Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
SALVADOR
2011
FLAVIA DE MORAES BERTOZZI
SALVADOR
2011
IMPORTÂNCIA DA TRIAGEM REALIZADA PELO
ENFERMEIRO NA EMERGÊNCIA
RESUMO
Este estudo aborda sobre as unidades de emergência existentes em hospitais de médio a
grande porte, que recebem pacientes em todos os níveis de agravos à saúde, que necessitam de
recursos humanos qualificados realizando a triagem e prestando cuidados. A triagem foi
criada para determinar qual paciente deve ser atendido primeiro e aqueles que podem
aguardar atendimento em segurança, considerando os diferentes níveis de gravidade e não a
ordem de chegada como era feito antigamente, visando diminuir complicações decorrentes do
tempo de espera nos casos mais graves. Também para tentar reduzir a superlotação dos
serviços de emergência, devendo ser realizada pelo enfermeiro que recebeu treinamento para
tal função. Para isso, é necessário classificar o risco dos pacientes que dão entrada em
emergências hospitalares e profissionais habilitados para realizar este serviço. O estudo teve
como objetivo evidenciar, a partir da literatura, como a triagem, realizada por um profissional
habilitado, pode assegurar que a ordem de atendimento dos pacientes seja de acordo com suas
necessidades. Trata-se de um estudo de caráter exploratório de pesquisa bibliográfica e
abordagem qualitativa. Os resultados deste estudo mostram que os serviços de urgência e
emergência dos hospitais estão sempre lotados, tornando evidente a importância da
classificação de risco dos pacientes, priorizando o atendimento dos mais graves e melhorando
a qualidade da assistência. Também a necessidade de um profissional capacitado, o
enfermeiro, para realizar a triagem, ouvindo o paciente e registrando corretamente sua queixa
principal para direcionar ao atendimento correto, de acordo com a necessidade.
PALAVRAS-CHAVE: triagem, emergência, enfermeiro
Em relação ao grande fluxo de pessoas nos hospitais, existem alguns parâmetros para a
implantação de ações no que tange ao atendimento de urgência e emergência nos serviços de
Pronto Socorro, como exemplo, a demanda acolhida por critérios de avaliação de risco e a
definição de protocolos clínicos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Isto possibilita que a
assistência seja prestada de acordo com os diferentes graus de necessidades ou sofrimento, e
não mais de forma impessoal e nem por ordem de chegada (ULBRICHL, MANTOVANI,
BALDUINO, REIS, 2010).
Triagem significa um processo sistemático para determinar quem vai ser visto e tratado
primeiro (MURRAY, 2003). Foi introduzido nos Serviços de Emergência (SE) para tentar
minimizar o problema da superlotação, permitindo cuidados imediatos para os pacientes mais
urgentes. (HAY, E; BEKERMAN, L; ROSEMBERG, G. et al, 2001). Em todo o mundo, é
realizado por enfermeiros, após um treinamento específico (TANABE, P; GIMBEL, R;
YARNOLD et al, 2004) . Considerando que o objetivo da triagem é identificar pacientes que
necessitam ser vistos primeiro e aqueles que podem esperar por atendimento em segurança,
ela é fundamental em qualquer serviço onde haja superlotação (ALBINO, GROSSEMAN,
RIGGENBACH, 2007).
• Justificativa
A triagem determina quem vai receber tratamento primeiro, e tem como objetivo organizar e
assegurar a assistência qualificada ao paciente, de acordo com o risco. Os serviços de
emergência fazem parte de hospitais e recebem pacientes de todos os níveis de gravidade,
necessitando de recursos humanos especializados. O fluxo de atendimento torna-se
desorganizado, devido à enorme procura pelos serviços de emergência, pela rápida resolução
de casos agudos que poderiam ser tratados ambulatorialmente e também pela agilidade de
realizar os exames. O que motivou a estudar esse tema foi a observação da grande demanda
nas unidades de emergência, e conseqüentemente a necessidade de classificar os pacientes
adequadamente, para organizar o atendimento e melhorar a assistência prestada aos clientes,
cabendo ao enfermeiro esta função.
