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Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

HERBERT BALDUS: VIDA E OBRA


INTRODUÇÃO AO INDIGENISMO
DE UM AMERICANISTA TEUTO-BRASILEIRO*

Orlando Sampaio-Silva**

SAMPAIO-SILVA, O. Herbert Baldus: vida e obra — Introdução ao indigenismo de


um americanista teuto-brasileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia.
S. Paulo, 2:91-114, 1992.

RESUMO: Herbert Baldus foi um antropólogo teuto-brasileiro que


exerceu importante papel na constituição da pesquisa e dos conheci­
mentos antropológicos no Brasil. Seu trabalho científico se desenvolveu
intimamente ligado ao curso de sua própria vida, que transcorreu, em
sua maior parte, neste país, dedicada ao ensino, à pesquisa, à divulgação
científica e à tentativa de instituir uma política indigenista comprome­
tida com a preservação das etnias indígenas. A contribuição de seu
pensamento teórico, tendo iniciado com explanações sobre as culturas
materiais e não materiais, passou por abordagens funcionalistas e estru-
turalistas, lançando as bases dos estudos das sociedades indígenas em
situação de contato e de mudança cultural.

UNITERMOS: Vida — Obra — Indigenismo — Preservacionismo


— Situação de contato — Mudança cultural.

A pesquisa científica e a produção de dores vieram a ocupar posições fundamen­


obras antropológicas, tendo por objeto de es­ tais, exercendo decisiva influência, através
tudo as sociedades indígenas existentes no de suas pesquisas e de suas obras, na orien­
território brasileiro, estão inseparavelmente tação que viriam a tomar, no Brasil, as in­
ligadas aos trabalhos desenvolvidos por pen­ vestigações no campo da Antropologia indí­
sadores e cientistas alemães. O exemplo da gena, e, de alguma forma, na formação dos
acuidade científica na observação e na inter­ primeiros antropólogos brasileiros que se de­
pretação dessas sociedades propiciado por dicaram àqueles estudos, bem como no deli­
Karl von Martius, viria a reproduzir-se, em neamento dos aspectos positivos (entre tantos
contextos sociais e históricos posteriores, nas negativos contra os quais se insurgiram) do
atividades científicas de Karl von den Stei- indigenismo oficial.
nen, Kurt Nimuendajú e de Herbert Baldus, Herbert Baldus nasceu a 14 de março de
além de outros. Estes dois últimos pesquisa­ 1899, em Wiesbaden, Alemanha. Era filho de
Martin (matemático) e Carolina (de uma fa­
mília de armadores) Baldus. A obra de Baldus
(*) Trabalho originalmente apresentado no Simpósio está intimamente ligada a sua vida. Quando a
“Pesquisa antropológica de urgência e direitos dos povos Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918)
indígenas face aos Estados", 47® Congresso Internacional se aproximava de seu término, Baldus, aos 18
de Americanistas, 7-11/7/1991, New Orleans, USA. anos de idade, veio a integrar o Corpo Real
(**) Universidade Federal do Pará. de Cadetes de seu país, em Potsdam, como

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aviador, tendo, como tal, participado daquela tribais do Paraguai (Xamakoko, Kaskihá e Sa­
hecatombe. Este episódio, em sua vida de jo­ napaná) com os quais já havia estado duas
vem, propiciou-lhe a produção de poemas vezes, anos antes.
centrados na temática da guerra. Dando asas ao seu espírito literário, Bal­
Em 1921, viajou para a Argentina, vin­ dus, estudante em Berlim, produziu alguns tex­
do, assim, aventurar-se, sem objetivos espe­ tos, entre os quais se destacou uma novela bio­
cíficos claramente definidos, na América do gráfica baseada na vida da mulher do caudilho
Sul. Mudou-se, em 1923, para São Paulo, no paraguaio Solano Lopes — “Madame Lynch”
Brasil, e, neste mesmo ano, visitou os índios —, publicada em 1931.
Xamakoko, Kaskihá e Sanapaná, do Chaco, Inconformado e se sentindo ideologica­
Paraguai, como participante, então, de uma mente incompatibilizado com a ascensão do
expedição cinematográfica. Esta viagem des­ Nacional Socialismo (Partido Nazista) ao po­
pertou, definitivamente, em Baldus, o inte­ der, na Alemanha, Baldus, um autêntico de-
resse pelas regiões distantes da civilização e mocrata-liberal-progressista — como de­
pelos estudos antropológicos tendo por obje­ monstraria ao longo de toda sua existência
to os povos indígenas, dando, assim, os pri­ —, deixou seu país, em 1933, transferindo-se
meiros passos em sua carreira profissional definitivamente para o Brasil, onde morou
como etnólogo. A esta profissão ele se dedi­ pelo resto de sua vida. Hans Becher (1972:
cou, com ânimo incomum, até sua morte 1308), a propósito deste fato, informa que
ocorrida em São Paulo, a 24 de outubro de “The Nazis bumt his books and deprived hin
1970. of his German citizenship”. Os nazistas não
O contato com aqueles primeiros povos perdoariam, assim, esse humanista amante da
indígenas que observava propiciou-lhe mate­ liberdade.
rial etnográfico para a publicação de seu pri­ No mesmo ano em que retomou ao Bra­
meiro artigo sobre a temática indígena, inti­ sil, Baldus, subvencionado pela Notgemeins-
tulado “Os índios Chamacoco” (1927). Só no chaft der Deutschen Wissenschaft (Sociedade
ano de 1927, Baldus voltaria a estar com ín­ Assistencial de Ciência Alemã), de Berlim,
dios, ao visitar os Guarani, no litoral paulista, empreendeu uma expedição ao sul do país,
para, logo no ano seguinte, retomar ao Cha­ visitando os Kaingang, de Palmas, no Para­
co, onde realizou nova abordagem junto aos ná, no leste do Paraguai. Com estes índios,
Xamakoko, os Kaskihá e os Sanapaná. esteve, nesta oportunidade, à procura de um
Estas últimas visitas de observação per­ grupo local Guayakí, então, ainda isolado.
mitiram a Baldus publicar seu primeiro artigo Nesta mesma expedição, esteve, por curto es­
sobre índios Guarani (“Ligeiras notas sobre os paço de tempo, com os índios Xiripá. Com
índios Guaranys do litoral paulista”, 1929), e, bases nas observações realizadas ao longo
diversos trabalhos sobre aqueles grupos indí­ dessa expedição científica, Baldus veio pu­
genas do Chaco. blicar diversos artigos sobre os grupos visi­
Incentivado pelo êxito de suas primeiras tados no Brasil e principalmente no Paraguai.
expedições ao campo, Baldus, ainda em 1928, Destacam-se entre esses artigos o “Sprach-
retomou à Alemanha, para formalizar seus es­ proben des Kaingang von Palmas” (1933), o
tudos de Etnologia, na Friedrich-Wilhelm- “Sinopse de cultura guayakí” e o “The
Universität, de Berlim. Neste centro de estu­ Guayaki”, sendo este último em colaboração
dos superiores, seu mestre de Etnologia foi com Alfred Métraux, trabalhos que exibiram
Richard Thumwald, tendo aí também realiza­ um pesquisador sobretudo arguto na observa­
do estudos americanistas com Konrad Theo­ ção de campo e nos registros dos padrões so­
dor Preuss e Walter Lehmann, e estudado Fi­ ciais e culturais dos povos indígenas visita­
losofia com Heinrich Meier, Desoír, Lieber e dos, aspectos estes que viriam a caracterizar
Spranger, vindo a conquistar o título de Dou­ toda sua obra antropológica.
tor em Filosofia. Os interesses científicos de Baldus eram
Quando estudante, em 1931, publicou, amplos, o que o levou a imiscuir-se nos es­
em Leipzig, seu primeiro livro etnográfico, in­ tudos de diferentes campos da Antropologia.
titulado IndianerStudien im nordöstlichen Este traço destacado de sua obra já ficou
Chaco, tendo por objeto aqueles três grupos bem claro, quando, em 1934, dirigiu-se ao

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Estado de Mato Grosso, tendo, nesta expedi­ cf. foi referido anteriormente em citação de
ção, estado, pela primeira vez, em contato Wagley. As permanências com estes índios
com os índios Terena e com os Bororo, de propiciaram ao pesquisador o registro de um
Meruri e do Sangradouro; nesta oportunida­ volume tão abundante de informações, que
de, também esteve observando as pinturas pôde produzir sua obra mais alentada em Et­
rupestres existentes em Sanf Ana da Chapa­ nologia e da maior importância em sua biblio­
da, demonstrando, então, interesse na área da grafia, tal seja o Tapirapé — Tribo tupi no
Arqueologia. E, como aconteceu, em geral, Brasil Central (1970), ou, cf. Hans Becher
na vida do pesquisador, suas observações de (1972), “His later monogaph on the Tapirapé
campo foram logo aproveitadas para a elabo­ became his most significant book”.
ração de artigos, que foram levados a lume, Suas visitas aos Karajá levaram-no a in-
como é o caso, por exemplo, do artigo que teressar-se por um dos aspectos mais simbó­
foi publicado no Ethnologischer Anzeiger, licos e esteticamente insólitos da cultura ma­
IV, Stuttgart, sob o título “Die Erbfolge der terial desse povo, as bonecas calipígias de ce­
Häuptlinge bei den Tereno“, “As pinturas ru­ râmica, tendo publicado, logo em 1936, o ar­
pestres de Sant’Ana da Chapada (Mato Gros­ tigo “Licocós, as bonecas dos Carajás”.
so)” (1937). Em 1937, reunindo em um volume di­
Baldus voltou, em 1935, a Mato Grosso, versos trabalhos, Baldus publicou uma de
subvencionado pelo dr. Samuel Ribeiro, por suas obras mais importantes, os Ensaios de
intermédio do Instituto Histórico e Geográfico Etnologia Brasileira, contendo oito ensaios,
de São Paulo, para prosseguir os estudos sobre com os seguintes títulos: “Etnologia Brasilei­
os Bororo, desta vez, os Tóri-páru, vindo, en­ ra” (pp. 17-28). “O culto aos mortos entre os
tão, também, a iniciar suas observações etno­ Kaingang de Palmas” (pp. 29-69), “A suces­
lógicas entre os índios Karajá, da Ilha do Ba­ são hereditária do chefe entre os Tereno” (pp.
nanal, no rio Araguaia, e entre os Tapirapé. 70-85), “Os grupos de comer e os grupos de
Para atingir este grupo, Baldus partiu da Ilha trabalho dos Tapirapé” (pp. 86-111), “A po­
de Bananal e seguiu de canoa pelo rio Tapi­ sição social da mulher entre os Bororo
rapé até a aldeia Tampiitaua, daqueles índios. Orientais” (pp. 112-162), “O professor Tiago
Wagley (1980) informa que “Sua (de Baldus) Marques e o caçador Aipoburéu” (pp. 163-
experiencia real de campo entre os Tapirapé 186), “Mitologia Karajá e Tereno” (pp. 187-
estava limitada a cerca de seis semanas em 275) e “A mudança de cultura entre índios
1935 e ainda mais um curto período em no Brasil” (pp. 276-321). Este livro extrema­
1947”.1 mente rico, tanto do aspecto teórico, quanto
Estava definitivamente estabelecida uma da apresentação e descrição de dados empí­
das principais características do trabalho cien­ ricos, Baldus dedicou “Ao grande conhece­
tífico de Baldus, ou seja, seu interesse pelos dor dos índios no Brasil Curt Nimuendajú”.
estudos de um grande número de grupos in­ Já com uma significativa experiência
dígenas, ao invés de tomar-se um especialista, acumulada de pesquisas etnológicas, Baldus,
exclusivista, em um único grupo, orientação em 1939, assumiu a cadeira de Etnologia
dominante essa que lhe valeu tomar-se um dos Brasileira, na Escola de Sociologia e Política
mais expressivos conhecedores dos grupos in­ de São Paulo, a convite de Antônio Rubbo
dígenas do Brasil, com base na sua própria Müller (cf. este professor), tendo lecionado
experiência de pesquisa de campo. Assim, no período mais brilhante da vida deste esta­
ampliando a divulgação de seus estudos sobre belecimento pioneiro no ensino e na pesquisa
a pluralidade de sociedades indígenas, publi­ em Ciências Sociais, no Brasil. Através do
cou, em 1937, um interessantíssimo ensaio so­ periódico Sociologia, da Fundação Escola de
bre “A posição social da mulher entre os Bo- Sociologia e Política de São Paulo —
rôros Orientais” (Baldus, 1937). FESPSP — (no qual era o diretor da “secção
Baldus voltou aos Tapirapé em 1947 — etnológica”), Baldus divulgou muitos de seus
estudos, dentre os quais queremos registrar
os diversos artigos com “sugestões para pes­
(1) Texto prôduzido para a comemoração do décimo ani­ quisas etnográficas”. Na FESPSP, Baldus di­
versário do falecimento de Baldus. rigiu o Seminário sobre os índios no Brasil,

