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All content following this page was uploaded by Luiz Augusto Horta Nogueira on 20 July 2016.
Capítulo 2
Das mais diversas maneiras, a energia está presente em nosso dia a dia. É
assim, por exemplo, quando usamos motores ou músculos, quando acendemos o
queimador de um fogão, quando nos alimentamos ou mesmo quando nos informa-
mos pela televisão ou nos jornais, que freqüentemente se referem a alguma questão
energética no Brasil ou no mundo. Por tal diversidade, o campo dos estudos ener-
géticos é bastante vasto, cobrindo desde o uso dos recursos naturais até os aspec-
tos relacionados ao desempenho das modernas tecnologias, bem como permitindo
uma abordagem que considere apenas os temas de caráter técnico ou envolva seus
componentes sócio-econômicos e ambientais, inclusive quanto à sua evolução his-
tórica e suas perspectivas futuras. Para este largo campo do saber, cuja extensão é
também uma medida de sua fronteira com o desconhecido, procura-se nestas notas
efetuar uma revisão das definições, das leis básicas e da terminologia empregada,
fornecendo elementos para os posteriores estudos e avanços na área energética, em
particular buscando fundamentar a racional utilização dos fluxos de energia.
2.1. DEFINIÇÕES
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
Em 1872, Maxwell propôs uma definição que pode ser considerada mais cor-
reta do que a anterior: “energia é aquilo que permite uma mudança na configuração de
um sistema, em oposição a uma força que resiste à esta mudança”. Esta definição refe-
re-se a mudanças de condições, a alterações do estado de um sistema e inclui duas
idéias importantes: as modificações de estado implicam em vencer resistências e é
justamente a energia que permite obter estas modificações de estado. Assim, para
elevar uma massa até uma determinada altura, aquecer ou esfriar um volume de gás,
transformar uma semente em planta, converter minério em ferramentas, jogar fute-
bol, ler este texto, sorrir, enfim, qualquer processo que se associe a alguma mudança,
implica em se ter fluxos energéticos. Cabe observar que na terminologia termodinâ-
mica denomina-se sistema à região de interesse, delimitada por uma fronteira, que
pode existir fisicamente ou ser uma superfície idealizada, que a separa do ambiente,
que neste caso significa portanto tudo aquilo que está fora da região de interesse.
Desta forma, o universo, o todo, resulta da soma do sistema com o ambiente.
Por ser um conceito tão fundamental, definir energia é sem dúvida mais difícil
e menos importante do que sentir e perceber sua existência, como a causa e origem
primeira de todas as mudanças. Não obstante, depois que aprendemos sua definição
mais abrangente e rigorosa, como visto acima, passa a ser um pouco mais simples
entender as permanentes mudanças que acontecem em nosso mundo e suas regras.
Boa parte das leis físicas que governam o mundo natural são no fundo variantes das
leis básicas dos fluxos energéticos, as eternas e inescapáveis leis de conservação e
dissipação, que estruturam todo o Universo, desde o micro ao macrocosmo.
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ENERGIA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
rugem. Ambos são processos energéticos, mas de sentido totalmente diverso devido
às distintas taxas ou velocidades nas quais ocorrem. Em geral, estamos preocupados
em atender uma dada demanda energética, medida em kWh, kJ ou kcal, mas sob
uma imposição de tempo, ou seja, com dado requerimento de potência, avaliada em kW.
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
e, na atualidade, na escala das realizações humanas, sua única aplicação tem sido
destrutiva, nas bombas de hidrogênio. Já a energia atômica relaciona-se com proces-
sos de fissão de átomos pesados, como urânio, tório e plutônio, em decorrência da
instabilidade natural ou provocada de alguns isótopos destes materiais, que tendem
a converter-se em outros materiais com número atômico mais baixo, com liberação
de energia devido à perda de massa observada. A energia resultante destes proces-
sos também é elevada e se apresenta, essencialmente, como calor, mas o controle
das reações tem sido conseguido, e, assim, além das bombas atômicas, a energia da
fissão tem sido empregada como fonte energética para geração de energia elétrica e
para mover navios e submarinos, mediante ciclos térmicos.