• Problema
• Objetivo
• Metodologia
Segundo GIL (1991), do ponto de vista de seus objetivos, a pesquisa exploratória visa
proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a
construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a
compreensão. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso.
Quanto à natureza, segundo POPE & MAYS (1995), os métodos qualitativos trazem como
contribuição ao trabalho de pesquisa uma mistura de procedimentos de cunho racional e
intuitivo capazes de contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos. GODOY (1995)
ressalta a diversidade existente entre os trabalhos qualitativos e enumera um conjunto de
características essenciais capazes de identificar uma pesquisa desse tipo, a saber: o ambiente
natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; o caráter
descritivo; o significado que as pessoas dão as coisas e à sua vida como preocupação do
investigador; enfoque indutivo.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Para a maioria da população, ainda há o pensamento de que essa unidade é um meio mais
rápido e alternativo, pois não há restrição de marcação de consultas, onde exames
laboratoriais e de imagem, assim como o diagnóstico, são obtidos em um mesmo dia sem
grande tempo de espera. Tal atitude ocasiona aumento da demanda de atendimentos, gerando
filas intermináveis, morosidade no resultado de diagnósticos, ausência de especialistas,
acarretando aumento da carga de trabalho aos profissionais de saúde, falta de leitos e falta de
equipamentos e materiais, dificultando o atendimento de casos realmente emergenciais.
Consequentemente, essa situação agrava a existência de estressores ao profissional de saúde,
pois prestam assistência aos pacientes em condições críticas além de atender aqueles que
poderiam ser assistidos nos níveis ambulatoriais (MENZANI, 2006).
O aparecimento dos sintomas iniciais objetivando a evolução do caso poderia ser evitado se
no início da sintomatologia o paciente procurasse atendimento evitando a aglomeração das
unidades de emergência (SABBADINI; GONÇALVES, 2008).
Vivemos rotineiramente com a presença excessiva da procura por parte da clientela das
unidades de urgência e emergência, sendo que muitas vezes não são casos graves, causando
estrangulamento dos recursos direcionados a saúde por determinar que os serviços de
emergência são o único caminho para a realização do atendimento, por falta de conhecimento
dos clientes do que é o atendimento de emergência e a demora da rede pública, e com esta
elevada utilização dos serviços de emergência foi necessária a implantação da triagem em
todo o País (CHAVES, 2005).
Andrade et al (2009) demonstram em seu estudo que a alta demanda por atendimento e
consequentemente superlotação dos serviços de emergência compromete o processo de
humanização nesses setores e, além disso, dificulta a aceitação do usuário que se vê obrigado
a aguardar, e por vezes não aceita que outros passem na sua frente, pois muitas vezes
desconhecem o processo de classificação de risco que protege tal conduta por critério de
gravidade do caso, e não mais por ordem de chegada.
Segundo Gómez Jiménez (2003), “os serviços de urgências têm na triagem um sistema
magnífico para aplicar o princípio bioético de justiça [...] sendo uma necessidade para um
sistema sanitário de qualidade”.
Triagem vem da palavra trie cujo significado é “escolher”. O enfoque da triagem é priorizar
casos mais graves e estabelecimento de uma espera segura dos demais clientes. É
caracterizada por três categorias essenciais sendo estas: “emergente (doença ou lesão de risco
de vida ou com risco potencial que exige o tratamento imediato), imediato (lesão ou doença
não-aguda sem risco de vida) e urgente (doença ou lesão secundária que necessita de
tratamento em nível de primeiros socorros). Na realização da triagem são investigados alguns
pontos importantes como, por exemplo: sinais vitais, história, avaliação neurológica e níveis
de glicemia quando necessário. Posteriormente segue-se um protocolo desenvolvido pelo
enfermeiro com base em suas experiências com a finalidade de iniciar os exames radiológicos
e laboratoriais (SMELTZER; BARE, 2002).
