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Das Minhas Cores

quinta-feira, 28 de agosto de 2014 Pesquisar este blog

CRIMINOLOGIA - NEUROCRIMINOLOGIA Pesquisar

Por que?
VEJA
Paty Melhem
Ciência
02 de Julho de 2013 Blog criado para compartilhar
Neurociência um pouco de tudo o que dá
cor a minha vida: minha fé,
Por dentro da mente dos criminosos minha família, meus amigos,
minha profissão, meus gostos
O psiquiatra britânico Adrian Raine estuda quais e desgostos!

os fatores neurológicos, ambientais e genéticos Visualizar meu perfil completo

por trás do comportamento violento. Em Que cores?


entrevista a VEJA, ele analisa uma série de Cidadania Real (7)
assuntos delicados, como livre-arbítrio, Ciência Política TGE (28)
Corinthians (2)
maioridade penal, sistema prisional e até os Criminologia (34)
protestos no Brasil Cursilho (11)
Por Guilherme Rosa devaneios (46)
Direito Penal (2)
Adrian Raine, professor da Universidade da Pensilvânia Em entrevista ao site de VEJA,
Dozaluno (8)
Adrian Raine afirma que, durante décadas, os cientistas só estiveram interessados nos
leituras (1)
componentes sociais da violência. "Agora estamos descobrindo as peças biológicas do
música (28)
quebra-cabeça" (Divulgação/University of Southern California)
O psiquiatra britânico Adrian Raine dedicou sua vida a entender como surge o Ócio Criativo (2)
comportamento violento. Para isso, o britânico já esteve em cadeias de segurança máxima, Pérolas da Tia Paty (1)
onde analisou o cérebro de criminosos perigosos e psicopatas. Também já esteve em Vida Real Legal (2)
maternidades, para estudar quais fatores ambientais podem influenciar na formação de
adultos violentos. Hoje, ele é professor de psiquiatria e criminologia na Universidade da
Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde realiza estudos em áreas tão variadas quanto Pra quem?
neurociência, genética e saúde pública para dar origem a um novo ramo da ciência: a Seguidores (59) Próxima
neurocriminologia.
Adrian Raine acaba de lançar o livro The Anatomy of Violence (A Anatomia da Violência,
inédito em português), no qual descreve como funciona o cérebro de um indivíduo violento
e como uma série de tratamentos pode prevenir esse tipo de comportamento. Em
entrevista ao site de VEJA, Raine analisa uma série de assuntos delicados, como livre-
arbítrio, maioridade penal, sistema prisional e até os protestos no Brasil. De passagem por
Porto Alegre, Raine marchou por três horas ao lado de manifestantes até o momento em
que um grupo de vândalos entrou em confronto com a polícia. "Vandalismo, quebrar
carros, roubar lojas — isso não é atacar o governo, mas atacar os cidadãos do Brasil.
Penso que essas pessoas têm não só uma razão política para sua violência, mas uma razão
biológica." Seguir
O cientista acredita que um dia será possível prever quem tem maiores chances de
cometer um crime apenas por meio de imagens de seu cérebro. Mas adverte que esse
cenário exigirá cautela: "Até porque minhas imagens cerebrais se parecem com a de um Que nem limão
criminoso que matou 64 pessoas — eu tenho o cérebro de um serial killer".
Que nem limão
Como a neurocriminologia pode ajudar a explicar os casos extremos de violência?
gabriel divan
A neurocriminologia é uma nova disciplina que estou começando a desenvolver nos
Estados Unidos, que envolve a aplicação de técnicas da neurociência para entender as nova criminologia
causas do crime. Nós tentamos juntar tudo que aprendemos nos últimos anos — na antiblogdecriminologia
umanosemzara
genética, técnicas de imagem cerebral, neuroquímica, psicofisiologia e neurocognição — veritatissplendor
para explicar porque algumas pessoas crescem para se tornar criminosos violentos. emiliodiversidade
Queremos entender o cérebro por trás não só dos criminosos comuns, mas também o de juridiques
psicopatas, criminosos de colarinho branco e homens que batem em suas esposas. Nós