E = m . c2 (2.1)
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ENERGIA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
(2.2)
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
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(2.4)
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
(2.7)
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ENERGIA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
(2.8)
onde se observam dois termos: uma parcela reversível, determinada pela troca de
calor, e uma parcela irreversível ou gerada, de magnitude proporcional às perdas no
processo. Assim, como já afirmado, a variação de entropia serve para avaliar a per-
feição de processos de conversão energética. Por exemplo, em sistemas adiabáticos,
isto é, sem troca de calor, os processos ideais devem ser isentrópicos (sem variação
de entropia), apresentando portanto Sgerada nula. Como os processos reais sempre
apresentam imperfeições e perdas, a entropia sempre tende a se incrementar, po-
dendo-se afirmar que “a entropia do Universo tende para um máximo”. Na geração
de entropia, é perdido como calor um potencial para produzir trabalho, ou seja, a
energia se degrada em qualidade. O Teorema de Gouy-Stodola relaciona a entropia
gerada e o trabalho perdido, também chamado de irreversibilidade;
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
ENERGIA EXERGIA
Obedece à lei da conservação Não está sujeita a essa lei
É função do estado da matéria sob con- É função do estado da matéria sob con-
sideração sideração e da matéria no meio am-
biente
É função do estado da matéria sob con- O estado de referência é imposto pelo
sideração meio ambiente, o qual pode variar
Aumenta com o crescimento da tempe- Para processos isobáricos alcança um
ratura mínimo na temperatura do meio am-
biente; nas temperaturas menores ela
aumenta quando a temperatura dimi-
nui
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ENERGIA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
(2.10)
(2.11)
(2.12)
(2.13)
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
Rendimento
Sistema
Energético Exergético
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ENERGIA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
A Tabela 3.5 apresenta os níveis das reservas energéticas brasileiras tal como
constam do Balanço Energético Nacional e no Anuário da Agência Nacional do Petró-
leo, em valores para 1999. Observe-se que as reservas fósseis são dadas em termos
de energia e podem se alterar com a descoberta de novos depósitos, enquanto a
energia hidráulica, por ser renovável, é apresentada como potência. Isto torna mais
complexa a comparação de sua magnitude relativa, que irá depender das taxas de
extração assim como das qualidades da energia disponíveis. Certamente 1 kWh de
energia hidráulica é mais nobre que a mesma quantia de energia na forma de petróleo
ou outro combustível, cuja rota de utilização passa por conversão para energia térmica,
reconhecidamente uma forma com limites de conversão, como já comentado.
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
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ENERGIA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
Figura 2.9 - Consumo de energia no ciclo de vida de um veículo típico (DeCicco et alli, 2000)
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ENERGIA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
(2.15)
(2.16)
(2.17)
(2.18)
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
(2.19)
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ENERGIA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
DeCicco, J., Kliesch, J., Thomas, M., ACEEE’S Green Book - The environmental
Guide to Cars & Trucks, American Council for na Energy-Efficiency Economy, Wa-
shington, 2000
Rant,Z. ; “Exergie, ein neus Wort für technische Arbeitsfähigkeit “, Forsch Inge-
nieurwes, vol.22, 1956
Smil, V., General Energetics: energy in biosphere and civilization, Wiley, New
York, 1990
Tronconi, P., Valota, R., Agostinelli, M., Rampfi, F.; Nerosubianco- reflessioni
a colori sull’energia e societá, Associazioni Ambiente e Lavoro, Milão, 1987, citado
por Sevá, A.O., Medeiros, J.X.., Mammana, G.P., Diniz, R.H., “Renovação e Sustentação
da produção Energética”, in Desenvolvimento e Natureza: Estudos para uma sociedade
sustentável, Cavalcanti, C., Fundação Joaquim Nabuco/Editora Cortez, São Paulo, 1987
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
Texto complementar
Como Senhora do Mundo, ela reina sobre nós com seu manto de entropia.
Nas noites escuras e nas mais radiantes manhãs, está sempre presente, sem o que
nada pode ser. Desde o interior das estrelas, no Big-Bang primordial, até nos recôndi-
tos mitocôndrias celulares, como instáveis ATP’s, é a inexorável dualidade da Energia,
conservação e dissipação, Eros e Tanatos, imperando sobre tudo. Mas afinal, o que é
a Energia? De fato, não é trivial definir o óbvio, coisas que se sentem e que se vivem
todo o tempo e em todos os lugares.
