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RESUMO
O escoamento laminar e permanente de um fluido newtoniano em um canal horizontal
bidimensional com transferência de calor foi numericamente analisado. O canal é formado por
paredes cujas superfícies externas possuem temperatura prescrita ao longo do comprimento e
são adiabáticas na dimensão da altura. O fluido escoa a partir da entrada onde possui perfil de
temperatura e velocidade ambos constantes e é aquecido à medida que troca calor com as
paredes do canal e com as aletas. As configurações das aletas incluem aquela em que estão
alinhadas e também uma em que estão desalinhadas. Além disso, o ângulo entre as aletas e a
parede do canal foi variado entre 90° (caso clássico) e 0° (canal sem aletas) na direção horária.
As simulações numéricas foram realizadas utilizando-se o código comercial CFX, que utiliza o
método dos volumes finitos baseado em elementos, do inglês EbFVM (Element-based Finite
Volume Method). O efeito das diferentes configurações das aletas sobre a variação da pressão
(perda de carga) e sobre a transferência de calor é avaliado e comparado.
1 INTRODUÇÃO
A situação demonstrada na Error! Reference source not found. ilustra o escoamento
de um fluido através de um duto com aletas internas. Tanto a parede do duto como a aleta
possuem espessura e condutividade térmica. A condição de contorno térmica é conhecida para
a superfície externa, especificamente uma temperatura prescrita. Isto representa um problema
de troca de calor conjugada no qual ambas as formas de troca de calor devem ser conjugadas:
a condução no sólido e a convecção no fluido, por meio de uma interface sólido-fluido
adequada. Esta técnica de aumento da transferência de calor tem sido comumente utilizado em
escoamentos monofásicos para vários tipos de aplicações industriais, posicionando aletas de
forma periódica em canais de aquecimento/resfriamento, por exemplo [1]. Conforme
mencionado em [2] e [3] em um canal com aletas desalinhadas, a transferência de calor aumenta
com o aumento da altura das aletas e com a diminuição do passo das aletas. Estudos numéricos
para ambos os casos, aletas sólidas e porosas, foram realizados para escoamento sob regime
laminar [4] e [5] e turbulento [6] e o desempenho térmico tanto para aletas sólidas quanto
_______________________
porosas foi similar. Formatos de aletas que fogem ao formato plano clássico também foram
estudados em [7], onde se adotou um formato de diamante com melhorias condicionais para
menores ângulos de abertura. No caso de aletas planas não-alinhadas, indica-se utilizar altura
da chicana igual a 0,5 vezes a altura do canal e o passo igual à altura do canal [1].
NOMENCLATURA
𝑎 Altura do canal
c Capacidade calorífica
C Coeficiente
𝐷ℎ Diâmetro Hidráulico
𝑒 espessura da parede do canal
h Coeficiente convectivo de troca térmica
𝑙 Comprimento da aleta
L Comprimento do canal
Nu Número de Nusselt
𝑝 Pressão
Pr Número de Prandtl
Re Número de Reynolds
𝑡 Espessura da aleta
T Temperatura
RB Razão de bloqueio do escoamento
s Distância entre aletas da mesma parede
T Temperatura
Teta Temperatura adimensional
𝑢 Velocidade horizontal
𝑣 Velocidade vertical
x Direção horizontal
y Direção vertical
Letras Gregas
(1)
0° indica que o canal não possui aleta.
