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Princípios Básicos da

Administração
Autor: Prof. Vanderlei da Silva
Colaboradores: Profa. Glaucia Aquino
Profa. Amarilis Tudela Nanias
Prof. Livaldo dos Santos
Professor conteudista: Vanderlei da Silva

Professor Mestre Vanderlei da Silva, doutorando em Educação pela Universidade de Sorocaba – UNISO; Mestre em
Educação pela Universidade de Sorocaba – UNISO (2009); Pós-graduado em Direito do Terceiro Setor pela Fundação
Getúlio Vargas – FGV (2005); Graduado em Direito pela Universidade de Sorocaba (2004). Atualmente é Gerente
Administrativo e Financeiro do Serviço de Obras Sociais – SOS (www.sossorocaba.org.br), ocupando o mesmo cargo no
SOS Saúde – Serviço Operacional de Saúde. Participante do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Cotidiano Escolar da
Universidade de Sorocaba, atua como voluntário no Conselho Municipal de Assistência Social de Sorocaba, na Cáritas
Arquidiocesana de Sorocaba e na Associação Pró Mulher de Votorantim. Presidente da Comissão de Direito do 3º Setor
da OAB Votorantim, vice-presidente da União das Organizações – UNIONG. Membro da Academia Votorantinense de
Letras, Artes e História.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S586 Silva, Vanderlei da

Princípios Básicos da Administração. / Vanderlei da Silva. -


São Paulo: Editora Sol. 2011.
128 p. il.

Notas este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-027/11, ISSN 1517-9230.

1.Administração 2.Serviço Social 3.Terceiro Setor I.Título

CDU 658.8:361

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Unip Interativa – EaD

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Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Andréia Andrade
Sumário
Princípios Básicos da Administração

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO E O PAPEL DO ADMINISTRADOR........................................9
1.1 Visão geral e principais conceitos.....................................................................................................9
1.2 Histórico.................................................................................................................................................... 18
1.3 O surgimento do Estado moderno................................................................................................. 20
1.4 A Revolução Industrial........................................................................................................................ 21
1.5 Teorias científicas da administração............................................................................................. 24
2 CARACTERIZANDO AS ORGANIZAÇÕES.................................................................................................. 27
2.1 Organização............................................................................................................................................. 27
2.2 A organização das organizações..................................................................................................... 30
3 A TEORIA BUROCRÁTICA E SUA APLICAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA......................... 31
3.1 Teoria burocrática................................................................................................................................. 31
3.2 A aplicação do modelo burocrático............................................................................................... 35
3.3 A burocracia na realidade brasileira............................................................................................... 36
3.4 A gestão pública e a reforma do Estado...................................................................................... 37
3.5 As funções do Estado a partir da reforma.................................................................................. 38
3.6 Administração pública e gestão pública...................................................................................... 39
3.7 Princípios da administração pública.............................................................................................. 40
4 CARACTERIZANDO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA........................................... 40
4.1 Administração pública direta........................................................................................................... 40
4.2 Órgãos públicos...................................................................................................................................... 41
4.3 Administração pública indireta....................................................................................................... 42
4.4 Delegação de serviços públicos....................................................................................................... 42
4.5 Os contratos administrativos............................................................................................................ 43
4.6 Licitação.................................................................................................................................................... 44
4.7 Espécies de licitação............................................................................................................................. 44
4.8 Bens públicos.......................................................................................................................................... 52
4.9 Diferenças entre setor público e setor privado......................................................................... 53
Unidade II
5 ADMINISTRAÇÃO DOS TRÊS SETORES DA ECONOMIA...................................................................... 61
5.1 Aspectos administrativos para organizações do Primeiro, Segundo e
Terceiro Setor.................................................................................................................................................. 61
5.2 Planejamento estratégico.................................................................................................................. 63
5.3 Planejamento orçamentário............................................................................................................. 76
5.4 Controle e Avaliação............................................................................................................................ 77
6 ADMINISTRAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS................................................. 80
6.1 Empreendimento compartilhado.................................................................................................... 80
6.2 As empresas e a responsabilidade social..................................................................................... 83
6.3 Filantropia das empresas para o Terceiro Setor........................................................................ 87
6.4 Parcerias para o Terceiro Setor........................................................................................................ 89
7 TENDÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DO TERCEIRO SETOR..................................................................... 92
7.1 Balanço Social e capital humano no Terceiro Setor............................................................... 92
7.2 Gestão de políticas públicas............................................................................................................. 95
7.3 Marketing para o Terceiro Setor...................................................................................................... 97
7.4 Redes Sociais.........................................................................................................................................100
8 O TERCEIRO SETOR E A GESTÃO SOCIAL...............................................................................................102
8.1 Gestão Social.........................................................................................................................................102
8.2 Funções da Gestão Social................................................................................................................105
8.3 Empreendedorismo no Terceiro Setor.........................................................................................106
APRESENTAÇÃO

A Teoria Geral da Administração é o campo do conhecimento humano que se ocupa do estudo da


administração das organizações, sejam elas com ou sem fins lucrativos.

A sociedade atual, pós-moderna, é formada por organizações que se ocupam das atividades que
estão relacionadas com a produção de bens (produtos) ou com a prestação de serviços (atividades
especializadas). E, para que essas organizações consigam atingir os objetivos para os quais foram criadas,
é necessário que as suas atividades sejam devidamente planejadas, coordenadas, dirigidas, executadas e
controladas. Dessa forma, a administração tem a finalidade de cuidar do planejamento, da direção e do
controle das atividades existentes dentro de uma organização.

A palavra administração tem sua origem no latim e pode ser traduzida como “aquele que
executa uma função sob o comando de outro”. Porém, através dos tempos, a palavra tem passado
por mudanças e, hoje, o administrador é o responsável pela interpretação dos objetivos propostos
pelas organizações de forma que possa transformá-los em ações. Essa função do administrador, de
transformar objetivos em ações, é interpretada de diferentes formas, de acordo com as diferentes
teorias que existem sobre o assunto. Por esse motivo, a Teoria Geral da Administração também
tem como objetivo estudar as principais teorias da administração existentes, para que o aluno
possa conhecer as várias formas de abordagem do assunto, tendo dessa forma condições de ter
uma visão comparativa de cada uma delas.

Cada organização possui características próprias, e isso faz com que cada administrador avalie
a situação e defina estratégias próprias para cada caso, dimensionando a utilização dos recursos e
planejando sua aplicação. Por isso, cada organização avalia e seleciona o seu administrador de formas
diferenciadas, levando em conta não apenas os seus conhecimentos administrativos, mas também o seu
modo de agir e suas atitudes.

O aprendizado de alguns conceitos básicos da administração não está circunscrito apenas ao


profissional especializado da área, mas também outros profissionais precisam ter conhecimentos
de técnicas administrativas, uma vez que as organizações necessitam de equipes de pessoas com
conhecimentos que permitam a transformação de seus objetivos em ações.

Na disciplina, também será discutida a administração de organizações do Terceiro Setor, uma vez
que hoje existe um entendimento de que a economia está dividida em três setores, quais sejam: Primeiro
Setor, que é o Estado, responsável pela distribuição das riquezas produzidas; Segundo Setor, formado
pelas empresas produtoras de bens e serviços; e Terceiro Setor, formado pelas organizações sem fins
lucrativos que atuam junto aos outros setores, visando ajudar a diminuir as desigualdades sociais
existentes.

Segundo informações apresentadas pela Rede de Informações do Terceiro Setor (Rits), existem
hoje no Brasil mais de 250 mil organizações não governamentais que compõem o Terceiro Setor. As
informações da Rits também mostram que aproximadamente 2 milhões de pessoas são empregadas por
essas organizações.
7
Diante da grande expressão que o setor representa, cada vez mais os interessados pelo Terceiro Setor
têm ido em busca de aperfeiçoamento profissional e aprimoramento nas questões relativas à gestão e
ao empreendedorismo social.

Para a elaboração das informações contidas na Unidade II, que trata da administração de organizações
do Terceiro Setor, será utilizado o livro Gestão Social, estratégias e parcerias: redescobrindo a essência
da administração brasileira de comunidades para o Terceiro Setor, organizado pela Professora Doutora
em Administração Marly Cavalcanti, que traz dados atualizados e importantes informações sobre a
administração de organizações não governamentais.

O conceito de gestão social está relacionado com toda ação gerencial eticamente orientada, que
leva em conta as necessidades e os pontos de vista dos vários atores envolvidos, visando à promoção do
desenvolvimento de pessoas e da sociedade.

INTRODUÇÃO

A disciplina Princípios Básicos da Administração tem por objetivo fomentar a reflexão sobre a evolução
das teorias de administração e suas influências no desenvolvimento do trabalho, nas esferas pública e
privada, trazendo a compreensão da importância da administração na elaboração e na execução de
projetos que permitam a transformação de objetivos em ações.

Por meio da análise das teorias da administração existentes, este livro-texto vai discorrer sobre a
responsabilidade do administrador em gerir uma organização, executando atos de gestão pelos quais a
organização realiza os seus objetivos, sejam eles com ou sem fins lucrativos ou econômicos.

8
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Unidade I
1 TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO E O PAPEL DO ADMINISTRADOR

1.1 Visão geral e principais conceitos

Os primeiros agrupamentos humanos sentiram necessidade de se organizar para o desenvolvimento


de atividades de sobrevivência, tais como caça, proteção contra os ataques de animais e de outros
grupos humanos.

A organização é, portanto, um elemento fundamental na sociedade humana, fornecendo condições


para o atendimento das necessidades básicas dos indivíduos, seja através de serviços públicos, como
saúde, saneamento básico, água, energia, segurança pública, controle de poluição, educação, seja
através de atividades privadas empresariais ou de associações, clubes, sindicatos, etc. É a partir de tais
organizações que as pessoas obtêm os meios para a satisfação de suas necessidades.

O avanço do processo da organização está diretamente ligado à história do homem, pois as sociedades
da Antiguidade distinguiam-se umas das outras em função de vários fatores, entre eles o seu grau de
organização.

Uma organização é uma unidade social, em torno da qual se reúnem pessoas para alcançar objetivos
específicos. Para isso, fazem planos, estabelecem e dimensionam recursos (humanos, materiais,
financeiros, de informação, espaço e tempo).

Na sociedade moderna, as pessoas nascem, crescem, aprendem, vivem,


trabalham, se divertem, são tratadas e morrem dentro de organizações. As
organizações são extremamente heterogêneas e diversificadas, de tamanhos
diferentes, de características diferentes, de estruturas diferentes, de
objetivos diferentes. Existem organizações lucrativas (chamadas empresas)
e organizações não lucrativas (como Exército, Igreja, serviços públicos,
entidades filantrópicas, organizações não governamentais (ONGs) etc.). A
Teoria das Organizações (TO) é o campo do conhecimento humano que se
ocupa do estudo das organizações em geral (CHIAVENATO, 2007, p. 2).

A origem da palavra administração vem do latim ad (direção, tendência para) e minister


(subordinação ou obediência) e se refere àquele que realiza uma função sob o comando de outro.
Porém, a palavra tem passado por transformações que mudaram seu sentido original, e a função
do administrador passou a ser daquele que deve interpretar os objetivos que são propostos pela
organização e transformá-los em uma ação por meio do planejamento, organização, direção e
controle em todos os níveis organizacionais.
9
Unidade I

Para Chiavenato (2007, p. 11), a administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar
o uso de recursos a fim de alcançar objetivos organizacionais.

Uma das razões para as mudanças do significado da palavra administração foi o surgimento de muitas
teorias ou escolas que abordam o assunto de formas variadas e trazem suas críticas. Sendo que essas
teorias apresentam seis variáveis – tarefas, estrutura, pessoas, ambiente, tecnologia e competitividade
–, e cada uma delas vai enfatizar uma ou outra dessas seis variáveis.

As teorias administrativas começaram a ser desenvolvidas na Europa e nos Estados Unidos a partir
do final do século XIX e início do século XX, em função do avanço do processo de industrialização.
Independente do seu enfoque, todas essas teorias são consideradas válidas, pois cada uma delas surgiu
como resposta aos problemas empresariais, que eram os mais relevantes para a sua época. E, partindo
desse raciocínio, podemos dizer que todas as teorias foram eficientes, pois apresentaram respostas
satisfatórias aos problemas que foram surgindo.

Para melhor compreensão das principais teorias administrativas e seus principais enfoques, vamos
reproduzir um quadro elaborado por Chiavenato (2007, p.12), o qual demonstra claramente cada teoria
e seu respectivo enfoque:

Quadro 1

Ênfase Teorias Administrativas Principais enfoques


Nas tarefas Administração científica Racionalização do trabalho no nível operacional
Organização formal
Teoria Clássica
Na estrutura Princípios gerais da administração
Teoria Neoclássica
Funções do administrador
Organização forma burocrática
Teoria da Burocracia
Racionalidade organizacional
Múltipla abordagem

Teoria Estruturalista Organização formal e informal


Análise intraorganizacional e análise interorganizacional
Organização informal
Nas pessoas Teoria das relações humanas Motivação, liderança, comunicações e dinâmica de
grupos
Estilos de administração
Teoria do comportamento Teoria das decisões
organizacional
Integração dos objetivos organizacionais e individuais
Mudança organizacional planejada
Teoria do desenvolvimento
organizacional Abordagem de sistema aberto
Análise intraorganizacional e análise ambiental
No ambiente Teoria estruturalista
Abordagem de sistema aberto

10
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Análise ambiental (imperativo ambiental)


Teoria da contingência
Abordagem de sistema aberto
Na tecnologia Teoria da contingência Administração da tecnologia (imperativo tecnológico)
Caos e complexidade
Novas abordagens na
Na competitividade Aprendizagem organizacional
administração
Capital intelectual

Fonte: Chiavenato, 2007, p. 12.

Na sociedade moderna, a administração passou a ocupar a condição de fenômeno universal,


principalmente pelas condições de alta competitividade existentes. Nesse cenário, cada organização
precisa alcançar os seus objetivos de forma eficiente e sem cometer erros ou fazer apostas arriscadas;
pois isso significaria que o administrador está levando seus subordinados por caminhos que são os
menos indicados.

Nesse sentido, o administrador é considerado como um agente não só de condução, mas também de
mudanças e de transformação das organizações. Sendo, por isso, visto como um verdadeiro educador e
orientador, pois com suas atitudes tem a capacidade de modificar comportamentos e atitudes das pessoas.

A administração possui, entre outras, características como universalidade, especificidade, unidade


temporal, valor instrumental, amplitude de exercício e flexibilidade. Possui, também, elementos como
eficiência, eficácia, produtividade, coordenação de recursos, objetivos e grupos sociais que a fazem
diferente de outras disciplinas.

O processo administrativo compreende atividades inter-relacionadas de planificação, organização,


direção e controle de todas as etapas que implicam relações humanas e tempo.

A administração nada mais é do que a condução racional das atividades de


uma organização, seja ela lucrativa ou não lucrativa. A administração trata
do planejamento, da organização (estruturação), da direção e do controle
de todas as atividades diferenciadas pela divisão de trabalho que ocorram
dentro de uma organização (CHIAVENATO, 2007, p. 2).

