a.v ............
!'- .A... !icn.:.~.::;:"' :-.:~:- ...:-·-
pv.o. .o.u.o.\,..o.au\la __ ...
uaiüCülar \'d·,-•- 0
l:,. o ""'"' -
1 , t:: 8,....,.., ..,.,.,....... ..... ,..,~
ou 1'\j\...-rLr
a-se quando, não realizada a adjudicação dos bens ~enhora:
.1:

o dos,_ o exequente requerer sejam eles alienados por sua própria


tmCiativa
_ d . ou por interme•d IO
· d e corretor ou leiloeiro público
~re e;'fCiado perante a autoridade judiciária. A negociação do
em e elta extrajudicialmente, devendo o juiz fixar: a) o prazo
em que a alienação deve ser efetivada; b) a forma de publici-
dade; c) o preço mínimo; d) as condições de pagamento e as
garantl~s, bem como, se for o caso, a comissão de correta em
Conclmda a negociação, a alienação será formalizada por t!m~
nos afutos, assmado pelo juiz, pelo exequente, pelo adquirente
e,
I ase- or presente
. , ' pelo exec u ta d o, expe d"mdo-se carta de alie-
' çao do Imovel para o devido registro imobiliário ou se bem
move!, mandado de entrega ao adquirente. ' '
• A1ienação em leilão judicial eletrônico ou presencial (arts
88, 1 a 903' NCPC)·. a s s emeIh a-se a uma espécie de!" "t - ·
So deve
- ser utiliz
. a-a d no caso d e nao- ter ocorrido nemICI açao.
adjudi-
caçao, nem ahenaçao por iniciativa particular.
O
R leilão
1 do
d bem pen h orad o sera, realizado
. por leiloeiro piliblico
~a
de v 1essa dos os casos de alienação a, cargo de corretores de bois~
a ores, o os os demms bens serão alienados em leilão público.

800 EDITORA ARMADOR l PRÁTICA Civu. I y edição


\ Resumo teonco

Não sendo possível a sua realização por meio eletrônico, o leilão


será presencial. A alienação judicial por meio eletrônico será realizada,
observando-se as garantias processuais das partes, de acordo com
regulamentação específica do Conselho Nacional de justiça.
Sendo presencial, o leilão será realizado no local designado pelo
juiz.
O leilão será precedido de publicação de editai, que conterá: I- a
descrição do bem penhorado, com suas características, e, tratando-se
de imóvel, sua situação e suas divisas, com remissão à matrícula e aos
registros; li - o valor pelo qual o bem foi avaliado, o preço mínimo
pelo qual poderá ser alienado, as condições de pagamento e, se for o
caso, a comissão do leiloeiro designado; UI- o lugar onde estiverem
os móveis, os veículos e os semoventes e, tratando-se de créditos ou
direitos, a identificação dos autos do processo em que foram penho-
rados; IV - o sítio, na rede mundial de cOinputadores, e o período
em que se realizará o leilão, salvo se este se der de modo presencial,
hipótese em que serão indicados o local, o dia e a hora de sua realiza-
ção; V - a indicação de local, dia e hora de segundo leilão presencial,
para a hipótese de não haver interessado no primeiro; VI - menção
da existência de ônus, recurso ou processo pendente sobre os bens a
serem leiloados.
A arrematação constará de auto que será lavrado de imediato e
poderá abranger bens penhorados' em mais de uma execução, nele
mencionadas as.condições nas quais foi alienado o bem.
A ordem de entrega do bem móvel ou a carta de arrematação
do bem imóvel, com o respectivo mandado de imissão na posse, será
expedida depois de efetuado o depósito ou prestadas as garantias
pelo arrematante, bem como realizado o pagamento da comissão do
leiloeiro e das demais despesas da execução.
A carta de arrematação conterá a descrição do imóvel, com
remissão à sua matrícula ou individuação e aos seus registros, a
cópia do auto de arrematação e a prova de pagamento do imposto de
transmissão, ,além da indicação da existência de eventual ônus real
ou gravame.

801
ANDRÉ MOTA, CmsT!ANO SoBRAL, Lt:C!ANO !'!GUE!RJ.mo, RoBERTO j:JGUEIREDO, SABRINA DouRADO
!DA EXECUÇÃO
Resumo Teórico l
1>- Finalização da execução: Realizada a expropriação deste, o produto
da venda será entregue ao exequente, de modo que haverá extin-
ção da obrigação mediante o pagamento, caso em que magistrado
proferirá sentença declarando a extinção da execução.

24.3. EXECUÇÃO FISCAL

Com o objetivo de imprimir maior celeridade à realização do


crédito cuja titularidade é das pessoas jurídicas de direito público, a
ordem 'lurfdica estatal criou orocedimento disciplinado
~ .._
em lei espe-
.
cífica (Lei nº 6.830/80), a qual procurou, ao máximo, adaptar as regras
executivas às necessidades daqueles entes.

A) Legitimidade

O artigo 1º da lei em comento atribui legitimidade ativa às pessoas


jurídicas de direito público (União, Estados, Municípios, O. F., Autarquias
e fundações públicas). Urge salientar que os conselhos profissionais
também detêm legitimidade ativa para promover a execução fiscal,
tendo eles a natureza de autarquias especiais. A legitimidade passiva
é do devedor, seja efe um devedor originário ou superveniente.
'
B) O título executivo na execução fiscal

O procedimento em questão é lastreado na certidão de dívida


ativa, título executivo extrajudicial cuja previsão fora mencionada
tanto no CPC (art. 784) quanto na Lei de Execução Fiscal - LEF (Arti-
gos 1º e 2º).
O documento é confeccionado mediante regular procedimento
administrativo, em que seja assegurado o contraditório e a ampla
defesa. O título em análise aponta a existência de dívida, seja ela de
natureza tributária (resultante de tributos, a exemplo do IR, IPTU,
Contribuições, etc.) ou não tributária (a exemplo de multas admi-
nistrativas, multas contratuais, créditos em virtude da utilização de
bem público, etc.).

802 EmToRA ARMADOR 1 PRÁTICA CiviL I 3" ~.:diçiio


DA EXECUÇÃO I
/ Resumo Teórico

Constituído o documento, o ordenamento legal presume ser o


crédito -cujo valor abrange tanto o principal como os juros, multa e corre-
ção -líquido e certo, sendo esta última presunção, no entanto, relativa,
de modo a admitir prova em contrário.

C) Procedimento

O procedimento executivo deverá obedecer às seguintes regras:

1>- Competência: a) será do foro do domicílio do devedor (regra); tendo


vários domicílios, em qualquer deles; b) havendo mais de um deve-
dor, no domicílio de qualquer deles; poderá, ainda, ser proposta c) no
foro do lugar onde se praticou o ato ou ocorreu o Jato que deu origem à
dívida (local onde fora aplicado certa multa de trânsito ou multa
em determinado estabelecimento, por exemplo);'por fim, poderá
ser manejada no d) foro da situação dos bens, quando a dívida deles
se originar (dívida relativa a IPTU, por exemplo).

Reforçando a regra máxima da perpetuatio jurisdictionis, a Súmula


58 do ST) estipula que, "proposta a execução fiscal, a posterior mudança de
domicílio do executado não desloca a competência já fixada".
Quanto ao conselho de fiscalização profissional, cabe à justiça federal
(Súmula 66, STJ) julgar as execuções pelos mesmos intentadas.
Quanto às penalidades administrativas impostas aos empregadores
pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho, caberá à justiça
do trabalho (artigo 114, VII, com redação dada pela EC-45/2004).

:>ATENÇÃO!

No que se refere à execução de multa eleitoral, esta será cobrada


pela justiça eleitoral (e não da justiça federal!), a teor da interpre-
tação extraída dos artigos 109, I, CF/88 e 367, IV da Lei nº 4.737/65
(Código Eleitoral). O STJ, inclusive, já pacificou tal entendimento,
mediante a edição da Súmula 374.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SollRAI., LUCIANO FIGUEIRHDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SA!lRINA DOURADO 803
Resumo Teórico

~ Petição Inicial: o legislador indicou apenas a necessidade de apon-


tar o juízo a quem é dirigida, o pedido, bem como o requerimento de
citação do réu. A singeleza se dá pelo fato do título já conter todos os
elementos necessários à compreensão da controvérsia (origem da
dívida, forma de cálculos, etc.). O valor da causa será o da dívida
constante da certidão, mai:t: os encargos legais.

~Citação: o executado será citado para, em 5 (cinco) dias, pagar a


dívida ou garantir a execução (por intermédio de depósito em dinheiro,
fiança bancária ou nomeação de bens à penhora). A citação em questão,
em regra, se efetuará pelos correios (artigo 8º, I, LEF). No insucesso,
utilizar-se-á a modalidade de mandado ou edital.

~Posturas do executado: 11mn V€Z citado, o executado adotará urr.a


das seguintes posturas: 1) permanecer inerte: haverá o prossegui-
mento da execução, com a penhora de bens cuja gradação deverá
obedecer ao disposto no artigo 11 da lei em comento (dinheiro; II-
título da dívida pública, bem corno título de crédito, que tenham
cotação em bolsa; III - pedras e metais preciosos; IV - imóveis;
V- navios e aeronaves; VI- veículos; VII- móveis ou semoventes;
e VIII- direitos e ações); 2) apresentar embargos à execução fiscal:
instrumento aviado no prazo de 30 (trinta dias), após a regular
garantia do juízo (ou seja, contados do depósito, juntada aos autos da
carta de fiança bancária ou da intimação da penhora). A garantia, como
dito, se dará mediante o depósito da quantia devida, a prestação
de fiança bancária ou a penhora de bens.

~ Sentença: sendo contrária à fazenda pública, estará sujeita ao duplo


grau obrigatório (reexame necessário).

Da sentença que rejeita os embargos, caberá apelação, com efeito


meramente devolutivo (art. 1.012, § 1º, NCPC). Das sentenças proferi-
das em execuções que não superem 50 (cinquenta) ORTN caberá, tão
somente, embargos de declaração ou infringentes.

804 EDITORA ARM.~DOR 1 PRÁTICA CIVIL I 3a edição


J Resumo Teórico

D) Desistência da Execução
da pública venha optar pela desistência da execução
C aso fazen , · ·t
fi 1 após o oferecimento dos embargos, estara a mesma SUJei a a 05
e~~::gos da sucumbência. É o que nos diz a Súmula 153, STJ.

E) Intervenção do MP
Considerando o interesse meramente patrimonial da faze~da
pública, a intervenção do representante do parquet faz-se desnecessana
(vide Súmula 189, STJ).

805
• MOTA CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FlGUElREOO, ROBéRTO fJGUElREOO, 5ABJI.JNA DoURADO
ANDRE •
25.

Dos RECURSOS E DA
AçÃo RESCISÓRIA

25.1. RECURSOS

Certamente que um dos atributos marcantes do ser humano é o


seu inconformismo com as situações adversas vividas.
No mundo jurídico, não ~ diferente: pelo' contrário, como o
cotidiano forense traz a característica de existênci~ de relações con-
flituosas, na medida em que se travam disputas pelos bens da vida, a
tensão e insatisfação ante o surgimento de uma situação desfavorável,
representada por uma decisão judicial, é ainda maior.
Encontramos, desta feita, um primeiro fundamento de existência
dos instrumentos recursais, na medida em que o mesmo possibilita
àquele que teve contra si um provimento judicial desfavorável a prer-
rogativa de provocar, novamente, a apreciação da matéria objeto de
seu inconformismo.
Por outro lado, faz-se mister pontuar a falibilidade do ser humano
-inconveniente passivo de ser vivido, inclusive, pelo magistrado - a
qual certamente pode causar consequências danosas àquele que foi
alvo do erro perpetrado. Aqui, de igual forma, o recurso surge como
um instrumento que vem atender aos anseios do jurisdicionado, haja
vista que, no caso, o mesmo acaba por servir de veículo de correção
da falha humana e, por consequência, de propulsor do ideal de justiça
no estado democrático de direito.

806 EDITORA ARMAl.JOR ! PRÃTICA CIVIL I 3"- edição l


Dos REcuRsos E DA AçÃo REscisóRIA

Resumo Teórico

25.1.1. CONCEITO

O recurso pode ser definido como o instrumento de impugna-


~ão das decisões judiciais, de uso facultativo, com o objetivo de
alcançar a reforma, invalidação ou integração (esclarecimento) do
provimento emitido.
Verifique que, a teor do que dispõe o artigo 1.001 do NCPC, não
cabe recurso para impugnar despachos!

Do conceito exposto, extraímos as suas finalidades ou objetivos:


,. Reformar: aqui denuncia-se o erro in judicando, ou seja, o
modo equivocado de apreciação dos atos processuais, de
forma a desaguar na errônea ou injusta decisão. (ex: decisão
baseada em laudo pericial desqualificado, quando as provas
testemunhais foram demasiadamente claras acerca dos pontos
controvertidos);
> Invalidar: a invalidação pretende apontar o errar in procedendo,
ou seja, o desatendimento de fórmula legal na condução do
procedimento. (ex: negativa de oitiva de testemunha, causando
cerceio ao direito de defesa da parte);
> Integração: o objetivo, neste caso, é pleitear o ajuste de um
provimento emitido com defeito (obscuro, omisso ou con-
traditório), visto que decisão eivada de vício é equivalente à
ausência da mesma, fator inadmissível diante do princípio do
amplo acesso (exemplo: postulados os danos morais e materiais,
a sentença apenas apreciou o primeiro pleito, esquecendo-se
do segundo).

25.1.2. fUNDAMENTOS

Além dos fundamentos anteriormente referidos (inconformismo


humano e falibilidade humana), existem outros dois fundamentos que
justificam a existência dos recursos: o controle do arbítrio judicial e a
qualidade das decisões judiciais emitidas.
.
~

l ANDRfi MOTA, CRIST!IINO SOBRAl., Lt'CIANO f'JGUtiREDO. ROBERTO FtGU[IREDO, Sti.BillNII. DOURADO 807
''''""-'~~~~------~

Resumo Teórico I

O recurso controla_ o arbí~rio judicial, na medida em que o julgador,


sabendo que sua deGsao esta sujeita à apreciação por órgão superior,
evitar~ cometer abusos; de igual forma, o órgão prolator da decisão
tomara o cmdado de manter a qualidade em suas decisões, sob pena
de futura mudança, quando da interposição do recurso.

25.1.3. PRINCÍPIOS

A ativida~e rec~rsal deverá atender a certas premissas gerais: são


os chamados pnnc1p10s recursais". Vejamos os principais:

I> Duplo grau de jurisdição: significa a permissão para que a parte


lTtE'Slgnada tenha de ver expressa U!T',a sen-nnrl.,
~ b ...... rvn 1·n;a-O
'--'.t' • < "'"'" )'-'
_,....._~. ;.. lno
~ 6...._-
~"-'

m~n:o. da causa. As premissas residem no inconformismo humano,


fahb1bdade h~mana, na prevenção de ato arbitrário pelo juiz (que
sofrena pressao ps1cologtca para julgar correto) e no controle de
qualidade das decisões judiciais,

Há discussão quanto à natureza do princípio em questão se


constitucional ou não~ Uns ~pontam pela constitucionalidade implí~ita,
decorr:nte da previsao de orgãos de hierarquia superior; outros, pela,
Inexr_stenCla de _nat~rez~ constit~cional, sob 0 argumento de que nor-
mas mf;aconstrtucwnats podenam retirar a possibilidade de análise
da rnatena por um órgão de hierarquia superior (a exemplo do que
ocorre c~moo recurso Inominado dos juizados especiais cíveis- artigo
41 da Lei n- 9099/95 e nos embargos infringentes da lei de execução
fiscal- Lei nº 6.830/80).

:>ATENÇÃO!
Adotand? u;n~ ou outra corrente, fato é que não se pode negar
que o prmcrpto em questão não é considerado absoluto de
mo~o que a lei pode ;nitigar a sua aplicabilidade para a pr:ser-
vaçao de outr~s prmcipws processuais (a exemplo da celeridade),
~orno ocorre, mclusive, na limitação das matérias de direito no
JUlgamento dos recursos extremos (Rex e Resp).

808 EDITORA ARMADOR J PRÁTICA CJVIL I y edição


\ Resumo Teórico

1> Correspondência: é a correlação entre o tipo de provimento e o


tipo recursal existente para combatê-lo. Esse princípio vincula um
tipo recursal a urna específica decisão de modo a permitir o uso
com segurança dos recursos pelas partes. O princípio se dirige ao
legislador objetivando que o sistema recursal seja erigido sobre
bases seguras. Não é bom que um sistema recursal qualquer não
permita aos jurisdicionados e aos operadores do direito o prévio e
seguro conhecimento dos recursos a serem interp~stos contra as
diversas decisões possíveis no curso do processo. E precisamente
em vista desse princípio que o legislador definiu os atos dos juízes
no artigo 203 do NCPC. As definições de sentença e de decisão
interlocutória tiveram por objetivo a vinculação dos recursos de
Apelação (art. 1.009, NCPC) e de Agravo (art. 1.015, NCPC).

..,. Unicidade, singularidade ou unirrecorribiliàade: contra urna deci-


são só deve caber um recurso ou, pelo menos, um por vez. Em outros
termos, é vedada a interposição concornitante de recursos.
A exceção ou mitigação a tal princípio fica por conta a interpo-
sição simultânea de REsp e REx, a teor do previstocno artigo 1.029, e
seus parágrafos, do NCPC.'

1> Taxatividade: as hipóteses recursais consistem em numerus clau-


sus, não podendo ser ampliado por conveniência das partes ou do
magistrado, de modo que só é permitida a utilização de recursos
expressamente previstos no CPC ou nas leis federais esparsas (ex:
recurso inominado, previsto no artigo 41 da Lei nº 9.099 de 1995;
Embargos infringentes previstos no artigo 34 da Lei n" 6.830/80).
Corno a competência é da união para legislar em matéria proces-
sual (artigo 22, I, CF-88), não podem os estados criar espécies recursais
(não confunda competência em matéria processual, exclusiva da união,
com competência em matéria procedimental- meramente formal ou
ritual- atribuída aos estados!).

1> Fungibilidade: indica que a espécie recursal indevidamente utili-


zada pode ser recebida quando outra era a adequada, desde que,

809
ANDRÊ MOTII., CRISTIANO SoBR~L, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO F!CUE!REDO, SASRINA DOURADO
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

não havendo erro grosseiro, o recurso tenha sido interposto no


prazo correto (presunção de boa-fé). Por esse princípio se proclama
a admissão de um recurso incorretamente utilizado em substituição
do recurso que deveria ter sido interposto.

Na lição de SCARPINELLA BUENO (2008:27), "A forma assu-


mida pelo inconformismo (o tipo de recurso efetivamente interposto,
destarte) passa a ser menos importante que o desejo inequívoco de
recorrer, de manifestação de inconformismo com a decisão tal qual
proferida".
O princípio da fungibilidade era expressamente previsto no CPC
de 39, artigo 810. Ele não foi expressamente mencionado pelo CPC
de 1973, mas sempre foi amplamente aceito pela doutrina e jurispru-
dência. A regra do CPC de 1939 tinha a seguinte redação: "Salvo a
hipótese de má-fé ou erro grosseiro, a parte não será prejudicada pela
interposição de um recurso por outro, devendo os autos ser envia-
dos à Câmara, ou turma, a que competir o julgamento". Exemplo de
erro grosseiro ocorre quando se interpõe recurso incorreto quando a
própria legislação aponta o instrumento viável. Assim, por exemplo,
constitui erro grosseiro a interposição de agravo de instrumento da
decisão que indefere a petição inicial (onde o correto seria apelação,
a teor do disposto no art. 331, NCPC).
O CPC de 2015 passou a tratar aludido princípio em seu artigo
1.023, § 3", na medida em que determina que o órgão julgador conhecerá
dos embargos de declaração como agravo interno se entender ser este
o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do
recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões
recursais, de modo a ajustá-las às exigências do agravo.

I> Proibição da reformatio in pejus: a interposição do recurso não


pode agravar a situação jurídico-processual do recorrente, visto que
o fundamento do recurso repousa na sucumbência do passado e
uma perspectiva de melhora para o futuro. O princípio proclama
que o recurso da parte nunca pode servir para agravar a sua situa-
ção. Não pode piorar a situação do recorrente. Por esse princípio,
então, o recorrente não terá, no caso da interposição de um recurso,

810 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CiVIL 1 3" edição


Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

a sua situação modificada para pior. Esse princípio está contido no


brocardo "tanto se devolve quanto se apela", ou seja, a pretensão
de alteração da decisão é o limite imposto à atividade jurisdicional
recursal! Assim, como o juiz não pode conhecer de questões que
as parte~ não suscitaram cuja apreciação decorre de provocação
necessária, o juízo recursal também não poderá alterar o julgado
para pior porque essa não é a pretensão veiculada no recurso.

:l ATENÇÃO!
É mister fazer duas ressalvas. A primeira, no sentido de que
o princípio em questão se aplica quando do julgamento do ·
reexame necessário, a teor do que dispõe a Súmula 45, do ST);
a segunda, é que a situação do recorrente poderá ser ~gravada
caso o tribunal verifique lesão a matéria de ordem pública (é o
que se chama de "efeito translativo dos recursos").

25.1.4. PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

Assim corno o direito de ação só pode ser regularmente exercido


quando obedecidos certos requisitos, sendo o recurso uma extensão
. desse direito, deve o mesmo obedecer a pressupostos que condicio-
nem o seu processamento e, por consequência, a análise da matéria
nele veiculada.
Destarte, o juízo de admissibilidade consiste na verificação dos
pressupostos recursais da modalidade recursal de que se tenha valido
o recorrente para impugnar o decisório judicial.
Aludidos requisitos consistem em matéria de ordem. pública,
de modo a poder ser enfrentada em qualquer grau de jurisdição, de
ofício, sem a necessidade de provocação da parte. A importância é
vislumbrada no fato de que ambas as instância (recorrente e recorrida)
exercem dito juízo de prelibação.
Preenchidos os requisitos, diremos que o recurso será "conhe-
cido", de modo a se poder adentrar na análise meritória (juízo de

/\Nl)R[ MOTA, CRISTIANO SoBRAL, LUCIANO F1GUEIR1WO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 811
Resumo Teórico 1

mérito) para, só então, concluir pelo "provimento" ou ""improvimento"


do instrumento recursal.

Eis os pressupostos de admissibilidade:

11> Tempe!\tividade: deve ser ele interposto no prazo previsto em lei.


A exceção dos embargos de declaração) que continuam com prazo
de 5 (cmco) d~as, todas as demais espécies recursais passaram a ter
o prazo de 15 (quinze) dias, consoante o disposto no artigo 1.003
§ 5º do NCPC. '

O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os


advogados, a SOCiedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defen-
soria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. Tais·
sujeitos considerar-se-ão intimados em audiência quando nesta for
proferida a decisão. ·
No praz~ para interposição de recurso, a petição será protoco-
lada em cartor.10 ou conforme as normas de organização judiciária,
ressalvado o disposto em regra especial.
. Par~ aferição da tempestividade do recurso remetido pelo cor-
reiO, sera conside:ada como data de interposição a data de postagem.
Havendo fenado local, o recorrente comprovará a ocorrência no
ato de interposição do recurso.
É mister ressaltar que a interposição do recurso prematuro (apre-
sen;ado antes da publicação d~ decisão a que se pretende impugnar)
sera co~siderado tempestivo. E que o artigo 218, § 4º do NCPC aponta
que sera considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial
do prazo.
No mais, frise-se que o prazo para recorrer será dobrado em
certas hipóteses: recurso interposto pelo Ministério Público e Pessoas
jurídicas de direito público, (arts.180e 183, NCPq; a defensoria pública
(art. 186, NCPC) e os litisconsortes com diferentes procuradores, desde
que pertençam a diferentes escritórios de advocacia (art. 229, NCPC)
e mais de um dos litisconsortes tenha suportado o prejuízo com a
decisão judicial (Súmula 641, STF).

812
EDtTORA ARMADOR 1 PRÂTICA CtVIL 1 3~ edição
11> Preparo: consiste no pagamento das custas, como espécie de taxa,
em virtude da contraprestação por serviço público específico.
O preparo deve ser efetuado no ato de interposição do recurso. São
isentos do preparo o Ministério público, as pessoas jurídicas de
direito público e os que gozam de isenção legal (isenção subjetiva).
Por outro lado, não se faz necessário o seu recolhimento quando se
tratar de recurso de embargos de declaração ou agravo no recurso
< especial ou extraordinário (isenção objetiva).

Verificada a insuficiência no valor do preparo, o recorrente será


intimado para complementá-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena
de deserção.

:>ATENÇÃO!
O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do
recurso, o recolhimento do preparo, inclusive· porte de remessa
e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para
realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção (art.
1.007, § 4º, NCPC).

11> Legitimidade: podem manejar o, recurso: a) quem for parte na


relação processual; b) o terceiro prejudicado (ex. 1: um advogado,
por exemplo, tem legitimidade para recorrer de sentença em que tenham
sido fixados os honorários. A legitimidade do advogado é contemplada,
inclusive, pela Súmula 306, do ST], a qual possibilita, também, a inclusão
do mesmo na execução promovida pela parte; ex. 2: recurso interposto
pelo arrematante que viu o magistrado acolher os embargos à arrematação
interpostos contra arrematação feita em hasta pública); c) o Ministério
Público, seja no processo em for parte ou naqueles em que tenha
atuado como fiscal da lei (ainda que, aqui, não tenha havido recurso
voluntário pela parte, a teor do disposto na Súmula 99, STJ).

11> Interesse: representado pela demonstração de que o provimento


jurisdicional lhe trouxe prejuízo. Somente poderá recorrer quem
experimentou prejuízos com a decisão emitida.

ANDRÉ MOlA, CRISTL\NO SoBRAL-, LUCiANO FLGUEUI.LDO, RosERl·o F!GUE!REDO, SABR!>.!A DoURADO 813
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

I> Regularidade formal: trata-se de exigência quanto à presença de


requisitos estruturais, a saber: fundamentação e pedido de reforma/
invalidação/integração da decisão (requisitos gerais). Podem, também,
consistir em requisitos específicos, os quais variam de acordo com
o instrumento recursal manejado (ex: no Agravo de instrumento,
deve-se juntar cópias da decisão agravada, certidão de intimação,
cópias das procurações, etc.; no Recurso especial fundado em dissídio
jurisprudencial, o recorrente deverá acostar a prova da divergência
mediante certidão, cópia autenticada ou citação do repositório de
jurisprudência oficial ou autorizado em que tiver sido publicada a
decisão divergente, etc.).

I> Inexistência de fato impeditivo: a apreciação do recurso não será


feita caso exista algum fato que a impeça. Neste contexto, existem
dois fatos impeditivos que merecem destaque: a desistência e renúncia.

A desistência (art. 998, NCPC) é ·ato unilateral do recorrente o

I qual impede a apreciação de recurso anteriormente interposto, inde-


pendente da anuência da parte contrária (ao contrário do que ocorre
com a desistência da ação, após apresentada a contestação). Pode ser
requerido, desde que não se tenha, ainda, realizado o julgamento.
Pode ser manifestada por petição avulsa, ou mesmo verbalmente,
durante a sustentação oral.
Outrossim, a renúncia se dá antes mesmo de uma possível inter-
posição do instrumento recursal cabível. Pode ser emitida de forma
tácita (quando praticado ato incompatível com o direito de recorrer,

I a exemplo do devedor que, no prazo do recurso cumpre espontanea-


mente com o decidido ou, simplesmente, deixa transcorrer o prazo
recursal sem o aviamento do recurso) ou expressa, quando aviada
petição manifestando o desinteresse em atacar o comando judicial
que lhe causou gravame.

~ATENÇÃO!

Vale ressaltar que a renúncia pode ser total ou parcial, de modo


que a parte'pode limitar o desejo de recorrer de forma principal,
I
mantendo, no entanto a possibilidade de recorrer adesivarnente.
. .

814 EDITORA ARMADOR J PRÁTlCA CIVIL j 3a edição


Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

Não havendo especificação, a renúncia atingirá o direito de


recorrer como um todo.

25.1.5. EFEITOS

Em primeiro lugar, cabe afirmar que o recurso tem o efeito obs-


tativo, no sentido de que impede a produção do trânsito em julgado
da decisão combatida.
Todo recurso terá efeito devolutivo, no sentido de "devolver" a
matéria, objeto da impugnação, para urna nova apreciação do judi-
ciário, seja para a mesma ou urna superior instância.
Haverá efeito suspensivo naquele recurso que tiver o condão de
impedir, de imediato, o cumprimento da decisão recorrida, a exemplo
da apelação (arts. 1.009 e seguintes do NCPC).
Por fim, o recurso terá efeito expansivo quando o seu resultado
i
;t
atingir matéria não impugnada (dito "expansivo objetivo". Ex: recorre-se
quanto à condenação em dano moral e o resultado atinge o montante fixada.)
l ou pessoa que não tenha recorrido (dito "expansivo subjetivo". Ex: ape-
I' nas um litisconsorte recorre e o resultado beneficia quem não haja recorrido).
Há ainda, o efeito translativo, o qual possibilita ao tribunal
j
analisar as matérias de ordem pública, independentemente de terem
',, . sido as mesmas suscitadas no instrumento recursal.
*I
lI' 25.1.6. PRINCIPAIS MODALIDADES
I
I Considerando a importância do tema, é mister tecermos consi-
derações sobre as espécies recursais a seguir.

I 25.1.6.1. Apelação

A apelação é considerada como um dos recursos mais impor-


tantes do nosso sistema jurídico, na medida em que a mesma ataca o
provimento judicial de maior carga lesiva, a saber, a sentença.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBI!AL, LUCIANO F!GVElREDO, ROS.ERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 815
Resumo Teórico I

A) Definição

É o recurso manejado contra toda e qualquer sentença, seja ter-


minativa ou méritor em procedimento comum ou especial.

B) Objeto

Apesar de atacar a sentença, o recurso em exame poderá versar


sobre matérias contidas na sentença ou em decisóes interlocutórias
não sujeitas a agravo de instrumento.

I> Matérias decididas na sentença: conforme salientado, o recurso em


análise é apto a atacar sentença seja ela de mérito ou terminativa.

Interposto o recurso, o tribunal estará adstrito à análise da


matéria que é objeto da impugnação recursal, nos limites, é claro, do
objeto da ação (regra do tantum devolutwn quantum apellatum). É o que
se chama de "extensão" da apelação (prisma horizontal).
Entretanto, dentro da limitação imposta, o tribunal poderá visitar
todos os argumentos que foram levantados pelas partes ("questões sus-
citadas"), mesmo que tais espécies não tenham sido objeto de análise
da sentença ou do instrumento recursal, tudo com vistas a proferir
uma decisão qualitativa (Efeito devolutivo em profundidade da apelação).
É o que se chama de "profundidade" da apelação (prisma vertical).
Reforçando tal circunstância, o legislador pontificou que, quando
o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher
apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento
das demais. (ex.: o juízo de primeiro grau acolhe o argumento de pagamento
da dívida e a instância de segundo grau acolhe a extinção da dívida com
fundamento na prescrição, tendo sido ambos os argumentos - prescrição e
pagamento - levantados na peça de defesa, porém apenas um deles acatado
pela sentença).
O recurso de apelação veicula pelo menos um dos seguintes
vícios:
~ Error in procedendo: dizem respeito à desobediência de nor-
mas ligadas ao procedimento (ex: julgar antecipadamente a lide
quando não era o caso, visto que existia prova a ser produzida afavor

816 EotTOR-A AR:\1ADOR ! PRÁTICA CtVIL ! 3" edição


1 Resumo Teórico

do prejudicado; ex. 2: rejeitar a oitiva de testemunha ou a produção


de prova pericial) . , , . . , _
~ Error in judicando: ligados ao JUIZO de mento (ex. ma ~aloraçao
de provas, como no julgamento baseado em depozmento de unzca :es-
temunha de acidente, quando comprovado robustamente por perzcza
a culpabilidade da parte declarada vencedora na sentença).

I> Questões resolvidas na fase de conhecimel_'to: as questões res~l­


vidas na fase de conhecimento, se a deczsao a seu respeito n:o
comportar agravo de instrumento, não são cober_:as pela preclusao
e devem ser suscitadas em preliminar de apelaçao, eventualmente
interposta contra a decisão finaL ou nas contr~rrazões. Se as ques;
tões referidas forem suscitadas em contrarrazoes, o recorrente sera
intimado para, em 15 (quinz<;J dias, manifestar-se a respeito delas.

C) Formalidades

I> Prazo: 0 prazo para a interposição do recurso é de 15 dias, conta-


dos da publicação da decisão que se quer recorrer. Atente-se que,
conforme analisado na teoria geral, os prazo.s de~ern ser dobra~~s
quando se tratar de pessoas jurídicas de dzre1to publzco, Mzmsteno
público, litisconsortes com diferentes procuradores e defensona
pública.
'
I> Petição: a peça deverá conter os nomes e qualificação das partes,
fundamentos de fato e de direito bem corno o ped1do de nova deCI-
são (reformando ou invalidando a anterior).

I> Preparo: 0 recorrente deverá efetuar o preparo do seu recurso (salvo


em caso de isenção), mediante o pagamento das custas, de modo
a acostar 0 comprovante no ato de interposição do instrumento
recursal.
Ocorrendo insuficiência no valor do preparo, a deserção apenas
será declarada se o recorrenter intimado, não o houv~r complemen~
tado no prazo de 5 (cinco) dias. Havendo justo irnpedzrnento, podera

ANORÊ MOTA, (RISTIANO SOBRAL, Lt:ClANO FIGUEIREDO, R06ERTO f}GUEIREDO, SAJ>RlNA Dotat'I.DO
817
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESClSÕRIA

Resumo Teórico

o magistrado relevar a pena de deserção (ex: agência bancária encerra


expediente forense mais cedo ou advogado que fora assaltado).

D) Efeitos

Como regra geral, será recebida em ambos os efeitos (devolutivo


e suspensivo).
O efeito devolutivo significa que o recurso tem o "poder" de
devolver para a jurisdição (agora superior) apenas a matéria que é
objeto da impugnação recursal, possibilitando uma nova análise sobre
a mesma (regra do tantum devolutum quantum apellatum). É o que se
chama de "efeito devolutivo em extensão" (prisma horizontal).
Entretanto, dentro da limitação imposta, o tribunal poderá anali-
sar todos os argumentos que foram levantados pelas partes ("questões
suscitadas"), mesmo que tais espécies não tenham sido objeto de
análise da sentença ou do instrumento recursal (Efeito devolutivo em
profundidade da apelação - prisma vertical).
Outrossim, o efeito suspensivo da apelação se refere ao fato de
que a mesma impede que a sentença impugnada seja, desde logo,
executada.

:l ATENÇÃO!

No artigo 1.012, § 1º do NCPC, o legislador tratou de estabelecer


o efeito tão somente devolutivo no recurso em análise, haja
vista a natureza emergencial das matérias nele veiculadas, de
modo que a concessão de efeito suspensivo "'m tais situações
podeiia acarretar lesão a direitos. Assim,. éÓmeça a produzir
efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que:
I - homologa divisão ou demarcação de terras; II - condena a
pagar alimentos; m...:extingue sem resolução do mérito ou julga
improcedentes os embargos do executado; IV- julga procedente
o pedido de instituição de arbitragem; V- confirma, concede ou
revoga tutela provisória; VI - decreta a interdição.