Talvez seja possível entender o sentido da Energia através das imagens de nos-
so inconsciente, de nossos mitos e poetas. E sem esquecer que uma das divindades
tutelares da antiga Índia era Agni, a deusa do Fogo, que merece boa parte dos versos
dos Vedas, vamos nos fixar em nossa cultura ocidental, onde nas raízes da Grécia surge
um personagem maravilhoso , o titã Prometeu, o grande aliado da Humanidade no do-
mínio da energia. Isso deve ter ocorrido por volta de 600 mil anos atrás, quando nossos
antepassados , os então Homo Habilis, iniciaram a larga jornada para usar, conhecer e
produzir o fogo, evento marcante na transcendência de animais para os Homo Sapiens
que, pretensamente, hoje somos1. Foram as chamas que permitiram ao Homem ali-
mentar-se, aquecer-se e utilizar novos materiais, mas acima de tudo foram as primeiras
fogueiras que o protegeram das feras, tornando-o um semi-deus. Foi este herói que ,
presenteando a Humanidade com tamanho dom, “libertou os homens da obsessão da
morte e fez nascer entre eles a cega esperança”, nas palavras de Ésquilo. Certamente que
tamanho conhecimento é um privilégio divino, e Zeus não poderia tolerar passiva-
mente o roubo de Prometeu, que por isso padeceu sem descanso, acorrentado e sob
as tormentas do Cáucaso2. E é pelo menos intrigante saber por Schaden que com os
índios Guaranis de nossa terra sucedeu o mesmo: o seu fogo foi roubado dos deuses e
ofertado aos homens, acarretando tremendo sofrimento, com abutres inclusive ator-
mentando à Papá Miri, o herói benfeitor3.
Seria então Energia apenas esta benesse poderosa, de preço tão alto? Ou
Energia seria algo mais, o elo vital em tudo, não apenas uma fonte de poder temporal
para o Homem? Vale a pena conhecer a visão de Santa Hildegarda de Bingen, a “Sibila
do Reno” e fascinante pensadora medieval, que afirmava: “Sou esta força suprema e
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ENERGIA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
ardente que libera todas as faíscas da Vida. A morte não me afeta, mas sou eu quem
a distribui, e solto minha ciência como quem abre suas asas. Sou esta essência viva e
ardente da substância divina que flui na beleza dos campos. Brilho nas águas, ardo no
Sol, na Lua e nas estrelas. Minha é a força do invisível vento. Eu mantenho o alento em
todos os seres vivos, respiro no verdor e nas flores, e quando as águas fluem como vivas,
aí estou eu. Eu levantei as colunas que sustentam a Terra inteira...eu sou a força oculta
no vento, eu sou a origem de tudo, e assim como o homem pode mover-se graças à sua
respiração, o fogo arde graças ao meu ardor. Eu sou a sabedoria. Meu é o tronar da pala-
vra que fez nascer todas as coisas. Eu impregno todas as coisas para que não morram. Eu
sou a Vida” 4. Provavelmente esta religiosa não conheceu o termo, mas um cientista
poderia dizer que ela definiu, inspiradamente, Energia.
Mas , seria ainda possível uma definição mais abrangente, que fosse além
deste caracter natural e dissesse da plenitude interior a que os fluxos energéticos
induzem? Talvez então seja melhor recorrer ao misticismo de Blake, que na eferves-
cência fuliginosa da Revolução Industrial dizia; “O Homem não tem um Corpo diferen-
ciado de sua Alma; pois o denominado Corpo é uma porção da Alma, discernida pelos
cinco Sentidos, as principais vias de entrada da Alma nesta era. A Energia é a única vida
e procede do Corpo; e a Razão é a fronteira ou circunferência exterior da Energia. A Ener-
gia é o eterno Deleite” 5. E assim temos a fonte de poder e do prazer, o tônus vital e o
Jardim das Delícias , como que repousando nos fluxos energéticos. Talvez não exista
unidade maior. Energia ubíqua, sagrada e onipotente.
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CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
Referências:
1
Middleton, C., A Aurora da Humanidade, Time-Life Editores/Abril Livros, Rio de
Janeiro, pg 54-55
2
Ésquilo, Prometeu Acorrentado, Coleção Universidade de Bolso (Tragédias Gre-
gas), Editora Tecnoprint, Rio de Janeiro, s/d, pg 119
3
Schaden, E., “A origem e posse do fogo na Mitologia Guarani”, in Leituras de
Etnologia Brasileira, ed. E. Schaden, Cia. Editora Nacional, 1976, pg 311
4
Maclagan, D., Mitos de la Creación, Ed. Debate, Madrid, 1989, pg 31
5
Blake, W., The Marriage of Heaven and Hell, The Illustrated Poets Series, Aurun
Press, London, 1986, pg 33
6
Prigogine,I. e Stengers,I., A Nova Aliança, Ed. Universidade de Brasília, 1988
7
Alekseev, G.N., Energy and Entropy, Mir Publishers., Moscow,1986, pg 174
8
Krichevski,I.R. e Petrianov,I.V., Termodinámica para muchos, Editorial
Mir,Moscú, 1980, pg 173
9
Coveney,P. e Highfield,R., A Flecha do Tempo, Editora Siciliano, São Paulo, 1993,
pg 136
10
Prigogine.I., El Nacimiento del Tiempo, Tusquets Editores, Barcelona,1988, pg 13
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FATORES DE CONVERSÃO
ENERGIA
POTÊNCIA
PREFIXOS
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