Outros
Subíndice
Superíndice
𝜕𝑢∗ 𝜕𝑣 ∗
Conservação de massa: + 𝜕𝑦 ∗ = 0 (1)
𝜕𝑥 ∗
𝜕𝑇 ∗ 𝜕𝑇 ∗ 𝜈 𝜕2 𝑇 ∗ 𝜕2 𝑇 ∗
Conservação de energia: 𝑢∗ 𝜕𝑥 ∗ + 𝑣 ∗ 𝜕𝑦 ∗ = 𝑃𝑟 (𝜕𝑥 ∗2 + 𝜕𝑦 ∗2 ) (2)
𝜕𝑢∗ 𝜕𝑢∗ 𝜕𝑝 𝜕 2 𝑢∗ 𝜕 2 𝑢∗
Conservação de momento (x*): 𝜌𝑓∗ (𝑢∗ 𝜕𝑥 ∗ + 𝑣 ∗ 𝜕𝑦 ∗) = − 𝜕𝑥 + 𝜇𝑓∗ (𝜕𝑥 ∗2 + 𝜕𝑦 ∗2 ) (3)
𝜕𝑣 ∗ 𝜕𝑣 ∗ 𝜕𝑝 𝜕2 𝑣∗ 𝜕2 𝑣 ∗
Conservação de momento (y*): 𝜌𝑓∗ (𝑢∗ 𝜕𝑥 ∗ + 𝑣 ∗ 𝜕𝑦 ∗) = − 𝜕𝑦 + 𝜇𝑓∗ (𝜕𝑥 ∗2 + 𝜕𝑦 ∗2 ) (4)
𝑥 𝑦∗
𝑥∗ = 𝑦= (5), (6)
𝑎∗ 𝑎∗
ii) geometria
𝑙∗ 𝑠∗ 𝑒∗ 𝑡∗
𝑙= ∗ 𝑠= ∗ 𝑒= ∗ 𝑡= ∗ (7), (8), (9), (10)
𝑎 𝑎 𝑎 𝑎
iii) velocidades
𝑢∗ 𝑣∗ (11), (12)
𝑣= 𝑣=
𝑢𝑖 ∗ 𝑢𝑖 ∗
𝑇 ∗ − 𝑇𝐴∗ 𝑝∗
𝑇= 𝑃= ∗ ∗ 2 (13), (14)
𝑇𝑖∗ − 𝑇𝐴∗ 𝜌𝑓 (𝑢𝑖 )
v) números adimensionais
𝑢∗ 𝜕𝑢 𝑣 ∗ 𝜕𝑣 (17)
Conservação de massa: + 𝑎∗ 𝜕𝑦 = 0
𝑎∗ 𝜕𝑥
𝜕𝑇 𝜕𝑇 1 𝜕2 𝑇 𝜕2 𝑇
Conservação de energia: 𝑢 𝜕𝑥 + 𝑣 𝜕𝑦 = 𝑃𝑟 𝑅𝑒 (𝜕𝑥 2 + 𝜕𝑦 2 ) (18)
𝑎∗
𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑝 1 𝜕2 𝑢 𝜕2 𝑢
Conservação de momento (x): 𝑢 𝜕𝑥 + 𝑣 𝜕𝑦 = − 𝜕𝑥 + 𝑅𝑒 (𝜕𝑥 2 + 𝜕𝑦 2 ) (19)
𝑎∗
𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝑝 1 𝜕2 𝑣 𝜕2 𝑣
Conservação de momento (y): 𝑢 𝜕𝑥 + 𝑣 𝜕𝑦 = − 𝜕𝑦 + 𝑅𝑒 (𝜕𝑥 2 + 𝜕𝑦 2 ) (20)
𝑎∗
(22)
1
̅̅̅̅ =
𝑁𝑢 ∫ 𝑁𝑢
𝐴 ∗ 𝐴∗ 𝑥
Coeficiente de pressão (Cp):
Δ𝑃
𝐶𝑝 = (23)
1 ∗ ∗2
2 𝜌𝑓 𝑢𝑖
Coeficiente de melhoria térmica ():
𝑁𝑢
𝑁𝑢0 (24)
𝜂 = 1
𝐶𝑝 3
(𝐶𝑝 )
0
No coeficiente de melhoria térmica, Nu0 foi tomado como 7,54 [2], enquanto que Cp0
corresponde ao valor do parâmetro do canal sem aletas do presente estudo.
Figura 1 – Geometria do problema. Caso a) aletas desalinhadas. Caso b) aletas alinhadas.
Já para o domínio sólido, foi utilizada condição de temperatura constante nas superfícies
externas ao longo do comprimento das paredes, enquanto que nas superfícies externas ao longo
da altura receberam a condição adiabática.
3 VERIFICAÇÃO
A etapa de verificação foi realizada com um canal sem aletas e com temperaturas
prescritas nas paredes superior e inferior. Os resultados das simulações para 3 malhas
estruturadas diferentes foram comparados com valores analíticos fornecidos em [2]. Os perfis
hidrodinâmicos e térmicos estão nas figuras a seguir.
Figura 2 – Perfis adimensionais da velocidade na etapa de verificação
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Coeficiente de Pressão
Em seções de contração ou expansão de área durante o escoamento de um fluido,
ocorrem as perdas de carga chamadas de perdas menores ou perdas localizadas. O coeficiente
de recuperação de pressão Cp define uma razão entre o aumento da pressão estática e a pressão
dinâmica entre dois pontos do escoamento. Desta forma, o Cp indica qual a fração da energia
cinética do escoamento de entrada se transforma em um aumento de pressão [10]. Extrapolando
este conceito para todo o volume de controle, uma vez que este corresponde à soma de várias
expansões/contrações, apresenta-se na Figura 4 os resultados dos coeficientes de pressão -
normalizados pelo valor máximo - para ambas as configurações dos canais aletados em função
da variação do ângulo das aletas. Os canais sem aletas também foram considerados para fins
comparativos, embora nenhuma expansão ou contração ocorra nestes casos. Na mesma figura,
para a configuração de aletas desalinhadas, percebe-se um aumento significativo da perda de
pressão dinâmica a partir de ângulos de inclinação próximos de 23°. Atribui-se a isto o fato de
que para as aletas desalinhadas o fluido é forçado a fazer um maior número de mudanças
durante o escoamento, aumentando o caminho percorrido no interior do canal. Pela conservação
de massa, isto provoca um aumento de velocidade e, consequentemente, maior perda de energia
cinética. Além disso, há um fator que potencializa esta conversão de energia, analisado na Figura
5, que mostra as referências para o cálculo da área de escoamento no interior do canal.