A administração de empresas possui cinco variáveis principais que constituem seu estudo: tarefa,
pessoas, tecnologia, ambiente e estrutura. Dessa forma, o processo administrativo é imprescindível para
a existência, sobrevivência e sucesso das organizações; pois, se não houvesse uma administração, não
haveria possibilidade de as organizações existirem e crescerem.

Na sociedade moderna, a administração tem se revelado como um campo de conhecimento


complexo e com muitos desafios, por isso o administrador pode atuar das mais diferentes
formas dentro de uma organização, do nível hierárquico de supervisão elementar ao de dirigente
máximo.

11
Unidade I

Segundo Robert L. Katz (apud CHIAVENATO, 2007, p. 3), o profissional que desempenha atividades
administrativas precisa possuir habilidades técnicas, humanas e conceituais, conforme explica:

Habilidades técnicas envolvem o uso de conhecimento especializado e


facilidade na execução de técnicas relacionadas com o trabalho e com os
procedimentos de realização. É o caso de habilidades em contabilidade,
em programação de computador, engenharia etc. As habilidades técnicas
estão relacionadas com o fazer, isto é, com o trabalho com “coisas”, como
processos materiais ou objetos físicos e concretos. É relativamente fácil
trabalhar com coisas e com números porque eles são estáticos e inertes, não
contestam nem resistem à ação do administrador. Habilidades humanas
estão relacionadas com o trabalho com pessoas e referem-se à facilidade de
relacionamento interpessoal e grupal. Envolvem a capacidade de comunicar,
motivar, coordenar, liderar e resolver conflitos pessoais ou grupais. As
habilidades humanas estão relacionadas com a interação com as pessoas.
O desenvolvimento da cooperação dentro da equipe, o encorajamento da
participação, sem medos ou receios, e o envolvimento das pessoas são
aspectos típicos de habilidades humanas. Saber trabalhar com pessoas
e por meio das pessoas. Habilidades conceituais envolvem a visão da
organização ou da unidade organizacional como um todo, a facilidade em
trabalhar com ideias e conceitos, teorias e abstrações. Um administrador
com habilidades conceituais está apto a compreender as várias funções da
organização, complementá-las entre si, como a organização se relaciona
com o pensar, com o raciocinar, com o diagnóstico das situações e com
a formulação de alternativas de solução dos problemas. Representam
as capacidades cognitivas mais sofisticadas do administrador e que lhe
permitem planejar o futuro, interpretar a missão, desenvolver a visão e
perceber oportunidades onde ninguém enxerga nada. Na medida em que
um administrador faz carreira e sobe na organização, ele precisa, cada vez
mais, desenvolver as suas habilidades conceituais para não limitar a sua
empregabilidade.

O autor explica que o administrador deve saber combinar essas habilidades e, conforme se sobe
para os níveis mais elevados da organização, há uma diminuição da necessidade das habilidades
técnicas e exigem-se mais habilidades conceituais. Isso ocorre pelo motivo de que nos níveis
inferiores da administração existe a necessidade da habilidade técnica dos administradores para
poderem trabalhar com os problemas operacionais concretos que fazem parte do cotidiano da
organização.

Além dessas habilidades, o administrador precisa fazer um investimento contínuo no seu capital
intelectual, uma vez que a sociedade atual passa por constantes transformações. Por esse motivo, os
profissionais precisam adquirir competências que sejam duráveis, ou seja, aquelas que, mesmo em uma
sociedade em constante mutação, não sejam descartáveis nem se tornem obsoletas.

12
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Segundo Chiavenato (2007, p. 5), para que o administrador possa ser bem-sucedido
profissionalmente, ele precisa desenvolver três competências que são consideradas duráveis, ou
seja, o conhecimento, a perspectiva e a atitude. A seguir, o autor explica as características principais
dessas competências:

Conhecimento – significa todo o acervo de informações, conceitos, ideias,


experiências, aprendizagens que o administrador possui a respeito de sua
especialidade. Como o conhecimento muda a cada instante em função da mudança
e da inovação que ocorrem com intensidade cada vez maior, o administrador
precisa atualizar-se constantemente e renová-lo continuamente. Isso significa
aprender a aprender, a ler, a ter contato com outras pessoas e profissionais e,
sobretudo, reciclar-se continuamente para não tornar-se obsoleto e ultrapassado
em seus conhecimentos. Todavia, as empresas estão repletas de profissionais com
excelentes currículos e um enorme cabedal de conhecimentos, mas que não são
capazes de transformar a sua bagagem pessoal em contribuições efetivas ao
negócio e criar valor para a organização. Eles têm o conhecimento para si e não
disponível para a organização. Têm o conhecimento, mas não sabem como utilizá-
lo ou aplicá-lo. O conhecimento é necessário e fundamental; mas não é suficiente
para o sucesso profissional. Ele precisa ser adicionado a duas outras competências
duráveis: a perspectiva e a atitude. Perspectiva – significa a capacidade de
colocar o conhecimento em ação. Em saber transformar a teoria em prática. Em
aplicar o conhecimento na análise das situações e na solução dos problemas e na
condução do negócio. Não basta apenas possuir o conhecimento; ele pode ficar
apenas em estado potencial. Torna-se necessário saber como utilizá-lo e aplicá-
lo nas diversas situações e na solução dos diferentes problemas. A perspectiva
representa a habilidade de colocar em ação os conceitos e as ideias abstratas
que estão na mente do administrador. Em visualizar as oportunidades que nem
sempre são percebidas pelas pessoas comuns e transformá-las em novos produtos,
serviços ou ações pessoais. Na realidade, a perspectiva é a condição pessoal
que torna o administrador capaz de diagnosticar situações e propor soluções
criativas e inovadoras. É a perspectiva que dá autonomia e independência ao
administrador, que não precisa perguntar ao chefe o que deve fazer e como fazer
nas suas atividades. Contudo, o conhecimento e a perspectiva são fundamentais,
mas carecem de uma terceira competência durável: a atitude. Atitude – significa
o comportamento pessoal do administrador frente às situações com que se
defronta no seu trabalho. A atitude representa o estilo pessoal de fazer as coisas
acontecerem, a maneira de liderar, de motivar, de comunicar e de levar as coisas
para a frente. Envolve o impulso e a determinação de inovar e a convicção de
melhorar continuamente, o espírito empreendedor, o inconformismo com os
problemas atuais e, sobretudo, a facilidade de trabalhar com outras pessoas e
fazer as suas cabeças. É esta competência durável que transforma o administrador
em um agente de mudança nas empresas e organizações e não simplesmente um
agente de conservação.

13
Unidade I

Para poder exercer de maneira eficiente seu papel, o administrador precisa desempenhar
vários papéis, que consistem num conjunto de expectativas da organização no que diz respeito ao
comportamento de uma pessoa. Dessa forma, os papéis dos indivíduos representam atividades que
cabem ao administrador conduzir para sejam cumpridas as tarefas. Chiavenato descreve três papéis
essenciais ao administrador:

1 – Papéis interpessoais que representam as relações com outras pessoas e estão relacionados às
habilidades humanas;
2 – Papéis informacionais que descrevem as atividades necessárias para se manter e desenvolver
uma rede de informações;
3 – Papéis decisórios que envolvem eventos e situações nas quais o administrador deve fazer uma
escolha ou opção.

Para esclarecer melhor esses três papéis, que na prática se subdividem em outros dez papéis do
administrador, Chiavenato (2007, p. 7) apresenta um quadro explicativo:

Quadro 2

Categoria Papel Atividades


Assume deveres cerimoniais e simbólicos, representa a
Representação organização, acompanha visitante, assina documentos
legais.
Interpessoal Dirige e motiva pessoas, treina, aconselha, orienta e se
Liderança comunica com os subordinados.
Mantém redes de comunicação, dentro e fora da
Ligação organização, usa malotes, telefonemas e reuniões.
Manda e recebe informação, lê revistas e relatórios,
Monitoração mantém contatos pessoais.
Envia informações para os membros de outras
Informacional Disseminação organizações, memorandos e relatórios, telefonemas e
contatos.
Transmite informações para pessoas de fora, através de
Porta-voz conversas, relatórios e memorandos.
Inicia projetos, identifica novas ideias, assume riscos,
Empreendimento delega responsabilidade de ideias para outros.
Toma ação corretiva em disputas ou crise, resolve conflitos
Resolução de conflitos entre subordinados, adapta o grupo a crises e mudanças.
Decisorial
Decide a quem atribuir recursos. Programa, orça e
Alocação de recursos estabelece prioridades.
Representa interesses da organização em negociações com
Negociação sindicatos, em vendas, compras e financiamentos.

Fonte: Chiavenato, 2007, p. 7.

Assim como em tempos passados, a administração passou por transformações, e isso também vai
ocorrer no futuro. Hoje a forma organizacional predominante é a burocrática; porém, devem surgir outros
tipos de administração que respondam de forma mais adequada às demandas da era pós-industrial.

14
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Segundo Chiavenato (2007, p. 15), existem algumas fraquezas no modelo tradicional da


organização burocrática, e as alternativas para esses pontos fracos servirão de base para futuros
sistemas organizacionais. A seguir, o autor nos apresenta três aspectos que demonstram essa
tendência:

1–Mudanças rápidas e inesperadas no mundo dos negócios, nos campos


do conhecimento e da explosão populacional, impondo novas e crescentes
necessidades a que as atuais organizações não têm como atender. 2
– Crescimento e expansão das organizações, que se tornam complexas e
globalizadas. 3 – Atividades que exigem pessoas de competências diversas e
especializadas envolvendo problemas de coordenação e, principalmente, de
atualização em função de rápidas mudanças.

Portanto, a função do administrador do futuro será incerta e desafiadora diante das mudanças e
das transformações pelas quais passa a sociedade. O profissional precisa se preparar para enfrentar e
resolver diversas situações, com exigências de diversos atores sociais, como: a sociedade, os clientes, os
fornecedores, as agências regulamentadoras e concorrentes. Além disso, deverá atender aos interesses
da alta administração, dos subordinados e dos acionistas.

Chiavenato cita alguns fatores que criarão impacto sobre as organizações de uma forma
geral, como crescimento, concorrência mais aguda, sofisticação da tecnologia, taxas elevadas de
inflação, globalização da economia e internacionalização dos negócios e visibilidade maior das
organizações.

Aliados a esses fatores, o autor cita ainda a questão das transformações sociais, que geram
impacto no cotidiano das organizações, uma vez que estas são parte integrante e inseparável
da sociedade. Chiavenato cita algumas dessas transformações, as quais ele denomina de
“megatendências”:

1 – Da sociedade industrial para a sociedade da informação; 2 – Da tecnologia


simples para a tecnologia sofisticada; 3 – Da economia nacional para a
economia mundial; 4 – Do curto para o longo prazo; 5 – Da democracia
representativa para a democracia participativa; 6 – Das hierarquias para a
comunicação lateral intensiva; 7 – Da opção dual para a opção múltipla; 8
– Da centralização para a descentralização; 9 – Da ajuda institucional para
a autoajuda.

Diante desse quadro, o futuro das empresas e dos administradores vai depender muito da capacidade de ler
e interpretar a realidade externa para poder reconhecer as ameaças e as dificuldades e diminuir seus impactos
negativos na organização. Portanto, a administração necessita ser um processo de ajustes constantes, pois
novos e diferentes problemas vão surgir e precisarão de uma resposta para sua solução.

15
Unidade I

Exemplo sobre a importância da administração de uma organização

O modelo de excelência da gestão®

Modelo de Excelência da Gestão®

Uma visão sistêmica da gestão organizacional

rmações e Conhecim
Info ent
o
Clientes

Pessoas

Liderança Estratégias
e Planos Resultados

Processos

Sociedade
me nto Info
i
ações e Conhec rm

Fonte: Fundação Nacional da Qualidade – FNQ. Disponível em: <http://www.fnq.org.br/site/374/default.aspx>. Acesso em: 28/5/2011.

A Administração nada mais é do que o gerenciamento ou a gestão de uma organização. Atualmente a


questão da gestão é um fator bastante relevante para o sucesso de uma organização, independentemente
se ela é pública ou privada, com ou sem fins lucrativos.

Uma gestão de excelência pode ser o grande diferencial de uma organização no mundo
globalizado, onde as tecnologias, as comunicações e a disseminação de informações estão
disponíveis a todos. Partindo dessa premissa, vários países do mundo passaram a adotar um modelo
de excelência da gestão que serve de referência para as organizações verificarem o estágio em que
se encontram nessa área.

16
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

No Brasil, desde 1991, a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) administra o Prêmio Nacional da
Qualidade® (PNQ). A missão da FNQ é “Disseminar os fundamentos da Excelência em Gestão para o
aumento de competitividade das organizações e do Brasil”.

O desenho inserido no início deste texto é o Modelo de Excelência da Gestão®, o qual representa uma
visão sistêmica da gestão organizacional e pode ser compreendido pelos seguintes aspectos: qualquer
que seja o tipo da organização, ela desenvolve suas atividades num ambiente onde existe uma alteração
constante nas informações e nos conhecimentos. A liderança dessa organização precisa saber utilizar
essas informações e esses conhecimentos para atender às necessidades dos clientes e da sociedade.
Para que isso seja possível, a liderança conta com os processos desenvolvidos pelas pessoas dentro
das organizações. E, a fim de que os processos e as atividades das pessoas produzam um resultado, é
necessário que a liderança desenvolva suas estratégias e planos.

A organização que deseja ser reconhecida como aquela que possui uma gestão de excelência deve
colocar em prática na sua administração os “Fundamentos da Excelência”, que são:

1. Pensamento sistêmico.
2. Aprendizado Organizacional.
3. Cultura de Inovação.
4. Liderança e Constância de Propósitos.
5. Orientação por Processos e Informações.
6. Visão de Futuro.
7. Geração de Valor.
8. Valorização das Pessoas.
9. Conhecimento sobre o Cliente e o Mercado.
10. Desenvolvimento de Parcerias.
11. Responsabilidade Social.

Saiba mais

O modelo de Excelência da Gestão® está alicerçado em um conjunto de


conceitos fundamentais descritos na publicação Conceitos Fundamentais
da Excelência em Gestão, disponível para download gratuito no Portal
da FNQ. Nessa publicação, também estão descritos o contexto social,
tecnológico e econômico em que as organizações se encontram, bem como
o posicionamento conceitual da FNQ.

FNQ – Fundação Nacional da Qualidade

<http://www.fnq.org.br/site/376/default.aspx>

17
Unidade I

Quadro das megatendências segundo Jonh Naisbitt, apresentado por Chiavenato

Quadro 3

DE PARA ALTERAÇÃO
Sociedade industrial Sociedade da informação Inovação e mudança
Tecnologia simples Tecnologia sofisticada Maior eficiência
Economia nacional Economia mundial Globalização e competitividade
Curto prazo Longo prazo Visão do negócio e do futuro
Democracia representativa Democracia participativa Pluralismo e participação
Hierarquia Comunicação lateral Democratização e empowerment
Opção dual ou binária Opção múltipla Visão sistêmica e contingencial
Centralização Descentralização Incerteza e imprevisibilidade
Ajuda institucional Autoajuda Autonomia e serviços diferenciados

Fonte: Chiavenato, 2007, p. 19.


1.2 Histórico

A Administração nasceu no século XX e, para seu processo de formação, contou com a contribuição
cumulativa de filósofos, físicos, economistas, estadistas, empresários. Esses atores sociais foram
desenvolvendo suas teorias e obras de acordo com seu campo de atuação.