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e esteve vinculado a esta instituição — em­ sa arqueológica, ao proceder escavações em


bora não lecionando aí de forma contínua —, sítios no Estado do Paraná. Fez explanações
até sua morte (cf. A. Rubbo Müller, em de­ descritivas e análises interpretativas da parte
poimento pessoal). Nos cursos e seminários gráfica e decorativa em cacos de cerâmica,
que dirigiu na Sociologia e Política, foram, então, encontrados, na bacia do rio Paranapa-
de uma forma ou de outra, seus discípulos nema, estudo que apresentou em “Tonscher-
algumas pessoas que vieram a ocupar lugares benfunde in Nordparaná” (1951/52).
da maior importância nas ciências sociais, no Dois anos depois, dando prosseguimento
Brasil (alguns com renome internacional), a suas pesquisas etnológicas de campo, visitou
entre estes: Oracy Nogueira (mestre em os índios Kaingang do Ivaí, no Paraná, quando
1945), Gioconda Mussolini (idem), Virgínia fez registros sobre a mitologia desse povo —
Leone Bicudo (idem), Lucila Hermann (mes­ vindo a publicar logo a seguir o artigo “Os
tre em 1946), Florestan Fernandes (mestre Kaingang do Ivaí” (1947) — e procedeu a
em 1947), Fernando Altenfelder Silva (mes­ discutíveis aplicações de testes psicológicos
tre em 1949), Levy Cruz (mestre em 1951), projetivos entre aqueles índios. Este trabalho
Sérgio Buarque de Holanda (mestre em foi procedido com o apoio e a orientação da
1958), Darcy Ribeiro, Juárez Barandão Lo­ psicóloga Aniela Ginsberg, que realizou a in­
pes, Cândido Procópio Ferreira de Camargo, terpretação psicológica dos testes aplicados
Alfonso Trujillo Ferrari, Egon Schaden, João por Baldus em um grupo sexualmente misto
Baptista Borges Pereira, David Maybury-Le- de 32 Kaingang. A parte de campo foi reali­
wis, Roberto Cardoso de Oliveira.2 zada exclusivamente por Baldus. O resultado
Ampliando seu campo de interesses nos destes estudos foi divulgado através do artigo:
estudos sócio-antropológicos, Baldus, em “Aplicação do psicodiagnóstico de Rorschach
companhia de Emilia Willems e de alunos da a índios Kaingang” (1947). Cícero Christiano
Escola de Sociologia e Política, dirigiu-se ao de Souza (1953) narra, em cores vivas, a his­
vale do Ribeira de Iguape, no Estado de São tória desses testes: “O material cuja análise
Paulo, para estudar as manifestações sócio- vai ser apresentada neste trabalho tem uma
culturais, em especial a mudança cultural, no história complicada. Foi colhido pelo Prof.
grupo de imigrantes japoneses estabelecido Herbert Baldus, em maio-junho de 1946, du­
nesta área. Como conseqüência dessa expedi­ rante uma viagem ao Ivaí, subvencionada pela
ção, Baldus veio a publicar, em colaboração Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
com Willems, o artigo “Casas e túmulos de Foram os protocolos entregues à Dra. Aniela
japoneses no vale da Ribeira de Iguape” Ginsberg, que fez sua análise. A Revista do
(1941). No mesmo ano da publicação desse Museu Paulista publicou, em 1947, um artigo
trabalho, Baldus naturalizou-se brasileiro, de autoria, parte de Baldus e parte de Gins­
adotando, dessa forma, definitivamente, o berg, no qual são relatadas pelo primeiro as
Brasil como sua segunda pátria. peripécias da obtenção do material, e pela úl­
Empolgado com a questão da pré-história tima, a análise do mesmo.
americana, Baldus, em 1944, retoma à pesqui­ “O Prof. Baldus, todavia, não ficou intei­
ramente satisfeito com a interpretação de
Ginsberg, parecendo-lhe que os resultados por
(2) Charles Wagley (1980) revela que “Herbert Baldus foi ela apresentados não correspondiam à realida­
de início meu professor (apesar de nunca ter estado for­ de psicológica que ele, antropólogo, tinha po­
malmente com ele)...". Por sua vez, o autor do presente dido observar direta e concretamente. Pediu-
ensaio, quando fez seus estudos de pós-graduação em me, então, que re-analisasse os protocolos,
antropologia, na Escola Pós-Graduada de Ciências So­ que me foram entregues no começo de 1948.
ciais, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São
Como nessa ocasião, devia eu ir para os Es­
Paulo, não teve o privilégio de contar com Baldus entre
seus professores, porque ele se encontrava inativo naque­
tados Unidos trabalhar num hospital de que
la Escola à época (1964-65); porém, teve a satisfação de Douglas Kelly era diretor, resolvi levá-los co­
conhecê-lo pessoalmente, de privar de sua palestra inte­ migo para que esse mestre do Rorschach to­
ligente, em visita ao seu gabinete de trabalho, no alto do masse parte em sua análise. ... Sendo eles es­
Museu Paulista (USP), e de participar com o mesmo de critos em português, servia eu de intérprete
eventos científicos. obrigatório. Kelly convidou também Joseph

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Grassi, professor de Psicologia Clínica, para publicado, em 1947, o volume I da Nova Série
colaborar conosco. ... A apuração ia ainda a deste que é um dos mais importantes periódi­
meio caminho quando Kelley mudou-se de cos no campo da Antropologia editados no
Winston-Salem, onde estávamos, para Berke- Brasil. Através dessa Revista, alguns dos mais
ley, onde foi ser diretor da Escola de Crimi- importantes trabalhos científicos de Baldus
nologia da Universidade da Califórnia. Grassi, vieram a lume, conforme pode ser constatado
que nunca estivera muito interessado no tra­ na bibliografia desse autor que compõe este
balho, também o abandonou nessa ocasião. artigo. Baldus permaneceu naquela função
Tínhamos, então, apurado exatamente a me­ pelo resto de sua vida.
tade dos protocolos, ou seja, 16 dentre os 32... Em 1947, Baldus desenvolveu intensas
“Continuei sozinho a fazer a análise e, atividades de pesquisa. Na primeira metade
algum tempo depois de voltar ao Brasil, dis­ do ano, esteve com outro grupo Kaingang, o
cuti com o Prof. Baldus os resultados a que de Icatu, em São Paulo, e com outro grupo
chegara (com ou sem a colaboração de Kelley Terena, o de Araribá, também neste Estado;
e de Grassi). Pareceu-lhe que esses resultados nos meses de junho, julho e agosto, convidado
estavam mais de acordo com suas próprias pelo Serviço de Proteção aos índios, visitou
observações, pensando ele que deveriam ser aldeias dos índios Karajá, da ilha do Bananal
publicados. ”Eu próprio não tinha o mesmo — Goiás — e de Mato Grosso, bem como
entusiasmo de Baldus, por várias razões. A esteve, em curta estada (cf. foi referido ante­
mais importante é que, devido às enormes di­ riormente), novamente com os Tapirapé, do
ficuldades da administração, foi esta muito de­ rio Tapirapé, Mato Grosso. Nessas visitas,
feituosa. Toma-se, por isso, extremamente di­ Baldus representava o Museu Paulista e a Es­
fícil analisar de maneira bem precisa um gran­ cola de Sociologia e Política, e estava acom­
de número de respostas, o que dá à interpre­ panhado do médico Haroldo Cândido de Oli­
tação final uma margem de erro bastante apre­ veira. O relatório que Baldus produziu para o
ciável. Fiquei, pois, em dúvida quanto à van­ S.P.I., em decorrência desta última viagem,
tagem de publicar um material dessa natureza, apareceu publicado na Revista do Museu Pau­
sobretudo depois de já ter sido uma vez ana­ lista, N.S., Vol. II, 1948. Contém críticas se­
lisado. Baldus, contudo, insistiu sempre em veras ao Serviço de Proteção aos índios, ofe­
sua publicação, convencendo-me, enfim, a rece sugestões extremamente sérias ao indige­
fazê-la" (Souza, 1953). Ao procedermos essa nismo brasileiro, e contém preciosas informa­
longa citação, o fazemos por sua propriedade ções etnológicas sobre os vários grupos locais
como testemunho histórico de um episódio in- Karajá e Tapirapé que visitou. Refere-se à
comum na vida de Baldus, mas, também, “natureza morta” da aculturação, quando fala
como um exemplo dos caminhos incertos pe­ do uso pelos Karajá de panela de ferro — que
los quais um trabalho científico não deve tri­ substitui à de barro — e, sapato de couro,
lhar. O próprio Baldus, como era de se espe­ objetos originários da influência dos brancos.
rar, viria, mais tarde, a penitenciar-se, quando, Faz críticas à implantação da escola de nossa
em seu conspícuo estudo sobre o xamanismo sociedade nas sociedades indígenas e lembra
(1965/66), assim se pronunciou: “Mesmo as o caso do índio Bororo professor Tiago Aipo-
técnicas projetivas como os psicodiagnósticos buréu em processo de alienante decadência;3
de Rorschach e Mira Y Lopez, aplicados por critica também a ação dos catequistas religio­
mim, em 1946, a índios Kaingang, impõem, sos, por sua influência negativa nas socieda­
usadas fora da nossa cultura, tantas restrições des visitadas. Fala da inconveniência do uso
que não me parecem recomendáveis” (Baldus, pelos índios de vestuário levado pelos bran-
1965/66).
Baldus foi convidado, pelo Govemo de (3) O caso desse índio Borôro foi exposto por Baldus no
São Paulo, para organizar as coleções do Mu­ ensaio “O professor Tiago Marques e o caçador Aipobu-
seu Paulista, em 1946, e alguns meses depois réu” (in Ensaios de Etnologia Brasileira, 1937). O mes­
desse convite, aquele mesmo govemo conflou- mo tema foi retomado por Florestan Fernandes, quando,
lhe a direção da Seção de Antropologia do em 1945, escreveu o trabalho “Tiago Marques Aipoburéu:
mesmo Museu. A partir de então, Baldus edi­ Um Borôro marginal”, para o Seminário sobre os índios
tou a Revista do Museu Paulista, tendo sido no Brasil, dirigido por H. Baldus.

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eos, por sua inadequação aos trópicos. Analisa Brasil, que merece, até certo ponto, o nome de
a política de “administração direta” aplicada étno-sociólogo”, por sua monografia sobre os
pelo S.P.I. (“pacificando as hostis e acabo- Borôro Orientais; sobre o autor prefaciado,
clando as outras”) e pela tradição portuguesa Baldus diz que “foi a alma daquele Seminário
e francesa, inclusive na África (“procurar (refere-se ao Seminário de Etnologia Brasilei­
substituir a cultura indígena pelas nossas ins­ ra, da Escola de Sociologia e Política de S.
tituições, conceitos e língua”), enquanto a Paulo), mostrando-se capaz de discutir com
“administração indireta” empregada nas colô­ rara penetração qualquer assunto apresentado
nias inglesas “conserva a cultura indígena o e revelando-se um dos mais esperançosos cien­
mais possível...”. Encontra os fundamentos tistas sociais brasileiros da nova geração”. Tra­
doutrinários da “administração direta” no po­ tando de tema semelhante, Baldus e Florestan
sitivismo comteano, do qual Rondon era se­ Fernandes viriam a polemizar, mais tarde, em
guidor, sendo essa orientação teórica herdeira decorrência da publicação pelo primeiro, no
do pensamento evolucionista (pp. 162/3). En­ Suplemento Literário ng 159, da edição de
tre muitas recomendações e críticas, condena: 28/09/59, de O Estado de São Paulo, sob o
a intervenção na economia tribal; construções título “A Etnologia Histórica no Brasil”, de
de casas para índios pelo S.P.I.; a presença de um comentário ao livro de Fernandes intitula­
ladrões de terras, mascates, turistas, caçadores do A Etnologia e a Sociologia no Brasil (1958).
brancos e de jornalistas e cinematografistas Neste artigo, Baldus parte de considerações a
em aldeias indígenas. Baldus recomenda a respeito do primeiro capítulo do livro — Ten­
realização de cursos, que preparem os funcio­ dências teóricas da moderna investigação et­
nários do Serviço de Proteção aos índios para nológica no Brasil — e provocou uma forte
lidarem com os povos indígenas (pp. 166/7/8). reação do autor, através do artigo “A ’Etnolo­
O ano de 1949 foi particularmente intenso. gia Histórica’ no Brasil” (notar para a repetição
Convidado pelo governo norte-americano, do título), publicado no Suplemento Literário
Baldus excursionou a diversas tribos de índios ns 166, daquele mesmo diário paulista, edição
dos Estados de Arizona e New México, nos de 23/01/60.
Estados Unidos, onde também visitou biblio­ Ainda em 1949, com base nas observações
tecas e museus. Foi eleito secretário do Comitê que realizou na área do Araguaia, em anos an­
Executivo do XXIX Congresso Internacional teriores, Baldus publicou, em Freiburg/Suíça,
de Americanistas, que se realizou em New o artigo “Akkulturation im Araguaya-”Ge-
York. Em São Paulo, neste mesmo ano, rece­ biet", no qual aborda as questões de acultura­
beu duas distinções: Medalha Tobias de ção dos índios Karajá e dos Tapirapé, confron­
Aguiar, que lhe foi conferida pelo Govemo do tando dados registrados na excursão de 1935
Estado, e a Medalha Goetheana, que lhe foi e os de 1947, constatando grandes alterações
agraciada pela Sociedade Goetheana daquele nas culturas daqueles povos.4
Estado. Ainda nesse ano, Baldus prefaciou a Em 1952, Baldus realizou, certamente,
obra de Florestan Fernandes: Organização So­ sua última pesquisa de campo entre grupos
cial dos Tupinambá, vindo aquele prefácio a indígenas do Brasil, ao visitar os índios Kain-
ser publicado, em outros veículos de comuni­ gang de Nonoaí e Guarita, bem como, os
cação, sob o título: “Etno-Sociologia brasilei­ Mbyá-Guaraní, também , de Guarita, no Es­
ra” (1949) (conforme bibliografia de H. Baldus tado do Rio Grande do Sul; no mesmo ano ele
levantada exaustivamente neste estudo). publicaria o “Breve notícia sobre os Mbyá-
Nesse ensaio, Baldus faz uma síntese das Guarani de Guarita”. Também neste ano, Bal-
contribuições de cronistas, missionários e via­
jantes para o conhecimento das populações tri­
(4) Baldus, altamente interessado na temática da acultu­
bais existentes no Brasil, desde Pero Vaz de
ração e mudança cultural, abordou este tema em muitos
Caminha até seus (de Baldus) contemporâ­ de seus trabalhos, como, v.g., em: “A mudança de cultura
neos; refere-se a von Martius como o “pai da entre índios no Brasil” (in Ensaios de Etnologia Brasilei­
Etnologia Brasileira”, por seu Beiträge zur ra, 1937) e “Was ist seit 1500 aus dem Indianer Brasiliens
Ethnographie und Sprachenkunde Amerikas geworden?” (1962), entre outros. Neste último trabalho,
zumal Brasiliens (1867), e, ao Pe. Colbacchini, estuda os comportamentos recíprocos entre índios e bran­
como “o primeiro pesquisador de índios do cos desde 1.500, e as questões de mudança cultural.