Considerando RB, a área de escoamento pode ser calculada pela diferença entre a altura do
canal e a altura da aleta. Considerando RB’, a área de escoamento é calculada considerando a
distância entre duas aletas desalinhadas sucessivas.
Figura 4 - Comportamento do coeficiente de pressão para um canal com aletas alinhadas e para um
canal com aletas desalinhadas.
RB
RB RB' %
90° 0,40 0,46 15%
68° 0,37 0,44 19%
45° 0,28 0,34 21%
23° 0,15 0,14 -7%
Fonte: Produção do próprio autor, 2015.
Nos vórtices, o fluxo mássico entre quaisquer duas linhas de corrente adjacentes é
constante [9]. As estruturas giram de forma que não há movimento relativo entre partículas, isto
é, como se o fluido fosse um corpo rígido.
Ainda, na Figura 6 é possível visualizar uma linha contínua perpassando o domínio
horizontalmente. Esta linha provém do recurso de simetria utilizado nas simulações numéricas
para os casos compatíveis. As linhas de corrente mais escuras representam velocidades menores
e as mais claras, velocidades maiores para cada caso.
A Re=400
B Re=400
C Re=400
5 CONCLUSÕES
O código comercial CFX® foi utilizado para a solução do problema do escoamento
laminar em canal bidimensional com diferentes configurações de aletas, alinhadas e
desalinhadas. Para cada caso foram testados 5 diferentes ângulos de inclinação das aletas no
sentido do escoamento, sendo que 0° correspondeu ao canal sem aletas.
Foi encontrado que, para ângulos de inclinação de aleta de até aproximadamente 23°, o
efeito na queda de pressão é praticamente o mesmo para qualquer uma das configurações.
Porém, a partir de um valor próximo deste ângulo, a configuração com aletas desalinhadas
apresentou um aumento significativo com o aumento do ângulo de inclinação, muito maior que
para o caso das aletas alinhadas. O aumento no coeficiente de pressão chega a 3,5 vezes para o
caso das aletas alinhadas e a 52,2 vezes para o caso das aletas desalinhadas.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] PROMVONGE, P. et al. Numerical investigation of laminar heat transfer in a square channel with
45° inclined baffles. International Communications in Heat and Mass Transfer 37, 2010. 170-177.
[2] WEB, B. W.; RAMADHYANI, S. Conjugated heat transfer in a channel with staggered
ribs. In. J. Heat and Mass Transfer 28, 1985. 1679-1687.
[3] KELKAR, K. M.; PATANKAR, S. V. Numerical prediction of flow and heat transfer in a
parallel plate channel with staggered fins. ASME J. Heat Transfer 109, 1987. 25-30.
[4] DA SILVA MIRANDA, B. M.; ANAND, N. K. Convective heat transfer in a channel with porous
baffles. Numerical Heat Transfer - Part A Appl. 30, 1996. 189-205.
[5] SANTOS, N. B.; DE LEMOS, M. J. S. Flow and heat transfer in a parallel-plate with solids porous
and solid baffles. Numerical Heat Transfer - Part A Appl. 49, 2006. 471-494
[6] YANG, Y. T.; HWANG, C. Z. Calculation of turbulent flow and heat transfer in a porous-baffled
channel. Int. J. Heat Mass Transfer 46, 2003. 771-780
[8] INCROPERA, F. P. Fundamentals of Heat and Mass Transfer. 6ª. ed. [S.l.]: John
Wiley & Sons, 2006.
[9] FERZIGER, J. H.; PERIC, M. Computational Methods for Fluid Dynamics. 3ª. ed. Berlin:
Springer, 2002.
[10] FOX, R. W.; MCDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J. Introdução à Mecânica dos Fluidos. 6ª.
ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
[11] PATANKAR, S. V. Numerical Heat Transfer and Fluid Flow. 1ª. ed. Nova Iorque: McGraw-
Hill Book Company, 1980.