Dessa forma, a moderna administração emprega diversos conceitos e princípios que também são
utilizados em outras ciências. Apesar de a ciência da administração ser relativamente nova, para que ela
se formasse foram necessários uma preparação e antecedentes históricos suficientemente capazes de
permitir e viabilizar seu surgimento.

A evolução da administração relaciona-se, principalmente, a dois fatores que se interligam:


à administração das estruturas de governos existentes ao longo da história e à administração de
organizações de caráter privado.

Somente a partir do processo de industrialização sentiu-se a necessidade de aprimorar as organizações


existentes, o que é um fenômeno relativamente recente em nossa sociedade.

Nas sociedades pré-industriais, as organizações humanas eram tribo, família, igrejas, exércitos e governos.

Um dos mais antigos exemplos de organização é o exército, já que todas as campanhas militares
tendiam a exigir uma grande organização para as conquistas, para a defesa e para a administração
governamental, decorrendo daí as primeiras noções de organização.

Nesse período, dois temas aparecem constantemente:

1. Noção relativamente limitada das funções administrativas;

18
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

2. Pouca consideração pela atividade comercial.

Vários indícios na história antiga mostram-nos que o homem utilizou planos formais, organizações
de trabalho, aproveitamento de lideranças e sistemas de avaliação, pois as grandes construções indicam
uma prática eficiente das funções administrativas.

Os egípcios desenvolveram grandes projetos arquitetônicos e de engenharia, como as pirâmides e os


canais de irrigação. Para possibilitar tais empreendimentos, alguns métodos, sofisticados para a época,
foram adotados: divisão de trabalho entre pessoas e departamentos, planejamento, criação da função
de “administrador”.

A Babilônia também desenvolveu atividades que merecem ser estudadas quando falamos de
administração: o Código de Hamurábi (governador da Babilônia no período de 2000 a 1700 a. C.),
um conjunto de leis que orientou o povo, estabeleceu o princípio do trabalho remunerado, instituiu o
princípio da paga mínima, dos contratos de trabalho e recibos de pagamento, controlando as transações
comerciais e as relações trabalhistas.

Na Grécia Antiga (400 a. C.), Sócrates cria a universidade da administração. Platão, no livro A
República, coloca seu ponto de vista sobre a administração dos negócios públicos e o princípio da
especialização.

Entre os grandes escritos de Platão, destacamos, em primeiro lugar, a classificação das formas de governo,
que estão divididas em:

• aristocracia: governo da nobreza ou classe alta;


• oligarquia: governo de apenas uma classe social;

• democracia: governo do povo;

• tirania: governo de uma só pessoa.

Platão preocupou-se ainda com a criação de uma classificação para as classes sociais, dividindo-as
em: ouro (os governantes); prata (os guerreiros); e bronze (os artesãos).

Aristóteles (300 a. C.), em seu livro A Política, distingue três formas de administração pública:
Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder Judiciário, e classificou as formas de governo em
monarquia (governo de uma só pessoa); aristocracia (governo da classe alta); e democracia (governo
do povo).

O Império Romano, uma das civilizações que mais influenciaram o pensamento administrativo,
serviu de base para a sociedade moderna e influenciou também na definição dos nomes atribuídos
às pessoas que ocupavam cargos: gestores ou mandatários. Em Roma, também as empresas foram
classificadas de três formas: públicas (empresas que realizavam atividades do Estado); semipúblicas

19
Unidade I

(as que pertenciam a sindicatos); e privadas (as que eram propriedade de civis, que também as
gerenciavam).

Roma desenvolveu um sistema semi-industrial de manufatura armamentista, de produção de cerâmica


para o mercado mundial e, posteriormente, de produção têxtil para exportação.

Seu sistema rodoviário foi construído para melhorar a distribuição de bens, assim como para agilizar
o movimento de tropas para as colônias.

O Estado regulava todos os aspectos da vida econômica: as corporações, determinava as tarifas


comerciais, a armazenagem dos produtos e usava esses rendimentos para a guerra.

Organizações de grande porte eram proibidas quando seu objetivo era outro que não a execução de
contratos públicos.

A Igreja Católica herdou muitas das tradições administrativas dos romanos, a começar pela
administração geográfica, que representa um exemplo interessante de prática de administração.

A estrutura atual da Igreja, que foi estabelecida em torno do século II (d. C.), quando se definiram
com mais rigor seus objetivos e doutrinas, centralizou-se em Roma e criou uma estrutura hierárquica
simples, composta dos seguintes níveis: Papa, Cardeais, Arcebispos e Párocos, que se reproduziu ao longo
de quase dois mil anos.

Ao longo dos séculos, a Igreja Católica estruturou sua organização com uma hierarquia de autoridade,
um estado-maior (assessoria) e a coordenação funcional para assegurar integração. A organização
hierárquica da Igreja é tão simples e eficiente que sua enorme organização mundial pode operar sob
o comando de uma só cabeça executiva: o Papa, cuja autoridade coordenadora lhe foi delegada de
forma imediata por uma autoridade divina superior. A estrutura da organização eclesiástica serviu de
modelo para as demais organizações que, ávidas de experiências bem sucedidas, passaram a incorporar
os princípios e normas utilizados pela Igreja Católica (CHIAVENATO, 2007, p. 32).

1.3 O surgimento do Estado moderno

A centralização do poder político e a formação das monarquias europeias são indicadores da transição
gradativa da Idade Média para a Idade Moderna. Mediante um processo lento, mas contínuo, durante os
séculos XIV e XV, ocorrem a desagregação do sistema feudal e a formação dos Estados modernos.

Maquiavel (1469-1527), ao refletir sobre a realidade de sua época, elaborou não uma teoria de
Estado moderno, mas uma teoria de como se formam os Estados, de como, na verdade, se constitui
o Estado moderno. Para ele, o Estado passa a ter suas próprias características, faz política, segue suas
técnicas, suas próprias leis.

Em sua obra O Príncipe faz recomendações sobre como um governante deve comportar-se.
Acreditava em trabalho de equipe, recomendava que o príncipe deveria procurar os colaboradores
20
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

individualmente capazes, que também soubessem trabalhar em equipe. A aprovação dos governados é
essencial, independentemente da forma de chegada ao poder (usurpação ou herança).

O governante deveria, pelo exemplo pessoal, inspirar os governados. Em situação de crise, o príncipe
deveria tentar fortalecer o moral e o espírito de seus governados, incentivando-os com o uso de suas
qualidades intangíveis de liderança.

Quadro 4
Características do Estado moderno
Serve de base para as outras instituições formais
Passa a ser a fonte do direito positivo, legitimado pela sociedade
É, inicialmente, absoluto e mercantil
Cria condições para que ocorra a Revolução Industrial

De maneira geral, o Estado moderno pressupunha:


• a delimitação de um território com fronteiras bem-definidas;
• a legitimidade social do poder político;
• a centralização política;
• a constituição de uma estrutura administrativa mínima (exército, tributos e os primórdios da burocracia).

Do final do século XVIII até o século XX, dois processos modificaram o desenho do Estado: a luta
democratizadora por direitos civis, políticos e sociais – realizada em meio a revoluções e tentativas de
incorporação de novos atores ao processo político, e que redundou na criação de instrumentos e políticas
estatais voltados para esses direitos – e a expansão do capitalismo, que fez surgir meios de proteção à
propriedade e aos contratos, uma infraestrutura para o desenvolvimento econômico e diversas formas
de intervenção, diretas e indiretas, para constituir e regular o mercado interno.

Observação
Surge com as mudanças estrutural e cultural ocorridas na sociedade.
Nesse novo cenário, as organizações passam a participar do desenvolvimento
do Estado, uma vez que a formação dos mesmos possibilitou a existência
de um mercado seguro para o comércio. Dessa forma, houve ganhos
resultantes da produtividade e da divisão do trabalho.

1.4 A Revolução Industrial

Completada a revolução de formação do Estado moderno e não obstante o domínio da nova teoria
econômica liberal a partir de Adam Smith (A Riqueza das Nações é de 1776), só setenta anos mais tarde
a Inglaterra adotou o liberalismo comercial. As instituições mercantis haviam sido fundamentais para
seu desenvolvimento; chegava a hora das instituições liberais.
21
Unidade I

A instituição do Estado moderno permitiu às nações que primeiro realizaram um processo de


unificação do Estado saírem do período medieval e evoluírem para o mercantilismo, tendo seu grande
despertar no princípio do século XVI, com as grandes descobertas através da navegação e das invenções,
iniciando-se, assim, o que podemos chamar de primórdios da Revolução Industrial.

Lembrete

A Revolução Industrial é consequência e complemento da revolução


capitalista. Prova disso é que as nações que conseguiram promover e
completar sua revolução industrial também foram as primeiras que
alcançaram o desenvolvimento econômico, como Inglaterra, EUA e França.

Os argumentos de Adam Smith sobre a vantagem econômica que as organizações e a sociedade


poderiam obter com a divisão de trabalho fundamentaram-se na estrutura da indústria de fabricação
dos alfinetes. Smith menciona que dez indivíduos, cada um realizando uma atividade especializada,
poderiam produzir ao todo cerca de 48 mil alfinetes ao dia.

Entretanto, se esses mesmos indivíduos trabalhassem de forma separada e independente, com um


pouco de sorte, somente poderiam fabricar duzentos alfinetes ao dia. Smith concluiu que a divisão
de trabalho aumenta a produtividade ao incrementar a habilidade e a destreza de cada trabalhador. A
grande popularidade que a especialização do trabalho ganhou, durante o processo de desenvolvimento
da Revolução Industrial, permitiu que os mais variados segmentos industriais aplicassem sua teoria.

A Revolução Industrial promoveu uma grande mudança nos modelos de produção artesanal para o processo
de divisão de trabalho apoiado nas ideias de Adam Smith. A produção manual, na qual o artesão domina todo o
processo produtivo, passa a ser segmentada em vários níveis, permitindo aos detentores dos meios de produção
subjugar o trabalhador, que passou a executar somente uma pequena parte da tarefa produtiva.

As principais mudanças implementadas pela Revolução Industrial foram: mudanças dos sistemas de
produção; diminuição dos custos de produção; surgimento dos grandes inventos, que permitiram que
a Revolução Industrial se ampliasse nos diferentes setores; o surgimento de uma nova classe social, os
operários; desaparecimento do pequeno artesão e busca da competência e especialização.

Chiavenato apresenta uma divisão da Revolução Industrial em dois períodos distintos:

Quadro 5

Período de 1780 a 1860 1º Revolução Industrial ou Revolução do carvão e do ferro


Período de 1860 a 1914 2º Revolução Industrial ou Revolução do aço e da eletricidade

Fonte: Chiavenato, 2007.

22
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

O mesmo autor ensina que a 1º Revolução Industrial passou por quatro fases distintas:

Quadro 6

1º fase: A mecanização da indústria e da agricultura


2º fase A aplicação da força motriz à indústria
3º fase O desenvolvimento do sistema fabril
4º fase Um espetacular aceleramento dos transportes e das comunicações

Fonte: Chiavenato, 2007.

A segunda fase da Revolução Industrial foi provocada por três importantes fatores: o surgimento
de um processo para fabricação do aço; um aperfeiçoamento na utilização do dínamo; e a invenção do
motor de combustão interna.

Até 1850, a maioria das empresas não contava com os serviços de um administrador que se dedicasse
exclusivamente a essa função, uma vez que as empresas eram pequenos negócios de família. A partir
do momento em que várias pequenas empresas começaram a se agregar em uma federação, sob o
controle de uma companhia holding, essas unidades deixaram de ser dirigidas pelas próprias famílias e
começaram a ser administradas por gerentes assalariados.

Problematização: a terceira e a quarta revolução industrial

A partir da Segunda Guerra Mundial, a economia mundial começou a sofrer uma grande transformação.
Essas mudanças são conceituadas como a Terceira Revolução Industrial, pois se estendem além das
transformações ocorridas dentro das linhas de produção.

Com o avanço dos conhecimentos tecnológicos, passou a existir uma integração entre vários ramos
da ciência, possibilitando o surgimento de processos produtivos que independem do uso da mão de obra
humana, como, por exemplo, o grande uso de sistemas robóticos nas linhas de produção industrial.

As revoluções industriais que haviam ocorrido anteriormente tinham como finalidade o uso das tecnologias
para produção de mercadorias a um custo reduzido e em quantidades suficientes para atender às demandas
existentes; porém, em ambas, o uso da força de trabalho humano era necessário para que existisse a produção.

A introdução de novas tecnologias no cotidiano da sociedade trouxe significativas mudanças dentro


das organizações e também na vida das pessoas; pois a Terceira Revolução Industrial não ficou restrita
aos países desenvolvidos, as transformações atingiram um nível globalizado. Hoje, os pesquisadores
entendem que os avanços da globalização trouxeram muitos prejuízos para a humanidade, como a
destruição do meio ambiente e de culturas milenares.

Apesar das críticas decorrentes da substituição dos seres humanos por máquinas, que já podem
participar de todo o processo produtivo, gerando um grande número de desempregados, os avanços da
tecnologia, principalmente da informática e da genética, indicam que estamos caminhando para uma
23
Unidade I

Quarta Revolução Industrial, ou seja, adentrando num mundo onde é possível alterar a natureza por
meio da biotecnologia e trabalhar novas áreas das ciências exatas por meio da nanotecnologia.

Saiba mais

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é um dos pesquisadores mais


citados quando se trata de discutir as mudanças pelas quais a nossa sociedade
está passando. Ele denomina a época atual como a pós-modernidade, onde as
relações humanas são consideradas como líquidas, ou seja, não existe segurança
e tudo parece escorrer das nossas mãos. Por isso, alguns dos seus livros são
chamados Amor Líquido e Medo Líquido. Segundo Bauman, na modernidade
as relações sociais estavam baseadas na ética do trabalho e este era o balizador
de todas as relações sociais e produzia uma segurança para quem tinha um
emprego. Já na pós-modernidade as relações sociais estão baseadas na estética
do consumo, ou seja, para que as pessoas sejam aceitas na sociedade precisam
ser consumidores, e a estética do consumo está influenciando todas as relações
humanas. Como o consumidor não pode se apegar ao produto, vivemos numa
sociedade onde tudo é descartável, até mesmo as relações pessoais.

Se for de seu interesse conhecer um pouco mais a opinião de Zygmunt


Bauman sobre a história da globalização e a consequência desse processo,
deve fazer a leitura do livro Globalização: as consequências humanas –
Jorge Zahar Editor.

E, no endereço eletrônico abaixo, é possível ler uma entrevista do


sociólogo Zygmunt Bauman concedida à pesquisadora Maria Lúcia Garcia
Pallares-Burke:

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-20702004000100015&scr
ipt=sci_arttext>

1.5 Teorias científicas da administração

Dando mais um salto na história, passamos agora para a fase dos primeiros estudos formais da teoria
da administração, que se situa nos séculos XIX e XX, período do surgimento da chamada Administração
Científica, com a publicação dos Princípios da administração científica, em 1911, por Frederick Winslow
Taylor, chamado pai da administração científica. Para esclarecermos o que vem a ser uma teoria, trazemos
o comentário citado por Maximiano:

Teoria se refere a um modo de se organizar os fatos, explicando-os,


estabelecendo relações e dando oportunidade de serem utilizados para
previsão e prognóstico da realidade. Teoria diz respeito à relação entre fatos

24
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

ou, em outros termos, à ordenação significativa desses fatos, consistindo em


conceitos, classificações, correlações, generalizações, princípios, leis, regras,
teoremas e axiomas (LACATOS; MARCONI, 1999, apud MAXIMIANO).