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dus participou da Comissão Examinadora, na nacionais de Americanistas organizados su­


defesa da tese de doutoramento de Florestan cessivamente em Copenhagen (XXXII —
Fernandes — A função social da guerra na 1956), São José da Costa Rica (XXXIII —
sociedade Tupinambá —, na II Cadeira de So­ 1958), Viena (XXXIV — 1960), México
ciologia, da Faculdade de Filosofia, Ciências (XXXV — 1962) e na Espanha (XXXVI —
e Letras, da Universidade de São Paulo, dis­ 1964). Do XXXVII Congresso, Baldus, doen­
sertação essa que foi dedicada pelo autor a te, não pôde participar, tendo sido, no entanto,
Baldus e Roger Bastide. Neste ano, particu­ eleito, na Alemanha, mais uma vez, seu Vice-
larmente movimentado, Baldus partiu para a Presidente, e o discurso que pronunciaria, en­
Europa, onde visitou instituições culturais e tão, foi lido por Schaden (em 1968).
científicas, bibliotecas, museus, em diversos Voltado para o intercâmbio científico e
países, a saber: Alemanha, Áustria, França, para a divulgação dos conhecimentos antro­
Dinamarca, Inglaterra, Suécia, Suíça, Espanha pológicos, Baldus, com muita liderança, par­
e Portugal. Nesta oportunidade, Baldus parti­ ticipou ativamente de muitos outros congres­
cipou do XXX Congresso Internacional de sos científicos, tais como: IV Congresso In­
Americanistas, em Cambridge, Inglaterra, ternacional de Ciências Antropológicas e Et­
onde representou o Governo brasileiro e foi nológicas, em Viena, no ano de 1952, no qual
eleito Vice-Presidente Honorário do conclave foi eleito membro do Conselho Permanente;
e secretário do seu Comitê Executivo. Neste Congresso de História, em São Paulo, 1954;
evento, Baldus apresentou um trabalho sobre III Congresso Mundial de Sociologia, repre­
“Supematural Relations with Animais among sentando a Sociedade Brasileira de Sociolo­
Indians of Eastem and Southern Brazil”. gia, Amsterdam, 1956; V Congresso Interna­
Em 1953, Baldus participou, em São Pau­ cional de Ciências Antropológicas e Etnoló­
lo, do II Congresso Latino-Americano de So­ gicas, do qual foi o Vice-Presidente, Phila­
ciologia. Neste mesmo ano, foi realizada a I delphia, 1956; II Congresso Nacional de His­
Reunião Brasileira de Antropologia, tendo tória, Lima, 1958; VI Congresso Internacional
Baldus sido eleito Presidente deste conclave de Ciências Antropológicas, Paris, 1960, e do
dos antropólogos brasileiros. Baldus partici­ Simpósio “O Japonês em São Paulo e no Bra­
pou das cinco Reuniões Brasileiras de Antro­ sil”, no qual presidiu uma das sessões, em São
pologia seguintes, realizadas, respectivamen­ Paulo, 1968, conclave no qual o autor desta
te, em Salvador (1955), Recife (1958), Curi­ Introdução foi o relator dos temas.
tiba (1959), Belo Horizonte (1961) e São Pau­ Editada pela Comissão do IV Centenário
lo (1963). Baldus foi eleito o Presidente da de São Paulo, saiu a lume o primeiro volume
Reunião de São Paulo e, na de Belo Horizonte, da importante Bibliografia Crítica da Etnolo­
já havia sido eleito Presidente da Associação gia Brasileira (1964), de autoria de Baldus,
Brasileira de Antropologia — ABA, para o que a apresentou ao Congresso Internacional
biênio 1961-1963. de Americanistas, então reunido em São Paulo
No ano do IV centenário de São Paulo — (cf. registro anterior). Este volume veio a ser
1954 —, Baldus organizou o XXXI Congres­ reeditado — 2- edição —, em Liechtenstein
so Internacional de Americanistas, nesta cida­ (1970). O segundo volume da Bibliografia
de, pois era o Presidente da Comissão Orga­ Crítica da Etnologia Brasileira, organizado
nizadora deste congresso, que o elegeu Secre- por Baldus, foi publicado em Hannover
tário-Geral do Comitê Executivo, conseqüen­ (1968). Após a morte de Baldus, foi editado
temente, membro do Conselho Permanente por Hans Becher, em Berlim, o volume III da
dos Congressos Internacionais de Americanis­ Bibliografia Crítica (1984), nesta oportunida­
tas, a partir de então. Ele participou, subse­ de, de autoria de Thekla Hartmann, que ob­
qüentemente, destes importantes conclaves in­ servou a mesma orientação metodológica ado­
ternacionais até o XXXVII, que se realizou na tada por Baldus nos volumes anteriores. Os
Argentina, no qual, com Egon Schaden, coor­ dois volumes editados por Baldus contêm
denou o Simpósio sobre Aspectos Etnográfi­ 2.834 trabalhos, nos diversos campos da An­
cos de Culturas Indígenas do Brasil. Baldus tropologia, apresentados e comentados sinte­
participou e foi eleito Vice-Presidente do Co­ ticamente, cobrindo toda a história da Etnolo­
mitê Executivo de diversos Congressos Inter­ gia Brasileira até 1967. O volume organizado

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sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

pela professora Thekla Hartmann — antropó­ e, durante anos, integrou o Conselho Científico
loga que sucedeu a Baldus na direção da Di­ da Associação Brasileira de Antropologia. Bal­
visão de Etnologia, do Museu Paulista —, dus foi identicamente distinguido, quando, em
dando seguimento à obra paciente, minuciosa 1958, a Prefeitura do Distrito Federal lhe con­
e exaustiva do mestre, contém a apresentação feriu a Medalha Sílvio Romero; em 1960, a
de 1.765 trabalhos antropológicos publicados Sociedade Geográfica Brasileira lhe conferiu
após os que figuram no segundo volume da a Medalha Marechal Cândido Mariano da Sil­
Bibliografia. Thekla Hartmann, na Introdução va Rondon, e, em 1964, foi agraciado pela Es­
a seu Volume, diz que “O maior legado de panha com a Comenda de Isabel, a católica.
Herbert Baldus às gerações mais moças de Em geral, nas oportunidades em que par­
pesquisadores foi, sem dúvida, a Bibliografia ticipou de eventos no exterior, Baldus esten­
Crítica da Etnologia Brasileira", e Hans Be- deu sua viagem a outros países, para visitar
cher, no Prefácio a esse mesmo Volume, re­ instituições científicas. Dessa forma, em 1952,
fere: “Espero que o três volumes da Biblio­ esteve em Portugal, Espanha, França, Alema­
grafia Crítica da Etnologia Brasileira sejam nha, Suíça, Dinamarca, Suécia e Inglaterra.
proveitosos para as gerações presentes e futu­ Quatro anos depois, voltou à Europa, para es­
ras de cientistas e estudantes que se dedicam tar novamente na Alemanha, Suíça e Dina­
à etnologia no Brasil. Devem eles recordar-se marca, bem como, na Itália e na Holanda, es­
sempre do excelente compêndio que lhes foi tendendo sua viagem ao continente america­
deixado por Herbert Baldus e Thekla Hart­ no, onde visitou os Estados Unidos, o Equador
mann, num trabalho imenso combinado com e o Peru. Em 1958, visitou outros países his­
conhecimentos profundos”. pano-americanos, tendo estado com grupos
Ainda em 1954, no artigo “Os Otí”, Bal­ indígenas e observado ruínas arqueológicas no
dus aborda a questão deste grupo indígena da Peru, Costa Rica, Honduras, Guatemala e Mé­
região do rio Paranapanema, já, então, extinto. xico. Voltou ainda uma vez à Europa, em
Apesar das diferenças sócio-culturais entre os 1960, ocasião em que revisitou alguns países,
grupos Xavantes de Mato Grosso e os Otí, tais como a Áustria, a Alemanha, a Itália e a
Baldus refere-se a estes como os “Xavantes França; nesse último país, nesta oportunidade,
de São Paulo” e atribui a extinção destes ín­ integrou um grupo internacional de estudio­
dios ao confronto entre culturas, decorrente sos, que visitou cavernas pré-históricas. Em
do encontro com os “brancos”, o que teria 1961, retomou ao México, onde visitou sítios
provocado um “choque cultural”. arqueológicos pré-colombianos. Suas viagens
A partir de 1955, Baldus foi membro cor­ de estudo ao exterior levaram-no a produzir
respondente da Sociedade Suíça de America­ alguns trabalhos específicos, que foram publi­
nistas. Aliás, foi reconhecido, por sua destaca­ cados, tais como: “Um indigenista do Brasil
da contribuição ao desenvolvimento dos no sudeste norte-americano” (1951) e “Primi­
estudos antropológicos sulamericanos, por tivos da Argentina” (1954) (V. bibl. de Bal­
muitas entidades científicas, culturais e profis­ dus, no corpo deste estudo).
sionais de diversos países, que o agraciaram Nota-se em Baldus interesse especial pe­
com comendas ou o inscreveram nos quadros los autores de língua alemã, particularmente
de seus filiados eméritos. Dessa maneira, Bal­ os alemães que contribuíram com ensaios em
dus era membro honorário do Real Instituto língua germânica, ao conhecimento dos índios
Antropológico da Grã Bretanha e Irlanda, da do Brasil, como se percebe claramente em seu
Sociedade Berlinense de Antropologia, Etno­ trabalho “Beiträge in deutscher Sprache zur
logia e Pré-história, da Sociedade Etnológica Indianerforschung in Brasilien (1954-1958)”
de Hannover e da Sociedade Antropológica de (1959). Porém, seu interesse e dedicação ao
Viena. Também foi membro correspondente da estudo das obras de autores estrangeiros, bem
Sociedade de Geografia de Lisboa. Era mem­ como a sua divulgação, evidentemente, trans­
bro emérito do Instituto Histórico e Geográfico cendia a esse grupo de escritores; em 1969,
de São Paulo, e, foreign fellow da Associação Baldus veio a publicar o ensaio “Schweizer
Antropológica Americanista. Foi membro do als Indianerforscher in Brasilien”, no qual
Conselho Permanente da União Internacional apresenta, cataloga e comenta um bom núme­
das Ciências Pré-Históricas e Proto-Históricas, ro de “americanistas” suíços.

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sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

De 1953 a 1960, H. Baldus foi o Diretor Baldus era irônico e tinha seus momentos
do Museu Paulista (também conhecido como de amenidades, como se pode perceber no epi­
Museu do Ipiranga), função da qual se afas­ sódio que narra em seu Tapirapé: Tribo tupi
tou para dedicar-se exclusivamente às ativi­ no Brasil Central (1970: 277/8), envolvendo
dades científicas, de vez que os encargos ad­ ele próprio e Charles Wagley; “Parece que os
ministrativos interferiam de forma negativa Tapirapé acreditam em concepção mágica,
em seu campo de trabalho principal. Ao con­ embora saibam ser a gravidez conseqüência
trário do que ocorreu nos demais anos, no das relações sexuais. Em 31 de março de 1942
ano de seu afastamento da direção do Museu contou-me o Dr. Wagley o seguinte: Nos pri­
Paulista, Baldus levou ao público um número meiros tempos em que esteve em Tapiitaua,
menor de trabalhos, tendo publicado apenas ouviu de repente: ”Lá vem Dotoí". Sabia que
dois, sendo um no Jornal do Folclore (“Curt era êste o nome com que as mulheres e crian­
Nimuendajú”) e outro na revista Anhembi ças da aldeia costumavam me tratar, acrescen­
(“Antropologia Aplicada e o indígena brasi­ tando o diminutivo “i” ao título pelo qual o
leiro”). Neste último trabalho, o autor, após camarada Daniel me chamava. Wagley, sur-
citar Darcy Ribeiro, em seu ensaio importan­ prêso, virou-se e viu aproximar-se não o co­
te de 1957 (“Culturas e línguas indígenas do lega de São Paulo, mas um menino tapirapé.
Brasil”, in Educação e Ciências Sociais, II, “Onde está Dotoí?” perguntou. Indicaram-lhe
n2 6, Rio de Janeiro), no trecho em que este o menino. “Mas Dotoí está longe”, objetou.
antropólogo faz comentários a respeito da in­ Então ensinaram-lhe que o menino também se
tegração dos índios Fulniô, de Pernambuco, chamava Dotoí, por ser filho do Dotoí de São
expõe a seguinte crítica característica de seu Paulo. E como prova dessa relação de paren­
temperamento polêmico: “Deixando de lado tesco mostraram ao etnólogo que o menino,
a discussão sobre possibilidades de recons­ como seu longínquo genitor, não tinha buraco
trução da “antiga cultura” em apreço e sobre no lábio inferior para o uso do tembetá, como
a propriedade do têrmo “obsolescências” se vê nos meninos tapirapé da sua idade.
para designar as línguas e as culturas dos po­ Numa obra cientificamente sêca como esta,
vos da América do Norte, da Europa e do não é preciso tomar em consideração o que
Brasil acima mencionados, acho que a gene­ Wagley pensou de mim e se êle comparou a
ralização de estarem as culturas e as línguas côr da pele do Dotoí II com a das outras crian­
indígenas brasileiras “destinadas a se des­ ças ao redor. Basta dizer que êle é meu amigo
caracterizarem na medida em que a socieda­ e o norte-americano mais compreensivo que
de nacional cresça ” revela encarar o autor conheço. Naturalmente não deixou de perce­
êsses processos quase ’s ub espécie aeternita- ber que a idade do menino correspondia mais
tis’, mas não num prazo adequado para o ou menos ao número de anos passados desde
estudo de tais problemas (destaque nosso). a minha estada em Tampiitaua. Verificou tam­
Quem sabe se no ano de 1999 ou de 2459, bém que Vuanomanchí estava desempenhan­
os Fulniô e outras tribos não continuarão ain­ do o papel de pai do rapazinho. E Vuanoman­
da obstando a uma “homogeneidade de de­ chí tinha sido meu amigo íntimo, em 1935."
senvolvimento” da “sociedade nacional”, A par do insólito e do pitoresco da narrativa
ainda que, pelo seu número, constituíssem (que remete, também, às situações embaraço­
obstáculos insignificantes? Em todo caso sas em que um etnólogo pode ver-se envolvi­
Darcy Ribeiro poderia aparecer como o her­ do, involuntariamente), o trecho citado exibe,
deiro mais ou menos modernizado da men­ em poucas palavras, o domínio da técnica li­
talidade imperialista portuguesa se as suas terária e da língua portuguesa a que chegou o
últimas publicações não nos ensinassem, fe­ alemão de nascimento Baldus.
lizmente, o contrário". Evidentemente a crí­ Em 1961, Baldus assumiu a cadeira de
tica de Baldus a Ribeiro, neste episódio, é Etnologia Brasileira, na Faculdade de Filoso­
séria e indica claramente divergência de fia, Ciências e Letras de Rio Claro, no interior
orientações teóricas e de perspectivas na per­ do Estado de São Paulo.
cepção dó processo em curso nas relações A propósito do 652 aniversário de nasci­
sociais entre sociedades indígenas e a socie­ mento de Herbert Baldus, Hans Becher editou
dade nacional. um volume comemorativo de Völkerkundliche

