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1º Seminário - BERCOVICI, Gilberto (2006). “As possibilidades de uma Teoria do Estado”. In: LIMA,
Martonio M. B & ALBUQUERQUE, Paulo A. M.(orgs.). Democracia, Direito e Política: estudos
internacionais em homenagem a Friedrich Müller. Florianópolis: Conceito Editorial, pp. 325-343.
INTRODUÇÃO
A noção de Estado, que serve para designar a forma política específica que surge na Europa ao final da Idade
Média, não é a-histórica, nem universal.
Neste sentido, Heller afirma que a Teoria do Estado busca investigar a específica realidade estatal em sua
estrutura e função atuais, sua origem histórica e suas tendências de evolução.
Para Böckenförde, não é possível transpor o conceito de Estado às sociedades que não o conheceram; em
sentido contrário estão Jellinek e Dallari.
Pierre Rosanvallon: condições para uma história do Estado; “impératifs” como “necessidades”: 1) “impératif
de déglobalisation”: necessidade de romper com a visão global do Estado – pois assim pode-se perceber suas
complexidades; 2) “impératif de totalisation”: necessidade de compreender os setores e órgãos estatais em
sua totalidade e especificidade; 3) “impératif de hiérarchisation”: necessidade de análise a partir do
problema, capaz de integrar e hierarquizar os vários níveis de sua compreensão; 4) “impératif dárticulation”:
necessidade de articular a história dos fatos e a história das ideias e das representações sociais.
Com o advento do constitucionalismo, o Estado apresenta-se como objeto privilegiado de estudo pela
doutrina publicista europeia.
A questão da unidade política, na doutrina política europeia do século XIX, resolvia-se pela ideia
predominante de supremacia da lei.
Na consolidação deste modelo liberal de Estado de Direito na Europa, foi crucial o papel dos juristas.
Destaque para Jellinek e Carré de Malberg.
O modelo liberal de Estado abala-se, no início do século XX, com o aumento da participação popular e a
ampliação da democracia. A questão da unidade política, outrora resolvida na supremacia da lei, volta ao
centro do debate. Diante desse quadro, Heller anuncia uma “crise da TGE”, para a qual houve várias
respostas. Destaque para: 1) Kelsen e procedimentalização da democracia; 2) Schmitt e busca de alternativas
autoritárias; 3) Duguit e legitimação fragmentária e pluralista pelos seus fins; 4) Heller e Estado Socialista de
Direito, unidade política centrada na pluralidade democrática.
Para Carl Schmitt, a questão fundamental de uma teoria constitucional não era a da unidade lógica do
ordenamento, mas sim a questão da unidade política e da homogeneidade.
Schmitt definiu o Estado como um status: a unidade política de um povo vivendo em determinado território.
“O conceito de Estado pressupõe o do político”; o Estado é um meio de continuação e de organização da luta
política preexistente a ele; Unidade política como unidade suprema.
No Estado Liberal, é clara a separação entre Estado e sociedade: correção da equação “Estado = Político”.
A Constituição é a concreta forma de ser resultante de qualquer unidade política existente. A partir de 1933,
Schmitt afirma que a unidade política não se expressa mais necessariamente sob a forma “Estado”. Em
prefácio de 1963: “a época da estatalidade chegava agora ao seu fim”. O Estado Moderno é uma fica
histórica e superada; a soberania e a política não são mais redutíveis à forma “Estado”.
Schmitt rompe com a tradição da Filosofia Política, a qual entendia a política e o Estado como
indissocialmente ligados. Schmitt dissocia o Estado do político; o conceito de Estado pressupõe o conceito
do político.
Assim, o Estado deixa de existir como formação política autônoma para se tornar uma simples organização
da sociedade civil ou da economia.
Heller busca compreender o Estado não a partir do Direito que o constitui, mas sim ligado à realidade social.
Estado: totalidade da vida social considerada desde o ponto de vista de uma ordenação territorial. Estado:
unidade na pluralidade.A unidade não é um dado prévio; é um fim ideal continuamente confrontado com a
realidade.
Política como processo dinâmico, como ação, como conformação consciente da sociedade, orientada para
um fim. O poder político não é exercido somente no Estado, mas ele é potencialmente poder estatal.
Heller e soberania: esta só pode se desenvolver com uma autonomia relativa no tocante às condições que a
constituem. Soberana é a unidade decisória que não está subordinada a nenhuma outra unidade decisória
universal, capaz de determinar essencialmente por si mesma o uso do poder, sendo a criadora suprema de
normas e mantendo o poder de coação física legítima. Soberano é titular de uma unidade de decisão eficaz,
constante e universal, responsável pela manutenção da normalidade.