cursilhoblog
estudamos todo o leque de comportamento antissocial e observamos que, não importa a
cursilho
forma, existe uma base biológica para todos eles.
Todas essas formas diferentes de violência têm a mesma base cerebral? Há camporeal
diferenças. Por exemplo, minha equipe estudou psicopatas — os criminosos que não têm
empatia nem remorso. Já sabíamos que eles têm um baixo funcionamento da amígdala, o
Arquivo do blog
centro emocional do cérebro. Nossa pesquisa mostrou ainda mais: que nesses indivíduos a
estrutura física dessa área é 18% menor do que no resto da sociedade. Com o centro ► 2017 (1)
emocional reduzido e sem funcionar direito, os psicopatas passam a não sentir medo. É
► 2016 (2)
por isso que eles quebram as regras da sociedade – pois não têm medo da punição.
► 2015 (6)
Quando estudamos homens que batem em suas esposas, no entanto, descobrimos que
suas amígdalas são muito ativas, mas o córtex pré-frontal não funciona direito. O córtex ▼ 2014 (16)
pré-frontal é a área que regula as emoções. Nossa conclusão é que a alta atividade da ► Setembro (2)
amígdala resulta em reações exageradas a estímulos leves, como receber críticas da ▼ Agosto (1)
esposa — o que os deixa mais agressivos. Esses homens que respondem exageradamente
CRIMINOLOGIA -
aos estímulos não possuem os recursos cognitivos para controlar essa emoção. São formas NEUROCRIMINOLOGIA
diferentes de comportamentos antissociais, com tipos diferentes de predisposições
biológicas. ► Julho (3)
Como se explica que problemas em áreas cerebrais específicas possam levar a ► Junho (9)
comportamentos violentos? Quando temos de tomar uma decisão moral e pensamos
► Janeiro (1)
em quebrar a lei (e todos nós já pensamos em fazer algo errado), ficamos ansiosos, com
um pouco de medo. Esse é o freio de emergência que nos impede de quebrar as regras da ► 2013 (20)
sociedade. Mas esse freio não funciona direito nos psicopatas. Eles sabem o que é certo e ► 2012 (29)
errado, mas não têm o sentimento correspondente. E é esse sentimento, e não o
► 2011 (50)
conhecimento, que nos faz frear nosso impulso. Isso traz uma questão que me fascina.
Como os psicopatas têm o motor emocional quebrado — e eles não têm culpa de ► 2010 (17)
possuírem essa disfunção —, será correto culpá-los e castigá-los por seu comportamento?
Essa é uma questão que teremos que discutir no futuro.
Todo o comportamento violento pode ser explicado por disfunções no cérebro? Na
verdade, encontrar as causas da violência é muito mais complexo do que isso. Só agora
estamos começando a identificar com segurança quais as áreas cerebrais que, se
prejudicadas, aumentam as taxas de violência. Mas esse é um quebra-cabeça com muitas
peças. A amígdala é uma peça, o córtex pré-frontal é outra peça, e certamente há outras
áreas cerebrais envolvidas. Mas também há outros tipos de peças. Não é só a biologia. Os
fatores sociais também são importantes. Desemprego, pobreza, preconceito racial, maus
tratos paternos e más condições de habitação e educação têm seu papel nisso — e
inclusive podem afetar o desenvolvimento cerebral. Acontece que por décadas os
pesquisadores têm estudado só essas peças sociais. Agora estamos descobrindo as peças
biológicas do quebra-cabeça. O próximo desafio é colocar essas peças juntas.
Como essa técnica pode explicar a violência que irrompe em protestos, por
exemplo? Pense nos manifestantes que vão às ruas no Brasil. Muitos deles são pacíficos.
Eu fui a uma manifestação em Porto Alegre (o pesquisador esteve no Brasil no final de
junho) e marchei com a população por três horas. Todos estavam tranquilos, muito
organizados, não vi nenhum tipo de comportamento antissocial. Mas por volta das 21
horas, gás lacrimogênio foi disparado pela polícia e eu decidi que era hora de ir embora.
Depois, fiquei sabendo que uma pequena minoria ficou por ali e praticou atos obviamente