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sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

Abhandlungen — “Beiträge zur Völkerkunde Herbert Baldus foi um estudioso espe­


Südamerikas” (Festgabe für Herbert Baldus cialmente interessado na cultura material dos
zum 65. Geburtstag), em Hannover, no qual povos indígenas: sua obra está permeada, em
trinta especialistas em assuntos Americanistas muitos momentos importantes, por aborda­
compartilham com textos de autoria de cada gens da produção ergológica dos índios.
um, para, nesta edição (1964), homenagear o Exemplo característico, no qual Baldus de-
ilustre aniversariante.5 monstra-se profundamente tocado pela arte
pictórica indígena, encontra-se em seu subs­
tancioso ensaio “Os carimbos dos índios do
(5) Aparecem nesta publicação, os seguintes autores e Brasil” (1961/2). Neste trabalho, Baldus fun­
respectivos títulos: Josef Haekel (Viena) — “Zum Ge­ damentando-se em pesquisas realizadas por
leit"; Hans Becher (Hannover) — “Carl Richards diversos etnólogos, tais como Nordenskiõld,
ethnographische Beobachtungen in Venezuela im Jahre Linné, Koch-Grünberg, D. Ribeiro, Krause,
1820”; Robert L. Cameiro (New York) — "Shifting Cul­ V. Chiara, Métraux, Nimuendajú, Schaden, P.
tivation among the Amahuaca of Eastern Peru"; José V. Frikel, Loureiro Fernandes, Crocker, Maybu-
Cesar (Bosieux, Suíça) — “Igaçaba"; William H. Crocker
ry-Lewis, Albisetti e Venturelli, Galvão,
(Washington) — “Extramarital Sexual Practices of the
Meggers e Evans, Schultz e outros, faz um
Hamkokamekra-Canela Indians"; Hans Dietschy (Basel)
— “Altersstufen bei Karaja Indianern Zentralbrasiliens";
extenso estudo objetivando atingir uma sín­
Gertrude E. Dole (New York) — “Shamanism and Poli­ tese sistematizadora dos conhecimentos acu­
tical Control among the Kuikuru”; Leo Fainberg (Mos­ mulados sobe estes instrumentos de produção
cou) — “Überlebsel der matrilinearen Gens bei den In­ artística indígena. Com base, principalmente,
dianern am oberen Xingú”; Florestan Fernandes (São em trabalhos publicados por aqueles autores,
Paulo) — “Aspectos da Educação na Sociedade Tupi- em depoimentos pessoais e mesmo em cor­
nambá"; Protásio Frikel (Belém, Pará); “Das Problem der respondências trocadas com alguns deles e,
Pianokotó-Tiriyó”; Helmut Fuchs (Caracas) — “Der secundariamente, em sua experiência de
amoahasó der Deukwhuana (Makiritare) und seine Be­
campo, Baldus registra os diferentes tipos de
deutung”; René Fuerst (Genebra) — “La peinture collec­
carimbos produzidos por sociedades indíge­
tive des femmes Xikrin (Contribution à l’étude des In­
diens Kayapo du Brésil Central)“; Eduardo Galvão e
nas atuais (Mbayá-Guaikurú, Karajá, “Kaya­
Mário F. Simões (Belém, Pará) — “Kulturwandel und pó”, Mayongong, Palikúr, Aparai, Guarani,
Stammesüberleben am oberen Xingú, Zentralbrasilien"; Kaingang, Rankókamekra-Canela, Krahó,
Martin Gusinde (St. Gabriel, Mödling bei Wien) — “Die Apinayé, Xerénte, Bororo, Tiriyó, Kaxúyana
Religion der Selk’nam auf Feuerland-Entgegnung auf e Amahuáka), bem como, de restos arqueo­
Paul Radin”; Karin Hissink (Frankfurt Main) — "Heil­ lógicos (Tupinambá, Marajoara, Tarumá e
mittel und Heilmethoden bei den Tacana-Indianem"; Manacapurú). Descreve os objetos (muitos
Cestmir Loukotka (Praga) — “Alguns suplementos ao dos quais se encontram em museus de dife­
trabalho “Culturas e línguas indígenas do Brasil"; Anton
rentes países do mundo), tenta uma classifi­
Lukesch (Graz) — “Indianische Persönlichkeit bei dem
Gé-Volk der Kayapó”; Betty J. Meggers and Clifford
cação tipológica, tomando como referência a
Evans (Washington) — “Genealogical and Demographie proposta de “áreas culturais indígenas”, de
Information on the Wai Wai of British Guiana”; Nobue Galvão, e registra problemas etnográficos e
Myazaki (Marilia, São Paulo) — "Breves Notas sobre a etnológicos pendentes, como sugestões para
Socialização da Criança em duas Tribos Aruake"; Taryo novas pesquisas. O trabalho é enriquecido
Obayashi (Tokio) — “Bemerkungen zum Grabstock der com abundantes ilustrações constantes de de­
Chavante"; Roberto Cardoso de Oliveira (Rio de Janeiro) senhos e fotos de carimbos de diferentes ti-
— “Totemismo Tuküna?"; Donald Pierson (U.S.A.) —
"Life in a Brazilian Village"; Stig Ryden (Stockolmo) —
“Tripod Ceramics and Grater Bowls from Mojos, Boli­
via"; Wilhelm Saake (St. Augustin bei Bonn) — “Erzie- gang"; Emilio Willems (Nashville) - “San Andres: Con­
hungsformen bei den Baniwa"; Egon Schaden (São Pau­ tinuity and Change in the Culture of a Caribbean Island";
lo) — “Ethnographische Notizen zu einem Chicha- Ingrid Wustmann (Leipzig) - “Zur Bedeutung und Ver­
Tanzlied der Kayová”; Hermann Trimbom (Bonn) — wendung des indianischen Farbstoffe Urucü" — Com um
“Cerro de las Rueditas”; Henry Wassen (Gotemburgo) — prefäcio de Eva LIPS (Leipzig); Otto Zerries (Munique)
“Un Indio Cuna de Panamá en misión etnográfica al Rio Ausgewählte Holzschnitzarbeiten der Brasilien-
Caimán, Colombia, en 1961”; Ursula Wiesemann (Rio de Sammlung Spix und Martius von 1817/20 im Volkerkun­
Janeiro) — "Phonological Syllables and Words in Kain- de-Museum zu München".

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sileiro. Rev. do Museu de Arqueología e Etnología. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

pos, bem como de fotos de cenas de carim- com evidente interesse didático, itens teóricos
bagens, além de extensa bibliografía.6 de grande interesse. “Que é etnologia?” — e
0 artigo sobre o xamanismo publicado responde — “Literalmente: a ciência do povo
por Baldus na Revista do Museu Paulista ou dos povos, isto é, a ciência que estuda as
(1965/6) é de excelente qualidade científica. diversas modalidades totais de um povo e suas
Trata-se de um trabalho teórico praticamente relações com as modalidades de outros povos.
único na bibliografía etnológica brasileira, de A palavra povo significa, aqui, unidade cultu­
uma abordagem não especificamente sobre ral. Assim, a etnologia estuda a unidade cul­
esta instituição em uma sociedade determina­ tural no que diz respeito à sua singularidade
da, mas sim, um estudo amplo, aberto, geral, local e temporal e às suas relações com outras
com predominante fundamentação bibliográ­ unidades culturais. A etnologia limita-se ao
fica em autores expressivos, que se dedicaram estudo das chamadas culturas primitivas, por
a este tema, contendo, também, contribuições ser ainda uma ciência em formação” (p. 17).
pessoais do autor, no sentido de que se baseia, Trata-se de um ensaio de caráter preliminar,
ao lado das demais fontes, em suas observa­ no qual o autor desenvolve, sinteticamente,
ções diretas no campo. À medida em que o conceitos teóricos, como o acima, ainda de
texto avança, Baldus insere, em um crescendo, orientação fortemente culturalista, da mesma
suas interpretações pessoais do ponto de vista forma como em sua definição de cultura:
teórico, sobretudo nos itens referentes ao “Cultura, no sentido que lhe dão os etnólogos,
xamã e o grupo social (a instituição, o status é a expressão harmônica total do sentir, pen­
e a ambivalência). sar, querer, poder, agir e reagir de uma uni­
Como se constata, esse autor versátil e de dade social, expressão essa que nasce de uma
grande produtividade, teve a publicação de combinação de fatores hereditários, físicos e
sua obra científica marcada por alguns even­ psíquicos, com fatores coletivos morais, e que,
tos principais, tais como: unida ao equipamento civilizador (instrumen­
1 — a publicação, em 1931, de sua pri­ tos, armas, etc.) dá à unidade social a capaci­
meira destacada obra científica, o livro dade e a independência necessárias à luta ma­
Indianerstudien im nordwestlichen Cha­ terial e espiritual pela vida. Um dos problemas
co (230 págs.), na qual faz estudos com­ principais da etnologia é estudar a mudança
parativos sincrónicos entre os grupos in­ contínua desta expressão e as causas dessa
dígenas Chamacoco e Kaskihá, bem mudança” (p. 17). Estabelece as diferenças
como com os Mbiá, de Mato Grosso; conceituais entre etnologia e antropologia
2 —a publicação dos Ensaios de Etnolo­ (“Ciências auxiliares uma da outra”, p. 18),
gia Brasileira (346 págs.) em 1937, reu­ entre etnologia e etnografia e sentencia: “o
nindo importantes trabalhos seus sobre etnólogo será sempre etnógrafo; e o etnógrafo
diferentes grupos indígenas, tais como os não poderia, sem conhecimento etnológico,
Bororo, os Teréna, os Kaingang, os fazer trabalho útil” (p. 19). “Ambas as ciên­
Guayakí, os Karajá, os Tapirapé; cias são empíricas e indutivas” (p. 19). Quanto
3 — a publicação da Bibliografia Crítica ao livro como um todo, esclarece: “Intitulei o
da Etnologia Brasileira, em 1954 ( l 9 vo­ presente livro Ensaios de Etnologia Brasilei­
lume) e em 1968 (22 volume), e ra, embora ele tenha, na maior parte, caráter
4 — a publicação, já próximo a sua mor­ puramente etnográfico. Mas esse material et­
te, do livro Tapirapé: tribo tupi do Brasil nográfico serve, principalmente, para estudar
Central (511 págs.). um problema etnológico, qual seja a mudança
Nos Ensaios de Etnologia Brasileira, es­ de cultura entre índios no Brasil” (p. 19).7 E
tuda temas sociais variados, com ênfase nas
abordagens de religião, e também desenvolve,
(7) A propósito desse interesse teórico específico encon­
trado nas obras de Baldus, Galvão (1979:127) faz o se­
guinte comentário, agrupando o nosso autor com outros
(6) A propósito desse ensaio, Melatti (1970:149) comen­ antropólogos que considera participantes da mesma linha
ta: "Herbert Baldus oferece um exaustivo estudo dos ca­ teórica em Antropologia, entre os quais ele próprio: “Re­
rimbos utilizados pelos índios do Brasil, tendo elaborado petiríamos na prática a comunicação do professor Baldus,
mesmo uma tipologia". pois nos trabalhos mais recentes, a partir de Nimuendajú

