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65-76, 1997
Ernani Chaves*
pode fazer-nos escapar das armadilhas da metafísica. Daí ser ele, apesar
da única e breve referência no livro, o núcleo filosófico do Crepúsculo
dos ídolos. Ousaríamos dizer que, para Montinari, o é de toda a última
produção teórica de Nietzsche. Como podemos observar, a base
filológico-histórica não nos garante nenhuma interpretação filosófica
definitiva. Entretanto, ela nos garante algo precioso quando se trata de
um filósofo como Nietzsche: impede toda interpretação abusiva.
A que tradição de leitores de Nietzsche Montinari se filiaria? É
Pestalozzi ainda que nos responde: “Torna-se claro que o próprio
Montinari se via naquela tradição da recepção de Nietzsche fundada por
Owerbeck e Bernouilli na Basiléia e que se alinhara contra as manobras
do Arquivo Nietzsche de Weimar” (Pestalozzi 12, p. xiii). Uma tradi-
ção, portanto, para quem o pensamento de Nietzsche, como o declarou
uma vez Owerbeck, não comporta “nenhum entusiasmo póstumo” (cit.
em Montinari 7, p. 3). No limite, é como se a contribuição fundamental
de Montinari pudesse ser resumida em dois pontos básicos: primeiro, o
“indivíduo” Nietzsche, celebrado por sua “loucura genial” ou criticado
por seu “estilo” ou “falta de sistematicidade” pode, enfim, ser restituído
“como parte da história” (Campioni 1, p. xlix); segundo, sua “atualida-
de” reside muito mais no fato de que ele, a despeito de suas inúmeras
declarações em contrário, foi um filósofo “como os outros” (Simon 13,
p. 1). Estes dois pontos só ganham sua relevância, quando confronta-
dos, seja com as leituras ditirâmbicas, seja com aquelas que criticam
Nietzsche como irracionalista, ideólogo das classes dominantes, etc.
Como estes dois tipos de leitura são ainda muito usuais no Brasil, a
publicação deste artigo de Montinari me parece, mais do que nunca,
necessária.
Em 31.05.65, Montinari escrevia de Weimar a Giorgio Colli, acer-
ca de seu trabalho. Um trecho desta carta, devolve-nos um pouco o “ho-
mem” Montinari, debruçado sobre os manuscritos de Nietzsche. Não
com devoção, mas com os instrumentos que o próprio Nietzsche lhe
legara:
74 Chaves, E., cadernos Nietzsche 3, p. 65-76, 1997
Abstract: This article aims to present to the Brazilian public the methodological
prescriptions for reading Nietzsche offered by Mazzino Montinari in “Reading
Nietzsche: the Twilight of Idols”. It aims to show that these prescriptions issue
from consideratioons done by Nietzsche himself about the reader that he desired
for his books.
Key-words: reading – philology – history
Chaves, E., cadernos Nietzsche 3, p. 65-76, 1997 75
Notas
Referências Bibliográficas