818 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL ! 3a edição


Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

E) Processamento
Até que seja julgado, o recurso de apelação percorre um caminho
que vai desde o juízo de primeiro grau até o de segundo (tribunal).
Assim, o percurso é desknvolvido da seguinte forma:

~No juízo de primeiro grau:


• Interposição: o recurso será interposto perante o juízo de
primeiro grau, através de petição .
.,. Contrarrazões: interposta a apelação, o juízo determinará a
intimação da parte contrária para a apresentação das contrarra-
zões. Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará
o apelante para apresentar contrarrazões.
~~>- Remessa: apresentada as contrarrazões, os autos serão reme-
tidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de
admissibilidade.

:l ATENÇÃO!
Caso a apelação seja interposta contra sentença que indeferiu a
petição inicial (art. 331, NCPC) ou julgou a improcedência liminar
(art. 332, § 32 NCPC), é possível que, apresentado o recurso, o
magistrado venha exercer seu juízo de retratação, no prazo de
5 (cinco) dias.

~No juízo de segundo grau:

• Posturas do relator: recebido o recurso de apelação no tribunal


e distribuído imediatamente, o relator poderá adotar uma das
seguintes posturas: I - decidi-lo-á rnonocraticarnente, nos
casos legalmente previstos (art. 932, incisos III a V, NCPC).
Aqui o relator poderá não conhecer do recurso ou conhecer-lhe
para dar ou negar provimento; II -se não for o caso de decisão
monocrática, elaborará seu voto para julgamento do recurso
pelo órgão colegiado.

ANDRil MOTA, CRISTIANO SOllRAL, LuCJA.NO FIGUEIREDO, ROBERTO FiGUEIREDO, SABRINA DOURADO 819
Resumo Teórico ]

• Teoria da "causa madura" (arts. 1.013. §§ 3º e 4º, NCPC): se o


processo estiver em condições de imediato julgamento, o tri-
bunal deve decidir desde logo o mérito quando: a) reformar
sentença que extinguiu o processo sem resolução de mérito;
b) decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente
com os limites do pedido ou da causa de pedir;, c) constatar a
. - no exame de um dos pedidos, hipótese em
, omrssao ' que poderá
julgá-lo;,d) decretar a nulidade de sentença por falta de fun-
damentação; e) reformar sentença que reconheça a decadência
ou a prescrição.

O objetivo, aqui, é otimizar a prestação jurisdicional, dispensan-


do-se o retorno dos autos à instância inferior.

25.1.6.2. Agravo de Instrumento


Existe uma série de comandos judiciais que, não obstante não
ponham fim à relação processual, acabam por criar gravame ou
inconveniente a uma das partes, contra a qual o decisório foi emitido.
Para todos os casos, cabível será a interposição do recurso de
agravo de instrumento.

A) Definição

É o recurso cabível contra as decisões interlocutórias, nos casos


previstos em lei.

B) Objeto

Do conceito supra, verifica-se que o recurso deve ser manejado


em face de decisões interlocutórias expressamente consagradas pelo
novo Código de Processo Civil (artigo 1.015).
Assim, cabe agravo de instrumento contra decisões interlocutó-
rias que versarem sobre: I- tutelas provisórias; I!- mérito do processo;
IIl- rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV- incidente
de desconsideração da personalidade jurídica; V- rejeição do pedido
de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revoga-
ção; VI- exibição ou posse de documento ou coisa; VII- exclusão de

820 EonoRA ARMADOR 1 PRÂTICA CiviL 1 3" edição


\ Resumo Teórico

litisconsorte; VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;


IX- admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X- conces-
são, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução; XI- redistribuição do ônus da prova;
A enumeração acima é meramente exemplificativa, uma vez que
0
legislador se referiu expressamente à utilização c;l.o,~gravo ~e instru:
menta "nos demais casos expressamente referzdos em lez . Tambem cabera
agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na
fase de liquidação de sentença ou de cumpnmento de sentença, no
processo de execução e no processo de inventário.

C) Formalidades e Processamento
O recurso em exame será interposto no prazo de 15 (quinze) dias.
l"~ petição deverá ser escrita e interposta dir_eta~en~e. no tribu~
nal, sendo instruída com os seguintes documentos obn8atonos: a) com
cópias da petição inicial e da contestação; b) da petição que ensej~u
a decisão agravada; c) da própria decisão agravada; d) da cerl!dao
da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove
a tempestividade; e) das procurações outorgadas aos advogados do
agravante e do agravado. . .
Faltando qualquer dos documentos aCima refendos, o advogado
do agravante deverá apresentar declaração de inexistência dos mes-
mos, sob pena de sua responsabilidade pessoal.
O agravante ainda instruirá o agravo com outras peças que
'entender úteis.
No prazo do recurso, o agravo será interposto por uma das
seguintes formas: I - protocolo realizado diretamen;e ~o tnbunal
competente para julgá-lo; li- protocolo reahzado na propna comarca,
seção ou subseção judiciárias; III- postagem, sob registro, com aviso
de recebimento; IV- transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos
da lei; V -outra forma prevista em lei.
Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados
tipo fac-símíle ou similar, as peças devem ser juntadas no momento
de protocolo da petição original.

821
ANDI!.Ê MOTA. CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fiGUEJREDO, ROBERTO flGUElREDO, SABR!NA DOURADO
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

O preparo deverá ser comprovado no ato de interposição do


recurso, incluídos os valores relativos ao porte de remessa e retorno
(que são despesas postais), conforme tabela publicada pelos tribunais.
Deve o agravante, no prazo de 3 (três) dias a contar da interpo-
sição do recurso, requerer a juntada, ao juízo de primeiro grau, cópia
da petição do agravo, do comprovante de sua interposição, além da
relação dos documentos que instruíram o recurso, sob pena de não
conhecimento do agravo, desde que arguido e provado pelo agravado.
O objetivo, aqui, é possibilitar ao magistrado o exercício de sua retra-
tação, após o conhecimento do inconformismo da parte recorrente.
Se assim o fizer, o recurso estará prejudicado (art. 1.018, § 1º, NCPC).
Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído ime-
diatamente, se não for o caso de imediata negativa de seguimento ou
o
concessão imediata de provimento ou seguimento, o relator, no prazo
de 5 (cinco) dias, poderá adotar as seguintes posturas: I- atribuir efeito
suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou
parcialmente, a pretensão recursal, comunh:ando ao juiz sua decisão;
li - ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com
aviso de recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou
pelo Diário da Justiça ou por carta com aviso de recebimento dirigida
ao seu advogado, para que responda no prazo de 15 (quinze) dias,
facultando-lhe juntar a documentação que entender necessária ao
julgamento do recurso; !li - determinará a intimação do Ministério
Público, preferencialmente por meio eletrônico, quando for o caso de
sua intervenção, para que se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias.
l
Adotas as providências necessárias, o relator solicitará dia para i!
julgamento em prazo não superior a 1 (um) mês da intimação do
agravado.
I
B
25.1.6.3. Agravo Interno

Já que sabemos que, antes de levar a demanda ao colegiado, o


l

I
relator poderá adotar uma série de posturas, as quais poderão trazer
prejuízos aos protagonistas da relação processual. Assim, com vistas
a sanar eventuais erros, o legislador previu o agravo interno como
instrumento de combate àquelas decisões.

R7.7. EDITORA ARMADOR ] PRÁTICA ÜVJL ] 3" edição


Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

A) Definição
É o recurso cabível contra decisão monocrática de relator.

B) Processamento
O processamento do agravo interno seguirá as regras do regi-
mento interno do respectivo tribunal.
Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especifi-
cadamente os fundamentos da decisão agravada. O agr~vo será diri-
gido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o
recurso (contrarrazões) no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual,
não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão
i colegiado, com inclusão em pauta.
í É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da
decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno.
Quando o agravo interno for declarado manifestamente inad-
missível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado,
em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado
multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa.
Assim, a interposição de qualquer outro recurso está condicio-
nada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da Fazenda
Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o paga-
j mento ao final.
~
i
l 25.1.6.4. Embargos de Declaração
i! O princípio do amplo acesso é atendido na medida em que o cida-

I dão não apenas extrai do poder judiciário um decisório qualquer, mas


uma decisão límpida, despida de qualquer vício que possa dificultar
B
a postulação ou defesa de direitos perante o aparato estatal..

l Pensando nisso, o legislador previu os embargos de declaração


como instrumento apropriado a integrar as decisões judiciais, de modo
a expurgar eventuais vícios (obscuridade, omissão ou contradiçiio) que a

I mesma venha possuir.


O recurso em tela classifica-se como espécie intermediária, na
medida em que o mesmo se situa entre a sentença e a apelação, o

ANDRÉ MüTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO fiGUEIREDO, SABRlNA DouRADO 823
Resumo Teórico I

acórdão e o RESP ou REX; entre a decisão interlocutória e o agravo


de instrumento.

A) Conceito

É o remédio recursal, previsto nos artigos 1.022 a 1.026 do NCPC,


que visa integrar decisório judicial (sentençar acórdão, decisão interJocutó-
ria e decisão monocrática), sanando obscuridade, omissão ou contradição
existente.

B) Condições específicas para a utilização do recurso

O recurso será apresentado quando a decisão contiver um dos


seguintes vícios:

.,. Obscuridade: a obscuridade surge de decisão incompreensível,


ininteligível, como quando o magistrado transcreve considerações
acerca de um possível direito que teria alguma das partes (bert-
feitorias, por exemplo) e, ao final, se omite no pronunciamento da
questão. Ou mesmo no caso de quando o julgador, não obstante
tenha sido postulado danos morais e estéticos separadamente,
atribui condenação de único montante a ambos, impossibilitando
a compreensão do quantum dirigido a cada dano.

.,. Omissão: ocorre quando o magistrado deixa de apreciar questões


relevantes, arguidas pelas partes. Certamente que o magistrado
não está obrigado a apreciar todas as questões levantadas pelos
litigantes.

Porém existem aquelas que possuem suma relevância de modo


a poder influenciar, inclusive, no julgamento da questão controver-
tida (por exemplo, pronúncia do magistrado acerca de condenação
do vencido em custas e honorários advocatícios, a existência de caso
fortuito, prescrição, culpa exclusiva da vítima, etc.). É por isso que,
não raro, a omissão é a causa ou condição que possibilitar o manejo
dos embargos de declaração com efeitos modificativos.

824 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA ÜVIL I 33 edição


.,_ Contradição: ocorre geralmente quando há uma contraposição e~tre
raciocínio veiculado na fundamentação e o resultado emrlldo
0
no dispositivo do decisório (por exemplo, no corpo d~ sentença
magistrado transcreve raciocínio que mdrca o defenmento de
0
determinado título e, na parte dispositiva, o mdefere, ou vrce-versa).

.,. Erro material: 0 CPC/2015 passou a admitir o manejo dos embargos


declaratórios quando houver !Tiero erro material.

C) Efeitos
o recurso interrompe o prazo para a propositura de quaisquer
recursos, por ambas as partes, devolvendo-se, por conseguinte,. a tota-
lidade do mesmo. Urge ressaltar que a interposição intempesllva dos
embargos não implica na interrupção ào prazo para se avia.r outros
recursos.
Os embargos declaratórios existentes na lei dos Juizados especiais
cíveis (Lei nº 9.099/95)- que até então apenas suspendtam o prazo para a
interposição de outras espécies recursais - passa_ram, com o novo CPCr
a também interromper o prazo para apresentaçao de outros recursos,
conforme se extrai da nova redação do artigo 50, NCPC.

D) Processamento
o prazo de interposição é de cinco dias, inexistindo def~rimento
de prazo para as contrarrazões (salvo no caso de possrb~hdade ~e
efeitos modificativos). A interposição fora do prazo nao lera o condao
de interromper o prazo em questão. .
Inexiste preparo para a espécie recursal em exame. O julgamento
se dará pelo mesmo órgão que emitiu o decisório a ser reexammado.

E) Embargos de declaração com efeitos modificativos

Ocorre q\'ando o s,;primento da omissão h~vida é capaz de modi-


ficar 0 julgado: Neste caso, o magistrado devera conceder prazo para
a parte contrária apresentar as contrarrazões ao recurso, sob pena de
nulidade por cerceio de defesa.

825
ANDRÉ MOTA, (RISTIANO Sol>RAL, LUCIANO F!GU<.:IREOO, ROSEKfO FIGUEIREOO, SABRINA DOURADO
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

Exemplo clássico é o do magistrado que se esquece de apreciar a


alegação de prescrição, julgando a demanda procedente. Aviando os
embargos, o réu solicita manifestação jurisdicional sobre a questão,
seja para negá-la, seja para acolhê-la. Verifique que, declarando a
existência da prescrição, o resto do decisório restará comprometido.
Caso CPacolhimento dos embargos de declaração implique modi-
ficação da decisão embargada, o embargado que já tiver interposto
outro recurso contra a decisão originária tem o direito de comple-
mentar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação,
no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos
embargos de declaração. É o que a doutrina chama de "princípio da
comp1ementf-l.riedade".

F) Embargos protelatórios e penalidade


Quando opostos com o intuito manifestamente protelatório, o
manejo do instrumento em questão ensejará a aplicação de multa não
excedente a 2% (um por cento) sobre o valor da causa, a ser revertida
a favor do embargado. Caso haja reiteração no manejo, a multa será

I elevada para até 10% (dez por cento), ficando condicionada a interpo-
sição de outro recurso ao recolhimento do montante em questão, pelo
que constituirá novo pressuposto recursal para a admissibilidade do
recurso aviado. Esta exigência não será feita à Fazenda Pública e do
beneficiário de gratuidade da justiça, que recolherão a multa apenas
ao final.

I G) Embargos e prequestionamento
Além dos objetivos já estudados, os ED também têm a serventia
de prequestionar o órgão recorrido acerca da questão federal que será
objeto de futuros recursos extremos (Resp ou Rex), tudo com o intuito

I
de evitar a preclusão processual.
Por exemplo, por mais que tenha sido proferida sentença cujo
teor é violador de matéria federal ou constitucional, deve-se aviar, em
primeiro lugar, os recursos ordinariamente previstos (ex: apelação), '
de modo a haver o prévio esgotamento das instâncias ordinárias.

I
Entretanto, a matéria constitucional ou federal há de ser tratada pelos

826 EmTORA ARMADOR j PRÁTICA CrvH- 1 3" cdíção I


ÜOS RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

tribunais inferiores, não podendo as mesmas ser arguidas pela pri-


meira vez em sede dos recursos extremos (de modo a haver a supres-
são de instâncias). É por isso que, a despeito de ter sido levantada a
m~téria por ocasião do recurso respiectivo, omitindo-se o tribunal
a quo, serão cabíveis os embargos declaratórios com o propósito de
prequestionamento.
Neste sentido é o texto da Súmula 98 do 51}: "Embargos de Decla-
ração manifestados com notório propósito de prequestionamento não
tem caráter protelatório."
Urge ressaltar que consideram-se incluídos no acórdão os elemen-
tos que o embargante suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda
que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso
o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou
obscuridade (art. 1.025, NCPC).

25.1.6.5. Recurso Extraordinário

Diante do escalonamento das regras jurídicas dispostas por Hans


Kelsen, em sua "teoria pura do direito", verifica-se, claramente, que as
normas constitucionais ocupam lugar de destaque, considerando-se
as mesmas como normas fundantes das demais regras componentes
do ordenamento jurídico pátrio. Assim, a lesão ou contrariedade do
seu comando implica o abalo de todo um sistema construído sobre
'raízes constitucionais.
É justamente por isso que o próprio constituinte procurou criar
instrumento jurídico apto a sanar, diante de um caso concreto, a con-
trariedade aos postulados constitucionais: é o recurso extraordinário.

A) Definição
Trata-se de recurso de fundamentação vinculada, direcionado
ao Supremo Tribunal Federal, que tem como principal objetivo fazer
prevalecer a Constituição num caso concreto, alterando, assim, a
decisão que contrariou a Carta Magna e, por consequência, a sorte
do recorrente.
Percebe-se, de antemão, que, sendo de natureza extraordinária,

I
I
apenas a questão da interpretação do direito é que pode ser proposta

ANDHÉ MOTA, CRISTIANO SOJ>R.AL, LUCIANO FlGI!EIRI:!DO, RoBERTO FlGU&lREDO, $ARRINA DoURADO 827
Resumo Teórico )

ao órgão de julgamento do recurso (o STF), sendo vedada a aná!lse de


questões de fato e, por conseguinte, da prova produzida no processo,
a teor do consubstanciado na Súmula 279. O recurso tem previsão
no arl!go 102, III da Constituição Federal e o seu processamento está
diSCiplmado nos artigos 1.029 a 1.041 do NCPC.

B) Cabimento

Ressalte-se, em um primeiro instante, que o REx só caberá em


decisões em única ou última instância. Decisões que possam ser
alteradas por outro recurso, que não o REx não admitem contra elas
o re~rido recurso. É o que se denomina de "prévio esgotamento da
mstanna ordinária" (Súmula 281, STF). Assim, por exemplo, se a
sentença contranar dispositivo constitucional, contra ela deverá ser
interposto u recurso àe apelação e não terá cabimento o Extraordinário.
A decisão em única instância é aquela que não prevê qualquer recurso
contra ela. Nesse caso, caberá o recurso extraordinário.
A decisão em questão há de ter incidido em um dos casos abaixo
[artigo 102, III, CF):

~ Contrariedade direta e literal da Constituição: para efeito de


rec~_rso, e~traordi~ário, ~a. hipótese em questão, não vale a violação
a pnnc1~10 que nao seJa expresso ou violação que seja indireta.
(ex: dwsao que admite prova ilícita no processo, violando diretamente 0
disposta no artigo 5º, LVI, CF; ou a decisão que julga ser a justiça estadual
competente para nosolver controvérsia de natureza trabalhista, violando 0
artzgo 114, CF).

~ Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal: os


tratados e leis federais são resultados de complexo procedimento
legislativo, no qual se submetem ao controle de constitucionalidade.
Por outro lado, a sanção presidencial também pressupõe controle
de cons~tucionalidade. Assim, a lei federal e o tratado gozam de
pre~unçao de constitucionalidade, a qual, contrariada por decisão
JUdioal, pode remeter a questão ao STF pela v;a do REx. Neste
caso, estaria havendo urna violação REFLEXA à CF/88. (ex: caso

828 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL j 3 4 edição


J Resumo TeÓ~ico

muito comum era o da possibilidade de prisão do depositário infiel; tendo


em vista a violação do Pacto de São José da Costa Rica).

~ Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da


Constituição: a regra considera que o Brasil adota o pacto federa-
tivo, pelo que os Estados que o integra abrem mão de sua soberania
em favor da União e, por consequência, da Constituição Federal.
Assim, se a decisão de única ou última instância diz da validade
de ato ou de lei local que foi contestado em face da Constituição
Federal, pode ser submetida ao STF. Neste caso, estaria havendo
uma violação REFLEXA à CF/88. (e:>;: é o caso de município ou Estado
que cria determinado tributo considerado inconstitucional. Se, ajuizada a
demanda, o judiciário julgar válida a lei local que criou dito tributo, estará
a dedsffo <?-ufeita an recurso extraordinário).

~ Prevalência da lei local sobre a Lei Federal: ainda em vista do


pacto federativo, A decisão que julga a lei local válida em hipótese
na qual ela foi contestada em face de lei federal leva a decisão ao
STF. (aqui, há violação reflexa à CF, tendo em vista que a distribuição
de competência legislativa é matéria constitucional. (Ex: é a situação
na qual uma decisão julga válida lei local -municipal ou estadual -cujo
teor contraria matéria reservada à Lei nº federal. É o exemplo de município
que proíbe a utilização de capacetes pelos motoqueiros, indo de encontro
ao disposto no código brasileiro de trdnsito). '

C) Processamento

O Recurso, que tem apenas efeito devolutivo, será interposto


perante o presidente ou vice-presidente do Tribunal recorrido, no
prazo de 15 (quinze) dias.
Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o
recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de
15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao presidente
ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá:

ANDRÊ Mon., CRISTIANO $OIIRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 829
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

.,. Negar seguimento: a) a recurso extraordinário que discuta questão


constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não tenha reco-
nhecido a existência de repercussão geral ou a recurso extraordi-
nário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com
entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de
repercussão geral; b) a recurso extraordinário interposto contra
acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo
Tribunal Federal, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos; Contra a decisão que não admite o recurso extraor-
dinário será cabível agravo nos próprios autos (art. 1.042, NCPC).

~ Encantinhar o proí:esso ao órgão julgador para realização de juizo


de retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do
Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral
ou de recursos repetitivos; '

.,. Sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repe-


titivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal Federal;

,.. Selecionar o recurso como representativo de controvérsia consti-


tucional, se for o caso;

.,. Realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao


Supremo Tribunal Federal desde que: a) o recurso ainda não tenha
;ido submetido ao regime de repercu~são geral ou de julgamento
de recursos repetitivos; b) o recurso tenha sido selecionado como
representativo da controvérsia; ou c) o tribunal recorrido tenha
refutado o juízo de retratação.

Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário


e recurso especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de
Justiça. Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão
remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso
extraordinário, se este não estiver prejudicado.
Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso
extraordinário, em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

remeterá os autos ao Supremo Tribunal FederaL Se o relator do recurso


extraordinário, em decisão irrecorrível, rejeitar a prejudicialidade,
devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento
do recurso especiaL

~ATENÇÃO!

O § 3º do artigo 102 da Constituição Federal estabeleceu como


pressuposto do REx a repercussão da matéria trazida no recurso,
ou seja, que ela interesse a um grupo considerável de pessoas.
O Novo CPC disciplina a matéria em seu artigo 1.035. ·
Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência
ou não de questões relevantes do ponto de vista econômico,
•1* político" social pu jurídico que ultrapassem 'os interesses sub-
l jetivos do processo.
O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão
~
I.g, geral para apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal FederaL

'I
b
Vale ressaltar que haverá repercussão geral sempre que o recurso
impugnar acórdão que: I - contrarie súmula ou jurisprudência
~ dominante do Supremo Tribunal Federal; II- tenha sido profe-
ID

I' rido em julgamento de casos repetitivos; III- tenha reconhecido


a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federaL
I
I Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal
~ Federal determinará a suspensão do processamento de todos

I~
os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem
sobre a questão e tramitem no território nacionaL

I Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do


tribunal de origem negará seguimento aos recursos extraordiná-

i~
rios sobrestados na origem que versem sobre matéria idêntica.

D) O pressuposto do prequestionamento
Os tribunais superiores e o Supremo Tribunal Federal construí-
ram uma interpretação que consiste na necessidade de que a matéria
a eles proposta pelo recurso extremo tenha sido debatida pelo órgão

ANORÚ MOTA, CRISTIANO SOJIRA!., LlTCJ.~NO fiGtlElREJ)O, ROB!'!rro fiGVEIREOO, Sii.JlRINA 00URAI)O 831
Resumo Teórico l

recursal. É que muitos recursos são apresentados aos tribunais supe-


riores e ao STF sem que o tribunal de segundo grau tenha tido a opor-
tunidade de se manifestar explicitamente sobre a matéria que justifica
o recurso de natureza extraordinária. Por exemplo: a parte suscita no
REx que a decisão recorrida fez prevalecer lei local em face de regras
de Lei Federal. Ocorre que ele não havia submetido esta questão ao
órgão recorrido, ou seja, falado em seu recurso para o órgão recorrido
de REx que a decisão em tal sentido fari2 prevalecer a Lei Local em
face de Lei Federal, o que pelo pressuposto do prequestionamento é
absolutamente necessário. Daí que se a questão tiver sido levada ao
órgão recorrido e esse não tiver se manifestado, cabem os Embargos
de Declaração para efeito de prequestionamento. Em outras palavras:
imagine a situação na qual o juízo de primeiro grau indefere a oitiva
de testemunha útil ao deslinde da questão. Neste caso, é mister que
o prejudicado venha arguir a nulidade ao princípio constitucional '
do contraditório e ampla defesa, por intermédio do agravo retido,
de modo que a mesma venha ser enfrentada pelo tribunal a quo por
ocasião da apelação (prequestionando a questão). Quando o tribunal
de segundo grau houver enfrentado a questão, aí sim, poderemos falar •
em utilização do recurso extraordinário perante o STF.

E) Súmulas do STF sobre o Recurso extraordinário:

Súmula n• 279: "Para simples reexame de prova não cabe


recurso extraordinário."

Súmula n• 281: "É inadmissível o recurso extraordiná-


rio, quando couber, na justiça de origem, recurso ordinário
da decisão impugnada."

Súmula n• 283: "É inadmissível o recurso extraordinário,


quando a decisão recorrida assenta em mais de um funda-
mento suficiente e o recurso não abrange todos eles."

Súmula n• 284: "É inadmissível o recurso extraordinário,


quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a
exata compreensão da controvérsia."

832 EonoRA ARMADOR 1 PRÁTICA CtvtL 1 .)·'edição


Súmula n• 285: "Não sendo razoável a arguição de i~­
constitucionalidade, não se conhece do recurso extraordl:'a:
rio fundado na letra "c" do artigo 101, III, da Constltwçao.

Súmula n• 289: "O provimento do agravo, por uma


das turmas do Supremo Tribunal Federal, ainda que sem
ressalva, não prejudica a questão do cabzmento do recurso
extraordinário."
Súmula nQ 292: "Interposto o recurso extraordinário por
mais de um dos fundamentos indicados no artigo_ 101, lii, da
Constituição, a admissão apenas por um deles nao prejudica
0 seu conhecimento por qualquer dos outros."

Súmula n• 456: "O Supremo Tribunal Federal, conhe-


cendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aphcando
o direito à espécie."
Súmula n• 513: ':A decisão que enseja a interposição de
recurso ordinário ou extraordinário não é a do plenário~ qt:e ·
resolve 0 incidente de inconstitucionalidade, mas a do orgao
(câmaras, grupos ou turmas) que completa o julgamento do
feito."
Súmula n• 528: "Se a decisão contiver partes autônomas,
a admissão parcial, pelo presidente do tribunal "a quo": de
recurso extraordinário que, sobre qualquer delas se manifes-
tar não limitará a apreciação de todas pelo Supremo Tnbu-
naÍ Federal, independentemente de interposição de agravo
de instrumento."

25.1.6.6. Recurso Especial


Diante do escalonamento das regras jurídicas dispostas por Hans
Kelsen, em sua "teoria pura do direito", verifica-se, clara~ente: que as
normas constitucionais ocupam lugar de destaque, consrderando-se
as mesmas como normas fundantes das demais regras componentes
do ordenamento jurídico pátrio.

ANDRÉ MaTA, CRISTIANO $OJlRAL, LuCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO F,IGVE!RHlO, SAJI.RINA ÜOUMDO
833
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA
Resumo Teórico

De igual modo, as leis ordinárias ocupam posições bem defini-


das, estando acima de outras fontes de menor relevância, as quais
devem-lhe o respectivo respeito, a exemplo dos decisórios judiciais.
Assim, a lesão ou contrariedade do seu comando iii)plica o abalo
de todo ürn sistema construído sobre raízes mencionadas.
É justamente por isso que o próprio constituinte procurou criar
ire>trumento jurídico apto a sanar, diante de um caso concreto, a con-
trariedade aos postulados federais: é o recurso especial.
Percebe-se, de antemão, que, sendo de natureza extraordinária,
apenas a questão da interpretação do direito é que pode ser proposta
ao órgão de julgamento do recurso (o STJ) sendo vedado, pois, a aná-
lise de questões de fato e, por conseguinte, da prova produzida no
processo, a teor do consubstanciado na Súmula 07.

A) Definição

Trata-se de recurso de fundamentação vinculada, direcionado


ao Superior Tribunal de Justiça, que tem como principal objetivo uni-
formizar a interpretação da lei federal a partir de um caso concreto,
alterando, por consequência, a decisão impugnada.

B) Hipóteses de cabimento

Caberá o Recurso especial contra Julgamento de Tribunal Regio-


nal Federal, Tribunal de Justiça de Estado, Tribunal de Justiça do
Distrito Federal ou Tribuna! de Território que em única ou última
instância:

.,. Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência: os trata-


dos e as leis federais revelam do ponto de vista objetivo a vontade
do povo brasileiro que o Poder Legislativo consegue captar e trans-
formar em norma. A vontade do povo é expressa por intermédio da
norma, que deve ser concretizada pelo estado-juiz. Caso a decisão
contrariar o tratado, lei feder.al ou negar-lhes vigência, a vontade
do povo expressa na norma é desconsiderada.

834 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIl. ! 3" edição


Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRiA

Resumo Teórico

.,. Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei


federal: com o pacto federativo, os Estados e os governos que os
representam abrem mão da soberania em favor da União. A lei
federal, em vista disso, deve ser observada em Iwdo o território
nacional e não pode ser contrariada por ato de governo local (ato
administrativo eshdual ou municipal, a exemplo de decretos, portarias,
regulamentos etc.). Se o ato de governo local é impugnado em face
de lei federal e o Judiciário local diz que ele é válido, convém que o
sn diga da existência ou não da contrariedade para, eventualmente,
restabelecer a lei federal.

.,. Conceder a lei federal interpretação divergente da que lhe haja


atribuído outro tribunal: nesse ponto identificamos a principal
razão da existência do Recurso Especial, qual seja a de uniformi-
zar a interpretação da lei federal. O Brasil é um país de dimensões
continentais e é caracterizado por desigualdades regionais econô-
micas e culturais. Essas desigualdades podem determinar, even-
tualmente, que a mesma lei seja interpretada diferentemente em
diversas partes do território nacionaL Assim, o recurso especial é
1
II para uniformizar a interpretação. Imaginemos que o Tribunal de
J.ustiça de Pernambuco julgando apelação diga que a lei federal X
tem urna interpretação, enquanto que o Tribunal do Rio Grande
do Sul diga que a interpretação é de conteúdo diferente. A parte
prejudicada pela decisão do Tribunal de Pernambuco pode invocar
a interpretação do Rio Grande do Sul, se ela for a que o beneficia,
e pedir que o STJ uniformizando a interpretação dê provimento
ao seu recurso. Vale ressaltar que a divergência entre julgados do
mesmo Tribunal não enseja recurso especial, a teor do que preceitua
a Súmula 13 do STJ.

C) Processamento
Considerando a natureza de recurso extremo, aplicamos ao
recurso especial todas as considerações feitas ao recurso extraordi-
nário, linhas atrás.

'\NoRi. MoTA, CR1.\r!At><O ::;oRRAL. Lu<.:IANO 1'1'-uEtRJmo, ROJm;ro hGUFJRUJO, SABRINA DmJRADO 835
Resumo Teórico 1

D) O pressuposto do prequestionamento

Também aplicamos, aqui, todas as considerações referentes ao


recurso extraordinário, anteriormente efetuadas.

E) Os recursos repetitivos

A Lei nº 11.672/2008, estab,,eceu uma técnica de sobrestamento


de recursos de igual conteúdo no âmbito do próprio STJ e nos Tribu-
nais locais,até a manifestação do STJ sobre a questão de direito neles
debatida. E a técnica do chamado "recurso repetitivo". Os tribunais
superiores e o Supremo Tribunal Federal são provocados ao julga-
mento dé milhares de processos por ano com uma imposição de carga
de trabalho aos Ministros que é impraticável. Por outro lado, muitos
dos renus;s aprE>sentados contêm matéria já aneJisada pelo Trib'-1n2.l
ou que sera analisada. Esta técnica permite, então, que o STJ selecione
proc:ssos que representem a discussão jurídica e os decida com reper-
cussao sobre os demais processos de matéria comum, os quais terão
a m:sn:a solução, se já estiverem no STJ, ou serão reapreciados pela
mstanCia de ongem. Esses recursos só subirão ao STJ se o Tribunal
local não adequar o seu julgamento ao que tiver sido decidido pelo STJ.
Aludida técnica foi mantida pelo CPC de 2015. Selecionamos a
seguir, os dispositivos mais importantes: '

Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recur-


sos extraordinários ou especiais com fundamento em idêntica
questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo
comas disposições desta Subseção, observado o disposto no
Regtmento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do
Superior Tribunal de Justiça.
§ 1º. O presidente ou o vice-presidmte de tribunal de
justiça ou de tribunal regional federal selecionará 2 (dois)
ou mai_s recursos representativos da controvérsia, que serão
en:ammhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior
Tnbunal de ]usttça para fins de afetação, determinando a
suspensão do trâmite de todos os processos pendentes, indi-
vtduats ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região,
conforme o caso.

836 EDJTORA AR:;.t,.\DOR ! PRÁTICA CiVIL 1 3a edição


1 Kcsumo tcuu ...v

§ 2º- O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-


-presidente, que exclua da decisão de sobrestamento e inad-
mita o recurso especial ou o recurso extraordinário que tenha
sido interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo
de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse requerimento.
§ 3º. Da decisão que indeferir este requerimento caberá
agravo, nos termos do art. 1.042.
§ 4º. A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do
tribunal de justiça ou do tribunal regional federal não vin-
culará o relator no tribunal superior, que poderá selecionar
outros recursos representativos da controvérsia.
§ 5º. O relator em tribunal superior também poderá selecio-
nar 2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia
para julgamento da questão de direito independentemente da
iniciativa do presidente ou do vice-presidente do tribunal de
origem.
§ 6º. Somente podem ser selecionados recursos admissíveis
que contenham abrangente argumentação e discussão a res-
peito da questão a ser decidida.

Art.1.037. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal


superior, constatando a presença do pressuposto do caput do
art. 1.036, proferirá decisão de afetação, na qual:
I - identificará com precisão a questão a ser submetida a
julgamento;
II - determinará a suspensão do processamento de todos
os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem
sobre a questão e tramitem no território nacional;
III- poderá requisitar aos presidentes ou aos vice-presiden-
tes dos tribunais de justiça ou dos tribunais regionais fede-
rais a remessa de um recurso representativo da controvérsia.
§ 1º. Se, após receber os recursos selecionados pelo pre-
sidente ou pelo vice-presidente de tribunal de justiça ou de <
tribunal regional federal, não se proceder à afetação, o relator,
no tribunal superior, comunicará o fato ao presidente ou ao
vice-presidente que os houver enviado, para que sejà revogada
a decisão de suspensão referida no art. 1.036, § 1º.

ANDRÉ MoTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, RoBERTO FlGIJWt.EDO, SABRJO'IA DOURADO
837
Dos REcuRsos E DA AçÃo RESCISÓRIA
Resumo Teórico

§ 2º· É vedado ao órgão colegiado decidir, para os fins do


art. 1.040, questão não delimitada na decisão a que se refere
o inciso I do caput.
§ 3º. Havendo mais de uma afetação, será prevento o rela-
tor que primeiro tiver proferido a decisão a que se refere o
inciso I do caput.
§ 4º- Os recursos afetados deverão ser julgados no prazo de
1 (um) ano e terão preferência sobre os demais feitos, ressalva-
dos os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.
§ 5º. Não ocorrendo o julgamento no prazo de 1 (um) ano
a contar da publicação da decisão de que trata o inciso I do
caput; cessam automaticamente; em todo o território nacío~
nal, a afetação e a suspensão dos processos, que retomarão
seu curso normal.
§ 6º. Ocorrendo a hipótese do § 5º, é permitido a outro
relator do respectivo tribunal superior afetar 2 (dois) ou
mais recursos representativos da controvérsia na forma do
art. 1.036.
§ 7º- Quando os recursos requisitados na forma do inciso
III do caput contiverem outras questões além daquela que
é objeto da afetação, caberá ao tribunal decidir esta em pri-
meiro lugar e depois as demàis, em acórdão específico para
cada processo.
§ 8º. As partes deverão ser intimadas da decisão de sus-
pensão de seu processo, a ser proferida pelo respectivo juiz ou
relator quando informado da decisão a que se refere o inciso
II do caput.
§ 9º- Demonstrando distinção entre a questão a ser deci-
dida no processo e aquela a ser julgada no recurso especial ou
extraordinário afetado, a parte poderá requerer o prossegui-
mento do seu processo.