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o autor indaga: “E por que estudamos etnolo­ ciai da mulher, faz descrições do meio am­
gia? Estudamos os chamados povos primiti­ biente, bem como, físicas dos índios estuda­
vos para, com base nos conhecimentos assim dos, suas vestimentas, adornos pessoais, e
adquiridos, poder estudar melhor os povos sua alimentação; reitera a informação de que
chamados de alta cultura” (p. 20), atribuindo, “entre quase todos os povos primitivos da
dessa maneira, um caráter instrumental à et­ América do Sul é a mulher que leva a carga
nologia que, segundo essa concepção, atua durante as marchas, enquanto o homem só
como vetor para estudos que Baldus conside­ anda com .as armas na mão” (p. 118). Dis­
rava, à época, que estavam fora de seu campo corda de que por esta razão seja “oprimida
específico de abordagem. ou escrava”, como a consideram viajantes
Neste mesmo ensaio (Etnologia Brasi­ apressados e missionários católicos (cf. suas
leira), Baldus faz especialmente crítica à po­ palavras). No bojo desse ensaio, aborda te­
sição da Igreja face aos índios, nos primeiros mas tais como o parto e a colaboração do
tempos de colonização: “Era mais cômodo, homem; o couvade\ diferentes meios aborti­
para os cristão que avançavam apresentar es­ vos; restrições (“resguardo”) da mãe; o in­
ses povos estranhos (povos periféricos, povos fanticidio (“Entre os Bororo estas causas —
não cristão) como seres de ordem inferior, de infanticidio — são disfarçadas pela crença
para melhor explorá-los, combatê-los e sub­ que estabelece uma conexão entre a criança
jugá-los. No ano de 1537, o papa Paulo III esperada e ainda não nascida e os maus so­
declarava numa bula que os índios eram ho­ nhos de um dos parentes e especialmente da
mens. Semelhantes deliberações eram toma­ própria futura mãe”, p. 121); iniciações de
das, em parte, para privar os colonos euro­ jovens; menstruação; divisão de trabalho por
peus dos trabalhadores indígenas e aprovei­ sexo (“a criança, nos primeiros anos é guar­
tá-los, economicamente, só para a Igreja. Os dada pela mãe”, p. 129); metades exogâmi-
célebres defensores da liberdade do índio, cas; casamento; organização matrilinear; vida
como, por exemplo, o bispo Las Casas, não sexual (refere que a monogamia predomina;
se opuseram à importação de escravos afri­ que “a homossexualidade e o onanismo são
canos para a América” (p. 21). Imprimindo desconhecidos entre os Bororo, como entre a
essa orientação analítica e interpreta tiva, Bal­ maior parte das tribos de índios visitados por
dus, já em 1937, fazia florescer um tipo de mim”, p. 146; que “ambos os sexos não
abordagem histórica dialética, que só anos guardam severamente a fidelidade conjugal”,
mais tarde viria a tomar-se corrente nos es­ p. 149); que há ciúme e ocorrem brigas, due­
tudos etno-historicos, que se desenvolveram los entre mulheres por ciúme; os mexericos
no Brasil, tendo sido este mais um dos seto­ entre mulheres, de umas em relação às ou­
res científicos, em nosso país, atingidos pelo tras; a participação em cantos e danças por
pioneirismo do autor. Neste mesmo livro, ambos os sexos; a morte; mudanças sócio-
Baldus oferece abundantes dados etnográfi­ culturais por influência da sociedade domi­
cos sobre o culto aos mortos pelos índios nante, principalmente dos padres salesianos.
Kaingang (pp. 19/69); desenvolve amplo es­ Ao desenvolver esse tema, neste ensaio es­
tudo sobre a posição social da mulher entre pecífico, Baldus reporta-se às mudanças nas
os Bororo Orientais (pp. 112/62); além de culturas materiais e “espirituais” (sic) dos
outros temas importantes, retoma o estudo da Kaingang, Borôro, Karajá e Tapirapé, e defi­
mudança de cultura em sociedades indígenas ne: “Entendemos por ’mudança de cultura* a
(pp. 187/275). No ensaio sobre a posição so- alteração na harmônica expressão global de
todo o sentir, pensar e querer, poder, agir e
reagir de uma unidade social, expressão que
e desse etnólogo, seguindo com os de Wagley, Schaden,
Watson, Oberg, Altenfelder Silva, Ribeiro, Galvão,
nasce de uma combinação de fatores heredi­
Murphy e Hohenthal, mesmo se não trazem, como acon­ tários, físicos e psíquicos, com fatores cole­
tece em sua maioria, definido em título principal ou sub­ tivos morais, e que, unida ao equilibrio civi­
título o tema aculturação, constituem, todos eles, análises lizador, como, por exemplo, instrumentos, ar­
de culturas indígenas em transição, e em que o principal mas, etc., dá à unidade social a capacidade e
fator de mudança deriva de uma situação de contacto com a independência necessária à luta material e
populações rurais brasileiras". espiritual pela vida” (p. 276); classifica as

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sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

causas da mudança de cultura em causas que jantes, artistas e etnólogos, desde a carta de
vêm de “dentro”, isto é, da própria unidade Pero Vaz de Caminha até nossos dias. Na li­
cultural, e as que vêm de “fora”, ou seja, de nha de abordagem dos estudos históricos, o
outra unidade cultural; porém, trata, no en­ “Ensaio sobre a história da Etnologia Brasi­
saio, apenas das causas originárias de “fora”, leira” (1943) é modelar, propiciando indica­
ou seja, as “influências européias” (p. 306); ções fundamentais sobre autores e as caracte­
trata também do espaço de tempo da mudan­ rísticas de seus estudos ao longo da história
ça de cultura, da mudança parcial de cultura do país, já abrindo perspectivas para as abor­
e da mudança total de cultura. E Baldus con­ dagens dos grupos indígenas em situação de
sidera as culturas indígenas como subculturas contato, que viriam a ser o veio principal dos
brasileiras (V. Bibliografia Crítica da Etno­ estudos antropológicos brasileiros, sobretudo
logia Brasileira, Voi. n , 1968, p. 83). a partir do início da segunda metade deste
Em Tapirapé: Tribo tupi do Brasil Cen­ século. As digreções de Baldus, naquele en­
tral, Baldus apresenta, neste que é um com­ saio, abrem caminhos científicos, que muitos
plexo trabalho monogràfico, suas análises e vieram a trilhar.9
interpretações das observações realizadas en­ Em sua obra antropológica volumosa e
tre os Tapirapé, nas visitas que fez a esse variada,Baldus usava linguagem clara e direta
grupo em 1935 e 1947. Trata-se de um estu­ — conforme preceito de estilística, para textos
do exaustivo, no qual estuda os diferentes as­ científicos — nas formulações das explana­
pectos desta sociedade e faz comparações ções, quer as descritivas, quer as interpretati­
desta com a de outros grupos indígenas da vas das questões relacionadas com as socie­
área em tomo do rio Araguaia. Traz à sua dades indígenas e com a produção científica
obra material etnológico propiciado por ou­ em antropologia. Intelectualmente honesto e
tros pesquisadores, entre os quais e principal­ autêntico detentor do saber científico, Baldus
mente, Charles Wagley, do qual apresenta não fazia jogo de palavras vazio e enganador.
polêmicas discordancias. Suas discrepancias Os trabalhos produzidos por Baldus sem­
com Wagley, já se haviam evidenciado em pre tiveram ampla divulgação, tanto no Brasil
outras oportunidades, como, por exemplo, quanto no exterior. Há trabalhos de Baldus
em “Zur Háuptlingsfrage bei den Tapirapé” que, mesmo no Brasil, foram publicados mais
(1968), no que diz respeito à chefia do grupo de uma vez, além dos que vieram a lume em
Tapirapé. mais de uma língua em diversos países, como
Baldus elaborou uma obra de grande pe­ no caso de “Ensaios sobre a História da Etno­
renidade, trabalhando, por um lado, com ob­
logia Brasileira”, que foi publicado em O Es­
jetivos didáticos, de esquematização e de pro­
tado de S. Paulo, de 9, 11 e 16/9/43, no Bo­
piciar conhecimentos e informações, e, por
letim Bibliográfico da Biblioteca Pública
outro, concretizando um grande projeto de do­
Municipal de São Paulo, 1 ,1943, e no Manual
cumentação sistemática com vistas ao desen­
Bibliográfico de Estudos Brasileiros, Rio de
volvimento da pesquisa científica nos campos
Janeiro, 1949, além de, ampliado, voltar a apa­
da etnologia e da etnografia. Aí se inscrevem
tanto suas sinopses e resenhas sobre obras e recer na Introdução ao primeiro volume da
autores nacionais e estrangeiros, que trabalha­ Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira,
ram no Brasil (V. os dois primeiros volumes 1954 (em português), tendo, também, sido pu-
da Bibliografia Crítica da Etnologia Brasilei­
ra),8 como suas reconstituições dos acervos
históricos constantes das contribuições aos es­ (9) Roberto Cardoso de Oliveria (1964:26-27), referindo-
se a Baldus, entre outros, faz a seguinte observação:
tudos antropológicos dos grupos indígenas do
"Essa preocupação sobre o destino das populações tribais
Brasil dadas por missionários, cronistas, via­
é uma constante na etnologia brasileira, desde os traba­
lhos de Nimuendajú e Baldus, até Schaden, Galvão e
Darcy Ribeiro. O enraizamento de todos eles à realidade
(8) A profa. Thekla Hartmann, seguindo a mesma meto­ nacional — e não apenas indígena — permitu-lhes, de
dologia de Baldus, deu seqüência ao projeto do mestre, certo modo, repensar os problemas colocados pelas teo­
no terceiro volume da Bibliografia Crítica da Etnologia rias de aculturação, caracteristicamente descomprometi­
Brasileira. das com a sobrevivência das populações tribais".

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sileiro. Re v. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

blicado, em espanhol, na Revista Mexicana de desempenhar um papel decisivo na Etnolo­


Sociologia, V, ne 2, México, 1943. Muitos de gia” (p. 130). Tendo o trabalho em foco vin­
seus trabalhos, sobretudo os primeiros, foram do a lume em 1941, Baldus, então, ainda po­
publicados em alemão, como no caso do en­ dia referir-se a que os métodos norte-ameri­
saio: “Die Allmutter in der Mythologie zweier canos da “áreas culturais” ainda não haviam
südamerikanischer Indianerstamme”, que saiu sido “realizados, que eu saiba, no Brasil...”
no Archiv fü r Religionswissenschafi, XXIX, (p. 131). A proposta de “áreas culturais indí­
Leipzig, em 1932, tendo sido traduzido para genas”, de Eduardo Galvão, só seria publica­
o francês por Alfred Métraux e publicado na da em 1960 (Galvão, 1960). Para caracterizar
Revista dei Instituto de Etnologia, II Tucu- o “concentrismo”, Baldus diz que esse méto­
mán, 1932.10 do “naturalmente, aproveita também qual­
Predominam, na obra de Baldus, as quer oportunidade para verificar, deste modo,
abordagens dos temas sociais a partir da aná­ uma transferência. Mas considera os paren­
lise de dados empíricos da realidade, o que tescos culturais como problema secundário,
não o levou a omitir-se quanto aos estudos pois encara, em primeiro lugar, a concentra­
teóricos. Em seu artigo entitulado “Difusio- ção e não a difusão dos elementos cultu­
nismo, Concentrismo e Funcionalismo” , rais,quer dizer, a sua integração em uma de­
com muita clareza, desenvolve, inicialmente, terminada cultura e não a sua expansão pelo
uma explanação crítica em tomo do difusio- espaço e tempo” (p. 131). Aponta Koch-
nismo, sobre as contribuições de Lafitau, Grünberg como um dos pesquisadores que
Ratzel, Frobenius, Schimidt, além de outros; trabalham com “métodos concentristas”, no
método a que denomina de concentrismo — Brasil. No mesmo ensaio, Baldus refere-se a
“para frisar o contraste com o difusionismo”, Bastían que, conforme sua interpretação, es­
cf. suas palavras —, e, do funcionalismo, já tudou o fato cultural como objeto psicológico
enfatizando a importância das “relações es­ e desenvolveu a teoria das “idéias-de-povo”
truturais”. Ao analisar o difusionismo, sua (Võlkergedanken), lançando a semente do
crítica passa pelos conceitos de “ciclos cul­ funcionalismo. Destaca, na escola funciona-
turais” e de “áreas culturais” (cf. Boas, Wais- lista, os etnólogos Radcliffe-Brawn (que rea­
sler, Kroeber) e extravasa considerações lú­ lizou o “estudo das designações de parentes­
cidas, tais como quando diz: “Por ignorar as co em conjunto com os deveres, direitos e
relações estruturais e funcionais que os tra­ outras funções — sociais — de seus porta­
ços estudados têm em sua cultura, seu valor dores”, cf. Mühlmann, cit. por Baldus),
para a compreensão da cultura é secundário, Thumwald11 e Malinowski. No final do tra­
pois os difusionistas não conseguem senão balho, Baldus, sempre animado a contribuir
formar hipóteses sobre migrações e proces­ para o melhor desempenho de nossos etnólo­
sos de transferências. Indubitavelmente, foi gos no campo, delineia orientações metodo­
imenso o número destes processos, no mun­ lógicas da maior utilidade para a prática da
do inteiro. Levando-se em consideração a pesquisa antropológica, apresentadas em lin­
abundância de alterações e de transformações guagem cristalina, dando ênfase à necessi­
operadas na maioria dos fenômenos cultu­ dade de o pesquisador, no campo, procurar
rais, evidencia-se o fato de só podermos
constatar a sua transferência local ou tempo­
ral, quando conservam a sua forma de modo (11) “Tomemos como ponto de referência antigos cursos
de Lévi-Strauss e de Herbert Baldus: o primeiro dava gran­
reconhecível. Esta conservação se dá, porém,
de atenção às possibilidades teóricas de descrição das co­
só em número reduzido de casos. É por isso munidades humanas e às diretrizes metodológicas em que
que uma teoria como o difusionismo, que elas repousavam, procurando descobrir em que consistia a
considera esse número restrito de transferên­ contribuição positiva e as limitações de cada uma delas; o
cias como objeto de investigação, não poderá segundo, como antigo aluno de Thumwald, nunca defen­
deu intransigentemente o funcionalismo, esforçando-se, ao
contrário, para pôr em evidência as vantagens e as desvan­
(10) Este mesmo artigo aparece na bibliografia de Baldus tagens de outras orientações metodológicas, como a “con-
—levantada no decorrer deste estudo —, traduzido para centrista" e a “difusionista”, no estudo de comunidades
o português pelo autor deste ensaio. indígenas brsileiras.” (Fernandes, 1975:135).

