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A Redução da Maioridade Penal à luz

do Direito Penal do Inimigo
O preconceito e o estereótipo são dois concorrentes que vivem brigando para entrar
na nossa vida! (Horlando Halergia)
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Publicado por Adilson Gomes ­ 4 meses atrás

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou nesta terça­feira 31 o voto em separado do
deputado Marcos Rogério (PDT­RO), favorável à admissibilidade da PEC 171/93, que reduz a maioridade penal
de 18 para 16 anos. Foram 42 votos a favor e 17 contra. O resultado gerou protesto de manifestantes presentes
na reunião.

Antes, havia sido rejeitado o relatório do Luiz Couto (PT­PB), contrário à proposta de redução da maioridade
penal. Couto argumentou que o projeto fere cláusula pétrea daConstituição, o que a tornaria inconstitucional.

No parecer vencedor, Marcos Rogério afirma que a redução da maioridade penal “tem como objetivo evitar que
jovens cometam crimes na certeza da impunidade”. Ele defendeu que a idade para a imputação penal não é
imutável. "Não entendo que o preceito a ser mudado seja uma cláusula pétrea, porque esse é um direito que
muda na sociedade, dentro de certos limites, e que pode ser estudado pelos deputados", disse.

O deputado Alessandro Molon (PT­RJ), por sua vez, lamentou o resultado: “Estamos decidindo mandar para
um sistema falido, com altíssimas taxas de reincidência, adolescentes que a sociedade quer supostamente
recuperar. É um enorme contrassenso.”

A Redução da Maioridade significa menos crime?

Para a subprocuradora­geral da República, Raquel Elias Ferreira Dodge, há uma má interpretação dos índices de
violência cometidos por jovens. "Há uma sensação social de descontrole que é irreal. Os menores que cometem
crimes violentos estão ou nas grandes periferias ou na rota do tráfico de drogas e são vítimas dessa realidade",
diz. Atualmente, roubos e atividades relacionadas ao tráfico de drogas representam 38% e 27% dos atos
infracionais, respectivamente, de acordo com o levantamento da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos
da Crianças e do Adolescentes.

Chamados por Orlando Zaccone, de acionistas do nada, no qual chama de “seletividade punitiva” as ações de
combate às drogas: “Ocupando a ponta final do comércio de drogas proibidas, ´esticas’, ‘mulas’ e ‘aviões’,
como são chamadas as pessoas usadas para transportar ou vender drogas no asfalto, ficam tão­somente com
uma parcela ínfima dos lucros auferidos no negócio”, diz, numa referência ao criminólogo norueguês Nils
Christie que os chama de “acionistas do nada”

Por isso, em seu trabalho, o delegado defende penas diferenciadas, de acordo com a participação dos
envolvidos no tráfico, já que os chefões do crime, que movimentam as altas cifras do negócio criminoso,
representam um pequeno número na população dos presídios.

Para o autor, o estigma de criminoso para moradores de favelas pode ser demonstrado na concentração dos
registros de ocorrência da venda de drogas nas áreas pobres da cidade, onde a maioria dos presos é qualificado
como traficante, mesmo quando detido com pequena quantidade de drogas e desarmados.

“A estigmatização dos traficantes, a partir do estereótipo de criminoso ­ pobre, preto, favelado­, é um passe livre
para ações policiais genocidas”, alerta. Para Zaccone, o modelo adotado pelas polícias não surgiu hoje, mas tem
sido eternizado, sem que haja grandes mobilizações por uma estratégia mais inteligente.

Já os homicídios não chegam a 1% dos crimes cometidos entre jovens de 16 e 18 anos. Segundo a Unicef, o
Fundo das Nações Unidas para a Infância da ONU, dos 21 milhões de adolescentes brasileiros, apenas 0,013%
cometeu atos contra a vida.

