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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0778.06.015325-2/001 Númeração 0153252-


Relator: Des.(a) Raimundo Messias Júnior
Relator do Acordão: Des.(a) Raimundo Messias Júnior
Data do Julgamento: 25/03/2014
Data da Publicação: 11/04/2014

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DE FAMÍLIA - AÇÃO DE


RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL - AGRAVO
RETIDO -INEXISTÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO - NÃO CONHECIMENTO
- CONVIVÊNCIA PÚBLICA, CONTÍNUA, DURADOURA E COM O
OBJETIVO DE CONSTITUIR FAMÍLIA - PROVA INSUFICIENTE -
CONFIGURAÇÃO DE NAMORO - RECURSO NÃO PROVIDO - SENTENÇA
MANTIDA. 1. Nos termos do art. 523, § 1º, do Código de Processo Civil, não
há conhecer do agravo retido quando ausente expresso pedido nas
contrarrazões. 2. O reconhecimento da união estável, conforme inteligência
dos art. 226, §3º, da CF/88 e art. 1.723 do CC, reclama prova da convivência
pública, contínua, duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de
família. 3. A eventual coabitação e a constatação de vínculos de afeto são
insuficientes para a configuração da entidade familiar, sendo mister a
presença concomitante dos pressupostos supra mencionados. 4. Restando
patente que o relacionamento do casal era um namoro, a improcedência do
pedido é medida que se impõe. 4. Recurso não provido. 5. Sentença
mantida.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0778.06.015325-2/001 - COMARCA DE ARINOS -


APELANTE(S): M.M.F.S. - APELADO(A)(S): V.P.S.

ACÓRDÃO

(SEGREDO DE JUSTIÇA)

Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos
em NÃO CONHECER DO AGRAVO RETIDO E NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO DE APELAÇÃO.

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DES. RAIMUNDO MESSIAS JÚNIOR

RELATOR

O SR. DES. RAIMUNDO MESSIAS JÚNIOR (RELATOR)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto por M.M.F.S., em face


da sentença proferida pela MM. Juíza de Direito da Vara Única Comarca de
Arinos/MG, a qual julgou improcedentes os pedidos de reconhecimento de
união estável, fixação de alimentos e partilha de bens, promovidos em
desfavor de V.P.S. (fls. 140/142).

Em suas razões recursais, sustenta a apelante (fls. 144/151), em


apertada síntese, que conviveu maritalmente com o apelado, o que
facilmente se extrai a partir dos depoimentos testemunhais acostados aos
autos, os quais evidenciam que as partes eram socialmente identificadas
como marido e mulher, gozando do status de casados. Destaca que,
malgrado seja o apelado casado civilmente com outra mulher, a prova oral
não deixa dúvidas a respeito da separação fática ocorrida, o que corrobora a
tese de existência de união estável entre as partes.

Por fim, a par de outros argumentos, requer o provimento do recurso


para reformar a sentença, reconhecendo-se a união estável com o apelado,
sem prejuízo da fixação de alimentos em seu favor e partilha dos bens
declinados na exordial.

Sem contrarrazões (certidão de fl. 153-v).

A Procuradoria-Geral de Justiça considerou desnecessária a sua


intervenção (fl. 159).

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

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Inicialmente, não conheço do agravo retido interposto pela parte


apelada às fls. 80/81, porquanto deixou o prazo para apresentação de
contrarrazões transcorrer in albis (certidão de fl. 153-v), inexistindo, por
consequência, pedido de apreciação, o que desatende ao disposto pelo art.
523, § 1º, do Código de Processo Civil.

Quanto ao mérito propriamente dito, verifica-se que o cerne da


questão está em se aferir se o relacionamento havido entre a apelante e o
apelado configurou ou não a chamada união estável.

Estabelece o artigo 1º, da Lei n. 9.278/96, que regulamenta o §3º,


do artigo 226 da Constituição de 1988, que:

É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e


contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com o objetivo de
constituição de família.

Dispõe o artigo 1.723, caput, do Código Civil de 2002:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o


homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua, e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Acerca do tema preleciona Silvio de Salvo Venosa:

1 - Se levarmos em consideração o texto constitucional, nele está presente o


requisito da estabilidade na união entre o homem e a mulher. Não é qualquer
relacionamento fugaz e transitório que constitui a união protegida; não
podem ser definidas como concubinárias simples relações sexuais, ainda
que reiteradas. O legislador deseja proteger as uniões que se apresentam
com os elementos norteadores do casamento, tanto que a dicção
constitucional determina que o legislador ordinário facilite a sua conversão
em casamento. Conseqüência dessa estabilidade é a característica de ser
duradoura, como menciona o legislador ordinário.