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sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

assumir diferentes papéis, face a seu objeto 1899-1970”, por Hans Becher;15 o editorial
de estudo, tendo em vista atingir a maior ob­ "Herbert Baldus — In Memoriam", in Anais
jetividade, como um experimentador, confor­ do Museu de Antropologia, da Universidade
me se lê em suas palavras; “O etnólogo, ao Federal de Santa Catarina,16 e o editorial da
assumir o papel de Vaz de Caminha, deve Revista do Museu Paulista, sob o título “Her­
estar consciente de sua condição como expe­ bert Baldus (1899/1970)”.17 Na oportunidade
rimentador, o qual,por ser componente inte­ do 109 aniversário do falecimento de Herbert
grante de sua própria experiência, precisa ser Baldus, o eminente etnólogo foi homenageado
tomado em consideração tanto como seu ob­ no evento promovido em sua memória, na Es­
jeto. Conseguindo o etnólogo esse reconhe­ cola de Sociologia e Política de São Paulo, pa­
cimento bilateral, no qual encara a interação trocinado por esta Escola e pelo Museu Pau­
entre si mesmo como experimentador e o ob­ lista da Universidade de São Paulo.18
jeto, conseguindo, assim, o que chamamos Relatar a volumosa e polivalente obra de
ganhar distância de si mesmo, aproxima-se, Herbert Baldus é uma tarefa extremamente
cada vez mais, da objetividade" (p. 139).12 complexa, não apenas devido ao grande nú­
A experiência militar do jovem Baldus, na mero de trabalhos produzidos, ao longo de 50
guerra, em seu país de origem, não moldou sua anos de ação científica, mas, principalmente,
personalidade e seu comportamento político. pela variedade dos temas desenvolvidos, com­
Baldus foi um antiprussiano por excelência, prometidos com tantas áreas das ciências so­
um pacifista antinazista, um liberal progressis­ ciais. Seu saber científico, à medida em que
ta, um democrata convicto, um humanista em­ ia sendo concebido, como fruto de seu traba­
polgado pela causa da sobrevivência dos povos
indígenas.13 Com o advento de sua morte, al­
guns de seus amigos e/ou discípulos fizeram connaisseurs et plus sincères défenseurs, la science amé-
publicar artigos em sua homenagem, tais ricaniste l'un de seus meilleurs chercheurs, notre Société
como: “Hommage à Herbeií Baldus (1899- l’un de ses plus illustres membres et moi-même un ami
dont l'exemple, l'impulsion et la critique ont contribué
1970)", por René Fuerst;14 “Herbert Baldus —
au déroulement de ma modeste carrière" (Fuerst, 1971:
35-36).
(15) “Through Herbert Baldus, São Paulo became thè un-
(12) “Algumas das principais criticas à problemática e às disputed heart of Americanistic research in South Ame­
tendências teóricas dos estudos brasileiros de etnologia e rica, for he was thè first to systematize the studies of
sociologia foram formuladas em A Etnologia e a Socio­ South American ethnology“ (Becher, 1972:1307-12).
logia no Brasil, de Florestan Fernandes. Essas reflexões, (16)“Baldus não apenas descrevia e interpretava fatos das
associadas com os artigos e ensaios de Herbert Baldus, culturas primitivas em face da sociedade nacional envol­
Egon Schaden, Charles Wagley, Marvin Harris, Thales de vente, mas preocupava-se constantemente pelo futuro
Azevedo e outros, oferecem um quadro bastante amplo dessas populações. Prova disso são os muitos artigos e
sobre a formação geral e os aspectos particulares das conferências que deixou sobre política indigenista no
pesquisas etnológcias e sociológicas no Brasil“ (Ianni, Brasil“ (Editorial "Herbert Baldus — In Memoriam",
1966:24). 1971:144-145).
(13) “Na geração dos pais fundadores (o autor refere-se (17) "Alemão de nascimento, Herbert Baldus continuou
aos fundadores do que chama de ’nossa família de etnó­ em nossos dias, como já se escreveu, tôda uma tradição
logos brasileiros'), temos três figuras esplêndidas: Her­ cientifica de raízes germânicas voltadas para as culturas
bert Baldus, poeta-cientista, teutónico, mulherengo, prus­ indígenas sulamericanas, tradição que vai de Martius a
siano, romântico e antifacista. Foi quem nos trouxe as Kurt Nimuendajú, por ele continuada sob um enfoque
luzes de Thumwald, que nos livraram de tanta tolice nor­ tipicamente brasileiro, aperfeiçoando dessa perspectiva
te-americana; mas foi principalmente quem nos tangeu as rotas pioneiras de um Couto de Magalhães ou de um
para o estudo dos índios lá nos matos onde eles viviam. Teododro Sampaio" (“Herbert Baldus (1899/1970)”,
A ele devemos também haver organizado criticamente a 1968/ 69:7).
bibliografia etnológica brasileira, desmonopolizando a (18) Evento realizado a 24-10-1980. Nesta oportunidade,
informação livresca que tantos tolos, anteriormente, em em texto produzido por Charles Wagley, este antropólogo
seu primarismo, escamoteavam e escondiam." ("Prefá­ depõe: “Herbert Baldus e eu estávamos ligados um ao
cio" de Darcy Ribeiro ao Encontro de Sociedades, 1979, outro durante mais de 30 anos pelo interesse que ambos
de E. Galvão). mantínhamos pelo índio brasileiro e mais especificamen­
(14) “Avec la mort du professeur Herbert Baldus, les der- te pelos estudos sobre uma pequena tribo: os Tapirapé do
niers indiens du Brésil ont perdu l'un de leurs plus grands Brasil Central" (Gainesville, outubro/1980).

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sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

lho diutumo no campo, nas bibliotecas e em taloga em diferentes campos da antropologia,


seu gabinete, era divulgado através de perió­ exprimindo a elaboração do conhecimento
dicos e de livros, incessantemente publicados. científico ao longo da vida, que se caracteri­
Desta obra e de sua vida, da qual é fruto, ofe­ zou pela laboriosa ação de documentação das
rece-se uma síntese ilustrativa e representa­ sociedades e culturas indígenas e pela luta em
tiva, neste ensaio. Sua obra científica se ca­ sua defesa.

SAMPAIO-SILVA, O. Herbert Baldus: life and work — Introduction to the Indige-


nism o f a German-Brazilian americanist Rev. do Museu de Arqueologia e Etno-
logia S. Paulo, 2:91-114,1992.

ABSTRACT: Herbert Baldus was a German-Brazilian anthropolo­


gist who played an important role in the development of anthropologi­
cal research and knowledge in Brazil. His scientific work was intima­
tely linked to his own life, spent mostly in this country, where he
devoted himself to teaching, to research and scientific divulgation, as
well as to the establishment of an official Indian policy bent on the
preservation of ethnic populations. His theoretical contributions ranged
from initial investigations on material and non-material culture to func­
tional and structural approaches, while he also established the founda­
tions for the study of cultural change of Indian societies in contact
situations.

UNITERMS: Life — Work — Indigenism — Preservationism —


Contact situation — Cultural change.

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“É belicioso o Chavante?”. O Estado de São Paulo, (1943-1950)”. Série Bibliográfica de Estudos Bra­
30/7 a 6/8, S. Paulo, 1948. (28) sileiros, I, Rio de Janeiro, 1954. (45)
“Novidades Americanistas". O Estado de São Paulo, “Richard Thumwald 1869-1954". Revista de Antropo­
10/10, S. Paulo, 1948. logia, II, n. 1, S. Paulo, 1954.
“Relatório da Secção de Etnologia”. Revista do Mu­ “Os Oti”. Revista do Museu Paulista, N.S., VIII, S.
seu Paulista, N.S., II, S. Paulo, 1948. (29) Paulo, 1954.
“Tribos da bacia do Araguaia e o Serviço de Proteção
“Kritische Bemerkungen zu einem brasilianischen
aos índios”. Revista do Museu Paulista, N.S., II,
Thema”. Anthropos, XLIX, Freiburg/Schweiz,
S. Paulo, 1948. (30) 1954.
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“Publicações sobre os índios do Brasil nos últimos
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“Georg Friederici 1866-1947". Revista do Museu S. Paulo, 1954. (46)
Paulista, N.S., III, S. Paulo, 1949.
“Gegenwärtiger Stand der Völkerkunde des Schingú-
“O problema da atração do indígena brasileiro ao con­
Gebietes”. Sociologus, N.S., IV, Berlim 1954
tato com o branco”. Folha da Manhã, 19/6, S.
(47).
Paulo, 1949.(32)
“Primitivos da Argentina”. Anhembi, n. 39, S Paulo
“Akkulturation im Araguaya — Gebiet”. Anthropos
1954.
XLI-XLIV, Heft 4-6, Freiburg/Schweiz, 1949.
“Supematural Relations with Animáis among Indians
“Novidades americanistas II”. O Estado de São Paulo,
7/8, S. Paulo, 1949. o f Eastem and Southern Brazil”. Proceedings o f
“Sociedade Amigos do índio”. Revista do Arquivo Mu­ the Thirtieth International Congress o f America-
nicipal, CXXVIII, S. Paulo, 1949. (33) (34) nists (Cambridge, 1952), Londres, 1954. (48)
“Kanaschiwuá und der Erwerb des Lichtes. Beitrag “O estudo etnográfico do índio no Brasil”. Revista do
zur Mithologie der Karajá-Indianer”. Beiträge zur Museu Paulista, N.S., IX, S. Paulo, 1955. (49)
Gesellungs-und Volkerwissenschaft: Festschrift “As danças dos Tapirapé”. Anais do XXXI Congresso
zum achtezigsien Geburtstag von Professor Ri­ Internacional de Americanistas (São Paulo 1954)
chard Thumwald. Berlim, 1950. (35) I, S. Paulo, 1955.

108
SAMPAIO-SILVA, O. Herbert Baldus: vida e obra — Introdução ao indigenismo de um americanista teuto-bra-
sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

“Das Dualsystem der Kaingang-Indianer". Actes du Revista de Antropologia, X, Nos. 1 e 2, S. Paulo,


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“Ethnologische und linguistische Forschungsaufga­ “Sinopse da Bibliografia Crítica da Etnologia Brasi­
ben in Brasilien". A ctes IV Congrès International leira (1953-1960)". Arquivos do Instituto de An­
des Sciences Anthropologiques et Ethnologiques tropologia, 1, n. 2, Natal, 1964. (73)
(Vienne, 1952), III, Viena, 1956. “O estado atual da Etnologia Brasileira”. América La­
“Some Aspects o f Tapirapé Moráis". Encyclopedia o f tina, ano 7, n. 4, Rio de Janeiro, 1964. (74)
Morals, New York, 1956. (51) “Xamanismo e aculturação”. O Estado de São Paulo,
“As contribuições de Maximiliano, principe de Wied- ns. 409 e 410, S. Paulo, 1964.
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da II Reunião Brasileira de Antropologia (Bahia, Brasil Central". Revista do Museu Paulista, N.S.,
1955), Salvador, 1957.(52) XV, S. Paulo, 1964. (75) (76) (77)
“A distinção entre pré-história e arqueologia". Anais “Rondon e o índio, no centenário de seu nascimento:
da II Reunião Brasileira de Antropologia (Bahia, 5 de maio de 1865". Humboldt: Revista para o
1955), Salvador, 1957. Mundo Luso-Brasileiro, ano V, n. 12, Hamburgo,
“Escola Vienense de Etnologia”. Anhembi, XXV, ns 1965. (78)
74, S. Paulo, 1957. “A contribuição de Anchieta ao conhecimento dos ín­
“Primeira descrição sueca do Brasil”. Anhembi, XXVI, dios do Brasil”. Anchietana, S. Paulo, 1965. (79)
n°- 78, S. Paulo, 1957. “O xamanismo”. Revista do Museu Paulista, N.S.,
“A casa-dos-homens”. Anhembi, XXVII, n2 80, S. Pau­ XVI, S. Paulo, 1965/66.
lo, 1957. (53). “Harold Schultz 1909-1966". Revista do Museu Pau­
“Cândido Mariano da Silva Rondon 1865-1958". Re­ lista, N.S., XVI, S. Paulo, 1965/66. (80) (81)
vista do Museu Paulista, N.S., X, S. Paulo, 1956- “Mondfinstemins bei den Tapirapé". Folk, VIII-IX,
58. (54) (55) Copenhagen, 1966/67.
“D ie Jaguarzwillinge: Mythen und Heibringerges- “Aspectos da organização social tapirapé: Tripartição,
chichten, Usprungssagen und Märchen brasilianis­ dualidade e graus de idade”. Revista do Museu
cher Indianer", in Das Gesicht der Völker, Erich Paulista, N.S., XVII, S. Paulo, 1967. (82) (83)
Röth-Verlag. Eisenach und Kassel, 1958. “Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira, Vol. II,
‘Transformação cultural entre os japoneses do vale do Völkerkundliche Abhandlungen, Band IV, Hanno­
Rebeira”. Folha da Manhã, 18/6. S. Paulo, 1958. ver, 1868.(84)
“Contribuições à lingüística ge”. Miscellanen Paul Ri- “Zur Häuptlingsfrage bei den Tapirapé”. Zeitschrift fü r
vet octogenario dicata, II, México, 1958. Ethnologie, Band 93, Heft 1, n. 2, Braunschweig
“Paul Rivet”. Anhembi, n. 90, S. Paulo, 1958. (56) 1968.(85)
“O médo na cultura Tapirapé”. Anhembi, n. 93, S. “Vertikale und horizontale Struktur in religiösen Welt­
Paulo, 1958. (57) bild südamerikanischer Indianer". Anthropos,
“A ‘Etnologia Histórica’ no Brasil”. O Estado de São 63/64, St. Augustin, 1968/69.
Paulo, 28/9, S. Paulo, 1959. (58) “Schweizer als Indianerforscher in Brasilien”. Bulle­
“Beiträge in deutcher Sprache zur Indianerforschung tin de la Societé Suisse des Americanistes, n. 33,
in Brasilien (1954-1958)”. Mitteilungen aus dem Génève, 1969. (86)
Museum fü r Völkerkunde, XXV, Hamburg, 1959. Tapirapé: tribo tupi do Brasil Central. Brasiliana, vol.
17, Cia. Ed. Nacional e Ed. da Universidade de
(59)
São Paulo, S. Paulo, 1970. (87)
“Curt Nimuendaji ”. Jornal do Folclore, ano I, n. 1,
Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira, Vol. I,
S. Paulo, 1960. (60)
Kraus Reprint, Völkerkundliche Abhandlungen,
“Antropologia Aplicada e o indígena brasileiro”.
Vol. III, Nendeln/Liechtenstein, 1970.(88)
Anhembi, XL, n. 119, S. Paulo, 1960. (61) (62) “Jaka-Rendy". Universitas — Revista de Cultura da
“Kauí". Veröffentlichungen des Museums fü r Völker­ Universidade Federal da Bahia, 6/7, Salvador,
kunde zu Leipzig, Heft 11, Berim, 1961. 1971.
“Dringende Aufgaben für Amerikanisten”. Südameri­ “Einfürung” (Symposium Neue Ergebnisse der India­
ka, XII, Jg., Heft 1, Buenos Aires, 1961. (63) (64) nerforschung in Brasilien). Verhandlungen des
“Os carimbos do índio do Brasil”. Revista do Museu XXXVII Amerikanistenkongresses (Stuttgart-Mün­
Paulista, N.S., XIII, S. Paulo, 1961/62. (65) (66) chen, 1968), Band III, München, 1971. (89)
“Was ist seit 1500 aus dem Indianer Brasiliens gewor­ “Curt Nimuendajü (1883-1945)". Humboldt, 28, Mün­
den?”. Akten des 34 Internationalen Amerikanis­ chen, 1973.
tenkongresses (Wien, I960), Viena, 1962. (67) “O visitante”. In Leituras de etnologia brasileira
“Escarifícação e tatuagem entre os índios do Brasil”. (org. E . Schaden). Cia. Ed. Nacional, S. Paulo,
Humbold: Revista para o Mundo Luso-Brasileiro, 1976.
ano 2, n. 3, Hamburgo, 1962. (68) Ensaios de etnologia brasileira, 21 edição. Brasiliana,
Métodos e resultados da ação indigenista no Brasil". Cia. Ed. Nacional, S. Paulo, 1979. (90)

