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exploração do interior brasileiro, por parte das No rio Bexiga, não existia represamento, sen-
tropas conduzidas por bandeirantes. do sua contribuição direta ao rio Anhangabaú. O
Durante a travessia pelas terras e paragens rio Saracura teve suas águas represadas, formando
paulistas, já nos idos do século XVIII, os relatos o Tanque Reúno. Não tão próximo às nascentes,
de viajantes apresentavam claramente as interven- também reunia quantidade de água considerável
ções antrópicas (LANGENBUCH, 1971). Não e abastecia o Chafariz do Piques, por meio de seu
seria possível instalar uma província ou uma ci- reservatório, a Bacia da Pirâmide. As águas eram
dade em meio a um ambiente totalmente natural aduzidas pelo Morro do Chá e bairro de Santa
sem abrir clareiras, construir estradas, edificações Ifigênia, para alimentar o lago central do Jardim
para habitação e produção de bens, tais como ar- Botânico – atual Jardim da Luz.
mazéns para troca e estocagem de mercadorias. O Tanque do Zuniga era conhecido por
Na paisagem da imperial cidade de São Paulo, Praça das Alagoas, e abrigava as nascentes for-
havia muitos rios e córregos; no entanto, foi no madoras do rio Yacuba, que, em seu trajeto até
o rio Anhangabaú, recolhia as águas de quali-
entorno de alguns que a cidade se desenvolveu ini-
dade duvidosa da Bica do Acu. O dessecamento
cialmente, utilizando-os nos primeiros processos
do Tanque do Zuniga transformou a Praça das
de abastecimento da população.
Alagoas no Largo do Payssandu, e o encaminha-
A cidade imperial de São Paulo desaguava
mento das águas foi feito em canos de ferro até a
grande parte de seus recursos hídricos na bacia do
Rua Payssandu.
rio Tamanduateí, um dos principais afluentes do
Contribuindo para esse cenário de desse-
rio Tietê, e de grande extensão e abrangência.
camento da cidade, o desenvolvimento da trama
O principal afluente do rio Tamanduateí na
urbana drenou diversos rios e córregos e estrutu-
área central e histórica era o rio Anhangabaú,
rou a rede de transporte por meio dos fundos de
que recebia as contribuições dos córregos Yacuba,
vale, como é o caso da Avenida Nove de Julho,
Saracura e Bexiga. Desaguando a montante do
construída sobre o leito do rio Saracura; Avenida
rio Anhangabaú havia os rios Cabuçu Pequeno e
23 de Maio, sobre o rio Anhangabaú; Avenida
Cabuçu de Cima – este recebia as águas do Cabuçu
dos Estados, sobre o rio Tamanduateí; Avenida
de Baixo. As águas do Tanque do Arouche esco-
Pacaembu, sobre o córrego do Pacaembu, e outros
avam contribuindo para formação do Córrego tantos corpos hídricos da cidade que foram supri-
do Carvalho, que desaguava a jusante do rio midos da leitura paisagística.
Anhangabaú no rio Tamanduateí. A modernização da paisagem (ALVIM,
O rio Anhangabaú teve suas nascentes repre- 2006) não se restringe ao território da cidade, mas
sadas, formando os tanques Municipal e de Santa abrange a extensão ao longo dos rios e córregos,
Teresa, no antigo Morro do Caaguaçu, na altura pois os rios, além de potenciais reservas para o
do Paraíso. Esses dois tanques foram as primeiras abastecimento das populações, logo são visualiza-
alternativas de abastecimento da cidade e, por- dos como potencial hidroelétrico, principalmente
tanto, motivo de estudo para possível regulari- em um momento em que a cidade de São Paulo vive
zação da vazão destinada aos diversos chafarizes a industrialização e a modernização dos serviços
de abastecimento existentes em 1884. No entan- urbanos, e a atenção política está voltada para a
to, não havia potencialidade hídrica para tanto criação de infra-estrutura necessária à expansão
(GASPAR, 1970). econômica da cidade e do estado. Projeta-se, en-