F) Súmulas do STJ sobre o recurso especial

Súmula nº 05: '~simples interpretação de cláusula coH-


tratual não ensejo recurso especial."

Súmula nº 07: '~pretensão de simples reexame de prova


11ão enseja recurso especial."

838 EDJTORtl ARMtll.lOR 1 PRÃTJCA CtvJL 1 _i·• cdiç.lo


Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

Súmula nQ 13: '~ divergência entre julgados do mesmo


Tribunal não enseja recurso especial."

Súmula nº 83: "Não se conhece do recurso especial pela


divergência, quando a orientação do Tribunal 1e firmou no
mesmo sentido da decisão recorrida. n
1
Súmula nQ 123: ~ decisão que admite, ou não; o recurso
especial, deve ser fundamentada, com o exame dos seus pres-
supostos gerais e constitucionais."

Súmula n• 126: "É inadmissível recurso especial, quando


o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucio-
nal e i14raconstituciunal; qualquer deles suficienle,_ pür si
só, para ma11tê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso
·'extraordinário."

Súmula nQ 203: "Não cabe recurso especial contra deci-


são proferida, nos limites de sua competência, por órgão de
segu11do grau dos Juizados Especiais."

Súmula nQ 207: "É inadmissível recurso especial quando


cabíveis embargos infringentes contra acórdão proferido no
tribunal de origem."

Súmula nº 211: "Inadmissível recurso especial quanto à


questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios,
não foi apreciada pelo tribunal a quo."

25.1.6.7. Recurso Adesivo


Existem provimentos judiciais que, uma vez emitidos, acabam
por provocar prejuízos a ambas as partes figurantes no proéesso. São
situações em que o órgão julgador profere decisão de procedência par-
cial da demanda, condenando o réu em parte dos pedidos e, noutros,
declarando não ser legítima a pretensão do autor.
J Perceba que, em tais casos, ocorreu o fenômeno denominado de
I "sucumbência recíproca", de modo que ambas as partes terão interesse
em manejar o correspondente instrumento recursaL
I
I ANnnf; MaTA, CnJS'I'lANO SoaRA!., J.ucJANO FJGUJ:!REDO, Rosr.RTO Fll;Ur.lln:uo, SABRINA DouRA!)O 839
Resumo Teórico I I
Ocorre, entretanto, que, recorrendo apenas uma delas, a lei abriu
a possibilidade da parte que não aviou o recurso originário no prazo
legal venha aderir ao recurso principal no prazo das contrarrazões:
é o que a doutrina denomina de recurso adesivo. O objetivo é evitar
I
.1
ll
que uma delas, conformada com a decisão originária, seja surpreen-
dida com a interposição do recurso da parte contrária no último dia
do prazo, É como se fosse uma "segunda chance" outorgada à parte.
Perceba que, emcverdade, o recurso em estudo não consiste em
ll
instrumento autõnomo, diferentes daqueles já previstos em lei, porém i
em uma forma diversa de interposição daqueles já previstos.
I
A) Definição I
1
Consiste em modalidade póstuma de interposição de recurso de
apelação, recurso especial ou extraordinário.
l
l
O recurso em exame está previsto no artigo 997 do NCPC. I
1
i'
B) Prazo
Será no prazo das contrarrazões ao recurso principal, ou seja, 15
(quinze) dias. 1'
C) Regime jurídico l•i
O Regime será subordinado ao do recurso principal, de modo
que, não sendo ele conhecido, ou tendo a parte desistido do recurso
principal, o recurso adesivo seguirá a mesma sorte (lembre-se: "o aces-
sório segue o principal").

25.2. AÇÃO RESCISÓRIA

Com o objetivo de conferir segurança às relações jurídicas, con-


siste em regra do sistema jurídico na~ional a indiscutibilidade das
decisões que se revestiram do manto da coisa julgada.
Entretanto, não obstante tenha o decisório se revestido de tal
caráter, fato é que existem situações em que o legislador acabou por

840 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CiVIL I r edição


IResumo Teórico

I
relativizar a autoridade da sua permanência perante o mundo jurídico,
justamente por apresentar vício insuportável ou situação autonzadora,
exaustivamente listados no artigo 966 do NCPC.

A) Definição
: É 0 instrumento jurídico-processual que visa desconst~tuir
decisório de mérito transitado em julgado, quando presentes vzczos
autorizadores.

B) Natureza jurídica
Como 0 próprio nome sugere, o instrumento _em_ questão ~em
natureza jurídica de ação desconstitutiva (ou constüuhvo-negahva).
Pode ser visualizada como espécie tle sucedâneo recursal, ou seJa, melo
de impugnação de decisão judicial que se_ desenvolve em processo
distinto daquele ao qual a decisão fora emzhda.

C) Objeto da rescisão
'
Será a sentença de mérito, seja ela nula ou meramente rescindível.
1 Neste último caso se incluem aquelas que, não obstante seJam ~espzdas
de vício, possam ser rescindidas, haja vista expressa prevzsao legal,
tal como ocorre com a prevista no artigo 966, VII do NCPC (ob:zver
autor posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cu;a exzstencza
0
ignora~a ou de que não pôde Jazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
pronunciamento favorável). , . _
Excepcionalmente, a decisão terminativa sera objeto de resczsao
ando consistir naquela que acolheu a existência dos pressupostos
~;ocessuais impeditivos (Perempção, litispendência ~u coisa julgad~), tendo
em vista que, nos casos mencionados, a lei prmbe a propositura de
nova demanda (art. 966, § 2º, NCPC). .
Vale ressaltar que existem decisões de mérito que são, medzante
expressa proibição legal, insuscetíveis de combate mediante o mstru-
ento em questão. São eles: Acórdão proferido em Adm ou Adecon
:rtigo 26 da Lei nº 9.868/99), em ADPF (artigo 12 da Lei nº 9.882/99) e
em Decisões proferidas em sede de Juizado especial cível (artigo 59
da Lei nº 9.099/95).

841
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO flGUEIREDO, ROBER'I'Ú flGUiliREDO, SABRINA DOURADO
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

O legislador também proibiu o manejo do instrumento em ques-


tão quando a sentença for meramente homologatória de acordo (art.
966, § 4º NCPC). É que, neste caso a sentença não apreciou o mérito da ,
demanda, limitando-se, tão somente, a homologar acordo celebrado
entre as partes. Assim, existindo qualquer vício de vontade (erro, dolo,
coação), deverá o mesmo ser desconstituído mediante ação anulatória.

D) Hipóteses de cabimento

A sentença de mérito poderá ser rescindida nas seguintes hipó-


teses:

1>- Se verifi<ar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção


do juiz: as hipóteses em questão representam figuras típicas, de
caráter penal. A primeira consistente no "retardo ou omis,são do dever
de ofício, ou na prática em desconformidade com a lei, tudo com vistas a
satisfazer interesse ou sentimento pessoal". A segunda na "exigência,
para si ou para outrem, ainda que fora da função ou antes dela, vantagem
indevida". A corrupção, por sua vez, ocorre quando "se pede ou recebe,
em virtude da função, vantagem indevida" (artigos 319, 316 e 317, do CP,
respectivamente).

A possibilidade de rescisão se dá em virtude do decisório não


ter se apoiado nos elementos constantes dos autos, mas, apenas, nos
interesses pessoais do magistrado.
Não obstante exista a regra máxima da proibição de interpretação
extensiva ou análoga das regras penais, o dispositivo em questão deve
ser interpretado de forma extensiva, de modo a abarcar todos os tipos
de irregularidades do magistrado no exercício da função, preservando
o princípio do amplo acesso à justiça (~ ordem jurídica justa).

1>- Proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente: são


pressupostos processuais de validade. No primeiro caso, o vício
acaba por macular o requisito de parcialidade do órgão julgador, ao
passo que o segundo requisito atinge o pressuposto da competência.

842 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3~ edicão


1
DOS RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA

Resumo Teórico

Vale ressaltar que, em se tratando de suspeição e incompetência


relativa, o motivo não é ensejador do remédio em estudo, haja vista
que, in casu, as irregularidades acabam por convalescer (lernbr~-se: o
juiz não pode decretar, de ofício, a incompetência relativa - Sm:nula
33, STJ).

1>- Resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento


da parte vencida, ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar
a lei: o dolo se caracterizará quando a parte ludibriar o magistrado
ou a parte adversa, sendo que este engano seja decisivo no resul-
tado do julgamento (veja-se qu~ o legislador se utiliza da expressão
nqurmdn a sPntença resultar.. . E o que ocorre quando a parte extrm
0
).

documento importante, o qual estava contido nos autos; ou quando


subornou perito para al~erar no resultado de perícia decisiva da
lide; ou, ainda, quando criou óbice ao conhecimento, pelo réu, da
propositura da ação, levando-o ao estado de revel.

A coação caracteriza-se como a "pressão psicológica" que causa


temor, a ponto de influenciar, decisivamente, no comportamento do
coagido.
Haverá, outrossim, colusão quando as partes se unirem para
simular demanda que trará prejuízos a terceiros. É o caso de marido
e mulher que simulam separação judicial e partilha patrimonial que
fraudará credores. Se o magistrado perceber tal fato, no transcorrer da
, demanda, emitirá sentença que obste o intento das partes. No entanto,
não percebendo, e consumando-se a coisa julgada, outra alternativa
não restará senão o manejo da rescisória.

1>- Ofender a coisa julgada: a coisa julgada constitui-se em fato


extrínseco que impede o ajuizamento de nova demanqa (ora, se
a nova lei não poderá prejudicar a coisa julgada, o que dizer de
urna decisão posterior que ofendeu coisa julgada anterior?). Assim,
havendo uma segunda coisa julgada, esta será rescindida para dar
lugar a primeira.

ANDRii MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, 5ABRINA DOURADO 843
...... ~·-····-~·~· ' . ""' "'"'""'-"""'''-·

.......... Resumo Teórico j

li> Violar manifestamente norma jurídica: aqui o entendimento é no


senhçlo de que o ajuizamento da rescisória independe da natureza
da norm,a tida como violada: se constitucional ou infraconstitucional
e,_ nest~ ultimo caso, se de natureza material (errar in judicando. ex:
?J
vwlaçao ao artigo da Lei nº 8.666/93) ou processual (errar in pro-
cedendo. Ex: vwlaçao ao artigo 239, NCPC).

;-- ju"rispn::dência cristalizada no âmbito do STF, por intermédio


da Sumula 343, é no sentido de que não cabe o ajuizamento do instru-
mento em questão quando a decisão rescindenda se tiver baseado em
texto legal de interpretação controvertida nos tribunais. Ressalte-se,
amda, que, em se tratando de norma constitucional, o verbete em
questão nã~ pode ser aplicado, tendo em vista que se deve preservar
sua aplicaç~o umforme, em qualquer situação perante todos os desti-
natanos, alem do que, o STF deve preservar o seu papel de guardião
da Constituição FederaL •

li> Se fund.ar ~m prova,. cuja falsidade tenha sido apurada em pro-


cesso cnmmal ou seja provada na própria ação rescisória

li> ~ep?i~ da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja exis-


tencta tgnorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só,
de lhe assegurar pronunciamento favorável

li> Fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos


da causa: há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente,
~u quando considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido.
E !ndispensável, em ambos os casos, que não tenha havido contro-
versia, nem pronunciamento judicial sobre o fato.

E) Legitimidade

Poderão manejar o instrumento jurídico em questão os que foram


parte na demanda rescindenda (incluídos os terceiros intervenientes
que, ao ingressarem na demanda, assentaram-se na condição de
parte) ou seus sucessores; os terceiros juridicamente interessados (não

844 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA ÜVIL ! 3a edição


\ Resumo Teórico

intervieram no processo, embora acabaram por sofrer os efeitos do


decisório); o Ministério Público, nos processos em que, embora não
tenha participado, sua intervenção era obrigatória ou naqueles em
que a sentença foi resultado de colusão entre as partes; e aquele que
não participou do processo em que era obrigatória a sua intervenção.
I
I
F) Prazo
Será de 02 (dois) anos, contados a partir do trânsito em julgado
da última decisão proferida nos autos (art. 975, NCPC).
Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente
prazo, quando o mesmo se expirar durante férias forenses, recesso,
0
feriados ou em dia em que não houver expediente forense.

Se fundada a ação na descoberta de prova da qual o autor igno-


rava, o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova
nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.
Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo
começa a contar, para o tercéiro prejudicado e para o Ministério
Público, que não interveio no processo, a partir do momento em
que têm ciência da simulação ou da colusão.

É mister salientar, ainda que não constitui condicionante impe-


riosa o prévio exaurimento dos recursos nas instâncias ordinárias,
haja vista que o artigo 975, NCPC se refere apenas ao "trânsito em
julgado da decisão", o que se dá pelo exaurimento dos meios recursais
ou, simplesmente, pela não - interposição no prazo legaL

G) Procedimento
O procedimento seguirá os seguintes passos:

11> Petição inicial: além dos requisitos gerais dos artigos 319 e 320,
NCPC, deverá a mesma conter a particularidade do depósito de

845
ANPRÉ MOT..o,, CRISTIANO SOBRAL, LuCtANO fiGUE!Rf.l:lO, ROBERlO FIGU11!RFPO, SAllRLNA ÜOURAOO
Dos RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA
Resumo Teórico

caução prévia de 5°/o sobre o valor da causa, que se converterá em


multa, no caso da rescisória ser julgada, por unanimidade, inad-
missível ou improcedente. Eximem-se de tal exigência as pessoas
jurídicas de direito público, o Ministério Público, defensoria pública e os
que gozam de isençiio legal.

Ressalte-se que o depósito prévio não será superior a 1.000 (mil)


salários-mínimos.
A petição apresentará o pedido de desconstituição da decisão
proferida (iudicium rescindens) e, se positivo, o de novo julgamento
da causa (iudicium rescissorium), salvo, neste último caso, quando o
novo julgamento houver de ser novamente realizado pelo juízo de
primeiro grau (a exemplo da corrupção, prevaricação ou concussão do
juiz, impedimento, etc.). O valor da causa corresponderá ao benefício
econômico pretendido pelo autor, o qual poderá coincidir ou não com
o valor dado à ação originária. É que, não obstante tenha sido atribuído
um dado valor à causa originária, fato é que o valor da condenação
(ou execução) seja distinto, motivo pelo qual o resultado da rescisória
importaria em consequências financeiras naquele montante.

I> Juízo de admissibilidade: verificada a obediência aos requisitos


legais, o relator determinará a citação do réu, a fim de responder
aos termos da ação proposta.

I> Resposta do réu: deverá ser apresentada no prazo fixado pelo


relator, variável entre 15 (quinze) e 30 (trinta) dias. O prazo em ques-
tão será quadruplicado, em se tratando de fazenda pública (embora
haja posicionamento contrário, haja vista que o relator, ao fixá-lo,
já poderia levar em consideração a situação específica; no caso dos
litisconsortes com diferentes procuradores não há dúvidas quanto à
incidência do prazo dobrado (art. 191, CPC), tendo em vista que,
in casu, seria impossível antever a presença de diferentes procura-
dores; quanto à revelia, não há a incidência do seu efeito material
(presunção de veracidade) haja vista que a coisa julgada é matéria
de típica ordem pública.

846 FrH'rrHu AUMAnn" l PuiTlôA CiVIl, I 3a edição


DOS RECURSOS E DA AÇÃO RESCISÓRIA •

Resumo Teórico

I> Instrução: Se os fatos alegados pelas partes dependerem de prova,


o relator poderá delegar a competência ao órgão que proferiu a
decisão rescindenda, fixando prazo de 1 (um) a 3 (três) meses para
a devolução dos autos.

O instrumento jurídico utilizado para efetuar a solicitação em

II questão será a carta de ordem.


Concluída a instrução, será aberta vista ao autor e ao réu para
razões finais, sucessivamente, pelo prazo de 10 (dez) dias.

l 1> Julgamento: sendo acolhida a pretensão do autor, o órgão julgador


l
.i rescindirá o julgado combatido, proferindo decisão' de natureza
constitutivo- negativa (ou desconstitutiva, como queira) e, se ior o
caso, proferirá novo decisório, o qual substituirá o anterior. No caso
do julgamento unânime de improcedência, o depósito será revertido a
4 favor do réu.
i
I'
'
j

I'
l'
i

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAl, LUCIANO fiGUEIREDO, ROJ.IERTO ftGUEIREDO, 5ABRINA DOURADO 847
o
PEÇAS PRÁTICAS

849
i

lI
PETIÇÃO INICIAL I
I Peças Práticas

1. PETIÇÃO INICIAL

A) Definição: É o ato de inaugural do processo. Ela tem por escopo


provocar a jurisdição, ora inerte, e dar início a demanda. É através dela
que o autor formulará os seus pedidos e, por conseguinte, buscará a
tutela jurisdicional.

B) Fundamentação legal: artigos 319 e 320 do CPC.

A elaboração d~ peça compreende os seguintes passos:

1' passo: Endereçamento

Para construção de tal requisito será fundamental observar a


temática do enunciado da prova. Ademais, as regras que se seguem

i
'
devem ser conferidas, para a correta definição do juízo competente,
vejamos:
j Identifique a matéria objeto do caso concreto. Na sequência, con-
li; fira se a demanda é da competência originária dos tribunais. Se não
for o caso, a demanda será endereçada para o juiz.
!
I Observe, ainda, as casuísticas do art. 109 da CF/88 para atentar as
l
'' causas que são da competência da justiça comum federal.
I Em termos da competência territorial, será fundamental consul-
I tar, dentre outros, os artigos 46 a 53 do CPC, a seguir sintetizados:
!
l Se a demanda versar sobre direitos reais mobiliários, será com-

l
l
petente o juízo do foro do domicílio do réu (art. 46, CPC);
Se a demanda tiver por objeto um direito real imobiliário, será
competente o juízo do local onde o imóvel estiver situado.
! Se a inicial for de alimentos, será competente o juízo dó foro do
domicílio do alimentando, ainda que a demanda esteja cumulada com

lI investigação de paternidade.

ExCELENTfssiMo sEI'llioRJUIZDE oiRÉrros.A.: .. vARA:...


(indique an{~téri~J DA; coMAR.cÂoii sÁiYÀPORJBJ\.HIA
',< :--" ', "'/

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO $OBRA L, LUCIANO fiGUE!RfmO, ROBERTO FlGUlliREDO, SABRINA DOURADO 851
Peças Práticas j

Se a causa for da competência da Justiça comum federal, sugere-se


o seguinte endereçamento:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA. .. VARA: ...

I
(INDIQUE A MATÉRIA) DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE: ... (INDI-
QUE A LOCALIDADE)

2' passo: Qualificação das partes

FULANO DE TAL, nacionalidade, estado civil, profissão,


inscrito no CPF sob o nº, e-mail ..., residente e domiciliado na
Rua ..., nº..., bairro ..., cidade ..., estado..., CEP..., vem, por seu
advogado infra-assinado, conforme instrumento procuratório
'
em anexo, com endereço profissional (endereço completo), no
qual receberá as intimações que se fizerem necessárias, PROPOR 1
I
AÇÃO INDENIZATÓRIA (por exemplo), com base nos arts.
319 ss. do CPC e demais dispositivos de lei aplicáveis à matéúa,
em desfavor de BELTRANO DE TAL, nacionalidade, estado
civiL profissão, inscrito no CPF sob o nº, e-mail ..., residente e
domiciliado na Rua ..., nº..., bairro ..., cidade ..., estado ..., CEP...,
pelos fatos e fundamentos a seguir delineados:

Modelo de qualificação de PESSOA JURÍDICA- SOCIEDADE


EMPRESÁRIA

Empresa X, pessoa jurídica de direito privado, com sede na


cidade de ... (endereço completo), inscrita no CNPJ/MF sob
o n ... , neste ato representada por seu administrador fulano
de tal (obs: o administrador receberá qualificação completa
conforme modelo geral de pessoa natural), conforme con·
trato social anexo (ATENÇÃO! a referência a contrato social
deverá ser utilizada se a pessoa jurídica for sociedade limi-
tada. Em se tratando de sociedade anônima deve-se utilizar a

852 EDITORA AR!'.tADOR 1 PRÂTICA CiViL 1 3" edição


j Peças Práticas

expressão "estatuto social"), por seu advogado devidamente


constituído ...

:l ATENÇÃO:

I Neste tópico não se es,:jueça de:


!
• Simular a juntada da procuraçao;
-
.
• Simular o endereço profissional do advogado;
• Indicar o procedimento adotado.

3' passo: Verificação da necessidade de abrir os seguintes


tópicos
UM TÓP!CO PARA TRATAR DA CONCESSÃO DOS BENE-
FÍCIOS DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA, DE PRIORIDADE DE
TRAMITAÇÃO, BEM COMO TUTELA ANTECIPADA; '
1
I DA CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA GRATUIDADE
JUDICIÁRIA
Destaque-se, desde logo, que. o autor não tem condições de arcar
com as custas do processo, sem prejuízo de seu sustento próprio.
Trata-se de pessoa idosa que se encontra desempregado, razão
pela qual lhe deve ser .concedidos os benefícios da gratuida~e
judiciária, nos moldes da Lei 1060/50, bem como art. 98, para-
grafo 1º do CPC.

DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO
Destaque-se, desde logo que autor é idoso e está acometido com
doença grave que poderá levá-lo ao falecimento, neste caso os
autos tem prioridade de tramitação, nos moldes dos arts. 1048
do CPC c/c; art. 71 do Estatuto do Idoso. -

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOURAL, LUCIANO FiGUEIREDO, ROBERTO fiGUtJREDO, SAilRINA DOURADO
853
I PETIÇÃO INICIAL
Peças Práticas ]

DA CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA


Utilizaremos as disposições do artigo 300, demonstrando o
atendimentos ;fos requisitos nele indicados.
'
4' passo: Resumo dos fatos

Lembre-te que não poderás ser identificado(a). Na elaboração


do tópico, em tela, lembre-se que teremos que discorrer acerca de
três itens substanciais, a saber: relação, evento e conclusão.

SEJA BREVE E NÃO INVENTE DADOS.


'
O requerente foi casado por vários anos, e desta união conjugal
teve apenas um filho, o referido réu, que hoje é dono de uma
I1
rede de hotelaria, ocorre que, após q falecimento de sua esposa,
o autor entrou em grande tristeza;·o que ocasionou o aban-
dono do trabalho, razãopela qual se encontra em dificuldades
financeiras ...

5' passo: Fundamentação

Na fundamentação, também chamado de mérito ou do direito,


deveremos inserir todos os àiligos ·àplíéáveis a temática, bem como
as possíveis súmulas e entendimentos jurisprudenciais aplicáveis ao
l
caso, vejamos um exemplo: i
I
Insta salientar que o autoc deve ser considerado consumidor nos
termos do art. 2º do toe, e que a relação entre M litigantes é
de consumo em razão da prestaçãõcde serviços. -.·
l
j
Ressalte-se que o aútor sempre k<;Jimpliú comsua obrigação no
pagamento das mensalidades do Planode Saftde e no momentó
l
que mais necessidade de assis~néia, este não cumpriú com seu
dever. t

854 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL I 3a edição I


PETIÇÃO INICIAL I
I Peças Práticas

Ora! Se o plano foi contratado para prestâr togo õ suporte


necessário, terri a obrigação de instalar a Home Cate .ha residên:
cia do autor para garantir sua dignidade e a melhor forma de
tratamento tendo em vista que este nãõ mais poderá continuar
na UTI. -
Para tanto é necessária a concessão da tutela espeéífica nos
moldes do art. 84 do coe, para o cumprimento da obrigação
de fazer pela parte ré. · · ·
Com isso faz-se imperativa a imposição de multa diária, a·critério .
deste juízo, de acordo com o art. 536 e 537 do CPC, com intento
de fazer valer os direitos do autor.

I1
6' passo: Pedidos

O "corpo" do requerimento trará as seguintes informações: Ante


o exposto, requer: a) seja concedida a gratuidade judiciária, nos moldes
da lei, em vigor; b) siga o processo em prioridade de tramitação; c) Seja
concedido do Pedido de tutela antecipada taL .., ante a prova do dano
e da ocorrência de lesão grave ou de difícil reparação, a qual deve
ser viabilizada liminarmente e ratificada por sentença; d) sejam os
pedidos julgados procedentes a fim de que. __ e) seja o réu citado para
comparecer a audiência de autocomposição e, se não for bem sucedida,
oferecer resposta, no prazo de 15 dias, nos moldes do art. 335, sob pena
de revelia; f) seja intimado o ministério público (nas hipóteses de sua
intervenção obrigatória); g) d) Requer, ainda, a condenação do réu
no pagamento das custas e condenação em honorários advocatícios
sucumbenciais, nos moldes do art. 85 do CPC;

7' passo: Indicação dos meios de prova

Nos termos do artigo 320 do CPC, as palavras documentais


devem ser apresentadas desde já na petição inicial.
t

I ANnltF. MOTA. C!liSTIANO SORilAt .. l.T!C!ANO Flr.lli'IRimo_ RnRI'RTO J:u-:!Wltn·nn -""'IIITN& nmu>.a.nn Rt:;t:;
Peças Práticas

Requer provar o alegado por méio de prova documental, depoi~


menta pessoal das partes, p;ÇJva testemunhal, prova pericial e
todos os demais meios de prova em direito admitidos.

8' passo: Citação

Citação é ato processual através do qual se traz o réu em juízo


p~r~ se d:fender. Ela poderá ser feita por carta/pelos correios, por
ofioal de JUStiça, por edital, através da ciência do réu na secretaria do
juízo e pelo meio eletrônico. Tal item passou a ser opcional. Ele não
está mais previsto no rol dos requisitos do art. 319.

Posto isso requer a citação do réu para. ouerendo. Comparecer


a audiência de mediação/conciliação (qu.;,do for o caso) e apre-
I
sentar defesa s~b pena de revelia.

9' passo: Atribuição do valor da causa- Arts. 291 e 292.

Dá-se a causa o valor "de R$ ...


'

II
10' Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

856 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CtVIL j 3a edição


j Peças Práticas

2. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO


DE TUTELA ANTECIPADA

A) Definição: Ação de conhecimento, de rito comum, que visa


compelir o réu à adoção de conduta e specífica.
1
B) Fundamentação legal: arts. 319 e 497, CPC e art. 84 do CDC.

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

1º Passo: Endereçamento

A ação será ajuizada, atendendo-se as regras gerais de compe-

II
tência, fixadas nos artigos 46 e seguintes do CPC, tendo como regra
geral o foro do domicílio do réu (art. 46, CPC).

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA VARA CÍVEL DA


COMARCA DE BELO HORIZONTE/ MINAS GERAIS

2º Passo: Qualificação das partes

Aqui, como em toda petição inicial, as partes necessitam ser qua-


lificadas (nome, estado civil, profissão, RG, CPF, e-mai! e endereço).
As partes são comumente chamadas de autor e réu, tendo em
vista que estamos diante de ação de conhecimento. Assim:

FULANO DE TAL, (Qualificação), através do advogado que


a esta subscreve, com escritório profissional situado na (xxx),
onde réceberá intimações, vem a presença de vossa excelência,
com fundamento nos artigos 319, 300 e 497 do CPC, c/c artigo
84, CDC, propor AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM
PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, em face de BELTRANO,
(Qualificação), nos seguintes termos:

ANDRÉ MoTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO fJGUJiJREDO, ROBfRTO f'JGUEIREDO, SAB\UNA DOURADO 857
AÇÃO DE ÜBRIGAÇÃO DE fAZER COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

Peças Práticas

3º Passo: Fundamentação

O examinando deverá, primeiramente, expor os fatos narrados


na questão. Assim:

l.FATOS
1. O Autor é beneficiário de plano de saúde, mantido junto à
empresa ré, desde ..., período em que sempre honrou com suas
obrigações, mediante o pagamento da respectiva mensalidade;
2. O referido plano, por ser do mais alto nível dentre as catego-
rias existentes, concede direito à total assistência ao beneficiário,
independentemente do malefício sofrido, inclusive com apoio
de serviços extra-hospitalares do tipo "home care";
3. Pois bem, no dia ... o autor fora internado em unidade hospi-
talar com suspeita de ...; constatada a existência do malefício,
verificou-se a necessidade de apoio extra-hospital, do tipo "horne
care'; haja vista que a sua permanência na unidade hospitalar
poderia acarretar-lhe outros malefícios, oriundos de possível
infecção hospitalar;
4. Instado a proceder com as despesas relativas à instalação do
serviço, o plano de saúde negou-se, sob a alegação de que:, ..
5. Diante disso, ao autor não restou outra alternativa, senão vir
a este mm. Juízo requerer o que lhe seja d" direito.

Ato contínuo, o examinando deverá partir para os fundamentos


de direito. Vejamos:

2. DO DIREITO
6. O direito do demandante é vislumbrado na medida em que,
além de estar ele incluso na modalidade mais alta dentre as cate-
gorias existentes do plano, SEMPRE honrou com pontualidade
no pagamento das respectivas mensalidades, não havendo, por
isso, motivos para à recusa da prestação do serviço buscado.
l
l
858 EorroR.A ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL j Y edição I
1

AÇÃO DE ÜBRIGAÇÃO DE fAZER COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA


Peças Práticas

4º Passo: Pedido de tutela antecipada


I
l Expostos os fatos e fundamentos jurídicos, chegou o momento
i de requerer a tutela antecipada. Aqui o examinando demonstrará a
presença dos requisitos ensejadores do deferimento, mediante uma
linguagem simples e direta. Por exemplo:

3. DA TUTELA ANTECIPADA
O ordenamento jurídico nacional, através do artigo 300, CPC,
previu, genericamente, a possibilidade de o juiz antecipar
os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que
estejan1 presentes os requisitos autorizaàores, àentre os quais,
ressaltam-se: "perigo de dano" e "probabilidade do direito" ou
"resultado útil do processo".
É o que ocorre no presente caso, senão vejamos:

a) Probabilidade do direito
A plausibilidade do direito do demandante é constatada na
medida em que o mesmo acosta às fls.: ... cópia do contrato de
prestação de serviços mantido junto à ré, o qual demonstra
estar ele incluso na modalidade mais alta dentre as categorias
existentes do plano.

b) Do perigo de dano
Por sua vez, o perigo dano resta evidenciado, na medida em
que a demora na instalação dos aparelhos poderá acarretar a
morte .do demandante. ·
Sendo assim, cumpridos os requisitos legais, torna-se necessária
a concessão de tutela antecipada para determinar o cumpri-
mento de obrigação de fazer, no sentido de ser a demandada
compelida a instalar os serviços de "home care'; por ser medida
de justiça.

l
I ANDRÊ Mo-LI. CRJSTfANO SOBRAL, L1KJ ;?-.o l'lc;urJHe:no, RonrKro PlCU!·:!IlH>o, SA!1RJl>iA Dm.IRADO 859
Peças Práticas !

5º Passo: Pedidos

Nos pedidos, é mister requerer: a) a concessão de tutela anteci-


pada, com a possibilidade de aplicação de multa diária, para o cum-
primento da obrigação; b) a realização de audiência de justificação
prévia, caso o juiz entenda necessária para a concessão da medida
antecipatória; c) requerimento de citação do réu para, querendo,
comparecer a audiência e não obtida a conciliação, contestar a ação
no prazo de 15 dias; d) a procedência da demanda, com a confirmação
da tutela inicialmente deferida; e) condenação nas custas processuais
e nos honorários advocatícios. Por exemplo:

4. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
a) Seja deferida a TUTELA ANTECIPADA, de modo que o réu
seja condenado em obrigação de fazer, consistente na imediata
instalação do "home care" nas dependências da residência do l
autor, sob pena de multa diária, a ser prudentemente fixada
por este mm. Juízo, nos termos do artigo 84, par. 4º, do Código
de defesa do consumidor (Lei 8.078/90) c/c artigo 497 do CPC; l
b) Caso V. Exa entenda necessária, que seja designada audiência
de justificação prévia do CPC;
c) a citação do réu para, querendo, comparecer a audiência e
não obtida a conciliação, oferecer resposta, sob pena de revelia;
d) AO FINAL, seja a ação julgada procedente, com a confirmação
da tutela antecipada e condenação do réu nas custas processuais
e honorários advocatícios.

6º Passo: Protesto pelas provas

Como se trata de "ação'; é mister que o autor prove o alegado, para


que os pedidos formulados na demanda sejam acolhidos. Por exemplo:

860 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição


I Peças Práticas I·
I1
Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em
i'
direito admitidos, em especial pelo depoimento pessoal, tes-
temunhas, perícias e tudo quanto se fizer necessário para a
efetivação da justiça!

7º Passo: Valor da causa

A toda causa deve ser atribuído um valor (art. 291, CPC), o qual
corresponderá ao benefício econômico pretendido pelo autor. Assim,
no exemplo ora analisado, o valor da causa corresponderá às despesas
necessárias para a execução dos serviços. Por exemplo:

Dá-se à causa o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais).

l 8º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se

l do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

3. AÇÃO DE ALIMENTOS

1º Passo: Endereçamento

EXCELEI'.iTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO


DA VARA DE FAMÍLIA DA COMARCA DE GUAIAQUI DO
ESTADO...

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO 50BR.4l., LUCIANO F!GUE!Rf.DO, RoaERfO FtGl.:UR!:PO, SMIRI:-IA DouRADO
861
IAÇÃO DE ALIMENTOS
Peças Prátkas I

2º Passo: Qualificação das partes

Aqui, como em toda petição inicial, as partes necessitam ser qua-


lificadas (nome, estado civil, profissão, RG, CPF, e-mail e endereço).
'
As partes são comumente chamadas de autor e réu, tendo em
vista que esta.mos diante de ação de conhecimento. Assim:

ANTÔNIO PEDRO, nacionalidade, viúvo, desempregado,


devidamente inscrito no CPF sob o número ... portador do RG
nUmero..., e-mail. .., residente e domiciliado na rua ..., número ...,
CEP..., bairro ..., cidade de Da luz, Estado ..., por seu Advogado
legalmente constituído(conforme instrumento procuratório
anexo), com endereço profissional situado na rua ..., número ...,
bairro..., CEP. .., cidade ..., Estado ..., onde receberá as intimações
de estilo, vem a presença de Vossa Excelência, com base nos
artigos 319 e 320 do código de processo civil, com fulcro na lei
5.478 de 1968 e artigos 1694, 1.696 e demais dispositivos, propor
AÇÃO DE ALIMENTOS
com pedido de fixação de alimentos provisórios, pelo rito espe-
cial que lhe corresponde, em face de ARLINDO, nacionalidade ...,
estado civil. .., profissão ..., devidamente inscrito no CPF sob o
número..., portador do RG número ..., e-mail. .., residente e domi-
ciliado na rua ... , CEP..., bairro ..., cidade de Italquise, Estado ...,
pelos fatos e fundamentos a seguir delineados:

Na inicial de Alimentos é possível que se façam presentes os


seguintes itens, vejamos:

DA CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA GRATUIDADE


JUDICIÁRIA
Destaque-se, desde logo, que o autor não tem condições de arcar
com as custas do processo, sem prejuízo de seu sustento próprio.
Trata-se de pessoa idosa que s~ encontra desempregado, razão
pela qual lhe deve ser concedidos os benefícios da gratuidade
judiciária, nos moldes da Lei 1060.50.