Ao mesmo tempo, não há comprovação de que a redução da maioridade penal contribua para a redução da
criminalidade. Do total de homicídios cometidos no Brasil nos últimos 20 anos, apenas 3% foram realizados por
adolescentes. O número é ainda menor em 2013, quando apenas 0,5% dos homicídios foram causados por
menores. Por outro lado, são os jovens (de 15 a 29 anos) as maiores vítimas da violência. Em 2012, entre os 56
mil homicídios em solo brasileiro, 30 mil eram jovens, em sua maioria negros e pobres.

Por isso, para a subprocuradora­geral da República, o remédio para essa situação não é a redução da idade
penal, mas o endurecimento da pena para adultos que corrompem menores – como o Projeto de Lei 508/2015,
do deputado Major Olímpio – e o investimento em políticas sociais para os jovens.

Mas então, com tantos dados estatísticos, queremos reduzir a idade penal?

A mídia, no final do século passado e início do atual, foi a grande propagadora e divulgadora do movimento de
Lei e Ordem. Profissionais não habilitados (jornalistas, repórteres, apresentadores de programas de
entretenimento, etc.) chamaram para si a responsabilidade de criticar as leis penais, fazendo a sociedade
acreditar que, mediante o recrudescimento das penas, a criação de novos tipos penais incriminadores e o
afastamento de determinadas garantias processuais, a sociedade ficaria livre daquela parcela de indivíduos não
adaptados.

Como bem destacou Leonardo Sica,

“o terreno fértil para o desenvolvimento de um Direito Penal simbólico é uma sociedade amedrontada, acuada
pela insegurança, pela criminalidade e pela violência urbana.”

Não é necessária estatística para afirmar que a maioria das sociedades modernas, a do Brasil dramaticamente,
vive sob o signo da insegurança. O roubo com traço cada vez mais brutal, ‘seqüestros­relâmpagos’, chacinas,
delinqüência juvenil, homicídios, a violência propagada em ‘cadeia nacional’, somados ao aumento da pobreza e
à concentração cada vez maior da riqueza e à verticalização social, resultam numa equação bombástica sobre
os ânimos populares.

O convencimento é feito por intermédio do sensacionalismo, da transmissão de imagens chocantes, que
causam revolta e repulsa no meio social. Homicídios cruéis, estupros de crianças, presos que, durante
rebeliões, torturam suas vítimas, corrupções, enfim, a sociedade, acuada, acredita sinceramente que o Direito
Penal será a solução de todos os seus problemas.

O Estado Social foi deixado de lado para dar lugar a um Estado Penal. Investimentos em ensino fundamental,
médio e superior, lazer, cultura, saúde, habitação são relegados a segundo plano, priorizando­se o setor
repressivo. A toda hora o Congresso Nacional anuncia novas medidas de combate ao crime.

A INFLUÊNCIA DO DIREITO PENAL DO INIMIGO NA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

O chamado Direito Penal do Inimigo, desenvolvido pelo professor alemão Günter Jakobs, na segunda metade da
década de 1990, no qual o autor, por meio dessa denominação, procura traçar uma distinção entre um Direito
Penal do Cidadão e um Direito Penal do Inimigo. O primeiro, em uma visão tradicional, garantista, com
observância de todos os princípios fundamentais que lhe são pertinentes; o segundo, intitulado Direito Penal do
Inimigo, seria um Direito Penal despreocupado com seus princípios fundamentais, pois que não estaríamos
diante de cidadãos, mas sim de inimigos do Estado.

Baseia­se em políticas públicas de combate à criminalidade em âmbito nacional e internacional,
desclassificando certos indivíduos como “não pessoas” e a estes não sendo oferecidas as garantias estatais,
tais como o principio da dignidade humana e o devido processo Legal, entre vários outros.