antissociais. Vandalismo, quebrar carros, roubar lojas — isso não é atacar o governo, mas
atacar os cidadãos do Brasil. Se eu pudesse analisar o cérebro dessas pessoas,
provavelmente veria que eles tinham uma baixa função da amígdala, a parte responsável
pela consciência, remorso, culpa e medo. Penso que essas pessoas têm não só uma razão
política para sua violência, mas uma razão biológica.
Mas nesse caso, as pessoas não podem estar agindo por pressão do grupo?
Seguindo um comportamento de manada? Sim, a situação social é importante nesse
tipo de comportamento. Mas repare que, mesmo com esse estímulo do grupo, só algumas
pessoas quebram a lei. A maioria decide fugir.
Divulgação/ University of Southern California
Adrian Raine, professor da Universidade da Pensilvânia
Adrian Raine esteve no Brasil para participar do Congresso Mundial de Cérebro,
Comportamento e Emoções, realizado em São Paulo, onde conversou com o site de VEJA
Em seus estudos, o senhor descobriu outros fatores que podem influenciar o
comportamento violento? Minha equipe fez diversas pesquisas. Algumas se focam em
fatores no começo da vida que afetam o desenvolvimento da criança. Por exemplo, mães
que fumam ou bebem durante a gravidez — suas crianças têm de duas a três vezes mais
chances de se tornarem adultos violentos. Estudamos crianças que tiveram problemas de
parto ou pouca nutrição durante a gravidez, o que pode danificar sua estrutura cerebral.
Também pesquisei outra área interessantíssima. Pessoas que possuem uma baixa
frequência cardíaca quando estão em repouso têm uma probabilidade maior de agir
agressivamente. Essa pesquisa foi replicada com êxito em muitos países. Isso acontece
porque, quando alguém vai a um laboratório, para medir sua pulsação, isso causa um
pouco de stress. Sua pulsação, normalmente acelera. Pessoas cuja pulsação não responde
minimamente a stress não têm medo e, por isso, podem cometem mais crimes ou se
envolver em brigas nas ruas.
Existe uma predisposição genética para a violência? O que nós já sabemos é que
cerca de 50% da variação nas taxas de violência pode ser atribuída a fatores genéticos.
Toda uma geração de pesquisas, realizada com irmãos gêmeos e filhos adotivos, mostrou
que os fatores hereditários são, sim, importantes. A próxima geração de pesquisas é a
molecular, que já começa a identificar quais os genes envolvidos. Até agora o mais
estudado é o gene da monoamina oxidase A (MAOA), que, quando produz uma baixa
quantidade de sua enzima, atrapalha o funcionamento de neurotransmissores. Indivíduos
com essa mutação são particularmente suscetíveis ao comportamento antissocial,
principalmente quando sofrem abusos na infância. Mas é muito importante destacar que
nunca vamos descobrir um gene que seja, sozinho, responsável pela violência.
Descobriremos vários, que serão associados a muitos outros fatores sociais. O ambiente
também é importante por alterar o modo como os genes funcionam. O DNA é fixo, mas o
modo como ele se expressa — e como afeta o cérebro — pode ser alterado pelo ambiente.
O ambiente pode explicar, por exemplo, a diferença entre a taxa de violência no
Brasil e no Japão? Sim. Além de todos os fatores ambientais já citados, há muitos outros
que podem fazer um país ser mais violento que outro. Os Estados Unidos, por exemplo,
tem um alto índice de índice de assassinatos também por causa da grande disponibilidade
de armas. Existe outro fator bem interessante do qual falo em meu livro. Nele, eu estudo
26 países e analiso como o consumo de peixes em cada local se relaciona com o índice de
homicídios. No Japão, onde as pessoas consomem uma imensa quantidade, os índices são
muito baixos. Em países do leste europeu, com baixo consumo de peixe, as taxas de
homicídio são altas. Isso acontece porque o peixe possui ômega 3 — um ácido graxo de
cadeia longa, que é vital para a estrutura cerebral e seu bom funcionamento. Ele também