109
SAMPAIO-SILVA, O. Herbert Baldus. vida e obra Introdução ao indigenismo de um americanista teuto-bra-
sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

Notas à Bibliografía de H. Baldus

(1) Republicado, em língua alemã, como apêndice de (15) Também foi publicado no O Estado de S. Paulo,
Indianerstudien im nordöstliche Chaco, 1931. 22/6/44.
(2) Livro de 230 páginas. Neste mesmo ano, Baldus (16) Esta comunicação, sendo mais ampla, contém o
publicou, na Alemanha, a novela Madame Lynch. capítulo I de Os Tapirapé, tribo tupi no Brasil
(3) Traduzido para o francês — "La 'Mère commune’ Central, livro editado em 1970.
dans la mythologie de deux tribus sudaméricaines (17) Sob esse titulo, Baldus publicou, nos anos subse­
(Kágaba et Tumerehã)" — por Alfred Métraux, e quentes, até 1949, ensaios, na Revista do Arquivo
publicado na Revista dei Instituto de Etnología, II, Municipal, vols. XCVI ao CXXVll (exceto os vols.
Tucumán, 1932. Também traduzido para o portu­ CVI, CXXV e CXXVT), os quais foram reunidos
guês — "A ’Mãe Comum’ na Mitologia de Duas mais tarde, “com modificações e acréscimos", em
Tribos Sulamericanas (Kágaba e Tumerehã)" seu livro com o mesmo título já referido.
(1985) —, por Orlando Sampaio-Silva, como parte (18) Contribuiu à área de Etnologia da 5! edição do
dos presentes estudos sobre a obra de Baldus. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Por­
(4) Este artigo, em português — “A sucessão hereditária tuguesa, 1944, tendo sua colaboração sido reim-
dos índios Tereno" —, foi publicado também na
pressa nas edições subsequentes do Dicionário.
Revista do Arquivo Municipal, XVII, S. Paulo,
(19) Publicado originariamente em O Estado de S.
1935, e consta do Ensaios de Etnologia Brasileira,
Paulo, 22/11, S. Paulo, 1945, e, mais tarde, em
1937.
versão em alemão, no Deutsche-Blatter, XXIX,
(5) Baldus trata, neste trabalho, dos índios Kaingá e
Guaiakí. Sobre estes últimos, publicou outros arti­ Santiago do Chile, 1946.
gos em 1943 e em 1946, tendo o autor destas notas (20) Este necrológio foi publicado também no O Estado
encontrado referência a que estaria sendo publica­ de São Paulo, 6/1, S. Paulo, 1946; com acréscimos,
do, post-mortem, o artigo "Die Guayakí", em Anth- em Sociologia, VIII, n. 1, S. Paulo, 1946; na versão
ropos, St. Augustin (cf. Rev. do Museu Paulista, em inglês (tradução de Charles Wagley), no Ame­
N.S., 68/69), porém não localizou-o em volumes de rican Anthropologist, XLVIII, n. 2, 1946; idem, em
Anthropos, a partir de 1970. alemão, em Deutsche-Blatter, XXXI, Santiago do
(6) Livro de 346 págs., em sua primeira edição, prefa­ Chile, 1946, tendo sido reeditado, mais tarde, em
ciada por Affonso d’Escragnole Taunay, que con­ 1960, 1962 e 1973, "com ligeiras modificações".
tém diversos ensaios que também foram publicados (21) Publicado originariamente em Acta Americana,
em periódicos, como no caso de "Os grupos de co­ III, n. 4, México, 1945; posteriormente, no Bo­
mer e os grupos de trabalho dos Tapirapé", publi­ letim Geográfico, ano V, n. 53, Rio de Janeiro,
cado, em alemão, em Pindorama, 1, Jg., Heft 2/3, 1947, e, atualizado e com complementações, sob
S. Paulo, 1937. o título “Indianerforschung in Brasilien”, no So-
(7) Consta deste ensaio o comentário de Baldus à mo­ ciologus, N.S., I, n. 1, Berlim, 1951.
nografia "Guaná”, de Max Schmidt, 1937. (22) Em 1945, Baldus publicou a Introdução e Notas,
(8) Publicado, em português — “A mudança de cultura em Os Caduveo, de Guido Boggiani.
entre índios no Brasil” —, Ensaios de Etnologia (23) Livro de 121 páginas.
Brasileira (1937). (24) Em 1946, pronunciou o discurso de paraninfo à
(9) Também está contido, em português, no Dicionário turma de bacharéis em Ciências Políticas e So­
de Etnologia e Sociologia (H. Baldus e E. Wil­ ciais, na Escola de Sociologia e Política de São
lems), 1939. Paulo, o qual foi publicado no Anuário da Escola
(10) 245 páginas. Livre de Sociologia e Política de São Paulo, S.
(11) Com pequenas modificações, foi publicado em Amé­ Paulo, 1946.
rica Indígena, IV, 1944, com o título: “Problemas
(25) Grande parte deste artigo veio a ser publicada,
Indigenistas no Brasil", e, no Boletim Geográfico,
mais tarde, com modificações, in Tapirapé: Tri­
ano V, n. 54, 1947.
bo tupi no Brasil Central, Cia. Ed. Nacional —
(12) Republicado no Boletim Geográfico, n. 47, Rio de
Ed. da USP, S. Paulo, 1970.
Janeiro, 1947.
(13) Baldus publicou, ainda, em 1940: “Nos sertões do (26) Em 1947, foi publicada sua Introdução a índios
Brasil de Friti. Krause“, in Revista do Arquivo Mu­ de Mato Grosso, de Erich Freundt.
nicipal, LXVl, S. Paulo, e “A viagem pelo Brasil (27) Republicado em Manual Bibliográfico de Estu­
do Spix e Martius“, idem, ibidem, LXIX. dos Brasileiros, Rio de Janeiro, 1949, sob o tí­
(14) Publicado anteriormente em O Estado de S. Paulo, tulo "Etnologia".
9, 11 e 16/9/43, e, posteriormente, no Manual Bi­ (28) Republicado em Revista do Arquivo Municipal
bliográfico de Estudos Brasileiros, Rio de Janeiro, CXUI, S. Paulo, 1951.
1949. Em 1943, foi também publicado, em espa­ (29) Os relatórios da Secção de Etnologia do Museu
nhol, na Revista Mexicana de Sociologia, V, n. 2, Paulista, sob a direção de H. Baldus, foram pu­
México, e, ampliado, veio a integrar a Introdução blicados naquele mesmo veículo, nos volumes
ao priemiro volume da Bibliografia Crítica da Et­ dos anos: 1949, 1950, 1951, 1952, 1953 1954
nologia Brasileira, 1954. 1956/58, 1959 e 1960.

110
SAMPAIO-SILVA. O. Herbert Baldus: vida e obra — Introdução ao indigenismo de um americanista teuto-bra-
sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

(30) Em 1948, Baldus publicou, também: — uma apresentação ao “Cenas da vida indíge­
na", Álbum dos índios do Xingu, de Manuel Ro­
— “Revista do Museu Paulista", O Estado de S.
drigues Ferreira;
Paulo, 17/4, S. Paulo;
— resenha de “Mythos und Kult bei Naturvöl­
— Introdução e Notas a “Contribuições para a
kern”, de Ad. E. Jensen, in Revista do Mus. Pau­
Etnologia do Brasil”, de Paul Ehrenreich, in Re­
lista, N.S., VI, S. Paulo;
vista do Museu Paulista, N.S., //;
— idem de “Des Menschengeistes Erwachen,
— Comentário à “Bibliografia morfológica hu­
Wachsen und Irren”, de Richard Thumwald, ibi­
mana, da América do Sul”, de Juan Comas, ibi­
dem;
dem;
— idem de “Personality and Government", de
— Comentários a “Prehistoric Ceramic Styles of
Laura Thompson, ibidem;
Lowland South America", de Georg D. Howard,
ibidem. — idem de “The Race Question in Modem
Science”, de Juan Comas, ibidem.
(31) Prefácio à Organização Social dos TUpinambá, de
Florestan Fernandes, 1949. Foi também publicado (42) Reproduzido em Revista do Museu Júlio de Casti­
em O Estadí de S. Paulo, 20 e 30/3, S. Paulo, lhos e Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, n.
1949. 8, Porto Alegre, 1957.
(32) Publicado novamente na Revista do Arquivo Muni­ (43) Outras publicações de Baldus, em 1953:
cipal, CXIA1, S. Paulo, 1951.
— “Psicologia Ética”, in A Psicologia Moderna,
(33) Publicado anteriormente em O Estado de S. Paulo,
de Otto Klineberg e cols.;
1/12, S. Paulo, 1948.
(34) Resenhas de autoria de Baldus publicadas em 1949: — prefaciou o “Mitos e lendas dos índios Tau-
lipang e Arelcuna”, de Koch-Grünberg, Revista
— a Hans Krieg: “Zwischen Anden und Atlan­
do Mus. Paulista, N.S., VII, S. Paulo;
tic”, in Revista do Museu Paulista, N.S., III, S.
Paulo; — resenha de “Tupari”, de Franz Gaspar, ibidem;
— a Hilde Thumwald: “Gengewartsprobleme — idem de “Magic Books from Mexico", de C.
Berliner Familien”, ibidem. A. Burland, ibidem;
(35) Publicada a versão em português: Cultura, IV, — fragmento sobre Julius F. Glück und F. Jäger:
Rio de Janeiro, 1951, sob o titulo: “Kanaschi- “Tribus", ibidem.
wua”. Esta matéria complementa o ensaio “Mi­
tologia Karajá e Tereno”, saído em Ensaios de (44) Livro de 859 páginas, na 1* edição. Saiu em 2* edi­
ção em 1970.
Etnologia Brasileira, 1937.
(45) Trata-se de um suplemento ao Manual Bibliográfico
(36) N o mesmo ano foi editado em Anhembi, I, n. 2,
de Estudos Brasileiros, 1949. Esta bibliografia está
S. Paulo, sob o título: “Entre índios norte-ame­
contida no Bibliografia Crítica da Etnologia Bra­
ricanos”. sileira, 1954.
(37) Reeditado no Boletim Bibliográfico de Antropo­ (46) Este trabalho é um resumo que complementa a Bi­
logia Americana, XIII, parte I, México, 1951, e, bliografia Crítica da Etnologia Brasileira, 1954.
em alemão, no Zeitschrift fü r Ethnologie, (47) Reimpresso ein Südamerika, IV, Buenos Aires,
LXXVl, Heft 2, Braunschweig, 1951. 1954.
(38) Em 1951, Baldus publicou na Revista do Mus. Pau­ (48) Em 1954, saiu a lume, com o Vinte e três índios
lista, N.S., V, S. Paulo, os seguintes fragmentos e resistem à civilização, de Harold Schultz, o prefá­
resenhas: cio de Baldus a essa obra.
— a “Der Mensch geringer Naturbeherrschung", (49) Editado em inglês: “The Ethnographical Study of
the Brasilian Indian", Ethnos, XX, Stockholm,
de Richard Thumwald;
1955.
— a “Mythe, Mensch und Umwelt", de Ad. E. (50) Foram também publicados:
Jensen;
— “Der 31 Internationale Amerikanistenkon­
— a “Nomads o f the long bow", de Allan R. gress”, Sociologus, N.S., V, 12, Berlim, 1955. A
Holmberg; edição italiana deste mesmo artigo saiu na Rivista
— a “Culture in crisis”, de Laura Thompson. di Etnografia, VIII-IX, Napoli, 1955.
Resenhas:
(39) No mesmo ano foi reeditado na Revista do Mus.
Paulista, N.S., VI, S. Paulo. — “Maximilian Prinz zu Wied", de Röder e
(40) Transcrito na Revista do Museu Júlio Castilhos
Trimbom, in Anhembi, n. 60, S. Paulo, 1955;
e Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, n. 8,
Porto Alegre, 1957, com omissão da bibliografia — “Allgemeine Volkerkund", de Kuntz Dittner,
constante da primeira publicação. in Revista do Museu Paulista, N.S., IX, S Paulo
(41) Baldus publicou ainda, em 1952: 1955;