Portanto, podemos dizer que uma teoria é um conjunto de proposições que procuram explicar os
fatos da realidade.

O trabalho de Frederick Winslow Taylor foi desenvolvido durante sua estada nas empresas Midvaley
e Bethleen Steel, como engenheiro. Sua teoria partiu da constatação de que havia a necessidade de
melhorar a qualidade do produto e reduzir os custos de produção, uma ideia que estava associada
à produtividade. Segundo Taylor, esses problemas decorriam da falta de padrões de desempenho e
eficiência e da necessidade de orientação para tomadas de decisão mais conscientes e dirigidas para
problemas específicos, que geravam baixos níveis de interação entre o operário e o sistema produtivo.

Taylor passou a cronometrar os movimentos dos trabalhadores e dividia-os nas tarefas que os
compunham – chamando-as unidades básicas de trabalho. Procurava, dessa forma, a melhor maneira de
executá-las e de combiná-las para a tarefa maior. Usava sistema de pagamento por peças produzidas ou
por quantidade, provocando aumento do rendimento dos trabalhadores de acordo com seu esforço. Com
isso, Taylor conseguiu aumentar a eficiência, pois a produtividade resultava da eficiência do trabalho, e
não da maximização dos esforços (troca do trabalho duro pelo trabalho inteligente).

Henry Ford adotou a linha de Taylor, em que a preocupação maior era a produtividade, sem considerar
o homem e suas necessidades. Implantou e desenvolveu a divisão de trabalho na linha de montagem.
Assim, cada operador era responsável por uma tarefa pequena, simples, que se completava com o
trabalho de vários outros operadores, cada qual com operações igualmente simples.

Desconhecendo o processo global, cada operador detinha o conhecimento de sua operação e de


nada mais; muitas vezes não sabia a que se destinava a peça por ele fabricada. A intercambialidade
de operadores permitia que trabalhadores sem nenhum tipo de conhecimento, experiência ou
treinamento desenvolvessem bem a tarefa produtiva, e também que tal trabalhador fosse facilmente
substituído.

A produção uniformizada garantia à linha de montagem uma velocidade única para todos os
operadores, facilitando o controle pelo supervisor. Tais práticas propiciaram o aparecimento de trabalhos
indiretos: limpeza, abastecimento de insumos e coordenação de operações, garantindo que o trabalhador
da linha de produção se fixasse apenas na sua tarefa.

Juntamente com o americano Frederick Taylor, responsável pela chamada Escola da Administração
Científica, outro engenheiro europeu também participou, no início do século XX, do desenvolvimento dos
primeiros trabalhos sobre a administração. Henri Fayol, responsável pelo desenvolvimento da chamada Teoria
Clássica, cuja base era a preocupação com o aumento da eficiência da empresa por meio de sua organização
e da aplicação de princípios gerais da administração em bases científicas. As ideias desses dois engenheiros
são responsáveis pela formação da chamada Abordagem Clássica da Administração, que perdurou durante as
quatros primeiras décadas do século XX, no que se refere à administração das organizações.
25
Unidade I

Fayol, em seus princípios da administração, expõe o seguinte:

• Divisão de trabalho: resultando na especialização das funções e na separação dos poderes;


• Autoridade e responsabilidade: a primeira, o direito de mandar e o poder de se fazer
obedecer; a segunda, a sanção – recompensa ou penalidade – que acompanha o exercício
do poder;
• Disciplina: o respeito aos acordos estabelecidos entre a empresa e seus agentes;
• Unidade de comando: forma de cada indivíduo ter apenas um superior;
• Unidade de direção: um só chefe e um só programa para um conjunto de operações que visam ao
mesmo objetivo;
• Subordinação do interesse individual ao interesse geral;
• Remuneração do pessoal: de forma equitativa e com base tanto em fatores externos quanto
internos;
• Centralização: a concentração de poderes de decisão no chefe;

• Linha de autoridade ou hierarquia: a série dos chefes, dando-se aos subordinados de chefes
diferentes a autonomia para estabelecer relações diretas;
• Ordem: um lugar para cada pessoa e cada pessoa em seu lugar;
• Equidade: o tratamento das pessoas com benevolência e justiça, não excluindo a energia e o rigor
quando necessários;
• Estabilidade do pessoal: a manutenção das equipes como forma de promover seu
desenvolvimento;
• Iniciativa: faz aumentar o zelo e a atividade dos agentes; espírito de equipe.

A seguir, quadro representativo das duas correntes que fazem a Abordagem Clássica da
Administração, apresentando suas principais orientações:

Quadro 7

Corrente dos Anatomistas e Fisiologistas da


Escola da Administração Científica Organização – Teoria Clássica
Se forma nos Estados Unidos a partir dos trabalhos de Nasce na França com os trabalhos pioneiros de
Taylor Fayol
A preocupação básica era aumentar a
A preocupação básica era aumentar a eficiência da eficiência da empresa por meio da forma e da
empresa por meio do aumento da eficiência no nível disposição dos órgãos componentes da empresa
operacional (operários) (departamentos) e de suas relações estruturais
Enfatiza a anatomia (estrutura) e a fisiologia
Enfatiza a divisão do trabalho do operário, ou seja, (funcionamento) da organização, ou seja, ênfase
ênfase nas tarefas é sua principal característica na estrutura é a sua principal característica

26
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Predominava a atenção para a estrutura


Predominava a atenção para o método de trabalho organizacional
Permitia a melhor maneira de subdividir a
Permitia a especialização do operário e o empresa sob a centralização de um comando
reagrupamento de movimentos central
Corrente de ideias desenvolvidas por engenheiros
que procuravam elaborar uma engenharia industrial Corrente teórica orientada administrativamente
dentro de uma concepção pragmática

Fonte: Chiavenato, 2007.

Desdobramento da abordagem clássica apresentada por Chiavenato:

Administração Ênfase nas


Científica tarefas
Abordagem Clássica
da Administração T Taylor
AV Ênfase na
Teoria Clássica Fayol estrutura

Figura 1

Saiba mais

O conceito de eficiência, eficácia e efetividade é muito importante para


a administração e também para os projetos sociais. Assim, aqueles que
quiserem conhecer melhor o assunto podem acessar o site indicado abaixo
e ler o artigo Eficiência, Eficácia e Efetividade na Administração Pública,
de autoria do pesquisador Rodrigo Batista de Castro, no qual é tratada de
forma mais abrangente essa questão.

<http://www.anpad.org.br/enanpad/2006/dwn/enanpad2006-apsa-
1840.pdf>

2 CARACTERIZANDO AS ORGANIZAÇÕES

2.1 Organização

Segundo Patrick (2005), o conceito de organização é essencialmente o mesmo para todos os tipos
de atividades. Uma vez formulados os planos e os objetivos, a administração deve desenvolver um modo
sistemático de reunir os recursos físicos e humanos essenciais à realização das metas da empresa.

Maximiano (2007) entende organização como um sistema de recursos que procura alcançar objetivos.
O processo de definir quais objetivos a organização pretende alcançar, com quais recursos, chama-se

27
Unidade I

planejamento. O processo de dividir o trabalho entre as pessoas, para realizar os objetivos, chama-se
processo de organização.

Caravantes (2007) define o conceito de organização social como muito amplo e capaz de englobar
vários agrupamentos sociais, na medida em que os participantes estão interligados por uma rede de
relações e comungam de certos valores e normas. O mesmo autor acrescenta, ainda, a necessidade de
delimitar esse conceito. Sempre que usarmos o termo organização, devemos associá-lo a um termo
delimitante, a um adjetivo, como formal, complexo ou burocrático.

Dois autores destacaram-se no estudo das estruturas das organizações: o sociólogo alemão Max Weber,
que viveu de 1854 a 1920, e um executivo de uma grande empresa norte-americana, Chester Barnard.

Weber, citado por Caravantes (2007), chamou de grupo corporativo o que definiu como “uma
relação social que ou é fechada, ou limitada à admissão de forasteiros através de regras”. E coloca três
características básicas:

• O grupo corporativo é caracterizado por fronteiras ou limites específicos, na medida em que


pessoas são impedidas de participar ou sua participação é sujeita a especificações muito claras.
Membros e não membros.
• Existe um conjunto de normas e regras a ser seguido por todos que participam do grupo e que
definem condutas consideradas aceitáveis – ou não aceitáveis – de seus membros.
• A ordem existente é legal, na medida em que há uma diferença de poder entre os membros
integrantes, existindo um subgrupo que decide exercer controle e administrar punições.

Weber coloca ainda que uma organização deve apresentar duas características adicionais:

• Deve ter um caráter comunal, pois é este último que faz com que as pessoas se reúnam e se
agreguem;
• Suas atividades devem ser implementadas de maneira sistemática, sem que haja interrupções
significativas, e os objetivos perseguidos por seus membros, relativamente específicos.

Segundo Chester Barnard ( apud CHIAVENATO), uma organização é um subsistema de um


sistema mais amplo, que ele chamou de sistemas cooperativos. Estes criam condições para que
as limitações biológicas, físicas ou sociais sejam superadas. É um sistema cooperativo que se
caracteriza por ser consciente, deliberado e com propósitos definidos. Para Barnard, necessita de
três elementos:

• Comunicação entre os indivíduos participantes;


• Motivação para contribuir;
• Propósito comum.

28
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Propósito
comum

Organização
Motivação Comunicação

Figura 2

Caravantes (2007) conclui que organizações são unidades sociais (grupos humanos) deliberadamente
construídos e reconstruídos para atingirem objetivos específicos, tais como: corporações, exércitos,
escolas, hospitais, igrejas e prisões. Estão incluídos ainda: tribos, classes, grupos éticos. Grupos de
amizade e famílias estão excluídos.

Saiba mais

Pensamento sistêmico

Trata-se do primeiro fundamento em que se baseiam os “Critérios


Rumo à Excelência e Compromisso com a Excelência”, podendo ser
descrito como “entendimento das relações de interdependência
entre os diversos componentes de uma organização e o ambiente
externo”.

Nas organizações que desejam alcançar o sucesso, seus


administradores devem entender que as organizações são formadas
pela combinação dos recursos humanos e organizacionais, ou seja,
apesar de haver divisões de setores para o melhor funcionamento, estes
precisam estar interligados por uma rede de relacionamentos, formando
um único conjunto.

Para quem se interessar por esse assunto, uma boa dica é o artigo do
pesquisador Laércio Cristino Martins, Pensamento sistêmico na gestão
de organizações (PMEs) – Gestão Sistêmica de Organizações, que está
disponível em:

<http://www.isssbrasil.usp.br/pdfs2/gso_5.pdf>

29
Unidade I

2.2 A organização das organizações

A. Divisão de trabalho, poder, responsabilidade pela comunicação, divisões que não são casuais ou
tradicionalmente estruturadas, mas deliberadamente planejadas para alcançar e realizar objetivos
específicos.

B. A presença de um ou mais centros de poder que controlam os esforços planejados da organização


e os dirigem para os objetivos dela.

C. Substituição de pessoal, isto é, aqueles com desempenho não satisfatório podem ser removidos e
suas tarefas podem ser atribuídas a outros.

Patrick (2005) propõe que, ao nos organizarmos, devemos observar:

• Unidade de propósito: concordar quanto ao trabalho a ser feito;


• Divisão de trabalho: decidir o que deve ser feito para alcançar os propósitos; quais funções devem
ser desempenhadas, quem irá desempenhá-las e que autoridade terá para desempenhá-las;
• Preenchimento dos cargos: deve-se determinar o tipo, a quantidade e a experiência das pessoas
que implementarão esse trabalho;
• Estrutura ou arcabouço organizacional: garantirá que o trabalho de equipe seja eficaz em termos
de relações de subordinação – a cadeia de comando e o fluxo de informações.

Patrick (2005) acrescenta, ainda, que a atividade de organizar desempenhada no processo de


administrar está descrita na figura abaixo:

Planejar
Definir direção

Organizar
Criar estrutura
Avaliação e Dividir trabalho
feedback Distribuir
recursos
Coordenar
atividades

Controlar
Coordenar atividades

Figura 3

30
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

A maneira como as diversas partes de uma organização são formalmente dispostas é chamada de
organograma.

No organograma, podemos ver:

1. Os níveis de administração: camadas verticais de administração.

2. Relações de supervisão: linha mostrando quem se reporta a quem.

3. Subunidades principais: cargos que se reportam a um mesmo gerente.

4. Divisão de trabalho: cargos e títulos.

5. Canal de comunicação.

Diretrizes para organizar:

• Estar bem atento ao impacto de mudança sobre as pessoas, bem como sobre a estrutura;
• Manter a estrutura enxuta e simples. Não desenvolver níveis demais para aprovação e revisão;
• Uma vez desenvolvida a estrutura ideal, compatibilizar as pessoas da melhor forma possível.

Saiba mais

No site “Página de Direito”, é possível obter mais informações sobre a


Administração.

<http://www.angelfire.com/ar/rosa01/direito108.html>

3 A TEORIA BUROCRÁTICA E SUA APLICAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3.1 Teoria burocrática

Max Weber, sociólogo alemão que viveu de 1854 a 1920, estudou a organização dentro de
seu próprio quadro de referência e definiu a administração como um sistema social e burocrático,
enfocando seus aspectos institucionais, tomando como base princípios da sociologia, da ciência
política e do direito.

É um dos autores mais discutidos e comentados, uma vez que seus princípios administrativos foram
adaptados aos setores governamentais, uma das atividades predominantes no princípio da evolução das
teorias administrativas.

31
Unidade I

Com o aparecimento, crescimento e proliferação das burocracias, a


teoria administrativa – até então introspectiva e voltada apenas para os
fenômenos internos da organização – ganhou uma nova dimensão por meio
a abordagem estruturalista: além do enfoque intraorganizacional, surgiu o
enfoque interorganizacional. A visão estreita e limitada aos aspectos internos
da organização passou a ser ampliada e substituída por uma visão mais
ampla, envolvendo a organização e suas relações com outras organizações
dentro de uma sociedade maior (CHIAVENATO, 2007, p. 255).

Na administração pública, os estudos de Max Weber foram adotados para substituir a administração
patrimonialista, na qual se baseavam as monarquias absolutistas. Patrimonialista, porque o patrimônio
público e o privado eram confundidos. Esse tipo de Estado era governado pelo rei, cujo patrimônio
individual confundia-se com o patrimônio público.

O patrimonialismo revela-se incompatível com o capitalismo industrial e as democracias parlamentares


que surgem no século XIX. Para o capitalismo, a separação clara entre Estado e mercado é essencial. A
democracia só pode existir quando a sociedade civil, formada por cidadãos, distingue-se do Estado, ao
mesmo tempo em que o controla.