Democracia como a única forma de legitimação pelo poder político. Não existe, pois, crise da democracia,
mas sim crise da técnica parlamentar.
Após a 2 GM, a questão da unidade política tomou outras dimensões. A Constituição passou ao centro dos
debates. As constituições democráticas do pós-guerra tinham a unidade política como pressuposto (Estado
soberano ou poder constituinte do povo).
Partidos políticos como (primeiro) grande ator da democracia constitucional. Esvaziamento do papel dos
partidos e aparecimento/aumento do poder dos juízes, com a função de concretizar a constituição.
Nas ciências sociais: migração dos estudos: da análise do Estado para a análise das políticas públicas.
Não por acaso busca-se definir juridicamente política pública, como tendo por fundamento a necessidade de
concretização de direitos por meio de prestações positivas do Estado.
Na visão de Bercovici, não é possível seguir a proposta de rearticular o direito público em torno da noção de
política pública; estas são sempre programas setoriais; choque entre visão global e de territorialidade
(Estado) com uma visão setorial e fragmentada (políticas públicas).
A rearticulação do direito público deve se dar em torno de uma renovada Teoria do Estado, com visão de
totalidade, capaz de compreender as relações entre a política, a democracia, a soberania, a Constituição e o
Estado, baseada nos termos expostos por Heller.
A proposta de Heller é a de uma Teoria do Estado atual. Teoria do Estado como ciência da realidade.
O próprio processo de integração supranacional, que ocorre na Europa, não permite, de forma clara, afirmar
a superação da estatalidade.
O porquê de uma Teoria do Estado: Compreender as relações entre Estado, política, direito e economia,
buscando a supremacia da soberania popular e da democracia.
(Pedro) Bercovici faz um panorama crítico de Teorias do Estado a partir de suas problemáticas específicas
em três períodos ou correntes, a saber: (i) A teoria Clássica “Geral” do Estado de cunho liberal; (ii) As
teorias do Primeiro Pós-Guerra que lidavam com a “crise do Estado” ou “crise da democracia Parlamentar”
com a incursão das massas na democracia, com enfoque em Schimitt e Heller; e (iii) As teorias do segundo
pós-guerra que, segundo Bercovici demonstra uma “despolitização e fragmentação” da Noção de Estado.
O Texto não é um mero panorama, o próprio enfoque é de cunho argumentativo. Bercovici se coloca no
problema atual da continuação [renovação] da Teoria do Estado, perguntando-se acerca da possibilidade de
teoria desta sorte nos dias atuais. Neste percurso, sua tese é a de que a Teoria do Estado pode ser reformulada
de forma a repensar profundamente a “crise do Estado”; e que, sob influência de Heller, isso deve ser feito de
forma a conceber a noção de “totalidade”, voltada para a democracia e para a política. Bercovici se mostra
claramente a favor de um modelo social de Estado, como faz Heller.
1) Você concorda com a afirmação a “própria noção de Estado não é universal e a-histórica, pelo contrário,
serve para designar a forma política específica que surge na Europa no decorrer do final da Idade Média e
que, sob determinadas condições, se espalha para outras regiões do mundo posteriormente” (p. 326) ?
4) Caracterize o abalo sofrido por esse modelo liberal a partir da expansão do sufrágio.
7) A partir dessa perda, Schmitt afirma que a unidade política não se expressa mais sob a forma “Estado”.
Nesse contexto, qual papel deve assumir a Constituição?
8) O Estado moderno aparece em Schmitt como uma figura histórica superada. Por quê?
10) Como a questão da “unidade política” aparece na obra de Schmitt? Confrontar com Heller.
12) Como a questão da “unidade política” aparece na obra de Heller? Confrontar com Schmitt.
13) Caracteriza o conceito de “soberania” defendido por Heller. Em que ela é diferente do conceito de
Schmitt? Quem seria o sujeito da soberania para Heller? E para Schmitt?
14) Para Heller, a expansão do sufrágio e a ampliação da democracia caracterizam um momento de crise? Se
sim, trata-se de uma crise da democracia?
15) Num cenário em que o proletariado enxerga o Estado como mero “Estado de classe”, os trabalhadores,
segundo Heller, enfrentariam a ditadura do Estado burguês com a revolução e a ditadura do proletariado.
Além dessas duas possibilidade (Estado de classe opressor vs ditadura do proletariado), Heller sustenta uma
terceira. Qual é?
16) Após a 2ª GGM, o Estado perdeu espaço para a Constituição. Nesse contexto, os partidos políticos, que
exerciam a função instrumental de concretizador da soberania popular, sofrem um esvaziamento, o que
17) O autor contesta a possibilidade de se rearticular o direito público a partir da noção de política público.
Qual a sua proposta? Ela se baseia em Schmitt ou em Heller?