111
SAMPAIO-SILVA, O. Herbert Baldus: vida e obra — Introdução ao indigenismo de um americanista teuto-bra-
sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

— “Wild und Buschgeister in Südamerika”, — “Lehrbuch der Völkerkunde”, de Adam e


idem; Trimbom;

— “Las Poblaciones Indigenas de la Argentina, — “Volksdichtung der Ketschua”, de J. Lara;


su origen, su pasado, su presente”, de S. Canals — “Etnografía de M exico”;
Frau, idem.
— “Sonderbauten südamerikanischer Naturvöl­
(51) Em 1956, ainda publicou: “Der 32 Internationale ker”, de Immina Schömig;
Amerikanistenkongress”, Sociologus, N.S., VI, 2,
Berlim, tendo sido publicada a versão em portu­ — “De passagem pelo Brasil e Portugal”, de Jo-
guês, em Sociologia, XVIII, n. 4, e a versão italiana, han Brelin;
na Rivista di Etnologia, X, Napoli.
— “Cott muss Peruaner sein”, de Hans-Dietrich
(52) Versão abreviada, em alemão: “Maximilian Prinz zu
Disselhoff;
Wied in seiner Bedeutung für die Indianer Fors­
chung in Brasilien”, Proceedings of the Thirty-se­ — “Volksdichtung der Keschua”, de L. Flachs­
cond International Congress of Americanists (Co­ kampf e M. Trimbom;
penhagen, 1956), Copenhagen, 1958.
(53) Este artigo foi publicado em versão para o alemão, — “Les céramiques précolombiennes”, de H.
em Sociologus, VIII, Berlim, 1958. Lekmann;
(54) A revista Anhembi, n. 88, S. Paulo, 1958, reeditou — “Die sozialökonomischen Verhältnisse bei
este artigo. den Azteken im 15 und 16. Jahrhundert”, de Frie­
(55) Na Revista do Mus. Paulista, N.S., X, S. Paulo, drich Katz;
1956-58, Baldus publicou as seguintes resenhas:
— “Wörterbuch der Soziologie”, de Bemsdorf — “Grundfragen menschlicher Gesellung”, de
e Büllow; R. Thumwald;
— Lehrbuch der Völkerkund. Leonard Adam
— “Poesias”, de José de Anchieta;
und M. Trimbom.
— “Die Wiener Schule der Völkerkunde”, de J.
(60) Trata-se de publicação, com pequenas modificações,
Hackel.
do artigo já divulgado em 1945 e 1946, sendo no­
(56) O artigo sobre Rivet, no ano seguinte, foi novamen­ vamente editado em Humboldt: Revista para o
te publicado: Acras del XXXIII Congresso Interna­ Mundo Luso-Brasileiro, ano 2, n. 5, Hamburg,
cional de Americanistas (San José da Costa Rica, 1962.
1958), I, San José da Costa Rica, 1959, e na Revista (61) Notas etnográficas, referentes principalmente aos
do Mus. Paulista, N.S., XI, S. Paulo, 1959. Kaingang, ao “Diário de uma viagem pelo sertão
(57) Saiu publicado, também, nos Anais da III Reunião de São Paulo, realizada em 1904", de Comélio
Brasileira de Antropologia (1958), Recife, 1959, e, Schmidt, publicado in Anais do Museu Paulista,
em inglês — “The Fear in tapirapé Culture” — in XV S. Paulo, 1961.
Selected Papers o f the Fifth Internacional Con­ (62) Em 1960, Baldus fez acréscimos etnográficos à 10*
gress o f Anthropological and Ethnological Sciences edição do Pequeno Dicionário da Língua Portu­
(Philadelphia, 1956), Philadelphia, 1960. guesa-,
(58) Neste artigo, o autor comenta o livro de Florestan
Fernandes, A Etnologia e a Sociologia no Brasil No mesmo ano, publicou notas e resenhas diver­
(1958), o que provocou a publicação, pelo autor sas:
comentado, de um artigo em resposta, cf. está re­
ferido no texto principal deste trabalho. — “O XXXIV Congresso Internacional de Am e­
(59) Em 1959, Baldus publicou, na Revista do Mus. Pau­ ricanistas”. Sociologia, XX, n. 4, S. Paulo;
lista, N.S., S. Paulo, os seguintes fragmentos e re­
— “Die amerikanische ‘Cultural Anthropology’
senhas:
und das Wertproblem”, de Wolfgang Rudolf, in
— “S. P. I. — 1954"; Revista do Mus. Paulista, N.S., XII, S. Paulo;'
— “Zwettler-Codex 420", de Pauke; — “História da Cultura”, de Birket-Smith, idem;
— “Das Alte Amerika”, de Hermann Trimbom; — “Ethnographie Interpretations”, de A. L.
Kroeber, idem;
“Culturas e línguas indígenas do Brasil”, de Dar­
cy Ribeiro; — “Xingu”, de Wustmann, idem;

— “Arte plumária dos índios Kaapor”, de Darcy — “Compêndio alemão de etnologia”, Anhembi
Ribeiro e Berta G. Ribeiro; n. 111, S. Paulo;

— “Das Indianerbuch”, de Eva Lips; — “Homenagem a Paul Rivet”, idem, n. 118.

— “Tristes Trópicos”, de Claude Lévi-Strauss; (63) Republicado em Akten des 34 Internationalen Ame­
rikanistenkongress (Wien, 1960), V\lena, 1962, e, no
— “Mandurucu Religion”, de Robert F. Murphy; Bulletin ofthe International Committee on Urgente

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SAMPAIO-SILVA, O. Herbert Baldus: vida e obra — Introdução ao indigenismo de um americanista teuto-bra-
sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992..

Anthropological and Ethnological Research, n. 5, atual de Etnologia na América Latina", saiu publi­
Viena, 1962. cado na Actas y Memorias, III, do XXXVI Con­
(64) Baldus foi o compilador e selecionou estórias e len­ gresso internacional de Americanistas, Sevilha,
das publicadas por diversos autores, tendo os textos 1966.
sido adaptados por Afonso Schmidt, sendo publica­ (75) Outras publicações do mesmo artigo: in Humboldt:
dos, com introdução de sua autoria, em “Estórias e Revista para o Mundo Luso-Brasileiro, XIV, Ham­
lendas dos índios“, Antologia Ilustrada do Folclore burgo, 1966, in Actas y Memorias del XXXVI Con­
Brasileiro, I, S. Paulo, 1960. gresso Internacional de Americanistas, III, Sevilha,
(65) Um resumo deste substancioso ensaio foi publicado 1966, e, em inglés, in Alatives South Americans,
em língua alemã: “Die Stempel der Indianer Bara- Ethnology of the Least Known Continent, Little,
siliens“, Anthropos, LVII (Festschrift für P. Martin Brown and Co., Boston, 1974.
Gusinde), St. Augustin, 1962. (76) Prefaciou o Folclore Nacional, de A. Maynard de
(66) Resenhas e comentários: Araújo, S. Paulo, 1964.
(77) Resenhas e comentarios:
— “Chiliasmus und Nativismus”, de Wilhelm E.
Mühlmann, in Revista do Mus. Paulista, N.S., — “Waika", de Otto Zerries, Revista do Mus.
XIII, S. Paulo, 1961/62, saiu, mais tarde, publica­ Paulista, N.S., XV, S. Paulo, 1964;
do no Jornal Brasileiro de Psicologia, I, n. 1, — “Die Tacana”, de Hissink und Hahn, idem;
1964;
— H. Hartmann: Georg Catlin und Balduin Mõl-
— “Grundprinzipien einer Periodizierung der lhausen, idem.
Urgeschichte", de Irmgard Sellnow, in Revista do (78) Publicado, em lingua francesa, no Bulletin de la So-
Mus. Paulista, N.S., XIII, S. Paulo, 1961/62; cieté Suisse des Américanistes, n. 29, Genéve,
1965; saiu também, na Revista do Instituto Histó­
— “Kinder der Erdgõttin", de Hans-Dietrich Dis-
rico e Geográfico de São Paulo, LXII, S. Paulo,
selhoff, idem;
1966.
— Comentário a Luiz Pericot y Garcia: America (79) Reeditado no Suplemento Antropológico de la Re­
Indígena, tomo I, idem. vista del Ateneo Paraguayo, vol. 3, n. 1-2, Assun­
ção, 1968.
(67) Também publicado em Humboldt: Revista para o (80) Este necrológio, traduzido para o inglés por David
Mundo Luso-Brasileiro, n. 4, Hamburgo, 1962, e, Maybury Lewis, foi publicado em American Anth-
mais tarde, no Brasilianisch Tage, in Ingelheim am ropologist, LXVHl, n. 5, Menasha, 1966; identica­
Rhein, 25/4/1970. mente editado em Humboldt, n. 16, Hamburgo,
(68) Este trabalho se constitui na maior parte do artigo 1967.
“Os Tapirapé, tribo tupi no Brasil Central”, in Rev. (81) Resenhas e fragmentos:
do Arquivo Municipal, CVII, S. Paulo, 1946, o
qual, posteriormente modificado, veio a integrar o — “Aculturação Indígena", de Egon Schaden,
livro Tapirapé: Tribu tupi no Brasil Central, Cia. Revista do Mus. Paulista, N.S., XVI, S. Paulo,
Ed. nacional-Ed. da USP, S. Paulo, 1970. 1965/66;
(69) Voltou a ser publicado: “Métodos y resultados de la — “The use of some specific kinds of South
acción indigenista en el Brasil“, Actas y Memorias American Indian Snuff and Related Paraphema-
del XXXV Congresso Internacional de Americanis­ lia”, de S. Henry Wassen, idem;
tas, México, 1964, pois fora comunicação apresen­
tada a este congresso, no México, a 21 de agosto — “Descrição do Estado do Maranham, Pará,
de 1962. Corupa, Rio das Amazonas", de Mauricio de He-
(70) Prefaciou a Historia da Cultura, de Birket-Smith, riarte, idem;
1962.
(71) Proferiu discurso, na qualidade de Presidente da VI — “Manual de Arqueologia”, de José Alcina
Reunião Brasileira de Antropologia. Publicado in Franck, idem.
Revista do Mus. Paulista, N.S., XIV, S. Paulo, (82) Este trabalho também foi publicado anteriormente
1963. em Actas y Memorias, XXXVII Congresso Interna­
(72) Prefaciou a 2* edição de A Organização Social dos cional de Americanistas (Argentina, 1966), Vol. III,
Tupinambá, de Florestan Fernandes, S. Paulo, Buenos Aires, 1968, e, posteriormente, veio a cons­
1963. tar do livro: Tapirapé, tribo tupi do Brasil Central,
(73) Versão em inglés, sob o título: “Sinopsis of the Cri­
1970.
ticai Bibliography of Brasilian Ethnology, 1953- (83) Resenhas e comentários:
1960", in Indians o f Brazil in the Tventieth Centu-
ry, Washington, 1967. — “Akawé-Shavante Society", de David May-
(74) Este trabalho complementa o "Sinopse da Bibliogra­ bury-Lewis, in Revista do Mus. Paulista, N.S.,
fía Crítica da Etnologia Brasileira (1953-1960)” XVII, S. Paulo, 1967; nesta resenha saiu também
(1964). Foi publicado também no Bullletin o f the publicada em Sociologus, XVIII, Berlim, 1968;
International Cominee on Urgent Anthropological
and Ethnological Research, NB7, Viena, 1965, sob — “Material Culture of the Waiwái”, de Jens
o título: “Introdução ao simposio sobre o estado Yde, idem;

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SAMPAIO-SILVA, O. Herbert Baldus: vida e obra — Introdução ao indigenismo de um americanista teuto-bra-
sileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. S. Paulo, 2:91-114, 1992.

— “Viaggi tra gli Indi”, de Ettore Biocca, idem; Príncipe de Wied, identicamente com Introdução
de Baldus, 1969.
— P. Florian Paucke S.J. — Zwettler-Codex 420, (87) Contém artigos publicados sobre os índios Tapi-
II, idem. rapé, a partir de 1944, aumentados e modifica­
dos.
(84) Com 864 páginas. (88) 2* edição.
(85) Saiu publicado o Viagem pelo Brasil, de Spix e (89) Trata-se da Introdução (“Einfürung") à Bibliografia
Martius, com Introdução de Baldus, 1968. Crítica da Etnologia Brasileira, Vol. II (1968).
(86) Publicado o Viagens ao Brasil, de Maximiliano, (90) Apresentação de Egon Schaden.

(Os estudos sobre H. BALDUS e sua obra, que possibilitaram a


elaboração deste trabalho, foram concluídos pelo autor, prof. Orlando
Sampaio-Silva, em setembro de 1985).

Recebido para publicação em 20 de maio de 1992.

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