862 EotTOR.\ ARMADOR I PRÁTICA CIVIL I 3~ cdü~iio


AÇÃO DE ALIMENTOS I
I Peças Práticas

DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO
Neste tópico, indicar a· prioridade de tra:íi:titilção' cbm base no
art. 71 da Lei 10.741/03.

3º Passo: Fundamentação

DOS FATOS
O requerente foi casado por vários anos, e desta união conjugal
teve apenas um filho, o referido réu, que hoje é dono de uma
rede de hotelaria, ocorre que, após o falecimento de sua esposa,
o autor entrou em grande tristeza, o que ocasionou o aban-
dono do trabalho, razão pela qual encontra-se em dificuldades
financeiras,
Já aos 72 anos de idade sobrevive de ajudas de vizinhos e alguns
parentes, a exemplo da sua sobrinha.
Mister se faz salientar que, é notória a necessidade de fixação
de alimentos provisórios em razão da necessidade da carência
do seu próprio sustento.

DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA DEMANDA


DA CONCESSÃO DOS ALIMENTOS PROVISÓRIOS (A
BANCA CONSIDEROU QUEM PEDIU A FIXAÇÃO DE
ALIMENTOS PROVISIONAIS)
Utilizar o art. 4º da Lei de Alimentos
Demais -fundamentos ...
Consagrado vem constitucionalmente o dever de alimentar,
consoante o artigo 229 da CF/88, que determina a obrigação recí-
proca entre pais e filhos assistirem uns aos outros, na carência,
enfermidade, criação e educação.
O texto da carta maior vem também contemplado pela legislaçãó
infraconstitucional em seus artigos 1.695,1696 e seguintes do

ANDRf MOTA, CRISTIANO SüllfiAt, LllCIANO FIGUEIREDO, ROBEIITO f'IGU[IREDO, SARRINA DOURADO 863
Peças l'ráticas 1

código civil, todos consagrados e revestidos de imperatividade


do dever de alimentar.
De acordo com o disposto é recíproco entre pais e filhos e exten-
sivo a todos os ascendentes, recaindo aos mais próximos, uns
na falta dos outros. ·
É de verificar, que, é dever do réu dar suporte ao seu genitor
na sua velhice, é direito do autor, ser amparado pelo seu único
filho, com respaldo no artigo 2º do artigo da lei 5.478/68,
Abrir um tópico para cuidar da· necessidade do autor e possi-
bilidade que tem o réu de prover a mantença de seu genitor.

'.:l ATENÇÃO! OS TÓPICOS ACIMA DEVEM SER MELHOR


DESENVOLVIDOS POR VOCÊ!

5º Passo: Pedidos

Ante o exposto requer a total PROCEDÊNCIA dos pedidós a


seguir delineados:
a. Liminarmente, por força do artigo 4ª. Da lei 5.478 de 1968,
requer a procedência de fixação de alimentos provisórios, a
quantia de R$ ...
b. Requer a prioridade de tramitação no procedimento, aten-
dendo o disposto no artigo 1048 do código de processo civil e o
artigo 71 da lei 10.741 de 2003, o estatuto do idoso, por conta do
autor ter idade superior da 60 anos.
c. Requer a indicação dos meios de provas, documental, testemu-
nhal e pericial e todos os meios de provas em direito admitidos.
d. Requer a intimação do ilustre representante do Ministério
público, para que manifeste a acompanhe o feito ate o final, sob
pena de nulidade, conforme artigo 178 código de processo civii..

864 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiviL I 3a edíção


jl'eças t'rau~..:a"'

e. Requer a concessão do benefício de justiça gratuita, nos termos


da lei 1.060/50.
e. Requer a citação do réu, para querendo comparecer a audiên-
cia de autocomposição e não obtendo êxito contestar no prazo
legal, sob pena de confissão e revelia.
f. Requer ainda o mérito, prócedência total do pres:ente pedido
para que seja fixado os alimentos definitivos.
Por fim, requer a condenação do réu ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, a se~em arbitrado~ por
Vossa Excelência, nos moldes do art. 85 do CPC.

7º Passe: Valor da causa

Dá-se o valor da causa R$.,. 12 vezes prestações mensais pedi-


das pelo autor.

8º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Nestes termos,
Pede Deferimento.
Advogado: ...
OAB ...

ANDRi' MOTA, (R!STIANO SOBR.4l, LUC!AI\0 f!GUfl!\l'fiO, ROI>fRTO fiC·l'f.IREllO. SABR!NA DOURADO
865
1 CONTESTAÇÃO

Peças Práticas I

4. CONTESTAÇÃO I

A) Definição: É a principal peça de ,defesa do réu contra o autor.


A contestação encontra-se detalhada no's arts. 335 a 342 do CPC.
I
'l'

B) Fundamentação legal: artigos 335 a 342 do CPC.

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

1ª passo: Endereçamento

Será sempre perante o juízo pelo qual corre o processo.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE: ... (Local indicado no enunciado da peça)

2ª passo: Qualificação das partes

Segue a mesma ritualística que a inicial, entretanto, pode se


considerar o já devidamente qualificado.

Processo nº...
FULANO, já devidamente qualificado nos autos do processo
em epígrafe, vem, por meio de seu advogado abaixo assinado,
constituído através 'do instrumento procur~tório em anexo,
com endereço profissional (endereço completo), onde receberá
intimações de estilo, apresentar CONTESTAÇÃO, com fulcro
no art. 335 do CPC, contra BELTRANO, já também qualificado,
pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

3ª passo: Resumo dos fatos

I
Breve resumo da petição inicial.

866 EOtTORI\ 1\RM.'>DOR ! PRÁTICA Civn. ! 3a ediç5a


CoNTESTAÇÃO j

I Peças Práticas

I Ex: O contestante se envolveu num acidente de trânsito, vindo

I
l
a ser abalroado por um transporte autônomo de passageiros
conhecido por "lotação", dirigido pelo Sr. FULANO DE TAL,
que vinha com velocidade acima da permitida onde ocorreu o
acidente.
• Devido à colisão, CICLANO acabou por abalroar no automó-
vel do Sr. BELTRANO, autor da demanda, configurando-se o
conhecido "engavetamento". Por equívoco, o autor responsabi-
lizou o ora requerente, pelos danos causados ao seu veículo de
forma descabida, uma vez que CICLANO sempre observou as
leis de trânsitos e seu automóvel estava em perfeitas condições.
Na oports.1nidade, também seguia a risca todas as precauções,
bem como as regras de trânsito vigentes.

4ª passo: Das preliminares


As preliminares da contestação estão arroladas no artigo 337 do
CPC. Elas são elementares. Elas podem ser dilatórias ou peremptórias.
Dilatória é a def~sa que retarda o andamento da marcha pro-
cessual, não tem força para extingui-la. Ex: INC. ABSOLUTA ou
RELATIVA.
Cuidado! NO CPC/15 a INCOMPETÊNCIA RELATIVA passa a
ser arguida na própria contestação. Ela não deve mais ser oferecida
como matéria de EXCEÇÃO.
A defesa peremptória é fulminante. Arguida e aceita extinguirá
o processo SEM julgamento do mérito (art. 485). Ex: Litispendência,
Coisa Julgada, carência de ação.

:l ATENÇÃO: será fundamental consultar o artigo 337 do CPC.

I Preliminarmente, cumpre ressaltar que o réu é parte ilegítima


para figurar no feito nos termos do art. 337, XI, do CPC. Isso

i porque, conforme se verifica no contrato trazido ao processo, o


réu não figura corno locatário, mas, sim, terceira pessoa.

I ,\NI/RÚ :\'loTA. ÜUSTII't-"<0 SO!IR·\1., L\JCI\NO FIGUE!RUJO, ROllEltTO flGUHREDO, SMRINA DOURADO 867
5ª passo: Prejudiciais de mérito I
Decadên~ia e prescrição são matérias que extinguem o processo I
COM resoluçao do mérito. Vide art. 487, CPC.

Vale destacar que a pretensão, em tela, já está prescrita, tendo


I!
l
em vista que a lei civil...
As_s~m sendo, requer a extinção do processo com resolução do
menta, com base no artigo 487 do CPC. · ·

6ª passo: Fundamentos
l
1
. ~
matéria de mérito deve ser trabalhada aqui. Eis a grande Il
finahdad~ da peça contestatória.O examinando deverá basear-se em
JUnsprudenoa e legislação a fim de impugnar as alegações dos autos.
I
J
l
EX: Há ausência do dever de indenizar em relação ao contestante
pois não houve sequer culpa deste, que observa atentamente. a~
leis de trânsito e na oportunidade do ocorrido encontrava-se com
!l
seu veíc;rlo em perfeit~s condições, não incorrendo em qualquer l1
Imprudencm ou 1mpenc1a em relação ao acidente, desconstituído
de ato ilícito seu envolvimento com o fato, conforme art. 186 e j
927 do CC/02, estando desobrigado à indenização pleiteada na !
peça vestibular.
l
7ª passo: Requerimentos/pedidos

.O pedido da contestação se limita a pedir que o juiz acolha as


prehmmares argmdas e, no mérito, que seja o pedido julgado impro-
cedente .. Deve o réu, ainda, requerer a produção de provas e as custas
e honoranos para que sejam arcados pelo autor.

868 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIl i 3a edição


Ex: Ante todo o exposto, requer que aceite a ilegitimidade da
parte e que, por conseguinte se extinga o processo sem resolúção
do mérito, com base no art. 485 do CPC. ·
Caso V. Excelência assim não entenda, o que não se espera,
requer então que se julgue improcedente o pleito indenizatório
requerido pelo Sr. Júlio, uma yez que não há nexo de causali<;lade
e consequentemente inexiste o dever de reparação. '
Atesta provar o alegado por meio de prova documental, depoi-
mento pessoal das partes, prova testemunhal e todos os demais

l meios de prova em direito admitidos.


Requer, ainda,. a condenação o autor no pagamento de custas e
honorários advocatícios sucumbenciais, nos moldes do art. 85,
parágrafo 1º, do CPC.

~ ATENÇÃO: não há valor da causa, exceto se for formulada a


reconvenção, vejamos:

! • No CPC/15 a Reconvenção deve ser oferecida no bojo da


contestação.

8ª Passo: Reconvenção
Resumo da inicial proposta pelo autor, com a narrativa, por parte
! do reconvinte, do ocorrido, de modo a levar ao conhecimento do juiz
l da causa as informações que não foram prestadas na exordial.
Demonstrar conexão, justificando o cabimento da reconvenção.
Indicação dos artigos da lei material e processual que incidem sobre
a hipótese fática apresentada pela banca .
O examinando requererá a procedência do pleito reconvencional
e, por conseguinte, o ·Julgamento procedente da reconvenção.
Não se esquecer de pedir a inversão do ônus da sucumbência.

Requer, ainda, a condenação o reconvindo no pagamento de


custas e honorários advocatícios sucumbenciais, nos moldes
do art. 20 do CPC.

A:.~vRÉ MOTA, CR!5TI·\NO $01'\.ltAl., LUOANO flGUEJREDO, ROBERTO flGUtJREDO, SABRIN;\ DouRADO
869
J CONTESTAÇÃO

Peças Práticas 1

De acordo com o disposto no art. 343, parágrafo 1º do CPC, será


o reconvindo INTIMADO para, querendo, apresentar contestação, em
15 dias, sob pena de revelia.
Atesta provar o alegado por meio de prova dc:cumental, depoi-
mento pessoal das partes, prova testemunhal e todos os demais meios
de prova em direito admitidos.
Deve ser indicado valor da causa
Valor pleiteado. Segue-se a regra geral.

Dá-se à causa o valor de ...

8ª Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


· Local, data,
Advogado

AGRAVOS

Destaque, desde logo, as suas modalidades:


> INSTRUMENTO: Art. 1015 a 1020 CPC;
> REGIMENTAL/INTERNO: 1021;
> AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL E EM RECURSO EX-
TRAORDINÁRIO: 1042.

870
AGRAVO DE iNSTRUMENTO \

!Peças Práticas

5. AGRAVO DE INSTRUMENTO

A) Definição: É o recurso cabível das decisões interlocutórias


previstas no art. 1015 do CPC.
O CPC/15 afasta a figura do agravo retido. De fato, tal espécie
recursal não encontra mais previsão legal. O novo Código de ritos
passa a autorizar a interposição do agravo de instrumento nas hipó-
teses mencionadas no artigo 1015, as quais são taxativas.
As demais decisões interlocutórias, não agraváveis de imediato,
não precluem, devendo ser discutidas em preliminar de apelação,
ou nas contrarrazões.

B) Fundamentação legal: artigos 1015 ao 1020 do CPC.

1ª passo: Endereçamento;

FOLHA DE APRESENTAÇÃO
> Endereçamento ao Presidente do Tribunal

Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do emérito


Tribunal de Justiça do estado ...

2ª passo: Identificação das partes

> Qualificação reduzida (Agravante x Agravado)


> Endereço profissional do advogado

3' passo: Detalhes da construção da folha de apresentação

Destacar, desde logo: tempestividade I preparo;


> Da formação do Instrumento ou I Peças essenciais ao presente
Agravo (listar as peças) -Art. 1017, CPC;
> Contrarrazões pelo agravado;

ANnHf MoT,.,, CH!STIANo SosRAl-, LuciANo f'JGUt:lREDO, RoBERTo f.JGUUREDo, S4BRJNA DoURADO 871
Peças Práticas 1

~ Pedir o Conhecimento do agravo e Remessa ao órgão compe-


tente;
~ Nestes termos
Pede deferimento.
Advogado
OAB

4º passo: Endereçamento da folha das razões I minuta do agravo

ÍNCLITOS JULGADORES!
Ij
Emérita turma ...

5 ª passo: Qualificação das partes na minuta


!i
AGRAVANTE:.. .
f
AGRAVADO: .. .
J
PROCESSO ORIGINÁRIO:...
I
6ª passo: requisitos de admissibilidade

~ Da obediência ao art.l018, CPC (destaque-se que uma cópia do


pre_:;ente agravo protocolado, indicando que as peças juntadas
I
serao protocoladas, no juizo de 1º grau.)
~ Da concessão do efeito suspensivo ou da tutela antecipada

7ª passo: resumo da decisão agravada

O examinando deverá fazer breve relato dos principais pontos


do enunCiado proposto pela banca.

Trata-se de decisão interlocutória proferida nos autos de Ação


de... mov1da contra o agravante pela agravado.

872
EDITORA ARMADOR I PRÁTICA C!VJL j 3" edição
O inconformismo do agravante refere-se aq fato de que o MM
Juizo "a quo"... ficando evidente o· prejuízo do agravante.

Ij
8' passo: Fundamentos do agravo

Atacar a decisão com fundamento na legislação pertinente!.


Enfrentar a decisão agravada, utilizando o direito material e proces-
sual a ser invocado ou que, eventualmente, tenha sido violado.

!i
Justificar o pedido de efeito suspensivo ou da antecipação de
tutela recursal.

Fica patente o perigo de dano e da probabilidade do direito,


diante da: ..., pois o lvílv1. Juizo "a quo": ...
A demora na prestação jurisdicional é fator indiscutíveL já que O
f PROSSEGUIMENTO DO FEITO violará, inclusive, os princípios
da dignidade da pessoa humana, do contraditório, da ampla
J defesa e do devido processo legaL
I A concessão da providência só ao final da demanda poderá ser

I
inócua,.e as consequênciaS desastrosas para o agravante.
Assim, com fundamento nos 'artigos 1019, I e 932, II do Código
de Processo Civil, requer-se a Vossa Excelência a concessão
da antecipação dos efeitos da tutela recursal, a fim de que seja
deferido: ... :

9ª passo: Dos pedidos

~ Ante o exposto, requer o conhecimento e provimento do agravo


a fim de ...
• Requerer por fim, a condenação do agravado em custas e
honOrários advocatícios sucumbenciais.

ANDRÉ MOTA, CRISTiANO SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FiGUEIREDO, SA.BRIN!I DouRADO 873
·t APELAÇÃO

10' passo: Encerramento


Peças Práticas I
l
Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se
do local, data e advogado. Por exemplo: ,
'
Termos em que pede d"ferimento.
Local, data,
Advogado

6.APELAÇÃO

OBSERVAÇÕES ACERCA DA APELAÇÃO:

~ O preparo será realizado no momento da interposição do


recurso. Entretanto se for efetuado no último dia do prazo,
depois do expediente bancário, será lícito ao recorrente com-
prová-lo no 1º dia útil subsequente ao da referida interposição.
Vide súmula 484, STJ. De acordo com o art. 1007, § 4º o recorrente
que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o reco-
lhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno,
será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o
recolhimento em dobro, sob pena de deserção.
~ O Ministério Público tem ampla legitimidade recursal. Poderá
recorrer como fiscal da lei ainda que o autor e o réu não recor-
ram. Súmula 99, STJ.
~ É também indispensável preencher o requisito de admissi-
bilidade intitulado cabimento, o qual serve para identificar o
recurso adequado ao enunciado da FGV. !
k
~ Das sentenças terminativas ou definitivas será cabível apelação.
Vale ressaltar que a sentença proferida nos Juizados Especiais

874 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CIVIL 1 3" edição I


APELAÇÃO I
I Peças Práticas
I será atacável por Recurso Inominado, no prazo de 10 dias e
a competência será das Turmas Recursais.

A) Definicão: É o recurso da sentença, tanto terminativa, quanto


definitiva; será cabível recurso de apelação. Esta peça será construída
em d&as etapas: Folha de apresentação - endereçada ao juízo a quo
(1º grau)- e Folha das razões- endereçada ao juízo ad quem (tribunal
competente - TJ ou TRF).

B) Fundamentação legal: artigos 1009 e ss. do CPC.

1' passo: Endereçamento na folha de apresentação

A apelação será interposta no juízo a quo (aquele que proferiu


a sentença). Ele não fará mais o primeiro juízo de admissibilidade
do recurso. Irá receber o recurso, intimar o apelado para, querendo
oferecer contrarrazões e enviará o recurso para o tribunal.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO


DA: ... VARA CÍVEL DA COMARCA DE: ... (esses dados estarão
no enunciado).

· 2' passo: qualificação das partes

Tratamento: apelante e apelado.

APELANTE, já devidamente qualificado no processo Nº acima


mencionado, vem, por intermédio de seu advogado devidamente
constituído pelo instrumento procuratório anexo, com endereço
profissional (ENDEREÇO COMPLETO), interpor APELAÇÃO
com base no art. 1009, CPC, em desfavor do apelado, também
!
k
já devidamente qualificado, pelos fatos e fundamentos a seguir
delineados.

I ANDRÉ MOTA. CRISTIANO SOBR!il., LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO FiGUEIREDO, SABRINA DOURADO 875
Peças Práticas

3' passo: d_emais pontos da construção da folha de apresentação


d a apelaçao

~estaca-se, desde logo, que a apelação é tempestiva e encontra-se


evrd~mente preparada, conforme guias anexas.
Requer. a intimação
- . do ape1ad o para, querendo, apresentar suas
contrarrazoes e amda, o conhecimento da apelação, seu recebi-
mento no duplo
. efeito, conforme art· 1012, PC e aremessa-
c· . ·. d- os
autos ao Tnbunal competente.

4º passo: Encerramento da folha de apresentação

Nestes termos,
Pede deferimento.
LocaL dia, mês e ano.
Advogado
OAB

s• passo: .Endereçamento das razões da apelação


EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR
PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE ...

6ª passo: Cabeçalho das razões da apelação

APELANTE:
APELADO:
PROCESSO ORIGINÁRIO:

876
EDJTORA ARMADOR I PRÁTICA CiVIL I 3" edição
jPeças Práticas

7'passo: Do preenchimento dos requisitos de admissibilidade;

O presente recurso é tempestivo, uma vez que apresentado dentro


do prazo legal previsto no artigo 1003, parágrafo 5º do CPC, qual seja,
15 dias. Assim, tendo sido intimado da r. sentença no dia X, começando
a contagem no dia Y, é tempestivo o presente recurso apresentado
na presente data. A apelação encontra-se devidamente preparada,
conforme faz prova as guias de recolhimento em anexo, cumprindo o
determinado no art. 1007 do mesmo diploma legaL Da mesma forma,
a parte recorrente é legítima, já que foi vencida na presente demanda
consoante preceito do art. 996 do CPC. Neste sentido, a apelação em
tela é cabível, visto que preenchidos seu requisitos de admissibilidade.
Por fim, há interesse no presente recurso, já que a parte recorrente
foi vencida na instância inferior. Pelo exposto, estando demonstrados
todos os requisitos para admissibilidade ào presente recurso, requer
seja o mesmo conhecido para ao final, dar-lhe provimento.

8' passo: Da existência de interlocutórias não agraváveis de


imediato.

As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a


seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas
pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação,
eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.
Se as questões referidas forem suscitadas em contrarrazões, o
recorrente será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a
respeito delas.
> Requeira seu julgamento preliminarmente;

9ª passo: Do resumo da decisão;

10º passo: Do mérito I Dos fundamentos da apelação:

> Indicar arts. e/ou súmulas aplicáveis ao caso

ANDRÉ MOTA, CR!STlANO SoBRAL, LuCIANO FIGUEiREDO, ROBEii:rO F!GUIURE!.>O,SADRlNA DouRADO 877
IEMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Peças Práticas I
'

11º passo: Pedidos

Pedir:
~ Reforma: Erro no mérito;
~ Invalidação: Erro procedimental;
'
DOS PEDIDOS:
Ante o exposto, requer a admissibilidade do presente recurso
e o seu provimento a fim de ...
Requer ainda a condenação da parte apelada no pagamento de
custas e honorários advocatícios.

12ª passo: Encerramento

o
NeStes termos,
Pede deferimento.
LOcal, dia, inês e ano.
Advogado
OAB

7. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

A) Definição: É o recurso cabível das sentenças, interlocutórias e


acórdãos omissos contraditórios ou obscuros. Ele também será cabível
para sanar erros materiais. Seu prazo é de 5 dias.

São também opostos para fins de prequestionamento.

R7R
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO I
!Peças Práticas
B) Fundamentacão legal: artigos 1022 a 1026 do CPC.

1ª passo: Endereçamento

Será feito ao próprio órgão que prolatou a decisão. Juiz ou relator


que proferiu a decisão.

Excelentíssim'l Senhor Doutor Juiz de Direito da nº Vara Cível


da Comarca de: ...

Verifique o enunciado da prova!

2ºpasso: Qualificação das partes:

Tratamento: embargante e embargado

3ºpasso: resumo da decisão

Abordar de forma objetiva os principais pontos fáticos do enun-


ciado. Seja breve e lembre-se de não trazer dados não fornecidos.

4º passo: requisitos de admissibilidade

Destacar a tempestividade, legitimidade, cabimento e demais


requisitos de admissibilidade.
Eles independem de preparo!

5º passo: Fundamentos do recurso

Art. 1022 e ss., CPC.

6º passo: Pedidos

Requerer o conhecimento e provimento dos embargos, a fim de


que seja sanada a omissão, contradição, obscuridade ou erro material.

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FICUmRJ::DO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 879
Peças Práticas j

Se sobrevier efeito modificativo, requerer a intimação do embar-


gado para apresentar contrarrazões.

Requer seja sanada a irregularidade ...

7º passo: Encerramento J
Nestes termos, I
Pede deferimento.
Local, dia, mês e ano.
Advogado
OAB

8. RECURSO ESPECIAL

A) Definição: Recurso EspeciqJ (Resp.) é um remédio constitu-


cional de competência do Superior Tribunal de Justiça, que tem o
escopo, como se verá adiante, manter a hegemonia e a autoridade das
leis Federais (art. 105, III, "a", "b" e "c" da CF).

B) Fundamentacão legal: Art. 105, IIL CF/88 e arts. 1029 a 1035, CPC

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

1' passo: Endereçamento na folha de apresentação;

A competência é originária do STJ, devendo ser interposto perante


o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal recorrido.

880 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CtvtL 1 3" edição


2º passo: qualificação das partes

Tratamento: recorrente e recorrido. Desnecessário qualificar as


partes, salvo alteração.

3º passo: Demais pontos da peça de interposição

Demonstrar, desde logo, o preenchimento dos requisitos de


admissibilidade.
Requerer a intimação da parte contrária para apresentar contrar-
razões, bem como a juntada das guias de custas de preparo, porte de
remessa e retorno de autos. Requerer, também o conhecimento do
recurso e sua pronta remessa ao STJ.

4º passo: Encerramento da folha de interposição

Nestes termos,
Pede deferimento.
Local, dia, ·mês e ano.
Advogado
OAB

5º passo: Endereçamento da folha das razões

Endereçar ao STJ.

6º passo: Cabeçalho das razões

Recorrerit~:

Recorrido:
Processo originário:

ANDRÉ MoTA, (RJSTIANO SOSRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO fiGUElREDO, SA.BRINA DOURADO 881
1 RECURSO ESPECIAL
Peças Práticas ~

7º passo: resumo da decisão

8º passo: Do preenchimento dos requisitos de admissibilidade

Demonstrar a tempestividade do recurso, bem como o preques-


tionamento da matéria.
Se o recurso foi interposto fundamentado na alínea a do art. 105,
Ill, da CF/88, deve-se demonstrar a lei federal que foi contrariada. Se o
recurso foi interposto fundamentado na alínea c do art. 105, Ill, da
CF/88, deve-se confrontar o acórdão recorrido com o utilizado como
paradigma, cumprindo ao recorrente fazer prova da divergência.

9º passo: Dos fundamentos

A discussão deve versar unicamente sobre matéria de direito, e


não questões fáticas (nesse sentido, Súmula 7 do STJ).

10º passo: Dos pedidos


Conhecimento do recurso e provimento para anular ou reformar
o acórdão recorrido.
Inversão do ônus da sucumbência.

11º passo: encerramento

Nestes termos,
Pede deferimento.
Local, dia, mês e ano.
Advogado
OAB

00~ n,..,.,.,...,.n• Anu•nno I Pu.Õ.TIC4 C'JV\1. I 3'' editãO


RECURSO EXTRAORDINÁRIO !
I Peças Práticas

9. RECURSO EXTRAORDINÁRIO

A) Definicão: é o meio pelo qual se impugna perante o Supremo


Tribunal Federal uma decisão judicial proferida por um tribunal esta-
dual ou federal, ou por uma Turma recursal de um juizado especial,
sob a alegação de contrariedade direta e frontal ao sistema normativo
estabelecido na Constituição da República, bem como das casuísticas
do artigo 102, IIL da CF/88. Seu prazo é de 15 dias.

Será recebido no efeito devolutivo.

B) Fundamentação legal: Art. 102, III, CF/88 e art. 1029 e ss., CPC.

1ª passo: Endereçamento na folha de interposição;

A competência é originária do STF, devendo ser interposto


perante o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal recorrido.

2ª passo: qualificação das partes

Tratamento: recorrente e recorrido.


Desnecessário qualificar as partes, por completo, salvo alteração
indicada pelo próprio enunciado.

3ª passo: demais itens da folha de apresentação

Requerer a intimação da parte contrária para apresentar centrar-


razões, bem como a juntada das guias de custas de preparo, porte de
remessa e retorno de autos.

4º passo: Encerramento da folha de apresentação

Nestes termos,
Pede deferimento.
II
Peças Práticas

Local, dia, mês e ano.


Advogado
;
OAB
I
5º passo: Endereçamento da folha das razões

Será feito para o próprio STF.

6' passo: cabeçalho

Recorrente:
Recorrido:
Processo originário:

7' passo: Resumo da decisão

Trata-se ...
O Venerando Acórdão de fls. estabeleceu que ...

8º passo: Do preenchimento dos requisitos de admissibilidade

Demonstrar, em preliminar, a existência da repercussão geral,


nos termos do § 3º do art. 102, CF/88, bem como do art. 1035, CPC.
Ex:

I- DA REPERCUSSÃO GERAL
A questão constitucional ora discutida reveste-se de repercussão
geral na medida em que possui interesse (jurídico/ econômico/
social/ político).

884 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA ÜVIL I 3a edição


I
\ Peças Práticas

Isso porque a·questão sobre ... tem potencialidade de atingir


uma grande coletividade de pessoas na medida em que ...
Portanto, tendo· em vista o preenchimento desse requisito
constitucional, requer seja admitido o recurso extraordinário
conforme artigo 1035 do CPC.

H:.. DO PREQUESTIONAMENTO
A matéria, objeto do presente recurso foi devidamente ventilada
no acórdão recorrido.
lsso porque ~ questão sobre... está nas fls, .. e a questão sobre ...
nas fls ...
Portanto, preenchido, igualmente, esse requisito constitucional
nos termos da súmula 282, STF.

I- DA TEMPESTIVIDADE E DO CABIMENTO
Por se tratar de acórdão que violou a Constituição Federal e,
sendo decisão de última instância, é cabível, nos caso em tela,
recurso extraordinário.

9º passo: Dos fundamentos do recurso

Descrever as razões pelas quais deverá ser reformada a decisão,


indicando qual artigo da Constituição Federal foi contrariado.

10º passo: Pedidos do RE

Pleitear o conhecimento e provimento do recurso, para anular


ou reformar o acórdão recorrido.

Isso posto. requer:


a) seja admitido o recurso tendo em vista o preenchimento de
todos os requisitos de admissibilidade recursais;

A"'DRÉ MOTA, CRJSTIANO SOBRAL., LUCl>\NO fiGUE!RtDO, ROllERTO fiGUE!RCDO, SABRJN.\ ÜO\J!!AOO 885
REQUERIMENTO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Peças Práticas

b) seja recebido o recurso extraordinário no seu regular efeito


devolutivo;
c) seja dado provimento ao recurso para o fim de ...
d) a intimação do recorrido para, em querendo, apresentar
cqntrarrazões, no prazo de 15 dias;
e) a inversão dos ônus de sucumbência que ficarão ao encargo
do recorrido.

11º passo: Encerramento

Nestes termos,
Pede deferimento.
Lo~al, dia, mês e ano.
Advogado

OAB

10. REQUERIMENTO DE CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA

A) Definição: instrumento que tem por objeto desencadear a


atividade executiva, quando a mesma estiver pautada em sentença
que condenou a parte ao pagamento de quantia certa.

B) Fundamentação legal: artigos 523 e 524, NCPC.

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:


REQUERIMENTO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Peças Práticas

1º Passo: Endereçamento

O requerimento será dirigido ao juízo que processou a causa em


prü:neiro grau de jurisdição (art. 516, I!, NCPC). Por exemplo:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1' VARA CÍVEL DA


COMARCA DE RECIFE/ PERNAMBUCO

2º Passo: Apresentação das partes

O requerímento conterá o nome completo, o número de inscrição


no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica do emquente e do executado. Por exemplo:

FULANO DE TAL, CPF n.: ..., já qualificado nos autos do pro-


cesso em referência, movido em face de BELTRANO, CNPJ...,
também· qualificado, através do advogado que a esta subscreve,
vem a presença de vossa Excelência, com fundamento nos arti-
gos 523 e seguintes do NCPC, requerer o CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA, nos seguintes termos:

3º Passo: Fundamentação

O "corpo" do requerimento trará as seguintes informações: a)


notícia do trânsito em julgado da decisão; b) pedido de intimação do
devedor para efetuar o pagamento, sob pena da aplicação da multa do
artigo 523, § 1º, NCPC; c) Planilha, com a discriminação atualizada do
crédito; d) indicação de bens; e) índice de correção monetária e juros
aplicados. Por exemplo:

1. A decisão que condenou o réu ao pagamento de ressarcimento


por danos materiais na quantia de R$ ... transitou em julgado
no dia ...; -

ANORÊ MOTA, CRISTIANO SOl>RAL, LUCIANO f!<>UEJREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRINA DOURADO 887
Peças Práticas I

2. O valor atual da dívida é de R$ ..., haja vista a aplicação de


juros, bem como do índice de correção monetária: ..., com termo
inicial em ... e final em ..., consoante aponta a planilha acostada
em anexo;
3. Sendo assim, vem o exequente requerer providências deste
juízo no sentido de intimar o d~vedor para que efetue o paga-
mento no prazo de quinze dias, sob pena do montante da obri-
gação ser acrescido de multa no percentual de 10%, nos termos
do artigo 523, § 1º do NCPC;
4. Com o objetivo de acelerar a execução, o exequente indica à
penhora, desde já, o seguinte bem: (descrever"' bem).

4º Passo: Encerramento o

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado
i
l
j
l
l
j
11. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA

A) Definição: instrumento que tem por objeto combater aspectos


I
,i
~
materiais ou processuais do cumprimento de sentença nas obrigações
para pagamento de quantia certa.

B) Fundamentação legal: artigos 525, NCPC.

888 EnnoRA ARMADOR 1 PMncA CiviL 1 3" edição


\ Peças Práticas

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

1º Passo: Endereçamento

A impugnação será dirigida ao juízo que processa o cumprimento


de sentença (art. 516, II, NCPC). Por exemplo:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE RECIFE/ PERNAMBUCO

2º Passo: Apresentação das partes

Aqui as partes são comumente chamad~s de "impugnante"


(aquele que apresenta a impugnação)' e "impugnado" (aquele contra o
qual a impugnação é apresentada). A apresenta~ão das partes dispen-
sará a qualificação, pois as mesmas já estão devidamente qualificadas
no processo. Como é necessário, na maioria das vezes, requerer o
efeito suspensivo à impugnação, citamos, além do artigo 525, caput,
o seu § 6º. Por exemplo:

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos do processo em


referência, em que lhe move BELTRANO, também qualificado,
através do advogado que a esta subscreve, vem a presença de
vossa Excelência, com fundamento nos artigos 525, caput e § 6º
do novo Código de Processo Civil, apresentar IMPUGNAÇÃO
AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, nos seguintes termos:

I 3º Passo: Menção ao prazo

A peça sujeita a prazo necessita ser iniciada com a menção de


obediência ao mesmo. No caso da impugnação, o prazo será de 15
(quinze) dias, contados a partir do final do transcurso do prazo para
pagamento voluntário (art. 525, caput, NCPC). Por exemplo:

ANDRÉ MOTA, CR!STIA-..:0 SoBRAL, LUCIANO fJGlfElREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, $ABRI NA ÜOURADO 889
IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Peças Práticas l J
DA TEMPESTIVIDADE
O presente instrumento jurídico está sendo utilizado dentro do
prazo legal, a saber, 15 dias, contados após o transcurso do prazo
para pagamento voluntário (art. 525, caput, NCPC). '
É que, tendo sido expirado o prazo para pagamento no dia ...
e apresentada a impugnação nesta data, a mesma mostra-se
tempestiva.

4º Passo: Fundamentação

A impugnação ao cumprimento de sentença necessita de funda-


)nentação, de fato e de direito.
Na fundamentação de fato, o texto da peça estará apO'iado numa
das situações factuais arroladas no artigo 525, § 1º, NCPC (falta ou
nulidade de citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia,
excesso de execução, penhora incorreta, etc.). Por exemplo:

A) FATOS:
1. A impugnada moveu ação de cobrança em face do impugnante,
sendo esta julgada procedente, logo após a decretação da revelia,
consoante atesta sentença de fls. xx;
2. A decisão que condenou o Impugnante ao pagamento de
quantia certa transitou em julgado no dia: ... e, feito o requeri-
mento de cumprimento de sentença, este MM. JuÍZo detérminou
a expedição de mandado de penhora e avaliação;
3. Ocorre, V. Exa., que, em momento algum, o impugnante
tomou conhecimento da ação que lhe fora movida. É que não
há qualquer prova, nos autos, de sua citação.
Por outro lado, rta fundamentação de direito, a peça trará um
parágrafo para tratar da fundamentação jurídica. Por exemplo:

890 EnrTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIl, 1 Y edição


IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Peças Práticas

B) DIREITO:
4. O ordenamento jurídico pátrio consubstancia regra segundo
a qual; para a validade do processo, é indispensável a citação
do réu (art. 2!39, NCPC). Significa que a ausência de citação é
fator que compromete toda a atividade processual cognitiva.
5. Sendo assim, é forçoso reconhecer a nulidade processual, com
a consequente extinção do presente cumprimento de sentença
e retorno do feito à fase de conhecimento.