Para Bover e Lisboa (2005) a palavra triagem deriva do francês “triage” determinando a
classificação em grupos. A triagem é tida como um sistema eficiente, caracterizado por
redução do tempo de atendimento a pacientes com risco de vida. Estes autores divulgam para
a classificação de pacientes os termos de urgência, emergência e não urgência, com o objetivo
de determinar os casos por prioridades. O formulário da triagem deve constar espaço para
colar as etiquetas divulgando o grau de complexidade, bem como: vermelha: emergência –
risco de vida iminente com atuação imediata; amarelo: urgência – não tem risco iminente de
vida, porém necessita de atuação em no máximo vinte minutos; verde: não urgente –
condições crônicas que podem aguardar por mais tempo.
O processo de triagem constitui-se em uma avaliação clínica breve que determina o tempo e a
sequência em que os pacientes devem ser vistos em um serviço de emergência e podem ajudar
as emergências a determinar com precisão a priorização clínica de um paciente e prever os
recursos que o paciente vai necessitar para ser acomodado (DERLET, 2006; JOINT
COMMISSION RESOURSES, 2008).
A classificação de risco é uma ferramenta que, além de organizar a fila de espera e propor
outra ordem de atendimento que não a ordem de chegada, tem também outros objetivos
importantes, como: garantir o atendimento imediato do usuário com grau de risco elevado;
informar o paciente que não corre risco imediato, assim como a seus familiares, sobre o tempo
provável de espera; promover o trabalho em equipe por meio da avaliação contínua do
processo; dar melhores condições de trabalho para os profissionais pela discussão da
ambiência e implantação do cuidado horizontalizado; aumentar a satisfação dos usuários e
principalmente, possibilitar e instigar a pactuação e a construção de redes internas e externas
de atendimento (BRASIL, 2009).
O acolhimento não pode ser entendido somente como uma forma de triagem de paciente e
encaminhamentos para outros serviços, nem somente como um modo de proporcionar um
ambiente confortável ao usuário, mas sim, selar um compromisso com o outro,
compartilhando suas angústias e necessidades. Permite refletir e mudar a assistência prestada
aos usuários dos serviços de saúde, pois permite avaliar não somente riscos e vulnerabilidades
do usuário, mas também sua rede social, o que implica considerar seu grau de sofrimento
físico e psíquico. Assim, um usuário sem sinais visíveis de problemas físicos pode estar
angustiado necessitando de atendimento e com maior grau de risco e vulnerabilidade
(BRASIL, 2006).
O atendimento é tido tão logo que o cliente chega, com o objetivo dos casos mais graves
serem priorizados e casos menos complexos encaminhados às unidades de atenção básica.
Este atendimento é caracterizado por uma pré-consulta, constando aferição de pressão arterial,
queixa básica e análise de encaminhamentos de outras unidades de saúde (FAMEMA, 2005).
A enfermagem tem como características a habilidade na observação, percepção e capacidade
de comunicação, o que auxilia no atendimento e facilita a interação entre profissional e
usuário (MAGALHÃES; PASKULIN; NINON; SILVA, 1989).
Em uma pesquisa sobre triagem de pacientes para consulta feita por médicos e enfermeiros,
Vinha, De Angelis, Stechini, Grieten (1987) concluiu que, devido à formação do profissional
médico ser voltada para diagnóstico e tratamento, seria um mau aproveitamento de suas
habilidades utilizá-lo para o serviço de triagem. Já o profissional enfermeiro, em sua
formação, aprende a prestar assistência aos pacientes preocupando-se também com a infra-
estrutura que o cerca. Adquire ainda uma visão de conjunto pelo fato de conversar com o
paciente, ouvir suas queixas, saber o que o levou até o hospital, enfim conhecer suas
necessidades, sejam elas físicas, psicológicas e até de ordem social.