regula a expressão dos genes e o funcionamento dos neurotransmissores. Nossas
pesquisas mostram que um cérebro disfuncional pode levar a um comportamento
disfuncional. E um modo de melhorar o funcionamento cerebral pode ser simplesmente a
alimentação com peixe.
O senhor está dizendo que aumentar o consumo de peixe pode diminuir as taxa
de homicídio em um país? Em parte, sim. O caso do ômega 3 é interessante para
pensarmos no desenvolvimento de novos tratamentos. Duas pesquisas já mostraram que
dar óleo de peixe para prisioneiros pode reduzir o número de crimes cometidos na cadeia
em até 35%. O primeiro desses estudos foi feito na Inglaterra e replicado na Holanda.
Minha equipe realiza estudos com crianças, que também mostram que fornecer ômega 3
para pessoas de 8 a 16 anos ajuda a reduzir a agressão e o comportamento antissocial
nessa fase da vida. Há uma mensagem por trás disso: biologia não é destino. Nós
podemos mudar os fatores de risco que dão origem ao comportamento agressivo.
Então o comportamento violento pode ser prevenido? Nós sabemos que, se
pudermos melhorar o funcionamento do cérebro, podemos melhorar o comportamento. E
existem estudos que colocaram isso em prática. Em um deles, enfermeiras visitaram mães
durante sua gravidez e nos dois primeiros anos de vida da criança. Elas aconselhavam as
mulheres a parar de beber e fumar, ensinavam qual a nutrição adequada, mostravam as
necessidades psicológicas dos bebês. Ao comparar o resultado dessas crianças com o de
um grupo de controle, que não recebeu as visitas, os pesquisadores descobriram que a
delinquência juvenil caiu pela metade. Nós fizemos um estudo com crianças de três anos,
no qual fornecemos uma melhor nutrição, mais exercícios físicos — que resultam no
desenvolvimento de novas células nervosas — e exercícios cognitivos durante dois anos.
Oito anos depois, essas crianças tinham melhores funções cerebrais, elas estavam mais
alerta e atentas e seus cérebros pareciam ser pelo menos um ano mais maduros do que o
grupo de controle. Não é só isso: seguimos essas crianças até os 23 anos e vimos uma
redução de 34% no número de infrações penais. Há uma última técnica que pode ser útil,
que é a meditação. Estudos mostram que ela melhora o funcionamento do lóbulo pré-
frontal — uma área cerebral que sabemos estar disfuncional em indivíduos violentos. Essa
técnica ainda não foi testada em prisioneiros. Isso porque os cientistas relutam em
reconhecer que existem bases cerebrais para o comportamento violento. Espero que meu
livro abra as portas para esse novo campo de pesquisas.
Então é possível tratar até o cérebro de adultos? Nós sabemos que nunca é cedo
demais para intervir no caso de crianças e nunca é tarde demais para tratar os adultos. Os
estudos com ômega 3 mostram isso. O cérebro é um órgão muito plástico.
Do ponto de vista da neurociência, quando o cérebro está maduro e a pessoa
pode ser julgada como um adulto? Essa questão é bastante debatida em todo o
mundo. O que sabemos é que o cérebro humano não está completamente maduro até os
20 anos. Os adolescentes de 15 e 16 anos são impulsivos, não controlam suas emoções,
porque seu córtex pré-frontal não está completamente desenvolvido. Em alguns casos, ele
demora até os 30 anos para se desenvolver, e sabemos que disfunções nessa região são
encontradas em criminosos. Acho que faz sentido levar em conta o desenvolvimento
cerebral para analisar conceitos como a responsabilidade penal, mas não existe uma linha
mágica. Há pessoas de 19 anos com cérebros funcionando como o de indivíduos de 16
anos, mas também existem pessoas de 15 com cérebro de 20. No futuro, poderemos usar
outras medidas de maioridade neural, que usem imagens cerebrais para analisar se uma
pessoa é responsável por seu comportamento. Mas é claro que hoje temos de ser práticos
e decidir uma idade de corte. Nesse caso, fixá-la em 18 anos não me parece ruim.