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(...). 2 - A continuidade da relação é outro elemento citado pela lei. Trata-se


também de complemento da estabilidade. Esta pressupõe que a relação de
fato seja contínua, isto é, sem interrupções e sobressaltos. Esse elemento,
porém, dependerá muito da prova que apresenta o caso concreto. Nem
sempre uma interrupção no relacionamento afastará o conceito de
concubinato. 3 - A Constituição, assim como o art. 1.723, também se refere
expressamente à diversidade de sexos, à união do homem e da mulher.
Como no casamento, a união do homem e da mulher tem, entre outras
finalidades, a geração de prole, sua educação e assistência. (...). 4 - A
publicidade é outro elemento de conceituação legal. Ganha realce, portanto,
a notoriedade da união. A união de fato que gozará de proteção é aquela na
qual o casal se apresenta como se marido e mulher fossem perante a
sociedade, situação que se avizinha da posse de estado de casado. (...). 5 -
O objetivo de constituição de família é o corolário de todos os elementos
legais antecedentes. (...). A união tutelada é aquela intuitu familiae, que se
traduz em uma comunhão de vida e de interesses. (...). (Silvio de Salvo
Venosa, Direito civil: direito de família / Sílvio de Salvo Venosa. - 3. ed. - São
Paulo: Atlas, 2003. - (Coleção Direito Civil, v. 6., p. 53/54).

Portanto, imprescindível à configuração da união estável a


existência de convivência duradoura, pública e contínua, estabelecida com o
objetivo de constituir família.

No caso em tela, não há dúvida de que tenha existido um


relacionamento amoroso entre as partes, porquanto reconhecido pelo próprio
apelado. No entanto, compulsando as provas produzidas, não constatei a
existência dos pressupostos que configuram a união que a apelante pretende
seja reconhecida.

Insta salientar que a configuração de uma união estável reclama a


existência de elementos de convicção que caracterizem uma entidade
familiar e que devem ser examinados harmonicamente, incumbindo ao autor
da demanda o ônus da prova do fato constitutivo do direito invocado, a teor
do disposto no art. 333, I, do Código de Processo Civil. E, na hipótese em
comento, a apelante não se

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desincumbiu desse ônus.

Válido, ainda, assinalar que nem todo o relacionamento amoroso


constitui união estável e é preciso convir que a prova coligida é suficiente
para atestar a convivência marital ou que o casal tenha tido realmente o
intuito de compartilhar uma vida em comum, gozando do status social de
casados.

Observa-se, in casu, que o quadro probatório erigido não evidencia


a existência do relacionamento more uxorio descrito na exordial; ou seja, não
restou comprovada a convivência pública, notória e duradoura do casal, ou
mesmo que tenham convivido como se casados fossem; tampouco há
elementos indicativos de que tenha havido entre ambos estreita comunhão
de vida e de interesses, ainda que seja patente o relacionamento amoroso
havido. Isto é, o substrato probatório é insuficiente para evidenciar a affectio
maritalis.

Pois bem.

A matéria conflituosa recai, precipuamente, sobre aspectos fáticos,


devendo a lide ser solucionada em vista das provas produzidas.

A prova testemunhal é bastante controversa, havendo depoimentos


que afirmam terem as partes convivido maritalmente (fls. 82/85) e outros que
registram que a apelante apenas prestava serviços domésticos para o
apelado, tendo com ele mero envolvimento afetivo casual (fls. 86/91).

A prova documental, por sua vez, em nada complementa os


antagonismos existentes entre os depoimentos das testemunhas, limitando-
se externar o patrimônio amealhado pelo apelado no interregno apontado
como período de constituição da defendida união estável (fls.14/22).

Impende salientar, por oportuno, que o apelado, conquanto não


tenha sido juntada aos autos sua certidão de casamento, é casado

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com M.I.M.S., fato incontroverso, o que impossibilita, de pronto, o


reconhecimento da entidade familiar em virtude do impedimento matrimonial
existente. Frise-se que não há nos autos provas efetivas que atestem se
houve a separação fática do apelado com a sua esposa, como tampouco, se
aplicável, quando se deu tal rompimento.

