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Cadernos PDE
I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CANDOMBLÉ E UMBANDA NA ESCOLA:
Cultura, história e origem das religiões de matriz africana
Resumo: Em meados dos anos de 1990, o Ensino Religioso passou a integrar a Base
Nacional Comum, das matrizes curriculares, do Ensino Fundamental, das escolas
públicas brasileiras. Regulamentado pelo artigo 33, da LDB, Lei Federal n. 9394/1996,
a disciplina recebeu redimensionamento epistemológico, sendo uma das exigências
legais a remoção de práticas proselitistas no espaço escolar. A orientação é para que
o ensino considere a diversidade cultural religiosa brasileira. Essa regulamentação é
um indicativo da necessidade de desenvolver ações que propiciem condições para a
aplicabilidade da proposta quanto ao ensino das relações étnico-raciais, o que
significa, em muitos contextos, a compreensão de novos conceitos e a inclusão de
reflexões sobre religiões outrora excluídas da escola. Em 2003, os espaços de estudo
da história e da cultura dos negros e da África também foram inseridos, pela Lei
Federal n. 10.639/03, em todas as disciplinas da Educação Básica, o que colocou
novamente a diversidade religiosa em cena. Com o objetivo de aprofundar essa
temática e ampliar os estudos sobre as religiões de matriz africana, especificamente o
Candomblé e a Umbanda, em observância as disposições legislativas, durante a
realização do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), em 2014, foi
elaborado um projeto de intervenção pedagógica. O projeto organizado em sete
encontros totalizou 32 horas/aula e foi aplicado à Equipe Multidisciplinar do Colégio
Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza, Ensino Fundamental e Médio, em São
Miguel do Iguaçu-PR, entre fevereiro e maio de 2015. Os resultados das atividades
demonstraram que pequenas ações podem redimensionar a prática e o olhar sobre a
importância dos estudos interdisciplinares a respeito da cultura, história e religiosidade
dos povos africanos no Brasil, não apenas na disciplina de Ensino Religioso, mas
também nas demais disciplinas curriculares como estabelece a legislação federal em
vigor.
Introdução
Educação/UNIOESTE. vilmar.malacarne@unioeste.br
dos africanos, bem como da cultura religiosa dos afrodescendentes, por meio
das Leis Federais n. 10.639/2003 e 11.645/08. Com a promulgação destas
Leis, a história e a religiosidade de matriz africanapassou a integrar todas as
disciplinas curriculares do Ensino Fundamental, para além do Ensino Religioso
e, ainda no Ensino Médio, nos estabelecimentos de ensino público e privados.
Entretanto, o que se percebe é que a ausência de reflexões e o
desconhecimento da história afro permanecem entre os principais motivos de
discriminação em relação àcultura negra na sociedade e na escola. Na escola
os professores, de um modo geral, não se sentem suficientemente qualificados
para abordagem dessa temática, além disso, existe a insuficiência de materiais
didáticos e a própria negação3 de atitudes preconceituosas. Em pesquisas
realizadas por Munanga (2005; 2013) foi constatado que “[...] alguns dirigentes
de escola e professores recusaram-se a cumprir a lei, justamente porque [estes
afirmam que] “não existem preconceitos raciais em suas instituições” (p. 8). A
negação do preconceito desvela em si uma atitude de descriminação. Quando
os dirigentes entrevistados por Munanga(2005; 2013) declaram não abordar a
história e a cultura afro na escola, privam seus alunos de reflexões sobre a
pluralidade cultural brasileira e o conhecimento do significado da religiosidade
para esses povos.
A inserção da história e da cultura afro na escola deveria ser
compreendida como uma nova forma de olhar para os milhões de africanos,
que foram escravizados4 na América.Serve, ainda, como um momento para
problematizar o movimento de resistência à escravidão e a configuração
religiosa desse ato.Isso porque as ações de resistência tiveram seu início,
sobretudo, nos espaços de culto. No culto, havia a possibilidade dos negros
“[...] se estruturar [em] e se organizar [em] clandestinamente em todos os
sentidos: a resistência artística na música dança artes plásticas, organização
social nos valores de solidariedade africana e do sistema de parentesco
extenso” (MUNANGA, 2013, p. 11).
3
Na edição de setembro da Revista Galileu circulou matéria em que a temática justamente
aborda o “racismo invisível”, ou seja, a negação de ações preconceituosas (LOUREIRO,
setembro, 2015).
4 Essa condição escrava é que distingue a população africana de outros processos imigratórios
na América.
Nesse sentido, se fez necessário, para que os estudos da cultura afros
se efetivem a bons termos, no Ensino Religioso e nas demais disciplinas da
Base Nacional Comum, entre outras medidas, investir na formação de
professores, em primeiro lugar, no sentido de reconhecer a importância da
História Afro-brasileira e Africana. Sobretudo, porque essa é uma temática
recente para o ensino, no sistema educacional brasileiro e, por isso, ainda não
contemplada na maioria das matrizes curriculares dos cursos de formação
inicial dos professores atuantes na Educação Básica.
Nesse contexto este artigo tem como objetivo apresentar, tendo a
religião como foco, elementos sobre a trajetória dos povos africanos que
vieram para o Brasil e aqui construíram sua história e desenvolveram uma nova
cultura. Refletir, ainda, sobre a importância do estudo dos significados do
Candomblé e da Umbanda na formação religiosa do povo brasileiro. Discute,
também, sobre os resultados de um projeto de intervenção pedagógica
elaborada com vistas a contribuir para a ruptura dos preconceitos
sedimentados no imaginário popular quando a questão é o negro e sua
religiosidade, enfocando essas vertentes das religiões afros. O projeto de
intervenção pedagógica faz parte das atividades que devem ser propostas pelo
professor que participa do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).
O principal objetivo do PDE é oferecer aos professores que atuam na Rede
Pública Estadual recursos teórico-metodológicos que possam aprimorar sua
prática educacional. O PDE foi regulamentado no estado do Paraná pela Lei
Estadual Complementar n. 130, de 14 de julho de 2010, este estabelece ainda
pontes de diálogo entre professores universitários e professores da Educação
Básica. O resultado das atividades teórico práticas orientadas visa a produção
de conhecimento e alterações qualitativas na prática pedagógica dos
profissionais que atuam nas escolas públicas (PARANÁ, 2010).
A partir dos pressupostos e dos objetivos do PDE este projeto de
intervenção pedagógica foi implantado no Colégio Estadual Pedro Viriato
Parigot de Souza, Ensino Fundamental e Médio, do Município de São Miguel
do Iguaçu-PR, onde participaram das atividades à Equipe Multidisciplinar5 da
Ainda que seja pela via legislativa, o importante é que passos sejam
firmados para o estudo das origens e das nações que estruturam a formação
dos povos africanos, propiciando aos alunos experiências práticas sobre
costumes, regras de conduta, hábitos alimentares, religiosidade, contribuindo
para o resgate da memória e da história africana. A formação das Equipes
Multidisciplinares representa, nesse contexto, um avanço para que as
disposições das Leis Federais n. 10.639/03 e n. 11.645/08 se efetivem nas
escolas, pois significam, entre outras coisas, um espaço para formação
docente e para reflexão aprofundada sobre a temática. Diante dessa
possibilidade de formação e ação na escola é que se insere esse trabalho, com
foco no Candomblé e na Umbanda, religiões de matriz africana, que tem
representatividade na comunidade de aplicação do projeto de intervenção
pedagógica. Antes, porém, de apresentar os resultados da implantação do
projeto apresentaremos algumas características de origem e dos rituais afro-
brasileiros.
Considerações Finais
Referências