Videoteca básica
Minority Report
Minority Report Uma força policial capaz de prever quem vai cometer crimes e agir
antes que eles aconteçam é o tema do filme Minority Report, de 2002 (baseado num conto
homônimo do autor de ficção científica Philip K. Dick, escrito em 1956). A história se passa
nos Estados Unidos, em 2045. O sistema parece funcionar perfeitamente — a cidade passa
anos sem registrar nenhum homicídio — até que um dos policiais responsáveis por
prevenir os crimes (interpretado por Tom Cruise) é apontado o próximo assassino.

Diretor: STEVEN SPIELBERG


O sistema judiciário pode usar imagens cerebrais para julgar alguém ou prever
suas chances de cometer crimes? É possível, mas nós ainda não podemos colocar isso
em prática. Pesquisas iniciais, feitas neste ano, mostraram que imagens cerebrais ajudam
a prever melhor quais criminosos podem voltar a cometer atos violentos nos próximos três
ou quatro anos. Atualmente, a justiça usa fatores demográficos como idade, gênero,
emprego e histórico para prever quais indivíduos são mais perigosos. Os juízes têm de
fazer isso o tempo todo, quando decidem se condenarão alguém a trabalhos comunitários
ou à cadeia. As técnicas de imagem cerebrais estão começando a nos dar mais
informações que podem ajudar a saber se determinado indivíduo é um perigo para a
sociedade.
O senhor não tem medo que isso leve a algum tipo de abuso, com indivíduos
sendo presos por causa de seu perfil cerebral? Na verdade, sim – como no caso do
filme Minority Report. Nele, a polícia impede os crimes antes que aconteçam. Um grande
medo que tenho é que no futuro usemos a genética, as imagens cerebrais e outros fatores
neurobiológicos para prever a violência e aprisionar as pessoas antes mesmo de elas
cometerem qualquer crime. Isso me preocupa. Até porque minhas imagens cerebrais se
parecem com a de um criminoso que matou 64 pessoas — eu tenho o cérebro de um serial
killer. Além disso, tenho outros fatores biológicos para o crime, como baixa pressão
sanguínea, e tive problemas de nutrição e no parto. Se esse cenário acontecer o futuro, eu
seria um dos primeiros a ser preso. Acho que devemos tomar muito cuidado nessa área.
Existe uma tensão entre proteger as liberdades civis — e não prender ninguém por
probabilidade — e a necessidade de proteger a sociedade. Essa é a tensão que teremos de
enfrentar no futuro.
O senhor falou sobre a influência do cérebro, da genética e do ambiente no
comportamento. Onde fica o livre-arbítrio? Esse é outro desafio da minha área de
pesquisas que costuma deixar muitas pessoas desconfortáveis. Pense em um bebê
inocente, cuja mãe fumou e bebeu na gravidez, que teve uma nutrição ruim e problemas
no parto, com genes que podem resultar em mau comportamento, com problemas de
habitação e de educação durante seu desenvolvimento. Nós sabemos que essa criança tem
muito mais chances de se tornar um adulto violento. Uma pergunta que surge a partir
disso: será que essa pessoa tem livre-arbítrio? Ela é responsável por seus atos? Em meu
livro, eu digo que o livre-arbítrio é reduzido em algumas pessoas, logo no começo de suas
vidas, por influências que estão além de seu controle. O livre-arbítrio tem vários tons: a
pessoa pode ter total livre-arbítrio, pouco, ou quase nenhum. Acho que devemos levar isso
em conta no sistema judicial, na hora de punir as pessoas. Existe um caso real de um
indivíduo que teve um tumor em seu córtex pré-frontal que o transformou num pedófilo.
Os médicos retiraram o tumor, e seu comportamento voltou ao normal. Será que ele era
tão responsável por seus atos quanto alguém que fez a mesma coisa e não tinha o tumor?
Essa é a dificuldade e a tensão desse campo de estudos, e elas não serão superadas de
modo fácil. Em um nível, é importante reconhecer os fatores de risco que conspiram para
diminuir o livre-arbítrio. Mas também temos de levar em conta a igualdade e a justiça,
buscando uma lei igual para todos. Não tenho respostas no momento. Esse é um debate
aberto.

A ciência pode explicar a


crueldade?
Novas pesquisas mostram como alterações nas funções
cerebrais, causadas pela genética e pelo ambiente, podem levar
ao comportamento violento
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/a-ciencia-pode-
explicar-a-crueldade/
Por: Guilherme Rosa04/05/2013 às 17:02 - Atualizado em 04/05/2013 às 17:02