5º Passo: Pedido de efeito suspensivo

Em regra, a impugnação não possui efeito suspensivo. Mas o


legislador autoriza o pedido de suspensão, acaso a continuidade da
execução possa causar dano irreparável ou difícil reparação ao exe-
cutado. Para tanto, é preciso valer-se do artigo 525, § 6º do NCPC, o
qual lhe auxiliará na redação da peça. Por exemplo:

C) DO EFEITO SUSPENSIVO
8. O Código de Processo Civil, em seu artigo 525, § 6º, indica
que o Juiz poderá conceder eteito suspensivo à Impugnação,
desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da
execução seja manifestamente suscetível de causar ao executado
grave dano de difícil ou incerta reparação.
9. Ora, douto julgador, a continuidade da presente execução
poderá acarretar graves prejuízos ao impugnante, na medida em
que o mesmo correrá o risco de privar-se de seus bens, quando
da realização de atos expropriatórios, sem, sequer, ter havido.
citação nos presentes autos.
10. Sendo assim, é imperiosa a concessão de efeito suspensivo
à presente impugnação.

891
Peças Práticas !
6º Passo: Requerimentos

Nos requerimentos (que também podem receber o nome de


"pedidos':), o impugnante pedirá: a) concessão do efeito suspensivo;
b) o acolhrmen_to da impugnação para que o juiz determine o que fora
pedido <:xtmçao do processo, liberação de bens pen,'wrados indevidamente,
dmnnuzçao do valor em execução, etc.); c) condenação nas custas proces-
suaiS e nos honorários advocatícios. Por exemplo:

D) REQUERIMENTOS
Diante de todo o exposto, requer:
a) A concessão de efeito suspensivo à impugnação, sendo a
mesma processada nos próprios autos;
b) Seja_a mesma,. ao final, julgada procedente, com a consequente
extmçao da presente execução, por ser medida de pura justiça;
c) a condenação do exequente nas custas processuais e honorá-
rios advocatícios.

7º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

892
\ Peças Prattcas

12. EMBARGOS À EXECUÇÃO

A) Definicão: Ação incidental, ajuizada pelo executado, no curso


de uma execução de título extrajudicial, com o objetivo de combater
aspectos materiais ou processuais da execução.

B) Fundamentação legal: artigos 914 e seguintes do NCPC

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

1º Passo: Endereçamento

Os Embargos à execução serão distribuídos por dependência


perante o juízo que processa a execução. Por exemplo:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE RECIFE/ PERNAMBUCO
Distribuição por dependência ao proc. nº xxxxxxxxxx

2º Passo: Qualificação das partes

Aqui, como em toda petição inicial, as partes necessitam ser


qualificadas (nome, estado civil, profissão, RG, CPF e endereço), haja
vista que os embargos têm natureza jurídica de "ação".
As partes são comumente chamadas de "embargante" (aquele
que apresenta os embargos) e "embargado" (aquele contra o qual os
embargos são apresentados). Por exemplo:

FULANO DE TAL, (Nacionalidade}, (Estado Civil), (Profissão),


portador, da Carteira de Identidade nº: ..., inscrito no CPE sob o
nº: ..., residente e domiciliado na: ..., nº: ..., Bairro: ..., Cidade: ...,
Cep.: ..., no Estado: ..., através do advogado que a esta subscreve,
constituído nos termos da procuração em anexo (doc. 01), vem a

ANDRÊ MOTA, CRJ~TIANO SOBR1\l., LUCIANO FK>IJEIRE.nO, ROBERTO flGUl'.!REl)O. 5A.BRINA DouRAoo 893
I EMBARGOS À EXECUÇÃO

presença de vossa Excelência, com fundamento nos artigos 914


e seguintes do NCPC, propor a presente AÇÃO DE EMBAR-
Peças Práticas l
l
1

GOS À EXECUÇÃO, em face de BELTRANO, (Nacionalidade),


(Estado Civil), (?rofissão), portador da Carteira de Identiç!ade
nº: ..., inscrito no CPF sob o nº: ..., residente e domiciliado na
Rua: ... , nº: ..., Bairro: ..., Cidade: ..., Cep.: ..., no Estado de: ..., de
acordo com os fatos e fundamentos que a seguir passa expor:

3º Passo: Menção ao prazo e aos documentos

A peça sujeita a prazo necessita ser iniciada com a menção de


obediência ao mesmo. No caso dos embargos, o prazo será de 15
(quinze) dias, contados da juntada aos autos do mandado de citação.
Por exemplo:

1. PRELIMINARMENTE

DA TEMPESTIVIDADE
O presente instrumento jurídico está sendo utilizado dentro do
prazo legal, a saber, 15 dias (art. 915,do NCPC).
É que, sendo o mandado de citação juntado aos autos no dia: ...,
e apresentados os embargos nesta data, os mesmos mostram-se
tempestivos.

De igual modo, é mister que se faça, preliminarmente, menção às


peças processuais relevantes, as quais deverão instruir os embargos
(art. 914, § 1º, NCPC). Por exemplo:

DOS DOCUMENTOS
A presente ação está instruída com cópias dos seguintes docu-
mentos, declarados autênticos pelo advogado que a esta subs-
creve, a saber: 1) petição inicial; 2) auto de penhora, etc.

894 EDri'ORA i\RMAIJOR I PRÁTICA CIVIL 1 3~ edição


EMBARGOS À EXECUÇÃO I
IPeças Práticas

4º Passo: Fundamentação

Após a menção preliminar ao prazo e aos documentos, os embar-


gos à execução necessitam de fundamentação, de fato e de direito.
Na fundamentação qe fato, o embargante poderá valer-se de
toda a matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo
de conhecimento. Por exemplo:

2.NOMÉRITO
A) FATOS:
1. O embargado ajuizou ação de execução por quantia certa
fundada em título extrajudicial em face do embargante, apoiada
em nota promissória, com valor de R$ ...;

2. Iniciada a execução, este mm. Juízo, acolhendo indicação do
embargado, determinou a penhora do imóvel situado na: ..., de
propriedade do executado;
3. Ocorre que o referido imóvel é o único de propriedade do
embargante, sendo o mesmo destinado à sua residência.
. ~

Por outro lado, na fundamentação de direito, a peça trará um


parágrafo para tratar da fundamentação jurídica. Por exemplo:

B) DIREITO:
4. O ordenamento jurídico pátrio consubstancia regra segundo
a qual "O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade
familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo
de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra
natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que
sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses
previstas nesta lei." (art. 1º da Lei 8.009/90);
5. E nem se diga que o fato do embargante ser solteiro constituí
motivo para a penhora do bem, haja vista que a jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça já pacificou entendimento no

ANPRf: MOTA, CRJSTJ,\NO Sü!l!l.IH, Ll'CJANO FJGl'lliRHJO, ROBJ;RTO I'IGUEIR\i])O, SABR!NA DOVRAOO 895
Peças Práticas J
1
l
l
sentido de que "O conceito de impenhorabilidade de bem de
fanúlia abrange também o imóvel pertencente a pessoas soltei-
ras, separadas e viúvas" (súmula 364, STJ)
6. Sendo assim, é forçoso reconhecer que a constrição sobre dito
bem fora ilegítima.

5º Passo: Pedido de efeito suspensivo

Em regra, os embargos não possuem efeito suspensivo. Mas o


legislador autoriza o pedido de suspensão, acaso a continuidade da
execução possa causar dano irreparável ou difícil reparação ao exe-
cutado. O embargante deverá valer-se do artigo 914, § 1º do NCPC, o·
qt:JI lhe nuxiHJ.rá n« rcdaçfio da peça. Por exerrtplo:

C) DO EFEITO SUSPENSIVO
7. O Código de Processo Civil, em seu artigo 914, § 1º, indica
que o Juiz poderá conceder efeito suspensivo aos embargos,
desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento
da execução possa causar ao executado grave dano de difícil
ou incerta reparação.
8. Ora, douto julgador, a continuidade da presente execução
poderá acarretar graves prejuízos ao embargante, na medida
em que poderá privá-lo do seu bem de fanúlia, quando da rea-
lização de atos expropriatórios, ferindo claramente o princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana.
9. Ressalte-se que a execução já está garantida pela penhora,
segundo consta em termo lavrado às fls.: ...;
10. Sendo assim, é imperiosa a concessão de efeito suspensivo
aos presentes embargos.

896 EDITORA ARlll-\DOR I PRÁTICA CiVIL ! 3a edição


1 Peças l'ráttcas

6º Passo: Pedidos

Nos pedidos, é mister requerer: a) concessão do efeito suspensivo;


b) a intimação do embargado para, querendo, impugnar os embargos;
c) 0 acolhimento dos embargos para que o juiz determine o que fora
pedido (extinção do processo, liberação,de bens penh~rados mdevzdamente,
diminuição do valor em execução, etc.); c:) condenaçao nas custas proces-
suais e nos honorários advocatícios. Por exemplo:

O) DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer:
a) Sejam os embargos recebidos e instruídos por este juízo sob
o efeito suspensivo;
b) Seja o embargado ouvido no prazo de quinze dias;
c) Ao final, a procedência dos embargos, com a consequente
liberação de penhora sobre o bem de família;
d) a condenação do embargado em todas as custas processuais
e honorários advocatícios. ,

7º Passo: Protesto pelas provas

Como os embargos têm natureza jurídica de ação, é mister que


0
embargante prove o a legado, para que os pedidos formulados na
demanda sejam acolhidos. Por exemplo:

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em


direito admitidos, em especial pelo depoimento pessoal, tes-
temunhas, perícias e tudo quanto se fizer necessário para a
efetivação da justiça!

897
1
AÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO
Peças Práticas
l
8º Passo: Valor da causa

A toda causa deve ser atribuído um valor, o qual corresponderá


ao benefício econômico preter:tdido pelo autor. No caso dos embargos
à execução, o valor coincide, normalmente, com o valor da execução.
Por exemplo:

Dá-se à causa o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

9º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

13. AÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO

A) Definição: Ação civil, de rito especial, que visa desconstituir


ilegítima constrição (penhorn, arresto, sequestro, etc.) feita sobre bem de
terceiro.

B) Fundamentação legal: arts. 674 e seguintes do NCPC.

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

898 EDITORA J\RMADOR 1 PRÁTiCA Clvu. 1 3" cdiçJn


AÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO

Peças Práticas

1º Passo: Endereçamento

Os Embargos de terceiro serão distribuídos por dependência


perante o juízo que determinou a constrição. Por exemplo:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1' VARA CÍVEL DA


COMARCA DE RECIFE/ PERNAMBUCO
Distribuição por dependência ao proc. nº xxxxxxxxxx

2º Passo: Qualificação das partes

Aqui, como em toda petição inicial, as partes necessitam ser


qualificadas (nome, estado civil, profissão, endereço eletrônico, RG,
CPF ou CNPJ e endereço), haja vista que os embargos têm natureza
jurídica de "ação".
As partes são comumente chamadas de "embargante" (aquele
que apresenta os embargos) e "embargado" (aquele contra o qual os
embargos são apresentados), ou "requerente" e "requerido".
Será legitimado passivo o sujeito a quem o ato de constrição
aproveita, assim como o ' será seu adversário no processo principal
quando for sua a indicação do bem para a constrição judicial (art. 677,
§ 4º, NCPC). Vejamos:

FULANO DE TAL, (Nacionalidade), (Estado Civil), (Profissão),


endereço eletrônico: ..., portador da Carteira de Identidade nº: ...,
inscrito no CPF sob o nº: ..., residente e domiciliado na Rua: ...,
nº: ..., Bairro: ..., Cidade: ..., Cep.: ..., no Estado de: ..., através do
advogado que a esta subscreve, constituído nos termos da prp-
curação em anexo (doc. 01), vem a presença de vossa Excelência,
com fundamento nos artigos 674 e seguintes do NCPC, propor
a presente AÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO, em face
de BELTRANO, (Nacionalidade), (Estado Civil), (Profissão),
endereço eletrônico..., portador da Carteira de Identidade nº: ...,
inscrito no CPF sob o nº: ..., residente e domiciliado na Rua: ...,

A'lDRÍ: MoT,\, CruST!ANO SORRAL, LUCIANO JllGUEJRIHJO, ROBERTO FlGUEIRI!lJO, SJ\BRlNA DOURADO 899
Peças Práticas I

nº: ..., Bairro: ..., Cidade: ..., Cep.: ..., no Estado de: ... , de acordo
com os fatos e fundamentos que a seguir passa expor:

3º Passo: Fundamentação

Além da obediência aos requisitos gerais do artigo 319, NCPC,


é necessário que o embargante prove a sua posse e a qualidade de
terceiro. Por exemplo:

A) FATOS:
1. O requerente é legítimo proprietário e possuidor do imóvel: ...,
conforme atesta escritura em anexo (doc.: ...).
2. A aquisição da propriedade é oriunda de contrato de compra
e venda, celebrado em ... com o Sr. Marcelo da Silva, executado
no processo de execução em tela (doc.: ...);
3. Na data: ... o requerente recebeu mandado de penhora e
avaliação sobre o referido bem, expedido por este Juízo, nos
autos da ação de execução movida pelo requerido em face do
Sr. Marcelo da Silva;
4. Ocorre, vossa excelência, que o requerente não é parte no
mencionado processo de execução, sendo importante anotar,
conforme acima exposto, que a aquisição e o registro do imóvel
ocorreu antes mesmo da mencionada ação ser proposta.

Outrossim, na fundamentação de direito, a peça trará um pará-


grafo para tratar da fundamentação jurídica. Por exemplo:

B) DIREITO:
5. O Código de Processo Civil, em seu artigo 674, consubstancia
a regra segundo a qual, quem, não sendo parte no processo;
sofrer ato de constrição judicial sobre seus bens, possa requerer
sejam mantido ou restituído por meio de embargos.

900 EDITORA ARMADOR I PRÂTJCA CIVIL I 3a edição


1 Peças Práticas

6. Ressalte-se que o requerente é proprietário e possuidor do


imóvel desde ..., ocasião em que inexistia qualquer demanda
judicial em face do executado, não havendo que se falar, por-
tanto, em fraude à execução;
7. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, inclusive,
já pacificou entendimento neste sentidq ao editar a s~mula 3~5,
nos seguintes termos: "0 reconhecimento da fraude a execuçao
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova
de má-fé do terceiro adquirente";
8. Sendo assim, é forçoso reconhecer que o ato judicial que deter-
minou a constrição do bem fora ilegítimo e, portanto, sujeito a
cancelamento, por ser medida de justiça.

4º Passo: Pedido deJiminar


A ação em questão admite pedido de liminar, no sentido de que
0 magistrado determine a manutenção ou restituição da posse dos
bens que foram atingidos. Para tanto, o examinando deverá valer-se
do artigo 678 do NCPC o qual lhe auxiliará na redação da peça. Por
exemplo:

C) DA LIMINAR
9. Considerando que o prosseguimento da execução possa cau-
sar ao embargante grave dano de difícil ou incerta reparação,
é necessário que lhe seja concedida liminar de manutenção de
posse, de acordo com o preceituado no artigo 678 do NCPC.

5º Passo: Pedidos
Nos pedidos, é mister requerer: a) a distribuição por dependência;
b) concessão de liminar; c) a citação do embargado para, querendo, con-
testar os embargos no prazo de 15 dias; c) a procedência da demanda;

ANDRÉ l\10"lA, CRJST!Ar-;O SoBRAL, LUCIANO Fl<.;(J[!RfDO, RO!H:I\TO flGUEJREDO, SABRJNA DOURADO
901
AÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO

Peças Práticas

d) condenação nas custas processuais e nos honorários advocatícios.


Por exemplo:

D) DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer:
a) Sejam os embargos distribuídos por dependência, nos termos
do artigo 676, NCPC;
b) A concessão de mandado LIMINAR de manutenção/restitui-
ção da posse do requerente sobre o bem atingido;
c) Seja o requerido citado para, querendo, apresentar resposta
no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de serem reputados como
verdadeiros os fatos aqui alegados;
< "
d) Ao final, a procedência dos embargos, com a consequente
liberação definitiva dos bens constritos e condenação do reque-
rido nas custas processuais e honorários advocatícios.

6º Pas~o: Protesto pelas provas

Como os embargos têm natureza, jurídica de ação, é mister que


o embargante prove o alegado, para que os pedidos formulados na
demanda sejam acolhidos. Por exemplo:

Protesta provar o alegado por todos os meios. de provas em


direito admitidos, em especial pelo depoimento pessoal, tes-
temunhas, perícias e tudo quanto se fizer necessário para a
efetivação da justiça!

7º Passo: Valor da causa

A toda causa deve ser atribuído um valor, o qual corresponderá


ao benefício econômico pretendido pelo autor. No caso dos embargos

902 EiHTORA ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL l 3" 1.:dição


MEDIDA CAUTELAR DE ARRESTO

Peças Práticas

de terceiro, o valor da causa corresponde ao valor do bem que se pre-


tende liberar. Por exemplo:

Dá-se à causa o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

8º Passo: Rol de testemunhas

Requisito específico desse modelo de peça é o rol de testemunhas,


exigido nos termos do artigo 677 do NCPC. Por exemplo:

Apresenta o requerente o seguinte rol de testemunhas:


xxxxxx
xxxxxx

9º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

14. MEDIDA CAUTELAR DE ARRESTO

A) Definição: Medida cautelar que visa apreender bens, com


vistas a assegurar uma futura execução por quantia certa, ameaçada
por atos de disposição patrimonial praticados pelo devedor.

ANoRf: MOTA, CRISTIANO Soea.~t., Ll'tT\NO FJGUEJREDO, Ro!I~RTo FJGllnn~no, S,\RRINA DouR•\Do 903
I1
Peças Práticas

Vale ressaltar que, com o novo CPC só haverá necessidade de


ajuizamento de uma "ação" cautelar quando a medida tiver de ser
requerida em caráter preparatório. Do contrário, já existindo um I
i
processo em curso, o pedido de medida cautelar será feito através
de simples requerimento, o qual demonstrará o preenchimento dos
requisitos "fumus boni iuris" e upericulum in mora'$.

B) Fundamentação legal: art. 301, NCPC.

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

1º Passo: Endereçamento

O pedido de rncdidu cautelar de arresto deverei ser ajuizado


perante o juízo da causa e, quando antecedente, ao juízo competente'
para conhecer do pedido principal (art. 299, NCPC). Vejamos:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1' VARA CÍVEL DA


COMARCA DE RECIFE/ PERNAMBUCO

2º Passo: Qualificação das partes

Aqui, como em toda petição inicial, as partes necessitam ser


qualificadas (nome, estado civil, profissão, endereço eletrônico, RG,
CPF e endereço).
As partes são comumente chamadas de "Requerente" (aquele
que propõe a ação cautelar) e "requerido" (aquele contra o qual a ação
cautelar fora ajuizada).
1
FULANO DE TAL, brasileiro, engenheiro, endereço eletrô- i
l
nico ... RG -: ... , inscrito no CPF sob o número ..., residente e
domiciliado na ... através do advogado que a esta subscreve,
constituído nos termos da procuração em anexo (doc. 01), vem a·
presença de vossa :_xcelência, com fundamento no artigo 301 do
NCPC, propor AÇAO CAUTELAR DE ARRESTO, em face de
I
904 EDITORA ARM.\DOR 1 PRÁTJCA CJVJL 1 3~ edição
\ Peças Práticas

BELTRANOjbrasileiro, solteiro, comerciante, RG-, CPF inscrito


1 sob 0 número ..., residente e domiciliado na ..., nos seguintes
termos:

3º Passo: Fundamentação
Como em toda ação, o arresto também necessita de fundamen-
tação, de fato e de direito. . . _
Na fundamentação de fato, o peticionante expora toda a slluaçao
factual geradora da necessidade de tutela jurisdicional. Por exemplo:

l.FATOS
1. 0 Requerente & credor de qu~ntl:o~ cert~, no valor de R$: ...,
de acordo com nota promissória que segue em anexo (doc. 02),
regularmente emitida pelo requerido e cujo vencimento se dará
no dia ...;
2. De acordo com comentários locais, o requerido está para
transferir sua residência e exercer novo comércio na cidade de
Petrolina, estado de Pernambuco. Tal fato, inclusive, pôde ser
confirmado na medida em que fora colocada placa de "vendá'
na portaria do seu atual estabelecimento;
3. Diante disso, o requerido vem praticando atos de disposição
patrimonial, já tendo, inclusive, alienado um imóvel situ~do _:>a
Av. Beira Mar (doc. 03), só dispondo, agora, de um cammhão,
modelo: ..., ano: ..., avaliado em R$: ..., mas que também já fora
colocado à venda, conforme atesta cópia dos classificados do
jornal local (doc. 04);
1
4. Efetivada a venda do veículo, o devedor não terá qualquer
i bem que garanta o adimplemento da dívida acima mencionada.

l Por outro lado, a fundamentação de direito diz respeito à exis-

I tência dos requisitos ensejadores da medida cautelar, a saber: "Fumus


boni iuris" e "periculum in mora". No caso do arresto/ o "fumus boni

905
ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LuUANO FlGUElREDO, ROBERTO FJGUE!RJ:DO, SABR!NA 00UR.4.00
MEDIDA CAUTELAR DE ARRESTO

Peças Práticas

iuris" corresponde à prova da existência da dívida (prova literal da


dívida) e o "periculum in mora" corresponde ao perigo de inadimple-
mento, em virtude de insuficiência de bens, ante os atos de disposição
patrimonial praticados pelo devedor. Vejamo\;:

2. DO DIREITO
A) DO "FUMUS BONI IURIS"
5. A plausibilidade do direito do requerente é constatada na
medida em que o mesmo é credor da quantia certa no valor de
R$: ..., representada pela nota promissória de numero 001 série
123; crr:.itid~ pelo requerido apés ~.renda de ::!utomóvet Ir.arca ...
B) DO "PERICULUM IN MORA"
6. Apesar do requerente ser credor de quantia líquida e certa, a
mesma ainda não é exigível, motivo pela qual ainda não pode
o mesmo ajuizar a competente demanda executiva;
7. Ocorre que a espera do vencimento da dívida, sem adoção de
qu~lquer meio de proteção, poderá acarretar na frustração da
futura execução de quantia;
8. Sendo assim, com o objetivo de assegurar o seu direito, vem o
requerente pleitear o arresto do referido caminhão, nos termos
do artigo 301, do NCPC.

4º Passo: A lide e seu fundamento

O requisito em questão somente será necessário quando o autor


apresentar ação cautelar em caráter antecedente. Neste caso, deverá o
mesmo apontar a lide, com o correspondente pedido principal, a ser
futuramente formulado. Por exemplo:

3. A LIDE E SEU FUNDAMENTO .


Pretende o requerente formular futuro pedido de execução por
quantia certa de título extrajudiciaL

'JOó FmTOTIA 1\TIMAOOll I PRÁTTCA Clvu. ! .V f"rlir;'io


MEDIDA CAUTELAR DE ARRESTO

Peças Práticas

5 2 Passo: Pedidos

Nos pedidos, é mister requerer: a) a concessão de liminar; b) a


realização de audiência de justificação prévia, caso o juiz entenda
' necessária para a concessão da medida liminar; c) requerimento de
citação do requerido para, querendo, contestar a ação no prazo de 5
dias; d) a procedência da demanda; e) condenação nas custas proces-
suais e nos honorários advocatícios. Por exemplo:

4. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
a) Seja deferida a medida LIMINARMENTE, nos termos do
artigo 300, § 2º do NCPC;
b) Caso V. Exa entenda necessária, que seja designada audiência
de justificação prévia;
c) a citação do requerido para, querendo, oferecer resposta no
prazo de cinco dias;
d) AO FINAL, seja o pedido julgado procedente, com a con-
firmação da medida liminarmente deferida, e condenaçãv do
requerido nas custas processuais e honorários advocatícios.

6º Passo: Protesto pelas provas

Corno se trata de "ação", é mister que o requerente prove o ale-


gado, para que os pedidos formulaaos na demanda sejam acolhidos.
Por exemplo:

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em


direito admitidos, em especial pelo depoimento pessoal, tes-
temunhas, perícias e tudo quanto se fizer necessário para a
efetivação da justiça!

ANnRf: MOTA. CRISTIANO SOBRAl, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO flCUE!REDO, SAliRINII ÜOURADO 907
Peças Práticas

7º Passo: Valor da causa

A toda causa deve ser atribuído um valor, o qual corres onderá


ao beneficiO econômico pretendido pelo autor. No caso do o a~resto
valor da causa corresponderá ao valor da dívida a ~er assegurada
Por exemplo: ·

Dá-se à causa 0 valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

8º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

15. MEDIDA CAUTELAR DE SEQUESTRO

. A) Definição: Medida cautelar que visa apreender bens, com


VIsta~ a assegurar urna futura execução para entrega de coisa (objeto
do IIIIgw), ameaçada por ato praticado por um dos litigantes.
. . Vale ressaltar que, com o novo CPC sô haverá necessidade de
aJmza~ento de u~a "ação" cautelar quando a medida tiver de ser
requenda em carater preparatório. Do contrário, já existindo um
àro~esso em curso, o pedido de medida cautelar será feito através
e snr:ples requerimento, o qual demonstrará o preenchimento dos
reqUISitOS ufumus boni iuris" e upericulum in morau.

908 EDITORA ARMADOR I PRÃTICA CiVIL 1 y edição


I [ Peças Práticas

I
l' B) Fundamentação legal: art. 301, NCPC.
l
1' A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

1º Passo: Endereçamento
I
I
O pedido de medida cautelar de sequestro deverá ser ajuizado
perante o juízo da causa e, quando antecedente, ao juízo competente
para conhecer do pedido principal (art. 299, NCPC). Vejamos:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1' VARA DE FAMÍ-


LIA DA COMARCA DE RECIFE/ PERNAMBUCO

2º Passo: Qualificaçãp das partes

Aqui, corno em toda petição inicial, as partes necessitam ser


qualificadas (nome, estado civil, profissão, endereço eletrônico, RG,
CPF e endereço).
As partes são comumente chamadas de "Requerente" (aquele
que propôe a ação cautelar) e "requerido" (aquele contra o qual a ação
cautelar fora ajuizada).

FULANO DE TAL, nacionalidade, profissão, endereço ele-


trônico ... RG: ..., inscrito no CPF sob o número ..., residente e
. domiciliado na ... através do advogado que a esta subscreve,
A

I constituído nos termos da procuração em anexo (doc. 01), vem


a presença de vossa excelência, com fundamento no artigo 301

I
I
do NCPC, propor AÇÃO CAUTELAR DE SEQUESTRO, em
face de BELTRANO, nacionalidade, estado civil, profissão, ende-
reço eletrônico, RG-, CPF inscrito sob o número ..., residente e
domiciliado na ..., nos seguintes termos:

ANDRÉ MOTA, CRISTIANO SOBRAL, LUCIANO FlGUISLRliDO, ROBERTO fJGV!:!REVO, SASRLNA DouRADO
909
IMEDIDA CAUTELAR DE SEQUESTRO
Peças Práticas I

3º Passo: Fundamentação

Como em toda ação, o sequestro também necessita de funda-


mentação, de fato e de direito.
Na fundamentação de fato, o peticionante exporá a situação
factual, ensejadora da tutela cautelar. Por exemplo:

l.FATOS
1. A Requerente é casada com o requerido sob o regime da comu-
nhão parcial de bens, conforme atesta certidão de casamento
em anexo (doc. 02);
2. Considerando a impossibilidade da vida em comum, resolveu
pedir o divórcio, a ser futuramente ajuizado;
3. No entanto, inconformado, o requerido vem dilapidando os
bens do casal, a ponto de ter vendido: ... (descrever os bens), sem
fazer qualquer comunicação à requerente, sendo possível que,
a permanecer tal conduta, venha a requerente ficar sem qual-
quer bem por ocasião da respectiva sentença de partilha a ser
proferida, após o pedido de divórcio a ser formulado.

Por outro lado, a fundamentação de direito diz respeito à exis-


tência dos requisitos ensejadores da medida cautelar, a saber: "Fumus
bani iuris" e "periculum in mora". No caso do sequestro, o "fumus bani
iuris" corresponde ao interesse na preservação dos bens disputados,
enquanto não resolvido o litígio, e o "periculum in mora" corresponde
ao perigo de rixas, danificações ou até mesmo desaparecimento dos
bens objeto da disputa, ante os atos lesivos praticados por uma das
partes. Vejamos:

Bl DO DIREITO
DO "FUMUS BONI IURIS"
4. A plausibilidade do direito da requ~rente é constatada na
medida em que a mesma é casada sob o regime da comunhão

<)lO
MEDIDA CAUTELAR DE SEQUESTRO

Peças Prátkas

parcial de bens, tendo, por isso, direito à metade do patrimônio


do casaL de acordo com regra legal por todos conhecida.
DO "PERICULUM IN MORA"
5. Outrossim, o risco de dano é constatado na medida em que, ·
permanecendo o requerido com tal conduta, venha a requerente
ficar sem qualquer bem por ocasião da respectiva sentença de
partilha.
6. Sendo assim, com o objetivo de assegurar o seu direito, vem
a requerente pleitear o Sequestro dos bens do casal, nos termos
do artigo 301 do NCPC.

4º Passo: A lide e seu fundamento

O requisito em questão somente será necessário quando o autor


apresentar ação cautelar preparatória. Neste caso, deverá o mesmo
apontar a lide, com a correspondente demanda a ser futuramente
ajuizada. Por exemplo:

3. A LIDE E SEU FUNDAMENTO


Pretende o requerente formular futuro pedido de divórcio
litigioso.

5º Passo: Pedidos

Nos pedidos, é mister requerer: a) a concessão de liminar; b) a


realização de audiência de justificação prévia, caso o juiz entenda
necessária para a concessão da medida liminar; c) requerimento de
citação do requerido para, querendo, contestar a ação no prazo de 5
dias; d) a procedência da demanda; e) condenação nas custas proces-
suais e nos honorários advocatícios. Por exemplo:

ANI.lRÊ MaTA, CRISTIANO SoBRAL, LuCIANO fiGUEJREDO, ROBERTO flGUiliREDO, SABRINA DOURADO 911
Peças Práticas j

D) DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
a) Seja deferida a medida LIMINARMENTE, nos termos do
artigo 300, § 2º, NCPC, com o sequestro dos bens que estão na
posse do requerido, entregando-os a requerente ou ao deposi-
tário nomeado por este juízo;
b) Caso V. Exa entenda necessária, que seja designada audiência
de justificação prévia; ··
c) a citação do requerido para, querendo, oferecer resposta no
prazo de cinco dias;
d) AO FINAL, seja a ação julgada procedente, com a confirmação
da medida liminarmente deferida, e condenacão do reauerido
nas custas processuais e honorários advocatícios. ..

6º Passo: Protesto pelas provas

Como se trata de "ação", é mister que o requerente prove o ale-


gado, para que os pedidos formulados na demanda sejam acolhidos.
Por exemplo:

'
Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em
direito admitidos, em especial pelo depoimento pessoal, tes-
temunhas, perícias e tudo quanto se fizer necessário para a
efetivação da justiça! ·

7º Passo: Valor da causa

A toda causa deve ser atribuído um valor, o qual corresponderá


ao benefício econômico pretendido pelo autor. No caso do sequestro, o
valor da causa corresponderá ao valor dos bens aos quais se pretende
proteger. Por exemplo:

912 EDITORA ARMADOR l PRÁTICA CiVIL 1 3J edição


j Peças Práticas

Dá-se à causà o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

8º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo: ''

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

16. MEDIDA CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO

A) Definicão: Medida cautelar que visa apreender pessoas ou


coisas, com vistas a assegurar a eficácia do processo de cognição ou
dos atos de execução.
Vale ressaltar que, com o novo CPC, só haverá necessidade de
ajuizamento de uma "ação" cautelar quando a medida tiver de ser
requerida em caráter preparatório. Do contrário, já existindo um
processo em curso, o pedido de medida cautelar será feito através
de simples requerimento, o qual demonstrará o preenchimento dos
requisitos "fumus bani iuris" e "periculum in mora''.

B) Fundamentação legal: art. 301, NCPC.


1
J A elaboração da peça compreende os seguintes passos:
l
I 1º Passo: Endereçamento
O pedido de medida cautelar de Busca e apreensão deverá ser
ajuizado perante o juízo da causa e, quando antecedente, ao juízo

ANDRÊ MOTA, CRISTIANO SOI!RAl, LUCIANO F!GUEtREDO, ROBERTO FIGUEIREDO, SABRl:oiA DOURADO 913
MEDIDA CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO
Peças Práticas

competente para conhecer do pedido principal (art. 299, NCPC).


Vejamos:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1' VARA DEl FAMÍ-


LIA DA COMARCA DE RECIFE/ PERNAMBUCO

2º Passo: Qualificação das partes

Aqui, como em toda petição iniciaL as partes necessitam ser


qualificadas (nome, estado civil, profissão, endereço eletrônico, RG,
CPF e endereço).
As partes são comumente chamadas de "Requerente" (aquele
que propôe a ação cautelar) e "requerido" (aquele contra o qual a ação
cautelar fora ajuizada). Vejamos:

FULANO DE TAL, nacionalidade, profissão, endereço ele-


trônico ... RG: ..., inscrito no CPF sob o numero ..., residente e
domiciliado na ... através do advogado que a esta subscreve,
constituído nos termos da procuração em anexo (doc. 01). vem a
presença de vossa excelência, com fundamento no artigo 301 do
NCPC, propor AÇÃO CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO,
em face de BELTRANO, nacionalidade, estado civil, profissão,
endereço eletrônico, RG-, CPF inscrito sob o numero ..., residente
e domiciliado na: .., nos seguintes termos:

3º Passo: Fundamentação

Como em toda ação, a busca e apreensão também necessita de


fundamentação, de fato e de direito.
Na fundamentação de fato, o examinando deverá expor as nuan-
ces factuais ensejadoras da tutela cautelar. Por exemplo:

01A
MEDIDA CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO

Peças Práticas

A) FATOS
1. O Requerente contraiU núpcias com a requerida em: ..., con-
forme atesta certidão de casamento em anexo (doc. 02);
2. Da referida união nasceu um filho, que hoje se encontra
com ... idade;
3. Considerando a impossibilidade da vida em comum, resolveu
o requerido conversar com a requerida e peGir-lhe, de forma
amigável, a celebração do divórcio, sendo que a mesma negou-se.
4. Inconformada com a possível separação, a requerida vem
ameaçando o requerente de mudar-se para a casa de seus pais,
os quais residem no estado de ... e, de lá, ocultar-se em locali-
dade que impeça, de vez, o genitor de manter contato com a
criança. Tem-se notícia, inclusive, que já houvera a compra das
respectivas passagens para data próxima.