O raciocínio seria o de verdadeiro estado de guerra, razão pela qual, de acordo com Jakobs, numa guerra, as
regras do jogo devem ser diferentes. O Direito Penal do Inimigo, conforme salienta Jakobs, já existe em nossas
legislações, gostemos ou não disso, a exemplo do que ocorre no Brasil com a lei que dispõe sobre a utilização
de meios operacionais para a prevenção de ações praticadas por organizações criminosas (Lei no 9.034, de 3 de
maio de 1995).

Segundo o autor,

“O Direito penal conhece dois pólos ou tendências de suas regulações. Por um lado, o trato com o cidadão,
em que se espera até que este exteriorize seu fato para reagir, com o fim de confirmar a estrutura normativa
da sociedade, e por outro, o trato com o inimigo, que é interceptado prontamente em seu estágio prévio e que
se combate por sua perigosidade.”

Há pessoas, segundo Jakobs, que decidiram se afastar, de modo duradouro, do Direito, a exemplo daqueles que
pertencem a organizações criminosas e grupos terroristas. Para esses, “a punibilidade se adianta um grande
trecho, até o âmbito da preparação, e a pena se dirige a assegurar fatos futuros, não a sanção de fatos
cometidos”.

Para Jakobs, há pessoas que, por sua insistência em delinqüir, voltam ao seu estado natural antes do estado de
direito. Assim, segundo ele,

Um indivíduo que não admite ser obrigado a entrar em um estado de cidadania não pode participar dos
benefícios do conceito de pessoa. E é que o estado natural é um estado de ausência de norma, quer dizer, a
liberdade excessiva tanto como de luta excessiva. Quem ganha a guerra determina o que é norma, e quem
perde há de submeter­se a essa determinação.

Apontar determinadas pessoas como perigosas, não resolve em nada a problemática do que acontece em nossa
sociedade atualmente. Recair sobre uma espécie de tratamento de “tratamento mais severo”, segundo a sua
estúpida visão da Projeto de Lei, não curá­los, aplicando­lhes medidas de internação por tempo indeterminado,
mas sim, apenas transfere o problema de lugar.
Não podemos desistir do homem, sob o falso argumento de ser ele incorrigível, de possuir um defeito de caráter,
que o impede de agir conforme os demais cidadãos. Como já deixamos antever acima, quem são os inimigos?
Alguns, com segurança, podem afirmar: os traficantes de drogas, os terroristas, as organizações criminosas
especializadas em seqüestros para fins de extorsões, os menores delinqüentes… E quem mais? Quem mais
pode se encaixar no perfil do inimigo? Na verdade, a lista nunca terá fim. Aquele que estiver no poder poderá,
amparado pelo raciocínio do Direito Penal do Inimigo, afastar o seu rival político sob o argumento da sua falta de
patriotismo por atacar as posições governamentais. Outros poderão concluir que também é inimigo o estuprador
de sua filha. Ou seja, dificilmente se poderá encontrar um conceito de inimigo, nos moldes pretendidos por essa
corrente, que tenha o condão de afastar completamente a qualidade de cidadão do ser humano, a fim de tratá­lo
sem que esteja protegido por quaisquer das garantias conquistadas ao longo dos anos.

É claro que, por mais que sejamos esclarecidos, por mais que nos revoltemos com as cenas veiculadas pelos
meios de comunicação, mostrando pessoas inocentes sendo mortas brutalmente pelos membros do exército
iraquiano, até mesmo o soldado mais vil tem o direito de, ao ser preso, ver assegurados os seus direitos e
garantias fundamentais.

Não podemos afastar todas as nossas conquistas que nos foram sendo dadas em doses homeopáticas ao longo
dos anos, sob o falso argumento do cidadão versus inimigo, pois que, não sendo possível conhecer o dia de
amanhã, quem sabe algum louco chegue ao poder e diga que inimigo também é aquele que não aceita a teoria
do Direito Penal do Inimigo, e lá estarei eu sendo preso, sem qualquer direito ou garantia, em troca de um
argumento vazio e desumano.

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