A enfermagem tem habilidade para pôr em prática o acolhimento com classificação de risco
em serviços de pronto atendimento, porém verifica-se a necessidade de outros profissionais
envolverem-se com essa atividade (PINTO; RODOLPHO; OLIVEIRA, 2004).
O profissional que atua na unidade de emergência tem como função obter a história do
paciente, fazer o exame físico, executar o tratamento, aconselhando e ensinando a fazer a
manutenção da saúde. Também é responsável pela coordenação da equipe de enfermagem,
devendo aliar à fundamentação teórica a capacidade de liderança, o trabalho, o discernimento,
a iniciativa, a habilidade de ensinar, a maturidade e a estabilidade emocional (WEHBE;
GALVÃO, 2001).
Segundo Andrade, Caetano, Soares (2000), o enfermeiro deve ser uma pessoa tranqüila, ágil,
de raciocínio rápido, de forma a adaptar-se, de imediato, a cada situação que se apresente à
sua frente. Este profissional deve estar preparado para o enfrentamento de intercorrências
emergentes necessitando para isso conhecimento científico e competência clínica
(experiência).
Mas o que se observa nas unidades de emergência é um numero reduzido de profissionais que
nem sempre estão preparados para atender essa grande demanda, o que pode gerar
sentimentos de tensão, angústia, frustração e desgaste. Como consequência, as condições do
ambiente de trabalho influenciam significativamente na saúde do trabalhador, podendo
comprometer sua saúde mental e o seu desempenho profissional, em decorrência de um
cotidiano estressante e exigente. É exigido do enfermeiro, aumento da carga de trabalho e
maior especificidade nas suas ações na prestação de suas tarefas (BATISTA; BIANCHI,
2006).
Por estar envolvido na prestação de cuidados diretos ao paciente, ocorre uma sobrecarga das
atividades administrativas, e essa situação pode levar o enfermeiro a perder a motivação por
não concluir com eficiência suas atribuições (WEHBE; GALVÃO, 2001).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Da literatura consultada, foi possível constatar que os serviços de urgência e emergência dos
hospitais estão sempre recebendo grande demanda de clientes, pois a população tem uma
crença preconcebida de que receberão atendimento mais rapidamente por haver médicos de
plantão, enquanto que, os casos sem gravidade deveriam ser atendidos na rede básica de
saúde. A partir disso, torna-se evidente a importância de classificar os pacientes de acordo
com os riscos e agravos a saúde, através do acolhimento, realizando os encaminhamentos
necessários, reduzindo a superlotação do setor e priorizando o atendimento dos pacientes mais
graves e melhorando a qualidade da assistência.
Há consenso entre os autores aqui consultados, quando se fala no profissional mais habilitado
para realizar a triagem no setor de urgência e emergência. Neste caso, é o enfermeiro devido a
sua formação, pois coloca em prática a escuta, buscando identificar os problemas do paciente,
além da saúde. Avalia, verifica os sinais vitais, registra corretamente a queixa principal e
decide o encaminhamento que o paciente deve receber. Este profissional necessita de
capacitação constante para atuar na emergência, devido à dinâmica e necessidades do setor.
4. REFERÊNCIAS
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.
MENZANI, G. Stress entre enfermeiros brasileiros que atuam em pronto socorro. São Paulo-
SP, 2006. 112 p. Dissertação de Mestrado em Enfermagem. Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). HumanizaSUS: ambiência. Brasília: Ministério da Saúde;
2004.
POPE, C; MAYS, N. Reaching the parts other methods cannot reach: an introduction to
qualitative methods in health and health service research, In British Medical Journal, n 311,
1995, pp. 42-45.
RAMOS, D.D; LIMA, M.A.D. Acesso e acolhimento aos usuários em uma unidade de saúde
de Porto Alegre- RS. Cad. Saúde Pública. 2003; 19(1): 27-34.