Por outro lado, a fundamentação de direito diz respeito à exis-


tência dos requisitos ensejadores da medida cautelar, a saber: "Fumus
boni iuris" e "pericuhtm in mora". No caso da Busca e Apreensão, o
"fumus bani iuris" corresponde ao interesse na apreensão da pessoa
ou coisa, enquanto não resolvido o litígio, e o "periculum in mora"
cor:responde ao perigo de ineficácia da demanda principal, em face
do desaparecimento da pessoa ou coisa a ser apreendida. Vejamos:

B) DO DIREITO
DO "FUMUS BONI IURIS"
5. A plausibilidade do direito do requerente é constatada na
medida em que o mesmo é genitor da criança, tendo, por isso,
direito à regular visita, sendo termos que serão fixados por este
Juízo.
Peças Práticas

DO PERICULUM IN MORA
6. Outrossim, o risco de dano é constatado na medida em que,
praticando a requerida dita conduta, tenha o requerente difi-
culdades em voltar a exercer o direito de ver o filho. ·
7. Sendo assim, com o objetivo de assegurar o seu direito, vem o
requerente pleitear a competente medida de Busca e apreensão
da criança, nos termos do artigo 301 do NCPC.

4º Passo: A lide e seu fundamento

O requisito em questão somente será necessário quando o autor


apresentar ação cautelar preparatória. Neste caso. deverá o mesmo
apontar a lide, com a correspondente demanda a ser futuramente
ajuizada. Por exemplo:

3. A LIDE E SEU FUNDAMENTO


Pretende o requerente formular futuro pedido de divórCio
litigioso.

5º Passo: Pedidos

Nos pedidos, é mister requerer: a) a concessão de liminar; b) a


realização de audiência de justificação prévia, caso o juiz entenda
necessária pa;a a concessão da medida liminar; c) requerimento de
citação do requerido para, querendo, contestar a ação no prazo de 5
dias; d) a procedência da demanda; e) condenação nas custas proces-
suais e nos honorários advocatícios. Por exemplo:

D) DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:

916 EDITORA ARMADOR j PRÁTICA CIVIL j 3 3 edição

J
\ Peças Práticas

a) Seja deferid~ a medida LIMINARMENTE, nos termos do artigo


300, § 2º, NCPC, com a busca e apreensão da referida criança, no
endereço ..., entregando-a aos cuidados da requerente;
b) Caso V. Exa entenda necessária, que seja designada audiência
de justificação prévia;
c) a citação do requerido para, querendo, oferecer resposta no
prazo de cinco dias;
d) A intimação do ilustre representante do MP, para acompanhar
o feito na condição de fiscal da ordem jurídica;
e) AO FINAL, seja a ação julgada procedente, com a confirmação
da medida liminarmente deferida, e condenação do requerido
nas custas processuais e honorários advocatícios.

6º Passo: Protesto pelas provas

Como se trata de "ação'; é mister que o requerente prove o ale-


gado, para que os pedidos formulados na demanda sejam acolhidos.
Por exemplo: •

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em


direito admitidos, em especial pelo depoimento pessoal, tes-
temunhas, perícias e tudo quanto se fizer necessário para a
efetivação da justiça!

7º Passo: Valor da causa

A toda causa deve ser atribuído um valor, o qual corres ponderá


ao benefício econômico pretendido pelo autor. No caso da busca e
apreensão, 'o valor da causa corresponderá ao valor dos bens aos
quais se pretende proteger. Em se tratando de busca e apreensão de

l pessoas (menores, incapazes), o valor da causa será fixado para efeitos


meramente fiscais. Por exemplo:

J A"<DR€ MaTA, CR!STJAI">O SoBRAL, LUCIANO FIGUEJRCDO, ROBERTO FlGUElll.f.DO, S,\J>RlNA DoURADO 917
IAÇÃO MONITÓRIA
Peças Práticas I

Dá-se à causa o valor de R$: ..., para efeitos meramente fiscais.

8º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daqu;Jo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

17. AÇÃO MONITÓRIA

A) Definirão: A ação monitória compete a quem pretender, com


base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento
de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou infungível, coisa
móvel ou imóvel e obrigação de fazer ou não fazer.

B) Fundamentação legal: artigos 700 a 702 do NCPC.

Vide também:

STJ Súmula n" 299: É admissível a ação monitória fun-


dada em cheque prescrito.

STJ Súmula n 9 384: Cabe ação monitória para haver saldo


remanescente oriundo de venda extrajudicial de bem alienado
fiduciariamente em garantia.

STJ Súmula n• 247: O contrato de abertura de crédito em


conta corrente, acompanhado do demonstrativo de débito, cons-
titui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória.
AçÃo MoNITÓRIA j
I Peças Práticas

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

1ª passo: Endereçamento;

Ao juiz de primeiro grau.

2ª passo: qualificação das partes:

Tratamento: autor e réu.


Proceder à qualificação completa, seguindo as recomendações
do modelo de inicial, já proposto.

3º passo: resumo dos fatos

Indicar de forma breve os principais pontos do enunciado.


Narrativa do ocorrido, demonstrando com base em prova escrita
sem eficácia de título executivo, a existência da respectiva obrigação.

4º passo: Dos fundamentos

Indicar todos os dispositivos legais, súmulas e jurisprudência


aplicáveis à temática.

5º passo: dos pedidos

Citação requerendo a expedição do mandado de pagamento ou


de entrega da coisa no prazo de quinze dias, ou para apresentação
de embargos monitórios;
Não há pleito de provas. Só será admitida a prova documental.

6º passo: valor da causa

Dá-se à causa o valor de ...

ANnll"i' MnTA Cll"I~TIANO SOI\IlAI l,!'ClANO Flt:I!FIRFnn_ Rnll"FRTO Fo<;III'IRJ.'lln SAI\Rl»JA nniiRAlln 'll'l
Peças Práticas

7º passo: Encerramento

Nestes termos,
Pede deferimento.
!Local, data
Advogado

18. AÇÕES POSSESSÓRIAS


-- --~--·--·--·------------- ---- --·-·--
<

A) Definição: são ações que visam sanar, de forma preventiva ou


repressiva, a perturbação ou perda da posse de um bem.
a) Ação de reintegração de posse- ajuíza-se essa ação quando o
possuidor sofre esbulho na sua posse, ou seja, o possuidor é
totalmente destituído de sua posse, podendo, neste momento,
estar na posse direta ou não do bem.
b) Ação de manutenção da posse- ajuíza-se a ação em tela quando
o possuidor é turbado de sua posse, ou seja, tem o seu exercício
limitado, no entanto continua exercendo-a.
c) Interdito proibitório: ocorre quando o possuidor está sendo
ameaçado deperder a sua posse.

B) Fundamentação legal: artigos 554 e seguintes do NCPC.

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

No caso de o possuidor estar sofrendo turbação, cabível manu-


tenção; no caso de esbulho, cabível reintegração.

920 EDITORA ARMADOR [ PRÃTlCA C!YtL I 3a edição

J
\ Peças Práticas

1' passo: Endereçamento;

Ao juiz de primeiro grau.


Atentar ao disposto no art. 47, § 2º do NCPC.

2' passo: qualificação das partes:

Tratamento: autor e réu.


Proceder à qualificação completa, seguindo as recomendações
do modelo de inicial, já proposto.

3º passo: resumo dos fatos

Indicar de forma breve os principais pontos do enuncindo.


Narrativa do ocorrido, demonstrando a turbação, perda (nesse
caso, demonstrar a data do evento) ou ameaça quanto à posse do
imóvel.

4º passo: da concessão de liminar

Se a posse for de força nova (menos de uma ano e dia). Indicar o


preenchimento dos requisitos legais.

5º passo: Dos fundamentos

Demonstrar a posse indevida ou a ameaça de forma a justifi-


car a propositura da ação, citando sempre que possível doutrina e
jurisprudência.
Vide também arts. 1.196, 1.210 e 1.228, CC.
Desenvolver fundamento para pedido liminar (ou tutela, se for
o caso), sempre que for possível.

6º passo: dos pedidos

a) reiterar pedido liminar;


j

J ANDRÉ MOTA, CRISTJ'\NO SoBRAL, LUCIANO FJGUBIREDO, Rmnxr'o FlGllr:JRtDo, SABRJNA DouRADO
921
AçÃo DE UsucAPIÃo URBANA
1
Peças Práticas

b) citação;
c) procedência para ser mantido ou reintegrado na posse do
imóvel.
Protestar por provas que poderão demonstrar a veracidade dos
fatos alegados (fotos que comprovem o esbulho/turbação), a posse
do autor etc.

7º passo: valor da causa

Valor do imóvel

Dá-se à causa o valor do imóvel.. .

8º passo: Encerramento

Nestes termos,
Pede deferimento.
Local, data ·
Advogado

19. AÇÃO DE USUCAPIÃO URBANA

A) Definicão: Ação de conhecimento que visa obter a declaração


de propriedade sobre bem imóvel, desde que preenchidos os requi-
sitos legais.
Cabe ressaltar que o novo CPC não mais prevê um procedimento
especial para as ações de usucapião, sendo certo que as mesmas pas-
saram a ser disciplinadas pelo rito comum, 'previsto nos artigos 318
e seguintes do NCPC.

922 Eurn.)R,\ ARMMJOR j PRÁTICA CIVIL I 3" edição


AÇÃO DE USUCAPIÃO URBANA

Peças Práticas

B) Fundamentação legal: art.183 da Constituição Federal de 1988;


Lei 10.257/01; art. 1.240 e seguintes do Código Civil; artigos 246 e 259
do NCPC; artigoe. 318 e seguintes, NCPC.

A elaboração da peça compreende os segvintes passos:

1º Passo: Endereçamento

A ação será proposta perante o juízo onde esteja situado o imó-


vel, haja vista que a ação diz respeito a direito real imobiliário (art.
47, caput, NCPC). Assim:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA VARA CÍVEL DA


COMARCA DE SALVADOR/BAHIA

2º Passo: Qualificação das partes

Aqui, como em toda petição inicial, as partes necessitam ser


qualificadas (nome, estado civil, profissão, endereço eletrônico, RG,
CPF e endereço).
A ação deverá pedir a citação do proprietário, em cujo nome
esteja inscrito o imóvel. Assim:

FULANO DE TAL, (Nacionalidade), (Estado Civil), (Profissão),


endereço eletrônico ... portador da Carteira de Identidade nº: ...,
inscrito no CPF sob o nº: ..., residente e domiciliado na Rua: ...,
nº: .. ~' Bairro: ..., Cidade: ..., Cep.: ..., no Estado de: ..., através do
advogado que a esta subscreve, constituído nos termos da pro-
curação em anexo (doc. 01), com escritório profissional situado
na: ..., local onde receberá intimações, vem a presença de vossa
Excelência, com fundamento no art. 183 da Constituição Federal
de 1988, Art. 1.240 do Código Civil, na lei 10.257/01 e nos Artigos
318 e seguintes do NCPC. propor a presente

ANDRÉ I\10TA, C!\IST!ANO SollRAL, LucgNo F!Gl'HR!:DO, ROBERTO FlGUt:IIWOO, Sr\.HRIK~ DOURADO 923
Peças Práticas 1

AÇÃO DE USUCAPIÃO URBANA


em face de BELTRANO (Proprietário), (Nacionalidade), (Estado
Civil), (Profissão), residente e domiciliado na Rua: ..., nº: ...,
Bairro: ... , Cidade: ..., Cep.: ..., no Estado de: ... , de acordo com os
fatos e fundamentos que a seguir passa expor:
''
3º Passo: Fundamentação

Inicialmente, o examinando deverá expor a fundamentação de


fato,_ expondo os requisitos necessários à aquisição da propriedade,
mediante a usucapião (posse mansa, imóvel urbano, dimensão não superior
a 250 metros quadrados, moradia do grupo familiar, inexistência de proprie-·
rfnrlr> ç,)f,,,p n11h•n 1»1t'Í7v>l\ p,...,.,.. r.v.-.....---.-.lrv
"•••••- ~·"~'- '-"""''-' •"•Uo..-<..-•J· "-'-'-'- '-A.'-"--'-'J:-'-'-V•

A) FATOS:
1. O requerente é possuidor do imóvel: ..., localizado na: ..., nº...,
nesta cidade, desde ... (data), totalizando um prazo de mais de
5 (cinco) anos; ·
2. O referido imóvel está localizado em área urbana e possui
extensão inferior a 250 metros quadrados;
3. A propriedade do imóvel está registrada no nome do réu,
tendo as seguintes confrontações: À direita, com a propriedade
de número ..., endereço ...; À esquerda, com a propriedade de
número ..., endereço ...; Aos fundos, com a propriedade de
número ..., endereço ..., tudo conforme especificado na planta
do imóvel que segue em anexo;
4. Desde que o autor fora investido na posse, utilizou-se do refe-
rido imóvel, como se dono fosse, para moradia do grupo familiar;
5. A posse sempre fora exercida de forma mansa e pacífica, de
modo que nenhum ato de oposição fora apresentado durante
todo esse tempo;

924 Eono~>ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" edição

J
1 Peças Práticas

6. Ressalte-se, por fim, que o autor não possui a propried~de de


outro imóvel, seja ele rural ou urbano; ·

Feita a exposição factual, o examinando partirá para o direito,


fazendo o "encaixe" dos requisitos legais à situação anteriormente
narrada. Por exemplo:

B)D!REITO:
7. O C6digo Civil, em seu artigo 1.240, consubstancia a regra
segundo a qual "Árt. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área
urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou-de
suafamf!ia, adquirir-lhe-no domínio,. desde que.não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural."
8. Ressalte-se que o autor preenche todos os requisitos citados no
dispositivo em questão (posse mansa e ininterrupta/ por cinco anos!
de imóvel urbano com dimensão inferior a 250 metros quadrados! pra
moradia/ sem propriedade de outro imóvel), conforme mencionado
nos fatos narrados;
9. Sendo assim, é forçoso reconhecer o direito de que lhe seja
declarada propriedade, ante a existência de usucapião, por ser
medida de justiça.

4º Passo: Pedidos

Os pedidos conterão: a) requerimento de citação do réu, em


cujo nome esteja registrado o imóvel, bem como dos confinantes; b)
intimação dos representantes das fazendas públicas federal, estadual
e municipal, bem como do representante do Ministério Público; c)
pedido final de procedência do pedido. Por exemplo:

l
l
'i

J A>-,'DRÉ !<JOTA, CR!STIA"lO SOBRAl_, Lcu.>.'~O FIGUEIREDO, RoBERTO fiGL:f!REDO, SABRINA DOURADO
925
l
J AçÃo DE UsucAPIÃO URBANA '
1
Peças Práticas I

C) DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer:
a) Seja citado o réu, em cujo nome está registrada a propri~dade
do imóvel; <

b) Sejam citados os confinantes, nos ende>·eços constantes das


especificações acima referidas;
c) A intimação dos representantes judiciais da fazenda pública
Federal; estadual e municipal, para que manifestem interesse
na causa;
d) A intimação do representante do Ministério Público para
acompanhar o fito na condição de fiscal da lei;
e) Ao final, a procedência dos pedidos contidos na ação, com
a consequente expedição de mandádo para a transcrição da
sentença junto ao cartório de registro de imóveis.

5º Passo: Protesto pelas provas

Como se trata de "ação", é mister que o autor prove o alegado, para


que os pedidos formulados na demanda sejam acolhidos. Por exemplo:

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em


direito admitidos, em especial pelo depoimento pessoal, tes-
temunhas, perícias e tudo quanto se fizer necessário para a
efetivação da justiça!

6º Passo: Valor da causa

A toda causa deve ser atribuído um valor, o qual corresponderá


ao benefício econômico pretendido pelo autor. Assim, no exemplo ora
analisado, o valor da causa corresponderá ao valor do imóvel, objeto
da demanda. Por exemplo:

926 EDITORA ARMADOR ] PRÁTJCA CJvtt I Y edi\·ào


I , •
MANDADO DE SEGURANÇA l
! Peças Praticas

Dá-se à causa o valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).

7º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

20. MANDADO DE SEGURANÇA

A) Definicão: Remédio constitucional que visa sanar, de forma


preventiva ou repressiva, abuso a direito líquido e certo, não amparado
por "habeas corpus" ou "habeas data", praticado por ato de autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica de direito privado no exercício
de 'função pública.

B) Fundamentação legal: art. 5º, LXIX, da Constituição Federal


de 1988; Lei 12.016/09.

A elaboração da peça compreende os seguintes passos:

1º Passó: Endereçamento

A competência, em sede de mandado de segurança é estabelecida


da seguinte maneira: No que pertine à competência, o remédio em
questão deverá ser aviado perante o juízo cuja jurisdição o ato da

ANlW.í: MoT·\, CRJSTJ,\No SoSRAI., LLJl'lANO FKUEJREno, Ronrn-ro FiCtiEHIEno, SABRJNA Dotnuuo 927
Peças Práticas j

autoridade coatora esteja sujeito. Destarte, a impugnação de ato


administrativo emanado de autoridade municipal se dará perante
juízo de primeiro grau; do ato de autoridade estadual, caberá o
mandamus perante o respectivo TJ; finalmente, em se tratando
de autoridade federal, o mandado de segurança deverá ser aviado
perante a justiça iederal de primeiro grau, excetuados os casos de
competência de outro tribunal, mediante disposição expressa da
própria constituição. É que a carta de 1988, em seu artigo 105, I, b,
aponta a competência do STJ para julgar mandado de segurança
"contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exér-
cito e da Aeronáutica ou do próprio tribunal" e, em seu artigo 102, I, d, a
competência do STF para o julgamento do mandamus "contra atos do
Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado·
Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República
e do próprio Supremo Tribunal Federal."
Em se tratando de impugnação de ato judiciaL a competência
será do TRIBUNAL ao qual a autoridade judiciária está vinculada.
Assim, contra ato de juízo de primeiro grau, caberá mandado de
segurança para o respectivo tribunal (TJ ou TRF); do ato do tribunal
de segundo grau, caberá o remédio para o próprio tribunal (TJ ou
TRF), assim como deverá o mandamus ser dirigido ao STJ ou STF
quando se quiser impugnar ato emitido por seus membros.
A dinâmica do mandado de segurança impetrado perante o juízo
de primeiro grau obedecerá aos seguintes termos:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA VARA DA FAZENDA


PÚBLICA DE RECIFE/ PERNAMBUCO

2º Passo: Qualificação das partes

O impetrante necessita ser qualificado (nome, estado civil, profis-


são, RG, CPF e endereço). A ação é proposta contra ato da autoridade.
Dita autoridade necessita ser notificada, para que preste as devidas
informações, motivo pelo qual é mister que se decline o seu endereço
na inicial.

J
928 EoJTORA ARMADOR I PRÁTICA ClVJL I 3a edição
\ Peças Práticas

FULANO DE TAL, (Nacionalidade), (Estado Civil), (Profis-


são), portador da Carteira de Identidade nº: ..., inscrito no CPF
sob 0 nº: ..., residente e. domiciliado na Rua: .. nº: ..., Bairro: ...,
·1

Cidade: ..., Cep.: ..., no Estado de: ..., através do advogado que a
esta subscreve/ constituído nos termos da procuraÇão em ·anexo
(doc. 01), com escritório profissional situado na ..., local onde
receberá as intimações, vem a presença de vossa Excelência,
com fundamento no artigo 5º, LXIX da Constituição Federal de
1988 e da Lei 12.016/09, impetrar o presente
MANDADO DE SEGURANÇA,
contra ato do ... (autoridade coatora), a ser encontrado no: ...
(endereço), de acordo com os fatos e fundamentos que a seguir
passa expor:

3º Passo: Fundamentação

Inicialmente, cabe ao examinando expor as informações trazidas


no enunciado da questão, narrando os fatos expostos. Assim:

l.FATOS:
1. O Impetrante inscreveu-se em concurso público para pro-
vimento de vagas de ..., realizado pela Entidade em tela, na
condição de portador de deficiência física;
2. O certame foi constituído das seguintes fases: ...;
3. Efetivadas as aprovações nas duas primeiras fases, o impe-
trante viu-se surpreendido com a notícia de que fora reprovado
no certame, em virtude do resultado do exame pericial, com a
equipe multiprofissional, sob a alegação de que a deficiência
auditiva unilateral não lhe enquadraria na categoria d<: "porta-
i dor de deficiência", mas, apenas a perda "bilateral" da audição.

l
I
J
ANDRÉ MOTA, CR!STtA -.;o SOII!tAt, LUCIANO FiGUEIREDO, RongRTO ftGUEIREDO, S,\IIRINA DOURADO
929
IMANDADO DE SEGURANÇA
1
Peças Práticas I

Expostos os fatos, é mister, agora, discorrer acerca dos requisitos


para a concessão da segurança: direito líquido e certo e lesão, senão
vejamos:

2. DIREITO:
4. A Constituição Federal, em seu artigo 5º, LXIX e a Lei 12.016/09
consagram a regra segundo a qual "conceder-se-á mandado de
segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por
"habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilega-
lidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
iurídica no exercício de atribuições do Poder Público."
No caso em tela, os requisitos para a concessão da segurança
estão devidamente presentes, senão vejamos: o

A) Direito líquido e certo


5. O impetrante preenche todos os requisitos para avançar às
demais etapas do concurso, tendo em vista que logrou êxito nas
dUf!S primeiras etapas e se enquadra na condição de "portador
de deficiência". É que, segundo a lei ..., a qualidade de portador
de deficiência física é caracterizada quando ..., sendo certo,
portanto, que a surdez unilateral está inclusa nessa condição.

B) Da lesão

6. Não obstante a existência do direito líquido e certo mencio-


nado, fato é que a comissão do concurso desprézou os termos
legais, reprovando o impetrante, sob a alegação de que a defi-
ciência auditiva, na modalidade unilateral, não enquadraria o
mesmo na condição de portador de deficiência física.
7. Sendo assim, é forçoso reconhecer que o ato administrativo
questão é abusivo, necessitando, por isso, ser retirado do mundo
jurídico, por ser medida de justiça.

<no Fnnnl'l.o. ARMAflOfl I PRÁTICA C!Vll. I -~a rdidío


MANDADO DE SEGURANÇA I
: Peças Práticas

4º Passo: Pedido de liminar

A ação em questão admite pedido de liminar, no sentido de que


o magistrado determine a suspensão do ato que violou direito líquido
e certo do impetrante. Para tanto, o examinando deverá valer-se do
artigo 7º, I1I da Lei 12.016/09, o qual lhe auxiliará na redação da peça.
Por exemplo:

3. DA LIMINAR:

8. Considerando que o decurso do tempo poderá causar grave


dano ao direito líquido e certo do impetrante, é necessário que
lhe seja concedida LIMINAR para o fim de suspender o ato
impugnado e determinar sua inclusão nas demais etapas do
concurso, bem como que seja reservada a respectiva vaga até
que seja o mérito devidamente julgado.

5º Passo: Pedidos

Os pedidos serão formulados, obedecendo-se a ordem estabele-


cida no artigo art. 7º da lei 12.016/09. Assim:

4. DOS PEDIDOS:
Diante de todo o exposto, requer:
a) que se notifique a autoridade coatora do conteúdo da petição
inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias
dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste
as informações;
b) Que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial
da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial
sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito;
c) seja ouvido o representante do Ministério Público;
Peças Práticas

d) seja concedido o pedido de LIMINAR para o fim de suspender.


o ato impugnado e determinar sua inclusão nas demais etapas
do concurso, bem como que seja reservada a respectiva vaga
até que seja o mérito devidamente julgado;
e) NO MÉRITO, seja confi~mada a liminar deferida e definitiva-
mente concedida a segurança, por ser medida de justiça!

6º Passo: Produção de provas

No mandado de segurança não há dilação probatória. Significa


dizer que as provas a serem produzidas serão apenas de cunho .
documental. Por isso o impetrante apenas fará menção da prova
documental, da seguinte forma:

Provas pré-constituídas em anexo.

7º Passo: Valor da causa

Como a discussão gira em torno da impugnação de ato da autori-


dade, geralmente o valor da causa é fixado apenas para efeitos fiscais,
nos seguintes termos:

Atribui à causa o valor de R$: ..., para efeitos meramente fiscais.

8º Passo: Encerramento

Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se


do local, data e advogado. Por exemplo:

Termos em que pede deferimento.


Local, data,
Advogado

932 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CiVIL I 3~ edição

J
PROVAS ANTERIORES

!
I

J 933
XIX EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL I
! Provas Anteriores
'

XIX EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

1
Antônio Augusto, ao se mudar para seu novo apartamento,
'recém-comprado, adquiriu, em 20/10/2015, diversos eletrodomésticos
de última geração, dentre os quais uma TV de LED com sessenta pole-
gadas, acesso à Internet e outras facilidades, pelo preço de R$ 5.000,00
(cinco mil reais). Depois de funcionar perfeitamente por trinta dias,
a TV apresentou superaquecimento que levou à explosão da fonte
de energia do equipamento, provocando danos irreparáveis a todos
os aparelhos eletrônicos que estavam conectados ao televisor. Não
obstante a reclamação que lhes foi apresentada em 25/11/2015, tanto o
tabncante (MaxfV S.A.) quanto o comerciante de quem o produto fora
adquirido (Lojas de Eletrodomésticos Ltda.) permaneceram inertes,
deixando de oferecer qualquer solução. Diante disso, em 10/03/2016,
Antônio Augusto propôs ação perante Vara Cível em face tanto da
fábrica do aparelho quanto da loja em que o adquiriu, requerendo: (i)
a substituição do televisor por outro do mesmo modelo ou superior,
em perfeito estado; (ii) indenização de aproximadamente trinta e cinco
mil reais, correspondente ao valor dos demais aparelhos danificados;
e (iii) indenização por danos morais, em virtude de a situação não ter
sido solucionada em tempo razoável, motivo pelo qual a família ficou,
durante algum tempo, sem usar a TV. O juiz, porém, acolheu preli-
minar de ilegitimidade passiva arguida, em contestação, pela loja que
havia alienado a televisão ao autor, excluindo-a do polo passivo, com
fundamento nos artigos 12 e 13 do Código de Defesa do Consumidor.
Além disso, reconheceu a decadência do direito do autor, alegada
em contestação pela fabricante do produto, com fundamento no Art.
26, inciso li, do CDC, considerando que decorreram mais de noventa
dias entre a data do surgimento do defeito e a do ajuizamento da ação.
A sentença não transitou em julgado. Na qualidade de advogado(a)
do autor da ação, indique o meio processual adequado à tutela do seu
direito, elaborando a peça processual cabível no caso, excluindo-se
a hipótese de embargos de declaração, indicando os seus requisitos
e fundamentos nos termos da legislação vigente. (Valor: 5,00) Obs.:

,\NDR!' VlüTA, CIUSTJ..\NO SonRM-, 1,\ CIA'<O FlCUfiRlmn, RonERTO FlGFEIIlFPO, $.\1\RINA DouRA no 935
Provas Anteríores !

o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do


dispositivo legal não confere pontuação.

Gabarito Comentado

A decisão em questão tem :natureza jurídica de sentença, na


forma. do Art 162, § 1', do Art. 267, inciso VI, do Art. 269, inciso
IV, e do Art. 459, todos do Código de Processo Civil. Com efeito,
extinguiu-se o processo, sem resolução do mérito, quanto ao
comerciante, acolhendo-se a sua ilegitimidade passiva, e com
resolução do mérito, no tocante ao fabricante, em cujo favor se
reconheceu a decadência. Em virtude disso, o meio processual
adequado à impugnação do provimento judicial, a fim de evitar·
que faça coisa julgada. é o recurso de apelação. de acordo com o
Art. 513 do CPC. Deve-se, para buscar a tutela integral ao interesse

I do autor, impugnar cada um dos capítulos da sentença, isto é, tanto


a ilegitimidade do comerciante quanto a decadência que aprovei-
tou ao fabricante. Quanto ao primeiro ponto, deve-se sustentar a
solidariedade entre o ,·arejista, que efetuou a venda do produto, e
o fabricante em admitir a propositura da ação em face de ambos,
na qualidade de litisconsortes passivos, conforme a conveniência
do autor. A responsabilidade do comerciante, ao menos quanto ao
primeiro pedido deduzido da petição inicial referente à substituição
do produto, encontra fundamento no Art. 18 do CDC. Quanto ao
segundo aspecto, deve-se pretender o afastamento da decadência.
No que concerne ao primeiro pedido, referente à substituição do
produto, a pretensão recursal deve basear-se na existência de
reclamação oportuna do consumidor, a obstar a decadência, na
forma do Art. 26, § 2º, inciso I, do CDC. Além disso, já no tocante
aos demais pedidos, trata-se de responsabilidade civil por fato do
produto, não por vício, haja vista os danos sofridos pelo autor da
ação, a atrair a incidência dos artigos 12 e 27 do CDC, de modo que
a pretensão autoral não se submete à decadência, mas ao prazo
prescricional de cinco anos, estipulado no último dos dispositivos
ora mencionados. Nessa linha, deve-se requerer a reforma da sen-
tença para que o pedido seja desde logo apreciado, na hipótese de

936 EnrroR \ l\R\1..,DOR t PRÁTICA CIVIL 1 3" edição

J
] Provas Antenores

a causa encontrar-se madura para o julgamento, segundo o Art.


515, § 3º, do CPC, ou, alternativamente, a sua reforma, mediante o
reconhecimento da legitimidade passiva do comerciante, e o afas-
tamento da decadência, determinando-se o retorno dos autos ao
juízo de primeira instância, para prosseguimento do feito.

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que o ~ecurso de Apelação hoje é contemplado pelos
artigos 1.009 a 1.014 do CPC de 2015 e não mais pelos artigos
513 a 521, conforme dispunha o CPC/73.

XVIII EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Fernando e Lara se conheceram em 31/12/2011 e, em 02/05/2014,


celebraram seu casamento civil pelo regime de comunhão parcial de
bens. Em 09/07/2014, Ronaldo e Luciano celebraram contrato escrito
de compra e venda de bem móvel obrigando-se Ronaldo a entregar o
bem em 10/07/2014 e Luciano a pagar a quantia de R$ 200.000,00 (duzen-
tos mil reais) em 12/07/2014. O contrato foi assinado pelos seguintes
sujeitos: Ronaldo, Luciano, duas testemunhas (Flávia e Vanessa) e
Fernando, uma vez que do contrato constou cláusula com a seguinte
redação: "pela presente cláusula, fica estabelecida fiança, com renún-
cia expressa ao benefício de ordem, a qual tem como afiançado o Sr.
Luciano e, como fiador, o Sr. Fernando, brasileiro, casado pelo regime
de comunhão parcial de bens, economista, portador da identidade X,
do CPF-MF Y, residente e domiciliado no endereço Z". No dia 10/07/2014,
Ronaldo ~ntregou o bem móvel, enquanto Luciano deixou de realizar
0 pagamento em 12/07/2014. Em 15/07/2014, Ronaldo iniciou.execu~ão
de título extrajudicial apenas em face do fiador, Fernando, d1stribmda
automaticamente ao juízo da MM. 2ª Vara Cível da Comarca da Capital

J
ANili<.Í. MO'I'\, CruST!IINO SOBRAL, LL"ClANO FIGUCIREDO, ROBUnO fJCUE!REDO, $.\BRIY.:A DOURADO
937
1
IXVIII EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFiSSIONAL
Provas Anteriores ]

do Estado do Rio de Janeiro. O executado é citado para realizar o


pagamento em 03 dias. Fernando apresentou embargos, os quais são
rejeitados liminarmente, porquanto manifestamente improcedentes.
Não foi interposto recurso contra a decisão dos embargos. A execução
prosseguiu, vindo o juiz a determinar, em 08/11/2014, a penhora de
bens, a serem escolhidos pelo Oficial de Justiça, para que, uma vez
penhorados e avaliados, sejam vendidos em hasta pública, a ser reali-
zada em 01/03/2015. Em 11/12/2014, foi penhorado o único apartamento
no qual Fernando e Lara residem - avaliado, naquela data, em R$
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) -, bem imóvel esse adquirido
exclusivamente por Lara em 01/03/2000. Na mesma data da penhora,
Fernando e Lara foram intimados, por Oficial de Justiça, sobre a
penhora do bem e sobre a data fixada para a expropriação (01/03/2015).
Em 12/12/2014, Lara compareceu ao seu Escritório de Advocacia, soli-
citando aconselhamento jurídico. Na qualidade de advogado (a) de
Lara, elabore a peça processual cabível para a defesa dos interesses de
sua cliente, indicando seus requisitos e fundamentos nos termos da
legislação vigente. (Valor: 5,00) Obs.: o examinando deve apresentar os
argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente
ao caso. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação.

Gabarito Comentado

A peça processual cabível é a de Embargos de Terceiro, nos


termos do Art. 1.046, caput e §§ 1º e 3º, do CPC/1973, direcionada à
2' Vara Cível da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro,
por dependência, na forma do disposto no Art. 1.049 do CPC.
Como Lara e Fernando são casados pelo regime da comunhão
parcial de bens uma de suas consequências é a não comunicação
dos bens anteriores à união matrimonial, permanecendo seus
respectivos bens como de sua propriedade exclusiva (Art. 1.658 do
CC). Sendo assim, penhorado indevidamente bem exclusivo- que
não se comunica pelo regime de bens do casamento - de cônjuge
de fiador que não anuiu ao contrato de fiança (Lara), faz-se cabível
o ajuizamento de embargos de terceiros, por parte do cônjuge de
fiador em face exclusivamente do exequente, Ronaldo, cujo termo

938
c
XVII EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL I
': Provas Anteriores

final do prazo é até 05 dias após arrematação, adjudicação ou remi-


ção, mas antes da assinatura da respectiva carta, na forma do Art.
1.048 do CPC/1973. O pedido formulado nos embargos deve ser o
de suspEtnsão do processo principal quanto aos atos de expropria-
cão do b~m imóvel de sua propriedade, na forma do Art. 1.053 do
CPC/1973, com a consequente desconstituição da penhora.

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
:::cssaltar qu2 a aç3.o de Ernbargos de Terceiro hoje é content-
plada pelos artigos 674 e seguintes do CPC de 2015 e não mais
pelos artigos 1.046 e seguintes, conforme dispunha o CPC/73.

XVII EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Mario e Henrique celebraram contrato de compra e venda, tendo


por objeto uma máquina de cortar grama, ficando ajustado o preço de
R$ 1.000,00 e definido o foro da comarca da capital do Rio de Janeiro
para dirimir quaisquer conflitos. Ficou acordado, ainda, que o che-
que nº 007, da Agência nº 507, do Banco X, emitido por Mário para o
pagamento da dívida, seria pós-datado para ser depositado em 30
dias. Ocorre, porém, que, nesse ínterim, Mário ficou desempregado.
Decorrido o prazo convencionado, Henrique efetuou a apresentação
do cheque, que foi devolvido por insuficiência de fundos. Mesmo após
reapresentá-lo, o cheque não foi compensado pelo mesmo motivo,
acarretando a inclusão do nome de Mário nos cadastros de inadim-
plentes. Passados dez meses, Mário conseguiu um novo emprego e,
diante da inércia de Henrique, que permanece de posse do cheque,
em cobrar a dívida, procurou-o a fim de quitar o débito. Entretanto,
Henrique havia se mudado e Mário não conseguiu informações sobre
seu paradeiro, o que inviabilizou o contato pela via postal. Mário,

\ "l!lfll Nl< ']' ·1, C!ti,TL\NO SOJ\IMC, LI 'l'lANO fJGUEIR!_DO, RoBERTO FiGUEIREDO, s~nRJ'l,\ DmiJ<MlO 939
Provas Anteriores j

querendo saldar a dívida e restabelecer seu crédito perante as insti-


tuições financeiras procura um advogado para que sejam adotadas
as providências cabíveis. Com base no caso apresentado, elabore a
peça processual adequada. (Valor: 5,00) Obs.: o examinando deve
fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação. Gabarito Comentaà:o

Gabárito comentado

A peça cabível consiste em uma Ação de Consignação em Paga-


mento, nos termos dos artigos 890 a 900 do CPC e dos artigos 334
e 345 do Código Civil. A demanda deverá ser proposta perante
uma das Varas Cíveis da Comarca do Rio de Janeiro. Deverá Mário
figurar no polo ativo e Henrique no polo passivo, atendendo-se aos
requisitos previstos no Art. 282 do CPC. Na abordagem dos fatos e
fundamentos, deve o examinando salientar a existência de relação
jurídica contratual entre as partes, destacar a existência de dívida
pendente e a pretensão de liberar-se da obrigação pelo pagamento, '
o que não ocorreu em virtude do fato de que o credor reside em
local desconhecido, o que autoriza a consignação. Deverá, ainda,
requerer o depósito da quantia devida, pedindo-se a antecipação
dos efeitos de tutela jurisdicional, com determinação da retirada
do nome de Mário dos cadastros de inadimplentes, a citação por
edital do réu para levantar a quantia depositada ou oferecer res-
posta, deduzir pretensão declaratória de extinção da obrigação pelo
pagamento, a condenação em custas e os honorários advocatícios e
a produção de prova por todos os meios admitidos. Ao final, deve
o examinando indicar o endereço do advogado, o valor da causa,
o local, a data e a assinatura do advogado, além de comprovar o
pagamento das custas.