Descrição: crime A falta de empatia pode ser explicada por alterações no

funcionamento de determinadas áreas cerebrais. Mas será que isso tira a


responsabilidade do indivíduo na hora de apertar o gatilho?
(Thinkstock/VEJA)
Nas últimas semanas, uma série de crimes desumanos chamou a atenção da
sociedade brasileira. Casos como o da dentista queimada dentro de seu
consultório em São Bernardo do Campo ou o da turista estuprada oito
vezes dentro de uma van no Rio de Janeiro chocam pela extrema
crueldade com que os criminosos trataram suas vítimas e levantam questões
sobre como esse tipo de comportamento é possível. O que leva alguém a
deixar qualquer resquício de empatia de lado e agir de modo tão sádico com
outro ser humano?
As discussões sobre os motivos que levam um indivíduo a agir violentamente
costumam ser polarizadas entre duas posições radicais, ideologicamente
opostas. De um lado, alguns defendem que o comportamento cruel é uma
questão de caráter. Os criminosos seriam naturalmente ruins e, por isso,
irrecuperáveis. Do outro lado, alguns defendem que os indivíduos violentos
são apenas vítimas do ambiente em que cresceram, traumatizados por uma
sociedade desigual e insensível. As pesquisas mais recentes mostram, no
entanto, que a crueldade é mais do que apenas uma questão de maldade
inata ou de traumas de criação. Na verdade, um novo campo de estudos - a
neurocriminologia - mostra que o comportamento violento tem uma série de
fatores que se originam em um único lugar: o cérebro humano.
Em 2008, pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados
Unidos revisaram uma série de estudos que usaram exames de ressonância
magnética para analisar o cérebro de indivíduos violentos. Como resultado,
descobriram que disfunções em duas áreas cerebrais ligadas às decisões
morais podem estar associadas a esse tipo de comportamento. Uma delas é a
amígdala, área ligada à resposta aos perigos. Um estudo de 2009 mostrou,
por exemplo, que os psicopatas têm a região 18% menor do que os outros
indivíduos. A outra disfunção detectada na pesquisa é a baixa atividade do
lóbulo frontal do cérebro, região associada à regulação dos comportamentos
impulsivos. Um grande número de casos clínicos mostrou que ferimentos
nas partes inferiores dessa área podem levar a sérias alterações de
comportamento.
Um estudo publicado este ano mostrou que outra região - o córtex singulado
anterior - também está associada a crimes violentos. A partir de exames de
ressonância magnética, os pesquisadores conseguiram mostrar que ex-
detentos com baixa atividade na área têm duas vezes mais
chances de serem presos novamente. Com as técnicas cada vez mais
avançadas de imagem cerebral, os pesquisadores estão conseguindo mostrar
quais alterações podem levar um indivíduo a ser extremamente cruel. Falta
mostrar o que causa essas alterações.
Anjinhos e demônios - Muitas vezes, o comportamento antissocial pode
vir desde o berço. Uma pesquisa publicada nesta quinta-feira na
revista Current Biology mostrou que crianças com graves problemas de
conduta, que incluem agressão, roubo e crueldade, não reagiam à dor alheia
do mesmo modo que as outras. Ao serem expostas a imagens de outras
pessoas sofrendo, as áreas cerebrais associadas à empatia eram ativadas de
forma menos intensa, como se o sofrimento dos outros pouco lhes
importasse.
Um estudo clássico de 1984, publicado na revista Science, mostrou
claramente que existe, sim, um componente genético nos comportamentos
violentos. Os pesquisadores analisaram o histórico de 14.000 indivíduos que
foram criados por pais adotivos. Eles descobriram que aqueles que eram
filhos biológicos de pais com histórico criminal tinham muito mais chances
de cometer crimes quando adultos - mostrando que a influência genética
poderia ser mais importante do que educação familiar.
Após a publicação desse estudo, dezenas de outras pesquisas, em sua
maioria com gêmeos idênticos, mostraram que o comportamento violento é
em grande parte hereditário. Pesquisadores já começaram a identificar
algumas mutações genéticas que podem estar relacionadas a esse tipo de
personalidade, como as que atingem os genes COMT, 5-HTT ou MAOA. O
último, por exemplo, está associado à produção da proteína monoamina
oxidase A, que, quando em pequenas quantidades, provoca uma redução da
amígdala cerebral.
Os cientistas deixam claro, no entanto, que não dá para culpar o DNA por