Noutro giro, convém salientar que a apelante não trouxe de que era
desimpedida de contrair união estável no lapso temporal reclamado, sendo
seu real estado civil desconhecido.

A conclusão a que chego, portanto, é que as partes sustentaram


relacionamento amoroso por determinado período, situação potencializada
pelos trabalhos domésticos desempenhados pela apelante e pelo fato das
partes desfrutarem do mesmo lar, o que perdurou na condição de namoro.

Salienta-se, por oportuno, que a mera coabitação, malgrado


consista em relevante prova para fins de constatação de existência de união
estável, não pode ser elevada à condição de elemento inconteste para a
configuração da relação matrimonial.

O compartilhamento de teto comum apenas sugere relação de


confiança, o que, na hipótese sub judice, explica-se pelo vínculo de trabalho
doméstico existente entre as partes num primeiro momento. Mesmo
considerando-se que o inicial liame profissional fora rompido, dando lugar ao
namoro, a presença de coabitação, desprovida dos demais pressupostos
indispensáveis à configuração da união estável (durabilidade, continuidade,
publicidade e ânimo de constituição de família), não se sustenta como
fundamento para o reconhecimento da entidade familiar.

A propósito, traz-se a colação fragmentos da prova oral colhida:

(...) era de conhecimento do depoente e demais funcionários que o requerido


tinha esposa e cinco filhos na cidade mineira de Pompeu; a requerente era
vista de vez em quando pelo depoente; sabe que as

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partes tinham um "rolo", mas não sabe dizer se eles moravam juntos; a
requerente era empregada do requerido; o depoente dormia em outro setor
de serviço, longe do armazém do requerido (depoimento da testemunha
J.V.P. - fl. 86).

(...) na época do ano 2000, sabe que as partes tinham um "rolo", não
sabendo se moravam na mesma casa; perante a comunidade da SIDERSA a
requerente era vista como namorada do requerido; todos sabiam que o
requerente tinha esposa de nome L. e filhos, sendo que estes visitavam a
SIDERSA (...) (depoimento da testemunha J.R.S.P. - fl. 88).

Destarte, realizada uma análise integrada e contextualizada do


itinerário do relacionamento vivenciado pelas partes, apenas consegui inferir
a existência de um namoro, posto que o casal era socialmente identificado
como namorados, sendo de conhecimento notório da comunidade que o
apelado era casado e mantinha estreito vínculo de afeto com o seu núcleo
familiar.

Enfim, a ação de reconhecimento de união estável tem por objetivo


ver declarada uma situação fática, precedente ao direito em si, que, por
disposição legal, deve ser equiparada ao casamento. Quando se lida com a
questão envolvendo "estado das pessoas" não pode haver margem para
questionamentos, porquanto se declara um direito com diversas
repercussões emocionais, patrimoniais, sociais e econômicas.

In casu, em complementação às conclusões já expendidas, tem-se


que se constituiu entre os litigantes um namoro firme, de longa duração, sem
o objetivo de constituir família, não podendo advir desse relacionamento a
partilha de bens, decorrente do regime patrimonial da união estável, como
também eventual vínculo de solidariedade hábil a respaldar o pedido de
fixação de alimentos,

A título de remate, importante realçar que a união estável exige


muito mais do que um relacionamento entre homem e mulher, ainda que
existam coabitação e interesses comuns. Ao reconhecer a

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existência da união estável como entidade familiar e conceder a ela a


proteção do Estado, a Constituição Federal pretendeu, dispondo a seu
respeito no Capítulo da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso, que
venha tal união a se transformar em um casamento - tanto é que dispôs
expressamente que a lei deve facilitar sua conversão em casamento - o que
se traduz no objetivo de constituição de família dos conviventes, o que não
se verifica dos autos.

Com isso, laborou com acerto a decisão hostilizada ao julgar


improcedente o pedido inicial.

Ex positis, NÃO CONHEÇO do agravo retido e NEGO


PROVIMENTO AO RECURSO.

Custas recursais pela apelante, suspensa a exigibilidade, ex vi do


art. 12 da Lei n. 1.060/50.

DES. CAETANO LEVI LOPES (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).

DESA. HILDA MARIA PÔRTO DE PAULA TEIXEIRA DA COSTA - De acordo


com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NÃO CONHECERAM DO AGRAVO RETIDO E


NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO."

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