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que a ação de consignação em pagamento passou a

940 LDJTORi\ AR:.1ADOR 1 PRÁTICA CIVIL 1 3" ediçiio

J
ser tratada nos artigos 539 a 549 do CPCde 2015. Pondere-se,
também, que os requisitos gerais para a elaboração de peti-
ções iniciais hoje estão descritos nos artigos 319 e 320, NCPC
e não mais nos artigos 282 e 283 do CPC/1973.

XVI EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

João andava pela calçada da rua onde morava, no Rio de Janeiro,


quando foi atingido na cabeça por um pote de v~d~o lançado da
janela do apartamento 601 do edifício do Condomm1o Bosque das
Araras, cujo síndico é 0 Sr. ~.1arcelo Rodrigues. João desmatou com
0 impacto, sendo socorrido por transeuntes que contata:am o Corpo
de Bombeiros, que o transferiu, de imed1ato, v1a ambulanoa, para o
Hospital Municipal X. Lá chegando, João foi internado e submetido
a exames e, em seguida, a uma cirurgia para estagnar a hem~rr~gw
interna sofrida. João, caminhoneiro autônomo que tem como prmopal
fonte de renda a contratação de fretes, permaneceu internado por 30
dias deixando de executar contratos já negociados. A internação de
Joã;, nesse período, causou uma perda de R$ 20 mil. Após sua alta,
ele retomou sua função como caminhoneiro, realizando novos fretes.
Contudo, 20 dias após seu retorno às atividades laborais, J~ão, sen-
tindo-se mal, voltou ao Hospital X. Foi constatada a nec:ss1dad~ de
realização de nova cirurgia, em decorrência de uma infecçao no cra~:o
causada por uma gaze cirúrgica deixada no seu corpo por ocasmo
da primeira cirurgia. João ficou mais 30 dias internado, de1xan~o de
realizar outros contratos. A internação de João, por este novo penado,
causou uma perda de R$10 mil. João ingressa com ação indenizat~ria
perante a 2ª Vara Cível da Comarca da Capital contra o CondommJO
Bosque das Araras, requerendo a comp~nsação d?s danos sofndos,
alegando que a integralidade dos danos e consequencm da q~eda do
pote de vidro do condomínio, no valor total de R$ 30 m!l, a t1tulo de
lucros cessantes, e 50 salários mínimos a título de danos mora1s, pela
violação de sua integridade física. Citado, o Condomínio Bosque das

J ANDRÉ MüTA.. CRiSTIANO SOBRAL, LUCiANO flGUEIREDO, ROBERTO FlCUEI!tEl>O, SIII!RlNA DOURADO
941
XV EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Provas Anteriores i

Araras, por meio de seu síndico, procura você para que, na qualidade
de advogado(a), busque a tlj,tela adequada de seu direito. Elabore a
peça processual cabível no caso, indicando os seus requisitos e fun-
damentos, nos termos da legislação vigente. (Valor: 5,00) Responda
justificadamente, empregando os argumentos jurídicos apropriados
e a fundamentação legal pertinente ao caso.

Gabarito Comentado

I
A peça a ser formulada é uma contestação à ação indenizatória
proposta por João. O Condomínio deverá arguir em preliminar que
não é leg.itünado passivo da ação, tendo en-t vista o conhecilrtento de
que o pote de vidro foi lançado de apartamento individualizado-
601 -, isto é, de unidade autônoma reconhecida. De acordo com o
Art. 938 do Código Civil, "aquele que habitar prédio, ou parte dele,
responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou
forem lançadas em lugar indevido". Assim, o habitante (proprie-
tário, locatário, comodatário, usufrutuário ou mero possuidor) da
uni~ade autônoma é que deveria ser acionado, não o Condomínio.
O Condomínio somente seria parte legítima na impossibilidade de
se reconhecer dt' qual unidade quedou o objeto. No mérito, deverá o
Condomínio arguir que não há obrigação de indenizar de sua parte
em relação aos danos decorrentes da segunda cirurgia sofrida por
João, na medida em que o dano que decorreu da segunda cirur-
gia é resultado de erro médico cometido pela equipe cirúrgica do
Hospital Municipal X, não da queda do pote de vidro.

XV EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

João utiliza todos os dias, para retornar do trabalho para sua


casa, no Rio de Janeiro, o ônibus da linha "N', operado por Ômega
Transportes Rodoviários Ltda. Certo dia, o ônibus em que João era
passageiro colidiu frontalmente com uma árvore. A perícia concluiu

A")
XV EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL
Provas ArJteriores

que o acidente foi provocado pelo motorista da sociedade empresária,


que dirigia embriagado.
Diante disso, João propôs ação de indenização por danos mate-
riais e morais em fai:e de Ômega Transportes Rodoviários Ltda. O Juiz
julgou procedentes os pedidos para condenar a ré a pagar a João a
quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de danos materiais, e
mais R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) para compensar os danos
morais sofridos. Na fase de cumprimento de sentença, constatada a
insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações,
o Juiz deferiu o pedido de desconsideração da personalidade jurídica,
procedendo à penhora, que recaiu sobre o patrimônio dos sócios Y e
Z. Di~~~2 d!sso, os sócios de Ômcga Transportes Rodoviários Ltda.
interpuseram agravo de instrumento, ao qual o Tribunal de Justiça, por
unanimidade, deu provimento para reformar a decisão interlocutória
e indeferir o requerimento, com fundamento nos artigos 2º e 28 do
CDC (Lei nº 8.078/90), por não haver prova da existência de desvio de
finalidade ou de confusão patrimonial. O acórdão foi disponibílízado
no DJe em 05/05/2014 (segunda-feira), considerando-se publicado no
dia 06/05/2014. Inconformado com o teor do acórdão no agravo de
instrumento proferido pelo TJ/RJ, João pede a você, na qualidade de
advogado, a adoção das providências cabíveis. Sendo assim, redija o
recurso cabível (excluída a hipótese de embargos de declaração), no
último dia do prazo, tendo por premissa que todas as datas acima
indicadas são dias úteis, assim corno o último dia para interposição
do recurso. (Valor: 5,00)

Gabarito Comentado

A peça processual cabível é o recurso especial para o STJ, nos


termos do Art. 105, III, a, da CF/88, bem como do Art. 541 e seguintes
do CPC. Deverá ser interposto por João perante o Presidente ou o
3º Vice-Presidente do TJ/RJ, para o juízo prévio de admissibilidade,
indicando os sócios Y e Z, da pessoa jurídica, como recorridos.
Os fundamentos do recurso são a violação dos artigos 2º e 28
do CDC, eis que, tratando-se de relação de consumo (Art. 2º do
CDC), a desconsideração da personalidade jurídica é regida pela
Provas Anteriores

teoria menor (Art. 28 do CDC), que dispensa a prova da existência


de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial, bastando a
constatação da insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de
suas obrigações. Deve ser enfatizado que tais artigos da legislação
federal foram devidamente prequestíonados pelo TJ/RJ. O pedido
formulado deverá ser no sentido de que o .!;TJ conheça do recurso
e a ele dê provimento para sanar violação aos dispositivos de Lei
Federal e, consequentemente, reformar o acórdão do TJ/RJ, a fim de
manter, na íntegra, a decisão proferida pelo juízo de primeiro grau,
autorizando, assim, a desconsideração da personalidade jurídica.

Comentários adicionais

As considerações contrdas no espdho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que o Recurso Especial é hoje é contemplado pelos
artigos 1029 e seguintes do CPC de 2015.

XIV EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Pedro, brasileiro, solteiro, jogador de futebol profissional, resi-


dente no Rio de Janeiro/RJ, legítimo proprietário de um imóvel situado
em Juiz de Fora/MG, celebrou, em 1º de outubro de 2012, contrato por
escrito de locação com João, brasileiro, solteiro, professor, pelo prazo
de 48 (quarenta e oito) meses, ficando acordado que o valor do aluguel
seria de R$ 3.000,00 (três mil reais) e que, dentre outras obrigações,
João não poderia lhe dar destinação diversa da residencial.
Ofertou fiador idôneo. Após um ano de regular cumprimento
da avença, o locatário passou a enfrentar dificuldades financeiras.
Pedro, depois de quatro meses sem receber o que lhe era devido,
ajuizou ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis perante
a 2ª Vara Cível da Comarca de Juiz de Fora/MG, requerendo, ainda,
antecipação de tutela para que o réu/locatário fosse despejado

944 EDlTOMAR:\tADOR 1 PRÁTICA CtVIL 1 Yedição


\ Provas Anteriore..o;

liminarmente, urna vez que desejava alugar o mesmo imóvel para


Francisco.
O magistrado recebe a petição inicial, regularmente instruída e
distribuída, e defere a medida liminar pleiteada, concedendo o prazo
de 72 (setenta e duas) horas para João desocupar o imóvel, sob pena
de multa diária de R$ 2.000,00 (dois mil reais). Desesperado, João o
procura para que, na qualidade de seu advogado, interponha o recurso
adequado (excluídos os embargos declaratórios) para se manter no
imóvel, abordando todos os aspectos de direito material e processual
pertinentes. (Valor: 5,0)

Gabarito Comentado
Trata-se de decisão interlocutória proferida em ação de despejo
fundada em falta de pagamento no qual o magistrado, contrariando
o que prevê o Art. 62, li, da Lei nº 8.245/91, determinou a desocu-
pação do imóvel inaudita altera parte, sem conceder ao locatório o
direito de, em 15 (quinze) dias, purgar a mora. Adernais, a utiliza-
ção da astreinte para o despejo é claramente desproporcionaL na
medida em que bastaria, para tanto, a determinação de remoção
de pessoas e/ou coisas (Art. 461, §§ 4º e 5º, do CPC). Assim sendo, o
examinando deve elaborar um recurso de agravo de instrumento
(Art. 522, CPC), demonstrando o seu cabimento ("lesão grave e de
difícil ou incerta reparação"), requerendo a antecipação de tútela
recursal (Art. 527, III, c/c Art. 558, do CPC), a fim de que a decisão
recorrida tenha sua eficácia suspensa até o julgamento final do
recurso. Cabe, ainda, ao candidato demonstrar a presença dos
requisitos genéricos e específicos de admissibilidade e requerer, ao
finaL o provimento recursal (Art. 522 e seguintes, do CPC).

Comentários adicionais

As éonsiderações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que o Agravo de Instrumento é hoje é contemplado
pelos artigos 1015 e seguintes do CPC de 2015.

ÀNnlÜ Mrrn, CRISTL\NO SOBR.'Il, LL'ClA'-0 FJGIJ(;IRE()ú, RoBÓlTO FJGUI:IREOO, S.\I!RINA DOURADO 945
1
XIII EXAME- PEÇA PRÂTICO-PROFISSIONAL

Provas Anteriores

XIII EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Em 15 de janeiro de 2013, Marcelo, engenheiro, domiciliado no


Rio de Janeiro, efetuou a compra de um aparelho de ar condiCionado
fabricado pela "G" S. A., empresa sediada em São Paulo.
Ocorre que o referido produto, apesar de devidamente entregue,
desde o momento de sua instalação, passou a apresentar problemas,
desarmando e não refrigerando o ambiente. Em virtude dos problemas
apresentados, Marcelo, no dia 25 de janeiro de 2013, entrou em contato
com o fornecedor, que prestou devidamente o serviço de assistência
técnica. Nessa oportunidade, foi trocado o termostato do aparelho.
Todavia, apesar disso, o problema persistiu, razão peia quai
Marcelo, por diversas outras vezes, entrou em contato com a "G" S.
A. a fim de tentar resolver a questão amigavelmente. Porém, tendo
transcorrido o prazo de 30 (trinta) dias sem a resolução do defeito pelo
fornecedor, Marcelo requereu a substituição do produto.
Ocorre que, para a surpresa de Marcelo, a empresa negou a
substituição do mesmo, afirmando que enviaria um novo técnico à
sua residência para analisar novamente o produto.
Sem embargo, a assistência técnica somente poderia ser realizuda
após 15 (quinze) dias, devido à grande quantidade de demandas no
período do verão.
Registre-se, ainda, que, em pleno verão, a troca do aparelho de ar
condicionado se faz uma medida urgente, posto que as temperaturas
atingem níveis cada vez mais alarmantes.
Adernais, Marcelo comprou o produto justamente em função da
chegada do verão. Inconformado, Marcelo o procura, para que, na
qualidade de advogado, proponha a medida judicial adequada para
a troca do aparelho, abordando todos os aspectos de direito material
e processual pertinentes. (Valor: 5,00)

Gabarito Comentado

.I A peça cabível será uma ação de obrigação de fazer com pCe~ido


d.e tutela antecipada direcionada a um dos Juizados Especiais JVeJs

46 EDITORA ARM1\DOR I PRÁTICA CiVIl- f 3" cJiçüo


XIII EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL I
I Provas Antcrior(:S

da Comarca do Rio de Janeiro ou, ainda, ao Juízo de uma das Varas


Cíveis também da Comarca do Rio de Janeiro (foro de domicílio
do autor, nos termos do artigo 101, I, do CDC).
A ação poderá ser woposta ainda na Comarca de São Paulo (foro
de domicílio do réu), seguindo a regra geral do CPC. O candidato
I deve indicar, como fundamento, a recusa injustificada da "G" S. A.
em efetua r a troca do produto. Desse modo, é perfeitamente apli-
cável ao caso o artigo 18, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor,
que estabelece o prazo de 30 (trinta) dias para que os fornecedores
de produtos sanem os vícios existentes, podendo, após o prazo,
exigir a troca do produto, conforme requerido por Marcelo.
O candidato deve destacar que se trata de urna relação de
consumo.
Torna-se relevante, além disso, requerer à inversão do ônus da
prova, com fulcro no artigo 6º, VIII, do CDC.
Por fim, o pedido de tutela antecipada deve ser feito com fun-
damento nos artigos 273 e/ou 461 do CPC, ou no artigo 84, § 3º,
da Lei nº 8.078/90, postulando-se também danos morais a serem
arbitrados pelo juízo.

Comentários adicionai~

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que as medidas de urgência- sejam elas de natureza
antecipada ou cautelar- passaram a ser tratadas conjuntamente
nos artigos 294 e seguintes do novo CPC, em livro específico,
denominado uDa tutela provisória". Adernais, os requisitos
gerais para a elaboração de petições iniciais hoje estão des-
critos nos artigos 319 e 320, NCPC.

ANDHt uusTI \t-.O ~OBR.\t, FIGUO:lllrono, RORERlO T'!GUEJREno, SARRJNA Dowv.vo


J\1o!-\, LVLIANO
947
I'rovas anu:nun:~ I

XII EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Maria de Fátima, viúva, com idade de 92 (noventa e dois anos),


reside no bairro "X", da cidade "Z", com sua .filha Clarice, a qual
lhe presta toda a assistência material necessária. Maria de Fátima,
em virtude da idade avançada, possui diversas limi~ações mentais,
necessitàndo do auxílio de sua filha para lhe dar banho, alimentá-la
e ministrar lhe os vários remédios que controlam sua depressão,
mal de Alzheirner e outras patologias psíquicas, conforme relatórios
médicos emitidos por Hospital Público Municipal. Ao ponto de não
ter mais condições de exercer pessoalmente os atos da vida civil, a
pensão que recebe do INSS é fundamental para cobrir as despesas
com medicamentos, ficando as demais despesas suportadas por sua'
filha Clarice. Rectnten-tdtte, chegou à sua tesiJ~nda, correspond~ncia
do INSS comunicando que Maria de Fátima deveria comparecer ao
posto da autarquia mais próximo para recadastramento e retirada de
novo cartão de benefício previdenciário, sob pena de ser suspenso o
pagamento. Diante disso, Clarice, desejando regularizar a adminis-
tração dos bens de sua mãe e atender a exigência do INSS, a fim de
evitar a supressão da pensão, o procura em seu escritório solicitando
providências. Diante dos fatos narrados, elabore a peça processual
cabível. (Valor: 5,0)

Gabarito comentado

Deverá Clarice ajuizar ação de interdição com pedido de ante-


cipação de tutela, em face de Maria de Fátima, perante o juízo
comum estadual, nos termos dos artigos 1.767 a 1.783, do Código
Civil e artigos 1.177 a 1.198, do Código de Processo Civil. Para tanto,
deverá descrever as graves limitações psíquicas de sua genitora em
razão da idade avançada que a impedem de gerir-se e administrar
seus bens. Requererá a antecipação de tutela com o deferimento
de curatela provisória, a citação da interditanda para comparecer
à audiência especü:tl, a produção de provj!S, sobretudo a pericial, a

948 EDJTORA. Ah;...hnOR 1 PRÁTICA CiVIL I 3" edição

J
intimação do Ministério Público e, ao final, pedirá a procedência

I do pedido para decretar a interdição de Maria de Fátima.

Comentários adicionais:

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que a Interdição é hoje é contemplada pelos artigos
747 e seguintes do CPC de 2015.

XI EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Jorge, professor de ensino fundamental, depois de longos 20 anos


de magistério, poupou quantia suficiente para comprar um pequeno
imóvel à vista. Para tanto, procurou Max com objetivo de adquirir o
apartamento que ele colocara à venda na cidade de Teresópolis/RJ.
Depois de visitar o imóvel, tendo ficado satisfeito com o que lhe foi
apresentado, soube que este se eucontrava ocupado por Miranda, que
reside no imóvel na qualidade'de locatária há dois anos. O contrato de
locação celebrado com Miranda não possuía cláusula de manutenção
da locação em caso de venda e foi oportunizado à locatária o exercício
do direito de preferência, mediante notificação extrajudicial, certificada
a entrega a Miranda. Jorge firmou contrato de compra e venda por
meio de documento devidamente registrado no Registro de Imóveis,
tendo adquirido sua propriedade e notificou a locadora a respeito da
sua saída. Contudo, ao tentar ingressar no imóvel, para sua surpresa,
Miranda ali permanecia instalada. Questionada, respondeu que não
havia recebido qualquer notificação de Max, que seu contrato foi con-
cretizado com Max e que, em virtude disso, somente devia satisfação
a ele, dizendo, por fim, que dali só sairia a seu pedido.
Indignado, Jorge conta o ocorrido a Max, que diz lamentar a
situação, aérescentàndo que Miranda sempre foi urna locatária de trato
difícil. Disse, por fim, que corno Jorge é o atual proprietário cabe a
l

J ANDRÉ MaTA. CRISTlA:O.'O SonRAL, Lt;CJ.\NO FlGUURfDO, RoBERTO FIGUEIREDO, SAllRlNA DOL'RADO 949
XI EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Provas Anteriores

ele lidar com o problema, não tendo mais qualquer responsabilidade


sobre essa relação. Com isso, Jorge procura o advogado, que o orienta a
denunciar o contrato de locação, o que é feito ainda na mesma semana.
Diante da situação apresentada, na qualidade de advogado
constituído por Jorge, proponha a medida judicial adequada para
a proteção dos interesses de seu cliente para que adquira a posse
do apartamento comprado, abordando todos os aspectos de direito
material e processual pertinentes.
A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.
(Valor: 5,0)

Gabarito cornentaào

A peça cabível consiste em uma AÇÃO DE DESPEJO COM


PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. Deverá ser proposta
no foro da situação do imóvel (Art. 58, li, da Lei nº 8.245/91). Jorge
deve figurar no polo ativo e Miranda deve figurar no polo passivo,
ambos qualificados, atendendo ao disposto no Art. 282, do CPC.
Ao explicitar os fatos, deve o examinando destacar a existência de
relação jurídica material entre as partes decorrente da sub-rogação
de Jorge nos direito's de propriedade, bem corno no preceito legal
disposto no art. 8º da Lei nº 8.245/91, que autoriza a alienação de
imóvel durante o prazo da locação, concedendo o prazo de 90 dias
para a desocupação do imóvel pelo locatário, após a denunciação
do contrato. Deverá formular pedido de antecipação de tutela ale-
gando presentes a verossimilhança e o periculum in mora, na forma
do Art. 273, do CPC, já que não se trata das hipóteses do Art. 59,
§ 1º, da Lei nº 8.245/91. O pedido de antecipação de tutela (Art. 273
do CPC) é norma geral, aplicável a qualquer processo de conheci-
mento, e como tal não pode ser afastada da ação de despejo, que
se submete ao rito ordinário. Ao final, deverá formular pedido de
concessão da antecipação de tutela, liminarmente, para o despejo
da locatária, seguido do pedido de confirmação dos seus efeitos
com a imissão definitiva do autor na posse do imóvel, além de
custas e honorários de advogado.

950 EnJTORA AR!\lADOR 1 PRÁTICA CiVIL 1 _)"edição


1
X EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Provas Anteriores

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973,: o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que as medidas de urgência- sejam elas de natureza
antecipada ou cautelar- passaram a ser tratadas conjuntamente
nos artigos 294 e seguintes do novo CPC e1p livro específico,
denominado "Da tutela provisória". Adernais, os requisitos
gerais para a elaboração de petições iniciais hoje estão des-
critos nos artigos 319 e 320, NCPC.

X EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

José Afonso, engenheiro, solteiro, adquiriu de Lúcia Maria, enfer-


meira, solteira, residente na Avenida dos
Bandeirantes, 555, São Paulo/SP, pelo valor de R$100.000,00 (cem
mil reais), urna casa para sua moradia, situada na cidade de Mucurici/
ES, Rua Central, nº 123, bairro Funcionários. O instrumento particular
de compromisso de compra e venda, sem cláusula de arrependimento,
foi assinado pelas partes em 02/05/2011. O valor ajustado foi quitado
por meio de depósito bancário em uma única parcela.
Dez meses após a aquisição do imóvel onde passou a residir, ao
fazer o levantamento de certidões necessárias à lavratura de escritura
pública de compra e venda e respectivo registro, José Af:mso torna
ciência da existência de penhora sobre o imóvel, determinada pelo
Juízo da 4ª Vara Cível de Itaperuna I RJ, nos autos da execução de
título extrajudicial nº 6002/2011, ajuizada por Carlos Batista, contador,
solteiro, residente à Rua Rio Branco, 600, Itaperuna/RJ, em face de
Lúcia Maria, visando receber valor representado por cheque emitido
e vencido quatro meses após a venda do imóvel. A determinação
de penhora do imóvel ocorreu em razão de expresso requerimento
formulado na inicial da execução por Carlos Batista, tendo o credor

ANDRÉ MOTi\, CJUSTJANO SOBRAl" ],l'CJM'-10 f!GULIREDQ, RonnlTO fiGUDREDO, $AI!IUN>. DOURADO 951
Provas Anteriores I

desprezado a existência de outros imóveis livres e desimpedidos de


titularidade de Lúcia Maria, cidadã de posses na cidade onde reside.
Elabore a peça processual prevista pela legislação processual,
apta a afastar a constrição judicial invasiva sobre o imóvel adquirido
por José Afonso. (Valor: 5,0) '

Gabarito comentado

Trata-se da hipótese em que o examinando deverá se valer de


ação de Embargos de Terceiro.
O foro competente é o da 4ª Vara Cível de ltaperuna /RJ, devendo
o feito ser distribuído por dependência aos autos da
Execução nº 6002/2011, na forma do Art. 1.049, do CPC.
José Afonso figurará como autor dos embargos de terceiro,
tendo Carlos Batista como requerido, devendo as partes estar
devidamente qualificadas. A legitimidade de Carlos Batista decorre
da aplicação do princípio da causalidade, eis que a penhora do
imóvel foi formulada após requerimento do credor que desprezou
a existência de outros bens livres e desimpedidos em nome de
Lúcia Maria.
O examinando deverá indicar como fundamento legal o Art.
1.046, do Código de Processo Civil E/OU Art. 1.210, do CC, bem
como a Súmula 84 do STJ.
O examinando deve formular estruturada mente a petição
escrita, observando os requisitos do Art. 282 de> CPC, fazendo
descrição dos fatos e dos fundamentos jurídicos com riqueza na
argumentação, coerência e raciocínio jurídico, caracterizando:
• Aquisição do imóvel mediante compromisso de compra e
venda;
• Anterioridade da aquisição do imóvel em relação a dívida;
• A existência da posse do imóvel;
• A turbação decorrente da penhora efetivada.
• Existência de outros imóveis livres e desimpedidos.

O examinando deverá requer, no mérito, o pedido de descons-


tituição da penhora OU manutenção da posse do imóvel.

J
952 EDITORA AR.~·lUJOR I PRÃ.TICA CIVIL I 3a edição
\ Provas Anteriores

O examinando deve requerer:


• Citação/Intimação do embargado para responder aos embargos
de terceiro (Art. 1.050, § 3º do CPC)
• Condenação de honorários sucumbenciais e custas.
• Protesto pela produção de provas:
Por fim, deve indicar o valor da causa e inserir indicativos de
data e local e assinatura do causídico.
As considerações contidas no espelho da prova foram feitas à
luz do CPC de 1973, 0 qual já fora revogado. Assim, cabe ressaltar
que a ação de Embargos de Terceiro hoj': é contemplada pelos arti-
gos 674 e seguintes do CPC de 2015 e nao ma1s pelos arhgos 1.046
e seguintes, conforme dispunha o CPC/73.

IX EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Moema, brasileira, solteira, natural e residente em Fortaleza, no


Ceará, maior e capaz, conh~ceu Tomás, brasileiro, solteiro, natural do
Rio de Janeiro, também maior e capaz.
Tomás era um próspero empresário que visitava o Ceará sema-
nalmente pi>ra tratar de negócios, durante o ano de 2010.
Desde então passaram a namorar e Moema passou a frequen-
tar todos os lugares com Tomás que sempre a apresentou como sua
namorada. Após algum tempo, Moema engravidou de Tomás. Este, ao
receber a notícia, se recusou a reconhecer o filho, dizendo que o rela-
cionamento estava acabado, que não queria ser pai naquele momento,
razão pela qual não reconheceria a paternidade da criança e t~mpouco
iria contribuir economicamente para o bom curso da gestaçao e sub-
sistência da criança, que deveria ser criada por Moema sozinha.
Moema ficou desesperada com a reação de Tomás, pois quando
da descoberta da gravidez estava desempregada e sem con_dições
de custear seu plano de saúde e todas as despesas da gestaçao que,
conforme atestado por seu médico, era de risco.

(RJST!A~O SOBRAL, LUCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO flGUE!REDO, SARRINA DOURADO 953

J
ANDRE MOTA,
1
lX EXAME- PEÇA PRÃTICO-PROFISSIONAL
'
Provas Anteriores

Como sua condição financeira também não permitia custear as


despesas necessárias para a sobrevivência da futura criança~ Moema
decidiu procurar orientação jurídica. É certo que as fotografias,
declarações de amigos e alguns documentos fornecidos por Moema
conferiam indícios suficientes da paternidade de Tomás.
Diante desses fatos, e cabendo a você pleitear em juízo a tutela
dos interesses de Moema, elabore a peça judicial adequada, a fim de
garantir que Moema tenha condições financeiras de levar a termo
sua gravidez e de assegurar que a futura criança, ao nascer, tenha
condições de sobrevida. (Valor: 5,0)

Gabarito comentado

ARGUMENTOS A SEREM ABORDADOS PARA CONFIR-


MAR O CABIMENTO DA CONCESSÃO DOS ALIMENTOS
GRAVÍDICOS:
A peça cabível será uma petição inicial direcionada para o
Juízo de Família de Fortaleza. Trata-se de uma ação de alimentos
gravídicos, fundada na Lei n° 11.804/08.
A legitimidade para o ajuizamento de tal ação é da mãe (Moema)
em nome próprio, já que o nascituro não tem personalidade jurídica,
nos termos do Art. 1°,.da Lei n° 11.804/08.
Na petição inicial, com fulcro no Art. 2° da referida lei, deve.o
candidato evidenciar a necessidade de obtenção de valores sufi-
cientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez
e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as
referentes à alimentação especial, à assistência médica e psicológica,
aos exames complementares, internações, parto, medicamentos e
demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a
juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes.
Deve o candidato frisar que a fixação dos alimentos deve ser feita
observando-se o binômio: necessidade da requerente e possibili-
dade do querido em obediência ao Art. 6°, caput, da Lei n° 11.804/04
que recomenda ao Juiz sopesar as necessidades da parte. autora e
as possibilidades da parte ré.

954
IX EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSiONAL

Provas Anteriores

Tal ação deve conter o pedido de antecipação de tutela para


custear as despesas de gestação, pois conforme dispõe o Art. 11
da lei em comento, aplica-se supletivamente aos processos regu-
lados por essa lei as disposiçõe:l; do CPC, razão pela qual pode ser
amparado o pedido de antecipação de tutela, nas disposições do
Art. 273, I, CPC.
Com efeito, o pedido alimentar pressupõe, por sua natureza,
urgência na sua obtenção para que não haja prejuízo à subsistência
do requerente.
Deve-se indicar, ainda, a necessidade de conversão dos alimen-
tos gravídicos em pensão alimentícia em favor do menor, após o
se!.~ !:asci!!:.e!l.to, nos tf':'nrtos do Art 6º, §único, da Lei nº U..804/08.

PEDIDOS A SEREM FORMULADOS (Art. 282, do CPC)


1) Citação do réu para apresentação de resposta em 5 (cinco) dias;
, 2) Fixação de alimentos gravídicos com a procedência do pedido
formulado pela autora (Art. 6", caput da Lei n.
11.804/08);
3) Antecipação de tutela com a observância do binômio: neces-
sidade da requerente e possibilidade do requerido;
4) Protesto genérico pela produção de provas;
5) Conversão dos alimentos gravídicos em pensão alimentícia
para o menor após o seu nascimento;
6) Intervenção do Ministério Público;
7) Gratuidade de justiça, nos termos da Lei n° 1060/50;
8) Condenação do réu em custas e honorários advocatícios;
9) Indicação do valor da causa;
10) Indicação de data e assinatura sem identificação do candidato.

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que as medidas de urgência- sejam elas de natureza
antecipada ou cautelar- passaram a ser tratadas conjuntamente
nos artigos 294 e seguintes do novo CPC, em livro específico,

ANDRÉ MOTA., C!USTJANO SoaR,\L, LUCIANO flGUEIREVO, ROBERTO FIGUElRlWO, 5AJI.RlNr. DOURADO 955
- - - - - - - - - - -ProvasAnteriores
- - -I

den~minado "Da tutela provisória"_ Ademais, os requisitos


gerais para a elaboração de petições iniciais hoje estão des-
critos nos artigos 319 e 320, NCPC.

VIII EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Norberto da Silva,pessoa desprovida de qualquer bem material,


adqumu de terceiro, ha nove anos e meio, posse de terreno medindo
240m' em área urbana, onde construiu moradia simples para sua famí-
lia_ O terreno está situado na Rua Cardoso Soares nº 42, no bairro de
T~ ..... ...,. ... ,~
lrlnc.: ..... ,....;,.-l<")rlo
!l"' .4.:. r.._on....
~ .......... c.<. ....................
,l I
, r
r1 ortoco.~.lS
- no rsta~v~ U-..
~ ..:~;::. 'r~r::o:·-"-:·-~ • ...J<.lV
.tV-...~.llLUl::> c~--~··- ::>C:LL.:>

vizinhos do lado direito Carlos, do esquerdo Ezequiel e, dos fundos,


EdgaL A posse é exercida ininterruptamente, de forma mansa e pacÍ-
fica, sem qualquer oposição_
No ~ltimo ano, o bairro passou por um acelerado processo de
~alonz~çao devido a construção de suntuosos projetos imobiliários_
~m razao disso, Norberto tem sido constantemente sondado a se
retirar do local, recebendo ofertas de valor insignificante, já que as
co~strutoras alegam que o terreno sequer pertence a ele, pois está
registrado em nome de Cândido Gonçalves_
Norberto não tem qualquer interesse em aceitar tais ofertas- ao
contrário, com setenta e dois anos de idade, viúvo e acostumado co~ a
vida na loc~lidade, demonstra desejo de lá permanecer com seus filhos.
_ Por nao ter qualquer documentação oficial que lhe resguarde o
direito de pr~püedade do imóvel, Norberto procura um advogado a
fim de que SeJa mtentada medida judiciaL
Elabore a peça processual cabível in caso, indicando os seus
requisitos e fundamentos nos termos da legislação vigente_

956 EDITORA ARMADOR I PRÂTICA CIVIL ! 3a edição

J
\ l'rovas Anteriores

Gabarito comentado
A medida judicial é AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL
URBANO, regido pela Lei nº l0-257/01 c/c arL L240 do CC e artigos
941 a 945 do CPC. pelo rito sumirio (art- 14 da Lei nº 10257/01)-
0 examinando deverá dirigir a petição inicial ao juízo cível
competente para conhecer e julgar a medida, que é o da comarca de
Condonópolis, à luz da competência territorial absoluta em razão
do disposto no arL 95 do CPC.
No bojo da petição inicial deverá indicar corretamente os polos
passivo (Cândido Gonçalves) e ativo (Norberto da Silva), quali-
ficando as partes, e o nome correto da ação, observando que o
procedimento a ser adotado é o sumário (arL 14 da Lei nº 10257/01
c/c art_ 275, li, h, do CPC), e por isso deve indicar, desde logo, o rol
de testemunhas_
O endereço profissional para onde deverão ser encaminhadas
as intimações também deve ser apresentado em atenção ao que
dispõe o arL 39, I, do CPC.
Por se tratar o autor de pessoa idosa e desprovida de recursos
materiais, deve ser apresentada fundamentação para a concessão da
prioridade na tramitação do feito (arL 71 da Lei nº lD-74/01- Estatuto
do Idoso- OU arL L211-A do CPC) e que justifique a concessão dos
benefícios da Justiça Gratuita (Lei nº 1_060/50), inclusive no âmbito
do cartório do registro de imóveis (§ 2º do art. 12 da Lei nº 10257/01)-
Além da narrativa dos fatos com clareza, devem ser apresentados
os fundamentos jurídicos compreendendo, em razão da natureza da
causa, a exposição do exercício prolongado da posse, sem oposição,
de maneira ininterrupta e para fins de moradia, além do aponte da
inexistência de outro bem de propüedade do autor, bem como a
demonstração de que o imóvel é inferior 250m2 nos termos da planta
do imóvel anexada (art 942 do CPC), tudo nos moldes do arL 183
da CRFB/88 OU 1240 e seguintes do CC OU 9º da Lei nº 10257/01.
No pedido, deverá ser requerida a concessão dos benefícios da
gratuidade de justiça e da prioridade na tramitação; a citação do réu,
dos confinantes pessoalmente (Súmula 391 do STF) e dos interessa-
dos, por edital; intimação das Fazendas Públicas (art 943 do CPC)

J ANDRÉ MOT~, CRiSTIANO SOSRAL, LUCIANO flGUEIREDO, ROBERTO F!GUfilREDO, SABRJNA DoURADO
957
VII EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL
1
Provas Anterior~

e do Ministério Público (art. 944 do CPC) e a produção de provas.