toda a crueldade vista no mundo. Em 2010, o pesquisador Christopher
Ferguson, da Universidade Internacional do Texas A&M, realizou uma
revisão de 38 estudos sobre as raízes da violência feitos com gêmeos e
crianças adotadas. Ao resumir os resultados, ele calculou que 56% das
variações no comportamento antissocial poderiam ser explicadas pela
genética. O resto deveria ser debitado ao ambiente. "A mais importante lição
que a ciência pode nos dar é que não devemos discutir se é uma questão de
natureza ou criação. É uma questão de natureza e criação", diz Tracy Gunter,
psiquiatra da Universidade de Indiana, que também realizou uma revisão
dos estudos da área.
Traumas - Historicamente, uma série de pesquisas mostrou que agressões
e traumas sofridos na infância podem alterar o cérebro e o
comportamento do indivíduo, deixando-o menos sensível à dor alheia e mais
propenso à violência. "O ambiente fornece uma série de elementos
estressantes que, se não forem exagerados, podem nos ajudar a crescer. Mas,
se forem muito grandes, nós podemos passar a exibir problemas no modo
como nos desenvolvemos e interagimos com esse mesmo ambiente", diz
Tracy Gunter.
Uma pesquisa conduzida por Gunter em 2012 analisou o passado de 320
presidiários. Aqueles que haviam sofrido algum tipo de abuso na infância
possuíam uma tendência maior a desenvolver comportamentos antissociais
e psicóticos - assim como um risco maior de suicídio.
É claro que nem todos que passam por situações traumáticas desenvolvem
algum tipo de comportamento antissocial. Muitos superam seus problemas e
são capazes de levar uma vida normal. Nem a genética e nem o ambiente
explicam 100% da crueldade- ela surge a partir da interação complexa desses
fatores. Um estudo publicado em 2007 na revista PLos ONE, por exemplo,
mostra que eventos traumáticos sofridos nos primeiros quinze anos de vida
costumam ser superados sem desencadear grandes distúrbios. No entanto,
quando esses traumas acontecem em indivíduos com baixa atividade no
gene MAOA, eles se tornam um grande fator de risco para o comportamento
antissocial. "Uma teoria plausível é que, na presença de uma quantidade
menor da proteína do MAOA, o cérebro se torna mais sensível ao stress,
principalmente durante o período de desenvolvimento", diz Gunter.
Saiba mais
EPIGENÉTICA
É o nome que se dá para as mudanças que acontecem nos genes sem, no entanto,
alterar o código genético de um indivíduo. É diferente de uma mutação. Em uma
mutação, o código genético é alterado. Já a mudança epigenética só altera a forma
como um gene funciona. Essa mudança pode ser causada por fatores ambientais,
como poluição ou mesmo pela prática de exercícios, e pode ser passada para as
gerações seguintes.
Outro estudo publicado no ano passado no periódico The British Journal of
Psychiatry mostrou outros fatores de risco que, quando associados à
mutação no MAOA podem levar ao comportamento violento, como QI baixo,
má educação e o fato de a mãe ter fumado durante a gravidez. "Nós temos
entendido cada vez mais como o genoma é regulado, através do estudo da
epigenética. Muitos fatores podem estar associados com mudanças que
afetam as funções dos genes, como o consumo de álcool, desnutrição e stress
ambiental", afirma a pesquisadora.
Contra o determinismo - Os pesquisadores destacam que essas
conclusões não significam que os indivíduos não são responsáveis por seus
atos. Por mais que existam fatores genéticos e ambientais que possam
influenciar algum tipo de comportamento, o ser humano é, na maioria das
vezes, livre para agir. "Há décadas, ou até séculos, sabemos que nossas
escolhas são restritas por fatores que estão além de nosso controle. Isso não
significa, no entanto, que não tenhamos a liberdade de escolher", diz Gunter.
Em alguns casos, principalmente naqueles em que algum tipo de insanidade
é diagnosticada, os fatores biológicos podem realmente se sobrepujar à
capacidade de escolha do indivíduo. Em outros, a decisão de agir de maneira
cruel tem pouca ou nenhuma influência genética ou ambiental. "No entanto,
para a maioria de nós, o ambiente e a biologia vão existir em algum ponto
entre esses dois extremos. Esse é um campo de estudos sobre a
complexidade, e não o reducionismo."

Postado por Paty Melhem às 10:59

Marcadores: Criminologia

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