O aparecimento das burocracias coincidiu com o despontar do capitalismo,


graças a inúmeros fatores, dentre os quais a economia do tipo monetário,
o mercado de mão de obra, o aparecimento do Estado-nação centralizado
e a divulgação da ética protestante (que enfatiza o trabalho como um dom
de Deus e a poupança como forma de evitar a vaidade e a ostentação)
(CHIAVENATO, 2007, p. 254).

Os princípios organizacionais da burocracia se adaptam bem a essas necessidades, pois, além de


uma clara distinção entre público e privado, fazem uma separação entre o político e o administrador
público. Dessa forma, os princípios da administração burocrática moderna, racional-legal, serão usados
na administração pública durante período significativo do século XX.

Assim, a abordagem estruturalista passa a se impor sobre a abordagem clássica e a abordagem


das relações humanas. A partir de então, a visão teórica adquire novas dimensões e novas variáveis,
por meio da Teoria da Burocracia e da Teoria Estruturalista, conforme desdobramento da abordagem
estruturalista demonstrada por Chiavenato.

Teoria da Ênfase na
Burocracia estrutura
Abordagem
Estruturalista
Teoria Ênfase na estrutura,
Estruturalista nas pessoas e no
ambiente

Figura 4

32
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Max Weber, estudando as relações entre a economia e a sociedade, trata, em sua obra, da questão da
legitimidade que fundamenta o exercício da autoridade. Quais são os diversos tipos de autoridade existentes na
sociedade e como elas se legitimam? Ao responder a essas questões, Weber define três tipos de autoridade:

1. Autoridade tradicional: baseia-se nos costumes e nas tradições de uma cultura. A autoridade
dos patriarcas e dos anciãos nas sociedades antigas e o poder do senhor feudal.

2. Autoridade carismática: baseia-se nas características pessoais de um indivíduo. Os profetas, heróis,


guerreiros e líderes normalmente são reconhecidos pelos seus feitos e qualidades pessoais.

3. Autoridade racional-legal: refere-se à autoridade baseada nas regras e nas normas estabelecidas
por um regulamento reconhecido e aceito pelos membros de dada comunidade. O ordenamento
jurídico estabelece competências, direitos e deveres atribuídos a cada função, e a autoridade se impõe
pela obediência a esse princípio. O exercício da autoridade e da função é limitado pelas regras.

Chiavenato apresenta uma tabela em que fica mais claro a tipologia de sociedade e a tipologia de
autoridade e suas características segundo Weber.

O poder é legitimado por meio de um método de dominação ou pela combinação dos três métodos
descritos anteriormente. A burocracia é um sistema administrativo pelo qual o poder é legitimado e
canalizado para a execução de tarefas orientadas para um objetivo.

Quadro 8

Tipos de sociedade Características Exemplos


Patriarcal e patrimonialista
Tradicional Clã, tribo, família, sociedade medieval
Conservadorismo
Personalista, mística e arbitrária Grupos revolucionários, partidos políticos,
Carismática
Revolucionária nações em revolução
Legal, racional ou burocrática Racionalidade dos meios e dos objetivos Estados modernos, grandes empresas, exércitos

Fonte: Definições de Chiavenato (2004) relacionadas com os tipos de sociedade.

Quadro 9

Tipos de autoridade Características Legitimação Aparato administrativo


Não é racional. Poder herdado Tradição, hábitos, usos e Forma patrimonial e forma
Tradicional ou delegado. Baseado no costumes. feudal.
“senhor”.
Características pessoais Inconstante e instável.
Não é racional, nem herdada, (heroísmo, magia, poder Escolhido pela lealdade e
Carismática nem delegável. Baseada no mental) e carismáticas do devoção ao líder e não por
carisma. líder. qualificações técnicas.
Justiça da lei. Promulgação e
Legal, racional, impessoal
Legal, racional ou burocrática regulamentação de normas Burocracia.
formal. Meritocrática. legais previamente definidas.

Fonte: Definições de Chiavenato (2004) relacionadas com os tipos de autoridade.

33
Unidade I

A administração burocrática propriamente dita constitui-se na determinação clara de um tratado,


no qual são definidos aspectos como:

• um conjunto de normas: cada cargo está associado a um conjunto de deveres, responsabilidades


e autoridade;
• o princípio de hierarquia: os cargos obedecem a uma hierarquia de importância e essa hierarquia
é conhecida pelos elementos que os diferenciam;
• a competência profissional: associada à divisão clara de tarefas, pela qual é definida a competência
de cada um, e as pessoas são preparadas para desempenhar suas tarefas segundo padrões
esperados;
• o conhecimento técnico: todas as regras que definem o sistema social em que o indivíduo está
envolvido e que determinam o desempenho do cargo.

Em sua vertente estatal, o modelo burocrático weberiano baseava-se nas seguintes características:

• separação nítida entre as esferas pública e privada, a fim de evitar a interferência de interesses
particulares na administração pública – é a luta contra o patrimonialismo;
• rotinas e procedimentos formalizados segundo regras definidas a priori;
• impessoalidade e neutralidade do corpo de funcionários;
• estrutura hierárquica funcional fortemente verticalizada;
• seleção meritocrática do corpo de funcionários, a partir de critérios de seleção e promoção
baseados em competências definidas pela especialização profissional;
• profissionalização da carreira administrativa com critérios de proteção e ascensão definidos de
antemão, em contraposição ao arbítrio pessoal;
• predominância do controle legal como critério de avaliação da ação administrativa (due
process);
• eficácia como princípio norteador da racionalidade, isto é, a criação de meios para atingir
certos resultados definidos como produtos tangíveis, com pouca preocupação pelos custos, pela
otimização, pela democratização e pelo impacto da ação governamental;
• rígida separação de políticos e burocratas – o próprio Weber propunha o controle dos primeiros
em relação aos segundos, não obstante tivesse mantido a separação entre os que têm o saber
técnico e os que têm a legitimidade política.

Entre as principais vantagens da burocracia proclamadas por seus criadores, incluem-se:

• a racionalização da ação administrativa;


• a precisão na definição de cargos e processos operacionais;

34
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

• a univocidade de interpretação;
• a continuidade da administração, estabelecendo mais claramente a diferença entre Estado e
governo;
• a delimitação clara dos limites e das responsabilidades de cada função;
• a erradicação dos princípios patrimoniais de poder.

Muitos autores do século XX perceberam que poderiam surgir disfunções vinculadas intrinsecamente
ao modelo. Assim, foram detectadas falhas na lógica interna da burocracia, tais como:

• o formalismo (apego exagerado a regulamentos), dado que as normas ganham uma vida própria
em relação aos objetivos da organização ou da sociedade;
• a criação de espaços de poder definidos por aqueles que controlam a produção das regras, os quais
concentrariam para si as informações e as decisões referentes à interpretação dos regulamentos,
estabelecendo verdadeiros cartórios;
• o distanciamento entre os níveis hierárquicos, separando demasiadamente a formulação da
implementação;
• a compartimentalização da administração, o que enfraqueceria a sinergia entre as partes;
• e, por fim, a limitação do processo organizacional, voltado a responder corretamente, mas de
forma exclusiva, antes à legalidade do que aos resultados das políticas.

Outro conflito apontado na visão de Weber é o fato de encarar a organização como um sistema
fechado, protegido de incertezas, seguro, sem necessidade de revisão de suas normas e no qual tudo
funciona como uma máquina bem programada para obter resultados ótimos e previsíveis. Esse tipo de
orientação deixa de fornecer instrumentos analíticos da funcionalidade ou da própria sobrevivência da
organização.

Outro aspecto crítico baseia-se na obediência voluntária, considerada legítima por ser fundamentada
em normas legais. Seu julgamento não existe e o grupo é induzido apenas a obedecer.

O poder em diferentes graus, como se fosse possível controlá-lo e dosá-lo na medida da necessidade,
também é outra crítica feita ao sistema burocrático.

3.2 A aplicação do modelo burocrático

Na administração pública, a divisão no governo entre Poder Legislativo e Executivo é um indício


de que a abordagem weberiana esteja presente na separação entre o grupo que executa e o grupo
que estabelece parâmetros para a execução. No conceito de poder que Weber estabelece, ou seja, na
dominação do governante sobre o governado, pelo qual o primeiro considera-se no direito de exercer o
poder e o segundo, na obrigação de obedecer.

35
Unidade I

Nas empresas estatais, é mais clara a identificação da abordagem burocrática, as normas, as regras,
a abundância de legislação que o povo deve seguir, sem condições de contestação. A necessidade de
controle dos bens públicos exige cada vez mais a “burocratização do sistema”.

Nas organizações privadas, o crescente controle dos administradores profissionais sobre


as burocracias, que tendem a ser completamente dominadas por eles, é uma das quatro
características apontadas por Prestes Motta e Bresser Pereira (1981) em conjunto com o
formalismo, com o caráter impessoal e com o fato de serem administradores profissionais
aqueles que as administram.

Prestes Motta e Bresser Pereira (1981) citam ainda uma pesquisa da Mabel Newcomer, feita na
década de 1950 nos EUA, a qual aponta que, naquela época, 70% dos diretores atingiram a diretoria
por seguir carreira dentro da própria companhia, ou por ter sucesso em outra companhia, enquanto
26% atingiram a mesma posição graças ao fato de terem organizado a empresa, herdado ou investido
nela.

3.3 A burocracia na realidade brasileira

A burocracia no Estado brasileiro teve sua implantação na reforma de 1936, com a introdução
dos conceitos da burocracia clássica; tentativa de superar a administração patrimonialista, uma forte
característica da Velha República, cujo sistema oligárquico, personalista e clientelista, dominava o
governo.

Introdução de um sistema de mérito no processo de ocupação dos cargos públicos e ascensão aos
cargos de direção do governo para superar as indicações ou ocupações de cargos por representantes
da iniciativa privada, que participavam ou indicavam ocupantes com o claro objetivo de defender seus
interesses privados.

Formação de um corpo administrativo profissional, pois o Brasil iniciava um processo de


industrialização liderado e promovido pelo governo em função da fragilidade dos capitalistas brasileiros
para empreender tal processo.

Nessa visão, o governo vai criar conceitos de administração indireta (empresas e autarquias
públicas) com maior independência do Estado para promover o processo de industrialização em
curso.

Outras características dessa reforma foram:

• a ênfase nos controles;


• excessiva centralização;
• excessiva rigidez de normas e procedimentos com o objetivo de impedir as práticas patrimonialistas
anteriores.

36
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

A reforma burocrática foi implantada por meio do Decreto-Lei 200 de 1967, durante o governo militar,
com objetivo de superar a rigidez do modelo burocrático e introduzir características gerenciais, como
planejamento, orçamento, descentralização e controle de resultados; separação entre administração
direta e indireta; expansão da administração descentralizada com farta criação de empresas estatais,
que passaram a empreender investimentos em infraestrutura.

Nessas empresas estatais criadas pelo governo militar, entretanto, reproduziam-se muitos dos
aspectos da administração burocrática.

3.4 A gestão pública e a reforma do Estado

A reforma do Estado surgiu nos anos 1990 com o objetivo de redefinir o papel do Estado. Um dos
objetivos foi descentralizar as responsabilidades sociais para os estados e municípios.

Segundo Pereira (1998), a administração pública evoluiu através de três modelos básicos: a administração
patrimonialista, a administração pública burocrática e a administração pública gerencial.

Pereira (2005, p. 49) ainda apresenta a seguinte concepção de administração pública: “Transformar a
administração pública burocrática, rígida e ineficiente, em uma administração pública gerencial, flexível
e eficiente, voltada para o atendimento do cidadão.”

De acordo com Pereira (1997), a administração pública burocrática surgiu na metade do século
XIX, na época do Estado Liberal, como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista.
É baseada nos princípios da profissionalização, da organização em carreira, da hierarquia funcional, da
impessoalidade e do formalismo.

Como forma de combater a corrupção e o nepotismo, tem-se um controle rígido para seleção
de pessoal, para celebração de contratos e para exercício do controle, que é voltado para a própria
administração, com a eficiência na prestação dos serviços públicos ao cidadão, chamado de
cidadão-cliente.

A administração pública gerencial surge na metade do século XX, como


resposta à expansão das funções econômicas e sociais do Estado ao
desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial,
deixando à mostra os problemas associados à adoção do modelo anterior. A
eficiência da administração pública está na necessidade de restringir custos
e aumentar a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como beneficiário que
passa então a ser essencial (PEREIRA, 1997).

As principais diretrizes dos organismos internacionais recomendam que a reforma do Estado seja
orientada para o mercado, “predominantemente pelos valores da eficiência e da qualidade na prestação
de serviços públicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações” (PIETRO, 2005,
p. 49), exigindo o abandono de instrumentos de controle político e a restrição na alocação de recursos
públicos, principalmente na área social.
37
Unidade I

Segundo Pereira (1997), na reforma do Estado foram indicados quatro componentes básicos:

a) a delimitação do tamanho do Estado, reduzindo suas funções por meio da privatização, da


terceirização e da publicitação, o que envolve a criação das organizações sociais;

b) a redefinição do papel regulador do Estado por meio da desregulamentação;

c) o aumento da governança, ou seja, a recuperação da capacidade financeira e administrativa de


implementar decisões políticas tomadas pelo governo através do ajuste fiscal;

d) o aumento da governabilidade ou capacidade política do governo;

e) intermediar interesses, garantir legitimidade e governar.

Segundo Ribeiro (2002), com a reforma, ocorreram alterações nos mecanismos da tomada de
decisões do aparelho do Estado; portanto, houve uma orientação para a descentralização, entendida
como quebra do monopólio administrativo estatal, exigências de responsabilização dos agentes públicos
e de abertura do Estado à participação e ao controle social.

3.5 As funções do Estado a partir da reforma

As funções do Estado estão divididas em quatro setores de atuação:

a) Núcleo estratégico: compreende os Poderes Legislativo, Judiciário e o Ministério Público, e, no


Poder Executivo, o Presidente da República, os ministros e seus auxiliares e assessores, diretamente
responsáveis pelo planejamento e pela formulação das políticas públicas.

b) Atividades exclusivas: serviços que só o Estado pode realizar, como regulamentar, fiscalizar e
fomentar.

c) Serviços não exclusivos: correspondem ao setor em que o Estado atua com outras organizações
privadas ou públicas não estatais: são os serviços sociais do Estado, abrangendo fundamentalmente
escolas, universidades, centros de pesquisa científica e tecnológica, creches, ambulatórios, hospitais,
entidades assistenciais, museus, emissoras de rádio e TVs educativas e culturais.

d) Produção de bens e serviços para o mercado: corresponde à área de atuação das empresas,
abrangendo atividades econômicas voltadas para o lucro.

De acordo com Pietro (2005), no Primeiro Setor, afirma-se que a efetividade das decisões é mais
importante que a eficiência; aí pode haver um misto de administração burocrática e gerencial. Nos
demais setores, a eficiência é mais importante, devendo prevalecer a administração pública gerencial.

Segundo Pereira (1997), é no núcleo de serviços não exclusivos que o governo estabelece as premissas da
reforma do Estado na sua relação com a sociedade e o mercado, a partir dos seguintes objetivos:
38
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

• transferir os serviços não exclusivos para entidades denominadas de organizações sociais;


• buscar autonomia e flexibilidade na prestação desses serviços;
• buscar a participação da sociedade mediante o controle desses serviços através dos conselhos de
administração, com centralidade na figura do cidadão-cliente;
• fortalecer a parceria entre Estado e sociedade através do contrato de gestão.