Ao final, a procedência do pedido para declarar a propriedade do
imóvel e a condenação em honorários e custas processuais. Por fim,
deverá indicar o valor da causa e apontar o rol de testemunhas (art.
14 da Lei nº 10.257/01 c/c art. 276 do CPC).

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado.
Cabe ressaltar que o novo CPC não mais prevê ll!!"1. procedi-
mento especial para as ações de usucapião, sendo certo que
as mesmas passaram a ser disciplinadas pelo rito comum,
previsto nos artigos 318 e seguintes do NCPC.

VII.EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Enunciado:
Sergio, domiciliado em Volta Redonda/RJ, foi comunicado pela
empresa de telefonia ALFA, com sede em São Paulo/SP, que sua
fatura, vencida no mês de julho de 2011, constava em aberto e, caso
não pagasse o valor correspondente, no total de R$749,00, no prazo de
15 dias após o recebimento da comunicação, seu nome seria lançado
nos cadastros dos órgãos de proteção ao crédito.
Consultando a documentação pertinente ao serviço utilizado,
encontrou o comprovante de pagamento da fatura supostamente em
aberto, enviando-o via fax para a empresa ALFA a fim de dirimir o
problema.
Sucede, entretanto, que, ao tentar concretizar a compra de um
veículo mediante financiamento alguns dias depois, viu frustrado
o negócio, ante a informação de que o crédito lhe fora negado, uma
vez que seu nome estava inscrito nos cadastros de maus pagadores
VII EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Provas Anteriores

pela empresa ALFA, em virtude de débito vencido em julho de 2011,


no valor de R$749,00. Constrangido, Sérgio deixou a concessionária e
dirigiu-se a um escritório de advocacia a fim de que fosse proposta
a ação cabível.
Elabore a peça processual adequada ao caso comentado. (valor:
5,00)

Gabarito comentado

I
A peça cabível consiste em uma Ação Declaratória de Inexis-
tência de Débito c/c Obrigação de Fazer e Indenização por Danos
Morais. Poderá ser proposta no foro do domicílio do consumidor
ou do fornecedor (art. 101, I, CDC e art. 94, CPC). Sergio deve figu-
rar no pólo ativo e a pessoa jurídica ALFA deve figurar no pólo
passivo, sendo ambos qualificados, atendendo ao disposto no art.
282, do CPC.
Ao explicitar os fatos, deve o candidato destacar a existência de
relação jurídica material entre as partes, referente ao serviço de
telefonia, caracterizando-se como relação de consumo, nos termos
da Lei nº 8.078/90. Apontar que houve uma falha na segurança
do serviço prestado pela empresa ALFA, evidenciando o fato do
serviço (art. 14, CDC), vez que lhe fora cobrada dívida já paga e
indevidamente lançado seu nome nos cadastros de inadimplentes.
Salientar que as consequências da falha foram danosas, atingindo
sua honra, reputação e bom nome, causando-lhe constrangimento
que caracteriza o dano moral, o qual deve ser indenizado, nos ter-
mos do art. 6º, VI, da Lei nº 8.078/90. Deverá formular pedido de
antecipação de tutela para que seja inaudita altera pars retirado seu
nome dos cadastros de maus pagadores.
Ao final, deverá formular os pedidos sucessivos de declaração
de inexistência de débito, exclusão de seu nome dos cadastros de
inadimplentes e indenização por danos morais, além de custas e
honorários de advogado.

ANDRf. MOTA, (RJSTMNO SOBRAL, LUCIANO fJGUElREDO, ROIIIiRTO ftCUEJREDO, SABRINA 00UAADO 959
Provas Anteriores I

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que a Petição Inicial tem seus requisitos estabele-
cidos nos arts. 319 e 320 do CPC/15.

VI EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Joana teve um relacionamento esporádico com Flávio, do qual ·


nasceu Pedro. Durante cinco anos, o infrmte foi cuidado excl1_1siv:::.-
mente por sua mãe e sua avó materna, nunca tendo recebido visita
ou auxílio financeiro do genitor, mesmo tendo ele reconhecido a
paternidade. Entretanto, no final do mês de fevereiro do corrente ano,
a mãe, a pedido do pai da criança, levou o menor para a cidade de
Belo Horizonte/MG para que conhecesse os avó,<; paternos, sobretudo
o avô, que se encontra acometido de neoplasia maligna.
Chegando à casa de Flávio, Joana foi agredida fisicamente por
ele e outros familiares, sendo expulsa do local sob ameaça de morte
e obrigada a deixar seu filho Pedro com eles contra sua vontade.
Em seguida, ainda sob coação física, foi forçada a ingressar em um
ônibus e retornar ao Rio de Janeiro.
Assim/ com sua vida em risco, Joana, desesperada, deixou o
menor e viajou às pressas para a Cidade do Rio de Janeiro/RJ, onde
reside com sua mãe, a fim de buscar auxílio.
Desde aquela data o menor se encontra em outro Estado, na posse
do pai e de seus familiares, e Joana, que sempre cuidou de Pedro, não
sabe o que fazer.
O Conselho Tutelar da Cidade do Rio de Janeiro já foi notificado,
mas, até o momento não conseguiu fazer contato com Flávio. Insta
salientar que o pai da criança fez questão de reter todos os documentos
deste (certidão de nascimento e carteira de vacinação).

960 EDITORA ARMADOR ! PRÁTICA CIVJL ! 3" edição

J
\ Provas Anteriores

Diante da situação apresentada, na qualidade de advogado cons-


tituído por Joana, proponha medida judicial adequada para a proteção
dos interesses de sua cliente, abordando todos os aspectos de direito
material e processual pertinentes.

Gabarito comentado

A peça cabível era uma petição inicial, endereçada ao Juízo da


Vara Família da Comarca do Rio de janeiro ou de Belo Horizonte,
tendo em vista se tratar de competência territorial, de caráter
relativo, que pode ser modificada por interesse dos particulares
envolvidos ou mesmo motivada pelos efeitos da preclusão na
hipótese de inércia da parte interessada em argui-la, o que geraria
a ororrogacão da competência.
~ '-' J ,_ ~

Admitiu-se também o endereçamento à Vara de Família e Orfãos


e Sucessões (as duas competências em caráter cumulativo, não
sendo pontuado o endereçamento à Vara de Órfãos e Sucessões em
caráter individual), Vara de lnfáncia e Juventude ou Vara Cível, haja
vista que o Exame de Ordem avalia que a Peça Prático-Profissional
seja dirigida ao tribunal ou juízo competente, considerando as
regras constitucionais e as dispostas em Lei Federal para fixação
de competência, admitindo as variáveis disposta nos Códigos de
Organização e Divisão judiciárias, genericamente consideradas.
O enunciado dispôs de situação jurídica em que seria cabível a
propositura da medida de urgência ação cautelar, com pedido de
concessão de medida liminar, conforme autoriza o art. 804 do CPC.
Portanto, a peça profissional elaborada deveria ser uma petição
inicial de busca e apreensão de pessoa com pedido de concessão
de medida liminar, figurando como legitimados ativo e passivo,
respectivamente, Joana e Flávio.
O fundamento jurídico do procedimento se encontrava nos arts.
801, 839 e 840 do CPC, devendo ser demonstrados os requisitos
fumus'l?oni iuris e periculum in mora, inatos às medidas de urgência,
bem como dos elementos autorizadores para a concessão da medida
liminar em sede de cautelar a justificar a imediata ordem de busca e
apreensão do menor, com base art. 804 do CPC, dispositivo próprio

961

J
ANDRÉ MaTA, (RISTIANO SOBRAL, LVCIANO FIGUEIREDO, ROBERTO fiGUEIItEDO, $,\BRINA DOURADO
VI EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL
Provas Anteriores

apontado pelo legislador infraconstitucional quando se trata de


liminar em processo cautelar.
Foram pontuadas ações propostas seguindo a sistemática do
processo de conhecimento, desde que compatíveis com a temática
propostas, tanto no cabimento quanto na n:ndament~ção, send~ ele-
mento indispensável o pleito pela concessao da medida de urgenc1a
pautada no art. 273 do Código de Processo Civil. Portanto, quando
a peça em avaliação era ação de conhecimento, foram considerados
o preenchimento dos requisitos genéricos e específicos de cada
medida e a correta adequação ao caso proposto.
Para qualquer das medidas judiciais, os fundamentos do direito
J.naí.erial esta\tàiTt dispostos rr.z:teriais arts. 17 e 18 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, devendo ser demonstrado o melhor inte-
resse para o menor, bem como na Constituição Federal e no Código
Civil. Respeitados os princípios da razoabilidade e adequação, a
fundamentação jurídica deveria ser pautada nos argumentos de
dignidade da pessoa humana e proteção da pessoa dos filhos ..
Assim, os argumentos que necessariamente devenam ter Sido
abordados:
1) Da possibilidade da medida cautelar: ,
A medida cautelar de busca e apreensão vem expressamente
prevista nos arts. 839 e 840 ambos do Código de Processo Civil e
justifica-se pela maneira abrupta de retirada da criança da posse
da genitora guardiã, mantendo-a fora do alcance da Requerente.

2) Do periculum in mora e do fumus boni juris .


Nota-se presente o requisito do fumus boni iuris consubstanciado
na guarda exercida exclusivamente pela genitora desde o nasci-
mento sem que o pai tivesse qualquer participação no desenvol-
vimento psíquico, emocional e educacional do menor.
No tocante ao periculum in mora, afigura-se pela demonstração da
reprovabilidade da conduta do Requerido, pois se desejasse obter a
guarda, haveria de usar os meios legítimos, não a s~btração, manu
militari, do filho, sob a guarda da mãe desde o nasomento.
Ademais, necessário anotar, que a atitude do Requerido não
só tem gerado ao menor transtornos de ordem psíquica, mas,

l
PnJTnn.o.. ARMADOR 1 PRÁTICA CIVIL I 3"ediçã0
'
VI EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Provas Anteriores

notadamente, prejuízos de ordem social e educacional, uma vez


que a criança foi retirada do seu ambiente familiar, do convívio
com a requerente, parentes e amigos.
Assim, a medida cautelar revela-se de suma importância, no
sentido de garantir a eficácia da sentença que vier a ser prolatada
no processo principal, no qual se discutirá a guarda do menor.
É fundado, pois, o receio da Requerente de que se esperar pela
tutela definitiva, possa restar prejudicada a apreciação da ação
principal, e, outrossim, frustrada a sua execução.
3) Da possibilidade e necessidade da liminar com fundamento
no art. 804 do Código de Processo Civil, indispensável a conces-
são da liminar inaudita altera parte uma vez que quando citado,
o Requerido po,rerá tornar ineficaz a própria medida pretendida
OU art. 273 do CPC, quando a medida eleita fosse o processo de
conhecimento, demonstrados os requisitos prova inequívoca,
verossimilhança, periculum in mora e possibilidade de reversão do
preceito.

4) Do interesse do menor
O filho das partes possui tão somente cinco anos de idade e em
nenhum momento de sua vida teve contato com seu genitor e sua
família paterna. Não restando formado nenhum vínculo familiar
entre genitor e filho. Este fato revela que, neste momento, a melhor
forma de resguardar os interesses do menor é seu imediato retorno
ao convívio materno, em atenção aos preceitos insculpidos no
Estatuto da Criança e do Adolescente, em especial, os arts. 17 e 18.

PEDIDOS A SEREM FORMULADOS (art. 282 c/c 801 ambos


do CPC)
1) Concessão liminar, sem audiência da parte contrária,.de busca
e apreensão do menor, no endereço do Requerido, por estarem
presentes os requisitos essenciais - periculum in mora e do fumus
boni juris - nos termos do art. 804 do Código de Processo Civil
ou art. 273 do CPC, quando a medida eleita fosse o processo de
conhecimento, demonstrados os requisitos autorizadores descritos
no dispositivo e seus parágrafos.
Provas Anteriores j

2) Entendendo o Juízo, ser necessário prévia justificação, apli-


quem-se as regras do art. 841 do CPC.
3) A procedência do pedido tornando definitivo os efeitos da
liminar no processo cautelar ou da tutela antecipada, no caso do
processo de conhecimento; demais pedidos compatíveis com a
medida.
4) Citação do Requerido para, querendo, apresentar defesa, no
prazo de 5 (cinco) dias, conforme disposição do art. 802 do Código de
Processo Civil, sob pena de serem presumidos como verdadeiros os
fatos ora elencados, nos termos do art. 803 do mesmo diploma legal.
5) Intimação do Ministério Público para que intervenha no feito,
nos termos do inciso I do art. 82 do Código de Processo Civil.
6) Protesto genérico de provas.
7) Indicação do endereço ào advogado (art. 39, I, do CPC).

I 8) Valor da causa.
9) Condenação de honorários sucumbenciais e custas.
10) Indicar a inserção de data e assinatura.

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que as medidas de urgência - sejam elas de natureza
antecipada ou cautelar- passaram a ser tratadás conjuntamente
nos artigos 294 e seguintes do novo CPC, em livro específico,
denominado "Da tutela provisória". Ademais, os requisitos
gerais para a elaboração de petições iniciais hoje estão des-
critos nos artigos 319 e 320, NCPC.

v EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Em 19 de março de 2005, Agenor da Silva Gomes, brasileiro, natu-


ral do Rio de Janeiro, bibliotecário, viúvo, aposentado, residente na

964 EDITORA ARMADOR 1 PRÁTICA CtVlL 1 3" edição


Rua São João Batista, nº 24, apartamento 125, na Barra da Tijuca, Rio
de Janeiro, RJ, contrata o Plano de Saúde Bem-Estar para prestação de
serviços de assistência médica com cobertura total em casos de aciden-
tes, cirurgias, emergências, exames, consultas ambulatoriais, resgate
em ambulâncias e até mesmo com uso de helicópteros, enfim, tudo o
que se espera de um dos melhores planos de saúde existentes no país.
Em 4 de julho de 2010, foi internado na Clínica São Marcelino
Champagnat, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, vítima de grave aci-
dente vascular cerebral (AVC). Seu estado de saúde piora a cada dia,
e seu único filho Arnaldo da Silva Gomes, brasileiro, natural do Rio
de Janeiro, divorciado, dentista, que reside em companhia do pai, está
seriamente preocupado.
Ao visitar o pai, no dia 16 de julho do mesmo mês, é levado à
direção da c!ínic2 e informado pelo médico responsável, Dr. Marcos
Vinicius Pereira, que o quadro comatoso do senhor Agen~r é de fato
muito grave, mas não há motivo para que ele permaneça internado
na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) da clínica, e sim em casa
com a instalação de home care com os equipamentos necessários à
manutenção de sua vida com conforto e dignidade. Avisa ainda que,
em 48 horas, não restará outra saída senão dar alta ao senhor Agenor
para que ele continue com à tratamento em casa, pois certamente é a
melhor opção de tratamento.
Em estado de choque com a notícia, vendo a impossibilidade do
pai de manifestar-se sobre seu próprio estado de saúde,< Arnaldo entra
em contato imediatamente com o plano de saúde, e este informa que
nada pode fazer, pois não existe a possibilidade de instalar home care
para garantir o tratamento do paciente.
Desesperado, Arnaldo procura você, advogado(a), em busca de
uma solução. Redija a peça processual adequada, fundamentando-a
apropriadamente. (Valor: 5,0)

Gabarito comentado

I
Trata-se da hipótese em que o(a) examinando(a) deverá se
valer de medidas de urgência, sendo cabíveis cautelares prepa-
ratórias, com pedido de concessão de medida liminar, ou ação de

ANDRÉ MoTA, CRISTIANO SO!.IRAL, LUCIANO FlGUEl!U:OO, Ronuno FiGUEIREDO, SABRINA DOuRADO 965
l.
v EXAME- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL
Provas Anteriores

conhecimento com pedido de concessão dos efeitos da tutela pre-


tendida. Qualquer das modalidades eleitas pelo(a) examinando(a)
são aceitas desde que a via processual guarde correlação com a
fundamentação utilizada, raciocínio e argumentação jurídicos
que apresentem elementos técnicos hábeis a pleitear a tutela
jurisdicional à luz do caso exposto no enunciado. Assim, são con-
siderados elementos como o endereçamento ao juízo competente
de acordo com a natureza da ação e o rito processual escolhido
pelo(a) exa,minando(a). No tocante à legitimidade processual, a
indicação deverá guardar correlação lógica no discorrer da peça
prático-profissional. Assim, caso o(a) examinando(a) indique o
pai enÍermu corno aulúf da ação, necessaria:rr1ente deverá f<J.zcr
menção à juntada posterior do instrumento de procuração, con-
forme autoriza o art. 37 do CPC e/ou art. 5º, § 1º da Lei nº 8.906/90
(Estatuto da OAB). Na hipótese do apontamento do filho do doente
como autor da ação, deverá indicá-lo na qualidade de substituto
processual e os dispositivos legais correspondentes. O mesmo
deverá ser observado houver o aponte do pai enfermo repre-
sentado pelo filho. Em relação ao demandado, são consideradas
as indicações do plano de saúde, do hospital, ou de ambos, em
litisconsórcio passivo. Igualmente a escolha deverá ser devida-
mente fundamentada a guaraar coerência com a medida eleita
e fundamentação jurídica apresentada. A peça deverá conter os
elementos obrigatórios fato, fundamentação e pedido (art. 282, III, do
CPC) e, a omissão de qualquer desses elementos, importará em
perda da pontuação, ainda que a via eleita seja dos juizados espe-
ciais cíveis, orientada por princípios próprios que lhe garantem a
simplicidade e informalidade, mas por se tratar de peça simulada
ajuizada por advogado, deve guardar conhecimento técnico e de
elementos formais mínimos. No tocante à necessidade de pleito
por concessão de liminar, o(a) examinando(a) deverá demonstrar
a existência do fumus bani iurís e o periculum in mora, requisitos
indispensáveis para o seu deferimento. No caso da liminar
requerida em processo cautelar preparatório, a fundamentação se
encontra no art. 804 do CPC e, em sede de antecipação de tutela
na ação cognitiva, o fundamento legal é o art. 461, § 5º, do CPC,
v EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Provas Anteriores

sendo admitido o apontamento do art. 273 do CPC. Por fim, o(a)


examinando(a) deve formular corretamente os pedidos na forma
do art. 282 do CPC para que o(s) réu(s) seja(m) citado(s) e, no pedido
principal, requerer a instalação imediata dos equipamentos de
home care necessários e a transferência do idoso, sob pena de multa
diária. Alternativa ou cumulativamente requerer a continuidade
do tratamento ou a proibição de alta, sob pena de multa diária.
Deve requerer a confirmação dos efeitos da tutela antecipada,
indicar as provas que pretende produzir e que procedeu com o
recolhimento das custas ou indicar o pedido de justiça gratuita.
Requerer a condenação dos honorários de sucumbência, salvo se
a vüt eleita for de corr1petência dos jlüfa.Jos especiais cíveis, e o
endereço no qual o causídico receberá as intimações, na forma
do art. 39, I, do CPC. Ao final, indicar o valor da causa e apontar
indicativos ~e data e local para o representante processual apor
sua assinatura, demonstrando conhecimento de que as petições
devem, neces-.ariamente, datadas e assinadas, embora na prova
simulada não deva haver identificação.

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que as medidas de urgência - sejam elas de natureza
antecipada ou cautelar- passaram a ser tratadas conjuntamente
nos artigos 294 e seguintes do novo CPC em livro específico,
denominado "Da tutela provisória". Pondere-se, também, que
os requisitos gerais para a elaboração de petições iniciais hoje
estão descritos nos artigos 319 e 320, NCPC. Finalmente, a
possibílídade de juntada posterior de procuração, em virtude
de urgência, hoje é contemplada pelo artigo 104, NCPC e não
mais pelo artigo 37, conforme dispunha o CPC/73.

()h7
J:'rovas Anrenores !

IV EXAME - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Antônio Pedro, morador da cidade Daluz (Comarca de Guaiaqui),


foi casado com Lourdes por mais de quatro décadas, tendo tido ape-
nas um filho, Arlindo, morador de ltalquise (Comarca de Medeiros),
dono de.rede de hotelaria. Com o falecimento da esposa, Antônio
Pedro deixou de trabalhar em razão de grande tristezél que o aco-
meteu. Já com 72 anos, Antônio começou a passar por dificuldades
financeiras, sobrevivendo da ajuda de vizinhos e alguns parentes,
como Marieta, sua sobrinha-neta. A jovem, que acabara de ingressar
no cursv de graduação em Direito, relatar,do aos colegas de curso o
desapontamento com o abandono que seu tio sofrera, foi informada.
de que a Constituição Federal assegura que os filhos maiores têm
o dever de amparar os pais na velhice, carencia ou enfermidade.
De posse de tal informação, sugere a seu tio-avô que busque o Poder
Judiciário a fim de que lhe seja garantido o direito de receber suporte
financeiro mínimo de seu filho. Antônio Pedro procura, então, você
como advogado(a) para propor a ação cabível.
Elabore a peça processual apropriada ao caso narrado acima.
(Valor: 5,0)

Gabarito comentado

A peça cabível é PETIÇÃO INICIAL DE ALIMENT~S com


pedido de fixação initio litis de ALIMENTOS PROVISORIOS.
A fonte legal a ser utilizada é a Lei 5.478/68. A competência será
o domicílio do alimentando, no caso, Comarca de Guaiaqui (art.
100, II, do CPC). Informar que se procede por rito especial (art. 1º
da Lei de Alimentos) e requerer prioridade na tramitação, por se
tratar de idoso (art. 71 da Lei nº 10.741/03 c/c art. 1.211-A do CPC).
Deverá atender aos requisitos da petição inicial (282 do CPC) e aos
requisitos específicos disciplinados pela Lei Especial, provando a
relação de parentesco, as necessidades do alimentando, e obede-
cendo ao art. 2º da Lei 5478/68, bem como a Lei 11.419/06. Deverá
demonstrar a necessidade e possibilidade ao pedido de alimentos.

968 EDITORA ARMADOR I PRÃTICA CIVIL I 3a edição


! rrovas f\m:enores

O examinando deverá ainda indicar o recolhimento de custas ou


fundamentar pedido de concessão de gratuidade de justiça (§ 2º
do art. 1º da Lei de Alimentos c/c Lei 1.060/50). No pedido, deverá
requerer que o juiz, ao despachar a petição inicial, fixe desde logo
os alimentos provisórios, na forma do art. 4º da Lei de Alimentos,
a citação do réu (art. 282, VII, do CPC), condenação em alimentos
definitivos e a intimação do Ministério Público como custus legis sob
pena de nulidade do feito, visto ser obrigatória a sua intimação nos
termos do art. 75 e seguintes do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03)
c/c arts. 84 e 246 do CPC. Por fim, requerer a condenação nas custas
e honorários de sucumbência e a produção de provas (art. 282, VI,
do CPC) e indicar o valor da causa (art. 282, V, do CPC).

Comentários aãicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que os requisitos gerais para a elaboração de peti-
ções iniciais hoje estão descritos nos artigos 319 e 320, NCPC.
A competência do fo.ro do domicílio do alimentando, na
ação de alimentos, hoje é tratada pelo artigo 53, li, do CPC
de 2015 e não mais pelo ~rtigo 100, I!, conforme dispunha o
CPCde1973.

EXAME 2010.3 - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Manuel foi casado com Maria pelo regime da comunhão uni-


versal de bens por 50 (cinquenta) anos. Acabaram construindo um
patrimônio comum de R$ 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil
reais). Da relação conjugal nasceram três filhos Gosé, Joaquim e Julieta),
que, ao atingirem a maioridade civil, passaram a trabalhar com os
pais na rede de padarias da família. Ocorre que Manuel faleceu, e foi
necessária a abertura do processo de inventário-partilha para que

ANDRÉ MOTA, CRISTJA-.:0 SOBRAL, LUCJ/I.NO flGUE!Rf.DO, ROBERTO FiGUEIREDO, $".BRlNA DOURADO 969
EXAME 2010.3- PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL
Provas Anteriores

os bens deixados pelo de cujus fossem inventariados e partilhados


entre seus sucessores. José, Joaquim e Julieta, filhos maiores, capazes
e solteiros do casal. objetivando resguardar o futuro da família e a
velhice de sua mãe, procuraram o Dr. João, advogado conhecido e
amigo de muitos anos de seu falecido pai, para receberem orienta-
ções acerca da sucessão e ajuizar o inventário. Contudo, o Dr. João
sabia de um segredo e, em respeito à amizade que existia entre ele
e Manuel, nunca o havia revelado para que a família se mantivesse
unida e admirando o de cujus por ter sempre a ela dedicado sua vida.
O segredo era que Manuel possuía um filho (Pedro) fora do casamento.
Ele havia acabado de completar 13 (treze) anos e morava com a mãe.
Manuel não o havia registrado. apesar de reconhecer a paternidade
da criança para a mãe de Pedro e várias outras pessoas. Havia pro-
vas em documentos particulares, em pronunciamentos nas festas de
aniversário de Pedro, além do fato de contribuir para o seu sustento,
llpesar de omitir a sua existência para a sua família legítima. José,
Joaquim e Julieta disseram ao Dr. João que, para que sua mãe tivesse
uma velhice tranquila e ficasse certa do amor, respeito e admiração
que sentiam por ela e seu falecido pai, bem como da enorme união
entre os seus filhos, optavam por renunciar à parte que cabia a cada
um na herança, em favor de sua mãe. Assim, a mãe continuaria com
todas as padarias, já que somente as receberiam e partilhariam entre
eles após o falecimento dela. O Dr. João, considerando que todas as
partes envolvidas na sucessão de Manuel eram maiores e capazes,
ajuizou um procedimento sucessório adotando o rito do Arrolamento
Sumário e elaborou termos de renúncia ""em favor do monte"" de José,
Joaquim e Julieta, que foram reconhecidos como válidos judicialmente.
Questionado pelos três sobre o porquê de não constar no documento,
expressamente, que as partes deles estavam sendo doadas para a sua
mãe, foi esclarecido que não havia necessidade, já que, como os seus
avós não eram mais vivos, Maria acabaria por receber, além de sua
meação, as cotas dos renunciantes, na qualidade de herdeira, diante
da ordem de vocação hereditária da sucessão legítima prevista no
artigo 1.829 do Código Civil, além de evitar o pagamento do imposto
de doação, que incidiria no caso de renúncia translativa. Tal orienta-
ção foi dada acreditando que a mãe de Pedro manteria em segredo

970 ED!TORA ARMADOR 1 PRÁTJCA CIVIL 1 3~ edição


EXAME 2010.3- PEÇA PRÃTICO-PROFlSSIONAL

Provas Anteriores

a paternidade de seu filho, o que não ocorreu. Em virtude disso,


Pedro acabou por receber toda a herança avaliada no montante de R$
1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais), ficando Maria apenas
com a sua meação de igual valor. José, Joaquim e Julieta nada m\:ebe-
ram, o que os abalou profundamente no âmbito emocional.
Considerando todos os f&tos narrados· acima, a ocorrência de
danos sofridos por José, Joaquim e Julieta em decorrência de orienta-
ção equivocada de seu então advogado (Dr. João) e o reconhecimento
judicial dos direitos de Pedro no procedimento sucessório de Manuel,
você, na condição de novo advogado contratado pelos filhos legítimos
de Manuel para serem ressarcidos por todos os danos sofridos, elabore
a peça adequada para pleitear os direitos deles.

Gabarito comentado

A peça cabível será uma petição inicial direcionada para o


Juízo Cível. Trata-se de uma ação indenizatória proposta por José,
Joaquim e Julieta em face do Dr. João, com base na responsabili-
dade civil dos profissionais liberais, pleiteando danos materiais
(cota-.parte de cada um na herança de seu pai) e danos morais
(decorrentes da dor, do sofrimento, da angústia e da humilhação
causadas pela orientação e atuação falhas do Dr. João, ao efetuar
uma renúncia abdicativa, e não translativa, mesmo sabendo da
existência de um outro herdeiro (Pedro - filho havido fora do
casamento).

FUNDAMENTO DA RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA


Responsabilidade civil subjetiva do advogado: artigo 32 da Lei
8.906/94 (Estatuto da Advocacia) c/c 927, caput, do CC.

ARGUMENTOS A SEREM ABORDADOS PARA CONFiRMAR


A ATUAÇÃO FALHA DO ADVOGADO
1) São duas as espécies de renúncia, quais sejam: a renúncia
abdicativa e a renúncia translativa.
A renúncia abdicativa é aquela em que o renunciante não indica
uma pessoa certa para receber a herança, havendo, portanto, uma

ANimt MnrA, CRISTIANO SOS"RAL, LVCJANO FlG\JF.IREllO, ROBFRTO FlGUI'IREllO, S--\HrOk~ Dm•!l:.\00 971
Provas Anteriores \

renúncia "em favor do monte'~- sendo as cotas-partes dos renuncian-


tes recebidas pelos demais herdeiros da mesma classe e, em caso de
inexistência de outros herdeiros da mesma classe~ devolver-se-á aos
da subsequente (artigos 1804, parágrafo único, c/c 1810, ambos do
CC). Esta foi a renúncia materializada pelo Dr. João no caso acima.
Já a renúnci!:t translativa é uma renúncia "em favor de uma
pessoa determinada'; independentemente da ordem de vocação
hereditária. Trata-se de ato complexo e que corresponde a uma
aceitação tácita da herança (artigo 1805, 2' parte, do CC) seguida de
uma doação (artigo 538, do CC) para a pessoa determinada, já que
o herdeiro não poderia doar algo que não recebeu para alguém.
2) O Dr. João não procedeu de forma correta, pois efetuou, ao
elaborar um termo de renúncia em favor do monte, uma renúncia'
abdicativa (en1 favor do monte) au invés Je u.t:la renúncia t!ans-
lativa (aceitação tácita seguida de doação para Maria), já que até
conseguiu evitar a configuração do imposto de doação, mas acabou
prejudicando os filhos renunciantes de Manuel, pois, não havendo
mais qualquer distinção entre os filhos havidos no casamento e
os filhos havidos fora do casamento, Pedro poderá se habilitar no
procedimento sucessório de seu pai, acabando por receber toda a
herança de seu pai, ante a renúncia abdícativa de seus irmãos, que
são irrevogáveis (artigo 1812 do cq, não havendo falar em trans-
ferência para as classes subsequentes diante da existência de filho
não renunciante (artigo 1810 do CC), ficando Maria apenas com
a sua meação diante do regime da comunhão universal de bens.
3) DANOS MORAIS E MATERIAIS ORIUNDOS DO MESMO
FATO: FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DO ADVOGADO:
Danos materiais no valor de R$ 300.000,00 que cada um deixou de
receber da herança de seu pai, pois havendo 4 filhos e a herança
sendo avaliada em R$1.200.000,00, cada um faria jus a R$ 300.000,00;
danos morais causados pela dor, sofrimento, angústia e humilhação
decorrentes da atuação falha do advogado.

972 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA CiviL 1 3a edição


EXAME 2010.2 - PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

Em janeiro de 2005, Antônio da Silva Júnior, 7 anos, voltava da


escola para casa, caminhando por uma estrada de terra da região rural
onde morava, quando foi atingindo pelo coice de um cavalo que estava
em um terreno à margem da estrada. O golpe causa sérios danos à
saúde do menino, cujo tratamento se revela longo e custoso. Em ação
de reparação por danos patrimoniais e morais, movidã em janeiro de
2009 contra o proprietário do cavalo, o juiz profere sen,tença julgando
improcedente a demanda, ao argumento de que Walter Costa, pro-
prietário do animal, "empregou o cuidado devido, pois mantinha o cavalo
amarrado a uma árvore no terreno, evidenciando-se a ausência de culpa,
especialmente em uma zo11a rural onde é comum a existência de cavalos".
Alérn disso, o juiz argurr.cnta q'.le já teria ocorrido a prescrição triena 1
da ação de reparação, quer no que tange aos danos morais, quer no
que tange aos danos patrimoniais, já que a lesão ocorreu em 2005 e a
ação somente foi proposta em 2009.
Corno advogado contratado pela mãe da vítima, Isabel da Silva,
elabore a peça processual cabíveL

Gabarito comentado

Além do& aspectos fundamentais do recurso de apelação (requi-


sitos objetivos e subjetivos, bem como observância das formalida-
des do Art. 514 do CPC), o candidato deve prever, corretamente, a
representação do incapaz na petição de interposição e nas razões
do recurso. Deve dirigir o recurso ao juízo competente., mencionar
o nome das partes e descrever os fatos. Não qeve atribuir valor a
causa ou protestar pela produção de provas, eis que não se trata
de uma petição inicial. Não deve requerer a citação, pelos mesmos
motivos, mas a intimação para, querendo, apresentar as contrar-
razões. Também não é cabível a menção à revelia do apelado, caso
não responda ao recurso. Igualmente, devem ser explorados os
pontos de direito substancial. Assim, deve esclarecer que a res-
ponsabilidade por fato do animal é objetiva no CC de 2002, que

ANORf Mon., Cru~,TP.o;o SoBRAL., LL:C!.\~0 FIGCE:lREDO, ROBE!nO FlGUEJREIJO, 5ABR!NA DOURADO 973
EXAME 2010.2 ~PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL
l
Provas Anteriores

eliminou a excludente relativa ao emprego do "cuidado devido"


I
pelo proprietário ou detentor (Art. 936), de modo que a ausência
de culpa é irrelevante para a caracterização da responsabilidade
d,o réu no caso concreto. Quanto à prescrição, o candidato deve
e~clarecer que não corre contra os absolutamente incapazes (Art.
198, I) do CC Tais circunstâncias devem ser explicadas na peça
recursal, observados os fatos descritos no enunciado e indicados
os dispositivos legais pertinentes. Não basta repetir as mesmas
palavras do enunciado ou apenas indicar o dispositivo legal sem
qualquer fundamento ou justificação para sua aplicação. A ideia é
que o candidato demonstre capacidade de argumentação, conhe-
cimento do direito pátrio e concatenação de ideias. Deve formular
adequadamente os pedidos, solicitando o conhecimento e provi-
mento, mencionando danos materiais e morais, justificadamente,
pedindo a inversão do ônus da sucumbência, fixação de honorários,
intimação do Ministério Público.

Comentários adicionais

As considerações contidas no espelho da prova foram feitas


à luz do CPC de 1973, o qual já fora revogado. Assim, cabe
ressaltar que o recurso de Apelação hoje é contemplado pelos
artigos 1.009 a 1.014 do CPC de 2015 e não mais pelos artigos
513 a 521, conforme dispunha o CPC/73.

74 EDITORA ARMADOR I PRÁTICA Ctvu. I 3" edição


REFERÊNCIAS

BUENO, Cassio scarpinella. Curso sistemático de direito processual


civil, 5: recursos, processos e incidentes nos tribunais, sucedâ-
neos recursais: técnicas de controle das decisões judiciais. São
Paulo: Saraiva, 2010.

DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. São


Paulu: Atlas, 2011.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esque-


matizado. São Paulo: Saraiva, 2011.

MARINONI, Luiz Guilherme. CPC comentado artigo por artigo. 2ª


ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

ANnRr MoT•, CRISTIANo SoBRAL, Ll•clliNO fiGtoEIREno, Rom!RTO FIGUEIRH)O, SAI!RINll DouMDO 975

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