Para Pereira (1997), as mudanças não atingem apenas a esfera econômica, mas também ideológica
e política, buscando o consentimento e a adesão das classes à nova ideologia.

De acordo com Ribeiro (2002), a elaboração do plano diretor da reforma do Estado teve como
objetivo aprofundar a descentralização de funções para estados e municípios, limitando as ações do
Estado às atividades exclusivas, reservando as não exclusivas ao setor público não estatal, e a produção
de bens e serviços à iniciativa privada.

3.6 Administração pública e gestão pública

Existem várias formas de conceituar administração pública. Santos (2006) fornece diversas definições
para administração pública, citando outros autores:

Para Amato (1971), administração pública é a gestão dos bens e interesses qualificados da comunidade, nos
âmbitos federal, estadual ou municipal, segundo os preceitos do direito e da moral, visando ao bem comum.

De acordo com Meirelles (1985), administração pública é o conjunto das funções necessárias aos
serviços públicos em geral; é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios
do Estado ou por ele assumidos em benefício da coletividade.

No entanto, Santos (2006) conceitua administração pública como a organização e a gerência de


homens e materiais para a consecução dos propósitos de um governo.

A administração pública pode ser dividida em administração pública direta e indireta. Segundo
Martins (2007), a administração pública direta envolve serviços prestados pela própria administração;
já a administração pública indireta é composta pelas sociedades de economia mista, pelas empresas
públicas que exploram atividade econômica, pelas fundações públicas e pelas autarquias.

A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência – art. 37 da Constituição brasileira (MARTINS, 2007).

Segundo Ferreira (apud Santos, 2006), gestão pública refere-se às funções da gerência pública
nos negócios do governo, mandato de administração. Para Santos (2006), a gestão associa-se a uma
determinada fase de mandato. Portanto, a gestão teria as mesmas características da administração, mas
válidas por um período de tempo determinado.

39
Unidade I

Pode-se diferenciar administração pública de gestão pública afirmando que administração é atividade
neutra, vinculada à lei ou à norma técnica; é conduta hierarquizada.

A gestão, por outro lado, implica o atendimento de parâmetros básicos: tradução da missão, realização
de planejamento e controle, administração de recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros,
inserção de cada unidade organizacional no foco da organização e tomada de decisão diante de conflitos
internos e externos. Portanto, a gestão pública é a mesma atividade administrativa vinculada à lei ou à
norma técnica e à política, realizando funções administrativas em um determinado período de tempo.

3.7 Princípios da administração pública

O art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988, cita alguns


princípios que norteiam a gestão pública. Gasparini (1995) amplia o leque de princípios e conceitua-os
da seguinte forma:

• legalidade: está associada à gestão pública em toda a sua atividade, presa aos mandamentos da lei,
deles não podendo se afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilização do seu autor;
• impessoalidade: qualquer atividade de gestão pública deve ser dirigida a todos os cidadãos, sem
a determinação de pessoa ou discriminação de qualquer natureza;
• moralidade: os atos e as atividades públicas devem obedecer aos princípios morais. Para Meirelles
(1985), estes estão intimamente ligados ao conceito do bom administrador, ou seja, aquele que
busca o melhor e mais útil para o interesse público;
• publicidade: este princípio torna obrigatória a divulgação dos atos, contratos e outros documentos
da administração pública para conhecimento, controle e início dos seus feitos. O instrumento
oficial é o jornal, público ou privado, destinado à publicação dos atos. Em geral, são utilizados
Diários Oficiais;
• finalidade: impõe-se à administração pública a prática de atos voltados para o interesse público;
• continuidade: os serviços públicos não podem parar, pois as necessidades da população não
param. Existem dispositivos legais que dão direito ao consumidor de ser ressarcido por empresas
prestadoras de serviços públicos na falta ou inadequação dos serviços;
• indisponibilidade: o detentor da disponibilidade dos bens e dos direitos públicos é o Estado, e
não seus servidores;
• igualdade: todos os cidadãos são iguais perante a lei e, portanto, perante a administração pública.

4 CARACTERIZANDO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA

4.1 Administração pública direta

Para que o Estado realize suas funções políticas e administrativas, é necessária estrutura
organizacional voltada aos interesses da coletividade. Essa estrutura chama-se administração pública,

40
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal. Na administração direta, os serviços e a
competência para prestá-los estão distribuídos entre os diversos órgãos que compõem a entidade
política por eles responsável.

Na esfera federal, esses órgãos são os ministérios; nas esferas estadual e municipal, as secretarias.
Assim, Ministério da Saúde, dos Transportes, da Fazenda, no âmbito da União, e as Secretarias da Saúde,
da Educação, da Cultura e dos Esportes, nos Estados, no Distrito Federal e nos municípios são exemplos
de órgãos do Estado que compõem a administração direta.

Em síntese, a administração direta é exercida diretamente pelo governo, seja ele federal, estadual,
municipal ou do Distrito Federal, por meio dos órgãos que compõem o aparelho da administração
pública, realizando os serviços destinados aos seus administrados.

4.2 Órgãos públicos

Os órgãos públicos compõem a estrutura hierarquizada da administração pública sem, contudo,


possuírem personalidade jurídica própria, já que eventuais direitos e obrigações são representados pela
pessoa jurídica a que pertencem: União, Estado, Município e Distrito Federal.

Os órgãos públicos classificam-se em:

• Órgãos independentes: órgãos originários da Constituição Federal, representam os Poderes do


Estado, Legislativo, Executivo e Judiciário, e encontram-se no topo da pirâmide governamental.
Exemplo: Congresso Nacional, Assembleias Legislativas, Câmaras de Vereadores, Presidência da
República, Governadoria do Estado-Membro, do Distrito Federal, prefeituras, tribunais judiciários,
Supremo Tribunal Federal, Tribunais Regionais Federais, Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas e
Ministério Público Federal.
• Órgãos autônomos: encontram-se localizados no ponto alto da estrutura da administração e
subordinam-se aos órgãos independentes. Exemplo: Ministérios, Secretarias do Estado e do Município.
• Órgãos superiores: aqueles que possuem poderes de direção, controle, decisão e comando
nos assuntos de sua competência; porém sujeitos à subordinação hierárquica dos órgãos
independentes ou autônomos. Exemplo: gabinetes, secretarias gerais, procuradoria, coordenadorias,
departamentos, divisões.
• Órgãos subalternos: são desprovidos de qualquer poder de decisão e têm como atribuições
desenvolver serviços de rotina, atividades, meios, atendimento público. Exemplos: portarias e
seções de expediente.

Lembrete

Centros de competência que são devidamente instituídos para


desempenhar as funções estatais. Essa finalidade é alcançada por meio
41
Unidade I

dos seus agentes. A atuação desses agentes é imputada à figura da pessoa


jurídica à qual estão vinculados.

4.3 Administração pública indireta

São entidades públicas dotadas de personalidade jurídica própria e vinculadas ao executivo, através
do ministério ou secretaria em que se enquadra sua principal atividade, gozando, entretanto, de
autonomia administrativa e financeira. Podem ser:

• Autarquias: serviço autônomo criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita
própria, para executar as atividades típicas da administração pública e promover seu melhor
funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. A autarquia é uma pessoa
jurídica de direito público;
• Empresas públicas: são pessoas jurídicas de direito privado, mas com capital inteiramente
público, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES); Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos;
• Sociedades de economia mista: são pessoas jurídicas de direito privado, formadas com capital
público e particular, com predominância de direção estatal. Regem-se pelas regras das sociedades
comerciais, mas não estão sujeitas a falências. Exemplo: Petrobras, Eletrobras, Sabesp, Cesp;
• Fundações públicas: entidades atípicas que se prestam à realização de atividades não lucrativas
e atípicas do Poder Público, porém de interesse da coletividade, como educação, cultura, pesquisa,
cuja manutenção se dá com o amparo estatal;
• Fundos especiais: produto de receitas especificadas por lei, que se vinculam à realização de determinados
objetivos ou serviços, facultada a adoção de normas peculiares de aplicação, como Fundo de Desenvolvimento
Econômico e Social (FUNDES), Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FUNDEB), Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação;
• Agências reguladoras: autarquias criadas com a finalidade de regular setores cuja atividade foi
alvo de processo de privatização, como Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL);
• Agências executivas: qualificação dada à autarquia ou fundação que celebra contratos de gestão
com o órgão da administração direta a que se acha vinculada, para a melhoria da eficiência e
redução de custos;
• Serviços públicos: serviço público administrativo é toda atividade que o Estado exerce para
cumprir seus fins, exceto a judiciária. O serviço público deve ser geral, uniforme, regular e contínuo,
e tutelar o direito e bem-estar geral.

4.4 Delegação de serviços públicos

O Poder Público pode delegar a particulares a execução de tarefas de interesse público, através de
concessão, permissão ou da autorização.

42
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

• Concessão: a concessão pode ser de serviços, obras ou de usos de bens públicos:


– concessão de serviços: o particular firma contrato com a administração pública, obrigando-se
a fazer funcionar certos serviços públicos, como uma balsa, transporte coletivo;
– concessão de obras públicas: o particular se compromete a construir determinada obra,
como estrada ou ponte, explorando-a por certo tempo e devolvendo-a depois sem ônus à
administração. Exemplo: concessão das rodovias federais e estaduais;
– concessão de uso de bens públicos: o particular fica com o direito de se instalar em determinado
bem da administração, como um box do mercado público, explorando ali atividades
lucrativas.
• Permissão: delega a particular, a título precário, a execução de determinado serviço, por sua
própria conta e risco, mediante a percepção de uma tarifa, paga pelo usuário. É um ato unilateral
e discricionário do Poder Público, e não por contrato.
• Autorização: semelhante à permissão, porém é ainda mais precária do que aquela por ter uma
regulamentação menos rígida. Exemplo: serviço de táxi, de guarda particular.

4.5 Os contratos administrativos

Sob aspecto legal, o contrato caracteriza-se como uma convenção estabelecida entre duas ou mais
pessoas para construir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica patrimonial.

O contrato administrativo caracteriza-se pela participação do Poder Público como parte predominante
e pela finalidade de atender a interesses públicos.

O contrato público tem as seguintes características especiais:

• Intransferibilidade: em regra, o particular não pode ceder seus direitos contratuais, e o cumprimento
das obrigações assumidas perante a administração não pode ser delegado a outrem.
• Alterabilidade: a qualquer tempo, a administração pode alterar o contrato, cabendo, porém,
indenização.
• Revogabilidade: a qualquer tempo, a administração pode revogar o contrato, cabendo, porém,
indenização.
• Prorrogabilidade: no interesse público, a administração pode prorrogar um contrato sem
nova concorrência pública, mediante termo aditivo, desde que esteja previsto no processo de
contratação.
• Execução inafastável: o particular não pode interromper a obra ou serviço contratado, sob a
alegação de que o Poder Público não está cumprindo sua parte.
• Publicidade: salvo determinação expressa em contrário, a validade do contrato administrativo
exige a sua publicação no órgão oficial.

43
Unidade I

• Licitação prévia: em regra, o contrato administrativo é precedido de licitação, sob pena de


nulidade.

São objetos de contratação, por meio de licitação, todos os processos de concessão, compra,
contratação de serviços, obras públicas, fornecimento de produtos ou serviços.

4.6 Licitação

A licitação é um procedimento prévio de escolha do contratado pela administração, sendo obrigatório


para todas as entidades da administração direta ou indireta. O processo licitatório é regulado por lei.

A licitação é dispensável em certos casos, como na ocorrência de guerra ou graves perturbações


da ordem, ou em situações de calamidade pública. É inexigível quando não houver possibilidades de
competição, ou na contratação de serviços técnicos especializados cujo prestador de serviço seja o único
no mercado.

Observação

Atualmente a demanda por bens e serviços é crescente, sendo uma


das funções do Estado garantir o desenvolvimento econômico e social
da sociedade. Dessa forma, visando garantir que os recursos disponíveis
sejam aplicados com eficiência e transparência, tornou-se necessário que
o Estado adotasse formas de controles, e uma das formas mais eficientes
existentes na Administração Pública é a licitação.

4.7 Espécies de licitação

Conforme o valor do contrato, compra ou contratação de serviços, são estabelecidas várias


modalidades:

• Contratos vultosos: concorrência;


• Contratos médios: tomada de preço;
• Contrato de valores reduzidos: carta-convite.

Em algumas situações, poderão ser usados concursos e leilões. Concursos para a escolha de
trabalhos técnicos, científicos ou artísticos, mediante prêmios ou remuneração aos vencedores. O
leilão de imóveis inservíveis, produtos apreendidos, na modalidade pregão eletrônico, que vem sendo
empregado cada vez mais na administração pública para compras rotineiras, contratação de serviços,
entre outros.

As licitações são processos públicos nos quais os critérios de apresentação e avaliações das propostas
estão previamente definidos, bem como sanções administrativas e criminais.

44
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

A Constituição de 1988, art. 37, inc. XXI, criou bases nas quais mais tarde, em 21 de junho
de 1993, assentou-se a Lei Federal nº 8.666, que instituiu o Estatuto das Licitações e Contratos
Administrativos.

Nas palavras de Adilson Abreu Dallari (1992, p. 89), “o instituto da licitação assumiu grande
importância atualmente, devido ao aumento na esfera de atuação da Administração Pública, por meio
do desempenho de novas funções exigidas pela complexidade da vida moderna”.

A Administração Pública lançará mão da licitação toda vez que for comprar bens, executar obras,
contratar serviços ou conceder a um terceiro o poder de, em seu nome, prestar algum tipo de serviço
público, como é o caso das concessões.

Observação

O modelo de administração pública que predominou por um longo


período, baseado na tradição, na rigorosidade e numa ordem burocrática
estática e pesada, tem-se tornado obsoleto e ineficiente. Isso ocorre em
função das rápidas evoluções existentes na área da tecnologia empresarial
e social.

Conceito para licitação

Não seria justo tentar elaborar um conceito próprio para licitação diante da rica doutrina
disponível.

Segundo Sayagues Laso (1978, p. 9), licitação pode ser definida


como um procedimento relativo ao modo de celebrar determinados
contratos, cuja finalidade é a determinação da pessoa que ofereça à
Administração condições mais vantajosas, após um convite a eventuais
interessados para que formulem propostas, as quais serão submetidas
a uma seleção.

Odete Medauar (1996, p. 205) entende que, licitação, no ordenamento


brasileiro, é processo administrativo em que a sucessão de fases e atos leva à
indicação de quem vai celebrar contrato com a Administração. Visa, portanto,
a selecionar quem vai contratar com a Administração, por oferecer proposta
mais vantajosa ao interesse público. A decisão final do processo licitatório
aponta o futuro contratado.

Para Carlos Ari Sundfeld (1994, p. 15), “Licitação é o procedimento


administrativo destinado à escolha de pessoa a ser contratada pela
Administração ou a ser beneficiada por ato administrativo singular, no qual

45
Unidade I

são assegurados tanto o direito dos interessados à disputa como a seleção


do beneficiário mais adequado ao interesse público.

Na lição de Celso Antonio Bandeira de Mello (2004, p. 483), Licitação – em


suma síntese – é um certame que as entidades governamentais devem
promover e no qual abrem disputa entre os interessados em com elas travar
determinadas relações de conteúdo patrimonial, para escolher a proposta
mais vantajosa às conveniências públicas. Estriba-se na ideia de competição,
a ser travada isonomicamente entre os que preencham os atributos e
aptidões necessários ao bom cumprimento das obrigações que se propõem
assumir.

Princípios basilares do Instituto

Como todo sistema jurídico, o instituto das licitações também tem seus princípios norteadores.
Discorreremos acerca de alguns deles, ainda que de forma bastante simples.

• O princípio da legalidade, como princípio geral previsto no art. 5º, II, da Constituição de 1988,
segundo o qual “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de lei”, obriga
a Administração Pública, quando da compra, obra, contração de serviços ou alienação, a proceder
de acordo com o que a Constituição Federal e as Leis preveem. A não observação desse princípio
impregnará o processo licitatório de vício, trazendo nulidade como consequência.
• Pelo princípio da isonomia, é assegurada a igualdade no tratamento a todos quantos venham
participar do certame licitatório.
• O princípio da competitividade é o que garante a livre participação de todos no processo
licitatório. Isso não quer dizer que todas as empresas possam ser admitidas para participação,
uma vez que a liberdade é relativa.
• O princípio da impessoalidade tem por objetivo evitar que a Administração Pública venha a dar
um tipo de preferência a algum participante do processo. A não observância desse princípio pode
trazer prejuízos para lisura do processo licitatório. Se isso vier a ocorrer, deverá ser decretada a
nulidade do processo.
• O princípio da publicidade tem por objetivo fazer com que o processo de licitação seja do
conhecimento de todos os interessados. Além disso, visa fazer com que a sociedade, de uma
forma geral, tome conhecimento do processo e possa acompanhar os seus atos.
• O princípio da economicidade deve fazer com que os recursos públicos sejam aplicados com
muito zelo e eficiência, uma vez que nem sempre a proposta que apresenta os valores mais baixos
é a mais vantajosa.

Seguindo esse princípio, existem decisões do Tribunal de Contas de São Paulo (TC/SP) reconhecendo
caráter irregular em contração que não observou o princípio da economicidade (TC/SP Protocolo nº
5.150/026/93, DOE de 5/10/1995).

46
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Os princípios que regem a Administração Pública são de caráter obrigatório, uma vez que o
Artigo 37 da Constituição Federal impõe a todos quantos integram os Poderes da República, nas esferas
compreendidas na Federação, obediência aos princípios da moralidade, legalidade, impessoalidade,
eficiência e publicidade.

Competência Legislativa

Compete à União legislar sobre normas gerais de licitação, de acordo com a Carta Magna de 1988.

Art. 22 Compete privativamente à União legislar sobre:


(...)

XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades,


para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI,
e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do
art. 173, § 1º, III;

A Lei nº 8.666/93, como lei federal, submete Estados, Municípios e o Distrito Federal ao dever de
obediência a seus preceitos gerais sobre licitações e também lhes concede competência para legislar dentro
da esfera concedida pelos dois diplomas legais, desde que não agridam os preceitos dali emanados.

Estados e Municípios podem legislar sobre a matéria, observando as normas


de cunho nacional e tratando do que for específico em suas licitações e
contratações, segundo as peculiaridades locais (MEIRELLES, 1990, p. 33).

O dever de licitar

Têm o dever de promover licitação todos os entes estatais, independentemente do caráter público
ou privado de sua personalidade. Destarte, são por ele colhidas tanto as pessoas governamentais de
direito público (União, Estados e Municípios, suas autarquias e fundações governamentais de direito
público) como as pessoas governamentais privadas (empresas públicas, sociedades de economia mista e
fundações governamentais provadas) (SUNDFELD,1994, p. 36).

O enunciado constitucional impõe aos órgãos da União, Estados, Municípios e DF o dever de licitar,
previsto no art. 37, da CF/88, que diz:

XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,


compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes,
com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá
as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia
do cumprimento das obrigações.
47
Unidade I

A outorga de concessão ou permissão de serviço público deve ser concedida também mediante
processo licitatório, de acordo com o previsto no art. 175, caput, da Constituição.

Art. 175 Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob


regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação
de serviços públicos.
(...)

Tais exigências são reafirmadas na Lei nº 8.666/93:

Art. 2º As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações,


concessões, permissões e locações da Administração Pública, quando
contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação,
ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei.
(...)

Exceção

Há situações em que não é possível licitar. Isso pode decorrer em função do valor, situação de
emergência, calamidade pública, inviabilidade de competição e demais hipóteses enumeradas nos arts.
24 e 25, denominadas como contratação direta.

Quadro 10

EXCEÇÕES NO PROCESSO LICITATÓRIO

Em situação de emergência que não tenha sido causada por omissão da


Dispensa de licitação (Art. 24 e Incisos Administração Pública. Se houver a omissão, haverá responsabilidade dos
da Lei nº 8.666/93) agentes responsáveis.

Ocorre quando se trata da compra de produtos que são exclusivos ou de


Licitação inexigível (Art. 25 e Incisos serviços técnicos de natureza singular. Também é inexigível a licitação para
da Lei nº 8.666/93) a contratação de profissionais renomados, além de outros casos, desde que
estejam devidamente especificados na Lei.

Em ambos os casos de exceção no processo licitatório, deve ser observado o que está descrito no Art. 26 da Lei nº
8.666/93, principalmente no que se refere a justificativa e a publicidade. A não observância desses critérios pode
implicar multa aos responsáveis.

Fonte: Lei nº 8.666/93.

A Lei nº 8.666/93, no parágrafo único do Art. 4º, informa que o procedimento licitatório se caracteriza
como ato administrativo forma, por esse motivo os doutrinadores entendem que um processo de
licitação precisa ser analisado por seus aspectos internos e externos, ou seja, uma licitação possui uma
fase interna e outra externa.

48
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Fase interna

É onde estão concentrados os atos da Administração Pública que serão importantes para a definição
e o planejamento de um processo licitatório.

Nessa fase, é identificada a necessidade que motiva a contratação de um determinado bem ou


serviço. Após esse período de identificação é que se verifica qual a melhor forma da prestação do bem
ou do serviço, ou podendo ainda decidir-se pela contratação direta, pela inexigibilidade ou dispensas,
pois esses são atos que devem ocorrer após toda a etapa preparatória.

Como regra geral, a Administração Pública sempre deve optar pela licitação, e a sua dispensa ou
inexigibilidade são consideradas como exceções que não podem ser adotadas antes de pesquisas e
estudos.

Lembrete

No início de um processo de licitação, cabe à Administração Pública


verificar a existência de uma precisão orçamentária para as despesas que
ocorrerão em consequência da contratação desses bens ou serviços, pois
fazer uma licitação sem os recursos previstos é considerado como ato de
má gestão.

Algumas considerações sobre o que prevê a Lei nº 8.666/1993

§ 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando:


(...)

III – houver previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento


das obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem executados no
exercício financeiro em curso, de acordo com o respectivo cronograma;

6. De acordo com o caput do art. 38, da Lei 8.666/93, desde a abertura do


processo administrativo da licitação, é necessária a indicação dos recursos
apropriados. No edital, é obrigatório definir as condições para o atendimento
das obrigações necessárias ao cumprimento do seu objeto, segundo o inciso
VIII do art.40 da mesma lei.

7. Também pelo inciso III do § 2º do art. 40 da Lei 8.666/93, é preciso que o


edital da licitação esteja acompanhado da minuta do contrato a ser firmado,
onde, em cumprimento ao inciso V do art. 55, há que ficar estabelecido
“o crédito pelo qual correrá a despesa com a indicação da classificação
funcional programática e da categoria econômica.

49
Unidade I

8. Daí decorre a jurisprudência deste Tribunal, que se posiciona pela exigência


de que o edital venha consignado da dotação orçamentária que dará suporte
às despesas.

9. Entretanto, é de se reconhecer que a Lei nº 8.666/93 tem como efetivamente


grave e passível de anulação a compra realizada sem a indicação dos
recursos orçamentários para seu pagamento, consoante o art. 14. (Acórdão
nº 3.034/2005, 1ª C., Rel. Min. Marcos Vinicios Vilaça.)

Algumas decisões do Tribunal de Contas da União – TCU – afirmam a necessidade de a


Administração Pública ter uma previsão orçamentária e o conhecimento definido de quanto pretende
gastar com a contratação do bem ou do serviço para o qual está realizando o processo licitatório.
Para isso, é necessária que seja realizada uma pesquisa de preços no mercado e, dessa forma,
estabelecer uma correta estimativa de custos. A partir desse trabalho, a Administração Pública terá
condições de fazer uma avaliação da compatibilidade das propostas que serão apresentadas pelos
licitantes, afastando a possibilidade da realização de atos que sejam antieconômicos. Seguindo
essas orientações, a Administração Pública estará atendendo aos princípios da economicidade e da
eficiência, entre outros.

Modalidade chamada de “Pregão”

Trata-se de uma modalidade posterior à publicação da Lei nº 8.666/93. O Pregão divide-se na


modalidade presencial, que está regulamentada pela Lei nº 10.520/02, e na modalidade eletrônico,
regulamentada pelo Decreto nº 5.540/05. Os preceitos gerais existentes na Lei nº 8.666/93, porém, devem
ser observados e aplicados também na modalidade pregão.

O pregão eletrônico foi instituído pela União por se tratar de uma modalidade moderna e transparente,
devendo ser adotado por todos os entes da Administração Federal quando se tratar da compra e da
contratação de serviços comuns.

A importância do edital

Trata-se de um instrumento pelo qual a Administração torna pública a sua intenção de realizar um
processo de licitação e quais serão as condições fixadas pelo Poder Público.

O edital é o ato convocatório em que deverão estar estipuladas as regras que serão aplicadas no
processo licitatório. Essas regras devem abranger desde os critérios de habilitação e classificação, quanto
a preços, pagamentos, sanções, até outras regras referentes aos procedimentos.

O edital necessita de um amplo caráter de legalidade, contendo, inclusive, a minuta do contrato


administrativo que será firmado com o vencedor do processo licitatório.

Segundo o Art. 41, da Lei nº 8.666/93, todo e qualquer cidadão é parte legítima para poder impugnar
um edital de licitação que apresente algum tipo de irregularidade em relação ao que prescreve a lei.
50
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

O edital sempre deverá ser submetido à análise e aprovação da assessoria jurídica do órgão responsável
pela promoção do processo licitatório. De acordo com o Artigo 41 da Lei nº 8.666/93, a Administração
Pública não pode descumprir as condições que foram previamente estabelecidas pelo edital. Assim, fica
estritamente a ele vinculada.

Lembrete

A impugnação do edital trata-se de um meio administrativo para


contestação da legalidade, que poderá ser exercido tanto pelo licitante
quanto por qualquer cidadão.

Fase externa do processo licitatório

De acordo com o parágrafo terceiro do Art. 3º da Lei nº 8.666/93, o processo licitatório não pode ser
sigiloso, ou seja, todos os atos do processo devem ser públicos e acessíveis a quem estiver interessado.
Exceções a essa regra são relacionadas ao conteúdo das propostas até o momento de sua abertura.

Faz parte da fase externa da licitação o processo de habilitação dos interessados em apresentar
propostas. A partir do momento em que o edital é publicado, os interessados passam a ter conhecimento
da licitação e das regras que a regulamentam, podendo, assim, apresentar suas ofertas.

Na fase da habilitação é que a Administração Pública pode verificar a idoneidade jurídica, técnica e
financeira do interessado em contratar, de acordo com o que está previsto nos Artigos 28, 29, 30 e 31
da Lei n° 8.666/93.

Os interessados que participaram do processo de habilitação e foram aprovados por atender aos
requisitos exigidos terão suas propostas técnica e comercial analisadas. Essa fase do processo licitatório
é regulamentada pelos Artigos 44 a 48 da Lei nº 8.666/93.

Artigo 45, Lei nº 8.666/93: O julgamento das propostas será objetivo, devendo a
Comissão de Licitação ou o responsável pelo convite realizá-lo em conformidade
com os tipos de licitação, os critérios previamente estabelecidos no ato
convocatório e de acordo com os fatores exclusivamente nele referidos, de
maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de controle.

Para aqueles que se sentirem prejudicados pelas decisões tomadas pela Administração Pública,
durante o processo de licitação, existe a possibilidade de entrar com recursos administrativos, conforme
o que está previsto no Art. 109 da Lei nº 8.666/93.

Após a definição do vencedor da licitação, cabe à Administração Pública proceder à homologação


e adjudicação da proposta. Esse é o ato anterior à formalização do contrato administrativo. Na fase de

51
Unidade I

execução do contrato administrativo, é obrigação da Administração Pública a fiscalização, conforme o


que está previsto nos Artigos 66 e 67 da Lei de Licitações.

Observação

Na fase de habilitação, serão analisadas apenas as propostas cujo


conteúdo atenda aos parâmetros estabelecidos no edital publicado. As que
não atenderem serão desclassificadas.

4.8 Bens públicos

Bens de uso comum: são os que estão fora de comércio e podem ser utilizados por todos, como os
mares, os rios, as estradas, as ruas, as praças.

Bens públicos dominicais: são os de propriedade da União, dos Estados ou dos Municípios.

Bens públicos de uso especial: também são de propriedade da União, dos Estados e dos
Municípios, mas com uma destinação específica, como prédios em que funcionam as repartições
públicas.

O regime jurídico: os regimes jurídicos de contratação de servidores podem ser estatutário (para
servidores públicos) e CLT (para os chamados empregados públicos). Em ambos os casos, somente podem
ser admitidos por concurso público.

Remuneração: os servidores públicos recebem vencimentos, formados pelo vencimento-padrão,


mais vantagens, como adicionais e gratificações. Membros dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
podem receber subsídios.

Estabilidade: a estabilidade é adquirida pelo servidor concursado após três anos de exercício de
cargo efetivo e aprovado em avaliação de desempenho. O estável só pode ser demitido mediante
processo administrativo, com ampla defesa, sentença judicial transitada em julgado, ou por desempenho
insuficiente, demonstrado em avaliação periódica.

Vitaliciedade: nesse caso, a demissão só pode dar-se em virtude de sentença judicial transitada
em julgado. São vitalícios juízes de direito, membros do Ministério Público e dos Tribunais de
Contas.

Acumulação de cargos: em princípio, não cabe acumulação de cargos em serviço público, salvo
exceções previstas em lei.

Penalidade: entre as penalidades, estão a advertência, a suspensão por noventa dias, a


demissão (nos casos graves) e a cassação de aposentadoria (por faltas cometidas quando ainda
na ativa).

52
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

4.9 Diferenças entre setor público e setor privado

Primeiramente, é importante caracterizar que a administração pública é um instrumento de


poder político, pois todas as organizações públicas se encontram dependentes da vontade política de
representantes da coletividade.

O objetivo da administração pública é atender de forma continuada às necessidades essenciais da


coletividade.

A administração privada, por sua vez, trata de atender a necessidades individuais ou de um grupo
de pessoas, sem a preocupação de atingir o conjunto da população. Tem por finalidade a aferição de
lucro, que será revertido a fins pessoais e particulares dos proprietários. A administração pública tem por
finalidade o interesse e os serviços públicos.

Os meios para a administração privada estão previstos na legislação vigente e caracterizam-se pela
igualdade entre si e pelas regras que não podem ser impostas a não ser em caso de acordos celebrados
entre as partes.

Como a administração pública, em princípio, representa os interesses coletivos definidos na Constituição,


a ela se submetem os próprios gestores públicos, a população e a iniciativa privada.

Na administração pública, os objetivos fixados em lei não podem ser alterados ou inviabilizados por
seus gestores. Portanto, há que se fazer o que a lei autorizou ou especificou. Na administração privada,
os objetivos podem ser alterados desde que a lei não proíba.

A gestão de recursos humanos e a fixação de preços dos serviços prestados ou dos bens produzidos
estão limitadas por princípios específicos do direito administrativo; portanto, os gestores públicos são
obrigados a seguir fielmente o que a lei autorizou ou especificou.

Na administração privada, existem leis gerais que regulamentam o processo de contratação de


pessoal; entretanto, o estabelecimento de preços para produtos ou serviços prestados segue critérios
concorrenciais do mercado.

As organizações públicas não concorrem entre si nem com as empresas privadas. A sua continuidade ou
sobrevivência depende apenas do poder político que as cria, mantém, modifica e extingue. Já as organizações
privadas estão sujeitas a leis de mercado, sobrevivem em concorrência com outras organizações, podem falir.

O administrador público, portanto, tem que ter conhecimento do direito administrativo, das leis que
regem os contratos administrativos e estabelecem as normas do seu comportamento. O administrador
privado tem que ter visão de mercado, e necessita também do conhecimento próprio das empresas.

A administração privada produz bens e serviços para comercialização no mercado consumidor. A


administração pública presta atendimento aos cidadãos sem distinção de poder aquisitivo. Pessoas de
todas as camadas sociais, em princípio, têm direito aos mesmos serviços públicos.
53
Unidade I

Os recursos humanos no setor público são contratados por meio de concursos públicos, possuem,
como já foi dito, estabilidade, não podendo ser demitidos a não ser em casos muito específicos.

Na administração privada, os recursos humanos são contratados de forma direta, independentemente


de concursos, e sua permanência na empresa está sujeita a critérios de competência, eficiência e também
em função das condições de mercado.

Saiba mais

No endereço eletrônico abaixo, é possível obter mais informações sobre


os bens públicos. O autor, Fernando Brandão Vilas Boas Baraniuk, escreve
com mais detalhes sobre os conceitos, as classificações, as características e
as particularidades dos bens públicos.

<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2691/Bens-Públicos>

Resumo

Quadro 11

Administração Constitui-se em uma importante atividade da sociedade. Tem como base o esforço
cooperativo dos indivíduos por meio das organizações.
Realizar tarefas por meio das pessoas, buscando obter os melhores resultados;

Funções da
Administração Buscar atingir os objetivos das organizações com eficiência e eficácia;

Dirigir os esforços dos grupos organizados.


Sofre uma variação de acordo com a teoria considerada:

Teoria da Administração Científica: métodos e processos de trabalho de cada operário;


Conteúdo da
Administração Teoria Clássica: envolve previsão, organização, direção, coordenação e controle do
trabalho realizado em toda a organização;

Teoria das Relações Humanas: a administração deve buscar os melhores resultados por
meio de condições que possibilitem a integração dos indivíduos nos grupos sociais.

É a atividade organizada, passando da simples atividade fabril para todas as empresas


Objeto da Administração industriais, e atingindo todos os tipos de organizações humanas. Envolve, ainda, o
intercâmbio entre as organizações e os ambientes.

A sociedade moderna tornou-se uma sociedade de organizações, na qual a


Administração na administração é vital e indispensável. Em função do grau de complexidade e da
sociedade atual interdependência das organizações, a administração é essencial na melhoria das
condições de vida e para a solução dos problemas mais complexos que surgem no
cotidiano.

54
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

A história da Administração

Egípcios: princípios de administração nos projetos arquitetônicos e de engenharia e construção das


pirâmides.

Babilônia: Código de Hamurábi.

Sócrates, Aristóteles, Platão na Grécia Antiga. Sócrates cria a universidade da Administração.


Platão, em A República, coloca o seu ponto de vista sobre a administração dos negócios públicos e o
princípio da especialização.

Roma: instituição de sistema semi-industrial de produção, vários princípios de organização aplicados


na gestão do Império.

Igreja Católica: princípios de hierarquia.

Maquiavel: princípios de organização do Estado moderno.

Adam Smith: a vantagem econômica que as organizações e a sociedade poderiam obter com a
divisão de trabalho.

Revolução Industrial: surgimento das grandes escolas de administração científica.

Taylor: precursor da abordagem científica, definida em três fases: eliminação de desperdício; caráter
científico dos processos produtivos; e eficiência na empresa.

Henry Ford: implantou e desenvolveu a divisão de trabalho na linha de montagem; cada operador
era responsável por uma operação pequena, simples, que se completava com o trabalho de vários outros
operadores, cada qual com operações igualmente simples. Nesse sistema, os princípios da administração
eram baseados nas seguintes proposições: divisão de trabalho; autoridade e responsabilidade;
subordinação do interesse individual ao interesse geral; remuneração do pessoal; centralização; linha de
autoridade ou hierarquia; ordem; equidade; estabilidade do pessoal; iniciativa; espírito de equipe.

Conceito de Organização

Organização: é um sistema cooperativo que se caracteriza por ser consciente, deliberado e com
propósitos definidos com três elementos: comunicação entre os indivíduos participantes; motivação
para contribuir; propósito comum.

As organizações se caracterizam por: divisão de trabalho; poder; responsabilidade pela comunicação;


presença de um ou mais centros de poder; substituição de pessoal.

Patrick (2005) propõe que, ao nos organizarmos, devemos observar: unidade de propósito; divisão de
trabalho; preenchimento dos cargos; estrutura ou arcabouço organizacional.
55
Unidade I

No organograma, podemos ver: níveis de administração; relações de supervisão; subunidades


principais; divisão de trabalho; canal de comunicação.

Diretrizes para organizar a estrutura: manter a estrutura enxuta; compatibilizar as pessoas da melhor
forma possível; estrutura bem-definida de direção; uma boa descrição de cargos.

A aplicação do modelo burocrático nas administrações pública e privada

A burocracia na realidade brasileira – a reforma burocrática de 1936: introdução de um sistema de


mérito no processo de ocupação dos cargos públicos; formação de um corpo administrativo profissional;
conceitos de administração indireta (empresas e autarquias públicas) com maior independência do
Estado para promover o processo de industrialização em curso.

Outras características dessa reforma foram: ênfase nos controles; excessiva centralização; excessiva
rigidez de normas e procedimentos com o objetivo de impedir as práticas patrimonialistas anteriores.

Outra reforma burocrática foi implantada através do Decreto– -Lei 200, de 1967, e introduziu
características gerenciais como planejamento, orçamento, descentralização e controle de resultados;
separação entre administração direta e indireta; expansão da administração descentralizada com farta
criação de empresas estatais, que passaram a empreender investimentos em infraestrutura.

A gestão pública e a reforma do Estado: delimitação do tamanho do Estado; redefinição do


papel regulador do Estado através da desregulamentação; aumento da governança; aumento da
governabilidade; intermediar interesses; garantir legitimidade e governar.

As funções do Estado a partir da Reforma do Estado

Núcleo estratégico: atividades exclusivas; serviços não exclusivos; produção de bens e serviços para
o mercado.

É no núcleo dos serviços não exclusivos que o governo estabelece as premissas da reforma do Estado,
a partir dos seguintes objetivos: transferir os serviços não exclusivos para entidades denominadas de
organizações sociais; buscar autonomia e flexibilidade na prestação desses serviços; buscar a participação
da sociedade mediante o controle desses serviços; fortalecer a parceria entre Estado e sociedade através
do contrato de gestão.

Princípios da administração pública: legalidade; impessoalidade; moralidade; publicidade; finalidade;


continuidade; indisponibilidade; igualdade.

Administração pública direta: é exercida diretamente pelo governo, seja ele federal, estadual,
municipal ou do Distrito Federal.

Órgãos públicos: os órgãos públicos compõem a estrutura hierarquizada da administração pública.


Classificam-se em: órgãos independentes; autônomos; superiores; subalternos.
56
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

Administração indireta: autarquias; empresas públicas; sociedades de economia mista; fundações


públicas; fundos especiais; agências reguladoras; agências executivas; serviços públicos.

Delegação de serviços públicos: concessão; concessão de serviços, concessão de obras; concessão de


uso de bens públicos; permissão; autorização.

Os contratos administrativos: intransferibilidade; revogabilidade; prorrogabilidade; execução


inafastável; publicidade; licitação prévia.

São objetos de contratação por meio de licitação todos os processos de concessão, compra,
contratação de serviços, obras públicas, fornecimento de produtos ou serviços.

Espécies de licitação: contratos vultosos – concorrência; contratos médios – tomada de preço;


contrato de valores reduzidos – carta-convite.

Bens públicos: bens de uso comum; bens públicos dominicais; bens públicos de uso especial.

Servidor público: o regime jurídico; remuneração; acumulação de cargos; penalidade.

Diferenças entre setor público e setor privado

Organização pública: poder político; organização privada: poder privado.

Organização pública atende às necessidades da coletividade; organização privada, aos interesses


individuais e/ou privados.

A administração privada tem por finalidade a aferição de lucro, que será revertido a fins pessoais
e particulares dos proprietários. A administração pública tem por finalidade o interesse e os serviços
públicos. A administração pública, em princípio, representa os interesses coletivos definidos na Constituição.

Na administração pública, os objetivos fixados em lei não podem ser alterados ou inviabilizados por
seus gestores. Na administração privada, os objetivos podem ser alterados, desde que a lei não proíba.

Na administração pública, a gestão de recursos humanos e a fixação de preços dos serviços


prestados ou dos bens produzidos estão limitadas por princípios específicos do direito administrativo.
Na administração privada, existem leis gerais que regulamentam o processo de contratação de
pessoal; entretanto, o estabelecimento de preços para produtos ou serviços prestados segue critérios
concorrenciais do mercado.

As organizações públicas não concorrem entre si nem com as empresas privadas; já as organizações
privadas estão sujeitas às leis de mercado.

O administrador público, portanto, tem que ter conhecimento do direito administrativo, das leis que regem
os contratos administrativos e estabelecem as normas do seu comportamento. O administrador privado tem
que ter visão de mercado; necessita também do conhecimento próprio das empresas.
57
Unidade I

A administração privada produz bens e serviços para comercialização no mercado consumidor. A


administração pública presta atendimento aos cidadãos.

Os recursos humanos no setor público: concursos públicos; estabilidade. Na administração privada, os


recursos humanos são contratados de forma direta, independente; está sujeita a critérios de competência
e eficiência, em função das condições de mercado.

Exercícios

Questão 1. (Adaptada do ENADE 2009 – Administração) Cada uma das teorias administrativas surgiu
como uma resposta aos problemas empresariais mais relevantes de sua época.

Sobre as Teorias de Administração, considere as afirmativas a seguir:

I. A Teoria da Burocracia de Weber procurou utilizar um conjunto de regras e normas para tornar as
atividades organizacionais mais previsíveis e eficientes.

II. A Abordagem Clássica, constituída pelas Teorias Científica e Clássica, considerou a organização
como um sistema aberto e flexível, com interação intensa e fluídica com o ambiente externo.

III. A Escola de Administração Clássica apresentou a existência da organização informal e das


necessidades sociais das pessoas na organização.

IV. A Administração Científica de Taylor buscou aumentar a eficiência operacional das empresas por
meio da ausência de desperdícios e da divisão do trabalho.

Estão corretas somente as afirmativas:

A. I e IV.
B. I, II e IV.
C. I, III e IV.
D. II, III e IV.
E. III e IV.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas

I. Afirmativa correta

Justificativa: A Teoria da Burocracia resolve problemas pela maximização da eficiência, obtida pela
burocracia, organização eficiente, padronizada e previsível, segundo Weber.

58
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO

II. Afirmativa incorreta

Justificativa: A afirmativa expressa é contrária à visão reinante à época da Abordagem Clássica


da administração. A visão era mecanicista e baseada no sistema fechado, sem necessidade de
interação com o ambiente, o qual era estável e previsível.

III. Afirmativa incorreta

Justificativa: Esta contribuição foi da Escola das Relações Humanas, que abordou a organização
informal, manifesta pelas relações entre as pessoas e a criação do conceito do homem social em
contraposição ao homem econômico, que tem necessidades sociais. A teoria Clássica centrou
seus estudos na estrutura formal das organizações, aquela constituída por normas e regras
preestabelecidas pela instituição.

IV. Afirmativa correta

Justificativa: O objetivo primeiro de Taylor foi buscar a eficiência operacional através, entre outras
ferramentas, da redução dos desperdícios e do estudo do trabalho a partir da divisão deste em
tarefas intensamente estudadas.

Questão 2. Desde a Teoria Clássica da Administração, quando Henry Fayol definiu a função
administrativa, foi estabelecido que “Administrar é planejar, organizar, dirigir e controlar”. Essas quatro
funções (ou processos) abrangem os três níveis hierárquicos clássicos, a saber: o estratégico, o tático e
o operacional.

O quadro a seguir mostra como é a atuação do gestor nesses três níveis.

Os três níveis de atuação do gestor

Quadro 12

NÍVEL CONTEÚDO EXTENSÃO DE TEMPO AMPLITUDE

Estratégico Genérico, sintético e Macro-orientado: aborda a empresa


Longo prazo
abrangente. como uma totalidade.

Tático Menos genérico e mais Aborda cada unidade da empresa


Médio prazo
detalhado. separadamente.

Operacional Detalhado, específico e Micro-orientado: aborda apenas


Curto prazo
analítico. cada tarefa ou operação.

Fonte: CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria da Administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003 (Adaptado).

Em situações de crise, as empresas são forçadas, por exemplo, a rever sua forma de administrar. Veja
o que se publicou em reportagem da Revista Exame de 11/2/2009: “Com a crise, os principais números
da empresa que eram acompanhados a cada trimestre passaram a ser vistos mês a mês. No Brasil, os
dados, antes analisados a cada mês, agora são vistos semanalmente”.
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Unidade I

Agora, examine as quatro afirmativas a seguir e classifique cada uma como sendo verdadeira ou
falsa, em função da postura do gestor diante de uma situação de crise.

I. A situação de crise leva a organização a redefinir sua forma de administrar, deixando de ser tática
e buscando ser estratégica nessa tarefa.

II. Exige-se do administrador, em função da crise, que seja menos estrategista e mais operacional no
exercício do seu trabalho.

III. Independentemente de crise, as organizações não podem abandonar sua postura genérica,
sintética e abrangente.

IV. A atenção do administrador em momentos de crise tende a se voltar para aspectos particulares da
gestão.

Considerando o texto anterior e a situação de cada afirmativa (V ou F), indique a alternativa


correta:

A) As afirmativas I e II são falsas.

B) As afirmativas II e IV são verdadeiras.

C) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.

D) As afirmativas I e III são verdadeiras.

E) As afirmativas II, III e IV são falsas.

Resolução desta questão na Plataforma.

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